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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL 8,5 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM Érica Aparecida Balsani da Silva [email protected] Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo CARLINDA/2013

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL

8,5

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

Érica Aparecida Balsani da Silva

[email protected]

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

CARLINDA/2013

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

Érica Aparecida Balsani da Silva

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de especialização em Psicopedagogia e Educação Infantil.”

CARLINDA/2013

RESUMO

Esta pesquisa tem como tema a importância do lúdico no processo ensino

aprendizagem nos anos iniciais. A escolha desse tema deu-se através da

importância da utilização deste recurso que é fator indispensável para um melhor

desenvolvimento cognitivo, social e cultural do educando. A pesquisa será

bibliográfica onde será mostrada a importância do lúdico no processo de

socialização das crianças como também sua importância no processo ensino e

aprendizagem, através dos jogos, dos brinquedos, das brincadeiras. Tendo como

tema central “O lúdico” na construção do processo de ensino e aprendizagem, que é

de suma importância, fazendo deste assunto um fator primordial a ser trabalhado por

todos os pedagogos, professores, comunidade, escola e familiares que tenham a

intenção de educar, sabendo que isto não se limita a repassar informações ou

mostrar apenas um caminho, mas sim ajudar a criança a tomar consciência de si

mesma, dos outros e da sociedade. Através desta pesquisa pode-se concluir que o

aprendizado de qualidade está diretamente ligado com o lúdico pois a utilização

deste recurso é de fundamental importância para que o aprendizado se concretize

com sucesso.

Palavras chave: Lúdico. Brincadeiras. Ensino-aprendizagem.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................04

1. O JOGO, O BRINCAR, A BRINCAFEIRA E O BRINQUEDO..............................07

2.BRINCANDO SE APRENDE........................................................................................13

3. LUDICO: FATOR INDISPENSAVEL NO PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM......................................................................................................19

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................27

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da importância do lúdico no processo ensino

aprendizagem, pois trabalhar com o lúdico faz com que os alunos despertem sua

criatividade, e que haja interação e o conhecimento através das atividades.

Ao pensarmos na realidade da sala de aula, nos deparamos com um número

elevado de alunos com grandes dificuldades de aprendizagem e desmotivados para

os estudos. Para mudar tal visão, faz-se necessário uma prática pedagógica

dinâmica e provocadora, no sentido de instigar os alunos a aprender de maneira

significativa e prazerosa. O educador exerce considerável função nesse processo,

pois é quem vai direcioná-lo, sendo mediador e propondo atividades que estimulem

o aluno em sala de aula. Os brinquedos e jogos são reconhecidos por educadores

como fator importante na educação, uma vez que, o brinquedo é oportunidade de

desenvolvimento. Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e

aprimora habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a

autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da

concentração e atenção.

A ludicidade é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da

criança. O lúdico tão importante para a saúde física e mental do ser humano é um

espaço que merece atenção dos pais e educadores. Todas as sociedades

reconhecem o brincar como parte da infância. Partindo de concepções teóricas de

que a criança tem sua curiosidade despertada por jogos e brincadeiras e por meio

deles se relaciona com o meio físico e social, de modo a ampliar seus

conhecimentos, desenvolver habilidades motoras, cognitivas e linguísticas, a escola

deve considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no

desenvolvimento dos alunos. As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o

imaginário, a partir disto, muito pode ser trabalhado. Contar, ouvir histórias,

dramatizar, jogar com regra, desenhar, entre outras atividades constituem meios

prazerosos de aprendizagem. Por intermédio delas, as crianças expressam suas

criações e emoções, refletem medos e alegrias, aperfeiçoam características

importantes para a vida adulta.

Segundo CUNHA (2007, p. 24), “ao brincar com outras pessoas, a criança

aprende a viver socialmente, respeita regras, cumpre normas, espera a sua vez e

interage de uma forma mais organizada.” Dessa forma, mostra a eficácia de utilizar o

lúdico em sala de aula, pois o mesmo propicia que o aluno aprenda com o outro e se

torne um adulto responsável.

Além disso, serão abordados em alguns capítulos certos elementos que

caracterizam os diversos tipos de jogos, brinquedos, brincadeiras, Também será

abordada a importância dos jogos na construção do conhecimento e o lúdico como

fator indispensável no processo de ensino aprendizagem.

Esta pesquisa propõe uma abordagem sobre a importância das atividades

lúdicas nos anos iniciais, pois as mesmas possibilitam o desenvolvimento integral da

criança. Considerando o lúdico como uma atividade natural, pode-se afirmar que sua

aplicação auxilia na construção do conhecimento e no desenvolvimento cognitivo de

cada indivíduo.

O lúdico possibilita que a criança compreenda a sociedade em que vive,

tornando-se um adulto criativo e responsável, capaz de resolver situações problema

que apareçam no decorrer de sua vida. Dessa forma, ressalta-se a importância e os

benefícios de se trabalhar o lúdico nos anos iniciais. Entretanto, pode-se aproveitar o

desafio e o interesse despertados pelas brincadeiras e utilizá-las como recurso

pedagógico, através do qual a aprendizagem é facilitada por ser elaborada de forma

concreta.

Pesquisas comprovam ser o lúdico essencial para o desenvolvimento da

aprendizagem das crianças; assim, os educadores necessitam estar conscientes da

importância e utilizá-la como instrumento curricular, descobrindo seu valor como

fonte de desenvolvimento da autonomia, da criatividade, da experimentação, da

pesquisa e da aprendizagem significativa.

Ciente de que os primeiros anos da criança são de fundamental importância

para a formação do ser humano, fica evidente que deve haver mais preocupação

com a educação prazerosa e significativa da criança nos primeiros anos escolares.

O professor, ao inserir atividades lúdicas em seu planejamento, comprova a

importância de aprender brincando, pois facilita a compreensão dos seus alunos nos

conteúdos mais complexos. Com essa visão, a presente pesquisa buscou verificar a

importância do lúdico nos anos iniciais, pois alguns professores ainda não possuem

o conhecimento da verdadeira importância do mesmo no processo de ensino

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aprendizagem e continuam aplicando métodos não condizentes com a realidade da

criança, sem ao menos buscar alternativas para trabalhar o seu conteúdo. Sendo

assim, faz-se necessário que os professores conheçam a importância do lúdico em

suas atividades e busquem inovar nas aulas, tornando-as mais agradáveis e

participativas.

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1.O JOGO, O BRINCAR, A BRINCADEIRA E O BRINQUEDO

A pesquisa visa ressaltar a importância do lúdico para o processo ensino-

aprendizagem baseando-se nos seguintes termos teóricos: ROJAS (2007), CUNHA

(2007) e BRASIL (2001).

Em ROJAS (2007), faz-se necessário propor um novo sentido à

interatividade, permitir à criança a construção de seus conhecimentos e, com base

na ludicidade, por meio das brincadeiras e do real assimilar e acomodar todo o

processo de ensino aprendizado. A partir desse pensamento, sugere que as

atividades pedagógicas sejam realizadas brincando e, com isso, liberar o lúdico que

existe na criança e dentro de cada professor, assim o ensino aprendizado se tornará

prazeroso e significativo. “A construção lúdica carrega de afeto o processo de

aprendizagem.” (ROJAS 2007, p. 39).

Para CUNHA (2007), os brinquedos, o tempo e o espaço são importantes no

trabalho com o lúdico.

Os brinquedos são parceiros silenciosos que desafiam a criança possibilitando descobertas e estimulando a alta expressão. É preciso haver tempo para eles, e espaço que assegure o sossego suficiente para que a criança brinque e solte a sua imaginação, inventando, sem medo de desgostar alguém ou de ser punida. Onde possa brincar com seriedade (p.12).

Para BRASIL (2001), o brincar é importante para o desenvolvimento pleno

da criança, mas está sendo substituído por reprodução mecânica de valores

impostos:

Quando brinca a criança desenvolve atividades rítmicas, melódicas fantasia-se de adulto, produz desenhos, danças, inventa histórias. Mas esse lugar da atividade lúdica no inicio da infância é cada vez mais substituído, fora e dentro da escola, por situações que antes favoreçam a reprodução mecânica de valores impostos pela cultura de massas em detrimento da experiência imaginativa. (p.49).

A ludicidade jamais pode ser vista como um passa tempo e sim estar aliada

ao planejamento do professor como uma ferramenta que se tem para a melhoria da

educação, pois, através das atividades lúdicas, as crianças se envolvem interagindo

e se socializando com os outros. Todo o profissional que se dedica ao trabalho com

crianças, e espera na educação um ensino de melhor qualidade, deve inserir em

suas metodologias de ensino atividades lúdicas, visto que, essas são essenciais

para a criança adquirir conceitos e conhecimentos que fazem seu aprendizado se

tornar significativo.

Segundo ROJAS:

A criança fala e interage em todas as suas ações, e o educador não pode perder isso de vista, ao estruturar as propostas que visam o trabalho educativo com a infância. A ludicidade é a manifestação da espontaneidade por meio da fala e dos gestos que a criança expressa de forma prazerosa, revelando maior significado ao aprender (2007, p. 18).

As atividades lúdicas na infância se fazem importantes, pois as crianças, por

meio de brincadeiras, aprendem e encontram o seu lugar no mundo. Elas identificam

diversas atitudes que podem ser utilizadas nos diferentes acontecimentos de seu

cotidiano, através do simples brincar.

Para ROJAS:

O brincar intensifica a percepção infantil que, por sua vez, direciona seu pensar de maneira cada vez mais equilibrada, favorecendo a aprendizagem ao longo do seu crescimento. Ao desenvolver suas potencialidades, a criança aprende a interagir, vencendo suas dificuldades tomando decisões nas situações conflituosas (2007, p. 28).

Com isso, percebe-se a relevância das atividades lúdicas na infância, pois

desenvolvem as potencialidades e a autonomia da criança, que se verá como capaz

de construir, de fazer e desfazer diversas situações nas brincadeiras que certamente

auxiliarão nas mais complexas atividades, com as quais se deparará no decorrer de

sua vida. Ainda para a autora, o lúdico é à base de toda a atividade da Educação de

Infância, pois, através do brincar a criança sente-se motivada e interessada, dando

origem ao processo de aprendizagem, importante fonte de descoberta e prazer. A

criança, então, envolvida pelo mundo da fantasia, do brincar e do real, constrói seu

conhecimento de maneira prazerosa e significativa, pois, mesmo sem intenção de

aprender, quem brinca, aprende.

Segundo MARCELLINO (2009, p. 111), “o uso de atividades como o jogo, a

brincadeira e o brinquedo pode variar de acordo com os objetivos que o profissional

se propõe a alcançar.” Sendo assim, o professor, sabendo aonde quer chegar, o que

deseja alcançar, no desenvolvimento cognitivo, com brincadeiras obterá uma maior

chance de sucesso, através das mesmas a criança se sentirá envolvida de forma a

se expressar de maneira espontânea, ficando bem mais fácil a assimilação de

conteúdos.

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Quando o professor recorre aos jogos, ele está criando na sala de aula uma

atmosfera de motivação que permite aos alunos participarem ativamente do

processo ensino aprendizagem, assimilando experiências e informações,

incorporando atitudes e valores.

Para que a aprendizagem ocorra de forma natural é necessário respeitar e

resgatar o movimento humano, respeitando a bagagem espontânea de

conhecimento da criança. Seu mundo cultural, movimentos, atitudes lúdicas,

criaturas e fantasias.

Brincar e jogar são coisas simples na vida das crianças. Parecem simples,

mas depois de observá-los, se verifica que a atividade lúdica está no centro de

muitas ideias sobre o desenvolvimento psicológico, intelectual, emocional ou social

do ser humano. O jogo, o brincar e o brinquedo desempenham um papel

fundamentalmente na aprendizagem e no processo de socialização das crianças.

Consequentemente, entendendo que o jogo deve fazer parte do processo de

ensino a educação lúdica facilita não só o processo de socialização, mas também no

processo de aprendizagem.

O ensino utilizando meios lúdicos cria ambiente gratificante e atraente

servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da criança.

Segundo MARCELLINO:

O elemento lúdico, além de ocasionar o encontro mais espontâneo entre as pessoas é também capaz de resgatar componentes da cultura infantil, a bagagem cultural que cada criança criou e que teve que abandonar do lado externo dos muros escolares quando seu ingresso na escola (2009, p. 98).

É de suma importância os, educadores, saibam como usar os jogos para

ajudar o aluno no desenvolvimento do raciocínio lógico, pois o lúdico pode estar

presente na aprendizagem e no desenvolvimento, sem esquecer que a sua principal

importância é conhecer sua aplicação na escola, por meio dos jogos lúdicos, dos

brinquedos e das brincadeiras em sala de aula possamos desenvolver o hábito do

pensar nos educandos sem desviá-los do mundo real e de seu cotidiano.

Segundo AZEVEDO (2008), a utilização de jogos educativos no ambiente

escolar, traz muitas vantagens para o processo de ensino e aprendizagem, entre

elas: O jogo é um impulso natural da criança funcionando assim como um grande

motivador; A criança através do jogo obtém prazer e realiza um esforço espontâneo

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e voluntário para atingir o objetivo do jogo; O jogo mobiliza esquemas mentais:

estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço; O jogo integra várias

dimensões da personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva; O jogo favorece a

aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades como

coordenação, destreza, rapidez, força, concentração, etc.

Segundo BARRETO (2007), a participação em jogos contribui para a

formação de atitudes sociais: respeito mútuo, cooperação, obediência às regras,

senso de responsabilidade, senso de justiça, iniciativa pessoal e grupal. O jogo é o

vínculo que une a vontade e o prazer durante a realização de uma atividade. O

ensino utilizando meios lúdicos cria ambientes gratificantes e atraentes servindo

como estímulo para o desenvolvimento integral da criança. Todos os educadores

afirmam que o jogo é importante para a educação, pois todos reconhecem mesmo

aqueles que habitualmente não lidam com crianças, que o “brincar” é parte

integrante do dia-a-dia delas.

Segundo KISHIMOTO (1997), os jogos, têm importância fundamental para o

desenvolvimento social, emocional e intelectual do ser humano. Ao jogar é possível

transpor limites, aventura-se e descobrir o próprio eu. As situações problemas

contidas na manipulação dos jogos e brincadeiras faz a criança crescer através da

procura de soluções e de alternativas, contribuindo para a eficiência e o equilíbrio do

indivíduo.

Para PEDROZA (2005), os jogos e brincadeiras representam fonte de

conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo e contribui para o desenvolvimento

de recursos cognitivos e afetivos que auxiliam a tomada de decisões, criatividade e

raciocínio.

De acordo com MORATORI (2003), a atividade lúdica envolve desejo e

interesse do participante pela própria ação do jogo e o desafio motiva o jogador.

Da mesma maneira, TAPIA (1999), confirma a idéia de que o professor deve

criar condições que propiciem a motivação.

O ato de brincar e jogar torna o indivíduo capaz de pensar, imaginar,

interpretar e criar, aspectos estes, que propiciam autonomia, iniciativa, concentração

e análise crítica para levantar hipóteses acerca dos fatos, bem como nos ensinam a

respeitar regras e vivenciar conflitos competitivos.

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Na concepção de BARRETO (2007), o brincar favorece transformações

internas e é uma forma de expressar seu desejo.

Normalmente, brincar é um ato reconhecido como espontâneo e natural, que

se constitui, basicamente, em um sistema que integra a vida social das crianças e

que passa de geração a geração, de acordo com os interesses e necessidades de

cada grupo e época.

Vários motivos levam a criança a brincar. Não é, portanto, somente por

simples prazer ou para gastar suas energias que as crianças brincam. Existem

amplos aspectos que devem ser considerados, não se devendo de forma alguma

subestimar esta atividade, que é, sem dúvida, essencial para o desenvolvimento da

criança em idade pré-escolar.

De qualquer modo, é através do brincar que a criança aprende a se preparar

para o futuro e para enfrentar direta ou simbolicamente dificuldades do presente.

Brincar, além de ajudar a descarregar o excesso de energias, é agradável, dá prazer

à criança e estimula o desenvolvimento intelectual da mesma. É o que nos

afirma, por exemplo, BAQUERO (1998, p. 31): “as crianças brincam porque esta é

uma atividade agradável e ao brincar a criança exercita também a mente, além do

corpo, pois ambos estão envolvidos.” O brincar é muito importante porque, além de

estimular o desenvolvimento intelectual da criança, ensina, sem forçá-la, os hábitos

necessários para seu crescimento.

As crianças têm várias maneiras de brincar, tanto sozinhas, como em grupo.

Quando a criança é muito pequena, por exemplo, seu mundo, de certo modo, é

muito restrito; ela não tem condições de brincar com um número grande de pessoas;

no máximo, com duas ou três crianças, ou sozinhas. Além disso, nem sempre ao

dividir os brinquedos, as crianças, nessa idade, estão brincando juntas e, sim,

muitas vezes, brincam uma ao lado da outra, porém, sem brincar uma com a outra.

Ao falar de crianças maiores, a autora coloca que estas já conseguem se organizar

em grupos mais amplos e, na maioria das vezes, dividem tarefas, desenvolvendo

atividades iguais ou semelhantes.

CUNHA (1998), coloca que “brincando a criança experimenta, descobre,

inventa, exercita e confere suas habilidades” (p. 9). Acrescenta ainda que brincar é

um dom natural que contribuirá no futuro para o equilíbrio do adulto, pois o ato de

brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.

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Ao brincar, a crianças trabalham com informações, dados e percepções da

realidade, mas na forma de ficção. Assim, vão crescendo e incorporando a

representação que fazem da sua realidade, dos conhecimentos adquiridos e de seus

desejos e sentimentos.

Conclui-se, pois, que conhecer a criança, bem como a importância do brincar

e do por que e para que a criança brinca é fundamental para ajudá-la em seu

desenvolvimento, pois, é no brincar que a criança aprende modos de se comportar,

de reagir, de expressar emoções, de se relacionar. Logo, brincando a criança está

aprendendo a criticidade, preparando-se para o futuro.

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2. BRINCANDO SE APRENDE

Ao pensar na criança como um todo, faz-se necessário conhecer a realidade

em que a mesma se encontra, sua cultura e seus conceitos, e, através destes,

proporcionar situações que contemplem sua realidade de vida e, o mais importante,

valorizar o conhecimento que traz consigo. E isso se faz mais produtivo quando

essas atividades são promovidas por meio do lúdico.

Com as brincadeiras, as crianças podem ter sua cultura resgatada, seus

conceitos ampliados, e uma capacidade de mudança interiorizada. Segundo

MARCELLINO (2009 p.103), “[...] é na infância que a atividade lúdica se manifesta

com maior intensidade, na qual se pode observar a presença de uma forma

propulsora que conduz a criança para a atividade lúdica.” Ou seja, o brincar é

sempre atrativo e visto com bons olhos pela criança, bem como por todo o ser

humano, pois tudo passa a ficar mais fácil, visto com espontaneidade e simplicidade.

Para MARCELLINO (2009), ao propiciar às crianças as atividades lúdicas, o

professor disponibiliza-lhes a descoberta por si só de suas potencialidades e ajuda-

as a desenvolverem seu cognitivo, onde as mesmas podem falar por si mesmas:

Reconhecer o lúdico é reconhecer as especificidades da infância; permitir que as crianças sejam crianças e vivam como crianças; é ocupar-se do presente, porque o futuro dele decorre; e esquecer o discurso que fala da criança e ouvir as crianças falarem por si mesmas; e redescobrir a linguagem dos nossos desejos e conferir-lhe o mesmo lugar que tem a linguagem da razão; é redescobrir a corporeidade ao invés de dicotomizar o homem em corpo e alma; é abrir porta e janelas e deixar que a inclinação vital penetre na escola, espane a poeira, apague as regras escritas na lousa e acorde as crianças desse sono letárgico no qual por tanto tempo deixaram de sonhar (p. 41).

Assim, cabe ao docente abrir esse espaço para a criança se sentir criança,

aproveitar cada momento de sua infância e se expressar espontaneamente, falando

de suas necessidades, dessa forma, contribuindo para o seu aprendizado. Isso só

se concretiza através de atividades significativas, e para a criança só é importante

se ela realmente gosta do que está fazendo, do contrário abandona tudo e vai em

busca de outros elementos que lhe proporcionem prazer, ou seja, de que realmente

goste.

Segundo KISHIMOTO (1997, p. 50),

no desenvolvimento das crianças é evidente a transição de uma para outra através do jogo, que é uma imaginação em ação. A criança precisa de

tempo e de espaço para trabalhar a construção do real pelo exercício da fantasia.

Quando a criança brinca ou joga, esforça-se para superar os obstáculos

usando o emocional, o cognitivo, e ainda, pode construir um mundo imaginário a

partir do mundo real, encontrando a forma de agir em sociedade.

Segundo ANTUNES (1998, p. 73),

a brincadeira representa tanto uma atividade cognitiva, quanto social e através das mesmas as crianças exercitam suas habilidades físicas, crescem cognitivamente e aprendem a interagir com outras crianças.

Por isso, as atividades lúdicas devem estar presentes no planejamento

curricular do professor para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Segundo SANTOS:

As brincadeiras, as experiências e jogo precisam ser completos, podendo até ter princípio, um meio e um fim. O acontecimento, quando são totais,vão estabelecendo gradativamente as bases para a capacidade de domínio de tempo. A experiência deve-se ser desfrutada de uma ponta a outra (2008, p.33).

O professor, ao aplicar atividades lúdicas em sala deve ter um propósito, um

objetivo a alcançar e que tal objetivo proporcione à criança o equilíbrio entre o real e

o imaginário, permitindo que desfrute dos dois mundos e tenha clareza dos fatos

cotidianos e seja um adulto com capacidade de decisões, tornando-se operativo.

Conforme BRASIL:

A brincadeira favorece a auto-estima, auxiliando-as superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui assim para interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas transformam-no em um espaço singular de constituição infantil (1998, p. 27).

Portanto, faz-se necessária a inserção de brincadeiras como atividades em

sala de aula, pois o brincar é uma forma de aprender. Pois, por meio das

brincadeiras, os professores poderão observar o desenvolvimento das crianças em

conjunto e de cada uma em particular, conhecendo suas capacidades de uso de

linguagens e suas capacidades sociais tornando ao lúdico importante no sistema de

avaliação do aluno.

De acordo com RONCA (1989, p. 27)

O movimento lúdico, simultaneamente, torna-se fonte prazerosa de conhecimento, pois nele a criança constrói classificações, elabora sequências lógicas, desenvolve o psicomotor e a afetividade e amplia conceitos das várias áreas da ciência.

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Percebemos desse modo que brincando a criança aprende com muito mais

prazer, destacando que o brinquedo, é o caminho pelo quais as crianças

compreendem o mundo em que vivem e são chamadas a mudar. É a oportunidade

de desenvolvimento, pois brincando a criança experimenta, descobre, inventa,

exercita, vivendo assim uma experiência que enriquece sua sociabilidade e a

capacidade de se tornar um ser humano criativo.

Para VIGOTSKY (1989, p.84)

As crianças formam estruturas mentais pelo uso de instrumentos e sinais. A brincadeira, a criação de situações imaginárias surge da tensão do indivíduo e a sociedade. O lúdico liberta a criança das amarras da realidade.

Verificamos, portanto que as atividades lúdicas propiciam à criança a

possibilidade de conviver com diferentes sentimentos os quais fazem parte de seu

interior, elas demonstram através das brincadeiras como vê e constrói o mundo,

como gostaria que ele fosse quais as suas preocupações e que problemas a estão

atormentando, ou seja, expressa-se na brincadeira o que tem dificuldade de

expressar com palavras. E aliar atividades lúdicas ao processo de ensino e

aprendizagem pode ser de grande valia, para o desenvolvimento do aluno, um

exemplo de atividade que desperta e muito o interesse do aluno é o jogo. Dessa

maneira percebemos a necessidade do professor de pensar nas atividades lúdicas

nos diferentes momentos de seu planejamento. Lembrando que o jogo e a

brincadeira exigem partilhas, confrontos, negociações e trocas, promovendo

conquistas cognitivas, emocionais e sociais.

Ao brincar a criança ,conhece a si própria e aos outros e realiza a dura tarefa

de compreender seus limites e possibilidades e de inserir-se em seu grupo. Aí

aprende e internaliza normas sociais de comportamentos e os hábitos fixados pela

cultura, pela ética e pela moral.

E nessa perspectiva o lúdico se torna muito importante na escola, porque

pelo lúdico a criança faz ciência, pois trabalha com a imaginação e produz uma

forma complexa de compreensão e reformulação de sua experiência cotidiana. Ao

combinar informações e percepções da realidade problematizada, tornando-se

criadora e construtora de novos conhecimentos.

Segundo NOVAES (1992, p.28), “O ensino, absorvido de maneira lúdica,

passa adquirir um aspecto significativo e efetivo no curso de desenvolvimento da

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inteligência da criança.” Desse modo, brincando a criança vai construindo e

compreendendo o mundo ao seu redor. Lembrando que as atividades lúdicas são de

grande valia para o educador que souber se utilizar apropriadamente dessas

atividades, sendo que o aluno será o maior beneficiado.

O jogo é uma fonte de prazer e descoberta para a criança, o que poderá

contribuir no processo ensino e aprendizagem; porém tal contribuição no

desenvolvimento das atividades pedagógicas dependerá da concepção que se tem

do jogo.

Os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para

gastar a energia das crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento

intelectual e que podem contribuir significativamente para o processo de ensino e

aprendizagem e no processo de socialização das crianças.

O jogo normalmente é visto por seu caráter competitivo, ou seja, uma

disputa onde existem ganhadores e perdedores; esta visão está vinculada à postura

de muitos educadores, para estes o jogo é um ato diferente do brincar, não podemos

considerar o jogo apenas como uma competição. A atividade lúdica é o berço

obrigatório das atividades sociais e intelectuais.

Um dos principais objetivos da escola é proporcionar a socialização, por

esse motivo não devemos isolar as crianças em suas carteiras, devemos incentivar

os trabalhos em grupos, a trocas de idéias, a cooperação que acontece por ocasião

dos jogos.

Dentro da realidade brasileira qualquer instituição que tenha como objetivo

potencializar atividades lúdicas ou de aprendizagens terá por si mesma um grande

significado social.

MAURICIO (2008), apresenta um estudo focado na importância do lúdico

para o processo ensino-aprendizagem, buscando clarificar o papel do brincar e

conscientizar professores de seu real significado.

MAURÍCIO (2008), menciona ainda que a ludicidade reflete a expressão

mais genuína do ser; é o espaço de todo ser para o exercício da relação afetiva com

o mundo, com as pessoas e objetos. Por meio das atividades lúdicas, o indivíduo

forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções e

se socializa.

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A ligação das atividades lúdicas com a aprendizagem proporciona o

estabelecimento de relações cognitivas, simbólicas e produções culturais. O lúdico

possui dois fatores motivacionais, o prazer e o ambiente espontâneo.

As tarefas lúdicas demandam um interesse intrínseco do indivíduo, pois este

canaliza sua energia para cumprir com os objetivos propostos, produzindo um

sentimento eufórico e de entusiasmo.

DALLABONA e MENDES (2004), ainda apresentam que as atividades

lúdicas são peças-chave para desenvolver a solidariedade e empatia, como para

introduzir novos conceitos para a posse e para o consumo. A brincadeira é um

recurso que facilita a compreensão espontânea de alunos que apresentam

dificuldades de aprendizagem.

TEZANI (2004) expõe que as atividades lúdicas provocam espontaneidade,

uma vez que o indivíduo sente-se à vontade para explorar o ambiente, aventurar-se

e enfrentar os desafios com foco em alcançar os resultados propostos.

A partir de então, percebe-se um aluno ativo, participativo e autoconfiante.

Para a efetivação da aprendizagem, nota-se a necessidade de estimular a

curiosidade e a criatividade na busca de despertar o interesse do educando. Por

meio da brincadeira, a criança tende a adequar-se à realidade e consequentemente

atribuir significado a mesma.

Alertar aos educadores em relação à repressão corporal existente e à forma

mecânica e descontextualizada como os conteúdos vêm sendo passados para as

crianças. O que podemos perceber em algumas escolas, é que existe ainda uma

aprendizagem apoiada em métodos mecânicos e abstratos, totalmente fora da

realidade da criança. Predominado sempre durante as aulas a imobilidade, o silencio

e a disciplina rígida. O professor comanda toda a ação do aluno, preocupando-se

excessivamente em colocá-los enfileirados, imóveis em suas carteiras comandando

os olhares das crianças para que ficassem com os olhos no quadro – negro.

Nestas escolas, as atividades lúdicas são descartadas, ou sofrem distorções

sobre a sua função. Os jogos são vistos apenas como disputa, competições, fruto da

imaginação das crianças, deixando de lado o valor pedagógico, a sua importância

para o desenvolvimento cognitivo.

Atualmente o jogo não pode ser visto e nem confundido apenas como

competição e nem considerado apenas imaginação, principalmente por pessoas que

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lidam com crianças. O jogo é uma atividade física ou mental organizada por um

sistema de regras, não é apenas uma forma de divertimento, mas são meios que

contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, proporcionam a relação

entre parceiros e grupos. Através da interação a criança terá acesso à cultura, dos

valores e aos conhecimentos criados pelo homem.

Para que essa visão seja realmente difundida e aplicada há uma

necessidade de reestruturação da formação e conduta profissional dos professores

para que se aproveite a atividade lúdica como centro das idéias sobre o processo de

socialização.

Além das indagações sobre a conduta profissional dos professores,

pergunta-se ainda se as escolas estão ou não preparadas para essa renovação de

atitude do quadro docente, se essa renovação será bem vista e apoiada para que

esta realmente obtenha sucesso.

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3. LUDICO: FATOR INDISPENSAVEL NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Alguns professores desconhecem a importância de se inserir atividades

lúdicas em seu planejamento e, assim, continuam utilizando em seu método

pedagógico as formas tradicionais de ensino. Para sanar essa dificuldade e barreira,

deve-se optar pela inserção do lúdico, e, na prática constatar seus benefícios, que

são muitos. As crianças desenvolvem-se tanto emocional quanto cognitivamente,

aprendem a socializar-se, de forma a respeitam as regras, agirem com segurança,

de maneira prazerosa proporcionada pela metodologia lúdica.

Segundo QUEIROZ:

[...] A criança aprende enquanto brinca. Consideramos alguns momentos importantes o momento de faz de contas que é o momento de liberdade da imaginação, a vivencia de idéias por meio de práticas de dinâmicas de grupo e sensibilizações (dramatizar, contar e recontar, imitar, viver e elaborar histórias). O momento das atividades de dinâmica de grupo o brincar com outras pessoas (que permite a criança conhecer, criar e respeitar regras e normas, a partilhar, a dialogar) (2009, p. 12).

Para QUEIROZ (2009), o momento de faz de conta é o momento de

liberdade da imaginação é nesse momento que a criança se manifesta dona de si, é

quando está no comando de suas ações, e enfrenta diversas situações. Esses

momentos são extremamente importantes para a formação da personalidade,

distinção do certo, do errado e desenvolvimento da criatividade. É onde ela forma

seus conceitos e discerne o mundo real do imaginário de forma agradável e sem

traumas.

Para CUNHA:

A criança que brinca de forma concentrada aprende a se engajar seriamente, gratuitamente, pelo interesse na atividade em si. Este momento deve ser respeitado porque nele são cultivadas qualidades importantes para a formação de hábitos que irão influir na qualidade de futuro desempenho (2007, p. 22).

Dessa forma, pode-se entender a importância de metodologias e objetivos

bem elaborados para que os mesmos venham propiciar à criança situações de

segurança no que está fazendo. Para isso, deve ser levado em conta a vontade e

interesse dela, saber quais brincadeiras gosta, como é seu modo de ver o mundo e

propor atividades que contemplem tais necessidades. Isso proporciona à criança um

maior interesse pelas atividades ministradas, tornando-a um adulto com senso

crítico e capaz de tomar suas próprias decisões. Assim, os educadores devem voltar

sua atenção para a preparação de situações que facilitem o aprendizado da criança

e esta venha a aprender por si mesma.

Segundo TISI (2007, p. 58), “a atividade lúdica incide na autonomia e na

socialização, condição de uma relação comum.” Com sua visão, pode-se perceber a

importância de tais atividades. Com as brincadeiras e jogos, é certo que as crianças

vivenciam o real e prazeroso, as regras dos jogos, que vão sendo impostas

vagarosamente, vão propiciando às crianças interpretarem o mundo, vivência em

sociedade e cobranças feitas no decorrer de suas vidas. Pois todo jogo tem regras a

serem respeitadas e, ao realizarem tal atividade as crianças, aos poucos, adquirem

limite de até onde podem chegar a maneira como devem agir, como os demais

devem proceder, para que não sejam prejudicadas, ocorrendo aqui a autonomia, a

socialização, a capacidade crítica bem como a reflexão.

Segundo MOREIRA:

A brincadeira e o jogo são as formas mais adequadas para lidar com uma realidade que para ser compreendida necessita ser preenchida com uma boa dose de imaginação. A atividade criativa tem, pois, um valor capaz de diminuir a ansiedade diante dos conflitos e das situações confusas e complexas (1996, p. 54).

A brincadeira aqui também funciona como fator capaz de diminuir a

ansiedade diante dos conflitos, aumentar a criatividade e o uso da imaginação. Com

isso, na visão do autor, as brincadeiras e jogos são primordiais como recursos

pedagógicos, devendo estar ligadas ao planejamento escolar e às práticas

educativas. Pois, à medida que as crianças brincam, desenvolvem várias

inteligências, o que na vida proporciona o convívio de igualdade com os demais,

cidadãos de direitos e de deveres, com uma alta capacidade de resolver situações

problema, saindo da alienação e, por si própria, encontrando alternativas para

promoção de mudanças, que possibilitem melhorias em seu contexto social e em

sua realidade.

ANDRADE (2007, p. 16), diz que

a separação entre a brincadeira e a aprendizagem gera a concepção equivocada de que, quando a criança brinca, ela está se preparando para aprender e que esse último somente se da no contexto escolar.

Para a autora, a aprendizagem ocorre em todos os momentos e, nas

brincadeiras, é onde a criança aprende mais, pois, através das mesmas, ela

desenvolve hábitos, atitudes, habilidades e comportamentos favoráveis promotores

20

de aprendizagem. Aqui se vê a importância do lúdico na sala de aula, pois este nada

mais é que a forma concreta e divertida de assimilação, seja qual for o tema, é mais

fácil à criança se este for introduzido por meio de brincadeiras. Para a criança

brincar, é coisa séria.

Segundo AZEVEDO (2008, p. 66), “a forma como a criança joga revela a sua

personalidade e como está estruturado o seu modo de relacionamento com o

mundo.” Ou seja, por meio das brincadeiras, é possível perceber qual a reação da

criança em diferentes situações, possibilitando ao professor conhecer seu aluno da

forma como realmente é, de maneira pura e sincera, pois a criança não consegue ter

dupla personalidade. Vai, por meio do lúdico, se soltar, possibilitando ao docente

conhecer seu potencial, bem como suas dificuldades e, assim, pode interferir para

que haja a superação das mesmas. Assim, o lúdico, em todos os aspectos, é uma

ferramenta essencial na escolarização, não podendo nunca ficar de lado, ou apenas

na recreação, deve estar inserido em tempo permanente dentro da sala de aula.

Conforme BRASIL:

Os jogos populares de movimentos, cirandas, amarelinhas e muitos outros são importantes fontes de pesquisa. Essas manifestações populares devem ser valorizadas pelo professor e estar presentes no repertório dos alunos, pois são parte das riquezas cultural dos povos, constituindo importante material para a aprendizagem. (2001, p.84).

É possível resgatar a cultura da criança, valorizar o meio em que vive e,

ainda ter clareza das características que possui, na aplicação de tais brincadeiras,

bem como trabalhar diversos eixos, como o movimento, a música, natureza e

sociedade, linguagem, e matemática. Sendo essas brincadeiras prazerosas aos

alunos, mais fácil fica para alcançar o seu cognitivo e trabalhar diversos conteúdos.

Para BRASIL (2001, p. 68), “a dança é uma forma de integração e

expressão tanto individual quanto coletivo em que o aluno exercita a atenção, a

percepção, a colaboração e a solidariedade.” Sendo uma importante aliada da

escolarização, também é uma fonte de comunicação, de criação informada nas

culturas, que, como recurso aplicado em sala de aula, permite a experimentação e a

criação no exercício da espontaneidade.

Assim, há diversos meios de se chegar ao aluno, sem precisar a imposição

de quadro e giz. A partir do momento em que o professor deixe-se envolver pela

ludicidade, encontra muitos caminhos para auxiliar seu aluno no desenvolvimento de

21

seu aprendizado, bem como muito aprende com eles, e juntos, se complementam, e

a educação é vista com novos olhos: de alegria, de compensação, de prazer e

significados.

Cabe ao educador por meio da intervenção pedagógica propiciar atividades

significativas que levem a uma aprendizagem de sucesso. Para que isso aconteça é

necessário que o professor reflita sua prática pedagógica percebendo o aluno mais

que um mero executor de tarefa, mas alguém que sente prazer em aprender.

Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível e que contribuirá

significativamente para formação de cidadãos que atendam as demandas do século

XXI.

De acordo com FREIRE (1996, p.67) “Saber que deve respeito à autonomia

e identidade do educando exige de mim uma prática em tudo coerente.” Essas

palavras levam a refletir sobre a importância de uma prática pedagógica voltada a

valorização e respeito da individualidade do aluno.

Mas a preocupação com uma educação significativa, atualizada e que

respeite o aluno, não começou hoje. Podemos perceber isso claramente através das

palavras de FREINET (1975, p.38), “o professor deve ter sensibilidade de atualizar a

sua prática.”

O autor com essas colocações chama o professor a pensar sobre sua

prática visualizando a necessidade de uma constante atualização. Reflexão essa

que o autor e também educador já fazia nos anos vinte do século passado,

propondo uma mudança na escola que considera teórica demais. Fazendo inclusive

sugestões como o uso de: jogos pedagógicos, trabalho em grupo, aulas passeio,

jornal escolar, entre outras.

Defendia ainda a ideia de que a escola deveria ser um lugar bastante alegre

com atividades prazerosas, como a brincadeira, por exemplo, sobre o qual nos fala

WINNICOTT (1979, p32), “A criança brinca para buscar prazer, para controlar

ansiedade, para estabelecer contatos sociais, para realizar a integração da

personalidade, por fim para comunicar-se com as pessoas.”

Considerando as palavras do autor, vemos que o ato de brincar para criança

é mais que uma atividade lúdica, representa um meio riquíssimo de expressão. E

com base no Referencial Curricular Nacional Para Educação.

22

A intervenção intencional baseada na observação das brincadeiras das crianças oferecendo-lhe material adequado, assim como espaço estruturado para brincar permite o enriquecimento das competências imaginativas, criativas e organizacional”. ( BRASIL, 1998, p.29).

Mas para que isso ocorra o professor precisa ter sensibilidade ao intervir

permitindo que as crianças possam elaborar através da brincadeira de forma

pessoal e independente, suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras. E o

brincar é uma das atividades fundamentais da criança. Através da brincadeira ela

fala, elabora seus sentidos, busca compreender o mundo. De acordo com OLIVEIRA

(1996, p.36), “No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que

nas atividades da vida real e também aprende; objeto e significado.”

Ou seja, a brincadeira possibilita a ação com significados, além disso, as

situações imaginárias fazem com que as crianças sigam regras, pois cada faz-de-

conta supõe comportamentos próprios da situação, ao brincar com um tijolinho de

madeira como se fosse um carrinho por exemplo, ela se relaciona como o

significado em questão (a idéia de carro) e não com o objeto concreto que tem nas

mãos.

Para VIGOTSKY,

A criança aprende muito ao brincar. O que aparentemente ela faz apenas para distrair-se ou gastar energia é na realidade uma importante ferramenta para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional, social, psicológico. (1979, p.45)

Percebemos através das palavras do autor à importância da brincadeira na

vida da criança e a necessidade que a criança tem de ser respeitada enquanto

brinca, pois seu mundo é mutante e esta em permanente oscilação entre fantasia e

realidade.

E a infância é tempo de brincar, está é uma verdade que não se pode

mudar. Para o adulto, o jogo e a brincadeira são atividades para as horas de lazer,

um passatempo. Para as crianças é algo muito sério, que permite dar asas a

imaginação, permitindo descobrirem a si mesmos e ao mundo.

Segundo PIAGET (1978, p.29), “os jogos de regra são: a atividade lúdica do

ser socializado”. Ou seja, através dos jogos de regras, a criança assimila a

necessidade de cumprimento das leis da sociedade e das leis morais.

E é principalmente na escola, que a criança começa a incorporar regras de

conduta, a se socializar, entrando em contato com uma aprendizagem mais

23

sistematizada, mas é preciso que a escola se apresente a criança não como um

bicho papão, mas um lugar prazeroso e importante.

Pois de acordo com KISHIMOTO (1994, p. 134), “O brinquedo, o jogo, o

aspecto lúdico e prazeroso que existem nos processos de ensinar e aprender não se

encaixam nas concepções tradicionalistas da educação.”

A escola é um espaço que deve promover o desenvolvimento da criança,

promover uma aprendizagem significativa, mas esta não precisa ser forçada, pode

ocorrer através do prazer e da alegria que os jogos e brincadeiras proporcionam.

E, ainda, sobre a importância do jogo, nos fala VYGOTSKY:

É na atividade de jogo que a criança desenvolve o seu conhecimento do mundo adulto e é também nela que surgem os primeiros sinais de uma capacidade especificamente humana, a capacidade de imaginar (…). Brincando a criança cria situações fictícias, transformando com algumas ações o significado de alguns objetos. (1991, p.122).

Desse modo a criança envolve-se em um mundo ilusório nos quais todos os

desejos são realizáveis, desenvolvendo através do brinquedo sua imaginação, onde

através da fantasia um simples pedaço de pau transforma-se de acordo com seu

desejo. A criança cria um mundo de papéis e relações sociais. E assim, os jogos

despertam na criança interesse e atração, onde ao mesmo tempo em que,

participam com prazer desfrutam da oportunidade que eles lhes oferecem para o seu

desenvolvimento.

DALLABONA e MENDES (2004), apontam que o lúdico serve como um meio

pedagógico que envolve o aluno nas tarefas da sala de aula, bem como colocam

que o educador deve ter claro em mente os objetivos em relação ao

desenvolvimento e à aprendizagem.

A ludicidade aplicada e compreendida em sua totalidade agrega resultados

positivos no ensino quanto à qualificação, à formação crítica, à definição de valores

e aos relacionamentos interpessoais.

As atividades lúdicas resgatam o gosto pelo aprender, pois ocasionam

momentos de afetividade entre o indivíduo e o aprender, tornando a aprendizagem

formal mais prazerosa.

O lúdico permite a exploração do indivíduo entre seu corpo e espaço,

provoca possibilidades de deslocamento e velocidade e cria condições mentais para

resolver problemáticas mais complexas. (TEZANI, 2004).

24

DALLABONA e MENDES (2004), indicam que a educação mediante

atividades lúdicas demanda o ato consciente e planejado para resgatar a satisfação

e o interesse do aluno.

Para tanto, o educador deve repensar sua prática pedagógica, visando

inserir atitudes que prezem pela reconstrução do pensamento e da maneira de

perceber e compreender o conhecimento, cabendo ao profissional, o compromisso

de modificação e transformação por meio da interação com os alunos.

A partir do momento que a escola valoriza as atividades lúdicas, auxilia na

criação de um bom conceito de mundo, em que a afetividade é acolhida, a

criatividade estimulada e os direitos dos indivíduos respeitados.

A educação deve abrir mão da ideia de que aprender significa acumular

conhecimentos sobre fatos e informações isoladas que requerem apenas

memorização.

TEZANI (2004), ressalta que a relação entre alunos e educadores deve ser

verdadeira, com trocas de experiências e opiniões, em prol de preservar um clima

harmonioso para a socialização do conhecimento, em que a sala de aula deve ser

um ambiente de confiança, liberdade com limites, de conteúdos interdisciplinares, de

inclusão, de aceitação do novo e de afetividade.

O ser humano não aprende do mesmo modo, não possuem as mesmas

competências de acordo com a teoria de GARDNER (1985), citado por MORATORI

(2003).

Enfim, através da brincadeira e do jogo, a criança aprende a lidar com o

mundo, formando sua personalidade, vivenciando sentimentos como amor e medo.

No jogo a criança se coloca em movimento num universo simbólico, projetando-se

no mundo ao seu redor.

A escola ao valorizar o lúdico, estendendo-o também ao ato pedagógico,

ajuda às crianças a formarem um bom conceito de mundo, um mundo onde a

afetividade é acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os

direitos da criança respeitados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar a importância do lúdico no processo ensino aprendizagem, , fica

evidente que os professores devem utilizar o lúdico. Uma brincadeira simples para

uma criança se torna um recurso maravilhoso para os professores usarem como

uma ferramenta indispensável no aprendizado dela.

Quando estimulada, a criança se desenvolve melhor, com isso pode-se por

meio dessa pesquisa, constatar que o lúdico é importante no processo ensino

aprendizagem.

De, forma prazerosa, a aprendizagem ocorre mais facilmente. Assim, todos

os professores podem aproveitar o desafio e o interesse despertados pelas

brincadeiras e utilizá-las como recursos pedagógicos, através dos quais a

aprendizagem será facilitada, por ser elaborada de forma correta, interessante e

atraente para a criança.

Com isso, a pesquisa mostra que o uso do lúdico em sala de aula tem uma

contribuição significativa para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança,

utilizando de várias formas a ludicidade no processo de ensino aprendizagem,

possibilitando que a criança se expresse de forma simples e natural e se sinta a

vontade para instigar os professores em relação as suas dificuldades.

Para os professores conhecedores da importância do lúdico no processo de

ensino aprendizagem, esse método se torna indispensável e prazeroso para ambas

as partes, não restando dúvidas da importância da inserção da ludicidade no ensino

aprendizagem.

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