al jazeera (01)

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Quinta, 30 de agosto de 2012 | Edição 1 | Doha, Quatar | Quinta-feira, 30 de agosto de 2012 Síria é expulsa da OCI JUSTIÇA | Salim Jamil Ayyash é julgado por atentados a bomba O julgamento dos acusados pelo assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri inicia hoje no Tribu- nal Especial para o Líbano. PÁG 02 Caos em Aleppo, cidade síria que é palco de conflitos entre milícias rebeldes e as forças de Bashar al Assad. PÁG 03 SEGURANÇA | ONG denuncia abusos cometidos por grupos guerrilheiro de Uganda OPINIÃO | Ministra justifica termo polêmico do projeto de Constituição O termo complementaridade em projeto de constituição gera pro- testos femininos na Tunísia. PÁG 04 SOCIEDADE | Mulheres saem às ruas em protesto para garantir igualdade de gênero O movimento, convocado por organizações feministas, exige a saída do partido islâmico Ennahda por causa de projeto de constituição. PÁG 04 A decisão foi tomada por causa dos conflitos armados entre o regime de Bashar al Assad e forças de oposição. Durante a Sonu, o ministro sírio não participará de votações sobre questões substanciais. PÁG 03 MEIO AMBIENTE | COP11 discute Protocolo de Nagoya O Protocolo de Nagoya é conside- rado o Protocolo de Kyoto em ma- téria de biodiversidade. PÁG 04 www.imprensasonu.wordpress.com Hariri ilustra cartazes em protesto pela punição de responsáveis por explosão de carro-bomba que viti- mou ao todo 23 pessoas. PÁG 02 ENERGIA | AIEA e Irã não chegam à acordo sobre a energia nuclear iraniana A primeira usina nuclear irania- na foi instalada na cidade de Bu- shehr, no sul do país. PÁG 03 EL PAÍS Tomasevic/Reuters AFP AP Reuters Vídeo com abusos de soldados do LRA é viral na internet. PÁG 02 EDITORIAL | A primavera de Bashar al Assad e o abandono da Síria Após quase dois anos de conflitos e manifestações em nações islâmi- cas, Síria vive os horrores de uma guerra civil sem perpestiva de tér- mino. PÁG 02 Fethi Belaid / AFP Tunisianos protestam contra postura do partido islâmico Ennahda. PÁG 04 Joseph Kony, líder do LRA, é o principal alvo das acusações de abuso. PÁG 02 DIVULGAÇÃO

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Page 1: Al Jazeera (01)

Quinta, 30 de agosto de 2012 | 1 Edição 1 | Doha, Quatar | Quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Síria é expulsa da OCI JUSTIÇA | Salim Jamil Ayyash é julgado por atentados a bombaO julgamento dos acusados pelo assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri inicia hoje no Tribu-nal Especial para o Líbano. PÁG 02

Caos em Aleppo, cidade síria que é palco de conflitos entre milícias rebeldes e as forças de Bashar al Assad. PÁG 03

SEGURANÇA | ONG denuncia abusos cometidos por grupos guerrilheiro de Uganda

OPINIÃO | Ministra justifica termo polêmico do projeto de Constituição

O termo complementaridade em projeto de constituição gera pro-testos femininos na Tunísia. PÁG 04

SOCIEDADE | Mulheres saem às ruas em protesto para garantir igualdade de gêneroO movimento, convocado por organizações feministas, exige a saída do partido islâmico Ennahda por causa de projeto de constituição. PÁG 04

A decisão foi tomada por causa dos conflitos armados entre o regime de Bashar al Assad e forças de oposição. Durante a Sonu, o ministro sírio não participará de votações sobre questões substanciais. PÁG 03

MEIO AMBIENTE | COP11 discute Protocolo de Nagoya

O Protocolo de Nagoya é conside-rado o Protocolo de Kyoto em ma-téria de biodiversidade. PÁG 04

www.imprensasonu.wordpress.com

Hariri ilustra cartazes em protesto pela punição de responsáveis por explosão de carro-bomba que viti-mou ao todo 23 pessoas. PÁG 02

ENERGIA | AIEA e Irã não chegam à acordo sobre a energia nuclear iraniana

A primeira usina nuclear irania-na foi instalada na cidade de Bu-shehr, no sul do país. PÁG 03

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Vídeo com abusos de soldados do LRA é viral na internet. PÁG 02

EDITORIAL | A primavera de Bashar al Assad e o abandono da SíriaApós quase dois anos de conflitos e manifestações em nações islâmi-cas, Síria vive os horrores de uma guerra civil sem perpestiva de tér-mino. PÁG 02

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Tunisianos protestam contra postura do partido islâmico Ennahda. PÁG 04

Joseph Kony, líder do LRA, é o principal alvo das acusações de abuso. PÁG 02

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ULG

AÇÃO

Page 2: Al Jazeera (01)

| Quinta, 30 de agosto de 20122

O julgamento de Salim Jamil Ayyash, um dos quatro acusados pelo assassinato de Rafik Hariri, ex-premiê libanês, será realiza-do pelo Tribunal Especial para o Líbano (TEL), que começa hoje, no primeiro dia da Simulação da Organização das Nações Unidas. Durante quatro dias, os gabinetes de acusação e de defesa apresen-tarão provas e interrogarão teste-munhas sobre a participação de Ayyash em uma série de atenta-dos a bomba no Líbano.

A pedido do governo libanês, o TEL foi criado para julgar os res-ponsáveis pela explosão de um carro-bomba no centro de Beirute, que vitimou Hariri e mais 22 pes-soas em fevereiro de 2005. O tribu-nal é uma corte independente com mandato conferido pelo Conselho de Segurança da ONU. Além de Ayyash, Mustafa Amine Badre-ddine, Hussein Hassan Oneissi e Assad Hassan Sabra também são apontados como responsáveis. Li-

banês de nacionalidade america-na, Ayyash é do alto escalão de se-gurança do grupo xiita Hezbollah e é considerado o organizador do ataque.

Acusação se baseia em evidên-cias circunstanciais obtidas através de registros telefônicos, conforme a acusação formal divulgada pela Reuters. O documento diz que a análise de registros de comunica-ção mostrou “a presença de várias redes celulares interligadas envol-vidas no assassinato de Hariri”, segundo a Reuters.

Começa hoje julgamento de Salim Jamil Ayyash

JUSTIÇA

O vídeo “Kony 2012”, lançado pela ONG Invisible Children em março desse ano, é o maior viral da história da internet, tendo atin-gido mais de 100 milhões de vi-sualizações em seis dias. O docu-mentário de 30 minutos pretende mostrar os abusos praticados pelo guerrilheiro Joseph Kony, líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, sigla para Lord’s Resistan-ce Army, em inglês). Além disso, a ONG exige a captura e o julga-mento de Kony no Tribunal Penal Internacional. Para Jason Russell, co-fundador da ONG e narrador do vídeo, a forma de capturar o guerrilheiro é torná-lo famoso, o que foi possível pela repercussão que teve com a ajuda das redes so-ciais.

Apesar do sucesso, nem tudo foi positivo para o documentário, que recebeu muitas críticas, inclu-sive por moradores da Uganda, ainda que somente 10% da popu-lação tenha acesso à internet. Exa-

geros e dados incorretos, além da superprodução do vídeo, justifica-ram os comentários negativos. O tom colonialista utilizados pelos produtores do vídeo também foi alvo de críticas. De acordo com os opositores da ONG, jovens africa-nos recebem a mensagem de que

os problemas locais precisam da intervenção norte-americana para serem solucionados. Quem assiste o vídeo pode perceber a ausência de vozes de pessoas que vivem os conflitos. Informações incorretas também são vistas. Por isso, um grupo conhecido por Uganda Spe-

aks, formado por blogueiros e ci-neastas, lançou seu próprio vídeo, com um diferente ponto de vista sobre o LRA e seu impacto.

“O que mais me incomoda em Kony 2012 é o fato de o vídeo dei-xar a impressão de que a guerra continua, de que Uganda ainda vive essa violência diariamente, quando, na realidade, o conflito foi encerrado há sete anos, e o país vive um momento de crescimen-to”, afirma Peter Eichstaedt, em entrevista ao portal IG. Segundo autor do livro “First Kill Your Fa-mily”, que fala sobre a guerra da Uganda. Kony e seu exército se escondem atualmente na floresta entre a República da África Cen-tral, o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo, segundo informações da população desses locais. Para Eichstaedt, não há in-teresse em prender Kony, pois o governo da Uganda recebe ajuda financeira e militar para encontrá--lo e continuará recebendo en-quanto as buscas não forem encer-radas.

Conflitos em Uganda ganham repercussão na internet

Salim Jamil Ayyash

Grupo guerrilheiro LRA sequestra crianças e as transforma em soldados

SEGURANÇA

EDITORIAL

O mundo árabe se viu dian-te de um turbilhão de transfor-mações a partir de dezembro de 2010. Nações do Oriente Médio e do Norte da África vivencia-ram, em graus variados, rup-turas com os regimes vigentes. Seguindo a premissa do efeito dominó, uma onda revolucioná-ria se alastrou após ato desespe-rado de um cidadão tunisiano, que ateou fogo no próprio cor-po. Além de ter sido a brisa que desencadeou a queda do castelo de cartas, o manifesto mortal do tunisiano serve como símbolo do que viria a acontecer com milhares de pessoas em quase dois anos de conflitos, manifes-tos e lutas armadas. De lá pra cá, muitos dirigentes caíram. Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, para ser mais preciso. Alguns, no entanto, resistem, deixando como legado a destruição de casas, bairros, cidades, e até de todo um país. Bashar al Assad se consagra cada vez mais como a flor mais cinza dessa prima-vera. A própria Organização de Cooperação Islâmica (OCI), que se posicionou de forma fraca em situações passadas, resolveu ser mais incisiva na busca por uma

paz definitiva na Síria. Agora, em plena guerra civil, o país foi exclu-ído da lista de países-membros da OCI, sem poder de voto em ques-tões substanciais. Até mesmo, ob-servadores da Organização das Nações Unidas (ONU) abando-naram Damasco em meio à busca por materiais nucleares no país. Isso porque dirigentes da ONU consideraram como fracassadas as tentativas de diminuir a violên-cia e de acabar com uso de armas pesadas pelo governo de Assad. Para piorar, a Associated Press (AP) revelou a presença de pesso-as com suspeita de contaminação por materiais nucleares no distrito de Lahrbos (Haffa). O povo sírio, mesmo sobrevivendo aos ataques armados, precisa ainda conviver com as sequelas posteriores da atual guerra civil.

Expediente

PRODUÇÃO: AlJazeera

EDTORA-CHEFE: Aline Moura

REPÓRTERES: Amanda Matos, Renato de

Menezes e William Santos.

IMPRESSÃO: Unifor

FALE CONOSCO:

Twitter: @sonufortaleza

Issuu: http://issuu.com/sonuimpresso

Blog: sonu-ufc.blogspot.com

EPA

TEL

Vídeo “Kony 2012” mostra abusos praticados pelo grupo guerrilheiro Exército de Resistência do Senhor em Uganda

Ayyash é acusado de organizar atentado terrorista que matou Rafik Hariri, ex-premiê do Líbano.

AMANDA MATOS

ENVIADO A KAMPALA

RENATO DE MENEZES

ENVIADO A HAIA

Quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O despertar de várias primaveras

Page 3: Al Jazeera (01)

Quinta, 30 de agosto de 2012 | 3

A Cúpula Islâmica de Meca de-cidiu, no último dia 16, em encon-tro realizado na Arábia Saudita, que a Síria está suspensa da Orga-nização de Cooperação Islâmica (OCI). Tal medida objetiva isolar ainda mais o regime do presidente sírio Bashar al Assad. Em novem-bro do ano passado, o país já ha-via sido suspenso da Liga Árabe. Os dirigentes da OCI afirmam sua “profunda preocupação com os massacres e atos desumanos im-postos ao povo sírio”. O secretário--geral da Organização, Ekmeledin Ihsanoglu, explicou em entrevista coletiva que a decisão se trata de “enviar uma mensagem forte do

mundo muçulmano ao regime sí-rio”. Segundo ele, “este mundo não pode aceitar um regime que massacra seu povo utilizando avi-ões, tanques e artilharia pesada”.

A suspensão da Síria foi reco-mendada durante a preparação para a cúpula que durante dois dias reuniu cerca de quarenta chefes de Estado árabes, africa-nos e asiáticos, membros da OCI. Apenas o Irã, aliado do regime de Damasco, rejeitou abertamente a suspensão da Síria. Para Alí Akbar Salehi, ministro iraniano das Re-lações Exteriores, “suspender um país não significa caminhar para a solução do problema”. Durante o encontro, a Síria não foi represen-tada.

O comunicado de Meca diz que a suspensão foi motivada pelo fracasso da aplicação do plano de paz proposto pelo então emissá-rio internacional para a Síria, Kofi Annan, e pela “obstinação das au-toridades sírias por manter a op-ção militar” para resolver a crise. A Cúpula exige que o regime de Assad cesse de maneira imediata todo ato de violência no país. “A medida destaca o crescente isola-mento internacional do regime de Assad e o amplo apoio ao povo sírio e à sua luta por um Estado democrático que represente suas aspirações e respeite os direitos humanos”, afirmou Victoria Nu-land, porta-voz do departamento americano de Estado.

A decisão tomada pelos parti-cipantes da Cúpula de Meca deve interferir nas discussões da OCI durante a Simulação da Organi-zação das Nações Unidas (Sonu). Uma vez suspensa do comitê, a delegação síria, de acordo com o secretariado da Sonu, participa-rá apenas como observadora, não tendo poder de voto em questões substanciais. Contudo, segundo o diretor da OCI na Sonu, William Lessa, há o entendimento de que será importante convidar a Sí-ria para se manifestar acerca das questões a serem abordadas.

Após um ano de conflitos na Síria, as consequências de Bashar al Assad resistir em deixar o po-der já aparecem em números. São mais de nove mil mortos. Segun-do o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), mais de 200 mil sírios fugiram para Tur-quia, Líbano, Iraque e Jordânia durante os conflitos no país. Além das mortes, a população síria tem sofrido com a escassez de alimen-tos. No país, quase 1,5 milhão de pessoas estão em estado de inse-gurança alimentar, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultu-ra. (Com informações da Reuters e da AFP)

A mais recente reunião realiza-da entre a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o governo iraniano, na última sexta--feira, terminou sem que um acor-do fosse firmado. O encontro, que já havia sido precedido por outro realizado em junho, buscava uma permissão para que a agência ti-vesse maior acesso às instalações nucleares do Irã.

Tendo mantido seus avanços atômicos em sigilo durante 18 anos, o Irã tem sido investigado há aproximadamente uma déca-

da pelos especialistas da AIEA. O país é acusado, principalmente pe-los Estados Unidos e por Israel, de tentar desenvolver uma arma atô-mica. As acusações sempre foram negadas pelas autoridades irania-nas, que garantem ainda a finali-dade civil do programa nuclear.

Apesar de rico em fontes de pe-tróleo e gás, o país tem reduzida capacidade de refino, importando cerca de 40% do que consome. A busca por outra fonte de energia é a justificativa usada para a pesqui-sa na área. Muitos países, no en-

tanto, contestam essa explicação. “O Irã continua a acelerar seus es-forços para obter a arma nuclear, ignorando totalmente os apelos da comunidade internacional”, dis-se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em um co-municado de imprensa de seu ga-binete.

A AIEA deve divulgar relatório com provas de que o Irã tem ins-talado grande número de novas centrífugas, o que aceleraria sua produção de combustível nuclear. (AMANDA MATOS)

Cúpula suspende Síria da OCIPOLÍTICA

Governo iraniano não cede e não chega a acordo com a AIEA

AFP

O Exército Livre da Síria é a principal oposição militar ao regime de Assad. Estimava-se que é formado por 40 mil homens, a maioria desertores do Exército Nacional.

Técnicos iranianos trabalham em usi-na nuclear na cidade de Bushehr.

Pesquisas sobre a produção iraniana preocupam comunidade internacional, mas o país nega acesso a suas instalações.

A decisão foi tomada durante encontro entre países-membros da OCI ocorrido na Arábia Saudita. Por causa disso, durante a Sonu, delegação síria não terá poder de voto em questões substanciais.

No dia 16 de agosto, a Cúpula Islâmica

de Meca suspendeu a Síria da OCI. Com

a decisão, a delegação síria deve partici-

par da OCI durante a Sonu apenas como

observadora, o que implica poder de voto

apenas para questões procedimentais.

ENTENDA O CASO

REU

TERS

ENERGIA

WILLIAM SANTOS

ENVIADO A JIDAH

Quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Page 4: Al Jazeera (01)

| Quinta, 30 de agosto de 20124

A décima primeira reunião da Conferência das Partes da Con-venção sobre Diversidade Biológi-ca (COP11) inicia hoje os debates sobre o acesso a recursos genéti-cos, o status de implementação do Protocolo de Nagoya e os seus impactos perante os países sig-natários. O momento, segundo o secretário-executivo da Conven-ção sobre Diversidade Biológica (CBD), Bráulio Dias, é de garantir que pelo menos 50 dos 92 signa-tários ratifiquem o acordo em lei

para que entre em vigor o quanto antes. No entanto, apenas cinco países que assinaram o documen-to cumpriram a determinação. São eles Jordânia, Ruanda, Seiche-les, México e Gabão.

O Brasil, considerado protago-nista na Convenção por ser de-tentor da maior biodiversidade do planeta ainda não o ratificou. O Protocolo de Nagoya foi criado durante a 10ª Conferência das Par-tes (COP10), realizada em 2010, no Japão. (WILLIAM SANTOS)

Milhares de tunisianas protes-taram na noite do último dia 13 diante do Palácio do Congresso na capital do país, Túnis. O movimen-to, convocado por organizações feministas, de defesa dos direitos humanos e da oposição, luta pelos direitos da mulher e exige a saída do partido islâmico Ennahda.

A data do protesto marca o ani-versário de 56 anos de promulga-ção do Código Civil, que instau-rou leis de igualdade de gênero no país. No entanto, a igualdade foi ameaçada, segundo as mani-festantes, por causa do projeto de Constituição adotado na última Assembleia Nacional Constituin-te, em 1º deste mês. A constituinte deve redigir a constituição oficial do país.

Promovido pelo Ennahda, par-tido que governo atualmente o país, o polêmico artigo cita “com-plementaridade” e não igualda-de entre homens e mulheres. “O

Estado garantirá a proteção dos direitos da mulher sob o princí-pio da complementaridade com o homem no seio da família e como associada do homem no desenvol-vimento da pátria”, diz o projeto.

Além da mudança no projeto de constituição, os protestos tam-bém exigem a saída do Ennahda do poder. “A mulher tunisiana é livre! Jebali (primeiro-ministro) e Ghannuchi (líder do Ennahda) fora!”, gritavam as manifestantes reunidas em Túnis. Em resposta, o partido negou querer afetar os direitos das mulheres tunisianas e afirmou que a igualdade de gêne-ro está mencionada no preâmbulo da futura Carta Magna.

Abuso contra a mulher

Estados-membros da Organiza-ção de Cooperação Islâmica, OCI, registram muitos casos de abuso contra as mulheres islâmicas. Se-gundo a organização, a atribuição de inferioridade dado às mulhe-

res, contudo, não tem base no Islã e sim resquícios das culturas pré--islâmicas de cada país.

A adoção dos direitos huma-nos, entre eles o respeito à digni-dade feminina, já foi tomada pela

OCI, formalmente, na Declaração do Cairo em 1990. Apesar disso, a população tunisiana, assim como em outros países islâmicos, con-tinua lutando para garantir essa prerrogativa.

Protocolo de Nagoya começa a ser discutido hoje na COP11

As atuais manifestações na Tunísia levam mulheres às ruas na data de aniversário da promulgação do Código de Es-tatuto Pessoal, de 1956, para reivindicar a nova reforma na Constituição tunisiana. O Códi-go Civil de 1956 se dá por um conjunto de leis que instauram a igualdade dos sexos em vários domínios, sendo estas ainda sem equivalente no mundo árabe. A atual reforma na Constituição da Tunísia abole a poligamia e a prática de repúdio e estabelece a prática do casamento civil e do divórcio judicial.

O novo projeto de artigo pre-vê a ‘igualdade perante a lei’ no qual o Estado garantirá a pro-teção dos direitos da mulher e de seus direitos adquiridos, sob o princípio da complementari-dade com o homem no seio da família e da mulher como asso-ciada do homem no desenvol-

vimento da pátria. A igualdade entre os sexos está mencionada no preâmbulo da Carta Mag-na e não há intenção de afetar as prerrogativas da mulher. O homem e a mulher se comple-mentam, não somente a mulher complementa o homem.

Logo após a independência da Tunísia, na década de 50, as mulheres obtiveram o direito ao voto, estando entre as primei-ras no mundo árabe a obterem tal direito, seguido pela obten-ção do direito ao aborto. As mesmas gozam de igualdade de direitos sociais e de direitos no trabalho e na educação. As mulheres tunisianas possuem alta escolaridade, sendo 71% seu índice de alfabetização, o maior entre todos os países do Norte da África. Elas superam em número os homens entre os formandos universitários e es-tão alcançando os homens em número de juízes e médicos.

Postura anti-igualitária do governo gera protestos pelos direitos das mulheres na Tunísia

SOCIEDADE

A igualdade e a complementaridadeOPINIÃO

RENATO DE MENEZES

ENVIADO A TÚNIS

Feth

i Bel

aid

/ AF

PIP

AC

Governo da Tunísia não atribui à mulher o papel de igualdade, mas o de complementaridade ao homem.

Milhares de mulheres participam de protesto em Túnis, capital da Tunísia

Protocolo de Nagoya protege o patrimônio genético de cada nação

Apoio

MEIO AMBIENTE

ALINE MATOS

MINISTRA DA TUNÍSIA NA OCI

Quinta-feira, 30 de agosto de 2012