acta reumatológica portuguesa · auli toivanen (finlândia) dafna gladman (canada) david isenberg...

72
Publicação Trimestral • ISSN: 0303-464X • 7,5 Acta Reumatológica Portuguesa Vol 31 • Nº2 Abril/Junho 2006

Upload: truongnhu

Post on 28-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

Publicação Trimestral • ISS

N: 0303-464X

• 7,5 €

Acta

Reumatológica

Portuguesa

Vol 31 • Nº2Abril/Junho 2006

Page 2: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

Acta Reumatológica

Portuguesa

C O N S E L H O E D I T O R I A L

Editor Chefe (Chief Editor)João Eurico Cabral da Fonseca

Editores Associados (Associated Editors)Carlos Ramalheira José Carlos RomeuHelena Canhão Maria José SantosHenrique Barros Paulo NicolaJoaquim Ferreira Teresa CarvalhoJosé António Pereira da Silva

S E C R E T Á R I A E D I T O R I A L

Isabel Labisa

Alfonse Masi (E.U.A.)António Lopes Vaz (Portugal)Auli Toivanen (Finlândia)Dafna Gladman (Canada)David Isenberg (Reino Unido)Eliseo Pascual (Espanha)Graciela Alarcon (E.U.A.)Johannes Bijlsma (Holanda)Jaime C. Branco (Portugal)Francisco Airton da Rocha (Brasil)Gabriel Herrero-Beaumont (Espanha)Gerd Burmester (Alemanha)Hasan Yazici (Turquia)Ian Chikanza (Reino Unido)JCW Edwards (Reino Unido)J. Dequeker (Bélgica)Joachim Kalden (Alemanha)

Joseph Smolen (Áustria)Juan Gomez-Reino (Espanha)Marcos Bosi Ferraz (Brasil)Maria Odete Hilário (Brasil)Mário Viana de Queiroz (Portugal)Maurízio Cutolo (Itália)Maxime Dougados (França)Michele Petri (E.U.A.)Michele Revel (França)Rainer H. Straub (Alemanha)Ralph Schumacher (E.U.A.)Rashid Luqmani (Reino Unido)Patricia Woo (Reino Unido)Piet van Riel (Holanda)Thore Kvien (Noruega)Yrjö Konttinen (Finlândia)

Administração e EdiçãoMedfarma - Edições Médicas, LdaAlameda António Sérgio 22, 4º BEdif. Amadeo de Souza-Cardoso1495-132 Algés

RedacçãoSociedade Portuguesa de ReumatologiaRua D. Estefânia 177, 1º D1000-154 Lisboa

RegistoIsenta de inscrição no I.C.S. nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 12.0 do Decreto Regulamentar n.o 8/99, de 9 de Junho.

Depósito Legal: 86.955/95

Tiragem: 7.500 exemplares

Preço: 7,50 e

Direcção Comercial e Serviços de PublicidadeMedfarma - Edições Médicas, LdaTel: 214 121 142 – Fax: 214 121 146

Impressão e AcabamentoÓptima Tipográfica, Lda.Casais da Serra • 266-305 Milharado

Produção GráficaRita Correia

PeriodicidadePublicação Trimestral

Proibida a reprodução, mesmo parcial, de artigos e ilustrações, sem prévia autorização da Acta Reumatológica Portuguesa. Exceptua-se a citação ou transcrição de

pequenos excertos desde que se faça menção da fonte.

C O N S E L H O E D I T O R I A L I N T E R N A C I O N A L

Esta edição contém um SUPLEMENTO que não pode ser distribuído separadamente.

Page 3: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

Presidente Dr. Domingos Araújo Tesoureiro Dr.a Maria José SantosVice-Presidente Dr. José Carlos Romeu Vogal Região Sul Dr. Fernando PimentelVice-Presidente Dr.a Helena Canhão Centro Dr.a Anabela BarcelosSec. Geral Dr.a Manuela Costa Norte Dr.a Iva BritoSec.Adjunto Prof. Dr. João Eurico Fonseca Ilhas Dr. Luís Maurício

D I R E C Ç Ã O

Presidente Prof. Dr. Jaime BrancoSecretário Dr. Jorge SilvaVogal Prof. Dr. Carlos Vaz

M E S A D A A S S E M B L E I A G E R A L

Presidente Dr.a Eugénia SimõesRelator Dr.a Carmo AfonsoVogal Dr.a Paula Valente

C O N S E L H O F I S C A L

Dr. Augusto Faustino

P R E S I D E N T E E L E I T O

ANATOMIA PATOLÓGICA Prof.ª Odete Almeida

BIOQUÍMICA Prof. J. Martins Silva

CARDIOLOGIA Prof. J. Martins Correia

DERMATOLOGIA Prof. Guerra Rodrigo

ENDOCRINOLOGIA Prof.A. Galvão Teles

FISIOPATOLOGIA Prof.António Bentes

GASTRENTEROLOGIA Prof. Guilherme Peixe

GINECOL/OBSTETRÍCIA Prof. Martinez Oliveira

HEMATOLOGIA Prof.António Parreira

IMUNOLOGIA Prof.António Coutinho

INFECCIOLOGIA Prof.ª Emília Valadas

MEDICINA FAMILIAR Prof. Luís Rebelo

REABILITAÇÃO Prof. J. Páscoa Pinheiro

MEDICINA INTERNA Dr. Álvaro Carvalho

MEDICINA TRABALHO Prof.António Sousa Uva

NEFROLOGIA Prof. José Barbas

NEUROCIRURGIA Prof.António Trindade

NEUROLOGIA Prof.ª Teresa Paiva

OFTALMOLOGIA Prof. Castanheira Diniz

ORTOPEDIA Prof. J. Salis Amaral

PATOLOGIA CLÍNICA Prof. J. Germano Sousa

PEDIATRIA Drª Maria José Vieira

PNEUMOLOGIA Prof. Carlos Robalo Cordeiro

PSIQUIATRIA Prof. Manuel Quartilho

RADIOLOGIA Dr.Tiago Saldanha

REUMATOLOGIA Prof. M.Viana de Queiroz

C O N S E L H O C I E N T Í F I C O

Page 4: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA

109

Acta Reumatológica Portuguesa

Vol 31 • Nº2 Abril/Junho 2006

S U M Á R I O / C O N T E N T S

E D I T O R I A L

A burocracia contra a ciência 113Burocracy against scienceJaime Cunha Branco

A R T I G O S D E R E V I S Ã O / R E V I E W S

O tratamento da síndrome de Behçet 125The managemnt of Behçet’s syndromeEmire Seyahi, Izzet Fresko, Melike Melikoglu, Hasan YaziciOs autores revêem o estado da arte do tratamento da síndrome de Behçet, incluindo recomendaçõespráticas provenientes de um centro de referência internacional nesta patologia.

O conceito de discólise nas discopatias degenerativas 133The concept of discolysis in intervertebral disk diseaseMichel RevelO processo de discólise induz um estreitamento do disco intervertebral em poucos meses e um sinal, naRMN, de edema dos pratos vertebrais, em redor da discopatia, associando-se a um quadro clínico pseu-do-inflamatório, com agravamento da dor matinal.As fases de discopatia activa com condrólise predomi-nante constituem um quadro particular de lombalgia crónica incapacitante, sensível aos anti-inflamatóriosnão esteróides e à corticoterapia, particularmente local.

Artrite Induzida por Zymosan em ratos – mecanismos envolvidos na hipernocicepção 143e na lise da cartilagem articularZymosan induced arthritis in rats – mechanisms involved in hypernociception and cartilage lysesFrancisco Saraiva da Silva Júnior, Francisco Airton Castro da RochaOs autores relatam a experiência do grupo no estudo de mecanismos de hipernocicepção e lesão da car-tilagem articular no modelo de artrite induzida por zymosan em ratos.

Estudos COPCORD 119COPCORD studiesRachel Riera, Rozana Mesquita Ciconelli, Marcos Bosi Ferraz

A R T I G O S O R I G I N A I S / O R I G I N A L PA P E R S

Pressão intra ocular em utilizadores crónicos de corticóides orais na artrite reumatóide 151Intra ocular pressure in chronic users of oral glucocorticoids for rheumatoid arthritisGabriele Cardoso, Marília Barreto Silva,Thelma L.SkareOs autores concluem que a utilização de uma dose baixa de corticóides não induz um aumento significa-tivo da pressão intra ocular.

Page 5: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA

111

Acta Reumatológica Portuguesa

Vol 31 • Nº2 Abril/Junho 2006

S U M Á R I O / C O N T E N T S

C A S O S C L Í N I C O S / C L I N I C A L C A S E S

Lúpus Eritematoso Sistémico e Fraqueza Muscular 167Systemic Lupus Erythematosus and weaknessFilipe Vinagre, Maria José Santos, José Canas da SilvaOs autores descrevem o caso de uma jovem de 13 anos, com o diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistémi-co Juvenil, que desenvolve diminuição generalizada da força muscular.A investigação permitiu estabelecero diagnóstico de Miastenia Gravis.

I M A G E N S E M R E U M AT O L O G I A / I M A G E S I N R H E U M AT O L O G Y

Artropatia ocronótica axial 181Axial ochronotic arthropathyMónica Bogas, Domingos Araújo

Síndroma de SAPHO – Caso Clínico 175SAPHO syndrome – clinical reportMichele De Santis, Jorge FortunaNeste artigo é apresentado um caso típico de Síndroma de SAPHO e é feita uma actualização sobre osconhecimentos nesta patologia.

N O R M A S D E P U B L I C A Ç Ã O / I N S T R U C T I O N S T O A U T H O R S 185

Adaptação cultural e validação do «fibromyalgia impact 157questionnaire» – versão portuguesaCultural adaptation and validation of the «fibromyalgia impact questionnaire» – Portuguese versionMaria da Lapa Rosado, José Pascoalinho Pereira, João Pedro da Fonseca, Jaime C. BrancoOs autores apresentam a tradução, validação e adaptação do «Fibromyalgia Impact Questionnaire» (FIQ)para português (Portugal).

A G E N D A 184

Page 6: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:113-7

113

E D I T O R I A L

A B U R O C R A C I A C O N T R A A C I Ê N C I A *

Jaime C. Branco**

O robustecimento e incentivo da prática científicasão os verdadeiros motores do progresso e prospe-ridade das sociedades modernas desenvolvidas.

De tal forma assim é que Shirley Ann Jackson,presidente da American Affairs Association, escre-via, em Dezembro de 2005, que o papel desempe-nhado pela ciência e pelos cientistas foi vital parao sucesso dos Estados Unidos da América comonação. Por isso, cinquenta por cento do crescimen-to económico dos EUA nos últimos 50 anos deve--se aos avanços da ciência e da tecnologia e o rela-tório do National Research Council, elaborado em1999 para o US Department of State, refere que 13dos 16 objectivos que fazem parte do plano estra-tégico norte-americano para os negócios estran-geiros incorporam ciência, tecnologia e saúde.1

É esta realidade que traduz verdadeiramente aaposta americana na poderosa estratégia da «Scien-ce for diplomacy».

Mas estas são considerações gerais e, sobretudo,reflectem uma realidade que não é, nem de longe,a nossa.

É relativamente recente o início de uma políticade investigação tecnológica em Portugal. Só em1967 é criada a JNICT – Junta Nacional para a In-vestigação Científica e Tecnológica - que tinha fun-ções de coordenação das diferentes actividades re-ferentes ao seu objecto – financiamento, avaliação,prospecção e disseminação. Viveram-se 30 anos debottom-up responses em que a avaliação da produ-ção e qualidade era escassa e pouco eficaz.2

Em 1997 a Ciência é investida pela primeira vez,com um Ministério. A FCT – Fundação para a Ciên-cia e Tecnologia substituiu a JNICT e passou a ge-rir os programas nacionais de pesquisa e as propos-tas, quer para projectos de investimento, quer parafellowships individuais. Esta nova orgânica trouxefrutos evidentes e rápidos e graças à primazia dosLaboratórios do Estado e dos Institutos Afiliados

vem conseguindo impor top-down priorities naprática científica nacional.2

Mas estas mega-estruturas de investigação, in-discutivelmente úteis, vieram secar as já débeis ini-ciativas de investigação básica realizadas nos hos-pitais e até em vários departamentos médicos uni-versitários.

Durante as últimas décadas a carreira médicahospitalar foi prestigiante e estável enquanto queos médicos que enveredassem apenas pela investi-gação tinham uma vida mais complicada. Por isso,cá como lá fora, existiam os médicos-cientistas.

O médico-cientista é um investigador com amplabase de conhecimentos, que pesquisa mecanismosbiológicos fundamentais e aplica estes conhecimen-tos básicos directamente na causa das doenças.

Esta é uma visão de James Shannon (1904-94),criador dos modernos National Institutes of Health(NIH) dos EUA, seu director nos anos 50 e 60 e, porisso, principal responsável pela enorme empresaque constituiu e constitui a investigação biomédi-ca norte-americana.3

Esta influência filosófica e metodológica, havi-da no pós-guerra, originou um avultado e bem su-cedido crescimento dos departamentos de ciênciabásica nos NIH bem como nas Escolas Médicas dosEUA e de muitos outros países ocidentais, onde in-felizmente não nos incluímos senão precariamen-te e com mais de 40 anos de atraso.

A estratégia de Shannon incluía um objectivoclaro e perceptível – aplicar a investigação básica àdoença – e um método simples e eficaz – estimularinstitucional e financeiramente o binómio sincró-nico do médico-cientista que se encarregasse deutilizar as suas descobertas básicas em benefíciodos doentes.3

Esta figura é, mesmo nos EUA, uma espécie emvias de extinção. A diferença entre o médico clínicoe o médico investigador foi-se instalando lenta, pro-gressiva e profundamente. Os métodos de investi-gação tornaram-se cada vez mais exigentes impe-dindo a prática paralela de clínica e investigação.

Após um período de relação difícil e incompre-ensão mútua entre a clínica e a investigação bási-

´Resumo da Lição de Encerramento, com o mesmo título,do XIII Congresso Português de Reumatologia (Ponta Delgada, 27-29 Abril 2006)*Director do Serviço de Reumatologia do Hospital Egas Moniz, SAVice-Presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas

Page 7: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:113-7

114

ca, a situação vem evoluindo e as suas ligações sãocada vez mais frequentes e frutuosas.4,5

O conhecimento científico vem-se acumulandocom um ritmo muito superior ao que era sequerimaginável. A investigação básica séria exige hojemeios humanos e financeiros consequentes comesta realidade. É a era do «publish or perish». 4,5

Paralelamente a investigação industrial angariameios humanos e financeiros com que nem os me-lhores laboratórios académicos podem rivalizar.4,6

Tudo concorre para a mediatização da ciênciaque origina quer a notoriedade e reconhecimentopúblico dos seus agentes, quer melhores possibili-dades de angariação dos tão necessários e disputa-dos fundos que podem advir de instituições priva-das, organismos estatais ou mesmo da generosida-de pública (p. ex. peditórios/acções caritativas).4,5,6

Sabe-se hoje que a compreensão da ciência pelopúblico ou mais simplesmente «cultura científica»é uma condição do exercício da cidadania e uminstrumento para melhor entendermos o mundoque nos rodeia e com ele interagirmos.

A literacia científica dos cidadãos em geral au-menta os seus interesses e curiosidade pelas des-cobertas científicas e progressos tecnológicos e fa-cilita a sua aceitação de políticas de promoção dainvestigação e desenvolvimento científicos.7

A população portuguesa dispõe de um baixo ní-vel de educação e cultura científicas, o que parci-almente explica o seu relativo desinteresse e dis-tanciamento em relação ao mundo da ciência.Ora, esta atitude tem implicações notórias não sóna capacidade de desenvolvimento tecnológicomas também, como hoje é reconhecido pelo pró-prio discurso político, na produtividade dos agen-tes económicos e, em consequência, na competi-tividade externa do país. 7

O inquérito do Observatório para as Ciências eTecnologias (OCT) divulgado em 2000 registou, emcomparação com os dados de inquéritos anteriores,subidas no interesse público pelos temas científicos,sobretudo no que respeita às «descobertas da me-dicina, recentes invenções e novas tecnologias».7

Porém, estes valores são ainda inferiores aos re-gistados em 1992 no inquérito realizado pelo Eu-robarómetro em outros países europeus.7

O inquérito do OCT destaca ainda que «o cres-cimento da sensibilidade e interesse dos portu-gueses relativamente à ciência e à tecnologia nãoé acompanhado, no entanto, por um aumento donível de informação que declaram possuir sobreestes assuntos» o que contraria o princípio da «re-

lação directa entre as variáveis conhecimento cien-tífico e interesse pela ciência».7

Outra originalidade portuguesa, que não éalheia à forma superficial com que em geral trata-mos as coisas, mesmo as mais sérias.

A baixa cultura científica da população tem ain-da consequências directas na forma como os ór-gãos de informação transmitem as notícias cientí-ficas. Estamos assim, em Portugal, mais sujeitosao sensacionalismo científico e tecnológico do queoutros países com mais robusta literacia científicae este fenómeno tem um efeito de ciclo vicioso quereverbera o fraco conhecimento sobre a ciência.

Isto é verdade para todos os portugueses incluin-do, evidentemente, os médicos e os legisladores.Analisemos, então, uma das «pérolas» que nos dizrespeito e reflecte o alheamento e até desprezo dospolíticos que nos representam, pela investigação.

O Decreto-Lei 73/90 de 6 de Março (DR I Série)no seu capítulo III caracteriza a Carreira MédicaHospitalar. O artigo 25º traça do seguinte modo operfil profissional do médico da carreira hospita-lar: «… é um profissional habilitado para as fun-ções hospitalares de assistência, de investigação ede ensino, a exercer em acção integrada multidis-ciplinar de trabalho de equipa hierarquizada, emconexão com os cuidados de saúde primários.» 8

O artigo 26º elenca as categorias da carreira mé-dica hospitalar, i.e.: a) assistente; b) assistente gra-duado e, c) chefe de serviço e o 27º define as fun-ções de médico hospitalar, das três categorias. Oensino e a investigação são uma constante para to-das as categorias profissionais. O artigo 28º espe-cifica que cada uma das categorias deve respecti-vamente participar, colaborar na dinamização edinamizar a investigação científica.8

As portarias que regulamentam os concursos deprovimento na categoria de assistente de carreiramédica hospitalar (Portaria 43/98 de 26/Janeiro –DR I Série B) e de habilitação ao grau de consultore de provimento de chefe de serviço da mesma car-reira (Portaria 177/97 de 11/Março – DR I Série B),já contrariam a intenção de promover a investiga-ção. Senão vejamos, analisando os momentos emque os médicos podem ser premiados, ou não, pelorumo que imprimiram à sua prática e assim ao seucurriculum vitae. Esses momentos são de facto osconcursos nos quais as classificações lhes propor-cionaram, conforme os casos, ou a obtenção deum cargo (concursos de provimento para assisten-te ou chefe de serviço) ou de um grau (concursosde habilitação para consultor) que representam

Page 8: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:113-7

115

maior prestígio e melhor remuneração.9,10

As grelhas de avaliação publicadas naquelasportarias são, no que respeita a investigação, idên-ticas para as 3 categorias profissionais e assim as«Actividades docentes ou de investigação relacio-nadas com a área profissional» são classificadas,numa escala de 0 a 20 valores, com um máximo de0,5 valores. Significa que do assistente ao chefe deserviço a investigação e a prática docente (se a hou-ver mesmo durante toda a vida profissional) valemapenas, e em conjunto, 1/40 de classificação total.Ridículo, penso eu, e ainda mais sedimento estaideia com a verificação que aquelas grelhas pon-tuam «outros factores de valorização profissional,nomeadamente títulos, sociedades científicas eparticipação em júris de concursos médicos» comos mesmos 0 a 0,5 valores.9,10 Para já não falar dostítulos(?!?), compara-se assim o valor de anos deensino académico com a inscrição em 3 ou 4 so-ciedades científicas, mesmo que não se paguem asquotas, e o significado de um investimento prolon-gado e coerente na investigação, clínica e/ou bá-sica, com a participação em júris de alguns concur-sos para obtenção de grau ou provimento.

Seriam leis rizíveis se não fossem uma das des-graçadas causas da mais profunda indigência cien-tífica que se vive genericamente nos nossos hos-pitais.

Como pode alguém – i.e. um chefe de serviço –dinamizar alguma coisa que vale 1/40 da práticaprofissional dos seus colaboradores. Mesmo quetenha essa intenção quem é que o levará a sério?É que num horário semanal de 35 horas 1/40 re-presenta 52,5 minutos por semana ou seja mais oumenos 4 horas por mês.

Podemos neste exercício até considerar atribu-ir à prática da investigação parte da valorização de0 a 2 valores que aqueles diplomas legais conce-dem aos trabalhos publicados ou comunicados.9,10

Ainda que o façamos é difícil, ou até impossível,para qualquer júri, mesmo o mais escrupuloso, se-parar o «trigo do joio» premiando os merecedores.Sabemos que a enorme maioria das comunicaçõesrealizadas entre nós não reflectem resultados deinvestigação pessoal ou de grupo e que a largamaioria dos trabalhos apresentados como comu-nicações ou poster, que é, de facto, demonstrativade alguma investigação realizada, acaba por nun-ca conhecer a forma de artigo completo e aindamenos é submetida a revistas estrangeiras ou na-cionais que possuam arbitragem na escolha e re-comendações de índole técnica e científica.

Regressando ao título original, se a lei maltratadesta forma uma parcela, como é a investigação, ejá agora ainda mais o ensino, essencial para a boaprática clínica, porque é que as administraçõeshospitalares haveriam de se preocupar com essetema?

Os ensaios clínicos com novos fármacos sãobem o exemplo do poder espartilhante que a bu-rocracia exerce sobre a ciência no nosso país.

A participação regular em ensaios clínicos, so-bretudo internacionais, apresenta vantagens cla-ras para os países que os realizam. As vantagenssão múltiplas – científicas, metodológicas, finan-ceiras, médicas, notoriedade – e partilhadas entreos doentes, os investigadores, as instituições e opróprio país.11 Muitos países perceberam isso cla-ramente e há muito tempo. Portugal, pelo contrá-rio, não se adequou às necessidades inerentes àrealização dos ensaios clínicos.

Se o DL 97/94 uniformizava o percurso para au-torização do ensaio clínico, a verdade é que as exi-gências burocráticas das Administrações Hospita-lares «…variavam sempre de instituição para ins-tituição e, nestas, ao longo do tempo». Assim, asaprovações chegavam a demorar 9 meses e mais.12

A União Europeia, através da Directiva 2001//20/CE decidiu harmonizar a legislação sobre en-saios clínicos. O DL 46/2004 incorpora aquela Di-rectiva e cria a Comissão de Ética para a Investiga-ção Clínica (CEIC), com carácter central, mas nãofaz qualquer menção ao trajecto de aprovação hos-pitalar dos ensaios clínicos.12

Assim, os complexos e burocráticos circuitoshospitalares de aprovação, por vezes duplicando oprocesso da CEIC/Infarmed, aniquilam as putati-vas vantagens harmonizadoras da Lei.

Ou o processo se torna rápido e eficiente semperder ética e transparência ou continuaremos a«marcar passo» e, por isso, a «pagar» um elevadopreço em ausência dos palcos científicos e pro-gressivo esquecimento das entidades decisoras in-ternacionais.

Porque, sejamos claros, quem é escolhido parafazer os ensaios são os investigadores/médicos enão os hospitais e muito menos as suas adminis-trações. A desconfiança com que estas tratam osinvestigadores/médicos e os promotores/labora-tórios farmacêuticos é aberrante e disfuncional. Eassim continuamos a perder oportunidades, «sa-beres» e dinheiro.

O novo Estatuto de alguns dos nossos hospitais,primeiro SA e agora EPE, trouxe consigo a definição

Page 9: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:113-7

116

dos objectivos anuais a cumprir por cada Serviço.Embora a quantidade dos actos médicos e o seu

custo sejam os factores primários para avaliação daprodução assistencial, tenho registado com agra-do que também a qualidade dos cuidados é, apa-rentemente, uma preocupação genuína das Auto-ridades de Saúde.

Por exemplo, nos últimos dois anos (ie. 2005 e2006) uma percentagem significativa dos objecti-vos qualitativos do meu Serviço é, por iniciativa dedois Conselhos de Administração distintos do meuhospital/centro hospitalar, a publicação, há umano, e a publicação e comunicação, este ano, detrabalhos científicos.

Este ano os Ministérios da Saúde e da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior através da FCT pro-movem (entre 10 de Abril e 16 de Junho) um con-curso para apoio à formação avançada num con-junto de temas na área da Investigação Clínica emSaúde, atendendo às prioridades estabelecidas noPlano Nacional de Saúde e no Programa do Gover-no. São abrangidas várias patologias e domíniosde intervenção e podem concorrer médicos e ou-tros profissionais de saúde, isoladamente ou emequipa e o apoio financeiro, até um valor máximode 25.000Ûanuais, pode estender-se até ao máximode 3 anos. Já em 2001 houve um Concurso Nacio-nal do Ministério da Saúde que financiou váriostrabalhos propostos por serviços hospitalares.13

Não será muito, mas é indiscutivelmente maisum sinal positivo que prenuncia um futuro me-lhor nesta área.

Paralelamente, alguns hospitais possuem hojeinstrumentos (i.e. centros, associações, institutos,serviços, departamentos) dedicados a governar eaté incentivar a investigação.

Regressando ao exemplo que melhor conheço,i.e. o do recém criado Centro Hospitalar de LisboaOcidental (CHLO), o artigo 53º do seu Regulamen-to Interno cria o Departamento de InvestigaçãoClínica com a missão de «promover e coordenar aactividade de investigação científica» da institui-ção. Este Departamento contará com um orça-mento próprio que prevê um financiamento, querexterno, quer a partir do orçamento geral do CHLOque será aplicado, quer no seu próprio funciona-mento, quer no suporte das actividades de inves-tigação devidamente aprovadas.14

É outro exemplo do crescente interesse dasAdministrações Hospitalares (pelo menos algu-mas) pela investigação clínica.

Em coerência com esta linha de orientação está

também o recente e novo «Regulamento do Inter-nato Médico» (Portaria nº 183/2006 de 22/Feverei-ro) cujo Artigo 27º apresenta uma novidade muitoimportante. O título desse artigo é «ProgramasDoutorais em Investigação Clínica» e os seus 3 pon-tos referem a possibilidade, até agora inédita, dosmédicos internos poderem frequentar aqueles pro-gramas doutorais sem prejuízo do seu internato,que neste caso terá uma maior duração. O regula-mento que fixará as condições em que os médicosinternos podem frequentar aqueles Programas seráaprovado por diploma conjunto dos Ministros daSaúde e da Ciência e Ensino Superior.15 Espera-seque, entre outras definições necessárias, possa pre-cisar as instituições em que estes programas podemdecorrer, i.e. as Faculdades de Medicina, e o papelcentral dos seus Conselhos Científicos.

Espera-se, com certeza, que daqui resulte o fu-turo municiamento da generalidade dos hospitais,e não apenas de alguns, com médicos especial-mente vocacionados e treinados para realizar in-vestigação clínica.

E aqui reforço investigação clínica, porque oshospitais devem, de facto, preocupar-se com estetipo de investigação e não com a investigação bá-sica que deve ser deixada para as Universidades elaboratórios e institutos especificamente dedica-dos, quer sejam do Estado, quer tenham outra na-tureza.4

Não devemos esperar que as AdministraçõesHospitalares apoiem a realização de pesquisa bio-lógica ou genética puras, mas devemos saber soli-citar-lhes que nos facilitem (promovam!?) a reali-zação de investigação reumatológica clínica.

Se outros argumentos não houvessem, pode-mos fazê-lo pelo menos com a justificação de quese trata do verdadeiro controlo de qualidade danossa prática assistencial e que contribuirá para obenefício assistencial dos doentes reumáticos.16

É um tipo de pesquisa mais prática e orientadapara o doente e não para a doença e ainda menospara os seus mecanismos íntimos.

Mesmo para este género «mais leve» de investi-gação, a generalidade dos nossos hospitais não estádevidamente apetrechada quer material quer hu-manamente.

A começar pelos próprios decisores que, se nãosão médicos, muitas vezes não sabem bem o queverdadeiramente significa fazer investigação e co-municar os seus resultados, ou mesmo sendo mé-dicos, devido aos seus pesados afazeres adminis-trativos, não têm contacto com estas realidades e

Page 10: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:113-7

117

problemáticas há muito tempo.São várias as acções a desenvolver para que a

burocracia não vença a investigação nos Serviçosde Reumatologia, e devem ser realizadas ao nívelindividual e institucional de forma a originar maiorcapacidade e melhores aptidões para realizar in-vestigação útil.

As intervenções que aumentam a capacidadede investigação orientada para a prática clínica de-vem suportar investigadores individuais, equipasde investigação, organizações e redes de apoio ecolaboração. Assim, desenvolverão conhecimen-tos e aptidões sustentáveis, estruturas organiza-cionais, meios financeiros e outros e empenha-mento político e administrativo para melhorar aqualidade de investigação.17

Estas intervenções devem, em todos aqueles ní-veis, criar aptidões e confiança, desenvolver liga-ções e parcerias, assegurar a ligação da investiga-ção à clínica prática, garantir a sua disseminaçãoapropriada, investir nas infraestruturas e construirelementos de sustentabilidade e continuidade.17

Com a intenção de estimular e nortear a inves-tigação clínica da Reumatologia Portuguesa, e ani-mados pelos muito positivos sinais evidenciados,quer no EULAR 2003 de Lisboa, quer no XII Con-gresso Português de Reumatologia, realizado em2004 no Estoril, foram publicados dois editoriais naActa Reumatológica Portuguesa, respectivamenteem 2003 e 2004. Curiosamente, ou talvez não, co-incidiam no diagnóstico do estado da nossa inves-tigação reumatológica e concordavam nas acçõese medidas a promover.18,19

Aí se referia então, que para alcançar metas maisaudaciosas, que nos salientem internacionalmen-te de forma sustentada, deveríamos identificar te-mas e objectivos de investigação originais, garan-tir metodologia sólida e instrumentos simples mascomprovados e dinamizar a cooperação, quer na-cional, para aumentar o poder estatístico das po-pulações em estudo, quer internacional, sobretu-do a nível europeu. Todos os resultados da pesqui-sa deveriam ser avaliados de forma a privilegiar asua qualidade, única via de a melhorar continua-damente.18,19

Naturalmente que, a nossa maior ou menor ca-pacidade de organização e construção é efectiva-da num determinado contexto político-adminis-trativo que pode favorecer ou restringir o seu im-pacto e progresso. É aqui que a burocracia costu-ma «atacar».

Para atenuar as consequências negativas de po-

líticas de contracção e ampliar os efeitos positivosde políticas desenvolvimentistas, seria bom que aReumatologia Portuguesa possuísse um instru-mento regulador que, por vários motivos, dificil-mente será a Sociedade Portuguesa de Reumato-logia, mas que poderá vir a ser uma fundação es-pecificamente destinada a apoiar e dinamizar a in-vestigação reumatológica nacional, criandooportunidades para desenvolver investigadores,facilitando colaborações investigacionais, supor-tando carreiras de investigação, custeando inves-tigação orientada para prioridades práticas, sus-tentando infraestruturas de suporte à pesquisa einfluenciando a sua sustentabilidade.20

Será um sonho, mas pode tornar-se realidade seformos capazes de alterar o mais difícil, i.e. as nos-sas mentalidades, atitudes e comportamentos.

Referências1. Jackson SA. Presidential address. The nexus: where science

meets society. Science 2005; 310: 1634-16392. Pereira TS. International dimension of research in Portugal:

the European Research Area and beyond. Science and Pub-lic Policy 2002; 29: 451-461

3. Blumenthal D, Campbell EG, Causino N et al. Participationof life science faculty in research relation-ships with indus-try. N Engl J Med 1996; 335: 1734-1739

4. Kahn A & Rousset D. La médicine du XXIème Siècle. 1996,Paris, Bayard Éditions

5. Notturno M. Rethinking science as an area of concern (Edi-torial). Med Hyotheses 2006; 66: 217-219

6. Blumenthal D. Academic-industrial relationships in the lifesciences. N Engl J Med 2003; 349: 2452-2459

7. Gonçalves ME. Os Portugueses e a Ciência. 2002, Lisboa,Dom Quixote / Observatório das Ciências e Tecnologias

8. Decreto-Lei nº 73/90. Diário da República - I Série,6/3/1990, nº54: 960-970

9. Portaria nº 43/98. Diário da República - I Série B, 26/1/1998,nº 21: 321-325

10. Portaria nº 177/97. Diário da República - I Série B,11/3/1997, nº 59: 1055-1062

11. Silman AJ. Clinical trials in Rheumatology: an uncertain future?(Editorial). Nature Clinical Practice Rheumatology 2006; 2: 171

12. Nogueira AM. Ensaios clínicos em Portugal : da oportu-nidade à incerteza. Gestão Hospitalar 2006 (Fev.); 14: 32-33

13. www.fct.mctes/invclinica14. Regulamento CHLO, EPE15. Portaria nº 183/2006. Diário da República - I Série B,

22/2/2006, nº 38: 1430-144716. Lipsky PE. The convergence of clinical research and clinical

care (Editorial). Nature Clinical Practice Rheumatology2006; 2: 113

17. Cooke J. A framework to evaluate research capacity buildingin health care. BMC Fam Pract 2005; 6: 44

18. Branco JC. EULAR 2003 em Portugal: Algumas consequên-cias e desafios para a reumatologia portuguesa (Editorial).Acta Reuma Port 2003; 29: 137-140

19. Pereira da Silva JA. A investigação na reumatologia por-tuguesa: um pouco mais de sonho e ambição (Editorial).Acta Reuma Port 2004; 29: 85-87

20. Branco JC. Editorial. Boletim Informativo LPCDR 2006; 21:1-2

Page 11: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:119-23

119

E D I T O R I A L

E S T U D O S C O P C O R D

Rachel Riera*, Rozana Mesquita Ciconelli**, Marcos Bosi Ferraz***

Prevalentes em todo o mundo, as doenças reumá-ticas estão associadas a um elevado índice de inca-pacidade funcional e à dependência e, assim, aca-bam por exigir muito dos recursos destinados àsaúde. Estudos de projeção indicam que em 2020,24,2% da população dos Estados Unidos da Amé-rica será portadora de alguma doença reumática1.Estatísticas de outros países desenvolvidos são se-melhantes e têm previsto que, nesse milênio, ha-verá aumento considerável do ônus das doençasreumáticas sobre o sistema de saúde2,3.

Em 1981, em Genebra, um encontro entre re-presentantes da Organização Mundial de Saúde(WHO) e da International League Against Rheumatism(ILAR) originou um projeto denominado CommunityOriented Program for the Control of Rheumatic Diseases(COPCORD), primariamente destinado a comuni-dades rurais de países em desenvolvimento4,5. Oobjetivo inicial do projeto era estabelecer a preva-lência de doenças e sintomas musculoesqueléti-cos/reumáticos, estimar a incapacidade funcionale o custo decorrentes dos mesmos e instituir me-didas preventivas. O modelo epidemiológico doCOPCORD considera conceitos amplos como aqueixa, a necessidade e a incapacidade do pacien-te, ao invés de diagnósticos laboratoriais ou base-ados em fenômenos fisiopatológicos ou diagnósti-cos clínicos, como lupus eritematoso sistêmico eartrite reumatóide6. Essa proposta de investigaçãoepidemiológica pode ser realizada a um baixo cus-to, utiliza os recursos locais disponíveis e exige pou-ca investigação diagnóstica. Muitos países têm uti-lizado esse programa e têm aplicado o WHO-ILARCOPCORD Core Questionnaire (CCQ) para estabelecera prevalência das doenças reumáticas na sua popu-lação.

Por meio de busca eletrônica nas bases de dadosLILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribeem Ciências e Saúde (http://www.bireme.br),

MEDLINE (1966-2005) e Cochrane Library foram en-contrados 26 estudos COPCORD-CCQ, publicadosem revistas como o Journal of Rheumatology (13), Rheu-matology Internal (4), Clinical Experimental Rheumatology(3) entre outras. Esses estudos foram realizados nasFilipinas (3), Indonésia (2), Índia (2), Bangladesh(1), Taiwan (1), Tailândia (1), Kuwait (2), Vietnam(1), China (4), Paquistão (1), Brasil (3), Chile (1),México (2), Cuba (1) e Austrália (2)6-29.

O estudo COPCORD consiste em três estágios,que são subdivididos em várias fases. O estágio 1,com suas 4 fases, inclui estudos epidemiológicos oupopulacionais de doenças reumáticas. O estágio 2envolve educação dos profissionais de saúde paraum manejo adequado das doenças reumáticas co-muns. O estágio 3 avalia a melhoria dos cuidadoscom a saúde, a qualidade de vida e os fatores etio-lógicos ambientais, inclusive fatores genéticos coma colaboração de centros internacionais avança-dos17.

No estágio 1, a fase 1 é um screening dentro deuma área pré-estabelecida com pelo menos 1.500pessoas com idade mínima de 15 anos, que são in-terrogadas quanto à presença de dor reumática re-cente (até 1 semana). O questionário padrão WHO--ILAR COPCORD sobre dor musculoesquelética,grau de incapacidade e dependência é aplicado pe-los profissionais de saúde, no caso de pacientessem escolaridade, e auto-aplicado no caso de pa-cientes alfabetizados18. Na fase 2, os pacientes comresposta positiva para dor reumática recente, res-pondem um questionário mais detalhado para se-lecionar os casos de artrite crônica ou grave para oexame médico. Quando há recursos adequados, érealizada a fase 3, que inclui exames radiológicos esorológicos. As fases 1 e 2 devem ser completadasno mesmo dia, pois considera-se que alguns sinto-mas de reumatismos de partes moles e crises degota podem se resolver dentro de uma semana.Com o auxílio de centros avançados internacionais,são pesquisados fatores de risco genéticos por meiode estudos de biologia molecular17,18. O Quadro aseguir resume os principais estudos encontrados.

Apesar da inconteste importância do COPCORD,

*Especializanda **Professora afiliada***Professor associado Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo– UNIFESP

Page 12: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:119-23

120

Quadro I. Resumo dos Estudos COPCORD

Prevalência Prevalência de Sintoma de Redução Locais Prevalência

Região,Ano Musculoes- Capacidade Anatômicos de Patologia Referência n quelético (%) Funcional Mais Prevalentes Reumática (%)Filipinas 1.685 22,6 4,5 joelho, regiões –

(Manahan, lombar, cervical e 1985)19 do músculo trapézio

Filipinas 950 28,3 1,8 articulações –(Wigley, periféricas, regiões 1991)20 cervical e lombar

Indonésia 4.458 rural 23,6 rural 2,8 rural articulação –(Darmawan, 1.039 urbana 31,3 urbana 0,9 urbana periférica, regiões 1992)8 lombar e cervical

Taiwan 8.998 25 – – OA (5,1-6,3)(Chou, 1994)9 urbana rural AR (0,26-0,93)

e suburbana EA (0,19-0,54)LES (0,033)gota (0,16-0,67)

China 9.249 – – região lombar AR (0,34-0,32)(Wigley, norte + sul e joelho EA (0,26)1994)12 da China

Filipinas 3.006 16,13 25 – OA (4,1) (Dans, reumatismo de 1997)7 partes moles

Brasil/México 200 em 33,3 Brasil – – –Chile (Bennett, cada país 45,1 Chile1997)14 46,3 Mexico

Tailândia 2.463 36,2 3 região lombar, joelho, OA (11,3)(Chaiamnuay, quadril e região sínd.miofascial (6,3)1998)10 cervical lombalgia (4)

artralgia (3,2)gota (0,16)AR (0,12)espondiloartropatiasoronegativa (0,12),DMTC (0,04), doençaauto-imune nãoclassificada (0,04)

Cuba (Llerena, 300 30,3 – região lombar (14), OA (19,6)2000)25 região cervical (14),

joelho (11,5),ombro (10)

Índia (Chopra, 4.092 18,2 – partes moles (5,5), OA (29)2001)26 regiões lombar (17,3) AI (10)

e cervical (9,5), AR (0,5)panturrilha (8,5) gota (0,12)

continua na página seguinte

Page 13: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:119-23

121

Quadro I. (continuação)

Prevalência Prevalência de Sintoma de Redução Locais Prevalência

Região,Ano Musculoes- Capacidade Anatômicos de Patologia Referência n quelético (%) Funcional Mais Prevalentes Reumática (%)Índia 4.092 18,2 21 Joelho (13,2), continuação

(Chopra, 2002)6 região lombar (11,4), do estudo acimaombro (7,4),panturrilha (6,6),cotovelo (6,5),quadril (6,5),punho (6,4), mão (6,1),região cervical(6)

México 2.500 17 1,4 joelho (12,3), OA (2,3)(Cardiel, 2002)18 região lombar (6,3), fibromialgia (1,4)

tornozelo (6) e lombalgia (6,3)ombro (5,3) AR (0,3), gota (0,4)

Kuwait 359 69 1,4 região lombar OA, gota, AR e(Al-Awadhi, fibromialgia2002)23

China 5.701 13,3 – joelho (7), OA joelho (4,1) (Dai, coluna lombar (5,6), reumatismo partes 2003)21 ombro (4,7), moles (3,4), EA (0,11)

coluna cervical (2,4) gota (0,22),AR (0,28)Vietnam 2.119 14,5 6,04 joelho (18,2), região OA (4,1),AR (0,28)

(Minh Hoa, lombar (11,2), OP (0,47), DTC 2003)17 partes moles (15,4) (0,09), gota (0,14)

China 2.040 18,1 – região lombar (11,5) –(Zeng, 2004)22 joelho (7,5)

Australia 189 87 38 região lombar, região –(Vindigni, cervical, ombro,2004)16 quadril e joelho

Australia 847 33 7,7 região lombar (12,5), reumatismo partes (Minaur, joelho (11,2) moles (7,4), OA (5,5),2004)28 e ombro (8,9) lombalgia (4,3),AP (0,5),

gota (7 em homens e0,9 em mulheres)

Brasil 3.038 30,9 – – OA (4,14)(Senna, fibromialgia (2,5)2004)15 AR (0,46), LES (0,098)

Kuwait (Al-Awadhi, 6.749 26,81 35,7 (mulheres) joelho, região das –2004)24 20,2 (homens) costas e ombro

China 10.138 11,6 (1987) – coluna lombar, joelho, compara 4 estudos (Zeng, 12,5 (1992) coluna cervical totalizando 2005)29 16 (1995) 10.138 pessoas

19,8 (1999)Bangladesh 5.211 26,3 25,5 (rural) região lombar, joelho, OA joelho, lombalgia,

(Haq, 2005)27 23,3-24,8 quadril e ombro OA lombar, fibromialgia(urbana) reumatismo

de partes moles

AI: artrite inflamatória;AP: artrite psoriática;AR: artrite reumatóide; DTC: doença tecido conjuntivo; DMTC: doença mista do tecido conjuntivo;EA: espondilite anquilosante; LES: lupus eritematoso sistêmico; OA: osteoartrite; OP: osteoporose

Page 14: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:119-23

122

a qual tem sido comparada ao uso dos agentes bio-lógicos na reumatologia, alguns pontos ainda pre-cisam ser melhorados e considerados nos próxi-mos trabalhos. Entre os vários estudos desse tipoque têm sido publicados e comparados, nem todostêm seguido o seu desenho original. Diferenças lo-gísticas, conhecimento inadequado, duração pro-longada do estudo, substituição dos profissionaisenvolvidos na coleta de dados e obstáculos ines-perados (mudanças políticas em alguns casos) aca-bam compelindo os investigadores ao viés. Por-tanto, são poucos os estudos que apresentam umfollow-up segundo a orientação primária do COP-CORD, que preconiza a continuação para os está-gios seguintes. Os estágios 2 e 3 consistem na edu-cação continuada dos profissionais de saúde como objetivo de controlar adequadamente as doen-ças reumáticas, na avaliação dos cuidados com asaúde, na melhora na qualidade de vida e no con-trole dos fatores de risco ambientais, genéticos eculturais. Provavelmente, os principais motivos deinterrupção desses estudos estão relacionados àsquestões políticas e econômicas. Obviamente, nes-ses últimos estágios são necessários profissionaismais especializados, auxílio financeiro para a rea-lização de exames complexos e para prescrição demedicações e órteses, orientações de reabilitaçãopara diminuir a incapacidade e a dependência fí-sica, bem como medidas de reinclusão social.Como exemplos de sucesso, citamos o estudo deDarmawan e colaboradores, na Indonésia, publi-cado em 1992, considerado um marco no manejoda gota nesse país8. Há ainda o estudo de Choprae colaboradores, em Bhigwan, publicado em 2001,na Índia com um follow-up de 8 anos, que além dedescrever pela primeira vez o uso de drogas modi-ficadoras de doença por longo prazo na comuni-dade rural, possibilitou a implantação de um sis-tema de saúde gratuito e efetivo, na área de reuma-tologia, capaz de atender mais de 50.000 pessoasda região6,26.

Outro ponto a ser questionado é a inexistênciade um banco único de dados, assim como de umapadronização da apresentação do COPCORD como objetivo de assegurar uma comparação rigorosaentre os estudos. Para a correção das falhas apon-tadas, tem sido sugerido o desenvolvimento de umbanco universal de dados, incluindo um programade software disponível gratuitamente pela web, paraa normatização da coleta e da análise dos dados.Além disso, a idéia de um grupo de consultorescom experiência na aplicação do COPCORD e dis-

postos a orientar os próximos estudos é de inesti-mável contribuição para o aprimoramento dosprojetos COPCORD.

Mesmo considerando esses aspectos, admite--se que ninguém tem se dedicado mais a conhe-cer os sintomas musculoesqueléticos da popula-ção, sua causa e sua morbidade do que esse proje-to, que já chegou aos países em desenvolvimentoe se tornou a única fonte de informações sobre asdoenças reumáticas na comunidade.

Por fim, alguns pontos devem ser salientados. OCOPCORD vai além de apenas estabelecer o cus-to das doenças reumáticas e a incapacidade ine-rente às mesmas em idosos de países desenvolvi-dos, mas ocupa-se também de medidas educacio-nais preventivas, de grande valia em comunidadesrurais ou urbanas, em países desenvolvidos ou emdesenvolvimento. Deve-se lembrar também, queas informações originadas do COPCORD podemauxiliar na tomada de decisão em políticas de saú-de, selecionar a aplicação de recursos e direcionarpesquisas futuras.

Considerando a relevância apresentada ao lon-go de duas décadas, esperamos que o modeloCOPCORD possa ser amplamente disseminadoentre os profissionais da área de saúde e entre a co-munidade científica reumatológica, e principal-mente, que possa orientar tomadas de decisão emsaúde.

Referências:1. Factors associated with prevalent self-reported

arthritis and other rheumatic conditions [editorial].MMWR Morb Mortal Wkly Rep 1996;45:487-491.

2. Badley EM, Wang PP. Arthritis and the aging popula-tion: projections of arthritis prevalence in Canada1991 to 2031.J Rheumatol 1998;25:138-144.

3. Badley EM, Rasooly I, Webster GK. Relative impor-tance of musculoskeletal diseases as cause of chronichealth problems, disability, and health care utilizati-on: findings from the 1990 Ontario Health Survey. JRheumatol 1994;21:505-514.

4. Muirden KD. The developing relationship betweenthe World Health Organization and the InternationalLeague Against Rheumatism. J Rheumatol 1991;18:793-795.

5. Muirden KD. The origins, evolution and the future ofCOPCORD. APLAR J Rheumatol 1997; 1:44-48

6. Chopra A, Saluja M, Patil J, Tandale H.S. Pain and di-sability, perceptions and beliefs of a rural indian po-pulation: a WHO-ILAR COPCORD study. J Rheuma-tol 2002;29:614-621.

7. Dans LF, Tankeh-Torres S, Amanta CM, Penserga EG.The prevalence of rheumatic disease in a Filipino ur-ban population: A WHO-ILAR COPCORD study. J

Page 15: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:119-23

123

Rheumatol 1997;24:1814-1819. 8. Darmawan J, Valkenburg HA, Muirden KD, Wigley

RD. Epidemiology of rheumatic disease in rural andurban populations in Indonesia: A World Health Or-ganization International League Against Rheuma-tism COPCORD study, stage 1, phase 2. Ann RheumDis 1992;51:525-528.

9. Chou CT, Pei L, Chang DM, Lee CF, Schumacher HR,Liang NH. Prevalence of rheumatic disease in Tai-wan: A population study of urban, suburban, ruraldifferences. J Rheumatol 1994;21:302-306.

10. Chaiamnuay P, Darmawan J, Muirden KD, Assawata-nabodee P. Epidemiology of rheumatic disease in ru-ral Thailand: a WHO-ILAR COPCORD study. J Rheu-matol 1998;25:1382-1387.

11. Darmawan J; Ferraz MB; Muirden KD; Tugwell P.Case study: World Health Organization-InternationalLeague of Associations for Rheumatology Commu-nity-Oriented Programme for the Control of Rheu-matic Diseases (WHO-ILAR COPCORD) in Indonesiaand Brazil. Int J Technol Assess Health Care1995;11(4):700-708.

12. Wigley R, Zhang NZ, Zeng QY, et al. Rheumatic disea-ses in China: ILAR-China study comparing the preva-lence of rheumatic symptoms in northern and sou-thern rural populations. J Rheumatol 1994;21:1484--1490.

13. Farooqi A, Gibson T. Prevalence of major rheumaticdiseases in the adult population of north Pakistan. BrJ Rheumatol 1998;37:491-495.

14. Bennett K, Cardiel MH, Ferraz MB, Riedemann P,Goldsmith CH, Tugwell P. Community screening forrheumatic disorders: cross cultural adaptation andscreening characteristics of the COPCORD CoreQuestionnaire in Brazil, Chile and Mexico. J Rheuma-tol 1997;24:160-168.

15. Senna ER, De Barros AL, Silva EO, Pereira LV, Ciconel-li RM, Ferraz MB. Prevalence of rheumatic diseases inBrazil: a study using the COPCORD approach. JRheumatol 2004;31(3):594-597.

16. Vindigni D, Griffen D, Da Costa C, Parkinson L. Pre-valence of musculoskeletal conditions, associatedpain and disability and the barriers to managing the-se conditions in a rural, Australian aboriginal com-munity. Rural and Remote Health 4 (online) 2004;230:1-13.

17. Minh Hoa TT, Darmawan J, Chen SL, Van Hung N,Thi Nhi C, Ngoc Na T, Shun Le C. Prevalence of therheumatic disease in urban Vietnam: a WHO-ILARCOPCORD study. J Rheumatol 2003;30(10):2245--2251.

18. Cardiel MH, Rojas-Serrano J. Community basedstudy to estimate prevalence, burden of illness andhelp seeking behavior in rheumatic diseases in Mexi-co City. Clin Exp Rheumatol 2002;20(5):617-624.

19. Mahanan L, Caragay R, Muirden KD, Allander E,Valkenburg HA, Wigley RD. Rheumatic pain in a Phi-lippine village. A WHO-ILAR-COPCORD study. Rheu-matol Int 1985;5(4):149-553.

20. Wigley R, Mahanan L, Muirden KD, Caragay R, Pin-fold B, Couchman KG, Valkenburg HA. Rheumatic di-sease in a Philippine village.II: a WHO-ILAR-APLAR-COPCORD study, phases II and III. Rheumatol Int1991;11(4-5):157-161.

21. Dai SM, Han XH, Zhao DB, Shi YQ, et al. Prevalenceof rheumatic symptoms, rheumatoid arthritis,ankylosing spondylitis, and gout in Shangai, China: aCOPCORD study. J Rheumatol 2003;30(10):2245--2251.

22. Zeng QY, Chen R, Xiao Zu, et al. A low prevalence ofknee and back pain in southeast China: The ShantouCOPCORD study. J Rheumatol 2004;31(12):2439--2443.

23. Al-Awadhi AM, Olusi S, Moussa M, et al. Validation ofthe arabic version of the WHO-ILAR COPCORD CoreQuestionnaire for community screening of rheuma-tic disease in Kuwaitis. J Rheumatol 2002;29:1754--1759.

24. Al-Awadhi AM, Olusi SO, Moussa M, et al. Muscu-loskeletal pain, disability and health-seeking beha-vior in adult Kuwaitis using a validated Arabic versi-on of the WHO-ILAR COPCORD Core Questionnaire.Clin Exp Rheumatol 2004;22(2):177-183.

25. Llerena RGA, Toledano MG, Martinez AAH, et al. Pre-valence of musculoskeletal complaints and disabilityin Cuba. A community-based study using the COP-CORD Core Questionnaire. Clin Exp Rheumatol2000;18(6):739-742.

26. Chopra A, Patil J, Billampelly V, Relwani J, TandaleHS. Prevalence of rheumatic diseases in a rural po-pulation in Western India: a WHO-ILAR COPCORDstudy. J Assoc Physicians India 2001;49:240-246.

27. Haq AS, Darmawan J, Islam MN, Uddin MZ, et al.Prevalence of rheumatic diseases and associated out-comes in rural and urban communities in Bangla-desh: a COPCORD study. J Rheumatol 2005;32(2):348-353.

28. Minaur N, Sawyers S, Parker J, Darmawan J. Rheu-matic disease in na australian aboriginal communityin North Queensland, Australia. A WHO-ILAR COP-CORD survey. J Rheumatol 2004;31(5):965-972.

29. Zeng QY, Darmawan J, Xiao ZY, Chen SB, et al. Riskfactors associated with rheumatic complaints: aWHO-ILAR COPCORD study in Shantou, SoutheastChina. J Rheumatol 2005;32(5):920-927.

Endereço para correspondência:Rachel RieraDisciplina de Reumatologia da Universidade Federalde São Paulo – UNIFESPRua Botucatu 740, São Paulo SP, Brasil CEP 04023-062E-mail: [email protected]

Page 16: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

THE MANAGEMENT OF

BEHÇET’S SYNDROME

Emire Seyahi,

Izzet Fresko,

Melike Melikoglu,

Hasan Yazici

Division of Rheumatology, Department of MedicineCerrahpasa Medical Faculty, University of Istanbul,Turkey

Page 17: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

126

A B S T R A C T

Behçet syndrome (BS) is a multisystem vasculitis characterized by skin and mucosa lesions and muscu-loskeletal, ocular, gastrointestinal, neurological and major vessel involvement. It is seen mainly in the Me-diterranean basin, Middle East and the Far East. The disease runs a more severe course among young ma-les and the severity diminishes with age. This review describes the management of this disease, whichshould be individualized and varies according to site and gender.

Keywords: Behçet syndrome; Management.

R E S U M O

A síndrome de Behçet é uma vasculite multisistémica caracterizada por lesões cutâneas e mucosas e en-volvimento musculoesquelético, ocular, gastrointestinal, neurológico e dos grandes vasos. É observadageralmente na bacia Mediterrânica, Médio Oriente e Extremo Oriente. É mais grave nos jovens do sexomasculino e a gravidade diminui com a idade. Esta revisão descreve o tratamento desta doença, o qualdeverá ser individualizado de acordo com a localização das lesões e com o sexo do doente.

Palavras-Chave: Síndrome de Behçet; Tratamento.

Page 18: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

127

A R T I G O D E R E V I S Ã O

T H E M A N A G E M E N T O F

B E H Ç E T ’ S S Y N D R O M E

Emire Seyahi, Izzet Fresko, Melike Melikoglu,

and Hasan Yazici*

Introduction

Behçet syndrome (BS) is a multisystem vasculitischaracterized by skin and mucosa lesions and mus-culoskeletal, ocular, gastrointestinal, neurologicaland major vessel involvement.1 It is seen mainly inthe Mediterranean basin, Middle East and the FarEast.1 Turkey has the highest prevalence: 8 to 42 per104 population.2-3 While the frequency is lower inwestern countries: 0.07 per 104 in Spain and 1 to 3per 104 in the United States.4-5 The disease runs amore severe course among young males and the se-verity diminishes with age.1,6 Management shouldbe individualized and varies according to site andgender. Table I summarizes the current approach.

Mucocutaneous manifestations

The recurrent orogenital ulcerations, nodular andpustular skin lesions cause pain and affect the qua-lity of life. These lesions, which are the hallmark ofthe syndrome, can recur until the syndrome aba-tes usually slowly after the fourth decade.6 Localtreatment by steroid preparations or even reassu-rance alone can be effective in most of the cases.Colchicine, was thought to be beneficial in treatingall mucocutaneous manifestations. However ourdouble blind study showed that the drug7 was noteffective in oral ulcers in either sex and was only be-neficial in genital ulcers and erythema nodosumamong the females. Thalidomide is another alter-native for oral and genital ulcerations. Another dou-ble blind placebo controlled trial by our group re-vealed that all mucocutaneous lesions excepterythema nodosum were successfully treated bythalidomide.8 However it should be reserved for se-vere cases due to its neurotoxicity and teratogeni-city. Recently our 27-week double masked trial of

depot glucocorticoids (40 mg methylprednisoloneacetate) against placebo on mucocutaneous fin-dings showed that glucocorticoids were useful onlyin controlling erythema nodosum lesions amongthe females.9 Oral azathioprine (AZA), cyclospori-ne A (CsA) and interferon-α (IFN-α) may also be be-neficial in resistant cases.10 Trials of topical IFN11

and of topical CsA12 did not demonstrate any im-provement in the number, size and healing time oforal ulcers. A prospective study reported favorableresults with benzathine penicillin.13

Recent studies revealed that anti-tumor necro-sis factor (anti-TNF) agents can be successfullyused for various manifestations in BS. In a control-led trial among males, it has been shown that eta-nercept was effective in controlling most of the mu-cocutaneous manifestations of BS, whereas it didnot suppress the pathergy phenomenon.14

Joint involvement

The arthritis of BS is non destructive.15 Non-steroi-dal anti-inflammatory drugs and local corticoste-roid injections are used frequently in management.Colchicine can be effective in both males and fema-les as shown in controlled studies.16-17 IFN-α (5MU/3 times a week) is highly effective in treatingarthritis according to one controlled study, but cau-tion is needed for side effects.18 Azathioprine is alsosuccessful in reducing the frequency of arthritis at-tacks.19 No controlled studies with methotrexateand sulphasalazine are reported although some au-thors claim that they are effective. Short courses oforal prednisolone (20-30 mg/day) may be useful inmore severe cases.

Eye Disease

Eye involvement is the most serious manifestationof BS and affects about 50 % of the patients.1,6 It de-

*Division of Rheumatology, Department of MedicineCerrahpasa Medical Faculty, University of Istanbul,Turkey

Page 19: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

128

velops within the first few years of the disease onset and runs its most severe course during theseyears.1,6 It can be defined as a combination of recurrent attacks of non-granulomatous uveitisand retinal vasculitis.1 This eventually results in cataract, glaucoma and phthisis bulbi. Eye disea-se is treated with immunosuppressives. AZA (2.5mg/kg/day) was found to be effective in preventingvisual attacks in a double blind controlled study.19

We reassessed the results of the 8-year follow-up ofthese patients who had initially been treated with

AZA for 2 years.20 The patients who had initiallybeen treated with AZA in the double blind studyhad again less blindness, visual impairment andextra-ocular complications compared to placebo.Another immunosuppressive drug that has foundwide spread use is CsA. It was found to be superiorto monthly pulses of cyclophosphamide in a sin-gle blinded study conducted in a limited numberof patients.21 It induces a very rapid anti-inflamma-tory effect in doses of 2-5 mg/kg/day but care is re-quired to monitor its toxic effects such as rises in

THE MANAGEMENT OF BEHÇET’S SYNDROME

Table I. Treatment of Behçet's syndrome

Lesions Suggested treatmentOrogenital ulcers, skin lesions

Mild Topical treatmentColchicine 1.5 mg/day

Severe Azathioprine 2.5 mg/kg/dayPrednisolone up to 20 mg/dayThalidomide 100 mg/dayEtanercept 25 mg, 2 times a week

ArthritisMild Nonsteroidal antiinflammatory drugs

Colchicine 1.5 mg/day Severe Azathioprine 2.5 mg/kg/day

Interferon-α 5 MU/3 times a weekPrednisolone up to 20 mg/day

Eye diseaseMild Local treatment with mydriatics and steroids under tight controlSevere Cyclosporine A 5 mg/kg/day

Azathioprine 2.5 mg/kg/dayInterferon-α up to 3-5 MU/day (see text)Infliximab 5 mg/kg/dose Prednisolone 40-60 mg/day for 1-2 months, then tapered (reserved for acute attacks)

Deep vein thrombosis Azathioprine 2.5 mg/kg/dayAspirin Anti-coagulation?

Arterial disease Prednisolone 1 mg/kg/day for 1-2 months, then tapered for the maintenanceCyclophosphamide monthly 1 g bolusesSurgery (for abdominal and peripheral aneurysms)

Neurological disease Boluses of prednisolone 1 g/day (5-7 consecutive days)Cyclophosphamide monthly 1 g bolusesAzathioprine 2.5 mg/kg/day

Gastrointestinal involvement Prednisolone 30-60 mg/daySulphasalazine 3-6 mg/dayAzathioprine 2,5 mg/kg/dayThalidomide 50-200 mg/daySurgical resection

Page 20: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

129

serum creatinine, hypertension, occasional episo-des of neuropathy and hearing loss. Based on evi-dence from transplantation studies and a retros-pective study in BS, its use is not recommended incentral nervous system (CNS) disease.22 Our groupcurrently uses the combination of AZA and CsA insevere uveitis. The effect of this combination wasassessed in 141 patients with severe uveitis refrac-tory to AZA. The combination improved actual vi-sual acuity but did not affect baseline visual acui-ty, which is the amount of vision after an attackhas subsided.23

IFN –α offers promising results and seems to beanother alternative in the management of uveitisin BS.24 The drug was even beneficial in refractoryposterior uveitis of BS to conventional medica-tions.25 Side effects of IFN –α include flu-like symp-toms, liver enzyme elevations, cytopenias and se-vere mood changes.24-25 Nowadays, there is greatinterest in TNF-α blockage in the management ofeye disease.26-28 Anti-TNF agents (especially inflixi-mab at 5 mg/ kg) show successful results in con-trolling severe and resistant uveitis.26-28 However,relapses are frequent after withdrawal.

In our practice we use glucocorticoids in themanagement of acute attacks. We try to use asbriefly as possible and taper them as soon as theattack subsides. During attacks local steroid eyedrops and mydriatics are also used to prevent syne-chiae and alleviate pain. Vitrectomy and cataractsurgery are occasionally performed but their ef-fects on visual acuity are not clear.10

Major Vessel Disease

Major vessel disease develops in 5-40 % of the pa-tients1,6 and has a male preponderance. Behçet’ssyndrome is one of the few vasculitides that can in-volve both sides of the circulatory system1. Venousinvolvement is more prominent than arterial di-sease. Lower extremity deep vein thrombosis is themost frequent manifestation. This may progress tovena cava thrombosis. Acute venous thrombosiscauses pain, erythema and swelling, whereas chro-nic vein thrombosis can cause postphlebitic syn-drome with skin ulcers and hyperpigmentation.Post-mortem examinations revealed that thethrombus is tightly adhered to the vessel wall.1 Thismay account for the rare occurrence of throm-bophlebitis in BS. Therefore, the role of anticoagu-lation in deep vein thrombosis is controversial. Our

group uses AZA and low dose aspirin for venousthrombosis. AZA has been shown to prevent super-ficial and deep vein thrombotic events, albeit in asmall number of patients.1 Fibrinolytic therapy hasbeen disappointing. Arterial aneurysms, especiallypulmonary arterial aneurysms carry a more severeprognosis than venous thrombosis. They can rup-ture or fistulate into the bronchi causing massivehemoptysis and even death in about 23-50 % ofthe cases.29-30 Aneurysms of the peripheral arteriesshould be corrected surgically although there is arecurrence rate of about 30%.31 We suggest monthlypulses of cyclophosphamide combined with 1mg//kg of prednisolone and tapering the prednisolo-ne dose to <10 mg/day after three months. The me-dical management of pulmonary arterial aneu-rysms should consist of the same regimen. Anti-coagulation is contraindicated because of the riskof bleeding. Our experience with intra-arterial em-bolisation is limited.32-33 Surgical resection is alsonot successful.34

Central Nervous System Disease

The frequency of neurological involvement isabout 5-6 % in cross-sectional studies.1,35 This ratecan double when BS patients are followed for longtime.2 There are two types of neurological involve-ment in BS.

1) Parenchymal CNS disease (75 %) is a latemanifestation, developing after 5-10 years of thedisease onset.6,35 The disease causes severe cogni-tive, pyramidal and cerebellar disturbance andleads to disability and increased mortality.35 Al-though there are no controlled studies on themanagement of CNS disease in BS, the disease isusually treated with high doses of corticosteroidsand cyclophosphamide or AZA. Sporadic casestreated with infliximab and IFN-α have also beenreported36

2) Thrombosis of the dural sinuses and increa-sed intracranial pressure develop rather early inthe disease course (25 %). It causes headaches withor without bilateral papilledema. Dural sinusesthrombi were found to be strongly associated withperipheral major vessel disease37 and have a rathergood prognosis compared to that of the parenchy-mal type.6,35 This form is also empirically treatedwith corticosteroids and AZA. In severe cases withvisual impairment, lumboperitoneal shuntingshould be considered.38

EMIRE SEYAHI E COL.

Page 21: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

130

Gastrointestinal Disease

Gastrointestinal involvement is relatively rareamong the patients from the Mediterranean coun-tries.39 The frequency is higher among patientsfrom Far East.40 It is characterized mainly by aph-thous ulcerations, found especially in terminalileum and caecum. These ulcerations can causeileo-cecal perforation. Thalidomide again has beenshown to be effective alone41 or combined withAZA.42 There are few case reports suggesting thatanti-TNF agents could be beneficial in intestinaldisease.43 In severe refractory cases, surgical resec-tions are required.44

Conclusions

We believe that medical management should beaggressive in the young and male patient with BS.

The treatment and management of eye diseaseof BS have become more effective in the last 20years. However the management of CNS diseaseand vascular lesions are less satisfactory.

Corresponding author:Hasan Yazici, MD Safa sok. 17 / 7, Kadikoy/ Istanbul 81310 TurkeyTelephone: + 902 124 143 220E-mail: [email protected]

References:1. Fresko I, Melikoglu M, Tunc R, Yazici H. Behcet's

syndrome: pathogenesis, clinical manifestations andtreatment in Vasculitis by Gene V. Ball, S. Louis Brid-ges ed. Oxford University Press, USA; 1st edition(2002).

2. Demirhindi O, Yazici H, Binyildiz P, et al. (1981). Sili-vri Fener koyu ve yoresinde Behcet hastaligi sikligi vebu hastaligin toplum icinde taranabilmesinde kulla-nabilecek bir yontem. Cerrahpasa Tip Dergisi, 12,509-514.

3. Yurdakul S, Gunaydin I, Tuzun Y, et al.. The prevalen-ce of Behçet's syndrome in a rural area in northernTurkey. J Rheumatol 1988.; 15, 820-822.

4. Gonzalez-Gay MA, Garcia-Porrua C, Branas F, Lopez-Lazaro L, Olivieri I. Epidemiologic and clinical as-pects of Behcet's disease in a defined area ofNorthwestern Spain, 1988-1997. J Rheumatol 2000;27: 703-707.

5. O'Duffy JD. Behcet's disease.Curr Opin Rheumatol1994; 6: 39-43.

6. Kural-Seyahi E, Fresko I, Seyahi N, Ozyazgan Y, MatC, Hamuryudan V, Yurdakul S, Yazici H. The long--term mortality and morbidity of Behcet syndrome: a

2-decade outcome survey of 387 patients followed ata dedicated center. Medicine (Baltimore) 2003; 82:60-76.

7. Yurdakul S, Mat C, Tuzun Y, Ozyazgan Y, Hamuryu-dan V, Uysal O, Senocak M, Yazici H. A double-blindtrial of colchicine in Behcet's syndrome. ArthritisRheum 2001; 44: 2686-2692.

8. Hamuryudan V, Mat C, Saip S, Ozyazgan Y, Siva A,Yurdakul S, Zwingenberger K, Yazici H. Thalidomidein the treatment of the mucocutaneous lesions of theBehcet syndrome. A randomized, double-blind, pla-cebo-controlled trial. Ann Intern Med 1998; 128: 443--450.

9. Mat C, Yurdakul S, Uysal S, Gogus F, Ozyazgan Y,Uysal O, Fresko I, Yazici H. A double-blind trial of de-pot corticosteroids in Behcet's syndrome. Rheuma-tology (Oxford) 2006; 45: 348-352.

10. Yazici H, Ozyazgan Y. Medical management of Beh-cet's syndrome. Dev Ophthalmol 1999; 31:118-131.

11. Hamuryudan V, Yurdakul S, Rosenkaimer F, Yazici H.Inefficacy of topical alpha interferon in the treatmentof oral ulcers of Behcet's syndrome: a randomized,double blind trial. Br J Rheumatol 1991; 30: 395-396.

12. Ergun T, Gurbuz O, Yurdakul S, Hamuryudan V, Beki-roglu N, Yazici H. Topical cyclosporine-A for treat-ment of oral ulcers of Behcet's syndrome. Int J Der-matol 1997; 36: 720.

13. Calguneri M, Kiraz S, Ertenli I, Benekli M, KaraarslanY, Celik I. The effect of prophylactic penicillin treat-ment on the course of arthritis episodes in patientswith Behcet's disease. A randomized clinical trial.Arthritis Rheum 1996; 39: 2062-2065.

14. Melikoglu M, Fresko I, Mat C, Ozyazgan Y, Gogus F,Yurdakul S, Hamuryudan V, Yazici H. Short-term trialof etanercept in Behcet's disease: a double blind, pla-cebo controlled study. J Rheumatol 2005; 32: 98-105.

15. Yurdakul S, Yazici H, Tuzun Y, Pazarli H, Yalcin B, Al-tac M, Ozyazgan Y, Tuzuner N, Muftuoglu A. Thearthritis of Behcet's disease: a prospective study. AnnRheum Dis 1983; 42: 505-515.

16. Aktulga E, Altac M, Muftuoglu A, Ozyazgan Y, PazarliH, Tuzun Y, Yalcin B, Yazici H, Yurdakul S. A doubleblind study of colchicine in Behcet's disease. Haema-tologica 1980; 65: 399-402.

17. Yurdakul S, Mat C, Tuzun Y, Ozyazgan Y, Hamuryu-dan V, Uysal O, Senocak M, Yazici H. A double-blindtrial of colchicine in Behcet's syndrome. ArthritisRheum 2001; 44: 2686-2692.

18. Hamuryudan V, Moral F, Yurdakul S, Mat C, Tuzun Y,Ozyazgan Y, Direskeneli H, Akoglu T, Yazici H. Syste-mic interferon alpha 2b treatment in Behcet'ssyndrome. J Rheumatol 1994; 21: 1098-1100.

19. Yazici H, Pazarli H, Barnes CG, Tuzun Y, Ozyazgan Y,Silman A, Serdaroglu S, Oguz V, Yurdakul S, LovattGE, et al. A controlled trial of azathioprine in Behcet'ssyndrome. N Engl J Med 1990; 322: 281-285.

20. Hamuryudan V, Ozyazgan Y, Hizli N, Mat C, YurdakulS, Tuzun Y, Senocak M, Yazici H. Azathioprine in Be-hcet's syndrome: effects on long-term prognosis.

THE MANAGEMENT OF BEHÇET’S SYNDROME

Page 22: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:125-31

131

Arthritis Rheum 1997; 40: 769-774. 21. Ozyazgan Y, Yurdakul S, Yazici H, Tuzun B, Iscimen A,

Tuzun Y, Aktunc T, Pazarli H, Hamuryudan V, Muftuo-glu A. Low dose cyclosporin A versus pulsed cyclop-hosphamide in Behcet's syndrome: a single maskedtrial. Br J Ophthalmol 1992; 76: 241-243.

22. Kotake S, Higashi K, Yoshikawa K, Sasamoto Y, Oka-moto T, Matsuda H. Central nervous system symp-toms in patients with Behcet disease receivingcyclosporine therapy. Ophthalmology 1999; 106: 586--589.

23. Ozyazgan Y, Hamuryudan V, Fresko I, Yurdakul S, MatC, Yazici H. (1996). Maintenance of visual acuity withcombined cyclosporine A and azathioprine treat-ment among 141 Behcet syndrome patients withuveitis. In 4th International Symposium on OcularInflammation, London, UK; Abstract Book p. 150.

24. Kotter I, Gunaydin I, Zierhut M, Stubiger N. The useof interferon alpha in Behcet disease: review of the li-terature. Semin Arthritis Rheum 2004; 33: 320-335.

25. Seyahi E, Ugurlu S, Ozyazgan Y, Melikoglu M, FreskoI, Hamuryudan V, Yurdakul S, Yazici H. Interferon α2b in Behçet's Syndrome with Severe Ocular Involve-ment. Arthritis Rheum 2005; 52 (supp 9): S647

26. Ohno S, Nakamura S, Hori S, Shimakawa M, Kawas-hima H, Mochizuki M, Sugita S, Ueno S, Yoshizaki K,Inaba G. Efficacy, safety, and pharmacokinetics ofmultiple administration of infliximab in Behcet's di-sease with refractory uveoretinitis. J Rheumatol 2004;31: 1362-1368.

27. Sfikakis PP, Kaklamanis PH, Elezoglou A, Katsilam-bros N, Theodossiadis PG, Papaefthimiou S, Marko-michelakis N. Infliximab for recurrent, sight-threate-ning ocular inflammation in Adamantiades-Behcetdisease. Ann Intern Med 2004; 140: 404-406.

28. Tugal-Tutkun I, Mudun A, Urgancioglu M, Kamali S,Kasapoglu E, Inanc M, Gul A. Efficacy of infliximab inthe treatment of uveitis that is resistant to treatmentwith the combination of azathioprine, cyclosporine,and corticosteroids in Behcet's disease: an open-la-bel trial. Arthritis Rheum 2005; 52: 2478-2484.

29. Hamuryudan V, Yurdakul S, Moral F, Numan F, TuzunH, Tuzuner N, Mat C, Tuzun Y, Ozyazgan Y, Yazici H.Pulmonary arterial aneurysms in Behcet's syndrome:a report of 24 cases. Br J Rheumatol 1994; 33: 48-51.

30. Hamuryudan V, Er T, Seyahi E, Akman C, Tuzun H,Fresko I, Yurdakul S, Numan F, Yazici H. Pulmonaryartery aneurysms in Behcet syndrome. Am J Med2004; 117: 867-870.

31. Kalko Y, Basaran M, Aydin U, Kafa U, Basaranoglu G,Yasar T. The surgical treatment of arterial aneurysmsin Behcet disease: a report of 16 patients. J Vasc Surg2005; 42: 673-677.

32. Cantasdemir M, Kantarci F, Islak C, Kocer N, Saltuk L,Numan F. Transcatheter coil embolization of an in-tercostal artery to pulmonary artery fistula. Eur Ra-diol 2002; 12: 454-457.

33. Mouas H, Lortholary O, Lacombe P, Cohen P, Boure-zak SE, Deloche A, Azorin J, Guillevin L. Embolizationof multiple pulmonary arterial aneurysms in Beh-cet's disease. Scand J Rheumatol 1996; 25: 58-60.

34. Tuzun H, Hamuryudan V, Yildirim S, Besirli K, YorukY, Yurdakul S, Yazici H. Surgical therapy of pulmonaryarterial aneurysms in Behcet's syndrome. Ann Tho-rac Surg 1996; 61: 733-735.

35. Akman-Demir G, Serdaroglu P, Tasci B. Clinical pat-terns of neurological involvement in Behcet's disea-se: evaluation of 200 patients. The Neuro-BehcetStudy Group. Brain 1999; 122: 2171-2182.

36. Licata G, Pinto A, Tuttolomondo A, Banco A, Ciccia F,Ferrante A, Triolo G. Anti-tumour necrosis factor al-pha monoclonal antibody therapy for recalcitrant ce-rebral vasculitis in a patient with Behcet's syndrome.Ann Rheum Dis 2003; 62: 280-281.

37. Tunc R, Saip S, Siva A, Yazici H. Cerebral venousthrombosis is associated with major vessel disease inBehcet's syndrome. Ann Rheum Dis 2004; 63: 1693--1694.

38. Erdem H, Dinc A, Pay S, Simsek I, Uysal Y. A neuro-Behcet's case complicated with intracranial hyper-tension successfully treated by a lumboperitonealshunt. Joint Bone Spine 2006; 73: 200-201.

39. Yurdakul S, Tuzuner N, Yurdakul I, Hamuryudan V,Yazici H. Gastrointestinal involvement in Behcet'ssyndrome: a controlled study. Ann Rheum Dis 1996;55: 208-210.

40. Kasahara Y, Tanaka S, Nishino M, Umemura H, Shi-raha S, Kuyama T. Intestinal involvement in Behcet'sdisease: review of 136 surgical cases in the Japaneseliterature. Dis Colon Rectum. 1981;24:103-106.

41. Postema PT, den Haan P, van Hagen PM, vanBlankenstein M. Treatment of colitis in Behcet's di-sease with thalidomide. Eur J Gastroenterol Hepatol1996; 8: 929-931.

42. Celik, AF., Kural-Seyahi, E., Cosgun, S., Hamuryudan,V., Yazıcı, H. Thalidomide in Azathioprine ResistantGastrointestinal Behçet's Syndrome; 3 Cases. ClinExp Rheumatol 2004; 22 (Supp 34): S 121.

43. Travis SP, Czajkowski M, McGovern DP, Watson RG,Bell AL. Treatment of intestinal Behcet's syndromewith chimeric tumour necrosis factor alpha antibody.Gut 2001; 49: 725-728.

44. Lee KS, Kim SJ, Lee BC, Yoon DS, Lee WJ, Chi HS. Sur-gical treatment of intestinal Behcet's disease. YonseiMed J 1997; 38: 455-460.

EMIRE SEYAHI E COL.

Page 23: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

O CONCEITO DE DISCÓLISE NAS

DISCOPATIAS DEGENERATIVAS

Michel Revel

Hôpital Cochin,Assistance Publique-Hôpitaux de Paris,Université René Descartes, Service de Rééducation et de Réadaptation

de l’Appareil Locomoteur et des Pathologies du Rachis

Page 24: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

Intervertebral disk disease has multiple radiological expressions and is probably multifactorial, althoughbeing generally considered univocal. Mechanical factors have been the best studied etiological factors andappear to be capable of starting and aggravating the different components of disk degeneration. This pro-cess also depends on genetic influences such as a collagen type IX mutation, a polymorphism in the aggre-can gene and a polymorphism in the vitamin D receptor gene. Intervertebral disk cells produce numerouscytokines with catabolic and anabolic activity. One of the elements of disk degeneration could be the un-balance between catabolic/inflammatory cytokines (IL 1, TNF α...) and anabolical/antiinflamatory cytoki-nes (IL 10, IL1 Ra, growth factors...). The main driver force of disk matrix destruction is the unbalance betwe-en metaloproteases (collagenases, stromelysines and gelatinases) and its natural inhibitors. It is this pro-cess that characterizes the active disk disease. It implies a reduction in the radiological intervertebral spa-ce in a few months and a vertebral plate oedema sign in MRI, around degenerated disks. This is clinicallymanifested as pseudo-inflammatory pain, with increased severity during the morning. These periods ofactive disk disease respond to non steroidal anti-inflammatory drugs and to steroids, particularly whenlocally administered. The evidence of the existence of an active disk disease has not only clinical and ma-nagement pertinence but also scientific, as it allows to better understand the process of disk destruction.

Keywords: Back pain; Disk degeneration; Discolysis; Physiopathology.

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

134

R E S U M O

A degenerescência do disco intervertebral tem múltiplas expressões radiológicas e é provavelmente mul-tifactorial, mas é considerada habitualmente como uma entidade unívoca. Dentro dos factores de dete-rioração, os factores mecânicos foram os mais bem estudados e parecem ser capazes de desencadear eagravar os diferentes componentes da degenerescência discal. A degenerescência discal parece dependertambém de influências genéticas, em relação com uma provável mutação no gene do colagénio IX, umpolimorfismo no gene dos agrecanos e ainda um polimorfismo no gene dos receptores da vitamina D. Ascélulas do disco intervertebral produzem numerosas citoquinas com actividade catabólica e actividadeanabólica. Um dos elementos da degenerescência discal poderia ser a rotura do equilíbrio entre as cito-quinas pró-inflamatórias com actividade catabólica (IL 1, TNF α...) e as citoquinas com actividade anti--inflamatória e anabólica (IL 10, IL1 Ra, factores de crescimento...). O elemento motor da destruição damatriz discal é um desequilíbrio entre a acção das metaloproteinases (colagenases, estromelisinas e ge-latinases) e dos seus inibidores. É este processo de discólise que caracteriza as «discopatias activas». Es-tas comportam um estreitamento do disco intervertebral em poucos meses e um sinal, na RMN, de ede-ma dos pratos vertebrais, em redor da discopatia. Elas associam-se a um quadro clínico pseudo-inflama-tório com agravamento da dor matinal. As fases de discopatia activa com predomínio de condrólise cons-tituem um quadro particular de lombalgia crónica incapacitante, sensível aos anti-inflamatórios nãoesteróides e à corticoterapia, particularmente local. A evidência da existência de uma discopatia activatem, não só pertinência clínica e terapêutica, mas também científica, por permitir compreender melhoros processos de deterioração discal.

Palavras-chave: Lombalgias; Discopatia degenerativa; Discólise; Fisiopatologia

A B S T R A C T

Page 25: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

135

A R T I G O D E R E V I S Ã O

O C O N C E I T O D E D I S C Ó L I S E N A S

D I S C O P AT I A S D E G E N E R AT I VA S

Michel Revel*

Introdução

«Discopatia Degenerativa» é um termo genérico uti-lizado para designar a deterioração discal, não re-sultante de um reumatismo inflamatório ou de umainfecção. Desta forma, compreende as alteraçõesestruturais relacionadas com o desgaste, com o en-velhecimento e com a artrose, levando-nos a pen-sar que todos estes contextos resultam de um pro-cesso comum. A degenerescência discal tem, toda-via, múltiplas expressões: anatómica (nível único oumúltiplo, predominância osteofítica ou discolíti-ca...), evolutiva (lenta, progressiva ou rápida), clíni-ca (dolorosa ou não). Será lógico e pertinente agru-par na mesma entidade as discopatias que surgemno adulto jovem, juntamente com as lesões verte-brais de distrofia raquidiana do crescimento, as dis-copatias que cursam com pouco estreitamento dodisco e muita proliferação óssea na vizinhança daDoença de Forestier, as discopatias muito lenta-mente progressivas, associadas a uma anomalia dacharneira ou de uma artrodese, ou as discopatiascaracterizadas por um estreitamento discal signifi-cativo em poucos meses, bem como por erosão dospratos vertebrais adjacentes semelhante à que po-demos ver numa espondilite infecciosa?

Até ao momento, todos os estudos consagradosà discopatia comum consideraram de forma uní-voca a degenerescência discal, sem ter em conta assuas particularidades anatómicas, clínicas e evolu-tivas. Estes vieram, sem dúvida, fornecer conheci-mentos importantes sobre as modificações estru-turais e funcionais do disco, bem como dos facto-res potenciais da deterioração, mas parece-nosnecessário ir para além da noção de «degeneres-cência» com o objectivo de um maior rigor clínico.É no sentido da decomposição do significado dadegenerescência discal que propomos o conceitode degenerescência activa.

Modificações Estruturais e Funcionais na Discopatia Degenerativa

As modificações estruturais e funcionais da disco-patia degenerativa integram as modificações mor-fológicas da estrutura discal, as modificações dabiologia celular e dos seus produtos de secreção eas modificações da matriz extracelular.

Alterações morfológicasA desidratação do núcleo pulposo é uma manifes-tação constante e precoce, enquanto que o apare-cimento de fissuras e de fendas no anel fibroso éprovavelmente mais tardio, bem como o apareci-mento de neovascularização e inervação das zonasperiféricas.

As modificações da placa da cartilagem hialinae do osso subcondral podem constituir um factorimportante de perturbação do metabolismo dascélulas discais. Sob a influência de traumatismos derepetição ou no contexto de sequelas de uma dis-trofia raquidiana do crescimento, podemos obser-var esclerose do osso subcondral, fissuras e calcifi-cações anormais da placa de cartilagem hialina.Estes rearranjos podem constituir um obstáculo à difusão de oxigénio e da glicose para o disco, com acumulação de ácido láctico e diminuição dopH.1-4

Modificações celularesNo plano morfológico, verifica-se um aumento da densidade celular, com distribuição em agre-gados dentro do núcleo pulposo e na parte interna do anel fibroso5. Ao mesmo tempo observa-se um fenómeno de apoptose dos condrócitos da por-ção periférica e sobretudo dos da parte cartilagi-nosa.6-9

Alterações da matriz extracelularA síntese de proteoglicanos diminui, em particulara dos grandes agregados (agrecanos). Assiste-setambém a um aumento da razão sulfato de quera-tina/sulfato de condroitina e a uma síntese aumen-

*Hôpital Cochin,Assistance Publique-Hôpitaux de Paris, UniversitéRené Descartes, Service de Rééducation et de Réadaptation del’Appareil Locomoteur et des Pathologies du Rachis

Page 26: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

136

tada de fibronectina dentro do núcleo pulposo e doanel fibroso.10 A fibronectina poderia, através de al-guns dos seus fragmentos libertados na matriz, in-duzir uma diminuição da síntese de agrecanos eum aumento da síntese de metaloproteinases.11

No que se refere ao colagénio, após um aumen-to da sua expressão durante os estádios iniciais dadegenerescência, assiste-se a uma perda progres-siva em quantidade e a uma modificação na qua-lidade: o colagénio tipo I, IV e X surge no núcleopulposo e na parte interna do anel fibroso, en-quanto que o colagénio tipo II diminui no núcleopulposo e nos pratos cartilaginosos. A organiza-ção da rede de fibras de colagéneo torna-se hete-rogénea.

Citoquinas celulares do disco intervertebralAs células do disco são capazes de segregar a maiorparte das citoquinas pró-inflamatórias implicadasem actividades catabólicas (IL1 α e β, IL6, TNFα,MCP1, MIP-1a, PGE2, PLA2, NO...) e anti-inflama-tórias, implicadas em actividades anabólicas (IL10,IL1 Ra, TGFα, EGF, IGF, FGF...). É provável que umdesequilíbrio entre a síntese e a produção de me-diadores do catabolismo e de mediadores de acti-vidade anabólica possa ser um dos factores iniciaisda degenerescência discal.10,12-17

Modificações das enzimas da matrizA matriz extracelular comporta as colagenases 1,2 e 3, que degradam, respectivamente, os colagé-nios tipo I, II e III, a estromelisina (MMP3), as ge-latinases A e B e as agrecanases que degradam osproteoglicanos. Estas metaloproteinases são nor-malmente inibidas pelos inibidores tecidulares dasmetaloproteinases presentes na matriz e possi-velmente activadas localmente por factores destress mecânico e por certas citoquinas como a IL1e fragmentos Fn-fs da fibronectina.18,19

É possível que o estreitamento do disco induzi-do pela discólise resulte de um aumento da produ-ção das metaloproteinases20 ou de um desequilí-brio entre a síntese de metaloproteinases e a dosseus inibidores presentes na matriz extracelularou de uma anormal activação dentro da matriz daIL1 ou do Fn-fs.11

Papel das Forças Mecânicas

O papel das forças mecânicas tem sido estudadode acordo com diferentes modelos: nos últimos

discos lombares no homem21,22 e nos animais,23-25 apartir de sistemas de compressão localizados so-bre os discos da cauda de rato,26-28 a partir de pres-sões hidrostáticas exercidas sobre o tecido discal29

e através do estiramento aplicado directamentesobre as células discais em cultura.30

Os principais efeitos observados são uma dimi-nuição dos proteoglicanos, variável com a inten-sidade do estreitamento,31 um aumento do colagé-nio tipo I e diminuição do colagénio tipo II na par-te central do disco, uma activação das MMP228,32 eMMP3, apoptose celular correlacionada com aamplitude e a duração das forças aplicadas7,26 euma produção de mediadores inflamatórios, bemcomo um aumento da produção de NO, acompa-nhado por um aumento da sensibilidade à IL1.30,33

Influência dos Factores Genéticos

A sua importância foi revelada depois dos primei-ros estudos em gémeos homozigóticos.34 Reforçan-do estes estudos, sabe-se que o aparecimento dehérnias discais precoces é cinco vezes mais fre-quente quando existem antecedentes familiaresde hérnia discal.35

A ideia da existência de uma predisposição ge-nética na degenerescência lombar foi reforçadapela evidência de mutações nos genes que codifi-cam o colagénio tipo IX no homem e os colagéniostipo IX e II no animal.36-38 Além disso, foi evidencia-do um polimorfismo no gene do agrecano39 e nogene do receptor da vitamina D.40

Estas modificações genéticas parecem afectarde forma particular a placa cartilaginosa do discoe poderiam ser, numa fase inicial, causadoras dedistrofia raquidiana do crescimento.41 A discopa-tia seria então secundária às perturbações das tro-cas nutritivas de uma placa cartilaginosa deterio-rada pela distrofia do crescimento1.

Em resumo, as duas últimas décadas trouxe-ram-nos numerosas descobertas no que respeitaa possíveis factores mecânicos, bioquímicos e ge-néticos da degenerescência discal. Estas descober-tas surgem-nos, todavia, como peças de um puzzleno qual falta reconstruir o desenho final. O passomais pertinente é de as tentar relacionar com asobservações clínicas e com os objectivos terapêu-ticos estabelecidos. De facto é provável que a dis-copatia degenerativa seja multifactorial e um cer-to número de quadros clínicos poderiam resultarda influência de factores causais específicos:

O CONCEITO DE DISCÓLISE NAS DISCOPATIAS DEGENERATIVAS

Page 27: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

137

– as compressões mecânicas repetidas e os pro-cessos de envelhecimento poderiam ser deter-minantes nas discopatias lentas, progressivas ecom predominância da produção osteofítica;

– as discopatias que surgem no indivíduo jovem,junto a pratos vertebrais modificados por umadistrofia raquidiana do crescimento, poderiamser induzidas por determinantes genéticos quegeram anomalias do colagénio e dos proteogli-canos. A discopatia seria então resultante dosdistúrbios de difusão do osso para o disco;

– a discólise rápida poderia resultar principal-mente de uma rotura do equilíbrio entre as pro-teases da matriz e os seus inibidores naturais,sob a influência de um excesso de citocinas pró--inflamatórias e pró-catabólicas, e de uma insu-ficiência de factores de crescimento.Mesmo que esta separação com base nos facto-

res fisiopatológicos supostamente causais seja hi-potética e pouco sistemática, ela permite distinguiros diferentes contextos de lombalgias discais cli-nicamente pertinentes e melhorar as decisões te-rapêuticas. É neste contexto que o conceito de dis-cólise activa parece-nos enriquecer a marcha diag-nóstica de uma lombalgia comum persistente e in-capacitante.

O Conceito de Discopatia Activa

Se considerarmos a degenerescência discal segun-do uma definição simplesmente descritiva e está-tica com base na sua expressão radiológica (comdiminuição da altura do disco, osteofitose e escle-rose do osso subcondral) ela não se correlacionacom a presença de uma lombalgia. Contudo, foi su-gerido que a rapidez do estreitamento do espaçointervertebral, avaliado pela comparação da altu-ra discal em radiografias sucessivas, é variável deum indivíduo para outro e num mesmo indivíduoao longo da evolução da lombalgia, podendo exis-tir uma relação entre a rapidez do estreitamento ea intensidade das dores.42 Não é raro observarmos,fora do contexto de reumatismos inflamatórios,microcristalinos, de infecção, de terapêutica in-tradiscal ou cirurgia, estreitamentos discais deaparecimento rápido, que surgem simultanea-mente à recrudescência da lombalgia. Tínhamosproposto o termo de discopatia destrutiva rápida(DDR) para os estreitamentos discais superioresou iguais a 50% da altura inicial em menos de doisanos.43 Estas discólises rápidas relembram as con-

dropatias periféricas rápidas como a coxopatiadestrutiva rápida (CDR) e sugerem uma aborda-gem da discopatia degenerativa próxima daquelacada vez mais praticada na artrose dos membros.Admite-se, efectivamente, que a destruição da car-tilagem periférica corresponda às fases agudas daartrose (surtos inflamatórios), as quais não sãoacompanhadas por parâmetros biológicos e histo-lógicos de inflamação, mas apresentam um padrãode dor, derrame articular e participação de citoci-nas pró-inflamatórias que caracterizam um esta-do evolutivo da artrose muito próximo da artrite.

As dificuldades encontradas relativamente aosdiscos intervertebrais prendem-se com o factodestes não possuírem uma cavidade articular e,consequentemente, não possuírem líquido sino-vial (contrariamente às articulações interapofisá-rias posteriores).

Para além da rápida redução do espaço interver-tebral, revelada pela comparação de duas radiogra-fias de perfil com intervalo de alguns meses, o si-nal da RMN no osso subcondral e as modificaçõesclínicas da lombalgia permitem considerar a pos-sibilidade de uma progressão «activa» da discopa-tia semelhante ao «surto inflamatório» da artrose.

A presença, na RMN, de um hiposinal em T1 ede um hipersinal em T2, nos pratos vertebrais ad-jacentes a uma discopatia, com pouco ou nenhumsinal de água no interior do tecido discal, designa-do como estádio 1 na classificação de Modic,44 po-deria ter o mesmo significado que o sinal observa-do no osso subcondral de certas artroses periféri-cas com surtos inflamatórios e diminuição do es-paço articular. As relações entre estas modificaçõesde sinal na RMN e a discólise propriamente ditasão contudo difíceis de precisar. Quando a disco-patia está muito evoluída, este sinal na RMN po-deria traduzir uma reacção edematosa, microtrau-mática, do osso dos pratos vertebrais devido à di-minuição da capacidade de absorção discal doschoques mecânicos. Contudo, o sinal de edemapoderá também ser encontrado no início do estrei-tamento, enquanto o disco é ainda capaz de de-sempenhar o seu papel de amortizador (Figura 1).A sua presença, nestas condições, sugere que oosso subcondral participa no processo da discóli-se. Qualquer que seja o seu significado, na ausên-cia de radiografias anteriores que permitam asse-gurar com certeza uma DDR, a associação de umalombalgia permanente, invalidante, pseudo-infla-matória e de um sinal de tipo Modic 1 na RMN,pode-nos levar a considerar que se trata de um

MICHEL REVEL

Page 28: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

138

processo de discólise activa e, sobretudo, que odisco é o responsável pelos sintomas. Efectivamen-te, todos os estudos de RMN efectuados nos indi-víduos assintomáticos parecem confirmar as ca-racterísticas patológicas deste sinal; são referidasanomalias discais variadas, nomeadamente protu-sões, hérnias, desidratação do disco, zonas de hi-persinal no seio de fragmentações discais, artropa-tias articulares posteriores, sinais de aumento dagordura dos corpos vertebrais, mas quase nuncadiscopatias acompanhadas de um sinal de edemados pratos vertebrais adjacentes.45-48

O quadro clínico contemporâneo do período dediscopatia activa inclui um conjunto de caracterís-ticas observadas no decurso da DDR e a presençade um sinal típico de tipo Modic I. Constata-se umpredomínio do sexo feminino, numa faixa etáriaque vai dos 30 aos 70 anos. A lombalgia é habitual-mente considerada bastante mais intensa do queas dores que os doentes sofreram anteriormente.Ela é permanente, exacerbada pelas actividades fí-sicas, mas está presente também em 2/3 dos casosdurante a noite, causando despertares nocturnos.O momento do dia em que a dor é mais incapaci-tante é de manhã, ao acordar, acompanhada de ri-gidez, por vezes durante cerca de 1 hora. Assim, àquestão: «qual é o pior momento do dia para si?»o doente responde na maioria dos casos: «de ma-

nhã ao acordar».No exame objectivo, todos os

movimentos da coluna lombar sãodolorosos e o Índice de Schöber é,em alguns casos, inferior a 3 cm.

Os parâmetros biológicos de in-flamação são normais. Quando agravidade da dor, a rapidez do es-treitamento discal e o contexto clí-nico colocam a hipótese de uma in-fecção concomitante, levando àrealização de uma biópsia discal, oanatomopatologista não encontracélulas inflamatórias. Existem ape-nas algumas placas necróticas noseio do tecido degenerativo fibro-cartilagíneo.

A evolução da fase activa da dis-cólise tem uma duração na ordemdos 9 a 12 meses. Durante este pe-ríodo, os anti-inflamatórios não es-teróides, mesmo que bastante me-nos eficazes que numa espondilo-artropatia seronegativa, têm uma

eficácia superior à dos analgésicos. Os corticóidestêm, em geral, uma eficácia semelhante. A injec-ção intradiscal de corticóides tem eficácia em 8 decada 10 casos, embora transitória, com retorno dasdores após um mês, na maioria dos doentes. Nãosão observadas complicações a longo prazo.49

Em resumo, o conceito genérico de discopatiadegenerativa não é suficiente, nem para o rigor clí-nico, nem para a pesquisa fundamental dos meca-nismos biológicos envolvidos. A evidência de umafase activa de discopatia com discólise rápida e/ouedema vertebral na RMN facilita o diagnóstico e aterapêutica nas lombalgias crónicas comuns. Per-mite eliminar, com base na clínica, uma suspeitade espondilodiscite infecciosa, conduzindo ape-nas excepcionalmente ao recurso da biópsia dis-cal. Permite identificar com elevada exactidão estaentidade e prever, na maior parte dos casos, o re-torno ao estado clínico anterior em alguns meses.Nos casos em que a evolução não é favorável, a ar-trodese assume nesta situação a sua indicaçãomais vantajosa.50,51

Em resumo, trata-se de um contexto privilegiadopara estudar os mecanismos da discólise, o desequi-líbrio entre as metaloproteases discais e os seus ini-bidores naturais, assim como o papel de diversas ci-toquinas pró-inflamatórias dentro deste desequilí-brio. O tratamento ideal que podemos esperar no fu-

O CONCEITO DE DISCÓLISE NAS DISCOPATIAS DEGENERATIVAS

Figura 1. Processo de discólise rápida visualizada em ressonância magnéti-ca e em radiologia convencional.

Page 29: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

139

turo resultará de uma melhoria dos conhecimentossobre os mecanismos biológicos da discólise.

Múltiplos ensaios de terapêutica genética emmodelos animais mostraram já que é possível es-timular a expressão de factores que se opõem à de-gradação discal. É possível, por exemplo, induzir aexpressão do TGF-beta e obter um aumento da sín-tese de proteoglicanos pelas células discais.52 A dis-cólise activa é provavelmente o terreno ideal paraestas terapêuticas no futuro.

Endereço para correspondênciaHôpital Cochin, Assistance Publique-Hôpitaux deParis, Université René Descartes, Service de Rééducation et de Réadaptation de l’Appareil Locomoteur et des Pathologies du Rachis 27 rue du Faubourg Saint Jacques, 75014 PARISTél. : 33 (1) 58 41 25 41, Fax : 33 (1) 58 41 25 45E-mail: [email protected]

Artigo traduzido do francês para o português por Elsa Sousa – Interna de Reumatologia do Hospital deSanta Maria

Referências1. Urban MR, Fairbank JC, Etherington PJ, Loh FRCA L,

Winlove CP, Urban JP.Electrochemical measurement oftransport into scoliotic intervertebral discs in vivo using nitrous oxide as a tracer. Spine 2001; 26: 984-990.

2. Urban JP, Roberts S. Degeneration of the intervertebraldisc. Arthritis Res Ther 2003; 5:120-130.

3. Bibby SR, Jones DA, Ripley RM, Urban JP. Metabolism ofthe Intervertebral Disc: Effects of low levels of oxygen,glucose, and pH on rates of energy metabolism of bovi-ne nucleus pulposus cells.Spine 2005;30:487-496.

4. Horner HA, Urban JP. 2001 Volvo Award Winner in BasicScience Studies: Effect of nutrient supply on the viabilityof cells from the nucleus pulposus of the intervertebraldisc. Spine 2001; 26: 2543-2549.

5. Johnson WE, Eisenstein SM, Roberts S. Cell cluster for-mation in degenerate lumbar intervertebral discs is as-sociated with increased disc cell proliferation. ConnectTissue Res 2001; 42: 197-207.

6. Gruber HE, Hanley EN Jr. Analysis of aging and degene-ration of the human intervertebral disc. Comparison ofsurgical specimens with normal controls. Spine 1998; 23:751-757.

7. Lotz JC, Chin JR. Intervertebral disc cell death is depen-dent on the magnitude and duration of spinal loading.Spine 2000; 25:1477-1483.

8. Ariga K, Miyamoto S, Nakase T, Okuda S, Meng W, Yone-nobu K, Yoshikawa H. The relationship between apoptosisof endplate chondrocytes and aging and degeneration ofthe intervertebral disc. Spine 2001; 26:2414-2420.

9. Gruber HE, Ma D, Hanley EN Jr, Ingram J, YamaguchiDT. Morphologic and molecular evidence for gapjunctions and connexin 43 and 45 expression in annulusfibrosus cells from the human intervertebral disc. J Or-

thop Res 2001; 19: 985-989. 10. Nerlich AG, Bachmeier BE, Boos N. Expression of fibro-

nectin and TGF-≤1 mRNA and protein suggest alteredregulation of extracellular matrix in degenerated disc tis-sue. Eur Spine J 2005; 14:17-26.

11. Oegema TR Jr, Johnson SL, Aguiar DJ, Ogilvie JW. Fibro-nectin and its fragments increase with degeneration inthe human intervertebral disc. Spine 2000;25:2742-2747.

12. Grang L, Gaudin P, Trocme C, Phelip X, Morel F, Juvin R.Intervertebral disk degeneration and herniation: the roleof metalloproteinases and cytokines. Joint Bone Spine2001; 68: 547-553.

13. Roberts S, Caterson B, Menage J, Evans EH, Jaffray DC,Eisenstein SM. Matrix metalloproteinases and aggreca-nase: their role in disorders of the human intervertebraldisc. Spine 2000; 25: 3005-3013.

14. Roberts S, Evans H, Menage J, Urban JP, Bayliss MT, Eisen-stein SM, Rugg MS, Milner CM, Griffin S, Day AJ. TNFal-pha-stimulated gene product (TSG-6) and its bindingprotein, (alpha), in the human intervertebral disc: newmolecules for the disc. Eur Spine J 2005;14:36-42.

15. Ahn SH, Cho YW, Ahn MW, Jang SH, Sohn YK, Kim HS. mR-NA expression of cytokines and chemokines in herniatedlumbar intervertebral discs. Spine 2002; 27:911-917.

16. Freemont AJ, Watkins A, Le Maitre C, Jeziorska M, Hoy-land JA. Current understanding of cellular and molecu-lar events in intervertebral disc degeneration: implicati-ons for therapy.J Pathol 2002; 196: 374-379.

17. Saal JS. The role of inflammation in lumbar pain. Spine1995; 20: 1821-1827.

18. Kanemoto M, Hukuda S, Komiya Y, Katsuura A, NishiokaJ. Immunohistochemical study of matrix metalloprotei-nase-3 and tissue inhibitor of metalloproteinase-1 hu-man intervertebral discs. Spine 1996; 21:1-8.

19. Shen B, Melrose J, Ghosh P, Taylor F. Induction of matrixmetalloproteinase-2 and -3 activity in ovine nucleus pul-posus cells grown in three-dimensional agarose gel cul-ture by interleukin-1beta: a potential pathway of disc de-generation. Eur Spine J 2003;12:66-75.

20. Weiler C, Nerlich AG, Zipperer J, Bachmeier BE, Boos N.2002 SSE Award Competition in Basic Science: expressi-on of major matrix metalloproteinases is associated withintervertebral disc degradation and resorption. Eur Spi-ne J 2002; 11: 308-320.

21. Videman T, Nurminen M, Troup JD. 1990 Volvo Award inclinical sciences. Lumbar spinal pathology in cadavericmaterial in relation to history of back pain, occupation,and physical loading. Spine 1990; 15: 728-740.

22. Videman T, Sarna S, Battie MC, Koskinen S, Gill K, Paa-nanen H, Gibbons L. The long-term effects of physicalloading and exercise lifestyles on back-related symp-toms, disability, and spinal pathology among men. Spine1995; 20: 699-709.

23. Puustjarvi K, Lammi M, Kiviranta I, Helminen HJ, Tam-mi M. Proteoglycan synthesis in canine intervertebraldiscs after long-distance running training. J Orthop Res1993; 11: 738-746.

24. Saamanen AM, Puustjarvi K, Ilves K, Lammi M, Kiviranta I,Jurvelin J, Helminen HJ, Tammi M. Effect of running exer-cise on proteoglycans and collagen content in the interver-

MICHEL REVEL

Page 30: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:133-40

140

tebral disc of young dogs. Int J Sports Med 1993; 14: 48-51.25. Sobajima S, Kompel JF, Kim JS, Wallach CJ, Robertson

DD, Vogt MT, Kang JD, Gilbertson LG. A slowly progressi-ve and reproducible animal model of intervertebral discdegeneration characterized by MRI, X-ray, and histology.Spine 2005; 30:15-24.

26. Hutton WC, Ganey TM, Elmer WA, Kozlowska E, Ugbo JL,Doh ES, Whitesides TE Jr. Does long-term compressiveloading on the intervertebral disc cause degeneration?Spine 2000; 25: 2993-3004.

27. Lotz JC, Hsieh AH, Walsh AL, Palmer EI, Chin JR. Mecha-nobiology of the intervertebral disc. Biochem Soc Trans2002; 30: 853-858.

28. Adams CS, Shapiro IM. Mechanisms by which extracel-lular matrix components induce osteoblast apoptosis.Connect Tissue Res 2003; 44 suppl 1: 230-239.

29. Liu GZ, Ishihara H, Osada R, Kimura T, Tsuji H. Nitricoxide mediates the change of proteoglycan synthesis inthe human lumbar intervertebral disc in response tohydrostatic pressure. Spine 2001; 26:134-141.

30. Rannou F, Corvol M, Revel M, Poiraudeau S. Disk dege-neration and disk herniation: the contribution of me-chanical stress. Joint Bone Spine 2001; 68: 543-546.

31. Taylor TK, Melrose J, Burkhardt D, Ghosh P, Claes LE,Kettler A, Wilke HJ. Spinal biomechanics and aging aremajor determinants of the proteoglycan metabolism ofintervertebral disc cells. Spine 2000; 25: 3014-3020.

32. Takaishi H, Nemoto O, Shiota M, Kikuchi T, Yamada H, Ya-magishi M, Yabe Y. Type-II collagen gene expression istransiently upregulated in experimentally induced dege-neration of rabbit intervertebral disc. J Orthop Res 1997;15: 528-538.

33. Rannou F, Richette P, Benallaoua M, Francois M, GenriesV, Korwin-Zmijowska C, Revel M, Corvol M, Poiraudeau S.Cyclic tensile stretch modulates proteoglycan productionby intervertebral disc annulus fibrosus cells through pro-duction of nitrite oxide. J Cell Biochem. 2003; 90: 148-157.

34. Heikkila JK, Koskenvuo M, Heliovaara M, Kurppa K, Rii-himaki H, Heikkila K, Rita H, Videman T. Genetic and en-vironmental factors in sciatica. Evidence from a nati-onwide panel of 9365 adult twin pairs. Ann Med 1989;21:393-398.

35. Varlotta GP, Brown MD, Kelsey JL, Golden AL. Familialpredisposition for herniation of a lumbar disc in patientswho are less than twenty-one years old. J Bone Joint SurgAm 1991; 73:124-128.

36. Paassilta P, Lohiniva J, Goring HH, Perala M, Raina SS,Karppinen J, Hakala M, Palm T, Kroger H, Kaitila I, Va-nharanta H, Ott J, Ala-Kokko L. Identification of a novelcommon genetic risk factor for lumbar disk disease. JA-MA 2001; 285:1843-1849.

37. Annunen S, Paassilta P, Lohiniva J, Perala M, PihlajamaaT, Karppinen J, Tervonen O, Kroger H, Lahde S, Vanha-ranta H, Ryhanen L, Goring HH, Ott J, Prockop DJ, Ala-Kokko L. An allele of COL9A2 associated with interverte-bral disc disease. Science 1999; 285: 409-412.

38. Sahlman J, Inkinen R, Hirvonen T, Lammi MJ, LammiPE, Nieminen J, Lapvetelainen T, Prockop DJ, Arita M, LiSW, Hyttinen MM, Helminen HJ, Puustjarvi K. Prematu-re vertebral endplate ossification and mild disc degene-

ration in mice after inactivation of one allele belongingto the Col2a1 gene for Type II collagen. Spine 2001; 26:2558-2565.

39. Kawaguchi Y, Osada R, Kanamori M, Ishihara H, OhmoriK, Matsui H, Kimura T. Association between an aggrecangene polymorphism and lumbar disc degeneration. Spi-ne 1999; 24: 2456-2460.

40. Videman T, Gibbons LE, Battie MC, Maravilla K, Vanni-nen E, Leppavuori J,Kaprio J, Peltonen L. The relative ro-les of intragenic polymorphisms of the vitamin d recep-tor gene in lumbar spine degeneration and bone density.Spine 2001; 26: E7-E12.

41. Karppinen J, Paakko E, Paassilta P, Lohiniva J, KurunlahtiM, Tervonen O, Nieminen P, Goring HH, Malmivaara A,Vanharanta H, Ala-Kokko L. Radiologic phenotypes inlumbar MR imaging for a gene defect in the COL9A3 geneof type IX collagen. Radiology 2003; 227:143-148.

42. Vignon E, Vial B, Mathieu P, Bazin T, Vignon G. Mesuredes variations avec le temps de l'épaisseur des disqueslombaires chez les lombalgiques. Rev Rhum Mal Ostéo-artic 1989; 56: 369-374.

43. Revel M, Poiraudeau S, Roux C, Amor B. La discopathiedestructrice rapide. Rev Med Orthop 1990; 20:19-22.

44. Modic MT, Steinberg PM, Ross JS, Masaryk TJ, Carter JR.Degenerative disk disease: assessment of changes in ver-tebral body marrow with MR imaging. Radiology 1988;166: 193-199.

45. Jensen MC, Brant-Zawadzki MN, Obuchowski N, ModicMT, Malkasian D, Ross JS. Magnetic resonance imagingof the lumbar spine in people without back pain. N EnglJ Med 1994; 331: 69-73.

46. Schellhas KP, Pollei SR, Gundry CR, Heithoff KB. Lumbardisc high-intensity zone. Correlation of magnetic reso-nance imaging and discography. Spine 1996; 21: 79-86.

47. Videman T, Battie MC, Gill K, Manninen H, Gibbons LE,Fisher LD. Magnetic resonance imaging findings andtheir relationships in the thoracic and lumbar spine. In-sights into the etiopathogenesis of spinal degeneration.Spine 1995; 20: 928-935.

48. Weishaupt D, Zanetti M, Hodler J, Boos N. MR imaging ofthe lumbar spine: prevalence of intervertebral disk extrusi-on and sequestration, nerve root compression, end plateabnormalities, and osteoarthritis of the facet joints inasymptomatic volunteers. Radiology 1998;209:661-666.

49. Benyahya R, Lefevre-Colau MM, Fayad F, Rannou F, De-maille-Wlodyka S, Mayoux-Benhamou MA, PoiraudeauS, Revel M. Infiltrations intradiscales d'acétate de pred-nisolone dans les lombalgies sévères. Recherche decomplications radiologiques. Ann Readapt Med Phys2004; 47: 621-626.

50. Chataigner H, Onimus M, Polette A. La chirurgie des dis-copathies lombaires. Faut-il greffer le disque noir? Rev ChirOrthop Reparatrice Appar. Mot. 1998;84:583-589.

51. Berlemann U, Gries NC, Moore RJ. The relationshipbetween height, shape and histological changes in earlydegeneration of the lower lumbar discs. Eur Spine J1998; 7: 212-217.

52. Chung SA, Khan SN, Diwan AD. The molecular basis ofintervertebral disk degeneration. Orthop Clin North Am2003; 34: 209-219.

O CONCEITO DE DISCÓLISE NAS DISCOPATIAS DEGENERATIVAS

Page 31: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ARTRITE INDUZIDA POR ZYMOSAN

EM RATOS – MECANISMOS ENVOLVIDOS

NA HIPERNOCICEPÇÃO E NA LISE

DA CARTILAGEM ARTICULAR

Francisco Saraiva da Silva Junior

Francisco Airton Castro da Rocha

Serviço de Reumatologia – Hospital Walter CantídioUniversidade Federal do Ceará (HUWC – UFC)

Page 32: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

144

A B S T R A C T

The authors present the experience of the group in the study of the mechanisms of hypernociception (pain)and articular cartilage lesion in the zymosan-induced arthritis model in rats.

Keywords: Arthritis; Zymosan; Nitric Oxide; Pain; Cartilage

R E S U M O

Os autores relatam a experiência do grupo no estudo de mecanismos de hipernocicepção (dor) e lesão dacartilagem articular no modelo de artrite induzida por zymosan em ratos.

Palavras-Chave: Artrite; Zymosan; Óxido Nítrico; Dor; Cartilagem.

Page 33: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

145

A R T I G O D E R E V I S Ã O

A R T R I T E I N D U Z I D A P O R Z Y M O S A N E M R AT O S –M E C A N I S M O S E N V O LV I D O S N A H I P E R N O C I C E P Ç Ã O

E N A L I S E D A C A R T I L A G E M A R T I C U L A R

Francisco Saraiva da Silva Junior*, Francisco Airton Castro da Rocha**

Introdução

Dentre as artropatias crônicas inflamatórias, a artri-te reumatóide (AR) é a mais prevalente e a maior res-ponsável por invalidez, quer temporária, quer per-manente. Embora se tenha avançado na compreen-são da etiopatogenia dessa doença, muito dos me-canismos fisiopatológicos envolvidos ainda estãopor ser elucidados. O fato de não existir artrite reu-matóide, tal como a vemos em humanos, em outrasespécies, representa uma dificuldade técnica no es-tudo da AR. Entretanto, vários modelos animais têmsido empregados como ferramentas úteis na com-preensão dos mecanismos de lesão em artrites. Defato, mesmo a introdução dos agentes biológicosna terapêutica da AR se fundamentou nos resulta-dos obtidos em modelos experimentais em animais,antes de serem testados em ensaios clínicos.

Nosso grupo tem trabalhado com artrite experi-mental, particularmente com o modelo de artriteinduzida por zymosan (AZy) em ratos, nos últimos12 anos. Recentemente, também padronizamosum método para estudo da hipernocicepção emum modelo de osteoartrite em ratos. No presenteartigo, discorremos brevemente sobre os modelosexperimentais de artrite que mimetizam a AR e ex-ploraremos alguns dos resultados que obtivemosao cabo desses anos de trabalho, empregando omodelo de AZy, enfocando a hipernocicepção e alesão da cartilagem articular.

Modelos Experimentais de Artrite

Vários modelos foram descritos no intuito de indu-zir artrite em animais tentando reproduzir achadosda AR. A rigor, um modelo ideal de artrite deveria

preencher os seguintes requisitos: ter achados clí-nicos, radiológicos e histopatológicos semelhantesaos observados na AR, sem sistemização; apresen-tar mínimas alterações de «artrite não-reumatói-de»; ser de fácil indução, baixo custo, boa reproduti-bilidade, utilizando animal de fácil acesso; ter con-fiabilidade quanto ao início, incidência e avaliaçãoda gravidade das alterações; responder a agentesterapêuticos de forma semelhante ao observadona AR; ter parâmetros de alterações imunológicase de atividade mensuráveis.1 Nenhum dos mode-los atualmente disponíveis satisfaz plenamente to-das essas condições, embora todos se aproximemrazoavelmente do objetivo pretendido.

A Artrite Induzida por Adjuvante consiste nainjeção intradérmica de Adjuvante completo deFreund, em ratos susceptíveis. Entre 14 e 21 diasapós a injeção do estímulo, os animais desen-volvem artrite generalizada e uma resposta sistê-mica, podendo envolver inclusive a cartilagem dasorelhas. O aspecto histológico lembra a sinovitereumatóide humana, encontrando-se hiperplasiasinovial, infiltrado linfomononuclear, neoformaçãovascular e, em fases posteriores, lise da cartilagemarticular e reabsorção óssea. A invasão da cartila-gem e do espaço subcondral assemelha a sinovitedesse modelo ao pannus reumatóide. Uma desvan-tagem, entretanto, é a segregação em cepas de ra-tos e a dificuldade em se precisar o início da artrite.

A Artrite induzida por colágeno tipo II foi classi-camente estabelecida utilizando camundongos,mas também pode ocorrer em ratos e primatas.Além de reproduzir achados histológicos e evolu-tivos da AR humana, esse modelo apresenta a van-tagem de utilizar um animal que vem sendo empre-gado em técnicas de biologia molecular, permitin-do modificações genéticas. A especificidade para ocolágeno tipo II, admitindo-se ser essa proteína umauto-antígeno importante no desencadeamentodo processo inflamatório crônico é, ao mesmo tem-po, uma limitação, uma vez que existe segregaçãopor cepa de camundongo, além de não se ter defi-

*Médico Reumatologista – HUWC – UFC e Pós-graduando da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – SP.**Professor Adjunto – Disciplina de Reumatologia da Faculdadede Medicina da UFC.

Page 34: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

146

nido o colágeno como um auto-antígeno relevan-te na fisiopatologia da AR.

Outros modelos também têm sido empregados,como a artrite induzida por proteoglicanos, pris-tano (óleo mineral), a artrite induzida por antíge-no, que consiste em uma reação intra-articular àinjeção de um antígeno (p.ex.: ovalbumina meti-lada) ao qual o animal é previamente sensibiliza-do, além dos modelos empregando agentes infec-ciosos (p.ex.: Mycoplasma, parede de estreptoco-cos), para citar alguns. Em comum, os modelosapresentam a similaridade histológica com a sino-vite da AR humana, mecanismos imunológicos nasua fisiopatologia, além de resposta terapêutica si-milar à observada na AR.

Por último, vale destacar que manipulações ge-néticas, gerando animais transgênicos ou knock-out, vieram agregar uma nova ferramenta aos mo-delos animais, permitindo avaliar o papel de genesindividuais na fisiopatologia da AR, na homeosta-sia normal e no desenvolvimento de auto-imuni-dade, bem como de citocinas envolvidas na fisio-patologia dessa doença. Como exemplo dessa es-tratégia, estudo recente demonstrou que uma mu-tação pontual em um único gene, chamado ZAP70,pode desencadear artrite crônica autoimune es-pontânea em uma cepa de camundongos.2 Essesanimais apresentam substituição de triptofano porcisteína no resíduo 163 (W163C) do domínio car-boxi-terminal SH2 do produto do gene ZAP70. Nes-ses animais, linfócitos T auto-reativos que sofreri-am seleção negativa no timo durante o desenvol-vimento normal, passam a ser selecionados posi-tivamente. Esse tipo de mutação pode estarpresente em um pequeno subgrupo de pacientescom AR,2 possivelmente com repercussão no de-sencadeamento ou na evolução da doença. Por ou-tro lado, o ressurgir do interesse na participação delinfócitos B e autoanticorpos na fisiopatologia daAR é reforçado por outro modelo de artrite espon-tânea em camundongos. Animais K/BxN, apresen-tam produção de anticorpos anti-G6PI (glicose-6-fosfato isomerase), que seriam «artritogênicos».Tais anticorpos produzem artrite transitória, quan-do administrados (passivamente) a camundongosnormais. O fato de que anticorpos anti-G6PI po-dem ser detectados no soro de até 64% de pacientescom AR estabelece um possível vínculo entre essaalteração vista em um modelo animal e a doençaem humanos.4 Ainda, a participação de citocinaspró-inflamatórias como tumor necrosis factor(TNF-α), cujo bloqueio é alvo da terapêutica mais

efetiva atualmente em artropatias inflamatórias,pode ser ilustrada em modelos animais. Camun-dongos transgênicos expressando excesso de TNF--α, como a linhagem Tg197, desenvolvem artritecrônica semelhante à AR e melhoram com a admi-nistração de anticorpos monoclonais anti-TNFα.5

Artrite Induzida por Zymosan

O zymosan é um polissacarídeo derivado do fun-go Saccharomyces cerevisiae, cuja administraçãoem tecidos promove intensa reação inflamatória.Originalmente, a AZy foi descrita por Keystone, em1977.6 A injeção intra-articular de zymosan promo-ve sinovite erosiva grave. Na fase aguda, até trêsdias após a indução, ocorre aumento de permea-bilidade vascular e migração celular. A seguir, de-senvolve-se sinovite com infiltrado mononucleare reação fibroblástica lembrando a sinovite crôni-ca que caracteriza o pannus reumatóide.

Estudando a fase crônica do modelo, nós evi-denciamos, até 28 dias após a injeção do zymosan,que a sinovite persiste, havendo formação de célu-las gigantes, ao lado de intensa proliferação linfo-monocitária na sinóvia. As células gigantes podemser observadas a partir dos 14 dias de artrite e a ex-tensão da sinovite lembra o pannus reumatóide, le-vando à lise da cartilagem articular e do osso sub-condral.7

Inicialmente, a inflamação associada à injeçãodo zymosan foi atribuída à ativação do comple-mento e liberação de enzimas lisossomiais a par-tir de células inflamatórias migradas para o local.Estudo recente, utilizando camundongos knock-out para o receptor do tipo type II toll-like recep-tors (TLR2), demonstrou que houve redução sig-nificante da sinovite, quando comparados a ani-mais normais.8 Esse resultado sugere um impor-tante componente de imunidade adquiridaparticipando na fisiopatologia da AZy.

Empregando esse modelo, padronizamos o es-tudo da hipernocicepção na fase aguda, além daquantificação da lesão da cartilagem articular, atra-vés da determinação da perda de glicosaminogli-canos da matriz, à medida que prossegue a artrite.

Estudo da Hipernocicepção na Artrite Induzida por Zymosan em Ratos

A limitação de movimentos representa um proble-

ARTRITE POR ZYMOSAN

Page 35: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

147

ma importante para pacientes portadores de artro-patias inflamatórias. Embora o alívio da dor sejafrequentemente o principal objetivo no tratamen-to agudo dessas condições, muito pouco se conhe-ce dos mecanismos de desencadeamento da dorem artropatias.

O teste de incapacitação articular (IA) para ra-tos foi desenvolvido para estudar a IA, definidacomo a inabilidade de um animal (rato) para de-ambular, depois de submetido à injeção intra-ar-ticular de um agente inflamatório. Na descriçãooriginal, foi usado carragenina como estimulo in-flamatório.9 Nesse teste, a IA presume-se ser devi-da à alteração da nocicepção decorrente da inje-ção do estimulo (p.ex. carragenina, zymosan) najunta dos animais. Após a injeção de zymosan nojoelho direito, os animais são postos para deambu-lar sobre um cilindro metálico (30cm largura ×50cm diâmetro), coberto com uma malha de ara-me inoxidável, que gira a uma velocidade de 3rpm.Colocam-se sapatilhas metálicas em volta das pa-tas traseiras dos animais, que são postos para de-ambular para se habituarem. A pata direita é co-nectada a um circuito simples computadorizado,para aquisição de dados. O Tempo de Suspensãoda Pata (TSP) é definido como o tempo que o ani-mal deambula sem tocar o cilindro com a pata in-jetada, por um período de 60 segundos, o qual é to-mado como diretamente proporcional à incapaci-tação articular. A incapacitação articular é admiti-da como refletindo hipernocicepção.

Empregando esse modelo, demonstramos quea IA está associada à ativação de nociceptores lo-calizados em estruturas periarticulares e não nasinóvia per se. Ainda, o desenvolvimento da IA (hi-pernocicepção) se associou diretamente com a mi-gração de neutrófilos à cavidade articular, que émáximo na sexta hora após a injeção do estímulo.7

Esse fato foi corroborado pela abolição da IA quan-do se bloqueou a migração de neutrófilos, querusando agentes inibidores da quimiotaxia dessascélulas, como o inibidor de síntese de leucotrienosMK866,6 quer quando se induziu neutropenia nosanimais através da administração de um anticor-po anti-neutrófilos (dados não publicados). Aindanesse modelo, demonstramos que o edema sino-vial ou a presença de derrame articular per se nãoparecem ser responsáveis pela hipernocicepção.7

Demonstrando o caráter multifatorial da mo-dulação da dor, demonstramos que citocinas pró--inflamatórias estão associadas à hiperalgesia, aopasso que citocinas ditas anti-inflamatórias, asso-

ciadas com resposta do tipo Th2, promovem anti-nocicepção na AZy. De fato, a administração de an-tisoro anti-interleucina 4 (IL-4), anti-IL-10 ou anti--IL-13 a animais submetidos à AZy promoveu au-mento da hipernocicepção, ao passo que a admi-nistração de IL-4, IL-10 ou IL-13 inibiu essefenômeno.11

O papel do óxido nítrico (NO) no modelo de AZytem sido extensamente investigado por nosso gru-po. Demonstramos que existe liberação de NO nolíquido sinovial, que é máxima 6 horas após a in-jeção do zymosan. É interessante salientar que essaliberação está associada ao pico de migração deneutrofilos para a cavidade articular, sugerindoque essas células estão associadas à produção deNO no ambiente articular. Ainda, demonstramosque existe aumento da expressão da enzima NOsintase indutível (NOSi) na sinóvia inflamada, par-ticularmente nos sinoviócitos e nos neutrófilos mi-grados, embora outras células, como as endote-liais e condrócitos, também possam contribuirpara essa liberação.12,13

O papel do NO nos mecanismos de dor é con-troverso, havendo relatos de pró e anti-nocicepçãoassociados a esse mediador. Através de modulaçãofarmacológica, demonstramos que inibidores daNOS promovem analgesia apenas quando admi-nistrados antes da injeção do zymosan (profilati-camente). Quando a administração desses com-postos é feita após a indução da artrite (terapeuti-camente), os compostos não são efetivos em ini-bir a hipernocicepção. Esse resultado foi obtidotanto quando se fez a administração dos compos-tos de forma sistêmica, quanto intra-articular. En-tretanto, quando administramos doadores de NOde forma terapêutica, obtivemos inibição signifi-cante da hipernocicepção.12 Os dados apontampara o potencial analgésico de doadores de NO emartrites. Concordando com nossos resultados, jáhavia sido demonstrado que doadores de NO pro-moveram analgesia em pacientes portadores deperiartrite de ombro.14

Em outra linha de pesquisa, padronizamos re-centemente o método de registro da incapacitaçãoarticular para avaliação da dor em um modelo deosteoartrite experimental. No modelo de transec-ção do ligamento cruzado anterior (TLCA) de ra-tos, padronizamos o estudo da hipernocicepção(dor) usando dados paramétricos, independentesdo observador. Nossos primeiros resultados mos-tram que a dor no modelo de TLCA é inibida pelaadministração de inibidores de cicloxigenase e por

FRANCISCO SARAIVA DA SILVA JUNIOR E FRANCISCO AIRTON CASTRO DA ROCHA

Page 36: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

148

morfina. Ainda, existe uma associação do apareci-mento da dor com elevação dos níveis de NO nolavado articular dos animais. Esses dados, recém--publicados, estabelecem um modelo reprodutívelde estudo da dor em osteoartrite experimental, as-sociada com a deambulação dos animais, o queem parte mimetiza a dor experimentada por hu-manos portadores de osteoartrite.15

Estudo dos Mecanismos de Lesão da Cartilagem Articular na Artrite Induzida por Zymosan

Os modelos de artrite, em geral, empregam anali-ses histológicas para mensurar a lesão estrutural dacartilagem. Embora reflita imagens de razoávelcomparação, a histologia dos tecidos fornece da-dos não paramétricos de avaliação, passiveis deinfluência subjetiva pelo observador. No intuito deestabelecer um critério objetivo, reprodutível, defácil quantificação, baseado em uma variável con-tínua, fornecendo dados paramétricos para avalia-ção, estudamos a variação da quantidade de glico-saminoglicanos (GAG) da cartilagem articular.Nossos resultados mostraram associação entre aevolução e gravidade da sinovite na AZy com a re-dução na quantidade de GAG na matriz da cartila-gem, de tal sorte que a partir dos 7 dias de artriteessa quantidade é significantemente menor emcomparação aos valores basais (controles), persis-tindo reduzida até os 21 dias de artrite.13

Após essa padronização, considerando o nossointeresse no estudo do envolvimento do NO na fi-siopatologia da AZy, estudamos o efeito da admi-nistração de inibidores de NOS sobre a lesão dacartilagem articular, avaliada por esse método.Nossos resultados mostraram que, embora a admi-nistração de inibidores de NOS promovesse redu-ção da migração celular para a cavidade articularna fase aguda e do infiltrado inflamatório na sino-vite crônica da AZy, a quantidade de GAG não eraalterada. Ao contrário, os animais tratados com osinibidores de NOS, quer não-seletivos, quer sele-tivos para a NOS indutível, apresentavam menorquantidade de GAG, em relação aos animais sub-metidos a AZy e tratados apenas com o diluente.13

Efeitos deletérios atribuíveis ao NO tem sido as-sociados com a geração de espécies reativas de ni-trogênio, formadas após a liberação do NO. Issopode ocorrer por combinação do NO com outrassubstâncias, incluindo espécies reativas como o

ânion superóxido. O peroxinitrito, um produto for-mado a partir da combinação do NO com superó-xido, foi associado com efeitos lesivos decorrentesda nitrosilação de proteínas, tais como promoven-do desestabilização de membranas e quebras deDNA.16 Também se detectou a presença de 3-nitro-tirosina, um marcador da formação de peroxinitri-to, na placa aterosclerótica em humanos,17 em rinsprovenientes de pacientes que apresentaram rea-ção enxerto-hospedeiro,18 bem como no líquidosinovial de artrites.19 Em cultura de osteoblastoshumanos, demonstramos que a presença de pero-xinitrito inibe a proliferação e a diferenciação. En-tretanto, níveis elevados de NO não eram lesivos,uma vez que a produção de peroxinitrito estivessebloqueada. Ainda, a adição de um inibidor de NOS,reduzindo drasticamente os níveis basais de NO,impedia a proliferação celular. Em conjunto, essesdados apontaram para um papel crucial do NO,em baixos níveis, para a homeostase celular emosteoblastos humanos, ao passo que espécies re-ativas de nitrogênio estariam associadas com danoa funções celulares.20

Em consonância com esses resultados obtidosem estudos in vitro, pode-se admitir que scaven-gers de peroxinitrito bloqueiem a ação dessa subs-tância. De fato, foi demonstrado que a elevaçãodos níveis séricos de ácido úrico, um antioxidantenatural que age como scavenger de espécies reati-vas de nitrogênio, como o peroxinitrito, reduziu alesão tecidual no modelo de encefalomielite expe-rimental em camundongos.21

Em vista do exposto, administramos acido úri-co aos ratos submetidos à AZy. Obtivemos reduçãosignificante do infiltrado celular na sinóvia, na fasecrônica. Mais interessante, verificamos que aquantidade de GAG foi restaurada, protegendo es-ses animais da lesão da cartilagem que ocorre naAZy. Esses resultados foram associados com a ele-vação dos níveis sericos de ácido úrico nos ani-mais e com a redução dos níveis de peroxinitritono lavado articular na AZy.13 Em conjunto, os da-dos demonstram um efeito protetor de scavengersde espécies reativas de nitrogênio, como o peroxi-nitrito, na lesão tecidual (cartilagem articular) emartrites.

É interessante destacar que a coexistência degota e artrite reumatóide é muito abaixo do que se-ria esperado pela prevalência das duas doenças napopulação geral. Ainda, mulheres praticamentenão desenvolvem gota, enquanto homens são me-nos acometidos de artrite reumatóide. Assim, nos-

ARTRITE POR ZYMOSAN

Page 37: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:143-9

149

sos resultados sugerem, de maneira inédita, que osníveis endógenos de antioxidantes (p.ex. ácido úri-co) podem influenciar o desencadeamento e/ou agravidade de artrites crônicas.

Em resumo, nossos estudos no modelo de AZypermitiram-nos demonstrar o efeito de mediado-res inflamatórios tanto em uma lesão funcional(hipernocicepção) quanto em uma lesão estrutu-ral (lise da cartilagem articular) em artrites. O bai-xo custo, boa reprodutibilidade e acessibilidadedesse modelo constituem, no nosso entendimen-to, requisitos fundamentais que nos possibilitamdesenvolver pesquisas relevantes e originais emreumatologia. A ampliação da divulgação dos nos-sos resultados aqui permitida pela Acta Reumato-logica Portuguesa é uma oportunidade interessan-te de estabelecer parcerias com pesquisadores dacomunidade reumatológica lusitana que vislum-brem objetivos comuns que possamos partilhar.

Endereço para correspondência: Francisco Airton Castro da RochaRua Dr. José Lourenço, 1930 – CEP 60115-281Fortaleza – Ceará - BrasilTelef: 55 85 32446215; FAX: 55 85 32446215.E-mail: [email protected]

Referências1. Oliver SJ, Brahn E. Combination therapy in rheuma-

toid arthritis: the animal model perspective. J Rheu-matol 1996; 23: 56-60.

2. Sakaguchi N, Takahashi T, Hata H, et al. Alteredthymic T-cell selection due to a mutation of the ZAP-70 gene causes autoimmune arthritis in mice. Nature2003; 426 (6965): 454-460.

3. Kouskoff V, Korganow AS, Duchatelle V, Degott C, Be-noist C, Mathis D. Organ-specific disease provokedby systemic autoimmunity. Cell 1996; 87: 811-822.

4. Schaller M, Burton DR, Ditzel HJ. Autoantibodies toGPI in rheumatoid arthritis: linkage between an ani-mal model and human disease. Nat Immunol 2001;2: 746-753.

5. Keffer J, Probert L, Cazlaris H, Georgopoulos S,Kaslaris E, Kioussis D, Kollias G. Transgenic mice ex-pressing human tumour necrosis factor: a predictivegenetic model of arthritis. EMBO J 1991;10:4025--4031.

6. Keystone EC, Schorlemmer HU, Pope C, Allison AC.Zymosan-induced arthritis: a model of chronic proli-ferative arthritis following activation of the alternati-ve pathway of complement. Arthritis Rheum 1977;20:1397-1401.

7. Rocha FAC, Aragão Jr. AGM, Oliveira RC, PompeuMML, Vale MR, Ribeiro RA. Periarthritis promotesgait disturbance in zymosan-induced arthritis in rats.Inflamm Res 1999; 48: 485-490.

8. Frasnelli ME, Tarussio D, Chobaz-Péclat V, Busso M,So A. TLR2 modulates inflammation in zymosan-in-duced arthritis in mice. Arthritis Res Ther 2005;7:R370-R379.

9. Tonussi CR, Ferreira SH. Rat knee-joint incapacitati-on test: an objective screen for central and peripheralanalgesics. Pain 1992; 48:421-427.

10. Rocha FAC, Teixeira MM, Rocha JCS, Girão VCC, Be-zerra MM, Ribeiro RA, Cunha FQ. Blockade of Leuko-triene B4 prevents articular incapacitation in ratzymosan-induced arthritis. Eur J Pharmacol 2004;497:81-86.

11. Vale ML, Benevides VM, Sachs D, Brito GA, RochaFAC, Poole S, Ferreira SH, Cunha FQ, Ribeiro RA. An-tihyperalgesic effect of pentoxifylline on experimen-tal inflammatory pain. Br J Pharmacol 2004;143(7):833 - 844.

12. Bezerra MM, Brain SD, Greenacre S, Jerônimo SMB,Melo LB, Keeble J, Rocha FAC. Reactive nitrogen spe-cies scavenging, rather than nitric oxide inhibition,protects from articular cartilage damage in rat zymo-san-induced arthritis. Br J Pharmacol 2004;141(1):172-182.

13. Rocha JCS, Peixoto MEB, Jancar S, Cunha FQ, RibeiroRA, Rocha FAC. Dual effect of nitric oxide in articularinflammatory pain in zymosan-induced arthritis inrats. Br J Pharmacol 2002; 136:588-596.

14. Berrazueta JR, Losada A, Poveda J et al. Succesful tre-atment of shoulder pain syndrome due to supraspi-natus tendinitis with transdermal nitroglycerin. Adouble blind study. Pain 1996; 66: 63-67.

15. Castro RR, Cunha FQ, Silva Jr FS, Rocha FAC. A quan-titative approach to measure joint pain in experi-mental osteoarthritis - evidence of a role for nitricoxide. Osteoarthritis and Cartilage 2006 Mar 29[Epub ahead of print]

16. Halliwell B, Zhao K, Whiteman M. Nitric oxide andperoxynitrite. The ugly, the uglier and the not sogood. Free Rad Res 1999; 31:651-659.

17. Beckman JS, Ye YZ, Anderson PG et al. Extensive ni-tration of protein tyrosines in human atherosclerosisdetected by immunohistochemistry. Biol Chem Hop-pe-Seyler 1994; 375: 81-88.

18. MacMillan-Crow LA, Crow JP, Kerby JD, Beckman JS.Nitration and inactivation of manganese superoxidedismutase in chronic rejection of human renal allo-grafts. Proc Natl Acad Sci USA 1996; 93:11853-11858.

19. Kaur H, Halliwell B. Evidence for nitric oxide-media-ted oxidative damage in chronic inflammation. Ni-trotyrosine in serum and synovial fluid from rheu-matoid patients. FEBBS Lett 1994; 350:9-12.

FRANCISCO SARAIVA DA SILVA JUNIOR E FRANCISCO AIRTON CASTRO DA ROCHA

Page 38: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

INTRA OCULAR PRESSURE

IN CHRONIC USERS OF ORAL

GLUCOCORTICOIDS FOR

RHEUMATOID ARTHRITIS

Christie Graf,

Gabriele Cardoso,

Marília Barreto Silva,

Thelma L. Skare

Ophthalmology ServiceRheumatology Service

Hospital Universitário Evangélico de CuritibaBrasil

Page 39: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:151-5

152

A B S T R A C T

Objective: To evaluate intra ocular pressure (IOP) among rheumatoid arthritis (RA) patients who are chro-nic oral glucocorticoid users in low to moderate doses.Material and methods: We have studied 125 subjects: 72 glucocorticoid users and 53 controls. The gluco-corticoid users were RA patients treated with 5 to 40 mg/day of prednisone or equivalent. Controls werepatients with osteoarthritis or with soft tissue rheumatic syndromes who had never used glucocorticoidorally or locally. The IOP was measured three times with Perkins tonometer in both eyes and the mean va-lue was compared between groups. For statistical analysis we used the mean value between the IOP ofboth eyes.Results: Among RA glucocorticoid users the mean dose was 9.7 mg of prednisone daily during a mean pe-riod of 71.1 months. The IOP of glucocorticoid users was 5.8% higher than controls. This difference didnot reach statistical significance. The rise in IOP was not affected by the duration of glucocorticoid treat-ment or by the dose. No RA patient using oral glucocorticoids was found to have abnormal IOP in this study.Conclusions: Low dose glucocorticoids causes a small (5.8%), non significant increase in intraocular pres-sure.

Keywords: Glucocorticoid; Glaucoma; Eye Diseases; Rheumatoid Arthritis.

R E S U M O

Objetivo: Estudar a pressão intra ocular (PIO) em portadores de artrite reumatóide (AR) em uso de dosesmoderadas e baixas de glicocorticóide por via oral.Casuística e métodos: Foram estudados 125 indivíduos: 72 em uso de glicocorticóide e 53 controles. Osusuários de glicocorticóide eram pacientes com AR tratados com doses de 5 até 40 mg/prednisona/dia ouequivalente. Os controles eram pacientes com afecções reumáticas de partes moles e portadores de os-teoartrite que nunca haviam feito uso de glicocorticóides orais ou tópicos. A PIO foi medida em ambos osolhos com tonômetro de Perkins por três vezes, sendo utilizada, para fins de estudo, uma média das trêsmedidas. Para análise estatística considerou-se a média de PIO dos dois olhos.Resultados: A dose média de glicocorticóide usada pelos pacientes com AR era de 9,7 mg/prednisona/dia por um tempo médio de 71,1 meses. A PIO dos usuários de glicocorticóide era 5,8% acima daquela doscontroles. A diferença não atingiu significância estatística. Nenhum dos portadores de AR em uso de gli-cocorticóide tinha PIO anormal.Conclusões: Doses baixas de glicocorticóides, usadas oralmente, causam um aumento pequeno (5,8%) enão significante da PIO.

Palavras chave: Glicocorticóides; Glaucoma; Doença Ocular; Artrite Reumatóide.

Page 40: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:151-5

153

A R T I G O O R I G I N A L

I N T R A O C U L A R P R E S S U R E I N C H R O N I C

U S E R S O F O R A L G L U C O C O R T I C O I D S F O R

R H E U M AT O I D A R T H R I T I S

Christie Graf*, Gabriele Cardoso**,

Marília Barreto Silva**,Thelma L.Skare**

Introduction

Glucocorticoids have been extensively used inrheumatology because of their immunomodula-tory and anti-inflammatory effects. Joint inflam-mation in rheumatoid arthritis (RA) patients is par-ticularly sensible to this type of drug and many RApatients use these medications in low doses for along period of time1. Higher doses are required forextraarticular involvement1.

Despite the positive effects of glucocorticoids inRA, patients who use them are at risk of side effects.Among such side effects is glaucoma2.

Glaucoma is a complication when patients useglucocorticoids as eye drops or sprays, but very fewstudies addressed this question when glucocorti-coids are used orally.

The present study examines the effects of chro-nic oral glucocorticoid use on the intra ocular pres-sure (IOP) of RA patients.

Methodology

This study was approved by the local Ethics Com-mittee and all patients gave informed consent. Westudied 125 subjects: 72 RA patients on glucocorti-coids and 53 as controls. The controls were patientswith osteoarthritis and soft tissue rheumaticsyndromes without any glucocorticoid use (oral orlocal). This sample corresponds to the patients whoattended the Hospital Universitário Evangélico deCuritiba during a recruitment period of 6 monthsand that were willing to participate in the study.

We considered chronic users patients that usedoral glucocorticoids continuously for at least

6 months. Both groups were submitted to three sequential

measurements of IOP of each eye in the same dayand the mean of these three measurements was thevalue considered for analysis. Patients were alsoquestioned about relatives with glaucoma.

The measurement of IOP was taken by a singleophthalmologist using a Perkins tonometer. Pa-tients with inflammatory ophthalmologic diseasewere excluded.

The data was analyzed using the mean pressureof both eyes. As the IOP obtained values followedGaussian distribution, we used Student’s t test tostudy the difference between pressure means. Pear-son’s correlation test was used for evaluation of IOPin RA glucocorticoid users according to dose andtherapy duration with the help of the softwareGraph Pad Prism, version 4.0. The significanceadopted was 5%.The sample size showed 73% po-wer to reject a type 2 error.

Results

The control group age range was 18 to 84 years witha mean of 48.9 ±16.8 years. In the glucocorticoidgroup patients’ age varied from 14 to 79 years witha mean of 45.8±17.02 years. One patient from thecontrol group and two from the glucocorticoidgroup had first degree relatives with glaucoma.None of them had previous history of high IOP.

In the RA glucocorticoid group, the dose of thisdrug was between 5 and 40 mg of prednisone/day(mean of 9. 7±6.6 mg/day; median of 10 mg/day).Sixty RA patients were using up to 10mg of predni-sone/day, 9 up to 20mg and 3 more than 30mg. Thepatients who used more than 30mg/day were do-ing so for extra articular manifestations of RA (noneof them ocular). Demographic data is summarizedin Table I.

The IOP in the control and glucocorticoid users

*Ophthalmology Service of Hospital Universitário Evangélico deCuritiba**Rheumatology Service of Hospital Universitário Evangélico deCuritiba

Page 41: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:151-5

154

groups is present in Table II.The mean intraocular pressure was 12.8 mm in

the control group and 13.4 mm in the glucocorti-coid group corresponding this difference to a t va-lue of -1.28 (p=0.20). The difference between me-ans was of 0.58 (confident interval of 95% = -0.31to 1.48). (Figure 1). RA glucocorticoid users showedan increase of 5.8 % in IOP (p=0.137).

No patients (RA glucocorticoid users and con-trols) had an IOP higher than 20 mm Hg, which isconsidered the upper limit of normal.

Analyzing the rise in intraocular pressure of RApatients and the duration of glucocorticoid use wefound no correlation (r=0.027 and p= 0.824) be-tween these two variables. (Figure 2).

A weak relationship (r= 0.1725 and p=0.0553)was found between IOP and the daily dose of glu-cocorticoid in RA glucocorticoid treated patients.This data is depicted in Figure 3.

Discussion

The mechanisms of glucocorticoid action havebeen divided by Buttgereit et al in three maingroups3: 1) mechanisms that causes genomic modifica-

tions;

GLUCOCORTICOIDS AND INTRA OCULAR PRESSURE IN RA

2) mechanisms that do not cause genomic altera-tions but are mediated by receptors;

3) physico-chemical mechanisms.The first mechanism is the most studied one. It

happens when the glucocorticoid molecule bindsto intra cytoplasmatic receptors. After this thecomplex is transferred to the cell nucleus where it

Table I. Demographic Data in Controls and Glucocorticoid Users

CorticoidControls Users

Number of patients 52 73Mean age (years) 48.9±16.8 45.8±17.0Number of patients with

relatives with glaucoma 1 2Gender (female:male) 42:11 60:12

Table II. Distribution of Intraocular Pressure in the Studied Population

IOP 8-10mm Hg 11-12mm Hg 13-14mm Hg 15-16mm Hg 16-20mm HgWith glucocorticoid 3 17 21 19 12

n (%) (4.17%) (23.61%) (29.17%) (26.39%) (16.67%)Without 6 14 13 14 5

glucocorticoid n (%) (11.54%) (26.92%) (25.0%) (26.96%) (9.62%)

n = number of studied patients; IOP = intra ocular pressure; mmHg = millimeters of mercury

RA Glucocorticoidusers

Controls

IOP

20

10

0

Figure 1. Intra ocular pressure in RA glucocorticoidusers and controls.

Months of use

IOP

30

20

10

00

100 200 300 400

Figure 2. Intra ocular pressure in RA glucocorticoidusers according to use time.

Page 42: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:151-5

155

CHRISTIE GRAF E COL.

the sample size gave only a 73% chance to rejecteda type 2 error.

The literature has many observations statingthat locally used corticosteroid increases the intraocular pressure with considerable morbidity7, 8, 9.This may be explained by the fact that local usecan cause higher concentrations, firing some typeof mechanism other than the genomic action. Asfar as we know, no study has addressed the ques-tion of IOP during the oral use of this drug.

We could not find any influence of daily gluco-corticoid use in the value of IOP. However, oneshould note that, in this study, the median useddose was low (10mg/day of prednisone). Studieswith a higher number of patients and a higher dosemay be able to demonstrate this.

Another question to be taken into account isthat glucocorticoid glaucoma as well as juvenileglaucoma and open angle glaucoma suffer gene-tic influence, such as allelic variations of myociclingene (MYOC)10. In the studied population the po-sitive history for familial glaucoma was very low, sowe cannot exclude the risk of greater increase inIOP with oral corticosteroids in these families.

Conclusion

In this study all RA patients under glucocorticoidtreatment had normal IOP. Low dose oral glucocor-ticoid use in RA patients causes a small, non signi-ficant increase in the IOP.

References1. Kirwan JR. Systemic glucocorticosteroids in rheuma-

tology. In Klippel JH , Dieppe PA (eds) Rheumatology,2nd Ed , Mosby Ed , London, 1998: S3:6.1-6.

2. Lester RE, Wolwe SR, Shear NH. The risks of systemiccorticosteroid use. Dermatology Clinics 1998; 16:277--88.

3. Buttgereit F, Wehling M, Burmester G-R. A new hypo-thesis of modular glucocorticoid actions. ArthritisRheum 1998; 41:61-767.

4. Bloom J. New insights into molecular basis of gluco-corticoid action. Immunol Allergy Clin North Am1999;19:653-670.

5. Underwood JL, Murphy CG, Chen J et al. Glucocorti-coids regulate transendotelial fluid flow resistanceand formation of intercellular junctions. Am J PhysiolCell Physiol 1999; 277: C-330-342.

6. GR McCarty and B Schwartz Increased plasma non-cortisol glucocorticoid activity in open-angle glauco-ma Invest Ophthalmol Vis Sci. 1991; 32:1600-1608.

7. Singh IP, Ahmad SI, Yeh D et al. Early rapid rise in in-traocular pressure after intravitreal triamcinolone

daily dose (mg prednisone/day)

IOP

30

20

10

00 10 20 30 40 50

Figure 3. Intraocular pressure in RA glucocorticoid usersaccording to daily use.

binds to DNA and acts by increasing or decreasingthe RNA messenger transcription (RNAm). Thetherapeutic actions, as well as the side effects ofglucocorticoids, are caused by the increased or de-creased synthesis of chemical mediators-control-led by DNA transcription into RNAm3,4.

The other mechanisms are less studied, but it isknown that they require higher doses of glucocor-ticoid in order to appear. The physico-chemicalmechanisms are seen only in cases of glucocorti-coid pulse therapy2. This mechanism is mediatedby changes in the passage of ions through the cyto-plasmatic membrane2.

The time required to act through each of themechanisms follows the reverse order of the nee-ded dose2.

There are doubts on which of the mechanismsmight be involved in glaucoma appearance. Ac-cording to Underwood et al glucocorticoids raisethe production of ZO-1- a protein present in the in-tercellular gaps of Schlemm Canal, causing incre-ased resistance to transendotelial flow of aqueoushumor5. This results from genomic action by glu-cocorticoid which requires low doses to occur. The-re is a very interesting observation by Mc Carthy etal. referring that people with open angle glaucomahave higher levels of endogenous corticoids6.

Our findings showed that no RA patient usingglucocorticoid had abnormal IOP. Corticosteroid indoses below 40mg/day given orally caused just asmall rise in the intraocular pressure (5.8% abovebaseline) without statistical significance. One mustbe careful in the interpretation of these data as theycan be due to chance or statistical underpower as

Page 43: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:151-5

156

acetonide injection.Am J Ophthalmol. 2004; 138:286--287.

8. Garrott HM, Walland MJ. Glaucoma from topical cor-ticosteroids to the eyelids. Clin Experiment Ophthal-mol 2004; 32: 224-226.

9. Kaushik S, Gupta V, Gupta A, Dogra MR, Singh R. In-tractable glaucoma following intravitreal triamci-nolone in central retinal vein occlusion. Am J Oph-thalmol 2004; 137: 758-760.

10. Clark AF, Steely T, Dickerson Jr JE et al. Glucocorti-coid induction of the glaucoma gene MYOC in hu-man and monkey trabecular meshwork cells and tis-sues. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2000; 42:1769-1780.

Author for correspondence:Thelma L. SkareRua João Alencar Guimarães 79680310-420 – Curitiba - PRE-mail: [email protected]

GLUCOCORTICOIDS AND INTRA OCULAR PRESSURE IN RA

Page 44: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ADAPTAÇÃO CULTURAL E

VALIDAÇÃO DO «FIBROMYALGIA

IMPACT QUESTIONNAIRE» –

VERSÃO PORTUGUESA

Maria da Lapa Rosado

José Pascoalinho Pereira

João Pedro da Fonseca

Jaime C. Branco

Unidade de Fisioterapia – Centro de Medicina de Reabilitação de AlcoitãoServiço de Reumatologia do Hospital Egas Moniz, SA

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

Page 45: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

Objectivos: Traduzir, validar e adaptar o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) para português de Por-tugal, para ser utilizado por profissionais de saúde da área músculo-esquelética na população de doen-tes com Fibromialgia. Avaliar os aspectos da validade de conteúdo, validade simultânea e consistênciainterna.Material e Métodos: Após o processo de tradução – retroversão, o Fibromyalgia Impact Questionnaire –versão portuguesa (FIQ-P) foi administrado a 68 doentes com Fibromialgia, em conjunto com uma decla-ração de consentimento informado, o Health Assessment Questionnaire – versão portuguesa (HAQ-P) euma grelha para caracterização sócio – demográfica e da duração dos sintomas. A validade de conteúdo,obteve-se pela consulta a um painel de peritos. A validade simultânea, verificou-se através da correlaçãodos resultados obtidos pelo preenchimento do item de capacidade funcional do FIQ-P e do HAQ-P. A con-sistência interna, através da qual se verificou a homogeneidade do instrumento, realizou-se através docoeficiente α de Cronbach.Resultados: A validade de conteúdo apresentou um elevado nível de consenso. Obteve-se uma correla-ção de Spearman com valor de 0,531 para p = 0,001. A consistência interna apresentou um valor α = 0,814.Conclusões: O Fibromyalgia Impact Questionnaire – versão portuguesa, possui um elevado nível de con-senso, no que respeita à validade de conteúdo; contém homogeneidade no que diz respeito à avaliaçãoda fiabilidade e apresenta uma correlação estatisticamente significativa, em relação à comparação com oinstrumento padrão, na amostra estudada. Este instrumento de medida, fica disponível para ser utiliza-do na prática clínica.

Palavras-chave: Fibromialgia; Validade; Consistência interna; FIQ-P.

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

158

R E S U M O

A B S T R A C T

The aim of this study was to translate the Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) into Portuguese (Por-tugal) and to evaluate its reliability and validity by use with Portuguese – speaking patients with Fibromyal-gia. After translating the FIQ into Portuguese we administered it to 68 patients with Fibromyalgia togetherwith an informed consent, a Portuguese version of the Health Assessment Questionnaire (HAQ) and a for-mulary with the socio-demographic characteristics and duration of the complaints.

The content validity was assessed with a panel of experts, with high consensus. In the concurrent vali-dity, we obtained significant correlations between the FIQ first item and the HAQ [r = 0,531 (p = 0,001)].

Cronbach’s alpha was 0,814, indicating an acceptable level of internal consistency.In conclusion, the Portuguese version of the FIQ is a reliable and valid instrument for measuring health

status and physical functioning in Portuguese patients with Fibromyalgia. This instrument is available foruse in the clinical practice.

Keywords: Fibromyalgia; Validity; Internal consistency, FIQ.

Page 46: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

159

A R T I G O O R I G I N A L

A D A P T A Ç Ã O C U LT U R A L E VA L I D A Ç Ã O D O

« F I B R O M Y A L G I A I M P A C T Q U E S T I O N N A I R E » – V E R S Ã O P O R T U G U E S A

Maria da Lapa Rosado*, José Pascoalinho Pereira**,

João Pedro da Fonseca***, Jaime C. Branco****

Introdução

A Fibromialgia (FM) é caracterizada por dor mús-culo-esquelética generalizada, um padrão previsí-vel de pontos dolorosos, rigidez, fadiga e distúrbiosde sono1. São comuns alterações emocionais naFM e a qualidade de vida está diminuída2. Em 1990,o Colégio Americano de Reumatologia desenvolveuos critérios para a classificação desta entidade clí-nica1.

A FM é uma síndrome de elevada prevalênciaentre as disfunções músculo-esqueléticas3. Nãoexiste tratamento específico, estão indicados vá-rios programas de intervenção que têm sido pro-postos para lidar com os diferentes aspectos da sín-drome, particularmente alterações psicológicas,má qualidade de vida, incapacidade funcional2, di-minuição da contracção voluntária máxima e resis-tência muscular2 e baixos níveis de capacidade fí-sica2. Um doente bem informado e educado sobrea síndrome, no centro da equipa de intervenção, éum elemento de sucesso para os programas deauto-gestão destes doentes2. Estes programas en-fatizam a comunicação e a combinação de técni-cas cognitivo-comportamentais com a actividadefísica, como por exemplo, exercícios em piscina,em conjunto com marcha, uma vez que são bem to-lerados por estes doentes2.

Devido à variedade de sintomas experimentadospelos doentes reumáticos, vários profissionais po-dem estar envolvidos na intervenção em cada umdeles em qualquer momento. As funções da equi-

pa multidisciplinar são a prestação de cuidados desaúde, educação e investigação. As doenças reu-máticas, por vezes são complexas e afectam váriosaspectos da vida dos doentes; um programa efici-ente necessita de esforços coordenados de um gru-po de vários indivíduos. Tendo o doente como cen-tro, o papel da equipa multiprofissional4 é avaliaros sintomas e os efeitos na capacidade física, psi-cológica e social, de forma a elaborar um plano deintervenção. As prioridades da intervenção são de-terminadas em conjunto com o doente5, resultan-do num plano de tratamento que vai levar ao me-lhor controlo da doença e dos seus sintomas, e au-mentar a capacidade funcional do doente5.

As repercussões da FM a nível económico, querem termos de incapacidade laboral e funcional6,quer nos custos das prestações de serviços de saú-de, são elevadas2, 7.

Existem vários estudos sobre o impacto da FMnos doentes com esta síndrome.

Em diferentes estudos8 verificou-se que algunsdoentes se apresentavam incapacitados para cum-prir a sua semana de trabalho, outros não eram ca-pazes de realizar as tarefas domésticas necessárias,mudaram de trabalho ou recebiam pensões de in-validez.

Henriksson et al.9, num estudo com 58 doentes,verificaram a existência de um efeito adverso nocumprimento das tarefas motoras. A maioria dosdoentes referiu dores persistentes mas consideroua fadiga como o sintoma mais incapacitante, em es-pecial no grupo de pessoas sem trabalho regular. Asactividades de lazer revelaram um carácter predo-minantemente sedentário, passivo, tal como ver te-levisão. A dor e a fadiga mostraram ter uma influên-cia muito negativa no dia a dia destes doentes es-pecialmente nas tarefas motoras.

Noutros estudos9, realizados com mulheres, ve-rificou-se que estas se mostraram mais inseguras,fragilizadas e com menor auto-estima. Também fo-ram referidas limitações nas capacidades motoras,

*Fisioterapeuta Licenciada; Unidade de Fisioterapia – Centro deMedicina de Reabilitação de Alcoitão.**Professor Adjunto – Escola Superior de Saúde do Alcoitão.***Fisioterapeuta Licenciado; Unidade de Fisioterapia – Centrode Medicina de Reabilitação de Alcoitão.****Chefe de Serviço de Reumatologia do Hospital Egas Moniz,SA; Professor Agregado de Reumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.Trabalho realizado na Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Page 47: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

160

com interferência importante nas actividades dodia a dia. Os esforços físicos revelaram uma asso-ciação muito estreita com os sintomas dolorosos.As expectativas de futuro eram globalmente pes-simistas, dada a impossibilidade de concretizaçãodos objectivos de vida traçados para cada caso in-dividual.

Na investigação9 sobre as consequências da FMnas actividades do dia a dia, verificou-se que asmulheres que conseguiram adaptar os seus horá-rios de trabalho à percepção das suas capacidadesrevelaram-se menos exaustas durante os períodosde lazer e referiram uma maior satisfação com assuas actividades diárias. Existe uma grande varia-bilidade entre os doentes e, apesar das suas inca-pacidades e limitações, muitos são capazes de vi-ver uma vida satisfatória.

A avaliação do estado de saúde e capacidadefuncional é essencial nos doentes com disfunçõesmúsculo-esqueléticas e tornou-se uma abordagemimportante na avaliação dos resultados8 das váriasintervenções terapêuticas. Instrumentos de avalia-ção do estado de saúde, como o Health AssessmentQuestionnaire (HAQ)11,12 e o Fibromyalgia ImpactQuestionnaire (FIQ)13, 14, avaliam as repercussõesda patologia8 e a eficácia de diferentes interven-ções em doentes com FM 10.

Na clínica, uma das etapas fundamentais da suaintervenção é o processo de avaliação. Esta, refe-re-se à informação recolhida sobre o doente ou re-lacionada com o seu problema actual5 devendobasear-se na utilização de instrumentos de medi-da da avaliação de resultados5.

Burckhardt e colegas (1991) desenvolveram uminstrumento de medida para avaliar o estado desaúde e capacidade funcional dos doentes comFM: o FIQ.

O FIQ tem sido usado para avaliar pessoas nacomunidade com dor crónica14, para determinar oimpacto da FM na vida diária14 e a incapacidade re-sultante14 e para medir resultados em estudos comfármacos. Na área de intervenção não farmacoló-gica, o FIQ tem sido utilizado em estudos de inter-venção pelo exercício, abordagens multidiscipli-nares e para avaliação do programa de tratamen-to14. Um estudo que avaliou a sensibilidade à mu-dança de vários resultados medidos, concluiu queo FIQ é a medida mais sensível à mudança no tra-tamento da FM e é recomendada para ser usadaem estudos clínicos futuros14. O FIQ é um questio-nário de auto-preenchimento, com 10 itens, quemede a capacidade funcional, capacidade para o

ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DO FIQ-P

trabalho, depressão, ansiedade, sono, dor, rigidez,fadiga e bem-estar. O FIQ foi traduzido em váriaslínguas, incluindo versões publicadas em Sueco,Turco, Francês, Alemão, Coreano, Italiano e Espa-nhol, entre outras, mantendo as suas característi-cas métricas10, 15, 16, 17, 18, 19, 20.

O objectivo deste estudo é adaptar culturalmen-te para a realidade portuguesa o FIQ verificando avalidade de conteúdo, a consistência interna e a va-lidade simultânea.

População e Método

Trata-se de um estudo metodológico, realizado naEscola Superior de Saúde de Alcoitão, com a cola-boração da Associação Nacional de Luta contra aFibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica –MYOS, durante o ano de 2004.

DoentesSolicitou-se por escrito e via telefone a colabora-ção da Associação Nacional de Luta contra a Fibro-mialgia e Síndrome de Fadiga Crónica – MYOS. Foipermitida a presença dos autores do estudo nas re-uniões de membros da MYOS, nas delegações con-tactadas (Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal e Santa-rém), para solicitar a participação voluntária dosmembros com FM, da referida Associação.

Os critérios de exclusão para a recolha da amos-tra foram: analfabetismo e alterações cognitivas.

A amostra foi seleccionada por conveniência,num total de 72 pessoas adultas (> 18 anos) sóciosdoentes da MYOS. Após os expurgos dos dados fo-ram seleccionados 68 questionários.

Instrumentos

FIQO FIQ é um instrumento que foi desenvolvido paramedir o estado de saúde e a capacidade funcionaldos doentes com FM, e para avaliar a sua progres-são clínica e os resultados terapêuticos13, 14. Contém20 questões agrupadas em 10 itens. O primeiroitem, contém 11 sub-itens e centra-se na capacida-de do doente executar as tarefas diárias (cozinhar,limpar, andar, mobilidade, entre outras). As respos-tas estão distribuídas numa escala tipo Likert de 0(capaz de fazer sempre) a 3 (incapaz de fazer). Os11 sub-itens são somados e divididos pelo núme-ro de resultados obtidos, para se obter o resultado

Page 48: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

161

MARIA DA LAPA ROSADO E COL.

Para a avaliação da fiabilidade, foi escolhida amedida de consistência interna, em que se preten-de verificar a homogeneidade do conteúdo do FIQ-P.

Resultados

A escala a que se refere este estudo já passou peloprocesso de tradução – retroversão realizado porum dos autores (Jaime C. Branco), em 1994: Fi-bromyalgia Impact Questionnaire (FIQ-1)8.

Em 1997 os autores da escala original acrescen-taram alterações. No presente estudo, estas altera-ções foram acrescentadas à primeira versão portu-guesa, através dum processo de tradução – retro-versão, por dois fisioterapeutas bilingues (LínguaInglesa e Língua Portuguesa), chegando a uma ver-são de consenso relativo à equivalência semânti-ca. Esta versão foi retrovertida por outros doisfisioterapeutas bilingues, chegando a uma novaversão de consenso Fibromyalgia Impact Ques-tionnaire – (FIQ-2) aprovada pela Dra. CarolBurckhardt, através da versão de consenso da re-troversão.

Após este processo, verificou-se a validade deconteúdo, na qual participaram oito profissionaisde saúde, de diferentes áreas, que constituíram opainel de peritos, seleccionados por conveniênciae qualidade.

Os sujeitos que integraram o painel de peritostiveram os seguintes critérios de inclusão: profis-sionais de saúde com experiência clínica em FM;graus académicos; publicações; apresentação deestudos.

O painel de peritos sugeriu as seguintes adap-tações culturais:

Walk several blocks, manteve-se a mesma ques-tão, mas acrescentou-se uma distância mensurá-vel (200 a 500 metros).

Do yard work, adaptou-se por «tratar das plan-tas ou praticar o seu passatempo», uma vez que emPortugal nem todas as pessoas têm jardim e prati-cam outros passatempos.

Drive a car, adaptou-se por «foi capaz de se des-locar, no seu próprio carro ou em transportes pú-blicos sem problemas», porque nem todas as pes-soas têm viatura própria.

How many days last week did you miss work, in-cluding housework, because of fibromyalgia,adaptou-se por «na última semana, quantos diasfaltou ao trabalho e/ou não realizou as tarefas do-

da capacidade funcional. Os dois itens seguintes,pedem ao doente para assinalar o número de dias,na semana anterior, em que se sentiu bem e emque faltou ao trabalho. Os últimos sete itens – a ca-pacidade de trabalho, a dor, a fadiga, o cansaçomatinal, a rigidez, a ansiedade e a depressão – sãomedidos através de uma escala visual analógica(EVA) de 0 a 10 (10 cm), com 10 indicando a inca-pacidade máxima. Os valores do FIQ variam de 0a 100, com 100 a indicar o impacto máximo da FM.

HAQ-PA capacidade funcional dos doentes foi medidapelo HAQ – versão portuguesa (HAQ-P)21. O HAQé um instrumento validado e frequentemente uti-lizado para medir a incapacidade física entre osdoentes com artrite reumatóide. O HAQ foi tradu-zido em várias línguas, incluindo uma versãoadaptada para a língua portuguesa. É constituídopor 20 itens, divididos em 8 grupos de limitaçõesfuncionais. O HAQ surge da área da reumatologia,mas tem sido administrado em diferentes áreas eem diferentes culturas, com as devidas adaptações,sem alterar a sua fiabilidade e validade. É conside-rado um instrumento genérico, uma vez que ava-lia dimensões que não são específicas de uma sódoença11.

Desenvolvimento do EstudoApós o contacto com a MYOS, procedeu-se à ela-boração da declaração de consentimento informa-do e à elaboração da folha para recolha de dadosde caracterização sócio-demográfica (sexo, idade,estado civil, situação laboral, escolaridade) e du-ração dos sintomas.

De seguida, procedeu-se à tradução e adaptaçãodo FIQ, em que se realizaram as adaptações cultu-rais e obteve-se a versão portuguesa do FIQ (FIQ--P), a qual se aplicou à amostra do estudo. Os ques-tionários estavam acompanhados com as ins-truções escritas, a declaração de consentimentoinformado e a folha de caracterização sócio-demo-gráfica e duração dos sintomas.

A validade de conteúdo foi verificada por painelde peritos. A validade simultânea verificou-se porcomparação entre o FIQ-P e outro questionário jávalidado para a realidade portuguesa, o HAQ-P21 ea consistência interna pelo coeficiente α (alfa) deCronbach.

Para verificar a validade simultânea do FIQ-Pcom o HAQ-P utilizámos o teste de correlação docoeficiente de Spearman.

Page 49: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

162

mésticas, devido à fibromialgia», porque as tarefasdomésticas também são consideradas trabalho,embora não seja remunerado.

When you worked, how much did pain or othersymptoms of your fibromyalgia interfered with yourability to do your work, including housework, adap-tou-se por, «nos dias que trabalhou, quanto é quea sua doença – fibromialgia – interferiu no seu tra-balho», para que o doente ao responder ao ques-tionário não se disperse por outra sintomatologianão associada à FM.

Após a análise dos resultados da validade deconteúdo, chegou-se à versão final do FIQ-P, e rea-lizou-se um pré-teste, com o objectivo de verificara clareza e simplicidade da linguagem e compreen-são da mesma. Utilizou-se uma amostra de 14doentes da Unidade de Fisioterapia – Adultos, arealizar tratamento em regime ambulatório, naárea de disfunções músculo-esqueléticas, no Cen-tro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

A análise descritiva das características clínicase sócio-demográficas dos 68 doentes (66 mulherese 2 homens) mostra-se no Quadro I. A idade mé-dia dos doentes com fibromialgia foi de 48,63 anos

(limites: 25 – 70) e o tempo médio de duração dossintomas foi 11,34 anos (limites: 1 – 40).

A validade simultânea para verificar a correla-ção entre o FIQ-P e o HAQ-P, através do coeficien-te de correlação de Spearman, obteve um valor de0,531 (p = 0,001). Verificou-se assim uma correla-ção estatisticamente significativa.

A consistência interna obteve um valor α= 0,814,indicando um bom nível de homogeneidade.

Discussão

Na adaptação para língua portuguesa do FIQ en-controu-se um elevado nível de consenso, sem ne-cessidade de fazer grandes alterações. Algumas dasadaptações culturais são semelhantes às verifica-das noutros estudos do FIQ. A questão Walk seve-ral blocks, foi adaptada nas versões coreana8, fran-cesa18 e espanhola20; as questões: Do yard work eDrive a car, também foram adaptadas na versãocoreana10.

Ao analisar o valor do α de Cronbach, constata--se que os 10 itens da escala FIQ-P, apresentam umvalor considerado como um bom indicador e se-melhante ao valor apresentado por outros estudosde adaptação e validação: FIQ–T (turca)16 α = 0,72;FIQ–G (alemã)17 α = 0,92; FIQ–K (coreana)10 α= 0,80;FIQ–I (italiana)19 α = 0,90. Em relação à versão ori-ginal13 da escala em estudo, o valor de consistên-cia interna não foi verificado pelos seus autores,não sendo, por isso, possível comparar o resulta-do obtido pelo nosso estudo.

Os valores totais obtidos no primeiro item doFIQ-P, foram correlacionados com os valores totaisobtidos pelo HAQ-P. A correlação foi realizada en-tre o primeiro item (11 sub-itens) – capacidadefuncional, e o total do HAQ-P, que avalia a incapa-cidade funcional dos doentes com artrite reuma-tóide, uma vez que os itens: fadiga, cansaço mati-nal, rigidez, ansiedade e depressão, não são corre-lacionáveis com o HAQ10. Ao analisar o valor do co-eficiente de correlação obtido (r = 0,531), pode-sedizer que se trata de uma correlação moderadamas estatisticamente significativa (p = 0,001), indode encontro aos resultados obtidos por outros au-tores10, 16, 17, 19.

Ao longo do desenvolvimento deste estudo, sur-giram algumas limitações, que se enumeram: re-lativamente à validade externa, não se pode ga-rantir a representatividade da população portu-guesa, e em particular, da população masculina.

ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DO FIQ-P

Quadro I. Características clínicas e sócio-demográficas dos doentes com fibromialgia

Número de doentes 68Feminino/Masculino 66/2Idade Média (anos) 48,63Tempo médio de duração dos 11,34

sintomas (anos)Estado civil %

Solteiro 8,8Casado 75,0Divorciado 11,8Viúvo 2,9

Situação laboral %Empregado a tempo inteiro 42,6Empregado em part-time 7,4Desempregado 13,2Reformado 17,6Doméstico 14,7

Escolaridade %4º ano 29,47º ano 8,89º ano 13,212º ano 25,0> 12º ano 22,1

Page 50: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

163

No entanto tentou-se minimizar esta limitação, aoeleger cinco delegações da MYOS, em áreas geo-gráficas diferentes (Coimbra, Santarém, Setúbal,Lisboa e Porto), de forma a evitar o enviesamentodo estudo. Relativamente à validade interna, pode-rão ser levantadas questões como a adequabilida-de do instrumento padrão: Será que os membrosdo painel de peritos tiveram um funcionamentosólido (informação conferida e reflexão sobre a in-formação) e disponível? Será que a aplicação doinstrumento terá sido adequada à amostra, paraque os aspectos da validade interna tivessem o me-nor enviesamento possível dos dados?

Conclusões

Os profissionais de saúde necessitam de instru-mentos de medida válidos e fiáveis para comuni-carem nos mesmos termos enquanto medem o es-tado de saúde, progressão clínica e resultados te-rapêuticos dos doentes com FM, para que sepossam comparar os resultados de diferentes es-tudos10. A tradução de um instrumento de umalín-gua para outra pode apresentar problemas, espe-cialmente se as culturas e as características sócio--económicas da população diferirem.

Como conclusão deste estudo, pode-se afirmarque o FIQ (Anexo 1), apresenta uma versão Portu-guesa com validade de conteúdo, consistência in-terna e validade simultânea.

Com os resultados obtidos pela aplicação doinstrumento FIQ-P, pensamos que a escala FIQ-Pé um instrumento de medida que se encontraadaptado e validado para a realidade portuguesa,podendo ser utilizado pelos profissionais de saú-de na sua prática clínica, para a avaliação de indi-víduos com FM.

Com este estudo, o FIQ-P fica disponível paraser utilizado pelos diferentes profissionais de saú-de que lidam no seu dia a dia com doentes comFM, facilitando a aquisição do perfil individual decada doente, definindo qual o seu estado de saú-de e capacidade funcional, permitindo planear aestratégia de intervenção adequada a cada um.

Para estudos futuros sugere-se: avaliar a sensi-bilidade do FIQ-P; avaliar a implementação de umprograma de intervenção nestes doentes; verificara correlação dos itens do FIQ-P, não verificadosneste estudo, com instrumentos de medida espe-cíficos e já validados para a realidade portuguesa,como por exemplo o MOS SF–36 e o AIMS2; e a re-

plicação deste estudo em doentes com FM prove-nientes de outros contextos.

Com este estudo, procurou-se dar uma respos-ta a uma necessidade sentida na prática clínica dosprofissionais de saúde, na área das disfunçõesmúsculo-esqueléticas, facultando a estes profis-sionais um instrumento caracterizado metodolo-gicamente.

AgradecimentosAgradece-se a colaboração de todos os elementosque constituíram o painel de peritos, para a verifi-cação da validade de conteúdo: Prof. Dr. Jaime C.Branco, Prof. Dr. Manuel João Quartilho, Dr.ª M.ªManuela M. Costa, Dr.ª Ana Cristina S. Albuquer-que, Mestre Miguel Lóio, Ft. Ana M.ª Santos, Ft.Fernando Carrega e T. O. Rui Pedro Alexandre.

E à Associação Nacional de Luta contra a Fibro-mialgia e Síndrome de Fadiga Crónica – MYOS pelasua colaboração.

Referências1. Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB, et al. The American

College of Rheumatology 1990 Criteria for the Classi-fication of Fibromyalgia. Arthritis Rheum. 1990; 33:160-172.

2. Cedrashi C, Desmeules J, Rapiti E, et al. Fibromyal-gia: a randomised, controlled trial of a treatment pro-gramme based on self-management. Ann RheumDis. 2004; 63: 290-296.

3. Branco J. Fibromialgia. In: Sociedade Portuguesa deReumatologia e Associação Portuguesa de Médicosde Clínica Geral (Eds.), Regras de ouro em Reuma-tologia. Lisboa: Pfizer, 2004: 39-48.

4. Association of Rheumatology Health Professionals.The role of interdisciplinary team in the manage-ment of rheumatic disease. 2002. http://www.rheumatology.org/arhp/briefing/team.html. Acedi-do em 29-08-2003.

5. Associação Portuguesa de Fisioterapeutas. Fisiotera-pia - Padrões de Prática (2ª Ed.). Lisboa; 2003: 15-17.

6. Abraham VJ, Remensone EI, Shapira IT, et al. What isthe Fibromyalgia Syndrome and Why is it important.American College of Rheumatology. 1998; 1: 7-18.http://www.rheumatology.org/publications/prima-rycare/number1/toc.asp. Acedido em 12-07-2004.

7. Beck A, Breth G, Ellis J, Hays R, Miller C, Reaven N.Multidisciplinary group intervention for Fibromyal-gia: A study of psychiatric symptom and functionaldisability outcomes. The Permanent Journal 2002; 6.http://www.kaiserpermanente.org/medicine/per-mjournal/sum00pj/fibro.html. Acedido em 08-10--2003.

8. Branco J. Fibromialgia: modelo humano de dor, fadi-ga e incapacidade crónicas. Lisboa: Dissertação deDoutoramento em Medicina apresentada à Facul-

MARIA DA LAPA ROSADO E COL.

Page 51: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

164

dade de Ciências Médicas da Universidade Nova deLisboa; 1997: 47.

9. Quartilho MJ. Fibromialgia e Somatização. Tese dedoutoramento apresentada à Faculdade de Medicinada Universidade de Coimbra. Coimbra; 1999: 93-97.

10. Kim Y, Lee S, Park K. Validation of a Korean version ofthe Fibromyalgia Impact Questionnaire. J KoreanMed Sci. 2002; 17: 220-224.

11. Bruce B, Fries JF. The Stanford Health AssessmentQuestionnaire: Dimensions and Practical Applica-tions. Health and Quality of Life Outcomes. 2003; 1:20. www.hqlo.com/content/1/1/20. Acedido em 03-11-2003.

12. Bruce B, Fries JF. The Stanford Health AssessmentQuestionnaire (HAQ): a review of its history, issues,progress, and documentation. J Rheumatol. 2003; 30:167-178.

13. Burckhardt CS, Clark SR, Bennett RM. The Fi-bromyalgia Impact Questionnaire: Development andValidation. J Rheumatol. 1991; 18: 728-733.

14. Burckhardt CS. The Fibromyalgia Impact Question-naire - An Historical and Methodological Primer.www.myalgia.com/FIQ/FIQ_burckhardt.htm. Acedi-do em 07-08-2004.

15. Hedin PJ, Hamne M, Burckhardt CS, Engstrom-Lau-rent A. The Fibromyalgia Questionnaire, a SwedishTranslation of a new tool for evaluation of the fibro-mialgia patient. Scand J Rheumatol. 1995; 24: 61-63.

16. Sarmer S, Ergin S, Yavuzer G. The validity and relia-bility of the Turkish version of the Fibromyalgia Im-pact Questionnaire. Rheumatology Int. 2000;20:9-12.

17. Offenbaecher M, Waltz M, Schoeps P. Validation of aGerman version of the Fibromyalgia Impact Ques-tionnaire (FIQ-G). J Rheumatol. 2000; 27: 1984-1988.

18. Perrot S, Dumont D, Guillemin F, Pouchot J, Coste J.Quality of life in women with fibromyalgia syn-drome: Validation of the QIF, the french version of theFibromyalgia Impact Questionnaire. J Rheumatol.2003; 30: 1054-1059.

19. Sarzi-Puttini P, Atzeni F, Fiorini T, et al. Validation ofan Italian version of the Fibromyalgia Impact Ques-tionnaire (FIQ-I). Clin Exp Rheumatol. 2003; 21: 459--464.

20. Monterde S, Salvat I, Montull S, Fernandéz-Ballart J.Validación de la versión española del FibromyalgiaImpact Questionnaire. Rev Esp Reumatol. 2004; 31(9): 507-513.

21. Santos RA, Reis P, Rebelo L, Dias FC, Rosa CM, Vianade Queiroz M. “Health Assessment Questionnaire”(versão curta): Adaptação para língua portuguesa eestudo da sua aplicabilidade. Acta ReumatológicaPortuguesa. 1996; 76: 15-20.

Endereço para correspondênciaMaria da Lapa RosadoCentro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.Unidade de Fisioterapia2649-506 AlcabidecheTel.: 214608300 (ext. 228)E-mail: [email protected]

ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DO FIQ-P

ANEXO 1Versão portuguesa do FIQ (FIQ-P).

NOME ______________________________________________DATA ____ / ____ / ____

FIBROMYALGIA IMPACT QUESTIONNAIRE(VERSÃO PORTUGUESA) – FIQ-P

INSTRUÇÕES: Nas perguntas 1 a 11 por favor faça um círculo no número que, em relação à última semana, melhordescreve a maneira como, em geral, foi capaz de executar as tarefas indicadas. Se habitualmente não faz uma dessastarefas risque essa pergunta.

Sempre Quase Quase NuncaSempre nunca

Foi capaz de:

1. Ir às compras? 0 1 2 3

2. Tratar da roupa na máquina de lavar / secar? 0 1 2 3

3. Cozinhar? 0 1 2 3

4. Lavar louça à mão? 0 1 2 3

Page 52: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:157-65

165

Sempre Quase Quase NuncaSempre nunca

5. Aspirar a casa? 0 1 2 3

6. Fazer as camas? 0 1 2 3

7. Andar vários quarteirões (200 a 500 metros)? 0 1 2 3

8. Visitar a família ou os amigos? 0 1 2 3

9. Tratar das plantas ou praticar o seu passatempo? 0 1 2 3

10. Se deslocar, no seu próprio carro ou em transportes públicos? 0 1 2 3

11. Subir as escadas? 0 1 2 3

12. Na última semana, em quantos dias se sentiu bem?

0 1 2 3 4 5 6 7

13. Na última semana, quantos dias faltou ao trabalho e/ou não realizou as tarefas domésticas, devido à fibromialgia?

0 1 2 3 4 5 6 7

INSTRUÇÕES: Nas perguntas que se seguem, assinale um ponto na linha que melhor indica o modo como, em geral, sesentiu na última semana.

14. Nos dias que trabalhou, quanto é que a sua doença – Fibromialgia - interferiu no seu trabalho?

Trabalhei sem problemas l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Tive grande dificuldadeno trabalho

15. Que intensidade teve a sua dor?

Não tive dor l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Tive dor muito intensa

16. Que cansaço sentiu?

Não senti cansaço l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Senti um cansaço enorme

17. Como se sentiu quando se levantava de manhã?

Acordei bem repousada l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Acordei muito cansada

18. Que rigidez sentiu?

Não tive rigidez l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Senti muita rigidez

19. Sentiu-se nervosa ou ansiosa?

Não tive ansiedade l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Senti-me muito ansiosa

20. Sentiu-se triste ou deprimida?

Não me senti deprimida l___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ | ___ |___l Senti-me muito deprimida

MARIA DA LAPA ROSADO E COL.

Page 53: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO

E FRAQUEZA MUSCULAR

Filipe Vinagre,

Maria José Santos,

José Canas da Silva

Serviço de Reumatologia do Hospital Garcia de Orta,Almada

Page 54: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:167-72

168

R E S U M O

Os autores descrevem o caso de uma jovem de 13 anos, com o diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistémi-co Juvenil, que desenvolve diminuição generalizada da força muscular. A investigação permitiu estabele-cer o diagnóstico de Miastenia Gravis. Discutem-se as principais causas de diminuição da força muscu-lar num doente com lúpus.

Palavras Chave: Lúpus Eritematoso Sistémico; Miastenia Gravis; Miopatia; Antipalúdicos.

A B S T R A C T

We report a case of a 13-year old young girl, with Juvenile Systemic Lupus Erythematosus and recent on-set of muscle weakness. Investigations lead to the diagnosis of Myasthenia Gravis. The most importantcauses of muscle weakness in lupus patients are discussed.

Key Words: Systemic Lupus Erythematosus; Myasthenia Gravis; Myopathy; Antimalarials.

Page 55: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:167-72

169

C A S O C L Í N I C O

L Ú P U S E R I T E M AT O S O S I S T É M I C O

E F R A Q U E Z A M U S C U L A R

Filipe Vinagre*, Maria José Santos**, José Canas da Silva***

Introdução

O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doen-ça auto-imune multissistémica, cuja prevalência éde cerca de 5 casos por cada 10.000 indivíduos1. OLES juvenil representa 15 a 17% dos doentes, comum pico de incidência entre os 10 e os 14 anos. Talcomo na idade adulta, existe uma predominânciano sexo feminino2. Febre, fadiga, emagrecimento,rash malar e artrite constituem sintomas frequen-tes. A diminuição da força muscular pode ser umsintoma do LES, mas também pode surgir comocomplicação da terapêutica ou como manifesta-ção de doença associada.

Caso Clínico

NSG, sexo feminino, caucásica, 12 anos e 6 meses,estudante do 7º ano de escolaridade, praticante deciclismo federado, sem antecedentes médicos re-levantes, é referenciada à consulta de Reumatolo-gia Pediátrica em Novembro de 2003 por artralgiasdas articulações metatarsofalângicas, joelhos e pe-quenas articulações das mãos, de ritmo inflamató-rio com cerca de 3 semanas de evolução. Estas quei-xas eram acompanhadas de rigidez matinal e cia-nose dos dedos das mãos desencadeada pela expo-sição ao frio.

Objectivamente tinha um bom estado geral, es-tava apirética, normotensa e normocárdica. Apre-sentava um rash eritematoso da face atingindo a re-gião malar e dorso do nariz, acrocianose dos dedosdas mãos e artrite da 5ª interfalângica proximal damão esquerda e da 3ª e 5ª metatarso-falângica bi-lateralmente. A palpação abdominal evidenciou li-geira hepatomegália indolor, com bordo hepáticorombo, 2 cm abaixo do rebordo costal direito.

* Interno do Internato Complementar de Reumatologia** Assistente Graduada de Reumatologia*** Chefe de Serviço de ReumatologiaServiço de Reumatologia do Hospital Garcia de Orta,Almada

Dos exames complementares de diagnóstico so-licitados salienta-se: Hemograma com discreta lin-fopénia (1484 x 109/L); VS – 31 mm/h; AST – 60 UI/L;ALT – 88 UI/L; γ-GT – 38 UI/L; função renal e sedi-mento urinário sem alterações; aumento da alfa-1e gamaglobulina; ANA – 1/2560; anti-dsDNA – 102(VR - <10 UI/ml); anti SSA – positivo e diminuiçãodas fracções C3 e C4 do complemento. A ecografiahepato-bilio-pancreática, a radiografia de tórax e oecocardiograma transtorácico eram normais.

Foi estabelecido o diagnóstico de LES e a doen-te medicada com hidroxicloroquina 200 mg/dia,deflazacort 15 mg/dia, naproxeno e aconselhadaprotecção solar.

Na consulta seguinte apresentava-se assintomá-tica, com normalização dos valores das transami-nases e das fracções do complemento, tendo inicia-do redução do deflazacort até à dose de manuten-ção de 3 mg/dia. Manteve-se assintomática e semevidência clínico-laboratorial de actividade lúpicadurante 15 meses.

Em Março de 2005 recorre à consulta por fadiga,episódios de diplopia e dificuldade na mastigaçãode carácter flutuante, com cerca de 2 semanas deevolução, de agravamento progressivo e que con-dicionava limitação funcional, particularmente daactividade desportiva. A observação revelou ptosepalpebral bilateral com diminuição da força de en-cerramento palpebral, diplopia e dificuldade noolhar vertical, força muscular grau IV, massas mus-culares indolores à palpação, reflexos osteo-tendi-nosos vivos e simétricos e ausência de alterações dasensibilidade.

Face a este quadro inicia-se investigação etioló-gica da fraqueza muscular. O hemograma comple-to, fracções do complemento, ionograma, calcé-mia, fosfatémia, magnesiémia, função tiroideia eenzimas musculares apresentavam valores dentroda normalidade. Realizou electromiograma que re-velou padrão de contracção decremencial com aestimulação repetida, compatível com MiasteniaGravis (MG). Foram então requisitados anticorposanti receptores da acetilcolina que apresentavam

Page 56: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:167-72

170

um título de 26,36 mmol/l (VR <0,15mmol/l) etomografia axial computorizada (TAC) torácicaque mostrou ligeira densificação tecidular na locamediastínica, provavelmente relacionada com res-quícios do timo (Figura 1).

Com base nestes resultados é efectuado o diag-nóstico de Miastenia Gravis e medica-se com piri-dostigmina em doses crescentes até 60 mg 6/6h.

Na consulta seguinte a doente apresentava-sesem diplopia, ptose palpebral ou dificuldade namastigação, com força muscular grau V em repou-so e grau IV após esforço repetido, mas com humordepressivo, referindo queixas flutuantes, pelo queforam discutidas com a doente e família outraspossibilidades terapêuticas, nomeadamente a ti-mectomia, a que esta aceita submeter-se em Julhode 2005. O exame histológico da peça operatóriarevelou hiperplasia folicular do timo.

Na avaliação após a cirurgia apresentava-se me-lhorada, mantendo alguma limitação na activida-de desportiva. Associou-se azatioprina na dose de2 mg/kg/dia e foi possível reduzir a dose de piri-dostigmina para 30 mg 3 a 4 vezes por dia.

Discussão

Existem diversas causas de diminuição da forçamuscular nos doentes com LES. As mais frequen-tes estão relacionadas com a doença de base oucom o seu tratamento. Contudo, estes doentes po-dem apresentar fraqueza muscular causada poroutra doença neuro-muscular associada. A miosi-te lúpica ocorre em 5 a 11% dos doentes e mani-festa-se por mialgias, diminuição da força muscu-lar proximal e elevação das enzimas musculares.Os achados electromiográficos são semelhantesaos encontrados nas miopatias inflamatórias idio-páticas e a biópsia muscular pode ser normal ou

apresentar inflamação intersticial, necrose e de-generação das fibras musculares3. O electromio-grama e a biópsia muscular podem ser necessáriospara diferenciação da miopatia iatrogénica indu-zida pelos anti-palúdicos de síntese (APS) ou pe-los corticóides, fármacos frequentemente prescri-tos no LES. Os efeitos adversos dos APS, ainda queraros, incluem alterações neurológicas (síndromemiasténico, sintomas extra-piramidais, polineuro-patia periférica sensitivo-motora) e musculares(miopatia vacuolar)4. Algumas vezes este efeitoneuro-muscular manifesta-se por miopatia seme-lhante à MG. A regressão das queixas após a inter-rupção do fármaco e um teste com anticolineste-rásicos (teste de Tensilon) negativo são achados tí-picos. Em última análise o diagnóstico pode serfeito por biópsia muscular, que evidencia uma mi-opatia vacuolar em microscopia óptica, mas é emmicroscopia electrónica que se observam as alte-rações características como os corpos mielóides ecurvilíneos no interior das fibras musculares. Ca-sado et al num estudo prospectivo com 119 doen-tes medicados com cloroquina e hidroxicloroqui-na, estimaram a prevalência e a incidência da mi-opatia dos APS em 9,2% e 1,2% respectivamente5.Os corticóides também podem induzir um quadromiopático em 7 a 60% dos doentes, sendo este umefeito idiossincrásico6. O tratamento de curta du-ração com doses elevadas de corticóides pode re-sultar numa miopatia aguda, o uso crónico podeinduzir o padrão clássico miopático, com fraque-za muscular proximal, atrofia e mialgias. As enzi-mas musculares podem estar normais ou ligeira-mente elevadas. O exame histológico apresenta al-terações inespecíficas, comuns a outras miopatias,com variação das dimensões das fibras muscula-res, centralização do núcleo, ausência de infiltra-do inflamatório e necrose ocasional. Este quadroé mais frequente com o uso de corticóides fluori-nados (dexametasona, betametasona, triamcino-lona), no entanto foram descritos casos com aprednisolona e a hidrocortisona6. O tratamentoconsiste na descontinuação do fármaco, mas a re-cuperação pode levar semanas a meses.

A disfunção tiroideia e as alterações iónicas, par-ticularmente do cálcio e do potássio podem cau-sar uma síndrome miopática com fraqueza mus-cular proximal e cãibras, reversível com a correc-ção iónica ou normalização hormonal.

Nesta doente foi também considerada, aindaque menos provável, a hipótese de miopatia me-tabólica. As miopatias primárias constituem um

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO E FRAQUEZA MUSCULAR

Figura 1. Ligeira densificação em topografia da loca tími-ca, aspectos relacionados com resquícios da glândula; au-sência de formações ganglionares mediastínicas de signifi-cado patológico (TAC torácica).

Page 57: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:167-72

171

grupo heterogéneo de doenças metabólicas raras,causadas por defeitos enzimáticos congénitos, quese manifestam por disfunção muscular. Classica-mente, dividem-se em doenças do armazenamen-to do glicogénio, do metabolismo lipídico, das pu-rinas e doenças mitocondriais. A forma de apre-sentação clínica mais frequente inclui intolerânciaao esforço, cãibras e mioglobinúria. Algumas mio-patias metabólicas primárias podem causar fra-queza muscular proximal progressiva semelhanteà polimiosite ou um quadro de limb girdle muscu-lar dystrophy. Em algumas destas entidades asenzimas musculares podem estar elevadas. Odiagnóstico depende da suspeição clínica e da de-monstração do defeito enzimático específico atra-vés de testes bioquímicos7.

A MG é uma doença auto-imune adquirida, pro-vocada pela diminuição do número de receptoresda acetilcolina na placa neuromuscular mediadapor auto-anticorpos contra a subunidade alfa doreceptor nicotínico da acetilcolina. Caracteriza-sepor fraqueza e fatigabilidade dos músculos esque-léticos ao esforço8. Ocorre uma vez em cada 10.000indivíduos. O início na infância e adolescência épouco frequente, correspondendo a 10-20% dosdoentes com MG, sendo mais frequente no sexo fe-minino com um rácio de 1,8:19. Cerca de 10% dosdoentes com MG sofrem de outra doença auto-imune. A associação mais comum é com tiroiditeauto-imune, seguida das doenças do tecido con-juntivo (DTC), nomeadamente a Artrite Reuma-tóide, LES, Polimiosite, Síndrome de Sjögren e Es-clerodermia8. A prevalência de LES em doentescom MG varia entre 2,2 e 8,3%, sendo que a preva-lência de MG em doentes com LES não é conheci-da. A forma de apresentação clínica destas doen-ças em associação não difere das formas isoladas,embora a MG tenha tendência a ser mais gravequando associada ao LES1.

A coexistência de LES e MG em idade juvenil éexcepcional. Na maior parte dos casos descritos odiagnóstico de LES é posterior à timectomia reali-zada para o controle da MG, o que levanta hipó-teses sobre o papel protector do timo na génese daauto-imunidade em indivíduos geneticamentesusceptíveis8,10.

A terapêutica deve ser feita de forma progres-siva. A opção inicial são os inibidores da acetilco-linesterase que controlam os sintomas, mas nãoimpedem a evolução da doença, nem a deplecçãodos receptores da acetilcolina. Em caso de falên-cia ou resposta inadequada, a imunossupressão é

o passo seguinte. Corticóides, azatioprina, ciclo-fosfamida ou ciclosporina são eficazes na MG.Mais recentemente o micofenolato mofetil mos-trou ser seguro e bem tolerado, com uma taxa deresposta sobreponível à azatioprina11. A timecto-mia é aceite de forma consensual como parte dotratamento, estando indicada em todos os doen-tes de idade inferior a 55 anos e com MG generali-zada, independentemente da presença de timo-ma, podendo induzir remissão em 35% e melho-ria em 60%8. A resposta à timectomia surge geral-mente nos dois anos seguintes à cirurgia, aindaque o benefício máximo possa demorar mais tem-po a ocorrer11,12. Os factores associados a maior taxade resposta são o curto intervalo desde o início dossintomas até à cirurgia, a idade jovem e a ausênciade timoma12. Nos doentes com DTC a taxa de res-posta à timectomia (melhoria ou remissão) é decerca de 50%, isto é, inferior ao que sucede na MGisolada8.

Conclusão

Após avaliação clínica e laboratorial apenas a mio-patia dos APS e a MG permaneceram como diag-nósticos prováveis nesta doente. A ausência de me-lhoria clínica após interrupção da hidroxicloroqui-na, os achados electromiográficos e a positividadeserológica para os anticorpos contra o receptor daactetilcolina, bem como a resposta clínica aos an-ticolinesterásicos, favoreceram o diagnóstico deMG. A associação destas duas doenças autoimu-nes em crianças é rara. Apesar da resposta à timec-tomia ser inferior nos doentes com MG associadaa DTC, tendo em consideração que pode ser cura-tiva, deve ser considerada como parte do trata-mento nas formas generalizadas.

Referências:1. Carvalho MF, Abrahão TC, Assaf M. Lupus eritema-

toso sistêmico associado a miastenia gravis. Arq Neu-ropsiquiatr 1998; 56:137-140.

2. Faller G, Thomson PD, Kala UK, Hahn D. Demo-graphics and presenting clinical features of child-hood systemic lupus erythematosus. S Afr Med J.2005;95:424-427.

3. Di Cesare PE, Valle CJ, Zuckerman JD. Articular mani-festations of systemic lupus erythematosus. In: Lahi-ta RG. Systemic Lupus Erythematosus. San Diego: El-sevier; 2004:1037-1063.

4. Becerra-Cuñat JL, Coll-Cantí J, Gelpí-Mantius E et al.Miopatía y neuropatía inducida por cloroquina:tetraparesia progresiva con arreflexia que simula

FILIPE VINAGRE E COL.

Page 58: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:167-72

172

polirradiculopatía - Rev Neurol 2003; 36: 523-526.5. Casado E, Gratacos J, Tolosa C et al. Antimalarial

myopathy: an underdiagnosed complication? Pros-pective longitudinal study of 119 patients. AnnRheum Dis 2006;65:385-390.

6. Owczarek J, Jasínska M, Orszulak-Michalak D. Drug--induced myopathies. An overview of the possiblemechanisms. Pharmacological Rep 2005; 57: 23-34.

7. Katirgi B, Sabry M. Metabolic myopathies. www.emedicine.com/neuro/topic 672htm 2003

8. Zentero JF, Troche JM, Alvarado AM, Ramos GG, Es-tañol B, Boada FV. The association of myastheniagravis and connective tissue diseases - Effects ofthymectomy in six cases. Neurología 2003; 18: 54-58.

9. Morita MP, Gabbai A, Oliveira AS, Penn AS. Myasthe-nia gravis in children. Arq Neuropsiquiatr 2001; 59:681-685.

10. Park MJ, Kim YA, Lee SS, Kim BC, Kim MK, Cho KH.Appearance of systemic lupus erythematosus in pa-

LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO E FRAQUEZA MUSCULAR

tients with myasthenia gravis following thymectomy:two case Reports. J Korean Med Sci 2004; 19:134--136.

11. Ciafaloni E. Mycophenolate mofetil and myastheniagravis. Lupus 2005; 14: 46-49.

12. El-Medany Y, Hajjar W, Essa M, Al-Kattan K,HaririZ,Ashour M. Predictors of outcome for myastheniagravis after thymectomy. Asian Cardiovasc ThoracAnn 2003; 11:323-327.

Endereço para correspondência:Filipe Vinagre – Serviço de ReumatologiaAv Prof. Torrado da SilvaHospital Garcia de Orta2805 - 267 AlmadaTlm: 962783401E-mail: [email protected]

12th APLAR Congress 2006

Malásia, Kuala Lumpur1-5 de Agosto de 2006

28th Annual Meeting of the American Society for Bone and Mineral Research

EUA, Philadelphia15-19 de Setembro de 2006

12th International Conference on Behcet’s Disease

Portugal, Lisboa20-23 Setembro de 2006

Limite de Envio de Resumos:1 de Julho de 2006

Page 59: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

SÍNDROMA DE SAPHO – CASO CLÍNICO

Michele De Santis,

Jorge Fortuna

Serviço de Medicina,Centro Hospitalar de Coimbra

Page 60: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:175-80

176

R E S U M O

A Síndroma de SAPHO (Sinovite, Acne, Pustulose, Hiperostose, Osteite) descrita pela primeira vez nadécada de 80 por Chamot e Kahn, caracteriza-se pelo compromisso simultâneo cutâneo e ósseo,principalmente da grelha costal e da parede anterior do tórax (Skin-Bone Disease). As manifestaçõesclínicas diferem consoante a idade de início e a resposta ao tratamento é variável. Considera-se umapatologia rara, apesar de não se conhecer a sua real prevalência, que afecta ambos os sexos, em qualqueridade, mas sendo menos frequente no idoso. Neste artigo apresentamos um caso de Síndroma de SAPHOe procedemos à revisão dos aspectos mais relevantes da literatura.

Palavras Chave: Síndroma de SAPHO; Skin-Bone Disease; Osteomielite Multifocal Crónica Recorrente;Espondilartrite Hiperostótica Pústulo-Psoríatica.

A B S T R A C T

SAPHO Syndrome (Synovitis, Acne, Pustulosis, Hyperostosis, Osteitis) was first described in the 80s byChamot and Kahn. This disease affects both skin and bones, mainly in the costal area and anterior chestwall (Skin-Bone Disease). Clinical symptoms vary according to the age of onset and response to the treat-ment is uncertain. This is considered a rare disease, although its real prevalence is not known. SAPHOsyndrome may occur in any age and both sexes are equally affected. In this article, we present a case ofSAPHO Syndrome and review the most relevant aspects of the literature.

Keywords: SAPHO Syndrome; Skin-Bone Disease; Chronic Recurrent Multifocal Osteomyelitis; Pustulo--Psoriatic Hyperostotic Spondylarthritis.

Page 61: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:175-80

177

C A S O C L Í N I C O

S Í N D R O M A D E S A P H O – C A S O C L Í N I C O

Michele De Santis*, Jorge Fortuna**

Introdução

Em 1984 Chamot e Kahn utilizaram a designaçãode Síndroma de SAPHO para agrupar uma série depatologias pouco frequentes e de etiologia desco-nhecida que tinham como achado comum o envol-vimento ósseo, principalmente da grelha costal e daparede anterior do tórax, associado a compromis-so cutâneo (SKIBO=Skin Bone Disease)1,2,3,4.

As iniciais do acrónimo SAPHO representamcada uma das características da Síndroma:S inovite, A cne, P ustulose, H iperostose, O steite.

As manifestações clínicas da Síndroma são va-riáveis consoante a idade de aparecimento, masuma das características principais é a dor a nível daregião torácica anterior. O curso da doença é cró-nico evoluindo geralmente por períodos de recru-descência e remissão com intervalos variáveis. Odiagnóstico é essencialmente clínico, como esti-pulado por Kahn3,4,5, complementado por algunsexames imagiológicos. O diagnóstico é mais fácilquando estão presentes as lesões cutâneas e arti-culares, sendo mais difícil nas formas incompletas(somente com envolvimento articular ou cutâneo)ou nas formas não completamente desenvolvidas,visto que o compromisso pode não ser simultâneo.O tratamento é empírico e tem que ser adaptado aodoente e à forma clínica de apresentação. Adminis-tram-se anti-inflamatórios não esteróides (AINEs)e corticóides como tratamento sintomático. O se-guimento do doente com SAPHO necessita de co-operação interdisciplinar3.

Caso Clínico

Doente do sexo masculino, 49 anos, raça caucasia-na, trabalhador numa empresa de produtos de hi-giene, sem antecedentes pessoais ou familiares sig-

**Interno de Pneumologia do Serviço de Pneumologia do CentroHospitalar de Coimbra**Assistente Graduado Medicina Interna do Centro Hospitalar deCoimbra

nificativos, que recorre ao Serviço de Urgência comum quadro com cerca de 4 anos de evolução carac-terizado por lesões pustulosas palmo-plantares edor a nível da região esterno-costo-clavicular es-querda. O doente referia períodos de remissão e fa-ses de recrudescência tendo no máximo duas cri-ses por mês. Referia ainda lombalgia de ritmo in-flamatório e desconforto a nível da cintura escapu-lar e pélvica. Negava febre ou emagrecimento emqualquer altura da evolução das queixas. Duranteestes 4 anos tinha recorrido várias vezes ao médi-co assistente tendo sido referenciado a vários der-matologistas. Medicado com uma grande varieda-de de fármacos (nomeadamente corticóides tópi-cos e sistémicos), nunca apresentou melhoria dasqueixas. À exploração apresentava lesões em pla-cas descamativas no interior das quais se observa-vam pústulas a nível palmo-plantar (Figura 1 e 2).Na parede anterior do tórax apresentava tumefac-ção dolorosa aproximadamente a nível do terçomédio da clavícula esquerda. Ao exame do apare-lho locomotor apresentava limitação da abduçãodos membros superiores (90º à direita e 120º à es-querda), diminuição da expansão torácica e testede Schöber 12/15 cm.

Os exames de laboratório (integrando os realiza-dos no internamento e os recolhidos nos anos an-teriores) revelaram uma velocidade de sedimenta-ção (VS) ligeiramente elevada (10-40 mm/h), leu-cocitose moderada (10,5-12000/µL), uma proteínaC reactiva (PCR) persistentemente negativa, HLAB27 negativo, HIV 1 e 2 negativos, VDRL negativo,serologias para Clamydia e Ureaplasma negativas.Nos exames de imagem solicitados encontraram--se os seguintes achados: radiografias - sacroileíteà esquerda; cintigrafia- aumento da captação a ní-vel do tórax, sacroilíaca esquerda, mãos e joelhos(figura 3, 4 e 5).

Face aos achados clínicos, laboriatoriais e ima-giológicos fez-se o diagnóstico de Síndroma deSAPHO. O doente iniciou tratamento com Metotre-xato 7,5 mg/semana e programa de fisioterapia,apresentando melhoria significativa, objectivadapor desaparecimento das lesões palmo-plantares,

Page 62: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:175-80

178

ca, osteoesclerose dos corpos vertebrais, forma-ção de sindesmófitos no ligamento anterior9,10), dosossos longos (porção distal do fémur e proximal datíbia10) e da mandíbula10,11. A artrite periférica temsido reportada em mais de 36% dos casos10. As ma-nifestações cutâneas associadas ao SAPHO são apustulose palmo-plantar e o acne nas formas con-globata ou fulminans. O aparecimento das lesõesósseas e cutâneas pode ser simultâneo, como nocaso do nosso doente, mas na maioria dos casosexiste um tempo de latência que pode chegar aos20 anos3,12. Outras possíveis manifestações ou com-plicações são a síndrome do desfiladeiro torácico,a trombose da veia subclávia e o síndrome da veiacava superior por envolvimento dos tecidos molesimediatamente adjacentes aos ossos e articulações

SÍNDROMA DE SAPHO – CASO CLÍNICO

Figura 3. Aumento da captação a nível de ambas as mãosna cintigrafia.

Figura 4. Aumento da captação a nível da articulação sa-croilíaca esquerda

Figura 2. Lesões pustulosas a nível do pé direito

Figura 1. Lesões pustulosas a nível da mão esquerda

diminuição acentuada da dor e tumefacção costo--clavicular e ausência de limitação à mobilidadedos membros superiores.

Discussão

O acrónimo SAPHO (Sinovite, Acne, Pustulose, Hi-perostose, Osteíte) foi proposto em 1987 por reu-matologistas franceses1 para descrever a associa-ção entre patologias osteoarticulares e várias alte-rações dermatológicas com características clíni-cas, radiológicas e histológicas peculiares quepreviamente tinham sido descritas sob múltiplasdenominações2. O envolvimento das estruturas os-teoarticulares da parede torácica anterior é o quedefine fundamentalmente o SAPHO, tendo comocaracterística principal tumefacção e dor a níveldas articulações esterno-costo-claviculares, mas aexpressão clínica da síndroma pode variar grande-mente3,4,6, podendo haver também compromissodas articulações sacroilíacas (em 13-52% dos casos,unilateral e associado a hiperostose5,7,8,9,10), da colu-na cervical e dorsal (com espondilodiscite assépti-

Page 63: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:175-80

179

acometidas7,10,13. Como estipulado por Kahn, 3 cri-térios diagnósticos caracterizam a Síndroma deSAPHO:1) Osteíte multifocal com ou sem manifestações

cutâneas;2) Artrite aguda ou crónica estéril associada a pús-

tulas ou psoríase palmoplantar, acne ou hidro-adenite;

3) Osteíte estéril na presença de uma das manifes-tações cutâneas referidas anteriormenteQualquer uma das 3 apresentações é suficiente

para o diagnóstico3,4,5.De acordo com estes critérios, desde 1986 foram

descobertas e documentadas pelo menos duas for-mas independentes da Síndroma de SAPHO:1) Osteomielite Multifocal Crónica Recorrente

(CRMO) do adulto, com ou sem manifestaçõescutâneas, que responde ao 1º critério diagnós-tico mencionado por Kahn;

2) Espondilartrite hiperostótica pústulo-psoriáti-ca (PPHS)que combina sintomas dos 2º e 3º cri-térios diagnósticos3.A PPHS constitui a forma clínica de apresenta-

ção da Síndroma de SAPHO no nosso doente, umaespondilartropatia seronegativa da idade adultaconstituída pela tríade: 1. Hiperostose esterno-costo-clavicular com fi-

broosteite costo-clavicular e periosteite ossifi-cante dolorosa, frequentemente unilateral ecomplicada por estenose da veia subclávia;

2. Espondiloartropatia «produtiva» (com forma-ção de sindesmófitos ou parasindesmófitos);

3. Pustulose palmo-plantar.Pode ainda ser associada a artrite e sacroileíte3.As restantes entidades da Síndroma de SAPHO

são constituídas por formas incompletas da CRMOe PPHS.

Não existem muitos dados epidemiológicos dis-poníveis, mas trata-se de uma doença da criança(sobretudo na forma de CRMO) e do adulto (prin-cipalmente na forma de PPHS) com igual distribui-ção por sexo, rara no idoso.

A etiologia é desconhecida, mas, dada a varie-dade dos quadros clínicos, não pode ser explicadapor um único factor. Pensa-se que um agente pa-togénico de baixa virulência, como o Propionibac-terium acnes isolado em algumas amostras de bi-ópsias ósseas, possa desencadear uma resposta in-flamatória que leve ao aparecimento das altera-ções osteoarticulares típicas da síndroma3,10. Poroutro lado, a explicação genética é insuficiente, es-tando o HLA B27 presente em apenas 13-30% doscasos3,10.

O diagnóstico, fundamentado em dados clínicoscomo referido anteriormente, pode ser confirma-do por dados imagiológicos e histológicos, nãoexistindo nenhum exame de laboratório específi-co para SAPHO. Os únicos achados laboriatoriais,como no caso em questão, são VS discretamenteelevada e leucocitose. As radiografias simples po-dem mostrar as lesões típicas de hiperostose e os-teoesclerose, de acordo com o tempo de evolução,sobretudo a nível costo-clavicular, das sacroilía-cas e da coluna lombar. Lesões osteolíticas e page-tóides podem-se evidenciar a nível dos ossos lon-gos e mandíbula nas formas de CRMO. Mais espe-cíficos são a tomografia axial computorizada (TAC)e a ressonância magnética (RM), respectivamentepara definir a extensão do envolvimento, particu-larmente da parede anterior do tórax e determinaro grau de actividade da doença a nível do tórax, es-queleto axial e dos ossos longos10. A biópsia ósseaé útil para revelar o infiltrado inflamatório, maspode ser substituída pela realização duma cintigra-fia que evidencia o típico aspecto em «cabeça detouro» por aumento da captação a nível da paredeanterior do tórax e em outras localizações, mesmoassintomáticas, e que, no contexto clínico apro-priado, é altamente sugestivo da Síndroma deSAPHO10,14.

Não existe terapêutica específica para a síndro-ma de SAPHO. Os AINES são indicados para o tra-

MICHELE DE SANTIS E COL.

Figura 5. Imagem em «cabeça de touro» devida à capta-ção aumentada de ambas as articulações esternocostocla-viculares.

Page 64: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:175-80

180

tamento sintomático da dor. A utilização de corti-cóides, metotrexato, sulfassalazina e ciclosporinatem sido considerada útil3,5,14,15. Existe também re-ferência à utilização, com sucesso, de antagonis-tas do factor de necrose tumoral alfa3. A utilizaçãode macrólidos, devido à sua acção antinflamató-ria e imunomoduladora, foi também preconiza-da16. O uso de calcitonina e/ou bifosfonatos pode-rá estabilizar a massa óssea, impedindo os meca-nismos de reabsorção e inflamação na base das le-sões ósseas características da síndroma17,18. Oseguimento dos doentes com Síndroma de SAPHOimplica uma intervenção multidisciplinar. A cirur-gia é necessária em casos raros e o tratamento daslesões cutâneas deve ser orientado por dermato-logistas. Todos os doentes beneficiam de fisiotera-pia. O nosso doente apresentou uma resposta ime-diata e sustentada com o metotrexato em dose bai-xa, coadjuvado pela fisioterapia. Registou-se me-lhoria de toda a sintomatologia, inclusive daslesões cutâneas. O desafio principal será o follow--up do doente em termos de continuidade do tra-tamento e escolha de meios diagnósticos para ava-liar a actividade da doença.

Referências:1. Chamot AM, Benhamou CL, Kanh MF, Beraneck L,

Kaplan G, Prost A. Le syndrome acné pustulose hy-perostose osteíte (SAPHO). Resultats d'une enquêtenationale, 85 observations. Rev Rhum Mal Osteoartic1987; 54(3):187-196.

2. Kahn MF, Chamot AM. SAPHO syndrome. RheumDis Clin North Am 1992; 18(1): 225-246.

3. Scilling F. SAPHO syndrome. In Guilleuin L. Orpha-net Encyclopedia. [s.l.]:[s.n.], 2004: 1-9. [Consultado 5Set. 2005]. Disponível em www: <URL:http://www.orpha.net/data/pathol/GB/UK-sapho.pdf>

4. Kahn MF, Kahn MA. The SAPHO syndrome. BailliéresClin Rheumatol. 1994; 8(2):333-362.

5. Silva JA. Espondilartrites seronegativas. In QueirozMV. Reumatologia. Vol 2. Lisboa: Lidel, 2002: 265-269.

6. Jurik AG, Helmig O, Graudal H. Skeletal disease,arthro-osteitis in adult patients with pustulosispalmoplantaris. Scand J Rheumatol 1988; 70(Sup-pl):3-15.

7. Canhão H. Manifestações músculo-esqueléticas dedoenças não reumáticas. In Queiroz MV. Reumatolo-gia. Vol 4. Lisboa: Lidel, 2002: 90-99.

8. Maugars Y, Berthelot JM, Ducloux JM, Prost A.

SÍNDROMA DE SAPHO – CASO CLÍNICO

SAPHO syndrome: a follow-up study of 19 cases withspecial emphasis on enthesis involvement. JRheumatol 1995;22(11): 2135-2141.

9. Toussirot E, Dupond JL, Wendling D. Spondylodiscitisin SAPHO syndrome. A series of eight cases. AnnRheum Dis 1997; 56(1): 52-58.

10. Earwaker JW, Cotten A. SAPHO: syndrome or con-cept? Imaging findings. Skeletal Radiol 2003;32(6):311-327.

11. Suei Y, Taguchi A, Tanimoto K. Diagnostic points andpossible origin of osteomyelitis in synovitis, acne,pustulosis, hyperostosis and osteitis (SAPHO) syn-drome: a radiographic study of 77 mandibular os-teomyelitis cases. Rheumatology (Oxford) 2003;42(11): 1398-1403.

12. Kahn MF, Bouvier M, Palazzo E. Sternoclavicularpustulotic osteitis (SAPHO). 20-year interval betweenskin and bone lesions. J Rheumatol 1991; 18(7):1104--1108.

13. Van Holsbeeck M, Martel W, Dequeker J, et al. Soft tis-sue involvement, mediastinal pseudotumor, and ve-nous thrombosis in pustulotic arthro-osteitis. SkeletalRadiol 1989;18(1):1-8.

14. Freyschmidt J, Sternberg A. The bullhead sign: scinti-graphic pattern of sternocostoclavicular hyperostosisand pustulotic arthroosteitis. Eur Radiol 1998;8(5):807-812.

15. Hayem G, Bouchaud-Chabot A, Benali K, et al.SAPHO syndrome: a long-term follow- up study of120 cases. Semin Arthritis Rheum 1999; 29(3): 159--171.

16. Schilling F, Wagner AD. Azithromycin: An antiinflama-tory effect in chronic recurrent multifocal osteomye-litis – a preliminary report. Z Rheumatol 2000;59(5):352-353.

17. Amital H, Applbaum YH, Aamar S, Daniel N, RubinowA. SAPHO syndrome treated with pamidromate: anopen-label study of 10 patients. Rheumatology2004;43(5):658-661.

18. Kopterides P, Pikazis D, Koufos C. Successful treat-ment of SAPHO syndrome with zoledronic acid.Arthtritis Rheum 2004;50(9):2970-2973.

Endereço para correspondência:Michele De SantisUrb. Quinta das LágrimasResidências fase 2 lote 13 r/c B3040-192 CoimbraTel: 239-440106Tlm: 965 841 325E-mail: [email protected]

Page 65: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ARTROPATIA OCRONÓTICA AXIAL

Mónica Bogas,

Domingos Araújo

Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar do Alto Minho, Ponte de Lima

Page 66: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:181-3

182

I M A G E N S E M R E U M AT O L O G I A

A R T R O P AT I A O C R O N Ó T I C A A X I A L

Mónica Bogas*, Domingos Araújo**

Doente do sexo masculino, 63 anos, raça caucasia-na, observado, em Outubro de 2005, por história delombalgia intensa, de instalação recente, muito in-capacitante, que teria surgido após esforço físico eque se agravava com todos os movimentos do tron-co. Referia, desde longa data, episódios ocasionais,menos intensos, de raquialgia dorsal e lombar me-cânicas. No exame osteoarticular constatava-seacentuada limitação da mobilidade em todos osplanos e segmentos da coluna, predominantemen-te, dorsal e lombar, com um teste de Schöber de 10--12 cm. Não existiam sinais de mielo ou radiculo-patia, nem outras alterações articulares relevantes.Ao exame geral não apresentava dados clínicos re-levantes, excepto pigmentação bilateral cinzento--ocronótica das escleróticas (Figura 1). A radiolo-gia mostrava calcificações discais múltiplas e estrei-tamento acentuado dos espaços intervertebraisnos segmentos dorsal e lombar (Figuras 2 e 3); semalterações de relevo na bacia, joelhos, mãos e pu-nhos. O estudo analítico não mostrou alteraçõesno hemograma e na bioquímica (nomeadamentenos níveis séricos do cálcio e fósforo, na função re-nal e hepática e no exame sumário da urina).

O doseamento do ácido homogentísico na uri-na das 24 horas confirmou o diagnóstico de artro-patia ocronótica.

A alcaptonúria é uma doença rara, autossómicarecessiva, resultante da deficiência da enzima deso-xigenase do ácido homogentísico- (HGD) interve-niente na degradação da tirosina. Esta deficiência

origina uma acumulação de ácido homogentísico(HGA) no plasma, acompanhado por uma elimina-ção excessiva na urina e deposição no tecido con-

* Interna de Reumatologia do Serviço do Centro Hospitalar do Alto Minho, Ponte de Lima**Chefe de serviço e Director do Serviço de Reumatologia doCentro Hospitalar do Alto Minho, Ponte de Lima

Figura 1. Pigmentação ocronótica bilateral das escleróticas.

Figura 2 e 3. Calcificações discais múltiplas, estreitamen-to do espaço intervertebral e osteofitose nas radiografiasdo ráquis dorsal e lombar.

Page 67: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:181-3

183

juntivo (ocronose). As características clínicas maiscomuns resultam da deposição de pigmentos de-rivados do HGA na cartilagem e noutros tecidosconjuntivos (pele, escleróticas, pavilhões auricula-res, válvulas cardíacas e cartilagem articular). Oenvolvimento das cartilagens articulares nas arti-culações axiais e periféricas, origina a artropatiaocronótica. Na artropatia ocronótica axial, maisrara que a periférica, a rigidez e a limitaçãoprogressiva da mobilidade da coluna lembram a daespondilite anquilosante. No entanto, os achadosradiográficos, mostrando calcificações discais,múltiplas e exuberantes, com estreitamento dos

espaços intervertebrais e osteofitose, são caracte-rísticos.

O diagnóstico baseia-se nas características clí-nicas e radiológicas e no doseamento do ácido ho-mogentísico na urina das 24 horas.

Endereço para correspondência:Drª Mónica Bogas Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar do Alto MinhoRua Conde de Bertiandos4900 Ponte de LimaE-mail: [email protected]

MÓNICA BOGAS E COL.

CORRECÇÃO

1. No último número da Acta Reumatológica Portuguesa o artigo DOENÇA ÓSSEA DE PAGET DO CRÂNIOE FACE, ACTA REUM PORT 2006;31:97-9 foi publicado, por lapso, com a figura 4 seleccionada paravisualização do parênquima cerebral e não do osso. A versão online tem a imagem correcta.

2. No último número da Acta Reumatológica Portuguesa o artigo VALORES DE REFERÊNCIA PARA UMAPOPULAÇÃO URBANA PORTUGUESA DA AVALIAÇÃO QUANTITATIVA POR ULTRASONS DOCALCÂNEO, ACTA REUM PORT 2006;31:65-73 foi publicado, por lapso, com as figura 5 e 6 apresentandouma inversão na legenda: onde está homens deve ler-se mulheres e vice -versa. A versão online tem alegenda correcta.

Page 68: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:184

184

A G E N D A

n 12th APLAR Congress 2006

Local e Data: Malásia, Kuala Lumpur. 1-5 de Agosto de 2006.

n 28th Annual Meeting of the American Society for Bone and Mineral Research

Local e Data: EUA, Philadelphia. 15-19 de Setembro de 2006.

n 12th International Conference on Behcet’s Disease

Local e Data: Portugal, Lisboa. 20-23 Setembro de 2006.

Limite de Envio de Resumos: 1 de Julho de 2006.

n 2nd European Course – Capillaroscopy and Rheumatic Diseases

Local e Data: Itália, Génova. 22-24 Setembro de 2006.

n Reunião de Outono da Sociedade Portuguesa de Reumatologia,

Local e Data: Portugal, Monfortinho. 6-8 de Outubro de 2006.

Limite de Envio de Resumos: 15 de Setembro de 2006.

n V Congresso Português de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas

Local e Data: Portugal, Lisboa. 20-21 de Outubro de 2006.

Limite de Envio de Resumos: 15 de Setembro de 2006.

n 1st Mediterranean Workshop on Clinical Immunology

Local e Data: Portugal, Évora. 26-29 de Outubro de 2006.

Limite de Envio de Resumos: 15 de Julho de 2006.

n ACR American College of Rheumatology 70th Annual Scientific Meeting,

Local e Data: EUA, Washington, D.C. 11-15 de Novembro de 2006.

Pre-Conference Courses: 10 e11 de Novembro de 2006.

Limite de Envio de Resumos: 4 de Maio de 2006.

n 2007 EULAR Congress

Local e Data: Espanha, Barcelona. 13-16 de Junho de 2007.

Page 69: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

A Acta Reumatológica Portuguesa publica artigos originaissobre todos os temas da Reumatologia ou com ela relacio-nados. São também publicados artigos de revisão, casosclínicos, cartas ao editor e outros que se incluam na es-trutura editorial da revista (notícias de reuniões de so-ciedades científicas, por ex.).

A Acta Reumatológica Portuguesa subscreve os requi-sitos para apresentação de artigos a revistas biomédicaselaboradas pela Comissão Internacional de Editores deRevistas Médicas (Internacional Commitee of MedicalJournal Editors), publicada na íntegra inicialmente em NEngl J Med 1991; 324: 424-28 e actualizada em Outubro de2005 e disponível em www.ICMJE.org. A potítica editorialda Acta Reumatológica Portuguesa segue as Recomenda-ções de Política Editorial (Editorial Policy Statements) emi-tidos pelo Conselho de Editores Científicos (Council ofScience Editors), disponíveis em www.councilscienceedi-tors.org/ services/draft_approved.cfm.

Os artigos podem ser redigidos em português ou inglês.As opiniões expressas são da exclusiva responsabili-

dade dos autores. Os autores devem declarar potenciais conflitos de in-

teresse financeiro. Os artigos publicados ficarão propriedade da revista,

não podendo ser reproduzidos, no todo ou em parte, semautorização dos editores.

A aceitação dos originais enviados para publicação ésempre condicionada a avaliação pelos consultores edi-toriais. Nesta avaliação os artigos poderão ser:

a) aceites sem alterações;b) aceites após modificações propostas pelos con-

sultores;c) recusados.

Em todos os casos os pareceres dos consultores serãointegralmente comunicados aos autores.

Quando são propostas alterações, o autor deverá en-dereçar uma carta ao editor e a cada um dos revisores res-pondendo a todos as questões colocadas. Deverá aindaenviar uma versão revista do artigo com as alteraçõesinseridas destacadas com cor diferente.

Instruções aos AutoresTodos os manuscritos que não estejam em conformi-

dade com as instruções que se seguem podem ser envia-dos para modificações antes de serem revistos pelos con-sultores.

Todos os trabalhos devem ser enviados por e-mailpara [email protected]. Poderá ser também enviadacópia impressa para:

EditorActa Reumatológica Portuguesa

(para o biénio 2005-2006):

para a morada permanente:R. D. Estefânia, 177 -1° D. – 1000-154 Lisboa

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:185-88

185

N O R M A S D E P U B L I C A Ç Ã O

ou para:

Unidade de Artrite Reumatóide, Instituto de Medicina MolecularEdifício Egas Moniz, Faculdade de Medicina de LisboaAv. Professor Egas Moniz1649-028 LisboaE-mail: [email protected]

Os manuscritos devem ser acompanhados de de-claração de originalidade e de cedência dos direitos depropriedade do artigo, assinada por todos os autores, con-forme minuta publicada em anexo.

O texto deve ser enviado em formato digital (e-mail ouCD), a dois espaços, com tipo 12 e com margens não in-feriores a 2,5 cm, em Word for Windows. Todas as páginasdevem ser numeradas.

As imagens devem ser fornecidas independentementedo texto em formato JPEG ou TIFF; em alternativa,poderão ser enviados os originais em papel ou slide.

Os textos devem ser organizados da seguinte forma:

Página 1Título; nome dos autores; categoria profissional;

serviços ou organismos onde os autores exerçam a sua acti-vidade e onde o trabalho foi executado; subsídios ou bol-sas que contribuíram para a realização do trabalho; mora-da e contactos do autor responsável pela correspondênciae contactos com os editores; título breve para rodapé.

Página 2a) Título (sem autores)b) ResumoResumo em português e inglês, que para os artigos

originais deve ser estruturado da seguinte forma: Objec-tivos, Material e Métodos, Resultados, Conclusões. O re-sumo dos artigos originais não deve exceder as 250 pala-vras e o dos casos clínicos as 150 palavras.

c) Palavras-chaveUm máximo de 5 palavras-chave que devem ser apre-

sentadas imediatamente a seguir ao resumo.

Página 3 e seguintesO texto dos artigos originais deve ser apresentado com

os seguintes subtítulos: Introdução, Objectivos, Materiale Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões, Agradeci-mentos, Bibliografia.

Em se tratando de casos clínicos, os subtítulos serão:Introdução, Caso clínico, Discussão, Bibliografia.

A partir da segunda página, inclusive, todas as páginasdevem ter em rodapé o título breve indicado na página tí-tulo.

O manuscrito não deve ultrapassar as 20 páginas paraos artigos originais e revisões e as 6 páginas para os casosclínicos.

Page 70: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:185-88

186

Referências: As referências devem ser classificadas enumeradas por ordem de entrada no texto. As abrevia-turas usadas na nomeação das revistas devem ser as uti-lizadas pelo Index Medicus.

Nas referências com 6 ou menos autores todos devemser nomeados. Nas referências com 7 ou mais autores de-vem ser nomeados os 3 primeiros seguidos de et al.

Seguem-se alguns exemplos de como devem constaros vários tipos de referências:

– RevistaNome(s) e iniciais do(s) autor(es). Título do artigo.

Nome da revista Ano; Volume: Páginas.Ex.: Hill J, Bird HA, Hopkins R, Lawton C, Wright V. Sur-

vey of satisfaction with care in a rheumatology outpa-tient clinic. Ann Rheum Dis 1992; 51:195-197.– Capítulo de livro

Nome(s) e iniciais do(s) autor(es) do capítulo. Títulodo capítulo. In: Nome(s) e iniciais do(s) editor(es) médi-co(s). Título do livro. Cidade: Nome da casa editora, anode publicação: primeira a última página do capítulo.

Ex.: Stewart AF. Hypercalcemia resulting from medi-cations. In: Favus MJ, ed. Primer on the Metabolic BoneDiseases and Disorder of Mineral Metabolism. New York:Raven Press, 1993: 177-178.– Livro

Nome(s) e iniciais do(s) autor(es). Título do livro.Cidade: Nome da casa editora, ano de publicação: pági-na(s).

Ex.: Lorig K. Patient Education. A practical approach.St. Louis: Mosby-Year Book;1992: 51.

As referências a trabalhos ainda não publicados, co-municações em reuniões, não publicadas em livros deresumos, ou comunicações pessoais devem ser citadas notexto e não como referências formais.

A exactidão e o rigor das referências são da responsa-bilidade do autor.

Quadros: Os quadros a inserir devem ser assinaladosno texto em numeração romana. Cada quadro deveráser apresentado em folha separada, dactilografado a 2espaços. Na parte superior devem apresentar um títulosucinto mas informativo, de modo a poder ser com-preendido sem recurso ao texto. Na parte inferior doquadro deve constar a explicação das abreviaturas uti-lizadas. Nos quadros devem ser evitados os traços verti-cais e os traços horizontais devem servir apenas comoseparadores de títulos e subtítulos.

Figuras: As figuras a inserir devem ser assinaladas notexto em numeração árabe. As legendas das figurasdevem ser dactilografadas a dois espaços numa folhaseparada, depois da bibliografia. As figuras devem serenviadas em suporte informático com ficheiros separa-dos para cada figura, em formato JPEG ou TIFF; emalternativa, devem ser enviados três originais das figu-ras, que deverão apresentar uma boa qualidade de dese-nho ou serem feitas em impressora de alta resolução. Asfotografias devem ser em papel brilhante, bem contras-tado, com as dimensões 10×15 cm. Todas as figuras de-vem apresentar no verso uma etiqueta autocolante como número da figura, o nome do 1º autor, o título breve

do artigo e a indicação da parte superior da figura.Modificações e revisões: No caso da aceitação do

artigo ser condicionada a modificações, estas deverãoser feitas pelos autores no prazo de quinze dias.

As provas tipográficas serão, sempre que possível, en-viadas aos autores contendo a indicação do prazo pararevisão consoante as necessidades editoriais da revista.

Editoriais: A maioria dos editoriais será solicitadapelo Editor. Os editoriais serão comentários sobre tópi-cos actuais ou sobre artigos publicados na revista. Otexto dos editoriais não deve exceder as 1200 palavras,um máximo de 15 referências e não deve conter quadrosou figuras.

Artigos de revisão: Estes artigos serão habitualmenteencomendados pelo Editor. No entanto, os autoresinteressados em apresentar um artigo de revisão podemcontactar com o Editor para discussão dos tópicos aapresentar.

Cartas ao Editor: As cartas ao editor devem consti-tuir um comentário crítico a um artigo da revista ouuma pequena nota sobre um tema ou caso clínico. Nãodevem exceder as 600 palavras, uma figura ou quadro, eum máximo de 10 referências bibliográficas.

Separatas: Caso desejem separatas (até ao nº de 10) o1º autor pode solicitá-las. Um maior número ficará a ex-pensas do autor, aquando da revisão tipográfica.

Minuta da carta a enviar ao EditorEnviar este documento com o manuscrito para:EditorActa Reumatológica Portuguesa

O(s) autor(es) certifica(m) que o manuscrito inti-tulado: ____________________________________ é original, que todas as afirmações apresentadascomo factos são baseados na investigação do(s)autor(es), que o manuscrito, quer em parte quer notodo, não infringe nenhum copyright e não viola ne-nhum direito da privacidade, que não foi publicadoem parte ou no todo e que não foi submetido parapublicação, no todo ou em parte, noutra revista, eque os autores têm o direito ao copyright.Todos os autores declaram ainda que participaram notrabalho, se responsabilizam por ele e que não existe,da parte de qualquer dos autores conflito de interes-ses nas afirmações proferidas no trabalho.Os autores, ao submeterem o trabalho para pu-blicação, transferem para a Acta Reumatológica Por-tuguesa todos os direitos a interesses do copyright doartigo.

Todos os autores devem assinarData: __________________________________________Nome (maiúsculas): ____________________________Assinatura: ____________________________________

Page 71: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:185-88

187

N O R M A S D E P U B L I C A Ç Ã O

Acta Reumatológica Portuguesa publishes original arti-cles, reviews and case reports on all subjects related toRheumatology.

Acta Reumatológica Portuguesa subscribes the re-quirements for the acceptance of manuscripts in biomedi-cal journals proposed by the Internacional Commitee ofMedical Journal Editors, published initially in N Engl JMed 1991; 324: 424-28, updated in October 2005 and avai-lable in www.ICMJE.org. The editorial policy of ActaReumatológica Portuguesa follows the Editorial PolicyStatements published by the Council of Science Editors,available in www.councilscienceeditors.org/services/draft_approved.cfm.

The articles can be written in Portuguese or in English.Written opinions are of the exclusive responsibility of

the author. Published articles will remain property of thejournal and cannot be reproduced, as a whole or as a part,without the authorization of the editor.

Authors have to disclose financial conflicts of interest.The acceptance of articles is subjected to the evalua-

tion of the editorial board. Articles may be:a) accepted without changes;b) accepted after modifications suggested by the

board;c) refused.

All the comments made by the reviewers will be sentto the author.

When changes are proposed, the author should sendreply letters to the editor and to each of the reviewersanswering to all the questions raised. The author shouldalso send a reviewed version of the manuscript with thechanges highlighted in a different colour.

Instructions to authorsManuscripts not in accordance with the instructions

may be sent for modification before review by the edito-rial board.

All manuscripts must be sent by e-mail to [email protected]. In addition they can also be sent to:

Editor Acta Reumatológica Portuguesa

(for 2005-2006):

to the permanent address:R. D. Estefânia, 177 -1° D – 1000-154 Lisboa - Portugal

or to:

Unidade de Artrite Reumatóide, Instituto de Medicina MolecularEdifício Egas Moniz, Faculdade de Medicina de LisboaAv. Professor Egas Moniz1649-028 LisboaE-mail: [email protected]

Manuscripts must be accompanied by a submittal let-ter, signed by all authors, stating the name of the article,that it is an original work, that the authors held the copy-right of the manuscript, that it does not represent anyconflict of interest, and that they transfer the copyright tothe journal (se form below).

Text should be sent in digital support (e-mail or CD),typed double-spaced, type 12, with 1-inch margins, in Wordfor Windows. All pages must be sequentially numbered.

Images should be sent independently from the text inJPEG or TIFF file. Alternatively, they can be sent as prin-ted proof or slide.

Manuscripts should be organized as explained below:

Page 1Title; authors’s names and degrees; institutions repre-

sented; source of grants support; address and telephonenumber of the author responsible for communicationswith the editor and reprints; sort title for footnote.

Page 2a) Title (without authors)b) Abstract

Abstract in portuguese and in english structured as followsfor the original articles: Objectives; Patients and Methods;Results; Conclusions. The abstract should not exceed 250words for original articles and 150 words for case reports.

c) KeywordsA maximum of 5 keywords should be presented after theabstract.

Page 3 and following pagesThe text of original papers should be presented with the

following subtitles: Introduction, Objectives, Patients andMethods, Results, Conclusions, Acknowledgements, Refe-rences. Subtitles for case reports should be: Introduction,Case report, Discussion, References.

From the second page on, all pages should have a shorttitle on footnote.

Manuscripts should not exceed 20 pages for original ar-ticles and reviews and 6 pages for case reports.

References: References should be cited by the nu-merical system and listed, in the order cited in the text.Journal titles are abbreviated in accordance with thestyle of Index Medicus.

List all authors when 6 or less; when 7 or more list onlyfirst 3 and add “et al”.

References of unpublished work, presentations or per-sonal observations should be inserted in the text (inparenthesis).

Authors are responsible for the accuracy of the references.

Examples:

– Journal articleName(s) and initials of author(s). Article title. Journal

Page 72: Acta Reumatológica Portuguesa · Auli Toivanen (Finlândia) Dafna Gladman (Canada) David Isenberg (Reino Unido) Eliseo Pascual (Espanha) ... gação tinham uma vida mais complicada

ÓRGÃO OF IC IAL DA SOC IEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA - ACTA REUM PORT. 2006;31:185-88

188

name Year; Volume or number: Page(s).Ex: Hill J, Bird HA, Hopkins R, Lawton C, Wright V. Sur-

vey of satisfaction with care in a rheumatology outpa-tient clinic: Ann Rheum Dis 1992; 51: 195-197.

– Chapter in BookName(s) and initials of author(s) of chapter. Chapter

title. In: Name(s) and initials of editor(s). Book title. City:Name of publisher, year of publication: pages.

Ex: Stewart AF. Hypercalcemia resulting from medica-tions. In: Favus MD, ed Primer on the Metabolic BoneDiseases and Disorders of Mineral Metabolism. New York:Raven Press, 1991: 177-178.

– BookName(s) and initials of author(s). Book title. City:

Name of publisher, year of publication: page(s).Ex: Lorig K. Patient Education. A practical approach.

St Louis: Mosby-Year Book, 1992: 51.

Tables: Tables should be cited in the text with Romannumerals. Each table should be double typed on a sepa-rate sheet, have a title and contain no vertical rulers.Horizontal lines should be used only as separatorsbetween titles and subtitles. Explain all abbreviations atthe bottom.

Figures: Cite each figure in the text in consecutiveorder using Arabic numerals. Legends should be listedon a separate sheet, double typed. Send the figures inseparate files to each figure in the format JPEG or TIFF,in alternative three copies of each figure should be send.Figures should be professional drawn and photo-graphed. Photographs should be 10x15 cm and on theback should be labelled with the number, article title,first author name, and have top indicated.

Modifications and proofreading: Articles acceptedsubject to modifications, will be sent to authors that willhave 15 days to modify them according to suggestions.Contributors will receive page proofs and are asked toproofread them for printers’ errors.

Editorials: Editorials: Editorials will be requested bythe editor and will be comments on important issues oron articles published in the journal. Editorials shouldnot exceed 1200 words, with a maximum of 15 refe-rences and no tables or figures.

Review articles: Review articles will be commissionedby the editor. However, authors interested in presentinga review article are welcomed to contact the editor.

Letters: Letters to the editor must be a comment ona journal article or a short clinical study or case report.It cannot exceed 600 words, a maximum of 10 referencesand a table or figure.

Offprints: Authors will be sent, by their request, 10copies of the Journal issue. Offprints may be charged tothe authors upon request during the proofreading.

Letter draft:Send with manuscript to The Editor:

The authors certify that the manuscript entitled_________________________________________ is orig-inal, all data are based on their own research and thatthe manuscript does not violate copyright or privacyregulations. They further state that the manuscripthasn’t been partly or totally published or submittedto publication elsewhere.The authors declare that they hold total copyright forthis paper and that they assume collective responsi-bility for it’s contents and also that any conflict of in-terest is acknowledged.And submitting this paper, the authors transfer copy-rights interests to Acta Reumatológica Portuguesa.

All authors must sign.Name (capitals): ________________________________Date: __________________________________________Signature: ______________________________________