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Notas tericas sobre a Retrica

Joana Fernandes

Sobre a polissemia do conceito

Joana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

Algumas acepes do conceito

Arte de persuadir, de convencer atravs da utilizao do discurso em situaes pblicas;Arte de argumentar, de discursar;Conjunto de princpios de eloquncia, de oratria, que orienta a arte de bem falar;Disciplina do currculo escolar que tratava da eloquncia e da arte de bem falar e persuadir;Tratado em que se estabelecem as regras da arte de persuadir e de bem falar;Conjunto de figuras e de tropos, bem como de regras do seu emprego, no quadro de expresso literria;Conjunto de processos estilsticos especficos de um escritor, de um grupo ou de uma poca;Discurso empolgado, pomposo, vazio de contedo.Joana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

Sobre a sua gnese

A Retrica constitui a mais antiga reflexo sobre a linguagem conhecida na Civilizao Ocidental.Nasceu na Siclia grega, em Siracusa, por volta de 465, A.C, considerando-se que na sua gnese tero estado factores de ordem scio-poltica.Estando associada origem da Democracia, a emergncia desta disciplina prendeu-se particularmente com a necessidade de preparar os cidados para uma interveno activa no governo da cidade.

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Sobre a sua gnese

Foi primordialmente um discurso do poder ou dos que aspiravam ao seu exerccio. O orador tinha por funo educar os seus discpulos para a vida activa na cidade: propunha-se formar cidados capazes de intervir de forma eficaz tanto nas deliberaes polticas como na aco judicial, tornando-os aptos, se necessrio, a exaltar os que deviam inspirar e orientar o curso de aco do povo.Corax e Tsias so normalmente referenciados como tendo sido os primeiros professores, sendo tambm a eles que foi atribuda elaborao dos primeiros Manuais de Retrica.O primado da aco ter levado a maioria dos Sofistas a desprezarem o conhecimento daquilo que discutiam, circunscrevendo-se a meras opinies e concentrado a sua ateno nas tcnicas de persuaso.

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Sobre a sua gnese

Plato estabeleceu uma distino clara entre um discurso argumentativo dos Sofistas, os quais, atravs da persuaso, procuravam a manipulao os cidados, e o discurso argumentativo dos filsofos que visavam atingir a verdade, atravs do dilogo.

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Sobre a Retrica Aristotlica

Aristteles foi o primeiro filsofo a expor uma teoria da argumentao, procurando um ponto intermdio entre Plato e os Sofistas. Encarou a Retrica como uma arte que visava descobrir os meios de persuaso passveis de sustentar os diferentes argumentos. Joana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoPartes constituintes da Retrica Aristotlica

Joana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico (a) inventio - pesquisa e seleco do assunto e argumentos (sustentada em leis de carcter lgico, psicolgico e sociolgico); (b) dispositio - sustentada na planificao e organizao das partes do discurso; (c) elocutio - escolha da expresso lingustica a utilizar; (d) pronunciatio(actio)- enunciao/verbalizao do discurso;(e) memoria - capacidade de enunciar com recurso cognio. oria da argumentao, procurando um Tipos discursivos

Tipos de discurso praticados: DeliberativoJudicial Epidptico Joana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoAlgumas mudanas diacrnicas na viso da disciplina:

Durante a Idade Mdia, o ensino da argumentao adquiriu enorme divulgao, nomeadamente entre o poder clerical, ocupando um lugar central na educao (foi parte integrante do Trivium, que inclua ainda Gramtica e Dialctica. Joana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

http://www.fafich.ufmg.br/%7Ecgradfil/GUIAMATR-2001-02.htmIdade ModernaJoana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

Na Idade Moderna, a Retrica continuou a desfrutar ainda de algum prestgio, particularmente nos pases catlicos (No caso de Portugal, na poca barroca, o aproveitamento das potencialidades da Retrica, seja na construo literria, no sermo ou na arquitectura, aproximaram os sermes do Padre Antnio Vieira ao significado icnico do Convento de MafraScs. XVIII e XIXJoana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

Emergiu um movimento anti-retoricista, devido ao exagero do culto de utilizao de ornamentos lingustico, tornando-os no s de difcil compreenso como ocos de sentido. Sobrevalorizou-se o papel da forma, em detrimento do contedo. Nesta altura, a palavra Retrica adquiriu um sentido pejorativo.

Tendncias da actualidadeJoana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoNa actualidade, renasceu um interesse pelas potencialidades desta disciplina. Em 1958, Chaim Perleman publicou o Trait de l'Argumentation. La Nouvelle Rhtorique, o qual marcou o renascimento da herana aristotlica. Esta obra constitui um tratado consagrado argumentao na esteira da velha tradio da Retrica e da Dialctica gregas. Tendncias da actualidadeJoana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoPara o sujeito-falante no especialista, as conotaes depreciativas da palavra prevalecem. So comuns as seguintes expresses em registo coloquial de Portugus Europeu: perder-se em divagaes retricas, deixar-se de retricas, no passa de um discurso retrico e um mero exerccio de retrica, entre outras que poderiam ser citadas. Algumas conlusesJoana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoA Retrica no uma disciplina que se ocupe meramente de figuras de estilo: estas mais no so do que um dos mltiplos instrumentos para convencer e persuadir um auditrio. Em toda a sua generalidade, esta arte sustenta-se numa teoria da argumentao que utiliza raciocnios que Aristteles qualificou como dialcticos.

Algumas conlusesJoana Fernandes Estruturao do Texto Tcnico

Prevalece, no presente, a sua trplice finalidade: docere (ensinar) movere (atingir os sentimentos) delectare (deleitar).

Algumas conlusesJoana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoNovas retricas parecem emergir de modo latente, atravs das tcnicas de persuaso subliminarmente usadas pelo discurso poltico, pela publicidade, pela televiso e, particularmente, pelas tipologias discursivas inerentes s redes sociais estabelecidas na internet.

Referncis bibliogrficas Joana Fernandes Estruturao do Texto TcnicoCASTELEIRO, Malaca et al (2002) Dicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea, Lisboa, Editorial Verbal.Ducrot Oswald & Todorov Tzvetan (1991) Retrica e Estilstica in Dicionrio de Cincias da Linguagem, Lisboa, Dom Quixote, pp. 99-103.Lamas, Estela et al. (2004)Dicionrio de Metalinguagens da Didctica, Porto, Porto Editora.Lausberg, Heinrich (1994[1967]) Elementos de Retrica Literria, Lisboa, Fundao Calouste de Gulbenkian.Perelman, Chaim (1993) O Imprio Retrico, Retrica e Argumentao, Porto, Edies Asa.