a viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o brasil

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KennethLight

AVIAGEMMARÍTIMADAFAMÍLIAREAL

AtransferênciadacorteportuguesaparaoBrasil

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Sumário

Apresentação:Entreamelancoliaeaobstinação,LiliaMoritzSchwarcz

Prefácio

CAPÍTULOUM

CAPÍTULODOIS

CAPÍTULOTRÊS

CAPÍTULOQUATRO

CAPÍTULOCINCO

CAPÍTULOSEIS

CAPÍTULOSETE

CAPÍTULOOITO

EPÍLOGO

ApêndiceA:Principaispersonagens

ApêndiceB:Perfildaesquadraportuguesaedoesquadrãobritânico

ApêndiceC:Tratados,decretos,ordensecartas

Glossáriodetermosnáuticos

Notas

Referênciasbibliográficas

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T

Apresentação:Entreamelancoliaeaobstinação

LILIAMORITZSCHWARCZa

odo historiador carrega uma certa melancolia e uma boa dose deobstinação.Melancolia,poisatarefadereverahistóriaimplicasempreaconstataçãodequeopassadoémesmoumapátriadistante,edequenão

hácomodarcontadelacunasou“buracos”queadocumentaçãoinsisteemnão“tapar”. Obstinação, pois a única maneira de lidar com essa falha inicial eestrutural é supor, teimosamente, que sempre há uma pista a encontrar, umanovafacetaarever.

Foi o historiador italiano Carlo Ginzburg quem chamou a atenção para aproximidadequeseestabeleceentreapráticadohistoriadoreadodetetive,eatémesmo entre os métodos do historiador e os do inquisidor. De um lado, avontade de recuperar a história é um exercício que lembra a atividade deSherlock Holmes, na sua busca por vestígios que só depois de descobertosparecem“elementares”.Poroutro,épreciso“perguntar”aodocumento,indagar,questionar; isso se a pretensão é que ele diga algo novo e muitas vezesinesperado.

É fato que Kenneth Light neste seu novo livro não exerce a tarefa deinquisidor e muito menos desvenda qualquer assassinato. Obstinadamente,procura por novos “sinais” para entender como se deu essa “aventuresca”viagemdafamíliarealportuguesarumoàsuacolôniatropical.Reisnãofogemenem se mudam com facilidade. Aí está um bom mistério, que custou muitapesquisaereflexãocoletivas.Naverdade,detãopesadoseassentadosemsuasinstituições,osmonarcasmovem-seapenaslentamentee,emgeral,esperamqueosoutros–sejamfatosoupessoas–venhamatéeles.

MasnãofoiassimnocasodosBragança,que,premidospelosinglesesdeumlado e os franceses de outro, acabaram não tendo outra escapatória senãoenfrentar o oceano. Após muito titubeio e desdito, d. João, instado em sua

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posição de príncipe regente por conta da demência de sua mãe, d. Maria I,finalmente decide finalizar os arranjos – tantas vezes postergados – para apartida.A idéiadamudançanãoeranova.Naverdade, foraacionada todasasvezesque amonarquia se sentira fragilizadaou com receiodeperder sua ricacolôniaamericana.Noentanto,aurgênciadapartidaéqueerainusitada,comastropasdoexércitodeBonaparteacruzarafronteiradePortugal.

Já sabemos onde essa história iria dar e como a famosa “imparcialidade”portuguesa e seu teatro político iriam fazer – literalmente – água. O que nãosabemos,oumelhor,nãosabíamos,écomosedesenvolveriaessaviagemedequemaneira,bemoumal,seacomodariamtantas“tempestades”.A viagemmarítima da família real – A transferência da corte portuguesa

paraoBrasil é, pois, um livro tão esperadoquanto anunciado.Vezporoutra,sabia-sedeumanovadescobertadeKennethLight,essepesquisadorquefezdosarquivos uma forma privada de dedicação. De tempos em tempos, um novoartigo do autor expunha uma documentação recente ou pouco trabalhada.Generoso,Light sempredistribuiudocumentose “dicas”paraquenovasobraspudessem ser completadas. Num terreno pantanoso como esse, e que tantapolêmicagera,Lightdestaca-seporoferecerinterpretaçõesclarasepautadasemregistrosnãosócopiososcomocorretos.Historiadordeofício,Kennethexplicasem tecer juízos fáceis,exemplificae resolveasquestões.Muitas sãoasobrasquedebatemacercadonúmerodeviajantes,oucomentamadesorganizaçãodapartida.No entanto, o leitor verá que, nesse caso, o achado documental é tãorelevantequantoocuidadoeacoerênciacomqueétrabalhado.

Comodizoprópriotítulodaobra,estamosdiantedocenárioda“partida”dafamíliareal–ouda“fuga”,paraalguns.Lightoptapor“transferência”,masnãosem motivos. Afinal, mostra como a Inglaterra se preparou para oferecer a“proteção”necessária,ecomootemafezparte,comonãopodiadeixardeser,daagendaoficialdarealezaportuguesa.

KennethLightrecorre,porém,anovosdocumentoseosusadeformanãosóexaustiva,mastambémcomparativa:contrastadepoimentos,cruzainformaçõesisoladas. Mestre em temas navais, o autor dá um “banho” nessa área,descrevendo com detalhes (técnicos e não) as características das naus queacompanharam d. João e d. Carlota, comprovando como registros materiaispodem iluminar grandes temas sociais.Alémdomais, recorre a relatórios doscapitães e os compara. No mesmo local, no exato momento, diferentespersonagens ocultos e privados dessa história pública saem do anonimato,opinam sobre o que vêem e o que percebem. Se já conhecíamos os relatosbastante adjetivados e por vezes fantasiosos de Thomas O’Neil, que

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acompanhouocomandantebritânicoWilliamSidneySmithduranteaviagemaoBrasil, esses pequenos depoimentos restavam bastante desconhecidos, quandonãoinexplorados.Kennethseutilizatambémdoslivrosdequartos,descobertosnasembarcações,queregistramdetalhadamenteasdiferentesintercorrênciasquemarcaram a viagem: desvios, ventos, calmarias e piolhos. Cartas e relatóriosajudam a dar um quadro mais preciso do número de pessoas que vieram deLisboa, assimcomoatestamo impactonavidadacidadedoRiode Janeiro, aqual,àquelaaltura,nãopassavadeumaviladasmaispacatas.Poroutrolado,ohistoriadordemonstracomoessefluxoimigratórionãoseprendeuaomomentoexato da chegada da corte: durante doismeses foram registradosmovimentosrelevantesnaentradadeimigrantes.

Organizarumesquadrãosemgrandeavisoprévioefazerarealezamudardecasa,levandodequebraapesadaestruturaburocráticaportuguesa,nãoeratarefafácil;aocontrário,erasinadasmaismonumentais.Oquesecomeu,comoeraodia-a-dia, como se media o tempo, qual era o número de marinheirosempregadoseosoldocorrespondente,comoseorganizavamosnavios…todosessesdetalhessaborososaparecemnolivroeajudamacomporumquadromaisvivodessalongaviagem.Ohistoriadormostra,apartirdosrelatosdosoficiais,comoosnaviosportuguesespadeciamcomatotal“faltadecondições”,comoa“provisãoerapouca”.Lightrevela,ainda,detalhesdamaneiracomoseformouoesquadrão britânico e omodo desastrado como se encontraram, pela primeiravez,navios ingleses eportugueses.Pormuitopoucoaguerranãocomeçoudemaneira atrapalhada entre esses dois povos que teoricamente encontravam-seirmanados.Ofatoéqueoambienteeradosmaistensos,edetalhesdocotidianoajudam a abrir a fresta dessa janela documental que durante bom tempopermaneceucerrada.

Valeapenacontarumaúltimacuriosidadeacercado livroqueo leitor temagoraemmãos.KennethLightnãoselimitoualevantarosdadosdeoficiaisdaMarinha. Identificar como artistas registraram a viagem também fez parte dapesquisa.Écertoque,porcontadoapressadodasituação,muitasgravurasforamterminadas posteriormente ou mesmo de maneira mais ligeira. Não obstante,existem certos documentos visuais que podem ser utilizados, se não comotestemunhoscerteiros, aomenoscomo“pistas”que,devidamentecontrastadas,iluminamoambiente.Dentreessesregistrosdestacam-seumquadropintadoporNicolasDelerivesobreoembarquenocaisdeBelém,quehojeseencontranoMuseu Nacional dos Coches, bem como alguns leques comemorativos compequenasimagensmostrandoachegadadasembarcaçõesaoRiodeJaneiro.

Não contente com isso, Kenneth Light resolveu juntar o conhecimento

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detalhado que acumulara sobre embarcações e acerca do evento em si eencomendou ao artista Geoff Hunt RSMA a pintura que aparece agora comocapadestelivro.Durante18meses,ohistoriadorrealizouumestudominucioso,erecomendouqueoartistapriorizasse,emsuatela,grandesepequenosdetalhes:aforçaeadireçãodovento,aluminosidadeeascondiçõesdomar.Tambémeraimportantemostraroambientede“alegria”queseinstauraracomachegadadacorte. E assim foi feito. No centro da obra vemos a nau Príncipe Real, quecomportava104passageirose950tripulantesequeacabaradefundear,depoisde entrar no vento, usando sua carangueja. O quadro também seleciona ummomento particular: quando d. João anunciou que só iria desembarcar no diaseguinte à chegada, nobres e outros representantes que permaneciam em terrapartiram em pequenas embarcações para prestar suas homenagens aos ilustrespassageiros.

Porém a tela apresenta aindamais.Do lado esquerdo, a nauMarlborough,que se encontrava na baía, dispara uma salva e sua guarnição é colocada nasvergas. Já do lado direito, pode-se observar a Afonso de Albuquerque, quecomeçaaferrarsuasvelasempreparaçãoparaentrarnoventoefundear.Atrás,aMedusa, com o futuro conde da Barca – d. Antônio de Araújo Azevedo, ofamoso ministro afrancesado de d. João – a bordo, e a fragata Urânia, queescoltouaPríncipeRealdurante todaaviagem.Maisaolado,vemosBedford,com suas responsabilidades de escolta agora no fim.O forte deVillegaignon,quenãoexistemais,tambémsalvaachegadadopríncipeaoBrasil.

No horizonte, destaca-se o litoral deNiterói, a entrada da baía e o Pão deAçúcar, como não poderia deixar de ser. Aí está o cartão-postal do Rio deJaneiro, o ângulo mais reproduzido desta cidade que sempre maravilhou osviajantes,encantadoscomumapaisagemtãoexótica.

Comosevê,a“obstinação”doautorétalquevencea“melancolia”.Ficçãoerealidadesemisturamnestacapaqueapresentaumpoucodetudo:umarecriaçãocientíficaemcimadeumapesquisaalentada.Ahistórianãoéoexercícioóbviodo“se”.EnquantoLightatuacomoumdetetivecompetentenointeriordaobra,jánessecaso fazusodasartesdocinema,oqual, frenteaodesafiode reveropassado, acaba por recuperá-lo: recria cenas como muito bem poderiam terocorrido.

Aviagemdafamíliarealmaisparecetemadeumavidainteira,sobretudonasmãos desse “historiador de escolha e afeição”.Kenneth optou por dedicar suavida aos arquivos e à recuperação desse episódio que ganha agora uma novavisãoquevaialimentar–emuito–umdebatejátãoacalorado.

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a Professora titular do Departamento de Antropologia da USP e autora, entre outros, deA longaviagemdabibliotecadosreis:doterremotodeLisboaàindependênciadoBrasil.

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A

Prefácio

importância da jornada empreendida rumo ao Brasil, em 1807, pelafamíliarealportuguesa,pelamaioriadesuacorteeporumgrandenúmerode cidadãos – um total de 12 a 15 mil homens, mulheres e crianças,

considerando as tripulações –, deriva da conseqüência que essa ação teve nahistória.

Oresponsávelpeladecisãoquelevouaessajornadaaudaciosafoioprínciperegente,d.João.1

Como muitas vezes acontece, o passar do tempo ilumina e esclarece. Osprimeiros críticos, talvez por estarem próximos demais dos acontecimentos,interpretaram-nosdeformanegativa;nãoenxergaramagrandezaeacoragemdadecisãotomadapord.João,comprovadapeloseventossubseqüentes.

Oliveira Martins escreveu: “Tudo o mais era vergonha calada, passivainépcia,confessadafraqueza.Opríncipedecidiraqueoembarquesefizessedenoite,porteraconsciênciadavergonhadafuga.”2

Ocapitão-tenenteLucasBoiteauxfoiaindamaisexpressivo:

Aoveras forças inimigas talandoo territóriopátrio,o lendáriopatriotismoluso não mais explodiu como nos heróicos tempos de Nun’Alves; mas,entorpecido por letal e criminosa indiferença, degenerou em terrorvergonhoso.Afamíliareal,compartilhandodestafraqueza,foiaprimeiraadar o exemplo, embarcando para o Brasil a 27 de novembro, no maiordesespero e confusão e levando na sua cauda um exército de poltrões,enfatuados,fidalgoseparasitasdetodaacasta,degeneradaprogêniedeumpassadoheróico…3

Outros acreditaram que a ação de d. João, considerada por monarcasportugueses anteriores como estratégia alternativa desde quando o Brasil foidescoberto,foidefatoumajogadabrilhante.OliveiraLimaescreveu:

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Retirando-separaaAmérica,oprínciperegente,semafinalperdermaisdoqueoquepossuíanaEuropa,escapavaatodasashumilhaçõessofridasporseus parentes castelhanos, depostos à força, e, além de dispor de todas asprobabilidades para arredondar à custa daFrança e daEspanha inimigas oseu território ultramarino, mantinha-se na plenitude dos seus direitos,pretensões e esperanças. Era como que uma ameaça viva e constante àmanutenção da integridade do sistema napoleônico. Qualquer negligência,qualquer desagregação seria logo aproveitada. Por isto émuitomais justoconsideraratrasladaçãodacorteparaoRiodeJaneirocomoumainteligenteefelizmanobrapolíticadoquecomoumadeserçãocobarde.4

Afonso Züquete também elogia a estratégia de d. João: “A retirada para oBrasil com que se argumentou nesse sentido, com total inépcia, foi um atohabilíssimo,quesalvouarealezaegarantiuaindependênciadePortugal.”5

Dos quatro países envolvidos – Portugal, Brasil, Grã-Bretanha e França –,apenasoúltimolamentariaoevento.

AocontráriodeoutrospaísesinvadidosporBonaparte,aprópriaessênciadanaçãoportuguesa–afamíliarealeacorte–sobreviveuincólume,manteveoseureinoeatémesmoprosperouemsuaricacolônia.ApresençadamonarquianoBrasilacelerouodesenvolvimentodopaís,comaaberturadosportosem1808,e,umavezcriadooReinoUnidodePortugaleBrasilem1815,tornouinevitávelaindependência.

AlongaeduradourarelaçãodeinteressesestratégicoseamizadecomaGrã-Bretanha, que datava do século XIV, manifestou-se em uma convenção quegarantiria a segurança da viagem.AGrã-Bretanha, após as revoltas popularesem Espanha e Portugal em 1808, ao desembarcar suas tropas em Portugal,abriria aprimeira frentenocontinente contraNapoleão.Aqui começavaa lutaqueiriaderrotarNapoleãoemterra,embora issoaindafosse levarváriosanos.Diversoshistoriadoresregistramque,jánoexílio,BonapartedeclarouqueasuaquedacomeçaraquandoeleinvadiuPortugaletentouacabarcomadinastiadeBragança.

A jornadamarítima empreendida pela família real portuguesa há 200 anostem sido, assim, descrita de modo fragmentário pelos historiadores;principalmente,acredito,devidoàfaltadedocumentosoriginaissobreosquaisos eventos do dia-a-dia pudessem ser construídos e descritos. A inevitáveldesorganizaçãonachegadadosnavioseoclimatropical,umdospioresinimigosdopapel,nãodevemterajudadonapreservaçãodessesdocumentos.

Os navios de Sua Majestade britânica bloqueando o Tejo e aqueles

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destacadosparaescoltaraesquadraportuguesaparaoBrasilestavamemserviçonormal, para uma nau de guerra daquela época. Livros de quartos (diários debordo) erammantidos pelo capitão, pelo mestre de navegação (arrais) e pelooficialdequarto.Noretornoàbase,talvezapósanosdeausêncianomar,essesdocumentos eram enviados ao Almirantado. São importantes registros deviagens, servindoparaauditorias,evidênciasparaconselhosdeguerraeoutrasfinalidades.Os originais sãomantidos naRepartição deArquivos Públicos daInglaterra.6

Otrabalhorealizadorecentementenosentidodetornar legíveisos livrosdequartos “descobertos” dessas naus, assim como os relatórios dos capitães,7permitiu-nosdesenvolverumanarrativaprecisadoqueestavaacontecendodiaadia,atémesmohoraahora.Anarrativa,entretanto,estárestritaàquelenavioemparticular. A fim de alargar esse ponto de vista, vários livros de quartosregistrando o mesmo evento foram tomados como complementares uns aosoutros; descrições contidas em cartas e relatórios também foram levadas emconta. Mesmo assim, os relatos desses diários de bordo são inevitavelmenteorientados para eventos intimamente associados aos navios britânicos. São,porém,asprincipaisfontesdeinformaçõesdetalhadassobreajornadamarítimaquesobreviveram.

Em acréscimo aos livros de quartos e aos relatórios dos capitães, largosextratosdosdepoimentosdeduastestemunhasoculares,ocondeThomasO’Neile Luiz Gonçalves dos Santos, também foram incluídos. Sua contribuição nosoferece um retrato pitoresco dos sentimentos, sejam eles ansiedade, perigo,alíviooualegria,comaautoridadedequemestavapresentenomomentoemqueocorreram.

A grande maioria dos leitores provavelmente não deve ter conhecimentoacerca da operação de uma nau de guerra do início do século XIX, seja elaportuguesaoubritânica.Tambémnãoépossívelseobteresseconhecimentodemodo prático. Comparar uma missão em navio de guerra moderno com umaexpediçãoemnaudeguerradaprimeiradécadadoséculoXIXassemelha-seacontraporumaviagememautomóvelmodernoaumaexcursãoemtílburi!Paramelhor compreender e apreciar a rotina diária, os perigos, a necessidade e ascarênciasexperimentadaspelospassageirosportuguesesabordodeseusnavios,incluí explicações detalhadas – em sua maioria, antes de iniciar o relato daviagem.

Em novembro de 1807, as naus de linha das duas potências tinham umpassado de muitas vitórias; seus capitães, em muitos casos, eram heróisnacionais por terem participado de batalhas que lhes trouxeram a glória. Os

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principaisdetalhessobreosnavios,easrotasseguidasatéoBrasil,podemserencontradosnoapêndice.

Os eventos seguem, dentro do possível, uma ordem cronológica. Asprincipaisfontesdeinformaçãodoseventosqueocorreramnomar,conformejámencionamos,sãooslivrosdequartosdebordomantidospeloscapitães,emquecadadiaocupaumapágina,pautadaeanotadaparacadaumadas24horas.

OnúmerodepessoasquevieramdeLisboaeo impacto sobre a cidadedoRio de Janeiro é um assunto que foi debatido, no passado, por inúmeroshistoriadores. Alguns fatos, acreditamos, são importantes como contribuiçãoparaessedebate.Emprimeirolugar,calculamosqueasguarniçõesdosnaviosdeguerra e da marinha mercante, mesmo incompletas, como habitualmenteacontecia,deveriamsomarentre7.000e7.500homens.AguarniçãodaPríncipeReal,porexemplo,erade950homens.Emsegundolugar,achegadadosnaviosaoRiodeJaneiroocorreuduranteumperíododequasedoismeses.Emterceiro,muitos passageiros trouxeram um grande número de criados. E, por último,muitosnaviosmercantispertenciamaoutrosportos,eassimnãoaportaramnoRiodeJaneiro.

Sou especialmente grato a todos aqueles que ofereceram sugestões erevisaramotexto;especialmenteaGrahamSalt,porseutrabalhodiligentejuntoaoMuseuNacionalMarítimodeGreenwicheaoArquivo-GeraldaInglaterra.

Emboraosacontecimentosaquidescritospareçam,após200anos, longedenossarealidade,lembramosque,baseando-nosnumamédiageralmenteaceitadequeentreumageraçãoeoutraocorrem30anos,umapessoaqueconheceuoseubisavôeoseubisnetocompletouumciclodesetegerações!8

K.L.RiodeJaneiro,marçode2008

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CAPÍTULOUM

DepoisdeesmagaraÁustriaeaPrússia,osucessototaldeBonaparteno domínio da Europa só era impedido pela Rússia e pela Grã-Bretanha.EmTrafalgar,em1805,aInglaterraconsolidouseudomíniodosmares, e assim evitou a invasão do seu território. O Tratado deTilsitcomaRússia,emjunhode1807,permitiuqueBonapartevoltassesua atenção para a península Ibérica. Portugal, sob pressão paraingressarnoBloqueioContinental,tentoumanteraneutralidade,aindaque a um alto preço. À medida que o tempo passava, a situação sedeteriorava gradualmente, enquanto os representantes francês eespanholabandonavamLisboa,noiníciodeoutubrode1807.

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OTratadodePazdeAmiens,assinadoentreaGrã-BretanhaeaFrançaem27demarçode1802,pôs fimaumaguerraemqueNapoleão tentavadominar grande parte da Europa continental.Entretanto, a sua duração

foi limitada,pois,umanomais tarde,em16demaiode1803,aGrã-BretanhadeuinícioaumaguerraqueenvolveriatodaaEuropadurantemaisde12anos.

Duranteoperíodoqueprecedeuàcrisefinaldenovembrode1807,Portugalpareciaestarconsumidopelaindecisão.OConselhodeEstadoestavadividido,amaioria de seus integrantes era a favor da neutralidade; todavia, se fossenecessárioaliar-seaumadasnaçõesbeligerantes,amesmamaioriaprefeririaaFrança. Esta escolha vinha da convicção, defendida pelo influente conselheiroAntônio de Araújo de Azevedo1 – ministro encarregado dos NegóciosEstrangeirosdaGuerraedoInterior–,dequeaatitudedaFrançaemrelaçãoaPortugal devia-se à agressividade daquela nação e, ao mesmo tempo, à suafrustraçãoquantoanãoterconseguidoinvadiraInglaterraem1805;ePortugaleraomaisantigoaliadodosbritânicos.Demodoque,seasituaçãochegasseaoenfrentamentodireto,aFrançapoderiaserpersuadidaanãoinvadirPortugal.

Asegurançadesuascolôniasera,paraPortugal,outrafontedepreocupação.Em particular o Brasil, principal fonte contínua de riqueza e, até mesmo, desobrevivênciafinanceiradanação.Em19demarçode1804,asnegociaçõesdeneutralidadeculminaramcoma“ConvençãodeNeutralidadeeSubsídiosentreoPríncipeRegented.JoãoeaRepúblicaFrancesa”,assinadapeloplenipotenciárioportuguês JoséManuel Pinto de Sousa,ministro de Portugal emEstocolmo, epeloplenipotenciáriofrancês,generalJeanLannes.Estipulavaopagamentoeopreçoparamanterapaz,equivalentea40millibraspormês.2

Tal análise dos eventos ocorridos em Portugal, que levaram à crise denovembrode1807,pressupõequeoprínciperegenteeseugrupodeassessoresmaispróximosestavamdistantesda realidade, cambaleandodeumacriseparaoutra, sem uma noção clara do destino a que suas ações os levariam. Umaadministraçãoingênua,poucointeligenteeineficiente,deumasituaçãodelicada,difícilepotencialmenteperigosa,queresultarianaaçãofinaldescritacomoumafuga covarde e o abandono de uma nação, cujo resultado inegavelmentevitoriosofoiatribuídoàsorteouaodestino.

Uma análise mais profunda e completa, porém, indicaria que um planoparalelo, desenvolvido e administrado com competência, bem-sucedidopoliticamenteenaadministraçãoderecursos,estavaativoeemoperaçãoduranteessemesmo período. Sob a liderança do príncipe regente,Araújo deAzevedocertamenteteriatomadopartee,talvez,outrosmembrosdoConselhodeEstadoehomensdaconfiançapessoaldopríncipe.3DeacordocomAngeloPereira,esse

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grupoincluía:JoséEgídioAlvaresdeAlmeida,encarregadodoGabinete;JoãoDiogodeBarros, secretáriodo Infantado;ThomasAntônioVilanovaPortugal,fiscal do Erário; Manoel Vieira da Silva, médico; e os dois guarda-roupas,FranciscoJosédeSouzaLobatoeMathiasAntôniodeSouzaLobato.

Há evidências abundantes de que Araújo de Azevedo era extremamenteatuante,criativoeinteligente;comosolteiro,tinhapoucascoisasparalhetiraraatençãodoseu trabalho.Passaramuitosanossepreparandoparaessecargoderesponsabilidade.Duranteessetempo,haviaservidocomodiplomataemváriascortes,lidandodiariamentecomoslíderespolíticosdospaísesemqueserviraecomembaixadoresdeoutrasnações.Em1804forachamadodevoltaenomeadomembrodoConselhodeEstado.Apesardeestarexauridopelasmuitas tarefasdiárias que desempenhava e com a saúde abalada, encontrou tempo paraempacotareembarcarasuaimensabiblioteca,aqualposteriormenteirialegaràBiblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A sua versatilidade, outro sinal deinteligência,foidemonstradaquandojánãoexerciaocargo,poucotempoapósasua chegada ao Rio de Janeiro. Desenvolveu em seu jardim uma coleçãocientífica de 1.500 espécimes de árvores frutíferas e plantas de especiarias –algumas nativas e outras trazidas das possessões portuguesas do ExtremoOrienteparaseremaquiaclimatadas–queserviriamparacondimentariguarias.Maistarde,essacoleçãoformariaonúcleoinicialdoJardimBotânico,fundadopord. JoãonoRiode Janeiro.Outra facetado seucaráter édemonstradapelaaprovação do decreto de 1816, proposto por ele, que criava a Academia deBelas-ArtesnoBrasil.

Portugal estava bem informado, pois possuía embaixadores e espiões nasprincipaiscortes,enãotinhailusõesquantoàsuacapacidadededefenderassuasfronteirasterrestres.OspreparativosparatransferirafamíliarealeacorteparaoBrasil,comoserávisto,tiveraminíciobemantesqueosrepresentantesfrancêseespanhol junto à corte portuguesa entregassem os ultimatos de seus países. Oplanoteriaseguidováriasfases:chamardevoltaváriasesquadrasdesuastarefasnormais para o porto de origem emLisboa, a fim de serem aprestadas para alonga jornada; suspendero transportedemercadoriase riquezasdoBrasil; eorecolhimento, em terra, de tudo que fosse transportável e pudesse ser levado,inclusiveoarquivodoEstado,bibliotecasemetadedoerário.Eporúltimo,masnão menos importante, assegurar uma jornada a salvo de seus inimigos etambém dos perigos naturais, por meio de uma escolta fornecida pela Grã-Bretanha,anaçãoquedominavaosmares,postoqueasnausdaarmadaestavamtransformadasemnaviosdetransporte.

Apartemaisdifíciledelicadadoplanoeraexecutaressasmedidaspráticase

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necessáriassemdespertarsuspeitasindesejáveisnascortesfrancesaeespanhola,nem tampouconaspessoascomunsdas ruasdeLisboaedeoutros lugaresemPortugal,atéqueumarazoávelaceitaçãopudessesergarantida.Assim,d.Joãofezcircularquetencionavaenviaroseufilhomaisvelho,d.Pedro,paraoBrasil,dondeospreparativosvisíveis.

Lorde Strangford,4 ministro interino junto à corte de Lisboa, um amigo eadmirador de Araújo, reuniu-se com ele meses antes de o evento ocorrer eobteve confirmação quanto às reais intenções do príncipe regente. Não erapossívelmanteremtotalsegredoospreparativosqueestavamsendoexecutados,mastambémnãoerapossívelqueoembarquedetantosdocumentosebensdoEstadofossefeitocompoucosdiasdepreparação.

Nenhumregistroformalsobreviveu,seéqueexistiualgum,detalplano.Masnão há dúvidas quanto à existência do mesmo, de acordo com a observaçãoatentadasmuitasdecisões tomadasnesseperíodo, indicandoque tal estratégiaalternativa estava disponível como medida de segurança, em caso denecessidade.Alémdisso,numafase inicialdodesenvolvimento,d.Domingos,5em Londres, foi autorizado a negociar uma convenção que possibilitasse aobtenção da escolta necessária à família real em sua jornada rumo ao Brasil.Finalmente,apósadecisãotomadanahistóricareuniãodoConselhodeEstado,nanoitede24denovembrode1807,oplanofoirevelado.Aestaalturajáeratarde demais para queBonaparte tomasse qualquermedida para impedi-lo.D.JoãoeaesquadrapartiramdeLisboaem29denovembro,eJunotchegounodiaseguinte.

1802

VistoemretrospectivaapartirdaassinaturadoTratadodeAmiens,Portugal,àbeiradagrandeguerraqueestavaparaconsumiraEuropa,erapermanentementeforçadoarecorreraumjogopolíticobemorquestradoafimdemanteraFrançaa distância e, ao mesmo tempo, conservar boas relações com seu aliadotradicional,aGrã-Bretanha.

Emabrilde1802,chegouaLisboao recém-nomeado representante francêsjunto à corte portuguesa, o ministro plenipotenciário general Jean Lannes.6Graçasàsuanatureza tempestuosa,não tardouatéqueeleentrasseemchoquecom d. João de Almeida de Melo e Castro, 5º conde das Galveias,7 entãoministrodosEstrangeiros e daGuerra, umanglófiloque estavadeterminado a

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impedirsuastentativasdeimporaPortugalaspolíticasdeBonaparte.Comeletambémestavad.RodrigodeSousaCoutinho,outrosecretáriodeEstado.

Ointendente-geraldapolícia,PinaManique,8tambémresistiuaele:

ALannesapenasselhedisparouumportuguêsnasuafrente–PinaManique.Ninguémointimidava.Ahombridadeeadedicaçãodointendenteinsurgia-se contra o desprezo absoluto de Lannes pela etiqueta e desrespeito pelafamíliareal.Pediacontínuasaudiênciasaoregentesemserporintermédiodorespectivoministro;trata-onelascomodeigualparaigual.Lannesetodoopessoal da legação contrabandeava às escâncaras. Não só o ministro daFrança negociava com os artigos vindos daquele país, e que não pagavamnadaaofisco,masaindatodososempregadosqueorodeavamparticipavamdomesmolucrativoexercício.9

Sua ameaça de pedir de volta seu passaporte foi enfrentada por d. Joãod’Almeida,queprontamentelheenviouodocumento.Em25deagostode1802,Lannes deixou Portugal, sem enviar qualquer aviso a seu governo. Este atodesagradouaBonaparte,queordenouoseuimediatoretorno,masnãoantesdeexigir que o príncipe regente substituísse seu ministro dos Estrangeiros. Istorealmente ocorreu, um ano depois, quando d. João d’Almeida foi enviado àÁustria como embaixador. Lannes regressou por mar em fevereiro de 1803.Outra vítima da pressão da França foi Pina Manique: d. João foi forçado ademiti-lo,assimcomod.RodrigodeSousaCoutinho,todosconsideradoschefesdo“partidoinglês”.

1803

Apolítica de comprar a sua neutralidade continuou, já que Portugal vivia umperíodoáureodoseucomérciomarítimo,masopreçoeraalto.Em7demaiode1803,d.JoãoconcordoucomaexigênciadogeneralLannes,deummilhãodelibras em prestações de 40mil libras pormês. Em junho, o general passou aexigir,alémdisso,200milcruzadosparasimesmo.10Asexigênciassuperaramqualquer expectativa de pagamento. O conselheiro d. Rodrigo de SousaCoutinho11escreveuaoprínciperegente,em20dejunhodaqueleano:

Obedecendo com o devido acatamento às reais ordens de V.A.R., e

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lembrandosóafraquezadosmeustalentos,eaestreitezadotempoemquedevorespondersobrematériatãoimportante,etãodifícilparanãodeixardecumprir com o que V.A.R. ordena, direi mui sucintamente que asproposiçõesdaFrançanãopodemdemodo algum ser aceitas emprimeirolugarporquenenhumapotênciapoderiaatualmentedar36milhõesdelibrassemrecorreraempréstimos;emsegundolugarporque,mesmofazendoumempréstimo,seesgotariaonumeráriocirculante;eemterceirolugarporquesempre seria melhor unir esses 36 milhões de libras aos rendimentosordinários,efazerumgrandeesforçocomquehaveriatodaaprobabilidadededefender-se,esustentarassimaprópriaindependênciadoquesesujeitaraumsistemadeescravidãoperpétuo,equeconstituiriamV.A.R.afeudatáriodogovernofrancês.12

Pormeio de uma política imposta com rigor, Portugal sempre insistira emque todo o comércio com o Brasil passasse exclusivamente por seus portos efossetransportadoabordodeseusnavios.

Maisrecentemente,essapolíticatinhasido,atécertoponto,relaxada.Emboraos portos ainda estivessem fechados ao comércio estrangeiro, os navios deguerra, e aqueles navios mercantes estrangeiros que não tivessem outro portoonde fazer reparos, estariam, no futuro, livres para utilizar portos brasileiros.13Isto aconteceu, por exemplo, com o esquadrão sob o comando de sir HomePophamnaexpediçãodesirDavidBairdaocabodaBoaEsperança,em1805,enadoalmirantefrancêsGuillaumez,em1806.

1804

O período do general Lannes no cargo terminou em 1804. Bonaparte, tendocoroado a si mesmo imperador em 2 de dezembro daquele ano, agoranecessitava do general em Paris e nomeou-o marechal do império. Comosubstituto, nomeou JeanAndoche Junot;14mas este não tomou posse antes deabrilde1805,e,aindaassim,nãopermaneceriaemPortugalpormuito tempo.ComoaguerranaEuroparecomeçouquaseimediatamente,antesdofimdoano,Bonaparte, conforme prometera, chamou-o de volta. Ele partiu em outubrodaqueleano,sendosubstituídoporFrançoisGérard,15encarregadodeNegócios.

Enquanto isso, na França, à medida que um sucesso militar após o outrocoroavaasambiçõesdeBonaparte,ficavacadavezmaisclaroparaelequeseu

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desejodedominartodaaEuropatornara-seumapossibilidadedistinta.

1805

No ano de 1805 parecia que apenas duas nações, a Rússia e a Grã-Bretanha,poderiamoferecerresistênciasériaaosplanosdeBonaparte.ARússia,comsuaimensapopulação, era capazdeorganizarumaconsiderável forçade combate,aindaquemalequipadaetreinada,eumaMarinhasubstancialoperandonomarNegroenoBáltico.Ascondiçõesdotempoadversaseramseuprincipalaliado,umavezqueaslongaslinhasdecomunicaçãonecessáriasaoinimigotornavam-seimpossíveisdeseremmantidas,sobascondiçõesdoinverno.

As vantagens da Grã-Bretanha eram a sua Marinha e a sua condiçãogeográfica de ilha. Esta foi a principal razão de ter sido invadida apenas trêsvezes nos últimos 20 séculos: pelos romanos em 43, pelos dinamarqueses(vikings)epelosnormandosem1066.

O imperador francês teria de invadir a ilha e, com forças superiores emnúmeroeexperiência,destruiroinimigo.Comtalfinalidade,jáarepúblicatinhareunido, no litoral norte da França, Bélgica e Holanda, uma flotilha de 2milembarcaçõesparatransportarseuexércitode150milhomense10milcavalosatravésdo canaldaMancha, num trecho cuja largura erade apenas30milhasmarítimas.16

Também era claro para Napoleão que, para atravessar esse canal, mesmosendo tão estreito, ele precisava ter o completo controle dos mares. Asembarcações da flotilha anfíbia eram vulneráveis; alvos fáceis para qualquernaviodeguerra.

A oportunidade para a Royal Navy veio em 22 de outubro de 1805, emTrafalgar (próximoaCádiz,no suldaEspanha), apósa esquadrabritânica,noinício do ano, ter sofrido uma frustrante perseguição de ida e volta do marMediterrâneoàsÍndiasOcidentais.Naqueladata,aesquadracombinadafranco-espanholade33naviosde linhaenfrentouos27naviosdaGrã-Bretanha.Estabatalha naval, uma das mais famosas de todos os tempos, teve um resultadodefinitivo. Os dez navios franceses e espanhóis que não foram capturados,destruídosporfogodeartilhariaouquenãoexplodiramounaufragaramnacostabuscaram refúgio em Cádiz, aí permanecendo enquanto o porto estava sobbloqueio.Emboramuitodanificada,aesquadra inglesanãoperdeusequerumanau.

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1806

Após essa derrota, Bonaparte desenvolveu táticas diferentes. Percebeu que aGrã-Bretanha tinhadecomercializarcomoutrasnaçõesecomsuascolônias,afimdepreservarasaúdeeconômicadesuacrescente industrialização.Baseadoneste julgamento, ele decidiu fechar todos os portos do continente europeu aocomérciobritânico.

Em 21 de novembro de 1806, após a aniquilação do Exército prussiano,Bonaparte emitiu o Decreto de Berlim: nenhum navio, produto ou mesmocidadão britânico poderia entrar em qualquer parte do Império francês ouqualquer território governado pela França ou aliado desta. O BloqueioContinentaltinhasidoinstituído.

A Grã-Bretanha, agora com o completo domínio dos mares, retaliou,instituindo um bloqueio dos portos que abrigavam navios de guerra,interceptandoecapturandoquaisquernaviosinimigose,atémesmo,abordandonaviosneutrosquepoderiamestarcomercializandocomaFrança.

Enquantoisso,Portugalcontinuavadefendendoasuaneutralidade,apostandoqueaposiçãodaFrançanãopassavadeumaameaçaqueestanãotinhaintençãode cumprir. Esta, porém, não era a visão de Charles Fox,17 entãoministro doExteriordaGrã-Bretanha.

AvigilânciadaGrã-BretanhasobrePortugalvinhadaimportânciademantê-locomoterritórioneutromascomerciante,e,casoaFrançainvadisseaEspanha,entãodestruira frotaportuguesaou fazê-laseguirparaoBrasil.Paraqualquereventualidade,umesquadrãoreforçadoerasempremantidoaolargodacosta.18Esta era, aliás, a mesma postura que a Royal Navy adotava com a neutraDinamarca.

As ameaças feitas por Talleyrand a lorde Landerdale, sobre a invasão e odesmembramento de Portugal, foram cuidadosamente avaliadas pela corte emLondres.19

Em 1806, as demonstrações de hostilidade contra Portugal por parte daFrançaeramtãoevidentesquelordeRosslynfoienviadoparaláemmissãoespecial, à qual se agregaram lorde S.Vincent e o general Simcoe. Asinstruçõesquelheforamdadasconsistiamemexpor,aogabinetedeLisboa,o perigo eminente que ameaçava o país, assim como oferecer auxílio emhomens,dinheiroevíveresdaInglaterra,afimdepôrPortugalnadefensiva,istoseogovernosedecidisseaumaresistênciavigorosaeafetiva.Se,poroutro lado, Portugal se julgasse fraco demais para lutar com a França,

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deveria ser retomada a idéia de emigrar para o Brasil, estabelecendo ali acapital do Império. Prometer-se-iam então assistência e proteção para esseplano. Se, contudo, Portugal insistisse em rejeitar o auxílio inglês emqualquercaso,astropasdogeneralSimcoedeveriamdesembarcareocuparas fortalezas do Tejo. O esquadrão entraria pelo rio e apossar-se-ia dosnaviosevasosportugueses,tomandoocuidadodeconvencerogovernoeopovodeque isto faziaparaobemdanaçãoenuncacomo fimegoístadeengrandecimento por parte da Inglaterra. Parece, entretanto, que ospreparativos de invasão por parte da França não estavam nomomento tãoadiantados como se supunha e, à vista dos instantes pedidos da corte deLisboa,astropaseafrotaretiraram-sedoTejo.20

ApreocupaçãodePortugalemmanter suaneutralidadeeraevidente.Nessaocasião,foicapazdedemonstrarqueosrumoresdequeumexércitode30milhomens havia sido reunido em Bayonne, pronto para atravessar a Espanha einvadi-la,nãopassavammesmoderumores;defato, tratava-sedeumpequenodestacamentode1.700italianos.21

O embaixador português junto à corte francesa, d. Lourenço de Lima,22tampouco acreditava que as intenções de Bonaparte em relação a Portugalpoderiam conduzir à hostilidade. Em 2 de dezembro de 1806, escreveu aoprínciperegenteumrelatóriodetalhadodesuaaudiênciacomBonaparte.Apóssequeixar de quePortugal havia permitidoqueumesquadrão comandadoporlordeS.Vincent,transportandotropas,entrassenoTejo,edeassegurar-sedequeonúmerodenaviosestavadentrodostratadosestabelecidos,Bonapartedeclarouque Portugal nada tinha a temer, desde que continuasse neutro. Talleyrand, oministrotodo-poderoso,expressouamesmaopinião.23

EmPortugal,nofinalde1805einíciode1806,d.João,quepassavaporumasériadepressão,permaneciaemMafra.Emsuaausência,suaesposa,d.CarlotaJoaquina,24tentoutomarseulugareassumirocontroledoEstado,alegandoque,assimcomosuamãe,oprínciperegentetinhaenlouquecidoenãopoderiamaisreinar.Seusplanos,deacordocomohistoriadorOctávioTarqüínodeSousa,25eramapoiadospelosmarquesesd’Alorna26edePontedoLima,27epeloscondesdeSarzedas28edeSabugal.29Suastentativasdeinduzirseupai,d.CarlosIVdaEspanha,30apegaremarmascontraPortugal,afimdefazervalerseusdireitos,nãotiveramêxito.

Adescobertadatramaserviuparapôrfimaqualqueresperançademelhoriaem suas relações com omarido. D. Carlota expressava a sua insatisfação pormeiodesualínguaferina;d.Joãoofaziacomoseusilêncioeoisolamentoem

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Mafra.31Ocasamentoded. Joãocomd.Carlota Joaquina tinha sidonegociado,por

razões de Estado: ajudaria a consolidar o relacionamento entre Portugal eEspanha.Eramaisumdosmuitos casamentos arranjados entreos infantesdasduasnações.Foicelebradoem8demarçode1782,quandod.Joãotinha18anose d. Carlota Joaquina, dez. Entretanto, só foram morar juntos quando elacompletou16anos.

1807

Aguerra deNapoleão contra a Prússia e aRússia, ocorrida no final de 1806,permanecera indecisa, mas emmeados de junho havia ficado claro que,maisumavez,Bonapartetinhasidovitorioso,comaPrússiadestruídaeosexércitosrussosemretirada.NapoleãoeAlexandreIprocuraramumentendimento.

Obomsensoprevaleceueadecisãodedialogarencontrouamplo respaldonaquelas forçasexaustas.Comooprotocolomandavaqueoencontro tinhaqueseremcamponeutro,omeiodorioNiemenfoiescolhido,numabalsaconstruída para este propósito. Após este primeiro encontro, decidiu-secontinuarasdiscussõesemlocalmaiscômodo:acidadedeTilsit.O tratado assinado deixou ambos satisfeitos; as possessões da Rússia

continuariamintactas,maselanãomaiscooperariacomaGrã-Bretanha;sejuntariaàFrançaparamanterapaznocontinente.ARússiatentariaconciliarumapazentreaFrançaeaInglaterrae,casonãotivessesucesso,sealiariaàFrança. Um outro tratado “secreto” permitiria à Rússia se apoderar daFinlândia(pertenciaàSuécia),enquantoBonapartetomariaPortugal.32

Otratadofoiassinadoem25dejunhode1807.AEspanha,comoPortugal,tambémestavapassandopormomentosdifíceis.

Seufracorei,d.CarlosIV,oquehaviasidocoroadocomaidadede40anosem1788, tinha, em 1807, entregue seu poder a d.Maria Luísa, sua esposa, e aoamantedesta,d.ManueldeGodoy.33EsteforapromovidodeoficialdaGuardaRealparaministrodeEstadoecapitão-generaldosexércitosegrandealmirantedaEspanhaedasÍndias;naesperançadeviragovernarseupróprioterritórionofuturo, ele buscava ativamente a ajuda de Bonaparte. O Tratado deFontainebleau,34assinadopelogeneralMiguelDuroc,porpartedaFrança,ed.

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Eugenio Isquierdo de Ribeira e Lezaun, por parte da Espanha, estava emconsonânciacomtaisidéias.Napoleãoratificou-oem29deoutubrode1807.

OtratadopreviaainvasãodePortugaleasuadivisãoemtrêspartes:Entre-DouroeMinhoseriamdadosàrainhadaEtrúria,emtrocadaToscana;Alentejoe Algarves pertenceriam a Godoy; e Beira, Trás-os-Montes e Estremaduraseriam mantidos pelos Bragança, se certas condições fossem cumpridas(inclusiveaimprováveldevoluçãodeGibraltaràEspanha),senãoreverteriaparaasoberaniadaFrança.AscolôniasportuguesasseriamdivididasentreaFrançaeaEspanha.

Era o instrumento necessário para o acordo sobre a passagem através daEspanha de um Exército francês, agora reunido em Bayonne. A marcha porterra, embora mais difícil e demorada, era necessária, pois não havia apossibilidadede transportaroExércitopormarsemoriscodeperdê-lo,diantedasuperiorMarinhabritânica.AEspanhaforneceria8milhomensdeinfantariae3mildecavalariacomoreforço;alémdisso,invadiriaEntre-Dourocomumaforçade10miletomariaoPorto;outraforça,comumefetivode6milhomens,tomariaAlentejoeAlgarves.

Apesar desse tratado, Bonaparte não renunciou à duplicidade denegociações;35 durante os próximos dois meses, enquanto estava na Itália,repetidamenteofereceuo reinodePortugala seu irmãoLucien.36NenhumdosirmãosdeNapoleão,porém,estavainteressadoemPortugal,pelofatodequeoBrasilnãoestavasendooferecido.

Comopassardotempo,oDecretodeBerlimfoigradualmentesendoimpostoouaceitonaEuropa,atéqueapenasaDinamarcaePortugalpermaneciamforadosistema.

EstabelecidaapazcomaRússia,Bonapartevoltou-seemprimeirolugarparaaDinamarca,a fimdequeestaaderisseaoBloqueioContinental.A reaçãodaGrã-Bretanhafoiimediataebrutal.Muitoshistoriadoresacreditamqueareaçãoda Grã-Bretanha foi prematura e que ela foi excessivamente severa com aDinamarca. Um esquadrão comandado pelo almirante Gambier, transportando27 mil homens, rumou para águas dinamarquesas em 26 de julho de 1807 eemitiuumultimatoaopríncipereal:aDinamarcadeveriaaliar-seàGrã-Bretanhae colocar a sua Marinha à disposição desta. Com a recusa do príncipe,Copenhaguefoibombardeadaporterraepormar,masnãopormuitotempo;noquintodia,aDinamarcaentregousuaesquadra.37Umtotalde13nausdelinha,14fragatase42naviosmenoresforamcapturados.

Bonapartenãoperdeutempo:passouaconcentrarsuaatençãoemPortugal.A posição dePortugal era, nomínimo,muito delicada; se este se aliasse à

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Grã-BretanhaouàFrança,estaaliançalhetrariaconseqüênciasimediatas.ComaGrã-Bretanha dominando osmares, Portugal perderia suas colônias; 70%dasuariquezaeraoseucomérciomarítimocomoBrasil,Oriente,ÁfricaeNortedaEuropa.

Por outro lado, se Portugal se aliasse à Grã-Bretanha, o Exército deBonapartelogoestariaemsuafronteiraterrestreeseuinteriorseriatransformadonumcampodebatalha,comaajudamilitarespanholaea impossívelajudadoExércitobritânico.Alémdisso,Portugaltemia,quasecomamesmaintensidade,anovafilosofiaintroduzidapelarevolução.

DesdeainvasãodoterritórioportuguêspelaEspanhaem1801,comaperdamuitosentidadeOlivença,apolíticaded.Joãotinhasidoadejogarparaganhartempo.Erasuaesperançaqueaspotênciasemguerrachegassemaumacordo;atémesmo que, de algummodomilagroso, o cenário semodificasse, fazendocessar a pressão sobre o país e, entretanto, permitir a continuação da bonançaeconômica e mercantil de Portugal. Se tudo o mais falhasse, e como últimorecurso,elepoderiatransferiracapitaldeseureinoparaoBrasil.

Essa idéia tinha amadurecido ao longo dos séculos, sempre em épocas emque crises extremas afetavamPortugal.38A discussão havia ocorrido na épocaem que o Prior do Crato não teve sucesso em defender Portugal contra oExército,comandadopeloduquedeAlbaem1580,eresultouemqueFilipeII,III e IV também fossem reis dePortugal durante os 60 anos subseqüentes.D.João IV (1604-56), o primeiro dos reis da dinastia bragantina, entãoduquedeBragança, aceitou chefiar uma rebelião em 1640 e liderou Portugal àindependênciadamonarquiaespanhola.

Maisrecentemente,d.Pedro,3ºmarquêsd’Alorna,tinhaescritoaoprínciperegente(maiode1801):

Emtodoocaso,oqueéprecisoéqueV.A.R.continueareinar,equenãosucedaàsuacoroaoquesucedeuàdeSardenha,àdeNápoleseoquetalvezentre no projeto das grandes potências que suceda a todas as coroas desegunda ordem na Europa. V.A.R. tem um grande império no Brasil, e omesmoinimigoqueatacaagoracomvantagem,talvezquetrema,emudedeprojeto,seV.A.R.oameaçardequedispõeairserimperadorn’aquelevastoterritórioadondepodefacilmenteconquistarascolôniasespanholaseaterrarempoucotempoasdetodasaspotênciasdaEuropa.PortantoéprecisoqueV.A.R.mande armar com toda a pressa todos os seus navios de guerra, etodosostransportesqueseacharemnapraçadeLisboa.39

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Naquelemesmoano,d.RodrigodeSousaCoutinhotambémtinhaescritoaoprínciperegenteedenovoem1803:

QuandoseconsideraquePortugalporsimesmomuitodefensável,nãoéamelhor, emais essencial parte damonarquia; que depois de devastadoporuma longa e sanguinolenta guerra, ainda resta ao seu soberano, e aos seuspovos, o irem criar um poderoso império no Brasil, donde se volte aconquistaroque sepossa terperdidonaEuropa, edonde se continueumaguerraeternacontraoferoinimigo,querecusareconheceraneutralidadedeuma potência, que mostra desejar conservá-la. Quaisquer que sejam osperigos, que acompanhem uma tão nobre, e resoluta determinação, osmesmossãosempremuitoinferioresaosquecertamentehãodeseguir-sedaentradadosfrancesesnosportosdoreino,equeouhãodetrazeraabdicaçãodeV.A.R.àsuarealcoroa,aaboliçãodamonarquia,ouumaopressãofatal.40

Julho–agostode1807

Já em 25 de julho, lorde Strangford informava Londres de que havia fortesrumores,vindosdaEspanha,dequeBeauharnais,oembaixadorfrancês,estavanegociando a passagemde tropas francesas através daEspanha, a caminho dePortugal; o fechamento dos portos aos navios britânicos tambémpoderia estardentrodosplanosdeBonaparte.41

Em 29 de julho de 1807, dois dias após o regresso de Bonaparte a Paris,vindo de Tilsit, d. Lourenço de Lima foi chamado por Hauterive – que tinhasubstituído Talleyrand como ministro interino dos Negócios Estrangeiros – einformadosobreasexigênciasdaFrança.EstainformaçãofoitransmitidaàcortedeLisboa,aíchegandoem10deagosto.42Umanota,comamesmainformação,foirecebidadocondedaEga,embaixadorportuguêsnaEspanha.43

Os representantes francês e espanhol44 junto à corte de Lisboa teriamrecebido instruçõessimultâneas,pois,em12deagosto,umanotaassinadaporambosfoientregueaAntôniodeAraújo.

Mesmoantes que aFrança tivessedeclarado suas intenções, ordens tinhamsidodadas aoArsenal deLisboa para aprestar para omar os navios que já seencontravam no rio.45 Incluíam-se as nausAfonso de Albuquerque,Medusa eCondeD.Henrique, as fragatasMinerva,Princesa eCarlota, e outros naviosmenores.

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AFrançaexigiaquePortugalingressassenoBloqueioContinental,deacordocom o Decreto de Berlim: que fechasse seus portos aos navios britânicos,expulsasse o ministro britânico de Lisboa, chamasse de volta o ministroportuguês na corte de S. James, declarasse guerra, aprisionasse os súditosbritânicoseconfiscassesuaspropriedades;equesuaMarinhasereunisseàsdaFrançaedaEspanha.46Alémdisso,Portugaldeveria fornecerumaquantianãoespecificadaemdinheiro,afimdeajudarafinanciaraguerra,e4milhomens.Estas medidas deveriam ser adotadas até 1º de setembro. Se as mesmas nãofossemcumpridas,aFrançadeclarariaguerraaPortugal.47

Uma das primeiras reações ao recebimento desse ultimato foi informar ogoverno britânico. Antônio de Araújo escreveu, num despacho a José EgídioÁlvaresdeAlmeida,48secretáriodoprínciperegente:

É domeu dever participar ao Príncipe Regente Nosso Senhor, que ontemdiscutimuitocomoembaixadordeEspanhaecomoencarregadodeFrançasobreograndenegócio…TenhoasatisfaçãodeacrescentarqueStrangfordestá muito bem disposto a nosso favor… Convémmuito mandar dizer àInglaterra que se conserve aqui este ministro, porque se mandassemextraordinariamentelordeFitzgeraldseriaterrível.49

LordeRobertFitzgeralderaoficialmenteoministroplenipotenciário;duranteesteperíodocrucial,encontrava-seausentedePortugal.

OembaixadorportuguêsemLondresjá tinhaentãorecebidoestanotícia.AmesmahaviachegadodeParis,viaHolanda,por intermédiodoagente secretoBrito, residentenaquelacidade.50Esteagente seriautilizado,duranteomêsdeagosto, para distribuir umagrandequantidadedediamantes emParis, a certosindivíduoscompoder.51Entretanto,nãoobtevesucesso.

Uma matéria de importância nacional tão grande devia ser discutida edecididapeloConselhodeEstado;portalrazão,umareuniãofoimarcadapara19deagosto.

OConselho, criado quando Portugal era governado pelo cardeal infante d.Henrique,tutordojovemreid.Sebastião,existiadesde1562.Agora,em1807,erapresididopeloprínciperegente,eincluíad.JoséXavierdeNoronhaCamõesd’Albuquerque de SousaMoniz;52 d. Henrique José de Carvalho eMelo;53 d.José Luís de Vasconcelos e Sousa, regedor das Justiças do Reino;54 d. JoãoRodrigues deSá eMelo, secretário deEstado para osNegócios daMarinha eDomíniosUltramarinos;55d.RodrigoDomingosdeSousaCoutinho;d.JoãodeAlmeidadeMeloeCastro;AntôniodeAraújodeAzevedo;ed.FernandoJosé

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dePortugaleCastro,presidentedoConselhoUltramarino.56Nestemomento, o príncipe regente, indisposto, estava residindo no palácio

barrocodeMafra,distantecercade50kmanoroestedeLisboa.Do longo parecer escrito por d. João deAlmeida,57 ficamos sabendoque o

Conselho,em19deagosto,acordouquedeveriamserenviadascartasaPariseaMadri rejeitandoas respectivasnotas.AGrã-Bretanhadeveriaseroficialmenteinformadaeinstruçõesenviadasao“ministrojuntoaS.MajestadeBritânica…habilitaatratardaimportantecomissãodequeV.A.R.foiservidoincumbi-lo”.58Estas eram,mais provavelmente, as instruçõespara iniciar as negociaçõesqueresultaram naConvenção, assinada em 22 de outubro,59 entre Portugal eGrã-Bretanha.

D.JoãodeAlmeidasugeriuque,afimdeaplacarBonaparteecomapréviaconcordânciadaGrã-Bretanha,osportosdeveriamser fechados.60Ele lembrouaoprínciperegentequeesteardil,quetiveraumaltocustoparaanação,haviasidousadoantes:

Em tempos menos perigosos, ainda que mui difíceis (1797) prestou-se acortedeLondresaconviremqueV.A.R.fechasseosseusportosàMarinhabritânica assim naval comomercante, e ajustasse a sua paz com a Françaainda quando sofresse os Tratados existentes entre Portugal e a Grã-Bretanha. Incumbiu-meV.A.R. desta escabrosa comissão no ano de 1801,último de minha residência em Londres, e nas AugustasMãos de V.A.R.deve achar-se a carta original escrita do próprio punho de lordeHankesburgh,entãosecretáriodeEstadodosNegóciosEstrangeiros…Masserãobastantes,AugustíssimoSenhor,osterríveisgolpesquevamosdaraonossocomérciopelaclausuradosportos,eescassezdegênerosdeprimeiranecessidade que vamos experimentar; o retardo da correspondência comnossas colônias, que vamos sofrer; a baixa de que ressentir-se-á o nossopapel-moeda e as conseqüências que disso devemnecessariamente resultaraindaquandoaguerracomaInglaterranãosejamaisdoquedeaparência;serãobastantes,AugustíssimoSenhor,esteeoutrosdanosqueporbrevidadeeporseremóbviosdeixodeenumerar,parasaciaraambiçãoeanimosidadedaFrança?61

HaviarumoresdequeumembaixadorextraordinárioseriaenviadoaLondresparanegociar essaestratégia aparentementeguerreiradapartedePortugal, emtroca de vantagens comerciais quando a paz retornasse.62 Posteriormente, foiacordado que d. Domingos de Sousa Coutinho era perfeitamente capaz de

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conduzir esta negociação.63 Lorde Strangford reportou-se a uma conversarecente:

Tudoquenecessitamos,disseM.deAraújoemnossaúltimaconferência,équeaInglaterranãodestruanossascolôniasecomércio.Édoseuinteresseque sejamos independentes da França, mesmo às expensas de algumsacrifíciotemporário.Amesmanãotemnadaatemerdaguerrasimuladaemquepossamosviranosenvolver.64

Emprincípio,oConselhoacordouquePortugaldeveriafecharseusportosàGrã-Bretanhae ingressarnoBloqueioContinental,masnãoaceitouoconfiscodepropriedadeouoaprisionamentodesúditosbritânicos.D.RodrigodeSousaCoutinhodeuoúnicovotocontrário.Emsuaopinião,Portugaldeveriareunirumexércitode70milhomense40milhõesdecruzadosedeclararguerraàFrançaeàEspanha.Casoo país não fosse capaz de se defender, a família real deveriatransferir-separaoBrasil.65

OutrasmedidasacordadasincluíamfortalecerasdefesasdoportodeLisboa,mandaravisarascolôniasechamardevoltaoesquadrãoqueestavapatrulhandoo estreito de Gibraltar à procura de piratas.66 Em 3 de outubro, oRainha dePortugal largouparaLisboa (deGibraltar) comoVascodaGama, as fragatasMinervaeGolfinhoeobrigueVingança.FundearamnoTejoem8deoutubrode1807.

Enquantoagostoseaproximavadofinal,osrepresentantesfrancêseespanholameaçavamromperrelaçõesdiplomáticasepartirdePortugal.

Araújoescreveuaosecretáriodoprínciperegente,JoséEgídio,deBelém:

Escrevo em casa do S. Visconde de Anadia … Hoje veio falar-me oembaixadoreRaynevaldepoisdemandaremassecasnotas;disselhesforammuitomalempartirporqueeramaisqueprovávelqueBonaparteassentisseaproposição que S.A.R. lhe fizesse; que eu responderia às notas depois detomar as ordens do meu amo, e que definitivamente eles julgassem quedeviampartirS.A.R.lhesnãoaviadenegarospassaportes.67

Na reuniãodoConselhode26de agosto, realizadanopalácio deMafra, oenvioded.Pedro68aoBrasilfoidebatidoeaprovado,maisumavezcomovotocontrárioded.Rodrigo.Foidecididoqueumadas senhoras infantas,d.MariaBenedita,69irmãdarainha,deveriaacompanharojovempríncipe.ElaeraviúvadoseusobrinhoeherdeirodotronodePortugal,príncipedaBeirad.José,irmão

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ded.Joãoefilhoprimogênitoded.MariaI.

Setembrode1807

Em1ºdesetembro,oprazoestipuladofoiultrapassado,semqualquerrespostaàsnotas;em4desetembro,Raynevalsolicitouseupassaporte.70ComoRaynevaleCampo-Alange estavam cientes de que cartas haviam sido enviadas aosrespectivos governos, e como ainda nenhuma resposta havia sido recebida,AntôniodeAraújoconseguiupersuadi-losaretirarseuspedidos.Porsuaprópriaconta,elesdecidiramprorrogaroprazoaté1ºdeoutubro.Esta foiumavitóriaparaAntôniodeAraújo,responsávelpelapolíticadeprocrastinação.

Pareciaimprovávelqueoplanodeenviard.PedroaoBrasilfosseexecutado,emvirtudedaafeiçãoqued.Joãosentiaporsuafamília.Oplano,porém,foiútilad.João;apreparaçãodequatronausdelinhaparaaviagem,ficandoosdemaisprontos para defender o porto, podia ser executada com pressa, mas semcomentários inoportunos.Osnavios serviriam tantopara transportaropríncipedaBeiracomoparatransportartodaafamíliareal.

AntôniodeAraújo, repetindosentimentosdochamado“partido francês”ouaristocrático, era da opinião que as exigências de Bonaparte, se não fossematendidas,nãoresultariamnumainvasãodePortugal;queoperigomaisprovávele imediato de ataque vinha da Grã-Bretanha, apreensiva ao ver as frotasportuguesasdeguerraemercante,voluntariamenteouforçadas,unirem-seàsdaFrançaeàsdaEspanha.Apesardisso,eleapoiouaestratégiaderecuo,deenviaro príncipe da Beira ao Brasil; ele sabia que o príncipe regente dificilmentedeixariaseufilhoir,semsegui-lologodepois.NareuniãoseguintedoConselho,em2desetembro,foidiscutidoseoinfanted.Miguel71deveriairemlugarded.Pedro,oherdeiropresuntivo;oConselhoconfirmouopríncipedaBeira.Nestareunião, uma proposta foi apresentada porAntônio deAraújo: que o príncipedeveria receber o título de Condestável do Brasil e que a colônia deveria seradministradaporumConselho,presididopelopríncipe,econstituídopelovice-reieporumoumaisgenerais.Istofoirejeitado,emcontinuaçãodosistemadeadministração então em vigor. Na reunião foi também acordada a rejeição deeventuais propostas para receber tropas francesas ou espanholas em territórioportuguês,porqualquerrazão.

LordeStrangfordescreveuquenestareunião:

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“FicouresolvidoemConselhoque,casooinimigoentrasseemPortugal,SuaAlteza Real, acompanhado por sua família e corte, se retiraria para afortalezadoPeniche,umlugarnãomuitodistantedeLisboa,oqualéquaseinacessívelexcetopormar.”72

A situação tinha agora se agravado a tal ponto que, em 7 de setembro, oGavião,umbergantimde22peçasetripulaçãode118homens,comandadopeloprimeiro-tenenteDesidérioManueldaCosta,foienviadoaoRiodeJaneirocomordens ao vice-rei para suspender a partida de todos os navios mercantes aténotificação posterior. Este foi avisado da possibilidade de que a família realpoderia,emfuturopróximo,partirparaoBrasil.73

Duranteomêsdesetembro,asesperadasrespostasdeParis,MadrieLondreschegaram. Bonaparte insistia em suas exigências, ao mesmo tempo em quetornavaclaroquenãotoleraria,pormuitomaistempo,aindecisãodePortugal.De Madri, d. Manuel de Godoy, o Príncipe da Paz, respondia que Portugaldeveria seunir àFrançae àEspanhae,demodoalgum, considerar a idéiadatransferência da corte para oBrasil.Dizia ter um grande apreço por Portugal,pois, de outro modo, durante a guerra de 1801, ele o teria invadido econquistado.A resposta daEspanha refletia sua apreensão em relação às suascolôniasamericanas.SeacortesetransferisseparaoBrasil,qualquerinvasãodePortugalpelaEspanhaseriarespondidaporatosemelhantedapartedePortugal,noriodaPrataespanhol.74

Jorge III estavaagradecidopela consideraçãocomque seus súditos sempretinhamsido tratados,erecomendavacomurgênciaqued.Joãotransferissesuacorte para o Brasil, oferecendo-se para prover, se necessário, uma escolta.75JorgeIII,nestaépoca,eraoreidaGrã-Bretanha,oduquedePortlanderaoseuprimeiro-ministroelordeMulgraveeraoprimeirolordedoAlmirantado.

Omarquês d’Angeja, conhecendo bem os sentimentos do príncipe regenteporseu filho,persuadiuomarquêsdeBelaseomarquêsd’Aguiaramudaremseus votos. Na reunião seguinte, realizada em 23 de setembro, os oitoconselheiros presentes estavam divididos igualmente sobre se o príncipe daBeiradeveriaounãoserenviadoaoBrasil.76Oquartovotoeraprovavelmenteded.Rodrigo,quedesdeoinícioeraafavordedeclararguerracontraaFrançaeaEspanha e, caso fosse necessário, a família real teria sempre a opção de setransferir para oBrasil.Nesta reunião ficou decidido também queAntônio deAraújodeveriacontinuaranegociarcomaFrança.

Lorde Strangford percebeu que o membro mais influente do Conselho eraAntônio deAraújo e, embora o conselheiro d. Rodrigo fosse sabidamente um

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anglófiloe talvezasuaprincipal fontede informaçãoconfidencial, informouàcorte que d. Rodrigo tinha passado informações detalhadas sobre assuntos doConselhoaseuirmãod.Domingos,emLondres,eacusaraAntôniodeAraújodeserfrancófilo.77Areaçãodoprínciperegentefoiexcluird.Rodrigodequaisquerreuniões posteriores do Conselho. Lorde Strangford agora tinha confirmado oque de há muito suspeitava: a estratégia encenada pelo Conselho tinha porobjetivo a transferência da família real para o Brasil. Ele discutiu isso comAntôniodeAraújo,oqualconcordouqueesteeratambémoseupontodevista;acreditava-se que Rayneval e Campo-Alange, embora tivessem seusinformantes, haviam ambos sido informados tão categoricamente de que nãoexistiam quaisquer planos de viagem para a família real, que acreditavamfirmementequeoprínciperegentesobnenhumacircunstânciadeixariaopaís.78Nodia20desetembroe,denovonodia24,Raynevalmostrou-sepreocupadocom a possível partida da família real; d. Araújo insistiu que os preparativoseramparaaviagemdopríncipedaBeira,sobreaqualelejátinhasecomunicadocom as cortes deLondres, Paris eMadri. Esta crença baseava-se também, emparte,noperigoenodesconfortoquetaljornadacausaria.

Nofinaldomêsdesetembro,comaaproximaçãodo limitedoprazo, ficoucada vezmais claro que a política de negociar para ganhar tempo estava parasofrerumrevés;osrepresentantesdaFrançaedaEspanhadeclararamque,comoas medidas exigidas contra a Grã-Bretanha não haviam sido tomadas, elesromperiamrelaçõesdiplomáticasedeixariamopaís.

Em Mafra, ainda se recuperando de sua doença, d. João estava sendoaconselhado,especialmenteporThomasAntônioVilanovaPortugal,aregressara Lisboa para mostrar à população que estava atuando para salvaguardar osinteresses desta e receber em audiência os representantes da França e daEspanha,antesqueelesdeixassemopaís.

A reunião seguinte do Conselho, aquela de 30 de setembro, acordou emfecharosportosportuguesesaosnaviosbritânicos,masnãofoialémemcederàsexigênciasdeBonaparte.Umadasrazõesdadasparanãotomarmedidascontraos cidadãos e aspropriedadesbritânicas emPortugal foio temorda retaliaçãocontraaspropriedadeseoscidadãosportuguesesqueviviamnaGrã-Bretanha.

AntôniodeAraújojulgavaqueasmeias-medidasnaverdadedesagradariamaBonaparte.Alémdisso,asexigênciascontraoscidadãosbritânicos,umsegredocuidadosamentemantido,agorasetornariamdeconhecimentopúblico.Poroutrolado, a Grã Bretanha poderia muito bem considerar o fechamento dos portoscomo indicaçãodaadesãoaoBloqueioContinental edoabandonoda idéiadetransferiroherdeiroeacorteparaoBrasil,comduasconseqüênciasimediatas:a

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captura de quaisquer navios de guerra portugueses que ainda cruzassem ooceano em busca de piratas berberes no estreito de Gibraltar; e a invasão doporto de Lisboa para apreender ou destruir as frotas de guerra emercante. OexemplodoquetinhaacontecidoemCopenhagueeraaindarecente.

D. João de Almeida de Melo e Castro temia que Bonaparte não ficassesatisfeitocomaresposta,nemtampoucoaGrã-Bretanha,demodoquePortugalcorriaoriscodeencontrar-seaomesmotempoemguerracontradoisinimigos.Alémdisso,soba influênciadaGrã-Bretanha,suascolônias,empoucotempo,setornariamindependentes,ficandocomistoabertasaocomércio.Elepropunhaquedeviamserfeitos,comamáximaurgência,ospreparativosparatransferiracorteeaquelesquequisessemseguir,juntamentecomaspropriedadespúblicaseprivadas,paraoBrasil.79

De fato, o príncipe regente já tinha tomado várias decisões, como informalorde Strangford. Em 25 de setembro, este fora aMafra, a fim de entregar aresposta que havia chegado de Sua Majestade Jorge III. O príncipe regenteconcede-lheumalongaaudiência:

Opríncipe,emresposta,dissequetodosossentimentosdereligiãoedeverproibiam-nodeabandonarseupovoatéoúltimomomento,eatéquealgunsesforçostivessemsidofeitosparasalvá-loseparajustificar-seperanteDeuse o mundo; que em caso extremo ele tinha decidido retirar-se para seusdomíniostransatlânticos.80

Lorde Strangford tentou persuadir o príncipe a adotar a estratégia sugeridapelaGrã-Bretanha:

Duranteumaaudiênciadeaproximadamenteumahoraemeia,utilizeitodososargumentosquepossuíaparainduzirSuaAltezaRealaconsentirnaúnicamedida que agora lhe oferece uma chance de continuar a existir comosoberanoindependente.81

Ele alegaria, mais tarde, quando criticado, que seus atos tinham sidodecisivosparapersuadiroprínciperegenteapartirrumoaoBrasil.

O encarregado de Negócios da França havia, no dia anterior, entregue aresposta de Bonaparte, mas tinha sido recebido por apenas algunsmomentos:“Em conseqüência da timidez e da dificuldade experimentadas pelo príncipequandoobrigadoaexpressar-seemqualquerlínguaquenãoasua.”82

Em setembro havia ficado claro para d. Carlota Joaquina que seu marido

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planejavatransferiracorteparaoBrasil.Suasrelaçõescomoprínciperegentepareciamseguiromesmopadrãodaquelesexistentesentreseuspaíses.ComoaEspanhaagora sepreparavapara ir àguerracontraPortugal,o relacionamentodocasaldeteriorou-seaindamais.Aúltimacoisaqueelaqueriaeraser levadapara outro continente, onde a influência de seu país natal seria virtualmenteinexistente.Desesperadamente,escreveunumerosascartasaseuspais,pedindo-lhesqueinventassemqualquerdesculpaafimdechamá-ladevoltaaMadri.83

Em29desetembro,ovisconded’AnadiainformouaoprínciperegentequeasnausdelinhaAfonsodeAlbuquerqueeD.JoãodeCastro,assimcomoafragataUrâniaeobergantimVoadorestavamprontos,e levantariamvela tãologoeledesseaordem.84

Prevendo que a situação se encaminhava rapidamente para o confronto, opríncipe regente, em 30 de setembro, transferiu-se para o palácio de N.S. daAjudaemLisboa.85

Em 1º de outubro, o encarregado de Negócios da França, FrançoisMaximilien Gérard, conde de Rayneval, e o embaixador espanhol, d.ManuelJosé Antônio Hilário, 2º conde de Campo-Alange, deixaram Portugal apósreceberemseuspassaportes.

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CAPÍTULODOIS

A situação emPortugal torna-semais crítica àmedida que a tensãoaumenta. A contínua insistência de Bonaparte força o Conselho deEstadoatomarasmedidasexigidascontraaGrã-Bretanha,aindaquepara adiar a inevitável invasão. A situação torna-se insustentávelquando Junot invade Portugal e, ao mesmo tempo, sir Sidney SmithbloqueiaoportodeLisboa.Otemposeesgota,elevad.JoãoatomaradecisãodepartircomacorteemviagemrumoaoBrasil.Preparativosfinaiseembarque.

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Outubrode1807

Apartidadosrepresentantesfrancêseespanholteveoefeitodetornarpúblicooqueatéentãotinhasemantidoemsegredo:aseriedadedasituação.

A população estava agora começando amostrar sinais de desespero diantedasperspectivas:

Houve uma procissão no domingo, para afastar os perigos que rondavamPortugal, e fui informado de que muitas senhoras de classe caminharamdescalças namesma – que é de se esperar de um povo que recorre a taismeiosemtalmomento.1

OsconselheirosdeEstadoiriamsereunirem12deoutubro,naresidênciaded.AraújoemBelém,enovamenteem14deoutubro;emambasasocasiõessemapresençadoprínciperegente.Adecisãodeenviard.Pedrofoimaisumavezdiscutidaeacordada,comovotocontráriodomarquêsdeBelas.Suaopiniãoeraqueestadecisãoapenasserviaparaapressarumainvasãofrancesa.Arevelaçãogradual,aopúblicogeral,dajornadadojovempríncipepodemuitobemtersidoamaneiradefazercomqueopovoseacostumasseàidéiadapartidadafamíliarealdePortugal.2

Mercadores britânicos em Portugal, esperando pelo pior, também estavamreagindoàsnotícias:

Então seprincipiarãoa retirarosnegociantes ingleses; eopovodeLisboaviucomsentimentoemágoaestadespedida;foioprimeiromovimentogeraldeódiocontraainjustiçafrancesa;edeudesigrandelouvoraomonarcaquecom tanto perigo seu, não quisera violar os direitos da hospitalidade paracomeles.3

EmHistóriadoimpério,TobiasMonteirodescreveasituação:

Procurando iludir a situaçãoequerendodeixarcompreenderaos inglesesainconsistênciadasgarantiasque lhesdava,oprínciperegentepunhaquatrocomboios à disposição dos que quisessem abandonar Portugal, levando osseusbens.4

DeacordocomMonteiro,oministrodosEstadosUnidoscalculavaquecerca

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de2milinglesesaceitaramotransporte.Oembarquefoimarcadoparaodia12eapartidadefinitivapara15ou17.Ficaramalgunsirlandeses.Eraimensoovalordosbensquelevavam.OcônsuldaDinamarcareportouqueocomboiosósaiudia20eeracompostomaisoumenosde30naviosinglesesenorte-americanos.

Nosábado,17deoutubro,umcomboiode64velas,soboencargodafragatadeS.M.Lively,partiuparaaInglaterra.5

Os preparativos para a jornada prosseguiram, com a nomeação dos queacompanhariamopríncipe.Oaioprincipaleacamareira-morseriamocondeeacondessa de Belmonte.6 Ficou decidido que não seriam enviadas tropas doExército, aBrigadadaMarinha seria suficiente, equeoRiode Janeiro, enãoSãoPaulo,seriaseudomicílio.7OrdensforamdadasaocondedeRedondo8paraembarcarosvíveresnecessáriosàjornada.9

De acordo com um certoH.Chamberlim, escrevendo de Lisboa em 20 deoutubro, os navios portugueses, exceto por suas guarnições, estavam agoraprontosparapartir.10

O visconde d’Anadia, como secretário de Estado para os Negócios daMarinha,eraoresponsávelpelospreparativos.DiariamentevisitavaoArsenaldaRibeiraparaseassegurardequesuasordensestavamsendoexecutadas.AnauAfonso de Albuquerque estava sendo aprontada para transportar o príncipe daBeira.Duranteomêsdeoutubro,oprínciperegentefezumavisitaaonavioparaverasacomodações,queentãoestavamprontas.11

Quando, em 22 de outubro, o príncipe regente assinou o decreto fechandotodos os portos aos navios britânicos,12 decisão aprovada pelo Conselho deEstadoem30desetembro,tornou-sealtamenteimprovávelqueaGrã-Bretanhapermitisse a partida dos navios portugueses semque estes fossemmolestados.Algumarranjoprévioteriadeserfeitoouajornadadoherdeirojánãoeraumapropostaviável.

PrecauçõestambémtinhamdesertomadasarespeitodailhadaMadeira.Ofechamento dos portos não se aplicava a ela. Tropas britânicas seriamautorizadas a desembarcar lá com a condição de que, ao serem reabertos osportos do continente, estas partiriam; além disso, as propriedades privadas epúblicas, o culto religioso e as autoridades civil e eclesiástica deveriam serrespeitados.13

FoienormearepercussãodessasmedidastomadasemLisboa.UmbriguequehaviapartidodeLisboaem1ºdenovembro levavaumacópiadaproclamaçãoquefechavaosportosanaviosbritânicos.DeFunchal,umcertoHartfordJonesescreveu ao hon. Robert Dundas dando esta notícia, acrescentando que ele acomunicariaaosgovernadoresnocabodaBoaEsperançaeemBombaim.14

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As comunicações eram relativamente lentas no começo do séculoXIX.Oscomissários dosAssuntos da Índia só reagiram à notícia em 10 de dezembro,quando um despacho foi enviado ao governador-geral em Conselho, emBengala,por intermédiodoComitêSecreto.Ordens foramdadasparacapturarosassentamentoseaspossessõesportuguesasnaÍndia,depreferênciapormeiode arranjos prévios com o capitão-geral emGoa. Entretanto, caso se tornassenecessário,pelousodaforça.15

Macau era politicamentemais delicada.Nenhumpasso devia ser dado semantesconsultaroComitêSelecionado,emCantão.Eraimportantequeogovernochinêsestivessetotalmentedeacordocomqualqueraçãoempreendida.16

Essas ordens foram revogadas em 21 de dezembro, com o recebimento danotíciadequeoprínciperegentehaviapartidoparaoBrasilcomumaescoltadenaviosdeguerrabritânicos.OForeignOfficeenviouordensaogovernadoremConselho,emBombaim,paracancelarasinstruçõesanteriormenteenviadascomrelaçãoàspossessõesportuguesasemGoaeMacau.17

EmLisboa, a apreensãodequeaGrã-Bretanhapudessedesferirumataqueestavaevidente,nanotaded.Araújoao secretáriodopríncipe regente: “TodaaceleraçãonopreparoparaadefesadoPortoépouca,ereceioavizinhançadaesquadra de Collingwood.”18 Após a morte de lorde Nelson, em Trafalgar, ocomandodafrotadoMediterrâneopassouparalordeCollingwood.Nodia18,opríncipe regente tinha novamente solicitado a presença de lorde Strangford naAjuda. Ao recebê-lo, mostrava muita apreensão com a notícia recebida naInglaterra,pelopaqueterecém-chegado,dequeumaexpediçãotinha-sefeitoaomardaInglaterradestinadaacapturaroportodeLisboaeosnaviosdeguerraportugueses.Argumentandoque necessitava dos navios, a fimde remover suafamíliaeseus tesourosparaoBrasil,elesugeriuquea Inglaterrabloqueasseoporto:

Dessemodo,aInglaterraefetivamenteimpediráquenossaMarinhacaianasmãos da França; o modo que empregará com tal finalidade será justo ehonrado,enquantoqueumatentativadecapturarnossaesquadrapela forçacertamentemaculariaareputaçãoilibadadequeaInglaterratemdesfrutadoentreasnações.19

MesmoenquantosepreocupavaporumladocomumapossívelinvasãopelaFrança e, por outro, com a resposta da Inglaterra, o príncipe regente pedia aintervençãodaquelaparaobteradevoluçãodeOlivença, tomadapelaEspanhaem1801,seumapazgeralpudessesernegociada.Estapreocupaçãocomaperda

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deterritóriovoltariaasemanifestaranosdepois,quandooprínciperegente, jáentão d. João VI, insistiria em manter por toda a vida o título de ImperadorTitulardoBrasil,quandoaindependênciadestepaísfoifinalmentereconhecidaem1825.De fato, oBrasil teve três indivíduos como título de imperador (d.João, d. Pedro I e d. Pedro II) e quatro imperatrizes (d. Carlota Joaquina, d.Leopoldina,d.Améliaed.TeresaCristina).

D. Araújo continuava a se preocupar com as reações provocadas pelasdecisões tomadaspeloConselhodeEstado;umasemanadepois,nodia27,eleescrevia novamente: “É necessário, e muito necessário, acelerar a defesa doporto,porquehánotíciasdaInglaterradequevemcomefeitoumaesquadra.”20

ApesardaprobabilidademuitoreduzidadeviraconduziropríncipedaBeiraaoBrasil,aesquadraportuguesafundeadanoTejoestavasendodesembaraçada,continuando a aumentar em número de navios; em conseqüência, crescia odesconfortosentidopelaGrã-BretanhadiantedapossibilidadedequeaesquadraviesseaseunircomadaFrança.

Maior evidência dos preparativos consta da seguinte nota: “A proclamaçãoestáimpressa,emandoocaixãocomosimpressosparaoS.Visconde;éprecisoqueeledêordemparaadistribuição.”21TobiasMonteiroescreveuqueanotíciase refere à jornada da família real; émais provável que se refira à viagemdoherdeirod.Pedro,22aqualestavadestinadaanãoocorrer.

Um dos problemas causados pela partida dos representantes francês eespanhol foi a interrupção das comunicações, que se agravou aindamais pelainevitávelexpulsão,emseguida,dosrepresentantesportuguesesnaquelespaíses.

Enquanto isso, em 15 de outubro, numa reunião diplomática emFontainebleau,eàdistânciadaaudiçãoded.LourençodeLima,Bonapartetinhadito:“SePortugalnãofizeroqueeuquero,aCasadeBragançanãoreinarámaisdentrodedoismeses.”23

D. Lourenço relatou esta conversa numa nota escrita no dia 17 e, semconsultar seu governo, imediatamente partiu para Lisboa a fim de relatarpessoalmenteoqueestavaacontecendo.Omeiodeviagemterrestreera,naquelaépoca,porcarruagemparticularacompanhadadecriadoseguardaspessoais.D.Lourençoescolheua“posta”regular.24Elelevariacercade15dias,chegandoem1ºdenovembro.

Em 22 de outubro, o diplomata francês Fernando José Antônio Álvares,encarregado da embaixada na ausência de d. Lourenço, recebeu a seguintecarta:25

Fontainebleau

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22Octobre1807

Monsieur:LaLégationFrançaisen’estplusàLisbonne.LeRégentVotreSouverain a mieux aimé la laisser partir que d’adhérer aux justespropositions que lui faisoit L’Empereur etRoi.Ainsi il a rompu toutesses relationsavec l’Empereur,et les liensdePaixqui l’unissoientà laFrance: ainsi il semet en guerre avec l’Empereur. SaMajesté n’a puvoir qu’avec regret cette détermination qu’elle a cherché à prévenir;mais elle n’est point accoutumée à se laisser braver impunément. LePortugalveutlaguerre:LePortugalauralaguerre.L’Empereurlaluidéclaredanscemoment,etm’ordonnedevous faireconnoîtrequesonintentionestquevousettoutelaLégationPortugoise,quittiezParisdanslesvingtquatreheures,etlaFrancedanslesquinzejours,quisuivrontla date de la Lettre et des Passeports que j’ai l’ honneur de vousadresser.Mr.LeChevalierAlvares. Champagny26b

Dois dias depois, Fernando José deixou Paris com destino a Bayonne,próximoàfronteiraespanhola,ondeelereceberiaoseupassaporte.27

OcondedaEgatambémchegavaaLisboa:

Por este tempo também chegou inesperadamente o conde da Ega,embaixadordePortugalnacortedeMadri.Veio,comod.LourençodeLima,semserchamadoesempermissãodoseugoverno.Fezasmaioresinstâncias,e rogativas, e mesmo empregou todos os meios persuasivos, a que denenhummodoseviesseparaoBrasil.AsseguravaaboavontadedoPríncipedaPaz,earetidãodogeneralBournouville(embaixadorfrancês):empenhouparentes, e amigos; fez promessas, e ameaças;mas nada disso fezmudar,nemalterarasresoluçõesjátomadas.Os ministros diplomáticos de Portugal viam somente as cortes, onde

estavamacreditados:cuidavammaisdosinteressesdelasdoquedoseupaís,ou antes sacrificava, estes, àqueles. O prestígio de Napoleão podiadeslumbrar a razão, e pôr em perigo a fidelidade daqueles homens, e serámelhoratribuir-lhesesteerro,doquecrimesmaisnefandos.28

Mesmonaquelemomento,oConselhonãosabiaqued.Lourençotinhasidoexpulso daFrança e a guerra declarada: “… Já deParis pela postaOrdin.Outalvez pelo expresso que veio aMadri se avisou que d. Lourenço partira, e a

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atribuamafugirdoscredores…”.29Na reunião seguinte do Conselho, que teve lugar em 30 de outubro na

residência do visconde d’Anadia, decidiu-se que, em vista das notíciasinquietantescontidasnanotaded.Lourençododia17,recebidaemLisboanodia27,eraimportanteparaoprínciperegentereabrirocanaldenegociaçãocomaFrança.

Umembaixadorextraordinário,omarquêsdeMarialva,estribeiro-mor,30 foinomeado, sendo seu ato de nomeação pré-datado a fim de não ofender d.Lourenço,edespachadoparaParis,“Sed.Lourençovier,S.A.R.podedizer-lheque tinha há pouco tempo participado esta embaixada ao Imperador para ocumprimentar,enãoparasersucessordele,d.Lourenço”.31

Novembrode1807

O marquês de Marialva, um dos homens mais ricos de Portugal, partiupontualmente, em 16 de novembro, com uma quantidade não revelada dediamantes,que,deacordocomoministronorte-americano,valiamummilhãodedólares,32eumaespadadeouroguarnecidadebrilhantes.33Alémdisso,d.Joãodeu-lheinstruçõesparanegociarocasamentoded.Pedro,quandoestechegasseàidade,comasobrinhadeBonaparte,filhadesuairmãCarolinacomogeneralMurat.34SuamissãoerainformarBonapartedequeasexigênciasfeitasporeletinham sido cumpridas e que, portanto, não havia razão para agir contraPortugal.

OmarquêsdeMarialvaeraumsingularnacorte.Ocampodeseubrasãodearmasdividia-seemquatropartes,duasdasquaisostentavamasarmasreaisdePortugal,oquemostravasuaproximidadecomotrono.WilliamBeckford,quefizera amizade com a família de Marialva quando visitou Portugal em 1787,escreveu:

Osfavoresdacoroa têmchovidosobreeleaosmontões,nopresenteenosanterioresreinados,umacorrentedeprosperidadesnãointerrompidasmesmoduranteogrão-viziatodePombal!Procedacomojulgarmaisacertadocomo resto da minha nobreza – costumava dizer o rei d. José ao seu temidoministro–,masguarde-sedeintrometercomomarquêsdeMarialva.35

Omarquês teveuma jornada frustrante; suaprimeiraparada,nodia21, foi

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em Elvas, a cerca de 10 milhas de Badajoz, mas ainda em Portugal. De lá,escreveuad.Araújo:

Cheguei ontemde tarde a esta Praça, e imediatamente pedi ao governadorinterinodelaqueescrevesseaogovernadordeBadajozafimdesaberdesteseopassaporte,queparamimtinhasidosolicitado,seachavaemseupoder.

Suaintenção,senãolhefossepermitidoiraParis,erapelomenosinformarogoverno francêsdospassosdadosporPortugal contraGrã-Bretanha: “Hoje aomeiodeestediacontodeestaremBadajoz,e logoquealichegueexpedireiocorreio com cartas para M. Champagny, Beauharnais, Strognoff36 &c.” ArespostadaEspanhanãofoiencorajadora:“…Companheiroeamigo.Aquinohan llegado pasaportes para S. Exa., el CaballeiroMayor, Pero S. Exª. puedecontinuar sumarcha, comounCaballeiroparticular,queviajavaalaCorteDelReymiamo…”.37EleaceitouesteconselhoporestarcreditadojuntoàcortedeParis,masfoimalsucedidoemsuamissão,poisnãoconseguiuiralémdeMadri.

Os preparativos para uma possível invasão e uma eventual viagemprosseguiram:

OGeraldosBentoshojeme faloudizendoque lhe fazviolênciamandaraprata para Coimbra, e, como os Bentos têm muitos conventos noMinho,estimaram que o depósito se fizesse no Porto, onde me parece maisconveniente.Porquedalisepodeexportar,enãodeCoimbra.38

Embora as políticas e as decisões estivessem sendo concentradas em d.Araújo e coordenadas por este, na prática o príncipe regente era o únicoadministradorde seu reino.Seu regressoaMafra,porcausada saúdeabalada,criou problemas de comunicação para d.Araújo e adiou decisões importantes,comoescreveuesteaoprínciperegente:

Estimareimuito por todos os princípios que S.A.R. se achemelhor, e umdeles é para que possa voltar a Ajuda porque a todo o instante é precisoreceber as ordens para mil disposições; tudo afim o exige porque eu nãopossoconsiderarasituaçãomaisperigosaqueaquelaemqueestamos,senãoentraremos franceses na fronteira, ou os ingleses noTejo; algumas destascoisaspodemsucederempoucotempo.Emmomentomenoscríticopartiuomarquês de Pombal para Salvaterra a fim de representar ao rei d. José anecessidadedevoltarparaLisboa.39

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Um dos episódios mais estranhos que ocorreram durante este períodoturbulentofoiachegadaaoTejo,entre10e12denovembro,deváriosnaviosdeguerra russos sob o comando do almirante Siniavin. Este esquadrão tinharecebidoordensdezarpardeCorfu(aolargodacostagrega),comdireitoaoseuporto de destino no Báltico. Os ventos fortes do oeste,mortais para qualquernavio redondo velejando costa acima e a pouca distância da terra, forçaram oesquadrãoamudarderumoeentrarnoTejo,oúnicorefúgionaquelacosta.OalmiranteSiniavinpreferiuignorarostratadosquelimitavamaseisonúmerodebelonavesestrangeirasquepoderiamentrarnoportodeumasóvez.Alémdisso,nãodesembarcou suapólvora.Mesmoassim, opríncipe regente recebeu-o emaudiência. O príncipe percebeu que os russos não poderiam ser consideradosamistosos, pelos efeitos do Tratado de Tilsit; por outro lado, ele já tinhaproblemas suficientes com a Grã-Bretanha e a França, para querer abrir maisuma frente. A esquadra russa, contrariando convites de Napoleão, não quisacolher-seemportosfrancesesouespanhóis,e invocaraoTratadodeAmizadeexistentecomPortugal.Masnãoqueriaprosseguir,poisreceavaoencontrocomaRoyalNavy.

AochegaràbarradoTejo,algunsdiasdepois,sirSidneySmithiriaencontrarascircunstânciasigualmenteconfusas.40

Entre as várias linhas de ação emdesenvolvimento, estava uma convençãocom a Grã-Bretanha. Não há menção específica, nas atas das reuniões doConselho deEstado, de delegação de autoridade a d.Domingos para negociaremnomedeseupaís.Emborad.DomingospareçanãoterretornadoaPortugalduranteacrisede1807,aconvençãoqueserviriadebaseparaorelacionamentoentreosdoispaíses,duranteeapósacrisechegouad.João,queaassinouem8denovembrocomcertasrestrições:41

Sobre o mais que veio de Domingos, que deve existir no maior segredo,porquequalquercoisaquesesoubernosseriafunesto…arespostaaoqueveiodaInglaterratambéméurgenteporqued.Domingosnãovemsemela.42

A notícia trazida por d. Lourenço, de que ele havia sido informado porTalleyrandqueBonapartenãotinhaintençõesmaldosasemrelaçãoaPortugaleque, dentro de três dias, as retaliações seriam suspensas, não foi aceita emLisboa;particularmenteporqued.Lourençonãohaviatrazidonadaporescrito.O exército de 25mil homens sob o comando de Junot, reunido emBayonne,conhecidocomo“oExércitodePortugal”(L’ArméeduPortugal),eapresençade tropas espanholas em Badajoz eram claras indicações das intenções de

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Bonaparte.43Os círculos governamentais em Lisboa acreditavam que a razão pela qual

JunothaviasidopostoemcomandonãoeraofatodeconhecerPortugal,porterestado lá antes como embaixador,mas o de se ter envolvido numcaso comaesposadogeneralMurat,duranteaausênciadestedeParis.Aoregressar,MurathaviaexigidoqueBonaparteaprisionasseoubanisseJunot.44

No final de outubro, chegou em Lisboa a informação de que o Exércitoespanhol havia deixado a fronteira e retornado aMadri. Por ummomento, d.Araújo acreditou que as medidas tomadas pelo Conselho tinham conseguidoimpedirainvasão;tudoemvão,porque,algunsdiasdepoisosExércitosfrancêseespanholmarchavamparaafronteira.45

Em1ºdenovembrofoirecebidaanotíciainquietantedeque,naEspanha,oprovávelherdeiro,d.Ferdinando,príncipedeAstúrias,46 tinhasidoaprisionadoporordemdeGodoy–que, juntocoma rainha, suaamante,eraquemde fatoreinava – quando se descobriu a existência de um complô. A origem dessaconspiração estava no temor do príncipe de que Godoy não lhe permitissesuceder ao seu enfraquecido pai. Este fato pode explicar por que as tropasretornaramtemporariamenteaMadri.

O passo seguinte do príncipe regente foi solicitar a cada um de seusconselheiros que preparasse um parecer escrito sobre o que deveria ser feito,particularmenteemvistadasúltimasocorrências.EnéasMartinsFilhotranscreveestasnotas.47Elesconcordam, semexceção,que,embora tudo tenha sido feitopara conciliar as exigências da França com o mínimo de agressão à Grã-Bretanha,Bonapartedemonstraraquenãoestavapreparadoparaaceitarmenosque suas exigências originais.As desastrosas conseqüências para a população,que resultariamde uma invasão francesa, tinhamde ser consideradas antes dequaisquerefeitoscomerciaisnegativosqueaGrã-Bretanhaviesseasentir.Nestecaso, como escreveu o marquês de Belas, deviam ceder às exigências deBonaparte,mastratandoaGrã-Bretanhadomodomenosofensivopossível:

Quemande fazer o seqüestro e detenção das pessoas com os termosmaissuaves:quepara issoescolhaministrososmaisprudentes,porcomissão,aquem possa dar instruções mais particulares, para não ofender quanto forpossívelacausadosingleses…

Nomesmosentido,d.FernandoJosédePortugalescreveu:

Estamedidaviolenta,masatualmentenecessária,jáanãoreputotãodanosa

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à Inglaterra, como se fosse tomada ao princípio, porque os comerciantesingleses mais grossos já se retiraram daqui ajustando as suas contas, eapurandoseusefeitos.

Em sua opinião o representante britânico, lorde Strangford, devia deixarPortugaldeimediato;suapresençaeraembaraçosaepoderiadaràFrançaafalsaimpressão de amizade com a Grã-Bretanha. Em 30 de outubro d. Araújoescreveu:“…HojeabaixouasarmasoenviadodaInglaterra…”.48

Aotomarconhecimentodofechamentodosportos,lordeStrangfordescreveua d. Araújo em 4 de novembro, exigindo saber que outras medidas estavamsendo planejadas; a Grã-Bretanha ameaçava empregar a força se qualquer deseussúditosfossemolestado.49D.Araújoescreveuaosecretáriodopríncipe:

ChegouenfimanotadelordeStrangfordquesignificamuito,etantoquantoeuesperava;heidemostrá-laaosconselheiros,mashojenãotenhotempo,esomente amostrarei aomarquês deBelas, e que diga depois se ainda estápelo seu último voto, porque ontem parecia não se persuadir de que osingleses tentassem fazer uma irrupção no Tejo para queimar ou levar aesquadra.Estegolpeseriahorroroso.50

Em 5 de novembro, o príncipe regente assinou o decreto que atendia aorestantedasexigênciasdeBonapartecontraaGrã-Bretanha.

Nodia9,oConselhodeEstado,presididopeloprínciperegente,reuniu-senopaláciodeN.S.daAjuda.AatamostraqueasdeclaraçõesoficiaisdeguerradaFrançaedaEspanhaforamformalmenteregistradas.Mesmoassim,oConselhoaprovouoimediatoretornoded.LourençoaParis,51alémdoenviodomarquêsdeMarialva.Ficoudecididoqueaesquadradeveriaserprontificada,casofossenecessária para transportar a família real para o Brasil; enquanto isso, tropasdeveriamserenviadasparaguardarasfronteirasdopaís.Deveriasersolicitadoque o representante britânico partisse: “Por todos os modos polidos se deviaprocurar conseguirqueo enviadoda Inglaterrapartissedesta capital, porqueasuaassistênciaaquinoscomprometeriacomaFrança.”52

EmLisboa,nanoitede17,lordeStrangfordrecebeuumacartaded.Araújo,insistindoparaquedeixasseLisboaaqualquercusto,“porterraoupormar”.Naopinião de sir Sidney, a carta era “uma clara admissão, da parte do governoportuguês, de abandono da neutralidade”. Era a segunda comunicaçãoimportante que ele tinha recebido naquele dia, pois, mais cedo, despachos daInglaterraedesirSidneySmithaalgumasléguas,foradabarradoTejo,tinham

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chegadocomosecretáriodesirSidney.Esteteveumaviagemagitada,primeirotransferindo-se da nau capitânia de S.M. London para o Active, um briguearmadoquepossuíaumacartadecorso,53queolevouatéabarra,edepoisparaumbarcodepescaportuguês.LordeStrangforddecidiuseguiroconselhoded.Araújo e, na manhã seguinte, acompanhado por seu pessoal e levando osarquivos da legação, deixou Lisboa pelo mesmo caminho utilizado pelosecretáriodesirSidneynavéspera;e,às17h30,aproximadamente,foirecebidoabordodaLondon.54

AmarchadoExércitofrancêsatravésdaEspanhaeoincrementodamassadoExército espanhol, pronto para cruzar a fronteira portuguesa, eramacompanhadosatentamentedeLisboa.55Aúnicadúvidaquepermaneciaéseopríncipe regente tinha pleno acesso às informações. O quartel-general francêsseria em Alcântara, como escreveu o ex-cônsul francês em Lisboa, FrançoisAntoineHermann,em11denovembro.Duranteaocupação,elefoicomissáriodo governo francês junto ao Conselho da Regência e administrador geral dasFinanças.

Duranteosmesesdesetembroeoutubro,asforçasmilitaresfrancesastinhamse concentrado em Bayonne; estas notícias foram recebidas em Lisboa,intermitentemente.Informessobremovimentosdetropasespanholas,atravésdafronteira em Badajoz, também foram recebidos. Entre 19 de outubro e 3 denovembro,56tropasfrancesaspassaramporIruneatravessaramparaaEspanha.A longa marcha rumo à fronteira portuguesa tinha começado. A narrativa datravessia para Portugal e do posterior avanço para Lisboa origina-se de umrelatórioanônimoescritoporumdosoficiaisdeJunot.57

Amarcha através da Espanha paraAlcântara foi sem eventos, exceto pelofato de que os suprimentos para alimentar as forças eram escassos – já quenenhum aviso prévio tinha sido dado às autoridades espanholas. Em 14 denovembro,oprimeirodestacamentode8milhomensalcançouAlcântara,tendoorestantechegadoduranteosdiasqueseseguiram.58

No início de novembro, o marquês d’Alorna, governador do Alentejo,recebeu ordens para manter as tropas de Junot, que estavam bivaqueadas emAlcântara,sobobservação.

AinvasãodePortugalfoimarcadaparaanoitede20denovembro.OTejoeseu afluente, o Erges, marcavam a fronteira mais próxima de Alcântara. Aprimeira idéia foi evitar quaisquer pontes existentes, as quais, imaginava-seincorretamente (como ficaria demonstrado), estariam fortemente guardadas. Orio Erges, em frente a Salvaterra, foi escolhido; mas a combinação de umagrande cheia do rio, provocada pelas recentes chuvas fortes, e a falta de

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materiais com os quais construir uma ponte logo fez o destacamento dereconhecimento desistir. A ponte existente em Segura seria usada comoalternativa. Embora as pequenas aldeias – como Penacor, Rosmaninhal eMonsanto–tivessemdefesas,estasnãoforamempregadascontraosfranceses.

EmLisboa,ainvasãoiminentepelasforçasfrancesasfezomarquêsd’Angejarecomendaraopríncipe regentequeesteenviasseumemissáriopara indagaraJunotquaiseramassuas intenções;OliveiraBarreto59 foiescolhido.Em21denovembro,d.Araújoescreveu:

Executarei, como devo, as ordens de V.A.R. fazendo partir Barreto, quetalvez poderá sair amanhã à tarde. O que eu desejava que V.A.R. lhedissesse,ouaqualqueroutrapessoaquefosse,eraadeterminaçãofirmederetirar-se para o Brasil, e que somente não entrando tropas deixaria de ofazer.

Barretopartiunodia22.D. Araújo considerou enviar d. Lourenço para se reunir com François

Hermann, em Alcântara. A falta de transporte foi a desculpa dada por d.Lourençoparanãoviajar.60

Omautempoeaextremapobrezadaregiãoescassamentepovoada,comfaltaquasetotaldealimento,tornouaetapaseguintedamarcha,atéCasteloBranco,difícildecompletar.Entretanto,aregiãoerabemsupridadevinho;abebedeiraeadesordemtornaram-secomuns,forçandoJunotaaplicarseveraspuniçõesafimdemanteradisciplina.61

Divididas em pequenos destacamentos, as forças militares prosseguiramlentamente até Abrantes. Posições fortificadas, em São Domingos e Mação,poderiamtê-lasdetidofacilmente,naopiniãodooficialfrancêsqueescreveuorelatório.AlémdeAbrantes,seupróximoobstáculoeraorioZêzere,correndoagrande velocidade e com volume de água aumentado pela cheia. As tropasfaltavam respeito à igreja, causando algum dano na igreja paroquial de SantaMariadoCastelloe,emAbrantes,naigrejadeSantoAntônioenoconventodosCapuchinhos.

Umapontedebarcosfoiconstruída,eapopulaçãolocalajudouaatravessarasbagagens.Tomar,SantarémeVilaFrança,aspróximasvilasemseupercurso,erambemprovidasdealimentos,tornandoajornadamaisfácil.

Barretoescreveuqueesperavaencontrar-secomJunotnodia26ànoite,emPunheteouemTrancos;surpreendentemente,Junotestavamalinformado:

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Posso já segurar aV.Ex.queaquelegeneral ignorava inteiramentequeosinglesestivessempartidodePortugal,equeosportosselhefixassem;alémdisto,tambémignoravamdaentradanoTejodaesquadrarussiana.62

Eleprosseguecomentandosobreoestadodastropas:

TambémdigomaisaV.Ex.queatropavemmiserável,efaltadetudo,masnãocometedesordemmaiorexcetoasdecontribuiçõesparaosustentoqueempartelhetemfaltado,dossapatosqueexigem,poucotemobtido.

Tobias Monteiro63 confirma as más condições em que se encontravam asforçascombatentesfrancesas,apósummêsdemarchaforçadasobcondiçõesdetempoadversasecompoucacomida:

Descalços, sem um cartucho, reuniram os soldados os sapatos queencontraram,transformaramembuchaapapeladadosarquivosdeAlcântara,apossaram-se da pólvora ali existente e alcançaram Abrantes sem auxílioalgum das tropas espanholas, consideradas de péssima qualidade e por talrazãomandadasvoltar.Dos23milhomenspartidosdeBayonne,só15mil,apesar de enfraquecidos, puderam aí chegar; os outros tinham-se tornadoincapazes de prosseguir. Reparando às pressas as armas aproveitáveis eescolhendo a melhor gente, livre dos perigos da passagem da Beira,continuou Junot a caminho de Lisboa, e ainda perdeu dois dias, 26 e 27,diantedoZêzereemplenaenchente,semmeiosparaatravessá-lo.

Enquanto isso, no mar, a nau de S.M. Plantagenet e a chalupa de S.M.Confiance, que tinham zarpado de Plymouth a 15 de novembro trazendodespachos para lorde Strangford e sir Sidney Smith, com toda a certezatrouxeramumexemplardodiáriofrancêsLeMoniteur,de11denovembro.EstepublicavaumartigoquenãodeixavadúvidassobreasintençõesdaFrança:

O príncipe regente de Portugal perde o seu trono; perde-o por causa dasintrigas dos ingleses…Que faz, pois, a Inglaterra, essa aliada poderosa?OlhacomindiferençaoquesepassaemPortugal.QuefaráquandoPortugalfor tomado? Irá apossar-se do Brasil? … A queda da Casa de Bragançaconstituirá mais uma prova de ser inevitável a perda de todos quantos seuniremaosingleses.64

Em 24 de novembro, a chalupa de S.M.Confiance fez-se de vela rumo a

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Lisboa,sobumabandeiradetrégua,levandodespachosdaInglaterraecartasdesirSidneySmithelordeStrangford.ÉprovávelqueLeMoniteurestivesseentreospapéistransportados.AConfiancefundeouemfrenteàtorredeBelémàs17horas; o encarregado da correspondência foi conduzido para terra por umaembarcaçãoaremos.

A notícia recebida no dia anterior, de que tropas francesas estavam emterritórioforçandoamarchaparachegaraLisboa,somadaàinformaçãoexibidanoLeMoniteur, sobre o destino que Bonaparte reservara para Portugal e suafamíliareal,fechavaquaisqueropçõesque,atéentão,estapudessetertido.

Em24denovembro,nopaláciodeN.S.daAjuda,tevelugaraúltimareuniãodoConselho,antesdoembarque.

O Conselho reconheceu que a situação era tal que todas as alternativastinham-seesgotadoeque,nessecaso,afamíliarealdeveriapartirparaoBrasil.Oportoseriaabertoaosnaviosbritânicos,tantoosdeguerracomoosmercantes;eastropasguarnecendoafrentenamargemdorioseriamdeslocadasparaoutrasposições.Umanota recebidadesirSidney foi respondida,eopedidode lordeStrangford para uma audiência com o príncipe regente foi concedido. Ficoutambémdecididoque,naausênciadopríncipe regente,enquantoesteestivesseno Brasil, seria instituído umConselho de Regência65 com poderes delegadosporele.

Osconselheirosnomeadosforam:d.PedrodeLancastredaSilveiraCasteloBrancoSáeMeneses(1763-1828),5ºmarquêsd’Abrantes;ostenentes-generaisd. FranciscoXavier deNoronha e Francisco daCunhaMeneses; d. FranciscoRafael de Castro, principal da Igreja patriarcal; Pedro de Melo Breyner; d.ManuelAntôniodeSampaioMeloeCastroMunizeTorresLusignano,condedeSampaio; suplentes, d. Miguel Forjaz e d. Francisco de Melo da CunhaMendonçaeMeneses(1761-1821),1ºcondedeCastroMarime1ºmarquêsdeOlhão.

Nocomeçodatardede27denovembro,conformedescritopeloviscondedoRioSeco,66 a família real subiuabordodosnaviosquea conduziriamemsualongaviagem.AcenaregistradaporL’Evêque–umgravadoritalianoquetinhatrabalhado na Inglaterra antes de se transferir para Portugal – e, mais tarde,reproduzida por Bartollozi – um pintor e gravador da escola suíça – evocaorganizaçãoetranqüilidade,emcontrastecomarealidadedaocasião.67

Em 1821, o visconde do Rio Seco escreveu suas memórias,68 e, como eletomouparteativanospreparativosparaoembarque,asmesmassãoumregistrovaliosodessesúltimosdiasatribulados,antesdapartida:

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Nodia25denovembro,pelameia-noite,selheintimouporordem,quefossefalar a El Rey … na Ajuda. Sem demorar um só instante, partiuacompanhadodoportadordaordem…aliescutouoviscondedeRioSeco,com respeitosa submissão, as ordens que Sua Majestade de viva voz lheintimava, relativas aos arranjamentos do seu embarque, que se havia deexecutarimpreterivelmentenatardede27…… começou ele as disposições, passando no quarto do Exmo. gentil

homemdaCâmaramarquêsdeVagos,69paraqueseconvocasseosExmos.conde de Redondo, vedor da Ucharia, Manoel da Cunha, almirante daEsquadra, para conjuntamente tratarem dos objetos relativos às suasrepartições, enquantoele fosse aopaláciodasNecessidadespôr emaçãooembarquedoquealiseachava,ecombinarcomopadreJoséEloi todasasremessasdospertencesàsantaIgrejapatriarcal…foieleassentarbarracanocaisdeBelém,parad’ali repartiras famíliaspelasembarcações,segundoaescaladosseuscômodos,assimcomoenviartodososvolumesdoTesouro,quechegavam…continuouatéastrêshorasdatardedodia27,emqueSuaMajestadechegouaocais, para se embarcar, vindo sucessivamente emseuseguimento todas as outras pessoas da real família… arranjados já quasetodososvolumes,efamílias,elesedispunhaatratardesi,desuamulherefilhosparaseguiromesmodestinodosqueembarcavam;istoé,nanoitedodia27pelasnovehoras,foichamadoaogoverno,queSuaMajestadehaviaeleitoparagovernaroreino,emsuaausência,oqual lhedeclarouestarelenomeado para quarteleiro do general Junot:medida que desconfortava seuplano.

Após um dia demuitas aventuras, o visconde deRio Seco, em retribuiçãopeloenviodealgumascabeçasdegadoabordodafragataUrânia,quenodia27fundearaemfrenteàfortalezadeBelém,porsolicitaçãoded.Joãod’Almeida,conseguiuembarcarcomsuafamílianaPríncipedoBrasil:“Eramnoveparadezhoras do dia, quando as diligências do mestre alfaiate do Tesouro lhedescobriram um bote, em que se transportou, deixando na barraca dinheiro,chapéuealgunspapéis.”70

Além da família real, viajaram os seguintes membros da corte com suasfamílias: os duques de Cadaval; os marqueses de Alegrete, Angeja, Belas,Lavradio, Pombal, Torres Novas e Vagos; as marquesas de S. Miguel eLumiares;oscondesdeBelmonte,Caparica,Cavaleiros,PombeiroeRedondo;ovisconde d’Anadia, d. Antônio de Araújo Azevedo, d. Fernando José dePortugal, d. João de Almeida, d. Rodrigo de Sousa Coutinho, desembargador

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TomasAntônioVilanovaPortugaleváriosoutros.Ospreparativospara tal jornadanão são feitosdeummomentoparaoutro,

comoobservouOliveiraLima:

Paradepoisdoanúnciodaentradadetropasfrancesasnoterritórionacional,embarcar n’uma esquadra de oito naus, quatro fragatas, três brigues, umaescuna e quantidade de charruas e outros navios mercantes, uma corteinteira,comsuasalfaias,baixelas,quadros,livrosejóias…masquemesmocom maior rapidez de processos de hoje se enfardam e carregam de ummomentoparaoutro.71UmChristianoMullerquepoucosmesestinhasidoencarregadodefazero

inventário dos papéis, livros, mapas e estampas de Antônio de Araújo,escrevendodeLisboaparaLondresad.DomingosCoutinho,conta-lhequenanoitede25para26denovembrooforamacordarparamandarencaixotarimediatamente todo o pertencente à secretaria de Estado, ao que eleprocedeu, remetendo no dia imediato 37 caixotes grandes para bordo daMeduza,debaixodecopiosachuva.72

Nãohaviamais razãoparamanter em segredo a partida nem isso eramaispossível. Não houve surpresa, portanto, quando o anúncio público formal foifeito pelo príncipe regente, a 28 de novembro, quando já se encontravaembarcado.73

Tão logo soube da intenção da partida o núncio apostólico, monsenhorCaleppi,74preparou-separaajornada.Nodia26,numaaudiênciacomoprínciperegente,lembrou-lhequedeveriatentarlevarconsigooouro,aprataeasjóiasdaIgreja patriarcal, e das capelas reais, a fim de preservá-los da pilhagemhabitualmente praticada pelos franceses. O príncipe, contente com o desejoexpressopelonúnciodeseguircomele,apesardesua idade,edofatodeque,naquele momento, o mesmo encontrava-se enfermo, disse para fazer seusarranjos com os capitães da Medusa e da Martim de Freitas. Após várioscontatos, ficou claroquenãohavia espaço suficientepara transportar todososquequeriamacompanharafamíliareal.CamiloLuísdeRossiescreve:75

De fato, foram tais a desordem e confusão naqueles dias, que nem omonsenhorbispodoRiode Janeiro,76 apesardeobrigadopelosdeveresdoseu ministério, e munido de ordem expressa do príncipe regente para serrecebido a bordo da esquadra portuguesa, nemmesmo ele pode conseguiralojamento nela, e foi forçado a permanecer em Lisboa, assim como foi

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obrigadoavoltaraterra,depoisdeembarcar,d.PedrodeSousaHolstein,77sebemfossecapitãodaGuardaReal, chegandoaaconteceromesmocomváriascaixasdeprataericasalfaiassagradas,jáprontasecomoscochesdacorte, já acondicionados, alémde quantidade considerável de outras coisaspreciosasnãoencaixotadasainda,queficaramesquecidaseabandonadasemterra,emvezdeseremembarcadas.

Aconfusãodesteúltimomomentofoitalqueasordensdoprínciperegente,datadas de 28 de novembro a bordo da Príncipe Real, autorizando os gastosindispensáveis para completar a aguada e os estoques de lenha e outrasnecessidades,sóforamentreguesaovisconded’Anadiaumanodepois,em11dedezembrode1808!78

Existem várias narrativas do embarque, todas descrevendo, com grauvariável, a total confusão. Isto não é difícil de entender; por um lado, umamultidãodecivis,amaioriadosquaisnuncatinhaestadoabordodeumnavio,obrigadaafechareabandonarseus larescomumexércitoestrangeiroprontoainvadirsuacidadeaqualquermomento,tendoqueembarcarcomseuspertencesemnaviosfundeadosnomeiodorioTejo,naquelesdiasdeinvernocomchuva,ventoefrio.Poroutrolado,tudoistoacontecendoemmeioaparentes,amigoseestranhos que ficariam para trás, para enfrentar as conseqüências futurasdesconhecidas,sobumexércitodeocupação.OviscondedoRioSeco,emsuasmemórias,escreveu:

OmuitonobreesemprelealpovodeLisboanãopodiafamiliarizar-secomaidéia da saída d’El Rey para os domínios d’ultramarinos … Vagandotumultuariamente pelas praças, e ruas, sem acreditar o mesmo, que via,desafogavaemlágrimas,eimprecaçõesaopressãodolorosa,quelheabafavanaarcadopeitoocoraçãoinchadodesuspirar;tudoparaeleerahorror;tudomágoa;tudosaudade;eaquelenobrecaráterdesofrimento,emquetantotemrealçadoacimadospovos,quasedegeneravaemdesesperação!79

EusébioGomes,almoxarifedopaláciodeMafra,escreveuemseudiário:

É impossível descrever o que se passou no cais de Belém na ocasião doembarque da real família que saiu deMafra a toda pressa para embarcar,porqueàmesmahorasesoubequeosfrancesesestavamachegaraLisboa.Que grande confusão houve então no cais de Belém! Todos a quereremembarcar,ocaisamontoadodecaixas,caixotes,baús,malas,malotõese30mil coisas, que muitas ficaram no cais tendo os seus donos embarcado,

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outrasforamparabordoeseusdonosnãopuderamir.Quedesordemequeconfusão;arainhasemquererembarcarporformaalguma,opríncipeaflitopor este motivo!!! Foi o Laranja (Francisco Laranja, capitão-de-fragata epatrão-mor das galeotas reais) quem fez com que a rainha embarcasse. Eentãoopríncipedeubeija-mãoàspessoasquealiestavameentrelágrimasesuspiros começaram a embarcar, e não se pode descrever o que aqui sepassou.80

Marcus Cheke, embora não identificasse suas fontes, concordou com estacompletaconfusão:

Entrementes,Lisboacaíranumestadodepandemôniosemparalelodesdeograndeterremoto.OspadresdeSãoRoqueapressaram-seemescondersuasfamosasrelíquias.EmparedaramocrâniodesãoCrisantodeBasle,ofêmurdesãoProcópio,obraçodesãoJosipa,oscrâniosautenticadosdeváriasdas11 mil virgens e (oh, assombro!) a cabeça intacta de são GregórioTaumaturgo … o cais de Lisboa, coalhado de carruagens e entupido demóveis, objetos de arte e canastras, oferecia um aspecto de indescritívelconfusão. Os livros e osmanuscritos das bibliotecas reais, os arquivos doMinistério do Exterior, a prataria do palácio da Ajuda e os fabulososparamentosdoPatriarcadojaziamespalhadossobumachuvatorrencial.81

As conseqüências da aproximação do Exército francês, sob o comando deJunot, agora começavam a ser sentidas. O tenente conde ThomasO’Neil, umfuzileironavalabordodanaudeS.M.London,descreveemdetalhes,inclusiveosdiálogos,umareuniãoquesupostamenteteriaocorridonodia28abordodaPríncipeReal,entreoprínciperegenteeJunot.82

Achegada de Junot aLisboa, nas primeiras horas do dia 30, está tão bemdocumentadaquepodemosdescartaraversãodeO’Neilparaoevento.Nadataem questão, O’Neil estava distante ao largo, em mar aberto. Entretanto, épossívelqueeletenhaouvidoumrumordequetinhaocorridoumencontrocomumfrancêsimportante,oqualelepresumiuserJunot.

Camilo Luís de Rossi, secretário do núncio apostólico, escreveu que onúncio, ao voltar para casa após abandonar qualquer esperança de embarcar,encontrou umamensagem de François Hermann solicitando encontrar-se comelenaresidênciaparticularemqueestava.DeSantarém,acompanhadoporJosédeOliveiraBarreto,eletinhadescidooTejo83atéLisboae,agora,tendochegadosecretamente estava muito apreensivo por saber que a família real tinhaembarcado.Onúncio,prevendoquesuaintençãoeratentarimpedirapartida,foi

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ao seu encontro e recomendou-lhe que tentasse obter permissão do chefe depolícia para subir a bordo.84 Imediatamente após esta conversação, o núncioseguiuparaaresidênciadochefedepolíciae,tirando-odeseuleito,alertou-odaintençãodeFrançoisHermann.Avisitadesteaochefedepolíciafoifrustrada,quandoestelhedissequenãotinhaautoridadeparapermitirumavisitaaonaviodoprínciperegente.85

OhistoriadorSoriano86alegaqueHermannconseguiuveroprínciperegentenaquelanoite;aindaassim,issopareceimprovável.

Apessoamaisapropriadaasercontatadaporumdiplomata,afimdeobterapermissão necessária, teria sido d. Araújo,87 como secretário de Estado dosNegócios Estrangeiros, que estava, então, a bordo daMedusa. Naquela noite,quando escreveu ao príncipe regente sobre a audiência de lordeStrangford, d.Araújo certamente o teria mencionado, caso Hermann tivesse vindo a bordo.Como será visto, mais tarde, naquela mesma noite, lorde Strangford subiu abordodaMedusaparacombinarcomd.Araújoohoráriodesuaaudiência,nodiaseguinte,comoprínciperegente.

Afamíliarealeacorte,abordodeseusnavios,esperavamparacompletarospreparativos finais e,mais importante, para o ventomudar do quadrante oestepara este, sem o que os navios continuariam prisioneiros no Tejo imponente,aguardandoaqualquermomentoachegadadastropasfrancesas.

b Fontainebleau,22deoutubrode1807.Senhor, a legação francesanãoestámaisemLisboa.O regentevosso soberano preferiu deixá-la partir a aderir às justas propostas que lhe fazem o imperador e rei.Destarte, rompeu todas as suas relações com o imperador e os laços de paz que o uniam à França: porconseguinte, põe-se em guerra contra o imperador. SuaMajestade não pôde ver senão com pesar essadeterminação, a qual buscou prevenir, mas não está em absoluto acostumada a receber afrontasimpunemente. Portugal quer a guerra: Portugal terá a guerra. O imperador lha declara neste momento,ordenando-mequelheparticipequesuaintençãoéqueosenhoretodaalegaçãoportuguesasaiamdeParisnaspróximasvinteequatrohorasedaFrançadentrode15dias,acontardadatadacartaedospassaportesquetenhoahonradelhedirigir.(N.E.)

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A

CAPÍTULOTRÊS

Portugal e Grã-Bretanha negociam uma Convenção. Um esquadrãobritânico,sobocomandodesirWilliamSidneySmith,faz-seaomarenavega para Lisboa. O tempo permanece frio e ventoso. Sir Sidneyencontraconsideráveldificuldadeemmanteroesquadrãoaolargodacostaportuguesa.Oseventosolevamainstituirumbloqueiodoporto.

assinatura da Convenção em 22 de outubro1 levou o Gabinete a seconcentrar nos principais objetivos que, esperava-se, poderiam seratingidos dentro do quadro da situação que piorava rapidamente e no

contextodasrelaçõespolíticasecomerciaisdelongadatacomPortugal.

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Emprimeiro lugar,eacimade tudo,demodoalgumaesquadraportuguesadeveriacairemmãosfrancesas.Emboranãofossegrande,emcomparaçãocomasdaGrã-Bretanha,FrançaouEspanha,aindaassimerasubstancial:23nausdelinha(13a14naEuropa,asrestantesnoAtlântico,BrasileOriente),18fragatase uma dúzia de corvetas, bergantins e escunas;2 um útil acréscimo à esquadrainimiga,poisconstituíaentãoaquintaesquadraemnívelmundial,aseguiràsdaGrã-Bretanha,França,EspanhaeRússia,maisimportantequeasdaDinamarca,Suécia, Holanda etc., sendo a qualidade da sua construção naval e treino deequipamentosreconhecidosportodos.Osoficiaisportugueseseramumrecursoadicional,oqueerado interessedaGrã-Bretanha,pois,duranteomeio séculoanterior,umgrandecontingentedeoficiaisbritânicoshaviasidorecrutadoparaoserviçodaMarinhaportuguesa.3Duranteasduasdécadasanterioresa1807,pelomenos 35 oficiais tinham servido naMarinha portuguesa; vários deles, comoPhilip Hancorn, Thomaz Stone e Donald Cambell, atingiram as mais altaspatentes.Comoresultado,asduasmarinhas tinhamumacertauniformidadedetreinamento,disciplinaeartemarinheira.

Interesses comerciais estavam em jogo, pois Portugal era um importanteparceironocomércio.Aindamaisagora,desdeaintrodução,porBonaparte,doSistema Continental. Até o outono de 1807, seguindo-se à capitulação daDinamarca, o comércio da Grã-Bretanha com a Europa tinha sido, com aexceção de Portugal, virtualmente interrompido; alguma mercadoria queconseguia chegar ao seu destino, desembarcada em Gibraltar, era transferidaparanaviosneutros.4CasoPortugalsetornasse,comopareciaprovávelnofuturopróximo, parte do Sistema Continental, a Grã-Bretanha teria que procurar emoutrolugarumsubstitutoparaestaperda.Nadapoderiasermaisnatural,então,doquecompensartalperdapelocomérciocomsuacolônia,oBrasil.

Na ocasião, a oportunidade de forçar uma mudança num dos pilares dapolítica comercial portuguesa constituía, para a Grã-Bretanha, um momentoimportante.AajudasubstancialqueaGrã-Bretanhapodiaoferecer,pormeiodeseudomíniodosmares,proporcionariaàmonarquiaportuguesaumaartériavitalpara a sobrevivência e, em sua colônia ultramarina, até mesmo para aprosperidade. Em troca do salvo-conduto da família real para o Brasil e dadefesadanaçãorecém-formadacontraumataquepelomar,Portugalconcordouemabrir pelomenos umde seus portos, possivelmente o deSantaCatarina, àGrã-Bretanha.Estamudançadepolíticanãoeradifícilderacionalizar.5Defato,com a monarquia firmemente estabelecida no Brasil e Portugal ocupado pelaFrança, comquem iria oBrasil comerciar senão com aGrã-Bretanha e outrasnaçõesamigasouneutras?

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Por oferecer ajuda agora, nomomento de necessidade de Portugal, a Grã-Bretanhapoderianofuturoestabeleceremanterumabase,apartirdaqualumacabeça-de-ponte seria construída e onde, eventualmente, forças seriamestacionadas e treinadas para combater Bonaparte. A base, em territórioportuguês,seriaprimeironailhadaMadeiraedepoisnocontinente;emtodososlugares, os britânicos seriam saudados comamizade e cooperação, umvaliosorecursoparaqualquerforçadeocupação.Wellington6utilizarianoseuexércitoaliado peninsular um número considerável de unidades portuguesas, paracombateraoladodesuasprópriastropas.Umaveztreinados,sobocomandodeseumarechal,oviscondeBeresford,7omesmoconsideravaqueosportuguesesnão eram inferiores a nenhuma tropa.8 A partir de uma posição de barganhainferior, Portugal estava lutando por sua própria sobrevivência como nação.Pelos termos da Convenção foi estipulado que a Grã-Bretanha, com o vácuodeixado em Portugal pela ausência damonarquia, não reconheceria no futuroquaisquer outros príncipes como tendo direito àquela coroa. D. João temia aimposição de parentes de Bonaparte, como tinha ocorrido em outros lugares;nistoeleestavacerto,comooTratadodeFontainebleau,assinadologoapósessaConvenção,iriamostrar.

AConvenção,preliminarmenteacordadapord.DomingosAntôniodeSousaCoutinho,ministroplenipotenciário, emnomedopríncipe regente, epelohon.GeorgeCanning,9principalsecretáriodeEstadoparaosNegóciosEstrangeiros,emnomedorei,progrediucomdificuldade,atéqueumacordofinalfoiobtido.Em 22 de outubro, d. Domingos, ao assinar, declarou que não fora instruídoquantoaosdoisartigosadicionaiseque,portanto, estesestavamforados seuspoderes.10 O príncipe regente ratificou a convenção sujeita amodificações nopreâmbulo, no primeiro e no segundo artigos, e no primeiro dos artigosadicionais,11qued.Domingos tambémtinhaexcluído.Ohon.GeorgeCanningdiscordoudasmudançasesuspendeuaassinaturadaConvenção.12Aratificaçãofinalmenteocorreuem4de janeirode1808,após terficadoevidente,porsuasações,quePortugalpretendiaseguirostermosdaConvenção.

O tempo estava se esgotando, tanto para Portugal quanto para a Grã-Bretanha, já que ambos deviam tomar medidas para evitar que a esquadraportuguesa caísse emmãos francesas. A Convenção, a qual estabelecia que aGrã-Bretanhadeveria fornecernavios e forças, foio instrumentoque lançouohon.GeorgeCanningnoMinistériodoExterioreoslordesdoAlmirantadoemplenaatividade.

Organizar um esquadrão sem aviso prévio era uma tarefa monumental.Navios tinham de ser escolhidos e prontificados para o mar, talvez a fim de

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passarváriosmesessementraremqualquerportoeváriosanossemretornaràGrã-Bretanha.

O abastecimento eramuito organizado e constituía umproblemamenor doqueproverasguarniçõescompletasenecessárias–600homensoumais,numtípiconaviodelinhadebatalhade74canhões.Asdificuldadeseramtantasqueocorriamcasosemqueumnavioqueacabaraderegressaràsedetransferiapartedesuaguarniçãoparaoutro,queestivessedepartidaparaumaviagem,antesdedocarouatracar–afimdeevitarperderqualquerdoshomenstreinados.Muitasvezesosnaviosnãoatracavamnocaisdeumporto;dizia-sequeoAlmirantadonão encorajava os homens a aprender a nadar, para que não desertassem donavioquandoesteestivesseamarradoaumabóia.Mesmoosnaviosmercantesestavam em perigo, pois estes eram habitualmente parados em alto-mar e, deacordocomcertasregras,podiamperderpartedesuatripulaçãoparaumnaviodeguerra.

O comandante escolhido para liderar estamissão foi o contra-almirante sirWilliam Smith,13 recém-retornado de uma ação bem-sucedida contra umesquadrãoturco.

A Grã-Bretanha dispunha de várias bases navais, das quais as maisimportanteseramChathamePortsmouth.Entretanto,Plymouthfoiaescolhida,por ser o pontodepartida natural para umesquadrão cujodestino eraLisboa.ApesardeestarsituadaaumadistânciamaiordeWhitehall,ondeoConselhodoAlmirantadoestavasediado,asordenspodiamserenviadasnumcurtoespaçodetempopelotelégrafo,umamoldurademadeiracomportinholasmóveis.NocasodePlymouth, isso envolvia 28 estações ao longodeuma linha, inauguradanoano anterior. Fogueiras podiam ser acesas para que a linha, se necessário,operasse também à noite; a neblina e o nevoeiro, porém, tornavam o sistemapoucoconfiável.

Asordensdenaturezamaiscomplexaouquedeviamsermantidassecretas,comonestecaso,tinhamdeserentreguesemmão.Dessemodo,àstrêshorasdatarde, no sábado 7 de novembro, o estafeta George Lilburne partiu doAlmirantado em Whitehall com as ordens secretas para sir Sidney Smith;viajandosemescalasviaBath,alcançouPlymouthàscincohorasdamanhãdodia9.14

Segunda-feira,9denovembro

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AsordensdoConselhodoAlmirantadoparasirSidneySmitheramconcisaseclaras. Tomar sob seu comando as naus de S.M. London, Elizabeth,Marlborough, Monarch e Bedford, e a fragata de S.M. Solebay; partir semdemoraparaomarepermaneceraolargodafozdoTejoaténovasordens.Láchegando,estabelecercomunicaçõescomlordeStrangfordou,emsuaausência,comotenente-generalsirJohnMoore,comquemdeveriamanteramaisestreitacooperação.15

Os navios, fundeados em Cawsand Bay, Plymouth, estavam sendopreparadosparaomar.Omovimentonoportoeraintenso,comovai-e-vemdebarcaçaseachegadadeoutrosvasosdeguerra;asnausdeS.M.FoudroyantePlantagenet,quedeveriamseuniraoesquadrãomaistarde,entraramnoportonodia8;domesmomodo,afragatadeS.M.Solebayfundeounodia9.ALondonregistrouhaverrecebido2.727librasdecarnedeboifresca,partedeladestinadaao esquadrão que bloqueava Ferrol, com o qual se encontrariam durante aviagem.Nopreparoparazarpar,aarmaçãotinhadeserentesada;istoenvolviaendireitar os váriosmastros e antenas, verificar se todosos cabos estavamemposiçãoesetodasasvelas,inclusivesobressalenteselonas,estavamabordo.

Sir Sidney Smith escreveu que a nau London não estava aparelhada paraservircomonaviocapitânia.16Onaviodesegundaclasse,detrêscobertascom98 canhões, tinha sido lançado em Chatham em 1766, 41 anos antes, e já seaproximava do fim de sua vida útil.17 A nau de S.M.Hibernia,18 que seria onaviocapitânia,estavanasproximidades,emTorbay,e,em7denovembro,fez-seaomarparaunir-seaoesquadrãoemCawsandBay.19A julgarpela forçaedireção do vento, era improvável que chegasse antes de o esquadrão zarpar;prevendoisso,aMarlboroughembarcouprovisõesdestinadasaisso.

Osnaviosde linhaeramclassificadosdeacordocomonúmerodecanhõescomqueestavamarmados.Umnaviodeprimeiraclasseeraarmadocommaisde100canhões;desegundaclasse,com90e98canhões;deterceiraclasse,com64a80canhões;dequartaclasse,com50a60canhões;dequintaclasse,com32a 48 canhões; e de sexta classe, de 20 a 32 canhões. Nesta classificação, acaronada,comseutubocurtoesuamuniçãopesada,eficazacurtadistância,nãoeracontadacomocanhão.Opesodamuniçãoquetodososcanhõesdeumbordopodiam disparar era o fator determinante para decidir se a embarcação era deportesuficienteparaintegraralinhaeenfrentaroinimigo;naprática,osnaviosde terceira classe eram os de menor tamanho empregados numa linha.Considerando o número em que eram construídos, na Marinha britânica osnavios de terceira classe constituíam um tipo popular: em 1807, havia 145,comparadosaosoitodeprimeiraclasse,15desegundae20dequarta.20Entreos

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naviosdaterceiraclasse,onaviodelinhadebatalhade74canhõeseradelongeomaisnumeroso,comoresultadodemuitasdécadasdeexperiência.Em1796aRoyalNavytotalizava460navios,sendo128nausdelinha.Em1807aMarinhabritânicaeracompostade850vasose120milhomens,maisdametadedetodasasmarinhasdeguerraexistentes!

Numnaviodecombate,suasqualidadesnavaiseoporteea localizaçãodeseuscanhõeseramde fundamental importância.Requisitos conflitantes tinhamde ser administrados; se localizadosmuito baixo, próximos à linha d’água, assuasportinholasnãopodiamserabertascom tempoásperoounavegandocomventofortequeocasionasseumabandapermanente,eoalcanceeralimitado.Seposicionadosmuitoalto,tornavamnecessáriosconvesesreforçados,construídosem madeira muito mais cara, e provocavam uma elevação do centro degravidade – uma consideração importante para a segurança do navio, quandoestenavegassecomventosdetempestadeemarpesado.Paraconstruirumnaviosemelhante,eramnecessáriasduasmilárvoresdecarvalhoocupandoumaáreade25hectaresdefloresta.Oprojetodeumnaviode74canhõestinhaevoluídoparaodeumnaviocomaproximadamente175pésdecomprimento,50pésdebocae20pésdecalado,comtrêscobertas:oconvésdecobertaouporão(orlopdeck); o convés inferior ou segunda coberta (lower ougun deck); e a cobertasuperior (upper deck). Havia também o tombadilho (quarter deck), aberto aotempoameia-nauefechadonapopaenaproa.21Asegundacobertaeacobertasuperioreramasprincipaisplataformasdoscanhões,porémaspeçasmaisleveserammontadasnapopa,ecanhõesdecaçaoucachorros(bowchasers)podiamsermontadosnocastelodaproa,paraque fossemcapazesdedispararnaqueladireção.

O espaço a bordo de um navio de guerra era extremamente limitado. Umnavio de 74 canhões, por exemplo, tinha de carregar canhões, pólvora eprojéteis, uma guarnição de 600 marinheiros, além de 150 fuzileiros navais,provisõesparaváriosmeseseágua;nocasodoBedford,cercade224toneladas.Alémdisso,cincoembarcações,cadaumacom25ou30pésdecomprimento,meiadúziadeâncoras,velasparatodosostiposdetempo,cabos,macaseumaquantidadeindescritíveldeoutrosequipamentosessenciais.

O lastro, na forma de ferro fundido, preenchia o fundo do porão; depoisvinham os barris de água e as provisões secas em recipientes de diversostamanhos.Opãosecooubiscoito,comoerageralmenteconhecido,eramantidoem compartimentos separados, assim como a bebida alcoólica. A pólvoratambém era mantida no porão, tendo ao lado um pequeno compartimentoconhecido como “light room” (sala de luzes), para fornecer iluminação e, ao

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mesmotempo,evitaroriscodecontatoeexplosão.Abebidaeapólvoraerammantidassobguardapermanente.

Oconvésdecobertatinhacamarotesparaocirurgiãoeosoficiaisdemenorgraduação,depósitosdemateriaismaisleves,taiscomofardamento,eumaáreacentral onde o cabo principal era estivado. Era neste local que, durante umabatalha,haveriaespaçodisponívelparaimprovisarumhospitaltemporário.

Osconvesesdebateriaeramosalojamentosdaguarnição;ondeestaarmavasuasmacasedormia.Aáreadisponível,divididadeacordocomotamanhodaguarnição, só permitia uma largura de 14 polegadas para cada homem; naprática,nomar.Opé-direitonosconvesesdebateriaeradecincopés;noconvésde coberta era um pouco menor. Os oficiais tinham cubículos, feitos comdivisóriasremovíveis,nascobertassuperiores.Ocapitãoocupavaatoldaaré;acâmara era uma área relativamente grande, com janelas, convenientementedivididaparatrabalharduranteodia,comeredormir.

Às 10h30damanhãdomesmodia, tendo recebido suas ordens, sir SidneySmith e seu Estado-Maior embarcaram na nau de S.M. London, seu naviocapitâniatemporário.OcapitãoThomasWesterndisparouasalvaregulamentarde 13 tiros de canhão, em continência ao almirante Bertie Young,22 ocomandante-em-chefedabasedePlymouth;omesmonúmerodetirosrespondeuàsalvadeterra.Asalvareconheciaformalmentequeocomandodonavioestavasendo transferido de um almirante para outro. O pavilhão azul de contra-almirante foi içado no terceiro mastro ou mastro da gata. Os observadores abordodosnaviospróximosnãotinhamdúvidassobreoqueestavaacontecendo;suas únicas dúvidas eram a respeito de seu destino, o qual, por razões desegurança, só seria revelado a seus capitães quando estivessem a caminho nomar.AimprensanaInglaterraespeculavaqueoesquadrãoiriaparaosEstadosUnidos.23

A hierarquia superior do Almirantado era formada por oficiais-generais(officers of flag rank), que tinham direito de arvorar seu pavilhão comodistintivodecomandoquandoestivessemabordodeseunavio.Estenavio,doqual eram emitidas todas as ordens, era conhecido como nau capitânia (flagship).

A estrutura de postos naMarinha britânica tinha, no seu ápice, o posto dealmirante-da-frota (admiralof the fleet);abaixodeste,vinhamosdealmirante,vice-almirante e contra-almirante, divididos por antigüidade em vermelho,branco e azul. Um almirante tinha o direito a arvorar seu pavilhão nomastrogrande, um vice-almirante no mastro do traquete, e um contra-almirante nomastrodagata.

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Oesquadrãoestavaemperfeitoestadodeprontidão,masoventodesudoeste,commargrossoaolargo,24tornouasaídadoportoimpraticável,assiminformousir Sidney Smith25 ao secretário do Almirantado, o hon. William Wellesley-Pole.26OmesmoventoimpediuqueaHiberniasejuntasseaelesemCawsandBay.

Terça-feira,10denovembro

Ovento,aindasoprandodosudoeste,refrescouetransformou-senumatormentacomgrandesvagas.Osnaviospermaneciamfundeadoscomseuferromaior,oferrodeserviçooudeamura (umadasduasâncoras idênticasdaproa),ecombastanteamarra;aMarlboroughlargou900pés,afimdecompensaratensão;amaioria dos navios largou um segundo ferro, por medida de segurança. Osmastaréusdejoanetesedegáveasesuasvergasforamabatidos,afimdereduziraresistênciaàforteventania,easvergasremanescentesapontadasaovento.Sobtais condições, não havia nada que pudesse ser feito; atémesmo as ordens doAlmirantadonãopodiamserobedecidas.

Quarta-feira,11denovembro

O vento começou a amainar e a mudar de direção, passando a soprar donordeste; osmastros evergas foramnovamente erguidos emposição.Àsduashorasdatarde,sirSidneySmithretornouaseunaviocapitânia;estesuspendeu,recolhendoumdeseusferrosevirandoaocabrestanteaamarradosegundo,oferrodeserviço.AMarlboroughrecebeuumpráticoabordo,eosváriosnaviosdo esquadrão começaram a levantar ferro, prontos para partir. Foi a viageminicialdaMarlborough,poisestahaviasidolançadaaomarhaviaapenasalgunsmeses,em22dejunho.

Afainadesuspendernecessitavademuitaforçabruta.Opesomaiornãoerao do ferro – de três toneladas e meia –, ou a espia encharcada – com 25polegadasdecircunferênciae300metrosdecomprimento–,mas simpuxaranaudeatéduasmiltoneladasparaqueamesmaficasseemcimadoferro,poissó assim este se desprenderia do fundo domar.O cabrestante era usado pararecolheraespia,cujasranhurasnapartesuperiorpermitiamquefosseminseridasbarras, giradas por turmasde 90marinheiros e fuzileiros navais, o quegerava

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umagrandeforça.Àmedidaqueametiamparadentro,aespiaeraestivadaporoutraturma,noconvésdacoberta(oporãodonavio).Oferro,suspendidocomcuidado para não esbarrar no casco, era então firmemente amarrado, a fim deimpedi-lode semover,mesmonaspiores condiçõesdemar.Emumnaviodegrande porte, mais de 350 homens eram ocupados na importante tarefa desuspender.

Alémdessalabutadelevantaroferrodofundodomar,umnavionecessitavaaindaquealgumpanojátivessesidolargado,afimdepodermanterocontrole.Esta tarefaerasimultâneaàqueladesuspendero ferro,eexigiamaisumoutrocontingente de tripulantes para desempenhá-la. Essa é uma das razões pelasquaisumnavioeraobrigadoalevarumaguarniçãotãonumerosa.

Ao final da tarde do dia 11, o esquadrão estava a vela. Após montaremPenleePoint, oprático foidispensado.Enquanto anoite caía, oEddystone foiultrapassado, com seu farol brilhando a cinco ou seis milhas marítimas dedistância. O vento, embora borrascoso, voltou à força de tempestade; oesquadrão aproou ao sudoeste sob velas baixas, com gáveas rizadas,distanciando-sedaterra.

Antes dameia-noite, as avarias da tempestade, parte integrante da vida debordo e emgeral reparadas rapidamentepelos carpinteiros e outros tripulantesespecialistas,começouacobrarseupreço;aLondonperdeunomarseupaudecutelo.SirSidneySmith teria de pressionarmuito, apóso atrasodedois dias,parachegaraoTejo.

Quinta-feira,12denovembro

Aalvoradaencontrouoesquadrãoaindasedeslocandorapidamente.Seoventopermanecesse firme e não mudasse de direção, o esquadrão faria uma rápidatravessiadabaíadeBiscaia.

Se o tempo permitisse, todos os dias a latitude era verificada aomeio-dia,medindo-se o ângulo entre o Sol e o horizonte.A longitude, outra importantecoordenada, era mais difícil de determinar; tradicionalmente, era calculadamedindo-seaalturadaLuaedeumaestrela,eoânguloentreelas;oresultadoeraentãoverificadonoalmanaque.

Mesmoapósaintroduçãodeumrelógiodeprecisão,ocronômetro,ométodomais antigo continuava em uso.27 O cronômetro, que podiamanter a precisãomesmo sob as condições mais adversas, foi aceito pela Marinha em 1774,

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quando seu inventor, John Harrison (1693-1776), recebeu a maior parte doprêmiode20millibrasdoConselhodeLongitude.Seomautempoimpedissearealização desses procedimentos, a única alternativa era colher as informaçõesobtidasduranteodiapelabarquinhaeosrumosnavegados,e,apósdescontarosefeitosdeventoedacorrente,plotarnacartaaposiçãoestimada.

Avidaabordodosnaviosdoesquadrãocomeçaraaseestabilizar.AbordodanaudeS.M.Elizabeth,apósumcurtoserviçoreligioso,ocorpodeumcertoBenjaminGallop, quemorrera no dia anterior, foi lançado às profundezas.Oscalafatesestavamematividade,calafetandoacobertainferior.Umbarrildeáguaecincodecervejaforamabertos,assimcomoumdemanteigaedoisdequeijo.

Acomidatípicaabordoconsistiadepão,carnedeboiedeporcosalgadas,ervilhassecas,farinhadeaveia,açúcar,manteigaequeijo.Boisdecorte,porcoegalinhaseram,àsvezes,mantidosvivosnoconvés, e consumidosao longodaviagem. No porto, carne de boi, frutas, verduras e legumes frescos seriamtrazidos a bordo diariamente. Suco de lima era servido regularmente, paraprevenir o escorbuto.Alémde água, cada tripulante tinha direito a uma raçãodiáriadebebidaalcoólica;acerveja,quandodisponível,eraservidaàrazãodeumgalãoporhomem,ouentãoumquartilhodevinhooumeioquartilhoderum,diluídoemduaspartesdeáguaparaumadabebida.

No início da noite uma vela estranha foi avistada na direção boreste. Asordens permanentes exigiam que todos os navios fossem interceptados eidentificados.ALondonalterouseurumoparainterceptaroestranhoe,às8h30da noite, disparou um canhão carregado com bala. O navio desconhecidoimediatamenterespondeu,içandoseuindicativoeidentificando-secomoonaviodeS.M.Niobee.

Os pavilhões arvorados por navios não significavam, necessariamente, queestes fossem daquela nacionalidade; todo navio levava um suprimento debandeiras inimigas e neutras. Havia mesmo um sinal, o de n.130, que dizia:“Hastear pavilhão estrangeiro e exibir jeque no momento certo.” O sinalindicativo, seguido pelo respectivo número, identificava os navios daMarinhabritânica. Se uma confrontação estava para acontecer, a honra exigia que overdadeiropavilhãofosseexibido,aindaqueapenasnoúltimomomento,antesdedar aordemdeabrir fogo.Enquantoopavilhãoestivesse içado,ocombatecontinuaria;casoficasseclaroqueaderrotaerainevitável,ahonrapermitiaqueomesmo fosse arriado, em sinal de rendição, a fim de evitar uma carnificinadesnecessária.Comoprecauçãocontraaperda,duranteabatalha,davergaemqueopavilhãoestivesseiçado,pavilhõespodiamseriçadosemdiversasvergasedesfraldadosemcasodenecessidade.NaMarinhabritânica,seumnaviofosse

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perdido, por qualquer razão, seu capitão seria automaticamente submetido aoConselhodeGuerra.

Sexta-feira,13denovembro

Osfortesventoseaborrascacontinuaramsemamainar.Navegandopróximos,com os sobrejoanetes e, sempre que as condições de tempo permitissem, comcutelosemambososbordos, seuscascoscorriamcontraosmares turbulentos.Apenas aMonarch navegava escoteiro, pois ao amanhecer recebera um sinalpara tomar uma estação destacada a sudoeste, a fim de estender o alcance devisão do esquadrão; nesta direção, sir Sidney esperava avistar o esquadrão deFerrol ou mesmo a costa. As barquinhas indicavam que o esquadrão estavanavegandoaumavelocidademédiadeseteaoitonós.

A velocidade era medida pela barquinha, que consistia de um pedaço demadeira conhecido como batel da barquinha, amarrado a uma linha na qualtinhamsidodadosnós a intervalos regulares.Quandoobatel era lançadopelaborda,apóspassarpelaturbulênciacausadapelaesteiradonavio,eradeixadoàderiva de sete a 14 segundos, medidos por uma pequena ampulheta. Ocomprimento de linha que saía com a barquinha permitia que se calculasse avelocidadedonavio.

Nessemeiotempo,afragatadeS.M.Solebay,quetinhapartidodeCawsandBaycomoesquadrão,navegavaseparada,comumatrasodeaproximadamente24horas.Apesardisso,elaseencontravaplenamenteocupada.Às2h30datardelargoupanoedeucaçaaumbrigue,masjáeramcincohorasdatardequandoseaproximou o suficiente para disparar um canhão de seis libras carregado combala,afimdefazê-loparar.Osdocumentosdobriguedemonstraramqueeraummercante proveniente de Amsterdã, com destino ao Porto. Às 9h45 da noite,outro navio foi avistado, desta vez claramente uma belonave. A guarniçãoirrompeu ematividade, comaordemde tocar postos de combate e aprontar onavio para a ação: mais duas horas se passaram até que a Niobee estivessepróximao suficienteparaque seu sinal indicado fosse reconhecido.Osnaviostrocaram notícias e navegaram juntos até às três horas da manhã, quando aNiobeeseseparou,emperseguiçãoaumavelanamarcaçãonorte.

O toque de tambores, geralmente ao som da melodia “Heart of Oak”,chamava as guarnições dos canhões a seus postos.A fim de aprontar o naviopara a batalha, os conveses de bateria tinham que ser desembaraçados de

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quaisquerobstruções;estas incluíamasdivisóriasqueformavamoscamarotes,asmesasecadeiras,ospertencespessoais,asmacasetc.Nãoraro,seabatalhafosseiminenteeotempocurto,eraprecisodesembaraçarosconveseslançandotudopelaborda,emvezdeestivarcobertasabaixo,comoeramaiscomum.Oscanhõesseriamdesamarradoseaprontados,apólvoraeosprojéteistrazidosparacima e fogos acendidos ao lado de cada canhão. As guarnições das peças,adestradas pela prática regular, guarneciam seus postos e se preparavam paraapontaredisparar.Asupremacianumabatalhamuitasvezeseradecididatantopelarapidezcomqueasbordadaseramdisparadascomopelaprecisãodotiro.

Osoficiaiseguarniçõesdoesquadrãoaindanãoconheciamoficialmenteseudestino. Mas agora, longe de seu porto de partida, o risco de vazamento dainformação desaparecera; à tarde, o navio capitânia sinalizou com o n.151:“Abrircartadepregon.1.”

Sábado,14denovembro

Àluzdaaurora,osinaln.161foiiçadonotopodomastrodonaviocapitânia:“Oalmirantedescobriuterra”;ovigiatinhaavistadoocaboBelém,umdosmuitoscabosdacostanoroestedaEspanha;atravessiadabaíadeBiscaia,famosapeloseumautempo,estavaterminada.

Àsdezhorasdamanhã,apósa trocadesinaisprivativospara identificaçãomútua, parte do esquadrão que bloqueava o porto de Ferrol juntou-se àformação.

Bloquearumporto inimigoerauma tarefamuitasvezesconsideradadifícil,porcausadascondiçõesdotempoedotédio,umavezqueastentativasdeatrairo inimigo para fora do porto eram, quase sempre, frustradas. A cada três ouquatromeses,umnaviodebloqueiotinhadeserrendido,paraqueestepudesserecompletarasuaaguadaeassuasprovisões.OesquadrãodeFerrol,compostopelas naus de S.M. Achilles, Audacious e Theseus e pelas fragatas de S.M.Amazon,IrisePenelope,nãoeraexceção.

Oencontrodosdoisesquadrõesnãodemoroumuito.AnaudeS.M.Londonrecebeu a bordoo capitão sirRichardKing,28 daAchilles, para um resumodasituação.Então,apóstransferir527librasdecarne,verduraselegumesfrescos,trazidosdePlymouth,oesquadrãocontinuouoseucaminho.

AfamaeashonrariaschegaramparaocapitãoKingemTrafalgar,quando,integrandoaColunaBritânicadesotaventoenocomandodestamesmaAchilles,

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eleentraranabatalhadandocaçaaonavioespanholMontañes,de74canhões,sobocomandodocapitãoFranciscoAlcedo,oqualsaiudealcance,recusando-seaaceitarcombate.Então,fazendo-sedevelaemsocorroànaude74canhõesBelleisle, comandada pelo capitão William Hargood, que, sob ataque de trêsnavios inimigos já tinha perdido sua mastreação, interceptou outra nau de 74canhões,aArgonauta.Apósumatrocadebordadasquedurouumahora,onavioespanhol – depois de tentar, sem sucesso, içar sua vela grande e escapar –pareceu estar desistindo da luta, pois recolheu seus canhões situados emnívelmaisbaixoefechousuasportinholas.QuandoocapitãoKingsepreparavaparaaabordagem, a nau francesa Achille passou por perto, forçando-o a trocarbordadase,aomesmotempo,outranaufrancesade74canhões,aBerwick,docapitãoJeanCamas,atravessouentreaAchilleseasuapresa.AfrancesaAchillemoveu-se rumo à Belleisle, já excedida em número, deixando a Achilles e aBerwick em combate singular.Após outra hora de bordadas, aBerwick arriouseu pavilhão e foi capturada pelaAchilles. O capitão King relatou apenas 74baixas, um númeromilagrosamente pequeno, pois seu navio tinha perdido ostrêsmastroseogurupés,eoseucascoestavaseriamenteperfurado.AfrancesaBerwick,quejáforaumnaviodeterceiraclassedaMarinhainglesa,estavaempior estado, tendo sofrido 250 baixas, inclusive seu capitão. A espanholaArgonauta,muitoavariada,perdeu300homens,etambémseucapitão,AntônioPareja.AfrancesaAchille,maistardenabatalha,explodiuefoiapique;apesarde todos os esforços para resgatar os sobreviventes, perdeu mais de 500homens.29

Após quatro dias de tempestade incessante, era inevitável que a umidadeinvadisse cada canto. Os oficiais dos diferentes navios tentavam lidar com oproblemadeváriosmodos;naElizabeth foramacesos fogõesBrodies entre ascobertas, ao passo que na London foi ordenado que a roupa de cama fossearejadaequemacaslimpasfossemarmadas.

Outroaspecto importantedavidadebordoeraadisciplina.Umadisciplinasevera, porém justa, era de importância fundamental a bordo de um navio deguerra.AslinhasmestraseramdefinidaspelosArtigosdeGuerra,regularmentelidos para a guarnição, geralmente quando esta se reunia em forma para oserviçoreligioso,aosdomingos.ApenaparaaviolaçãodemuitosdosArtigosdeGuerraeraamorte.Apuniçãomaiscomumparaas transgressõesmenores,comobebedeira,briga,furtoedormiremserviço,eraoaçoite,executadocomocalabrote(cat-o’-ninetails):novepedaçosdecorda,cadaumcomtrêsnóscegosatados em intervalos. Os culpados por transgressões mais graves eramconduzidos por uma embarcação de navio a navio, e açoitados diante da

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guarniçãodecadanavio.Osoficiaisnãoestavamimunesapunições:oalmiranteJohn Byng, submetido a conselho de guerra por não ter impedido que osfranceses tomassemMinorcaem1756, foi fuziladono tombadilhodonaviodeS.MMonarch,homônimoanteriordestenavio.

Domingo,15denovembro

Aborrasca finalmente amainou e a brisa fresca permitiu largarmais pano; osrizesforamretiradosdasvelas.Comoresultado,asbarquinhasdaElizabeth,daMarlboroughedaMonarchpuderamregistrarvelocidadedenoveadeznós.Atais velocidades, algum dano era inevitável: a London perdeu a bandeira dechamada do topo de seu mastro, aMarlborough partiu a verga de gávea e aMonarchrasgouumabujarrona.ASolebay,aindacomatraso,entãodemandadoao cabo Finisterra, estava pior. De manhã cedo, perdeu seu mastaréu dasobregata,mas como seus carpinteiros se lançaram logo ao trabalho, antes dameia-noitetinhamfeitooutro,eooriginalfoilogosubstituído.

Umnaviodetrêsmastros,seascondiçõesdotempopermitissem,carregavavelas no mastro do traquete, no mastro grande e no da gata. As velasquadrangulares, carregadas em vergas, eram denominadas pelo mastro e pelaposiçãodavelanomastro:amaisbaixaeraavelabaixaoupapa-figo(traqueteevela grande); em seguida, a vela de gávea (velacho, gávea e gata); a vela dejoanete (joanete de proa, joanete grande e sobregata); o sobrejoanete(sobrejoanete de proa, sobrejoanete grande e sobregatinha); e a vela alta ousobrinho.Uma pequena vela era algumas vezes carregada acima do sobrinho,semverga,fixadaaoprópriomastro.Omastrodagatanãocarregavavelabaixa;em seu lugar, uma retranca carregava umamezena, carangueja ou vela ré.Oscutelos eram carregados em paus que podiam ser estendidos das vergas dosmastrosdotraqueteegrande,ficandosuspensossobreomar.Asvelasdeestaieram triangulares ou quadrangulares, suspensas entre mastros e também poranteavante do mastro do traquete, fixadas ao gurupés; as mesmas eramdenominadasdeacordocomomastroeavergaemquesuaextremidadesuperiorestavaamarrada.Opaudogurupéscarregavaagibaeasbujarronasdedentroedefora,todastriangulares.Ascevadeiraseramcarregadasporvergas,suspensassobogurupés.

Enquanto o esquadrão, emduas colunas emantendo ordem-unida como ossinaisden.72e56exigiam,varriaemdescidaàcostaportuguesa,váriosmarcos

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deterraforamavistados,começandopelaselevaçõesdoterrenoacimadoPorto,logo depois do amanhecer. Ao chegar aos rochedos de Berlenga, próximo àcidadefortificadadePeniche,nofimdatarde,oesquadrãoparoueoscapitãesforam a bordo daLondon para uma reunião com seu comandante.O próximopontodereuniãofoicomunicado.

A necessidade de um ponto de reunião era uma medida de precaução, demodo que, se qualquer navio, por causa do tempo ou qualquer outra razão,perdesse de vista o resto do esquadrão, omesmo teria uma posição à qual sedirigir. Ocasionalmente, um navio poderia ser destacado para desempenhartarefasespeciais,apósoquê,deveriasereuniraoesquadrão.Comooesquadrãoprovavelmente teria se movido adiante, o navio necessitava de um ou maispontosdereunião,afimdesaberondeencontrá-lo.

Segunda-feira,16denovembro

Finalmente o estuário do Tejo fora alcançado. Sir Sidney Smith, em seudespachoaosecretáriodoconselhodoAlmirantado,30explicaasdificuldadesemexecutar a parte seguinte das ordens: fazer contato em terra com lordeStrangford,ministrointerinojuntoàcortedePortugal.

Enquanto a brisa fresca, algumas vezes atingindo força de tempestade,estivessesoprandodadireçãogeraloeste,eraimpossíveldemandaraquelaparteda costa de Portugal, inclusive a foz doTejo, comnavios de linha de batalhacuja manobrabilidade, em tais circunstâncias, era limitada. O esquadrão nãotraziaconsigonenhumnaviomenor,nemvinhamtãolongeosbarcosdepescaqueeventualmentepoderiamseralugados.

Umnaviodevelasquadradasestavalimitadoemsuacapacidadedenavegarna direção geral do vento.Os cabos que sustentavam osmastros limitavam omovimento das vergas. Nesta posição mais favorável, depois de descontar omovimento transversal do casco deslizando através da água, o navio podianavegar,namelhorhipótese,acercade57ºemrelaçãoaovento.Afimdeparar,ouatravessaronavio,eraprecisodisporasvelasemequilíbrioexato,demodoque algumas empurrassem o navio para a frente, enquanto outras o fizessemrecuar.Omesmotomarianovorumo,navegandonadireçãodovento,virandodebordoparaafrente;seestivessecompoucoandamento,virariaemroda,dandoapopaecorrendocomotempo.

Sir Sidney prossegue, comparando, desfavoravelmente, a presente situação

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com aquela do bloqueio deCádiz, onde os navios tinhamo recurso de passaratravésdoestreitodeGibraltar,casosoprasseumarajadadeventodooeste;oude Brest, diante do canal; e em Ferrol, onde a baía é aberta, se ventos dosudoestetêmdeserenfrentados,eosnaviospodemcairparasotaventoaolongoda costa rumo ao sul, com vento do noroeste. Em períodos normais, quandosopra uma ventania do oeste, os navios podem navegar diretamente rumo aoTejo, a fim de buscar refúgio em suasmargens altas; naquelas circunstâncias,istonãoerapossível.

OTejo,quecorreatravésdePortugal,nascenaserradeAlbaracin,alémealestedeMadri.AoseaproximardeLisboa,corredenordesteparasudoeste,mas,depoisdofortedeBelém,alarga-seefazumavoltabruscacorrendodelesteparaoeste rumo ao Atlântico. Sua embocadura, embora larga, é enganosa naaparência,poissuamaiorparteémuitorasa;ocanaldeáguaprofundacom,nomáximo,doismilmetrosdelarguratornaimpossívelaumnavioentrarsemseratingido pelos canhões das fortificações guardando a barra: o forte da ilha deBugioe,nocontinente,odeSãoJulião.Apóscruzarabarra,oacessoaLisboaébem protegido pelos fortes de Arieiro, Maias, Gibirita, São Bruno e depoisBelém,aolongodamargemdorio.SantoAntôniodaBarra,SantaMaria31eSãoBraz32completamasfortificaçõesdacosta.

Ao amanhecer, aMarlborough tinha partido em perseguição a uma velaestranhaeagora,àsduashorasda tarde,apósa trocadesinais,anaudeS.M.Hibernia identificava-se. Tinha chegado aCawsandBay tarde demais para sejuntar ao esquadrãode sirSidney,mas, semperdade tempo, tinha-se feito aomareagoraestavadandoomelhordesiparaunir-seaoesquadrão;demorariaaindadoisdias.

Terça-feira,17denovembro

Oproblemadeencontrarumnaviopequeno,capazdenavegarpróximoàcostaelevar umamensagem a lorde Strangford, foi resolvido namanhã seguinte.Aoamanhecer, o navio capitânia sinalizou aoBedford para que investigasse umavelanaquartadesudoeste.Àsoitohorasdamanhã,omesmodisparouumtiropara obrigá-lo a parar; este mostrou ser o navio corsário Active, um briguearmado que possuía uma carta de corso de Londres. Naquelamesma tarde, oActivepartiuparaLisboa.33

Os navios corsários eram navios de propriedade de comerciantes, que os

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armavamepagavampelasuamanutenção.Assimquetivessemobtidoumacartadecorso,doslordesdoAlmirantado,estavamlivresparaatacarecapturarnaviosinimigos. Em caso de sucesso, a presa seria vendida e o produto da vendadistribuídoentreosarmadoreseatripulação.

Oesquadrãoperseverouemmantersuaposição,emestaçãoaumasseteouoitoléguasaolargodocaboRaso.Oventodosudoestecontinuava,porémmaismoderado, agora acompanhado de pesados aguaceiros. Todos os naviosmercantesavistadoseramperseguidoseparados;aMonarchfezpararumbriguenorte-americanoprocedentedeDublin,comdestinoaLisboa,eaMarlboroughumaescunaportuguesadeLisboa,comdestinoaFigueiras.

Quarta-feira,18denovembro

De manhã cedo, o Active partiu em sua jornada de regresso ao esquadrão,transportando os membros da legação britânica. Às 5h30 da tarde, lordeStrangfordfoirecepcionadoporsirSidneySmith,abordodaLondon.34

AsnotíciasdelordeStrangforderam,nomínimo,extremamenteinquietantes.Em20deoutubro,apósareuniãodoConselhodeEstado, tinhasidotomadaadecisão de embargar os navios de guerra e mercantes britânicos e, em 5 denovembro, tinha sido dada a ordem de deter os súditos britânicos e confiscarsuaspropriedades.Comoresultado,trêsnaviosmercanteseumcertonúmerodesúditospermaneciamdetidos.Ocônsul-geraldeS.M.,Gambier,ficaraparatrása fim de pressionar por sua libertação. Além disso, o Active tinha sidoposicionado na barra do Tejo, com o propósito de alertar quaisquer naviosbritânicosqueseaproximassemdeLisboa.35TantoaFrançaquantoaEspanhahaviamdeclaradoguerraaPortugal,porvoltadodia24deoutubro,ealegaçãoportuguesa tinha deixado Paris no dia 25; além disso, uma tropa francesa,compostadetrêsdivisõescomnovemilhomenscadauma,sobocomandodosgenerais Junot, Laborde e Kellerman, estava em Salamanca, a menos de 150milhas da fronteira portuguesa, desde o dia 11 daquele mês. Como se veráadiante, as informações de lorde Strangford, com alguma diferença nas datas,estavamcorretas.

Outra informação inquietante, para a qual eram necessárias instruçõesprecisas,eraapresençanoTejodeumesquadrãorusso,chegadoentreosdias8e 12, com toda a intenção de invernar naquele porto; era composto de novenaviosde linhadebatalhaeduasfragatas.Trêsnaviosadicionais,umturcode

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80canhões (suapresa),umafragataeumachalupaeramesperadosaqualquermomento,vindospeloestreitodeGibraltar.ComoaRússia sealiaraàFrança,apósoTratadodeTilsit,assinadoemjulhode1807,36sirSidneytemiaqueestesnaviospudessemseuniraosdePortugalcontraaGrã-Bretanha.37

Lorde Strangford e sir Sidney Smith decidiram, então, que, em vista dasevidências inequívocasdehostilidades,umbloqueiodeviaserdeclarado,aindaque imperfeito, como escreveu mais tarde lorde Strangford ao hon. GeorgeCanning.38

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CAPÍTULOQUATRO

O efetivo aumenta, quando a verdadeira extensão dos problemasenfrentados é revelada. Considerações sobre a tomada do porto. SirSidney Smith e lorde Strangford estão ambos preocupados com anecessidadedepersuadirS.A.R.apartirparaoBrasil,ouentregarsuaesquadra em consignação à Grã-Bretanha. Em 29 de novembro de1807, S.A.R. finalmente parte de Lisboa, com as frotas militares emercantesportuguesas.

Quinta-feira,19denovembro

EmLondres,haviasidotomadaadecisãodereforçaroesquadrão.OsnaviosdeS.M. Plantagenet eConqueror,1 e a chalupa de S.M.Confiance, que tinham

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deixadoPlymouthnodia15,jáestavamdemandandoocaboFinisterra;onaviodeS.M.Foudroyanteraoutronaviodelinhadebatalhaquetinhalevantadoferroe zarpado da Inglaterra naquela manhã. Um navio menor, a chalupa de S.M.Redwing, atendendo a uma requisição feita por lorde Strangford ao contra-almirante Purvis – o comandante do esquadrão que bloqueavaCádiz – de umtransporteafimdelevá-loparaaInglaterracomocônsul-geralGambier,2estavamontandoocabodeSãoVicenteaosul.AfragatadeS.M.Solebay,quehaviapartidocomoesquadrãodesirSidney,estavaagoranasproximidades.

Sir Sidney estava feliz por ver a Hibernia se aproximando, pois, comoescreveumais tardeaoAlmirantado,3 ele temiaqueosesquadrões inimigosdeRochefort,FerrolouCádizconseguissempassaratravésdosbloqueiose,antesque reforços pudessem chegar, fizessem sua aparição.Não seria surpresa paraele se o esquadrão abrigado em Cádiz saísse, caso os navios de bloqueio semovessem de sua estação para se opor aos russos, nomomento em que estesatravessassemoestreitodeGibraltar.

O tempo continuava tempestuoso, com rabanadas de vento, o que tendia aprovocaraindamaisavariasdoqueumventofirmesoprandomaisforte.Logoapós ameia-noite, aElizabeth foi apanhadaporuma rajada repentina, que lhearrebatouomastaréudegávea,omastaréudasobregata,avergadojoanetedeproa e o pau de cutelo; mais tarde, informou que durante a remoção dosdestroçosverificou-sequeosobrejoaneteeoscutelosdojoanetegrandehaviamsidoperdidos,assimcomoboapartedoaparelhorestante.Osoutrosnaviosnãopermaneceram ilesos: aFoudroyant rasgou a sua vela de estai do velacho e aBedfordrachouseumastaréudovelacho.Oesquadrãoestavacomeçandoasentira necessidade demastros e antenas sobressalentes; portanto, antes do final domês,sirSidneyescreveuaoalmirantesolicitandosobressalentes.4

Omautemponãoimpediuumaumentodeatividade,agoraqueobloqueiojáfora decidido.Bemcedonesse dia, aHibernia finalmente alcançou aLondon;seuprimeiro escaler foi arriado eo capitão JohnConn foi a bordo.À tarde, aMarlboroughabordououtronaviocorsário:eraaescunaTrafalgardeGibraltar,procedentedeLisboa,comdespachosparaoprimeironaviodeguerrabritânicoque pudesse encontrar. A Solebay, ainda a cerca de 20 léguas de distância,abordoumaisumnaviocorsário,destavezumcúter.

Sexta-feira,20denovembro

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Demanhãcedo,aHiberniaeaLondonarriaramsuasembarcações;osaprestospertencentesasirSidneyealordeStrangfordforamtransferidos.Àumahoradatarde,sirSidneydeixouaLondonehasteouseupavilhãonaHibernia;umahoradepois,foiseguidoporlordeStrangford.Ambostinhamdireitoaumasalvade13tiros,donavioqueestavamdeixandoedoqueosestavarecebendo.

Ao anoitecer, os navios de S.M.Plantagenet eConqueror e a chalupa deS.M.Confiance tinhamvaradooestuáriodoDouroeestavamseaproximandodosrochedosdeBerlenga,àespreita,àprocuradoesquadrãodesirSidney.

ALondon,queestiveraemcapamortadesdeoiníciodatarde,largouaveladotraqueteemperseguiçãoaumbrigue.Às11horasdanoitealcançou-o,eestecomprovouserdebandeiranorte-americana,comdestinoaLisboa.

Sábado,21denovembro

Outro dia atarefado para o esquadrão. Os ventos muito duros do dia anteriortinham amainado, mas uma brisa fresca, com rabanadas de vento ocasionais,continuava a soprar; o tempo estava nublado e chuvoso. Ao romper do dia,váriasvelas estranhas,queduranteanoite tinhamsurgidoacimadohorizonte,estavam agora à vista. O esquadrão partiu para investigar e identificar. AFoudroyantaproximou-sededoisvasosdeguerra,queseidentificaramcomoosnavios de S.M.Revolution eRose.No início da tarde, aBedford abordou umbriguenorte-americanodeCopenhague,comdestinoaRhodeIsland.ALondon,apósumaperseguição, fezparar,comumdisparodecanhão,umbriguenorte-americanosoblastro,comdestinoaLisboa.

ASolebay,recém-chegadadoSul,abordouumnavioapósumaperseguição,deixando um oficial e marinheiros a bordo; seguiu, então, em perseguição aoutronavio,oqualserevelouseroMonarch.Seucapitãoveioabordoafimdereceberasordensdoesquadrão.Apósrecuperarooficialeoshomensdonavioabordadoanteriormentenaqueledia, aSolebay conseguiu se comunicar comoHibernia e, às cinco horas da tarde, o capitão Sproule subiu a bordo para seapresentaraseucomandante,sirSidneySmith.

Comotantosnaviosbritânicosestivessemnessemomentoao largodoTejo,não haviamais qualquer necessidade de que oActive permanecesse na barra;comoobrigueagoranãopoderiaregressaraLisboa,juntou-secomaTrafalgareambossereuniramaoesquadrão.

A chalupa Confiance, ex-corsário francês La Confidence, de Bordéus,

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apresadoem1805,quenavegavapelaproadaPlantagenetedaConqueror,demanhã cedo, bordejando ocasionalmente, pois o vento estava soprando donordeste,abriucaminhorumoaoTejo.Pelaproa, fundeadosnorio, relatou teravistadovários navios de linha de batalha arvorandoo pavilhão russo.Àumahora da tarde, com todo o pano, tentou cruzar a barra,mas foi alvejada pelasbateriasportuguesaseimediatamenteparou.Semserdissuadida,moveu-separaforadealcanceefoidarcaçaadoisnaviosquetinhamacabadodesairdoTejo.Um deles mostrou ser veneziano, e o outro um brigue português, que levavaGambier,ocônsul-geraldeS.M.,eváriasfamíliasinglesasabordo.

Apósapelarinsistentemente,porintermédiodeJohnBell,pelalibertaçãodetodososprisioneiros,semobtersucesso,Gambierdecidirapartir.Desdeodia9,oprínciperegentehaviaconfirmadoanomeação,porlordeStrangford,deJohnBell, para desempenhar as funções de: “agente para prisioneiros de guerrabritânicos”.5

EmLondres, a notícia do embargo dos navios britânicos havia chegado aohon. George Canning no Ministério do Exterior. Em 11 de novembro, eleescreveuaoslordescomissáriosdoAlmirantadocomasordensquedeviamserdadasasirSidneySmith:6

Ao chegar ao Tejo, inquirir junto a lorde Strangford ou, se este já tiverdeixadoLisboa,diretamente seogovernoportuguês ratificouaConvençãoassinadaem22deoutubro.Setalocorreu,declarar-seprontoacooperar.Senãoou se tiver sido ratificada,masos preparativos para pôr emprática ostermos da convenção não estiverem evidentes, então medidas devem sertomadasparaassegurarqueasMarinhasdeguerraemercantenãocaiamemmãos francesas ou espanholas, no caso de hostilidades, seja comboiandooprínciperegenteparaoBrasil,sejaseunindoaoesquadrãobritânicoafimdeseremtomadossobcustódiapelaGrã-Bretanha.Setalforocasoe,amenosque em seu julgamentohaja razões para não levar as coisas a tal extremo,estabelecer omais rigorosobloqueio, tornando claro aogovernoportuguêsqueestenãotinhaautoridadeparalevantá-lo,soboutrascondiçõesquenãoarendiçãodosnaviosdeguerraportuguesesedosnaviosdoBrasilfundeadosno Tejo. Diante da recusa destas exigências, apresar, capturar ou destruirqualquernavioportuguêsquecruzeseucaminho.Casolhepareçapraticável,comas forçassobseucomando, forçar seucaminhoTejoacimaecapturartodos os navios portugueses ou destruir os que considerar impossíveis deremover.Senãofosseaconselhávelempreenderaoperaçãocomforçassobseucomando,eledeveria,apóscoletarinformes,darciênciaaoAlmirantado

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da qualidade de força que seria necessária para empreender tal operação,com perspectiva de sucesso. Enquanto isso, manter o bloqueio até novasordens.

Domingo,22denovembro

OsecretáriodoAlmirantado,hon.WilliamPole,emitiuaordemnodiaseguintee enviou-a pelo estafeta Sylvester, pois estava classificada como secretíssima(most secret), para Plymouth.7 Uma cópia, em poder do capitão Bradley daPlantagenet, foi a primeira a chegar. Na manhã do dia 22, às seis horas damanhã,estenavioavistouoesquadrãoe,umahoradepois,reuniu-secomele.OestafetaestavaabordodacorvetaConfiancecomooriginal;apósexibiroseunúmero indicativo, a corveta reuniu-se ao esquadrão às 11 horas da mesmamanhã.

Eramuitocomumoenviodeváriascópiasdeumdespachoimportante,poisa prática demonstrara que o original poderia demorar a chegar por causa dascondições de tempo adversas que afetassem um navio em particular, ou atémesmo seperder, seonavio fosse capturadopelo inimigo.Nesteúltimocaso,documentos importantes, tais como despachos secretos e livros de códigos,seriamlançadospelabordaemsacoslastreadoscompesos.

As instruções de Londres para um bloqueio muito mais rigoroso do queaquelequevinhasendoimpostoatéagoraforampostasemexecução,tantoparaoTejocomoparaoportovizinhodeSetúbal.8

Entreosoficiaise tripulantesdoesquadrãoembloqueio,essadecisãodeveter sido recebida com satisfação; agora que o fato era oficial, não haveriadiscussão sobre se os navios portugueses capturados deveriam ou não serclassificadoscomopresas.

Nesta época, o pagamento recebido pelosmarinheiros era de 15 libras porano,menososdescontos–uma remuneraçãomuitobaixa,mesmoparaaquelaépoca; os pagamentos quase sempre chegavam com vários meses de atraso.Portanto,apossibilidadedeparticipardadivisãodeumapresaeraatraente.Em1762,paracitarumexemploextremo,marinheirosqueparticiparamdacapturadonavioespanholHermionereceberamoequivalentea36anosdeserviço,emdinheiro! Após a perseguição, o navio seria abordado e apresado; seria entãopostaabordoumaguarniçãodepresa,constituídadeumoficialedeumcertonúmerodemarinheiros.Apresanavegariacomoesquadrãoatéquepudesseser

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enviadasobescolta,afimdedesencorajararetomadadonavio,aumportodametrópole. O tribunal de presas confirmaria então a captura como presa deguerraedeterminariaquemtinhadireitoaparticipação;istoseguiaumconjuntode regras bem estabelecidas. As etapas finais eram a venda e a repartição daquantiaarrecadada.Seapresa fosseumnaviodeguerra,aprobabilidadeseriaque este fosse adquirido pelo Almirantado e, após sofrer reparos e serconvenientementerebatizado,incorporadoàMarinha.

Escrevendo ao secretário do Almirantado, sir Sidney Smith descreve adificuldadedeumbloqueiocerradodestacosta:

Sopratãofortedooeste,nomomento,quesouobrigadoafazerforçadevelapara manter os navios ao largo de terra. Tão logo o tempo fique maismoderado, o bloqueio que instituí, em conseqüência da carta de lordeStrangforddestadata,setornarámaiscerrado,porcausadofatodeosnaviosseremcapazesdemanter-semaispróximosdacosta.Masparatalfim,estounamaisabsolutafaltademaisfragatas,aclasseaqualpodeaventurar-seepermanecer próximo à barra sem ser cometida, como o seriam navios delinha de batalha, pelamaré de enchente, quando o vento sopra forte a seufavor.Nomomento,oventoestádiretosobreacostaesoprandoforte,omartãopesadoque,sechegasseapontodeobrigar-nosnavegarcommaispano,ou se algo material falhasse em qualquer navio, o abatimento serianaturalmente muito maior que duas quartas da agulha; nesse caso, nãoprecisodizerque,numacostatãoretacomoesta,nãohaveriacomosafar-sedeterraemambososbordos,etenhorazãoemestarcontenteportertomadoadecisãoantecipadadefazer-meaolargo.9

Ponderando a respeito das ordens recebidas de Whitehall, para atacar ecapturar a esquadra portuguesa, sir Sidney era de opinião que apenas oesquadrão,nãoimportaquãosuperior,nãopoderiaseincumbirdaoperaçãocomsucesso.O esquadrão poderia percorrer todo o caminho até a cidade,mais oumenos incapacitado, sob considerável fogo cruzado dos fortes na entrada edaquelesaolongodacosta.Umavezdentrodorio,eaocontráriodoMalmoemCopenhague, não havia ancoradouro seguro fora do alcance dos canhões; apassagem para fora, com os navios capturados, seria novamente sob fogopesado.10

Portanto, o emprego de uma força terrestre era um requisito essencial.Umplanodetalhadosópoderiaserpreparadoapósumreconhecimentoadicionaldacosta.OsriscosdeumacostadesotaventoparaosnaviosdeS.M.,11bemcomoa

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dificuldade de se manter um bloqueio cerrado durante o inverno, tornavamimperativo que a operação fosse concluída o mais cedo possível. Sir Sidneysentiaqueumatropabritânica,igualemnúmeroàfrancesa,mascomdisciplinaevalorsuperiores,abastecidadesuprimentosporumrionavegável,compensariacomvantagemainfluênciadecisivadeBonaparte.

A mesma opinião era defendida por Gambier, que, em 20 de outubro,prepararaumrelatodetalhadodasforçasmilitaresportuguesas;essedocumentoestava em poder doMinistério doExterior britânico.12 Sir Sidney enviou umacópiadessemesmorelatórioaotenente-generalsirJohnMoore,comandantedeumaforçaquedeveriapassarpeloestreitodeGibraltaraqualquermomento.13

O relatório detalhado deGambier sobre as forças portuguesas tornou claroque um ataque era esperado domar, e não dos Exércitos francês e espanhol.Umaforçadeaproximadamenteseismilhomens,sobocomandodeumtenente-general,receberaordemdepermanecerestacionadanacostaaonortedeLisboa,em Ericeira, Mafra e Peniche. Uma segunda força, de igual valor, ocupariaAlmada,SetúbaleAlcácer,aosul.Estaforçaficariasobocomandodomarquêsd’Alorna, embora houvesse dúvida quanto ao seu estado de saúde física emental.AguarniçãodeLisboaestariasobocomandodogeneralGomesFreire,um oficial que havia servido no Exército russo. Batalhões adicionais estavamsendorecrutadosnointerior.14

Na opinião de lorde Strangford, cerca de nove a dez mil soldados seriamnecessários, desde que o esquadrão russo não tomasse parte, e que a açãoacontecesseantesdachegadadoExércitofrancês.As tropasdogeneralMooredeveriam somar-se às que eram aguardadas para breve, procedentes daInglaterra.LordeStrangfordescreveuque–emvistadoperigoresultanteparaosnavios-transporte de tropas, da falta de abrigo contra um vento do oeste quesoprassesobreaquelacosta–eraoplanodesirSidney,àchegadadaprimeiraforça, desembarcá-la pela tomada de uma posição na costa onde pudessepermaneceremsegurança,atéserreforçadapelorestante.Peniche,umapequenapenínsula fortificada ao norte deLisboa, em frente aos rochedos deBerlenga,tinhasidoescolhida.15

Fragatas adicionais continuavam a ser uma necessidade urgente. Naquelemomento, apenas a Solebay integrava o esquadrão e, portanto, não podia serdestacadaparaseguirrumoàInglaterracomdespachos;emvezdisso,teriaqueserempregadaaescunacorsáriaTrafalgar.OcenárioemmutaçãoexigiaqueoMinistério doExterior e oAlmirantado fossem constantemente abastecidos deinformaçõesatualizadase–comoaamplitudeparaa tomadade iniciativasnolocal,porsirSidneySmithoulordeStrangford,eralimitada–novasinstruçõese

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ordenstinhamdevirdeLondres.A bordo daHibernia, sir Sidney e lorde Strangford discutiam a situação,

enquantoestasedesenrolava,eestavamemtotalacordo.16CadadecisãotomadaeraapoiadaemumacartadeconfirmaçãodelordeStrangford.Ambosescreviamquasediariamentea seus superiores.Ohon.GeorgeCanningnoMinistériodoExterior,nocasodelordeStrangford,eoslordesdoAlmirantado,nocasodesirSidney;apesardofatodequeascartasseriamenviadas todas juntas.Contudo,Londres permanecia ignorando o desenrolar dos acontecimentos, já que suasordenstinhamsidoemitidasem11denovembro.Otempo,escreveusirSidneyem 22 de novembro, impedira que os despachos fossem transferidos para aescuna Trafalgar, resultando daí o atraso em enviá-los na jornada rumo àInglaterra.17

Pelas suas cartas é possível notar que ambos reconheciam a posição difícilemqueopríncipe regente tinhasidocolocado,porcircunstâncias inteiramenteforadeseucontrole:“Omedodeumladoeacorrupçãodeoutropareciamhaverpressionadoeforçadooprínciperegente(muitoacontragostodapartedeste)aseguir seu atual rumo fatal de política”, escreveu sir Sidney.18 “Um soberanodesorientadoedesafortunado”,escreveulordeStrangford.19

Demodosdistintos,ambostentavamforçaramãodopríncipeparaqueestetomasseadifícildecisãodedeixarseureino,naiminênciadeumainvasão,afimde salvar a instituição da monarquia e resguardar a sua pessoa. Sir Sidneyconsideravaque,comooGabineteportuguêstinhaagidoportemordeumataqueterrestredoExércitofrancês,entãoaapreensãomaioremrelaçãoaumataquedolado oposto poderia ter o efeito de produzir uma decisão e uma conduta emcontrário.20

Sobreessasuposição,escreveusirSidneyad.Araújo,confirmandoquetinhavindo como amigo, para cooperar na execução dos artigos da Convenção.Entretanto,descobrindoqueaConvençãonãohaviasidopostaemvigor,equelorde Strangford fora obrigado a abandonar Lisboa, ele não tivera alternativasenãoinstituirumrigorosobloqueio;semterautoridadeparalevantá-lo,excetoemtrocadarendiçãodosnaviosdeguerraportuguesesedosnaviosdoBrasilnomomento fundeados no Tejo. Estes navios deveriam ser tomados emconsignaçãoatéqueumapazdefinitivativessesidoconcluídaentreaFrançaeaGrã-Bretanha. Ele continuou, declarando que, embora não fosse sua intençãoameaçar, era óbvio que a esquadra e o Exército britânicos, destinados a agircontra as operações do inimigo, quando e onde este fosse encontrado, nãopoderiam ter sido reunidos com o objetivo demera demonstração ou simplesbloqueio.CitouorecenteexemplodeCopenhague,ondeaalternativaoferecida

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pelo governo de S.M. não fora aceita e as cenas de horror resultantes disso.Prosseguiu,conclamandoopríncipe regentea reconsiderara linhapolíticaquetinha adotado, enquanto ainda havia tempo, e poupar-se do arrependimento,agora sentido emCopenhague, por não ter sido aceita a alternativa oferecida,visto que o resultado não poderia ser senão similar.Concluiu, declarando quelordeStrangford, tendoalgumas importantes comunicações a fazer aogovernoportuguêsemconseqüênciadeinstruçõesrecentes,ofereceu-separadesembarcarsobaproteçãodeumabandeiradepaz,desdequeSuaExcelência(AntôniodeAraújo) concordasseque ele seria admitidonumaaudiência imediata comSuaAlteza Real o príncipe regente, e lhe seria permitido partir e retornar aoesquadrão.21

Lorde Strangford escreveu que estava convencido de que, se ao menospudesseencontrar-secomoprínciperegente,elepoderiapersuadi-loaseguiromelhorrumoparasieparaseupaís:atransferênciadesuafamíliaecorteparaoBrasil, levando consigo suas frotas militar e mercante, ou a transferência dasfrotasparaaGrã-Bretanha.EleviveraemLisboatemposuficientee,porcausadesuaposição,mantidocontatopróximoerelaçõesvaliosascomopríncipe,oqualmostrara ter por ele amaior consideração; tinha atémesmo feito estreitaamizadecomalgunsdeseusministros.Eleconheciaocaráterdopríncipe,suasvirtudesefraquezas,easpressõesàsquaiseletinhasidosubmetido.Conheciaasambiçõeseosinteressesdecadaministro;osefeitosdacorrupçãoedaintriga,que muitas vezes afetavam os melhores interesses de Portugal. Por causa daestruturadacorte, ele tambémsabiaqueopríncipe regente tinhadedepender,quase que exclusivamente, das informações e, em grande parte, dasrecomendaçõesoferecidasporseuConselhodeEstado.DesdeasuapartidadeLisboa,oaparecimentodeduasforçasinimigasdePortugal,emsuasfronteirasterrestre e marítima, devem ter conferido ao príncipe o poder de empreenderações que, em circunstâncias normais, não seriam possíveis. Ações que, sobcondiçõesnormais,nãoseriamnecessariamenteaprovadasoumesmo toleradaspelapopulaçãogeral.22

Suarazãoparadesejarestabelecerumdiálogopessoalcomopríncipeera:

MostraraEle,na linguagemdiretae simplesdaVerdade,oúnicomeiodeSegurançaque aindadetém.Nãopossodeixar depensar que algumacoisafoi causada pelas circunstâncias em que o príncipe regente está colocado;que ele não tem sido um agente livre na conduta que foi aconselhado aadotar.23

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LordeStrangfordargumentou,emseucomunicadoaohon.GeorgeCanning,queaGrã-BretanhaePortugalestavamemguerra,e,comoeletinharecebidodevolta o seu passaporte e deixadoPortugal, qualquer ação empreendida por eleagora podia ser considerada como sendo de um representante oficial da Grã-Bretanha. Ele estava agindo como um indivíduo privado. Esta separação deidentidadesera importante,paraquenãoparecessequeaGrã-Bretanhaestava,de algum modo, enfraquecendo sua posição, oficialmente buscando umanegociação. Um segundo perigo, o de sua captura e detenção, pela influênciafrancesa dominante que agora deveria existir na corte, seria neutralizada pelaobtenção,dapartedoprínciperegente,antesdoembarque,dasmaiscompletasgarantiasdeproteção e segurança.Durante a suapermanência emLisboa, nãoocorreriaqualquercessaçãodehostilidades,obloqueiocontinuariacomoantes.24

Os despachos para lorde Strangford, recebidos da Inglaterra no dia 22,incluíam uma carta de d. Domingos para o príncipe regente, na qual aquelediplomatalhesolicita:“transmitiremsegurança”.Ofatodequeodespachoerauma comunicação oficial entre um embaixador e o seu soberano não detevelordeStrangford;esteescreveu:

Considereisermeudevertomarconhecimentodoconteúdodesta;eamesmaparece-mecalculadademodoaatuar tãodecisivamentesobreaopiniãodeS.A.R., que estou muito desejoso de apresentá-la a Ele tão rapidamentequantopossível.25

Estaera,provavelmente,acópiadoLeMoniteurde11denovembro.Um aviso sobre o bloqueio, assinado por sir Sidney Smith em 22 de

novembro,edestinadoaoscônsulesdasnaçõesneutras, foipreparadopara serconduzidoaLisboa.EssaadvertênciaalertaqueorioTejotinhasidodeclaradosobestadodebloqueioeque,nestaocasião, todasasmedidasautorizadaspelalei das nações, e pelos respectivos tratados entre SuaMajestade britânica e asdiferentes potências neutras, seriam adotadas e executadas, com relação aquaisquernaviosquetentassemviolaroditobloqueio.26

Outracarta,para JohnBell,oagenteparaprisioneirosdeguerrabritânicos,urgiaqueelesolicitassealibertaçãodetodososcivis,particularmentemulherese crianças, vistoque adetençãode tais pessoas eraumagrosseiraviolaçãodoprincípio de humanidade: “que o exemplo da França devia permanecer único,semimitação”.27Arespeitodobloqueio, todososnaviosestavamproibidosdeentrar no Tejo. Em relação às partidas, particularmente de neutros quequisessem,comrazão,retirar-sedeumlugarquepoderiaembrevesetornarum

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teatro de operações de guerra, semelhantes às ocorridas em Copenhague, osmesmos deveriam apresentar requerimento ao oficial-comandante do bloqueio,por intermédio dos respectivos cônsules, apoiados por documentos autênticos.Não havia intenção de interferir com os práticos que estivessem conduzindonaviosparaomar, nemcomospescadoresnoexercício legítimodeocupaçãoemsuaáreadepescahabitual–aindaqueestaestivesseocupadapeloesquadrão–,desdequeosmesmosestivessemdesarmados.

Ovento,quenodiaanteriorsopraradoleste,agoraviravanovamenteparaooeste, porémmais moderado. O esquadrão continuava interceptando todos osnaviosquefossemavistados.

Logo após a meia-noite a Solebay enviou seus escaleres, “guarnecidos earmados” (mann’d and arm’d), em perseguição a quatro navios que avistaraperto da costa. À luz do dia, informou ter avistado dois navios com seusescaleresareboque.UmdeleseraoRedwing,eooutrooAlegroConstant,umapresa.Às2h30datarde,15prisioneirossubiramabordo;aSolebayabasteceuapresacom31¹/²galõesdebebida,40librascadadecarnedeboiedeporco,30librasdefarinha,novelibrasdesebo,7¹/²librasdemanteiga,15librasdequeijoe7¹/²librasdeaçúcarparaseuspróprioshomens.Às6h30damanhãseguinte,amesmavirouemrodaepartiu rumoàpresa;poucodepois, apresaabalroouaSolebayeperdeuseugurupésemastaréudevelacho.ASolebaypôscarpinteirosemarinheirosabordoparaexecutarreparos,etomou-aareboque.

Namanhãde22denovembro,aElizabethabordouaMinerva,procedentedeLondres com destino a Lisboa; aBedford parou um brigue norte-americano echegou à fala com o mesmo; a London abordou um brigue inglês de NorthYarmouth,comdestinoaGibraltar,carregadocomarenquese,maistarde,umagaleota de Bremen, com destino a Lisboa. A Plantagenet abordou um navionorte-americanodeBaltimoredemandandoaLisboa;seucomandantefoilevadoao almirante, que o alertou a não entrar no porto e endossou seus papéis comaquela finalidade. O número de navios mencionados dá uma indicação domovimentointensodotráfego,próximoaoestuáriodoTejo.Váriosnavioseramdebandeiranorte-americana.

Segunda-feira,23denovembro

O esquadrão era agora composto de 11 navios de S.M., dois corsários e umapresa,e,emboraduranteodiaumououtronaviopudesseserdestacadoparadar

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caçaaumavelanãoidentificada,aordemaindaprevalecia.Namanhãdodia23,ainda que umvento duro estivesse novamente soprando, aBedford relatou terrecebidoumsinalpara formarnaordemdecruzeiroemduascolunas;onavioviroupordavanteedepoisemroda,afimdeassumirsuaposição.

Duranteodia,achalupadeS.M.Electra,escoltandoumcomboiodenaviosmercantes de Falmouth para Gibraltar, passou pelo meio do esquadrãonavegandonorumosudoeste;váriasvezes tevedemostrarseusinal indicativopara diferentes navios que a interpelavam. A Marlborough, após umaperseguição,abordouetomoucomopresaoBalsimas,procedentedoBrasilederegresso a Lisboa. Pôs a bordo dois suboficiais e 20marinheiros e retirou 13prisioneiros. À tarde, a Redwing abordou oMentoo, procedente de Londres,navegandocomoutrosmercantesdosquaishaviaseseparado.

Terça-feira,24denovembro

Finalmenteo tempomelhorara.Aborrascadosdiasanterioreshaviamoderadopara uma brisa fresca e o vento que tinha estado, por vários dias, soprandonoroeste a norte-noroeste, à tarde mudara para sudoeste. AConfiance, sob ocomandodocapitãoJamesYeo,28etendohasteadoumabandeiradepaz,seguiuparaLisboademanhãcedo;otenenteSmith,29acompanhadoporummensageiroportuguês,levouosdespachosdesirSidneyparaAntôniodeAraújoeJohnBell,assimcomoanotaoficialdobloqueio.Seulivrodequartosregistra:“(Dia24)6h30 virei em roda e larguei todo pano para Lisboa. Borrascoso com chuva,içadabandeiradepaz.”Maisumavezfoialvodedisparosdasbateriasdabarra,mas por mal-entendido: estas não haviam notado sua bandeira de paz. AConfiancerecebeuentãopermissãoparapenetrarnorio;felizmentesemtersidoatingidapelosdisparos:

9h.Brisa ligeira, fundeei na altura deCastelo com ferro de serviço em15braças, envieiumabandeiradepaz rioacima…3h.Suspendiedei avelaTejo acima pela proa da esquadra russa … 4h. Suspendi e virei nocabrestante mais acima do porto … 7h. Fundeei na altura do castelo deBelémcomferrodeserviçoemdezbraças.

Fora da barra, emmar aberto, aMarlborough estava ocupada transferindoprovisõesparaos20homensquetinha,nodiaanterior,postoabordodapresaBalsimas.ABedford, em respostaaumsinal, estava semsucessoperseguindo

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uma vela no rumo leste-nordeste.APlantagenet tevemelhor sorte: após umacurta perseguição, fez parar e abordou um navio inglês vindo deMontevidéu,com destino a Lisboa; este foi então enviado ao almirante para receberinstruções.ARedwing,opequenobrigue-chalupaquetinhachegadodeGibraltarnodia22,obedeceuao sinaln.108: “Aproximar-sedoalmirante.”Às2h30datarde, o capitão ThomasUlsher apresentou-se a bordo do navio capitânia; eletraziaanotíciaque,aopartirdeGibraltarnodia18,ogeneralMoore,vindodaSicília,aindanãohaviachegado.30Tambémaindanãotinhampassadoosnaviosrussos.

O conhecimento doMinistério do Exterior nestemomento era incompleto,porque quando o último despacho fora enviado apenas cinco navios russostinhamentradonoTejo.Asváriasmudançasinfluenciariamogovernobritânico,de modo que seria desejável enviar à Inglaterra um relatório da situação dosassuntosemLisboa.31

Quarta-feira,25denovembro

Amanhãcomeçoucomlevesventose temponublado;comopassardodia,ovento mudou, retornando a uma direção mais a oeste e aumentando deintensidade. À noite, uma forte borrasca estava soprando, forçando todos osnaviosaferrarsuasgataserizar,nosúltimos,suasgáveaseseusvelachos.

Pelamanhã,aElizabeth abordouumaescunaprocedentedeSt. Johns,comdestinoaLisboa,eoCollinsdeLondres,procedentedoriodaPrata,comdestinoa Londres. A Redwing chegou à fala com uma escuna norte-americanaprocedentedeLisboa,comdestinoaLondres.ABedfordmantevesobvigilânciaapresacapturadapelaMarlboroughnodiaanterior;àtarde,disparouváriostirosde mosquete para fazê-la parar, a fim de se comunicar. O brigue de S.M.Rennywood,quesereuniraaoesquadrão,navegavaemconservacomaBedford.

A Solebay, navegando com a Plantagenet, estava a certa distância doesquadrão, de modo que os sinais do navio capitânia tinham de serretransmitidos pelaMonarch. Esta passou amanhã dando caça a um lugre, oqual,tentandoevadir-se,perdeuseumastrogrande,quefoilançadopelaborda;este provou ser espanhol, procedente de Vigo, há oito dias no mar, mas quenaquele período tinha capturado um brigue inglês de Londres, com destino aProvidence. A Solebay recebeu a bordo 30 homens retirados do lugre, entreprisioneiroseingleses.Apresaestavamuitoavariadaeemperigo,demodoque,

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no dia seguinte, aHibernia enviou a bordo o tenente Killwick com mais 20homens, a fim de encarregar-se dela, e também material para executarem osreparos:umavelamestraequatroantenas.Apresa,umlugrecorsário,reuniu-seao esquadrão.Mais tarde, durante o dia, aPlantagenet fez parar uma fragata,arvorandopavilhãoportuguês,queaSolebaydeveriaabordar,mas,comoestavaescurecendo, esta a perdeu. Uma fragata novamente reapareceu, mas, após seaproximar,aPlantagenetdescobriuqueeraaSolebay.Ambososnaviosentãoviraramdebordo,umparabombordoeoutroparaboreste;logodepois,apresa,ConceiçãoS.JoséFama,foicapturadapelaSolebay.

Em Londres, o governo de S.M. reconheceu as circunstâncias especiais eincomuns que tinham forçadoPortugal a fechar seus portos.O sentimento emrelaçãoaPortugal,longedeserbeligerante,eracompreensivoecondescendente;como resultado, as ordens dadas na primeira reação às notícias recebidas dePortugal foram canceladas; os navios e bens pertencentes a mercadoresportuguesesnaGrã-Bretanhaforamliberados.32

AConfiance,aindafundeada,estavaagoraprontapararetornaraoesquadrão.Enquantoestiveranorio,tinhatiradoproveitodaságuasabrigadas,entreasaltasmargens,paraexecutarváriasfainas:limpezaepinturadonavio,impossíveisderealizar em mar aberto. Recebeu a bordo cinco toneladas de água, a fim decompletar sua capacidade de armazenamento de 42 toneladas, e 532 libras decarnebovina fresca.Seu capitão– embora júnior emcomparação aos capitãesdos navios de linha, pois tinha sido promovido do posto de capitão-de-fragata(commander)aodecapitão-de-mar-e-guerra(captain)naqueleano–eraativoecheioderecursos,etinhatalvezumadasmissõesdemaiorresponsabilidadenobloqueio.SirSidneycertamentereconheceuisto,poisescreveuaoAlmirantadoaoenviá-lodevoltacomdespachos:

Este despacho será entregue pelo capitão Yeo, da chalupa de S.M.Confiance, que demonstrou maneiras corretas e grande zelo em abrir ascomunicaçõespormeiodebandeiradepaz,oqueseriadointeressedaquelesnopoder,queeramcontraamedidadaemigração,obstruir.LordeStrangfordfala sobre sua conduta com calorosa aprovação; fundamentado nisto, peçovêniapararecomendá-loaossenhoreslordes,dequemosseusméritosgeraiscomo oficial já são bem conhecidos. Tendo permanecido em Lisboa semembaraços,duranteasconversações,eleestábemqualificadopararesponderaquaisquerperguntasquesuasExcelênciasqueiramfazer-lhe.33

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Quinta-feira,26denovembro

AConfiance passou a manhã à espera de um prático; a intervalos regulares,disparavaumcanhãodesinalização.Finalmente,aomeio-dia,umpráticoveioabordo; a Confiance suspendeu e moveu-se rio abaixo, numa brisa fresca,ocasionalmente tempestuosa com chuva. Na barra, o vento variava, comtendênciaaacalmar,tornandoogovernodachalupamuitodifícil.AConfiancefoiapanhadaemummargrossode través,quearrebatouoescalerdo turcodapopa.Afimderecuperarumcertograudemanobrabilidade, largouo ferrodeserviço e afastou-se à distância de meio quartel de amarra. Porém, o mar detravésnabarraeratãofortequenãopôdelevantarferro,apesardetodososseusesforços. Foi forçada a cortar a amarra, e assim perdeu seu ferro de serviço.Partiunorumooesteparasereuniraoesquadrão.

O despacho de sir Sidney paraAntônio deAraújo tinha sido recebido poreste, conforme já mencionamos e está registrado na reunião do Conselho deEstadonopaláciodeN.S. d’Ajuda, napresençadopríncipe regente em24denovembro.Agora,emseuregresso,aConfiancelevavaarespostadeAntôniodeAraújo.34TantosirSidneycomolordeStrangford,àchegadadamesma,ficariamcientesdequeadecisãode empreender aviagem tinha sido tomada; apenas adatapermaneciaemaberto.

Durante a tarde, aPlantagenet, navegando entre o corpo do esquadrão e abarradoTejo,abordouumdosnaviosrussosqueestavamsendoaguardados,afragataFrattogGeofin,procedentedeGibraltar.Nocomeçodanoite,amesmainformou ter avistado um navio saindo de Lisboa, que era a Confiance,navegandoatodopano,retornandodoTejo.

ApresençadeumesquadrãorussonoTejoeraumasituaçãoimprevistaquedeixavatodosconfusosarespeitodecomoagir.AsinstruçõesdesirSidneynãoestavamdirigidasespecificamenteaosnaviosdeguerrarussos,maseracertoqueumbloqueiorigorosotambémseaplicavaaestes.35

A Solebay, após uma perseguição de quatro horas, fez parar um navioarvorandoumpavilhãoportuguês,procedentedeJanurs,comdestinoaLisboa.O primeiro-tenente (imediato de navio) liderou um destacamento armado, quetomoupossedapresa.

AescunaafretadaTrafalgarestavaagorasendoaprontadaparaasuajornadarumoà Inglaterra, conduzindodespachos.AHibernia transferiupara a escunadoissacosdepãoe35quartilhosderum.

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Sexta-feira,27denovembro

Durantetodaanoite,aConfiance,tendo-sesafadodabarradoTejo,lentamenteseaproximoudoesquadrãoque,aonascerdodia,encontrava-separaoesteeaosul.Agora, todoopano foi largado, enquantoelacorriapara interceptaranaucapitâniaHibernia. Quando se aproximou, arriou uma de suas embarcações eentregou os despachos que havia trazido de Lisboa. A solicitação para umaentrevistacomopríncipe regente, comgarantiascompletasde regresso seguroparalordeStrangford,haviasidoatendida.

Outrodespacho,datadode25denovembro, trazidopelaConfiance, eradeJohnBell.EleinformavaqueonaviomercanteDiana,sobocomandodeJohnTomkin, com cerca de 60 súditos ingleses a bordo aguardando seremrepatriados, ainda estava detido. Ele havia falado duas vezes comAntônio deAraújo, que prometera uma decisão para aquele dia. Posteriormente, tinhanotado que o navio suspendera e movera-se a sotavento para Belém; elepresumiaqueissosedeviaporalgumaordemrecebida.Nenhumoutroembaraçoocorreraemrelaçãoaossúditosbritânicos,queforamnotificadosparanãodeixarPortugal.

Ele relatou, ainda, que a notificação sobre o bloqueio cerrado havia sidodevidamente entregue aos cônsules russo, austríaco, sueco, siciliano e norte-americano, e que: “tinha causado a maior consternação nesta cidade”; asrespostasdoscônsulessuecoenorte-americanoforamremetidascomocapitãoYeo.

AConfiance manteve-se próxima, aguardando ordens adicionais, mas nãopormuitotempo.Aosinalde“aproxime-sedoalmirante”,elaseaproximoudonaviocapitânia;àsduashorasda tarde, lordeStrangfordsubiuabordoe,maisuma vez, a corveta seguiu para Lisboa. O tempo borrascoso, com chuvaocasionaleventosoprandodonordeste, favorávelparadeixaroTejo,masnãoparaentrarnomesmo,tornarialongaajornada.

LordeStrangford,aodeixaraHibernia,nãotinhameiosdesaberquenaqueleexato momento o príncipe regente e o restante da família real já estavamembarcados, e apenas esperavam o término dos preparativos e um ventofavorávelparacomeçarsuaviagem.

O plano original tinha sido enviar a Confiance de volta à Inglaterra comdespachos, logo que esta saísse do Tejo, atendendo à solicitação do almiranteYoung, feita no dia 15. No entanto, a permanente falta de navios menoressignificavaquesuajornadaseriaadiada.36

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Sábado,28denovembro

Outros navios do esquadrão estavam ocupados com suas tarefas de bloqueio.Quandoodiaraiou,aHiberniaiçouosinaln.120,“examinevelaestranha”,paraaBedford, seguidoda indicaçãosu-sueste;esta imediatamente fez-sedevelaeseguiu nesse rumo. Logo alcançou a caça e, após reduzir e atravessar, enviouuma embarcação até esta. Era outro navio russo, a fragata de 20 canhõesStigburg, que, pela direção em que se aproximara do esquadrão, vinha deGibraltar; quando a fragata se aproximou, a Hibernia içou seu pavilhãonacional.37 À tarde, a Bedford novamente saiu em perseguição e, desta vez,abordouumaescunaportuguesa,trazendo-a,comopresa,paraoesquadrão.

Desdecedo,pelamanhã,aRedwingestiveradandocaçaaumbriguepróximodacosta;às10h30fezcomqueesteparasse,apósdispararumcanhão,eenviouaté ele uma embarcação “guarnecida e armada”. O brigue provou ser inglês,procedente de La Caudore; um desapontamento, já que não haveria nenhumprêmioemdinheiropelapresa.

Àtarde,onavioportuguêscapturadopelaSolebaynanoiteanteriorsinalizouàHibernia que estava emperigo.Umsuboficial e 11marinheirosdaSolebay,partedaguarniçãoquetinhasidodeixadaabordo, trouxeram30prisioneirosedepoisretornaramàsuapresa.

Durante a noite do dia 27, o vento mudou para noroeste, porém maismoderado.Aoamanhecer,aConfiance largoua todoopano,aproandorumoàbarra do Tejo; o vento tinha quase cessado, fazendo com que tivesse de lutarcontraamaréafimdeatravessá-la.Amesmarelatou:“Moderado,todoopano;dezhorasdamanhã,arligeiro,remosparafora,remandoonavio.”Àumahoradatarde:

Brisaligeira,todosostripulantesempregadosremandoonavioTejoadentro.2h30, observei que o navio não pôde vencer a corrente pela proa, fundeeicomsegundoferrodeserviçoem14braças,largueimeioquarteldeamarra,envieiumabandeiradetréguaàterracomlordeStrangfordetc.etc.

Onavio deveria estar logo após a entrada da barra.A corrente devia estarpuxandoforte,poisrelatouteracrescentadoseusancorotesaoferrodeserviço,afimdeassegurarquenãoarrastariaoferro,talvezencalhando.AConfiancedeveterfundeadoemfrenteàcidadedeOeirasoutalvezdeCaxias.Afimdechegarao centro de Lisboa, lorde Strangford teria de percorrer por terra cerca de 15quilômetros.Comojápassavade2h30datardequandoelefoiconduzidoaterra

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por uma embarcação, até que encontrasse um cavalo ou carruagem e cobrisseaqueladistânciajáseriaoiníciodanoite;portanto,deveterchegadonoescuro.

Entrementes, a Hibernia estava abastecendo a fragata russa com carvão,3.300librasdearroz,em18barris,e88sacosdepão.ObedecendoàsrigorosasinstruçõesdoslordesdoAlmirantado,sirSidneyadvertiuocapitãodoStigburgpara não entrar noTejo.38O capitão ThomasWestern, daLondon, não estavacorrendo risco algum; quando o navio russo se aproximou, ele preparou aspequenasembarcaçõesparaseremcolocadasnomar,casonecessário.

ASolebayestavaocupada,transferindotodososprisioneirosquetinhamsidoretiradosdapresaquecapturaranodia22paraosváriosnaviosdoesquadrão;aseu turno, cada um enviou uma embarcação para recebê-los; a London, aElizabeth e a Monarch receberam dez cada uma; a Conqueror, nove; e aRedwing,muitomenor,cinco.

AochegaraLisboa,lordeStrangforddescobririaqueoprínciperegente,comtodaasuafamíliaeosministros,tinhaembarcadonodiaanterior;39eleteriadetomarumbarcoparairabordodaMedusa,reunir-secomAraújo.Esteescreveuaoprínciperegente40quelordeStrangfordtinhavindoabordo,equeeleshaviamdiscutidoechegadoaumacordosobrecertosaspectosdaConvenção,massemdar qualquer detalhe.41AntôniodeAraújo recusou-se, apesar da declaraçãonaConvenção, a entregar os fortes, por temor que os franceses, ao chegar,buscassemvingançacontraosartilheiros.OpedidodelordeStrangfordparaumaaudiência com o príncipe regente foi acertado para amanhã seguinte, às oitohoras.Portanto,lordeStrangfordnãoseencontrariacomoprínciperegenteantesqueaPríncipeRealsuspendesseferros,àprimeiraluzdamanhãseguinte.

Há várias versões desta conversação, nenhuma das quais particularmenteconvincente.Ummanuscritoanônimoalegaque lordeStrangford tentou imporcondiçõesadicionaisàConvenção,comopré-requisitoparaquesirSidneySmithlevantasse o bloqueio, a fim de permitir que os navios partissem. É dito queAraújorejeitou,comenergia,esteargumento,eobteveaconcordânciadelordeStrangford que as cláusulas, acordadas de boa-fé, deviam permanecer.42 Emoutraversão, lordeStrangford solicitouaAraújoque informasseopríncipedeque a Grã-Bretanha declarara guerra a Portugal, e que a sua Marinha tinharecebidoordemdecapturaraesquadraportuguesa,mesmoseestapartisseparaoBrasil.OúnicomododeevitaristoseriaseasduasMarinhasunissemforçasecombatessem as tropas francesas. Se obtivessem sucesso, então o príncipepoderiapartirparaoBrasil.43

Na noite do dia 28, lorde Strangford escreveu com excitação a sir SidneySmith,deLisboa:

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Devoinformá-lodequeumagrandeerápidamudançaocorreunacondutadogoverno português … O príncipe regente e toda a família real estãoembarcadosesepropõemapartir imediatamente,poisumExércitofrancêsestáanoveléguasdeLisboa…OtemponãopermitiráasuaentradanoTejocomafinalidadedecooperar…S.A.R.nãoaquiescenarendiçãopreliminardos fortesdeS. Julien [sic] edoBugio…TodososnaviospertencentesàMarinha portuguesa, tanto real como comercial, estão empenhados epreparados para acompanhar Sua Alteza Real. É totalmente inútil colocarquaisquerdificuldadesdesnecessáriasno caminhodapartidadeS.A.R., oulevantarquaisquerquestõesquepossamserevitadas,poisestouconvencidodeque tãograndeéodescontentamentodopovoe tãoforteoconseqüentealarmedeS.A.R.,que tudodependedoapoioqueS.A.R.puder receberdenós,doquallhedeiamaisfrancaeinequívocagarantia.44

Àsdezhorasdaquelanoite,oventomudoudenoroesteparasudeste;agora,eracertoqueaesquadra,aonascerdodia,tentariadeixaroTejo.

Domingo,29denovembro

Lorde Strangford retornou àConfiance; sua chegada a bordo foi registrada àsoito horas da manhã. Não há registro, no livro de quartos da Confiance, dequando lordeStrangforddeixouachalupanovamente. Istonãoécomum,poiscadamovimentodeumindivíduotãoimportanteéregistradonolivrodequartos,mesmodosmaioresnavios.

AConfiance,úniconaviodeguerrabritâniconoTejo,namanhãdodia29,relatouquedesdeoamanheceraesquadraportuguesaestiveralevantandoferrose preparando-se para partir. Era importante que as notícias trazidas por lordeStrangford chegassem ao almirante o mais rápido possível. O capitão Yeoenviouumoficialnumbarcodepescacomesse“relatóriodeinteligência”parasirSidney.

AMedusa e aMartim de Freitas lideraram a esquadra para fora do rio,deliberadamentepassandojuntoaoesquadrãorussofundeadopróximoàentradada barra, a fim de avaliar suas intenções e observar possíveis reações. Emseguida, foi a vez daqueles navios de linha de batalha que transportavammembros da família real chegarem àquele trecho do rio.AMartim deFreitaslevavaopráticodorioatéabarra.Comonãohouvecomoretorná-lo,omesmo

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viajouatéoBrasil!CasooalmiranteSiniavinsoubessequeaRússiairiadeclararguerracontraa

Grã-Bretanha,em2dedezembro,apartidadafrotaportuguesapoderiatertidooutroresultado.45

A Confiance sofreu breve atraso quando descobriu que seu mastaréu dojoanete grande tinha rachado, e que sua bóia e o cabo de arinque tinham-seperdido.Estenavioregistra:“9h30,suspendemosedemosavela.”Napróximaentrada em seu livro de quartos, lê-se: “Observamos navios de guerraportuguesespassandopornós,fazendo-sedevelanoTejo.”

Se lorde Strangford cruzou a barra com o príncipe regente, como elemaistarde alegou, este deve ter sido o momento em que ele se transferiu para aPríncipeReal.UmacartanãodatadadelordeStrangfordparaoprínciperegente,pedindoempregoparaumcerto JoãoCarlosdeAzevedo, filhodo1ºbarãodoRio Seco, termina lembrando ao príncipe “que ele tinha tido a honra deacompanhar SuaAltezaReal ao cruzar a barra deLisboa, ocasião emque elequasequebrousuamelhorespada,comoopríncipebemsabe”.46

AConfiance,chegandoaoalcancevisualdoesquadrão,utilizouseutelégrafodemadeiraparaenviarasnotíciasàHibernia;elalevoumaisquatrohorasparaalcançaroesquadrão.

Cercadenovehorasdamanhã,eraevidenteparaoesquadrãodesirSidneySmith, que semantinha firme adistância na saídapara omar, que a esquadraportuguesaestavasaindodoTejo.Asadriçasdesinaismantiveram-seocupadas,primeiroinformandosobreaapariçãodaesquadrae,depois,donaviocapitânia,transmitindocomandosdeseualmirante.

Sir Sidney Smith não estava disposto a correr qualquer risco, pois ele nãopodia estar totalmente seguro de que a esquadra portuguesa, agora seaproximando,vinhaempaz.PortugaleGrã-Bretanha tinhamestado,atémuitorecentemente,emguerra.Outrapossibilidadeeraqueoexércitofrancêstivessealcançado Lisboa e estivesse, agora mesmo, a bordo dos navios à vista.Sucessivamente, a adriça da Hibernia içou um sinal avisando que eram“Amigos”,47 e depois o sinal n.2, “Preparar para batalha”, seguido do 36,“Engajaroinimigoporboresteseàpopaouabarlavento”.

Emtodooesquadrão,oficiaise tripulantespuseram-seemação.ABedfordregistrou em seu livro de quartos ter recebido outro sinal: “Recebi sinal deprepararparaaçãoeformeilinhadebatalhapelaproadaHibernia.”AElizabethanotou: “Preparei navio para ação… respondi e fiz sinal previsto no diário;formeilinhaeprepareiparaação…arrebenteidezbarrisvaziosparadesimpedirnavio e cortei seis como tinas para balas e guarda-morrões.” A Foudroyant:

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“Respondi ao sinal de preparar para batalha, toquei postos de combate e safeinavio para ação.” A London: “Safei navio para ação conforme sinal.” AMarlborough: “Respondi sinal de preparar para batalha… respondi sinal n.9(‘Naviodeve aproximar-sedoalmirante’).”AMonarch: “Respondi sinalgeraln.13(‘Prepararparabatalha’)…toqueipostosdecombateesafeiparaação.”APlantagenet: “Preparativo n.21 (‘Atacar inimigo nasmarcações indicadas’)…safeinavioparabatalha…Cerreidistânciaeformeilinhadebatalha.”

O esquadrão, uma força de combate altamente treinada e eficiente, estavaagoraperfeitamentepronto,casohouvessequaisquerintençõeshostisdapartedaesquadradenaviosdeguerraportugueses,queseaproximava.

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CAPÍTULOCINCO

Opríncipe regente, acompanhadode sua família ede seusministros,deixaPortugal. Encontro com o esquadrão britânico comandado porsir Sidney Smith; reunidos, singram rumo à Madeira. Separação daesquadra em 8 de dezembro. Em Lisboa, Junot entra na cidade ecomeçaagovernar.

Domingo,29denovembro

Quaisquer dúvidas que sir Sidney Smith pudesse ter sobre as intenções da

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esquadraportuguesa,quecruzavaabarradoTejo, foram logodissipadas:pelopavilhão real hasteado na Príncipe Real, pelo capitão Yeo ao telegrafar seu“relatóriodeinteligência”epelonúmerodenaviosmercantessaindoeseguindonaságuasdaesquadranaval.

ThomasO’Neilescreveuqueafaltadetempoparacompletarospreparativoseraevidente,umavezque:

Os navios de guerra portugueses apresentavam uma aparência desleixada,por terem tido só três dias para se preparar para a fuga: andaimes aindaestavamsuspensosdeseusbordose,emsuma,maispareciamdestroçosquenaviosdeguerra.1

Noiníciodatarde,aHiberniaaproximou-sedaPríncipeReal,aembarcaçãodoalmirantefoiarriadaesirSidneyfoiabordo.

Eleescreveu,naqueladata:

Quando subi a bordo da Príncipe Reale [sic] para fazer minha visita derespeito e congratulações a S.A.R. o príncipe do Brasil, que estavaembarcadonaquelenavio…Apósoscumprimentos,naturaisnumasituaçãotãoextraordináriadascoisasquesepassaram,entreoprínciperegenteeeu,napopadonavioostentando seupavilhão (a únicaparte donavio livredeentulhoseaglomeração),emtalocasiãonãopossodeixardedeclararqueopríncipedissetudooqueossentimentosmaiscordiaisdegratidãoparacomaGrã-Bretanhaeconfiançanestapoderiamsuscitar.Apóseutersolicitadoeobtido garantia de que a salva que propus disparar, em homenagem àocasião,seriarespondida,SuaAltezaRealempessoaordenouenfaticamentequeestaofosse tiropor tiro,masporoutrosnaviosquenãooseupróprio,devidoàrainhaestarabordoeaoestadodesaúdedeSuaMajestade.2

Assalvaseramdetalimportânciaquesópodiamserdisparadasdepoisqueasnegociações tivessem ocorrido e houvesse certeza absoluta de que seriamrespondidas com igual número de tiros (like for like). Além disso, essanegociaçãoevitava,porexemplo,operigodequeumnavioentrassenumportoe,semavisoprévio,começasseadispararumasalva;istopoderiaserconfundidocom um ataque, levando os fortes que protegiam o porto a responder com aartilharia.

No seu retorno, às 4h30, aHibernia arvorouo sinal n.261– “O esquadrãosalvarácomonúmerodetirosmostradoapósarespostaaestesinal;cadanavio

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começaráquandoosegundocanhãofordisparadoabordodonavioalmirante”–,seguido pelo número 21. A esquadra portuguesa, conforme o combinado,respondeutiroportiro.

Afamíliarealestavaassimdistribuída:naPríncipeReal–rainhad.MariaI,prínciperegented.João,príncipedaBeirainfanted.Pedro,seuirmãoinfanted.Miguel e o infante daEspanha d. PedroCarlos;3 naAfonso deAlbuquerque –princesadoBrasild.CarlotaJoaquina,comsuasfilhas,4infantasd.MariaIsabelFrancisca,d.MariadaAssunção,d.AnadeJesuseprincesadaBeirainfantad.Maria Tereza; na Príncipe do Brasil – a princesa viúva d. Maria FranciscaBendita e a infanta d. Maria Ana,5 ambas irmãs da rainha; e na Rainha dePortugal–asfilhasded.CarlotaJoaquina,infantasd.MariaFranciscadeAssised.IsabelMaria.

O número de portugueses que empreenderam a viagem aoBrasil tem sidoestimado, por diversos historiadores, em cerca de 15 mil pessoas, incluindotripulações de aproximadamente metade desse total. Muitos, inclusiveimportantesmembrosdacorte,conformejánosreferimos,apesardevigorososesforçosnãoconseguiramencontrar lugarabordo.Parece-nosquesehouvessemaisespaçodisponível,onúmerodepassageirosteriasidoaindamaior.

Nenhuma lista completa de passageiros foi encontrada. Antônio MarquesEsparteiro6 relaciona, com grandes detalhes, o nome dos oficiais que faziamparte do efetivo dos diversos navios que compunham a frota, e daqueles queviajaramcomopassageiros;alémda lotaçãodecadanavio.Presumindo-sequetodos os navios saíram com sua lotação completa, fato este muito poucoprovável,entãopodemoscalcularumtotaldesetemilhomens.Adicionandoumefetivoemtornode40e50pornaviomercante,soma-semaismil.Asoitonausdelinhadeveriamestarlevandoentre100e300passageiroscada,eaesquadrabritânicacercade100.Asquatrofragatas,uns150cada.Orestantedosnaviosdeguerra,bemmenores,entre30e40cada.Os31naviosmercantes,cercade80pessoaspornavio.Onúmerototal,portanto,nosparecemaispertode14mil.

Osmovimentosde lordeStrangfordnaqueledianãosãomencionados,nemno livro de quartos daHibernia, nem nas cartas de sir Sidney ao hon.W.W.Pole,datadasde1ºdedezembro.7Elealega,numacartaaohon.GeorgeCanningde29denovembro,8que,apóscruzarabarranacompanhiadoprínciperegente,partiu rumo àHibernia, mas imediatamente retornou com sir Sidney Smith eapresentou-oaoprínciperegente.

Thomas O’Neil, um oficial fuzileiro do navio de S.M. London, escreveucomo tivesse testemunhadoacena,9com“avisãodoolhodeumpássaro”.Defato,noiníciodatardedodia29,O’Neilestavadistante;primeironaLondone

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posteriormente na muito menor Solebay, preparando-se para desembarcar etomarofortedeBugio.OsmovimentosdelordeStrangfordesirSidneyforampublicados no London Gazette de 22 de dezembro; provavelmente a fonteutilizadaporO’Neil.10

A afirmativa de lorde Strangford de que ele tinha sido em grande parteresponsávelpeladecisãodopríncipe regentede transferiracorteparaoBrasilencontrou resistência e dúvidas consideráveis após o evento. O relatóriodetalhado, supostamente escrito na Hibernia em 29 de novembro,11 apóia aprincipal base desta reivindicação. Embora estivesse indicado à margem dorelatório enviado à Inglaterra pelo paquete Townsend, que zarpou em 3 dedezembro, há alegações de que foi composto no apartamento do hon. GeorgeCanning em Londres, em 19 de dezembro, e publicado três dias depois noLondonGazette.Ainferênciainicial,emrelatório,dequeelehaviaretornadonodia28denovembroaLisboaetinhaentãoseencontradocomoprínciperegenteeoconvencidoaembarcar,tevequesermaistardecorrigida.12Eleadmitiuquesuainfluênciatinhasidodecisiva,masduranteosmuitosmesesqueprecederamodia29denovembro.Defato,lordeStrangfordestavaembarcadoedistantenoalto-mar,duranteoperíodoemquechegaramaLisboaasnotíciasdecisivasqueinfluenciaramoConselhodeEstado:ainvasãopeloExércitofrancêsnodia23eoexemplardoLeMoniteur.

SirSidneyestavaansiosoepreocupadoarespeitodascondiçõesdosnavios,queagoraembarcavampessoasdarealezanumalongaeperigosaviagem,senãocontasse com condições de navegabilidade e provisões de comida e águaadequadas:

Tomei o almirante13 em separado e perguntei-lhe sobre a eficiência e aprontidão para a longa viagem: ele franca e prontamente disse, “semcondiçõesemambososaspectos”;e,defato,pareciaevidenteaosolhosquenãohaviamsidofeitospreparativos,provavelmentepelainfluênciacontráriado partido no poder, que procurava impedir que o príncipe embarcasse etornar impossívelqueesteprosseguisseemsuasações.Eles têmmultidõesdehomens,mulheresecrianças,todosrefugiadosindefesos,eummontedebagagem (como na evacuação de Toulon) a bordo, pouquíssimosmarinheiros, e nem água nem provisões para uma viagem de duraçãoconsiderável. E durante a minha explicação ao almirante, que, embora,naturalmente,euestivesseprontoaaliviarimediatamenteasdificuldadesdequalquer navio, não poderia fornecer-lhes suprimentos na quantidadenecessária sem deixar o esquadrão sob as minhas ordens tão ineficiente

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quanto ele declarava estar o seu, ele disse: “Então devemos ir para aInglaterra,poisnão temosnenhumoutro lugarparaonde ir.”Elenãodisseistorefletindodesejoalgumdopríncipeemdesviar-sedapropostarotaparaoBrasil,nemeuacreditoqueSuaAltezaRealconsiderassetalidéia.14

A avaliação inicial de sir Sidney e de Thomas O’Neil, de que os naviosportuguesesestavamemcondiçõesdesesperadamente ruins, eraprovavelmenteum exagero. Talvez o contraste entre o que a Royal Navy julgava ser uma“aparênciadeeficiência”eoqueelespuderamobservardosnaviosqueestavamdepartida,assimcomoocaosdeterumnúmeroindeterminadodepassageiroscivisabordo,tenha-oslevadoaadotaressaopinião.Defato,foramtransferidasquantidades relativamentepequenasdevíveres, enenhumaágua; tampoucoháregistrodequaisquerreclamaçõessobreescassez.ComotodososnaviosdeS.M.tinhamde,aoretornar,prestarcontassobreoconsumoeoretornodevíveres,éprovável que os dados registrados estejam corretos. Quanto ao estado dosnavios, embora severamente castigados pelas sucessivas tormentas de invernoque causaram avarias consideráveis, todas as embarcações chegaram ao seudestino. Isto reflete a qualidade dos oficiais e das guarnições, assim como doprojeto e da construção dos navios, além da experiência de vários séculosnavegandoregularmenteatravésdosoceanos,emcondiçõesdetempovariadas.

ApróximapreocupaçãodesirSidney foicomobloqueiocerrado,ecomoperigo para os navios mercantes que ainda estavam deixando o Tejo. Era demáxima importância,estrategicamente,que tantoo fortedeSãoJuliãocomoodoBugio fossem tomados imediatamente; por causa de sua posição na foz doTejo, podiam provocar terríveis estragos a qualquer navio entrando no rio ousaindodele.SefossemcapturadospeloExércitofrancêsinvasor,oquedeviaserquaseinevitáveledamaisaltaprioridade,abarranãopoderiamaissercruzada.O Bugio, em particular, sendo um forte insular, poderia ser defendido contraforçasconsideravelmentesuperiores.

NanoiteanteriorabordodaMedusa,lordeStrangfordnãotiverasucessoemconvencer Antônio de Araújo a entregar os fortes; agora sir Sidney tentavanovamentecomoprínciperegente:

Prossegui, solicitando que o forte doBugio, na foz do Tejo, fosse dado amim sob custódia, como uma segurança para a saída livre dos naviosremanescentes;quantoaisto,SuaAltezaRealobjetou,baseadoemqueseriainjustodesuaparteparacomosrussos,comquemeleestavaempazequehaviamsidorecebidoscombasenahospitalidade.SuaAltezaReal recusou

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com grande delicadeza e sentimento, mas estava bastante fixo em suadeterminaçãonestadireção,emboratenhaditoqueeleficariafelizemvê-losemminhaposse,seeupudesseobtê-lospornegociaçãocomaregênciaqueele tinha estabelecido, e à qual ele não gostava de dar ordens sob suaspresentes circunstâncias, para não comprometê-la, e aos habitantes deLisboa,comosfranceses.15

SirSidneysentiuqueelenãopodia,comboarazão,argumentarcontraestarecusa: “Mas eu não podia reivindicar tal coisa sob os artigos adicionais daConvenção,porqueminhaentradanoTejo,paratrazeropríncipeparafora,nãotinhasidonecessária.”16

Defato,elehesitaraem levarseuesquadrãoaoTejo,nãoapenasporcausadosfortesqueprotegiamorio,mastambémporque,seguindoaopédaletrasuasinstruções de que nenhum navio deveria ser autorizado a entrar, ele tinhaimpedidoumafragatarussadeunir-seaseuesquadrão,fundeadonorio:esteatopoderiaaborrecerosrussoseaumentarosriscosdeentrarnorio.

Elepercebeuqueumadasrazõespelasquaisopríncipenãoqueriacederosfortesera:

A recusadaguarniçãoemdesmantelá-los antesde suapassagem, tendoossoldadosditoqueosdefenderiamcontraosfranceses,ecompreendendoquehá tal espírito de resistência no país que, se o povo fosse adequadamenteliderado, Portugal seria pior queLaVendée ou aCalábria para oExércitofrancês.17

SirSidneydecidiu,emvezdisso,seguiradiantee tentarcapturarofortenailha,“duranteamomentâneainterrupçãooucessaçãodetodaautoridade”.18Comtal finalidade, ordenou que uma força-tarefa de fuzileiros navais, oriundos deváriosnaviosdelinhadebatalha,fossetransferidaparaosnaviosbemmenoresemais manobráveis que se podiam chegar à terra, com ordens para tomar edefenderofortedoBugio.

A Hibernia cedeu um capitão, um oficial subalterno e 60 fuzileiros,transferidos para a Confiance; do mesmo modo, aMarlborough enviou umcapitão,doisoficiaissubalternose75fuzileirosparaaRedwing.Umdosoficiaisfuzileiros navais da London, transferido para a Solebay, foi o tenente condeThomas O’Neil. Em 1810, ao retornar à Inglaterra, escreveu um detalhado,emboraromanceado,relatodoperíodoqueantecedeuaviagem,daparticipaçãodosfuzileirosnavaisdonaviodeS.M.Londonedaposteriorestadadoautorno

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Brasil.19Eleescreveu:

Um sinal foi enviado do navio do comandante-em-chefe para que osfuzileirosnavaisdaLondonsejamtransferidosparabordodafragatadeS.M.Solebay. O oficial sob o qual tive a honra de servir (major Malcolm), otenenteBynoneeu,juntamentecom80soldados,trêssargentos,trêscabosedois soldados-tambores, deixamos a London, assim que as circunstânciaspermitiram, rumo à fragata; e, à nossa chegada a bordo, foi-nos dado aconhecerquenossodestinoeratomarpossedoforteBoujai[sic],situadonaentradadoTejo…Àssetehorasdamanhãdodia30,a fragataestavanasproximidadesdoforte:sopravaumatremendatempestade,commarpesado,que tornava impossível o nosso desembarque. Às oito horas, vimos abandeira francesa hasteada em cada um dos fortes; … Às nove horas, atempestade aumentou. Às dez horas, o navio estava em perigo iminente,esperandoaqualquermomentoser lançadoàcosta:masaProvidêncianosprotegeu, ele conseguiu commuito custo safar-se, e às sete horas da noitenosconsideramosforadeperigo.

Otempotinhaimpedidoarealizaçãodaoperação;então,muitoacontragosto,sirSidneyordenouqueamesmafossecancelada.Tãologoosfrancesestivessemguarnecidoosfortes,suaopiniãoeradequenãomaisseriapraticáveltomá-lospelaforçasem,emprimeirolugar,executarumasériedeoperaçõesterrestresafimdeexauri-lospelafome.20Comoeleprevira,acapturadosfortesfoiumadasprimeirasaçõesordenadaspelocomandofrancês,depoisdeentraremLisboaaoalvorecerde30denovembro.

Umatestemunhaocularemterrarecorda-se:aprimeiraprovidênciadeJunotfoi armar os fortes para evitar a saída de alguns navios que ainda estavam sepreparando para a longa viagem, e se defender de um possível ataque daesquadrainglesa,quebloqueavaaentradadoTejo:

Imediatamente, despediu oficiais franceses para as fortalezas da barra, e atropa,mesmocansadíssima,marchavaparaasfortalezasdaspraiasafimdeimpedira saídadosnaviosnacionaisqueestavamdepartida,enão tinhampodidoseaprontarparaodiaanterior;eatirosdebalaosfezretroceder:talfoioprelúdiodefelicidadeeproteção!21

Omarechal-de-campoFranciscodeBorjaGarçãoStockler,comandantedasfortalezasebaterias,escreveuemdefesadesuasordensdadasnosúltimosdiasdenovembro.Esteofíciofoipessoalmenteentregue,nodia12dejulhode1812,

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aoconselheiro,ministroesecretáriodeEstadocondeAguiar:

É pois o primeiro dos indicados fatos, que eu demotu proprio impedira asaída do porto deLisboa aos navios portugueses, que nos dias 29 e 30 denovembro de 1807 pretendiam sair dele em seguimento da esquadra deS.A.R.Paraconvencerafalsidadedaprimeiraacusação,bastaodocumentonº1,

escritoeassinadopeloExmo.marquêsdeTancos.Porelesemostra:1ºQuenodia27denovembrode1807,emcumprimentodeumaordem

deS.A.S.,quemefoicomunicadadebaixodaassinaturadoExmo.marquêsd’Alegrete,euencraveiaartilharia,edestruítodasasmuniçõesepetrechosdeguerradasfortalezasdomeucomando;equeportantofizquantoestavadaminhaparte,paraquedelasnãosepudessedesortealgumaobstarasaídadaesquadradeS.A.R.,entãosurtanoTejo,nemadenavioalgummercante,quepretendessesegui-la.2ºQue namadrugada do dia 28 parti em companhia do tenente-general

Martinho de Souza d’Albuquerque ao encontro do Exército francês, paracumprimentarogeneralJunotdapartedogoverno.3ºQue na tarde do dia 29 deu omesmo governo ordem para serem de

novoartilhadasemuniciadasasfortalezasdeBelémeBomSucesso.4ºQue no dia 30, às instâncias do general Junot, ordenou o general de

artilhariamarquêsdeVagos,encarregadoporS.A.R.dogovernodasArmasdaCorteeprovínciadaEstremadura,atodososcomandantesdasfortalezasmarítimas das margens do Tejo, que não deixassem sair navio algum doportodeLisboaaténovaordemsua.5ºE, finalmente, que foi no dia 1º de dezembro, pelomeio-dia e pouco

maisoumenos,queeumeapresenteinoquartel-generaldeJunqueira,adarconta de haver ultimado a minha comissão, e que foi então que se meordenou,quetornasseatomarocomandodasmesmasfortalezas,quehavialargadonodia28.22

AConfianceeaRedwingzarparamdepoisdaesquadra,eem1ºdedezembroa alcançaram. As condições do tempo, porém, impediram que as mesmastransferissemosfuzileirosdevoltaparaseusnaviosantesdamadrugadade3dedezembro.ASolebayficouparatrás;agoraeraaúnicafragataapermaneceraolargodabarradoTejo.SódepoisdeumasériedeaventurasmarítimasnacostadePortugal,osfuzileirosnavaisdaLondonvoltariamaembarcaremseunavio,numatardedesábadonoRiodeJaneiro,em27defevereirode1808.

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EnquantoesteveabordodaPríncipeReal,sirSidneysolicitoueobteveumacópiade seu livrode sinais.Alémdos aspectospráticos– apartir de então, oesquadrão inglês podia se comunicar mais facilmente com o português –, aentregadolivrodesinais,normalmenteodocumentomaissecretoabordo,tinhaum ladomuitomais importante: era amanifestação de confiança e integraçãototais.

Nessemomento,haviatodasasrazõesparaoadiamentotemporáriodeumaoperação terrestre.Comoaesquadra tinhapartidodoTejo,oplanodeentrarecapturá-la não tinha mais aplicação; além disso, o país estava agora ocupadopelosfranceses,emboranãohouvessecertezaquantoaopoderiodesuaforça.Asdificuldades de manter navios-transporte a sotavento, ao largo de uma costa,davammaiorpesoàdecisãodesirSidney–apesardesuasinstruçõesdeLondres–denãomandarviraforçadesirJohnMoore,deGibraltar.

Nocomeçodanoitedomesmodia(29),comumaleveevariávelbrisaesobcéu nublado, ambas as esquadras singravam na direção noroeste. O naviocapitânia inglês relatou um total de 56 navios à vista. A esquadra navalportuguesaincluíaoitonaviosdelinha(CondeD.Henrique,MartimdeFreitas,D.JoãodeCastro,AfonsodeAlbuquerque,PríncipeReal,Medusa,RainhadePortugal ePríncipe do Brasil), quatro fragatas (Golfinho,Minerva,Urânia eThetis), três brigues (Lebre,Vingança eVoador), e uma escuna (Curiosa). Oesquadrão britânico, destacado do Tejo, incluía os navios de S.M. Bedford,Conqueror,Elizabeth,Foudroyant,Hibernia,London,Marlborough,MonarchePlantagenet, eopaqueteTownsend.AchalupadeS.M.Confiance eobrigue-chalupa de S.M.Redwing ainda estavam tentando tomar o forte deBugio.Osdemais navios erammercantes, dos quais apenas alguns nomes sobreviveram:Conceição e Santo Antônio, ao comando de Domingos João da Costa;23HenriqueSouzadeGouveia,24Príncipe25ePrincesadoBrasil,aocomandodeDomingosJosédosSantos,levou18passageirosetardou57diasparacompletara jornada;26Chocalho,27 o último navio a sair do Tejo, no dia 30, debaixo defogodosfortes;eoJequiá.28Seanaucapitâniaconseguiaver todososnaviosdasduasesquadrasnavais,entãoeram31onúmerodenaviosmercantes.

Ocapitão-tenenteLucasBoiteuxescreveuque,nestemomento,foiavistadaafrotamercantechegandodoBrasil:

Maisdistante,ocomboiodoBrasil,compostodegrandenúmerodenaviosnacionais carregados de produtos brasileiros, importando em avultadíssimasoma … Sendo conveniente que o comboio do Brasil não entrasse emLisboa, mandou o príncipe regente que o almirante inglês o protegesse.

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AquelesnaviosforammandadosparaLondres,ondepermaneceramcercadequatroanoseláficaramaapodrecereperdidos.29

Não apenas a frota doBrasil tinha recebido ordens do príncipe regente emsetembro,conformejárelatamos,parasuspenderaspartidasatéavisoposterior,como tambémnãohá amenor evidência, emqualquer dos livros dequartos erelatórios, do evento descrito. A chegada de navios provenientes do Brasil, elogo detidos pela esquadra de bloqueio, é mencionada por um observadoranônimo,porémsobadatadesegunda-feira,28dedezembrode1807,30quandoPortugaljáseencontravasobdomíniofrancês.

Acenadetantosnaviosdasduasnações,agorajuntos,afastando-sedoTejo,inspirousirSidneyaescrever:

Esta esquadra de oito navios de linha, quatro fragatas, três brigues e umaescuna,comumamultidãodenaviosmercantesarmados,encontrou-sesobaproteçãodeSuaMajestade,enquantoodisparodeumasalvarecíprocade21tirosanunciavaoencontroamistosodaquelesque,atéodiaanterior,estavamemhostilidadeaberta;acenaimpressionavaatodososobservadores,excetoo Exército francês nas colinas, com as mais vivas emoções de gratidão àProvidência por ainda existir no mundo uma potência capaz, assim comodesejosa, de proteger os oprimidos, inclinada a perdoar os desorientados ecapaz,porseuincentivo,defundarnovosimpériosealiançasdasruínasdosantigos, destruídospela efêmerapotênciadodia, sobre asbases sólidasdointeressemútuo.31

MariaGraham,escrevendoem1824,acrescentaumpós-escrito:

Taissãoasnarrativaspúblicas,transmitidasporestrangeirosàsuacorte,deuma dasmais singulares transações ocorridas na história dos reinos e dascortes.Maisainda,taleraoestadodaEuropanaqueletempo,tãomomentosooconflitoentreosprincipaisnapoderosaguerraqueestavaemprocesso,quea antiga Casa de Bragança deixou o lugar de seus ancestrais, para buscarrefúgio e segurança além do Atlântico, quase sem aviso e com cerimôniamenordoqueaqueacompanhavaformalmenteumaexcursãoaseuspaláciosnointerior.32

A fim de fornecer aos lordes do Almirantado, em Londres, um quadrocompletodoestadoedopoderiodaMarinhaportuguesa,sirSidneyescreveuemseurelatóriode1ºdedezembroabordodonaviodeS.M.Hibernia,a22léguas

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aoestedoTejo:

Incluoaquialistadaquelesdeixadosparatrás.Aausênciadeapenasumdosquatro navios é lamentada pelos portugueses (oVasco daGama), estandoesteemreparosecomordensdeunir-seàesquadraassimquepuderseguirviagem ou rumar paraGibraltar. Seus canhões tinham sido utilizados paraarmaroFreitas,64,umnavionovoeumdosquesaíramcomopríncipe.Osoutros três são apenas cascos semmastreação, e o que está na carreira, oPríncipeReal,sótemcavername.33

De fato, aMartim deFreitas era oSantoAntônio e S. José, construído naBahiaem1763eentãocom44anos,tinhasidosubmetidoaextensosreparosem1794,quandoseunomefoitrocadoparaInfanteD.PedroCarlose,novamenteem1807,quandofoirebatizadocomoMartimdeFreitas.

Para agradar à Grã-Bretanha ou preocupado em cumprir o artigo daConvenção que exigia que todos os navios que não zarpassem para o Brasildeveriamserentregues;ou,ainda,talvezcalculandomalashabilidadesdoalto-comando francêsemLisboa;permaneceo fatodeque,algunsmesesdepois,ocapitão-de-mar-e-guerra francês Magendie – encarregado dos naviosportuguesesdeixadosparatrás–conseguiuformarumesquadrãodedeznavios,incluindoasnausdelinhadebatalhaVascodaGama,MariaI(agoraCidadedeLisboa),PrincesadaBeira (agoraPortuguesa)eSãoSebastião (agoraBrasil);as fragatasTristão,Vênus,PrincesaCarlota eBenjamim;obrigueGaivotadoMar; e a escuna Curiosa. Esta escuna zarpou com a esquadra, em 29 denovembro; severamente castigada pela primeira tempestade e com apenas 15dias de mantimentos, foi forçada a voltar. Em 7 de dezembro, recebeu daSolebaydoisprisioneirosportuguesesdeumdosnavioscapturados;emseguida,entrounoTejoefoicapturadapelosfranceses.34

Segunda-feira,30denovembro

Durante essaprimeira noite daviagem,oventodiminuiu e, aomesmo tempo,mudoudedireçãoconstantemente:primeiro,lestequartanordeste;depois,leste,sudeste, su-sueste; e a seguir, variável com tendência sudoeste. A esquadra,seguindo as mudanças do vento, alterou o rumo para oeste quarta noroeste edepoisparanoroestequartanorte.Afaltadeventoeomarcheiodenaviosquaseprovocaram várias colisões. Logo após a meia-noite, no livro de quartos da

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Hibernialê-se:“à1h30,escalerarriado,rebocounavioportuguêsparalongedenós;paramos”;àsduashorasdamanhã,aPlantagenetregistrou:“arriadasduasembarcações para rebocar um navio a uma distância segura – içadas trêsembarcações”.

Àmedidaqueoventomudavadedireção,mudava tambémde intensidade.Aoamanhecer,umabrisafavorávelcomrajadasdeventoevoluíragradualmente,comcéunublado;aproximadamenteàsnovehoras,tinhasetransformadoemumvento duro, ainda com algumas rajadas. Para enfrentar a tempestade, osmastaréus e as vergas dos joanetes foram arriados e amarrados ao convés, asvelas grandes ferradas, os velachos e gatas foram levantados,mas rizados nosúltimos,easvelasdeestailargadasparaajudarareduzirobalanço;nãoantes,porém,queaMarlboroughrasgasseasuagávea.AHiberniatinhacedidoumdeseusbarcos,umescaler,àConfiance,aindaaalgumadistânciadaesquadra,queagoraorebocava.Àsquatrohorasdatarde,umaondaencheuoescaler,opesoadicional impôs excessivo esforço ao cabo; este arrebentou e a embarcaçãodesprendeu-se, sendo perdida. Uma rabanada de vento custou àHibernia suaveladeestaidovelacho.Duranteanoitedestedia30,aesquadraestavaagoradispersa por uma grande área; embora os navios à vista fossem em númeroreduzido, a Hibernia ainda relatou que podia avistar 38; o navio almiranteportuguêsestavaaumasseisousetemilhasdedistância.Oesquadrãobritânicovelejava mantendo fileira cerrada, segundo as instruções do almirante, e ostripulantesmantinham-seocupadosfazendoamarraçõesextrascontraaforçadovento;achuvacontinuavasemcessar.

Apesardotempo,avidaabordoprosseguiacomcertograudenormalidade;aLondon relatou ter aberto três barris de carne de boi, cada um contendo 26peças de oito libras; dois de carne de porco, com 133 peças de quatro e seislibras; um de aveia; um de farinha, pesando 341 libras; e uma pipa de vinho,contendo 131 galões. Sua guarnição prosseguia em suas várias tarefas:“Carpinteirosreparandoescadasdemão,armeirosfazendoobradeferroparaachalupa,veleirosocupadoscomaveladeestaidovelacho.”

Terça-feira,1dedezembro

Ovento, com forçade tempestade, continuou semamainar;pelamanhã, a suadireçãoerapredominantesudoeste,masàtardetinhamudadoparasu-sueste.Aomeio-dia,quandosuaposiçãofoimarcada,asesquadrasestavama20milhasao

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nortedalatitudedeLisboaecercade120milhasaoeste.Apesardotempo,osnaviosestavamconseguindopermaneceràvistanomar;aHiberniarelatouquetodo o esquadrão britânico, com a exceção daElizabeth, estava à vista, assimcomoos26naviosportugueses.

Em terra, o tempo também estavamuito tempestuoso.Muitos temiam pelafamíliareal,embarcadaeforadavistadeterra.Haviaumacrençageraldequeaesquadraestava,naquelemesmomomento,navegandorumoaosulparaasilhasdoAtlânticoedepoisparaoBrasil;portanto,umventodesudesteousudoestetornaria a navegação a vela um empreendimento desconfortável e muitoperigoso. Baseados nesta suposição incorreta,muitos historiadores escreveramsobreasituaçãodesesperadaemqueseencontravamospassageiros:

Nomarabertoaesquadraenfrentava,nestesprimeirosdoisdiasdeviagem,tempestades excepcionalmente severas e ventos que, pelo quadrante quesopravam, tornavam a vida a bordo incômoda pelo movimento e, para amaioria não acostumada, omedo de que a aventura terminasse a qualquermomento.AtéosportuguesesquetinhamficadoemLisboasentiramomautempo.Sobreveioum tãogrande tufãodeventoàs trêshorasda tarde,querepresentou a força de um tremor violento, pondo por isso em fuga váriasfamílias; quebrou infinitas vidraças, destelhou alguns quarteirões, eprincipalmente o Erário, e o Arsenal Real; cresceu o mar 12 palmosrepentinamente.35

EusébioGomesconfirmouestatormentasentidanacosta:

Neste dia houve um grande temporal, tanto nomar como na terra, e serialongodescreverosestragosquecausou,eemMafraforamelesmuigrandes,pois como era dia de feira as barracas foram todas destruídas, causandomuitosprejuízoseomesmoaconteceuemLisboa.36

Elesnãopodiamsaberque,defato,asesquadrasestavamsemovendonumrumonordesteounoroeste,tendolargadoasgáveas,correndocomotempo.Naprática, com ventos que tinham força de tempestade e com as limitaçõesimpostaspelaarmaçãoredonda,nãohaviaalternativarazoável;aindaassim,osnavios ficariam submetidos à arfagem, bem mais confortável e segura que obalanço. Desde que conseguissem manter a velocidade e evitar que ondasquebrassemnapopa,operigodosventosforteserareduzido.

Desde o começo da viagem, na noite de 29 de novembro, o tempo tinha

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impedidoqualquercomunicação,excetoporsinais,comoescreveusirSidney.37Ele tinha dado ordem ao capitãoMoore, daMarlborough, juntamente com aBedford,aLondoneaMonarch,parapermanecercomaesquadraprincipal“eprestar-lhetodaproteçãoeassistência”.EleestavamantendoseunaviocapitâniapróximoaonaviodopríncipeetinhaordenadoàFoudroyanteàConquerorquepermanecessemcomosquehaviamsidoavariadospelotempo.

No inícioda tarde,aElizabethvoltouaestaràvista; sirSidneysinalizouaesteparatomarsobseucomandoaPlantagenet,regressaraoestuáriodoTejoelámanterobloqueio.APlantagenetregistrouossinaisrecebidosemcódigo:

649Proceed61and1115Blockade2432Lisbon61and(18191319212518)Saintubes(Setúbal)1940Warn51all784Ships951whatever318from(2569137)entering867those(62118)Ports387if864they1081attempt873to306force256entrance583oppose422it129by306force51all784Ships951withgun129bygun306force721Rendezvous2432Lisbon.

Àscincohoras,osdoisnavios separaram-sedoesquadrão.O retornoà suaestação, porém, não foi fácil; a Elizabeth informou: “navio avançando comdificuldades e abrindomuita água”; aPlantagenet rasgou suavela de estai doconvés.

As bombas a bordo dos navios eram muito primitivas; uma coluna comcarlingas de pião, fixadas a intervalos numa corrente. Era um trabalho duro eextenuante mover a corrente, ainda que vários pudessem operá-la ao mesmotempo. A água era elevada até o nível da primeira coberta, acima da linhad’água.Os navios eram construídos com conveses ligeiramente arqueados, demodo que a água pudesse escoar através de aberturas nos bordos. Cobertasabaixo,aáguapodiafluirnaturalmenteparaovaudomastrograndeondeestavalocalizadaabomba.

SirSidneyescreveuem1ºdedezembro:

TenhoapenasaElizabetheaPlantagenet imediatamenteao largodoportodeLisboa;38eVossasExcelênciasobservarãoatotalimpossibilidadeemquemeencontrodeaindaenviaraFoudroyant,aPlantageneteaConqueroratéoalmirantePurvis,conformesuasordensde14docorrente, semdeixarosrussosemliberdadeparasairecapturarosnaviosportuguesesretardatários;creio que a ausência daqueles navios será menos sentida como umainconveniência ao largo de Cádiz, uma vez que aparentemente elesreceberamordemdeseguirparalá,apartirdainformaçãodequeosrussos

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estavam nos estreitos, antes que se soubesse que estes estavam emminhaáreadecomando.39

Quarta-feira,2dedezembro

Àtardeatempestadeamainoue,emboraoventofortecontinuasseasoprar,asesquadras navegando ainda juntas puderammanter o rumo sul, com destino àilhadaMadeira,acercade130léguasdedistância.Aobservaçãodomeio-diamostrouquealatitudedeLisboaacabavadeserultrapassada.

Quinta-feira,3dedezembro

Ovento,moderado pelamanhã e reduzido a uma leve brisa à tarde, deu umaoportunidadeparaarealizaçãodeváriastarefasquehámuitoeramnecessárias.

Embora quatro dias tivessem se passado desde que a esquadra portuguesadeixara o Tejo, sir Sidney havia sido impedido, pelos ventos com força detempestade, de enviar as notícias para a Inglaterra.Nessemomento, os váriosnavios enviaramdespachos e cartasparticularesparaonavio corsário afretadoTrafalgar; e, cedo pela manhã, este navegou para a Inglaterra. Os fuzileirosnavaisdaMarlboroughedaHiberniaforamdevolvidosaseusnavios.OnaviodoalmiranteportuguêsrecebeudaHiberniaos30marinheirosportuguesesquetinham sido retirados de uma presa, como prisioneiros, no dia 27; como, emgeral, os navios estavam com a cota de pessoal reduzida, esses marinheirosseriammuito bem recebidos. ABedford relatou ter enviado uma embarcaçãoparaabordarumnavioportuguêsemperigo;podemuitobemtersidoaescunaCuriosa,poucoantesdoseuregressoaoTejo.

AbordodaMedusa,AntôniodeAraújoescreveuaoprínciperegente:

O comandante da Foudroyant, que é o navio inglês que nos conduz, memanda propor que seria útil que se pedisse licença a V.A.R. para que oalmirante M. da Cunha permitisse que a Meduza fosse com a ditaFoudroyantavançandoparaaMadeira,independentementedasesquadras,afim de tomarmos lá alguns refrescos de que necessitamos. Lembra ocomandante, e o JoséEgidio, que da ilha podemos ir àBahia para fazer a

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aguadadequeprecisaremos.40

Opríncipe regente, sabendomuitobemqueoportedaesquadraatrasariaajornada, ordenou àMedusa para seguir seu rumo, navegando escoteiro comdestino ao Brasil; lá deveria anunciar a chegada próxima da família real,permitindo,dessemodo,queovice-reifizesseospreparativosnecessários.

Sir Sidney Smith tinha decidido que apenas poderia destacar quatro, e nãoseis,naviosdelinhadebatalhadobloqueiodeLisboaparaescoltaraesquadraportuguesa,comodeterminavaaConvençãoassinadaemLondresnodia22deoutubro.ApresençadoesquadrãorussonoTejoexigiaqueelemantivesseumconstanteestadodealerta,semdescartarapossibilidadedeumaação.Eletinha,atéagora,escoltadoasesquadrascomseisnavios,maslogoteriaderetornaraobloqueio;osquatronaviosdelinhadebatalhaescolhidospermaneceriamcomaesquadra, até que esta alcançasse o seu destino. Em seguida, ele convocou abordodoseunaviocapitâniaoscapitãesdosnaviosdeS.M.Bedford,London,MarlborougheMonarch,afimdelhescomunicarsuasordens.EssesseriamosnaviosquecruzariamoAtlânticocomaesquadraportuguesa.

Sir Sidney lamentou não ter uma fragata disponível para enviar com oesquadrão;foiprometidoqueaSolebayseriaenviada,tãologoestaregressasse;defato,comojámencionado,elasomentechegariaaoRiodeJaneiroem27defevereirode1808.

Osplanosparaprosseguirnaescoltadaesquadraestavamagoracompletos.As “instruções navais” estabeleciam que o capitão mais antigo presenteassumisse o comando do esquadrão que seria destacado para acompanhar afamília real.A senioridade era calculada observando-se estritamente a data dapromoçãoparacapitão-de-mar-e-guerra.

Embora não fosse o capitão mais antigo presente, Graham Moore, daMarlborough, foi escolhido e nomeado comodoro; em comunicação aoAlmirantado, em6 de dezembro, a cerca de 350milhas deLisboa, sir Sidneyexplicouasrazõesdaescolha:

Osdeveresimportanteseincomumentedelicadosconfiadosaele,conformedetalhadonasinstruçõesdadasaomesmo,cujacópiaestouanexandoaesta.Tenho a maior confiança na capacidade de julgamento e no zelo daqueleoficialemexecutá-las,semnenhumprejuízoparaoméritodosdoisoficiaisdo esquadrão mais antigos que ele, um dos quais o capitão Curzon,41 foidestacadoparaoimportanteserviçodemanterLisboasobvigilânciacerradaenquanto me ocupo deste assunto, sendo que o outro não se encontra

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permanentemente sob minhas ordens; há tantas qualidades peculiarmenteaplicáveisnocapitãoMoore,queeunãoestariadandoaconsideraçãodevidaaoArtigodasInstruçõesGeraisImpressassenãootivesseselecionado.42

Indicadoparacomandaroesquadrão,ocapitãoMooretinhaasaúdeabalada,eporestarazãoforaforçadoadeixaroserviçoem1801:

Sinto informar que sua saúde é tão precária, por ter anteriormente sofridoseveramenteemclimasquentes,queelenãosesenteaptoapermanecerporlongo tempo, e temo que o capitão Lee esteja nas mesmas condições.Portanto,dispensareiaquelesdoisnavios,eosdoisoutrosemseqüência.43

Adesignaçãocomocomodoroeraumapromoçãotemporária,duranteaqualum capitão-de-mar-e-guerra (captain) antigo devia assumir o comando de umpequeno esquadrão; era comum referir-se à mesma como “hoisting a broadpennant”(içarumaflâmulalarga[decomodoro]).EstefoiotermousadoporsirSidney Smith na ordem escrita por seu secretário, Richard Speare, dando aocapitãoMooreocomandodoesquadrão.44Aflâmuladocomodoro(umpavilhãotriangularcomfarpa)distinguia-sedaflâmuladecomando,umalongaeestreitaflâmulatriangular,comaproximadamente30jardasdecomprimento,nocasodocapitãodeumnaviode74peças.Emambososcasos,aocontráriodopavilhãonacional, que era arriado ao anoitecer, as bandeiras-insígnias (pavilhões eflâmulas)eramdesfraldadasduranteodiaeànoite,enquantoonavioestavanoserviçoativo.

Asordensde sirSidneyparao capitãoMoore, emitidaspouco antesqueoprimeiro se afastasse da esquadra portuguesa, são muito detalhadas ecompletas.45Ohiatodascomunicações,graçasàdistânciademilharesdemilhasdemar e pelomenos seis semanas de viagem, em ambas as direções, tornavaimperativo que as ordens cobrissemum longo período de tempo, incluindo asmuitasfasesplanejadas,edeixandoumamargemparaoinesperado.Naprática,nem todas as circunstâncias podiam ser previstas; por esta razão, a totaldependênciadobomsenso,docaráteredaexperiênciadooficialnomeadoparaestepostoassumiafundamentalimportância.

Mesmo estando em mar aberto, longe da terra, as esquadras estavamcontinuamente sob alerta contra um possível ataque-surpresa, por um dosesquadrões espanhóis ou franceses, supostamente em portos que estavam sobbloqueiobritânico.Ascomunicaçõeseram lentasepoucoconfiáveis,demodoqueerasemprepossívelqueumoumaisesquadrõesconseguissemescapar.

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Sexta-feira,4dedezembro

Aoamanhecer,oprimeironavioestranhoavistadodesdeapartidadoTejodeveter provocado apreensão considerável.AConqueror recebeu às sete horas umsinalparalhesdarcaça,oqueprontamentefez;cincohorasdepois,disparouumcanhão e, em seguida, outro, a fim de obrigá-lo a parar. Inesperadamente,constatou-sequeeraumnaviomercanteportuguêsvindodoRiodeJaneiro,comdestinoaLisboa.Pordesobediênciaàsordens,enviadasaovice-reipeloGavião,onaviofoiapreendidoe,nodiaseguinte,umtenentee40homensforampostosa bordo, e 77marujos portugueses retirados.ComoaConqueror tinha ido tãolongeatrásdesuapresa,elaagorainformavaqueasesquadras,distantesaoestequartanoroeste,malestavamàvistadotopodeseumastro.

Enquanto o tempo continuava moderado, com chuvas ocasionais e marcalmo, ocorreu a transferência de tripulantes entre aqueles navios maisnecessitados;afragataUrâniaregistraemseulivrodequartos:“ÀscincohorasveioumescalerabordodanauPríncipedoBrasilcomumoficial,oqualtiroudezmarinheirosdaguarniçãodestafragata.”

Sábado,5dedezembro

Agora que o tempo tinha melhorado, os preparativos finais para a viagemestavam sendo concluídos. O contra-almirante sir Sidney Smith e o vice-almirante d. Manuel da Cunha Souto Maior, ambos comandantes com aexperiênciadeumavidanomar,tomaramconhecimentodascondiçõesdecadanavio.

Basicamente, a fim de empreender tão longa viagem com certo grau desegurança, os navios deveriam estar em condições razoáveis, quanto àmastreação, ao aparelho e à impermeabilidade do casco; levar um suprimentoadequadodecomidaeágua,commargemdesegurançaparaumprolongamentoda viagem causado por freqüentes calmarias encontradas próximo ao equador;bem como possuir uma tripulação adequada tanto em número quanto emadestramento,paraoperaronavio.

Asavariasportempestadesecombateseramocorrênciacomum,variandodevergasemastaréusmenores(dejoanetesesobrejoanetes)quebrados,oumesmoperdidos, a aparelhos destruídos, velas rasgadas ou arrebatadas e avarias nocasco, de modo que este não mais fosse completamente estanque. Para fazer

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frente a tais ocorrências, os navios transportavam varas, lonas e cordoalhasobressalentes, assim como os artesãos necessários. Mesmo abaixo da linhad’água, os vazamentos podiam ser tamponados com lonas. Na ocorrência deavariasmuitoseveras,onavioaindapoderianavegar,aindaquecomvelocidadereduzida,compartedeummastroouummastrosobressalenteimprovisado.

Inicialmente, a Martim de Freitas fora considerada sem condições deenfrentaraviagem;mas,numaavaliaçãoposterior,d.Manueldecidiusubstituí-la pela nau Príncipe do Brasil, em pior estado, e a Golfinho;46 a aparênciaindicava que ambos os navios não poderiam empreender a jornada. Ficouacordadoqueestesdeveriamseguir,emprimeirolugar,paraaInglaterra,afimde submeter-se a reparos, antes de empreender a longa viagem; existia umacordoparareceberaparteouatotalidadedaesquadraportuguesaemPlymouth,caso fossenecessário.Porprecaução, d.Manuelordenouque seuspassageirosreais – as duas irmãs da rainha, a infanta d.MariaAna e a princesa viúva d.MariaFranciscaBenedita–setransferissemdaPríncipedoBrasilparaaRainhadePortugal.

Entretanto,apesardessesarranjos,sirSidneyinformouque,aoseseparardaesquadraportuguesa, em5dedezembro, aPríncipedoBrasil não seguiucomele.EsparteiroescreveuqueaPríncipedoBrasilfundeounoRiodeJaneiroem14 de janeiro, uma semana antes daqueles navios que velejaram diretamente;esta informação pode não estar correta.O livro de quartos daLondon registraqueestenavioentrounabaíadoRiodeJaneiroem13defevereiro;portanto,épossívelquetenhaestadoemPlymouth.

Osdoisnavioscujacapacidademarinheiraestavasendopostaemdúvida,anau de linha Martim de Freitas e a fragata Golfinho, receberam ordem deprosseguir juntos diretamente para a Bahia ou para algum outro porto deconveniência no Brasil. Separados pelo mau tempo, em 9 de dezembro,navegaramescoteirospelorestodaviagem.47

Em 3 de dezembro, sir Sidney Smith escreveu ao almirante Young, emPlymouth, informando-o sobre a bem-sucedida partida de Portugal da famíliareal e alertando-o de que alguns dos navios portugueses, que necessitavamdesuprimentos ou reparos, poderiam navegar rumo a Plymouth antes de tentar atravessia para o Brasil. Também confirmou que aHibernia – assim como aElizabeth, a Foudroyant, a Conqueror e a Plantagenet – permaneceria, porenquanto,ao largodoTejo.Emboraaesquadraportuguesa jánãoestivessenorio, o esquadrão russo de nove navios ainda estava lá; razão, portanto, paracontinuarcomobloqueiogeral.48

Após essas considerações sobre a navegabilidade dos navios, a atenção

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voltou-separaossuprimentos.A água, em particular, não seria um problema, apesar dos passageiros

adicionaisque eram transportados, pois esperavam ter aoportunidadede fazeraguadanaMadeiraetalveztambémemSãoTiago.49Oconsumo,senecessário,poderia ser reduzido à metade sem muito sofrimento. Em casos extremos, araçãopodiasermuitomenor, sendoosuprimentodeáguamantidosobguardapermanente.

MesmoaquelesnaviosqueforamdiretamenteparaaBahianãoparecemtersofridoqualquerfaltad’água.AfragataportuguesaMinerva,queseseparoudaPríncipe Real na noite de 21 de dezembro, rumo a São Tiago, pode tertransferidopartedeseusuprimentodeáguaparaestenavio.ABedfordregistraseuconsumonormaldeduastoneladaspordiadurantetodaaviagem;sefossepreciso,estacertamente teria transferidoáguaparaqualquernavionecessitado.AmesmachegouàBahiacom75toneladasemseuporão,suficientesparamaisseissemanas.

A comida, após as transferências daHibernia e da Conqueror, tampoucoparecetersidoumproblema.Nãohádúvida,porém,dequeaqualidadedeixoumuito a desejar, principalmente entre os civis não acostumados à comida denavio,salgadaousecapararesistirporlongosperíodos.Asbolachasdebordo–queeramnaverdadepãoassadoemdemasiaparaeliminaraumidade–,apesarde armazenadas em compartimento revestido por folha de estanho, estavam,apóscertotempo,sujeitasaoataquedeinsetosfamintos.

D.Joãosuportoubemaviagem;eleseimpôsatodasasqueixas.50D.CarlotaJoaquina, de temperamento inteiramente diferente, queixava-se amargamente eexigiaqueelemelhorasseascondiçõesdacozinhaabordodeseunavio(AfonsodeAlbuquerque).D.Joãoescreveu-lhe:51

Meuamor,estimoq.estejasboaenossasfilhas.Eupaçobem,minhaMayenossos filhos, e sobrinho estão bons quanto ao q. me dizes a respeito dacozinha,eoxariahenecessárioq.tuautorizesoC.deCaparicacomalgumofficial hábil dessaNao pª. Q. unidos ambos fação o arranjamentomilhorpossívelcastigandoosq.nãoquizeremobedecer-lheeáDeosateavista

Espozoq.m.toteamaJC

Oescorbuto,ocasionadopelafaltadevitaminaC–encontradaemlegumes,verdurasefrutasfrescas–,játinha,então,sidocuidadosamentepesquisadoeasua causa determinada. Como resultado, uma ração regular de suco de frutas

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cítricaseradistribuídaabordo.APríncipeReal recebeu a embarcação do almirante “completa”; esta seria

útil quando chegassem a um porto, e mesmo antes, se o príncipe regentedecidissevisitarumoutronavioquandootempoficassemaisbrando,oqueseriaaltamenteprovávelquandoentrassemnazonadecalmarias.

Por mais estranho que possa parecer, pois o destino dos navios era ostrópicos, a Hibernia enviou, além da embarcação, um fardo de cadaindumentária–jaquetas,calçasboca-de-sino,jaquetascinza,coletesdeflanela,calçasjustas,cobertores,camisas,camisolas,sapatos,meiasechapéus.

Em 5 de dezembro, aproximadamente a meio caminho entre Lisboa eFunchal,nailhadaMadeira,sirSidneySmithdecidiuqueoperigodeencontrarnavios inimigos tinha diminuído e que, portanto, era tempo de retornar aobloqueiodeLisboa.

Correumalendadeque,antesdesuapartida,sirSidneydesejavapresentearoprínciperegente,masascondiçõesnãopermitiamqueumaembarcaçãofossearriada. O capitão da Príncipe Real, Francisco do Canto de Castro eMascarenhas,apósobterapermissãodoprínciperegente,manobrouseunavio,passandoa rastejarparaqueopresente fosseentreguepormão,deum laisdevergaparaoutro,mostrandoassim,atodosospresentes,ahabilidadeeovalordeumnaviodaMarinhaportuguesa.52

Esteepisódiovaipermanecermesmocomouma lenda!Nodiaemquestão,haviaumabrisalevesoprandonocéuclaro;duranteodia,váriosnaviosarriaramsuas embarcações para transferir suprimentos e prisioneiros; navios prestes aempreenderumalongajornada,comomonarcaeoregenteabordo,dificilmenteaceitariamo riscodesnecessáriodeumacolisão; os livrosdequartos indicam,inequivocamente, que os navios capitânia Hibernia e Príncipe Real nãochegaramamenosdeumamilhaumdooutro.

Os navios Marlborough, Bedford, London e Monarch tiveram um diaatarefado, preparando-se para a longa viagem ao Brasil. De manhã cedo, oscapitães subiram a bordo da Marlborough para receber instruções de seucomodoro.

D.Manuel,abordodaPríncipeReal,decidiusobreopontodereunião:

A primeira coisa, a qual eu estava ansioso que ficasse perfeitamenteentendida entre o vice-almirante português e eu, era o ponto de reunião, oqual foi fixado por ele primeiramente ao largo da extremidade oeste daMadeira,posteriormenteao largoda ilhadePalma,e finalmenteemPraya,nailhadeSãoTiago.53

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Ospreparativos prosseguiram: aMarlborough tomou a bordo, como lastro,43 toneladasdeáguadomarnoporãodevante,“paramanteronavio trimadopelaproa”.Comoesteestiveranomarporquatro semanas,desdeapartidadePlymouthem9denovembro,ecomoconsumiaduastoneladasdeáguapotávelpor dia, o lastro compensaria plenamente a água e as provisões consumidas,fazendo com que a nau recuperasse o seu equilíbrio original. Com isso, seudesempenho seriamelhor aovelejar e ela teriamais segurança aonavegar emmares de ondas altas.ALondon enviou suas três embarcações – a chalupa (amaior delas), o escaler e a lancha – àHibernia, a fim de ajudar a transferirsuprimentosparaaPríncipeReal.

Nocomeçodatarde,às3h20,comofoiregistradopelaHibernia,asalvarealfoi disparada e respondida pelaConde D.Henrique. Estando os preparativosagora quase completos, a Hibernia recebeu dez prisioneiros espanhóis daMonarch, demodo que estes não fossem levados semnecessidade por todo ocaminho até o Brasil. Ao cair da noite, a Hibernia e a Conqueror, tendo achalupaConfianceeobrigue-chalupaRedwingcomoescolta,viraramemrodarumoaonordesteesepararam-sedaesquadraportuguesa.

Àsnovehorasdaquelanoite,aesquadraportuguesa,comaescoltadequatronaviosdelinhadebatalhabritânicos,esobabrisamoderadadosudoesteeocéunubladode inverno, retomouasua jornada.Amarchaeramuito lenta,eassimcontinuariapelaspróximas24horas;nãomaisdeume,muitoocasionalmente,doisnósdevelocidade,numrumogeralsudoeste.

Domingo,6dedezembro

À primeira luz da manhã, a quase totalidade da esquadra portuguesa estavanavegando junta. A Marlborough relatou que o esquadrão de 14 navios deguerraportuguesesestava“deconserva”.

Nestedia,GrahamMooresubiuabordodaPríncipeRealpara falarcomoalmiranteportuguês.Eleescreveu,noseudiário:

Ontem(6/12),tiveumaconversacomoalmiranteportuguêssobreassuntodeinteressepúblicoeopressioneiparaqueabandonasseaidéiadeaportaremSãoTiago,nasilhasdeCaboVerde,porqueeuestavacertoquenãoajudariaemnadae sóocasionariaumatraso,oquedeveria serevitadodequalquermaneira devido ao estado em que se encontravam os navios e por não

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estaremsuficientementeestocadoscomáguaeoutrasprovisões.Euassegureique ele não conseguiria abastecer seu esquadrão por lá, já que sir JohnWarrennãoo conseguiuháuns15ou16meses, quando tentou resolveroproblemadaáguaparaos seus seisnaviosde linha.Propus, então,queelemandasse um de seus brigues para a ilha da Madeira, pedindo que ogovernador fornecesse suprimentos para qualquer um do esquadrão inglêsenviadopormim,a fimdequesejaabastecidocomáguaeoutroscomesebebes.IstoeleofezprontamenteeeuenvieiaLondoncomordensparaquecompletasse seu próprio depósito d’água e enchesse tantos barris,pertencentes às outras três naus de linha de batalha, quanto fosse possívelacondicionarnoconvés.DeiordensaocapitãoWestern,daLondon,paraquenosencontrasseouasudoesteda ilhadaMadeiraounaentradadabaíadePraia, na ilha de São Tiago, onde o príncipe brasileiro tinha resolvidoancorar,semdesembarcar,comointuitodeobtermantimentos.54

OcomodoroMooreentendiaquesuasordenseramparaficarcomaesquadraportuguesa, em particular com aqueles navios que levavam os membros dafamília real a bordo. Sua velocidade seria a do mais lento, de modo que,enviandoaLondonnafrente,eleesperavaeconomizarumdiaoudois,otemponecessárioparatrazerosbarrisdeterraeestivá-loscobertasabaixo.

Nomeiodatarde,aesquadraeoesquadrãodetiveram-seporduashoras.ALondonrecebeu20barrisvaziosdeáguadecadaumdeseusnaviosirmãos.AMarlborough enviou nove barris de provisões salgadas para aPríncipe Real.Nesse momento, a Príncipe Real transferiu 69 de seus passageiros para aLondon,eumnúmeronãoregistradoparaaMonarch.

Essassãoasduasúnicasocasiõesregistradas,durantealongaviagemparaoBrasil,detransferênciadepassageirosdosnaviosportuguesessobrecarregados.Épossívelque,porcausadosprimeirosdiasde temporuimedesagradávelouporquetaispassageirostransferidosparaaLondontivessemfamíliavivendoemumadasilhas,estestivessemdecididonãocontinuaratéoBrasil.ComonãoháregistrodeseudesembarqueemFunchal,tambémépossívelqueatransferênciatenha sido feita com a única finalidade de aliviar o navio sobrecarregado, demodoadeixarmaisespaçoparaafamíliareal.AdotaçãodepessoalcompletadaPríncipeReal,de84canhões,erade950homens.OcapitãoWalkerrelatouque,ao chegar à Bahia, aPríncipe Real levava 1.054 pessoas a bordo. Se tivesseconseguidocompletarasuaguarnição,estariatransportando104passageiros.

Àsdezhorasdaquelanoite,aLondonlargoumaispanoecomeçouaafastar-sedaesquadra;aomeio-diaseguinteestavadistante,aolargo,masaindaàvista,

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navegandoaumavelocidadedecincoaseisnós.

Segunda-feira,7dedezembro

Oventonovamentecomeçouaganharforça;outratempestadeestavaacaminho.A brisa fresca forçou os navios mais velozes a largar e reduzir pano,alternadamente, a fim de que a esquadra e o esquadrão de escolta, agorareduzidoatrêsnavios,permanecessemjuntos.Àtarde,aBedfordchegouàfalacomumdosnaviosportugueses; este tinha rachado seumastrodo traquete.ABedfordenviouumaembarcaçãoparaavaliaraavariaeverificaroquepoderiaserfeitoparaajudar.

No iníciodanoite,aPríncipeReal recebeuocomodoroabordo,que tinhavindo obter informações sobre os planos imediatos do almirante. Como severificariamais tarde, este foi o começo de uma série demal-entendidos, queeventualmente resultaramna separaçãoda esquadra. Posteriormente, ao relataros eventos que ocorreriam no dia seguinte, o comodoro Moore revelou oprincipalobjetivodesseencontro:

Mais especialmente porque estávamos então a cerca de 50 léguas daMadeira,eeletinha-meditonodiaanteriorqueestavacommedodeseguirduranteanoite,devidoaoperigochamado“AsOitoPedras”,queficamaonortedePortoSanto.

Terça-feira,8dedezembro

Odiaamanheceucomoqualqueroutrodiadeinverno,noAtlânticoNorte:frio,com vento, nublado e úmido. Nada indicava que as histórias portuguesa ebrasileirateriamseucursosignificativamentealteradoporumasériedeeventos,alguns fortuitos, tais como o tempo, e outros por erro humano, resultantes dafalta de conhecimento dos costumes locais, da interpretação incorreta dasinstruçõesedafalhanascomunicações.

Nofinaldodia,oaumentodoventoparaforçadetempestadeproduziumarmuito pesado e chuva. AMarlborough registrou, ao longo do dia, variações:primeiro, o vento veio do leste; em seguida do sul; depois, do norte; e,

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finalmente,dolestedenovo.Sobestascondições,osnaviostiverammomentosdifíceis e cansativos para os que estavam a bordo tentando manter algumaorganização em suasmanobras.Amaior parte do dia foi gasta bordejando.AMonarchregistrou,sucessivamente,rumosulquartasudoeste,contraovento,aolargo de sudoeste; e, depois, nordeste, ao largo de nor-nordeste. O comodoroMoore,temendoque–comoseconfirmariamaistarde–ascondiçõesdetempo,quepioravamrapidamente,pudessemgerarocaosentreosnavios,dispersando-osporumagrandeárea–oque,acrescidoàvisibilidaderuim,podiafazercomque os navios se perdessem de vista –, reforçou os pontos de reunião,sinalizando com o telégrafo de madeira: “Ponto de reunião ao largo daextremidadesudoestedaMadeiradoisdiasdepoisdoPortoSanto.”55

Às sete horas da noite, vendo que o navio almirante tinha parado, aMarlborougheaMonarchfizeramomesmo;aBedfordreduziusuavelocidadeepassou perto daMarlborough. O comodoroMoore imaginava que aPríncipeReal e seus navios irmãos permaneceriampairando até o amanhecer, evitandoassimosperigosdeaproximar-sedaMadeiraànoite.Comoaesquadraestavamuitodispersapelosventosquedificultavamsuasmanobras,ecomapenassetenavios à vista, ele decidiu manter uma distância de cerca de duas milhas emrelaçãoaoalmirante,afimdemanteralinhadecontatocomosnaviosdispersos.

Enquantoaescuridãodescia,porduasvezesaMarlboroughaproximou-sedonavioalmirante,afimdemanterasluzesdaPríncipeRealàvista,masàsnovehorasperdeudevistaaluzdesta.OcomodoroMoorenãoficouimediatamentealarmadoporestefato;seoalmirantetambémtivesseparado,nãopoderiaestarmuito longe ao amanhecer. Durante toda a noite, ele redobrou os vigias, tãoansioso em localizar as luzesdo almirantequanto temerosoque, na escuridão,pudesseocorrerumacolisão.

No mar, ao largo da barra do Tejo, os navios que haviam partido em 29 denovembro com a esquadra portuguesa estavam nesse momento se reunindonovamente.Seupapel permaneciaomesmo,masoobjetivode suas ações eraagora diferente: impedir que suprimentos chegassem às tropas francesas eespanholas, por navios amigos daqueles dois países ou neutros. Durante aprimeira semana, foram capturadas cinco presas, e navios neutros foramabordados e instruídos a não desembarcarem suas mercadorias em Lisboa.Tambémdeveriamimpedirqueoesquadrãorussoparticipassedashostilidades.

Em7 de dezembro, agora bemao norte da esquadra portuguesa, a chalupaConfiance,comdestinoàInglaterra,separava-sedaHibernia.LordeStrangford

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– que tinha originalmente planejado seguir com o esquadrão de escolta,mantendo assim seu posto como representante deSuaMajestade junto à corteportuguesa – ficou seriamente doente e foi embarcado de volta à Inglaterra.Também a bordo estavam seus criados e o mensageiro. Lorde Strangfordchegaria ao Rio de Janeiro somente em 22 de julho de 1808, para assumir opostodeministroplenipotenciário.56

Acostumadoanegociarcompríncipes,ministrosealmirantes,aoretornaraLondres lorde Strangford teria de lidar com assuntos mais mundanos: eleescreveria ao hon. George Canning, solicitando reembolso pelos valores quetinhadeixadoparatrás:

Devo solicitar seu perdão pela liberdade que tomo em representar, que ascircunstâncias peculiares de minha partida de Lisboa fizeram-me sofrerperdas consideráveis em carruagens, móveis, livros & outros objetos:incluindo alguns cavalos andaluzes muito valiosos que me haviam sidopresenteados pelo príncipe regente. Posso estimar, de todos osmodos quepossam ser considerados próprios ou necessários, que aquelas perdas nãoficam em menos de £1077.0.0 [mil e setenta e sete libras esterlinas] &confiando na justiça e generosidade de Sua Majestade, aventuro-me asolicitarquesejaautorizadoareceberasomalíquidanoTesouro.57

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CAPÍTULOSEIS

Asnausde linhadebatalhaPríncipeReal,AfonsodeAlbuquerqueeBedford,apósváriosdiasseparadas,reúnem-seeprosseguemviagemsemfazerescalaemnenhumporto.ChegamfinalmenteaSalvador,em22 de janeiro de 1808. Depois de breve estadia naquela cidade, aesquadraparteparaoRiodeJaneiroem26defevereiro,láchegandoem7demarçode1808.

Quarta-feira,9dedezembro

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A surpresa a bordo daPríncipe Real, que veio com o nascer do dia naquelaquarta-feira,9dedezembro,podebemserimaginada.Océunubladoeumabrisafresca anunciaram o novo dia.O oficial de quarto naquelamanhã teria ficadoestupefato ao esquadrinhar o horizonte com a sua luneta, assim que o diaclareou, ao descobrir que, após tantos dias nummar cheio de navios, estavamagoracompletamentesós,excetopelafragataUrânia,quenavegavafielmenteaolado deles. Teria imediatamente chamado o capitão-de-mar-e-guerra FranciscoJosé do Canto de Castro e Mascarenhas, se este já não estivesse no convés.Capitãesresponsáveisgostavamdeestarpresentesnestahora,pois,depoisdetãolongo período de escuridão, o cenário poderia ter mudado dramaticamente.Mascarenhas,porsuavez, teriachamadoovice-almiranted.ManueldaCunhaSouto Maior e o major-general Joaquim José Monteiro Torres. O capitão dafragata, JoséManuel de Meneses,1 também seria ouvido na discussão que seseguiria,sobrecomoestaseparaçãoaconteceraequalseriaagoraomelhorrumoasertomado.

Visandoaumasituaçãocomoestaéquehavia,emqualquerocasião,pontosde reunião previamente combinados. A decisão natural, portanto, deveria ser,dentro dos limites impostos pela direção e a força do vento, seguir rumo aoprimeiropontodereunião,queeraaolargodaextremidadeocidentaldailhadaMadeira.

AbordodaAfonsodeAlbuquerque,asurpresanãodevetersidodiferente.Ocapitão-de-mar-e-guerra Inácio da Costa Quintela deve ter sido chamado aoconvés e observado, com exceção de sua escolta cerrada – a fragataMinervacomandada porRodrigo José Ferreira Lobo –, a vasta extensão demar vazio.Aqui também a decisão sobre o rumo a seguir deveria ser a mesma: aextremidadeoestedaMadeira.

Ao relembrar os eventos da noite anterior, o capitão James Walker, daBedford,escreveu:

Na noite do último dia 8, a esquadra se separou; eu tinha falado com aMarlborough por sinais ao anoitecer e recebido o ponto de reunião docapitãoMoore.Eleestavaàcapa,pareceu-mequecomafinalidadedefalarconosco, enquanto o almirante seguia adiante, sem nenhum sinal à vista.Mantivemo-nos fora de seu caminho e retomamos nosso rumo sudoestequarta sul; logo o perdemos de vista. Naquela noite e durante toda amadrugada,soprouventofrescoetempestuoso,eotempoestavatãofechadoquenãopodíamosenxergartrêsvezesocomprimentodonavio;nãovimosasluzes do almirante, nemouvimos nenhumcanhão, e como estávamos a 49

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léguas da Madeira, naturalmente concluí que ele prosseguiria no mesmorumo.2

Eletinhaestadodepéanoitetoda,poissuaprincipalpreocupação,devidoàvisibilidade muito ruim, era com uma possível colisão e suas terríveisconseqüências, como ele relatou em 6 de janeiro a Suas Excelências noAlmirantado:

Ficamosanoitetoda(excetodas10às11horas)comosvelachoseagávearizados nos últimos, com medo de parar devido ao perigo de sermosabalroados;entretanto,otempomelhorouumpoucoeestivemosàcapadas10 às 11 horas; às duas horas da manhã, ainda sem ninguém à vista,rumamosasudoesteatéodiaraiar,quando,verificandoqueestávamossós,parei, na esperança de que os tivéssemos ultrapassado, pois não podiaencontraroutrarazãoparaocorrênciatãoextraordinária.3

Normalmente,havendoqualquerpossibilidadedequeoutronavionãopossaverouanotarumsinal,porcausadavisibilidaderuimoudadistância,umtirodealertaédisparado.Todaatençãoabordoéentãodirigidaaonaviosinalizador,easlunetassãoapontadasemsuadireção.Seporventuraosinalaindanãopuderser decifrado, o navio largará pano e manobrará para encurtar a distância.Naquele noite, com visibilidade muito ruim, a Príncipe Real não reforçouqualquersinalquepudesseterenviado,comumdisparodecanhão.

Uma das primeiras questões levantadas pelo capitão Walker, quando esteeventualmentesubiuabordodaPríncipeReal,foiperguntarad.Manuelsobreoquetinhaacontecido:

Descobrique,nocomeçodanoitedodia8,oalmirante,apreensivodequeestivéssemos seguindo muito perto de um obstáculo chamado “As OitoPedras”,oqualdizemficaracercade40léguasanor-nordestedaMadeira,tinha rumado a oeste-noroeste durante a noite e alterado seu rumo, semsinalizar,poisnãoeracostumedispararcanhõesquandoafamíliarealestavaa bordo; a conseqüência natural foi que, ao amanhecer, o almirante, noPrinceRoyal[sic],encontrou-secomapenasumafragatadeconserva.4

Defato,foiasaúdedarainha,enãoofatodequeafamíliarealestivesseabordo,averdadeirarazãoparanãodispararumcanhão,comooprínciperegentetinhapreviamenteexplicadoasirSidney.

Entretanto, o livro de quartos daUrânia – a fragata que nunca deixou a

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PríncipeRealforadeseualcancevisual–registraque,nanoitedodia8,ocorreuumareduçãonavelocidade,queeradecincoaseisnósaoanoitecer,paracercade dois nós. A partir das sete horas da noite, a velocidade aumentou e foimantida durante toda a noite em cinco nós, com vento do leste e rumo geralsudoeste.

ABedford,navegandoanoveoudeznós,foiaprimeiraachegaràMadeira:

Fiz-medevelaspoucoantesdomeio-diarumoàMadeira,entãoa18léguasdedistância;às3h30datarde,avistamosailhae,àscincohoras,passamosasete ou oitomilhas da extremidade oeste (o ponto de reunião) e paramos,masaindasemavistaraesquadra.5

Emseulivrodequartos,lê-se:

[9dedezembro]…às3h30,avistamosterraquatroléguasasudoestequartaoeste e arribamos a quatro ou cinco léguas a sudoeste quarta oeste daextremidadeoestedaMadeira…

Acaminho,onavioavistou,adistância,umafragata;omesmoinformouaoAlmirantado:

Prosseguiemnossorumoparaosul,partedo tempoàcapaoucompoucopano,esperandoporumafragataqueavistamosàsoitohoras, rumandoemnossadireção;quandoestaseaproximou,verificamosserumadas[fragatas]daesquadra,massozinha.6

Àtarde,avistououtrafragata,destavezescoltandováriosnaviosmercantes:“Seis navios a oeste, os quaismostraram ser naviosmercantes sob escolta deumafragata.”

Enquanto a escuridão descia, aPríncipe Real e aAfonso de Albuquerque,com suas fragatas de escolta, estavam, cada uma delas, navegandoseparadamente, bem ao norte e a oeste da Madeira. A Bedford, também só,estavanopontodereunião,aolargodaextremidadeoestedaMadeira.

Quinta-feira,10dedezembro

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No dia seguinte, o vento forte, principalmente do leste, e o tempo borrascosotornaram difícil para a Bedford manter a sua posição. Ao meio-dia, o ventoestava novamente com força de tempestade, obrigando-a a rizar a vela,reduzindosuaáreaaomáximo,eaabaterseusmastaréusdejoanetesnoconvés.À tarde, George Green, um marinheiro, caiu ao mar, mas uma embarcação,rapidamente arriada, o recolheu.APríncipeReal e aAfonso deAlbuquerque,comsuasfragatas,continuaramsemescoltaesozinhas.

Sexta-feirasábado,1112dedezembro

De manhã cedo, a Príncipe Real e a Afonso de Albuquerque finalmente seencontraram e prosseguiram juntas; com as fragatas Urânia e Minerva,formavam um pequeno esquadrão de quatro navios, dos aproximadamente 35quetinhamdeixadooTejo,menosdeduassemanasantes,levandoporémquasetoda a família real portuguesa. Distantes demais a oeste daMadeira, como aBedford,tambémverificaramserimpraticávelcomoventolestetentarganharailharumoaopontodereunião,eentãoseguiramdiretamenteparaFerro.7

Namanhãseguinte,aBedfordtinhacaídoparasotaventoaumpontosituadoa cerca de 20 léguas ao largo do oeste da Madeira; o vento leste incessantetornavaimpraticávelsuaretomadadailha.Comoelestinhamestadonopontodereuniãopor36horas,semavistarnenhumdosnaviosquetinhamdecomboiar–nem tampouco nenhum de seus próprios navios irmãos –, o capitão Walkerdecidiu,apósfazerassuasmarcaçõesdomeio-dia,seguirparaosegundopontode reunião. Alterou o rumo, dirigindo-se agora para Ferro, uma ilha nasCanárias, distante cerca de 80 léguas. O tempo continuou com brisa fresca,soprandoprincipalmente do sudeste, e ainda nublado.Durante o resto daqueledia,edodiaseguinte,elecontinuouavançando,geralmenteacincoeseisnós,aumentandoavelocidadenamanhãdodia12paraoitoenovenós.

Domingosegunda-feira,1314dedezembro

Àvelocidadeque fazia,não levoumuito tempoparaqueaBedford cobrisse adistânciaaté seudestino, láchegandonovamenteantesde todososoutros.Aoamanhecerdodia13,ailhadePalma,amaissetentrionaldogrupoqueconstituias Canárias, ficou à vista cerca de seis léguas na direção sul quarta sudoeste.

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Durante o dia, o vento diminuiu para uma brisa leve e o sol apareceu; Palmaficoulentamenteadistância;àsseishoras,Ferroficouàvista,emaisumavezaBedford assumiu a sua posição de espera, aguardando reencontrar a esquadra.Nesse momento, esta nau não tinha meios de saber que os dois navios maisimportantes que estavam sendo escoltados também se separaram e, emboraagora navegassem juntos, não contavamcoma escolta de umnavio de guerrabritânico.

APríncipeRealeaBedfordestavamagorabempertoumadaoutra.Àssetehorasdanoite, aUrânia anotouquea ilhadeFerroestavaàvista.Nomesmomomento, a Bedford deveria estar bem próxima, pois anotava que Ferrocontinuavaàvista.

Na manhã do dia 14, logo após haver exercitado seus canhões maiores, aBedford avistou três velas a barlavento, número que aumentou à tarde paraquatro.

Exercitar os canhões principais, a fim de obter rapidez no disparo dasbordadasdeartilhariaeprecisãono tiro,eraumaspectonecessáriodavidadebordo. Para tal finalidade, certa quantidade de pólvora era alocada peloAlmirantado.Não era incomumque capitães adquirissem pólvora adicional àssuasprópriascustas,afimdeaumentarafreqüênciadosexercícios;oretornoeraesperadoemdinheirodepresas,empromoçõeseemglória,obtidosnasbatalhas.

ABedford agora rumava a toda a velocidadepara os navios distantes,maslevariaumdiainteiroatéquepudesseregistrar:“Reuni-meàpartedaesquadraportuguesaque levava a família real.”OcapitãoWalkermais tarde relatou aoAlmirantado:

No dia 14 de manhã, ao largo da ilha, tive a satisfação de avistar quatronaviosabarlavento,sendoentãoadireçãodoventooeste-sudoeste,aosquaismereuninodiaseguinte,eesteseramosnaviosagoradeconserva.8

Terça-feiraquarta-feira,1516dedezembro

Na tarde do dia 15, a Bedford atracou a contrabordo da Príncipe Real, e ocapitãoWalkersubiuabordo.Nessemomento,comoeraaúnicaescolta,todaaresponsabilidadeimpostapelaconvençãorecaíasobreaBedford.Estaaassumiucommuitaseriedade,comorelatouocapitãoWalker:

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Dei toda atenção possível à família real, conforme exigiam meu dever eminha inclinação, e Sua Alteza Real teve a generosa consideração deexpressarsuasatisfaçãoemrelaçãoàminhaconduta.9

Comaúltimadas tempestadesacalmadaefaltandoagoraapenasdoisgrauspara entrar na zona dos trópicos, o bom tempo, combrisamorna e agradável,tornou-se habitual. No dia 16, a Bedford relatou que seus veleiros estavamocupados fazendo um toldo; este serviria para fazer sombra sobre o convésabertoeajudararefrescaroarquedesciaparaascobertasinferiores,atravésdasgradesdeventilação.

À medida que o tempo melhorava, os passageiros não tinham tanto de sepreocupar em se manterem secos e aquecidos; ao diminuir a ansiedade emrelação ao tempo ou a um possível ataque de algum esquadrão francês,começavam as inquietações e as queixas sobre a falta de espaço, alimento,limpezaerecreação.

Quando a tormenta passou, um clamor geral se levantou a bordo, pelascomodidadesquefaltavam;aumtinhaficadoemLisboaumbuledemuitaestimação, que fazia o melhor chá do mundo; outros haviam deixado detrazerumbaú,emquetinhamtrastesmuitonecessários;outrossemostravamarrependidosdeteremembarcado.10Aosentirem-sebemlongedoinimigoedapátriainfeliz,voltou-lhesentão

a calma. Notaram que tudo faltava, que os mantimentos eram da piorqualidade,queasbagagensestavamtrocadas.11

Quinta-feirasexta-feira,1718dedezembro

Amonotonia da jornada foi quebrada no dia 17; era aniversário da rainha, d.Maria.Trêsvezesduranteodia, aoamanhecer, aomeio-diaeaoanoitecer,osportuguesesdispararama salva real emsuahonra.12ABedford,nãodesejandoserexcluídadessacomemoração,arvorouopavilhãorealduranteodiaemseumastro grande, e também demonstrou sua participação com uma tradicionalcerimônianavalbritânica:

Nodia17,aniversáriodarainha,oqualcomemoraramcomtrêssalvasreaisaoamanhecer,meio-diaeanoitecer,considereiextremamenteoportunoque

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o navio de Sua Majestade desse uma completa demonstração de nossaparticipação naquela comemoração, e, pouco antes do meio-dia, carregueitodas as velas, guarneci as vergas, com todo o pessoal uniformizado, semseus chapéus, e os fuzileiros apresentando armas; e, às 12 horas, dispareiumasalvareal.13

Nodiaseguinte,comemoraçãoidênticafoirepetida,“porserafestadasantapadroeiradarainha”.AbordodaBedford,osoficiaisficariamcontentescomareação: “O príncipe expressou-se de modo muito agradável, em ambas asocasiões.”14

O capitão Walker tinha pela frente deveres e circunstâncias altamenteincomuns;preocupadoemfazeracoisacerta,escreveu:

PeçoalicençadeesperarqueSuasExcelênciasaprovarãominhacondutanaocasião.Afimdeevitarqualquercomentáriodequeeutivessefeitoacoisapela metade, expliquei-lhes que nunca excedíamos 21 tiros de canhão aocomemoraroaniversáriodonossoSoberanoReal.15

Segunda-feira,21dedezembro

Depoisdeváriosdiasdeprogressomuitolento,umventodenordestecomeçouasoprare,porumasemana,navegaramaseisouatémesmosetenós.

O intenso desejo de chegar a seus domínios no Novo Mundo e o ventoestáveldenordeste,assimcomoumsuprimentoadequadodevíveresedeágua,podemmuitobemtersidoasrazõesquelevaramoprínciperegenteadecidir,nodia 21 de dezembro, navegar diretamente para o Brasil. Naquela manhã, aPríncipeReal sinalizou àBedford paraque esta se aproximasse àdistânciadavoz.

ABedfordregistra:

Às cinco horas fui chamado à fala e informado de que o príncipe tinhaenviadoumafragataaPortoPraia,paraanunciarqueSuaAltezaRealtinhaseguidoadianteeordenaratodososnaviosparaprosseguirematéoRiodeJaneiro, equeomesmoesperavaqueo capitãoWalkerpermanecesse comele.

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Esta era uma mudança importante, em relação aos planos previamenteestabelecidos:

O príncipe pretendia inicialmente tocar em Porto Praia e ficou combinadoqueeufundeariaelhetrariasuprimentosenquantoeleestariaemcapamorta,a distância; mas devido ao forte vento nor-nordeste, passamos a leste detodasasilhasdeCaboVerdeenãopassamosa60léguasdeSãoTiago,eeledespachouumafragataparalá,afimdeordenaraosnaviosquechegassemqueoseguissemparaoRiodeJaneiro,edesejavaqueeupermanecessecomele; de fato, ele sempre expressouomaior desejodeque eupermanecessecomele,oqueconsidereimeudeverfazer.16

Duranteaquelanoitede21dedezembro,afragataMinervaalterouorumoeseguiu para Porto Praia, São Tiago; ela chegaria lá no dia 24, com as suasnotícias, na frente da Marlborough. Antes de partir, foi informada sobre alongitudeemqueaPríncipeRealeaAfonsodeAlbuquerqueesperavamcruzaroequinócio.17

Equinócio éoponto emqueodia e a noite têm igual númerodehoras.Alongitudeemqueseesperavaatravessarestalinhaimagináriaseria,portanto,umpontodereferênciaparaosnaviosquefaziamaguadaemPortoPraia.Foradoalcance visual de terra, era impraticável escolher um ponto de reunião comoantes;esteeraumpontode referência tãobomquantoseriapossível,naquelascircunstâncias.

Avida a bordodosnavios estabilizou-se novamente, pois aindahavia umalongadistânciaanavegar;notempodeduraçãototaldeviagem,estavamapenasnomeiodocaminho.

Terça-feira,22dedezembro

ABedfordanotouemseulivrodequartos,em22dedezembro:

De manhã, veleiros ocupados reparando a vela grande, pessoal fazendoestopa.18Armeirosnaforja,àtardeoqueijorestantefoitrazidoparaarejar,eo exame revelou partes de vários queijos mofadas e impróprias para uso;condenados em inspeção, 122 libras que estavam podres e fedendo eimpróprias para comer, as quais foram lançadas pela borda, sendo uma

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amolaçãoparaonavio.

No dia 23: “Demanhã, o convés inferior foi lavado, enviei o barco até onaviodoalmiranteportuguês;às12horas,tempomoderadoebom”;nodia24:

Às 6h30 partiu desta vida John Alioand; às 8h40, o corpo do finado foilançadoàsprofundezascomacerimôniausual;àtarde,forampunidosHughDavis com 24 chibatadas por negligência no dever e desrespeito, NealMcDougal com 24 chibatadas por negligência no dever e expressões demotimeThomasMirrinscomtrêschibatadaspornegligêncianodever.

Àmedidaqueseaproximavamdoequador,suavelocidadebaixavademodoalarmante.Poucossabiamqueseriam,dentrodepoucosdias,ultrapassadospelaMarlborough e seu comboio, que navegavam num rumo paralelo não muitodistante,aoeste.

A frustraçãoabordodeve ter crescidoatéo limite,pois agoraoesquadrãotinhasidorealmenteapanhadopelascalmarias,emboraaáreadestasfossemuitoreduzida durante essa época do ano; nesse momento, o avanço diário eramínimo.Asituaçãoiriapiorar,comopassardotempo,comorelatouocapitãoWalker:“Estávamossendodetidospelascalmarias,quemantinhamosventoseas chuvaspesadasdo ladonorteda linha, e levamosdezdiaspara avançar30léguas.”19 Com um bom vento, um navio veloz cobriria esta distância em 20horas.

Asdistraçõesaolongodaintermináveljornadaincluíamvisitassociaisdeumnavioaooutro.PelonúmerodevezesemqueaBedfordestavalançandoaomarsuasembarcações,semdúvidaissoestavaocorrendo.Namaioriadosdias,umadasembarcaçõesdaBedfordiaatéonavioalmirante,poralgumashoras.

Umdosaspectosmaisdesagradáveisdacalmaria,comopoucomovimentodo navio, era a questão dos detritos. Como não havia tanques sanitários, nemnadasimilar,comopassardotempotodososdejetostendiamaseacumularnomar,emtornodonavio;umamassanauseanteemalcheirosa,queficavapioràmedidaqueotempoesquentava.

Outroaspectodesagradáveleraa faltadehigieneabordo.TobiasMonteiroescreveu:

Tamanhafoiainvasãodepiolhos,quetodaselas, inclusiveaprincesareal,tiveramdecortaroscabelosparaatacareficazmenteosparasitascombanhaepósdeJoanna.Quandoasvissemchegartonsuradas, todoobelosexodo

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RiodeJaneirohaveriadetomaraoperaçãocomorequintedamodae,dentrode pouco tempo, as fartas cabeleiras das cariocas caíram, uma a uma,devastadasàtesoura.20

Mesmo em terra, comoo banho não era hábito, o piolho era umproblemaconstante.Micosbem treinadospoderiamseralugadosparacatar (ecomer)ospiolhosdascabeleiras infestadas!Ocabelomantidolongoerasinalderiqueza,pelocustodesuamanutenção.

Otempotropicaltornou-sepredominante;comtrovões,raiosechuvapesadaàtarde,maspoucovento.

Sexta-feira–domingo,1–3dejaneirode1808

Em1ºdejaneiro,noápicedoperíodocalmoesemvento,aBedfordrelatouàsdez horas da manhã ter avistado, do topo de seu mastro, uma vela nãoidentificadaasudoeste.

Um bom vigia, postado no vau de joanete, podia avistar um joanete oumesmoumsobrejoanetenohorizonte,enquantoocascoaindaestivessealagado;comboavisibilidade,oalcancedavistaerade20milhasoumais.

Nodiaseguinte,às7h30damanhã,onaviorelatouqueavelaestranhaaindaestava lá e que, ao meio-dia, podia avistar duas outras velas na direção sul.Naquelemomento,aBedfordnavegavaumpoucoadiantedosnaviosqueestavaescoltando,demodoapoderretornarrapidamenteatéeles,sefossenecessário;aPríncipeReal estava a norte quarta noroeste, aAfonso deAlbuquerque a nor-noroeste;eaUrâniapróximaaoalmirante,tambémanortequartanoroeste.Nodia3,osdoisnaviosnãoidentificadostinhamsedeslocadoparasudoestequartaoeste.

HaviamuitopoucooqueaBedfordpudessefazer;nãoapenasoventoestavafraco, de modo a que mesmo distâncias relativamente curtas levavam muitotempo para serem cobertas, mas, estando só, não podia deixar os navios queestavaescoltandoparainvestigarvelasestranhas.

Graças à imprecisão e ao fato de que os navios estavam dispersos numagrandeárea,éprovávelqueaBedfordestivessemesmoavistandoosnaviosqueestavam sendo escoltados pelaMarlborough; pois, durante esses três dias, ocomodoronavegouemumrumomaisaoeste,ultrapassandooesquadrãoquea

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Bedfordestavaescoltando.Suasposiçõesrelativas,aomeio-diadecadadia,eramasseguintes:21

Aposiçãodeumnavioaomeio-dianãoforneciaprecisãoabsoluta,comoéindicadopelosregistrosdosnaviosquenavegavamjuntocomaMarlborough:

Evidênciaadicionaléoregistro,nolivrodequartosdaMarlborough,paraanoitede2dejaneiro:“Avisteiumaluzazulanordeste;às11h15,acendiumaluzazul; esquadrão indo de conserva.” No livro de quartos da Bedford, para amesma noite, lê-se: “Acendi uma luz azul.” Esta posição corresponderia à daBedford,nocasoemqueumadasvelasavistadasfosseaMarlborough.

Essaéaúnicanoitedaviagem,após8dedezembroeatéachegadaaoBrasil,em que uma “luz azul”, típica das belonaves daRoyalNavy, é registrada porquaisquer dos quatro navios. Parece que aBedford acendeu a luz azul porquetinhanaviosestranhosàvista,eaMarlboroughfezomesmoporqueviuumaluzazul.

AcomparaçãodeposiçõesentreaBedfordeaMarlboroughtambémmostraa considerável diferença de velocidades. Embora próximos, o vento podia serdiferente, porémémais provável queoprogressodaBedford tenha sido lentoporcausadamarchaarrastadaimpostapelaAfonsodeAlbuquerque.

Segunda-feira,4dejaneiro

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Outro estranho apareceu, desta vez um brigue navegando no rumo sudeste.ABedford alterou seu rumo ligeiramente para interceptá-lo e, no dia seguinte,alcançou-o.EraumbrigueportuguêstransportandosaldeLisboaparaoRiodeJaneiro;umnaviodemarchalentaquehaviazarpadoparaasuajornadaem14denovembroenadasabiasobreoseventosmaisrecentes.

Enquanto isso, na Bahia, de acordo com os registros, o primeiro navio dafrota mercante que tinha partido de Lisboa em 29 de novembro acabara dechegar: era um navio mercante daquela cidade, o Príncipe.22 Este trouxe asnotíciasdatransferênciadacorte,quandoatracouemSalvadorem4dejaneiro.Parecia ao então governador, João de Saldanha,23 que a notícia era autêntica,pelosdetalhesdoencontrocomoesquadrãobritânicoforadabarraepelacópiadodecretoquehavia sidopublicadoafirmandoa intençãoded. Joãodepartirpara o Brasil. Esta notícia foi imediatamente enviada ao vice-rei, Marcos deNoronhaeBrito,24noRiodeJaneiro.Profeticamente,anotíciadoPríncipeeradequeoprínciperegenteestavavindoparaaBahia.

Quarta-feira,6dejaneiro

Desde o dia 4, o capitãoWalker trocava informações diariamente sobre a suaposição com o almirante, por meio de sinais. O vento de su-sueste ganharaalguma força; parecia, assim, que tinham se livrado das calmarias e estavamnavegando,masaindalentamente,adoisetrêsnós.

OprimeirorelatóriodocapitãoWalkersobreaviagemfoiescritonestadata.Eleacrescenta,empós-escrito:

Eu tinha escrito a carta acima na esperança de encontrar-me com alguémpróximoàLinha,comdestinoàInglaterraouàsÍndiasOcidentais.Comotaloportunidadenãoocorreu,penseiemenviá-la,desdeentão,diretamente.25

A rota provável de um navio com destino à Inglaterra, proveniente dohemisfério Sul, era passando pelas Índias Ocidentais e subindo a costa dosEstadosUnidos,sórealizandoatravessianumalatitudealta,ondepoderiacontarcomosventosdooeste.

AbordodaBedford,aprolongadajornadaestavacomeçandoaterseuefeitosobreatripulação.Olivrodequartosdocapitãorelatounodia7:

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Puni John Walter com duas dúzias de açoites, e John Tetley, John Fox,William McCurdy, Dennis McKelly, David Scott, Thomas Nichols, JohnMcKindly com uma dúzia cada, por provocações frívolas e queixas sobreprovisões; Thomas Jackson, quatro dúzias por expressões induzindo aomotim.

Sábado,9dejaneiro

Às10h30damanhã,aBedfordcruzouoequador;adistânciaatécaboFriofoi,aomeio-dia, estimada em1.670milhas.O vento sudeste ainda propiciava umprogressolento,nãomaisque40ou50milhaspordia.

OcapitãoWalker,sempresolícito,ofereceuseunavio:

ComoanavegaçãopesadadoAlphonzo[sic]nosretardavamaterialmente,eo navio do príncipe estava se tornando insalubre, tendo 1.054 pessoas abordo, pensei ser meu dever oferecer o navio de Sua Majestade paraacomodação deSuaAltezaReal e comitiva, no caso de o príncipe desejarprosseguirrumoaoRiodeJaneiroou,comooventomantinha-sedosudeste,desermosforçadosaarribaraqui(Bahia);ofertaqueeleficoucontenteemreceber, muito graciosamente, e propôs à princesa, a qual teve prazer emdizerquesódeclinavaporqueiriamortificardemaisocapitãodoAlphonzo[sic].26

Sábado/domingo,16/17dejaneiro

Após mais uma semana, sem qualquer sinal de mudança ou melhora no seuprogresso,nodia16aPríncipeRealsinalizouaocapitãoWalkereoalmiranteinformou-odeumamudançaemseusplanos.EmvezdoRiodeJaneiro, iriamparaaBahia,muitomaispróximodeles,naquelemomentocercade162léguasdedistância.

No dia seguinte (17), pouco antes do meio-dia, a Bedford sinalizou aoalmiranteque tinhaavistadoumavelaestranhaasudoeste;àmedidaqueodiapassavaeseaproximavamdacostadoBrasil,avelanãoidentificadamoveu-separa uma posição a oeste meia noroeste, aproximando-se, até que pôde ser

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identificadacomoumbriguedeguerra.EsteeradefatoobrigueportuguêsTrez-Corações. O governador de Pernambuco,27 ao saber que a família real tinhapartidodePortugaleiriavararestapartedacostaacaminhodoRiodeJaneiro,decidira, como gesto de boa vontade, enviar o Trez-Corações carregado comfrutas,verduraselegumesfrescos,paraandaremcruzeironaquelaáreaetentarinterceptaraPríncipeReal.Àtarde,aposiçãodobrigueerafrancamenteaoeste,entreoesquadrãoea terra;oventosudeste tornavadifícildiminuiradistânciaque os separava. Nas primeiras horas da manhã seguinte, finalmente obtevesucessoemsuamissão;aUrâniainterceptou-o.Apartirdaí,oTrez-Coraçõesseuniuaosdemaisduranteorestodajornada.

Segunda-feira,18dejaneiro

Nodia18,oaniversárioda rainhada Inglaterra28 foicomemorado;elanasceraem1744.Às11horasdamanhã,omajor-generaldaesquadraechefe-de-divisãoJoaquim José Monteiro Torres subiu a bordo da Bedford. O capitão Walkerescreveu:

Tendo,comotiveahonradedeclararemminhaprimeiracarta,consideradomeudeverunir-meàcomemoraçãodoaniversáriodaaugustaaliadadeSuaMajestade, pensei que estaria em falta commeu dever de lealdade ameuprópriosoberanosemeomitissedecomemorarodia18.Procedidomesmomodo e, portanto, disparei uma salva real, no que fui acompanhado pelafragata.Osoutrosnaviostinhamiçadoseuspavilhõesaonascerdosol;SuaAltezaRealenviouocapitãodaesquadra[sic]paracumprimentaronaviodeSuaMajestadepelaocasião;elefoirecebidocomascontinênciasdevidasaum contra-almirante e salvado com 13 tiros ao deixar o navio, quando opríncipe ordenou à fragata, através de sinal, que respondesse à salva comigual número de tiros. Peço licença para esperar que Suas Excelênciasaprovemaminhacondutanisto,jáqueanaturezapeculiardocasofezcomquemedesviassedocostumeestabelecido.29

Assim que as formalidades de salva terminaram, o capitãoWalker alterourumoparainterceptarumavelaestranhapróxima,nosulquartasueste:

Àsduashoraslargueipano,dispareiumcanhãoparafazerpararoestranho;às3h45vireiemroda&atravesseionavio,abordeioestranhoquearvorava

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pavilhão português, procedente de S. Catherines [sic] com destino aParamaiha[sic].

Quarta-feiraquinta-feira,2021dejaneiro

Porváriasnoites,vinhasoprandoumabrisamoderada,demodoqueaesquadraeracapaz,poralgumashoras,denavegaraseisesetenós.Namanhãdodia20,oalmiranteordenouumamudançaderumo,desudoesteparaoeste;aesquadraestavachegandoàterra.Àtarde,oTrez-Corações,quedeviaestarestacionadoaoeste,disparouumcanhão;tinhaavistadoterra.Àsseishorasdatarde,aBedfordrelatou ter avistado terra do topo domastro, a oeste quarta noroeste, cerca denoveoudezléguasdedistância.

Na manhã seguinte, a Bedford sondou com o prumo grande, mas nãoencontrou fundo a 110 braças. No começo da noite, tentou novamente, eencontroufundoarenosoa28braças.

Mediraprofundidadedaáguaemqueumnavioestavanavegandoeraumatarefa importante. Não apenas havia muitas partes do mundo que ainda nãoconstavamdascartasnáuticas,comotambémaprofundidadeeaconsistênciadofundo freqüentemente eram uma orientação útil para determinar a posição. Oprumoeralançadodaproaporummarinheiroposicionadonaamura,edeixadoafundaratétocarofundo–esperava-sequeantesdeserultrapassadopelapopadonavio,ondeoutromarinheiroseguravaalinha,osebonopesocolheriaumaamostra do fundo; etiquetas atadas ao longo da linha asseguravam que aprofundidadepudesseserlidarapidamente.

Naquelatarde,aUrâniadisparouumcanhãoefezpararumavelaestranha.Estavamamenosde100milhasdeseudestino.

Sexta-feira,22dejaneiro

Emterra,aesquadratinhasidoavistadaemensageirosforamdespachadosparaalertarogovernadoremSãoSalvador.Esteescreveusobreachegada:

Nodia22dejaneirodesteano,pelasduashorasdamadrugada,mefoidadaanotíciadeseteremavistadoembarcaçõesgrandesnacostadoNorte,nodia

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21, pelas quatro horas da tarde; redobrei as vigias ordinárias, esucessivamente,semecomunicou,apareceremtrêsnaus,umagaleraedoisbergantins,dando-seporcertoseremembarcaçõesinglesas;nestacertezameconservei até o meio-dia, em que, diferençando-se as bandeiras, sereconheceuopavilhãoreal;mandeilogotirarbalasàspeçasdasbateriasparasedaremasdevidassalvas.30

Natardedodia22dejaneirode1808,após54diasnomar,aesquadraentrounabaíadeSãoSalvadorefundeou.ABedfordrelata:

À 1h25, fiz sinal com um canhão solicitando prático… às quatro horas,entreinabaíadeSãoSalvador…àsseishoras,fundeeicomferrodeserviçoem12½braçasdeágua,ferreivelas,desenvergueivelaspequenasefundeeinavioadoisferros.

Agoraquetinhamchegadoemsegurança,suapreocupaçãoeracomosoutrosnaviosdaesquadra,emparticularosnaviosdelinhadebatalhatransportandoosoutrosmembrosdafamíliareal,osministroseosmembrosdacorte.

Antes de se separarem da esquadra, tanto aD. João de Castro quanto aMedusatinhamobtidopermissãoparaseguirparaoBrasilindependentemente.31OcomodoroMooreconfirmaistoemseurelatório:“Doisdeles,aMeduse[sic]eaDomJuandeCastro[sic],tendoseseparadoantesqueV.Ex.medestacasseparaesteserviço.”32

AD. João de Castro arribou, no início de janeiro, na enseada de Lucena(Paraíba), abrindo mais água do que podia esgotar com as bombas,33 e comavarias em sua mastreação e em seu aparelho.34 Em 17 de dezembro, tinhachegado à fala daLondon e dito que não necessitava de qualquer assistência.Como nenhuma tempestade foi registrada após este período, deve ter sidoapanhadonumatormentatropicallocalouentãoeraorgulhosodemaisou,ainda,pode não ter percebido a extensão das avarias que sofrera, nas borrascasanterioresaestadata.

AMedusa,35seriamenteavariadanatempestadeaolargodailhadaMadeira,chegou com dificuldades ao Recife em 13 de janeiro de 1808. Durante osúltimosdias,foraescoltadapelafragataMedea,pertencenteamercadoresdoRiodeJaneiro.

Nanoite dodia 10, na altura da ilha daMadeira, desarvoramosdomastrogrande, que levou consigo o damezena, depois do que foram os balanços

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terríveis, em conseqüência do que desarvoramos também da do velacho,ficando unicamente com o gurupés emastro do traquete; faltos de todo osobressalente, não só o perigo foi iminente naquele momento, masdificilmente se remediou armando umas pequenas guindolas no que setrabalhoudezdias,eassimchegamosaquinodia13docorrente,obrigadosporventosescassos.36

Antônio de Araújo, viajando neste navio, ao escrever ao príncipe regente,atribuiuasavariasàscondiçõesdamastreaçãoedoaparelho:“Omastrograndenão estava velejado, e quebrou porque estava totalmente podre; cabos sãoindignos;tudotemconcorridoparapôremperigoasnossasvidas.”37Éprovávelque,aotentarmanterseurumocomfortesventosdesudeste, tivessemforçadoemdemasiaamastreaçãoeoaparelho.

ForaaMedusa,comsuasnotícias,quederaaogovernadordePernambucoaidéia de enviar o Trez-Corações para interceptar a Príncipe Real em 25 dejaneiro.AntôniodeAraújoescreveuque,nodia20,elereceberaanotíciadequeosnaviostransportandoafamíliarealtinhamcruzadoalatitudedeRecifenodia17.OnavioquelhederaessanotíciatinhasidoabordadopelaBedford,comojámencionado,natardededomingo,dia18.

Sábado,23dejaneiro

Na primeiramanhã na baía, um navio de guerra holandês atraiu a atenção daBedfordnoportodeSãoSalvador:

Ànossachegadaaqui,encontramosumpequenobriguedeguerraholandês,oFly,oqualopríncipeapreendeueestavadeterminadoaenviaràInglaterra,oqueeuhaviasugeridoàSuaAltezaReal,nasuposiçãoqueogovernodeSuaMajestadeestarianaturalmenteansiosoemsaberdenossachegadaaosBrasis[sic].38

O destino dos outros membros da família real e dos navios que tinhampartidojuntosdoTejoaindaeradesconhecido:

OpríncipetencionaseguirparaoRiodeJaneiro,ondeeleesperaencontrarorestodaesquadra;apenasumdosnaviosportugueses,um64,tinhaarribadoaqui antes de nós e zarpado novamente antes de nossa chegada, e nada se

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sabedosoutrosnavios.39

Aesquadraportuguesa tinha trêsnaviosde64canhões,asnausde linhaD.João de Castro,Alfonso de Albuquerque eMartim de Freitas. A última teriasidoonaviomencionado;elaentrounaBahiaem10dejaneiroe,depoisdefazeraguada e embarcarmantimentos para 20 dias, partiu para oRio de janeiro.ALondonrelatouqueocitadonaviochegouaoRiodeJaneiroem26dejaneiro;oatrasosedeveuàcalmarianalatitude18º.40Seucapitão,d.ManueldeMeneses,encontroumorte trágica logoapósachegada:aodeixaraRainhadePortugal,caiuaomarquandoembarcavaemseuescalereafogou-se;seucorpoapareceutrêsdiasdepois.41

Esse fidalgo era irmão de d.Gregório Ferreira d’Eça eMeneses, conde deCavaleiros, que, mais tarde, também teve morte desastrosa: acompanhara afamília real em um passeio na atual área da floresta da Tijuca; foi de pertoobservar a Cascatinha e pisou em uma pedra cheia de limo. Escorregou edespenhou-se pelas pedras abaixo, encontrando-se depois o seu cadáverdespedaçado.

Emboraestivessemnoportoapósalongajornada,preparativostinhamdeserfeitospara colocar todososnavios emcondições ideais para a continuaçãodesua viagem. Na prática, isto significava embarcar água e alimentos, substituirmastroseantenasquebrados,erepararesubstituircordoalhaelonaparavelas.Barrisdeágua foramembarcadose tiveramdeserestivados;areia, emgrandequantidade,usadapararasparasujeiradosconvesesdemadeira;boisvivos,paraseremabatidosabordo;verduras,legumesefrutasfrescas.Natardedodia23,otrabalhoparou, enquanto a família real baixava a terra.ABedford relatou: “Opríncipebaixouaterra;guarneciasvergasesalveicom21tirosàsquatrohoras.”

Domingo,24dejaneiro

Natardeseguinte,arainhatambémbaixouaterra,enovamenteumasalvarealfoidisparada.

No passado, a Marinha portuguesa encomendara a construção de váriosnavios na Bahia, de modo que madeira e operários adestrados estavamdisponíveis para reparos. O capitão Walker escreveu que a Bedford estavarecebendotodaaatenção:

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Sua Alteza Real teve a satisfação de dar ordens para que toda atençãopossível fosse dada ao navio de Sua Majestade pelo arsenal, o qual,prontamente,fezparanósumanovavergagrande(tendoaantigasepartidona tempestade ao largo da Madeira) e um mastaréu de gávea; e fartossuprimentosdeboisdecorte,frutas,verduraselegumesforamenviadosparabordotodososdias,pelasembarcaçõesquetraziamaguadaparaonavio.42

Quinta-feira,28dejaneiro

Nestadata,d. JoãoassinouaCartaRégiaquepermitiaaoBrasilcomercializarcomtodasasnaçõesestrangeiras.Poresteato,eleestavapondoempráticaoquehaviasidoacordado,emprincípio,naConvençãocomaGrã-Bretanha,masdemodo mais extenso. Ao mesmo tempo, era um meio de reduzir a tensãoprovocada por tantos navios carregados, aguardando no porto, prontos parapartir,massemlugarparaondeir.Aimportânciadesteato,naépocaeparaasgerações futuras, não pode ser subestimada: “Esta Carta Régia43 bem se podedizerqueéanossaMagnaCartaeaprincipalfontederiquezadoBrasil.”44

Sábado,30dejaneiro

Este foi um dia atarefado; d. João, agradecido pelas semanas de cuidadososerviçodecomboio,decidiuhonrarocapitãoeatripulaçãodaBedford,fazendo-lhesumavisita.

NolivrodequartosdaBedford,lê-se:

Ventoligeiroebomtempo.Içadopavilhãonacionalàsseishoras;pavilhãorealnomastrograndeàsnovehoras;disparadasalvarealàs9h10;opríncipe,com parte da família real, visitou o navio; içado pavilhão português notraquete…;à1h30da tarde,afamíliarealdeixouonavio;disparadasalvarealearriadopavilhão;àstrêshoras,guarnecidasasvergas,vieramabordooalmirante português com capitães; às 6h30, guarnecidas as vergas, oalmirantedeixouonavio.

SeurelatórioaoAlmirantadodámaisdetalhesdestavisita:

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Tendo SuaAltezaReal expressado sua intenção de visitar o navio de SuaMajestade, veio a bordo ontemcom toda a família real, exceto a rainha, etomaramodesjejum.Estiveramabordopor trêshorasevisitaramtodasaspartes do navio.Tiveram a satisfação de expressar-se de modo muitoagradecido.Disparamosumasalvarealàsuachegadaepartida;obtivemosapermissão do príncipe para içar oPavilhãoReal dePortugal nomastro dotraquete,enquantoeleestavaabordo,eonossoestavaarvoradonomastrogrande,comogalhardeteacima.45

O’Neil também descreve esta visita à Bedford, baseando-se numa cartarecebidadeummembrodaguarnição:

Obompovodaqui émuito atencioso comos oficiais britânicos.Tendoosrégios fugitivos transmitido ao capitão Walker sua intenção de visitar aBedford,oquesedeunoterceirodiaapósodesembarque,elesdeixaramapraia sobumasalva realdasbateriasedasembarcaçõese foramrecebidoscomomaior respeitoabordo,ondeuma refeição fria tinha sidopreparadapara eles.SuaAltezaReal visitou todas as partes da nau emanifestou suaaprovaçãodiantedalimpezaquereinavaportudo.AconsideraçãodocapitãoWalkerpelopríncipefoimuitogrande,nãosó

emrelaçãoànauabordodaqualSuaAltezaRealestava,mas tambémemrelaçãoatodososvasosdeguerraportugueses.Emsinaldereconhecimentoportãodedicadaatenção,opríncipepresenteou-ocomumamedalhadeourodeumaordemdecavalariaportuguesamuitoantiga.SuaAltezaoconsultaemtodasasoportunidadeseparecefelizdereceberseusconselhos.46

D. João estava tão satisfeito com o desfecho da viagem, e com a ajudarecebida da Grã-Bretanha em geral e de seu almirante e seus capitães emparticular, que, seguindo o costume em tais ocasiões, decidiu condecorá-los.Existia, contudo, um problema, visto que as três ordensmilitares emPortugaleramtodasreligiosasesópodiamserconferidasacatólicos.Eledecidiu,então,reviver a ordem não-religiosa, a Ordem da Torre e Espada, originalmenteinstituída por d. Alphonso V em 1459.47 Ainda durante a estada na Bahia,ordenou que duas medalhas fossem cunhadas, com a inscrição “Valor eLealdade”,afimdeseremoutorgadasa“dousbeneméritosvassalosdomeufieleantigoaliadoEl-ReidaGrã-Bretanha”.

Presume-se que as medalhas eram para o capitão e o primeiro-tenente(imediato)daBedford.

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ArotinadiáriacontinuouabordodaBedford,comorecebimentodecarne,frutasfrescas,legumeseverduras,paraalimentarosfuzileiroseamarinhagem;águaepão,paracompletarossuprimentosconsumidosduranteajornada;mastroevergas,parasubstituirosdanificadospelotempo.

A atração do porto para os marinheiros fica evidente nestas anotações nolivrodequartos:

PunidoMarioPenushcom36chibatadasportentardesertar…punidoHenryMcGeecom24chibatadaspordeixaraembarcaçãodeserviço…recebidosquatro desertores trazidos por soldados portugueses, de nome DanielCameron,JonathanCook,AlexanderMcCleaneJamesPower–igualmentequatrohomensrecrutadoseumgrumete.

Segunda-feira,8defevereiro

Em8de fevereiro, umbrigue zarpoupara a Inglaterra comas notícias de suachegada em segurança. O capitão Walker tinha escrito ao secretário doAlmirantado,nodia6,queatéomomentotudoestavabem:

Aproveito a oportunidade para dar-lhe ciência, para informação de SuasExcelências,determoschegadotãolongeemnossaviagemaosBrasis[sic],de conserva com a Príncipe Real, de 80 canhões, na qual a rainha dePortugal,opríncipedosBrasis [sic]e seusdois filhosestãoembarcados,aAlphonsoD’Albuquerque [sic],de74,noqualaprincesadosBrasis [sic]equatrodesuasfilhasestão,eafragataUrânia,equeestamostodosbem.

AgoraeleescreviadeSãoSalvador,sobreasuachegadaemsegurança:

Comonãotiveoportunidadedetransmitirminhacartan.1,de6p.p.,antesdenossachegadaaqui,acheicorretoenviá-laporestetransporte,emsuaformaoriginal,eagoratenhoahonradedar-lheciência,parainformaçãodeSuasExcelências, de que chegamos a esta baía no dia 22 p.p., todos bem, deconserva com aPríncipe Royal [sic], aAlphonzoD’Albuquerque [sic] e afragataUrânia.48

Umaestimativado tempoqueobrigue levouparachegarà Inglaterrapode

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serfeitapelofatodequeestasduascartassóalcançaramoAlmirantadoem10demaio.49

No mesmo dia, outro brigue suspendeu rumo ao Rio de Janeiro, com asnotíciassobresuachegada.EscreveocomodoroMoore:

Não tivemos notícias de Sua Alteza Real até 12 de fevereiro, quando umbriguedeSãoSalvador trouxe cartasdeSuaAltezaReal àprincesaviúva,informando-adesuachegadaaquiem22dejaneiro,comaPríncipeReal,aAlfonsod’Albuquerque [sic], a fragataUrânia e onaviodeSuaMajestadeBedford.50

Quarta-feira,10defevereiro

Nanoitedestedia,aD.JoãodeCastro,aindabastantecastigadaeabrindoágua,entrouefundeou;nãoestavaemcondiçõesdeprosseguiraviagemparaoRiodeJaneiro.Decidiu-sequepermaneceriaemSãoSalvadorparareparosnoarsenalapropriado. Os seus passageiros e a sua guarnição foram transferidos para oActivoeparaonaviomercanteImperadorAdriano,pelorestodaviagem.

Omembromais importantedacorte,excluindo-seos integrantesda famíliareal, era o duque de Cadaval.51 Passageiro a bordo da D. João de Castro,adoentou-sedurantea jornada.Foi forçadoapermanecer emSãoSalvador,naresidência do rico comerciante Manoel Joaquim Alves Ribeiro, na rua dasMercês.Faleceuem14demarçode1808e foi sepultadonoconventodeSãoFrancisco.Suaviúvaeseusfilhosmudaram-seentãoparaoRiodeJaneiro.

Uma idéia da extensão da confiança que o príncipe regente depositava nocapitão Walker pode ser avaliada pelo fato de que ele ordenou que os seustesouros, os quais tinham sido trazidos de tão longe a bordo daD. João deCastro,deveriamsertransferidosparaaBedfordpelorestodaviagem.Nolivrode quartos deste, lê-se: domingo, dia 14: “e 51 cofres de tesouro do navioportuguêsSt.JohndeCastro[sic]”;segunda-feira,dia15:“recebidostrêsbois,legumes,verdurasefrutas,e30cofresdetesouro”;equarta-feira,dia17:“trêscaixasdetesourodonavioportuguês”.

Quinta-feira,11defevereiro

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OpríncipecruzouabaíaefoisaudadopelaBedford,queguarneceuasvergas.O problema das deserções continuou. Alguns tripulantes tentaram fugir, e

foramrecapturados,pelasegundavez.Segunda-feira,dia15:“PunidosJonathanSmitheDanielCameroncomcincodúzias,HughDaviescomquatrodúzias,eJonathan Smith com quatro dúzias por deserção”; segunda-feira, dia 22:“RecebidosAlexPatterson,DanielHoughtoneJohnWilson,desertores.”

A responsabilidade adicional de transportar cofres de tesouros e dedesencorajar desertores podemuito bem ter sido a razão que levou o capitãoWalker, namanhãdodia17, a suspender comaBedford; e, à noite, emnovaposição, a fundear novamente comdois ferros emoito braças.Após o dia 17,nenhumaoutradeserçãofoiregistrada.

Terça-feira,16defevereiro

AMedusafinalmentechegoudeRecifee,às5h30datarde,fundeounabaía.Nofinalde janeiro, tinhapartidodeRecifeparaSãoSalvador,mas,porcausadosventoscontrários,foraincapazdemontarocabodeSantoAgostinho.Fundeou,aguardandoqueoventomudasse;entretanto,quandosuaamarrasearrebentou,nãopossuindooutroferropesado,retornou.Enquantoaguardavaantesdefazeroutratentativa,seusmastrosforamsubstituídospelosdeumnaviomercante.52

Agora que todos os navios estavam reunidos, os preparativos finais foraminiciadosparaapartidarumoaoRiodeJaneiro.Nodia23,aBedfordrecebeuabordováriospassageiros,queviajariamcomonavio.Umacertaquantidadedefenofoi trazidaabordo;onavioreportou terabatido,duranteaviagemparaoRiodeJaneiro,oitoboisdecorteetrêsporcos.

Quarta-feira/quinta-feira,24/25defevereiro

No dia seguinte, cedo pelamanhã, a faina de suspender começou. Primeiro oferrodeboreste,oferrodeserviço,foiiçadoeembarcado.Onavioentãovirouaocabrestanteseuferrodebombordo,osegundoferrodeserviço,alertaparaossinaisdoalmirante.Às12h30,asvergasforamguarnecidaseumasalvarealfoidisparada,enquantoopríncipeeafamíliarealretornavamaseusnavios.

Quinta-feira,dia25:comooventoestavadesfavoráveleocéucinzento,com

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nuvensdechuva,apartida foiadiada.À tarde,opríncipebaixounovamenteaterra.

Sexta-feira,26defevereiro

Às dez horas damanhã, a esquadra, composta pelas naus de linha de batalhaPríncipeReal,AlfonsodeAlbuquerque,MedusaeBedford,pelafragataUrânia,pelo brigue Trez-corações, pelo Activo e pelo navio mercante ImperadorAdriano,finalmentezarpou.Aomeio-dia,tiveramdeparareesperarpelamaré,mas logodepoisestavamnovamenteacaminho;porvoltadasquatrohorasdatarde,jáestavamforadabaíaeemmaraberto.

Enquanto a esquadra navegava costa abaixo, os vigias estavam alerta aquaisquer navios estranhos. Durante os últimos três dias da jornada, porsegurança, a esquadra parava durante a noite, quando estivessem navegandomuito próximo de ilhas ou do continente, só retomando sua jornada aoamanhecer.Pelomenosumavezpordia,aBedfordsondavaofundo.Olivrodequartos da Bedford mostra que seu capitão estava em contato constante, porsinais,comoalmirante, tendomesmo,namanhãde1ºdemarço,enviadoumaembarcação.

Domingo/segunda-feira,6/7demarço

Em6demarço,entredescargasdechuva,à1h15da tarde,ovigiano topodomastrofinalmenteavistouterra.EstavamcercadeoitoléguasdeCaboFrio.Namanhãseguinte,dia7demarçode1808,aBedfordregistrou:

Arribando ao Rio de Janeiro, observei navios disparando uma salva… às4h30da tarde, reduzipanoefundeeicomoferrodeserviçoem15braças;aqui encontrei fundeados asHMSMarlboro [sic],London eMonarch, e afragata Solebay [sic], com parte do esquadrão português… às seis horas,fundeeionaviocomdois ferros,noalinhamentonoroeste-sudestedo forte,napontamaisaosul…

Aviagemestavaencerrada.

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CAPÍTULOSETE

O comodoro Moore, com o resto da esquadra, singra rumo a SãoTiago;onaviodeS.M.Londonreúne-seaeleslá.AviagemparaoRiode Janeiro e a chegada àquela cidade, em 17 de janeiro de 1808. Aesperapelorestantedoesquadrão,atéachegadadoprínciperegentedeSãoSalvador.

Quarta-feira,9dedezembro

Os navios que navegaram diretamente para o Rio de Janeiro também tiveram

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umaviagemcheiadeeventos.Nanoitede8dedezembro,quandoaesquadraseseparou,aPríncipeRealtinhaparado;dissonãohádúvida,poisadisposiçãodesuasvelasteriaindicadoistoaumcapitãoexperientecomoGrahamMoore:

À noite, no dia 8, estando o tempo nublado e tempestuoso com chuva, eventoaparentementesoprandodonordeste,onavioalmirantechegou-seaoventocomamurasaboresteeatravessou.1

Temposdepois,ocomodoroGrahamMooreescreveusobreseussentimentos,aodescobrirqueosprincipaismembrosdafamíliareal,dosquaiselereceberaaresponsabilidade de escoltar para o Brasil, não mais estavam com ele: “Istocertamente causou-me profunda vergonha, embora, devido às circunstânciasenvolvendoo fato,nenhumaprecauçãoouvigilânciademinhapartepoderiaoter evitado.”2 Ele não foi capaz de descobrir, até muito depois, o que tinhaacontecidonaquelanoite:

Estandoosnaviosportuguesesnestemomentomuitodispersos,eapenassetedeles à vista, cheguei-me aovento a cerca deduasmilhas a barlaventodoalmirante, com aMonarch e a Bedford, a fim de, como estivesse quaseescuro,manteralinhadecontatocomosnaviosdispersos,esupondo,comoele tinha atravessado o navio naquele momento, que ele pretendia pairardurante a noite … Começou a ventar forte com borrascas de chuva:mantivemo-nospróximoaoalmirante,masàsnovehorasdanoiteperdemosdevistaasualuz.Pelamanhã,duranteumtemporalcomventoforteetempomuito encoberto, encontramos a Monarch com dois navios de linha debatalhaportuguesesdeconserva.Desdeentão,descobrimosqueoalmiranteportuguês saiu do rumo durante a noite e aproou a nor-noroeste, semsinalizar; e assim, na manhã seguinte, encontrou-se apenas com a fragataportuguesaUranie [sic] de conserva, pois a mesma estavamuito próximadelequandoestesaiudorumo.3

Permaneceo fatodequeo livrodequartosdanauMarlboroughmostrava,durante amaior parte da noite, a baixa velocidade de quatro nós.AMonarchregistra terpermanecidodentrodeumraiode1½milhadoprimeiro,mascomuma velocidade de dois nós, durante toda a noite. O único livro de quartosportuguêsdisponível,odaUrânia–quepermaneceupróximaàPríncipeReal–,anota uma velocidade de cinco nós desde sete horas da noite; ainda assim, aMarlboroughmanteveaPríncipeRealàvistaatéàsnovehorasdanoite,apesardavisibilidadeextremamenteruim:“nãomaisquetrêscomprimentosdenavio”.

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Estas imprecisões não podem ser explicadas, e certamente teriam sidoinvestigadas oficialmente, não fosse pela chegada ao Brasil em segurança decadaumdosnaviosdaesquadra.

Demanhãcedo,apósumabreveesperaparaqueosnaviosquetinhamficadoparatrássereunissem,aMarlboroughpartiurumoaoprimeiropontodereunião.Seulivrodequartosregistra:

Àsoitohoras,nãoencontrandonenhumdosoutrosnavios,altereirumoparao sul, repiquei a vela do traquete e icei o sinal português para cerrarformaçãoaomeio-diaaMonarchcomdoisnaviosportuguesesdeconserva.

Estes seriam a Rainha de Portugal4 e aConde D. Henrique.5 Mais tarde,informouaoAlmirantado:

Assimquealuzdodiameconvenceudaseparação,seguirumoàMadeira,içandoossinaisportuguesesereforçando-oscomtirosdecanhão,paraqueos navios portugueses,Reyna de Portugal [sic] eConde Henrique, de 74canhõescada,cerrassemformaçãoenosseguissem.6

Como tinha pairado durante a noite e, como a velocidade com que podiaavançar era do naviomais lento que estivesse escoltando, aMarlborough nãoavistaria aMadeira naquele dia.Aomeio-dia, após tomar sua posição, trocouinformaçõessobrelatitudeelongitudecomaMonarch.

Enquanto a noite descia, a Rainha de Portugal e a Conde D. Henrique,escoltadas pelaMarlborough e pelaMonarch, lentamente seguiram no rumosudoeste para a Madeira. A London, que tinha seguido adiante, agora seaproximavadePortoSanto,umapequenailhaanordestedaMadeira.

Quinta-feira,10dedezembro

Ao amanhecer do dia seguinte, a Marlborough sinalizou à Monarch parademandarterranorumosul;poucodepois,ailhadaMadeirapôdeseravistada;aMonarch foichamadadevolta.Por todoaqueledia,aMadeiraficouàvista;ànoite,oesquadrãochegou-seaovento,paraficarpróximoàilha;comoventodolestesoprandoumatempestade,nãofoifácilficarpróximoaoladoocidentaldailha. Semque soubessem, aBedford estava a umadistância nãomuito grande

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dali,masforadoalcancedavista,maisparaoeste.ALondonestavadoladoorientaldailha.Peloseulivrodequartos,pode-se

ter uma idéia do esforço que estava fazendo, tentando alcançar Funchal parafundear:

Brisa forte e mar tempestuoso. Aproando a noroeste, a uma milha dedistânciarumoaopoçodeFunchal;àscincohoras,cheguei-meaoventocomamurasabombordoefiqueibordejando;ventandofortedemaisparafundear.Veladotraqueterasgadaearrebatada.Estaidovelachoemoitãodeescotadebombordodagávearompidos;umaembarcaçãoveiodeterracomocônsulàssetehoras.Mantive-meaolargocomvelasdegáveaevelasbaixasrizadasnos últimos; mastaréus de joanetes abatidos… Vila de Funchal a quatromilhasaonorte.

Na manhã seguinte, apesar da tempestade, o navio retomou o poço deFunchal e fundeou, “com o ferro de serviço… larguei um quartel emeio deamarra. Salvei a guarnição com 15 tiros, o que foi respondido”.Os próximosdois dias seriam gastos trazendo aguada da terra, içando-a a bordo com talhaimprovisada,eestivandoosbarris.

A corveta Voador, destacada para seguir de conserva com a London, nãoconseguiamantê-laàvista:

Nodia6dedezembro,recebiordemdeS.A.R.paraseguirosmovimentosdanauinglesaLondon…nodiaseguinteseseparoudemimaoutranauporsermuitosuperioroseuandar,apesardesefazertodaaforçadevelaspossível.Nodia9dedezembro,viailhadaMadeira,porémdebaixodeumtemporalfortíssimo,quemeobrigouacorrerpor48horas.7

Como tinha 181 soldados a bordo, além de sua própria guarnição de 135,temia ficar sem comida ou sem água se a tormenta o impedisse de obtersuprimentos,demodoquedecidiuseguirsemescalasrumoaoRiodeJaneiro.

Sexta-feira,11dedezembro

Ao largo da ilha daMadeira, após a longa espera de uma noite sem nenhumsucesso,aoamanhecerosportuguesesfizeramumsinaldeaproximar-se,oque

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foi respondido pela Marlborough com três canhões. Nesse momento, ficoudecididoquedeveriamseguirparaosegundopontodereunião,aolargodailhadePalma,distantecercade79léguasasudoeste.OcomodoroMooreescreveu:

SuaAltezaReal,aprincesaviúvaherdeiradoBrasil,tendo,damaneiramaiscondescendente, instruído o capitão português a seguir todas as minhasordens,eassegurando-mequeelaconfiavanomeudiscernimentoemfazeromáximoparanosreunirmosàSuaAltezaReal.8

Agora,enquantoMadeiraseaproximava,asordensdesirSidneySmitheramobedecidas: “Cruzei a verga da gávea – enverguei a vela e larguei rizada nosterceiros–iceiumaflâmuladecomodoro”;apartirdessemomentooesquadrãotinhaumcomodoronocomando.

Domingo,13dedezembro

Namanhãdedomingo,dia13,osegundopontodereunião,a terraelevadadailhadePalma–cercadedezléguasdedistância–ficouàvistadoisdiasdepois,aindasemsinaldosoutrosnavios.

Continuandocomosdiáriosdocomodoro:

Já que o tempo estava bom, aproveitei para, junto com o capitão Lee daMonarch, irabordodaLaReynedePortugal [sic]paravisitarocapitãoecumprimentaraviúvadopríncipedoBrasil.Aproveiteiaoportunidadeparameexplicaremedesculparperanteocapitãoportuguêspela liberdadequetomeiassumindoocomandoaoenviarmensagensparaeles…assegurei-oque estavapronto e ansiosopor fazerqualquer coisaque estivesse aomeualcancepararealizaromeuobjetivo,queeradelevaraesquadraeafamíliareal, com segurança, até o Rio de Janeiro. Ele aceitou minhas desculpasmuito bem e disse que iria ficar atento a todos os sinais e a novascombinaçõesqueeuviesseacomunicar.Eu então dei as orientações para alguns dos sinais noturnos mais

necessárioseaípartimos.AprincesaestavamuitoansiosaemchegaraoRiodeJaneiroeavessaapararemSãoTiagoouemqualqueroutrolugar;mas,depoisdeter tidoumabreveconversacomela,naqualmanifesteiaminhacertezadequeláchegandonosreuniríamoscomaesquadraeorestanteda

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família real, ela se deu por satisfeita. Apresentou-me a duas pequenasprincesasque, segundomedisse, tinhamestadomuito enjoadas; ela estavatambém temerosa, por achar São Tiago um local pouco saudável. EuassegureiquenãohaveriaatrasoemSãoTiago,masqueeraabsolutamentenecessárioreunirporláosnaviosdaesquadraqueseencontravamdispersos.Depoismeretirei.9

Segunda-feira,14dedezembro

Aoamanhecerdodiaseguinte,umavelaestranhapodiaseravistadaanoroestequarta norte, cerca de dez milhas de distância. A Marlborough sinalizou àMonarchparadar-lhecaça.Avela identificou-secomoonaviode suprimentoportuguês Thetis,10 sob o comando do primeiro-tenente Paulo JoséMiguel deBrito.Estenaviouniu-seaoesquadrãoqueestavaaolargodePalma,àesperadeque outros navios aparecessem. Além dos 100 passageiros, essa fragatatransportavanovecarruagenseumagrandequantidadedebagagensdiversas.

Terça-feira,15dedezembro

Aomeio-diadodiaseguinte,ficoudecididoqueseseguiriaparaoterceiropontode reunião. Sob uma brisamoderada, o esquadrão largou o pano e seguiu norumosudoeste.Tão logoPalmaestavadesaparecendoadistância,Ferro,a ilhamaisaosuldoarquipélagodasCanárias,surgiuaolargo,cercadequatromilhas.

Apróximaetapadaviagem,cercade240léguas,levariaváriosdias.Oventomanteve-sedemoderadoafrescoporquasetodoocaminho,otempomelhoravaàmedidaquesemoviamparaosul.Abordo,osnaviosregistravamsuasrotinasdiárias:“Lavamoseesfregamosmacas…distribuímossucodelimãoeaçúcaràguarnição do navio … exercitamos fuzileiros com armas leves … Veleirofazendotoldoparaotombadilho.”

AfragataThetis,queeramaisronceira, tevedificuldadeemacompanharosdemais;noterceirodia,ficoucercadeseisousetemilhasparatrás.AMonarchnavegava próximo àMarlborough, cerca demeiamilha de distância. Os doisnaviosdelinhadebatalhaportuguesestambémficavamsemprepróximos.

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Quinta-feira,17dedezembro

ALondon estava ainda sem seus fuzileiros: estes não tinham sido devolvidospela fragataSolebay.Conforme jámencionamos,aSolebayeraaúnica fragataremanescente na barra do Tejo. No dia 17, a Solebay detivera um navioportuguês,oOliveira;seulivrodequartosregistra:“1h30,avistadavelaestranhaabarlavento, larguei joanetesàsduashoras,vireidebordoemperseguição…Às4h30dispareidoistirosnonavioabarlavento,compavilhãoportuguês…Às5h30 abordei-o.” Posteriormente, Thomas O’Neil escreveu uma narrativacompleta:11

Na ausência delas, a Solebay deteve vários naviosmercantes portugueses,parabordodeumdosquais(oOlivira[Oliveira],docapitãoBelham)eufuimandando com 20 fuzileiros, no dia 16 de dezembro, acompanhado pelotenente Kirwin da Marinha Real, não tendo a fragata marinheiros paradispensar.Arriscando a vida dos fuzileiros, chegamos a bordo e fomos namesma

horainformadosdequeelesestavamcomasprovisõesesgotadas,sempão,carne,vinhoeaguardente, tendoapenas16galõesdeáguae20quartosdearroz. O vento aumentou a tal ponto que não era mais possível noscomunicarmoscomafragataquehavíamosdeixado.Éramosagora49pessoasabordo,eoquehaviaparanossa subsistência

era só o escasso mantimento citado acima. Tendo o vento aumentado, otenentefoiforçadoaaproaraembarcaçãoaovento;elaestavaempéssimascondições, e todos nós esperávamos naufragar a qualquer momento. NãovimosmaisafragataoupartealgumadaesquadraatéodiadeNatal;duranteesse intervalo, nossoúnico sustento eram três conchasde arroz cozidopordia,paracadapessoa.No dia 25 de dezembro, de manhã, avistamos a esquadra do cesto da

gávea; fizemos sinais de que estávamos em perigo, e vários canhõesdispararam,mas a distância era grande demais para que nos percebessem.Durante os dias 24 e 25 nada comemos, pois o escasso estoque se haviaesgotado. Às sete da manhã passamos sob a popa de um vaso de guerrabritânico e nos comunicamos com ele.Um tenente dessa nau veio então abordo,contamosaelenossoinfortúnioeimploramosalívio.Ooficialvoltouparaseubarcoe,passadoalgumtempo,fomoschamadospelocapitãoque,sem dar a menor atenção às nossas necessidades, mandou que nosdirigíssemos ao almirante! Esse barco desapareceu no horizonte durante a

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noite, mas pela honra da Marinha britânica e da nação, não citarei seunome.12OOlivira [Oliveira] juntou-se à esquadra de manhã cedo, e o tenente

Kirwinfoiabordodanaudocomandante-em-chefe.Assimqueoalmirantesoubedenosso infortúnio,suabenevolênciafoibemdiferentedaapatiadooficialanterior,eeleprovidencioutudoqueeranecessárioparanós.Setivéssemostidoainfelicidadedenosseparardaesquadraantesdefalar

comoalmirante,todaaalmaabordoteriainevitavelmenteperecido.Àsdezhoras,aSolebayficouaoalcancedavoz;e,tendoocapitãoSprole

sabido de nossa situação, pediu ao almirante que fôssemos imediatamentepara bordo da fragata, o que foi concedido. Assim que as circunstânciaspermitiram,nanoitedodia26,voltamosparaafragataefomosinformadosde que a London, a Marlborough, a Bedford e a Monarch se haviamdistanciadoe estavamacaminhodoRiode Janeiro, escoltandoopríncipe.Assim,meuoficialcomandante,eueodestacamentofomosdeixadossócomaroupadocorpo,umasituaçãomuitodesagradável.Nosso aperto foi comunicado ao almirante, e este nos informou que a

fragata devia levarmensagens para o Brasil e que devíamos todos ficar abordo;qualquerajudaqueelepudessedarseriadada,eeraparazarparmoslogoqueeleestivessepronto.Dia 18 de janeiro de 1808. Tendo sido feito sinal para a fragata se

aproximar,ocapitãofoiabordodanaudoalmiranteerecebeusuasordens.Separamo-nosentãoàs trêshorasechegamosà ilhadaMadeiranodia16;conseguimos um suprimento de água e zarpamos dia 18. Passamos pelasCanárias no dia 23 e avistamos o rochedo de Tenerife e as ilhas deCaboVerde. Paramos no porto Epre [Praia], na ilha de Santa Jago [SãoTiago],conseguimos mais água e velejamos então para o Rio de Janeiro, ondechegamos a 29 de fevereiro, encontrando a London, a Monarch e aMarlborough, com parte da esquadra portuguesa; aBedford e os restanteshaviamsidodispersadosporumventomuitoforte,masconseguiramchegaraSãoSalvador,ondeSuaAltezaRealtevedeparar,estandojásemqualquerespéciedeprovisões.No mesmo dia nos reencontramos com a London, e foi uma visão

gratificante para nós avistá-la ancorada, pois estávamos havia 13 semanassemmuda de roupa, a não ser a que nos foi cedida pela generosidade dosoficiaisabordodaSolebay.Noentanto, foigrandeomeudesapontamentoquando descobri que minha arca fora arrombada, e toda a minha roupabranca, que era de algum valor, tinha sido levada. Havia centenas de

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emigrantes a bordo da London, principalmente mulheres; mas os oficiais,comsuagenerosidade,conseguiramobteroquelhesfoipossíveldaquiloqueera necessário. [Um exagero, por parte de O’Neil; o livro de quartos daLondonregistraqueestasomenteembarcou69passageiros.]

O oficial comandante dos fuzileiros navais da London, major Malcolm,escreveuasirSidneySmithpedindo-lhequeintercedessejuntoaoAlmirantado,a fim de que este definisse a posição dos fuzileiros daLondon em relação aodinheirodepresa.Suapreocupaçãoeraque,nãoestandoabordodaLondon,osmesmos não teriam participação em qualquer dinheiro de presa que fosseatribuídoaonavio;poroutrolado,nãosendooficialmentepartedaguarniçãodaSolebay, eles poderiam ser excluídos aí também. Por sua vez, sir Sidneyescreveu ao Almirantado em 5 de janeiro, com a recomendação de que elesdeviamterparticipaçãonodinheirodepresaquefosseatribuídoàSolebay.13

Sexta-feira,18dedezembro

NovamenteGrahamMooreescrevesobreaspreocupaçõesdaprincesa,abordodanauRainhadePortugal:

Ontem demanhã, recebi umamensagem da princesa brasileira expondo oseudesejodequeeunãofosseparaPortoPraia,masqueenviasseparaelatodas as provisões que pudesse e que o navio de provisões fosse enviado[para terra] tão logo alcançássemos a ilha de São Tiago. Enviei umamensagemexplicandoqueonossoestoquedeprovisõesfrescaserabastantereduzido,masque,emcasodenecessidade,estavaàdisposiçãodela;quantoàs outras pessoas, a quantidade era pequena demais para servir de algumaajuda.ExpliqueiqueseriaabsolutamentenecessárioancoraremPortoPraiaporque foi essa a combinação feita com o almirante português. Ele meassegurouqueiaparalá,eeuconfiavaemencontrarosnaviosportugueses,assimcomotambémaLondoneaBedford.ElaestavapreocupadaporcausadainsalubridadedeSãoTiago.Aooficial

que trouxe a mensagem, eu disse que foi contra o meu conselho adeterminação do almirante de ir para São Tiago, e que, como ele haviamarcado esse encontro, nós iríamos até lá; se ele tivesse estado, mas jápartido, nós seguiríamos a nossa viagem para o Rio de Janeiro; em caso

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contrário,ficaríamosporláaguardandoachegadadele.14

Quarta-feira,23dedezembro

Àsprimeirasluzesdestedia,ailhadoSal,amaisaonoroestedogrupo,ficouàvista,namarcaçãooeste-noroeste.OesquadrãoestiveranavegandoentreacostaafricanaeasilhasdoAtlântico.

Emsucessão,as ilhasdaBoaVistaedeMaioficaramvisíveis.Aofinaldatarde, o esquadrão encontrava-se próximodo seu destino,mas, pormedida desegurança,aguardoualuzdodiaantesdeentrarnabaíadePraia,nailhadeSãoTiago,parafundear.

Quinta-feira,24dedezembro

Demanhã cedo, aMarlborough sinalizou aos navios portugueses para que seaproximassem,eàMonarchparaexaminarumnaviofundeadoaoestedailhadeMaio;esteprovousernorte-americano.

Àtarde,osnaviosaproximaram-sedePortoPraiaparalargaroferro:

Às duas horas fundeei com o ferro de serviço em sete braças, na baía dePortoPraia,SãoTiago–arrieimeioquarteldeamarra,comapontalestedabaíamarcandoales-sueste;apontaoeste,asudoestemeiaoeste;eomastrodabandeiradoforte,anortequartaemeianoroeste;comaMonarche trêsnaviosportuguesesdeconserva.

A Thetis errou o seu fundeadouro e teve de sair novamente para o mar.Fundeados na baía, encontraram a fragata Minerva, enviada pelo prínciperegente,comanotíciadequeeleprosseguiuaviagemsempararequedeviamsegui-lo rumo ao Rio de Janeiro; ela tinha chegado naquela manhã.15 OcomodoroMooredeveterficadoaliviadoemsaberqueosnaviosconduzindoafamíliarealestavamseguros,equeestavamsendoescoltadospelaBedford.

Aomesmotempocomentou:

Anotíciameaborreceumuito,masnãomesurpreendeu…oalmiranteagiu

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deformasingular,marcandocomigoumencontronocasodeumaseparaçãoe não indo ao encontro.O capitão daBedford terá que se explicar depois,poispartiuacompanhandooalmirantesemasminhasordens.16

OrelatóriodocomodoroMoorefornecemaisdetalhes:

Em 24 de dezembro, fundeamos em Porto Praia com os quatro navios deguerra e a fragata Thetis (equipada como navio de suprimento), um dosnaviosdoesquadrãoportuguêsquetinhaseseparadonanoitedodia8equese reuniu a nós no largo de Palma; e encontramos lá a fragata portuguesaMinerve [sic](umdosnaviosdoesquadrão),daqualfiqueisabendoquesetinha encontrado com o almirante português ao largo de Ferro no dia 13,ondetambémsereencontroucomaAlfonsod’Albuquerque [sic] (anauemque Sua Alteza Real, a princesa do Brasil, estava embarcada) alguns diasapós a separação, e como navio deS.M.Bedford.Ovisconde deAnadia,ministrodaMarinha,queestavaembarcadonaMinerve[sic],tevepermissãodeSuaAltezaRealparaprosseguiratéPortoPraiaembuscadeaguada,efoiinstruído por Sua Alteza Real a informar-me de que ele tinhamudado deidéiaequenãotinhaintençãodeescalaremPortoPraia,masdeprosseguirdiretamenterumoaoRiodeJaneiro,ehaviasolicitadoaocapitãodaBedfordquepermanecessecomele.17

Tempo algum foi perdido: naquela mesma noite, a embarcação maior daMarlborough e todas as embarcações daMonarch foram arriadas, e os barrisvaziosenviadosaterra.

Sexta-feira,25dedezembro

Nodiaseguinte,aThetis finalmenteconseguiuentrarnabaíae fundear.Odiatodofoigastocarregandoágua;aMarlborough forneceuàRainhadePortugalsetetoneladase14tonéis,erecebeuabordo23toneladasdeágua.

ALondonnãotinhachegadoainda.Em12dedezembro,tinhaterminadodefazeraguada;naquelanoite,tentouzarpardeFunchalmastevequedesistir:

Brisa e tempo nublado – às nove horas, mais moderado com chuva; às11h30,oventomudouparao sudoeste, preparei para suspender e sinalizeicomumcanhão–…às12horas, sopravaum temporal desfeito, demodo

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quenãopudemosterseguimento.

Duranteasprimeirashorasdamadrugada,anautentounovamente,massemsucesso.Temendoagoraqueoventoaumentasse, fazendo-achegarcomatrasoemSãoTiago,talingouaamarradoferroaumabóiamarcada“HMSLondon”,afimdeserdeixadaparatrás;ecomgáveas,velasbaixasevelasdeestairizadasnossegundos,conseguiumanobrarparafora.Oferroquetinhadeixadoparatrásfoi substituído por um dos dois sobressalentes que transportava a bordo,estivadosjuntoaomastrogrande.

Comotinhafeitoaguadasemperdermuitotempo,decidiuseguirparaPalma,enãodiretamenteparaSãoTiago,paraverseconseguiareunir-seàesquadra.ALondonaindanadasabiaarespeitodesuaseparação.Chegouaodestinonodia15;masaMarlborougheosdemaisjáestavamalémdeFerro,amaismeridionaldasilhasCanárias,acaminhodasilhasdeCaboVerde.Namanhãseguinte,a11léguas a noroeste de Palma, avistou um navio de linha de batalha navegandoescoteiro.Comoesperavaavistarváriosnaviosjuntos,tomouasprecauções:

Àscincohoraseàsseishoras,vireidebordo.Avisteiumnavioasudoeste,dei caça; às 8h30, rizado nos segundos, bujarrona emezena arriadas – empostodecombate–caçaéumnaviodeguerra;às9h20,vireidebordo;caçaexibiupavilhãoportuguês e parou; às dezhoras parei e arriei embarcação;descoberto ser o navio de linha português Don de Castro [sic], sob ocomandoded.Manuel JohndeLouis&Seilbez [sic].18Às10h30, recolhiembarcação e larguei velas baixas e de joanete; ponta sul de Palma namarcaçãosulquartaemeiasuestea14léguas–brisafrescaechuva;afastei-medonavioportuguês,poisestenãonecessitavadeassistência.

Seuspreparativosparaabatalhatinhamsidodesnecessários.Nodia18,tendodecididoquepermaneceraportemposuficientenopontode

reunião,aLondonzarpouparaSãoTiago,láchegandonanoitedodia26:

Cheguei-meàilhaafimdeavistá-lamaisclaramente…prepareioferrodereservanaamura…brisaforteetemponublado…rondando,monteipontaextremanabaíadePraia;àssetehoras,reduziefundeeicomosegundoferrode serviço 6½ braças,mas o ferro não unhou.Larguei o ferro de amura efundeei,com11/3quarteldaamarradoferrodeserviço.

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Sábado,26dedezembro

ALondonregistrouterencontradonabaía“aMarlborough,aMonarch,dois74portugueses,trêsfragataseumbrigue”.OsnaviosseriamaRainhadePortugal(74 canhões) e aCondeD. Henrique (74 canhões); aMinerva (fragata de 48canhões), até21dedezembro escoltando aAfonsodeAlbuquerque, e aThetis(fragatade36canhões,porémarmadacomonavio-transporte).AterceirafragatadeveriaseraGolfinho.

Durante o dia, enquanto aLondon transferia a aguada que tinha trazido, aMarlboroughabasteciaafragataMinervacom12barrisdecarnedeporcoe19barrisdecarnedeboi.

Domingo,27dedezembro

Na manhã seguinte, estavam prontos para partir. Graças à brisa fresca quesopravadoles-nordesteeaonúmerodenaviosnoporto,umasériedemanobrasfez-senecessária.ALondonescreveuemseulivrodequartos:

Às sete horas, o comodoro fez o sinal de suspender; não tendo o naviolazeiraparasafar-sedeumdoismastros[umbrigue],aembarcaçãomaiorfoiarriadaelançouancoroteeamarraabarlavento,emseisbraçasdeágua,naamarração de bombordo – às 11 horas, viramos ao cabrestante o ancorote,entocado numa rocha – após algum tempo puxando com grande força, aamarra rompeu-se; a espia de amarração foi largada imediatamente epartimos, deixando para trás o ferro e 16 braças da amarra, pois ventavamuito forte e não havia probabilidade de conseguirmos içá-lo com aembarcação maior … Atravessamos o navio e içamos as embarcaçõescarregadas;zarpamosseguindonaságuasdocomodoroedoesquadrão.

Eraosegundoferroqueonavioperdianaviagem.AMonarchnãotevequalquerdificuldadeemsuspender,masaMarlborough

largou um ferro a fim de virar sua proa na direção certa. A Marlboroughregistrouem27dedezembro:

Àluzdodia,fizsinaldesuspendercomumtirodecanhão:corrioancoroteeaespiaparaonorte,afimdefazerlargar,às7h30dequarta-feira,efiz-me

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devela…atravesseionavioparaqueosnavios fundeados saíssem, icei eembarqueiabordodachalupa–aLondon,aMonarch,comdoisnaviosdelinhadebatalhaportuguesesdeconserva,eumafragata.

EsteseramaRainhadePortugal,aCondeD.HenriqueeafragataMinerva.Comseutelégrafodemadeira,aMarlboroughsinalizavaagoraonovoponto

de reunião: “17, 9, 14, 9, 1, 13, 5, 9, 17, e 14,” o Rio de Janeiro, aaproximadamente823léguasdedistância,deacordocomaMarlborough,apóscalcular sua posição ao meio-dia. A Thetis foi deixada para trás, a fim decompletarasuaaguada.19

Segunda-feira/terça-feira,28/29dedezembro

Ospróximosdois dias viramo esquadrãoprogredindobem, fazendode sete aoitonós.Entretanto,àmedidaqueseaproximavamdalinhadoequadoroventodiminuía,demodoqueavelocidadefoiafetadaimediatamente.

Sexta,1ºdejaneirode1808

Porvoltade1ºdejaneironãomaisqueumadoisnósdevelocidadepodiamsermantidos. O comodoro Moore tinha toda esperança de alcançar e avistar osdemais navios.A informação fornecidapelaMinerva, quanto aopontoonde aPríncipeRealesperavacruzaroequinócio(nalatitudede15ºalestedeCádiz20),possibilitou o cálculo com toda a precisão, como se verificaria, de que oesquadrãoescoltadopelaBedfordestavasingrandoumpoucomaispróximodacosta africana, num rumoparalelo,mais a leste dele.Todos os dias demanhãcedo,aMonarchrecebiaordemdetomarposiçãodestacadaasudeste,afimdeestenderoalcancevisualdosnavios.Aoanoitecer,anauerachamadadevolta,na eventualidade de, durante a noite, vir a perder o esquadrão de vista, navastidãodemarqueseestendiaaoseuredoratéohorizonte.

GrahamMooreescreveu:

Ontem(1/1)sendoodiadoAno-Novoequasecalmo,fuiabordodaRainhade Portugal para me informar sobre o estado de Sua Alteza Real e para

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apresentar a ela o capitãoWalker, daLondon. Ela estava bastante bem desaúdeedeespíritoeapresentouasduasjovensprincesasparanós,filhasdopríncipe brasileiro, sendo que a mais velha é bem bonita (seria d. MariaFrancisca de Assis, então com sete anos) e aparenta estar gostando daviagem.Fiqueicontenteemsaberque,apesardograndenúmerodepessoasabordodessesnavios,elescontinuambemsaudáveis.21

Segunda-feira,4dejaneiro

NãopoderiamimaginarquenosúltimostrêsdiastinhamultrapassadoaBedfordeosnavioscomafamíliareal.

Oprogresso lentocom tempobomcontinuouaté4de janeiro,quandoumabrisafrescacomeçouasoprar.Naquelanoiteatravessaramoequador;azonadascalmarias foradeixadapara trás.Enquantooesquadrãonavegavaemconjuntoparaosul,muitotempoerainvestidoemnavegação;deSãoTiago,nasilhasdeCaboVerde,esperavamaterraremCaboFrio,apósteremcruzadomaisdeduasmilmilhasdemaraberto.AlongitudeeratomadapelocronômetroepelaLua.Avariaçãodaagulhaeracalculadaeverificada,assimcomoadireçãodacorrente.

Quarta-feira,13dejaneiro

Neste dia, o comodoroMooremudou de tática. Em vez de enviar aMonarchparasudeste,afimdeestaralertaparaosdemaisnavios,eleagoraaenviouparasudoeste,afimdevigiaranavegaçãocosteirae,eventualmente,àmedidaqueseaproximavadacosta,estardeguardaembuscadeterrafirme.

Quinta-feira,14dejaneiro

Nodia seguinte, aMonarch foibem-sucedida,pois,nocomeçoda tarde, apósumaperseguição,fezpararumnaviodecabotagemportuguêsdoRioGrande.

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Sexta-feira,15dejaneiro

Hojeorumofoialterado,desudoestequartaoesteparaoeste-sudoeste,afimdese chegar à terra.Cabo Frio, de acordo com os cálculos, estava a apenas 200milhasdedistância.

Sábado,16dejaneiro

Nestamanhã, aMonarch finalmente avistou terra; sua navegação demonstrouque, embora estivessem no início do século XIX, a precisão era possível.Naquelatarde,aMonarchregistrou:“7h40arribei;esquadrãodeconserva;CaboFrio a noroeste quarta norte, à distância de quatro ou cincomilhas.”Naquelamesmatarde,aMonarchinterceptouumbriguedeguerra,oBalão,enviadopelovice-reicondedosArcosemmissãodepatrulhaforadabaíadoRiodeJaneiro.Domesmo brigue, souberam que os navios transportando a família real aindanãotinhamsidoavistados.

Domingo,17dejaneiro

Duranteamadrugadadodia17,oesquadrãoatravessouosnavios,nãolongedaentradadoportodoRiodeJaneiro,afimdeevitarentrarnaescuridão.Àtarde,osnaviosportuguesesentraramnoporto,seguidos,nocomeçodanoite,porsuasescoltas. Aquele momento, após tantos dias de navegação em mar aberto, egraças aosdesconfortos da jornada, deve ter sido especialmentebem-vindo.AMarlboroughregistrou:

Duashoras,correndoparaoportodoRiodeJaneiro…cincohoras,vimparao fundeadouro, com o segundo ferro de serviço, no porto acima em 6½braçasdeágua,efundeei,comoancoroteeaamarranamarcaçãonorteeailhadasCobrasnamarcaçãosul,eanor-nordeste…oitohoras,aLondon,aMonarchedoisnaviosportuguesesdeconserva.

ALondonacrescentamaisdetalhes:

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Àsseishoras,aproeiparaoportocomfortemarédevazante;àssetehoras,veio o capitão-do-porto português – às oito horas, fundeei com o ferro deserviçoem17braças,pontadeSãoJago[sic]aoeste-noroeste,àdistânciadeumamilha–comodoroàdistânciade½quartel,Monarchedoisportuguesesfundeados mais para dentro – todos os fortes salvaram e a cidade foiiluminadaànoite.

A cidade fora iluminada para as festividades de são Sebastião, em 20 dejaneiro,diadeseusantopadroeiro.OnomecompletodacidadeéSãoSebastiãodoRiodeJaneiro.

OcomodoroMooreescreveuaSuasExcelênciasnoAlmirantado:

Em17 de janeiro, a exatamente três semanas de viagemde Porto Praia, oesquadrãochegouaoRiodeJaneiro;todoscomboasaúde,emboraosnaviosde linha de batalha portugueses estivessem superlotados de homens,mulheresecrianças,cadaumtendoabordocercade1.100pessoas,detodosostipos.22

ÉquasecertoqueaMarlboroughencontrouacorvetaVoadorjánoporto.OrelatóriodaVoadorinforma:

Nodia5dopresentemêseano,passeiàvistadePernambucoemefaleiaumajangada.Julgueiconvenienteparticiparasnovidades,oquefizdirigindoumofícioaointendentedaMarinhadaquelacapitania.23

Antônio Marques Esparteiro escreveu que este navio chegou ao Rio deJaneiroem14dejaneiro.24

Segunda-feira,18dejaneiro

Emboraajornadaestivesseterminada,haviamuitoaserfeito.Pelamanhã,todosos três navios britânicos, após receberem práticos, mudaram seu lugar defundeio.ALondonfundeoucomseusdoisferrosgrandesdeproaem16½braçasdeágua.Suaprópriadescriçãoé talque, senecessário,poderia serencontradamesmonosdiasdehoje:

MastrodeBandeiranaPtª.SãoYago[sic]aoestequartasudoestea½milha

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–grandeigrejacomduastorres,comumrochedobrancoaolargodaPtª.SãoYago a oeste sudoeste meia sudoeste, a três quartéis de amarra – Pão deAçúcarnaentradaà terracomilhadeVergnaum[Villegaignon]asulmeiasueste,fortedeSantaCruzasulsueste,ViladeDomingo[sic]ales-nordeste.

Mastaréu,vergaseseuscordames foramabatidos.Era razoávelesperarquepermaneceriam por algum tempo no porto; entretanto, caso fosse necessário,poderiamsuspenderefazerdevelarumoaomarabertoenquantomontavamaspeçasdeaparelhodesarmado.

À tarde, o aniversário da rainha da Inglaterra foi comemorado, com umasalva de 21 tiros de canhão. Não havia até o momento qualquer notícia dosnavios restantes, que transportavam a família real; o comodoroMoore e seusoficiais podiamapenas especular sobre o quepoderia ter ocorridopara atrasá-los.

19–31dejaneiro

Atéosegundodia,tudotinhaseestabilizadonarotinadoporto.Recompletarosuprimentodeaguadaemantê-lonacapacidademáxima;embarcarsuprimentosfrescos de carne, legumes e frutas para consumo imediato. Os mantimentospreservadostrazidosdaInglaterra,pornãoestaremprontamentedisponíveisnolocal, tinham de ser conservados para o caso de serem necessários em outraviagem.SirSidneySmith jáhaviaescritoaoAlmirantado,em6dedezembro,sobreesteassunto:

Mal preciso sugerir a Suas Excelências a necessidade de enviar umsuprimentodeprovisõesemantimentosdaInglaterraparaessanovaestaçãonaval, e se uma pessoa responsável fosse enviada pelo Departamento deAbastecimento, como o sr. Ford que esteve comigo na Sicília, para fazercomprasnopaís,poderiasermaiseconômico,muitobenéficoparaasaúde,edispensaria o oficial daMarinha em comando demuita responsabilidade edetalhestrabalhosos.25

Apenasoqueijoeamanteigapareciamapresentarproblemasdeconservação,deacordocomoqueestáregistradonolivrodequartosdaMarlborough:

Condenadas por inspeção 264 libras de queijo, estando podre e impróprio

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para comer, todoestequeijo foi lançadopelaborda aomar, e84 librasdemanteiga,rançosaeimprópriaparacomer,todaestamanteigafoideixadaacargodocomissáriodebordo.

ALondonregistraproblemasmenorescomseussuprimentos,comoumafaltanum barril de farinha: “aberto um de farinha no dia 31, marcado 353 libras,encontrado com 56 libras a menos comidas pelos camundongos”.Ocasionalmente,otempoeraacausa:“Abertoumbarrildeaveianº11com12alqueires,trêsdosquaisemvoltadasbordasdobarrilestavamruinsporestaremúmidos.”

Igualmente importante era a aparência do navio; como foi registrado, cadanavio agora se pôs a restaurar a condição original esperada de um navio deguerra,empregandoseustripulantesnestatarefa:calafatescalafetandoascintaseas cobertas, pintores pintando o casco, veleiros executando reparos e outrosalcatroandoosestais,afimdelhesdarmelhorproteçãocontraotempo.

Quando estava pronta para completar seu suprimento de aguada, aMarlboroughcomeçouaesgotarcomabombaas43toneladasdeáguasalgadaque tinha tomado, como lastro, no início de dezembro. Embora estivesse háapenasdoisdiasnoporto,registrouosprimeiroscasosdemarinheirostentandodesertar do navio: “PunidosRobert Fox eThomasMarr,marinheiros, com60chibatadascadaportentaremdesertar.”

NoportodoRio, aLondon registra a chegadadeváriosnaviosque tinhamdeixadoLisboa,em29denovembro:dia20de janeiro,“chegouumbriguedeguerra português”; dia 22, “chegou uma fragata portuguesa” [aGolfinho]; dia26, “chegou um navio de linha português” [Martim de Freitas]; dia 9 defevereiro,“chegouumbriguedeguerraportuguês”;dia11,“chegouumbriguedeguerraportuguês”.

Aochegar,aMartimdeFreitasfezumrelatóriodaviagem.Neleconstaque,naúltimahora,graçasàssuascondições,osduquesdeCadavaltransferiram-separa a D. João de Castro, somente viajando neste navio seus familiares epertences.Reportoutambémquefaltavam:“boticas, todootremdeartilhariaeaparelhos”.Aguarniçãoestavaincompleta,poisvelejoucomumcontingentede416(portantofaltaram234).Porcautela,logoapósaseparaçãoreduziuasraçõesparatrêsquartos.26AfragataMinerva,quetinhapartidodeSãoTiagoem27dedezembro, sendomais ronceira, separou-se do corpo principal do esquadrão esomentefundeounoRiodeJaneironocomeçodatardede31dejaneiro.27

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Quinta-feira,11defevereiro

Obriguequechegounodia11tinhavindodeSãoSalvadorcomasboasnotíciasdequearainha,oprínciperegenteeoutrosmembrosdafamíliareal tinhamláchegadoemsegurança.28Atéaquelemomentoaprincesaviúvanãotinhapostopéemterrapois,porrespeitoàrainhaeaoprínciperegente,nãoqueriafazerissoantesdeles.

Não existemelhor descrição da aguardada chegada da família real do queaquela escrita por Luiz Gonçalves dos Santos (padre Perereca),29 aquireproduzida:

Logo que constou nesta cidade doRio de Janeiro, que oPríncipeRegenteNosso Senhor se achava na Bahia, sossegaram os nossos ânimos, edepuseramosreceios,quecausavamasua tardança;evistooperigoaqueainda estavam expostas as sereníssimas senhoras princesa e infantas,conservando-se por mais tempo embarcadas em uma estação na qual sãofreqüentes as trovoadas, e algumas vezes assaz medonhas, e funestas; eatendendo-se igualmente para os incômodos, que passavam tão augustassenhoras, enclausuradas tantos dias na câmara de umanau, e ignorando-sejuntamente o tempo, que o Príncipe Regente Nosso Senhor seria servidodemorar-senaBahia,ainstânciasdafidalguia,enobreza,quejánesteportose achava, resolveram as sereníssimas senhoras princesa e infantas, adesembarcardanau,erecolherem-seaoRealPalácio.Paraodesembarque,arecepção das SuasAltezas se apostou a tropa no largo fronteiro ao cais, econcorreumuitopovocomgeralprazerdegrandesepequenos,esatisfaçãouniversalde todospelapresençade tãoaugustaspersonagens.Ao somdassalvasdasnausefortalezas,nodia22defevereiropelasdezhorasdamanhãdesembarcaramassenhorasnocaisfronteiroaopalácio,acompanhadasdassuas damas, e precedidas da fidalguia e nobreza, e logo se recolheram noPaço,ondebenignamentereceberamatodososqueportãojustomotivolhesforambeijaramão.

Sábado,13defevereiro

O último dos navios viajando independentemente chegou no dia 13: “Chegouum74português.”Oregistronolivrodequartos,dequeeraum74,nospermite

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identificá-lo, pois a esquadra naval portuguesa que saiu de Lisboa em 29 denovembro incluía oito navios de linha de batalha: quatro deles ainda estavam,naquelemomento,noNordeste(PríncipeReal,AfonsodeAlbuquerque,MedusaeD.JoãodeCastro);dois tinhamentradonoRiodeJaneirocomocomodoroMooreeestavamagorafundeadosnoporto.Osdoisrestanteseram,portanto,aMartim de Freitas (64) e a Príncipe do Brasil (74). A Martim de Freitas,procedente de São Salvador, onde tinha tocado brevemente, arribou em 26 dejaneiro. A Príncipe do Brasil dificilmente teria levado mais do que quatrosemanasparacompletaraviagem;logo,provavelmenteestafoiàInglaterraparareparos,conformearranjadoentreoalmiranted.ManuelesirSidneySmith.

Quarta-feira,24defevereiro

Aoanoitecer, o vigia daLondon avistouumcúter fora dabaía: “Avistadoumcúterforacompavilhãoazul,repetiusinaldechamada,rumouparaleste.”Todosabordosabiamqueeraaltamenteimprovávelqueumcúter30britânicoestivessenavegandoescoteironoAtlântico.Ocúter,comsuagrandeáreavélicaparalhedarvelocidade, devia estar emmissãode esclarecimentoparaumnaviomuitomaior.

Sábado,27defevereiro

Pela manhã, a fragata Solebay podia ser avistada, fundeada fora da baía,aguardandoparaentrar.Àtarde,aLondonregistrou:“Àsquatrohorasfundeouaqui a Solebay. Recebemos de volta os nossos oficiais e o destacamento defuzileiros navais enviados a bordo quando ao largo de Lisboa, em 29 denovembroúltimo.”AmesmanautrouxeparaocomodoroMoore,desirSidneySmith,“cartaseordensdediferentesdatasaté10dejaneiro”.31

Segunda-feira,7demarço

Finalmentenasegunda-feira,7demarço,atãoesperadaesquadrachegoudeSãoSalvador:

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Às dez horas, avistamos aPríncipe do Brasil com três navios de linha eoutros navios entrando… às 11 horas, entraram pela barra do porto e osnaviosportuguesesqueaquiestavamsalvaram…às12h40,guarnecemosonavio–àsduashoras,salvamosaPríncipecom21tiroseaaclamamosdasvergas quando esta fundeou – como o fizeram todos os navios ingleses eportugueses…FundeouaquiaBedford.

LuizGonçalvesdosSantoscontinua:

Com efeito, ao romper do feliz, e sempre memorável dia 7 de março, sefizeram da barra os sinais determinados, anunciando a chegada da realesquadra;todaacidade,concebendoomaior,emaisvivocontentamento,sepôslogoemalvoroço.Movimentoeconfusão…Dasnaussurtasdentrodoporto, imediatamente que apareceu a real esquadra no horizonte, seexpediramalgunsescaleresaoencontrodaS.A.R…Logoquea real esquadra se foi aproximandoàbarra, todososvasosde

guerra portugueses, e ingleses, ancorados nesta formosa baía,embandeirando-secommilpavilhões,flâmulasdediversasematizadascores(oque faziaumadeliciosaeencantadoravista),e juntamenteas fortalezas,içandoassuasbandeiras,cumprimentaramorealestandartecomumasalvade21tiros……Duascousasconcorreramparaopovonãosairàbarra,aoencontrode

S.A.R.: a variação, quemuito cedo começou a soprar; a segunda, estaremtodosnosseusrespectivos lugares,persuadidosdequeS.A.desembarcaria,logoqueanaudessefundo…Eramduasparatrêsdatarde,aqualestavamuitofresca,bela,eaprazível

neste para sempre memorável dia 7 de março … e já pela barra vinhaentrando com majestosa ufania a nau Príncipe Real, seguida de todas asoutras;edenovocomeçouaestrondaroarcomasalegres,erepetidassalvasdasfortalezas,enaviosdeguerra…Tendo as naus dado fundo no ancoradouro fronteiro à cidade,

imediatamenteseexpediuoavisodequeoPríncipeRegenteNossoSenhornão desembarcava nesta tarde, reservando para a seguinte a sua soleneentradanestacapital;peloquetodasaspessoasasmaisdistintaspelassuasgraduações, e empregos, sem demora se dirigiram em escaleres, e outrasembarcaçõesparaarealnau,ansiosasde teremahonradebeijaraaugustamãodoPríncipeNossoSenhor,edeSuasAltezas,quenelatinhamvindo.

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ThomasO’Neilregistrou:

Esta manhã, foi hasteado um sinal para cinco naus da frota. Às 12 horasficaramàvistaaPríncipeReal,aAfonso,aRailma[Rainha]dePortugal,aConde[CondeDom]HenriqueeaBedford.SuaAltezaReallideravaafrota,comseuestandarteflutuandonomastroprincipal.TendosidofeitoumsinaldaMarlborough, pelo comodoroMoore, para que nos preparássemos parauma salva geral, assim o fizemos, e os fortes deram uma salva geral emretorno.OcomodoroeoscapitãesseguiramentãoemseusescaleresparasecongratularcomSuaAltezaRealefamíliaporteremchegadoasalvo.Ovice-reisaiunobergantimrealparaentregarseupedidodeexoneração,

quandoentãoumoficialdaLondon foimandadoabordoparaoferecersuaajuda,eestavacomoregentequandoocomodoroeoscapitãesesperavampor ele. Sua Alteza estava profundamente emocionado e, com umalinguagemforte,exprimiuasatisfaçãoquesentiapelabondosaatençãoquetodos lhe haviam dispensado nesta parte do mundo. Contudo, embora eleestivesse fora do poder do usurpador, lamentava intensamente pelos fiéissúditosquehaviadeixadoparatrás.OcomodoroMoore foi recebidocom todaacortesia,oqueproporciona

infinita satisfação a todo aquele que tem a honra de ser apresentado a umoficial cujo caráter é tido em alta conta no serviço de SuaMajestade; oscapitãesforamtambémrecebidoscomtodaademonstraçãoderespeito.32

Aquela noite foi gasta com os preparativos para o desembarque, no diaseguinte,eparaascerimôniasqueseseguiriam.

Terça-feira,8demarço

LuizGonçalves dos Santos continua, em seu estilo inimitável de descrição decenário:33

HavendooPríncipeRegenteNossoSenhordeterminadooseudesembarqueparaatardedodiaseguinte,dia8demarço,emaqualentrariasolenementenasuacorte,queeradoseu realagrado ircomsuaaugusta família,ecomtoda à corte à Catedral, para nela render as graças ao Onipotente pelafelicidadedasuajornada,logoregressouaoSenadodaCâmara,afimdese

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fazeremospreparosnecessários…Todaacidaderecebeucomsumoprazere satisfação a notícia de que o Príncipe Regente Nosso Senhor iria emprocissão solene à Sé na tarde do dia seguinte, por issomesmo que nestelongotrajetoopovoteriamelhorocasiãodeverseupríncipeesenhorcomsuaaugustafamília.

À tarde, às quatro horas, com as vergas guarnecidas e todos os naviosdisparando uma salva de 21 tiros, o príncipe regente acompanhado por suafamília,excetoarainha,baixouaterra.

Finalmente, amanheceu o suspirado dia 8 de março, tão claro e formosocomooantecedente:e,estandoascoisasdispostasparaarecepçãodeSuasAltezas,pelasquatrohorasdamaisbela,eserenatarde,porentrerepetidas,ealegres salvas das naus portuguesas, e inglesas, e por entre vivas, que osrespectivosmarinheiros,postosemparadasobreasvergas,davamemaltosgritos,desceuoPríncipeRegenteNossoSenhordanauPríncipeReal,queoconduzira, e com os sereníssimos senhores príncipe da Beira, infantes, einfantas; e acompanhado de toda a corte, com que saíra de Lisboa, e deoutraspersonagensdistintas,quedeterraoforambuscarabordo,ouquedasnausdesembarcaram……Nomeiodestaassombrosaconfusãodetantos,etãomultiplicadossons

diferentes, desembarcaram todas as pessoas reais; e juntamente com oPríncipeRegenteNossoSenhorseprostraramdiantedeumricoaltar,quenapartesuperiordarampaestavaerecto,emtornodoqualseachavaocabidodaCatedralparamentadodepluviaisde sedadeourobranca, e ali osculouSuaAltezaRealaSantaCruz……Otemploseachavadecentementeornado,eesclarecidocomprofusão

de luzes; uma grande orquestra rompeu emmelodiosos cânticos, logo queentrou S.A.R. com sua família… cantavam osmúsicos o hino “TeDeumlaudamus” … Concluída esta sagrada cerimônia, levantaram-se SuasAltezas, e benignamente deram a mão a beijar a todos quanto seaproximavam às suas reais pessoas, sem preferência, nem exclusão dealguém…Depoisdeumabrevedemora…entrenovasaclamaçõesdopovo,que esperava ansiosamente tornar a ver SuasAltezas, semeteu o PríncipeRegenteNossoSenhor,comosereníssimosenhorpríncipedaBeira,emumricocoche,eomesmofeztodaarealfamíliaemoutroscoches.

OcomodoroMooreescreveuaoAlmirantado:

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Tenho grande prazer em informá-los de que Sua Alteza Real, o prínciperegente,arainhaetodaafamíliarealaquichegaramaosoitodiasdestemês,com os seguintes navios: Príncipe Real, Alfonso d’Albuquerque [sic],Meduse[sic],Uranie[sic],anaudeSuaMajestadeBedfordeváriosnaviosdesuprimentoemercantes.AfamíliarealfoirecebidanosBrasis[sic],comtodasasevidênciasdelaçosafetivos,peloshabitantesdetodasascamadas,osquaisparecem-meestarcheiosdezeloelealdadeparacomseusoberano.Opríncipeetodasaspessoasdafamíliarealestãoemperfeitasaúde.ElefezontemsuaentradapúblicanacidadedoRiodeJaneiroecaminhoupelasruasprincipaisemprocissãoatéaigrejadoRosário,afimdedargraçasaoTodo-Poderoso…. Ele parecia muito gratificado pela alegria universal eentusiásticacomquefoisaudadoporumimensoaglomeradodehabitantes,detodasascamadasetipos.34

Naquelediae tambémnodia seguinte, a família real retornoua seusnaviosànoite.

Quinta-feira,10demarço

Neste dia, acompanhados da rainha, deixaram seus navios pela última vez. OlivrodequartosdaLondonobservou:

Àsquatrohoras,opríncipedoBrasildeixouonavioalmirante,ocasiãoemqueopavilhãorealfoiarriado,eiçadoopavilhãodoalmirante.Aesquadrasalvouopríncipecom21tiros,guarneceuasvergaseaclamou-o.

LuizGonçalvesdosSantosrecorda:35

HavendooPríncipeRegenteNossoSenhordesembarcadonodia8,efeitoasua entrada solene nesta cidade com a pompa, e aplausos acima descritos,destinouparaatardedodiaseguinteodesembarque,erecepçãopúblicadasuaaugustamãe senhora,oquenão se realizounesta tarde,pormotivodeindisposiçãodeSuaMajestade;masnatardedodia10…pelascincohorasdatarde,foiSuaMajestadeconduzidadanauPríncipeRealemobergantimpeloseuaugustofilho,oPríncipeRegenteNossoSenhor,acompanhadadosseussereníssimosnetos,ossenhorespríncipedaBeira,d.Pedro,einfantesd.Miguel,ed.PedroCarlos…Salvaramtodasasfortalezas,enaviosdeguerra

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tanto portugueses como ingleses; estes ao descer SuaMajestade da nau, eaquelesaochegaraterra…esendocolhidadebaixodopálio…foilevadaprocessionalmente em uma cadeirinha de braços … Depois que SuaMajestade,aRainhaNossaSenhorafoirecolhidaaoseuquarto,apareceunajaneladopaláciooPríncipeRegenteNossoSenhoracompanhadodetodaareal famíliaeocupandoasdemais janelas,por todaaextensãoda fachada,queolhaparaapraça.

Por fim, d. João e sua família mudaram-se para a sua residência,originalmenteconstruídaparaumricocomerciante,EliasAntônioLopes:aRealQuintadaBoaVista.

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CAPÍTULOOITO

AoentraremLisboa,noamanhecerdodia30denovembrode1807,Junotdáprosseguimento,comtropasfrancesaseespanholas,àtomadadePortugal.Apósochoque inicial,apopulaçãocomeçaareagir.Ospoucoscidadãosbritânicosqueficaramparatrássofremasimposiçõesdoconquistador.QuandooprínciperegentechegaaoRiodeJaneiro,aposiçãodeJunotemPortugalestáestabelecida.

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EmLisboa,aapreensãoarespeitodapartidadoprínciperegenteedacortemesclava-secomaexpectativasobreumfuturodesconhecido.

Ao completar um mês desde o início da marcha forçada, Junotcontinuavaaenfrentarosproblemascausadospeladistânciapercorridaepelascondiçõesdetempo:

A terceira divisão considerava-se perdida; a cavalaria e a artilhariaestragadas andavam desviadas por paragens desertas, levadas pelamão deguias infiéis,ouestavamdetidaspelas inundações.Achuvacaíaa jorroseportodaparterebentavamtorrentes.1

A ausência de resistência preocupava-o; ele não podia acreditar que osportugueses entregariam seu país sem alguma reação. Essa falta de atividadepodia significar que estavam preparando uma emboscada para as suas tropasdesfalcadasecansadas.

AsnotíciasdeLisboafaziamcrerque tudosedispuseraparaareação.Umcorreio,chegadonaquelemomento,anunciavaque1.400homensdetropasetoda a população se levantariamemarchariamatrás doprimeiro crucifixo,erguidoàsuafrente.2

Segunda-feira,30denovembro

O último obstáculo a ser transportado era o rio Trancão, em Sacavém. Nasprimeiras horas da manhã do dia 30, a travessia finalmente ocorreu; Lisboaagoraseencontradiantedele.

Umobservadoranônimorecorda:

Nodia29,emquesaiuaesquadra,ficoupornoitepartedoExércitofrancêsnos arredores de Lisboa,marchado a primeira divisão sem bagagem, e sócomasmochilas,cansadíssimospelaviolênciadesuasmarchas,eincapazdecombater, se fosse preciso; compunha de dez mil homens com poucadiferença,muimagros,muirotos,descalçosamaiorparte,doentes,coxos,emortos à fome com as espingardas ferrugentas, e muitas quebradas, eincapazesdedispararumtiro;asmochilasdepeledecabras,eumacabaçanaturalàcinturaparaágua;umasobrefardamuisujadebrimbranco;talera

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o trem, e disciplina políticamilitar do soldado francês, quemarchou peloterritóriodePortugal,comapalavradeamigo,ecomseguridadedeproteçãoefelicidade.3

Oautoranônimocontinua:

Entrou o general-em-chefe Junot com uma pequena escolta francesa acavalo,eoutradanossaGuardaRealdaPolícia,queo tinha idoesperar,eencaminhou-se para o palácio do barão de Quintella, no largo da rua doAlecrim,ondeformouoseuquartel-general.4

Eraoamanhecerdodia30denovembrode1807,18horasapósapartidadaesquadraportuguesa.

O palácio da Bemposta tinha sido preparado para recebê-lo, porém elepreferiu a propriedade opulenta do barão deQuintella. Sua estada não custounada,mesmoassimrecebiadoSenadodaCâmaraumacontribuiçãomensalde12milcruzados.

Umdosprincipaisobjetivosdesuamissão–anunciadoprematuramenteporBonaparte–nãoforaalcançado:acapturadafamíliarealdePortugal.

Aindatentandovender,paraosmaissimples,aimagemdeumaFrançatodaprotetora, Junot mandou afixar edital5 justificando a invasão. Se, a princípio,algum cidadão acreditou nessa imagem, a própria ação dos invasores logodemonstrouquearealidadeerabemoutra.

O sacrifício do povo que ficou tinha começado. Na véspera da partida, ademandademantimentosfezoágioalcançar60%:passaram-semuitassemanasantesdeospreçosvoltaremànormalidade.

Nomesmodia emque chegou, Junot foi à ópera, ocupandoo camarote dafamília real.Oobjetivoeraservistopelopúblico, recebendooscumprimentosdosfidalgosedeoutrosquenãotinhamacompanhadooprínciperegente.

Asruaseramcobertasdeimensopovo;easoficinasfechadasdavammotivoaumaconfusão,queameaçavaruína;ocidadãopatriotaehonrado,oternopaide família,nadamais faziaque lamentara suasorte,vendoapardesitiranoscomcapadeprotetores.Nestemesmoestadodecousas,eaflição.

Naquele mesmo dia, o intendente-geral da polícia deu ordens para que ocomércioaceitasseasmoedasfrancesaeespanhola.6

Apósapartidadafamíliareal,onúncio,emvão,tentouobterseupassaporte

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para deixar Portugal e seguir o príncipe regente. Depois de muitos esforços,ficouclaroqueJunotsódariaautorizaçãoparaelevoltaraRoma,viaEspanha.Onúncio,hospedadonohospíciodosCapuchinhos Italianos,aguardavaahoradepartirparaAldeiaGalega,naoutrabandadoTejo,ondeseucocheoesperava.A sua intenção era viajar até o rio Guadiana, e lá tentar encontrar umaembarcaçãoqueolevasseparaoBrasil.OrioservedefronteiraentrePortugaleaEspanha,noAlgarve.

Surgiu então uma alternativa. Um navio português, o Estrela do Mar,conseguiu, à força de muito dinheiro, permissão para sair do Tejo. Ficoucombinadoqueestenavio iriaesperá-lo trêsdias,cercadeduas léguasforadabarra.Nanoitede18deabril,onúnciopartiunoescuro,numpequenobarcoaremo.Nãoencontrandoonavioportuguês,depoisdeváriashorasdeprocuraemmarbastantecavado,decidiuseaproximardeumafragatainglesa,aNinfa,paraabordá-la. No dia seguinte, após troca de sinais, o almirante do esquadrãobritânico, sir Charles Cotton, convidou-o a passar para o navio capitâniaHibernia.Nodia22,partiunoEstreladoMar,escoltadopelafragatabritânicaMediador.Graçasàscondiçõesdestenavio,após trêsdias foiprecisopassaronúncio para a fragata; e esta, além de enviar homens para efetuar consertos,resolveu trazeronavioportuguês a reboque.Nodia11de junho, entraramnoporto de Plymouth, na Inglaterra. Partiram novamente numa nau britânica, onaviodeS.M.Storknodia11dejulho,e,apósalgunsdiasnaMadeira,saíramem30dejulhoparaoRiodeJaneiro,numaviagemquedurou40dias.7

EmLisboa,aospoucos,astropasfrancesasforamchegando,quasesempreànoite.Procuravam sehospedar nosgrandesprédios comampla capacidade, deformaanãosedispersar,tornando-semaisfácilmanteraordemeadisciplinae,aomesmotempo,assegurarumadefesamaiseficazcontraumareaçãoatéentãoimprevisíveldapopulação.

Quarta-feira,2dedezembro

Entraram vários generais-de-divisão, como De Laborde, Loison eKellermann,ealgunsgenerais-de-brigada;eforamfazendoasuahospedarianascasas,epaláciosdosfidalgosausentes,eprincipaisnegociantes.Deitaram fora dos conventos de São Francisco da Cidade, Paulistas, e

Jesus todosos religiosos,que tinhamparentesqueospudessemrecolher,afimde se acomodaremos soldados franceses que destinaramos conventos

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paraquartéis.

Quinta-feira,3dedezembro

As tropas francesascontinuamachegar:agorasãomaisde11milhomens;osportuguesesqueficaramaindanãoseacostumaramcomarealidade.OnúmerodegeneraisemLisboasubiupara15.Paraocomérciofoioiníciodeumaépocadesastrosapois,

… chamou-se o comércio para prestar um empréstimo de doismilhões decruzadosatéofimdomês;eestefoioprincípiodarapina…fezesmorecerem sumograuo comércio, que estava ameaçado em redondodeuma totalruína com a detenção dos seus navios na França com os depósitos dos doBrasilnaInglaterra,conduzidospelobloqueiobritânico,efinalmentecomoempatedomesmogirocomercialnasquatropartesdomundo.

Sexta-feira,4dedezembro

Aos poucos, tomando conta do poder público, Junot começa a agir pelo setormais importante, trocandoopresidentedoRealErário,LuizdeVasconcelloseSousa,e,noseulugar,nomeandooex-cônsulFrançoisHermanncomoministrodas Finanças e Interior. Em seguida despachou um inspetor francês para oArsenal. Também mandou inventariar os bens dos fidalgos, e de outros quetinhamacompanhadoS.A.R.,paraseremseqüestrados;nomeouosr.JoufreparalevantarosbensdaCasaReal.

OhospitalInglês,situadonatravessadosLadrões,foiescolhidoparaservirde prisão aos ingleses que tinham permanecido em Lisboa. Quaisquerpropriedadesaelespertencentes,queseencontrassemnasmãosdeportugueses,deveriamserentregues;casocontrário,corria-seoriscodeumamultadevalordezvezessuperioraodamercadoriaencontrada.8

Antesdeatravessarafronteiranomêsanterior,Junotaindatentaraexplicarejustificar a invasão, principalmente para os camponeses, de hábitos maissimples,masnemporistomenosdesconfiados:“Finalmenteapareceunestediaoeditalprimeiro,queele,Junot,afixouemValençadeAlcântaraàsuaentrada

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nestereino,oqueatéasaídadeS.A.R.nosfoioculto.”9

Sábado,5dedezembro

Osbenspertencentesaossúditosingleses,eatéasmercadoriasmanufaturadasnaInglaterra, são objeto de atenção e, nas semanas seguintes, sofrerão seqüestropelonovopoder.

Por edital, são proibidos a caça e o uso de armas de fogo, com severaspenalidades: “caçador encontrado … será considerado como vagabundo,matadornasestradas;ecomotalseráconduzidoperanteumacomissãomilitar,queseráorganizadaparaoditoefeito”.

Domingosegunda-feira,67dedezembro

Conforme aumenta a tropa de ocupação, também aumentam as suasnecessidadesdeacomodação:

… e repartirão e aquartelarão as tropas francesas pelos conventos de SãoBento, São Domingos, Camillos, Carmo, Trindade, Carmelitas Descalças,SãoVicentedeFora;easespanholasemSãoFranciscodePaula.AssegesdaCasaRealedaspessoasqueforamcomS.A.R.,muitasserepartiamparaoestragado,ediárioserviçodemuitosgenerais,efuncionáriosfranceses.

Afixado novo edital proibindo soldados, de qualquer nacionalidade, defreqüentarem “tabernas e loja de bebidas” depois das sete horas da noite, sobseveras penas para o taberneiro que desobedecer; também a proibição de usarqualquer

…qualidadedearma,principalmentedenoite;etodapessoa,queforpresaemqualquerpendência,sendoconvencidadeterusadodequalquerarmaqueseja,serájulgadaporumacomissãomilitar,ereputadacomoassassina.

Neste dia, aqueles portugueses que se encontravam perto do Tejo viramentraraescunaCuriosa,quetinhasaídocomaesquadranodia29denovembro,“veio perseguida do temporal, e com água aberta; e logo os franceses se

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apoderaramdela,enãoiçoumaisbandeiraportuguesa”.Apesar do rigoroso bloqueio exercido pelo esquadrão britânico, dois

pequenos navios conseguiram entrar no porto de Lisboa, provenientes deTenerifeeHamburgo.Estefatocausoutristeza,poisfezlembraroricocomérciodeoutrora.

Quinta-feira,10dedezembro

O cardeal patriarca, receoso da reação dos cidadãos, publicou uma pastoralpedindo a todos que colaborassem com, e respeitassem, “o Exército de SuaMajestade o imperador dos franceses, e rei de Itália,Napoleão oGrande, queDeustemdestinadoparaamparar,eprotegerareligião,efazerafelicidadedospovos”.

Sexta-feira,11dedezembro

Junoteoutrosoficiaisforamabordodoesquadrãorusso,fundeadonoTejo.Ohasteamento da bandeira francesa no Real Arsenal causou grande cólera nopovo,porémnãohouvereaçãomaior.

Domingo,13dedezembro

A primeira manifestação hostil do povo ocorreu neste dia, e foi mais tardelembradacomooiníciodarevoluçãoqueacabariaporexpulsarosfranceses.Aformação de quase seismil soldados franceses na praça doRocio, e depois, apresençadeJunotedeoutrosoficiaisparareceberemashonrasecontinências;e,aindamais,oiçamentodabandeirafrancesanoCastelo,comsalvade20tiros,correspondida pelas fortalezas da Barra; tudo isso instigou o povo. Às cincohorasdatarde,aosgritosde“VivaPortugalemorraaFrança”,àforçadegolpesde pedras, paus e armas curtas, pela primeira vez o povo manifestou a suacontrariedade.Aconfusãofoigrande,principalmentenoChiadoenoCalçadodoCarmo–muitaspessoas fugiramparaa igrejadoSacramento; soldadosderamduas descargas para dentro do santuário. Às oito horas da noite, a calma já

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voltava à cidade. Neste primeiro confronto, morreram quatro franceses; umaportuguesa,feridaporumabala,veioafalecernodiaseguinte.

Segunda-feira,14dedezembro

Continuaramasmanifestaçõesdodiaanterior.Osfrancesesreforçaramaguardaem todas as localidades. O povo esperava escondido para atacar aquelessoldadosdispersos.Osaldofinaldodiafoidenovefrancesesmortosemuitosferidos;trêsportuguesesperderamavidaehouvequatroferidos.

Terça-feira,15dedezembro

A tranqüilidade voltou às ruas da capital, em parte porque, assustado com asmanifestações da véspera, o Exército redobrou a guarda nos pontos maisvulneráveisepassouapatrulharasruasdocentro.

Quarta-feira,16dedezembro

CartasrecebidasdacidadedoPortoinformavamquesoldadosespanhóistinhamali entrado e, comdata de 13 de dezembro, afixado umedital assinado por d.Francisco Taranco e Llano – tenente-general dos reais Exércitos de S.M.católica;semelhanteàqueleafixadoemLisboaporJunot.

Sábado,19dedezembro

Após muita insistência, alguns navios neutros, que se encontravam no portoquandoainvasãoocorreu,conseguiramseuspassaportesparapoderemsair.

UmgrandenúmerodeoficiaisespanhóisdoAlentejo foivistoentrandoemLisboa.

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Domingo,20dedezembro

NapraçadoRocio, formou-sepela segundavez a tropa; dizia-seque eraparaamedrontaraquelesqueaindatinhamesperançadereagircontraaocupação.

Com o passar do mês as diversas medidas anunciadas aos poucos foramtomandocontadopoderpúblico,nãofaltandocertaconfusão:

O general espanhol do Alentejo decretava também, em nome do seumonarca,dandopostos,reconduzindoministrosetc.Porestaformaseachavaentãoestepequenoreinocomtrêsdonos,dois intrusoseumlegítimo,qualera,eé,S.A.R.

Segunda-feira,21dedezembro

A fim de evitar aglomerações e manifestações do povo, Junot baixou ordensproibindoasmissaseotoquedossinosnodiadeNatal.

Terça-feira,22dedezembro

SeguindooTratadodeFontainebleau, peloqual, nadivisãodePortugal, o sulcaberiaaosespanhóis (PríncipedaPaz), Junotordenouqueos rendimentosdoAlentejoedoAlgarvenãoentrassemnoErário;quefossempostosàdisposiçãodogeneralespanholmarquêsdeSocorro.

ObispotitulardoAlgarve,d.JoséMariadeMello,mandaafixarpastoral,deconteúdosemelhanteaodocardealpatriarca.

Segunda-feira,28dedezembro

ChegaramnotíciasdequediversosnaviosvindodoBrasil,quedesconheciamouquetinhamdesobedecidoàsordensdoprínciperegenteparasustarapartidadanavegaçãoparaPortugal–enviadaspelobergantimGaviãoem7desetembro–,tinham sido apreendidospelo esquadrãobritânicodobloqueio.O comércio, já

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sofrendoasconseqüênciasdainvasão,ficouaindamaisdesanimado.10

Terça-feira,29dedezembro

LucasdeSeabradaSilva,intendente-geraldapolíciadacorteedoreino,receosodequealgumaspessoaspudessemutilizar-sededesculpasparasaíremànoite,publicou edital proclamando “que nenhuma pessoa do dia primeiro de janeiropordiantetragapelasruasqualidadealgumadegado,desdeasave-mariasatéassetehorasdamanhã;comapenadeperdimentodosmesmosgados”.

Foi publicada a primeira relação de contribuintes do empréstimo forçado,somando 800 mil cruzados. Encabeçando a lista, com 32 mil cruzados cada,estava o barão de Quintella, o desembargador Antônio Rodrigues Caldas eJacinthoFernandesdaCostaBandeira.

Sexta-feira,1ºdejaneirode1808

Ocorreunestediaumgrandebanquete,seguidodeumbaile,noquartel-general.Alémdosoficiaisfranceses,participaramoficiaissuperioresdaesquadrarussaeváriasfamíliasdeLisboa.

Sábado,2dejaneiro

Depois de um mês, o bloqueio inglês tornou escassa a comida; até pãofaltava. Visando amenizar esta situação, que estava ficando crítica, el-rei deEspanha decretou, livre de direitos, a entrada e a saída de todos os gêneros emantimentos.

Impostaaleimarcial,umanaudefrontedapraçadoComérciodisparariaumcanhãotodasasmanhãseànoite,comosinalpararecolher.

Segunda-feira,4dejaneiro

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Ogovernodecretouque todososbrasileirosquequisessemseretirarpoderiamfazê-lo,bastandoaobtençãodepassaporteindicandoopaísdedestinoeasaídaem navios neutros. Muitas famílias, alegando serem brasileiras, conseguiramescapar.

Terça-feira,5dejaneiro

A movimentação das tropas na costa foi grande, pois a esquadra inglesa seaproximou e, por intermédio de pescadores, obteve informações do que sepassavaemterra.

Como resultado, barcos pesqueiros foram proibidos, sob severas penas, demanter contato; e, através de letras e números a serem pintados no casco, aidentificaçãofoifacilitada.

Domingo,10dejaneiro

NovamenteJunotreuniuastropasnoRocioparadesfileemanobras:

Fizeramosgeneraismanejaratropa,eJunotpassouarevistadecostume;enesteato foi aochãoogeneralKellermann,pois se lheespantouocavalo;ficoualgumtempoperdidodossentidos,erecolheram-noà lojadebebidasdoNicola,ondedepoisdealgumasexperiênciasdelicoresficouperfeito,eaestas experiências assistiram vários oficiais, os quais todos saudaram osenhor general com os copos; e na retirada (visto assim pedir a política)foram todos montar o dito senhor general, e por cujo motivo houveesquecimento da bagatela dos licores, e o dono da loja desenganado dopagamento:emtodapartesempresemelhantes.

Quinta-feira,14dejaneiro

Hoje passou Junot depois do almoço (o qual sempre era às onze horas, eigualojantar,tantonacomida,quantonabebida)àfundiçãoefezarrancare

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quebrarosquadros,que representavamos soberanosdaCasadeBragança,ordenandoquesenãopusessemmaisarmasportuguesasnoquefundisse;eparaestaaçãofrancesa,levoucincodeseusporta-machados;e,compalavrasatrevidas,eprópriasdoseucaráter,proferiuqueaCasaLegítimacessariadegovernar: para esta vil ação, ou ato, em pior estado do que de costume, evoltoucomespíritoalegre,comosealcançasseumavitória.

Sexta-feira,15dejaneiro

AcidadetodaacordoucomobarulhoeomovimentodoscarrosdepólvoraedepeçasdeartilhariasendolevadosparaaspraiasdaBarra.Seguiramtambémumregimento de suíços e outro de artilharia. O rumor era de que o esquadrãobritânicotinhaumcertonúmerodenavios-transportealémdohorizonte,prontosparadespejarsoldadosnaspraias.Nãoeraverdade.

Sábado,16dejaneiro

OutravezpassouJunotna fundição;determinouquebrarasarmasportuguesasda porta, que eram de pedra. Convidou alguns artesãos portugueses, que seencontravamnalocalidade,parafazeroserviço,oferecendo-lhes6.400réis:“Apobrezagemiadefome…porémnãohouveumsóqueaceitasseaviloferta,efoiprecisoquesoldadosfrancesesofizessem.”

Domingosegunda-feira,1718dejaneiro

“Tomou-senestesdiasnaLojadosSapateiros,calçadoparaoExércitofrancês;epeladosFanqueiros,cobertoresepanosdelinho;eistocomamaiorviolência.”

Terça-feiraquarta-feira,1920dejaneiro

Nestes dias, reduziu-se drasticamente o número de portugueses nas Forças

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Armadas; assim os regimentos ficaram com um pequeno número de homens,consolidandoaindamaisasupremaciafrancesa.

Sexta-feirasábado,2223dejaneiro

MarinheiroseoficiaisdonavioPrincesa,eoutrosquetinhamsidoapreendidospelobloqueiobritânico,foramdeixadosemterra.Imediatamente,forampresoselevadosparasereminterrogadossobreaesquadrainglesa,peranteogeneralDeLaborde;emseguida,foramsoltos.OsnaviosforamconduzidosàInglaterra.

Domingo,24dejaneiro

ContinuamospreparativosnaspraiasdabarracontraumapossívelinvasãopelaInglaterra.

Quinta-feira,28dejaneiro

Chegam notícias de Mafra de que um homem tinha sido abatido a tiros dearcabuzportermatadodoisfrancesescomumafoice.

Segunda-feira,1ºdefevereiro

Aosecompletaremexatosdoismesesdeocupação,segurosdequeodomíniodoterritórioeratotaledequeoTratadodeFontainebleaujápoderiacomeçaraserimplantado,umimportantepassoeratomado:

Postaram-seduasalasdegranadeirosdesdeaportadoquartel-generalatéoRocio, sendo formadas pela rua do Chiado, Calçada Nova do Carmo adesembocar na grande praça: saiu Junot e encaminhou-se ao palácio daRegência,ondeestevealgumtempo…espalhou-seanotíciadeserabolida,ouextintaaRegência,equeNapoleãoordenavaqueJunotfossegovernador-

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em-chefedoreino.Àscincohorasdatardemandouafixaroedital.11

Emseguida,foipublicadooutroeditalextinguindooConselhodaRegênciacriado pelo príncipe regente antes de partir, e ao mesmo tempo criando oConselho de Guerra e o Conselho do Governo.Mantidos alguns funcionáriosportugueses nos seus postos, foram nomeados franceses e portugueses paraocuparempostodeconfiança.

Terça-feira,2defevereiro

A publicação do edital,12 assinado por Napoleão em Milão no dia 23 dedezembrodoanoanterior,deixouapopulaçãotristeeamarga.Ordenavaqueapopulação fizesse uma doação de 100 milhões de francos (40 milhões decruzados)comocontribuiçãoàguerra,eoseqüestrodosbensdafamíliarealedos fidalgos que a haviam acompanhado. As doações de dois milhões decruzadosjápagaspoderiamserdescontadas.

Em 1808, por imposição de Junot, uma delegação dos três estados foi aBaiona cumprimentar Bonaparte e pedir-lhe uma redução desta doação. AdelegaçãoeracompostadosmarquesesdeMarialva,PenalvaeValença,osdoismarquesesdeAbrantes(paiefilho),d.NunoÁlvaresPereiradeMelo(segundofilho da Casa de Cadaval), o conde Sabugal e o visconde de Barbacena.Recebidos em Baiona por Bonaparte e iniciadas as negociações, surgiu ainsurreiçãoemPortugal.Osmembrosdadelegaçãopassaramaserprisioneirosdeguerra; transferidosprimeiroparaBordéus edepois paraParis, sópuderamretornarem1814.

Quinta-feira,4defevereiro

Asubmissãonãoeratotal;aquiealihouve,espontaneamente,reaçãoàinvasão:

Correu notícia de um pequeno motim nas Caldas entre os soldados doRegimento do Porto e os franceses, havendo nestes algumas mortes: foimandado devassar e castigar, o general Loyson com quatromil homens eseispeçasdeartilharia.

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UmparlamentárioinglêsfoiavistadopertodeSetúbal.

Sexta-feira,5defevereiro

O esquadrão de bloqueio britânico, após o episódio com os naviosmercantesvindos do Brasil, começou a tomar uma atitudemais ativa. Neste, e nos diasseguintes,umparlamentárioinglêsrondavapertodabarra.

Sábado,6defevereiro

A situação da nobreza, do clero e de outros que tinham ficado emLisboa eramuitodelicada.Sedeum ladoeramconvocadospara fazer“doações” (castigomenorqueoseqüestro),pelooutro,comonestediaàstrêshorasdatarde,eramconvocadosaoquartel-generalparacumprimentare renderobediênciaporesteatoaogeneralJunot.Apopulaçãoobservavaindignada,considerandotraidorasessaspessoas.

Quarta-feira,10defevereiro

De Caldas, chegam notícias de que o Regimento do Porto, que estava deguarnição,foicercadoedesarmado;noveportuguesestinhamsidoexecutados.

Sábado,13defevereiro

Oesquadrãoinglêsfinalmenteentraemação:

Às três horas da manhã, vieram os ingleses em lanchas e escaleres, eabordaram uma canhoneira das que estavam de guarnição emSão José deRiba-Mar, e que tinha 60 homens de tripulação, e seu comandante; e alevaramapresada,semqueavigilânciadasfortalezasospercebesse,emenosas embarcações de guerra: esta notícia encolerizou sumamente o general

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Junot, e reforçou a barra com a nauVasco daGama, a fragataCarlota, obrigueGaivota,a fragataBenjamim,aescunaCuriosa,emaisduasbarcas,afora abateria flutuante, e tudo ficou ancorado entre a torredeBelémeofortedaArêa.

Segunda-feira,15defevereiro

A canhoneira capturada apareceu, arvorando pavilhão britânico, no meio daesquadra. Um escaler parlamentário veio trazer cinco franceses feridos naabordagemdodia13.

Terça-feira,16defevereiro

Mais uma vez a esquadra britânica demonstra que ainda está nos seus postos,pois:

Fundearam em Cascais 11 navios ingleses, e essa visita fez concorrer adiferentes observatóriosmuita gente…dobrarão as guardas ou guarniçõesdabarra;eestiveramdoisdiassobreasarmas,receandoalgumdesembarque.

Quarta-feira,17defevereiro

OcorregrandemovimentaçãodetropasparaoAlentejoeparaapraçad’Elvas.AssimonúmerodehomensentreLisboaeacidadedoPortocaiparaoitomil.

Sexta-feira,19defevereiro

Muito a contragosto do povo português, os navios britânicos fundeados emCascaisfazem-sedevela,nãoparaentrar,masparavoltaraoalto-mar.

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Domingo,21defevereiro

No Rocio formam-se novamente as tropas, desta vez as francesas e asportuguesas(regimentosdeinfantaria1,4,10,13e16);estassembandeiras.Astropas são passadas pelos generais franceses, pelo marquês d’Alorna e porGomesFreire.Évozcorrentequeas tropasportuguesas serãoenviadasparaoexterior,comoeraapolíticafrancesa;elasiriamocuparoespaçodeixadopelastropasfrancesasnoexterioreaomesmotempoeliminarqualquerpossibilidadedeumlevantamento.

Segunda-feira,22defevereiro

Denovosurgeodescontentamento.Tendosidopublicamenteavisadodequeosbrasileiros poderiam pedir os seus passaportes e sair do país, e tendo sidofranqueadoosmesmospassaportesepermitidooembarquenobrigueRealJoão,repentinamente,esemqualquerexplicação,ospassaportesforamcancelados.

Sexta-feira,11demarço

Umincidenteconquistouaimaginaçãodoslisboetas.Umagalinha pertencente a um tal sr.Costa botou umovo e, para surpresa

geral, as letras V D S R P poderiam ser lidas na casca. As iniciais foraminterpretadascomosendo“VivaD.SebastiãoReidePortugal”.Anotíciadoovomilagroso rapidamente se espalhou, atraindo uma multidão até a casa do sr.Costa,na ruadasTaipas,edaliatéabeirado rio,para recebero tãoesperadoSalvador.Presumia-sequeviriavestindouniformedamarinhainglesa!Noanode 1578, d. Sebastião liderou uma expedição a Alcácer Quibir e, durante abatalha,queocorreuem4deagosto,desapareceusemdeixaromenorvestígio.Deacordocomumalendaportuguesa,d.Sebastiãonãomorreueumdiavoltaráparasalvarasuapátria.Atéhojeasuavoltaéaguardada!

ContamqueoovofoiapresentadoaJunotduranteumbanquete,numasalvadeprata,equetodosquiseramexaminaressefenômeno.13

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EPÍLOGO

OesquadrãobritâniconoRiodeJaneiro.MissãodepatrulhamentoemSãoSalvador,embuscadoesquadrãoqueestavasendobloqueadoemRochefort.ChegadadesirSidneySmith.ComemoraçãodoaniversáriodeSuaMajestadeJorgeIII.ServiçodeescoltaparaafazendarealdeSantaCruz.OnaviodeS.M.Londonregressaaoportodeorigem.

Marçode1808

A tão esperada chegada da família real ao Rio de Janeiro anunciou um novo

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papel para o esquadrão britânico, agora reforçado pelas fragatas Solebay eSurveillance,queaportaramem9demarço.

Entrementes, o vice-almirante sir Charles Cotton1 tinha sido enviado aPortugalparasubstituirsirSidneySmithemseucomando.Antesqueistofossefeito,sirSidneyfoienviadoaGibraltar,PortoPraiaeilhadaMadeira,embuscadenaviosfrancesesquepudessemestarnessasáreas.Oesquadrãofrancêstinhaconseguido esgueirar-se para fora de Rochefort, embora o porto estivesse sobbloqueio,eseuparadeiroeradesconhecido.

EnquantoestavaemGibraltar,abordodaFoudroyant,em29defevereiro,sirSidney recebeu ordens para tomar sob seu comando a Agamemnon e aConfiance, seguir para o Brasil na Foudroyant e lá içar seu pavilhão comocomandante-em-chefe:

AsordensdoAlmirantadoestavamdatadasde25dejaneirode1808;excetoque, com a escala emGibraltar, onde ele recebeu ordem de comunicar-secomotenente-generalsirJohnMoore,tocandoemoutrosportos,juntamentecom transbordo entre navios no mar, estando a Foudroyant muitonecessitada de reparos, não foi antes de 17 de maio que ele alcançou omagníficoportodoRiodeJaneiro,nonaviodeSuaMajestadeLondon.2

Em14demarço,ocomodoroGrahamMooreescreveu,doRiodeJaneiro,aseunovocomandante-em-chefe,vice-almirantesirCharlesCotton:

Devoinformá-loqueonaviodeSuaMajestadeSurveillanceaquichegouem9 do corrente, trazendo a bordo Francis Hill, secretário da Legação eencarregado de Negócios; o capitão sir George Collier entregou-me suaordemdatadade11dedezembroúltimo,instruindo-meacolocar-mesobseucomando,juntamentecomdiversasordensdoConselhoeProclamações.Eletambém me entregou sua carta de 25 de janeiro, contendo a importanteinformaçãoquelhefoicomunicadapelovice-almirantesirI.T.Dinkworth,arespeito da partida do esquadrão inimigo de Rochefort, em 17 de janeiro,com cartas e ordens que ele recebeu do capitãoGrant, daRaven, em SãoJago [sic].A julgar pelo estado da defesa e pela força natural deste porto,estandotodaaesquadraportuguesaaqui,excetooDonJuandeCastro[sic],naBahia (São Salvador), considero este porto perfeitamente seguro contraumataquedoesquadrãodeRochefort;tenhoesperadoporumabrisadaterraparalevaroesquadrãosobmeucomando,consistindodosnavios[nomeadosnamargem:Marlborough,Monarch,London,BedfordeSurveillance],para

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omar, a fimde esforçar-mepara encontrá-los. SuaAltezaReal o príncipedesejaqueeusigaparaaBahia,poisacidadedeSãoSalvadorestáexpostaaum ataque domar, e poderia ser forçada a cooperar, se tal objetivo fossesuficienteparaqueoinimigoarriscasseseuesquadrão.SoudeopiniãoqueoseuobjetivoéoriodaPrata,paralançarastropasquetenhamabordocontraMontevideo; serei guiado pelas circunstâncias, e pelas informações que eupossareceberemsuaperseguição,sendoaforçasobmeucomando,espero,suficienteparacombatê-los.Devo informá-lo que, em cumprimento a uma Ordem dos Exmos. Srs.

Lordes Comissários do Almirantado, tomei o Surveillance sob meucomando.3

Natardedequarta-feira,16demarço,aLondonrecebeuumprático,prontoparacruzar abarra e fazer-se aomar.Ànoite, a faltadevento impediuqueoesquadrãopartisseeopráticofoibaixadoaterra.Aoamanhecerdodiaseguinte,com uma brisa soprando da terra, o esquadrão, de conserva com o brigueportuguêsVoador,zarpouparaaBahia.Oesquadrãoficoudepatrulhaaolongodacosta,emsuabuscapornaviosfranceses.

Abrilde1808

Como o comodoro Moore previra, não obtiveram sucesso; em 8 de abrilfundearam a uma milha da terra, perto da extremidade sul da cidade de SãoSalvador.

Os dias seguintes foram gastos com os preparativos para a viagem deregresso.Nodia12,ogovernador,condedaPonte,foiabordodaLondonparaumavisitadecortesia;asalvaregulamentarde13tirosdecanhãofoidisparada,porocasiãodoembarqueedapartida.

Em18deabriloesquadrãopartiunajornadaderegresso,chegandoaoRiodeJaneiro,semincidente,em8demaio.

Maiode1808

Em12demaio,aConfiancefinalmenteentrouereuniu-seaoesquadrão,seguida

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no dia 17 pela Foudroyant, que trazia sir Sidney Smith, de conserva com aAgamemnon4eobriguePitt.

Junhode1808

SirSidneySmithconvidouoprínciperegenteeafamíliarealportuguesaabordodo navio de S.M.London, por ocasião da comemoração do aniversário do reiJorge III. Thomas O’Neil, que esteve presente, descreve os preparativos e oevento:

Dia24demaio.PelaLondon,vieramordensdocomandante-em-chefeparaempregartodoartíficedafrotanopreparodanauparareceberafamíliareal,que tinhasidoconvidadaporelepara jantarabordonodia4de junho,nacomemoração do aniversário de Sua Majestade britânica (meu clementesoberano),ecujoconviteelessedignaramaaceitar.Assim,todososcanhõesdo convés e da cabine superior, assim como os do tombadilho, foramremovidos. As cabines foram decoradas com as cores da Inglaterra, dePortugal e da Espanha,5 e com uma tela contendo os retratos de todos osnossosheróisnavais;e,emhomenagemaosvisitantesreais,oconvésestavaatapetadocombandeirasfrancesas.A mesa real foi colocada diante da cabine superior, e as mesas para

recebernobresquefaziampartedacomitivadafamíliarealforamdispostasem toda a extensão e de cada lado do tombadilho. Foi suspensa umaplataformadomastroprincipalparaomastrodeproa,cujasbeiradasestavamornamentadas com as cores inglesas, portuguesas e espanholas. No centroficava umamesa com 160 talheres; em toda a extensão da nau, os toldosforamguarnecidoscomdivisasinglesaseportuguesasunidas,esuasbordasestavamadornadascombandeirolasdediferentescores;osladosdanau,notombadilho, estavam cobertos com estandartes reais da Inglaterra, tendo àsuafrenteobrasãodeSuaMajestadebritânicaacimadamesareal.Napopa,foierguidoumtoldoparareceberosassessoresdosilustresvisitantes;nãosepoupoutrabalhoparadarànauumaaparênciaomaispossívelpomposa.No dia 4 de junho, foi hasteado o estandarte da Inglaterra em conjunto

comodaEspanha.Àsduashoras,oregenteesuafamíliaembarcaram,sobuma salva real das naus e das baterias; e, assim que SuaAlteza chegou abordo,oestandartedePortugalfoihasteadonaproa,eelesforamrecebidos

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com sinceras demonstrações de profundo respeito. Sua Alteza comentouestar o convés atapetado com as cores da nação francesa. O almiranteconfirmou,eoprínciperespondeuque,porpodercalcá-lasaospés,sentia-sereconhecido a seu fiel aliado e a seus bravos súditos, uma resposta quedemonstrouvivamenteseussentimentosdegratidãopelaamizadebritânica.Às quatro horas, a família real sentou-se à mesa, o almirante

supervisionando,atéserautorizadoporSuaAltezaRealasesentaràmesaque ficava à sua direita, commisterHill,ministro britânico, sendo que osnobrestomaramseuslugaresdeacordocomsuagraduação;afamíliarealfoiatendidaporoficiaisdaMarinhabritânica.Emfrenteàmesa,foipostoomemorávelestandartequeestavahasteadoa

bordodaPríncipeReal,ondeviajaraopríncipequandocompelidoadeixarsua terranatal;osbrasõesdePortugaleEspanhaestavamsuspensosacimados convidados reais, e, quando os oficiais ingleses e portugueses sesentaram,nadapodiasobrepujarafelicidadedeSuaAltezaefamília,etodososseusinfortúniospareciamestaresquecidos.Nessaocasião festiva, foramaceitosváriosbrindes;eo indulgente leitor

talveznãoseincomodedevercomoelesservem,melhorqueumadescrição,paraexprimirossentimentosdegratidãodosconvidadosreais.SuaAltezaoprínciperegente,aprincesadoBrasileasprincesasbrindaram,dizendo:“AoreidaGrã-Bretanha,equeelepossaviveratéofimdostempos!”OpríncipedeEspanhabrindou:“ProsperidadeaoExércitobritânico,que

estálutandopelacausademinhafamília.”Asinfantasdisseram:“Quenossopaiesuafamíliapossamconservarpara

sempreaestimadetodososoficiaisdeSuaMajestadebritânica.”Os brindes foram respondidos com saudações reais. Ao pôr-do-sol, Sua

AltezaRealsolicitouqueoestandartereal,queestiverahasteadoabordodaLondon, fosse trazido até ele. Tendo o pedido sido cumprido, Sua Altezaordenouqueoestandarteficassenoconvésedisseaoalmirante,demaneiracomovente:“Almirante, a honra que Vossa Excelência e os oficiais britânicos

concederamhojeamimeàminhafamíliaémuitomaiorqueaesperada,poisse passou tão pouco tempo depois que tive diante de mim a sombriaperspectiva de estar cercado por meus inimigos; para prevenir isso e embusca de neutralidade, fui constrangido a fechar meus portos à naçãobritânica,esperandosatisfazeraexigênciaexorbitantedoimperadorfrancês;contudo,minhaanuêncianãoimpediumeupaísdeserinvadido.“Talmedidaextremafoi,paraminhaalma,fontedamaispungentetristeza

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–queeu tenha sido forçadoa romperumaaliançaque subsistiapor tantosanos entre a corte de minha mãe e a de SuaMajestade britânica; mas osembustes de Napoleão me compeliram, pois sua conduta pérfida me fezsuporque,nocasodeumarecusaminha,eleinvadiriaoreinodeminhamãe.DapartedaGrã-Bretanhaeunadatinhaatemer,poiseraindiscutívelahonradessanação.“Almirante,suascomunicações,querecebipordespacho,meinformaram

que Portugal tinha, em parte, sido tomado pelos franceses. Tal notíciameconvenceudequeeuforatraído.“Mas aVossaExcelência, almirante, eu eminha família devemos nossa

liberdade e minha mãe, sua Coroa e dignidade. Vimos hoje a bordo daLondonparacelebraroaniversáriodeSuaMajestadebritânica;e,nestafelizocasião,meu estandarte real teve a honra de ser hasteado junto com o daInglaterra. Agora, ele está no convés, e me permita agradecer a VossaExcelênciaeaosoficiaistodososobséquiosfeitosamim,àminhafamíliaeameusfiéissúditos.“Como símbolo de meu respeito, aceite de mim esse estandarte; e,

doravante,conserveobrasãodeminhaCasajuntocomodasua:issoficará,parasempre,comolembrançadequeseusesforçosnospreservaramdecairnaciladaqueNapoleãoarmouparanossadestruição.”Essa fala foi homenageada com uma salva de todas as naus de Sua

Majestade.Foimuitotocanteobservarasprincesas,ospríncipes,inclusiveopríncipedaEspanha,quandoSuaAltezaRealfezseudiscursoaoalmirante;pois, emboraa recepção fosseamais suntuosade todas jamaisoferecidaabordo de qualquer uma das naus deSuaMajestade, tendo um soberano sedirigido ao almirante britânico com tais palavras de respeito, isso foisuficiente para arrancar suspiros de lembrança das calamidades que SuaAlteza e sua família foram levados a suportar e da perda de seus antigosdomínioshereditários.Masoalmirantetornoualevantarseuânimo,pedindoaosoficiaisbritânicosquebebessemà“prosperidadedeSuaAltezaRealedeseusdomínios”,oquefoirecebidocommuitoagradopelosconvidadosreais.Às oito da noite, essas ilustres personalidades deixaram a nau e

convidaram o almirante, os capitães e os oficiais para acompanhá-los àópera,aqualhaviasidoencomendadaparaaocasião,emhonradaqueledia,tendosidopreparadoscamarotespararecebê-losatodos.6

ApublicaçãoinglesaNavalChronicleassimregistrouesteevento:

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No Brasil, em 4 de junho de 1808, sir Sidney Smith recepcionou toda afamília real portuguesa a bordo do navio de Sua Majestade London. Aodesembarcardonavio,oprínciperegentepresenteouocontra-almirante,desuas próprias mãos, com o pavilhão de Portugal para ser usado comoaumentodoseubrasão,edeclarouorestabelecimentodaOrdemdaEspada[sic],instituídapord.AlfonsoV,cognominadooAfricano,em1459,daqualsirSidneySmithrecebeuograudegrão-cruz.Todos os capitães ingleses diante do Tejo, sob seu comando, seriam

comendadores, e os primeiros-tenentes (imediatos) de todos os navios,cavaleirosdamesmaordem,assimcomoosr.Hill,secretáriodaLegaçãodeSuaMajestadenaquelacorte.SuaAltezaRealconferiumedalhasaosquatrocapitães que integravam o esquadrão destacado por sir Sidney Smith paraacompanharaesquadraportuguesaaoBrasil.7

Além das honrarias concedidas pelo príncipe regente, sir Sidney Smithrecebeuumapropriedadecomseisescravos.8

OAlmirantadoemLondres ficousatisfeitocomacondutadesirSidneynodesempenhodestamissãoincomum:

Nãoperditempoemapresentarseusdespachos,trazidospelocapitãoYeodonavio [sic] de Sua Majestade Confiance, e pela Trafalgar, uma carta decorso,ameusSenhoresLordesComissáriosdoAlmirantado;efuiinstruídopor Suas Excelências a expressar a sua maior aprovação de sua condutajudiciosa e capaz, no desempenho de serviço confiado a seu cargo e naexecuçãodasváriasordensquerecebeudetemposemtempos.SuasExcelênciasestão fortemente impressionadascomapropriedadede

todaasuacondutaparacomafamíliarealdePortugal:arespeitosaatençãoque parece ter mostrado para com a ilustre Casa de Bragança esteve emestrita conformidade com os desejos de Suas Excelências, e estas meinstruírama expressar sua completa satisfação em relação àmaneira comoneste,assimcomoemtodososaspectos,obedeceuasuasinstruções.9

Os membros da corte, oficiais militares, clérigos e outros, não foramesquecidospord.João,comoestáregistradoporMeloMorais:10

Reconhecendoaprecipitaçãocomqueosgrandesdesuacortedeixaramassuas casas e bens, julgou provê-los com subsídios tirados do Erário Real,marcando-lhesquantiascomasquaispudessemsubsistirdecentemente,em

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relação às suas posições sociais. Aos oficiais de marinha e terra, deu umposto de acesso, e ao mesmo tempo empregando-os ou admitindo-os noscorpos militares do Brasil. Aos eclesiásticos, deu-lhes benefícios ouempregos donde tiravam meios suficientes para viverem. Criou lugares emontou repartições para acomodar a todos que careciam de meios desubsistência.Deucondecorações,postos, ofícios edignidadeaumagrandeporçãodoshabitantesdaBahiaedoRiodeJaneiro.

1809

ALondon prosseguiu e, em janeiro seguinte, seu livro de quartosmostra queescoltouoprínciperegenteparaSantaCruz.

Durante a segunda metade do século XIV, foi legado à Ordem jesuíta onúcleo do que viria a se tornar uma propriedade agrícola de proporçõesgigantescas:SantaCruz,nacostaoestedoRiodeJaneiro.Soba influênciadomarquês de Pombal, em 1759 os jesuítas foram expulsos de Portugal; comoresultado,SantaCruztornou-sepropriedadedaCoroa.D.Joãopassouláoverãode1809,e,comoforaacordado,semprequedeixavaoporto,umnaviodeguerrabritânicoserviadeescolta.

Finalmente, em 5 demarço de 1809, aLondon zarpou do Rio de Janeiro,escoltandoosnaviosmercantesJane,ClarksoneFingaldevoltaàInglaterra.Omesmo chegou a Cawsand Bay em 21 de maio, quase exatamente 18 mesesdepoisdadataemquepartira;deslocou-seentãoparaoArsenaldeChathamedeubaixa.Em1811,onaviofoidesmantelado.

No início de 1811, a França foi expulsa do território português pela Grã-Bretanha. Esta vitória foi seguida por outras na Espanha e, eventualmente, naFrança.Porfim,apósabatalhadeWaterloo,Bonapartefoiderrotadodemodoconclusivo. Removido do cenário onde tinha sido figura principal por tantosanos,foilevadoparaailhadeSantaHelena,afimdepassarorestodosdiasemexílio.

Emborasuapátrianãomaisestivesseocupada,d.JoãopermaneceunoBrasil.Porocasiãodamortedesuamãe,em1816,elesucedeuaotronocomotítuloded.JoãoVI.Em1821,regressouaPortugal,ondemorreucincoanosdepois.Elejamais poderia imaginar, quando de lá partiu em 1807, que uma parte tãosignificativadeseureinado–13anos!–seriapassadanoBrasil.

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Após demoradas negociações realizadas em nome de Portugal peloembaixador britânicoCharlesStuart, oBrasil foi então reconhecido, em1823,comonaçãoindependentedePortugal.11

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ApendiceA

Principaispersonagens1

CAPÍTULOUM

D.MariaI:26ªrainhadePortugaledosAlgarves;princesadoBrasil2D.Maria I, a Piedosa, nasceu em Lisboa em 17 de dezembro de 1734, e foibatizada pelo patriarca de Lisboa, d. Tomás de Almeida, com os nomes de:Maria Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana. Casou-se nopalácio de Nossa Senhora d’Ajuda em 6 de julho de 1760, com seu tio, osereníssimo senhor infante d. Pedro (depois rei, III de nome), grão-cruz dasOrdensMilitares de Cristo, de SãoBento d’Avis, e de São Tiago da Espada;cavaleirodaInsigneOrdemdoTosãod’Ouro,daEspanha;nascidoemLisboa,em5dejulhode1717,efalecidonorealpaláciodeNossaSenhorad’Ajudaem5demarçode1786.

Arainha,asenhorad.MariaI,começouareinarapósofalecimentodeseupai,el-reid.JoséI,em24defevereirode1777,efoiaclamadaem13demaiodomesmoano.FaleceunoRiodeJaneiroem20demarçode1816,com81anosdeidadee39anosdereinado.Pormotivodesaúde,arainhadeixoudegovernardefatodesde10defevereirode1792.

D.JoãoVI:27º rei dePortugal, 23ºdosAlgarves, 1ºdoReinoUnidodePortugal,BrasileAlgarves;imperadortitulardoBrasil;8ºpríncipedaBeiraedoBrasilD. João VI, o Clemente, recebeu no batismo o nome de João Maria JoséFrancisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael. Foi também 21ºduquedeBragança,18ºdeGuimarãese16ºdeBarcelos;20ºmarquêsdeVilaViçosa e 24º d’Arraiolos; 22º conde de Ourém e de Barcelos, de Faria e deNeiva;19ºdeGuimarães.NasceunoRealPaçodaQuintadeQueluz,em13demarçode1767,efoibatizadoem24domesmomês,narealcapeladoditoPaço,pelocardealpatriarcadeLisboa,d.FranciscoSaldanha,capelão-mordarainhad.MariaIedeseumarido,el-reid.PedroIII.

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Foi grão-prior do Crato e senhor da sereníssima Casa do Infantado; grão-mestredasOrdensMilitaresdeNossoSenhorJesusCristo;deSãoBentod’Avis;deSãoTiagodaEspada;daTorre-e-EspadaedeSãoJoãodeJerusalém;grão-prioremPortugal;grão-cruzdaOrdemdeNossaSenhoradaConceiçãodeVilaViçosa;cavaleirodaInsigneOrdemdoTosãod’Ouroegrão-cruzdasOrdensdeCarlosIII,SãoFernandoeIsabel,aCatólica,daEspanha;doSantoEspírito,SãoLuiz,SãoMiguel,edaLegiãodeHonra,daFrança;deLeopoldod’ÁustriaedeSantoEstevão, daHungria; daCoroa deFerro, da Itália; das de SantoAndré,Santo Alexandre Nevsky e de Santa Ana, da Rússia; cavaleiro da Ordem daJarreteira, da Inglaterra; grão-cruz da Ordem do Elefante, da Dinamarca; doLeãoNeolandês,dosPaísesBaixos;daÁguiaNegra,daPrússia.

Em conseqüência da grave enfermidade de sua mãe, a rainha d. Maria I,assumiu a direçãodos negócios doEstado, como regente,de fato, e emnomedela, em10de fevereiro de1792, governando assimaté 15de julhode 1799,quandocomeçouagovernarcomoprínciperegente,atéofalecimentodamesmaaugusta rainha, aquemsucedeu;ecomeçoua reinarcomosoberanoem20demarço de 1816, sendo aclamado e coroado rei do Reino Unido de Portugal,BrasileAlgarves,noRiodeJaneiro,em6defevereirode1818.Veioafalecer,devoltaaPortugal,em16demarçode1826.

Osenhord.JoãoVIé,nasériedereisdePortugal,cognominadooClemente,em atenção às repetidas manifestações e provas do seu bondoso coração emagnanimidaded’alma.Casou-seel-rei,sendopríncipe,em8demarçode1785,comasereníssimasenhorainfantadaEspanha,d.CarlotaJoaquinadeBourbon.

D. Carlota Joaquina: rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves;imperatriztitulardoBrasil;rainhadePortugaleAlgarves;princesadaBeiraedoBrasilAsenhorad.CarlotaJoaquinadeBourbonfoiaprimeirafilhadeel-reid.CarlosIV da Espanha e da rainha d. Maria Luiza Thereza de Bourbon, duquesa deParma.NasceunoPaçod’Aranjuez(Espanha)em25deabrilde1775efaleceunoRealPaçodeQueluz,porvoltadas3h45da tardede7de janeirode1830.Casou-seaosdezanosdeidade,em1785;juntou-seaopríncipeem1790,com16anos.

D.PedroIV:28ºreidePortugal;24ºdoAlgarves;1ºimperadordoBrasilSuaMajestade Imperial eReal, o senhor d. Pedro IV,oLibertador, foi o 22ºduque de Bragança; 21º marquês de Vila Viçosa; 25º conde d’Arraiolos, 23ºd’Ourém,deFariaedeNeiva.

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NasceunoPaçodeQueluz,em21deoutubrode1798,porvoltadas6h30damanhãe foi batizadona real capeladomencionadoPaço, em19doditomês,pelo cardeal patriarca de Lisboa, d. José Francisco Miguel Antônio deMendonça,capelão-mordarainhad.MariaIedoprínciperegented.João,comosnomesde:Pedrod’AlcântaraFranciscoAntônioJoãoCarlosXavierdePaulaMiguel Rafael Joaquim Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança eBourbon.FoiinfantedePortugalepríncipedaBeiraem11dejunhode1801,edoBrasilem20demarçode1816;grão-priordoCrato;e,depois,príncipedoReinoUnidodePortugal,BrasileAlgarves(em9dejaneirode1817);regentedoreinodoBrasilemnomedeseupaiem22deabrilde1821;proclamadopelaCâmara Municipal, povo e tropas no Rio de Janeiro regente constitucional eperpétuodefensordoBrasil.AclamadoimperadordoBrasilem12deoutubrode1822,ecoroadoem1ºdedezembrodomesmoano;reconhecidaaseparaçãoeaindependênciadoBrasil,pelaCartaPatented’el-reid.JoãoVI,de13demaiode1825,edepoispelo tratadode25deagosto, ratificadoemandadoexecutarnoBrasilpordecretodo imperadord.PedroI,em10deabrilde1826.Em16denovembrode1825,constituiaordemdoseunome,oradenominadadeCruzeirodoSul,eposteriormenteaOrdemdaRosa.

O senhor d. Pedro IV sucedeu a seu pai, el-rei d. João VI, no trono dePortugal em 10 de março de 1826 e foi reconhecido legítimo herdeiro pelaregência do reino em 1826 e pelas CortesGerais daNação. Nessa qualidade,outorgouaCartaConstitucionalde29deabrilde1826,eabdicoudacoroaemfavor de sua augusta filha, a senhora d.Maria II daGlória. Resolveu abdicartambém da coroa imperial, em 7 de abril de 1831, em favor de seu filhoprimogênito,osenhord.PedroIId’Alcântara.

Em29dejulhode1829,sobotítulodeduquedeBragança,nailhaTerceira,proclamoueassumiuaregênciaemnomedarainha,comopaietutorenaturaldefensor dos direitos de sua augusta filha à Coroa de Portugal, que lhe eradisputadaporseutio,osenhorinfanted.Miguel.Exerceuaquelaregência–queforaaprovadaeconfirmadapelasCortesGeraisdaNaçãoem23deagostode1834 – até o dia 19 de setembro de 1834, em que foi pelas mesmas cortesdeclarada a maioridade da rainha. Teve o senhor d. Pedro as seguintescondecorações: grão-mestre dasOrdens deNossoSenhor JesusCristo, deSãoBento d’Avis, de São Tiago da Espada, da antiga Ordem da Torre-e Espada;grão-cruzdaOrdemdaNossaSenhoradaConceiçãodaVilaViçosa;grão-cruzdas Ordens do Cruzeiro e da Rosa; cavaleiro da Insigne Ordem do Tosãod’Ouro,egrão-cruzdasOrdensdeCarlosIIIedeIsabel,aCatólica,daEspanha;grão-cruzdasOrdensdoEspíritoSanto,deSãoLuizedeSãoMiguel,daFrança;

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grão-cruzdaOrdemdeSantoEstevão,daHungria,edeSãoMiguel,daBavária;grão-cruzdaantigaemuitonobreOrdemdaTorre-e-EspadadoValor,LealdadeeMérito.FaleceuemLisboaem24desetembrode1834.

Casou-seemprimeirasnúpcias,em13demaiode1817,comaarquiduquesad’Áustriad.MariaLeopoldinaJosefaCarolina,quenasceuem22dejaneirode1797 e faleceu em 11 de dezembro de 1826, segunda filha de Francisco I,imperador d’Áustria e de sua segunda esposa, a imperatriz d. Maria TherezaCarolina,princesadasDuasSicílias.Passouasegundasnúpciasem2deagostode1829,comd.AméliaAugustaEugêniaNapoleãoBeauharnais,quenasceuem31dejulhode1812;imperatrizviúva,quefaleceuemLisboaem26dejaneirode1873.

D.MiguelI:29ºreidePortugal,25ºdosAlgarvesO sereníssimo senhor infante d. Miguel Maria do Patrocínio João CarlosFrancisco d’Assis Xavier de Paula Pedro d’Alcântara Antônio Rafael GabrielJoaquimJoséGonzagaEvaristodeBragançaeBourbonnasceunorealpaláciodeQueluz,em26deoutubrode1802.

O senhor infante foi grão-prior do Crato, da Ordem de São João deJerusalém,prioradodePortugal;claveirodasOrdensMilitaresdeNossoSenhorJesus Cristo, de São Tiago da Espada, de São Bento d’Avis, e da Torre-e-Espada; grão-cruz daOrdemdeNossa Senhora daConceição deVilaViçosa;cavaleirodaInsigneOrdemdoTosãod’Ouro,daEspanha;grão-cruzdasOrdensdeSantoEstevão,daHungria;doCruzeirodoSul,doBrasil;deSãoFernandoeMérito, e deCarlos III, daEspanha; doEspírito Santo, de SãoLuiz e de SãoMiguel,daFrança;deSantoAndréNevsky,daRússia;comandante-em-chefedoExércitoportuguês(29dejulhode1827).

ReunidososTrêsEstados,logoem25dejunhode1828excluiu-seosenhord.Pedroesuadescendênciaedeterminou-sequeasucessãolegítimadaCoroadePortugal competiao sereníssimosenhor infanted.Migueleoproclamaramrei.Em30dejunho,assumiuosenhord.MiguelotítulodereidePortugal.

Apóssangrentaguerracivil,d.PedroconseguiuretomarPortugal,emnomedesuafilha.Assimterminouoreinadodosenhord.Miguel,queapenasdurouseisanosincompletos.

Em 24 de setembro de 1851, casou-se com a princesa d. Adelaide deLoewenstein Wertheim-Rosenberg, vindo a falecer na Alemanha em 14 denovembrode1866.

CondedaBarca

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D.Antôniod’AraújodeAzevedo,primeirocondedaBarca (1815),nasceuem14demaiode1754,emPontedeLima,emorreunoRiodeJaneiroem21dejunhode1817.FilhodeAntônioPereiraPintod’AraújodeAzevedo,senhordomorgadodeSáedaCasadaLaje,edesuamulher,d.MariaFranciscad’Araújode Azevedo. Foi ministro e embaixador extraordinário junto à corte de Haia(1787). Assinou o tratado de paz com a França (1797), que depois não foiratificado pelo príncipe regente. Por desobediência à ordem doDiretório parasua retirada imediata, passoudoismeses encarcerado.Transferidopara a cortede SãoPetersburgo (1801), lá passou três anos.Chamado de volta, assumiu apasta dos Estrangeiros e daGuerra, em 1804.Na sua bagagem para o Brasil,levousuariquíssimabiblioteca,quedepoislegouàBibliotecadoRiodeJaneiro(atualBibliotecaNacional).

Possuíaashonrasdegrão-cruzdasOrdensdeCristoedaTorre-e-Espada;deIsabel, aCatólica, da Espanha; da Legião deHonra, da França; e pertenceu àAcademiaRealdasCiências.FundouaAcademiadeBelas-Artes.

Apósachegada,d.Joãomudouoseuministério.OcondedaBarcapassouadedicar-seaoseujardim,chamadodeHortusAraujensis,ondefezaculturade1.500espéciesbotânicas,indígenaseexóticas.Chamadonovamente,assumiuapastadaMarinha em1814.Em1817, teve, deuma sóvez, que responderportodasaspastasdogoverno.Asuasaúde,jámuitoabalada,nãoresistiu.OcondedaBarcanãosecasouenãodeixoudescendente.

LordeStrangford3Percy Clinton Sidney Smythe, 1780-1855, 6º visconde de Strangford e barãoPanhurst(1825).NasceuemLondresefoieducadonaUniversidadedeTrinity,emDublin.StrangfordentrouparaosNegóciosEstrangeirosefoienviadoparaLisboaem1802,com22anos,comosecretáriodaDelegaçãoBritânica.Duranteoprimeiroperíododesuamissão,Strangfordaprendeubemalínguaportuguesaeganhoucertanotoriedadeporterpublicado,noEdinburghReview,poemasdeCamões.AsuatraduçãodeváriospoemasedecincoversosdeOsLusíadasfoicriticada pelo poeta Lord Byron, que até mesmo expressou sua opinião emverso:IrlandêsStrangford!comseusolhosazuis,eorgulhosasmechasruivas,Aprende,setunãopuderesconcordarcomapercepçãodoteuautor,NemvendasseussonetoscomosefossemteusCorrigeStrangford!Corrigeseumoraleseugosto;Sêcálido,sêpuro,sêamoroso,massêcastoPáradeenganar;restitui-lhesuaharpafurtada

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Nãoensines,oPoetaLusoacopiarMoore.

Durante 1807 foi ministro interino na corte de Portugal e, nesta condição,envolveu-seintensamentenasnegociaçõesquelevaramafamíliarealaimigrarpara o Brasil, escoltada por navios ingleses. Sua influência neste episódio foitalvez menor do que ele tentou fazer crer. Uma grave doença impediu-o deacompanharoprínciperegenteaoBrasil.ChegouaoRiodeJaneironodia22dejulho de 1808, aproximadamente cinco meses após a chegada do prínciperegente,paraassumiropostodeministroplenipotenciárioeenviadoespecialnacortenoBrasil.

Em 1815, ao concluir que o grau de influência que Strangford tinha nosassuntos internos havia atingido níveis inaceitáveis, d. João destituiu-o. Aopartir,recusou-seaaceitaropresentede12barrasdeouro,geralmenteofertadoaosembaixadoresquandoestesseaposentavam.

Em1825,eleatuavanaCâmaradosLordescomotítulodebarãoPanhurst.Em 1828 regressou ao Brasil como ministro extraordinário, para tentarreconciliar d. Pedro com o seu irmão d. Miguel. Não obteve sucesso nestamissão.Em1829 partiu pela última vez. Solteiro,morou a vida inteira com amulataAnitaPerichon.FaleceuemLondres,em29demaiode1855.

MarquêsdoFunchalD.DomingoAntôniodeSousaCoutinhonasceuemChaves,em1760,efaleceusolteiro, na Inglaterra, em1833.Era filho de d. Francisco Inocêncio deSousaCoutinho, sargento-mordosDragõesdeChaves, coronelde cavalarianapraçad’Almeida,governadorecapitão-generaldosreinosdeAngolaedeBenguela,eembaixadoremMadri.ErairmãodoprimeirocondedeLinhares.

Formado em direito pela Universidade de Coimbra, iniciou a carreiradiplomática naDinamarca; posteriormente serviu emTurim,Roma eLondres,onde residiu durante muitos anos. Como anglófilo, era inimigo político dopoderosocondedaBarca.

CondedasGalvêasD. João d’Almeida deMelo eCastro nasceu emLisboa, em 22 de janeiro de1756,emorreunoRiodeJaneiro,em18dejaneirode1814.Foio5ºcondedasGalvêas;oficial-mordaCasaReal;couteiro-mordaRealTapadadeVilaViçosae demais condados da Casa de Bragança; conselheiro de Estado; ministro esecretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, e interino dosministérios daMarinha eUltramar, noBrasil; embaixador dePortugal junto à

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cortedeVienad’Áustriaeenviadoextraordinárioeministroplenipotenciárionascortes de Londres, Haia e Roma; conselheiro do Conselho da Fazenda;presidentedaJuntadaFazendaedosArsenaisdoExército;grão-cruzdasOrdensMilitaresdeSãoBentod’AvisedaantigaTorre-e-Espada,reformadoporel-reid.JoãoVInoBrasil;comendadordeSãoPedrodasAlhadasnaOrdemdeCristo,bispadod’Aveiro.SucedeunaCasaaseuirmãoprimogênitoecasou-secomd.IsabelJosédeMenezes,quintafilhadosprimeiroscondesdeCavaleiros.

PinaManique4D.DiogoInáciodePinaManiquenasceuem3deoutubrode1733emorreuem1º de julho de 1805. Formou-se em direito na Universidade de Coimbra em1758.Casou-secomd.InáciaMargaridadeBritoNogueira,em1773.Em1780foi nomeadopara o importante cargode intendentegeral daPolícia daCorte eReino. Acumulou as funções de superintendentegeral dos Contrabandos eDescaminhos dosReaisDireitos, contador da Fazenda, administrador-geral daAlfândega de Açúcar, desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação efiscal da Junta de Administração da Companhia de Pernambuco e Paraíba.Dotadodeuma fortíssimapersonalidade, enérgico e empreendedor, foi omaispoderosoehábiladministradorduranteasduasúltimasdécadasdoséculoXVIII.Enquanto combatia, por todos osmeios, a entrada emPortugal do liberalismopolítico,fundavadiversasinstituições,entreelasaCasaPiadeLisboa,oColégiodas Belas-Artes em Roma, e alojamentos universitários para os estudantes demedicinaemLondres,emEdimburgoenaDinamarca.

Porherança,ouconcedidopelossoberanosaquemserviu,foialcaide-mordePortalegre, senhor donatário da vila de Manique do Intendente, conselheirocomendadordeSantaMaria deOureda, daOrdemdeCristo;morgadodeSãoJoaquim, na Vila de Coina. Em 1759, recebeu a mercê da nomeação deescudeiroecavaleirofidalgodaCasaReal.

CondedeLinharesD.RodrigodeSousaCoutinhoTeixeiradeAndradeBarbosanasceuemChavesa 4 de agosto de 1745 e morreu no Rio de Janeiro a 26 de janeiro de 1812.Seguiucarreiradiplomática, tendosidoministroplenipotenciárioemTurim,de1778a1796.FoichamadodevoltaaPortugale,em13desetembrode1796,nomeadoministrodaMarinha.Prestou relevantes serviços, criandoocorpodeEngenheirosConstrutoreseaJuntadaFazendadeMarinha.Em6dejaneirode1801, com amorte domarquês dePonte deLima, foi nomeado presidente doRealErário.Partidárioda aliança inglesa, entrou emconflito comd. João.Aochegar ao Brasil com a família real, foi nomeado ministro dos Negócios

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EstrangeirosedaGuerra.FoifeitocondedeLinharesemdezembrode1808.Foiprimeiro senhor de Paralvo, conselheiro de Estado e grão-cruz das Ordensd’AvisedaTorre-e-Espada.Filhoded.FranciscoInocênciodeSousaCoutinhoe d.AnaLuiza JoaquinaTeixeira, era irmão de d.RodrigoAntônio de SousaCoutinho,marquêsdeFunchal.

Foi casado com d. Gabriela Asinari de San Marsan, dama das Ordens deSantaIsabeledeSantaLuísa,daEspanha;daCruzEstrelada,d’Áustria;deSãoJoão de Jerusalém; e também dama de honra da rainha d. Carlota Joaquina,camareira-mordasinfantasd.MariaIsabeled.MariaFrancisca.

DuquedeAbrantesJeanAndocheJunot,1771-1813,nomeadoduquedeAbrantesem1807.Nasceuna Borgonha de uma família de agricultores e, bem jovem, tornou-se um dosgenerais prodígios de Bonaparte. Em 1800, quando era governador de Paris,casou-secomLaurePermon(1784-1838),umabela jovemde16anos.DepoisdesuaderrotaemPortugal,nuncamaisconseguiurecuperaroseuprestígionacarreira político-militar. Em 1813, separou-se de sua esposa, que tivera umromance com o ministro austríaco Metternich. Acometido de um ataque deloucuranacasadeseuspais, suicidou-se.AduquesadeAbrantes,mesmosemdinheiro,manteveoseutítuloefezatransiçãoparaanovaera(deLuísXVIII)de forma bem-sucedida. O escritor Honoré de Balzac incentivou-a a escreversuasmemórias,Souvenirs d’une ambassade, publicadas em 18 volumes, entre1831e1835.

CondedeMafra5D. Lourenço José Xavier de Lima nasceu em 15 de maio de 1767 e morreusolteiro em11de janeirode1839, filhodosprimeirosmarquesesdePontedoLima.

Ingressounacarreiradiplomática,servindoprimeiroemTurimedepoisemVienad’Áustria.Em1801,sucedeunopostodeLondresad.Joãod’AlmeidadeMelo e Castro, depois conde das Galvêas. Em agosto de 1803, substituiu oministrodePortugalemParis,d.JoséMariadeSouza,morgadoMateus.

TidocomosimpatizantedapolíticadeNapoleão,nãoconseguiuidentificaraestratégia do imperador dos franceses e, conseqüentemente, suas avaliaçõesforamcomprometidas,conformeahistóriaveioamostrar.6

Emoutubro de 1807 foi expulso daFrança, com a declaração de guerra, evoltouparaLisboa.

Mais tarde, a sua vida tornou-se complicada; para escapar de credores,

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refugiou-se na Inglaterra. Lá o embaixador Pedro de Sousa Holstein, futuroduque de Palmela, teve de contratá-lo como secretário, dando-lhe assimimunidadediplomática.7

Marquêsd’AlornaD.Pedrod’AlmeidaPortugalfoi3ºmarquêsd’Alorna–filhodos2osmarquesesd’Alorna–e6ºconded’Assumar.NasceuemLisboa,em16dejaneirode1754,emorreuem2dejaneirode1813.

Casou-seem19defevereirode1782comd.Henriqueta,filhados6oscondesdeSãoVicente.Assentoupraçanoregimentodecavalaria,atingindoopostodecoronelem31dejulhode1793.

Em1795,foi-lheconcedidootítulodemarquês.Em1797,foinomeadochefedaLegiãoLusitanadeTropasLigeiras,queentãoseconstituiu.

Por tercomandadoaLegiãoportuguesaque iriacombaternoexterioreportervoltado,em1810,comMassenanasuainvasãodePortugal,naquelemesmoano a regência de Lisboa destituiu o marquês d’Alorna de suas insígnias ehonrarias. Por fim, foi condenado à morte. Por insistência da irmã, a suasentençafoirevogadadepoisquefaleceuemConisberga.

CondedaEgaD.AyresJoséMariadeSaldanhaAlbuquerqueCoutinhoMattoseNoronha,2ºcondedaEga,nasceunacidadedeFunchal,ilhadaMadeira,em29demarçode1755,emorreuemLisboaem12dejaneirode1827.

Sucedeu naCasa a seu pai em6 de abril de 1771.Casou-se, emprimeirasnúpcias, em 5 de março de 1786, com d. Maria José do Carmo Xavierd’Almeida,aqualfaleceuemnovembrode1795.

Gentil-homemdaCâmaradarainhad.MariaIed’elreid.JoãoVI;alcaide-mor das vilas de Soure e deGuimarães;moço fidalgo com exercício naCasaReal, comendador de São Salvador d’Elvas; de SãoMartinho de Lagares, nobispadodoPorto;deSantaMariadaSabacheira,naprelaziadeTomar;deSantaMariadeCastroLaboeiro;deSãoToméd’Alencarce,naViladeSoure;sucessornos bens da Capela da Coroa, situada em Valada, e instituída por d. IsabelLobada,noconventodeSãoFranciscodaViladeSantarém;deputadodaJuntados Três Estados; inspetor-geral dos Provimentos do Exército; embaixador deS.M.F.juntoàcortedeMadri,paraondepartiuem17deabrilde1805.

Casou-senaÁustria,emsegundasnúpcias,em9defevereirode1800,comd.Juliana Maria Luiza Carolina Sofia de Oyenhausen e Almeida, condessa deOyenhausen Gravemburgo, nascida emViena, em 1º de setembro de 1784, e

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falecidaemSãoPetersburgo,em14denovembrode1864.Estasenhora,dotadade excepcional beleza, foi cortejada por Junot. O caso tornou-se deconhecimentogeraleassimpôsemperigoasuavidaemLisboa,apósaretiradados franceses em 1808. Os condes decidiram deixar Portugal e, depois dealgumasaventurasnomar,foramparaParis,ondeNapoleãolhesconcedeuentãouma pensão de 60 mil francos anuais. Em Portugal, o conde da Ega foicondenadoàmorteem1811edestituídodetodososseusbensehonrarias.Em1823, esta sentença foi revogada, quando então voltou, desgostoso; viveuafastado da política até morrer. D. Juliana, sua viúva, casou-se em segundanúpciascomGregórioAlexandrovitch,condedeStrogonoff,naRússia.

Marquêsd’AngejaD. JoséXavier deNoronhaCamões d’AlbuquerqueSouzaMoniz; 4ºmarquêsd’Angeja, “de juro e herdade” (por direito de herança), com o tratamento demarquêsParente;10ºsenhordasvilasd’AngejaeBemposta,epartedaviladoPinheiro;7ºcondedeVilaVerde,e10ºsenhordamesmavila.

Nasceuem24deabrilde1741emorreuem27dedezembrode1811.Casou-se,em23dejaneirode1768,comd.FranciscaTherezad’Almeida,nascidaem22desetembrode1754,efalecidaem5dejaneirode1810,segundafilhados2osmarquesesdeLavradioe5oscondesd’Avintes.

Foi gentil-homemdaCâmara da rainhad.Maria I; grão-cruz daOrdemdeSãoTiago e da Torre-e-Espada (antiga); conselheiro de Estado e do SupremoMilitaredeJustiça,noRiodeJaneiro;presidentedoDesembargodoPaçoedaJuntadaAdministraçãodoTabaco;padroeirodaigrejadeSãoJoãodaPraçadeLisboa; tenente-generaldoExército; governadordasArmasdaCorte (Lisboa).SucedeunaCasaeBensdeCoroaeOrdensaseupai,em11demarçode1788.

MarquêsdePombalD. Henrique José de Carvalho e Mello, 2º conde de Oeiras e 2º marquês dePombal;daalcaidaria-mordacidadedeLamego;dosenhoriodaViladeOeiras;comendadordaSantaMarinhadaMatadeLobos,nobispadodeLamego,edade SãoMiguel de TrêsMinas, no arcebispado deBraga, ambas naOrdem deCristo;gentil-homemdaCâmaradarainha,nasceuem1748emorreunoRiodeJaneiro, em 26 de maio de 1818, tendo se casado, em 1764, com d. MariaAntônia de Menezes, filha de d. José de Menezes, da Casa dos condes deCaparica.

MarquêsdeBelasD.JoséLuizdeVasconcelloseSouzanasceuem9dejunhode1740efaleceu

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noRiodeJaneiro,em16deabrilde1812.Filhodos1osmarquesese4oscondesdeCasteloMelhor.Teveagrã-cruzdasordensdeSãoTiago,Torre-e-EspadaeadaLegiãodeHonradaFrança;foidoConselhodeSuaMajestade,regedordasjustiças, desembargador doPaço, procurador fiscal da Junta dosTrêsEstados,presidentedoNovoCódigo,deputadoda juntadoTabaco,da inspeçãosobreapeste,edoexamedasdívidasdaFazendaReal;diretoreinspetor-geraldoRealColégiodosNobres,epresidentedaJuntadomesmo;embaixadorextraordináriona Inglaterra, em diferentes épocas. Nomeado presidente da Mesa doDesembargodoPaço,noBrasil.Casou-seem29denovembrode1781comd.MariaRitadeCastelloBrancoCorrêaeCunha,nascidaem5deabrilde1769efalecidaem3demaiode1832.Pelocasamento,foio1ºmarquêsdeBelase6ºcondedePombeiro.Suaesposa,alémde1ªmarquesadeBelase6ªcondessadePombeiro, era: 18ª senhora de Pombeiro, 14ª senhora domorgado de CasteloBranco, emSanta Iria, termodeLisboa; 12ª senhoradeBelas; 12ª senhoradaAlcaidaria-mordeVilaFrancadeXira;senhoradoOfíciodeCapitãodaGuardaRealdosArcheiros;damadehonrada rainhad.Maria I edamadaOrdemdeSantaIsabel.Sucedeuaseupaiem8demarçode1784.

Conded’AnadiaD.JoãoRodriguesdeSáeMelofoio1ºviscondee1ºconded’Anadia.Moçofidalgo, 1º senhor donatário da Vila d’Anadia, comendador de São Paulo deMaças,nobispadodeCoimbra;alcaide-mordeCampoMaior, tambémemsuavida; conselheiro do Conselho da Fazenda da Capa e Espada; ministroplenipotenciário junto à corte de Berlim; sócio livre da Academia Real deCiênciasdeLisboa.NasceuemAveiro,em11denovembrode1775,emorreuno Rio de Janeiro, em 30 de dezembro de 1809. Foi casado com d. MariaAntôniadeCarvalhoCortezdeVasconcelos,filhadeManoelAntônioCortezdeVasconcelos,fidalgodaCasaReal,esenhordomorgadodeSantaEufêmia.

D. João Rodrigues era filho de Ayres de Sá e Mello, moço fidalgo comexercício, acrescentado a fidalgo escudeiro. Senhor do Prazo e morgadod’Anadia, e natural da Quinta d’Anadia, bispado de Coimbra; senhor dosmorgados do Sousã e deNossa Senhora do Livramento, emCoimbra; casadocom sua prima, d.MariaAntonio de Sá Pereira eMeneses, irmã do 1º conded’Alvercae2ºconded’Anadia.Nãohouvegeração.

Marquêsd’AguiarD.FernandoJosédePortugaleCastro,1ºcondee2ºmarquêsd’Aguiar,nasceuemLisboa,em4dedezembrode1751,emorreunoRiodeJaneiroem24dejaneirode1817.Terceirofilhodo3ºmarquêsdeValençae9ºcondedeVimioso.

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Gentil-homemdacorteded.JoãoVI,eraformadoemdireitopelaUniversidadede Coimbra e seguiu a carreira da magistratura, tendo servido na Relação deLisboaenaCasadaSuplicação.Durante14nos,exerceuocargodegovernadore capitão-general daBahia.Em1804 ascendeu a vice-rei doBrasil, cargoqueexerceuaté1806.

Regressou a Portugal no término do seu governo, para voltar ao Brasil nacompanhia da família real. Já era presidente do Conselho Ultramarino econselheiro deEstado.Alémdeministro doReino foi, noBrasil, encarregadodos Ministérios da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, presidente do ErárioReal,membrodoConselhodaFazendaedaJuntadoComércioeprovedordasobrasdaCasaReal.

Casou-senoRiodeJaneirocomsuasobrinha,d.MariaFranciscadePortugale Castro, segunda filha do 4º marquês de Valença e 11º conde de Vimioso,nascida em 24 de setembro de 1751, dama da rainha d.Maria I e, no Brasil,camareira-mordaimperatrizd.MariaLeopoldina.

CAPÍTULODOIS

CondedeBelmonteD.VascoManuelFigueiredoCabraldaCâmarafoi1ºcondedeBelmonte.PardoReino,porteiro-mordaCasaReal,gentil-homemdaCâmaraded. JoãoVI,16ºsenhordomorgadodeBelmonteedodeSantoAndréd’Azurara,10ºsenhordomorgadodeOttae3ºsenhordosManinhosdaVilladeCorvillã.Eratambémgrão-cruzdasOrdensdeNossaSenhoradaConceiçãodeVilaViçosaedaantigaOrdemdaTorre-e-Espada.FoideputadodaJuntadosTrêsEstadosepresidentedaJuntadoTabaco.

Nasceu em 29 de março de 1767 e morreu em 10 de novembro de 1830.Casou-se, em 7 de janeiro de 1795 com d. JerônimaMargarida de Noronha,damadarainhad.MariaI,filhaded.JosédeNoronhaedesuamulher,d.MariaIsabeldasMontanhasMascarenhasRibeiroSoares.

CondedeRedondoD.ThoméXavierdeSouzaCoutinhodeCasteloBrancoeMenezesnasceuem22dejulhode1753.Era1ºmarquêsdeBorbae13ºcondedeRedondo;veadordaCasaReal; 11º senhor deGouvêa deRibaTâmega, Figueiró dosVinhos ePedrogão;padroeirodeSantaCecíliadeVilaça,grão-cruzdaTorre-e-Espada.

Acompanhou, em1807, a corte para oBrasil, de ondenãomais regressou.

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Casou-se,em1775,comd.MargaridaTellesdaSilva,filhados2osmarquesesdePenalva. Sucedeu ao título paterno em 6 de julho de 1791 e foi elevado amarquêsdeBorba,em15dedezembrode1811.

MarquêsdeMarialvaD.PedroJoséJoaquimVitodeMenezes,6ºmarquêsdeMarialvae8ºcondedeCastanhede; gentil-homem da Câmara da rainha d. Maria I; estribeiro-mor eaposentador-mordosMoçosdaEstribeira;membroda JuntadoCódigoPenal;diretordoArquivoMilitar;coroneldoregimentodecavalariadeMecklembourg;brigadeirodoExército.HerdouaopulentaCasadoseupaieteveseiscomendasnaOrdemdeCristo,umanadeAvis,emuitasoutras.

Pinheiro Chagas, referindo-se ao dito marquês, exprime-se, no seuDicionáriopopular,8nosseguintestermos:

Depoisdainvasãodonossopaís,peloExércitodeJunot,omarquêsdeMarialvafoiumdosmembrosdaDeputaçãoquesaíramdePortugalparaBayonacomofimdecumprimentaroimperadorNapoleãoedepedirquereduzisseaformidávelcontribuiçãode100milhõesquelançarasobreoReino,comoésabido;adeputaçãoobteveapenaspromessaserespostasevasivas,atéque,rebentandoarevoluçãoportuguesa,osseusmembrosficaramprisioneirosnaFrançaaté1814.

Nomeado depois para cumprimentar Luís XVIII, em nome do prínciperegente,porsuasubidaaotronodaFrança,foiencarregado,em1816,depedirao príncipe d. Pedro d’Alcântara a mão da arquiduquesa d’Áustria, d. MariaLeopoldina, e de a desposar por procuração.Gastando largamente os recursosfinanceirosdasuaopulentaCasa,apresentou-seemVienacomumfaustoeluxoverdadeiramenteextraordinárioe,depoisdocasamento,acompanhouaprincesaaoRiodeJaneiro.Nomeadoposteriormente representantedePortugalnacortedaFrança,desempenhouasfunçõesdestecargoatéarevoluçãode1820;deixou-asentão,atéquedenovo foinelas investido,quandoogovernoconstitucionalchegou ao fim. Morreu em Paris, em 22 de novembro de 1823, sem deixarsucessor.Por suamorte, foia ilustríssimaCasadeMarialva incorporadaàdosduquesdeLafões,por incidira representaçãoemd.HenriquetaMariaJúliadeLorenaeMenezes,suairmã,quesecasoucomo2ºduquedeLafões.

Marquêsd’AbrantesD.PedrodeLancastredaSilveiraCasteloBrancoSáeMenezesnasceuem28dejulhode1763efaleceuem25demarçode1818.Casou-secomd.MariaJoanaXavier de Lima, filha dos 1os marqueses de Ponte de Lima. Seu título foirenovadoem9dedezembrode1789,com“honrasdeparente”em6deabrilde1789.Erao7ºcondedeVilaNovadePortimão;18ºcomendador-mordaordem

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d’Avis; comendador d’Alcanede, Veiros, Estremoz, Alandroal, na referidaordem;alcaide-mordoscastelosd’Avis,Veiros,Alandroal,Cabeção,Benavila,AlcanedeePernes;senhordasvilasdeGóis,SortelhaedosmorgadosdePóvoa,Esporão,OliveiradoConde,Góis,PedraAlçada,Marvila,Valverde,AlcocheteeMafra.

Depoisdaretiradadoprínciperegente,foinomeadopresidentedoConselhodeRegência,atéserdemitidoporJunot.Foiescolhido,pelomesmo,parafazerpartedadelegaçãodefidalgosportuguesesdesignadosparairemcumprimentarNapoleãoemBaiona.PresonaFrança,sóregressouaoreinodepoisdaGuerraPeninsular.Em1816,foipardoreino.

ViscondedeRioSecoD.JoaquimJosédeAzevedo,1ºbarãoe1ºviscondedeRioSecocomgrandeza.Nasceu em 12 de setembro de 1761. Fidalgo cavalheiro em 5 de setembro de1808; títulodoConselhoem17demaiode1810;barãoem13deoutubrode1812; tesoureiro daCasaReal e daRealCapela; almoxarife dos PaçosReais;compradordosguarda-roupasdoPaço,daCoroaedasCavalariçasReais; tudoissoduranteapermanênciad’el-reid.JoãoVInoBrasil,ondeteveosenhoriodaVila deMacaé eAlcaidaria-mor deSantos, a comenda deCristo e daTorre-eEspada;otítulodeviscondefoi-lheconcedidoem11denovembrode1818.Nãodesejando acompanhar o seu rei para Portugal, passou ao serviço do 1ºimperadorquelhedeuagrandezadoImpério,otítulodemarquêsdeJundiaíeascomendas doCruzeiro e daRosa.MorreunoRiode Janeiro em7de abril de1835, tendocasadoduasvezes:aprimeiraemLisboa,em17deabrilde1787,comd.MariaCarlotaMilsaid;easegundanoRiodeJaneiro,comd.MariannadaCunhaPereira,filhados1osmarquesesdeInhambupe.

MarquêsdeVagosD. Francisco da Silva Telo e Menezes, 1º marquês de Vagos e 6º conded’Aveiras, nasceu em Lisboa, em 1º de janeiro de 1723, e morreu em 5 dejaneirode1808,filhoúnicodoprimeirocasamentodo5ºconded’Aveiras.

FoisenhordacomendadeSãoFranciscoPontedeSor,naOrdemdeCristo,deVagosed’Aveiras.

Casou-se, em 22 de outubro de 1743, com d. Bárbara Média da Gama,nascidaem7dejunhode1730efalecidaem27denovembrode1753,filhados4osmarquesesdeNisa.

Núncioapostólico9Monsenhor Lourenço Caleppi, filho dos condes Caleppi, nasceu em Cervia,

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cidade dosEstados Pontifícios, em29 de abril de 1741.Depois da eleição dopapaPioVII,emmarçode1800,foinomeado,emfevereirode1801,arcebispodeNisibienúncioapostólicojuntoàcorteportuguesa.ChegouaLisboaem21demaiode1802.

Pornãoconseguirembarcarnaesquadraportuguesa,apesardetodososseusesforços, só chegou ao Rio de Janeiro em 8 de setembro de 1808, após umatumultuadaviagem, demuitas privações.Em8demarçode 1816,monsenhorCaleppifoielevadoaocardinalatoporSuaSantidadeopapaPioVII.

DuquedePalmelaD.PedrodeSousaHolstein,condedeSanfré,noPiemonte,nasceuemTurim,em8deabrilde1781,emorreuemLisboaem12deoutubrode1851.

Filho de d. Alexandre de Sousa Holstein, 12º senhor da Casa dos Sousas,Calhariz, Monfalim e Fonte do Anjo; alcaide-mor do Sertã; grão-cruz dasOrdens deCristo, e da Torre-e-Espada; cavaleiro da InsigneOrdem doTosãod’Ouro;grão-cruzdadeCarlosIII,daEspanha;daLegiãodeHonra,daFrança;e deSãoAlexandreNevsky, naRússia; cavalheirodas ordensdeSão JoãodeJerusalém.Foipardoreinoem1816epresidentedaCâmaradosParesem1831.CapitãohereditárionaGuardaRealdosArcheiros,condedeSanfrénoPiemonte,embaixadordePortugalnascortesdeTurim,RomaeBerlim,edesuamulher,d.Isabel Juliana de Sousa Coutinho (da Casa Alva, depois marqueses de SantaRita).Casou-se,em4dejunhode1810,comd.EugeniaTelesdaGama,nascidaem4dejaneirode1798efalecidaem20deabrilde1848,filhasegundados7osmarquesesdeNisa.

Foi13ºsenhordosmorgadosdeCalhariz,MonfalimeFontedoAnjo;capitãohereditáriodaGuardaRealdosArcheiros, alcaide-mordoSertã,grão-cruzdasOrdens de Cristo e da Torre-e-Espada; de Carlos III, da Espanha; de SantoAlexandreNevsky, daRússia; e daLegião deHonra, da França; cavaleiro doTosãod’OuroedaOrdemdeMalta.

Foi educado num colégio de Genebra e na Universidade de Coimbra. Em1796, assentou praça no regimento da guarnição da corte; no ano seguinte,exercia, já como capitão, as funções de ajudante do duque de Lafões. Nofalecimento do seu pai, como embaixador em Roma, assumiu seu posto deencarregadodenegócios;tinhaapenas21anos.

Em1810, foinomeadoministroplenipotenciário juntoaogovernoespanholem Cádiz. Não foi bem-sucedido na tentativa de nomear d. Carlota Joaquinaregente, com o eventual direito de sucessão a seu irmão, Fernando VII. Em1812,seusserviçosforamrecompensadoscomacriação,aseufavor,do título

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de conde de Palmela. Naquele ano, foi transferido para Londres comoembaixador.Em1817,comofalecimentodocondedaBarca,foichamadoparasuceder-lhenapastadeministrodosNegóciosEstrangeiros;protelouasuavolta,chegando ao Brasil em 1820. Foi um dos principais partidários de d. Pedro,duque de Bragança, na luta para restaurar sua filha, a rainha d. Maria II, notrono. Em 1833, o regente d. Pedro nomeou-o duque de Faial, título que foiposteriormentemudadoparaPalmela–duquedePalmela.

CAPÍTULOTRÊS

SirWilliamSidneySmith(1764-1840)Um personagem extraordinário, “larger than life”, sir Sidney ingressou naMarinha aos 13 anos e participou de diversas batalhas, atraindo a atenção delorde Rodney por sua brilhante atuação.10 Em 1796, foi capturado quandotentava fugircomumcorsário francês,na fozdo rioSena,passandodoisanosem prisões francesas antes de conseguir escapar. Em 1799, tornou-se heróinacional, somente superado porNelson, por ter defendido a cidade deAcre,11durante63dias, contra as forçasdeNapoleão.Sua fraquezaerao caráter, queinspirava suspeitas e ressentimento. “Possuidor, no mais alto grau, dasqualidades militares indispensáveis, de coragem, desenvoltura e imaginação,combinava-as com presunção, vaidade e uma teimosia exagerada”, escreveu oalmirante lorde Spencer.12 Inquieto, exibicionista e excessivamenteautoconfiante,muitasvezesdesdenhava asordensque recebia, freqüentementecontrariandoosseussuperiores.“Parece-nosqueháumatãograndefaltadebomsensononossoamigosirSidney,queémaisseguroempregá-losobcomandodoqueemcomando”,palavrasatribuídasalordeBarham.13

No dia 17 de maio de 1808, chegou ao Rio de Janeiro, embarcado naFoudroyant e escoltado pela Agamemnon e pelo brigue Pitt, para assumir oposto de comandante-em-chefe do esquadrão do contra-almirante, baseado nacostabrasileira.14

Por sua atuação na migração da família real portuguesa para o Brasil em1807-08,oprínciperegentecondecorou-ocomagrã-cruzdaOrdemdaTorre-e-Espada e presenteou-o com as armas de Portugal, para que sir Sidney asacrescentasseaoseubrasão.15Pordecretode17desetembrode1808,oprínciperegente ofereceu-lhe uma propriedade, na costa perto de São Domingos, seisescravoseumacanoa.16

Por seuapoioabertoaosambiciososplanosded.Carlota Joaquina,às suas

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freqüentes indiscrições e ao conflito com a política de lorde Strangford, foichamado de volta em 1809.17 Seu último cargo foi o de vice-comandante daesquadradoMediterrâneo,duranteosanos1812-14.

Mais tarde, interessou-sepela libertaçãodosescravosbrancos, retidospelospaísesconhecidosnaépocade“EstadosBárbaros” (Argélia,Marrocos,LíbiaeTunísia),sendonomeadopresidentedaSociedadedeCavaleirosLibertadoreseAntipiratas.

A Inglaterra tardou em reconhecer oficialmente os feitos de Sidney Smith,emboradiversosgovernosestrangeiros (Portugal,o ImpérioOtomano,asDuasSicíliaseaSuécia)otenhamcondecoradoporsuascontribuições.Somenteem1838, aos 74 anos – dois anos antes de falecer –, recebeu da jovem rainhaVitória o merecido título da grã-cruz da Ordem do Banho, tornando-sefinalmenteumsiringlês.MorreuemParis,ondeviveuosúltimosanosdevida,efoienterradonumasepulturasimplesnocemitérioPère-Lachaise.18

CAPÍTULOQUATRO

SirGrahamMoore(1764-1843)SirGrahamteveumalongae ilustrecarreiranaMarinha. Ingressounoserviçoem 1777, com 13 anos de idade; nos primeiros anos comandava a corvetaBonetta(1790)edepoisasfragatasSyren(1794)eMelampus(1795).Participoude inúmerasbatalhas, inclusivedadefesadeGibraltarcontraos franceses.Em1801,apósumturnode18mesesnasAntilhas,adoeceuetevequeseretirardoserviço.

Coma retomadadaguerra, em1803, recusou-se a continuar em terra e foidesignadoparacomandarafragataIndefatigable.Em5deoutubrode1804,nocomandodeumesquadrãodequatro fragatas, interceptouumnúmero igualdefragatas, perto de Cádiz, carregando tesouros; como o almirante espanholrecusou-se a capitular, um combate ocorreu, no qual três das fragatas foramcapturadas,eaquartaexplodiucomperda totaldasua tripulação.Os tesouros,que somavammais de 3,5 milhões de dólares (valores da época, hoje seriamtalvez mais de um bilhão de dólares), foram declarados “Direitos doAlmirantado”,emconsideraçãodequeaguerranãotinhaaindasidodeclarada.Os oficiais e tripulantes receberam uma pequena recompensa, a título de “exgratia”.

Depois de servir como capitão-de-mar-e-guerra naMarlborough, em 1811foi-lhe oferecido o posto de comandante do iate Royal Sovereign, o qual

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declinou; assim passou a comandar a base naval de Chatham. Em 1812 foipromovidoacontra-almirante.Em1815,apóstersidocondecoradocomotítulode cavaleiro, foi nomeado um dos lordes do Almirantado. Em 1819 foipromovidoavice-almirantee,em1837,aalmirante.Duranteoperíodo1839-49,foi o comandante da base naval de Plymouth. Irmão mais novo do famosotenente-generalsirJohnMoore,casou-secomDoraEdenem1812.

CAPÍTULOCINCO

D.PedroCarlosdeBourboneBragança:infantedaEspanhaOsenhor infante d.PedroCarlos foi almirante-general daMarinhaportuguesa(nomeado em 13 de março de 1810); cavaleiro da Insigne Ordem do Tosãod’Ouro, da Espanha; grão-cruz das OrdensMilitares de Cristo, de São Bentod’Avis,edaantigaordemdaTorre-e-Espada,dePortugal;grão-cruzdadistintaOrdem de Carlos III e de São João de Jerusalém, da Espanha; grão-prior daOrdemdeJerusalém,deCastelaeLeão.Nasceunopaláciod’Aranjuezem18dejulho de 1787. Faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1813; filho dosenhor infante da Espanha, d. Gabriel e de sua esposa, a senhora infanta dePortugal,d.MariannaVictoria,filhadeSuaMajestadearainhad.MariaIedeseuesposoetio,el-reid.PedroIII.

Casou-senoRealPaçodoRiodeJaneiroem13demaiode1810,comsuaprima S.A.R. a senhora d. Maria Thereza Francisca d’Assis Antonia CarlotaJoanna Josefa de Paula Michaela Rafaela Izabel Gonzaga de Bragança eBourbon, princesa da Beira, grão-cruz da Ordem de Nossa Senhora daConceiçãodeVilaViçosa,damadasOrdensdeSantaIzabel,rainhadePortugal,edeMariaLuizadaEspanha; filhaprimogênitaded. JoãoVIeded.CarlotaJoaquina.

CondedaPonteD.JoãodeSaldanhadaGamaMelloTorresGuedesdeBrito,6ºcondedaPonte.Nascido em 4 de dezembro de 1773; 6º senhor d’Assequins; comendador daordem de Cristo; governador e capitão-general da Bahia; major de Cavalaria;sucedeuno título e senhoria a sua prima, d.Leonor deSaldanhaMascarenhasMello e Torre.Herdou de seu pai o engenho d’açúcar d’Accupe, e os demaisbensque elepossuíana capitaniadaBahia.Casou-se em10demaiode1796comd.MariaConstançadeSaldanhaOliveiraDaun (1771-1833), filhados1oscondesdeRioMaior.MorreunogovernodaBahia,em24demaiode1809.

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CondedosArcosD.MarcosdeNoronhaeBrito,8ºcondedosArcosdeVal-de-vêz,nasceuem7de junhode1771e faleceuem6demaiode1828.FoipardoreinoporCartaRégia de 30 de abril de 1826; gentil-homemdaCâmara da rainha d.Maria I;conselheirodeEstadoefetivo,em1823;presidentedoConselhodeMinistroseministroe secretáriodeEstadodosNegóciosdaMarinhaeUltramar.MembrodaJuntadoGovernodoReino,criadaporel-reid.JoãoVI,pordecretode6demarçode1826,paracoadjuvarasereníssimasenhorainfantad.IsabelMarianaregênciado reino,decidindo-se todososnegóciospormaioriadevotos, sendosempre decisivo o da sereníssima infanta, determinação que vigoraria tambémno caso de morte do mesmo rei d. João VI, enquanto o legítimo herdeiro esucessor da coroa não tomasse as suas providências a este respeito. Foigovernador e capitão-general da capitania do Grão-Pará e Rio Negro (1795),vice-rei e capitão-general-de-mar e terra do Estado do Brasil (1799) até achegadaaoRiodeJaneirodarainhad.MariaIeseufilho,oprínciperegente,depois rei d. João VI, em 7 de março de 1808. Foi nomeado governador ecapitão-generaldacapitaniadaBahia(1809),ministroesecretáriodeEstadodosNegóciosdaMarinhaeUltramarnoRiodeJaneiro(1817).Grão-cruzdasordensde São Bento d’Avis e da antiga Ordem da Torre-e-Espada; comendador daOrdemdeNossaSenhoradaConceiçãodeVilaViçosaedadeSantaMariadaViladoReinaOrdemdeCristo;padroeirodoMosteirodeSalvadordeLisboa;tenente-general do Exército. Sucedeu a sua mãe na Casa dos Arcos em 8 dejaneirode1814.

Casou-se em7 de agosto de 1791, comd.MariaRosaCaetana deLorena,nascidaem10dejaneirode1769efalecidaem31dejulhode1795,3ªfilhados6os condes São Vicente, Manuel Carlos da Cunha, vice-almirante da ArmadaNacional, e da condessa d. Luiza Caetana de Lorena, filha dos 3os duques deCadaval.

DuquedeCadavalD.MiguelCaetanoÁlvaresPereiradeMelo,5ºduquedeCadaval,7ºmarquêsdeFerreirae8ºcondedeTentúfal,nasceuem6defevereirode1765efaleceu,naBahia,em14demarçode1808.Suacarreiramilitariniciou-senoregimentodeCavalaria doCais, depois regimento deMecklemburgo eCasteloBranco. Em1801,foipromovidoamarechal-de-campo.

FoidoConselhoded.MariaI,seumordomo-moregrão-cruzdasOrdensdeCristoedaLegiãodeHonra.

Casou-se em 7 de outubro de 1791, com d. Maria Madalena Henriqueta

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CarlotaEmíliadeMontmorencyLuxemburgo,damadasOrdensdeSantaIsabeledeSãoJoãodeJerusalém.

CAPÍTULOSEIS

MarquêsdeVianaD. JoãoManuel deMenesesnasceu em27de abril de1783.Era filhodos3osmarquesesdeTancos.IngressoucedonaMarinha.Em1807,comandouafragataUrânia, único navio que comboiou durante toda a viagem o príncipe regente.Comandou a esquadra em que d. JoãoVI regressou a Portugal. Em 1821, foipromovido a vice-almirante e, em 1826, major-general da Armada e par doreino.Em1808casou-secomd.AnadeCasteloBranco,filhados1osmarquesesdeBelas.

LuizGonçalvesdosSantos(padrePerereca)Nascidoem1767,nacidadedeSãoSebastião,erafilhodeJoséGonçalvesdosSantos,naturaldoPorto,edeRosaMariadeJesus.Quandoaindamuitojovem,seu pai, que era prateiro, foi levado à falência; retirando-se, foi morar numapequenapropriedaderuralnointeriordoestadodoRio.Foiordenadosacerdoteem1794;dedicou-seaomagistério,atése tornarsurdo,em1825.Foiautordevários livros, sendo omais conhecido asMemórias para servir à história doReinodoBrasil.Veioafalecerem1844.

CondeThomasO’NeilTenentenaRealCompanhiadeFuzileirosNavais,encontrava-seembarcadonanauLondon,naviocapitâniadocontra-almirantesirSidneySmith,quandopartiudePlymouth,em11denovembrode1807.ParticipoudobloqueionorioTejo,durante aquele mês de novembro. Designado para uma missão especial,transferiu-separaa fragataSolebay.Amissãonão tevesucessoe,apósmuitasaventuras, finalmente chegou aoRio de Janeiro, em 27 de fevereiro de 1808,retornando à London. Nos meses seguintes, a London esteve em missão depatrulhaemSãoSalvador.Noiníciode1809,escoltouoprínciperegenteatéasua fazenda emSantaCruz.Quando retornou à Inglaterra,mais tarde naqueleano, preparou o manuscrito para publicar o relato dos acontecimentosenvolvendoaviagemdafamíliarealaoBrasil.OlivroédedicadoaosduquesdeClarenceeKent,ambosfilhosdoreiJorgeIII.

AlistadeassinantesqueconstadolivroincluitodososfilhosdeJorgeIIIeumgrandenúmerodemembrosdaaristocraciainglesaedoParlamento.

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ApêndiceB

Perfildaesquadraportuguesa1edoesquadrãobritânico

Osnavios portugueses que fizeram a viagem aoBrasil, em1807, erampoucodiferentes daqueles construídos nas décadas anteriores. Veleiros de madeiratinhamvidaútilentre50e60anos,nocasodenausdelinha,entre20e30parafragatas,emenosparabrigueseescunas.Umaouduasvezesduranteasuavida,osnaviosmaioreseramlevadosaodiqueseco,parapassarporumarevisão.Aextensãodo trabalhopode ser calculadaapartir do temponecessário (atédoisanos).Aovoltaraserlançado,comfreqüênciaoseunomeeratrocado.

Avarias poderiam ser provocadas por tempestades, seqüelas de batalhas oupormanobrasemespaçosconfinadosemummardevagas;conformeocorreunacolisãoentre as fragatasMinerva eMedusa, em1791, tendocomo resultadoamorte do chefe-de-esquadra José deMeloBryner.Quando o vento se tornavafresco e a costa estava próxima, apressavam-se para o abrigo; muitas vezes,navios que tinham partido de Lisboa e se deparavam com um forte ventoocidental,voltavamparadar fundonoprotegidoTejo.Poroutro lado,aoestarem um porto sem proteção quando o vento começava a soprar, por razões desegurançaeramforçadosasairparaomarabertoeláaguardarumamelhorianotempo; istoaconteceucomoN.S.doBomSucessoem1780,quandocarregavaourodeumgaleão espanhol, emFaial (Açores). Fazia parte dos regulamentosnáuticosnavegarsemprejuntoaoutronaviopara,emcasodenecessidade,poderoferecersocorro.Perdatotaldevidoaomautempo(Ulisses,perdidapróximoaoCaboVerde em1808)ou captura (N.S. daVitória eMinerva, pelos franceses,pertodeSriLankaem1809)eramrelativamenteraras.Acidenteseenfermidadeseram,delonge,asmaisimportantescausasdeperdadevidas.2

A fimdemanter livre de piratas a rota prescrita para os naviosmercantes,missões de patrulha eram organizadas com freqüência. O patrulhamento dacosta, especialmente dos Algarves e dos Estreitos (baseados em Gibraltar),desencorajavaosmuitoscorsários(baseadosnacostadaÁfricadoNorte,atéa

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alturadeTrípoli)asaíremparaomaraberto;aprimeira reaçãonosencontros,que aconteciam por acaso, era de fuga. Ou, caso os navios conseguissem seaproximar, os bem treinados marujos portugueses, com seus canhões,normalmentecapturavamsuapresa.

Naviosmercantes se agrupavam, formando comboios de 60 oumais naus,paraseremescoltadosatéasilhasdoAtlântico.Alémdesteponto,longedaterra,operigoerabemmenor,atéalcançaremacostabrasileira.Noretorno,emdatamarcada,umesquadrãoeraenviadoparapatrulharaárea,noalto-mar,porondeocomboiodeveriapassar;daliesteeraescoltadoatéoestuáriodoTejo.Devezem quando, o esquadrão fazia a escolta por todo o caminho até o Brasil,principalmente para trazer ouro e pedras preciosas pertencentes à Coroaportuguesa.Em25deabrilde1769,anaudelinhaN.S.dosPrazerespartiudeLisboa escoltando dois navios que iam para a Índia e várias outras nausmercantes que tinham como destino diferentes portos do Brasil. Em julho,arribounaBahia comágua aberta, por causadomau tempoque encontrounatravessia. No dia 29 de maio de 1770, entrou no Tejo, tendo completado atravessia desde o Rio de Janeiro em 94 dias. Trazia ouro, cartas de crédito emoedasparaaCoroa,numtotalde908.087.712réis,alémde11cofresrepletosdediamantes.Tambémtraziaumasomaaindamaior,enviadaporparticulares.

Outra atividade da Marinha era transportar dignitários a seus postos edeportadosparaoseulocaldedesterro.Acargadosnaviosdeguerraeramuitasvezescompostademalapostal,madeiras,especiariaseoutrasriquezasdoNovoMundo.

No período 1773-77, uma esquadra comandada por Robert MacDouall,compostadequatronausdelinha(naucapitâniaSantoAntônioeSãoJosé),10fragataseoutrosnaviosmenores,esteveemaçãonosuldoBrasil,defendendoSantaCatarinadeataquesdosespanhóis.

PERFILDAESQUADRAPORTUGUESA

NAUSDELINHA

PríncipeReal

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ConstruídasobadireçãodeManuelVicenteNunes.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 13dejulhode1771Mudançadenome N.S.daConceição,em1794DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1830(depoisde1822comonavio-prisão)

Comprimentoxbocaxcalado 200’x50’x21’Guarnição 950homensCanhõescalibre36/18/9libras n.30/32/18Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

FranciscoJosédoCantodeCastroeMascarenhas

AfonsodeAlbuquerque

ConstruídasobadireçãodeManuelVicenteNunes.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 26dejulhode1767Mudançadenome N.S.dosPrazeres,em1797DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1825

Comprimentoxbocaxcalado 182’x44’x19’Guarnição 634homensCanhõescalibre24/18/9libras n.26/28/8Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

InáciodaCostaQuintela

RainhadePortugal

ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 28desetembrode1791Mudançadenome –DeixouaMarinha(vendidaou 1848

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DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1848

Comprimentoxbocaxcalado 181’6”x47’6”Guarnição 669homensCanhõescalibre36/24/12libras n.28/22/16Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

FranciscoManueldeSoutoMaior

CondeD.Henrique

ConstruídasobadireçãodeManuelVicenteNunes.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 1763Mudançadenome N.S.doPilar(Cananea),em1794DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1820

Comprimentoxbocaxcalado 191’x47’x21’Guarnição 753homensCanhõescalibre26/18/9libras n.28/30/16Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

JoséMariadeAlmeida

MartimdeFreitas

ConstruídasobadireçãodeAntôniodaSilva.Estaleiro Bahia,BrasilLançamento 29dejaneirode1763Mudançadenome S.AntônioeS.José,em1794,Infante

D.PedroCarlos,em1807DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1828

Comprimentoxbocaxcalado 182’x44’x21’Guarnição 634homensCanhõescalibre24/12/9/1libras n.26/28/12/4

Page 221: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

Canhõescalibre24/12/9/1libras n.26/28/12/4Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

ManueldeMenezes

D.JoãodeCastro

ConstruídasobadireçãodeManuelVicenteNunes.Estaleiro RibeiradasNaus,LisboaLançamento 1766Mudançadenome N.S.doBomSucesso,em1800DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1822

Comprimentoxbocaxcalado 182’x44’x20’Guarnição 633homensCanhõescalibre24/12/9libras n.26/32/12Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

ManuelJoãodeLócio

Medusa

ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 24deagostode1786Mudançadenome N.S.doMontedoCarmo,em1786DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1825(depoisde1819comonavio-prisão)

Comprimentoxbocaxcalado 171’3”x45’Guarnição 663homensCanhõescalibre24/18/9libras n.28/32/9Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

HenriquedaFonsecadeSouzaPrego

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PríncipedoBrasil

ConstruídasobadireçãodeManueldaCosta.Estaleiro Bahia,BrasilLançamento 12desetembrode1801Mudançadenome ___DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1822

Comprimentoxbocaxcalado 186’9”x48’6”Guarnição 663homensCanhãocalibre n.74Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

FranciscodeBorjaSalemaGarção

FRAGATAS

GolfinhoeN.S.doLivramento

ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro RibeiradasNaus,LisboaLançado 27dejunhode1782Mudançadenome ___DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1816

Comprimentoxbocaxcalado 135’x32’Guarnição 300homensCanhõescalibre n.36Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

LuísdaCunhaMoreira

N.S.VitóriaeMinerva

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ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 19dejulhode1788Mudançadenome ___DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

Capturadaem1809pelafragatafrancesaBellone,nacostadoSriLanka

Comprimentoxbocaxcalado 156’9’’x58’Guarnição 349homensCanhãocalibre n.50Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

RodrigoJoséFerreiraLobo

Urânia

ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 15dedezembrode1792Mudançadenome Ulisses,em1807DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

AfundouemCaboVerdeem1809

Comprimentoxbocaxcalado 132’6’’x34’Guarnição 391homensCanhãocalibre n.38Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

D.JoãoManueldeMenezes

SantaTeresa,Thetis

ConstruídasobadireçãodeManuelJoaquim;em1807,armadocomonavio-transporte.

Estaleiro Bahia,Brasil

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Estaleiro Bahia,BrasilLançamento Setembrode1793Mudançadenome ___DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1824

Comprimentoxbocaxcalado 135’x34’Guarnição 300homensCanhãocalibre n.40Primeiro-tenenteemnovembrode1807 PauloJoséMigueldeBrito

CORVETA

Voador

ConstruídasobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 1790Mudançadenome ___DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

TransferidaparaaMarinhabrasileiraem1823

Comprimentoxbocaxcalado 97’x30’Guarnição 135homensCanhãocalibre n.24Capitão-tenenteemnovembrode1807 FranciscoMaximilianodeSousa

BRIGUES

Lebre

ConstruídosobadireçãodeTorcatoJoséClavina.Estaleiro ArsenaldaMarinha,LisboaLançamento 16deoutubrode1788Mudançadenome

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Mudançadenome LebreGrande,poisexistiaoutronavio,oLebrePequena

DeixouaMarinha(vendidooudesmanchado)

1818

Comprimentoxbocaxcalado 97’x30’Guarnição 135homensCanhãocalibre n.24Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

DanielThompson(inglês)

Vingança

Compradoem1800;originalmentearmadocomocúter;armadocomobrigueem1804.

DeixouaMarinha(vendidooudesmanchado)

1814

Guarnição 97homensCanhãocalibre n.18Capitão-de-mar-e-guerraemnovembrode1807

JamesNicolasKeating(inglês)

BoaVentura3

Origemdesconhecida,primeirareferênciaem1799.DeixouaMarinha(vendidooudesmanchado)

1819

Comprimentoxbocaxcalado 182’x44’x21’Guarnição 112homensCanhãocalibre n.6

CondessadeResende

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AdquiridanoBrasil.Guarnição 79homensCanhãocalibre n.20Primeiro-tenenteemnovembrode1807 BasílioFerreiradeCarvalho

ESCUNAS

Curiosa

AdquiridaemLisboa,em1807.Avariadanosprimeirosdiasdaviagem,ecomáguaparaapenas15dias,regressouaLisboaem7dedezembrode1807,

quandoentãofoicapturadapelosfranceses.Mudançadenome MinervaDeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

OregistrocessacomatransferênciaparaaprovínciadoCaboVerde,em1813

Comprimentoxbocaxcalado 182’x44’x21’Guarnição 43homensCanhãocalibre n.14Primeiro-tenenteemnovembrode1807 IsidoroFranciscoGuimarães

Furão

AdquiridaemLisboa,em1806.Guarnição 60homensCanhãocalibre n.8Capitão-tenenteemnovembrode1807 JoaquimMartins

PERFILDOESQUADRÃOBRITÂNICO

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NAUSDELINHA

Achilles

ClasseAchille1795,nodesenhodoPompée,naviofrancêscapturadoem1793.Estaleiro Clevely,GravesendLançamento 16deabrilde1795DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1865

Comprimentoxbocaxcalado 182’2”x49’0¹/²”x21”10¹/²”Deslocamento/guarnição 1.916toneladas/640homensCanhõescalibre32/18libras n.30/36Caronadascalibre32libras n.18Capitãoemnovembrode1807 SirRichardKing

Audacious

ClasseArrogant1758,desenhodesirThomasSlade.Estaleiro Randell,RotherhitheLançamento 23dejunhode1783DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1815

Comprimentoxbocaxcalado 168’x46’9”x19’9”Deslocamento/guarnição 1.604toneladas/550homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/28/28Capitãoemnovembrode1807 T.LeM.Gosselin

Bedford

ClasseRoyalOak1765,desenhodeWilliams.Estaleiro ArsenaldeWoolwich

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Estaleiro ArsenaldeWoolwichLançamento 27deoutubrode1775DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1817

Comprimentoxbocaxcalado 168’6”x46’9”x20’Deslocamento/guarnição 1.606toneladas/550/600homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/28/18Capitãoemnovembrode1807 JamesWalker

Conqueror

ClasseConqueror1795,doisconveses,desenhodeJohnHenlow,classeMarsmodificada.

Estaleiro Graham,HarwichLançado 23denovembrode1801DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1825

Comprimentoxbocaxcalado 176’x49’’x20’9’’Deslocamento/guarnição 1.842toneladas/500homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/30/16Caronadascalibre32/18libras n.2/6Capitãoemnovembrode1807 IsraelPellow

Elizabeth

ClasseRepulse1800,desenhodeWilliamRule.Estaleiro Perry,BlackwallLançamento 23demaiode1807DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1820

Comprimentoxbocaxcalado 174’x47’4”x20’Deslocamento/guarnição 1.706toneladas/590homensCanhõescalibre32/18libras n.28/32

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Canhõescalibre32/18libras n.28/32Caronadascalibre32/18libras n.14/6Capitãoemnovembrode1807 hon.HenryCurzon

Foudroyant

ClasseFoudroyant1788,doisconveses,desenhodeJohnHenslowexSuperb.Estaleiro ArsenaldePlymouthLançamento 31deagostode1798DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1861

Comprimentoxbocaxcalado 184’x50’6”x22’6”Deslocamento/guarnição 2.054toneladas/650homensCanhõescalibre32/24/12libras n.30/32/18Capitãoemnovembrode1807 N.Thompson

Hibernia

ClasseHibernia1790(1ªclasse),trêsconveses.VersãoestendidadoVilledeParis.Inicialmenteclassificadacom110canhões,maistardecom120canhões.Estaleiro ArsenaldePlymouthLançamento 17denovembrode1804DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1855

Comprimentoxbocaxcalado 201’2”x53’x22’4”Deslocamento/guarnição 2.499toneladas/850homensCanhõescalibre32/24/18libras n.32/32/36Caronadascalibre32libras n.16Capitãoemnovembrode1807 JohnConn

London

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ClasseLondon1759,trêsconveses,desenhodesirThomasSlade,depoisde98canhões.

Estaleiro ArsenaldeChathamLançamento 24demaiode1766DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1811

Comprimentoxbocaxcalado 177’6”x49’x21’Deslocamento/guarnição 1.870toneladas/750homensCanhõescalibre32/18/12/6libras n.28/30/30/2Capitãoemnovembrode1807 ThomasWestern

Marlborough

ClasseFame/Hero1799(3ªclasse),doisconveses,desenhodeJohnHenslow.Estaleiro Barnard,DeptfordLançamento 22dejunhode1807DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1835

Comprimentoxbocaxcalado 175’x47’6”x20’6”Deslocamento/guarnição 1.791toneladas/640homensCanhõescalibre32/18libras n.28/32Caronadascalibre32/18libras n.14/6Capitãoemnovembrode1807 GrahamMoore

Monarch

ClasseMonarch/Ramille1760,desenhodesirThomasSlade.Estaleiro ArsenaldeDeptfordLançamento 21dejulhode1765DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1813

Comprimentoxbocaxcalado 168’6”x46’9”x19’9”Deslocamento/guarnição 1.697toneladas/550/600homens

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Deslocamento/guarnição 1.697toneladas/550/600homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/28/18Capitãoemnovembrode1807 R.Lee

Plantagenet

ClassePlantagenet1794,desenhodeWilliamRule.Estaleiro ArsenaldeWoolwichLançamento 22deoutubrode1801DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1817

Comprimentoxbocaxcalado 181’47’’x19’9”Deslocamento/guarnição 1.777toneladas/590homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/28/18Capitãoemnovembrode1807 WilliamBradley

Theseus

ClasseCulloden/Thunder1769,desenhodesirThomasSlade.Estaleiro Perry,BlackwallLançamento 25desetembrode1786DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

Maiode1814

Comprimentoxbocaxcalado 170’x46’6”x19’11”Deslocamento/guarnição 1.650toneladas/550/600homensCanhõescalibre32/18/9libras n.28/28/28Capitãoemnovembrode1807 J.P.Beresford

FRAGATAS

Amazon

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ClasseAmazon1796,desenhodeWilliamRule.Estaleiro ArsenaldeWoolwichLançamento 18demaiode1799DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

1817

Comprimentoxbocaxcalado 150’x39’5”x13’9”Deslocamento/guarnição 1.038toneladas/284homensCanhõescalibre18/9libras n.28/10Caronadascalibre32libras n.8Capitãoemnovembrode1807 WilliamParker

Solebay

ClasseThetisAmazon1771,desenhodesirJohnWilliams.Estaleiro Adams&Barnard,DeptfordLançamento 26demarçode1785DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

Perdidaemjulhode1809,nacostadaÁfrica

Comprimentoxbocaxcalado 126’x35’x12’2”Deslocamento/guarnição 677toneladas/220homensCanhõescalibre12/6librase12giratórios

n.26/6

Capitãoemnovembrode1807 A.Sproule

CORVETAS

Confiance

AnterioraocorsárioLaConfidence,1796,capturadoemBordéusem1805.Comprimentoxbocaxcalado 117’x31’23/4”x14’Deslocamento/guarnição 491toneladas/140homens

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Deslocamento/guarnição 491toneladas/140homensCanhãocalibre6libras n.2Caronadacalibre32libras n.22Capitãoemnovembrode1807 JamesLucasYeo

Redwing

ClasseCruiser1796,desenhodeWilliamRule.Estaleiro Warren,BrightlingseaLançamento 30deagostode1806DeixouaMarinha(vendidaoudesmanchada)

Perdidaem1817,nacostadaÁfricaOriental

Comprimentoxbocaxcalado 100’x30’6”x12’9”Deslocamento/guarnição 382toneladas/121homensCanhãocalibre6libras n.2Caronadacalibre32libras n.16Capitãoemnovembrode1807 ThomasUsher

POSIÇÃODES.M.BEDFORDAOMEIO-DIA,NASUAVIAGEMAO

BRASIL

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POSIÇÃODES.M.MARLBOROUGHAOMEIO-DIA,NASUA

VIAGEMAOBRASIL

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POSIÇÃODES.M.LONDONAOMEIO-DIA,ENQUANTOVELEJAVASÓ

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ApêndiceC

Tratados,decretos,ordensecartas

CAPÍTULOUM

OfíciosobreobarãodeHumboldt1HavendonotíciasdequeumtalbarãodeHumboldttentaseguirsuasexcursõespelossertõesdesteEstado,sefazprecisoqueVmc.fiqueprevendoquenocasode se verificarem as referidas notícias, ou sucedendo-se aparecer outro algumestrangeiroviajandoporessedistrito,ofaçaconduziraestacapital,ecomtodaasua comitiva, sem contudo lhe faltar a decência, nem ao bom tratamento, ecomodidades, mas só acompanhando-o, e interceptando-lhes os meios de nostransportesfazerindagaçõespolíticasefilosóficas.DeusguardeaVmc.

PaláciodeS.LuizdoMaranhão12deoutubrode1800.D.DIOGODESOUZA–Sr.capitãoDomingosLopesFerreira.

TratadodeFontainebleau2Tratadossecretosconcluídosem27deoutubroentreoimperadordosfranceseseSuaMajestadecatólicaCarlosIV,daEspanha;osquaiseramfirmadossobreasbaseseartigosseguintes.ArtigoI.AprovínciaEntreDouroeMinhocomacidadedoPortosedaráem

todaapropriedadeesoberaniaaS.M.El-ReidaEtrúria,comotítulodereidaLusitâniaSetentrional.ArtigoII.AprovínciadoAlém-Tejo,eoreinodosAlgarvessedarãoemtoda

apropriedadeesoberaniaaoPríncipedaPaz,paraqueasdesfrutecomotítulodepríncipedosAlgarves.Artigo III. As províncias da Beira, Trás-os-Montes e a Extremadura

portuguesa ficarão em depósito até a paz geral, para dispor delas segundo ascircunstâncias,econformeaoqueseconvenhaentreasduaspartescontratantes.ArtigoIV.OreinodaLusitâniaSetentrionalserápossuídopelosdescendentes

deS.M.El-ReidaEtrúriahereditariamente,esegundoas leisdesucessão,que

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entãoemusonafamíliareinantedeS.M.El-ReidaEspanha.Artigo V. O principado dos Algarves será possuído pelos descendentes do

PríncipedaPazhereditariamente, e segundoas leisde sucessão,queestãoemusonafamíliareinantedeS.M.El-ReidaEspanha.Artigo VI. Na falta de descendentes, ou herdeiros legítimos de El-Rei da

Etrúria, daLusitânia Setentrional ou do príncipe dosAlgarves, estes países sedarãopor investiduraporS.M.El-ReidaEspanha,semque jamaispossamserreunidosdebaixodeumamesmacabeça,comaCoroadaEspanha.Artigo VII. O reino da Lusitânia Setentrional e o principado dos Algarves

reconhecerãoporprotetoraS.M.católicaEl-ReidaEspanha,eemnenhumcasodos soberanos destes países poderão fazer nem a paz nem a guerra sem a suaintervenção.Artigo VIII. No caso em que as províncias da Beira, Trás-os-Montes e

Estremadura portuguesa, todas em seqüestro, fossem entregues à paz geral, aCasadeBragançaemcâmbiodeGibraltar,Trindade,eoutrascolônias,queosingleses têm conquistado sobre a Espanha, e seus aliados, o novo soberanodestas províncias teria, com respeito a S.M. Católica El-Rei da Espanha, osmesmos vínculos, que El-Rei da Lusitânia Setentrional, e o príncipe dosAlgarves;eserãopossuídasporaquele,debaixodasmesmascondições.ArtigoIX.S.M.El-ReidaEtrúriacede,emtodaapropriedadeesoberaniao

reinodaEtrúriaàS.M.oimperadordosfrancesesdaItália.ArtigoX.QuandoseefetuaraocupaçãodefinitivadasprovínciasdePortugal,

osdiferentespríncipes,quedevempossuí-las,nomearãodeacordo,comissáriosparafixarseuslimitesnaturais.ArtigoXI.Oimperadordosfranceses,reidaItália,constitui-segarantidorde

S.M.CatólicaEl-Rei daEspanha da possessão de seusEstados do continente,situadosaomeio-diadosPireneus.ArtigoXII.S.M.imperadordosfranceses,reidaItália,obriga-seareconhecer

aS.M.CatólicaEl-ReidaEspanha,comoimperadordasduasAméricas,quandotudo esteja preparado para que S.M. possa tomar este título: o que poderáefetuar-senaocasiãodapazgeralou,omaistardar,dentrodetrêsanos.ArtigoXIII.As duas altas partes contratantes se entenderãopara fazer uma

divisãodasilhas,colôniaseoutraspropriedadesultramarinasdePortugal.Artigo XIV. O presente tratado ficará secreto: ratificado; e as ratificações

serãotrocadasemMadri20dias,aomaistardar,depoisdodiaemquesetenhafirmado.Feito emFontainebleau em27deoutubrode1807.Firmado:MiguelDuroc;d.EugenioIzquierdodeRibeiraeLezaun.

Foram aprovados, aceitos, ratificados e confirmados debaixo de inviolável

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promessaosartigosdo tratadoprecedentepelo imperadorNapoleão,e firmadopelasuamão,referendadoeseladocomseuseloem29deoutubrode1807.

Otratadoacimaresultouemafirmaremumaconvençãosecretaentreambasasaltaspartescontratantes,naqual:Artigo I. Um corpo de tropas imperiais francesas de 25 mil homens de

infantaria e 3 mil de cavalaria entrará na Espanha, e marchará em direção aLisboa:reunir-se-áaestecorpooutrode8milespanhóisdeinfantariae3mildecavalariadetropasespanholas,com30peçasdeartilharia.Artigo II. Ao mesmo tempo uma divisão de tropas espanholas de dez mil

homens tomará posse da província de Entre Minho e Douro e da cidade doPorto; e outra divisão de 6 mil homens, composta igualmente de tropasespanholas,tomarápossedasprovínciasdoAlém-TejoedoReinodosAlgarves.ArtigoIII.AstropasfrancesasserãosustentadasemantidaspelaEspanha,e

seus soldos pagos pela França durante todo o tempo do seu trânsito pelaEspanha.Artigo IV.Desdeomomentoemqueas tropascombinadas tenhamentrado

emPortugal,asprovínciasdaBeira,Trás-osMonteseExtremaduraportuguesa,quedevemficarseqüestradas,serãoadministradaspelogeneralcomandantedastropas francesas; e as contribuições que se lhes impuserem reverterão embenefício da França. As províncias, que devem formar o reino da LusitâniaSetentrional e o principado dos Algarves, serão administradas e governadaspelos generais comandantes das divisões espanholas que nelas entrarem; e ascontribuiçõesqueselhesimpuseremreverterãoembenefíciodaEspanha.ArtigoV.O corpo do centro estará debaixo das ordens do comandante das

tropas francesas; e a ele estarão subordinadas as tropas espanholas, que sereuniremàquelas;semembargodoque,seEl-ReidaEspanhaouoPríncipedaPaz julgarem conveniente passar-se a este corpo do Exército, o generalcomandante das tropas francesas e estas mesmas estarão debaixo das suasordens.Artigo VI. Um corpo de 40mil homens de tropas francesas se reunirá em

Bayona,omaistardaraté20denovembro,afimdeestarprontoparaentrarnaEspanhacomointuitodesetransferirparaPortugal,nocasodequeosinglesesenviem reforços, e ameacem atacá-lo. Este corpo não entrará com tudo naEspanha, até que as altas partes contratantes se ponham de acordo para esteefeito.ArtigoVII.Apresenteconvençãoseráratificada;eatrocadasratificaçõesse

faráaomesmotempoemqueadotratadodestedia.FeitoemFontainebleauem

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27deoutubrode1807.Firmado:Duroc;E.Izquierdo.Foi esta convenção aprovada, aceita, ratificada e firmada por Napoleão,

firmadaeseladaem29deoutubrode1807.

Convençãode22deoutubrode18073D.João,porgraçadeDeus,prínciperegentedePortugaledosAlgarves,daquéme dalém mar, em África de Guiné, e da conquista, navegação e comércio daEtiópia,Arábia,PérsiaedaÍndiaetc.FaçosaberatodosqueapresenteCartadeConfirmação,AprovaçãoeRatificaçãovirem:queem22deoutubrodocorrenteanoseconcluiueassinounacidadedeLondresumaconvençãoentremimeosereníssimo e potentíssimo príncipe Jorge III, rei do Reino Unido da Grã-BretanhaedaIrlanda,meubomirmãoeprimo,comofimdeconservarintactaàmonarquia portuguesa a ilha da Madeira e as mais possessões ultramarinas,sendoplenipotenciáriosparaesseefeito,daminhaparted.DomingosAntôniodeSousa Coutinho, do meu conselho, fidalgo da minha Casa, e meu enviadoextraordinário e ministro plenipotenciário naquela corte; e da parte de SuaMajestadebritânica,omuitohonradoJorgeCanning,conselheiroprivadodeSuaditaMajestade,eseuprincipalsecretáriodeEstadodosNegóciosEstrangeiros;daqualConvençãooteoréoseguinte:

EmnomedaSantíssimaeIndivisaTrindadeTendo Sua Alteza Real o príncipe de Portugal feito comunicar a Sua

Majestade britânica as dificuldades em que se acha em conseqüência dasexigênciasinjustasdogovernofrancês,easuadeterminaçãodetransferirparaoBrasilasedeeafortunadamonarquiaportuguesa,antesqueacedaatotalidadedasditasexigências…

…Ea fimdediscutirestasmedidasedepreenchereste saudável fim,SuaAltezaReal o príncipe regente dePortugal nomeoupor seuplenipotenciário ocavaleiro de Sousa Coutinho do seu conselho e seu enviado extraordinário eministro plenipotenciário residente em Londres; e Sua Majestade El-Rei doReinoUnidodaGrã-BretanhaeIrlandanomeouporseuplenipotenciáriooseuhonrado Jorge Canning, conselheiro privado de Sua dita Majestade, e seuprincipalsecretáriod’EstadonaRepartiçãodosNegóciosEstrangeiros;osquaisdepoisdeteremcomunicadoosrespectivosplenospoderes,eachando-osemboaedevidaforma,convieramnosartigosseguintes:Artigo I. Até que haja a certeza de algum passo ou declaração hostil da

FrançacontraPortugal,ouquePortugal,afimdeevitaraguerracomaFrança,consinta em cometer de alguma sorte um ato de hostilidade contra a Grã-

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Bretanha, fechandoosseusportosàbandeira inglesa,nenhumaexpediçãoseráfeita pelo governo britânico contra a ilha da Madeira nem outra qualquerpossessãoportuguesa;equandoumasemelhanteexpediçãosejulgarnecessária,será a mesma notificada ao ministro de Sua Alteza Real o príncipe regenteresidenteemLondres,ecomeleconceituada.

Peloseulado,SuaAltezaRealoprínciperegenteobriga-sedeoraemdiantea não permitir a remessa de reforço algumde tropas (exceto de inteligência eacordocomSuaMajestadebritânica)paraoBrasileparaailhadaMadeira,nemdeparaalimandarnemalipermitiraassistênciadenenhumoficialfrancês,sejanoserviçodaFrança,sejanoserviçodePortugal.

OutrossimseobrigaatransmitirsemdemoraaogovernodailhadaMadeiraordenssecretaseventuais,paraquenãofaçaresistênciaaumaexpediçãoinglesacujo comandante lhe anunciar, debaixo de sua palavra de honra, que a ditaexpediçãotenhasidopreparadadeinteligênciaeacordocomSuaAltezaRealoprínciperegente.Artigo II. No caso em que Sua Alteza Real o príncipe regente se visse

obrigadoalevaraplenoeinteiroefeitoasuamagnânimaresoluçãodepassaraoBrasil;ousemesmo,semseraissoforçadopelosprocedimentosdosfrancesesdirigidos contra Portugal, Sua Alteza se decidisse empreender a viagem doBrasil ou mandar para ali um príncipe de sua família, estará pronto SuaMajestadebritânicaaajudá-lonestaempresa,aprotegeroembarquedafamíliarealeaescoltá-losàAmérica.Paraestefimobriga-seSuaMajestadebritânicaamandar aprestar imediatamente nos portos da Inglaterra um esquadrão de seisnaus de linha a qual partirá logo para as costas de Portugal, e de ter nelasigualmente,prontoaembarcar-se,umexércitode5milhomens,quepartiráparaPortugalaoprimeiropedidodogovernoportuguês.

Uma parte deste exército ficará de guarnição na ilha daMadeira,mas nãoentraráalisenãodepoisqueSuaAltezaRealtivertocadonamesma,oupassadoailhaindoparaoBrasil.ArtigoIII.Masnocaso infelizemqueoprínciperegente,a fimdeevitara

guerra com a França, se visse obrigado a fechar os portos de Portugal àsembarcaçõesinglesas,oprínciperegenteconsentequeastropassejamadmitidasnailhadaMadeiradepoisdatrocadasratificaçõesdestaConvenção;declarandoo comandante da expedição inglesa ao governo português que a ilha seráguardadaemdepósitoparaSuaAltezaRealoprínciperegente,atéaconclusãodapazdefinitivaentreaGrã-BretanhaeaFrança.

Asinstruçõesquesederemaoditocomandanteinglêsparaogovernodailha,duranteasuaocupaçãopelasarmasdeSuaMajestadebritânica,serãoacordadas

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comoministrodeSuaAltezaRealoprínciperegenteemLondres.ArtigoIV.SuaAltezaRealoprínciperegenteprometejamaiscederemcaso

algum,sejanotodo,sejaemparte,asuaMarinhamilitaroumercante,oudeasreuniràsdaFrançaoudaEspanha,oudeoutraqualquerpotência.

Obriga-se,outrossim,nocasodepassarparaoBrasil,a levarconsigoasuaMarinhamilitaremercante,sejaperfeitaouincompletamenteaparelhada,ounãopodendo executar-se isto, de transferir como depósito para a Grã-Bretanhaaquela parte que não puder levar imediatamente consigo; e Sua Alteza Realajustará depois com Sua Majestade britânica os meios de mandar ir estasmesmasembarcaçõesparaoBrasilcomtodaasegurança.ArtigoV.NocasodaclausuradosportosdePortugal,obriga-seSuaAlteza

Real a mandar sair imediatamente para o Brasil metade da sua Marinha deguerraeaconservaraoutrametadeemnúmeromaisoumenosdecincoouseisnausde linhaedeoitooudez fragatas,emmeioarmamento (pelomenos),noporto deLisboa, de sorte que, à primeira indicação de uma intenção hostil daparte dos franceses ou dos espanhóis, aquela força naval possa reunir-se àesquadrabritânicadestinadaaesteserviço,eserviraotransportedeSuaAltezaRealedafamíliarealparaoBrasil.Comofimdemelhorassegurarobomêxitodesteacordo,obriga-seoprínciperegenteadarocomandodasuaesquadranoportodeLisboa, bemcomoo comandodaque enviar paraoBrasil, a oficiaiscujos princípios políticos sejam aprovados pela Grã-Bretanha. As duas AltasPartes Contratantes convieram em autorizar os comandantes portugueses einglesesnasrespectivasestaçõesdeLisboaporumlado,edascostasdePortugalpelooutro, acorresponderem-se secretamente sobre tudoquepossa ter relaçãocomareuniãoeventualdasesquadrasinglesaeportuguesa.QuandoametadedaMarinhamilitarquepossaserenviadaparaoBrasilseráamesmaalidesarmadaàsuachegada,anãoserqueosdoisgovernosdeterminemoutracoisa.ArtigoVI.Umavezqueseachaestabelecidaasededamonarquiaportuguesa

no Brasil, obriga-se Sua Majestade britânica, em seu nome e no de seussucessores, a não reconhecer jamais como rei de Portugal príncipe algum quenão seja o herdeiro e representante legítimo da família real de Bragança; emesmo a renovar emanter com a regência que SuaAltezaReal puder deixarestabelecidaemPortugal, antesdepartirparaoBrasil, as relaçõesdeamizadequetemhátantotempoligadoasduasCoroasdePortugaleGrã-Bretanha.Artigo VII. Quando o governo português estiver estabelecido no Brasil,

proceder-se-á à negociação de um tratado de auxílio e de comércio entre ogovernoportuguêseaGrã-Bretanha.Artigo VIII. Esta convenção será tida secreta para o presente, e não se

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publicarásemoconsentimentodasduasAltasPartesContratantes.ArtigoIX.Seráratificadadeumaeoutraparte,easratificaçõestrocadasem

Londres no prazo de seis semanas, ou antes se puder ser, a contar do dia daassinatura.

Emfédoque,nósabaixoassinados,plenipotenciáriosdeSuaAltezaRealoprínciperegentedePortugaledeSuaMajestadebritânica,emvirtudedenossosrespectivospoderes,assinamosapresenteconvenção,elhepusemososinetedenossasarmas.

FeitaemLondresa22deoutubrode1807.

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OcavaleiroSousaCoutinhoGEORGECANNING

OabaixoassinadoprincipalsecretáriodeEstadodosNegóciosEstrangeirosdeSuaMajestadebritânica,consentindoemsubscreveroartigoIIdestaconvenção,recebeuasordensdeEl-Reiparadeclararqueaexecuçãodaquelapartedoditoartigo, pela qual se estipula o mandar-se uma esquadra e tropas de SuaMajestadeparaoTejo,afimdeprotegeroembarquedafamíliarealdePortugal,dependedasegurança,queserádada,dequeosfortessobreoTejo,asaber:osfortesdeS.JuliãoedoBugioserãopreviamenteentreguesaocomandantedastropas britânicas, bem como o forte de Cascais, se o embarque tiver lugarnaquele sítio, ou então do de Peniche, no caso de que a família real se tenharetirado àquela península; e ficarão em poder do dito comandante, até que oobjetoparaoqualastropassãomandadasestiverpreenchido,ouqueSuaAltezaRealtiverdeterminadoaquemastropasinglesasdevemrestituí-los.

O cavaleiro de Sousa Coutinho, plenipotenciário de Sua Alteza Real oprínciperegentedePortugal,nãoseachandoautorizado,pelasinstruçõesdequeatualmente estámunido, a contratar obrigação alguma a tal respeito, o abaixoassinado recebeu ordem de acompanhar o tratado com esta declaraçãoexplicativa, e depedir que a segurança acimamencionada seja enviada comaratificaçãodoprínciperegente.

FeitaemLondres,a22deoutubrode1807.GEORGECANNING

Artigo I adicional. No caso da clausura dos portos de Portugal à bandeirainglesa, será estabelecido um porto na ilha de SantaCatarina ou em qualqueroutro lugar da costa do Brasil, onde todas as mercadorias inglesas, que aopresente são admitidas em Portugal, serão importadas livremente emembarcações inglesas, pagando os mesmos direitos que se pagam atualmentepelos mesmos artigos nos portos de Portugal, e este arranjamento durará aténovoacordo.

Esteartigoadicionalteráamesmaforçaevalorcomoseforainsertopalavraporpalavranaconvençãoassinadahoje,eseráratificadaaomesmotempo.

Emfédoquenósabaixoassinados,plenipotenciáriosdeSuaAltezaRealoprínciperegentedePortugaledeSuaMajestadebritânica,emvirtudedenossosrespectivosplenospoderes,assinamosopresenteartigoadicional,elhepusemososinetedenossasarmas.

FeitoemLondres,a22deoutubrode1807.

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OcavaleirodeSousaCoutinhoGEORGECANNING

Assinosubsperati,declarandoquenãotenhoinstruçõesatalrespeito,contandoqueSuaAltezaReal,tornandoaabrirosportosdePortugal,possareconsideraroualteraresteartigo.Artigo II adicional. Fica plenamente entendido e ajustado que desde o

momentoemqueosportosdePortugalforemfechadosàbandeirainglesa,eportodootempoqueassimcontinuem,ostratadosexistentesentreaGrã-BretanhaePortugal devem considerar-se como suspensos, pois que concedem à bandeiraportuguesaprivilégioseisençõesdequeasoutrasnaçõesneutrasnãogozam,eque, segundo o direito das gentes, não pertencem ao estado de simplesneutralidade.

Esteartigoadicionalteráamesmaforçaevalorcomoseforainsertopalavraporpalavranaconvençãoassinadahoje,eseráratificadaaomesmotempo.

Emfédoque,nósabaixoassinados,plenipotenciáriosdeSuaAltezaRealoprínciperegentedePortugaledeSuaMajestadebritânica,emvirtudedenossosrespectivosplenospoderes,assinamosopresenteartigoadicional,elhepusemososinetedenossasarmas.

FeitoemLondres,a22deoutubrode1807.

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OcavaleirodeSousaCoutinhoGEORGECANNING

Assino sub spe rati, declarando que não tenho instruções a tal respeito, econtando que Sua Alteza Real, tornando a abrir os portos de Portugal, possareconsiderar ou alterar este artigo. E sendo-me presente a mesma convenção,cujo teoracimafica inserto,ebemvisto,considerandoeexaminandopormimtudooquenelasecontém,aaprovo,ratifico,econfirmo,assimnotodo,comoemcadaumadassuascláusulaseestipulações,excetuandoalgumasexpressõesdo preâmbulo; o parágrafo primeiro do artigo quarto; o parágrafo primeiro doartigoquinto;adeclaraçãoaoartigosegundo,queseratificacomrestrição;eoartigo primeiro adicional; pelas razões indicadas nas observações que estaconvenção vão juntar, assinados pelomeuministro e secretário deEstado dosNegóciosEstrangeirosedaGuerra:prometendoemféepalavrarealobservá-laecumpri-ainviolavelmente,efazê-lacumprireobservar,sempermitirquesefaçacoisaalgumaemcontrário,porqualquermodoquesepossa.Eemtestemunhoefirmezadosobredito,fizpassarapresentecartapormimassinada,seladacomoselograndedasminhasarmas,e referendadopeloditoministroesecretáriodeEstadodosNegóciosEstrangeirosedaGuerraabaixoassinado.

DadanopaláciodeNossaSenhoradaAjudaaos8denovembrode1807.Oprínciperegente

ANTÔNIODEARAÚJODEAZEVEDO

ObservaçãoaquesereferearatificaçãosupraO preâmbulo da convenção de 22 de outubro de 1807 principia por umasuposição,queéaqueachanasseguintespalavras(“ayantfaitcommuniquer…totalité de ces damandes”), Sua Alteza Real prometeu sim sempre a SuaMajestadebritânica, jádiretamente, jápormeiodos respectivosministros,nãoacederàproposiçãodaapreensãodaspessoaseconfiscaçãodebens;masnuncadisse que antes queria transferir para o Brasil o assento da monarquiaportuguesa,doqueacederatodasasproposições.

Os lugares em que se acha feita e repetida esta promessa são os que seseguem:

UmofícioparaoministrodeSuaAltezaRealemLondres,de12deagostode1807.Dissenele:

Ordena-meSuaAltezaRealqueexpresseaV.Sª.asuafirmeresoluçãodenãoassentirjamaisàconfiscaçãodosbensdosvassalosingleses:istodeveV.Sª. assegurar aoMinistério Britânico, mas sua Alteza Real espera, em

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reciprocidadedestatãojustacomodecorosaação,queestegovernonãodêordensaos seuscomandantesdas forçasmarítimaspara fazerhostilidadescontra navios portugueses.Qualquer procedimento desta natureza serviriapara que a França e a Espanha clamassem altamente contra a nossarenitênciasobreasuaproposição.

Outroofíciode20deagostoparaomesmoministro:Aosbensdosinglesesnãohãodeterperigoalgum,equandosejaprecisocomboiá-los, não se faz necessária uma esquadra ou divisão de esquadraparaessefim:umoudoisnaviosdeguerraforaoudentrodoTejopareceser quanto basta:mas torno a assegurar aV.Sª que SuaAltezaReal estádeterminadamaisdepressaaperdero seusupremodomínionestepaísdoqueasacrificarossujeitosbritânicoseseuscabedais.

Nomesmoofícioseacrescenta:PorestamesmarazãoreservoescreveraV.Sªemoutraocasião,paraV.Sªtratarnessacortesobreomodocomoelapoderácontribuirparaasegurançada família real, protegendo com as suas forças navais a sua retirada. Nocaso que as circunstâncias obriguem a esta mesma resolução, tomarei asordensdeSuaAltezaRealarespeitodestetristeeimportantenegócio,queinteressa tantonossos corações,pois sópor estemodopoderá salvarumapartedamonarquiaportuguesa,etransmiti-laaosseusdescendentes.

CAPÍTULODOIS

EditalOPríncipeRegenteNossoSenhorfoiservidoMandarremeteràmesadodesembargodoPaçoodecretodoteorseguinte.

Tendo sido sempre o meu maior deslevo conservar meus estados, durante apresenteguerra,namaisperfeitaneutralidadepelosreconhecidosbens,quedelaresultavam aos vassalos desta Coroa; contudo não sendo possível conservá-lapormais tempo, e considerando, outrossim, o quanto convémà humanidade apacificaçãogeral;houveporbemacederàcausadocontinente,unindo-meàSuaMajestadeo imperadordos franceses, reida Itália,eàSuaMajestadecatólica,comofimdecontribuir,quantoemmimfor,paraaaceleraçãodapazmarítima.Portanto, sou servidoordenarqueosportosdeste reino sejam logo fechados àentradadosnavios,assimdeguerra,comomercantesdaGrã-Bretanha.Amesa

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dodesembargodoPaçootenhaentendido,efaçaexecutar,mandandoafixaresteporedital,eremeteratodososlugares,aondeconvier,paraquechegueanotíciadetodos.

Palácio de Mafra em 20 de outubro de 1807. Com a rubrica do PríncipeRegenteNossoSenhor.

GibraltarChronicle(sábado,5dedezembro)DoMadridGazette,Irun,8denovembroUmadescrição detalhada da composição das tropas francesas que entraramnaEspanha,atravésdeIrun.

Outubro19:

70ºRegimentodeInfantariadeLinha:63oficiais,2.299praças;general-de-brigadaLabril.47ºRegimento:32oficiais,1.247praças;general-de-divisãoLaborde.4ºRegimento(suíço):41oficiais,1.260praças.

20: 2Batalhõesdon,86:63oficiais,2.382praças;general-de-brigadaBrenier.

21:

1Batalhãodo15:25oficiais,937praças.CorpodeArtilharia:12oficiais,306praças.Equipamento:36peçasde artilhariadeváriasnaturezas, 82caixasdemunição,7 carroças, 4forjasambulantes.Condutores:4oficiais,280praças.

22:1Batalhãodo2ºRegimentodeInfantariaLigeira:16oficiais,1.004praças.1Batalhãodo4ºRegimentodeInfantariaLigeira:11oficiais,750praças.

23: 1Batalhãodo12ºRegimentodeInfantariaLigeira:16oficiais,900praças.1Batalhãodo15ºRegimento:24oficiais,1.020praças.

24:1Batalhãodo58ºRegimentodeLinha:22oficiais,1.030praças.1Batalhãodo32ºRegimento:20oficiais,1.019praças.

25:InfantariaSuíçan.2:35oficiais,1.100praças;general-de-brigadaCarlot.21carroçasdohospitalambulante,1 forjaambulantedoditohospital:12oficiaisdesaúde,5oficiais,44praças.

26:

1Batalhãodo31ºRegimentodeInfantariaLigeira:20oficiais,496praças.32ºRegimento:30oficiais,106praças;general-de-divisãoTravot.DuasDivisõesdeArtilhariacom81carroçaspertencentesaoparque:64carroçasdemunição,7carruagens,3forjas:6oficiais,131praças.Condutores:5oficiais,200praças.Outras21carroças,1forja;11oficiaisdesaúde,44condutorese5praças.

27:

1Batalhãodo26ºRegimentodeInfantariadeLinha:29oficiais,412praças.2BatalhõesdasLegiõesdoSule1ªdaInfantariaLigeira:31oficiais,859praças.21 carroças da Infantaria Ligeira, 1 forja do hospital ambulante: 12 oficiais de saúde.Condutores:12oficiais,52praças.

28: 2Batalhõesdo66ºRegimentodeLinha:51oficiais,848praças.LegiãoHanoverianadeInfantariaLigeira:20oficiais,740praças.

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29:

DestacamentodeInfantariaLigeiran.32:1oficial,32praças.DestacamentodaLegiãodoSul:1oficial,28praças.2º Batalhões do 82º Regimento de Infantaria de Linha: 30 oficiais, 572 praças; general-de-brigadaFuzier.Destacamentoconstituídoporcondutores:10oficiaise182praças.

30:

CompanhiadeFlancodo82º:3oficiais,120praças;comandante-em-chefecomoseuEstado-Maior.RegimentodeCaçadoresn.26comocomandante-em-chefe:6oficiais,160praças.Cavalos:62no piquete do comandante-em-chefe e 40 na Gendarmaria Imperial, com vários oficiaisimperiais.

31:RegimentoProvisóriodo1ºe3ºdeDragões:13oficiais,498praças,522cavalos;general-de-brigadaMargaron.Equipagensmilitares:53carroças,1forja;3oficiais,166praças.

Novembro1:

3ºRegimentoProvisórioconstituídopelo4ºe5ºDragões:9oficiais,502praças.RamoCivildaArtilharia:1oficial,25artífices.5carroças;condutores:3oficiais,16praças;general-de-divisãoKellermann.1ajudante-de-campo,1chefe-de-Estado-Maior,20cavalos,10serventes.Soldadosdediferentescorpos:1oficial,87praças.

2:9º e 15º Regimento Provisório de Dragões: 11 oficiais, 521 cavalos; general-de-divisãoTiebault,com2ajudantes-de-campoe5comissários.PartedoRegimentodeCavalaria:11carroçasdebagagem,20oficiais,28condutores.

3: 14carroçascomacaixamilitardoExército:3oficiais,54condutores.

GibraltarChronicle(Sábado,26dedezembro)ExtratodoLeMoniteur,Paris,11denovembrode1807:

AInglaterraenviou,nointervalodedoisanos,quatroexpedições.AprimeirafoicontraConstantinopla…AsegundaexpediçãodaInglaterrafoicontraoEgito…AterceiraexpediçãoinglesafoicontraMontevidéueBuenosAires…Suaquartaexpediçãofoiamaisnotória.FoiaqueladeCopenhague…

Apósestasquatroexpedições,quetãomanifestamentemostramodeclíniomoralemilitardaInglaterra,falemosdasituaçãoàqualtrouxePortugal.OprínciperegentedePortugalperdeseutrono:eleoperdeinfluenciadopelasintrigas da mercadoria que estava em Lisboa [sic]. O que então faz aInglaterra,aquelepoderosoaliado?VêcomindiferençaoquesepassaemPortugal. O que fará quando Portugal for tomado? Irá se apoderar doBrasil?Não;seosinglesesfizeremtaltentativa,oscatólicososexpulsarão.AquedadaCasadeBragançapermanecerácomoumanovaprovadequeadestruiçãodetodosaquelesqueseassociaremàInglaterraéinevitável.

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AssentodoConselhodeEstado convocadoporSuaAltezaReal oPríncipeRegenteNossoSenhornanoitede24denovembrode18074

Convocando-seoConselhodeEstado,narealpresençadeS.A.R.eporordemdomesmosenhor,ordenouS.A.R.quesecomunicasseaosconselheirosabaixoassinados as notícias vindas do interior do reino, que certificavam a entradaefetivadastropasfrancesasnestamonarquia,havendochegadoaAbrantes.

OrdenouomesmosenhorquesecomunicasseigualmenteaosconselheirosdeEstadoanotaquelordeStrangforddirigiuaoconselheiroesecretáriodeEstadoAntôniodeAraújo,pelaqualpediaumaaudiênciaaS.A.R.,emquesepropunhaafazerproposiçõesquedeveriamdecidirabsolutamenteeemúltimainstânciaasrelações que deviamexistir entre as duasmonarquias, vindo aomesmo tempoumofíciodesirSidneySmith,comandantedaesquadrainglesaquebloqueiaoportodestacapital,dirigidoaomesmoministroesecretáriodeEstado,emqueanuncia o tratamento hostil que praticaria se as disposições de Portugal nãofossemamigáveis,ameaçandocomoestritobloqueio,requisiçãodosnaviosdeguerraportuguesesedosmercantesquenavegamparaoBrasil.

Pareceu aos conselheiros de Estado abaixo assinados que se havendoesgotado todososmeiosdenegociaçãoenãohavendoamenor esperançaqueportaisexpedientesseremovesseoperigoiminentequeameaçaaexistênciadamonarquia, da soberania e da independência de S.A.R., visto que as tropasfrancesas jápenetraramemseusdomínios,não sedeviaperderumsó instanteparaaceleraroembarquedeS.A.R.oPríncipeRegenteNossoSenhoredetodaarealfamíliaparaoBrasil.

Que em tais circunstâncias se devia responder a lorde Strangford,participando-lheaaudiênciaqueS.A.R.lheconcedia.

QueserespondaaoofíciodesirSidneySmithcomunicando-lheadisposiçãodeSuaAltezaRealdereceberaesquadrainglesanosseusportos,eodesejoqueissosefaçaoquantoantes.

Queastropasqueseachamatualmenteguarnecendoasmargens,fortalezasebaterias doTejo se retiremdaquelas posições e passema ocupar os sítios queS.A.R.lhesdestinar,expedindo-seordensaosgovernantesdastorresefortalezasparaquepassemafranquearaentradadoportoatodososnaviosingleses,tantodeguerracomomercantes.

QueaodecidirS.A.R.a transferênciaparaoBrasil,deveráserestabelecidoumConselhodeRegêncianaformaquesetempraticadoemtaisocorrênciasenas ocasiões em que este reino esteve sem legítimo soberano, devendo estaregência,comospoderesquelheforemdelegadosporS.A.R.,sercompostadas

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figurasmaisproeminentesedealtasgraduaçõesmilitaresqueS.A.R.houverporbemindicar.

PaláciodeNossaSenhoradaAjuda,24denovembrode1807.MARQUÊSDEPOMBAL–MARQUÊSREGEDOR(MARQUÊSDEBELAS)–VISCONDED’ANADIA–D.JOÃODEALMEIDADEMELOECASTRO–D.FERNANDOJOSÉDE

PORTUGAL–D.ANTÔNIODEARAÚJODEAZEVEDO.

Edital5Tendoprocurado,portodososmeiospossíveis,conservaraneutralidade,dequeatéagoratemgozadoosmeusfiéiseamadosvassalos,chegandoaoexcessodefecharosportosdosmeusreinosaosvassalosdomeuantigoelealaliado,oreidaGrã-Bretanha,expondoocomérciodosmeusvassalosatotalruína,easofrerporestemotivogravesprejuízosnosrendimentosdaminhaCoroa;vejoquepelointeriordomeureinomarchamtropasdoimperadordosfrancesesereidaItália,a quem eu me havia unido no continente, na suposição de não ser maisinquietado; e que as mesmas se dirigem a esta capital. E querendo evitar asfunestasconseqüênciasquepodemseguirdeumadefesa,queseriamaisnocivado que proveitosa, servindo só para derramar sangue em prejuízo dahumanidade, e capaz de acender mais a dissensão de umas tropas que têmtransitado por este reino, com o anúncio e a promessa de não cometerem amenor hostilidade; conhecendo igualmente que elas se dirigem muitoparticularmente contra a minha real pessoa, e que meus vassalos leais serãomenosinquietados,ausentando-meeudestereino;tenhoresolvido,embenefíciodosmeusvassalos,passarcomarainhaminhasenhoraemãe,ecomtodaarealfamília, para os estados da América, e estabelecer-me na cidade do Rio deJaneiroaté apazgeral.Econsiderandomaisquantoconvémdeixarogovernodestesreinosnaquelaordem,quecumpremaobemdelesedemeuspovos,comocoisa a que tão essencialmente estou obrigado, tendo nisto todas asconsiderações,queem tal casome sãopresentes; sou servidonomear,paranaminha ausência governarem estes meus reinos, o marquês d’Abrantes, meumuitoamadoeprezadoprimo;FranciscodaCunhadeMenezes,tenente-generaldosmeusexércitos;oprincipaldaigrejapatriarcalFranciscoRafaeldeCastro;PedrodeMeloBreyner,domeuconselho,queservirádepresidentedomeuRealErário, na falta e impedimento de Luiz deVasconcelos e Souza, que se achaimpossibilitado com as suasmoléstias; Francisco deNoronha, tenente-generaldosmeusexércitosepresidentedaMesadaConsciênciaeOrdens;enafaltadequalquer deles, o conde Monteiro Mor, que tenho nomeado presidente doSenadodaCâmara,comaassistênciadedoissecretários,ocondedeSampaio,e

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emseulugarMiguelPereiraForjaz,edodesembargadordoPaço,eoprocuradordaCoroa,JoãoAntônioSalterdeMendonça,pelagrandeconfiançaquedetodoselestenho,elargaexperiênciaqueelestêmtidodascoisasdomesmogoverno;tendo por certo que os meus reinos e povos serão governados e regidos pormaneira que a minha consciência seja desencarregada; e eles, governadores,cumpram inteiramente a sua obrigação, enquanto Deus permitir que eu estejaausente desta capital, administrando a justiça com imparcialidade, distribuindoosprêmiosecastigosconformeosmerecimentosdecadaum.

Os mesmos governadores tenham assim entendido, e cumprirão na formasobredita,asinstruções,queserãocomestedecretopormimassinadas;efarãoasparticipaçõesnecessáriasasrepartiçõescompetentes.

PaláciodeNossaSenhoradaAjuda, novembrode1807.Coma rubricadoPríncipeRegenteNossoSenhor.

InstruçõesqueacompanharamodecretoOsgovernadoresquehouveramporbemnomearpelomeurealdecretodadatadestas instruções, para na minha ausência governarem estes reinos, deverãoprestarojuramentodoestilo,nasmãosdocardealpatriarca,ecuidarãocomtodoo desvelo, vigilância e atividade na administração da justiça, distribuindo-aimparcialmenteeconservandoemrigorosaobservânciaasleisdestereino.

Guardarãoaosnacionaistodososprivilégios,quepormim,epelossenhoresreismeusantecessores,seachamconcedidos.

Decidirão pela pluralidade de votos as consultas, que pelos respectivostribunaislhesforemapresentadas,regulando-sesemprepelasleisecostumesdoreino.

Proverãooslugaresdeletras,eosofíciosdaJustiçaeFazenda,naformaatéagorapormimpraticada.

Defender as pessoas e bens dos meus leais vassalos, escolhendo para osempregos militares as que deles se conhecer serem beneméritas. Procurarão,quandopossívelfor,conservarempazestereino;equeastropasdoimperadordosfranceses,reidaItália,sejambemaquarteladas,eassistidasdetudoquelhesforpreciso,enquantosedetiveremnestereino,evitandotodoequalquerinsultoque se possa perpetrar, e castigando rigorosamente quando aconteça;conservandosempreaboaharmonia,quesedevepraticarcomosexércitosdasnações,comasquaisnosachamosunidosnocontinente.

Quando suceda por qualquer motivo faltar algum dos ditos governadores,elegerãopelapluralidadedevotosquemlhessuceda.

Confio muito da sua honra, e virtude, que os meus povos não sofrerão

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incômodonaminhaausência;equepermitindoDeusqueeuvolteaestesmeusreinos com brevidade, encontre todos contentes e satisfeitos, reinando sempreentreeles aboaordeme tranqüilidade,quedevehaverentrevassalos,que tãodignossetêmfeitodomeupaternalcuidado.

PaláciodeNossaSenhoradaAjuda,em26denovembrode1807.PRÍNCIPE[REGENTE].

CAPÍTULOQUATRO

Ordensdacortede25/11/1807GibraltarChronicle(2dejaneirode1808)SuaMajestade,tomandoemconsideraçãoascircunstânciasobasquaisPortugalfoi compelido a fechar seus portos aos navios e bens dos súditos de SuaMajestade, tem a satisfação de – por meio e com o parecer de seu Conselhoprivado–ordenar,e ficapormeiodestaordenado,que todososnaviosebenspertencentes a Portugal, que tenham sido e agora estejam detidos nos portosdeste reino, ou outro lugar, sejam restituídos, ao serempronunciados pela altacorte do Almirantado, ou pela corte do Vice-Almirantado na qual processospossam ter sido ou sejam iniciados, à posse e à propriedade dos súditos ehabitantesdePortugal,edeoutromodonãosujeitosaoconfisco;equeosditosnaviosebenssejamautorizadosaseguirviagemparaqualquerportoneutroouparaPortugal.

Nacortedopalácioda rainha, em25denovembrode1807,presenteo reiSuaMajestadeExcelentíssimaemConselho.

CAPÍTULOCINCO

Ordensparaocapitão-de-mar-e-guerraArvorarumgalhardeteapósMadeira6Por causa das extraordinárias circunstâncias da transferência do governo e daMarinha portuguesa, da Europa para o Brasil, e também porque a frotaportuguesa levandoSuaAltezaReale todaa família real requeraproteçãodeuma esquadra de navios deSuaMajestade, torna-se necessário que umoficialcomgraduaçãomais elevadaque ade capitão-de-mar-e-guerradeva comandarestaesquadra,epermanecernaquelaposiçãoparaprotegerogovernoeterritóriodequaisquertentativasporpartedoinimigo.DecidiqueV.Sª.deveráarvorarumgalhardeteabordodaMarlborough,daqualécomandante,tãologoultrapassada

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ailhadaMadeira,estáassimautorizadoecomandadoaarvorarumgalhardeteabordo e usá-lo na ausência de um comandante mais graduado ou até receberoutrasordens.

DadosobminhasordensabordodoHibernia,em3dedezembrode1807.(assinado)W.SIDNEYSMITH

Aocapitão-de-mar-e-guerraMoore,daMarlboroughPorordensdocontra-almirante(assinado)RichardSpeare

Instruçõesaocapitão-de-mar-e-guerraComandadoDivisãoMooreMarlborough7Enquanto pela convenção entre SuaMajestade britânica e SuaAlteza Real, oprínciperegentedePortugal,assinadoemLondresem22deoutubrode1807,édeterminadoquenocasoemqueoprínciperealforforçadoaadotaremtotalecom todas as suas conseqüências a magnânima decisão de transportar-se aosBrasis[sic]ou,semserforçadoSuaAltezaRealdecidaempreenderessaviagem,SuaMajestadebritânicaestaráprontaparaajudaroempreendimento,protegeroembarque da família real e escoltá-la até a América. Sua Majestade tendoconcordadoemfornecerumaesquadraparaesteserviço,etendorecebidominhaordem para arvorar um galhardete depois de ultrapassar a ilha da Madeira abordodoS.M.Marlborough,doqualéedeverácontinuarsendocomandante,eassumirsoboseucomandooscapitãesdosoutrosnavios.

Deveráportanto,deacordocomaconvençãojámencionada,prosseguircomesta esquadra e com a frota portuguesa, particular e preferencialmente comaquelesnavios emque se encontramopríncipe e a família realdePortugal, ecomboiá-los até o porto ou local nos Brasis [sic] a ser determinado por SuaAlteza Real, dando-lhes toda a ajuda e assistência em seu poder. Sua AltezaReal,tendoprometidonaconvençãodenãocedersobquaisquercircunstânciasototaloupartedesuafrotamilitaroumercante,ouuni-lascomasdaFrançaouEspanhaouqualqueroutrapotência,mas, tendodecidido conduzir (coma suapresença) suaMarinhamilitar emercante, deverá facilitar tudo em seu poder;porém, caso algum navio se encontre tão avariado que não possa prosseguir,deverá,emconformidadecomo4ºartigodaConvenção,indicarPlymouthcomosendo o porto para onde devem prosseguir para reparos e suprimentos;preparativos assim tendo sido feitos em caso de tal contingência e, com oconsentimentodopríncipe,poderápôrabordoumoudoispilotosparaláindicarocurso.AochegarnosBrasis[sic],deverádispordasforçassobseucomandodaforma mais eficaz na proteção do território contra a invasão pelo inimigo, e

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dandoapoioaogovernodoprínciperegente,emcomumacordocomSuaAltezaReal.DeveráprotegerocomérciodossúditosdeSuaMajestadeeatrapalharodoinimigo, sem levar qualquer navio a tal distância dos pontos vulneráveis doterritório brasileiro, que ficaria exposto a qualquer ataque imprevisto peloinimigo,dasbasesfrancesasouespanholasnaAméricadoSuloudaEuropa.Éminhaintençãoreforçá-la[adefesa]comfragatasepequenosnavios,tãologoostenhadisponíveis.

Se,considerandooestadoemqueseencontramasdefesasdosBrasis [sic],achar que três naus de linha somadas àquelas medidas são suficientes paradefender-se de qualquer ataque previsto, poderá, confiante que qualquer forçainimiga proveniente da Europa será seguida por uma britânica, reduzir aesquadraparatrêsnausdelinhae,casodecidaqueaMarlboroughdeveserumdos navios a voltar para a Europa, deverá entregar o comando, com qualquerparte destas ordens não cumpridas ou outras que julgar necessárias, aocomandantemais antigo. Parando (e ordenando que parem todos os navios deregressoàEuropa)naMadeiraeaolargodeLisboa,afimdefazerumrelatodasituaçãonabasedosulereceberminhasordens,eassimserãosuasordens.Dadosobminhasordens, abordodoHMSHibernia, nomar, em5dedezembrode1807.

(assinado)W.SIDNEYSMITH

AocomodoroMoore,Marlborough.Porordensdocontra-almirante(assinado)RichardSpeare

CAPÍTULOSEIS

OfíciodocondedaPonteaocondedosArcos,em7dejaneirode18088Ilmo.eExmo.Sr.Fundeou neste porto, com 36 dias de viagem, o navio mercante desta praçadenominadoPríncipe,vindoemdireituradacidadedeLisboa,epelavozgeralde33passageiros,pelavozdomestredaembarcação,pelomurmúriodetodaaequipagem,constaqueoditonaviosaíradeLisboanodia29denovembro,emcompanhiadetodaanossaesquadra,comandadapelovice-almiranteManoeldaCunhaCouto,enaqualsetransportaparaessacidadeoPríncipeRegenteNossoSenhor, a nossa augusta rainha, e toda a família real, com a nobreza que foipossível acomodar-se nas embarcações do comboio; esta notícia faz-se maisacreditávelnãosópelauniformepublicidadecomqueseasseveraque,aosairda

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barra,seencontraraanossaesquadracomainglesa,quebloqueiaoporto,eestafizeraasmaisdemonstrativasaçõesderespeitoeabséquio,equeatravessandoambas,oalmiranteinglêsestiveraabordodacapitâniaPríncipeReal,pertodetrês horas,mas tambémpela cópia inclusa do decreto, que trouxeram todos, eque me apresentaram, espero que esta confidencial comunicação seja de realvontadedenosso soberano,umavezqueesteofício sejaapresentadoaV.Ex.conformementeàsordensque fizexpediremaosobreditocomandante,doqualconfioainteiraexecuçãodelas.

DeusguardeaV.Ex.muitosanos.Bahia,7dejaneirode1808

Ilmo.eExmo.sr.condedosArcosCONDEDAPONTE

CartarégiaCondedaPonte,domeuConselho,governadorecapitão-geraldaCapitaniadaBahia,amigo.Eu,oprínciperegente,vosenviomuitosaudar,comoaquelequeamo.Atendendoarepresentação,quefizestessubiràminharealpresença,sobrese achar interrompido e suspenso o comércio desta capitania, com gravesprejuízosdosmeusvassalos,edaminhaRealFazenda,emrazãodascríticasepúblicascircunstânciasdaEuropa,equerendodarsobreeste importanteobjetoalgumaprovidênciaprontaecapazdemelhoraroprogressode taisdanos, souservidoordenarinterinaeprovisoriamente,enquantonãoconsolidoumsistemageral que efetivamente regule semelhantes materiais, o seguinte – primo: quesejamadmissíveisnasalfândegasdoBrasiltodosequaisquergêneros,fazendase mercadorias transportadas, ou em navios estrangeiros das potências, que seconservamempazeharmoniacomminha realCoroa,ouemnaviosdosmeusvassalos,pagandoporentrada24porcento,asaber:20dedireitosgrossose4dodonativojáestabelecido,regulando-seacobrançadestesdireitospelaspautas,ouaforamentos, porque até o presente se regulamcadaumadas ditas alfândegas,ficando os vinhos, aguardentes e azeites doces, que se denominammolhados,pagandoodobrodosdireitos,queatéagoranelassatisfaziam;segundo:quenãosó osmeus vassalos,mas também os sobreditos estrangeiros possam exportarparaosportosquelhesbemparecer,abenefíciodocomércioeagricultura,quetanto desejo promover, todos e quaisquer gênero e produções, coloniais, àexceçãodopau-brasil,ououtrosnotoriamenteestancados,pagandoporsaídaosmesmos direitos já estabelecidos nas respectivas capitanias, ficando entretantocomoemsuspensoesemvigortodasasleis,cartasrégiasououtrasordensque

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atéaquiproibiamnesteEstadodoBrasilorecíprococomércioenavegaçãoentreosmeusvassaloseestrangeiros.Oquetudoassimfareisexecutarcomozeloeatividadequedevósespero.

EscritadaBahia,aos28dejaneirode1808.PRÍNCIPE–ParaocondedaPonte

OfíciodocondedaPonteaoviscondedeAnadiaem8demarçode18089Ilmo.Exmo.Sr.Nodia6dopresentemês,pelasumacaNossaSenhoradaConceição, recebioofíciodeV.Ex.,emdatade5defevereiropróximopassado,ecommaiorprazere alegria tivepelaprimeiraveza certezade se acharemnesseporto a senhoraprincesa d. Maria Benedita, e as sereníssimas infantas d. Marianna, d. MariaFrancisca e d. IzabelMaria; assim como de estarV.Ex. igualmente livre dosperigoseincômodosdeumaviagemportantostítuloslastimosa;eobedecendoaoqueV.Ex.medetermina, lheparticipoque,nodia22de janeirodesteano,pelas duas horas da madrugada, me foi dada a notícia de se terem avistadoembarcações grandes na costa do Norte, no 21, pelas quatro horas da tarde;redobrei as vigias ordinárias, e sucessivamente se me comunicou apareceremtrêsnaus,umagaleraedoisbergantins,dando-seporcertoseremembarcaçõesinglesas;nestacertezameconserveiatéomeio-dia,emque,diferençando-seasbandeiras, se reconheceuopavilhão real;mandei logo tirar balas às peças dasbateriaspara sedaremasdevidas salvas, emedirigi pessoalmente abordodanauPríncipeReal,areceberasordensdopríncipe,nossosenhor,quecheiodealvoroçoeconsolação,acheiemperfeitasaúde,comtodaamaisrealfamília,efundearam pelas quatro horas da tarde as naus Príncipe Real, Afonso deAlbuquerque,eainglesaBedford,afragataUrânia,obergantimTrez-Corações[sic],eumaescunaamericana.

FoiS.A.R. servidoensinar-mequedesembarcaria, se fossepossível recebê-lo,semquedasnaustirassemcamas,ouqualqueroutrotraste,nãosóparaasuapessoa e mais família real, mas também para os criados, e famílias que oacompanhavam;diligenciei,quantoemmimcoube,fazerpossívelcomamaiorbrevidade a acomodação necessária, conseguindo que S.M. a rainha, nossasenhora,eSuasReaisAltezascomseuscriadose famíliasdesembarcassemnodia 24pelas cincohoras da tarde, queo príncipe nosso senhor fixoupara nãosofreroardentesol.

No dia 10 de fevereiro fundeou neste porto a nauD. João deCastro, que

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conduzia o duque e a duquesa de Cadaval, com seus filhos, os condes deBelmonte e algumas outras famílias, a qual, desarvorando no dia 30 denovembro,veioarribadacomáguaabertaàParaíba,edaíaesteporto,onde,porordem de S.A.R., desarmou, e ficou a reparar-se da grande avaria que sofreu,dividindo-se os passageiros, oficialidade e equipagem pelos outros navios,aprontando-se por estemotivo, para seguir viagem com a esquadra, a charruaActivoeonaviodapraçaImperadorAdriano.

Entrounodia16doditomêsanauMeduza,que,tendodesarvorado,lhefoinecessárioarribaraPernambuco,eaírefazendo-secomofoipossível,sedirigiua este porto transportandooExmo.Sr.Antônio deAraujo, o conselheiro JoséEgídio,odesembargadorThomasAntônioCorte-Real,emaisfamílias.

Demoraram-se Sua Majestade e Altezas até o dia 24 do referido mês defevereiro, emque resolveramcontinuara suaviagem,porémembarcandopelomeio-dia,ofereceram-secertosinconvenientes,queobstaramasaídanessatarde,e no dia 25 aparecendo o horizonte bastante carregado, e o vento poucofavorável,determinouoPríncipeRegenteNossoSenhorlargarnodiaseguinte,26; o que efetuou pelas quatro horas da tarde, com excelente vento, e maré,deixando-nosnaesperançadeentrarnoportodessacapitalcomseisousetediasdefelizviagem.

Nesta suposiçãodeixodenarrarosacontecimentos,queduranteeste tempoocorreram,poisqueaV.Ex.serãofielmentereferidospelasboastestemunhas,queospresenciaram.S.A.R.encheudegraçasosoficiaismilitares,promovendo-os aos postos imediatos, e que se achavam vagos, e condecorando-os com oshábitosdasordensdeCristoeAvis.Asautoridadeseclesiásticasconferiram-lhesbenefícioseconezias,osministroscomagraçadohábitodeCristoaosquenãootinham,eosmaisparticularesdeferindo-lhescomindefectível justiçaassuaspretensões.

Éoque resumidamenteposso informaraV.Ex. sobreas reaispessoasdosnossos augustos soberanos, e se não comuniquei logo a V. Ex. este fato, foiporquetodososdiasesperávamosnesteportoorestodaesquadra,nãohavendoindício algum de haver varado esta altura, e a maior incerteza de uma felizviagem,pelosestragos,quetodososdiasnoserampresentes,dasembarcaçõesqueaquiaportaram.

DeusguardeaV.Ex.Bahia,8demarçode1808.

Ilmo.eExmo.ViscondedeAnadiaCONDEDAPONTE

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OfíciodocondedaPonteaocondedosArcos,em8demarçode180810Ilmo.eExmo.Sr.No dia cinco do presente mês, recebi o ofício de V. Ex. de 5 de fevereiropróximopassado,podendo,emrespostaaoimportanteobjeto,aqueeleserefere,segurarV.Ex.,quenodia22dejaneirofundearamnesteportoasnausPríncipeReal, Afonso de Albuquerque, Bedford, e a fragata Urânia conduzindo SuaMajestadeaRainhanossasenhora,S.A.R.oPríncipeRegenteNossoSenhor,suaaugustaesposa,emaisrealfamília,comtodasaspessoasdeseuserviço,queosacompanharam desde o porto de Lisboa; e desembarcando nesta cidade, sedemoraram até o dia 26 de fevereiro, em que saíram desta Bahia com ventofavorável,comodestinodestacapital:agradeçoinfinitamenteaV.Ex.asboasnotíciasdafelizviagemdassenhorasprincesaseinfantas,queseachavamnesseporto,epelobergantimSantoAntônioeuesperoansiosoasboas-novas,queV.Ex.meprometeemofíciode29dejaneiro,quenestamesmaocasiãomedirigiu.

DeusguardeaV.Ex.Bahia,8demarçode1808.

Ilmo.eExmo.CondedosArcosCONDEDAPONTE

Decretode13demaiode180811InstauraanovaOrdemdaEspadaSendodamaisaltapreeminênciaaosaugustos soberanos, reis e imperadoresaação de criar novasOrdens deCavalaria, comque possam remunerar osmaisrelevantesserviços,assimdosseusvassalos,comodeilustresestrangeiros,quenãotiveramoutroprêmioquelhessejaequivalentesenãoodahonra;esendoareferida ação praticada pelosmaiores príncipes quase sempre nas épocasmaisassinaladas; não podendo deixar de se contar entre estas a presente daminhafelizjornadaparaestesEstadosdoBrasil,dondeesperohajamderesultarnãosógrandes reparos aos danos atualmente experimentados pelos meus povos noreino de Portugal,mas tambémmuitos lucros e sucessos de honra e de glóriadevidosàsuafidelidade,eabundânciademeustesourosdaAmérica,eliberdadede comércio que fui servido conceder aosmeus naturais. E considerando quenenhumadastrêsordensmilitaresqueatualmentepersistemnestesmeusreinos,porseremjustamentereligiosas,sepodeaplicaràquelaspessoasquenãotiverama felicidade de professarema nossa santa religião, aliásmerecedoras dasmaisdistintas honras por armas, ou por outros quaisquer empregos ou serviços, de

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cujomerecimentomesejanecessáriousarcommuitafreqüência,paraasgrandesempresasaquemeconduzumanovaordemdenegócios;poresteseporoutrosmotivosigualmentedignoseponderosos,tenhoresolvidorenovareaumentaraúnicaOrdem de Cavalaria que se acha ter sido instituída puramente civil poralgunsdossenhoresreisportugueses,aqualaintituladaOrdemdaEspada,queofoipelosenhorreid.AffonsoV,demuitoeesclarecidamemória;paracujofimfui jáservido,nacidadedaBahia,mandarabrirumamedalhacomesta letra–Valor eLealdade – e comque tenho gratificado dois beneméritos vassalos domeu fiel eantigoaliadoEl-ReidaGrã-Bretanha.Eporquenãocabeao tempodeterminar o número de cavaleiros, grão-cruzes e comendadores, com assesmariasoupensõesquelhesdevemficaranexas,eoutrasmaisconsideraçõesem favor das pessoas que tão lealmente me acompanharam e assistiram,sacrificandoosseusprópriosinteressesaomaiorbemdahonraedavassalagemque me é devida; e por outra parte, não convém demorar mais tempo apublicaçãodestatãoimportanteobra,tantomaisestimávelquantomaispróximafor da sua origem; hei por bem confirmar a sobredita Ordem de Cavalariadenominada da Espada, que se acha haver sido instituída pelo meu avô degloriosamemória,osenhord.AffonsoV,chamadooAfricano,naerade1459,para que haja de ter o seu devido efeito, como se fosse novamente criada pormim,esuscitadalogodepoisquechegueitãofelizmenteaoportodacidadedaBahia.Quero que sirva este decreto de base da criação, quemando formar: eordeno a d. Fernando José de Portugal, domeuConselho deEstado,ministroassistenteaodespachodomeugabineteepresidentedoRealErário,mehajadeapresentarosnovosestatutosquehouveramderesultardasconferênciasdequeeuotenhoincumbido,edasmaisinstruçõesqueforservidodar-lhe.

PaláciodoRiodeJaneiroem13demaiode1808.ComarubricadoPríncipeRegenteNossoSenhor.

CAPÍTULOOITO

Edital12O governador de Paris, primeiro ajudante-de-campo de S.M. o imperador dosfrancesesereidaItália,general-em-chefegrão-cruzdaOrdemdeCristonestesreinoshabitantesdeLisboa

Omeuexércitovaientrarnavossacidade.EuvimsalvarovossoportoeovossopríncipedainfluênciamalignadaInglaterra.Masestepríncipe,aliásrespeitávelpelas suas virtudes, deixou-se arrastar pelos conselheiros pérfidos, de que era

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cercado,paraserporelesentregueaosmeusinimigos;atreveram-seaassustá-loquanto a sua segurança pessoal, os seus vassalos não foram sacrificados àcovardiadeunspoucoscortesãos.

Moradores de Lisboa, vivei sossegados em vossas casa: não receeis coisaalguma do meu Exército, nem de mim: os nossos inimigos, e os malvados,somentedevemtemer-nos.

O Grande Napoleão, meu amo, envia-me para vos proteger, e eu vosprotegerei.

JUNOT

Edital13Lucas de Seabra da Silva, do conselho do Príncipe Regente Nosso Senhor,fidalgocavaleirodesuacasareal,edesembargadordoPaço,chancelerdacorteedaCasadeSuplicação,intendente-geraldapolíciadacorteereino.Façosabera todososmoradoresdestacapital,eseu termo,queninguémdeverecusar amoeda francesa e espanhola com o que as tropas de SuaMajestadeimperadorereiseoferecemacomprarosgêneros,dequeprecisam;quemassimonãopraticar,serápunidocomgravespenasaoarbítriodapolícia.Equeparaassim indefectivelmente se observe, enquanto o governo não dá maiscircunstanciadas providências,manda lavrar, e afixar o presente edital. Lisboaaos30denovembrode1807,LucasdeSeabradaSilva.

Edital14O governador de Paris, primeiro ajudante-de-campo de S.M. o imperador dosfrancesesereidaItália,general-em-chefegrão-cruzdaOrdemdeCristonestesreinoshabitantesdeLisboa

UmExército francês vai entrar no vosso território. Ele vem para vos tirar dodomínioinglês,efazmarchasforçadasparalivraravossabelacidadedeLisboada sorte de Copenhague. Mas será desta vez iludida a esperança do pérfidogovernoinglês.Napoleão,quefitouosolhosnasortedocontinente,visaqueapresa do tirano dosmares antecipadamente devoraram em seu coração; e nãosofreráqueelacaiaemseupoder.OvossopríncipedeclarouguerraàInglaterra;nós,pois, fazemoscausacomum.Habitantespacíficosdocampo,nadareceeis.Omeu Exército é tão bem disciplinado, como valoroso. Eu respondo sobre aminhahonra,pelo seubomcomportamento.Acheelepor todaparte agasalho,quelheédevido,comoasoldadosdeNapoleão,oGrande.Acheele,comotemdireitoaesperar,osvíveresdequetiverprecisão;mas,sobretudo,habitantedo

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campo,fiquesossegadoemsuacasa.TodosoldadodoExércitofrancêsqueforachadoroubandoserápunidocomomaisrigorosocastigo.

Todoo indivíduo, dequalquer ordemque seja, que tiver percebido algumacontribuiçãoinjustamente,seráconduzidoperanteumConselhodeGuerraparaserjulgado,segundotodoorigordasleis.

TodooindivíduodoreinodePortugal,nãosendosoldadodetropadelinha,queseapanharfazendopartedequalquerajuntamentoarmado,seráarcabuzado.

Todooindivíduoconvencidodeserchefedeajuntamentooudeconspiração,tendenteaarmaroscidadãoscontraoExércitofrancês,seráarcabuzado.

Toda a vila ou aldeia, em cujo território for assassinado um indivíduopertencente ao Exército francês, pagará uma contribuição, que não poderá sermenordoquetrêsvezesoseurendimentoanual.Osquatrohabitantesprincipaisservirãoderefénsparaopagamentodasoma;eparaqueajustiçasejaexemplar,a primeira cidade, vila, ou aldeia, onde for um francês assassinado, seráqueimadaearrasadainteiramente.

Mas eu quero me persuadir que os portugueses hão de conhecer os seusverdadeiros interesses, que auxiliando as vistas pacíficas do seu príncipe, nosreceberãocomoamigos;equeparticularmenteabelacidadedeLisboameverácomprazerentrarnosseusmuros,àfrentedeumExércitoquesópodepreservardelaserpresadoseternosinimigosdocontinente.

Dadonomeuquartel-generald’Alcântara,aos17denovembrode1807.

Edital15O governador de Paris, primeiro ajudante-de-campo de S.M. o imperador dosfrancesesereidaItália,general-em-chefegrão-cruzdaOrdemdeCristonestesreinoshabitantesdeLisboa

Os vossos interesses fixaram a atenção de S.M. o imperador nosso augustosenhor: toda a irresolução deve desaparecer: decidiu-se a sorte de Portugal,assegurou-se a sua felicidade futura; pois que Napoleão, o Grande o tomoudebaixodasuaonipotenteproteção.

O príncipe do Brasil, abandonando Portugal, renunciou a todos os seusdireitos à soberania deste reino. A Casa de Bragança acabou de reinar emPortugal.

OimperadorNapoleãoquerqueestebelopaíssejaadministradoegovernadotodointeironoseunome,epelogeneral-em-chefedoseuExército.

Atarefaquemeimpõeestesinaldebenignidade,econfiançademeuamo,édifícildecumprir,maseuesperopreenchê-ladignamente,ajustadodotrabalho

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dos homens mais instruídos do reino, e da boa vontade de todos os seushabitantes.

EutenhoestabelecidoumConselhodeGovernoparamealuminararespeitodo bem que devo fazer: mandar-se-ão administradores às províncias paraassegurarem-sedosmeiosdemelhoraraadministração,eestabeleceremnelasaordem,eaeconomia.

Eu ordeno que se abram estradas, e rompam canais para facilitar ascomunicações, e tornar florescente a agricultura, e a indústria nacional, doisramostãonecessáriosàprosperidadedeumpaís,aqualseráfácilderestabelecercomumpovoespirituoso,sofredor,eintrépido.

As tropas portuguesas, comandadas pelos mais recomendáveis dos seuschefes,formarambemdepressaumasófamíliacomossoldadosdeMarengo,deAusterlitz,deJena,deFriedland;enãohaveráentreelesoutrarivalidade,queadovalor,edadisciplina.

As rendas públicas bem administradas assegurarão a cada empregado oprêmiodoseutrabalho;eainstruçãopública,estamãedacivilizaçãodospovos,sederramarápelasprovíncias;eoAlgarve,eBeira-Alta,terãotambémumdiaoseuCamões.

Areligiãodovossopaís,amesmaquetodosprofessamos,seráprotegida,esocorridapelamesmavontade,quesouberestaurá-lanovasto império francês,maslivredesuperstiçõesqueadesonram:ajustiçaearbítriosvoluntários,queasopeavam.

A tranqüilidade pública não serámais perturbada por horríveis salteadores,resultadodaociosidade;eseacasoexistiremmalvadosincorrigíveis,umapolíciaativalivrarádelesasociedade:adeformadamendicidadenãoarrastarámaisosseusfatosimundosnasoberbacapital,nempelointeriordoreino;estabelecer-se-ãocasasdetrabalhoparaestefim;opobredesafortunadoaliacharáumasilo,eopreguiçososeráempregadoemtrabalhosnecessáriosàsuaprópriaconservação.

Habitantes do reino de Portugal, estão seguros e tranqüilos; repeli asinstigaçõesdaquelesquequererãoconduzir-vosàrebelião,eaquemnãoimportaquesederrameosangue,contantoquesejaosanguedocontinente:entregai-voscom confiança aos vossos trabalhos: vós recolhereis o seu fruto: se fornecessário que façais alguns sacrifícios nos primeiros momentos, isto é parapores o governo em estado de melhorar a vossa sorte. Eles são aliásindispensáveisparaasubsistênciadeumgrandeexército,necessáriosaosvastosprojetos do grandeNapoleão: seus olhos vigilantes estão fixados em vós; e avossafuturafelicidadeestásegura:elevosamarátantoquantoaosseusvassalosfranceses; cuidai porém em merecer os seus benefícios por vosso respeito, e

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sujeiçãoàsuavontade.Dadonopaláciodoquartel-generalemLisboano1ºdefevereirode1808.

JUNOT

Edital16EmnossopaláciorealdeMilãoem23dedezembrode1807Napoleão, imperadordosfranceses, reidaItáliaeprotetordaConfederaçãodoReno,havemosdecretadoedecretamososeguinte:

TítuloIArtigo I. Uma contribuição extraordinária de guerra de 100 milhões de

francosseráimpostasobreoreinodePortugal,paraservirderesgatedetodasaspropriedades,debaixodequaisquerdenominaçõesquepossamser,pertencentesaparticulares.Artigo II. Esta contribuição será por províncias, e por cidades, segundo as

possesde cadauma,pelos cuidadosdogeneral-em-chefedonossoExército; etomar-se-ãoasmedidasnecessáriasparaasuaprontaarrecadação.Artigo III. Todos os bens pertencentes à rainha de Portugal, ao príncipe

regente,eaospríncipesquedesfrutamapanágiosserãoseqüestrados.Todososbensdosfidalgosqueacompanharamopríncipequandoabandonou

opaís,quenãosetiveramrecolhidoaoreinoatéodia15defevereirode1808,serãoigualmenteseqüestrados.

NAPOLEÛO

EPÍLOGO

Decretode17desetembro17Querendo dar uma demonstração de quanto prezo e estimo a pessoa de sirSidney Smith, contra-almirante e comandante-em-chefe da esquadra de SuaMajestade britânica surta neste porto; hei por bem fazer-lhe mercê das terrassituadasdabandadalém,juntoàarmaçãodeS.Domingos,queforamarrendadaspela minha real fazenda aManoelMartins Ferreira, a Agostinho Vicente e aJoaquimPereira,edequeoraépossuidorJacintodeMelloMenezesPalhares,eigualmente uma chácara que foi de João de Deus, com casa de vivenda, seisescravoseumacanoadoserviçodamesmachácara,quepartecomassobreditasterras na forma que consta dos títulos apresentados pelo referido últimoproprietário, para que ele, sir Sidney Smith, e seus sucessores as gozem, e

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possuirãocomosuas,que ficamsendo, sempensãoououtroalgumônus,comfaculdadededispordeleslivrementecomolheparecer.Oconselheirodafazendaotenhaassimentendido,elhepasseacompetentecartadedoação.

Palácio de Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1808 – com a rubrica doPríncipe Regente Nosso Senhor – a folhas 88, v. do Liv. 1º de Decretos naSecretariadoImpério.

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Glossáriodetermosnáuticos

ABARLAVENTO–direçãodeondesopraoventoÀCAPA–paradoA TODO PANO – velocidade máxima, com todas as velas içadas ABALROAR –colidir

ABATER–desmontarADRIÇA–caboparaiçarsinaloubandeiraALCATROAR–vedarcomalcatrãoALINHAMENTO NOROESTE-SUDESTE – posição relativa a pontos da bússola

ALMANAQUENÁUTICO–almanaquecom informaçõesúteisparaanavegaçãoANCORADOURO – local reservado para ancorar naviosANCOROTE – pequenaâncora

ANTEAVANTE–emfrentedeANTENAS–vergas(v.mastro)AOTEMPO–aoarlivre,descobertoAPARELHO–conjuntodecabosabordoAPORTAR–chegarAPRESTO–pertencesAPROAR–direcionaraproa(frente)donavioARFAGEM – balanço da embarcação no sentido longitudinal, da popa à proa

ARINQUE–cabodabóiaARRIBAR–entrareancorar(noporto)ARVORAR–içarbandeiraousinalATERRAR–chegaràterraATRAVESSAR–pararaembarcação

BALANÇO – balanço da embarcação no sentido latitudinal, de lado a ladoBARQUINHA – peça de madeira amarrada a um cabo, usada para medir avelocidadeBARRA–áreadeconfluência

BATERIA–conjuntodecanhões

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BATERIAFLUTUANTE–embarcaçãoservindodebaseparaumabateriaBELONAVE–naviodeguerra

BERGANTIM – navio de dois mastros, com duas grandes velas triangulares(latinas)BIVAQUE–acampamento

BOMBORDO–ladoesquerdo(olhandodefrente)deumaembarcaçãoBORDADA–disparodabateriadeumnaviodeguerraBORDEJAR–navegaremziguezagueparapoderavançarcontraoventoBORDO–ladodeumaembarcação

BORESTEOUESTIBORDO – ladodireito (olhandode frente)deumaembarcaçãoBRAÇA –medida inglesa (fathom) equivalente a seis pés (1,83cm)BRIGUE –pequenonaviodeguerradedoismastrosBRIGUE-CHALUPA–umbriguecomcastelodeproaetombadilhoBUJARRONA–v.velas

CABO–nomedadoaocordameemumaembarcaçãoCABRESTANTE – peça de metal com ranhuras na parte superior onde eraminseridas barras; usado quando havia a necessidade de aplicação de forçaCACHORRO–canhãomontadonaproadonavioparapoderemdispararparaafrenteCALABROTE–chicoteutilizadoparapunição

CALAFATE–pessoaempregadanoserviçodecalafetarCALAFETAR–vedarjuntasnas tábuas com estopa alcatroada CÂMARA – aposentos do capitão ou doalmirante

CAPAMORTA–paradoCAPITÂNIA–nauondeseencontraocomandantedoesquadrãoCAPITÃO-DE-MAR-

E-GUERRA – comandante de um navio de guerra CARLINGAS DE PIÃO –recipientesparacoletaráguaCARONADA–canhãodecanocurtoebocalarga

CARTADEPREGO–instruçõessecretasdadasaocomandante,pormeiodecartaaserabertanumapredeterminadadataouposiçãodonavioCASTELODEPOPA–superestruturaconstruídanapartedevantedonavioCAVERNAME–estruturademadeiraquedáformaaocascoCERRARFORMAÇÃO–manterposição

CEVADEIRA–v.velasCHALUPA–pequenonaviodedoismastrosCHARRUA–veleirodevelocidadelenta,comgrandeporãoearmamentoreduzido

CHEFE-DE-DIVISÃO–antigadenominaçãodecomodoroCHEGAR[-SE]AOVENTO–aproaremdireçãoaoventoCOBERTASUPERIOR(UPPERDECK–pisosuperiordanauquelevaumabateriadecanhõesCOMPOUCOPANO–compoucasvelas

COMODORO–naInglaterra,umposto temporárioquandose tornavanecessáriodestacarpartedeumesquadrão.OcomodoroentãocomandavaessesnaviosatévoltaremaoesquadrãoeaocomandodoalmiranteCONVÉS–pisodeumaembarcação

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CONVÉSDEBATERIA–pisodeembarcaçãoquelevacanhõesCONVÉSDECOBERTAOUPORÃO(ORLOPDECK)–piso inferior,normalmenteabaixoda linhad’águaCONVÉSINFERIOROUSEGUNDACOBERTA(LOWERORGUNDECK)–segundopisoquelevaumabateriadecanhõesCORDAME–v.cordoalha

CORDOALHA–conjuntodecordasCORSÁRIO – navio mercantil armado com permissão para capturar naviosinimigosCORSO–v.corsário

CORRENDO COM O TEMPO – velocidade imposta pelo vento soprando da popaCORVETA–naviodeguerracomumasóbateriadecanhões,menorqueumafragataCÚTER–pequenaembarcaçãolevadaabordodeumanauCUTELO–v.velas

CUTELOSDEJOANETE–v.velas

DARFUNDO–ancorarDECONSERVA–v.emconservaDEMANDARTERRA–aproaremdireçãoàterraDESARVORAR–perderummastroouvergaDESENVERGAR–prepararumavelaaserusadaDESLOCAMENTO–peso(quantidadedeáguadeslocadapelocascodonavio)EM

CONSERVA–naviosvelejandojuntosEMBOCADURA–fozdeumrioEMBARGO–confiscoENCRAVARAARTILHARIA– inserirobstruçãodeformaqueocanhãonãopossadispararESCALAR–brevepassagem(porto)

ESCALER–pequenaembarcaçãolevadanoconvésESCOTEIRO–navioqueviajasóESCUNA–embarcaçãodedoismastros,comvergasapenasnomastrodevante

ESPIA–cabodaâncoraESQUADRA–conjuntodenaviopertencenteaumanaçãoESQUADRÃO–partedeumaesquadra

ESTAÇÃO–posiçãoESTAI–v.velasESTEIRA–turbulêncianomarapósapassagemdeumnavioESTIVAR–guardar

FAZER-SEAOMAR–partirFAZERFORÇADEVELA–utilizarasvelasparaalcançarvelocidadeFAZER-SEDE

VELAS–abrirasvelas(partir)

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FERRO–âncoraFERRO DE BORESTE – ferro grande amarrado à proa no lado direito FERRO DE

BOMBORDO– ferrograndeamarradoàproano ladoesquerdoFERROMAIOROU FERRO DE SERVIÇO OU DE AMURA – âncora principal (de maior peso)FLOTILHA – numerosas pequenas embarcações do mesmo tipo FORÇA DETEMPESTADE – designação de velocidade de vento FORMAR NA ORDEM DOCRUZEIRO – diversas embarcações velejando juntas seguem uma ordemdisciplinada, previamente determinada FRAGATA – navio de guerra de trêsmastroscomduascobertasdecanhõesFUNDEAR–ancorarumnavio

FUNDEAR NAVIO A DOIS FERROS – ancorar um navio usando dois ferros paraimpedir que ele gire FUNDEADOURO – local reservado para ancorar naviosGALHARDETE–antigonomeparaflâmula

GALEOTA – embarcação a remo usada para levar passageiros da terra para onavioGALÃO–medidainglesaparalíquidos(4,546l)GATA–v.mastro

GÁVEA–v.velasGIBA–v.velasGUARDA-MORRÃO – recipiente para conter o material incendiário que fará ocanhão dispararGUARNECER – prover homens para uma determinada tarefaGUARNECER AS VERGAS – colocar a guarnição nas vergas, forma tradicionalinglesa de salvar GUARNIÇÃO – conjunto de oficiais, marinheiros e outraspessoas que completam a necessidade de uma embarcação GUINDOLA –pequenomastroimprovisadoparasubstituiraperdadeummastroGURUPÉS–mastro apontado para a frente na proa IMEDIATO – oficial que ocupa osegundolugarnalinhadecomandodeumnavioJOANETE–v.mastro

JEQUE–bandeira içadaempequenomastronaproadosnaviosdeguerraLAIS[LAISDEVERGA]–extremodaverga;v.mastro

LARGARAVELA–abriravelaparapoderreceberoventoLARGAROPANO–v.largaravela

LARGARRIZADANOSTERCEIROS–desamarrarosrizesdaterceirafileiraLASTRO–pesocolocadonapartemaisbaixadeumaembarcaçãoparaabaixarocentrodegravidadeLAZEIRA–espaço

LÉGUA–medidadedistânciade6.000mLÉS-NORDESTE – uma das denominações na bússola LINHA DE BATALHA –conjuntodenausemalinhamentoprontasparaenfrentaroinimigoLUGREOULÚGAR–pequenaembarcaçãoestreitanapartetraseiraelarganafrenteMACA– rede que servia de cama para os marinheiros MAJOR-GENERAL – antigadenominaçãodealmiranteMASTARÉU–v.mastro

MASTARÉUDAGÁVEA–v.mastro

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MASTARÉUDESOBREGATA–v.mastroMASTARÉUDOVELACHO–v.mastroMASTRO–umanautinhatrêsmastros:odetraqueteeraodavante;odomeio,ogrande ou real; e o terceiro, o da gata ou damezena.Osmastros tinham aparteinferioramarradasnanau,aspartessuperioreserampeçasseparadas.Nomastrodotraquete,emsucessão:mastaréudevelacho,mastaréudejoanetedeproa e mastaréu de sobrejoanete de proa. No mastro grande: mastaréu dagávea,mastaréude joanete grande emastaréude sobre.Nomastro da gata:mastaréu da gata, mastaréu da sobregata e mastaréu da sobregatinha. Asvergas, amarradas aos mastros, carregavam as velas e levavam o nome domastroondeeramcolocadas.

MASTREAÇÃO–conjuntodemastrosMASTRODAMEZENA–v.mastroMASTRODAGATA–v.mastroMASTRODETRAQUETE–v.mastroMASTROGRANDEOUREAL–v.mastroMEIA-NAU–partecentraldoconvésabertoaocéuMEZENA–v.velasemastroMILHA MARÍTIMA – medida inglesa de distância, aproximadamente 1.852m

MOITÃO DE ESCOTA – bloco demadeira do cabo da velaMONTAR – passar,enquantoseveleja,porumpontodereferênciaNAU–naviodeguerradeportecom três mastros NAU DE LINHA – naus com armamento (normalmente ummínimo de 60 canhões) para enfrentar o inimigo NAVIO ALMIRANTE – nauondeseencontraocomandante(almirante)NAVIODELINHA–v.naudelinha

NAVIOCORSÁRIO–v.corsárioNAVIOIRMÃO–naviodomesmoesquadrãoNÓ–medidausadanaInglaterraparamedirvelocidade,equivalenteaumamilhamarítimaporhoraORÇAR–viraremdireçãodovento

PAIRAR–entrarnoventoepararaembarcaçãoPAQUETE – pequena embarcação utilizada para levar correspondência e ordens

PAUDECUTELO–v.velasPAVILHÃO–bandeiraPÉ – medida inglesa (30,48cm) dividida em 12 polegadas (2,54cm) PLOTAR –calcular, por meio de coordenadas, a posição POLACA – vela triangularamarrada no mastro do traquete POPA – área na parte de trás de umaembarcaçãoPORTA-MACHADO–trabalhadorquefazusodomachadoPOSTO–posiçãopredeterminada(porexemplo,nalinhadebatalha)PRÁTICO–pessoa

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contratadatemporariamentedevidoaoseuconhecimentodolocalPROA–áreadevantedaembarcação

QUARTA–direção(bússola)QUARTEL–medidadaespiaQUARTILHO–medidainglesaparasólidos[1,1litro]oulíquidos[0,95litro]

RABANADA–forteventocompoucaduraçãoRASTEJAR–passarmuitopertoREPICAR–ajustaravelaRIZ – diversas fileiras de pequenos cabos em cada lado da vela, que quandoamarradosporcimadavergareduziriamaáreadavelaRIZAR–diminuiráreadavelapormeioderizesRONCEIRO–embarcaçãocomandamentolento

S.A.R.–SuaAltezaRealS.M.–SuaMajestade(termousadonaGrã-Bretanha)SOBLASTRO–v.lastroSOBREASARMAS–deprontidãoSOBREJOANETE–v.velasSONDARCOMOPRUMOGRANDE–mediraprofundidadedebaixodaembarcação

SOTAVENTO–direçãoparaondesopraoventoSURTO–ancoradoSU-SUESTE–pontodabússolaSUSPENDER–levantarâncora

TALHA–equipamentoabordoTEMPORALDESFEITO–tempestadecomfortesventosTOCAR–iratéumpontoouporto

TOCAR POSTOS DE COMBATE – sinal dado por tambores chamando a guarniçãoaosseuspostosdecombateTOLDAARÉ–áreadoconvésdecimareservadapara os aposentos do capitão ou almirante TOMBADILHO(QUARTERDECK) –convés de cima aberto ao tempo TOMAR ESTAÇÃO – tomar sua posiçãopreviamente determinadaTRANSBORDO – transferir pessoa oumercadoria deumaembarcaçãoparaoutratraquete–v.mastro

TREM–reuniãodeobjetoslevadosemviagem,comobagagem,roupasetc.TRIMADO – distribuição de peso visando ao desempenho e à segurança daembarcaçãoUNHAR–prender[âncora]

VARIAÇÃO–ventoleve

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VARRER–velejarparaleloàcostaVAU DE JOANETE – ponto nomastro de amarração de outra peça [demastro];local com espaço para o vigiaVELAS – umnavio de trêsmastros carregavavelas no mastro do traquete, no mastro grande e no da gata. As velasquadrangulares,carregadasemvergas,eramdenominadaspelomastroepelaposiçãodavelanomastro:amaisbaixaeraavelabaixaoupapafigo(traqueteevelagrande);emseguida,aveladegávea(velacho,gáveaegata);aveladejoanete (joanete de proa, joanete grande e sobregata); o sobrejoanete(sobrejoanete0deproa,sobrejoanetegrandeesobregatinha);eavelaaltaousobrinho.Umapequenavelaeraalgumasvezescarregadaacimadosobrinho,sem verga, fixada ao próprio mastro. Omastro da gata não carregava velabaixa;emseulugar,umaretrancacarregavaumamezena,caranguejaouvelaré.Oscuteloseramcarregadosempausquepodiamserestendidosdasvergasdosmastrosdotraqueteegrande,ficandosuspensossobreomar.Asvelasdeestaieramtriangularesouquadrangulares,suspensasentremastrosetambémpor anteavante domastro do traquete, fixadas ao gurupés; asmesmas eramdenominadas de acordo com o mastro e a verga em que sua extremidadesuperiorestavaamarrada.Opaudogurupéscarregavaagibaeasbujarronasde dentro e de fora, todas triangulares. As cevadeiras eram carregadas porvergas,suspensassobogurupés.

VELADEESTAI–v.velasVELADEESTAIDOVELACHO–v.velasVELALATINA–velacomumladopresoaomastro,quasesempretriangularVELA

MESTRA–v.velasVELEIRO–pessoacomafunçãodecuidar,reparareatéfazernovasvelasVERGA–v.mastro

VERGADEJOANETEDEPROA–v.mastroVIRARDEBORDO–alterardireção;v.bordejarVIRAREMCABRESTANTE–movimentodaembarcaçãoenquantoancoradaVIRAR

EM RODA –manobra para trocar de posição quando se está bordejando. Nabaixavelocidade,aembarcaçãonãoconsegueatravessaroventocomaproa,dessemodotemquevirarporcompletoparachegarànovaposiçãoVIRARPORD’AVANTE–alterarorumoatravessandoovento

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NOTAS

PREFÁCIO1.D.João,1767-1826,maistarde27ºreidePortugal.VerapêndiceA.2.JoaquimPedrodeOliveiraMartins.HistóriadePortugal,p.395,1ªed.1879.3.L.A.Boiteaux.AMarinhadeGuerrabrasileiranosreinadosded.JoãoVIe

D.PedroI.,p.9.4.M.deO.Lima.D.JoãoVInoBrazil.1808-1821,p.37.5.A.E.M.Züquete.NobrezadePortugaledoBrasil,p.658.6.Cópiasdesseslivrosdequartoserelatóriosforamdepositadas,peloautor,no

ArquivoHistóricodoMuseuImperial,emPetrópolis,RJ.7.K.H.Light.AmigraçãodafamíliarealportuguesaparaoBrasil.8.Muitosleitoresdevemterexemplosemsuaprópriafamília.

CAPÍTULOUM

1. D.AntôniodeAraújodeAzevedo,1754-1817,1ºcondedaBarca (1815).VerapêndiceA.

2.Ibid.,p.38;A.Pereira.D.JoãoVI,príncipeerei,p.107.3.A.Pereira,Ibid.,p.102.4. Percy Clinton Sidney Smith, 1780-1855, 6º visconde Strangford e barão

Panhurst(1825).VerapêndiceA.5. D. Domingos Antônio de Souza Coutinho, 1760-1833, ministro

plenipotenciáriojuntoàcortedeS.James,1ºconde(1812)e1ºblockquotemarquêsdoFunchal(1833).VerapêndiceA.

6.JeanLannes,1769-1809,duquedeMontebello(1807),quandofoinomeadomarechalporBonaparte.

7.D.JoãodeAlmeidadeMeloeCastro,1756-1814,5ºcondedasGalvêas.VerapêndiceA.

8.D.DiogoInáciodePinaManique,1733-1805.VerapêndiceA.9.E.deNoronha.PinaManique:Ointendentedeantesquebrar…,p.150.

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10.Ibid.,p.113-26.11. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, 1745-1812, presidente do Real Erário

(1801);1ºcondedeLinhares(1808).VerapêndiceA.12.A.Pereira.Ibid.,p.123-4.13.M.Graham.JournalofaVoyagetoBrasil,p.37-8.14.JeanAndocheJunot,1771-1813,duquedeAbrantes.VerapêndiceA.15.FrançoisMaximilienGérard,1755-1827,condedeRayneval.16.A.Schom.Trafalgar:CountdowntoBattle,p.69.17.CharlesJamesFox,1749-1806.EntãoministrodoExterior.18.M.Graham,Ibid.,p.40.19.M.deO.Lima.DomJoãoVInoBrazil:1808-1821,p.20.20.M.Graham,Ibid.,p.39-40.21.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.6.22.D.LourençodeLima,1767-1839,1ºcondedeMafra(1836).Verapêndice

A.23.A.Pereira.Ibid.,p.149-51.24.D.CarlotaJoaquina,1777-1830.VerapêndiceA.25.O.T.deSousa.Avidaded.PedroI,p.28.26.D.PedrodeAlmeidaPortugal,1754-1813,3ºmarquêsd’Alorna(1795)e6º

conded’Assumar(1802).VerapêndiceA.27.D.TomásJoséXavierdeLimaVasconcelosBritoNogueiraTelesdaSilva,

1779-1822, 2ºmarquêsdePontedeLima e15º viscondedeVilaNovadeCerveira.

28. D. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena, 1756-1818, 5º conde deSarzedas.

29.Sabugal–depoisde1678,este títulopertenceuaoscondesdeÓbidosedePalma.De1770até1839estetítulonãofoirenovado.

30. D. Carlos IV, 1748-1819, casou-se com sua prima, d. Maria Luiza deBourbon, 1751-1819, o filho mais velho sobrevivente era d. CarlotaJoaquina.

31.M.Cheke,CarlotaJoaquina,p.18-19.32.W. Durant e A. Durant. The Story of Civilization: The Age of Napoleon,

vol.9,p.212-13).33. D. Manoel Álvares de Faria Ríos Sánchez Zarzosa Godoy, 1767-1851,

príncipedaPazedeBasano,duquedeLaAlcudiaeSueca.34.Fontainebleau,27out1807.Textocompleto,verapêndiceC.

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35.M.O.Lima.Ibid.,p.30.36.LucienBonaparte,1775-1840.37.W.DuranteA.Durant.Ibid.,p.665.38.M.O.Lima.Ibid.,p.38.39.Ibid.,p.40.40.Ibid.,p.38.41.P.R.O.F.O.63/55(01).42.E.F.Martins.OConselhodeEstadoportuguêseatransmigraçãodafamília

realem1807,p.5.43.D.AyresJoséMariadeSaldanhaAlbuquerqueCoutinhoMattoseNoronha,

1784-1864,2ºcondedaEga(1771).VerapêndiceA.44.D.ManuelAntônioHilário,2ºcondedeCampo-Alange.45.P.R.O.F.O.63/55(02).46.E.F.Martins.Ibid.,p.5.47.A.K.Manchester,p.5.48. D. José Egídio Álvares de Almeida, 1767-1832, barão (título português,

1818)emarquês(títulobrasileiro,1826)deSantoAmaro.49.p.O.B.(02).50.P.R.O.F.O.63/55(03).51.P.R.O.F.O.63/55(04).52.D. JoséXavier deNoronhaCamões deAlbuquerque SouzaMoniz, 1741-

1811,4ºmarquêsd’Angejae6ºcondedeVilaVerde.VerapêndiceA.53.D.Henrique José deCarvalho eMelo, 1748-1812, 2ºmarquês de Pombal

(1786).VerapêndiceA.54. D. José Luís de Vasconcelos e Sousa, 1740-1812, 1º marquês de Belas

(1801)e6ºcondedePombeiro(1783).VerapêndiceA.55.D.JoãoRodriguesdeSáeMelo,1755-1809,1ºconded’Anadia(1808).Ver

apêndiceA.56. D. Fernando José de Portugal e Castro, 1752-1817, 1º conde (1808) e 2º

marquêsd’Aguiar(1813).VerapêndiceA.57.E.F.Martins.Ibid.,p.23-9.58.Ibid.,p.25.59.VerapêndiceC.60. LucasAlexandreBoiteaux, emAMarinha deGuerra brasileira, escreveu

queestapropostafoirejeitadadeformasumáriapelaGrã-Bretanha.61.E.F.Martins.Ibid.,p.26.

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62.P.R.O.F.O.63/55(01).63.P.R.O.F.O.63/55(03).64.P.R.O.F.O.63/55(05).65.A.Pereira.Osfilhosd’El-Reid.JoãoVI,p.102.66.AntônioMarquesEsparteiro.SubsídioparaahistóriadaMarinhadeGuerra:

Nau Rainha de Portugal. Anais do Clube Naval, Lisboa, nov-dez 1943,p.677-701.

67.p.O.B.(03).68. D. Pedro, 1798-1834, príncipe da Beira, 1º imperador do Brasil, 28º rei

(PedroIV)dePortugal.VerapêndiceA.69.D.MariaFranciscaBenedita,1746-1829.70.E.F.Martins,OConselhodeEstadoportuguês,p.7.71.D.Miguel,1802-66,29ºreidePortugal.VerapêndiceA.72.P.R.O.F.O.63/55(08).73.A.M.Esparteiro,p.325.74.A.Moraes.Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.31.75.A.Pereira,Osfilhosd’El-Rei,p.104.76.E.F.Martins,OConselhodeEstadoportuguês,p.36.77.P.R.O.F.O.63/55(07).78. A. Pereira, Os filhos d’El Rei, p.104-6; Martins, O Conselho de Estado

Português,p.7.79.E.F.Martins,OConselhodeEstadoportuguês,p.38-9.80.P.R.O.F.O.63/55(09).81.Ibid.82.Ibid.83. A. Pereira, Os filhos d’El-Rei, p.129-32. Estas cartas encontram-se no

ArquivoHistóricoNacionaldeMadri.84.P.R.O.F.O.63/55(08).85.P.R.O.F.O.63/55(10).

CAPÍTULODOIS

1.P.R.O.F.O.63/58(01).2.ManueldeOliveiraLima.D.JoãoVInoBrazil,p.44.3.AngeloPereira.Osfilhosd’El-Rei,p.106.4.TobiasMonteiro,Históriadoimpério,p.16.

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5.P.R.O.F.O.63/58(01).6.D.VascoManueldeFigueiredoCabraldaCâmara,1767-1830,1ºcondede

Belmonte(1805).VerapêndiceA.7.A.Pereira,Ibid.,p.107.8.D.ThoméXavierdeSouzaCoutinhodeCastelloBrancoeMenezes,1753-

1813, 13º conde de Redondo (1791) e 1º marquês de Borba (1811),administradordaRealUcharia.VerapêndiceA.

9.A.Pereira.Ibid.,p.108.10.P.R.O.F.O.63/58(01).11.A.Pereira.Ibid.,p.103-7.12. Enéas Filho Martins, O Conselho de Estado português, p.48. Texto

completo,verapêndiceC.13.P.R.O.F.O.63/58(02).14.P.R.O.F.O.63/58(03).15.P.R.O.F.O.63/58(04).16.Ibid.17.Ibid.18.P.O.B.(04).AlmirantelordeCuthbertCollingwood,1750-1810.19.P.R.O.F.O.63/55(11).20.P.O.B.(05).21.P.O.B.(06).22. T. Monteiro, História do império, p.27; Alexandre Moraes, História da

trasladação da corte portuguesa para o Brasil em 1807-1808, p.49-50.Incluiotextocompleto.

23. E.F.Martins, Ibid., p.50. Cita LouisMadelin.Histoire du Consolat et del’Empire,vol.7:L’affaired’Espagne.Paris,Hachette,1958;“Si lePortugalnefaitpascequejeveux,lamaisondeBragancenerégneraplusdansdeuxmois”.

24.E.F.Martins,Ibid.,p.59.25.A.Pereira.D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.162-3.26.Jean-BaptisteNompère,1756-1834,condedeChampagny,depoisduquede

Cadore.27.A.Pereira.D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.162.28.A.Moraes,Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.52.29.p.O.B.(07).

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30.D.PedroJoséJoaquimVitodeMenezesCoutinho,1777-1823,6ºmarquêsdeMarialva(1795),8ºcondedeCastanhede.VerapêndiceA.

31.P.O.B.(08).32.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.32.33.A.Moraes,Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.52.34.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.32.35.W.Beckford.Acortedarainhad.MariaI:CorrespondênciadeW.Beckford

(1787).36.MinistrorussonacortedeMadri.37.A.Pereira.D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.172-3.38.P.O.B.(9).39.P.O.B.(10).40.Horward,DonaldD.“PortugalandtheAnglo-Russiannavalcrisis(1808).”

NavalWarCollegeReview,Newport,RI,NavalWarCollege, vol.34, n.4,1981, p.49-50; Moraes, Alexandre. História da transladação da corteportuguesa,p.52.

41. J.F.B. de Castro. Collecção de tratados, convenções, contratos e actospúblicos celebrados entre a coroa de Portugal e as mais potências desde1640atéopresente,vol.4,1881-87,p.236-54.VerapêndiceC.

42.p.O.B.(11).43.E.F.Martins,OConselhodeEstadoportuguês,p.63-4.44.P.R.O.F.O.63/55(06).45.A.Moraes.Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.50.46.D.FerdinandoVII,1784-1833,42ºreidaEspanha,1808e1814-33.47. E.F. Martins,O Conselho de Estado português, p.54-67. Quase todos os

ofíciossãodatadosde2denovembro.48.P.O.B.(12).49.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.27.50.P.O.B.(13).51. E.F.Martins,OConselho deEstado português, p.68.D. Lourenço alegou

queestavaenfermoe,defato,nãovoltou.52.Ibid.,p.68-9.53.Paraumaexplicação,vercapítuloIV,p.83.54.P.R.O.ADM.1/19(03).

Page 280: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

55.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.160-72.56. Gibraltar Chronicle, 5 dez 1807, biblioteca de Fortaleza, Gibraltar. Ver

apêndiceC.57.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.192-203.58.Ibid.,p.161.59. Ibid., p.177. Oliveira Barreto deveria ter sido um comerciante, amigo dE

Junotquandoesteserviucomoembaixador.60.Ibid.,p.177-9.61. J.A.dasNeves.Históriageralda invasãodos francezesemPortugaleda

restauraçãodestereino,p.201-2.62.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.181.63.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.49-50.64.Ibid.,p.43-4.VertambémoGibraltarChronicle,26dez1807,Verapêndice

C.65.VernoapêndiceCotextocompletodestareuniãohistóricadoConselhode

Estado.66.D.JoaquimJosédeAzevedo,1761-1835,1ºbarão(1813)e1ºviscondecom

grandeza(1819);noBrasil,marquêsdeJundiaí(1826).VerapêndiceA.67.FranciscoBartollozi,1725-1815,eHenriL’Evêque,1769-1832.68,p.O.B.(14).69. D. Francisco da Silva Telo eMeneses, 1723-1808, 1º marquês de Vagos

(1802)e6ºconded’Aveiras(1779).VerapêndiceA.70.OctávioTarqüíniodeSousa,AvidadeD.PedroI,p.55.71.M.O.Lima,D.JoãoVInoBrazil,p.47.72.Ibid.,p.49.73.Editalcompleto,verapêndiceC.74.MonsenhorLourençoCaleppi,1741-1817.VerapêndiceA.75.C.L.deRossi. “Memória sobreaevasãodonúncioapostólicomonsenhor

Caleppi…”,p.19-20.76.D.JoséCaetanodaSilvaCoutinho.77. D. Pedro de Sousa Holstein, 1781-1859, 1º conde, marquês e duque de

Palmela (1833).Após embarcar, foi forçado, por falta de lugar, a voltar àterra;somentechegouaoBrasil12anosdepois,em23dedezembrode1820.VerapêndiceA.

78. Alexandre Moraes, História da trasladação da corte portuguesa para oBrasilem1807-1808,p.58.

79.P.O.B.(15).

Page 281: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

80.R.Brandão.El-ReiJunot,p.10781.M.Cheke,CarlotaJoaquina,p.38.82.T.O’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil.83.J.A.Neves,Históriageraldainvasão,p.177e204.84.DesembargadorLucasdeSeabradaSilva,quesucedeuPinaManique.85.C.L.Rossi,Memóriasobreaevasãodonúncioapostólico,p.21-2.86.S.J.daL.Soriano.Históriadaguerracivil,p.676.87.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.182.

CAPÍTULOTRÊS

1.P.R.O.F.O.94/163(01).2.P.R.O.ADM.1/19(18).3.A.M.Esparteiro.Trêsséculosnomar(1640-1910).4.W.G.F.Jackson.TheRockoftheGibraltarians,p.203.5.P.Calmon.Histórianavalbrasileira:Aaberturadosportos,p.337.6. Arthur Wellesley, 1768-1852, duque de Wellington, duque de Talavera

(Espanha),duquedeVitória,marquêsdeTorresVedrasecondedeVimeira(Portugal), príncipe de Waterloo (Países Baixos) e cavaleiro da insigneOrdemdoTosãod’Ouro(Espanha)edaJarreteira(Inglaterra).

7.WilliamCarrBeresford,1768-1854,viscondeebarãoBeresforddeAlbuerae Cappoquin (Inglaterra), duque de Elvas (Espanha), conde de Trancoso(Portugal), cavaleiro Grão-Cruz da Ordem de Bath e da de Hanover,cavaleirodaOrdemdaTorre-e-EspadaedadeSanFernando.

8.E.Longford.Wellington:TheYearsoftheSword,p.232-4.9.GeorgeCanning,1770-1827.10.P.R.O.F.O.94/163(01).11.Ibid.12.Ibid.13. SirWilliam Sidney Smith, 1764-1840, contra-almirante de pavilhão azul.

VerapêndiceA.14.P.R.O.ADM.1/19(02).15.P.R.O.ADM.1/19(02).SirJohnMoore,1761-1809.Eraoirmãomaisvelho

docapitão(daMarlborough)GrahamMoore.16.CapitãoThomasWestern,P.R.O.ADM.1/19(01).17.Foidesmanteladoem1811.18.CapitãoJohnConn,1764-1810.EmTrafalgar,elecapturouoNepomuceno,

abalroando-o.

Page 282: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

19.P.R.O.ADM.1/19(02).20.D.King.ASeaofWords,p.15.21.P.O’Brian.Men-of-War:LifeinNelson’sNavy,p.18.22.AlmirantesirWilliamYoung,1751-1821.23.GibraltarChronicle,28nov1807.24. A distância, porém dentro do limite de observação (no original, in the

offing).25.P.R.O.ADM.1/19(01).26.WilliamWellesley-Pole,1763-1845,barãoMaryborough(1821)e3ºconde

Mornington(1842).27. D. Sobel. Longitude: The True Story of a Lone Genius Who Solved the

GreatestScientificProblemofHisTime.28.SirRichardKing,2ºbaronete,1774-1834.Promovidoacontra-almiranteem

1812eavice-almiranteem1821.29.AlanSchom,Trafalgar,p.348.30.P.R.O.ADM.1/19(03).31.Cascais.32.CaboRaso.33.P.R.O.ADM.1/19(03).34.P.R.O.ADM.1/19(03).35.P.R.O.ADM.1/19(03).36.A.Moraes,Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.7.37.P.R.O.ADM.1/19(03).38.P.R.O.F.O.63/56(02).

CAPÍTULOQUATRO

1. Capitão Israel Pellow, 1758-1832. Em Trafalgar, o capitão Pellow,comandante daConqueror, enviou umoficial demenor graduação e cincofuzileirosabordodonaviocapitâniafrancêsBucentaureparareceber,doseualmiranteVilleneuve, a rendiçãodaesquadra franco-espanhola.Umeventoforadocomum,paradizerpouco.

2.P.R.O.F.O.63/56(01).3.P.R.O.ADM.1/19(03).4.P.R.O.ADM.1/19(15).5.P.R.O.ADM.1/19(03).6.P.R.O.ADM.4206(01).

Page 283: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

7.P.R.O.ADM.1/19(06).8.P.R.O.ADM.1/19(06).9.P.R.O.ADM.1/19(06).10.P.R.O.ADM.1/19(06).11.Sotaventoouabrigado;acostadesotaventoé,portanto,perigosa.12.P.R.O.ADM.1/19(08).13.P.R.O.ADM.1/19(06).14.P.R.O.ADM.1/19(08).15.P.R.O.F.O.63/56(01).16.P.R.O.ADM.1/19(04)e(09).17.P.R.O.ADM.1/19/(06).18.P.R.O.ADM.1/19(06).19.P.R.O.F.O.63/56(01).20.P.R.O.ADM.1/19(06).21.P.R.O.ADM.1/19(10).22.P.R.O.F.O.63/56(01).23.P.R.O.F.O.63/56(01).24.P.R.O.F.O.63/56(01).25.P.R.O.F.O.63/56(01).26.P.R.O.ADM.1/19(11).27.P.R.O.ADM.1/19(12).28.SirJamesLucasYeo,1782-1818.29.T.O’Neil,AAvindadafamíliarealparaoBrasil,p.9.30.P.R.O.F.O.63/56(01).31.P.R.O.ADM.1/19(13).32.GibraltarChronicle,2jan1808.VerapêndiceC.33.P.R.O.ADM.1/19(25).OcapitãoYeopoderiatersidooutroheróinavalda

Grã-Bretanha,casonãotivessefalecidodedoençaaos36anosdeidade,em1818,quandoretornavadaJamaica.

34. J. Barrow. The Life and Correspondence of Admiral Sir William SidneySmithG.C.B.,p.270.

35. A esquadra russa ficou presa no Tejo durante todo o ano de 1808.Eventualmente,osnaviosforamlevados,emcustódia,atéaInglaterra,eastripulações enviadas à Rússia. No final da guerra, os navios foramdevolvidos.

36.P.R.O.ADM.1/19(07).

Page 284: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

37.Certamenteumdesafio,masnãobeligerante.38.Acamaradagem,quandohavianecessidade,eragrande;duranteumabatalha,

porém,valiatudo.39.C.L.deRossi.“Memóriasobreaevasãodonúncioapostólico…”,p.21;A.

Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.182.40.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,v.1,p.182.41.A.Pereira,Osfilhosd’El-Reid.JoãoVI,p.112.42.Ibid.,p.112.43.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.39.44.P.R.O.ADM.1/19(17).45.A.M.Esparteiro.Histórianavalbrasileira,p.331.46.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.190.47.G.Moore.Diáriosmanuscritos:ADD9303/17a21.

CAPÍTULOCINCO

1.ThomasO’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil,p.64.2.P.R.O.ADM.1/19(19).3.D.PedroCarlos,1787-1812,infantedaEspanha.VerapêndiceA.4. As seis filhas deD.Carlota Joaquina eram: d.Maria Tereza, 1793-1874,

casou-se, em primeiras núpcias, com seu primo-irmão d. Pedro; e, emsegundasnúpcias,comseu tiomaternoecunhadod.CarlosV,1788-1855,reicarlistadaEspanha;d.MariaIzabelFrancisca,1797-1818,casou-secomd. FernandoVII, 1784-1833, rei daEspanha; d.Maria Francisca deAssis,1800-34,primeiraesposadeCarlosV,reidaEspanha;d.IsabelMaria,1801-76,regentedePortugal,1826-28;d.MariadaAssunção,1805-34;d.AnadeJesus,1806-57,casousecomoduquedeLoulé.

5.D.MariaAna,1736-1813,filhadeJoséI,1714-77,ed.MariaAnaVitóriadeBourbon,1718-81.

6.A.M.Esparteiro,Histórianavalbrasileira,p.325.7.P.R.O.ADM.1/19(19).8.P.R.O.F.O.63/56(010).9.T.O’Neil.Ibid.,p.64.10.NeillMacaulay.DomPedroI:AlutapelaliberdadenoBrasileemPortugal

1798-1834.RiodeJaneiro,Record,1993,p.344.11.P.R.O.F.O.63/56(01).12.W.E.Napier.HistoryoftheWarinthePeninsula.Macaulay,emDomPedro

I:Alutapelaliberdade,p.345,escrevequearetrataçãodelordeStrangford

Page 285: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

deveu-se à publicação desta história. Ele menciona que consideráveldiscussão pública do assunto teve lugar em Londres, em seguida àpublicaçãodopanfletoASketchoftheCausesandConsequencesoftheLateEmigrationtotheBrazils,deRalphRylance,edaediçãodeagostode1808doCorreioBraziliense,deHipólitodaCosta.AngeloPereira,emOsfilhosd’El-Rei d. João VI, p.104, publica uma carta anônima escrita por umportuguês, retirada dos arquivos particulares de d. João VI. A cartadesmentia que a iniciativa da viagem tivesse sido do governo britânico, eteriasidoescritaemseguidaàdiscussãonaimprensa,emoutubrode1814,principalmente no Morning Chronicle. Tobias Monteiro, em História doimpério, p.44-7, argumenta que o mérito de lorde Strangford não foipersuadir o príncipe regente a partir, mas sim convencê-lo, uma vezembarcado, a prosseguir com a viagem. Conforme já demonstrado, lordeStrangfordnãoseencontroucomoprínciperegentenanoitedodia28.

13.Vice-almiranteManueldaCunhaSoutoMaior.14.P.R.O.ADM.1/19(19).15.P.R.O.ADM.1/19(19).16.Ibid.17.Ibid.18.Ibid.19.T.O’Neil.Ibid.,p.64.20.P.R.O.ADM.1/19(19).21.Anonymo.Observadorportuguezhistórico,epolíticodeLisboadesdeodia

27denovembrodoannode1807emqueembarcouparaoBrasiloPríncipeRegente Nosso Senhor e toda a real família, por motivo da invasão dosfrancezes nesteReino etc.etc.Contém todos os editaes,ordens públicas eparticulares, decretos, successos fataes e desconhecidos nas histórias domundo;todasasbatalhas,rouboseusurpaçõesatéodia15desetembrode1808,emqueforamespulsos,depoisdebatidos,osfranceses.OfferecidoAoIllustríssimoeExcellentíssimosenhord.RodrigodeSousaCoutinho,condedeLinhares,grão-cruzdasOrdensdeAvisedaTorreeEspadaetc.,p.19.

22.A.Pereira,D.JoãoVInoBrasil,p.186.23.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.24. Carta do conde de Linhares, datada de 26 demarço de 1808, arquivo do

MuseuImperial,Petrópolis,RJ.25.J.P.M.Portella.t.65,pt.2,1882.26.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.

Page 286: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

27.J.A.dasNeves,Históriageraldainvasão,p.181.28.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.184.Cartaded.AntôniodeAraújo

para d. JoãoVI, de 25 de janeiro de 1808, comunicando que esta nave seencontravanoRecifeequeviraalgunsnaviosdaesquadraemSãoTiago.

29.L.A.Boiteaux,Amarinhadeguerrabrasileira,p.13.30.Anonymo,Observadorportuguez…,p.7.31.J.Barrow,TheLifeandCorrespondence,p.9.32.M.Graham,JournalofaVoyagetoBrasil,p.45.33.P.R.O.ADM.1/19(1).34.A.M.Esparteiro.Histórianavalbrasileira,p.331.35.Anonymo,Observadorportuguez…,p.22.36.R.Brandão,El-ReiJunot,p.144.37.P.R.O.ADM.1/19(19).38.Defato,adecisãotinhasidotomada,porémsóalcançariamasuaestaçãoem

8dedezembro.39.P.R.O.ADM.1/19(19).40.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.183.41.Capitãohon.HenryCurzondonaviodeS.M.Elizabeth.42.P.R.O.ADM.1/19(25).43.P.R.O.ADM.1/19(25).44.VerapêndiceC.45.Ibid.46.P.R.O.ADM1/824(02).47.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.48.P.R.O.1/824(01).49.IlhasdeCaboVerde.50.A.Pereira,Osfilhosd’El-Rei,p.115.51.P.O.B.(16).52. J.P.C. Soares. t.2, 1961-69, p.123-4; A.M. Esparteiro, História naval

brasileira,p.332-3.53.P.R.O.ADM.1/2159(01).54. G. Moore. Diários. Transcrição de documento manuscrito. Biblioteca da

UniversidadedeCambridge.ADD9303/17-21.55.P.R.O.ADM.1/2159(01).56.A.Rangel.Osdoisingleses:StrangfordeStuart,p.7.57.P.R.O.F.O.63/58(05).

Page 287: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

CAPÍTULOSEIS1. D.JoãoManueldeMeneses,1783-1831,1ºconde(1810)e1ºmarquêsde

Viana(1821).VerapêndiceA.2.P.R.O.ADM.1/2704(01).3.Ibid.4.P.R.O.ADM.1/2704(01).5.P.R.O.ADM.1/2704(01).6.Ibid.7.LivrodequartosdafragataUrânia.8.P.R.O.ADM.1/2704(01).9.Ibid.10.A.Moraes.Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em

1807-1808,p.65.11.L.A.Boiteaux,Amarinhadeguerrabrasileira,p.14.12.O livrodequartosdaUrâniamostraqueassalvascomeçaramnanoitedo

diaanterior.13.P.R.O.ADM.1/2704(01).14.Ibid.15.Ibid.16.P.R.O.ADM.1/2704(01).17.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.184.18.Cordamevelhoesemuso,cortadoparavirarestopa;eraamatéria,quando

misturadaaopiche,usadaparacalafetar.19.P.R.O.ADM.1/2704(02)20.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.59.21.Umgrauequivalea60milhasmarítimas.22.J.P.M.Portella,Chegadadafamíliareal,p.7.VerapêndiceC.23.D.JoãodeSaldanhadaGamaMelloTorresGuedesdeBrito,1773-1809,6º

condedaPonte(1802).VerapêndiceA.24.D.MarcosNoronhadeBrito,1771-1828,8ºcondedosArcosdeVal-de-Vêz.

VerapêndiceA.25.P.R.O.ADM.1/2704(01).26.P.R.O.ADM.1/2704(02).27.CaetanoPintodeMirandaMontenegro,governadordePernambuco,1804-

17.28.RainhaCharlotte,1744-1818,esposadeS.M.JorgeIII.

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29.P.R.O.ADM.1/2704(02).30.VerapêndiceC.31.A.M.Esparteiro,Histórianavalbrasileira,p.333.32.P.R.O.ADM.1/2159(01).33.A.Pereira.D.JoãoVI,príncipeerei,p.184.Cartadatadade25dejaneiro,

deD.AntóniodeAzevedoaoprínciperegente.34.A.M.Esparteiro,Histórianavalbrasileira,p.333.35.Capitão-de-mar-e-guerraHenriquedaFonsecadeSousaPrego.36.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.184.37.Ibid.38.P.R.O.ADM.1/2704(02).39.Ibid.40.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.41.J.V.Fazenda,p.531.42.P.R.O.ADM.1/2704(02).43.VerapêndiceC.44. Annaes do Senado do Império do Brasil. Rio de Janeiro, Typografia

Nacional,1826,t.3,p.99.45.P.R.O.ADM.1/2704(02).46.T.O’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil,p.69-70.47.CollecçãodasLeisdoBrasilde1808.Decretode13demaiode1808.Rio

deJaneiro,ImprensaNacional,1891,p.28.Em29denovembrode1808,osregulamentosdetalhadosdaordemforampublicadosemCollecçãodasLeis,p.167-70.

48.P.R.O.ADM.1/2704(02).49. Os ofícios contêm, à margem, numa caligrafia diferente: “10 de maio

RecebidoeAprovosuasações.”P.R.O.ADM.1/2704(01).50.P.R.O.ADM.1/2159(01).51. D. Miguel Caetano Álvares Pereira de Melo, 1765-1808, 5º duque de

Cadaval,7ºmarquêsdeFerreirae8ºcondedeTentúgal.VerapêndiceA.52.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,p.185.

CAPÍTULOSETE1.P.R.O.ADM.1/2159(01).2.Ibid.3.P.R.O.ADM.1/2159(01).

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4.Capitão-de-mar-e-guerraFranciscoManueldeSoutoMaior.5.Capitão-de-mar-e-guerraJoséMariadeAlmeida.6.P.R.O.ADM.1/2159(01).7.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.8.P.R.O.ADM.1/2159(01).9.G.Moore,Diáriomanuscrito,ADD9303/17-21.10.A.M.Esparteiro,Histórianavalbrasileira,p.330.11.T.O’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil,p.65-6.12.Defato,estainformaçãoémaisdoquesuficienteparaidentificaronavio;o

seulivrodequartostambémdeveterregistradooevento.13.P.R.O.ADM.1/19(24).14.G.Moore,Ibid.,ADD9303/17-21.15.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.16.G.Moore,Ibid.,ADD9303/17-21.17.P.R.O.ADM.1/2159(01).18.D. João deCastro, capitão-de-mar-e-guerraManuel João deLossio.A.M.

Esparteiro,Ibid.,p.329.19.P.R.O.ADM.1/2159(01).20.G.Moore.Ibid.,ADD9303/17-21.21.Ibid.22.P.R.O.ADM.1/2159(01).23.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.24.A.M.Esparteiro,Ibid.,p.334.25.P.R.O.ADM.1/19(26).26.ArquivoNacional,código730,RiodeJaneiro.27.Ibid.28.DeacordocomorelatóriodocomodoroMooreaoAlmirantado,datadode9

demarço,asnotíciasdachegadaemsegurançaaSãoSalvadorchegaramaoRio em 12 de fevereiro. Como nenhum navio foi registrado como tendoarribadonaqueladata,presumivelmenteasnotíciaschegaramcomumbriguedeguerranodia11.

29.L.G.dosSantos,MemóriasparaserviràhistóriadoReinodoBrasil,p.13-4.30.Navio de ummastro com 68 pés de cumprimento e uma guarnição de 40

homens.31.P.R.O.ADM.1/2159(01).32.T.O’Neil,Ibid.,p.35-6.

Page 290: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

33.L.G.Santos,Ibid.,p.20.34.P.R.O.ADM.1/2159(01).35.L.G.Santos,Ibid.,p.32.

CAPÍTULOOITO

1.T.Monteiro,Históriadoimpério,p.50-1.2.Ibid.,p.51.3. Anonymo,Observador portuguez… p.19-22. O diário de um observador

anônimo,publicadoem1809,nosdáumavisãodoquefoiavidanodia-a-dianesteperíodosobojugodeJunot.Anãoserquandoindicado, todasasreferênciasnestecapítulosãodessediário.

4.J.A.dasNeves,Históriageraldainvasãodosfranceses,p.205.5.VerapêndiceC.6.Ibid.7.CamiloLuisdeRossi,Memóriasobreaevasãodonúncioapostólico,p.24-

41.8.J.W.Chambers,“LisboninWartime,1807.”Anuário.9.VerapêndiceC.10.EsteeventopodetersidoaquelemencionadoporLucasAlexandreBoiteaux,

emAmarinhadeguerrabrasileira,p.13.11.VerapêndiceC.12.Ibid.13.J.W.Chambers.Ibid.,p.27.

EPÍLOGO1.SirCharlesCotton,1753-1812;entrounaMarinhaem1772,recebeuotítulo

debaronete em1795, foi promovido a contra-almirante em1797 e a vice-almiranteem1802.Comandante-em-chefenoTejoem1808,enasilhasdocanaldaManchaem1811.

2.J.Barrow,TheLifeandCorrespondence,p.281.Estainformaçãoéincorreta;sirSidneyviajounanaudelinhaFoudroyant.

3.P.R.O.ADM.1/2519(02).4.SobocomandodocapitãoJonasRose.5.Emhonradoinfanteespanhold.PedroCarlos.6.T.O’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil,p.75-9.7.NavalChronicle.Londres,vol.20,p.438,1808.8.JoséPaulodeFigueirôaNabucoAraújo,Legislaçãobrazileiraoucollecção

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chronologica das leis,decretos, resoluções de consulta,procisões etc. etc.RiodeJaneiro,s.n.,t.1,1836,p.75.

9. J. Barrow, Ibid., p.277. Carta do Hon. W.W. Pole a sir Sidney Smith,Almirantado,28dez1807.

10.A.Moraes,Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasil em1807-1808,p.88.

11.A.Rangel,Osdoisingleses:StrangfordeStuart,p.44-113.

APÊNDICEA

1. A não ser que seja especificamente indicado, as fontes foram:Albano daSilveiraPinto.ResenhadasfamíliastitularesegrandesdePortugal.Lisboa,ArthurdaSilva,2vols.,1883;eAnselmoBraacampFreire.BrasõesdesaladeCintra.Coimbra,ImprensadaUniversidade,1921.

2. Portugal nunca introduziu a “lei sálica”, conseqüentementemulheres nãoeramexcluídasdasucessão.

3.A.Rangel,Osdoisingleses:StrangfordeStuart,p.5-7.4. E. de Noronha, Pina Manique, p.230; Adérito Tavares; José dos Santos

Pinto.PinaManique:Umhomementreduasépocas,1990.5.A.Pereira,D.JoãoVI,príncipeerei,vol.1,p.142.6.Ibid.,p.147,constaumacartaded.LourençodeLima(de2desetembrode

1806) ao seu primo, o conde de Villa Verde, ministro assistente aoDespacho,apósreuniãocomTalleyrandem15deagosto,e,nodia26,comoimperador.

7.Ibid.,p.143-5.Cartasded.LourençodeLimaaocondedePalmela,pedindoajuda(comdatade13deoutubrode1818),edocondedePalmelaad.João(com data de 17 de novembro de 1818), explicando asmedidas adotadas,pedindo-lhesasuaaprovação.DacoleçãoparticulardeAngeloPereira.

8.M.P.Chagas.Dicionáriopopular.9.C.L.deRossi.“Memóriasobreaevasãodonúncioapostólico…”,p.6-11.10.GeorgeBrydges,lordeRodney,almirantedepavilhãobranco,1718-92.11.HojeAkko,emIsrael12. Almirante sir H.W. Richmond, 2º lorde Spencer, primeiro lorde do

Almirantado,1794-1801.13.SirJohnKnoxLaughton,lordeBarham,1758-1813.14.G.S.GrahameR.A.Humphreys,1962.15. Naval Chronicle, vol.20, p.438. Para uma descrição romântica da

investidura,verT.O’Neil,AvindadafamíliarealportuguesaparaoBrasil,

Page 292: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

p.75-9.16.Araújo,LegislaçãoBrazileira,p.75.17.G.S.Graham,Ibid.,p.3.18.Ibid.

APÊNDICEB

1.A.M.Esparteiro,Trêsséculosnomar:Histórianavalbrasileira,p.326-30.2. B.Lavery.Nelson’sNavy. Ele cita as surpreendentes cifras de perdas, na

Marinha britânica, no período 1793-1815: devido à ação inimiga, 6.500;devido a naufrágios e incêndios, 13.000; devido a moléstias e acidentesindividuais,entre70.000e80.000.

3. Os seguintes navios, incluídos em A.M. Esparteiro, História navalbrasileira, p.330, não constam da lista entregue pelo major-general daesquadra e chefe-de-divisão Joaquim José Monteiro Torres a sir SydneySmith:BoaVentura,CondessadeResende,FurãoeNinfa.

APÊNDICEC

1. A.Moraes,Históriada trasladaçãodacorteportuguesaparaoBrasilem1807-1808,p.74.

2.Anonymo,Observadorportuguez…,p.9.3.J.F.B.deCastro.Collecçãodetratados,p.236-62;P.R.O.F.O.94/163(01).4.E.Martins,ConselhodeEstadoportuguês,p.70-1.5.Anonymo,Observadorportuguez…,p.15.6.P.R.O.LondonADM.1/19(20).7.Ibid.8.J.P.M.Portella,Chegadadafamíliareal,p.7-8.9.J.P.M.Portella,Ibid.,p.8-10.10.J.P.M.Portella,Ibid.,p.10-1.11.ColleçãodasleisdoBrazil,p.28-9.12.Anonymo,Observadorportuguez…,p.20.13.Ibid.,p.20.14.Ibid.,p.25.15.Anonymo,Observadorportuguez…,p.151-5.16.Ibid.,p.161.17.J.P.deF.N.Araújo.Legislaçãobrazileira,p.75.

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Egídio,II.POB20.1.807AzeC6.Ofíciosemdata,D.Araújo/JoséEgídio,II.POB20.10.807AzeC1.Ms.originalII.POB5.10.821Azem.Exposição datada de 5 de outubro de 1821, publicada pelo Visconde de RioSeco,II.POB5.10.821Azem.

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ArquivoNacional,Londres–PublicRecordsOffice–P.R.O.ForeignOffice(MinistériodosNegóciosEstrangeiros).

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LordeStrangfordaohon.GeorgeCanning;Lisboa,2deagostode1807,Nº43,pelopaqueteElizabeth.

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F.O.63/56

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LordeStrangfordaohon.GeorgeCanning;S.M.R.Hibernia,29denovembrode1807,pelopaqueteTownsend.

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LordeStrangfordaohon.GeorgeCanning;Londres,24dedezembrode1807.

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Admiralty(Almirantado)

ADM.4206Secretário de Estado, hon. George Canning aos Lordes Comissários doAlmirantado,11denovembro.

ADM.1/19Sir Sidney Smith ao hon. W.W. Pole, S.M.R. London, Cawsand Bay, 9 denovembrode1807.

Sir Sidney Smith ao hon.W.W. Pole, S.M.R. London, Cawsand Bay, 9 denovembrode1807,reservado.

SirSidneySmith aohon.W.W.Pole,S.M.R.London, ao largodoTejo, 18denovembrode1807.

LordeStrangfordaSirSidneySmith,S.M.R.Hibernia,20denovembro.SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,aolargodoTejo,22denovembro.

SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,doTejo,22denovembro

Page 302: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

de1807,reservado.SirSidneySmithaoComandante-chefealmiranteYoung,S.M.R.Hibernia, aolargodoTejo,22denovembro.

ForçasMilitares portuguesas, 29 de outubro, comunicado a Sir Sidney Smithpelo cônsulGambier, emLisboa, com cópia enviada ao tenente-general SirJohnMoore,reservado.

LordeStrangfordaSirSidneySmith,S.M.R.Hibernia,22denovembro.SirSidneySmithaoministroD.Araújo,S.M.R.Hibernia,aolargodoTejo,22denovembro.

NotíciadorigorosobloqueiodoTejo,pelaesquadradeS.M.ao largodabarradesterio.

Sir Sidney Smith a John Bell, S.M.R. Hibernia ao largo do Tejo, 22 denovembro.

Lorde Strangford a Sir Sidney Smith, S.M.R. Hibernia, 24 de novembro,reservado.

LordeStrangfordaSirSidneySmith,S.M.R.Hibernia,24denovembro.SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,aolargodoTejo,25denovembro.

JohnBellaSirSidneySmith,Lisboa,25denovembro.LordeStrangfordaSirSidneySmith,Lisboa,noitede28denovembro.Lista do esquadrão português que partiu em 29 de novembro, assinada pelomajor-generalJoaquimMonteiroTorres.

W.S.Smithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,22léguasaoestedolargodoTejo,1ºdedezembro,reservado.

SirSidneySmithaocapitãoMoore,S.M.R.Hibernia,3dedezembro.SirSidneySmithaoChefe-de-divisãoMoore,5dedezembro.Lista de suprimentos entregue ao esquadrão português por S.M.R.Hibernia eConqueror,5dedezembro.

Lista de artigos de roupa entregue peloS.M.R.Hibernia àPríncipeReal, naucapitâniaquelevavaoPríncipeRegente.

SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,ao largodoTejo,5dejaneirode1808.

SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,nomar,latitude37º..47’,longitude14º..17’,6dedezembro.

SirSidneySmithaohon.W.W.Pole,S.M.R.Hibernia,ao largodoTejo,5dejaneiro1808.

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ADM.1/824Sir Sidney Smith ao almirante Young (Plymouth), 3 de dezembro de 1807,S.M.R.Hibernia,nomar.

Sir Sidney Smith ao almirante Young (Plymouth), 6 de dezembro de 1807,S.M.R.Hibernia,nomar,reservado.

ADM.1/2159Chefe-de-divisãoMooreaocontra-almiranteSirSidneySmith,RiodeJaneiro,9demarçode1808, relatodaviagemechegadaasalvonoRiodeJaneirodafrotaportuguesaedaesquadrabritânica.

Chefe-de-divisãoMoore aovice-almiranteSirCharlesCottonBart. (baronete),Rio de Janeiro, 14 de março de 1808, a respeito da partida da esquadrainimiga de Rochefort e os preparativos para patrulhar a costa, a título deprecaução,atéSalvador.

ADM.1/2704CapitãoWalkeraohon.W.W.Pole,6dejaneirode1808,explicandoasrazõesquelevaramaseparaçãodafrotaeasuaparticipaçãonaescoltadaRainhaedoPríncipeRegente,escritonomareenviadodepoisdachegadaàBahia.

CapitãoWalkeraohon.W.W.Pole,31de janeirode1808,relatodaviagemechegada a salvo da Família Real de Portugal, na Baía de Todos os Santos(Bahia),Brasil.

SINAIS

NationalMaritimeMuseum

LivrosdeQuartosdeNaviosdeSuaMajestade(S.M.)H.M.ShipAchilleADM.51/1700.H.M.FrigateAmazonADM.51/1659.H.M.ShipAudaciousADM.51/1758.H.M.ShipBedfordADM.51/1882.H.M.SloopConfianceADM.51/1966.H.M.ShipConquerorADM.51/1734.H.M.ShipElizabethADM.51/1765.H.M.ShipFoudroyantADM.51/1780.H.M.ShipHiberniaADM.51/1730.

Page 304: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

H.M.ShipLondonADM.51/1857.H.M.ShipMarlboroughADM.51/1854.H.M.ShipMonarchADM.51/1879.H.M.ShipPlantagenetADM.51/1790.H.M.B/SloopRedwingADM.51/1715.H.M.FrigateSolebayADM.51/1763.H.M.ShipTheseusADM.51/1738.

Page 305: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

PrefeitoCESARMAIA

COMISSÃOPARAASCOMEMORAÇÕESDACHEGADADED.JOÃOEDAFAMÍLIAREALAO

RIODEJANEIRO

Page 306: A viagem maritima da familia reall - a transfere‚ncia da corte portuguesa para o Brasil

CoordenadorgeralALBERTODACOSTAESILVA

SecretárioMunicipaldasCulturasRICARDOMACIEIRA

SecretárioExtraordináriodoPatrimônioCulturalANDRÉZAMBELLI

SecretáriaMunicipaldeEducaçãoSONIAMOGRABI

SecretáriaEspecialdeComunicaçãoSocialÁGATAMESSINAPIOBORGES

SubsecretárioEspecialdeTurismoPAULOBASTOSCEZAR

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ConsultorasLILIAMORITZSCHWARCZELÚCIAGARCIA

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Ediçãodigital:novembro2013

ISBN:978-85-378-0662-3