a questão do bom senso e bom gosto (mostra)

2

Upload: fabrizio-boscaglia

Post on 09-Dec-2015

10 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Mostra na BNP 2015

TRANSCRIPT

Page 1: A questão do bom senso e bom gosto (mostra)

Georges Simenon, 197-. Fotografia de Victor Diniz

Condenado à morte, Lisboa, Clássica Editora, 1932. Primeira tradução portuguesa de uma obra de Georges Simenon.

O cão amarelo, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1939?. Título inaugural da coleção Romances policiais de Georges Simenon.

A Questão Coimbrã, nome pelo qual a polémica ficou conhecida na época, é uma das mais renhidas batalhas do século XIX que se manteve acesa durante quase um ano numa guerra de opúsculos, artigos, folhetins, defendendo ou atacando as duas personalidades em foco – António Feliciano Castilho e Antero de Quental.

Em boa verdade, o desencontro de palavras e conceitos começara já em meados de 1865 com as intervenções de Manuel Pinheiro Chagas, um dos protegidos de Castilho, em folhetins nos jornais de Lisboa, ridicularizando Antero de Quental e Teófilo Braga chamando “tisanas filosóficas” aos conceitos expressos nos prefácios dos seus livros de poesia. Estes pontos de vista não correspondiam aos cânones defendidos por Castilho e a sua corte de jovens literatos, ansiosos por agradar ao “patriarca das letras” que, de Lisboa, fustigavam os coimbrões. A poesia devia ser entendida por todos “sem idealidades e abstracções mascaradas em literatura e poesia”.

Assim se expressava Castilho na carta enviada ao editor António Maria Pereira, felicitando-o pela publicação do medíocre livro de Manuel Pinheiro Chagas Poema da Mocidade. Nessa extensíssima carta, semeada de citações, principalmente latinas, aproveita para afirmar que a poesia andava com o “fastio de morte à verdade e à simplicidade” e que Antero e Teófilo voam muito alto, mas não se sabia qual seria o seu destino.

Estas opiniões provocaram a indignação de Antero que respondeu com o violento opúsculo Bom Senso e Bom Gosto, o outro título pelo qual também é conhecida a polémica. Explica que a atitude do “patriarca das letras” deriva do facto de jovens escritores - “hereges das letras” - se revoltarem contra as autoridades literárias e ousarem seguir a sua carreira intelectual sem pedir autorização a ninguém. Acusa ainda Castilho de se ter feito chefe de uma cruzada “tão desgraçada e mesquinha”.

As duras palavras de Antero deram lugar a intervenções, umas indignadas outras elogiosas, em que participaram intelectuais como Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Brito Aranha, Eduardo Vidal e muitos outros. Os diferentes pontos de vista sobre a literatura ajudaram a enterrar a poesia passadista e criaram as condições para a afirmação da que viria a denominar-se Geração de Setenta.

Maria José Marinho

O IELTé financiado por Fundos Nacionais através da Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projecto PEst-OE/ELT/UI0657/2015

Page 2: A questão do bom senso e bom gosto (mostra)

Georges Simenon, 197-. Fotografia de Victor Diniz