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2019
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e
eólica num sistema autossuficiente
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Mestrado Integrado em Engenharia de Energia e do Ambiente
Dissertação orientada por:
Prof. Dr. Maria Manuela Portela Correia dos Santos Ramos da Silva
Prof. Dr. Ana Isabel Lopes Estanqueiro
Agradecimentos
Gostaria de começar por expressar toda a
minha gratidão à Prof. Doutora Maria Manuela
Portela pela belíssima orientação e todo o seu
apoio, empenho, paciência e por todos os
ensinamentos que me transmitiu ao longo da
realização desta dissertação.
À minha co-orientadora, Prof. Doutora Ana
Estanqueiro, por todo o apoio e disponibilidade
constante. O meu agradecimento especial por
me despertar o interesse pela área científica de
operação de redes elétricas com elevadas
contribuições de energia renovável variável e
pela área da otimização.
À Eng. Ana Rita Machado por toda a sua
disponibilidade, paciência e transmissão de
conhecimento.
Aos professores da FCUL e profissionais do
LNEG por disponibilizarem conhecimento,
informação e dados para a realização deste
trabalho.
Aos meus amigos, por todos os anos de pura
amizade, conhecimento e apoio.
Aos meus pais e irmão, por toda a motivação e
apoio ao longo deste percurso.
Resumo
Atualmente, o crescente consumo de eletricidade e o aumento da penetração de energias
renováveis nos sistemas electroprodutores são dois fatores essenciais nos cenários de estudo para
o futuro dos sistemas elétricos em todo o mundo. Contudo, algumas fontes de energias renováveis,
como o vento, o sol ou os recursos hídricos superficiais, conferem características de não
controlabilidade e difícil previsão quanto à disponibilidade das respetivas fontes de energia.
Dado que o princípio de operação estável de um sistema elétrico obriga a um equilíbrio constante
entre a produção e o consumo, ao facto de existir uma grande contribuição deste tipo de fontes de
energias renováveis, acresce a dificuldade de gestão do sistema electroprodutor do ponto de vista
da segurança e previsão. Torna-se, assim, indispensável a existência de sistemas de reserva
convencionais, normalmente à custa de recursos fósseis, que possam ser ativados em períodos de
ausência de recurso renovável.
Em face do que antecede, admite-se que a agregação de fontes de energia renováveis que
apresentam complementaridade possa ser a resposta para mitigar as dificuldades impostas à
elevada penetração das mesmas energias no sistema electroprodutor.
Deste modo, a presente dissertação tem por objetivo proceder à simulação e posterior otimização
do funcionamento conjunto de duas centrais hidroelétricas e uma central eólica, por forma a
garantir o equilíbrio entre a produção e consumo de potência, minimizando os custos de operação
associados.
Palavras-Chave: redes inteligentes, gestão do sistema electroprodutor, energia hidroelétrica,
energia eólica, integração de energia renováveis não-despacháveis, sistema autossuficiente.
Abstract
Nowadays, increasing demand for electricity and increased penetration of renewable energies in
the power systems are two important factors considered in the study scenarios for the future of
the electricity networks around the world. However, some renewable sources, such as wind, solar
and surface water resources, are difficult to accurately predict, inducing non-controllable power
supplies into the electrical grid.
Since the principle of stable operation of an electrical system requires a constant balance between
production and demand, a large contribution from this type of renewable sources increase the
difficulty of managing the power system from the security and forecasting point of view.
Therefore, conventional reserve systems, that usually work with fossil fuels, are required to be
activated in periods when renewable sources are not enough to satisfy the demand.
Having said that, it is considered that the aggregation of complementarity renewable energy
sources may be the answer to mitigate the difficulties imposed by the high penetration of the
variable renewable sources in the power system/grid.
Thus, this dissertation aims to simulate and optimize the joint operation of two hydroelectric
power plants and a wind power plant, to ensure a balance between production and consumption
of electrical power, minimizing the associated costs.
Keywords: smart-Grids, management of power systems, hydroelectric Power, wind power, non-
dispatchable energy integration, self-sufficient system.
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Índice
Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................................. 1
1.1. Contextualização e justificação do trabalho .................................................................. 1
1.2. Objetivo ......................................................................................................................... 2
1.3. Organização da dissertação ........................................................................................... 2
Capítulo 2 – Produção de energia elétrica em Portugal e no Mundo ............................................ 5
2.1. Geração de eletricidade no Mundo ................................................................................ 5
2.1.1. Energia hidroelétrica e eólica no mundo ................................................................... 6
2.2. Geração de eletricidade em Portugal Continental ......................................................... 8
2.3. Sistemas Híbridos .......................................................................................................... 9
2.4. Conceito de CRV ........................................................................................................ 10
Capítulo 3 – Desafios da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
..................................................................................................................................................... 11
3.1. Variabilidade dos recursos renováveis ........................................................................ 11
3.1.1. Variabilidade do recurso eólico ............................................................................... 11
3.1.2. Variabilidade do recurso hídrico ............................................................................. 13
3.2. Flexibilidade de um sistema electroprodutor .............................................................. 15
3.2.1. Definição de flexibilidade de sistema electroprodutor ............................................ 15
3.2.1. Flexibilidade em diferentes escalas de tempo ......................................................... 16
3.2.2. Interligação com outros sectores ............................................................................. 17
3.2.3. Fases de penetração de VRE no sistema electroprodutor ........................................ 18
3.3. Necessidade de curtailment ......................................................................................... 19
3.4. Necessidade de controlabilidade sobre o consumo de energia .................................... 20
3.5. Necessidade de sistemas de armazenamento de energia ............................................. 21
Capítulo 4 – Metodologia ............................................................................................................ 23
4.1. Definição do problema ................................................................................................ 23
4.2. Caso de estudo ............................................................................................................. 24
4.3. Dados de base .............................................................................................................. 27
4.3.1. Escoamentos ............................................................................................................ 27
4.3.2. Perfil de consumo de energia elétrica ...................................................................... 30
4.3.3. Custos de operação e manutenção ........................................................................... 30
4.4. Modelação das componentes constituintes do sistema ................................................ 30
4.4.1. Modelo de geração eólica ........................................................................................ 31
4.4.2. Modelo de geração hidroelétrica ............................................................................. 32
4.5. Modelo de gestão do sistema ...................................................................................... 36
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viii Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
4.5.1. Simulação ................................................................................................................ 36
4.5.2. Otimização .............................................................................................................. 43
Capítulo 5 – Resultados .............................................................................................................. 47
5.1. Resultados do estudo de simulação ............................................................................. 48
5.2. Resultados do estudo de otimização ............................................................................ 53
5.3. Síntese de resultados ................................................................................................... 58
Capítulo 6 – Conclusões .............................................................................................................. 59
Bibliografia ................................................................................................................................. 61
Anexos............................................................................................................................................ I
A. Temperatura media anual na região norte de Portugal, relações regionais de Quintela e
mapa de isolinhas do escoamento médio anual em Portugal ..................................................... I
B. Fluxograma da componente de simulação ...................................................................... III
C. Meses selecionados para análise comparativa entre a simulação e otimização .............. IV
D. Resultados obtidos na componente de simulação (Não garantida a autossuficiência do
sistema) ................................................................................................................................... VI
E. Resultados obtidos na componente de simulação e otimização para todos os meses
analisados ............................................................................................................................. VIII
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Índice de Figuras
Figura 2.1 – Consumo global de eletricidade por região (adaptada de: [3]) ................................. 5
Figura 2.2 – Geração de eletricidade por fonte de energia: à esquerda para os anos de 2000,
2010 e 2016; à direita, para o ano de 2040 nos três cenários de estudo da IEA (fonte: [4] e [5]). 6
Figura 2.3 – Evolução da potência instalada por fonte de energia na Europa (adaptada de: [6]) . 7
Figura 2.4 – Nova capacidade de geração de energia elétrica instalada até 2040 no cenário NPS
por região e fonte de energia (adaptada de [5]) ............................................................................. 8
Figura 2.5 - Geração de eletricidade por fonte de energia desde o ano 2008 em Portugal
Continental. (retirada de: [8]) ........................................................................................................ 8
Figura 2.6 – Do lado esquerdo: Evolução da potência instalada desde 2008 por tipo de central,
ponta de consumo e de geração; Do lado direito: Potência instalada para os anos de 2016 e 2017
por fonte de energia (adaptada de: [8]) ......................................................................................... 9
Figura 2.7 – Descrição do funcionamento de um sistema híbrido (adaptada de: [10]) ............... 10
Figura 3.1 - Variação da geração de energia eólica: Central eólica de Storm Lake (Iowa, USA);
Central eólica de Lake Benton (Minnesota, USA); Central eólica de Blue Canyon (Oklahoma,
USA); Central eólica de Trent Mesa (Texas, USA). (adaptada de: [13]) .................................... 12
Figura 3.2 – Variação da geração de energia eólica: A rosa e tracejado por uma turbina; A
vermelho na zona este da Dinamarca (DK); A verde na Suécia (SE); A azul na Alemanha (DE),
Dinamarca (DK), Suécia (SE) e Finlândia (FI) em conjunto. (adaptada de: [15]) ...................... 13
Figura 3.3 – Precipitação mensal verificada para os anos hidrológicos de 2004-2005, 2011-
2012, 2014 – 2015 e para os valores médio mensais entre 1971 e 2000: À esquerda o valor de
precipitação em valor absoluto; À direita precipitação acumulada (adaptada de: [17]) ............. 14
Figura 3.4 – Evolução do volume armazenado por bacia hidrográfica (retirada de: [17]) .......... 14
Figura 3.5 – Domínio e necessidade de flexibilidade por intervalo de tempo. (adaptada de: [20])
..................................................................................................................................................... 17
Figura 3.6 – Fase de desenvolvimento da penetração de VRE por região/país (adaptada de: [18])
..................................................................................................................................................... 19
Figura 3.7 – Capacidade instalada de energia eólica por estado nos EUA e percentagem de
curtailment de geração total de energia eólica para diversos estados dos EUA. À esquerda,
capacidade instalada de energia eólica (adaptada de [26]) e à direita percentagem de curtailment
(adaptada de: [25]) ...................................................................................................................... 20
Figura 3.8 – Medidas para o controlo sobre o consumo de energia elétrica (adaptada de: [28]) 21
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Figura 4.1 – Esquema da constituição do aproveitamento hidroagrícola de Cova da Beira
(retirada de [33]). ........................................................................................................................ 25
Figura 4.2 – Curva de volumes armazenados em função da cota: à esquerda para a
albufeira do Sabugal; à direita para a albufeira de Meimoa ............................................. 26
Figura 4.3 – Esquema representativo da queda bruta mínima e máxima para cada
albufeira ..................................................................................................................................... 27
Figura 4.4 – Representação gráfica dos valores de potência extraída de uma turbina de
2,05 [MW]. A azul estão representados os valores determinados através da
metodologia implementada tendo por base a curva de potência. A preto e cinzento
estão representados os valores de potência real medida, respetivamente, na subestação
da central e nas turbinas (retirada de [42]). ............................................................................ 31
Figura 4.5 – Curva de rendimento de uma turbina Francis (retirada de: [44]). ................. 33
Figura 4.6 – Representação esquemática do primeiro conjunto de testes lógicos
realizados para fins de simulação .......................................................................................... 38
Figura 4.7 – Representação esquemática do segundo conjunto de testes l ógicos
realizados para fins de simulação. ......................................................................................... 40
Figura 4.8 – Representação esquemática do terceiro conjunto de testes lógicos
realizados para fins de simulação .......................................................................................... 42
Figura 4.9 – Representação esquemática do modelo desenvolvido para fins de
otimização ................................................................................................................................. 45
Figura 5.1 – Variação do armazenamento disponível ao longo dos 54 anos
hidrológicos (sustentabilidade do sistema não alcançada). A azul e em cima
representa-se a albufeira de montante (Arm1) e em baixo e a verde a albufeira de
jusante (Arm2). Em qualquer dos diagramas a linha horizontal identifica o volume
correspondente ao NME (Armminx) ...................................................................................... 48
Figura 5.2 – Energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas (EPCHx) e consumo
de energia elétrica através da bombagem (ECB), por ano, para os 54 anos hidrológicos
(sustentabilidade do sistema não alcançada). Relativamente à componente eólica, a
linha laranja representa a energia elétrica anual extraída pela central eólica
(EPEOL_Ext) e a amarelo energia elétrica aproveitada do mesmo (EPEOL). ................... 49
Figura 5.3 – Variação das potências constituintes do sistema da CRV para uma faixa
temporal semanal nos dois diferentes casos de simulação: Em cima, sete turbinas
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constituintes da central eólica; Em baixo, dez turbinas constituintes da central eólica.
..................................................................................................................................................... 50
Figura 5.4 – Energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas (EPCHx) e consumo
de energia elétrica através da bombagem (ECB), por ano, para os 54 anos hidrológicos
(sustentabilidade do sistema alcançada). Relativamente à componente eólica, a linha
laranja representa energia elétrica anual extraída pela central eólica (EPEOL_Ext) e a
amarelo energia elétrica aproveitada do mesmo (EPEOL). ................................................ 51
Figura 5.5 - Variação do armazenamento disponível ao longo dos 54 anos hidrológicos
(sustentabilidade do sistema alcançada). A azul e em cima representa -se a albufeira de
montante (Arm1) e em baixo e a verde a albufeira de jusante (Arm2). Em qualquer dos
diagramas a linha horizontal identifica o volume correspondente ao NME (Armminx)
..................................................................................................................................................... 52
Figura 5.6 - Variação das descargas anuais (DAx) efetuadas ao longo dos 54 anos
hidrológicos A azul representa-se a albufeira de montante e a verde a albufeira de
jusante. ....................................................................................................................................... 52
Figura 5.7 - Comparação do custo total do sistema para os 100 meses aleatórios
analisados. ................................................................................................................................. 53
Figura 5.8 - Comparação da energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas
(EPCHx) e na central eólica (EPEOL), bem como, da energia elétrica consumida através
do sistema da bombagem (ECB), para os 100 meses aleatórios analisados. ................... 54
Figura 5.9 – Variação das potências constituintes da CRV para as para uma faixa
temporal semanal. Em cima, observa-se os resultados obtidos por simulação e em
baixo os resultados obtidos por otimização. Salienta -se preto e cinzento,
respetivamente, os valores de potências consumidos pela carga e bombagem. ............. 55
Figura 5.10 – Variação do armazenamento disponível para o mês de janeiro de 1990.
Em cima e a azul: armazenamento na albufeira de montante; ao centro e a verde:
armazenamento na albufeira de jusante; em baixo e a laranja: armazenamento total
disponível. As cores claras representam resultados obtidos na componente de
otimização e as cores escuras os resultados obtidos na componente de s imulação ...... 56
Figura 5.11 - Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos
armazenamentos das albufeiras associadas, aproveitamento da central eó lica e o custo
associado para os meses de agosto analisados. ................................................................... 57
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Índice de Tabelas
Tabela 4.1 - Características associadas às albufeiras dos aproveitamentos hidráulicos de
Meimoa-Sabugal ......................................................................................................................... 26
Tabela 4.2 – Escoamento anual médio afluente as albufeiras de Sabugal e de Meimoa ............. 29
Tabela 4.3 – Custos de operação e manutenção considerados para as centrais constituintes da
CRV............................................................................................................................................. 30
Tabela 4.4 – Pontos da curva de rendimento considerados para fins de interpolação .. 33
Tabela 5.1 – Características associadas à CRV em estudo para as diferentes metodologias ...... 47
Tabela 5.2 – Dados de energia elétrica produzida e consumida, balanço entre a produção e
consumo de energia elétrica e número de casos de não sustentabilidade (discretização temporal
horária) para os anos em que se verificou a não sustentabilidade do sistema. ............................ 49
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Simbologia e notações
𝐴𝐵 Área da bacia hidrográfica
𝐴𝑅 Área do rotor
𝐴𝑖𝑛𝑖_𝑥 Armazenamento inicial na albufeira x
𝐴𝑚𝑖𝑛𝑥 Armazenamento mínimo da albufeira x
𝐴𝑚𝑎𝑥𝑥 Armazenamento máximo da albufeira x
𝐴𝑟𝑚𝑥 Armazenamento disponível na albufeira x
𝐵𝑥 Ordenada na origem da reta de potência vs caudal (fase turbina)
𝐵𝑏 Ordenada na origem da reta de potência vs caudal (fase bomba)
𝐶.𝐻𝑥 Central hidroelétrica x
𝐶𝑜𝑡𝑎1 Cota correspondente ao armazenamento na albufeira de montante
𝐶𝑜𝑡𝑎2 Cota correspondente ao armazenamento na albufeira de jusante
𝐶𝑃 Coeficiente de potência
𝐶𝑃𝑜𝑟𝑡𝑢𝑔𝑎𝑙 Perfil de consumo de Portugal no ano hidrológico 2016/2017
𝐷𝑥 Volume de descargas efetuadas na albufeira x
𝐷𝐴𝑥 Volume anual descarregado na albufeira x
�̅� Evapotranspiração anual média
𝐸𝑃𝐶𝐻𝑥 Energia elétrica produzida na central hidroelétrica x
𝐸𝐶𝐵 Energia elétrica consumida no sistema de bombagem
𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿 Energia elétrica produzida na central eólica
𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡 Energia elétrica passível a ser extraída na central eólica
𝑔 Aceleração gravítica
�̅� Altura de escoamento anual médio
𝐻𝑏𝑥 Queda bruta na central hidroelétrica x
�̅�𝑘 Altura de escoamento anual médio da secção k
𝐻𝑢 Altura útil de queda
𝐻𝑡𝑥 Altura útil de queda na central hidroelétrica x (fase turbina)
𝑘 Secção do estudo hidrológico
𝐿 Poder evaporante da atmosfera
𝑚𝑥 Declive da reta de potência vs caudal (fase turbina)
𝑚𝑏 Declive da reta de potência vs caudal (fase bomba)
𝜂𝑡 Rendimento da máquina em fase turbina
𝜂𝑏 Rendimento da máquina em fase bomba
𝑁𝑇 Número de turbinas
𝜌𝑎 Densidade do ar
𝜌𝑤 Densidade da água
�̅� Precipitação anual média
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xvi Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
𝑃𝑎𝑣𝑎𝑖𝑙 Potência mecânica extraída do vento
𝑃𝐵 Potência de bombagem
𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 Potência local consumida
𝑃𝐸𝑂𝐿 Potência aproveitada proveniente da central eólica
𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡 Potência extraída pela central eólica
𝑃𝐻𝑖𝑑𝑟𝑖𝑐𝑎 Potência produzida por uma central hidroelétrica
𝑃max_𝑏 Potência máxima de bombagem na central hidroelétrica de montante
𝑃max_𝑡𝑥 Potência máxima turbinada na central hidroelétrica x
𝑃min_𝑏 Potência mínima de bombagem na central hidroelétrica de montante
𝑃min_𝑡𝑥 Potência mínima turbinada na central hidroelétrica x
𝑃𝑛𝑒𝑐 Potência necessária de modo a igualar a produção ao consumo
𝑃𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎 Perfil de potência produzida por uma turbina de 2.05 MW
𝑃𝑡𝑥 Potência de turbinagem na central hidroelétrica x
𝑄𝑎𝑥 Caudal afluente na central hidroelétrica x
𝑄𝑖,𝑗𝑘 Caudal médio diário no dia j do ano i na secção k
𝑄𝑚𝑜𝑑𝑘 Caudal modular na secção k
𝑄 Caudal turbinado pela turbina
𝑄𝑡𝑥 Caudal turbinado na central hidroelétrica x
𝑄min_𝑡𝑥 Caudal mínimo a turbinar na central hidroelétrica x
𝑄𝑏 Caudal bombado na central hidroelétrica de montante
𝑄max_𝑡𝑥 Caudal máximo a turbinar na central hidroelétrica x
𝑄min_𝑏 Caudal mínimo a bombar na central hidroelétrica x
𝑄max_𝑏 Caudal máximo a bombar na central hidroelétrica x
𝑡 Tempo
�̅� Temperatura anual média
𝑣 Velocidade do vento
𝑉𝐾̅̅ ̅ Escoamento anual médio na bacia hidrográfica em estudo
𝑥 Albufeira/Central hidroelétrica de montante (x=1) ou de jusante (x=2)
𝑋 Percentagem de aproveitamento da potência eólica produzida
𝑌𝑥 Variável binária respetiva à produção na central hidroelétrica x
𝑌𝑏 Variável binária respetiva à bombagem na central hidroelétrica de
montante
21CPPR 21st Century Power Parnership Report
𝐴𝐻𝐶𝐵 Aproveitamento hidroagrícola da Cova da Beira
𝐶𝐶𝐺 Canal condutor geral
𝐶. 𝐸 Central eólica
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𝐶𝑃𝑆 Current Policies Scenario
𝐶𝑅𝑉 Central renovável virtual
𝑉𝑅𝐸 Energia renovável variável
𝐸𝑈𝐴 Estados Unidos da América
𝐸𝑅𝐶𝑂𝑇 Electric Reliability Council of Texas
𝐺𝐴𝑀𝑆 General Algebraic Modeling System
𝐼𝐸𝐴 International Energy Agency
𝐿𝑁𝐸𝐺 Laboratório Nacional de Energia e Geologia
𝐿𝑃 Linear Program
𝑀𝐼 Mixed integer
𝑀𝐼𝑁𝐿𝑃 Mixed integer Non-Linear Program
𝑁𝐿𝑃 Non-Linear Program
𝑁𝑀𝐸 Nível máximo de exploração
𝑁𝑃𝐴 Nível de pleno armazenamento
𝑁𝑃𝑆 New Policies Scenario
𝑂𝑅𝐷 Operador de redes de distribuição
𝑂𝑅𝑇 Operador de redes de transmissão
𝑃𝐻𝑆𝑆 Pumped Hydro Storage System
𝑆𝐻 Sistemas híbridos
𝑆𝑁𝐼𝑅𝐻 Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
𝑈𝐴 Unidades de armazenamento de energia
𝑈𝐸 União Europeia
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Introdução
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 1
Capítulo 1 – Introdução
1.1. Contextualização e justificação do trabalho
Atualmente a Europa enfrenta uma procura crescente de energia, sendo que o objetivo da Comissão
Europeia passa por desenvolver um mercado energético que garanta um abastecimento seguro, acessível
e respeitador do ambiente. Para fazer face a estes problemas, a União Europeia (UE) adotou uma
estratégia clara no sector de energia, lançando objetivos climáticos e energéticos para todos os estados
membros.
Segundo o quadro político para o clima e energia no período de 2020 e 2030 [1], na perspetiva da
UE, as energias renováveis devem continuar a desempenhar um papel determinante na transição para
um sistema energético hipocarbónico e competitivo. Além do mais, acredita-se que o rápido
desenvolvimento de fontes de energias renováveis pode afetar a competitividade de outras fontes de
energia. Apesar de estas continuarem a ser importantes para o sistema energético, irão provocar uma
redução no investimento em capacidades de geração, fundamental para a transição para um sistema
energético mais competitivo, seguro e sustentável.
Como tal, em concordância com o objetivo de redução dos gases efeitos de estufa em 40 %, no que
diz respeito às energias renováveis, o objetivo da UE para 2020 consiste em obter 20% da energia
consumida a partir de fontes renováveis, tendo em vista um aumento para 32% até 2030, à escala
europeia. Pretende-se, assim, que este objetivo impulsione o investimento contínuo em energias
renováveis, o que originará um aumento significativo na quota de energias renováveis no setor da
eletricidade dos 21%, atuais, para 45% em 2040 [1].
No entanto, a elevada variabilidade temporal e espacial dos recursos energéticos, como o vento ou
os recursos hídricos superficiais, conferem características de reduzida controlabilidade e de difícil
previsão às respetivas fontes de energia. Dado que o princípio de operação estável de um sistema elétrico
obriga a um equilíbrio constante entre a produção e o consumo, ao facto de existir uma grande
contribuição de fontes de energias renováveis não despacháveis, acresce a dificuldade de gestão do
sistema electroprodutor do ponto de vista da segurança e previsão. Torna-se, assim, indispensável a
existência de sistemas de reserva convencionais, normalmente à custa de recursos fósseis, que possam
ser ativados em períodos de ausência de recurso renovável.
Visto isto, o papel das centrais dotadas de unidades de armazenamento de energia (UA), como é o
caso dos aproveitamentos hidroelétricos com albufeira de regularização, será essencial de forma a ir de
encontro aos objetivos definidos para um sistema energético hipocarbónico. É expectável que as redes
elétricas do futuro criem condições para um aproveitamento mais eficaz das características das UA por
forma a reduzir o impacto das flutuações originadas por uma produção fortemente variável no tempo
[2].
Apesar das dificuldades impostas pela elevada penetração de geração renovável, estas não devem
ser vistas como um limite técnico para o uso das mesmas, mas sim como um problema do ponto de vista
da flexibilidade do sistema electroprodutor. Existe, assim, a necessidade de adaptação e transformação
do sistema elétrico convencional e das práticas operacionais.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
2 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Em face do que antecede, admite-se que a agregação de fontes de energia renováveis que
apresentam complementaridade técnica possa ser a resposta para mitigar as dificuldades impostas à
elevada penetração das mesmas energias no sistema electroprodutor.
1.2. Objetivo
O presente estudo visa analisar e otimizar a operação conjunta de sistemas eólicos e hidroelétricos
com albufeira de regularização, com o objetivo de determinar a proporção ótima entre as potências eólica
e hídrica, bem como avaliar a necessidade de armazenamento em albufeira de forma a garantir reserva
em períodos sem vento, contribuindo assim para a concretização do conceito de “central renovável
virtual (CRV)”. Pretende-se, ainda, proceder a uma otimização do ponto de vista económico, isto é,
minimizar o custo da exploração conjunta dos dois tipos de centrais.
Este trabalho foi baseado no caso de estudo dos aproveitamentos hídricos de Meimoa-Sabugal, que
será apresentado mais à frente nesta tese, com o objetivo de ter em consideração valores reais de
armazenamento de água em albufeiras.
Inicialmente, criou-se um modelo de simulação através do software MATLAB que define
aproximadamente a operação conjunta das centrais para os 54 anos hidrológicos. De seguida, procedeu-
se à otimização do sistema através do software GAMS numa faixa temporal de otimização mensal.
A modelação do sistema de gestão da CRV previamente descrito será feito através de séries
históricas de caudais médios diários, sendo aplicados critérios de regionalização às mesmas por forma
a obter as disponibilidades hídricas afluentes àqueles aproveitamentos, para a modelação da componente
hídrica. No que respeita ao recurso de vento, será utilizada uma série anual teórica de potência gerada
por uma turbina eólica, estabelecida previamente para fins educativos. Recorrer-se-á, ainda, ao perfil
anual de consumo de eletricidade em Portugal por forma a modelar as necessidades energéticas que a
CRV terá de providenciar.
O estudo previamente descrito será aplicado num ambiente de autossuficiência, onde não existe a
possibilidade de ocorrer importação ou exportação de energia elétrica.
1.3. Organização da dissertação
Esta dissertação encontra-se dividida em seis capítulos. No capítulo 1 é elaborada uma breve
contextualização do trabalho realizado, sendo esta, um panorama geral do estado atual, e das perspetivas
futuras, do sector de energia na UE. São, ainda, apresentadas as motivações e objetivos do presente
estudo.
No capítulo 2 apresenta-se o estado atual das energias renováveis em Portugal Continental e no
mundo e as perspetivas futuras da evolução das tecnologias que são abordadas neste estudo. Aborda-se,
ainda, uma descrição detalhada dos sistemas híbridos, o que são e como funcionam, e do conceito de
CRV.
Introdução
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 3
Seguidamente, no capítulo 3, descrevem-se os principais desafios à ampla integração de energias
renováveis variáveis no sistema electroprodutor. Estes, têm por base as características inerentes a um
recurso renovável, de difícil previsão, caracterizado por uma geração com flutuações de potência que
dificulta a gestão do sistema electroprodutor. A importância do armazenamento e de interligação com
outros sistemas são, também, aqui referidas.
No capítulo 4, apresenta-se a metodologia implementada, através da componente de simulação e
otimização, na modelação do problema descrito. Primeiramente, são dadas a conhecer as características
associadas aos aproveitamentos hidráulicos de Meimoa-Sabugal, seguido dos modelos utilizados que
descrevem as diversas centrais constituintes do sistema em estudo. Por fim, apresenta-se o modelo de
simulação e de otimização desenvolvidos com o intuito de identificar o perfil de produção que melhor
se ajusta ao objetivo pretendido.
No capítulo 5 apresentam-se os resultados obtidos provenientes da aplicação dos modelos de
simulação e otimização. Aqueles associados à componente de simulação são apresentados sobre uma
perspetiva de sustentabilidade ou não sustentabilidade do sistema, enquanto que, os resultados da
componente de otimização são apresentados em análise comparativa com os de simulação.
Finalmente, no capítulo 6, são apresentadas as conclusões do trabalho desenvolvido, seguidas de
recomendações de alto valor acrescentado para trabalhos futuros.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
4 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Produção de energia elétrica em Portugal e no mundo
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 5
Capítulo 2 – Produção de energia elétrica em Portugal e no Mundo
2.1. Geração de eletricidade no Mundo
A crescente procura de energia associada ao objetivo de garantir um desenvolvimento sustentável
tornou-se um dos temas mais importantes da atualidade. De acordo com a IEA (Internetional Energy
Agency), o sector da energia elétrica é a fonte de energia que apresenta a maior taxa de crescimento
anual. O mesmo é atualmente representativo de 19% do consumo final de energia, mais 4% que o valor
verificado no início do século XXI. Como ilustra a Figura 2.1, verificou-se uma taxa de crescimento,
representativa do consumo de energia elétrica, de 3% ao ano, aproximadamente dois terços mais rápido
que o consumo final de energia, sendo que 85% desse aumento registou-se nos países em
desenvolvimento. A IEA afirma, ainda, que a contribuição da eletricidade no consumo final de energia
continuará a aumentar, uma vez que esta irá superar o consumo de qualquer outra fonte de energia,
prevendo-se um aumento para 24% até 2040. [3]
Figura 2.1 – Consumo global de eletricidade por região (adaptada de: [3])
A Figura 2.2, à esquerda, mostra a evolução da geração de energia elétrica por fonte de energia
desde o início do presente século, onde o carvão e o gás natural permaneceram como as principais fontes
de energia utilizadas, apesar do aumento das fontes de energia renovável nos últimos anos [4]. Verifica-
se ainda, do lado direito, as perspetivas de evolução do mix energético para o ano de 2040 para três
cenários de estudo [5]. Estes são, uma vez mais, da autoria da IEA, sendo o NPS (New Policies Scenario)
o cenário baseado nos planos políticos, individuais e coletivos, das diversas organizações pertencentes
a este estudo, e no modo a que estas preveem a evolução do setor de energia para as próximas décadas.
O cenário CPS (Current Policies Scenario) parte do pressuposto que os novos objetivos e políticas
que se pretendem adotar não se podem dar como garantidos. Descreve, assim, o panorama futuro caso
não fossem aplicadas quaisquer novas medidas além das já aplicadas até à data, em exceção para o caso
das mesmas que estejam especificamente limitadas para um determinado período.
Finalmente, o cenário 450, também referenciado como o cenário de descarbonização, foi
caracterizado através do ponto de vista em que o sector de energia elétrica irá alcançar os objetivos
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
6 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
propostos até período de análise, isto é, até ao ano de 2040. Mais especificamente, este cenário tem
como limite o aumento máximo de temperatura global até 2 graus Celsius durante o período analisado.
Esta marca, mencionada nos acordos de Cancun em 2010, tem sido uma marca padrão amplamente
utilizada nos relatórios intergovernamentais relativos à mudança do clima, tornando-se assim numa
referência para políticas governamentais.
Figura 2.2 – Geração de eletricidade por fonte de energia: à esquerda para os anos de 2000, 2010 e 2016; à direita, para o
ano de 2040 nos três cenários de estudo da IEA (fonte: [4] e [5])
O aumento da contribuição de energia renovável variável (VRE), designado na literatura inglesa
por VRE (variable renewable energy), como é o caso da energia eólica, solar e de recursos hídricos
superficiais, lidera a contribuição para uma transição de um mercado energético hipocarbónico,
ajudando na redução da poluição atmosférica associada ao sector de produção de energia elétrica,
seguindo, assim, em concordância com os novos objetivos de combate às alterações climáticos.
Contudo, será necessária uma nova idealização do dimensionamento de rede elétrica e do modo de
operação da mesma. De outra forma, o aumento da eletrificação resultaria num sistema de abastecimento
menos seguro, ao desprezar a urgência da implementação das novas políticas neste sector [3].
2.1.1. Energia hidroelétrica e eólica no mundo
Como anteriormente referido, a união europeia pretende mudar o panorama da produção de energia
elétrica, por forma a dar resposta aos grandes problemas associados aos combustíveis fósseis: a
inevitável escassez futura dos mesmos e a emissão de gases efeitos estufa. Como tal, todas as projeções
apontam para um aumento exponencial da capacidade instalada de energias renováveis, sendo o foco
deste subcapítulo o desenvolvimento da energia hidroelétrica e da energia eólica nos últimos anos e a
previsão dos investimentos que serão efetuados.
No final de 2017, a capacidade instalada de energia eólica na Europa era de proximamente 169
GW, sendo que a sua maioria, 42%, encontrava-se localizada na Alemanha, seguindo-se o Reino Unido
e a França, respetivamente, com 27.2% e 10.8 %. Verificou-se, ainda, que o ano de 2017 foi o ano
recordista em nova potência instalada, com 15.6 GW [6].
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
NPS CPS 4500%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2000 2010 2016
Outras renováveis
Energia hidroelétrica
Energia nuclear
Gás natural
Combustíveis Líquidos
Carvão
Produção de energia elétrica em Portugal e no mundo
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 7
Relativamente à energia hidroelétrica verificou-se, novamente em 2017, uma capacidade total
instalada de 248.6 GW, sendo a contribuição maioritária proveniente da Noruega, Turquia e França com,
respetivamente, 12.8 %, 10.7% e 10.3%. A nova capacidade instalada em 2017 foi de 2.3 GW, sendo
metade desta do tipo Pumped Hydro Storage System (PHSS), ou seja, sistemas reversíveis turbina -
bomba [7].
A Figura 2.3 representa a evolução da capacidade de geração de energia elétrica por fonte de energia
desde 2005, salientando-se que a energia eólica tem apresentado a maior evolução desde então. A
energia hidroelétrica encontra-se representada apenas do ponto de vista das grandes hidroelétricas, isto
é, apenas para centrais com uma potência instalada superior a 10 MW [6].
Figura 2.3 – Evolução da potência instalada por fonte de energia na Europa (adaptada de: [6])
Relativamente à previsão para a evolução da capacidade instalada das respetivas fontes de energia
espera-se, segundo o cenário de estudo NPS da IEA, que até 2040 a UE instale mais de 600 GW de
capacidade de geração em energias renováveis, das quais 70% estejam representadas por energia
renovável de caráter variável. No início de 2030, a energia eólica terá a maior percentagem de geração
de energia elétrica e a UE encontrar-se-á na vanguarda do desafio das altas penetrações de VRE no
sistema electroprodutor [5].
A Figura 2.4 representa a nova capacidade instalada por fonte e região até ao ano de 2040 para o
cenário de estudo NPS da IEA.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
8 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Figura 2.4 – Nova capacidade de geração de energia elétrica instalada até 2040 no cenário NPS por região e fonte de
energia (adaptada de [5])
2.2. Geração de eletricidade em Portugal Continental
Em 2017, o consumo de energia elétrica em Portugal Continental foi de 49.6 TWh, tendo sido
verificado o seguinte perfil relativo à produção renovável: 10% do consumo nacional foi abastecido por
energia hidroelétrica, 23% por energia eólica, 5% por biomassa e 2% por energia solar. Relativamente
à produção não renovável, as maiores contribuidoras com origem fóssil foram as centrais a gás natural
e a carvão, respetivamente, 33% e 26%. É de salientar a diminuição da contribuição renovável em 17%,
relativamente ao ano de 2016, motivada maioritariamente pela redução de 28% para 10% na
contribuição de energia hidroelétrica, tendo sido esse valor compensado por geração através de
combustíveis fosseis, mais especificamente, por geração a gás natural e carvão [8]. A fraca produção de
energia elétrica proveniente da hidroeletricidade deveu-se a um ano com condições muito adversas,
registando-se, assim, o valor mais baixo de contribuição renovável desde 2012. Na Figura 2.5 é possível
verificar a geração de eletricidade por fonte de energia desde 2008.
Figura 2.5 - Geração de eletricidade por fonte de energia desde o ano 2008 em Portugal Continental. (retirada de: [8])
Produção de energia elétrica em Portugal e no mundo
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 9
Relativamente à potência instalada, o sistema nacional apresentou no final do ano de 2017, uma
capacidade total de 19.8 GW, dos quais 14.8 GW estão ligados à rede de transporte. Verificou-se uma
nova capacidade de geração de 311 MW, integralmente de origem renovável, destacando-se 261 MW
na nova central hidroelétrica reversível de Foz-Tua, a entrada em serviço de 20 MW em centrais eólicas
e de 30 MW em fotovoltaicas. Ocorreu, ainda, o desmantelamento das centrais de cogeração, reduzindo
em 50 MW a potência instalada.
Figura 2.6 – Do lado esquerdo: Evolução da potência instalada desde 2008 por tipo de central, ponta de consumo e de
geração; Do lado direito: Potência instalada para os anos de 2016 e 2017 por fonte de energia (adaptada de: [8])
Do ponto de vista da evolução da capacidade renovável em Portugal, estudos aplicados pela IEA
esperam que se observe uma potência total instalada de 15800 MW em 2020. Sendo a potência renovável
atual, segundo o relatório para 2017, de 13397 MW, seria necessária instalar aproximadamente 2400
MW nos 3 seguintes. Relativamente à energia hidroelétrica, o mesmo estudo indica que é esperada uma
capacidade instalada de 8940 MW para a componente hidroelétrica, novamente uma meta estabelecida
para 2020, verificando-se atualmente uma capacidade total de 7193 MW [9].
2.3. Sistemas Híbridos
Os sistemas híbridos (SH) são constituídos por dois tipos de centrais: uma do tipo PHSS, e uma ou
mais do tipo não despachável, como é o caso das centrais eólicas, solar fotovoltaicas ou algumas das
hídricas, designadamente as que não possuem albufeira de regularização. Como referido anteriormente,
as centrais do tipo não despachável apresentam elevada variabilidade temporal e espacial dos recursos
energéticos a que estão associadas, resultando, assim, características de não controlabilidade e de difícil
previsão da energia elétrica produzida.
Sistemas de armazenamento de energia, como é o caso das PHSS, podem contribuir para a
regulação de frequência, ao apoiar o equilíbrio entre a produção e o consumo de potência, assegurando
a estabilidade do sistema. Por forma a lidar com os problemas de frequência e variação de tensão
caracterizadas pela produção renovável variável, é necessário regular a potência gerada pela energia
eólica ou solar, garantido assim um fornecimento de potência mais seguro. Deste modo, os sistemas
híbridos aqui referidos pretendem diminuir as flutuações provocadas por este tipo de geração de energia
elétrica, altamente variável no tempo e espaço [9].
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
2016 2017
Solar
Biomassa
Eólica
Hidrica
Gás natural
Outros
Carvão
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
10 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Por forma a reduzir as perdas associadas e obter uma elevada eficiência na regulação da voltagem
e frequência, é aconselhado que a localização das centrais renováveis não despacháveis estejam
próximas da central PHSS [9]. Esta é operada em duas fases: fase de bombagem e fase de turbinagem.
A fase de bombagem é caracterizada por um excesso de potência extraída da produção renovável,
quando comparado com o consumo dessa potência, sendo este excesso consumido pela máquina em fase
bomba, transferindo-se água de um reservatório inferior para um reservatório superior através da
bombagem.
A fase de turbinagem ocorre quando existe um défice de potência, isto é, quando a produção
renovável não é suficiente para satisfazer o consumo, existindo assim a necessidade de produção de
energia elétrica. Neste caso, um certo volume de água será turbinado do reservatório superior para o
reservatório inferior. Quando o consumo aumenta ou a produção renovável diminui, ocorre a libertação
de água do reservatório superior para o reservatório inferior.
Figura 2.7 – Descrição do funcionamento de um sistema híbrido (adaptada de: [10])
2.4. Conceito de CRV
Uma central renovável virtual (CRV) consiste na agregação de fontes de energia renovável,
dispersos no espaço, com um perfil único operacional [11]. Apresenta como grande vantagem o facto
de a variabilidade da produção combinada de diferentes centrais renováveis, com base em diferentes
recursos e diferentes locais numa ampla área, ser mais suave do que a variabilidade de apenas uma
central renovável. Este efeito de suavização pode ser aproveitado, reduzindo assim a necessidade do
aumento da flexibilidade do sistema electroprodutor1 em resposta ao aumento da contribuição renovável
[12].
No âmbito desta dissertação, não se pretende estudar a produção combinada de diferentes centrais
renováveis dispersas no espaço, mas sim a possível complementaridade da energia hídrica e eólica
através de um SH, sendo este um caso particular da CRV.
1 No capítulo 3.1 encontra-se uma detalhada definição de flexibilidade de um sistema electroprodutor
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 11
Capítulo 3 – Desafios da ampla integração de energias renováveis num
sistema electroprodutor
Pequenas contribuições de energia variável no tempo no sistema elétrico produtor, características
de fontes de energia renovável como a energia eólica, não implicam grandes constrangimentos na gestão
do mesmo. Porém, tal não se verifica à ampla integração de energias renováveis variáveis.
Desta forma, tornam-se relevantes as restrições impostas pela variabilidade climática na geração
renovável, determinando quanto e quando há produção de energia elétrica. Tal geração adquire, assim,
características de um recurso variável, de difícil previsão, o que dificulta a gestão do sistema
electroprodutor.
3.1. Variabilidade dos recursos renováveis
Como referido anteriormente, as fontes de energia renovável não despacháveis são caracterizadas
por apresentarem uma elevada variabilidade. Contudo esta pode ser vista de diferentes perspetivas, pois
nem todas as fontes de VRE variam do mesmo modo, podendo ser discretizada em variabilidade espacial
e variabilidade temporal. Deste modo o presente subcapítulo pretende pormenorizar de que modo as
fontes de VRE, presentes nesta dissertação, variam e como tais variações podem por vezes ser mitigadas.
De um modo geral, a energia eólica apresenta variações acentuadas para curtos períodos de tempo, de
segundos à escala sazonal. Da perspetiva inter-anual, as flutuações observadas na geração a partir do
recurso de vento são mais reduzidas comparativamente a faixas temporais mais reduzidas.
Contrariamente, a energia hídrica apresenta elevadas variações na escala de tempo inter-anual e
baixas variações dentro da escala diária.
3.1.1. Variabilidade do recurso eólico
A velocidade do vento está em constante mudança resultando, assim, numa potência extraída de
uma turbina eólica igualmente variável. Estas constantes mudanças, também caracterizadas na literatura
como flutuações de potência, são distintas quando analisadas a diferentes escalas de tempo. Isto é, a alta
variabilidade temporal que se verifica em curtos períodos, como segundos e minutos, não possui a
mesma amplitude em períodos prolongados, tais como anos. Em [13] analisou-se a geração de energia
elétrica para um período máximo de 10 anos, desde 2000 a 2010, para quatro centrais eólicas dos EUA
(Estados Unidos da América). A Figura 3.1 representa a geração mensal nessas centrais por mês para a
faixa temporal anteriormente referida. Observa-se que, efetivamente, a variação de energia eólica para
diferentes meses e anos apresenta uma elevada variabilidade temporal. Contudo, verifica-se a existência
de um padrão sazonal, com um decréscimo da intensidade de vento entre abril e setembro e um posterior
incremento da geração eólica de outubro a março. Observa-se, ainda, um decréscimo na produção no
mês de fevereiro em todos os anos, devido a este mês apresentar menos dias.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
12 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Figura 3.1 - Variação da geração de energia eólica: Central eólica de Storm Lake (Iowa, USA); Central eólica de Lake
Benton (Minnesota, USA); Central eólica de Blue Canyon (Oklahoma, USA); Central eólica de Trent Mesa (Texas, USA).
(adaptada de: [13])
Do ponto de vista de uma só turbina eólica, é expectável que esta apresente altas flutuações de
potência no tempo. Contudo, o agrupamento com outras turbinas irá reduzir este efeito de variabilidade,
sendo a sua produção mais continua no tempo. Dito isto, a variação de uma só turbina será sempre
superior à variação de uma central eólica, e a variação de uma central eólica será sempre superior à
variação de um conjunto de centrais eólicas e por assim adiante. Deste modo, os estudos [14-15]
apontam para grandes benefícios na agregação de centrais eólicas, sendo que, em [14] é reportado que
a variação horária do vento integrada para um diâmetro de 100 km é reduzida até quatro vezes quando
comparada com a variação a observar num dado local de uma turbina eólica. É, ainda, evidenciado que
este fator de redução é ampliado para dezasseis vezes quando considerado um diâmetro de 1000 km. A
Figura 5.2 apresenta a geração de energia elétrica para uma faixa temporal superior a 150 h, estando aí
representadas desde a variação de uma só turbina até a variação de um conjunto de países.
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 13
Figura 3.2 – Variação da geração de energia eólica: A rosa e tracejado por uma turbina; A vermelho na zona este da
Dinamarca (DK); A verde na Suécia (SE); A azul na Alemanha (DE), Dinamarca (DK), Suécia (SE) e Finlândia (FI) em
conjunto. (adaptada de: [15])
3.1.2. Variabilidade do recurso hídrico
A geração hidroelétrica, como antes referido, apresenta uma enorme variabilidade à escala inter-
anual, contudo, uma variabilidade reduzida em curtos períodos de tempo, como horas. Esta está
naturalmente relacionada o recurso hídrico, sendo este dependente da precipitação e evapotranspiração.
Contudo, contrariamente à energia solar e eólica, a energia hidroelétrica apresenta a vantagem de o
recurso hídrico poder ser armazenado, designadamente em albufeiras de regularização, existindo assim
uma controlabilidade sobre o recurso em si e consequentemente sobre a potência extraída. Naturalmente,
a não existência de uma albufeira de regularização, conduzirá a flutuações de potência na geração
hidroelétrica, visto que, o caudal natural do rio varia com o tempo, fazendo variar de igual forma a
potência extraída pela central.
Desta forma, os aproveitamentos hidroelétricos são normalmente distinguidos entre dois tipos:
aproveitamento hidroelétricos a fio-de-água, que por norma não apresentam capacidade de
armazenamento, estando a potência extraída do mesmo dependente do caudal natural do rio;
aproveitamentos hidroelétricos de albufeira, onde existe capacidade de armazenamento de energia,
através da retenção de água. Neste caso, a central hidroelétrica apresenta controlabilidade sobre a
potência extraída.
Contudo, a variabilidade temporal do recurso é naturalmente importante em ambos os tipos de
aproveitamentos, visto que, a quantidade de recurso armazenado irá sempre depender dos caudais
afluentes aos aproveitamentos hidroelétricos. Cerca de 30% da potência hídrica instalada em Portugal
respeita a aproveitamentos hidroelétricos a fio de água [16], sendo assim importante ter em consideração
de que modo o recurso hídrico disponível varia e de que forma influencia a geração hidroelétrica. Em
[17] realiza-se o balanço meteorológico do recurso hídrico para o ano hidrológico 2 compreendido entre
2 O ano hidrológico, no hemisfério norte, tem por início dia 1 de outubro e termina a 30 de setembro.
DE + DK + SE + FI
SE
DK (Zone este)
1 turbina
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
14 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
2014 e 2015, em Portugal. A Figura 3.3 representa a variação da precipitação mensal para os anos
hidrológicos de 2004-2005, 2011-2012, 2014-2015 e para os valores médios mensais para cada mês
entre 1971 e 2000. É possível verificar que a uma enorme variabilidade temporal da precipitação mensal
para diferentes anos. Contudo, verifica-se que cerca de 70% da precipitação ocorre durante o período
húmido, entre outubro a março.
Figura 3.3 – Precipitação mensal verificada para os anos hidrológicos de 2004-2005, 2011-2012, 2014 – 2015 e para os
valores médio mensais entre 1971 e 2000: À esquerda o valor de precipitação em valor absoluto; À direita precipitação
acumulada (adaptada de: [17])
Apesar de a precipitação não ser o único fenómeno responsável pela variabilidade hídrica, estando
a mesma ainda dependente da evapotranspiração, e logo, da temperatura média do ar, a variabilidade
precipitação, e os outros recursos que definem a variabilidade do recurso hídrico, ajuda a compreender
a evolução dos volumes armazenados nas bacias hidrográficas. A Figura 3.4 representa a evolução dos
recursos armazenados, por bacia hidrográfica, entre os anos hidrológicos de 2013-2014 e 2014-2015.
Verifica-se, assim, que a curva de variabilidade de precipitação corresponde à curva de variabilidade
dos volumes armazenados nas bacias hidrográficas, fator preponderante para a geração de energia
elétrica através da hidroeletricidade.
Figura 3.4 – Evolução do volume armazenado por bacia hidrográfica (retirada de: [17])
0
50
100
150
200
250
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Pre
cip
itaç
ão [
mm
]
Normal 1971 - 2000 2004 - 2005 2011 - 2012 2014 - 2015
0
200
400
600
800
1000
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 15
Deste modo, é de esperar um aumento da geração de energia hidroelétrica durante o período
húmido, quando os caudais afluentes aos aproveitamentos tenderão a ser superiores. Contudo, esta
previsão apenas deve ser considerada para os aproveitamentos hidroelétricos a fio de água, pois não
apresentam controlabilidade na geração de energia elétrica, variando inevitavelmente com o caudal do
rio. A variabilidade sazonal que se verificou através da precipitação, que por sua vez induz também
variabilidade no volume armazenado nas bacias hidrográficas, irá ser determinante para ditar a
disponibilidade de recurso disponível nas albufeiras.
3.2. Flexibilidade de um sistema electroprodutor
A flexibilidade do sistema electroprodutor irá determinar a percentagem de contribuição de energia
variável que poderá ser integrada no mesmo. Esta abrange todos os atributos constituintes do mesmo,
relacionando o quanto este conjunto consegue ser fiável, do ponto de vista de segurança, e eficiente
quando acoplado à variabilidade e incerteza do consumo e produção de energia elétrica [18]. O conceito
de flexibilidade sempre foi um tema bastante importante no sector de energia elétrica devido à elevada
variabilidade do consumo de eletricidade e o modo como o sistema electroprodutor é capaz de responder
a estas variações. Contudo, o aumento das contribuições de energias renováveis variáveis ampliou a
relevância deste conceito, visto que, a imprevisibilidade do consumo de energia elétrica é agora acoplada
à imprevisibilidade da produção de energia elétrica das fontes de VRE.
3.2.1. Definição de flexibilidade de sistema electroprodutor
Segundo a IEA, o modo como se define a flexibilidade de um sistema electroprodutor tem vindo a
evoluir ao longo do tempo, refletindo a evolução da tecnologia e do mercado de energia. Inicialmente,
em 2008, definiram que a mesma era representada pela capacidade de operar de forma confiável, em
segurança, com contribuições significativas de fontes de VER [18]. Em 2011 surgiu uma nova definição
por parte da IEA, definindo que a flexibilidade exprimia o quanto um sistema electroprodutor era capaz
de modificar a sua produção ou consumo de energia elétrica em resposta à esperada, ou não,
variabilidade verificada [18]. Anos mais tarde, entre 2012 e 2014, este conceito começou a ser definido
com base no espaço de tempo a que este se aplica, sendo discriminado em estabilidade, balanço e
adequabilidade. O desenvolvimento da flexibilidade do sistema electroprodutor com base no espaço de
tempo continuou a ser desenvolvido e cada vez mais específico, sendo que em 2014, se introduziu a
distinção entre a flexibilidade na operação do sistema electroprodutor e flexibilidade de capacidade de
rampa [18].
Atualmente e nos últimos anos, após 2014, a definição de flexibilidade é dada de modo mais
pormenorizada, tendo por base o espaço de tempo a que esta flexibilidade se aplica, como é referenciado
no capítulo 3.1.2.
A elevada variabilidade dos recursos energéticos associados às energias renováveis variáveis,
acoplada de variação do consumo de energia elétrica, tem sido aqui a principal razão apontada para a
necessidade da flexibilidade do sistema electroprodutor. Contundo, a integração de elevadas
contribuições de energia renovável variável acresce, ainda, a dificuldade de gestão do mesmo a níveis
de segurança de rede.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
16 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Fontes de VRE utilizam controladores de potência por forma a se interligarem com a rede elétrica
e são normalmente caracterizados por estarem equipados com geradores assíncronos. Contrariamente,
os geradores convencionais que estão, normalmente, ligados à rede elétrica são do tipo síncronos. Estes,
operam à frequência da rede, caracterizada na Europa por 50 hertz, contribuindo para a inércia do
sistema [19]. Por outro lado, geradores não síncronos não fornecem inércia, sendo incapazes de reagir
às variações de frequência do sistema, podendo resultar em problemas de instabilidade [19].
Dado ao facto das fontes de VRE serem do tipo de geração não síncrona, requerem uma diferente
abordagem por forma a garantir a estabilidade do sistema [18].
3.2.1. Flexibilidade em diferentes escalas de tempo
A flexibilidade de um sistema electroprodutor é dependente de diversos parâmetros, sendo que a
escala de tempo é predominante no domínio e intensidade da mesma (necessidade de flexibilidade).
Diferentes processos e necessidades do sistema electroprodutor estão por trás da razão/necessidade de
flexibilidade, sendo que a escala de tempo é definida pelo quão rápido tem de ser a resposta do sistema
e pela dimensão do período a que esta é sujeita [20].
Esta pode, assim, ser definida por intervalos de tempo curtos, médios e longos. Os curtos intervalos
de tempo são caracterizados entre segundos a horas. As principais causas intervenientes na necessidade
de flexibilidade para estes períodos são a necessidade de regulação de frequência e potência, causado
pelo défice entre o consumo e a geração de energia elétrica, a gestão de congestão na rede e falhas de
balança de energia das entidades responsáveis. Estes casos devem-se, mais especificamente, a falhas na
previsão do consumo ou geração, desconexão de centrais de geração e variações bruscas de cargas.
Relativamente à congestão de rede, esta é gerida pelo operador de rede de transporte (ORT) e pelo
operador de rede de distribuição (ORD), que são as entidades responsáveis pelo transporte e distribuição
de energia elétrica, respetivamente [21].
Períodos de horas a dias são classificados como intervalos médios de necessidade de flexibilidade
[20]. Estes são normalmente caracterizados pela regulação da potência ativa de acordo com as previsões
de consumo e geração das fontes de VRE. As previsões realizadas no mercado-diário, efetuadas no dia
anterior, permitem balancear a operação do sistema através de centrais despacháveis.
Consequentemente, existe uma menor necessidade de velocidade de resposta por parte dos sistemas
[20].
A variabilidade inter-anual e sazonal dos recursos renováveis, como anteriormente discutido neste
capítulo, levam à necessidade de estender o conceito de flexibilidade para longos períodos de tempo,
usualmente caracterizado através da “segurança de abastecimento” de um sistema elétrico. Nestes casos,
o sistema electroprodutor precisa de dar resposta, para grandes períodos de tempo, a elevados consumos
de energia elétrica ou diminuições na produção renovável variável normalmente influenciadas pelo
clima. Períodos de seca, característicos de uma fraca produção de energia hidroelétrica ou variações
abruptas de temperatura, que levam ao aumento ou diminuição do consumo de energia elétrica, são
alguns dos casos mais comuns de influência do clima na necessidade de flexibilidade do sistema
electroprodutor para longos períodos de tempo.
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 17
Por forma a ajudar a perceber o conceito por trás deste termo, e o modo de operação associados a
cada escala de tempo, a Figura 3.5 categoriza a necessidade de flexibilidade em três faixas temporais. A
graduação da cor define o quão crucial é a resposta rápida do sistema e/ou a duração do período aplicado
ao domínio de flexibilidade especificado, sendo que a escala de importância aumenta de tons mais claros
para os tons mais escuros.
Figura 3.5 – Domínio e necessidade de flexibilidade por intervalo de tempo. (adaptada de: [20])
3.2.2. Interligação com outros sectores
Outros estudos presentes na bibliografia propõem interligações com outros sistemas, como o
sistema de transporte ou sistemas de armazenamento de energia, por forma a dar apoio do ponto de vista
da flexibilidade dos sistemas electroprodutores. Segundo o estudo 21CPPR (21st Century Power
Parnership Report), realizado por diversas instituições de renome mundial3, a inovação dos sistemas
electroprodutores pode ser vista do ponto de vista de onze domínios, dos quais a flexibilidade está
diretamente relacionada com quatro: flexibilidade das fontes de geração de energia elétrica; integração
com sistemas de aquecimento e arrefecimento; integração com o sector de transporte; e integração com
sistemas de armazenamento de energia [22]. Relativamente à flexibilidade de geração das fontes de
energia elétrica, as centrais convencionais, como é o caso das centrais térmicas a carvão, estão a ser
recondicionadas, por forma a providenciar flexibilidade ao sistema electroprodutor. Pela mesma razão,
centrais de fonte de VRE estão a ser munidas com sistemas controladores de potência permitindo, assim,
um aumento de controlabilidade sobre a potência entregue pelas mesmas.
3 “21st Century Power Parnership Report” conta com a presença da NREL (National Renewable Energy
Laboratory), BIT (Beijing Institute of Technology), JREF (Japan Renewable Energy Foundation), POSOCO
(Power System Operation Corporation LIMITED, India), ESMAP (Energy Sector Management Assistance
Program by World Bank), IEA (International Energy Agency) and JISEA (Joint Institute for Strategic Energy
Analysis)
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
18 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Do ponto de vista da integração com sistemas de aquecimento e arrefecimento, a crescente inovação
na interligação destes sistemas com o sistema electroprodutor, normalmente à custa de centrais de
cogeração de ciclo combinado, irá continuar a contribuir para o aumento da flexibilidade dos sistemas
electroprodutores. Com o crescente desenvolvimento das redes inteligentes, a agregação de sistemas de
distribuição de aquecimento e arrefecimento com o armazenamento de energia térmica é uma das
inovações propostas para aumentar a eficiência e flexibilidade dos sistemas.
A interligação do sistema de transporte com sistemas de produção de energia elétrica é outros dos
temas referidos neste relatório. Esta fundamenta-se no crescente desenvolvimento e expansão da
tecnologia de carros elétricos, sendo que os mesmos podem garantir o balanceamento do consumo de
eletricidade e suporte na flexibilidade da rede. Neste âmbito, alguns estudos [23]-[24] começam agora
a ser apresentados pela comunidade científica. Em [23], concluíram que a interligação destes sectores,
através do conceito “Vehicle to Grid”, que interliga a tecnologia de veículos elétricos com a rede elétrica,
reduz a necessidade de utilização de tecnologias convencionais de armazenamento de energia.
Verificou-se, ainda, um aumento da flexibilidade da rede elétrica, existindo agora a possibilidade de
uma maior contribuição de energia por parte de sistemas fotovoltaicos, em deterioramento, de centrais
eólicas offshore [23]. Esta informação apresenta valor acrescentado, do ponto de vista dos autores, visto
que caracterizam os sistemas fotovoltaicos como economicamente mais viáveis do que sistemas eólicos
offshore. Em [24] estudou-se o impacto dos carros elétricos na participação do que, na nomenclatura
inglesa, se designa por Ramp Market. Verificou-se um aumento na flexibilidade do sistema
electroprodutor, com a cooperação dos carros elétricos com centrais convencionais de produção de
energia elétrica, aumentando a capacidade de rampa das mesmas.
Por fim, as tecnologias de armazenamento de energia são fundamentais para ampla integração de
eletricidade de origem renovável no sistema electroprodutor. Por forma a garantir este objetivo, os
sistemas electroprodutores têm-se tornado mais flexíveis e melhor equipados com o auxílio de
tecnologias de armazenamento.
3.2.3. Fases de penetração de VRE no sistema electroprodutor
Sendo este conceito de flexibilidade bastante abrangente quando referido ao sistema
electroprodutor, a IEA identificou diferentes fases de penetração de energia renováveis variáveis no
sistema electroprodutor. Tal pretende, analisar os principais problemas observados num sistema
electroprodutor dependendo da fase de desenvolvimento [18].
Este conceito foi distribuído em seis fases distintas. A primeira fase é caracterizada pelo início da
implementação de VRE no sistema electroprodutor, sendo a influência da mesma quase insignificante
para a segurança e fiabilidade do sistema.
De seguida, na segunda fase, à medida que se adiciona capacidade renovável, de característica
variável, observam-se diferenças significantes entre as previsões de energia elétrica produzida pelas
respetivas renováveis e o consumo esperado.
Na terceira fase, com o aumento da capacidade renovável, começa-se a verificar a necessidade da
flexibilidade do sistema devido a grandes variações no equilíbrio entre o consumo e a produção.
O quarto ponto já é característico de contribuições significativas de energias renováveis variáveis
no sistema electroprodutor. Observa-se que as fontes de VRE são capazes de providenciar a maioria das
necessidades energéticas nos sistemas em períodos específicos de tempo.
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 19
As últimas duas fases são caracterizadas por elevadas penetrações de energias renováveis, onde é
possível observar as grandes dificuldades da integração de tais contribuições no sistema electroprodutor.
Verifica-se, agora, a necessidade de curtailment 4 da geração das centrais renováveis, bem como, a
necessidade de controlabilidade do consumo de energia elétrica e o modo a que este pode ser transitado
para os períodos de maior produção renovável. Grandes necessidades de armazenamento e outros
vetores energéticos, como o hidrogénio, tornam-se elementos importantes para a estabilidade e operação
do sistema electroprodutor.
A Figura 3.2 categoriza as fases de desenvolvimento de penetração de VRE no sistema
electroprodutor para um conjunto de países selecionados. É de salientar que as últimas duas fases (fase
5 e 6), anteriormente apresentadas, não foram ainda atingidas por qualquer país e que Portugal se
encontra na terceira fase de evolução da contribuição renovável, sendo o país mais desenvolvido nesta
fase.
Figura 3.6 – Fase de desenvolvimento da penetração de VRE por região/país (adaptada de: [18])
3.3. Necessidade de curtailment
Com o incremento da contribuição de VRE cresce, igualmente, a necessidade também a
curtailment. A mesma diminui com a interligação entre redes, pois existe possibilidade de exportação
de energia elétrica, e com o aumento da capacidade de armazenamento, que permite aumentar o consumo
de energia elétrica. Em [25] encontram-se reportado os dados históricos e as práticas comuns de
4 Segundo a NREL, curtailment é a redução da potência gerada face à potência nominal que poderia ser produzida
por um gerador dado as condições a que este está sujeito. Este conceito existe muito antes da implementação da
tecnologia eólica e solar no sistema electroprodutor, normalmente devido a problemas de congestionamento na
rede elétrica [25].
0
10
20
30
40
50
% G
eraç
ão d
e
Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
20 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
curtailment nos Estados Unidos. A Figura 3.7 reporta a percentagem de curtailment da geração total de
energia eólica para diversos estados dos EUA e a capacidade instalada por estado para o ano 2013.
Verifica-se que para o estado do Texas (ERCOT) - segundo estado dos EUA que apresenta melhor fase
desenvolvido para a penetração de VRE seguido pela Califórnia, e maior capacidade instalada em
energia eólica – registou a maior percentagem de curtailment de energia eólica ao longo dos anos. As
causas mais frequentes responsáveis pela necessidade de redução da geração eólica foram o excesso de
produção de energia elétrica (oversupply), os limites de transmissão e a congestão na rede.
Figura 3.7 – Capacidade instalada de energia eólica por estado nos EUA e percentagem de curtailment de geração total de
energia eólica para diversos estados dos EUA. À esquerda, capacidade instalada de energia eólica (adaptada de [26]) e à
direita percentagem de curtailment (adaptada de: [25])
O sistema electroprodutor do TEXAS (ERCOT) conseguiu diminuir os elevados valores de
curtailment que se verificaram entre 2008 até 2011 através da expansão da rede elétrica e de melhorias
no modo de operação do sistema electroprodutor [25].
Outros estudos, como [27], concluíram que por forma a garantir elevadas contribuições de energia
renovável variável nos sistemas electroprodutores, serão necessárias significativas percentagens de
curtailment.
3.4. Necessidade de controlabilidade sobre o consumo de energia
A controlabilidade dos sistemas electroprodutores sobre o consumo, normalmente denominada por
“gestão de consumo”, para fins de equilíbrio com a produção de energia elétrica, é um dos pontos que
ajuda a conferir uma melhor estabilidade ao sistema e uma maior flexibilidade.
Este conceito de controlabilidade consiste na implementação de medidas com objetivo de
influenciar o perfil de consumo de energia elétrica, mudando assim, os hábitos de consumo da população
num período específico de tempo. Estas medidas podem ser caracterizadas em quatro grupos,
dependendo do impacto no perfil de consumo, estando representados na Figura 3.8 [28].
Dificuldade da ampla integração de energias renováveis num sistema electroprodutor
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 21
Figura 3.8 – Medidas para o controlo sobre o consumo de energia elétrica (adaptada de: [28])
Este conceito ganha mais relevância com o aumento da contribuição de VRE, estando referenciado
por alguns estudos como o modo de operação economicamente mais viável para fins de suporte da
variabilidade das energias renováveis [29].
3.5. Necessidade de sistemas de armazenamento de energia
Como anteriormente referido, e reportado por diversas fontes, os sistemas de armazenamento de
energia apresentam um papel fulcral em cenários de estudo de alta integração de energias renováveis
variáveis. Estudos no âmbito da necessidade de armazenamento para cenários de 100 % de contribuição
de VRE [30]-[31] demonstram uma grande necessidade de capacidade de armazenamento. Em [30],
verifica-se que, para um cenário de contribuição 100% por parte de energia solar e eólica, repartida
igualmente entre as duas fontes, seria necessário transitar de uma capacidade de 11 GW para 277.9 GW,
num estudo realizado para as zonas de Nova Inglaterra, Nova Iorque, Médio Atlântico, Centro-Oeste e
parte da zona sul dos Estados Unidos da América. É importante salientar que a capacidade atual instalada
em todo o mundo é de aproximadamente 176.5 GW, sendo que 97% é constituída por centrais PHSS
[32]. Em [31] verifica-se as necessidades energéticas a serem armazenadas para cenários de 100% eólico
e 100% de energia solar, bem como para cenários de repartição entre as duas fontes de energia.
Verificou-se, para esse estudo, que um mix ideal por forma a reduzir as necessidades energéticas a serem
armazenadas seria de 70% proveniente de energia eólica e 30% de solar.
- Melhorar a eficiência dos
equipamentos e processos
- Poupança de energia
Eficiência energética
- Resposta dos consumidores ao
preço da eletricidade em mercado instantâneo
Mover consumo
- Utilização de tecnologias de
armazenamento
- Carregamentos de carros elétricos
Preencher horas de vazio (aumentar consumo)
- Controlo do consumo
- Resposta dos consumidores ao
preço da eletricidade em mercado instantâneo
Reduzir consumo nas horas de ponta
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
22 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 23
Capítulo 4 – Metodologia
4.1. Definição do problema
De acordo com o objetivo da dissertação, no presente capítulo descreve-se a metodologia
implementada na geração de um modelo de gestão de uma central renovável virtual (CRV) sem ligação
à rede elétrica, isto é, inserida num ambiente de autossustentabilidade. Pretende-se, deste modo,
identificar um comportamento ótimo da agregação de energia hidroelétrica e eólica. A CRV considerada
é constituída por uma central eólica e duas centrais hidroelétricas, estas últimas associadas a barragens
criando albufeiras com capacidade de regularização. Do ponto de vista da produção hidroelétrica, as
duas albufeiras estarão ligadas entre si, através da designada central de montante, instalada no
aproveitamento de montante e que turbina para a de jusante. A central hidroelétrica de jusante, associada
à albufeira de jusante, turbina para o curso de água onde se insere.
Como referido anteriormente, a geração eólica possui as características de uma fonte de energia
renovável variável no tempo. Desta forma, os modelos de gestão da CRV assumem que a geração eólica
é não controlável e a geração hidroelétrica controlável. O equilíbrio entre o consumo e a produção irá
ser garantido através da componente hídrica do sistema, atuando em fase de turbinagem caso a energia
eólica produzida não seja suficiente para suprir o consumo e em fase de bombagem caso a energia eólica
seja excedente. No entanto, é importante salientar que existem restrições de funcionamento inerentes
aos sistemas hídricos, por insuficiência de recurso ou de capacidade de armazenamento nas albufeiras,
podendo assim ocorrer a impossibilidade de turbinar ou bombar de água. Consequentemente, é
considerado a possibilidade de curtailment sobre a central eólica, capaz de diminuir a produção de
energia elétrica proveniente do mesmo, caso assim seja necessário, de modo a garantir o equilibro entre
a produção e o consumo de energia elétrica.
A modelação das centrais constituintes do sistema híbrido analisado, teve por base as características
dos aproveitamentos hidráulicos de Sabugal (a montante, no rio Côa, bacia hidrográfica do rio Douro)
e de Meimoa (a jusante, na ribeira de Meimoa, bacia hidrográfica do rio Douro), que constituem o caso
de estudo desta dissertação. Tais albufeiras estão atualmente interligadas tendo-se admitido que ambas
seriam equipadas com centrais hidroelétricas, sendo que a albufeira do Sabugal turbinaria para a de
Meimoa e esta última para o curso de água em que se insere, a ribeira de Meimoa, como antes
especificado. Adicionalmente, foram também consideradas as disponibilidades hídricas afluentes
àqueles aproveitamentos, o perfil de consumo de energia elétrica em Portugal Continental e uma série
anual teórica horária de potência gerada por uma turbina eólica de 2,05 MW , estabelecida previamente
para fins educativos. Os dados de base referidos anteriormente serão descritos de forma mais
pormenorizada na seção 4.3.
Na secção 4.4 sistematizam-se os modelos numéricos que caracterizam a produção de energia
elétrica nas centrais renováveis constituintes da CRV por fonte de energia.
Para analisar o problema, realizaram-se duas abordagens que visam estudar o modelo de gestão do
sistema da CRV. Inicialmente, criou-se um modelo de simulação através do software MATLAB que
define aproximadamente a operação conjunta das centrais renováveis constituintes do sistema. Pretende-
se, assim, implementar um algoritmo computacional de simulação da exploração coordenada das
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
24 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
diferentes centrais em presença, que, no essencial, é maioritariamente constituído por comandos lógicos
(IF, ELSE IF, ELSE), que descrevem os casos possíveis de operação da CRV e a respetiva decisão.
Porém, é evidente que os seguimentos dos comandos lógicos aplicados poderão não representar o
comportamento ótimo da agregação de energia hidroelétrica e eólica. Torna-se assim necessário
averiguar o quanto próximo se apresenta o modelo criado do ótimo pretendido.
Consequentemente, procedeu-se à otimização do sistema através do software GAMS. Recorreu-se,
assim, a funções, variáveis de decisão e restrições do sistema que descrevem o problema, a fim de se
realizar a otimização do modelo de gestão da CRV. O objetivo será, através do programa de otimização
GAMS, obter a melhor decisão a ser tomada a cada hora de modo a obter-se o menor custo de produção
de energia elétrica. Tal custo dependerá dos custos de operação e manutenção das respetivas fontes de
energia, do desperdício de energia proveniente da energia eólica e das descargas efetuadas nas albufeiras
consideradas que não se traduziram em produção de energia elétrica.
Mais precisamente, pretende-se efetuar o equilíbrio entre a produção e o consumo de energia elétrica de
forma a obter o menor desperdício de energia, para o que se considerou prioritária a produção de energia
eólica a par com a minimização do número mínimo de descargas das albufeiras quando os volumes de
água em jogo excedem a respetiva capacidade útil. Relativamente à associação das albufeiras, será dado
prioridade à produção na albufeira de montante, visto que o volume turbinado na central hidroelétrica
de montante será descarregado na albufeira de jusante, mantendo assim esse volume disponível no
sistema, logo, contribuindo para um melhor aproveitamento de água. Note-se que, a decisão tomada a
cada passo de cálculo poderá influenciar o passo de cálculo seguinte e assim sucessivamente, visto que
a decisão de produção de energia elétrica em qualquer uma das albufeiras irá determinar o volume
armazenado em ambas. Importa mencionar que o passo de cálculo adotado foi a hora.
4.2. Caso de estudo
Os aproveitamentos hidráulicos de Sabugal e de Meimoa constituem o caso de estudo adotado nesta
dissertação. Pertencentes ao aproveitamento hidroagrícola de Cova da Beira (AHCB), destinam-se
principalmente à rega e abastecimento público, apresentando ainda a componente de produção de
energia elétrica. No presente trabalho apenas se usaram as características das albufeiras e dos
correspondentes circuitos hidráulicos, sem atender às necessidades de rega, contudo, não se quis deixar
de apresentar o sistema real em que estas albufeiras estão integradas.
O AHCB localiza-se na região da Cova da Beira, mais precisamente na parte setentrional da Beira
Baixa, e permite o abastecimento público de aproximadamente 80000 habitantes, dos concelhos de
Sabugal, Almeida, Pinhel, Penamacor, Belmonte e Fundão. Beneficia, ainda, uma área regada de 12360
hectares. Em termos de produção de energia elétrica, está atualmente equipado com a potência de 6
MW, instalada na central hidroelétrica Sabugal-Meimoa ou Central de Meimão, que capta caudais na
albufeira do Sabugal e os restitui na albufeira de Meimoa [33]. O sistema de captação e armazenamento
é precisamente constituído por aquelas duas barragens e respetivas albufeiras e pelo circuito hidráulico
de Sabugal-Meimoa que as interliga.
A principal infraestrutura de transporte de água, denominado de canal condutor geral (CCG),
apresenta um comprimento de cerca 55 km, constituindo a rede primária de rega do aproveitamento
hidroagrícola. Associado a esse mesmo canal, encontram-se diversas estruturas de compensação dos
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 25
volumes transportados, tais como, reservatórios semienterrados, barragens de aterro e um canal
reservatório.
Na Figura 4.1 é possível observar a representação esquemática do AHCB, incluindo as áreas que
beneficia e alguns dos troços que o compõem. O primeiro troço (T0 a T4 – Figura 4.1) é constituído
pelo canal e barragem dos Escarigo, pelo Canal reservatório da Meimoa e pelas redes secundárias de
rega, viária e de drenagem do bloco da Meimoa. Com a construção da barragem do Sabugal e do circuito
hidráulico Sabugal-Meimoa, seguiu-se a construção do segundo troço (T4 a T7 – Figura 4.1), composto
pelo reservatório de Belmonte, pela barragem de Monte do Bispo e pelas redes secundárias de rega,
viária e de drenagem dos blocos de Belmonte e Caria. A fase final deste projeto deu-se com a construção
da central de Meimão e do terceiro e último troço (T7 a T12 – Figura 4.1), constituído pelos reservatórios
de compensação e pelas respetivas redes secundárias de rega, viária e de drenagem dos blocos de
Covilhã, Fundão, Fatela e Capinha [33].
Figura 4.1 – Esquema da constituição do aproveitamento hidroagrícola de Cova da Beira (retirada de [33]).
Como referido anteriormente, na presente dissertação apenas foi tida em conta a sua componente
que visa a produção de energia elétrica, constituída pelas barragens de Sabugal e de Meimoa, bem como
pelo circuito que as interliga e pela central hidroelétrica de Meimão, neste último caso, no pressuposto
de equipada com grupos reversíveis. Adicionalmente admitiu-se que a barragem de Meimoa estaria
igualmente equipada com uma central hidroelétrica.
A modelação das centrais hidroelétricas constituintes do sistema híbrido em estudo teve por base
algumas das características dos aproveitamentos hidráulicos de Sabugal e de Meimoa, tais como a
geometria das albufeiras e os correspondentes, níveis de pleno armazenamento (NPA) e mínimo de
exploração (NME). Admitiu-se, ainda, que as perdas de carga nos circuitos de produção de energia
seriam de 3% das quedas brutas. Na definição destas últimas quedas considerou-se, no caso da central
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
26 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
de montante, o desnível topográfico real entre as albufeiras de Sabugal e da Meimoa, e, no caso da
central de jusante, uma queda bruta teórica para o que se atendeu à inserção topográfica do
aproveitamento/albufeira de Meimoa. As características relevantes para o objetivo em vista estão
sistematizadas na Tabela 4.1. Anote-se que o volume mínimo corresponde ao ocorrente quando a
albufeira está no nível mínimo de exploração (NME) e que o volume máximo é o definido pelo nível de
pleno armazenamento (NPA). Para fins de produção de energia elétrica na central de montante,
considerou-se que a queda máxima ocorre quando a albufeira de montante está no nível de pleno
armazenamento e a de jusante está no nível mínimo de exploração e a queda útil mínima quando a
albufeira de jusante se encontrará no nível de pleno armazenamento, conforme esquematizada na Figura
4.3. No que concerne à hipotética central de jusante, admitiram-se quedas varáveis entre um máximo e
um mínimo para albufeira de Meimoa respetivamente no NPA e no NME (Figura 4.3). Encontra-se,
ainda, ilustrado na Figura 4.2 as curvas de volumes armazenados em função da cota para ambas as
albufeiras.
Figura 4.2 – Curva de volumes armazenados em função da cota: à esquerda para a albufeira do Sabugal; à
direita para a albufeira de Meimoa
Desprezando-se as perdas por evaporação, a exploração de qualquer uma das albufeiras tem de ser
feita de modo a que o nível não desça abaixo do mínimo. Estando a albufeira cheia, ou seja, no nível de
pleno armazenamento, os volumes afluentes não utilizados são lançados para jusante através de
descarregadores.
Tabela 4.1 - Características associadas às albufeiras dos aproveitamentos hidráulicos de Meimoa-Sabugal
5 A barragem da Meimoa apenas se destina ao armazenamento. Como tal, as quedas brutas consideradas são fictícias e apenas
para o uso nesta dissertação.
Características das albufeiras do caso de estudo Albufeira do Sabugal
(a montante)
Albufeira de Meimoa
(a jusante)
Volume mínimo/máximo - [hm3] 37,2 / 114,1 7,3 / 39,0
Nível de pleno armazenamento (NPA) – [m] 790,0 568,5
Nível mínimo de exploração (NME) – [m] 774,0 547,0
Queda bruta mínima/máxima – [m] 205,5 / 243,0 128,5 / 150,05
770
775
780
785
790
795
35 55 75 95 115
Co
ta (
m)
Capacidade total (hm3)
545
550
555
560
565
570
0 10 20 30 40
Co
ta (
m)
Capacidade total (hm3)
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 27
Figura 4.3 – Esquema representativo da queda bruta mínima e máxima para cada albufeira
4.3. Dados de base
4.3.1. Escoamentos
A transposição de caudais fluviais, de modo a se obterem as disponibilidades afluentes aos
aproveitamentos do Sabugal e de Meimoa, processou-se a partir da estação hidrométrica de Castelo
Bom, localizada no distrito da Guarda. A série histórica de caudais médios diários aí disponível
compreende, 54 anos hidrológicos (de outubro de 1957 até setembro de 2011), tendo os respetivos
valores sido adquiridos através do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) [34].
É ainda importante salientar que os dados obtidos não apresentavam quaisquer falhas de registo,
tratando-se, portanto, de uma a série completa.
O modelo de transposição utilizado é um modelo de regionalização, que tem como parâmetro a
altura de escoamento anual médio. A sua aplicação obriga à proximidade das alturas do escoamento
anual médio na bacia hidrográfica com registos de escoamento, a partir da qual se processa a
transposição, 𝐻1̅̅̅̅ (mm), e na bacia hidrográfica para a qual se pretende estimar tais escoamentos, 𝐻2̅̅̅̅
(mm). A equação através da qual se processa a transposição de escoamentos é dada por [35]:
𝑄𝑖,𝑗2 = 𝑄𝑖,𝑗
1𝑄𝑚𝑜𝑑2𝑄𝑚𝑜𝑑1
(4.1)
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
28 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
onde:
𝑄𝑖,𝑗𝑘 caudal médio diário no dia j do ano i na secção k [m3/s].
𝑄𝑚𝑜𝑑𝑘 caudal modular na secção k;
O caudal modular da secção k pode ser obtido através da equação (4.2).
𝑄𝑚𝑜𝑑𝑘 =𝑉𝐾̅̅ ̅ ∗ 10
6
𝑡=𝐻𝐾̅̅ ̅̅ ∗ 𝐴𝐵 ∗ 10
3
𝑡 (4.2)
onde:
𝑄𝑚𝑜𝑑𝑘 caudal modular na secção k [m3/s].
𝑉𝐾̅̅ ̅ volume do escoamento anual médio da bacia hidrográfica em estudo [hm3].
𝐻𝐾̅̅ ̅̅ altura de escoamento anual médio da bacia hidrográfica em estudo [mm3].
𝐴𝑏 área da bacia hidrográfica [km2].
𝑡 tempo [s];
Com o objetivo de caracterizar o caudal modular, torna-se necessário obter o escoamento anual
médio, H2, nas secções (das barragens de Sabugal e de Meimoa), para as quais se pretende transpor a
informação hidrométrica. Para tanto, recorreu-se, aos seguintes métodos: fórmula de Turc, relações
regionais de Quintela e mapas de isolinhas da altura do escoamento anual médio.
Caracterizado por duas equações para diferentes períodos, uma representativa de um período anual
e outra para um período de 10 dias, o método de Turc foi desenvolvido com o objetivo de calcular a
evapotranspiração real de uma dada região [36]. Nesta dissertação apenas foi considerada a equação
referente ao período anual, que apresenta como dados de entrada ou input a temperatura média anual e
a precipitação média anual da região em estudo.
A temperatura média anual (�̅�) foi obtida através da Figura A.1, presente no Anexo A, e a
precipitação média anual através do SNIRH. O método anteriormente mencionado utiliza as equações
(4.3), (4.4), (4.5) e (4.6) aplicadas à região em estudo [35].
𝑆𝑒 (
�̅�
𝐿)
2
≥ 0.1 ⇒ �̅� =
�̅�
√0.9 + (�̅�𝐿)
2
(4.3)
𝑆𝑒 (�̅�
𝐿)
2
≤ 0.1 ⇒ �̅� = �̅� (4.4)
Onde:
�̅� precipiação média anual (mm)
�̅� evapotranspiração real média anual ou défice de escoamento anual médio (mm)
{
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 29
A 𝐿 é definida através da seguinte equação:
𝐿 = 300 + 25�̅� + 0.05�̅�3 (4.5)
Por fim, a altura de escoamento anual médio, �̅�, é estimada através da equação do balanço
hidrológico:
�̅� = �̅� + �̅� ⇔ �̅� = �̅� − �̅� (4.6)
O segundo método utilizado nesta dissertação por forma a obter o escoamento anual médio
relaciona a precipitação média anual com a altura de escoamento médio anual consoante a temperatura
média anual do ar e o tipo de solo da bacia hidrográfica [37] – Figura A.2 do Anexo A. Por fim, na
Figura A.3, igualmente no anexo A, apresenta-se o mapa de isolinhas do escoamento anual médio
utilizado na estimação direta de H2.
As características das bacias hidrográficas nas secções das barragens do Sabugal e de Meimoa,
relevantes para o cálculo da altura de escoamento médio anual são representadas na Tabela 4.1, bem
como os resultados obtidos. O valor utilizado de altura de escoamento médio anual para o cálculo do
volume do escoamento anual médio e consequentemente do cálculo do caudal modular foi a média entre
dos resultados três métodos estudados, sendo que do método do mapa de isolinhas da altura de
escoamento anual médio se retirou o valor de 350 mm.
Tabela 4.2 – Escoamento anual médio afluente as albufeiras de Sabugal e de Meimoa
6 ANEXO A – Figura A.1 7 ANEXO A – Figura A.3 8 ANEXO A – Figura A.2 9 ANEXO A – Figura A.3
Albufeira
Temperatura
média anual
[ºC]
Área da
bacia
hidrográfica
[km2]
Precipitaç
ão média
anual
[mm]
Altura do escoamento médio anual
[mm] Volume do
escoamento
anual
médio
[hm3]
Método
de Turc
Método de
Quintela Mapa
de
Isolinhas
Média Solo
a
Solo
b
Albufeira
do
Sabugal 11,256
130.92[34] 1147.00[34] 572.8 5903 5107
3508
505.7 66.21
Albufeira
de
Meimoa
60. 27[34] 1014.00[34] 457.1 5005 4509 439.3 26.48
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
30 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
4.3.2. Perfil de consumo de energia elétrica
De modo a representar um consumo local fictício de energia elétrica do ambiente em estudo,
recorreu-se ao perfil de consumo de energia elétrica em Portugal Continental no ano hidrológico de
2016-2017. Os correspondentes dados foram recolhidos através da plataforma online das redes
energéticas nacionais (REN) [38].
Visto tais dados se referirem a períodos de 15 min, houve que referi-los à hora de modo a que
todos os dados de entrada tivessem a mesma discretização temporal.
Procurou-se, ainda, determinar um valor do consumo de energia elétrica que permitisse abordar
o tema, nem muito baixo havendo excesso de potência, nem muito alto resultando excesso de falhas.
Como tal, considerou-se um consumo local fictício a satisfazer representativo de 0,15% do perfil de
consumo de energia elétrica em Portugal Continental, ou seja:
𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎(𝑡) = 𝐶𝑃𝑜𝑟𝑡𝑢𝑔𝑎𝑙(𝑡) ∗ 0.15% (4.7)
Para efeitos de simulação foi necessário considerar dois perfis de consumo devido aos anos
bissextos que ocorrem no período contínuo de 54 anos hidrológicos adotados nos estudos. A
diferença entre estes dois perfis de consumo reside exclusivamente no dia 29 de fevereiro dos anos
bissextos, sendo que os correspondentes valores foram obtidos através da média entre os valores de
cada hora do dia 28 de fevereiro e 1 de março.
Num contexto geral, o perfil de consumo local considerado resulta num consumo de energia
elétrica anual de 74.02 GWh, num ano não bissexto, e de 74.23 GWh, num ano bissexto.
4.3.3. Custos de operação e manutenção
Os custos de operação e manutenção considerados no presente trabalho são apresentados na
Tabela 4.2. Como será referido mais à frente, considerou-se o custo de produção na albufeira de
montante inferior aos custos de operação na albufeira de jusante para, de algum modo, conferir
prioridade à albufeira de montante na componente de otimização.
Tabela 4.3 – Custos de operação e manutenção considerados para as centrais constituintes da CRV
4.4. Modelação das componentes constituintes do sistema
Para a modelação das centrais hidroelétricas e da central eólica constituintes da CRV em estudo,
utilizaram-se funções que descrevem o modo de operação dependendo da disponibilidade do recurso
armazenado (centrais hidroelétricas) e do recurso natural (central eólica) de modo a determinar a
potência passível a ser produzida por cada central em cada instante de tempo. Nas secções que se seguem
estão descritos os modelos físicos utilizados.
Centrais hidroelétricas Central
eólica Fase turbina (C.H1 / C.H2) Fase bombagem
Custo O&M [€/MWh] (15/16)[39] 15 13[40]
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 31
4.4.1. Modelo de geração eólica
A potência extraída do vento por uma turbina eólica pode ser estimada através da equação (4.8)
[41].
𝑃𝑎𝑣𝑎𝑖𝑙 =1
2𝜌𝑎𝐴𝑅𝑣
3𝐶𝑝 (4.8)
Onde:
𝑃𝑎𝑣𝑎𝑖𝑙 potência mecânica extraída do vento [W].
𝜌𝑎 densidade do ar [kg/m3].
𝐴𝑅 área do rotor [m2].
𝑣 velocidade do vento [m/s].
𝐶𝑝 coeficiente de potência da turbina;
Contudo, tendo por objetivo simplificar os modelos de otimização e simulação, foi fornecido pelo
LNEG uma série anual teórica, com intervalo horário, representativa da potência extraída por uma
turbina eólica de 2,05 MW.
A metodologia adotada para a formação da série fornecida provêm de um estudo realizado em 2016
por [42]. Nesta investigação, com o objetivo de simplificar a obtenção da potência extraída por uma
turbina, o autor, optou por simular o comportamento da potência elétrica produzida por uma turbina
eólica, tendo por base a sua curva de potência. Para tal, foram obtidas experimentalmente curvas de
potência para dois modelos distintos de turbinas de 2 MW pertencentes a uma central eólica, e
posteriormente determinadas as regressões que melhor se ajustavam aos dados. Procedeu-se ainda à
validação das regressões desenvolvidas por via de comparação entre os valores de potência obtidos pela
regressão desenvolvida e os valores das séries de potências medidas experimentalmente para essa
mesma central. Como é possível observar pela Figura 4.4, os valores medidos experimentalmente à saída
da central eólica e obtidos através das curvas desenvolvidas são bastante próximos, sendo os valores
dados pelo método ligeiramente superiores para a gama de níveis inferiores de potência extraída.
Figura 4.4 – Representação gráfica dos valores de potência extraída de uma turbina de 2,05 [MW]. A azul
estão representados os valores determinados através da metodologia implementada tendo por base a curva
de potência. A preto e cinzento estão representados os valores de potência real medida, respetivamente, na
subestação da central e nas turbinas (retirada de [42]).
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
32 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Por conseguinte, a potência extraída pela central eólica foi determinada com recurso à equação
(4.9).
𝑃𝑒𝑜𝑙_𝑒𝑥𝑡(𝑡) = 𝑃𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎(𝑡) ∗ 𝑁𝑇 (4.9)
onde:
𝑃𝑒𝑜𝑙_𝑒𝑥𝑡 potência extraída pela central eólica em MW, a cada iteração.
𝑃𝑡𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎 potência extraida pela turbina de 2 MW, a cada iteração.
𝑁𝑇 representa o número de turbinas;
Contudo, devido à possibilidade de não satisfação das necessidades de bombagem quando a
potência consumida é inferior à potência extraída pela central eólica, tema que será abordado com maior
pormenor mais à frente nesta dissertação, tornou-se estritamente necessário a criação de um mecanismo
que tivesse a capacidade de diminuir a potência proveniente da central eólica. Desta forma, adicionou--
se um fator de aproveitamento da potência extraída pela central eólica, representado pela equação (4.10):
0 < 𝑋(𝑡) < 1 (4.10)
Consequentemente, a potência extraída pela central eólica é dada pela equação (4.11).
𝑃𝑒𝑜𝑙(𝑡) = 𝑃𝑒𝑜𝑙_𝑒𝑥𝑡(𝑡) ∗ 𝑋(𝑡) (4.11)
4.4.2. Modelo de geração hidroelétrica
A produção de energia elétrica proveniente da hidroeletricidade pode ser representa pela equação
(4.12) [43]:
𝑃𝐻𝑖𝑑𝑟𝑖𝑐𝑎 = 𝑔 ∗ 𝜌𝑤 ∗ 𝜂𝑡(𝑄) ∗ 𝐻𝑢 ∗ Q (4.12)
Onde:
𝑃𝐻𝑖𝑑𝑟𝑖𝑐𝑎 potência hídrica [W].
𝑔 aceleração gravítica [m/s2].
𝜌𝑤 densidade da água [kg/m3].
𝜂𝑡(𝑄) rendimento da turbina em função do caudal turbinado
𝐻𝑢 queda útil
Q caudal turbinado pela turbina [m3/s];
Como referido anteriormente na secção 4.2, a modelação das centrais hidroelétricas do sistema
híbrido tiveram por base características dos aproveitamentos do caso de estudo, bem como
considerações adicionais que se consideram razoáveis para o âmbito em estudo.
Nesse contexto, foi considerado que cada central hidroelétrica estava equipada com turbinas do tipo
Francis, com a potência de 10 MW, perfazendo 20 MW de potência hídrica instalada. O rendimento das
turbinas foi determinado com recurso à curva característica de rendimentos de uma turbina Francis,
representada na figura abaixo [44], que descreve o valor do rendimento em função do caudal máximo
turbinável. Através da análise da Figura 4.5, observa-se que apenas é possível obter alguns pontos da
curva de rendimento com maior certeza (Tabela 4.4), tendo sido necessário efetuar uma interpolação
linear por troços, de modo a obter os restantes valores constituintes da curva de rendimento.
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 33
Tabela 4.4 – Pontos da curva de rendimento
considerados para fins de interpolação
Figura 4.5 – Curva de rendimento de uma turbina Francis (retirada de: [44]).
Introduzindo o valor de queda bruta máxima (Tabela 4.1) reduzida de 3% para atender às perdas
de carga na equação (4.12) obtém-se o valor de caudal máximo de projeto para a potência máxima pré-
-fixada da turbina (10 MW).
Seguidamente, criou-se um vetor com 180 valores de caudal igualmente espaçados entre o caudal
máximo turbinável e o caudal mínimo compatível com o funcionamento da turbina (20% daquele
máximo), ou seja, 180 caudais passiveis de serem turbinados (𝑄𝑡(𝑘)) e, por interpolação linear com base
nos valores da Tabela 4.4, obteve-se uma curva de rendimento característica das turbinas com bastante
detalhe. Este procedimento destinou-se apenas a diminuir o tempo de processamento dos algoritmos
computacionais aplicados pois permitiu evitar a necessidade de constantemente realizar interpolações
para obter rendimentos.
Visto que as duas albufeiras do caso de estudo apresentam diferentes características, tem-se que a
potência hídrica K, produzida na central hidroelétrica X, é dada pela equação 4.13, onde é considerado
um valor de perdas de carga de 3%, pelo que a variável que figura na equação não é a queda útil, como
na equação (4.12), mas antes a queda bruta 𝐻𝑏 ,ou seja, o desnível topográfico. O caudal turbinado varia
perante a necessidade de potência por forma a equilibrar a produção e o consumo de energia elétrica e
consequentemente o rendimento da turbina.
𝑃𝑡𝑥(𝐾) = 𝑔 ∗ 𝜌𝑤 ∗ 𝜂𝑡(𝑄𝑡𝑥(𝑘)) ∗ 𝐻𝑏𝑥 ∗ 𝑄𝑡𝑥(𝑘) ∗ 0.97 (4.13)
A aplicação da metodologia descrita permite obter a curva de potências em função do caudal
turbinado de cada central hidroelétrica e respetiva regressão linear, quando aplicado o cálculo a todo o
vetor de caudais passíveis a turbinar (𝑄𝑡𝑥(𝑘)). É importante salientar que a curva de potências obtida
varia a cada instante de tempo, visto que o armazenamento disponível nas albufeiras se altera a cada
iteração, com consequentemente alteração do nível da superfície livre e, logo, da queda bruta disponível.
Como tal, em fase de simulação serão realizadas interpolações lineares a cada iteração. Assim, obtida a
curva de potências em função do caudal é posteriormente calculado o caudal turbinado determinada pela
necessidade de dada potência. Na fase de otimização será calculado o caudal necessário através das
regressões lineares obtidas previamente para esse fim. O uso de uma metodologia diferente entre a
simulação e otimização deve-se ao facto das características do programa GAMS não permitirem o uso
Percentage
turbine
flow (%)
Turbine
Efficiency
(%)
20,00 56
22,50 60
30,00 70
42,50 80
73,75 90
90,00 94
100,00 92
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
34 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
de interpolações. Consequentemente, na componente de otimização, o caudal turbinado é definido pela
equação (4.14), onde o declive da regressão linear é representado pela variável 𝑚𝑥 e a ordenada da
origem é representada pela variável 𝐵𝑥. A variável 𝑥 representa, novamente, a albufeira selecionada:
𝑄𝑡𝑥(𝑡) ∗ 𝑚𝑥 = 𝑌𝑥(𝑡) ∗ (𝑃t𝑥(𝑡) − 𝐵𝑥) (4.14)
No que diz respeito à bombagem, considerou-se um rendimento constante de 70% e, tal como em
fase de turbina, perdas de carga de 3%. Sendo assim, a equação (4.15) define a potência de bombagem.
Pelas mesmas circunstâncias verificadas para a fase de turbina, o caudal de bombagem na componente
de otimização é calculado com recurso ao uso de curvas de potência, conforme na equação (4.16), em
que Hb representa, novamente, a queda bruta.
𝑃𝑏(𝑡) =𝑄𝑏(𝑡) ∗ 𝜌𝑤 ∗ 9.8 ∗ 𝐻𝑏1 ∗ 1.03
𝜂𝑏 (4.15)
𝑄𝑏(𝑡) ∗ 𝑚𝑏 = 𝑌𝑏(𝑡) ∗ (𝑃𝑏(𝑡) − 𝐵𝑏) (4.16)
As limitações técnicas relativas à componente hídrica do sistema, mais especificamente à máquina,
são garantidas, no caso da simulação, através de comandos lógicos pertencentes ao modelo de
simulação, descrito mais à frente neste relatório, na seção 4.5.
Por outro lado, no caso da otimização, essas limitações são garantidas pelas equações (4.17), (4.18),
(4.19) e (4.20). A variável 𝑌𝑥(𝑡) é definida como uma variável binária, podendo apenas apresentar o
valor de 0 ou 1, sendo que, em fase de produção de energia elétrica, retorna o valor de 1 (𝑌𝑥 = 1) e de
não produção o valor de 0 (𝑌𝑥 = 0):
𝑄𝑡𝑥(𝑡) ≥ 𝑄min_t𝑥 ∗ 𝑌𝑥(𝑡) (4.17)
𝑄𝑡𝑥(𝑡) ≤ 𝑄max_t𝑥 (4.18)
𝑄𝑏(𝑡) ≥ 𝑄min _𝑏 ∗ 𝑌𝑏(𝑡) (4.19)
𝑄𝑏(𝑡) ≤ 𝑄max _𝑏 (4.20)
Relativamente às condições inicias de armazenamento, considerou-se uma queda bruta inicial, e
consequentemente um armazenamento inicial, sensivelmente correspondente ao centro de massa do
volume da albufeira para o que aquela queda foi fixada em 2/3 da queda bruta máxima [45]. Para tal
queda, o armazenamento inicial da albufeira a montante é de 70,41% e da albufeira a jusante é de 62,09%
(cotas da superfície livre de 784.667 [m] e de 561.333 [m], respetivamente).
Na componente de simulação, o armazenamento será controlado novamente através de comandos
lógicos. Quando ocorre a produção de energia elétrica numa das albufeiras, será retirado dessa albufeira
o valor de volume de água correspondente ao caudal turbinado durante uma hora. Caso a produção de
energia elétrica seja efetuada na albufeira a montante, esse mesmo valor será adicionado ao
armazenamento da albufeira a jusante. A cada iteração é também adicionado o caudal fluvial afluente
correspondente a essa mesma iteração e efetuadas descargas, caso estas sejam necessárias, para não
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 35
exceder o valor de armazenamento máximo. Em caso de ocorrência de bombagem, o volume de água
bombado será retirado ao armazenamento de jusante e adicionado ao armazenamento de montante.
Relativamente à componente de otimização, as limitações de armazenamento são garantidas através
das equações (4.21) e (4.22). O armazenamento na albufeira a montante (x=1) é definido pela equação
(4.23) quando t é igual a 1 (armazenamento inicial) e pela equação (4.24) quando t é superior a 1. O
armazenamento na albufeira a jusante (x=2) é definido pela equação (4.25) quando t é igual a 1 e pela
equação (4.26) quando t é superior a 1.
𝐴𝑟𝑚𝑥(𝑡) ≥ 𝐴𝑟𝑚min𝑥 (4.21)
𝐴𝑟𝑚𝑥(𝑡) ≤ 𝐴𝑟𝑚max𝑥 (4.22)
𝑇 = 1 𝐴𝑟𝑚1(1) = (𝐴𝑟𝑚max1*𝐴𝑖𝑛𝑖_1 ∗ 10−6 ) + 3600 (𝑄𝑎1(1) − 𝑄𝑡1(1) +
𝑄𝑏(1)) − 𝐷1(𝑡) (4.23)
𝑇 > 1 𝐴𝑟𝑚1(𝑡) = (𝐴𝑟𝑚1(𝑡 − 1)∗ 10−6) + 3600(𝑄𝑎1(𝑡) − 𝑄𝑡1(𝑡) + 𝑄𝑏(𝑡)) −
𝐷1(𝑡) (4.24)
𝑇 = 1 𝐴𝑟𝑚2(1) = (𝐴𝑟𝑚max2*𝐴𝑖𝑛𝑖_2 ∗ 10−6) + 3600(𝑄𝑎2(1) + 𝑄𝑡1(1) −
𝑄𝑡2(1) − 𝑄𝑏(1)) − 𝐷2(𝑡) (4.25)
𝑇 > 1 𝐴𝑟𝑚2(𝑡) = (𝐴𝑟𝑚2(𝑡 − 1)∗ 10−6) + 3600(𝑄𝑎2(𝑡) + 𝑄𝑡1(𝑡) − 𝑄𝑡2(𝑡) −
𝑄𝑏(𝑡)) − 𝐷2(𝑡) (4.26)
Resta ainda referir que:
As variáveis 𝐷1(𝑡) e 𝐷2(𝑡) representam, respetivamente, as descargas efetuadas em 1 e em
2, a cada instante de tempo;
𝑄𝑎𝑥 representa os caudais afluentes às albufeiras, a cada iteração t;
𝐴𝑟𝑚min𝑥 , 𝐴𝑟𝑚max𝑥 e 𝐴𝑖𝑛𝑖_𝑥 representam, respetivamente, a capacidade mínima da
albufeira 𝑥, a capacidade máxima da albufeira 𝑥 e a percentagem de armazenamento inicial
considerada;
As equações (4.27) e (4.28) fornecem as cotas das albufeiras em função do armazenamento
disponível, respetivamente, na albufeira de montante e na de jusante. A partir das mesmas, torna-se
possível determinar as quedas brutas nas albufeiras dadas pelas equações (4.29) e (4.30).
𝐶𝑜𝑡𝑎1(𝑡) = (−0.0010 ∗ (𝐴𝑟𝑚1(𝑡) ∗ 10−6)2) + (0.3588 ∗ 𝐴𝑟𝑚1(𝑡) ∗ 10
−6)
+762.30 (4.27)
𝐶𝑜𝑡𝑎2(𝑡) = (−0.0107 ∗ (𝐴𝑟𝑚2(𝑡) ∗ 10−6)2) + (1.1595 ∗ 𝐴𝑟𝑚1(𝑡) ∗ 10
−6)
+539.53 (4.28)
𝐻𝑏1(𝑡) = (𝐶𝑜𝑡𝑎1(𝑡) − 𝐶𝑜𝑡𝑎2(𝑡)) (4.29)
𝐻𝑏2(𝑡) = ( 𝐶𝑜𝑡𝑎2(𝑡) − 418.5) (4.30)
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
36 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
4.5. Modelo de gestão do sistema
Como referido anteriormente, as componentes de simulação e otimização apresentam diversas
diferenças devido a serem realizadas por softwares distintos, consequentemente, com diferentes modos
de operação. Desta forma, as secções que se seguem pretendem dar ênfase ao modelo de gestão do
sistema, isto é, à modelação adotada em cada uma das vertentes em estudo, de modo a representar as
hipóteses (otimização) ou decisões (simulação) que descrevem a forma como o sistema se mantém
autossustentável, sem existir a necessidade de compra ou venda de energia elétrica.
4.5.1. Simulação
O modelo de gestão do sistema, na componente de simulação, processa-se por comandos lógicos
que descrevem todas as fases de decisão possíveis. Para a produção de energia elétrica considerou-se
que a prioridade de produção provém da central eólica, seguido da produção na central hidroelétrica de
montante e por fim, na de jusante. Tal escala de prioridades tem por objetivo uma melhor gestão da água
armazenada pelo sistema, sendo que, a produção na albufeira de montante irá manter água disponível
no sistema, pois a mesma será armazenada na albufeira de jusante. Contrariamente, a produção na central
hidroelétrica de jusante, resultará numa “perda de água” para o sistema, pois a mesma seguirá para o
curso natural do rio. Foi ainda considerada uma exceção à anterior sequência de prioridades, quando a
potência necessária a ser produzida, traduzida pela equação (4.33), é inferior a ambas as potências
máximas das centrais hidroelétricas instaladas. Neste caso, confere-se prioridade à produção de energia
na central hidroelétrica de jusante relativamente à de montante, devido a ser uma grande quantidade de
energia e consequentemente um grande volume de água. Achou-se, assim, que o esvaziamento na
albufeira de jusante seria menos prejudicial para o sistema electroprodutor, do que na albufeira de
montante.
O caudal turbinado é obtido através da interpolação da curva de potências obtida, representada pela
equação (4.13).Visto que, a cada iteração, o armazenamento das albufeiras se altera, alterando
consequentemente o nível da superfície livre e, logo, a queda bruta, é realizada uma nova interpolação
e determinada uma nova curva de potências a cada hora.
O sistema lógico construído para este problema é caracterizado por três conjuntos de testes lógicos.
Primeiramente, será analisado a componente de potência necessária de modo a equilibrar a produção e
o consumo, representado pela equação (4.31):
𝑃𝑛𝑒𝑐 = 𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 − 𝑃𝑒𝑜𝑙_𝑒𝑥𝑡 (4.31)
Recorde-se que a variável 𝑃𝑒𝑜𝑙(𝑡) obedece à equação (4.9).
Caso a equação (4.31) apresente resultado positivo, estaremos em fase de produção de energia
elétrica. Esta fase é caracterizada por quatro hipóteses, representas pelas equações (4.32), (4.33), (4.34)
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 37
e (4.35) consoante: a potência necessária a ser produzida é inferior à potência mínima das centrais
hidroelétricas (4.32); é superior à potência mínima e inferior à potência máxima da central hidroelétrica
a montante (4.33); é superior à potência mínima e inferior à potência máxima da central hidroelétrica a
jusante (4.34); ou, por fim, é superior à potência máxima das centrais hidroelétricas (4.35):
𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃min_t1 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃min_t2 (4.32)
𝑃𝑛𝑒𝑐 > 𝑃min_t1 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃max_t1 (4.33)
𝑃𝑛𝑒𝑐 > 𝑃min_t2 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃max_t2 (4.34)
𝑃𝑛𝑒𝑐 > 𝑃max_t1 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 > 𝑃max_t2 (4.35)
Pelo contrário, se a equação (4.31) apresenta resultado negativo, estaremos em fase de consumo de
energia elétrica, existindo assim três casos possíveis. Se o módulo da potência necessária for maior do
que a potência mínima de bombagem e menor do que a potência máxima de bombagem, representado
pela equação (4.36), existe a possibilidade de aumentar o consumo através do sistema de bombagem, ou
contrariamente; caso contrário, ou seja, se o módulo da potência necessária for inferior à potência de
bombagem mínima (4.37), diminuísse a produção de energia elétrica proveniente da central eólica.
Existe ainda a possibilidade do módulo de potência ser superior à potência máxima em fase bomba
(4.38).
𝑃max_𝑏 > |𝑃𝑛𝑒𝑐| > 𝑃min_𝑏 (4.36)
|𝑃𝑛𝑒𝑐| < 𝑃min_𝑏 (4.37)
|𝑃𝑛𝑒𝑐| > 𝑃max_𝑏 (4.38)
É importante salientar que apenas uma das hipóteses representadas pelas equações (4.32) até (4.38)
é possível de acontecer. Isto é, do ponto de vista da implementação em linguagem de programação, o
sistema compreende um IF, seguido de ELSE IF e por fim de um ELSE10. Para uma melhor compreensão,
a Figura 4.6 representa o primeiro conjunto de testes lógicos, onde as linhas a azul representam o
comando lógico IF. A amarelo encontram-se evidenciadas os comandos ELSE IF. Por fim, a vermelho
exibe-se o comando lógico ELSE.
10 IF,ELSE IF e ELSE são expressões lógicas que resultam em valores lógicos. Caso a expressão lógica IF se verifique o
valor retornado é o valor 1, sendo este representado como verdadeiro, ou 0 quando a condição é falsa. O comanda lógico
ELSE IF é executado com uma ou mais condições quando a condição IF é falsa. O comando lógico ELSE ocorre quando
o comando lógico IF ou os comandos lógicos ELSE IF são dados como falsos.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
38 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Figura 4.6 – Representação esquemática do primeiro conjunto de testes lógicos realizados para fins de simulação
Após a escolha da opção proveniente do primeiro conjunto de testes lógicos, averiguar-se-á se
existem condições de armazenamento, de modo a realizar a turbinagem ou bombagem.
Tal etapa pode ser descrita através da equação (4.39), que pretende averiguar se existe condições
em fase de turbinagem na central hidroelétrica a montante e pela equação (4.40) na de jusante. A equação
(4.41) descreve os testes lógicos realizados em fase de bombagem.
𝐴𝑟𝑚1 − (𝑄𝑡1 ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚min1 & 𝐴𝑟𝑚2 + (𝑄𝑡1 ∗ 3600) ≤ 𝐴𝑟𝑚max2 (4.39)
𝐴𝑟𝑚2 − (𝑄𝑡2 ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚min2 (4.40)
𝐴𝑟𝑚1 + (𝑄𝑏 ∗ 3600) ≤ 𝐴𝑟𝑚max1 & 𝐴𝑟𝑚2 − (𝑄𝑏 ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚min2 (4.41)
No caso de a potência necessária ser inferior às potências mínimas das centrais hidroelétricas,
realizar-se-ão testes lógicos na componente de armazenamento para a produção à potência mínima na
albufeira a montante (equação 4.39). Se a condição for verdadeira, resultará na produção de energia
elétrica na albufeira a montante; contundo, caso não se satisfaçam as condições de armazenamento
(armazenamento a montante insuficiente ou armazenamento máximo a jusante seria excedido), realizar-
se-ão os testes lógicos de armazenamento para a central hidroelétrica a jusante (equação 4.40). No caso
destes se apresentarem favoráveis, resultará na produção de energia elétrica na central hidroelétrica a
jusante. Pelo contrário, caso não existam condições de armazenamento em ambas as albufeiras, o
sistema é caracterizado como não sustentável.
No caso de a potência necessária se encontrar entre a potência mínima e a potência máxima da
central hidroelétrica de montante, realizar-se-ão testes lógicos de armazenamento para produção de
energia elétrica na mesma. Em caso de aprovação dos mesmos (armazenamento a montante suficiente e
armazenamento a jusante não será excedido), será efetuada o turbinagem na central hidroelétrica de
montante. Contrariamente, para um resultado “negativo”, será averiguado se a potência necessária se
encontra entre a potência mínima e a potência máxima da central hidroelétrica de jusante ou, em caso
de reprovação, se é inferior a potência mínima (equação (4.42)) da mesma. Caso a potência necessária
Pnec = Pcarga -
Peol
Pnec < Pmin_t1
Pnec < Pmin_t2
Pnec > Pmin_t1
Pnec < Pmax_t1
Pnec > Pmin_t2
Pnec < Pmax_t2
Pnec > Pmax_t1
Pnec > Pmax_t2
Pnec > 0
1 4.32 1 4.33 1 4.34 1 4.35 1 4.36 1 4.37 1 4.38
Pnec < 0
Pmax_b >
| Pnec | > Pmin_b
| Pnec | >
Pmax_b | Pnec | <
Pmin_b
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 39
não seja inferior à potência mínima, o sistema é caracterizado como não sustentável, pois não possibilita
condições de armazenamento para produzir energia elétrica, tanto na central hidroelétrica a montante,
como na de jusante.
𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃min_t2 (4.42)
Na situação da potência necessária se encontrar entre a potência mínima e a potência máxima da
central hidroelétrica de jusante, realizar-se-ão testes lógicos de armazenamento para produção de energia
elétrica na mesma. Em caso de aprovação (armazenamento a montante suficiente e armazenamento
máximo a jusante não será excedido), será efetuada o turbinagem na central hidroelétrica de jusante.
Contrariamente, para um resultado “negativo”, será averiguada se a potência necessária é inferior à
potência mínima da central hidroelétrica a montante (equação (4.43)). Caso não seja, o sistema é
caracterizado como não sustentável, pois não possibilita condições de armazenamento para produzir
energia elétrica, tanto na central hidroelétrica a montante, como na de jusante.
𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃min_t1 (4.43)
Por outro lado, se a opção proveniente do primeiro conjunto for representada pela equação (4.35),
isto é, a potência necessária é superior a ambas as potências máximas das centrais hidroelétricas do
sistema, verificar-se-á se a potência necessária é inferior à soma da potência mínima em fase turbina da
central hidroelétrica a montante com a potência máxima em fase turbina da central hidroelétrica a
jusante, sendo este comando lógico caracterizado pela equação (4.44). Caso tal não se verifique,
averiguar-se-á se a potência necessária é inferior à soma das potências máximas das centrais
hidroelétricas do sistema (equação (4.45)). Caso não seja o sistema é caracterizado como não
sustentável, pois a potência hidroelétrica disponível é, em algum instante de tempo, inferior à potência
necessária.
𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃min_t1 + 𝑃max_t2 (4.44)
𝑃𝑛𝑒𝑐 < 𝑃max_t1 + 𝑃max_t2 (4.45)
Por último, caso a opção proveniente do primeiro conjunto seja que o módulo da potência
necessária seja superior à potência mínima de bombagem e inferior à máxima ou, caso não se verifique,
seja superior à potência máxima de bombagem, realizar-se-ão os testes lógicos representativos da
equação (4.41). No primeiro caso, os testes lógicos serão efetuados para um caudal de bombagem
calculado através da equação (4.16). Por outro lado, para o segundo caso serão averiguadas as condições
de armazenamento para a realização da bombagem ao caudal máximo. Caso não se apure nenhum dos
casos anteriores, significa que o módulo da potência necessária é inferior à potência mínima de
bombagem e como tal a potência extraída das turbinas não é suficiente para ativar a fase bomba.
Consequentemente, é necessária diminuir a potência extraída pela central eólica de modo a equilibrar o
consumo e a produção. Algo que ocorre igualmente, se não existir condições de armazenamento para
efetuar a bombagem nos dois primeiros casos deste troço.
Novamente para uma melhor compreensão, representa-se na Figura 4.7, o segundo conjunto de
teste lógicos, onde as linhas a azul representam o comando lógico IF. A amarelo encontram-se
evidenciadas os comandos ELSE IF. Por fim, a vermelho exibe-se o comando lógico ELSE. Note-se que
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
40 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
o segundo conjunto já apresenta soluções do modelo de simulação à iteração em curso, estando as
mesmas ilustradas através de setas na Figura 4.7.
Figura 4.7 – Representação esquemática do segundo conjunto de testes lógicos realizados para fins de
simulação.
Pnec < Pmin_t2
Pnec > Pmax_t2
Pnec < Pmin_t1
Pnec > Pmax_t1
Teste
Arm1
Pnec <
Pmin_t2
Resultado:
N. Sustentável
Resultado:
Turbina C.H1
1 4.33
1 4.34 1 4.39 1 4.42
Pnec < Pmin_t2
Pnec > Pmax_t2
Resultado:
N. Sustentável
Teste
Arm2
Pnec <
Pmin_t1
Resultado:
Turbina CH2
1 4.34
1 4.40 1 4.41
Pnec < Pmin_t1
Pnec < Pmin_t2
Teste
Arm1
Teste
Arm2
Resultado:
N. Sustentável
Resultado:
Turbina CH1 +
Dim. produção
C.E
Resultado:
Turbina CH2 +
Dim. produção
C.E
1 4.32
1 4.39 1 4.40
Pmax_b >
| Pnec | > Pmin_b
| Pnec | >
Pmax_b
| Pnec | <
Pmin_b
1 4.36 1 4.37 1 4.38
Pnec < 0
Teste
ArmB
Teste
ArmB
Resultado:
Dim. Produção C.E
Resultado:
Bombar CH.1
Resultado:
Bombar CH.1 e
Dim. Produção
C.E
1 4.39 1 4.40
Pnec > Pmax_t1
Pnec > Pmax_t2
Pnec <
Pmax_t1 + Pmax_t2
Resultado:
Potência
instalada
Insuficiente
Pnec <
Pmin_t1 + Pmax_t2
1 4.44 1 4.45
1 4.35
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 41
Por último, demonstram-se as restantes soluções que o sistema lógico pode apresentar, proveniente
das possíveis opções do segundo conjunto de testes lógicos. Os terceiros, e últimos, conjuntos de testes
podem ser caracterizados, tal como o segundo conjunto, por testes de armazenamento precedentes da
não possibilidade de produção de energia elétrica proveniente dos testes anteriores. Exceção para o caso
correspondente à equação (4.35), pois é realizado mais um teste do ponto de vista da potência necessária.
Desta forma, após se averiguar que não existia condições para a produção de energia elétrica na
central hidroelétrica a montante, motivada pelo baixo nível de armazenamento, são realizados os testes
para apurar se existe condições de potência e, em caso de aprovação, de armazenamento para a produção
na central hidroelétrica a jusante. A aprovação do teste de armazenamento, dita a produção de energia
elétrica e, contrariamente, a não sustentabilidade do sistema. Caso não existam condições de potência
devido a esta ser inferior à potência mínima da central, é realizado o teste de armazenamento
considerando a produção à potência mínima e consequentemente ao caudal mínimo da turbina. Em caso
de aprovação de condições de armazenamento, resulta na produção na central hidroelétrica de jusante,
seguida de uma diminuição da produção de energia elétrica proveniente da central eólica. Porém, existe
a possibilidade de a potência necessária não estar entre o intervalo pretendido devido a esta ser superior
à potência máxima, resultando assim na não sustentabilidade do sistema.
Por outro lado, caso se verifique que não existem condições de armazenamento para a produção de
energia hidroelétrica da albufeira de jusante, tendo sido este caminho proveniente do primeiro conjunto
de testes lógicos, e que a potência necessária é de facto inferior à potência mínima da central
hidroelétrica de montante, será averiguado se existem condições de armazenamento na albufeira de
montante para a produção de energia hidroelétrica à potência mínima. Em caso de aprovação, ocorrerá
a produção de energia elétrica através da central hidroelétrica de montante e diminuir-se-á a produção
proveniente da central eólica, com o objetivo de equilibrar a produção e o consumo de energia elétrica.
Contrariamente, a impossibilidade de produção na central hidroelétrica de montante devido à falta de
condições de armazenamento, resultará, novamente, na não sustentabilidade do sistema.
Por último, caso se verifique que a potência necessária é superior a ambas as potências máximas e
que estamos perante a possibilidade de produção em ambas, isto é, que a potência necessária é inferior
à soma da potência mínima da central hidroelétrica de montante com a potência máxima da central
hidroelétrica de jusante ou, que é inferior à soma das potências máximas de ambas as centrais, serão
realizados os testes de armazenamento para a produção em ambas as centrais. O procedimento em ambos
é idêntico, sendo que, no primeiro caso a central hidroelétrica de montante produzirá à potência mínima
e no segundo, produzirá ao valor da subtração da potência necessária pelo valor da potência máxima da
central hidroelétrica de jusante (equação (4.46)). Seguidamente, verificar-se-ão as condições de
armazenamento em ambas as albufeiras para a realização do turbinagem, representada pela equação
(4.47). Caso a relação não se verifique devido à albufeira de jusante estar ao nível de pleno
armazenamento (equação (4.48)), efetuar-se-á uma descarga e posterior produção de energia elétrica de
forma a no final da iteração o armazenamento da albufeira de jusante apresente, novamente, o
armazenamento máximo. Por outro lado, caso a relação correspondente à equação (4.47) se verifique,
realizar-se-á a produção de energia elétrica sem ser necessário a realização da descarga. A não
possibilidade de produção de energia elétrica devido a questões de armazenamento não relacionadas
com o enchimento da albufeira de jusante resultará na não sustentabilidade do sistema electroprodutor.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
42 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
𝑃𝑟𝑒𝑠𝑡 = 𝑃𝑛𝑒𝑐 − 𝑃max_t2
(4.46)
𝐴𝑟𝑚1 − (𝑄𝑡1 ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚min1 & 𝐴𝑟𝑚2 − (𝑄𝑡2 ∗ 3600) ≥
𝐴𝑟𝑚min2 & 𝐴𝑟𝑚2 + ((𝑄𝑡1−𝑄𝑡2) ∗ 3600) ≤ 𝐴𝑟𝑚max2
(4.47)
𝐴𝑟𝑚1 − (𝑄𝑡1 ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚min1 & 𝐴𝑟𝑚2 − (𝑄𝑡2 ∗ 3600) ≥
𝐴𝑟𝑚min2 & 𝐴𝑟𝑚2 + ((𝑄𝑡1−𝑄𝑡2) ∗ 3600) ≥ 𝐴𝑟𝑚max2 (4.48)
É importante salientar que na equação (4.47) apenas é considerado o caudal turbinado na albufeira
de jusante, correspondente ao número 2, para efeitos de armazenamento mínimo, pois é uma verificação
para a iteração considerada. Deste modo, averiguar-se-á se o caudal que sai nesse preciso momento irá
comprometer ou não o armazenamento mínimo. No entanto, para efeitos de armazenamento máximo,
são considerados ambos os caudais usados na turbinagem, pois pretende-se testar se entre o caudal que
sai durante a iteração e o que entra, irá influenciar o armazenamento máximo na próxima iteração.
Considera-se assim que o caudal turbinado na albufeira de montante demorará exatamente uma iteração,
isto é, uma hora, até poder ser incluído no armazenamento da albufeira a jusante.
Figura 4.8 – Representação esquemática do terceiro conjunto de testes lógicos realizados para fins de simulação
No anexo B encontra-se o fluxograma representativo do modelo do sistema desenvolvido para a
componente de simulação, tendo este por objetivo sintetizar os três conjuntos de testes lógicos realizados
e representados pelas Figuras 4.6, 4.7 e 4.8.
Pnec > Pmin_t2
Pnec < Pmax_t2
Pnec < Pmin_t1
Teste
Arm1
Resultado:
N. Sustentável
Resultado:
Turbina CH1 +
Dim. produção
C.E
Pnec > Pmax_t1
Pnec > Pmax_t2
Pnec < Pmin_t1 + Pmax_t2
ou
Pnec < Pmax_t1 + Pmax_t2
Teste
Arm1/2
Teste
Des + Turb
Resultado:
N. Sustentável
Resultado:
Descarga em
ALB2 + Turbina
CH1 e CH2
Resultado:
Turbina CH1 e
CH2
1 4.35
1 4.44
1 4.45
1 4.48 1
4.47
1 4.34
1 4.43
1 4.39
Pnec > Pmin_t1
Pnec < Pmax_t1
Pnec > Pmin_t2
Pnec < Pmax_t2 Pnec < Pmin_t2
Teste
Arm2
Resultado:
N. Sustentável
Teste
Arm2
Resultado:
N. Sustentável
Resultado:
Turbina CH2 +
Dim. produção
C.E
Resultado:
Turbina CH2
1 4.40 1 4.40
1 4.33
1 4.34 1 4.42
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 43
4.5.2. Otimização
Os problemas de otimização podem ser definidos como linear (LP) ou não lineares (NLP). São
lineares quando todas as funções envolvidas na definição do problema, tais como a função objetivo e as
restrições que a definem, são tipo linear. A utilização de uma única função do tipo não linear é suficiente
para não ser aceite como um problema do tipo LP [46]. Quando os problemas envolvem variáveis
discretas é especificado de inteira mista (MI).
Uma vez que o problema de otimização objeto do presente trabalho é representado pela função
objetivo descrita na equação (4.49) e que as restrições representativas das cotas das albufeiras (equações
(4.27) e (4.28)) são tipo não linear, está-se, assim, no campo da programação não linear. A utilização de
variáveis discretas na definição do problema transpõe o mesmo para a secção MINLP (Mixed Integer
Non Linear Program).
Como referido anteriormente, o modelo foi escrito em linguagem GAMS e resolvido através do
solver BARON [47]. Este é caracterizado como um solver de procura global na área da NLP e MINLP,
tendo como método a implementação de um algoritmo determinístico de otimização global por branch-
and-bound. Contudo, é necessário limitar as equações do tipo não linear para que este seja capaz de as
resolver.
O modelo de gestão do sistema tem por objetivo minimizar a função custo, representada pela
equação (4.49) que faz intervir os custos relativos à produção e manutenção das centras constituintes do
sistema, do volume de descargas efetuadas durante o tempo em estudo e da energia desperdiçada
proveniente da central eólica. Para tal, considerou-se um custo de operação e manutenção mais elevado
na central hidroelétrica de jusante relativamente à de montante, por forma a conferir prioridade à
produção de energia elétrica nesta última central. Os custos relativos à central eólica são inferiores a
ambos os custos de operação e manutenção das centrais hidroelétricas, garantindo assim a prioridade na
produção de energia eólica e consequentemente uma menor utilização da água presente no sistema. Foi
ainda considerado um sistema de penalizações para a as descargas efetuadas nas albufeiras e para a
energia desperdiçada proveniente da central eólica, por forma a garantir que ambas só seriam efetuadas
quando estritamente necessárias.
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 =∑(𝑂&𝑀𝑃1 ∗ 𝑃t1(𝑡) + 𝑂&𝑀𝑃2 ∗ 𝑃t2(𝑡) + 𝑂&𝑀𝑏 ∗ 𝑃𝑏(𝑡) + 𝑂&𝑀𝐸𝑂𝐿
𝑡
∗ 𝑃𝐸𝑂𝐿(𝑡) + 𝑃𝑒𝑛𝐸𝑂𝐿 ∗ [1 − 𝑥(𝑡)] ∗ 𝑃t1(𝑡) + 𝑃𝑒𝑛𝐷
∗ [𝐷1(𝑡) + 𝐷2(𝑡)])
(4.49)
Como referido anteriormente, uma das condições que define o problema é o equilíbrio entre a
produção e o consumo, por forma a assegurar que em cada instante de tempo a diferença entre ambos é
nulo. Dito isto, a equação (4.50) define a condição anteriormente descrita.
𝑃t1(t) + 𝑃t2(t) + 𝑃𝐸𝑂𝐿(t) − 𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎(t) − 𝑃𝑏(t) = 0 (4.50)
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
44 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
As equações (4.51) e (4.52) fornecem o valor da potência necessária a produzir quando a diferença
entre o consumo de potência e a potência extraída pela central eólica é positiva e negativa,
respetivamente, podendo, neste último caso, traduzir-se em potência de bombagem caso se garantam as
restrições relativas à máquina em fase de bombagem.
𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃(t) = 𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎(t) − 𝑃𝐸𝑂𝐿(t) (4.51)
𝑃𝑁𝑒𝑐_𝐶(t) = 𝑃𝐸𝑂𝐿(t) − 𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎(t) (4.52)
Se o resultado da equação (4.51) for positivo, haverá necessidade de produção de energia elétrica.
Desta forma, as equações (4.53), (4.54) e (4.55) descrevem o procedimento de produção utilizado, em
que a produção de energia elétrica pode ser garantida por ambas as centrais hidroelétricas, desde que a
soma das percentagens de ambas seja sempre igual a 1. Desta forma, é garantido que a soma da potência
necessária em ambas, será igual ao valor de potência necessária anteriormente calculado.
𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃1(t) = 𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃(t) ∗ 𝑥1(𝑡) (4.53)
𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃2(t) = 𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃(t) ∗ 𝑥2(𝑡) (4.54)
𝑥1(𝑡) + 𝑥2(𝑡) = 1 (4.55)
A potência utilizada para produção de energia elétrica nas centrais hidroelétricas do sistema são
traduzidas pelas equações (4.56) e (4.57). A equação (4.58) garante a componente de bombagem. É
importante salientar a presença de variáveis binárias em todas estas equações, onde tomam o valor de 0
quando a potência necessária não se encontra na fase respetiva à mesma ou quando não são garantidas
as restrições do sistema, tais como, condições de armazenamento e intervalo de potências em que a
máquina pode trabalhar. Contrariamente, tomam o valor de 1 quando são garantidas todas as restrições
para a produção de energia elétrica na respetiva central hidroelétrica.
A equação (4.59), na definição deste problema, pretende que a soma das variáveis binárias de
bombagem e de produção na central hidroelétrica de montante apresente no máximo o valor igual a 1,
isto é, que garanta que em nenhuma circunstância, na mesma iteração, ocorra turbinagem e bombagem
na central hidroelétrica de montante. Tal deve-se ao facto de se tratar de uma máquina que pode atuar
em ambas as fases, mas não em simultâneo.
𝑃t1(t) = 𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃1(t) ∗ 𝑌1(𝑡) (4.56)
𝑃t2(t) = 𝑃𝑁𝑒𝑐_𝑃2(t) ∗ 𝑌2(𝑡) (4.57)
𝑃𝑏(t) = 𝑃𝑁𝑒𝑐_𝐶(t) ∗ 𝑌𝑏(𝑡) (4.58)
𝑌1(𝑡) + 𝑌𝑏(𝑡) = 1 (4.59)
Como referido anteriormente, as restrições impostas aos caudais, que podem ou não ser restringidos
por questões de armazenamento, irão por sua vez limitar a potência que pode ser produzida ou
Metodologia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 45
consumida nas centrais hidroelétricas. Os caudais relativos à fase de turbinagem são definidos pela
equação (4.14) e em fase de bombagem através da equação (4.16).
Na Figura 4.9 encontra-se o fluxograma representativo do modelo do sistema desenvolvido para a
componente de otimização.
Figura 4.9 – Representação esquemática do modelo desenvolvido para fins de otimização
Geração não
Controlável C.E
% Aproveitamento
X(t)
𝑃𝐸𝑂𝐿
𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡
Diminuir produção
de energia C.E
Consumo
Local
𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎
Geração
Hidroelétrica
Albufeira
Montante
Albufeira
Jusante
𝑄𝑏
𝑄𝑎1
𝑄𝑎2
𝑄𝑡2 𝐷2
𝑄𝑡1
𝐷1
𝑃𝑡1
C.H1 C.H2
𝑃𝑡2
Sistema de gestão da CRV
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
46 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 47
Capítulo 5 – Resultados
Neste capítulo apresentam-se os resultados obtidos para o sistema analisado sob a perspetiva de
duas metodologias destintas, contudo, complementares: simulação e otimização.
O modelo de gestão construído para efeitos de simulação tem por objetivo obter resposta ao perfil
de consumo anual adotado para 54 anos hidrológicos, compreendidos entre outubro de 1957 e setembro
de 2011. Desta forma, o sistema de gestão irá gerar resultados por forma a suprir o consumo de energia
elétrica para todas as horas com objetivo de se testar a autossuficiência do sistema, sem a possibilidade
de compra ou venda de energia elétrica.
Por outro lado, a otimização apresentará um período de análise mensal. Tal, deve-se ao facto de ser
o período máximo ao qual se garantiu que, para qualquer mês inserido, se obteria o valor ótimo, isto é,
o mínimo global e não um valor mínimo local. Para períodos superiores ao considerado, para alguns
casos não era garantido que a solução obtida fosse ideal, e como tal a otimização só era dada como
terminada por motivo de limitação do tempo máximo de cálculo, tendo sido o mesmo caracterizado
como 5 h. Foi ainda necessário diminuir a complexidade do problema, apenas na componente da
otimização, tendo sido dado como constante a queda bruta e, consequentemente, a queda útil.
Como tal, a análise compreendeu na otimização de 100 meses aleatórios, estando os meses
selecionados, e respetivos anos, disponíveis no Anexo C. De modo a ser inferido se existe concordância
entre os resultados obtidos através da simulação e otimização, esses mesmo meses foram analisados
para as mesmas condições, isto é, considerando uma queda bruta constante também para a componente
de simulação. Tal como, para efeitos de considerações inicias de queda bruta e consequentemente
armazenamento inicial, considerou-se uma queda bruta constante correspondente ao centro de massa do
volume da albufeira, ou seja, a 2/3 da queda bruta máxima, perfazendo assim 223 m para a central
hidroelétrica de montante e 143 m para a central hidroelétrica de jusante. Desta forma, a concordância
de resultados entre os dois métodos dita se os dados provenientes da simulação para os 54 anos podem
realmente ser considerados para efeitos de análise.
Considerou-se ainda que a central eólica, constituinte da CRV considerada, era constituindo por
sete turbinas eólicas, perfazendo 14.35 MW de potência, para efeitos de simulação e otimização dos 100
meses aleatórios estudados. Contudo, para efeitos de simulação dos 54 anos hidrológicos, apenas
possível de se realizar para a componente de simulação, consideram-se dois casos: um caso com 7
turbinas eólicas (14.35 MW) e outro com 10 turbinas eólicas (20.5 MW). As características da CRV
considerada encontram-se representadas na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Características associadas à CRV em estudo para as diferentes metodologias
Metodologia de análise
Potência central
eólica
[MW]
Potência da central
hidroelétrica de
montante
[MW]
Potência da central
hidroelétrica de
jusante
[MW]
Simulação 14.35 – 20.5
10 10 Otimização 14.35
Tal como anteriormente, encontra-se caracterizado ao longo deste capítulo, para variáveis
dependentes de 𝑥, que a albufeira/central hidroelétrica de montante é representada pelo número um (𝑥
= 1) e a albufeira/central hidroelétrica de jusante pelo número dois (𝑥 = 2).
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
48 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
5.1. Resultados do estudo de simulação
Com base na simulação da operação da CRV efetuada para um período de 54 anos, observou-se a
não sustentabilidade do sistema, sendo possível concluir que a potência instalada (na central eólica e nas
centrais hidroelétricas) não era suficiente para permitir a autossuficiência do sistema. Na Figura 5.1
estão representados os armazenamentos diários das albufeiras constituintes do sistema (em cima, na
albufeira do montante e em baixo, na albufeira de jusante), evidenciando a ocorrência de volumes
mínimos armazenados, correspondentes aos NMEs, sendo esta a razão para a não sustentabilidade do
sistema. É importante salientar que basta uma das albufeiras se encontrar no NME para que se observe
a não sustentabilidade do sistema, pois na necessidade de produção em ambas as albufeiras, isto é, a
potência necessária ser superior a ambas as potências máximas das centrais hidroelétricas, a albufeira
correspondente não apresentará capacidade de volume armazenado para satisfazer a produção de energia
elétrica.
Figura 5.1 – Variação do armazenamento disponível ao longo dos 54 anos hidrológicos (sustentabilidade
do sistema não alcançada). A azul e em cima representa-se a albufeira de montante (𝐴𝑟𝑚1) e em baixo e a
verde a albufeira de jusante (𝐴𝑟𝑚2). Em qualquer dos diagramas a linha horizontal identifica o volume
correspondente ao NME (𝐴𝑟𝑚𝑚𝑖𝑛𝑥)
A Tabela 5.2 sintetiza os resultados anuais obtidos nos anos em que se observa a não
sustentabilidade do sistema, especificando-se o número de caso em que não se garantiram as
necessidades de consumo do sistema, coincidindo, como era de esperar, com os anos mais críticos em
termos de volume armazenado. Um caso de não sustentabilidade define-se por em dada hora em que a
produção renovável não é suficiente para satisfazer o consumo de energia elétrica e as condições para a
produção de energia hidroelétrica não se verificaram. Observa-se, ainda, que é no ano de 2008 onde se
verifica o maior número de casos de não sustentabilidade, seguindo o ano de 1982. A Tabela D.1,
presente no anexo D, apresenta os resultados para todos os anos da simulação.
37.20
0
20
40
60
80
100
120
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53
Vo
lum
e ar
maz
enad
o
[hm
3]
7.32
0
20
40
60
80
100
120
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53
Vo
lum
e ar
maz
enad
o
[hm
3]
Tempo [anos]
𝐴𝑟𝑚1 𝐴𝑟𝑚min1 𝐴𝑟𝑚min2 𝐴𝑟𝑚2
Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 49
Tabela 5.2 – Dados de energia elétrica produzida e consumida, balanço entre a produção e consumo de energia elétrica e
número de casos de não sustentabilidade (discretização temporal horária) para os anos em que se verificou a não
sustentabilidade do sistema.
Ano Hidrológico
E. produzida
Total
[GWh]
E. consumida
Carga
[GWh]
E. consumida
Bombagem
[GWh]
Balanço
[GWh]
Número de
horas de não
sustentabilidade
1981/1982 (ano 25) 73.27 74.02 4.72 -5.47 858
1982/1983 (ano 26) 63.18 74.02 4.53 -15.38 2058
1983/1984 (ano 27) 76.43 74.23 4.95 -2.74 430
1984/1985 (ano 28) 79.25 74.02 5.25 -0.03 3
1992/1993 (ano 36) 65.86 74.02 3.11 -11.28 1849
1993/1994 (ano 37) 78.11 74.02 5.20 -1.11 189
1994/1995 (ano 38) 79.25 74.02 5.26 -0.03 3
1995/1996 (ano 39) 75.30 74.23 4.60 -3.53 430
2008/2009 (ano 52) 57.75 74.02 2.29 -18.56 2965
2009/2010 (ano 53) 68.09 74.02 4.36 -10.29 1553
Na Figura 5.2 observar-se o impacto do armazenamento na sustentabilidade do sistema. Na mesma
encontra-se representado a produção de energia elétrica das diversas fontes de energia e o consumo, a
negativo, por parte do sistema de bombagem, em GWh. É, ainda, apresentada a energia elétrica máxima
proveniente da central eólica que teria sido possível produzir.
Uma melhor análise ao conjunto de elementos disponibilizados (Figura 5.2, Tabela 5.2) permite
constatar algum “desperdício” de energia proveniente da central eólica. Tal, deve-se ao facto de não
existindo condições de armazenamento para a realização da bombagem, ou mesmo existindo, a energia
total que se poderia aproveitar para se realizar a bombagem excede a potência máxima da bomba,
existindo assim a necessidade de diminuir a percentagem de utilização da central eólica, definido pela
variável 𝑥(𝑡) – equações (4.9) a (4.11). Na figura os trechos realçados por circunferências a vermelho
evidenciam os anos em que se observou a não sustentabilidade do sistema, caracterizada por variações
abruptas de energia.
Figura 5.2 – Energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas (𝐸𝑃𝐶𝐻𝑥) e consumo de energia elétrica
através da bombagem (𝐸𝐶𝐵), por ano, para os 54 anos hidrológicos (sustentabilidade do sistema não
alcançada). Relativamente à componente eólica, a linha laranja representa a energia elétrica anual extraída
pela central eólica (𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡) e a amarelo energia elétrica aproveitada do mesmo (𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿).
-20
-10
0
10
20
30
40
50
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53
En
ergia
[G
Wh
]
Tempo [anos]
𝐸𝑃𝐶𝐻1 𝐸𝑃𝐶𝐻2 𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿 𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡 𝐸𝐶𝐵
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
50 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Seguidamente, procurou encontrar-se qual seria o número mínimo de turbinas necessárias por
forma a obter a sustentabilidade do sistema em todo o período de análise. Concluiu-se, assim, serem
necessárias, no mínimo, dez turbinas eólicas, perfazendo um total de 20,5 MW de potência nominal da
central eólica. Destarte, confirma-se que o sistema implementado para a CRV (após reforço da
componente eólica) possui capacidade para dar resposta ao consumo local para um período de 54 anos
hidrológicos, caracterizando-se assim como um sistema autossustentável.
Na Figura 5.3 representam-se os registos de operação da CRV para a primeira semana do ano de
2009 e os respetivos volumes armazenamos em ambas as albufeiras durante esse mesmo período, para
as duas simulações realizadas. Observa-se que no primeiro caso analisado, durante o período
representado, não existe potência extraída proveniente das centrais hidroelétricas, estando as albufeiras
no NME, originando desta forma casos de não sustentabilidade do sistema. Contrariamente, para a
simulação em que a central eólica é composta por dez turbinas, observam-se valores de potência extraída
das centrais hidroelétricas, bem como a utilização da bombagem que efetua o equilíbrio entre a produção
e consumo, ao invés da diminuição da potência proveniente da central eólica nos casos de excesso de
potência extraída do mesmo, como é possível observar na simulação anterior. A presença do balanço de
potências no sistema (linha a vermelho) é definido como o indicador de sustentabilidade.
Figura 5.3 – Variação das potências constituintes do sistema da CRV para uma faixa temporal semanal nos
dois diferentes casos de simulação: Em cima, sete turbinas constituintes da central eólica; Em baixo, dez
turbinas constituintes da central eólica.
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
Tempo [horas]
0
20
40
60
1 41 81 121 161
Vo
lum
e ar
maz
enad
o [
m3
]
0
20
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𝐴𝑟𝑚min1
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𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎
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𝐵𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑜
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tên
cia
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Po
tên
cia
[MW
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Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 51
Para a simulação em que da central eólica é composta por dez turbinas, a Figura 5.4 representa os
dados de produção de energia elétrica das diversas fontes de energia e o consumo, a negativo, por parte
do sistema de bombagem ao longo do período de 54 anos hidrológicos. Contrariamente à simulação para
um número de sete turbinas, constituintes da central eólica, o sistema apresenta-se sustentável em todo
o seu domínio, isto é, a diferença entre o consumo e a produção de energia elétrica a cada hora foi sempre
igual a zero. Tal como na Figura 5.2 encontra-se, ainda, representada a energia elétrica máxima que teria
sido possível produzir na central eólica.
Figura 5.4 – Energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas (𝐸𝑃𝐶𝐻𝑥) e consumo de energia elétrica
através da bombagem (𝐸𝐶𝐵), por ano, para os 54 anos hidrológicos (sustentabilidade do sistema alcançada).
Relativamente à componente eólica, a linha laranja representa en ergia elétrica anual extraída pela central
eólica (𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡) e a amarelo energia elétrica aproveitada do mesmo (𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿).
Semelhantemente à análise anteriormente efetuada, a Figura 5.5 demonstra o armazenamento diário
obtido durante o período de análise para a albufeira do Sabugal, em cima a azul, e para a albufeira de
Meimoa, em baixo a verde. É ainda importante salientar que apesar de o sistema apresentar a
autossustentabilidade, verifica-se que a albufeira de Meimoa se encontra permanentemente no nível de
pleno armazenamento, isto é, no armazenamento máximo. Durante os anos mais críticos de
armazenamento na albufeira de Sabugal, não se verifica qualquer impacto no armazenamento da
albufeira de Meimoa, dado ter-se dado prioridade à produção na central hidroelétrica da albufeira do
Sabugal.
Adicionalmente, são ainda representadas na Figura 5.6 as descargas efetuadas durante o período de
análise para ambas as albufeiras. Apesar da capacidade de a albufeira do Sabugal ser bastante superior
à capacidade da albufeira de Meimoa, e desta última estar constantemente cheia, verifica-se um volume
de descargas bastante superior em todos os anos hidrológico na Albufeira do Sabugal. Tal verifica-se
devido ao volume anual afluente ser de uma ordem de grandeza do dobro para a albufeira do Sabugal,
quando comparada à albufeira de Meimoa, sendo que em caso de enchimento das albufeiras o volume
descarregado pela albufeira do Sabugal será naturalmente superior ao volume descarregado pela
albufeira de Meimoa.
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𝐸𝑃𝐶𝐻1 𝐸𝑃𝐶𝐻2 𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿 𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑥𝑡 𝐸𝐶𝐵
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
52 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Figura 5.5 - Variação do armazenamento disponível ao longo dos 54 anos hidrológicos (sustentabilidade do
sistema alcançada). A azul e em cima representa-se a albufeira de montante (𝐴𝑟𝑚1) e em baixo e a verde a
albufeira de jusante (𝐴𝑟𝑚2). Em qualquer dos diagramas a linha horizontal identifica o volume
correspondente ao NME (𝐴𝑟𝑚𝑚𝑖𝑛𝑥)
Figura 5.6 - Variação das descargas anuais (𝐷𝐴𝑥) efetuadas ao longo dos 54 anos hidrológicos A azul
representa-se a albufeira de montante e a verde a albufeira de jusante.
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Tempo [anos]
𝐴𝑟𝑚1 𝐴𝑟𝑚min1 𝐴𝑟𝑚min2 𝐴𝑟𝑚2
𝐷𝐴1 𝐷𝐴2
Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 53
5.2. Resultados do estudo de otimização
Como referido anteriormente, a componente de otimização visa verificar se os resultados
provenientes da componente de simulação estão próximos da solução ideal. Desta forma, uma
averiguação positiva permitirá considerar que os resultados de simulação, apresentados para um período
de 54 anos, garantem que o sistema lógico simula de forma eficaz o comportamento ótimo da central
renovável virtual. Sendo assim, os resultados provenientes da otimização serão apresentados numa
perspetiva comparativa com os de simulação, de modo a apurar o quão próximos, os últimos, se
apresentam do pressuposto.
A Figura 5.7 relaciona os custos totais associados ao sistema na componente de simulação e
otimização e a Figura 5.8 representa a energia elétrica total produzida através das diferentes fontes de
energia, bem como a energia elétrica consumida através do sistema de bombagem para ambas as
componentes em estudo.
Figura 5.7 - Comparação do custo total do sistema para os 100 meses aleatórios analisados.
Como era de esperar, os custos totais associados à operação da CRV considerada são sempre
inferiores na componente de otimização do que na componente de simulação (Figura 5.7).
Relativamente ao modo de geração de energia elétrica é possível observar através da análise à
Figura 5.8, uma utilização bastante superior da central hidroelétrica de jusante (𝐸𝑃𝐶𝐻2) na componente
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
54 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
de simulação comparativamente à de otimização e consequentemente, um uso superior da central
hidroelétrica de montante (𝐸𝑃𝐶𝐻1) por parte da componente de otimização quando comparada com a de
simulação. Desta forma, é de esperar que os custos associados à componente de simulação sejam sempre
superiores, visto se ter considerado um custo de operação da central hidroelétrica de jusante superior ao
custo da de montante para fins de prioridade na componente de otimização. Tal, deve-se ao facto de o
programa GAMS garantir uma enorme flexibilidade na resolução do problema, algo que não foi possível
implementar no sistema lógico construído (componente de simulação), onde a não possibilidade da
produção total da potência necessária numa só central hidroelétrica irá transitar diretamente para testes
na central hidroelétrica oposta, enquanto, a componente de otimização apresenta a flexibilidade de
repartir a produção entre as duas centrais hidroelétricas, por forma a obter o custo mínimo associado
aquele instante de tempo.
Figura 5.8 - Comparação da energia elétrica produzida nas centrais hidroelétricas (𝐸𝑃𝐶𝐻𝑥) e na central eólica
(𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿), bem como, da energia elétrica consumida através do sistema da bombagem (𝐸𝐶𝐵), para os 100 meses
aleatórios analisados.
Relativamente à energia elétrica produzida na central eólica e à energia elétrica consumida pelo
sistema de bombagem (𝐸𝑃𝐸𝑂𝐿 𝑒 𝐸𝐶𝐵), durante o período de análise (mensal), estas estão bastante
próximas quando comparados os resultados das duas componentes estudadas. Tal facto é possível de ser
observado através da quase “inexistência” de circunferências a vermelho no Figura 5.8, explicado pelo
facto dos valores serem tão próximos que ocorrem sobrepostos. Os resultados obtidos relativamente a
estas duas componentes estão de encontro com o esperado, visto que, no caso da energia eólica, traduzem
Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 55
o uso do perfil de produção para uma turbina eólica de 2 MW, apresentado no capítulo anterior.
Relativamente ao consumo de energia elétrica proveniente do sistema de bombagem, este está
diretamente relacionado com o perfil de consumo de energia elétrica e do perfil de produção de uma
turbina eólica de 2 MW, não se verificando uma grande diferença entre os resultados das duas
componentes.
Contundo, as Figuras 5.7 e 5.8 apresentam apenas os resultados num contexto geral, caracterizando
apenas a energia elétrica total produzida durante todo período de otimização. Achou-se, assim, que uma
análise mais aprofundada seria necessária.
Ainda do ponto de vista do modo de operação do sistema, a Figura 5.9 demonstra os resultados
obtidos, para ambas as metodologias, para o mês de janeiro de 1990, através de diagramas de carga. Em
cima, é possível observar os resultados relativos à componente de simulação e em baixo à componente
de otimização. Neste, é visível uma clara diminuição da utilização da central hidroelétrica de jusante.
Figura 5.9 – Variação das potências constituintes da CRV para as para uma faixa temporal semanal. Em
cima, observa-se os resultados obtidos por simulação e em baixo os resultados obtidos por otimização. Salienta-se preto e cinzento, respetivamente, os valores de potências consumidos pela carga e bombagem .
Complementarmente à Figura 5.9, a Figura 5.10 pretende demonstrar os efeitos do diferente modo
de operação entre as duas metodologias. A clara diminuição de utilização da central hidroelétrica de
jusante (x=2), provoca que o armazenamento disponível na albufeira de montante, associada à central
hidroelétrica de montante, seja menor na componente de otimização relativamente à componente de
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𝑃𝐸𝑂𝐿 𝑃𝑡1 𝑃𝑡2 𝑃𝐵 𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
56 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
simulação (em cima). Consequentemente, o contrário verifica-se na albufeira de jusante, onde se observa
um armazenamento superior na componente de otimização em relação à componente de simulação (ao
centro). Contudo, em baixo é possível se verificar-se a soma de ambos os armazenamentos, isto é, o
armazenamento total disponível no sistema. Observa-se, assim, um modo de operação mais eficiente na
componente de otimização, caracterizado por uma maior utilização da central hidroelétrica de montante,
permite que exista um volume superior de água armazenada em todo o sistema na componente de
otimização relativamente à componente de simulação.
Figura 5.10 – Variação do armazenamento disponível para o mês de janeiro de 1990. Em cima e a azul:
armazenamento na albufeira de montante; ao centro e a verde: armazenamento na albufeira de jusante; em
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Tempo [horas]
𝐴𝑟𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (Otimização)
𝐴𝑟𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (Simulação)
𝐴𝑟𝑚2 (Otimização)
𝐴𝑟𝑚2 (Simulação)
𝐴𝑟𝑚1 (Otimização)
𝐴𝑟𝑚1 (Simulação)
Resultados
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 57
baixo e a laranja: armazenamento total disponível. As cores clar as representam resultados obtidos na componente de otimização e as cores escuras os resultados obtidos na componente de simulação
No anexo E, apresentam-se os gráficos dos resultados obtidos por mês, para as 100 otimizações
realizadas, bem como os resultados decorrentes da componente de simulação. É de salientar que o mês
de fevereiro foi divido em dois gráficos, um referente a anos bissextos, em que fevereiro é caracterizado
por ter 29 dias, e o outro referente a anos não bissextos, apresentando nestes casos os meses de fevereiro
com 28 dias.
A Figura 5.11 representa o mês mais analisado da amostra aleatória: o de agosto. Os restantes meses
estão representados no Anexo E, como referido anteriormente. A Figura 5.11, tal como as restantes
figuras do anterior anexo, são constituídas por 8 gráficos, representando as potências das centrais
constituintes do sistema (PH1, PH2, PEOL, PB), a percentagem de aproveitamento da central eólica, os
armazenamentos em ambas as albufeiras constituintes do caso de estudo e o custo total do sistema. Em
todos estes gráficos existe a presença de um segmento de reta a preto do tipo x=y, na qual se pretende
verificar quando os resultados provenientes da simulação e da otimização são iguais, isto é, quando os
mesmos se apresentam sobrepostos a esta. Um ponto acima do segmento de reta, indica que o resultado
proveniente da otimização é superior ao da simulação. Inversamente, um dado ponto abaixo do segmento
de reta indica que o resultado da otimização é inferior ao da simulação. Como nas Figuras 5.7 e 5.8, a
aparente inexistência de pontos de uma dada cor, representados na legenda, decorre apenas da sua
sobreposição.
Figura 5.11 - Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das
albufeiras associadas, aproveitamento da central eólica e o custo associado para os meses de agosto analisados.
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
58 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Através da análise da Figura 5.11, e das restantes presentes no Anexo E, é possível observar que as
variáveis que apresentam resultados mais próximos quando comparadas as duas componentes estudadas
são a potência extraída pela central eólica, a percentagem de aproveitamento da central eólica e a
potência de bombagem, o que era de esperar, visto que as mesmas estão diretamente relacionadas. É
possível observar o seu relacionamento através de alguns pontos que se diferenciam do segmento de reta
Y=X, nos meses de abril, maio, julho, agosto, outubro, novembro e dezembro. Neste caso, a não
utilização da bombagem por parte da otimização, traduz-se numa diminuição da percentagem de
aproveitamento da central eólica e, logicamente, da potência extraída do mesmo.
Relativamente às variáveis representativas das centrais hidroelétricas do sistema, é possível
observar uma clara predominância de resultados mais elevados na componente de otimização, quando
comparando com a simulação, na potência da central hidroelétrica de montante. Consequentemente,
observam-se resultados mais elevados na componente de simulação para a central hidrelétrica de jusante.
A maior divergência entre os resultados de simulação e otimização é claramente observada para as
variáveis referentes aos armazenamentos das albufeiras do sistema. Tal observação é de esperar, uma
vez que os divergentes modos de operação nas centrais hidroelétricas irão originar diferentes
armazenamentos nas albufeiras referentes às mesmas. Contudo, é ainda observado uma grande
divergência entre otimizações. Isto é, para o mesmo mês analisado, onde se verifica um igual perfil de
consumo de energia elétrica e perfil de produção de energia elétrica por parte da turbina eólica, os
resultados relativos às variáveis de armazenamento apresentam uma elevada diferença. No entanto, é
importante salientar que os caudais afluentes a estas barragens diferem, visto estarem a ser analisados
anos diferentes, daí a verificada diferença relativa aos armazenamentos de água nas albufeiras em
questão.
5.3. Síntese de resultados
Verificou-se, assim, que as soluções obtidas através da otimização do modo de funcionamento da
CRV traduzem o comportamento lógico esperado, sendo visível algum desfasamento de resultados
quando comparados com os decorrentes da componente de simulação. O mesmo está diretamente
relacionado com as diferentes flexibilidades dos sistemas, sendo que a componente de otimização
apresenta uma flexibilidade bastante superior na sua fase de decisão, enquanto a componente de
simulação apresenta menos casos possíveis de resposta. Sendo que o horizonte temporal máximo
otimizado, por forma a obter uma elevada certeza na resposta fornecida, é de apenas um mês, insuficiente
para analisar todo o leque de dados disponíveis, acredita-se que a componente de simulação está
suficientemente perto da resposta obtida por forma a serem considerados válidos os seus resultados.
Ainda relativamente aos resultados correspondentes aos armazenamentos nas albufeiras, é visível que
os mesmos conferem estabilidade e flexibilidade à CRV por forma a adaptar as suas necessidades
energéticas, sendo que, a sua inexistência provocaria a não sustentabilidade do sistema.
Conclusões
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 59
Capítulo 6 – Conclusões
Neste capítulo apresenta-se a síntese ao estudo realizado, realçando as principais conclusões
retiradas, bem como, as perspetivas futuras para trabalhos posteriores.
A problemática do consumo de energia elétrica, gerado pelo aumento da eletrificação, integrado
com a escassez de recursos fósseis e as consequências da queima dos mesmos são temas que constituem
a síntese de conhecimentos deste trabalho. Como alternativa a este problema, as fontes de energia
renovável com caráter variável apresentam a desvantagem da não existência de garantia de potência,
bem como as dificuldades de gestão do sistema provocadas pelas mesmas. Deste modo, o presente
trabalho pretende estudar o conceito de central renovável virtual (CRV), demonstrando que a agregação
de diferentes fontes renováveis poderá ser a solução para a diminuição das flutuações que se verificam
na produção de eletricidade por estas tecnologias. O conceito de CRV garante uma grande flexibilidade
ao sistema electroprodutor, podendo assim, ser este o elemento que permitirá obter elevadas
contribuições de energia renováveis de caráter variável. De um modo mais técnico, o objetivo primordial
deste trabalho passava por desenvolver um modelo capaz de caracterizar o comportamento de uma CRV
adotado como caso de estudo, e otimizar a sua operação, por forma a comprovar a possível
sustentabilidade do sistema.
A CRV estudada é constituída por um sistema híbrido de duas centrais hidroelétricas, uma delas
reversível, em conjunto com uma central eólica. Ao longo do trabalho descreveram-se as formulações
consideradas no modo de operação das centrais constituintes da CRV, bem como os dados relativos aos
recursos energéticos inerentes à produção de energia elétrica.
O modelo da CRV foi desenvolvido com base em duas estratégias distintas, mas complementares.
Numa primeira fase, o modelo foi desenvolvido sobre a perspetiva de uma análise de simulação dos 54
anos hidrológicos disponíveis, onde não era certo que o modo de operação retratado apresentasse a
melhor solução possível para o sistema autossuficiente que se pretendia obter.
Consequentemente, partiu-se para uma análise sobre um ponto de vista otimizado, com o objetivo
primordial de encontrar a melhor solução possível de gestão de operação da CRV. Contudo, a
componente de otimização apresenta níveis de complexidade bastante elevados do ponto de vista do
cálculo, sendo que o maior período de análise, para o qual se garantia que a solução obtida era de facto
a ótima, foi de apenas um mês.
O modelo matemático desenvolvido recorre a dados de produção de energia elétrica, relativamente
à componente eólica do sistema, e a dados de recurso natural sob a forma de séries temporais de
escoamento. O modelo de otimização, que foi desenvolvido de raiz para este trabalho, é constituído por
métodos de programação não linear, que determinam a melhor regra de operação a tomar a cada hora,
face à possibilidade de produção ou à necessidade de satisfazer o consumo de energia elétrica perante
as disponibilidades de armazenamento.
Os resultados provenientes das componentes de simulação e otimização, permitem verificar uma
concordância entre os dois métodos realizados, sendo que a operação sob o ponto de vista de uma central
renovável virtual garante que as necessidades de consumo de energia elétrica eram conseguidas durante
toda a faixa temporal que caracteriza o problema, obtendo-se assim a sustentabilidade do sistema.
Verificou-se, ainda, que a produção de energia elétrica proveniente da componente eólica foi sempre
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
60 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
prioritária, uma vez que, a componente hídrica pode ajustar a sua produção ao consumo (com a
bombagem), de energia elétrica consoantes as necessidades do sistema electroprodutor. Apenas não se
observou o aproveitamento máximo da componente eólica do sistema quando não se garantem as
condições mínimas para se efetuar a bombagem, o que provocaria a não sustentabilidade do sistema.
Desta forma, a única solução possível seria uma diminuição de produção proveniente da central eólica.
Outra alternativa seria a de considerar a potência das centrais hídricas repartida em mais do que um
grupo, permitindo contornar esta dificuldade, mas não foi realizada neste trabalho.
Contudo é importante realçar que a comparação efetuada entre os dois modelos, realizada no
capítulo 5.2, demonstrou que para todos os casos analisados, o sistema de otimização apresentou um
melhor ajuste às necessidades do sistema, isto é, um menor custo associado à operação da CRV. Tal
deve-se, ao sistema de otimização, em certas circunstâncias conseguir produzir menores quantidades de
energia na central hidroelétrica de jusante, maximizando sempre a produção proveniente da central
hidroelétrica de montante e da central eólica. É importante ter em consideração um possível
sobredimensionamento da central eólica, uma vez que a existência obrigatória de 10 turbinas para a
autossustentabilidade do sistema será decerto elevado. Perante os resultados obtidos na otimização,
demonstra-se que apenas num mês é possível obter um comportamento mais eficiente por parte do
sistema estudado, podendo desta forma, permitir diminuir o número de turbinas caso fosse possível
otimizar para os 54 anos hidrológicos.
Deste modo, a agregação destes dois tipos de centrais, hídrica e eólica, confere uma maior
flexibilidade ao sistema electroprodutor, permitindo adaptar a produção de energia elétrica consoante as
necessidades de consumo do sistema, garantindo assim um equilíbrio do mesmo através da operação
conjunta das mesmas. A complementaridade verificada para estas fontes de energias será, num futuro
próximo, uma mais-valia para alcançar maiores percentagens de penetração de energias renováveis, de
caráter variável, no sistema electroprodutor.
Futuramente, a integração de diversos fatores, tais como a possibilidade de compra e venda de
energia elétrica, bem como o impacto causado na rede elétrica, seriam de grande valor acrescentado e
complementariam esta dissertação. Adicionalmente, um estudo de viabilidade económica em conjunto
com os fatores anteriormente descritos seria fundamental, de modo a avaliar qual o período de retorno
de investimento da CRV e se, de facto, a solução apresentada é de caráter válida do ponto de vista
económico. Ainda assim, melhorias do ponto de vista técnico na componente de otimização podem ser
implementadas, por exemplo, por forma a caracterizar a queda bruta a cada instante de tempo como
variável.
A obtenção de uma solução ótima para este problema mostrou ser um problema de elevada
complexidade, contudo, bastante importante por forma a caracterizar soluções que permitam chegar aos
objetivos delineados para aumentar a penetração das fontes de energia renovável. A simulação
computacional e os modelos de otimização apresentam um papel essencial no apoio à decisão em estudos
que visam contribuir para a evolução tecnológica dos sistemas de energia.
Bibliografia
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias 61
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62 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
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64 Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
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Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias I
Anexos
A. Temperatura media anual na região norte de Portugal, relações regionais de Quintela e
mapa de isolinhas do escoamento médio anual em Portugal
Figura A.1 – Temperatura média anual na região norte de Portugal. A vermelho (círculo) encontra-se representada a
localização das albufeiras de Meimoa e Sabugal. (adaptada de: [34]).
Figura A.2 – Relações regionais de Quintela. A vermelho e a azul representa-se, respetivamente, os valores de
escoamento médio anual definidos perante a precipitação média anual considerada para a albufeira do Sabugal e de
Meimoa (adaptada de: [37]).
Anexos
II Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
Figura A.3 – Mapa de isolinhas representativo do escoamento médio anual em Portugal. A vermelho (círculo) encontra-se
representada a localização das albufeiras de Meimoa e Sabugal. (adaptada de: [35]).
Agregação Ótima de Geração Eólica e Hídrica
III
B. Fluxograma da componente de simulação
𝐷𝑖𝑚𝑖𝑛𝑢𝑖𝑟 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜 𝑃. 𝐸 (𝑁ã𝑜 𝑜𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒 𝐵𝑜𝑚𝑏𝑎𝑔𝑒𝑚 )
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄𝑏 ≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 +𝑄𝑏 ≤ 𝐴𝑟𝑚max1
𝑠𝑒𝑃min_𝑏 ≥ |𝑃𝑛𝑒𝑐| ≥ 𝑃max_𝑏
𝑠𝑒 𝑃max_𝑏 ≥ |𝑃𝑛𝑒𝑐|
𝐵𝑜𝑚𝑏𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻1
𝑃𝑛𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 = 𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 − 𝑃𝐸𝑜𝑙_𝐸𝑋𝑇> 0
𝑄𝑎1(𝑡)
𝑄𝑎2(𝑡)
𝑃𝐸𝑂𝐿_𝐸𝑋𝑇(𝑡)
𝑃𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎(𝑡)
Input:
𝐵𝑜𝑚𝑏𝑎𝑟 𝑇𝑢𝑟𝑏𝑖𝑛𝑎𝑟
𝑃𝑛𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠á𝑟𝑖𝑎 = 𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 − 𝑃𝐸𝑜𝑙_𝐸𝑋𝑇< 0
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃min_t1 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃min_t2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻1 & 𝐷𝑖𝑚𝑖𝑛𝑢𝑖𝑟 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑃. 𝐸 𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 −𝑄min_t1 ≥ 𝐴𝑟𝑚min1
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 +𝑄min_t1≤ 𝐴𝑟𝑚max2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄min_t2≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑆𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑛ã𝑜 é 𝑎𝑢𝑡𝑜 − 𝑠𝑢𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻2 & 𝐷𝑖𝑚𝑖𝑛𝑢𝑖𝑟 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑃. 𝐸
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄min_t2 ≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑠𝑒 𝑃min_t1 ≥ 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑃max_t1
𝑠𝑒 𝑃min_t2 ≥ 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑃max_t2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻1
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃min_t2
.
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 −𝑄𝑡1≥ 𝐴𝑟𝑚min1
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 +𝑄𝑡1≤ 𝐴𝑟𝑚max2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄𝑡2 ≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻2
𝑠𝑒 𝑃min_t2 ≥ 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑃max_t2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄min_t2
≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃min_t1
.
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 −𝑄min_t1 ≤ 𝐴𝑟𝑚min1
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 +𝑄min_t1 ≤ 𝐴𝑟𝑚max2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻2
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑃max_t1 & 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≥ 𝑃max_t2
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃min_t1 +𝑃max_t2
.
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 −𝑄𝑡1 ≥ 𝐴𝑟𝑚min1
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄𝑡2 ≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 + (𝑄𝑡1−𝑄𝑡2
) ≤ 𝐴𝑟𝑚max2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚1 −𝑄𝑡1 ≥ 𝐴𝑟𝑚min1
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 −𝑄𝑡2 ≥ 𝐴𝑟𝑚min2
𝑠𝑒 𝐴𝑟𝑚2 + (𝑄𝑡1 −𝑄𝑡2) ≥ 𝐴𝑟𝑚max2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻1 𝑒 𝐶. 𝐻2
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝑒𝑚 𝐶. 𝐻1 𝑒 𝐶. 𝐻2, 𝑐𝑜𝑚 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑒𝑚 2
𝑠𝑒 𝑃𝑛𝑒𝑐 ≤ 𝑃max_t1 +𝑃max_t2
.
Anexos
IV Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
C. Meses selecionados para análise comparativa entre a simulação e otimização
Tabela C.1 – Meses selecionados de modo aleatório para análise comparativa entre resultados de simulação e otimização
Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1957
1958
1959
1960
1691
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias V
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Anexos
VI Pedro Alexandre Borga Miguel Dias
D. Resultados obtidos na componente de simulação (Não garantida a autossuficiência do
sistema)
Tabela D.1 – Dados de energia elétrica produzida e consumida, balanço entre a produção e consumo de energia e número
de casos de não sustentabilidade para a simulação onde não se verificou a não sustentabilidade do sistema
Ano
E.produzi
da Total
[GWh]
E. consumida
Carga
[GWh]
E. consumida
Bombagem
[GWh]
Balanço
[GWh]
Número de horas
de não
sustentabilidade
1957/1958 79.29 74.04 5.25 0.00 0
1958/1959 77.74 74.02 3.72 0.00 0
1959/1960 77.45 74.23 3.23 0.00 0
1960/1961 78.46 74.02 4.44 0.00 0
1691/1962 77.76 74.02 3.73 0.00 0
1962/1963 77.89 74.02 3.86 0.00 0
1963/1964 77.49 74.23 3.26 0.00 0
1964/1965 79.27 74.02 5.25 0.00 0
1965/1966 77.65 74.02 3.62 0.00 0
1966/1967 77.99 74.02 3.97 0.00 0
1967/1968 78.50 74.23 4.28 0.00 0
1968/1969 77.39 74.02 3.36 0.00 0
1969/1970 79.12 74.02 5.09 0.00 0
1970/1971 78.20 74.02 4.18 0.00 0
1971/1972 79.15 74.23 4.93 0.00 0
1972/1973 78.62 74.02 4.60 0.00 0
1973/1974 78.24 74.02 4.21 0.00 0
1974/1975 79.27 74.02 5.24 0.00 0
1975/1976 79.48 74.23 5.25 0.00 0
1976/1977 79.27 74.02 5.25 0.00 0
1977/1978 77.28 74.02 3.25 0.00 0
1978/1979 77.29 74.02 3.26 0.00 0
1979/1980 79.47 74.23 5.24 0.00 0
1980/1981 79.28 74.02 5.25 0.00 0
1981/1982 73.27 74.02 4.72 -5.47 858
1982/1983 63.18 74.02 4.53 -15.38 2058
1983/1984 76.43 74.23 4.95 -2.74 430
1984/1985 79.25 74.02 5.25 -0.03 3
1985/1986 79.28 74.02 5.25 0.00 0
1986/1987 79.28 74.02 5.25 0.00 0
1987/1988 77.28 74.23 3.05 0.00 0
1988/1989 79.27 74.02 5.24 0.00 0
1989/1990 78.33 74.02 4.31 0.00 0
1990/1991 78.56 74.02 4.54 0.00 0
1991/1992 79.48 74.23 5.25 0.00 0
1992/1993 65.86 74.02 3.11 -11.28 1849
1993/1994 78.11 74.02 5.20 -1.11 189
1994/1995 79.25 74.02 5.26 -0.03 3
1995/1996 75.30 74.23 4.60 -3.53 430
1996/1997 78.92 74.02 4.90 0.00 0
1997/1998 77.33 74.02 3.30 0.00 0
1998/1999 79.27 74.02 5.25 0.00 0
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
Pedro Alexandre Borga Miguel Dias VII
1999/2000 79.48 74.23 5.25 0.00 0
2000/2001 77.82 74.02 3.80 0.00 0
2001/2002 79.27 74.02 5.24 0.00 0
2002/2003 77.51 74.02 3.48 0.00 0
2003/2004 79.11 74.23 4.89 0.00 0
2004/2005 79.28 74.02 5.25 0.00 0
2005/2006 79.28 74.02 5.25 0.00 0
2006/2007 79.27 74.02 5.25 0.00 0
2007/2008 79.48 74.23 5.25 0.00 0
2008/2009 57.75 74.02 2.29 -18.56 2965
2009/2010 68.09 74.02 4.36 -10.29 1553
2010/2011 79.27 74.02 5.25 0.00 0
Anexos
VIII
E. Resultados obtidos na componente de simulação e otimização para todos os meses analisados
Figura E.1 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses janeiro selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
IX
Figura E.2 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses fevereiro (não bissexto) selecionados
Anexos
X
Figura E.3 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses fevereiro (bissexto) selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
XI
Figura E.4 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses Março selecionados
Anexos
XII
Figura E.5 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses abril selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
XIII
Figura E.6 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses maio selecionados
Anexos
XIV
Figura E.7 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses junho selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
XV
Figura E.8 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses julho selecionados
Anexos
XVI
Figura E.9 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses agosto selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
XVII
Figura E.10 –Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses setembro selecionados
Anexos
XVIII
Figura E.11 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses outubro selecionados
Agregação de geração de energia elétrica de origem hídrica e eólica num sistema autossuficiente
XIX
Figura E.12 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os meses
novembro selecionados
Anexos
XX
Figura E.13 – Comparação da potência extraída das diversas fontes de energia, dos armazenamentos das albufeiras associadas, fator de capacidade da central eólica e o custo associado para os
meses de dezembro selecionados.