acácia branca seco ferreira estratégias deliberadas em
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO
ACÁCIA BRANCA SECO FERREIRA
ESTRATÉGIAS DELIBERADAS EM ORGANIZAÇÕES DE EXCELÊNCIA RECONHECIDA NO BRASIL
BELO HORIZONTE - MG AGOSTO/2004
ACÁCIA BRANCA SECO FERREIRA
ESTRATÉGIAS DELIBERADAS EM ORGANIZAÇÕES DE EXCELÊNCIA RECONHECIDA NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Mercadologia e Administração Estratégica Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Gonçalves
Belo Horizonte
2004
F383e 2004
Ferreira, Acácia Branca Seco, 1963- Estratégias deliberadas em organizações de excelência reconhecida no Brasil / Acácia Branca Seco Ferreira. - 2004. 217 p. : il.
Orientador: Carlos Alberto Gonçalves Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração
1.Planejamento estratégico - Teses 2.Empresas - Avaliação - Teses 3.Administração - Teses I.Gonçalves, Carlos Alberto. II.Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração III.Título
CDD : 658.401
MMS 04/06
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos exemplos de:
Coragem, determinação e caráter de meu pai,
um imigrante português empreendedor,
ACÁCIO DUARTE FERREIRA;
Fé, dedicação ao trabalho e amor incondicional de minha mãe,
uma imigrante portuguesa batalhadora,
BRANCA VIRGÍNIA SECO DA COSTA FERREIRA;
Solidariedade, companheirismo e amizade dos meus irmãos,
dois presentes de Deus,
ACÁCIO SÉRGIO SECO FERREIRA e
SOCORRO DE FÁTIMA BRANCA SECO FERREIRA;
Dedicação ao próximo, carinho e apoio,
um anjo em meu caminho,
MARIA TEREZINHA DE JESUS OLIVEIRA;
Esperança e certeza de um mundo melhor dos meus afilhados,
três adoráveis amiguinhos,
ATALIBA NETO, MARCELO ACÁCIO e SORAYA NATASHA.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, presença em todos os momentos e certeza de apoio sempre, especialmente, quando tudo parece estar irremediavelmente perdido. A Nossa Senhora, Mãe Protetora, a quem digo: “Nada sem Vós.” Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Campos Corrêa, Presidente do Centro Integrado de Ensino Superior do Amazonas – CIESA, a quem muito deve a educação superior no Amazonas, pela seriedade com que conduz a mesma, por ter apoiado este projeto de vida. Ao Prof. Dr. José Waldemar Gonçalves de Souza, Coordenador da Pós-Graduação do CIESA, cujo trabalho, há décadas, vem possibilitando a vinda de renomadas instituições de ensino ao nosso Estado, a exemplo da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Ao Prof. Dr. José Edson Lara, Coordenador do Mestrado, cuja visão educacional e empresarial tornou realidade o Sonho de Mestrado de um grupo de 18 profissionais e cuja diplomacia sempre preservou a harmonia nas relações entre alunos e entre estes e os professores. Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Gonçalves, pela paciência, compreensão, dedicação, incentivos constantes, por não limitar um sonho e, especialmente, por tratar as pessoas não como elas são, mas como elas podem e poderiam ser, pedra angular na minha formação e, certamente, referencial profissional e humano, que tive o privilégio de ter como Orientador. Ao Prof. Dr. Ronaldo Darwich Camilo, companheiro de ideal da Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade – FPNQ, que sempre foi receptivo e a quem devo muito a delimitação do tema da pesquisa, pelas sugestões dadas e material fornecido. Ao Prof. Dr. Francisco Vidal Barbosa, Coordenador do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração – CEPEAD da UFMG, pelo apoio que deu ao projeto de formação de mestres no Amazonas e pelas palavras de estímulo, que nos sustentaram nos momentos mais difíceis. Aos meus Professores Dr. Allan Claudius Q. Barbosa, Dr. Antônio Luiz Marques, Dra. Áurea Helena Puga Ribeiro, Dr. Hudson Fernandes Amaral, Dr. Ivan Beck Ckagnazaroff, Dra. Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, Dr. Reynaldo Maia Muniz, Dr. Ricardo Teixeira Veiga e Dr. Sérgio Birchal, cujos ensinamentos e experiências foram de extrema valia nessa nova etapa de minha formação e me conduziram a um admirável mundo novo. À Profa. Dra. Ursula Wetzel Brandão dos Santos da Pontifícia Universidade Católica - PUC do Rio de Janeiro, que me ofereceu sua dissertação para orientação quanto ao uso do método da Grounded Theory.
Aos colaboradores das Secretarias do CIESA e do CEPEAD, especialmente, à Lígia Almeida e à Solange Silvio, na primeira, e à Edna Souza, na segunda, pelo sempre eficiente apoio administrativo. À Sra. Ana Maria Rutta, Superintendente Geral da FPNQ, pela manifestação de apoio ao estudo. Ao Sr. Antonio Tadeu Pagliuso, Gerente Técnico da FPNQ, pelos contatos efetuados visando a facilitar o acesso às organizações estudadas. Ao Sr. André Ribeiro Ferreira, Gerente do Prêmio Nacional da Gestão Pública - PQGF, pelo incentivo e material fornecido. À Federação das Indústrias do Estado do Amazonas – FIEAM, pelo apoio ao estudo, mediante a concessão da passagem aérea para realização da pesquisa nas unidades de análise, em São Paulo e Rio de Janeiro. À Diretoria e colaboradores da SERASA, SIEMENS e XEROX pelas informações dadas, essenciais ao presente estudo, e amabilidade com que me trataram, especialmente a Andréa Meirelles Zeronian, Antônio Carlos Gomes, Fernando Max Souza Bruno, Francisco La Gamba, Eliana Bogea, Humberto Luis Silva Bocayuva, Luiz César Guimarães, Márcio Lassance, Marcos Vancellote, Maria Sol F. Marques da Silva, Newton Nascimento Alves, Patrícia Seabra Loureiro, Rosimar Rodriguez e Walter Antonio Conti. A todos os meus colegas de Mestrado pelo incentivo e companheirismo, com especial destaque para aqueles que, na etapa final, contribuíram com suas experiências: Eliana Migliorin da Rosa, Mário Augusto da Silva Botelho e Rossinês Batista de Oliveira. À Laura Dionísia do Monte Rodrigues, Marlene Araújo de Faria e Nicolino Ferreira De Luca, meus amigos, que, em sua contínua expressão de amizade, compartilharam seu conhecimento. Aos meus amados pais, Acácio Duarte Ferreira e Branca Virgínia Seco da Costa Ferreira, que sempre de tudo fizeram para que eu pudesse realizar todos os meus sonhos. Ao meu querido irmão, Acácio Sérgio Seco Ferreira, que não poupou esforços para que eu pudesse me dedicar a este empreendimento, assumindo muitos dos meus deveres. À minha querida irmã, Socorro de Fátima Branca Sêco Ferreira David Antônio, ao meu cunhado e amigo Ataliba David Antônio Filho e aos meus adoráveis afilhados Ataliba Neto, Marcelo Acácio e Soraya Natacha, meus grandes incentivadores nesta árdua jornada. À minha sempre estimada protetora, Maria Terezinha de Jesus Oliveira, um anjo que Deus pôs no meu caminho e de minha família. E a todos aqueles, que apesar de não serem nominalmente citados, estão presentes em minha lembrança e gravados em meu coração pela solidariedade e apoio manifestados ao longo desta caminhada.
Ser Excelente é:
Fazer as coisas e não buscar razões para demonstrar que não podem ser feitas. Compreender que a vida não é algo que se receba pronto, mas, sim, que temos de produzir as oportunidades para se alcançar o êxito. Compreender que, com base numa férrea disciplina, é possível forjar o caráter dos triunfadores. Traçar um plano e alcançar os objetivos desejados, apesar de todas as circunstâncias. Saber dizer: equivoquei-me e se propor a não cometer mais o mesmo erro. Levantar-se cada vez que se fracassa, com um espírito de superação e de aprendizagem. Reclamar consigo mesmo para o desenvolvimento pleno das próprias potencialidades, buscando incansavelmente a realização. Entender que, através do privilégio diário do nosso trabalho, podemos alcançar a realização. Exercer a nossa liberdade e sermos responsáveis por cada uma das nossas ações. Sentir-se ofendido e lançar-se à ação contra a pobreza, a calúnia e a injustiça. Transcender o nosso tempo deixando, para as gerações futuras, um mundo melhor.
Miguel Angel Cornejo y Rosado
RESUMO
O estudo da formulação e implementação de estratégias deliberadas é particularmente relevante quando se consideram organizações de excelência reconhecida no Brasil, sobretudo quando estudos recentes indicam que uma grande parte das empresas no País reconhece-se significativamente afastada dos melhores modelos e das melhores práticas de gestão. Três organizações que ganharam o Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ são objetos de análise, neste estudo de casos múltiplos, utilizando-se os procedimentos metodológicos da Grounded Theory. Na busca de compreender como os processos de formulação e implementação de estratégias deliberadas ocorrem, foram entrevistados membros dessas organizações, efetuada observação simples, em um caso, sendo os dados obtidos cotejados com documentos organizacionais e publicações sobre o assunto. A dimensão da análise considerou o momento presente mais dados retrospectivos, relativos à época da obtenção do Prêmio. Os dados revelaram semelhanças, especialmente de fundamentos, em que pese, em alguns momentos, haver divergências de práticas; deixaram antever possíveis associações entre queda no desempenho e descuido na gestão estratégica. Espera-se que os resultados encontrados contribuam para aumentar o conhecimento sobre a gestão dessas empresas reconhecidas por seu desempenho de “Classe Mundial”, incentivando um aprofundamento do assunto. Palavras chaves: estratégia deliberada; formulação; implementação; desempenho
reconhecido
ABSTRACT
The study of the formulation and implementation of deliberate strategies is particularly important when are considered excellence organizations recognized in Brazil, above all when recent studies indicate that a great part of the companies in the Country is recognized significantly aparted of the best models and of the best administration practices. Three organizations that won the National Prize of the Quality - PNQ are analysis objects, in this study of multiple cases, being used Grounded Theory methodological procedures. In the search of understanding as the formulation processes and implementation of deliberate strategies happen, the members of those organizations were interviewed, in a simple observation, in a case, being the obtained data compared with documents organizacional and publications on the subject. The dimension of the analysis considered the present moment plus retrospective data, relative to the time of the obtaining of the Prize. The data revealed likeness, especially of foundations, in that it weighs, in some moments, there to be divergences of practices; they let to foresee possible associations among fall in the acting and negligence in the strategic administration. It is waited that the found results contribute to increase the knowledge on the administration of those companies recognized by your acting of " World " Class, motivating a deep reflexion of the subject. Keywords: deliberate strategy; formulation; implementação; recognized acting
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS …………………………………………………………………. 11 LISTA DE QUADROS ………………………………………………………………... 12 LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................ 13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14 1.1 Reconhecimento do desempenho excelente no Brasil ........................................ 16 1.1.1 As estratégias no Modelo de Excelência do PNQ® ............................................ 19 1.2 Questão de pesquisa ............................................................................................ 22 1.3 Objetivos ............................................................................................................. 25 1.4 Relevância da pesquisa ....................................................................................... 26 1.5 Delimitação da pesquisa ...................................................................................... 27 1.6 Estrutura da dissertação ...................................................................................... 28 2 ESTRATÉGIA .................................................................................................... 32 2.1 Origens ................................................................................................................ 33 2.2 Conceito .............................................................................................................. 36 2.3 Classificação ....................................................................................................... 37 2.4 Evolução do pensamento estratégico ................................................................. 39 3 FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIA …………………………………………. 43 3.1 Processo prescritivo ............................................................................................ 45 3.2 Processo descritivo ............................................................................................. 63 3.3 Processo misto .................................................................................................... 74 4 IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA …………………………………….. 85 4.1 Relacionamento ente formulação e implementação de estratégia ....................... 87 4.2 Abordagens para implementação de estratégia ................................................... 90 4.3 Sistema de gestão estratégica: Balanced Scorecard ............................................ 99
4.3.1 Estrutura do Balanced Scorecard ........................................................................ 99 4.3.2 Princípios do Balanced Scorecard ...................................................................... 104 4.3.3 Componentes de um sistema de gestão estratégica ............................................. 106
5 OBJETOS DE ESTUDO ………………………………………………………. 109 5.1 Serasa ................................................................................................................... 110 5.1.1 Perfil ..................................................................................................................... 110 5.1.2 Modelo de gestão ................................................................................................. 113 5.2 Siemens ................................................................................................................ 114 5.2.1 Perfil ..................................................................................................................... 114 5.2.2 Modelo de gestão ................................................................................................. 115 5.3 Xerox .................................................................................................................... 116 5.3.1 Perfil ..................................................................................................................... 116 5.3.2 Modelo de gestão ................................................................................................. 117 6 METODOLOGIA ..…………………………………………………………….. 119 6.1 Tipo de pesquisa ……………………………………………………………….. 120 6.2 Roteiro metodológico da pesquisa …………………………………………….. 122 6.3 Suporte teórico das abordagens metodológicas …......…………………………. 129 6.4 Questões do protocolo ...………………………………………………………... 131 6.5 Universo e amostra …………………………………………………..…………. 133 6.6 Unidades de análise e unidades de observação ………………………………… 134 6.7 Locais dos casos .................................................................................................. 135 6.8 Caracterização dos entrevistados ………………………………………………. 136 6.9 Limitação da pesquisa ………………………………………………………….. 137 7 ANÁLISE ………………………………………………………………………. 140 7.1 Descrição dos processos de formulação e implementação das estratégias
deliberadas ……………………………………………………………………... 141
7.1.1 Serasa …………………………………………………………………………... 142 7.1.2 Siemens ………………………………………………………………………… 162 7.1.3 Xerox …………………………………………………………………………… 175 7.2 Análise comparativa dos processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas ………………………………………………………......
195
8 (RE)ENCONTRO COM A LITERATURA …………………………………… 198 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………...………………………………… 205 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………. 209 APÊNDICE …………………………………………………………………….. 216
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo de Excelência do PNQ® .................................................................... 20Figura 2 – Estrutura da dissertação .................................................................................. 29Figura 3 – Estratégias deliberadas e emergentes .............................................................. 38Figura 4 – Estrutura de estratégia de Andrews ................................................................. 47Figura 5 – Modelo básico da Escola do Design ............................................................... 49Figura 6 – Matriz de Ansoff ............................................................................................. 50Figura 7 – Modelo Steiner de Planejamento Estratégico ................................................. 51Figura 8 – Curva de experiência para memórias de semicondutores ............................... 55Figura 9 – Matriz de crescimento-participação do BCG .................................................. 56Figura 10 – Matriz de atratividade da indústria - força do negócio ................................... 58Figura 11 – Forças que dirigem a concorrência na indústria .............................................. 60Figura 12 – Três estratégias genéricas ................................................................................ 61Figura 13 – A cadeia de valores genérica ........................................................................... 62Figura 14 – Reagindo às ameaças à sustentabilidade ......................................................... 71Figura 15 – Diagnosticando problemas de estratégia ......................................................... 87Figura 16 – O Balanced Scorecard como estrutura para ação estratégica ......................... 102Figura 17 – Pilares da gestão empresarial Serasa................................................................ 113Figura 18 – The Xerox Management Model ....................................................................... 118Figura 19 – Processo da pesquisa ....................................................................................... 124Figura 20 – Processo de planejamento da Serasa 1995 ...................................................... 144Figura 21 – Negociação de compromissos com as pessoas ............................................... 144Figura 22 – Sistema estratégico da Serasa: Visão analítica e dinâmica ............................. 145Figura 23 – Planejamento estratégico da Siemens – Telecomunicações 1998 .................. 163Figura 24 – Insumos do planejamento estratégico da Siemens .......................................... 164Figura 25 – Etapas do processo de planejamento estratégico da Siemens ......................... 164Figura 26 – Processo de planejamento e gestão da Xerox ................................................. 177Figura 27 – Annual plan ..................................................................................................... 178Figura 28 – Management processes ................................................................................... 179Figura 29 – Golden Thread ................................................................................................ 181Figura 30 – Detalhamento do processo de planejamento e gestão da Xerox ..................... 183
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Evolução do pensamento estratégico ............................................................. 42Quadro 2 – Conceitos-chave da estratégia do conhecimento ........................................... 66Quadro 3 – Culturas estimulantes e inibidoras do aprendizado ....................................... 69Quadro 4 – Cinco abordagens para implementação de estratégia .................................... 98Quadro 5 – Roteiro metodológico da pesquisa ................................................................. 123Quadro 6 – Roteiro teórico dos procedimentos metodológicos ....................................... 130Quadro 7 – Relação dos entrevistados .............................................................................. 138Quadro 8 – Alinhamento e balanceamento estratégico da Serasa .................................... 148Quadro 9 – Processos de formulação de estratégias em organizações reconhecidas ....... 195Quadro 10 – Processos de implementação de estratégias em organizações reconhecidas . 196
LISTA DE SIGLAS
CS Corporate Strategy – área central da Siemens no Brasil
FDC Fundação Dom Cabral
FPNQ Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade
MBC Movimento Brasil Competitivo
MIS Sistema de Informações Gerenciais
PBQP Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade
PICE Política Industrial e de Comércio Exterior
PMQ Processo de Melhoria da Qualidade
PNQ Prêmio Nacional da Qualidade®
PPR Programa de Participação nos Resultados
PQGF Prêmio Nacional da Gestão Pública
PQSP Programa da Qualidade no Serviço Público
PSP Processo de Solução de Problemas
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SERASA Centralização de Serviços dos Bancos S.A.
INTRODUÇÃO
É comum as pessoas perguntarem: “O que motiva você a conduzir esses enormes projetos de pesquisa?” É uma boa pergunta. E a resposta básica é: curiosidade. Não há nada que eu considere mais vibrante do que pegar uma pergunta cuja resposta eu não sei e embarcar numa pesquisa, em busca de respostas. Tenho uma profunda satisfação em entrar no barco, como Lewis e Clark, e rumar para oeste, dizendo: “A gente não sabe o que vai encontrar quando chegar lá, mas com certeza vamos te contar quando voltarmos.
Jim Collins – Empresas Feitas para Vencer
1 INTRODUÇÃO
O modelo político-econômico contemporâneo, baseado em intensa competição, estimula a
busca de informações e conceitos fundamentais à entrada e à evolução das organizações no
campo da gestão para a excelência do desempenho, em níveis compatíveis aos de classe
mundial, visando à sobrevivência organizacional.
A competição da era industrial cedeu lugar à competição da era da informação, onde novas
capacidades são exigidas para assegurar o sucesso competitivo, tornando obsoletas muitas das
premissas fundamentais da concorrência industrial. Agora, as empresas não conseguem mais
obter vantagens competitivas sustentáveis apenas com a rápida alocação de novas tecnologias
a ativos físicos e com a gestão eficaz dos ativos e passivos financeiros.
As organizações da era da informação se caracterizam, segundo Kaplan & Norton (1997, p. 4-
7), por apresentarem processos interfuncionais; ligação com clientes e fornecedores;
segmentação de clientes; escala global; inovação e trabalhadores de conhecimento –
knowledge workers. Na busca de se transformar para poder competir com sucesso, as
organizações adotam diversos programas de melhoria, como: produção e sistemas de
16
distribuição just-in-time; competição baseada no tempo; produção enxuta/empresa enxuta;
criação de organizações focalizadas no cliente; gestão de custos baseada em atividades;
empowerment dos funcionários; reengenharia e gestão da qualidade total.
Muitas dessas iniciativas, não raro, apresentam resultados frustrantes, em sua maioria, ou
melhor, quase sempre, por se tratarem de iniciativas isoladas dissociadas da estratégia
organizacional.
A excelência reconhecida de algumas empresas demonstra êxito no jogo competitivo, no qual
a estratégia ocupa posição relevante, constituindo-se, por conseguinte, em um ângulo
instigante pelo qual tais organizações merecem ser apreciadas. Dessa forma, o presente estudo
buscou analisar como as estratégias deliberadas são formuladas e implementadas em
organizações de excelência reconhecida no Brasil.
1.1 Reconhecimento do desempenho excelente no Brasil
Os grandes desafios da sociedade produtiva brasileira passaram a ser, a partir de 1990, a busca
da racionalização, da modernização e da competitividade, tornando indispensáveis os esforços
em prol da Qualidade e Produtividade, cujos conceitos foram aos poucos delineando uma
nova filosofia de gestão empresarial. Voltada para resultados, totalmente orientada para o
mercado, com o compromisso de dirigentes e empregados em todas as fases do processo
produtivo, essa filosofia busca assegurar produtos e serviços com desempenho, preço e
disponibilidade adequados às necessidades do mercado (BRASIL, [1991?], p.3).
O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade – PBQP, criado pelo Governo, em
17
novembro de 1990, estabeleceu um conjunto ordenado de ações indutoras da modernização
industrial e tecnológica. As suas linhas de ação eram parte integrante da Política Industrial e
de Comércio Exterior – PICE, guardando unidade e coerência com os mecanismos e
instrumentos desta, estando de forma articulada com a Política Científica e Tecnológica e
demais políticas intervenientes. Dentre as várias estratégias e ações do PBQP, estava:
“Instituir prêmios destinados ao reconhecimento das contribuições em prol da qualidade e
produtividade” (BRASIL, [1991?], p. 16).
O PBQP e o Movimento Nacional pela Qualidade, criados na última década do século
passado para fazer frente à abertura de mercado, tinham como foco a melhoria da eficiência
operacional, por meio, entre outros, da difusão de conceitos e métodos de gestão, criação de
infra-estrutura tecnológica e garantia da Qualidade (CONGRESSO INTERNACIONAL DA
QUALIDADE PARA COMPETITIVIDADE, 2003).
Hoje, a proposta do PBQP é defendida pelo Movimento Brasil Competitivo – MBC,
instituição reconhecida pelo Governo Federal como uma Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público – OSCIP, voltada para o fomento da competitividade da sociedade
brasileira. Impulsionado pela globalização e buscando o desenvolvimento local, seu foco está
na integração de estratégia e gestão, por meio da sofisticação da estratégia e dos métodos de
gestão; atuação em setores, cadeias e regiões; medição de desempenho e benchmarking,
diferenciação pela inovação e desenvolvimento sustentável (CONGRESSO
INTERNACIONAL DA QUALIDADE PARA COMPETITIVIDADE, 2003).
O Prêmio Nacional da Qualidade® – PNQ, criado em 1992, e o Prêmio Qualidade do
Governo Federal – PQGF, criado em 1998 - denominado, a partir de 2003, Prêmio Nacional
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da Gestão Pública – são resultados das políticas e diretrizes acima e constituem-se nas
premiações de modelo de gestão de maior relevância no cenário nacional. Enquanto o PNQ se
volta para a melhoria da competitividade das organizações privadas e da qualidade e
produtividade das organizações públicas, o PQGF tem abrangência limitada ao setor público.
Ambos, porém, estão compromissados com a qualidade de vida da sociedade brasileira, na
medida em que estimulam, em seu campo de atuação, a excelência nas organizações.
A Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade – FPNQ, entidade privada e sem fins
lucrativos, foi fundada por 39 organizações, privadas e públicas, em outubro de 1991, para
administrar o Prêmio Nacional da Qualidade® – PNQ, tendo como missão “promover a
conscientização para a busca da excelência na gestão das organizações e facilitar a
transmissão de informações e conceitos relativos às técnicas e práticas bem-sucedidas, por
meio do Prêmio Nacional da Qualidade®” (FUNDAÇÃO PARA O PRÊMIO NACIONAL
DA QUALIDADE – FPNQ, 2004, p. 2).
O PNQ se baseia no Modelo de Excelência do PNQ®, que reflete a experiência, o
conhecimento e o trabalho de pesquisa de muitas organizações e especialistas, do Brasil e do
exterior. Esse modelo acompanha o estado da arte da gestão para a excelência do desempenho
e o aumento da competitividade, funcionando como importante instrumento para avaliação,
diagnóstico e orientação de qualquer tipo de organização – do setor público ou privado, com
ou sem fins lucrativos, de pequeno, médio ou grande porte (FPNQ, 2004, p. 17).
O PQGF, cuja administração cabe ao Programa da Qualidade no Serviço Público – PQSP, se
baseia em seu modelo, a exemplo de vários Programas Estaduais de Qualidade existentes,
tendo já realizado seis ciclos de premiação (BRASIL, 2004, p. 5).
19
1.1.1 As estratégias no Modelo de Excelência do PNQ®
Da criação do PNQ, em 1992, até 2002, o seu modelo sempre apresentou a mesma estrutura
de sete Critérios de Excelência, em que pese as contínuas melhorias implementadas ao longo
dos vários ciclos de premiação. No ciclo 2003, o modelo foi alterado, passando a apresentar
oito Critérios de Excelência, com o desmembramento do Critério Clientes e Sociedade em
dois, a saber: Liderança, Estratégias e Planos, Clientes, Sociedade, Informações e
Conhecimento, Pessoas, Processos e Resultados.
A aplicação do modelo permite uma visão sistêmica da organização e promove a excelência
do desempenho organizacional, na medida em que focaliza em resultados; parte das
necessidades dos clientes; escuta os anseios da sociedade em que está inserida; promove o
comprometimento da alta administração e demais membros da organização; envolve-os no
estabelecimento e operacionalização das estratégias e planos, respectivamente; sendo
sustentadas as ações em um sistema de informações estruturado, gerador de conhecimento e
viabilizados processos cada vez mais propiciadores de produtos e serviços de alto
desempenho.
As organizações que se candidatam ao Prêmio devem fornecer informações sobre os enfoques
aplicados em seu sistema de gestão e sobre os resultados alcançados, de acordo com o que é
solicitado pelos Critérios de Excelência. Tais informações permitem verificar se a candidata
possui práticas de gestão pró-ativas, refinadas e inovadoras, que produzam resultados
comparáveis aos referenciais de excelência (FPNQ, 2004, p. 9).
O Modelo de Excelência do PNQ® é representado pelo diagrama mostrado na Figura 1, que
20
Informações e Conhecimento
Informações e Conhecimento
Resultados
Clientes
Pessoas
Estratégiase Planos
Processos
Sociedade
Liderança
Figura 1 – Modelo de Excelência do PNQ® Fonte - FPNQ, 2004. p. 17.
simboliza um modelo de relacionamento entre a organização, percebida como um sistema
adaptável gerador de produtos e informações, e seu ambiente organizacional e tecnológico,
além do próprio ambiente externo (FPNQ, 2004, p. 17-18).
O diagrama permite a interpretação que segue, com base na publicação da FPNQ (2004, p.
18): A sobrevivência e o sucesso de uma organização dependem diretamente da sua
capacidade de atender as necessidades de seus clientes, bem como da sociedade na qual está
inserida. A equipe da liderança, com base nas informações obtidas sobre as necessidades dos
clientes e da sociedade, estabelece os valores e as diretrizes da organização, disseminando a
cultura da excelência nela e analisando criticamente o seu desempenho global.
21
As estratégias são formuladas pelos líderes para direcionar a organização e o seu
desempenho, bem como para determinar a sua posição competitiva. Estas são desdobradas em
planos de ação, para o curto e longo prazos, servindo como referência para a tomada de
decisões e para a aplicação de recursos na organização. Configura-se até aqui, com a
caracterização dos quatro critérios referidos, a etapa de planejamento do ciclo PDCA na
organização.
As pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas para
executarem e gerenciarem adequadamente os processos. Esses dois critérios respondem pela
etapa de execução do ciclo PDCA, enquanto que a etapa de controle desse ciclo se sustenta
nos resultados obtidos, que são o grande orientador para o acompanhamento do desempenho
da organização e suas tendências. Os resultados retornam para toda a organização na forma de
informações e conhecimento, para que ela possa tomar as ações e buscar o aprendizado
organizacional, configurando a etapa da atuação corretiva do ciclo PDCA. O diagrama
enfatiza as informações e o conhecimento como elementos que permitem a ligação e o
correlacionamento entre todos os critérios e, portanto, entre todos os elementos que
constituem a organização.
Correspondendo ao Critério 2 do Modelo de Excelência do PNQ®, Estratégias e Planos
focaliza o processo de formulação das estratégias voltado a determinar o posicionamento da
organização no mercado, direcionar as suas ações e maximizar o seu desempenho. Considera
ainda como as estratégias, os planos de ação e as metas são estabelecidos e desdobrados por
toda a organização e comunicados interna e externamente, bem como a organização define
seu sistema de medição do desempenho (FPNQ, 2004, p. 26).
22
Esse Critério, no modelo em vigor, compreende três Itens - cada um deles apresentando um
conjunto de requisitos específicos: formulação das estratégias, desdobramento das estratégias
e planejamento da medição do desempenho (FPNQ, 2004, p. 26-28).
Especificamente sobre formulação das estratégias, é solicitado que a organização apresente
como ela formula suas estratégias de maneira a determinar seu posicionamento no mercado,
direcionar as suas ações e maximizar o seu desempenho, destacando as suas principais
estratégias e evidenciando o controle e o aprendizado das práticas de gestão.
Com relação ao desdobramento das estratégias, é solicitado que evidencie como ela
desdobra suas estratégias e acompanha a implementação dos principais planos de ação
resultantes do processo de desdobramento das mesmas, bem como são feitos o controle e o
aprendizado das práticas de gestão.
O último Item do Critério em apreciação trata do planejamento da medição do
desempenho, solicitando que a organização apresente como define e implementa o seu
sistema de medição do desempenho e estabelece suas metas, de forma a reforçar as estratégias
para todas as partes interessadas, a permitir a avaliação dos rumos pela Alta Direção, a
aprender por meio das relações de causa e efeito entre os indicadores e a monitorar o
desempenho em todos os níveis da organização. Solicita, também, que seja evidenciado como
são feitos o controle e o aprendizado das práticas de gestão.
1.2 Questão de pesquisa
A abertura do mercado brasileiro, na última década do século passado, intensificou a
23
competição entre as organizações. Estas se viram obrigadas a redesenhar processos, reduzir
quadro de pessoal, terceirizar áreas, eleger benchmarks e implantar práticas de classe mundial,
na luta pela sobrevivência.
A pesquisa sobre as tendências do desenvolvimento das empresas no Brasil, realizada sob a
responsabilidade do Consultor José Paschoal Rossetti da Fundação Dom Cabral - FDC
(2002), revelou que praticamente todas as ferramentas de gestão listadas na pesquisa foram ou
são utilizadas de forma expressiva pelas empresas, sendo a principal delas, os programas de
qualidade, que atingem quase 100% das empresas. Evidenciou, entre outros aspectos, que o
foco no resultado é também uma forte tendência das empresas e surpreendeu ao constatar que,
apesar das mudanças havidas nas empresas, uma grande parte delas ainda se considera
significativamente afastada dos melhores modelos e das melhores práticas de gestão.
Essa constatação da realidade brasileira, evidenciada na pesquisa supracitada, fomenta o
interesse pelo estudo da gestão de empresas que, no Brasil, obtiveram o reconhecimento de
desempenho de excelência, levando-as a serem consideradas de “Classe Mundial”.
A parte escolhida para estudo no seu modelo de gestão diz respeito às estratégias, posto ser
estreito o vínculo entre desempenho organizacional, que lhes permitiu o reconhecimento, e
estratégia, segundo Moraes, Florêncio & Omaki (2001), na medida em que o desempenho
resulta do ajustamento entre as capacidades da empresa e os desafios que ela enfrenta, o que
se dá por meio da estratégia (KAY, 1996).
Moraes, Florêncio & Omaki (2001) afirmam haver um consenso entre autores
contemporâneos como Schendel (1995) e Collis & Montgomery (1995), de que os trabalhos
24
pioneiros apresentados por Andrews (1960) e Chandler (1960) estabeleceram as bases para o
reconhecimento da estratégia como a área da Administração mais significativamente
associada ao desempenho empresarial. Igualmente considerados como trabalho seminal nessa
área do conhecimento estão os livros de Ansoff (1965) e Selznick (1975). O primeiro por
incorporar conceitos de direção do crescimento, escopo da diversificação, vantagens
competitivas e sinergia – típicos de estratégia corporativa. O segundo por apresentar de forma
pioneira os conceitos associados à competência distintiva. Ambos podem ser considerados
como os precursores do conceito de core competence, posteriormente desenvolvido por
Hamel & Prahalad (1990).
O estudo supracitado da Fundação Dom Cabral (2002) – realizado, durante 13 meses, com 76
das 500 organizações listadas no anuário Melhores e Maiores de EXAME, junto ao principal
executivo e diretores de cada área analisada - evidenciou, em relação às estratégias, que o
cenário de incertezas no ambiente de negócios e a hipercompetição obrigam as empresas a
reverem com freqüência suas estratégias.
Foi constatado ainda que, em 76% das empresas, as estratégias mudaram substancialmente
nos últimos cinco anos; que os novos modelos de governança levam a novas formas de
definição das estratégias, estando o processo mais aberto e envolvendo um número maior de
pessoas e que, em 20% das empresas, as estratégias são definidas por uma espécie de
colegiado de acionistas, diretores executivos e gerentes e, somente em 4%, a tarefa é
exclusivamente dos controladores.
Para conhecer essa realidade dentro de um segmento especial – organizações premiadas pelo
PNQ –, desenvolveu-se este estudo, aceitando o desafio proposto por Mintzberg, Ahlstrand &
25
Lampel (2000, p. 274), em seu clássico Safári de Estratégia:
Chegou o momento de deixar nosso safári, também nossas bibliotecas, salas de aula, escritórios e retiros, e mergulhar na selva – onde precisaremos de uma visão clara para ver todos os animais reais. Certamente, encorajamos acadêmicos e consultores para que continuem sondando os elementos importantes de cada escola: precisamos saber mais a respeito de presas, trombas e caudas. Porém, mais importante, precisamos ir além da estreiteza de cada escola: precisamos saber como este animal chamado formação de estratégia, que combina todas essas escolas e mais, vive realmente sua vida.
Não se assume aqui um referencial teórico a priori. Nesta pesquisa, a teoria se fundamenta
nos dados colhidos e, visando a contribuir para o aumento do conhecimento sobre a gestão
dessas empresas de desempenho de “Classe Mundial”, desenvolveu-se a partir da seguinte
questão: como as estratégias deliberadas são formuladas e implementadas em
organizações de excelência reconhecida no Brasil?
1.3 Objetivos
Este estudo tem por objetivo geral apresentar os macroprocessos delineadores da formulação
e implementação das estratégias deliberadas em organizações de excelência reconhecida no
Brasil: Serasa, Siemens e Xerox.
Constituem-se seus objetivos específicos:
• Descrever os processos de formulação e implementação das estratégias
deliberadas na Serasa, na Siemens e na Xerox.
• Identificar os enfoques comuns e diferenciados na formulação e implementação
das estratégias deliberadas na Serasa, na Siemens e na Xerox.
26
1.4 Relevância da pesquisa
O conhecimento em gestão se torna, a cada dia, um ativo mais vital para as organizações. O
Movimento Brasil Competitivo – MBC e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE Nacional desenvolvem, atualmente no país, uma mobilização de
maneira a proporcionar, aos pequenos empresários brasileiros, o acesso a modelos de
pensamento e ação estratégicos de última geração, que irão permitir a melhoria da qualidade,
produtividade e performance de processos, produtos e serviços e, conseqüentemente, maior
competitividade (MATTOS, BELTRAND & BERTÉ, 2002).
O foco na competitividade remete obrigatoriamente ao Marketing e à inovação: O primeiro
provendo a relação entre organização e clientes, e a segunda garantindo a manutenção desta
pela capacidade da organização de desenvolver habilidades e de antecipar o futuro. Marketing
e inovação – que, segundo Peter Drucker apud Nobrega (1999), são as únicas funções básicas
em business, porque produzem resultados, enquanto tudo o mais são custos nas organizações -
constituem-se em elementos estratégicos.
É esse cenário atual, em que as ações governamentais, como as do MBC e do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão – MP, por meio do Programa da Qualidade no Serviço
Público – PQSP, se voltam cada vez mais para a integração de estratégia e gestão, que torna
pertinente e necessário o estudo realizado.
Cabe referenciar, mais uma vez, a pesquisa sobre tendências do desenvolvimento das
empresas no Brasil, realizada pela Fundação Dom Cabral - FDC (2002), que revelou,
surpreendentemente, que uma grande parte das empresas ainda se considera
27
significativamente afastada dos melhores modelos e das melhores práticas de gestão.
Ressalta, assim, a pesquisa da FDC, a importância dos objetos de análise desta pesquisa, quais
sejam, as organizações de desempenho reconhecido - as chamadas organizações de “Classe
Mundial”. Por outro lado, as ações do MBC e do MP reforçam a importância do conteúdo
estudado, isto é, o processo de formulação e implementação de estratégias.
É mister ainda fazer referência à pesquisa da Bain & Company, concluída em julho de 2001,
que constatou que, dentre as 25 Ferramentas/Modelos mais utilizados no mundo e no Brasil,
se destaca a Gestão pela Qualidade Total, com 41% no primeiro e 60% no segundo, sendo que
o modelo citado é o dos Prêmios Nacionais da Qualidade (FPNQ, 2002).
Considerando que a presente pesquisa concentrou-se em dois Itens do Critério Estratégias e
Planos do Modelo de Excelência do PNQ® - orientadores das questões básicas da pesquisa-,
tal fato vem corroborar ainda mais a importância do presente estudo, posto que a freqüência
do uso e universalidade do modelo o tornam digno de estudo aprofundado.
Pretende-se, com o estudo comparativo dos processos de formulação e implementação de
estratégias deliberadas em organizações de excelência reconhecida no Brasil, contribuir para
agregar descobertas aos estudos organizacionais, ao tempo em que se apóia o movimento
brasileiro centrado no desafio da competitividade com o oferecimento de mais um estudo.
1.5 Delimitação da pesquisa
O presente estudo analisou o modelo de gestão das empresas SERASA, SIEMENS e XEROX
28
- que tiveram seu desempenho reconhecido em algum momento (ou por mais de uma vez,
como no caso da SERASA) com a obtenção do PNQ -, quanto às suas estratégias, as quais
foram estudadas somente em relação aos seus processos de formulação e implementação.
Ficou, assim, excluído o planejamento da medição de desempenho, cujo estudo
correlacionado ao desempenho organizacional, certamente demandaria um período muito
maior de tempo para sua realização.
As estratégias deliberadas objeto do estudo foram apenas aquelas que se apresentaram como
estratégias competitivas. Estas, segundo Moraes, Florêncio & Omaki (2001), são meios,
cursos de ações, iniciativas utilizadas pelas empresas para alcançarem seus objetivos,
condicionadas aos recursos competitivos possuídos e às condições do ambiente de negócio.
Enfim, são estratégias selecionadas e implementadas visando a alcançar o sucesso nos
negócios.
O estudo foi desenvolvido junto às empresas supracitadas com base na realidade atual,
buscando, na medida do possível, resgatar a situação por ocasião da premiação.
1.6 Estrutura da dissertação
A abordagem deste trabalho segue a estrutura apresentada na Figura 2.
Na introdução, inicia-se a abordagem falando sobre o reconhecimento do desempenho
excelente no Brasil e mencionando o Modelo de Excelência do PNQ®, para, em seguida,
apresentar a questão da pesquisa e os seus objetivos, destacando a relevância da mesma e
29
Metodologia
Reencontro
com a literatura
Análise
Referências
bibliográficas
Considerações
finais
Objetos
de estudo
Apêndice
Introdução
Fundamentação teórica
Estratégia
Implementação
de estratégia
Formulação de estratégia
Figura 2 – Estrutura da dissertação Fonte – Elaborada pela autora desta dissertação
30
delimitando-a.
Na fundamentação teórica, enfoca-se a estratégia, sua formulação e sua implementação. O
componente de análise e observação da pesquisa, a estratégia, tem seu conceito, suas origens,
classificação e evolução no tempo comentados, mostrando que diferentes maneiras de
entender o pensamento estratégico conduzem a diferentes maneiras de definir a estratégia.
A formulação de estratégia é apresentada com base nas dez linhas de pensamento sobre
estratégia, sendo a abordagem feita com base na natureza do processo: prescritivo, descritivo
ou misto.
A implementação de estratégia é comentada, iniciando-se pelo relacionamento entre
formulação e implementação de estratégia, para, em seguida, serem apresentadas cinco
abordagens possíveis para sua implementação, segundo Brodwin & Bourgeois. O sistema de
gestão estratégica, Balanced Scorecard-BSC, complementa o enfoque.
Em seguida, são caracterizadas as unidades de análise, os objetos de estudo: a Serasa, a
Siemens e a Xerox.
A metodologia adotada para a realização da pesquisa é detalhada, apresentando o seu roteiro
metodológico, o suporte teórico das abordagens metodológicas, as questões do protocolo, o
universo e amostra considerados, as unidades de análise e de observação, os locais dos casos,
a caracterização dos entrevistados, terminando, então, com rápidos comentários sobre a
limitação da pesquisa.
31
Para realização da análise, são descritos, separadamente, os processos de formulação e
implementação das estratégias deliberadas por unidade de análise estudada, seguindo-se uma
abordagem comparativa.
Segue-se o reencontro com a literatura mediante o enfoque da teoria com base nos dados
obtidos.
As considerações finais do estudo são, então, feitas, sendo mencionadas as suas limitações e
apresentadas sugestões para trabalhos futuros.
As referências bibliográficas apresentam a identificação das obras citadas ao longo do
trabalho, enquanto que o apêndice é composto pelo Quadro 10: As dez linhas de pensamento
sobre estratégia.
ESTRATÉGIA
Apesar de tudo, à medida que avançamos para a terra desconhecida do amanhã, é melhor ter um mapa geral e incompleto, sujeito a revisões, do que não ter mapa algum.
Alvin Toffler – Powershift
2 ESTRATÉGIA
Esta seção se inicia com uma retrospectiva da estratégia na história humana, objetivando
mostrar que diferentes maneiras de entender o pensamento estratégico conduzem a diferentes
maneiras de definir a estratégia. Em seguida, são caracterizadas as estratégias deliberadas –
foco do estudo -, culminando com uma rápida abordagem sobre a evolução do pensamento
estratégico.
2.1 Origens
As campanhas militares foram o berço da estratégia na Antigüidade. Aníbal Barca, de
Cartago; Alexandre, o Grande, da Macedônia e Júlio César, de Roma são referenciados como
os maiores comandantes militares da época antiga. Alexandre e César jamais sofreram
derrotas decisivas, mas Aníbal encontrou, em Cipião, um oponente que o derrotou de forma
categórica, na Batalha de Zama (202 a.C.), durante a Segunda Guerra Púnica. Usando uma
estratégia ousada, Cipião mostrou que a estratégia pode mudar o lado para o qual tenderá o
sucesso. Isto não só se aplica na história militar, mas também no mundo dos negócios
(LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.1-2).
34
A palavra estratégia tem sua origem no termo grego stratego, que literalmente significa
general. Provavelmente, o texto mais antigo sobre estratégia seja A Arte da Guerra, escrito
pelo chinês Sun Tzu, no século IV a.C. e que, somente no século XVIII, foi aparecer no
Ocidente, sendo bastante difundido no final do século XX. Esse texto trata de princípios de
caráter geral, que auxiliariam um soberano a triunfar na guerra (LAURINDO &
CARVALHO, 2003, p.2-3).
Para Sun Tzu, a arte da guerra é governada por cinco fatores constantes:
1. a Lei Moral, que diz respeito ao grau de dedicação e confiança do povo para com
o seu governante;
2. o Céu, que diz respeito às condições climáticas;
3. a Terra, que diz respeito às condições de terreno, de distâncias;
4. o Chefe, que representa as virtudes da sabedoria, sinceridade e benevolência,
coragem e retidão e
5. o Método e a Disciplina, que dizem respeito à correta disposição do exército, aos
suprimentos e ao controle dos gastos (SUN TZU, 1994, p. 17-18).
A obra de Sun Tzu influenciou bastante o pensamento empresarial e vários autores,
especialmente os que integram a Escola do Posicionamento, uma das escolas de pensamento
estratégico, da qual faz parte Michael Porter (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p. 3).
Outra obra marcante, escrita no século XVI, O Príncipe de Nicolau Maquiavel, uma espécie
de manual de política, repercutiu amplamente no pensamento político e militar ao longo do
tempo e, no século XX, no pensamento empresarial. A visão de Maquiavel é encontrada nos
pensadores da Escola Empreendedora - outra escola de pensamento estratégico -, que
35
ressaltam o papel do principal executivo da empresa na formulação da estratégia
(LAURINDO & CARVALHO, 2003, p. 4).
No século XVIII, em pleno Iluminismo, surgiu a noção de estratégia com enfoque militar. Os
teóricos examinaram os sucessos militares na busca dos princípios da estratégia. Dentres eles,
há que se destacar, no final desse século, o general prussiano Karl von Clausewitz (1780-
1831) e o general franco-suíço Antoine-Henri de Jomini (1779-1869). Para von Clausewitz, a
teoria da estratégia deveria ter um caráter descritivo e não prescritivo, ou seja, seria possível
aprender observando as experiências alheias, o que contribuiria para a formação do
julgamento e intuição dos comandantes. Seu livro Da Guerra passou a ser usado nas
academias militares desde sua publicação e como literatura de negócios, desde 1980
((LAURINDO & CARVALHO, 2003, p. 5).
De Jomini, que foi mais influente em sua época do que von Clausewitz, defendeu o caráter
prescritivo da estratégia militar, cujos princípios científicos deveriam ser seguidos, segundo
Laurindo & Carvalho (2003, p. 5-6).
Transportadas para o mundo dos negócios, na segunda metade do século XX, as idéias de
estratégia militar influenciaram as correntes de pensamento estratégico, que, genericamente,
podem ser agrupadas de duas formas: descritiva e prescritiva. Mintzberg, Ahlstrand & Lampel
apud Laurindo & Carvalho (2003, p. 6) identificaram dez diferentes correntes de pensamento
estratégico empresarial, que variam entre esses dois enfoques.
36
2.2 Conceito
O conceito de estratégia, seja no âmbito dos negócios, seja na área militar, comporta várias
abordagens e permanece em constante evolução. As diferentes maneiras de entender o
pensamento estratégico conduzem a diferentes maneiras de definir a estratégia. Segundo
Mintzberg (1987, p. 11-24), ela passa especialmente por cinco:
1. Estratégia como Plano: Consiste em uma direção, um guia ou curso de ação para o
futuro, um caminho para ir de um ponto a outro.
2. Estratégia como Padrão: Implica consistência de comportamento ao longo do
tempo.
3. Estratégia como Posição: Consiste na localização de determinados produtos em
determinados mercados.
4. Estratégia como Perspectiva: Diz respeito à maneira fundamental de uma
organização fazer as coisas.
5. Estratégia como Truque: Implica uma manobra específica para enganar, despistar
um concorrente ou oponente.1
Muito embora a definição de estratégia se apresente bastante variada, é possível identificar
alguns aspectos de concordância a respeito da natureza da estratégia, conforme destaca
Chaffee apud Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 21):
1. A estratégia diz respeito tanto à organização quanto ao ambiente, visto que a
organização a usa para lidar com as mudanças nos ambientes.
2. A essência da estratégia é complexa, na medida em que, por força das mudanças,
permanece não-estruturada, não-programada, não-rotineira e não-repetitiva.
1 Essa abordagem de Mintzberg (1987) foi definida por ele como Cinco Ps para Estratégia.
37
3. A estratégia afeta o bem-estar geral da organização dada a sua importância.
4. A estratégia envolve questões tanto de conteúdo quanto de processo, abrangendo
o seu estudo as ações decididas, bem como os processos por meio dos quais elas
são decididas e implementadas.
5. As estratégias não são puramente deliberadas, considerando que as estratégias
pretendidas, emergentes e realizadas podem diferir entre si.
6. As estratégias existem em níveis diferentes, havendo a estratégia corporativa e a
estratégia de negócios.
7. A estratégia envolve vários processos de pensamento, ou seja, exercícios
conceituais e analíticos.
2.3 Classificação
Partindo dos Cinco Ps para Estratégia de Mintzberg (MINTZBERG, AHLSTRAND &
LAMPEL, 2000, p. 18), as estratégias podem ser classificadas como:
1. Estratégias Pretendidas: Aquelas que são estabelecidas olhando para frente, com
foco no futuro. Consistem nas estratégias como plano.
2. Estratégias Realizadas: Aquelas que, quando a organização olha para trás,
revelam o comportamento passado, servindo de padrão.
3. Estratégias Deliberadas: Aquelas que representam intenções plenamente
realizadas.
4. Estratégias Irrealizadas: Aquelas que dizem respeito a intenções não-realizadas.
5. Estratégias Emergentes: Aquelas que consistem em um padrão realizado, que não
era expressamente pretendido.
38
A correlação entre essas várias formas de estratégias é apresentada na Figura 3, a seguir:
EstratégiaPretendida
EstratégiaNão-realizada
Estratégia Deliberada
Estratégia Emergente
EstratégiaRealizada
Figura 3 - Estratégias deliberadas e emergentes Fonte - MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000. p. 19.
Poucas, ou até mesmo nenhuma, estratégias são puramente deliberadas, da mesma forma que
39
poucas são totalmente emergentes. No primeiro caso, implicaria em aprendizado zero,
enquanto que, no segundo caso, em controle zero. A realidade impõe que as estratégias
exerçam controle fomentando o aprendizado, isto implica dizer que as estratégias devem ser
formadas, bem como formuladas (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 18).
2.4 Evolução do pensamento estratégico
A evolução do pensamento estratégico desde a década de 1950, enfocando a concepção de
mudança na área de estratégia, bem como as principais características das escolas da
estratégia empresarial, é mostrada a seguir, com base no modelo desenvolvido por Gluck,
Kaufmann & Walleck apud Lobato et al. (2003, p.15). Ela evidencia o desenvolvimento de
determinados paradigmas estratégicos, a difusão de modelos para a análise ambiental, a
utilização de ferramentas para gerenciar a mudança e a revisão de idéias anteriores.
A primeira fase da evolução do pensamento estratégico teve início na década de 1950, sendo
chamada de planejamento financeiro, muito embora, na realidade, se tratasse muito mais de
um controle financeiro. A Escola do Planejamento Financeiro utilizava o enfoque top-
down, no qual havia apenas um estrategista importante, que era o principal executivo,
caracterizando-se também pela administração por objetivos. A ênfase no controle e orçamento
deixava pouco espaço para a formulação de estratégias (LOBATO et al., 2003, p. 17).
A Escola do Planejamento a Longo Prazo corresponde à segunda fase e predominou na
década de 1960. Tinha como premissa que o futuro seria planejado com base na projeção de
indicadores passados e atuais. Nesse tipo de planejamento, destacava-se o uso da técnica de
preenchimento das lacunas existentes entre os pontos da projeção de referência e os pontos da
40
projeção no cenário almejado. A Curva de Experiência e o Estudo de Cenários também eram
técnicas de análise estratégica empregadas. Segundo Lobato et al. (2003, p. 18-19), para essa
escola, a organização deveria ser capaz de prever o cenário do seu ambiente de atuação,
controlá-lo ou simplesmente assumir sua estabilidade, seguindo, as estratégias, a lógica da
extensão dos planos anteriores e sendo o plano para o futuro elaborado de acordo com o
padrão do passado.
A terceira fase corresponde à Escola do Planejamento Estratégico, surgida na década de
1970. Segundo ela, a estratégia resultava de um processo do pensamento humano rigidamente
formulado, sendo fruto de uma habilidade adquirida. Esse processo deveria ser aprendido
formalmente e todas as decisões e operações da organização deveriam a ele se subordinar. A
Análise SWOT era a técnica mais clássica usada. Essa escola apresentava a dicotomia
formulação-implementação, ou seja, somente após serem totalmente formuladas é que as
estratégias seriam implementadas (LOBATO et al., 2003, p. 20-22).
A Escola da Administração Estratégica marca a quarta fase da evolução do pensamento
estratégico e predominou na década de 1980. Destacando o lado prescritivo do pensamento
estratégico, mostrou que a implementação das estratégias era tão importante quanto a sua
formulação. Para essa escola, segundo Lobato et al. (2003, p. 22-25), a essência da
formulação de uma estratégia era relacionar a organização ao seu meio ambiente. Ela
conseguiu criar e aperfeiçoar um conjunto de ferramentas analíticas para ajustar a estratégia
genérica às condições vigentes no ambiente de negócios como: análise da estrutura da
indústria, estratégias competitivas e cadeia de valor.
Na década de 1990, surgiu a Escola da Gestão Estratégica, que corresponde à quinta fase da
41
evolução do pensamento estratégico e veio apresentando o processo de planejamento com um
enfoque mais sistêmico. Visando à melhor alocação dos recursos para alcance dos objetivos, a
gestão estratégica procurou dar um enfoque sistêmico às funções estratégicas para estabelecer
o equilíbrio entre as demandas dos ambientes interno e externo, bem como a integração de
todos os setores da organização. É entendimento dessa escola que o processo terá maior
probabilidade de sucesso, se a organização estiver em sintonia com o seu ambiente de
negócio, devendo a metodologia aplicada ajustar-se às necessidades da organização. A
inexistência de uma metodologia universal de gestão estratégica deve-se às diferenças
existentes entre as organizações, quer pelo seu tamanho, atividade e/ou cultura (LOBATO et
al., 2003, p. 25-30).
Os principais aspectos de cada fase da evolução histórica do pensamento estratégico, com
base no modelo desenvolvido por Gluck, Kaufmann & Walleck, são apresentados a seguir, no
Quadro 1:
42
Escola de pensamentoDescrição Planejamento
financeiroPlanejamentoa longo prazo
Planejamentoestratégico
Administraçãoestratégica
Gestão estratégica
Característicasprincipais
Sistemas devalores
Problemas
Predominância
Orçamento anual
Controle financeiro
Administração porobjetivos (APO)
Cumprir oorçamento
Promover a miopia
Anos 1950
Projeção detendências
Pensamentoestratégico
Análise da estruturada indústria
Pensamentosistêmico
Análise de lacunas
Curva deexperiência
Projetar o futuro
Não preverdescontinuidades
Anos 1960
Estudo de cenários
Análise de mudançasno ambiente
Análise dos recursosinternos ecompetências
Alocação derecursos
Foco na formulação
Definir a estratégia
Falta de foco naimplementação
Anos 1970
Contextoeconômico ecompetitivo
Estratégias genéricas
Cadeia de valor
Foco na análise eimplementação
Pesquisas einformações combase analítica
Determinar aatratividadeda indústria
Não desenvolver aabordagemsistêmica
Anos 1980
Integração entreplanejamento econtrole
Coordenação detodos os recursospara o objetivo
Organizaçãoestratégica
Direção estratégica
Foco nos objetivosfinanceiros
Buscar sintonia comos ambientes internoe externo
Falta de alinhamentocom a filosofiaorganizacional
Anos 1990
Quadro 1
Evolução do pensamento estratégico
FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIA
Nada é mais libertador do que ser autor de seu próprio destino. Hamel e Prahalad
3 FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIA
A evolução do processo de estratégia tem sido mapeada de diversas formas. Ao lado da
proposta de Gluck, Kaufmann & Walleck (1980), apresentada na seção anterior, pode-se
destacar a de Bowman (1995), Lauriol (1996) e Martinet (1996) - este último tendo dividido o
campo em teológico, sociológico, ideológico e ecológico.
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), por sua vez, ao fazerem uma revisão da evolução do
pensamento estratégico, identificaram dez diferentes escolas de pensamento, que, para eles,
tanto significam processos diferentes de formulação de estratégia quanto diferentes partes de
um mesmo processo. Essas dez correntes de pensamento estratégico variam entre os enfoques
prescritivo e descritivo.
Considerando que uma das motivações do presente estudo está no desafio feito por
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 274) ao encerrar o seu Safári de Estratégia, a
exposição que se segue está fundamentada na proposta deles, a qual é cotejada com a
abordagem de Cavalcanti (2003), que resolveu seguir nas trilhas abertas pelo Safári de
Mintzberg e dedicou a ele a publicação – Gestão Estratégica de Negócios -, retratando e
45
analisando a realidade estratégica de empresas brasileiras ou que operam no Brasil.
Sem deixar a classificação do pensamento estratégico em escolas, o processo de formulação
de estratégia é apresentado sob os enfoques prescritivo, descritivo e misto (prescritivo e
descritivo), destacando-se os conceitos mais expressivos e seus respectivos autores.
A abordagem segue um padrão: cada escola é apresentada com suas premissas essenciais e
seus conceitos-chave, havendo, ao final, uma comparação entre as dimensões das diferentes
escolas, tomando por base os autores supracitados.
A seção se encerra, então, com considerações sobre questões que são comuns a todas as
escolas e fundamentais à compreensão do processo de estratégia, ressaltando-se as
controvérsias e convergências entre as diferentes escolas.
3.1 Processo prescritivo
A preocupação com a maneira como as estratégias devem ser formuladas marca três escolas,
segundo Mintzberg, Ahlstrand & Lampel: Design, Planejamento e Posicionamento.
A Escola do Design concebe a formulação de estratégia como um processo de concepção;
essencialmente como o ajuste entre os pontos fortes e fracos da organização e as ameaças e
oportunidades do meio externo no qual está inserida. Dominou na década de 1960 e início dos
anos 70 (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.14; MINTZBERG, AHLSTRAND &
LAMPEL, 2000, p. 13).
46
As premissas essenciais da formulação da estratégia como um processo de concepção são
(CAVALCANTI, 2003, p. 32; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 32-34):
1. O estudo do ambiente permite determinar as oportunidades e ameaças existentes.
2. A estratégia deve ser formulada de um modo deliberado e consciente.
3. O agente central do processo é o executivo principal, que atua como arquiteto.
4. O modelo de formulação de estratégia deve ser simples e informal.
5. As estratégias devem ser simples, explícitas e únicas.
6. As estratégias só devem ser implementadas após serem totalmente formuladas.
7. A estrutura deve seguir a estratégia.
Essa forma de pensar a estratégia é a mais popular e conhecida em todo o mundo. Seus
criadores foram Philip Selznick, em 1957, com o livro Leadership in Administration e Alfred
D. Chandler com Strategy and Struture, em 1962 (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.33).
No final dos anos 50, Kenneth Andrews, professor de Harvard, destacou a necessidade de que
toda organização empresarial, todas as suas subunidades e até cada indivíduo tivessem um
conjunto claramente definido de fins ou metas, que os mantivesse em movimento numa
direção deliberadamente escolhida, impedindo desvios indesejados (GHEMAWAT, 2000, p.
19).
Sobre o foco na combinação das “forças” e “fraquezas” de uma empresa - sua competência
distintiva - com as “oportunidades” e “ameaças” que ela enfrentava no mercado - estrutura
essa que ficou conhecida como SWOT1, nos anos 60 -, Kenneth Andrews efetuou uma
1 SWOT é a sigla em ingles de Strength, Weakness, Opportunity e Threat. Em português, essas palavras
correspondem, respectivamente, a Força, Fraqueza, Oportunidade e Ameaça, as quais - mediante um rearranjo para fins didáticos, conforme Gonçalves & Moreira (2004) - dão origem à sigla FOFA.
47
combinação desses elementos de maneira a enfatizar que competências ou recursos
precisavam se igualar às necessidades ambientais para ter valor, conforme evidenciado na
Figura 4 (GHEMAWAT, 2000, p. 19).
Condições eTendênciasAmbientais
EconômicasTécnicasFísicasPolíticasSociaisComunidadeNaçãoMundo
Oportunidadese Riscos
IdentificaçãoPesquisaAvaliação de riscos
CompetênciaDistintiva
Capacidades: Financeira Gerencial Funcional OrganizacionalReputaçãoHistória
RecursosCorporativos
Aumentando ou restringindo oportunidadeIdentificação de forças e fraquezasProgramas para elevar capacidade
Consideração de todasas combinações
Avaliação para determinara melhor combinação deoportunidade e recursos
Escolha de Produtose Mercados
Estratégia econômica
Figura 4 - Estrutura de estratégia de Andrews Fonte - GHEMAWAT, 2000. p. 20.
A receptividade ao conceito SWOT não acabou com o problema da definição da competência
distintiva de uma empresa, especialmente quando as oportunidades perseguidas pela empresa
pareciam distanciar-se da sua presente competência distintiva, conforme destaca Ghemawat
(2000, p. 19). A ascensão do mercado de ações e as estratégias corporativas que visavam
48
fortemente ao crescimento e à diversificação contribuíram para colocar, em questionamento, a
disposição das empresas em apostar em sua competência distintiva na busca de uma
oportunidade. Além do mais, o artigo clássico de Levitt (1960) criticava seriamente a empresa
que se concentrava excessivamente em um produto específico, presumivelmente explorando
sua competência distintiva, em detrimento dos interesses dos clientes.
Os conceitos-chave do processo de concepção da estratégia como desenho são, segundo
Cavalcanti (2003, p. 33) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 30-31):
1. Identificar fatores-chave de sucesso.
2. Criar competências distintivas.
3. Usar o modelo SWOT como peça central.
4. Adequar as capacidades internas às possibilidades externas.
5. Viabilizar a estratégia com os recursos disponíveis.
O modelo básico da Escola do Design está evidenciado na Figura 5.
49
Avaliaçãoexterna
Ameaças eoportunidadesno ambiente
Fatores-chavede sucesso
Avaliaçãointerna
Forças efraquezas daorganização
Competênciasdistintivas
Criaçãode
estratégia
Avaliação eescolha daestratégia
Implementaçãoda estratégia
Responsabilidade
socialValores
gerenciais
Figura 5 - Modelo básico da Escola do Design Fonte - MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000. p. 30.
A formulação de estratégia como um processo formal caracteriza a Escola do
Planejamento, que se desenvolveu, concomitantemente, com a Escola do Design. Surgiu em
1965 com Igor Ansoff e sua publicação Corporate Strategy e teve seu apogeu na década de
1970, decaindo de importância a partir da década de 1980 (LAURINDO & CARVALHO,
2003, p.14; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 13 e 44).
50
Igor Ansoff opôs-se à proposta de Theodore Levitt de que as empresas deveriam investir em
novos produtos, já que estes poderiam não se adequar às suas competências distintivas. Para
Ansoff, uma empresa deveria, primeiramente, verificar a existência de ponto comum entre o
novo produto e os produtos existentes, ou seja, a afinidade do novo produto com a missão da
empresa. A teoria de planejamento estratégico, formulada por Ansoff, tinha como foco a
busca de sinergia entre as funções da empresa e deu origem à Matriz de Ansoff ou matriz
produto versus mercado. Essa matriz, ao estabelecer correlações entre o mercado existente ou
o novo com o produto existente ou o novo, permite identificar as estratégias viáveis para cada
organização ou unidade estratégica de negócio – UEN, conforme evidencia a Figura 6
(GHEMAWAT, 2000, p. 20; LOBATO et al., 2003, p. 73).
Mercado
Produto Existente Novo
Existente Penetração no mercado Desenvolvimento de mercado
Novo Desenvolvimento de produto Diversificação Figura 6 - Matriz de Ansoff Fonte - LOBATO et al., 2003. p. 74.
As premissas essenciais da formulação da estratégia como planejamento, segundo Cavalcanti
(2003, p. 174) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 51-52) são:
1. As estratégias devem resultar de um planejamento formal, consciente,
decomposto em etapas, subestratégias, planos, sendo todos delineados por
checklists e apoiados por técnicas.
51
2. A responsabilidade pela execução é dos planejadores, sem excluir o executivo
principal da responsabilidade por todo o processo.
3. As estratégias surgem prontas a partir do processo do planejamento.
4. As estratégias são implementadas, atendendo-se a objetivos, orçamentos,
programas e planos de ação.
O livro Top Management Planning de 1969 de George Steiner apresenta um modelo de
planejamento estratégico, evidenciado na Figura 7, que é dividido em três etapas: Premissas,
Planejamento e Implementação e Revisão, numa seqüência causal e lógica (MINTZBERG,
AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 45-46).
Estudos dePlanejamento
FinalidadeSócio-econômica
FundamentalOrganizacional
Valores dosPrincipais Executivos
Avaliação deOportunidades
e Problemas Externose Internos; e Pontos
Fortes e Pontos Fracosda Empresa
Missões daEmpresa
Objetivos aLongo Prazo
PolíticasEstratégias
Programação eProgramas deMédio Prazo
Planejamentoe Planos deCurto Prazo
SubobjetivosSubpolíticas
Subestratégias
MetasProcedimentosPlanos Táticos
PlanosProgramados
Organizaçãopara
Implementaçãode Planos
Revisão eAvaliaçãode Planos
Testes deViabilidade
Premissas Planejamento Implementaçãoe Revisão
Planejamentoe Planos
Estratégicos
Figura 7 - Modelo Steiner de Planejamento Estratégico Fonte - MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000. p. 46.
52
Steiner, em seu livro de 1979, acrescentou, na frente de seu modelo, uma etapa inicial,
denominada “plano para planejar”, considerando que era preciso programar não só as etapas
do processo, mas também o cronograma pelo qual elas seriam executadas (MINTZBERG,
AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 49).
Os principais estágios do planejamento estratégico, segundo Mintzberg, Ahlstrand & Lampel
(2000, p. 45-48) são:
1. Fixação de objetivos: Nesta etapa, há a quantificação das metas organizacionais.
As estratégias são traduzidas numericamente. Há a identificação de alternativas
estratégicas relevantes, bem como em qual direção estratégica a organização deve
ir.
2. Auditoria Externa: Consiste na análise ambiental externa, ou seja, na
identificação das oportunidades e ameaças, com base em listas de verificação.
3. Auditoria Interna: Focaliza o ambiente interno, as forças e fraquezas da
organização, com vistas à identificação das suas competências distintivas,
baseada em listas de verificação.
4. Avaliação da Estratégia: Refere-se à mensuração dos resultados esperados com a
implementação de uma determinada estratégia, mediante o uso de indicadores
financeiros geralmente. São delineadas várias estratégias para serem avaliadas e
uma delas é selecionada.
5. Operacionalização da Estratégia: Ocorre detalhamento minucioso do
planejamento, sob a perspectiva dos diversos níveis hierárquicos da organização.
Esse detalhamento é chamado, por vezes, de plano mestre, embora esteja
relacionado à programação de atividades e não ao planejamento delas. O foco é o
controle, uma vez que um padrão de desempenho é previsto para cada atividade
53
envolvida.
Os conceitos-chave do planejamento estratégico clássico são, segundo Cavalcanti (2003, p.
175) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 51-66):
1. Usar extensos procedimentos para quantificar as metas da organização para o
longo, médio e curto prazos.
2. Analisar condições internas e externas da organização por meio de auditorias
formais.
3. Atentar para o valor mercado/contábil da empresa e o custo do valor líquido.
4. Estruturar objetivos, orçamentos, estratégias e programas em diferentes níveis
organizacionais e com diferentes perspectivas de tempo.
5. Executar, a curto prazo, geralmente, um ano, um sistema de planos operacionais,
o chamado plano “mestre”.
Como um processo analítico, é vista a formulação de estratégia pela Escola do
Posicionamento, que predominou na década de 1980, principalmente devido ao trabalho de
Michael Porter. Ela apresenta influências diretas das idéias de estratégia militar, como as de
Sun Tzu, bem como dos enfoques (“imperativos”) de consultoria dos anos 70 e da busca
empírica sistemática por relações entre condições externas e estratégias internas,
especialmente a ocorrida nos anos 80. Essa escola se fundamenta na idéia de que a estratégia
pode ser reduzida a algumas posições genéricas, que podem ser identificadas por meio da
análise da situação da indústria (entendida como setor de atividades). O estrategista assume
um papel principalmente de analista (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.14;
MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 14 e 70-81).
54
Constituem premissas essenciais da formulação da estratégia como posicionamento, segundo
Cavalcanti (2003, p. 98) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 69-70):
1. O contexto (mercado) é econômico e competitivo, sendo importante estar
informado sobre a concorrência.
2. A liderança deve ser sempre a partir da força identificada no mercado.
3. A cadeia de valor permite examinar todas as atuações de uma empresa e suas
interações.
4. As estratégias são posições genéricas, especificamente comuns e identificáveis no
mercado.
5. A formulação de estratégia consiste na seleção dessas posições genéricas, com
base em cálculos analíticos.
6. A estrutura do mercado dirige as estratégias posicionais deliberadas que, por sua
vez, dirigem a estrutura organizacional.
A década de 1960 e o início da década de 1970 viram surgir várias firmas de consultoria em
estratégia, dentre elas o Boston Consulting Group – BCG, fundado por Bruce Henderson, que
chamava a atenção para a incoerência da estratégia resultar de intuição ou se basear em
experiências, quando ela seria aplicada, especialmente, em setores em crescimento ou em um
ambiente em mudança. (GHEMAWAT, 2000, p. 22).
O BCG desenvolveu a sua versão da curva de aprendizado, que chamou de curva de
experiência, entre 1965 e 1966, buscando explicar preço e comportamento competitivo em
segmentos de crescimento extremamente rápido de indústrias. Segundo ele, a cada vez que
dobrava a experiência acumulada, os custos totais deveriam declinar de 20 a 30% em função
das economias de escala, do aprendizado organizacional e da inovação tecnológica.
55
Henderson afirmava que, com a curva de experiência, a estabilidade das relações competitivas
seria previsível, o valor da participação de mercado, calculável, bem como os efeitos da taxa
de crescimento (CAVALCANTI, 2003, p. 37; GHEMAWAT, 2000, p. 22). A Figura 8
apresenta um exemplo do efeito da experiência.
100
75
50
25
10
0,1 1,0 10 100
Produção Acumulada(bits x 10 )12
Preç
o po
r bit
(mili
cent
s)
Figura 8 - Curva de experiência para memórias de semicondutores Fonte - GHEMAWAT, 2000. p. 23.
A simplificação da curva de experiência deu origem à Matriz BCG, a chamada matriz de
crescimento-participação, que representou o primeiro uso da análise de portfólio. Por meio
56
dessa matriz, após serem traçadas as curvas de experiência das unidades de negócios de uma
empresa diversificada, o potencial relativo de cada uma delas como área para investimento
podia ser comparado mediante sua alocação na grade da Figura 9. Essa grade, formada por
duas dimensões: taxa de crescimento da indústria e participação relativa de mercado do
empreendimento, permitia quatro tipos de qualificações de produtos em seu portfólio: vacas
leiteiras, estrelas, pontos de interrogação (ou gatos selvagens) e vira-latas (CAVALCANTI,
2003, p. 37; GHEMAWAT, 2000, p. 23; HAVE et al., 2003, p. 15; LOBATO et al., 2003, p.
75).
Alta Participação Baixa Participação
Alto Crescimento
Crescimento Lento
Estrela
Vaca leiteira
Ponto de interrogação
Cachorro
?
Figura 9 - Matriz de crescimento - participação do BCG Fonte - GHEMAWAT, 2000. p. 23.
57
A recomendação de estratégia básica do BCG, conforme destaca Ghemawat (2000, p. 23), era
a de manter um equilíbrio entre as “vacas leiteiras”, ou seja, os negócios maduros e as
“estrelas”, alocando, ao mesmo tempo, alguns recursos para alimentar os pontos de
interrogação, enquanto que os “cachorros” deveriam ser vendidos. Lobato et al. (2003, p. 76-
77) ressaltam que as “vacas” – que para eles são “caixeiras” – geram caixa usado na
transformação dos pontos de interrogação em estrelas, o que encerra uma decisão estratégica
básica, semelhante a da escolha do momento em que o “cão” deve ser retirado do mercado.
Ressaltam ainda que, após a fase da “estrela”, o empreendimento tende a se tornar uma “vaca
caixeira”, visto que a taxa de crescimento do mercado passa a diminuir e ele entra numa fase
de amadurecimento.
As duas medidas de desempenho da matriz de crescimento-participação do BCG mostraram-
se insuficientes aos interesses da General Eletric – GE. Esta pediu, então, a McKinsey &
Company, uma empresa de consultoria, que estudasse a situação, o que resultou na Matriz
GE/McKinsey de nove blocos, a Matriz de Atratividade da Indústria - Força do Negócio. A
matriz, apresentada na Figura 10, usava aproximadamente uma dezena de medidas para
verificar a atratividade da indústria (tamanho e crescimento do mercado, margem de lucro da
indústria, intensidade da concorrência, sazonalidade e ciclos de demanda e estrutura de custos
da indústria) e outra dezena para verificar a posição competitiva (participação relativa da
empresa no mercado, competitividade de preços, qualidade do produto, conhecimento do
cliente, efetividade das vendas e vantagens geográficas), embora os pesos ligados a elas não
fossem especificados (GHEMAWAT, 2000, p. 24; LOBATO et al., 2003, p. 79-80).
58
Investimentoe
crescimento
Crescimentoseletivo Seletividade
Colher/desinvestirSeletividadeCrescimento
seletivo
Seletividade Colher/desinvestir
Colher/desinvestir
Alta
Média
Baixa
Atratividade da Indústria
Alta
Baixa
Forç
a do
Neg
ócio
Média
Figura 10 - Matriz de atratividade da indústria - força do negócio Fonte - GHEMAWAT, 2000. p. 25.
Dividida em três zonas, o canto superior esquerdo dessa matriz representa as áreas onde a
empresa deve investir, enquanto que o canto inferior direito representa as áreas onde a
empresa tem fraca posição competitiva, e a atratividade da indústria é baixa, devendo,
portanto, retirar-se (LOBATO et al., 2003, p. 80).
Uma outra abordagem a ser destacada dentro do planejamento de portfólio, mais quantitativa,
foi desenvolvida, mais ou menos ao mesmo tempo, dentro do Programa Impacto das
Estratégias de Mercado sobre o Lucro (Profit Impact of Market Strategies-PIMS). Esse
programa focava os determinantes de retornos sobre investimentos pela regressão do histórico
59
de retornos sobre muitas dezenas de variáveis. As regressões permitiam o estabelecimento de
supostos marcos para o desempenho potencial das UENs com determinadas características,
com os quais seu desempenho real poderia ser comparado. Essa prática levava ao
desmembramento dos números de custo e desempenho, que anteriormente haviam sido
calculados em níveis mais agregados, ao tempo em que o pensamento estratégico atingia
gerências mais próximas da base (GHEMAWAT, 2000, p. 24-25; MINTZBERG,
AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 80).
Essas técnicas analíticas popularizadas pelos consultores de estratégia foram duramente
atacadas por dois professores de produção de Harvard, Robert Hayes e William Abernathy,
em 1980, que percebiam nas mesmas um incentivo à preferência pelo distanciamento analítico
e pela redução de custos a curto prazo, ao invés do desenvolvimento da competitividade
tecnológica. A análise de portfólio, segundo eles, levava a gerência a focalizar a minimização
dos riscos financeiros, ao invés de investir em novas oportunidades que implicassem um
comprometimento de recursos a longo prazo (GHEMAWAT, 2000, p. 26-27).
Com os imperativos das Consultorias sendo deixados de lado, passou-se a acreditar que o
estudo sistemático poderia revelar as estratégias ideais a serem adotadas, em dadas
circunstâncias. Nesse contexto, surge o modelo de análise da indústria proposto por Porter
(1986, p. 22-48), conhecido como o modelo das cinco forças competitivas e evidenciado na
Figura 11, cujo objetivo é prever o nível médio de lucratividade, a longo prazo, dos
competidores, numa determinada indústria, bem como compreender as diferenças de
rentabilidade entre os competidores numa mesma indústria.
60
CONCORRENTESNA INDÚSTRIA
Rivalidade entreas Empresas
Existentes
ENTRANTESPOTENCIAIS
FORNECEDORES COMPRADORES
Ameaça de novosentrantes
Poder de negociaçãodos compradores
Poder de negociaçãodos fornecedores
Ameaça de produtosou serviçossubstitutos
SUBSTITUTOS
Figura 11 - Forças que dirigem a concorrência na indústria Fonte - PORTER, 1986. p. 23.
No modelo de análise da indústria de Porter (1986), três forças são naturalmente competitivas:
grau de rivalidade entre as empresas, ameaça dos novos entrantes e ameaça dos produtos
substitutos; enquanto que duas forças apresentam elementos cooperativos e competitivos:
poder de negociação dos compradores e poder de negociação dos fornecedores. As
peculiaridades de cada uma dessas forças explicam a variedade de estratégias, defendendo
Porter, contudo, que somente poucas estratégias genéricas sobrevivem à concorrência a longo
prazo.
61
Para Porter (1986, p. 22), a essência da formulação de uma estratégia competitiva consiste em
relacionar uma empresa ao seu ambiente, objetivando encontrar uma posição no setor em que
a empresa possa melhor defender-se das forças competitivas ou influenciá-las a seu favor. O
modelo desenvolvido por ele auxilia a empresa a analisar o setor como um todo e a prever sua
evolução; a conhecer a concorrência e sua própria posição no setor e a formular uma
estratégia competitiva para o ramo de negócio.
Para a formulação da estratégia competitiva, há duas questões fundamentais, segundo Porter
(1986, p.49): saber onde e como competir. A empresa pode desenvolver dois tipos básicos de
vantagem competitiva: baixo custo ou diferenciação. Estes tipos básicos ao serem combinados
com o enfoque das operações da empresa formam as três estratégias genéricas de competição,
visando a um desempenho acima da média do setor: liderança no custo total, diferenciação e
enfoque.
Cabe às empresas interessadas em obter vantagens competitivas, escolher uma das
alternativas de estratégias genéricas de competição existentes, evidenciadas na Figura 12, a
seguir, para enfrentar as cinco forças competitivas:
DIFERENCIAÇÃO LIDERANÇA NO CUSTOTOTAL
ENFOQUE
VANTAGEM ESTRATÉGICA
ALV
O E
STR
ATÉG
ICO Unicidade Observada
pelo Cliente Posição de Baixo Custo
No Âmbito de Todaa Indústria
Apenas umSegmento Particular
Figura 12 - Três estratégias genéricas Fonte - PORTER, 1986. p. 53.
62
O conceito de agregação de valor por meio da realização das atividades primárias e de apoio
completa a análise competitiva de Porter (1989, p.31). A análise da cadeia de valor concebe a
empresa como um amplo conjunto de atividades inter-relacionadas, que visam a adicionar um
valor específico ao cliente. A cadeia de valor identifica as atividades, funções e processos de
trabalho necessários à realização do negócio da empresa. Essas atividades se dividem em
primárias e secundárias (de apoio ou de suporte), conforme Figura 13, a seguir:
ATIVIDADES DEAPOIO
INFRA-ESTRUTURA DA EMPRESA
GERÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA
AQUISIÇÃO
LOGÍSTICAINTERNA
OPERAÇÕES LOGÍSTICAEXTERNA
MARKETING &VENDAS
SERVIÇO
ATIVIDADES PRIMÁRIAS
MAR
GEM
MARG
EM
Figura 13 - A cadeia de valores genérica Fonte - PORTER, 1989. p. 35.
A cadeia de valor e o desempenho de cada atividade refletem a definição e a implementação
da estratégia genérica de uma empresa, sua história e os fundamentos econômicos de sua
atividade como um todo. A obtenção e a sustentação de uma vantagem competitiva por uma
63
empresa dependem da compreensão da sua cadeia de valores e de como ela se enquadra no
sistema de valores geral (PORTER, 1989, p. 31-33).
Como conceitos-chave da visão do posicionamento, tem-se, segundo Cavalcanti (2003, p. 99)
e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 83):
1. Cinco forças no ambiente de uma organização influenciam a concorrência
(Modelo de Porter).
2. Poucas estratégias-chave são desejáveis em uma determinada indústria.
3. Estratégias genéricas resultam da matriz escopo competitivo versus vantagem
competitiva.
4. Seleção de estratégias pelo planejador (analista) e não concepção, tampouco
planejamento.
5. Margens de lucro dependem do gerenciamento da cadeia de valor.
6. Estratégia não deve se tornar dominada pelo curto prazo.
7. Estratégia eficaz se desenvolve em torno de uns poucos conceitos-chave que
precedem a estrutura organizacional.
A formulação de estratégia nas três escolas supracitadas (Design, Planejamento e
Posicionamento) é vista como um processo controlado e consciente, que produz estratégias
deliberadas completamente desenvolvidas, a serem tornadas explícitas antes da sua
implementação formal.
3.2 Processo descritivo
A preocupação com a maneira como as estratégias são formuladas, em como inspirar a
64
imaginação, caracteriza seis escolas, segundo Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 14):
Empreendedora, Cognitiva, Aprendizado, Poder, Cultural e Ambiental, que consideram
aspectos específicos do processo de formulação de estratégias e descrevem como as
estratégias são formuladas, procurando entender o processo de formação de estratégia à
medida que este se desdobra.
A Escola Empreendedora concebe a formulação de estratégia como um processo
visionário, centralizado no principal executivo da empresa e fundamentado na intuição
criativa desse líder visionário e na sua capacidade de controlar a implementação de suas idéias
(LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.14-15; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL,
2000, p. 14).
Constituem premissas essenciais da formulação da estratégia como empreendedorismo
(CAVALCANTI, 2003, p. 352; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 111):
1. A estratégia empreendedora é um processo visionário, tendente a ser deliberada
(na visão global) e emergente (na maneira pela qual os detalhes da visão se
desdobram).
2. A estratégia está na mente do líder como visão de futuro.
3. A estratégia tende a assumir a forma de nicho ou segmento específico do
mercado.
4. O controle das estratégias é, por vezes, obsessivo, por parte do líder.
5. O processo costuma ser intuitivo.
6. Há ampla liberdade de manobra estratégica.
Os conceitos-chave da visão empreendedora da estratégia são, segundo Cavalcanti (2003, p.
65
355) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 111):
1. A visão estratégica é maleável, mas, por vezes, obsessiva.
2. A organização também é maleável com ampla liberdade de manobra para o líder.
3. A estratégia tende a assumir a forma de nicho.
4. A visão de futuro da organização é baseada na experiência e intuição de seu líder.
A formulação de estratégia como um processo mental caracteriza a Escola Cognitiva.
Surgida na década de 1980 e ainda em desenvolvimento, concentra-se na capacidade de
compreender o processo mental das pessoas, na forma como a realidade é percebida. Sua
abordagem atual é mais subjetiva, interpretativa ou construtivista do processo de construção
da estratégia (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.15; MINTZBERG, AHLSTRAND &
LAMPEL, 2000, p. 14).
As premissas essenciais da formulação da estratégia como processamento de informações
cognitivas são (CAVALCANTI, 2003, p. 212; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL,
2000, p. 131):
1. A formulação da estratégia é um processo cognitivo, mental.
2. As estratégias emergem como perspectivas - em forma de conceitos, mapas,
esquemas e molduras -, que dão forma à maneira pela qual as pessoas lidam com
informações vindas do ambiente.
3. As informações refletem interpretações de um mundo percebido, que, por
conseguinte, pode ser modelado, emoldurado e construído.
4. As estratégias são difíceis de realizar. Quando realizadas, ficam
consideravelmente abaixo do ponto ótimo e, conseqüentemente, são difíceis de
mudar, quando não são mais viáveis.
66
5. A cognição começa na memória da organização.
6. O fluxo interno e permanente do conhecimento deve ser ajustado.
7. A conscientização do valor do conhecimento deve ser promovida.
8. O processo de geração do conhecimento deve ser fomentado.
9. O compartilhamento do conhecimento deve ser estimulado e recompensado.
10. A tecnologia proporciona novos comportamentos ligados ao conhecimento.
Nonaka & Takeuchi (1997) abordam os conceitos-chave da estratégia do conhecimento, que
são apresentados no Quadro 2:
Quadro 2
Conceitos-chave da estratégia do conhecimento
Estilo
Aspecto
Top down
Bottom-up
Middle-up-down
Agente de criação do conhecimento
Alta gerência
Indivíduo empreendedor
Equipe (gerentes de nível médio como engenheiros do conhecimento)
Papel da Alta Gerência Comandante Patrocinadora/ Mentora Catalisadora Papel da gerência de nível médio
Processadora de informações
Intrapreendedora autônoma
Líder de equipe
Conhecimento acumulado
Explícito
Tácito
Explícito e tácito
Conversão do conhecimento
Conversão parcial focalizada na combinação/ internalização
Conversão parcial focalizada na socialização/ externalização
Conversão em espiral de internalização/externalização/ combinação/socialização
Armazenamento do conhecimento
Banco de dados computadorizado/ manuais
Personificado no indivíduo
Base de conhecimento organizacional
Organização
Hierarquia
Equipe de projeto e rede informal
Hierarquia e força-tarefa (hipertexto)
Comunicação
Ordens/ instruções
Princípio de auto-organização
Diálogo e uso de metáfora/ analogia
Tolerância à ambigüidade
Não permite caos/ flutuação
Caos/ flutuação como premissas
Cria e amplifica caos/ flutuação
Ponto fraco
Alta dependência da Alta Gerência
Consome muito tempo; custo de coordenação dos indivíduos
Exaustão humana; custo da redundância
Fonte: NONAKA & TAKEUCHI, 1997. Adaptado pela autora desta dissertação.
67
Como um processo emergente, é vista a formulação de estratégia pela Escola de
Aprendizado, que se desenvolveu paralelamente a outras escolas, desafiando, ao longo do
tempo, a escola dominante em cada momento. Apresenta uma visão de incrementalismo na
implementação das estratégias, não separando a formulação da implementação, já que a
estratégia é vista como um processo emergente. Os estrategistas podem estar presentes em
toda parte da empresa (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.15; MINTZBERG,
AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 14).
As premissas essenciais da formulação da estratégia como aprendizado são, segundo Boyett
(1999); Cavalcanti (2003, p. 322) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 156):
1. A resposta certa não existe, o que há é apenas uma variedade de possíveis ações,
cada qual produzindo algumas conseqüências desejáveis e outras indesejáveis.
2. Os sistemas têm integridade, sendo preciso tratar o todo e não apenas as partes
individuais, visto que não é possível desmembrar um sistema em partes e
consertá-lo.
3. A verdadeira causa de um problema pode não estar óbvia, porque causa e efeito,
muitas vezes, não estão intimamente relacionados no tempo e no espaço.
4. As soluções mais óbvias podem simplesmente não funcionar ou, se funcionarem,
podem melhorar a situação no curto prazo, mas piorá-la no longo prazo.
5. Muitos dilemas aparentes, como qualidade versus custos, podem não ser
situações em que se tem que optar por uma coisa ou outra. Ao longo do tempo,
talvez seja possível fazer as duas coisas, se houver disposição em ser paciente.
6. Os problemas de um sistema, muitas vezes, são causados por pessoas dentro dele
e não por alguma força externa, embora as pessoas gostem de culpar os outros
por suas dificuldades.
68
7. A formação da estratégia precisa, face à natureza complexa e imprevisível do
ambiente da organização, assumir a forma de um processo de aprendizado ao
longo do tempo, em que formulação e implementação se tornam indistinguíveis.
8. O sistema coletivo é que aprende, em que pese, muitas vezes, o líder ser o
principal aprendiz. Na maior parte das organizações, há muitos estrategistas em
potencial.
9. Esse aprendizado ocorre de forma emergente, por meio do comportamento que
estimula o pensamento retrospectivo para que a ação seja compreendida.
10. O papel da liderança é de gerenciar o processo de aprendizado estratégico,
por meio do qual novas estratégias podem emergir, ao invés de preconceber
estratégias deliberadas.
11. As estratégias aparecem primeiro como padrões do passado, mais tarde, talvez,
como planos para o futuro e, finalmente, como perspectivas para guiar o
comportamento geral.
Os conceitos-chave da estratégia como aprendizado podem ser percebidos no Quadro 3, a
seguir, que compara culturas que estimulam o aprendizado com as que o inibem (BOYETT &
BOYETT, 1999):
69
Quadro 3
Culturas estimulantes e inibidoras do aprendizado
CULTURA ESTIMULANTE DO APRENDIZADO
CULTURA INIBIDORA DO APRENDIZADO
Equilibra os interesses de todos os envolvidos. Estabelece uma distinção entre questões hard e soft. Concentra-se nas pessoas, não nos sistemas. Concentra-se nos sistemas, não nas pessoas. Faz as pessoas acreditarem na possibilidade de mudar seu ambiente.
Só permite que as pessoas mudem quando é necessário.
Encontra tempo para o aprendizado. É “enxuta e má”. Adota uma abordagem holística aos problemas. Compartimentaliza a resolução de problemas. Estimula a comunicação aberta. Restringe o fluxo de informações. Acredita no trabalho em equipe. Acredita na competição individualizada. Tem líderes acessíveis. Tem líderes controladores. Fonte: BOYETT & BOYETT, 1999.
A Escola do Poder concebe a formulação de estratégia como um processo de negociação,
em que a estratégia se baseia no poder. Num enfoque micro, percebe o poder sendo disputado
internamente nas empresas, em um processo de natureza política, envolvendo negociação,
persuasão e barganhas. Num enfoque macro, percebe a empresa usando seu poder sobre as
outras e estabelecendo parcerias, joint ventures ou outros inter-relacionamentos para negociar
estratégias coletivas que sejam de seu interesse (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.15;
MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 14).
São premissas essenciais da formulação da estratégia como visão do poder (CAVALCANTI,
2003, p. 240; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 191):
1. A formação de estratégia é moldada por poder e política, seja como um processo
dentro da organização, seja como o comportamento da própria organização em
seu ambiente externo.
2. As estratégias que resultam desse processo tendem a ser emergentes, assumindo
mais a forma de posições e meios de iludir do que de perspectivas.
70
3. O poder micro concebe a formação de estratégia como a interação, por meio da
persuasão, barganha e, às vezes, confronto direto, na forma de jogos políticos,
entre interesses estreitos e coalizões inconstantes, em que nenhum predomina por
um período significativo.
4. O poder macro concebe a organização como promovendo seu próprio bem-estar,
por controle ou cooperação com outras organizações, mediante o uso de
manobras estratégicas, bem como de estratégias coletivas em várias espécies de
redes e alianças.
5. A harmonia pode ser desfeita e novas alianças surgem, ocasionalmente.
6. A aprendizagem com os parceiros é essencial.
7. A cooperação tem limites e algumas competências são vedadas aos parceiros.
8. Valor agregado é o valor máximo criado por todos os participantes da cadeia
vertical, menos o valor máximo criado por um dado participante em particular.
9. Valor apropriado é a capacidade dos proprietários de apropriar para si mesmo o
valor agregado.
Os conceitos-chave da visão do poder, conforme destaca Cavalcanti (2003, p. 243), são
apresentados por Ghemawat (2000, p. 111), na Figura 14, a seguir:
71
Respostas à ImitaçãoConstruir Barreiras- Economias de escala e escopo- Aprendizado/informações privadas- Contratos e relações- Externalidades à rede- Ameaças de retaliação- Prazos- Complexidade estratégica- Elevação do nível
Respostas à Substituição- Não reagir- Lutar- Mudar- Recombinar- Indecisão- Colher
Respostas à Negligência- Colher informações- Monitorar comportamento- Oferecer incentivos ao desempenho- Criar normas- Vincular recursos- Mudar administração- Mobilizar para mudanças
Respostas à Violação- Contratar- Integrar- Conquistar poder de barganha- Negociar duramente- Reduzir especificidade dos ativos- Construir relacionamentos- Desenvolver confiança
Valor Agregado
Valor Apropriado
Figura 14 - Reagindo às ameaças à sustentabilidade Fonte - GHEMAWAT, 2000. p. 111.
A formulação de estratégia como um processo coletivo, social caracteriza a Escola Cultural,
em que a estratégia se baseia na cultura, tratando dos interesses comuns e da integração. Essa
escola se caracteriza pelo destaque que dá a influência da cultura como inibidora de mudanças
estratégicas mais significativas (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.15; MINTZBERG,
AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 14).
As premissas essenciais da formulação da estratégia como perspectiva cultural são
(CAVALCANTI, 2003, p. 66; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 197-
205):
1. Os recursos tangíveis e intangíveis da empresa estão submetidos a uma rede de
interpretações comuns.
72
2. A perspectiva cultural iguala vantagem estratégica à singularidade organizacional
e cultural.
3. A estratégia está imersa na riqueza histórica das nações e organizações.
4. A formulação de uma nova estratégia pode exigir uma “revolução cultural”.
5. A perspectiva cultural se aplica, em especial, a organizações grandes e
estabelecidas.
6. As capacidades internas da cultura organizacional dão um senso estável de
direção.
Os conceitos-chave da perspectiva estratégica cultural são, segundo Cavalcanti (2003, p. 67) e
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 196-197):
1. A formação da estratégia decorre da interação social entre os membros de uma
organização.
2. As crenças são adquiridas pela socialização, em grande parte tácita e não-verbal,
dos grupos organizacionais, embora, às vezes, sejam reforçadas por uma
doutrinação mais formal.
3. A cultura influencia o estilo de pensar e o processo de formação da estratégia.
4. A cultura tende a promover mudanças de posição dentro da mesma estratégia.
5. A estratégia está enraizada nas intenções coletivas, sendo deliberada (ainda que
não seja plenamente consciente).
6. A inércia estratégica da cultura organizacional pode ser vencida por meio de
revisões culturais e descongelamento de valores.
7. As empresas bem sucedidas são dominadas por valores-chave como: inovação,
qualidade, atendimento, etc.
8. A singularidade da cultura provê a tese para o desenvolvimento corporativo
73
sustentável.
Como um processo reativo, é vista a formulação de estratégia pela Escola Ambiental, que
busca entender quais os graus de liberdade da empresa para se movimentar dentro de seu
ambiente e quais as demandas deste. Destacam-se aqui a Teoria da Contingência e a Teoria
Institucional, a primeira estuda as respostas esperadas das empresas em determinadas
condições ambientais, e a segunda, as pressões institucionais enfrentadas pelas organizações
(LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.15-16; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL,
2000, p. 14).
As premissas essenciais da formulação da estratégia como dimensão ambiental são
(CAVALCANTI, 2003, p. 124; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 211):
1. As organizações se agrupam em nichos distintos do tipo ecológico.
2. O ambiente é o agente central de geração da estratégia.
3. A estratégia deve mapear o ambiente corretamente ou fracassará.
4. A estratégia busca formar uma tipologia para análise ambiental.
5. A liderança se torna passiva ao ler o ambiente, buscando uma adaptação
adequada para a organização.
Os conceitos-chave da visão ambiental são, segundo Cavalcanti (2003, p. 125) e Mintzberg,
Ahlstrand & Lampel (2000, p. 212-219):
1. A ecologia da população de organizações é contingencial.
2. A estrutura básica e o caráter de uma organização são fixados quase desde sua
origem.
3. O ambiente consiste de interações entre fornecedores-chave, clientes, agências
74
governamentais, outras entidades reguladoras e concorrentes.
4. As definições do ambiente são abstratas, e os estrategistas necessitam de
sondagens apuradas, que forneçam descrições densas, contendo nuances de
tempo, aplicação e contexto.
5. As organizações não têm nenhuma opção estratégica real, porque há uma espécie
de “imperativo” ambiental.
6. As organizações escolhem suas restrições e, portanto, restringem suas opções,
criando padrões históricos na geração de estratégias.
As seis escolas referidas (Empreendedora, Cognitiva, Aprendizado, Poder, Cultural e
Ambiental), conforme exposto, consideram aspectos específicos do processo de formulação
de estratégias, preocupando-se mais com a descrição de como as estratégias são, de fato,
formuladas do que com a prescrição do comportamento estratégico ideal.
3.3 Processo misto
A formulação de estratégia como um processo de transformação caracteriza a Escola de
Configuração, que é a escola mais abrangente e integrativa. Há dois aspectos nessa escola: o
aspecto descritivo percebe a empresa como uma configuração para cada situação, integrando
as diferentes visões de cada escola, todas passíveis de serem usadas, conforme a situação; o
aspecto prescritivo, por sua vez, percebe as mudanças como transformações dramáticas de um
estado para outro (LAURINDO & CARVALHO, 2003, p.16; MINTZBERG, AHLSTRAND
& LAMPEL, 2000, p. 14).
As premissas essenciais da formulação da estratégia como configuração são (CAVALCANTI,
75
2003, p. 290; MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 222- 251):
1. O poder e a inteligência coletiva se encontram distribuídos entre os agentes
organizacionais.
2. Os períodos de configuração são sucedidos por períodos de transformação
visando a sustentar a estabilidade.
3. As seqüências padronizadas podem, ao longo do tempo, descrever o ciclo de vida
da organização.
4. A organização pode adotar posições ou perspectivas como “meios de iludir” a
concorrência.
Os conceitos-chave da estratégia como configuração são, segundo Cavalcanti (2003, p. 291) e
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 224):
1. Uma organização, quase sempre, pode ser descrita em termos de algum tipo de
configuração estável de suas características, adequada a um determinado tipo de
contexto.
2. Os períodos de estabilidade são, ocasionalmente, interrompidos por períodos de
transformação.
3. A mudança se dá por um salto quântico para outra configuração.
4. Os estados sucessivos de configuração e períodos de transformação podem se
ordenar, ao longo do tempo, em seqüências padronizadas.
5. As escolas de pensamento sobre formação de estratégia representam diferentes
configurações.
6. As estratégias podem ser planos ou padrões, posições ou perspectivas e até meios
de iludir, sempre, porém, adequados ao tempo e à situação.
76
Cada escola com suas premissas essenciais e seus conceitos-chave evidencia pontos de
convergência e divergência com as demais escolas. A comparação entre as dimensões das
diferentes escolas, tomando por base Cavalcanti (2003) e Mintzberg, Ahlstrand & Lampel
(2000) é apresentada no Quadro 10 (APÊNDICE).
Apresenta-se, a seguir, uma análise das propostas das diversas escolas a partir de questões
indispensáveis à compreensão do processo de estratégia, referenciando, em cada questão
enfocada, as escolas que mais se destacam por seu posicionamento sobre o assunto.
Com relação ao conteúdo da estratégia, a visão das diversas escolas é apreciada considerando
os seguintes aspectos: o grau de complexidade da estratégia, sua integração e sua natureza
genérica.
O aspecto do grau de complexidade da estratégia é percebido de forma bem distinta entre as
escolas. A Escola do Design percebe a estratégia como simples idéia informativa, enquanto
que a Escola do Aprendizado percebe a estratégia como complexa e com nuanças.
A questão da integração da estratégia, por sua vez, permite identificar três situações: uma em
que os componentes parecem soltos, outra em que há a integração dos componentes e a última
em que a estratégia aparece como perspectiva plenamente integrada, ou seja, sem componente
algum.
A Escola do Posicionamento, especialmente com relação à sua matriz de crescimento-
participação e o valor para o acionista, parece apresentar a estratégia como um portfólio, uma
coleção frouxa de componentes. Postura similar é apresentada pela Escola do Planejamento
77
com suas técnicas de orçamentação de capital - em que a opção estratégica aparece como um
conjunto de decisões independentes de investimento – e, principalmente, com sua
decomposição de estratégias em corporativa, de negócios e funcional.
Porter (1989), ao abordar a estratégia horizontal, ou seja, a formação de um portfólio de
negócios diversificados, apresenta, por sua vez, a estratégia como integração de componentes.
Já as Escolas Empreendedora e Cultural, principalmente, apresentam a estratégia como uma
perspectiva plenamente integrada, ou seja, sem componente algum.
Como mecanismos para integrar as estratégias, têm-se os planos, para fazê-las formalmente; a
cognição ou visão, para fazê-las mentalmente; a cultura, para fazê-las normativamente e os
ajustes mútuos, para fazê-las coletivamente.
A última questão selecionada para comentário quanto ao conteúdo da estratégia diz respeito à
sua natureza, se genérica ou única. Segundo a Escola do Posicionamento, as estratégias são
genéricas, existindo a priori, claramente definidas. Já para a Escola Ambiental, o ambiente
determina as posições estratégicas.
Para as Escolas Empreendedora e Cultural, principalmente, as estratégias são únicas, são
perspectivas particulares para a visão de uma pessoa ou da cultura de uma organização, não
existindo duas iguais. A Escola de Aprendizado acrescenta que todas as estratégias são
produtos de processos idiossincráticos de adaptação, e a Escola do Design afirma que as
estratégias são únicas porque são criadas em um processo personalizado de desenho.
Com relação ao processo da estratégia, a visão das diversas escolas é apreciada sobre os
78
seguintes aspectos: o controle da estratégia, o agente(s) central(is), a mudança estratégica,
o nível de opção estratégica e o nível de pensar.
A questão do controle da estratégia que é, a um só tempo, uma questão de processo e de
conteúdo, diz respeito à estratégia como plano pretendido, em oposição à idéia de padrão
percebido. Remete à reflexão se o processo de formação de estratégia deve ser deliberado ou
emergente, ou seja, se deve ser predeterminado, cerebral, centralizado, com controle a priori
em oposição a um aprendizado a posteriori.
As Escolas do Design, Planejamento e Posicionamento - escolas prescritivas - ao lado da
Escola Empreendedora - esta menos formalmente – defendem a estratégia como plano
pretendido, resultante de um processo deliberado. Uma parte da Escola Cognitiva, por sua
vez, duvida do poder da mente do estrategista sobre assuntos estratégicos, enquanto que a
Escola de Aprendizado se posiciona em favor do emergente.
Sobre o assunto importa ressaltar a visão de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), segundo
a qual nenhuma estratégia do mundo real pode ser puramente deliberada ou emergente, visto
que, no primeiro caso, o aprendizado seria impedido, enquanto que, no segundo caso, o
controle o seria.
A função de estrategista (agente central) é desempenhada por personagens diferentes, de
acordo com a visão de cada escola. De um lado, têm-se as Escolas do Design e
Empreendedora que vêem a formação de estratégia como um processo pessoal, no outro
extremo, têm-se as Escolas de Aprendizado, do Poder e Cultural que a vêem como um
processo coletivo.
79
Há ainda aquelas escolas, que vêem a formação de estratégia não sendo feita por “ELE/ELA”
ou “ELES/ELAS”, mas por “AQUILO”, aqui entendido como o mundo lá fora, o
procedimento, a análise ou o cérebro biológico. A Escola Ambiental a vê como um não-
processo, já que o mundo lá fora é que a determina. As Escolas do Planejamento e
Posicionamento vêem-na como um processo técnico; em que, na primeira, resulta do
procedimento e, na segunda, da análise. A Escola Cognitiva a vê, por sua vez, como um
processo fisiológico resultante do cérebro biológico.
Com relação à mudança estratégica, cabe apreciá-la aqui quanto à sua presença, seu padrão
(ritmo) e sua fonte.
Para a Escola do Planejamento, as organizações podem ter estabilidade e mudar ao mesmo
tempo: fixando o curso por meio de planos explícitos, mas mudando todos os anos, conforme
programado.
Outras escolas ficam nitidamente em um lado ou no outro, ou seja, as organizações mudam o
tempo todo ou dificilmente mudam. Partidária da primeira corrente, é a Escola do Poder,
segundo a qual as estratégias estão em estado constante de instabilidade, à medida que surgem
novos desafios. De forma semelhante, o aprendizado estratégico é um processo infindável,
visto que os padrões podem se formar, mas como as iniciativas estão sempre acessíveis, as
estratégias nunca podem se firmar.
Para as Escolas Ambiental, Cultural e Cognitiva (uma parte desta), as estratégias sofrem,
raramente, pequenas alterações ou nunca mudam. Na Escola Ambiental, a organização
encontra um nicho; na Escola Cultural, a organização estabelece uma cultura e, para uma
80
parte da Escola Cognitiva, o estrategista entra numa moldura mental. Nesses três casos, lá
permanecem pela vida inteira.
Quanto ao padrão ou ritmo da mudança estratégica, há que se fazerem as seguintes
considerações: A Escola de Configuração defende a mudança ocasional, mas quântica e
revolucionária. Esse padrão está implícito nas Escolas do Design e Empreendedora - em que a
estratégia aparece como uma espécie de concepção imaculada – e também é apoiado pelas
Escolas Cognitiva e Cultural, mas, para estas, as estratégias dificilmente mudam.
A Escola de Aprendizado, por sua vez, permite mudanças incrementais, na medida em que os
estrategistas descobrem uma situação complexa por meio da experimentação (embora possam,
às vezes, saltar quando lhes ocorre uma idéia súbita). A Escola do Planejamento também
tende a promover mudanças incrementais, de fato, se não por intenção, enquanto que a Escola
do Poder (micro) descreve as mudanças desarticuladas e graduais que surgem dos conflitos.
O último ponto a considerar com relação à mudança estratégica diz respeito à sua fonte e
estende o conceito de aprendizado para além de apenas uma escola. Veja-se:
Para a Escola de Aprendizado, as organizações aprendem fazendo e com facilidade. Para a
Escola do Design, as organizações aprendem pensando. Para a Escola do Planejamento, as
organizações aprendem programando. Para a Escola do Posicionamento, as organizações
aprendem calculando. Para a Escola do Poder, as organizações aprendem afirmando. Para as
Escolas Cognitiva e Cultural, as organizações aprendem somente com grande dificuldade. Já a
Escola Ambiental sugere que as organizações não aprendem.
81
Com relação ao aspecto do nível de opção estratégica, a Escola Ambiental defende o
determinismo puro, tanto quanto as Escolas Cognitiva e Cultural, segundo as quais as
circunstâncias sobrepujam os estrategistas.
Para as Escolas do Design e Empreendedora, há um voluntarismo fácil, o “grande líder” pode
fazer quase tudo. O voluntarismo assumido, contudo, pelas Escolas do Planejamento e do
Posicionamento é questionável. Na primeira, porque se percebe que é perturbada por
mudanças inesperadas, enquanto que a segunda se mostra cuidadosa em relação às opções
reais, com a livre vontade, na verdade, disfarçando o determinismo.
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) preferem, neste aspecto, as linhas defendidas pelas
Escolas do Poder (macro) e de Aprendizado. Para a Escola do Poder (macro), o poder de uma
organização reflete sua dependência do ambiente para recursos. Algumas organizações
precisam aceitar, ao menos, uma parte do tempo, ao passo que outras podem algumas vezes
dominar.
Para a Escola de Aprendizado, os estrategistas lidam com um mundo difícil, com a
aprendizagem acontecendo ao longo do tempo, conseguindo, ocasionalmente, saltos de
compreensão, numa clara demonstração da inexistência de limitações cognitivas neles.
O último aspecto a ser considerado quanto ao processo da estratégia diz respeito ao nível de
pensar, à quantidade de pensamento estratégico desejada. Esse aspecto tangencia uma
importante questão em administração estratégica, a qual tem insistido que o pensamento deve
terminar antes que a ação se inicie, ou seja, que a formulação deve ser seguida pela
implementação. A Escola de Aprendizado defende, por meio de Karl Weick, que aprender
82
não é possível sem agir. Segundo ele, é preciso agir, mas é preciso que as ações façam
sentido.
As Escolas do Design, Planejamento e Posicionamento – escolas prescritivas – ao tornarem o
processo excessivamente consciente, podem comprometer a capacidade de agir. Por sua vez, a
Escola Cognitiva não é muito receptiva ao pensamento consciente, que, curiosamente, foi
redimido, de alguma forma, pela Escola de Aprendizado, com o reconhecimento de critério e
inspiração.
O processo de formação de estratégia é comparado por Mintzberg, Ahlstrand & Lampel
(2000, p. 271-273) a uma caixa preta, considerando como ela é tratada pela maior parte das
escolas. Somente a Escola Cognitiva tenta entrar, mas sem muito sucesso, enquanto que as
Escolas de Aprendizado e Poder também fazem esforços nesse sentido. As demais se
posicionam em volta da caixa preta: acima, abaixo, antes, depois ou além dela.
A Escola do Posicionamento olha por baixo da caixa, focalizando dados históricos. A Escola
de Planejamento olha para diante para programar as estratégias criadas de outras maneiras. A
Escola do Design olha para mais adiante, para uma perspectiva estratégica, enquanto que a
Escola Empreendedora olha para além e para o lado, após os impedimentos imediatos para
uma visão única do futuro.
Focalizando nos detalhes, as Escolas de Aprendizado e Poder olham de baixo para a caixa. A
Escola de Aprendizado olha as causas, a Escola do Poder vai mais além, olha para mais baixo,
para os lugares que as organizações nem sempre gostam de expor.
83
Olhando para baixo, só que de cima, está a Escola Cultural revestida de crenças, e bem acima
dela a Escola Ambiental, olhando sobre e, enquanto a Escola Cognitiva procura olhar para
dentro do processo, a Escola de Configuração olha para a caixa ou para toda a sua volta. Isso
é posto para concluir que as dez escolas olham para o mesmo processo, cada uma à sua
maneira.
Após essa apreciação dos aspectos vitais relacionados ao conteúdo e processo da estratégia,
confrontando as diversas visões das escolas, cabe efetuar considerações sobre a abordagem de
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), cotejando-a, em seguida, com a de Cavalcanti
(2003).
A perspectiva de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) é de que as várias escolas de
pensamento estratégico podem conviver em diferentes etapas do processo de formulação de
estratégias, contribuindo para a visão do processo. Defendem que as diversas escolas podem
ser complementares, sustentando-se no fato de que novas abordagens para a formação de
estratégias combinam aspectos das dez escolas, como, por exemplo, a abordagem de análise
de cenário e análise de stakeholders, que é uma combinação das propostas das Escolas de
Planejamento, Aprendizado e Poder, numa demonstração de que as idéias sobre estratégia
continuam a evoluir sem, contudo, desprezar o conhecimento pregresso.
Cavalcanti (2003) parte da proposta de Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) para
identificar uma nova escola - cujo lema é que a perspectiva não é mera soma linear de
observações independentes - e que apresenta uma visão integradora, concebendo a formulação
da estratégia como integração.
84
Essa nova escola defende que a essência da estratégia é complexa e utiliza vários processos de
pensamento, sendo indispensável considerar questões de processo e de conteúdo. Reconhece
que as estratégias existem em níveis diferentes, como, por exemplo, corporativo, de negócios
e estrutural e que elas dão direção e consistência ao esforço da organização, sintetizando
diferentes visões num nível de generalidade.
85
IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA
A chave do sucesso de qualquer empresa que queira crescer e manter firme posição no mercado é gerenciar bem no presente, mas com olhos voltados para o futuro.
IGOR ANSOFF
4 IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA
O fato de a formulação e de a implementação de estratégia se influenciarem mutuamente e
freqüentemente evoluírem juntas foi responsável pela inclusão no estudo do processo de
implementação de estratégia. A realidade das organizações mostra que, normalmente, os
administradores trabalham para a frente e para trás, entre a formulação e a implementação da
estratégia.
Implementar a estratégia significa colocar a estratégia em ação. Apesar de a literatura sobre
implementação de estratégia estar crescendo – especialmente pela contribuição de Kaplan &
Norton -, ainda não está no mesmo nível de desenvolvimento da literatura sobre formulação
de estratégia. Curiosamente, entretanto, o sucesso das organizações depende da
implementação efetiva da estratégia.
Inicia-se esta seção apreciando o relacionamento entre a formulação e a implementação da
estratégia, considerando que ambas devem ser bem-feitas para que sejam obtidas as melhores
vantagens que ela possa propiciar. Em seguida, são apresentadas as abordagens possíveis para
implementação de estratégia, segundo Brodwin & Bourgeois (1984), bem como o sistema de
87
gestão estratégica, proposto por Kaplan & Norton (1997), finalizando como uma apreciação
crítica sobre o assunto.
4.1 Relacionamento entre formulação e implementação de estratégia
Na busca do alcance dos seus objetivos, é tão importante para uma organização formular
estratégia, quanto implementá-la efetivamente. Se um desses processos for malfeito, é
provável que o resultado seja uma falha na estratégia global. Bonoma1 apud Certo & Peter
(1993, p. 156-158) identifica quatro resultados possíveis no relacionamento desses dois
processos, conforme evidenciado na Figura 15: Sucesso, Roleta, Problemas e Fracasso.
FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIA
IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIA
RuimBoa
Boa
Ruim
Sucesso
Problemas
Roleta
Fracasso
Figura 15 – Diagnosticando problemas de estratégia Fonte – CERTO & PETER, 1993. p. 157.
1 BONOMA, Thomas V. The Marketing Edge: Making Strategies Work. New York: The Free Press, 1985. p.
12-14.
88
O resultado Sucesso é o mais provável quando uma organização tem uma boa estratégia e a
implementa bem. Nesta situação, foi feito tudo o que era necessário para garantir o sucesso.
Em que pese fatores ambientais fora do controle da organização poderem impedir o sucesso
da estratégia, aqui há as melhores chances para que os objetivos organizacionais sejam
alcançados.
A Roleta se verifica quando uma estratégia mal formulada é bem implementada. Neste
resultado, há duas situações possíveis: A boa execução pode contornar a estratégia ruim ou
pelo menos despertar a administração para a existência de um fracasso em andamento,
possibilitando uma tomada de ação para minimizar prejuízos ou evitá-los. Por outro lado, a
mesma boa execução pode apressar a falha da estratégia ruim. Assim, não é possível predizer
exatamente o que ocorre com a estratégia.
O resultado Problema ocorre quando uma estratégia bem formulada é mal implementada.
Como os administradores, usualmente, concentram-se mais na formulação da estratégia,
freqüentemente a implementação falha não é diagnosticada. Em caso de insucesso,
normalmente é reformulada a estratégia sem ser verificada como se deu a implementação;
como conseqüência, a nova estratégia (não raro, menos apropriada) é implantada e o
insucesso se repete.
O Fracasso provavelmente ocorre quando uma estratégia mal formulada é mal implementada.
Há dificuldades para a administração voltar para a trilha certa. Se a mesma estratégia for
mantida e implementada de outra forma, é provável que falhe. Se a estratégia for reformulada
e implementada da mesma forma, o fracasso continua sendo o resultado mais provável. Os
problemas estratégicos nesta situação são muito difíceis de serem diagnosticados e
89
remediados.
Certo & Peter (1993, p. 158) pretendem com essa abordagem mostrar que:
a) a implementação da estratégia é pelo menos tão importante quanto a sua
formulação e
b) a qualidade de uma estratégia formulada é difícil, se não impossível, de ser
avaliada na ausência de sua implementação efetiva.
Normalmente, a implementação da estratégia ocasiona alterações internamente nas
organizações, seja na estrutura organizacional, no sistema de informações e/ou nos recursos,
impondo ao executivo a necessidade de estar atento a fim de evitar divergências entre os
resultados esperados e os obtidos (OLIVEIRA, 2002, p. 221).
Baseado em Tilles (1963, p. 114), destacam-se a seguir alguns aspectos que o executivo deve
considerar quando está implementando uma estratégia numa organização:
1. identificação entre a estratégia e as pessoas que devem conhecê-la. Uma
estratégia não necessariamente deve ser sempre escrita. Mas, caso não o seja,
deve ser claramente entendida por outros meios de comunicação;
2. adequação da estratégia ao ambiente no qual a organização está inserida;
3. consistência da estratégia com os pontos fortes, objetivos, políticas e recursos
organizacionais, bem como com os valores pessoais do executivo e dos
empregados e
4. equilíbrio entre o risco (que deve ser o mínimo possível) e o lucro (que deve
ser o máximo possível) propiciados pela estratégia, levando em consideração os
recursos e perspectivas da organização.
90
Por sua vez, com base em Hobbs & Heany (1977, p. 8), podem-se destacar mais quatro pontos
que o executivo deve observar ao implementar uma estratégia:
1. atentar para que não haja grave sobrecarga funcional antes de designar
estratégias ambiciosas;
2. conter os efeitos do choque provocado pela estratégia;
3. atentar pessoalmente para questões de integração e
4. comunicar-se de cima para baixo e não apenas de baixo para cima, porque as
decisões estratégicas afetam todas as unidades organizacionais.
4.2 Abordagens para implementação de estratégia
Para a implementação da estratégia, Brodwin & Bourgeois (1984, p. 176-190) sugerem cinco
abordagens fundamentais: Abordagem do Comandante, Abordagem da Mudança
Organizacional, Abordagem Colaborativa, Abordagem Cultural e Abordagem Crescente.
Essas abordagens variam desde simplesmente dizer aos empregados para implementar uma
estratégia que tenha sido formulada até ao desenvolvimento deles para que possam formular e
implementar estratégias sólidas de suas próprias autorias. Em cada abordagem, o
administrador tem um papel diferenciado, usando métodos também diferentes.
Na Abordagem do Comandante, o administrador concentra-se na formulação da estratégia,
aplicando análise e lógica rigorosas. Ele pode desenvolver a estratégia sozinho ou
supervisionar uma equipe de estrategistas encarregados de determinar o melhor curso de ação
para a organização. Ferramentas como matriz de crescimento da participação e análise da
indústria e da concorrência são de uso típico nessa forma de abordagem. Assim que a
91
“melhor” estratégia é determinada, o administrador passa-a para seus subordinados, que são
instruídos a executá-la.
Em algumas organizações, este tipo de abordagem ajuda a dar às operações uma perspectiva
estratégica. Há, contudo, de existir três condições básicas para que ela resulte numa
implementação bem-sucedida:
1. o administrador deve ter poder suficiente para comandar a implementação ou a
estratégia deve representar pouco risco ao status quo. A implementação sob esta
abordagem sofre resistência se a nova estratégia coloca em risco as posições dos
empregados;
2. as informações precisas e atuais devem estar disponíveis e o ambiente deve ser
razoavelmente estável. Se o ambiente estiver mudando de forma tão rápida que as
informações tornem-se desatualizadas antes que possam ser assimiladas, a
implementação sob esta abordagem é pouco provável e
3. o administrador que formula a estratégia deve ficar isolado de tendências pessoais
e de influências políticas que possam afetar o conteúdo da estratégia.
Uma séria desvantagem desta abordagem é que ela pode reduzir a motivação dos empregados,
na medida em que sentindo que nada têm a acrescentar na formulação da estratégia, não
reagirão como um grupo muito inovador.
Essa abordagem, contudo, pode ser efetiva em organizações menores, dentro de indústrias
estáveis. Certo & Peter (1993, p.179) dizem que ela funciona melhor quando a estratégia a ser
implementada exige relativamente pouca mudança, como no caso das estratégias de
continuação ou de mudança de rotinas.
92
A despeito de suas desvantagens, a Abordagem do Comandante é bastante popular entre
consultores de empresas e administradores. Em primeiro lugar, por oferecer ao administrador
uma perspectiva valiosa e permitir que concentre suas energias na formulação da estratégia.
Ao dividir a tarefa da administração estratégica em duas etapas - “pensar” e “fazer” -, o
administrador reduz a quantidade de fatores que têm de ser considerados simultaneamente.
Em segundo lugar, especialmente o administrador jovem parece preferi-la, na medida em que
lhe permite se concentrar nos aspectos quantitativos e objetivos de uma situação, ao invés de
em elementos qualitativos e subjetivos de interações comportamentais. Por último, essa
abordagem faz o administrador, principalmente o ambicioso, sentir-se poderoso, na medida
em que suas idéias e a tomada de decisão afetam as atividades de inúmeras pessoas (CERTO
& PETER, 1993, p 181-182).
A Abordagem da Mudança Organizacional ou simplesmente Abordagem de Mudança,
segundo Brodwin & Bourgeois (1984, p. 176-190), analisa como levar a organização a
implementar uma estratégia. O administrador que usa esta abordagem assume que foi
formulada uma boa estratégia e sente-se responsável por levar a organização ao alcance de
novos objetivos. As ferramentas usadas são, na maioria, comportamentais e incluem ações
como mudar a estrutura da organização e da equipe para concentrar a atenção nas novas
prioridades da organização, revisando os sistemas de planejamento e controle e usando outras
técnicas de mudança organizacional. Aqui o administrador é um arquiteto projetando sistemas
administrativos para a implementação efetiva da estratégia.
O uso de poderosas ferramentas comportamentais neste tipo de abordagem, normalmente
torna-a mais efetiva que a Abordagem do Comandante, podendo ser usada para implementar
estratégias mais difíceis.
93
Diversas limitações dessa abordagem podem, entretanto, restringir o seu uso em organizações
menores de indústrias estáveis. Ela não ajuda o administrador a permanecer informado sobre
as rápidas mudanças no ambiente; não lida com situações em que as agendas políticas e
pessoais desencorajam a objetividade entre os estrategistas e, na medida em que impõe a
estratégia de “cima para baixo”, está sujeita aos mesmos problemas motivacionais que
apresenta a Abordagem do Comandante. Além do mais, essa abordagem pode fazer com que
os resultados sejam totalmente adversos dos esperados sob condições incertas ou que mudem
rapidamente. Nela, o administrador sacrifica uma importante flexibilidade estratégica,
manipulando os sistemas e estruturas da organização visando ao apoio a uma estratégia em
particular - alguns desses sistemas levam muito tempo para serem projetados e instalados,
como, por exemplo, o de compensação por meio de incentivos. Caso o ambiente precise de
uma nova estratégia, poderá ser muito difícil alterar o curso da organização, que foi
firmemente estabelecido para apoiar a estratégia agora obsoleta (CERTO & PETER, 1993, p
182).
Na Abordagem Colaborativa, segundo Brodwin & Bourgeois (1984, p. 176-190), o
administrador responsável pela estratégia chama o restante da equipe de administradores para
uma reunião de exploração de idéias e formulação e implementação da estratégia. Os
participantes com perspectivas diferentes são encorajados a colocar seus pontos de vista a fim
de possibilitar a obtenção de quaisquer contribuições que possam surgir de perspectivas
múltiplas. Aqui o administrador é um coordenador, que usa o seu conhecimento de dinâmica
de grupo para garantir que todas as boas idéias sejam discutidas e investigadas.
Certo & Peter (1993, p. 183) ressaltam que esse tipo de abordagem contorna duas limitações-
chave das outras duas abordagens anteriores: Ao capturar informações fornecidas por
94
administradores, que estão mais próximos das operações, e ao oferecer um fórum para a
expressão de pontos de vista diversos, esta abordagem pode aumentar a qualidade e a presteza
das informações incorporadas à estratégia. Por outro lado, à medida que o grau de
participação aumenta os comportamentos com a estratégia, aumentam as chances de uma
implementação eficiente.
A Abordagem Colaborativa pode firmar mais compromissos que as abordagens anteriores,
mas pode também resultar em uma estratégia ruim. O fato da estratégia ser negociada entre
administradores com diferentes pontos de vista e, certamente, diferentes objetivos, pode
reduzir as chances da administração formular e implementar estratégias superiores. Além do
mais, o processo de negociação pode levar tanto tempo, que uma organização perde
oportunidades e fracassa ao não reagir com rapidez suficiente a ambientes em mutação.
Destacam ainda os autores citados que é provável que uma estratégia negociada seja menos
visionária e mais conservadora que uma criada por um indivíduo ou por uma equipe. Por
outro lado, trabalhar com diversos administradores individuais resulta numa estratégia que
favorece uma área funcional em particular, mas que é menos sólida em termos de perspectiva
estratégica global.
A principal crítica a essa abordagem está no fato de ela não ser realmente uma tomada de
decisão coletiva do ponto de vista organizacional, visto que, freqüentemente, os altos
administradores retêm o controle centralizado. Esta abordagem preserva a distinção artificial
entre pensadores e executores e fracassa em não usar todo o potencial humano da
organização. Se usada adequadamente, pode encorajar a implementação efetiva, ainda que
também possa criar problemas políticos dentro da organização e impedir a rápida e eficiente
formulação e implementação da estratégia (CERTO & PETER, 1993, p 184).
95
A Abordagem Cultural inclui na Abordagem Colaborativa os níveis inferiores da organização.
Nela, o administrador guia a organização, comunicando e propondo seus pontos de vista sobre
a missão global da organização, permitindo que os empregados projetem suas próprias
atividades de trabalho de acordo com a missão. Assim que a estratégia é formulada, o
administrador assume o papel de condutor, dando as diretrizes gerais e encorajando a tomada
de decisão individual acerca dos detalhes operacionais da execução da estratégia (BRODWIN
& BOURGEOIS, 1984, p. 176-190).
As ferramentas de implementação usadas na criação de uma forte cultura organizacional
variam desde a publicação do credo da organização até o uso de técnicas mais complexas, que
envolvem o chamado “controle de terceiro nível”, conforma comenta Certo & Peter (1993, p.
184). O controle de primeiro nível diz respeito à supervisão direta; o controle de segundo
nível envolve o uso de regras, procedimentos e da estrutura organizacional para dirigir o
comportamento; enquanto que o de terceiro nível é mais sutil e, potencialmente, mais
poderoso, consistindo em moldar o comportamento, influenciado pelas normas, valores,
símbolos e crenças que os administradores e empregados usam nas suas decisões diárias.
Essa abordagem quebra parcialmente as barreiras entre os pensadores e os executores, porque
cada membro da organização pode se envolver, de alguma forma, tanto na formulação quanto
na implementação da estratégia. Ela parece funcionar melhor em organizações que tenham
recursos suficientes para absorver os custos de criação e manutenção de um sistema de apoio
aos valores organizacionais. Normalmente, são empresas em rápido crescimento de indústrias
de alta tecnologia (CERTO & PETER, 1993, p 184-185).
Apresentando diversas vantagens - especialmente uma em que é exclusiva: a implementação
96
entusiástica de estratégias -, ela também possui limitações, como: tende a funcionar somente
em organizações que disponham de um ótimo sistema de informações, que envolva todas as
pessoas; demanda muito tempo para ser formada; pode gerar um corporativismo prejudicial,
causado pelo forte senso de identidade organizacional, impedindo, por exemplo, a entrada de
terceiros na cúpula; tende a suprimir as diferenças, desencorajar as tentativas de mudanças,
alimentar a homogeneidade e a consangüinidade, caminhando para o conformismo.
A última abordagem proposta por Brodwin & Bourgeois (1984, p. 176-190) é chamada de
Abordagem Crescente, na qual o administrador trata, ao mesmo tempo, da formulação e da
implementação da estratégia, entretanto, ele não se concentra na execução das tarefas, mas em
encorajar os subordinados a desenvolver, defender e implementar estratégias sólidas de sua
própria criação. Em relação às demais abordagens, há sensíveis diferenças:
1. a estratégia não vai da alta administração ou de um grupo de estratégia para
baixo, mas, ao contrário, ela sobe a partir de seus executores (vendedores,
engenheiros, trabalhadores da produção), gerências de nível médio e
supervisores;
2. a estratégia resulta da soma de todas as propostas individuais que surgem ao
longo do ano;
3. a equipe da alta administração define as premissas que os empregados devem ter
do que seriam projetos estratégicos suportáveis e
4. o executivo-chefe ou administrador responsável pela estratégia atua mais como
um juiz, avaliando as propostas, do que como o estrategista-chefe.
Os autores supracitados defendem o uso desta abordagem principalmente pelos presidentes de
organizações grandes, complexas e diversificadas. Nelas, o presidente não conhece ou
97
entende todas as situações estratégicas e operacionais que cada divisão enfrenta, devendo
ceder algum controle para estimular o oportunismo e a realização, visando à formulação e
implementação efetiva das estratégias.
Diversas são as vantagens desta abordagem, como: encoraja os administradores de nível
médio a formularem estratégias efetivas, dando-lhes oportunidade de implementarem os seus
próprios planos e aumentando sua motivação para fazerem com que a estratégia seja bem-
sucedida; bem como, as estratégias assim desenvolvidas – por empregados e administradores
mais próximos das oportunidades estratégicas -, têm mais probabilidade de serem
operacionalmente sólidas e rapidamente implementadas.
Certo & Peter (1993, p. 186-187) alertam para as exigências desta abordagem: existência de
fundos disponíveis para que os indivíduos desenvolvam boas idéias, livres dos ciclos de
aprovação burocrática e tolerância nos casos em que ocorram falhas inevitáveis, apesar de
todos os esforços feitos. Ressaltam ainda que ela não especifica como os administradores
responsáveis pela implementação da estratégia devem fazê-la.
Destacando que pode ser muito difícil, caro e consumir muito tempo em converter uma
organização acostumada a sistemas centralizados e de cima para baixo para o uso da
abordagem em questão, admitem que ela é viável para organizações complexas, que existam
em indústrias dinâmicas.
Uma visão geral das abordagens descritas está apresentada no Quadro 4.
98
Quadro 4
Cinco abordagens para implementação de estratégia
Abordagem Fator Comandante Mudança Colaborativa Cultural Crescente
Ditadas de cima
Ditadas de cima
Embutidas na cultura
Econômicos
Baixo
Baixo
Alto
Alto
Alto
N/A
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Alta
Alta
Moderada
Baixa
Baixa
Alto
Alto
Moderado
Moderado
Moderado
Fonte - BRODWIN & BOURGEOIS, 1984. p. 178. Adaptado pela autora desta dissertação.
Definição das metas
Significado do sucesso
Fatores consideradosna solução de conflitosentre estratégiaspropostasNível de esforçonecessário daorganização na fase deformulação
Poder do presidentepara impor um planodetalhado deimplementação àorganização
Nível de esforçonecessário daorganização na fase deimplementaçãoCapacidade dopresidente de manter opessoal informadosobre as oportunidadese riscos estratégicos
Um bom plano sejulgado pelos critérioseconômicos
Econômicos,Políticos
Organização e estruturaque combinam com aestratégia
Econômicos,Sociais,Políticos
Negociadas dentro daalta hierarquia
Um plano aceitável comamplo apoioadministrativo
Um exército deimplementadoresocupados
Econômicos,Sociais
Econômicos,Sociais,Políticos,Comportamentais
Declaradas vagamentea partir de cima,refinadas de baixoEstratégias sólidascom campeões portrás delas
99
4.3 Sistema de gestão estratégica: Balanced Scorecard
Em 1990, o Instituto Nolan Norton, unidade de pesquisa da KPMG, patrocinou um estudo de
um ano entre diversas empresas intitulado Measuring Performance in the Organization of the
Future, partindo da crença de que os métodos existentes para avaliação do desempenho
empresarial, geralmente apoiados em indicadores contábeis e financeiros, estavam se
tornando obsoletos. Esse estudo foi liderado por David Norton, principal executivo do
instituto, tendo como consultor acadêmico Robert Kaplan (KAPLAN & NORTON, 1997, p.
VII).
Examinando estudos de casos, então recentes, sobre sistemas inovadores de mensuração de
desempenho, identificaram o da Analog Devices, que descrevia uma abordagem para a
mensuração do índice de progresso em atividades de melhoria contínua e apresentava um
recém-criado scorecard corporativo, o qual continha, além de várias medidas financeiras
tradicionais, outras medidas de desempenho relativas a prazos de entrega ao cliente,
qualidade, ciclo de processos de produção e eficácia no desenvolvimento de novos produtos.
A ampliação do scorecard resultou no que hoje é conhecido como Balanced Scorecard –
BSC.
4.3.1 Estrutura do Balanced Scorecard
Idealizado para mensurar o desempenho na era da informação, o BSC passou a ser usado -
para surpresa de Kaplan & Norton (2000, p. 8) - para implementar novas estratégias. Fazendo
frente a estudos de várias fontes que comprovavam que as organizações enfrentavam grandes
dificuldades e muitas vezes fracassavam na execução da estratégia, uma grande parte das
100
primeiras organizações adeptas do BSC implementavam com êxito as novas estratégias e
auferiam retornos positivos já no período de doze a vinte e quatro meses.
Os executivos das organizações adeptas do BSC usavam-no para alinhar as unidades de
negócio, as unidades de serviço compartilhado, as equipes e os indivíduos em torno de metas
organizacionais gerais. Conseqüentemente, os processos gerenciais críticos, como:
planejamento, alocação de recursos, orçamento, relatórios periódicos e reuniões de gerentes,
se concentravam em torno da estratégia.
Atualmente, a maioria das organizações atua por meio de unidades de negócio e de equipes
descentralizadas, que estão mais próximas dos clientes do que o pessoal das grandes
organizações. Elas reconhecem que a vantagem competitiva depende mais de recursos
intangíveis, como: conhecimento, capacidades e relacionamentos criados pelos empregados,
do que de investimentos em ativos físicos e do acesso ao capital. A implementação da
estratégia, nesse contexto, impõe que todas as unidades de negócio, unidades de apoio e
empregados estejam alinhados e conectados com a estratégia, cuja formulação e
implementação devem ser objeto de um processo contínuo e participativo, para fazer frente ao
ambiente em contínua transformação (KAPLAN & NORTON, 2000, p. 11-14).
A economia anterior era dominada por ativos tangíveis, onde as mensurações financeiras eram
apropriadas para registrar, no balanço patrimonial das empresas, os investimentos nos
estoques e no ativo imobilizado. Na economia atual, contudo, os ativos intangíveis tornaram-
se a principal fonte de vantagem competitiva, exigindo ferramentas que descrevam os ativos
com base no conhecimento e as estratégias criadoras de valor, construídas a partir desses
ativos. A abordagem do BSC manteve as mensurações do desempenho financeiro, os
101
indicadores retardatários, mas as complementou com a mensuração de outros vetores do
desempenho financeiro futuro. Todos os seus objetivos e indicadores, sejam financeiros ou
não, devem emanar da visão e da estratégia da organização. Dessa forma, ele se converteu em
ferramenta para a gestão da estratégia, ou seja, em instrumento para lidar com as taxas de
fracasso de 90% na sua implementação.2
O BSC, segundo Kaplan & Norton (1997, p. 9-10), é usado por empresas inovadoras como
um sistema de gestão estratégica para administrar a estratégia a longo prazo - conforme
mostra a Figura 16 -, buscando com sua filosofia viabilizar processos gerenciais críticos:
1. esclarecer e traduzir a visão e a estratégia;
2. comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas;
3. planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas e
4. melhorar o feedback e o aprendizado estratégico.
Sua designação reflete o equilíbrio entre objetivos de curto e longo prazos, entre medidas
financeiras e não-financeiras, entre indicadores de tendências (leading) e ocorrências
(lagging) e entre as perspectivas interna e externa de desempenho (KAPLAN & NORTON,
1997, p. VIII).
Os objetivos e as medidas utilizadas no BSC, conforme destacam Kaplan & Norton (1997, p.
9), não se limitam a um conjunto aleatório de medidas de desempenho financeiro e não–
financeiro, visto que resultam de um processo hierárquico (top-down) norteado pela missão e
pela estratégia da unidade de negócios. Ele deve traduzir a missão e a estratégia de uma
unidade de negócios em objetivos e medidas tangíveis. Essas medidas representam o
2 Uma pesquisa entre consultores gerenciais revelou que menos de 10% das estratégias formuladas foram
implementadas com êxito. KIECHEL, Walter. Corporate Strategists under Fire. Fortune, p. 38, 1982.
102
equilíbrio entre indicadores externos voltados para acionistas e clientes e as medidas internas
dos processos críticos de negócios, inovação, aprendizado e crescimento. Há um equilíbrio
entre as medidas de resultado - conseqüências dos esforços do passado - e as medidas que
determinam o desempenho futuro. O scorecard se equilibra entre medidas objetivas, de
resultado, facilmente quantificáveis, e vetores subjetivos, até certo ponto discricionários, das
medidas de resultado.
Esclarecendo etraduzindo a Visão e aEstratégia- Esclarecendo a visão- Estabelecendo o consenso
Planejamento eEstabelecimento deMetas- Estabelecendo metas- Alinhando iniciativas estratégicas- Alocando recursos- Estabelecendo marcos de referência
Feedback e AprendizadoEstratégico- Articulando a visão compartilhada- Fornecendo
estratégico- Facilitando a revisão e o aprendizado estratégico
feedback
Comunicando eestabelecendovinculações
BalancedScorecard
- Comunicando e educando- Estabelecendo metas- Vinculando recompensas a medidas de desempenho
Figura 16 – O Balanced Scorecard como estrutura para ação estratégica Fonte – KAPLAN & NORTON, 1997. p. 12.
103
O BSC traduz missão e estratégia em objetivos e medidas, organizados segundo quatro
perspectivas diferentes: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e
crescimento. Suas medidas devem ser usadas para articular a estratégia da empresa, para
comunicar essa estratégia e para ajudar a alinhar iniciativas individuais, organizacionais e
interdepartamentais, com a finalidade de alcançar uma meta comum. Dessa forma, não
pretende manter as unidades individuais e organizacionais em conformidade com um plano
preestabelecido, como é o objetivo dos sistemas de controle tradicionais. Ao contrário, deve
ser usado como um sistema de comunicação, informação e aprendizado e não como um
sistema de controle (KAPLAN & NORTON, 1997, p. 25).
Nas organizações que usam o BSC, visão, estratégia e recursos fluem de cima para baixo;
enquanto que implementação, inovação, feedback e aprendizado refluem de baixo para cima,
a partir das linhas de frente e da retaguarda dos escritórios. Com o foco em alinhamento e
aprendizagem, as organizações apresentam desempenho extraordinário e não-linear, onde o
todo é maior do que a soma das partes (KAPLAN & NORTON, 2000, p. 8).
Consistindo na tradução da estratégia em objetivos, medidas e metas específicas para a
monitoração da sua implementação, o BSC pode ser aplicado independente da abordagem
utilizada na formulação da estratégia: comece esta da perspectiva do cliente ou da excelência
das capacidades dos processos internos. Em que pese ele não ter como finalidade a
formulação de estratégia, é comum que estimule esse processo em organizações que, ao
desenvolvê-lo, percebem a inexistência de consenso em relação à estratégia de suas unidades
de negócios (KAPLAN & NORTON, 1997, p. 38-41).
104
4.3.2 Princípios do Balanced Scorecard
Com base no estudo das empresas bem sucedidas no uso do BSC, Kaplan & Norton (2000, p.
18-28) identificaram um padrão consistente na consecução do foco e do alinhamento
estratégicos, que permitiu a enunciação de cinco princípios, chamados de princípios da
organização focalizada na estratégia:
a) Princípio 1 - Traduzir a Estratégia em Termos Operacionais: O BSC fornece um
referencial para descrever e comunicar a estratégia de maneira coerente e
imaginosa, uma “receita” pela qual ingredientes já existentes na organização
combinam-se para a criação de valor de longo prazo. A proposta de traduzir a
estratégia na arquitetura lógica do mapa estratégico e do balanced scorecard
permite às organizações criarem um ponto de referência comum e compreensível
para todas as unidades e empregados.
b) Princípio 2 – Alinhar a Organização à Estratégia: Para que o desempenho
organizacional seja superior à soma das partes, as estratégias individuais devem
ser conectadas e integradas, cabendo à corporação definir as conexões esperadas
para a criação da sinergia e assegurar a efetiva ocorrência dessas conexões. As
unidades de negócio e as unidades de serviço compartilhado conectam-se à
estratégia por meio de temas e objetivos comuns que permeiam seus scorecards.
c) Princípio 3 – Transformar a Estratégia em Tarefa de Todos: As organizações
focalizadas na estratégia fazem com que todos os seus empregados compreendam
a estratégia e conduzam suas atividades de maneira a contribuir para o êxito dela;
não caracterizando direção de cima para baixo, mas comunicação de cima para
baixo. O BSC é usado pelos executivos como ferramenta nos processos de
comunicar a estratégia e educar a organização. As pessoas e os departamentos
105
nos níveis mais baixos devem desenvolver seus próprios objetivos à luz das
prioridades mais amplas (estilo top-down)3, permitindo que as pessoas
identifiquem áreas fora de sua responsabilidade funcional, onde também podem
contribuir. A vinculação da remuneração por incentivos ao BSC é inevitável.
d) Princípio 4 – Converter a Estratégia em Processo Contínuo: O processo de
gerenciamento da estratégia - chamado “processo de loop duplo” - é
implementado, integrando o gerenciamento tático (orçamentos financeiros e
avaliações mensais) e o gerenciamento estratégico em um único processo
ininterrupto e contínuo. As organizações conectam a estratégia ao processo
orçamentário; implementam reuniões gerenciais simples para avaliação da
estratégia e estabelecem um processo de aprendizado e adaptação da estratégia.
e) Princípio 5 - Mobilizar a Mudança por meio da Liderança Executiva: O
BSC para ter sucesso precisa ser reconhecido como um programa de mudança ao
invés de um projeto de mensuração, sendo imprescindível que as pessoas no topo
atuem como líderes altamente comprometidos com o processo. Esse programa
apresenta três fases: (1) Mobilização – em que é esclarecido para a organização
por que a mudança é necessária. (2) Processo de Governança – visando a orientar
a transição, onde são definidos, demonstrados e reforçados os novos valores
culturais da organização, impondo o rompimento com as tradicionais estruturas
de poder e a criação de equipes estratégicas, a realização de reuniões coletivas
com o pessoal e a promoção da comunicação aberta em toda a organização. (3)
Sistema Gerencial Estratégico – em que são institucionalizados os novos valores
culturais e as novas estruturas em um novo sistema de gestão; há o
estabelecimento de conexão dos processos tradicionais, como remuneração e
3 Método de projeto e programação que parte do geral para o específico, em oposição à abordagem bottom-up, que parte do específico para o geral.
106
alocação de recursos, ao BSC. Enquanto o scorecard expressa a estratégia, o
sistema gerencial interliga todas as partes da organização ao scorecard
estratégico.
4.3.3 Componentes de um sistema de gestão estratégica
Os quatro componentes de um sistema de gestão estratégica são a tradução da visão num
entendimento compartilhado e identidade de propósitos; a comunicação da estratégia e sua
associação com a medição de desempenho; o planejamento e estabelecimento de metas e o
feedback e análise de desempenho em relação à estratégia (KAPLAN & NORTON, 1997, p.
200).
Várias empresas, segundo Kaplan & Norton (1997, p. 199-206), estão utilizando o BSC como
a pedra angular de um novo sistema de gestão estratégica, tendo em vista que seus executivos
descobriram que ele lhes permite resolver a incoerência existente anteriormente em suas
organizações entre a formulação da estratégia e a sua implementação. Incoerência essa
causada por barreiras criadas pelos sistemas gerenciais tradicionais, utilizados para criar e
comunicar estratégia e direções; alocar recursos; definir metas e direções para departamentos,
equipes e indivíduos, bem como fornecer feedback. Os autores identificaram quatro barreiras
específicas à implementação eficaz da estratégia:
1. visões e estratégias não-executáveis;
2. estratégias não-associadas às metas de departamentos, equipes e indivíduos;
3. estratégias não-associadas à alocação de recursos a longo e curto prazos;
4. feedback tático, não-estratégico.
107
O maior benefício do uso do BSC como sistema de gestão estratégica ocorre, segundo Kaplan
& Norton (1997, p. 206), quando as empresas realizam revisões estratégicas regulares e não
apenas análises operacionais. Um processo de feedback e aprendizado estratégico baseado
nele se caracteriza por apresentar:
1. uma visão estratégica estruturada e compartilhada, que comunica a estratégia,
permitindo aos participantes perceber como suas atividades individuais
contribuem para a realização da estratégia global;
2. um processo de feedback que coleta dados de desempenho sobre a estratégia,
permitindo que as hipóteses sobre inter-relações entre objetivos e iniciativas
estratégicas sejam testadas e
3. um processo de solução de problemas em equipe, que analisa e aprende com os
dados de desempenho obtidos, adaptando a estratégia às condições e situações
que venham a surgir.
O BSC preenche a lacuna existente na maioria dos sistemas gerenciais, que consiste na falta
de um processo sistemático para implementar e obter feedback sobre a estratégia. Os
processos gerenciais construídos a partir do scorecard asseguram que a organização fique
alinhada e focalizada na implementação da estratégia de longo prazo. Dessa forma, o BSC
torna-se a base para o gerenciamento das organizações na era da informação (KAPLAN &
NORTON, 1997, p. 20).
A pertinência do uso de qualquer uma das abordagens propostas por Brodwin & Bourgeois
(1984), conforme exposto, é determinada pelo perfil, cultura e estágio da empresa. A
abordagem de Kaplan & Norton (1997) aproxima-se mais da Abordagem de Mudança
inovando exatamente onde ela evidencia limitações: em situações incertas ou que mudam
108
rapidamente, que são características do mundo atual. Além disso, inova, apresentando o seu
grande diferencial, que é o aprendizado estratégico.
OBJETOS DE ESTUDO
Uma empresa sem estratégia é como um avião voando em plena tempestade, jogando para cima e para baixo, açoitado pelo vento, perdido entre relâmpagos. Se os relâmpagos ou os ventos não o destruírem, simplesmente ficará sem combustível.
Alvin Toffler – A Empresa Flexível
5 OBJETOS DE ESTUDO
Os objetos de estudo que compõem este estudo de casos múltiplos são: Centralização de
Serviços dos Bancos S.A. – Serasa; Siemens Ltda. – Siemens e a Xerox Comércio e
Indústria Ltda. – Xerox.
5.1 Serasa
A Serasa é uma sociedade anônima de capital fechado, tendo como acionistas 71 Instituições
Financeiras. Foi criada em 1968 pelos Bancos, visando a centralizar informações, com o
objetivo de racionalizar custos administrativos e obter incrementos qualitativos de
especialização, fornecendo informações e análises econômico-financeiras para apoiar decisões
de crédito e negócios. Na última década, a empresa estendeu sua atuação para todos os setores
da economia.
5.1.1 Perfil
A Serasa participa da maior parte dos negócios realizados em todo o Brasil, fornecendo, on-
111
line/real-time, mais de 1,5 milhões de consultas por dia, demandadas por mais de 300 mil
clientes diretos e indiretos. Seus produtos e serviços atendem as mais variadas necessidades
dos diversos segmentos do mercado, podendo ser acessados por meio de uma extensa rede de
teleprocessamento, disponível 24 horas, todos os dias da semana, tais como: telefone (voz
automatizada), fax (com resposta na mesma ligação), microcomputador, PDV, EDI –
Intercâmbio Eletrônico de Dados, terminal de vídeo, ligação computador a computador,
Internet, entre outros.
Seu Banco de Dados é o maior da América Latina, dispondo de registros de todas as empresas
legalmente constituídas no Brasil e sobre todos os consumidores do Brasil com alguma
atividade econômica.
A Solução Integral de Crédito é um avançado e inovador modelo de excelência em tecnologia
de crédito. Desenvolvido pela Serasa, disponibiliza as mais completas informações para
determinar o risco em cada um dos segmentos econômicos do país, por meio de um completo
portfólio de produtos e serviços:
1. Concentre – Banco de dados com exclusiva cobertura nacional, que reúne
informações de pessoas físicas e jurídicas sobre protestos, concordatas, falências,
ações de execução, participações em falências e cheques sem fundos.
2. Credit Rating® Serasa - Avançado sistema de graduação do risco de crédito de
Pessoas Jurídicas, que indica a probabilidade da empresa tornar-se inadimplente
em um horizonte de 12 meses. Reúne informações cadastrais, econômico-
financeiras e setoriais de cada um dos segmentos de mercado: Corporate,
Middle+, Middle, Small+ e Small.
3. ACHEI – Recheque – Sistema nacional de proteção ao varejo contra o
112
recebimento de cheques sem fundos, roubados, extraviados, sustados e
cancelados.
4. Credit Bureau® Serasa – Maior banco de dados de pessoas físicas do país para
decisões de negócios e de créditos ao consumidor, reunindo todas as informações
positivas e negativas relevantes para a avaliação do risco de crédito.
5. Relato – Instrumento indispensável para apoiar decisões de vendas a prazo.
Reúne todas as informações necessárias à concessão de crédito com rapidez e
segurança: hábitos de pagamento, potencial de negócios, pendências financeiras e
aviso contra a ação de empresas golpistas.
6. Identifica, Confirmei, Sinaliza, Monitore, Convem Devedores, Agrupe,
Setorise, Sabes, Pefin, Serasa Reports e Relatórios Internacionais – Produtos
complementares ou destinados a segmentos mais específicos.
Contando com um quadro de pessoal integrado por mais de 1.700 profissionais, a Serasa atua
em todas as capitais e principais cidades do país, com agências, escritórios e postos avançados
interligados por uma exclusiva rede corporativa de comunicações, em um total de 130 pontos
estratégicos.
A Sede da Serasa foi inaugurada em 20 de novembro de 2002, na cidade de São Paulo. É um
prédio inteligente, com área para 1.200 estações de trabalho, dotado de todos os recursos de
modernidade para proporcionar funcionalidade, conforto para as pessoas e total segurança
para os negócios. As instalações abrangem heliponto, ambulatório médico com entrada para
ambulância, restaurante e refeitório, estacionamento para 200 carros e 3 potentes geradores,
que, integrados com no breaks, são capazes de garantir a continuidade ininterrupta dos
trabalhos por tempo indeterminado. O prédio também abriga a “Estrutura de Certificação
113
Digital”, incluindo a “Sala-Cofre” de concreto reforçado.
5.1.2 Modelo de gestão
O desenvolvimento e o crescimento da Serasa vêm sendo sustentados por três pilares: o
Planejamento Estratégico, o Processo da Qualidade e a Estrutura Organizacional Foco-
Matricial-Bipolar®. Esses pilares constituem a base do seu modelo de Gestão Empresarial
(Figura 17), que lhe permitiu ser vencedora do Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ mais de
uma vez: Em 1995, foi vencedora na categoria Prestadoras de Serviços, consagrando-se como
a primeira empresa de origem brasileira a obter essa importante premiação. Em 2000,
obedecendo à regulamentação vigente, foi premiada na categoria Grandes Empresas,
consagrando-se, desta vez, como a primeira empresa a obter, por duas vezes, o PNQ.
EstruturaFoco-MatricialBipolar
Planejamentoe GestãoEstratégica
Processo daQualidadeSERASA
Figura 17 - Pilares da gestão empresarial Serasa Fonte - FPNQ, 2000. p. 24.
114
5.2 Siemens
O Grupo Siemens, no Brasil, possui seis unidades de negócios: Information and
Communications; Automation and Control; Power; Transportation; Medical e Lighting,1 que
são operacionalizadas pelas seguintes empresas: Siemens Ltda.; Siemens Eletroeletrônica
S.A.; Siemens Building Technologies Ltda.; Siemens Demag Delaval Turbomachinery Ltda.;
Siemens Engenharia e Service Ltda.; Siemens Security Services Ltda.; Siemens VDO
Automotive Ltda.; Chemtech Serviços de Engenharia e Software Ltda.; DFV
Telecomunicações e Informática S.A. e Osram do Brasil Lâmpadas Elétricas Ltda..
5.2.1 Perfil
A presença da Siemens, no Brasil, é marcada por uma sede central, 12 fábricas e 12
escritórios regionais, distribuídos de norte a sul do país: Belo Horizonte, Brasília, Campinas,
Canoas, Curitiba, Diadema, Florianópolis, Fortaleza, Gravataí, Guarulhos, Jundiaí, Lapa,
Manaus, Osasco, Porto Alegre, Recife, Resende, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salto,
Salvador, São Paulo e Taubaté.
No final do exercício de 2003, o Grupo Siemens apresentava em seu quadro de pessoal 7.236
colaboradores, onde 73% eram homens e 27% mulheres. Desse total, 2658 eram graduados, o
que corresponde a, aproximadamente, 37% do total de colaboradores.
A Siemens surgiu no Brasil em 1867, fornecendo e instalando a primeira linha telegráfica do
país. A empresa Siemens-Schuckertwerke, contudo, só foi fundada, em 1905, no Rio de
1 Os nomes das unidades são usados em inglês, em todo o grupo empresarial.
115
Janeiro.
Fatos marcantes da história do Brasil são exemplos de momentos de sucesso do Grupo
Siemens, dos quais se destacam: a instalação da primeira central telefônica automática do
país, em Porto Alegre, em 1922; a inauguração da primeira central automática de telex da
América do Sul, no Rio de Janeiro, em 1953; a fabricação do primeiro gerador de Itaipu com
potência de 823,6 MVA, em 1983; o recebimento do primeiro certificado ISO 9000 por uma
empresa no Brasil, em 1989; o reconhecimento como centro de competência mundial para a
fabricação de hidrogeradores, em 1995; a obtenção do Prêmio Nacional da Qualidade pela
Unidade de Telecomunicações, em 1998; o fechamento dos primeiros contratos para redes e
aparelhos celulares GSM, em 2001; a inauguração da fábrica de telefones Gigasets em
Manaus, em 2003.
A conquista do Prêmio Nacional da Qualidade em 1998 deu-se pela Unidade de
Telecomunicações da Siemens,- conforme destacado acima – que, hoje, após reestruturação
havida no grupo, chama-se Information and Communications.
5.2.2 Modelo de Gestão
O modelo de gestão da SIEMENS continua baseado no modelo do PNQ, sendo chamado
internamente de PNQ-S (onde o “S” refere-se a Siemens e demonstra internalização do
modelo). A adoção do Balanced Scorecard também marca a atual gestão da empresa,
especialmente após a obtenção do Prêmio Top Plus2, em outubro de 2003.
2 Prêmio Mundial da Siemens, do qual participam todas as empresas do grupo no mundo.
116
5.3 Xerox
A Xerox está hoje, no Brasil, em Manaus, com a Xerox do Amazonas; em Simões Filho, na
Bahia, com a Xerox do Nordeste; em Itatiaia, Rio de Janeiro, por meio de parceria com a
Flextronics; em Vitória, Espírito Santo, com o Centro de Desenvolvimento de Sistemas de
Vitória – CDSV e em Tamboré, São Paulo, com o Centro de Produção de Documentos
Inteligentes – CPDI.
5.3.1 Perfil
O acordo entre o empresário Henrique Sérgio Gregori e a Xerox Corporation foi responsável
pela vinda da Xerox para o Brasil, no ano de 1965. A Xerox do Brasil Ltda. começou
importando e comercializando, no país, a X-914 - primeira copiadora do mundo produzida em
escala.
Nos primeiros anos, dedicou-se à montagem de uma rede que permitisse um atendimento em
nível nacional, tendo começado a fabricar, a partir de 1970, pelo menos em parte, os produtos,
considerando a política governamental de nacionalização.
Presente em todo o território nacional, direta ou indiretamente, possui 62 Revendedores
Autorizados Xerox, distribuídos em todo o país, seis filiais regionais e quatro unidades de
manufatura, localizadas em Manaus, Salvador, Itatiaia e Vitória.
Contando com 2100 empregados, a Xerox possui 50 produtos em catálogo com 35
lançamentos em 2003, tendo o maior portfólio do mercado de equipamentos para
117
processamento de documentos em ambiente de escritório. Oferece também tecnologia para
produção de grandes volumes de impressos para empresas em que o documento assume papel
de missão crítica como: instituições financeiras, acadêmicas, governamentais, de serviços ou
bureaux de impressão e empresas de artes gráficas em geral. Em serviços, oferece práticas,
processos e aplicações voltadas ao negócio do documento para empresas de qualquer
tamanho.
A Xerox do Amazonas fabrica equipamentos para os mercados do Brasil e América Latina e a
Xerox do Nordeste, material de consumo para os mercados nacional e mundial. Por meio de
parceria com a Flextronics, fabrica unidades de acabamento, sendo a única fornecedora
mundial.
O Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Vitória – CDSV é reconhecido como centro de
competência mundial em desenvolvimento de software na Xerox, enquanto que o Centro de
Produção de Documentos Inteligentes – CPDI é responsável pelo processamento e produção
de documentos em alto volume para algumas das maiores empresas do país.
5.3.2 Modelo de gestão
O modelo de gestão da Xerox está configurado no diagrama apresentado na Figura 18.
118
6.0 RESULTS
1.0 LEADERSHIP
2.0 HUMAN RESOURCE MANAGEMENT
2.3 Empowering Work EnvironmentPay and Recognitionand2.4 Total
3.0 BUSINESS PROCESS MANAGEMENT
4.0 CUSTOMER ANDMARKET FOCUS
5.0 KNOWLEDGE ANDINFORMATION
Figura 18 – The Xerox Management Model Fonte – Xerox Nota – Apresentada na forma original divulgada na empresa para manter a integridade dos dados.
METODOLOGIA
Sem objetivos claros, corremos o risco de redobrar nossos esforços
e mesmo assim não chegar onde queremos.
Provérbio chinês
6 METODOLOGIA
O termo metodologia, segundo Bogdan & Taylor (1975, p. 1), refere-se, em sentido amplo, a
processos, princípios e procedimentos utilizados para aproximar-se de problemas, buscando
respostas para os mesmos. Dentro da perspectiva das ciências sociais, metodologia, segundo
eles, significa a forma como se conduzem pesquisas. Nesta seção do trabalho, expõe-se
detalhadamente a metodologia utilizada na realização da pesquisa, caracterizando-a,
apresentando o seu roteiro metodológico, o suporte teórico das abordagens metodológicas, as
questões do protocolo, o universo e amostra considerados, as unidades de análise e de
observação, os locais dos casos, bem como a caracterização dos entrevistados. A seção é
encerrada com rápidos comentários sobre a limitação da pesquisa.
6.1 Tipo de pesquisa
A literatura especializada em pesquisa apresenta diversas classificações de tipos de pesquisa.
Adotando-se a taxionomia proposta por Vergara (2000, p. 46-50), a pesquisa pode ser
classificada quanto aos meios que utiliza e quanto aos fins que objetiva.
121
Do ponto de vista dos fins, a presente pesquisa é descritiva e exploratória (VERGARA, 2000,
p. 46-47). É descritiva, uma vez que visa a identificar, apresentar e analisar as características
dos processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas em algumas
organizações de excelência reconhecida, buscando enfoques comuns e diferenciados. Reveste-
se de caráter exploratório, na medida em que, apesar de o tema estratégia e as organizações de
desempenho reconhecido, serem cada vez mais freqüentes em pesquisas acadêmicas, não há
conhecimento da existência de estudo com o enfoque proposto por este. Segundo Gil (1996,
p. 45), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, visando a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
No que tange aos meios de investigação, a pesquisa é bibliográfica, documental e estudo de
caso (VERGARA, 2000, p. 46-49). A pesquisa bibliográfica é aqui mencionada em função do
destaque a ser dado à apreciação das publicações da FPNQ referentes ao modelo de gestão das
organizações selecionadas para estudo e menos pelo seu uso para compor a fundamentação
teórico-metodológica do trabalho, cuja natureza acadêmica da pesquisa torna-a implícita.
A pesquisa documental consistiu na análise dos documentos internos da Serasa, Siemens e
Xerox pertinentes ao assunto, bem como de seus registros (formulários preenchidos,
comunicações etc.) sobre os processos de formulação e implementação das estratégias
deliberadas.
O estudo assumiu a natureza de estudo de caso, em função do tipo de questão da pesquisa
marcado pelo “como”, do nenhum controle da pesquisadora sobre os eventos
comportamentais e do foco em fenômenos contemporâneos inseridos em contexto da vida real
(YIN, 2001, p. 19).
122
Segundo Godoy (1995, p. 63), a opção pelo enfoque qualitativo muitas vezes se torna a mais
apropriada, ao se lidar com problemas pouco conhecidos, como os que caracterizam a
pesquisa de cunho exploratório. Da mesma forma, quando o estudo é de caráter descritivo,
onde se busca o entendimento do fenômeno como um todo, na sua complexidade, a análise
qualitativa parece ser a mais indicada.
A abordagem qualitativa, que marca esta pesquisa, não partiu de hipóteses estabelecidas a
priori, não se preocupando em buscar dados ou evidências que corroborassem ou negassem
tais suposições. Partiu de questões, de focos de interesse amplos, que foram se tornando mais
diretos e específicos no transcorrer da investigação. As abstrações foram construídas a partir
dos dados, num processo de baixo para cima (GODOY, 1995, p. 63).
A adoção, nesta pesquisa, de estudos de casos múltiplos considerou a abordagem de Herriott
& Firestone apud Yin (2001, p. 68), segundo a qual as provas resultantes de casos múltiplos
são consideradas mais convincentes, sendo o estudo global visto, por conseguinte, como mais
robusto.
6.2 Roteiro metodológico da pesquisa
Visando ao alcance da fidedignidade dos achados, procurou-se revestir a pesquisa de
desejável rigor metodológico, com base em renomados autores de metodologia científica,
conforme exposto no Quadro 5, obedecendo-se à trajetória exposta na Figura 19 (YIN, 2001,
p. 67-75).
123
Quadro 5
Roteiro metodológico da pesquisa
Etapas Procedimentos Finalidade Referência
1ª
Estruturação do Referencial Teórico
Apresentar a fundamentação teórica do estudo, demonstrando os pressupostos das questões gerais da pesquisa.
Cooper, 1998; Gil, 1996; Manzo, 1971; Marconi & Lakatos, 1999; Marshall & Rossman, 1995; Medeiros, 1991; Quivy & Campenhoudt, 1998; Roesch, 1999; Ruiz,1976; Salvador, 1982; Severino, 1976; Trujillo, 1974; Vergara, 2000; Wallace, 1980.
2ª
Seleção dos casos
Assegurar a qualidade do estudo.
Eisenhardt, 1991; Gil, 1996; Herriott & Firestone, 1983; Roesch, 1999; Strauss, 1998; Yin, 2001;
3ª
Elaboração do Protocolo de Estudo de Casos
Aumentar a confiabilidade da pesquisa e orientar a pesquisadora na condução do estudo dos casos.
Eisenhardt, 1989; Gil, 1996; Marconi & Lakatos, 1999; Quivy & Campenhoudt, 1998; Stake, 1994; Roesch, 1999; Vergara, 2000; Yin, 2001.
4ª
Adequação do Protocolo
Aprimorar os planos para a coleta de dados, tanto em relação ao conteúdo dos dados, quanto aos procedimentos a seguir.
Gil, 1996; Roesch, 1999; Vergara, 2000; Yin, 2001.
5ª
Condução dos casos Serasa, Siemens e Xerox
Colher dados sobre os processos de formulação e implementação de estratégias deliberadas nas empresas selecionadas, realizando validações.
Denzin,1978; Eisenhardt, 1989; Gil, 1996; Goode & Hatt, 1969; Marconi & Lakatos, 1999; Lodi, 1974; Quivy & Campenhoudt, 1998; Roesch, 1999; Santos, 1994; Selltiz, 1965; Stake, 1994; Trujillo, 1982; Vergara, 2000; Yin, 2001.
6ª
Elaboração do Relatório de cada caso
Expor claramente como foram coletados os dados e apresentar os resultados obtidos.
Alasuutari, 1995; Denzin 1978; Eisenhardt, 1989; Gil, 1996; Glaser & Strauss, 1967;Hartley, 1994; Marshall (1994); Marconi & Lakatos, 1999; Martin & Turner, 1986; Miles & Huberman, 1994; Mills 1971; Platt, 1992; Quivy & Campenhoudt, 1998; Roesch, 1999; Santos, 1994; Strauss, 1987; Strauss & Corbin, 1990; Vergara, 2000; Yin, 2001.
7ª
Estabelecimento de conclusões dos casos comparados
Identificar os aspectos similares e diferenciados nos processos de formulação e implementação de estratégias deliberadas, nas organizações estudadas.
8ª
Delineamento de proposições
Levantar questões e hipóteses para futuros estudos.
Eckstein, 1975; Eisenhardt, 1991; Gil, 1996; Glaser & Strauss, 1967; Martin & Turner, 1986; Roesch, 1999; Strauss, 1987, 1998; Strauss & Corbin, 1990; Yin, 2001.
Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação
124
Estruturação doReferencial
Teórico
Seleção doscasos
Elaboração doProtocolo de
Estudo de Casos
Adequação doProtocolo
Adequação doProtocolo
Adequação doProtocolo
Condução doCaso Serasa
Condução doCaso Siemens
Condução doCaso Xerox
Elaboração doRelatório
do Caso Serasa
Elaboraçção doRelatório
do Caso Siemens
Elaboração doRelatório
do Caso Xerox
Estabelecimentode conclusões
dos casoscomparados
Delineamentode proposições
PLANEJAMENTO PREPARAÇÃO COLETA E ANÁLISE ANÁLISE E CONCLUSÃO
Figura 19 – Processo da pesquisa Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação
125
Ao comentar as habilidades desejadas para o pesquisador de estudo de caso, Yin (2001, p. 80-
85) destacou, entre elas, a adaptatividade e a flexibilidade, visto que pouquíssimos estudos de
caso terminam exatamente como foram planejados.
Neste estudo, não foi diferente. A pesquisadora teve que demonstrar capacidade de adaptação
e flexibilidade para conseguir trabalhar com as organizações selecionadas, especialmente
quando foi necessário conciliar as agendas dos entrevistados. A localização das principais
unidades de observação, em outros estados (Rio de Janeiro e São Paulo) e em outra região do
país, implicou um elevado custo de operacionalização do estudo, minimizado com a
realização das visitas em um mesmo período.
A limitação do período de realização das visitas (1ª quinzena de dezembro de 2003) não
permitiu conciliação com a agenda dos presidentes das empresas, que não foram
entrevistados, tampouco a realização de entrevistas em grupo (focus group research) - com os
colaboradores mais diretamente envolvidos na formulação das estratégias e planos -, as quais
foram substituídas por entrevistas individuais.1
Os dados primários foram coletados por meio de entrevistas realizadas com diretores,
gerentes, ex-gerente, técnicos e demais profissionais vinculados à área de estratégias e planos
nas organizações estudadas, bem como com aqueles que o estavam, quando a organização
obteve o PNQ, ou que tinham conhecimento do processo de planejamento e de premiação à
época. As entrevistas foram semi-estruturadas, utilizando-se questões abertas, de maneira a
permitir à pesquisadora entender e captar a perspectiva dos entrevistados (ROESCH, 1999, p.
1 No tópico 4.5, explica-se como tais fatos não comprometeram a obtenção dos dados, tampouco a qualidade dos mesmos.
126
159-161) e conduzidas de acordo com as orientações de Gil (1996, p. 92-94) e Marconi &
Lakatos (1999, p. 94-99).
As entrevistas foram realizadas nas fases de preparação, coleta e validação dos dados, tendo
sido gravadas, com a permissão dos entrevistados, as da fase de coleta – excetuando-se uma,
à qual a permissão foi negada. As 17 entrevistas feitas totalizaram 900 minutos de conversa
com 15 entrevistados, sendo gravadas 10 fitas - que resultaram, em, aproximadamente, 150
páginas de transcrição. As entrevistas das fases de preparação e validação foram realizadas
nas unidades das organizações, em Manaus, e durante as mesmas foram feitas anotações
(VERGARA, 2000, p. 55).
As entrevistas de preparação serviram para adequar os planos de coleta de dados, tanto em
relação ao conteúdo, quanto aos procedimentos, bem como para programar os contatos nas
unidades fora do Estado - onde se encontram os níveis hierárquicos mais elevados das
organizações e se situam as áreas mais diretamente ligadas às estratégias e planos. Por sua
vez, as entrevistas de validação permitiram a confirmação de fatos e informações obtidas na
fase de coleta (realizada fora de Manaus).
A observação simples (VERGARA, 2000, p.54) pôde ser utilizada como instrumento de
coleta de dados primários, na Serasa, onde a pesquisadora participou, como espectadora não
interativa, da primeira etapa do ciclo de planejamento anual da organização - o 10º
RENASER -, que ocorreu no dia 17 de novembro de 2003, simultaneamente, em todas as suas
unidades.
Os dados secundários foram obtidos junto às publicações da FPNQ referentes aos modelos de
127
gestão das empresas estudadas e serviram de base para início dos estudos e elaboração do
Protocolo de Estudo de Casos.
Durante a visita às organizações, houve oportunidade de obtenção de outros dados
secundários, mediante a apreciação, in loco, dos seus documentos internos relativos aos
processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas, como, por exemplo,
formulários preenchidos, comunicações, etc.
O Protocolo de Estudo de Casos supracitado, essencial em estudo de casos múltiplos, segundo
Yin (2001, p. 89), serviu para orientar a pesquisadora na condução do estudo dos casos. Seu
conteúdo apresentava uma visão geral do projeto de estudo de casos, procedimentos de
campo, questões de estudo e orientações sobre a forma de coleta, tratamento e armazenamento
dos dados, bem como de elaboração dos relatórios.
A fase de preparação da coleta de dados ocorreu de setembro a novembro de 2003, enquanto
que a execução aconteceu em dezembro daquele ano e a fase de validação, nos meses de abril
e maio de 2004.
A dimensão da análise compreendeu o momento presente dos entrevistados e dados
retrospectivos relativos ao modo de formulação e implementação das estratégias da
organização por ocasião da obtenção do PNQ, razão pela qual, uma das unidades de
observação, em uma organização, foi um ex-colaborador.
O método usado para análise dos dados baseou-se na grounded theory, ou seja, na construção
de teoria, originalmente desenvolvida por dois sociólogos americanos: Anselm Strauss, da
128
Universidade de Chicago e Barney Glaser, da Universidade de Columbia. De acordo com
Strauss (1987), esse método tem, como princípio básico, a geração da teoria a partir dos dados
observados pelo pesquisador. Ao contrário dos outros métodos, o fenômeno não é abordado a
partir de um quadro teórico de referência e orientação, visto que se admite que, a partir de
procedimentos sistematizados com os dados coletados, a teoria surgirá de forma indutiva. Ao
longo da pesquisa, conceitos são formulados e hipóteses são geradas, sendo continuamente
retrabalhadas. O processo de construção da teoria é, dessa forma, paralelo ao processo de
coleta e análise dos dados.
A grounded theory caracteriza-se por ser aplicável a qualquer linha de pesquisa, sem qualquer
compromisso com tipos específicos de dados. A diversidade de situações sociais,
circunstâncias de pesquisa, bem como objetivos e estilos dos pesquisadores impedem o
estabelecimento de regras e procedimentos fixos – como ocorre na análise dos dados
quantitativos -, propondo Strauss (1987), que seu trabalho seja interpretado como um guia
geral para auxílio no processo de pesquisa e não como uma regra metodológica invariável. Tal
posição respalda as adequações feitas quando do uso do método.
A análise baseou-se na descrição do método apresentada por seus autores (GLASER &
STRAUSS, 1967; STRAUSS, 1987; STRAUSS & CORBIN, 1990) aliada à proposta básica
concebida por Martin & Turner (1986, p. 141-157) para aplicação em pesquisa
organizacional, seguindo-se as etapas a seguir:
1. coleta de eventos e incidentes visando ao surgimento de categorias (conceitos),
registrados em Fichas de Conceito;
2. seleção das categorias relevantes, de acordo com a percepção da pesquisadora
para elaboração de Memorandos Teóricos e
129
3. delineamento de hipóteses e formulação de questões para futuros estudos.
A validade do estudo considerou uma das vantagens do estudo de caso, que é poder investigar
o fenômeno de vários ângulos (triangulação) dentro do seu contexto (ROESCH, 1999, p.
256). A triangulação foi entre métodos, ou seja, usou-se métodos múltiplos: entrevistas e uso
de dados secundários em todos os casos, acrescidos de observação, no caso da Serasa
(DENZIN, 1978). A triangulação entre métodos, conforme Roesch (1999, p. 257), aumenta a
validade do estudo.
6.3 Suporte teórico das abordagens metodológicas
Objetivando assegurar uma sustentação teórica sólida para os procedimentos metodológicos
implementados, bem como para bem caracterizar as organizações de desempenho reconhecido
– unidades de análise – e os processos de formulação e implementação das estratégias
deliberadas, seguiu-se o roteiro apresentado no Quadro 6.
130
Quadro 6
Roteiro teórico dos procedimentos metodológicos
Tópicos
Justificativa
Abordagens
Bibliografia
Caracterização do principal reconhecimento de organizações de desempenho de “Classe Mundial” no Brasil
Situar as organizações premiadas com o PNQ como universo de estudo.
Retrospectiva histórica do Movimento Nacional pela Qualidade: PBQP, MBC, FPNQ, PNQ, PQSP e PQGF; Modelo de Excelência do PNQ®
PBQP, FPNQ, MBC, PQSP
Caracterização da estratégia e sua evolução no tempo
Mostrar que diferentes maneiras de entender o pensamento estratégico conduzem a diferentes maneiras de definir a estratégia (componente de análise e observação da pesquisa).
Estratégia: origens, conceito e classificação; evolução do pensamento estratégico
Laurindo & Carvalho; Gluck, Kaufmann & Walleck; Lobato et al.; Mintzberg, Ahlstrand & Lampel; Sun Tzu
Identificação dos vários processos de formulação de estratégia
Propiciar a identificação de variáveis para análise do processo de formulação de estratégia.
Dez linhas de pensamento sobre estratégia: processos prescritivo, descritivo e misto
Andrews; Ansoff; BCG; Boyett & Boyett; Cavalcanti; Chandler; Ghemawat; Have; Henderson; Laurindo & Carvalho; Levitt; Lobato et al.; Mintzberg, Ahlstrand & Lampel; Porter; Steiner
Identificação de várias abordagens para implementação de estratégia
Propiciar a identificação de fatores para análise do processo de implementação de estratégia.
Relacionamento entre formulação e implementação de estratégia; abordagens para implementação de estratégia; sistema de gestão estratégica: BSC
Bonoma; Brodwin & Bourgeois; Certo & Peter; Hobbs & Heany; Kaplan & Norton; Oliveira; Tilles
Caracterização da pesquisa qualitativa: estudo de casos múltiplos
Delinear base teórica para atuação nas unidades de análise
Conceito e aplicação Denzin; Eisenhardt; Gil; Goode & Hatt; Marconi & Lakatos; Lodi; Quivy & Campenhoudt; Roesch; Santos; Selltiz; Stake; Trujillo; Vergara; Yin
Caracterização da grounded theory
Delinear base teórica para levantamento e análise de dados
Conceito e aplicação Eckstein; Eisenhardt; Gil; Glaser & Strauss; Martin & Turner; Roesch; Strauss; Strauss & Corbin; Yin
Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação
131
6.4 Questões do protocolo
As questões que orientaram a pesquisadora, servindo de estrutura à investigação, e não
necessariamente, foram efetuadas literalmente aos entrevistados (YIN, 2001, p. 95-99) são
apresentadas a seguir, em dois grupos distintos, considerando o público-alvo, estando
reunidas de acordo com a finalidade pretendida.
O roteiro de perguntas usado com entrevistados em posição de chefia – Grupo A – abordou:
I - Definição da visão e das estratégias deliberadas:
• Como é estabelecido o raciocínio estratégico?
II - Comunicação e associação dos objetivos e medidas estratégicas:
• Como a Alta Direção comunica as estratégias deliberadas às partes interessadas
pertinentes?
III- Planejamento, estabelecimento das metas e alinhamento das iniciativas
estratégicas:
• Como a Alta Direção interage com a força de trabalho visando à definição e à
execução dos planos de ação?
• Como os recursos são alocados para assegurar a implementação dos planos de
ação estabelecidos?
IV– Obtenção do feedback e realização do aprendizado estratégico:
• Qual o papel da Alta Direção na avaliação e implementação de inovações ou
melhorias das práticas de gestão e dos respectivos padrões de trabalho relativos
à formulação e implementação das estratégias deliberadas?
V– Evolução do Processo de Planejamento:
• Como era o processo de definição de estratégias e estabelecimento de planos
132
durante a busca do Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ e antes dele?
• Em que a adoção do Modelo do PNQ®, do ponto de vista de estratégias e
planos, modificou a organização?
• Em que a obtenção do Prêmio Nacional da Qualidade modificou a
organização?
• Como está a atual prática de definição de estratégias e planos alinhada em
relação ao modelo do PNQ®?
O roteiro de perguntas usado com técnicos – Grupo B – abordou:
I - Definição da visão e das estratégias deliberadas:
• Quais as principais etapas, áreas envolvidas e métodos usados na formulação
de estratégias deliberadas?
II - Comunicação e associação dos objetivos e medidas estratégicas:
• Como as estratégias deliberadas são comunicadas às partes interessadas
pertinentes?
III- Planejamento, estabelecimento das metas e alinhamento das iniciativas
estratégicas:
• Como as estratégias deliberadas são desdobradas em planos de ação para os
diversos setores da organização?
• Como a força de trabalho é envolvida na definição e na execução dos planos de
ação?
• Como os recursos são alocados para assegurar a implementação dos planos de
ação estabelecidos?
• Como os planos de ação são comunicados para a força de trabalho?
133
IV – Obtenção do feedback e realização do aprendizado estratégico:
• Como é feito o acompanhamento da implementação dos planos de ação?
• Como são avaliadas e implementadas inovações ou melhorias das práticas de
gestão e dos respectivos padrões de trabalho relativos à formulação e
implementação das estratégias deliberadas?
V – Evolução do Processo de Planejamento:
• Como era o processo de definição de estratégias e estabelecimento de planos
durante a busca do Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ e antes dele?
6.5 Universo e amostra
A população - conjunto de elementos que possuem as características que serão objeto de
estudo (VERGARA, 2000, p. 50) - foi constituída por todas as organizações premiadas pela
Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade – FPNQ, nos seus onze ciclos de premiação,
no período de 1992 a 2002, abrangendo, portanto, 16 organizações: IBM – Unidade Sumaré
(PNQ 1992); Xerox do Brasil (PNQ 1993); Citibank - Unidade Global Consumer Bank (PNQ
1994); Serasa – Centralização de Serviços dos Bancos (PNQ 1995); ALCOA – Unidade
Poços de Caldas (PNQ 1996); Citibank – Unidade Corporate Banking (PNQ 1997); Copesul -
Companhia Petroquímica do Sul (PNQ 1997); Weg – Unidade Motores (PNQ 1997); Siemens
– Unidade de Telecomunicações (PNQ 1998); Caterpillar Brasil (PNQ 1999); Cetrel S.A. –
Empresa de Proteção Ambiental (PNQ 1999); Serasa – Centralização de Serviços dos Bancos
(PNQ 2000); Bahia Sul Celulose S. A. (PNQ 2001); Irmandade Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre (PNQ 2002); Politeno Indústria e Comércio S.A. (PNQ 2002) e Gerdau Aços
Finos Piratini (PNQ 2002) (FPNQ, 2004a, p. 7-8).
134
A amostra foi não probabilística, selecionada por acessibilidade e tipicidade (VERGARA,
2000, p. 50-51), atentando para que a população amostral fosse constituída por empresas que
tivessem:
• unidade fabril ou de prestação de serviços em Manaus-AM;
• desempenhos, publicamente, reconhecidos como diferentes;
• reconhecimento da excelência da sua gestão, por meio do recebimento do
Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ da FPNQ, em pelo menos um dos seus
ciclos de premiação, no período de 1992 a 2002;
• anos de premiação diferenciados e
• premiação pela FPNQ, se possível, mais de uma vez.
6.6 Unidades de análise e unidades de observação
As unidades de análise deste estudo estão relacionadas a seguir, tendo sido selecionadas com
base nos critérios apresentados no tópico anterior:
• Serasa – Centralização de Serviços dos Bancos (PNQ 1995 e PNQ 2000);
• Siemens – Unidade de Telecomunicações (PNQ 1998) e
• Xerox do Brasil (PNQ 1993).
As unidades de observação foram diretores, gerentes, ex-gerente, técnicos e demais
profissionais vinculados à área de estratégias e planos nas organizações estudadas, bem como
aqueles que lá estavam, quando a organização obteve o PNQ, ou que tinham conhecimento do
processo de planejamento e de premiação à época.
Como bem destaca Yin (2001, p. 93-94), o pesquisador, em um estudo de caso, deve aprender
135
a integrar acontecimentos do mundo real às necessidades do plano traçado para a coleta de
dados. Ainda segundo ele, o pesquisador não controla o ambiente da coleta de dados como
poderia fazer utilizando outras estratégias de pesquisa. Assim, as entrevistas planejadas para
serem realizadas com os Presidentes das empresas, bem como as entrevistas em grupo – focus
group research – a serem realizadas com os colaboradores mais diretamente envolvidos na
formulação das estratégias e planos não aconteceram, pelo motivo já exposto.
6.7 Locais dos Casos
Os estudos foram desenvolvidos em três empresas, sendo duas industriais e uma de prestação
de serviços, na unidade em Manaus e na matriz de cada uma delas:
a) Serasa - Centralização de Serviços dos Bancos, localizada na:
• Av. Sete de Setembro, 1214 – 2º andar – Manaus/AM (Agência) e
• Alameda dos Quinimuras, 187 – Planalto Paulista – São Paulo/SP (Matriz).
b) Siemens Eletroeletrônica S.A., localizada na:
• Av. Jutaí, 661-A – Distrito Industrial – Manaus/AM (Divisão de
Telecomunicações e ganhadora do PNQ 1998) e
Siemens Ltda., localizada na:
• Av. Mutinga, 3800 – Pirituba – São Paulo/ SP (Matriz).
c) Xerox Comércio e Indústria Ltda., localizada na:
• Rod. Grande Circular, 800 – Lote 3121 – Distrito Industrial – Manaus/AM
(Unidade fabril) e
• Av. Rodrigues Alves, 261 - Saúde - Rio de Janeiro/RJ (Matriz).
136
6.8 Caracterização dos Entrevistados
As unidades de observação foram selecionadas pela Alta Direção das organizações estudadas,
com base no perfil apresentado no material encaminhado previamente e buscando conciliar a
disponibilidade da agenda dos entrevistados com a data de visita à empresa pela pesquisadora
– limitada, principalmente, em função dos custos envolvidos no processo, visto que os
entrevistados da fase de coleta estavam fora de Manaus.
Essas limitações aliadas às práticas organizacionais de classe mundial das organizações
estudadas resultaram em um número reduzido de entrevistados, sem que, com isso, houvesse
comprometimento da obtenção dos dados ou da sua qualidade, pelos motivos que seguem:
a) a indicação pela Alta Direção, em cada organização, das pessoas a serem
entrevistadas confere a estas a posição de entrevistados-chave (YIN, 2001, p.
94);
b) o número reduzido de entrevistados, em cada unidade de análise, permitiu o
aprofundamento da abordagem durante a entrevista;
c) a metodologia seguida fez da entrevista mais uma oportunidade de validação das
informações obtidas de fontes secundárias (ROESCH, 1999, p. 256-257; YIN,
2001, p.120-121), visto que a ação metodológica iniciou-se com a leitura e
análise de publicações sobre o modelo de gestão das organizações selecionadas
com ênfase em suas estratégias e planos; seguindo-se, quando possível, a
observação direta de alguma etapa de planejamento na organização, para que
então fossem finalmente realizadas as entrevistas (GIL, 1996, p. 122);
d) como organizações reconhecidas pelo alcance de desempenho de “Classe
Mundial”, suas práticas caracterizam-se pela disseminação (horizontal e
137
verticalmente) pelas áreas, pelos processos, produtos e/ou pelas partes
interessadas da organização (FPNQ, 2004a, p. 57), bem como pela continuidade,
o que implica dizer que o modelo de gestão é conhecido por todos,
especialmente, por aqueles que ocupam posição de chefia e de staff.
As entrevistas foram realizadas com as pessoas constantes no Quadro 7, sendo adotada para
sua identificação terminologia similar à usada na Serasa para se referir aos seus colaboradores
- SER SERASA -, acrescendo-se a ela um número seqüencial e, logicamente, adaptando-se a
terminologia no caso das outras duas organizações estudadas. Assim, os entrevistados foram
chamados de SER + nome da organização + nº seqüencial.
6.9 Limitação da Pesquisa
Esta pesquisa possui limitações próprias das abordagens qualitativas, como a influência de
preconceitos e pressupostos de quem a fez, durante as descobertas e a análise dos dados
coletados. Tais limitações, certamente, foram atenuadas pelo uso do método da Grounded
Theory, que busca reduzir as interferências da subjetividade do pesquisador e da
intersubjetividade dos interlocutores.
Quanto à coleta dos dados primários, existem as limitações inerentes à coleta de dados por
meio de entrevistas, visto que sempre há a possibilidade de serem omitidos dados pelos
entrevistados, quer pela natureza deles, quer pela não percepção da sua importância para o
pesquisador.
138
Quadro 7
Relação dos entrevistados
Empresa
Entrevistado
Cargo Tempo
no cargo (ano)
Tempo na
empresa (ano)
Tempo de duração da entrevista
(min.)
Fase do estudo
SER SERASA 1 Gerente Regional 8 11 20 Preparação 15 Preparação
SER SERASA 2 Gerente de Agência – Manaus/AM
5
5 15 Validação
SER SERASA 3 Gerente de Monitoração de Processos e Indicadores de Desempenho 3 12 60 Execução SER SERASA 4 Gerente de Planejamento e Controle de Projetos 3 7 120 Execução
Serasa
SER SERASA 5 Gerente Custos e Orçamentos 15 18 60 Execução SER SIEMENS 1 Secretária da Diretoria – Fábrica Manaus/AM 1 1 15 Preparação SER SIEMENS 2 Gerente de Melhorias de Processos – GQ M 2 17 180 Execução SER SIEMENS 3 Analista de Macroeconomia 1 4 30 Execução SER SIEMENS 4 Consultora Interna de BSC 3(**) 11 90 Execução
Siemens SER SIEMENS 5 Analista de Comunicação 2 2 15 Validação
30 Preparação SER XEROX 1
Gerente do Sistema de Qualidade – Fábrica Manaus/AM (*)
16
30 30 Validação
SER XEROX 2 Controller Financeiro 1 16 20 Preparação SER XEROX 3 Diretor de Marketing Estratégico 5 (**) 13 120 Execução SER XEROX 4 Diretor de Serviços a Clientes 1 23 60 Execução
Xerox
SER XEROX 5 Engenheiro de Qualidade 6 17 20 Validação Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação (*) Desligado da empresa em janeiro de 2003 (**) Tempo em meses
139
Há, ainda, limitações inerentes à coleta de dados relativos à situação das empresas por ocasião
da obtenção do PNQ, já que tal fato se localiza no passado e ocorreram significativas
mudanças estruturais e de pessoas, em algumas das organizações pesquisadas (Siemens e
Xerox).
Finalmente, há que considerar que o afloramento de conceitos e a relação entre conceitos
podem ser melhorados mediante o uso de um software para tratamento dos dados qualitativos
- como, por exemplo, o software ATLAS/ti, desenvolvido, principalmente, visando à
construção de teorias pela Scientific Software Development -, bem como pelo aprofundamento
da pesquisa, cuja limitação de tempo impediu que fosse alcançado.
ANÁLISE
Se você quer ter sucesso, deve lançar-se por novos caminhos, em vez de seguir pelas trilhas batidas do sucesso tradicional.
John Rockfeller
141
7 ANÁLISE
Nesta seção, são apresentados os resultados da análise conjunta dos dados primários - obtidos
por meio das entrevistas e da observação – e dos dados secundários - resultantes da análise
documental, de publicações, etc -, buscando apresentar os macroprocessos delineadores da
formulação e implementação das estratégias deliberadas nas organizações estudadas. A
abordagem é feita com base nos objetivos intermediários estabelecidos para estudo.
7.1 Descrição dos processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas
Os processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas são apresentados, a
seguir, por unidade de análise do estudo. A análise dos processos permite que sejam
identificadas as variáveis (os fatores) que os integram, bem como seus inter-relacionamentos,
constituindo-se, assim, na fundamentação das conclusões e propostas a serem apresentadas
em seção posterior.
Dessa forma, foram analisadas as várias etapas dos processos e os papéis dos envolvidos. Os
elementos da teoria emergiram dos dados e são fundamentados à medida que são
142
apresentados, ao longo desta seção, junto com citações de trechos das entrevistas e/ou alusão
a dados secundários. Quando necessário, as citações são repetidas por atenderem a mais de
um código.
A identificação dos entrevistados é feita com base no disposto no tópico 6.8. As citações, por
sua vez, são referenciadas mediante o código do entrevistado, seguido do número do
documento primário (Ficha de Conceito) e do número de ordem da citação naquele. As
citações foram mantidas na íntegra, sendo necessário observar que, para melhor compreensão
do material descritivo:
a) foram efetuadas correções gramaticais, sem que houvesse alteração do
significado, evitando possíveis interpretações errôneas pelos leitores, bem como
o uso do sic;
b) a referência a nomes próprios de pessoas e empresas envolvidas foi omitida,
quando necessário, evitando incorrer-se em problemas éticos;
c) eventualmente, inserções foram feitas com a finalidade de explicar ou
complementar o contexto do qual a citação foi extraída. Tais inserções foram
feitas mediante o uso dos colchetes “[ ]”, diferenciando-se das inserções dos
entrevistados, feitas mediante o uso dos parênteses “( )”.
d) nenhuma nota ou referência ao tom de voz ou reações dos entrevistados foi
colocada na citação, tendo, contudo, sido considerada no processo interpretativo,
conforme registrado nas Fichas de Conceito.
7.1.1 Serasa
A descrição dos processos de formulação e implementação das estratégias deliberadas na
143
Serasa - atualmente e por ocasião da obtenção do PNQ, por duas vezes - é feita, inicialmente,
com base na observação realizada, na análise da documentação da empresa, bem como de
suas publicações e da FPNQ sobre o assunto para, em seguida, terem seus fatores analisados
com base em citações selecionadas das entrevistas e registradas nas fichas de conceito.
O Sistema Estratégico da Serasa abrange tanto a etapa de formulação quanto a de
implementação de estratégias, sendo resultado de metodologia própria, desenvolvida ao longo
de vários ciclos de aprendizagem, conforme demonstram as Figuras 20, 21 e 22. As Figuras
20 e 21 dizem respeito ao processo de planejamento no ano de 1995, quando ela obteve o
PNQ pela primeira vez e a Figura 22 representa o atual processo de estabelecimento de
estratégias e planos, similar ao praticado em 2000, quando obteve o PNQ pela segunda vez.
Segundo um dos entrevistados: “O modelo de planejamento praticado em 2000 era o mesmo
que praticamos hoje. Não houve mudanças, mas aperfeiçoamentos.” (SER SERASA 4, 2:2).
144
ASPECTOSQUALITATIVOS
INPUTS PARAPLANEJAMENTO
AS
PE
CTO
SQ
UA
NT
ITA
TIV
OS
SESSÃOPLANEJAMENTOESTRATÉGICO
DIRETRIZESESTRATÉGICAS
METODOLOGIA EADM. PROJETOS
IMPULSIONADORES-CHAVE DO NEGÓCIO
REQUISITOSQUALIDADE
CENTRADA NO CLIENTE
PLANOS EMEDIDAS-CHAVE
DE CLIENTES
PLANOS EMEDIDAS-CHAVEOPERACIONAIS
REQUISITOSOPERACIONAIS
AVALIAÇÃO EMELHORIA DOSPROCESSOS DE
PLANEJAMENTO EDESDOBRAMENTO
DESDOBRAMENTO
Figura 20 – Processo de planejamento da Serasa 1995 Fonte - SERASA, [1995?]. p. 14.
CONCORDÂNCIACOM OBJETIVOS,
PROCESSOS E MEDIDAS
CONTRATO DEDESEMPENHO
PESSOAL
ACOMPANHAMENTOE APOIO
AVALIAÇÃO DERESULTADOS
OBJETIVOSEMPRESARIAIS
CAPACIDADEE OBJETIVOS
PESSOAIS
Figura 21 – Negociação de compromissos com as pessoas Fonte - SERASA, [1995?]. p. 15.
145
Fontes
Externas
Clientes eMercados
Fornecedorese Parceiros
Cenários
PoderExecutivoLegislativoe Judiciário
AspectosAmbientais eResp. Públicae Cidadania
Mídia
Inte
r nas Expectativas
dos AcionistasVCS Objetivos
EstratégicosPermanentes
Processos,Produtos eServiços
CompetênciasHumanas eRecursos
PlanejamentoAnterior
Canais deComunicação
Contrato deDesempenhoPessoal
Avaliação deDesempenho
Grupo deDinamizaçãode Projetos
Programa deParticipaçãonosResultados -PPR
Balancea-mentoEstratégico
HierarquiaEstratégica dosIndicadores
Resultadosdo Negócio
Gerenciamentode Projetos
GerenteEmpresárioe Orçamento
Resultadosdo PSQ
SistemasInternos
Planejamento
Anál
ise
eM
elho
ria
Desdobram
ento
Monitoração
AçãoEstratégica
ResultadosAnálisesCríticas
Desempenho
Acompanha-mentos
Execução
Comunicaçãoàs Partes
Interessadas
Projetose Planosde AçãoImediata
Diretrizespara GestãoEstratégica
Foruns Estratégicos
RENASER REPENSE
PLANESER
RECRESER
ComitêsExecutivose Técnicos
REALISE
ENASE
Reuniões daAlta Direção
Figura 22 - Sistema estratégico da Serasa: Visão analítica e dinâmica Fonte - FPNQ, 2000. p. 31.
O Sistema Estratégico da Serasa, atualmente, tem por base os seguintes eventos (FPNQ, 2000.
p. 31-33):
a) RENASER – Reunião Nacional das Áreas Serasa: Todo SER SERASA
(colaborador) participa da análise e sugestões visando à melhoria dos processos
em sua área e na empresa, fornecendo dados que irão subsidiar a elaboração das
estratégias. 1
1 Participou-se como observadora do 10º RENASER, na agência da Serasa, em Manaus, no dia 17 de novembro de 2003.
146
b) REPENSE – Reunião de Planejamento por Área Estratégica: Todos os
gerentes da matriz, liderados por membro da Alta Direção, participam de reunião,
na qual são levantadas, hierarquizadas e consolidadas novas oportunidades e
sugestões que irão integrar o planejamento.
c) REALISE – Reunião Nacional de Lideranças Serasa: Os Gerentes Regionais e
das Agências participam de reunião, na qual, além de serem tratados os aspectos
gerais dos negócios, também são captadas oportunidades específicas de cada
região.
d) PLANESER – Planejamento Estratégico Serasa: A Alta Direção e Assessorias
reúnem-se, em local fora da empresa, por um período que pode ser de até sete
dias, para conceber, definir, validar e priorizar as estratégias, os projetos e os
planos de ação em todos os aspectos estratégicos.
O Planejamento Estratégico é atualizado anualmente, sendo elaborado para um período de
cinco anos, enquanto que o plano tático operacional abrange o período de até dois anos.
A metodologia do PLANESER compreende uma sistemática coleta e análise de dados, em
diversas fontes, visando à formulação de cenários e de uma visão do estágio em que a
empresa se encontra.
Todas as sugestões do RENASER, REPENSE e do REALISE são avaliadas criticamente,
hierarquizadas, priorizadas e consolidadas. As sugestões aprovadas são transformadas em
estratégias, projetos, planos de ação ou diretrizes para processos, com alocação de recursos e
orçamento.
147
Para o estabelecimento das metas de curto e longo prazos são levados em consideração as
capacitações dos processos - tanto internos, como de fornecedores e parceiros -, os requisitos
dos clientes, os referenciais competitivos e de excelência e demais informações comparativas
pertinentes, especialmente as relativas a processos, produtos e serviços.
A metodologia de planejamento da Serasa conta com um sistema Gerenciador de Projetos,
inovador e desenvolvido especialmente para ela, sendo totalmente automatizado. Por ele, os
projetos e planos de ação são administrados e documentados com descrição, objetivos,
responsabilidades, prazos, recursos e prioridades, possibilitando, assim, aos líderes, o
acompanhamento, a avaliação e a atualização dos projetos sob sua responsabilidade.
As discussões e análises críticas de cenários e oportunidades são conduzidas por aspectos
estratégicos, envolvendo cada Diretoria e Superintendência, conforme é mostrado no Quadro
8.
A partir dessas análises, são definidas estratégias e os respectivos projetos, alinhados por foco
e correlacionados às partes interessadas e aos objetivos permanentes, que representam, para a
empresa, Fatores Fundamentais para o Êxito.
As estratégias resultantes do PLANESER são sintetizadas no tema do ano e consolidadas em
um processo específico de desdobramento.
148
Quadro 8
Alinhamento e balanceamento estratégico da Serasa
Objetivos permanentes
Aspectos estratégicos
Clientes emercados
SERSERASA
Tecnologia,processos efornecedores
Gestão,finanças eacionistas
Produtos eserviços
Comunidadee meioambiente
1 Prestar serviços de análise de informação, telemática aplicada a crédito e meios de pagamentos, e centralização de serviços de apoio à atividade financeira.
2 Diferenciar-se pela Qualidade, garantindo o foco no cliente e sua satisfação.
3 Subsidiar com informação todas as decisões de negócios no País, particularmente as de crédito.
4 Atender ao mercado e, de modo preferencial, ao segmento financeiro.
5 Manter atualizadas todas as informações cadastrais (anotações/positivas), mercadológicas e outras, com abrangência nacional, sobre as pessoas físicas e jurídicas com alguma atividade econômica.
6 Manter vanguarda e capacitação na Tecnologia de Crédito, de Telemática e de Gestão.
7 Atuar e ter representatividade em todo o território nacional, sendo referenciada de forma positiva como instituição de interesse público.
8 Assegurar rentabilidade e competividade que garantam o seu crescimento de modo auto-sustentado.
9 Contribuir para o desenvolvimento social e econômico do País.
10 Valorizar o SER SERASA - objetivo que permeia todos os outros.
Fonte - FPNQ, 2000. p. 33.
O desdobramento das estratégias inicia-se durante o PLANESER, onde a Alta Direção, após a
sessão de definição e revisão das estratégias, consolida os planos de ação estabelecidos na
forma de projetos e os planos de ação imediata, a serem desenvolvidos e executados durante
os próximos dois anos (FPNQ, 2000. p. 33).
No Encontro Anual dos Administradores Serasa – ENASE, são comunicados os planos e
149
metas a partir das Diretrizes para a Gestão Estratégica e respectivos rituais de compromisso
de todas as áreas da empresa. Esse evento anual conta com a participação da Alta Direção e
de todo o quadro gerencial.
O desdobramento das estratégias, planos de ação e compromissos de cada área é realizado
pelos líderes em reunião de repasse das informações do ENASE, assim que retornam a suas
áreas, contando com o apoio da TV SER SERASA e de outros recursos de divulgação.
As metas e compromissos assumidos no ENASE estão alinhados aos objetivos estratégicos e
são medidos por meio do Prêmio Serasa da Qualidade e do Programa de Participação nos
Resultados – PPR, que contempla os seguintes aspectos: a) atingimento do nível da qualidade
em cada área – por meio da Avaliação PSQ; b) atingimento das metas dos Indicadores da
Hierarquia Estratégica e c) Implantação de Projetos e Planos de Ação Imediatos.
7.1.1.1 Análise das variáveis da formulação das estratégias
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 259-264) efetuam comparação entre as dez linhas
de pensamento sobre estratégia a partir de algumas dimensões, as quais são apresentadas nesta
dissertação (APÊNDICE – As dez linhas de pensamento sobre estratégia).
Partindo dessa abordagem - considerando ser ela uma das motivações do presente trabalho -, a
análise que se segue focaliza as variáveis que integram as dimensões conteúdo e processo das
escolas, destacadas por aqueles autores: estratégia, processo básico, mudança, agente(s)
central(is), organização, liderança e ambiente.
150
A estratégia, na Serasa, é vista, especialmente, como um plano, uma direção, um guia, um
curso de ação para o futuro, resultando de um planejamento formal, consciente, decomposto
em etapas, subestratégias, planos, sendo todos delineados por checklists e apoiados por
técnicas. Apresenta-se, também, como padrão, perspectiva e posição.
Porque aqui na Serasa nós trabalhamos com projetos. Transformamos as nossas atividades em projetos. E quais são os nossos projetos para o ano que vem? (SER SERASA 3, 1:1). Então, no caso da Qualidade, um projeto que ficou para 94 foi participar do PNQ e isso passou a fazer parte dos objetivos permanentes da Serasa: participar do prêmio, ganhar o prêmio (SER SERASA 3, 1:2).
O processo básico de formulação de estratégia se caracteriza por se realizar com base em um
conjunto de eventos, que envolve toda a força de trabalho, respeitando a liberdade de
participação.
O primeiro evento do ciclo de planejamento é o RENASER, que acontece normalmente no mês de novembro. Dele participam todas as pessoas até o nível de coordenação. Todos são convidados a participar. Ele acontece na Matriz e nas Agências. A minha área organiza o evento em parceria com a área de treinamento. Damos convite para todo mundo. A participação não é obrigatória (SER SERASA 4, 2:4). O RENASER é uma sessão de trabalho de duas horas, que se inicia com um filme, em que o Presidente convida todos a darem as suas contribuições para o planejamento. Em seguida, a gente faz uma palestra explicando o tipo de sugestões que a gente espera, orientando para que sejam sugestões voltadas para o planejamento, se não acaba surgindo muita reivindicação.(...) Depois as pessoas são reunidas em grupo, com 8 pessoas em média, que têm 1h30min para discutirem em grupo, darem sugestões e classificarem as sugestões por foco. Os focos são os propostos pelo PNQ (SER SERASA 4, 2:5). Fica livre para as pessoas sugerirem. É como te falei, juntamente sempre tem reivindicação.(...) Todas essas sugestões que a gente recebe dentro do RENASER têm um tratamento, passam por um processo de consolidação, em que, em várias etapas, a gente vai juntando o que é igual ou parecido. Porque são muitos grupos, sempre tem muita coisa igual. Este ano, nós tivemos aproximadamente 3.500 contribuições, juntando Matriz e Agências. Com a consolidação, esse número deve ficar em 500 (SER SERASA 4, 2:6).
151
Dessas 500 contribuições, a gente consegue extrair 30, 40, que vão ser levadas para o planejamento estratégico anual da Alta Direção, para a seção de planejamento estratégico anual, que a gente chama de PLANESER e acontece em fevereiro. Então, desde novembro até fevereiro, a gente faz todo o trabalho de consolidação, selecionando o que tem caráter mais estratégico (SER SERASA 4, 2:7). A gente tem um código para cada sugestão. A gente faz o rastreamento e devolve para a área que originou aquela sugestão. Como? Por meio de cartazes... as pessoas, quando dão sugestões, só identificam a área a que pertencem até o nível de Diretoria ou Superintendência. (...) Aqui na Matriz, nós disponibilizamos, no hall do elevador, por andar, as sugestões dadas pelas áreas que lá se encontram, com suas respectivas respostas. Mas nós colocamos também, na intranet, as respostas de todas as sugestões da empresa, que podem ser consultadas por área. Nós temos, aqui na Serasa, a figura do Prefeito. Cada andar tem dois prefeitos e toda a Agência tem um prefeito. A gente pede o apoio deles para divulgar as respostas, garantindo que todo mundo, especialmente quem não trabalha com computador, possa saber o que foi sugerido, o que resultou, se virou projeto, quem vai ser o gestor, o porquê não vai ser implantada etc... (SER SERASA 4, 2:8).
Todas as unidades da organização, ainda que geograficamente distantes, de norte a sul do
país, participam do processo.
Vem em seguida o REALISE, mais ou menos, uma ou duas semanas depois do RENASER das Agências. Aqui eu tenho cada Gerente de Agência reunido com a sua equipe e cada Gerente Regional reunido com os Gerentes e Coordenadores das Agências que estão sob sua responsabilidade. Nós temos 8 Regionais hoje. Nesse evento, é feita uma primeira consolidação das sugestões das Agências, porque tem muita repetição, mas, eventualmente, pode até surgir uma coisa nova (SER SERASA 4, 2:11).
O processo passa por um refinamento no escalão superior, assumindo um caráter mais formal.
Durante o mês de novembro, acontece aqui na Matriz, as seções do REPENSE, onde Diretores e Superintendentes reúnem-se com os gerentes ou coordenadores da sua área. Aqui o trabalho é mais elaborado do que no RENASER. Neste, o que se tem na verdade são idéias, as quais têm que ser apresentadas no máximo de cinco linhas. No REPENSE, ao contrário, tem que ser feita a descrição do projeto, definido o seu objetivo, o resultado esperado, a sua prioridade, o prazo de desenvolvimento, o gestor, o orçamento, bem como preenchido um questionário com relação ao valor e à complexidade do projeto (SER SERASA 4, 2:15).
152
A atuação da Alta Direção no processo se dá de forma participativa, consensual e
considerando os insumos das etapas anteriores, bem como o contexto político-econômico-
social.
O PLANESER acontece em fevereiro, na primeira semana. A Alta Direção fica oito dias fora da Serasa, num hotel fora de São Paulo, discutindo todas as sugestões que surgiram: tanto do RENASER, quanto as sugestões das Diretorias e Superintendências, que são resultantes do REPENSE. Os gerentes das áreas - os quatro focos -, normalmente, vão no penúltimo dia e apresentam suas propostas para a Alta Direção avaliar se devem ser transformadas em projetos ou não (SER SERASA 4, 2:14). O Diretor define o que ele vai levar para o PLANESER e apresentar para o restante da Alta Direção. Esta, como um todo, avalia se realmente é o caso de desenvolver os projetos apresentados ou não. Resolvem em consenso. Lá no PLANESER, os Diretores batem o martelo junto com o Presidente. É assim que é amarrado o processo (SER SERASA 4, 2:16). Normalmente, no primeiro dia do planejamento estratégico (PLANESER), a gente traz gente de fora para falar sobre economia ou sobre algum tema específico, escolhido para aquele ano, para esclarecer a Alta Direção para as tomadas de decisão. Já trouxemos economistas renomados, representantes do Ministério Público etc. Na sessão seguinte, cada Diretor apresenta para os demais as propostas de projetos da sua área. As contribuições do RENASER são apresentadas em sessão posterior (SER SERASA 4, 2:20).
A administração do processo é centralizada, mas conta com o envolvimento de outras áreas
em determinadas etapas.
A gente tem uma área aqui na Matriz chamada Desenvolvimento de Agências, que faz a consolidação das 8 Regionais. Ela vai passando as contribuições por um funil: vai agrupando, basicamente evitando a repetição. Depois disso, a consolidação começa a ser feita por foco – são quatro -, cada um correspondendo a uma área da Serasa, que possui um sistema de informações gerenciais (MIS). Assim tem o MIS de Marketing, o MIS de Informática, o MIS Administrativo e Financeiro e o MIS de Análise Econômico-Financeira. Conforme a classificação das sugestões por foco, a gente encaminha ao gerente responsável pela área, que separa o que é estratégico e que vai levar para o PLANESER, do que não o é e que vai ser encaminhado direto para feedback, indicando a pessoa que o fará. Isso é validado com a minha área. O que é estratégico, o planejamento senta com as áreas para validar (SER SERASA 4, 2:12).
153
Então a gente só consegue fazer essa consolidação, porque tem várias pessoas e várias áreas que se envolvem no processo em determinadas etapas.(...) Só a minha área tem acesso para deletar qualquer coisa e eu só deleto se for um erro, alguma coisa assim. Tudo fica registrado (SER SERASA 4, 2:13). Depois que acontece o PLANESER, onde são aprovados os projetos, eles retornam para a seção de planejamento estratégico, sendo feita a comunicação oficial às Agências. O projeto sempre fica sob a responsabilidade de um Diretor ou Superintendente e tem um gestor específico. Já sai do PLANESER, quem é o responsável pelo projeto (SER SERASA 4, 2:19).
O processo é desenvolvido com a preocupação com a melhoria contínua, onde as práticas de
benchmarking e de aprendizado se fazem presentes.
Nós também estivemos na Shell e na Petrobras [falando do processo de benchmarking], esse ano. Nós fomos lá mais para ver especificamente o trabalho deles com cenários, porque eles usam cenários como apoio para o planejamento. A gente sempre visita alguma empresa. (SER SERASA 4, 2:29). O processo de planejamento aqui é bem amarrado por uma série de eventos. Ele é organizado na forma de PDCA: um ciclo que se repete anualmente (SER SERASA 4, 2:3).
A mudança, por sua vez, é contínua na organização, porque ela está preocupada com
performance, tecnologia, agilidade e inovação, podendo ser incremental ou revolucionária.
Porque a gente, com a nossa estrutura organizacional Foco-Matricial-Bipolar, tem sempre uma área de atuação e uma área pensante. Essa área pensante é a que mais dá problemas para nós. Porque, por exemplo, eles têm uma tecnologia, descobrem uma outra e resolvem mudar. Então, para fazer essa nova tecnologia, com tal plataforma, muda tudo aqui e eu tenho que mudar. Eles vão fazendo, não se preocupam com essas mudanças. Eles se preocupam com performance, tecnologia, agilidade, atender bem o cliente, ter um produto de ponta, um produto de inovação (SER SERASA 5, 3:1).
O processo de planejamento conta com a participação de todos os colaboradores, no limite de
154
sua possibilidade de contribuição. É um processo coletivo, em que os agentes centrais são
pessoas informadas de qualquer parte da organização.
Aí, quando chegou em 98, novamente nós apresentamos um plano para a Serasa participar do PNQ 2000, certo? (SER SERASA 3, 4:1). Sempre sai do grupo. Não só esse projeto do PNQ, mas qualquer projeto da Serasa.(...) É assim: eu tenho uma idéia de um projeto dentro da minha área, aí eu levo essa idéia ao REPENSE, onde ela é apresentada aos demais gerentes e à Alta Direção.(...) Quando há consenso, tudo bem; quando não há, a palavra final sempre é a do Presidente (SER SERASA 3, 4:2). A gente tem a participação desde o office-boy da empresa, da copeira até um analista de crédito.(...) Então, a gente tem vários níveis, inclusive de instrução, nessa grande massa de pessoas.(...) Esse ano a gente teve 900 pessoas participando [do RENASER] na Matriz. Nas Agências, foi feito na semana seguinte (SER SERASA 4, 4:3).
O envolvimento de todos no processo de formulação, não impede o controle direto do
processo pela Alta Direção, tampouco a participação de analistas. A atuação do Presidente é
expressiva, cabendo-lhe a palavra final em situações em que o consenso inexiste.
A definição da estratégia, do meu ponto de vista, pelo que eu conheço da empresa, está muito mais no âmbito da Administração Executiva da empresa, do Presidente e da Alta Direção (SER SERASA 4, 4:5). O Presidente tem uma característica de ser um líder muito intuitivo. Ele é bastante intuitivo. Então, às vezes, ele aponta para uma coisa e nos mostra que temos que ir naquela direção. Ele insiste muito naquilo. As pessoas pesquisam e acabam indo atrás. A Serasa hoje tem muito a cara do Presidente atual. Agora, o que a gente percebe é que a questão da cultura, os valores, os princípios, a gestão, estão muito voltados para a valorização das pessoas. Isso está muito enraizado na empresa. Então, ao mesmo tempo em que temos uma liderança que é muito forte, muito centrada na pessoa do Presidente, nós temos uma cultura muito forte na empresa, um comprometimento muito grande das pessoas com o que é proposto, como o que é proposto como estratégia, como caminho a ser seguido (SER SERASA 4, 4:6).
A organização revela-se detentora de forças e vantagens competitivas, flexível e mutável.
155
O que a gente faz com as demais contribuições [do RENASER]? Umas não dão para entender, sendo classificadas como incompletas; outras caracterizam reivindicações, cujo canal não é o RENASER, sendo informado qual o canal adequado; outras são sugestões válidas, que não precisam ser levadas para o planejamento estratégico, consistem em melhorias de processo, que podem ser implantadas diretamente; outras ainda não estão alinhadas com a política da empresa e, portanto, não podem ser implantadas (SER SERASA 4, 5:1). É dessa forma que a gente faz. Como te falei, acho que é um trabalho muito mais educativo. Nunca vou inibir uma pessoa de chegar numa sessão de planejamento estratégico como o RENASER e pedir cesta básica. Não é uma sugestão estratégica. Não é uma sugestão para o planejamento. Vou dar sempre a orientação para o tipo de sugestão que a gente espera.(...) E se sair, o que é que nós fazemos? A gente dá o retorno e diz: “Olha, o canal de cesta básica não é esse.” (SER SERASA 4, 5:2). Então, os próprios gerentes já se conversam antes, inclusive já propõem uma prioridade dos projetos, sendo verificada a possibilidade de recursos disponíveis para cumprir o prazo que está sendo proposto. Há interação durante o desenvolvimento dos projetos (SER SERASA 4, 5:3).
A continuidade da linha de Direção, o envolvimento direto com os projetos e a adoção da
forma participativa caracterizam a liderança exercida pela Presidência.
O maior cargo na Serasa é o de Presidente.[...] É o mesmo Presidente, desde 1991 (SER SERASA 3, 6:1). Essa é a grande vantagem que você tem aqui na Serasa: os assuntos da qualidade você discute direto com o Presidente da empresa, porque ele dá essa força para a área da Qualidade (SER SERASA 3, 6:7). Nós começamos a estudar a proposta do PNQ e apresentamos o Modelo de Excelência em uma das reuniões da Diretoria. Aí, o Presidente perguntou: “ O que é que vocês acham?” (SER SERASA 3, 6:8). Em 95 [antes dela ganhar o PNQ pela primeira vez], o próprio Presidente já tinha dito que o sistema de gestão da Serasa seria sempre alinhado aos critérios do PNQ. Nós trabalhamos hoje acompanhando os critérios do PNQ (SER SERASA 3, 6:9). A partir do momento em que nós conhecemos o PNQ, nós começamos a trazer para dentro da Serasa o pessoal da IBM, da Xerox para fazer a apresentação para a Alta Direção e sempre o nosso Presidente estava presente.(...) Depois, eu é que fazia apresentação do nosso modelo para as outras empresas, mas era muito comum eu entrar na sala, ser apresentado a pessoa mais importante da empresa e esta pedir licença para sair porque tinha algo urgente a tratar.(...) Porque se o líder, se o líder não participar do processo – o processo não é de baixo para cima, é de cima para baixo – você não faz qualidade (SER SERASA 3, 6:10).
156
Há um estímulo a uma liderança participativa, em todos os níveis organizacionais, atenta aos
procedimentos e análises, bem como ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como
agente de mudanças periódicas.
A gente pede aos líderes que estimulem as pessoas a participarem. Não é uma coisa imposta. O que nós colocamos é que é importante a contribuição de cada pessoa e pedimos aos líderes que incentivem as pessoas a participarem. Eu não posso te garantir que todos os líderes agem de uma forma democrática (SER SERASA 4, 6:12). Até algum tempo atrás, a gente vivia pagando aluguel. Não tinha esse prédio aqui. Ele [o Presidente] disse: “Temos que comprar um imóvel, fazer um prédio moderno.”. Esses sonhos dele... Então, ele pega o sonho, as informações mistura e a gente faz acontecer. Ele é muito idealista, ele é muito de ideais, intuitivo, de sentir algo, estabelecer um objetivo e conseguir. A empresa acabou aprendendo esse conceito (SER SERASA 5, 6:13).
O ambiente é estudado e visto como fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem
previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente analisável.
Ele [o Presidente] tem as informações da assessoria econômica dele, que o posiciona sobre como está o mercado. A Superintendência de Dinâmica de Mercado posiciona-o por meio de pesquisa sobre como estão os concorrentes. Ele tem um acompanhamento direto dos principais clientes, os 150 maiores clientes. E a gente tem sempre um plano, uma idéia de crescimento. Não sei se você viu aqui o gráfico de resultados. Ele mostra bem isso (SER SERASA 5, 7:1).
Com relação ao macroprocesso de formulação de estratégias na Serasa foi constatado que:
• A estratégia é sempre uma posição e uma perspectiva e, quase sempre, um plano
e um padrão.
• O processo de formulação é coletivo, deliberado, formal, analítico e sistemático.
• A mudança é contínua, podendo ser incremental ou revolucionária.
157
• O processo é da coletividade, com participação ativa da Presidência, das
Diretorias e Superintendências e apoio de analistas.
• A organização é fonte de vantagens competitivas, flexível e mutável.
• A liderança é intuitiva, participativa, atenta a procedimentos, análises e ao
aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças
periódicas.
• O ambiente é visto como fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem
previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente
analisável.
7.1.1.2 Análise das variáveis da implementação das estratégias
Brodwin & Bourgeois (1984, p. 176-190) identificaram cinco abordagens fundamentais na
implementação da estratégia: Abordagem do Comandante, Abordagem da Mudança
Organizacional, Abordagem Colaborativa, Abordagem Cultural e Abordagem Crescente. A
análise do processo de implementação das estratégias, partindo desse estudo, focaliza os
fatores: definição das metas, desempate entre estratégias, esforço da organização na fase de
formulação, esforço da organização na fase de implementação, conhecimento exigido do
Presidente para informar sobre oportunidades e riscos, bem como o poder exigido do
Presidente para impor um plano.
Na Serasa, a última etapa do planejamento – o PLANESER - consiste em um fórum para a
apresentação das propostas das várias áreas da empresa, já previamente consolidadas, o que
contribui para aumentar a qualidade e presteza das informações incorporadas às estratégias,
158
bem como o comprometimento com a implementação destas. As metas são negociadas dentro
da alta hierarquia.
Esses projetos têm um custo de realização ou de investimento. Têm que ser transcritos com o orçamento. Eu trabalho com o orçamento econômico e o orçamento financeiro e, mediante o objetivo estratégico, que a Presidência determina, a gente amarra, no Planejamento Estratégico, e fica tendo a meta e a visão financeira para o ano (SER SERASA 5, 8:1). Ele já tem na cabeça dele [o Presidente], qual é o objetivo, qual é a meta, qual é o resultado que ele quer para o ano de 2004. O que ele não pode é exteriorizar hoje, tornar público, porque senão ele vai interferir no que os Diretores e Superintendentes estão pensando. Então, eu fico trabalhando agora com o mundo que os Diretores estão fazendo, aí no REPENSE, e com todas as demais ações do planejamento estratégico e o mundo que ele realmente quer de resultado. No PLANESER é que realmente vai ser tomada uma definição, com base nas nossas pesquisas (SER SERASA 5, 8:2). Se você pegar e falar para uma pessoa de vendas: “A sua meta do ano passado foi 100. Esse ano, qual é a sua meta?” Ela vai dizer: “Ah! a inflação desse ano é de 10%, então é 110, 112.” Aí, você fala: “Bom, mas o mercado era pequeno, agora o mercado está 6 vezes maior, por que você não agrega essa outra variável?” Até por uma segurança, eles costumam não agregar. Aí, eu vou verificar, pesquisar e vou falar: “Desses 112 aqui, considerado meta, na verdade, com certeza, dá para chegar a uns 120, forçando a 125.” Assim, daqui sai a meta. Mas, se a área de vendas chegar e falar: “No ano passado foi 100 e esse ano eu vou fazer 118 a 120.” Parou por aí. A gente não interfere mais em nada (SER SERASA 5, 8:3). Ele [o Presidente] já vai comunicando [nos diversos contatos com as Diretorias e Superintendências], vai dando as diretrizes daquilo em que realmente a gente pode chegar. [...] Só que sentar e definir é só no PLANESER, onde ele fala o que ele quer, os Diretores se posicionam e eu mostro os cenários. Lá é, realmente, o momento de a gente sentar, analisar e discutir (SER SERASA 5, 8:5). Vamos supor: a meta. O Diretor se compromete na totalidade, só que cada Regional se compromete com uma parte; dentro de cada Regional, cada Gerente se compromete com um pedaço; dentro dessas gerências, cada supervisor se compromete com mais outro pedaço e cada gerente de cada vendedor se compromete com outro pedaço. É um processo em “cascata”. Eu me comprometo com o resultado. O Presidente se compromete com o resultado. Cada Diretor se compromete com o resultado, enfim, cada um vai trabalhando concorrendo para um somatório. Nas reuniões com os MIS, há troca de informações sobre o desempenho e ajustes A gente vai ajudando uns aos outros, então, no final, cumprimos os objetivos. Se, contudo, uma área não cumprir os seus objetivos, por justas razões, e tiver ajudado às outras áreas, isso é informado ao Presidente e seu déficit é reduzido. Se a área não fez, nem ajudou, o PPR dela é menor (SER SERASA 5, 8:6). A gente é medido por tudo. Tem o PPR [...]. Todos os funcionários respondem pelo total das despesas, pelo total das receitas, mesmo estas não estando vinculadas diretamente às áreas deles. Então, todo mundo está focalizado em resultados. Nosso foco é em resultados. Não tem como fugir. É bem isso (SER SERASA 5, 8:7).
159
Essa etapa do planejamento é precedida do envolvimento de todos os níveis da organização,
que reconhecem que a cultura da empresa é muito forte.
O Presidente tem uma característica de ser um líder muito intuitivo. Ele é bastante intuitivo. Então, às vezes, ele aponta para uma coisa e nos mostra que temos que ir naquela direção. Ele insiste muito naquilo. As pessoas pesquisam e acabam indo atrás. A Serasa hoje tem muito a cara do Presidente atual. Agora, o que a gente percebe é que a questão da cultura, os valores, os princípios, a gestão, estão muito voltados para a valorização das pessoas. Isso está muito enraizado na empresa. Então, ao mesmo tempo em que temos uma liderança que é muito forte, muito centrada na pessoa do Presidente, nós temos uma cultura muito forte na empresa, um comprometimento muito grande das pessoas com o que é proposto, como o que é proposto como estratégia, como caminho a ser seguido (SER SERASA 4, 8:6).
O desempate entre estratégias leva em consideração todos os aspectos: econômicos, sociais,
políticos e comportamentais. A valorização do elemento humano, na empresa, está
demonstrada até na forma de tratamento: SER SERASA.
Mas, a visão que permeia a organização, que permeia a Alta Direção com certeza é uma visão da busca não só pelo resultado econômico-financeiro, mas pelo resultado em todas as suas dimensões...mais completa, digamos assim (SER SERASA 4, 9:2).
O esforço da organização na fase de formulação é alto, mas, quando da implementação,
pela cultura da empresa, o esforço é baixo:
A informação dos projetos que foram aprovados e a dos que não foram aprovados é centralizada na minha área para inclusão no sistema, que nos dá apoio e que foi desenvolvido internamente no Lotus Note, bem de acordo com as nossas necessidades. Ele é muito mais para informação qualitativa, não tem aquelas interfaces gráficas. A minha área é a única que pode cadastrar os projetos nesse sistema e aí, uma vez cadastrados, coloco lá o nome do gestor responsável, o qual passa a poder fazer todas as atualizações das informações do seu projeto. A minha
160
área tem como responsabilidade fazer o acompanhamento dos projetos e a revisão deles constantemente. Eu faço contato com todos os gerentes dos projetos para dar um feedback sobre a aprovação ou não destes, informando que já está no sistema (SER SERASA 4, 11:1). A gente tem aqui na Serasa as reuniões de repasse. Então, toda segunda-feira, tem reunião de Diretoria, e os Diretores têm de fazer o repasse para as suas equipes, inclusive dizendo quais propostas de projetos foram aprovadas e quais não o foram (SER SERASA 4, 11:2). Mensalmente eu converso com todos os gerentes e apresento, na segunda reunião de Diretoria do mês, o acompanhamento: qualquer indicação de atraso, gargalo, qualquer problema que tenha sido identificado. Tem um espaço de meia hora, quarenta minutos para apresentar a situação dos projetos todo mês (SER SERASA 4, 11:4). A gente conversa sempre com os gerentes e a gente valida com o Diretor. Eu não levo só a informação que eu tive com o Gerente. Se este me diz que vai ter um problema, então nós vamos juntos falar com o Diretor ou eu vou sozinha. Então quando a coisa é apresentada lá na reunião da Diretoria, o Diretor já sabe que vai ser falado sobre um projeto dele. Nunca pode ser uma surpresa (SER SERASA 4, 11:5). O cumprimento dos projetos no prazo tem peso na remuneração por resultados, que a gente tem. A gente tem o PPR – Programa de Participação nos Resultados e uma das coisas que é considerada é o cumprimento dos projetos no prazo. Quem não cumpre, deixa de ganhar. Os projetos estão amarrados no PPR, inclusive (SER SERASA 4, 11:6). A Superintendência de Dinâmica de Mercado foi criada no final de 99 e com ela foi constituído esse processo de acompanhamento dos projetos. No início, houve bastante resistência. Hoje as áreas já pedem o nosso apoio, especialmente, se há alguma dificuldade de interação entre elas. Hoje, a postura deles já é mais pró-ativa, mas eu, mensalmente, contato todos os gerentes. Aqueles que têm projetos mais críticos a gente vai lá falar pessoalmente; os demais a gente fala pelo telefone. Não dá para falar pessoalmente com todos pelo volume de projetos. Esse ano nós tivemos mais ou menos 300 projetos (SER SERASA 4, 11:7). A gente fez algumas melhorias, próprias do processo coletivo mesmo, dentro da empresa. Aperfeiçoamos ferramentas, pesquisamos coisas novas, instituímos esse controle mais rigoroso dos projetos. As coisas foram evoluindo (SER SERASA 4, 11:8). Nós sempre fazemos benchmarking com empresas que a gente, eventualmente, fique sabendo que têm um processo de planejamento estruturado.(...) Nós estivemos no Boticário - eu, o SER SERASA 5 e nossas equipes.(...) Este ano nós visitamos também uma outra empresa, porque queríamos ver a ferramenta de controle de projetos. Não foi um benchmarking, eu acho que foi mais uma troca de experiências. Acho que eles ainda estão um pé atrás da gente nessa tarimba de trabalhar com projetos, administrar projetos. Outra coisa que a gente sempre está fazendo é cursos, seminários, que possam agregar alguma coisa (SER SERASA 4, 11:9).
A empresa, pela sua cultura, não depende tanto do conhecimento do Presidente para
informar sobre oportunidades e riscos:
161
Em alguma reunião, certamente ele [o Presidente] já falou [sobre suas pretensões de resultados], porque toda segunda-feira tem a reunião de acompanhamento de resultados - a reunião da Alta Direção. Então, ele vai vendo e fala, por exemplo: “Olha o faturamento desse ano está 5% acima da meta e para o ano que vem, tem que ser maior.” Então, ele já vai sinalizando, já vai dando algumas dicas para eles, já vai mostrando como o mercado está crescendo (SER SERASA 5, 12:1). A gente sempre procura melhorar os resultados, ser competitivo e dar rentabilidade. Então, tudo isso daí, ele [o Presidente] vai ligando na cabeça dele junto com as informações que a Assessoria Econômica produziu sobre a economia, o mercado e com as informações que demos para ele sobre os principais clientes e o acompanhamento da pesquisa de mercado. Então, ele vai pensando, vai vendo e diz: “Olha, nós temos espaço. Vamos fazer. Vamos investir.” (SER SERASA 5, 12:2). Até algum tempo atrás, a gente vivia pagando aluguel. Não tinha esse prédio aqui. Ele [o Presidente] disse: “Temos que comprar um imóvel, fazer um prédio moderno.”. Esses sonhos dele... Então, ele pega o sonho, as informações mistura e a gente faz acontecer. Ele é muito idealista, ele é muito de ideais, intuitivo, de sentir algo, estabelecer um objetivo e conseguir. A empresa acabou aprendendo esse conceito (SER SERASA 5, 12:3).
Ainda em função da cultura da organização, o poder exigido do Presidente para impor um
plano é moderado.
Eu acho que foi o jeito que ele montou as equipes e a filosofia que foi implantada na empresa, que todo mundo aceitou. Não foi algo que foi implantado pela imposição, mas implantado com aceitação. Então hoje ninguém chama as pessoas de funcionários, colaboradores, mas de SER SERASA. Todo mundo trabalha para o coletivo, em prol da produtividade, em prol de resultados.
Com relação ao macroprocesso de implementação de estratégias na Serasa foi constatado que:
• As metas estão embutidas na cultura, mas são negociadas dentro da alta
hierarquia.
• No desempate entre estratégias são usados fatores econômicos, sociais, políticos
e comportamentais.
• O esforço da organização, na fase de implementação, é baixo, em oposição ao
esforço da organização, na fase de formulação, que é alto.
162
• O conhecimento exigido do Presidente para informar sobre oportunidades e
riscos é baixo, enquanto que o poder exigido dele para impor um plano é
moderado.
7.1.2 Siemens
Por ocasião da obtenção do PNQ, em 1998, a Siemens-Telecomunicações desenvolvia o seu
planejamento estratégico em duas fases, conforme demonstrado na Figura 23. Essa forma de
planejamento continua até hoje. Segundo um dos entrevistados: “O processo de planejamento
não mudou muito. Ele teve uma melhoria. Mas, há muito tempo, ele vem sendo feito da
mesma forma. Todas as áreas planejam da mesma forma. Existe um padrão de planejamento
da Siemens.” (SER SIEMENS 2, 2:7).
A primeira fase, denominada Planejamento Estratégico de Negócios – PEN, visa a avaliar e
detectar tendências e comportamentos do mercado para um horizonte de cinco anos, com
enfoque qualitativo. Enquanto que a segunda fase, chamada de Plano Econômico, tem
enfoque quantitativo e horizonte de dois anos (SIEMENS, [1998?], p. 25-28).
Esse planejamento tem por base a análise detalhada de cenários, sendo utilizadas diversas
fontes: sócioeconômicas, políticas, mercadológicas, tecnológicas, ambientais, de
responsabilidade pública e do ambiente interno. Os departamentos de Marketing elaboram a
análise de cenários por meio de um sistemático acompanhamento e levantamento de
informações das várias unidades de negócio da Siemens. Complementa a avaliação, a análise
de riscos econômicos, políticos, sociais, tecnológicos e mercadológicos, com a identificação
dos pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças, conforme Figura 24. Esse material é
163
Missão Mundial
Missão
Ambiente Externo Ambiente Interno- Clientes- Competidores- Fornecedores- Regulamentação e Legislação- Tecnologia
- Estrutura existente- Competências-Chaves- Treinamento- Produção X Importação- Parcerias- Fornecedores- Gerenciamento de Contratos- Logística
Princípios e PremissasEmpresariais Mundiais
Princípios e PremissasEmpresariais Regionais
Análise de Riscos
PENSteckbrief
PlanoEconômico
Curto Prazo
Plano de Ação
Médio PrazoPlano de Ação
(1 ANO)
(2 ANOS)
ImplantaçãoMonitoramento e Realimentação
Análise de Cenários- político- econômico- financeiro
- tecnológico- sociais
Figura 23 – Planejamento estratégico da Siemens - Telecomunicações 1998 Fonte - SIEMENS, [1998?]. p. 25.
enviado para a Alta Direção, constituindo-se na linha mestra para a elaboração do
Planejamento Estratégico, evidenciado com suas etapas e responsáveis na Figura 25.
164
Macroeconomia e Mercados- Cenários- Conjuntura internacional- Mercado eletroeletrônico
Análise Empresarial- Posicionamento estratégico- Indicadores econômicos- Desenvolvimento sustentável- Cidadania empresarial
Estratégia Corporativa- Coordenação do PE das UNE’s- Definição das premissas do PE- Estratégia global da empresa
Negociações Internacionais- Multilaterais (OMC)- Regionais (Mercosul, UE, ALCA)- Acordos bilaterais (Brasil-México)
CS
Figura 24 – Insumos do planejamento estratégico da Siemens Fonte – SIEMENS
CorporateStrategy
Análise do cenário econômico
Projeções macroeconômicas
Formulação da estratégia corporativa
Apresentação à diretoria e UNE’s
Análise dos cenários setoriais
Projeções de mercado
Estratégia aplicada ao negócio
Apresentação à diretoria
Alterações estratégicas e econômicas
Consolidação e check de consistência
ImplementaçãoPlano de vendas Plano de pessoas Plano econômico
Plano de comunicação Plano de fabricação
UNE’s eMarketing
Estratégicos
CS
ComerciaisRH CC
Vendas Fábrica
Etapas Líder da etapa
CorporateStrategy
Figura 25 – Etapas do processo de planejamento estratégico da Siemens Fonte - SIEMENS
165
O PEN é consolidado pelo departamento de Marketing e pelas unidades de negócio, aprovado
pela Alta Direção e formalizado no documento Steckbrief, que contém informações sobre:
• definição das áreas e segmentos de negócios;
• detecção de oportunidades, tecnologias e produtos por meio do acompanhamento
do mercado nacional e internacional, em interação com a Siemens Alemanha;
• atratividade dos segmentos de mercado, identificando os fatores críticos de
sucesso;
• tendência e estrutura dos mercados, necessidades atuais e futuras dos clientes,
seus critérios de compra e sua respectiva ponderação;
• comparação com a concorrência, apontando os pontos fracos e fortes da empresa
e dos concorrentes e sua futura evolução;
• política dos negócios, principais estratégias e objetivos para atender às
necessidades do mercado;
• planos de ação contemplando critérios: make or buy, investimentos em P&D,
transferência de tecnologia, canais de venda próprios ou indiretos etc...;
• principais valores econômico-financeiros e metas de desempenho;
• recursos de pessoal, com análise de produtividade e investimentos necessários.
Por sua vez, o Plano Econômico, como expressão valorizada do PEN, funciona como ponte
entre este e os objetivos de curto e médio prazos. Sendo descentralizado, estabelece, por área
operacional, unidade de negócio, segmento, modalidade de comercialização, filial e canal de
distribuição:
• as metas quantitativas e valorizadas para entrada de pedidos, faturamento e
margem de comercialização;
• os investimentos em veículos, informática, móveis e utensílios ou modernização
166
da fábrica;
• os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, inclusive as parcerias com
instituições oficiais de ensino;
• os orçamentos de recursos operacionais (despesas com comunicação, viagens,
embalagens e fretes);
• os orçamento de publicidade e promoção;
• as necessidades de capacitação e desenvolvimento de recursos humanos,
inclusive em função dos novos produtos;
• as metas de produtividade, capital de giro, rentabilidade do investimento, índices
de liquidez;
• o resultado econômico por filial, por segmento de produto, por canal de
distribuição ou unidade de negócio.
Cada unidade de negócio, baseada no PEN e no Plano Econômico, define o plano de ação
para atingir as metas estabelecidas desdobrado por departamentos, setores, centros de custo e
de acordo com os grupos de produtos. As áreas têm autonomia para a alocação dos recursos,
conforme a evolução dos negócios no período (SIEMENS, [1998?], p. 27).
O Planejamento Estratégico é desdobrado nas áreas operacionais resultando em:
• Planos das Fábricas: define as metas para os próximos anos alinhadas com as
metas das unidades de negócios.
• Plano da Área Técnica: feito junto com as áreas de Vendas, detalha os
investimentos em Planejamento & Desenvolvimento - P&D – por linha de
produto.
• Planos de Vendas: as áreas operacionais definem metas de volume quantitativo e
167
correspondente faturamento por área operacional, unidade de negócio, segmento,
modalidade de comercialização, filial, canal de distribuição, investimento, meta
de produtividade, de resultado econômico, entre outros.
• Plano de Recursos Humanos: baseado no plano estratégico de negócios,
determina as necessidades de mão-de-obra, quantitativa e qualitativamente;
fornece informações sobre desligamentos, admissões, transferências, job-
rotation, custo de pessoal, investimentos em mão-de-obra. Esse plano fornece
subsídios para o planejamento das necessidades de treinamento a serem incluídas
no Planejamento e Controle de Treinamento – PCT.
O processo de planejamento é avaliado e melhorado pelo Conselho Consultivo de Marketing
Estratégico da Siemens Ltda. No Conselho, são definidas as ações para aprimoramento do
processo de Planejamento Estratégico e seu desdobramento. O Conselho se reúne sempre que
convocado pelo Diretor do Grupo Siemens, responsável pelo Marketing Estratégico.
7.1.2.1 Análise das variáveis da formulação das estratégias
Na Siemens, a estratégia, além de plano, “olha” para baixo, focaliza o momento em que o
produto encontra o cliente, bem como para fora - para o mercado-, enquanto posição. Seus
produtos estão sempre diversificando e ocupando mercados emergentes.
A Siemens tem uma filosofia de estar sempre diversificando. Ela sempre ataca aquele mercado que é emergente (SER SIEMENS 2, 1:1). Da telefonia GSM, nós temos mais de 50% do mercado. Então isso foi um acerto muito grande do planejamento. Nós não entramos na outra tecnologia. Nós não temos TDMA ou CDMA, só GSM. [...] No mundo, 70% dos celulares são de tecnologia GSM. No Brasil, infelizmente, ainda estamos com essa porcentagem uito baixa (SER SIEMENS 2, 1:4).
168
Mas a estratégia também se destaca como perspectiva, “olhando” para dentro da organização,
das cabeças dos estrategistas e para cima - para a grande visão da empresa -, na medida em
que se sustenta nos valores e princípios organizacionais. A influência da cultura no estilo de
pensar e no processo de formação da estratégia a apresenta, ainda, como padrão.
Reuniram-se, nas várias localidades da Siemens, no mundo inteiro, para definir quais eram os princípios e valores da empresa, sendo feito um levantamento de tudo que foi feito nesses 150 anos de existência e identificado no que éramos forte e o que poderia estar definido em nossa bandeira. E aí a gente tem os princípios e valores organizacionais, que substituíram o que a gente chamava de missão e visão. (SER SIEMENS 4, 1:5). A gente entende que para aumentar o valor do negócio, nós temos que garantir a satisfação dos nossos clientes, o que acontece se nós estivermos fortes em produtividade, inovação e crescimento, compartilhando sempre as melhores práticas entre as várias unidades de negócio e para nós conseguirmos estarmos bem em produtividade, inovação e crescimento, tem que haver uma mudança cultural, uma base cultural alicerçada nos nossos princípios (SER SIEMENS 4, 1:8).
O processo básico de formulação de estratégia, na Siemens, caracteriza-se por ser top down
(de cima para baixo), acontecendo em cascata.
Vamos falar do planejamento: a coisa acontece em cascata, vem de cima para baixo. A Corporate Strategy é a área responsável por fazer a análise macroeconômica. Então, ela desenha um cenário da economia brasileira, mundial, as perspectivas que existem de crescimento de determinados segmentos e as tendências tanto nacionais como mundiais. É aquela análise político-econômica. Isso serve de base para que cada Diretor de área, junto com o seu Comercial e o de Marketing Estratégico estabeleçam seus planos. A Corporate Strategy, além da análise, estabelece as regras para se efetuar o planejamento estratégico. [...] Nós trabalhamos com um horizonte de cinco anos (SER SIEMENS 2, 2:1).
As informações usadas no processo são provenientes de diversas fontes, sendo o
planejamento efetuado de forma tradicional, com o uso de várias ferramentas, dentre elas o
modelo SWOT.
169
As áreas, no começo do ano – ano cronológico mesmo -, já começam a discutir o seu planejamento estratégico, baseadas nas informações de mercado. Os setores de marketing fazem pesquisas de mercado. Então, tem várias fontes onde se deve buscar informação. Existem empresas especializadas nisso que são contratadas para fazerem pesquisas mercadológicas. A própria mídia, as revistas, os jornais traçam um cenário e, baseado nele, já com a experiência também das pessoas especialistas na área, é determinado que mercado atingir, quanto faturar, que recursos são necessários, se vai haver crescimento, se se deseja a liderança de mercado... (SER SIEMENS 2, 2:5). Na verdade, o planejamento estratégico é feito dentro dos moldes convencionais. Não há um envolvimento de toda a empresa na definição das estratégias, mas na comunicação há. A análise SWOT é uma das ferramentas usadas (SER SIEMENS 4, 2:14).
Considerando o modelo racional de ênfase nas decisões adotadas pelo tipo cerebral, de que o
modelo SWOT é uma boa expressão, há espaço para o intuitivo, mas como fruto da
experiência, maturidade profissional e sensatez.
Porque cada vez mais a gente está sendo cobrado por uma visão, por uma coisa chamada intuição, mas que, na verdade, não é nem uma intuição mística, nem uma intuição voltada para a espiritualidade. É uma intuição, onde, com base na sua experiência, na sua maturidade profissional e na sua sensatez, sabendo que pode ter poucas informações, consegue definir o rumo da empresa, obviamente para o sucesso (SER SIEMENS 4, 2:15).
A mudança é contínua, por vezes, de natureza incremental, por vezes, revolucionária, sendo
imposta pelos próprios valores organizacionais: produtividade, inovação e crescimento.
A organização tem que reciclar, tem que girar, então o seu portfólio de produtos muda. Quando nós fizemos isso aqui, foi muito interessante. A área de telecomunicações, que tem a velocidade maior de renovação tecnológica, constatou que 60% dos produtos que tinha no portfólio, à época, nos próximos dois anos, seriam totalmente descartados. Ela teria que ter, então, 60% de produtos novos. Isso ficou claro: tinha que renovar em 60% os produtos que tinha no portfólio (SER SIEMENS 4, 3:1). O BSC tem estratégia viva. [...] A estratégia não muda a cada seis meses, [...] se você está trabalhando com uma visão de cinco anos, ela não vai mudar em seis meses. A ação, a atividade, o propósito pode mudar o teu plano de ação somente,
170
porque você está olhando como você está evoluindo na implementação da sua estratégia (SER SIEMENS 4, 3:2).
Os agentes centrais do planejamento estão distribuídos pelas várias unidades de negócio,
ocupando posição de Gerência, Diretoria e Presidência, cabendo ao Presidente discutir o
planejamento na Alemanha.
As equipes de planejamento são, na verdade, as pessoas dentro de cada área de negócio, que são responsáveis pelo planejamento e que, normalmente, são o Gerente da área, o seu Comercial e o de Marketing Estratégico, que trabalham da mesma forma [o planejamento] até chegar ao Diretor. Este, por sua vez, leva o planejamento à Presidência, onde é consolidado juntamente com o dos demais Diretores. O Presidente vai, então, com o seu Diretor Comercial discutir a proposta na Alemanha (SER SIEMENS 2, 4:1). Vamos falar do planejamento: a coisa acontece em cascata, vem de cima para baixo. A Corporate Strategy é a área responsável por fazer a análise macroeconômica. Então, ela desenha um cenário da economia brasileira, mundial, as perspectivas que existem de crescimento de determinados segmentos e as tendências tanto nacionais como mundiais. É aquela análise político-econômica. Isso serve de base para que cada Diretor de área, junto com o seu Comercial e o de Marketing Estratégico estabeleçam seus planos. A Corporate Strategy, além da análise, estabelece as regras para se efetuar o planejamento estratégico. [...] Nós trabalhamos com um horizonte de cinco anos (SER SIEMENS 2, 4:2).
A organização se apresenta, com suas forças, como fonte de vantagens competitivas, flexível,
eclética e mutável.
Uma vez que nós já tínhamos a planta em Manaus, tínhamos uma boa parte do caminho já percorrido e aí havia a necessidade de a gente atacar um mercado que, na realidade, é promissor, no qual a Siemens estava atrasada em entrar. Nós aproveitamos a planta de Manaus e começamos a produzir os telefones móveis - os celulares -, além dos telefones fixos. Começamos a produzir os celulares mais simples. Não é toda a linha Siemens, que você vê nas revistas, que é feita em Manaus (SER SIEMENS 2, 5:1).
171
A liderança se mostra de natureza participativa, atenta aos procedimentos e análises, bem
como ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas.
O nosso Diretor da área de Telecomunicações faz uma reunião, a cada três meses, onde ele mobiliza todas as pessoas da área dele. As fábricas de Manaus e Curitiba param inteirinhas para ouvirem uma palestra de duas horas sobre os resultados e os próximos passos, por meio de vídeoconferência. É interessante você poder reunir todas as pessoas, no mesmo instante. Imagine o impacto que isso causa para quem participa de um fórum como esse. Imagine quem pararia uma fábrica a cada três meses por duas horas (SER SIEMENS 4, 6:1).
O ambiente, competitivamente exigente, mas economicamente analisável, é estudado e visto
como fonte de ameaças e oportunidades e cheio de nichos.
No caso de motores, acabamos descontinuando essa produção porque o mercado começou a ficar muito competitivo e para a Siemens isso deixou de ser um negócio atraente. Outras empresas concorrentes começaram a produzir e, pela demanda, a empresa não viu mais interesse, então, houve descontinuidade dessa linha de produção (SER SIEMENS 2, 7:1). Uma vez que nós já tínhamos a planta em Manaus, tínhamos uma boa parte do caminho já percorrido e aí havia a necessidade de a gente atacar um mercado que, na realidade, é promissor, no qual a Siemens estava atrasada em entrar. Nós aproveitamos a planta de Manaus e começamos a produzir os telefones móveis - os celulares -, além dos telefones fixos. Começamos a produzir os celulares mais simples. Não é toda a linha Siemens, que você vê nas revistas, que é feita em Manaus (SER SIEMENS 2, 7:3).
O erro na previsão da demanda de telefones fixos e da economia nacional é destacado como
causa da crise pela qual passou a unidade de telecomunicações da empresa (que havia ganho o
PNQ 1998).
172
Eu acho que foi um erro de previsão mesmo, houve um erro estratégico. Eles dimensionaram o mercado de uma forma incorreta. Sem dúvida a móvel [telefonia] influenciou, mas eles dimensionaram mal o mercado. Eles imaginavam um consumo muito maior do que aquele que realmente aconteceu. No Brasil, nós tivemos um agravante. Além desse erro de previsão, que foi mundial, nós tivemos o problema da crise econômica do país (SER SIEMENS 2, 7:2).
Na Siemens, foi constatado no seu macroprocesso de formulação de estratégias que:
• A estratégia é sempre uma posição e uma perspectiva e, quase sempre, um plano
e um padrão.
• O processo de formulação é top down, intuitivo, deliberado, formal, analítico e
sistemático.
• A mudança é contínua, podendo ser incremental ou revolucionária.
• O processo fica a cargo da Presidência, Diretorias e Gerências, com suporte de
analistas.
• A organização é fonte de vantagens competitivas, flexível, eclética e mutável.
• A liderança é participativa, atenta a procedimentos, análises e ao aprendizado
(próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas.
• O ambiente é visto como fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem
previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente
analisável e cheio de nichos.
7.1.2.2 Análise das variáveis da implementação das estratégias
A definição das metas ocorre na Alta Direção, a qual se empenha em levar todos os
colaboradores a se envolverem com a implementação. A recompensa financeira é um dos
recursos mais usados, na busca de estimular um alto desempenho.
173
A remuneração variável leva ao envolvimento da pessoa, ao comprometimento na realização de algum trabalho, pelo qual ela vai ter um reconhecimento diferenciado e, em contrapartida, é um trabalho priorizado conforme a estratégia da organização (SER SIEMENS 4, 8:1). Os objetivos estratégicos são desdobrados até níveis individuais, definindo-se responsabilidades. O envolvimento das pessoas é obtido atrelando-se, aos objetivos dos gestores, o bônus - remuneração variável - e a participação de lucros e resultados para o nível de chão-de-fábrica (SER SIEMENS 4, 8:2). A gente tem dois tipos de indicadores: um é o indicador de tendência e o outro é o de resultado. O indicador de tendência monitora, enquanto eu estou implementando a estratégia, mostrando se eu estou realmente seguindo no rumo certo, se eu estou com o foco direcionado. Se houver algum problema nesse indicador, eu tenho tempo de rever minhas ações, de reordená-las, reorganizá-las. Ele trabalha mais na causa. Já o indicador de resultado trabalha no efeito, no próprio resultado (SER SIEMENS 4, 8:6).
Os princípios organizacionais são os critérios utilizados no desempate entre estratégias,
possuindo amplas dimensões: econômica, social, política e comportamental.
Esses princípios valem para qualquer tarefa dentro da organização: 1º Os clientes são o centro de nossas ações. 2º Nós impulsionamos a inovação. [...] 3º A gente tem que agregar valor a gestão empresarial para esses resultados. 4º Os colaboradores têm autonomia. 5º Responsabilidade social. [...] Todo mundo deve seguir esses princípios (SER SIEMENS 4, 9:1).
O esforço da organização na fase de formulação é baixo, conforme já analisado, mas, na
fase de implementação, é alto:
A coisa começa a ser negociada da área pequena até à Diretoria, com o nosso Presidente, que tem uma expectativa também. Então, ele negocia com os Diretores, estes, por sua vez, com os seus gerentes. É indispensável um fator de convencimento, você não pode exigir de uma área (SER SIEMENS 2, 11:1). O nosso planejamento estratégico é suportado também pelo BSC. [...] O planejamento estratégico é uma série de objetivos que se encontram distribuídos pelas diversas perspectivas do BSC, possuindo um ou mais indicadores, que são acompanhados mensalmente pelo SAP e nas reuniões das áreas, onde são
174
estabelecidas ações para correção dos desvios. Esses indicadores são acompanhados pela Diretoria e Presidência (SER SIEMENS 2, 11:7). Mensalmente, o Diretor da área junto com seus gerentes e comerciais vão acompanhar os indicadores que foram definidos, quando da implementação do BSC. Antes esses indicadores existiam, só que não estavam no SAP. Esse acompanhamento era feito de forma um pouco diferenciada. O BSC trouxe uma certa padronização de como é que os indicadores devem ser acompanhados, bem como permitiu identificar quais os indicadores que são baseados no planejamento estratégico, no mapeamento estratégico da área (SER SIEMENS 2, 11:8). Uma das propostas do BSC é levar as estratégias até as pontas. A pessoa precisa saber qual é a participação dela na execução das estratégias. [...] Por um lado, vai se sentir até mais comprometida, porque ela percebe como ela é importante para a organização, como faz parte da sua estratégia e, para a organização, fica muito melhor (SER SIEMENS 4, 11:10).
Para nós ficou muito evidente, que essa estratégia da área de telecomunicações, tinha que ter fortes objetivos e que deviam ser muito bem acompanhados: a parte de pesquisa, desenvolvimento e inovação; aprendizado e crescimento, na parte de pessoas - que seria essa perspectiva aqui, que a gente chama de aprendizagem e inovação. Com o BSC, isso foi possível. Tanto que os resultados da área de telecomunicações do Brasil superaram os de todas as outras unidades da Siemens no mundo (SER SIEMENS 4, 11:13). Ele [o BSC] tem que ser uma ferramenta top-down. Ele implica em um processo de mudança. [...] Se a liderança não comprar...esquece. Se o Diretor, se o Presidente da empresa não estiver comprometido, esquece. Outra questão é que ele não é só um conjunto de perspectivas de indicadores. Não é só pegar os indicadores e colocar nas perspectivas. É um Balanced Scorecard: a gente tem que ter objetivos estratégicos, correlação de causa e efeito, indicadores e, o mais importante, o plano de ação que vai estar sustentando cada objetivo estratégico (SER SIEMENS 4, 11:5). O que acontece, na realidade, quando você já tem o planejamento estratégico e eles o pegam para atualizar o BSC, é que eles sentam de novo para discutir com a Direção, porque ali há outras implicações de correlação de causa e efeito, há a definição de indicadores. É um outro momento que eles criaram para poder atualizar o BSC e dali em diante continuar monitorando (SER SIEMENS 4, 11:6).
O reconhecimento da dependência do conhecimento do Presidente para informar sobre
oportunidades e riscos é perceptível:
A exigência é bem maior, quando você pega um Presidente. Ele tem que enxergar, numa empresa, pelo menos cinco anos à frente. Por isso, que a gente exige muito para esse cargo. O que a gente costuma falar é que o nível de abstração, a capacidade dele de abstrair e de enxergar, com poucas informações, o rumo que a empresa deve ter, bem como de trazer informações que são necessárias à definição do rumo da empresa são indispensáveis (SER SIEMENS 4, 12:1).
175
Com relação ao poder exigido do Presidente para impor um plano, percebe-se que é alto.
O nosso Diretor da área de Telecomunicações faz uma reunião, a cada três meses, onde ele mobiliza todas as pessoas da área dele. As fábricas de Manaus e Curitiba param inteirinhas para ouvirem uma palestra de duas horas sobre os resultados e os próximos passos, por meio de vídeoconferência. É interessante você poder reunir todas as pessoas, no mesmo instante. Imagine o impacto que isso causa para quem participa de um fórum como esse. Imagine quem pararia uma fábrica a cada três meses por duas horas (SER SIEMENS 4, 13:1).
Com relação ao macroprocesso de implementação de estratégias na Siemens foi constatado
que:
• As metas são ditadas de cima e associadas à recompensa financeira.
• No desempate entre estratégias, são usados fatores econômicos, sociais, políticos
e comportamentais.
• O esforço da organização, na fase de implementação, é alto, em oposição ao
esforço da organização, na fase de formulação, que é baixo.
• O conhecimento exigido do Presidente para informar sobre oportunidades e
riscos é alto, da mesma forma que o poder exigido dele para impor um plano.
7.1.3 Xerox
A Xerox do Brasil tem um processo gerencial que compreende o planejamento de negócios,
comunicação e desdobramento de objetivos por meio do envolvimento de seu pessoal,
implementação de estratégias e programas, monitoração de resultados e resolução de
problemas. Orientado pela visão do que a empresa quer ser, ele ordena as estratégias de longo
prazo e as ações de curto prazo.
176
Com base nos registros da empresa e na publicação sobre o seu modelo de gestão, por ocasião
da obtenção do PNQ – 1993 (FPNQ, [1994?], p. 3-1/5), é possível afirmar que o processo de
planejamento permanece sem alterações substanciais, o que houve foi uma mudança de
princípio, conforme destacado em entrevista:
Antes o processo, como os demais da empresa, era um processo em busca de uma perfeição, de ter todos os controles possíveis, às vezes, até mais do que o necessário. Com o tempo, isso foi mudando um pouco para ficar apenas o que é estritamente necessário para que se tenha uma operação confiável, uma operação consistente, mas, antes de tudo, produtiva. Enfim, hoje se busca não a melhoria do processo como fim, mas, sem a perder, busca-se primeiro a produtividade (SER XEROX 4, 2:11).
O processo de planejamento e gestão da Xerox do Brasil, demonstrado na Figura 26, envolve
todas as áreas funcionais e operacionais, integrando o planejamento de longo prazo2 - três
anos – com o de curto prazo – um ano.
O plano de longo prazo – Country Strategy - é desenvolvido todos os anos, com projeções
para os três anos seguintes. Ele apresenta a visão e a missão da empresa revistas e atualizadas,
as metas, as estratégias e os fatores críticos de sucesso do negócio. Em seguida, é elaborado o
planejamento operacional de um ano – Annual Plan -, que estabelece os objetivos, desenvolve
planos gerais e aloca recursos (Figura 27). Esse documento é posteriormente desdobrado por
toda a organização, orientando os planos detalhados das áreas funcionais, filiais e fábricas
(Figuras 28 e 29).
2 Em 1993, o planejamento de longo prazo era para cinco anos, hoje é para três anos.
177
Visão, missão,valores
Resultadosdesejados,
políticas, metase estratégias
Objetivosanuais e planos
de ação
Desdobramentomatriz e operações
Implementação
Revisõesoperacionais
Revisão anual
Resultadosatingidos
COUNTRYSTRATEGY
ANNUALPLAN
CONTROLPLAN
PMQ
PSP
1
2
3
4
5
6
7
8
Figura 26 – Processo de planejamento e gestão da Xerox Fonte - FPNQ, [1994?]. p. 3-1.
O desdobramento dos elementos da visão é realizado no Country Strategy para cada uma das
prioridades do negócio, por meio da definição dos resultados desejados de longo prazo, os
direcionamentos estratégicos, as metas quantificadas para cada ano e as estratégias e
178
INTRODUCTION(XAM overall)
HUMANRESOURCES PRODUCTIVITY MATERIALS/
DELIVERY NEW PROGRAMS
QUALITYOTHERS
MFG.SUBJECTS
GOVERNMENTAFFAIRS
- Vision/Mission- Organization Chart- Management Process- XMM- Golden Thread- Key Indicators
- EM&S- Safety- Employee Development- Environment
- Key Messages- ESH- Volumes and ESH- Staffing- Spending- Value Added Rate- Material Overhead Rate- Productivity Assumptions- COP- Productivity Assessment- 2002 MCV’s tracking to 2003 Productivity- Productivity by Delivery Unit- UMC- Capital- Risks and opportunities
- Materials Planning- Importation/Information Control- Customer care/ Exportation- Inventory
- Equipments- Supplies
- Quality Systems- Process and Operator Certification- ISO 9001- BRP
- Capacity Utilization- TTM- Invention Proposal- Business Assessment Vital Fews
- Manaus Fiscal Benefits- Strategic Relationships
Figura 27 – Annual Plan Fonte – XEROX Nota – Apresentada na forma original divulgada na empresa para manter a integridade dos dados.
179
ANNUAL
ANNUAL PLAN/CALENDARIZED
BUSINESSASSESSMENT
PF&D/ADAP
APA
PLANTSTRATEGIES
PHYSICALINVENTORY
MFRDEPLOYMENT
TEAMWORKDAY
EM&S
STRATEGICCONTRACT
SEMESTER ISO 9002AUDIT
DRCISSUE
ISO 14001AUDIT
COMM.MEETING ICMP EM&S
FOLLOW-UP OUTLOOK TATMEETINGQUARTERLY
MONTHLYPERFORMANCE
REVIEW
COST DAY
WHAT IF/P3
HIRINGPROCESS
HRMC
QUALITY SYST.AUDIT
DIAGNOSTICTEAM MEETING
PROGRAMSREVIEW
H.R ROUNDTABLE
INVENTORYREVIEW
WEEKLY EMPLOYEECOMM. BOARD CCB MEETING NCMR
MEETINGPROGRAMMEETING
SUNRISEMEETING
SUNSETMEETING
QUALITYMEETING
SPCREPORT
PVTREPORTDAILY
Figura 28 – Management processes Fonte - XEROX Nota – Apresentada na forma original divulgada na empresa para manter a integridade dos dados.
programas que viabilizarão essas metas. Além disso, detalha os planos por segmentos de
mercado/produtos, partindo da avaliação do mercado brasileiro, necessidades dos clientes em
relação a soluções de documentos nos vários segmentos e ambientes de negócio, potencial de
crescimento dos três anos seguintes e da oferta de novas tecnologias e produtos em
desenvolvimento nas diversas divisões de negócio da Xerox Corporation. O resultado é um
documento que seleciona os produtos a serem lançados no mercado brasileiro, a forma de
obtenção dos mesmos – produção local própria ou por parceiros locais ou importação de
fábricas Xerox localizadas em outros países – e as principais estratégias de comercialização e
de serviços (FPNQ, [1994?], p. 3-1/2).
180
O Country Strategy é onde são feitas todas as análises das forças de mercado que atuam em cima do nosso negócio. São três os nossos principais negócios: alto volume de impressão; hardware para escritório - que a gente chama de office business - e o terceiro, ainda pequeno, mas com um crescimento muito bom, que é a área de serviços. O Country Strategy é uma direção, dizendo como é que a gente tem que trabalhar para poder atingir determinados objetivos (SER XEROX 3, 2:1).
A atualização do Annual Plan é realizada trimestralmente por meio do Outlook, que visa a
avaliar o progresso realizado até a data, em relação aos objetivos previstos no calendário.
Também avalia a implementação das estratégias e define novos planos táticos que assegurem
o alcance dos objetivos do ano. Isso consiste na etapa seis – Revisões Operacionais – do
processo de planejamento demonstrado na Figura 26.
Em 1991, foi integrado, ao processo de planejamento de longo e curto prazos, a auto-
avaliação de qualidade, tendo como critérios a visão da Xerox como uma empresa de
Qualidade Total – hoje se diz, mais apropriadamente, de Excelência. Essa visão foi
desenvolvida com base nos fundamentos e experiência com a implementação e intensificação
da estratégia de “Liderança através de Qualidade”, em todas as unidades Xerox no mundo, e
os critérios dos Prêmios Malcolm Baldrige e Europeu da Qualidade. A visão define os
resultados desejados para cada um dos seis elementos-chave do negócio da empresa - que
compõem o The Xerox Management Model, cuja versão atualizada está evidenciada na Figura
18 -, que são, por sua vez, subdivididos em elementos específicos para os quais são definidos
os resultados desejados e medições para a auto-avaliação (FPNQ, [1994?], p. 3-2).
O resultado dessa auto-avaliação anual, realizada na empresa como um todo, serve como base
para a seleção das prioridades anuais de investimento em melhoria contínua de qualidade,
voltadas para o cliente e os resultados do negócio. A integração desse processo de auto-
avaliação da qualidade com o diagnóstico dos resultados obtidos para cada uma das
181
CUSTOMER FIRST
Reliability Responsiveness Relationship Price/Value
Product Worked Correctly
Product/Parts Quality
Customer Disastifaction
PPHI+
Product Delivered When Promised
Production Flexibility
Customer Loyalty& Repeat Purchases
CBS Price/Value
Certification- Process- Operator
DPHM% IPF
& PPHMPartsPPM
JITRPP / P 3 Parts Availability
Monthly Parts
Parts NI at Manaus Vendors
Monthly Delivery
Constructive Customer Contact
Process visit for all Plant Staff
Problems SolvedOpportunities Actioned
Product & PartsCost Reduction
% YOY UMC Productivity
DMCProductivity
Value-addedProductivity
RemanufactureRenegotiateResourceRedesign
Direct LaborLabor overheadMaterialOverheadTop Load
CustomerElement
Xerox RMeasure
XAMDeliverable
pMeasure
Figura 29 – Golden thread Fonte – XEROX
Nota – Apresentada na forma original divulgada na empresa para manter a integridade dos dados.
182
prioridades de negócio completa a maneira da empresa de desenvolver planos.
A mais importante fonte de informação utilizada para a definição de políticas e estratégias,
segundo a empresa, é o cliente. Há um método abrangente para identificar e avaliar
continuamente os requisitos e prioridades dos clientes. Em adição ao contato direto dos
diretores, gerentes e supervisores, os requisitos deles são identificados por meio de programas
de pesquisas de mercado, focus groups e de múltiplas pesquisas de satisfação com a Xerox.
O entendimento dos requisitos atuais dos clientes, suas possíveis evoluções e o ambiente
competitivo que cerca o negócio é completado com a realização de vários tipos de pesquisas,
conduzidas visando a entender os critérios adotados no processo de decisão de compra dos
clientes – da empresa e da concorrência – e a mensurar a potencialidade do mercado, a
variedade da oferta de produtos, serviços e canais de distribuição da concorrência.
Essas informações são levadas em consideração para a definição do ambiente mercadológico
que cerca cada um dos segmentos de mercado em que a empresa atua ou pretende atuar, bem
como na análise e identificação dos fatores críticos de sucesso e estratégias de negócio que
levarão ao alcance das metas propostas nos planos de longo e curto prazos, conforme
evidenciado na Figura 30.
O desdobramento do Plano Operacional – Annual Plan – é realizado por região, filial e
fábrica, com o envolvimento das respectivas Gerências. É apoiado por um processo de
comunicação envolvendo todos os empregados, iniciado no Kick-Off Nacional, ponto de
partida para o estabelecimento dos objetivos individuais e planos táticos de cada unidade da
empresa.
183
VISÃO
METAS E ESTRATÉGIAS
Potencial de mercado
Requisitos de clientes
Estratégias de produto
Estratégias de marketing efuncionais
OBJETIVOS E PLANOS DE AÇÃO
Planos de lançamento
Alocação de recursos
Planos funcionais
Planos operacionais
IMPLEMENTAÇÃO E REVISÕES
Interface com cliente
Monitoração/Revisões
RESULTADOS ATINGIDOS
Figura 30 – Detalhamento do processo de planejamento e gestão da Xerox Fonte - FPNQ, [1994?]. p. 3-3.
O Kick-Off Nacional é uma reunião de comunicação dos direcionamentos e objetivos do ano,
que ocorre sempre em dezembro, com a participação de todos os Gerentes de Filiais,
Regionais e Fábricas, além da Diretoria e do staff da Matriz, sendo as suas informações
transferidas pelos Gerentes às suas equipes, no período de dezembro a janeiro. Seguem-se as
reuniões de desdobramento dos objetivos e definição de planos de ação, para o alcance dos
objetivos de cada unidade.
O Gerenciamento para Resultados – GPR – é o método gerencial que a Xerox utiliza para
184
desdobrar e atingir a visão, metas e objetivos em toda a sua organização, staff e fábricas,
envolvendo todas as gerências, supervisões e todos os empregados, tanto de linha de produção
como de suporte. Ele possui três fases: estabelecimento da direção - que é o planejamento do
trabalho; desdobramento - que cria a integração, forma alianças e assegura compromissos
entre as áreas e processo gerencial - que executa o trabalho e conduz as revisões (FPNQ,
[1994?], p. 3-4).
A alocação de recursos é realizada em dois momentos. O primeiro, na elaboração do Annual
Plan, quando os recursos são alocados por função da organização, e o segundo, quando esse
plano é desdobrado, no início de cada ano, no orçamento de despesas e capital, para cada
unidade da organização.
O Comitê Executivo promove reuniões anuais visando à melhoria do processo de
planejamento. Essa é a última etapa do processo de planejamento e gestão apresentado na
Figura 26. As Diretorias Executivas realizam processos semelhantes em relação ao
planejamento de suas atividades do ano anterior.
7.1.3.1 Análise das variáveis da formulação das estratégias
A estratégia, na Xerox, apresenta-se, principalmente, como posição, concentrando-se no
mercado, no momento em que o produto encontra o cliente. Seus produtos e serviços,
marcados sempre pela diferenciação, começam a focalizar a diversificação.
É uma estratégia de diferenciação. É sempre de diferenciação. É óbvio que para você poder pensar em diferenciação, em alguns momentos você tem que ir para o custo. Você tem que ir para commodity. Eu não vou ficar pensando em diferenciação
185
e vender nada. Mas, eu vou estar sempre diferenciando. A minha própria visão exige isso (SER XEROX 3, 1:4). Tinha, mas não tão barato, com um custo tão atrativo e com tantas funcionalidades agregadas aos equipamentos. Então, não é só lançar um equipamento por lançar. É um equipamento lançado direcionado a um determinado segmento, a um preço atrativo, com disponibilidade de cor e repleto de funcionalidades. Esse portfólio, eu nunca vi antes na Xerox. Depois que a Xerox renasceu, saiu dessa confusão toda aí... parece que a nossa força criativa em produto explodiu. Você perguntou os motivos, esse é o principal motivo [Resposta à indagação sobre o que estava impulsionando a retomada da empresa.] (SER XEROX 3, 1:7). A principal estratégia para clientes é a diversificação na prestação de serviços. Nós vamos entrar ano que vem com uma série de novos serviços [...], porque nós tínhamos a tendência de termos um contrato genérico para todo o país e as situações são muito diversas, os clientes são muito diversos (SER XEROX 4, 1:10).
A importância da visão da empresa e dos valores no posicionamento da organização evidencia
a estratégia como perspectiva e padrão.
Tem períodos em que você está em “mar de almirante”. [...] Tem hora que a concorrência lhe apertou. Você não está preparado. Você dança. Você vai para o fundo do poço e é aí que os valores seguram você como instituição. É aí que eles determinam quem é você como organização. [...] Nós primamos pela tecnologia, então, eu não posso, por exemplo... Eu não gosto de dar esse exemplo, porque uma empresa grande – que eu não vou falar o nome – cometeu esse erro, mas ele é bem ilustrativo. Veja: Suponha que eu perdi meu volume, o custo fixo começou a me estrangular e eu não consegui fazer a absorção dele. Eu tenho como valor a tecnologia. Só que me aparece uma oportunidade, por exemplo, de eu fazer caixa de sapato ou armação de óculos ou bijuteria. O que acontece? Se os valores não estiverem internalizados, não forem aplicados, a tentação é grande e, então, eu acabo transformando aquele galpão da minha empresa em um galpão de fazer bijuteria. E aquilo, por incrível que pareça, aquilo mexe com a alma do negócio, mexe com a alma do funcionário. É um plano que ninguém vai entender. Se ele funcionar, se consegue em curtíssimo prazo resolver o problema, mas não dá seqüência. Então, a gente procura evitar esse negócio (SER XEROX 3, 1:2). Nós temos uma visão que a gente procura não mudar com freqüência, porque senão se perde. Essa visão tem que ser uma visão clara para que as pessoas entendam o que elas estão fazendo, onde é que elas têm que chegar, onde é que é o horizonte (SER XEROX 3, 1:3).
É possível também identificar a estratégia, além de plano, como truque.
186
Mas eu não posso ser só diferenciador o tempo todo. Eu não consigo, senão a minha marca não sobrevive. Eu preciso fazer essa marca sobreviver. Eu preciso fazer com que você acredite que eu sou um diferenciador por excelência, mas que eu também te ofereço um produto a baixo custo. [...] Vou estar sempre colocando essa área de Marketing para pensar em alguma coisa diferenciadora, que o mercado esteja precisando. Mas, para aqueles setores, que eu defini como estratégico, office, por exemplo, eu vou trabalhar baixo custo. Eu vou vender impressora a baixo custo. Eu vou vender multifuncional de baixo volume a baixo custo. Mais barato que os nossos competidores. Eu vou tentar. Esse é o jogo. Está se conseguindo (SER XEROX 3, 1:5).
O processo básico de formulação de estratégia, na empresa, acontece em cascata. Sendo top
down (de cima para baixo), inicia-se com as diretrizes da Xerox Corporation e baseia-se em
diversas fontes de informação.
Três ou quatro vezes por ano existem reuniões para poder falar sobre as operações, onde é dado o feedback de um lado para o outro [falando da relação Xerox do Brasil com a Xerox Corporation]. [...] Não adianta ir lá e falar para a Presidente, que o Brasil é assim, assim e assado. [...] Isso não é autonomia. Chegar lá e falar: “Olha, eu estou dizendo que é isso. Então é isso.” Ela vai pegar aquilo e juntar com as outras fontes de informação que ela tem: mídia local, agências de pesquisa, estudos de universidades,... essas coisas todas. Eu não sei exatamente quais são, mas têm várias informações que são coletadas, são unidas para que se forme uma visão do que vai ser o mercado no Brasil. [...] Nós somos ouvidos, está certo? Às vezes, acontece o seguinte: Nós somos ouvidos e aquele plano aumenta. Às vezes, ao sermos ouvidos, aquele plano diminui (SER XEROX 3, 2:5). O nosso Presidente participa da reunião de planejamento da Corporation. Às vezes, algum Diretor Executivo participa com ele. Lá é traçada a estratégia e trazida para o Brasil, onde o Comitê Executivo aprecia, detalha - porque o documento da Corporation é muito macro - e passa para os Diretores para ser mais detalhado até alcançar os planos individuais. [...] Então a gente coloca lá uma série de projetos, uma série de ações de onde virão nossos custos, nossas receitas e que - tudo aquilo somado - confirmam o quadro esperado pela Corporation. Então aí, o plano está feito e é apresentado à Corporation (SER XEROX 4, 2:9).
A racionalidade predomina no processo, sendo sustentada por um forte sistema de
informações.
187
Você tem um top level que vem traduzido em números. Mas que não sai da cabeça de nenhum luminar. Sai de uma série de pesquisas, sai de um acompanhamento que a Xerox tem o maior cuidado de fazer (SER XEROX 3, 2:12).
A mudança contínua é uma realidade para a empresa, principalmente, em função da crise
vivenciada por ela recentemente.
Você tem que estar sempre adaptando. Antigamente, era um pouco menos problemático. No meio da Década de 90, a gente conseguia dar uma olhada um pouco mais para a frente. Hoje, voltou a ser problemático como era no final da Década de 80 (SER XEROX 3, 3:1). A gente diferencia, vai na frente, vira commodity, cai. Diferencia de novo, vai na frente, vira commodity, cai. Tem hora que a gente não está na frente. É outro que está diferenciando. É outro concorrente e eu vou atrás dele. Vai todo mundo atrás dele. Quando todo mundo está atrás dele, aquilo vira commodity e aí a gente cai de novo. Vai funcionando assim. A multifuncional hoje está virando uma commodity. A gente vai ter que fazer uma outra coisa (SER XEROX 3, 3:10).
A natureza da mudança, normalmente, é de caráter incremental.
Existem mudanças, mas, normalmente, não são coisas radicais. São coisas que já vinham sendo definidas. Então, não é que a partir de 31 de dezembro para 1º de janeiro muda tudo. É uma mudança que já ocorre normalmente. São continuidades de planos, que já vêm sendo trabalhados e, então, eu com meu grupo definimos as nossas estratégias (SER XEROX 4, 3:8). Alinhamento total, nos últimos três anos. Nós nos disciplinamos. Tivemos muita gente olhando. Internamente, a gente olhou muito. A Presidência olhou muito: olho muito centrado na operação. [...] Só que, nesses últimos três anos, pelas circunstâncias que foram vivenciadas pela empresa, as rédeas foram mais seguras (SER XEROX 3, 3:4).
Os agentes centrais do planejamento se encontram na cúpula da organização, não havendo a
participação dos funcionários. O planejamento é feito na Xerox Corporation, nos Estados
188
Unidos, dele participando o Presidente da Xerox do Brasil.
É óbvio que, quando você tem uma organização centralizada [...] nos Estados Unidos, a área de Mercados em Desenvolvimento é uma Presidência, onde há estudos sobre tudo o que está acontecendo na América Latina, na Rússia, na Índia, no Oriente Médio, com base em que a Presidência fala: “Olha, baseado no que nós estamos vendo, no que a gente entende que vai acontecer com esse mercado, nas evoluções que estão acontecendo em cada segmento, a gente entende que a operação no Brasil pode entregar tal, tal, tal.” [...] Esse ciclo [de planejamento] pode ter duas voltas, três ou quatro. [...] Mas, não esqueça que tem americano que conhece mais do Brasil do que o próprio brasileiro. Quando você faz perguntas para alguns americanos que, às vezes, pisam aqui só duas vezes por ano, você verifica que eles têm mais conhecimento sobre a política no Brasil, sobre a economia no Brasil e com a visão lá de fora. [...] Então, é difícil o ciclo voltar duas vezes. Às vezes, volta. Nos últimos dois anos não voltou (SER XEROX 3, 4:2). O Presidente participa da reunião de planejamento na Matriz, quando são estabelecidas as diretrizes para o Brasil. [...] O processo é de cima para baixo. O funcionário não participa do processo (SER XEROX 3, 4:3).
A rigidez dos princípios e valores servem de orientação à organização, não comprometendo,
contudo, a sua flexibilidade. Apresenta-se ordenada e normativa.
Numa empresa americana, se você atinge o resultado lá no final e para atingir esse resultado você seguiu os valores da Companhia, ela não está muito preocupada com o que você está fazendo no meio. Os valores determinam as margens do rio, onde você é peixe. Se você sair da margem, você morre. Então, os valores determinam por onde você andar. Tem empresa em que o rio é o Rio Negro [alusão ao enorme rio nas margens do qual está a cidade de Manaus]. Tem empresa, em que esses valores fazem com que você fique num riacho, você não consiga sair muito do lugar. Se você fez, seguindo os valores, não saindo do rio, [...] ela dá a você cada vez mais autonomia. Por outro lado, se você não atingiu os resultados, ela entra e define tudo. Ao contrário de uma empresa oriental, onde você pode atingir o resultado, pode fazer o triplo dele, mas eles vão estar sempre lá dentro. Os processos são deles. São eles que mandam, são eles que fazem e acabou. Uma européia é um meio termo. [...] Então, nós aqui, se estivermos atingindo os resultados, temos liberdade total. Claro, que tem as políticas mestras, mas, aqui dentro, você solta os seus procedimentos. Se, entretanto, não atingiu o esperado e o resultado não foi bom, aí ela entra e toma conta e define tudo (SER XEROX 3, 5:1). É mais um vale que a gente conseguiu atravessar [referindo-se a crise pela qual passou a empresa]. Foi um vale difícil, complicado. Pegou o mundo inteiro. Pegou a Corporation. A Corporation tem um resfriado, a gente pega pneumonia (SER XEROX 3, 5:3).
189
A rigidez das estruturas internas, que antes caracterizou a organização, é usada para explicar a
recente crise vivida pela empresa.
Porque eu [Xerox] era monopolista, então, as estruturas internas não estavam preparadas para a competição dura, para a competição pesada. Então, houve um primeiro momento em que a gente conseguiu superar isso, que foi quando a patente caiu. Só que, no segundo momento, houve a revolução digital. As nossas máquinas sempre foram máquinas analógicas e houve a revolução digital. Houve a necessidade, mais uma vez, que a gente se adaptasse a, diria no fim, quase uma substituição tecnológica. A gente deveria estar preparado para poder enxergar isso e sair na frente. A gente até estava, mas a empresa não conseguiu virar o jogo rápido. A gente descobriu o problema no início da década de 90, mas a gente não virou o jogo com a rapidez que deveria ter virado. Então, a gente perdeu. Foi perdendo. Foi perdendo e, infelizmente, numa época em que as Bolsas, principalmente as Bolsas americanas de tecnologia, começaram a mostrar aquelas explosões... (SER XEROX 3, 5:4).
Com relação à liderança, esta se mostra participativa, atenta aos procedimentos e análises,
bem como ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças
periódicas.
O Presidente é muito participativo. Ele gosta muito que todo mundo seja envolvido. [...] Hoje mesmo vai ter a reunião do Comitê Executivo e ele já nos convocou para que participemos. As reuniões acabam tendo muitas pessoas e isso atrapalha um pouco. Mas isso acontece, principalmente, quando há um assunto relevante e que seja de interesse geral. Assim, todo mundo houve a mesma coisa e todo mundo pode contribuir naquele momento. De certa maneira, acaba por ser mais rápido em termos de retorno (SER XEROX 4, 6:3).
A desconsideração das variáveis do ambiente externo é apontada como a grande causa da
última crise vivenciada pela Xerox.
190
Isso é uma opinião minha [falando das razões da última crise da Xerox]. Uma opinião estritamente minha. A Xerox foi monopolista por muito tempo. E o que aconteceu? Esse ciclo que eu te falei. A gente não estava acostumado a dançar esse ciclo: Diferencia, commodity. Diferencia, commodity. Diferencia, commodity. Não estava acostumado, porque a Xerox era monopolista (SER XEROX 3, 7:3). O que pode ter dado errado [falando da crise vivida pela empresa] é a gente não ter feito os ajustes necessários na hora certa. As influências externas [supervalorização cambial], neste país, são muito mais importantes do que... ainda são e talvez até mais do que qualquer outra coisa. [...] A gente não foi disciplinado para considerar as forças externas. Nós as ignoramos. Nós perdemos. Foi uma experiência. Nunca mais. Pelo menos enquanto esta turma estiver viva, não acontece de novo. Hoje, se o Presidente da República espirrar, a gente já sabe o que ele tem, qual é o vírus, tudo (SER XEROX 3, 7:4).
A experiência serviu para que a organização percebesse a necessidade da monitoração
contínua do ambiente, reconhecendo-o como fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a
serem previstos ou controlados.
Você tem que estar sempre adaptando. Antigamente, era um pouco menos problemático, no meio da Década de 90, a gente conseguia dar uma olhada um pouco mais para a frente. Hoje, voltou a ser problemático, como era no final da Década de 80 (SER XEROX 3, 7:1).
Hoje, o ambiente é reconhecido como competitivamente exigente, mas economicamente
analisável.
Na Rússia, hoje, nós estamos deitando e rolando. Por quê? Porque nós viemos estudando a Rússia há muito tempo, muito antes do fim da guerra fria (SER XEROX 3, 7:2).
Analisando o macroprocesso de formulação de estratégias na Xerox foi constatado que:
• A estratégia é sempre uma posição e uma perspectiva; quase sempre, um plano
191
e um padrão e, se necessário, um truque.
• O processo de formulação é top down, deliberado, formal, analítico e sistemático.
• A mudança é contínua e, normalmente, incremental.
• O processo fica a cargo da Cúpula da organização: Presidência com apoio de
analistas.
• A organização é ordenada, normativa e flexível.
• A liderança é participativa, atenta a procedimentos, análises e ao aprendizado
(próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas.
• O ambiente é visto como fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem
previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente
analisável.
7.1.3.2 Análise das variáveis da implementação das estratégias
Na Xerox, a definição das metas acontece na Alta Direção e associa desempenho
organizacional, funcional e individual à recompensa financeira.
A gente tem um objetivo. Baseado num plano, a Presidência da empresa – isso é uma responsabilidade dela – define quais são os pontos desse plano que vão merecer bônus para a empresa inteira. [...] Se a gente atingir como empresa isso, está aberta a porta para que cada um receba seu bônus, individualmente. Depois de aberta essa porta, o funil estreita e a gente vai para as áreas funcionais, onde cada área tem os seus objetivos, que são o que a gente chama de segunda porta. Uma vez passado por essa porta, aí vêm os objetivos individuais, que são definidos pelo superior imediato. E aí, uma vez passado pela primeira porta, pela segunda e se, na avaliação com o superior imediato, os objetivos individuais tiverem sido atingidos, é óbvio que o indivíduo estará apto a receber o bônus dele. Geralmente, a gente recebe em fevereiro. É dessa maneira que a gente faz e a gente tem feito isso há muito tempo. É óbvio que, ao longo do tempo, a gente vem aperfeiçoando (SER XEROX 3, 8:2). Quando ela ganhou o PNQ – 1993, havia o bônus já – estou tentando me lembrar -, mas não existia – o que eu acho errado – hoje, é melhor, não existia esse sistema de portas. Não existia o objetivo individual. Existia o objetivo da organização e da área funcional só (SER XEROX 3, 8:8).
192
A participação dos funcionários é no fechamento dos gaps. A participação existe e é completa. Se disser que não há, não é a realidade. Não existe, por exemplo, um funcionário chegar, sentar e dizer: “Vamos definir o plano para o ano que vem. Nós vamos fazer tanto. Vamos atingir tanto.” Isso vem lá de cima. A gente analisa para ver se dá para fazer ou não e voltamos para dizer se dá ou não dá. É mais reativo do que pró-ativo, se você quiser colocar assim (SER XEROX 3, 8:4).
A consideração dos aspectos sociais e comportamentais, além dos econômicos e políticos, no
desempate entre estratégias é freqüente na empresa.
Todas as vezes que se fala de Responsabilidade Social, a gente tem cinco estrelas. Cada empregado aqui tem um orgulho danado do que essa empresa faz como Responsabilidade Social no País. [...] A gente não consegue ver essa empresa, sem ser uma empresa com Responsabilidade Social. É um dos valores nossos, então a gente não vai deixar isso de lado nunca. Por exemplo: No nosso pior período, uma empresa estatal muito grande quis tomar o nosso projeto de dez anos com a Mangueira. A gente tem um projeto com a Mangueira. Aliás, os maiores atletas que o Brasil tem no atletismo, saíram desse projeto. O Clinton, quando esteve no País visitou lá junto com o Pelé e, até hoje, a Mangueira virou símbolo mundial por causa desse projeto. Mas a gente ficou mal. Há dois, três anos atrás, a gente teve um problema sério e essa grande estatal quis levar da gente esse projeto. Um ficou olhando para o outro, porque era um perigo. Por um lado, você tinha um valor, que era o acionista, mas por outro, você tinha um valor que era a Responsabilidade Social. A Direção da empresa não brasileira, lá fora, falou assim: “Não, a gente mantém o projeto.”. Não só continuamos, como nós aumentamos o investimento, mesmo em uma época extremamente complicada (SER XEROX 3, 9:1).
Se o esforço da organização na fase de formulação é baixo, conforme já exposto, na fase
de implementação é alto:
Esse plano operacional é um pouco mais direcionado, quer dizer, dentro do que eu chamo de estrada, dentro da estrada do Country Strategy, a gente tem determinados pontos a serem alcançados e o plano operacional de 2004 é um desses pontos. [...] O plano operacional de 2004 contém os números que a gente precisa alcançar em 2004 (SER XEROX 3, 2:2). Cada área avalia se aquilo que está vigente consegue atingir o que precisa ser atingido dentro do exercício. Quando não consegue atingir, a gente tem o que a gente chama de gap. Nesse gap é onde as áreas vão trabalhar para definir projetos que consigam cobri-lo. Ele é sempre uma coisa agressiva, nunca é uma coisa
193
simples, exigindo que as áreas que o estão analisando tenham a criatividade necessária e usem ferramentas atuais para que ele seja ultrapassado. [...] A gente não diminui o gap, muito pelo contrário, a gente diz: “Volta que o teu projeto tem que ser outro.” (SER XEROX 3, 2:3). As ações entre quatro paredes, em uma fábrica, por exemplo, são muito mais fáceis, mais diretas, mais receptivas, do que quando você tem que tomar ações para o Brasil inteiro. Fica muito mais difícil de ser implementado. Quando você está com um time junto, quando você conhece as pessoas, vê-las todos os dias, a realidade é outra. Eu estou aqui há um ano e ainda não conheci todas as pessoas que trabalham comigo e, no Brasil inteiro, são 1500 pessoas, ou seja, você não consegue sequer ver o rosto da maioria delas (SER XEROX 4, 11:13). Isso aí [a implantação de uma nova rede de canais] foi definido pela direção estratégica da empresa, pelo Presidente junto com a Corporation: “Nós vamos ter uma nova rede de canais.” Então tem que implementar aquilo ali. Existe uma linha mestre, que as áreas operacionais vão trabalhar para implementar. [...] Então, as áreas colocam os seus planos para poder fazer essa implementação (SER XEROX 3, 11:1). O deployment disso [dos planos] nada mais é do que você passar para a força de trabalho, para a força operacional da empresa, o que precisa ser feito e começar a fazer a designação de atividades. Quem vai estar trabalhando aonde e fazendo o quê. É responsabilidade de cada uma das Diretorias e de cada uma das Gerências fazer esse deployment antes do final do exercício (SER XEROX 3, 11:2). O Gerente tem que ser muito capaz para poder fazer esse link [falando da consecução dos objetivos]. Na verdade, é função dele fazer a administração dos números [pretendidos] de um lado e do gap - que ele tem dentro da gerência dele, da equipe dele - do outro lado -, até para ele determinar o que ele precisa. [...] Se ele estiver realmente integrado, ele vai saber o que tem que fazer e, se for o caso, demonstra também o outro lado, que ele não tem capacidade para poder atingir o que foi proposto (SER XEROX 3, 11:3). Algumas vezes, para poder fazer o deployment do plano, ele [o Presidente] faz uma reunião de comunicação geral, mas não é necessário. Para acompanhamento de resultado, ele faz uma reunião de comunicação, uma vez por trimestre, na hora de comunicar o que foi atingido e o que tem que ser feito para o próximo trimestre, para corrigir os rumos (SER XEROX 3, 11:5).
A aceitação da dependência do conhecimento do Presidente para informar sobre
oportunidades e riscos é reconhecida:
Porque toda a vez que ele [o Presidente] conversa contigo, seja no corredor, seja no avião, seja em uma reunião formal, tudo o que ele fala está ligado com o que ele colocou como plano. Eu acho isso importante..., ele não perde uma oportunidade para fazer o deployment. Ele está falando sobre um negócio, então ele comenta um assunto que aconteceu em Brasília ou um problema político ocorrido no Governo de São Paulo ou ainda uma diferenciação que o Eduardo Braga fez na Legislação do ICMS, no Amazonas. Ele conversa sobre aquilo e já faz a ligação com os planos:
194
“Puxa, mas isso pode nos causar problemas na nossa receita. E aí aquele nosso target, tal,tal,tal.,... aqueles nossos projetos – porque os projetos estão todos na cabeça dele – podem isso, aquilo...” (SER XEROX 3, 12:3).
O alto poder exigido do Presidente para impor um plano é realidade na organização.
Na hora de escolher esse profissional [o Presidente], ele já vem com esse rosto: o rosto da Corporação. Então, o plano é da corporação, mas ele abraça aquilo, porque ele é aquilo. E as empresas escolhem esse nível de profissional a dedo, com todos os recursos da Psicologia entre outros (SER XEROX 3, 13:1). Faz-se o plano. Determina-se o que se quer. Tenta-se ser o mais disciplinado possível para não perder aquele alinhamento. E o Presidente pode chegar... Ele tem autoridade para chegar no meio e falar o seguinte: “Olha, o alinhamento era aqui, mas hoje não é mais. Hoje é esse.” Aí, a empresa vai se mobilizar para poder atingir (SER XEROX 3, 13:2).
Foi constatado com relação ao macroprocesso de implementação de estratégias na Xerox que:
• As metas são ditadas de cima e associadas à recompensa financeira.
• No desempate entre estratégias, são usados fatores econômicos, sociais, políticos
e comportamentais.
• O esforço da organização, na fase de implementação, é alto, em oposição ao
esforço da organização, na fase de formulação, que é baixo.
• O conhecimento exigido do Presidente para informar sobre oportunidades e
riscos é alto, da mesma forma que o poder exigido dele para impor um plano.
195
7.2 Análise comparativa dos processos de formulação e implementação das estratégias
deliberadas
A comparação entre os processos de formulação e implementação de estratégias das
organizações estudadas está demonstrada de forma sucinta nos Quadros 9 e 10.
Quadro 9
Processos de formulação de estratégias em organizações reconhecidas Empresa
Variável Serasa Siemens Xerox
Estratégia Plano, padrão, posição e perspectiva
Posição, perspectiva, plano e padrão
Posição, perspectiva, plano, padrão e truque
Processo básico
Deliberado, formal, analítico, sistemático, coletivo
Deliberado, formal, analítico, sistemático, top down, intuitivo
Deliberado, formal, analítico, sistemático, top down
Mudança Contínua, podendo ser incremental ou revolucionária
Contínua, podendo ser incremental ou revolucionária
Contínua e, normalmente, incremental
Agente(s) Central(is)
Coletividade, com participação ativa da Presidência, das Diretorias e Superintendências e apoio de analistas
Presidência, Diretorias e Gerências, com suporte de analistas
Cúpula da organização: Presidência com apoio de analistas
Organização Fonte de vantagens competitivas, flexível e mutável
Fonte de vantagens competitivas, flexível, eclética e mutável
Ordenada, normativa e flexível
Liderança
Intuitiva, participativa, atenta a procedimentos, análises e ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas
Participativa, atenta a procedimentos, análises e ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas
Participativa, atenta a procedimentos, análises e ao aprendizado (próprio e dos outros), atuando como agente de mudanças periódicas
Ambiente
Fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente analisável
Fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente analisável e cheio de nichos
Fonte de ameaças e oportunidades, com fatores a serem previstos ou controlados, competitivamente exigente, mas economicamente analisável
Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação
196
Quadro 10
Processos de implementação de estratégias em organizações reconhecidas
Empresa Fator
Serasa
Siemens
Xerox
Definição das metas Embutidas na cultura, mas negociadas dentro da alta hierarquia.
Ditadas de cima e associadas à recompensa financeira
Ditadas de cima e associadas à recompensa financeira
Desempate entre estratégias
Uso de fatores econômicos, sociais, políticos e comportamentais
Uso de fatores econômicos, sociais, políticos e comportamentais
Uso de fatores econômicos, sociais, políticos e comportamentais
Esforço da organização na fase de formulação
Alto Baixo Baixo
Esforço da organização na fase de implementação
Baixo Alto Alto
Conhecimento exigido do Presidente para informar sobre oportunidades e riscos
Baixo Alto Alto
Poder exigido do Presidente para impor um plano
Moderado Alto Alto
Fonte – Elaborado pela autora desta dissertação
A apreciação em conjunto dos processos permite identificar que, em organizações de
excelência reconhecida, os fundamentos são os mesmos, embora as práticas não,
necessariamente. Exemplo disso, é o caso do envolvimento de todos os colaboradores da
Serasa no processo de formulação de estratégia, enquanto que, na Siemens e Xerox, o
processo é top down.
O macroprocesso de formulação de estratégias, nessas organizações, pode ser delineado desta
forma:
197
1. Uma visão norteia o processo.
2. Princípios, valores e missão são também elementos orientativos.
3. Ferramentas clássicas são usadas como: Modelo SWOT, Matriz de Crescimento-
Participação e Modelo da Análise da Indústria.
4. A Alta Direção desempenha papel essencial no processo, funcionando como
referencial, atuando de forma participativa e consensual.
5. Os conflitos entre estratégias, bem como o desenvolvimento destas, levam em
consideração fatores econômicos, políticos, sociais e comportamentais.
O macroprocesso de implementação de estratégias, por sua vez, pode ser delineado desta
forma:
1. A comunicação das estratégias envolve um processo formal e de natureza ampla.
2. Os membros da organização são envolvidos no estabelecimento das metas.
3. Recompensas financeiras são vinculadas ao desempenho no alcance das metas
negociadas.
4. O aprendizado marca o processo, não só com relação ao conteúdo, mas
também com relação às práticas.
5. A mudança é uma realidade constante.
(RE)ENCONTRO COM A LITERATURA
E, por isso, ela tomou a decisão de buscar uma atividade relevante – um trabalho pelo qual ela tivesse uma tal paixão que a pergunta: “Excelência para quê?” pareceria quase tautológica. Se você está fazendo uma coisa com a qual você se importa a esse ponto, e acredita profundamente em seu objetivo, então é impossível imaginar não tentar torná-la excelente. É simplesmente uma dádiva.
Jim Collins – Empresas Feitas para Vencer
8 (RE)ENCONTRO COM A LITERATURA
Nesta seção, apreciam-se as considerações efetuadas no final da seção anterior à luz da
literatura específica. A comparação com a literatura é uma importante etapa do método da
Grounded Theory, pois ajuda a construir a confiabilidade.
Segundo Eisenhardt (1989, p. 488-511), a comparação dos resultados com a literatura
existente deve sempre ser feita, pois aumenta a qualidade da teoria, afirmando que:
a) caso a teoria existente seja convergente com a teoria construída1, aumenta o
poder explicativo da teoria e a validade interna, associando contextos diferentes
que aparentemente não tinham relação, aumentando a confiança do leitor nos
resultados;
b) caso a teoria existente seja divergente da teoria construída, pode ser considerada
uma oportunidade para o trabalho, no sentido de conseguir explicar o fenômeno
de outra forma e de auxiliar na delimitação da abrangência da pesquisa e da área
substantiva. Quando esses conflitos não são considerados, podem ser gerados
1 A teoria construída, nesta dissertação, diz respeito aos macroprocessos delineadores da formulação e
implementação das estratégias e apresentados na conclusão da seção anterior.
200
problemas de validade interna, na medida em que os leitores tendem a julgar que
os resultados não estão corretos, considerando-os arbitrários, e gerando
comprometimentos para o poder explicativo da teoria.
Para Strauss e Corbin (1988), a comparação com a literatura pode ser útil seja para confirmar
os resultados, seja para mostrar que a literatura está incorreta ou muito simplificada para
explicar suficientemente o fenômeno na área substantiva. “Resgatar a literatura nos relatórios,
além de demonstrar o nível acadêmico do pesquisador, contribui para validar, refinar e
abranger o escopo da teoria.” (STRAUSS & CORBIN, 1998, p. 52).
Retornando à literatura específica, encontra-se suporte para o macroprocesso delineador da
formulação de estratégias deliberadas - apresentado ao final da seção anterior - na proposta de
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000), na medida em que combinou aspectos das diferentes
escolas, como, por exemplo: o uso de ferramentas clássicas, próprias do processo prescritivo,
com a consideração de elementos da cultura organizacional dando um senso estável de
direção, próprias do processo descritivo. Confirma-se, assim, a perspectiva dos autores de que
as várias escolas de pensamento estratégico podem conviver em diferentes etapas do processo
de formulação de estratégias.
A abordagem de Balanced Scorecard - BSC efetuada por Kaplan & Norton (1997) também dá
suporte para o macroprocesso delineador da formulação de estratégias deliberadas
apresentado e, principalmente, ao de implementação.
O BSC como um sistema de gestão estratégica, segundo Kaplan & Norton (1997, p. 9-11), é
usado para administrar a estratégia a longo prazo e viabilizar os processos gerenciais críticos:
201
• esclarecer e traduzir a visão e a estratégia;
• comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas;
• planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas e
• melhorar o feedback e o aprendizado estratégico.
Esse modelo reconhece a necessidade do envolvimento da Alta Direção, do trabalho em
equipe e de natureza consensual, na medida em que o processo do scorecard se inicia com um
trabalho de equipe da alta administração para traduzir a estratégia de sua unidade de negócios
em objetivos estratégicos específicos, considerando as quatro perspectivas: financeira,
clientes, processos internos e aprendizado e crescimento. O resultado do scorecard é um
modelo consensual da empresa inteira para o qual todos contribuíram. A razão para a
dificuldade de consenso, às vezes, costuma estar relacionada à história funcional e à cultura
da empresa. No primeiro caso, porque os executivos tendem a fazer carreira dentro de uma
mesma área funcional, o que concorre para uma visão limitada da empresa. No segundo caso,
porque determinadas funções tendem a dominar as prioridades, como, por exemplo, aspectos
de tecnologia e custo costumam sobrepor-se aos de marketing em empresas de petróleo. O
BSC, contudo, leva ao consenso e trabalho em equipe entre todos os altos executivos,
independente de suas experiências de trabalho anteriores ou de suas habilidades funcionais.
Os objetivos do scorecard se tornam uma responsabilidade funcional conjunta do grupo
executivo, funcionando como referência para uma série de importantes processos gerenciais
baseados em equipes (KAPLAN & NORTON, 1997, p. 11-13).
Os objetivos e medidas estratégicos do BSC são transmitidos à empresa inteira por meio de
newsletters, quadros de avisos, vídeos e via eletrônica, visando a mostrar a todos os
funcionários os objetivos críticos que devem ser alcançados para que a estratégia da empresa
202
seja bem-sucedida. Do momento em que todos os funcionários compreendem os objetivos e
medidas de alto nível, eles podem estabelecer metas locais que apóiem a estratégia global da
unidade de negócios. Serve ainda para comunicar e obter o compromisso de executivos e
diretores com a estratégia, incentivando o diálogo entre as unidades de negócios e os
executivos e diretores da empresa, não apenas com relação aos objetivos financeiros de curto
prazo, mas também com relação à formulação e a implementação de uma estratégia destinada
a produzir um desempenho excepcional no futuro.
Ao final do processo de comunicação e associação dos objetivos, todos na empresa devem ter
uma clara compreensão das metas de longo prazo da unidade de negócios, bem como da
estratégia adequada para alcançá-las. Os funcionários deverão ter formulado ações locais que
contribuirão para os objetivos da unidade de negócios, ficando alinhados todos os esforços e
iniciativas organizacionais com os processos de mudança necessários (KAPLAN &
NORTON, 1997, p. 13-14).
O maior impacto do BSC ocorre quando ele é usado para induzir a mudança organizacional.
Os altos executivos deverão estabelecer metas para os objetivos do scorecard, considerando
um horizonte de três a cinco anos, que, se alcançados, transformarão a empresa. Essas metas
devem representar uma descontinuidade no desempenho da unidade de negócios. O
benchmarking pode ser usado para incorporar as melhores práticas encontradas no mercado,
permitindo verificar se as metas internas não estão conduzindo a um nível inaceitável de
desempenho estratégico.
O BSC permite também que a empresa integre seu planejamento estratégico ao processo
anual de orçamentação. Ao definirem metas de superação de 3 a 5 anos para as medidas
203
estratégicas, os executivos projetam também marcos de referência para cada medida no
próximo ano fiscal. Esses referenciais de curto prazo servem como indicadores específicos
para avaliar o progresso em curto prazo, dentro da trajetória estratégica de longo prazo da
unidade de negócios.
O processo gerencial de planejamento e estabelecimento de metas permite à empresa
quantificar os resultados pretendidos a longo prazo; identificar mecanismos e fornecer
recursos para que os resultados sejam alcançados; bem como estabelecer referenciais de curto
prazo para as medidas financeiras e não-financeiras do scorecard (KAPLAN & NORTON,
1997, p. 14-15).
O contexto de aprendizado estratégico é considerado o aspecto mais inovador e importante de
todo o scorecard. O BSC cria instrumentos para o aprendizado organizacional em nível
executivo. Permite que monitorem e ajustem a implementação da estratégia e, se necessário,
efetuem mudanças fundamentais na própria estratégia.
Por meio dos referenciais de curto prazo para as medidas financeiras e não-financeiras do
BSC, as revisões e atualizações gerenciais mensais e trimestrais continuarão acompanhando
os resultados financeiros, mas deixando de analisar o passado para aprender sobre o futuro.
Antes, serão discutidos como os resultados passados foram alcançados e se suas tendências
permanecem viáveis.
O aprendizado estratégico tem início com o esclarecimento de uma visão compartilhada que a
empresa como um todo deseja alcançar. O uso de medidas como linguagem ajuda a traduzir
conceitos complexos e muitas vezes obscuros em conceitos mais precisos, capazes de gerar o
204
consenso entre os altos executivos. Por sua vez, o processo de comunicação e alinhamento
mobiliza todos os indivíduos para ações dirigidas à consecução dos objetivos organizacionais,
enquanto que a construção do scorecard, com sua ênfase nas causas e efeitos, induz o
raciocínio sistêmico dinâmico. Profissionais dos diversos setores da organização percebem-se
como partes essenciais de uma grande engrenagem e o processo de planejamento,
estabelecimento de metas e iniciativas estratégicas define metas específicas e quantitativas de
desempenho para a empresa, formando um conjunto equilibrado de resultados e vetores de
desempenho. A comparação entre as metas de desempenho desejadas e os níveis atuais
determina o hiato de desempenho que deverá ser o alvo das novas iniciativas estratégicas.
Assim, o BSC não apenas mede a mudança, como a estimula (KAPLAN & NORTON, 1997,
p. 15-16).
O BSC demonstra como a gestão é indispensável à implementação e, por extensão, à
formulação da estratégia, na medida em que sua filosofia viabiliza processos gerenciais
críticos.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na percepção de Kay (1996), o ajustamento entre as capacidades da organização e os desafios
que ela enfrenta é a questão mais importante para a compreensão do sucesso ou fracasso
empresarial, o que conduz diretamente às estratégias. Reconhece, contudo, ao mesmo tempo,
que não há receitas, tampouco estratégias genéricas para o sucesso empresarial, visto que se
estas existissem, com a sua adoção generalizada, acabaria por ser eliminada qualquer
vantagem competitiva que pudesse vir a ser obtida. Destaca, então, que, para cada empresa
bem-sucedida, as bases para o sucesso empresarial são únicas.
O estudo - desenvolvido em três organizações de excelência reconhecida no Brasil -
confirmaram a importância da gestão da estratégia para o desempenho e sucesso
organizacional. Duas dessas organizações – Siemens e Xerox - recentemente vivenciaram
crises, as quais foram atribuídas a erros no planejamento estratégico. Em todas as duas, a crise
esteve relacionada à variável ambiente. Na Siemens, houve erro na previsão da demanda da
telefonia fixa, potencializada pela crise econômica do Brasil. Na Xerox, o ambiente foi
ignorado e, quando perceberam que a mudança era irreversível, as estruturas internas não
conseguiram reagir com a rapidez necessária.
207
As organizações estudadas revelaram o uso dos mesmos fundamentos, apesar de diferirem em
práticas. A semelhança entre Siemens e Xerox certamente guarda correlação entre a natureza
das empresas: ambas são multinacionais. A cultura brasileira se manifesta no processo de
formulação de estratégias, na medida em que é coletivo.
Em todas elas, o uso de ferramentas clássicas para formulação das estratégias deliberadas faz-
se presente, especialmente o Modelo SWOT e o Modelo da Análise da Indústria. Os
princípios, valores e missão são elementos orientativos do processo e servem de base para o
estabelecimento de fatores de desempate entre estratégias, que não são apenas econômicos ou
políticos, mas sociais e comportamentais.
A existência de uma visão norteadora é ponto de partida no processo de formulação de
estratégias deliberadas nessas empresas, desempenhando a liderança um papel essencial,
especialmente a Alta Direção, com a demonstração do seu compromisso e envolvimento com
os objetivos estratégicos e o estímulo à participação e ao melhor desempenho dos seus
subordinados.
A implementação é feita a partir da comunicação, sempre por reuniões das chefias com seus
subordinados diretos, podendo ocorrer reuniões mais amplas com o envolvimento de todos ou
de alguns níveis hierárquicos.
Em todas as organizações estudadas, os objetivos estratégicos são desdobrados em metas,
devidamente alinhadas com as estratégias e negociadas. Uma remuneração variável é
estabelecida em função do desempenho no alcance das mesmas.
208
Em que pese a estratégia ser um conceito enraizado em estabilidade, a orientação para a
mudança, hoje é uma realidade na formulação das estratégias deliberadas em todas elas, em
função do contexto e das experiências vividas – especialmente no caso da Xerox e da
Siemens.
O BSC, na essência da sua proposta, foi encontrado somente em uma delas – na Siemens -,
entretanto, sua filosofia pode ser encontrada nas demais, com especial destaque para o
aprendizado estratégico, que acontece não só com relação ao conteúdo, mas também com
relação às práticas.
As conclusões, que ora se apresentam, esperam contribuir para os estudos acadêmicos do
tema, funcionando como ponto de partida para outros estudos, como, por exemplo, a
verificação de até que ponto os processos de formulação e implementação de estratégias,
nessas organizações, contribuem para o surgimento de estratégias emergentes, na medida em
que estão gerenciando pessoas e estruturas na esperança de que elas produzam estratégias
desejáveis.
A natureza dos objetos de análise também deve continuar sob foco de interesse da academia.
É necessário continuar discutindo os fatores não só dos processos de formulação e
implementação das estratégias deliberadas como de outros aspectos da gestão em
organizações de desempenho reconhecido. É necessário entender as diferenças fundamentais
entre as organizações boas e as excelentes para contribuir para que as organizações boas se
tornem organizações excelentes.
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APÊNDICE
Visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Visão com ação pode mudar o mundo.
Joel Arthur Barker
217APÊNDICE – As dez linhas de pensamento sobre estratégia
Autores Selznick, 1957;Andrews, 1965;Christensen;Bower;BostonConsulting Group(BCG); Henderson
Ansoff, 1965;Steiner;Goold;Campbell
Purdue;Schendel; Cooper;Hatten, meadosde 1970; Porter, 1980e 1985
Schumpeter, 1954;Cole, 1959;Kent, Vérin,outros economistas
Simon, 1945; March eSimon, 1958;Nonaka e Takeuchi;Schoemaker;Toffler
Lindblom, 1959;Cyert e March, 1963;Weick, 1969; Quinn, 1980; Prahalad e Hamel, 1990;Burgelman
Allison (micro), 1971;Pfeffer eSalancik, 1978;Astley (macro)1984; Moss Kanter
Rhenman e Normann,fim dos anos 60 naSuécia;Johnson; Barney;Peters eWaterman
Disciplinasde base
Nenhuma(arquitetura comometáfora)
Engenharia, Urbanismo,Teoria dos Sistemas eCibernética
Economia (organizaçãoindustrial), históriamilitar
Nenhuma (apesar de osprimeiros autores seremeconomistas)
Psicologia(cognitiva)
Teoria do Caos emMatemática e, talvez, Teoria do Aprendizado em Psicologiae Educação
Ciência Política Antropologia
Defensores Professores de estudo de casos (principalmente de Harvard), estudiososde liderança, sobretudo nos EUA
Os gerentes profissionais, os financistas, osconsultores nos EUA eos tecnocratas na França
Em especial assessoresanalíticos, escritórios deconsultoria e autores militares, principalmente nos EUA
A imprensa especializada em economia, os individualistas,as PME, sobretudo na AméricaLatina e na “diáspora” chinesa
Apóstolos de sistemasde informação, puristasfilosóficos, pessoas com inclinação para aPsicologia, com os pessimistas de um ladoe os otimistas de outro
Pessoas que fizeramexperiências adaptáveis,sobretudo no Japão eEscandinávia
As pessoas que gostam de poder,política e conspiração;especialmente na França
As pessoas inclinadas para osocial, o espiritual, o coletivo, principalmente noJapão e naEscandinávia
Mensagemteórica
Adequar Formalizar Analisar Antever Enquadrar Aprender Agarrar Aglutinar
Mensagemefetiva
Pensar (formaçãode estratégia como estudo de caso)
Programar (ao invésde formular)
Calcular (ao invés de criarou se comprometer)
Centralizar (e depois esperar) Preocupar-se ou imaginar
Jogar (em vez de seguir) Juntar (em vez decompartilhar)
Perpetuar (em vezde mudar)
Preceito Olhar antes deatravessar
É melhor prevenirdo que remediar
Fatos, nada maisque fatos
Quero ver o chefe É preciso verpara crer
Se o sucesso não vierna primeira vez, tente outra vez
Encontre o número um
Mostre-me suaestratégia e direiquem você é
Palavras-chave Congruência/correspondência,competência distintiva, vantagem competitiva,SWOT, formulação/implementação
Programa, orçamento, esquema, cenário
Estratégia genérica,grupo estratégico,análise competitiva,curva de experiência,portfólio
Golpe de audácia,visão, perspicácia,critério
Staff, ambiente,conceito, percepção,interpretação, capacidade de raciocínio limitada,estilo cognitivo,mapa, quadro, esquema
Por incrementos, estratégia emergente, criação de sentido,espírito empreendedor,competência essencial
Barganha, conflito,coalizão, jogopolítico, estratégiacoletiva, rede, aliança
Valores, crenças, mitos, cultura, ideologia,simbolismo
Estratégia Perspectiva planejada, única
Planos decompostosem subestratégias eprogramas
Posições genéricasplanejadas(econômicas ecompetitivas),estratagemas
Perspectiva (visão) pessoale única como nicho
Perspectiva intelectual(conceito individual)
Por esquemas, padrões,única
Posições e esquemas políticose cooperativos, assim como maquinações,abertas e ocultas
Perspectiva coletiva, única
Processobásico
Cerebral, simples einformal, arbitrário,deliberado (prescritivo)
Formal, decomposto,deliberado (prescritivo)
Analítico, sistemático,deliberado (prescritivo)
Visionário, intuitivo,deliberado (descritivo)
Mental, emergente(conteúdo descritivo)
Emergente, informal,desordenado (descritivo)
Conflitante, agressivo, confuso, emergente (micro), deliberado (macro)(descritivo)
Ideológico, forçado,coletivo, deliberado(descritivo)
Mudança Ocasional, quântica Periódica, por incrementos
Fragmentada (aos poucos),freqüente
Ocasional, oportunista,revolucionária
Pouco freqüente(rejeitada ou construídamentalmente)
Contínua (incremental)ou fragmentada, até com aspectos quânticos
Freqüente,fragmentada
Rara (resistênciaideológica)
FUN
DA
MEN
TOS
TEÓ
RIC
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CO
NTE
ÚD
O, P
RO
CES
SO
Hannan e Freeman,1977; os teóricosda contingência(Pugh etc.),fim dos anos 60
Chandler, 1962;grupo McGill (Mintzberg,Miller etc.), fim dos anos70; Miles e Snow, 1978
Biologia, Sociologia Política
História
Os ecologistaspopulacionais, os teóricos da organização, os positivistas, principalmente, nos paísesanglo-saxônicos
Os integradores eagentes de mudança na Holanda e na Alemanha e os datransformação nos EUA
Lutar Integrar, transformar
Revolucionar (em vez de se adaptar),agregar
Capitular (em vezde enfrentar)
Há um tempo certopara cada coisa
Tudo é relativo
Configuração, arquétipo,etapa, ciclo de vida,transformação, revolução,reformulação,revitalização
Adaptação, evolução, contingência, seleção, complexidade, nicho
Uma das anteriores,dependendo docontexto
Posições específicas(nichos), genéricas
Interativo, episódico,seqüenciado,(descritivo paraconfigurações,deliberado e prescritivopara transformações)
Passivo, imposto,emergente(descritivo)
Ocasional e revolucionária(outras vezes porincrementos)
Rara e quântica (emecologia popular), fragmentada (na teoriada contingência)
Um dos anteriores,dependendo docontexto (emtransformação,especialmente oprincipal executivo)
AmbienteAgente(s)central(is)
Executivo principal(como “arquiteto”)
Planejadores Analistas Líder (chefe) Mente (espírito) Aprendizes (quem puder) Qualquer um quetenha poder(micro);a organizaçãointeira (macro)
Coletividade
MutávelQue consente,simples
Organização Ordenada, dá seuconsentimento para“implementação”, fonte de forças e fraquezas
Estruturada, decomposta, dá consentimento paraa programação
Fonte de vantagenscompetitivas ouacessórias
Maleável, simples Acessória Eclética, flexível Conflitante, desalinhada,incontrolável (micro); agressiva, controladora oucooperativa (macro)
Normativa, coerente
Agente de mudançasperiódicas
Sem poderLiderança Dominadora,arbitrária
Atenta para osprocedimentos
Atenta para análises Dominadora, intuitiva Fonte de cognição,passiva ou criativa
Atenta ao aprendizado(próprio e dos outros)
Fraca (micro);indeterminada(macro)
Simbólica
Um dos anterioresExigenteAmbiente Prático (fonte deameaças ouoportunidades)
Que consente (lista deverificação de fatoresa serem previstos oucontrolados)
Competitivamente exigente,mas economicamente analisável, que consente sefor bem compreendido
Manobrável, cheio de nichos Esmagador ou construído
Elaborado, imprevisível Contencioso (micro);conciliador (macro)
Acessório
Uma das anterioresConveniente, competitiva,delineada
Situação(ambienteao redor)
Pode ser definidae é estável
Simples e estável(portanto, previsível), idealmente controlável
Simples, estável, madura(estruturada e quantificável)
Dinâmica, mas simples(portanto, compreensívelpelo líder)
Incompreensível Complexa, dinâmica(portanto, imprevisível),nova
Divisora, perigosa(micro); controlávelou cooperativa (macro)
Idealmente passiva,mas pode tornar-seexigente
Principalmente umaadhocracia e missionária em casode transformação
Máquina (obediente)Forma(s) deorganização(implicitamentepreferida(s))
Máquina (centralizada,algo formalizada)
Grande máquina(centralizada,formalizada;também divisionalizada)
Grande máquina, depreferência em produçãoem massa oucentralizada, formalizada;constituída por divisões e globalizada
Empreendedora(simples, centralizada)
Todas são possíveis Autocrática, profissional(descentralizada)
Todas, principalmenteadhocracia eprofissional (micro);máquina fechada ou adhocracia em rede (macro)
Missionária,também máquinaestagnada
Interesse principalpela transformação
Maturidade, morteEstágio(mais provável)
Nova concepção Programaçãoestratégica
Avaliação Início das operações,reformulação,tamanho pequeno
Concepção original,(re)concepção,inércia
Evolutivo, sobretudona ausência deprecedentes
Desafio político,bloqueio, fluxo(micro); obstrução,cooperação(macro)
Reforço, inércia
CO
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(2) Escorpião Caxinguelê Tamanduá-Bandeira Lobo-guará Coruja cabocla Macaco-prego Onça-pintada Pavão-do-mato Japu CamaleãoAnimal-símbolo Aranha Esquilo Búfalo Lobo Coruja Macaco Leão Pavão Avestruz Camaleão(1)
1. Design 2. Planejamento 3. Posicionamento 4. Empreendedora 5. Cognitiva 6. Aprendizado 7. Poder 8. Cultural 9. Ambiental 10. ConfiguraçãoEscolas
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