a tradução especializada: um motor de desenvolvimento

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A Tradução Especializada: Um Motor de Desenvolvimento Lisboa

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Page 1: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

A Tradução Especializada: Um Motor de Desenvolvimento

Lisboa

Page 2: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

CONTEÚDO ESTRUTURA DA CONFERÊNCIA

Comissões Comissão de Honra Comissão Organizadora Comissão de Programa

Entidades Organizadoras PROGRAMA: COMUNICAÇÕES E MESAS-REDONDAS

Local / Venue: Caparica, Portugal Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa

Sessões / Sessions: Datas: 11 e 12 de Setembro de 2006 Edifício IV / Building IV, Salas 201 e 202 / Rooms 201 and 202 Moderadores de Tópicos e Mesas-Redondas

PREFÁCIO: ABERTURA

Primeira Contraposição Hermínio Duarte-Ramos

POSFÁCIO: ENCERRAMENTO

Conclusões Contrapostas Hermínio Duarte-Ramos

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

ESTRUTURA DA CONFERÊNCIA Comissão de Honra

Professor Leopoldo Guimarães Reitor da Universidade Nova de Lisboa (UNL)

Professor Fernando Santana Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL

Comissão Organizadora

Hermínio Duarte-Ramos, Presidente João Roque Dias, Vice-presidente Christopher Auretta Isabel Coutinho Monteiro Luísa Yokochi Virgínia Matos

Comissão de Programa

Hermínio Duarte-Ramos, Presidente Universidade Nova de Lisboa (FCT), Caparica, Portugal

Ana Frankenberg-Garcia Instituto Superior de Línguas e Administração, Lisboa, Portugal

Anthony Pym Universitat Rovira i Virgili, Tarragona, Espanha

Carlos Castilho Pais Universidade Aberta, Lisboa, Portugal

Josélia Neves Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, Leiria, Portugal

Oscar Días Fouces Universidade de Vigo, Vigo, Espanha

Entidades Promotoras

Universidade Nova de Lisboa Entidades Organizadoras

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

PROGRAMA

COMUNICAÇÕES E MESAS-REDONDAS / PAPERS AND ROUND TABLES

Monday – 11 September – Morning

Time

Sala 201 / Room 201

Sala 201 / Room 202

9h00-9h30 REGISTO DOS PARTICIPANTES / REGISTRATION OF PARTICIPANTS

9h30-10h30

Sessão de Abertura / Opening Session

presidida pelo Prof. Fernando Santana Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia,

Universidade Nova de Lisboa

10h30-11h00 Pausa de café / Coffee Break

SISTEMAS DE TRADUÇÃO Moderadora: Isabel Monteiro

EDUCAÇÃO DE TRADUÇÃO Moderador: Josélia Neves

11h00-11h30

Translation and the ATeLP

Rosário Durão

Portugal

A evolução do ensino universitário da Tradução em Portugal

Alexandra Rebola Espanha

11h30-12h00

Modelo Sistémico de Tradução

Hermínio Duarte-Ramos Portugal

Modelos de formação de tradutores em instituições europeias do ensino superior:tradução versus tradução especializada

Teresa Alegre Portugal

12h00-12h30

Primeiros passos para uma avaliação da Tradução Automática: uma experiência semântica

Cristina Pinhão Portugal

Tradução, tecnologia e mercado: uma trilogia propícia a Bolonha

Manuel Moreira da Silva

Portugal

12h30-13h00

Translation memories, linguistic assets and the commoditisation of translation

João Brogueira Portugal

Translating without the tools of the trade

David Cranmer

Portugal

13h00-14h30 Almoço / Lunch

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Monday – 11 September – Afternoon

Time

Sala 201 / Room 201

Sala 201 / Room 202

14h30-16h30

Mesa-Redonda / Round Table

Training Translators: For Whom and For What?

Josélia Neves (Moderadora), Escola Superior de Tecnologia de Leiria, Portugal Abdul Sahib Mehdi Ali, University of Sharjah, United Arab Emirates Amir Mahdavi-Zafarghandi, Guilan University, Iran Teresa Alegre, Universidade de Aveiro, Portugal Tinka Reichmann, Saarland University, Germany

16h30-17h00 Pausa de café / Coffee Break

TERMINOLOGIA NA TRADUÇÃO Moderadora: Virgínia Matos

TEORIA DE TRADUÇÃO Moderadora: Rosário Durão

17h00-17h30

Dicionário multilíngüe de nomes de países, exônimos e gentílicos

Ana Maria G. Bustamante, Márcia Mathias,

Raquel Abi-Sâmara Brazil

Minority youths as translators/interpreters: benefits and burdens of language and literacy brokering

Iris Guske Germany

17h30-18h00

Glossário de termos para a padronização de nomes geográficos

Ana Maria G. Bustamante, Márcia Mathias,

Raquel Abi-Sâmara Brazil

Explicitation in media translation: English translation of Japanese journalistic texts

Robert De Silva Japan

18h00-18h30

Let’s do the frequência before the ponte but after the feriado: the words we don’t translate

David Hardisty Portugal

TL-oriented approach to Bible translation: For or against?

Olga Kanelli

Greece

18h30-19h00

Os desafios da tradução jurídica na área penal

Tinka Reichmann

Germany

Relevance theory and explicitation strategy in translation

Amir Mahdavi-Zafarghandi

United Kingdom

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Tuesday – 12 September – Morning

Time

Sala 201 – Room 201

Sala 201 – Room 202

TECNOLOGIA DE TRADUÇÃO Moderadora: Vicky Hartnack

TRADUÇÃO LITERÁRIA Moderadora: Fernando Ferreira-Alves

9h00-9h30

Informação terminológica: extracção, gestão e usos

Manuel Célio Conceição

Portugal

Alfândega e contrabando: duas experiências de tradução literária na universidade italiana

António Fournier Italy

9h30-10h00

Using a parallel corpus in translation practice and research

Ana Frankenberg-Garcia Portugal

On the translation of metaphor: notions and pedagogical implications

Abdul Sahib Mehdi Ali United Arab Emirates

10h00-10h30

Putting the reader in the picture: ‘screen translation’ and foreign-language learning

Maria da Conceição Bravo Portugal

As metáforas terminológicas no desenvolvimento da ciência

Cláudia Martins

Portugal

10h30-11h00

ICT in conference interpreting

Diana Berber Finland

Representation of the "noble savage" in the English translation of Brazil’s Letter of Discovery

Cristiano Astolphi Mazzei United States

11h00-11h30 Pausa de café / Coffee Break

PRÁTICA DE TRADUÇÃO Moderador: João Roque Dias

AVALIAÇÃO DE TRADUÇÃO Moderador: Hermínio Duarte-Ramos

11h30-12h00

The Translator: um sítio sobre ofertas de emprego e notícias na área de tradução

Susana Valdez Portugal

A noção de qualidade em tradução e a formação de tradutores: o caso português

Delfina Rodrigues Portugal

12h00-12h30

GILTy or not GILTy: o reenquadramento da profissão de tradutor face ao evangelho da normalização

Fernando Ferreira-Alves Portugal

Growing up into science and technology: a translator’s educational heritage

Vicky Hartnack Portugal

12h30-13h00

Práticas de pagamento de clientes potenciais: como fugir de clientes que não pagam?

Ana Hermida Ruibal Espanha

Making sure it’s OK

Andrew Evans Luxemburgo

13h00-14h30 Almoço / Lunch

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Tuesday – 12 September – Afternoon

Time

Sala 201 / Room 201

14h30-16h30

Mesa-Redonda / Round Table

Found in Translation: The Director's Cut

Rosário Durão (Moderadora), President of the ATeLP (www.atelp.org), Portugal Andrew Evans, Council Member of the FIT (www.fit-ift.org), Luxembourg João Esteves-Ferreira, Vice-President of the ASTTI (www.astti.ch), Switzerland Manuel Sant'Iago Ribeiro, President of the SNATTI (www.snatti.org), Portugal Timothy Yuan, Former Member Board of Directors of the ATA (www.atanet.org), USA

16h30-17h00 Pausa de Café / Coffee Break

17h00-18h00

Sessão de Encerramento / Closing Session

presidida pelo Prof. Leopoldo Guimarães Reitor da Universidade Nova de Lisboa

Actuação da

anTUNia – Tuna de Ciências e Tecnologia da UNL

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

PREFÁCIO: ABERTURA

Primeira Contraposição

A conferência contrapor exprime acção logo no nome, pelo verbo da sua substância. Responde ao projecto dos fundadores da Associação de Tradução em Língua Portuguesa (ATeLP), afirmando os seus objectivos em diálogo aberto, acerca de tudo o que se relaciona com a tradução na actual civilização tecnológica. Este foi o meu ponto de vista ao apoiar a constituição associativa, agarrado à réstea de instinto gregário que ainda me resta, para veicular entre os estudiosos e praticantes das línguas naturais e especializadas aquelas características que enformam o conhecimento e concretizam o saber. No fundo, pretende-se estimular os diversos profissionais no desenvolvimento de um projecto comum, que dinamize a ciência e tecnologia de tradução, afinal a teoria e prática subjacente ao conceito da engenharia de tradução. Tudo isto porque é notória a necessidade social e humana de responder à globalização com meios eficazes de comunicação entre povos diferentes, sem que cada um perca a sua identidade linguística. Ora a tradução satisfaz este princípio, dado que interconecta humanos e sociedades mantendo as características, herdadas dos tempos ancestrais, que sustentam a diversidade cultural no mundo.

Propus uma primeira iniciativa mobilizadora pela realização de oficinas de tradução, que focassem sucessivos temas de interesse participativo e pudessem satisfazer, pouco a pouco, as exigências educativas da boa inserção dos tradutores no mercado. Baseei a pretensão na experiência activa e silenciosa que exercitei, ao longo de duas décadas, na comissão nacional de normalização internacional da terminologia electrotécnica. Mas a ideia não pareceu oportuna, como arranque das acções ‘atelpianas’. Entendi claramente que impulsos divergentes não originam uma resultante capaz de sensibilizar a desejada maioria de motivados na mesma acção. E cerceei a implementação das oficinas educacionais, à espera de melhores condições envolventes. Contudo, sentia que era preciso estimular os pioneiros associativos e entusiasmar novos aderentes, de maneira a gerar a indispensável vitalidade ao crescimento da instituição recém-criada.

Eis quando a memória de outras experiências, vividas com sucesso em engenharia electrotécnica e em controlo automático, fez emergir a ideia de uma conferência de tradução portuguesa, vocacionada para discutir periodicamente a evolução internacional da nova ciência e tecnologia de tradução. Despertada bem no interior da contraposição linguística, pela comunicação mais ou menos especializada entre línguas diferentes, a contrapor foi acarinhada desde a primeira descrição da sua estratégia. E até levantou na internet uma interessante onda de discussão sobre o significado simbólico do nome, já que a metáfora vai para além do símbolo concreto.

Destas raízes, a conferência despontou à luz do dia na apresentação pública da ATeLP, em Lisboa, já com traços gerais delineados para unir as humanidades às tecnologias através da abordagem sistémica das falas. Assim transparece do plano

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desenhado, desde logo no grafismo da conferência pela simbologia da ponte que liga uma à outra margem do rio Tejo, unindo Lisboa à Caparica, tal como acontece entre os humanos em comunicação pelas mediações linguísticas, de um código para outro das diversas línguas.

Fiz questão de sublinhar, e repito, que se pretende centrar o objectivo da acção no processo tradutivo, implicando necessariamente a inserção de debates sobre os problemas profissionais dos tradutores, relacionados com múltiplos aspectos de investigação, desenvolvimento, formação, ética e exercício activo da tradução linguística. A intenção é muito abrangente, alargando-se à discussão integrada das questões de consolidação da ciência e tecnologia de tradução nas suas relações humanas e sociais. Portanto, atende-se à tradução geral, que os falantes comuns precisam de usar no convívio directo, e à tradução especializada, quer literária quer científica e tecnológica ou técnica, pertinente na mediação indirecta das leituras ou das interpretações imediatas.

O princípio básico será a abordagem sistémica da complexidade que envolve a tradução no espaço português e no mundo, em qualquer caso a nível internacional, acerca da teoria de tradução e das suas componentes práticas, desde os equipamentos e sistemas até à conversão semântica e certificação de qualidade. Aí onde a engenharia entrelaça a ciência com a tecnologia para atingir a melhor comunicação no ambiente social.

Tantos são os caminhos a percorrer, que há lugar para todos os humanos de boa vontade se unirem na construção deste projecto de suporte à globalização, com base na diversidade dialogante dos códigos naturais das línguas. E todos podem contrapor as suas ideias, segundo o paradigma tradicional dos bons costumes. Livre e abertamente. Depois, cada um que recolha aquilo que entender melhor e por bem.

Deste modo, a primeira contrapor ergueu-se sob o mote genérico de «A Tradução Especializada: Um Motor de Desenvolvimento», sugerido no início da caminhada por Rosário Durão, a primeira presidente da direcção da ATeLP. Embora se tenha traçado um plano inaugural sem ambições de internacionalização, a fim de encontrar, antes de mais, a necessária prata da casa que cumpra os objectivos intencionados, a verdade é que as expectativas foram crescendo com difícil controlo dos seus limites. Rapidamente, a contrapor2006 ultrapassou as fronteiras nacionais, pela internet e sob o entusiasmo de João Roque Dias. Pressenti esta expansão pelo mundo fora quando recebemos os auspícios da Federação Internacional de Tradutores (FIT), sobretudo por intermédio da generosa impulsão de João Esteves-Ferreira, vice-presidente da associação de tradutores suíços e presidente da FIT Europe. De facto, os últimos meses mostraram uma animação invulgar, em múltiplos centros universitários e empresariais do mundo, onde a língua portuguesa se mantém viva. A conferência atingiu a dimensão internacional que se pretendia alcançar em futuras edições. Esta antecipação significa, por si só, um inesperado sucesso.

Mas o principal êxito da contrapor2006 reside nas comunicações apresentadas a debate público, reflexo implícito da qualidade dos seus autores. Que me alegra muito evidenciar, nesta ocasião. No passado mês de Agosto, durante quinze dias de férias em Porto Covo, na costa alentejana do Atlântico, deliciei-me a estudar as mensagens escritas que recebera em Lisboa, enviadas por vários investigadores e tradutores disseminados pelos continentes europeu, asiático e americano.

Concluí a missão forçada de presidente da Comissão de Programa pelo agrupamento dos temas abordados, definindo oito tópicos das sessões: uma fileira trata os sistemas de tradução, a terminologia, a tecnologia e a prática de tradução; outra fileira ocupa-se da educação de tradução, teoria de tradução, tradução literária e avaliação de tradução. Espero, sinceramente, que as discussões destas comunicações sejam frutuosas para todos os que chegaram aqui animados de idêntica expectativa.

Quem veio, chegou de longe. Pois distantes temos andado uns dos outros. Começa agora um percurso de proximidade. Que se deseja alargar mais, nos espaços da lusofonia e das diásporas espalhadas pelo mundo, intensificando o convívio de outros povos interactuantes com portugueses. A tradução representa um meio fundamental à

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intercomunicação internacional na crescente globalização económica. E a sua aplicação não tem fronteiras, não se confina a esta ou aquela língua. Porque o conhecimento científico e tecnológico é comum aos vários falantes. Que a ciência não tem donos.

Comprovam esta universalidade as 30 comunicações aceites e entregues, provenientes de uma dúzia de países: 16 trabalhos oriundos de Portugal, dos quais três são de autores ingleses a trabalhar em Lisboa; 2 textos, os únicos de autoria colectiva, vieram do Brasil; também chegaram 2 de Espanha, por autores portugueses aí a preparar as suas dissertações de doutoramento; e ainda 2 provêm da Alemanha, sendo brasileira uma autora e inglesa a outra; 1 paper do Luxemburgo, elaborado por um tradutor independente de origem inglesa; 1 relato de Itália, enviado por um português; 1 apresentação da Grécia; 1 narração executada na Finlândia por uma mexicana; 1 artigo escrito por um iraniano; 1 presença dos Emiratos Árabes Unidos; 1 testemunho de um americano no Japão; e 1 contributo brasileiro recebido dos Estados Unidos da América.

Estas autorias dizem respeito a profissionais de tradutologia a trabalhar em 17 universidades e 3 politécnicos, 6 doutorandos e 1 mestrando, 1 empresa e 2 tradutores independentes. Cerca de metade das comunicações veio de Portugal (16), distribuída pelo Sul (10) e Norte (6) do país, e outra metade chegou do estrangeiro (14), quer da Europa (8) quer da Ásia no Próximo Oriente (2) e Extremo Oriente (1) e ainda das Américas do Sul (2) e do Norte (1). Contribuíram 8 nacionalidades, com 16 portugueses, 5 ingleses, 4 brasileiros (sendo duas autorias colectivas de três autoras) e 1 conferencista de origem grega, iraniana, dos Emiratos Árabes Unidos, México e Estados Unidos da América. Curiosamente, dos 13 autores masculinos 7 são portugueses e 6 estrangeiros, enquanto das 17 autoras femininas 8 são portuguesas e 9 estrangeiras, resultando um perfeito equilíbrio dos textos escritos em português (15) e inglês (15).

Como presidente da Comissão Organizadora, só me posso congratular pelo sucesso predito. É claro, graças ao empenhamento dos conferencistas que trocam as suas opiniões, nas línguas portuguesa ou inglesa, acerca dos desempenhos da ciência e tecnologia de tradução; e devido ao interesse daqueles que participam nos diálogos suscitados pela investigação actual, geralmente associada à docência universitária, quase sempre dinamizada nos centros de pesquisa por teses de mestrado e doutoramento, mas também como reflexo da evolução das estruturas de trabalho dos tradutores na sociedade.

Os conteúdos narrados dão a perceber que o decurso da conferência irá extrair conclusões de alta valia. No final, estaremos de novo em plenário para fazer o balanço desses resultados. Cada conferencista fará a sua própria avaliação destes dois dias de convívio, mas antevejo que todos partirão com a recordação de um encontro proveitoso e agradável. Refiro-me aos 72 inscritos na conferência, dos quais 43 pretendem assistir activamente às apresentações programadas, a fim de colherem conhecimentos úteis às suas actividades em 14 universidades (11 portuguesas e 3 no estrangeiro), aos trabalhos em 18 empresas (7 de Portugal e 11 estrangeiras) ou aos 11 tradutores independentes (8 falantes de português e 3 de outras línguas), que partiram de terras mais ou menos distantes, em Portugal (27), Reino Unido (2), Suíça (1), Itália (2), Alemanha (4), Polónia (1), República Checa (1), Estónia (1), Angola (2) e Estados Unidos da América (2), sendo 35 do sexo feminino e 8 do masculino.

Termino as indicações estatísticas da contrapor2006 distinguindo as simpáticas presenças de 3 acompanhantes, com origem em Portugal, Grécia e República Checa, para quem não se previu nesta primeira conferência, lamentavelmente por exiguidade de tempo, qualquer programa cultural que associasse visitas turísticas na bela região do Tejo ao Sado, de Palmela a Setúbal.

Com vista a permitir fazer a análise dos vários temas livre de constrangimentos temporais, dispõe-se de meia-hora para discutir cada um. Trata-se de uma duração rara neste tipo de eventos, mas que concede a possibilidade de aprofundar, sob múltiplos aspectos, as ideias expostas. Aproveitem da melhor maneira esta oportunidade. beneficiando da significativa presença de tradutores que operam no mercado de trabalho e

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também empresas consagradas ou emergentes. É um bom sinal, pois concretiza o objectivo de estreitar a relação Universidade-Empresa. Aproveito para exortar os empresários e seus colaboradores com actividades em tradução a que se associem nestes encontros carreando as suas próprias experiências. Certamente que daí surgem vantagens recíprocas.

Limitamos o programa desta primeira edição a duas mesas-redondas, orientadas para questões directamente dirigidas aos tradutores: o problema da formação ‘para quem e para quê’; e o dimensionamento das ‘traves mestras’ da tradução por directores internacionais. Parecem duas amostras impressivas daquilo que se deve reproduzir, a fim de intensificar a interacção universidades-empresas ou educadores-tradutores e, por conseguinte, dignificar a actividade de tradução.

Na verdade, pretendemos dinamizar uma infraestrutura com a intervenção dos profissionais que laboram no campo, ao lado dos docentes e investigadores universitários ou politécnicos, para desenvolver em conjunto o novo conceito de ciência e engenharia de tradução. Eis um sentido muito significativo para uma faculdade de ciências e tecnologia, como esta onde nos encontramos, devido à possibilidade de integrar a ciência de tradução com as especialidades fundamentais em química e física, biologia e ambiente, electrotécnica e informática. Será uma ideia aproveitável nas respostas à moderna globalização? Apenas dou um toque subtil, a despertar levemente a sensibilidade criativa dos responsáveis pela estruturação de um mestrado ou curso de doutoramento em ciência e engenharia de tradução, num paradigma sistémico adequado às ciências sociais aplicadas.

O conjunto de acções desta contraposição é o que vai estar à vista. A minha opinião sobre a sua justificação e qualidade será, obviamente, suspeita. Mas não quero deixar de transmitir o que penso, à guisa de breve síntese final: dentro das limitações normais da vida profissional e dos recursos totalizados, vi nos rostos humanos os sonhos e as desilusões das mais íntimas intenções de participação na orgânica do evento e na concretização das sugestões vertidas, sempre com ardente dedicação e frenético entusiasmo.

Por isso, vou concluir agradecendo os apoios recebidos nesta encenação. Começo por realçar o genuíno entendimento verificado com a direcção da ATeLP e a atitude exemplar de Rosáro Durão pela conjugação de esforços na montagem do cenário desenhado. Entrego merecidos louvores aos membros organizadores, João Roque Dias e Isabel Monteiro, actores em primeiro plano, e depois a Virgínia Matos e a Luísa Yokochi nos pormenores de bastidores. Agradeço o suporte instrumental no palco da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa à Carla Marina, através do centro de imagem e informação, e ao professor Brandão Moniz pelo acolhimento incondicional da conferência no Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Por fim, deixo ecoar a amizade no aplauso que exprime o reconhecimento de gratidão ao professor Fernando Santana, digníssimo Director desta instituição de conhecimento e saber, que ajudei a construir ao longo de trinta anos e desejo continuar a elevar no plano científico e tecnológico, sempre a contrapor ideias criativas. Ao mesmo tempo, felicito todos os conferencistas que acendem a luz da ribalta. Vamos iniciar a representação.

Welcome, everyone! Bem-vindos e bom trabalho. Caparica, 2006-09-11

Hermínio Duarte-Ramos

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Translation and the ATeLP

Rosário Durão ATeLP Chairperson

[email protected] Abstract The aim of this paper is to present the rationale for the creation of the ATeLP – Associação de Tradução em Língua Portuguesa (Portuguese Language Translation Association) as well as its mission and objectives. Key words: ATeLP, raison d’être, project. The rationale

The ATeLP was born out of the desire to contribute to the advancement of translation, chiefly specialized translation, from and into Portuguese.

The motives for this decision were simple. On the one hand, translation is one of the most booming industries today and it calls for ever more highly- and widely-skilled (an apparent paradox, I know) specialists in translation. This brings a new tempo to their workplace, widens the professionals’ range of opportunities and imposes exceptional and deeply challenging demands on those who wish to give them the best initial and life-long learning opportunities. In this age of greater and increasingly effortless communication, such a trend is, I believe, bound to continue.

On the other hand, Portuguese is spoken by over 200 million people every day, everywhere in the world. It is the official language of eight independent countries, Angola, Brazil, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique, Portugal, São Tomé and Príncipe and East Timor. And its potential for growth as a lingua franca in Southern Africa and South America, as well as in the Orient, is excellent. Wishing to promote Portuguese translation seems, thus, a logical desire.

Naturally, there were other reasons, some mere insights, others a bit more concrete. Among the last, I could mention the visit to two types of websites: those of translators

associations which every year orchestrate events attracting thousands of people either working in or simply interested in the language industry; and the sites of other organizations that, having chosen the discipline as their focal point – Mathematics or Paediatrics, for example –, carry out an inspiring number initiatives: workshops, summer schools, research, publications, competitions, prizes, the list is quite long and inspiring.

Among the insights, there was a feeling that I and my founding colleagues had that the scant events and publications about specialized translation were eagerly awaited. But not

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only that. There was also the realization that languages do not exist independently of people but, on the contrary, depend on them to be alive. And the conscience that translation is a stage where many actors perform, and that each one of them possesses store of information and experience which is unique, yet transmissible. And also the conviction that translation is both knowledge and a skill that grows out of the encounter of all other fields of knowledge and professional activity. And, perhaps most important of all, there was the belief that translation is at the centre of this highly complex world of communication.

The ATeLP was created to give life to these ideas. The mission

It was created on the 8th of July 2005 as a non-profit making association by a group of eleven people working in different fields of translation. On that day, they pledged themselves to help implement the ATeLP’s object of “cultivating, developing, promoting and disseminating information about the practice, study, teaching-learning, research and application of general translation and, more particularly, of specialized translation from and into the Portuguese language”.

In practice, this means that the ATeLP envisions itself as a private, independent, cultural and scientific association. It is a private association because it believes in the generating power of private initiative. It is an independent association – independent of professions, institutions or firms – because it sees that as the best way to, unhindered, examine current beliefs and attitudes and to set off on new paths. It is a cultural association because it intends to undertake activity to disseminate, clarify and provide information about translation as well as make available resources for carrying out and studying translation. It is a scientific association because it plans to undertake research work and disseminate outcomes, edit publications, hold training courses, etc. The objectives

From the activities we carried out to date, we highlight the launching of our website with information catered to the interests of our various publics, our presentation to the public on the 1st of May this year at Palácio Galveias in Lisbon, the agreement with the e-journal Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica, our first two Cafés de Tradução, and this, our first conference, contrapor2006. There are other activities planned for this year, such as the Café de Tradução in December on the topic of translation students in Portugal today.

We are indeed committed to gradually but surely accomplishing what we set out to do: to make the ATeLP a place where researchers, translators, teachers, language specialists, students, customers and translation users, translation teachers/consultants and anyone interested in Portuguese translation, especially in Portuguese specialized translation, can encounter a space for discussion and reflection. A space where they can learn more about the different kinds of translation and its rapid growth all over the world.

And we can all participate in this project. We can do so by creating a division to promote the reflection and the initiatives on a topic of our choice, whether it be a cultural, a scientific or a pedagogical theme. Or by sharing our experiences, our doubts, or the results of a project in a debate or a simple conversation. We can also contribute with information to place on the website, and even, who knows, by starting a delegation in other parts of Portugal or in other countries where Portuguese is spoken. The occasions to get involved are endless.

In conclusion, the ATeLP is open to all those who wish to participate in the interpersonal, interdisciplinary and interinstitutional dialogue that make translation such as attractive profession and a fascinating topic of research and discussion. The ATeLP is in fact the result of such a dialogue. That is why we call it an association in progress.

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Acknowledgements My warmest thanks to all those who made the ATeLP and this congress possible. BIOGRAPHICAL NOTE

Rosário Durão holds a Masters Degree in Anglo-American Studies from the Faculty of Letters of the University of Lisbon. She is preparing a PhD in the speciality of Translation Studies at Universidade Aberta in Lisbon. Her research interests include technical and scientific translation learning-teaching, technical writing, and technical and scientific genres. Currently, she is coordinating two post-graduate courses in specialized translation (Medical and Life Sciences, and Sciences and Technologies) at Universidade Lusíada. She founded and is chief editor of the e-journal Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica. She was a co-founder and chairs the ATeLP – Associação de Tradução em Língua Portuguesa for the period 2005-2008.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Modelo Sistémico de Tradução

Hermínio Duarte-Ramos Universidade Nova de Lisboa (FCT), Portugal

[email protected] Resumo A tradução de qualquer texto de uma língua para outra faz-se pela intervenção adequada de especialistas, usando mais ou menos auxiliares tecnológicos. Este conjunto humano-máquina constitui um sistema inteligente-intelegente. Portanto, poder-se-á aplicar a teoria sistémica à sua descrição, através de um modelo funcional que representa a estrutura do processo. E daí efectua-se o desenvolvimento do próprio sistema. Tal procedimento procura justificar a construção do modelo sistémico de tradução, tendo em vista as respectivas essencialidades sistémicas, que exprimem os componentes estruturais, as interligações dessa configuração, as restrições espaciais, as adaptações operativas e os objectivos referenciados nos sinais de resposta. Para interpretar esta complexidade, descreve-se a simbologia gráfica do modelo funcional do sistema de tradução e do comportamento interno do tradutor, eventualmente assistido por computador, para concluir sobre a possibilidade de optimizar o desempenho da tradução automática através do controlo cognitivo na integração do humano com as tecnologias computacionais. É a ligação da ciência de tradução à engenharia de tradução a fim de construir diversas ajudas à profissão de tradutor. Palavras-chave: teoria sistémica, ciência de tradução, engenharia de tradução. Abstract The translation of any text from a source language to a target language is made using human professionals and technological equipment. Such human-machine set performs as an intelligent-intellegent system. So, we can use the systemic theory to describe it as a functional model representing the process structure. Our aim is to justify the translation systemic model, in order to enhance their systemic essentialities, which characterize the structure components, the connections within the whole configuration, the space restrictions, the operation adaptations and the reference objectives in the response signals. For that complexicity interpretation, we describe the graphic symbols of the translation system model and the internal translator behavior, eventually assisted by a computer, inducing the possibility to optimize the automatic translation performances developing a cognitive control system with computation technologies. It is like a link between the translation science and the translation engineering in order to build up several aids for the translation profession. Key-words: systemic theory, translation science, translation engineering.

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Introdução ao sistemismo

O processo de tradução constitui um sistema. A sua estrutura possui vários componentes interligados entre si, como em qualquer sistema, dentro dos limites de uma fronteira real, quer concreta ou conceptual, e adapta a respectiva operação a um dado objectivo, que é a conversão de textos numa língua de partida para outra língua de chegada. Esta estrutura operativa separa a actividade interconectada no espaço interno e o ambiente à sua volta. A teoria sistémica analisa o comportamento do respectivo processo, tendo em conta as essencialidades que caracterizam qualquer sistema. Portanto, pode ser aplicada ao sistema de tradução.

Para efeito de melhor entendimento desta análise, e porque se encontram pouco vulgarizados os conceitos fundamentais da referida teoria, introduz-se a seguir a identificação de tais essências dos sistemas. A posterior aplicação ao modelo do sistema de tradução deixa inferir as propriedades que se pretende evidenciar.

Como se referiu, genericamente, um sistema constitui uma estrutura organizada, com vários componentes interactuantes entre si, por mais simples ou complexa que seja a configuração interconectada, dentro de uma fronteira concreta (material) ou ideal (concebida), cuja operação se adapta às condições de funcionamento, para responder à referência de uma determinada finalidade. O sistema comunica com o exterior da sua fronteira por meio da entrada dos estímulos de excitação interna e pela saída das respostas nas acções sobre o espaço exterior, conforme os objectivos prosseguidos.

A teoria de sistemas, que efectua a respectiva interpretação e representação funcional num modelo devidamente estruturado, baseia-se na definição das funções desempenhadas por cada componente e de acordo com os sinais de interactividade nas suas conexões. É importante notar que uma determinada parte estrutural pode exercer uma ou mais funções, equivalendo a um componente unifuncional, como subsistema simples, ou multifuncional, num sistema intrinsecamente composto. Além disso, convém reparar que a decomposição da estrutura do sistema faz-se até onde for necessário, para evidenciar as funções desagregadas que interessam à caracterização da operação global.

Este princípio integral constitui o fundamento inovador do sistemismo, afinal uma extensão paradigmática do funcionalismo. Sabe-se que o todo é mais do que a soma das partes, seguindo a vulgar expressão de afrontamento ao tradicional cartesianismo analítico e sintético. Para isso, há que atender ao conjunto das quatro aptidões da estrutura sistémica, basicamente a acronia, axonia, aquadria e adaptacia, que determinam a quinta essência da telonomia.

Na verdade, a teoria sistémica considera que todo o sistema possui ‘acronia’ pela composição da estrutura interna, ‘axonia’ nas interligações estruturais entre esses componentes, ‘aquadria’ de enquadramento espacial no ambiente natural e ‘adaptacia’ de ajuste operativo na evolução diacronicamente mutável (filogenética) ou sincronicamente variável (ontológica) da organização estrutural, cuja operação faz emergir a ‘telonomia’ contida na intenção explícita da globalidade do sistema. Em suma, nada existe sem uma finalidade, sendo até que o acaso tem um fim a cumprir, mesmo que seja o caos.

A composição acrónica depende da finalidade consubstanciada. A interacção axónica assume maior ou menor complexidade, mas pode ser reduzida a configurações simples em série, em paralelo e em retroacção positiva ou negativa, que satisfaçam a intenção projectada. A restrição aquadriva dos componentes e suas interconexões no espaço real limita a realidade concreta, vulgarmente dita material, à finitude existencial da natureza. A operação adaptiva da estrutura organizada evolui nos movimentos que determinam o tempo, em mutações estruturais da sua filogenia ou variações operativas da respectiva ontologia, adaptando a dinâmica da acção aos pontos da sua característica operativa. A intencionalidade telonómica, quer fixa quer variável, exige comportamentos adaptados da organização estrutural, perante os mais variados estímulos nas entradas de referência.

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A aplicação deste modelo sistémico da realidade interpreta cientificamente tudo o que existir no mundo natural, tanto no espaço concreto da natureza como no espaço ideal dos sinais mentais. O que encoraja a aplicar aos sistemas de tradução a metodologia usualmente eficaz na engenharia, dada a sua índole real nos sistemas societais em que vivemos. Sistema de tradução

Parte-se da ideia da actividade de tradução linguística se desenrolar num sistema que converte textos de uma língua fonte em textos noutra língua alvo, ambas as narrativas com semânticas equivalentes. Neste processo, intervêm componentes específicos, que operam integradamente sob uma finalidade bem referenciada. O correspondente sistema fica então bem delimitado. Um componente fornece entradas ao tradutor, o qual traduz nas suas saídas a linguagem equivalente da língua objecto e manipula os dispositivos tecnológicos adequados à respectiva escrita. A resposta final será o texto obtido da conversão, após terem sido aplicadas as regras linguísticas dos dois idiomas contrapostos.

No processo de tradução participam diversos componentes, que desempenham as seguintes funções básicas: um iniciador fornece ao tradutor as condições de referência da resposta do sistema de tradução (Nord, 1997); um papel ou ecrã com o texto de partida emite os sinais de referência percepcionados pelo tradutor; este executa a tarefa de traduzir, eventualmente auxiliado por sistemas de tradução automática em paralelo, e concede à saída os sinais de acção referidos aos estímulos recebidos; tais respostas do tradutor são escritas por um equipamento de registo, devidamente adaptado ao fim em vista, donde saem os sinais da tradução numa certa tecnologia; a saída final resulta noutro papel impresso ou numa memória electrónica, com o texto na língua de chegada. O processo pode ser iteractivo, por retroacção negativa de revisão ou comissionamento, que leva a tradução a estabilizar na telonomia referenciada.

Como se vê, os componentes terminais do processo, relativos à entrada de referência inicial e à saída de resposta final, constituem simples folhas de papel ou dispositivos electrónicos. O componente tradutor é humano, podendo ser inserido em paralelo com uma cascata informática no caso da tradução assistida por computador. A acção desenvolvida pelo humano manifesta-se geralmente através da escrita, embora também se possa usar a expressão oral. Consoante a índole desta resposta humana, assim se utiliza um ou outro equipamento de registo, tanto de impressão em papel como de reprodução acústica. No caso da escrita, a maneira mais tradicional consiste em executar manuscritos com caneta; historicamente, passou-se pela máquina de escrever manual e depois eléctrica; hoje em dia usa-se, correntemente, uma impressora associada ao computador de processamento do texto traduzido, ou então envia-se todo o trabalho digitalizado via Internet para o endereço do cliente. Modelo funcional de tradução

Para teorizar o processo descrito, há que compreender cada um dos componentes estruturais referidos da acronia do sistema de tradução e ainda as respectivas interligações constitutivas da axonia envolvida pela respectiva aquadria. Tudo o que existe na realidade à volta desse sistema não intervém essencialmente no processo produtivo, embora possa ser usado na realização óptima. É o que acontece com o uso de uma cadeira ergonómica, onde o tradutor se senta comodamente, ou a climatização controlada da sala de trabalho, que lhe oferece conforto na execução das tarefas. Quer dizer, as preocupações do modelo a desenvolver só têm em conta as condições funcionais do processo operativo, que caracteriza as aptidões essenciais da estrutura do sistema de tradução, descuidando o modo de concretização e tudo o que intervém acidentalmente para o fim em vista, independentemente da sua importância noutras preocupações técnicas, sociais ou

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humanas. Ou seja, a descrição funcional não atende às tecnologias pressupostas, pelo que adquire o carácter universal pretendido à base científica.

Por isso, representa-se a acronia e a axonia, dentro de uma aquadria mais ou menos idealizada, através dos comportamentos individuais dos componentes e integram-se as operações da adaptacia conveniente à telonomia do sistema tradutor. Deste modo, a teoria constrói-se por blocos simples dos vários componentes, cada um caracterizado pelo respectivo comportamento humano ou maquínico no processo global, cujas entradas e saídas configuram uma certa organização coerente. A simbologia gráfica deste modelo representa o correspondente modelo funcional (Fig. 1).

Figura 1 – Modelo funcional do sistema de tradução.

Evidentemente, a pormenorização sistémica de cada bloco funcional faz-se até onde for necessária à compreensão da função desempenhada, entendendo que um componente, contido no interior da sua aquadria, significa um sistema em si mesmo. Este encontra-se estruturado com uma acronia própria e uma axonia singular na integração adaptiva à globalidade do processo, a fim de responder às referências de entrada para cumprir a telonomia predestinada 1.

Eis o contexto em que existem interfaces humano-máquina, coerentemente concebidas e implementadas, que auxiliam o tradutor humano nas suas tarefas de conversão linguística e registo da tradução. Por exemplo, o paralelo do teclado e do rato em série com o computador permite que o tradutor escreva electronicamente o texto traduzido na língua alvo, usando a exibição do ecrã num monitor para verificar a tradução e eventualmente exercer acções retroactivas de correcção da escrita visualizada, através da interface constituída pelo rato em paralelo com o teclado. E o processo de pormenorização sistémica poderá prosseguir para outras operações de registo electrónico ou impressão.

Geralmente, com o propósito de não complicar inutilmente a análise dos sistemas, limita-se o número de componentes aqueles que se mostram indispensáveis para descrever toda a funcionalidade de interesse à resolução do problema enfrentado. Esta será a estratégia usada quando se pretende dominar a complexidade aparente da realidade. A observação interna a um ou outro componente do sistema apenas se justifica caso se queira investigar a descrição do seu comportamento. De facto, deixa de ser necessário efectuar a decomposição dos elementos constituintes logo que se atinge a caracterização do comportamento sistémico.

__________ 1 Em concordância com a Skospostheorie de Vermeer (Reiss, Vermeer, 1991).

Documento original

Iniciador

Tradutor

inicial

s electromagnéticos) texto

(sinai

Dispositivo de registo

tradução

(sinais motrizes) Documento de tradução

texto

traduzido referência

Tradutor automático

Comissionador

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Operacionalidade do tradutor

Analogamente à análise funcional do sistema humano-máquina com a tecnologia informática, também se pode observar o comportamento sistémico do tradutor (Fig. 2). Dentro do humano participa o sistema nervoso, com o aparelho visual de entrada da informação a traduzir e o aparelho motor manual na resposta de saída pela escrita traduzida. Não interessa aqui fazer a análise destes componentes neurológicos. O que importa é evidenciar a sua interconexão com a memória, também formada biologicamente por redes de neurónios e células gliais, em particular a memória de longo prazo, onde se regista a informação relativa às duas línguas contrapostas.

Independente dos mecanismos biológicos associados, o modelo sistémico faz intervir as funções desempenhadas nas interligações da memória com a mente, tanto pelas entradas percepcionadas do texto original como pelas saídas motrizes de execução do registo escrito ou impresso do texto traduzido. Os sinais perceptivos referem-se aos sinais electromagnéticos da luz de leitura visuo-espacial. E os sinais motrizes dizem respeito à acção de motricidade da mão e caneta ou dos dedos no teclado do computador.

sinal de percepção

Conversão mental

sinalde leitura

sinalde tradução Memória

(língua alvo)

Motor de

escrita

sinal motriz (visuo-espacial)

Tradutor

sinal electromagné

Figura 2 – Modelo funcional do tradutor humano.

Entre estes dois fenómenos terminais do sistema ocorre a conversão mental de uma língua para outra, por meio da intervenção básica da estrutura multiconfigurada da memória e dos sinais da mente. Neste processo verificam-se convenientes subveniências de estimulação neuronal e adequadas sobreveniências de imageria mental, que aqui se dispensa de aprofundar. Em fases sucessivas, com extraordinárias velocidades de processamento neurológico, o sinal externo estimula a geração do sinal de percepção, donde resulta um sinal de leitura, que se converte no sinal motriz da escrita referente à tradução.

A intenção de fazer esta análise sistémica, para além da compreensão do comportamento humano, reside sobretudo na emulação tecnológica do processo de tradução. Um sistema informático, que executa traduções automáticas, funcionará conceptualmente seguindo um princípio análogo. Esta é a questão fundamental do projecto de concepção tecnológica de um sistema tradutor. O respectivo projecto de execução consiste na realização desses conceitos biónicos pela ciência de computadores, na chamada engenharia de tradução.

A maior ou menor capacidade de laboração das tarefas de tradução avalia-se através da memória relacional que se consegue criar, tanto nos humanos como nas máquinas. Compreende-se facilmente que o desempenho da memória é que permite ser mais ou

tico

suo-espacial)

(vi

Memória (língua fonte)

Visão de

leitura

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menos especialista de tradução. Cada um exerce as suas funções de acordo com as habilitações específicas que possui. Neste sentido, a formação profissional representa um factor essencial às boas traduções, pois constrói as melhores configurações de memória.

Mas, é claro, ainda existem outros factores. Nos humanos, estes atributos referem-se por "inteligência". De facto, para lá dos factores específicos adquiridos pela aprendizagem, evidencia-se a importância do factor geral da inteligência. Esta capacidade de resolver problemas novos, como acontece muitas vezes nas solicitações de tradução em línguas especializadas, distingue um profissional de qualquer outro. Todavia, a inteligência humana concede a possibilidade de efectuar subveniências conscientes e sobreveniências mentais, no espaço ideal da mente, adaptando a operacionalidade do processo em curso com qualidades muito diversas. E daí resulta a natural diversidade de qualificações das traduções concretizadas.

Na verdade, o sistema interno do tradutor humano faz apelo à leitura original e será a sua capacidade de ler por dentro da semântica percepcionada que ditará o melhor ou pior efeito da resposta final da tradução entre as duas culturas objectivadas em línguas diferentes. É evidente que a este mecanismo corresponde um determinado nível de inteligência específica. O mesmo não acontece nas máquinas. De facto, um sistema tecnológico só executa as operações para que estiver construído. A sua intervenção baseia-se na eleição de soluções, cuja "intelegência" pode optimizar rapidamente mas sempre segundo o seu conjunto de premissas construtivas. Os graus de liberdade de escolha racional são muito limitados económica e tecnologicamente. E não assumem a adaptação de escolhas emotivas.

De qualquer modo, as máquinas intelegentes, tradicionalmente ditas com inteligência artificial, efectuam o trabalho de tradução de maneira aproximada, é certo, conforme as actuais possibilidades do desenvolvimento científico e tecnológico. Mas estes dispositivos automáticos tendem a ser cada vez mais rigorosos e versáteis, executando as tarefas muito depressa e sem queixas de cansaço. Nesta elevada produtividade, porém, escasseia a crítica adaptiva. Daí que não se dispense a participação do controlo cognitivo na interface dos humanos com as máquinas. Conclusões para a ciência e engenharia de tradução

A teoria sistémica, aplicada ao processo de tradução, estabelece a emulação do comportamento humano através de um modelo bastante claro, que descreve funcionalmente a estrutura operativa com vista a obter o resultado pretendido. Tal modelo sistémico revela dois aspectos práticos: por um lado, aponta uma excelente formulação pedagógica pela grande evidência interpretativa da globalidade do sistema de tradução, onde se insere o humano tradutor; por outro lado, destapa o princípio de construção tecnológica da tradução automática, assistida na tecnologia computacional. A concretização destes dois aspectos cabe a diferentes âmbitos do "sistema de tradução" unificado: o primeiro centra-se no ensino e aprendizagem da "ciência e tecnologia de tradução"; o segundo entra pela "engenharia de tradução" através da programação informática das línguas naturais e do respectivo controlo cognitivo.

A presente análise interpreta a tradução como um sistema e assim evidencia a possível abordagem de diferentes racionalizações a partir dos seus princípios reais. Destina-se a despertar futuros desenvolvimentos, por quem estude os fundamentos da tradução entre duas línguas diferentes e procure atingir soluções pragmáticas de comunicação, sem destruir as identidades humanas societalmente diferenciadas.

Não é em tão breve abordagem que se expõem os inevitáveis aprofundamentos científicos e tecnológicos do sistema de tradução. Mas a descrição do modelo de partida insere-se no desbravamento de uma aliciante área de investigação, que agora emerge e poderá motivar dissertações de mestrado ou doutoramento sobre a ciência de tradução.

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Obviamente, com repercussões enriquecedoras da actividade profissional dos tradutores, tão necessária à globalização desenhada no alvor do século XXI. Referências Katharina Reiss, Hans J. Vermeer, Grundlegung einer allgemeine Translationstheorie, Max Niemeyer

Verlag, Tübingen, Deutschland, 1991. Christiane Nord, Translating as a Purposeful Activity: Functionalist Approach Explained, St. Jerome

Publishing, Manchester, UK, 1997. NOTA BIOGRÁFICA

Hermínio Duarte-Ramos, Professor Catedrático Jubilado da Universidade Nova de Lisboa, tem efectuado trabalho de investigação em engenharia sistémica na área do controlo cognitivo na Faculdade de Ciências e Tecnologia. Foi distinguido com o 1º prémio de tradução científica e técnica JNICT-União Latina no ano de 1993. Actualmente, co-coordena dois cursos de pós-graduação sobre Tradução Científica e Técnica propostos à Universidade Lusíada, em Lisboa. Acaba de ser eleito presidente da comissão de normalização da terminologia electrotécnica portuguesa do Instituto Português da Qualidade para a Comissão Electrotécnica Internacional, após duas dezenas de anos de actividade na respectiva comissão de terminologia. Co-fundador da ATeLP, é presidente da sua assembleia-geral.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Growing Up Into Science and Technology: a Translator’s Educational Heritage

Vicky Hartnack

Faculty of Letters, Lisbon University, Portugal [email protected]

Abstract This paper seeks to understand why it takes young translators who have received their upper school education in the arts and humanities and have gone on to take translation degrees or post-graduate courses in arts faculties and applied language institutes, so long to settle down in and feel comfortable with technical and scientific translation into their own language. The paper also seeks to examine the fact that a growing number of highly trained workers in science and technology are becoming translators, working in their own fields and that their target languages may not necessarily be their own. Without proposing an essentialist stance or a translation theory, I suggest that we look at the general structure of scientific and technological discourse and the mind frames it constructs, taught as from the middle school. In order to see why students experience such difficulties in science and maths, I shall be raising the idea of a genre-based approach to scientific discourse from a systemic-functional linguistic stance that allows us a better understanding of our reality – in this case, the specific reality of the translator of scientific and technological texts – through the mediation of applied linguistics as a social and cultural tool.

Key words: scientific discourse, genre, training. Introduction

The fact dawned on me that scientific and technical translation was not only a matter of specialized vocabulary about 25 years ago, albeit in a gradual process of gaining awareness and insights as I traversed the thorny path of mediating technical texts. I had already acquired a certain amount of experience in other kinds of non-literary translation, but the two articles I was asked to translate into English were to be decisive for a future incursion into the theory of scientific translation. After having laboriously translated (on a manual typewriter) two lengthy texts on the psychiatric evaluations of withdrawal symptoms in adults addicted to toxic substances (in this case, nicotine and alcohol), I was told that my work simply would not do; I had changed the meaning of things; I would not get paid, and that was that. Upon asking for examples of how the meaning had been changed the psychiatrist exploded, and gesticulating wildly, shouted that I had changed everything! I was angered at his lack of preciseness at first and then puzzled. But in effect, he was right. I had changed everything: I had changed the meaning. I had made what had been a highly technical study written for

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restricted scientific readership into something laypeople could understand. I had democratized the text in detriment to its scientific value and had transformed it into common-sense, vernacular, or folk knowledge – after all, don’t we all know someone who smokes too much or drinks more than is good for him/her? I had changed the precise nature of the psychiatrist’s description and explanation in un-commonsense terms to use Halliday & Martin’s word, not by changing his taxonomy but by changing his genre, his construction of text, his metaphorical grammar. I had re-worked his text to represent not his own – and the medical class’ – specialized knowledge about a problem that all of us have some knowledge about, to suit my own purpose having in mind the other 99 % who were like me. Perhaps it was the nature of the subject that lent itself to assumptions I would not normally have dared to make – rather in the manner described by the linguist, Guy Cook, when he discusses the scientific and non-scientific perception of the science involved in genetically modified organisms 1. It was not so much the voice of the translator taking a stand to assert identity; it was an attempt to understand the representation of knowledge from a layperson’s point of view. And it was doomed to failure. I subsequently learned that although we have only one language system to describe other systems such as we find in science and technology, we have to know how to deal with field-specific environments that cannot be unpacked in one-to-one equivalents without causing changes in meaning.

I have mentioned this incident because it sheds light on the nature of the scientific text and the difficulty young translators experience in coming to grips with them after having graduated from their first-degree translation courses in arts faculties and the polytechnics. Given the fact that we are living in a technological age and educational guidelines are seriously concerned with successful learning and outcomes in these spheres, it is necessary to take a look at the nature of scientific languages as a social semiotic that processes meaning and allows students to understand and interpret the mathematical, scientific and technological concepts introduced to them at school so that they can, at a later date, take a full and equal part in the society of the future.

I shall therefore be considering genre as a possible approach to learning these subjects, so that students understand better what and how they are learning in order that they may give written accounts of their success. I will look at this issue from a systemic-functional linguistic approach, which I believe sheds light on the relations between the components of language and meaning and in the way language functions socially in particular fields. In doing so, I will also link up the pedagogical language system with the other semiotic systems that prevail in the science and maths classroom. I will therefore be discussing areas of difficulties experienced by students and translators as they negotiate the genre. However, it will not be my concern to offer any theoretical guidelines to translation practices. Nevertheless, and to end with, some questions will be raised about the kind of competences translators of scientific and technological texts need to have.

Learning the language of science and technology

It is a common belief that far from integrating into the creative, hybrid world of the post-

modern with its acceptance of the other in multiple universes of signification and cross-referencing, the discourse of science and technology seems to be conservative, highly ordered and therefore exclusive. But is this really so? In order to make sense of the world, students need to acquire the cultural tools and practices of their times, and in our technological age, science as a human activity is very much a part of the social scenario. What students have to learn are the various languages – or the multimodality of the rhetorics of science to use Gunther Kress’ term – in order to understand the different systems of signs

__________ 1 See Guy Cook, pp. 91-120, where key phrases and metaphors are discussed to show the difference between

scientific language and unscientific language as handled by the press, politicians, lobby groups and the general public.

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in a scientific concept. This includes not only understanding the operational and visual representations, the verbal and textual signs, the symbols and codes of science and technology, but understanding them in a synergy that demands a logical movement to-and-fro each of them in a process whereby knowledge is constructed. But as Basil Bernstein pointed out as far back as the early 1970s in his seminal work on elaborated codes, the language of learning at school may also be the language of exclusion owing to the demand that speakers have to know how to deal with the code-switching and ambiguities of institutionalised discourse. Students are assessed on their competence to handle these discourses through their performance and many fail to do so due to the representational breakdowns between words and meanings.

Jay Lemke pointed out that in order to perform in the way the institution and society expects, students need to know "how scientists talk and write and diagram and calculate, how scientists plan and observe and record, how we represent and analyze data, how we formulate hypotheses and conclusions, how we connect theories, models, and data, how we relate our work and results to those of other researchers" (2002:159). Natural language, he stressed, is very limited in its ability to describe the concepts and workings of science and technology. As far apart as in Europe, Australia and the USA, pedagogues and applied linguists have been proving that meaningful maths and science depend on how well students take part the process to build up the semiotic system in the cultural setting of the classroom from different disciplinary and operational perspectives in "a dynamic process of transformative sign-making" (Kress et al., 2001:xiii). In other words, the reading and writing of science is only a part of the story.

But it is the part that interests the translator of scientific and technical texts. The fact that its increasingly formulaic, esoteric nature is cause for worry among educators who see in it a factor of social and cultural exclusion, is also of interest to the translator. Unravelling the abstractions, the technicalities and the taxonomies, as well as penetrating the rationalistic mind frames couched in elitist discourses (heavily influenced by Anglo-Saxon formalism) may prove too much for many translators because they have not been trained into them. It is precisely the impenetrability of scientific and technical discourse that is the on-going concern of pedagogues in their wish to open up science education to those who have always traditionally been denied access to it. However, in taking educational measures, the authorities seem to have compounded the problem by confusing the discourse of science – a specialised descriptive discourse of signs, or rather, an experiential un-commonsense discourse – with the interpersonal vernacular narrative based on the expressivism of imaginative creativity, pseudo-scientific terminology and "quasi-genres" 2.

In an ironical paradox, however, the scientific mode has also become the discourse of power and hierarchy. Far from being esoteric, its influence has spread to other public spheres such as bureaucracy, technocracy, advertising and journalism. At the beginning of the 21st century, the linguistic scaffolding of scientific knowledge has been transformed into the language of literacy. M.A.K. Halliday (1993:10,11) has rightly stated that what started off by freeing and enabling the linguistic constructual of experience gained through the new experimental sciences in the 17th century, has ended up by constraining and distorting it. Nevertheless, there is every indication that in future societies, people will be forced to interface with semiotic systems to an increasing degree. Language has already become the vital commodity whereby information is produced and exchanged. And therein lies the second paradox. Our post-modern relativity has already made inroads on scientific genre. The certainties scientific and technical discourse has had up to recently to construe particular realities would seem to be moving in the opposite direction today: from absolutes to relatives;

__________ 2 See USA emancipatory pedagogy and certain currents in cultural studies pushing for expressivism by allowing

children to use their own childish semiotic systems unencumbered by genre restraints. See J.R. Martin (1993:167) for an account of the teacher’s negative reaction to 8 year-old Ben’s scientific essay.

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from objects to processes; from deterministic to probabilistic; from stability to flow 3. The new semiotic systems that are developing new sub-genres (suited to globalization, on the one hand but also unique socio-cultural identities on the other) will need to be deconstructed, however, and will have to undergo testing for comprehensibility. Hopefully, the tendency will be to find new ways to express meaning and to democratise what has hitherto been elitist, even if new elites quickly develop and take their place.

Learning about genre while "doing" science and maths

This brings us back into the pedagogy of the science classroom, to the question of

accessibility and the core of the problem with learning maths, physics, chemistry, computer science and the natural sciences. Do the students understand the language in which these subjects are delivered? Or does pedagogy explicitly need to shape consciousness through linguistic and social processes so that they make sense 4. There is hardly any student writing of text in maths and science in the classroom and, even if accepted genre-constraints are obeyed, much of the input they receive is through oral, visual and kinetic means. Students are often at a loss when cutting through the teacher’s discourse and the passages in their textbook to get at meaning. And they are less successful when it comes to writing up descriptions, procedures, arguments and conclusions pertaining to their own elementary scientific practice and in accordance with accepted sub-genres. Robert Veel (in Christie, 1999:169) offers a convincing explanation for this difficulty. He says that,

without pedagogical recontextualization of science, it would not be learnable. School science reduces, simplifies, generalizes and idealizes centuries of scientific activity, in order for students to assimilate important understandings and to move on to ‘real science'. This requires science educators to organize knowledge into taxonomies, axioms, laws and principles to explain phenomena. (…) Progressive science educators often emphasize the need to ‘rehumanize’ school science (…). This has led to the radical changes in the appearances of many textbooks, though not of the written language they contain (my emphasis).

In his article, "Monitoring Semogenesis" (in Christie, 1999:123-155), J.R. Martin offers a

3-dimensional model of change in classroom discourse so as to open up learners’ access to genre and enhance the projection of meaning in a semogenetic process. By working through a constructive of discourse interchange between teacher, students, text, action, visual means, gesture and multimedia, teachers have found it useful to get the children to construct meaning and practice through unfolding or deconstructing the genre itself. In other words, as scientific and technological concepts are introduced to the students, the language in which they are couched is checked for understanding and successful reproduction. The process is worked through in textual form (Martin terms this logogenesis) whereby the individual gains awareness of the meaning potential in the text (ontogenesis) in the environment of the evolving culture (phylogenesis). His procedure is primarily concerned with unpacking the written language step-by-step and he teaches the students the genre of what they are learning so that they reproduce it themselves in text form. His classroom strategy is a three-phase one based on: modelling, where the social function/context of the genre is discussed and deconstructed; joint negotiation of the text where doing things with the language (as for example, observing, researching, note-making, discussing, rehearsing, summarizing and role playing) leads to the preparation phase of new texts in the same genre; finally, independent construction of text where students edit and rework their own texts in the genre using appropriate linguistic scaffolding. Here student have to reedit and rework text and critically

__________ 3 See M. Cronin for an interesting account of multiple modernities and the position of the translator interfacing with

new semiotic systems in the shifting economies and geographies of the globalization process. 4 I am paraphrasing the title of the collection of essays on this subject edited by Frances Christie (1999).

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assess the ideas, theory and practice conveyed in the genre. In "doing" science, therefore, students are simultaneously organising scientific information and explaining events scientifically so as to eventually "challenge" science (to use Veel’s idea).

Classifying scientific language

Apart from the Australian school, there has been little work done on the actual grammar

of scientific genres. Functional grammar has been used as a linguistic foundation for discourse analysis and text and genre studies, but despite the fact that systemic functional linguistics (SFL) is a resource for meaning (and not a system of rules) and offers an explanation about the semogenesis of specific kinds of discourse, it has rarely been used to describe and classify scientific writing and its mediation and translation.

The impressive numbers of glossaries, lexicons, multilingual on-line term banks and dictionaries would appear to confirm the generalised idea that the challenges offered by scientific and technical translation lie merely in the complexity of their terminology. Some translators think that the specialized glossary and dictionary is the single most important work tool (Al-Hassnawi, 2006) because standard texts are highly formulaic and therefore "easier to work with" (Hatim, 2001:167 quoting A. Beeby). But translation novices (and school students) need to know how scientific discourse works through its own lexico-grammar structure within the setting of whole text processing and the projection of meaning (semogenesis) through relationships established across language systems and across metafunctions using contextual correlatives.

An SFL approach to classifying the genres of scientific, technological and mathematical text shows "how the work of science is grammatical: naming, constructing, positioning the social and natural worlds" and how these fit into meaningful "sequences of agents and causes, relations and consequences" 5. The sentences in the texts realising the discourse, are therefore not only basic units of meaning, they primarily observe the semantic organization of the whole text and their systems of meaning. Halliday (1993) constructed a framework in which the dynamic relationship between the grammar of the text and the meaning potential as a social semiotic could be described in the scientific text. This is not the place to go into detail about it although a few commentaries are necessary to look at some of the issues he raises. It is useful for perceiving the problems that school children have in understanding real-life scientific and technical processes in the way they are described and classified in language. Such problems are carried forward into translators’ practices later on.

As a first step, the translator has to be aware of the apparent dichotomy between (1) science as text written from a particular perspective about a wider practice (e.g. the description of valve behaviour in propelling liquid fuel within a class of process descriptions) where meaning is construed through very specific taxonomies in a semiotic process, and (2) science as a social institution that refuses to be confined in formal categories and is more ambiguous and susceptible to social practices (e.g. Guy Cooks' description of science crossing borders into public discourse about genetic modification). This is not really a problem from an SFL point of view of classifying as the organization of language and social context is treated as functionally diversified along similar lines. The ideational, interpersonal and textual metafunctions carry through this functional diversification 6. The translator has to negotiate all three metafunctions across field, tenor and mode during

__________ 5 Alan Lake in his Introduction to Halliday & Martin, 1993. 6 Very succinctly, the ideational metafunction is concerned with representation and is processed through its

relationship with field (the topic referring to social action and what is taking place). The interpersonal metafunction that is so important in establishing interaction to enhance semogenesis works within the mood system and is related with tenor (focussing on social relations where things like register are important because they depend on who is taking part and what kind of relations are evident). The textual metafunction, which has to do with information flow, is rooted in identification and correlates with mode (the symbolic organisation of

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the course of her work, a task made easier or more complicated in scientific translation depending on the functionality of clear intrinsic relationships. She has to deal with stratification across a content plane composed of discourse semantics and the way terminology works, and the lexico-grammar system. She has to work her way across the expression plane of graphology – text layout, cross-section drawings, tables, graphs, photographs, etc., or phonology if she is translating film and interviews by ear. If elements are unclear, ambiguous or even withheld, meaning and communication may be compromised. For example, one of the major hurdles the translator (and schoolchildren) have to negotiate in crossing the semiotic stratified context plane, is the condensed or distilled language typical of science due to its use of technical terms (rather like the condensed use of acronyms).

Here, scientific discourse is notorious for its use of extended nominal groups that have become objectivised or reified whereby their status as actions, processes, states, qualities and characteristics have been raised into "things" with their own sign systems and meanings. The grammatical metaphor is one of the most difficult aspects students and translators have to face. The art of distilling commonplace words into highly technical taxonomies has been going on for at least 4 centuries in the West, although learned cultures from Asia and Arabia were producing variations of scientific discourse long before Europeans were vilifying Galileo. Common, figurative language was slowly but surely being transferred into a literal lexico-grammatical medium through eliminating the emphasis on transitivity, grouping characteristics and qualities and by use of metaphor. Ideas were now being expressed in a different grammatical and lexical form to give a more precise, abstract meaning. For example, the two nominal groups below are a typical grammatical metaphor converted into «a thing»:

• the volume of a rectangular swimming pool with sides measuring 8,10 and 12 m (from an 7th grade school textbook) shows a string containing a pre-numerative, a deictic, a classifier, a thing and a qualifier – all of which are quite normal in terms of classroom discourse in a maths lesson. The second example is:

• a two-person, ground-launched suborbital rocket plane called Xerus is being developed 7 composed of a deictic, classifier, epithets, an adverb, a qualifier and several things – all in the passive voice. A more natural figurative rendering containing three clauses is likely to be:

• They’re developing a suborbital rocket plane which can be launched from the ground and can carry two people The grammatical metaphor in science is therefore an artefact of abstraction where the «thing» is objectivised. Despite the condensation of terms, the meaning is clear enough if one knows the style (which many school children and young translators do not). However, it is not infrequent to find other nominal groups that are difficult to understand or ambiguous:

• Numbers alone mean that liquid-fuelled rockets blow up more often We are not sure if this is a sign of internal clause relations or external transitivity relations.

language – the genre that is usually written but which may resort to other semiotic systems such as graphs, tables, drawings, photographs, etc.).

7 This example, taken from the Science and Technology section of The Economist (13 May 2006:81), shows how the language of science has spread to other domains. Newsweek and Time magazine have likewise adopted a fondness for large nominal groups not only for reasons of condensation, but also to emphasize the seemingly truthful quality coming across in pseudo-scientific writing that qualifies the subject or «thing».

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Areas of linguistic difficulty for learners and translators

Nominalisation downgrades the grammatical status of meanings contrary to spoken discourse which usually has a lot of independent clauses made more dynamic by their verbs and their capacity to undergo syntactic changes and redistribute information. The nominal phrase on the other hand ranks lower than a clause group and is not really open to negotiation. And it is precisely this aspect that has given scientific language its formulaic reputation in a rigid standard that is nevertheless sometimes inexplicit due to the lack of transitivity relations. School children as well as novice translators are perplexed by such phenomena and while the former often become disinterested and give up, the latter have to struggle on if they wish to make a living.

Another cause of despondency among young science learners is the depersonalisation of scientific and technological discourse with passive constructions sometimes using polysemic verbs such as associated with, mean, etc. that could swing either way between clauses. Patterns have changed and what a student might understand as a dynamic causal relationship between events that happen (if there’s a problem, control the flow of oxidant) has now become objectivised into an occurrence (the flow of oxidant can be controlled should a problem occur). As M.A.K. Halliday has pointed out (1993: 64) in nominalisations, the distillation of representations of processes are packed into themes and rhemes, in Given and New, into backgrounding and foregrounding 8. While there are hundreds of verbs to link up these nominal processes (expressing causal, circumstantial, transitive, mental and process relations externally connected to each other as in the example above, there are also verbs denoting internal relations and expressing the writer’s interpretation of scientific experience (e.g. prove, illustrate, confirm, indicate, etc.). Students (and translators) have to understand why different verbs predicate different metafunctions and they need to know how to relate them in passive constructions with the nominal phrases whether they come in strings of categories or whether they are made into grammatical metaphors. The lexical density of clauses may sometimes be daunting. In current English, a clause may contain 2 or 3 lexical items that are interspersed with grammatical categories but in scientific writing, clauses may contain many more:

- If anyone phones, say I’m out. (2) - The development of a plug-in fuel cell hybrid, with as little as 20 miles of range from

rechargeable hydrogen, (could cut ) the quantity of gasoline consumed in the United States by more than 50 percent. (From Science Daily 15/10/03) (9 +(1)+ 6)

The replacement of one grammar class for another and the implied syntactical

reordering is problematic for young learners. It is hard for them to substitute verbs for nouns (destroy > destruction), or adjectives and adverbials for nouns (scarce > scarcely > scarcity) 9. Children talk in clauses that are predicated and only later do they start nominalising as the discourse they learn in the classroom with their teachers and from the textbooks introduce them to new genres. For the translator working in any of the Romance languages, like Portuguese, this may not be such a problem as nominalization is a constant even in natural speech and according to Halliday (1993:81), the Greeks and Romans were already describing mathematical experiments and scientific experience in terms of grammatical metaphors. What perhaps is unknown to the translator as it is to school students, is that certain classes of grammar are favoured by metafunctions. While circumstantial reference to time, place, manner, condition rely on prepositional phrases and adverbs to convey meaning,

__________ 8 In nominal clauses process are represented in summarized constructions where backgrounding implies the

Given fact as a theme, while foregrounding has the rhemic material as the New. 9 See Martin p. 31-33, in Christie & Martin (2000) for a fairly complete list of types of grammatical metaphors

involving word-change classes.

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and relations linking one process to another do so through conjunctions, while processes may depend on verbs to link causal relations.

Although care is taken in school textbooks not to make assumptions about students’ knowledge without checking first, translators are often at a loss when writers of scientific and technological texts leave out what seem to be crucial steps and jump from one semiotic unit to another. The process is clear to the expert but the translator is left to puzzle out what is missing and she has to contrive linguistic mechanisms to do the same into the target language.

If semogenesis sometimes seems disconnected in the conceptual jumps authors make at times, what is also a headache for translators of specialized text is faced with equanimity by very young learners. The taxonomies that have to be learned in the science classroom do not seem to be very troublesome at the beginning. I have deliberately left terminology last because not only does it contain nominal groups but the more specialised it gets, the more it has to obey scientific classification parameters. What students find difficult is placing a term in its category in a hierarchical structure. They find it hard to order because they fail to grasp underlying concepts. This is natural if we think about the names given some species in folk or vernacular language when compared with the names accorded by experts and the terms coming in scientific classifications, usually in Latin, for example:

Common name: squid (or calamari, borrowed from the Spanish) Scientific name: LoliginidaeClassification with Latin and English names: Class Cephalopoda; Subclass Coleoidea: squid;

Superorder Decapodiformes; Order Teuthida: squid; Suborder Myopsina; Family Loliginidae: inshore, calamari, and grass squid.

Given the precise nature of terminology – as any glossary will show – there can be no

such thing as plain English in a scientific or technical text. Be that as it may, Newmark (in Mengzhi, 1999) pointed out that technical terminology occupies between 5 % and 10 % of a text. Although the translator knows to her cost, what it is not to have the right term at hand, it also proves that what is difficult in a scientific text is not the taxonomy itself but the collocation of the taxonomy in the clause, in the sentence, in the text as a whole – in its topography. Lemke explained topography as the "criteria for establishing degrees of nearness or proximity among the members of some category" (in Christie & Martin 2000:14) which help to establish identities of genres/text-types. The segmental or orbital particulates of textual structural providing ideational meaning, the prosodic elements – leading to interpersonal meaning – and the periodic or textual elements of scientific genres all clearly show that meaning is generated in genre. Those who fail to understand the genre risk failing to understand the meaning of the text. In other words, they risk failing to understand the points which maths and science try to make in building up knowledge that may be used as a platform to construct other kinds of knowledge.

I recently heard an angry schoolgirl who had just failed her 12th grade maths exam 10, complain that she had arrived at a "more or less correct" answer to a problem by using a process other than the method demanded by the examiners. She was unable to perceive that she had failed the exam due to the unorthodox path she had taken to her answer which, if applied to other problems, would probably not have stood the test because it was haphazard and not scientific. The same argument could be applied to genre. The body of knowledge empirically proving natural laws is expressed through the language it uses. Those who fail to understand the semogenesis contained within the genre, are barred from a deeper understanding of the practicalities of the world of science and technology.

If the national average of 12th grade new syllabus maths for the 2006 exams rounded out at 7.3 of a possible 20, and the failure rate was 30 %, and if physics and chemistry were

__________ 10 News broadcast on RTP1, 14 July 2006, following the posting of the nation-wide 12th grade exam results.

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only able to muster national averages of 6.9 and 7.7 marks of a possible 20 (Portuguese Ministry of Education numbers), then perhaps it is time to take the question of genre as a semiotic system in learning science more seriously. In order to «do» science, students have to understand science! Text is not the only means to learning about science as Gunther Kress so aptly pointed out. And the pedagogic genre – rhetorics – used at school may be composed of many other modes in a build-up of interaction generating meaning. Kress and colleagues defend the idea of the material nature of science where the physical, visual and kinetic world makes more sense to today’s students. However, in the end, it all comes down to text and the appraisal of text 11. Those who do not know how to deal with it are excluded.

Thus it is with our young translators who have failed at science and maths early on at school. Their mind frames are built on other semiotic systems. They struggle with the technical or scientific text, trying to make it more "palatable" by adapting it to the public domain – just as I had once done long ago. They distort its functions that aim at representing, recording, exposing, discussing, proposing, challenging and arguing, by not knowing how to handle particular syntaxes and taxonomies in highly structured texts.

It is not by chance, therefore, that their work has to be carefully revised and often re-worked by experts in the scientific field who collaborate with the translating agencies. In highly specialized fields of knowledge, it is only natural that this is so. Scientific translation is not the only area requiring the services of expert revisers, but it is the area that consistently demands more attention than others. It is therefore not surprising that a growing number of translators who have received their training in science and technology are turning to the translation industry as alternative professions. Many of them are bilingual and translate both ways while others translate into their mother tongues 12. They are well acquainted not only with the genres but more importantly with the processes of which science and technology speak. They are competent and satisfy an important niche in the service translation sector, as a casual search on the internet will immediately show. If, as Wright alleges 13, scientific writing cannot ignore style, this is a field the experts have to attend to. But what counts as the International Federation of Translators stipulates 14 is, in a last analysis, the preciseness of the translation and not its lyricism.

As a final remark, and as Frances Christie, David Rose, Robert Veel, Cathy Flick and many others have reiterated in support of Halliday, Martin and Lemke’s insistence that genre is an important tool for semogenesis in science at the level of learning, translation courses at university could do a lot more to diversify their curricula, giving novice translators more of a fair chance to compete successfully as mediators of scientific and technical texts. But therein lies another paper. References Al-Hassnawi , A.R.A., "Aspects of Scientific Translation: English into Arabic Translation as a Case

Study", http://www.translation-services-usa.com/articles/including-technical.shtml (June, 2006). Christie, F., (Ed.), Pedagogy and the Shaping of Consciousness – Linguistic and Social Practices,

London, Continuum, 1999 Christie, F. & Martin Eds.), J.R., Genre and Institutions – Social processes in the workplace and

School, London, Continuum, 1997, 2000. Cook, G., Genetically Modified Language, London, Routledge, 2004. __________ 11 See J.R. Martin, David Rose and Robert Veel for Appraisal techniques in genre, in Christie & Martin, 2000. 12 It is not my intention in this article to speak about directionality and its practical and theoretical implications. 13 Cf. Sue Ellen Wright, "The inappropriateness of the merely correct: stylistic considerations in scientific and

technical translation", in Wright & Wright, pp. 69-87. 14 FIT Articles 6 and 7 of the General Obligations of the Translator: "The translator shall possess a sound

knowledge of the language from which he/she translates and should, in particular, be a master of that into which he/she translates. He/she must likewise have a broad general knowledge and know sufficiently well the subject matter of the translation and refrain from undertaking a translation in a field beyond his competence".

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Cronin, M., Translation and Globalization, London, Routledge, 2003. Berkenkotter, C. & Huckin,T., Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition/ Culture/

Power, New Jersey, Lawrence Erlbaum Assoc. Publ., 1995 Bernstein, B., Class, Codes and Control, Vol. 1: Theoretical Studies Towards a Sociology of

Languages, London, Routledge & Kegan Paul, 1971. Flick,C., "Notes on Scientific Translation", on http://X-lation.com (June 2006) Halliday, M.A.K. & Hasan, R., Cohesion in English, London, Longman, 1976. Halliday, M.A.K., An Introduction to Functional Grammar, London, Edward Arnold, 1985, 1994. Halliday, M.A.K. & Martin, J.R., Writing Science – Literacy and Discursive Power, London, Falmer

Press, 1993, 1996. Hatim, B., Teaching and Researching Translation, Essex, Longman, 2001 Koltay, T., "Including Technical and Academic Writing in Translation Curricula"

http://www.translation-services-usa.com/articles/including-technical.shtml (June, 2006) Kress, G., Jewitt, C., Ogborn, J. & Tsatarelis, C., Multimodal Teaching and Learning: The Rhetorics of

the Science Classroom, London, Continuum, 2001. Lemke, J.L., Science, Masculinism, and the Gender System (1996), on http://www.philo.at/mii/gpmc. dir9606/msg00020.html (June 2006). Lemke, J.L.,"Teaching All the Languages of Science: Words, Symbols, Images, and Actions", in M.

Benlloch (ed.) (2002): La Educacion en Ciencias, Paidos, Barcelona, pp.159-186. Mengzhi, F.,"Sci-tech Translation and its Research in China", in Meta, XLIV, 1, 1999, on

http://www.erudit.org/revue/meta/1999/v44/n1/index.html (July 2006). Nord, C, "Loyalty and Fidelity in Specialized Translation" in Confluências, Nº 4, July 2006,

http://www.confluencias.net/n4/index.htmlWright, S.E. & Wright, L., Science and Technical Translation, John Benjamins, Amsterdam, 1993. BIOGRAPHICAL NOTE

Vicky Hartnack: currently teaching in the English Department of the Faculty of Letters, University of Lisbon. She worked as an analytical chemist in Southern Africa before moving to Portugal whereupon she changed her profession, took a Masters degree in Culture and Linguistics, started working as an English teacher and became an interpreter. Later she moved into translation – mostly technical but also poetry and the fine arts. She has also taught specialized translation skills at post-graduate level at the FLUL. Her main interests lie in language studies: socio-linguistics, translation studies as well as foreign language pedagogy. She publishes on a regular basis and is one of the founding members of ATeLP.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Translation Memories, Linguistic Assets and the Commoditisation of Translation

João Carlos Antunes Brogueira

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal PhD program in Translation and Intercultural Studies, Universitat Rovira i Virgili, Tarragona, Spain

[email protected] Abstract Translation technology has come a long way over the last three decades. Along with the development of technologies such as translation memories (TM), terminology managers, machine translation (MT) systems, content management systems (CMS), and globalisation management systems (GMS), huge repositories of translation knowledge have been built. Since the information stored in these systems is intended for reuse, it is crucial that it be error-free. Therefore, it was only a matter of time until some companies started offering specialized TM services that include management, maintenance and quality control. More recently, linguistic asset brokerage was introduced in the marketplace 1. Are we now on track to see Arabic or Romanian listed alongside Arabica or Robusta on euronext.liffe? This paper will look at how translation technology is enabling a commoditised perception of translation in software localisation. We will analyse to what extent so-called linguistic assets might be en route to becoming exchangeable commodities and how this may impact «developing languages» and the status of translation. Key words: technology, translation memories, commoditisation. What is a commodity?

A commodity is «any tangible item that can be bought and sold» 2. Commodities are usually basic resources or raw materials traded in bulk, «primarily on the basis of price, and not on differences in quality or features. (...) Manufactured goods are said to be commodity goods if purchasing decisions are made almost solely on the price of the product» 3. Commodities can be divided into hard (e.g., mining products) and soft commodities (e.g., agricultural products).

Commodities are traded in specialised exchanges such as the NYMEX, LIFFE or TOCOM, usually via futures contracts.

__________ 1 http://www.tmmarketplace.com/ 2 http://www.lasallebank.com/investments/glossary.html 3 http://www.mastercardbusiness.com/mcbizdocs/smallbiz/finguide/glossary.html

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A market for linguistic commodities

Fuelled by an ever increasing pressure to deliver fast-growing volumes of multilingual content across several regions in less time, while striving to keep costs under control and ensuring high quality standards, several companies have ventured into what has come to be called the «localisation industry». In little over twenty years, these new market players put on an impressive display of mergers and acquisitions, which have completely changed the face of the translation business. The traditional small and medium-sized enterprise business environment developed in the direction of more mature business areas and recent buyouts have created the first corporations in this segment.

Equally impressive was the development of technologies to assist in the processing and delivery of multilingual content. Localisation was «born» in the USA when the IT industry became aware that products needed to be made «linguistically and culturally appropriate to the target locale (country/region and language)» (Esselink 2000: 3) in order to increase sales overseas. This association with IT enabled the localisation industry to benefit from the hype surrounding the technology sector in the late 1990's, getting funding and support from major players and also from investors anxious to put their money into anything related to the Web and globalisation. When the Internet bubble 4 burst in late 2000 and through 2001, cost-effectiveness became a very serious issue for the clients of the localisation industry.

Conversely, localisation companies had to find new ways of expanding their businesses in order to ensure growth and profitability. They thus enlarged their portfolio of services to include the full cycle of content globalisation and localisation, developed new technologies and refined workflows. Software developers, on the other hand, were working hard to develop and refine systems that maximize the reuse of previously translated chunks of information, including computer assisted translation (CAT) tools, CMS and GMS and, to a lesser extent, MT systems. With projects in localisation nowadays reaching in excess of tens of millions of words per language pair, it is not hard to imagine the breadth of translation knowledge accumulated in the repositories fed by the above mentioned systems. It was just a matter of time until someone came up with the idea of trading this data. Technologies and standards enabling the commoditisation of linguistic assets

In their often two-faced advertising strategies, CAT software publishers make abundant use of taglines such as «Never translate the same sentence twice» (Trados) and «You only need to translate the segments and words that are different» (Star). Although most translators know that such statements are not entirely true, this mindset about translation appears to be gaining ground among translation and localisation clients. Most CMS and GMS suites actually rely on the principle that once a particular segment (a user-defined set of bi- or multilingual data) is committed to the TM and validated, it will never have to be checked again and it can be reused regardless of context and target text production conditions. Some TM systems even feature functions that will only export untranslated or fuzzy matched segments and send these loose bits of source text (ST) to the translator. The conscientious translator, however, is not discharged from «reading many paragraphs to understand the context each time» (Translator X 2004), often in a third party application. The gain is thus partly achieved at the expense of the translator's productivity.

On top of this rather mechanic perception of translation being fostered by some technologically-oriented visionaries in the localisation industry, recent developments in character set standardisation (Unicode) and the latest Translation Memory eXchange (TMX) specifications have enhanced the portability of TM contents among TMX-compliant translation memory systems. Based on XML, the TMX standard offers great flexibility both in terms of character set compatibility (Unicode) and also in terms of extra information that can __________ 4 http://en.wikipedia.org/wiki/Internet_bubble.

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be inserted in the file as <prop> tags (Musale 2004: 9). It is now technically possible to totally or partially import or export translation memories using any TMX compliant tool, so why not multiply the profit by reusing its content as well as by selling it? Or save time and money by acquiring ready-made memories? Trading knowledge or information?

Terminology lists and databases, dictionaries and lists of words (for spellcheckers, e.g.) have long been available on the market for whoever is willing to pay for them. Some are also available for free, such as EuroDicAutom or Microsoft glossaries. Translation memories, on the contrary, are usually for internal company use only and translators are often required to sign non-disclosure agreements to be able to access the memories. Not least of all because of the delicate situation in terms of Intellectual Property, both pertaining to source and target text (Zetzsche 2005).

This difference in treatment of seemingly similar linguistic assets coincides with the distinction between information and knowledge as laid out by Budin (2002). For terminology or dictionary entries are information that is converted into knowledge during the cognitive appropriation process of translation and also during text production, which is then stored in the TM.

«The focus and real goal of knowledge management is actually on content [...] the concepts and the messages. When knowledge is then packaged as a product for a certain audience, presented in certain media presentation forms, then we can speak about content» (Budin 2002)

Moreover, according to Cadieux (2004), «there is a parallel between content creation and translation since translating is really a form of authoring». In this sense, then, translation is knowledge. Another striking difference between terms (information) and translations (knowledge) lies in their very nature: terms are self-contained discontinuous entities whereas translated segments require careful attention to context and co-text to ensure consistency and continuity. In other words, it is much simpler to successfully use terms as raw materials for translation than previously translated segments, as these require a much higher degree of correspondence to be cost-effective. My style, your style?

Zetzsche claims that «no reasonable translator tries to introduce a new style or terminology just because it is different from a competitor unless the source text makes him or her do that» (2005). While we do not wish to challenge Zetzsche's positive view of the reasonability of translators, his claim is oversimplistic. In the Portuguese market, for example, Oracle and Microsoft use different sets of equally valid terminology, and the differences go as far as using different translations for 'Save'. When laying the foundation of their localisation programmes into Portuguese (European), most companies developed an internal style guide that tends to follow Microsoft's. However, Microsoft's style guide for Portuguese (European) has proved to be quite volatile and over the last two years two major changes have wrecked havoc in TMs: a change in the translation of 'double click, to' and the adoption of ST capitalisation rules. As a result, most style guides are now out of sync. TMs have followed the same path, and while Microsoft may be willing to repair the translations in their own TMs, other vendors have been reluctant to change their existing translation memories and pay for a change they never asked for. Buying a TM from a competitor under these conditions seems to be a big step in the direction of failing Quality Assurance (QA) requirements.

It is thus clear that for translation memories to become highly valuable assets and worthy of being traded in a specialized market, they must first comply with one of the basic definitions of commodity, namely that they do not display differences in quality or features.

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This would entail the highest degree of standardisation in the production of content across any given industry, as well as a similar degree of standardisation in the localisation of such content. This standardisation might, in turn, be perceived by the end client as an uniformisation of content (and features), thus resulting in reduced visibility for R&D efforts and advances in technology. And if there is one thing that IT companies want to convey in their products, it is their technological supremacy.

On top of that, a considerable part of the so-called «functional texts» have moved in the direction of greater user-friendliness, especially in the mass-consumer market, hence less standardized. With companies in the same industry competing for different segments, standardisation might be more of a pitfall than an aid. And to what extent are companies willing to relinquish a substantial part of their brand image in exchange for cost reductions in the development cycle of a product? According to Brooks (2000: 45), translation represents 35 % of the total cost of globalisation spending at Microsoft, which, in turn, is a fraction of the total cost of developing a product. By releasing or selling their TMs, large corporations would be inviting freeloaders to capitalize at the expense of their own translation knowledge, which combines language, marketing and technical skills. Widening the digital divide

If all standardisation requirements are met, purchasing a translation memory might actually prove to be a cost-effective alternative for Small and Medium Enterprises (SME) to use in purely functional texts, instead of jump-starting and maintaining their own memories. However, such resources are only widely available for so-called major languages (European languages, Arabic, Chinese and Japanese), as well as the tools that use them. In fact, «there isn't much evidence that the major providers of LE software will turn their attention towards NIMLS [non-indigenous minority languages]» (Somers 2003: 88) and, e.g., only recently has support for Bengali – a «minority» language of 100,000,000! – been implemented in the SDLTrados product line (formerly Trados)!

This means that in the foreseeable future high-street, TMX-compliant translation memory packages are likely to remain too expensive or non-existent for «minority» languages. Conclusion

Heralded as an economic opportunity with «astronomic» potential (Zetzsche 2005), sharing translation memories still faces many hurdles until it becomes a viable alternative to the traditional process of creating and maintaining a TM. On the one hand there are still a number of unresolved Intellectual Property issues; on the other hand there is little empirical evidence to support such bold statements as Zetzsche's. Moreover, the standardisation that has been mentioned in the previous sections also implies accepting the dominant positions of the key market players. The success of Windows terminology suggests that companies feel comfortable with incorporating third-party standardized information in their products. Whether they are willing to abide by someone else's authoring and localisation guidelines and relinquish all decision power regarding source text production as well as its localized versions (for source and target must match the TM supplier's style and terminology for optimal results) is a different matter.

From the perspective of translation, this attempt at commoditising linguistic assets represents the death of the holistic dimension of the text. Translating becomes the mere replacement of text strings and the translator fills in the gaps and, eventually, polishes the final product. Since some localisation and globalisation tools enable the leveraged content to be locked, thus preventing anyone from making any changes, the translator is further disempowered in favour of standardisation and reduced indeterminacy.

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One final word of scepticism regarding the interest of major companies in trading their TMs. Large corporations would probably be best placed to share their translation memories and make a profit out of this venture. However, in recent years the trend has been to outsource all localisation work and translation is not seen as a core skill in these companies (Brooks 2000: 50). Could the potential profit from this business really be that significant for these companies to be interested in this non-core operation? References [1] Austermühl, Frank, Electronic Tools for Translators, St. Jerome, Manchester & Northampton, 2001. [2] Brooks, David, «What Price Globalisation? Managing Costs at Microsoft», in Translating into

Success. Cutting-edge strategies for going multilingual in a global age, Sprung, Robert C. (ed.), John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 2000, p. 43-57.

[3] Budin, Gerhard, «Global Content Management – Challenges and Opportunities for Creating and Using Digital Translation Resources», http://www.ifi.unizh.ch/cl/yuste/postworkshop/repository/gbudin.pdf, 2002, visited September 2005.

[4] Cadieux, Pierre, «Globalisation Is Here!», Globalisation Insider XIII (2.1), http://www.lisa.org/archive/newsletters/2004/2.1/CattindesBois.html, April 2004, visited July 2006.

[5] Esselink, Bert, A Practical Guide to Localisation, John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 2000.

[6] Gordon, Raymond G., Jr. (ed.), Ethnologue: Languages of the World, Fifteenth edition. SIL International, Dallas, 2005. Online version: http://www.ethnologue.com/.

[7] Musale, Shailendra, «Getting More From Translation Memory», Localisation Focus 3 (1),Limerick, March 2004, p. 9-10.

[8] Pym, Anthony, Contemporary Translation Theories. A Coursebook, unpublished manuscript, forthcoming.

[9] Somers, Harold, «Translation technologies and minority languages» in Computers and Translation: A translator's guide, Harold Somers (ed), John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 2003, p. 87-103.

[10] Sprung, Robert C. (ed.), Translating into Success. Cutting-edge strategies for going multilingual in a global age, John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 2000.

[11] Translator X, «Towards a more equitable pricing structure: A translator's perspective», Globalisation Insider XII (1.4), http://www.translationdirectory.com/article439.htm, February 2003, visited July 2006.

[12] Zetzsche, Jost, «Translation Memories: The Discovery of Assets», Multilingual Computing & Technology, 16 (4).

BIOGRAPHICAL NOTE

João Brogueira holds a degree in Modern Languages and Literatures from the University of Lisbon, where he also pursued a post-graduation in translation. He is currently enrolled in the PhD program in Translation and Intercultural Studies at the Universitat Rovira i Virgili, Tarragona Spain. His research interests include localisation, translation technology and norms. He teaches translation technology at the Faculty of Letters of the University of Lisbon and he also works as a freelance translator in the fields of localisation, finance and architecture.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

A Evolução do Ensino Universitário da Tradução em Portugal

Alexandra M.ª C. B. Rebola

Facultad de Traducción e Interpretación, Universidad de Granada, España [email protected]

Resumo O ensino da tradução, em Portugal, a nível universitário é extremamente recente, se considerarmos que noutros países europeus foi implementado nos anos trinta e quarenta do século passado. Foram aplicados vários modelos curriculares, onde inicialmente a teoria parece ter sido preferencialmente favorecida em relação à prática. A intenção desta comunicação prende-se com a análise corrente do sector, através da observação dos modelos curriculares existentes. Especificamente para este objectivo, foi concebida uma base de dados para compilar e analisar todos os dados relevantes de cada curso: línguas estudadas, perfil dos formadores e planos de estudo. Este instrumento permite não só a análise sistemática da situação em qualquer altura, como também a análise diacrónica da evolução das estruturas dos cursos. Palavras-chave: teoria, prática, tradução. Introdução

O ensino da tradução, em Portugal, a nível universitário, tem pouco mais de vinte anos. Até agora, não contamos com muitos estudos de investigação sobre o assunto, que nos permitam conhecer um pouco melhor o que se tem feito nestas duas décadas.

Numa altura em que uma das palavras de ordem é a globalização, a vários níveis, sobretudo o económico, a tradução ocupa um lugar de destaque, como instrumento determinante na viabilização dessa mesma globalização e do entendimento entre os povos das várias nações. Importa, por isso, direccionar a formação dos tradutores para ir de encontro às necessidades do mercado e, para isso, há que conhecer melhor o que se tem feito nesta área, de forma a identificar e colmatar os aspectos menos positivos, porventura os erros.

É na sequência desta linha de pensamento que surge este trabalho. A dicotomia "teoria versus prática" no ensino de qualquer matéria origina sempre grande controvérsia, e a tradução não é excepção. Será que a teoria deveria prevalecer sobre a prática na formação dos tradutores? Ou, pelo contrário, obteriam melhor formação aqueles que a mais aulas práticas fossem sujeitos? Não é esse o nosso objectivo, e muito provavelmente será muito difícil chegar a um consenso generalizado sobre o assunto. Todavia, podemos, isso sim, saber qual o peso que uma e outra vertente têm e tiveram no ensino da tradução, a

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nível universitário. Podemos ficar a conhecer quais as disciplinas essencialmente teóricas e as essencialmente práticas; e podemos ficar a conhecer a sua evolução ao longo deste, ainda, curto lapso de tempo na formação de tradutores, em Portugal.

Para o efeito e em exclusivo, foi concebida uma base de dados, que conta, até ao momento, com: 37 cursos, 53 instituições, 1058 disciplinas e 574 planos de estudo com 5642 registos, num total. É importante referir que os dados contidos nesta comunicação são, permanentemente, objecto de actualização, para incluir os dados que se vão conseguindo, e que até à data eram inexistentes, e contemplar as alterações que vão surgindo constantemente.

Os dados existentes são resultado de um longo trabalho de pesquisa e de inúmeros contactos. Numa fase inicial, foi contactado o Observatório da Ciência e do Ensino Superior, que amavelmente forneceu uma lista de todas as instituições que poderiam estar habilitadas a leccionar a Tradução e que serviu de ponto de partida. Seguidamente, contacto a contacto, de colegas e outros colaboradores, foi possível recolher mais alguma informação. Ainda assim, a tarefa mostrou-se muito complicada, até porque uma boa parte das instituições contactadas ou não responderam, ou não tinham os dados solicitados: planos de estudo de todos os cursos leccionados, perfil dos formadores e número de alunos matriculados, por ano lectivo.

Para não desistir sem quase sequer ter começado, procedeu-se à recolha de planos de estudo e de outros dados relevantes através dos Diários da República, e sempre que necessário procurou-se o apoio de endereços electrónicos relacionados com o tema (www.Universia.pt; www.adispor.pt; www.rebides.oces.mces.pt; www.mces.pt). Um pouco de história

Os primeiros cursos de Tradução, ou que incluíam a Tradução, datam de 1986 e 1987. Surge o Curso Superior de Tradutores e Intérpretes 1, de três anos, no Instituto Superior de Línguas e Administração de Lisboa. Também o Curso de Especialização em Tradução 2, de dois anos, na Universidade de Coimbra. E ainda, na Universidade do Porto, a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas 3, nas variantes de Estudos Portugueses e Alemães, Franceses ou Ingleses, respectivamente, e ramos de tradução em português-alemão, francês ou inglês, respectivamente.

Desde então, o número de cursos existentes não parou de aumentar, como se pode constatar pelo gráfico da figura1.

Ainda em relação a este gráfico, é curiosa a diminuição da oferta em cerca de dez cursos no último ano lectivo, sendo esta a única quebra visível desde sempre, sintomática, talvez, de um decréscimo na procura deste tipo de formação por parte dos alunos, e talvez ainda, também, pelas parcas saídas profissionais e incapacidade de absorção por parte do mercado de todos estes tradutores.

Talvez seja interessante conhecer também a distribuição geográfica da oferta, de acordo com os dados recolhidos até ao momento, na formação de tradutores. Na tabela 1 salientamos uma maior oferta, perfeitamente destacada dos outros distritos, de Lisboa e Porto. São estes os que, considerando os vários cursos em todos os anos lectivos, em todas as instituições do distrito, detêm o primeiro e segundo lugar, respectivamente.

__________ 1 Funcionamento autorizado pelo despacho n.º 127/MEC/86, de 21 de Junho. 2 Aprovado pela Portaria n.º 870/87, de 11 de Novembro. 3 Criado pela Portaria n.º 850/87, de 3 de Novembro.

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Número de cursos por Ano Lectivo

01020304050607080

1991

/1992

1993

/1994

1995

/1996

1997

/1998

1999

/2000

2001

/2002

2003

/2004

2005

/2006

Anos Lectivos

Tota

l de

curs

os

ContarDeCurso

Figura 1 – Número de cursos por Ano Lectivo.

Tabela 1 – Lista de cursos por distrito.

N.º total de cursos Distrito 37 Aveiro 37 Beja 74 Braga

111 Bragança 74 Castelo Branco 74 Coimbra 37 Évora

111 Faro 111 Leiria 481 Lisboa

37 Portalegre 333 Porto

37 R. A. Açores 37 R. A. Madeira 74 Santarém 74 Setúbal 37 Viana do Castelo 37 Vila Real

148 Viseu Teoria versus prática

Várias leituras podem ser retiradas desta base de dados, que nos permitem conhecer um pouco melhor a história e o presente da formação de tradutores, em relação a estes aspectos, em Portugal.

É importante referir antes que, infelizmente, nem todos os cursos contêm a informação necessária para recolher este tipo de dados. Poderíamos adiantar, sem grande

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margem de erro, que vinte a vinte e cinco por cento de todos os cursos não permitem especificar a carga horária para as componentes teoria e prática.

Vejamos, numa primeira análise, a evolução e impacto que estas mesmas componentes tiveram desde o início da formação de tradutores em Portugal. Consideremos o gráfico da figura 2.

O que sobressai logo à partida é a quase inexistência de informação até ao ano lectivo 1996/1997. De facto, só a partir desta data se dá início a um novo período, onde as disciplinas são classificadas como teóricas, teórico-práticas ou práticas.

0

20

40

60

80

100

120

140

Horas totais

Teóricas Teórico-práticas

Práticas

1991/19921992/19931993/19941994/19951995/19961996/19971997/19981998/19991999/20002000/20012001/20022002/20032003/20042004/20052005/2006

Figura 2 – Evolução do tipo de aulas.

Relacionando a componente prática com a teórica, chegamos à conclusão que, à data da redacção desta comunicação e com os dados até agora inseridos, a componente teórica é sempre inferior à prática. Poderíamos, então, facilmente inferir que a formação de tradutores em Portugal tem sido, sempre, levada a cabo numa óptica de vertente prática. Claro que haveria que esmiuçar melhor esta questão, para estudar que parâmetros são aplicados nesta classificação e se o foram de forma homogénea, coerente e constante. A título de exemplo, poderão ser classificadas, igualmente, como práticas disciplinas que prevejam no seu programa: a apresentação para tradução/retroversão de textos de uma qualquer especialidade para serem discutidos em aula com um formador que nem tem formação, nem experiência, em tradução ou na especialidade tratada; ou a apresentação desses mesmos textos com formador com experiência na especialidade e formação na tradução, ou mesmo formação na especialidade e experiência na tradução; ou ainda o contacto directo com a terminologia específica da especialidade, em contexto real, com profissionais da área e o apoio de formador com experiência e/ou formação na tradução? Este é sem dúvida um tema delicado e pertinente, que mereceria alguma atenção por parte de todos aqueles que têm responsabilidades na formação de tradutores. Há ainda a considerar, também, a oferta de estágios, uma vez que, em termos de prática, estas unidades curriculares são, de facto, a melhor forma de consolidar os conhecimentos adquiridos no curso e obter in situ novas competências.

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A figura 3 dá-nos a evolução, em carga horária total, da unidade curricular "Estágio" por cada ano lectivo.

Total carga horária dos estágios

0200400600800

100012001400

1997

/199

8E

stág

io

1998

/199

9E

stág

io

1999

/200

0E

stág

io

2000

/200

1E

stág

io

2001

/200

2E

stág

io

2002

/200

3E

stág

io

2003

/200

4E

stág

io

2004

/200

5E

stág

io

2005

/200

6E

stág

io

Em h

oras

Total horas estágio

Figura 3 – Total da carga horária da unidade curricular "Estágio", por ano lectivo.

De acordo com os dados inseridos, até ao momento, constatamos que houve um movimento ascendente constante desde o ano lectivo de 1997/1998 até ao de 2001/2002, onde atingiu o nível mais alto de sempre. Houve seguidamente um decréscimo bastante acentuado, de uma carga horária de quase 1200 horas passou-se para uma de pouco mais de 400 horas, para estacionar depois nas 800 horas, desde 2003/2004.

Retomando a figura 2, é, ainda, curioso o facto de apenas a componente prática registar um movimento regular em sentido ascendente, até ao ano lectivo de 2000/2001, após o que se tem mantido constante. Como constante se tem mantido a componente teórica também, desde então.

Não é possível afirmar que existe um movimento proporcional destas três componentes, mas é de salientar, por curioso também, o facto de haver quase sempre um período de mantimento no mesmo nível de dois a quatro anos lectivos, salvo raras excepções. A confirmar este aspecto, está o facto de que um plano de estudos não é alterado com muita frequência, certamente, também, pelo percurso que tem que percorrer até ser implementado. Com alguma frequência, a sua publicação em Diário da República é feita com data posterior à sua entrada em vigor e com efeitos retroactivos. Realmente, a confecção de um plano de estudo é algo que está longe de ser flexível, para permitir pequenas alterações e adaptações mais frequentes, e é pensado para vigorar a médio/longo prazo. Ora se atendermos a que um curso é pensado para suprir o mercado de profissionais qualificados, pois esse deveria ser o objectivo primordial de qualquer formação, não é difícil aceitar que esse mesmo mercado possa ter variações mais frequentes que impliquem adaptações de uma ou outra estrutura curricular no decorrer de um curso e que, portanto, seria desejável que se encontrasse uma forma de "desburocratizar" o processo e torná-lo flexível.

Continuando na análise da figura 2, um último comentário para referir que para o período compreendido entre os anos lectivos de 1999/2000 a 2002/2003 assistiu-se a um aumento de pouco mais de 40 %, em relação aos anos lectivos anteriores, no que diz respeito à componente teórico-prática, sem que tenha havido um movimento proporcional das outras duas componentes, o que poderá evidenciar um acréscimo de carga horária total neste período. Todavia, nunca é demais relembrar que os dados recolhidos até ao momento não estão completos e que, para os anos lectivos anteriores ao de 1996/1997, muito raramente se encontrou a informação detalhada a este ponto.

Passemos agora ao estudo das disciplinas, sempre dentro desta perspectiva teoria versus prática. Para tal socorrer-nos-emos de três tabelas que reflectem os valores máximos de carga horária das componentes, que temos vindo a apreciar, para cada disciplina registada na base de dados.

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Tabela 2 – Disciplinas que registam os valores máximos de carga horária para a componente teórica.

Disciplina Carga Horária Teórica

Vida Política e Relações Internacionais 60 Ciência, Cultura e Sociedade 45 Comunicação e Expressão 45 Ética e Deontologia I 45 História e Cultura da Comunidade Surda 45 Metodologia de Pesquisa e Organização da Informação 45 Ética e Deontologia 30 História e Cultura da Comunidade Surda numa Perspectiva Psicossociológica. 30 Língua e Cultura Estrangeiras I 30 Língua e Cultura Portuguesas III 30 Linguagem e Cognição 30 Linguística Comparada 30 Teoria e Prática da Tradução e da Interpretação 30 Teoria e Prática da Tradução e da Interpretação II 30

Tabela 3 – Disciplinas que registam os valores máximos de carga horária para a componente teórico-prática.

Tabela 4 – Disciplinas que registam os valores máximos de carga horária para a componente teórico-prática.

Disciplina Carga Horária Prática

Língua Gestual Portuguesa II 120 Língua Gestual Portuguesa I 100 Teoria e Prática da Tradução e da Interpretação 90 Língua e Cultura Estrangeiras I 80 Língua e Cultura Francesa I 80 Língua e Cultura Inglesa I 80 Língua Gestual Portuguesa V 80 Teoria e Prática da Tradução e da Interpretação II 80 Interpretação Consecutiva 60 Interpretação Simultânea (a) 60 Língua e Cultura Estrangeiras II 60 Saúde e Condição Física 60 Teoria e Prática da Tradução e Interpretação I 60

Disciplina Carga Horária Teórico-Prática

Prática Textual em Língua Portuguesa 132 Teoria e Prática da Tradução de Francês 110 Teoria e Prática da Tradução de Inglês 110 Deficiência Auditiva II 88 Língua e Cultura Portuguesas 88 Linguística Comparada 88 Opção - Língua Estrangeira 88 Teoria e Prática da Tradução e Interpretação III 88 Ética e Deontologia 66 Metodologia da Investigação 66 Princípios e Práticas do Processo de Ensino-Aprendizagem 66 Teoria e Prática da Tradução e da Interpretação 66 Linguística e Estilística (a) 65 Direito Internacional Público e Europeu 60 Teoria e Metodologia da Tradução 60 Ciência, Cultura e Sociedade 55 Comunicação e Expressão 55

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Page 43: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Pela leitura destas tabelas é possível constatar que não se pode afirmar que existam disciplinas que pertençam, exclusivamente, a qualquer uma das componentes estudadas. De facto, assinalámos algumas dessas disciplinas que se encontram contempladas em duas das três, senão nas três, tabelas, o que significa que num determinado curso, numa determinada instituição essas mesmas disciplinas, ou pelo menos disciplinas com designações iguais, têm características programáticas que as definem como disciplinas de componente prática, por exemplo, enquanto que noutro curso, noutra instituição verificamos que poderão estar definidas para outra componente. Esta situação vale igualmente para uma mesma disciplina, a qual pode ter registos de aulas teóricas, teórico-práticas e práticas, em simultâneo.

Disciplinas

0

20

40

60

80

100

120

Max

DeT

eoric

as

Max

DeT

eoric

o-P

ratic

as

Max

DeP

ratic

as

N.º

máx

imo

de h

oras

Análise e Produção de Texto I

Análise e Produção de Texto II

Estudos Literários Comparados

Informática

Introdução à Informática

Língua e Cultura Estrangeiras I

Língua e Cultura Estrangeiras II

Língua Francesa I

Língua Francesa II

Língua Gestual Portuguesa I

Língua Portuguesa I

Língua Portuguesa II

Teoria e Prática da Tradução e daInterpretaçãoTeoria e Prática da Tradução e daInterpretação IITeoria e Prática Textual

Figura 4 – Disciplinas consideradas nas três componentes estudadas.

No gráfico da figura 4 podemos observar alguns exemplos mais evidentes do que se acaba de comentar. Consideremos a disciplina Língua Gestual Portuguesa I, esta disciplina tem uma carga horária de 100 horas de aulas práticas, de cerca de 57 horas de aulas teórico-práticas e cerca de 16 horas de aulas teóricas. Todavia, se considerarmos os registos em que ela aparece numa só das classificações, figura como a disciplina que maior carga horária tem de aulas práticas. E neste aspecto, tal como já se referiu anteriormente, seria interessante saber quais os parâmetros que são usados na classificação do tipo de aulas. Conclusão

Deste pequeno estudo, ainda muito incompleto, ressaltam algumas ideias, que poderão ser importantes para melhorarmos a formação dos nossos tradutores.

Não se observou qualquer homogeneidade nos planos de estudo dos vários cursos e das várias instituições, ainda que nesta comunicação não se tivessem abordado outros pontos vitais, como sejam, por exemplo, a comparação de disciplinas troncais e a formação dos nossos formadores de tradução.

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Não existe uma linha de actuação comum e consentânea com as necessidades do mercado. É caricato que se comente que há falta de tradutores especializados nalgumas áreas e continuem a surgir cada ano licenciados e bacharéis, muito embora estes últimos já em muito menor número, que não têm colocação. Algo não funciona e importa, por isso, reunir esforços e reflectir sobre este assunto.

Do trabalho que foi desenvolvido, até ao momento, salientamos o facto de ter havido extrema dificuldade na obtenção de dados, o que torna difícil qualquer tentativa de estudo sobre a matéria. Uma das duas ideias mais relevantes que ficam é a de que a Tradução encontra-se num núcleo extremamente fechado, protegido, onde é difícil penetrar até para investigar. Há muito a fazer não só entre nós, como também com os outros países, no sentido de partilhar e comparar experiências. A outra é a de que, a existir o tipo de dados solicitado para todas as instituições, não é fácil aceder a eles ou não se encontram devidamente organizados e registados. NOTA BIOGRÁFICA

Nasci em Vila Real de Santo António, a 1 de Janeiro de 1967. Aí vivi e completei os meus estudos secundários, em 1984. Depois de um interregno de onze anos, voltei a estudar e em 1997, completo o Bacharelato de Tradução, na Universidade do Algarve. Posteriormente, em 1999, quando surgiu a Bietápica, voltei à Universidade para fazer o 2.º ciclo, o que aconteceu em 2000. Insatisfeita, sonhei continuar os estudos, mas não em Portugal. Candidatei-me então a um dos Programas de Doctorado da Facultad de Traducción e Interpretación da Universidad de Granada, dentro da área da Didáctica da Tradução. Continuo a tentar terminar o meu projecto de investigação, conciliando, com alguma dificuldade, a tarefa com as actividades profissionais de Tradutora, Técnica Oficial de Contas, Mediadora de Seguros e sócia-gerente da Contradução – Serviços de Contabilidade e Tradução, Lda. e com o papel de esposa, dona-de-casa e mãe babada de quatro filhas.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Modelos de Formação de Tradutores em Instituições Europeias do Ensino Superior:

Tradução versus Tradução Especializada

Teresa Alegre Universidade de Aveiro, Portugal

[email protected] Resumo O objectivo desta comunicação é caracterizar e comparar modelos de formação existentes em diversas instituições do ensino superior europeu, nomeadamente em países como Portugal, Espanha, Alemanha e Reino Unido, tendo em atenção alguns dados fundamentais sobre: objectivos, duração, pré-requisitos, línguas e área de especialização. Este último aspecto é particularmente interessante uma vez que permite apreciar nestes países a tendência para a criação de cursos de Tradução ou de Tradução Especializada. Um factor que não pode ser ignorado é o da implementação do processo de Bolonha. Com vista à transparência e à harmonização do sistema do ensino superior europeu, o processo de Bolonha desencadeou modificações na criação e constituição de cursos superiores, cujas repercussões se começam agora a poder observar no espaço europeu. As alterações introduzidas por cada país no âmbito de Bolonha visam, em princípio, uma modificação profunda do ensino, que se reflecte num sistema baseado no desenvolvimento de competências, bem como o desenvolvimento da mobilidade de estudantes e docentes das universidades estrangeiras que facilitem o intercâmbio entre universidades. Subsistem, no entanto, diferenças que respeitam os respectivos contextos e tradições nacionais. A questão que aqui se levanta é a de saber quais as implicações para os cursos de Tradução e de Tradução Especializada. Palavras-chave: formação de tradutores, tradução especializada, processo de Bolonha. 1. Introdução

A formação de tradutores em Portugal tem sofrido uma evolução constante ao longo das últimas décadas e, à semelhança de todo o ensino superior, encontra-se novamente numa fase de transição, impulsionada pelo processo de Bolonha. Inicialmente oferecida, sob a forma de cursos de profissionalização e de bacharelato, por instituições de formação privadas, vocacionadas para o Secretariado e para a Administração, a Tradução passa mais tarde a ocupar um lugar nas universidades e nos politécnicos, no âmbito das pós-graduações, dos bacharelatos e das licenciaturas. Já no princípio deste século, Dias (2001) reconhece a evolução que se havia dado na formação em Tradução, desde os anos 80 até

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ao virar do século, e a diversidade da oferta de cursos de Tradução, muito embora grande parte desses cursos não fosse nem de licenciatura nem de mestrado.

Esta apresentação, que não tem a pretensão de ser exaustiva, resulta parcialmente de uma pesquisa simples realizada no âmbito da adequação da licenciatura de Línguas e Tradução Especializada (Universidade de Aveiro) ao Processo de Bolonha 1. Pretende-se aqui identificar modelos de formação em Tradução em diversas instituições do ensino superior europeu, descrever o reflexo que o processo de Bolonha teve na estruturação dos cursos e analisar a situação em Portugal. Trata-se, no fundo, de fixar um momento desta evolução, numa fase que não podemos considerar estável. Vale, no entanto, a pena fazer este exercício, para que se tornem visíveis as transformações que se estão a operar.

Apesar de todo o processo europeu com vista às alterações no ensino superior ter sido faseado, é necessário esclarecer que as instituições de ensino superior portuguesas trabalharam com algumas incertezas durante vários anos, sendo a dúvida sobre o modelo geral a ser adoptado nos dois primeiros ciclos (3+2 = 3 anos de licenciatura + 2 de mestrado ou 4+1 = 4 anos de licenciatura + 1 de mestrado) a mais notória. De facto, as instituições portuguesas que optaram por ter em funcionamento em 2006-2007 licenciaturas adequadas a Bolonha, tiveram a data limite de 31 de Março de 2006 para apresentarem os seus pedidos formais à Direcção Geral do Ensino Superior. Contudo, a legislação esclarecedora de alguns aspectos formais importantes foi apenas conhecida, através do Anteprojecto do decreto-lei sobre Graus académicos e diplomas do ensino superior, em Janeiro de 2006. Dadas estas circunstâncias, é compreensível que nem todas as instituições tenham apresentado propostas ou que não o tenham feito a tempo de elas virem a ser contempladas no próximo ano lectivo.

A descrição exacta de todas as licenciaturas com a componente de Tradução foi também dificultada pela desactualização da informação veiculada pelo sítio oficial do Acesso ao Ensino Superior que, à data de 13 de Julho de 2006 (a escassos 4 dias para o início das candidaturas), fornecia ainda dados relativos a 2005-2006, sabendo-se que muitas alterações se viriam a operar.

Perante todos estes factos, depressa nos apercebemos que as instituições de ensino superior se encontram numa fase de reestruturação ainda não consolidada. Desta forma, a análise aqui feita será necessariamente generalista, não podendo entrar em detalhes quanto aos planos de estudo em causa. Antes de nos debruçarmos sobre a caracterização dos cursos, iremos primeiramente abordar a temática da especialização versus generalização na tradução. Após este preâmbulo passaremos então à análise dos cursos estrangeiros. O enfoque recairá sobre as designações encontradas, passando-se depois à duração e tipo de curso (1º ou 2º ciclo), ao grau de especialização e aos domínios de especialização abrangidos. Num segundo momento, incidir-se-á sobre os cursos nacionais, dando algum destaque à adequação a Bolonha, às designações 2 e às áreas de especialização, caso se trate de Tradução Especializada. Por fim far-se-á um balanço da formação em Tradução e da formação em Tradução Especializada.

__________ 1 O Processo de Bolonha teve início em 1999 numa conferência europeia, onde os representantes dos vários

países acordaram na adopção de um sistema comparável de graus académicos, baseado em três ciclos de estudos, e num sistema de créditos (ECTS) que possibilitasse, através da acumulação e da transferência, o prosseguimento de estudos em diferentes universidades.

2 É necessário referir que duma primeira lista de denominações possíveis para cursos de Humanidades nas universidades públicas, elaborada por uma comissão especializada do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas) em Julho de 2005, não constava a Tradução. Apenas no final desse ano a referida comissão inclui a Tradução no elenco das licenciaturas. Para o ano lectivo de 2006-2007 está prevista, para as universidades públicas, a abertura de três licenciaturas em Tradução.

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2. A dicotomia tradução - tradução especializada

O relevo que a Tradução Especializada ganhou nos últimos anos não passa despercebida a qualquer participante deste congresso. De facto, é esta a principal área de trabalho dos tradutores profissionais. Contudo, haverá certamente diferentes entendimentos sobre este conceito. Por vezes, numa utilização mais limitada do termo, a designação de tradução especializada serve tão simplesmente para sinalizar o seu afastamento da tradução literária. Mas, se quisermos ser rigorosos na utilização deste conceito teremos de o entender como conceito supraordenado de diferentes áreas de especialização como a tradução jurídica, a tradução técnica, a tradução científica ou a tradução literária. Estas áreas subdividem-se por sua vez noutros domínios e subdomínios mais específicos, como por exemplo o domínio da Biologia e o subdomínio da Genética, etc. Neste sentido, tradução literária constitui uma entre outras áreas de especialização. À tradução especializada contrapõe-se então, não a tradução literária, mas a tradução geral. Esta remete para a linguagem comum, transversal a toda a sociedade, que serve de meio de comunicação nas mais diversas situações do quotidiano. A tradução especializada remete obviamente para as línguas de especialidade e está frequentemente associada a tipologias de texto características. Esta distinção de carácter abstracto não significa, no entanto, que seja sempre fácil de separar as duas (cf. Stolze 1999:21ss.). A distinção só se fará, tendo por base a tipologia de texto e o grau de especificidade atingido; um artigo de divulgação científica num jornal ou num semanário de grande tiragem possuirá certamente um grau muito menor de especificidade do que um artigo publicado numa revista científica.

Para a formação, a dificuldade coloca-se pois na escolha do(s) domínio(s) e no grau de especialização. A selecção terá por base critérios externos de procura geral, de solicitação local, mas também critérios internos que vão ao encontro do saber acumulado no seio na própria instituição. Quanto à escolha das línguas, penso que cada instituição procura oferecer um leque o mais variado possível, mas está normalmente limitada aos recursos humanos e ao conhecimento que já possui. Uma outra questão que se coloca é a do tipo de candidato. Ao criar uma licenciatura em Tradução, a instituição terá, à partida, como público alvo o estudante que inicia a sua primeira formação superior. De outra forma, com a criação de uma pós-graduação, o público alvo tanto poderá ser o licenciado em Tradução que deseja prosseguir os seus estudos numa área de especialização, como também o licenciado ou o especialista noutras áreas do conhecimento, que pretende complementar a sua formação, adquirindo conhecimentos e competências tradutológicas. Esta flexibilização das formações constitui, a meu ver, o maior desafio que Bolonha vem lançar ao Ensino Superior 3. Não considero pertinente julgar aqui qual a melhor modalidade de formação, nem qual a que obterá maior sucesso: se a do tradutor-especialista (isto é, o profissional com formação de base em Línguas e Tradução, à qual acrescentou formação numa área de especialização) se a do especialista-tradutor (profissional especialista num ramo do conhecimento, que acrescenta posteriormente aos seus conhecimentos a formação em Tradução). Essa é uma falsa questão, uma vez que é inevitável, e também desejável, que haja diversidade nos percursos formativos dos tradutores. É da diferença que nasce a complementaridade. Assim, encontramos actualmente diversos cursos que fornecem aos seus estudantes uma formação básica em Línguas e em Tradução, mas que não descuram os conhecimentos e a terminologia de determinadas áreas de especialização. Por outro lado, alguns cursos de pós-gradução poderão acolher também diplomados de outras áreas que não das Línguas, facultando-lhes a competência tradutológica necessária. Seja qual o

__________ 3 Neste sentido, é também de realçar o incentivo aos maiores de 23 anos a acederem ao ensino superior, numa

altura em que a quebra na população juvenil se começa a fazer sentir.

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for o caminho percorrido, este deverá sempre abarcar os diversos aspectos da complexa competência em Tradução 4. 3. A formação em Tradução nas instituições de ensino superior estrangeiras

Designações dos cursos As denominações que encontramos nos cursos estrangeiros para a formação inicial

são bastante distintas. Algumas reflectem de forma inequívoca os dois principais modos tradutológicos, tradução e interpretação; outras pelo contrário associam o termo tradução a outras disciplinas ou, muito simplesmente, evitam-no. Convém, neste ponto, recordar que o desenvolvimento da Tradução como disciplina autónoma se deu progressivamente e que a introdução dos Estudos de Tradução nas universidades não se fez sem muita resistência por parte daqueles que pretendiam reduzi-la a uma técnica ou a uma disciplina de mera aplicação prática 5. Por outro lado, é também necessário ter em conta a emergência de outras áreas do conhecimento que ganharam importância nas últimas décadas e que frequentemente se cruzam com a Tradutologia, como a Comunicação Intercultural, os Estudos sobre Línguas Específicas ou a Terminologia. Não é por isso de estranhar que em certas instituições se tenha optado por conjugar a formação em Tradução com estas áreas.

Assim, enquanto em alguns países se instituiu uma designação genérica para os cursos de Tradução, noutros a diversidade de denominações parece ser a regra (cf. Anexo A). Na maioria das universidades espanholas, os cursos de licenciatura apresentam a designação genérica de "Traducción e Interpretación", enquanto em França a designação recorrente é "Langues Étrangères Appliquées", sendo que nem todos os cursos assim intitulados incluem obrigatoriamente um percurso em tradução. No espaço alemão, existe uma maior diversidade, encontrando-se desde designações mais clássicas como "BA Übersetzungswissenschaft" (Universität Heidelberg) ou "Übersetzen/Dolmetschen "Bakk.phil." (Universität Wien) até a títulos como "BA Internationale Fachkommunikation" (Fachhochschule Flensburg), "BA Sprache, Kultur und Translation" (Germersheim - Universität Mainz), "BA Internationale Kommunikation und Übersetzen (Universität Hildesheim), etc. No Reino Unido os cursos de formação inicial em Tradução não são tão comuns, mas, em compensação, há uma grande oferta de pós-graduções nesta área. Apesar disto, foi ainda possível identificar cursos de 1º ciclo como "BA Translation, Media and French and/or Spanish" (University of East Anglia) ou um "BA (Honours) Translation" (Middlesex University).

Duração

A informação recolhida sobre cursos de Tradução em universidades de referência do espaço europeu evidencia diferenças de duração do primeiro ciclo. Este facto está aparentemente relacionado com a opção por um dos dois modelos possíveis com Bolonha que referimos anteriormente. Enquanto países como a Áustria, a Alemanha, a Itália e Portugal optaram pelo modelo de 3+2, outros como o Reino Unido e a Espanha mantêm, de modo geral, a duração dos cursos em quatro anos. O Reino Unido não alterou as características do BA (Honours); nem este país nem a Espanha alteraram o seu sistema de créditos para o sistema normalizado ECTS (cf. EURYDICE 2005), embora recorram a esse sistema no âmbito do programa SOCRATES. Esta ausência de adequação ao nível da formação de base levanta interrogações sobre a possibilidade efectiva de acumulação e transferência de créditos. __________ 4 O caminho trilhado ultimamente na área da Redacção Técnica privilegia a colaboração entre o especialista em

Línguas e/ou em Tradução e o técnico da área de especialidade. 5 Segundo Stoll (2004), houve, na Alemanha dos anos 90, uma tentativa de deslocar os cursos de Tradução das

universidades para os politécnicos (Fachhoschulen).

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Tipo de curso e grau de especialização

No que respeita ao tipo de curso, verifica-se que a grande maioria das universidades

que possuem formação inicial em Tradução (ou, no caso da França, em Línguas Estrangeiras Aplicadas) oferecem igualmente um ou mais cursos de pós-gradução, que permitem aprofundar uma área de especialização. À excepção de Portugal que manteve as designações anteriores, "licenciatura" e "mestrado", os termos "Bachelor" e "Master" vulgarizaram-se por quase toda a Europa.

No Reino Unido, tal como referi anteriormente, verifica-se uma grande oferta de "Masters", mesmo em instituições que não oferecem formação de base com a componente de Tradução. Nas universidades espanholas, onde os Estudos Tradutológicos têm grande desenvolvimento, constata-se que, ao contrário das licenciaturas que mantiveram a mesma estrutura, os "Masters" com adequação a Bolonha surgem com mais frequência.

Relativamente ao grau de especialização na formação inicial, constata-se que nas universidades do Reino Unido não são divulgados dados precisos sobre áreas de especialização. Os objectivos recaem sobre a formação linguística, havendo um leque variado de línguas estrangeiras e a oportunidade de estudar um semestre ou um ano numa universidade estrangeira, com o objectivo de aperfeiçoar a competência linguística. A competência tradutológica e as ferramentas de tradução desempenham igualmente um papel relevante nos cursos de formação inicial. As áreas de especialização surgem sobretudo nos Masters.

Uma situação um pouco diferente é a que encontramos nas universidades alemãs. Aí a adequação a Bolonha e a adopção do modelo 3+2 parecem ter incentivado a Tradução Especializada. Uma universidade com uma longa tradição de Estudos de Tradução como Heidelberg iniciou um "BA Translation Studies for Information Technologies" em cooperação com uma instituição de cariz politécnico, a Fachhochschule Mannheim, aliando assim as competências linguística e tradutológica ao conhecimento técnico. Uma outra escola de referência, como Germersheim Universität Mainz, oferece no seu "BA Sprache, Kultur, Translation" um leque variado de línguas e de áreas de especialização (cf. Anexo A). As áreas mais fortemente representadas nas instituições de ensino superior alemãs são as da tradução técnica, económica e jurídica, correspondendo aos domínios de maior procura no mercado de trabalho (cf. Stolze, 1999: 15). 4. A formação em tradução nas instituições de ensino superior nacionais

Tal como afirmei anteriormente, o panorama das instituições nacionais encontra-se numa fase de viragem, dado que neste ano lectivo de 2006-2007 entrarão em funcionamento pela primeira vez, com um plano de estudos adequado a Bolonha, dez cursos de Tradução ou com componente em Tradução. Muitos deles constituem adequações de cursos já existentes, mas todos implicaram reestruturações e articulação com os ciclos subsequentes. Para além destes, três outras instituições mantêm as suas licenciaturas e/ou bacharelatos anteriores a Bolonha. No ano lectivo de 2007-2008, outras escolas procederão igualmente à adequação das suas licenciaturas a Bolonha e entrarão em funcionamento novos cursos de segundo ciclo: mestrados e cursos de especialização. Por tudo isto, chamo pois a atenção para o carácter, por vezes, provisório de alguns dados referentes aos cursos que apresento em anexo (cf. Anexo B).

É interessante verificar como em poucos anos o cenário da formação em tradução se alterou. Em 2001, Dias constatava a quase inexistência de cursos de licenciatura em Tradução no ensino superior público universitário; passados poucos anos, é precisamente no ensino público universitário e politécnico que encontramos uma forte incidência dessas formações. Com a designação de "Tradução", encontram-se listadas cinco licenciaturas em quatro universidades e numa escola superior. De entre as universidades que adequaram os

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seus cursos a Bolonha, apenas duas optaram pelas denominações "Línguas Aplicadas" e "Línguas Estrangeiras Aplicadas". A primeira contém uma forte componente em Tradução, enquanto a segunda apenas inclui 13,5 créditos ECTS na área científica da Tradução. No entanto, dado que o critério seguido para esta pesquisa foi o da existência de uma componente em tradução, ambas são aqui referidas. Observando ainda as licenciaturas adequadas a Bolonha, identificamos dois cursos com a designação de "Tradução e Interpretação", oferecido por duas instituições distintas, uma escola superior e uma universidade. Para além desta há ainda a assinalar uma licenciatura de cariz politécnico, intitulada "Assessoria e Tradução". Dentro do grupo das instituições que não apresentaram propostas de adequação a Bolonha (ou que não o fizeram atempadamente), encontram-se ainda três licenciaturas com componente em Tradução; duas são bi-etápicas (isto é, prevêem a possibilidade de acrescentar, ao antigo grau de bacharelato, o "antigo" grau de licenciatura) e intitulam-se "Tradução e Interpretação Multimédia" e "Tradução e Interpretação"; uma outra pertence ao ensino universitário e é designada por "Estudos Europeus, variante de Comunicação Intercultural e Tradução". Por fim, registamos ainda a existência de uma licenciatura em "Línguas Modernas", que constitui um curso novo em 2006-2007, mas não adaptado a Bolonha; embora a Tradução conste como saída profissional deste curso, os dados disponibilizados não permitem a identificação de disciplinas nesta área científica.

Relativamente às áreas de especialização, verificam-se alterações significativas. Enquanto até ao virar do século XXI a tradução era entendia nas universidades como sinónimo de "tradução literária", actualmente podemos afirmar que, por tradução, se entende "tradução geral" e "tradução especializada", sendo que a tradução literária é vista como uma área particular de especialização. Esta mudança de paradigma não será certamente alheia à evolução em torno do "Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas" e das orientações emanadas pelo Conselho da Europa no vasto âmbito das Línguas.

Como podemos verificar através das características dos cursos em anexo (cf. Anexo B), há uma tendência para contemplar áreas de especialização diversificadas, tais como Tradução Técnica, Tradução Jurídica, Tradução de Textos Económicos, Tradução Literária, etc., sendo que aos alunos é, em alguns casos, dada a possibilidade de opção. Esta oferta está muitas vezes associada a ligações interdisciplinares e interdepartamentais no âmbito das respectivas instituições de ensino. O modo como as instituições de ensino estão organizadas poderá favorecer este intercâmbio 6.

A "tradução geral" também está presente, e é mesmo indispensável num curso de formação inicial, quer seja contemplada como unidade curricular própria, quer seja incluída em disciplinas introdutórias. Os planos de estudo analisados denotam uma maior importância da Tradução Audiovisual e das Tecnologias de Apoio à Tradução, indispensáveis na formação actual de qualquer tradutor. Não posso, contudo, proceder a uma análise mais detalhada dos conteúdos curriculares dos cursos, dada a escassez e a transitoriedade da informação. 5. Palavras finais

Neste artigo procurei dar a conhecer algumas das linhas de força que no presente influenciam a formação em Tradução. Através desta análise foi fornecida uma breve panorâmica dos cursos estrangeiros e foram sublinhadas as características gerais dos novos cursos de formação inicial portugueses. Muito ficou porém por dizer. Bolonha não se

__________ 6 A estrutura departamental da Universidade de Aveiro, por exemplo, favoreceu a criação da área de

especialização em "Saúde e Ciências da Vida" na licenciatura em Línguas e Tradução Especializada. De igual modo, o intercâmbio com secções de Informática e de Multimédia favorece, em diversas instituições, a presença de ferramentas de tradução.

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resume apenas a uma nova estruturação dos graus académicos, mas contempla aspectos pedagógico-didácticos mais profundos como a alteração do sistema de ensino baseado na transmissão de conhecimentos para um ensino assente no desenvolvimento de competências e na aprendizagem ao longo da vida. Ficaram também por abordar os segundos ciclos, onde a Tradução Especializada encontrará um terreno propício para o seu desenvolvimento e onde a diversificação da oferta será benéfica para a formação dos tradutores. Todos estes aspectos virão certamente a ser abordados em outros encontros desta natureza. A discussão sobre a formação nunca pode ser dada por concluída. Agradecimentos O meu agradecimento à Professora Maria Teresa Roberto pelos comentários pertinentes que fez a este texto. Bibliografia Dias, F., "2001: A Formação em Tradução em Portugal", http://isg.urv.es/cttt/cttt/research/dias.pdf, 12

de Julho de 2006. EURYDICE The information network on education in Europe, "Focus on the Structure of Higher

Education in Europe 2004/05 National Trends in the Bologna Process", http://www.bologna-bergen2005.no/Docs/02Eurydice/0504_Eurydice_National_trends.pdf, 3 de Maio de 2006

Stoll, K.-H. (2004), "Transforum - 20 Jahre Dialog Praxis und Lehre". Internationales CIUTI-Forum, Marktorientierte Translationsausbildung. M. Forstner & H. Lee-Jahnke, Bern etc. 2004, 149-174, http://www.fask.uni-mainz.de/fbpubl/fax/stoll/Transforum.html, 3 de Maio de 2006.

Stolze, R., Die Fachübersetzung: Eine Einführung, Narr, Tübingen, 1999. NOTA BIOGRÁFICA

Teresa Alegre é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – variante de Inglês-Alemão, pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Alemães pela mesma faculdade e doutorada em Didáctica do Alemão pela Universidade de Aveiro, onde lecciona desde 1991. É directora de curso da licenciatura em Línguas e Tradução Especializada (com início em 2004-2005) e da licenciatura em Tradução (a partir de 2006-2007), ambas do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Tradução, Tecnologia e Mercado: Uma Trilogia Propícia a Bolonha

Manuel Moreira da Silva ISCAP – IPP / INESC Porto, Portugal

[email protected] Resumo A Europa está a reordenar o espaço europeu de Ensino Superior ao abrigo do Acordo de Bolonha. Neste processo transversal, um dos vectores fundamentais de mudança recai no reforço da relação Universidade-Empresa. No domínio específico da Tradução, o decorrer deste processo é um momento de características únicas para uma aproximação entre estas duas entidades: 1. no que se refere à reestruturação dos cursos, de forma a dotar os currículos de uma maior

consonância com as perspectivas do mercado; 2. na interligação das empresas com as entidades de ensino, para fins de transferência de

tecnologia, de conhecimentos, de boas-práticas, de tendências, entre outros; 3. na definição da implementação de políticas comuns de apoio ao desenvolvimento sustentável do

mercado de tradução português. O sucesso desta mudança anunciada dependerá, contudo, do reposicionamento e do esforço conjunto de prestadores de serviços de tradução, vendedores de ferramentas de tradução e das escolas. A trilogia tradução, tecnologia e mercado só resultará num ensino de nível europeu e em melhores resultados empresariais se os laços que unem formadores, empregadores e vendedores de software forem estrategicamente definidos e defendidos. Pretendemos, assim, através desta comunicação, perspectivar alguns aspectos do futuro próximo do ensino na área da tradução e dos caminhos que este poderá seguir, recaindo o nosso enfoque na análise dos passos a dar para desenvolver a parceria Universidade-Empresa no universo da tradução em Portugal e cumprir algumas das metas definidas pelo Acordo de Bolonha. Palavras-chave: teoria e prática da tradução, ciências e tecnologia, ferramentas de tradução. 1. Introdução

A Europa está a reordenar o espaço europeu de Ensino Superior ao abrigo do Acordo de Bolonha. Este acordo visa a construção de um Espaço Europeu de Educação Superior no qual estudantes e docentes se possam movimentar facilmente e tenham o reconhecimento das suas qualificações, proporcionando uma estrutura e uma nomenclatura de graus que sejam comparáveis entre países e facilmente legíveis, promovendo a fácil compreensão das habilitações adquiridas.

Pretende, para além disso, como se pode ler no Decreto-lei 74/2006, a passagem de um ensino baseado na transmissão de conhecimentos para um ensino baseado no

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desenvolvimento de competências. Ou seja, visa a mudança do paradigma de ensino de um modelo passivo, baseado na aquisição de conhecimentos, para um modelo baseado no desenvolvimento de competências, onde se incluem quer as de natureza genérica – instrumentais, interpessoais e sistémicas – quer as de natureza específica associadas à área de formação, e onde a componente experimental e de projecto desempenham um papel importante. Identificar as competências, desenvolver as metodologias adequadas à sua concretização, colocar o novo modelo de ensino em prática, são os desafios com que se confrontam as instituições de Ensino Superior.

A sociedade do conhecimento nasce da combinação de quatro elementos interdependentes: a produção do conhecimento, essencialmente pela investigação científica; a sua transmissão, através da educação e da formação; a sua divulgação com as tecnologias da informação e da comunicação; e a sua exploração através da inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, surgem novos modos de produção, transmissão e exploração dos conhecimentos, que têm por efeito associar um maior número de intervenientes, geralmente interligados em redes num contexto cada vez mais internacionalizado. Porque se situam no ponto de intersecção da investigação, da educação e da inovação, as universidades e politécnicos detêm, sob vários pontos de vista, as chaves da economia e da sociedade do conhecimento.

Tal como afirma a Comissão das Comunidades Europeias (2003:3), tendo em conta o papel central que as universidades desempenham, a criação de uma Europa do conhecimento representa para o Ensino Superior uma fonte de oportunidades, mas também de desafios consideráveis. Com efeito, as universidades e politécnicos operam num ambiente cada vez mais globalizado e em constante evolução, marcado por uma concorrência crescente e pela emergência de novas necessidades, às quais têm obrigação de dar resposta. No entanto, as universidades europeias têm geralmente menos a oferecer e dispõem de menos meios financeiros do que as suas homólogas transcontinentais. Coloca-se, pois, a questão da sua capacidade de competir com as melhores universidades do mundo assegurando um nível de excelência sustentável.

O estabelecimento de uma cooperação estreita e eficaz entre universidades e empresas é, neste contexto, uma necessidade. A cooperação entre as universidades e as empresas deve ser intensificada a nível nacional e regional. Deve também ser orientada com mais eficácia para a inovação, a criação de novas empresas e, em termos mais gerais, para a transferência e divulgação dos conhecimentos. Do ponto de vista da competitividade, é fundamental que os conhecimentos circulem livremente entre as universidades, as empresas e a sociedade.

No domínio específico da Tradução, e no caso das universidades e empresas portuguesas, o decorrer da implementação deste Acordo é um momento de características únicas para uma aproximação entre aquelas duas entidades:

1. no que se refere à reestruturação dos cursos, de forma a dotar os currículos de maior consonância com as perspectivas do mercado;

2. na interligação das empresas com as entidades de ensino, para fins de transferência de tecnologia, de conhecimentos, de boas-práticas, de tendências, entre outros;

3. na definição da implementação de políticas comuns de apoio ao desenvolvimento sustentável do mercado de tradução português.

Pretendemos, através deste artigo, perspectivar alguns aspectos do futuro próximo do

ensino na área da tradução e dos caminhos que este poderá seguir, recaindo o nosso enfoque na análise dos passos a dar para desenvolver a parceria Universidade-Empresa no universo da tradução em Portugal e cumprir algumas das metas definidas pelo processo de Bolonha.

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2. Bolonha e o ensino da tradução

De modo semelhante ao verificado nos outros países da Europa, a adequação dos ciclos de estudos tem vindo a reflectir-se nas instituições portuguesas de Ensino Superior como um trajecto de progressão no sentido de interiorizar o processo de reformas e prioritar as questões de Bolonha na sua agenda institucional. O facto de a maior parte ter chegado ao âmago do processo de transição para um sistema intercompreensível de três ciclos constitui uma transformação cultural e social altamente complexa e exigente que desencadeou a nível local uma cadeia evolutiva de acontecimentos com as suas próprias dinâmicas.

Compreendemos que não se trata de ministrar as mesmas disciplinas em menos tempo, mas, sim, de aproveitar o imperativo da mudança de uma forma muito proactiva, isto é, tentando optimizar, num sentido prospectivo, a posição da instituição no sistema educativo e na sociedade com a ajuda da nova moldura de conversão estrutural. Tendo em conta que o espírito que preside ao processo de Bolonha é o da circulação de conhecimento; da mobilidade de estudantes, professores e diplomados; da cooperação internacional e da construção de redes de ensino e investigação competitivas à escala mundial, afirma-se como essencial concretizar em Portugal um sistema de graus, facilmente reconhecível, comparável e atractivo, bem como uniformizar um sistema de créditos que promova, no contexto europeu, um intercâmbio de experiências de ensino-aprendizagem diferentes, mas dialogantes e equivalentes.

No que respeita à Tradução e ao seu ensino e, considerando a informação disponibilizada pelo Relatório Trends IV e pelo Projecto Tuning, assim como a obtida através de uma análise comparativa e circunstanciada junto de instituições de Ensino Superior europeias, com cursos de Tradução, podem inferir-se os seguintes dados:

• Os planos de estudos actualmente existentes aproximam-se bastante do ponto de vista epistemológico, visto que se centram nas áreas da tecnologia aplicada à tradução, dos arquétipos teóricos emergentes, do conhecimento de domínios de especialização relevantes na actualidade, enquadrados em ambiente multimédia, na utilização de modernos recursos tecnológicos e do ensino à distância, verificando-se a existência de denominações bastante convergentes sobretudo entre as unidades curriculares referentes a ciclo de estudos de Mestrado;

• As competências com que se pretende dotar os alunos (recém-diplomados ou profissionais) também apresentam uma grande similitude e entrosam-se com a destacada necessidade de traçar perfis de saída altamente especializados, aptos a responder cabalmente às exigências do mercado, cada vez mais competitivo e global. Assim, afirmam-se como objectivos prioritários dilatar as oportunidades de integração/ascensão profissional, de aprofundamento/reciclagem de conhecimentos técnicos diversos; de maximização da gestão da carreira, prefigurando-se como opções de saída as seguintes: incorporação em organizações internacionais; em serviços de administração pública a nível local e nacional; no sector empresarial; no exercício livre da profissão (como tradutor, terminólogo, consultor, revisor, webmaster) através da criação do seu próprio negócio ou em regime freelance.

Esta aproximação deve-se, sem dúvida, ao peso que a tecnologia assumiu, sobretudo

na última década, na formação e no exercício da profissão de tradutor. Como afirma Wilss (2004:783), o campo onde ocorreu e ocorre maior crescimento, é o da "software translation, following the principle high quality, low cost, high-tech", sendo este software caracterizado como "probably irreversibly – by diversity, volatility, and internationality". Este facto levou a que, cumulativamente, "the traditional categories of human experience and enterprise, science, culture, have given way to technologies that completely overturn established translator training programmes which are quickly becoming obsolete".

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Tendo em conta esta realidade e o espírito que preside ao processo de Bolonha, os novos Ciclos de Estudos devem procurar formar diplomados com excelência, isto é, que demonstrem ser capazes de se enquadrar em estruturas sociopolíticas, organizativas, de investigação e tecnológicas complexas e que nelas sejam capazes de gerar e renovar procedimentos e produtos, além de se evidenciarem activos na actualização de conhecimentos em regime de autoformação. Devem, para além disso, possibilitar ao aluno o reforço da sua posição competitiva num mercado de trabalho em evolução e especialização constantes.

As metodologias adaptadas ao tipo de formação e aos objectivos a atingir devem estar em consonância com o ensino preconizado pelo processo de Bolonha, em que o papel do docente será, cada vez mais, o de orientar o discente para a aquisição e construção de um saber, e não apenas o da transferência de conhecimentos. As metodologias seguidas serão eminentemente práticas e indutivas, centradas no aluno, exploratórias, hermenêuticas, inovadoras e motivadoras nas duas vertentes integrativa e instrumental, privilegiando a integração da teoria com a prática, isto é, o saber com o saber fazer.

Estas metodologias têm que ser reforçadas com a realização de um vasto leque de actividades extracurriculares, a saber, seminários, conferências, oficinas, acções de formação para estudantes e docentes, visitas a empresas, trabalho de campo e ciclos de cariz cultural, de modo a desenvolver no aluno competências socioculturais e profissionais.

Esta formação multidisciplinar representará uma mais-valia, quer para a integração numa empresa quer para o trabalho independente do tradutor freelance, bem como para o desenvolvimento de competências:

• de tradução; • linguísticas e textuais nas línguas de partida e de chegada; • de pesquisa, aquisição e tratamento da informação; • culturais; • técnicas.

Importa, finalmente, e no contexto da Tradução em particular, perceber as implicações

pedagógicas da operacionalização de um ensino centrado no aluno, num ambiente de aprendizagem mais flexível baseado nos resultados por ele obtidos ao completar um grau de aprendizagem – nomeadamente quanto ao que deve saber e ao que deve saber fazer.

Estas tarefas são cruciais para a definição correcta do perfil de saída do aprendente e para a existência de uma orientação clara dos planos de estudo e dos programas quanto à dotação de competências (elemento crucial na mudança gizada), numa abordagem reflexiva e crítica dos conteúdos que acarreta novos procedimentos de avaliação e cumprimento de tarefas, inseridos numa previdente gestão do tempo e na senda de uma cultura da qualidade.

Da nossa pesquisa e do trabalho realizado ao longo dos últimos anos na área do ensino, resulta claro que a atribuição do grau, sobretudo o de Mestre, deverá acontecer apenas quando os estudantes demonstrem possuir as seguintes competências:

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Tabela 1 – Competências gerais e específicas do diplomado em tradução.

Gerais

• Saber aplicar e comunicar os seus conhecimentos em

diversas situações; • Aprender e investigar de forma autónoma.

Específicas

• Conhecer línguas de especialidade; • Compreender as especificidades culturais das línguas de

trabalho. • Traduzir textos técnicos e científicos; • Conhecer os fundamentos teóricos da tradução assistida e

automática; • Dominar técnicas de pesquisa em linha; • Gerir projectos de tradução; • Fazer o controlo de qualidade; • Criar e gerir bases de dados terminológicas; • Criar e gerir memórias de tradução; • Dominar técnicas de pesquisa, aquisição e tratamento da

informação; • Utilizar aplicações da tradução assistida e automática; • Dominar os processos de revisão e edição de texto; • Resolver questões éticas e deontológicas; • Interpretar e analisar o texto audiovisual e multimédia; • Compreender e aplicar as principais teorias do domínio da

semiótica; • Legendar textos audiovisuais; • Dominar os processos envolvidos na tradução audiovisual; • Dominar os conceitos de globalização, internacionalização

e localização; • Localizar textos multimédia; • Desenvolver estratégias de optimização da tradução

automática; • Conhecer técnicas básicas de composição, paginação,

normalização e revisão de documentos electrónicos.

3. Processo de adequação e acreditação de ciclo de estudos

A maior parte das instituições de Ensino Superior portuguesas está, no momento em que escrevemos, a adequar ou a criar os seus Ciclos de Estudos e a acreditar os seus cursos de Tradução. Esta adequação deve ter como meta a oferta de uma formação que, em termos de conteúdos programáticos e meios tecnológicos, seja concorrente com a disponibilizada por estabelecimentos de ensino superior, quer na União Europeia, quer noutros países de relevo no mercado da tradução, assegurando aos estudantes portugueses condições de formação e de integração profissional similares.

Em função destes vectores, os objectivos a visar pelas instituições de Ensino Superior nesta reestruturação do ensino da Tradução devem passar por:

1. Reforçar e alargar as competências e oferecer uma especialização de natureza

profissional de qualidade, actual e potenciadora de novas práticas sociais e profissionais, através da disponibilização de uma formação em ambiente de laboratório multimédia e do recurso a meios técnicos altamente especializados;

2. Operacionalizar os conceitos-chave das unidades curriculares estruturantes; 3. Transmitir e problematizar as diferentes abordagens teóricas dos Estudos da

Tradução, de forma a formar tradutores críticos e interventivos na análise e aplicação dos diferentes paradigmas translatológicos;

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4. Introduzir elementos inovadores na formação integral do profissional da área da tradução que lhe permitam fornecer serviços completos de tradução, fazendo uso de um conjunto variado de meios técnicos e tecnológicos, de que se destaque o recurso a plataformas de e/b-learning, para a elaboração, gestão e transmissão de conteúdos;

5. Oferecer a outros públicos, como engenheiros, economistas, juristas, etc., a possibilidade de frequentarem um ciclo de estudos de mestrado que lhes permita adquirir competências numa área que todos necessitam de dominar de forma crescente, de maneira a melhor gerirem e internacionalizarem a sua comunicação com congéneres de outros países, seja para fins empresariais, de investigação ou académicos;

6. Proporcionar uma formação que atenda às competências exigidas pelo mercado de trabalho e às necessidades actuais dos Prestadores de Serviços de Tradução;

7. Ampliar as competências de pesquisa e investigação, através da participação dos alunos em projectos de pesquisa e desenvolvimento. Estas competências requerem também experiência na utilização de ferramentas de pesquisa e capacidade para desenvolver estratégias adequadas à utilização eficiente das fontes de informação disponíveis;

8. Promover o conhecimento das realidades do mundo da tradução, a autonomia e o espírito de iniciativa, a aptidão para a gestão de projectos, a capacidade de trabalhar em equipa e de assumir funções de liderança no contexto organizacional;

9. Oferecer a possibilidade de frequência de um estágio de natureza profissional com o intuito de reforçar a experiência adquirida ao longo do curso e, ainda, com a vantagem de o diplomado ser posto em contacto com o mercado de trabalho;

10. Permitir o desenvolvimento profissional contínuo através do incremento de competências profissionais suficientes para a progressão autónoma nos campos de especialização e línguas especializadas e nas questões e tecnologias relacionadas com a profissão.

A definição de um percurso que permita a prossecução destes objectivos resultará na pretendida valorização da aprendizagem, entendida como o processo de promoção da participação na aprendizagem (formal ou não formal) e dos resultados que advêm dessa participação, a fim de melhorar a consciência do valor intrínseco da aprendizagem e encorajar o seu reconhecimento. 4. A relação Universidade-Empresa: contribuições para a mudança

O sucesso desta mudança anunciada dependerá, contudo, do reposicionamento e do esforço conjunto de Prestadores de Serviço de Tradução, vendedores de ferramentas de tradução e das escolas. A trilogia ensino de tradução, tecnologia e mercado só resultará num ensino de nível europeu e em melhores resultados empresariais se os laços que unem formadores, empregadores e vendedores de software forem revistos e estrategicamente definidos e defendidos.

O primeiro momento de concretização da relação Universidade-Empresa tem que acontecer logo na fase de definição de objectivos e de conceptualização do perfil de tradutor. Neste processo são cruciais as directivas divulgadas pela Comunidade Europeia e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, acrescidas das que transparecem do Projecto de Norma Europeia de Tradução. Mas, não são menos cruciais as perspectivas e ideias que resultam da consulta a associações como a APT e a ATeLP, a entidades empresariais de relevância no sector, de entre as quais se destacam, por exemplo, as empresas associadas da APET, bem como as opiniões de tradutores freelance e de outros agentes do mercado de trabalho, em que se incluem os vendedores de software.

Esta consulta constitui um elemento essencial para responder, entre outras questões, à definição de prestação de serviços de tradução de qualidade, considerando-se aqui todo o

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processo de tradução e os outros passos implicados na prestação do serviço respectivo, tais como os recursos humanos e técnicos, a gestão da qualidade e de projectos, o enquadramento contratual e os procedimentos e serviços de valor acrescentado. A obtenção destes e doutros dados representa um primeiro passo para a uma formação de excelência e para uma maior empregabilidade dos diplomados da área. Às empresas caberia, neste caso, o papel de consultadoria.

Às universidades compete, tradicionalmente, para além de reconhecer os seus parceiros, a criação de um conjunto de recursos adequados ao ensino e à prática da tradução: centros de investigação; laboratórios de línguas e tradução; recursos humanos de apoio a estes laboratórios; ciclos de conferências; formação de docentes; adequação pedagógica de materiais e conteúdos; entre outros.

As empresas, para além do fornecimento de consultadoria e do reconhecimento social do valor de aptidões e/ou competências dos estudantes enquanto agentes económicos e sociais, podem ainda contribuir com o reforço da regulamentação do sector e do poder representativo das suas instituições, como é o caso do Conselho Nacional da Tradução (CNT). A estes papéis, devem somar-se outros, que passariam por uma contribuição contínua para a introdução de conteúdos, como aconteceu no caso do projecto eColore, e metodologias nos curricula dos cursos e nas múltiplas unidades curriculares que reflectissem as boas práticas do mercado de trabalho.

Esta contribuição poderá assumir muitas formas, nem todas de disponibilização de conteúdos ou de estratégias. Um exemplo de melhoria da comunicação síncrona e assíncrona entre a universidade e as empresas seria a participação em fóruns ou em blogs, ou noutro tipo de comunidades virtuais, cujos fios de discussão e problemáticas a abordar tenham sido previamente combinados entre os diferentes actores.

Do mesmo modo, podem contribuir com as suas questões e abordagens sobre o funcionamento do sector da tradução, para um questionar das teorias vigentes dos Estudos da Tradução. Como afirma Thomson-Wohlgemuth (2004:498), na sociedade contemporânea com a globalização das economias, as organizações têm que "balance the constraints of limited time, cost-effectiveness and quality to fulfil the needs of the client. In order for translation organisations to meet these constraints, they will be required to improve their working practices. This means that translation can no longer rely on the efforts of individual translators working by themselves. Translation Studies has to widen its scope to include the entire social environment surrounding the translation process".

Porque vive de financiamentos públicos e privados substanciais, e os conhecimentos que produz e transmite têm um impacto significativo na economia e na sociedade, a universidade é, além disso, responsável perante os seus patrocinadores e os cidadãos pela maneira como funciona e gere as suas actividades e os seus orçamentos. Isto traduz-se numa pressão crescente no sentido da inclusão de representantes do mundo não académico nas suas estruturas de gestão e governação. Também aqui as entidades representativas da área da Tradução em Portugal teriam um papel activo a desenvolver, participando directamente nos Conselhos Consultivos das diferentes instituições.

Uma relação mais activa e dinâmica poderia resultar na abertura da indústria à realização de teses de doutoramento e mestrado que a envolva directamente – estudos de caso, inquéritos, aplicação de novos processos e tecnologias, etc., a exemplo do que acontece com o Localisation Research Centre em Limerick na Irlanda, ou com a Education Initiative Taskforce da Localization Industries Standards Association (LISA), que desenvolveu um protocolo de pesquisa e inovação com 7 Universidades Europeias, para a realização de projectos de investigação comuns.

Mas esta relação não é fácil. Associada a si estão um conjunto de estereótipos que urge combater, ao mesmo tempo que é preciso respeitar o papel e as velocidades inerentes à capacidade e necessidade de transformação de cada um. Um exemplo desta dificuldade resulta do desenvolvimento avassalador da indústria da Localização. Como afirma Pym (2006:1) a propósito do ensino da Localização, este coloca problemas sérios "for the training

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institutions that would want to prepare translators to enter the industry. In the absence of any stable ‘localization competence’ that might be mapped straight into a study program, our training institutions must take steps to convey the basic technologies and to develop links with the localization industry. Such links however, are necessarily strained by the very different ways in which industry and the academy convert knowledge into economic capital, and thus by the ways in which they build social networks. For sociological reasons, relations between the localization industry and the academy are bound to be difficult. However, this same disjuncture should allow training institutions to offer a critical view of localization discourses and technologies, particularly of those that turn cross-cultural communication into phrase-replacement exercises".

De facto, se tomarmos como exemplo a localização, percebemos que a percepção da indústria em relação aos novos conceitos e ferramentas é, pela proximidade com o trabalho nos diferentes projectos, mais concreta e aguçada. Às empresas competiria transformar parte dessa percepção em conhecimento transmissível, contribuindo para o desenvolvimento de competências dos novos tradutores, formando assim uma cadeia de valor que resultaria em mais valias a curto/médio prazo para essas mesmas empresas. Um exemplo dessa contribuição poderia passar pelo disponibilizar de conhecimentos sobre o processo de definição da tipologia das equipas de Localização, de definição das questões prévias, das questões de revisão, do tipo de conhecimento necessário para a equipa ter sucesso. Esta disponibilização poderia assumir, entre outras, a forma de conferências, workshops ou seminários.

Para completar a trilogia por nós proposta, falta analisar ainda um terceiro vector – o da disponibilidade de ferramentas electrónicas de tradução, essencial à aplicação das novas metodologias de ensino e a uma formação actual e em linha com as necessidades e expectativas do mercado.

A existência destas aplicações tem sido o veículo principal de inovação e introdução de novos conceitos e de novas práticas, resultantes do surgimento de ferramentas ou de evoluções naturais no mercado. Não é fácil imaginar a concepção e aplicação de estratégias para o ensino da tradução – explorando, por exemplo, as metodologias de Project Based Learning, de Problem Based Learning ou de Aprendizagem Colaborativa – sem recorrer às tecnologias de tradução assistida, automática ou de gestão de projectos actualmente disponíveis.

No entanto, a disponibilização destas ferramentas tem um conjunto de custos associados, de que destacamos os custos de licenciamento e de actualização e os custos de formação e actualização constante dos docentes, isto quando as instituições de ensino possuem docentes com competências neste tipo de aplicações. Para além disso, a sua disponibilização aos alunos obriga à existência de equipamento informático em número e qualidade suficiente para a sua instalação. Estes custos, no actual panorama de desinvestimento contínuo no Ensino Superior, dificultam o acesso adequado às tecnologias mais recentes e, consequentemente, ao seu uso na sala de aula, atrasando a experimentação e desenvolvimento de competências tecnológicas e a aquisição de conhecimentos.

Esta situação já é em grande parte compreendida pelos vendedores de software, mas numa escala menor do que a expectável. Os descontos a estudantes e a instituições de ensino são já significativos, mas a lógica é ainda puramente comercial. Poucos são aqueles que optaram pelo estabelecimento de protocolos que conjugassem os interesses das partes, por exemplo, através da utilização de grupos de alunos e docentes para testes a novas versões ou novos produtos ou para a investigação sobre novos processos de gestão de projectos de tradução, em troca de vantagens comerciais para as instituições de ensino.

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5. Conclusão

A abordagem aqui seguida, as hipóteses e ideias apresentadas são mais ou menos conhecidas e estão à disposição dos diferentes actores da área da tradução. Urge, na nossa percepção, potencializar o Acordo de Bolonha e o processo de reformas em curso e introduzir novos comportamentos e relações que garantam, de facto, a mudança de paradigma. Aproveitar o clima de adequação proposto por Bolonha para cimentar as relações entre a Universidade e as Empresas, introduzir novas dinâmicas e novos comportamentos, que originem valor acrescentado para os diferentes actores do mercado de tradução em Portugal é uma tarefa que requer abertura e cooperação, mas que poderá resultar a prazo em dividendos acrescidos para as partes.

Além de exercer a sua missão fundamental de produção e transmissão do conhecimento, a universidade funciona hoje como fonte essencial de competências especializadas em diversos domínios e como um catalisador de parcerias múltiplas entre os intervenientes económicos e sociais, através de diversas redes. Essas redes carecem, na área da Tradução, de ser reforçadas e revistas, sendo este um momento de características únicas para os diferentes parceiros contribuírem para a sua construção. Agradecimentos Este artigo só foi possível graças à colaboração e às perspectivas de Clara Cunha, Paula Ramalho Almeida e Susana Noronha Cunha, com quem tive a oportunidade de colaborar na árdua tarefa de criação de um Ciclo de Estudos de Mestrado, que procurou atender e entender as muitas exigências colocadas pelo Processo de Bolonha. A elas o meu muito obrigado. Bibliografia Comissão das Comunidades Europeias. O papel das Universidades na Europa do conhecimento.

Bruxelas. 2003. http://europa.eu/scadplus/leg/pt/cha/c11067.htm. Consultado em 14 Julho 2006. Cravo, Ana Maria da Silva. «Promoting autonomy through action research: a case study with

undergraduate translation students». 2006. http://isg.urv.es/cttt/cttt/research/cravo.doc. Consultado em 14 de Julho de 2006.

Dias, Fátima. «Tradutores precisam-se»: A Imagem da Tradução transmitida pelos Anúncios de Emprego. in Confluências. 2006.

Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Decreto-Lei 74/2006 – Regime jurídico dos graus e diplomas do ensino superior. 2006.

European Commission, Directorate-General for Translation: www.eu.int/comm/dgs/translation/external_relations/universities/master_curriculum_en.pdf. Consultado em 14 Julho 2006.

Pym, Anthony. Localization, Training, and the Threat of Fragmentation. 2006. http://www.tinet.org/~apym/on-line/translation.html. Consultado em 14 de Julho de 2006.

Thematic Network Project in the Area of Languages, Sub-project 7: Translation and Interpreting, Course Profile Recommendations.

http://web.fu-berlin.de/elc/tnp1/SP7FinalRecs.pdf. Consultado em 14 Julho 2006. Thomson-Wohlgemuth, Gabriele. «A Socialist Approach to Translation: A Way Forward?» in Meta.

2004. http://www.erudit.org/revue/meta/2004/v49/n3/009375ar.pdfConsultado em 10 Julho 2006. Wilss, Wolfram. «Translation Studies – The State of the Art». in Meta. 2004.

http://www.erudit.org/revue/meta/2004/v49/n4/009781ar.pdf. Consultado em 14 Julho 2006.

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NOTA BIOGRÁFICA

O autor é professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, onde lecciona disciplinas de Tradução e Interpretação e onde coordena o Centro Multimédia de Línguas. Foi professor na Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão, nas disciplinas de Inglês Técnico. É Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas – variante de Inglês / Alemão e Mestre em Terminologia e Tradução, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. È doutorando em Linguística, no domínio da Linguística e Informática, na especialidade de Terminologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É ainda investigador no INESC Porto – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto, na Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção – área de Redes de Cooperação Empresarial.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Translating Without the Tools of the Trade

David Cranmer Universidade Nova de Lisboa (FCSH), Portugal

[email protected] Abstract Both the general translator and specialist, on the one hand, and the writer in a language other than his own, on the other, need the basic tools of the trade, a range of comprehensive, reliable dictionaries. For translating between Portuguese and English the currently available dictionaries, both general and specialised, are limited in their usefulness. This paper explores these weaknesses above all with regard to translating texts on various aspects of ‘classical’ music, and proposes ways forward. Key words: translation, music, dictionary. Introduction

Over the past twenty-five years, during which I have pursued, in parallel, the two professions of teaching English and being a musicologist, specialising particularly in aspects of the history of music in Portugal, these two essentially distinct areas have come increasingly together in the translations into English I have been asked to do by Portuguese musical and musicological colleagues, and the texts I have found myself writing in Portuguese. For although translation and writing in another language are differ in terms of the origin of the content – an existing text in the case of translation, the mind of the writer in the case of writing – they share a good deal. If writing is a creative process, translation also demands a degree of creativity. More particularly, they are both dependent on the same kinds of tools: dictionaries and other reference works. And although it has grown easier, as I have gained in knowledge and experience, these tools have been a constant source of frustration, as well as support.

In this paper I would like to analyse and thereby share some of these frustrations, and although my examples will be taken largely from the world of music, the approach I have chosen is deliberately designed so that it may be generalised to other very different fields of knowledge. The analysis will be followed by a proposal for remedy. The frustrations

For music, as with a number of other areas, there is a specialised dictionary, in this instance the Dicionário de Termos Musicais, by Henrique de Oliveira Marques, published by Editorial Estampa in 1984. This dictionary is one in a tradition of polyglot dictionaries in the

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field, its most notable predecessor being the Terminorum Musicae Index Septem Linguis Redactus, jointly published in 1978 by the Association Internationale des Bibliothèques Musicales and the Société Internationale de Musicologie at Budapest, Kassel, Basel, Tours and London. The Oliveira Marques dictionary provides equivalent terms for Portuguese, English, French, German and Italian, with a glossary of many of the terms in all five languages. It stands as a monument to patience and dedication, and all Portuguese musicians who need terms in these languages would be desperate without it. The faults in it I would identify, therefore, should be seen entirely in terms of improvement to an already solid work. The points, however, are worth making because they involve broader principles that apply in any field.

I would identify the following main areas as needing consideration:

1. inclusion and omission; 2. imprecision; 3. language issues.

The decision as to what to include or omit in a specialist dictionary depends very much

on the parameters that the field itself defines for itself. In the case of music, it includes all the language required to describe music in analytical terms, the graphology of music, the instruments and their taxonomy, voices, genres, and so on. These kinds of things are obvious. But it requires more. Sacred music, for example, is intrinsically tied up with liturgy, so this must also be included. In broad terms Oliveira Marques is to be praised for his good sense in the coverage of these areas. He will tell you, for example, that forma sonata and sonata form are equivalent, as are armação and key signature, fagote and bassoon, someiro and windchest (part of an organ), meio-soprano and mezzo-soprano, ladainha and litany. For most musicians and translators, most of the time, then, here is the answer.

There are, however, questions I would take issue with. First is an area that the author went to some pains to include: the equivalents of organ stops or registers. This is extremely problematic, because although the principles involved in organ building are universal, the existence of national schools leads to considerable diversity in traditional conception and construction. The proportions of different types of stops also vary from country to country in a kind of vicious circle of collusion between organists, composers and builders. The result is that the instruments in England, France, Germany, Italy and the Iberian Peninsula, and the repertoire for which they were designed, each have distinct characteristics. At the level of the individual stop, although equivalent in conceptual terms, the sound of a Flautado aberto on a Portuguese organ, for example, and an Open Diapason on an English one is not quite the same, the Portuguese stop having typically a fuller, more rounded sound than its English equivalent. In actual fact, stop names should simply not be translated, a policy I found myself in happy agreement on recently, when I was asked to translate a book on the organs of Madeira 1. The author, like me, being an organist, was well aware of the problem.

On the other hand, there are a number of noticeable omissions. These result essentially from variants of a single question. What exactly is the dictionary’s scope? For example, though Oliveira Marques includes composição and composition, as well as the near synonyms peça and piece, for some strange reason obra and work are omitted. General though these words are, and to be found in even the worst general dictionary, they do form part of the normal musical vocabulary. At the other extreme, many more detailed technical terms are missing, just by way of example: nota antecipada and anticipatory note, word-painting, where Portuguese uses the English term, and all but the most basic taxonomy of instruments. Anyone translating a text involving harpsichord construction would be at a

__________ 1 Gerhard Doderer, Organs in Madeira, in preparation.

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complete loss, as indeed happened to me a number of years ago 2. Then the dictionary is of no use and the only solution is to find texts in both languages and try to match them, not always an easy task even now when the internet is able in part to compensate for the woeful deficiencies of this country’s libraries.

Another area where the scope of the Oliveira Marques dictionary is limited is in terms of historical time, the extent to which it takes into account changes in usage over time. To take a simple example, two hundred years ago the clarinet was generally known in Portugal not as clarinete, but as clarino (using the Italian) or clarim, but the only English equivalent he gives for these two words is military trumpet, not even the cognate clarion, which is indeed a type of trumpet equivalent in some contexts. There is no mention of clarinet at all.

Coming back to the present, obviously, coinages since the dictionary was published are not to be found in it. Two years ago I was asked to translate a text analysing some motets by the seventeenth-century Portuguese composer Frei Manuel Cardoso 3. The author had taken a certain amount of new terminology from a recent text in English 4. and had converted the terms into Portuguese. On the one hand, no dictionary could help me on these and, on the other, I couldn’t just invent new English equivalents, as the author had done for Portuguese, but had to obtain the original English text and use the terms employed there.

But there is one area of omission I find especially striking, and common to dictionaries in general till very recently: the omission of all proper nouns. In general terms, but also affecting texts related to music, there are all the place names and names of institutions. Capital cities and major international organisations can be found with relative ease, but how is one supposed to guess, for example, that the Italian city of Livorno is known in Portuguese as Leorne and in English, of all things, as Leghorn? Certainly no dictionary will tell you. Another case is Saints’ names and corresponding institutions. What dictionary will tell you that the celebrated Roman basilica of S. Giovanni in Laterano is known in Portuguese as S. João Latrão and in English as St. John Lateran?

Returning to music is the specific problem of the titles of works. Many translate easily enough, but others are not so straightforward. Apart from the need simply to know that in English you say The Marriage of Figaro, not Figaro’s Marriage or Wedding and in Portuguese it is As Bodas, rather than O Casamento, de Figaro, what about A Noiva Vendida, which in English is rendered not as The Sold Bride, but The Bartered Bride, using a lexical item rarely used outside this context? You would have to know the plot to guess that Wagner’s The Flying Dutchman and O Navio Fantasma are equivalent. In films, of course, the problem is often far worse. And leaving operas, I will never forget the time when a colleague, who was a professional translator, called me in desperation about O Cravo Bem Temperado. He had fortunately realised that an English translation based on cloves (cravinhos) and seasoning (temperos) was unlikely to fit the bill, but nowhere could he find Bach’s Well-tempered Clavier. The fact is, however, that musicians and translators of musical texts need a ready reference tool to find the equivalents for titles of works.

Let me move on to the problem of imprecision. The Oliveira Marques dictionary unsurprisingly gives the equivalent names for the notes of the scale, but it fails to take things one stage further, for example, by giving dó central and the English equivalent, middle C, a common term that the non-specialist would not easily guess. Nor does it make any reference to the different national systems of indicating which octave a note belongs to, in Portuguese by numbering the octaves with digits, in English by a distinction between capital and lower-

__________ 2 Gerhard Doderer (ed.), Libro di Tocate Per Cembalo – Scarlatti, facsimile edition, InstitutoNacional de

Investigação Científica, Lisbon, 1991. 3 João Pedro d’Alvarenga, "Para uma compreensão da polifonia portuguesa pós-tridentina, a propósito dos

motetos de Fr. Manuel Cardoso," in Estudos de Musicologia, Edições Colibri/Centro de História da Arte, Universidade de Évora, Lisbon, 2002.

4 Dolores Pesce (ed.), Hearing the Motet, Essays on the Motet of the Middle Ages and Renaissance, Oxford University Press, Oxford, 1997; particularly Joshua Rifkin’s essay "Miracles, Motivicity, and Mannerism: Adrian Willaert’s Videns Dominus flentes sorores Lazari and Some Aspects of Motet Composition in the 1520s".

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case letters and the addition of apostrophes. Another case of not extending a term to its logical conclusion is the Portuguese word parte, where the dictionary distinguishes carefully between the senses of ‘section’, ‘role’ and ‘the number of instrumental or vocal parts a work is written for’, providing the equivalents for each in the other languages. However, the common, more precise term parte cava, used in Portuguese to refer to a written part for an individual instrument or voice is missing.

There is also imprecision of other kinds. Dissonância in Portuguese is given two equivalents in English, discord and dissonance, without, however, making any kind of distinction between them. Yet there is a difference, at least in terms of register, if not exactly in terms of meaning, namely that discord is a word used in common parlance, while a technical analysis of a piece of music would talk in terms of the frequency and use of dissonance, how the dissonances are prepared and resolved, and so on.

Some years ago I found myself having to criticise in a review a very good piece of research on the Portuguese salon songs known as modinhas, because of its poor English translation 5. Apart from grammatical incorrectness, what offended me particularly was the use of the word pianoforte. Let me explain that pianoforte in English is the, if you like ‘official’ name for what is more typically just called a piano, that is to say the modern instrument found everywhere from concert halls and music schools to bars and private homes. In Portuguese, however, these two terms are not synonymous. While piano is always used to designate the familiar instrument, pianoforte refers to its predecessor, what in English is known as the fortepiano, borrowing the Italian term, and commonly known in eighteenth-century Portuguese as cravo de martelos. Thus when pianoforte in the original Portuguese text was left unchanged in the English version, something for which the Oliveira Marques dictionary may well have been responsible, since it fails to make the necessary distinction, the English-speaking reader would be led to believe that these songs were accompanied at a remarkably early date by modern pianos, instead of the more restrained, more ‘twangy’ sound of the fortepiano.

So I come now to the third area of frustration, what I have designated as ‘language issues’. This is the point where I begin to think less as a musicologist and more as a language teacher. Have you noticed how up till now every term I have referred to was some kind of noun? What about all the other parts of speech? Oliveira Marques deserves praise for actually going so far as to indicate the part of speech for each entry. Nevertheless, there are very, very few adjectives or verbs to be found. The lack of attention paid to these other parts of speech may, in part, account, for example, for the very poor way in which his dictionary deals with adjectives to do with tuning. For equivalents of the Portuguese desafinado, for example, he gives out-of-tune and mistuned, the first of which is often a good equivalent, the second only very limited in its use, a difference that the dictionary once again fails to explain. But where are the adjectives sharp and flat, which a choir director or conductor would commonly use to describe what was wrong with a note, and the verbs sharpen and flatten which is what the musicians would need to do to the notes to put them right?

I wonder too if the absence of the adjective stepwise when describing a melody as ‘falling/rising in stepwise motion’ has more to do with its being an adjective than its being too technical a term. It was my students who taught me that in Portuguese you say that the melody ‘desce/sobe por graus conjuntos’. No dictionary could tell me this. You will notice too, in this context that the Portuguese equivalent of fall is not cair but descer and of rise is not levantar-se but subir. This collocational, semi-technical language is lost between the general dictionary and the technical. In my experience, all the existing bilingual Portuguese and

__________ 5 The work in question was Maria João Durães Albuquerque (ed.), Jornal de Modinhas Ano I, facsimile edition,

Ministério da Cultura/Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisbon, 1996. The review appeared in Revista Portuguesa de Musicologia, Nos. 7-8, Associação Portuguesa de Ciências Musicais, Lisbon, 1997/98, pp. 211-212.

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English dictionaries are particularly poor at providing context and collocation, even if the recent Verbo dictionaries begin to take this problem more seriously 6. A proposal for remedy

Henrique de Oliveira Marques, in the Author’s Note that prefaces his dictionary, tells us how he began simply by preparing, for his own use, parallel lists in Portuguese and English, and how, under pressure from potential publishers, this bilingual word-list was extended to include the other languages. Given how important French, German and Italian are in the world of music, this makes entirely good sense. It does mean, however, that attention gets divided, and it limits the scope and size of entries if the volume is not to reach impossible proportions. In my view, and I would hasten to add that a number of musicological colleagues I have spoken to recently share this view, English, over the last twenty years, has come to have such an overwhelming importance in the field that a detailed, comprehensive bilingual Portuguese and English musicological dictionary has come to be essential. The present omissions have to be supplied, the dubious inclusions removed, and the imprecisions clarified. Proper attention must also be given to linguistic questions: due importance given to all parts of speech, to collocation and to context. This means taking into account not only musicological texts, especially those that exist in both languages, but also the outstanding work being done in monolingual lexicography through the use of language corpora, the full impact of which has yet to be felt in the currently available bilingual Portuguese and English dictionaries. Similarly, the increased recognition in monolingual lexicography that proper nouns cannot be ignored, doubtless led by the dictionaries of language and culture for learners of English 7, has profound implications for bilingual lexicography.

All this is true of musicology, and I have very much the impression that it is scarcely less so in most other fields, even in the language of more general use.

It is perhaps a truism to say that while a dictionary may be finished, in terms of its being ready for print, it is never complete. With modern technology and the possibility of on-line dictionaries, this paradigm changes. The dictionary is never finished and gains constantly in completeness.

Aware as I am of what is required, I leave you to guess how I expect to be spending much of my time over the next few years. BIOGRAPHICAL NOTE

David Cranmer, who has been living in Portugal since 1981, teaches at the Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, of the Universidade Nova de Lisboa, in both the Department of Modern Languages and Music Departments. He is also organist of St. George’s Anglican Church. A specialist in 18th- and early 19th-century opera, he did his doctoral thesis on Opera in Portugal from 1793 to 1828. He is author or co-author of various books (e.g. Crónicas da vida musical portuguesa na primeira metade do século XIX, with Manuel Carlos de Brito, Imprensa Nacional, Lisbon, 1990; Musical Openings, with Clement Laroy, Longman, Harlow 1992; Motivating High Level Learners, Longman, Harlow, 1996) and numerous articles in both the fields of musicology and English language teaching. As a translator he specialises in translating texts on music and musicology for institutions such as the Gulbenkian Foundation (the Portugaliae Musica series) and the Lisbon Music Museum (Guide), for recording companies (especially the labels Portugalsom and Portugaler) and for several of the country’s leading musicologists (e.g. Rui Vieira Nery, Gerhard Doderer, Manuel Morais and João Pedro d’Alvarenga).

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__________ 6 João Bigotte Chorão (director), Dicionário de Português-Inglês, Editorial Verbo, s.l., 2000; Dicionário Verbo

Oxford: Inglês-Português, 2nd edition, Verbo, s.l., 2003 (based on an earlier edition, Oxford University Press, Oxford, 1997).

7 The pioneer in this shift of paradigm was the Longman Dictionary of English Language and Culture, first published in 1992, and now in its 3rd edition.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Dicionário Multilíngüe de Nomes de Países, Exônimos e Gentílicos

Ana Goulart Bustamante Márcia de Almeida Mathias Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

[email protected] [email protected]

Raquel Abi-Sâmara Tradutora de alemão e inglês [email protected]

Abstract

Como traduzir nomes de países, cidades e gentílicos sem correr o risco de se referir, na língua de chegada, a lugares e identidades diferentes dos mencionados na língua de partida? A busca da correspondência mais precisa entre palavras de dois idiomas é uma das tarefas do tradutor, que no Brasil ainda não conta com um dicionário de nomes de países e gentílicos, com variantes lingüísticas, especificidades da pronúncia, datação e localização geográfica, com possibilidade de consulta em diversos idiomas. Palavras-chave: ferramentas de tradução, nomes de países, gentílicos. A tradução técnica e os nomes geográficos

A tradução técnica exige cada vez mais e em ritmo sempre mais acelerado ferramentas de trabalho que solucionem problemas novos relacionados à terminologia de novos campos de conhecimento que surgem a cada dia. Conceitos científicos recém-criados precisam ser divulgados de imediato na mídia internacional, o que exige do tradutor não apenas o levantamento de termos técnicos correspondentes como até mesmo a criação desses termos na língua-alvo – e isso certamente implica pesquisa e bons conhecimentos de etimologia e morfologia (Britto, 1996, p. 475). A rápida transformação tecnológica exige, portanto, do tradutor técnico, a atualização permanente de suas ferramentas de trabalho, que vão desde glossários e vocabulários até dicionários multimídia e on-line, solução recomendada em casos em que as alterações ocorrem mais rapidamente, como por exemplo na área da informática ou da biotecnologia. As alterações freqüentes caracterizam também os nomes geográficos, que se renovam ou se mantêm ao longo do tempo, numa dinâmica que envolve linguagem, política territorial e identidade (Santos, 2006).

Imaginemos a seguinte situação: ao verter um texto do francês para o português, o tradutor depara com o topônimo Côte d’Ivoire. Se seus conhecimentos em relações internacionais não estiverem atualizados, muito provavelmente poderá incorrer no engano

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de traduzir o nome literal e automaticamente por Costa do Marfim, pois acima de tudo trata-se de sonoridade bastante familiar para a língua portuguesa. Há alguns anos, entretanto, "a antiga (e secular) Costa do Marfim decidiu solicitar que fosse chamada, em qualquer língua, de Côte d’Ivoire. Pedidos dessa natureza são irrecusáveis pelas regras da diplomacia" (Coutinho, 1999, p. 11). Semelhante caso poderia acontecer com texto em que aparecesse o nome Cameroun, que não aceita mais a conhecida denominação portuguesa "Camarão" (ou "Camarões"), e recentemente também solicitou ser chamado, em todas as línguas, de Cameroun. É comum o caso de países recém-independentes que repudiam e reescrevem a toponímia colonial: "Rodésia transforma-se em Zimbabwe. Alto Volta em Burkina Faso. Acabado o regime stalinista, Stalingrado passa a Volvogrado. Superado o comunismo, vão-se os velhos ícones, e Leningrado, sucessora de Petrogrado, volta a São Petersburgo. A soviética Vilna transforma-se na lituana Vilnius. Restaurada a democracia, varre-se do mapa o ‘entulho autoritário toponímico’ " (Coutinho, 1999, p. 11).

Como traduzir nomes de países, cidades e gentílicos sem cometer esses tipos de deslizes relacionados à política territorial e sem correr o risco de se referir, na língua de chegada, a lugares e identidades diferentes dos mencionados na língua de partida? Como lidar com complexas questões que surgem no idioma português por causa de alterações toponímicas como por exemplo a de Côte d’Ivoire? Ou seja, além da dificuldade de pronúncia imposta aos falantes do português, como tratar o gentílico "marfiniano/ marfiniana" referente à antiga Costa do Marfim e já consolidado em nosso idioma? Onde pesquisar nomes em desuso – e de inegável valor histórico – como os usados por Camões em Os Lusíadas: Nobá, Quilmance, Maçuá, Çuaquem, Taprobana (atual Sri Lanka), para citar somente alguns?

Essas e outras questões nortearam o desenvolvimento do projeto multimídia denominado Dicionário multilíngüe de nomes de países, exônimos e gentílicos, ferramenta que se torna cada vez mais necessária ao tradutor no atual panorama das relações políticas e comerciais em nível internacional e de uma rede mundial de comunicação que atua praticamente em tempo real. Além dos nomes de países, exônimos e gentílicos, o dicionário propõe-se a coligir variantes lingüísticas, variação de gênero e de número dos gentílicos, elementos de composição, especificidades do uso e da pronúncia, datação e localização geográfica, com possibilidade de consulta em diversos idiomas. Este projeto envolve, no entanto, a formação de uma rede de decisão no campo de nomes de países e exônimos em língua portuguesa, a fim de gerar uma publicação autorizada pelos principais órgãos envolvidos.

O dicionário será apresentado aqui em seu estágio atual de desenvolvimento: as tabelas com nomes de países que compõem o módulo inicial, trilíngüe (português, inglês, espanhol). O conjunto de dados configura a primeira iniciativa desse tipo no Brasil. Tomamos como ponto de partida para a realização desse primeiro módulo a lista de nomes de países elaborada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), por se tratar de uma publicação oficial que acompanha grande parte das negociações internacionais. Em muitos países, entretanto, a lista de países só é considerada oficial quando emitida por uma comissão legalmente autorizada a arbitrar sobre ela.

A tarefa mais difícil na elaboração do dicionário multilíngüe não é traduzir os nomes estrangeiros, mas encontrar a forma recomendável em português. Será produzida inicialmente uma lista com recomendações exclusivamente firmadas na lingüística para ser submetida ao crivo político-ideológico. O processo de aprovação das listas posteriores pode vir a incluir a realização de um evento pelo Ministério das Relações Exteriores, com duração de um dia, quando vai ser discutida e aprovada a nova lista. Os órgãos convidados para o evento são: Academia Brasileira de Letras, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pós-Graduação de Letras da Universidade de São Paulo (USP), o Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros. Ao finalizar essa primeira etapa do projeto, pretendemos publicá-la e manter sua atualização periódica, que poderá ser feita com freqüência maior em versão eletrônica. Lembremos que a permanente

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transformação do cenário mundial exige atualização regular da lista dos nomes geográficos. Essa tabela é o embrião da obra multimídia e multilíngüe que vai ser construída com a ajuda das conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) e sessões de peritos em nomes geográficos.

Uma vez criada, a Divisão de Língua Portuguesa no Grupo de Peritos da ONU em Nomes Geográficos pode se tornar a semente de uma comissão de representantes de países lusofônicos para padronização de nomes geográficos. Mesmo com a comunidade lusófona desunida em outras questões ortográficas, a Divisão de Língua Portuguesa poderia dar solução para o problema internacional. A lista produzida precisaria ter a mesma ressalva encontrada nas listas divulgadas pela ONU, destacando que a menção na obra não significa reconhecimento do país ou qualquer outra atitude oficial com relação a territórios em litígio.

É conhecido o problema da falta de entendimento entre países lusófonos sobre uma possível uniformização de grafias, mas talvez se possa atingir um nível razoável de sucesso pelos caminhos diplomáticos somados a uma rede de discussão brasileira exclusivamente sobre padronização de nomes geográficos. Tabela de nomes de países

O primeiro módulo do Dicionário multilíngüe de nomes de países, exônimos e gentílicos, como se disse anteriormente, teve como ponto de partida a lista alfabética de países do Manual de redação e estilo do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores, 2004, p.34-47). Os nomes em espanhol e inglês provêm de uma lista divulgada em 2006 pela Espanha, por meio do Grupo de Trabalho em Nomes de Países do Grupo de Peritos das Nações Unidas em Nomes Geográficos. A tabela inicial, exemplificada abaixo, traz, por sua vez, três colunas de informações utilizadas pela ONU (nome do país em inglês e nome do país em espanhol – do modo como são usados na língua corrente da ONU, não correspondendo necessariamente aos nomes oficiais), além de seis outras colunas com os seguintes dados em língua portuguesa do Brasil: nome do país em seu uso cotidiano (acompanhado do artigo, quando usado), nome oficial do país, gentílico nacional, variação de gênero do gentílico, variantes do gentílico e suas respectivas variações de gênero, elementos de composição (inclusive variantes em uso):

ISO Inglês (ONU)

Espanhol (ONU)

Portu-guês (Brasil)

Nome oficial em português (Brasil)

Gentílico (usado no Brasil)

Gentílico (variação de gênero)

Gentílico (variantes e variação de gênero)

Elemento de composi-ção

PT Portugal Portugal Portugal República Portuguesa

português portuguesa lusitano, luso, lusíada/ lusitana, lusa

luso-

QA Qatar Qatar Catar Estado de Catar

catari catariano, catarense/ catariana

catariano-

RO Romania Rumania Romê-nia, a

Romênia romeno romena valáquio/va-láquia

romeno-

RU Russian Federation

Rusia, la Federa-ción de

Rússia, a

Federação da Rússia

russo russa russo-

Figura 1 – Tabela inicial do Dicionário multilíngüe de nomes de países, gentílicos e elementos de composição. Fontes: MRE e ONU. Obs.: Os nomes em azul provêm de fonte complementar (Dicionário Houaiss de língua portuguesa). A última coluna (elementos de composição) ficará sobre a responsabilidade da equipe do Instituto Antônio Houaiss.

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Consideramos importante aqui a indicação do uso de artigo nos casos específicos de nomes de países, com gênero, número e eventuais comentários relativos à concordância. No atual estágio da tabela, estamos inserindo nova coluna com o plural do gentílico e também asterisco* para indicar a existência de informação complementar sobre o vocábulo, como histórias exemplares e etimologias de especial interesse, comentadas em seção à parte, ordenada em capítulos ou verbetes, como se pode observar abaixo:

Português (Brasil)

Nome oficial em português (Brasil)

Gentílico (usado no Brasil)

Gentílico (variação de gênero)

Gentílico (plural)

Gentílico (variantes e variação de gênero)

Elemento de composição

Alemanha República Federal da Alemanha

alemão* alemã alemães (m.pl.); alemãs (f.pl.); alemães (pl.)

germânico, teutônico, teutão, teuto, têutone / germânica, teutônica

germano-, teuto-, alemano-

Figura 2 – Etapa atual de desenvolvimento do Dicionário de nomes de países, gentílicos e elementos de composição, quando estão sendo indicados os verbetes que podem conter informações complementares, indicadas por asterisco ou colunas suplementares, como o plural dos gentílicos).

A inserção do gentílico em sua(s) forma(s) plural(ais) mostrou-se relevante nesta ferramenta tradutológica pelo fato de preencher uma lacuna muitas vezes existente nos melhores dicionários da língua portuguesa. Grande parte dos falantes de português no Brasil apresenta dúvidas com relação ao plural do gentílico "alemão", por exemplo, e nem sempre consegue fontes de pesquisa que possam resolvê-las apropriadamente.

O asterisco, por sua vez, indica a inserção de informações complementares. A título de exemplo, vejamos o que traz o sinal gráfico adicionado ao vocábulo "alemão":

*alemão: No Brasil, a palavra é usada por parte da população, especialmente no estado do Rio de Janeiro, como gíria que significa "policial" (Fonte: em levantamento). Provavelmente com essa acepção, o vocábulo tornou-se nome geográfico, no caso do "Morro do Alemão" (e "Complexo do Alemão"), conhecida comunidade carioca.

Topônimos, exônimos e memória cultural

Discussões pertinentes à tradução e à padronização de nomes geográficos são extremamente relevantes para as relações internacionais, o que se comprova na própria realização, pela ONU, desde a década de 1960, da Conferência das Nações Unidas sobre Padronização de Nomes Geográficos, a cada cinco anos. Junto com o Grupo de Peritos das Nações Unidas em Nomes Geográficos, as conferências têm produzido recomendações expressas em resoluções, entre as quais as que uniformizam a transliteração entre os vários alfabetos usados no mundo e as que advertem quanto às perdas decorrentes de alterações desnecessárias de nomes de lugares.

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Os escritores clássicos da língua portuguesa 1 já mencionavam as alterações de antigos topônimos portugueses, como é o caso da seguinte passagem de Os lusíadas: "corre a costa célebre indiana / Pera o Sul, até o Cabo Comori, / Já chamado Cori, que Taprobana / (que ora é Ceilão) defronte tem de si". O escritor não se espantaria ao saber que Comori hoje é Comorin e que o Ceilão tem hoje o nome oficial de Sri Lanka. "O próprio Camões, que escreveu ‘mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’, poderia ter acrescentado ‘e mudam-se os topônimos’ " (Coutinho, 1999, p. 13).

A padronização dos nomes geográficos preconizada pela ONU repousa sobre dois princípios. O primeiro é a preferência pela univocidade, ou seja, para cada lugar, um só nome, para cada nome, um só lugar. Outro princípio básico e definidor da padronização é a recomendação aos países que mantenham uma comissão nacional de nomes geográficos para arbitrar em casos de litígios territoriais e grafia dentro e fora do país.

O ideal de univocidade é perseguido pelas Nações Unidas desde as primeiras conferências de padronização de nomes geográficos, que vêm aprovando várias resoluções para reduzir a quantidade de exônimos, mas, a despeito disso, seu número é cada vez maior. O exônimo é definido no glossário de terminologia para padronização de nomes geográficos aprovado pelo Grupo de Peritos em Nomes Geográficos (ONU, 2002) como o nome próprio usado num idioma para designar um acidente geográfico situado fora da área onde aquele idioma tem caráter oficial. Como exemplos, são citados os casos de Warsaw, exônimo inglês de Warszawa, Londres, o espanhol [e o português] de London, Mailand, o alemão de Milano. O Dicionário Houaiss da língua portuguesa inclui, na segunda edição, os vocábulos exônimo e endônimo, como a seguir:

endônimo s.m. (sXX) nome geográfico estrangeiro que obedece à grafia original do país de origem (p.ex., Buenos Aires) F cf. exônimo ¤ ETIM end(o)- + -ônimo

exônimo s.m. (sXX) nome geográfico estrangeiro escrito de forma diversa da grafia original do país de origem (p.ex., Genebra/Genève) F cf. endônimo ¤ ETIM ¹exo- + -ônimo

A padronização dos nomes geográficos preconizada pela ONU busca preservar a

univocidade dos nomes sincrônica e diacronicamente. Por isso, além de desestimular o uso de homônimos e variantes ortográficas numa mesma época, também procura reduzir o impacto das variantes históricas. Por exemplo, no caso de Côte d’Ivoire, citado anteriormente, o nome atual do país poderia vir seguido, entre parênteses, do nome anterior e já consolidado em língua portuguesa: Côte d’Ivoire (Costa do Marfim), para efeitos de redução desse impacto. Resoluções desestimulam as trocas constantes de nomes de países e municípios, que destroem a univocidade dos nomes ao longo do tempo e invadem o terreno da tradição. O recurso à datação deveria ser restrito aos casos extremos e, ainda assim, a grandes intervalos de tempo. A autoridade nacional daria a última palavra em casos de alterações de nomes tradicionais.

Diante do ideal de univocidade, os exônimos foram sempre considerados indesejáveis, mas pesa em favor de sua preservação o fato de serem nomes tradicionais e, desse modo, incorporados à língua. Consagrados pelo uso coletivo, são pouco propensos a se sujeitarem a decisões superiores e não se submetem a qualquer determinação, a não ser quando imposta pelo uso. Por isso, como admite resolução da última conferência, em 2002, que recapitula resoluções anteriores, apesar dos esforços para restringir o uso de exônimos, __________ 1 "Do ponto de vista histórico, a língua portuguesa, vale destacar, foi a primeira a enfrentar o convívio com a

toponímia em escala global. Em tal matéria, era mesmo o idioma dominante em várias partes da África e da Ásia, conforme o testemunho eloqüente dos principais cartógrafos dos séculos XVI e XVII. Símbolos visíveis da língua como ‘companheira do império’, todos os antigos topônimos portugueses passaram dos mapas e roteiros dos navegadores para livros clássicos da língua, como as Décadas da Ásia (João de Barros), Os Lusíadas (Luís de Camões) e a Peregrinação (Fernão Mendes Pinto). Nessas três obras, mais de mil topônimos diferentes são usados para referenciar geograficamente as conquistas e os feitos do ‘peito ilustre lusitano’" (Coutinho, 1999, p. 12).

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verifica-se tendência contrária, com o crescimento de sua quantidade (resolução 4). Cientes dessa realidade, ao propor a criação, para o público brasileiro, de um dicionário multilíngüe de nomes de países, exônimos e gentílicos em português, passível de ter sua base de dados aproveitada em ferramentas automatizadas de tradução, estamos implicitamente admitindo que esse imenso acervo de palavras ainda deve resistir por mais um tempo aos esforços de padronização apoiada exclusivamente no ideal de univocidade. Lisboa, Lisbon ou Lissabon

Outra vez te revejo, Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Álvaro de Campos, 1923

O grande poeta português Fernando Pessoa, que como nenhum outro soube

expressar a alma de nosso tempo, escreveu dois poemas para sua Lisboa natal, em português, no entanto ambos sob o título, em inglês, "Lisbon revisited" (1923 e 1926). Um breve retrospecto da biografia de Fernando Pessoa (1888-1935) talvez ajude a compreender a razão de usar o título em inglês e o exônimo inglês de Lisboa, pois o poeta viveu dos sete aos dezessete anos na África do Sul, onde foi alfabetizado em inglês. A morte do pai, quando Pessoa tinha apenas cinco anos de idade, e o casamento da mãe, dois anos depois, com o cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul, determinaram esse destino. Somente em 1905, o poeta retornou a Lisboa, para fazer o curso superior de Letras.

Quando os poemas dedicados à Lisboa de sua primeira infância vieram a público, portanto, o poeta já retornara há tempos à cidade natal, onde publicava versos tanto em português quanto em inglês, ou ainda, como no caso, em português e inglês. A qualidade da expressão poética nessas duas línguas é uma das interessantes dualidades encontradas na obra e na personalidade do poeta, que se comparava à íbis, ave sempre pousada num pé só. O sentimento de meio-exílio que experimentou na África do Sul e depois em sua própria terra lhe inspirou o nome da primeira empresa gráfica que tentou estabelecer: Empresa Íbis – Tipografia Editora – Oficinas a vapor. O poeta se sente estrangeiro – com um pé só no solo – na África e estrangeiro também em sua terra, Lisboa, que homenageou nos dois poemas de título em inglês e também no nome escolhido para outra empresa editora sua, Olisipo (o nome Lisboa é derivado etimologicamente de Olisippo, em latim), pela qual publicou, em 1921, seus English Poems I & II e English Poems III, além das Canções de Antônio Boto, editadas no ano seguinte. Os dois poemas intitulados Lisbon revisited foram publicados com três anos de defasagem na revista Contemporânea, ambos com a assinatura de Álvaro de Campos, um dos mais conhecidos heterônimos de Pessoa. Marca inconfundível da obra de Fernando Pessoa, a heteronímia do poeta português muitas vezes foi entendida como expressão do desdobramento ou da fragmentação experimentada pelo sujeito poético, outras vezes pelo próprio sujeito contemporâneo. Pessoa refere-se freqüentemente a esse "escapar de si" do artista em poemas como o que se segue, coligido entre os inéditos.

Sou um evadido. Logo que nasci Fecharam-me em mim, Ah, mas eu fugi. Se a gente se cansa Do mesmo lugar, Do mesmo ser Por que não se cansar? Minha alma procura-me

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Mas eu ando a monte Oxalá que ela Nunca me encontre. Ser um é cadeia, Ser eu é não ser. Viverei fugindo Mas vivo a valer. (1931)

Deleuze e Guattari (2000) afirmam que a arte, a ciência e a filosofia "traçam planos sobre o caos" (p. 260). O artista, como o cientista e o filósofo, mergulha no caos e depois retorna, como quem volta do mundo dos mortos. Desse mergulho no plano de imanência, o filósofo traz variações, que representam o conceito; o cientista traz variáveis, que entram em relações determináveis pela função, e o artista, variedades, que erigem um ser da sensação. Os autores explicam ainda que, quando a primeira pessoa consegue chegar a esse ponto, da auto-posição, se transforma em terceira pessoa. Esta seria a função dos heterônimos em Fernando Pessoa.

Além de Álvaro de Campos, são muito conhecidos também os heterônimos Ricardo Reis, que chegou a ter a morte declarada mas encontram-se poemas seus de data posterior, e Alberto Caeiro, de "O guardador de rebanhos". Outro heterônimo, Bernardo Soares, deixou escrita uma frase que se tornou conhecida: "Minha pátria é a língua portuguesa" (Soares, 1982, p. 42). Por que, em aparente contradição com essa frase, o poeta usa o exônimo inglês, Lisbon, para se referir à Lisboa de sua infância revisitada?

Com os dados biográficos de que dispomos, sabemos que o poeta já retornara havia dezoito anos do período africano na data de publicação do primeiro "Lisbon revisited". O poema de 1923 é uma irada resposta a conterrâneos que o querem sob controle: "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? / Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?" Uma estrofe, no entanto, se destaca das demais porque nela o poeta não se dirige a eles, mas a Lisboa, ao céu de sua infância, ao conhecido rio Tejo, com profundo estranhamento.

Ó céu azul – o mesmo da minha infância – Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o céu se reflete! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. (1923)

No segundo "Lisbon revisited", de 1926, o poeta parece mais conformado, mas

mantém o amargor do sentir-se estrangeiro que justifica o título. Ao repetir o título, com o nome de Lisboa novamente em inglês, evoca e "revisita" o primeiro poema, como se desejasse continuar a conversa unilateral com Lisboa. Desta vez, no entanto, a evocação de Lisboa não está presente em apenas uma, mas cinco das dez estrofes do poema:

Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo – , [...] Estrangeiro aqui como em toda a parte. [...] Outra vez te revejo, Mas, ai, a mim não me revejo! Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico, E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim – Um bocado de ti e de mim! ... (1926)

A experiência de fragmentação do sujeito se explicita no confronto com a identidade

portuguesa reencontrada como passado e, no entanto, irreconhecível no presente, ainda

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que revisitada. Ao lugar idealizado – mais que Lisboa, Lisbon – jamais conseguirá retornar o poeta, permanente viajante, num exílio inapelável.

Além dos dados biográficos, o próprio texto dos poemas oferece algumas respostas para a preferência pelo exônimo inglês Lisbon – e sua repetição nos títulos. Em ambos os poemas, o artista fala com Lisboa em português, e é somente no título que se anuncia como estrangeiro, em inglês, afastando-se o suficiente para em inglês revisitar o lugar. Quem visita – ou revisita – não pertence (mais) a um lugar. Nesse sentido, tanto a escolha das palavras quanto a escolha do idioma dão ao título o efeito desejado, de estranhamento em relação ao já conhecido.

Como já vimos, o poeta português Fernando Pessoa se desdobrou em muitos heterônimos e, desse modo, conseguiu representar uma multiplicidade de identidades tão característica da experiência humana no século XX. Para transformar-se no ser de sensação descrito por Deleuze e Guattari (2000), para deslocar-se para a terceira pessoa que, nesse caso, se expressa pelos heterônimos, o poeta se utiliza dos recursos que lhe oferece a língua – muito além da língua portuguesa.

Assim, depois de mostrar que os exônimos são um "problema" de padronização, esperamos ter mostrado também o quanto se revestem de potencial expressivo, a partir do exemplo fornecido por Fernando Pessoa. Muitos outros poemas e autores, no entanto, poderiam ser arrolados para demonstrar a importância de incluir neste dicionário também as cidades e regiões de menção freqüente no Brasil com seus equivalentes nos vários idiomas e, na tabela inicial, em inglês, espanhol e alemão. Espera-se ter reconhecida sua utilidade, ao menos para a literatura.

Português (Brasil)

Gentílico em português

Inglês (ONU)

Gentílico em inglês

Espanhol (ONU)

Gentílico em espanhol

Alemão Gentílico em alemão

Lisboa (Portugal)

lisbonense, olisiponense

Lisbon (Portugal)

Lisboa (Portugal)

Lissabon (Portugal)

Lissabonner/ Lissabonnerin

Londres londrino London londoner Londres London Londoner/ Londonerin

Pequim (Beijing)

pequinês Peking Pekingese,Pekinese

Peking Pekiner/ Pekinerin

Fontes: Dicionário Houaiss, 2001; Webster’s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language, 1989; Langenscheidts Taschenwörterbuch Portugiesisch, 2001.

Voltando ao poeta de Lisboa, o exemplo de Fernando Pessoa demonstra mais uma vez que a língua atesta filiação a uma sociedade particular e em suas palavras estão cristalizados conceitos que ressoam a história coletiva (Elias, 1994). Houaiss (1981) destaca: "Os topônimos existem para nós muito mais como entidades visuais do que fônicas, são sobretudo grafemas" (p. 61). Segundo assegura o autor: "Para nós, elas não são pronunciadas, são vividas visualmente, o código é transmitido por escrito (p. 62)". Isto dá segurança ao autor para afirmar que, da toponímia universal, a grande maioria não constitui problema, ou seja, segue-se a grafia original. Com isso, completa, o problema para o editor ou o tradutor consiste em palavras que estão na ordem do dia em razão de algum acontecimento que volta a atenção de todos para lá. Quando têm vida oral limitada, terminado o evento que atrai a atenção, essas palavras retornam à condição de grafemas.

Também Elias (1994) se refere a esse fenômeno, quando lembra que palavras (entre as quais incluímos os exônimos, pois são igualmente consagrados pelo uso) se transmitem de geração a geração enquanto retiverem "um valor existencial, uma função na existência concreta da sociedade" (p. 26). Diz o autor:

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Os termos morrem aos poucos, quando as funções e experiências na vida concreta da sociedade deixam de se vincular a eles. Em outras ocasiões, eles apenas adormecem, ou o fazem em certos aspectos, e adquirem um novo valor existencial com uma nova situação. São relembrados então porque alguma coisa no estado presente da sociedade encontra expressão na cristalização do passado corporificada nas palavras (Elias, 1994, p. 26-27).

Agradecimentos A Mauro Villar e Francisco de Mello Franco, do Instituto Antônio Houaiss, à professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (USP), ao professor Paulo Menezes, do Laboratório de Cartografia e Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos engenheiros cartógrafos Moema José de Carvalho Augusto, Cláudio João Barreto dos Santos e Paulo da Silva Santos, da Coordenação de Cartografia do IBGE. Referências [1] Britto, Paulo Henriques, "Entrevista com o tradutor Paulo Henriques Britto", Cadernos de

Tradução, Florianópolis, n. 2, 1996, p. 467-478. [2] Camões, Luís de, Os Lusíadas. [3] Coutinho, Roberto Pires, Normalização dos nomes geográficos estrangeiros na língua portuguesa

– Aspectos políticos e diplomáticos – Uma proposta de ação do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores (MRE), 1999.

[4] Deleuze, Gilles; Guattari, Félix, O que é a filosofia?, Editora 34, Rio de Janeiro, 1992. [5] Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Objetiva, Rio de Janeiro, 2001. [6] Elias, Norbert, O processo civilizador, Jorge Zahar Ed., Rio de Janeiro, 1994, vol. 1, p. 23-27. [7] Magalhães, Aluísio; Houaiss, Antonio; Silva, Benedito, Editoração hoje, FGV, Rio de Janeiro,

1975. [8] Manual de redação e estilo do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores (MRE), 2004, p. 34-

47. [9] Langenscheidts Taschenwörterbuch Portugiesisch, Langenscheidt KG, Berlin e Munique, 2001. [10] Pessoa, Fernando, Obra poética, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1990. [11] Santos, Cláudio João Barreto dos, Projeto de tese de doutorado, qualificação oral apresentada

em 2005 na UFRJ: Geonímia fluminense. [12] Soares, Bernardo, Livro do desassossego, Editorial Comunicação, Lisboa, 1986. [13] Wahrig, Gerhard, Wahrig Deutsches Wörterbuch, Bertelsmann Lexikon Verlag, Gütersloch e

Munique, 1993. [14] Webster’s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language, Random House, New

York, 1996.

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NOTAS BIOGRÁFICAS

Ana Goulart Bustamante, jornalista graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), fez mestrado em Letras (1999) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutorado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (2005) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem 44 anos de idade e já atuou como editora, redatora e tradutora no jornal O Globo e na Encyclopaedia Britannica do Brasil, além de chefiar o Setor de Comunicação Social da Fundação Petrobras de Seguridade Social – PETROS. Foi assistente da coordenação do Fórum Global 1992, evento da sociedade civil paralelo à Rio 92, e coordenadora de programas e publicações da Ashoka Empreendedores Sociais antes de ingressar no IBGE (2002), onde atuou como assessora de imprensa por dois anos, na Coordenação de Comunicação Social. Atualmente, é componente do Grupo de Trabalho em Nomes Geográficos do IBGE, responsável pela redação de projetos.

Márcia De Almeida Mathias, pós-graduada em Língua Portuguesa (1990) pela Faculdade de Filosofia de Campo Grande e graduada em Letras (1986, Português-Francês) pela Faculdade de Filosofia de Campo Grande, Rio de Janeiro RJ, tem 36 anos e atua desde 1987 na revisão ortográfica de topônimos dos projetos cartográficos executados no IBGE, entre os quais a Carta Internacional ao Milionésimo – CIM – do Brasil, mapas do Brasil em várias escalas, mapas estaduais e atlas geográficos, entre outros. Também atua desde 1989 na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, tendo exercido as funções de diretora escolar, coordenadora e orientadora pedagógica, coordenadora de turno e regente de turmas, nos níveis de ensino fundamental e médio. Participou do curso de nomes geográficos promovido pelo Instituto Pan-Americano de Geografia e História – IPGH em 1992, no Brasil, e é componente do Grupo de Trabalho em Nomes Geográficos do IBGE.

Raquel Abi-Sâmara é tradutora de literatura alemã e professora de poesia moderna. Traduziu, entre outros livros, Hausto-Cristal, do poeta Paul Celan, Quem sou eu, quem és tu?, do filósofo Hans-Georg Gadamer (Eduerj, 2005), Kadish por uma criança não nascida, de Imre Kértesz (Prêmio Nobel em 2002. Imago Editora). Ministrou cursos de Literatura Brasileira e de Literatura Alemã na graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), cursos de Poesia Moderna na Pós-Graduação Lato Sensu em Literatura Brasileira da UERJ e na Estação das Letras (Rio de Janeiro), de 2002 a 2005. Tradutora de textos técnicos em alemão e inglês. Autora de ensaios sobre poesia e tradução em revistas acadêmicas no Brasil e na Alemanha. Doutora em Literatura Comparada pela UERJ, especializada em Germanística pela Albert-Ludwigs Universität Freiburg, Alemanha, mestre em Literatura Brasileira pela UERJ, graduada em Comunicação Social (Jornalismo).

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Glossário de Termos para a Padronização de Nomes Geográficos

Ana Goulart Bustamante Márcia de Almeida Mathias Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

[email protected] [email protected]

Raquel Abi-Sâmara Tradutora de alemão e inglês [email protected]

Abstract A Organização das Nações Unidas publicou, em 2002, o Glossary of Terms for the Standardization of Geographical Names nas seis línguas que considera oficiais: inglês, francês, espanhol, russo, chinês e árabe. O entendimento dos países em torno da terminologia usada no campo da padronização de nomes geográficos, que se materializa na publicação, representa um grande avanço nos esforços de padronização internacional de nomes geográficos, mas tem pouca serventia na disseminação dos conceitos de padronização e uso consistente dos nomes geográficos em países que não usam essas línguas, como o Brasil. A fim de tornar mais acessíveis essas informações para o público brasileiro, pois o país sem dúvida tem necessidade de um esforço de padronização, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão legalmente responsável pelo mapeamento e levantamento de toponímia do país, vai coordenar a tradução dos documentos da ONU para a língua portuguesa para permitir sua mais ampla divulgação junto aos brasileiros e cidadãos de países lusofônicos, bem como na América Latina. Os nomes geográficos hoje são considerados componentes fundamentais das Infra-Estruturas Nacionais de Dados Espaciais, bases do mapeamento processado com a utilização das novas tecnologias. Por isso, as primeiras traduções do projeto já contam com o apoio do Instituto Pan-Americano de Geografia e História, que aprovou em sua Convocatória para 2006 um projeto que envolve a disseminação de textos relacionados com nomes geográficos em português e espanhol. Além do glossário multilíngüe da ONU, outras publicações serão traduzidas e ficarão disponíveis na página de divulgação de nomes geográficos que o Grupo de Trabalho em atividade no IBGE pretende publicar na internet em ligação (link) com a página que está sendo preparada pela Divisão da América Latina na Conferência das Nações Unidas sobre Padronização de Nomes Geográficos. Para tradutores, será interessante verificar que muitos termos do campo dos nomes geográficos também se encontram na teoria da tradução, como "bilingüismo", "língua de origem", "vocabulário", entre muitas outras. Palavras-chave: nomes geográficos, ferramentas de tradução, terminologia.

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1. Introdução: a tradução e a padronização de nomes geográficos

A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou, em 2002, o Glossário de termos para a padronização de nomes geográficos 1 nas seis línguas que considera oficiais: inglês (disponível na internet), francês, espanhol, russo, chinês e árabe. A obra é dirigida ao público especializado nesse campo de trabalho, basicamente especialistas e representantes de países reunidos nas sessões do grupo de peritos e na Conferência das Nações Unidas sobre Padronização de Nomes Geográficos (CNUPNG), iniciativas do Conselho Econômico e Social da ONU. Nessas reuniões e conferências são atualizadas as informações e negociadas soluções para problemas comuns, como, por exemplo, as normas para a grafia, no nosso alfabeto, de nomes de países escritos originalmente com caracteres não-latinos, como os ideogramas e o alfabeto cirílico. A próxima conferência se realiza em junho de 2007, em Nova York (e exortamos os governos e missões diplomáticas dos países de língua portuguesa a comparecerem).

O glossário multilíngüe merece lugar na biblioteca de um tradutor, ao lado do volume com as resoluções das oito conferências realizadas desde 1962 (também disponível em inglês na internet) e de um bom dicionário de exônimos de língua portuguesa, que, segundo cremos, ainda não foi publicado 2. Obra de referência que extrapola, pelo interesse, o público para o qual foi dirigida, o glossário de terminologia editado pela ONU representa, com efeito, a materialização do consenso atingido nas negociações entre países. E, se ainda encontramos casos de disputa relacionados aos nomes geográficos em si, ao menos sabemos que os negociadores estão de acordo quanto aos termos utilizados e que podem expressar, nas seis línguas da ONU, seu desejo de entendimento em discussões sobre interesses associados aos nomes geográficos.

Para citar apenas um exemplo do interesse que pode revestir os nomes geográficos, sabemos que existem, na Europa, mais de três mil indicações geográficas protegidas em associação com arranjos produtivos locais, de caráter coletivo. Em Portugal, são mais de cem, entre elas o queijo da Serra da Estrela e os ovos moles de Aveiro. O interesse econômico e social em torno do desenvolvimento das indicações geográficas como marcas protegidas desperta atenção, com efeito, mas os nomes geográficos têm desdobramentos numa infinidade de outros campos igualmente estratégicos, como é o caso da informação cartográfica e da comunicação mundial, além da lingüística e das relações internacionais. É bastante divulgada, por exemplo, a discussão entre Coréia do Sul e Japão em torno do nome do mar que banha os dois países, chamado pelo primeiro de Mar Oriental e pelo segundo de Mar do Japão.

Os nomes geográficos padronizados potencialmente constituem a chave da qualidade da informação estatística e da cartografia. Nomes que apresentem grafia divergente podem gerar ruídos na comunicação e no processamento de dados. A dupla grafia, por exemplo, pode resultar em registros duplicados indesejavelmente se, antes do processamento, os nomes geográficos não forem tratados segundo critérios voltados para atingir o máximo de padronização. A dinâmica inerente aos nomes geográficos – nomes são criados ou alterados segundo movimentos coletivos que, muitas vezes, demoram a ser captados pelos mapas e cartas – exige mecanismos e ferramentas para soluções ágeis. Outro argumento sempre mencionado pela ONU para justificar a importância da padronização internacional é permitir a ajuda humanitária para vítimas de grandes acidentes naturais, seca, fome e atos

__________ 1 Glossary of Terms for the Standardization of Geographical Names, UN, 2002. Editado por Naftali Kadmon,

coordenador do Grupo de Trabalho de Terminologia Toponímica do Grupo de Peritos da ONU em Nomes Geográficos.

2 Ver, no tópico "ferramentas de tradução" desta I Conferência de Tradução Portuguesa, trabalho das mesmas autoras intitulado "Dicionário multilíngüe de nomes de países, exônimos e gentílicos", que descreve um projeto de dicionário de exônimos.

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terroristas, pois a logística das missões depende de várias maneiras do conhecimento e da padronização dos nomes geográficos em âmbito mundial.

A conferência se realiza a cada cinco anos e, paralelamente, são realizadas as sessões do Grupo de Peritos das Nações Unidas em Nomes Geográficos (GPNUNG), que se organizam em divisões lingüísticas e regionais, além de grupos de trabalho voltados para as prioridades apontadas pelas conferências. Um desses grupos de trabalho se ocupa da terminologia, por exemplo, outros promovem estudos para subsidiar soluções para questões como a transliteração e a transcrição, o uso de exônimos, listas de nomes de países, entre outras. As divisões regionais e lingüísticas oferecem liberdade para um país se posicionar em duas divisões, se adequado. É o que pode acontecer com Portugal, Brasil e Moçambique, por exemplo, que não precisariam deixar as divisões de que participam para apoiar a criação de uma Divisão de Língua Portuguesa no GPNUNG. Este poderia ser o caminho para iniciar o resgate da toponímia histórica de origem portuguesa, com benefícios para outros campos de estudos, inclusive estudos históricos no mundo todo. 2. A construção do glossário

O glossário de terminologia para a padronização de nomes geográficos vem sendo construído desde as primeiras reuniões internacionais patrocinadas pela ONU, mas, até 1991, existia somente a versão em inglês. A obra que depois se tornaria multilíngüe foi apresentada pela primeira vez para discussão na 14ª sessão do Grupo de Peritos das Nações Unidas em Nomes Geográficos, realizada em Genebra de 17 a 26 de maio de 1989. O Glossário nº 330: terminologia técnica empregada na padronização de nomes geográficos 3 vinha a público depois de passar por duas atualizações, mas ainda apresentava vários problemas destacados pelo grupo, entre os quais a falta de exemplos ilustrativos dos termos no mundo todo e de comentários para nomes escritos em alfabetos não-latinos e línguas não-européias. Para buscar as soluções, foi criado o Grupo de Trabalho em Terminologia, tendo Naftali Kadmon (de Israel) como coordenador e editor geral do glossário.

O coordenador do Grupo de Trabalho em Terminologia apresentou seu relatório na 15ª sessão do GPNUNG, realizada em Genebra de 11 a 19 de novembro de 1991. A primeira versão do novo glossário trazia a definição de 336 termos em inglês e incluía exemplos de 16 línguas e alfabetos, e recebeu vários adendos e emendas. Em 1992, uma resolução da Sexta Conferência das Nações Unidas sobre Padronização de Nomes Geográficos 4 recomendou pedir ao Grupo de Trabalho em Terminologia Toponímica para continuar em funcionamento, a fim de produzir um dicionário multilíngüe de terminologia toponímica, incluindo as outras cinco línguas oficiais da ONU, além do inglês. Na mesma resolução, o grupo recomenda ainda que o grupo seja chamado para rever o glossário e atualizá-lo, quando necessário. O grupo de trabalho se reuniu muitas vezes e fez muitas modificações antes de apresentar a versão 4 do glossário, com 375 termos, para a Sétima Conferência da ONU sobre Padronização de Nomes Geográficos, realizada em Nova York de 13 a 22 de janeiro de 1998.

No texto introdutório do glossário, depois de admitir que a proposta de fazer um glossário multilíngüe ultrapassa o desafio da tradução dos termos, o grupo de trabalho afirma ter verificado e respeitado certas diferenças de uso de termos equivalentes, bem como divergências entre definições de certos termos nas seis línguas. Também nos exemplos citados, o grupo afirma que precisou buscar variações, de modo a ilustrar cada caso para o universo das diferentes línguas. Os exemplos básicos, porém, especialmente de alfabetos não-latinos, são os mesmos em todas as versões idiomáticas do glossário. Assim,

__________ 3 Glossary No. 330: Technical Terminology Employed in the Standardization of Geographical Names,

documento ST/CS/SER.F/330. Sobre as discussões, ver o relatório da referida sessão (ESA/RT/C/GN/12), parágrafos 23 e 94.

4 Resolução 11 da VI CNUPNG realizada em Nova York de 25 de agosto a 3 de setembro de 1992.

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nas seis línguas em questão, especialistas se detiveram na discussão e na reflexão em torno não apenas da terminologia, mas também das definições dos termos, de sua equivalência nas diferentes culturas em que as línguas são usadas e dos exemplos ilustrativos das definições. Além disso, o grupo se preocupou em restringir a definição à necessidade do campo de trabalho dos nomes geográficos, sem se preocupar com as definições encontradas em dicionários comuns.

A adaptação dos conceitos especificamente para uso toponímico demonstra por si só a existência de grupos interessados exclusivamente nessa discussão, enquanto a divulgação em seis línguas dá testemunho de sua importância mundial. Igualmente, a preocupação em traduzir o glossário multilíngüe para a língua portuguesa deve ser, tanto quanto possível, conseqüência de um posicionamento dos países lusófonos que, até hoje, não se associaram sistematicamente em defesa da padronização mundial e do resgate do patrimônio toponímico de origem portuguesa. Assim, a inexistência do glossário em língua portuguesa nada mais é que o reflexo da presença irregular dos países de língua portuguesa nas discussões internacionais.

Não se trata apenas de traduzir o glossário, portanto, mas de obter apoio dos países lusófonos para o entendimento em torno da terminologia em português, aproveitando o espaço oferecido pelas conferências e sessões de especialistas da ONU. Ao participar das discussões para a aprovação da tradução do glossário, os países estarão também discutindo suas prioridades e buscando compreender os princípios básicos que regem o entendimento dos países nesse campo. Para melhor conduzir essas discussões, seria interessante criar um fórum dos países lusófonos, possivelmente a Divisão de Língua Portuguesa do GPNUNG, inicialmente como resultado dos esforços do Brasil e de Moçambique, mas contando com a breve adesão de Angola e de Portugal. A divisão receberia incentivo e condições para cumprir a missão de alavancar as discussões em torno dos interesses nesse campo, possivelmente estimulando também as pesquisas.

O valor do glossário multilíngüe se potencializa ao ultrapassar os limites dos idiomas oficiais da ONU e chegar ao público de língua portuguesa. Quanto se tem acesso à terminologia técnica e, principalmente, quando se sabe que existe acordo em torno da definição e da tradução dos termos usados nas discussões internacionais, é possível avançar com firmeza no debate de outros temas cruciais que emergem permanentemente na realidade da dinâmica territorial. A padronização de nomes geográficos vem sendo promovida nas Conferências da ONU e, com o apoio dos governos federais, os estudos e atividades avançaram bastante nas últimas décadas em muitos países. A bibliografia desse campo é, de todo modo, ainda escassa. Existem alguns textos em espanhol, felizmente, muitos deles apresentados nas conferências e reuniões e, desse modo, acessíveis no site da ONU. Entre eles se incluem as próprias resoluções votadas nas conferências para orientar a padronização nos países participantes. Nem toda a bibliografia, no entanto, é produzida e divulgada em todos os idiomas oficiais – a maior parte está disponível somente em inglês, ou em inglês e francês. 3. Topônimos do "mar português"

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!

Fernando Pessoa, 1934

(Mensagem. Segunda parte / "Mar portuguez".)

Recentemente, a Universidade de Coimbra promoveu um encontro sobre o programa de reconhecimento do patrimônio histórico da Unesco – organismo da ONU para a ciência e a cultura – em todo mundo, mostrando que a maior parte do patrimônio de origem portuguesa se encontra fora do atual território de Portugal. São fortalezas e outras construções erguidas em antigas colônias e territórios ultramarinos portugueses. Em torno

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de cada item desse patrimônio histórico, que ultrapassava já uma centena de bens em 2006, por certo se encontra outra centena de nomes geográficos de origem portuguesa para se somar ao já imenso patrimônio toponímico plantado ao longo dos séculos XV e XVI por Portugal nos lugares que visitou, dominou ou simplesmente mapeou. Com efeito, somente um estudo mais aprofundado da cartografia histórica e dos relatos de viagem permitiria quantificar a parcela da língua portuguesa na toponímia mundial. Se destacarmos que a matriz única desses topônimos é Portugal, pequeno país do extremo ocidental da Europa, veremos como seu corajoso movimento pelos mares permitiu lançar sementes de uma rede mundial de nomes em sua língua.

A idéia de propor a criação da Divisão de Língua Portuguesa no Grupo de Peritos da ONU, em defesa do resgate dos topônimos de origem portuguesa, resgata também o apelo do poeta Fernando Pessoa (1935), ao dizer "Falta cumprir-se Portugal" (Segunda parte / Mar portuguez / I. O infante), nos versos de sua magistral obra, Mensagem, publicada um ano antes de sua morte, aos 47 anos de idade. Também é em Fernando Pessoa, pela voz de seu heterônimo Bernardo Soares, que buscaremos outra grande mensagem em defesa da criação dessa divisão: "Minha pátria é a língua portuguesa", diz o poeta, no Livro do desassossego, divulgado postumamente. Sob essa bandeira de uma pátria que seria a própria língua portuguesa, podemos tentar formar a rede que conseguirá reunir a toponímia semeada por Portugal, cuidando para que esteja bem escrita, em coerência com seu universo de língua portuguesa.

No Brasil, considerado um cadinho de muitas culturas, a toponímia de origem portuguesa ainda representa mais de metade dos nomes de municípios no estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, como mostram estudos do Atlas Toponímico do Brasil coordenados pela professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, da Universidade de São Paulo e apresentados em 2004. Os estudos de toponímia do Brasil, por sua vez, integram um conjunto de toponímia latino-americana em que assoma a importância dos nomes em línguas de povos originários, conjunto que já mereceu a criação de um grupo de trabalho no âmbito do GPNUNG. Os informes das últimas conferências revelam que o grupo está preparando uma obra sobre o tema da toponímia indígena para apresentação em 2007. Em língua portuguesa, no entanto, o Brasil está só na América Latina e deve procurar dialogar com seus pares no mundo todo, a começar por Portugal e pelos países africanos de língua portuguesa, especialmente Moçambique, que se prepara para criar sua autoridade nacional em nomes geográficos. 4. Estudos para verbetes do glossário multilíngüe

O Glossário de Termos para a Padronização de Nomes Geográficos, em sua versão em língua inglesa, apresenta duas acepções para a palavra standardization, no verbete identificado pelo número 311:

standardization 1. The stablishment, by an appropriate authority, of a specific set of standards or norms,

e.g., for the uniform rendering of toponyms. 2. Rendering an item such as a toponym in accordance with such norms. (UN, 2002, p. 24)

O verbete normalización, que aparece no glossário em espanhol com a mesma

numeração, repete as mesmas informações, em língua espanhola, do original em inglês, mas acrescenta uma terceira acepção, fornecendo a sinonímia que aproxima os termos em inglês e espanhol.

normalización 1. Establecimiento, por una autoridad competente, de um conjunto específico de normas

para una actividad determinada, como, por ejemplo, para dar uniformidad a los topónimos.

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2. Adaptar un elemento, por ejemplo, un topónimo, a dichas normas. 3. En inglés, normalization se usa a veces en lugar de standardization (UN, 2002, p. 102).

Em francês, o glossário mantém as duas acepções da versão original, em inglês.

normalisation a) Etablissement, par une autoridad toponymique, d’un ensemble de règles et de critères

normatifs applicables par exemple au traitement uniformisé des toponymes. b) Traitement d’un toponyme suivant un ensemble d’elements normatifs donnés (UN,

2002, p. 59).

Para a tradução do glossário para o português, propõe-se uma definição semelhante às de língua espanhola e francesa. No entanto, ao invés de optar pelo termo normalização, mais semelhante aos termos em espanhol (normalización) e francês (normalisation) é proposto o termo padronização como tradução preferencial do termo em inglês standardization. Além disso, é mencionado o termo em português estandardização, usado em Moçambique.

padronização 1. Estabelecimento, por uma autoridade competente, de um conjunto específico de normas

para uma atividade determinada, como, por exemplo, para dar uniformidade aos topônimos.

2. Adaptação de um elemento, por exemplo, um topônimo, às referidas normas. 3. Normalização, uniformização, estandardização.

Para um público formado por tradutores, destaca-se, em especial, a grande

ocorrência, na terminologia de padronização de nomes geográficos, de expressões do campo da lingüística e da tradutologia. "Alfabeto fonético internacional" (International Phonetic Alphabet, IPA), "bilingüismo" (bilingualism), "comunidade de falantes" (speech community), "língua de destino" (target language), "língua de origem" (source language), "quadro de transliteração de caracteres" (transliteration key) são entradas que contribuem para esclarecer questões lingüísticas envolvidas nos debates internacionais. Também são numerosos os termos colhidos diretamente da gramática – como "artigo", "alfabeto", "consoante", "diacrítico", "dialeto", "dígrafo", "ditongo", "fonética", "grafema", "grafia", "gramática", "léxico", "lingüística", "morfema", "morfologia", "nome próprio", "onomástica", "ortografia", "radical", "semântica", "sílaba", "sintaxe", "termo genérico", "vogal" – ou do estudo das línguas – "escrita alfabética", "escrita silábica", "ideograma", "língua familiar" (colloquial language), "região lingüística", "vocabulário". 5. Problemas de padronização enfrentados no Brasil

A lei que pela primeira vez ordenou o território brasileiro, mergulhado até a década e 1930 em total falta de sistematização, tinha como objetivo tornar mais eficiente o sistema de estatística nacional. Até então, os poderes locais e estaduais legislavam sobre estruturas territoriais e, com isso, havia, por exemplo, municípios com mais distritos do que vilas ao lado de outros com mais vilas do que distritos. O Decreto-Lei Nº 311, de 1938, que se tornou conhecido como a Lei Geográfica do Estado Novo, tornou obrigatória a existência de apenas uma vila para cada distrito. Os municípios, além disso, foram obrigados a apresentar o mapa de seus limites territoriais e de sua toponímia para o governo federal; aqueles que não cumprissem a exigência deixariam de ser considerados municípios. Foram por esse motivo varridos da Divisão Territorial Brasileira centenas de municípios já instalados no estado do Amazonas, por exemplo.

A legislação primeiramente tornou proibida a repetição de nomes de municípios e de distritos no mesmo estado, mas pouco tempo depois estendeu seu alcance e proibiu

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homônimos em todo o território nacional. No rastro das determinações do decreto-lei promulgado em1938, leis estaduais extirparam topônimos que apresentavam homonímia com centros mais antigos e os substituíram por outros nomes, muitas vezes sem nenhuma consulta à população local ou preocupação com a identidade associada ao nome geográfico alterado. Isso provocou, em muitos casos de que temos notícia, indignação, no entanto tímida diante dos poderes totalitários do chamado Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas.

Mesmo de maneira totalitária, ao adotar a chamada Lei Geográfica do Estado Novo, pela primeira vez o Brasil conseguiu, pelo uso da "chave" dos nomes geográficos de municípios e distritos, cidades e vilas, ordenar as informações sobre seu território de um modo coerente e preciso. A importância da padronização se confirma novamente agora, setenta anos depois, quando se considera o processamento automático de dados, que não pode conviver com a duplicidade de registros sem comprometer a qualidade dos resultados.

As cartas e mapas ganham em precisão e utilidade quando representam com clareza os nomes geográficos em sua localização respectiva. Entretanto, não bastasse o valor de um nome como chave para localizar uma informação espacial ou digital, especialmente quando é único, o valor econômico que pode ser associado a um nome geográfico amplia ainda mais seu interesse quando não existem variantes muito próximas, passíveis de provocarem redução do potencial de exclusividade necessário para o desenvolvimento da marca para exploração comercial ou cultural em setores como turismo, internet, franquias. No caso dos nomes geográficos, a marca se associa a características típicas do lugar, às vezes relacionadas à paisagem, às vezes aos hábitos, mas, de qualquer modo, agrupáveis sob o nome de aspectos culturais (mesmo a paisagem deve ser vista como cultural quando é destacada num nome geográfico de consenso, pois o processo de nomeação é um ato discursivo e social cujas bases teóricas devem ser buscadas na psicossociologia e na antropologia).

Para limitar a discussão ao tratamento de dados cartográficos para a espacialização de dados referentes a localidades brasileiras, cada caso de dupla grafia de um nome geográfico de município resultará num duplo registro e, desse modo, reduzirá a qualidade do banco de dados e a precisão dos resultados do processamento de seus dados. Todos os órgãos do governo federal, por exemplo, poderiam usar como referência para informações municipais a lista de municípios e distritos mantida pelo IBGE à luz não apenas das leis federais que regem questões simplesmente ortográficas, mas também à luz das decisões estaduais e municipais sobre a grafia do nome do município que se baseiam em outros valores e sistemas de normas. Os dados só serão compatíveis, ou seja, só poderão ser integrados numa só lista sem gerar duplicidade de registros se passarem antes por um processo de padronização.

Para usar um exemplo do Brasil atual, os nomes padronizados permitem a um órgão como o BNDES, por exemplo, manter controle mais adequado da distribuição de benefícios em programas sociais diferentes. Na verdade, uma lista de nomes dos municípios, distritos e subdistritos mantida e atualizada pelo IBGE poderia ser divulgada com regularidade – ou a cada vez que houvesse alteração – pelos canais de comunicação regularmente utilizados, basicamente a intranet, para atingir o público interno, a comunicação social (assessoria de imprensa) e a página do IBGE na internet, além do e-gov (página do governo federal na internet), que apoiaria sua disseminação no governo federal, enquanto o IBGE buscaria consolidar a padronização junto a seu público interno e em suas publicações.

No Brasil, o IBGE é a instituição respeitada como autoridade nacional em nomes geográficos. Embora não se declare isso em portaria ou resolução, o IBGE é responsável pelos nomes geográficos porque é, de acordo com o decreto-lei 243 de 1967, autoridade nacional em cartografia. Todos os mapas e cartas produzidos pelo IBGE contêm nomes geográficos, inscritos depois de pesquisa feita pelos técnicos em campo e em documentos, tornando-se, desse modo, componentes do produto final cartográfico de valor reconhecido por lei. Aceitos como documentos de fé pública, os mapas e cartas do IBGE podem

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subsidiar negociações e pareceres técnicos em caso de litígios e questões fundiárias. Entretanto, é preciso que os métodos sejam cada vez mais transparentes e participativos, a fim de que os mapas e cartas reflitam os nomes efetivamente usados por comunidades que ali vivem e não por estranhos ao lugar, pois o nome geográfico repercute numa infinidade de outros campos de atividade. 6. Conclusão: política internacional de padronização de nomes geográficos

Em todos os países, amplia-se a discussão sobre temas associados aos nomes geográficos, pois deles dependem importantes atividades, a começar pela ordenação do território e das estatísticas. França, Canadá, Estados Unidos, Austrália, Japão, Áustria: é grande a lista de países que investem nas atividades de padronização e no estudo dos nomes geográficos de seu território por meio do apoio à comissão nacional. Também a padronização de nomes geográficos referentes a lugares fora do território de cada país é discutida sob a égide da ONU, nas conferências mundiais sobre padronização de nomes geográficos. A necessidade de padronização no campo das telecomunicações e comunicações em geral, onde se inserem temas como transliteração, transcrição e exônimos, entre outros, é um dos principais assuntos da discussão internacional, mas recentemente o debate vem sendo enriquecido pela inserção das questões culturais e de identidade social relacionadas aos nomes geográficos.

Em países como o México e a Índia, que abrigam alguns dos grandes movimentos identitários dos povos tradicionais, estão sendo restaurados os nomes geográficos das línguas de origem. Também no Canadá, estão sendo recolhidos e tratados os nomes geográficos de línguas dos povos tradicionais, ao lado das línguas inglesa e francesa, o que pode ser visto como um exemplo a ser seguido pelos países que já têm política definida com relação a essa culturas. No mundo todo, especialmente em países interessados em afirmar as identidades locais, vem sendo aceita a teoria que defende a restauração da toponímia tradicional, seja ou não em atendimento a demandas provenientes das próprias comunidades. Mesmo no Brasil, é esse o fenômeno por trás da permanência de grafias antigas, como a do topônimo Bahia e alterações aprovadas como as de 1980 em Campos dos Goytacazes, com Y, e Brodowski, com W, em lugar de Brodósqui, que criaram leis para restaurar seu nome original. Mesmo quando restaura um nome tradicional, porém, a mudança de nomes tem sempre algum impacto e, por isso, toda alteração deve ser vista com reserva, segundo resoluções da ONU, mas a comunidade de língua portuguesa deve atentar para a importância dessa discussão antes que se perca mais terreno.

Nesse cenário, cresce a importância de promover a tradução do glossário para a língua portuguesa, se possível sob a coordenação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros textos importantes deverão ser também traduzidos para português e espanhol no contexto de um projeto de cooperação técnica entre países da América Latina, que inclui a criação de um centro de referência (virtual), bilíngüe, para compilar os textos usados nas discussões internacionais e regionais, em apoio à Divisão da América Latina no GPNUNG. O projeto foi apresentado pela Coordenação de Cartografia do IBGE ao Instituto Pan-Americano de Geografia e História (IPGH) na Convocatória para 2006 e aprovado para realização em doze meses a partir do ingresso da primeira parcela dos primeiros recursos, que totalizam oito mil dólares da parte do IPGH e quase duzentos mil dólares da parte do IBGE.

Para o tradutor, há de ter bastante utilidade a obra que lista em seis línguas mais de trezentos itens da terminologia usada no campo da padronização de nomes geográficos. O glossário fornece uma definição concisa de cada termo, bem como seus termos equivalentes nos diferentes idiomas selecionados. É de se lamentar apenas a inexistência da versão da terminologia em língua portuguesa, no entanto, compreensível quando se sabe que Portugal, Brasil e Moçambique, por exemplo, que têm o português como língua oficial, enviam delegados para participar das discussões nas conferências e reuniões do grupo de

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peritos mas de forma circunstancial, não sistemática, pois nenhum dos três países têm ainda uma comissão nacional responsável pela promoção da padronização ou de qualquer aspecto dos nomes geográficos.

Não se trata, porém, de um projeto de tradução simplesmente, mas de um projeto de inserção da comunidade de língua portuguesa nas discussões da ONU. Assim, mais que tradutores competentes, o projeto requer o engajamento de negociadores internacionais orientados para defender o patrimônio toponímico de língua portuguesa espalhado no mundo, grande parte dele no Brasil. Aproveitamos a oportunidade para exortar os portugueses e cidadãos de todos os países e comunidades de língua portuguesa a acompanharem as discussões internacionais dos especialistas em nomes geográficos e a incentivarem esse campo de estudos que propõe um olhar multidisciplinar para a formação de uma grande rede de nomes geográficos em língua portuguesa, congregando lingüistas, historiadores e geógrafos, mas também a comunidade de profissionais e cientistas dos campos de cartografia, museologia, etnografia, ciências políticas e psicossociologia, para citar apenas alguns aspectos de um debate por natureza multidisciplinar. Para o educador, também, o tema apresenta rica posição de transversalidade em relação às disciplinas, permitindo uma série de atividades pedagógicas.

Assim como o glossário, outras obras de interesse são produzidas somente em inglês no âmbito das conferências da ONU e ainda aguardam apoio para serem traduzidas e disseminadas para o público de língua portuguesa. No Brasil, tudo isso poderia ser feito no contexto de uma política oficial de apoio a essa importante área técnica e de pesquisa, que apresenta desdobramentos em muitas outras áreas, inclusive a cartografia, a geografia e a estatística, podendo, por isso, ser encampada pelo IBGE como fator de qualidade de sua produção cartográfica e estatística.

A decisão de traduzir o glossário para a língua portuguesa vem exigindo uma série de articulações e tomadas de decisão anteriores à tradução, as quais por si só já vêm representando um grande avanço na compreensão da importância dos estudos de nomes geográficos. Mais que o desafio de empreender um trabalho de tradução de entradas de uma obra de referência, o glossário de terminologia da ONU em língua portuguesa usada no Brasil poderia representar, por extensão, a própria inserção desse tema na agenda do governo brasileiro. De certa forma, isso se verifica hoje, quando estão sendo lançadas as bases do Projeto Nomes Geográficos do Brasil, do IBGE, de caráter multidisciplinar, com a criação do Banco de Nomes Geográficos do Brasil. Agradecimentos A Mauro Villar e Francisco de Mello Franco, do Instituto Antônio Houaiss, à professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (USP), ao professor Paulo Menezes, do Laboratório de Cartografia e Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos engenheiros cartógrafos Moema José de Carvalho Augusto, Cláudio João Barreto dos Santos e Paulo da Silva Santos, da Coordenação de Cartografia do IBGE. Referências [1] Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Objetiva, Rio de Janeiro, 1999. [2] Glossary of Terms for the Standardization of Geographical Names, United Nations, New York,

2002. [3] Pessoa, «Mensagem», Obra poética, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1990, p. 69-89.

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NOTAS BIOGRÁFICAS

Ana Goulart Bustamante, jornalista graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), fez mestrado em Letras (1999) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutorado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (2005) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem 44 anos de idade e já atuou como editora, redatora e tradutora no jornal O Globo e na Encyclopaedia Britannica do Brasil, além de chefiar o Setor de Comunicação Social da Fundação Petrobras de Seguridade Social – PETROS. Foi assistente da coordenação do Fórum Global 1992, evento da sociedade civil paralelo à Rio 92, e coordenadora de programas e publicações da Ashoka Empreendedores Sociais antes de ingressar no IBGE (2002), onde atuou como assessora de imprensa por dois anos, na Coordenação de Comunicação Social. Atualmente, é componente do Grupo de Trabalho em Nomes Geográficos do IBGE, responsável pela redação de projetos.

Márcia De Almeida Mathias, pós-graduada em Língua Portuguesa (1990) pela Faculdade de Filosofia de Campo Grande e graduada em Letras (1986, Português-Francês) pela Faculdade de Filosofia de Campo Grande, Rio de Janeiro RJ, tem 36 anos e atua desde 1987 na revisão ortográfica de topônimos dos projetos cartográficos executados no IBGE, entre os quais a Carta Internacional ao Milionésimo – CIM – do Brasil, mapas do Brasil em várias escalas, mapas estaduais e atlas geográficos, entre outros. Também atua desde 1989 na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, tendo exercido as funções de diretora escolar, coordenadora e orientadora pedagógica, coordenadora de turno e regente de turmas, nos níveis de ensino fundamental e médio. Participou do curso de nomes geográficos promovido pelo Instituto Pan-Americano de Geografia e História – IPGH em 1992, no Brasil, e é componente do Grupo de Trabalho em Nomes Geográficos do IBGE.

Raquel Abi-Sâmara é tradutora de literatura alemã e professora de poesia moderna. Traduziu, entre outros livros, Hausto-Cristal, do poeta Paul Celan, Quem sou eu, quem és tu?, do filósofo Hans-Georg Gadamer (Eduerj, 2005), Kadish por uma criança não nascida, de Imre Kértesz (Prêmio Nobel em 2002. Imago Editora). Ministrou cursos de Literatura Brasileira e de Literatura Alemã na graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), cursos de Poesia Moderna na Pós-Graduação Lato Sensu em Literatura Brasileira da UERJ e na Estação das Letras (Rio de Janeiro), de 2002 a 2005. Tradutora de textos técnicos em alemão e inglês. Autora de ensaios sobre poesia e tradução em revistas acadêmicas no Brasil e na Alemanha. Doutora em Literatura Comparada pela UERJ, especializada em Germanística pela Albert-Ludwigs Universität Freiburg, Alemanha, mestre em Literatura Brasileira pela UERJ, graduada em Comunicação Social (Jornalismo).

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Let’s Do the Frequência Before the Ponte but After the Feriado:

The Words We Don’t Translate

David Hardisty Universidade Nova de Lisboa, Portugal

[email protected] I would firstly like to state how pleased I am to be taking part in contrapor2006, the first Portuguese Language Translation Conference, organised by ATeLP – Associação de Tradução em Língua Portuguesa. It is also doubly pleasing to be taking part in a conference hosted by my own university, especially as this year we are embarking on a new degree course in Translation (or perhaps should I say, a first cycle Bologna course 1), in the Departmento de Línguas, Literatures e Culturas Modernas of the Faculdade de Ciências Sociais e Humanas 2. The title of the talk: "Let’s do the frequência before the ponte but after the feriado – the words we don’t translate", hopefully indicates the general theme. It is felt that looking at what is not translated in a certain situation may help us to consider what happens when we do translate, and in particular remind us of complications lying in wait for even the most apparently simple educational terminology. The paper finishes with some considerations as we try and construct a higher educational Tower of Bologna, hopefully avoiding the pitfalls of the Tower of Babel. The main situation to be considered here is speakers of (at least) one mother tongue language working in a country which uses another language, namely a group of English teachers operating in a university environment in Portugal. We are a group with our own idiolects but share many common features of essentially modern British English. We also in particular share pedagogic metalanguage due to our training in the Teaching of English to Speakers of Other Languages Methodology. We have lived in Portugal for many years and are used to functioning in Portuguese and English in this country 3. Our daily work involves us teaching courses relating to English language, culture, translation and methodology. We speak in English with each other (and also in Portuguese during situations such as __________ 1 A description of the course (in Portuguese) can be found a

http://www.fcsh.unl.pt/english/Docs/Bolonha/traducao1ciclo.pdf 2 Or should that be the Department of Languages, Literature and Culture of the Faculty of Human and Social

Sciences? 3 There is of course the issue here of English language tainting, as our English is modified with the passing of

years – which can involve features other than just lexical nonstandard variation. This tainting is different from "the foreign language tainting of our mother tongue" referred to by Paul Woods (http://www.ptreasuredsl.clara.net/linguist_2_2003/books.htm) in reviewing, Wagner, E. Bech, S. & Martínez J. (2002). Translating for the European Union Institutions, St Jerome Publishing: Manchester.

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Departmental meetings) and of course have varying patterns of interaction in English and Portuguese (and other languages) in our familial and social lives. In our professional discourse we often resort to Portuguese terminology. The aim of this short paper is to try and provide an initial analysis of why this is the case. Some words

Needless to say, given the time, this is not meant to be an exhaustive, but rather, illustrative, list. Let us start with a word from the title.

Frequência Used by one native English speaker to another as in "I am going to write the frequência

next week" (actually, for better or worse, invariably used in the plural to allow for the various versions needed). Or from teacher to students: "your frequência is on the 25th".

Why is it used? Alongside exame, to refer to testing "moments" which take place as part of our

students’ evaluation. There are of course the words test and exam in English, but neither captures the precise meaning of frequência, a testing element used at the end of frequenting a course. This focuses in on a key aspect of use – the ability to state exactly what is being referred to by using the original word, rather than using a less specific lexical item or glossing the meaning. In essence, this is similar in case to the use of an English word or lexical phrase when speaking Portuguese – a neologism – in order to succinctly convey meaning.

Furthermore, university teachers have to be very conscious of the legal rights of students and in some ways the use of these Portuguese words avoids any possible sign of not seeming to respect these.

Exame is used particularly with the phrase exame de recurso, similar to the English "resit", where a student has a second chance to pass an examination. This is also linked to the word:

Melhoria As in "You can always do a melhoria", said by a teacher to a student e.g. if the student

feels they are not going to get the desired end of course mark. This is an examination which allows students the chance to improve their grade. It is not exactly a resit, but a chance for mark improvement.

Why is it used? Example of the difference between a melhoria and an exame (de recurso). A student in Portugal gets a mark out of twenty for an individual subject. If the mark is

less than 10 it is a fail mark. The student can resit (do an exame de recurso). In my faculty the student does this and receives a new mark (out of 20). The two are then averaged to give a "final" new mark. In the case of a student with 10 or more and less than 20 wishing to improve the mark, the student does the exam and receives a new mark (out of 20). If it is less than the original mark, the student keeps the original mark; if more, the new mark becomes the student's mark. You may wish to read this again and consider the mathematical information encoded in the choice of one of these two words.

In other words, it is useful for us to distinguish between exames, frequências and melhorias, in order to give the correct mark to students. Each of the words used in Portuguese has a propositional meaning shared by our teaching and learning community and therefore pragmatically applied.

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Are these words ever translated? The paper is arguing that we find it useful not to translate these terms, but of course

they exist in written form. The gradual Europeanisation of the faculty meant that a decision was taken during the 2005-6 academic year to make the 1147 subject courses (cadeiras) offered in my faculty, available online in both Portuguese and English, rather than just the former. As part of this process the translation of various terms was standardised and frequência was translated as final (written) test. Other words not translated

Aula(s). "Have you finished your aulas (taught classes) today?" Whilst classes is pretty straightforward in many ways, aulas specifically refers to an event in a classroom and is employed in this way.

Faltas. "Excuse me. How many faltas do I have?" 4 asked by a student to a teacher. Many courses taken by students require them to attend classes for a certain number of classes (but see the following term). The term "absences" or "missed classes" could be employed but once again the Portuguese term refers to a discrete concept for which there is not ambiguity.

Leitor. As in "Difficult times to be a Leitor". A Leitor is a contractual category within the Portuguese University Higher Educational System which essentially refers to a University Language Teacher. There is no standard translation, but I personally like "Teaching Fellow", a solution adopted in some British universities to distinguish these modern language teaching individuals from other academic members of staff. It is often not translated as the term is used to discretely describe a group of staff who have particular contractual circumstances.

Assistente. As in "She is an assistente" is sometimes used though not as much as Leitor. This is not just because there are increasingly few of them in my faculty, but also, I feel, because there are some assonances with the French word "assistant" which tends to be used to describe a student native speaker of a foreign language visting e.g. the UK, who is giving conversation classes to modern language students in an academic context, but who is not a fully fledged teacher.

Ficha (student form). "If you haven't given me a ficha, I can't record your marks!" (We are quite Kafkaesque when given a chance). The form containing student information including a photograph, which has to be legally kept, with annotated marks, for a period of five years. Again, perhaps not translated due to the formality with which it is employed.

Pauta (list of students). "I’m going to put up the pauta tomorrow". Typically used to describe the paper with the list of students names used to publish end of course marks. A much desired piece of bureaucracy on the part of the students.

Tolerância. Extra period of time in a test – but see below: "A two hour frequência with fifteen minutes tolerância". Although I think I have thought my way through most of the cultural aspects of working in Portuguese Higher Education, I must admit this one still intellectually rankles. The idea is that a test has a certain period, but, if you have not finished it, you can have a bit longer. It has of course crossed my mind to wonder why not just include it in the time in the first place, but there must be some explanation somewhere 5.

Cábula (crib sheet). As in "She tried to use a cábula in the test". A piece of paper with notes on to cheat in a test 6.

__________ 4 Sometimes transliterated by students to render the rather poetic "How many faults do I have?" 5 Wonderfully translated by my colleague Prof. Dr. David Cranmer as "fifteen minutes' grace" – one of my all time

favourite and elegant solutions to what had seemingly appeared to be an insurmountable semantic gap. 6 Given that this is a paper about cultural aspects of translation, I cannot avoid noting in passing that if I were

gradually to lose all my cultural roots, and adopt those of the country I live in, perhaps the last feature to go would be my attitude to cheating by students.

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To finish this section, other words could also have been itemised. These include atestado médico (medical note – again, a legal concept), reitoria (rectory? central administration services? Student Office?) and many more.

Some words and phrases are used both in English and Portuguese – exactly why one

or the other is preferred is perhaps the most interesting feature of this subgroup. Prazo (Period of time/deadline). As in "The prazo lasts until next week". I must admit

that I tend to use this for bureaucratic prazos and use period of time or deadline for others. Again, the original keeps either the legal or bureaucratic urgency.

Trabalhador-estudante. "Oh, he’s a trabalhador-estudante." A worker-student, who has legal rights in terms of not having to come to classes (read: can have faltas …). This compound nound is not uniquely used and worker-student is also employed. The alternation may be due to length or perhaps because worker-student is also rather self-explanatory.

Greve (strike). "There’s a greve by FENPROF next week". Strike and greve are used alternatively, and my personal interpretation is the English is used in a neutral way 7 but greve emphasises the inclusive nature of the strike, perhaps.

Efectivo (tenured). As in "He is trying to become efectivo in his job". Used in employment in general to have the meaning of a permanent job. American academics are frequently referred to as being on "tenure-track", publishing away to achieve a level of publication deemed worthy to be given tenure.

There are also words which are not translated to avoid ambiguity which, in my opinion, are rather examples of transliteration which are not always correct and therefore perhaps end up tainting the English used.

Director (Head of Faculty). "The Director has called a meeting for next week". Here the person is referred to as a Director, rather than the Head of Faculty (Dean?) particularly in communications such as staff emails in English which involve Portuguese and English native speakers. It uniquely identifies a person and hence reduces ambiguity, but I am not sure it is linguistically acceptable.

Seminar (actually from seminário). "You can choose from three seminars". A seminário is a postgraduate course. An aula prática is literally a "practical class" or a seminar, hence a potentially ambiguous use of the term. A work-around is to call a seminário a postgraduate seminar. Some would consider reserving the word seminar for just this type of course, but that could then seem to be a kind of cultural transliteration.

Finally, there is of course the danger of just being wrong. The classic example is when I am called a "professor" every day of my professional life, which to someone from a British educational background who at best has a post equivalent to a Junior Lecturer is the equivalent to receiving a major promotion on a daily basis. More on transliteration and a British example

In fact, some words seem to lend themselves to apparently simple translation. Take the case of semestre. Semester of course. But if you are a Portuguese student wanting to do an Erasmus exchange in a UK university in the second semester, when do you go when you see:

Sessional dates 2006/07

Terms Autumn Term: 25 September 2006 - 15 December 2006 Spring Term: 8 January 2007 - 30 March 2007 Summer Term: 16 April 2007 - 25 May 2007

__________ 7 Presupposing ANY comment on a strike can be value-free.

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Well actually, you carry on reading and find:

Semesters Semester 1: 25 September 2006 - 19 January 2007 Semester 2: 22 January 2007 - 25 May 2007 8

Now, why does the university claim to have two academic years – presumably to

accommodate globalisation and students who wish to attend the university on a termly or semesterly basis. To my way of thinking, this is the inverse of "not translating" I referred to above, in that this is an attempt to transform reality into a form manipulable by another culture – cultural translation. But returning back to Portugal we find: Come and study at Nova!

Well, not just a plug but also another example of what is not translated. This is not just a case of not translating the name of the university – are we in the Universidade Nova de Lisboa or at the New University of Lisbon (see below) – will we one day be giving papers at the New University of Amsterdam (no, I cannot translate it 9). Say "the Católica" to a Portuguese attendee of this conference and that person will know exactly which university you are referring to 10. The point here is that it can be uniquely, adjectivally, identified. And this identification brings a perlocutionary force with it. The Communication and International Office of this University 11 has come to the conclusion that it wishes to use a similar adjectival classification as a marketing device 12, in order to try and bring some kind of educational "corporate" identity to a university which tends to be identified at the Faculty level 13. More translation difficulties with the lexis of higher education – institutional problems

(literally)

In fact, it is not strictly true to state "at the Faculty level". Within the UK, you can take your degree at an institution labelled a School, an Institute, a Faculty, etc. There is no standard nomenclature as such. This university has the following "institutions" and we can use this as our first example of a translation problem (if we decide to translate) 14:

Faculdade de Ciências Sociais e HumanasFaculdade de EconomiaFaculdade de Ciências MédicasFaculdade de DireitoInstituto Superior de Estatística e Gestão de InformaçãoInstituto de Tecnologia Química e BiológicaInstituto de Higiene e Medicina TropicalEscola Nacional de Saúde Pública

__________ 8 Bradford University's 2006-7 sessional dates: http://www.brad.ac.uk/external/geninfo/dates.php#6 9 But according to http://www.chem.yale.edu/~chem125/125/Chem3D/vanderWaals.html it did until 1887 have the

wonderful title of the Amsterdam Athanaeum. 10 The Universidade Católica Portuguesa is a semi-statal / private university (depending on how it is defined)

existing in Portugal due to a concordat between the Vatican and the Portuguese State. 11 Personal communication(s). 12 Another interesting adjectival case of identification in Portugal which is often not translated is "I studied at the

Técnico" meaning the Instituto Superior Técnico, but which is part of the Universidade Técnica de Lisboa (though knowledge of that situation is not particularly widespread). I am not sure how many people are aware of all the academic institutions which belong to it.

13 I would be interested to hear whether this or the alternative "Come and study at the Nova!", with the definite article inserted, is preferred.

14 In Portuguese, unidade organica - for the present, rather deliberately left vague.

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To gloss, five Faculties, one Institute Superior (Institute of Higher Education), two

Institutes, and one National School. The Faculty of Economics English pages have an introductory section distinguishing the School and the Faculty (the members of staff) 15.As mentioned above, each of these terms can be used as a name for a place of study in a British University. Keeping the original helps dispel confusion. When translating other issues can arise. If the best Economics "faculty" in the UK is the London School of Economics and the Faculdade de Economia in this university is also considered the best in Portugal, it might seem tempting to call it a School of Economics to get this expressed meaning 16. On the other hand, if the University has different institutional names for its academic bodies, does any translation of (some or all of) these have to respect this differentiation? 17

Something new and something classic

Returning to universities as a whole, this university’s adjectival "newness" in the New University of Lisbon/Universidade Nova de Lisboa does not allow it the potential choice offered to its older academic colleague in Lisbon, namely Lisbon University or the University of Lisbon?

Using London as a comparison and searching in Google 18: "London University" site:ac.uk gives 314,000 hits "University of London" site:ac.uk gives 8,910,000 hits

In other words, the postmodifyng prepositional phrase construction is considerably more frequently used.

Checking another university to avoid any special case features for the capital: "Leeds University" site:ac.uk gives 283,000 hits "University of Leeds" 2,730,000 19

Reference to the university in the capital of Portugal at higher educational sites in the UK shows:

" Lisbon University ´" site:ac.uk 184 hits "University of Lisbon" site:ac.uk 13,200

The latter of course includes "New University of Lisbon" so taking this out "University of Lisbon" site:ac.uk –new 13,100 "New University of Lisbon" site:ac.uk 198 hits

In other words, the postmodified phrase is much more frequent. In fact, this is in keeping with the Faculty of, the School of, the Institute of ... labelling

mentioned above 20. Finally, returning to the theme of the paper, and a familiar issue, is whether a

university's name is to be translated or not. We saw that the search for "New University of Lisbon" gives 198 hits from UK academic institutions. Universidade Nova de Lisboa returns

__________ 15 http://portal.fe.unl.pt/portal/page?_pageid=114,47891&_dad=portal&_schema=PORTAL last accessed July 17

2006. 16 Cf Baker, M. (1992/2002), In Other Words, A Coursebook on Translation, London & New York: Routledge, esp.

Chapter 2, Equivalence at Word Level. 17 A similar problem awaits the translator of "research units" within an academic institution – which can be

centros, institutos, núcleos, gabinetes de investigação, pólos de investigação, etc. There is no clear logic to their nomenclature, so what logic should be followed if these are translated. In fairness, a similar logic cannot be discerned in the naming of academic units within the United Kingdom, and this often depends on the history and age of the academic body in question.

18 The use of Google here is crude and simply used for broad numerical comparisons. 19 The two forms appear in the hits for each other form, and space does not permit a more detailed analysis of the

noun phrases formed here – see Biber, D. et al (1999), Longman Grammar of Spoken and Written English, Longman:Harlow, Chapter 8, "The Complex Noun Phrase", esp. 8.1 Overview and 8.6, Major structural types of postmodification.

20 All literally having millions of hits in "x of …" site:ac.uk in Google.

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650. The University of Lisbon (without New) has 13,100 hits, "Universidade de Lisboa" has 515 21. Further analysis is needed to discover the potential reasons for translating the universities' names, or not. What is certain, though, is that a simple prescription to translate, or not, cannot suffice. Conclusion

The English speaking group described in this paper uses Portuguese words and phrases in its English speech mainly for pragmatic convenience and disambiguation. In particular, such lexis enables the bureaucratic and legal baggage contained in the words to be transmitted in situations where this is important. The paper also points out some of the difficulties in translating seemingly straightforward educational terminology, and further issues regarding when (not) to translate. It is felt that the group concerned does not engage in linguistic wrestling to put the Portuguese University animus into English lexical bodies. As Bologna truly takes hold in the European academic world, it will be interesting to see its further effects on the linguistic spaces it occupies, and the implications this will have for translators. BIOGRAPHICAL NOTE

David Hardisty is a Teaching Fellow in the Department of Languages, Literature and Culture of the Faculty of Human and Social Sciences of the New University of Lisbon, Portugal, teaching undergraduate and postgraduate courses in English, Technical Translation, Use of computers in Translation, and New Technologies in the Teaching of English. David Hardisty is a Leitor in the Departmento de Línguas, Literatures e Culturas Modernas of the Faculdade de Ciências Sociais e Humanas of the Universidade Nova de Lisboa, teaching first and second Bologna cycle courses in English, Technical Translation, Use of computers in Translation, and New Technologies in the Teaching of English. He is the author of four co-authored books on language teaching published by Oxford University Press.

Return

__________ 21 Search terms: "New University of Lisbon ´" site:ac.uk, "Universidade Nova de Lisboa " site:ac.uk "University of

Lisbon" site:ac.uk –new, "Universidade de Lisboa " site:ac.uk.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Os Desafios da Tradução Jurídica na Área Penal

Tinka Reichmann Saarbrücken, Deutschland

[email protected] Resumo Neste trabalho abordarei a complexidade da tradução jurídica no par lingüístico português-alemão a partir do conceito do crime de homicídio nos direitos brasileiro e alemão. A tradução de textos especializados como libelos acusatórios ou sentenças de tribunais requerem do tradutor conhecimentos dos sistemas jurídicos das culturas fonte e alvo a fim de poder ponderar a melhor tradução dos termos técnicos que ocupam referências e campos semânticos diferentes. Porém, a tradução jurídica não se restringe somente à terminologia jurídica, mas também abrange fraseologias, convenções lingüísticas e estruturas textuais mais complexas. As definições dos diferentes tipos de homicídio nos dois sistemas jurídicos mencionados serão contrastados a fim de identificar as possibilidades de tradução adequadas. Palavras-chave: terminologia, direito penal, homicício. 1. Introdução

Nesta comunicação, tentarei traçar alguns aspectos da tradução técnica na área do direito penal, sobretudo na área da terminologia. A linguagem jurídica é uma linguagem técnica que apresenta, em termos gerais, um alto grau de erudição e de formalismo lingüístico. A linguagem jurídica está permeada de termos técnicos (ex. homicídio privilegiado), expressões latinas jurídicas (ex. habeas corpus) e não jurídicas (ex. ipsis litteris), arcaísmos (ex. pretório), abreviações (P.R.I. = Publique-se, Registre-se, Intime-se) e fraseologias (Saibam todos quanto este documento virem ...) a nível da micro-estrutura e uma sintaxe complexa e uma série de convenções e regras formalizadas a nível de macro-estrutura textual.

Além disso, foi-se desenvolvendo um linguajar na área jurídica comumente designado de "juridiquês", melhor descrito com as palavras do juiz brasileiro Zeno Veloso:

"[Trata-se de um] dialeto sofisticado e pretensioso que se utiliza nos meios jurídicos, já chamado "juridiquês", uma linguagem afetada, empolada, impenetrável, não raro ridícula, dos que supõem que utilizar expressões incomuns, exóticas, é sinal de cultura ou de sabedoria. O juridiquês, infelizmente, só tem mostrado eficiência e grande utilidade na perversa e estúpida missão de afastar o povo do Direito, de desviar a justiça do cidadão." (Souza 2005: 180)

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A linguagem jurídica diferencia-se de outras linguagens técnicas, como a linguagem

das ciências exatas, cujo objeto é internacional, pelo fato de ela estar inserida num contexto nacional específico (exceto nos casos de direito internacional, direito europeu, etc.) (Daum 1998: 4). Por tal motivo, mesmo o português jurídico não é uniforme e varia segundo os sistemas jurídicos brasileiro, português, moçambicano, etc. Além disso, os aspectos referidos do juridiquês dificultam ainda mais a compreensão textual. Isto faz da tradução jurídica um grande desafio que somente pode ser enfrentado a nível profissional com profundos conhecimentos lingüísticos, tradutológicos e jurídicos.

A tradução de textos especializados como libelos acusatórios ou sentenças penais requerem do tradutor conhecimentos dos sistemas jurídicos das culturas fonte e alvo a fim de poder ponderar a melhor tradução dos termos técnicos que ocupam referências e campos semânticos diferentes. Seria, por exemplo, um erro grave traduzir os "juizados especiais" cíveis e criminais, definidos como "órgãos jurisdicionais compostos por juízes togados ou leigos, com competência para conciliação, julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo" no contexto brasileiro com "Sondergerichte" no contexto alemão, nome dos tribunais nazistas que proferiam sentenças de morte e pronunciavam deportações aos campos de concentração. Uma tradução mais adequada seria "Kleingerichte" que reflete a função desse tipo de tribunal no seu respectivo contexto cultural.

Neste trabalho, concentrar-me-ei na terminologia jurídica de uma área muito restrita a fim de demonstrar a importância do trabalho terminológico baseado nos textos autênticos das respectivas leis. 2. Terminologia penal

A terminologia jurídica varia muito de país para país devido à sua relação intrínseca com cada sistema jurídico nacional e também está sujeita à mudança lingüística relacionada ao desenvolvimento e à modificação dos sistemas jurídicos. Dado que os dicionários jurídicos bilíngües para o par lingüístico português-alemão são poucos e insatisfatórios, faz-se necessário elaborar um glossário lingüístico para cada área de atuação tal como será realizado neste trabalho. A autora Luciana Carvalho F. C. Pinto demonstrou, no seu artigo "Dois sistemas jurídicos e o homicídio" (Pinto 2005), que a terminologia nessa área se diferencia sensivelmente entre os sistemas brasileiro e inglês. Este trabalho inspirou-me a proceder a um estudo terminológico nessa área, dado que já me deparei com a dificuldade de tradução desses termos na minha atuação profissional como tradutora e intérprete juramentada, por última vez no caso de um motorista de caminhão português detento na Alemanha por haver provocado a morte de 5 pessoas num acidente de trânsito depois de haver tomado narcóticos. O estudo será realizado baseado nos Códigos Penais brasileiro e alemão.

2.1. O homicídio "brasileiro"

A definição e a penalização do crime de homicídio constam na Parte Especial do Código Penal brasileiro, Título I (Dos crimes contra a pessoa), Capítulo I (Dos crimes contra a vida). Primeiramente, é importante diferenciar entre homicídio doloso (intencional, voluntário) e homicídio culposo (não-intencional, involuntário).

No art. 121 do Código Penal são tratados o crime de homicídio e suas formas específicas que estudaremos neste item: o homicídio simples no caput, o caso de diminuição de penas do homicídio simples no § 1º (homicídio privilegiado), o homicídio qualificado no § 2º, o homicídio culposo nos §§ 3º, 4º e 5º e o homicídio doloso no § 4°. Vejamos a seguir os aspectos mais importantes de cada um.

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Homicídio simples: é definido simplesmente como "matar alguém" e é punido com

reclusão de 6 a 20 anos. A pena prevista para o homicídio simples pode ser diminuída de um sexto a um terço

"se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima". Pinto (2005) menciona os seguintes exemplos para tais casos em que o homicídio pode ser classificado como "homicídio privilegiado":

• por motivo de relevante valor social – pai que mata estuprador da filha • por motivo de relevante valor moral – cidadão que mata um traidor da pátria • sob o domínio de violenta emoção – alguém que mata num momento de fanatismo

religioso • logo em seguida a injusta provocação da vítima - explosão de ira por parte do réu.

O termo "homicídio simples" pela descrição acima é bastante vago e não permite a

classificação entre doloso e culposo. Homicídio qualificado: é punido com reclusão de 12 a 30 anos e é definido como

homicício que é cometido "I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II – por motivo fútil; III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime". Todos os homicídios qualificados são igualmente homicídios dolosos. Também aqui é importante ilustrar alguns caso com exemplos (ainda segundo Pinto 2005):

• por motivo torpe – marido que mata esposa que não quer se prostituir (por motivo torpe igualmente inclui a paga (recebimento prévio) ou a promessa de recompensa pelo homicídio)

• por motivo fútil – matar alguém por uma lata de cerveja • com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou

cruel, ou de que possa resultar perigo comum – matar alguém com algum desses meios

• à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido – matar alguém após ministrar-lhe uma substância entorpecente

• para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime – matar o comparsa para que este não o denuncie.

Homicídio culposo: é aquele cometido por alguém que agiu com imprudência,

negligência ou imperícia. O homicídio culposo simples é punido com detenção de 1 a 3 anos. A pena pode ser aumentada de um terço nos casos de homicídio culposo qualificado quando "o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante" ou então quando "o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos".

A pena porém também pode deixar de ser aplicada em alguns casos em que "as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária", se o agente por exemplo ficar paraplégico ou perder um filho através do crime (Pinto 2005).

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Page 97: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Homicídio

Homicídio simples (doloso ou culposo) Homicídio doloso - homicídio privilegiado - homicídio qualificado - homicídio contra menor de 14 ou maior

de 60 anos

Homicídio culposo - simples - qualificado

Figura 1 – Principais tipos de homicídio no sistema penal brasileiro.

2.2. O homicídio "alemão"

Na Parte Especial ("Besonderer Teil") do Código Penal alemão sob o Título 4, Capítulo 16 ("Sechzehnter Abschnitt") estão descritos os crimes contra a vida ("Straftaten gegen das Leben") 1. No alemão, o termo geral equivalente ao homicídio é "Tötung", que pode ser doloso ("vorsätzliche Tötung") ou culposo ("fahrlässige Tötung"). Nos artigos 211, 212, 213 e 222 do Código Penal são tratados os principais tipos de homicídio no sistema jurídico alemão: "Mord", "Totschlag", "Minder schwerer Fall des Totschlags" e "Fahrlässige Tötung". Vejamos a seguir os aspectos mais importantes de cada um.

"Mord", segundo o art. 211 do Código Penal alemão, é o homicídio doloso cometido com motivações agravantes "aus Mordlust, zur Befriedigung des Geschlechtstriebs, aus Habgier oder sonst aus niedrigen Beweggründen, heimtückisch oder grausam oder mit gemeingefährlichen Mitteln oder um eine andere Straftat zu ermöglichen oder zu verdecken", traduzidos a seguir:

• Mordlust: prazer de cometer um homicídio doloso • Befriedigung des Geschlechtstrieb: intuito de satisfazer os ímpetos sexuais • Habgier: cobiça (Jayme/Neuss 1990: 186) • Niedrige Beweggründe: motivos vis (Jayme/Neuss 1990: 47) • Heimtückisch: pérfido, com perfídia (Jayme/Neuss 1990: 197) • Grausam: cruel (Jayme/Neuss 1990: 178) • Mit gemeingefährlichen Mitteln: com meios perigosos para a generalidade

(Ramos 1995: 183), com meios de que possam resultar perigo comum • Um eine andere Straftat zu ermöglichen: a fim de possibilitar outro crime • Um eine andere Straftat zu verdecken: a fim de ocultar outro crime

Este crime é punido com prisão perpétua. "Totschlag", segundo o art. 212 do Código Penal alemão, é o homicídio doloso que

não apresenta as motivações agravantes descritas acima. A única tradução nos três dicionários jurídicos bilíngües consultados é "homicídio (não premeditado)" (Kick-Ehlers 1981: 334). Faremos alguns comentários sobre esta tradução no item 3. Este crime é punido com reclusão de, no mínimo, 5 anos.

"Minder schwerer Fall des Totschlags", segundo o art. 213 do Código Penal alemão, é o homicídio doloso cometido logo em seguida a um injusto maltrato ou uma injusta injúria por parte da vítima contra o agente ou seu familiar que provocou uma ira ou um descontrole momentâneo do agente ou então aquele homicídio cometido em outras circunstâncias atenuantes. Este tipo de homicídio é punido com reclusão de 1 a 10 anos.

__________ 1 Consulte Simon/Funk-Baker (2002:121-141) para uma breve introdução ao direito penal alemão.

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"Fahrlässige Tötung", o último dos crimes de homicídio tratados neste trabalho, segundo o art. 222 do Código Penal alemão, é o homicídio culposo causado por imprudência, negligência ou imperícia e é punido com reclusão de até 5 anos ou uma multa, sendo que o grau de gravidade da imprudência, negligência ou imperícia determina o grau da culpa e da pena 2.

Tötung (homicídio) Vorsätzliche Tötung (homicídio doloso) - Mord (homicídio com agravantes) - Totschlag (homicídio [não

premeditado]) - Minder schwerer Fall des Totschlags

(homicídio com atenuantes)

Fahrlässige Tötung (homicídio culposo)

Figura 2 – Principais tipos de homicídio no sistema penal alemão.

3. Conclusão

A temática de equivalências na tradução é um tema extenso que não poderá ser abordado a fundo aqui 3. Porém, a comparação das tabelas acima já demonstram a incongruência entre os crimes de homicídio nos direitos brasileiro e alemão. As diferenças nos sistemas penais e as deficiências dos poucos dicionários jurídicos bilíngües disponíveis requerem do tradutor uma pesquisa mais aprofundada sobre a terminologia jurídica específica. Recomenda-se igualmente incluir a expressão "segundo o direito brasileiro" ou "segundo o Código Penal brasileiro" (ou alemão, respectivamente) no início do texto para deixar claro ao leitor em que contexto jurídico está inserido aquele termo, a fim de evitar a associação a conceitos jurídicos de outro sistema. O termo "homicídio qualificado" e "Mord", por exemplo, apresentam motivos vis de diferentes tipos: enquanto esse crime no Brasil inclui motivo fútil, na Alemanha inclui motivo de satisfazer ímpetos sexuais. Os dois termos, por sua vez, têm em comum o fato de serem realizados com meios de que possam resultar perigo comum. Este exemplo deixa claro que os termos apresentam referências extralingüísticas e campos semânticos diferentes.

Como resultado desse breve estudo, tentarei apresentar as traduções funcionais equivalentes dos termos aqui referidos que ainda deverão ser especificadas de forma mais detalhada em cada contexto, dado que no sistema brasileiro, por exemplo, é fundamental diferenciar entre "homicídio simples" e "homicídio qualificado", e no sistema alemão entre "Mord" e "Totschlag". O termo "Totschlag" contém os aspectos de intencionalidade, mas sem os aspectos agravantes de "Mord", o que dificulta encontrar um termo equivalente adequado no português. Um "Totschlag" pode ser premeditado nos casos mais graves e não premeditado nos casos mais simples ("Minder schwerer Fall des Totschlags"). A tabela abaixo só serve como referência e deverá ser aprofundada em estudos terminológicos mais amplos ou especificada segundo o contexto em que é usada.

__________ 2 Cf. Creifelds (1996: 1361). 3 Consulte Arntz et al. (2002: 148-185) para a discussão do problema da equivalência nas linguagens técnicas.

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- prazer de cometer homicídio

- intuito de satisfação sexual

- cobiça

Homicídio qualificado

- motivo torpe/vil - emprego de meio de

que possa resultar perigo comum

- crueldade - perfídia - ocultação, execução

de outro crime

- paga - promessa de

recompensa pelo homicídio

- motivo fútil - traição, emboscada,

dissimulação, etc ...

Mord

Figura 3 – Campos semânticos do homicídio qualificado e de "Mord".

Português Alemão Homicídio Tötung Homicídio simples Tötungsstraftat Homicídio privilegiado Minder schwerer Fall des Totschlags Homicídio doloso Vorsätzliche Tötung Homicídio culposo Fahrlässige Tötung Homicídio culposo simples Leicht fahrlässige Tötung Homicídio culposo qualificado Grob fahrlässige Tötung Homicídio qualificado Mord Homicídio contra menor de 14 ou maior de 60 anos Mord an einem Minderjährigen unter 14 Jahren

oder einer Person über 60 Jahren

Alemão Português Tötung Homicídio Vorsätzliche Tötung Homicídio doloso Mord Homicídio qualificado Totschlag Homicídio simples (premeditado) Minder schwerer Fall des Totschlags Homicídio privilegiado não premeditado Fahrlässige Tötung Homicídio culposo

Figura 4 – Principais tipos de homicídio no sistema penal alemão.

Referências bibliográficas [01] Arntz, Reiner/Heribert Picht/Felix Mayer, Einführung in die Terminologiearbeit, Olms,

Hildesheim/Zurique/Nova Iorque, 42002. [02] Código Penal da República Federativa do Brasil, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-

Lei/Del2848compilado.htm, último acesso: 31/07/2006. [03] Creifelds, Carl, Rechtswörterbuch, Beck, Munique, 131996. [04] Daum, Ulrich, Gerichts- und Behördenterminologie. Eine gedrängte Darstellung des

Gerichtswesens und des Verwaltungsverfahrens in der Bundesrepublik Deutschland. , SDI, Munique, 41998.

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[05] Ehlers, Edel Helga Kick / Gunter Ehlers, Dicionário Alemão-Português de Economia e Direito, E.H.K. Ehlers, São Paulo, 1981.

[06] Ehlers, Edel Helga Kick / Gunter Ehlers, Dicionário Português-Alemão de Economia e Direito, E.H.K. Ehlers, São Paulo, 1982.

[07] Jayme, Erik / Jobst Joachim Neuss, Dicionário jurídico e econômico, Parte II Alemão-Português, Beck, Munique, 1990.

[08] Jayme, Erik / Jobst Joachim Neuss, Dicionário jurídico e econômico, Parte I Português- Alemão, Beck, Munique, 1994.

[09] Pinto, Luciana Carvalho Fonseca Corrêa, «Dois sistemas jurídicos e o homicício», Ccaps Newsletter n.° 17, Rio de Janeiro, agosto/2005, www.ccaps.net/newsletter/06-05/art_2pt.htm, útimo acesso: 31/07/2006.

[10] Strafgesetzbuch der Bundesrepublik Deutschland, http://www.gesetze-im-internet.de/stgb/BJNR001270871.html, último acesso 31/07/2006.

[11] Ramos, F. Silveira, Dicionário Jurídico Alemão-Português, Livraria Almedina, Coimbra, 1995. [12] Simon, Heike/Gisela Funk-Baker, Einführung in das deutsche Recht und die deutsche

Rechtssprache, Beck, Munique, 2002. [13] Souza, Ailton Alfredo de, Linguagem jurídica e poder, Recife, 2005. NOTA BIOGRÁFICA

A autora estudou no colégio bilíngüe Colégio Visconde de Porto Seguro em São Paulo. Fez curso superior de tradução na Universidade de Heidelberg, Alemanha (alemão, inglês e português) e na Universidade do Sarre, Alemanha (alemão, inglês, francês, espanhol e português) com especialização em tradução jurídica. Tradutora juramentada perante o Tribunal Regional de Saarbruecken (Alemanha) e o Tribunal Superior de Sarreguemines (França). Experiência profissional como tradutora desde 1993 e como docente no Instituto de Lingüística Aplicada e Tradução e no Leitorado do Instituto Camões na Universidade do Sarre desde 2004. Doutorado em lingüística aplicada e tradutologia na Cátedra de Tradutologia de Línguas Românicas (orientação: professor doutor Alberto Gil) na Universidade do Sarre em 2005.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Minority Youths as Translators/Interpreters: Benefits and Burdens

of Language and Literacy Brokering

Iris Guske Kempten School of Translation & Interpreting Studies, Germany

[email protected] Abstract A recent ESRC seminar and the first ever international conference on that topic in Manchester in March 2005 revealed that non-professional language and literacy brokering by children and adolescents is a widespread activity taking place around the world every day, yet goes largely unacknowledged, in spite of its importance for the basic functioning of migrant families. As children are often the first to master the adopted country's language, they are faced with the task of acting as language mediators (translators and interpreters) with regard to their families' administrative, economic and social needs in a total reversal of normal family roles. While their responsibilities include such typical translation tasks as official correspondence, legal and financial documents and their interpreting activities resemble those of community interpreters, the term language and culture brokering highlights the dialogic complexity of such intercultural transactions. Not only do they have to master skills required by the contextual contingencies of language use, but they also act as socialisation agents, since the parties involved are largely ignorant of each other's norms, beliefs and expectations. While instances of successful language and culture brokering certainly bolster an adolescent's self-esteem, conveying a sense of competence, independence and maturity, children often perceive these tasks as a burden, especially when the stakes are high and a situation requires mediation skills that are beyond their linguistic, cognitive and emotional capabilities. The aim of a study which I carried out in Germany in 2003 was to find out if such translation/interpreting tasks put second-generation immigrants under pressures unknown by their host-culture peers, whether they consequently gravitated towards their ethnic peers, and how the role reversal and cross-pressure situations thus experienced impacted on the development of the self. Results show that since language brokering frequently invests migrant children with adult-like responsibilities, native youths are often perceived as immature, so that a sense of belonging is predominantly provided by the social reference group of their ethnic peers during the period of self-formation. This is characterised by a process of selecting and rejecting values from either culture, and culminates in the establishment of a distinct, third, identity, which is grounded in, but at the same time highly critical of, both cultures. Key words: minority youths, language brokering, identity.

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Aims, scope and limitations of the study

This study conducted among second-generation Turkish, Greek, and Italian undergraduate students in Germany set out to describe if and to what extent the identity formation of migrant adolescents was influenced by their parents' dependence on them as language mediators and socialisation agents. The aim was thus to find out if their parents' real and/or perceived inadequacies and the concomitant role reversals put second-generation immigrants under pressures not experienced by their host-culture peers, and in what way they might consequently develop differently during adolescence.

Of the 20 ethnic-minority students at the Kempten School of Translation and Interpreting Studies, of which I have been Vice Principal for ten years, 16 were willing to participate in the study. These female students were between 18 and 23 years of age, and in this study they looked back on the period most crucial for the formation of the self, i.e. the years between late childhood and early adulthood. The young women were all born to parents, who had emigrated from poor rural areas in their home countries in the mid-70s when they were in their mid twenties. The term 'Gastarbeiter' (guestworkers) given to them implies that they came to Germany in order to improve their economic situation intending to return home once their dreams had come true.

Data were gathered from questionnaires, which were meant to collect biographical, especially educational, data of parents as well as establish their attitudes toward the host country prior to migration and their respective post-migration linguistic skills. Group and individual interviews provided the narrative material analysed consulting relevant literature from the areas of bilingualism and development, language acquisition in an intercultural context, and negotiating a bi-cultural identity.

Before it was analysed how first-generation immigrants' linguistic inabilities in the respective host language affect their adolescent children's development, the why behind their disinclination to improve their German was looked at in some detail, since potentially negative consequences can only be tackled if the reasons are known and addressed. Inclusion of that particular aspect would be beyond the scope of the present paper, however. Results of the study

Taking their parents' insufficient command of German as a starting point, the students related how they were forced to communicate, orally and in writing, on their behalf with doctors, teachers and officials of German institutions such as banks, the Labour Exchange, the Inland Revenue, the Welfare Office, etc. ("I remember how awful I felt when I had to go to the doctor's where, on top of being ill, I myself had to do all the talking and explaining of symptoms"). For one thing, they were embarrassed that their parents were not able to communicate in anything better than their 'Ausländerdeutsch' (foreigners' German). ("If my parents went to a parents' evening at all, they either didn't understand what the teacher said or conveyed the information wrongly to me so that I always ended up talking to the teacher myself the next day, trying to clarify matters and then relating back to them what the problem had been"). But what they perceived to be even worse was that they were often weighed down by these tasks because, on the one hand, they did not really want to get involved in what they considered to be "adult issues" and their parents' responsibilities. ("Can't you imagine that I absolutely didn't want to know about the financial trouble we were in, but there I was at age 14 having to negotiate an extension of our credit with the bank manager").

On the other hand, they had great difficulties reconciling the discrepancy between the demands made on them outside the home environment and their roles within the family. Relaying instances when, at the age of twelve, for example, they had to accompany their mothers to the gynaecologist's, staying with them throughout the examination in order to be able to interpret back and forth, they remembered vividly how this clashed with their upbringing. Never having seen their mothers naked before or been told anything about

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sexual matters, they suddenly found themselves in a situation they "could hardly bear for shame", and which, as was tacitly understood, they had to strike out of their minds immediately after "completion of the task", pretending that it had never taken place at all.

While their parents thus failed to anticipate, acknowledge and account for potential psychological problems, on the more "technical" side of things, too, they did not realise how difficult or even impossible it was for their children to interpret in instances when they knew nothing about the subject matter, let alone the relevant terms in either language. ("Does any German under the age of 25 really know how to file his income tax return? Well, I learnt at age 13!") In these contexts, the students also remembered being criticised by their parents for minor mistakes or for not translating word for word. Complaining thereupon that their parents were always choosing the easy way out, all respondents recalled using some form of the following reproach, "If you know better, why don't you handle this yourself, then?" / "How can you criticise me when you don't know any German yourself?" / "Why don't you learn German yourself, then?" This in turn provoked their parents' stock rejoinder "If I went to a German school, knowing the German you do, that would be no problem for me, so why are you making all this fuss?" Along the same lines, but according to the students much harder to brush aside, was the accusation they were "again and again" confronted with when trying to avoid interpreting for their parents on such occasions, viz. "After all we've done for you, and all the sacrifices we're making for your sake, you really find it too much to do this little for us?"

This was also cited as underlying the implicit understanding that school grades "had to be good, no matter what", and any schooling or training begun had to be followed through to the end in the shortest time possible. While the students rightly saw this as an expression of the wish to ensure a better future for their children, they complained about the total lack of commitment on the part of their parents in school-related matters. Due to their insufficient command of the language and the concomitant ignorance of the intricacies of the German educational system, they never wanted anything to do with educators, nor did they ever lend support at crucial stages in their children's school careers, e.g. when choosing among the three types of secondary schools open to pupils after four years of attending primary school. ("I practically had to drag my father to the grammar school with me for enrolment because he wouldn't accept that I couldn't handle that alone, he didn't see that I needed his signature").

And while most of the respondents recalled incidents in which individual teachers had tried to be of assistance, crossing the bridge between school and the home environment ("When my teacher found out that my parents wanted me to become a hairdresser, he actually called on them to convince them to send me to grammar school"), they realised that these, acting alone, would not be able to effect changes on a broader scale. On the other hand, the minority students lamented the fact that their teachers had not done anything to alleviate conflicts of loyalty by raising the awareness level of their German peers as far as the potential for cultural clashes was concerned. The respondents were of the opinion that it would have made much of a difference if someone had pointed out their special situation to the German students, as they did not ascribe their behaviour to racist attitudes, but rather to ignorance.

Aggravating such cross-pressure situations in general was the fact that they never dared to talk to their parents about their problems, either, for fear of upsetting them unduly by pointing out their linguistic inadequacies or insufficient knowledge of the host culture. By the same token, they were never even asked if they felt a special task too demanding or a certain responsibility too heavy to shoulder, but were, instead, left alone with their feelings of inadequacy. And while they realised that their fathers could not acknowledge their achievements properly for fear of losing face, the odd 'Thank you' or even occasional praise would have bolstered their self-confidence and conveyed to them at least tacit understanding of their special situation on the part of their parents. Not being allowed to bring things out into the open moreover meant that no betterment of their situation was in sight as long as everything was swept under the carpet, leaving them with a feeling of a lack of control over

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the future. ("It was simply not done. They never asked if I was up to [a certain task] and I would never have told them how I really felt about it. So we all pretended that everything was fine, and I think my father actually managed to cheat himself into believing that it really was. You know ... and they lived happily ever after").

This partly explains why they did not really mind being involved in the upbringing of their younger siblings on account of their parents' poor German because they felt the urge to make life easier for their brothers and sisters, wanting them to have a better start at life in the host country than they had had. Thus, for example, they often willingly supervised their siblings' homework, talked to their teachers when problems arose, or enrolled them in secondary schools. ("I wanted my brother to pass the grammar school's entrance exam, so I sat down with him every afternoon for four weeks and reviewed everything with him"). However, when duties only stemmed from the culture-bound tradition of showing solidarity and loyalty within the family, such as walking their brothers and sisters to kindergarten/school and back home as well as doing a considerable part of the household chores, and when these were felt to make inroads on their time in excess of what was acceptable given their own workload at school, for example, they often felt at a disadvantage compared to their German peers. ("My German classmates never had to look after their brothers and sisters, and they hardly ever had to help in the house, so I was often angry because I felt that I had only duties while they had all the pleasures").

While the ensuing lack of spare time was one factor cited as a reason for little interaction with their host-culture peers, the most important aspect for not exactly seeking contact, but rather trying to avoid it was the fact that the majority of respondents admitted to feeling ashamed of their parents due to their inadequate host-language skills. ("When schoolmates phoned, my father wasn't even able to take their names and phone numbers down for me to call back, so they eventually stopped calling altogether, and somehow I was relieved". Or, "I can remember one birthday party when my mother pronounced a German word in strange way, and a German kid made fun of her. From then on I tried to avoid such situations by simply not inviting classmates anymore").

Moreover, since their parents did not know about social conventions in Germany, the students often found themselves in situations, e.g. on class trips, in which they did not know how to behave in order to meet German teenagers' approval. Consequently, they would have liked their classmates to have taken them by the hand, disentangling the maze of teenagers' self-made, unspoken rules and agreements. But these took their helplessness for a lack of interest since the second-generation immigrants never asked to be acquainted with German ways, having learnt at home to keep their feelings of insecurity to themselves, to pretend that there was nothing special about their situation.

On the other hand, they were not really keen on spending much time with their German peers, anyway, whom they felt to be years behind in their development towards mature and responsible adults. ("German kids are pampered by their parents, who do everything to prolong their childhood, so that when we're beginning to feel, think and act like adults they still live in their innocent dreamworld"). On top of this discrepancy in social age, they did not feel quite at ease in the company of German youths because they felt they had too much explaining to do, when it came to relaying matters of a more personal nature, for example, since the Germans were perceived to "think and feel differently". What they were seeking instead was the kind of tacit understanding that doesn't need so many words being based, as it were, on shared experiences and a common outlook on life. Consequently, they turned to their ethnic peers who went through much the same as they did and accepted them for what they were. ("With them I never had to behave in a certain way in order to be liked and respected, and they always sensed when something was wrong with me and would try to make me feel better"). The empathy, intimacy and reciprocity thus experienced made them feel much closer to their ethnic-minority peers, spending most of what little free time they had with them and choosing venues where they felt to be among their own, e.g. those discos specialising in 'Türkpop' (Turkish pop), which are rarely frequented by German youths.

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("Nowhere else do I experience the same feeling of belongingness ... The songs describe my experiences here in Germany and express everything I feel").

The values propagated by the sub-culture constituted by their ethnic peers, as well as the German way of life of which they have been part since they were born, however, often led to frustration over their parents' refusal to acknowledge their special situation, i.e. the necessity of trying to reconcile two worlds instead of choosing one over the other. After all, although their parents chose to live here, they were the ones who had been striving to combine the best of both worlds, i.e. wanting to have a real go at life in Germany without betraying their origins. "And why should that not be possible? After all, I'm not a bad person just because I'm part-German, too. So I don't really feel bad or guilty about that". In this context, the biggest grudge they bear is that their parents tried to act as if they brought their children up in their respective home country to which they would shortly be returning ("But all the time they know that this isn't true because they want us to finish school here, and my youngest sister is only 8. And of course she might want to go to college the way I do. So that would be another 15 years, and I would be 35 by then, with a job and a family. So it's all a pipe-dream, but they refuse to acknowledge this"), while most of their host-society educators and all of their native peers turned a blind eye, acting as if Germany was their home country. Thus both groups denied them the support needed for steering their course through territory uncharted by either of them. Analysis and discussion of results

Coping with cross-pressure situations Since socio-linguistic studies have shown the importance of parents' pointing out to

their bilingual children in which ways "they are perceived to be different from monolinguals, so as to help them define and sort out their identities" (Hoffmann, 1991), it is safe to assume that parental assistance would be all the more necessary in cases where not only two languages, but two radically different cultures are involved. After all, "the socialization process of children entails modelling their identity on that of the community" (Hoffmann, 1991), and with two models presenting themselves, as in our case, this process will doubtless be more complex. Moreover, becoming truly bicultural entails the acquisition of skills enabling second-generation immigrants to develop an identity which embraces and encompasses the whole of their (unique) experiences. (In Atabay, 1994) After all, the formation of personal and social identities requires a feeling of "being at home in one's body, one's home and in one's social world" (Ghuman, 1996).

In this context, it is not surprising that the students unanimously cited the wish for their parents to reach out and open up to members of the host culture as the most overriding of their adolescent years. They all felt a strong need for parental guidance in a world so different from their "Little Anatolia", and would, above all, have wanted their parents to socialise with Germans in an effort to learn enough about German culture to be able to function as culture-brokers for their children, instead of asking precisely that of their offspring.

After all, they all suffered heavily when no line was drawn between household chores or obligations towards younger siblings, and responsibilities which were simply "too heavy at their stage of maturity" (James and Prout, 1997). This was especially true when the line between mediating for parents and acting as decision-makers became blurred, e.g. when taking educational decisions for themselves or siblings independently, if not voluntarily but rather as a consequence of a lack of parental involvement. While 45 % of Tse's (1996) study sample of Asian-American students quoted independence and maturity among the benefits of brokering, which accordingly made them proud, 11 % felt embarrassed and 17 % burdened by it. That all this evidently sped up the process of maturing, or increased their 'social age' (James and Prout, 1997) can be seen as a positive factor only with the benefit of

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hindsight, since at the time they often felt that too much was expected of them and that they were being denied the right to be a child.

For in order to be effective as (cultural) interpreters second-generation immigrants need mediation skills that require frequent changes of perspective, which may actually be beyond the cognitive and affective abilities of children at the threshold between late childhood and early adolescence. Having had to translate tax forms, legal documents or correspondence with the bank was unanimously related by the respondents as far beyond their capabilities, which may not have been entirely due to the officialese used in such texts, but probably to a greater extent by the fact that "the stakes in this kind of language brokering are very high" (Jimenez, 2003). Knowing that any mistake or error on their part might have spelt disaster would certainly have added to their discomfort and distress, as would the likely expectations by their parents that they acquire enough factual knowledge about the subject matter along the way, as it were, to be consulted as authorities in the respective realm. And it is precisely at this intersection of language and culture brokering that the reversal of roles makes itself most strongly felt in a way that the enforced premature assumption of adult roles distorts the "ethnic family system, boundaries and dynamics" (Sebuliba, 1997).

In a study on the psychological effects of role reversal, four forms of increasingly worrisome adultification were identified (Burton, 2002). As, theoretically, they all apply to children acting as language and culture brokers, the strains they experience may put them on a less than optimal developmental pathway. Unsurprisingly, our interview responses revealed adultification along Burton's lines in the form of 'precocious knowledge', i.e. possession of knowledge a child had better not have, such as information about the family's dire financial situation. The actual act of language brokering falls into the category of 'mentoring adultification', which sees children engage in oral and written communicative acts for, and on behalf of, their parents. If this activity comes to entail decision-making processes, such as negotiating with a third party in the family's interest without consulting the parents at each and every turn in the conversation, 'peerification' will result. This will culminate in actual 'parentification' if the children function as socialisation agents vis-à-vis their parents and siblings, e.g. taking their own and their siblings' education into their own hands.

Under normal circumstances, their position in the family would preclude them from relaying advice given to their elders by doctors or teachers, for example; and this all the more so if they know a particular piece of advice to contravene parental values, beliefs or expectations. The ensuing conflicts of loyalty pose a dilemma insofar as the decision to come out in favour of one party will invariably be seen by the other as a breach of trust. Thus the children are actually victims of a discourse they should not be involved in at all (in Jung-Fehlmann, 1998), and are prevented from reaching a stable status within the mesosystem, i.e. the interrelations between the microsystems of family on the one, and school on the other hand (in Bronfenbrenner, 1981), which they themselves have to build in order to establish some kind of link between home and school. As long as parents and educators do not support these efforts by accepting part of the responsibility to enable meaningful interaction to take place between the two spheres, however, this link will be far too weak to constitute the 'symbiotic relationship' that would best serve the development of a coherent identity (in Ghuman, 1996).

Striving for autonomy and stability

Since, on the other hand, the adolescents had to put feelings of shame and incompetence aside in their dealings with the authorities on their parents' behalf, their self-esteem was bolstered by the fact that they all experienced the necessity to adapt to each new situation that presented itself and act in a way that would be conducive to the business on hand. As language brokers they thus learnt at a relatively young age to make themselves heard so as to assert their rights in front of an often unaccommodating German bureaucracy, which has been found in similar studies to provide bilingual immigrants with an increased

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sense of personal and interpersonal competence (in Jurkovic et al., 2004). Moreover, they were also quite successful when acting as "culture-brokers (...), introducing their younger brothers and sisters to the shared understanding, the work and community practices of their society" (Durkin: 1995), a task they would have wanted their parents to perform for them in the first place.

Nevertheless, the respondents were able to develop a strong feeling of autonomy in the context of their linguistic and cultural mediation tasks, of setting their own course and following it through for the benefit of their families. And precisely this feeling of being able to take not only their life, but also the lives of their families, into their hands and making a go of it, sharply collided with the authority nevertheless exercised over them by their parents; and the little everyday rebellions they staged must be seen in this context. In our case, the "adolescents felt that their rights were being curtailed by [their] parents; [while their] parents felt that their adolescents often defaulted in their moral obligations to the family" (Durkin, 1995). Whereas conformity and solidarity are traits traditionally expected from these ethnic-minority youths, striving for independence through challenging authority is generally accepted for German adolescents establishing their identity. Thus, trying to please their parents by meeting their expectations and as a consequence often being praised by their teachers, for instance, was in fact 'socially disastrous' to them, since their schoolmates naturally expected 'ingroup solidarity' (Durkin, 1995).

Seeking cultural cohesion and an identity

Being pulled, so to speak, in different directions, they are in a state of linguistic and cultural disequilibrium and feel marginalised, since they are labelled 'too German' by their ethnic communities and 'not enough German' by the host society. This phenomenon is known as 'anomie’, which can be described as a feeling of "rootlessness, social isolation and personal disorientation" that may unbalance a person psychologically (Hoffmann, 1991). Being denied the social approval necessary to establish a positive social identity, they look critically at both cultures from their enforced vantage point, and come to find that they need a third model of self to build their selves on.

Since their reference groups do not have access to the same wide range of knowledge structures, they "grow beyond both the cultural models of their home cultures and those of mainstream and school culture" (Gee, 1996). Moreover, with the discrepancy between subjective, objective, and other-imposed connotations of their 'cultural identity' intolerably wide, and the dichotomy between their compliant – false – self and their true self a constant source of distress (Samovar and Porter, 1997), they have no one to turn to but their peers. After all, these face exactly the same problem of negotiating an identity across cross-pressure situations (Durkin, 1995).

Trying to achieve 'positive distinctiveness' through knowledge of social category membership and attached values, they strive for a self that competently functions in number of – often conflicting – social roles (Giles and Coupland, 1991), and adopt a "final adaptation strategy, cultural transmutation" that will alter their parents' original as well as the host-country culture and establish a set of distinctive new norms. (Samovar and Porter, 1997). This in turn requires them to integrate a multitude of divergent and even contradictory values and beliefs into their identities (Brislin and Yoshida, 1994), and they will turn to their ethnic peers for support in their quest for belongingness and some sense of 'cultural cohesion' (Durkin, 1995). The identity thus established is not merely a mixture of the two cultures in contact, but rather a distinct and unique identity in its own right.

In this process of self-formation, however, they feel left alone by their parents as well as by the host society, since neither group acknowledges, let alone assists in coping with, the 'cross-pressure situations' (Kneidinger and Sommer, 1996) the adolescents are faced with. Since the groups mentioned yield quite a substantial influence during adolescence, their failure to lend support to the minority adolescents' development of a self leaves their ethnic

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peer group as the sole stable factor to lean on during that period. Such youth subcultures being the "means by which future adult familial and occupational roles can be both 'held at bay' and rehearsed in safety" (James and Prout, 1997), they are especially important in our case.

Thus, adopting an identity strategy of choosing a "third party option (...) by identifying with a marginal, transnational or transcultural group", is facilitated. For only with their ethnic peers can social communication take place, by which we understand communication as an exchange of "mental images, of knowing and accepting one another and expressing oneself in and through otherness" (both Camilleri, 1995). Hence, in contrast to the social reference groups mentioned before, in their interactions with ethnic-minority peers otherness suddenly has an intrinsic value; and for the first time, a multi-layered identity structure is no longer seen as guilt-inducing, but as conferring an internal locus of control. Thus being able to accept "identity and otherness [as a] dynamic relationship between two entities which mutually give meaning to each other" (Camilleri, 1995), they can now reconcile the necessity of operating differently in varied contexts for pragmatic reasons with the need for a 'core personality' (Brislin and Yoshida, 1994), or rather a stable identity across a wide range of domains, expectations and environments (Camilleri, 1995). Conclusions

Since the students saw their parents' avowed intention of returning to their country of origin above all as an excuse for not having to commit themselves to having a wholehearted go at life in a foreign culture, they viewed it as paramount that these faced up to reality and acknowledged the necessity of accommodating to the host society to some extent. Given the fact that parental stereotypes against the host culture as well as racism and/or indifference on the part of host-society members were resented as the underlying causes of being left alone while negotiating their identity between the two cultures involved, the importance of making both sides aware of these failures should be stressed.

Thus, awareness programmes should drive home to first-generation immigrants – regardless of the cultures and languages involved – that they have to be active partners in the socialisation processes undergone by their adolescent children in the host societies' schools and peer groups. Among the mass of literature on multicultural and intercultural communication a wealth of policy suggestions aimed at increasing the host societies' willingness to ease their immigrants' acculturation efforts is being churned out, with little or no advice given to parents who expose their children to a foreign culture and instead of easing their burden, increase it by relinquishing their responsibilities in an area essential for their children's healthy development and their future as bi-cultural adults. But as long as the host society is singled out as the only culprit standing in the way of a smooth transition from 'foreigner' to 'fellow citizen', second-generation minority youths will continue to bear a greater burden than would be inevitable under the particular circumstances.

However, in order to address wrongs within the host societies that have come to light in the course of this research project, grievances that are partly grounded in racist attitudes and practices found in Germany, and possibilities to do away with institutional racism need to be looked into in the first place, for these would go a long way towards making the transition to bi-cultural adult easier for second-generation immigrants. As the idea of a multi-cultural nation has not yet found favour with policy-makers, who continue to negate Germany's de facto status as an immigrant nation (in Flynn et al., 1995), too little is being done to accommodate immigrants' needs by, e.g. facilitating interaction between the 'guestworkers' and German authorities.

Not surprisingly then, surveys of hospital patients in Berlin between 1996 and 1999 showed that minority women, the majority of them of Turkish origin, felt that they had not been exhaustively informed by their doctors as far as diagnoses and treatments were concerned, while doctors complained of not being able to make proper diagnoses in the first

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place owing to poor communication (Die Tageszeitung, 2003). All too often "chance interpreters" had to be relied on in hospital settings, such as Turkish cleaning ladies who happened to be around, fellow patients, or whoever of the relatives possessed at least some knowledge of German, with the bulk of such activities falling on children, thus potentially causing even greater emotional turmoil than the hospitalisation of their mother as such (Berliner Zeitung, 2002). In order to improve the provision of health and social services to minorities and spare their children age-inappropriate tasks which moreover often prevent them from attending school (Berliner Morgenpost, 2003), in 2003 Berlin introduced an EU-funded 7-month programme designed to train unemployed bilingual migrants to become community interpreters. Building on their intercultural communicative skills and their knowledge of the societal norms, beliefs and values prevalent in either culture, which certainly often ensures more culturally-aware, sensitive language-mediation than might be the case with a native German interpreter, they were familiarised with the basics of German health and social services, legal and ethical issues arising in the context of translation and interpreting assignments, as well as medical and administrative terminology (Migration und öffentliche Gesundheit, 2003). Commendable though that project is, funds for future courses have not yet been secured and it is not clear, either, where the money to pay for the interpreters' services is to come from.

So, unless and until changes along similar lines are instituted throughout the country, it is mostly the schools which are left with the task of reaching out to young immigrants and their families. Exemplary efforts giving rise to optimism in this respect were outlined by Salinas Sosa (1997) in her literature review of "US school districts' successful practices in involving Hispanic parents in their children's school activities". Overcoming logistical and attitudinal as well as expectations barriers were seen as the most important factors in an effort to ensure greater interest and participation in their children's learning. This frequently meant relatively simple things such as foregoing teacher preferences and instead taking immigrants' work patterns into account by holding parents' evenings on a Friday night, thus immediately boosting attendance figures. On the other hand, communication problems, uncertainty about their roles in the U.S. educational system, or dissatisfaction with their own ability to provide support to their children, which also underlay their reluctance to get involved, were more difficult to address. It is interesting to note that a project in Oakland, California, built up a support network of immigrant parents who were trained to act as culture brokers in an educational context so as to enable recent arrivals to take a more active role from the start, something which their children would probably not have achieved on their own, as we learnt in our study. The last issue, expectations barriers, will be most difficult to overcome, as they are the result of immigrants' comparing themselves unfavourably with host society members, who they often feel judge them negatively on e.g. socio-economic status and ethnicity, and are thus part and parcel of successful integration programmes operative in a specific country (Salinas Sosa, 1997). But since these do not present unsurmountable problems, educators should shoulder the responsibility they have towards all the children entrusted to their care, irrespective of colour, creed, or origin, namely to create an environment in which these can thrive, both intellectually and personally (in Jung-Fehlmann, 1998). References Asante, M.K. and Gudykunst, W.B. (Eds.), Handbook of International and Intercultural Communication,

Sage, London, 1989. Atabay, I., Ist dies mein Land? Centaurus-Verlagsgesellschaft, Pfaffenweiler, 1994 Braun, M., "Zwischentöne hören", Die Tageszeitung, 02/2003. Brislin, R. and Yoshida, T., Intercultural Communication Training: An Introduction, Sage, London, 1994 Bronfenbrenner, U., Die Ökologie der menschlichen Entwicklung, Klett-Cotta, Stuttgart, 1981.

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Burton, L., "Adultification in Childhood and Adolescence: A Matter of Risk and Resilience", Paper given at the First Annual Symposium of the UC Berkeley Center for Development of Peace and Well-Being, Berkeley, California, May 2002

Camilleri, C. (Ed.), Difference and Cultures in Europe, Council of Europe Press, Strasbourg, 1995. Durkin, K., Developmental Social Psychology: From Infancy to Old Age, Blackwell, Oxford, 1995. Flynn et al., Immigration, Minorities, Foreigners: Problem-Solving in Britain and Germany, Centre for

Research in Ethnic Relations, Warwick, 1995. Gee, J. P., Social Linguistics and Literacies, Taylor and Francis, London, 1996 Gesundheit Berlin e.V., "Gemeindedolmetschdienst Berlin: 1. Qualifizierungskurs für Sozialhilfe

empfangende Migrant(inn)en abgeschlossen", Migration und öffentliche Gesundheit, 2003. URL: http://www.infodienst.bzga.de/migration/angebote/11_03/dolmetscher.htm Ghuman, P.A.S., Asian Adolescents, 1996. URL http://users.aber.ac.uk/~asg/pasgch01.htmlGiles, H. and Coupland, N., Language: Contexts and Consequences Open University Press, Milton

Keynes, 1991. Hoffman, C., An Introduction to Bilingualism, Longman, London, 1991. James, A. and Prout, A. (Eds), Constructing and Reconstructing Childhood,Falmer Press, London,

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BIOGRAPHICAL NOTE

I originally trained as a translator/interpreter in Germany and have been Vice Principal of the Kempten School of Translation and Interpreting Studies since the mid-90s. While applied linguistics were at the heart of a series of distance-learning coursebooks for undergraduate translation students which I (co-)authored, more recent work has been of a socio- and psycholinguistic nature and I have looked into the developmental aspects of language brokering. My latest research project has been a socio-psychological study of life history interviews conducted with former German-Jewish child refugees from National Socialism. Recent publications include: "English IV: Übersetzungstechnik Englisch-Deutsch/Deutsch-Englisch", Volumes 1-6, Zürich: Akad Verlag AG, 1999-2001; "Zwischen Anpassung und Abschottung" in Wolfgang Benz, Claudia Curio und Andrea Hammel (Hrsg.) (2003). Die Kindertransporte 1938/39: Rettung und Integration, Frankfurt: Fischer; "Core Characteristics of the Police Occupational Culture: Implications for the Everyday Experience and Well-Being of Gay and Women Police Officers", International Journal of Knowledge, Culture, and Change Management, Vol. 5, 2005.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Explicitation in Media Translation: English Translation of Japanese Journalistic Texts

Robert De Silva

Kanda University of International Studies, Chiba, Japan [email protected]

Abstract When translating between cultures, explanations or added information for the target readers are often required. Such explanation, or explicitation, involves the addition of material not explicitly stated in the source text (ST). The translation of newspaper articles particularly requires the use of explicitation. Newspaper readership tends to be from a particular region and journalists can assume that they share background knowledge about people, places, cultural events and customs. In translations, these referents may require explicitation for readers from other cultures. The study examines explicitation found in the English translations of 24 Japanese journalistic essays that appeared in a leading Japanese newspaper. The English translations of these columns were published in an affiliated English-language newspaper. Specifically, the study focuses on the use of explicitation in the translation of proper nouns (principally personal names and geographic referents) and cultural references. The English translations tended to give more complete forms of personal names (providing first names even when the ST only mentioned the surnames). In addition, identifying information was supplied, even for historically prominent Western figures. Geographic referents were also found to be more specific in the English translations. Reference to Japanese cultural customs or events included explicitation in the form of explanatory information or definitions, while also maintaining the Japanese lexical items. The results are discussed in terms of rhetorical differences between Japanese and English as well as differences in journalistic norms. Key words: explicitation, media texts, rhetoric. 1. Introduction

Translation from one language to another can be a window on the culture of the source language. While the translation of literature is one such vehicle, the translation of other sorts of texts that are read by a large number of people in the source culture can provide an even better view of the source language culture. Among such texts, those published in daily newspapers are of special interest since they provide the topics of everyday conversation as well as reflect commonly held opinions.

The focus of this study is on the use of explicitation in the translation of journalistic texts from Japanese to English. Explicitation involves the addition of some elements not specifically stated in the ST but which may be needed for comprehension by the target

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readers of the translation of the text. Journalistic texts, by their very nature, contain a large number of proper nouns and cultural references. This study focuses on the types of explicitation used for the translation of such items. When a proper noun is translated, the translator must decide to what degree the referent is known by the target readership. Explanations or elaboration may be added for referents deemed unfamiliar. Similarly, when a cultural reference is made in a text, a decision must be made about how best to convey this information to the reader. While source cultural referents may be familiar enough to the target readers to not require translation or explanation (such as the word sushi in Japanese) other cultural features may require explicitation. 2. Explicitation

In the field of Translation Studies, the concept of explicitation is traced back to the early work of Vinay and Darbelnet (1958) in which they define explicitation as "a process which consists of introducing information into the target-language which is present implicitly in the source-language, but it can be derived from the context or the situation" (quoted in Klaudy 2003: 172)

The concept was developed further by Blum-Kulka (1986/2000). She takes a discourse approach to translation and considers shifts in cohesion and coherence (Halliday and Hasan 1976). She uses "explicitness" to discuss shifts in types of cohesion, including changes in anaphoric reference, lexical repetition, pronominalization, substitution, ellipsis, and conjunction. Such shifts often entail an increase in the amount of redundancy in the Target Text (TT) due to the use of more explicit cohesive marking. She describes the concept thus:

The process of interpretation performed by the translator on the source text might lead to a TL [target language] text which is more redundant than the SL [source language] text. This redundancy can be expressed by a rise in the level of cohesive explicitness in the TL text. This argument may be stated as "the explicitation hypothesis", which postulates an observed cohesive explicitness from SL to TL texts regardless of the increase traceable to differences between the two linguistic and textual systems involved. It follows that explicitation is viewed here as inherent in the process of translation. (2000: 300, italics in original).

A broader approach to explicitation can be seen in the work of Kinga Klaudy. Klaudy

(2003) distinguishes two types of explicitation, or addition: obligatory additions required for the formation of grammatical sentences in the target language (including such features as articles and grammatical gender) and optional additions for the creation of coherent texts.

Optional additions … e needed to create a unified coherent target-language text. These may be textual additions, necessary because of the different discourse conventions of languages; or pragmatic additions required because of differences in the background knowledge possessed by source-and target-language readers. (003: 103-104)

Building on the broader approach to explicitation taken by Klaudy, the present study

will follow the definition of explicitation proposed by Pápai (2004):

In terms of process, explicitation is a translation technique involving a shift from the source text (ST) concerning structure or content. It is a technique of increasing cohesiveness of the ST and also of adding linguistic and extra-linguistic information. The ultimate motivation is the translator’s conscious or subconscious effort to meet the target readers’ expectations. (2004: 145)

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This definition sees explicitation as encompassing both linguistic and extra-linguistic information. Such a definition is suitable for the study of media translation, which often requires the addition of contextual information.

The current study examines the use of explicitation strategies in the translation of media texts from Japanese to English. A number of features of such texts can be considered for evaluation. We will not consider those examples of addition that Klaudy has called Obligatory Additions, i.e. those grammatical features that must be added in order to create grammatical target-language sentences. These are readily apparent and are not particularly important or distinctive solely in media texts. Some grammatical features that would be obligatory are the addition of articles and first person subject pronouns. Japanese does not have articles. Also, the use of first person pronouns is usually restricted and they are generally ellipted both in speech and writing. This is despite the fact that the verb in Japanese is not marked for person or number as it is in many other languages that allow the dropping of the subject.

Since newspaper texts are generally written for a readership from a particular geographic area and culture, journalists assume their readers share common background knowledge concerning the source culture, local news events, as well as general world knowledge. When these texts are translated into other languages, the translators must decide to what extent such background knowledge needs to be provided for the intended audience. 3. Data

The data for the study consist of journalistic essays from a major Japanese daily newspaper, the Asahi Shimbun. The Asahi is one of the top three major national newspapers in Japan, the second largest in terms of circulation (8.3 million). Its editorial policy can be considered "left-of-center". The specific genre examined here is a short opinion column carried daily on the front page of the newspaper. This particular genre does not seem to have a parallel in American journalistic writing. The column, called Tensei Jingo in Japanese, is believed to have originated with the Asahi Shimbun in 1904 (Maynard 1998). The genre had a great influence on journalism in Japan, and today a similar column appears in virtually every other national, local, trade and specialty newspaper in Japan. Compared to other types of newspaper columns found both in Western and Japanese newspapers, the Tensei Jingo column does not carry the name of the writer, but normally he is a member of the editorial board of the newspaper and his name is made known to the public. The column itself is a mixed genre expressing the opinions or observations of the author. The topics range over a wide number of fields, including domestic and international politics, war, medicine, history, books, sport, and the changing of the seasons. There is a tendency for the writer to include historical or literary allusions and some philosophical comments. The column is perhaps the most read part of the newspaper, given its position on the front page and its brevity. The column is frequently a topic of conversation and discussion in Japan. In addition, every year a number of Japanese universities include some columns from Tensei Jingo on their admissions examinations.

The Tensei Jingo column lends itself to translation study because the English translations of the columns are published daily in the Japan edition of the International Herald Tribune (IHT). The English title of the column is "Vox Populi, Vox Dei", a rather loose Latin translation of the Japanese title. Maynard (1998: 220) suggests that the Japanese title could be translated into English as "Heavenly Voice, Human Words", meaning something like "there is a voice in the heavens and the voice is heard through the people". The English translation of this column, which began in 1957 (Maynard 1998), is intended primarily for foreign readers (mainly resident in Japan) of the IHT. (Until 2001, it was published in the Asahi Shimbun’s own English language edition, the Asahi Evening News). The English translations for the previous 10 days can be accessed through the Asahi’s Internet website

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(http://www.asahi.com/english/Herald-asahi/voxlist.html). In addition to these two intended readerships, for the past twenty years quarterly

collections of the columns have been published with the Japanese original and English translation appearing on the same page, and with English-Japanese glossaries provided. These publications are mainly targeted at Japanese learners of English, and secondarily at foreign learners of Japanese. The present study uses 24 texts from the Summer 2004 collection (Asahi Shimbun Ronsetsu Iinshitsu 2004). This volume contains all of the Tensei Jingo columns from the Asahi Shimbun from April, May, and June of 2004 and the English translations which were published in the Japan edition of the International Herald Tribune. The 24 texts analyzed include the first 15 columns from April 2004 and the first 9 in May, 2004. 4. Results

4.1. Personal names

The principal feature found in the TTs is the use of complete names the first time a person is referred to. Although the Japanese STs often did not include the first name of people, the first name was always provided in the English translations. For example, the name of the U. S. President was given in Japanese as Busshu Beidaitouryou (literally "Bush American President") while in English translation it was given in full ("U.S. President George W. Bush"). This rule also holds for Japanese politicians, such as the Prime Minister, Junichiro Koizumi. In Japanese he was never referred to by his full name, but by his surname followed by the title shushou (Prime Minister) or by the title alone. In the English translations Koizumi’s full name was consistently used on first mentions with the family name alone on subsequent mentions.

From the texts analyzed we can see that in Japanese the first name is not generally used for well-known people, such as politicians. Also, people from the world of art, literature, and music are often referred to just by their family names. This applies to people from Japan as well as from Western countries. In the Japanese ST for Text 24, a number of artists were mentioned only by family name (Vermeer, Picasso) while the English translation had full-names ("Johannes Vermeer" "Pablo Picasso"). Similarly, the ST for Text 18 contains the surnames of Mozart and Kafka, while the English translation had the full forms of their names ("Wolfgang Amadeus Mozart" "Franz Kafka"). While various explanations could be proposed for why this kind of explicitation was used, I would suggest that the translator is conforming to American English journalistic norms in which full-name reference is required on first mentions. Surnames alone are used only for subsequent mentions. Thus in English "President George W. Bush" is referred to by his full name first, becoming simply "Bush" on subsequent mentions. Concerning the names of famous artists and writers, while it is not uncommon for them to be called simply by their family names in English, the journalistic norm for full-name on first mention seems to be so strong that it was followed consistently in the translations analyzed here.

4.2. Geographic designations

Another difference concerns the mention of various geographic entities. Particularly noticeable about the TTs is the tendency to be more specific about geographic designations. For example, in text 1 the references to the city of Washington, D.C. are made more specific with the addition of specific geographic features not mentioned in the Japanese ST: "along the Potomac" and "the Tidal Basin". Similarly, in Text 10 the location of President Bush’s ranch is made more specific by the use of the town name, "Crawford", rather than just the state name ("Texas") as in the ST. Likewise in Text 8, an essay about a newspaper in Ohio, the city name "Toledo" was supplied in the TT while only the state name "Ohio" was in the

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ST. An example of a Japanese geographic designation that was made more specific in the

English translation involved reference to a railway station. In the Japanese source text (text 15) a train station in Tokyo is referred to just by the name of the station, "Yurakucho". In English, however, the specific train company that uses that station, JR (Japan Rail) was added.

In the examples above, the reason for this greater degree of geographic specificity is not clear. In contrast to the use of full-name reference discussed above, there does not seem to be an English journalistic norm requiring this degree of geographic detail. (See section 5 for further discussion).

4.3. Japanese cultural referents

Since a number of the texts in the corpus of the present study dealt with topics related to Japan, it is not surprising to find explicitation used for Japanese cultural references. Translators must decide which cultural referents need explicitation for the readership of the translations. They must also decide how to present the explicitation. A common strategy adopted in these texts was the maintenance of the Japanese word with the addition of a translation or explanation (what I will call "borrowing"). Three of the texts in particular contained a number of borrowings.

Text 19, which had the English title "Teaching children one of life’s hardest lessons", deals with how to raise children. It quotes from books by Tolstoy on the topic of child rearing. The last paragraph of the essay contains reference to some Japanese cultural features. The English translation is as follows (with the explicitation underlined):

Passing by a kindergarten on Tuesday, I saw koinobori, a set of traditional carp-shaped streamers that are hoisted around this season to pray for children’s healthy growth. The "papa carp" and "mama carp" were "swimming" in the breeze, but the little blue "boy carp" had wound itself tight around a rope and only the tip of its tail could be seen. It made me think of someone trapped by society’s constraints. I felt sorry for the little carp and wanted to free it, but it was too high to reach. On Children’s Day, which falls on May 5, it is an old custom in Japan to put the leaves of shobu Japanese iris in the hot tub to enjoy the ritual shobu-yu. I vowed to pretend the bunch of leaves in my tub would be my carp family, so the little carp could at least swim freely there. (Asahi Shimbun Ronsetsu Iinshitsu 2004: 93. Originally published in the IHT/Asahi, May 7, 2004).

The translator here kept the original Japanese words for various cultural objects,

providing an explanation or definition for each. The article was originally published in Japanese on May 5, which is "Children’s Day", a national holiday in Japan. (In the Japanese original, only the date, May 5, was mentioned.) The main cultural object referred to was koinobori, translated as:

koinobori, a set of traditional carp-shaped streamers that are hoisted around this season to pray for children’s healthy growth"

This object is further described as being a set of three streamers including a "papa

carp", a "mama carp", and a "boy carp". In addition to the carp streamers, the leaves of the Japanese iris are also part of the Children’s Day festival. The two Japanese words the translator kept were shobu ("Japanese iris") and shobu-yu: "it is an old custom in Japan to put the leaves of shobu Japanese iris in the hot tub to enjoy the ritual shobu-yu. "On Children’s Day, people take a bath with the leaves of the Japanese iris floating in the

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bathtub". (The translation "hot tub" here is not quite accurate since it refers to the normal indoor Japanese bath). In the ST the author compares a bunch of shobu leaves with carp swimming freely. The bathtub is not directly mentioned at all. Also, the Japanese expression shobu-yu ("bath with shobu leaves in it") was not mentioned in the ST. The translator added that as part of the explanation about the custom of putting leaves in the bath. The addition of this Japanese word resulted in an even more foreign-sounding text.

Another example of borrowing was in Text 1, which had the English title "Cherry tree’s homeland is now at war". The column is about the gift of cherry trees to the United States after the Russo-Japanese War.

After World War II, seedlings from some of the trees were given back to Japan on two occasions. I saw one "offspring" tree at a Tokyo park. Its budding flowers were redder than those of nearby someiyoshino cherries, forming a beautiful contrast with the white petals of oshimazakura trees next to it. (Asahi Shimbun Ronsetsu Iinshitsu 2004: 3. Originally published in the IHT/Asahi April 2, 2004).

The Japanese names for two varieties of cherry trees were maintained. As these

names would not be familiar to most Western readers, it is not clear why the translator chose to include them, especially with only minimal explicitation. The blossoms of oshimazakura cherry trees are whiter than the more common someiyoshino cherry trees.

The third text with extensive use of borrowing was text 21. In this text a book by a former prime minister of Japan was quoted. The quotation involved an extended play on words concerning the role of the Chief Cabinet Secretary. The translation kept all four of the puns in Japanese, providing a translation into English for each.

4.4. Identification of historical and current events

Another type of Japanese cultural knowledge that can be provided by the translator is information about historical events and current news events in Japan. In the Tensei Jingo columns examined here, the writer of the STs assumes the Japanese readers are familiar with such topics. The translator often adds clarifying statements to aid comprehension for the Western readers. One example of this is Text 3 which deals with fatalities caused by automation, such as power windows in cars. A few weeks before the column was written, a boy was killed in Tokyo in an automatic revolving door at a shopping complex. In the ST this event was referred to simply as:

Toukyou no Roppongi Hiruzu de no kaitendoa jiko "revolving door accident at Roppongi Hills in Tokyo"

Due to the widespread news coverage of the incident, the readers of the Japanese

version of Tensei Jingo would certainly be familiar with it. For the English translation, however, the translator added some details to the text, perhaps for readers who may not have heard about the accident. The following sentence was added:

"A few days earlier, a 6-year-old boy was crushed to death between an automated revolving door and its frame at Tokyo’s Roppongi Hills complex".

Similarly, historical information is sometimes provided in the translations. Two

examples of this kind of addition were the historical dates ("1868-1912") for the Meiji Period of Japanese history (Text 2), and the dates when a Japanese author was born and died (Text 14).

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4.5. Western cultural referents

We would expect that less explicitation would be necessary for reference to Western culture since the target readership could be assumed to have the necessary background knowledge. In the texts studied here, however, a number of examples of explicitation for Western cultural referents were also found. Most of these consisted of additional identifying information about writers and artists and works of classical literature. The underlined phrases in the following examples are additions that were not in the Japanese STs.

"Gilgamesh, the ancient Mesopotamian hero" (Text 4) "Antoine de Saint-Exupery ... the Frenchman" ... "the French writer-aviator" (Text 11) "Russian novelist" Leo Tolstoy" (Text 19) "the surrealist painter Salvador Dali" (Text 24)

Historical background was also added. In Text 16, about the former U.N. Secretary

General Dag Hammerskjold, the underlined phrases providing background information about the situation in the Congo at the time were added:

on his way to the Congo, where he was to play a mediatory role in the turmoil following the territory’s independence from Belgian colonial rule

One explanation for the use of more detailed identifications for Western referents in the

English translations is that English media discourse seems to have a preference not only for the use of full names on the first mention of a person, but also for the inclusion of identifying information about such persons. 5. Discussion

The present study focused on one genre of Japanese media discourse, a short newspaper essay appearing daily in a major Japanese newspaper. From an analysis of the data included in the corpus for the study, it is apparent that a variety of explicitation strategies are being utilized in the translation of these texts. This raises the question of what could be motivating such explicitation.

As mentioned in the discussion of personal names, one reason for using explicitation is the need to follow target language norms for the genre type. In this case, the norm for journalistic writing in the American context requires full-name reference to people when they are first mentioned. This rule appears to apply even to famous people currently alive or from the past.

In the discussion of the degree of detail given for geographic reference as well as for the identification of people and events, another motivating factor must be sought. There does not seem to be an English journalistic norm for the amount of detail to include. However, it could be attributed to a stylistic preference that may be specific to the genre, or preferred by the target readers.

Hall (1983) characterizes cultures according to "how much information (text) needs to be made explicit for communication to take place" (Katan 2004: 245). Cultures differ in the amount of text and context required for communication. Low context cultures rely more directly on the information provided in texts. High context cultures rely more on the context, or shared background knowledge, rather than what is directly in texts. According to this categorization, Japan would be considered a High context culture while the U.S. would be a Low context culture (Victor 1992).

This categorization of Japanese culture can be shown by considering Japanese text structure in general, and the structure of the Tensei Jingo columns in particular. In many ways Japanese is a concise language which allows for extensive use of ellipsis. The ellipsis

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that characterizes many Japanese texts is not merely that of grammatical constituents such as subject pronouns. Markers of cohesion and coherence are often not present. In addition, shared background information is also abbreviated.

While not referring directly to Hall’s work on culture, Hinds (1987) proposes a similar way of categorizing rhetorical patterning of different languages. This "new typology" of language takes into consideration differing degrees of reader and writer responsibility for effective communication. In some languages, such as American English, the writer has primary responsibility for making his/her writing clear and well-organized in order to facilitate understanding. English writers do this by the way they organize their thoughts on paper and by the way they indicate connections among these thoughts. In contrast, there are languages in which it is mainly the reader’s responsibility to facilitate understanding. The writer may be vague and imprecise, leaving room for the reader to build connections among the thoughts expressed. It is up to the reader to see how parts of an essay are related to each other. Hinds suggests that Japanese is a language which has reader responsibility.

Hinds illustrates this point by considering the use of transition markers. The typical rhetorical organization of Japanese has four-parts: Presentation, Development, Surprise Turn, and Conclusion (Maynard 1998). The third part of the pattern requires a digression from the main topic. This digression can be slight or major, but the fact that it is a digression is often not overtly signaled in Japanese. Hinds (1987) explains how this pattern differs from English. He notes in particular that the third part of the pattern, the surprise element in Japanese, tends to appear "with few overt transition markers" (1987:150). He contrasts this with English writing where transition markers are important and expected. He maintains that "it is the writer’s task to provide appropriate transition statements so that the reader can piece together the thread of the writer’s logic which binds the composition together" (Hinds 1987: 146). In his analysis of Japanese texts, he finds that transition markers are not used or are more subtle because "it is the reader’s responsibility to determine the relationship between any one part of an essay and the essay as a whole." (Hinds 1987: 146)

If we extend this concept to the types of explicitation found in the translation of Japanese media texts, we perhaps can suggest a reason for the need for additional information in the translation. Since Japanese uses a concise rhetorical style requiring the reader to supply necessary links and background information, it is not surprising that geographic details, identifying information and historical facts are often not made explicit. In the case of Japanese cultural referents, the translation into English would of necessity need explicitation. However, when the reference is to Western figures (writers, painters, etc.) who are certainly known to Western readers, a different motivation seems to come into play. It is not to provide knowledge the readers do not have, but rather to fulfill the target readers’ expectations about well-formed writing. In this case, journalistic writing should be clear and provide background information with a high level of detail.

While Hinds developed these concepts primarily in the context of contrastive rhetoric and ESL writing instruction, these ideas clearly are applicable to the field of translation as well. If Japanese is characteristically imprecise (at least in some genres of writing), then the translator must be prepared to use a high degree of explicitation in order to produce texts that will meet the expectations of most English readers. Likewise, these concepts can contribute to helping students of translation become sensitive to the need for and use of explicitation strategies in translating from Japanese to English. Acknowledgements I would like to express my thanks and appreciation to Professor Anthony Pym of the Universitat Rovira i Virgili, Tarragona, Spain and Professor Judit Hidasi of Budapest University of Economics for their valuable comments and discussion on previous versions of this paper.

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References

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Blum-Kulka, Shoshana. "Shifts of cohesion and coherence in translation", Interlingual and Intercultural Communication: Discourse and cognition in translation and second language acquisition, J. House and S. Blum-Kulka (eds). Narr, Tübingen, 1986, p. 17-35. [Reprinted in The Translation Studies Reader, L. Venuti (ed). Routledge, London, 2000, p. 298-313.]

Hall, Edward. The Dance of Life, Doubleday, New York, 1983. Halliday, M.A.K. and Hasan, Ruqaiya. Cohesion in English, Longman, London, 1976. Hinds, John. "Reader versus writer responsibility: A new typology", Writing Across Languages: Analysis

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Katan, David. Translating Cultures, St. Jerome, Manchester, 2004. Klaudy, Kinga. Languages in Translation: Lectures on the theory, teaching and practice of translation,

with illustrations in English, French, German, Russian and Hungarian, Scholastica, Budapest, 2003.

Maynard, Senko K. Principles of Japanese Discourse, Cambridge University Press, Cambridge, 1998. Pápai, Vilma. "Explicitation: A universal of translated text?" Translation Universals: Do They Exist?,

Anna Mauranen and Pekka Kujamäki (eds). John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 2004, p. 143-164.

Victor, David. International Business Communication, Harper Collins, London, 1992. Vinay, Jean-Paul and Darbelnet, Jean. Stylistique comparée du français et de l’anglais. Méthode de

traduction. Didier, Paris, 1958. BIOGRAPHICAL NOTE

Robert De Silva is a professor in the Department of International Communication at Kanda University of International Studies in Chiba City, Japan, where he teaches English and discourse analysis. He has studied at Georgetown University, the University of Michigan, and the University of Jyväskylä, Finland. Currently he is enrolled in the doctoral program in translation studies at the Universitat Rovira i Virgili in Tarragona, Spain. His research interests include media translation, explicitation in translation, Japanese-English translation, and translator training.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

TL-Oriented Approach to Bible Translation: For or Against?

Olga Kanelli

Aristotele University, Greece [email protected]

Abstract The problem of translating a book – a and not just a common book – that did, and perhaps still does, influence a huge number of people all over the world, arose from the minute Christianity started spreading. Must the translator respect the sacredness of the text and the fact that no one has the right to alter the word of God, as the Church claims, and thus the translator should stick to a close Source Language (SL) approach, or must he correct and change what he thinks appropriate according to the culture and mentality of the people to whom he refers to [Target Language (TL) approach]? Is the translator a 'heretic' who deprives the Bible of its holiness because he misinterprets its meanings or is he simply trying to get through to the people reading the translated Bible and transmit the message it conveys? In this essay, religious, historical and social arguments will be presented for both approaches of Bible translation. In the first part, opinions and facts for a TL-oriented approach will be stated, whilst in the second part, issues against a TL-oriented approach will be put forward. It can be deducted that the majority of the translators in the past and in the present time tend to prefer a TL-oriented approach for the Holy Bible. This, of course, does not imply that there is not a large number of translators and experts of theology who choose a SL approach. The choice between a TL or a non-TL approach for the translator can be quite difficult and demanding for his work, but the same choice for a reader, and more importantly, for a religious reader can be determinative of his way of thinking and, perhaps, of his whole life. Key words: Bible, sense, text. Introduction

As Christianity started spreading, the need for communication and diffusion of the religion became evident. The dissemination of the word of God depended upon the translation of the Bible and that is the reason why a vast number of translators from different countries and civilizations were involved in the difficult task of translating the Scriptures. The International Bible Society recorded: "Currently, at least a portion of the translated Scriptures exists in more than two thousand languages, spoken by over ninety percent of the world's population" (http://www.ibs.org/niv/munger/1.php). In addition, Benson Bobrick claims: "Next to the Bible itself, the English Bible was (and is) the most influential book ever published"(2003:1). The problem of translating a book – and not just a common book – that

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did, and perhaps still does, influence a huge number of people all over the world, arose from the very beginning.

Must the translator respect the sacredness of the text and the fact that no one has the right to alter the word of God, as the Church claims, and thus the translator should stick to a close Source Language (SL) approach, or must he correct and change what he thinks appropriate according to the culture and mentality of the people to whom he refers to [Target Language (TL) approach]? Is the translator a 'heretic' who deprives the Bible of its holiness because he misinterprets its meanings or is he simply trying to get through to the people reading the translated Bible and transmit the message it conveys?

Translating the Scriptures had been a main issue, especially in the period of the Reformation, since it involved the query of old and strong beliefs. In this essay, religious, historical and social arguments will be presented for both approaches of Bible translation. In the first part, opinions and facts for a TL-oriented approach will be stated, whilst in the second part, issues against a TL-oriented approach will be put forward.

It must be noted that no attempt is made to give a definite answer to the problem of how to translate the Holy Bible, since the problem is a complex one and it is not based on certain facts but merely on opinions that concern not only translators but every one of us. TL-oriented

St. Jerome (346- ), John Wycliffe (1330-1384), William Tyndale (1494-1536) and Martin Luther (1483-1546) were translators who decided and indeed translated the Holy Bible sense for sense rather than word for word; that is their translations were TL-oriented.

St. Jerome, who was commissioned by Pope Damasus to translate the New Testament in 384, decided to translate the Bible into idiomatic Latin so that it could be accessible to all people and although his work was of a great value – "work of great magnitude" (Bobrick, 2003:5) – it was not accepted by the Church, and it was considered a heretical version. As quoted in Making the English Bible, St. Jerome explained the problem he faced and the choice he made to translate sense for sense: "If I correct errors in the Sacred Text, I am denounced as a falsifier; if I do not correct them, I am pilloried as a disseminator of error" (Bobrick, 2003:6). At this point, it must be noted that St. Jerome's translation was admired and commonly used by many Christians (his translation is known as Vulgate) and has also influenced many translators in the following years.

John Wycliffe, an expert in theology, fought against a range of abuses of the Church and explained that, according to his point of view, the Holy Bible is greater than the Church as an institution, and that it should be easy to understand. Thus, based on the Vulgate, he translated the Bible for the layman, as he claimed, using the vernacular. Both Wycliffe and his followers, the Lollards – who were accused as heretics – translated according to the meaning of each different sentence as clear as possible. Susan Bassnett quotes from Parvey' s Preface: "the translator shall translate 'after the sentence' (meaning) and not only after the words, 'so that the sentence be as open [plain] or opener, in English as in Latin and go not far from the letter'" (1991:47).

William Tyndale attacked the Church because he rejected the fact that it was not allowed to read the Holy Bible in a native language and he printed his TL-oriented translation of the New Testament. He firmly believed that the Scriptures should be as clear as possible to all laymen and that people can capture the meanings of the Bible only if they read it in their own language.

"Tyndale's proclaimed intention in translating was also to offer as clear a version as possible to the layman […]" (Bassnett, 1991:47).

Martin Luther, a German theologian and the main representative of the Protestant's Reformation, translated into German the New Testament based on the Greek text and not on the Vulgate translations. His translation not only affected the German language and grammar, but also the faith of the German people.

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"In the case of German, Luther's great translation was to produce virtually a new language, and scholars date modern 'High German' from the publication of his Bible" (Steven Prickett, 1999:21). "[…] the brilliance of Luther's personality and teaching was greatly established into the mind of the German people" my translation (ΙΩ. ΦΕΙΔΑΣ, 1986:311).

By referring to the above authorities, it is intended to indicate the thoughts and beliefs of experts on the specific matter of translating the Bible sense for sense and not word for word. It can be deduced, by the opinions of people who studied the Bible and its translation – such as the ones mentioned above – that a TL approach of the Holy Bible is meant to make the deeper meanings of the Scriptures accessible to all people and not only to the rich and educated, who could, at that time, study Greek, Hebrew and Latin. Every sentence of the word of God has a purpose, a significance, which obviously can be understood more easily when it is rendered into each person's mother tongue.

Another important point that must be noted, and it can be considered one more reason why the Bible can be translated according to the meaning, is the differentiation not only between thoughts and mentalities, but also between cultures. As Mary Snell-Hornby explains: "[…] language is not seen as an isolated phenomenon suspended in a vacuum but as an integral part of culture" (1988:39). For the layman, it was not simple, and probably it is not even now, to understand the complexity and the differences of another language and, thus, of another culture. Accordingly, a justifiable question is whether, for example, the lamb of God – Agnus Dei – can be easily perceived as an image and as a meaning by the Eskimos, who have probably never seen a lamb before or whether the Japanese can understand the structure of a phrase of Greek and Latin which is subject-verb-object, while in Japanese is subject-object-verb.

Last but not least, it appears that all the translators mentioned above did influence, and perhaps they still do, thousands of ordinary people that have read their translations of the Bible and in this way, they have influenced the following generations and, of course, many translators. Hence, the fact that thousands of people did, and still do, accept a TL approach of the Bible, indicates that the translators themselves should agree that this kind of approach is a reasonable and acceptable choice. SL-oriented

On the other hand, it can be argued that a TL-oriented Bible translation can create many wrong speculations on the meanings of the Scriptures and, thus, misinterpretations not only of the Holy Bible itself, but also and more importantly, misunderstandings of the Christian religion and the notion of faith in general. Umberto Eco states that: "Translators must negotiate with the ghost of a distant author 'my emphasis' […]"(2003:173), and in the case of the Bible the author is more than a distant one, since the Holy Bible was written by humans who were inspired by God. Thus, it can be claimed that no 'negotiation' can be made on the style and form of the particular text, since every word written contains the 'mark' of God Himself.

The necessity of a SL-oriented approach to Bible translation, that is a non-TL approach, was, and still is, strongly supported by the ecclesiastic authorities, who considered all TL-oriented Bible translations as heresies and their translators as heretics. According to the Church, the translator must not try to clarify a meaning that he believes ambiguous, because this clarification deprives from the priest the possibility to explain to the layman the correct and exact meaning of the word of God. A problem, for example, that is still discussed amongst the experts of theology is the Hebrew word alma, which has two meanings and it refers to Virgin Mary. Alma means either a virgin or a young woman. If a translator decides to translate alma by using the second meaning, then the whole image of the Madonna and the fact that she is different from all other women and people in general, should be drastically changed.

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Moreover, in order to highlight the problems of a TL approach of the Bible, it must be noted that according to Peter Newmark the translator can never be neutral as far as issues of morality are concerned.

"Translators cannot be neutral, where matters of fact or morality are concerned. They have to intervene, inside or outside their texts" (1993:79).

As a result, a SL-oriented approach, without any interference or subjectivity, can be considered the safest way to translate the Holy Bible, since the text mainly regards matters of morality and a certain way of living. It is, in fact, very difficult, for a translator, not to get involved in his translation, the same way an author is involved in his writings, especially because all people – and this includes translators – have their own ways of interpreting information and especially when it comes to matters of religion and beliefs. Besides, that is the reason why no translation is ever the same and it never produces the exact same effects to the readers, even though the source text is the same.

Another important issue, when using a TL-oriented approach, is the matter of style. Eugene Nida explains that: "An easy and natural style in translating, despite the extreme difficulties of producing it – especially when translating an original of high quality – is nevertheless essential to producing in the ultimate receptors a response similar to that of the original receptors" (A-2004:160). When the translator decides on a sense for sense translation, it is easy to lose many of the sentiments created by the exact words used in the source text because the flow of the text can be altered. In particular, the Bible addresses the sentiments of the people and their reactions when they are reading it. Hence, the text, not only must it flow naturally, but it must also create the same feelings as the source text and that, in most cases, implies a close SL-oriented translation, that is an identical flow to the original one. It can be claimed that a translation of the Scriptures can be popular because of its rhythm and its poetic qualities, even if, for many readers, it is difficult to understand it, since by remaining very close to the source text, the sacredness of the original is preserved.

An additional positive aspect of maintaining the style of the original Bible can be seen in William Tyndale's translation. He introduced from Hebrew many new phrases and words into the English language that are still in use today. He used the Hebrew form 'noun + of + noun' and kept many compound words. Benson Bobrick cites many examples such as "a book of Moses", "a man of strength", "scapegoat", "passover" (2003:116). Thus, it can be concluded that the use of a SL approach of the Bible enriched the English language and many other languages in the same way.

Last but not least, there are many Bible translators who insist on a literal translation because they strongly believe that the ability to understand the exact text of the Scriptures indicates the spiritual closeness of the reader to God, albeit the text is not clear or well structured. Eugene Nida states that: "Some even justify the awkwardness and obscurities of literal renderings by insisting that the capacity to comprehend such a text can be a measure of the spiritual insight granted to readers by God" (B-1998:26).

It can be argued that all readers of the Holy Bible should have the right to make their own judgments and decisions on the meanings, which the author wanted to transfer, without any other opinion-interference on behalf of the translator. Religion and faith is totally a personal matter and the explanation of the Scriptures should only be entrusted to the messengers of God, that is to the priests. Conclusion

As a conclusion, no certain answer can be given to all the arguments mentioned above, since each problem is based on a theoretical point of view of a translator. It can be deducted that the majority of the translators in the past and in the present time tend to prefer a TL-oriented approach for the Holy Bible. This, of course, does not imply that there is not a large number of translators and experts of theology who choose a SL approach.

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Briefly, in the case of a sense for sense translation, the main target is to transfer the meanings of the Scriptures to the reader as easily as possible. This can be succeeded by using the mother tongue of the reader and by bearing in mind the different culture and mentality of the people to whom the translator addresses. In addition, it must be remembered that the first translators who chose a TL approach were all authorities on their fields and they have not only influenced generations of translators but also many generations of laymen, of ordinary people who studied the Bible and, hence, the religion of Christianity.

On the other hand, a TL-oriented approach may create many problems to the translators and to the readers, such as misinterpretations and misunderstandings, unnatural flow of the text with different style and form from the original and finally the interference of the translator who does not allow the reader to find out by himself the meanings of the word of God and to form his own faith and beliefs. Besides, the word for word translation of the Bible has enriched the grammar and the syntax of many languages, such as English, through all this interaction of languages and cultures.

The choice between a TL or a non-TL approach for the translator can be quite difficult and demanding for his work, but the same choice for a reader, and more importantly, for a religious reader can be determinative of his way of thinking and, perhaps, of his whole life. References [1] Bassnett S, Translation Studies Rev. edn. Routledge, London, 1991 [2] Bobrick B, The Making of the English Bible Phoenix, London, 2003 [3] Eco U, Mouse or Rat? Translation as Negotiation Weidenfeld & Nicolson, London, 2003 [4] Newmark P, Paragraphs on Translation Multilingual Matters Ltd., Clevedon, 1993 [5] Nida E (A), Principles of Correspondence In: Venuti L (eds.) The Translation Studies Reader

Routledge, London, 2004, pp 153-167 [6] Nida E (B), Bible Translation in: Baker M (eds.) assisted by Malmkjær K Routledge Encyclopedia

of Translation Studies Routledge, London, 1998, pp 22-28 [7] Prickett S, Biblical and Literary Criticism: A History of Interaction in: Jasper D, Prickett S (eds.)

The Bible and Literature A Reader Blackwell Publishers, Oxford, 1999, pp 12-43 [8] Snell-Hornby M, Translation Studies An integrated Approach John Benjamins Publishing

Company, Amsterdam, 1998 [9] Φειδάς Ιω., in: Παγκόσμιο Βιογραφικό Λεξικό Vol. 5 Ekdotike Athenon, Athens, 1986, pp 310-312 [10] International Bible Society, http://www.ibs.org/niv/munger/1.php (site visited 6th January 2005) BIOGRAPHICAL NOTE

PhD student in Translation in the Aristotle University, Greece, trained in CEDEFOP, fluent in English, Italian, Spanish and Japanese. MA in Translation in the University of Surrey, UK, graduated from the Department of Italian Language and Culture in the Aristotle University, Greece. Distinction for the MA dissertation, Merit for the MA, 1st in National Entrance Examinations for the Department of Italian Literature and Culture in Thessaloniki, participated in language and culture classes in Italy and England.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Relevance Theory and Explicitation Strategy in Translation

Amir Mahdavi-Zafarghandi

Guilan University, Iran [email protected]

Abstract This paper consists of three sections. The first section starts with relevance theory as a major development recognizing that linguistically decoded information is usually very incomplete and that pragmatic inference plays an essential role in the derivation of the proposition explicitly communicated. This not only holds in the case of substantial utterances, but it holds also for the vast majority of fully sentential cases (Carston, 1997; Sperber, 1986). Accordingly, what is communicated is usually a set of fully propositional thoughts or assumptions, which are either true or false of an external state of affairs in the world. The second section deals with translation process (Bell, 1991: 213), maintaining that the writer's intention is mediated by the context in which the text was produced, by the writer's assumptions and decisions concerning 'what constitutes a relevant and recognizable frame of reference in which to anchor the communication' (Traugott and Pratt 1980: 273) and the conception of the 'ideal reader' who shares this frame of reference and at whom the text is aimed. The third section narrows the area of research within this framework concentrating on explicitation strategy in translation, which is some kind of shift between source and target text, examining its conditions of use (Williams and Chesterman, 2003: 6). The English translation by Edward Rehatsek of the Gulistan of Sa'di (Tashibi, 1988) serves the purpose of the study. Thus, a considerable number of examples are analyzed. This way, I not only investigate the regularities of the translator's behaviour, and also the general principles that seem to determine how certain things get translated under certain conditions, but also illustrate the application of relevance theory in the process of translation. Key words: relevance theory, explicitation strategy, source and target texts. Introduction

Grice's cooperative principle (henceforth CP) (Grice, 1975) can be well understood within the context of previous work by Austin (1962) and Searle (1969), which had largely been concerned with the relationship between direct and indirect speech acts, and the concept of things that they could 'do' with words. These proponents of the Use theory showed a growing interest in the meaning of utterances rather than sentences. It has been emphasized that at the discourse level there is no one-to-one mapping between linguistic form and utterance meaning. A particular intended meaning (which could be produced via a direct speech act) can in fact be conveyed by any number of indirect speech acts. Grice is concerned with this distinction between saying and meaning. The interesting point is how

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these implicit meanings are generated, and how they are understood by the assumptions on the part of the addressees. The aim is to discover the mechanism behind this process.

He suggests that there is an accepted way of saying as accepted standard behaviour. When we produce an utterance, we assume that it will generally be true, have the right amount of information, be relevant, and will be couched in understandable terms. If an utterance does not conform to this model, then we do not assume the utterance is nonsense; rather, we assume that an appropriate meaning is there to be inferred, and an implicature generated.

Grice is concerned with the distinction between saying and meaning: how the utterer's intention is recognized when there is a production of implicit language. At a purely practical level, what may seem explicit and obviously clear to the addressor may not be so for the addressee; there seems to be too great an assumption of shared knowledge/common ground here.

Within this theoretical foundation, we can look into the process of translation in terms of the conception of the 'ideal reader' (Bell, 1991: 213) who shares a relevant and recognizable frame of reference and at whom the text is aimed. This is done through investigating explicitation strategy in translation, the shift between source and target text. 1. Relevance Theory

Grice hold that: "Make your contribution such as required, at the stage at which it occurs, by the accepted purpose or direction of the talk exchange in which you are engaged" (1975: 45). Therefore, what is communicated must pragmatically be relevant. Let's look at one example given by Davies (2000: 2) to see how the mechanism behind this process is at work.

(i) a: Is there another pint of milk?

b: I'm going to the supermarket in five minutes. In the above example, a competent speaker of English would have little trouble

inferring the meaning that there is no more milk at the moment, but that some will be brought from the supermarket shortly. This is a way of explaining this implicature process by virtue of relevance theory.

In general terms, Grice can be grouped with Austin, Searle, and the later Wittgenstein as "theorists of communication-intention" (Miller 1998: 223). The belief of this group is that intention/speaker meaning is the central concept in communication, and that sentence meaning can be explained (at least in part) in terms of it. This is in contrast to the 'truth-conditional theorists' (e.g. Frege) who believe that sentence-meaning via truth conditions is the gold standard, which has to be prior to any explication of speaker-meaning. An important aim of the Gricean Program is to manage a watertight definition of sentence-meaning in terms of speaker intention.

Grice (1957) is concerned with the types of meaning which can be identified in language. The first distinction made is between natural meaning and non-natural meaning. (ii) (a) Those spots meant measles.

(b) Those spots meant measles, and he had measles. (c) *Those spots meant measles, but he hadn't got measles. (d) Those spots didn't mean measles, and he didn't have measles.

Adapted from Grice (1957: 377) In example (ii-a), the relationship between spots and measles is a natural one; one

cannot state this relationship and then deny that it is true (ii-c). Both propositions of the p mean (spots, measles) and q have (x, measles) must have the same truth value for the sentence to make sense (ii-b & ii-d). In semantic terms, p meant that q entails q.

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(iii) (a) Those three rings on the bell (of the bus) mean that the bus is full. (b) Those three rings on the bell (of the bus) mean that the bus is full, and in fact,

the bus is full. (c) Those three rings on the bell (of the bus) mean that the bus is full, but in fact the

conductor has got it wrong and the bus isn't full. Adapted from Grice (1957: 377-8)

In the examples above, the relationship between the ringing of the bell and the bus

being full is a nonnatural one. Essentially, the meaning is conveyed because of a conventional link between that signal and the intended meaning. There is no natural reason why three rings rather than one or two should convey this meaning; it is simply an accepted fact. Grice's contention is that much of language is concerned with this type of non-natural meaning.

The final distinction made by Grice is worth mentioning in terms of conventional and nonconventional meaning. Meaning is defined as conventional meaning, thus words have conventional meaning. In terms of implicatures, conventional meaning is conceptually prior to an implicature. Thus, it is essential for a sentence to have a conventional meaning before it can trigger an implicature. 2. Translation Process

The process of translation can be well understood in terms of polysystem – coined by Itamar Even-Zohar in the 1970s – which is elaborated by Toury in the following manner:

The position of translation (as entities) and of translating (as a kind of activity) in a prospective target culture, the form a translation would have (and hence the relationships which would tie it to its original) and the strategies resorted to during its generation do not constitute a series of unconnected facts. (Toury 1995: 24).

According to Bell (1991: 17), the process of translation involves the translator to be a

communicator. While communication starts with nine steps which take us from encoding the message through its transmission and reception to the decoding of the message by the receiver, the translator receives the message and then creates it in the target language for another of addressees on the receiving end.

Bell (ibid.:164) enumerates seven standards of textuality including: cohesion, coherence, intentionality, acceptability, informativity, relevance, and intertextuality.

Next, he presents the following widely accepted definition of text:

…. a COMMUNICATION OCCURRENCE which meets seven standards of TEXTUALITY. If any of these standards is considered not to have been satisfied, the text will not be communicative. Hence non-communicative texts are treated as non-text. (Bell, 1991: 164)

Then the definition extends the notion of text to discourse. These are constitutive

principles which define textual communication. They are all considered as:

Relational in character, concerned with how occurrences are related to others: via grammatical dependencies on the surface (cohesion); via conceptual dependencies in the textual world (coherence); via the attitudes of the participants towards the text (intentionality and acceptability); via the incorporation of the new and the unexpected (informativity); via the setting (situationality); and via the mutual relevance of separate texts (intertextuality). (ibid.)

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Page 128: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

It is now clear how the relevance theory is connected with the process of translation. In fact, the translator who understands what is meant rather than what is said would be in a position to recreate the same sense in the target language. 3. Explicitation Strategy

This strategy is defined as some kind of change or shift between source and target texts, and examine its conditions of use (c.f. Williams and Chesterman, 2003: 6-7). According to Shoshana Blum-Kulka (1986: 19) "the process of interpretation performed by the translator on the source text might lead to a TL text which is more redundant than the SL text." The Blum-Kulka's term explicitation accounts for the kind of translation process where implicit, co-textually recoverable ST material is rendered explicit in TT.

Within the descriptive framework of translation studies, let us now examine the following examples – which can illustrate the use of explicitation strategy – taken from the Rehatsek's translation of Gulestan (Rose Garden) (cf. Tasbihi, 1988) 1.

(1) Whose hand and tongue is capable to fulfill the obligations of thanks to him? (p, 5) از دست و زبان که برآيد کز عهده شکرش بدرآيد

In the above English version, the word "obligations" is clearly added to express the deep meaning of the poem because of the verbal context where it is considered necessary to thank the God for each of the blessings He has bestowed upon us. Hence, the addition of the word is well justified in this instance.

(2) Words of the most high: Be thankful, O family of David, …. (p, 5) .....اعملو آل داود شکرا

In the above version, there is the addition of "Words of the most high" and there is also a footnote giving reference to the Quran where there is allusion to the Quranic verse. This kind of addition in the text and the footnote explicitly indicate the use of intertextuality to the English reader.

(3) The tradition is that whenever a sinful and distressed worshiper stretches forth the hand of repentance … (p. 8)

...هر گاه که يکی از بندگان گنه کار پريشان روزگار دست انابت The phrase "the tradition is that" appearing in the translated version communicates the Islamic tradition to the English reader. Obviously, the Persian text is implicitly clear to the source text reader because of the inclusion of Arabic version in the original text as a reference to what seems to be an oral narrative from the prophet Mohammad (PBUH).

(4) Those who attend permanently at the temple of his glory confess the imperfection of their worship and say: … (p. 9)

: کعبهء جاللش بتقصير معترف کهاکفانع Here the phrase "Those who attend permanently at" is a paraphrase equivalent for the highly ideologically loaded word in the source text (ST) at the beginning of the sentence. This strategy, in fact, helps to convey a somewhat similar meaning. Moreover, the words "and say:" are used instead of "that" in the ST to establish a cohesive link in the target text (TT). Similarly, in the following example you can see that the word "saying:" is similarly used instead of "that" for the same purpose.

__________ 1 The examples are all taken from the full text of Gulistan (Rose Garden) of SA'DI and its translation by Rehatsek

as edited by Tasbihi (1988). So, not to repeat the same source when the examples are given, only the page number where the English translation of the original text appears in the book will be cited.

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(5) … those who describe the splendour of his beauty, are rapt in amazement saying: (p. 9)

: کهواصفان حليهء جمالش بتحير منسوب Another example which establishes a similar textual link is the following:

(6) 'I intended to fill the skirts of my robe with roses, when I reached the rose-tree, as

presents for my friends but the perfume of the flowers intoxicated me so much that I let go the hold of my skirts.' (p. 9)

.بخاطر داشتم که چون بدرخت گل رسم دامنی پر کنم، هديهء اصحاب را .چون برسيدم بوی گل چنان مست کرد که دامنم از دست برفت

The underlined words in (6), "but" and "me", are present in the translated version only. Although implicit in the original text, they seem necessary in the target text. The word "but" serves as a conjunction showing the contrast between the sentences whereas the word "me," which can be implicitly conveyed in Persian, must be made explicit in English because of the requirement of English grammatical constructions.

Examples (7) and (8) also include additional phrases in the target texts:

(7) One of my connections informed me how matters stood and told him that … :...يکی از متعلقان منش بر حسب اين واقعه مطلع گرداند که

The above is another example of addition of the phrase "and told him" for the purpose of establishing cohesion as realized in the target text.

(8) … was intent upon spending the rest of my life in continual devotion and silence, advising him at the same time, … (p. 28)

...، بقيت عمرمعتکف نشيند و خاموشی گزيندنيت جزم که ... There are two points to mention for (8). First, the paraphrase equivalent of "spend the rest of my life in continual devotion and silence" is an attempt to explicitate the cultural and ideological practice by some believers who stay in the Mosque for some time as a sign to respect the God, and, at the same time, to demonstrate their dissatisfaction with what they actually experience in their milieu. Second, the added clause, "advising him at the same time", is used to establish the textual cohesion.

The next example illustrates the shift from a general to a specific reference:

(9) THE CAUSE FOR COMPOSING THE GULISTAN (p. 24) اين کتابسبب تاليف

The underlined words in the original text are "THIS BOOK", whereas the phrase has been explicitly rendered into "THE GULISTAN".

Examples (10), (11) and (12) include equivalent additions in the target text:

(10) When thou fightest with anyone, consider Whether thou wilt have to flee from him or he from thee. (p. 29)

که از وی گريزت بود يا گريز.چو جنگ آوری با کسی بر ستيز In the translation of the above poem lines, the word "consider" makes explicit what is implied in the original text.

(11) I happened to spend the night in a garden with one of my friends and we found it to be a pleasant cheerful place with heart-ravishing entangled trees. (p. 30)

...موضعی خوش و خرم و درختان در هم، . شب را ببوستان با يکی از دوستان اتفاق مبيت افتاد The underlined parts are, in fact, meant but not said in the original text. So, the translator successfully inferred the meaning, and made it explicit in English to produce a coherent text.

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(12) The wind had in the shade of its trees Spread out a bed of all kinds of flowers (p. 31)

فرش بوقلمونگسترانيده .باد در سايه درختانش The underlined phrase in the translated English version is based on the interpretation of the underlined phrase in Persian which literally refers to "a carpet of a colourful plant". The translator has chosen "a bed of all kinds of flowers" which can convey a similar significance of the poem lines because all kinds of flowers can be spread in the shade of trees by the wind, and because they are obviously in different colours.

Example (13) is a paraphrase equivalent of the Persian text:

(13) … and the season passes away … (p. 31) ...و عهد گلستان را وفايی نيست...

Here the paraphrase is, in fact, the result of the source text translated into English but this has been made explicit by a footnote referring to literal translation of the source text reading as "the season of garden has no fidelity".

The example (14), (15) show the use of equivalent rather than identical words:

(14) He asked: 'Then what is to be done?' (p. 31) طريق چيست؟: گفتا

In (14) the underlined words "He asked" rather than "He said" in Persian is taken to be the right equivalent for introducing a question. Next, the narrated question is functionally and explicitly translated within its own context.

(15) 'I may compose for the amusement of those who look 2 and for the instruction of those who are present …' (p. 31)

توانم تصنيف کردن) کتاب گلستانی(برای نزهت ناظران و فسحت حاضران : گفتم Regarding the discourse structure in the context, we notice that the deletion of "I said" is compatible with an effective translation where the sentences subsequently follow one another. According to the footnote given, by 'those who look' readers, and by 'those who are present' listeners are meant …

Example (16) illustrates the addition for establishing textual coherence:

(16) … when the book of the Rose-garden was finished but it will in reality be completed only after approbation in the court of the Shah. (p. 32)

...تمام آنگه شود، بحقيقت، که پسوندی آيد در بارگاه شاه ... The word 'but' in the above example clearly shows that the use of the conjunction "but" in the translated text joins the two sections of a sentence, and establishes the grounds for textual coherence.

Examples (17), (18) and (19) are illustrative of explicitation strategy based on the translator's understanding of the context of the original text.

(17) … appear in the assembly of persons endowed with pulchritude, unless adorned with the ornaments of approbation from the great Amir … (p. 34)

... متجلی نشود، مگر آنکه متجلی گردد بزيور قبول اميرصاحب دالندر زمره ... The underlined part is based on the translator's understanding of the original text, and as it is clear, a clause replaces a compound word in Persian.

(18) Whoever reposes in the shadow of his favour, His sin is transmuted to obedience and his foe into a friend. (p. 37)

هر که در سايه عنايت اوست گنهش طاعتست و دشمن دوست The underlined words in the translation of the Persian text show that the translator has properly changed the copular verbs into dynamic words as an explicitation strategy.

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(19) "It is better for me to consider what to speak than to repent of what I have spoken". (p. 42)

انديشه کردن که چه بگويم به از پشيمانی خوردن که چرا گفتم؟ The verb phrase "consider what to speak" is an explicit and natural equivalent of a form such as "think of what I should say". Conclusion

The examples presented from Rehatsek's translation of Gulilstan illustrate the use of explicitation strategy, which not only indicate the regularities of the translator's behaviours, but also demonstrate the application of the principles in the process of translation to produce a coherent and comprehensible target text for the intended readership. References Bell, R. T. 1991. Translation and Translating: Theory and Practice. London: Longman. Carston, R. 1997. 'Enrichment and loosening: Complementary Processes in deriving the proposition

expressed?' Linguisstische Berichte, 8, Special Issue on Pragmatics, 103-127. Blum-Kulka, S. 1986. 'Shifts of Cohesion and Coherence in Translation', J. House & S. Blum-Kulka

(eds), Interlingual and Intercultural Communication, Tubingen. Davies. B. 2000. 'Grice's Cooperative Principle: Getting the Meaning Across'. In Nelson, D. & P.

Foulkes (eds) Leeds Working Papers in Linguistics 8, pp. 1-26. Grice, H.P. 1957. 'Meaning'. The Philosophical Review. 66, pp. 377-388. Grice, H. P. 1975. 'Logic and conversation.' In P. Cole & J. Morgan (eds.), Syntax and Semantics,

Volume 3. New York: Academic Press. pp. 41-58. Grice, H. P. 1981. 'Proposition and conversational implicature. In Cole, P. (ed.) Radical Pragmatics.

New York: Academic Press. pp. 187-197. Miller, A. 1998. Philosophy of Language. London: UCL Press. Sperber, D. & Wilson, D. 1986/95: Relevance: Communication and Cognition. Oxford: Blackwells. Tasbihi, M.H. (ed.). 1988. The Persian English Gulistan or Rose Garden of Sa'di Translated by E.

Rehatsek. Tehran: Marvi Publishing. Toury, G. 1995. Descriptive Translation Studies and Beyond. Amesterdam Traugott, E.C. and Pratt, M.L. 1980. Linguistics for Students of Literature. New York: Harcourt Brace. Williams, J. and Chesterman, A. 2002. The MAP: A Beginner's Guide to Doing Research in

Translation Studies. London: St. Jerome Publishing. BIOGRAPHICAL NOTE

He is Dr. Amir Mahdavi-Zafarghandi, a Lecturer of Applied Linguistics at Guilan University. He received his B.A. in English Translation from Allameh Tabataba'i University in 1988. He graduated in the field of Teaching English as a Foreign Language (TEFL) from Tehran University in 1991. Next, he pursued his post-graduate study on SLA at Essex University, Britain, and was awarded his Ph.D. in 2000. He has been teaching courses in applied linguistics including research methods, introduction to linguistics, theories and principles of translation, translation of simple texts, and advanced translation at Guilan University and Rasht Azad University, and doing research on applied linguistics, and publishing some articles in accredited journals and numerous papers in the proceedings of both national and international conferences.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Informação Terminológica: Extracção, Gestão e Usos

Manuel Célio Conceição

FCHS, Universidade do Algarve, Portugal [email protected]

Resumo Este texto apresenta uma reflexão acerca da extracção, da gestão e do uso da informação terminológica retirada de bases de dados textuais com o fim de ser organizada de forma a ser reutilizada. Refere-se especificamente a possibilidade de identificação, de extracção e de armazenamento da informação terminológica, partindo do estudo das reformulações discursivas e apresentam-se exemplos de gestão e de usos dessa informação sem cuja organização é impossível conceber o trabalho dos tradutores e dos restantes prestadores e serviços linguísticos. Palavras-chave: informação terminológica, reformulação; bases de conhecimentos terminológicos. Introdução

As exigências que o mercado global da tradução técnica e científica impõe aos que fazem circular os conhecimentos, transpondo-os de uns códigos para outros, estão na origem da reflexão aqui exposta. À luz das informações disponíveis sobre o contexto actual no domínio das indústrias da língua e das profissões das línguas, mostra-se uma hipótese de análise (contrastiva) de dados linguísticos / terminológicos, da qual se tirarão ilações para o trabalho dos tradutores e outros profissionais das línguas.

Considerando que uma das funções sociais da disciplina terminológica é a comunicação de saberes, partimos de um corpus textual não apenas monolingue, cujas características externas e internas serão especificadas, para mostrar hipóteses metodológicas de extracção de informação a ser posteriormente armazenada e actualizada de forma a poder ser incluída e reutilizada por profissionais das línguas. Focaremos, assim, questões relacionadas com a constituição e a gestão de bases de conhecimentos terminológicos plurilingues (e com a utilização de sistemas ontológicos) com informações de diferentes tipos (conceptuais, linguísticas, sociocomunicativas, pragmáticas, etc.). As propostas feitas e os resultados das mesmas situar-se-ão a montante do trabalho com as línguas (tradução, revisão, etc.), pois sem uma análise cuidada dos dados linguísticos e

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terminológicos a disponibilizar para qualquer tarefa, no âmbito da prestação de serviços linguísticos 1, o resultado da mesma estará comprometido à partida.

Este texto apresenta portanto uma hipótese metodológica de cariz terminológico e terminográfico em que de uma base textual se extrai informação com interesse terminológico para posterior gestão e uso sob a forma de base de conhecimentos terminológicos com fins comunicativos. Convém, por isso, começar por delimitar o conceito de informação terminológica e relacioná-lo com o conceito de comunicação especializada. Informação terminológica

A verbalização dos saberes humanos é feita discursivamente, seguindo regras dos códigos linguístico e comunicativo aceites por uma comunidade, ou seja, de uma língua no âmbito de uma especialidade. Cingindo-nos aos saberes tradicionalmente qualificados de técnicos e científicos, diremos que a sua verbalização se operacionaliza em discursos, que são produtos de interacções comunicativas específicas, e corresponde a processos, primeiro de conceptualização, depois de denominação e, por fim, de textualização de conhecimentos de domínios específicos do saber ou de áreas de actividade humana.

As interacções comunicativas específicas acima referidas constituem a comunicação especializada. São situações de comunicação em que, pelo menos, um dos intervenientes tem conhecimentos num domínio ou numa área do saber e pretende transmiti-los ao outro. Os diferentes níveis de especialização da comunicação advêm dos níveis de especialização dos intervenientes na interacção ou do contexto em que a mesma ocorre. O estudo dos diferentes níveis de especialização é o estudo dos processos de verbalização dos conhecimentos que consistem em analisar a categorização, ou seja as questões cognitivas, a nomeação, ou seja as questões de denominação, e a estruturação discursiva e o contexto de comunicação, isto é, a textualização.

Trabalhar em comunicação especializada é, então, ir para além do simples trabalho terminológico, como o concebem as teorias clássicas da terminologia, e acompanhar os procedimentos de circulação dos saberes numa época em que aumenta exponencialmente a quantidade de textos técnicos e científicos e aumenta também a discrepância entre a acumulação de saber e a sua compreensão pelos utilizadores. Esta (in)compreensão tem consequências às quais nem sempre se tem dado a devida importância. Vejam-se os diferentes tipos de literacia, os problemas da falta ou da incapacidade de definição de linhas orientadoras de políticas linguísticas adequadas ou as implicações destes aspectos no saber-fazer e no desenvolvimento económico e social.

Uma vez que a verbalização dos saberes se organiza em discursos, o seu estudo corresponde ao estudo do conjunto dos recursos linguísticos de uma língua natural usados nas situações específicas aos domínios do saber ou às esferas de actividade humana. Diferentes denominações têm sido usadas para este conjunto de recursos linguísticos. Sem poder aqui discutir a pertinência e a correcção das diferentes denominações, neste texto usaremos a denominação discursos de especialidade.

Estes discursos têm diferentes níveis de especialização que dependem dos interlocutores e dos seus conhecimentos e do contexto em que são produzidos. Os interlocutores terão diferentes níveis de conhecimentos no que respeita à língua, à especialidade, às línguas de especialidade e às especificidades dos processos comunicativos no âmbito da especialidade. No que se refere ao contexto, este pode interferir na construção do significado, quer como filtro, quer como membrana. No quadro da

__________ 1 O termo prestação de serviços linguísticos (formado a partir do inglês linguistic services provider) refere-se ao

conjunto de actividades que consistem em fornecer serviços no âmbito das línguas (tradução, revisão, síntese de informação, redacção, preparação e/ou avaliação de terminologias; etc.). Usamos este termo por se considerar que, na actualidade, o profissional das línguas tem que ser cada vez mais eclético e polivalente de forma a ser capaz de fornecer diferentes tipos de serviços que vão muito além da simples tradução do texto.

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semântica relacional e mesmo de algumas concepções recentes dos estudos lexicais e terminológicos é ao contexto que de deve a atribuição ou não a uma unidade lexical o estatuto de termo. Na análise do contexto da interacção, é necessário considerar os aspectos:

- circunstanciais / referenciais, isto é, os que se referem à identificação dos interlocutores, ao tempo e ao espaço;

- situacionais ou pragmáticos, que caracterizam os papéis institucionalizados dos interlocutores;

- interaccionais, que revelam os actos de fala na sequência discursiva e comunicativa;

- pressuposicionais, que se referem a tudo o que é pressuposto no acto comunicativo.

O estudo do contexto do discurso de especialidade tem assim em consideração os

aspectos de natureza editológica, tal como os definiu Baudet (1995: 217) ou seja, "l’étude épistémologique de l’édition des savoirs scientifiques, techniques et industriels qui prend en compte la nature sociale (c'est-à-dire communicationnelle) des mécanismes de leur production et de leur validation".

O discurso de especialidade contém unidades linguísticas que denominam conceitos de especialidade, a que chamamos termos. Conforme acima foi referido, a qualificação de termo só pode ser atribuída à unidade lexical em função do seu contexto de actualização discursiva. Esta unidade lexical, ao assumir o estatuto de termo, no plano do discurso, assume também diferentes estatutos enquanto unidade de cognição e de significação, unidade de referência, unidade de denominação, unidade de representação e unidade de conhecimento.

Para além destas unidades, há no discurso de especialidade outras formas de verbalizar conhecimentos técnicos e científicos: tais como colocações e fraseologias. Contribuem ainda para esta verbalização todos os procedimentos de construção discursiva, que englobam também todas as outras unidades linguísticas não terminológicas das diferentes classes morfossintácticas e ainda as reformulações, as paráfrases, as definições textuais, as enumerações, etc.

No seguimento das afirmações anteriores, que se inserem nos aspectos da terminologia textual 2 e que têm em conta os aspectos teóricos mais recentes da teoria terminológica 3 , é possível afirmar que constituem informação terminológica os elementos constitutivos dos discursos de especialidade, a saber, as unidades lexicais, as unidades terminológicas, as fraseologias, as colocações e todas as outras possibilidades de verbalização do conhecimento ou da sua representação icónica (gráficos, esquemas, fotografias, etc.), assim como os procedimentos de construção discursiva e as formas de instanciação dos intervenientes no discurso.

Delimitada a extensão do conceito de informação terminológica disponível nos textos, saliente-se que, independentemente do fim a que se destina, o trabalho terminológico da actualidade se faz a partir de corpora e de bases de dados textuais em que se usam simultaneamente as perspectivas semasiológica e onomasiológica.

Face ao exposto, interessa, pois, criar mecanismos de selecção, de registo e de reutilização da informação terminológica e dos conhecimentos representados nos discursos para posterior utilização nas diferentes actividades desenvolvidas pelos prestadores de serviços linguísticos, de entre os quais os tradutores são os mais conhecidos. __________ 2 Para a explicitação detalhada do conceito de terminologia textual ver Conceição (2005a). 3 Em Conceição (2005b) apresentamos detalhadamente as abordagens teóricas mais recentes da teoria terminológica, mostrando a evolução do pensamento sobre a terminologia e os discursos de especialidade no âmbito da teoria geral da terminologia, da socioterminologia, da teoria comunicativa da terminologia e da abordagem sociocognitiva.

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Extracção de informação terminológica

Os mecanismos de identificação da informação terminológica devem ser concebidos em simultâneo com a averiguação das possibilidades de extracção dessa informação dos corpora textuais em que se encontra; corpora esses que deverão ter sido constituídos seguindo critérios muito rigorosos que garantam a fiabilidade, a correcção e a veracidade das informações que contêm. As categorias orientadoras da definição desses critérios são a representatividade, a actualidade, a homogeneidade / diversidade e a questão da autoria. O conjunto dos textos do qual se extrai a informação terminológica deve ser representativo da comunicação especializada no domínio num determinado momento sincrónico, preferencialmente contemporâneo, pois só assim se acede a informações actuais e actualizadas. Os elementos que o constituem devem ser ou homogéneos no que diz respeito ao nível de especialização, à autoria e aos aspectos editológicos ou, se se pretender aceder às formas de banalização e de vulgarização, devem poder ser agrupados em diferentes subcorpora, internamente homogéneos. Com um corpus deste último tipo é possível estudar, por exemplo, os fenómenos de reformulação interdiscursiva e os processos de didactização e de democratização dos conhecimentos científicos.

O corpus (conjunto de textos), a transformar em base textual, preferencialmente anotada, em que se possa pesquisar informação, corresponde, assim à descrição de usos reais da língua na especialidade em que todas as formas de verbalização estão devidamente contextualizadas. Pela extracção de todas essas possibilidades de verbalização acede-se, então, entre outros, aos processos de variação denominativa e quanto mais desenvolvidos e aprofundados estiverem a etiquetagem e anotação dos elementos linguísticos, tais como as análises morfológica e sintáctica, os filtros de lematização e de desambiguação, mais produtiva será a extracção da informação. No quadro do processo de anotação dos elementos do corpus, a primeira etapa é a anotação externa (a que especifica os aspectos editológicos) e só depois de justificada por essa anotação a pertinência e a relevância da inclusão de um determinado texto no corpus é que se passa à anotação interna de carácter morfológico (classificação de formantes), lexical (termos, siglas, empréstimos, fraseologias, neologismos), sintáctico (estrutura argumental e funções), semântico (caracterização semântica dos argumentos e aspecto verbal), e pragmático (marcas de registo e evidência do contexto extralinguístico).

A extracção da informação terminológica é, então, a aplicação de filtros sucessivos (listas de sequências discursivas previsíveis – termos, colocações ou fraseologias) à base textual de forma a retirar dados de natureza linguística (denominativa e discursiva) e cognitiva (conceptual). Da correcta arrumação das informações extraídas decorrerão as suas possibilidades de utilização posterior.

O procedimento metodológico que temos vindo a explorar para a extracção da informação é a análise dos processos de reformulação intradiscursiva, uma vez que pôr em evidência as formas de retoma no interior do discurso é uma das possibilidades de revelar a construção da representação do conhecimento no interior do mesmo. Consideramos reformulação uma sequência discursiva composta por uma primeira formulação linguística de um conceito, um conector (marcador) reformulativo e uma segunda formulação do mesmo conceito em que, entre outros, se fixam os limites da primeira, se especifica o seu uso, contribuindo para o processo de aquisição de conceitos, mostrando, até, a relação pressuposta entre o emissor e o receptor daquele discurso. Exemplos de reformulações são os contextos 4 seguintes que extraímos da base textual do domínio da farmacologia que temos vindo a constituir.

__________ 4 Para facilitar a leitura, indicamos a itálico e negrito a unidade terminológica, que pode ser considerada a primeira formulação, o marcador de reformulação encontra-se sublinhado e o segmento textual que constitui a segunda formulação está a negrito e sublinhado. O nome que se encontra em maiúsculas a seguir ao contexto

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i) Todavia , em sentido restrito só se devem considerar como psicofármacos os

fármacos que exibem predominância de efeitos psíquicos e tenham possibilidade de emprego terapêutico em afecções psíquicas . NEUROPSICOFARMACOLOGIA Page: 207 d

ii) el tratamiento con agonistas beta (esto es, de fármacos que estimulan el receptor) no es bueno, ya que intensifica la sintomatología y acelera la progresión de distintas miopatías hacia la insuficiencia cardiaca FARMACOLOGÍA GENERAL - I Page: 1033c

Em i), extraído do subcorpus em língua portuguesa, temos um contexto do termo psicofármaco em que o marcador da reformulação, em sentido restrito, delimita o significado do termo que é verbalizado na segunda formulação: os fármacos que exibem predominância de efeitos psíquicos e tenham possibilidade de emprego terapêutico em afecções psíquicas. Em ii), extraído do subcorpus espanhol, apresenta-se um contexto do termo agonistas beta, cuja reformulação introduzida por esto es apresenta uma definição textual.

Desta forma, além de se evidenciar o dialoguismo discursivo bakthiniano, acede-se a relações linguísticas e conceptuais entre as duas formulações, logo, a informações com interesse terminológico no que diz respeito à amplitude do conceito, à denominação utilizada ou a utilizar e à forma de a inserir na construção do discurso. As redes semânticas que esta possibilidade de análise evidencia entre as formulações são construídas por processos sintácticos e estilísticos tais como as anáforas, as catáforas, as paráfrases, as repetições (totais e/ou parciais), as comparações, as metáforas, etc.

Os marcadores da reformulação, cuja lista é possível estabelecer em cada língua, servem de chave de entrada para acesso às reformulações nos corpora, ou seja, para acesso às informações terminológicas, em sentido lato, presentes nos textos. Estes marcadores, que não são necessariamente nem coordenadores nem subordinadores nas frases em que se inserem, têm carácter extrapredicativo e só assumem este estatuto ao nível do discurso. Rey-Debove (1997) caracteriza-os como "différenciateurs métalinguistiques entre des référents identiques différemment nommés".

Para além das possibilidades de extracção de informação terminológica em corpora homogéneos (caso acima referido) em que se analisam os processos de auto-reformulação intradiscursiva, também é possível proceder ao mesmo tipo de análise, mutatis mutantis, no caso dos corpora constituídos por subcorpora de diferentes níveis de especialização (mantendo-se, no entanto a homogeneidade do domínio ou área de actividade), sendo que, nesses casos, se analisam, mais frequentemente, os procedimentos de hetero-reformulação interdiscursiva, ao invés da auto-reformulação intrediscursiva que é analisada nos outros casos acima referenciados. Nesta segunda possibilidade é possível estabelecer relações entre formulações, entre diferentes níveis de língua e, por conseguinte, conceber modelos de banalização e de vulgarização.

A possibilidade metodológica de extracção de informação terminológica, aqui referida, aplicada a corpora paralelos ou a corpora alinhados pode ajudar a retirar dados para a concepção de padrões de verbalização que serão de grande utilidade na prestação de serviços linguísticos monolingues e, sobretudo, plurilingues.

indica o capítulo do texto do qual o mesmo foi retirado e os números que lhe seguem, são atribuídos pelo programa de gestão do corpus.

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Gestão e usos da informação

Extraída a informação terminológica, segundo as especificidades acima anunciadas, para que a mesma possa ser utilizada é necessário conceber estruturas para a armazenar e gerir. Trata-se da concepção de bases de conhecimentos terminológicos que poderão conter estruturações ontológicas que revelam relações no interior dos níveis cognitivo (traços conceptuais), linguístico (traços semânticos, informações de carácter sintáctico e morfológico sobre a denominação) e discursivo. Deverão ainda revelar as relações entre cada um destes níveis no seio de uma ou mais línguas consoante se tratar de uma base de conhecimentos terminológicos monolingue ou plurilingue. Tão importante quanto a quantidade de informações contidas nessa base é a forma como elas se organizam para que possam ser utilizadas e actualizadas em permanência.

Estas bases de conhecimentos especializados em que incluem conhecimentos de diferentes tipos – denominativos, pragmáticos, discursivos, semânticos, conceptuais, contextuais, estilísticos, etc., – devem ser de natureza multimodular e multiuso e a navegação no seu interior deve ser possível em todos os sentidos (vertical e horizontal) mediante processos de hipertexto. Devem ser bases vivas e interactivas, ou seja, bases em que a actualização é indispensável para a manutenção da actualização e da actualidade das informações que contêm e indispensável é também a possibilidade de interacção e de escolha dos caminhos de pesquisa por parte do utilizador, consoante os seus interesses e as suas necessidades.

A concepção destas bases de conhecimentos terminológicos é um trabalho interdisciplinar que envolve além do terminólogo e do especialista do domínio, informáticos com conhecimentos não só de programação mas também de construção informatizada das relações semânticas e ontológicas ou mesmo de inteligência artificial. Para a concepção deste tipo de produtos, não esquecendo os desenvolvimentos das ciências, das tecnologias e das metodologias, tem sido de grande relevância a semântica web e a engenharia do conhecimento.

Concebida a plataforma para armazenamento e para gestão da informação terminológica, demos, então, atenção aos possíveis usos dessa informação. As bases de conhecimentos terminológicos, ou, mais correctamente, bases de conhecimentos especializados decem incluir estruturas ontológicas flexíveis que possam dar conta das evoluções dos conhecimentos, das ciências e das técnicas, assim como das necessidades dos seus usos em sociedade. A informação nelas contida pode ser usada para delimitar os usos denominativos e as propriedades e restrições discursivas em redacção e em tradução técnica. Assim se revelam relações conceptuais, relações lexicais, a precisão conceptual e a precisão terminológica. consoante o nível de especialização e o nível língua; o que tem implicações nos processos de didactização, banalização e de vulgarização da informação terminológica.

As modelações conceptuais que as ligações hipertextuais devem permitir e que foram incluídas na base de conhecimentos graças aos diferentes tipos de anotação nos elementos da base textual evidenciarão a possibilidade de uso de perspectivas onomasiológicas e semasiológicas ao mesmo tempo que exemplificam as características de multidimensionalidade e de poliedricidade das unidades terminológicas.

Para que possa ser usada por utilizadores com diferentes interesses, a base deve incluir informações sobre as diferentes relações entre os conceitos, tais como as relações de similaridade, de inclusão, de sequencialidade, de causalidade, de instrumentalidade, de meronímia e de associação. Obviamente que, caso se trate de uma base de conhecimentos plurilingue, será necessário prever na sua estruturação campos para as diferentes designações dos traços conceptuais e das suas relações nas diferentes línguas.

No sentido de gerir e usar com fins diversificados informação terminológica do domínios da farmacologia (particularmente dos subdomínios da farmacologia clínica e da indústria farmacêutica), temos em elaboração duas bases de conhecimentos terminológicos

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que, por ora, são apenas bases de trabalho em que se registam as informações extraídas da base textual, seguindo a metodologia aqui exposta. Estas bases, sensivelmente semelhantes, deverão poder fundir-se numa só na versão que vier a ser disponibilizada para os prestadores de serviços linguísticos que delas necessitem. Trata-se de bases em que ainda estamos a desenvolver os procedimentos de marcação das relações ontológicas mas em que já é possível registar de forma dinâmica um grande leque de informações retiradas dos textos analisados.

As figuras 1 e 2 são Ecrãs de entrada em cada uma das bases. As figuras 3 e 4 representam fichas de cada uma das bases, respeitantes às unidades terminológicas ácido fusídico e volume de distribuição em steady-state.

Saliente-se que, para além das informações sobre a categoria gramatical e a definição terminológica, são também registadas informações relativas aos equivalentes em línguas estrangeiras, aos domínios em que a unidade terminológica é usada, às hipotéticas variantes (gráficas ou denominativas), aos sinónimos, à tipologia de discurso em que é mais frequente, aos termos associados e ainda à possibilidade de hiperligação a um ficheiro de texto em que se verifique a actualização da unidade terminológica e os seus equivalentes em discursos reais provenientes das diferente línguas.

Figura 1 – Ecrã de entrada na base de farmacologia clínica.

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Figura 2 – Ecrã de entrada na base de indústria farmacêutica.

Figura 3 – Ficha do termo ácido fusídico.

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Figura 4 – Ficha do termo volume de distribuição em steady-state.

As figuras acima apresentam possibilidades de armazenamento para gestão e usos futuros da informação terminológica. Pudera o tradutor, por exemplo, ter à sua disposição conjuntos de informação deste tipo nos momentos em que (com cada vez maior celeridade) lhe exigem respostas prontas e trabalhos acabados e a sua tarefa estaria em muito facilitada. Palavras finais

As reflexões acima expostas pretendem contribuir para a promoção da concepção de materiais de trabalho para tradutores e outros prestadores de serviços linguísticos. No intuito de salientar a importância da análise e da descrição detalhada das informações com interesse terminológico disponíveis nos discursos de especialidade, defendemos que uma das possibilidades é o estudo das reformulações discursivas, quer seja a partir de corpora monolingues, quer seja a partir de corpora plurilingues. Os trabalhos desenvolvidos em terminologia contrastiva facilitarão a tarefa de todos quantos quiserem transpor informação terminológica de um código linguístico para outro. A arrumação da informação terminológica segundo critérios bem definidos, que incluem a criação de relações ontológicas, na acepção da termontologia e da termontografia que defende Temmerman (2006), possibilitará a sua utilização futura e o acesso ao sentido dos textos. A estruturação correcta da informação terminológica em bases de conhecimentos terminológicos (se possível plurilingues) com a preocupação de utilização futura é tão mais necessária que assistimos a uma aculturação de terminologias e à vulgarização diária das unidades terminológicas sem que se faça, muitas das vezes, a distinção entre os diferentes níveis de especialização em que podem ocorrer.

Ao trabalhar com bases de conhecimentos como as que defendemos neste texto, o prestador de serviços linguísticos contribuirá para a promoção da compreensão e o tradutor,

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em particular, terá facilitado o seu trabalho simultâneo de revelar o significado de uma sequência discursiva e de fixar os limites desse significado naquele texto que está a traduzir. O manuseamento de dados mais ou menos formalizados nas bases de conhecimentos terminológicos ajuda ainda o tradutor na delimitação da compreensão, processo particularmente sensível no momento da desverbalização, ou seja no momento em que o tradutor, tendo compreendido o significado na língua de partida o formula para si antes de o poder verbalizar na língua de chegada. Nesse momento a consulta de uma base de conhecimentos terminológicos é uma ajuda preciosa para que possa olhar os dois sistemas linguísticos em quase igualdade de circunstâncias.

A identificação, a extracção, a gestão e os usos da informação terminológica só são possíveis de conceber como o temos vindo a fazer neste texto se se entender que existe uma concepção dinâmica da significação. Estes aspectos são da maior pertinência para todos os prestadores de serviços linguísticos, e para os tradutores em particular, não só porque a própria actividade de tradução está a mudar mas, sobretudo, porque, como afirmou Bernard Quemada, "le traitement du sens sera le problème de l’avenir". Referências Conceição M. C., «Terminologie textuelle: reformulations et accès aux concepts», Béjoint, H. F.

[email protected], (dir.), De la mesure dans les termes, Presses Universitaires de Lyon, Lyon, 2005a, pp. 296-305.

Conceição, M. C., Concepts, termes et reformulations, Presses Universitaires de Lyon, Lyon, 2005b. Baudet, J. C., «Editologie: une sociolinguistique de la science», Meta, 20-2, Montréal, 1995, pp. 216-

223. Rey-Debove, J., Le métalangage, Paris, Armand Colin, 1997. Temmerman, R., http://cvc.ehb.be/ (consultado a 11 de Julho de 2006). NOTA BIOGRÁFICA

Professor Associado de Linguística da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve; Presidente do Conselho Pedagógico da referida Faculdade; Director do Curso de Licenciatura em Línguas e Comunicação e do Mestrado em Linguística, ambos da Universidade do Algarve. Investigador do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do qual é responsável pelo projecto REFORTERM – Reformulação e Terminologia; Membro da Direcção do Conselho Europeu das Línguas; Membro do Comité Científico da Rede Panlatina de Terminologia (REALITER); Membro da Comissão Consultiva da Associação Europeia de Terminologia; Coordenador do Projecto Europeu "Languages for industries and languages-related professions", no âmbito da Rede Temática Languages III.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Using a Parallel Corpus in Translation Practice and Research

Ana Frankenberg-Garcia

Instituto Superior de Línguas e Administração, Lisboa, Portugal [email protected]

Abstract There are so many variables underlying translation that examining anything longer than a few paragraphs of translated text at a time can become quite a daunting task. Using the technology of corpus linguistics, however, it is possible to analyse enormous quantities of translated text in unprecedented ways. A parallel language corpus, i.e., a computerized collection of texts in one language aligned with their translations into another language, can provide automatic access to countless features of translated texts that up to now have not been possible to study in a systematic way. COMPARA, a translation tool developed by Linguateca 1, is the largest public, edited online parallel corpus of English and Portuguese in the world. In its current version 7.04, it provides access to almost three million words of original and translated fiction published in Portuguese and English. The aim of this presentation is to offer a brief description of the corpus and to demonstrate how it can be used in translation practice and research. Key words: parallel corpora, Portuguese-English, translation. A brief introduction to the COMPARA corpus

COMPARA is an extensible bidirectional parallel corpus of English and Portuguese. At present, version 7.04 contains 69 extracts of published fiction (dating from 1837 to 2000) by 33 different authors from Portugal, Brazil, Mozambique, Angola, the United Kingdom, the United States and South Africa. These texts are aligned with 72 published translations dating from 1886 to 2002, totalling almost three million words in July 2006. Only published texts, and only English translated directly from Portuguese and Portuguese translated directly from English are admitted in the corpus. Although the present corpus contains only fiction, plans are currently underway to add a non-fiction section to COMPARA 2.

Modelling itself on the bidirectional structure of the English-Norwegian Parallel Corpus [1], COMPARA allows users to analyse a lot more than just (a) the translation of Portuguese

__________ 1 The corpus is free and is available at http://www.linguateca.pt/COMPARA/. The project has received funding

from the Fundação para a Ciência e Tecnologia and from the Ministério da Ciência e Ensino Superior/POSI (POSI/PLP/43931/2001).

2 For an updated account of the corpus contents, see http://www.linguateca.pt/COMPARA/Contents.html.

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into English and (b) the translation of English into Portuguese. As shown in figure 1, it is also possible to use COMPARA to compare (c) original Portuguese with translated Portuguese, (d) original English with translated English, (e) untranslated Portuguese and English, and (f) translated and untranslated language in general. Portuguese

Source Texts English Translations

English Source texts

Portuguese Translations (b)

(a)

(f ) (e) (c)(d)

Figure 1 – Bidirectional structure of COMPARA.

COMPARA is encoded according to the IMS-CWB system [2], and can be consulted online via the DISPARA interface [3]. Access to the corpus is free and requires no registration. The service is available in English and Portuguese, and offers two different search facilities: the simple and the complex search.

The simple search enables users to retrieve parallel concordances from the entire corpus, in both the English to Portuguese and the Portuguese to English direction. As the name says, it is simple and easy to use (see figure 2). It suffices to type in a word, a prefix, a suffix, a string of words and so on in Portuguese or English and press the search button to retrieve parallel concordances containing the search term in question. Figure 3 illustrates the results for a simple search for the word "paper". The search term appears on the left-hand side of the screen within a broader context of text 3 and its equivalents in Portuguese appear on the right-hand side. By clicking on the text codes on the right-hand column, users can check the source-text and translation references for each concordance line. Copyright has been cleared so that the results can be used for non-commercial, educational and research purposes.

The complex search allows users to carry out simple searches and a lot more. To begin with, the complex search allows for queries involving alignment constraints. By entering the query "paper" plus the alignment constraint "papel", for example, users can retrieve parallel concordances containing English concordances with the word paper aligned with Portuguese concordances without the word papel. This function is useful for finding out what equivalents of paper other than papel there might be in the corpus. The complex search also allows users to retrieve translators' notes, foreign words, the titles of books, songs, plays, films (and so on) cited in the corpus texts, words that have been set off for emphasis, named entities (i.e., proper names that have been highlighted), and sentences that have been added to, deleted from, joined, split and reordered in translation. When using the complex search, users are not required to search the whole corpus, and can restrict their queries to different types of sub-corpora. For example, they can carry out searches within a specific variety of Portuguese or English, they can use texts published before or after a certain year, they can determine that searches be conducted only from source texts to translations or only from translations back to source texts, and they can query only one particular text, or the texts by just one particular author or translator. Finally, the complex search allows users to select different output options. In addition to parallel concordances, they can retrieve the distribution

__________ 3 The context is always one full source-text sentence and whatever matches it in the translation.

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of forms (for example, how frequent different words are in a particular text), the distribution of sources (in what texts different search terms appear), the distribution in original and translated texts (for example, how frequent a word is in translated and untranslated language), the distribution according to language variety (for example, how frequent a word is in European and Brazilian Portuguese) and the combined distribution in two languages (for example, in a search for paper and papel at the same time, how many times the two appear on the same concordance line and how many times paper does not match papel and papel does not match paper).

In addition to this, because the Portuguese part of the corpus has been recently annotated [4], users can also carry out queries that involve part-of-speech tags (for example, the word casa only as a noun, or only as a verb, or what prepositions follow a particular verb, and so on). There are plans to introduce part-of-speech annotation to the English part of the corpus in the near future.

The target users of COMPARA include not only language engineers, corpus and computational linguists, terminologists, lexicographers and machine-translation experts, but also language learners, language teachers, university lecturers, students and professional translators with little or no prior experience of using corpora. A tutorial is available at http://www.linguateca.pt/COMPARA/Tutorial.doc to help novice users become acquainted with the corpus, and the complex search facility is linked to a help file so that even non-experts are encouraged to give it a try. According to our latest statistics, the corpus has been receiving on average 6000 queries per month from Brazil, Portugal, the United Kingdom and many other countries.

Figure 2 – The simple-search interface of the COMPARA corpus.

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Figure 3 – Parallel concordances for paper from COMPARA 7.0.4. Observing source texts and translations

The first type of study that can be carried out with the help of COMPARA involves analysing how words, parts of words and multi-word expressions have been translated from Portuguese into English and from English into Portuguese: i.e., arrows (a) and (b) in figure 1. These studies can be used to improve bilingual dictionaries and machine-translation programs. For example, Frankenberg-Garcia [5] looks at several different Portuguese translations of the verb nod in COMPARA and compares the results with the verbal entries for nod in six different English-Portuguese bilingual dictionaries. Ribeiro & Dias [6] use the corpus to examine the English translation of grande, a vague and highly polysemous adjective that is often problematic in machine translation. Specia [7] and Specia et al. [8] use the corpus as a tool for word-sense disambiguation.

In translation practice and language teaching, analyses types (a) and (b) can be used as contextualized bilingual dictionaries. It suffices to enter a search expression in one language and click enter to see how it has been rendered in the other language. Figure 4 illustrates this with examples of English equivalents for the Portuguese word festa. Frankenberg-Garcia [9] contains examples of how COMPARA can be used in translator training and Frankenberg-Garcia [10] and [11] discuss how parallel concordances can be used in language pedagogy. Contrasting Portuguese and English

A bidirectional parallel corpus like COMPARA can also be used as two comparable corpora of original English and Portuguese fiction texts: i.e., arrow (e) in figure 1. In what ways do the two differ? In one study, Frankenberg-Garcia [12] observed that contemporary native-English writers used over eleven times more loan words than their native-Portuguese

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counterparts. Also, while the former made use of loan words from thirteen identifiable languages, the latter only used loans from English, Latin, French and German.

– Está a dar uma festa? – perguntou. «Having a party?» he said. … faz tempo que não vejo Karl Kroop nas festas da faculdade.

… you don't often see Karl Kroop at faculty social gatherings.

... semelhante ao som de um antigo sistema de altifalantes numa festa de aldeia ...

... like the sound of an old-fashioned tannoy system at an English village fete …

... os ciclos anuais eram marcados por festas de família

... ... annual cycles were punctuated by family occasions …

Na festa do Corpo de Deus, dizia ela, toda a aldeia da família se associava ...

At the feast of Corpus Christi, she said, her family's whole town combined …

... os cultos, as festas, as religiões que floresciam na sua mocidade.

… the cults, festivals and religions that had flowered in his youth.

Toda a vida ela sonhara a festa. She had dreamed of a reception all her life. ... Tu Bisvat é o nome de uma festa judaica ... ... Tu Bisvat being the name of a Jewish holiday … Ela transou com o garoto Ritchie na festa de Ano Novo. She had it off with young Ritchie at the New Year's Eve do. ... não se queria meter em festa alheia ... … not wishing to interfere in other people's celebrations … ... não tem graça nenhuma, mas, para o resto dos filiados, é uma festa ...

… is no kind of fun; but for the rest of the members it's a ball …

... será tudo festa e foguetes! … it's all feasting and fun!´

... numa pequena festa dada pela tia ... at a little entertainment given by her aunt «É sempre Páscoa, a festa da Passagem» – replico. «It is always Passover,» I reply. como se tivessem consciência de estarem a participar em festa alheia.

as though conscious of being present at someone else's event.

Tentou estender a mão para me fazer uma festa. She tried to stroke me with her hand Por pouco não lhe fiz uma festa nas orelhas I nearly tickled him under the ears. Fiz-lhe uma festa na cabeça ... I patted him on the head …

Figure 4 – Selected parallel concordances from Compara for festa.

Comparing translated and untranslated language

Bidirectional parallel corpora can also be used to compare translated with untranslated language, i.e., arrows (c) and (d) in figure 1. Intuitively, many people are aware that translated texts do not read like texts that have been originally written in a particular language. But in what ways do they differ? A very simple study that can be carried out using a corpus like COMPARA is to examine the relative frequency of certain words in source texts and translations. Figure 5 summarizes the distribution of diferente(s), simplesmente and the verb rezar in the Portuguese source texts and translations of COMPARA 7.04. As can be seen, diferente(s) is two times more frequent in translated Portuguese, while simplesmente occurs three times as often. The lemma rezar on the other hand, is more frequent in texts originally written in Portuguese.

Original Portuguese Translated Portuguese diferentes(s) 15.4 30.7 simplesmente 5.1 15.6 lemma "rezar" 12.4 5.6

Figure 5 – Relative frequency (per 100 thousand words) of words in original and translated Portuguese.

There are many other studies that can be carried out to compare translated and untranslated language. Frankenberg-Garcia [12], for example, found that while translated Portuguese contained more loan words than original Portuguese, untranslated English had more loans than translated English. Using the British National Corpus and the Translational English Corpus, Olohan and Baker [13] found that the syntactically optional relative pronoun

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that following the reporting verb tell occurs more frequently in translated than in untranslated English. Frankenberg-Garcia [5] replicated these findings using the translated and untranslated English component of COMPARA 2.2. Examining the characteristics of translated texts

A fourth type of study that can be carried out using a bidirectional parallel corpus like COMPARA involves examining the characteristics of translated texts, i.e., arrow (f) in figure 1. Multidirectionality is important here, for what might be a characteristic of the translation of language X into language Y may not apply in the translation of language Y into language X, or of language X into language Z. To put it differently, in order to find out whether translated texts share certain features irrespective of the translation languages involved, it is important that more than one translation language pair be analysed. Otherwise, the results may be skewed. In a study using a purposefully balanced sub-corpus of COMPARA where an attempt was made to cancel out the language-dependent bias of word counts, Frankenberg-Garcia [14] found that translations tended to be longer than source texts in both the English-Portuguese and the Portuguese-English directions. Several other studies concerning the search for translation universals are discussed in Maurenen & Kujamäki [15]. Concluding remarks

People have different opinions about translation and remarks about what translations are or what they should be are often controversial and full of allegations based on anecdotal evidence. Without proper empirical investigation, it is not possible for theory to advance. The present paper attempted to show how a bidirectional parallel corpus and corpus techniques can be used to analyse translation data from different perspectives and for different purposes, in ways than would not have been possible before the existence of computerized language corpora. It is hoped that this brief introduction to COMPARA and to some of the ways in which it has been used in translation practice and research will encourage many other uses of the corpus. References [1] Johansson, S., J. Ebeling & S. Oksefjell, English-Norwegian Parallel Corpus: Manual,

http://www.hf.uio.no/iba/prosjekt/ENPCmanual.html, 1999 [Access Date 7/7/2000] [2] Christ, O., B. Schulze, A. Hofmann & E. Koenig, The IMS Corpus Workbench: Corpus Query

Processor (CQP): User's Manual, Institute for Natural Language Processing, University of Stuttgart, March 8, 1999 (CQP V2.2).

[3] Santos, D. «DISPARA, a system for distributing parallel corpora on the Web», in N. Mamede & E. Ranchhod (eds.), Advances in Natural Language Processing: Third International Conference, Proceedings, Berlin/Heidelberg: Springer-Verlag, 2002, pp. 209-218.

[4] Santos, D. & S. Inácio. «Annotating COMPARA, a grammar-aware parallel corpus», in N. Calzolari, K. Choukri, A. Gangemi, B. Maegaard, J. Mariani, J. Odjik & D. Tapias (eds.), Proceedings of the 5th International Conference on Language Resources and Evaluation (LREC'2006 ) Genova, 2006, pp. 1216-1221.

[5] Frankenberg-Garcia, A. «Using a parallel corpus to examine English and Portuguese translations», paper presented at Translation (Studies): a crossroads of disciplines, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, November 2002.

[6] Ribeiro, G. & M. C. Dias, «Two Corpus-based Studies on the Translation of Adjectives in English and Brazilian Portuguese», in P. Danielsson & M. Wagenmakers (eds.), Proceedings of the Corpus Linguistics 2005 conference, Birmingham, UK, 14-17 July 2005, ISSN: 1747-9398.

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[7] Specia, L. «A Hybrid Model for Word Sense Disambiguation in English-Portuguese Machine Translation», Proceedings of the 8th Research Colloquium of the UK Special-interest Group in Computational Linguistics (CLUK-05) (Manchester, 11 January), pp.71-78.

[8] Specia, L, M.G.V. Nunes & M. Stevenson, «Exploiting Parallel Texts to Produce a Multilingual Sense Tagged Corpus for Word Sense Disambiguation», Recent Advances in Natural Language Processing (RANLP-2005), Borovets, Bulgaria, 21-23 September 2005.

[9] Frankenberg-Garcia, A «COMPARA, language learning and translation training», in B. Maia, J. Haller & M. Ulyrch (eds.), Training the Language Service Provider for the New Millennium. Porto: FLUP, 2002, pp.187-198.

[10] Frankenberg-Garcia, A. «Lost in parallel concordances», in G. Aston, S. Bernardini & D. Stewart (eds.), Corpora and language learners. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2004, pp.213-229.

[11] Frankenberg-Garcia, A. «Pedagogical uses of Monolingual and Parallel Concordances», English Language Teaching Journal 59.3, July 2005, pp.189-198.

[12] Frankenberg-Garcia, A. «A corpus-based study of loan words in original and translated texts», in P. Danielsson & M Wagenmakers (eds.), Proceedings of the Corpus Linguistics 2005 conference, Birmingham, UK, 14-17 July 2005, ISSN: 1747-9398.

[13] Olohan, M. & Baker, M. «Reporting that in translated English: Evidence for subconscious processes of explicitation?». Across Languages and Cultures 1(2), 2000: pp.141-158.

[14] Frankenberg-Garcia, A. «Are translations longer than source texts? A corpus-based study of explicitation», Third International CULT (Corpus Use and Learning to Translate) Conference, Barcelona, 22-24 January 2004 and CIC-ISLA Working Papers, Lisbon: ISLA, 1-2004, pp. 2-9.

[15] Mauranen, A. & Kujamäki, P. (eds.) Translation Universals. Do they exist? Amsterdam: John Benjamins, 2004.

BIOGRAPHICAL NOTE

Ana Frankenberg-Garcia holds a PhD in Applied Linguistics from Edinburgh University and is an auxiliary professor at ISLA, in Lisbon, where she teaches English, translation and the use of corpora in applied translation. She is joint project leader of the COMPARA parallel corpus of English and Portuguese, a public, online tool developed at Linguateca with funding from the Portuguese Foundation for Science and Technology. Her current research interests focus on the use of corpora for language learning and translation studies, parallel corpora, corpus usability and user behaviour, learner autonomy, crosslinguistic influence and second language writing

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Putting the Reader in the Picture: ‘Screen Translation’

and Foreign-Language Learning

Maria da Conceição Bravo Universidade do Algarve, Portugal

[email protected] Abstract Audiovisual Translation (AVT), in the form of subtitles, can be regarded as a mediator of cross-cultural communication and an aid in foreign-language learning. This paper focuses on intralingual subtitles and the language competences observed with a sample of foreign learners of Portuguese (of mixed linguistic backgrounds) where audiovisual materials with and without intralingual subtitles were used. The study indicated that the presence of subtitles provided more comprehensible language input, for both the reading and listening skills, facilitated effective self-study and was regarded as a motivating tool to use. Key words: intralingual subtitles; foreign-language learning. Introduction

Screen translation is generally taken to mean subtitling and/or dubbing but there are other forms of language transfer currently used by the audiovisual industry such as: narration, free-commentary, voice-over and captioning or intralingual/teletext subtitling.

Throughout this article the terms captions, teletext and intralingual subtitles all refer to closed captions – the textual discourse normally created for hearing-impaired viewers. The Study

The aim of this study was to test the usefulness of the option of same-language subtitled viewing material for foreign-language learning whilst accommodating learners with different interlanguages (from different interlingual backgrounds), different learning styles (also stemming from the traditional mode of translation in their country of origin) and different needs (subjects’ profiles are discussed in subsection ‘The Sample’).

It also aimed at making learners aware that they can adapt this audiovisual learning resource to their own particular needs and styles. We hoped to show that a within-subjects examination might demonstrate how each condition treatment has an effect on students’

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performance in different vocabulary tests and overall comprehension (cf. concept of ‘effect’) 1.

Another objective was to try to assess which types of programmes especially need subtitles for comprehension purposes. Owing to space constraints, the questionnaires, tests and task sheets could not be included here.

Given the students’ different interlingual backgrounds, a brief questionnaire on their television-viewing habits and preferences was administered at the start of the study to assess their reactions to subtitled television programmes. At the end of the study a similar questionnaire was again administered to test for possible significant changes regarding attitude and to test for students’ perception of knowledge gained via the viewed material, with or without subtitles. These perceptions were gathered by means of students’ self-report technique whereby they expressed their reactions, comments and opinions. Examples of such student comments and reactions can be found in subsection ‘Results’.

The viewing material consisted of a variety of genre, presentation, content, style and pace. The same programme type, but different passages, was shown once with subtitles and once without. Tests were administered during or after each viewing session to test for word recognition, word meaning and general comprehension of programme content. Subjects were asked to consider the degree of their dependence on the written text (when available), by means of a direct question at the end of some task-sheets.

Thus, the effects of using Portuguese subtitles or no subtitles with Portuguese language soundtrack on students’ listening/reading comprehension were tested. The present study differs from previous research on intralingual subtitling in that the same informants are tested on both conditions – subtitled and non-subtitled materials. It also addresses a different target language – Portuguese.

Our own position in this study was one of observer and at the same time part of the experimental protocol. We handled the few minutes of the viewing sessions and post-viewing questions/tests.

Research Questions 1. Do students react more or less favourably to subtitled television programmes

depending on their country of origin and foreign language policy in that country? 2. Do Portuguese-language DVD soundtrack materials with or without Portuguese-

language subtitles affect students’ listening/reading comprehension?

The Sample The sample consisted of a convenience or opportunity sample insofar as participants

possessed certain key characteristics convenient for the purpose of the investigation, apart from the relative ease of accessibility (Dornyei, 2003). The criteria to be met were: diversity of language backgrounds, some knowledge of the L2/FL and availability during the month of August (pure beginners were not considered, as well as those of Portuguese descent or having immediate family members fluent in Portuguese).

The participants were a group of 42 students enrolled at the University of the Algarve for the Summer Course in Portuguese as a Foreign Language (Português Língua Estrangeira). After an initial placement test consisting of written, grammatical exercises and an oral interview, implemented by the department’s language teachers, the students were divided into four levels of competence: beginner, elementary, intermediate and advanced.

The group of beginners (10) was not considered appropriate for our study since there is evidence, in other documented research, that a minimum level of foreign-language __________ 1 Andrew Chesterman (1993: 13) defines ‘effect’ in the empirical study of translation effects, as "a change of

mental state (emotional, cognitive, etc.) in the reader". This he designates as a proximate effect, not directly observable. Some secondary effects are defined as the subsequent actions and are observable; can also be called behavioural effects. "Other effects are less easily observed (effects due to an increase of knowledge, an aesthetic experience, etc.)".

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proficiency is necessary for this resource to be of significant benefit (cf. Danan, 2004; Neuman & Koskinen, 1992; Lambert & Holobow, 1984). The remaining thirty-two students distributed over the three levels: elementary (12), intermediate (11) and advanced (9) constituted our groups of informants. In the advanced group, a participant from Canada, of Portuguese descent and an almost native-speaker, was also not considered. The subjects’ ages ranged between 20 and 66, although the average age was 23 (23 participants: 71.8 % between the ages of 20 and 28; 4 in the 30’s – 12.5 % and 4 between the ages of 50 and 66, also 12.5 %). The most frequent mother tongue was Italian (13 – 40.6 %) followed by Spanish (8 – 25 %). Other mother tongues were French, German, Dutch, Flemish, English, Bulgarian and Japanese. Most of the subjects were university students, mostly in Language or Communication courses and those not studying already held a university degree. A few had Portuguese language as a subject in their degree, but not necessarily as a major. There were 23 female subjects (72 %) and 9 male subjects (28 %).

Setting The research setting was established at the University of the Algarve as it provided a

group of informants with mixed language backgrounds, thus providing an environment in which our first research question could be addressed. Also, the geographical setting allowed the researcher to personally implement the tasks and tests/questionnaires, as she teaches at this institution and obtained permission to carry out the study. An added advantage to this personal intervention was the possibility presented to collect additional data from daily observations during the tasks as well as students’ verbal feedback on the activities, in an informal manner.

Materials In order to expose students to a variety of genres and pace in authentic language, a

compilation of Portuguese-language viewing material was made, consisting of: subtitled and non-subtitled excerpts of a musical programme, a dramatic feature film, cartoons, a cartooned news bulletin, a documentary and a soap opera. They presented a high audio/video correlation in which the pictorial images corresponded fairly closely to the content of the soundtrack and the captions. Exceptions were the informative programme (documentary – "Consigo") on the Lisbon underground and the elderly population in the city, and the political cartoons – "Contra-Informação" – in news format (here the pictorial information was reduced but soundtrack and subtitles, when in that mode, were in synchrony).

Portuguese public television services are operated by RTP (Rádio Televisão Portuguesa, which has two domestic channels, RTP1 and RTP2 and external services – RTP África and RTP Internacional) and the commercially independent channels SIC and TVI. Captioned/teletext subtitled programmes became available in the public channels in 1999 and on the two private channels in 2003. The number of available subtitled teletext programmes was, at the time of this study, as follows: a total average of 5 daily programmes in both public channels and 4 in the two private channels. In Portugal, teletext subtitles are identifiable by the symbol and accessed on teletext pages 887 and 888 (as per figures 1 and 2).

The first and foremost criterion for choosing the viewing materials was that they should be from contemporary authentic sources. By ‘authentic’ we mean produced in Portuguese for a native-speaking audience of Portuguese and not designed for learners of Portuguese as a foreign language. The value of authentic text to language learners as opposed to materials manipulated for pedagogical purposes has long been recognized (eg. Porter and Roberts, 1981).

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Figure 2 – Teletext subtitles on screen. Figura 1 – Teletext symbol only.

Another criteria to be met was that the subject matter of the segments should be relevant and of interest to the average student in the groups, bearing in mind the average age group but also the sui generis context in which these courses are held. By this we mean that students enrolling in these summer language courses, based on previous knowledge and experience, are interested in learning the foreign language but also extremely motivated in "taking in" as much cultural information as possible.

After selecting the segments to be viewed we asked the three language teachers to view them and evaluate them on comprehensibility of the language and overall appropriateness. Apart from two segments that had slight background noise interference, the others were considered appropriate. The corpus consisted of six diverse genres, each genre containing a segment with captions and a segment without captions. These different genres depicted different speech act situations. Each segment was between 4 – 6 minutes in length and altogether were the following:

- "The Symphonic Concert by Madredeus" recorded live at Stadsschouwburg Brugge

(musical concert). The creative use of language in this segment contained lyric speech, with added elements of repetition, rhyme and rhythm.

- "Floresta Mágica" (animated feature film). This is a light comedy with layer of voice characterizations of animals and plants. Simple register. Although this is not a Portuguese production, the film had been dubbed for cinema and DVD, with a Portuguese native-speaking audience in mind.

- "Adeus, Pai" – dramatic feature film with monologic and dialogic situations, with focus on register and emotional tone.

- "Contra-Informação" - political cartoons in news bulletin format. Emphasis is on situational humour, tone of voice and irony. The caricature puppet figures in this production target the field of political or public current affairs (both national and international), as well as important sports events and well-known personalities. It follows the same format as the news bulletins on all the channels. Serious matters are handled in a comic, satirical manner. National news programmes or regional news were not chosen, as they are not subtitled; they imply a quasi-live process of subtitling.

- "Consigo" – documentary feature with monologue speech, emphasis on narrative details, reported sociological facts and events in the city of Lisbon.

- "Morangos com Açúcar" – contemporary popular soap opera with dialogic situations, focusing on teenage interpersonal relationships. Light, fast-paced register, loaded with cultural references.

The subtitles for both feature films were standard translation subtitles found in foreign

films ("Adeus, Pai" is a Portuguese production but "Floresta Mágica", as mentioned earlier, is Spanish; both offered the option of Portuguese subtitles for Portuguese soundtrack). The

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subtitles for the other programmes, although identical in format, were teletext subtitles, created purposefully for hearing-impaired viewers. It is worth mentioning that not all teletext programmes in Portugal offer the supplementary features of references to sounds, noises, etc.; some merely resemble conventional interlingual subtitles.

Methodology The first task was an initial questionnaire to find out students’ television viewing habits,

in terms of subtitled or dubbed material. The questionnaire contained simple wording items and closed-ended questions, except for one item where informants were asked to elaborate a little further should they normally travel to places or study in places where Portuguese is spoken. Apart from this item, respondents did not have to produce any free writing but just choose one of the alternative answers supplied. As students had different levels of foreign-language proficiency (Portuguese), this seemed the most appropriate question type. The questionnaire was shown to the three language teachers for their feedback on coherence, explicitness and accessible language for all levels of proficiency. The terms ‘subtitling’, ‘teletext’, ‘dubbing’, L1 and L2 were duly explained before completion of the first questionnaire. Additionally, the initial and final questionnaires and task-sheets for three segments were tested and validated with a small group of foreign students (learning Portuguese) at a Lisbon university, in July.

The aim of the study was explained to students, as viewing sessions were to take place during their class time. However, their participation in the questionnaires and post-viewing tasks would be totally voluntary. We asked if there were any objections to participating in this activity and no objections were raised in the three groups of students.

To ensure maximum confidence regarding participant identification we established that an identification code be created on the basis of: group level – Advanced, Intermediary or Elementary –, and individual nationality. Thus, a 5-character code would serve to indicate: the student’s level, by using the first letter – A, I or E –, followed by 3 characters, letters or digits, of personal choice and a last letter indicating the nationality 2. For example, one of the students created the code A123i, indicating that he/she was in the Advanced level, was informant ‘123’ and was of Italian nationality. Considering the language of instruction was Portuguese, the nationality codes appear as: a-alemão (German), e-espanhol (Spanish), h-holandês (Dutch). We also checked for possible repetitions of codes amongst the participants. In the case of only subject in a particular nationality, the anonymity was reduced but throughout the study names were never associated to nationalities or codes. Thus, the promise of confidentiality was ensured and to avoid further questions on demographic data such as age, gender, educational status, academic major and occupation, the course coordinator allowed the researcher access to the file with the participants’ course enrolment documentation.

At the beginning of each viewing session the subjects were briefly told about the content of the material and corresponding awareness raising and orientating tasks were handed out before viewing took place. These were content comprehension questions designed to test the level of the students’ comprehension of the language of each segment and to provide quantitative data to compare the captioned and uncaptioned versions of the materials. Considering the diverse native-languages of the students the comprehension checks had to be written in the target language, thus wording of the questions was as close to the lexicon of the original segments as possible. Students were asked to read through the questions. The researcher clarified any existing doubts.

Homogeneity (as far as possible, given that segments were different) between both viewing conditions was important as we hoped to assess possible changes in opinion regarding attitude towards subtitled material and, to analyse the difference in performance

__________ 2 An adaptation from Dornyei, 2003: 94.

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under the two separate conditions, whilst communication settings remained identical, other than the presence or absence of captions/teletext subtitles.

All viewing sessions were held in the classrooms at the University of the Algarve, using a standard DVD player and a TV set.

A total number of twelve testing segments, two questionnaires and two vocabulary recall/retention tests were held between August 2 and August 22. The initial questionnaire was held on the August 2 and the final questionnaire on August 22.

The first "Vocabulary Recall and Retention" test was administered after the first three genre types had been viewed, halfway through the course. The second "Vocabulary Recall and Retention" test was set after viewing the six text types, at the end of the course. Drawing on Garza (1991) the questions were given in advance of the task viewing, as this was not a memory test but an evaluation of content comprehension. All the subsequent segments and task sheet completion proceeded in the same manner. The data generated from these task sheets were then tabulated and organized into tables for easy comparison.

The scoring system was constructed with one point awarded for each correct answer in the task sheet. Task-sheets generally had 10 items in the form of multiple-choice answers to questions or incomplete statements that required students to provide the missing information. Exceptions were the musical segments, which contained 15 items each and to the first Vocabulary Recall and Retention test, also with 15 items. Results

a. Students’ perceptions on subtitled material

The first collected set of data and results were the students’ opinions regarding the use of teletext subtitles. Amongst the total of 32 students, at the start of the course, there were 10 subjects who regarded teletext subtitles as distracting or disturbing. The remaining 22 considered it a useful resource. It is useful to reiterate the language policies in the European context of the countries from which the participants originate: the favoured mode in Holland and in some parts of Belgium is subtitling. In France, Germany, Spain and Italy, the preferred alternative is dubbing. Bulgaria seems to dub most of its programmes. Japan prefers subtitling and in America, the Federal Communications Commission issued regulations requiring most programmes to have captions by the start of 2006 3. Finally, Venezuela is a country of dubbing preferences.

The reading of subtitles, whether the viewer is used to it or not, appears to be an automatic activity resulting from the priority of visual over verbal input (d’Ydewalle, Praet, Verfaillie & Van Rensbergen: 1991). When viewers who are not used to subtitles complain of the experience it is because processing subtitles requires more cognitive resources (Danan, 1992: 499).

Examples of some of the comments written in the first questionnaire, accounting for their negative views on subtitles are given below.

- "Distraem, porque se estou lendo as legendas não vejo o filme!" (IssaI) [They are distracting because if I am reading the subtitles I cannot watch the film.]

- "Se lemos as legendas não podemos ver bem o filme, nem ouvir a fala dos personagens." (I777I). [If we read the subtitles we cannot watch the film properly, nor hear the characters’ speeches].

__________ 3 For complete FCC rules regarding Spanish, English and emergency captioning, visit

http://www.cpcweb.com/Captioning/govt_regulations.htm

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The 10 subjects who viewed subtitles in a negative light were 8 from Italy and 2 from Spain, countries with a dubbing tradition. At the end of the 12 viewing segments the results indicated that only one Italian subject remained with an unaltered opinion.

Regarding the subjects’ opinions that reading subtitles distracts from hearing or from the visual image, eye-movement research on Dutch-speaking viewers suggests that viewers are able to switch from the image to the subtitle without any effort.

Also, reading the subtitles does not distract the viewers from hearing the soundtrack, as it is an automatically elicited behaviour (d’Ydewalle et al.: 1991).

Again some remarks (the verbatim original statements are followed by a corrected translation) from the students who changed their opinions and stated the following:

- "São úteis para um estrangeiro que precise de aprender a escrever português" (EabcI)

[They are useful to a foreigner who needs to learn to write in Portuguese]. - "Sim, acho que as legendas podem ajudar mas prefiro fazer com DVD onde eu posso acabar

ou começar quando eu quero" (EanaI). [Yes, I believe subtitles can be helpful but I prefer to use DVD on my own as I can start and finish when I like].

- "Mudei, porque antes achava que as legendas perturbassem as aulas. Só quando já tinha mais vocabulário comecei a apreciar a utilidade das legendas" (IcecI). [I changed my mind as before I thought subtitles would disturb the lessons. Only when I had

acquired more vocabulary did I start to appreciate the usefulness of subtitles]. - "prefero leer as legendas que ouvir a tradução por causa da pronuncia" (IclaI).

[I prefer to read the subtitles to hearing the translation because of pronunciation]. However, amongst the positive perceptions and answers, there was one French

student who said: "ao início achava que as legendas podiam ser muito úteis mas agora já não tenho tanta certeza; fico a saber quanta informação ainda estou a perder". [At first I thought subtitles could be useful but now I am not so sure; I am aware of how much information I still miss when they are not there]. Raising awareness was one of our objectives but perhaps this student’s disappointment stems from his awareness of text dependence. Our conviction is that over a lengthier period of time listening comprehension will improve and text dependence will diminish.

As expected, in the musical segments all three groups performed better in the subtitled condition. The total number of students, 32, totalled 344 correct answers out of a possible total of 480. The aural comprehension in these segments was less accessible because of less clear articulation of sounds and rhythm.

The segments of the animated film produced unexpected data. Several students – 12 out of 32 (37.5 %) – scored higher in the non-subtitled mode. After viewing the second segment without subtitles an additional item on the task sheet queried the ease or difficulty of each of the two segments. Examples of participants’ responses (here translated) from subjects who got more correct answers in the non-subtitled mode were:

- "Sem legendas podia ver melhor o filme" (AmecE). [Without subtitles I could watch the film better].

- "Prefiro ver os filmes sem legendas; posso olhar melhor as cenas"(IclaI). [I preferred to watch the film without subtitles; I could look at the scenes better].

- "Eu não olhei de propósito para as legendas, para poder ver melhor as imagens, escutar melhor as personagens e aproveitar o filme" (I777I). [I deliberately avoided looking at the subtitles, in order to concentrate on the pictures and sound and to enjoy the film].

The last remark was from the student in the Intermediate group who scored zero in

both segments. Given that this was a well-known film to most of the students, they were familiar with the content and, especially the Spanish-speaking students and the Italians, did not concentrate on the dialogues too closely. The task-sheet for the captioned mode tested

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comprehension of idiomatic expressions. Overall there were only 36 % correct answers, a total of 115 out of 320. The score with the non-captioned segment indicated a similar result – 126 correct answers, amounting to 39 %. The biggest deviance occurred in the Intermediate group, with 34 correct answers in the captioned segment and 50 correct answers in the non-captioned one. A plausible explanation is that the Advanced group coped better than the other two groups in deciphering the meaning of idiomatic expressions. The Intermediate group had difficulty with the meaning of the idioms, albeit with subtitles, and performed better in the second task sheet, which just required general understanding of the plot. The Elementary group performed poorly in both modes – 30.8 % of correct answers in the subtitled mode and 32.5 % in the non-subtitled – indicating that the content was too far above their level of comprehension. We are aware that the aimed-for homogeneity between both segments was not achieved in this case, as comprehension language checks differed substantially from the subtitled to the non-subtitled mode.

b. Overall results

The table below indicates the percentages of correct answers for the different programmes. We have placed the subtitled mode and the respective results in descending order. Thus, the news programme had the highest percentage of correct answers – 80 % and the animated film the lowest – 36 %. With the exception of this last programme – the animated film- results for all other text types indicated the beneficial presence of subtitles, which in some cases, led to more than twice the number of correct answers compared to the same text in the non-subtitled mode.

Table 1 – Percentage of correct answers.

Programme / subtitled % Programme / no subtitles % News 80 % News 28 %

Feature Film 72 % Feature film 39 %

Musical 71 % Musical 27 % Documentary 64 % Documentary 44 % Soap Opera 54 % Soap Opera 33 %

Animated Film 36 % Animated Film 39 %

c. Vocabulary recall and retention tests The first test, implemented after six days of viewing segments, was designed to assess

participants’ degree of vocabulary recall and retention. It covered items taken from the first three categories: musical segments, animated film and the feature film but only in the subtitled versions. Thus, this was a delayed written vocabulary production post-test.

The results were very similar to those obtained in the second test, which followed the same format but covered the next three texts: news bulletin, the documentary and the soap opera (See tables 12 and 13 on the next page. Test 1 contained 15 items and Test 2 only 10). A note on these type of tests seems appropriate: Linda Jones (2004: 4) explains that although recognition and recall tests are often used to examine students’ vocabulary knowledge, test and measurement studies indicate that they are different forms of testing and demand separate processing strategies. Recognition tests usually involve multiple-choice activities and students select a correct response from a list of alternatives given. Recall tests offer no answers and require students to call upon their memories of the newly

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acquired vocabulary and produce their own responses. In the case of the two delayed vocabulary tests in this study, there was a mixture of multiple choice items and production items. Discussion

The accepted fallacy that the language policy in a country meets with the target audience expectations has been somewhat shaken with the results here. It seems acceptable to conclude that within such a small representativeness, generalizations regarding our first research question cannot be made. Thus, not all subjects coming from dubbing countries reacted negatively to the subtitled material. Amongst the French, German, Italian and Spanish, 15 subjects viewed subtitled material favourably from the start of the course, contrary to our expectations and the subjects from subtitling countries all claimed to regard subtitled material favourably, as expected. The task-sheet data indicated participants’ positive response to intralingual subtitles but we are aware of the limitations of such a reduced sample.

Also, bearing in mind Chesterman’s warning of "the sampling problem" (1993: 16) how typical are these participants in terms of TV viewing? 4 They ranged from some to quite a high proficiency in the FL – Portuguese – unlike most viewers from the wider set of the general public of viewers. Their motivation is different to that of the average TV viewer, considering their enrolment in a foreign-language course abroad.

Furthermore, we cannot take for granted that current policies in the different countries of our sample are policies tailored to the requirements of the target population. From comments the students made it was clear that there have been changes in audience’s preferences and these have not been borne in mind in the policy-making. For example, it seems, based on informal feedback from the participants, that in France and Germany the younger audience enjoys listening to original foreign products and would prefer to have more available subtitled material.

Films frequently offer both alternatives but TV productions remain mostly dubbed. In Bulgaria a similar situation was related.

Judging from the percentages of correct answers in the subtitled segments, compared to the poorer results in the non-subtitled ones, subtitled material seems to have affected listening/reading comprehension positively. Although some participants stated their preference for ignoring the subtitles in the animated film, their performance in the non-subtitled mode did not improve. Thus, it seems reasonable to hypothesize that with this particular text type, and with some subjects, subtitles produced no effect on their listening/reading comprehension.

The materials without subtitles produced low performances in the task sheets, thereby having no effect on the listening comprehension.

Although we did not carry out formal auditory exercises to assess the listening skill specifically, overall comprehension was evaluated and the listening parameter is a necessary component for such comprehension to occur.

The results of this study, although not generalizable, have important implications for captioned TV as a means of providing more comprehensible input.

This can be inferred from the results in the subtitled conditions, despite the level of competence in L2/FL influencing the students’ ability to acquire vocabulary through context. Direct teacher intervention with specific instructional strategies sensitive to their level was

__________ 4 In discussing investigation on the effects a given translation has on readers, Chesterman raises the problem of

typicality or atypicality of readers. Often, the subjects chosen for samples are highly atypical as they belong to professional or social subsets that differ from the wider set of the general public. They have "an in-built focus [...] unlike most naive typical readers" (1993: 16). The same problem can be raised in the selection of any sample of subjects.

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necessary (Neuman & Koskinen, 1995: 104). Also, as audiovisual material is a medium with an invariant pace, students at times would have benefited more if the opportunity within a session to review the segments had been possible.

The text types that most needed the support of subtitles were the segments on music, the news with the puppet figures and the soap opera. Music posed difficulty because of the manner of word articulation and the other two presented problems of culture and lack of knowledge of plot and characters.

In summary, we can conclude that exposure to subtitled audiovisual materials had a ‘proximate effect’ on some participants – a change of opinion regarding the benefits of subtitles – and some ‘secondary effects’ on several subjects. The observable effects were: we noticed that some of the participants jotted down words/phrases during the viewing and sometimes after the viewing and after answering the question sheets. They then consulted dictionaries to look up unknown meanings of words. The less observable ones appeared as an increase in knowledge and their comments on how they had enjoyed the DVD sessions, an aesthetic experience (at least for most of them).

Also worth considering is whether the mixed source languages, ranging from Romance languages to Bulgarian and Japanese can address the issue of language-generalizability (cf. Garza: 1991 on Russian). Research on viewing programmes in a foreign language that sounds familiar to the viewer proved that language and vocabulary acquisition were higher than when the flow of sounds is more unfamiliar. D’Ydewalle & Pavakunun (1997) exposed Dutch-Belgian high school children to subtitled television programmes with soundtracks in Afrikaans and German, languages similar to their mother tongue. Those exposed to soundtracks in Chinese and Russian had a poorer performance than the first group. Conclusions

Our first conclusion is that flexibility should be advocated in the selection of the method in screen translation – dubbing, subtitling, voice-over, etc. – which best fits the audience and their needs. Countries with a dubbing tradition should be sensitive to the changes in the preferences of their viewing audiences.

Secondly, we believe the use of captioned and non-captioned audiovisual material helped learners of Portuguese "acquire more of the cultural script" that native speakers share (Price, 1983: 8). The order or presentation of the video materials for the two condition treatments was generally the same – first captioned followed by non-captioned, although with the segments "Contra-Informação" the order was reversed. The first condition, the one that most facilitated comprehension and thus, language learning, could be interpreted to indicate that students would benefit from viewing only segments with captions. As our study only contemplated one instance of a different order of presentation, further research would be needed to find out if viewing a non-captioned segment first, followed by a captioned segment produces different results.

Also, as with any limited study, similar captioning research should be further conducted amongst monolingual foreign students and amongst a larger group of informants. It is also hoped that in the future these findings can be transferred and applied to a distinct current reality in Portugal: the significant number of Eastern-European immigrants living and working in the country, mainly Ukrainians and Russians and having to learn Portuguese as a second language; awareness of the facility of teletext subtitles and their benefits would be a powerful aid to this portion of the population.

During class observation and in subsequent informal interviews it was noted how this pedagogical aid was regarded by learners and the information seems relevant for future studies: learners stated that it provided more comprehensible language input, that it facilitates effective self study and that it is motivating to use.

Furthermore, same-language subtitles can be used for a variety of purposes. In the advanced group, where subjects were more orally competent than subjects in the other

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levels, the reading word recognition and comprehension skills of the foreign-language could be improved through the availability of the teletext subtitles in the foreign-language. When listening skills are weaker and reading skills more advanced, foreign-language learners can rely on the teletext subtitles to improve their listening skills (as reported in Markham, 1999: 327).

We hope to have had students interacting with the materials, in this pilot study, and to have provided the group of 32 learners an opportunity for them to focus, not only on language but on the learning process itself. Also, that motivation and attitude awareness would lead learners to explore these technological resources as a learning device, to be done inside and outside the classroom and in an autonomous fashion. Given the time constraints in this small-scale study, we did not assist the viewers with more prescriptive guidelines to viewing nor were other related activities explored, as this was meant to be a quasi non-instructional setting. We recall Vanderplank’s views on this issue, based on his explanation of cognitive and affective domains:

The autonomous learner needs not only conscious and reflective control over the dynamic stream of speech which closed captions/teletext subtitles help to provide, but also a specifically educational orientation to viewing which may be assisted by active tutoring, task setting and an integration of activities using different media (1994: 119).

Acknowledgements A word of thanks to the three groups of foreign students of PLE – Português Língua Estrangeira –- at the University of the Algarve for their collaboration in the pilot study and their answers to the questionnaires and tests. The full detailed study can be found in the dissertation submitted in partial fulfilment for the Diploma in Advanced Studies in the Doctoral Program in Translation and Intercultural Studies at Universitat Rovira I Virgili, Spain. The television viewing segments were taken from the RTP and the TVI channels. Several attempts were made, via telephone and emails, for obtaining the broadcasters’ authorization for using the recorded materials solely for pedagogical purposes. To this date, and a year later, no formal response was received. The study was supported by a Portuguese Higher Education Grant – Formação Avançada de Docentes no Ensino Superior – 2/5.3/PRODEP/2003. References 1. Chesterman, Andrew, "From ‘is’ to ‘ought’: translation laws, norms and strategies", Target 5 (1),

1993, pp. 1-20. 2. Danan, Martine, "Reversed subtitling and dual coding theory: New Directions for language

instruction", Language Learning 42 (4), 1992, pp. 497-527. 3. Danan, Martine, "Captioning and Subtitling: Undervalued Language Learning Strategies", Meta 49

(1), 2004, pp. 67-77. 4. Dornyei, Zoltan, Questionnaires in Second Language Research. Construction, Administration and

Processing, Lawrence Erlbaum Associates, London, 2003. 5. d’Ydewalle, Géry, et al., "Watching subtitled television: Automatic Reading Behaviour ",

Communication Research 18 (5), 1991, pp. 650-666. 6. Garza, T., "Evaluating the Use of Captioned Video Materials in Advanced Foreign Language

Learning", Foreign Language Annals, 24, 1991, pp. 239-258. 7. Jones, Linda, "Testing L2 Vocabulary Recognition and Recall Using Pictorial and Written Test

Items", Language & Technology 8 (3), 2004, p. 122 onwards. Online access at http://www.questia.com

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8. Lambert, W., Holobow, N.E., "Combinations of printed script and spoken dialogues that show promise for beginning students of a foreign language", Canadian Journal of Behavioural Science 16, 1984, pp. 1-11.

9. Markham, Paul, "Captioned videotapes and second-language listening word recognition", Foreign Language Annals 32 (3), 1000, pp. 331-341.

10. Neuman, Susan, Koskinen, Patricia, "Captioned television as ‘comprehensible input’: effects of incidental word learning from context for language minority students", Reading Research Quarterly 27, 1992, pp. 95-106.

11. Porter, Don, Roberts, Jon, "Authentic listening activities", English Language Teaching Journal 26, 1981, pp. 37-47.

12. Price, Karen, "Closed caption TV: an untapped resource", MATSOL Newsletter, 1983, pp. 1-8. 13. Vanderplank, Robert, "Resolving Inherent Conflicts: Autonomous Language Learning from Popular

Broadcast Television, Barriers and Bridges: Media Technology in Language Learning, Peter Lang, Frankfurt am Main, 1994, pp. 119-133.

BIOGRAPHICAL NOTE

Conceição Bravo grew up in South Africa. Her interest in translation came as a necessary skill for foreign-language learning/maintenance stems from an upbringing in this culturally diversified and multilingual environment. She holds an MA in Postcolonial Studies and is currently finalising the Doctoral Program in Translation and Intercultural Studies at Universitat Rovira I Virgili, Spain. She teaches English Language and Culture in the Language Department at the University of the Algarve.

Return

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ICT in Conference Interpreting

Diana Berber University of Turku and Åbo Akademi, Finland

[email protected] Abstract Computers, new technologies, and in particular electronic tools – in other words, information and communication technology (ICT) – have made their way to impact profoundly our daily lives since the last few years of the twentieth century, and much more so in these first six years of the twenty-first century. The way of performing our work in every field has changed radically because of them. It is undeniable, however, that some professions have been affected to a larger extent than others. This difference provides the point of departure for a diachronic overview and then a synchronic study of the role of new technologies in conference interpreting, both simultaneous and consecutive. In the light of this, a survey of the use of new technologies and electronic tools by conference interpreters provides a necessary descriptive study, as a basis for a larger study on the use of new technologies and electronic tools by conference interpreters. The aim of this paper thus seeks to identify which of these tools and technologies are the core tools to be taught to students of conference interpreting in order to facilitate their insertion in the labour market. Within conference interpreting, we also intend to present the use of ICT in different domains in order to explain how separate specialties in the same profession can differ in their needs, preparation and performance. Key words: new technologies, conference interpreting, interpreting domains. Diachronic overview

In order to understand and appreciate the role of new technologies in conference interpreting, a historical perspective is necessary. We are taking here the term ‘new technologies’ in its broadest sense, meaning innovative technologies of various kinds (Stoll 2002:1), and the term ‘technologies’ as any means applied to improve the practice.

Histories of translation mention that the first form of translation was undoubtedly interpreting, sometimes called oral translation (García Yebra 1994: 28). Interpreting has long been acknowledged in writing: as early as 3000 BC the Egyptians already had a hieroglyphic for the activity of "interpreting". Interpreters are mentioned in the Bible, as Herbert (1952:1) notes, in Job and in Corinthians. Today it continues to be the most direct form of communication between two languages.

In spite of the above, it was translators who began to use new inventions early on, with the shift from hieroglyphics to alphabetical writing around five thousand years ago (García Yebra 1994: 12). Innovations continued not only with the method followed, but also with the materials translators worked with, as it went from writing on ephemeral materials such as

Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

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leaves, wood, and clay, to more permanent and practical ones such as copper and stone and later on parchment. Of undeniable importance for translation was the introduction of paper, a Chinese invention. It came first to Baghdad at the end of the eighth century, and was brought later to Europe through the Iberian Peninsula in the mid-thirteenth century during the regime of Alfonso X (Pym 2000: 80-81). The method used for translations in the Toledo School has been carefully studied by various scholars, among them Menéndez Pidal (1999: 68-69). In his description, we can identify a step that corresponds to a kind of inverse consecutive interpreting or a sight translation combined with translation from an oral text: a specialist in the source language (generally Arab) would translate the written text orally into the vernacular language (Romance), and another specialist would transcribe the oral text in writing in the target language (Latin).

Despite sporadic references to interpreters and interpreting by several authors of ancient times, a first recognition of the profession, together with the norms to ensure the availability of good interpreters, did not come until the Renaissance. This was due to the emergence of the interest of the humanists in foreign languages and because of the great European expeditions of the time, which led to contact with new languages and thus raised awareness of the value of a good interpreter.

But it was translation that received the next extraordinary boost, both technologically and quantitatively, as a result of the invention of the printing press by Gutenberg in the fifteenth century. Then again it underwent another very important change with the introduction of the typewriter in the 1870s, due to the role the machine played in the development of modern business. However, these two important introductions in writing technology did not change how interpreting is done even today. The only major change in interpreting in all that time, if we may say so, would have been the introduction of dictionaries around the 7th century BC in Assyria.

Consecutive and whisper interpreting (chuchotage) went on basically unchanged for hundreds of years until the first major step in the profession: the appearance in the twentieth century of equipment for simultaneous interpreting which helped have a true and explicit recognition of the interpreting profession and of the need for training for it. This was the first major technical solution for interpreting, which required special skills and specific training from the professionals. It emerged because of the concrete needs of the League of Nations. Due to the many languages involved in each plenary session, it was necessary to reduce the time for interpreting, which with the consecutive method had become cumbersome when there were more than two languages. The system, invented by Edward Filene, a Boston entrepreneur, and his partner Finlay, and developed by IBM, was first used at an International Labour Conference in Geneva in 1927. As revolutionary as it was, simultaneous interpreting was curtailed, as the League of Nations was facing enormous problems during the years before World War II. This proved to be a major setback for the profession for around 20 years. Simultaneous interpreting (SI) resurfaced for the Nuremberg Trials, and became the form par excellence of conference interpreting when in 1947 the United Nations adopted Resolution 152(11), by which simultaneous interpreting was instituted as a permanent service. (Bowen et al. 1995: 246-252; Codina 2006; and Roland 1999: 9-155).

It is only now, almost 60 years later, that we are witnessing the next truly radical step for the profession of the conference interpreter (CI), with the use of computers and new technologies, although one of the latter, remote interpreting, is not as new as we are led to believe: the UN already experimented with it in the seventies as Baigorri states (Codina 2006), but only today it is regarded as a real possibility. Synchronic study of the role of ICT in conference interpreting

ICT have been differentiated by Torres del Rey (2005: 110) into information technology (represented by software and hardware) and communications technology (represented basically but not only by the Internet). Within these, the two ICTs that have dramatically

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changed the working environment of the interpreter are remote interpreting (communications) and virtual learning environments (information) (Moser-Mercer 2005).

Enríquez and Austermühl (2003: 227) developed a typology for translation and localization technology, with an approach that reflects the needs that arise during the different phases of the translation process. We shall try to mirror their typology regarding what they denominate "knowledge tools", which are the ones that can be useful for, and are actually used by, conference interpreters (CIs). We are combining this with Melby’s (1998: 1) organization of translation tool functions by introducing interpreter training, and how ICT can help reduce the efforts identified by Gile in his Efforts model (Gile 1997/2002: 163-176). In Figure 1 we have grouped them into Interpreting Tools, Training Tools and what we have called Mode Tools, under which we have classified all distance interpreting.

Figure 1 – A typology of ICTs in relation to the stages of the interpreting process and the effort(s) they can benefit.

Programs to practice and develop skills

Tra

inin

g to

ols

Stages of interpreting process

Prep

arat

ion

Boo

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Post

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terp

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Prod

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terp

retin

g to

ols

Internet: parallel texts, on-line dictionaries, encyclopedias, terminology databases, e-mail

Commercial CD-Roms: dictionaries, encyclopedias, teminology data bases

Electronic norms manuals

DIY (do-it-yourself) corpora

Programs

Info

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ion

Tech

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Com

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Tec

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• Remote interpreting • Video conferencing • Telephone interpreting M

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tool

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The following are a few examples of programs or tools (some of which may not necessarily be available commercially, but are in the process of commercialization or of development), with the tasks and stages of the interpreting process they are associated with.

• Training tools: Blackbox program, Interpr-It program, IRIS database, Interpretations

program, all mentioned by Sandrelli (2003 and 2005), and DigiLab (Stoll 2002:5). • Information technology programs and tools for terminology and knowledge

management and development: terminology databases, DIY corpora, voice-recognition programs, LookUp © Professional, WevSleuth, and it is reported that interpreters also use translation-related terminology systems such as Trados Multiterm® (Stoll 2002: 3), Glossary, Word tables (Stoll 2005).

• Information technology information and communication tools, used mainly, but not exclusively, for pre- and post-interpreting work: Internet resources such as parallel texts, e-mail, on-line dictionaries and encyclopedias (several of which can be used simultaneously in a parallel search with systems like the PC-library ® of Langenscheidt [Stoll 2002:4], CD-Rom dictionaries and encyclopedias.

• Mode tools: remote interpreting, video-conferencing, telephone interpreting, notation systems.

In Figure 1, we discuss new technologies and electronic tools, so we must try to give

as clear definitions as possible of these concepts. For our purposes, from this point on "new technologies" are all the aids meant to

improve the process, preparation, or function of the product of the interpreter that are not used with or available within the computer. They are external, such as cameras, audio-visual recorders, television, mobile telephones, microphones, headphones, and pocket electronic dictionaries (not connectable to the computer, but independent), including wireless technologies.

"Electronic tools" are all the aids meant to improve the process, preparation, or function of the product of the interpreter that are used or available within the computer or through Internet, such as on-line dictionaries, encyclopedias, search engines, CD-ROMs whether commercial or do-it-yourself (DIY), and remote and video-conferencing.

We have undertaken a survey, which, given the amount of replies received (59) and having representatives from five continents, we feel has given us a meaningful sample that provides insight of the present use of new technologies and electronic tools in the profession.

We had respondents from 22 countries: Argentina, Australia, Austria, Belgium, Brazil, Canada, Croatia, Czech Republic, Denmark, Estonia, Finland, Germany, Italy, Japan, Kenya, Luxembourg, Mexico, Palestine, Spain, Switzerland, UK, and USA. The majority of our respondents come from Finland (18), while we had only one representative from most of the other countries. The reason is not as direct as one could think. The same questionnaires were sent to national associations of various countries, but Finns were particularly active in forwarding it to colleagues or in providing addresses of CIs they considered would be willing to participate in the study. This presents a problem when trying to analyze the differences of usage according to geographical locations, but we are showing the answers in percentages in order to overcome this inconvenience.

Table 1 shows that the largest group of respondents is from Western countries (EU-countries, new EU-countries, North America) with 75 % of the replies, followed by Latin America and non-EU countries, with 19 % of the replies. It should be noted that we have a total of 102 % because of the approximations of each percentage.

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Table 1 – Distribution of respondents by regions. ______________________________________________________________________ Regions with countries represented Percentage of total replies

(59)

______________________________________________________________________

Latin America (Argentina, Brazil, Mexico, 7 respondents in all) 12 %

North America (USA and Canada, 4 respondents in all) 7 %

EU countries (Austria, Belgium, Denmark, Finland, France,

Germany, Italy, Luxembourg, Spain, UK, 37 respondents in all) 63 %

New EU countries (Czech Republic, Estonia, 3 respondents in all) 5 %

Non-EU countries (Croatia, Switzerland, 4 respondents in all) 7 %

Oceania (Australia, 1 respondent) 2 %

Asia (Japan, 1 respondent) 2 %

Asia Minor (Palestine, 1 respondent) 2 %

Africa (Kenya, 1 respondent) 2 %

______________________________________________________________________

Although Finns were a majority of respondents, Finnish language ranked second, but it

is only natural because English is one of the working languages for most interpreters today: 48 respondents had English as one of their working languages, that is, 81 %.

We had 38 replies to the question of which ICT interpreters should master to be considered as potential candidates to be hired. The question asked for ranking the ICT required from a potential candidate from the most important (1) to the least important (4). Since some of the respondents just marked ‘X’ without ranking, we eliminated their answers because they could not be classified. Others continued the ranking after 4, so we have eliminated those responses from the table as well, leaving us with 29 valid responses from which Table 2 has been drawn.

There was no consensus about one single ICT being the most important that potential interpreters should master, but if we average the replies and convert them to a percentage, then the most important was ‘internet resources’ as an entire category including parallel texts, dictionaries, encyclopedias, terminology data bases, with an average of 7 responses, which represent 24 % of the total 29. Electronic norms manuals were marked always as being the least priority. Interestingly enough, DIY corpora received both top priority and least priority, although with a tendency to have more supporters as a priority.

Among the comments made by the respondents was that in one instance potential interpreters were left at their discretion to decide whether they used modern or classical tools and in two other cases the answers were "knowing how to use tools is not a pre-requisite", and "if the results are good the means are not considered important". These comments may show that usage and mastering of tools are not yet considered as essential training in the labour market.

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Table 2 – Ranking of electronic tools potential interpreters should master.

Order of importance

Tool 1 2 3 4

Most important Least important

Number of replies with the corresponding ranking

(Percentage of 29 respondents to the question)

Internet resources 14 (48 %) 4 (14 %) 1 (3 %) 1 (3 %)

Parallel texts 8 (28 %) 6 (21 %) 7 (24 %) -

On-line dictionaries 5 (17 %) 5 (17 %) 7 (24 %) 2 (7 %)

On-line encyclopedias - 2 (7 %) 2 (7 %) 10 (34 %)

On-line terminology data bases 8 (28 %) 7 (24 %) 3 (10 %) 2 (7 %)

Electronic norms manuals - - - 3 (10 %)

DIY corpora 5 (17 %) 5 (17 %) 3 (10 %) 2 (7 %)

CD-ROMs (comm.) - 1 (3 %) 5 (17 %) 4 (14 %)

CD-R dictionaries 4 (14 %) - 3 (10 %) 3 (10 %)

CD-R encyclopedias 1 (3 %) 2 (7 %) 1 (3 %) 2 (7 %)

CD-R terminology data bases - 4 (14 %) 1 (3 %) 3 (10 %)

Remote interpreting - - 2 (7 %) 4 (14 %)

Video-conferencing 3 (10 %) - - 1 (3 %)

Telephone conferencing 1 (3 %) 1 (3 %) - 2 (7 %)

Domains in conference interpreting

We were interested to see how practicing interpreters regard the domains and settings where they work. We asked the CIs about concrete settings (defined below), and also let them add their own settings, in order to see to what extent they agree with the clear and general division of domains proposed by AUSIT (2005: 7-8) (Business, Community, Diplomatic). Their responses are recorded in Table 2.

Marzocchi and Zucchetto (1997: 70-72) reviewed and discussed the notion that different settings and institutions require different skills and training from interpreters. Following their idea and our own experience in our work in international conferences where we made our first observations regarding diplomatic rhetoric, although not as interpreters, we have chosen to present the diplomatic domain as one with special requirements of electronic tools and resources. We also chose the diplomatic domain because it represents one of the most important sources of employment for interpreters, and because its history is closely related to the history of interpreting.

The term ‘diplomatic’ is an adjective used when talking about one of the three domains of the translation and interpreting market, according to AUSIT (2005: 7-8). An important observation that will help us introduce the diplomatic domain is made by Cohen (2004) in his definition of negotiation: "So much of negotiation involves arguments about words and concepts that it cannot be assumed that language is secondary and all that ‘really’ counts is the ‘objective’ issues at stake". This argument illustrates the main difference between this domain and others.

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Table 3 – CIs working in the different domains, fields or settings. Domain, field or setting No. of respondents Percentage of total respondents

Business (trade & commerce) 51 86 % Politics 42 71 % Technology 33 56 % Others (see below for details) 30 51 % Diplomatic 29 49 % Environment 26 44 % Science 22 37 % Medicine 22 37 % Other fields mentioned: culture, arts, fisheries, agriculture, education, social sciences, social issues, employment, law, EU-related fields, financial, economy, computer science, defence, corporate, films & live TV broadcasts, health, history, international organizations, foodstuffs, trade union issues, public service interpreting, advertising, grassroots meetings, NGOs, youth, IT, transport, quality and leadership, disability.

The diplomatic domain can be defined as any translation or interpreting work that takes place in a meeting or conference between official government representatives of a sovereign state, and at least one of the following parties: delegates or representatives of another sovereign state, an international NGO, a delegation, or a mission. The field may be trade or business, treaty negotiations, international aid and development, military or intelligence gathering activities, etc. As can be seen, it is not the subject which defines whether it is a diplomatic situation or not. It is the power structures, the definitions of success, and the mechanism of accountability that mark the limits of the domain (AUSIT 2005: 7-8).

Table 3 also shows that Business (trade & commerce) is the main employment source for CIs, followed fairly closely by Politics. Although we find the diplomatic domain is only fifth in rank in our table, it still proves that it is an employment source for 49% of the total respondents.

In Table 4 we intend to show to what extent the usage of ICTs differ between the diplomatic domain and the other more general domains.

As can be observed in Table 4, there is a clear difference between the usage of electronic tools in the diplomatic domain and in other domains. In average, diplomatic interpreters use 18 % less electronic tools than their counterparts in other domains. The only higher percentage in the use of these tools by CIs working in the diplomatic domain is in electronic norms manuals (5 % more), which can be consistent with the belief that CIs working for international organizations which hold diplomatic meetings need to comply more strictly with certain norms. It should be noted that regarding the "other" types of electronic tools or new technologies, there were neither replies nor clarifications in the section regarding usage of tools in the diplomatic domain.

In all, these figures confirm our premise, that conference interpreting in the diplomatic domain has different needs. We can assume that tools are needed less, while knowledge and experience are more important in choosing the right nuance, a characteristic that should be taken into account also in training programs. The good news is that tools and new technologies can help out in the future the professional CIs in finding the vital words to avoid fatal mistakes that could possibly change the course of history, or at least change the mood of a diplomatic meeting (Robbins 2005).

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Table 4 – Electronic tools and new technologies: general usage compared to usage in diplomatic domain. __________________________________________________________________ I C T s General usage Usage in ____________ diplomatic domain Users % of Users % of total (56) total (26) _________________________________________________________________ Internet resources (as a whole) 47 83 % 17 65 % Dictionaries 41 73 % 9 35 % Parallel texts 44 79 % 15 58 % Encyclopedias 22 39 % 8 31 % Terminology data bases (glossaries) 42 75 % 16 62 % Electronic norms manuals 4 7 % 3 12 % DIY (do-it-yourself) corpora 34 61 % 11 42 % CD-ROMs (commercial) (as a whole) 18 32 % 4 15 % CD-Rom dictionaries 26 46 % 2 8 % CD-Rom encyclopedias 8 14 % 2 8 % CD-Rom terminology data bases (glossaries) 5 9 % 2 8 % Remote interpreting (as a whole) 12 21 % 1 4 % Video conferencing 15 27 % 4 15 % Telephone interpreting 10 18 % 2 8 % Others 13 23 % -- – __________________________________________________________________

Conclusions

As core tools to be taught to future interpreters, we have seen repeatedly that Internet resources as a whole (63 %) come in first place, while DIY-corpora could be considered as a second priority (17 %), CD-R dictionaries as a third (14 %), and video-conferencing with 105 should at least be tried, if not mastered. As for future diplomatic interpreters, besides the above, electronic norms manuals should be introduced as there is a higher possibility of having to use them in that domain.

In general, it can be said that ICTs -- new technologies and electronic tools -- are not only gaining great popularity, but are becoming the standard for professional CIs as Baigorri notes (Codina 2006). As one enthusiastic respondent said, "anyone unable to make the most of what these tools have to offer will be less competitive in the market", which brings us to the conclusion that knowing the attitude and usage of CTIs by practicing CIs can aid trainers to identify which are indispensable to teach today or in the near future, since we can see that this is an aspect that cannot be overlooked any further in order to keep the future of the profession bright. References [1] AUSIT, "Translation and Interpreting terminology", www.ausit.org/eng/showpage.php3?id=851.

2005. [2] Austermühl, Frank, Electronic Tools for Translators, St. Jerome Publishing, Manchester, UK and

Northampton, MA, USA, 2001. [3] Bowen, Margaret; Bowen, David; Kaufman, Francine; and Kurz, Ingrid, «Interpreters and the

Making of History», Translators through History, J. Deslile and J. Woodsworth (eds.), John Benjamins, Amsterdam and Philadelphia, 1995, 245-277.

[4] Bowker, Lynne, Computer Aided Translation Technology: A Practical Introduction, University of Ottawa Press, Ottawa, 2002.

[5] Codina, Rosa, «Entrevista con Jesús Baigorri Jalón», La Página del Idioma Español, http://www.elcastellano.org/jalon.html, 2006.

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[6] Cohen, Raymond, Language and Negotiation: A Middle East Lexicon, http://www.dev.diplomacy.edu/Books/language_and_diplomacy/tex, 2004.

[7] Enríquez Raído, Vanessa and Austermühl, Frank, «Translation Technology and Software Localization», Speaking in Tongues: Language Across Contexts and Users (English in the World, vol. 2), Pérez González, L. (ed.), Universidad de Valencia, Valencia, 2003, 225-250.

[8] García Yebra, Valentín, Traducción: Historia y Teoría, Editorial Gredos, Madrid, 1994. [9] Gile, Daniel, «Conference interpreting as a cognitive management problem», The Interpreting

Studies Reader, F. Pöchhacker and M. Shlesinger (eds.), Routledge, London and New York, 1997/2002, 163-176.

[11] Herbert, Jean, The Interpreter’s Handbook: How to Become a Conference Interpreter. Librarie de l’Université, Georg, Genève, 1952.

[12] Marzocchi, Carlo and Zucchetto, Giancarlo, «Some Considerations on Interpreting in an Institutional Context: The Case of the European Parliament», Terminologie et Traduction, revue des services linguistiques des institutions européennes, 3/1997, 70-85.

[13] Melby, Alan K., «Eight Types of Translation Technology», www.ttt.org/technology/8types.pdf. 1998.

[14] Menéndez Pidal, Gonzalo, «Cómo trabajaron las escuelas alfonsíes», Quaderns, Revista de Traducció, Barcelona, 4/1999, 67-84.

[15] Moser-Mercer, Barbara, «Simultaneous interpreting: How a complex cognitive task can be constrained by technology while benefiting from it», Interactive media: The enhancement of multilingual communication and learning through technology, Ascona III, November 6-11, 2005, http://www.unige.ch/eti/interpr/moser.pdf.

[16] Pym, Anthony, Negotiating the Frontier – Translators and Intercultures in Hispanic History, St. Jerome, Manchester, 2000.

[17] Robbins, James, «Translation trouble at top-level talks», ETI VIRTUAL INSTITUTE, http://virtualinstitute.eti.unige.ch/virtualinstitute/index.påhp?name=News&file=article&sid=10 , 2005.

[18] Roland, Ruth A., Interpreters as Diplomats – A Diplomatic History of the Role of Interpreters in World Politics, University of Ottawa Press, Ottawa, 1999.

[19] Sandrelli, Annalisa, «El papel de las nuevas tecnologías en la enseñanza de la interpretación simultánea: Interpretations», La evaluación de la calidad en interpretación: docencia y profesión, A. Collados, M. Fernández, M. Pradas, C. Sánchez, E. Stévaux (eds.), Editorial Comares, Granada, 2003, 211-223.

[20] Sandrelli, Annalisa, «Interpreting training software», e-mail to ‘tradinfo’ and ‘translation’ groups, 2005.

[21] Stoll, Christoph, «Dolmetschen und Neue Technologien», UTB, Übersetzen und Dolmetschen in Praxis und Lehre, Best and S. Kalina (eds.), 2002, 1-8.

[22] Stoll, Christoph, personal communication by e-mail, 2005. [23] Torres del Rey, Jesús, La interfaz de la traducción. Formación de traductores y nuevas

tecnologías, Comares, Granada, 2005. BIOGRAPHICAL NOTE

Born in Mexico City with a mother who founded one of the pioneering bilingual schools there and a father with a French-American grandmother, languages have always been a very active part of my life. Diplomacy, too, has been one of my great interests, as I studied International Relations and worked for the Canadian Embassy and the United Nations (UNEP) in Mexico before coming to Finland, where my Finnish husband and I have a trilingual family. In Finland I am a lecturer at the University of Turku of Spanish translation, a Spanish teacher at the Swedish-language University Åbo Akademi, and have been involved in the University of Turku Post-Graduate course of Conference Interpreting (EMCI) since its first edition. At present I am enrolled in the Doctoral program in Translation and Intercultural Studies at the Universitat Rovira I Virgili in Tarragona, Spain, with Dr. Anthony Pym, writing my dissertation on ICT in interpreting.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Alfândega e Contrabando: Duas Experiências de Tradução Literária

na Universidade Italiana

António Fournier Università di Pisa, Italia [email protected]

Resumo A ideia de fronteira configura um espaço que, ao contrário do que pode parecer, não é uma mera linha de demarcação num mapa, mas uma faixa mais ou menos estreita entre dois territórios. Se aplicarmos este conceito como metáfora do ensino da competência tradutiva do português literário a alunos universitários italianos, podemos afirmar que um laboratório de tradução é uma zona franca onde se partilham experiências culturais pertencentes a dois territórios linguísticos diferentes. Apesar de vivermos numa época em que já não há alfândegas e se pretende uma maior mobilidade e conhecimento entre países europeus, poder-se-á falar provocatoriamente em «contrabando» na medida em que nessa «terra de ninguém», pouco considerada no «mapa dos impérios», se ultrapassam dois interditos que limitam grandemente o crescimento do sistema literário das obras portuguesas traduzidas em Itália. Por um lado, um constrangimento intrínseco: um professor que ensina a sua língua no estrangeiro não está habilitado, por falta de competência linguística aprofundada do idioma do país onde está a viver, a ensinar a traduzir nesse idioma; por outro, um constrangimento institucional: o estudante universitário que pratica a tradução literária, em teoria em função de um futuro mercado de trabalho, raramente tem a possibilidade de ultrapassar o «sistema aduaneiro» imposto pela própria universidade, e ver o seu trabalho de facto reconhecido, ou seja, publicado. Porém, do cruzamento destas duas condições deficitárias pode resultar uma prática didáctica em que os papéis se invertem e se completam, e na qual o próprio professor se põe em jogo e assume os seus próprios limites e o aluno adquire maior peso e consciência da sua responsabilidade enquanto personalidade linguística capaz de transportar com sucesso o texto para o seu lado da fronteira. A publicação do seu trabalho será assim a última etapa de um percurso formativo específico na área da tradução literária. Palavras-chave: laboratório de tradução, efeito antológico, re-tradução.

No começo do romance A tradução 1 do escritor argentino Pablo de Santis, pode-se ler:

__________ 1 Pablo de Santis, A tradução (trad. de Jorge Fallorca), Asa, Porto, 2000, p. 9.

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Tenho em cima da minha secretária um farol de loiça. Serve-me de pisa-papéis, mas é sobretudo um incómodo. Na base lê-se Recordação de Puerto Esfinge. O farol está cheio de estaladelas, porque ontem, ao arrumar os originais da tradução, caiu da secretária. Uni os pedaços com paciência: quem já tiver tentado colar um jarrão partido, sabe que, por mais minucioso que seja o seu esforço, há pedaços que nunca aparecem.

No romance, embora nunca seja explicitado, aquele farol abandonado na cidade

costeira de Puerto Esfinge é, de facto, uma metáfora da torre de Babel. Como se depreenderá, esta analogia é particularmente sugestiva e rica em implicações, visto que um farol serve para guiar a aproximação segura entre dois mundos, e um farol apagado é necessariamente uma visão pessimista sobre a possibilidade de os pôr em contacto, mas gostaria de reflectir sobre outro aspecto, o do trabalho minucioso de reconstrução de uma unidade perdida. Se um escritor pode ser considerado uma criança que perante um brinquedo, à força de querer perceber como funciona, acaba por desmanchá-lo, e depois já não consegue voltar a montá-lo, a mesma ideia de um farol estilhaçado e remendado pode ser também aplicada, porventura com mais pertinência, à tradução e no caso presente à tradução literária. Visto que para esta comunicação são fundamentais os conceitos de antologia como estrutura pluridiscursiva e de tradução como dinâmica colectiva, a ideia de várias mãos que tentam montar as inúmeras peças de um puzzle partilhado, dando cada uma o seu pequeno mas imprescindível contributo, parece-me particularmente eficaz como síntese de duas experiências levadas a cabo na Universidade de Pisa, onde leccionei até 2006.

Com a radical reforma universitária implementada no ano lectivo 2001-2002, na tentativa de modernizar a universidade italiana que se regia por uma estrutura curricular datada dos tempos do fascismo, adequando-a ao mercado de trabalho e uniformizando-a de acordo com outros sistemas universitários europeus e em particular com o modelo anglosaxónico, o ensino da língua, que até então servia prevalentemente de apoio ao ensino da literatura (ensinava-se a traduzir como acto de leitura, ou seja, como forma de acesso ao sentido do texto literário em língua original), deixou de ser um meio e passou a ser um fim em si mesmo. Procurou-se então dotar o seu ensino, que até essa altura era assegurado quase exclusivamente pelo chamado Leitor, de instrumentos didácticos mais adequados e de metodologias cientificamente mais eficazes. Criou-se a figura do "professore a contratto", docente externo não vinculado à universidade e figura de transição, que tem permitido suprir a falta momentânea de um quadro próprio de docentes, ainda em contrução. Para o efeito há desde há alguns anos a figura do "ricercatore in lingua e traduzione portoghese e brasiliana", nova nomenclatura para o assistente de língua.

Com a criação de um sector científico específico partilhado por três curricula universitários (só num currículo, o filológico-literário, o ensino de uma determinada língua é complementado com o ensino da respectiva literatura), a língua passou a ser uma disciplina à parte, com a sua própria autonomia, metodologia e objectivos, na busca de uma sempre maior adequação a um amplo segmento de mercado que compreende sobretudo tradutores especializados, intérpretes, guias e operadores turísticos.

Contudo, apesar da separação do tronco literário, a tradução literária permanece, a meu ver, um campo com enormes possibilidades de exploração. De facto, uma das áreas que esta reforma me possibilitou aprofundar, quer por formação universitária, quer pela experiência de seis anos como leitor e de quatro como "professore a contratto" em várias universidades italianas, foi a especialização no estudo do funcionamento da língua no interior de uma prática didáctica baseada na tradução literária entendida, para parafrasear Peeter Torop, como uma "poetica sperimentale (que) accomuna due poetiche: la poetica generale della traduzione e la poetica individuale del traduttore" 2.

__________ 2 Peeter Torop, La traduzione totale, Guaraldi Logos, Modena, 2000, p. 63.

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Neste período experimental, com o conhecimento empírico da língua italiana resultante de dez anos de permanência neste país, e com a margem de manobra que um sistema ainda em construção, como é o caso, sempre possibilita, pude fazer algumas experiências de tradução, pondo em prática várias dinâmicas sempre baseadas no princípio da complementaridade e com uma diferença metodológica fundamental em relação à forma tradicional de encarar a tradução literária na universidade italiana: não como prática complementar de ensino da literatura, ou seja, como pontual transposição linguística de um segmento textual ou controlo instrumental da compreensão do sentido do texto original, mas como uma verdadeira operação intertextual de segundo grau. Por outras palavras, uma prática continuada de acompanhamento do processo tradutivo, que recorre aos instrumentos de análise estílistica e aos vários métodos interpretativos, para fomentar uma reflexão in fieri sobre o funcionamento da língua no texto literário e das categorias culturais a ele inerentes, à medida que se opera a sua reconstrução total na língua do aluno que o traduz.

Tendo já leccionado na universidade portuguesa, esse termo de comparação fez-me aperceber do potencial único que a possibilidade de pôr em contacto um estudante de uma língua e cultura diferentes com a língua literária portuguesa, podia ter numa prática híbrida de análise e reconstrução textual em que o professor vai oscilando de figura central a figura periférica no processo de aprendizagem, à medida que o texto vai sendo metabolizado, ou seja, traduzido, por aquele. Por outras palavras, tornou-se-me progressivamente mais consciente não só o papel activo que o estudante podia ter nessa aprendizagem mediante um maior investimento na prática da tradução, mas também a possibilidade concreta que esse material humano que eu tinha à minha disposição, essa personalidade bilingue e bi-cultural que eu estava ajudando a construir, oferecia de dar um contributo válido para a ampliação do sistema literário das obras portuguesas traduzidas em italiano.

Esta possibilidade de enriquecer através da participação activa do aluno um corpus na verdade pouco mais que paupérrimo, pressupõe, para além do óbvio reconhecimento do papel da tradução como instrumento comunicativo particularmente eficaz no diálogo intercultural e da sua colocação de pleno direito no interior do polissistema literário, uma leitura desconstrucionista do universo literário, que altera o modo de o estudar e a percepção do próprio cânone 3. Infelizmente, este sentimento literário aberto à mudança e disposto a arriscar prevalentemente numa conceptualização dinâmica da literatura, capaz de apostar em sistemas novos ou periféricos ou de problematizar a consistência de outros, a meu ver ainda não penetrou na própria universidade italiana. Se calhar compreensivelmente, os docentes responsáveis pela lusitanística em Itália ainda a encaram como um sistema monolítico e elitista, delimitando o horizonte de leitura a um mapa restrito de nomes canónicos em que se sentem seguros e a um conjunto de práticas que deixam pouco espaço à criatividade e à renovação. Radicarão porventura aqui as origens da escassa penetração da literatura portuguesa em Itália.

A este propósito há que dizer que em Itália, no que diz respeito à literatura, há três grandes sistemas aduaneiros: o universo editorial e o mundo universitário, iguais em toda a parte, com inevitáveis conivências múltiplas e restrições recíprocas, mas também o próprio mapa fracturado do império da lusitanística. Não quero entrar na questão das dinâmicas que regem as relações de poder entre os grupos da lusitanística italiana, com consequências positivas ou nefastas segundo os pontos de vista, para a implantação do actual sistema literário das obras portuguesas transpostas para italiano. Um facto é que esta contingência

__________ 3 "L’avvento di questi nuovi paradigmi sulla scena letteraria, insieme all’influenza della teoria polisistemica portò

alla contestazione della letteratura dominante rappresentata dai testi canonici e l’attenzione tornò a focalizzarsi su come funzionino all’interno della cultura letteraria, e come conquistino (e in seguito perdano) un posto in quell’ambito. Per riflettere sul meccanismo del processo di canonizzazione, fu ovviamente necessario considerare il ruolo sostenuto in questo processo da forme «altre» di scrittura quali le traduzione", Margherita Ulrych, «La traduzione nella cultura anglosassone contemporanea», in Tradurre. Un approccio multidisciplinare, Utet, Torino, 1997, pp. 223.

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funciona para todos os efeitos como uma alfândega que condiciona, abranda, mina a política da tradução de uma literatura até há poucas décadas praticamente desconhecida neste país. Fruto do seu pioneirismo, cujo mérito tem de ser obviamente reconhecido, os grandes nomes literários são monopolizados por um grupo de pessoas que têm feito muito para a divulgação e o prestígio da literatura portuguesa em Itália, mas que também por via desse investimento direccionado, objectivamente pouca disponibilidade (intelectual e de tempo) têm para poder acompanhar a evolução do sistema literário português. Por outro lado, do ponto de vista editorial, quando não são os próprios docentes a fazê-lo, recorre-se a tradutores especializados que são ainda poucos, criando condições para um ulterior afunilamento do cânone. São de facto escassos os autores portugueses traduzidos com continuidade pelas grandes editoras italianas. Quatro apenas: Fernando Pessoa, José Saramago, António Lobo Antunes e José Cardoso Pires. Outros nomes resultam de gostos pessoais dos próprios docentes que os vão traduzindo e publicando esporadicamente em pequenas e médias editoras, sem uma política editorial consistente e sobretudo sem aparente solução de continuidade 4.

Mas o problema mais grave talvez seja, de uma forma geral, a pouca coragem ou curiosidade intelectual por parte dos catedráticos italianos, pelo menos os da actual geração, em se interessarem por outros autores além dos que marcaram a suas próprias leituras formativas. É sabido que muitos provêm de uma formação filológica de grande tradição que deu um inegável contributo para o conhecimento científico, sobretudo da produção lírica medieval ou do renascimento literário português, granjeando-lhes (a eles e à matéria a que dedicaram a sua atenção), enorme prestígio no mundo universitário português e internacional, mas talvez por essa mesma formação "académica", estão pouco propensos a interessar-se por realidades mais recentes ou ainda pouco estudadas. Se se procurar por exemplo os autores da nova geração literária portuguesa na última edição da História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes e António José Saraiva, compreensivelmente ou são inexistentes ou se resumem a um mero elenco como se fossem nomes de uma lista telefónica.

Na falta de juízos críticos ou informações aprofundadas, os agentes de ensino universitário italiano não parecem dispostos a arriscar em autores que não tenham já sido legitimados pelo sistema aduaneiro português. Ou seja, o microssistema da lusitanística italiana comporta-se para todos os efeitos como uma periferia em relação ao status quo português, sendo unilateralmente influenciado por este, muito embora não seja caracterizado, como deveria ser, pelo dinamismo e inovação que também caracterizam, como lembra Bruno Osimo, os sistemas periféricos 5. Por outro lado, e infelizmente, a literatura portuguesa é para todos os efeitos uma periferia no âmbito da galáxia do livro em Itália, e o seu potencial inovador ou renovador em relação ao próprio polissistema literário italiano está longe de ter sido explorado. Este duplo paradoxo condiciona fortemente a recepção de obras de autores portugueses e talvez fosse o momento de reflectir mais aprofundadamente sobre esta questão e sobre a própria posição de ghetto da lusitanística

__________ 4 Consulte-se para o efeito a lista incompleta mas útil das obras portuguesas traduzidas em Itália reproduzida na

página web do Instituto Camões (www.instituto-camoes.pt/CVC/reccultura/autorestraduzidos/autores_ita.pt), elaborada a partir da oportuna recolha de Jaime Raposo Costa, Autori Portoghesi. Tradotti ed editi in Italia. Narrativa Poesia Saggistica (1898-1998). Catalogo Ragionato. Ambasciata del Portogallo, Roma, 1999.

5 "Il concetto di «centro» del polisistema è facilmente intuibile: il sistema centrale è quello che ha maggiore influenza sugli altri, e ovviamente si tratta di un dato storico, che cambia nel tempo. Conosciamo tutti le alterne vicende dell’egemonia culturale di questo o quel paese, per esempio. I sistemi periferici sono meno autosufficienti, più dinamici e più ricettivi delle influenze dei sistemi più centrali. I sistemi centrali sono più autosufficienti (hanno meno bisogno di andare a cercare spunti di rinnovamento all’esterno), più statici e meno ricettivi delle istanze esterne. Oltre alla marginalità/centralità di un sistema culturale rispetto agli altri, altri due fattori ne determinano la maggiore o la minore innovatività: il fatto che il sistema sia non cristallizzato e giovane ne facilita il tasso d’innovatività; pure il fatto che il sistema attraversi una fase di svolta, di crisi, di vuoto ne facilita l’innovatività". Bruno Osimo, Manuale del traduttore. Guida pratica con glossario, (2° ed.), Hoepli, Torino, 2004, p. 44.

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italiana dentro da estrutura universitária italiana. Limitando a literatura portuguesa a alguns nomes tidos como os mais representativos (repetindo anos a fio os mesmos programas, estudando sistematicamente os mesmos autores), a geração actual de catedráticos talvez não tenha percebido que o sistema literário português de facto não envelhece com eles, antes se renova. Infelizmente, esta visão estática e comodista acaba por condicionar o horizonte de expectativa, determinando os gostos dos alunos, futuros assistentes, e perpetuando assim o actual sistema de valores 6, quando o "mapa do mundo" e a formação cultural necessariamente diferentes de um docente italiano deveriam incentivá-lo a assumir mais corajosamente, inclusive numa óptica comparatística, a possibilidade de facultar um ponto de vista inédito, original ou inovador, um olhar assumidamente descentrado sobre o corpus literário português.

Em relação ao século XX, no que concerne a narrativa e para além dos quatro acima citados, só David Mourão-Ferreira, Almeida Faria, Mário Cláudio e Vergílio Ferreira já ultrapassaram o simbólico limiar de uma única obra traduzida, ainda que em editoras de pequena ou média dimensão. Recentemente nomes como Helena Marques, João de Melo, Mário de Carvalho e Miguel Sousa Tavares foram objecto de traduções, no que parece indiciar uma renovação da mentalidade e uma tendência para o alargamento do sistema 7. Da geração mais recente, e se exceptuarmos a tradução em 2003 do único romance de Filipa Melo, Este é o meu corpo, só José Luís Peixoto 8 viu a sua obra traduzida com continuidade, o mesmo passando a acontecer a partir deste ano a Gonçalo M. Tavares. É normal que a recente operação de incentivo à tradução de obras portuguesas conduzida pelo Instituto Camões na recente Feira do Livro de Turim, por sinal dedicada a Portugal, venha a contribuir para alterar este estado de coisas. O efeito antológico

Gostaria de passar agora a descrever sumariamente duas experiências dinamizadas na Universidade de Pisa entre 2000 e 2006 que conduziram à publicação, com percursos metodológicos diferentes, de duas antologias, Nostalgia dei giorni atlantici e Lusitania express: 20 storie per un film portoghese 9. A primeira contém 28 textos 10, a segunda 11 20,

__________ 6 Sinal de abertura e renovação do sistema é a meu ver o projecto da editora La Nuova Frontiera, com o

interesse dedicado a autores mais novos, portugueses e lusófonos, num âmbito de um projecto mais vasto de divulgação de autores hispânicos e hispano-americanos. Cite-se por exemplo, a recente antologia organizada por Giorgio de Marchis, Lusofônica. La nuova narrativa in lingua portoghese, La Nuova Frontiera, Roma, 2006.

7 Para tal contribuiu também o espaço dedicado pela editora Besa à literatura lusófona e o aparecimento recente da editora Cavallo di Ferro com um projecto específico de divulgação em Portugal de autores italianos e em Itália de autores portugueses.

8 Uma excepção que confirma a regra foi a tradução de Morreste-me, primeira novela de um dos nomes mais interessantes da nova geração de autores portugueses, José Luís Peixoto, por parte de uma das figuras mais proeminentes da lusitanística italiana, Giulia Lanciani (Questa terra ora crudele, La Nuova Frontiera, Roma, 2005).

9 O único antecedente de algum modo semelhante a estas duas experiências foi a tradução de Os passos em volta de Herberto Helder levada a cabo "sotto la guida di Antonio Tabucchi, come esercitazione pratica del Corso di Specializzazione in Traduzione Letteraria tenuto presso l’Università degli Studi di Siena, nell’anno accademico 1992-1993", com tradução a cargo de Giuseppina Distante, Sabrina Lombardi, Federica Severino e Nicoletta Vincenti (I passi intorno, Colpo di fulmine editore, Verona, 1995, p. 4).

10 Nostalgia dei giorni atlantici, Scritturapura, Asti, 2005. Autores: Herberto Helder, Ana Margarida Falcão, Ana Teresa Pereira, Ângela Caires, António Aragão, Ernesto Leal, Fátima Pitta Dionísio, Gualdino Rodrigues, Helena Marques, Irene Lucília Andrade, João Carlos Abreu, João Luís Aguiar, Jorge Marques da Silva, José Agostinho Baptista, José António Gonçalves, José Tolentino Mendonça, José Viale Moutinho, Laura Moniz, Lília Mata, Luís Ladeira, Margarida Gonçalves Marques, Maria Aurora Homem, Maria de Menezes, Maria Helena Maia, Maria Rosa Basílio, Nelson Veríssimo, Ricardo França Jardim, Vicente Jorge Silva.Tradutores: Cristiana Aliboni, Elisa Ciardi, Selena Simonatti, Alberto Taddei. 11 Lusitania express. 20 storie per un film portoghese, Scritturapura, Asti, 2006. Autores: Miguel Esteves Cardoso, Isabel Cristina Pires, Rui Zink, Ana Teresa Pereira, Pedro Paixão, Miguel Miranda, José Riço Direitinho, Francisco Duarte Mangas, Mafalda Ivo Cruz, Ana Nobre de Gusmão, António Manuel Venda,

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e requereram, como se pode imaginar, um notável esforço e uma dinâmica considerável que envolveram a pesquisa, leitura e selecção dos textos representativos, os contactos com os autores envolvidos, seus agentes literários e editores, o compromisso entre os padrões editoriais e os parâmetros universitários nem sempre facilmente conciliáveis, a coordenação e o acompanhamento de várias equipas de tradutores, até a fase final de revisão de todas as traduções. Ambas as antologias foram apresentadas, respectivamente em 2005 e em 2006 na Feira do Livro de Turim, principal montra literária italiana e uma das mais importantes feiras literárias da Europa. A primeira obra foi apoiada pela Drac, Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira e pelo Instituto Português do Livro, a segunda beneficiou do programa de apoio à tradução criado especificamente para a Feira do Livro de Turim, pelo Instituto Camões em conjunto com o Instituto do Livro.

A concepção implícita a estes dois projectos é a do carácter não derivativo nem secundário mas central da tradução literária no interior do polissistema literário, e a valorização do trabalho do aluno universitário como possibilidade concreta de enriquecer esse mesmo sistema. Ambos os projectos têm um recorte muito específico: temporal (1986-2006: os anos "europeus" de Portugal contados pela mais recente geração literária portuguesa) e geográfico (a Madeira e o imaginário insular fixados quer por alguns dos escritores mais representativos do canône literário português, quer por autores de reduzida projecção nacional). São assumidamente leituras descentradas em relação à ortodoxia universitária portuguesa, uma vez que se propõem como abordagens a partir de um ponto de vista inusitado ou até mesmo provocatório desse corpus, no sentido de problematizar a própria auto-imagem literária portuguesa e contribuir também com isso para enriquecer o lugar de Portugal no imaginário literário italiano.

A opção pela antologia obedece por sua vez a duas grandes motivações: permite por um lado uma ampla amostra divulgativa de um conjunto de autores desconhecidos na sua maioria em Itália, fornecendo um paradigma de referência, ou seja, uma plataforma de partida para futuras traduções individualizadas; por outro lado, a opção pelo conto, short story ou crónica permite do ponto de vista da dinâmica intrínseca a um laboratório de tradução, uma maior facilidade de segmentação do trabalho, sem cair no inevitável cansaço psicológico que seria a morosa tarefa de traduzir colectivamente um romance inteiro, operação não consentânea com os tempos e as modalidades de uma prática muito específica de coordenação de várias mãos.

Considero quatro os aspectos fundamentais num laboratório de tradução literária: Tempo. Esta é a categoria operativa mais importante: a dinâmica tradutiva exige quer da parte do docente que a coordena, quer da do aluno que a põe em prática, uma enorme disponibilidade de tempo, claramente superior aos timings lectivos, pois acaba por se prolongar por vários anos; Congruência: isto pressupõe inevitavelmente uma predisposição intelectual e um tipo de empenho mental que nalguns casos é preciso saber educar o aluno a assumir, sendo ponto assente que este é sempre livre de abandonar o trabalho de tradução a partir do momento em que já não lhe serve para efeitos de estrita avaliação da disciplina de Língua; só aceitando as regras deste pacto, se poderá discutir e continuar a trabalhar as várias versões propostas numa linha convergente que conduza a uma única solução final; atingida uma primeira tradução consensual, cada aluno terá depois a possibilidade de personalizá-la, optando na margem de manobra permitida a um tradutor e no fim de um percurso de auto-conhecimento e de progressiva autonomia, por uma solução mais consentânea com o seu próprio estilo; depois deste longo processo está legitimado a pôr finalmente o seu nome ao lado do do autor enquanto seu tradutor (ex: Herberto Helder –

Jacinto Lucas Pires, Rui Miguel Saramago, Manuel Jorge Marmelo, Paulo José Miranda, Joel Neto, José Luís Peixoto, Possidónio Cachapa, Frederico Lourenço, Gonçalo M. Tavares, Jorge Reis-Sá. Tradutores: Martina Pierini, Alberto Taddei, Simone Negri, Cristiano Rocchetta, Elisa Ciardi, Gherardo Giannarelli, Patrizia Scorziello, Mariagrazia Orsi, Chiara Zucconi, Katia Quaglierini, Lisa Giuliani, Monica Lupetti, Cristiana Aliboni, Alessandro Granata, Selena Simonatti, Eugenia Ciccarelli, Jessica Maghelli, Sara Favilla, Cristiana Sassetti, Deborah Vaona, Angela Masotti.

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Elisa Ciardi; Possidónio Cachapa – Deborah Vaona). Célula tradutiva: outra categoria funcional na dinâmica tradutiva é o número. O ideal são três ou quatro alunos, pois com o tempo se ultrapassam as inevitáveis rivalidades e as naturais reservas e cresce-se na convicção de um trabalho de equipa em função de uma causa comum 12; com mais de quatro alunos o trabalho "democrático" de discussão das várias soluções torna-se dispersivo e acaba por ser particularmente moroso e mesmo contra-producente; Re-tradução: a dinâmica tradutiva baseia-se no trabalho sequencial de revisão da tradução no sentido que lhe dá Antoine Berman 13; no confronto com o texto ideal implícito, que o aluno deve procurar dentro de si (a matriz linguístico-cultural que melhor corresponde ao modelo em língua original) o peso do texto explícito – o que está à frente dos seus olhos – é ainda muito grande; a minha distância em relação à língua de chegada, se não me permite traduzir nessa língua, foi muitas vezes útil para detectar mais facilmente os decalques e contaminações da língua original que o próprio aluno, praticando um "close-reading", não se apercebera. Por isso esta prática prevê também exercícios de auto e hetero-correcção 14.

Para concluir, gostaria de esclarecer que não acredito necessariamente na democratização da tradução, nomeadamente da tradução literária. Pela minha experiência, estou ciente de que há alunos mais aptos, mais sensíveis ao fenómeno literário, mais conscientes do funcionamento da sua própria língua, mais motivados para o tipo de estímulos psico-cognitivos inerentes à prática tradutiva, e que de qualquer maneira, só a experiência e uma prática continuada podem fazer um bom tradutor, o que não será o caso de quem traduz pela primeira vez, como na presente situação. Estou também pronto a admitir que o trabalho de monitorização da tradução é questionável se não se souber criar condições de empatia e motivação para a tarefa aliciante mas árdua e complexa de traduzir, e sobretudo se o aluno não tiver a maturidade de reconhecer que o descentramento do professor em relação ao seu papel tradicional de único detentor do saber, é acima de tudo um posicionamento estratégico para melhor acompanhar uma prática que se irá limando com as sucessivas revisões e com o conhecimento amadurecido do texto, até estar em condições de ser apresentado como resultado final, e que esse momento cabe ao professor protelá-lo o quanto for necessário. Em todo o caso, a tradução literária será sempre, por __________ 12 Veja-se a este propósito a reflexão feita por uma das tradutoras na apresentação da antologia Nostalgia dei

giorni atlantici: "Traduzir juntos significa criar um sodalício de vozes que vá além das dinâmicas da reinvindicação pessoal e que seja capaz de educar os nossos corações e os nossos pensamentos no sentido de escolher uma versão em nome da sensatez e da fidelidade ao texto e nunca em função da imposição ou das inclinações pessoais, uma escolha que tenha no fundo a coragem e a humildade de privilegiar sempre o texto. Significou também ceder um pouco de cada um para receber um pouco dos outros." Selena Simonatti, «Nostalgia dos dias de tradução», in AA.VV., Livro de comunicações do Colóquio «Arquipélagos do desejo», Departamento de Cultura. Câmara Municipal do Funchal, Junho de 2006, p. 17.

13 "Tutto avviene come se, di fronte all’originale e alla sua lingua, il primo movimento fosse di annessione, e il secondo (la ri-traduzione) di investimento della lingua materna da parte della lingua straniera. La letteralità e la ri-traduzione sono dunque i segni di un rapporto maturato con la lingua materna." Antoine Berman, La traduzione e la lettera o l’albergo nella lontananza, Quodlibet, Macerata, 2003, p. 88.

14 O processo tradutivo de Nostalgia dei giorni atlantici demorou 5 anos a ser completado, com encontros semanais em minha casa (aos sábados); todos os quatro tradutores envolvidos, inicialmente meus alunos, continuaram o projecto uma vez licenciados, no que acabou por se transformar num ritual de encontros que criou naturalmente um elevado grau de entrosamento entre eles e um elo afectivo que foi muito além da dinâmica específica da tradução de um livro. A experiência concluiu-se quando os levei a apresentar a antologia na Madeira, ponto de partida e de chegada de uma viagem imaginária, como foi a tradução, e também de um percurso de vida não indiferente. O projecto de Lusitania express: 20 storie per un film portoghese, glosando a metáfora cinematográfica, previu um tradutor para cada autor que figura como actor protagonista do "filme", sendo o tradutor o seu doppiatore, aquele que lhe dá voz, uma vez que os filmes em Itália são dobrados. Vistos os tempos apertados de concretização da antologia (começou a ser preparada um ano antes da Feira do Livro de Turim que decorreu no início de Maio de 2006), o facto de ter desenvolvido concomitantemente laboratórios de tradução literária nas Universidade de Pisa, Milão e Turim, permitiu-me ganhar tempo, propondo a uma célula de tradução numa universidade a versão da tradução desenvolvida por outra, e assim sucessiva e reciprocamente, numa prática de hetero-correcção que teve a inegável vantagem de evitar os habituais empecilhos psicológicos que surgem num grupo pouco entrosado, quando se tem que comentar ou discutir as versões dos colegas presentes.

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natureza, intrinsecamente imperfeita, como os pedaços perdidos do farol partido a que aludia a citação inicial, e esse é obviamente um dado assumido à partida. Também admito que, embora o objectivo final seja o de formar uma escola de tradutores do português literário, com bases sólidas resultantes de um convívio prolongado num espaço de trabalho bilingue e bi-cultural, a experiência não assegura por si só uma sequencialidade e uma possibilidade de inserção do aluno no mercado de trabalho (mas é já para todos os efeitos um elemento para o seu curriculum profissional) e pode mesmo permanecer uma experiência isolada, de que porém ele nunca se irá esquecer, pois de qualquer maneira teve acesso a algo que durante o seu percurso universitário lhe foi sempre vedado.

Contudo, entre permanecer um trabalho académico, sem qualquer tipo de aplicabilidade ou reconhecimento fora do âmbito da estrita burocracia universitária, como acontece com a esmagadora maioria das teses de licenciatura que se produzem na universidade italiana (e aqui teria que questionar a validade efectiva de uma tese de licenciatura em Itália, o que me coíbo de fazer) inclusive por falta de empenho, disponibilidade ou interesse dos próprios docentes (qualquer tradução revista é sempre uma boa base de trabalho para uma publicação), ou possibilitar a divulgação de novos autores, facultando ao estudante universitário a ulterior motivação de poder ser um agente interveniente na produção de uma obra, consciencializando-o de que sem ele essa obra não existiria na sua língua, e de participar numa experiência intelectual intensa e enriquecedora que envolve todos os aspectos da sua própria personalidade, julgo que é um risco que vale a pena correr.

O papel de árbitro durante toda a dinâmica tradutiva, a possibilidade de confrontar, desmontar e reconstruir dois sistemas expressivos no interior de um terceiro espaço que só existe em função dos outros dois, é por outro lado particularmente estimulante para o professor que enquanto pequeno "gestor de recursos humanos", se transforma de facto num mediador cultural operativo numa óptica que ultrapassa a universidade e subverte os outros sistemas aduaneiros, permitindo-lhe também a ele crescer, graças às discussões despoletadas pelos seus alunos nos inúmeros momentos de reflexão metalinguística, no conhecimento empírico e no aperfeiçoamento sempre utópico da sua própria competência bilingue. NOTA BIOGRÁFICA

António Fournier, Funchal 1966. Licenciatura em Línguas e literaturas modernas, mestrado em Literatura portuguesa medieval. Foi assistente de Literatura portuguesa e literaturas africanas de expressão portuguesa na Universidade da Madeira até 1999 e Leitor do Instituto Camões na Universidade de Pisa até 2003. Como docente de língua portuguesa em Itália onde vive, tem desenvolvido laboratórios de tradução literária nas Universidades de Pisa, Turim, Milão e Trieste.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

On the Translation of Metaphor: Notions and Pedagogical Implications

Abdul Sahib Mehdi Ali

University of Sharjah, United Arab Emirates [email protected]

Abstract

This paper investigates the main distinctions between two main figures of speech, namely, metaphor and simile, with a view to pointing out the relevance of these distinctions to the translation decision involving the rendering of a source language (SL) metaphor into a target language (TL). Prior to the distinctions, the study examines the relationship of similarity between the two parts of a metaphor, the so-called ‘object’ and ‘image’, and clarifies a number of facts and misconceptions about it. In light of these discussions, the study attempts to view critically a set of translation procedures proposed by some theorists as alternative solutions to translation problems posed by metaphors that do not lend themselves easily to translation. It is concluded that the proposal in question falls short of achieving the desired result: it gives student translators the false impression that any one of the alternatives suggested is as good a translation procedure of a given metaphor as any other. Key words: metaphor translation, translation procedures, pedagogical implications. 1. Introduction

Metaphor, the figure of speech in which a comparison is made between two seemingly unrelated subjects, is a distinctive feature of human communication. It has been described as the omnipresent principle of language (Richards 1936: 92); "our speech is so riddled with metaphors that we can hardly say a sentence without one" (Matthews 1979: 31). Metaphors are widespread in all social activities and at all levels of formality; in addition to literature, where they find the richest soil, they also abound in the languages of journalism, politics, law, philosophy, advertisements, and even science and technology. Furthermore, their presence is not confined to the domain of language but also extends to that of thought and action; "our ordinary conceptual system, in terms of which we both think and act, is fundamentally metaphorical in nature" (Lakoff and Johnson 1980: 3). Much has also been said about the particularly important role metaphors play (with other figures of speech) in making our speech more meaningful and more specific, in producing images, in extending the significance of what we say, and in making the abstract concrete and vice versa (in addition to the foregoing sources, see, for instance, Kreuzer 1955; Nowottny 1962; Hawkes 1972; Gray 1992). Rather than being mere ornaments of discourse, figures of speech in general, and metaphors in particular, are thus looked at as essential tools of expression that are bound to be utilized whenever we have strong feelings to express.

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Metaphor has also been widely discussed in the literature on translation, where it has been given more or less the same definition, viz., ‘the description of something in terms of another as a way of illuminating or developing meaning’, or "the application of a word or collocation to what it does not literally denote" (Newmark 1988: 104). The issue, however, has proved to be a challenging one. Research into the cross-linguistic and cross-cultural dimensions of metaphor as well as its treatment in actual translations have shown that the SL image cannot always be retained in the TL. Recognizing this problem, Dagut (1976) makes the following remarks:

Since a metaphor in the SL is, by definition, a new piece of performance, a semantic novelty, it can clearly have no existing ‘equivalence’ in the TL: what is unique can have no counterpart. Here the translator’s bilingual competence … is of help to him only in the negative sense of telling him that any equivalence cannot be ‘found’ but will have to be created. (Dagut 1976, quoted in Bassnett-McGuire 1980: 24).

In an attempt on their part to provide alternative solutions to this problem, some

translation theorists and teachers (e.g. Newmark 1980; Larson 1984, Croft 1988; Ghazaala 1995) have proposed a number of translation procedures whereby to translate metaphors from one language into another. These procedures include: (1) retaining the same SL metaphorical image in the TL, (2) replacing the SL metaphorical image with a TL simile, keeping the image, (3) replacing the SL metaphorical image with another established TL one, (4) retaining the same metaphorical image plus sense, (5) converting metaphor to sense, and (6) omitting the metaphor (when it occurs in an anonymous text).

Criticizing the above view, Maalej (www) rightfully argues that "the scheme does not say anything about how the choice from among the aforementioned procedures is made", and that "the translation of metaphor cannot be ‘decided by a set of abstract rules, but must depend on the structure and function of the particular metaphor within the context concerned’ (Snell-Hornby 1988-1995: 58)". The foregoing view could also be criticized for overlooking some significant characteristics of metaphor that are not available in the types of rendition suggested to substitute it, including simile; such substitution will, consequently, often result in some kind of translation loss.

An investigation of the treatment of metaphor in English-Arabic translated works would also reveal some misconceptions about the notion of similarity or comparison underlying metaphorical expressions, and what constitutes the primary function of metaphor: whether it is always used for practical description and understanding, or may also be used for purely aesthetic purposes. Another observation relates to the tendency among student translators (and even practicing translators sometimes) to apply one or other of the aforementioned translation procedures (e.g., the literal translation of the so-called ‘dead metaphors’, or the conversion of an SL metaphor into a TL simile) rather mechanically, often resulting in renditions that either sound unnatural and foreign, or fail to produce a textual effect equivalent to that of the SL expression. It is the aim of this paper to bring into focus the foregoing misconceptions and observations about metaphor and consider them from the point of view of translation, with a view to illustrating the pros and cons of the translation procedures adopted.

The instances of figurative expressions cited in this paper are for the most part drawn from literary works that form part of the material the writer has been using in his teaching of the ‘Translation of Literary Texts’ to senior Arab university students. It is felt that the translation of literary works is one type of translation where (serious) translators try their best to be as artistic, creative, and skilful as possible, and where methodological stands are generally more discernible than elsewhere.

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2. Definitions: metaphor and simile

Metaphor is almost invariably defined as a figure of speech in which an expression literally denoting one object or idea is applied to another in order to suggest a similarity or likeness. In metaphor, that is to say, a comparison is made between two seemingly unrelated subjects. Statements along these lines can be traced back to such early sources as the celebrated Greek Philosopher Aristotle (see Stanford 1936: 9-10) and the 11th century Arab linguist and rhetorician al-Jurjaanii (1954: 9). More recently, on the other hand, metaphor has been more appropriately defined as, not just a comparison, but "an implied analogy which imaginatively identifies one object with another and ascribes to the first object one or more of the qualities of the second or invests the first with emotional or imaginative qualities associated with the second" (Holman 1985: 264). For example, when we refer to a man or some aspect of his character by saying ‘That man is a fox’, we in fact ascribe to that man such attributes as cunning and craftiness for which the animal fox is proverbially known.

The other figurative device dealt with in this paper, viz., simile, involves nearly the same prerequisite for metaphor – the perception of some likeness between the two objects of the comparison – except that whereas the latter implicitly identifies one thing with another, the former explicitly expresses the comparison by means of such words as ‘like’, ‘as’, ‘than’, etc.. The above given example of metaphor may thus be turned into a simile by saying ‘That man is as crafty as a fox’.

We shall use the terms below (suggested by Newmark 1988: 105) in our analysis of the metaphors cited in this study; the metaphor ‘angelic face’ is provided as an example for illustration:

Object: the person, thing, or idea described or qualified by the metaphor (‘face’ in the example).

Image: the item in terms of which the object is described (‘angel’ in the example). Sense: the literal meaning of the metaphor; the similarities between the object and

the image (‘such attributes as kindness, beauty, gracefulness, purity, etc. which an angel and the person being described have in common’).

Metaphor: the figurative word used (‘angelic’ in the example); a metaphor may also extend over many lines, in which case it is termed ‘extended metaphor’.

3. Metaphor and the notion of similarity

Statements about metaphor – that it is a relationship of similarity, a comparison between two things, the description or conception of one thing in terms of another, etc. – are often misunderstood to mean that the primary function of a metaphorical expression is to demonstrate direct or pre-existing similarities between the components of that expression, i.e. the object and the image. This, however, is not, at least not always, precisely the case, as metaphor can be used to serve other purposes (Ali 1998). The issue acquires even further importance in translation where additional (linguistic and extralinguistic) factors come into play. The following discussion is intended to illustrate these facts.

3.1. Cases of ‘direct resemblance’

There are of course cases where metaphors may be said to work through some direct resemblance between object and image (see Richards 1936: 117). The point to be made here, however, is that in such cases the sense of a transferred image is not present; the metaphor normally goes unnoticed, largely due to the relative ease with which the area of semantic overlap can be found between the two things being compared. For example, the comparison between the ‘leg of a horse’ and the ‘leg of a table’ is based on the fact that both

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the animal and the piece of furniture have their legs to hold them up and to keep them in a standing position, the difference being that, unlike horses, tables do not walk with their legs.

Instances like the one just exemplified are understood almost literally rather than figuratively, and cannot actually be described as metaphorical in any creative sense of the word because they have lost their initial power to produce comparison (see Kreuzer 1955: 87). Hence they are commonly referred to as ‘dead’ or ‘fossilized’ metaphors. It is also for this reason that translation theorists hold the view that "dead metaphors are no part of translation theory, which is concerned with choices and decisions, not with the mechanics of language" (Newmark 1982: 86).

As far as translation is concerned, it can be stated generally that dead metaphors are not difficult to translate. This is largely due to the fact that they have universal applications for all languages. Consider, for example, the use of English ‘head’ and its Arabic counterpart to denote the part that resembles a head (its shape, position, and/or function) in a wide ’رأس‘variety of things, such as ‘pin’, ‘nail’, ‘hammer’, ‘matchstick’, ‘lettuce’, ‘company/organization’, ‘state’, ‘list’, ‘table’, etc. SL expressions involving such usages are usually rendered into the TL through direct translation. One, however, should hasten to warn against the overgeneralization of this procedure to cases where it may not be applicable for one reason or another. For example, the use of English ‘foot’ in expressions like ‘the foot of the page/wall/mountain’ is not similarly counterparted in Arabic where the word meaning ‘the , أسفلlower part’ is normally used. And while English uses ‘eye’ to refer to the ‘hole of a needle’, Arabic has a special name for it, viz. .On the other hand, the word for ‘eye’ in Arabic, i.e . سـم is used with a variety of meanings which are nonexistent in English, e.g. ‘an important ,عينperson’, ‘a reconnoiter’, ‘prime: of the very best quality’ (as in الشعرعيون , meaning ‘the choicest works of poetry’), etc. The aforementioned tendency to overgeneralise is a widely observed phenomenon among student translators, which is often attributable to the mechanical application of the abstract rules referred to in the above-given introduction concerning the translation of metaphor.

3.2. Implied analogy

It is often the case that the sense of a metaphor cannot be easily found or directly defined. If you call someone ‘a snake’, for example, what actual resemblance to a snake would you take as the sense of that metaphor? By calling that person a snake, you certainly do not mean that he/she is a limbless reptile, or capable of producing venom, or dangerous to approach. In this case, unlike that in 3.1 above, the relationship of similarity between the object and the image cannot be said to be direct. What may be described as the sense of the metaphor in the present instance would be easier to understand if put in the following terms: the feeling of caution, fear, and apprehension, which people normally have towards snakes is being felt towards the person referred to in the metaphor. In other words, the type of metaphor exemplified here works through some common attitude which the speakers of a language take up towards the object and image involved in the figurative expression they use (Richards 1936: 118f).

From the point of view of translation, it should be emphasized that here too no translation procedure can be said to be applicable to each and every instance of this type of metaphor, as speakers of different languages may have different attitudes towards more or less the same creatures, objects, and/or phenomena in their respective cultures. Translators often encounter cases where a metaphor meaning one thing in one culture has an entirely different interpretation in another. For example, ‘a rainy day’ in most European countries is a time you need to make provision for (‘save something for a rainy day’), but a very welcome occasion in the scorching deserts of the Middle East, where people pray for rain. Furthermore, the choice of a particular translation procedure may be subject to the type of the text to be translated and the purpose it is designed to serve. For example, Nida’s (1964) tendency to replace SL metaphors by TL non-metaphors reflects a theoretical stand based

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on his experience in translating the Bible, which is not seen as a work of art, but as an educational or instructional text aimed at spreading the message of the Christian faith. Clarity of the message, therefore, is given priority over all other considerations. In other words, Nida is more concerned with the denotative content of the message than with its formal features or artistic qualities (see Schogt 1988: 104). Taking other considerations into account, other translators, however, may opt for other procedures when dealing with the same types of metaphor, as will be illustrated below.

3.3. Are metaphors comparisons?

Some writers go even so far as to deny the claim that metaphors are comparisons, that they simply record pre-existing similarities. There are cases, it is argued, where metaphors create similarities rather than give an objective description of them (see Kittay 1987: 17). Evidence for this argument can be found in the following lines from a poem entitled المطرأنشودة ‘Rain Song’ by the late Iraqi poet al-Sayyaab (1971: 474):

،عيناك غابتا نخيل ساعة السحر

ما القمرأو شرفتان راح ينأى عنه ،تبسمان تورق الكروم عيناك حين

آاألقمار في نهر.. وترقص األضواء ر؛السح يرجه المجداف وهنا ساعة

...آأنما تنبض في غوريهما النجوم

Your eyes are two palm tree forests in early light, Or two balconies from which the moonlight recedes When they smile, your eyes, the vines put forth their leaves, And lights dance like moons in a river Rippled by the blade of an oar at break of day; As if stars were throbbing in the depths of them … (Jayyusi 1987: 427)

Quite obviously, there seems to be no place here for the traditional view that metaphor is a primarily visual or conceptual similarity between dissimilar things. In the above metaphor, it would be futile to look for direct resemblance between object, ‘eyes’, and image, ‘two palm tree forests’ (line 1) and ‘two balconies …’ (line 2). Indeed, when the poem was first published (1960), it was widely criticized for "the apparent absence of visual similarity" between the two components of the metaphor (see Simawe www). In a metaphor like this one, however, the relationship of similarity, instead of being described as direct or visual, would more appropriately be said to lie "in the mind of the maker of the metaphor, rather than in the specific qualities of vehicle (image) and tenor (object)" (bracketing mine) (Holman 1985: 265). Notice that the poet describes the eyes by using a complex metaphor (lights dancing like moons in a river, and stars throbbing in their depths), whereby he expresses both "the complex reality of her eyes as he experiences them and the limitation of language, even poetic language, in fully capturing his imagination" (Simawe, op. cit.).

3.4. An eye for differences

Aristotle is reported to have said that to make good metaphors one should have an eye for resemblances (see Deutsch 1965: 73). In other words, to master the skill of producing metaphor, which, to Aristotle, is the greatest of a poet’s achievements, is to be able to find similarities in seemingly dissimilar things. Modern critics, however, have shown that the making of good metaphors implies an eye for differences too. Analytical criticism, as Holman (1985: 265) puts it, "tends to find almost as much rich suggestiveness in the differences

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between the things compared as it does in the recognition of surprising but unsuspected similarities". An essential feature of a successful metaphor, that is, consists in that there is a certain distance between its object and image: they must be sufficiently different for their juxtaposition to arouse a sense of novelty. 4. Metaphor and simile: distinctions and implications for translation

It was pointed out in the introduction that the translation procedures proposed by some theorists for rendering metaphor into a TL might prove to be counterproductive because, among other things, no clear principles or guidelines are provided as to ‘how the choice from among those procedures is made’. This situation has led to the false impression among student translators that any one of the choices offered is as good a translation procedure of metaphor as any other, which may not necessarily be, at least not always, the case, as we shall see shortly. A metaphor may thus be found to be inappropriately turned into a simile, replaced by a non-metaphor, converted to sense, or its original image unsuitably replaced by another one that is far less suggestive and forceful than the former. Cases like these often reflect unawareness on the part of the given translator of some very significant distinctions between metaphor and other figurative devices. Alternatively, perhaps, he/she is unduly influenced by purely linguistic definitions of metaphor that, again, fail to bring up these distinctions, such as the following one (Perrine 1988: 565) where a comparison is made between metaphor and simile:

Metaphor and simile are both used as a means of comparing things that are essentially unlike. The only distinction between them is that in simile the comparison is expressed by some word or phrase, such as like, as, than, similar to, resembles, or seems; in metaphor the comparison is implied – that is, the figurative term is substituted for or identified with the literal term.

The above-quoted definition tells us no more about metaphor and simile than that they

are similar in function and that the former is implicit while the latter is explicit. The matter, however, is not as simple as that; the following is an illustrative account of the distinctions between these two devices that translators need to bear in mind whenever they are encountered by a situation where they have to choose between two or more translation alternatives.

4.1. Range of comparison

One point of distinction between metaphor and simile is that the former has a wider range of comparison than the latter. In a sentence like ‘That man walks like a peacock’, what the simile suggests is that the property which the man and a peacock have in common consists in their way of walking. There is no suggestion of the man’s other peacock-like attributes, e.g. fine appearance, colourfulness, perhaps long-neckedness, etc., which can be vividly suggested by the metaphor ‘That man is a peacock’. One would therefore agree with Leech (1969: 156) that the very explicitness and circumstantiality of simile is a limitation, while "the ability of metaphor to allude to an indefinite bundle of things which cannot be adequately summarized gives it its extraordinary power to open new paths of expression".

Unless unavoidable for one reason or another, the translation of metaphor into simile would thus result in a considerable translation loss. Let us take as a case in point the metaphor contained in the following lines from Hamlet’s famous soliloquy (Hamlet, Act III, Scene I) and the way it has been handled in a particular translation:

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To be, or not to be: that is the question: Whether 'tis nobler in the mind to suffer The slings and arrows of outrageous fortune, Or to take arms against a sea of troubles, And by opposing end them?

In these lines Hamlet is wondering which is nobler, to suffer the blows of fortune or fight

them. The decision he is trying to make is expressed metaphorically in the third and fourth lines: the objects ‘(outrageous) fortune’ and ‘troubles’ are described in terms of the images ‘slings and arrows’, and ‘a sea’, respectively.

To start with, the above metaphor seems to lend itself naturally to being retained in Arabic; images involving the sea and the various meanings associated with it (e.g. caprice, roughness, vastness, majesty, abundance, etc.) constitute some of the most frequently used metaphors in the language. For example, the very idea expressed through ‘a sea of trouble’ is more or less similarly rendered in an equally effective metaphor in the following line by the ancient Arab poet al-Mutanabbi (d. 965):

سرت بين الجحفلين بهومرهف الموت يلتطم وموج ضربت حتى This has been translated (Nicholson 1977: 307) as:

And O the days when I have swung my fine-edged glaive Amidst a sea of death where wave was dashed on wave

Clearly, al-Mutanabbi’s metaphor الموتموج ‘waves (sea) of death’ closely resembles

Shakespeare’s ‘a sea of troubles’, where the objects ‘death’ and ‘troubles’, respectively, are described in terms of the same image, i.e., ‘a sea’ to express the idea of immensity or numerousness. The other image in Shakespeare’s metaphor, namely ‘slings and arrows’, can also equally naturally be maintained in Arabic. This being the case, one would expect the above Shakespearean metaphor to be naturally rendered into an equivalent Arabic metaphor with the same image. In the following translation, however, the situation is quite different. The metaphor in Hamlet’s soliloquy is translated (Jamaal 1983: 51-2) as follows:

إني ألتساءل فيما إذا آنت حقا موجودا في هذا الوجود فأي الحالتين أمثل يا ترى؟ أأستكين . أم غير موجود

للرجم والمظالم أم أنهض لمقاومة المصائب ولو آانت آرذاذ المطر شدة وقسوة؟

In this translation, the SL metaphor ‘sea of troubles’ is rendered significantly less

forceful by being shifted to a simile in the TL. ‘Troubles’, the object of the SL metaphor, are described in terms of being "as harsh and as violent as drizzle" ( " المطر شدة وقسوةآرذاذ" ). Note also that the metaphor is further weakened by reducing the SL image ‘sea’ to a mere ‘drizzle’. The other SL metaphor, ‘the slings and arrows of outrageous fortune’, is rendered almost non-metaphorically into "should I give way to curses and iniquities?", where neither the SL object nor the SL image is retained in the TL, which, as far as we can judge, is unjustifiable. The metaphors in question may more appropriately be translated into something like the following by Jabra (1986a: 93-4):

.أأآون أم ال أآون؟ ذلك هو السؤال

أمن األنبل للنفس أن يصبر المرء على مقاليع الدهر اللئيم وسهامه

أم يشهر السالح على بحر من الهموم وبصدها ينهيها؟

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Jabra’s translation reflects his awareness of the above-made distinction between

metaphor and simile; by retaining the SL objects and images, he was able to maintain the force of the original metaphors, their connotations, and their unrestricted range of comparison.

4.2. Difference of effect

The difference between simile and metaphor – that the former is an explicit comparison while the latter implicit – results in a difference of effect. A comparison established through simile keeps us almost equally aware of the two things involved. Consider, for example, the following line of verse by Qays bin DariiH (quoted in Shuusha 1983: 79):

لقد ثبتت في القلب منك مودة آما ثبتت في الراحتين األصابع which may be translated as follows:

Your love is as firmly fixed in my heart As fingers in my palms.

The above simile makes us as much aware of the firmness of the poet’s love for his sweetheart (in his heart) as of the fixedness of his fingers in his palms. In a metaphor, however, the fusion of the two elements is such that we remain far more aware of one of them than the other. This characteristic of metaphor can best be illustrated by the following lines from Auden’s poem ‘As I Walked Out One Evening’ (quoted in Kreuzer 1955: 88):

In headaches and in worry Vaguely life leaks away, And Time will have his fancy To-morrow or to-day.

In his excellent analysis of this metaphor, Kreuzer (ibid, p. 89) explains that in these

lines "our attention is centred on life; it is not equally shared with a leaky vessel. Yet we have some awareness of the leaky vessel. Actually, the metaphor results in our seeing of life with the characteristics of a leaky vessel made intrinsic to it".

4.3. Economy and immediacy

Another main distinction between metaphor and simile is that the former is more economical and immediate than the latter (see Gill 1985: 19-20). It is possible through metaphor to make a complex statement without complicating the grammatical construction of the sentence that carries the statement. Consider, for example, the metaphor in the following Qur’anic verse: " واشتعل الرأس شيبامني رب إني وهن العظم قال " "He said: My Lord! infirm indeed are my bones, and my head is blazing with grey hair". If expressed through a simile, the metaphorical expression "my head is blazing with grey hair" would be something like "The spread of grey hair in my head is like the spread of fire in dry stalks", or "Grey hair is to my head as a blazing fire to firewood", which is quite untypical of the style of the Qur’an which is characterized by succinctness and forcefulness. This perhaps is one main reason why the metaphor under discussion is retained in almost all translation versions of the verse in question (see The Nobel Qur’an: Translations of the Qur’an: Chapter 19, Verse 4, www). The only translation I have come across where it is rendered via a different procedure is that given by Al-Hilaali and Khan (1996: 384) where it is converted to sense: "… and grey hair has spread on my head", but which demonstrates clearly the noticeable translation loss this

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conversion has entailed in terms of the conciseness, vividness, and suggestiveness of the expression. Metaphors are also immediate. By ‘immediacy’, here, is meant the fusion of two things in a single word. Take for instance the following lines from an unpublished poem by the writer:

...ال تنطقي

الحب أنطق وجنتيك بأن سقى .لى خديك لون الشفقوردا ع

This might be translated as:

Speak not, For love has made thy cheeks speak, That it has tinged them With the colour of twilight.

In these lines, a personification is used whereby ‘love’ is talked of in terms of having

the power to make ‘cheeks’ speak. This dramatic picture is established in a single verb, أنطق ‘to make (someone or, metaphorically, something) speak’.

4.4. Degree of explicitness

A further feature distinguishing metaphoric utterances from similes is that it is part of the nature of the former to be ambiguous, particularly when taken in isolation The ambiguity in such cases arises from the uncertainty about which words are to be understood metaphorically, and which literally. Kittay (1987: 25) uses an interesting example to illustrate this point. The sentence ‘This man is my mother’ may be understood in two different ways:

(1) The man has treated me as I might expect a mother to treat me (‘man’, in this case, is used literally, and ‘mother’, figuratively).

(2) I am remarking on the presumed masculine characteristics of a woman who is actually my mother (in which case ‘mother’ has a literal meaning while ‘man’, a figurative one).

Turning such a metaphor into a simile (e.g., ‘That man is as kind to me as my mother’)

would allow of only one interpretation, thus rendering the sentence unambiguous. The ambiguity of the original utterance, however, may be, or usually is, intended to achieve a certain stylistic purpose, e.g. highlighting the characteristic of kindheartedness attributed to the man in question (in the case of the first interpretation), or providing a maximally vivid description of the masculine qualities of the mother (in the case of the second interpretation). This, of course, is similarly the case in translation. 5. Justifiable changes

It was suggested above (4.1) that for one reason or another it is sometimes not possible for a SL metaphor to be retained in the TL, the implication being that, in such cases, the translator may justifiably resort to one of the alternative solutions or translation procedures mentioned in the introduction. The following two cases will suffice to illustrate this point.

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5.1. Lack of semantic equivalence between SL and TL

There are cases where the translator finds it inevitable to translate a metaphor into a non-metaphor due to the fact that a given SL referent may have a certain connotation that is lacking in the seemingly corresponding referent in the TL. Consider, for example, the use of the word سابح in the following line of verse (Al-Hamadaanii, n.d.: 66):

بالعراء قبابلي ضربت وال وال شد لي سرج على ظهر سابح

The basic meaning of Arabic ’سابح‘ is exactly the same as that of ‘swimmer’ in English. Metaphorically, however, the former, but not the latter, is also used as an epithet for horses, meaning ‘floating’, to indicate their high speed; there is, thus, سوابح (pl. of سابح) ‘race horses’ (Wehr 1961). It is because of this difference in meaning, it seems, that Arberry (1965: 94) uses a literal, non-metaphorical, alternative (viz., ‘galloper’) in his translation of the above-quoted line:

No saddle is bound for me on the back of a strong galloper, Neither is any tent pitched for me in the desert.

5.2. The general purpose of translation

The question of whether or not a source text (ST) image should be retained in a target

text (TT) is sometimes a matter of attitude on the part of the translator towards the general purpose of translation (particularly of literary texts). Translation theorists distinguish between two main types of translation, the so-called ‘semantic translation’ and ‘communicative translation’, a distinction similarly reflected, consciously or unconsciously, in translators’ products. A semantically oriented translation has as its main objective the rendering of the exact contextual meaning of the ST as closely as possible; loyalty to the SL culture thus remains to be a major strategic objective of the semantic translator. ‘Communicative translation’, on the other hand, is primarily oriented towards the TL reader "who does not anticipate difficulties or obscurities, and would expect a general transfer of foreign elements into his own culture as well as his language where necessary" (Newmark 1982: 39). For the purposes of illustration, consider the image Shakespeare uses in following lines of his sonnet 18:

Shall I compare thee to a summer's day? Thou art more lovely and more temperate:

Rough winds do shake the darling buds of May, And summer's lease hath all too short a date:

In these lines, Shakespeare is wondering whether he would do his friend justice by

likening him to ‘a summer’s day’. The summer referred to here, of course, is not the type of summer familiar to people in some other parts of the world. In the Middle East, for instance, it is an annoyingly hot season and extends over a long period of time, unlike the case in Britain, where it is characteristically pleasant and much shorter. The transfer of the SL image in this case may thus pose a translation problem if the TL is a Middle Eastern one, Arabic for example: the comparison would sound unsuitable to the Arab reader/hearer. To get around this problem, a communicative English-Arabic translator may thus find it appropriate to replace the SL image ‘a summer’s day’ by an equivalent TL one, الربيع ‘spring’, thereby avoiding an inevitable cultural shock, as in the following example (Ali 2002: 130):

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أأقول أشبهـت الربيــــع طبـاعـــاوطباعك األحنى وحسنك آـــامـل تذوي البراعم والغصون سراعا فربيع ذي الدنيــا قصير زائــــــل

Those in favour of semantic translation, on the other hand, would argue that the TL

reader "should get a vivid impression from the content of the sonnet of the beauty of summer in England, and reading the poem should exercise his imagination as well as introduce him to English culture" (Newmark 1982: 50). With this in mind, a semantic translator would thus find it appropriate to retain the ST image in the TL version (FaTiina Al-Naaib, quoted in XaluuSi 1982: 35):

منــذا يقـــــــارن حسنك المـغري بصيف قـد تجلـــــــىوفنون سحرك قد بدت في ناظري أسمى وأغلى؟تجني الرياح العاتيات على البراعم وهي جذلـىوالصيف يمضي مسرعا إذ عقده المحدود ولـى

In a third translation version of the above-quoted Shakespearian sonnet, the translator

(Jabra 1986b: 715) goes even so far as to sacrifice the ST formal features of rhyme and rhythm for the sake of producing a semantically equivalent TT. He does so despite the relative importance of those features to the overall structure of the sonnet as a piece of poetic composition:

أبيوم من أيام الصف أشبهك؟ .ألآثر جماال أنت عندي وأشد اعتداال

فالرياح العتية تجني على براعم أيار الحبيبة !وعقد الصيف ما أقصر أجله

6. Concluding remarks and pedagogical implications

The main objective of the present study was to highlight those characteristics of metaphor that distinguish it from other types of figurative and non-figurative expressions, putting special emphasis on the relevance of these distinctions to translation decisions involving the rendering of SL metaphors into the TL. Following a fairly detailed discussion of some facts and misconceptions about the relationship of similarity between ‘object’ and ‘image’, the two parts of any metaphorical expression, a comparison was made between metaphor and simile with a view to pointing out the main distinctions between these two figures and the special importance these distinctions acquire when looked at from the point of view of translation. It was shown that the difference between the two figures is not merely a grammatical one depending on the use of such words as ‘like’, ‘as’, ‘than’, etc; rather, they differ in significance. A metaphor is a method of expression whereby language can be stretched and the rules of literal usage systematically violated. In simile, on the other hand, language is used at its normal or literal level; one thing is said to be like another thing. Further distinctions between the two figures include their range of comparison: that a metaphor is more complex and inclusive than a simile; their effect: the fact that the two objects of a comparison are kept apart in a simile but fused together in a metaphor, thus producing a sense of novelty; economy and immediacy: that a metaphor is more economical and more immediate than a simile; and the degree of explicitness: the fact that metaphors are less explicit and less direct than similes.

In light of the above-made distinctions, the study investigated the dangers involved in the application of the set of translation procedures proposed by some translation theorists as ‘alternative solutions’ in cases where a given SL metaphor does not lend itself to being retained in a TL. The main argument against this proposal, it was illustrated, consists in that

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it makes no mention of how the choice from among the various procedures is made, thus turning metaphor translation into a random process, rather than one that is based on the type of structure and function the particular metaphor has within the given context. Apart from cases where change is deemed legitimate, as illustrated above, an SL metaphor may thus be unjustifiably turned into a TL simile, or its original image replaced by a TL one, or it may be converted to sense in the TL, or even dropped altogether, thus incurring considerable translation loss.

Pedagogically, the study warned student translators against the mechanical application of the aforementioned translation procedures, i.e. the misguided notion that any one of the alternatives suggested is as good a translation procedure of a given metaphor as any other. It was shown that abstract rules alone do not necessarily guarantee the successful translation of a SL metaphor into a TL. Rather, the translator’s decision should be based on such considerations or guidelines as: a clear understanding of the complex nature of metaphor and the characteristics that distinguish it from other figures of speech; the type of metaphor concerned, i.e., whether dead, original, etc.; the function of the given metaphorical expression within the particular context in which it occurs; the relevance of the SL metaphor to TL culture; the translator’s own attitude towards the general purpose of translation, i.e. whether the aim is to produce a semantic translation (loyal to the SL culture) or a communicative translation (primarily oriented towards the TL reader). References Ali, A.S.M. 1998. "A Study of Metaphor and Simile with Reference to Translation." ?Aadaab Al-

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Abdul Sahib Mehdi Ali has a Ph.D. in Linguistics from the University of London, UK (1981); is currently an associate professor of linguistics and translation at the university of Sharjah, UAE; was Chairman of the Department of Translation, Al-Mustansiriyya University, Baghdad, for twelve years (1982-1993); is the author of several publications in the fields of translation, lexicography, lexical studies, and contrastive linguistics. Address: Dept. of English Language and Literature, University of Sharjah. P.O. Box 27272, Sharjah, United Arab Emirates. E-mail: [email protected]

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

As Metáforas Terminológicas no Desenvolvimento da Ciência

Cláudia Martins

Escola Superior de Educação de Bragança, Portugal International Doctorate in Translation and Intercultural Studies, Universitat Rovira i Virgili, Spain

[email protected] Resumo A linguagem utilizada nos textos de especialidade é encarada como sendo de natureza mais objectiva e directa. No entanto, esta não ignora a utilização de recursos da linguagem figurativa, tradicionalmente entendidos como sendo exclusivos dos textos literários. Assim, na tradução especializada, identificam-se inúmeros exemplos deste tipo de recursos, nomeadamente das metáforas, que, ultrapassando o âmbito de mero ornamento retórico, passam a expressar conceitos técnicos e científicos e a assumir o estatuto de termo. Uma análise das metáforas terminológicas, segundo a designação proposta por Kočourek (1991: 166), realizada no contexto da investigação de mestrado, vem provar que as metáforas não só são objecto de diversas teorias linguísticas, entre as quais se destacam a abordagem da linguística cognitiva, a teoria da relevância ou a teoria dos protótipos, como desempenham também importantes papéis no âmbito da ciência, desde a constituição das próprias teorias científicas até à sua divulgação tanto aos pares como aos leigos. Desta forma, as metáforas nas suas funções substantiva e pedagógica funcionam como motores para o desenvolvimento da ciência e para a sua difusão. Tendo em consideração esta problemática, através da apresentação de algumas metáforas retiradas da Agenda 21, analisar-se-ão de forma breve as implicações destas para o trabalho do tradutor. Palavras-chave: abordagens linguísticas, metáforas terminológicas, tradução. Introdução

De acordo com Hawkes (1972: 5), «‘Metaphor’ only exists because metaphors do. And metaphors only exist when they actually occur in language, in society, and in time». Assim, pretende-se com este artigo comprovar a perspectiva exposta na afirmação de Hawkes e fundamentar teoricamente o uso de metáforas no âmbito das línguas de especialidade.

O termo ‘metáfora’ provém do vocábulo grego metaphora que significa ‘transferir, transportar ou deslocar para’, implicando um conjunto de processos linguísticos segundo o qual elementos ou características de um determinado objecto são transferidos para um outro, de modo a que esse segundo objecto funcione como se fosse o primeiro. A própria palavra metaphora é uma metáfora, «um pedido de empréstimo de movimento», podendo condenar os que procuram definir a metáfora a um percurso circular e a uma ausência de

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fundamentação, já que phora significa ‘mudança de lugar’ e uma metáfora apresenta-se literalmente como uma palavra fora do lugar (Miguens 2002: 76).

Ao longo de vários séculos que a questão da metáfora tem vindo a ser encarada sob diferentes perspectivas e interesses distintos, que originaram teorias de índole diversificado. Entre estas teorias destacam-se as teorias linguísticas (tais como a abordagem da linguística cognitiva, a teoria da relevância ou a teoria dos protótipos), as estéticas (que pretendem estudar a composição e a recomposição voluntária e artística das palavras com outros materiais simbólicos), as cognitivas (que visam salientar o funcionamento da mente), as ontológicas (que enfatizam a importância da transfiguração ou criação conceptual na constituição do homem), as desconstrucionistas (que aspiram revelar decisões arbitrárias ou infundadas da concepção do pensamento ou dos conceitos), entre outras (Miguens 2002: 73-74).

A partir do século XX, a Linguística passou então a considerar a metáfora como um fenómeno linguístico, e não estritamente literário, uma vez que se apresentava como um meio de expandir a linguagem para fora do âmbito literal ou enciclopédico, estabelecendo uma relação entre dois objectos através do uso de palavras de forma figurada, com um sentido diferente do do lexicográfico. Como consequência, a diferença entre linguagem figurada e linguagem literal não assentava numa diferença de tipo de linguagem, mas antes de grau (Hawkes 1972: 71-72).

Neste sentido, a metáfora apresenta-se como indispensável para todas as disciplinas; ocorre na relação do enunciado com a situação linguística; permeia todo o discurso; é um princípio fundamental do pensamento e da acção e surge como irredutível a um suposto significado literal, ou seja, a metáfora cria autoridade e carácter (Castillo 1997: 41). Para além destes pressupostos, a metáfora é um modo de conhecer, podendo o predicador recorrer a esta para construir uma realidade diferente da realidade da sua audiência, constituindo um convite para participar neste novo mundo construído, isto é, cria comunidade. Finalmente, a metáfora possui um grande poder de persuasão na vida quotidiana, no pensamento e na acção, pois o sistema conceptual, segundo o qual pensamos e actuamos, é, por natureza, fundamentalmente metafórico; neste sentido, a metáfora cria novos conceitos e como tal desenvolve mundos e modos de ser alternativos (Castillo 1997: 41). Algumas abordagens à metáfora

Dentro das inúmeras abordagens efectuadas à metáfora, afigura-se pertinente mencionar de forma breve a teoria da relevância, a dos protótipos e a da Linguística Cognitiva, a par daquela que é realizada no âmbito da Terminologia, como ciência que é.

Sperber & Wilson (apud Goalty 1998: 17, 23), na sua obra intitulada "Relevance" de 1986, desenvolveram a teoria da relevância, segundo a qual a única diferença entre a linguagem literal e a metafórica reside no grau de afastamento entre o pensamento do falante e a proposição expressa. As razões apresentadas por estes autores para a existência de um fosso maior do que o pretendido pelo enunciador relaciona-se com o facto de não estarem disponíveis expressões concisas e apropriadas para exprimir os pensamentos do falante em forma proposicional, ou, se disponíveis, a maioria poderia ser semanticamente desadequada, devido ao facto de a sua posição na hierarquia semântica variar em função do contexto. Desta forma, o significado último da proposição deve ser negociado no contexto social e mediante o co-texto, visto que a procura de uma relevância óptima conduz o falante a adoptar uma forma proposicional mais ou menos próxima dos seus pensamentos. As trocas linguísticas têm então por objectivo procurar uma forma mais eficiente de transferência de informação com um mínimo de esforço de processamento (Figura 1).

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Efeitos Contextuais

Relevância = Esforço de Processamento

Figura 1 – Equação da relevância (Goalty 1998: 139, nossa tradução).

Por conseguinte, a teoria da relevância proporciona uma explicação geral da interpretação metafórica à luz da pragmática, com base na qual se abordam os princípios e os processos de inferência necessários para complementar a descodificação. A compreensão metafórica depende de processos e princípios envolvidos na interacção entre o conhecimento do sistema linguístico, o conhecimento do contexto (a situação e o co-texto) e o conhecimento esquemático da contextualização factual e sócio-cultural (Goalty 1998: 137).

No entanto, mesmo à luz desta teoria, a distinção entre a linguagem literal e a metafórica é ténue, existindo essencialmente um continuum entre estas. É fundamentalmente criticada pelo facto de a relevância só se tornar significativa se se puder responder à questão "relevante para quê?". A metáfora deveria então munir-se de um conjunto de funções, tais como o preenchimento de lacunas lexicais; a explicação e a modelação da realidade; a reconceptualização; a argumentação por analogia; a ideologia; a expressão de atitudes emocionais; a ornamentação, a dissimulação e a hipérbole; a manifestação de intimidade; os jogos humorísticos; a participação na acção e na resolução de problemas; a estruturação textual; a ficção; o realçar da memória e da informatividade (Goalty 1998: 148-166).

Seguidamente, convém referir Eleanor Rosch (1978) que, ao recusar os princípios da teoria clássica, lhe contrapôs a teoria dos protótipos, defendendo que as categorias em geral possuem melhores exemplos, os chamados protótipos, e que todas as capacidades humanas participam na categorização. À medida que esta teoria evoluiu, modificou-se o entendimento da capacidade humana de categorizar e a própria ideia da mente e razão humanas: a razão tinha sido encarada pela tradição ocidental como meramente abstracta e perfeitamente distinta da percepção, do corpo e da cultura, por um lado, e dos mecanismos da imaginação, nomeadamente a metáfora e a imagética mental, por outro (Lakoff 1985: 7).

A teoria dos protótipos surge assim como um modelo de categorização alternativo, de acordo com o qual quando um indivíduo se confronta com um conjunto de estímulos, abstrai os aspectos comuns dentro desse conjunto de estímulos e a representação resultante deste processo de abstracção é armazenada na memória. Este protótipo abstracto assemelha-se a um esquema que tem por função categorizar a nova informação, já que um protótipo se apresenta como a melhor forma de representar uma categoria. Assim, quando um indivíduo se depara com um determinado exemplo de uma classe de objectos ou coisas, compara-o com o protótipo abstracto dessa mesma categoria, com o esquema: se for suficientemente similar ao protótipo, o exemplo é julgado como um caso prototípico; se não for, é rejeitado como tal (Ellis et al. 1993: 217).

Na mesma linha de pensamento, Lakoff (1985: 5-6) considera a teoria dos protótipos como uma nova teoria relacionada com a categorização, porque possibilita afirmar que não existe nada de mais básico e fundamental no pensamento, na percepção, na acção e no discurso humanos do que a categorização, sendo grande parte desta automática e inconsciente, da qual um indivíduo só se consciencializa em situações problemáticas. No entanto, nem todas as categorias se referem a coisas, muitas relacionam-se com entidades abstractas: eventos, acções, emoções, relações espaciais e sociais, entre outras. As estruturas linguísticas são esquemas de estruturas abstractas, em que existem extensões metafóricas ou metonímicas de um protótipo construídas com base neste esquema (Vilela 1996: 325-326).

Por outro lado, na perspectiva da Linguística Cognitiva e de acordo com Lakoff & Johnson (1980: 3), a metáfora, para além de ser uma questão de palavras, é acima de tudo uma questão de pensamento e acção, já que a metáfora intervém em todos os aspectos da

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vida, da linguagem, do pensamento e dos actos culturais. O nosso sistema conceptual, em função do qual pensamos e agimos, é fundamentalmente de natureza metafórica. A essência da metáfora reside, assim, no entendimento e na experiência de uma coisa em função de uma outra, sendo os conceitos e as actividades estruturados metaforicamente, seguindo a própria linguagem a mesma tendência (Lakoff & Johnson 1980: 3-5).

A estrutura cognitiva da compreensão humana concebe primeiramente o vocabulário universal do espaço, que adquire de seguida sentidos temporais. O conhecimento encontra-se então estruturado de acordo com a visão da realidade extralinguística e não se apresenta caoticamente disperso. Desta forma, a metáfora surge como a principal força na mudança semântica, operando entre domínios, entre a visão e o conhecimento, entre o espaço e o tempo, e sendo esta passagem de um domínio para outro efectuada por meio de mapeamentos cognitivos (Vilela 2001: 175-176).

A relação entre a percepção externa e os estados emocionais e cognitivos é explicada unidireccionalmente, já que a explicação de alguns estados psicológicos se efectua através do vocabulário do corpo humano. O corpo humano é, sem dúvida, um poderoso centro de expansão e atracção metafórica (Silva 1992: 317), tal como já havia sido mencionado por Boléo nos anos 30. Este autor menciona algumas metáforas de língua corrente com especial ênfase no homem: alguém que medita está a parafusar; alguém a quem se diga para meter a viola no saco deve calar-se; alguém bem disposto está fresco como uma alface; falar pelos cotovelos; dor de cotovelo; dar ao badalo; tomar tento na língua, entre muitos outros (Boléo 1932: 24-26; 29-30).

Consequentemente, as metáforas convencionais, que abrangem as orientacionais, as ontológicas e as estruturais, baseiam-se normalmente em correlações presentes na experiência humana, mas estas correlações não são similaridades, antes definem os conceitos que são compreendidos em função de similaridades. Uma metáfora conceptual reflecte a compreensão de um domínio conceptual em função de outro campo conceptual, o qual consiste numa organização coerente da experiência. Por exemplo, as metáforas "O trabalho é um recurso" e "Tempo é dinheiro" constituem metáforas que não são encaradas como tal, porque resultam naturalmente da forma como a cultura e a sociedade industrial ocidental encaram o trabalho, na sua paixão de quantificar tudo e na sua obsessão em atingir fins bem definidos (Lakoff & Johnson 1980: 66-67). Assim, as metáforas estruturais reportam-se às metáforas em que um conceito se encontra metaforicamente estruturado consoante um outro (Vilela 1996: 324). No entanto, a fronteira entre metáforas estruturais e metáforas ontológicas não é líquida.

Os mesmos autores, Lakoff & Johnson (1980: 10), referem ainda a metáfora condutora («conduit metaphor»), segundo a qual um falante coloca ideias ou objectos em palavras que funcionam como contentores e envia-os ao longo de um condutor até ao ouvinte que retira as ideias/objectos de dentro das palavras/contentores. "As expressões linguísticas são contentores para significados" e "Comunicar é fazer chegar algo a alguém" são exemplo destas metáforas (Vilela 2002: 74).

Por sua vez, as metáforas orientacionais possibilitam a organização semântica dos conceitos mediante as suas relações espaciais básicas dentro do próprio sistema de conceitos, atribuindo-se a um conceito uma orientação no espaço, e, a partir do elemento físico da metáfora orientacional, cria-se um conjunto de transferências e aplicações a outros domínios (Vilela 1996: 329-330). Este autor (2002: 75-76) menciona os seguintes casos: O atleta está no pico da forma; Ele caiu em depressão; Ele está sob hipnose; Ele acordou de um sono profundo; Ele é de alta estirpe. A par destes, Lakoff & Johnson (1980: 15-17) referem outros para a língua inglesa: I’m feeling up/down; Your’re in high spirits; He’s really low these days; He came down with the flu; He’s under my control; She fell in status; He does high-quality work; That was a low trick.

Finalmente, as metáforas ontológicas permitem agrupar, identificar, quantificar, racionalizar os dados que provêm da experiência humana, alguns dos quais não são objectos concretos, como por exemplo: Inflation is lowering our standard of living; That was a

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beautiful catch; Internal dissension costs them the pennant (Lakoff & Johnson 1980: 26-27). Estas metáforas possibilitam abordar conceitos e abstracções como se estas fossem entidades manipuláveis, sendo disto exemplo a metáfora-contentor, em que os objectos ou conceitos são projectados como dentro ou fora. Vilela (2002: 77-79) acrescenta mais alguns exemplos: A minha capacidade de reflexão encravou; Ele ficou em fanicos com a sua morte; Ela entrou numa fase de euforia.

O entendimento das experiências em termos de objectos e de substâncias permitem seleccionar aspectos específicos da realidade e encará-los como entidades uniformes, categorizando-as, agrupando-as e quantificando-as. Assim como as experiências humanas mais básicas conduzem ao desenvolvimento de metáforas orientacionais, também as experiências com objectos físicos fornecem a base para uma variedade considerável de metáforas ontológicas, isto é, de diferentes meios para visionar eventos, actividades, emoções ou ideias como substâncias e entidades (Lakoff & Johnson 1980: 25-26).

No entanto, a abordagem das metáforas no âmbito específico das línguas de especialidade é mais concretamente realizada no contexto da Terminologia, ciência que estuda os termos utilizados no âmbito de domínios conceptuais específicos. Apesar de a Terminologia constituir uma disciplina com uma relação privilegiada com a Linguística Aplicada e a Lexicologia, distingue-se por ser fundamentalmente onomasiológica, considerando o conceito anterior ao nome, que é compreendido independentemente do nome ou do termo que o representa. Os termos interessam à Terminologia por si mesmos, mas acima de tudo porque estabelecem uma ligação com os conceitos do mundo real.

Tradicionalmente, também a Terminologia defendia que a relação entre termos e conceitos deveria ser unívoca, monossémica e objectiva; no entanto, com o desenvolvimento desta ciência, provou-se que os recursos da linguagem figurativa têm lugar também no contexto das línguas de especialidade, tal como se pode comprovar através da posição de Kočourek (1991).

Desta forma, encontrando-se Kočourek (1991: 167) enquadrado numa reflexão fundamentada sobre as línguas de especialidade, defende que a língua técnico-científica e os sistemas semióticos utilizados na ciência não dispensam os elementos figurados. Neste sentido, propõe uma classificação das metáforas no âmbito da formação de unidades terminológicas em analogia cognitiva, a metáfora viva e a metáfora lexical. Estes recursos são universais, porque acompanham todo o pensamento humano, e permitem veicular o conhecimento de uma forma que permita compreender algo em função de uma outra coisa. Apesar de as metáforas terminológicas poderem ser menos frequentes que os termos compostos ou os termos fraseológicos (mesmo que um dos seus constituintes seja utilizado com sentido metafórico, o que levanta ainda a questão das colocações metafóricas, que também podem ser terminológicas), a metaforização de um termo designa não só a motivação metafórica de um termo, mas também o seu uso metafórico tanto em língua geral como em línguas de especialidade (Kočourek 1991: 169). Assim, as metáforas terminológicas surgem como uma forma de extensão semântica que, no contexto das línguas de especialidade, assumem o valor de unidades terminológicas, a unidade mínima da Terminologia, porque representam conceitos dessas mesmas línguas. As metáforas na ciência

É evidente que toda a linguagem humana é portadora de ambiguidade e a linguagem científica não constitui excepção. A história da ciência revela que a linguagem científica desde sempre incluiu expressões metafóricas, tendo mesmo a própria terminologia uma origem metafórica, uma vez que quando algo é descoberto surge a necessidade de designar essa coisa. Como consequência: «If metaphors are not just stylistic ornaments, but a way of thinking, there is no reason why this potential should only be used to structure categories underlying certain abstract words, and why it should not show up in the way we approach the complex scientific, political and social issues of our world.» (Ungerer & Schmid 1997: 143).

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Contudo, o positivismo que caracterizou o século XX baniu a metáfora, encarada como um mecanismo poético insignificante do ponto de vista cognitivo. À medida que diversos estudos no âmbito da linguagem científica (que serão referidos de seguida) foram sendo efectuados, estes revelaram que a metáfora exerce um papel consideravelmente significativo na fundamentação das ciências, ou seja, defendeu-se a ideia de que as metáforas não são cognitivamente dispensáveis. Numa segunda fase, multiplicaram-se as pesquisas sobre a natureza e a função da metáfora nos modelos e paradigmas científicos e noutras disciplinas (Johnson in Hoffman & Honeck 1980: 49).

O fenómeno da metáfora na linguagem científica não se caracteriza por uma baixa frequência de ocorrência, antes apresenta-se como uma componente dominante da linguagem humana. De facto, as expressões figurativas atravessam todo o discurso científico, principalmente nas fases iniciais do desenvolvimento de uma determinada disciplina e em períodos de pesquisa intensa, entre as quais se destacam as metáforas (Johnson & Malgady in Hoffman & Honeck 1980: 260; Contenças 1999: 9).

Neste sentido, mais recentemente, foi concedido à metáfora um lugar proeminente nas descobertas científicas, na medida em que não só a metáfora precede a própria descoberta científica, como ambas coexistem temporalmente. A metáfora apresenta-se como um veículo de descoberta, um acesso epistémico ao mundo: descobrem-se novos aspectos do mundo quando se forjam novas palavras para se referirem a este mundo. Assim, a metáfora não é uma ferramenta provisória que deva ser rejeitada, mas antes um dos meios que permite a apropriação da estrutura causal do mundo real, a fixação de uma referência nova porque se trata, por um lado, de um processo de descoberta, e, por outro, de uma forma de desenvolver esta descoberta (Castillo 1997: 39).

O modo de expressão metafórica surge assim como constitutivo do discurso racional devido à sua capacidade particular para compreender relações e contextos, proporcionando à teoria uma vinculação permanente com o mundo real. Esta perspectiva encara os conceitos como sendo relativamente secundários face ao mundo real, enquanto as imagens, as metáforas e os símbolos se apresentam como experiências directas da realidade, constituem estratégias para fazer frente à existência e permitem a orientação e a compreensão no mundo real. Desta forma, a razão como exercício vital do homem possui a mesma condição que a condição metafórica e estabelece uma vinculação entre pensamento e experiência, de tal modo que permite conceptualizar as experiências e criar conceitos (Innerarity 1997: 140-142).

No entanto, não se pode conceder uma mera função heurística à metáfora como se esta fosse um instrumento irracional capaz de suscitar procedimentos racionais, assim como o discurso não-literal não pode ser encarado como um discurso impróprio, indirectamente literal, já que a possibilidade de um discurso não-literal não é uma propriedade contingente da linguagem natural, mas antes constitutiva desta. A função inovadora da metáfora deve-se à incapacidade de ser substituída, desmentindo a teoria segundo a qual as metáforas podem ser substituídas por expressões autênticas ou literais. Toda e qualquer intenção de traduzir uma metáfora pelo seu equivalente literal resulta na perda do seu conteúdo cognitivo, desaparecendo as relações significativas complexas que a metáfora instaura. A ênfase de uma metáfora e a resistência à paráfrase relaciona-se com a sua significação num determinado contexto, resultando que toda a substituição altera a significação metafórica (Innerarity 1997: 142- 144).

Uma vez constituídas as teorias, as metáforas persistem, estabelecendo-se uma relação entre metáforas e teorias, ou seja, as metáforas são elementos constitutivos dessas teorias porque desempenham a função de estruturar e organizar o trabalho de investigação e construir o saber científico. Assim, apesar de a ciência valorizar a univocidade conceptual, esta apresenta-se como uma ilusão, uma vez que as linguagens de especialidade se elaboram também mediante processos metafóricos (Enes 1985: 9-10; 25-26).

Segundo Boyd (apud Ungerer & Schmid 1997: 147), as metáforas são omnipresentes na ciência, tendo sido a maioria destas introduzidas na linguagem científica com fins

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explicativos, como é o caso das metáforas na ciência computacional. O uso de metáforas consiste num dos mecanismos disponíveis para a comunidade científica alcançar a acomodação da linguagem à estrutura causal do mundo, quer seja pela introdução de terminologia, quer seja pela modificação do uso de terminologia já existente, de modo a que as categorias linguísticas descrevam causal e explicativamente os traços relevantes do mundo (Boyd in Ortony 1993: 483).

Paralelamente, Contenças (1999: 10) refere também as metáforas substantivas ou constitutivas no âmbito da linguagem científica, que ocupam um espaço insubstituível nas teorias, podendo originar conceitos operacionais, determinar métodos e experiências. Estas metáforas possibilitam ao investigador ter uma visão dos fenómenos e dos conceitos orientada para uma determinada direcção, que, por sua vez, sugere estratégias de investigação e contribui para o desenvolvimento do trabalho científico. É de realçar a sua presença nos mecanismos linguísticos de uma qualquer teoria científica, tanto em períodos pré-teóricos como em fases de pesquisa mais avançada (Contenças 1999: 73). As metáforas constitutivas de teorias, contrariamente às literárias, são abertas e indutivas, visto que o leitor é convidado a explorar as similitudes e analogias entre as características dos objectos principal e subsidiário, inclusivamente aquelas que ainda não foram descobertas ou totalmente compreendidas. Estas metáforas apresentam-se como convites para futuras investigações (Boyd in Ortony 1993: 488-489).

Para além destas, Boyd (apud Contenças 1999: 73) também menciona as metáforas exegéticas ou pedagógicas que desempenham um papel fulcral na divulgação e explicação das teorias científicas, tornando-se não só importantes na sua elaboração, como também na produção do próprio conhecimento científico. Neste sentido, as metáforas em geral abrangem todos os processos em que a justaposição de termos ou exemplos concretos exige uma rede de semelhanças que permita determinar o rumo através do qual a linguagem se relaciona com o mundo real.

Assim, podem identificar-se duas vertentes no que se refere à presença da metáfora na ciência: uma diz respeito à sua emergência na produção do conhecimento científico, «dando a ver»; a outra relaciona-se com a sua função na divulgação da ciência que permite a passagem de uma linguagem monológica ou formal para uma linguagem dialógica ou quotidiana e a possibilidade de persuadir a comunidade científica relativamente a novas teorias e modelos. Em suma, a metáfora permite a elaboração de premissas originais, alargando o poder de dedução da teoria científica e possuindo uma função heurística e cognitiva, porque articula a lógica da descoberta com a lógica da justificação (Contenças 1999: 11-12).

Consequentemente, as metáforas não podem ser eliminadas da linguagem científica, uma vez que estas se situam no próprio interior da ciência, nem se podem descrever as relações naturais estabelecidas pelos modelos e pelas teorias sem a utilização de metáforas (Contenças 1999: 67). Assim, as metáforas não escondem a verdade das teorias científicas, mas demonstram as assumpções implícitas nestas teorias e servem de postulados auxiliares, não devendo as teorias que usam os recursos metafóricos ser ignoradas. O que acontece é que, por vezes, as metáforas são utilizadas como um pretexto para desprezar determinadas teorias, usando a justificação de estas serem falsas (Hoffman in Hoffman & Honeck 1980: 394-399).

Adicionalmente, Harmon (apud Contenças 1999: 85) identifica ainda diferentes tipos de metáforas na ciência: as construções metafóricas centrais, que estão relacionadas com a descoberta principal, podendo não desempenhar uma função no processo da descoberta, mas conferindo-lhe credibilidade; as construções metafóricas subsidiárias e a terminologia técnica metafórica, que estão presentes na elaboração da ciência, fazendo parte do conjunto da linguagem e da argumentação de uma teoria, conferindo-lhe consistência e coerência.

Finalmente, afigura-se pertinente, neste momento, referir exemplos concretos de metáforas no âmbito de várias ciências. Por exemplo, van Rijn-van Tongeren (apud

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Fleischman in Schiffrin et al. 2001: 484) aborda as expressões metafóricas nos textos de medicina como servindo três funções: catacréticas, didácticas e constitutivas das teorias. As primeiras aplicam-se aos objectos e fenómenos que já são conhecidos, preenchendo lacunas lexicais (ex.: os vasos sanguíneos são rios) e as segundas explicam novos conceitos por meio de conceitos familiares (ex.: o genoma é um texto). As últimas são aplicadas aos fenómenos que ainda não são conhecidos, de modo a estruturá-los a descobrir o que são.

Paralelamente, Newton concebeu o sistema solar como o mecanismo preciso de um relógio e esta metáfora foi gradualmente cedendo lugar às metáforas da máquina e do computador aplicadas a várias disciplinas e aos seus respectivos conceitos.

No que se refere a Contenças (1999: 97ss), esta apresenta, no seu estudo sobre a eficácia da metáfora na ciência, o caso específico da Genética, explorando a importância da metáfora da dupla hélice para os desenvolvimentos relacionados com o ADN e a decifração do genoma humano.

O exemplo apresentado na Figura 2 é o modelo orbital do átomo desenvolvido pelo físico Bohr e cuja explicação só é possível comparando a organização deste modelo à interacção do sol com os planetas do sistema solar.

Figura 2 – A constituição metafórica do átomo em núcleo e electrões (Ungerer & Schmid 1997: 148).

Um outro caso consiste na teoria do Big Bang referente ao nascimento do universo, que faz uso do conceito de ‘explosão’, para explicar os fundamentos da sua teoria e constituir-se como coerente (Ungerer & Schmid 1997: 149).

Finalmente, Fleischman (in Schiffrin et al. 2001: 484) menciona a presença de outras metáforas na área da Medicina, nomeadamente a linguagem metafórica da dor, as metáforas na comunicação médico/ paciente, as metáforas "Medicina é guerra" e "Corpo é uma máquina", entre outras.

Um dos tipos de metáforas utilizadas na linguagem científica são as metáforas exegéticas ou pedagógicas, cujo objectivo é divulgar os elementos de uma teoria aos pares ou a leigos. Assim, a Agenda 21 foi escolhida no âmbito de um corpus constituído para o estudo das metáforas terminológicas, do qual foram seleccionadas as seguintes metáforas: carbon sequestration; cradle-to-grave approach; greenhouse, grass-root, high, carrying capacity, brain-drain e clean-up (Quadro 1).

A breve análise da frequência com que algumas destas metáforas (tais como high ou greenhouse) são utilizadas num texto do Direito Internacional do Ambiente e das suas concordâncias vem corroborar a posição que se tem defendido: de que as metáforas não se restringem ao âmbito da literatura, mas antes que atravessam todos as tipologias textuais, tendo uma especial incidência na ciência. Para além destes aspectos, é evidente que a existência destes recursos em textos de natureza técnico-científica pode não ser perceptível para alguns cientistas, para o utilizador final desses textos e, principalmente, para o tradutor. Assim, um conhecimento linguístico sólido e a consciência da profusão deste tipo de recursos é de uma mais-valia inestimável para que a tradução chegue a bom porto e

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consiga transpor uma metáfora de uma língua de partida numa língua de chegada, ressalvando-se as devidas diferenças.

Quadro 1 – Exemplo de concordâncias de metáforas terminológicas na Agenda 21 (através de Concapp® Concordance Browser and Editor).

1. vigilance and coordination of clean-up and rehabilitation of areas d 2. ld promote identification and clean-up of sites of hazardous wastes 1. ced technology to reduce the "brain drain" from developing to dev 2. a. and discouraging the "brain drain"; (vi) Recognizin 1. e in harmony with the Earth's carrying capacity. This should be reflected in 2. e made of national population carrying capacity in the context of satisfactio 3. otential for human and animal carrying capacity; decline in soil fertility an 4. . This will enhance the land carrying capacity and maintenance of biotic res 5. etermining and monitoring the carrying capacity of small islands under differ 6. mate is to be provided of the carrying capacity of the planet Earth and of it 7. ge is required of the Earth's carrying capacity, including the processes that 8. rder better to understand the carrying capacity of the Earth as conditioned b 9. ironmental and socio-economic carrying capacity of each region. Full use sho 1. sment, taking into acount the cradle-to-grave approach to the mana 2. toring the application of the cradle to grave approach, including 1. ns for resource-poor people. High priority should be given to b 2. ementation of Agenda 21, give high priority to the review of the 3. s crucial and should be given high priority. It is particularly 4. consumption patterns are very high in certain parts of the world 5. tion patterns should be given high priority. (b) Data and in 6. e development should be given high priority. Financing and cós 7. cal importance and are a very high priority in the implementatio 8. articularly in countries with high infant mortality; (g) 9. ashion by all countries, with high priority being given to the n 1. ubregional research on carbon sequestration, air pollution and other envi 1. nt of sinks and reservoirs of greenhouse gases not controlled by the 2. emptions and subsidies in all greenhouse gas emitting sectors that ru 3. limit or reduce emissions of greenhouse gases not controlled by the M 4. it and/or reduce emissions of greenhouse gases not controlled by the 5. or reduction of emissions of greenhouse gases not controlled by the M 6. e equivalent emissions of the greenhouse gases listed in Annex A do n 7. tocol. 3. The net changes in greenhouse gas emissions by sources and 8. arty included in Annex I. The greenhouse gas emissions by sources and 9. vities related to changes in greenhouse gas emissions by sources and 10. equivalent emissions of the greenhouse gases listed in Annex A in 19 1. well as atmospheric levels of greenhouse gas concentrations, that woul 2. trol atmospheric emissions of greenhouse and other gases and substance 3. ces and land use can decrease greenhouse gas sinks and increase atmosp 4. of anthropogenic emissions of greenhouse gases; (ii) The conse 5. appropriate, of all sinks for greenhouse gases; (iii) The conse 6. e, of sinks and reservoirs of greenhouse gases, including biomass, for 7. and the sources and sinks of greenhouse gases, and ensure that the re 1. Promoting or establishing grass-roots mechanisms to allow for 2. ll actors concerned, from the grass-roots level (farmers and past 3. r enhancing capability at the grass-roots level to identify and/o 4. n, including participation at grass-roots levels; (c) Deve 5. mal organizations, as well as grass-roots movements, should be re 6. ations, including small-scale grass-roots organizations; ( 7. d international levels to the grass-roots and individual levels.

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Vilela, Mário, Metáforas do Nosso Tempo, Almedina, Coimbra, 2002. NOTA BIOGRÁFICA

Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Inglês, ramo educacional na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Mestrado em Terminologia e Tradução na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com tese sobre metáforas terminológicas. Doutoranda no "International Doctorate in Translation and Intercultural Studies", Universitat Rovira i Virgili, com projecto de tese sobre a fixidez da linguagem usada na legendagem de filmes documentários. Docente há 5 anos na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança, com prática lectiva nas áreas do inglês para fins específicos, da prática da tradução técnico-científica, da terminologia e da análise contrastiva do inglês. Interesses: linguística, terminologia, estudos de tradução.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Representation of the "Noble Savage" in the English Translation

of Brazil’s Letter of Discovery

Cristiano Astolphi Mazzei University of Massachusetts Amherst, USA

Abstract In this paper, I wish to examine William Brooks Greenlee’s translation into English of Brazil’s Letter of Discovery, written by Pêro Vaz de Caminha on May 1, 1500, published by the Hakluyt Society in 1937. Many scholars consider the Letter to be the first literary example, and most important document, related to the "discovery" of Brazil. Based on postcolonial translation studies, my main goal is to raise some questions and perhaps answer a few as to why, following a common tndency found in traditional colonial translation, Greenlee chose to sometimes emphasize the "good" and "noble" nature of Brazilian native Indians in his work, and, at others, to highlight their "primitive" characteristics. Translation as a practice raises questions of representation, power and historicity. First and foremost, the norms of colonial translation reflect Western philosophical notions of reality, representation and knowledge. By employing certain modes of representing the "Other", translation reinforces hegemonic relations. As postcolonial translation scholars have argued, translation does not happen in a vacuum; it is a highly manipulative activity, and rarely involves equal relationships. I argue that by analyzing such translations in light of new translation theories we can begin to understand more about the translating process and remember that such a task is never free of underlying ideologies. Key words: postcolonial translation, ideology, power relations. I - Language and power

On April 22, 1500, the Portuguese armada led by Pedro Álvarez Cabral reached the warm waters of Brazil and "discovered" the new land. There has been much discussion about the accidental or intentional nature of such "discovery", which I will not attain to in this paper. My goal here is to examine William Brooks Greenlee’s translation into English of Brazil’s Letter of Discovery, written on May 1, 1500 by the scribe of the expedition, Pêro Vaz de Caminha. Many scholars consider this to be the first literary example, and the most important document related to the "discovery" of Brazil. My main objective in this paper is to raise some questions and perhaps answer a few as to the reasons why the translator, following a common tendency found in traditional colonial translation, chose certain terms

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that emphasized the "good" and "noble" nature of Brazil’s native Indians in his work, and others that highlighted their "primitive" characteristics. I argue that Greenlee’s translation approach helped reinforce the image of the "noble and primitive savage" due to the choices he made consciously or unconsciously in his translation.

Before going into the analysis itself, let us discuss how language has always been an important tool in empire-building. Caminha’s letter in its original language, Portuguese, although not as aggressively imperialist as Columbus’ letter reporting the discovery of the Americas, is a clear example of colonial discourse and representation of the "Other". In The Rhetoric of Empire (1993), David Spurr categorizes colonial discourse into twelve tropes, namely surveillance, appropriation, aestheticization, classification, debasement, negation, affirmation, idealization, insubstantialization, naturalization, eroticization, and resistance, with examples taken from journalism, travel writing, and imperial administration. Caminha’s letter fits perfectly into several of these tropes of colonial discourse. For instance, Spurr reminds us that "the very process by which one culture subordinates another begins in the act of naming and leaving unnamed..." (4), and adds that "nomination and substantivization may also seem as grammatical forms of appropriation: by naming things, we take possession of them" (32). Both statements suggest the way in which language was a major tool of imperial powers during colonization, and colonizers were well aware of its importance. Therefore, in the act of conquest, it was important to establish the colonizer’s language, and naming was an important weapon to efface the prior history of the places and peoples being occupied and colonized in order to bring new territories under control and expand the empire. By naming places and peoples, colonizers implied they had no prior identity, that they were being "discovered" for the first time and could be easily appropriated.

In the following example, we can see how Pedro Álvarez Cabral and his armada inscribed the presence of the Portuguese empire when they arrived in Brazil on April 22, 1500 in the sense described by Spurr when he says that "... colonization is a form of self-inscription onto the lives of a people who are conceived of as an extension of the landscape" (7). By leaving their mark on the landscape, colonizers were literally appropriating the new land, claiming that they are the true owners of a locus that was there to be taken. For the sake of comparative analysis, unless noted otherwise, Greenlee’s translation, in The Voyage of Pedro Álvarez Cabral to Brazil and Índia (1937, pp. 5-33), will always be shown next to the "original" Portuguese used by the translator in his work, which is the text that was transcribed directly from the original letter written by Caminha and appears in Alguns Documentos do Archivo Nacional (Lisbon, 1892, pp. 108-21).

…ao qual monte alto o capitam pos nome o monte Pascoal, e aa tera a tera da Vera Cruz. (108)

To this high mountain the captain gave the name Monte Pascoal, and to the land, Terra da Vera Cruz. (7)

Later in the letter, we come across another form of inscription when the Portuguese

decided to put up a wooden cross in the new land to mark their presence, a common form of Lusitanian appropriation, although, according to Eduardo Bueno in A viagem do descobrimento (1998), the Portuguese usually inscribed their "presence" in newly discovered territories with a stone post or monument. Bueno uses this example to support his claim that this is one of the evidences that the discovery of Brazil was fortuitous:

Chentada a cruz com as armas e a devisa de Vossa Alteza, que lhe primeiro pregarom, aramaram altar ao pee d ela. (119)

After the cross was planted with the arms and device of Your Highness which we first nailed to it, we set up an altar at the foot of it. (30)

Another mode of representing the "Other" is journal writing itself. In so doing, colonizers

rendered their account of what they saw according to their knowledge and view of the world,

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conveyed this message to the empires they represented, and often, the language used is close to what Spurr calls "insubstantialization" and "aestheticization." Many times in the letter, Caminha insubstantializes the native inhabitants of Brazil by comparing them to "animals", and others, especially when talking about women, he aestheticizes them by making lengthy descriptions of their "charming" bodies, always in contrast to European women. Moreover, by always talking about the people collectively, not bothering to ask their names or try to establish any type of communication with them, they become nothing more than bodies that can be described, classified and appropriated based on the colonizer’s knowledge. In his canonical book, Orientalism (1979) Edward Said writes, "To have such knowledge of such a thing is to dominate it, to have authority over it. And authority means for "us" to deny autonomy to "it" – the Oriental country – since we know it and it exists, in a sense, as we know it" (32). According to Said, language is a highly sophisticated and structured system that uses many devices to convey, disseminate, represent and exchange information. II. The Role of Translation and Representation

Translation as a practice raises questions of representation, power, and historicity. First

and foremost, traditional colonial translation depends on hegemonic notions of reality, representation, and knowledge. By employing certain modes of representing the "Other", translation reinforces hegemonic relations.

When describing Orientalism, Said constantly goes back to the idea of how the Orient was represented to Europe in the "materiality of its texts, languages and civilizations" (77). We know that a lot of the representation of the Orient was done through translations of texts that were carefully selected by imperialists to provide readers with an exoticized image of the "Other". This is also true in many of the first translations of native "primitive" texts, which were always about how non-white peoples were different – often inferior – from the West in the sense explained by Said, that "the Orient has helped to define Europe (or the West) as its contrasting image, idea, personality, experience" (1-2).

In Post-Colonial Translation (1999), Susan Bassnett and Harish Trivedi argue that:

First, and very obviously: translation does not happen in a vacuum, but in a continuum; it is not an isolated act, it is part of an ongoing process of intercultural transfer. Moreover, translation is a highly manipulative activity that involves all kinds of stages in that process of transfer across linguistic and cultural boundaries. Translation is not an innocent, transparent activity but is highly charged with significance at every stage; it rarely, if ever, involves a relationship of equality between texts, authors or systems. (2)

Both go on to remind us that translations are always embedded in cultural and political

systems and that there is always an underlying ideology in the act of translating; the way translators view the world impacts their work. The translation of Caminha’s letter probably took place around the early 1930's, in a period of still intense imperialist expansion, and was published, together with other documents translated by Greenlee, by a well-known geographic institution, the Hakluyt Society, in 1937, under the title The Voyage of Pedro Álvarez Cabral to Brazil and Índia (1937). The edition includes an extensive introduction by the translator, and, as one can see from his bibliography at the end of the book, he had access to a lot of original Portuguese historical documents, materials, and dictionaries, many of which were classic examples of colonial writing.

Greenlee stated in his preface that the translation approach he used was a "literal" one, which is based on more traditional translation theories that claim that the author and the original text hold a superior and sacred position, and translations are considered a violation of the original and impossible to create true equivalents. Yet, despite such theoretical

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assumptions, we know from postcolonial translation studies that when "primitive" or "inferior" languages were translated into hegemonic ones like English, "faithfulness" was not really the approach employed. However, as I will demonstrate later, although most of his translation work has followed this technique, which is in itself problematic, instead of retaining the "spirit of the time" and ensuring "accuracy", as he claimed, its literalness also resulted in some problematic choices. Also, as I show in the next pages, in the instances when Greenlee decided to go "literal" he goes "colonial" and ends up emphasizing the "primitive" notions about the native Brazilians, whereas when he gives up such literalness, the result is the emphasis of the "noble savage" ideas. III. The "Noble Savage"

The traditional notion of the "Noble Savage" has traditionally been used to refer to peoples who lived in harmony with nature, generous, innocent, unable to lie, physically healthy, with moral courage, without sexual inhibitions, and unusually intelligent. According to Terry Jay Ellingson in The Myth of the Noble Savage (2001), although they were attributed to Jean Jacques Rosseau, the ideas both of the "Noble Savage" and an anthropological science of human diversity appear to have grown out of the writings of Renaissance European traveller-ethnographers that can be traced back to the beginning of the seventeenth century, "where they appear together in Lescarbot’s (1609c) ethnography of the Indians of eastern Canada". (12-13). Thus, the first appearance of the term and ideas about the "nobility" of the savages seems to date back to Lescarbot’s Histoire de la nouvelle France, published in Paris in 1609, and translated into English the same year, when it made its entrance into English literature. However, the full-blown myth only emerged in the 1850s.

There is little doubt that Pêro Vaz de Caminha’s letter has helped to feed into the imagery related to stereotyped notions of Brazil’s native Indians, especially when he comments on their "innocence", which was always related to the "lack of shame" in covering their private parts. All these characteristics were then propagated by other explorers, including the sensationalist descriptions of Americo Vespucci, and ethnographic accounts of the new land, not only by the Portuguese, but also by the French and the Dutch, who also established a presence in Brazil. According to John Hemmings in Red Gold: The Conquest of Brazilian Indians (1978):

It was in such a world of fantasy that Europeans came to imagine the native peoples of Brazil … a letter from a pilot on one of the first voyages was widely diffused through Europe: it depicted the Brazilians as beautiful naked people living innocently in a perfect climate surrounded by birds and animals. (13)

I argue that all this literature, including the contrary notions that came up in the

twentieth century which brought to light the unrealistic and condescending stereotypes present in the early notions of the "noble" savage, were available to Greenlee when he embarked on his translation. So, why did the translator decide to emphasize the "romanticized" notion of Brazil’s native Indians? IV. The translation of Brazil’s Letter of Discovery into English

William Brooks Greenlee studied philosophy and history at Cornell and got his degree in 1895. After he had sat in the history class of English Professor Henry Morse Stephens and listened to Stephens's lectures about Portugal and India, he was so enraptured that right after graduating, in 1895, he went around the world looking for actual evidence of the marks left by Portuguese traders and seafarers. From his many trips abroad, Greenlee brought back many books home to Chicago, purchased here and there from Macao to Lisbon, which amounted to 6,000 volumes, later donated to the Newberry Library.

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From his private collection and his travels around the world Greenlee decided to set down his ideas about the Portuguese sea voyages of the sixteenth century and submitted them to the Hakluyt Society of London. In 1937 The Voyage of Pedro Álvarez Cabral do Brazil and Índia appeared. For the first time, someone had brought together the widely scattered published and unpublished documents relating to the discovery of Brazil by the Portuguese in the sixteenth century. Greenlee translated them into English, edited them, and wrote a long introduction, full of informative notes.

Greenlee was a Fellow of the Sociedade de Geografia de Lisboa, of the Royal Geographical Society, of the American Geographical Society, an Honorary Fellow of Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a member of the Royal Institute of Philosophy and of the Hakluyt Society. In 1950, the Portuguese government bestowed upon him the rank of Commander of the Order of St. Iago, an ancient order founded in the thirteenth century, and a decoration for the highest merit and services in the fields of science, arts, and literature. He died at the age of 80 in 1953.

In Post-Colonial Translation, Susan Bassnett and Harish Trivedi suggest that a translation tradition developed in the eighteenth and nineteenth centuries in which texts from Arabic or Indian languages were cut, edited, and published with extensive anthropological footnotes. Edward Lane, the famous translator of The Thousand and One Nights, informed readers in notes that Arabs "were far more gullible than educated European readers and did not make the same clear distinction between the rational and fictitious" (6). Edward Fitzgerald, translator of The Rubayat of Omar Khayyam, went further and accused "the Persians of artistic incompetence and suggested that their poetry became art only when translated into English" (6).

I argue that such tradition has also survived in the twentieth century, in which by writing long and extensive introductions to their work translators have caused readers to have a preconceived notion about the texts they were about to read. These so-called introductions, prefaces, and footnotes are full of the tropes described by David Spurr, including insubstantialization, classification, appropriation, and aestheticization in the sense that translators in control of hegemonic knowledge describe, characterize, classify, and render peoples, their cultures, and history insubstantial. Colonial translators have clearly seen themselves as belonging to a higher cultural system. "Translation was a means of both containing the artistic achievements of writers in other languages and of asserting the supremacy of the dominant, European culture" (6).

In Translation, History and Culture (1992), André Levefere reminds us, "Translations are not made in a vacuum. Translators function in a given culture at a given time. The way they understand themselves and their culture is one of the factors that may influence the way in which they translate" (14). It is not difficult to imagine Greenlee as an authority in Portuguese history and see how all his Western knowledge and preconceived ideas and vocabulary about "primitive" cultures and the "noble savage" became interwoven in his translation.

As mentioned above, Greenlee claims he adopted a literal approach to his translation of the letter. Even old translation studies scholars argue that ‘word for word’ translation is not the best way to approach such a task. Even Cicero in ancient Rome claimed this technique ‘is not useful to the orator’ (Venutti 2004: 14). Moreover, St. Jerome’s approach to his translation of the New Testament in 380 A.D. followed a ‘sense for sense and not word for word’, and he goes on to add that "if I render word for word, the result will sound uncouth, ..." (Nida 1964: 13). As described by Eugene Nida in 1964, in Towards a Science of Translation, in the dilemma of "the letter vs. the spirit" William Brooks Greenlee decided to be "faithful" to the letter in detriment to the "spirit" of the original communication. I argue that it would have been perhaps better if the translator did not "look upon a language as some fixed corpus of sentences, but as a dynamic mechanism capable of generating an infinite series of different utterances" (9).

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Next, I discuss some translation decisions made by Greenlee. In the example below, we can see one of the first moments when he acts as a colonial translator in the sense described by Bassnett and Trivedi:

…do que tiro seer jente bestial e de pouco saber; e por ysso sam asy esqujvos. (115)

from which I infer that they are bestial people and of very little knowledge; and for this reason they are so timid. (23)

According to Silvio Castro, one of the scholars who have provided an insightful critical

analysis of Caminha’s letter in O descobrimento do Brasil: a carta (1985):

The use of the adjective 'bestial', apparently contradicting the constant niceness shown by Caminha to the people of the new land, should not be taken literally, because it is perfectly inserted in the semantic spirit of archaic Portuguese" (69) (bold and translation mine).

In the first instance, Greenlee adopted his "literal" approach in rendering bestial into

'bestial,’ carrying over to the English language all the "primitive" connotations that such a term possesses. As shown above, the use of another more archaic meaning of bestial in Portuguese, which is grosseria ‘rudeness’, ‘uncouthness’, could perhaps have given readers a different and less colonial view of the native peoples of Brazil. In the other example the translator decided not to go "literal" in the translation of the adjective esqujvos into ‘timid’. Although it is very difficult, if not impossible, to explain exactly Greenlee’s word selection process, one can have an idea of the choices he had among the words available in books and documents that could have conveyed a meaning closer to the original adjective. Although Greenlee does not list any of the dictionaries he used in his bibliographical references, the Dicionário Etimológico Da Língua Portuguesa (1967) by J. P. Machado tells us that this word has a Germanic origin and means ter resguardo ‘to be reserved’, and the Porto Editora's Dicionário de Português-Inglês (1998) also provides us with ‘unsociable’. ‘Timid’ in the English language carries other meanings, including ‘subject to fear; easily frightened; wanting boldness or courage; fearful, timorous’ (OED). My argument is that by choosing 'timid' Greenlee emphasized a characteristic that the native Indians perhaps did not have, but was part of the translator's vocabulary for describing the "noble savage."

In the passage below, we see Greenlee going a step further to bring us his view of the "noble savage", according to the traditional beliefs mentioned earlier:

… e aly pararom; e naquilo foy o degradado com huum homem, que logo ao sair do batel ho agasalhou; e levou o ataa la;…(111)

… and there they stopped. And there, too, the young convict went with a man who, immediately upon his leaving the boat, befriended him, and took him thither …(14)

According to the Vocabulário da carta de Pêro Vaz de Caminha (1964), a glossary

published in 1964 by Sílvio Batista Pereira specifically to interpret the letter, agasalhar in Portuguese means dar agasalho a, abrigar ‘to provide cover, shelter’. This is corroborated by the Porto Editora’s Dicionário de Português-Inglês, which provides us with 'to lodge, shelter, welcome, etc'. A Portuguese Jesuit priest, Fernão Cardim, although some ninety years later, also makes use of the word agazalho when describing the customs of the natives when receiving guests in their homes, in Tratados da terra e gente do Brasil (1584), which is one of the books included in Greenlee’s bibliography. Cardim states, "Entrando-lhe algum hospede pela casa a honra e agazalho que lhe fazer e chorarem-no …", which can be translated into, ‘When a guest enters their home they cry in order to honour and welcome him …’

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(translation and bold mine) . His rendering of the verb into ‘befriended’ shows Greenlee’s intention of emphasizing the romantic notions of the noble savage, in which Brazil’s native indigenous peoples were generous/friendly toward the colonizers.

The example below is another instance where Greenlee’s imperialist discourse plays out:

Aly por entam nam ouve mais fala nem emtendimento com eles por a berberja d eles seer tamanha que se nom emtendia nem ouvia njngem. (112)

Then for the time there was no more speech or understanding with them, because their barbarity was so great that no one could either be understood or heard. (15)

In the original, berberja, according to the Sílvio Batista Pereira’s glossary of the letter,

means barbárie. This word has its roots in Latin, which also carries the connotation of ‘foreign nation and language’, corroborated by the Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. If we read the original sentence closely and analyze the context in which it was written, right after 'for the time there was no more speech or understanding’, one of the translator’s choice could have been 'because their language was so foreign that no one could either be understood or heard’. Ten years later, another translator of the Letter, Charles David Ley, made the following rendering of the same passage in Portuguese voyages, 1498-1663 (1947), "It was not possible to speak to these people or understand them. There was such a chattering in uncouth speech that no one could be heard or understood" (47). Therefore, in this instance, and according to his claim, Greenlee went "literal" and "colonial" and carried over to the English language all the connotations of "barbarity", which has always been the common trace associated with "primitive" peoples

In the following example, Greenlee decides to go "literal" again, but not entirely:

…; e hũua d aquellas moças era toda timta de fumdo a cima daquela timtura, a qual certo era tam bem feita e tam redomda, e sua vergonha que ela nom tjnha, tam graçiosa…(112)

...; and one of the girls was all painted from head to foot with that paint, and she was so well built and so rounded and her lack of shame was so charming... (16)

In the example above, Caminha makes a pun between the word used for the women’s

genitals, ‘shame,’ and the lack of shame in exposing them. In the original Portuguese, he says, ‘and her shame, which was something she did not have, was so exquisite/ beautiful’ (my translation). Greenlee seems to have missed the point and adopted a translation that ended up emphasizing the noble savage idea of "innocence" by saying that it was their ‘lack of shame’ that was ‘so charming’. Caminha was not referring to the ‘lack of’ but actually to the woman’s ‘shame/genitals’. Not to mention that some of Caminha’s "humor" was lost in the translation.

In the passage below, Greenlee emphasizes the idealized and romanticized vision of the "earthly paradise" in his translation:

Aly folgou ele e todos nos outros bem hũa ora e meya e pescaram hy amdando marinheiros com huum chimchorro; e matarom pescado meudo nom mujto. (112)

There he and the rest of us had a good time for an hour and a half, and the mariners fished there, going out with a net, and they caught a few small fish. (16)

The verb folgar, according to the glossary of the letter and other Portuguese

dictionaries, also means ter folga, descansar dos trabalhos ‘to take a break, rest', which

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clearly seems to be what the men were doing, and not ‘having a good time’. By choosing this time not to go so "literal," and based on his colonialist ideology, Greenlee emphasized the paradisiacal notion of the new land.

Emquanto estevemos aa misa e aa preegaçom seriam na praya outra tanta gente pouco mais ou menos como os d omtem com ser arcos e seetas, os quaaes andavam folgando e olhando nos; (113)

While we were at mass and at the sermon, about the same number of people were on the shore as yesterday with their bows and arrows, who were amusing themselves and watching us; (17)

Again, the verb above clearly indicates in the original that the natives were simply

‘resting’ on the beach, and the translator decided to take it a step further and render it as ‘amusing themselves’ to emphasize the happy nature of the "savages" and to imply that they were amused and engaged in the catholic ceremony, which is not in the original text.

In the example below, Greenlee probably got confused with the original sentence:

Trazia este velho o beiço tam furado, que lhe caberja pelo furado huum gram dedo polegar; e trazia metido no furado huũa pedra verde roim que çarava per fora aquele buraco; e o capitam lh a fez tirar; e ele nom sey que diaabo falava, e hia com ela pêra a boca do capitam pêra lh a meter. (115)

This old man had his lip so bored that a large thumb could be thrust through the hole, and in the opening he carried a worthless green stone which closed it on the outside. And the captain made him take it out; and I do not know what devil spoke to him, but he went with it to put in the captain’s mouth. (21)

The sentence in bold could have been simply translated into ‘I do not know what the

devil (the hell) he spoke’ (my translation). As in a typical example of colonial translation in the sense explained by postcolonial translation studies scholars, in which "primitive" peoples are seen as deprived of souls and with evil beliefs, in the English translation it seems that the native Indian was possessed by an evil force and in some kind of communication with the "devil", in a clear example of the David Spurr’s insubstantialization trope.

By using ‘wild men’ in the excerpt below, the colonial translator gave up his "literal" approach and came through again in his work:

… e com quanto os com aquilo muitosegurou e afaagou, tomavam logo huũa esqujveza coma montezes, e forn se pêra cjma. (115)

And although he reassured and flattered them a great deal with this, they soon became sullen like wild men and went away upstream. (22)

In the original, Caminha referred to the natives as montezes ‘mountain animals’,

comparing them with European animals he knew back home, and using this image to say they showed esqujveza 'distrust,' according to the glossary of the letter, and not ‘sullen’ in the sense of ‘stubborn’ or ‘unyielding’ when this word is associated with animals in the English language (OED). Moreover, the translation fails to show that the Indians did not trust the Portuguese, which is clear in the original.

One of the biggest problems when translating a text ‘literally’ is what to do when one comes across words that have more than one meaning in a specific language, or when a translators runs into ‘false friends’, words that seem to have the same meaning because of their common root. This is what we see in the example below:

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Page 209: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

…; e esteveram asy huum pouco afastados de nos; e depois poucos e poucos mesturaran se comnosco; e abraçavam nos e folgavam; … (116)

… and they kept a little apart from us, and afterwards little by little mingles with us. And they embraced us and had a good time; and some of them soon slunk away. … (23)

An experienced translator would think twice before rendering abraçar into ‘embrace’

because of the context in which it is used. How odd would it seem if the native Indians of Brazil, who supposedly had never had contact with "white men" before, would simply start embracing and hugging them? If we take a closer look at the verb abraçar, for instance in the Portuguese Dictionary of the Academia de Ciências de Lisboa (2001), we will find other connotations, including estar à volta, rodear, cercar ‘surround’. Greenlee’s "literal" choice of ‘embrace’ here is a clear intention of highlighting the friendly and generous nature of the "savage".

Foram se la todos e andaram antr eles (...) e deziam que em cada casa se colhiam xxx ou R (40) pesoas … e, como foi tarde fezeram nos logo todos tornar, e non quiseram que la ficasse nehuum…(116-117)

They all went there and mingled with them (...)And they said that thirty or forty persons dwelt in each house … And, as it was late, they presently made all of us return and did not wish any one to remain there. … (25)

In the above example, Greenlee again decided not to go "literal" and translated

andaram into ‘mingled,’ taking the simple verb ‘walk’ a bit further and bringing to the translation all the connotations of the verb ‘mingle’. Further, the reflexive Portuguese pronoun nos can mean ‘us’ and ‘them’ in different instances. However, when the verb ends in ‘m’, os ‘them’ needs the addition of an ‘n’, thus becoming nos. By not following this grammatical rule, Greenlee translated it into ‘us’, which resulted in the inclusion of Caminha in that particular story, when actually he was talking about the convicts who had gone to the village of the natives and the story they told when they came back. So, Caminha did not go to the village on that occasion in the Portuguese original, but readers in the English language are given the impression he did.

Below, the translator again seemed to want to emphasize the niceness of the native Indians:

Era já a conversaçam d eles comnosco tanta que casy nos torvavam ao que havíamos de fazer. (117)

By now they kept us so much company as almost to disturb us in what we had to do. (27)

Actually in the original, according to the letter’s glossary and the Portuguese Dictionary

of the Academia de Ciências de Lisboa, conversação simply meant that they were around them all the time. Another possible translation would simply read, "by now they were around us so much that it almost disturbed us in what we had to do" (my translation). In the English passage above we again have the impression that the native Indians were "nice" and "friendly". V. Conclusion – Resistance

As I have tried to show above through specific examples of Greenlee’s rendering of Brazil’s Letter of Discovery into English, translations are not at all void of hegemonic ideologies and relations. They represent such notions and have extensively been used to describe "primitive" cultures. Moreover, we are well aware that humans are a product of their

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time, and the way they interpret the world must filter through their own subjective experiences. My reading of Greenlee’s translation seems to support the idea that his choices were based on the knowledge and vocabulary he had about the Portuguese voyages of conquest around the world, which were rife with "colonial" discourse.

Although I have pointed out some of the translator’s problematic choices of words and misinterpretations in the translation of Brazil’s Letter of Discovery, I would like to add that Greenlee’s contribution to the Anglo-American world is of great value. If it were not for his work of collecting and translating Portuguese history, English-speaking readers would not have had access to such materials. My point here is simply that perhaps if he had embarked on his translation today, when postcolonial translation scholars have been constantly bringing to light the problems created in translations performed by "colonial" translators, and new cultural studies theories challenge translations that claim to be transparent, objective, and faithful in order to expose underlying hegemonic ideologies, the outcome of his work would have been different.

David Spurr’s last trope in The Rhetoric of Empire is entitled Resistance, which he also calls ‘other voices,’ "Let us hear, in unmediated purity, the testimony of those who are the objects of colonization and exclusion" (193). I believe that in this sentence, Spurr makes a direct reference to the problematic of translation, and I would argue that one of the ways of hearing ‘other voices’ is to re-translate canonical works, which were first translated with an imperial "gaze", in light of more harmonious relationships between cultures and nations. Analogously, it seems important to study and analyze not only translations of historical documents, but also of any works of fiction, in light of new relations among different cultures, paying close attention to signification and contextuality in order to uncover underlying ideologies. Since there will always be endless translations of an "original" work, which will certainly be different from one another, maybe it is time for a new translation of the Letter of Discovery into English, perhaps performed by native translators or Western professionals with a more critical point-of-view of their colonial and postcolonial positions. Moreover, Spurr says that the ‘study of language is essentially an act of resistance,’ referring to it being applied to cultural differences in the postcolonial world. He suggests that in order for a discourse to be free from colonial tropes it needs to have knowledge about ambivalence, inequality, and ‘affirmation of difference’.

This is not to say that we will be able to right what was wronged in the past, but at least we will begin to have a better idea of what goes on in the translation process and probably seek more harmonious relationships in the task.

As Edwin Gentzler reminds us in Contemporary Translation Theories (2001):

This is not to say that the past can ever be made whole – the amphora ... lies in fragments. However, among those fragments, the translator can find connections, complicities, and contradictions from which to rethink how the past has been reconstructed and begin to imagine alternatives. (180)

The fact that Translation Studies have received increasing attention over the years and

have come to occupy more and more space in the academic universe is also a sign of resistance to traditional problematic notions about the field. By studying, researching, and analyzing translation as a practice, both in colonial and postcolonial times, by challenging the traditional notions that translation is inferior to the original text and by proposing new ways to translate, we move toward understanding better the important role of this practice. Acknowledgements Acknowledgement is due to the works I have consulted; Prof. Daphne Patai for her helpful inputs; Prof. Edwin Gentzler for his encouragement and words of motivation, my dear friend

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Page 211: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Carolyn Shread for her patience and "fresh eyes", and all my colleagues at the Translation Center of the University of Massachusetts for their support and friendship. References Alguns documentos do Archivo Nacional da Torre do Tombo. Imprensa Nacional. Lisboa. 1892. Bassnett, Susan, and Harish Trivedi. Post-colonial Translation: Theory & practice, Routledge, London,

New York, 1999. Bueno, Eduardo. A viagem do descobrimento : A verdadeira história da expedição do Cabral, Coleção

Terra Brasilis. Vol. 1, Objetiva, Rio de Janeiro, 1998. Cardim, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Edited by B. Caeatano, J. Capistrano de Abreu

and R. Garcia, Rio de Janeiro, 1925. Castro, Sílvio. O descobrimento do Brasil : A carta. A visão do paraíso, L&PM/História, Porte Alegre,

1985. Dicionário da língua portuguesa contemporânea da Academia das Ciências da Lisboa, Verbo, Lisboa,

2001. Dicionário de português-inglês, 2a ed., Porto Editora, Porto, 1998. Ellingson, Terry Jay. The Myth of the Noble Savage, University of California Press, Berkeley, 2001. Gentzler, Edwin. Contemporary Translation Theories, 2nd rev. ed. vol. 21, Multilingual Matters,

Clevedon, UK, Buffalo, 2001. Glare, P. G. W. Oxford Latin Dictionary. Oxford University Press, Oxford, 1982. Greenlee, William Brooks. The Voyage of Pedro Álvares Cabral to Brazil and Índia, 2d ser., no. 81,

The Hakluyt Society, London, 1938. Hemming, John. Red Gold : The Conquest of The Brazilian Indians. Harvard University, Press,

Cambridge, Mass., 1978. Lefevere, André. Translation – History, Culture: A Sourcebook, Routledge, London, New York, 1992. Machado, José Pedro. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 2a ed., Editora Confluência,

Lisboa, 1967. Pereira, Sílvio Batista. Vocabulário da carta de Pêro Vaz de caminha, Vol. 3, Instituto Nacional do

Livro, Rio de Janeiro, 1964. Said, Edward W. Orientalism. Vintage Books, New York, 1979. Spurr, David. The Rhetoric of Empire: Colonial Discourse in Journalism, Travel Writing, and Imperial

Administration, Duke University Press, Durham, 1993. BIOGRAPHICAL NOTE

With a BA in Translation and Interpreting from the Unibero University in São Paulo, Brazil, Cristiano A. Mazzei has built a solid career in translation (English and Portuguese) in his native country, Brazil. After working as a translator and interpreter in different companies, Cristiano opened his own business in 1997, providing translation and interpreting services to major multinational corporations in Brazil and abroad. In 2000, after passing the board examination, he became a Certified Translator in the state of São Paulo, Brazil. He is now pursuing his MA in Translation Studies at the University of Massachusetts Amherst. Cristiano’s academic areas of interest include postcolonial translation, gender writing in translation, and exploring foreignizing modes of translation.

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Page 212: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

The Translator: Um Sítio sobre Ofertas de Emprego

e Notícias na Área de Tradução

Susana Valdez Independent Translator, Lisbon, Portugal

[email protected] Resumo A rotina diária de um tradutor ou de um estudante de tradução em Portugal envolve a exigência de uma pesquisa contínua para se manter a par das últimas novidades do mundo de tradução, bem como de uma procura incansável por novos clientes e/ou oportunidades de trabalho. Esta tentativa de actualização constante envolve a perda de várias horas de trabalho por dia na investigação por vários sítios nacionais e internacionais. O sítio The translator (www.workfortranslators.blogspot.com) pretende colmatar a lacuna sentida no mercado, reunindo num único local informação necessária para o público português especializado nesta área. Este estudo passa pela apresentação de um case-study sobre as necessidades dos profissionais, professores e estudantes de tradução. Palavras-chave: actualização, lacuna do mercado. Portugal. Introdução

O sítio The Translator foi inaugurado a 31 de Março de 2006 ao publicar, pela primeira vez, um anúncio de acção de formação. Este blogue foi elaborado tendo em vista a organização da informação relativa à área de tradução, exclusivamente em território português. E tinha como principal público-alvo os estudantes de tradução ou recém-licenciados, para quem seria mais difícil aceder em tempo útil a este tipo de informação. Como tal, a primeira secção de ligações a ser criada foi a secção que funciona como agenda, na qual se pode consultar rapidamente os próximos eventos a ocorrer em Portugal. No espaço de 4 meses, o blogue publicou anúncios de emprego e de estágio, de acções de formação e de cursos de especialização, de colóquios e de conferências e artigos sobre tradução. Desde a data da primeira publicação até hoje, o sítio foi visitado mais de 2100 vezes. Os dados reunidos através deste sítio ao longo deste curto espaço de tempo dão-nos a oportunidade de vislumbrar a dinâmica desta área.

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Page 213: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Actualização

Num mundo regado pela competição, procurar estar actualizado é mais do que uma ferramenta, trata-se de uma arma que nos distingue da concorrência. Neste sentido, os profissionais desta área necessitam de aceder a informação diversificada que se pode dividir em dois grandes grupos que se complementam. Por um lado, existe uma urgência em entrar em contacto com variadíssimas ferramentas de trabalho e, por outro, a necessidade de ter opções de reciclagem. Ferramentas de trabalho

As ferramentas de trabalho mais procuradas pelos tradutores são memórias de tradução (CAT tools), informação terminológica e ferramentas para procurar ou atrair clientes. Portanto, entende-se por ferramenta de trabalho não só material que possibilita optimizar e aperfeiçoar a qualidade do trabalho final, bem como mecanismos para procurar e atrair novas oportunidades de emprego. Nesse sentido, o nosso sítio publicou 21 anúncios de emprego e 5 estágios num período de 4 meses. A maioria esmagadora dos anúncios procura tradutores técnicos e freelancers. O seguinte gráfico da figura 1 esquematiza os pares de línguas mais procurados.

0% 5% 10% 15% 20%

alemão - português

espanhol - português

francês - português

inglês - alemão

inglês - espanhol

inglês - francês

inglês - grego

inglês - holandês

inglês - italiano

inglês - neerlandês

inglês - português

português - espanhol

português - francês

português - inglês

todos os pares de línguas

Figura 1 – Pares de línguas mais procurados em anúncios de emprego.

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Page 214: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Como se pode verificar, os pares mais procurados são o inglês-português, espanhol-

português e francês-português. Contudo, vários anúncios pedem tradutores de "todos os pares de línguas". Quanto a este último dado, o estudo feito por Fátima Dias sobre a imagem de tradução transmitida pelos anúncios de emprego 1 indica precisamente a mesma ocorrência, que a autora refere ser "no mínimo, estranha" 2, tendo em conta que o Ethnologue 3 regista "a existência de 6912 línguas vivas catalogadas". Por sua vez, a maior parte dos anúncios não indica as habilitações requeridas tal como refere o artigo supracitado.

Os anúncios de estágio contrariam esta tendência e apontam especificamente os requisitos mínimos em termos de formação e de equipamento (no caso de tradutores externos). É de assinalar que 50 % destes anúncios omite se o estágio é ou não remunerado.

The Translator publicou anúncios recolhidos na secção de emprego do jornal Expresso, na newsletter da Univa da Faculdade de Letras de Lisboa, no portal de emprego da Faculdade de Letras do Porto e em outros portais de emprego online. Para além disso, publicou também anúncios que foram enviados directamente para o correio electrónico do sítio. Reciclagem

Relativamente a reciclagem, certamente que, para o tradutor profissional, os cursos de formação contínua, onde pode tomar contacto pela primeira vez com novas áreas de conhecimento ou aprofundá-las, é a modalidade mais procurada, mas não a única.

A vantagem clara da acção de formação é o facto de esta ser uma modalidade que não exige muito tempo. Normalmente, as acções de formação duram entre meio-dia a não mais de 2 ou 3 meses. Para além disso, este género de formação atrai um grande número de profissionais por tratar de matérias normalmente não abordadas em cursos de formação superior em tradução. O conteúdo da programação que desperta mais interesse aos tradutores varia entre linguagens especiais, memórias de tradução e software. Em Portugal, tem-se verificado um aumento das ofertas destas acções de formação, mas não só. Existe um crescente número de instituições que oferecem estas acções e, consequentemente, o conteúdo dos programas tem-se vindo a diversificar. Desde 31 de Março – data da primeira publicação no The Translator – publicamos 12 anúncios de formação contínua. A nível de linguagens especiais, os anúncios contemplavam acções de formação em tradução de medicina, contabilidade e economia, finanças, análise financeira e engenharia mecânica. Relativamente a memórias de tradução, anunciámos 1 acção de formação em Trados e, quanto a software, cursos de criação de páginas Web, Frontpage e Dreamweaver. A formação contemplada foi oferecida tanto por empresas de tradução como por institutos e universidades privadas e públicas.

Outra modalidade de formação é a superior e, embora apenas se tenha publicado 1 anúncio de pós-graduação, existem em Portugal pelo menos 6 cursos de mestrado e 12 cursos de pós-graduação e de especialização diferentes, dispersos entre universidades públicas e privadas que podem ser consultados no The Translator.

Os congressos, mesas-redondas e cafés são outra das formas em que o tradutor pode reciclar os seus conhecimentos. Nestes últimos 4 meses de trabalho, anunciámos 3

__________ 1 Dias, Fátima, «"Tradutores Precisam-se": A imagem da tradução transmitida pelos anúncios de emprego»,

Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica, Nº 4. 2 Dias, Fátima, «"Tradutores Precisam-se": A imagem da tradução transmitida pelos anúncios de emprego»,

Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica, Nº 4 , p. 9. 3 http://www.ethnologue.com/

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colóquios, 2 conferências, 1 mesa-redonda, 1 seminário, 1 jornada e 2 cafés num total de 12 acontecimentos dedicados à tradução e realizados em território português. Inquérito sobre actualização

Para melhor perceber o interesse dos tradutores na sua actualização, procedemos a

um breve inquérito em que procurámos apurar a importância da actualização, as razões por detrás da mesma e a metodologia utilizada.

A informação que se pretendia reunir tinha como universo os tradutores, internos e externos, intérpretes, estudantes e professores de tradução. Por este motivo, o inquérito para além de ter sido colocado no sítio The Translator, também foi colocado no sítio da AteLP 4, no fórum sobre processamento computacional da língua portuguesa da Linguateca 5 e no fórum português de directórios de tradutores como o Proz 6 e o Translators Café 7. Para além disso, os inquéritos foram divulgados por correio electrónico a grupos de discussão sobre tradução na internet.

Apuraram-se um total de 82 respostas válidas. Como se pode verificar pela figura 2, a maioria (58 %) dos inquéritos foram respondidos por estudantes de tradução.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Professor

Intérprete

Tradutor Interno

Tradutor Externo

Estudante

Figura 2 – Profissão dos inquiridos.

A maioria esmagadora dos inquiridos (98 %) afirmou considerar importante manter-se actualizado. Quanto ao porquê, as razões convergem. Dada a natureza competitiva do mercado é uma questão de sobrevivência acompanhar a evolução constante da área e auscultar as tendências. Em suma, trata-se de uma tentativa contínua para ter consciência do desenvolvimento tecnológico, por um lado, e das oportunidades de formação e de trabalho, por outro. O objectivo final será sempre a produção de um trabalho que se deseja o melhor possível.

__________ 4 http://www.atelp.org/eventosenoticias.htm 5 http://www.linguateca.pt/Forum 6 http://www.proz.com7 http://www.translatorscafe.com

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Page 216: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Relativamente ao método para se manter actualizado, analisando a figura 3, verificamos que a informação transmitida por colegas e/ou professores é o meio privilegiado, seguido dos motores de busca 8.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

associação ou lista de que sou membro

informação transmitida por colegas e/ouprofessores

leituras de jornais e/ ou revistas daespecialidade

motor de busca

sítios de referência

Figura 3 – Metodologia de actualização.

Para além disso, 76 % das pessoas afirma que é difícil estar a par do que se passa em Portugal em matéria de tradução devido a lacunas na divulgação de informação em tempo útil. Os restantes 24 % apontam que a comunidade não desenvolve muitas actividades e é nesse sentido que se torna fácil acompanhar as novidades. Contudo, comparando com os dados fornecidos anteriormente, se, no espaço de 4 meses, anunciou-se, por um lado, 12 acções de formação e, por outro, um total de 12 eventos, tais como debates e colóquios, juntamente com o facto de que a informação, de acordo com os dados do inquérito, é, na sua maioria, transmitida por colegas e/ou professores, creio que se pode concluir que a informação não é circulada eficientemente. Anexo A De seguida apresenta-se uma listagem das referências mais apontadas pelos inquiridos do Questionário sobre Actualização. Esta listagem está organizada por ordem alfabética.

Motores de busca: • Google – http://www.google.com

__________ 8 Para tomar conhecimento dos motores de busca, sítios de referência, jornais e revistas da especialidade,

associações e listas mais referidos entre os inquiridos consulte o Anexo A.

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Page 217: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Sítios de referência: • Anthony Pym, http://www.tinet.org/~apym/ • Associação Portuguesa de Tradutores, http://www.apt.pt • ATeLP – Associação de Tradução em Língua Portuguesa,

http://www.atelp.org/atelp.htm• Babelport, http://www.babelport.com/ • Common Sense Advisory, http://www.commonsenseadvisory.com • Confluências, http://www.confluencias.net/ • Contraduções, http://contraducoes.blogspot.com/ • European Society for Translation Studies, http://www.est-translationstudies.org • FIT, http://www.fit-ift.org/ • HCR, http://www.hcr.pt/ • Instituto Superior de Línguas e Administração, http://www.isla.pt/isla/ • Inttranews, http://inttranews.inttra.net • ITI, http://www.iti.org.uk/indexMain.html • João Roque Dias, http://www.jrdias.com • Localisation Research Centre, http://www.localisation.ie/ • Proz, http://www.proz.com • St. Jerome, http://www.stjerome.co.uk/ • Terminologias, http://www.terminologias.com • Tradulínguas, http://www.tradulinguas.com/ • Tradutorum, http://www.tradutorum.blogspot.com • Translation Centre for the Bodies of the European Union, http://www.cdt.europa.eu • Universidade Aberta - http://www.univ-ab.pt/

Jornais e revistas especializadas: • Babel, http://www.ingentaconnect.com/content/jbp/bab • Meta, http://www.erudit.org/revue/meta/ • MultiLingual, http://new.multilingual.com/homeNew.php • Target, http://www.ingentaconnect.com/content/jbp/targ • Translation Journal, http://accurapid.com/journal/ • Translation Review, http://www.utdallas.edu/research/cts/tr/ • TTR, http://new.multilingual.com

http://www.uottawa.ca/associations/act-cats/Eng/E_journal/E_journal.htm

Associações: • APT, http://www.apt.pt

ATeLP, http://www.atelp.org/atelp.htm

Listas: • Lantra-L, http://www.geocities.com/athens/7110/lantra.htm • Portrans, http://groups.yahoo.com/group/por-trans/ • Trad-Prt, http://www.geocities.com/tradprt/ • Tradinfo, http://groups.yahoo.com/group/tradinfo/

Agradecimentos O papel de todos os envolvidos na divulgação, não só do inquérito realizado, como do próprio blogue foi, crucial para a realização deste estudo. Os meus agradecimentos em

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particular à ATeLP, à Linguateca e ao departamento de Anglísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Bibliografia Dias, Fátima, «Tradutores Precisam-se: A imagem da tradução transmitida pelos anúncios de

emprego», Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica, Nº 4. NOTA BIOGRÁFICA

Para além de licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (português/inglês) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, concluí em Julho de 2006 a Pós-Graduação de Especialização em Tradução pela mesma faculdade. Tradutora independente desde 2005, tenho vindo a especializar-me em tradução literária e económica e jurídica, não só devido a experiência profissional prévia como debt advisor numa empresa inglesa, mas também devido a formação académica na área. É também de assinalar que estagiei na Câmara Municipal de Cascais como tradutora independente. Sou autora do sítio The Translator (www.workfortranslators.blogspot.com), dedicado à divulgação de oportunidades de emprego e notícias da área de tradução em Portugal.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

GILTy OR NOT GILTy: O Reenquadramento da Profissão de Tradutor

Face ao Evangelho da Normalização

Fernando Ferreira-Alves Universidade do Minho, Braga, Portugal

[email protected] Abstract Este artigo pretende direccionar a sua atenção para o papel e a posição actuais da tradução em contexto profissional, analisando algumas das formas através das quais as estratégias de internacionalização e as abordagens sectoriais orientadas para a normalização se encontram, de certa forma, inseridas no próprio discurso sobre a teoria e prática da tradução e, em simultâneo, reflectidas na prática profissional através de uma abordagem politicamente correcta, alicerçada num discurso essencialmente normativo e orientado para a qualidade em sintonia com os requisitos estabelecidos pela indústria da linguagem. Pretende-se, por um lado, analisar de forma crítica o modo como as transformações radicais ocorridas no mundo da tradução e, em concreto, nas chamadas indústrias da linguagem, afectam o conceito de tradução profissional e a própria concepção de profissionalismo à luz das novas tendências que apontam para um crescente protagonismo da normalização e parametrização dos processos de trabalho/produção, sob o signo da globalização e internacionalização. E, por outro lado, verificar o modo como este discurso normativo encontra reflexo e/ou afecta a própria formação de profissionais competentes, analisando as respectivas implicações ao nível da (re)construção do perfil do novo "fornecedor de serviços de tradução", bem como as transformações decorrentes de um eventual reenquadramento e redefinição da formação de tradutores em contexto de trabalho. Palavres-chave / key words: tradução e profissionalização / translation and professionalization, normalização nas

indústrias das línguas / standardisation in the language industry.

All of us who are involved in the translation and localization world know perfectly well that we are in a deregulated industry, in which we institute our own standards, if they are not already imposed for us by our direct or end customers. We also know that every business has its own procedures, sometimes similar, and on other occasions absolutely the opposite. But all these procedures seek the same purpose: to achieve the translation or localization of a product with the highest possible quality. Juan José Arevalillo Doval, Sócio-gerente da Hermes Traducciones y Servicios Lingüísticos e Presidente da Comissão Técnica espanhola para a Norma EN-15038, in "The EN-15038 European Quality Standard for Translation Services: What’s Behind It?"

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Page 220: A tradução especializada: Um motor de desenvolvimento

Na génese do presente artigo, encontra-se outro texto da autoria de Pierre Cadieux,

Presidente da i18N Inc. e Bert Esselink, intitulado "GILT: Globalization, Internationalization, Localization, Translation", com o qual se pretende estabelecer diálogo, e no qual os autores admitem um certo sentimento de culpa perante a incapacidade de definir correctamente os outros termos que, para além do próprio conceito de tradução em si, compõem o acrónimo em causa (GILT), reconhecendo, tal como Donald DePalma e Hans Fenstermacher, a impossibilidade de fixar convenientemente termos tão díspares e, ao mesmo tempo, tão voláteis como globalização, internacionalização e localização:

"we should perhaps feel a little GILTy that of the above four terms, only translation is generally well understood."

O avanço inexorável das chamadas indústrias da linguagem decorrente do surgimento

do acrónimo GILT (G11n, I18n, L10n e Tradução) em finais do século XX, fenómeno caracterizado pela contínua digitalização e gestão de conteúdos que necessitam de ser disponibilizados globalmente de forma rápida e eficaz, pelo aumento da utilização das ferramentas electrónicas para a transferência linguística, pela emergência da tradução digital, pelo desenvolvimento de complexas redes de colaboração multilingue, pelos desmesurados investimentos em novas tecnologias orientados ou motivados por estratégias de globalização, especialização, diversificação e desenvolvimento internacional, pelo fornecimento dos chamados serviços integrados tipo "chave na mão" e, sobretudo, conforme defende Reinhard Schäler, pela transformação dos serviços de tradução num bem de consumo [… the commoditisation of translation services], (Schäler, 2005), afectou de forma inexorável e decisiva o papel, posicionamento e função do tradutor contemporâneo, com consequências ainda por explorar 1.

Por outro lado, o progressivo protagonismo das tecnologias de informação e comunicação, o desenvolvimento de soluções informáticas globais ao serviço da simplificação dos processos de análise e produção textuais, a ubiquidade das ferramentas de apoio à tradução e a contaminação global decorrente do cruzamento entre elementos de comunicação técnica e intercultural no domínio da tradução acabam por demonstrar uma ligação una e indivisível, intimamente relacionada com o conceito de metamorfose e transformação numa aldeia global ligada em rede desprovida de fronteiras estanques e lineares. Esta nova economia da produção de bens e serviços, ligada à actividade intelectual e, ao mesmo tempo, à produção e circulação da informação e consequente mercantilização do conhecimento (Caria, 2005: 29), pode ser explicada à luz das recentes transformações que implicaram uma profunda mudança no paradigma dos modelos de produção e organização do trabalho e a consequente transição para um modelo pós-fordista de produção mais flexível, caracterizado pela massificação da produção, organizado à escala global através de uma rede de ligações entre os diferentes agentes económicos, capaz de conciliar uma elevada produtividade com unidades de produção informatizadas e facilmente programáveis, susceptível de responder rapidamente às constantes alterações verificadas ao nível da procura (flexibilidade do produto) ou tecnologia (flexibilidade do processo).

Nas palavras de Michael Cronin, o pós-fordismo abre efectivamente caminho à era da chamada "lean production, time-to-market, flexitime, the horizontal corporation, the meteoric rise of sub-contracting and the exponential increase in advertising budgets" (Cronin, 2003: 12), onde se verifica, mais do que nunca, esta articulação entre informação e conhecimento, numa economia rígida que é, também ela, alvo das tensões entre o trabalho intelectual e as

__________ 1 Para uma definição mais completa dos conceitos em causa, ver Pym em "Globalization and Segmented

Language Services" (2000a), "Globalization and the Politics of Translation Studies" (2003), "Localization: On its nature, virtues and dangers" (2005), e o mais recente "Localization, training and the threat of fragmentation" (2006), bem como o já supracitado artigo da autoria de Cadieux e Esselink.

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forças de produção, o espírito e a matéria, numa sociedade marcada pela "oposição bipolar entre Net (a rede) e Self (o indivíduo)", conforme diagnosticou Manuel Castells (Castells, 1996: 18). De facto, a actual cadeia de fornecimento de serviços de tradução é caracterizada por uma estrutura em rede, na qual a cooperação é uma parte essencial do trabalho no sentido de permitir o cumprimento e a execução dos serviços fornecidos. Para além de uma rede funcional e profissional, esta rede é também uma rede social e relacional marcada pelo hibridismo de processos e mediações (Caria, 2005: 37), caracterizada por interdependências estabelecidas a vários níveis e estruturadas ou hierarquizadas em diferentes patamares no âmbito do trabalho técnico-intelectual (Hermans e Lambert, 1998: 118).

Já em 1998 Frank Austermuhl publicara um pequeno texto sobre o panorama da tradução na era da informação, convenientemente intitulando Between Babel and Bytes – The Discipline of Translation in the Information Age, onde analisava o crescimento exponencial da comunicação internacional e o efeito de bola de neve nos estudos de tradução resultante do significativo aumento da circulação da informação a nível mundial, da imensidão das redes de informação disponíveis, do número crescente de encontros interculturais e da contínua virtualização da vida empresarial e privada. Como resultado, apontava o autor, a revolução digital e a própria globalização dos fenómenos económicos, políticos, sociais e culturais teriam como consequência o aumento gradual das expectativas em termos das competências esperadas pelo novo profissional da tradução 2.

Perante o dinamismo e a mutabilidade de uma profissão poucas vezes estudada do ponto de vista sociológico, e tantas vezes negligenciada em termos de enquadramento e contexto socioprofissionais, decidimos formular e responder às seguintes perguntas: "O que é traduzir hoje num contexto empresarial?", por um lado, "Quais as competências e os requisitos essenciais para a inserção do tradutor num mercado de trabalho cada vez mais especializado, volátil e volúvel?", "Qual o nosso posicionamento teórico-prático face aos desígnios e constrangimentos de uma economia global que nos empurra para a massificação e fragmentação dos serviços de tradução?". E ainda, "Quais as consequências decorrentes das políticas de normalização dos serviços ao nível da prescrição de regras específicas de procedimentos e de conduta?" e, por último, "Qual o seu impacto (a montante e a jusante) ao nível da profissão do tradutor e, em última instância, em termos de formação de profissionais qualificados em sintonia com os preceitos impostos pelos receituários pré-embalados?".

Inserida numa espécie de "vácuo social" e bafejada pelo "turbilhão ciclónico da mudança", conforme sustenta Don Kiraly (Kiraly, 2000: 20), a tradução, enquanto modelo empresarial ou de gestão de redes de actores 3, evoluiu exponencialmente ao longo dos últimos anos, à medida que a informática e as novas tecnologias da informação e comunicação foram entrando gradualmente nas fases de concepção e desenvolvimento dos próprios processos e produtos, permitindo, desta forma, automatizar algumas rotinas de trabalho e oferecendo uma oportunidade clara e inequívoca de melhorar a oferta, em termos de qualidade, coerência, consistência, rapidez, tratamento e apresentação do produto final. Porém, paralelamente à sua crescente tecnificação e especialização, conforme definido por Miguel Núñez Ferrer, evoluíram também muitas das formas mais diversificadas e complexas de prestação desse serviço ao cliente. A tradução coloca-nos hoje desafios totalmente novos e inesperados, assumindo-se cada vez mais como um processo completamente

__________ 2 Ver, a propósito, Shreve (1999), para uma descrição mais aprofundada das razões subjacentes a esta

transformação, como por exemplo, o aumento exponencial da actividade translatória, a crescente diferenciação das tipologias textuais e tipos de documentos, a explosão do domínio dos ecossistemas terminológicos ou terminologias especializadas, bem como os respectivos usos, resultantes da expansão e diversificação dos avanços científicos e tecnológicos, o crescimento exponencial dos meios de distribuição e a crescente digitalização da informação.

3 Recuperamos, para efeitos da presente comunicação, o conceito dos actores-redes proposto por Latour e Callon.

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tecnicizado e formatado, tendo adquirido uma nova dimensão e contornos que importa estudar.

O crescente desenvolvimento do fenómeno da internacionalização e o consequente aumento da reciprocidade dos contactos internacionais dentro das próprias organizações são, de acordo com Shreve (Shreve, 1999) e também Steyaert e Janssens (Steyaert e Janssens, 1997: 131 e 132), uma das principais características do mundo empresarial da década de 90 do século XX. A evolução e a especificidade dos contactos e a própria natureza e perfil dos prestadores de serviços, primeiramente no rescaldo da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, durante a Guerra Fria e, sobretudo ao longo das últimas décadas do século XX com os fenómenos de globalização à escala planetária, implicaram de forma profunda e, eventualmente, polémica, a redefinição do papel e função do tradutor nas sociedade modernas, não isenta de problemas e dificuldades. Traduzir hoje é, porventura, resolver o dilema entre o social, o técnico e o humano, uma exigente actividade profissional inserida no contexto da indústria das tecnologias da linguagem, num mercado altamente competitivo e selectivo, mas também movediço e dinâmico, sociologicamente marcado pela fluidez e pela ausência de barreiras e fronteiras face à vertigem na transição entre dois séculos. A tradução profissional: 4 dinâmicas subjacentes

Para efeitos de enquadramento do presente artigo, quisemos primeiramente centrar a nossa atenção na análise dessa espécie de "identidade profissional colectiva" definida por Anthony Pym em "Training Translators and European Unification: A Model of the Market" (Abril de 2000) e que parte da noção de um mercado estruturalmente fragmentado, que acaba por ser uma consequência lógica da globalização 4 e, por inerência, da divisão verificada no seio daquilo que vulgarmente se designa como trabalho intelectual-profissional, conforme definido por Maria de Lurdes Rodrigues 5.

Em particular, o nosso estudo encontra-se alicerçado na posição defendida por Hermans e Lambert, e mais tarde retomada por Anthony Pym (2006), segundo a qual é necessário redefinir o papel daquilo a que chamam "business translation" (tradução empresarial) no contexto dos estudos da tradução e, nesse sentido, abordar este novo fenómeno a partir da análise da organização social e dos processos de gestão em ambientes empresariais caracterizados pela prestação de serviços. É um facto que, por vezes, o domínio eminentemente profissional e empresarial parece ter sido esquecido no âmbito dos estudos de tradução e apagado de eventuais apresentações programáticas ou categorizações funcionais. Este carácter fugaz e praticamente invisível do fenómeno explica, em parte, a tendência para uma dispersão e fragmentação, traduzidas na forma como o mundo profissional tende a gerar os seus próprios grupos e subgrupos específicos e herméticos, preferindo um certo distanciamento prudente face aos círculos académicos, como se estes fossem incapazes de adaptar e integrar a componente empresarial nos seus curricula. Por conseguinte, estão criadas as condições necessárias para que nasça essa "terra de ninguém" (Hermans e Lambert, 1998: 114) que, ainda que de forma incipiente, pretendemos explorar através deste nosso modesto contributo, cientes da necessidade de reenquadrar os vários ângulos através dos quais a tradução é vista nesses domínios.

Chegados a este momento, pensamos ser possível detectar, desde logo, quatro pontos de contacto e quatro dinâmicas subjacentes que parecem ser transversais à prática profissional. Em primeiro lugar, a dinâmica da globalização, caracterizada por instâncias __________ 4 Ver, a propósito, artigo de Fernand Boucau sobre o mercado da tradução europeu "The European Translation

Industry: Facing The Future (2005). 5 "grupos profissionais que, tendo uma qualificação escolar de nível superior, têm também uma potencial

autonomia em contexto de trabalho que faz com que resistam, ou não estejam submetidos, à lógica dos processos de racionalização burocrática ou taylorista do trabalho nas organizações (Rodrigues, 1997: 66/67, citada em Caria, 2005: 20).

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como o teletrabalho, networking ou trabalho em rede, a teletradução, mas também a mobilidade, o trabalho à distância e a aposta em novos conceitos e formatos tecnológicos, algo que, em última instância, implicará o surgimento de um novo perfil sociológico emergente, bem como a própria redefinição do conceito de profissionalização. Em segundo lugar, detectamos a própria dinâmica da tradução como um processo e, ao mesmo tempo, um produto, com os seus procedimentos e rotinas especificamente orientados para projectos definidos e feitos por medida conforme as solicitações e os cadernos de encargos propostos. Em terceiro lugar, consideraremos a dinâmica do ensino e da formação, na qual incluiremos, a montante, a aprendizagem de novas competências, saberes e aptidões profissionais e profissionalizantes, tal como todo o desenvolvimento de questões metodológicas e conceptuais adaptadas a uma situação real de comunicação profissional. Dadas as circunstâncias actuais em que o fenómeno da tradução se insere, esta dinâmica poderá eventualmente implicar a própria redefinição do paradigma da formação e, em última instância, alterar o processo de ensino-aprendizagem, através de novas propostas e novas metodologias pedagógicas fruto de uma visão formatada e orientada para o mercado. E, por último, propomos a análise da dinâmica empresarial, sobretudo recorrente quando assistimos ao crescente protagonismo das instâncias de normalização sectorial, mais concretamente, com a enorme atenção dedicada, nos tempos mais recentes, ao importante papel da cultura e linguagem empresariais oriundos da teoria da gestão, aliás um ponto frequente quando, por exemplo, somos confrontados com as normas e procedimentos aplicados, por exemplo, pelos profissionais da indústria da localização. A vertente empresarial é caracterizada pela concepção da tradução como um acto de gestão, conforme sustentado por Steyaert e Janssens (Steyaert e Janssens, 1997; 143) e pela cedência aos requisitos da normalização pela introdução e interiorização de normas, formatos, regulamentos e preceitos orientados para a gestão e avaliação dos processos, a decomposição, classificação e catalogação das fases da tradução, a gestão de projectos, a gestão e a avaliação da qualidade do produto final através de mecanismos de controlo e métricas díspares centrados na supervisão das rotinas do projecto especificamente direccionadas para agilizar a produção de artigos formatados 6.

Em última instância, esta mesma dinâmica empresarial esconde, tal como defendem Hermans e Lambert, a necessidade de reconstruir a ética e a dinâmica do serviço de tradução empresarial, (Hermans e Lambert, 1998: 127), a importância crucial de integrar os tradutores nos objectivos e estratégias das próprias empresas numa atmosfera de diálogo e cooperação e, por outro lado, a adopção de um tipo de pensamento e filosofia empresariais estratégicos nos próprios curricula de formação de tradutores. O reenquadramento do papel e função do tradutor

A tradução em contexto profissional é, por isso, e mais do que nunca, uma tarefa multidisciplinar com um elevadíssimo grau de especialização e rigor num ambiente também ele cada vez mais pluridisciplinar, caracterizado pelas dinâmicas e relações nem sempre claras, e nem sempre bem consolidadas entre os vários actores, a saber, o produtor (producer), o fornecedor (provider), o intermediário e o cliente ou consumidor/utilizador final.

__________ 6 A dinâmica empresarial contempla os vários esforços de normalização industrial já citados como, por exemplo,

os modelos de qualidade adoptados pela LISA ou a SAE J2450 da Society of Automotive Engineers, as normas ISO, Elf, ou ainda as normas da ASTM (American Society for Testing and Materials), bem como a obsessão por padrões rigorosos de aferição da eficiência, eficácia, produtividade ou mesmo dos níveis de satisfação do cliente. Ver, por exemplo, os esforços de normalização e estabelecimento de um código de boas práticas desenvolvidos pela LISA, um dos principais fóruns direccionados para as empresas envolvidas no fornecimento de serviços no âmbito das indústrias da linguagem (http://www.lisa.org/). Ou ainda a postura politicamente correcta marcada pela omnipresença das chamadas linguagens controladas, entre as quais encontramos os esforços de consolidação do Inglês Controlado, bem como os manuais de redacção técnica disponibilizados por algumas das principais empresas no ramo da redacção, produção e documentação textuais.

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O tradutor do século XXI é, antes de mais, um verdadeiro profissional da indústria da linguagem, ou melhor, utilizando a terminologia validada na recém-aprovada norma europeia de serviços de tradução, EN 15038, um fornecedor de serviços de tradução (Translation Service Provider), um técnico especializado envolvido numa estrutura de produção e prestação de serviços de qualidade cada vez mais profissional, rotinada e parametrizada que ultrapassa a sua mera componente linguística. Hoje, a tradução rege-se pelas leis do mercado, da oferta e da procura, pelos esquemas de produção industrial, pelos prazos cada vez mais apertados, pelas inevitáveis pressões de tempo, pelos níveis de produtividade diária e por padrões de qualidade que lhe conferem um estatuto híbrido no âmbito das ciências sociais e humanas.

Por isso, enquanto actividade que se insere no âmbito das indústrias da linguagem, hoje em dia, vamos assistindo gradualmente a uma completa redefinição do papel, função e conceito do tradutor, que se metamorfoseia para dar lugar a uma nova entidade multifacetada, versátil e polivalente, espécie de homo transferens, auto-consciente, dialogante, funcionalmente autónomo e socialmente emancipado pela dialéctica entre ethos, logos e praxis, recuperando algumas das noções propostas por Andrew Chesterman (Chesterman, 1995: 253).

No entanto, essa redefinição do papel, função e conceito do tradutor não ficaria completa se não considerássemos a sua incontornável dimensão profissional. Aliás, a própria definição do conceito de prática profissional encerra, tal como sustenta Daniel Simeoni, uma estrita e rigorosa sujeição a normas bem definidas (Simeoni, 1998: 6), ou melhor dizendo, "instrumentos de controlo" gradualmente interiorizados, que apenas são eficazes no âmbito desse subsector da sociedade em que o indivíduo ou a empresa se encontram profissionalmente activos e integrados. Neste caso, profissionalismo será, então, entendido como o fornecimento de um serviço de qualidade e excelência, regido por normas e procedimentos específicos e estandardizados, característicos de uma classe profissional no âmbito da sua praxis, em que prática será, conforme defendido por Andrew Chesterman, via Alasdair MacIntyre, "uma espécie de actividade humana cooperativa, coerente, complexa e socialmente estabelecida que, por um lado, envolve o desejo de melhoramento contínuo, e que, por outro, procura gerar uma sensação de satisfação, associada à noção de excelência (Chesterman, 2001).

Não admira, portanto, que um dos principais temas em debate na actualidade seja precisamente a definição de objectivos de qualidade (independentemente da aparente dificuldade em categorizar e definir essa mesma qualidade, tal como sustenta Juan José Arevalillo Doval), perfis de competências e acreditação profissional e a adopção de procedimentos de garantia, avaliação e certificação da excelência, nomeadamente através da tentativa de conferir um padrão, chancela ou certificado de qualidade à tradução, em conformidade com as normas ISO, vulgarmente aceites para a homologação dos sectores da indústria e do comércio.

A caracterização do perfil sociológico dos fornecedores de serviços de tradução e, por inerência, das referências e vectores que nos permitem detectar um conjunto, ainda que disforme e heterogéneo, de profissionais envolvidos na prestação de serviços similares, ganha outra consistência e profundidade, sobretudo quando analisada à luz da noção de "habitus", desenvolvida por Bourdieu a partir do conceito aristotélico de hexis e transferida por Daniel Simeoni para o universo da tradução 7. Para efeitos da presente comunicação, "habitus" será entendido como:

"... a set of dispositions which incline agents to act and react in certain ways. The dispositions generate practices, perceptions and attitudes which are "regular" without being consciously coordinated or governed by "any" rule." (Bourdieu, citado em Simeoni, 1998: 17).

__________ 7 Ver, a propósito, Daniel Simeoni, em "The Pivotal Status of the Translator's Habitus" (Simeoni, 1998: 15).

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Enquanto parte integrante dos agentes sociais, a noção operacional de habitus

afigura-se, portanto, como uma peça pivot em torno da qual giram os sistemas de ordem social, caracterizada por uma série de disposições, actos, comportamentos e atitudes que vão sendo desenvolvidos e inculcados através da formação e da aprendizagem, e que se consubstanciam numa determinada prática, neste caso profissional, acabando por se tornar como uma espécie de segunda natureza, socialmente moldada e socialmente integrada e ratificada, e que encerra em si uma determinada gama de competências e aptidões estruturadas de forma sistémica e organizada (Simeoni, 1998: 18-19).

Transpondo, entretanto, a noção de habitus para a tradução, verificamos como o processo e a acção social do tradutor, enquanto locus de tensão, acabam, em si, por implicar um aperfeiçoamento ou refinar de um determinado habitus social, e ao mesmo tempo um acto de servidão voluntário e não passivo (Simeoni, 1998: 21 e 23), simultaneamente estruturado e estruturante, constituído por competências desenvolvidas em torno de um domínio especializado, composto por regras e normas específicas, como por exemplo as "normas profissionais" e as "normas de expectativas", subprodutos das "translational norms" de Toury, e descritas por Andrew Chesterman precisamente como "um leque de normas que são validadas pelas instâncias e autoridades normalizadoras e pelos elementos constituintes do universo dos tradutores profissionais competentes" (Chesterman 1993: 3, citado em Simeoni, 1998: 23). A propósito de normas para os serviços de tradução: a EN 15038

Num artigo sobre o poder e os efeitos da normalização, intitulado "Standards in the Language Industry", Sue Ellen Wright define as melhores normas como sendo "The ones you use all the time, but that you never even notice are there" (Wright, 2004). Uma norma é, por conseguinte, um documento que foi definido e redigido por consenso, e que foi aprovado por um organismo de certificação reconhecido, onde se encontram definidas as regras, orientações, directrizes ou critérios que, regra geral, são aplicados a uma determinada actividade, ou ao resultado dessa mesma actividade que pode ser replicado em série.

E, de igual forma, tal como refere Roger Chriss no seu artigo sobre Normalização e Acreditação, a indústria da tradução está actualmente sedenta de um determinado conjunto de definições fundamentais que consigam dar ao sector aquilo por que tanto desejou, ou seja:

"some simple, clear-cut, straight-forward definitions of what a translator is, what a translator does, how a translator should translate, what constitutes a good translation, what a translation agency is and does, and how translation agencies and translators, or translation employers and translators, should interact with each other, to name a few possibilities".

Todos sabemos a crescente importância e o impacto decisivo que a noção transversal

de qualidade assumiu desde finais da década de 80 do século XX, sobretudo no âmbito do domínio industrial, e que se traduziu numa verdadeira febre de normalização característica dessa época, consubstanciada, segundo Juan José Arevalillo Doval (2005), na abundância de diferentes normas de qualidade emitidas no âmbito dos domínios mais díspares ao abrigo do chamado "guarda-chuva" das normas ISO, e que pretendiam, basicamente, definir critérios específicos e objectivos de aferição e avaliação das práticas e processos industriais de forma a assegurar a maior qualidade possível do produto, e no âmbito dos quais a tradução estaria incluída por inerência 8.

__________ 8 Em finais do século XX e princípios do século XXI coexistiam, na Europa, várias normas aplicadas ao processo

de tradução e que, regra geral, visavam estabelecer os requisitos necessários para a definição e cumprimento

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Tendo como base esse desígnio comum, a norma europeia EN 15038 foi desenvolvida, como um projecto orientado para a noção de qualidade, no seio do CEN (Comité Europeu de Normalização) através do seu grupo de trabalho CEN/BT/TF 138 "Serviços de Tradução", constituído por cerca de 50 representantes de vários organismos europeus de normalização e actores envolvidos no processo de tradução, visando, grosso modo, desenvolver uma norma que, de certa forma, reproduzisse a ISO 9000:2000, permitindo a certificação dos serviços de tradução em conformidade, através de um processo de auditoria independente. Assim sendo, a norma pretendia complementar a ISO 9001, não se limitando apenas a certificar a existência de um sistema de gestão da qualidade, mas também a implementação e o cumprimento de uma série de requisitos e procedimentos necessários, em que a tónica seria colocada no produto e na elevada qualidade do serviço prestado pelos próprios TSPs.

Relativamente à norma europeia para os serviços de tradução, numa comunicação intitulada "Meeting the requirements of the new CEN standard: future challenges for cooperation", apresentada na 1ª conferência da EUACT, Marcel Thelen identificava uma consonância de perspectivas que visavam uniformizar as práticas da indústria e profissão, tendo como pano de fundo a questão da acreditação profissional e o desenvolvimento de métricas susceptíveis de aferir e regular os padrões de desempenho dos profissionais do sector, orientados pelo evangelho da qualidade, de forma a contribuir para a eventual clarificação de questões relacionadas com a profissionalização dos serviços. Ainda a este propósito, noutra comunicação apresentada na mesmo evento, Miguel Núñez-Ferrer enumerava igualmente alguns dos principais motivos e objectivos subjacentes à implementação da norma, nomeadamente o aumento da consciencialização, sensibilização e transparência na oferta, a maior clareza nas relações entre o cliente e o fornecedor/prestador de serviços de tradução, a definição clara do âmbito e abrangência das relações estabelecidas e, ao mesmo tempo, o estabelecimento de parâmetros claros de regência dos procedimentos profissionais, o estabelecimento de regras claras ao nível da relação entre as empresas de tradução e os tradutores individuais que com elas trabalham em regime de colaboração ou subcontratação e, por último, um melhor entendimento das tarefas envolvidas na definição e prestação de um serviço de tradução de elevada qualidade, fomentando e desenvolvendo, ao mesmo tempo, uma cultura organizacional colaborativa entre as empresas aderentes aos seus requisitos normativos 9.

de padrões de qualidade específicos, ao mesmo tempo que, de certa forma, influenciaram o próprio processo de elaboração e redacção da actual norma EN 15038, e que permitem a sua contextualização e enquadramento, a saber: • A norma italiana UNI 10574 que define os requisitos de serviço e as actividades a implementar pelas

empresas que oferecem serviços de tradução e interpretação; • A norma austríaca Önorm D 1200 que abrange os serviços de tradução e interpretação, os requisitos que

regem a oferta de serviços, bem como os próprios serviços em si e a respectiva contratualização; • A norma alemã DIN 2345, publicada em 1998 pelo German Institute for Standardization, e que abrange os

serviços de tradução, os contratos que regem o fornecimento de serviços e os respectivos procedimentos de trabalho utilizados, sob a forma de uma declaração de conformidade;

• A norma holandesa Taalmerk que engloba os serviços de tradução em geral; • A norma internacional ISO 12616 que regulamenta a terminografia aplicada à tradução, cujo objectivo

consiste em reunir e registar dados terminológicos de forma a facilitar as tarefas de tradução. Refira-se, entretanto, que estas normas faziam referência ao processo de tradução em geral, e não ao produto desse processo, isto é, a tradução em si, como é o caso do modelo de avaliação e certificação da qualidade proposto pela LISA ou ainda a SAE J2450, resultado dos esforços desenvolvidos pelo Translation Quality Metric Task Force, grupo de trabalho para o estudo e desenvolvimento de um sistema de avaliação da qualidade das traduções, especificamente direccionado para a qualidade das publicações produzidas no domínio da indústria automóvel norte-americana.

9 Para além da vasta genealogia da norma EN 15018, que inclui documentos como a ISO 1087:2000, orientada para a terminologia, a EN ISO 9000:2005, orientada para os sistemas de gestão da qualidade, a ISO 12615/2002, vocacionada para a terminografia, a EN ISO/IEC 17000:2004, ligada aos sistema de avaliação da conformidade e respectivos guias ISO/IEC orientados para os sistemas de certificação de produtos, a norma é apresentada genericamente da seguinte forma na sua introdução:

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Um dos pontos transversais ao nosso trabalho reside precisamente no supracitado documento "Norma sobre os Serviços de Tradução EN 15038", entretanto já aprovado, e cuja implementação irá, por certo, revolucionar a profissão e a formação de tradutores. Nela encontramos alguns pontos de interesse que importa equacionar a montante e a jusante. Desde logo, e à partida, o próprio conceito de tradutor acaba por ser totalmente redefinido através da introdução da nomenclatura TSP ou Translation Service Provider (Fornecedor de Serviços de Tradução), ou seja, "person or organisation supplying translation services" (EN 15038:2006, alínea 2.18, pág. 6) e, sobretudo, estabelecendo a distinção entre esse translation service provider (TSP) e o tradutor, este último como "person who translates (2.17), no sentido simplificado de "render information in the source language into the target language in written form." (EN 15038:2006, alínea 2.17, pág. 6).

A norma europeia especifica ainda os requisitos básicos para o TSP (Translation Service Provider) relativamente aos recursos técnicos e humanos, gestão e política ou práticas de qualidade, gestão de projectos, estrutura contratual, a relação cliente/TSP, bem como os procedimentos envolvidos na prestação de um serviço de qualidade, abordando parâmetros e rubricas diferenciadas, como, por exemplo: serviços de valor acrescentado, locale, linguagens controladas, gestão de projectos, gestão da qualidade, pré-edição, pós-edição; checking, reviser/proofreading; reviewer/review, project registration details ou diário do projecto, project registration, project assignment, guia de estilo, entre outros.

De igual forma, a norma EN15038 para os Serviços de Tradução estabelece toda uma série de requisitos básicos necessários para o perfil do futuro tradutor, nos quais são incluídas e descritas algumas valências e competências como, por exemplo, Gestão dos recursos humanos, Competências profissionais, Competências translatórias, Competência linguística e textual na LP e LC, Competência de investigação, aquisição e processamento da informação, Competência cultural, Competência interpessoal, Competência técnica e Competências profissionais. Normalização e profissão: algumas preocupações, constatações e perplexidades

Muitas são as perguntas e muitas as interrogações e perplexidades que a recente adopção da norma nos colocam. E muitos os desafios que a sua implementação nos suscitam, a montante e a jusante, como atrás referimos. Antes de concluirmos a nossa apresentação, e longe de querermos assumir uma postura prescritiva e dogmática ou fundamentalista, propomos alguns tópicos e contributos para repensar a profissão de tradutor em contexto de trabalho.

Quais serão, efectivamente, os resultados deste processo de normalização e acreditação? Confusão conceptual? Sistematização terminológica? Regulamentação do mercado? Um maior nivelamento da oferta de serviços? Melhores oportunidades salariais para os tradutores freelance ou contratados? A separação do trigo do joio? Um sistema assente na meritocracia? E será que o cliente conferirá especial atenção ao facto de o tradutor ser acreditado e a tradução certificada?

Estaremos perante uma panóplia de ofertas de trabalho mais diversificadas e atraentes? Ou condenados a uma fragmentação do trabalho com inegáveis consequências nefastas ao nível do conceito de profissionalismo? Serão os tradutores capazes de sobreviver aos avanços da indústria e aos processos de reestruturação empresarial? Ou

The purpose of this European standard is to establish and define the requirements for the provision of quality services by translation service providers. It encompasses the core translation process and all other related aspects involved in providing the service, including quality assurance and traceability. This standard offers both translation service providers and their clients a description and definition of the entire service. At the same time it is designed to provide translation service providers with a set of procedures and requirements to meet market needs. Conformity assessment and certification based on this standard are envisaged.

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será possível agilizar os procedimentos e normas de trabalho? Estará o tradutor condenado a transformar-se num mero autómato, simples reprodutor de rotinas pré-especificadas e com pouca autonomia e reconhecimento? Ou assistiremos ao apagamento da função do tradutor e ao surgimento de uma nova entidade híbrida, polivalente e multifacetada, adaptada às novas necessidades e exigências do mercado? E como reagirá o tradutor à crescente mecanização da sua "arte"? Desenvolvendo novas competências e aptidões?

E será que a normalização dos serviços de tradução estará condenada a transformar-se, tal como refere Roger Chriss, num mero exercício fútil que apenas serve para complicar o sector? E, já agora, será que um tradutor certificado segundo a norma é, por inerência, um tradutor mais profissional do que os restantes? E, por último, quais os reais efeitos ao nível da profissionalização?

Relativamente ao mercado da tradução, e com base nos vários estudos publicados até à data, verifica-se uma acentuada instabilidade e descontrolo sectoriais, decorrentes do maior interesse e interferência crescente dos chamados "outsiders" no mundo da tradução, conforme comprova o relatório do Banco Mundial sobre a Tradução de 2004. Nos vários relatórios e estudos publicados sobre o mercado e a profissão, entre os quais situamos o já citado relatório de Fernand Boucau sobre o mercado da tradução europeu, a linguagem utilizada para classificar o actual status quo inclui termos como difícil, volátil e volúvel, mas também dinâmico e mutável, ou ainda fragmentário, dispersivo e micro-concentrado (Boucau, 2005).

Neste processo de transformação em curso, as empresas de tradução deixaram de ser apenas formadas por linguistas, assumindo-se mais como entidades multifacetadas, onde os domínios da Engenharia, Economia, Informática, Gestão, Marketing e Comunicação multimédia e multilingue vão conquistando gradualmente o seu espaço. Paralelamente, temos vindo a assistir a uma progressiva alteração do ambiente de trabalho e do perfil profissional do tradutor, em parte pela entrada de indivíduos sem formação linguística específica e pela própria expansão do mercado e crescimento da oferta e da procura, graças à diversificação dos produtos aliados aos serviços de tradução.

Cada vez se traduz mais, mas a verdade é que a profissão se encontra cada vez mais espartilhada, algo que é directamente proporcional ao aumento dos utilizadores, do volume de trabalho e da maior abrangência temática, textual e linguística. Esta expansão acaba por produzir efeitos visíveis em termos de produtividade, rapidez, cumprimento de prazos, especialização e, em última instância, com inegáveis consequências ao nível da qualidade, exigência e rigor, a par de uma maior exposição e protagonismo por parte dos actores envolvidos.

Vários críticos, entre os quais se inclui Anthony Pym, de certa forma já nos têm vindo a alertar para as eventuais consequências imprevisíveis de uma tendência que privilegia, por exemplo, uma quase obediência cega ao dogma da localização. A título de exemplo, graças à segmentação do trabalho, os textos correm, nomeadamente, o risco de se transformarem em simples "objectos de informação" (Pym, 2005), perdendo a sua referencialidade e, sobretudo, a sua linearidade, ultrapassando os próprios limites e condicionalismos contextuais da língua de partida. Esses "moving texts", textos em fluxo, fluídos e ambivalentes, perdem de certa forma, e tal como o próprio indivíduo, a sua identidade e autonomia, mergulhados nessa dispersão fracturante e fragmentária face à ausência de barreiras visíveis que transforma a produção textual numa tarefa de criação de fragmentos (chunks) desarticulados não lineares, em permanente fase de actualização e modificação constantes, desenraizados e isolados em relação à sua origem. Para além disso, é inegável o risco da rotinização e mecanização dos processos, acabando por relegar o tradutor para uma situação marginal e residual, enquanto mera peça de uma engrenagem mais complexa. O produtor do discurso deixa de se assumir como uma entidade específica fixada num local (melhor dizendo, locale) e tempo concretos, o que pode gerar problemas autorais, nomeadamente ao nível do próprio apagamento do autor, face aos constantes desígnios de domesticação do texto (Pym, 2005).

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Diariamente são criados verdadeiros nichos de mercado resultantes da fragmentação e dispersão profissionais das chamadas profissões ligadas à indústria da linguagem. Acto contínuo, o tradutor começa a ser cada vez mais remetido para a periferia dos processos de produção e controlo do trabalho, perdendo a sua identidade, autonomia e auto-reflexividade, vendo-se relegado para uma posição de maior isolamento em termos socioprofissionais. Por outro lado, é ainda difícil prever o real impacto da progressiva intervenção das ferramentas de apoio à tradução (memórias de tradução incluídas) e, em concreto, das consequências da introdução da tradução automática no sector, como instância facilitadora e simplificadora das rotinas de produção associadas às linguagens naturais. Corremos o risco de assistir a uma contínua desvalorização do papel e função dos tradutores que são continuamente vítimas dessa espécie de "info-exclusão" particular, marcada pelo fosso ou desfasamento tecnológico-industrial, ante a incapacidade de acompanhar a vertigem e a voracidade das mudanças ocorridas nos sistemas de produção. Enquanto, em simultâneo, vai ocorrendo a sua progressiva separação das componentes mais lucrativas no domínio das TI (Tecnologias da Informação), fruto dos processos de localização, bem como das técnicas e competências mais humanizadas relacionadas com as áreas do marketing e relações públicas, por exemplo. Relativamente à prática translatória, poderão porventura surgir eventuais problemas resultantes da lenta desumanização dos processos ao longo de uma vasta cadeia de montagem complexa e hierarquizada. Convertido num simples técnico formatado, o tradutor poderá estar condenado, em última instância, a perder o controlo sobre o produto do seu trabalho. E, por conseguinte, poderão aumentar os níveis de subserviência e subalternidade de uma profissão já de si desequilibrada em termos de relações de poder e reconhecimento profissional. Que futuro para a formação no âmbito da normalização?

Perante o actual panorama, é inegável que, partindo da definição de padrões de qualidade claros e rotinas específicas, os processos de normalização poderão contribuir positivamente para a promoção e reenquadramento do próprio conceito de "profissionalização", embora seja sempre aconselhável adoptar uma postura crítica e prudente face ao avanço inexorável desses instintos normalizadores.

Assim sendo, e perante esta nova configuração do perfil e função do tradutor, parece-nos que a formação terá de ser o mais polivalente e versátil possível, bem como suficientemente multifacetada, integrada e multimodal, orientada para as novas profissões-satélite ou extensões do trabalho do tradutor, e convenientemente aberta e disponível de forma a resolver o problema da equação especialista/generalista, técnico/social/humano. Se o objectivo é formar aquilo que Christiane Nord designa como "tradutor funcional" (Nord, 2005: 210 e 211), ou seja, um tradutor profissional, caracterizado pela consciência de que a tradução, hoje, é utilizada nos mais variados contextos comunicacionais e situacionais, exigindo a capacidade de articular o conhecimento profissional com as adequadas valências sociais e aptidões técnico-funcionais, competências metacognitivas, competências interculturais, capacidade de resistência ao stress, auto-reflexividade, auto-estima, auto-confiança, autonomia e realização profissional, apenas um tipo de formação equilibradamente diversificada e compatível com as exigências pessoais e profissionais do tradutor poderá responder às solicitações do mercado, onde o indivíduo é confrontado com a dinâmica da gestão de projectos, a gestão de recursos humanos e materiais e, sobretudo, com dinâmicas de sociabilização e aplicação de um saber-fazer específico. Nesse sentido, uma perspectiva multi e interdisciplinar afigura-se como uma opção sensata no sentido de dotar o tradutor de uma série de estratégias e soluções que permitam a sua integração e adaptação face aos contextos de trabalhos mais diversificados, caracterizados pela heterogeneidade social, abrangência do leque de opções linguísticas, especialização temática e conceptual e diversificação e complexidade tecnológicas.

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No fundo, uma formação interactiva e pró-activa mais humanizada, centrada no indivíduo enquanto pessoa e, ao mesmo tempo, profissionalizante e orientada para a qualidade, a ética e a deontologia, capaz de recuperar uma cultura técnica de ofício, enquanto saber-fazer e saber-estar inscritos em contextos de interacção social. Uma formação capaz de obedecer aos imperativos e exigências da actividade profissional e, simultaneamente, conciliar os quatro desafios subjacentes a uma ética de profissionalização, ou seja, aprender a ser (indivíduo), aprender a conhecer, (conhecimento), aprender a fazer (técnica) e aprender a conviver (social).

Parece-nos ser esta a chave para a profissão que queremos, sobretudo quando muita da literatura mais recente (Pym, 2005 e 2006, e Thomson-Wohlgemuth, 2004, entre outros) parece redireccionar a nossa atenção para o papel do elemento humano, das pessoas e dos comportamentos no processo de tradução, sobretudo face ao carácter omnipresente e normativo dos padrões industriais, centrados exclusivamente no valor das suas qualidades funcionais e técnicas. Bibliografia Austermuhl, Frank, "Between Babel and Bytes: The Discipline of Translation in the Information Age".

[Em linha] (1998) [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://gandalf.aksis.uib.no/AcoHum/abs/Austermuehl.htm .

Boucau, Fernand, "The European Translation Industry: Facing The Future", [Em linha] Comunicação apresentada durante a 1ª conferência da EUATC, Bruxelas, 2005. [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://www.euatc.org/conferences/pdfs/boucau.pdf. Cadieux, Pierre e Esselink, Bert, "GILT: Globalization, Internationalization, Localization, Translation", [Em linha] (2004) [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://www.translationdirectory.com/article127.htm (2004).

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Kiraly, Don, A Social Constructivist Approach to Translator Education. Empowerment from Theory to Practice, Manchester, St. Jerome Publishing, 2000.

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Pym, Anthony, "Localization, training and the threat of fragmentation". [Em linha] (2006) [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://www.tinet.org/~apym/on-line/translation.html. Schäler, Reinhard, GUI Localisation Workshop, Consortium for Training Translation Teachers (CTTT) in cooperation with the Intercultural Studies Group and the Institute of Arts and Humanities at the Universidade do Minho, Technology for Translation Teachers Braga, Portugal, 27 Junho – 01 de Julho de 2005.

Shreve, Gregory, Translation at the Millennium: Prospects for The Evolution of a Profession, [Em linha] 30th Anniversary Conference of the Monterey Institute for International Studies Graduate School of Translation and Interpreting, Monterey, California, January 11, 1999. [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://appling.kent.edu/ResourcePages/Courseware/ProjectManagement/Readings/Translation%20at%20the%20Millennium.html.

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Thomson-Wohlgemuth, Gaby e Thomson, Ian, "Acquiring capabilities in translation: towards a model of translation businesses", 2004, Target 2004, 16, (2)253-288.

Wright, Sue Ellen, "Standards for the Language Industry", [Em linha] Comunicação apresentada no seminário "Terminology, Computing & Translation", University of Swansea, 26-27 March, 200. [Consult. 17 de Julho de 2006]. Disponível em http://www.swan.ac.uk/french/Terminology-2004/presentations/sue-ellen-wright.pdf.

BIOGRAPHICAL NOTE

Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (variante Português-Inglês), Faculdade de Letras do Porto. Mestrado em Estudos Anglo-Americanos (Tradução e Literatura Anglo-Irlandesa), Faculdade de Letras do Porto. Tradutor profissional e sócio-gerente da empresa PHALA Gabinete de Tradução, Lda. Docente da disciplina de Tradução Especializada I e II da licenciatura de Línguas Estrangeiras Aplicadas (LEA) da Universidade do Minho (DEINA ILCH). Coordenador e orientador de estágios da licenciatura de LEA. Membro da bolsa de formadores da Universidade do Minho no âmbito do programa de qualidade da Pró-Reitoria (Metodologias e Técnicas de Tradução). Sócio fundador da ATeLP. Conselheiro científico da CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica para as áreas de Estudos de Tradução e Engenharia. Membro do Conselho Consultivo da APET Associação Portuguesa de Empresas de Tradução. Coordenador científico e co-organizador do seminário de formação "Technology for Translation Teachers", uma iniciativa no âmbito do CTTT – Consortium for Training Translation Teachers (Universidade do Minho, Universidade de Rovira i Virgili de Tarragona e CTTT), Braga, Universidade do Minho, 2005.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Práticas de Pagamento de Clientes Potenciais: como Fugir de Clientes que Não Pagam?

Ana Hermida Ruibal Universidad de Vigo, España

[email protected] Resumo Como lidar com potenciais clientes dos quais não temos referências e como agir para que o nosso trabalho seja pago são dois aspectos a ter em conta para quem está no mercado da tradução. O referido mercado é um dos raros em que o fornecedor (o tradutor) frequentemente aceita encomendas de um cliente desconhecido, por telefone ou correio electrónico, sem nenhum tipo de adiantamento ou garantia de pagamento. Isto leva muitas vezes a trabalhos que não são pagos ou a pagamentos atrasados. No entanto, estes não-pagamentos ou pagamentos fora de prazo não são apenas culpa do cliente, eles são também culpa do tradutor que não foi suficientemente cauteloso na averiguação das referências do cliente. Neste trabalho são apresentadas algumas sugestões que podem evitar ou minimizar a ocorrência destas incómodas situações. A Internet oferece-nos hoje diversas ferramentas para a obtenção de referências relativas à confiança que pode oferecer um cliente potencial. Palavras-chave: referências pagamentos clientes. Introdução

Muitas são as vezes em que os tradutores são contactados, através da Internet ou do telefone, por um cliente novo de quem não se têm referências. O que fazer nestes casos? Arriscar? Quanto? Quais as informações a pedir ao cliente potencial num primeiro contacto?

Quando o cliente e o fornecedor se encontram pessoalmente no acto da entrega do trabalho, a questão da cobrança não se coloca se o fornecedor entregar o serviço e o cliente pagar no mesmo momento. Claro que há sempre o risco de o cliente não aparecer e de o trabalho feito não ser remunerado. Mas o que fazer quando a entrega da tradução se efectuar via Internet, como acontece na maior parte das vezes no dia-a-dia dos tradutores?

Em muitos fóruns e listas de correio de tradução tem-se falado acerca deste assunto e são numerosos os tradutores que afirmam que, no início, a não ser que as referências do cliente sejam boas, nunca se deve aceitar trabalho superior ao trabalho que se está disposto a perder se o cliente não pagar, o que, para muitos tradutores, corresponde a meio dia de trabalho.

Os endereços das páginas Gebo aqui indicadas foram verificados pela última vez em 17 de Julho de 2006.

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Recomendações antes de aceitar um trabalho

Xosé Castro Roig (http://www.xcastro.com), tradutor espanhol experiente, numa mensagem na lista Trag (disponível em http://www.yahoogroups.com/group/trag/) datada de 14 de Dezembro de 2005, resumiu com clareza as medidas adoptadas por ele com os novos clientes, que podem ser muito úteis para outros tradutores:

«[…] Yo no trabajo para nadie que no cumpla TODOS estos requisitos: 1. Tienen una página Web decente. (Hoy en día, es la imagen de cualquier empresa

que se precie. Decente no quiere decir 'bonita', claro. Por supuesto, no trabajo para una agencia que no tiene dominio propio y me escriben desde Hotmail, Gmail o sitios así.)

2. Profesionalidad en el trato. (Por ejemplo, cuando telefoneo, no me dicen «¿Mande?» sino «Agencia Talcual, dígame» y noto cierta deferencia y cortesía.)

3. Las personas que se comunican conmigo por correo electrónico firman con su cargo y añaden datos de la empresa, como teléfono, fax, etcétera.

4. Me han facilitado una lista de referencias. (Me envían por correo una lista de nombres clave para quienes han trabajado o en su página Web los publican. Una razón de rechazo inmediato de una agencia es cuando se niegan a dar esta información o incluso les molesta que se la pidas – algo extraño, lo sé – pero también me he encontrado alguna.)

4. He preguntado antes en foros y listas si alguien la conoce. (De todos modos, emite tu juicio con cautela: he conocido decenas de casos de traductores que acusaban a agencias sin que hubiera réplica por parte de aquellas. Para emitir juicios, a veces conviene ver todos los datos. Yo también he trabajado para agencias que han tratado mal a otros traductores y a mí no porque he dispuesto ciertas medidas de antemano. O viceversa.)

5. Nunca hago un primer trabajo sin dejar totalmente claras las condiciones económicas ·de antemano·:

A) Acordar claramente una tarifa. B) Acordar claramente la forma y plazos de pago. C) Nunca hago un primer trabajo sin que medie una hoja de pedido. En el primer

trabajo, además, SIEMPRE exijo a mis clientes que firmen ·y sellen· la hoja de pedido y me envíen el original por correo ordinario o mensajero. Nunca entrego un primer trabajo si antes no tengo en mi despacho una hoja de pedido original con firma, nombre, cargo y sello de la empresa.

Más adelante, cuando uno ya tiene confianza con la agencia, puede saltarse el paso de la hoja de pedido o permitir que la envíen por correo electrónico, pero dado que es el único vínculo jurídico (contractual) con la empresa, es el papel que podrá servirme para llevarlos a juicio si tuviera cualquier problema. Huelga decir que, además, la empresa ya sabe qué tipo de profesional eres y no te mete en el saco de los de «pago aplazable» […]»

Além dos úteis conselhos anteriores, é recomendável obter todos os dados possíveis dos potenciais clientes e verificá-los para ver se todos (os facilitados pelo potencial cliente e os que se puderam obter por outras vias) batem certo. Pode-se tentar saber se a empresa tem página Web, se os dados nela contidos coincidem com outros apurados por outras vias, e pode-se ainda telefonar para a empresa para verificar se o número de telefone é válido e é da empresa.

A seguir são enumerados alguns métodos para obter mais dados sobre empresas, quer portuguesas, quer estrangeiras:

1. Páginas Amarelas na Internet. Se se procurar o telefone de uma empresa nas Páginas Amarelas (http://www.pai.pt/), em quase todos os registos encontrados aparecerá a opção «Info. Negócios», que é a informação de negócios que a

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Coface oferece gratuitamente. Está imediatamente acima da linha «Guardar» e «Guardar com Nota». Se se clicar na opção «Info. Negócios», surgirão os seguintes dados (ou parte deles) do registo seleccionado: nome, distrito, número de contribuinte, Código de Actividade Económica (CAE), volume de negócios, capital social e número de empregados. Se se quiser obter um relatório de crédito detalhado, isso também é possível mediante pagamento. Em http://www.coface.pt/pdfs-pt/RelCredCoface.pdf pode consultar-se um exemplo de relatório de crédito oferecido pela Coface.

2. Serviço de informações 118. Válido apenas se o cliente for residente em Portugal. Está disponível de duas formas: i. Na página http://www.118.pt. Nela podem ser efectuadas pesquisas a partir do

nome e morada, a partir apenas do nome, mas não a partir apenas da morada nem do telefone.

ii. Telefonicamente, ligando para o número 118. Em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países, como Espanha, é possível obter-se o nome e a morada de um titular (particular ou empresa) a partir do número de telefone e vice-versa.

3. Se o cliente for residente noutro país diferente de Portugal ou a empresa for sedeada no estrangeiro, terão de ser encontradas listas telefónicas do país em questão. Por exemplo, as Páginas Amarelas espanholas estão disponíveis em http://www.paginasamarillas.es/ e as Páginas Brancas, em http://blancas.paginasamarillas.es/.

4. E-informa: Disponível em http://www.e-informa.com/. Se o cliente for sedeado em Espanha, E-informa oferece relatórios financeiros de empresas espanholas. É a pagar mas, após o registo, podem receber-se 5 relatórios gratuitamente.

5. Whois: Se tivermos o domínio da Internet da empresa, podemos obter mais dados procurando num pesquisador Whois como o seguinte: http://www.directnic.net/whois/

6. Infogreffe: Nesta página podem obter-se dados de empresas francesas. Disponível em http://www.infogreffe.fr/infogreffe/index.jsp

7. Axesor: Disponível em http://www.axesor.es/. Serviço de pagamento. Oferece informações acerca de empresas e empresários residentes em Espanha.

Entre os dados a solicitar ao cliente potencial, antes de começar a trabalhar, deverá

exigir-se o número de contribuinte a fim de verificar se o mesmo está activo nas Finanças. Nas páginas seguintes pode proceder-se à verificação da actividade do número de contribuinte:

1. Na página do Ministério das Finanças português: Disponível em http://www.e-financas.gov.pt/, seleccionando, no menu esquerdo, as seguintes opções: Contribuintes > Consultar > Ident. Client/Fornec. Apenas está disponível para utilizadores registados na página mencionada. A partir de um número de contribuinte português, podem obter-se dados como nome completo do cliente, quer se trate de um trabalhador independente, quer se trate de uma empresa, Serviço das Finanças a que está afecto e qual o enquadramento em IVA e a sua situação (em vigor ou não).

2. Na página do Sistema de Intercâmbio de Informações sobre o IVA (VIES), Validação N.º IVA: Disponível em http://ec.europa.eu/taxation_customs/vies/pt/vieshome.htm. Nela pode verificar-se se um determinado número de contribuinte, de qualquer Estado membro da União Europeia, é válido.

3. Consulta de operadores IVA intracomunitários da Agencia Tributaria espanhola: Disponível em https://aeat.es/viesdist.html

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Listas de correio sobre práticas de pagamento de empresas de tradução

Existem várias listas de correio que tratam o assunto das referências e práticas de pagamento de empresas de tradução. Nestas listas, podem efectuar-se pesquisas nos seus arquivos de mensagens. Se ninguém tiver perguntado nada sobre a empresa, podem pedir-se referências aos tradutores membros da lista. Eis algumas destas listas, quase todas em Inglês:

• Payment Practices (PP_Dist): Disponível em http://www.paymentpractices.net/ e http://groups.yahoo.com/group/pp_dist/.

• TCR (Translator Client Review): A subscrição custa 12 dólares americanos por ano. Disponível em http://www.tcrlist.com/ e http://groups.yahoo.com/group/TCR/

• WPPF: Disponível em http://finance.groups.yahoo.com/group/WPPF/. • WPPF Chat: Disponível em http://finance.groups.yahoo.com/group/WPPFchat/.

Descrição da lista: «As only reports, questions and answers are allowed on the main WPPF group, there is a need for another forum, that allows chat, gossip, comments, discussion about the policy and other issues.»

• Translationagencypayment (Translation Agency Payment): Disponível em http://finance.groups.yahoo.com/group/translationagencypayment/

• Transpayment: http://www.smartgroups.com/groups/transpayment/ • TradPayeur: Disponível em http://finance.groups.yahoo.com/group/tradpayeur/. Em

Francês. • Zahlungspraxis: Lista em Alemão. Disponível em

http://de.groups.yahoo.com/group/zahlungspraxis/. Antigamente chamava-se «zahlungsmoral».

• Betaalmoraal: Disponível em http://groups.yahoo.com/group/betaalmoraal/. Em Neerlandês.

• Transblacklist: em http://finance.groups.yahoo.com/group/transblacklist/. Tem muito pouco correio.

• Traducción en España: Disponível em http://www.rediris.es/list/info/traduccion.es.html. Embora não seja uma lista que trate particularmente o assunto das práticas de pagamento, mas sim uma lista de referência para os tradutores de espanhol, muitas vezes surgem nela pedidos de referências de empresas de tradução, especialmente de Espanha.

Fóruns e directórios de tradutores sobre práticas de pagamento de empresas de

tradução

• Blue Board de ProZ: Disponível em http://www.proz.com/blueboard/ e http://www.proz.com/?sp=agency_list/. A consulta é gratuita para os membros Platinum. Os membros não-pagadores podem trocar Brownies (pontos atribuídos pela comunidade de Proz) por consultas de registos de empresas ou pagar 50 centavos por cada registo. Os não-membros podem ver anonimamente a classificação média, mas não os comentários de cada tradutor. Os tradutores que opinem sobre uma determinada empresa de tradução têm de classificar a sua vontade de voltar a trabalhar com a empresa, numa escala de 1 a 5, sendo 1 o valor mínimo e 5 o máximo. As empresas ou tradutores que tenham má reputação no Blue Board poderão ser proibidos de anunciar ofertas de tradução no directório Proz. Este directório disponibiliza ainda uma opção de Pedidos de Pareceres (Call for Entries) relativos a uma determinada agência de tradução ou tradutor, os quais

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são enviados diariamente aos membros de Proz que tenham activa aquela opção nas suas preferências.

• Go Translators – Black and White List: É gratuito mas é preciso inscrever-se no directório. As empresas ou tradutores que tenham má reputação nesta lista poderão ser proibidos de anunciar ofertas de tradução no directório Go Translators. Sempre que necessário, Go Translators envia avisos aos membros do directório, por circulares, relativamente a agências de tradução com as quais vários tradutores tiveram problemas.

• Hall of Fame & Shame no TranslatorsCafe.com: • http://www.translatorscafe.com/cafe/MegaBBS/forum-view.asp?forumid=39. Está

disponível apenas para membros (pagadores) do TranslatorsCafe. • Untrustworthy Translation Agencies do Translation Directory: Disponível em

http://www.translationdirectory.com/non-payers.htm. É uma circular gratuita que envia periodicamente uma lista negra de maus pagadores.

• Aquarius (Agency Reviews): Disponível em http://www.aquarius.net/index.cfm?chapter=directory&aq=dir_reviews. Serviço gratuito para utilizadores registados. Nele os tradutores que opinam sobre uma determinada empresa de tradução têm de classificar a sua experiência com a dita empresa, em termos de práticas de pagamento, de 1 a 5 estrelas, sendo 1 o valor mínimo e 5 o máximo.

• Ripoffreport: Disponível em http://www.ripoffreport.com/search.asp. Categorias relacionadas com a tradução: Translators e Translation Agencies.

Outros interessantes recursos ou artigos sobre práticas de pagamento de empresas

de tradução são os seguintes:

• Non-paying Translation Agencies: http://www.apluscounts.com/Non-Paying_Translation_Agencies.html

• About bad payers (tools) – Go Translators: Disponível em http://www.gotranslators.com/Engl/BPTools.php

• Artigos sobre práticas de pagamento no Translation Directory: http://www.translationdirectory.com/payment_practices.htm

• 20 Rules for Dealing with Clients and Agencies: http://germantranslator.blogs.com/translation/2004/07/20_rules_for_de.html

• "Show me the money!!" – Credit Control for Translators, by Ellen Kapusniak: http://www.translatorscafe.com/cafe/article19.htm

Se se desconfia e não se conseguem obter referências fiáveis de um determinado

cliente, por vezes é preferível pedir um adiantamento de 50 % ou mesmo o pagamento integral e antecipado do trabalho. Se, apesar de tudo o que anteriormente foi referido, nos encontramos com um devedor que persista em não liquidar a dívida, se não resultar o envio de carta registada com aviso de recepção por parte do tradutor que não recebeu o pagamento ou do seu advogado, pode por fim recorrer-se aos tribunais. Neste âmbito, existe em Portugal o prático e efectivo sistema de Injunção, se o cliente for português (veja-se http://www.tribunaisnet.mj.pt/injun/). Em Espanha existe o «proceso monitorio» (veja-se http://www.mju.es/Monitorio.htm). Em Inglaterra existe um «Small Claims Procedure» (veja-se http://www.dca.gov.uk/consult/smallclaims/smallclaims.htm). Em Espanha foi ainda publicada a Lei 3/2004, de 29 de Dezembro, «por la que se establecen medidas de lucha contra la morosidad en las operaciones comerciales.». Está disponível para consulta em www.boe.es/boe/dias/2004/12/30/pdfs/A42334-42338.pdf

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Conclusões

Esta comunicação apresenta uma variedade de recursos para consulta ou inquirição sobre as práticas de pagamento de empresas de tradução em todo o mundo. Isto pode ser útil para tradutores em princípio de carreira, e não só. Com estas recomendações, espera conseguir-se reduzir o número de traduções não pagas no mercado da tradução. NOTA BIOGRÁFICA

Ana Hermida Ruibal é espanhola, nascida na Galiza. É licenciada em Tradução e Interpretação pela Universidade de Vigo e Doutoranda em Tradução e Linguística na mesma universidade. Leccionou Tradução Português-Espanhol na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e Língua Portuguesa na Faculdade de Filologia e Tradução da Universidade de Vigo. É tradutora/intérprete ajuramentada (Galego-Inglês-Galego) certificada pela Dirección Xeral de Política Linguística da Xunta de Galicia, membro da Associação Portuguesa de Tradutores (APT), da Asociación Española de Traductores, Correctores e Intérpretes (ASETRAD) e da Asociación Ibérica de Estudios de Traducción e Interpretación (AIETI). Em 1998 fundou a empresa Sintraweb, Lda. de que é sócia e directora dos serviços de tradução.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

A Noção de Qualidade em Tradução e a Formação de Tradutores:

O Caso Português

Delfina Rodrigues Escola Secundária Camilo Castelo Branco, Vila Real, Portugal

[email protected] Resumo Durante séculos, traduziu-se com base em critérios essencialmente estilísticos ou de acordo com noções de liberdade, por oposição ao conceito de tradução literal, ou vice-versa. Muitos dos textos sobre tradução são comentários sobre outras traduções que reflectem o debate em torno da dicotomia tradução literal/tradução livre. Para a maior parte dos tradutólogos é consensual que a actividade crítica em tradução ou não existe, ou é feita de forma subjectiva, não sistematizada. Efectivamente, o debate sobre qualidade em tradução só recentemente abandonou critérios vagos e generalistas e enveredou pela procura de um modelo de avaliação objectivo que abarca desde as simples escalas de valor até modelos globais sofisticados. Na presente comunicação, pretendo reflectir um pouco sobre a necessidade de introduzir gradualmente critérios objectivos na avaliação em tradução, fruto de estudos empíricos suficientemente amplos. Simultaneamente, tentarei esboçar um quadro, mais ou menos elucidativo, do ensino da tradução e da formação de tradutores em Portugal nos últimos vinte anos. Tendo como ponto de partida os postulados da teoria da Tradução e, recentemente, dos Estudos de Tradução, procurarei ver em que medida os programas e os currículos das instituições que, em Portugal, são responsáveis pela formação de tradutores reflectem as questões fundamentais que, nas últimas décadas, têm estado no centro do debate acerca do fenómeno tradutológico relativamente à qualidade em tradução e à sua avaliação. Palavras-chave: qualidade; avaliação; objectividade. 1. Avaliação da qualidade em tradução

1.1. A noção de qualidade e o conceito de avaliação em tradução

A tradução é, seguramente, uma das mais velhas profissões do mundo, decorrente de uma necessidade básica do ser humano: a comunicação. Durante séculos, traduziu-se com base em critérios essencialmente estilísticos, ou de acordo com noções de liberdade versus literalidade. Na opinião de Martinez Melis e Hurtado Albir, muito do que hoje se publica sobre avaliação em tradução é feito sob a forma de comentários a traduções que não se

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afastam muito do velho debate em torno da não menos velha questão da tradução literal por oposição à tradução livre. Uma noção que Christiane Nord corrobora quando afirma que a equivalência continua a ser equacionada com fidelidade e que as traduções continuam a ser avaliadas segundo este critério impreciso.

Com efeito, o conceito mais importante na história da tradução é, sem dúvida, a velha dicotomia que opõe a palavra ao sentido, que a abordagem tradicional da Teoria da Tradução nunca conseguiu ultrapassar e que, ainda hoje, persiste nos estudos de Tradução.

De resto, para Martinez Melis e Hurtado Albir, a actividade crítica em tradução ou não existe, ou é feita de forma subjectiva e não sistematizada. Isso dever-se-á, com certeza ao facto de que, como refere Hannelore Lee-Jahnke, os critérios de avaliação não são tão claros como se desejaria. Na sua opinião, se entendermos por crítica tradutológica a análise rigorosa de uma tradução, dos seus traços fundamentais, do projecto que lhe deu origem, da posição do tradutor, ou seja, fundamentalmente, o discernir da verdade de uma tradução, teremos que reconhecer que a crítica tradutológica só recentemente começou a ser posta em prática. A este propósito, também Mary Snell-Hornby reconhece que, enquanto disciplina que se propõem ser, os Estudos de Tradução terão de desenvolver os métodos próprios, baseados não em modelos e convenções que lhe são extrínsecos, mas nas complexidades da própria tradução.

Para Horguelin, só recentemente o debate sobre a qualidade em tradução enveredou pela procura de um modelo de avaliação objectivo capaz de englobar desde as simples escalas de valor até modelos gerais sofisticados, uma viragem que o autor faz coincidir com o congresso da FIT que teve lugar em 1959, subordinado justamente ao tema "A Qualidade em Tradução".

Qualquer investigação na área da avaliação em tradução deve, desde logo, responder a duas questões: o que é a avaliação e o que se avalia; e como se avalia. Enquanto objecto de estudo das Ciências da Educação, a noção de avaliação é uma noção suficientemente ampla de modo a englobar todo o sistema educativo. Em termos de ensino, foi durante muito tempo sinónimo de "medir para julgar". Tradicionalmente, a tradução foi utilizada como meio de avaliar determinados conhecimentos de uma língua estrangeira (vocabulário, sintaxe, etc.) tendo como critérios prioritários o limite de tempo e a fidelidade linguística. Na opinião de Cármen Valero Garcés, embora a tradição de traduzir seja longa, a avaliação do conhecimento é comparativamente recente, sobretudo quando falamos da tradução como disciplina. Para esta autora, a tradução tem sido um pouco esquecida no ensino da Língua II, resultado de os métodos e os conceitos mudarem consoante as épocas.

Actualmente, o conceito de avaliação centra-se tanto no produto final como no processo e destina-se às pessoas, aos alunos, professores e profissionais em todas as áreas. Relativamente à sua finalidade, a avaliação divide-se em diagnóstica, sumativa e formativa.

A avaliação diagnóstica determina o potencial do aluno em termos das capacidades e deficiências, constituindo, ao nível do ensino, um auxiliar precioso em termos da programação a seguir e da planificação das actividades.

Quanto à avaliação sumativa, determina os resultados finais e avalia o conhecimento adquirido. Segundo Albrecht, destina-se, prioritariamente aos alunos – que têm, assim, oportunidade de participar do seu processo de aprendizagem – faz parte desse mesmo processo, e é suficientemente flexível para dar conta das situações individuais.

Quer a avaliação diagnóstica, quer a sumativa ou a formativa necessitam de assentar em critérios objectivos e claramente definidos. A linguística também não tem sido capaz de dar resposta ao problema da distinção entre erros pouco graves, graves ou inaceitáveis. O que, desde logo nos remete para a necessidade fundamental de, antes de avançar para a elaboração dos critérios de avaliação, se definir o conceito de erro e de problema em tradução.

Nord define um problema como uma situação objectiva com que qualquer tradutor se depara no decorrer de uma tarefa de tradução e que pode ser de natureza linguística,

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extralinguística e de transferência. De acordo com a listagem da PACTE (Process of the Acquisition of Translation Competence and Evaluation), os problemas podem ser classificados como linguísticos (lexicais, sintácticos, textuais); extralinguísticos (culturais, temáticos, enciclopédicos); de transferência (relativos à dificuldade de encontrar uma equivalência dinâmica de que fala Nida e que Neubert define como "Text-bound equivalence"); psicofisiológicos (relacionados com a criatividade ou o pensamento lógico); e profissionais/instrumentais (decorrentes das instruções de tradução ou de dificuldades documentais). Apesar deste trabalho de catalogação dos problemas, a maioria dos autores reconhece a necessidade de se proceder a uma investigação capaz de fornecer dados empíricos sobre o tipo de problemas com que os tradutores se deparam no decorrer da sua actividade, dos mecanismos utilizados para os resolver, enquanto profissionais e mesmo antes, durante o processo de aquisição da competência tradutora.

Quanto ao conceito de erro, também é mais ou menos consensual a inexistência de dados empíricos suficientemente amplos para validar uma tipologia de erros, o seu grau de recorrência, a sua gravidade e o nível a que ocorrem durante o processo de ensino/ aprendizagem.

De um modo geral, os aspectos essenciais a ter em conta na classificação do erro em tradução são os seguintes: distinção entre erros relacionados com o texto de origem (TO): significado oposto, errado, disparate, acrescento ou omissão; erros relacionados com o texto de chegada (TC): ortografia, vocabulário, sintaxe, coerência e coesão [Kupsch-Losereit, 1985; Delisle, 1993; Hurtado Albir, 1995 e 1999]; distinção entre erros funcionais (que transgridem certos aspectos funcionais do projecto de tradução) e erros absolutos (que não dependem daquela tradução específica e envolvem uma transgressão injustificada das regras linguísticas e culturais de uma língua ou do seu uso) [Gouadec, 1984; Nord, 1989]; distinção, para cada tradutor, entre erro sistemático (recorrente) e erro ocasional (isolado), que Spilka (1984, 1989) designa por error e mistake; distinção entre erros ao nível do produto e do processo.

Relativamente à questão da gravidade do erro, as opiniões dividem-se, dependendo da forma como os seus autores se posicionam quanto à natureza do acto tradutor. Para Christiane Nord, os erros mais graves são os pragmáticos, seguidos dos culturais e dos linguísticos. Segundo Gouadec, a gravidade do erro tem a ver com o grau de infracção da eficácia do Texto Alvo. Na opinião de Martinez Melis e Hurtado Albir, não é a natureza do erro que determina a sua gravidade, mas a sua função em relação ao texto como um todo (se afecta uma ideia principal ou uma ideia secundária); à coerência e à coesão do Texto Alvo; ao grau de desvio relativamente ao Texto de Origem, sobretudo se não for detectado pelo leitor do Texto Alvo; à funcionalidade comunicativa do Texto Alvo (infracção das convenções referentes à tipologia de textos); às consequências negativas ao nível da finalidade da tradução (resultantes, por exemplo, no fracasso em obter um contrato, vender um produto, etc.)

É consensual entre a maioria dos autores que a avaliação em tradução se reveste de uma importância fundamental em três grandes áreas relacionadas com a actividade: a avaliação das traduções publicadas, dos tradutores profissionais e do ensino da tradução.

De acordo com o grau de sofisticação e objectividade dos critérios de avaliação adoptados, a avaliação pode ser intuitiva, como acontece, normalmente com a crítica tradutológica, porque é subjectiva e baseia-se em impressões, sem explicitar os critérios utilizados; parcial, quando não tem em conta todos os factores envolvidos, como no caso do ensino e selecção de tradutores; e racional, sempre que é feita de forma objectiva, com recurso a escalas baseadas em critérios objectivos que classificam e atribuem um valor ao erro, embora levante, contudo alguns problemas como a morosidade na aplicação e a atribuição de um coeficiente fixo para o erro. Por isso, Martinez Melis e Hurtado Albir chamam a atenção para a necessidade da avaliação em tradução seguir critérios objectivos que definam a tipologia de erros; estabelecer a gravidade do erro com base em critérios

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funcionalistas; valorizar as soluções boas em tradução; ter uma visão flexível da avaliação, socorrendo-se de avaliações parciais sempre que isso se justifique.

No presente texto, ocupar-me-ei, apenas, da avaliação da prática profissional e do ensino da tradução e só no que diz respeito ao modo como quer os avaliadores da prática profissional da tradução quer os curricula e programas dos cursos de tradução entendem a questão da qualidade em tradução.

1.2. A avaliação da prática profissional em tradução

A avaliação da Prática Profissional em Tradução destina-se a avaliar os tradutores individualmente por razões de natureza profissional. Os textos analisados são de natureza técnica, científica, comercial, económica, jurídica, etc. e servem para avaliar a eficácia de um tradutor em termos de custo ou a sua candidatura a membro de uma associação profissional ou ao desempenho de determinado posto. É feita por gabinetes e agências de tradução, organizações internacionais, companhias ou outros organismos e tem como critérios a fidelidade, a qualidade, a eficácia e o lucro. Neste contexto, assumem particular relevância as escalas de pontuação (scoring scales) e os estudos sobre avaliação da qualidade. O Canadá tem vindo a desenvolver, desde 1970, uma investigação importante no sentido de encontrar tipos de escalas adequadas a diferentes fins: desde as escalas de correcção (correcting scales) para determinar o tipo de erros, às escalas de classificação (grading scales) para medir a qualidade da tradução. Desta investigação, resultaram a escala CTIC (Conseil des traducteurs, terminologues et interprètes du Canada) e a escala SICAL (Système canadien d’appréciation de la qualité linguistique) que inclui os estudos efectuados por Gouadec, em 1981 e 1989, e segundo os quais é possível identificar 675 tipos de erros, 300 de natureza lexical e 375 de natureza sintáctica.

A avaliação da prática profissional avalia a competência profissional do tradutor, tendo em conta o produto final, bem como os conhecimentos, aptidões e capacidades do tradutor; centra-se na qualidade e na quantidade; tem uma função fundamentalmente sumativa, embora possa, eventualmente, ser formativa; e utiliza instrumentos de trabalho variados, como traduções, critérios de avaliação, escalas de correcção e classificação, testes de aptidão.

Quanto à competência profissional do tradutor, ou competência tradutora, a investigação no domínio dos Estudos de Tradução tem sido pobre em estudos empíricos. Daí que alguns autores tenham sentido a necessidade de definir competência traslatória e o modo de adquiri-la. As PACTE, de que fazem parte nomes como L. Berenguer, D. Ensinger, Hurtado Albir, Martinez Melis, W. Neunzig, para citar apenas alguns, propõem um modelo holístico, dinâmico, que considera a competência tradutora como o sistema de conhecimentos, aptidões e capacidades necessárias ao exercício da tradução.

Esse sistema subdivide-se em seis categorias de competências: a) competência comunicativa nas duas línguas → compreensão na língua de origem e expressão na língua de chegada; b) competência extralinguística → conhecimentos teóricos de tradução, conhecimento bi-cultural, conhecimento enciclopédico e temático; c) competência de transferência → capacidade de efectuar o processo de transferência de um texto de partida para um texto de chegada (compreensão, desverbalização e separação das duas línguas, controlando as interferências, re-expressão e definição do projecto tradutológico, através da escolha do método apropriado); d) competência instrumental/profissional → conhecimentos e aptidões relacionados com a prática da tradução (conhecimento de fontes de documentação, das novas tecnologias, do mercado de trabalho, da conduta profissional); e) competência psicofisiológica → capacidade de aplicar recursos de natureza psicomotora, cognitiva e do domínio das atitudes como ler e escrever, faculdades cognitivas (memória, atenção, criatividade, pensamento lógico) e atitudes (curiosidade intelectual, perseverança, rigor, capacidade crítica, conhecimento e confiança nas capacidades próprias); f) competência estratégica → procedimentos individuais conscientes e inconscientes, verbais

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e não verbais usados na resolução de problemas que surgem durante o acto de traduzir – importante na detecção de problemas, tomada de decisões e correcção de erros ocasionais.

Desta última competência, fazem, ainda, parte três sub-competências: as estratégias de compreensão, que permitem distinguir entre ideias principais e secundárias, estabelecer relações conceptuais e procurar informação; as estratégias de reformulação que consistem no uso de paráfrases, retroversão, reformulação em voz alta, em evitar false friends, cognatos e decalques, etc.; e as estratégias de documentação que possibilitam o estabelecimento de uma linha de inquirição, o saber seleccionar informação, etc.

1.3. A avaliação no ensino da tradução

No contexto didáctico, a reflexão sobre a avaliação tem-se centrado, sobretudo, na procura de escalas de correcção e classificação e no estudo do modo como os erros ocorrem numa tradução, definindo quer erro quer problema. O seu objecto de estudo é a competência tradutora do aluno, bem como o plano de estudos e o programa. Visa não só o produto, mas também o processo individual seguido e os procedimentos adoptados, medindo a qualidade e a quantidade. A avaliação no ensino da tradução engloba, obviamente, as três funções: a diagnóstica, a sumativa e a formativa; e utiliza, instrumentos variados como, exercícios, questionários, traduções, escalas de correcção e classificação, critérios de avaliação, etc. Como facilmente se depreende, a avaliação neste domínio tem um objectivo pedagógico, pois faz parte de um processo de ensino aprendizagem; e académico, porque tem de preencher os requisitos impostos pela instituição e é especulativa, na medida em que sendo feita de forma racional pode ter aplicação teórica.

Geralmente, quando se pensa em avaliação, tem-se em mente a avaliação sumativa, a que sanciona e que, na maior parte dos casos, se exprime através de números. Uma tarefa que não é fácil, porque não nos situamos no domínio das ciências exactas onde a objectividade é possível. No caso das línguas e, por extensão, da tradução, estamos em presença de uma matéria cujos critérios são, frequentemente, altamente subjectivos.

Paralelamente, a avaliação não é entendida por todos do mesmo modo. Recentemente, a investigação nesta área tem reafirmado a necessidade de a avaliação contemplar, para além da incontornável função sumativa, as funções diagnóstica e formativa. A primeira porque faculta ao professor informação sólida e fiável a partir da qual pode programar as suas actividades e gerir o seu trabalho; a segunda porque lhe permite ajudar os alunos a melhorar o seu desempenho. Na opinião de Lee-Jahnke, a avaliação formativa, por razões de natureza pedagógica, tem um papel fundamental no processo de ensino aprendizagem, porque não se restringe ao êxito dos alunos em termos de exame, mas visa melhorar a sua competência tradutora e, consequentemente, o produto acabado, isto é, uma tradução de qualidade.

De resto, é consensual para a maioria dos autores que a avaliação em tradução não tem por objecto apenas o resultado da tradução mas, igualmente, a competência do tradutor e o processo seguido. Relativamente ao ensino da tradução, a avaliação é um instrumento importante no processo de ensino-aprendizagem. Do ponto de vista do aluno, ser confrontado com os erros que comete, sempre que estes ocorrem, dá-lhe informação crítica que o leva a rectificar o seu pensamento conceptual e a distinguir a sua percepção em domínios onde a sua percepção antes era confusa. Para o professor, a descoberta das fragilidades dos seus alunos confere-lhe um melhor conhecimento da matéria que ensina.

Para Hurtado Albir (1993 e 1995) deve apostar-se numa estratégia de ensino da tradução baseada no estudo do erro, englobando cinco princípios:

1. Diagnóstico das causas, de modo a fornecer as estratégias de remediação adequadas;

2. Diagnóstico e tratamento individualizados do erro (já que nem todos os alunos cometem o mesmo tipo de erros) e estímulo da auto-avaliação;

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3. Aprendizagem através do erro; 4. Tratamento individualizado do erro em termos da sua classificação e das

estratégias de remediação; 5. Aplicação progressiva de critérios de correcção, de acordo com o nível de

aprendizagem.

Alguns autores defendem que o melhor modo de avaliar a capacidade tradutora dos alunos é através do recurso a diferentes testes, elaborados em função dos diferentes aspectos, de acordo com o que foi ensinado nas aulas e levando em conta a finalidade do teste. O principal factor para garantir a validez de um teste é saber qual a sua finalidade, o que testa, os critérios de qualificação e a quem se destina. O facto de ser utilizado por várias pessoas, na opinião de Cármen Valero, não faz dele um teste necessariamente válido. Equivaleria a julgar um livro pela capa. Assim, os testes devem ser objectivos, confiáveis e válidos.

Martinez Melis e Hurtado Albir propõem quatro parâmetros a que deve obedecer uma avaliação objectiva e justa: respeitar critérios específicos que devem ser conhecidos do aluno; utilizar critérios de avaliação dependentes do contexto avaliativo, da sua função, e que tenham em conta a resposta às perguntas porquê, para quê e para quem; definir claramente o objectivo da avaliação (o quê) e o nível a que é feita; definir, claramente, os indicadores que permitirão verificar que competências o avaliador possui, ou não, e em que grau. 2. O ensino da tradução em Portugal

2.1. A nível universitário

Antes do 25 de Abril de 1974, data que marca o fim da ditadura em Portugal e pôs fim a quase cinquenta anos de isolamento do país relativamente ao exterior, os cursos de Letras das universidades portuguesas na vertente das línguas, Românicas (português e francês) e Germânicas (inglês e alemão), destinavam-se, quase exclusivamente, à formação linguística de futuros professores, principalmente do ensino secundário. A tradução era, então, vista como uma actividade menor para a qual a formação linguística adquirida nas faculdades era suficiente. Ao nível do ensino, era utilizada como forma de testar os conhecimentos dos alunos nas línguas que faziam parte do currículo oficial das escolas. Com a introdução da abordagem comunicativista, foi completamente banida das escolas portuguesas e o recurso a actividades e estratégias de tradução era considerado antipedagógico.

Em meados da década de oitenta, com a democratização da sociedade portuguesa que se traduziu na melhoria das condições de vida e, consequentemente, no maior acesso de jovens ao ensino superior, as universidades viram-se confrontadas com o problema da saída profissional dos licenciados em Letras. Assim, as portarias 850/87 e 853/87 consignam, pela primeira vez, um curso de formação de tradutores na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. No entanto, estas universidades continuavam a conferir o grau de licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, oferecendo a possibilidade de opção pelo ramo da tradução.

Tratava-se, como se pode depreender, de uma variante e não de um curso de tradução de raiz, estruturado com disciplinas próprias, destinadas, logo a partir do primeiro ano, à formação específica de tradutores profissionais. Subjacente à filosofia que criava as novas saídas profissionais, parecia estar ainda o pressuposto de que os estudantes do ramo de tradução eram, essencialmente, estudantes de línguas a quem era dada a possibilidade de tentarem uma incursão numa outra área disciplinar.

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Foi só em 1990 que o ramo da tradução dos cursos de Letras da Universidade do Porto passou, definitivamente, a curso de tradução. No entanto, segundo António Franco, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o curso de tradução aí ministrado não está isento de problemas. O facto de haver disciplinas comuns aos alunos de tradução e dos cursos de línguas são, na sua opinião, um contra-senso. A seu ver, as turmas deveriam ser constituídas, exclusivamente, por estudantes de tradução para que, "de modo integrado, se ocupassem de certo género de textos, de temas específicos e particularidades da língua que, em geral, não são explorados e que não serão, sequer, do interesse central de futuros professores, embora sejam fundamentais como base para quem se propõe trabalhar como tradutor/a, como produtor/a de textos". (s/d: 62)

Para este professor universitário, na perspectiva dos interesses e das exigências actuais, qualquer curso de tradução deveria reduzir o peso das literaturas e, ao invés disso, confrontar, desde cedo, os alunos com as linguagens especializadas. "Os estudantes dos cursos de Línguas e Literaturas, de um modo geral, vivem, em grande medida, afastados de outros mundos que são, nus e crus, aqueles de que provêm os textos que caem na secretária do tradutor/a profissional e que é imprescindível entender. É que tentar traduzir um texto que mais se afigura como objecto material de que só se apreende a superfície equivale a fazer uma experiência de navegação sem instrumentos". (s/d: 65)

2.2. A nível do ensino secundário

Como já foi referido, a introdução da abordagem comunicativista baniu, completamente, a tradução das aulas de línguas nas escolas secundárias. Foi só no início da década de noventa do século XX, depois de uma reforma curricular de certo modo profunda, que a disciplina de Técnicas de Tradução foi introduzida nos 10º e 11º anos que, no sistema curricular português, são os anos que antecedem a entrada dos alunos na Universidade. Na Nota Introdutória do programa de 1992 podia ler-se: "Na sociedade contemporânea é notória a importância cada vez maior atribuída ao indivíduo que domina a técnica da tradução, isto é, a capacidade que ele tem de ler e compreender uma mensagem, em pelo menos uma língua estrangeira, e ser capaz de a traduzir correctamente na língua materna". (p. 9)

No ponto 1, eram enumerados os Objectivos Gerais que a seguir se transcreve:

"O desenvolvimento desta disciplina da componente de formação técnica deve permitir atingir os seguintes objectivos: . Contribuir para a formação geral do aluno, pelo desenvolvimento das capacidades

de raciocínio, criatividade e sentido estético; . Perspectivar a importância da tradução e o papel do tradutor na sociedade

contemporânea; . Proporcionar ao aluno o domínio de instrumentos e meios conducentes à

comunicação com diferentes comunidades linguísticas; . Consciencializar o aluno das diferenças culturais e civilizacionais entre os povos; . Desenvolver uma metodologia de trabalho, individual ou de grupo, visando

atitudes de sociabilidade, cooperação e intervenção crítica; . Descodificar enunciados em língua estrangeira, reconstruindo-os correctamente

na língua materna". (p. 11)

A carga horária afecta a esta disciplina era de 3 h semanais. Quanto ao perfil dos docentes, o programa previa apenas que fosse leccionado por professores com uma licenciatura em línguas e profissionalizados, isto é, que tivessem feito um estágio pedagógico em ensino de línguas, e não em ensino de tradução. No ponto 5, Espaço e Equipamento, o programa referia que a Escola "deve possuir alguns instrumentos indispensáveis à prática da tradução. A título de exemplo, sugerem-se: dicionários

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unilingues e bilingues; enciclopédias; gramáticas; livros específicos relacionados com as áreas temáticas. A fim de possibilitar uma maior variedade de estratégias, recomenda-se também outros meios auxiliares de ensino: retroprojector, gravador, projector de diapositivos, vídeo, computador."(p. 13)

A leitura deste documento levanta, obviamente, algumas reservas, desde logo, começando pela designação da disciplina, Técnicas de Tradução. O termo "técnica" remete-nos para um conjunto de princípios e procedimentos objectivamente observáveis, planificáveis e previsíveis que permitiriam responder objectivamente a todo e qualquer problema que a tradução levanta. Com efeito, nada poderia estar mais longe da realidade de um tradutor. Se, efectivamente, existissem técnicas para traduzir, não faria qualquer sentido a discussão à volta da necessidade de chegar a critérios objectivos e fiáveis para avaliar a qualidade de uma tradução. Qualidade que o programa não define.

O que se entende por traduzir correctamente? A definição de técnica de tradução proposta parece contradizer, em absoluto os quatro grandes princípios postulados por Snell-Hornby relativamente aos Estudos de Tradução actualmente: primeiro, a tradução é uma transferência cultural, para além da transferência linguística; não é um mero processo de transcodificação mas um acto de comunicação; é orientada prospectivamente em função do texto-alvo e não retrospectivamente em função do texto de origem; finalmente, o texto deve ser encarado como parte integrante do mundo e não como um espécime isolado da língua.

Dos objectivos explicitados, com excepção do último e, apenas, em certa medida, todos os restantes são, claramente, do domínio das competências do tradutor, algo que, dificilmente, alunos com 16 e 17 anos de idade, a média de idades dos alunos do 10º e do 11º anos, possuirão ou terão possibilidade de vir a atingir com 3 horas semanais. A única coisa que será legítimo esperar é que tenham alguma competência linguística. Os objectivos propostos pareciam muito mais orientados para a aprendizagem da língua e da cultura do que para a prática da tradução. Relativamente ao último objectivo, só era considerada a tradução para português, ficando de fora a tradução de português para outra das línguas que fazem parte obrigatoriamente do currículo dos alunos portugueses.

No meu entender, tratava-se de objectivos demasiado amplos, que não tinham em conta o público a que se destinavam, sendo, por isso, desajustados. Possivelmente, também não contemplavam os docentes, cuja formação, na grande maioria dos casos, não tem muito que ver com a área disciplinar, nem sob o ponto de vista prático e muito menos teórico. Como vimos, exigia-se, apenas, que tivessem conhecimento linguístico de uma ou duas línguas, o que é, manifestamente, insuficiente.

Não deixa de ser curioso o facto de a avaliação ter sido, aparentemente, ignorada. Não eram explicitados quaisquer critérios ou parâmetros conducentes à valorização do desempenho do aluno. Também não eram sugeridos instrumentos de avaliação. Uma lacuna que o programa do ano a seguir, 1993, de certa maneira, tentava colmatar. Nele estava já contida uma série de pressupostos que denotam, por parte de quem o concebeu, uma preocupação em manter-se a par da investigação levada a cabo neste domínio do saber. A tradução deixa de ser entendida como uma mera transcodificação, reconhecendo-se o seu papel como veículo e mediador cultural em variadíssimos campos. Por isso, sugere-se a utilização de uma tipologia de textos variados, desde o texto literário, ao texto publicitário, científico, etc.

Em termos metodológicos, considera-se o aluno como o centro do processo educativo e co-responsável pela sua aprendizagem. A tradução perece ser já encarada de modo holístico, como produto e como processo ao tentar dar conta dos problemas inerentes ao acto de traduzir. No ponto 2, "Orientação das Estratégias de Ensino Aprendizagem", era dito que "no estudo e interpretação de um texto dever-se-á atender ao contexto linguístico situacional e cultural, no sentido de se determinarem os factores essenciais à reconstituição correcta de mensagem – what? why? when? how? where? who?", o que pressupõe uma abordagem sob o ponto de vista da análise textual, de modo a garantir a qualidade da tradução.

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Quanto à avaliação, esta era contemplada num ponto 3, intitulado, precisamente, "Critérios e Técnicas de Avaliação", embora, mais uma vez, se recorra ao termo técnicas para o que me parece ser mais adequado chamar instrumentos de avaliação. O programa coloca a ênfase na avaliação formativa e na auto-avaliação dos alunos como garantia de sucesso no processo de ensino/aprendizagem com vista à autonomia do aprendente. Relativamente à avaliação sumativa, os autores do programa assinalam a necessidade de ser adequada e objectiva. Assim, defendem que os instrumentos de avaliação devem obedecer a certos requisitos como a validade dos conteúdos e a adequação ao perfil dos alunos.

A partir do ano passado, porém, a disciplina foi extinta. Conclusão

Da análise dos curricula dos cursos de tradução das universidades portuguesas e do ensino da tradução em geral, parece-me ser legítimo concluir que há ainda muito a fazer neste domínio. Apesar de alguns avanços, o fenómeno da tradução continua a ser encarado de forma linear e sob um ponto de vista simplista, insistindo-se no aspecto técnico, generalista e aparentemente normativa, em vez de se enveredar pela análise descritiva dos fenómenos tradutológicos. Para muitos autores, a teoria reduz-se a "dois processos básicos de tradução: compreensão que pode envolver interpretação e reconstituição, que pode implicar recriação". Desde logo, os cursos de tradução devem partir da concepção que vê o fenómeno tradutológico não apenas como produto, mas igualmente como processo. Devem também abandonar uma visão da tradução apenas como um mero veículo para a aprendizagem de uma língua estrangeira e dos tradutores como agentes que operam uma transcodificação linguística. Assim, do elenco de disciplinas devem constar matérias que tenham a ver exclusivamente com a actividade da tradução que, naturalmente, conservarão uma relação interdisciplinar com os cursos de línguas. Bibliografia Albrecht, R., L’Évaluation Formative, une Analyse Critique, Bruxelles, De Boeck,1991. Franco, António,"Pressupostos e Aspectos da Formação de Tradutores no Âmbito do Português-

Alemão", Colecção Revista Discursos – Série Estudos de Tradução, 57-70. Gouadec, D., "Paramétres de l’Évaluation des Traductions" Meta, 26-2, 198199-116. Horguelin, P., Pratique de la Révision, Montréal, Linguatech, 1985. Lee-Jahnke, Hannelore (2001), "Aspects PÉDAGOGIQUES de l`´Evaluation en Traduction". Meta

XLVI, 2:258-271 Martinez Melis, Nicole; Hurtado Albir, Amparo, "Assessment in Translation Studies: Research Needs",

Meta XLVI, 2, 2001, 272-287. Nord, Christiane, Text Analysis in Translation. Theory, Methodology, and Didactic Application of a

Model for Translation-Oriented Text Analysis, Amsterdam, Atlanta, Rodopi, 1991. Snell-Hornby, Mary, Translation Studies An Integrated Approach, Amsterdam/Philadelphia, John

Benjamins Publishing Company, 1988. Valero, Carmén, "Como Evaluar la Competência Trdauctora – Varias Propuestas", Actes del II

Congrés Internacional Sobre Traducció, UAB, 1994, 199-210. Portaria 850/87. Portaria 853/87. Programa de Técnicas de Tradução de Inglês do Ministério da Educação. 1992. Programa de Técnicas de Tradução de Inglês do Ministério da Educação 1993.

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NOTA BIOGRÁFICA

Delfina Rosa de Andrade Rodrigues é licenciada em Filologia Germânica pela faculdade de Letras da Universidade do Porto; tem o grau de Mestre em Estudos Anglo-Americanos com uma dissertação em Literatura Inglesa com o título In My Own Voice – a problemática da identidade em Mrs Dalloway e Orlando; encontra-se a preparar a tese final de doutoramento em tradução no departamento de Tradução e Linguística da Universidade de Vigo, tendo obtido já o diploma de Estudos Avanzados e o de Especialista em Tradução da mesma universidade. É professora do Quadro de Nomeação Definitiva da escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real. Tem participado em vários congressos e colóquios com comunicação de que se destacam, entre outros títulos: "Do ‘texto que é’ ao ‘texto a ser’ – A tradução como encontro de culturas" in Domus- Revista Cultural (2002), Bragança, ISLA 185-191;"From one text to another – translation as a cultural space" in Studies in Contrastive Linguistics (2002), Santiago de Compostela, Universidade de Santiago de Compostela, Publicacións. 875-882; "E Um Grande Silêncio Fez-se – a tradução no feminino ou uma história de mutismo cultural", Actas do XXVI Encontro da Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos (em fase de publicação); "O confronto entre o Eu e o Outro visto através da discursividade do Primeiro Mundo: o caso da tradução portuguesa de Balthazar de Durrell." in Actas do XXVII Encontro da APEAA (em fase de publicação).

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Primeiros Passos para Uma Avaliação da Tradução Automática:

Uma Experiência Semântica

Cristina F. C. Pinhão Polissema, Porto, Portugal

[email protected] Resumo Embora a Tradução Automática tenha evoluído consideravelmente desde que as primeiras ideias sobre o fenómeno surgiram no final da década de 40 do século XX, o seu futuro depende do contributo essencial dos investigadores, através do estudo dos sistemas de Tradução Automática actualmente existentes e das línguas em que se encontram disponíveis. A avaliação da Tradução Automática é uma questão fundamental não só para os investigadores, mas também para os utilizadores das ferramentas de Tradução Automática, uma vez que pode validar motores de tradução existentes e, inclusive, desencadear abordagens para a resolução de problemas detectados nos referidos motores. Este estudo descreve uma experiência realizada com a finalidade de avaliar a Tradução Automática de quatro motores comerciais disponíveis na WWW, tendo como língua de partida o Inglês e como língua de chegada o Português Europeu. A amostragem é composta por 83 frases, extraídas de textos técnicos, predominantemente da área das tecnologias de informação, recolhidas de acordo com critérios semânticos e sintácticos de homografia e polissemia. As frases foram testadas nos motores e as respectivas traduções classificadas e registadas do ponto de vista do segmento crítico através da utilização da ferramenta TrAva, desenvolvida pelo Pólo CLUP da Linguateca em Portugal (http://poloclup.linguateca.pt/ferramentas/trava). Por muito caminho que ainda haja a percorrer, os resultados obtidos com os motores de tradução automática testados neste estudo evidenciam uma resolução bastante satisfatória dos problemas linguísticos acima referidos nos textos de cariz técnico. Palavras-chave: tradução automática; homografia; polissemia. Enquadramento

Este estudo incide sobre o fenómeno da Tradução Automática e descreve uma experiência realizada com a finalidade de avaliar os resultados produzidos por quatro motores comerciais disponíveis na World Wide Web (FreeTranslation, Systran, ET-Server e Amikai), tendo como língua de partida o Inglês e o Português Europeu como língua de chegada.

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As frases que constituem a amostragem foram testadas nos motores e as respectivas traduções classificadas e registadas do ponto de vista do segmento crítico, o elemento em análise, por intermédio da ferramenta TrAva, desenvolvida pelo Pólo CLUP/FLUP da Linguateca (http://poloclup.linguateca.pt/ferramentas/trava).

O objectivo principal foi tentar descobrir alguns dos problemas da Tradução Automática (TA), para melhor os compreender. A amostragem do estudo é composta por 83 frases, extraídas predominantemente de textos técnicos e, mais especificamente, da área das tecnologias de informação. A sua recolha foi feita com base em critérios semânticos e sintácticos de homografia e polissemia. O estudo de caso

Fontes e metodologia

Numa primeira fase, começámos por determinar os traços semânticos dos lexemas seleccionados e procedemos à recolha e compilação de frases, que submetemos aos motores de tradução utilizando a ferramenta TrAva.

Posteriormente, analisámos os resultados obtidos, identificámos os problemas de tradução encontrados, classificámos os problemas e registámo-los em quadros, de acordo com as possibilidades de categorização do sistema. Numa fase seguinte, organizámos, analisámos e processámos os problemas, avaliámos as traduções dos diferentes motores para cada frase testada e, por fim, tirámos conclusões.

Os principais problemas de tradução objecto deste estudo são de natureza semântica e estão relacionados com a questão da ambiguidade e, mais concretamente, com questões de homografia e polissemia. Foram igualmente considerados problemas decorrentes do uso da língua: analisámos pronomes, preposições e formas verbais típicas da língua de chegada, bem como outras questões de natureza sintáctica.

A selecção dos lexemas resultou, sobretudo, de um trabalho de levantamento e recolha de ocorrências retiradas de textos de documentos técnicos e que classificámos, precisamente, como "Documentação técnica" ou "Utilizador", no campo "Comentários sobre frase de origem" dos quadros de classificação do TrAva. Foram utilizadas outras fontes (Figura 1), nomeadamente corpora, como o BNC e o COMPARA (uma outra ferramenta desenvolvida pela Linguateca), e exemplos de dicionários, em especial da versão em CD-ROM do Longman Dictionary of Contemporay English (2003) e, mais concretamente, da secção Examples bank, um corpus de frases extraídas de livros, jornais, etc. Ainda que grande parte dos exemplos submetidos tenham um pendor técnico ou informativo, preocupámo-nos em incluir frases de carácter geral, evitando, sempre que possível, expressões idiomáticas, colocações e outros elementos geradores de ambiguidade. Em todos os casos, tivemos a preocupação de adoptar, na medida do possível, frases curtas, simples, mas também completas, com, pelo menos, sujeito e predicado. Podemos afirmar que quase todos os exemplos tiveram de ser "retocados" para eliminar "ruídos" óbvios.

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1923%

1012%

3137%

2328%

BNC COMPARA Documentos técnicos Dicionários

Figura 1 – Fontes utilizadas.

TrAva

O TrAva é uma ferramenta criada pela Linguateca que permite testar amostras de frases em motores de Tradução Automática disponíveis na WWW, avaliar os resultados produzidos por esses diferentes motores e classificar erros gramaticais. A utilização desta ferramenta é bastante simples, ainda que deveras abrangente.

Após a inserção de uma amostra – uma expressão, uma frase ou um segmento de texto – o TrAva submete-a a quatro motores de TA (FreeTranslation, Systran, ET-Server e Amikai) que produzem, cada um deles, uma tradução. O passo seguinte consiste no preenchimento de um quadro que permite identificar os problemas encontrados na tradução da amostra e, em particular, do segmento crítico, isto é, do elemento objecto da análise. O resultado final é apresentado num quadro com as seguintes informações (Figura 2):

Figura 2 – A ferramenta TrAva.

1. Frase original: a frase em Inglês que contém o elemento em análise. 2. Origem: a fonte de onde se retirou a frase em Inglês.

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3. Padrão POS 7 frase original: indica a categoria gramatical do elemento em análise.

4. Segmento crítico: o elemento ou conjunto de elementos do texto objecto da análise.

5. FreeTranslation, Systran, ET-Server, Amikai: os quatro motores de TA e as traduções correspondentes que produzem.

6. Número de traduções erradas: a quantidade de traduções incorrectas/ problemáticas encontradas.

7. Problemas identificados na tradução: os problemas identificados pelo utilizador/avaliador, sejam eles de natureza morfológica, lexical, sintáctica ou de outro tipo.

8. Tradução proposta: tradução sugerida pelo utilizador/avaliador, ou proveniente de outras fontes, que seja considerada uma tradução correcta.

9. Comentários sobre frase de origem: informações adicionais sobre o original, por exemplo, se foi pré-editado, ou qualquer outro comentário considerado relevante.

10. Comentários sobre a tradução: informações adicionais sobre os resultados obtidos.

11. Comentários gerais: outras informações pertinentes que não tenham sido incluídas em nenhuma outra parte do quadro de avaliação.

Lexemas em análise

Os lexemas verbais escolhidos para análise foram attach, display, flash, replace,

store e open. Contemplaram-se as respectivas inflexões no presente (-s) e no pretérito do indicativo (-ed), o gerúndio (-ing) e as formas do particípio passado, tanto regulares, como irregulares.

De um ponto de vista semântico, foram igualmente considerados os diferentes significados de cada verbo e a combinação que fazem, na sua forma simples, com preposições como, por exemplo, in (no caso de display e store). Resultados de tradução

Foram analisadas 83 frases, o que multiplicado por quatro motores de tradução resulta num total de 332 traduções (Figura 3). O segmento crítico, ou seja, o lexema em análise nas suas diversas inflexões, serviu de referência para classificar as traduções como sendo correctas e/ou problemáticas. Para efeitos de avaliação da qualidade, considerámos, contudo, a frase na sua totalidade.

__________ 7 POS é o acrónimo de Part Of Speech, de acordo com a definição do British National Corpus (BNC).

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0

50

100

150

200

250

Traduçõescorrectas

Traduçõesproblemáticas

Acessosfalhados

Figura 3 – Número de traduções obtidas. Critérios de avaliação

Conforme já referimos, o objectivo deste estudo foi avaliar a qualidade das traduções produzidas pelos motores de TA, tendo sido realizado de acordo com os seguintes aspectos 8:

1. Inteligibilidade: indica se o texto traduzido é ou não susceptível de ser compreendido.

2. Rigor: indica o grau de correcção da tradução automática. 3. Fidelidade: indica se o texto obtido enuncia o que está no original. 4. Adequação: indica se a tradução é ou não adequada ao texto original. 5. Registo: indica se as escolhas lexicais da tradução pertencem ao mesmo registo

linguístico.

A todos estes aspectos foi atribuído um valor numa escala de 1 a 5, de acordo com a apreciação do avaliador sobre o nível de sucesso alcançado para cada um dos aspectos. A média dos valores atribuídos a cada aspecto por frase constituiu a avaliação da qualidade per se que, para além de um significado quantitativo, tem também um significado qualitativo correspondente, como se pode ver pela Figura 4:

Avaliação Quantitativa 1 2 3 4 5

Correspondentes Qualitativos

Muito Mau Mau Aceitável Bom Excelente

Figura 4 – Escala de avaliação.

As traduções foram avaliadas com base nos critérios descritos, em traduções propostas por um tradutor profissional falante de Português Europeu e/ou noutras fontes idênticas. Gostaríamos de salientar a nossa perfeita consciencialização de que este tipo de avaliação pode tornar-se facilmente subjectivo e que depende da percepção do avaliador do

__________ 8 Os aspectos considerados para avaliação foram adaptados a partir de Hutchins: 1997, no que respeita aos

conceitos e à aplicação.

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que pode ser aceite como uma tradução automática muito má, má, aceitável, boa ou excelente. É ainda importante referir que a principal finalidade desta avaliação foi observar o desempenho dos motores de Tradução Automática para tentar determinar qual seria o melhor de entre eles. Resultados de avaliação

Como se pode ver na Figura 5, os cinco aspectos avaliados em cada motor não apresentam diferenças significativas. A inteligibilidade, a fidelidade e o registo representam os valores mais elevados na escala de classificação, enquanto que o rigor e a adequação evidenciam os valores mais baixos.

Este facto não constituiu surpresa, pois os aspectos de rigor e adequação são os mais falíveis no domínio da TA por estarem intimamente ligados ao uso vivo da língua e ao conhecimento do mundo. Uma máquina não tem a sensibilidade do falante de uma língua; só ele é capaz de notar que um texto pode ter sido traduzido para Português mas não "soa" a Português, devido às subtilezas de sentido da língua de chegada.

Neste ponto, não podemos deixar de relembrar que a tradução não é fácil, mesmo para um tradutor humano, e envolve diferentes níveis de conhecimentos: morfológicos, sintácticos, lexicais, semânticos e pragmáticos.

De igual modo, não devemos criar expectativas irreais em relação à TA: o bom desempenho dos motores de tradução acontece em textos de domínios especializados, com uma linguagem controlada e quase isenta de ambiguidade.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Esca

la d

e Av

alia

ção

Inteligib

ilidade

Rigor

Fidelida

de

Adequaç

ãoRegi

sto

Aspectos da Qualidade

FreeTranslation Systran ET-Server Amikai

Figura 5 – Resultados de avaliação.

Em geral, as traduções foram consideradas "aceitáveis", o que significa que

receberam classificações compreendidas entre 2,7 e 3,3 numa escala de 1 a 5 (Figura 4). Na avaliação, considerámos não apenas o segmento crítico da frase, mas também toda a frase como unidade linguística lógica.

No que concerne aos motores de tradução automática, o ET-Server destaca-se como sendo o motor de melhor qualidade, seguido do FreeTranslation, enquanto que o Systran é de todos o que apresenta o pior desempenho (Figura 6). Ainda assim, e exceptuando o caso do ET-Server, as classificações apresentam valores relativamente próximos.

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FreeTranslationSystran

ET-ServerAmikai

Qualidade

2,943373494

2,837349398

3,180722892

2,901204819

2,6

2,7

2,8

2,9

3

3,1

3,2Es

cala

de

Aval

iaçã

o

Qualidade

Figura 6 – Resultados em termos de qualidade.

Problemas de tradução

Os problemas que foram detectados com mais frequência dizem respeito ao seguinte: 1. Escolha lexical, independentemente da categoria gramatical: nome, verbo,

adjectivo, preposição, advérbio, etc. 2. Resolução de homógrafos e polissemas 3. Concordância verbo/nome em número e género 4. Ordem no interior da frase nominal, da frase verbal e do predicativo 5. Voz passiva.

O tipo de problemas referidos nos pontos 1 e 2 seriam inevitáveis, uma vez que são

inerentes à questão semântica. As suas especificidades provocam sérias dificuldades às máquinas, pois exigem, numa grande parte dos casos, o recurso à análise do contexto, uma tarefa que só os humanos conseguem desempenhar eficazmente. Os quadros do TrAva

Como foi referido anteriormente e de acordo com a metodologia adoptada neste estudo, o TrAva foi a ferramenta utilizada para a submissão das frases aos motores de tradução automática, identificação dos problemas de tradução e classificação dos problemas. Os dados foram registados nos quadros existentes para o efeito na ferramenta. Em seguida, apresentamos dois exemplos desses quadros (Figuras 7 e 8) e os resultados obtidos para dois lexemas, opening e replace, respectivamente.

No primeiro exemplo, opening foi submetido como verbo; três dos quatro motores de TA identificaram correctamente esta categoria gramatical. Apenas o FreeTranslation falhou na resolução do homógrafo ao traduzir opening como nome. O problema de tradução do segmento crítico é, pois, claramente, a não resolução da forma -ing Verbo/Nome.

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[82] Frase Original Opening the device cover during operation might be dangerous

Origem: OUTRA Padrão POS Frase Original: VBB

Segmento Crítico: opening

FreeTranslation: A abertura a cobertura de artifício durante poder de operação é perigosa.*

Systran: Abrir a tampa do dispositivo durante a operação pôde ser perigoso.

ET-Server: Abrir a capa de dispositivo durante a operação poderia ser perigoso.

Amikai: Abrindo a cobertura de dispositivo durante operação poderiam ser perigosos.

Número de traduções Erradas: 1 Problemas Identificados na Tradução: Resolução: -ing V/N

Tradução proposta: Abrir a tampa do dispositivo durante a operação pode ser perigoso.

Comentários sobre frase de origem: Documentação técnica Comentários sobre a tradução:

Comentários gerais:

Figura 7 – Quadro 82 do TrAva.

Se considerarmos toda a frase, o Systran tem um excelente desempenho, com a ressalva da palavra "pôde", que surge estranhamente acentuada. A tradução do ET-Server é perceptível e quase bastante satisfatória, não fosse a escolha indevida de "capa" para cover. Contudo, o mesmo já não se aplica às frases produzidas pelo FreeTranslation e pelo Amikai. Este último consegue resolver a homografia colocando o verbo em Português do Brasil, mas constrói uma frase no plural. Quanto ao FreeTranslation, parece ter encontrado algumas dificuldades com o verbo modal, ainda que tenha conseguido preservar o singular e a concordância entre o sujeito e o adjectivo.

No segundo exemplo, testou-se o verbo polissémico replace (Figura 8). Como se pôde verificar neste exemplo e noutros testados, nenhum dos motores

conseguiu traduzir o verbo com a acepção de "voltar a colocar" ou "pôr novamente" 9, pelo que se constatou, assim, a omissão de um dos sentidos do verbo em todos os motores de tradução.

Na realidade, e mais uma vez com base neste exemplo e noutros testados, a única possibilidade de tradução do verbo replace que parece ter sido incluída em todos os motores e que é resolvida de forma satisfatória é "substituir", mas que infelizmente não se aplica a todos os contextos. Sabemos que na grande maioria dos casos, a tradução correcta de replace é efectivamente "substituir", mas o que fazer à percentagem minoritária de ocorrências em que isso não acontece? E se os programadores dos motores de TA passassem a incluir uma outra acepção do verbo, como seria possível a uma máquina decidir qual a opção certa a tomar? Parece-nos que a ligação lógica a elementos de

__________ 9 "To put something back where it was before", segundo o Longman Dictionary of Contemporay English (2003).

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desambiguação contidos na frase representaria um papel importante, se não mesmo essencial.

[73] Frase Original: Replace the document in the correct position

Origem: UTILIZADOR Padrão POS Frase Original: VBB Segmento Crítico: replace FreeTranslation: Substitua o documento na posição correta. Systran: Substitua o original na posição correta. ET-Server: Substitua o documento na posição correta. Amikai: Substitua o documento na posição correta. Número de traduções Erradas: 4 Problemas Identificados na Tradução:

V/V; omissão de um dos significados do verbo

Tradução proposta: Volte a colocar o documento na posição correcta.

Comentários sobre frase de origem: Documentação técnica

Comentários sobre a tradução: Comentários gerais:

Figura 8 - Quadro 73 do Trava.

Conclusões

Os resultados deste estudo revelam que os motores de TA resolvem, em grande parte e razoavelmente, os problemas de homografia. Contudo, o mesmo não se verifica no que diz respeito à polissemia, o que vem reforçar a necessidade de adoptar estratégias semânticas para a resolução de ambiguidades. Ranchhod (2001: 87-88) chama a atenção para a importância da criação de ferramentas informáticas suficientemente simples que permitam elaborar boas gramáticas de resolução de ambiguidades lexicais.

A utilização da ferramenta TraVa da Linguateca foi uma ajuda preciosa para uma melhor sistematização dos dados recolhidos neste estudo. A avaliação da Tradução Automática é essencial para a detecção de erros, podendo contribuir para o desenvolvimento de mecanismos que permitam a resolução desses erros. Trata-se de uma questão que interessa não apenas a investigadores, mas também a utilizadores de ferramentas de TA, uma vez que pode validar motores existentes.

A Tradução Automática dos nossos dias pode ser útil quando temos necessidade de saber o que nos diz um texto numa língua desconhecida – a chamada "Tradução para assimilação" de que nos fala Hutchins (2001: 5-20) – ou quando precisamos de uma tradução em tempo recorde de um grande texto que posteriormente irá ser revisto por tradutores humanos.

Actualmente, o objectivo do desenvolvimento contínuo dos sistemas de TA assenta muito mais sobre uma combinação entre o computador e o tradutor humano do que sobre um tipo de sistema de tradução totalmente automatizado. Os motores de TA e outras ferramentas de tradução assistida por computador, como as memórias de tradução, podem facilitar o trabalho de tradutores, redactores técnicos, empresas, organizações e utilizadores

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em geral. Contrariamente ao que algumas pessoas ainda pensam, estas tecnologias não ameaçam a existência dos tradutores humanos, antes estão ao seu serviço para que delas saibam tirar o melhor partido. Agradecimentos Não posso deixar de agradecer a todos aqueles que me ajudaram neste estudo: os meus companheiros de luta do mestrado de Terminologia e Tradução, a Prof. Belinda Maia e a equipa da Linguateca da FLUP. O meu agradecimento muito especial à minha querida Milaydis Sosa Napolskij, pelo seu valioso contributo na parte estatística e pelo encorajamento e optimismo constantes. A amizade e o profissionalismo não conhecem barreiras culturais nem linguísticas e vencem fronteiras. Referências Arnold, D, Balkan, L., Lee Humphreys, R. Lee, Meijer, S., & Sadler, S., Machine Translation - An

Introductory guide, NCC Blackwell, Manchester & Oxford, 1994. Austermühl, Frank, Electronic Tools for Translation, Translation Practices Explained, St. Jerome

Publishing, Manchester, 2001. Biber, D., S. Johansson, G. Leech, S. Conrad & E. Finegan, Longman Grammar of Spoken and

Written English, Pearson Education Ltd, Harlow, 2000. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, Academia

das Ciências de Lisboa e Editorial Verbo, 2001, Volume I e II. Longman Dictionary of Contemporay English, Pearson Education Limited, 2003. MacMillian English Dictionary for Advanced Learners. MacMillian Publishers Limited, 2002. Melby, Alan K., The Possibility of Language: A discussion of the Nature of Language, with implications

for Human and Machine Translation, John Benjamins Pub., Amsterdam, 1995. Ranchhod, Elisabete Marques (org.), Tratamento das Línguas por Computador, Caminho, Lisboa,

2001, Capítulo 2. A Brief User’s Guide to the Grammatical Tagging of the British National Corpus. URL:

http://www.hcu.ox.ac.uk/BNC/what/gramtag.html Hutchins, W.J., Machine Translation: past, present, future, Ellis Horwood, Chichester (UK), 1986,

Capítulo 3, URL: http://ourworld.compuserve.com/homepages/WJHutchins/PPF-TOC.htm Hutchins, W.J., "Machine translation and human translation: in competition or in complementation?",

Journal of Translation 13, 1-2 Janeiro-Dezembro de 2001, pp. 5-20. URL: http://ourworld.compuserve.com/homepages/WJHutchins/

Melby, Alan K., "Why Can’t a Computer Translate More Like a Human?", 1995 Barker Lecture, URL: http://www.ttt.org/theory/barker.html

NOTA BIOGRÁFICA

Licenciada em Tradução Inglesa e Francesa, Cristina F. C. Pinhão começou a sua carreira com uma breve incursão no ensino oficial a leccionar Inglês. Seguiram-se quase dez anos a trabalhar como tradutora numa multinacional do ramo informático, onde desenvolveu as suas competências técnicas e tecnológicas, e se viria a tornar responsável pelo Departamento de Documentação da empresa. Paralelamente, trabalhou como tradutora independente, dispondo de algumas obras publicadas pertencentes a diferentes domínios de especialidade. Fez uma pós-graduação em Tradução Simultânea, que lhe permitiu exercer funções de intérprete em alguns congressos e outros eventos. Já com uma vasta experiência como tradutora técnica, fundou, no ano 2000, a empresa Parábola, Lda, da qual foi uma das sócias-gerentes. Presentemente, dirige um novo projecto, a recém-criada Polissema, prestadora de serviços de tradução especializada, com particular incidência na localização de software e hardware.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

Making Sure it’s OK

Andrew Evans Council Member of the International Federation of Translators (FIT)

Abstract Most quality assurance procedures for translation tend to be process-based – relying on the assumption that if the process is rigorous, the translation will be good. The experienced translator knows that such an assumption is unwise: some hazily-defined notion such as "fitness for purpose" is usually involved (what purpose?); nobody is perfect, no procedure is entirely foolproof, and no-one knows exactly what is meant by "good". One quality assurance procedure based on the product rather than the process has always been available: it is called "revision". But revision is costly in terms of both time (when the deadline is short) and money (when the client wants value). Few attempts have been made to devise any alternative which addresses the product. This paper describes one successful approach to assessing the quality of the finished job which falls short of full revision. It has been developed jointly by the European institutions, and is used for assessing the acceptability of outsourced work. Between them, and in addition to their substantial in-house production, the EU institutions currently outsource around half a million pages of translation each year. Key words: translation quality, quality assurance, revision.

A quarter of a century ago, when I was a very junior member of the English translation service at the European Commission, we began experimenting with an idea that 1981 was so novel that it had no name at all, but is nowadays called "post-edited machine translation". The first large-scale test we did was a report in French on the future of the translation market, the work of a think-tank in Brussels, commissioned by the people then known as DG13, nowadays DG Information Society. Two of us shared the work, which was around 130 pages of French to English, using a revolutionary new machine called a word processor. The senior reviser who was in charge accepted the job (DG13, as developers of Systran, had a political interest in the project’s success) on the strict understanding that this less-than-human-quality translation was for information purposes only.

You can imagine our surprise when a year or so later our translation appeared in print, in exactly the same form, at a far from immodest price.

That’s the problem with treating translation quality as anything other than an absolute. "For-information-only" jobs have a disconcerting habit of metamorphosing into glossy print and reappearing, warts and all, on a million doormats nationwide. And the senior reviser who was in charge of that particular document happened later in his career to become first head of English, then Director of the Commission’s translation service, and finally its Director-General. That experience of 25 years ago goes some way towards explaining why the EU’s translators have a slightly old-fashioned attitude towards quality assurance.

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The world has moved on, though, and few people have the leisure to revise every word. Other factors come into play, and one of the boss’s jobs is to use his knowledge of his translators, combine it with his knowledge of his requesters and their documents, and reach an informed decision on what level of quality is actually justified.

But what do we do when we are not the supplier but the buyer of translations? How can we be sure that the work we buy in meets the minimum standard we require? Sure, the contract says that the translation will already have been revised, but when we don’t know even who the translator is, far less whether he’s competent, how can we feel sure that it meets our standards without actually revising it a second time?

This is not an idle question: between them, the three largest institutions 1 – the Commission, the European Parliament and the Translation Centre, all three based in Luxembourg – buy over half a million pages every year. For those of you who count translation in words, that’s 150 million words. With average prices in the range € 25-€ 35 per page, it is easy to see why this multi-million euro market needs standards. There are still some operators out there who believe that translation is just another means of getting a piece of the EU action without any real quid pro quo.

Parliament and the Commission began working together in 1994 to harmonise their approach to external translation quality. The word "harmonisation" is one of the quickest ways to raise the blood-pressure of a eurosceptic, but in this case it was a useful and necessary measure. First, few members of the public – indeed not all members of the translation profession – are aware that "Europe" is not a single bureaucratic entity – the one usually referred to in the press as "Brussels". Not one entity but many, with their powers as carefully separated as are the legislature, the judiciary and the executive here in Portugal.

It made sense, therefore, to present to our freelance colleagues the unity they imagine us to have. It also made sense for the institutions concerned to get their acts together in order to apply common standards – no question of one allowing liberties which another would penalise. It thus consequently made sense to codify what we were doing, not least for the general benefit of the profession, and as a means of benchmarking our own internal standards. And finally, it therefore made particular sense that we should examine jointly the borderline cases and those which were quite manifestly sub-standard, to ensure that we were in practice pulling in the same direction.

This uniform system has been introduced gradually. The CIEQ, the committee which reviews borderline and clearly unsatisfactory cases, has been in existence and meeting regularly since 1994. In 2005 it examined some 250 documents, but this year, with new lists of contractors in force, it had already passed that total in June. The Committee has in fact been the driving force behind pushing the harmonisation any further at all. The common standards were devised by a working group drawn from the CIEQ, and the whole lot given authority by the interinstitutional translation and interpreting committee, which comprises the Directors-General of the various institutions meeting at political level – that is, representing our political masters – and counting between them a total staff of nearly 4000 translators and a total freelance demand which fluctuates between half and two-thirds of a million pages per year.

The latest stage of this gradual process is the standard evaluation procedure. We believe it incorporates the best of what we each previously did separately.

I am now being careful to use the word "evaluation" and no other. The word I am particularly avoiding is the one I began with: "revision". The contract requires work to be fit to use as it stands. No revision should in fact be necessary. Some agencies apparently do not yet understand this but, equally tellingly, some colleagues don't either. We try to draw a very

__________ 1 I use the term loosely. The Translation Centre is strictly speaking a "body" not an "institution", and the third

largest institution is in fact the Council of Ministers. But the Council has no freelance budget, whilst the Centre commissions around 200 000 pages of freelance translation every year.

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careful distinction between the "evaluation" of an incoming text – which we regard as a wise precaution – and its revision, which ought to be unnecessary.

Note that for a preliminary stage we have separated out six technical aspects of quality which can be assessed by clerical staff. First, was the translation delivered on time? An outstanding translation is of no use if the meeting has already broken up. Is it – apparently at least – all there, annexes, footnotes, and so on? We all know the tricks certain views of Word can play. Is it in the right format? – meaning, in our case, compatible with our exchange format. There are still people out there using Locoscript. Within that format, has the formatting of the original been cloned, or at least reproduced? Have specific instructions been followed? And finally – don't laugh, it has happened – is it in the right target language? These are objective questions which can be answered "yes" or "no". In most cases, if time allows, we can send a job back for any oversights to be corrected, and they will not be counted against the freelance. In practice, of course, time seldom allows: translation is par excellence a just-in-time business.

The document now proceeds to evaluation by one of the translators in the language department which has commissioned the job. A set of guidelines, available in all languages, tells the evaluator exactly what is expected of him.

I said "available in all languages". I mean "localised". The original French guidelines, for example, listed as a potentially serious error the linguistic crime of animisme. It's difficult to get excited about that in English, but that is exactly the kind of source-language interference we anglophones don't like: gallicisms, germanicisms and so on.

The principal guideline in all language versions is that the evaluator should not waste his time. This is, after all, work which the supplier believes is ready to go "as is" to its end user. Our rule of thumb is simple: check five pages or the entire text if it is less. We reckon that if there are no signs of poor work in five pages chosen at random, the odds are that there won't be any anywhere else. I would add as a parenthesis that we are looking at piloting a probability-based approach which will weight the amount of checking in the light of the freelance's recent form – but that is not for straight away.

In addition to his guidelines the evaluator has the standard form now before you, and he will be looking for errors of eight types. These are, in no particular order:

SP spelling PT punctuation GR grammar SENS failure to understand the source text, mistranslation OM omission (or occasionally addition of elements not in the original) CL clarity, inadequate formulation, wrong register, SL interference RD failure to use style manual, reference documents; retranslation of

quotations or other existing material, etc.

TERM wrong lexis or terminology, including (but not just) Community terminology and jargon

Most of these need no introduction. Spelling, punctuation and grammar come first in

my list not because they are the most frequent, but because they are what the economists would call leading indicators. Their tells you very quickly and very certainly that you have a problem. We all know this instinctively: a translator who cares little for the grammar of his language, who cannot spell or cannot punctuate is likely to have other, graver, shortcomings too. The evaluator’s first action may indeed be to run the document past the spell-checker, because failure to take even this elementary precaution is a sure sign of a lack of professional instincts. A document which has not been spell-checked is likely on close study to reveal other signs of neglect, and in the case of an agency this implies a strong

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presumption that the middleman has not in fact made any effort to earn his cut. In the case of a company I'd rather not think about what it implies.

Two degrees of severity exist for each of these eight types of error: minor and severe – venial sins, so to speak, and mortal. Minor errors are those which would make the reader raise an eyebrow, and no doubt make a reviser reach for his red pen, but which do not in practice prevent the message from getting into the reader's mind. This is where my fellow-translator must show restraint in his temporary role as evaluator. That restraint, and a marginal annotation, is all we ask of him.

A severe error, on the other hand, is one which in the view of the evaluator seriously, possibly even fatally, compromises the usability of the text. As an illustration, an error which misleads the reader momentarily until he picks up the thread again from the context is unlikely to count as severe, one which wrong-foots him permanently, leaves him on the wrong track, will.

You will have noticed that "Style" is not in the list. If the offending words can't be categorised as something else, we're not interested in the personal likes and dislikes of the evaluator. It is most unlikely that any court would contemplate something as subjective as style as grounds for cancelling a contract. Neither, therefore, may we.

The evaluator makes the necessary manuscript corrections, and uses the error codes as marginal notes. But only for the five pages. If he finds a translation wanting, it is up to his head of division to decide whether, notwithstanding the terms of the contract, the job needs revision. He may take a gamble that it is already fit for the requester's stated purpose – but that is a judgement he will be making with almost every document coming through the service. He may decide that translator time will have to be spent on bringing it up to scratch.

A parenthesis. What in these circumstances is "scratch"? The boss may well be willing to compromise the service's standards, and allow – or even perform himself – a revision of which he is not particularly proud. Oddly enough, few translators, in-house or outside, seem willing to put much effort into improving a job for which they get no credit even for the improvement. What that means is that the institutions implicitly have two standards of revision: their own house standard, and an acceptable minimum. In French (the language in which these ideas were originally conceived) this comes down to the difference between "une belle traduction" and "une bonne traduction". I'm still not sure what that makes in English, though I feel that "workmanlike" should be a useful adjective somewhere in the definition. I shall welcome your views.

That acceptable minimum is the standard an outside translation should attain before it is returned to the requester. It should be a timely, complete and workmanlike translation of the original, with the quoted matter correctly quoted, the Community and technical jargon right, and its usage not too crass.

That long parenthesis closed, if the boss decides that some kind of improvement is needed, it will become a factor in deciding whether or not the contractor should be let off with a warning, rapped over the knuckles, or downgraded.

Here, briefly, is what happens next. A document found wanting at the first evaluation is then reviewed by another evaluator of the same language but from a different institution. He will be a very senior translator between the two languages concerned – the Commission's panel average over 20 years of experience each, including the Finnish and Swedish members, who arrived only in 1995. He will also be remote from the urgency of getting the document out to its requester – remote enough, anyway, to review it dispassionately. One of the traps we have learned to beware of is over-zealousness: the evaluator who becomes irritated with a document and turns unduly severe.

Only after these two reviews is the document examined by the committee, who ensure that their decision is in keeping with its own precedents, with natural justice and with fair play.

I should perhaps close by repeating that these principles apply only to external translation. For work done in-house the Commission's culture is, as I hope I have made

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clear, a good deal less forgiving. For thirty years we have been building our reputation as the best translation service in the world, and we are proud of it.

But we know that it is not reasonable to apply the same standards to work done outside, and that is why I welcome, and thank you for this opportunity to show the profession exactly what standards the EU institutions do apply. BIOGRAPHICAL NOTE

Andrew Evans read Modern Languages at Westfield College, London, and the Sorbonne and took a Diploma in Management at the City of Birmingham Polytechnic in 1978. He joined the European Commission's English translation service in Luxembourg in 1980, working from the romance languages. In 2002 he became the Luxembourg end of the newly-created English editing service. He represented the Commission on the interinstitutional committee for the evaluation of external translation from 1996 until his retirement in 2004, initially as a staff-side representative and finally as its vice-chairman. He is now serving as a Council member of FIT, the International Federation of Translators.

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Caparica, Portugal 11 e 12 de Setembro, 2006

POSFÁCIO: ENCERRAMENTO

Conclusões Contrapostas

As apresentações científicas e técnicas chegaram ao fim da sua discussão. O conjunto das respectivas conclusões mostra o sucesso que a contrapor2006 conseguiu objectivar. Daí percebe-se que esta primeira conferência de tradução portuguesa tenha obtido um êxito inesperado. Excederam muito as expectativas optimistas que animavam à partida. Todavia, o mais importante são os conhecimentos extraídos das comunicações discutidas. Convém sintetizar os resultados obtidos, no tom de balanço final, por meio de breves apontamentos, supostos relevantes para o conceito genérico da tradução como motor de desenvolvimento no século XXI.

Em princípio, os sistemas de tradução evidenciam os modernos fundamentos do processo tradutivo entre humanos e na interacção humano-máquina exigida pelos sistemas societais. Do ponto de vista institucional, a índole da ATeLP como associação de pessoas singulares e colectivas dedicadas aos problemas da tradução, em Portugal, manifesta estimular a actividade de traduzir por intermédio de intervenções nos desenvolvimentos científicos, pedagógicos e culturais. Aí enquadra-se a construção do modelo sistémico de tradução, potenciando projectos que possam originar teses de mestrado ou doutoramento e sustentem a inovação de produtos úteis ao mercado internacional. A modernidade pelas novas tecnologias informáticas faz surgir os primeiros passos para avaliar a tradução automática, por intermédio da criteriosa comparação dos vários motores de tradução acessíveis na internet, à custa da semântica de lexemas verbais escolhidos para o efeito. Hoje em dia, a tradução assistida por computador proporciona a utilização de meios auxiliares consubstanciados em memórias de tradução, gestores de terminologia, sistemas de tradução maquínica, sistemas de gestão de conteúdos e sistemas de gestão da globalização, afinal testemunhos da actual evolução da tecnologia de tradução, para fortalecer os serviços especializados emergentes.

Neste processo societal, a educação de tradução fundamenta a formação profissional dos tradutores, e por isso deve ser discutida ao mais alto nível, desapaixonadamente e com objectividade. A evolução universitária da tradução em Portugal caracteriza uma área de acesso bastante fechado, desde logo na investigação científica, mas em que os novos licenciados e bacharéis, paradoxalmente, encontram o desemprego – decerto por uma qualificação superior deficiente. O confronto dos modelos de formação de tradutores revela como se evoluiu da simples inserção do acto de traduzir em cursos de secretariado, até à presente disseminação de propostas do ensino e aprendizagem da tradução de línguas – que não parece ser o caminho certo para a tradução especializada. O processo de Bolonha, cuja implementação se inicia no presente ano lectivo, vem dar nova

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esperança à trilogia de tradução, tecnologia e mercado, formulando a criação de licenciaturas e mestrados com a potencial aquisição de competências nas línguas e computadores – como interessa à engenharia de tradução, pela integração sistémica das ciências tecnológicas e ciências humanas na sociedade (paradigma sonhado, mas não prosseguido, da Universidade Nova). A tradução sem as ferramentas do mercado, por não existirem disponíveis meios adequados, centraliza a actividade do ensino e o exercício prático do conhecimento especializado, tal como acontece na musicologia e bem assim noutros domínios, porquanto os dicionários e glossários mostram-se incapazes de correlacionar eficazmente as línguas de especialidade – uma falta a colmatar por autores especialistas e novas editoriais que impulsionem a disseminação das interactividades.

Realmente, a terminologia na tradução representa uma componente básica na contraposição das línguas, formando uma disciplina importante à correspondência das palavras e dos sentidos semânticos. Ainda está por estabelecer um dicionário multilingue de gentílicos e nomes de países, aceite com univocidade e actualizado por entidades reguladoras devidamente credenciadas a nível internacional, mas estão a surgir motivos para a língua portuguesa avançar nessa via. Em especial, um glossário de termos de normalização dos nomes geográficos responde à ‘standardization’ nas directrizes da ONU, seguindo a ‘padronização’ de normas propostas pelo Brasil – incompreensivelmente sem considerar a ‘normalização’ dos portugueses, o que tece mais uma incongruência contra a filosofia sistémica da tradução, emaranhada pela nefasta política de desprezo da língua de Portugal. O caso particular da terminologia educacional confirma as dificuldades existentes ao tentar equivalências nas culturas portuguesa e britânica relativamente a factos correntes da vida escolar – segundo exemplifica a extravagante designação oficial de ‘licenciatura’, acabada de dar ao primeiro ciclo de educação superior e que a restante Europa chama ‘bacharelato’, obviamente. As dificuldades aumentam bastante na tradução jurídica da área penal, pela persistente erudição tradicional e formalismo da linguagem clássica, com a mistura de expressões latinas e arcaísmos ou abreviaturas peculiares e fraseologias típicas – como transparece da simples comparação do português do Brasil e de Portugal.

No alicerce de tudo isto situa-se a teoria de tradução, que interpreta o rigor comunicativo nas conversações interlinguais dos povos, fundamentando conversões correctas das falas de sustentação dos diálogos, em ocasiões mais ou menos fortuitas. Os jovens mediadores linguísticos nas famílias de emigrantes funcionam como tradutores e intérpretes em variadas questões sociais e económicas, conforme mostram estudos feitos na Alemanha às segundas gerações de turcos, gregos e italianos – que se comportam como verdadeiros agentes de socialização. As distintas culturas forçam à explicitação das traduções jornalísticas de um para outro povo, principalmente quanto a nomes próprios e referências culturais na passagem de notícias do japonês para inglês, inserindo esclarecimentos adicionais do tradutor na língua alvo. Em geral, não é pacífica a controvérsia da tradução orientada para a língua alvo, a qual assume contornos muito sensíveis no caso da Bíblia (do latim ou grego para inglês), porque uns defendem o respeito pelo sagrado do texto próximo da língua fonte, enquanto a moderna aproximação à língua alvo robustece uma tendência herética. Daí a discussão essencial da teoria de relevância, que realça a intenção na comunicação, em contraste com as afirmações dos teóricos da verdade condicional e significativa antes da explicação do sentido do falante, obviamente com repercussões decisivas na estratégia de explicitação das traduções.

Em contraponto às teorias, as tecnologias de tradução desenvolvem-se sob a perspectiva de auxiliar os tradutores e intérpretes na execução das suas funções, assumindo diferentes aspectos relevantes, desde os logiciais de aplicação aos equipamentos electrónicos. A informação terminológica assenta em bases de conhecimento plurilingues, nomeadamente os corpora com descrições de usos reais nas línguas de especialidade, como acontece em farmacologia, o que exige a conveniente extracção e gestão dos termos nos vários usos. Deste modo, o uso de corpus em paralelo ao acto de traduzir facilita a comparação bidireccional entre inglês e português, estimulando ainda a

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concepção de programas que comparam as características de diferentes línguas ou o empréstimo de palavras. Nos usos societais mais vulgares aparece a tradução audiovisual, que coloca nas imagens o leitor pela legendagem ou o auditor através da dobragem, mas demonstrou-se pela experiência que o método mais recomendável no ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, concretamente o português para falantes estranhos, consiste na sobreposição de subtítulos escritos nas imagens. As novas tecnologias para intérpretes em conferências, concretizadas por equipamentos electrónicos adaptados aos desempenhos de interpretação, devem ser usadas pelos respectivos estudantes, para que lhes expliquem a relação existente entre as diferentes especialidades e os distintos desempenhos, além de facilitarem a inserção imediata dos recém-formados no mercado de trabalho.

Neste amplo campo de aplicação, a tradução literária, tanto ficcionista como aplicada, assenta nos mesmos princípios da tradução especializada e utiliza igual conjunto de técnicas, genericamente indiferentes ao tipo de literatura mas com especificidades próprias dos objectivos a atingir. A experiência da tradução literária para italiano levanta as metáforas de ‘alfândega’ e ‘contrabando’, igualmente extensíveis às actividades universitárias e editoriais em Portugal, na medida em que o ‘sistema aduaneiro’ virtualmente vigente torna difícil reconhecer o trabalho dos estudantes e dos autores não consagrados. A grande acuidade da tradução de metáforas tem de distinguir as partes de ‘objecto’ e de ‘imagem’ nas figuras de discurso, donde advêm implicações pedagógicas de difícil tratamento, sobretudo nas abordagens automáticas. Apesar disso, são muito importantes as metáforas terminológicas na ciência, pois permitem transferir sentidos nos textos especializados para lá do mero ornamento retórico, sujeitando-se a diversas interpretações da linguística cognitiva, teoria de relevância e teoria de protótipos. Mais realisticamente, a representação do "selvagem nobre" na tradução inglesa da histórica carta de Pêro Vaz de Caminha, sobre a descoberta do Brasil, atende ao conteúdo metafórico do termo, ao lado de outras expressões usuais em 1500 e às quais a cultura actual atribui significados distintos.

Longe do tempo em que o trabalho de traduzir se limitava à acção do tradutor, a prática de tradução assume novas formulações, diversificando o mercado em mais vertentes. A internet propicia entrar no sítio ‘The Tanslator’ com notícias e ofertas de emprego, dirigido especialmente aos estudantes e recém-licenciados, com informação acerca das acções de formação que vão sendo programadas aqui ou ali – na verdade um impressionante serviço privado de índole pública voluntarista. Com grande incidência prática, a normalização reenquadra a profissão de tradutor na qualidade da indústria das línguas, dentro do vasto processo de internacionalização e globalização em curso, sobretudo ao nível da construção do perfil de fornecedor de serviços de tradução e de acordo com a norma europeia 15 038. O exercício profissional pressupõe atender a determinadas práticas de pagamento dos clientes potenciais, recomendáveis para seguir a legislação nacional ou a experiência estrangeira e evitar más cobranças dos serviços prestados.

Em todo o caso, a avaliação de tradução valoriza a qualidade dos serviços dos tradutores nos aspectos literários da estética e do rigor gramatical ou quanto aos meios auxiliares utilizados. Basicamente, interessa analisar a qualidade em tradução e a formação de tradutores tendo em vista a valorização centrada no produto final e no processo de tradução, além da avaliação do ensino exercido a nível superior. Neste aspecto, a herança educacional dos tradutores justifica que os jovens licenciados procurem integrar as bases das ciências sociais e humanas na tradução científica e técnica, por atracção do mercado de trabalho – o que concretiza, na prática, o paradigma sistémico da ciência dos tempos modernos. Se se partir do princípio de que basta a garantia para ter qualidade aceitável numa tradução, há que procurar modos de certificar essa garantia de qualidade, e uma maneira expedita consiste em aprender com as lições da experiência, por exemplo, praticando a regra de aceitação do texto traduzido a partir da validação de cinco páginas aleatoriamente escolhidas.

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Tais conclusões, arroladas dos sistemas e tecnologias desde a educação até à certificação da tradução, descem das teorias de base ao conhecimento das heurísticas praticadas pelos tradutores na execução do seu trabalho, pondo-nos a reflectir sobre os modos de melhorar a realidade actual e progredir para resultados óptimos. Existem aqui preciosos dados para dar mais um passo em frente no desenvolvimento da ciência e tecnologia de tradução, iluminando mais o dia-a-dia de cada profissional. Não será isto um valioso sucesso?

Além disso, foi depositada grande expectativa nas intervenções de duas mesas-redondas intercaladas no programa. A primeira centrou-se nos destinatários das traduções, sob o mote para quem e para quê a tradução, a partir de protagonistas do ensino e aprendizagem que estão a promover a viragem da educação superior. A segunda culminou na dimensão internacional dos directores de associações de tradutores e intérpretes que situam as linhas gerais da profissão no plano global das economias. Em resumo: um sucesso dentro de outro sucesso.

Confio que o meu optimismo seja generalizado. Embora saiba que, durante os percursos de interacção, será normal ocorrerem circunstâncias que desvirtuam a trajectória ideal. No presente caso, estou convencido de que sairemos, no final destes dois dias de diálogo sobre tradução, a pensar que valeu a pena participar no convívio proporcionado – ao vivo, desculpem o pleonasmo, intencionalmente proferido perante o crescendo electrónico dos contactos entre humanos. Poderia ser melhor, também creio, pelo que convido todos a estarem presentes, activamente, na próxima conferência, prevista para a Primavera da contrapor2008, talvez em Abril ou Maio. Permaneço convicto de que se fará mais e melhor.

Hoje estamos fora de Lisboa, nos arredores da capital portuguesa, ainda no território da chamada Grande Lisboa. Com o tempo, o local da contrapor deverá percorrer o país de Norte a Sul, podendo chegar às paradisíacas ilhas insulares de Açores e Madeira ou arribar a outros países de expressão portuguesa – porque não? – o Brasil, Angola e Moçambique ou Timor-Leste. A dinâmica impressa pelas novas gerações ditará as melhores orientações, aliás aceitáveis desde que pugnem pela investigação e desenvolvimento da ciência e tecnologia de tradução, em geral, e pela disseminação do bom uso da língua portuguesa na tradução, em particular.

Nestes objectivos, a Universidade Nova de Lisboa (UNL), onde decorre esta primeira conferência de tradução portuguesa, dispõe de um excelente corpo docente em linguística, prestigiado pela investigação e pedagogia universitária, que pode dar um valioso contributo à ciência de tradução em conjunto com os grupos de inteligência artificial e de controlo cognitivo no desenvolvimento da tecnologia de tradução. A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) inicia agora uma licenciatura centrada na tradução de línguas, que terá muito a ganhar se for complementada por um mestrado em engenharia de tradução na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), que considere especialmente as línguas especializadas e trate a abordagem científica e tecnológica da informática aplicada à tradução. Eis uma sugestão para as ciências sociais aplicadas aproximarem mais a educação superior dos tradutores às exigências do mercado e responderem à crescente globalização das economias mundiais. Talvez seja um programa para a equipa reitoral dinamizar, sob a perspectiva primordial de uma universidade nova.

É neste contexto que agradeço colectivamente a demonstração de interesse pela conferência contrapor. Porém, são devidas algumas deferências singulares. Primeiro, cumprimento jubilosamente a Comissão de Honra, formada pelo Reitor da UNL e o Director da FCT, que nos privilegiaram com a presidência, respectivamente, desta sessão de encerramento e da sessão de abertura da conferência. Depois, felicito os membros da Comissão Organizadora, tanto pelo trabalho coordenador do seu vice-presidente como os cuidados específicos dos restantes componentes. E agradeço à Comissão de Programa a cuidadosa selecção científica das comunicações escritas. Registo um gesto especial à presidente da Associação de Tradução em Língua Portuguesa (ATeLP), que se propõe criar condições de prestígio para a tradução em Portugal. Ainda acentuo o tributo de gratidão

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pelos auspícios da Federação Internacional de Tradutores (FIT) ao membro do seu conselho directivo Andrew Evans. E entrego ao presidente do conselho científico, professor João Paulo Crespo, a mais valia da mensagem revelada do esforço empreendido, para que dela usufrua como melhor entender em prol da ciência e tecnologia de tradução. Concluo com o reforço da amizade, consolidada ao longo de quase quarenta anos de trabalho conjunto, ao professor Leopoldo Guimarães, magnífico Reitor da Universidade Nova de Lisboa, reconhecendo o valor do seu apoio a esta iniciativa universitária, quando já estou em movimento de deriva a penetrar no glaciar da jubilação.

Finalmente, lanço um fraterno aplauso a todos os conferencistas, que manifestaram abertamente os seus conhecimentos e quiseram dialogar com base na sua experiência para perspectivar os novos horizontes da tradução. E, na boa tradição académica, iremos encerrar os trabalhos com as saudações musicais dos estudantes pela encenação da «anTUNia».

Thank you for being here! Obrigado e até sempre. Caparica, 2006-09-12

Hermínio Duarte-Ramos

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