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AYN RAND
AVIRTUDE DO EGOSMO
INTRODUO
Diante do ttulo deste livro, A virtude do egosmo, no falta quem pergunte o porqu
do termo egosmo, com conotao positiva, ao lado de virtudese todos sabem
que egosmo o oposto de uma qualidade virtuosa de carter.
O motivo simples: egosmo etimologicamente significa preocupao com nossos
prprios interesses. O termo egosmo no tem nenhuma conotao, positiva ou negativa;
no diz se os interesses so bons ou maus; ou quais so. Cabe tica responder a esse
tipo de questo.
A tica altrusta responde que a preocupao com nosso prprio interesse nociva;
s tem valor moral uma ao praticada em benefcio dos outros. Em lugar de perguntar:
O que so valores?, o altrusta pergunta: Quem deve se beneficiar dos valores?
tornando o beneficirioda ao o nico critrio de valor moral.Tem o mesmo valor, por
exemplo, o dinheiro ganho com o trabalho ou com um rouboambos so imorais
porque o beneficirio um egosta.
Essa tica trgica, porque no nos fornece um cdigo de valores morais e nos deixa
sem diretrizes morais. Essa falta de diretrizes tem levado a maioria das pessoas a
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desperdiar suas vidas entre o cinismo e a culpacinismo, por no praticarem a tica
altrusta; e culpa, por no se atreverem a rejeitar essa tica.
O que fazer? O primeiro passo defender o direito do homem a uma existncia moral
racionalou seja, a um cdigo moral que sirva para definir os interesses e valores
adequados vida; que mostre que moral preocupar-se com os prprios interesses; e que
afirme o direito das pessoasdese beneficiarem de seus prprios atos morais.
Na tica Objetivista, quem age sempre o beneficirio da ao, que age de acordo
com seu prprio auto-interesse racional. A satisfao dos desejos irracionais dos demais,
ou a satisfao dos prprios desejos irracionais, no um critrio de valor moral: a
moralidade no um concurso de caprichos. errado achar que qualquer escolha
moral, desde que guiada por um julgamento independenteum julgamento nada mais
que o meio pelo qual se escolhe como agir. isso que torna a tica Objetivista uma
moralidade do auto-interesse racionalou do egosmo racional.
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ATICA OBJETIVISTA
O que moralidade, ou tica? um cdigo de valores que orienta as aes das
pessoas e que determina o propsito e rumo de suas vidas. A tica, como cincia, trata
da descoberta e da definio deste cdigo.
Para definir um cdigo de tica objetivo, racional e cientfico, necessrio responder
s perguntas: Para que serve um cdigo de valores? O conceito de valor, de Bem ou
Mal, arbitrrio, ou metafsico, uma condio inaltervel da existncia humana? A
tica o territrio dos caprichos ou da razo? A tica um luxo subjetivo ou uma
necessidade objetiva?
A alternativa a um cdigo de tica objetivo, racional e cientfico, uma tica mstica
com fundamentos sociais, com a sociedade no lugar de Deus. Nessa tica, o bem da
sociedade a fonte, o padro e o critrio tico; e o bem tudo o que desejaa sociedade.
O problema que a sociedade no uma entidade, apenas de um nmero de
pessoas; se a sociedade um princpio tico, ento alguns indivduos falam e agem em
seu nome, e nos impem os seus caprichos. Caprichos de quem? O meu, o da sociedade,
o de um ditador, tanto faz. Para o moralista atual, a tica subjetivae est proibida de
abordar a razo, a conscincia e a realidadepremissa que devemos questionar.
Comecemos pelo princpio: O que so valores? Por que precisamos de valores?
Valor o objetivo da ao, o que se quer obter ou se manter. O conceito de valor
depende da resposta pergunta: Valor para queme para o qu? O que pressupe que h
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uma entidade capaz de agir para atingir um objetivo em face de uma alternativaonde
no h alternativas, no possvel ter objetivos e valores.
S uma entidade vivapode ter objetivos e agir para atingi-los. Todos os organismos
vivos agem para conservar a sua vida. O que o apropriadopara conservar a vida? A ao
que leva sobrevivncia do organismo. A inao a anttese da vida, que tem como
valor supremo uma ao constante de auto-preservao.
Valores dependem de um objetivo ltimo, um fim em si mesmo, e a vida o nico fim
em si mesmo. O homem descobre o conceito de valor e toma conscincia da questo
do bem e do mal pelas sensaes fsicas deprazer ou dor. Sentir prazer ou dor parte de
sua natureza, parte do tipo de entidade que ele .
A sensao fsica de prazer informa que o organismo est no curso certo de ao. A
dor, que o organismo est em um curso erradode ao. Um organismo que s capaz de
sentir orientado pelo mecanismo prazer-dor de seu corpo. Seu conhecimento e seu
cdigo de valores so automticos.
Os organismos superiores possuem a faculdade da percepo, que lhe permitem ter
conscincia, no apenas de estmulos isolados, mas de entidades, de coisas.
Diferentemente das plantas e dos animais, as aes e a sobrevivncia do homem
requerem valores conceituais que no so adquiridos automaticamente. Um conceito
uma integrao mental de uma ou mais percepes, isoladas por um processo de
abstrao e unidas por meio de uma definio especfica. A organizao de percepes
em conceitos permite compreender e reter uma quantidade ilimitada de conhecimento,
maior que as percepes imediatas de qualquer momento dado.
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A faculdade que dirige esse processo a razo, que identifica e integra o material
provido pelos sentidos e o processo se denomina pensar. Pensar no uma funo
automtica, decidimos pensarou no, j que pensar requer um estado volitivo de
conscincia focalizada. Psicologicamente, pensar ou no pensar consiste em escolher
focalizar ou no focalizar. Existencialmente, focalizar ou no focalizar escolher
entre ser ou no consciente. Metafisicamente, ser ou no consciente escolher entre
a vida e a morte.
Mas a responsabilidade do homem vai alm: seu pensamento no automtico,
instintivo ou involuntrio, ou infalvel. Deve pensar e assumir responsabilidade pelos
resultados; e descobrir as leis da lgica, para dirigir o pensamento. Tudo que precisa tem
que ser aprendido, descoberto e produzido por suaprpria escolha, esforo e mente.
Pensamento e trabalho produtivo so os dois pontos essenciais para a sobrevivncia
de um ser racional. Alguns parasitas mentais podem optar por no pensar. Outros
tentam sobreviver por meio da fora bruta ou da fraude, saqueando ou escravizando
quem produz. Quem sobrevive por meio da fora em lugar da razo, sobrevive como os
animais. Mas, assim como os animais no sobrevivem usando o mtodo das plantas
rejeitando a locomoo e esperando que o solo os alimenteum parasita no pode
sobreviver usando o mtodo dos animais, rejeitando a razo e contando com homens
produtivospara servi-lo.
Para a tica Objetivista o critriode valor a vida humana e o propsito tico de
cada indivduo sua prpria vida. Os trs valores fundamentais da tica Objetivista so:
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Razo, Propsito e Auto-Estima, com suas trs virtudes correspondentes:
Racionalidade, Produtividade e Orgulho.
Racionalidade o reconhecimento de que s a razo fonte de conhecimento, nico
juzo de valor e nico guia de ao; de que todos os objetivos, valores e atos ocorrem na
realidade e que o maior valor a percepo da realidade; de que se deve aceitar a
responsabilidade de formar os prprios juzos e de viver pelo trabalho da prpria mente
(que a virtude da Independncia); de que no se deve nunca sacrificar convices s
opinies ou desejos dos outros (que a virtude da Integridade); de que nunca se deve
falsear a realidade, procurar ou conceder o imerecidonem em matria, nem em
esprito (que a virtude da Justia); de que nunca se deve decretar uma causa sem
assumir a responsabilidade por seus efeitos; de que nunca se deve evadir com
contradies; e de que deve rejeitar qualquer forma de misticismo, isto , qualquer fonte
de conhecimento no-sensorial, indefinvel e sobrenatural.
A Produtividade o reconhecimento que a mente humana sustenta a vida com o
trabalho produtivo, que liberta o homem da necessidade de ajustar-se ao meio ambientee
lhe d o poder de ajustar o meio ambientea si prprio.
O Orgulho o reconhecimento de que produzimos os valores fsicos necessrios paramanter a vida e adquirimos os valores de carter que fazem a vida merecer ser vivida
assim como fazemos nosso prprio destino, fazemos tambm nossa prpria alma.
Temos ambio moralconsideramos a ns mesmos como nosso mais alto valor.
O princpio social bsico da tica Objetivista que todo ser humano vivo um fim
em si mesmo, no o meio para o bem-estar dos outrose, portanto, que o homem deve
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viver para o seu prprio proveito, no se sacrificando pelos outros, nem sacrificando os
outros para si. Viver para seu prprio proveito significa que o propsito moral mais alto do
ser humano a realizao de sua prpria felicidade.
A sobrevivncia do homem no confronta sua conscincia como uma questo de
vida ou morte, mas de felicidade ou sofrimento. A felicidade o estado de triunfo da
vida, o sofrimento o de alerta da morte. O mecanismo emocional da conscincia do
homem um barmetro que registra as suas emoes bsicas: felicidade ou sofrimento.
Nem a vida, nem a felicidadeo estado da conscincia que provm da realizao dos
prprios valorespodem ser atingidas atravs de caprichos irracionais. apenas atravs
da aceitao da prpria vida, como princpio fundamental, e da busca dos valores
racionais requeridos pela vida, que se alcana a felicidadeno tornando a felicidade
um princpio indefinido e irredutvel e ento tentando viver por essas diretrizes.
Essa, alis, a falcia do hedonismo tico, pessoal ou social, individual ou coletivo. A
Felicidade o propsito da tica, mas no a sua base. A tarefa da tica definir o
cdigo de valores adequado e, desse modo, dar-nos o meio de alcanar a felicidade.
A tica de Nietzsche (a busca egosta dos prprios caprichos), ou o altrusmo servil
aos caprichos dos outros, como a tica de Bentham, Mill, Comte e de outros hedonistas
sociais, legaram humanidade apenas a escolha de caprichos. Quando o objetivo tico
a maior felicidade do maior nmero no h escolha seno odiar, ter medo e a luta de
uns contra os outros, porque os desejos e interesses necessariamente colidem. O
canibalismo moral de todas as doutrinas hedonistas e altrustas consiste na premissa de
que a felicidade de um homem implica prejuzo de outro.
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A tica Objetivista orgulha-se de defender o egosmo racional, que significa: os
valores exigidos pela vida humana, no os valores produzidos pelos desejos, emoes e
aspiraes; que o bem do homem no requer o sacrifcio de ningum; e que no h
conflitos de interesses entre pessoas que no desejam o imerecido, que no fazem
sacrifcios, nem os aceitam, e que se tratam entre si como negociantes, trocando valor por
valor.
O princpio da troca o nico princpio tico racional para todos os relacionamentos
humanos, pessoais e sociais, particulares e pblicos, espirituais e materiais. o princpio
dajustia.
Amor, amizade, respeito, admirao so a resposta emocional s virtudes do outro, o
pagamento espiritual dado em trocado prazer pessoal egosta que se obtm das virtudes
de carter de outro. o altrusta que diz que a valorizao das virtudes de outra pessoa
um ato de desinteresse. Amar dar valor. Somente um homem racionalmente egosta,
que se valoriza a si mesmo, capaz de valorizar algum.
somente com base no egosmo racionalcom base na justiaque os homens
podem ajustar-se para viver juntos numa sociedade livre, pacfica, prspera, benevolente
e racional.
possvel tirar algum proveito pessoal da vida em sociedade? Conhecimento e
comrcio so os dois grandes valores ganhos com a convivncia social. O ser humano a
nica espcie que pode transmitir e expandir seu estoque de conhecimento,
beneficiando-se das descobertas uns dos outros. O segundo grande benefcio a diviso
do trabalho: ela capacita o homem a dedicar seu esforo a um campo de trabalho em
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particular e a negociar com outros que se especializaram em outros campos. Essa forma
de cooperao permite a todos que tomam parte nela deter mais conhecimentos,
habilidade e retorno produtivo pelos seus esforos do que poderiam obter se cada um
tivesse de produzir tudo do que necessitasse.
O princpio polticobsico da tica Objetivista : ningumum grupo, a sociedade,
ou o governopossui o direito de iniciaro uso da fora fsica contra os outros. Todos
tm o direito de usar a fora fsica apenas em retaliao e apenas contra aqueles que
iniciam seu uso.
O nico propsito moral adequado de um governo proteger os direitos das pessoas
e proteg-las da violncia fsicaproteger o direito delas vida, liberdade,
propriedade(sem os direitos de propriedade, nenhum outro direito possvel) e busca
da felicidade.
No tentarei aqui discutir a teoria poltica do Objetivismo. Direi apenas que cada
sistema poltico baseado em uma teoria ticae que a tica Objetivista a base moral
do capitalismo. Quando digo capitalismo, quero dizer o capitalismo puro e
desregulamentado, do tipo laissez-faire. claro que um sistema puro de capitalismo
jamais existiu. Mas o capitalismo no um sistema do passado; o sistema do futurose a espcie humana tiver futuro.
Apresentei aqui os fundamentos mais simples de meu sistema, suficientes para
indicar de que maneira a tica Objetivista a moralidade da vidae se contrape s trs
principais escolas de teoria ticaa mstica, a social e a subjetiva, que representam a
moralidade da morte.
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No a imoralidade das pessoas que responsvel pelo colapso que ameaa destruir o
mundo civilizado, mas o tipo de moralidade que as pessoas tm sido incitadas a praticar.
possvel mudar. Quem estabelece nossos objetivos e determina nosso rumo a
filosofia; apenas a filosofia que pode salvar-nos agora. O mundo est enfrentando uma
escolha: se a civilizao deve sobreviver, a moralidade altrusta que os homens precisam
rejeitar.
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ATICA NAS SITUAES DE EMERGNCIA
Algum deve arriscar sua vida para ajudar um homem que est se afogando ou est
encurralado no meio do fogo?
O altrusmo no d uma resposta racional a essa pergunta, porque destruiu o
conceito de benevolncia e a boa vontade autntica ao elevar a ajuda aos outros
condio central e bsica da tica. Valorizar o ser humano e ter qualquer interesse
pessoal pelos outros se torna um ato de abnegao, de sacrifcio prprio. Sendo assim,
qualquer amor, respeito ou admirao pelos outros no fonte de prazer, mas uma
ameaa existncia.
O princpio racional de conduta exatamente o oposto: agir sempre de acordo com a
hierarquia dos seus valores. Sem essa hierarquia no possvel uma conduta racional,
nem juzos de valor e nem escolhas morais.
O amor e a amizade so valores profundamente pessoais e egostas: o amor uma
expresso da auto-estima e uma resposta aos valores pessoais em outra pessoa. Um amor
abnegado ou desinteressado uma contradio de termos: implica que se
indiferente ao que se valoriza. Portanto, a preocupao com o bem estar de quem se ama
parte racional dos interesses egostas de algum.
O mtodo adequado de julgar quando ou se devemos ajudar outra pessoa a
referncia ao nosso prprio auto-interesse racional e nossa hierarquia de valores: o
esforo que se d, ou risco que se corre, deve ser proporcional ao valor da pessoa em
relao nossa prpria felicidade.
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Voltando ao exemplo de salvar uma pessoa que est se afogando. Se ela um
estranho, s moralmente adequado salv-la quando o perigo para a nossa prpria vida
mnimo; quando o perigo grande, imoral tentar. Somente a falta de auto-estima
pode permitir que algum no valorize mais a sua vida do que a de um estranho
qualquer.
A virtude envolvida em ajudar aqueles que se ama no abnegao ou sacrifcio,
mas integridadea lealdade para com as convices e valores que se tem. O homem
racional no esquece que a vida a fonte de todos os valores e, como tal, a fonte, no
apenas de todos os seus valores, mas de sua capacidade de valorar. desta boa vontade e
do respeito pelo valor da vida humana que se ajudam estranhos em uma situao de
emergnciae apenas em uma situao de emergncia.
Em condies normais da existncia, o homem tem de escolher as suas metas e
atingi-las por seu prprio esforo e no pode viver a sua vida orientado por regras
aplicveis apenas s condies sob as quais a sobrevivncia humana impossvel.
Pobreza, ignorncia e doena no so emergncias metafsicas. Os valores de que o
homem precisacomo riqueza ou conhecimentono lhe so dados como um presente
da natureza. Tm que ser descobertos e conquistados pelo seu prprio esforo. A nicaobrigao que se tem com relao aos outros manter um sistema social que deixe os
homens livres para conquistarem e manterem os seus valores.
Todo cdigo de tica baseado na metafsicauma teoria sobre a natureza
fundamental do universo no qual o homem vive e age. A tica altrusta baseada em
uma metafsica de universo malvolo, em que o homem, por natureza, desamparado
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e condenado. Sucesso, felicidade e conquista lhe so impossveis; emergncias e
catstrofes so a norma da sua vida. Sua meta primordial combat-las. Os altrustas
no so capazes de basear a sua vida numa existncia normal e sempre oferecem como
exemplos situaes do tipo bote salva-vidas, a partir das quais deduzem regras de
conduta moral. Mas no se vive em barcos salva-vidasnem um barco salva-vidas o
lugar em que se deve buscar a metafsica.
O propsito moral da vida de um homem a conquista da prpria felicidade. Isso
no implica indiferena para com os outros, que a vida humana no tenha valor para ele
e que no tenha motivo para ajudar outros em uma emergncia. Mas implica tambm
que no deve subordinar sua vida ao bem-estar dos outros; que qualquer ajuda seja uma
exceo, no a regraum ato de generosidade, no de obrigao moral; que esses atos
sejam incidentais, como so os desastres no curso da existncia humana; e que valores,
no desastres, sejam a meta, a primeira preocupao e a fora motivadora da vida.
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OS CONFLITOSDE INTERESSES ENTRE OS HOMENS
Os que no entendem o princpio Objetivista de que no existem conflitos de
interesse entre homens racionais argumentam: Suponha que dois homens se
candidatam ao mesmo emprego. Apenas um pode ser empregado. No h um conflito
de interesses, e um deles no se beneficiar custa do sacrifcio do outro? Para
responder a essa pergunta preciso atentar para quatro consideraes: (a) Realidade,
(b) Contexto, (c) Responsabilidade, (d) Esforo.
(a) Realidade. Os interesses dependem das metas que uma pessoa escolhe; aescolha de metas depende dos seus desejos; e estes, dos seus valores. O fato de algum
desejar algo no quer dizer que o objeto do desejo seja bom, nem que satisfaz-lo de
seu interesse.
A escolha das metas de um homem racional sempre guiada pela razo, e no por
sentimentos ou desejos. Porque eu quero no motivo para validar seus atos. Ele s
age depois que um desejo passa pelo crivo da razo e que possa dizer: Eu quero isto
porque certo.
Um homem racional sabe tambm que no pode ter valores contraditrios ou
identific-los com seus interesses. S os que desprezam a razoos msticos ou os
subjetivistasse permitem viver em um perptuo conflito e com seus supostos interesses
em permanente choque, entre si, e com os interesses dos outros.
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(b) Contexto. Um homem racional no vive apenas o momento. Ele no permiteconflitos entre seus interesses atuais e futuros, nem busca satisfazer hoje o desejo que
destruir os valores, amanh.
Da mesma forma, no tem desejos divorciados dos meios de atend-los. A vida em
sociedade no isenta o homem da responsabilidade de viver por seu prprio esforo. Mas
permite minimizar esse esforo ao trocar o que produz pelo que no produz, e
produzido pelos outros. O que determina seus ganhos? O mercado livre, isto : a escolha
voluntria dos outros homens de trocar com ele o que produzem.
(c) Responsabilidade. A racionalidade humana requer que se assuma aresponsabilidade de encontrar os meios necessrios para que alcancemos nossos objetivos.
A maioria das pessoas foge dessa responsabilidade e se condena a frustraes e fracassos.
Essas pessoas apenas desejam, esperando que algo aconteacomo a pessoa que quer
ser rica, mas no pensa em por que meios, aes e condies pode alcanar a riqueza.
Outras ficam indignadas com o mundo e solucionam mentalmente seus
problemas. questo Quem pagar pela soluo?, respondem: Isso no da minha
conta. Minha responsabilidade dizer apenas o que deve ser feito. O pagamento no
comigo. com esse argumento que so propostas as reformas sociais que muitasvezes trazem apenas destruio ao mundo.
Quem no responsvel pela prpria vida e por seus prprios interesses, no leva em
conta os interesses e a vida de outrosignorando que esses outros, pela cooperao
social, so tambm responsveis pela satisfao dos seus desejos.
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(d) Esforo. Um homem racional sabe que os benefcios da riqueza resultam dos
seus esforos e de cada umque nadaexiste em quantidade limitada e fixa, espera de
algum que a distribua entre os homens. Se os benefcios tm de ser produzidos, o
ganho de um no implica o sacrifcio de outro, mas tambm no implica que devamos
depender dos outros para atender nossos interesses.
Os parasitas temem os concorrentes porque no acreditam que possam ganhar a vida
por mrito prprio. Vem-se como medocres e descartveis; vem o mundo sua volta
esttico, e julgam que vivem pelo benefcio sem causa de algum. Um homem racional
sabe que no se vive s de sorte ou favores e que no h uma nica chance ou
oportunidade e que nenhuma meta especfica insubstituvel. Sabe que apenas as
pessoas que ama so insubstituveise s essas.
Retornemos agora pergunta original sobre os dois candidatos ao mesmo emprego,
e observemos de que maneira ela ignora ou ope s quatro consideraes que fiz
anteriormente.
(c)Realidade. O fato de dois homens disputarem o mesmo emprego no significaque qualquer deles esteja qualificado para a funo, ou que a merea, ou que seus
interesses sejam prejudicados, se no a preencher.
(d) Contexto. Ambos devem saber que o emprego que desejam s existe porquealgum criou o emprego. Se houvesse apenas um candidato no haveria mais emprego,
j que o negcio teria fechado suas portas. Alm disso, a competio pelo emprego de
seu interesse, muito embora um dos candidatos perca nessa ocasio especfica.
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(a)Responsabilidade.Ningum tem o direito moral de dizer que quer apenas umemprego e no se importa com o resto. Quem ignora o que necessrio para que seus
desejo se materializem no tem direito a nenhum desejo.
(b)Esforo. Quem obteve o emprego, o fez por seu prprio mrito, no pelosacrifcio do outro candidato, que nunca teve nenhum direito adquirido sobre o
emprego. O fracasso em dar a um homem o que nunca lhe pertenceu dificilmente pode
ser descrito como sacrificar seus interesses.
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AVIDA NO REQUER UM COMPROMISSO?
Compromisso a composio de demandas conflitantes por meio de concesses
mtuas. Para que exista um compromisso, necessrio que haja uma demanda vlida,
um valor que possa ser oferecido reciprocamente e que as partes concordem com o
princpio que serve de base negociao.
No pode haver compromisso entre o dono de uma propriedade e um ladro; um
compromisso nesse caso o reconhecimento do direito deste sobre a propriedade
daquele. Que valor ou concesso o ladro ofereceu em troca? Quando o princpio da
concesso unilateral aceito como base de um relacionamento, apenas questo de
tempo antes do ladro se apodere de tudo.
No pode haver compromisso entre a liberdade e o controle governamental. Aceitar
apenas um pouco de controle renunciar ao princpio dos direitos individuais
inalienveis e substitu-lo pelo princpio do poder arbitrrio e ilimitado do governo.
No pode haver compromisso quanto a princpios bsicos ou questes fundamentais.
O que um compromisso entre a vida e a morte? Ou entre a verdade e o erro? Ou
entre a razo e a irracionalidade?
Hoje, entretanto, quando as pessoas falam de compromisso, o que querem dizer
a rendio unilateral a qualquer reivindicao irracional e infundada. A raiz desta
doutrina o subjetivismo tico, que faz de um caprichouma base moral irredutvel; que faz
com que todos os desejos tenham a mesma validade moral, e que a nica maneira pela
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qual os homens podem conviver bem, juntos, submetendo-se a qualquer coisa e
comprometendo-se com qualquer pessoa.
A integridade no consiste na lealdade aos caprichos subjetivos de algum, mas a
princpios racionais. Nesse contexto, um compromisso (no sentido inescrupuloso desta
palavra) no significa abandonar o conforto pessoal, mas as prprias convices.
No pode haver nenhum compromisso com relao a princpios morais. Se voc fica
tentado a perguntar: A vida no exige um compromisso? Traduza a pergunta para o
seu real significado: A vida no exige a rendio daquilo que verdadeiro e bom ante o
falso e o mau?
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COMO LEVAR UMA VIDA RACIONAL NUMA SOCIEDADE IRRACIONAL?
A resposta a esta pergunta requer apenas um princpio fundamental, infelizmente
desprezado hoje: no se deve nunca falhar ao manifestar um julgamento moral.
Vivemos sob o agnosticismo moral, o preceito de que no se deve fazer um julgamento
moral dos outros. O problema : nada corrompe e destri uma cultura ou o carter de
um homem to completamente quanto o agnosticismo moral, que leva as pessoas a abster-
se igualmente de elogiar as virtudes e condenar os vcios. Essa atitude reflete enorme
injustia, s explicvel pelo fato de que passar um julgamento moral uma enorme
responsabilidade.
S o cinismo amoral de nossa era permite que algum se sinta livre para fazer um
julgamento irracional, sem arcar com as conseqncias. A realidade objetiva a instncia
superior de nossos juzos. o medo dessa responsabilidade que leva a maioria daspessoas neutralidade moral indiscriminada e a dizer: No julgue, para no serdes
julgado.
No h como escapar das escolhas que devemos fazer; como temos de fazer escolhas,
no h como escapar dos valores morais; e enquanto estiverem em jogo valores morais,
nenhuma neutralidade moral possvel. O princpio moral a se adotar nesta questo :
Julgue e esteja preparado para ser julgado.
Tolerncia indiscriminada e condenao indiscriminada no so dois opostos: so
duas variantes do mesmo subterfgio e uma fuga da responsabilidade do julgamento
moral. Se as pessoas no dissessem que um delinqente juvenil precisa de amor, que
um criminoso no conhece nada melhor ou que os comunistas so simplesmente
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reformistas agrrios, a histria teria sido diferente. Alm disso, dizer que ningum
est totalmente certo ou totalmente errado e quem sou eu para julgar? tm efeitos
letais. medida que aumenta a neutralidade moral, cresce a solidariedade com o vcio e
o antagonismo para com a virtude.
Uma sociedade irracional uma sociedade de covardes morais, paralisados pela
perda de critrios, princpios e diretrizes morais. Nessa sociedade, a iniciativa s pode vir
dos que esto dispostos a assumir a responsabilidade de estabelecer valores racionaisou
de um facnora, que no est preocupado com questes de responsabilidade.
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OCULTO DA MORAL INDEFINIDA
Um dos sintomas mais eloqentes da falncia moral da cultura atual a atitude que
se pode resumir como: No h preto nem branco, h apenas cinzas, como se fosse
possvel haver o cinza, sem o preto e o branco.
Uma variante do tema a afirmao de que ningum perfeito neste mundoou
seja, que todos so uma mistura de bem e mal e, portanto, moralmente cinzas. Se o
homem cinza por natureza, nenhum conceito moral se aplica a ele, incluindo
cinzento, e no pode haver moral alguma.
H muitas razes para a maioria das pessoas serem moralmente imperfeitas, isto ,
manterem valores contraditrios e confusos. Mas o fato da maioria das pessoas serem
moralmente cinza que torna mais imperiosa a necessidade do homem ter uma moral
branca.
Assim como em epistemologia o culto da incerteza uma revolta contra a razo
tambm, na tica, o culto da moral cinzenta uma revolta contra os valores morais.
Ambos so uma revolta contra o absolutismo da realidade. E assim como o culto da
incerteza no pode ter sucesso numa rebelio aberta contra a razo, e luta para elevar a
negao da racionalidade a algum tipo de raciocnio superior, da mesma forma o culto
da moral indefinida no pode ser bem-sucedido numa rebelio aberta contra a
moralidade, e luta para elevar a negao da moralidade a um tipo superior de virtude.
Este culto uma negao da moralidade, mas esse no o objetivo de seus adeptos.
O que eles procuram algo ainda mais irracional: uma moralidade no-absoluta, fluida,
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elstica, de meio termo. No se dizem alm do bem e do mal, mas procuram preservar
as vantagens de ambos. No constituem uma escola de pensamento; so o produto
tpico da omisso filosficada falncia intelectual que produziu o irracionalismo, na
epistemologia; o vcuo moral, na tica; e a economia mista, na poltica.
Observe as conseqncias dessa amoralidade. Na poltica, que o termo extremismo
tornou-se um sinnimo de mal, independentemente do contedo da questo (o mal
no sobre o quevoc extremista, mas quevoc extremistaisto , coerente).
Na literatura, o anti-heri, cuja distino no ter distinonem virtudes, nem
valores, nem objetivos, nem carter, nem significao, e que ocupa o lugar do heri,
mesmo que no faa nada e no v a lugar nenhum.
Em uma economia mista, homens de premissas mistas devem ser chamados de
cinzas; mas, em ambos os casos, a mescla no permanece cinza por muito tempo. O
cinza simplesmente um preldio para o preto.
Pode haver homens cinzas, mas no pode haver princpios morais cinzas. A
moral um cdigo de preto e branco.
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ATICA COLETIVIZADA
Ouvimos com freqncia a pergunta: O que ser feito pelos pobres e deficientes
numa sociedade livre? A premissa implcita do altrusta-coletivista que o infortnio de
uns uma hipoteca a ser paga pelos outros. Observe que a pergunta no : Alguma coisa
deve ser feita?, mas: O que ser feito?, como se a premissa coletivista tivesse sido
tacitamente aceita e s restasse discutir os meios de implement-la.
O que nos interessa discutir aqui a premissa coletivista de considerar esta questo
como poltica, como um problema ou um dever da sociedade como um todo. Sabemos
que a natureza no garante segurana automtica, sucesso e sobrevivncia para ningum.
Portanto, s a presuno ditatorial e o canibalismo moral do cdigo altrusta-coletivista
permitem a algum fantasiar que pode garantir esta segurana a alguns homens custa
de outros.
Aceitar que a sociedade deve fazer algo pelo pobre, implica aceitar a premissa
coletivista de que a vida do pobre pertence sociedade. Essa atitude revela um mal mais
profundo: o altrusmo corri a compreenso dos conceitos de direitose do valor da vida
de um indivduo; revela uma mente da qual se apagou a realidade de um ser humano.
Um homem que est disposto a servir como meio para outros fins, necessariamente
considerar os outros como meios para seus fins. Quanto mais altrusta ele for, mais
criar esquemas para o bem do gnero humano ou da sociedade, do pblico ou das
geraes futuras, ou de qualquer coisa, exceto seres humanos reaisesquemas a serem
impostos por meios polticos, isto , pela fora, sobre um nmero ilimitado de seres
humanos.
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A pergunta que ningum responde sobre todos os objetivos pblicos desejveis :
para quem? Desejos e objetivos pressupem beneficirios. A prxima vez que voc
encontrar um desses sonhadores com esprito pblico, que lhe dir com rancor que
alguns objetivos muito desejveis no podem ser atingidos sem a participao de todos,
diga-lhe que, se ele no puder obter a participao voluntria de todos, seus objetivos
ainda sero excelentes, mas inatingveis, e que as vidas dos homens no esto sua
disposio.
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OS CONSTRUTORES DE MONUMENTOS
H sessenta anos atrs, deve ter havido alguma desculpa (sem justificativa) para a
crena de que o socialismo uma teoria poltica que aspira ao bem-estar dos homens.
Hoje essa crena no pode ser considerada um erro inocente. O socialismo foi tentado
em cada continente do globo; luz de seus resultados, est na hora de perguntar os
motivos dos defensores do socialismo.
A caracterstica essencial do socialismo a negao dos direitos da propriedade
individualo direito de uso e controle da propriedade outorgado sociedade como
um todo (isto , torna-se coletivo), mas no ao povo. O socialismo no um
movimento do povo. um movimento de intelectuais que se uniram com seus aliados e
executores: os facnoras. Qual ento o motivo destes intelectuais? Primeiro, a nsia do
poder; segundo, a caa de benefcios materiais imerecidos por parasitas financeiros,
vagabundos, saqueadores e criminosos.
Os slogans dos intelectuais incluem as expresses o pblico, o interesse pblico,
o servio ao pblico. Como o pblico no uma entidade, como voc e eu, qualquer
conflito entre o interesse pblico e interesses privados implica no sacrifcio dos
interesses de muitos em benefcio de algunsquase sempre de gangues que podem
dizer, e fazer valer a ponta de faca, o pblico cest moi.
Sabe-se que a grandiosidade depende do esforo produtivo da mente de um homem.
Uma ilusode grandeza, contudo, pode ser realizada pela quimera de um monumento
pblico, apresentado como um presente generoso s vtimas, e dedicado ao servio de
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todos e de ningum, pertencente a todos e a ningum, admirado por todos e aproveitado
por ningum.
O horizonte de Nova Iorque um monumento de um esplendor a que nenhuma
pirmide ou palcio poder se igualar. Mas os arranha-cus no foram construdos com
fundos pblicos, nem com um propsito pblico: foram construdos por pessoas comuns
visando o lucro pessoal.
Esta a diferena entre o capitalismo e o socialismo. A ideologia da socializao
(numa forma neofascista) est atualmente flutuando, por negligncia, no vcuo de nossa
atmosfera cultural e intelectual. Observe a freqncia com que nos pedem sacrifcios
indefinidos para propsitos no-especificados, ou com que o governo invoca o interesse
pblico. Observe como adquiriu proeminncia a questo do prestgio internacional.
Ao julgar o socialismo, lembre-se de que no h dicotomia entre direitos humanos
e direito de propriedade. Nenhum direito humano pode existir sem direito
propriedade. Se quem produz no possui o resultado de seu esforo, no possui a prpria
vida, que se torna propriedade do Estado. Quem reivindica o direito de redistribuir a
riqueza produzida por outros, est reivindicando o direito de tratar os seres humanos
como um objeto.
Ao julgar a devastao causada pelo socialismonazista ou comunistao mar de
sangue e os milhes de vtimas, lembre-se de que elas no foram sacrificadas pelo bem
da humanidade, mas pela vaidade envenenada de quem almejou um manto de
grandeza imerecidae que o monumento ao socialismo uma pirmide de prdios
pblicos, erigidos sobre a fundao de um cadver humano, com a figura do dirigente
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posando no alto, batendo no peito e gritando sua justificativa pelo prestgio ao vazio
sem estrelas abaixo dele.
OS DIREITOS DO HOMEM
Direitos so conceitos morais que permitem a transio lgica dos princpios que
orientam as aes de um homem para os princpios que guiam o seu relacionamento
com os outros. o conceito que preserva e protege a moralidade individual em um
contexto social; a ligao entre o cdigo moral de um homem e o cdigo legal da
sociedade; entre a tica e a poltica. Os direitos individuais so o meio de subordinar a
sociedade lei moral.
A histria foi dominada por uma variante tica da doutrina altrusta-coletivista, que
subordinava o indivduo a alguma autoridade superior, mstica ou social. A moralidade
era um cdigo aplicvel ao indivduo, mas no sociedade, que pairava fora da lei moral
por ser considerada como a fonte da tica.
A realizao mais profunda da Revoluo Americana foi a subordinao da sociedade
lei moral. O princpio dos direitos individuais estendeu a moralidade ao sistema social
como limitao ao poder do Estado, como proteo do homem contra a fora bruta do
coletivo, como subordinao da fora ao direito. Os Estados Unidos foram a primeira
sociedade moralda Histria.
Antes, o homem havia sido considerado como meio para os fins dos outros, e a
sociedade como um fim em si mesma. A Revoluo Americana considerou o homem
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como um fim em si mesmo, e a sociedade como um meio para a coexistncia pacfica e
voluntriados indivduos. Antes, considerava-se que a vida de um homem pertencia
sociedade e que a liberdade do homem era concesso da sociedade, revogvel a qualquer
tempo. A Revoluo Americana introduziu a noo de que a vida de um homem dele
por direito (o que significa: por princpio moral e por sua natureza); que um direito
propriedade de um indivduo; que a sociedade, como tal, no tem direitos; e que o nico
propsito moral de um governo a proteo dos direitos individuais, entendido direito
como um princpio moral que nomeia e sanciona a liberdade de ao de um indivduo
em um contexto social. H apenas um direito fundamental (todos os outros so
conseqncias ou corolrios): o direito de um homem sua prpria vida.
O conceito de direito se refere apenas liberdade de ao: implica estar livre de
toda compulso fsica, coero ou interferncia de outros homens. Para cada indivduo,
um direito a sano moral de tipo positivode sua liberdade de agir por seu prprio
juzo, para seus prprios objetivos, por sua prpria escolha voluntria, sem coao.
Quanto aos seus concidados, os direitos de um indivduo no impem nenhuma
obrigao, exceto de um tipo negativo: absterem-se de violar os direitos dos outros.
Se o direito vida a fonte de todos os direitos, o direito propriedade a nica
forma de implement-lo. Sem direitos de propriedade, nenhum outro possvel. O
homem que produz, enquanto outros dispem de seu produto, um escravo.
O direito propriedade no o direito a um objeto, mas ao e s conseqncias
de produzir ou ganhar aquele objeto. No uma garantia de que o homem obter
qualquer propriedade, mas apenas uma garantia de que a ter, se a ganhar.
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O ser humano uma entidade de um tipo especfico, um ser racional; ele no
funciona de maneira exitosa sob coero, e seus direitos so uma condio necessria do
seu modo particular de sobrevivncia. Violar os direitos do homem implica compeli-lo a
agir contra o seu prprio julgamento e a expropriar seus valores. S h uma maneira de
fazer isso: pelo uso da fora. H dois violadores potenciais dos direitos do homem: os
criminosos e o governo. A grande realizao dos Estados Unidos foi traar uma
distino entre os doisproibindo ao segundo a verso legalizada das atividades dos
primeiros.
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DIREITOSCOLETIVIZADOS
Direitos so um princpio moral que define relacionamentos sociais corretos. Se
um homem precisa de um cdigo moral para sobreviver, a sociedade precisa de
princpios morais para organizar um sistema social harmonioso com a natureza do
homem e com suas exigncias para sobreviver. So igualmente imorais as noes de que
qualquer coisa est certa, porque eu escolhi faz-la, como qualquer coisa que a
sociedade faz certa, porque a sociedadeescolheu faz-la.
Quando poder se ope a direito ocorre a substituio dos Direitos do Homem
por Direitos da Massa. Em uma sociedade livre, os direitos de qualquer grupo so
derivados dos direitos dos seus membros atravs da escolha individual e voluntria e do
acordo contratual que formalizou seu agrupamento com vistas a propsitos especficos
comuns.
Um grupo, como tal, no tem direitos. A noo de direitos coletivos (a noo de
que direitos pertencem a grupos, no a indivduos) significa que direitos pertencem a
alguns homens, mas no a outros, e que o critrio dessa posio privilegiada consiste na
superioridade numrica.
Assim como a moralidade altrusta da qual derivada, essa doutrina se baseia no
misticismo: da f, como o direito divino dos reis, ou na mstica social de coletivistas
modernos, que vem a sociedade como um superorganismo, superior soma de seus
membros.
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ANATUREZA DO GOVERNO
Governo uma instituio que detm o monoplio de impor certas regras de
conduta social em determinada rea geogrfica. Para viver em sociedade os homens
precisam desta instituiopor qu?
Os dois grandes valores proporcionados pela vida em sociedade so: conhecimento e
comrcio. S o homem pode transmitir e expandir o seu conhecimento; o conhecimento
sua disposio maior do que o que qualquer indivduo poderia adquirir no seu
prprio tempo de vida; e todos obtm um benefcio incalculvel do conhecimento
descoberto por outros. O segundo grande benefcio a diviso do trabalho: ela capacita
homens racionais, produtivos e independentes em uma sociedade racional, produtiva e
livre, a devotar seus esforos a uma particular atividade e a comercializar com outros que
se especializam em atividades diferentes.
Para que ocorra esse benefcio mtuo em uma sociedade civilizada, a pr-condio
o reconhecimento dos direitos individuais e a excluso da fora fsica dos
relacionamentos sociais.
O uso da fora fsica no pode ser deixado ao arbtrio de cada cidado: requer regras
objetivas para julgar, regras objetivas para punir e procedimentos para excluir. S uma
multido de linchadores tenta levar a julgamento crimes sem essas regras.
O governo o meio de colocar o uso retaliatrio da fora fsica sob leis objetivamente
definidas. Sob um sistema social adequado, qualquer um pode fazer qualquer coisa,
exceto o que legalmente proibido; um funcionrio do governo no pode fazer nada,
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exceto o que legalmente permitido. Este a forma de subordinar a fora ao direito,
o conceito de um governo de leis, e no de homens.
J que a proteo dos direitos individuais o nico propsito apropriado de um
governo, ela a nica matria adequada legislao. Todas as leis devem ser baseadas
em direitos individuais e voltadas proteo destes: todas devem ser objetivas; os
homens devem saber claramente o que a lei lhes probe fazer (e por que); o que constitui
um crime; e em que penas incorrero, se o cometerem.
A fonte da autoridade do governo o consentimento dos governados. O governo
o agente dos cidados e que, como tal, no tem direitos, exceto os delegados pelos
cidados para um propsito especfico. Por seu turno, os cidados renunciam ao uso da
fora fsica e delegam ao governo o seu direito de autodefesa fsica, para que este seja
cumprido de uma maneira objetiva e legalmente definida.
Em uma sociedade livre, os homens negociam entre si voluntariamente e, quando o
elemento tempo est envolvido na relao, celebram contratos. Muitas vezes ocorrem
conflitos na interpretao dos contratos. Isto leva a uma das mais importantes e
complexas funes do governo: a de rbitro que decide disputas de acordo com leis
objetivas.
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OCUSTEIO DO GOVERNO NUMA SOCIEDADE LIVRE
Qual seria o mtodo adequado de custear as despesas do governo numa sociedade
livre? Numa sociedade livre, a taxaoou, para ser mais exato, o pagamento pelos
servios governamentaisseria voluntria. Como os servios inerentes a um governoa
polcia, as foras armadas, os tribunaisso necessrios para os indivduos e afetam
diretamente os seus interesses, eles deveriam estar dispostos a pagar pelos servios, assim
como pagam por um seguro.
Existem muitos mtodos possveis de custeio voluntrio do governo. Apenas a ttulo
de ilustrao, avalie as seguintes possibilidades. Um dos servios mais necessrios, que s
um governo pode prestar, a proteo dos contratos firmados entre os cidados.
Suponha que o governo s devesse reconhecer como legalmente vlidos e exeqveis os
contratos que tivessem sido segurados mediante o pagamento de um prmio legalmentefixado sobre o valor do contrato. Este seguro no seria compulsrio; no haveria punio
legal para quem firmasse contratos sem seguro. Mas esses contratos no seriam
legalmente exeqveis, se fossem quebrados; a parte prejudicada no poderia procurar
reparao num tribunal. Outra opo seria aplicar um seguro, com um percentual
irrisrio, sobre todas as operaes de crdito.
Um programa de custeio voluntrio do governo seria suficiente para pagar as funes
legtimas de um governo adequado. Esse princpio repousa nas seguintes premissas: o
governo no o proprietrio do rendimento dos cidados; a natureza dos servios
apropriados do governo deve ser definida e delimitada constitucionalmente; e o governo
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deve ser considerado como um agenteque deve ser pago por seus servios, no como um
benfeitor cujos servios so gratuitos.
A premissa a ser contestada a noo de que quaisquer servios governamentais (at
mesmo os legtimos) devem ser prestados aos cidados gratuitamente. O governo deve
ser considerado como um servidor pago.
Quem no pode pagar (o custeio voluntrio do governo), se beneficia de um bnus
propiciado pelo custeio do governo pelos que podem pagar. Note-se que este tipo de
bnus (um benefcio indireto) no pode ser esticado para cobrir benefcios diretos, ou
para reivindicar, como fazem os estatistas, que as contribuies diretas a quem no
produz sejam proporcionais aos benefcios dos que produzem.
Todo tipo de bnus social ou de benefcio gratuito s possvel numa sociedade livre
e adequado enquanto no implicar em sacrifcio. Nesse tipo de sociedade, no haveria
a possibilidade legal de qualquer redistribuio de riqueza, quer para o sustento
imerecido de alguns pelo trabalho forado e rendimento extorquido de outros, quer para
a explorao dos que esto aptos a pagar os custos e manter uma sociedade civilizada em
favor daqueles que so incapazes ou relutantes em pagar o custo de manuteno de sua
prpria existncia.
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AINTIMIDAO COMO ARGUMENTO
Vivemos em uma selva epistemolgica. Para evitar o debate, alguns se valem da
intimidao do oponente em lugar de argumentar. H duas vertentes principais. A
primeira procura refutar um argumento questionando o carter do oponente. A segunda
afirma arbitrariamente a falsidade do argumento, que oferecida como prova de sua
imoralidade.
O que caracteriza o Argumento da Intimidao o seu apelo auto-incerteza moral
e sua confiana no medo, culpa ou ignorncia da vtima. O exemplo clssico do
Argumento da Intimidao a conhecida histriaAs Roupas Novas do Rei.
Segundo a histria, alguns charlates vendem roupas inexistentes ao rei, afirmando
que a beleza incomum destas torna-as invisveis aos moralmente depravados de corao.
Compradas as roupas, o rei prefere caminhar nu pela rua, a arriscar-se a incorrer em
condenao moral por dois vigaristas. O povo, presa da mesma auto-incerteza moral,
aplaude o reiat que uma criana grita que o Rei est nu.
O modelo do Argumento da Intimidao : Para quem compreende, no h
necessidade de explicao; para quem no compreende, no h nenhuma explicao.
Como resistir a esse Argumento? Existe apenas uma arma contra ele: a certeza moral.
Em numa batalha intelectual, o nico critrio de julgamento deve ser a Verdade ou
Falsidadee no a aprovao ou desaprovao dos nossos oponentes.
Observe que o Argumento da Intimidao no consiste em introduzir julgamento
moral em questes intelectuais, mas em substituiro julgamento moral pelo argumento
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intelectual. Um julgamento moral, porm, sempre deve seguir, e no preceder (ou
substituir), as razes nas quais baseado.
O Argumento da Intimidao mostra a importncia de estar-se convicto das
prprias premissas e motivos morais. Em questes morais e intelectuais, no suficiente
estar-se certo: deve-se saberque se est certo.