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Acolher é receber bem, ouvir a demanda, buscar formas de
compreendê-la e solidarizar-se com ela. Desenvolver maneiras adequadas e solidárias de receber a clientela que busca ajuda nos serviços de saúde,
respeitando o momento existencial de cada um, sem abrir mão de colocar os
limites necessários.
Acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), que NÃO TEM LOCAL NEM HORA CERTA
PARA ACONTECER, NEM UM PROFISSIONAL ESPECÍFICO PARA
FAZÊ-LO: faz parte de todos os encontros do serviço de saúde, desde a entrada na Unidade, até sua saída, passando pelos vários profissionais.
O acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu
protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização
pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes.
Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que
procuram os serviços de saúde.
RECONHECIMENTO DO PROTAGONISMO DO USUÁRIO:
- Reconhecer a importância da pessoa na determinação de sua própria condição de saúde/doença (subjetividade);
- Reconhecer a importância da perspectiva do usuário sobre a qualidade do serviço de saúde;
- O papel do usuário como protagonista do sistema de saúde tem papel fundamental na melhoria das relações dele com o serviço;
- É importante conhecer COMO os usuários avaliam o atendimento a eles prestado, para repensar as práticas profissionais ou intervir sobre a forma de organização dos serviços, buscando seu aperfeiçoamento.
ACOLHIMENTO =confiança + solidariedade
- entre as pessoas- entre os profissionais da
equipe- entre a equipe e a população
Acesso e acolhimento são elementos essenciais do atendimento, para que se possa incidir efetivamente sobre o
estado de saúde do indivíduo e da coletividade. A questão do acolher
busca garantir o acesso aos usuários com o objetivo de ESCUTAR TODA A CLIENTELA, resolvendo os problemas mais simples ou referenciando-os, se
necessário.
ACESSO: O acesso à saúde está ligado às condições de vida,
nutrição, habitação, poder aquisitivo e educação, englobando a acessibilidade aos serviços, que extrapola a dimensão geográfica, abrangendo
também o aspecto econômico, relativo aos gastos diretos ou indiretos do usuário com o serviço, o aspecto cultural envolvendo normas e técnicas
adequadas aos hábitos da população e o aspecto funcional pela oferta de serviços adequados às
necessidades da população.* Geográfico, econômico e funcional.
ACESSIBILIDADE:- Capacidade de obtenção de cuidados de saúde, quando necessário, de modo fácil e conveniente. - Parâmetro ideal de deslocamento ao serviço de saúde: caminhada de no máximo vinte a trinta minutos.- Levar em conta ainda aspectos como custo do transporte coletivo, tempo de espera por este e tempo de deslocamento.
A acolhida consiste na abertura dos serviços para a demanda e responsabilização por TODOS os problemas de saúde de uma
região.
Devemos ficar atentos ao modelo de pronto
atendimento que estamos utilizando!!!!
Baseado na queixa-conduta, e não na atenção integral ao indivíduo,
muito menos nas ações em defesa da vida coletiva.
O exemplo de Betim – MG:Detecção do Problema:
1 – A maioria das pessoas que necessitavam de atendimento em saúde estavam excluídas dos serviços, daí a grande desconfiança e, até
mesmo, opinião negativa que os usuários têm dos serviços de saúde.2 – As pessoas que procuravam a Unidade de Saúde faziam-no, majoritariamente, em busca da consulta médica, estrangulando
completamente este serviço. Por outro lado, um grande número dessas pessoas não necessitava da consulta, mesmo que essa fosse sua
demanda individual.3 – O trabalho na Unidade de Saúde era centrado na pessoa e no saber
do médico, ficando os outros profissionais subestimados no processos de trabalho, tendo o seu potencial para a assistência enormemente oprimido,
reduzindo a oferta de serviços.4 – A relação trabalhador-usuário sofria de crônica degeneração, causada
pela alienação dos trabalhadores de seu processo de trabalho, ou seja, este se realizava compartimentado, com os procedimentos sem a
necessária integração multidisciplinar. O objeto de trabalho ‘problema saúde’ recebia, dessa forma, um tratamento sumário e burocrático, numa
relação impessoal com o usuário.
Betim viu que precisava mudar o modelo de assistência, e decidiu
implantar o ACOLHIMENTO, pois ele propõe, principalmente, reorganizar o
serviço, no sentido da garantia do acesso universal, resolubilidade e
atendimento humanizado, oferecendo sempre uma resposta positiva ao
problema de saúde apresentado pelo usuário.
EM QUE CONSISTE O ACOLHIMENTO ENQUANTO DIRETRIZ OPERACIONAL:
Parte dos seguintes princípios:1) Atender a todas as pessoas que procuram os serviços de
saúde, garantindo a acessibilidade universal. Assim, o serviço de saúde assume sua função principal, a de acolher,
escutar e dar uma resposta positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população.
2) Reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe
multiprofissional – equipe de acolhimento -, que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a
resolver seu problema de saúde.3) Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se
por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania.
Em Betim: criação da equipe de acolhimento: enfermeira, assistente social, técnicas e auxiliares de enfermagem = escuta e solução dos problemas de
saúde, sem necessariamente passar pelo médico. Como?
- Criação de protocolos que orientam o enfermeiro na prescrição de exames e medicamentos, aumentando a resolutibilidade deste profissional
na assistência.- Os técnicos em enfermagem deixam de realizar somente as atividades
próprias da função (curativo, injeção, vacina, distribuição de medicamentos) para realizar a escuta do problema de saúde do usuário e
interagir com os demais profissionais da equipe.- A assistente social participa do acolhimento e coordena os grupos
programáticos. Os programas, considerados fundamentais para garantir a integralidade da assistência, são fatores importantes na garantia do
sucesso do acolhimento, pois resolvem grande parte da demanda, com ações dirigidas à grupos prioritários de atenção à saúde.
Em Betim: resultados da aplicação do acolhimento:1)Acessibilidade: aumento de mais de 300% na
média de atendimentos por mês (de 1300 para 4400)
2)Rendimento Profissional: aumento extraordinário do rendimento da enfermeira e da assistente social.
3)Resolubilidade da equipe e acolhimento: (solução encontrada para as queixas, sem outro tipo de
encaminhamento) de 10 para 60%.
Fatores que colaboraram para a resolutibilidade da equipe de acolhimento:
1) Discussões permanentes entre a equipe multiprofissional, para avaliar e reprocessar o acolhimento.
2) Capacitação da equipe, adquirida com a própria experiência no atendimento, que proporciona segurança para decidir e para efetivamente ‘fazer’ com base em um ‘saber’ adquirido na vivência da assistência ao usuário.
3) Utilização de protocolos elaborados pela equipe técnica, indicando a conduta a ser adotada diante dos problemas
de saúde que mais se apresentam no acolhimento.4) Interação da equipe, garantindo a retaguarda.
5) Funcionamento dos grupos programáticos.
Algumas considerações:
- Serviços que convivem com filas ‘madrugadoras’, que disputam sem critério algum, exceto a hora de chegada, algumas vagas na manhã. Estes serviços atendem
principalmente os ‘mais fortes’ e não os que mais necessitam de assistência.
- Quando se privilegia a produção de procedimentos e atividades sem se observar os
resultados e efeitos para os sujeitos que são alvos destes procedimentos, normalmente têm-
se serviços incongruentes com a demanda, acreditando-se que o objeto de seu trabalho é
esta ou aquela doença ou procedimento, atribuindo menor importância à existência do sujeito em sua complexidade e sofrimento.
- Estes serviços atendem pessoas com sérios problemas de saúde sem acolhê-las
durante um momento de agravação do problema, rompendo o vínculo que é
alicerce do processo.- Convivem com casos graves em filas de espera porque não conseguem distinguir
riscos.
Essas práticas não somente comprometem a eficácia como causam
sofrimento desnecessário a trabalhadores e usuários do SUS.
Acolher com a intenção de resolver os problemas pressupõe que todas as pessoas
que procuram a unidade, por demanda espontânea, deverão ser acolhidas por
profissional da equipe técnica. O profissional deve escutar a queixa, os
medos e as expectativas, identificar os riscos e a vulnerabilidade, acolhendo também a
avaliação do próprio usuário, e se responsabilizar para dar uma resposta a esse
problema.
Avaliar os riscos e a vulnerabilidade implica estar atento tanto ao grau de
sofrimento físico quanto psíquico, pois muitas vezes o usuário que chega andando, sem sinais visíveis de
problemas físicos, mas muito angustiado, pode estar mais necessitado
de atendimento e com maior grau de risco e vulnerabilidade do que outros
pacientes aparentemente mais necessitados. ****
Quais os objetivos do acolhimento:- Melhorar o acesso do usuário ao serviço de
saúde, alterando-se a forma de entrada tradicional por filas e ordem de chegada;
- humanizar as relações entre profissionais de saúde e usuários, no que se refere à forma
de escutar os usuários em seus problemas e demandas;
- mudar o objeto (da doença para o sujeito);- partir para uma abordagem integral, com
parâmetros humanitários e de cidadania;
- Aperfeiçoar o trabalho em equipe, com a integração e complementaridade das
atividades exercidas por cada categoria profissional, orientando o atendimento pelos riscos apresentados, pela complexidade do problema, pelo acúmulo de conhecimentos,
saberes e tecnologias exigidas para a solução;
- Aumentar a responsabilização dos profissionais em relação aos usuários e a elevação dos graus de vínculo e confiança
entre eles;
“É importante salientar que o conceito de acolhimento se concretiza no cotidiano das
práticas de saúde por meio da escuta qualificada e da capacidade de pactuação
entre a demanda do usuário e a possibilidade de resposta do serviço.”* Como está a nossa capacidade de
resposta? Existem exames e consultas especializadas compatíveis com a
demanda?
“A sistemática do acolhimento pressupõe a determinação de agilidade no atendimento a partir da análise, sob a ótica de protocolos acordados de
forma participativa nos serviços de saúde, e a avaliação da necessidade do usuário em função
de seu risco e sua vulnerabilidade, proporcionando a priorização da atenção e não o atendimento por
ordem de chegada. Dessa maneira, exerce-se uma análise (avaliação) e uma ordenação da
necessidade, distanciando-se do conceito tradicional de triagem e suas práticas de exclusão,
já que todos serão atendidos.”
Implantando a sistemática de acolhimento na Atenção Básica:
- Compatibilizar o atendimento entre a demanda programada e a não-programada e desenvolver atividades de acolhimento na comunidade: rodas de conversa de quarteirão, terapia comunitária, grupos de convivência (artesanato, caminhada),
entre outros.- Adequar o ambiente das unidades, para garantir
confortabilidade, condição adequada e de biossegurança no trabalho, espaços para
encontros e trocas.
- Desenvolver a implantação do acolhimento com a participação dos trabalhadores da unidade e
dos usuários, com múltiplos espaços de discussão e pactuação dessa inovação no processo de trabalho, mediante reuniões
internas da equipe, reuniões com usuários nas salas de espera, informação à comunidade e,
principalmente, com o estabelecimento de rotinas de encontros, para avaliar e adequar a
implementação, considerando-se a carga horária e a escala da equipe.
Algumas Maneiras de Fazer:- Montagem de grupos multiprofissionais para mapeamento do fluxo do usuário na unidade;- Levantamento e análise, pelos próprios
profissionais de saúde, dos modos de organização do serviço e dos principais problemas enfrentados;- Construção de rodas de conversa objetivando a
coletivização da análise e a produção de estratégias conjuntas para enfrentamento dos
problemas...
Na situação concreta do serviço, algumas questões a considerar:
1. Como se dá o acesso do usuário, em suas necessidades de saúde, ao atendimento em seu serviço? Alguns pontos para se observar utilizando todos os sentidos (audição, visão, tato... e também a intuição):
- Ao chegar à unidade, a quem ou para onde o usuário se dirige? Quem o recebe? De que modo?
- Qual o caminho que o usuário faz até ser atendido?- O que se configura como necessidade de atendimento no
serviço? Quem a define?- O que não é atendido e por quê?- Como você percebe a escuta à demanda do usuário?- Do que e como a rede social do usuário é informada?
Que profissionais participam desse processo?
2. Que tipos de agravos à saúde são imediatamente atendidos?- Em quanto tempo?- O que os define como prioritários?- Há em seu serviço uma ordenação do atendimento? Qual?3. Como é feito o encaminhamento dos casos não atendidos na unidade?- Que procedimentos são utilizados?- Quem responde por eles?- Há articulação com a rede de serviços de saúde (sistemas de
referência e contra-referência)?- O usuário e a rede social participam desse processo?4. Como você percebe a relação entre o trabalhador de saúde e o usuário? - Como são compostas as equipes de atendimento em sua
unidade?- Por grupo-classe profissional?- Há trabalho de equipe multiprofissional? Em que setores?- Há reuniões ordinárias? Qual a periodicidade? Qual é a
composição?- Quais as maiores dificuldades encontradas no funcionamento por
equipe multiprofissional?
5. Como são tomadas as decisões em sua unidade?- Pelas chefias?- Pelo gestor geral da unidade?- Por colegiados?- Como são definidas as prioridades e as necessidades de
mudança no processo de trabalho? Quem participa disso? De que modos são encaminhadas?
- Como se lida com os conflitos e as divergências no cotidiano do serviço?
6. Como é o ambiente e como ele interfere nas práticas de acolhimento? - Como são a confortabilidade e a privacidade?- Como são a informação e a sinalização?- Como são as condições e as relações de trabalho?
Acolhimento com classificação de risco
A classificação de risco é um dispositivo da PNH, uma ferramenta de organização da "fila de espera"
no serviço de saúde, para que aqueles usuários que precisam mais sejam atendidos com prioridade,
e não por ordem de chegada.
E quem precisa mais?Os usuários que têm sinais de maior gravidade, aqueles que têm maior risco de agravamento do
seu quadro clínico, maior sofrimento, maior vulnerabilidade e que estão mais frágeis.
E como saber quem precisa mais?A classificação de risco é feita por enfermeiros, de
acordo com critérios pré-estabelecidos em conjunto com os médicos e os demais profissionais.
A classificação de risco não tem como objetivo definir quem vai ser atendido ou não, mas define
somente a ordem do atendimento. Todos são atendidos, mas há atenção ao grau de sofrimento
físico e psíquico dos usuários e agilidade no atendimento a partir dessa análise.
Como faço para que o acolhimento aconteça no serviço de saúde?
É preciso que a equipe de saúde se reúna para discutir como está sendo feito o atendimento no serviço: qual o "caminho" do usuário desde que
chega ao serviço de saúde, por onde entra, quem o recebe, como o recebe, quem o orienta, quem o
atende, para onde ele vai depois do atendimento, enfim, todas as etapas que percorre e como é
atendido em cada uma dessas etapas.
Essa discussão com toda a equipe vai mostrar o que pode ser mudado para que o usuário seja melhor acolhido. Assim, a partir dessa reunião pode haver
mudanças na entrada, na sala de espera, por exemplo, para que haja um profissional de saúde
que acolha o usuário antes da recepção, forneça as primeiras orientações e o encaminhe para o local
adequado.
A recepção também pode mudar, utilizando-se a classificação de risco e também um pós-consulta, ou seja, uma orientação ao usuário depois da consulta, a partir do encaminhamento que tiver sido feito na consulta. É importante ainda ampliar a qualificação técnica dos profissionais e das equipes de saúde
para proporcionar essa escuta qualificada dos usuários, com interação humanizada, cidadã e
solidária da equipe, usuários, família e comunidade.
As possibilidades de acolhimento são muitas e o
importante é que as melhorias
sejam feitas com aparticipação de toda a
equipeque trabalha no serviço.
O papel do usuário como protagonista do Sistema de
Saúde tem impacto direto na melhoria da relação entre ele e
o serviço.
Com base em descrição de usuários:
- boa recepção é ser bem tratado pela equipe, ser reconhecido por ela.
- respeito ao usuário se traduz por limpeza e organização da área, pontualidade do atendimento, informações
prestadas, rotinas que contemplam as necessidades dos usuários.
- relação humanizada depende do respeito, da consideração e da atenção dispensada ao usuário.
- o desempenho profissional é medido pelo interesse demonstrado durante o exame físico, pelas perguntas
feitas e orientações dadas, pela resolutividade das condutas adotadas.
Sugestões:- Transformar o atendimento médico na Unidade em programático (agendamento), delegando as
consultas de livre demanda ao hospital.- Criar protocolos de acolhimento proporcionando
resolutividade ao atendimento do enfermeiro.- Instalar a televisão grande na sala de espera.- Garantir mais verba para exames e consultas
especializadas, atendendo a demanda reprimida.- Criar o espaço para espera do lado de fora da
Unidade.- Facilitar o acesso aos demais profissionais, sem
encaminhamento médico, mas da equipe de acolhimento.
Fontes Consultadas:- Ayres, R. C. V.; Pereira, S. A. O. E.; Ávila, S. M. N.; Valentin, W. Acolhimento no PSF: humanização e solidariedade. O Mundo da
Saúde São Paulo, 2006: abr/jun.- Franco, T. B.; Bueno, W. S.; Mehry, E. E.; O Acolhimento e os
Processos de Trabalho em Saúde: o Caso de Betim, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro. Abr/Jun, 1999.
- Ramos, D. D.; Lima, M. A. D. S. Acesso a Acolhimento aos Usuários numa Unidade de Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, Jan/Fev, 2003.- Ministério da Saúde. Acolhimento nas Práticas de Produção de
Saúde. Brasília, 2006.