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ADOLESCENTES DE FICÇÃO: E AÍ, QUAL É A DIFERENÇA?

Autora Ana Maria Reino Cavalieri

Escola de Atuação Escola Estadual Regente Feijó – Ensino Fundamental

Município da escola Doutor Camargo

Núcleo Regional de Educação Maringá

Orientador Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá - UEM

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Produção Didático-pedagógica Caderno Pedagógico

Relação Interdisciplinar

Público Alvo Alunos

Localização

Escola Estadual Regente Feijó – Ensino Fundamental Rua Xavier da Silva, Nº 998 – Centro - CEP: 87155-000 Doutor Camargo - Pr Fone/Fax: (44) 32381332 E-mail: [email protected]

Apresentação

O difícil processo de transição da infância para a

adolescência interferindo no ensino-aprendizagem, levou

a uma reflexão da qual resultou esse material didático

que traz como proposta atrair o adolescente para o

mundo das narrativas literárias, utilizando-se da análise

da personagem “Clarissa”, do brasileiro Érico Veríssimo,

em comparação com “Bella”, da estadunidense

Stephenie Meyer, o que possibilita também o estudo das

relações entre a narrativa canônica e a trivial.

Proporcionando a ele, por meio de excertos de livros com

conteúdos relacionados a sua realidade e lançando mão

de ferramentas do mundo virtual, oportunidade de

perceber a importância da literatura na construção do

conhecimento do jovem, cativando-o para uma leitura

reflexiva e crítica, num processo que continuará a ser

desenvolvido pelo resto de sua vida.

Palavras-chave Clarissa, Bella, narrativa, personagem, herói

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM

Produção Didático-Pedagógica PDE – 2010

CADERNO PEDAGÓGICO

ADOLESCENTES DE FICÇÃO:

E AÍ, QUAL É A DIFERENÇA?

Professora PDE: Ana Maria Reino Cavalieri

Orientador IES: Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 3

OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 4

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 4

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 5

NARRATIVA............................................................................................................. 6

PERSONAGEM ....................................................................................................... 9

ORIENTAÇÕES ........................................................................................................ 15

AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 20

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 21

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22

MATERIAL DIDÁTICO - Adolescentes de Ficção: E aí, qual é a diferença? ............. 25

UNIDADE 1: A Narrativa ........................................................................................ 26

UNIDADE 2: Adolescente ...................................................................................... 47

UNIDADE 3: Personagem ...................................................................................... 54

ATIVIDADES ............................................................................................................. 61

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APRESENTAÇÃO

Desde a antiguidade o ser humano tem necessidade de contar e ouvir

histórias, verdadeiras ou não e muitas dessas histórias tem como personagens

centrais adolescentes. Desta maneira, propõe-se um estudo a respeito de

personagens adolescentes de romance, fazendo por meio de excertos, um

comparativo entre a personagem “Clarissa”, criada pelo escritor Érico Veríssimo e

“Bella” de Stephenie Meyer, proporcionando oportunidade aos estudantes de

identificarem por meio de características físicas, psicológicas e sociais como pode

ser a concepção de uma personagem, procurando com isso despertar o interesse

pela leitura do texto completo, não só do best-seller, mas principalmente da narrativa

literária brasileira, que é o principal objetivo do material didático aqui proposto.

Pretende-se utilizar, assim, o tema com o intuito de cativar o

educando para a arte literária a fim de que o mesmo consiga iniciar sua

compreensão sobre a literatura e seus significados levando em conta não só o

mundo exterior, mas também tornando-se capaz de fazer uma introspecção para

uma autorreflexão, a partir de situações que proporcione a avaliação de conceitos

diversos.

Para tanto, A produção didática está composta da seguinte forma:

A primeira parte expõe a fundamentação teórica que alicerça as

atividades presentes no material didático e as sugestões de encaminhamentos

metodológicos relativas à utilização das atividades em sala de aula.

A segunda parte é subdividida em três unidades e apresenta o material

didático contendo textos, interpretações e atividades diversas, que poderão ser

apresentados aos alunos na forma impressa ou por meio de suporte virtual e tem

como finalidade auxiliar o professor em seu trabalho junto aos alunos.

A proposta tem o intuito atrair o adolescente para o mundo do

romance literário, utilizando-se de trechos de livros com conteúdos relacionados à

sua realidade e lançando mão de ferramentas do mundo virtual para levá-lo a refletir

sobre a própria adolescência, proporcionando a ele meios para que perceba que ler

é um ato agradável, nem sempre usado apenas como pretexto para o ensino da

língua, mas também para levantar questões sobre a importância da literatura na

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construção do conhecimento dos jovens, que estão sempre em busca do

autoconhecimento e da construção de suas vidas, cativando-o assim, para uma

leitura reflexiva e crítica, num processo que continuará a ser desenvolvido pelo resto

de sua vida.

OBJETIVO GERAL

Proporcionar ao estudante oportunidade de refletir sobre a

importância da literatura como fonte de aquisição e construção de conhecimento do

mundo que o cerca e de si próprio contribuindo, assim, para uma plena posse de

seu discurso e do exercício da cidadania.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Oportunizar ao aluno entrar em contato com a literatura através

do suporte virtual tornando possível uma ampliação de conhecimento e uma maior

interação entre a comunidade escolar.

Promover reflexão a respeito das diferenças existentes entre

duas personagens, sendo uma de narrativa canônica e outra de narrativa trivial que

divergem em épocas, escritores, países, cultura, mas que tratam do mesmo tema.

Contribuir para que o aluno identifique características de uma

personagem de ficção a fim de conseguir perceber semelhanças e diferenças entre

uma e outra, confeccionando painéis.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Diante da perspectiva desse projeto de intervenção que é incentivar o

público adolescente à leitura de textos literários, propõe-se o estudo a respeito do

elemento da narrativa “personagem”, utilizando como textos de apoio trechos dos

livros da série Crepúsculo e dos de Érico Veríssimo, nos quais aparece a

personagem Clarissa.

O estudo da personagem Clarissa Albuquerque, de Érico Veríssimo em

comparação com Isabella Swan de Stephenie Meyer será apresentado aos

estudantes de acordo com o método recepcional elaborado pelas professoras Maria

da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar em conformidade com as orientações

contidas nas Diretrizes Curriculares de Educação Básica, nas quais o aluno/ leitor

tem seu ponto de vista valorizado diante da obra literária lida, conforme comprova o

trecho abaixo:

(...) O aluno é leitor, e como leitor é ele quem atribui significados ao que lê, é ele quem traz vida ao que lê, de acordo com seus conhecimentos prévios, linguísticos, de mundo. Assim, o docente deve partir da recepção dos alunos para, depois de ouvi-los, aprofundar a leitura e ampliar os horizontes de expectativas dos alunos. (PARANÁ, 2008, p. 74)

Ainda de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de

Língua Portuguesa que diz que o primeiro olhar para o texto literário deve ser de

sensibilidade, de identificação, e, portanto, o professor pode estimular o aluno a

projetar-se na narrativa e identificar-se com algum personagem (PARANÁ, 2008, p.

75) o que proporcionou a reflexão sobre a influência de textos literários na vida de

alunos em plena adolescência e sobre como motivá-los a uma leitura mais

prazerosa e abundante, e por conseguinte, à escolha do elemento da narrativa a ser

estudado com maior profundidade.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa

sugerem que a escola deve trabalhar a literatura em sua dimensão estética, para

que o aluno/leitor seja capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condições

de reconhecer um envolvimento de subjetividade que se expressa pela tríade

obra/autor/leitor, além de não se deixar prender pela linha do tempo da

historiografia, mas sim fazer a análise contextualizada da obra, no momento de sua

produção e de sua recepção.

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Lembrando sempre que é necessário considerar as individualidades e o

momento de transformação física e psicológica pela qual os estudantes envolvidos

no processo de estudo estão passando para procurar inseri-los no contexto literário

tentando ambientá-los de tal forma que os mesmos sejam capazes de compreender

as múltiplas interpretações que um texto literário permite.

NARRATIVA

De acordo com Cândida Vilares Gancho, muitas são as possibilidades

de narrar, oralmente ou por escrito, em prosa ou em verso, usando imagens ou não.

(GANCHO, 1999, p.9)

Caracterizada pela sequência de acontecimentos vividos pela

personagem em tempo e lugar definidos pelo autor do texto, a narrativa

habitualmente apresenta a situação inicial, a complicação, ações acarretadas pela

complicação, clímax e desfecho.

Comumente dividida em três grandes blocos “Introdução,

Desenvolvimento e Conclusão” que se articulam em torno do conceito de “conflito

dramático” nos termos de Tomachevski citado por Arnaldo Franco Junior (2003) e

que são classificados por este último autor como “movimentos” próprios ao gênero

pelo fato de que a ordem de sua posição nos textos apresenta variação. Quanto a

essa divisão o autor faz o seguinte comentário:

Embora pareça ponto pacífico, há divergências quanto a essa divisão da narrativa em três blocos. Introdução, Desenvolvimento e Conclusão do quê? Da história, dirão alguns. Da narrativa, rebaterão outros. Do texto, dirão outros ainda, já acrescentando que qualquer texto pode ser assim dividido e que, portanto, tal divisão não é traço característico da narrativa. Qual seria a especificidade da narrativa, então? Eis a questão que é preciso tentar responder, mesmo sabendo que a resposta é sempre precária. (FRANCO JUNIOR, 2003, p.34)

Ao questionar a respeito da especificidade da narrativa, o citado autor

adianta que a resposta à questão é sempre precária, mas parece ser o tratamento

conferido ao “conflito dramático” que lhe é intrínseco. Apesar de não ser

exclusividade da narrativa, ela não existe sem o “conflito dramático” que é

importante ao gênero dramático.

Cabe destacar que o conflito dramático surge na narrativa no momento

em que ocorre uma situação de confronto entre duas ou mais personagens,

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personagem e ambiente ou ainda da personagem com seus próprios sentimentos e

segundo Franco Junior diz respeito ao conflito de interesses que caracteriza a luta

dos personagens numa determinada narrativa. (FRANCO JUNIOR, 2003, p.36 )

A identificação do conflito dramático é de fundamental importância, pois

ao identificá-lo e voltar a ele várias vezes avaliando elementos passíveis de

decomposição pela análise descritiva e de re-união pela análise interpretativa é

possível perceber, mediante a conformidade do tratamento conferido ao conflito

dramático, os limites entre a narrativa canônica e a trivial.

O modo como se explora o conflito dramático atraindo o interesse do

leitor, utilizando os recursos linguísticos e os demais elementos constitutivos da

narrativa, caracteriza a narrativa literária, conforme a afirmação abaixo:

O tratamento conferido ao conflito dramático pode ser o fator de distinção entre o que é, num determinado momento histórico, considerado literatura e o que não é considerado literatura, entre o que é reconhecido como um tratamento literário dado a uma história e o que não chega a sê-lo. (FRANCO JUNIOR, 2003, p.34)

Considerando o exposto acima e também que a interação do

adolescente com a obra literária oferece a diversidade de fontes formativas levando

o mesmo a uma compreensão mais significativa do contexto é que se deve

oportunizar o contato dos estudantes com essa obra, com o intuito de que ele

perceba que uma obra literária oferece oportunidade de descobrir, não em uma

primeira leitura superficial, mas em outras, um detalhe presente nas entrelinhas que

lhe proporcionar um conhecimento que só pode ser oferecido por um texto que

permita diálogo entre o mesmo e o leitor.

Trata-se, de fato, da relação entre leitor e a obra, e nela a representação de mundo do autor que se confronta com a representação de mundo do leitor, no ato ao mesmo tempo solitário e dialógico da leitura. Aquele que lê amplia seu universo, mas amplia também o universo da obra a partir da experiência cultural. (PARANÁ, 2008, p.58)

Mediante o que consta nas Diretrizes Curriculares de Educação Básica

de Língua Portuguesa a respeito da leitura como forma de ampliação do universo

cultural reitera-se a importância do contato do estudante com obras literárias, porém,

cabe à escola, além de ofertar textos literários oportunizar também ao educando o

contato com a linearidade da narrativa trivial, para que o mesmo possa iniciar-se

como leitor crítico e ser capaz de, sem nenhum preconceito, reconhecer as

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diferenças existentes entre os textos. Quanto à arte na narrativa trivial, Kothe (1994)

diz que “a narrativa trivial tem seu valor mensurado pelo artístico, porém não como

mera oposição: há trivialidade na arte, como pode haver arte no trivial, sem que no

entanto, confundam-se um com o outro.” (KOTHE, 1994, p.14)

A narrativa trivial apresenta variações apenas em nível de estrutura de

superfície, permanecendo a estrutura profunda sempre a mesma, obedece à

sequência de começo, meio e fim, apresenta uma história de fácil compreensão,

desenrola situações e fatos específicos e se omite ante os aspectos sociais e

psicológicos que possam estar envolvidos no enredo, agradando ao leitor que

procura compensar seus próprios problemas com um final feliz. Segundo Kothe:

Os estratagemas estruturais, usados para tornar a narrativa atraente e prender a atenção do receptor, são uma sequência de truques que encenam algo que ocorre na mente do receptor, mas cuja natureza não encontra a sua resposta nele. A estrutura profunda corresponde ao inconsciente do texto quando constitui e operacionaliza o inconsciente do receptor. (KOTHE, 1994, p.31)

Considerando que o espaço escolar é o ambiente apropriado para toda

e qualquer discussão objetivando aprofundamento de estudos necessários ao

desenvolvimento intelectual do aluno é que se propõe, neste projeto de intervenção,

mediante excertos de obras do gênero narrativo o estudo comparativo de uma

personagem de narrativa canônica e outra de narrativa trivial, a fim do aluno/leitor

adquirir a percepção de que toda narrativa tem como elementos essenciais enredo,

personagem, tempo, espaço e narrador.

Reconhecendo a importância dos cinco elementos para uma análise

textual significativa é que será oportunizada aos alunos a possibilidade de estudar

sobre os mesmos e apreender que as ações desenvolvidas pelas personagens

durante o desenrolar de uma narrativa são o que se chama de enredo e quando este

apresenta uma lógica interna, ou seja, quando os fatos apresentados fazem o leitor

acreditar no que lê, tem-se a verossimilhança, que é considerada a essência dos

textos de ficção.

Quanto ao tempo, segundo Cândida Vilares Gancho (1999, p.21) indica

a época em que a história se passa além do período de duração da história e pode

ser classificado como cronológico, quando transcorre na ordem natural dos fatos ou

psicológico quando altera a ordem natural dos acontecimentos.

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Segundo a mesma autora o lugar físico onde se passa a ação de uma

narrativa é denominado espaço, já o lugar psicológico, social e econômico, entre

outros, é chamado de ambiente. (GANCHO, 1999, p.23)

Uma narrativa não se constitui sem um narrador, pois é dele a

responsabilidade de estruturar e se posicionar frente aos fatos da história. Arnaldo

Franco Junior (2003, p.40) cita Aguiar e Silva que se baseando em Genette

apresenta as seguintes classificações do narrador: heterodiegético, que não

participa da história narrada, homodiegético que participa da história narrada e pode

ser também autodiegético quando narra sua própria história. O trecho abaixo deixa

clara a importância de estudar sobre os cinco elementos:

Toda narrativa se estrutura sobre cinco elementos, sem os quais ela não existe. Sem os fatos não há história, e quem vive os fatos são os personagens, num determinado tempo e lugar. Mas para ser prosa de ficção é necessária a presença do narrador, pois é ele fundamentalmente que caracteriza a narrativa. (GANCHO, 1999, p.9)

Dentre eles, nesta proposta, a ênfase estará sobre o elemento

personagem, sua construção e classificação, pelo fato de que este ser atrai a

atenção do leitor por criar a ilusão de semelhança com a noção de pessoa.

PERSONAGEM

A personagem é um dos elementos primordiais de uma narrativa e

segundo Arnaldo Franco Junior (2003, p.38) no caso do texto narrativo escrito é um

ser construído de signos verbais e é sobre ela que recai, normalmente, a maior

atenção dispensada pelo leitor.

A partir da empatia com uma personagem os leitores se interessam por

determinados enredos confirmando que, da aceitação da personagem, apesar desta

não ser o essencial da narrativa, depende a leitura do texto ou não. Para Antonio

Candido:

(...) No meio deles, avulta a personagem, que representa a possibilidade de adesão afetiva e intelectual do leitor, pelos mecanismos de identificações, projeção, transferências etc. A personagem vive o enredo e as ideias, e os torna vivos. ( CANDIDO, 2009, p.54 )

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Por esse motivo deve-se atentar para o fato de que o leitor muitas

vezes se identifica com a personagem de uma forma tão intensa que não observa o

fato de que há afinidades e diferenças entre a pessoa e a personagem de ficção, e

que ambas são importantes para a criação da verossimilhança, que é o sentimento

de realidade, de verdade dentro do enredo.

No trecho abaixo, a análise do que significa personagem vem confirmar

que um ser construído com signos verbais e responsável pelas ações do enredo

pode atrair um leitor pela capacidade de se confundir com seres humanos:

A personagem é um ser fictício, - expressão que soa como um paradoxo. De fato, como pode uma ficção ser? Como pode existir o que não existe? No entanto, a criação literária repousa sobre este paradoxo, e o problema da verossimilhança no romance depende desta possibilidade de um ser fictício, isto é, algo que, sendo uma criação da fantasia, comunica a impressão da mais lídima verdade existencial. Podemos dizer, portanto, que o romance se baseia, antes de mais nada, num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser fictício, manifestada através da personagem, que é a concretização deste. (CANDIDO, 2009, p.55)

Qualquer ser pode transformar-se em personagem, independentemente

de ser humano ou não. Um autor pode dar vida a uma diversidade de seres desde

que estes estejam praticando uma ação em um determinado espaço.

A concepção de uma personagem implica em determinar suas

características físicas e psicológicas, baseadas ou não em seres vivos, além de

determinar se será a protagonista, antagonista, secundária ou figurante.

Quanto à composição, a personagem, de acordo com Forster citado por

Beth Brait (2004, p.40) pode ser redonda ou plana. A redonda se mostra dinâmica,

com capacidade de alterar seu comportamento, evoluindo durante o desenrolar da

narrativa além de ter densidade psicológica, opõe-se a plana, que se mantém

inalterada, comportando-se de maneira previsível ao longo do texto.

Para compor uma personagem cada autor tem seu método próprio, não

existe uma regra a seguir, mas no final, independentemente da fonte inspiradora,

nasce a personagem. A criação da personagem pode ser comparada ao preparo de

uma poção mágica conforme descreve Beth Brait no trecho abaixo:

Como um bruxo que vai dosando poções num mágico caldeirão, o escritor recorre aos artifícios oferecidos por um código a fim de engendrar suas criaturas. Quer elas sejam tiradas de sua vivência real ou imaginária, dos

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sonhos, dos pesadelos ou das mesquinharias do cotidiano, a materialidade desses seres só pode ser atingida através de um jogo de linguagem que torne tangível a sua presença e sensíveis os seus sentimentos. (BRAIT, 2004, p.53)

Durante o processo de criação de uma personagem o autor sempre

procura utilizar técnicas de narrativa de forma habilidosa para que possa tornar a

sua criatura verossímil, de modo que permita ao leitor perceber um ser construído

apenas com criatividade e signos verbais como se fosse real. Flávio Kothe chama a

atenção para o momento da criação de uma personagem e para as intenções que se

tem ao criá-las:

Quando se quer criar uma personagem apenas sublime, elevado, acaba-se criando alguém artisticamente baixo porque carente de veracidade. Todo personagem que apenas corporifique qualidades positivas ou negativas é um personagem trivial, pois foge à natureza contraditória das pessoas e não questiona os próprios valores. (KOTHE, 1985, p. 59)

Dentre as personagens, as predominantes como protagonistas nas

narrativas, canônicas ou triviais, são os heróis, por serem aqueles que possuem

valores e características tidos pela sociedade da qual faz parte, como importantes e

um modelo a ser seguido. Os heróis estão presentes na literatura mundial em todas

as sociedades historicamente conhecidas e eles podem ser clássicos: épicos ou

trágicos, triviais e pícaros.

Flávio Kothe define assim os heróis épicos, trágicos, triviais e o pícaro:

O herói épico é o sonho de o homem fazer a sua própria história; o trágico é a verdade do destino humano: o herói trivial é a legitimação do poder vigente; o pícaro é a filosofia da sobrevivência feito gente. (KOTHE, 1985, p. 15)

Nas narrativas os heróis estão sempre atentos ao que acontece em seu

mundo, sempre alertas para salvá-lo e ajudar as pessoas. Para realizar seus feitos

passam por grandes aventuras que envolvem lutas e dissabores, arriscando-se sem

temor até vencer o inimigo.

Ao referir-se aos heróis clássicos, Flávio Kothe diz que todo grande

personagem é uma união de contrários:

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Ele é o alto cuja grandeza está na baixeza, ou ele é o alto que cai e readquire grandeza na queda, ou então é o baixo que se eleva e se mostra grandioso apesar dos pesares. Quanto maior a sua desgraça, tanto maior a sua grandeza. A sua desgraça não é mera choradeira, mas duro aprendizado da “condição humana”, transcendendo a doutrinação que lhe é inerente à medida que a expiação da culpa originária aponta para uma solução do conflito trágico, leva também a uma reconciliação interior. (KOTHE, 1985, p. 13)

Objeto de estudo de muitos pesquisadores, os heróis são figuras

emblemáticas, que sempre estiveram presentes na literatura e despertam interesse

em crianças e adultos, o que se pode observar pela forma como suas ações

aparecem nas narrativas, começando pelos heróis dos contos de fadas, analisados

por Propp que apresenta em seu livro trinta e uma funções das personagens que

são elementos que se repetem e que segundo ele, podem ser compreendidas como

o procedimento de um personagem, definido do ponto de vista de sua importância

para o desenrolar da ação (2001), e se iniciam pelo afastamento de um membro da

família e termina com o casamento do herói, passando por diversos perigos e

situações mágicas. Muito embora nem todas precisem estar presentes no conto,

mas provam com isso que todas as histórias de heróis têm uma base idêntica e

constante que sempre tem o seu desenrolar a partir do nó da intriga.

A repetição das funções das personagens aparece em outras narrativas

e diversos estudiosos apresentam a mesma ideia, que mesmo com outras

nomenclaturas trazem também uma sequência de fatos como a citada por Propp,

conforme ele mesmo escreve em seu livro:

As funções das personagens representam as partes constituintes que podem tomar lugar dos motivos de Vesselóvski, ou dos elementos de Bédier. Lembremos que a repetição de funções por personagens diferentes foi observada há bastante tempo pelos historiadores das religiões nos mitos e nas crenças, mas não pelos historiadores do conto maravilhoso. Assim como as propriedades e funções dos deuses se deslocam de uns para outros, chegando finalmente até os santos do cristianismo, as funções de certos personagens. Antecipando, podemos dizer que existem bem poucas funções, enquanto que os personagens são numerosíssimos. Isto explica o duplo aspecto do conto maravilhoso: de um lado, sua extraordinária diversidade, seu caráter variegado; de outro, sua uniformidade, não menos extraordinária, e sua repetibilidade. (PROPP, 2001, p. 16–17)

Propp observa ainda que:

Fica claro que um estudo deste tipo não pode limitar-se apenas ao conto maravilhoso. A maior parte dos elementos que o compõem remonta a este

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ou àquele fato arcaico, relacionam-se com os costumes a cultura, a religião, enfim, com uma realidade que deve ser descoberta para estabelecer as comparações necessárias. (PROPP, 2001, p. 64)

Partindo dessas afirmações, observa-se que os elementos presentes

no conto maravilhoso podem ser encontrados em outras narrativas, fornecendo ao

educando informações úteis para o seu desenvolvimento educacional, diante das

quais ele perceberá a semelhança estrutural entre as narrativas “pois um enredo se

transforma em outro pela variação de seus elementos (Propp, 2001, 64)”.

Conforme citado por Propp e que vem de acordo com o que está

contido na problematização desta proposta de intervenção, a repetição das funções

do herói mítico vem sendo observados e estudados por muitos. Com base nisto,

propõe-se estudar as personagens escolhidas para o trabalho fazendo uma

observação atenta às relações entre as ações das personagens e sua possível

interação com o universo do herói mítico.

A jornada cíclica presente nos mitos que tem seu início com o herói

vivendo em um mundo comum até o momento em que recebe o chamado para uma

aventura e a partir de então passa por provações, perigos, recebe ajuda

sobrenatural ou de mentores até regressar com a recompensa, é chamada de

monomito ou jornada do herói, termo criado por James Joyce que foi citado pela

primeira vez por Joseph Campbell em 1949 em seu livro o herói das mil faces.

Quando questionado sobre a quantidade de heróis na mitologia o citado

autor responde:

Porque é sobre isso que vale a pena escrever. Mesmo nos romances populares, o protagonista é um herói ou uma heroína que descobriu ou realizou alguma coisa além do nível normal de realizações ou de experiência. O herói é alguém que deu a própria vida por algo maior que ele mesmo. (CAMPBELL, 1991, p. 137)

De acordo com essas colocações e com o intuito de atrair os

estudantes para a leitura literária propõe-se a abordagem aos alunos através da

leitura e compreensão de fragmentos de obras que tenham personagens com

sonhos, objetivos e observação do mundo parecido com o deles, que é o caso,

levando-se em conta as devidas diferenças, de Clarissa e Bella, pois as

personagens estão vivendo a mesma fase deles e observam o mundo por um olhar

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muito particular, o olhar adolescente, o que poderá atraí-los para a leitura de toda a

narrativa a fim de conferir a história toda da personagem que os agradou.

Segundo Campbell a adolescência atual não tem uma instrução mítica

adequada e por isso os jovens têm dificuldade em encontrar seu caminho:

O que comanda o espetáculo é o que brota de baixo para cima. O período em que se começa a perceber que o ego não está comandando o espetáculo é a adolescência, quando todo um novo sistema de exigências começa a se anunciar, através do corpo. O adolescente não tem a mínima idéia de como manipular tudo isso, e não pode senão especular sobre o que está o puxando - ou, mais misteriosamente ainda, o que a está puxando. (CAMPBELL, 1991, p. 156)

A oportunização de leitura com heróis como personagens centrais

poderá oferecer ao aluno/leitor uma imagem que o conduza a interpretar de forma

correta os desafios pelos quais está passando, pois os mesmos representam as

forças e fraquezas do ser humano e despertam através de suas ações a sensação

de que os adolescentes não estão sozinhos. Campbell diz a respeito:

Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas que seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo. (CAMPBELL, 1991, p.137)

Busca-se na fundamentação teórica, uma tentativa dialógica entre o

tema e a construção do problema de pesquisa para que seja oportunizado ao aluno

entrar em contato com uma leitura que torne possível a análise crítica dos discursos

para que ele consiga identificar ponto de vista, valores e eventuais preconceitos nela

vinculado, ampliando assim seus conhecimentos, capacidade de interpretação, a

interação entre colegas, o gosto pela leitura, bem como seu próprio desenvolvimento

psicossocial.

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ORIENTAÇÕES

O difícil processo de transição da infância para a adolescência,

interferindo no ensino-aprendizagem (principalmente na leitura de textos literários

por não conseguirem identificar a si e a sua realidade naquilo que está escrito),

levou a uma reflexão da qual resultou esse material didático. Assim, buscou-se

analisar que a literatura, como tem sido comum na escola, muitas vezes é tida

apenas como uma forma de verificar se o aluno consegue decodificar sinais e

também como uma das formas de avaliação para notas bimestrais, o que leva o

educando a se recusar à prática da leitura. A literatura está muito além disso e

deseja-se, através deste estudo, contribuir para o interesse dos adolescentes em ler

romances, fazendo com que o mesmo perceba que, através da leitura crítica da arte

literária, poderá haver uma ampliação de seus conhecimentos, de sua maneira de

pensar o mundo e até mesmo de agir, a partir da identificação ou não com histórias

e personagens que, apesar de não pertencerem à mesma época nem à mesma

realidade, passam pelos mesmos anseios, dúvidas e objetivos que eles, e sempre

estão envoltos com questionamentos, tais como: Quem sou eu? O que vou fazer da

minha vida?

Diante dessas questões e para que se insira o estudante adolescente

como leitor crítico de obras literárias e levá-lo à reflexão de seu modo de vida e

pensamentos frente a diversas situações, é que se faz necessária a busca de

alternativas na estratégia metodológica para o estudo de literatura.

Com a invasão das novas tecnologias na vida dos adolescentes fora do

ambiente escolar em parte pelo próprio modo de vida típico de cidade interiorana

onde poucas famílias são oportunizadas com condições para uma aquisição cultural

acadêmica, alguns estudantes não veem como prioridade a leitura de textos

literários, sobretudo os impressos, como fonte de enriquecimento pessoal, pois

acreditam que o que está escrito em nada se relaciona com sua vida cotidiana,

muito menos tem algo a acrescentar-lhes. Diante disso, vemo-nos face à

necessidade de repensar como é possível a prática da literatura junto aos alunos,

procurando as possíveis maneiras de experimentar os recursos das novas

tecnologias na aplicação do conteúdo. Além disso, é importante observar quais

contribuições a análise de elementos mitológicos presentes em textos literários pode

trazer para o amadurecimento pessoal do leitor, ofertando, assim, ajuda na

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descoberta de si mesmo e no enriquecimento da formação de caráter por meio de

personagens, que realizam na ficção as situações que os adolescentes gostariam de

vivenciar.

Sendo assim, a sugestão é que se apresente o conteúdo proposto ao

aluno na seguinte disposição:

2 aulas

Dê início a aula conversando com os alunos sobre as histórias que eles

ouviam quando eram menores, se eram os pais ou responsáveis que contavam.

Caso os responsáveis usassem de alguma tecnologia para apresentar-

lhes a história, pergunte-lhes qual era a mídia usada.

Deixe que alguns contem resumidamente algumas das histórias.

Em seguida, peça para que um aluno leia em voz alta o texto do

“Príncipe Sapo”, retirado do livro Clarissa de Érico Veríssimo, comente oralmente o

enredo de forma que as questões respondam às perguntas referentes aos

elementos da narrativa.

2 aulas

Continue a sequência da aula apresentando para o aluno as definições

dos elementos e tirando as dúvidas que surgirem durante a realização das

atividades.

Lembre o aluno de que ele deve reler o texto quantas vezes forem

necessárias e enfocar a cada leitura o elemento que está analisando no momento.

2 aulas

Apresente aos alunos outra versão do texto O Príncipe Sapo. Estipule

um prazo para a leitura silenciosa.

Em seguida abra a discussão a respeito do texto, debatam sobre as

diferenças e semelhanças referentes à linguagem utilizada.

Se possível, mostre também uma versão em quadrinhos, impressa ou o

e-book, utilizando a TV pendrive ou o computador e analisem as mudanças que o

autor dos quadrinhos acrescentou em sua versão.

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Leia em voz alta comentários sobre mito e analise com eles a

conclusão chegada a respeito do texto e o que a figura do sapo significa na vida da

princesa.

2 aulas

Exponha para os alunos algumas diferenças entre as narrativas

canônica e trivial e peça para que eles citem alguns exemplos de ambas as

narrativas.

Comente sobre a figura do herói, presente nas duas narrativas.

Em seguida, apresente a eles textos que contenham uma atitude

heróica, para que se possa falar um pouco mais sobre os heróis e heroínas da

ficção. Se for possível, passe o trecho do filme que contenha as cenas descritas no

texto impresso, para que se percebam as diferenças que ocorrem quando a obra é

adaptada para o cinema. Peça para que eles respondam às atividades propostas a

respeito do texto.

Solicite uma pesquisa a respeito de narrativas em letras de música.

2 aulas

Inicie a aula solicitando aos alunos a exposição da atividade de

pesquisa pedida anteriormente.

Promova discussão a respeito do resultado da pesquisa.

Oriente-os a montar um painel.

2 aulas

Inicie estimulando o aluno a falar sobre a adolescência e tecer

comentários sobre a expressão que os adultos costumam usar muito: “no meu

tempo”.

Explore as diferenças relativas à moda, educação, liberdade de

expressão e namoros.

Questione-os sobre os adolescentes da literatura. Como eles os veem?

Apresente em seguida dois textos com personagens adolescentes,

vivendo aventuras, ao mesmo tempo em que descobrem seus sentimentos.

Discuta com eles o texto e em seguida peça para que façam as

atividades sugeridas.

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4 aulas

Assista com eles ao vídeo que é baseado no livro de Manjusha Pawagi

e está disponível em <http://www. youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q> acesso em

19/07/2011, e coloque em discussão a importância das personagens em uma

narrativa, seja ela canônica ou trivial e o que os atraem em uma personagem.

Retome com os alunos o conceito de personagem.

Leve para a sala vários textos, sendo que alguns apresentem a

descrição e ações de uma personagem da narrativa canônica e outros da trivial.

Abra a discussão em torno da maneira como o autor apresenta a sua

personagem.

Na sala de computação, oriente os alunos a fazer uma pesquisa para

descobrir como o autor ou a autora tiveram a ideia de criar a personagem.

Caso não tenha sala de computação disponível, peça para que eles

pesquisem em bibliotecas, lan houses ou em casa antes dessa aula específica.

Em seguida, peça para que eles exponham oralmente o que acharam

da inspiração do autor.

6 aulas

Para essas aulas utilize textos no suporte virtual, disponíveis no

endereço <http://adolescentesdeficcao.blospot.com>, a fim de que o aluno,

sobretudo aquele que já está familiarizado com a ferramenta, sinta um estímulo a

mais para o aprendizado.

Apresentar vários trechos das personagens que estão sendo

trabalhadas para que seja feita uma comparação entre elas.

Chame atenção dos alunos para a época em que as histórias foram

escritas, ou seja, seu contexto social e histórico, para que eles se situem no enredo

e nas características das personagens que representam aspectos da realidade

vivida, lembre-os de que nem sempre a época da história é a época em que o

escritor cria a história.

Oportunize o aluno a perceber como cada autor apresenta determinado

assunto, dependendo da época e país onde se passa a história.

Solicite que o aluno a participar, dando sua opinião sobre as atitudes

das personagens e comparando com o adolescente real.

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Incentive-o a comparar as duas personagens e procurando encontrar

por meio delas as semelhanças e as diferenças entre adolescentes do séc. XX e os

do séc. XXl.

Estimule a observação de como são as características de uma

personagem da narrativa trivial e as da personagem da narrativa canônica.

Promova debates a respeito dos assuntos, suas semelhanças e

diferenças.

Peça para que realizem as atividades propostas.

2 aulas

Assista com a turma ao vídeo em que Malvina e Jerusa estão na aula

do Prof. Josué (cena da novela Gabriela, Rede Globo, 1975). Disponível no

endereço:<http://www.Youtube.com/watch?v=8-yPRPdoksw&feature=related>

acessado em 17/07/2011.

Em seguida peça para que leia os trechos impressos das duas

narrativas sobre leitura.

Coordene o debate sobre a leitura de narrativas canônicas e triviais e

sua influência sobre os adolescentes.

11 aulas

Divida a turma em grupos para a realização das atividades e peça que

cada grupo escolha sua atividade e a desenvolva.

Disponibilize o livro a que correspondam as personagens estudadas

para que o aluno o leia e conheça a narrativa.

Sugira sites de fanfiction ao aluno, para que o ele observando as

normas sugeridas pelo site crie a sua própria fanfic a respeito de uma das

personagens que estão sendo estudadas.

Disponibilize o material necessário para a HQ. (relembre orientações

dadas em séries anteriores, além de sugerir pesquisas em sites especializados ou

na biblioteca, a respeito do assunto).

Oriente os alunos que escolheram fazer filmagem a pesquisar sobre a

linguagem cinematográfica para usarem no roteiro a ser filmado.

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4 aulas

Organize e distribua a turma para a apresentação dos trabalhos para a

sala.

Após a apresentação, promova um debate sobre o tema estudado e

incentive-o a opinar sobre a intenção dos autores ao mencionarem mitos em suas

narrativas.

Peça para os alunos disponibilizarem as atividades no blog da turma.

Caso não tenha, sugira que eles o criem.

AVALIAÇÃO

Considerando que a avaliação é um dos mais relevantes instrumentos

para o direcionamento da abordagem pedagógica que proporcionará garantia para a

obtenção de resultados positivos no processo ensino/aprendizagem, sugere-se que

a avaliação aconteça durante toda a implementação do Projeto de Intervenção, por

meio de observação e análise das atividades desenvolvidas pelos alunos, a fim de

que a identificação das dificuldades possam ser sanadas redirecionando a prática

docente, contribuindo, dessa forma, para o progresso de todos os educandos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O material didático preparado e disponibilizado neste caderno

pedagógico para ser aplicado na 7ª série/8º ano, tem seu foco na questão das

mudanças que ocorrem na adolescência e as dúvidas que ela traz consigo, e

procura atrair os alunos para a leitura por meio das personagens.

Deve-se, ainda, deixar claro que apesar de ter sido elaborado para

esta série específica, desde que sejam feitas as devidas adaptações de

interpretação, atividades e livros sugeridos, este material poderá ser utilizado em

qualquer série entre a 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental e a 3ª série do Ensino

Médio.

É importante lembrar que a abordagem do tema está alicerçada pelas

concepções teóricas que norteiam o trabalho e também que os textos contidos neste

material didático estão de acordo com as regras do novo acordo ortográfico.

Como sugestão para o trabalho junto aos alunos serão apresentadas

no item subsequente às referências, as atividades que foram desenvolvidas para a

implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola Estadual Regente

Feijó – Ensino Fundamental.

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REFERÊNCIAS:

ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Martin Claret, 3. Ed., 2011.

BRAIT, Beth. A Persona-gem. São Paulo: Ática, 7. ed., 2004.

CANDIDO, Antonio, ROSENFELD, Anatol, PRADO, Décio de Almeida, GOMES, Paulo Emílio Salles. A Personagem de Ficção. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 11. ed., 2009. CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo:

Palas Athena, 1991. ______. O Herói de Mil Faces. Trad. Adali Ubirajara Sobral. São Paulo: Pensamento, 1995. CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES Thereza Cochar. Português Linguagens – 8ª série. São Paulo: Atual, 2006.

DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA - Língua Portuguesa. Secretaria de estado da educação do Paraná. Departamento da Educação Básica. Curitiba, 2008. DELMANTO, Dileta, CASTRO, Maria da Conceição. Português ideias e linguagens - 6º ano. São Paulo: Saraiva, 2009.

FRANCO JUNIOR, Arnaldo. Operadores de Leitura da Narrativa. In: BONNICI, Thomas, ZOLIN, Lúcia Osana (orgs.). Teoria Literária abordagens Históricas e Tendências Contemporâneas. Maringá: EDUEM, 2003.

GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. São Paulo: Ática, 7. ed.,

1999. KOTHE, Flávio Rene. A Narrativa Trivial, Brasília: UNB, 1994.

______. O Herói. São Paulo: Ática, 1985.

RIORDAN, Rick. Percy Jackson e os Olimpianos- livro um - O Ladrão de Raios. Trad. Ricardo Gouveia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2. Ed., 2009. ______. Percy Jackson e os Olimpianos- livro quatro – A Batalha do Labirinto.

Trad. Raquel Zampil. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010. MEYER, Stephenie. Amanhecer. Trad. Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca,

2009. ______. Crepúsculo. Trad. Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 3. ed., 2009.

______. Eclipse. Trad. Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2. ed., 2009.

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______. Lua Nova. Trad. Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2. ed., 2008.

VERÍSSIMO, Erico. Clarissa. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

______. Música ao Longe. São Paulo: Círculo do Livro, 1978.

______. Saga. São Paulo: Circulo do Livro, 1987.

______. Um Lugar ao Sol. São Paulo: Circulo do Livro, 1978.

OUTRAS FONTES CONSULTADAS

FILMES (DVD)

O GUARANI. Produzido por Norma Bengell e Jaime A. Schwartz. Roteiro de José Joffily Filho baseado na obra de José de Alencar, dirigido por Norma Bengell. Música de Wagner Tiso. Intérpretes: Gloria Pires, Tatiana Issa, Márcio Garcia et al. Rio Filme, 1995. 1 DVD (91 min.), color. PERCY JACKSON e o ladrão de raios. Percy Jackson & the Olympians: the lightning thief. Produzido por Karen Rosenfelt, Chris Columbus e Michael Barnathan. Roteiro de Craig Titley baseado na obra de Rick Riordan. Música de Christophe Beck. Intérpretes: Logan Lerman, Brandon T. Jackson et al. Twenty Century Fox, 2010. 1 DVD (118 min.), color.

DOCUMENTOS ELETRÔNICOS

ALVES, Antônio Frederico de Castro. O Livro e a América. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000623.pdf> acesso em

19/07/2011

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A MENINA que odiava livros. Dirigido por Jo Mcuris. Roteiro baseado no livro de

Manjusha Pawagi. Música de Janete Lumb e Dino Giancola. 2006. Color. Disponível

em:

<http://www. youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q> acesso em 19/07/2011

CAMÕES, Luís de. Sonetos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf> acesso em 01/07/2011 PROPP, Vladimir I. Morfologia do Conto Maravilhoso. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6835700/Vladimir-I-Propp-Forense-Universitaria-MORFOLOGIA-DO-CONTO-MARAVILHOSO> acesso em 05/04/2011 THE FROG-PRINCE. Grimm’s Fairy Tales, E-book Planet PDF. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/download/texto/pp000021.pdf > acesso em 12/06/2011. MALVINA e Jerusa na aula do Prof. Josué. Cena da novela Gabriela de Walter George Durst baseada na obra de Jorge Amado. Intérpretes: Elizabeth Savalla, Nívea Maria e Marco Nanini. Rede Globo, 1975. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=8-yPRPdoksw&feature=related> acesso em 17/07/2011

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Sete anos de pastor Jacob servia

Labão, pai de Rachel, serrana bela;

Mas não servia ao pai, servia a ela,

E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,

Passava, contentando se com vê la;

Porém o pai, usando de cautela,

Em lugar de Rachel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos

lhe fora assi negada a sua pastora,

Como se a não tivera merecida;

começa de servir outros sete anos,

dizendo: - Mais servira, se não fora

para tão longo amor tão curta a vida

Luís Vaz de Camões - Sonetos

Disponível em: <http:// www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf>

Acesso feito em 01/07/2011

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O que é?

Pode-se dizer que narrativa é toda a atividade que envolve a prática de contar

para outrem, oralmente, por escrito, em linguagem de sinais, desenhos, por meio de

TV, cinema, internet ou em conversas presenciais algum acontecimento, seja ele

verídico ou não, engraçado ou triste, longo ou curto, em verso ou em prosa.

Você se interessa e gosta porque elas costumam despertar a curiosidade de

quem ouve ou lê.

Como será que o autor consegue criar este interesse?

Quando bebê você ouve

histórias.

Ao crescer um pouquinho e ser

alfabetizado, você lê histórias.

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Leia com atenção o texto abaixo e responda oralmente às perguntas

acima:

O Príncipe Sapo

Era uma vez uma menina que deixou a sua bola de ouro cair dentro d‟água e ser levada pela correnteza. Então ela começou a chorar.

_ Por que choras, minha menina? Ela ficou surpreendida por ouvir uma voz, pois não via ninguém perto.

Depois, reparando melhor, avistou um sapo verde em cima duma pedra. _É você que está falando, sapo? _ Sim. Por que choras?

_ A correnteza levou minha bola de ouro. _ Por que choras, minha menina. Se tu me prometeres três coisas, eu te

trarei de volta a bola de ouro. _ Quais são as três coisas? _ Tens de me levar para casa, deixar-me comer no teu prato e dormir na

tua cama. A menina prometeu tudo e o sapo lhe trouxe de volta a bola de ouro.

Depois a menina ficou com nojo do sapo quando o viu comendo no seu prato. E, quando o sapo pediu que o pusesse na cama, ela não se conteve, agarrou-o por uma perna e jogou-o contra a parede. Imediatamente o sapo se transformou num príncipe louro e lindíssimo, que contou que uma feiticeira má o havia feito virar sapo.

No fim da história, o príncipe louro casou com a menina e levou-a para o seu reino, numa carruagem de ouro...

(VERÍSSIMO, Érico. 2005, p.174-5.)

Seguindo alguns elementos que são fundamentais para que se consiga

criar uma narrativa.

E todas as narrativas sempre têm estes elementos obrigatórios, pois, sem

eles a estrutura do texto estaria comprometida e o ouvinte/leitor não a

entenderia. Estes elementos podem responder às seguintes dúvidas:

O que aconteceu?

Quem viveu os fatos?

Como? Quando?

Onde? Por quê?

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Leia atentamente e responda em seu caderno aos questionamentos que

serão feitos.

O que aconteceu?

1 - Escreva com suas palavras o enredo da narrativa lida?

2 - Identifique e escreva o conflito.

Os nomes dos elementos são: enredo, personagens, tempo, espaço,

narrador.

Enredo: acontecimentos que se sucedem em tempo e espaço determinados.

Para que haja a compreensão de como são organizados os fatos no enredo é

preciso perceber que toda a história tem começo, meio e fim (nem sempre nesta

ordem) e um elemento estruturador chamado conflito, que é o responsável pela

tensão criada para organizar os fatos da narrativa e prender a atenção do

ouvinte/leitor.

Conflito é qualquer componente da história (personagens, fatos, ambiente,

ideias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os

fatos da história e prende a atenção do leitor. ( GANCHO, Cândida V. 1999,

p.11)

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Quem viveu os fatos?

3 - Quem são as personagens da narrativa?

Por favor!

Responde

pra mim!

Personagem: a personagem (ou o personagem) é o ser fictício responsável

pelo desenrolar das ações no enredo.

A personagem pode ser:

Protagonista (Personagem principal)

Antagonista (que se opõe ao protagonista, vilão)

Personagens secundários (são personagens com pouca participação no

enredo)

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Quando?

Duração da história:

4- Releia a narrativa fazendo uma observação mais profunda quanto ao tempo e

identifique-o.

Em algumas narrativas os

acontecimentos transcorrem de

maneira rápida, em outras

demoram anos.

Tempo: Existem várias maneiras do tempo transcorrer em uma narrativa.

Tudo depende da criatividade do autor.

Tempo histórico

Refere-se ao tempo

em que a ação se

desenrola e nem

sempre coincide

com a época em

que a história foi

escrita.

Tempo cronológico

Quando o tempo

transcorre normalmente

do começo para o fim. O

nome cronológico significa

que ele pode ser medido.

Ele acontece quando o

autor conta a vida de uma

personagem desde seu

nascimento ou infância

descrevendo suas

aventuras de acordo com

o passar das horas,

meses ou anos, sempre

na ordem em que

ocorreram.

Tempo psicológico

É o tempo no qual a

ordem natural dos

acontecimentos é

alterada, pois

transcorre de acordo

com a ordem

determinada pela

imaginação ou desejo

do narrador ou dos

personagens.

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Onde?

5 - Na narrativa podemos chamar o lugar onde se passa a narrativa lida de espaço

ou ambiente?.............................................. Por quê?.............................................

A caracterização do ambiente é feita levando em consideração a época,

características físicas do espaço, aspectos socioeconômicos, psicológicos,

morais e religiosos.

As funções do ambiente são:

Situar os personagens no tempo, no espaço, no grupo social, enfim nas condições em que vivem. Ser a projeção dos conflitos vividos pelos personagens. Estar em conflito com os personagens. Em algumas narrativas o ambiente se opõe aos personagens estabelecendo com eles um conflito. Fornecer índices para o andamento do enredo. (GANCHO, Cândida V. 1999, P.24-5)

Espaço: É onde se passa a história. Dependendo da narrativa as ações

podem acontecer em um ou mais lugares.

O espaço pode ser real, servindo de cenário para a ação ou pode ser um lugar

psicológico, no interior da personagem envolvendo questões

socioeconômicas, morais, religiosas e psicológicas, sendo nesse caso, melhor

empregar o termo ambiente.

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É impossível uma narrativa sem narrador. Cabe a ele organizar a narrativa e contar

os fatos que acontecem na história.

O narrador pode ser

apresentado de duas

maneiras, por meio do

uso do pronome pessoal

na primeira pessoa do

singular: narrador em

primeira pessoa ou

narrador personagem.

Quando o narrador conta

fatos dos quais participou

embora não seja a

personagem principal é

chamada de narrador

testemunha.

Se o narrador é a

personagem central dos

acontecimentos é

chamada de narrador

protagonista.

Ou pelo uso da terceira pessoa do singular: narrador em terceira pessoa ou narrador observador.

Este tipo de narrador pode ser onisciente, isto é, sabe tudo o que se passa na história ou onipresente, ou seja, circula por todos os ambientes da história.

O narrador observador pode ainda falar com o leitor ou julgar a atitude das personagens. Neste caso ele é chamado de narrador intruso.

Caso ele se identifique com alguma personagem da história, mesmo que não justifique suas atitudes abertamente, mas consinta que esta tenha maior destaque na história, é chamado de narrador parcial.

Narrador

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6 - No text o lido há um narrador. Classifique-o de acordo com o que foi estudado.

Numa narrativa o autor utiliza de pelo menos dois tipos de linguagem, um para o

narrador e outro para a personagem.

Devemos sempre lembrar que o narrador não é o autor. Ele é o elemento usado pelo autor para contar o que se passa em sua história.

Ao utilizar o discurso para a fala das personagens, o autor sempre observa as

características sociais e culturais de seus seres ficcionais e o narrador a

apresenta de duas maneiras: de forma integral, conforme a personagem fala,

que é chamado de discurso direto.

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Discursos

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Verbo de elocução: é o

verbo que anuncia a

fala de uma

personagem.

Ex. falar, dizer,

perguntar, retrucar,

arguir, questionar,

responder, informar,

conpletar, etc.

No discurso direto:

A fala da personagem pode ser apresentada pelo

narrador.

A personagem pode falar diretamente e depois ter sua

fala explicada pelo narrador. Podem aparecer várias

falas que se sucedem e a mudança de personagem é

percebida porque troca-se de linha e usa-se novo

travessão.

Pode-se usar no lugar do travessão um verbo de

elocução seguido de dois pontos e aspas.

Às vezes o autor não faz distinção entre a fala do

narrador e a da personagem, é preciso que o leitor

esteja atento para identificá-las.

7 - Preste atenção no texto lido e identifique o discurso usado.

Outra forma de registrar a fala da personagem é o discurso indireto, que

acontece quando o narrador vai reproduzindo a fala da personagem.

Quando o registro de fala quer transmitir pensamentos ou fala interior

apresenta uma estrutura idêntica ao discurso indireto, mas sem o verbo de

elocução e é chamado de discurso indireto livre.

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Não confunda!

Atenção: as fábulas costumam ter moral da história, que é uma mensagem moral,

mas nem todas as mensagens que aparecem nas narrativas são equivalentes à

moral da história.

8 - Identifique no texto lido o que se pede

Tema:

Assunto:

Mensagem:

Leia com muita atenção o texto a seguir e um outro, em quadrinhos que será

apresentada em suporte virtual e em seguida:

Reflita e discuta com seus colegas sobre os textos e as diferenças na

forma de narrar a mesma história.

Pense também o que cada objeto, personagens e falas podem

representar, simbolicamente falando, na vida da princesinha.

Tema - Assunto - Mensagem

Tema: é a ideia central da história e a partir dela é desenvolvida a narrativa.

Assunto: o desenvolvimento da ideia na narrativa.

Mensagem: uma frase que indica um pensamento ou uma conclusão, por

meio da qual se pode compreender a intenção do autor ao escrever a

narrativa.

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O Príncipe Sapo

Em uma tarde agradável, uma princesinha vestiu um agasalho, calçou-se e saiu para caminhar em um bosque. Ao chegar em uma fonte, que tinha um florão no centro e água fresca, sentou-se para descansar um pouco.

Ela tinha em suas mãos o brinquedo preferido, uma bola de ouro, que estava sempre jogando para cima e pegando novamente. Após um tempo brincando, ela jogou a bola tão alto que não conseguiu apanhá-la e esta foi cair longe e saiu rolando até cair na fonte. A princesa olhou dentro da fonte procurando por sua bola, mas era muito profunda, tão profunda que ela não podia ver o fundo.

Então ela começou a lamentar sua perda: - Ai de mim! Se eu pudesse ter minha bola novamente, eu daria todas as

minhas belas roupas e jóias, e tudo o que eu tenho no mundo. Enquanto ela estava falando, um sapo pôs a cabeça para fora da água:

- Princesa, por que está chorando? - Ai de mim! O que você pode fazer por mim, sapo repugnante? Minha bola

de ouro caiu dentro da fonte. O sapo disse: - Eu não quero suas pérolas, jóias e belas roupas; mas se você me amar,

deixar eu morar com você, comer em seu prato de ouro e dormir em sua cama, trarei sua bola de volta.

- Que absurdo este sapo imbecil está falando! - pensou a princesa – Embora ele possa ser capaz de pegar a minha bola, ele jamais conseguirá sair da fonte para visitar-me, e por isso eu falarei que ele terá o que pede. Então ela disse ao sapo:

- Bem, se você trouxer minha bola, eu darei tudo o que você pedir. Então o sapo abaixou sua cabeça e mergulhou. Após um curto espaço de

tempo ele emergiu com a bola na boca, e jogou-a na margem da fonte. Assim que a princesinha viu sua bola, ela correu para apanhá-la. Ficou tão feliz por tê-la em suas mãos novamente, que nem pensou no sapo e foi correndo para casa.

O sapo, atrás dela, chamava: - Espere, princesa, e leve-me como você disse. Mas ela não parou para ouvir uma palavra. No dia seguinte, assim que a princesinha sentou-se para jantar, ela ouviu

um barulho estranho - tap, tap - plash, plash - como se alguma coisa estivesse subindo a escada de mármore. Logo em seguida, houve uma batida delicada na

porta, e uma vozinha gritou: „Abra a porta, minha querida princesa, Abra a porta para teu verdadeiro amor! E pense nas palavras que tu e eu dissemos Na fonte refrescante, à sombra do bosque.‟ Então a princesa correu até a porta e abriu-a, e viu o sapo, que ela tinha

esquecido completamente. Diante dessa visão ela ficou amedrontada, fechou a porta tão rápido quanto pode e voltou para seu lugar. O rei, seu pai, vendo que algo a assustara, perguntou-lhe qual era o problema.

- Há um sapo repugnante à porta, – disse ela - que tirou minha bola da fonte e eu disse-lhe que poderia morar comigo aqui, pensando que jamais conseguiria sair da fonte; mas ele está lá e quer entrar.

Quando ela estava falando o sapo bateu novamente na porta, e disse:

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„Abra a porta, minha querida princesa, Abra a porta para teu verdadeiro amor! E pense nas palavras que tu e eu dissemos

Na fonte refrescante, à sombra do bosque.‟ Então o rei disse para a princesinha: - Como você deu sua palavra, precisa mantê-la. Então vá e deixe-o entrar. Assim ela fez, e o sapo pulou dentro da sala, e então direto – tap, tap -

plash, plash – do fundo da sala para o centro, então ele chegou perto da mesa onde a princesa estava:

- Coloque-me sobre a cadeira e deixe-me sentar perto de você. Assim que ela fez isto, o sapo falou:

- Coloque seu prato mais perto de mim, para que eu possa comer nele.

Quando ele tinha comido tudo quanto podia, disse:

- Agora carregue-me para cima, e coloque-me em sua cama.

E a princesa, apesar de muito hesitante, levou-o para cima em suas mãos, e colocou-o sobre o travesseiro de sua própria cama, onde ele dormiu a noite toda.

Assim que amanheceu ele levantou-se e pulou escada abaixo, e saiu da casa.

- Agora, então - pensou a princesa - finalmente se foi, e eu não me preocuparei com ele nunca mais.

Mas ela estava enganada. Quando chegou a noite novamente, ela ouviu a mesma batidinha na porta:

„Abra a porta, minha querida princesa, Abra a porta para teu verdadeiro amor!

E pense nas palavras que tu e eu dissemos Na fonte refrescante, à sombra do bosque.‟ E quando a princesa abriu a porta o sapo entrou, e dormiu no travesseiro

dela como antes, até a manhã seguinte irromper. E na terceira noite ele fez o mesmo.

Mas quando a princesa acordou na manhã seguinte, ela ficou admirada, ao invés do sapo, um lindo príncipe olhando-a com os olhos mais bonitos que já vira, em pé ao lado da cama.

Ele disse que havia sido encantado por uma bruxa, que o tinha transformado em sapo; ficando condenado a aguardar até que alguma princesa viesse tirá-lo da fonte, deixasse-o comer de seu prato e dormir em sua cama por três noites.

- Você - disse o príncipe - quebrou o cruel encanto e agora o meu maior desejo é que vá comigo para o reino do meu pai, onde me casarei com você, e a amarei enquanto viver.

Desenho:

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anderlei

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A princesinha, você pode ter certeza, não demorou para dizer „sim‟ a tudo isso.

E enquanto eles conversavam, chegou uma grande carruagem, com oito

belos cavalos, adornada com penachos, penas e um arreio dourado. Atrás, o cocheiro, criado do príncipe, o fiel Henrique, que tinha lamentado tanto a desgraça de seu querido mestre durante seu longo encantamento que seu coração quase explodiu.

Então eles despediram-se do rei, entraram na carruagem com oito cavalos e partiram alegremente para o reino do príncipe, onde chegaram em segurança, e lá viveram felizes durante muitos anos. (CAVALIERI, Ana M. R. Tradução adaptada do texto The Frog- Prince, que consta no livro Grimm’s

Fairy Tales, p. 74-8, E-book Planet PDF, disponível em < http://www.dominiopublico.Gov.br/download/texto/pp000021.pdf>) acesso em 12/06/2011

Diante disso, pode-se concluir desta narrativa:

Tema: a transformação

Assunto: o encontro com o desconhecido

Mensagem: Chega um momento na vida em que os velhos padrões de sentimentos

já não são adequados e precisam ser modificados.

Ao fazer a leitura dos três textos, percebe-se que apesar de contada

de diversas maneiras, a história é a mesma. O professor e mitólogo

norte-americano (1904-1987) Joseph Campbell, analisou este conto

infantil e concluiu que neste caso, a aventura desencadeada pelo erro

da menina, significou o surgimento da adolescência.

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Observa-se com esta narrativa

que a leitura de textos que

parecem simples demais podem

surpreender com mensagens

significativas para o

desenvolvimento e aprendizado.

Descobre-se também que por

meio da leitura é possível

conhecer as aventuras de

personagens, as quais pode -se

chamar de heróis e heroínas,

que realizam ações que todos

gostariam de realizar, incitando

à descobertas essenciais para a

exteriorização de sentimentos

que estão escondidos no íntimo

de cada um e que precisam ser

identificados para que haja

crescimento e amadurecimento.

Lendo estes textos e os outros que se

seguem, pode-se entender o que o

mitólogo, Joseph Campbell, autor do

livro O Herói de Mil Faces, na página 31,

quis dizer ao falar que a aventura do

herói pode ser desencadeada de várias

maneiras, normalmente com um erro

que tem aparência de acaso, seguida do

chamado da aventura, geralmente

representado pelo que ele chama de

arauto, alguém ou algo que tanto pode

anunciar um empreendimento histórico

ou a alvorada da iluminação religiosa,

provocando o início de uma grande

mudança.

Algo vai ser deixado para trás e

conforme o entender místico, marca o

despertar do eu.

“Jovens em geral simplesmente se deixam arrebatar pelo assunto. A mitologia

lhes ensina o que está por trás da literatura e das artes, ensina sobre a sua

própria vida.”

(CAMPBELL, 1990, p.25)

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Quando uma narrativa oferece várias possibilidades de leitura a quem lê, ou

seja, pode ser interpretada por muitas pessoas de diversas maneiras, podemos dizer que ela é uma narrativa canônica.

A narrativa trivial oferece uma história de fácil compreensão, agradando

sempre ao leitor por ter um enredo onde o bem sempre vence o mal e o final é sempre feliz.

Ambas as narrativas tem como personagem principal um herói ou uma

heroína e um antagonista também conhecido como vilão.

Os trechos a seguir relatam uma situação de perigo que os heróis precisam enfrentar. Leia-os.

Toda narrativa é composta de situação inicial, seguida de uma complicação

(que também é chamada de nó) e é o momento em que as coisas começam

a complicar para a personagem principal, a partir daí, as ações da (das)

personagem (personagens) começam a acontecer de forma que se

encaminhe para a solução da complicação surgida, logo em seguida vem o

clímax, que é o trecho mais delicado da história, no qual os perigos

aumentam para o protagonista e são decididos os rumos que a narrativa

seguirá e dele depende o desfecho, que é como termina toda a história.

NARRATIVA CANÔNICA E NARRATIVA TRIVIAL

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A luta

A sra. Dodds estava postada de braços cruzados na frente de um

grande friso de mármore com os deuses gregos. Ela fazia um ruído estranho com a garganta, como um rosnado.

Mesmo sem o ruído, eu teria ficado nervoso. É esquisito estar sozinho com uma professora, especialmente a sra. Dodds. Algo no modo como ela olhava para o friso, como se quisesse pulverizá-lo...

- Você está nos criando problemas, meu bem – disse ela. Fiz o que era seguro. Disse: - sim, senhora. Ela ajeitou os punhos de seu casaco de couro. - Você achou mesmo que ia se safar desta? A expressão em seus olhos era mais que furiosa. Era perversa. Ela é uma professora, pensei, nervoso. Não é provável que vá me

machucar. Eu disse:

- Eu... Eu vou me esforçar mais, senhora. Um trovão sacudiu o edifício. - Nós não somos bobos, Percy Jackson – disse a sra. Dodds. - Seria

apenas uma questão de tempo até que o descobríssemos. Confesse, e você sentirá menos dor.

Eu não sabia do que ela estava falando. Tudo o que pude pensar foi que os professores haviam descoberto o

estoque ilegal de doces que eu estava vendendo no meu dormitório. Ou talvez tivessem descoberto que eu pegara meu trabalho sobre Tom Sawyer na Internet sem ter lido o livro, e agora iam retirar minha nota. Ou pior, iam me obrigar a ler o livro. - E então? – exigiu.

- Senhora, eu não...

- O seu tempo se esgotou – sibilou ela. Então algo muito estranho aconteceu. Os olhos dela começaram a

brilhar como carvão de churrasco. Os dedos se esticaram, transformando-se em garras. O casaco se fundiu em grandes asas de couro. Ela não era humana. Era uma bruxa má e enrugada, com asas e garras de morcego e com uma boca repleta de presas amareladas – e estava prestes a me fazer em pedaços.

Então as coisas ficaram ainda mais esquisitas.

O sr. Brunner, que estava na frente do museu um minuto antes, foi com a cadeira de rodas até o vão da porta da galeria, segurando uma caneta.

- Olá, Percy! – gritou ele, e lançou a caneta pelo ar. A sra. Dodds deu um bote para cima de mim. Com um gemido agudo, eu me esquivei e senti as garras cortando o ar

ao lado do meu ouvido. Agarrei a caneta esferográfica no alto, mas quando ela atingiu minha mão já não era mais uma caneta. Era uma espada – a espada de bronze do sr. Brunner, que ele sempre usava em dias de torneio.

A sra. Dodds virou-se na minha direção com uma expressão assassina nos olhos.

Meus joelhos ficaram bambos. As mãos tremiam tanto que quase deixei a espada cair.

Ela rosnou: - Morra, meu bem! E voou para cima de mim.

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Um terror absoluto percorreu meu corpo. Fiz a única coisa que me ocorreu naturalmente: desferi um golpe com a espada.

A lâmina de metal atingiu o ombro dela e passou direto por seu corpo, como

se ela fosse feita de água: Zaz!

A sra. Dodds era um castelo de areia debaixo de um ventilador. Ela explodiu em areia amarela, reduziu-se a pó, sem deixar nada além do cheiro de enxofre, um grito estridente que foi sumindo e um calafrio de maldade no ar, como se aqueles olhos

vermelhos incandescentes ainda estivessem me olhando.

Eu estava sozinho.

Havia uma caneta esferográfica na minha mão.

O sr. Brunner não estava lá. Não havia ninguém lá além de mim. Minhas mãos ainda estavam tremendo. Meu lanche devia estar contaminado

com cogumelos mágicos ou coisa assim. Será que eu havia imaginado tudo aquilo? Voltei para o lado de fora.

(RIORDAN, Rick. Percy Jackson e os Olimpianos – livro um – O ladrão de Raios, p. 19-21).

A luta

O tigre, que observava os cavaleiros, imóvel, com o pelo eriçado, não ousara investir nem retirar-se, temendo expor-se aos tiros dos arcabuzes; mas apenas viu a tropa distanciar-se e sumir-se no fundo da mata, soltou um novo rugido de alegria e contentamento.

Ouviu-se um rumor de galhos que se espedaçavam como se uma árvore houvesse tombado na floresta, e o vulto negro da fera passou no ar; de um pulo tinha ganho outro tronco e metido entre ela e o seu adversário uma distância de trinta palmos.

O selvagem compreendeu imediatamente a razão disto: a onça, com os seus instintos carniceiros e a sede voraz de sangue, tinha visto os cavalos e desdenhava o homem, fraca presa para saciá-la.

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Com a mesma rapidez com que formulou este pensamento, tomou na cinta uma flecha pequena e delgada como espinho de ouriço e esticou a corda do grande arco, que excedia de um terço à sua altura.

Ouviu-se um forte sibilo, que foi acompanhado por um bramido da fera; a pequena seta despedida pelo índio se cravara na orelha, e uma segunda, açoitando o ar, ia ferir-lhe a mandíbula inferior.

O tigre tinha-se voltado ameaçador e terrível, aguçando os dentes uns nos outros, rugindo de fúria e vingança: de dois saltos aproximou-se novamente.

Era uma luta de morte a que ia se travar; o índio o sabia, e esperou

tranquilamente, como da primeira vez; a inquietação que sentira um momento de que a presa lhe escapasse desaparecera: estava satisfeito.

Assim, estes dois selvagens das matas do Brasil, cada um com as suas armas, cada um com a consciência de sua força e de sua coragem, consideravam-se mutuamente como vítimas que iam ser imoladas.

O tigre desta vez não se demorou; apenas se achou a coisa de quinze passos do inimigo, retraiu-se com uma força de elasticidade extraordinária e atirou-se como um estilhaço de rocha, cortada pelo raio.

Foi cair sobre o índio, apoiado nas largas patas detrás, com o corpo direito,

as garras estendidas para degolar a sua vítima, e os dentes prontos a cortar-lhe a jugular.

A velocidade deste salto monstruoso foi tal que, no mesmo instante em que se vira brilhar entre as folhas os reflexos negros de sua pele azevichada, já a fera tocava o chão com as patas.

Mas tinha em frente um inimigo digno dela, pela força a agilidade. Como a princípio, o índio havia dobrado um pouco os joelhos, e segurava na

esquerda a longa forquilha, sua única defesa; os olhos sempre fixos magnetizavam o animal. No momento em que o tigre se lançara, curvou-se ainda mais; e fugindo com o corpo apresentou o gancho. A fera, caindo com a força do peso e a ligeireza do pulo, sentiu o forcado cerrar-lhe o colo, e vacilou.

Então, o selvagem distendeu-se com a flexibilidade de cascavel ao lançar o bote; fincando os pés e as costas no tronco, arremessou-se e foi cair sobre o ventre

da onça, que, subjugada, prostrada de costas, com a cabeça presa ao chão pelo gancho, debatia-se contra o seu vencedor, procurando debalde alcançá-lo com as garras.

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Esta luta durou minutos; o índio, com os pés apoiados fortemente nas pernas da onça, e o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imóvel a fera, que há pouco corria a mata não encontrando obstáculos à sua passagem.

Quando o animal, quase asfixiado pela estrangulação, já não fazia senão uma fraca resistência, o selvagem, segurando sempre a forquilha, meteu a mão debaixo da túnica e tirou uma corda de ticum que tinha enrolada à cintura em muitas voltas.

Nas pontas desta corda havia dois laços que ele abriu com os dentes e passou nas patas dianteiras ligando-as fortemente uma à outra; depois fez o mesmo às pernas, e acabou por amarrar as duas mandíbulas, de modo que a onça não pudesse abrir a boca.

Feito isto, correu a um pequeno arroio que passava perto; e enchendo de água uma folha de cajueiro-bravo, que tornou cova, veio borrifar a cabeça da fera. Pouco a pouco o animal ia tornando a si; e o seu vencedor aproveitava este tempo para reforçar os laços que o prendiam, e contra os quais toda a força e agilidade do tigre seriam impotentes.

Neste momento uma cutia tímida e arisca apareceu na lezíria da mata, e adiantando o focinho, escondeu-se arrepiando o seu pêlo vermelho e afogueado.

O índio saltou sobre o arco e abateu-se daí a alguns passos no meio da carreira; depois, apanhando o corpo do animal que ainda palpitava, arrancou a flecha, e veio deixar cair nos dentes da onça as gotas de sangue quente e fumegante.

Apenas o tigre moribundo sentiu o odor da carniça, e o sabor do sangue que filtrando entre as presas caíra na boca, fez uma contorção violenta, e quis soltar um urro que apenas exalou-se num gemido surdo e abafado.

O índio sorria, vendo os esforços da fera para arrebentar as cordas que a atavam de maneira que não podia fazer um movimento, a não ser essas retorções do corpo, em que debalde se agitava. Por cautela tinha-lhe ligado até os dedos uns aos outros para privar-lhe que pudesse usar das unhas longas e retorcidas, que são a sua arma mais terrível.

Quando o índio satisfez o prazer de contemplar o seu cativo quebrou na mata dois galhos secos de biribá, e roçando rapidamente um contra o outro, tirou fogo pelo atrito e tratou de preparar a sua caça para o jantar. Em pouco tempo tinha acabado a selvagem refeição, que ele acompanhou com alguns favos de mel de uma pequena abelha que fabrica as suas colméias no chão. Foi ao regato, bebeu alguns goles de água, lavou as mãos, o rosto e os pés, e cuidou em pôr-se a caminho.

Passando pelas patas do tigre o seu longo arco que suspendeu ao ombro, e vergando ao peso do animal que se debatia em contorções, tomou a picada por onde

tinha seguido a cavalgata. (ALENCAR, José de. O Guarani, p.30-3).

Entendendo o Texto

Antes de fazer as atividades propostas assista as duas sequências em

vídeo, observe que ao serem transpostas para o cinema, as cenas tiveram

modificações, pois isso é permitido ao roteirista e ao diretor do filme e é por isso

também que os professores sempre recomendam a leitura do livro.

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1 – Após ter lido com atenção os dois fragmentos das narrativas acima,

responda às questões propostas.

a) Identifique no texto as palavras que você não conheça, procure o significado no

dicionário online e depois responda: qual dos textos apresentou vocábulos com

significação mais interessante? Qual (quais) usaria em um texto escrito por você?

b) Ao ler os dois textos, você percebeu que tanto Rick Riordan como José de

Alencar descreveram cenas nas quais seus heróis lutam com duas “feras” e

vencem a luta. Procure relacionar atitudes parecidas dos dois heróis durante a

luta.

c) Explique com suas palavras o sentido da palavra grifada nas frases abaixo:

1- O seu tempo se esgotou – sibilou ela

2- Ouviu-se um forte sibilo, que foi acompanhado por um bramido da fera;

d) Os dois textos narram cenas nas quais o adversário se atira para cima dos

heróis. Em qual deles, a descrição da cena faz com que o leitor imagine melhor o

que autor quis transmitir.

e) Localize nos trechos lidos, os parágrafos em que aparecem:

Percy Jackson Peri

Situação inicial

Conflito (nó)

Ações realizadas pelas

personagens em

decorrência do conflito

Clímax

Desfecho

f) Pesquise e traga para a classe a letra de uma música que tenha as

características de uma narrativa para que seja montado um painel na sala de

aula.

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Mudam se os tempos, mudam se as vontades

Muda o ser, muda se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Luís Vaz de Camões – Sonetos

Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf >acesso

em 01/07/2011

).

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Em algum momento você...

quis ter mais liberdade?

Quis tomar decisões,

mas ficou com grandes dúvidas?

Sentiu vontade de gargalhar

e de repente começou a chorar?

Então... você também já deve ser

Desen

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Os textos lidos foram retirados de romances que narram aventuras de dois

heróis adolescentes.

Leia os trechos a seguir, nos quais são narradas situações em que o

sentimento aflora nas personagens. Observe que ambos os heróis se

arriscam para salvar suas amadas.

O primeiro foi retirado do livro o

Ladrão de raios de Rick Riordan e

conta a história de Percy Jackson,

um garoto de doze anos, que tem

problemas na escola por ter déficit

de atenção e dislexia, um

relacionamento ruim com o

padrasto, além de não conseguir se

socializar, só tem um amigo e

descobre ser filho de um deus do

olimpo e precisa recuperar o raio de

Zeus que foi roubado. Nesta

narrativa cheia de aventura,a

mitologia grega torna-se muito

presente.

O segundo, conta a história do índio Peri, que vive nas matas brasileiras e se apaixona por uma garota chamada Ceci, por quem é capaz das maiores proezas. Foi retirado do livro O Guarani de José de Alencar e retrata o índio idealizado, com características que não são próprias dele.

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Percy Jackson

- Annabeth! - gritei.

- Shhh!- uma palma de mão invisível cobriu minha boca e me forçou a me abaixar atrás de um grande caldeirão de bronze.

- Quer que nos matem?

Encontrei sua cabeça e tirei o boné dos Yankees. Ela tremeluziu, surgindo diante de mim de testa franzida, o rosto sujo de cinza e fuligem.

- Percy, qual é seu problema?

- Vamos ter companhia! Expliquei rapidamente sobre a aula de orientação dos monstros. Os

olhos dela se arregalaram.

- Então é isso que eles são – disse ela. - Telquines. Eu devia saber. E estão fazendo... veja.

Espiamos acima do caldeirão. No centro da plataforma havia quatro

demônios marinhos, já adultos, com quase dois metros e meio de altura. A

pele negra reluzia à luz do fogo à medida que trabalhavam, faíscas voando enquanto eles se alternavam martelando em um longo pedaço de metal

incandescente.

- A lâmina está quase completa – disse um deles. - Precisa de novo resfriamento em sangue para fundir os metais.

- É - disse um segundo. – Vai ficar ainda mais afiada do que antes.

-O que é aquilo? - sussurrei. Annabeth sacudiu a cabeça.

- Eles falam o tempo todo de fundir metais. Imagino...

- Comentaram sobre a maior arma dos titãs- contei. - E... falaram que

fizeram o tridente de meu pai. - Os telquines traíram os deuses. – disse Annabeth. Estavam

praticando magia negra. Não sei por que exatamente, mas Zeus os baniu

para o tártaro. - Com Cronos.

Ela assentiu.

- Precisamos sair... Nem acabara de falar, a porta que levava à sala de aula explodiu e

jovens telquines surgiram aos montes. Tropeçavam uns nos outros, tentando

descobrir que caminho seguir para me pegar. - Ponha o boné de novo - eu disse. - Saia!

-O quê?- gritou Annabeth. - Não! Eu não vou abandonar você!

- Eu tenho um plano. Vou distraí-los. Você pode usar a aranha de

metal – talvez ela o leve de volta para Hefesto. Você precisa contar a ele o que está acontecendo.

- Mas você vai ser morto!

_ Vou ficar bem. Além disso, não temos escolha. Annabeth me olhou, furiosa, como se fosse me dar um soco. E então

fez algo que me surpreendeu ainda mais. Ela me beijou.

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- Tenha cuidado, cabeça de

alga. Ela pôs de volta o boné e

desapareceu.

Provavelmente eu teria ficado sentado lá o restante do dia,

encarando a lava e tentando

lembrar meu nome, mas os demônios marinhos me trouxeram

de volta à realidade.

- Lá! - um deles gritou A turma toda de telquines

atravessou correndo

a ponte, em minha direção. Corri

para o meio da plataforma, assustando os quatro demônios

marinhos mais velhos, que deixaram cair a lâmina incandescente.

Tinha quase dois metros e era curva como uma lua crescente. Eu já tinha visto muitos objetos aterrorizantes, mas aquele sei-lá-o-quê inacabado me

apavorou mais que tudo.

Os demônios mais velhos recuperaram-se do susto rapidamente. Havia quatro rampas que saíam da plataforma, e antes que eu pudesse disparar

em qualquer direção cada um deles tinha coberto uma saída.

O mais alto rosnou. - O que temos aqui? Um filho de Poseidon?

-Sim – grunhiu o outro. – Posso sentir o cheiro do mar no sangue dele.

Levantei contracorrente. Meu coração estava disparado.

- Acerte um de nós, semideus - disse o terceiro demônio -, e os outros farão picadinho de você. Seu pai nos traiu. Ele tirou nosso dom e se calou

quando fomos mandados para o abismo. Vamos vê-lo cortado em pedaços.

Ele e todos os outros Olimpianos. Desejei ter um plano. Desejei não ter mentido para Annabeth. Queria

que ela saísse em segurança e esperava que tivesse sido suficientemente

sensata para fazer isso. Mas agora eu começava a entender que aquele poderia ser o lugar em que eu morreria. Nada de profecias para mim. Eu

seria derrotado no coração de um vulcão por uma matilha de homens-leões-

marinhos com cabeça de cachorro. Os jovens telquines agora também estavam na plataforma, rosnando e esperando para ver como seus quatro

membros seniores lidariam comigo. (RIORDAN, Rick. Percy Jackson e os Olimpianos - IV – A Batalha do Labirinto, p.210-12)

Desenho: REINO, Wanderlei

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Peri

- Escuta – disse ele. – Os velhos da tribo ouviram de seus pais que a

alma do homem quando sai do corpo se esconde numa flor, e fica ali até que a ave do céu vem buscá-la e a leva lá, bem longe. É por isso que tu vês o

guanumbi, saltando de flor em flor, beijando uma, beijando outra, e depois

batendo as asas e fugindo.

Cecília, habituada a linguagem poética do selvagem, esperava a última palavra que devia fazê-la compreender o seu pensamento.

O índio continuou:

- Peri não leva a sua alma no corpo, deixa-a nesta flor. Tu não ficas só. A menina sorriu, e tomando a flor escondeu-a no seio.

- Ela me

acompanhará. Vai, meu irmão, e volta

logo.

- Peri não se afastará; se tu o

chamares, ele ouvirá.

- E me

responderás, sim? ... para que eu te sinta

perto de mim...

O índio antes de

partir, circulou a

alguma distância o lugar onde se achava

Cecília, de uma corda

de pequenas fogueiras feitas de louro, de

canela, urutaí e outras

árvores aromáticas.

Desta maneira tornava aquele retiro

impenetrável; o rio de

um lado, e do outro as chamas que

afugentariam os

animais daninhos, e sobretudo os répteis; o fumo odorífero que se escapava das fogueiras afastaria até mesmo os insetos. Peri não sofreria que uma

vespa e uma mosca sequer ofendesse a cútis de sua senhora, e sugasse uma

gota desse sangue precioso; por isso tomara todas essas precauções. Cecília devia pois ficar tranquila como se estivesse em um palácio; e de

fato era um palácio de rainha do deserto esse sombrio cheio de frescura a

que a relva servia de alcatifa, as folhas de dossel, as grinaldas em flores de cortina, os sabiás de orquestra, as águas de espelho, e os raios do sol de

arabescos dourados.

Desenho: REINO, Wanderlei

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A menina viu de longe o desvelo com que seu amigo tratava de sua segurança e acompanhou-o com o olhar até o momento em que ele

desapareceu no mais espesso da mata.

Foi então que ela sentiu a soledade estender-se em torno e envolvê-la: insensivelmente levou a mão ao seio e tirou a flor que Peri lhe tinha dado.

Apesar de sua fé cristã, não pôde vencer essa inocente superstição do

coração: pareceu-lhe, olhando o íris, que já não estava só e que a alma de

Peri a acompanhava. Qual é o seio de dezesseis anos que não abriga uma dessas ilusões

encantadoras, nascidas com o fogo dos primeiros raios do amor? Qual é a

menina que não consulta o oráculo de um malmequer e não vê numa borboleta negra a sibila fatídica que lhe anuncia a perda da mais bela

esperança?

Como a humanidade na infância, o coração nos primeiros anos tem também a sua mitologia; mitologia mais graciosa e mais poética do que as

criações da Grécia; o amor é o seu Olimpo povoado de deusas ou deuses de

uma beleza celeste e imortal. Cecília amava; a gentil e inocente menina procurava iludir-se a si

mesma, atribuindo o sentimento que enchia sua alma a uma afeição

fraternal e ocultando, sob o doce nome de irmão, um outro mais doce que

titilava nos seus lábios, mas que seus lábios não ousavam pronunciar. (ALENCAR, José de. O guarani, p.309-11)

Entendendo o texto

Atividades

1 – Os dois textos falam da descoberta do amor em meio a uma aventura.

a) No primeiro texto, qual a reação da personagem ao receber um beijo

quando esperava um soco?

b) E no segundo? Como Ceci reagiu ao sentimento que descobriu estar

sentindo?

c) Como você imagina Percy e Annabeth? E Peri e Ceci? Descreva-os de

acordo com a sua imaginação.

d) Que semelhanças você consegue encontrar nas atitudes nos dois heróis?

e) Pesquise na Internet ou na biblioteca a respeito dos “seres” que aparecem

nos textos. Aproveite e encontre o significado das palavras que você não

conhece.

2 – Escolha um dos dois textos lidos e escreva uma pequena narrativa com

os dois personagens, modificando a cena em que eles descobrem o amor. Lembre-

se de ser fiel as características do texto lido.

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Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas que seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.

(CAMPBELL, 1991, p.137)

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Seria lindo, porém... não dá a impressão de vazio?

Uma narrativa sem a ação das personagens também não seria tão atraente

aos olhos dos leitores.

Assista ao vídeo A Menina que Odiava Livros - baseado no livro de

Manjusha Pawagi que comprova o que foi dito acima.

Em < http://www. youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q > acesso em

19/07/2011.

Imagine–se em uma

floresta sem seus habitantes,

só com a mata.

Foto: REINO, Wanderlei. Vitória- ES.02/02/2010

Imagine-se agora em

alto- mar, sem seus seres.

Foto: CAVALIERI, ANA M. R. Chapada dos

Guimarães – MT. 15/10/2006

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Protagonista: é a personagem principal.

Não existem regras para a composição de uma personagem, todo autor é

livre pra criar.

As personagens são sempre seres de ficção, ou seja, mesmo que pareça real

ou que seja inspirada em uma pessoa real, ela é apenas fruto da imaginação de alguém.

De acordo com Cândida Vilares Gancho (1999, p.14-6) as personagens podem ser classificadas como:

Como um bruxo que vai

dosando poções que se

misturam num mágico caldeirão,

o escritor recorre aos artifícios

oferecidos por um código a fim

de engendrar suas criaturas.

Quer elas sejam tiradas de sua

vivência real ou imaginária, dos

sonhos, dos pesadelos ou das

mesquinharias do cotidiano, a

materialidade desses seres só

pode ser atingida através de um

jogo de linguagem que torne

tangível a sua presença e

sensíveis os seus movimentos.

(Beth Brait, A Persona-gem,

p.52)

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A personagem principal pode ser um herói ou heroína e nesse caso apresentará aspectos diferenciados dos demais, podendo ser, por exemplo, mais forte, mais esperta, ter algum tipo de poder ou ser a mais inteligente.

Quando a personagem principal é um ser comum, igual a todos os outros ou

até mesmo inferior, sem nenhum poder especial, e encontra-se na situação de herói, sem ter o estereótipo deste, é chamado de anti-herói.

As personagens podem ser caracterizadas como: Plana e Redonda

Antagonista: é a personagem que, durante a narrativa, procura atrapalhar os planos do herói/heroína, e possui atributos completamente contrários aos da protagonista. É o que se costuma chamar de vilão.

Personagens Secundários: são as personagens que aparecem menos na trama e não têm uma função imprescindível na solução de problemas, apenas colaboram com o herói ou com o vilão.

Desenho: REINO, Wanderlei

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Há dois tipos de personagem plana:

Tipo: é reconhecido por representar uma profissão, classe social ou

comportamentos típicos de um determinado grupo, como por exemplo, o jornalista, o estudante, etc.

Caricatura: normalmente aparece nas histórias de humor, apresenta uma ou

mais características permanentes e tidas como ridículas em sua personalidade ou na maneira de se comportar, com o intuito de provocar o riso.

Para Cândida V. Gancho (1999) as

características da (do) personagem

redonda podem ser classificadas em:

Físicas: incluem corpo, voz, gestos,

roupas;

Psicológicas: referem-se à personalidade

e aos estados de espírito;

Sociais: indicam classe social, profissão,

atividades sociais;

Ideológicas: referem-se ao modo de

pensar do personagem, sua filosofia de

vida, suas opções políticas, sua religião;

Morais: implicam em julgamento, isto é,

em dizer se o personagem é bom ou

mau, se é honesto ou desonesto, se é

moral ou imoral, de acordo com um

determinado ponto de vista.

OBS. O mesmo personagem pode ser

julgado de modos diferentes por

personagens, narrador, leitor; portanto,

poderá apresentar características

diferentes, dependendo do ponto de vista

adotado.

Plana: é uma personagem que se mantém inalterada durante toda a narrativa, ou seja, ela não apresenta nenhuma modificação em suas características do início ao fim da trama.

Redonda: é uma personagem com mais complexidade psicológica e que sofre modificações em sua personalidade durante a narrativa. Suas características podem ser classificadas em físicas, psicológicas, sociais, ideológicas, morais.

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As personagens escolhidas para a continuação do estudo de comparação foram Isabella Swan, a Bella de Crepúsculo e Clarissa Albuquerque, do livro homônimo.

Bella é uma garota estadunidense que morava com a mãe em Phoenix no estado do Arizona e vai morar com o pai em Forks que fica no estado de Washington WA .

Clarissa é uma garota brasileira que morava em Jacarecanga e vai morar com a tia em Porto Alegre, ambas no Rio Grande do sul.

As duas têm suas histórias contadas em uma série de quatro livros e se você procurar na Internet encontrará trechos de crepúsculo e também vídeos com trechos de Clarissa.

Tente descobrir o que elas têm de parecido e de diferente.

A partir do próximo texto, a leitura dos textos e das atividades serão feitas no suporte virtual, na sala de computação.

As respostas das atividades continuarão sendo feitas no caderno (de papel

mesmo!)

Desenho: REINO, Wanderlei

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Por isso a impaciência Desta sede de saber, Como as aves do deserto - As almas buscam beber... Oh! Bendito o que semeia Livros... Livros à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caindo n’alma É germe - que faz a palma, É chuva - que faz o mar.

(ALVES, Antônio Frederico de Castro - IV estrofe do poema O Livro e a América – disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk623.pdf>

acesso feito em 19/07/2011

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Leia as definições I, II, III e lV e os trechos que as acompanham. Depois faça

as atividades propostas.

I. Personagem

Graças aos recursos de caracterização (isto é, os elementos que o romancista

utiliza para descrever e definir a personagem, de maneira a que ela possa dar

a impressão de vida, configurando-se ante o leitor), graças a tais recursos, o

romancista é capaz de dar a impressão de um ser ilimitado, contraditório,

infinito na sua riqueza; mas nós apreendemos, sobrevoamos essa riqueza,

temos a personagem como um todo coeso ante a nossa imaginação.

(CANDIDO, Antonio. Personagem do Romance, p.59)

Talvez, se eu parecesse uma verdadeira garota de Phoenix, pudesse tirar

proveito disso. Mas, fisicamente, nunca me encaixei em lugar em lugar

nenhum. Eu devia ser bronzeada, atlética, loura – uma jogadora de vôlei ou

uma líder de torcida, talvez -, todas as coisas compatíveis com quem mora no

vale do sol.

Em vez disso, apesar do sol constante, eu tinha uma pele de marfim. E não

tinha os olhos azuis ou o cabelo ruivo que poderiam me servir de desculpa.

Sempre fui magra, mas meio molenga, e obviamente não era uma atleta; não

tinha a coordenação necessária entre mãos e olhos para praticar esportes sem

me humilhar - e sem machucar a mim mesma e a qualquer pessoa que se

aproximasse demais.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p.16)

Clarissa ainda corre sob as árvores. Grita, sacode a cabeleira negra,

agita os braços, para, olha, ri, torna a correr, perseguindo agora uma

borboleta amarela.

(...)

Inclina-se mais sobre o chão. A terra está inundada de sol. Aqui e ali

brilham seixos miúdos, pedaços de vidro, gravetos. Clarissa compara a

epiderme do braço com a cor da terra. Sorri.

Quase da mesma cor! – pensa. – Morena. A terra também é morena.

Eu sou assim é porque aquele sol lá da estância queima. Depois, o papai é

moreno, a mamãe é morena. Eu tinha de nascer morena.

(VERÍSSIMO, Érico. Clarissa, p. 15,48)

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a. Comente a respeito da personalidade da personagem Bella?

b. E Clarissa? Como se posiciona diante da vida?

c. Pode-se dizer que há alguma relação entre a descrição das

personagens e o que afirma Antonio Candido?

d. Ilustre os dois textos. Procure expressar, através da ilustração, as suas impressões a respeito das duas personagens.

e. Pesquise sobre os autores e como eles tiveram a ideia para criar as duas personagens, depois monte com seus colegas um painel com as informações coletadas.

Não queria chegar cedo demais na escola, mas não conseguia mais ficar ali. Vesti meu casaco – que era meio parecido com um traje de biossegurança – e saí para a chuva.

Ainda estava chuviscando, não o suficiente para me ensopar enquanto peguei a chave da casa, sempre escondida debaixo do beiral, e tranquei

a porta. O chapinhar das minhas novas botas impermeáveis era enervante. Senti a falta do habitual esmagar de cascalho enquanto andava. Não podia parar e admirar minha picape novamente, como eu queria; estava com pressa para sair da umidade nevoenta que envolvia minha cabeça e grudava em meu cabelo por baixo do capuz. (MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p.18)

II. Personagem

A personagem é um ser fictício, - expressão que soa como um paradoxo. De fato, como pode uma ficção ser? Como pode existir o que não existe? No entanto, a criação literária repousa sobre este paradoxo, e o problema da verossimilhança no romance depende desta possibilidade de um ser fictício, isto é, algo que, sendo uma criação da fantasia, comunica a impressão da mais lídima verdade existencial. Podemos dizer, portanto, que o romance se baseia, antes de mais nada, num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser fictício, manifestada através da personagem, que é a concretização deste.

(CANDIDO, Antonio. Personagem do Romance, p.55)

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a) Com base nas ideias expostas por Antonio Candido sobre personagem, analise os trechos acima e responda se é possível que haja neles verossimilhança.

b) Ainda de acordo com Candido comente sobre os sentimentos que cada uma das personagens parece ter no momento, de acordo com os trechos lidos.

c) Reflita um pouco e responda: neste momento você está se identificando mais com Clarissa ou com Bella. Você saberia explicar por quê?

d) Em sua opinião, por que às vezes nos sentimos alegres ou tristes sem motivo aparente?

e) Discuta com seus pares e responda. Podemos ser personagens na vida? Em

que situação?

- Não ouviste, Clarissa? Está na hora do colégio!

(...)

Clarissa vai andando... Por que será que a vida

parece melhor e mais bonita de manhã quando há sol, vento fresco, céu azul? E esta gente que acordou ind‟agorinha que se debruça à janela, que canta, sorri, e cumprimenta os que passam?...

Sente ímpetos de dançar, correr, cantar, pegar no rabo dos cachorros, jogar pedras nos vidros das vitrinas,

botar a língua para a mulher gorducha que está escarrapachada numa cadeira ali na frente do mercadinho de frutas...

“ Juizinho, minha filha. Olhe que estás ficando uma moça...”

A recomendação da tia não lhe sai nunca da memória. (VERÍSSIMO, Érico. Clarissa, p.25).

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III. Reprodução e Invenção

Partindo da premissa de que a personagem é um habitante da realidade

ficcional, de que a matéria de que é feita e o espaço que habita são diferentes da matéria e do espaço dos seres humanos, mas reconhecendo também que essas duas realidades mantêm um íntimo relacionamento, cabe inicialmente perguntar:

- De que forma o escritor, o criador da realidade ficcional passa da chamada realidade para esse outro universo capaz de sensibilizar o receptor?

- Que tipo de manipulação requer esse processo capaz de reproduzir e inventar seres que se confundem, em nível de recepção, com a complexidade e a força dos seres humanos?

(BRAIT, Beth. A Personagem, p. 11/12)

A foto três por quatro parece ser uma das maneiras mais objetivas de

reproduzir a imagem de umas pessoas. Tanto é verdade que oficialmente elas garantem a identidade da pessoa retratada. Elas são as pessoas retratadas. Ninguém duvida.

Entretanto essa “presença de uma ausência”, esse testemunho irrespondível de uma existência não pode ser confundido com a pessoa. Papel e gradações de branco e preto, resultantes de conquistas técnicas, são criações que a habilidade humana inventou para representar, simular o real. A semelhança com o real reside no registro de uma imagem, flagrada num dado momento, sob um determinado ângulo e sob determinadas condições de luz. Esse produto diz muito pouco, ou quase nada, da complexidade do ser humano retratado. Talvez por essa razão as pessoas façam tanta força para aparentar e passar para a fotografia a imagem que fazem de si mesmas: cabelos penteados, sorriso, leve ar de seriedade, queixo erguido e outros aspectos selecionados pela pessoa e pelo fotógrafo para compor a imagem que será registrada. Os resultados e a reação dos fotografados diante de suas fotos demonstram que não é fácil construir a própria imagem para fazer de conta que se é exatamente aquilo.

(BRAIT, Beth. A Personagem, p.12)

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a) Monte um cenário com tema livre, vista-se de acordo com seu gosto, tire uma

foto sua (Se preferir modifique-a com o auxílio do photoshop), imprima e traga para a sala de aula.

b) A partir dessa imagem e dos textos acima, discuta com seus colegas a respeito da representação do mundo que você mesmo montou ou criou ao modificar sua foto e que nada tem a ver com o seu cotidiano. Que impressões você deseja passar para quem olhá-la?

c) Cogite a hipótese seguinte e responda: caso quem veja a foto seja um desconhecido, que ideia poderá fazer da pessoa que vê? Imaginará ele que você é quem é ou que poderá ser outra pessoa, viver em outro lugar, ter outro nível social?

d) Agora compare uma foto sua, três por quatro com a foto manipulada e em seguida escreva suas conclusões com base nos comentários abaixo.

“Na verdade, no lugar de simplesmente registrar uma imagem, o fotógrafo cria o assunto”.

(...) “Portanto, para essas fotos, a expressão registro do real começa assumir características especiais. O fotógrafo não registra uma imagem. Ele cria uma imagem. Seu ponto de partida e seus instrumentos são trabalhados para criar a ilusão do real”.

( Beth Brait , A Persona-gem , p. 16 )

IV. Verossimilhança

É a lógica interna do enredo, que o torna verdadeiro para o leitor; é, pois,

a essência do texto de ficção. Os fatos de uma história não precisam ser verdadeiros, no sentido de

corresponderem exatamente a fatos no universo exterior ao texto, mas devem ser verossímeis; isto quer dizer que, mesmo inventados, o leitor deve acreditar no que lê.

(GANCHO, Cândida V. Como Analisar narrativas, p.10)

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BELLA

Ele pegou meus ombros e eu olhei seu rosto.

- Posso lhe mostrar uma coisa? – Perguntou Edward, uma excitação repentina brilhando em seus olhos.

- Me mostrar o quê? - Vou lhe mostrar como eu viajo na floresta. – Ele viu minha expressão. - Não se preocupe, você estará segura e chegaremos a sua picape muito mais

rápido. – Sua boca se abriu naquele sorriso torto tão lindo e meu coração quase parou.

-Vai se transformar em morcego? – perguntei, cautelosamente. Ele riu, mais alto do que eu já ouvira. - Como se eu nunca tivesse ouvido essa antes! - Tudo bem, tenho certeza de que faz isso o tempo todo. - Venha, sua covardezinha, suba em minhas costas. Esperei para ver se estava brincando mas, ao que parecia, ele tinha falado

sério. Ele sorriu enquanto lia minha hesitação e estendeu a mão para mim. Meu

coração reagiu; embora ele não pudesse ouvir meus pensamentos, minha pulsação sempre me entregava. Depois ele começou a me colocar em suas costas, com muito pouco esforço de minha parte e, além disso, quando estava no lugar, segurou minhas pernas e braços com tanta força em volta dele que eu sufocaria uma pessoas normal. Foi como subir em uma pedra.

- Sou um pouco mais pesada do que a sua mochila – alertei. - Rá! – ele bufou. Eu quase podia ouvir seus olhos revirando. Nunca o vi com

tamanho bom humor antes. Ele me sobressaltou, pegando minha mão de repente, apertando a palma em

seu rosto e inspirando profundamente. - Fica a cada vez mais fácil – murmurou ele.

E depois ele estava correndo. Se um dia eu tive um medo mortal da

presença dele, não foi nada se comparado com o que sentia agora . Ele disparou pelos arbustos escuros e

densos da floresta como um projétil, como um fantasma. Não havia nenhum som, nenhuma prova de que seus pés tocavam a terra. Sua respiração não se alterava, não indicava esforço

nenhum. Mas as árvores voavam a uma velocidade mortal, passando a centímetros de nós.

Fiquei tão apavorada que fechei os olhos, embora o ar frio da mata vergastasse meu rosto e o queimasse. Senti como se estivesse colocando a cabeça como uma idiota para fora da janela de um avião em pleno voo.

E, pela primeira vez na minha vida, senti a fraqueza vertiginosa do enjoo de movimento.

Depois acabou. Tínhamos andado por horas esta manhã até a campina de Edward e agora, em questão de minutos, estávamos de volta ao carro.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p. 205-6)

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CLARISSA

-Srta. Clarissa...

Uma voz macia. Ela ergue os olhos e dá com o semblante sorridente do dr. Penteado, um moço pálido, duma palidez que o pó-de-arroz agrava, baixo, magro, de olhos muito grandes e cabelos crespos, empastados de brilhantina.

-... quer dar-me o prazer? O doutorzinho está todo encurvado. Todo ele é um convite delicado. Estende

a mão magra, frágil como uma flor, e fica esperando. Clarissa levanta-se. O dr. Penteado a enlaça. A mão dele é fria e ossuda.

(Clarissa pensa na mão de tia Zezé e no esqueleto que está num dos quadros do colégio...)

Vem do juiz distrital um perfume muito doce, muito tímido, um perfume que, como seu dono, tem medo de ser importuno, de ousar demais...

- Está gostando do baile, srta. Clarissa? A pergunta de sempre. A vozinha doce, branca, fina, feminina, refinada. - Muito.

Ao dizer isso Clarissa olha para o par. O dr. Penteado evita-lhe o olhar, erguendo os olhos para o teto.

A orquestra agora grita inteira – piano, violino, saxofone, pistões – mas nem assim o juiz distrital cria ânimo.Mantém-se a uma distância respeitosa da moça. Dança com um cuidado infinito para não pisar-lhe os pés. De quando em quando molha com a ponta da língua os lábios ressequidos.

Dançar com ele – pensa Clarissa – é o mesmo que estar dançando sozinha. Ou com um boneco de papelão.

Outra vez a orquestra se aquieta para o bandônion falar.

Os pares deslizam sobre o soalho polido. As comadres cochicham.

- Tem tido muito trabalho, srta. Clarissa? - Um pouquinho. - Ensinar é uma tarefa assaz árdua.

Isto é frase estudada – pensa ela. - Muito. Que bobagem! Eu também não digo nada que preste. O tango morre num soluço. Palmas. Conversas. O dr. Penteado inclina-se, agradece e fica firme. Clarissa também não se

move. Batata cozida. Sempre foi para ela um prato sem graça, sem gosto. Batata

cozida. Eis o que é o dr. Penteado. Não tem sal. Não tem sabor. Não tem cor. Simplesmente batata cozida.

(VERÍSSIMO, Érico. Música ao Longe – p.79/80)

Depois de ler com atenção os textos acima responda: a) É possível dizer que há verossimilhança no texto de crepúsculo? Se achar que

sim, como você explicaria? b) E no texto da Clarissa? Você a percebe? Como?

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A seguir teremos vários trechos das duas narrativas, nos quais será possível a identificação de atitudes e sentimentos semelhantes entre as duas personagens.

Leia com atenção e responda às questões propostas, lembre-se sempre de assinalar as palavras que não conhece e procurá-las no dicionário.

a) Pelas atitudes de Bella nas cenas descritas, é possível perceber se ela é uma personagem plana ou redonda? E Clarissa?

b) É fácil perceber a diferença da época em que as histórias foram escritas, por meio das personagens Bella e Clarissa?

c) Fica evidente o fato de que há diferença entre as adolescentes do século XX e as do século XXI? Prove com alguma(s) frase (s) dos textos.

d) Como a personagem Bella se sente em relação às outras pessoas? E Clarissa?

e) É possível dizer que há alguma relação entre o que as personagens sentem e alguma sensação que adolescentes reais têm?

f) A ideia de envelhecer apavora as duas personagens. Exponha com suas palavras a razão de cada uma.

g) Como é a relação entre pais e filhos das duas personagens? Anote as semelhanças e as diferenças .

h) Os autores conseguiram descrever com clareza a relação que existe entre pais e filhos reais?

i) Você consegue identificar-se com alguma das situações descritas ou com uma das duas personagens. Caso responda afirmativamente, explicite em quê?

j) Identifique e classifique o narrador de Crepúsculo e o de Clarissa. k) Quais fatos chamaram a sua atenção por serem muito próximos da realidade

do(a) adolescente de nossa cidade. l) As duas personagens são adolescentes. Você consegue perceber alguma

diferença na forma de abordagem da adolescência pelo fato de uma ser descrita por um homem e a outra por uma mulher? E as diferenças relativas à época em que as histórias foram escritas?

m) Pesquise a respeito de costumes, moda, artes e regime político referentes às épocas das narrativas e faça uma tabela comparativa com as semelhanças e as diferenças encontradas. Lembre-se que as narrativas são de países diferentes.

n) Que diferença você percebeu na história das duas adolescentes pelo fato de uma pertencer à narrativa canônica e outra à narrativa trivial.

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SOLIDÃO

Quando terminei de guardar minhas roupas na antiga cômoda de pinho,

peguei minha nécessaire e fui ao único banheiro para me lavar depois do dia de

viagem. Olhei meu rosto no espelho enquanto escovava o cabelo úmido e

embaraçado. Talvez fosse a luz, mas eu já parecia mais pálida, doentia. Minha

pele podia ser bonita – era muito clara, quase translúcida -, mas tudo dependia

da cor. Não tinha cor nenhuma ali.

Ao ver meu reflexo pálido no espelho, fui obrigada a admitir que estava

mentindo para mim mesma. Não era só fisicamente que eu não me adaptava. E

quais seriam minhas chances aqui, se eu não conseguisse achar um nicho em

uma escola com trezentas pessoas?

Eu não me relaciono bem com pessoas da minha idade. Talvez a verdade

seja que eu não me relaciono bem com as pessoas, e ponto final. Até a minha

mãe, de quem eu era mais próxima do que de qualquer outra pessoa do planeta,

nunca esteve em sintonia comigo, nunca esteve exatamente na mesma página.

Às vezes eu me perguntava se via as mesmas coisas que o resto do mundo.

Talvez houvesse um problema no meu cérebro.

Mas não importava a causa. Só o que importava era o efeito. E amanhã

seria só o começo.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p.16/17)

SOLIDÃO

(...) Mas, infelizmente, ela é apenas a Clarissa Albuquerque. Uma menina

do sítio, que veio estudar na capital e que mora na pensão da tia. Uma menina

que não tem com quem conversar. Uma menina boba, como diz a titia. Uma

menina que não tem licença de sair a passear, nem de ir ao cinema, nem de

nada... uma menina que nem pode ficar um minutinho se olhando no espelho...

Espelho...espelho...esp...

De repente uma ideia relampagueia na mente:

Achei! Onde o céu... se mira como num espelho. Isso! Os teus olhos são

dois lagos encantados onde o céu se mira como num espelho!

Clarissa sorri.

A música do piano cessou. O namorado de Belmira acende outro cigarro.

Na rua passa um bando de meninas, em algazarra. São cinco. Gritam e falam

alto. Uma delas vai cantando. Passam como um bando de passarinhos. Bem

como um bando de gralhas.

E eu... aqui, sozinha...

O rosto de Clarissa está agora sombreado por uma expressão de

melancolia.

(VERÍSSIMO, Érico. Clarissa, p. 55)

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ENVELHECER

O incenso sobe. As imagens nos seus nichos tem agora um tom esfumado, como figuras de sonho. Pelas janelas ogivais entra a luz do sol. Os vitrais coruscam. Há pelos bancos um mar agitado de cabeças, negras, louras, castanhas, grisalhas, brancas; chapéus de todas as cores; uma confusão de formas, cores e movimentos. Junto de Clarissa uma senhora velha, vestida de preto, de quando em quando suspira. É magra, encarquilhada, tem o rosto

cortado em rugas, uma boca que já engoliu os lábios, queixo saliente, olhos de órbitas fundas. É com grande dificuldade, com gemidos e suspiros, que ela se ajoelha e senta, e se ergue. Das mãos magras de cera pende-lhe o rosário.

Quando eu ficar assim... (uma ideia horrível se desenha na mente de

Clarissa.) Quando eu ficar velha, hei de ter um vestido preto como esse, uma

carinha de tico-tico como essa, um rosário encardido como esse... Hei de andar

encurvadinha. Os guris na rua vão se rir de mim. Virei à igreja todos os dias e

hei de suspirar também muitas vezes. Quando eu ficar velha... Meu Deus, o

Senhor não deixe nunca eu ficar assim!

Nos olhos de Clarissa há uma súplica aflita. Ela os fita no altar-mor. Parece-lhe que Cristo sorri e diz: “Sim, Clarissa. Não deixarei que fiques velha.” Diante do altar o padre ajoelha.

( VERÍSSIMO, Érico. Clarissa, p. 102 )

ENVELHECER

A expressão de vovó me surpreendeu. Em vez de parecer apavorada, ela

me olhava timidamente, como se esperasse por uma repreensão. E ela estava

de pé numa posição tão estranha – um braço afastado canhestramente do

corpo, esticado e, depois, envolvendo o ar. Como se estivesse abraçando

alguém que eu não podia ver, alguém invisível...

Só então, enquanto eu olhava o quadro como um todo, foi que percebi a

enorme moldura dourada que cercava as feições de minha avó. Sem

compreender, levantei a mão que não estava na cintura de Edward e a estendi

para tocá-la. Ela imitou o movimento com exatidão, espelhando-o. Mas onde

nossos dedos deviam se encontrar não havia nada, a não ser o vidro frio...

Com um sobressalto vertiginoso, meu sonho tornou-se abruptamente

um pesadelo.

Não havia vovó alguma.

Aquela era eu. Eu em um espelho. Eu – anciã, enrugada e murcha.

Edward estava ao meu lado, sem reflexo, lindo de morrer e com 17 anos

para sempre.

Ele apertou os lábios perfeitos e gelados em meu rosto desgastado.

- Feliz aniversário – sussurrou ele.

Acordei assustada – minhas pálpebras se arregalando – e arfante.

(MEYER, Stephenie. Lua nova, p. 13/14)

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PAIS

Minha mãe é parecida comigo, a não ser pelo cabelo curto e as rugas de

expressão. Senti um espasmo de pânico ao fitar seus olhos arregalados e

infantis. Como eu podia deixar que minha mãe amorosa, instável e descuidada

se virasse sozinha? É claro que ela agora tinha o Phil, então as contas

provavelmente seriam pagas, haveria comida na geladeira, gasolina no carro e

alguém para chamar quando ela se perdesse, mas mesmo assim...

(...)

Charlie me aguardava na radiopatrulha. Eu também esperava por isso.

Charlie é o chefe de polícia Swan para o bom povo de forks. Minha

principal motivação por trás da compra de um carro, apesar da verba escassa,

era que me recusava a circular pela cidade em um carro com luzes vermelhas e

azuis no teto. Nada deixa o trânsito mais lento do que um policial.

Charlie me deu um abraço desajeitado com um só braço quando eu

cambaleei para fora do avião.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p. 12-13)

PAIS

Do diário de Clarissa:

Papai anda muito esquisito comigo. Um dia ele disse para o seu Leocádio

que preferia que eu tivesse nascido homem.

Vejo agora que papai é diferente. Quando eu tinha oito anos ele era um

deus. (Deus me perdoe!) não havia para mim no mundo ninguém mais bonito,

mais rico, mais inteligente, mais tudo. Eu chegava do colégio e perguntava:

“Papai, por que é que o sol aparece de dia e a lua de noite?” Papai me botava no

colo e explicava tudo. Eu não entendia direito mas ficava pensando: O meu pai é

mais sabichão que a professora. Se alguém me maltratava na rua eu vinha fazer

queixa ao velho. E ele dizia: “Agora vou mandar dar uma surra naquele patife!” E

ria. Eu acreditava mesmo que papai ia fazer o que dizia.

Naquele tempo tinha a estância e muito dinheiro. Havia festas bonitas aqui em

casa. Eu me lembro bem.

(continua...)

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A varanda grande ficava muito clara, aparecia muita gente, dançavam, Seu Leocádio tocava flauta, tocava sempre uma música que aprendi de cor e que hoje sei que é a Serenata de Schubert. Vinha o intendente, o coletor, o delegado, todas as moças e todos os moços de Jacarecanga. Um dia me fizeram recitar uma poesia de Casimiro de Abreu. Recitei muito envergonhada, com a mão na boca. Todos me deram palmadinhas no rosto e disseram “Que engraçadinha!” Na hora dos doces papai fez uma espécie de discurso e quando eu vi todos baterem palmas e abraçarem ele, pensei: meu pai é o homem mais bonito e mais bom do mundo.

E tinha a impressão de que se eu pedisse: “papai, o senhor compra a lua

pra mim?” – ele chamava a tia Ambrósia, enchia as mãos dela de dinheiro e

dizia:” Ambrósia, vá ligeiro comprar a lua para a Clarissa”. Um dia num circo

fiquei muito assustada quando vi o domador entrar na jaula do leão. Cheguei em

casa e vi papai, muito alto, falando grosso e pensei: Papai é capaz de entrar na

jaula de cinco leões.

Muitas vezes eu ficava olhando para ele, um tempão, admirada, e me

sentia contentíssima quando ele sorria para mim.

Agora tudo mudou. A gente vai crescendo, vai estudando, vai observando e

compreende que as coisas não são como pensávamos.

Primeiro: papai já não é mais aquele gigante, mil vezes maior que eu. E o

mais triste é que eu não tenho a impressão de que cresci mas sim de que foi ele

que diminuiu. Também a varanda, a paineira, o pátio e a casa ficaram menores

depois que cresci.

Ao mesmo tempo fui descobrindo defeitos no papai. Um dia ele disse uma

palavra errada. Senti um choque, mas depois, pensando melhor, achei que aquilo

não tinha importância. E não tem mesmo. Outra vez papai discutiu com seu

Leocádio e foi então que eu comecei a compreender que ele não sabe nada.

Discutiram muito, se exaltaram e, no meio de muita gente, papai disse um nome

feio. Fiquei vermelha e tive mais uma desilusão.

Depois fui observando outras coisas. Papai e mamãe não se dão muito

bem. Ela vive triste e mais de uma vez descobri ela chorando escondida. Um dia

peguei o restinho de uma discussão dos dois, no quarto, e vi que papai tratava

mamãe com brutalidade.

(se outra pessoa ler este diário, morro de vergonha.)

Debalde quero pensar em outra coisa quando papai fala, mas não posso.

Tenho que estar observando, criticando comigo mesmo tudo o que ele diz e faz.

Não devia ser assim, porque afinal de contas eu sou filha dele e quero muito bem

ao velho.

Outra história que me deixa triste é essa de mamãe não me fazer carinhos.

Vivo por aqui solta, como um gato sem estimação. Quando eu estava longe,

pensei que voltava para minha casa e ia encontrar todo o mundo contente e

alegre comigo.

(VERÍSSIMO, Érico. Música ao Longe, p. 50-1)

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ENCONTRO

- Quem são eles? - perguntei à garota da minha turma de espanhol, cujo

nome eu esquecera.

Enquanto ela olhava para ver do que eu estava falando – embora já

soubesse, provavelmente, pelo meu tom de voz -, de repente ele olhou para ela, o

mais magro, o rapaz juvenil, o mais novo, talvez. Ele olhou para minha vizinha

só por uma fração de segundo, e depois seus olhos escuros fulguraram para

mim.

Ele desviou os olhos rapidamente, mais rápido do que eu, embora, em um

jorro de constrangimento, eu tenha baixado o olhar de imediato. Naquele breve

olhar, seu rosto não transmitiu nenhum interesse – era como se ela tivesse

chamado o nome dele, e ele a olhasse numa reação involuntária, já tendo

decidido não responder.

Minha vizinha riu sem graça, olhando a mesa como eu.

_ São Edward Cullen e Emmett Cullen, e Rosalie e Jasper Hale. A que

saiu é Alice Cullen. Todos moram com o Dr. Cullen e a esposa. – Ela disse isso à

meia-voz.

Olhei de lado para o rapaz bonito, que agora fitava a própria bandeja,

desfazendo um pãozinho em pedaços com os dedos pálidos e longos.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p. 23)

ENCONTRO

A porta da varanda se abre de repente e Vasco aparece contra o fundo

escuro do corredor.

Tia Zezé assesta os óculos e pergunta:

- quem é que está ali, Clemência?

- É o Vasco.

- Venha cá, menino.

Vasco avança, inclina-se e beija a velha na testa:

- Boa noite, vovó.

- onde é que andava?

- Por aí...

O rapaz faz um gesto vago e começa a comer distraído um bolinho que

tira do prato no centro da mesa.

Clarissa olha furtivamente para o primo. Vasco nem sequer baixa os

olhos para ela. Ali está o Gato do Mato, debaixo do lustre, a cabeleira preta toda

puxada para trás, a cara morena e decidida, os olhos muito vivos, a gravata com

nó frouxo, o colarinho desabotoado...

(VERÍSSIMO, Érico. Música ao Longe, p.34- 5)

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DESCOBERTAS

- Eu a segui a Port Angeles – admitiu ele, falando num jato. – Nunca tentei manter uma determinada pessoa viva, e é muito mais problemático do que eu acreditava. Mas deve ser assim porque é você. As pessoas comuns parecem passar o dia todo sem catástrofes. – Ele parou. Eu me perguntei se devia me aborrecer por ele estar me seguindo; em vez disso, senti um surto estranho de prazer. Ele me encarava, talvez se indagando por que meus lábios se curvavam em um sorriso involuntário. - Já pensou que talvez minha hora tivesse chegado naquela primeira vez, com a van, e você esteja interferindo no meu destino? – especulei, distraindo-me. - Não foi a primeira vez – disse ele, e mal se ouvia sua voz. Eu o encarei, surpresa, mas ele olhava para baixo. – Sua hora chegou quando eu a conheci. Senti um espasmo de medo com as palavras dele, e a lembrança abrupta de seu olhar sombrio e violento naquele primeiro dia... Mas a sensação dominadora de segurança que eu tinha em sua presença sufocou isso. Quando ele olhou

para cima para ler meus olhos, não havia vestígio de medo neles. - Você lembra? – perguntou ele, o rosto angelical grave. - Lembro. – Eu estava calma. - E no entanto aqui está você. – Havia um toque de descrença em sua voz; ele ergueu uma sobrancelha. - É, aqui estou eu... graças a você. – Eu parei. – Porque de algum modo você sabia como me achar hoje...? – incitei. Ele apertou os lábios, encarando-me pelos olhos estreitos, decidindo novamente. Seus olhos faiscaram para meu prato cheio e depois para mim. - Você come, eu falo – ele propôs a barganha. Rapidamente garfei outro ravióli e o coloquei na boca. -É mais difícil do que deveria... rastrear você. Em geral posso encontrar uma pessoa com muita facilidade, depois de ter lido sua mente. Ele olhou para mim com ansiedade e percebi que eu tinha me paralisado.

(continua...)

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DESCOBERTAS

Passava o tempo. Vasco foi sentindo aos poucos a sua velha impressão

de sufocamento, de prisão. Começou a caminhar no quarto, inquieto. Molhou o

rosto. Vestiu o casaco. Desceu. Entrou no quarto de Clarissa, sem pensar, sem

pedir licença, sem bater.

Clarissa ergueu-se na cama, viu o primo, ficou olhando para ele

fixamente e depois, com uma voz sentida, queixosa, uma voz abandonada de

quem pede proteção, exclamou:

- Vasco!

Ele estava imóvel, à porta. E assim ficou sem uma palavra, sem um

gesto. Clarissa levantou-se. Seus olhos brilhavam.

-Vasco, levaram o papai...

Disse isto num tom atarantado. Era uma queixa, mas era também um

protesto, um pedido de contas.

O rapaz continuava imóvel. Uma coisa lhe doía dentro do peito.

- Levaram o papai, Vasco... – insistiu ela, sem tirar os olhos do primo.

Era como se dissesse: Tu deixaste os homens levarem o meu pai? Viste

tudo e ficaste parado? Eu sempre tive tanta confiança no Gato-do-mato! Onde é

que estavas quando os homens vieram buscar meu pai?

As lágrimas agora rebentavam nos olhos da menina, o choro lhe afogava

a voz.

(continua...)

Obriguei-me a engolir, depois espetei outro ravióli e o coloquei para dentro. - Eu estava vigiando Jessica, sem cuidado nenhum... Como eu disse, só você pode encontrar problemas em Port Angeles... e no início não percebi quando você saiu sozinha. Depois, quando notei que você não estava mais com ela, fui procurar por você na livraria que vi em sua cabeça. Eu sabia que você não tinha entrado e que não foi para o sul... E sabia que teria que voltar logo. Então eu só estava esperando você, procurando ao acaso pelos pensamentos das pessoas na rua... Para ver se alguém a notara e eu poderia saber onde você estava. Não tinha motivos para ficar preocupado... Mas estava estranhamente ansioso... Ele estava perdido em pensamentos, olhando através de mim, vendo coisas que eu nem podia imaginar.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p. 132-3 )

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Vasco teve a impressão de ela ia cair. Avançou, amparou-a. Clarissa

abandonou-se nos braços dele e desatou por completo o choro, num desabafo.

Achava um amparo. Tinha um amigo. A mãe era boa e solícita, mas não

sabia acariciar. E ela precisava de ternura, de muita ternura...

Vasco afagava-lhe a cabeça. As lágrimas quentes da prima lhe

empapavam a camisa. Ele sentia o corpo morno e moço estremecer junto do

seu. Era bom. Era envolvente. Era estranho.

Clarissa soluçava. Ficou assim nos braços do primo por alguns segundos.

Com a cabeça encostada no peito dele, sentia-lhe o pulsar vigoroso do coração.

E aquela carícia que ele lhe fazia na cabeça era apaziguante, doce,

adormecedora.

Dona Clemência e Cleonice entraram no quarto. Vasco sentiu o sangue

subir-lhe ao rosto. Teve uma sensação de culpa. Afastou Clarissa. As mulheres

levaram-na para a cama. Cleonice abriu a janela.

- Também neste abafamento a pobre da menina nem pode respirar.

Dona Clemência tentava consolar a filha:

- Tenha coragem, menina, Deus é grande.

Deus é grande - repetiu Vasco num eco interior.

E sentiu-se tomado duma sensação esquisita que já não era mais apenas

tristeza e desalento. Era um desejo de paz, de solidão para pensar, para

ruminar aquela sensação estranha que experimentara havia a pouco ao abraçar

Clarissa.

Desceu as escadas quase correndo. Abriu a porta da rua e saiu sem

chapéu e sem capa a caminhar na chuva.

(VERÍSSIMO, Érico. Um lugar ao sol, p. 50)

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Assista uma cena da novela Gabriela, baseada no romance Gabriela, Cravo

e Canela de Jorge Amado, na qual a personagem Malvina está lendo um

livro.

Cena disponível em:

<http// www. youtube.com/watch?v=8-yPRPdoksw&feature=related> acesso

feito em 19/07/2011

Em seguida compare-a com os trechos abaixo, retirados dos livros

Crepúsculo e Clarissa e debata com seus pares as questões que serão

propostas.

LIVROS

Decidi matar uma hora com leituras não relacionadas à escola. Eu tinha

uma coleção de livros que vieram comigo para Forks, e o volume mais

esfrangalhado era uma compilação das obras de Jane Austen. Escolhi este e fui

para o quintal, pegando uma manta velha e puída no armário do alto da escada

ao descer.

No quintal pequeno e quadrado de Charlie, dobrei a manta ao meio e a

coloquei nas sombras das árvores no gramado espesso, sempre meio úmido,

independentemente de o quanto o sol brilhasse. Deitei de bruços, cruzando os

tornozelos no ar, folheando os diferentes romances do livro, tentando decidir

qual deles ocuparia mais a minha mente. Meus preferidos eram Orgulho e

preconceito e Razão e sensibilidade. Li o primeiro recentemente, então comecei

por Razão e sensibilidade, só para me lembrar, depois que comecei o capítulo

três, que o herói da história por acaso de chamava Edward. Irritada, passei

para Mansfield Park, mas o herói do romance se chamava Edmund, e isso era

parecido demais. Será que não havia nenhum outro nome disponível no século

XVIII? Fechei o livro ruidosamente, irritada, e rolei de costas.

(MEYER, Stephenie. Crepúsculo, p.114)

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a) Para as duas personagens do século XX, os livros lidos eram proibidos,

porque, segundo os responsáveis por elas, o assunto contido neles poderia

estragar a personalidade das adolescentes e atrapalhar os estudos.

Para a personagem do século XXI, a leitura não é proibida, porém ela mesma

diz que decidiu “matar uma hora com leitura não relacionada à escola”, o que

acaba deixando transparecer a impressão que ela pensa da mesma maneira

que os responsáveis pelas outras duas personagens.

Diante disso, comente suas impressões a respeito do assunto.

b) Qual sua opinião sobre o Best-Sellers? Eles podem ser estudados na escola?

c) Há preconceito por parte dos adultos e de alguns estudantes a respeito deste

tipo de literatura? Por quê?

d) Os dois trechos impressos são interrompidos no momento em que as

personagens questionam algo referente aos romances que estão lendo. Qual

das dúvidas é mais intrigante? Qual delas desperta em você curiosidade

maior?

LIVROS

Vem do corredor um rumor de passos.

Clarissa esconde apressada o livro que está lendo. Olhos parados, fica

imóvel, escutando. Os passos se afastam, morrem no fundo do corredor. Clarissa

torna a abrir o livro.

Um romance. Tem que ler às escondidas. A titia não gosta de livros que não

sejam os do colégio. Diz que romances prejudicam a cabeça duma menina que

estuda.

O nome do livro é: A que morreu de amor... Está no quinto capítulo. E com

uma curiosidade enorme de saber se Márcio no fim vai casar com Elfrida. Oh! Ela

imagina Márcio um moço alto e simpático como Gary Cooper. Tem de ser assim,

mesmo que o autor do livro não queira. Elfrida, lourinha delicada, só pode ser

assim como Jean Harlow, com a diferença de que a heroína do romance é calma,

quieta e comportada. Márcio é pintor. Elfrida, filha de um milionário. Os dois se

encontram numa exposição de quadros. Olham-se, gostam-se, falam-se. Márcio

volta para casa, encantado. Mora numa “mansarda”. Por que é que nos romances

sempre há mansardas? E que será mesmo mansarda? Deve ser uma casa muito

velha, muito pobre.

(VERÍSSIMO, Érico. Clarissa, p. 87)

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Desenho: REINO, Wanderlei

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a) Leia os dois primeiros volumes de cada série.

b) Discuta com seus colegas: a metamorfose representada pelo sapo/príncipe aparece em algum momento na vida das personagens?

c) Responda aos quizzes propostos e outros que encontrar na Internet para

testar seus conhecimentos a respeito dos livros.

d) Em grupo, escrevam uma fanfiction sobre uma das histórias.

e) Entre nos sites especializados e observe as regras que terão que ser

seguidas para a produção do texto.

f) Filme uma das cenas dos livros lidos. Escolha cenas com o mesmo assunto.

Para que fiquem evidentes as semelhanças e as diferenças entre as duas.

Procure saber como é feito o roteiro de um filme, para que seu trabalho tenha

uma linguagem aproximada da cinematográfica.

g) Faça uma história em quadrinho com uma ou duas cenas dos livros. Para

realizar esta atividade pesquise sobre como são feitas as histórias em

quadrinhos, para que você siga as regras das HQ. Utilize os conhecimentos

adquiridos no 6º ano.

h) Os trabalhos serão postados no Blog da turma.

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Você sabe tudo sobre “Clarissa” e “Crepúsculo”?

Então responda os Quizzes.

Clarissa:

1- Amaro passa a acreditar que a primavera chegou porque vê Clarissa brincar

sob:

A. As laranjeiras

B. Os jacarandás

C. Os pessegueiros

D. Os ipês

E. As goiabeiras

2 - Ao vir para Porto Alegre, Amaro tinha um sonho. Qual era:

A. Ser bancário

B. Ser um músico famoso

C. Ser ator de cinema

D. Ser professor universitário

E. Ser comerciante

3 - Nico Pombo, hóspede mais antigo da pensão é um:

A. Bancário aposentado

B. Major reformado

C. Empresário falido

D. Professor aposentado

E. Aviador aposentado

F. Ator de férias

4 – O conselho que D. Eufrasina, tia de Clarissa, dá para ela antes de ir à escola é:

A. Juizinho, minha filha. Não fale com ninguém. B. Juizinho, minha filha. Cumprimente as pessoas. C. Juizinho, minha filha. Vá direto, sem parar em parte alguma. D. Juizinho, minha filha. Não cabule aulas. E. Juizinho, minha filha. Não olhe para os rapazes.

5 – Que idade Clarissa completa:

A. 12 B. 14 C. 16 D. 13 E. 15

6 – O nome do estudante de medicina que passa mal sempre que precisa assistir a uma autópsia é:

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A. Joãozinho B. Helinho C. Zezinho D. Paulinho

7 – Micefufe é o nome do 8 – Clarissa visita Tonico e conta-lhe uma história de:

A. Guerra B. Aventuras C. Amor D. Detetive E. Ficção científica

9 – O sonho de consumo de Clarissa é:

A. Uma peruca B. Um carro C. Sapato de salto alto D. Um vestido novo E. Um par de brincos de pérolas

10 – ao voltar da igreja com a tia, Clarissa para e compra frutas. Ela desejou comprar uma que seu dinheiro não era suficiente. Qual é:

A. Morango B. Banana C. Maçã D. Abacate E. Ameixa

11 - Durante um temporal, Clarissa flagra dois hóspedes se beijando. Eram:

A. Belinha e Barata B. Ondina e Nestor C. Zina e Couto D. Belmira e o Guarda civil E. Amaro e Ondina

12 – O livro que Nico Pombo deu para Clarissa é:

A. A que Morreu de Amor B. Os Contos de Grimm C. Romeu e Julieta D. Sonhos de uma noite de Verão E. Senhora

13 – Clarissa fica encantada com um peixinho em uma vitrine. No dia de seu aniversário ela o ganha de presente. Quem deu foi:

A. Barata B. Couto C. Gamaliel D. Levinsky

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E. Amaro 14 – O nome da mãe do menino doente que mora na casa vizinha a pensão é:

A. Dudu B. Didi C. Tatá D. Tonica E. Lili

15 – Ao apaixonar-se pelo Dr. Maia, Clarissa lembra de um príncipe de conto de fadas. A qual história pertence o príncipe:

A. Branca de Neve e os Sete Anões B. O Príncipe Sapo C. Cinderela D. A Bela Adormecida E. O Patinho Feio

16 – Quem acompanha Clarissa na viagem de volta para a casa dos pais é:

A. Couto B. Belmira C. Nestor D. Barata E. Eufrasina

17 – O papagaio que observa tudo na pensão chama: A. Micefufe B. Pirolito C. Mandarim D. Carijó E. Mimosa

18 - No exame final de História Clarissa falou sobre:

A. D. Pedro II B. D. Pedro I C. Marechal Rondon D. Regente Feijó E. D. João VI

19 – No quarto de Amaro tem a máscara de um compositor clássico muito famoso. Ela é de:

A. Mozart B. Debussy C. Strauss D. Beethoven E. Vivaldi

20 – Amaro tem um segredo que é

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Crepúsculo:

1 - Como o pai de Bella a chama?

A. Belinha B. Bells C. Bella D. Isabella E. La

2 - Que tipo de carro Charlie comprou para Bella?

A. Uma picape chevy B. Um fusca C. Uma ferrari D. Um jeep E. Uma toyota

3 – O quarto de Bella, na casa de Charlie, tinha as paredes: A. Vermelhas B. Azul-claras C. Verdes D. Brancas E. Azul-escuras F. Nenhuma das respostas acima

4 - Quem primeiro falou com Bella na escola foi:

A. Jessica B. Eric C. Angela D. Mike E. Tyler

5 – Quando Bella encontra Edward na sala de aula a primeira vez, ela observa que os seus olhos são:

A. Azuis B. Verdes C. Castanhos D. Pretos E. Cor de mel

6 – O teste relâmpago que Bella teve na aula de inglês foi sobre o livro:

A. Orgulho e preconceito B. Razão e sensibilidade C. Mansfield Park D. O morro dos ventos uivantes E. Romeu e Julieta

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7 – A música que tocava no carro de Edward quando ele deu carona para Bella após o incidente com a coleta de sangue, era:

A. Clair de lune B. Requiem C. Symphonie nº 9 D. Four seasons E. Valse romantic

8 – A praia onde Bella encontrou Jacob chama-se: A. La Push B. Zuma beach C. Venice beach D. Kapalua E. Manhattan beach

9 – Bella acompanhou Jessica e Angela a Port Angeles porque elas queriam comprar:

A. Jeans B. Saias C. Vestidos D. Sapatos E. Jóias

10 – Quantos namorados Bella teve antes de conhecer Edward?

A. 2 B. 1 C. Nenhum D. 3 E. 5

11 – Ao se perder num beco sem saída em Port Angeles, Bella foi atacada por:

A. Dois homens B. Cinco homens C. Três homens D. Quatro homens E. Um homem

12 – Quando Edward salvou Bella do ataque em Port Angeles, qual foi a ordem que ele lhe deu ao sair com o carro em alta velocidade:

A. Entra B. Coloque o cinto de segurança C. Pare de chorar D. Me distraia, por favor E. Ligue o ar

13 - A fruta que Bella pega da bandeja oferecida por Edward, quando almoçam juntos pela primeira vez é:

A. Morango B. Banana C. Maçã

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D. Abacate E. Ameixa

14 – Edward mantém Bella sob controle pelo fascínio de seus:

A. Corpo B. Rosto C. Sorriso D. Olhos E. Mãos

15 – Quando Bella questionou o porquê de Edward vir quase todas as noites observá-la dormir, ele disse:

A. Você fica linda quando dorme (...) Costuma sorrir. B. Não consigo dormir (...) Então venho aqui. C. Você se debate a noite toda (...) E chora D. Você levanta e anda pela casa (...) Cantando E. Você é interessante quando dorme (...) Você fala.

16 – Ao visitar a casa dos Cullin, Bella olhou incrédula um ornamento pendurado no alto da parede no final do corredor. Era:

A. Um quadro de Da Vinci B. Uma foto de Carlisle C. Uma grande cruz de madeira D. Um grifo E. Um lustre em forma de rosa

17 – O sofá de couro que havia no quarto de Edward era largo e na cor

18 – Quem percebe a aproximação dos vampiros caçadores durante o jogo de beisebol é:

A. Esme B. Jasper C. Alice D. Rosalie E. Emmet

19 – O caçador atraiu Bella para uma armadilha fingindo ter como refém:

A. Seu pai B. Phil C. Jessica D. Sua mãe E. Jacob

20 - No baile da escola, Edward fez Bella dançar:

A. Erguendo-a no ar B. Segurando seu corpo com força C. Apoiando-a D. Passando seus pés por baixo dos dela E. Nenhuma das respostas acima