a vegetaÇÃo do parque estadual do espinilho. origem …

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BALDUINIA. n. 44, p. 01-16, 30-Ill-2014 A VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DO ESPINILHO. 2- ORIGEM DO NOME E CONSIDERAÇÕES FITOGEOGRÁFICAS' JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF FABIANO DA SILVAALVES 3 LEONARDO PAZ DEBLE 4 ANABELA SILVEIRA DE OLIVEIRA DEBLEs RESUMO A origem do nome e as tipologias de vegetação reconhecidas no Parque Estadual do Espinilho (Rio Grande do Sul, Brasil) são presentemente investigadas, com vistas ao esclarecimento de questões fitogeográficas pendentes na literatura. Palavras-chave: Barra do Quaraí, Fitogeografia, Parque Estadual do Espinilho, Rio Grande do Sul. ABSTRACT [The vegetation of Espinilho State Park (Rio Grande do Sul, Brazil). 2 - Origin of the name and phytogeographical comments]. The origin of the name and the vegetation types recognized in the Espinilho State Park (Rio Grande do Sul State, Brazil) are investigated, with the aim to clarifying phytogeographical questions found in the literature. Keywords: Barra do Quaraí, Espinilho State Park, Phytogeography, Rio Grande do Sul State. INTRODUÇÃO Situado no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, no município de Barra do Quaraí, o Par- que Estadual do Espinilho dispõe de bibliogra- fia relativamente escassa, marcada pela repeti- ção de equívocos esclarecidos há bastante tem- po. O presente artigo visa a analisar a origem do nome oficial da unidade de conservação, bem como descrever, resumidamente, as diferentes tipologias de vegetação nela existentes, com base em coletas e estudos desenvolvidos ao lon- go de mais de trinta anos. I Recebido em 15-6-2013 e aceito para publicação em 23-11-2013. 2 Engenheiro Florestal, Dr. Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq - Brasil). Professor Titular do Depar- tamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. [email protected] 3 Biólogo, Dr. Professor do Curso de Ciências Biológi- cas, URCAMP (Alegrete, RS). 4 Biólogo, Dr. Professor do Curso de Ciências da Nature- za, UNIPAMPA (Dom Pedrito, RS). 5 Bióloga, Dra. Professora do Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental, URCAMP (Dom Pedrito, RS). COMENTÁRIOS SOBRE O NOME Não restam dúvidas sobre a origem do ter- mo "Parque Espinilho", aplicado à unidade de conservaçã0 6 criada pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul no Município de Barra do Quaraí: cunhado por Balduíno Ramb0 7 , o nome foi utilizado pela primeira vez emA Fisionomia do Rio Grande do Sul- Ensaio de monografia natural, obra que granjeou merecida fama ao botânico gaúcho e cuja primeira ediçã0 8 data de 1942. Como visto em artigo anterior 9 , Balduíno Rambo visitou o extremo sudoeste do estado 6 Com área original de 276 ha, o Parque Estadual do Espinilho foi criado pelo Decreto n° 23.798 do Gover- no do Estado do Rio Grande do Sul, em 12/3/1975. Em 28/212002, a sua área foi ampliada para 1.617,14 ha, pelo Decreto Estadual n° 41.440. 7 Antes de Rambo, Lindman havia utilizado o termo par- que espinillo uma única vez, na legenda de uma ilustra- ção reproduzida no presente artigo (Figura I). O botâ- nico sueco, todavia, deixa claro sua preferência pelo ter- mo pasto espinillo. 8 RAMBO, B. A fisionomia do Rio Grande do Sul- En- saio de monografia natural. Porto Alegre: Of. Graf. da Imprensa Oficial, 1942. 360 p. 9 MARCmORI, J.N.C.; ALVES, F. da S.; DEBLE, L.P.; DEBLE, A.S. de O. A vegetação no Parque Estadual do 1

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Page 1: A VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DO ESPINILHO. ORIGEM …

BALDUINIA. n. 44, p. 01-16, 30-Ill-2014

A VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DO ESPINILHO.2 - ORIGEM DO NOME E CONSIDERAÇÕES FITOGEOGRÁFICAS'

JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF FABIANO DA SILVAALVES3 LEONARDO PAZDEBLE4 ANABELA SILVEIRA DE OLIVEIRA DEBLEs

RESUMOA origem do nome e as tipologias de vegetação reconhecidas no Parque Estadual do Espinilho (Rio Grandedo Sul, Brasil) são presentemente investigadas, com vistas ao esclarecimento de questões fitogeográficaspendentes na literatura.Palavras-chave: Barra do Quaraí, Fitogeografia, Parque Estadual do Espinilho, Rio Grande do Sul.

ABSTRACT[The vegetation of Espinilho State Park (Rio Grande do Sul, Brazil). 2 - Origin of the name andphytogeographical comments].The origin of the name and the vegetation types recognized in the Espinilho State Park (Rio Grande do SulState, Brazil) are investigated, with the aim to clarifying phytogeographical questions found in the literature.Keywords: Barra do Quaraí, Espinilho State Park, Phytogeography, Rio Grande do Sul State.

INTRODUÇÃOSituado no extremo sudoeste do Rio Grande

do Sul, no município de Barra do Quaraí, o Par-que Estadual do Espinilho dispõe de bibliogra-fia relativamente escassa, marcada pela repeti-ção de equívocos esclarecidos há bastante tem-po. O presente artigo visa a analisar a origemdo nome oficial da unidade de conservação, bemcomo descrever, resumidamente, as diferentestipologias de vegetação nela existentes, combase em coletas e estudos desenvolvidos ao lon-go de mais de trinta anos.

I Recebido em 15-6-2013 e aceito para publicação em23-11-2013.

2 Engenheiro Florestal, Dr. Bolsista de Produtividade emPesquisa (CNPq - Brasil). Professor Titular do Depar-tamento de Ciências Florestais, Universidade Federalde Santa Maria. [email protected]

3 Biólogo, Dr. Professor do Curso de Ciências Biológi-cas, URCAMP (Alegrete, RS).

4 Biólogo, Dr. Professor do Curso de Ciências da Nature-za, UNIPAMPA (Dom Pedrito, RS).

5 Bióloga, Dra. Professora do Curso de Tecnólogo emGestão Ambiental, URCAMP (Dom Pedrito, RS).

COMENTÁRIOS SOBRE O NOMENão restam dúvidas sobre a origem do ter-

mo "Parque Espinilho", aplicado à unidade deconservaçã06 criada pelo governo do Estado doRio Grande do Sul no Município de Barra doQuaraí: cunhado por Balduíno Ramb07 , o nomefoi utilizado pela primeira vez emA Fisionomiado Rio Grande do Sul- Ensaio de monografianatural, obra que granjeou merecida fama aobotânico gaúcho e cuja primeira ediçã08 datade 1942.

Como visto em artigo anterior9, BalduínoRambo visitou o extremo sudoeste do estado

6 Com área original de 276 ha, o Parque Estadual doEspinilho foi criado pelo Decreto n° 23.798 do Gover-no do Estado do Rio Grande do Sul, em 12/3/1975. Em28/212002, a sua área foi ampliada para 1.617,14 ha,pelo Decreto Estadual n° 41.440.

7 Antes de Rambo, Lindman havia utilizado o termo par-que espinillo uma única vez, na legenda de uma ilustra-ção reproduzida no presente artigo (Figura I). O botâ-nico sueco, todavia, deixa claro sua preferência pelo ter-mo pasto espinillo.

8 RAMBO, B. A fisionomia do Rio Grande do Sul- En-saio de monografia natural. Porto Alegre: Of. Graf. daImprensa Oficial, 1942. 360 p.

9 MARCmORI, J.N.C.; ALVES, F. da S.; DEBLE, L.P.;DEBLE, A.S. de O. A vegetação no Parque Estadual do

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uma única vez, em 15 de janeiro de 1941, - epor poucas horas -, no intervalo entre a chega-da do trem à estação de Barra do Quaraí e seuretomo a Uruguaianalo. Das espécies arbóreasobservadas na região, o autor destaca Prosopisaffinis 11 , por ele chamado de "algarrobo", eVachellia caven 12, designada como "nhan-duvaí". Além do evidente equívoco com os no-mes populares de ambas as espécies, o que maischama atenção, na obra de Rambo, é a ausênciado nome comum "espinilho" na lista de espéci-es arbóreas, posto ser este o nome atribuído aVachellia caven, tanto no linguajar regionalcomo pela literatura especializadal3 •

Esta ausência se toma ainda mais evidentequando se observa que Lindman, autor de A Ve-getação no Rio Grande do Sul, registra oespinillo (Acaciafarnesiana) como espécie prin-

Espinilho. 1 - Histórico da ocupação humana e evolu-ção do conhecimento botânico e fito geográfico sobre oPontal do Quaraí. Balduinia, Santa Maria, n. 43, p. 1-28,2013.

10 Ba1duíno Rambo saiu de Uruguaiana pela manhã eretomou a essa cidade ao final da tarde do mesmo dia.Ao leitor interessado, recomenda-se: MARCmORl etal., 2013. Op. cit., p. 10-11.

11 Rambo valeu-se de dois binômios para a espécie, emsua obra-prima: Prosopis juliflora, na edição de 1942, eProsopis algarobilla, na de 1956. No caso de Prosopisjuliflora, trata-se de espécie distinta; o binômio Prosopisalgarobilla, por sua vez, acabou reduzido à sinonímiade Prosopis affinis.

12 Rambo valeu-se, em verdade, do binômio Acaciafarnesiana para a espécie, em ambas as edições por eleexaminadas de sua obra-prima (1942 e 1956). Restaacrescentar que a edição póstuma (RAMBO, B. 2005)não introduziu qualquer reparo nessa questão.

13 Antonio Krapovickas, sobre esse tema, informa que ocamponês usa os seguintes nomes na província argenti-na de Corrientes: "Espinillo Santa Fé" (= Acacia caven)y "Espinillo" (= Prosopis affinis, árbol vivo) y"nandubay"(= Prosopis affinis, madera, leiia). Si seiior!,Prosopis affinis tiene dos nombres, uno para el árbolvivo y otro para la madera dei árbol muerto! Esto locomprobamos aquí en la ciudad de Corrientes y en elcentro de la província de Corrientes, en Mburucuyá,gracias a T. M. Pedersen, uma fuente muy seria. Yomismo lo oí varias veces en el campo". No Rio Grandedo Sul, todavia, o nome espinilho é invariavelmenteaplicado à Vachellia caven, e o de inhanduvá à Prosopisaffinis.

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cipal do pasto espinillo, vegetação por ele exa-minada nos arredores de Monte Caseros, cida-de argentina situada quase em frente à Barra doQuaraí. O botânico sueco, aliás, menciona ape-nas de passagem - e em nota de rodapé -, quesob o nome espinillo também se contam "àsvezes (...) algumas espécies de Prosopis" defolhas pequenas 14.Cumpre salientar, ainda, quena legenda de uma ilustração constante em suaobrais, Lindman refere-se, à mesma, como par-que espinillo (Figura 1), termo adotado porBalduíno Rambo na primeira edição de AFisionomia do Rio Grande do Sul, mediante osimples aportuguesamento do nome comum deVachellia caven (espinilho).

O que causa estranheza, no texto do sueco, éo não reconhecimento da dominância doinhanduvá (Prosopis affinis) na vegetação dosparques por ele avistados (e/ou examinados) naMesopotâmia argentina, posto ser essa a espé-cie mais importante para a fisionomia e estrutu-ra dos mesmos. Sobre este ponto, todavia, deve-se levar em conta que o visitante esteve na re-gião em rigoroso inverno,16 e que a identifica-ção se toma mais difícil em árvores desprovi-das de "grande parte dos folíolos", conforme re-gistro do próprio autor. Para Lindman, a "cor vivaverde-bruna" dos pedolos conferia às árvores oaspecto de "pinheirinho dos brejos boreais". I?

A mesma comparação se encontra, basica-mente, no texto do botânico gaúchol8. Rambo,todavia, esteve em Barra do Quaraí no mês de

14 LINDMAN, C.A.M. A vegetação no Rio Grande do Sul(Brasil Austral). Porto Alegre: Typographia da "Livra-ria Universal" de Echenique Irmãos & Cia, 1906. p. 112.As palavras do autor sueco coincidem com a informa-ção de Krapovickas, transcrita na nota anterior, e envia-da, por e-mail, ao primeiro autor do presente artigo.

15 LINDMAN, 1906. Op. cit., p. 113.16 "Durante a minha estada ali, todas as manhãs viam-se

os campos brancos de geada" (LINDMAN, 1906. Op.cit., p. 109).

17 LINDMAN, 1906. Op. cit., p. 112.18 "O caráter geral lembra, à primeira vista, algum pinhei-

ro anão atormentado pelas intempéries do frio polar (...)."(RAMBO, B., 1942. Op. cit., p. p. 105).

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FIGURA 1 - Paisagem de um "Parque Espinillo" da parte norte da província argentina de Entre Rios (Junho de 1903),com algumas emas (Rhea americana) e bovinos no primeiro plano, em meio a um campo com arumbevas (Opuntia elata),arvoretas espinhosas, e o típico palmar de Butia yatay na linha do horizonte. De: LINDMAN, 1906. Op. cit., p. 118.

janeiro, em plena floração de Prosopis affinis19 ,

motivo pelo qual ele pode reconhecer adominância da espécie20 na estrutura da vege-tação.21 O equívoco de Rambo reside, basica-mente, no nome atribuído às duas árvoreschaquenhas: Vachellia caven foi chamada de"nhandu vaI"', e Prosopis affinis de "algarrobo".

O termo "espinilho", utilizado por Lindmantanto para a tipologia da vegetação (pastoespinillo, parque espinillo), como nome comumde uma espécie de Acacia22 , foi reservado pelofitogeógrafo gaúcho, em sua obra-prima, para

19 "Os Algarrobos agradam-me de modo especial. Sobema mais de sete metros, ostentando belas copas em formade guarda-chuva. Estão em flor." (RAMBO, A. B. Via-gem de Balduíno Rambo ao sudoeste do Rio Grande doSul no ano de 1941. Balduinia, Santa Maria, n. 36, p. 25,2012).

20 Sob o equivocado nome comum de "algarrobo", Ramboidentificou a espécie como Prosopis juliflora na ediçãode 1942, e como Prosopis algarobilla na de 1956.

21 "O parque espinilho, resultante da sociedade de Prosopise Acacia, (...)." (RAMBO, B., 1942. Op. cit., p. 105).

22 Lindman identificou a espécie como Acaeia farnesiana;trata-se, todavia, de Vachellia caven.

designar, tão somente, vegetações semelhantesà descrita pelo sueco.

A respeito da identidade das árvoreschaquenhas, resta informar que Rambo deu-seconta dos erros cometidos em A Fisionomia doRio Grande do Sul, posto que no relatório sobrea "indústria lítica de QuaraI"', vindo a lume em1946, o parque existente ao sul do Jarau23 foidescrito como composto

23 Não se pode confundir a vegetação de parque, referidaneste artigo, com o Espinillal examinado pelo autor em1941, na orla da mata ciliar do rio Quaraí-Mirim. O par-que de inhanduvá, descrito por Rambo em 1946, se en-contra em lente de solos francamente arenosos, comcerca de 5,5 km de diâmetro, situada ao sul do Jarau, edrenada pelo Arroio Inhanduvá. Na viagem de 1941,Rambo não esteve nessa área, pois cruzou pelo RioQuaraí-Mirim mais a leste, em seu deslocamento, de táxi,entre as cidades de Quaraí e Uruguaiana. Na orla damata ciliar do Quaraí-Mirim não se encontraminhanduvás. Resta informar que a ocorrência natural daespécie, no município de Quaraí, consta em relatóriomanuscrito de 1903, firmado pelo intendente: "a faunaé pobre e nenhuma especie della é digna de nota pornão sahir do vulgar, bem como a flora, de que não sedestaca nenhum especimen de valor. Existe alguminhanduvá entre costas do Quarahy e cerros de Jarau em

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"essencialmentede espinilho (Acaáafarnesiana(L.)Willd.), nhandubai (Prosopis juliflora DC.),cina-cina (Parkinsonia aculeata L.), tala (Celtisspinosa Spreng.) e outros arbustos baixos,xerófilos, geralmente espinhosos".24

No texto acima transcrito, vê-se, claramen-te, que Balduíno Rambo não mais confunde aidentidade das duas Leguminosas, chamando-as pelos verdadeiros nomes comuns (espinilhoe inhanduvá ou nhandubai, respectivamente). Oslapsos com os epítetos específicos25 podem serdebitados, desta vez, ao difícil acesso à literatu-ra botânica, aspecto muito saliente naquela épo-ca. É de se lastimar, todavia, que o autor nãotenha revisto adequadamente o texto da segun-da edição de A Fisionomia do Rio Grande doSul, vinda a lume no ano de 1956. Se o tivessefeito, as confusões anteriormente apontadas nãoteriam sobrevivido até a atualidade e, muito pro-vavelmente, a leitura descuidada deste verda-deiro clássico da literatura sulina não teria for-necido o falso embasamento implícito na de-signação oficial da unidade de conservação emfoco: "Parque Estadual do Espinilho".

Ocorre que o termo "Parque Espinilho" fir-mou-se na linguagem botânica e fitogeográficado Rio Grande do Sul por dar nome, justamen-te, a essa unidade de conservação. Embora cri-ado por Balduíno Rambo, a partir de uma refe-rência de Lindman sobre vegetação examinadanos arredores de Monte Caseros (Comentes,

forte vertente que tira o nome da existência nella daquellamadeira." (CUNHA, EE da. Apontamentos históricose informações geraes sobre o município de Quarahy com-pilados em 1903 pelo Intendente Cel. Francisco Floresda Cunha. In: CHEGUHEM, S.S. Quaraí Histórico.Quaraí: [s.n.], 1991. v. 2. p. 34.

24 RAMBO, B. Relatório científico das viagens de estu-dos etnográficos, empreendidas entre 26 de dezembrode 1944 e 14de março de 1945, peloP. Balduíno RamboS. J., lente de Etnografia e Etnologia da Faculdade deFilosofia da Universidade de Porto Alegre. Revista doInstituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, n. 102, p. 235, 1946.

25 Em verdade, o inhanduvá corresponde a Prosopis affinis,e o espinilho a Vachellia caven.

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Argentina), o termo se mostra inadequado paracaracterizar a singularidade vegetacional quepretende definir - e por vários motivos.

Em primeiro lugar, a leitura atenta de AFisionomia do Rio Grande do Sul, juntamentecom o relato da viagem de Rambo ao sudoestedo estado, demonstram que o termofitogeográfico padece de grave imprecisão, umavez que o botânico gaúcho valeu-se do mesmopara designar tanto o parque de inhanduvás deBarra do Quaraí, composto, fundamentalmen-te, por Prosopis affinis e Vachellia caven, comoo parque de espinilhos do Quaraí-Mirim (Figu-ra 2), baseado em Vachellia caven (espinilho),mas desprovido de inhanduvás (Prosopisa.ffinis). Nos textos em espanhol, a primeira des-tas tipologias é comumente dita Nandubaysal,ao passo que a segunda corresponde aoEspinillal.

Foi o "grande gregarismo" das espécies deProsopis nos arredores de Barra do Quaraí, quelevou os autores26 do Projeto Madeira do RioGrande do Sul a considerar mais adequado otermo Parque do lnhanduvaí para a vegetaçãoali encontrada, opinião defendida em artigosposteriores27 • Ocorre que as tipologias de vege-tação costumam ser designadas com base naespécie característica. Segundo este princípio,aos parques de Barra do Quaraí caberia o nomede "Parque de Inhanduvá", e aos formados, ba-sicamente, por Vachellia caven, o de "parqueespinilho" .

Verdadeiros parques de espinilhos (ouEspinillares), como o examinado por Rambo naorla da mata ciliar do Rio Quaraí-Mirim, no mu-nicípio de Quaraí, apresentam ampla distribui-ção nas áreas campestres do Estado, sobretudonas regiões fisiográficas da Campanha, Serra doSudeste, Depressão Central e Planalto Médio,devido ao fato de Vachellia caven, a sua espé-

26 REITZ, R.; KLEIN, R.M.; REIS, A. Projeto Madeirado Rio Grande do Sul. Sellowia, Itajaí, n. 34-35, p. 12-13, 1983

27 "Parque de Inhanduvá", segundo MARCHIORI,LONGHI & GALV ÃO (1985a, b), entre outros.

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FIGURA 2 - Aspecto geral de um parque de espinilhos junto à mata ciliar do Rio Quaraí-Mirim (Quaraí, RS), tipologiaobservada por Balduino Rambo em janeiro de 1941, em sua viagem entre as cidades de Quaraí e Uruguaiana. Composta,basicamente, por indivíduos de Vachellia caven (espinilho), a vegetação carece de inhanduvás (Prosopis affinis).

cie característica, não estar vinculada a forma-ções sedimentares, ao contrário do inhanduvá(Prosopis affinis).

A hipótese do termo "parque espinilho" seruma referência à Província do Espinal, aventa-da por Galvani (2003), não se sustenta, e pormera impossibilidade histórica: criado porÁngel Lulio Cabrera, esse termo fitogeográficosomente entrou na literatura nove anos após28 aprimeira edição de A Fisionomia do Rio Gran-de do Sul. Antes disso, os termos zona de losespinares ou espinares29 já constavam em arti-

28 CABRERA, A.L. Territórios fitogeográficos de laRepublica Argentina. Boletín de la Sociedad Argentinade Botánica, v. 4, n. 1-2, p. 21-65, 1951.

29 A palavra espinares, em espanhol, é plural do termoespinal (espinhal, em português).

30 HIERONYMUS, D.J. Observaciones sobre lavegetación de la Província de Tucuman. Boletín de laAcademia Nacional de Ciencias Exactas existente en la

go fitogeográfico do século XIX30, menciona-do por Lindman31, mas foram atribuídos a umtipo de vegetação da província argentina deTucumán, sem a abrangência revelada pelosestudos de Cabrera.

Balduino Rambo foi, indiscutivelmente, omais importante botânico e fitogeógrafo do RioGrande do Sul no século vinte. Eventuais lap-sos, em sua vasta obra, não descuram, de modoalgum, o seu merecido e perene renome de ci-entista. A seu favor, ainda, deve-se levar emconta as limitações de toda a ordem, inevitáveisno tempo que lhe coube viver.

Embora autor do termo "Parque Espinilho",Balduíno Rambo não é, certamente, responsá-vel pelo nome da unidade de conservação cria-da pelo governo do estado do Rio Grande doSul no município de Barra do Quaraí, uma vez

Universidad de Cordova, Buenos Aires, v. 1, p. 183-234, 1874.

31 LINDMAN, 1906. Op. cit., p. 114.

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que em 12 de março de 1975 ele já havia faleci-do, há muitos anos32• Se o objetivo foi prestarhomenagem ao grande cientista e intelectualgaúcho, a designação oficial comprova, tão so-mente, uma leitura apressada da obra do mes-tre, feita pelos proponentes, pois resulta desca-bida - e injusta - a inevitável notoriedadeconferida a um de seus raros equívocos.

ASPECTOS FITOGEOGRÁFICOSNa área do Parque Estadual do Espinilho se

encontram três tipologias básicas de vegetação(mata ciliar, parque de inhanduvá e parque dealgarrobo), além de uma diversificada comuni-dade de macrófitas aquáticas. Apesar de a flórularegional não ser objeto do presente artigo, adesignação das principais espécies se mostraindispensável à caracterização botânica efitogeográfica das distintas tipologias.

Mesmo não sendo novidade, posto constarna literatura desde os trabalhos pioneiros deMarchiori, Longhi & Galvão (1985a, b), o re-conhecimento de duas tipologias silvático-cam-pestres33 é uma necessidade que se impõe pelasdiferenças marcantes entre os parques deinhanduvá e de algarrobo, seja pelas condiçõesambientais ou pela flórula envolvida.

1- Mata ciliarAs matas ciliares ou em galeria compõem

uma faixa paralela ao Rio Uruguai, no extremooeste da unidade de conservação, bem como aolongo do Arroio Quaraí-Chico, sobretudo em seucurso final, de caráter nitidamente meândrico.Trata-se de fragmento de floresta aluvial muitorepresentativo da tipologia, graças à preserva-ção assegurada, tanto pela criação do ParqueEstadual do Espinilho, como pelo difícil acessoà área.

32 Balduíno Rambo faleceu em Porto Alegre, a 12 de se-tembro de 1961, quase catorze anos antes da criação doParque Estadual do Espinilho.

33 Expressão utilizada por Balduíno Rambo, em sua defi-nição do "Parque Espinjlho".

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Na base dos barrancos, próximo à água, emambiente sujeito à submersão e à força da cor-renteza, por ocasião das enchentes, se encontrauma comunidade reófila de plantas lenhosas,que inclui, entre outras: o sarandi (Sebastianiaschottiana), o sarandi-vermelho (Phyllanthussellowianus), o amarilho (Terminalia australis),o mata-olho (Pouteria salicifolia), o angiquinho(Calliandra brevipes), o salseiro (Salixhumboldtiana), o marmeleiro-da-beira-de-rios(Ruprechtia salicifolia), e o timbó-branco(Albizia inundata). Destas, cabe destacar queas duas últimas são pouco conhecidas no RioGrande do Sul, por terem distribuição restritaàs matas ciliares do rio Uruguai e afluentes, noSudoeste do Estado.

No caso de Albizia inundata, a ocorrênciano Pontal do Quaraí mereceu publicação recen-te34 , esclarecendo dúvida constante na literatu-ra35 • Com distribuição mais ampla, Ruprechtialaxiflora ocorre, naturalmente, nas matas ciliaresdo curso médio e inferior do Rio Uruguai e aflu-entes, em ambientes menos restritivos sob oponto de vista da reofilia36, à semelhança dosangue-de-dragão (Croton urucurana), e de umaespécie de juquiri (Mimosa pigra).

No alto dos barrancos, dominam ingazeiros(/nga vera), juntamente com espécies da Flo-resta EstacionaI, entre as quais, salientam-se: acanafístula (Peltophorum dubium), o açoita-ca-valo (Luehea divaricata), o angico-vermelho(Parapiptadenia rigida), o ipê-roxo (Han-droanthus heptaphyllus), a guajuvira (Cordiaamericana), o umbu (Phytolacca dioica), ocamboatá-vermelho (Cupania vernalis), o

34 MARCHIORI, J.N.C.; ALVES, F. da S. Nota sobre aocorrência natural de Albizia inundata (Mart.) Barneby& Grimes no Rio Grande do Sul. Balduinia, Santa Ma-ria, n. 33, p. 21-25, 2012b.

35 A "Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul"informa que não "foi possível examinar nenhuma cole-ta desta espécie proveniente do Rio Grande do Sul"(SOBRAL et aI., 2006, Op. cit., p. 113).

36 MARCHIORI, J.N.C.; SABIN, L. dos S. Identificaçãobotânica de Ruprechtia salicifolia (Cham. & Schltdl.)C.A. Mey. Balduinia, Santa Maria, n. 20, p. 4, 2010.

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sucará (Gleditsia amorphoides), o aguaí(Chrysophyllum marginatum), a canela(Nectandra angustifolia), o pessegueiro-do-mato (Eugenia myrcianthes), o gerivá (Syagrusromanzoffiana), o branquilho (Sebastianiacommersoniana), o branquilho-Ieiteiro(Sebastiania brasiliensis), a pata-de-vaca(Bauhinia forficata), a pitangueira (Eugeniauniflora), a pitanga-amarga (Eugenia mansoi),a murta (Blepharocalyx salicifolius), o murtilho(Myrrhinium atropurpureum), o guamirim(Eugenia uruguayensis), o araçá (Myrcianthescisplatensis), o chal-chal (Allophylus edulis), orabo-de-bugio (Lonchocarpus nitidus), e doiscamboins (Myrcia selloi, Eugenia repanda). Nosub-bosque, destacam-se: a embira (Daphnopsisracemosa), e a juruvarana (Psychotriacarthagenensis).

No caso da canafístula (Peltophorumdubium), o registro pioneiro na região se deve aAtílio Lombardo, botânico que assinalou a ocor-rência natural da espécie no noroeste do Uru-guai.37 Na região do Pontal do Quaraí, a pri-meira referência a este ornamento conspícuo damata ciliar se deve a Galvani (2003). A disper-são da espécie mereceu publicação recente, dan-do conta que os legumes samaróides, levadosinicialmente pelo vento, acabam por ser trans-portados pelas águas, rio abaixo, sendocomumente encontrados no alto dos barrancos,junto a detritos deixados pelas enchentes.38

Na orla da mata predominam arvoretas, ar-bustos e lianas, tais como: o carvalhinho(Casearia silvestris), a coronilha (Scutiabuxifolia), a taleira (Celtis iguanaea), o fumo-bravo (Solanum mauritianum), a aroeira-brava

37 LOMBARDO, A. Noticia de la vegetación de la costaoriental dei rio Uruguay en los departamentos dePaysandu, Salto e Artigas. Comunicaciones Botánicasdel Museo de Historia Natural de Montevideo, n. 4,p. 4,1943.

38 MARCHIORI, J.N.C.; ALVES, F. da S. Nota sobre adistribuição geográfica de Peltophorum dubium(Spreng.) Taub. no Rio Grande do Sul. Balduinia, San-ta Maria, n. 33, p. 30, 2012c.

(Schinus molleoides), a aroeira-vermelha(Schinus terebinthifolius), o curupi (Sapiumlongifolium), o jasmim-catavento (Tabernae-montana catharinensis), o veludinho (Guettardauruguensis), o esporão-de-galo (Celtis iguanaea),a unha-de-gato (Senegalia bonariensis), o juquiri(Mimosa uraguensis), o topete-de-cardeal(Calliandra tweediei), a cancorosa (Maytenusmuelleri), ajapecanga (Smilax campestris), a es-cova-de-macaco (Combretum fruticosum), acoerana-amarela (Cestrumfruticosum), a clematite(Clematis montevidensis), o cipó-timbó (Paulliniaelegans), e o maracujá-azul (Passiflora caerulea).

Na orla de pântanos, predominam: acorticeira (Erythrina cristagalli), uma espéciede sarandi (Cephalanthus glabratus), e a laran-jeira-do-banhado (Citronella gongonha).

Das epífitas, salientam-se quatro Pteridófitas(Microgramma mortoniana, Microgrammavacciniifolia, Pleopeltis pleopeltifolia,Pleopeltis squalida), quatro Bromeliáceas(Tillandsia aeranthos, Tillandsia geminiflora,Tillandsia recurvata, Tillandsia usneoides), euma orquídea (Oncidium bifolium).

Resta informar que, sob o ponto de vistafitogeográfico, a mata ciliar do Parque Estadu-al do Espinilho pode ser classificada como Flo-resta EstacionaI Decidual Aluvial.

2 - Parque de InhanduváO Parque de Inhanduvá propriamente dito

corresponde à vegetação descrita por BalduínoRamb039 sob o nome de "Parque Espinilho" emBarra do Quaraí: uma associação baseada emProsopis affinis (inhanduvá) e Vachellia caven(espinilho) no estrato superior, com um denso ediversificado estrato herbáceo, em que predo-minam Poáceas, Asteráceas e Fabáceas. As duasespécies mencionadas crescem isoladas ou empequenos grupos, e são arvore tas paucifoliadas,

39 "São principalmente duas espécies de leguminosasmimosoídeas, que determinam o aspecto curioso destesparques espinhosos e sêcos: o algarrobo (Prosopisjuliflora) e o nhanduvaí (Acaciafamesiana)" (RAMBO,B., 1942. Op. cit., p. 104).

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permitindo o desenvolvimento do denso tapeteherbáceo (Figura 3).

Tipologia dominante na unidade de conser-vação, o Parque de Inhanduvás propriamente di-to encontra-se em toda a área situada a leste daBR 472, bem como em larga faixa a oeste damesma, ocupando terrenos relativamente altose de solos menos salinos do que os do Algarrobalou Parque de Algarrobos. A vegetação se mos-tra melhor conservada no extremo leste da uni-dade de conservação, em pontos mais distantesde caminhos e, sobretudo, da BR 472, que fun-ciona como "porta de entrada" para espécies in-vasoras. Nessa situação, mais de 85% da vege-tação arbórea do parque é composta por indiví-duos de Prosopis affinis, cabendo ao espinilho(Vachellia caven) um papel nitidamente coad-juvante. É por este motivo, aliás, que essatipologia de parque é geralmente definida comoNandubaysal, na literatura do Uruguai e Argen-tina. Cabe salientar que ali não se encontram oquebracho-branco (Aspidosperma quebracho-blanco), o algarrobo (Prosopis nigra), e umnumeroso contingente de ervas endêmicas.

Em decorrência de ações antrópicas varia-das, a participação do espinilho e de outras plan-tas lenhosas tende a crescer, chegando a ser ex-pressiva no trecho adjacente à referida rodovia,de modo a incluir, entre outras: a taleira (Celtisehrenbergiana), o garupá (Aloysia gratissima),a coronilha (Scutia buxifolia), o curupi (Sapiumhaematospermum), e o molho (Schinuspolyygamus).

O caráter xerófilo da vegetação é ressalta-do, fisionornicamente, pela abundância de es-pinhos na maioria das espécies relacionadas,aspecto reforçado pela arumbeva (Opuntiaelata) e pela tuna (Cereus hildmannianus), duascactáceas conspícuas na vegetação. Outras duasespécies da mesma família recebem o nomecomum de rabo-de-rato, habitando em troncose ramos grossos de inhanduvás: Lepismiumaculeata e Lepismium lumbricoides. No grupodas epífitas, salientam-se, ainda, outras trêsPteridófitas (Microgramma mortoniana,

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Pleopeltis pleopeltifolia, Pleopeltis squalidum)e Tillandsia duratii, entre outros cravos-do-mato(Bromeliaceae). Das lianas, destacam-seDolichandra cynanchoides, Passiflora caeruleae Gonolobus rostratus. Das hemiparasitas, Li-garia cuneifolia vive sobre o espinilho, eStruthantus uraguensis em Prosopis affinis.Embora incompleta, essa lista de espécies jábasta para a caracterização sumária da flórulado Parque de Inhanduvás propriamente dito, deBarra do Quaraí.

Resta salientar que essa tipologia, emboradescrita em 1985, não é reconhecida como dis-tinta do Parque de Algarrobos pela maioria dosautores que escreveram sobre o Parque Estadu-al do Espinilho. Por fim, cabe salientar que es-sas unidades40 , além de inconfundíveis sob ospontos de vista fitoecológico e florístico, tam-bém ocupam áreas distintas na unidade de con-servação, e que o limite entre ambas é de fácilreconhecimento na natureza.

3 - Parque de Algarrobos ou AlgarrobalNa área do Parque Estadual do Espinilho, o

Algarrobal ou Parque de Algarrobos se encon-tra apenas a oeste da BR 472, situando-se entreo Parque de Inhanduvás propriamente dito, e asmatas ciliares do Rio Uruguai e Arroio Quaraí-Chico. Desconhecida até 1985, pela literaturafitogeográfica brasileira41, a tipologia ocupaterrenos ainda mais planos e de menor altitudedo que os do Parque de Inhanduvá propriamen-te dito, motivo pelo qual, na unidade de conser-vação, a sua área é eventualmente alagada emgrandes enchentes.

No tocante ao solo, a alta concentração desais na superfície explica a rarefação da cober-tura vegetal em manchas irregulares, explican-do o termo blanqueales, com que os uruguaiose argentinos a designam, em alusão ao tomesbranquiçado do solo desnudo em períodos de

40 Referimo-nos aos Parques de Inhanduvá e de Algarrobo.41 No Rio Grande do Sul, a tipologia foi originalmente

descrita por MARCHIORI, LONGHI & GALV ÃO(l985b).

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FIGURA 3 - Aspecto do Nandubaysal ou Parque de Inhanduvás propriamente dito, tipologia predominante na área doParque Estadual do Espinilho. Trata-se da vegetação examinada por Balduíno Rambo em Barra do Quaraí, em suaviagem de Janeiro de 1941 (Foto: Victoria Rosenthal, 19 de dezembro de 2013).

seca (Figura 4). A essa elevada salinidade é quese deve, ainda, a presença de numerosashalófitas em sua diversificada flora endêmica.

Sob o ponto de vista estrutural, as árvoressão mais distanciadas entre si e, no caso doquebracho (Aspidosperma quebrachoblanco),também mais altas do que o verificado no Parquede Inhanduvás propriamente dito, dando origema uma fisionomia mais aberta (Figura 5).

No que diz respeito à florística, observa-senítida predominância de Prosopis nigra(algarrobo) na estrutura da vegetação, espécieausente na tipologia anteriormente examinada,à semelhança do quebracho-branco (Aspidos-perma quebrachoblanco).

De um total de 339 árvores medidas no pri-meiro estudo sobre o Algarrobal no Rio Gran-de do Sul, 107 eram de Prosopis nigra, 87 de

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FIGURA 4 - Aspecto geral do Algarrobal do Parque Estadual do Espinilho, destacando as manchas de solo desnudo oucom vegetação rarefeita (blanqueales), em primeiro plano.

FIGURA 5 - Aspecto geral do Algarrobal do Parque Estadual do Espinilho; as árvores de maior porte são quebrachos(Aspidosperma quebrachoblanco, Apocynaceae).

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Vachellia caven (espinilho), 80 de Aspi-dosperma quebrachoblanco (quebracho) e ape-nas 23 de Prosopis affinis (inhanduvá).42

Além da participação expressiva do algar-robo e quebracho-branco, os baixos valores deabundância, dominância e freqüência deProsopis affinis, são aspectos fitos sociológicosdistintivos do Algarrobal, em nítido contrastecom o observado no Parque de Inhanduvás pro-priamente dito. No Algarrobal também se en-contram, mas com baixa freqüência, as seguin-tes espécies lenhosas: Parkinsonia aculeata(cina-cina), Acanthosyris spinescens (sombra-de-touro), Sapium haematospermum (curupi),Scutia buxifolia (coronilha), Xylosma venosa(sucará), além de dois garupás (Aloysiagratissima, Aloysia chamaedryfolia), e duastaleiras (Celtis ehrenbergiana, Celtis pallida43).

A vegetação de menor porte inclui diversasnanofanerófitas (Baccharis microcephala,Baccharis spicata, Mimosa adpressa, Mimosaamphigena), caméfitas (Baccharis coridifolia,B. glutinosa, B. notosergila, Grindelia pulchella,Pluchea oblongifolia, Pterocaulon alope-curioides, P virgatum, P polystachyum), lianas(Dolychandra cynanchoides, Passiflora spp.,Gonolobus sellowanus), epífitas (Tillandsiaduratii, T. lorentziana, T. recurvata, T. ixioides,Microgramma squamulosa, M. vacciniifolia,Polypodium pleopeltifolium, Lepismiumlumbricoides, Lepismium aculeata), e suculen-tas espinhosas (Cereus hildmannianus, C.uruguayanus, Opuntia elata, O. assumptionis,Gymnocalycium schroederianum, Echinopsisrhodotricha, Cleistocactus baumanii).

42 MARCHIORI, LONGHI & GALV ÃO, 1985b. Op. cit.,p.156.

43 Embora não citada por MARCHIORETTO (1988) eSOBRAL et alo (2006), esta taleira foi identificada noalgarrobal do Parque Estadual do Espinilho porMARCHIORI, LONGHI & GALV ÃO (1985b), cons-tando para a mesma, inclusive, o estudo anatômico deseu lenho (MARCHIORI, J.N.C.; FREITAS, 1993. A.de M. Anatomia da madeira de Celtis pallida Torrey(Ulmaceae). Ciência e Natura, Santa Maria, V. 15,p. 137-147, 1993).

Nas manchas de solo desnudo, ou com ve-getação rarefeita, domina uma associação deBriófitas e Gramíneas (Poaceae) de pequenoporte, incluindo: Aristida condyfolia, A.venustula, Bouteloa megapotamica, Gymno-pogon sp., Microchloa indica, Pappophorumphllippianum e Tripogon spicatus.

Comparado ao Parque de Inhanduvás pro-priamente dito, o Algarrobal se destaca pela ri-queza de espécies raras, endêmicas ou critica-mente ameaçadas no Rio Grande do Sul. Entreoutras, ilustram o caso: o próprio algarrobo(Prosopis nigra), o quebracho (Aspidospermaquebrachoblanco), três cravos-do-mato(TIllandsia, duratii, T. ixioides, T. lorentziana),um rabo-de-rato (Lepismium aculeata), trêsAmarantáceas (Gomphrena perennis, G.pulchella, Pfaffia gnaphalioides), quatroAsteráceas (Acmella psilocarpa, Aspiliapascalioides, Baccharis notosergila, Grindeliascorzonerifolia), quatro Malváceas (Cienfue-gosia drummondii, C. sulphurea, C. hassleriana,Sida paradoxa), e três Iridáceas (Calydoreaapproximata, Catila amabilis, Herbertiacrosae). Por si só, esta lista demonstra o valorprioritário que o Algarrobal assume na unidadede conservação, haja vista que a tipologia foidizimada no Rio Grande do Sul pela expansãoda lavoura arrozeira, restando, praticamente, ofragmento conservado no interior do ParqueEstadual do Espinilho.

Outro aspecto distinto do Parque deAlgarrobos é a ocorrência de espécies flores-tais em manchas dispersas, geralmente commenos de 10 m de diâmetro, e associadas a de-pressões do terreno, resultantes, presumi-velmente, do desabamento de antigos ninhos deAtta vollenweideri Forel, saúva com distribui-ção restrita, no Rio Grande do Sul, a essatipologia de parque. Com árvores de maior por-te ao centro, tais "ilhas" de vegetação silváticacontrastam com o parque circundante, incluin-do espécies como o aguaí (Chrysophyllummarginatum), o branquilho-Ieiteiro (Sebastianiabrasiliensis), o chal-chal (Allophylus edulis), apitangueira (Eugenia uniflora), a murta

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(Blepharocalyx salicifolius), o araçá(Myrcianthes cisplatensis), o camboim (Eugeniarepanda), o curupi (Sapium longifolium), oveludinho (Guettarda uruguensis), e a embira(Daphnopsis racemosa). Na orla, predominamarvoretas e arbustos espinhosos, tais como: acoronilha (Scutia buxifolia), a taleira (Celtisehrenbergiana), a unha-de-gato (Senegaliabonaerensis), a cancorosa (Maytenus muelleri),e a japecanga (Smilax campestris).

Para o Algarrobal do Parque Estadual doEspinilho, por fim, há que salientar-se que suaflórula não inclui Trithrinax campestris, apesarda vinculação da espécie a solos alcalinos dosblanqueales, próprios dessa tipologia. Ao con-trário do aventado em livro recente sobre Pal-meiras do Brasil44, pode-se afirmar que é alta-mente improvável, em tempo histórico, a ocor-rência natural da espécie no Pontal do Quaraí,uma vez que, em território uruguaio, ela não éassinalada para o Departamento de Artigas, vi-zinho ao Rio Grande do Su1.45

CONSIDERAÇÕES FITOGEOGRÁFICAS ETERMINOLÓGICAS

A ocorrência de duas tipologias de parque,no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, de-

44 "( ••• ) não há registro de sua ocorrência em território bra-sileiro, contudo, em conversa com antigos moradoresda região do Parque do Espinilho no município de Bar-ra do Quaraí - RS, fomos informados da existência, emtempos passados, de uma palmeira com estas caracte-rísticas, que os chamavam de "palmeira-de-folha-de-espinho"; apesar das intensas buscas nesta região, nãoconseguimos encontrá-Ia" (LORENZI, H.; KAHN, F.;NOBLICK, L. R.; FERREIRA, E. Flora brasileira:Arecaceae (Palmeiras). Nova Odessa: InstitutoPlantarum, 2010. p. 361). A informação oral de popula-res, neste caso, parece-nos carente de credibilidade, peladistância que separa o Pontal do Quaraí dos registrosassinalados, na literatura, tanto em território uruguaio,como na região de Montiel, na província argentina deEntre Rios.

45 Frequente em extensas áreas da Argentina, a espécie é"relativamente escasa en el Uruguay", onde ocorre "enmontes de algarrobo dei borde exterior de los montesfluviales que acompafian ai río Uruguay (...) en distin-tos puntos de los departamentos de Paysandú, Rio Ne-gro y Soriano"(CHEBATAROFF, J. Palmeras delUruguay. Montevideo: [s.n.], 1974. p. 18).

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monstra a importância da unidade de conserva-ção criada pelo governo do estado no Pontal doQuaraí. Se a iniciativa oficial não tivesse acon-tecido, é muito provável que essas singularida-des vegetacionais teriam desaparecido na região,cedendo lugar a cultivos agrícolas. Sobre esteponto, cabe ressaltar, ainda, que os fragmentospreservados no Parque Estadual do Espinilhosão muito representativos de ambas astipologias, sobretudo em pontos mais distantesda BR 472.

Outro aspecto que distingue e valoriza o re-ferido Parque, no conjunto das unidades de con-servação do Rio Grande do Sul, é seu numero-so contingente de espécies raras, endêmicas eameaçadas de extinção. Em contraste com suaimportância científica no contexto regional, aliteratura sobre o Parque Estadual do Espinilhoé marcada por confusões e/ou graves equívo-cos.

A existência de duas tipologias silvático-campestres na área do Parque Estadual doEspinilho não é detalhe de pouca importância.Só discorda neste ponto quem não quer ver: tra-ta-se de realidade incontestável, uma vez queas mesmas ocupam áreas distintas na natureza,e são facilmente reconhecidas pela composiçãoflorística e aspectos ecológicos.

No Parque de Inhanduvás propriamente dito,por exemplo, não se encontram indivíduos dequebracho-branco (Aspidosperma quebra-choblanco) e de algarrobo (Prosopis nigra),entre outras espécies indicativas da tipologia(Parque de Algarrobos).

O não reconhecimento de dois tipos de par-que no Pontal do Quaraí, por sua vez, leva aavaliações equivocadas da vegetação, como ascometidas pelo "Inventário Florestal Contínuodo Rio Grande do Sul", que indicou a ocorrên-cia de 63,2 árvores de algarrobo (Prosopis nigra)por hectare na unidade de conservação, segui-da, de longe, pelo espinilho (42,0 árvoreslha) einhanduvá (35,6 árvoreslha).46

46 Ver: RIO GRANDE DO SUL, 2001. Op. cit., p. 268.

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Ninguém ignora, todavia, que o que oinhanduvá é a árvore mais encontradiça no Par-que Estadual do Espinilho. O algarrobo, aliás,além de ser uma das árvores mais raras eameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul,nem chegou a ser conhecido por BalduínoRambo, datando de 1983 o seu primeiro regis-tro na flora nativa do Estado.47

Os valores estranhos à realidade, publicadospelo referido inventário, resultam tanto do nãoreconhecimento dessas tipologias como unida-des distintas, como da concentração daamostragem em uma delas - o Parque deAlgarrobos -, a qual ocupa, além disso, áreamenos extensa na unidade de conservaçã048 •

Ao contrário do afirmado em diversas pu-blicações, os parques do Pontal do Quaraí tam-bém não constituem encraves ou disjunções49 •

Tratam-se, tão simplesmente, de prolonga-mento, em território brasileiro, de vegetaçãodominante na paisagem das províncias argenti-nas de Comentes e Entre Rios, àmargem direi-ta do Rio Uruguai, e que integram o Distrito doInhanduvá, no extremo nordeste da provínciafitogeográfica do Espinhal.50 Vinculada a for-mações sedimentares, a principal barreira a seuavanço, no oeste do Rio Grande do Sul, foi oPlanalto da Campanha, com seus solos rasos,gerados a partir de rochas vulcânicas, motivo

47 MARCHIORI, lN.C.; LONGHI, S.1.; GALV ÃO, L. Ogênero Prosopis L. (Leguminosae Mimosoideae), no RioGrande do Sul. Ciência e Natura, Santa Maria, n. 5,p. 171-177,1983.

48 O tema foi abordado em dois artigos, indicados nas re-ferências bibliográficas: MARCHIORI & ALVES(2011b), e MARCHIORI & ALVES (2012a).

49 "Os campos espinhosos sul-riograndenses (...) ocorremna forma de encraves ou disjunções das formaçõesxerofíticas do Chaco central" (LEITE, P. F., 1994. Op.cit., p. 122). Expressões semelhantes se encontram, porexemplo, em lliGE (2012). Cumpre notar que VELOSO& GOES-FILHO (1986, p. 561) não cometeram estedeslize, uma vez que definiram o Parque Espinilho deBarra do Quaraí como "prolongamento da EstepeChaquenha da Argentina para o sudoeste do Estado doRio Grande do Sul".

50 Distrito del Nandubay e Província del Espinal(CABRERA &WILLINK, 1973).

pelo qual o Distrito do Inhanduvá e a Provínciado Espinhal acabaram confinados ao Pontal doQuaraí, e à planície aluvial do Rio Uruguai.Verdadeiros encraves, isto sim, são os parquesde inhanduvá recentemente descritos no interi-or do Planalto da Campanha, em terreno aluvial(Parque do Itapororó51, Alegrete) ou em lentede solos arenosos (Parque do Jarau52, Quaraí),bem como os encontrados em plena DepressãoPeriférica, na região do Loret053 (São Vicentedo Sul), e na planície sedimentar dos riosIbicuí54 (Cacequi) e Santa Maria55 (Rosário doSul).

A respeito do enquadramento dos parquesde Barra do Quaraí na "nomenclaturafitogeográfica intertropical", os esquemas pro-duzidos nas últimas décadas demonstram, peladiversidade de interpretações, uma ausência deconsenso, na melhor das hipóteses. Em seqüên-cia cronológica, a vegetação em foco foi defini-da, ora como "Estepe Parque" (Veloso & Góes-Filho, 1982, p. 45; Veloso & Góes-Filho, 1986,p. 561), ora como "Savana Estépica Parque"(Veloso, Rangel Filho & Lima, 1991, p. 93;IBGE, 1992, p. 29; IBGE, 2012), ou "Forma-ção Grarníneo-Lenhosa", da "Estepe EstacionaISavanícola" (Leite, 1994, p. 121-122).

51 ALVES, F. da S.; MARCHIORI, J.N.C. O inhanduvá(Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande do Sul. 7 -Descrição de um parque natural na várzea do RioItapororó, município de Alegrete. Balduinia, SantaMaria, n. 28, p. 1-7, 2011b.

52 ALVES, F. da S.; MARCHIORI, J.N.C. O inhanduvá(Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande do Sul. 2 -Ocorrência natural na região do Jarau, Quaraí. Balduinia,Santa Maria, n. 25, p. 1-9,2010.

53 MARCHIORI, J.N.C.; ALVES, F. da S.; PAZ, E.A. Oinhanduvá (Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande doSul. 3 - Parque da Cabanha do Loreto, São Vicente doSul. Balduinia, Santa Maria, n. 25, p. 22-31, 2010.

54 MARCHIORI, lN.C.; ALVES, F. da S. O inhanduvá(Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande do Sul. 6 -Descrição de um parque natural na várzea do Rio Ibicuí,município de Cacequi. Balduinia, Santa Maria, n. 27,p. 8-14, 2011a.

55 ALVES, F. da S.; MARCHIORI, J.N.C. O inhanduvá(Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande do Sul. 5 -Ocorrência natural na várzea do Rio Santa Maria, Ro-sário do Sul. Balduinia, Santa Maria, n. 27, p. 1-7, 2011a.

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Ocorre que os termos "estepe" e "savana"se mostram inapropriados para "descrever osCampos do sul do Brasil", como bem afirmadopor Overbeck et aI. (2009) e Marchiori (2004),entre outros autores.

Proveniente do russo, a palavra estepe "solodebería ser utilizada para las estepas degramíneas de la zona temperada", de acordo comHeinrich Walter, autor que conclui sua análise,afirmando que "no existen estepas en los trópi-COS".56 Estepes são campos geralmentesemiáridos de "clima temperado frio, tais comoas pradarias (Prairies) de gramíneas baixas ealtas da América do Norte e os campos daEurásia, desde a Ucrânia até a Mongólia", regi-ões marcadas por baixas precipitações durantea estação quente, aspecto muito distinto do ve-rificado no sul do Brasil57 •

O termo Savana, ao contrário, define vegeta-ções tropicais com dois estratos distintos (herbá-ceo e lenhoso), e precipitação marcadamente sa-zonal, motivo pelo qual se mostra adequado aoCerrado do Brasil central, mas não aos camposdo Rio Grande do Sul. O mesmo embasamentofitoecológico desautoriza a designação de Savana-Estépica aos parques de Barra do Quaraí.

Cabe notar que parques idênticos aos doPontal do Quaraí se tornam dominantes na pai-sagem da Mesopotâmia argentina, à margemdireita do Rio Uruguai, e que a Província doEspinhal descreve um grande arco até o litoralatlântico, ao norte da Patagônia, separando oPampa das províncias fitogeográficas do Chacoe Monte. Com exceção do sul de Corri entes enorte de Entre Rios, que apresentam climaSubtropical sem estação seca58, o clima é niti-damente Temperado no restante da Província doEspinhal. O termo Savana Estépica, nestas con-dições, carece de fundamento.

56 WALTER, 1977. Op. cit., p. 164-165.57 OVERBECK et al., 2009. Op. cit., p. 27.58 JOSAMI, J.M.; MUNOZ,1. de D. Arboles y arbustos

indigenas de la Provode Entre Rios. Santa Fé: IPNAYS(CONlCET - UNL), 1982. p. 47.

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Analisado em capítulo anterior, o termo"Parque Espinilho" também se mostra inadequa-do à vegetação que pretende definir. Resultantede confusão de Lindman e Rambo com a identi-dade das árvores chaquenhas59 , o termo alude aVachellia caven, espécie de ampla distribuiçãonas áreas campestres do Rio Grande do Sul.Embora nativo nos parques do Pontal do Quaraí,o espinilho não é, certamente, a espéciemarcante para a fisionomia e estrutura da vege-tação em foco, motivo pelo qual resulta maisconveniente a proposição de Reitz, Klein &Reis(1983): Parque do Inhanduvá.

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59 Sobre este ponto, recomendamos a análise crítica apre-sentada em artigo anterior sobre o Pontal do Quaraí(MARCmORl et al., 2013. Op. cit., p. 1-28).

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