a prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

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A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas La práctica del karate en silla de ruedas * Acadêmicos da Faculdade de Educação Física ** Prof. Dr. da Faculdade de Educação Física Universidade Federal de Uberlândia (Brasil) João Paulo Pereira Rosa* Dayane Ferreira Rodrigues* Patrícia Silvestre de Freitas** [email protected] Resumo Introdução: Dentro dos esportes adaptados já praticados pelas pessoas com deficiência, nota-se que há pouco espaço para as artes marciais, tornando-se necessário desenvolver ou adaptá-las para esta população. Nesse sentido o ensino teórico-prático do Karatê para os usuários de cadeira de rodas, justifica-se por possibilitar ao deficiente mais uma atividade física a ser praticada, melhorando e proporcionando uma qualidade de vida as pessoas com deficiência através do Karatê. Objetivo: proceder uma análise das alterações fisiológicas agudas com a prática do Karatê, bem como a possibilidade das pessoas com deficiência, usuários de cadeira de rodas usufruírem da prática do Karatê adaptado melhorando sua qualidade de vida. Metodologia: As aulas de Karatê adaptado foram ministradas durante 9 meses, 2 vezes por semana, sendo realizados 3 testes com intervalo de 3 meses a cada teste. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado o questionário “escala para medida de satisfação com a vida (NERI, 1998). Realizou-se também avaliações para determinar a agilidade dos indivíduos em cadeira de rodas, sendo adotado o teste ziguezague de agilidade (Texas Fitness Test, adaptado por Belasco Júnior & Silva, 1998). Resultados: Os voluntários obtiveram uma queda de 9,59% no tempo e de 14,28% na freqüência cardíaca do primeiro para o terceiro teste ziguezague de agilidade. Além disso, ao verificar a satisfação com a vida atual comparada com a do início das aulas de Karatê, observou-se que os sujeito passaram de "mais ou menos" satisfeito para "muito satisfeito" nos aspectos saúde mental, saúde física e capacidade física. Unitermos: Atividade física. Necessidades especiais. Artes marciais http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009 1 / 1 Introdução A questão pertinente a Educação Física Adaptada, tem atualmente sido motivo de muitas discussões desenvolvidas no meio acadêmico e científico, por profissionais da área em questão. Nesse sentido, observa-se a grande importância de procedimentos de pesquisa nessa população, dando subsídios para atuação dos profissionais da área. Autores como DUARTE (1992), consideram que apenas recentemente, a Educação Física começou a se preocupar com a atividade física para pessoas com deficiência. Ele considera que o desenvolvimento do quadro qualitativo e quantitativo de pesquisas nessa área vai depender basicamente das iniciativas de pesquisas das Universidades. Os problemas que envolvem deficientes estão presentes na sociedade desde os mais remotos tempos, SILVA (1987). A evolução no processo civilizatório da

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Page 1: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

La práctica del karate en silla de ruedas

  * Acadêmicos da Faculdade de Educação Física** Prof. Dr. da Faculdade de Educação Física

Universidade Federal de Uberlândia(Brasil)

João Paulo Pereira Rosa*Dayane Ferreira Rodrigues*

Patrícia Silvestre de Freitas**[email protected]

 

 

 

Resumo          Introdução: Dentro dos esportes adaptados já praticados pelas pessoas com deficiência, nota-se

que há pouco espaço para as artes marciais, tornando-se necessário desenvolver ou adaptá-las para esta população. Nesse sentido o ensino teórico-prático do Karatê para os usuários de cadeira de rodas,

justifica-se por possibilitar ao deficiente mais uma atividade física a ser praticada, melhorando e proporcionando uma qualidade de vida as pessoas com deficiência através do Karatê. Objetivo: proceder uma análise das alterações fisiológicas agudas com a prática do Karatê, bem como a

possibilidade das pessoas com deficiência, usuários de cadeira de rodas usufruírem da prática do Karatê adaptado melhorando sua qualidade de vida. Metodologia: As aulas de Karatê adaptado foram

ministradas durante 9 meses, 2 vezes por semana, sendo realizados 3 testes com intervalo de 3 meses a cada teste. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado o questionário “escala para medida de satisfação com a vida (NERI, 1998). Realizou-se também avaliações para determinar a agilidade dos indivíduos em cadeira de rodas, sendo adotado o teste ziguezague de agilidade (Texas Fitness Test,

adaptado por Belasco Júnior & Silva, 1998). Resultados: Os voluntários obtiveram uma queda de 9,59% no tempo e de 14,28% na freqüência cardíaca do primeiro para o terceiro teste ziguezague de agilidade.

Além disso, ao verificar a satisfação com a vida atual comparada com a do início das aulas de Karatê, observou-se que os sujeito passaram de "mais ou menos" satisfeito para "muito satisfeito" nos aspectos

saúde mental, saúde física e capacidade física.          Unitermos: Atividade física. Necessidades especiais. Artes marciais

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

1 / 1

Introdução

    A questão pertinente a Educação Física Adaptada, tem atualmente sido motivo de muitas

discussões desenvolvidas no meio acadêmico e científico, por profissionais da área em

questão. Nesse sentido, observa-se a grande importância de procedimentos de pesquisa nessa

população, dando subsídios para atuação dos profissionais da área.

    Autores como DUARTE (1992), consideram que apenas recentemente, a Educação Física

começou a se preocupar com a atividade física para pessoas com deficiência. Ele considera

que o desenvolvimento do quadro qualitativo e quantitativo de pesquisas nessa área vai

depender basicamente das iniciativas de pesquisas das Universidades.

    Os problemas que envolvem deficientes estão presentes na sociedade desde os mais

remotos tempos, SILVA (1987). A evolução no processo civilizatório da humanidade nos orienta

como foi e tem sido a forma de tratamento atribuído a pessoa deficiente.

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    Os jogos organizados sobre cadeira de rodas forma conhecidos após a Segunda Guerra

Mundial, onde esta tragédia na história da humanidade fez com que muito dos soldados que

combateram nas frentes de batalha voltassem aos seus países com seqüelas permanentes.

Porem este evento,proporcionou a pessoa com deficiência, melhores condições de vida, pois os

deficientes pós-guerras eram heróis e tinham o respeito da população por isto, bem como uma

preocupação governamental (GUTTMANN, 1981, ADMS E COL 1985; ALENCAR, 1986 CIDADES E

FREITAS, 1999).

    A partir das duas Guerras Mundiais, a necessidade das modernas sociedades em aumentar o

rendimento com a diminuição do investimento, e sustentar elementos não produtivos, houve

uma preocupação nas descobertas de métodos que visassem uma reintegração social do

deficiente e, na medida do possível, torna-lo um fator de produção para a sociedade.

    Surgiu então a atividade física, que tem demonstrado sua eficiência como um dos métodos a

serem utilizados no arsenal terapêutico desta recuperação. Com o avanço científico moderno,

o progresso dos conhecimentos o terreno da fisiologia do exercício, da psicologia, dos fatores

biomecânicos, dos métodos de avaliação, da sociobiologia vieram despertar ainda mais, tais

atividades. (ROSADAS, 1991),

Page 3: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

    Para ARAÚJO (1998) o desporto adaptado se propunha a minimizar as seqüelas nos soldados

acometidos pelos traumatismos, em decorrência das guerras, mais especificamente em

relação à Segunda Guerra Mundial, na década de 40. O objetivo da reabilitação dos soldados

feridos em decorrência da guerra, naquele momento era prioridade do governo dos países

envolvidos no conflito e também da classe científica, pois a expectativa e a qualidade de vida

chamavam a atenção para a necessidade de estudos. Por outro lado, estes governos sentiam-

se na obrigação de dar uma resposta à sociedade, no sentido de estar fazendo alguma coisa

para minimizar as adversidades causadas pela guerra.

    Os primeiros passos, neste sentido ocorreram em fevereiro de 1944, quando médico alemão,

de origem judaica, exilado na Inglaterra, Sir Ludwig Guttmann, neurologista e neurocirurgião,

foi convidado pelo governo britânico para fundar o centro de reabilitação para tratamento dos

soldados lesionados medulares no Hospital de Stoke Mandeville, próximo à cidade de

Aylesburg. Dr. Guttmann dedicou-se a esta atividade de 1943 a 1980. O primeiro programa de

esporte em cadeira de rodas foi iniciado no Hospital de Stoke Mandeville em 1945, com o

objetivo de trabalhar o tronco e os membros superiores e diminuir o tédio da vida hospitalar e

prepara-los para o trabalho.

    Em 1960, o Dr. Guttmann concretizou seu sonho, idealizado em 1948, de realizar um evento

que tivesse o mesmo impacto de uma olimpíada. Realizado em Roma, o IX jogos de Stoke

Mandiville, teve a presença de 400 participantes de 23 países, com apoio do Comitê Olímpico

Italiano (COI), que passaram anos depois a se chamar “Paraolympics” (Olimpíadas para

paraplégicos).

    A introdução do esporte adaptado no Brasil se deu por meio de Del Grande com grupo que

veio fazer jogos de exibições nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Um dos elementos que

se chamava Jean Quellog sugeriu a Del Grande que fundasse um clube dos paraplégicos no

Brasil. Ele despachou uma cadeira esportiva dos Estados Unidos e Balmer (um antigo

fabricante de cadeira de rodas) fez as outras.

     As modalidades esportivas para as pessoas com deficiências físicas são baseadas na

classificação funcional e atualmente apresentam uma grande variedade de opções. As

modalidades olímpicas são o arco e flecha, atletismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação,

futebol, halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de campo, tênis de mesa, tiro e voleibol

(ABRADECAR, 2002).

     A participação de pessoas com deficiência física em eventos competitivos no Brasil e no

mundo vem sendo ampliada. Por serem um elemento ímpar no processo de reabilitação, as

atividades físicas e esportivas, competitivas ou não devem ser orientadas e estimuladas,

visando assim possibilitar ao portador de deficiência física, mesmo durante seu programa de

reabilitação alcanças os benefícios que estas atividades podem oferecer, visando uma melhor

qualidade de vida.

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    Dentro dos esportes adaptados apresentados, nota-se que há muito pouco espaço para as

artes marciais, tornando-se necessário desenvolver ou adaptar artes marciais para esta

população. De acordo com dados do Censo, 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de

deficiência, o que corresponde a 14,5% da população e a prática de uma atividade física

adaptada, proporciona á pessoa com deficiência física condições através da pratica do esporte,

da recreação e do lazer uma melhor qualidade de vida.

    Alguns autores como GUTTMAN (1976b), SEAMAN (1982), LIANZA (1985), SHERRILL (1986),

ROSADAS (1989), SOUZA (1994), SCHUTZ (1994) e GIVE IT A GO (2001) ressaltam que o

esporte adaptado traz inúmeros benefícios como melhoria e desenvolvimento de auto-estima,

auto-valorização e auto-imagem; o estímulo à independência e autonomia; a socialização com

outros grupos; a experiência com suas possibilidades, potencialidades e limitações; a vivência

de situações de sucesso e superação de situações de frustração; a melhoria das condições

organo-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digestivo, reprodutor e excretor);

melhoria na força e resistência muscular global; a possibilidade de acesso à prática do esporte

como lazer, reabilitação e competição; prevenção de deficiências secundárias entre outras

    Em Paises como a Irlanda, Japão e Portugal, já existe a prática do Karatê para cadeirantes.

No Brasil existem vários esportes para deficientes como arco e flecha, bocha, halterofilismo,

hipismo, natação, tênis, dentre outros, porém não se tem registro do ensino teórico-prático do

Karatê para esta população.

    A partir de pesquisas incipientes, há registros que a prática do Karatê para pessoas

portadoras de deficiência física temporária ou permanente pode ser viável, uma vez que já

existe a prática do Karatê para essas pessoas, o Karatê em Cadeira de Rodas.

    O Karatê em Cadeira de Rodas atua simultaneamente como autodefesa e como bom

exercício, no desenvolvimento de capacidades, de reflexos e força, para pessoas deficientes.

Para isso, adaptou-se um sistema similar aos métodos aplicados no Karatê Tradicional, para o

Karatê em Cadeira de Rodas.

    Os métodos utilizados no ensino do Karatê adaptado são os ideais para as pessoas que

estão recuperando de doenças ou se encontram fisicamente fracas ou que por alguma razão

estão incapacitadas de praticar essa modalidade. Deste modo podem praticar o Karatê em

Cadeira de Rodas até que estejam aptos para voltar ao treino regular.

    A ACMS (Colégio Americano de Medicina do Esporte) (1997), relata que um programa de

atividades físicas para as pessoas com deficiência física devem observar a princípio se a

adaptação dos esportes ou atividades mantendo os mesmos objetivos e vantagens da

atividade e dos esportes convencionais, ou seja, aumentar a resistência cárdio-respiratória, a

força, a resistência muscular, a flexibilidade, etc.

Page 5: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

    Um outro ponto a considerar na elaboração de atividades para as pessoas de necessidades

educativas especiais, em destaque aqui o indivíduo com deficiência física, é a necessidade de

adaptação dos materiais e equipamento, bem como a adaptação do local onde esta atividade

será realizada.

    O projeto de pesquisa torna-se importante por serem inexpressivos trabalhos a nível

acadêmico sobre o assunto. A escolha de uma modalidade esportiva pode depender em grande

parte das oportunidades que são oferecidas as pessoas com deficiência física, da sua condição

sócio-econômica, das suas limitações e potencialidades, da suas preferências esportivas,

facilidade nos meios de locomoção e transporte, de materiais e locais adequados, do estímulo

e respaldo familiar, de profissionais preparados para atendê-los, dentre outros fatores.

    O objetivo desta pesquisa foi:

Oferecer e avaliar os benefícios físicos e psicossociais para os usuários de

cadeira de rodas a partir da prática do Karatê adaptado,

Proporcionar aos cadeirantes uma nova modalidade esportiva, no qual irão

aprender técnicas de defesa pessoal que possam ser usadas para melhora na

sua qualidade de vida.

Propiciar subsídios teóricos e práticos dessa arte marcial para os professores da

área para a expansão da modalidade de esporte adaptado,

Possibilitar processos metodológicos do ensino teórico – prático do Karatê para

cadeirantes

Verificar os benefícios da prática de exercícios físicos na melhora da qualidade

de vida de pessoas que utilizam cadeiras de rodas.

Materiais e métodos

Critérios de inclusão

Deficiente físico que utiliza cadeira de rodas

Ser maior de idade.

Residente em Uberlândia – MG

Apresentar atestado médico e encaminhamento para as atividades

físicas.

Critérios de exclusão

Já ter praticado Karatê ou qualquer arte marcial semelhante.

Características da população

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    A população do estudo foi constituída de 15 pessoas deficientes físicas que utilizam cadeiras

de rodas para as atividades diárias, que possuem faixa etária de 18 a 28 anos, residentes em

Uberlândia. O processo de seleção dos sujeitos ocorrerá por meio de convite ou por indicação.

Para participar da pesquisa, os sujeitos deverão apresentar atestado médico e

encaminhamento para as atividades físicas.

    Os sujeitos que preencherem os requisitos acima citados serão informados sobre o objetivo

da pesquisa e a forma de sua participação, bem como, deverão assinar o termo de livre

consentimento.

Justificativa de uso deste grupo

    O uso desta população de deficientes físicos usuários de cadeira de rodas se justifica pela

proposta da pesquisa em adaptar a arte marcial Karatê para os cadeirantes, possibilitando a

inclusão de mais uma modalidade a ser praticada pelos usuários de cadeira de rodas, bem

como auxiliar no aprendizado de defesa pessoal.

Local

    A pesquisa foi realizada na Faculdade de Educação Física (FAEFI) da Universidade Federal de

Uberlândia (UFU), no ginásio 7 (G7). A escolha do local se deu pelo amplo espaço físico e pela

presença de espelhos, o que facilitará a visão do professor de Karatê dos movimentos feitos

por parte dos cadeirantes para que os mesmos sejam corrigidos se necessário.

Instrumentos

    Como instrumento de coleta de Dados, na busca de informações sobre o objeto de estudo foi

utilizados questionários e entrevistas que serão realizadas com os alunos, sendo os

Page 7: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

questionários e entrevistas preparados com o auxílio e amparo do orientador do projeto. Será

confeccionado também uma ficha de descrição das atividades e avaliação dos alunos, que será

feita e preenchida pelo discente - pesquisador.

Procedimentos

a. Acesso a amostra: O acesso ao grupo de estudo será por meio de indicação do

Núcleo Interdisciplinar de Atividade Física e Saúde (NIAFS) e Associações de

pessoas com deficiência para participação do projeto, explicando os motivos

pelos quais estão sendo convidadas a participar da pesquisa.

b. Coleta de dados: A coleta de dados inclui a entrega da ficha de avaliação

sócio-demográfica (NERI e SIMSON, 2001), que será preenchida no mesmo

instante da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, pelos pais

ou responsáveis legais. Serão repassadas também as fichas de avaliação de

qualidade de vida descritas por NERI, 1998; WHOQOL, 1998; que depois de

preenchidas, servirão de modelo para comparação com as mesmas, que serão

preenchidas novamente pelos pais ou responsáveis legais, no quarto, oitavo, e

décimo segundo mês de pesquisa, com intuito de preencher as lacunas do nosso

trabalho.

c. Teste de agilidade em cadeira de rodas: Para a determinação da medida da

agilidade dos indivíduos, foi adotado o teste teste ziguezague de agilidade

(Texas Fitness Test, adaptado por Belasco Júnior & Silva, 1998). O objetivo do

teste é percorrer a sua distância, que requer mudanças de direção, com o

máximo de velocidade e eficiência possível. O teste original consistia de um

percurso situado em um retângulo com medidas de 3,8 m x 4,0 m e foi criado e

validado para a aplicação com jovens e adultos que tivessem a capacidade de

correr. O percurso do teste original foi mantido, entretanto as distâncias foram

aumentadas para que sua realização fosse possível em cadeira de rodas. O teste

foi aplicado nesses indivíduos duas vezes, com intervalo de uma semana, sendo

que três cronometristas mediram o tempo dos participantes. Para a realização

do teste foram utilizados: uma área para o percurso do teste de tamanho

apropriado, um cronômetro com precisão de décimos de segundo, uma cadeira

de rodas e cinco marcadores para delimitar o percurso do teste, tomando-se o

cuidado para que estes não pusessem em risco a integridade física dos alunos.

    Todos os indivíduos da amostra realizaram o teste com a mesma cadeira de rodas, a fim de

se evitar que o tipo de cadeira influenciasse nos resultados. As medidas dessa cadeira de rodas

foram consideradas médias para o nível de lesão específico da população da amostra. A opção

por uma cadeira única com medidas padronizadas visou elevar a validade interna do

experimento. O fato dos indivíduos utilizarem modelos variados de cadeiras, com pesos e

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dimensões diferentes, poderia gerar valores irreais na avaliação, os quais não estimariam a

condição de agilidade.

    Ao sinal, o avaliando começava o teste de trás da linha de início e impulsionava a cadeira

através do percurso tão rápido quanto possível. Se o avaliando batesse em um marcador ou

errasse o percurso, poderia repetir a tentativa. O resultado do teste foi expresso através do

tempo utilizado para percorrer o circuito, com precisão de décimos de segundos. Foram

efetuadas cinco tentativas.

    A primeira foi para o reconhecimento do percurso e deveria ser realizada em velocidade

lenta. A segunda foi para o reconhecimento do percurso em alta velocidade e as três seguintes

foram consideradas válidas para o teste. O resultado final foi a melhor dessas três últimas

tentativas.

    O descanso entre cada tentativa foi de cerca de cinco minutos, a fim de se evitar os efeitos

da fadiga. Esse tempo foi determinado através da aferição da freqüência cardíaca dos alunos

antes e após o teste. Após o intervalo de cinco minutos, todos os alunos retornaram para suas

freqüências pré-teste. Todos os indivíduos da amostra assinaram, antes do início das

avaliações, um termo de consentimento, no qual afirmavam concordar com os procedimentos

da pesquisa e com a utilização dos resultados obtidos para publicações.

Análise estatística

1° teste agilidade em cadeira de rodas

   1º Tentativa

2º Tentativa

3º Tentativa

FC (média) 163 bpm 166 bpm 168 bpm

Tempo (média) 23.06 s 21.65 s 20.94 s

2° teste agilidade em cadeira de rodas

  1º Tentativa

2º Tentativa

3º Tentativa

FC (média) 148 bpm 160 bpm 151 bpm

Tempo (média) 19.63 s 20.22 s 19.90 s

3° teste agilidade em cadeira de rodas

  1º Tentativa

2º Tentativa

3º Tentativa

FC (média) 145 bpm 145 bpm 144 bpm

Tempo (média) 19.93 s 19.40 s 18.93 s

Page 9: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

    Os voluntários obtiveram uma queda de 9,59% no tempo e de 14,28% na freqüência

cardíaca do primeiro para o terceiro teste ziguezague de agilidade (Tabela 1).

    No estudo conjunto dos 15 alunos, ao se analisar as médias nos vários domínios detectamos

que os domínios psicológico e físico alcançaram os melhores escores (52,5 e 51

respectivamente), seguindo-se pelas relações sociais (47,2) e por último o meio ambiente (47)

(Tabela 2).

Tabela 1. Valores finais da freqüência cardíaca e tempo no Teste ziguezague de agilidade adaptado (Texas Fitness Test)

  1° Teste 2° Teste 3° Teste

FC (Bpm) 168 151 144

Tempo (seg)

20,94 19,90 18,93

 Tabela 2. Médias dos vários domínios da ficha de avaliação de qualidade de vida descritas por NERI, 1998; WHOQOL, 1998

Domínio Média (n=15)

Físico 52,5

Psicológico 51

Relações Sociais 47,2

Meio Ambiente 47

Discussão e conclusão

    Os resultados desta pesquisa demonstram que todos os cadeirantes submetidos ao

treinamento regular de Karatê obtiveram resultados significativos em todas as variáveis

analisadas. No Teste ziguezague de agilidade adaptado (Texas Fitness Test), houve um

aumento na eficiência cardíaca dos alunos, permitindo reduzir a freqüência cardíaca em

repouso e durante a atividade física. Na avaliação de qualidade de vida (WHOQOL), a

satisfação com a vida atual ao final da pesquisa comparada com a do início das aulas de

Karatê, observou-se que na média os sujeitos passaram de "mais ou menos" satisfeito para

"muito satisfeito". A pesquisa também proporcionou aos usuários de cadeira de rodas a

aprendizagem de técnicas de defesa pessoal para serem utilizadas de maneira funcional nas

AVDs, em busca de uma melhor qualidade de vida.

    Durante o projeto de pesquisa, a constante adaptação nos processos metodológicos do

ensino teórico – prático do Karatê para cadeirantes se tornou necessário devido aos diferentes

tipos de lesão e limitações encontradas nos alunos usuários de cadeira de rodas.

Page 10: A prática do karatê para pessoas em cadeira de rodas

    È importante observar que o Karatê para cadeirantes possui um caráter terapêutico, que

poderá auxiliar no processo de reabilitação pessoas usuárias de cadeira de rodas.   Assim, a

escolha do ensino teórico-prático do Karatê para os usuários de cadeira de rodas, justificou-se

por vários aspectos sendo o mais importante deles o conhecimento científico a ser adquirido

acerca do assunto.

    Nesse sentido, o Karatê em Cadeira de Rodas pode ser disponibilizado para pessoas com

deficiência física, como iniciação à atividade física.

Rererências bibliográficas

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