alexandre libro de - umahistoriadapeninsula.com

11
LIBRO DE ALEXANDRE Adrián Fernández González Université de Fribourg O ensino da fé cristã na Península Ibérica (sécs. XIV, XV e XVI) OBRAS PASTORAIS E DOUTRINÁRIAS DO MUNDO IBÉRICO

Upload: others

Post on 26-Jun-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

L I B R O D EA L E X A N D R E

A d r i á n F e r n á n d e z G o n z á l e z U n i v e r s i t é d e F r i b o u r g

O e n s i n o d a f é c r i s t ã n a P e n í n s u l a I b é r i c a( s é c s . X I V , X V e X V I )

OBRAS PASTORAIS E DOUTRINÁRIASDO MUNDO IBÉRICO

Page 2: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

Obras Pastorais e doutrinárias do mundo

ibérico

Libro de Alexandre

Para citação e referência:

FERNÁNDEZ GONZÁLEZ, Adrián. “Libro de Alexandre.” In: TEODORO, Leandro Alves

(Org.). O ensino da fé cristã na Península Ibérica (séculos XIV, XV e XVI). Banco de

dados (Online). 2020. Disponível em:

Consulta em: XX/ XX/XXXX

Page 3: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

1

Livro de Alexandre

O Livro de Alexandre, de princípios do século XIII, é uma obra misteriosa e inaugural.

Misteriosa é a questão de sua autoria, para a qual vários nomes foram considerados sem encerrar

o debate. Alguns aparecem mencionados em um dos dois manuscritos conservados (além de

três fragmentos independentes), como Juan Lorenzo de Astorga no manuscrito de Osuna ou

Gonzalo de Berceo no manuscrito de Paris. Até uma hipótese coletiva vinculada à Universidade

de Palencia foi sugerida. Mais recentemente, o autor foi vinculado às chancelarias de Alfonso

VIII ou Fernando III. Neste debate aberto, em contrapartida, tornou-se clara a sólida formação

desse "simples clérigo", que soube manejar vários materiais com grande erudição, sob uma

poética exposta em seu segundo dístico (já clássica em qualquer manual de literatura medieval

espanhola). Nela, alude à cuaderna via (a tetrástofa monorrima), desde então, vinculada ao que

tradicionalmente chamaremos de "Mester de clerecía" e cuja forma será reproduzida em uma

série de obras que reúnem, entre outras, o Livro de Apolônio, o Poema de Fernán González, os

Milagres de Nossa Senhora de Gonzalo de Bercero, o Rimado de Palácio do Chanceler Ayala

ou o Livro de Bom Amor de Juan Ruiz.

Além dos critérios formais, o Livro de Alexandre também inaugura a matéria

alexandrina em castelhano. Trata-se de uma biografia ficcional de Alexandre Magno, desde seu

nascimento até sua morte, à qual são adicionadas várias digressões e precisões lendárias. As

batalhas mais importantes da conquista da Macedônia aparecem junto com seções

enciclopédicas e até histórias intercaladas. Para articular esse relato épico-didático, o autor

inspira-se principalmente no Alexandreis de Gautier de Châtillon (baseado, por sua vez, na

Historiae de Quinto Cúrcio), da qual se afasta com frequência para ampliar as partes que mais

lhe interesam: por exemplo, a coroação do protagonista (Roman d'Alexandre), as maravilhas do

Oriente (Historia de preliis J2), a história de Tróia (Ilias Latina e Excidium Troiae) e o lapidário

(Etimologías de San Isidoro).

As facetas sábia e guerreira de Alexandre articulam o relato desde o princípio, seja

pela investidura cavalheiresca do herói ou pelos conselhos de seu professor Aristóteles, que se

referem às artes liberais. Alexandre é o cavaleiro medieval por antonomásia ao vencer o

exército persa de Dario ou ao ganhar o duelo ao rei indiano Poro. À sua fortitudo acrescenta-se

sua sapientia: é o sábio Alexandre quem conta a história de Tróia diante do túmulo de Aquiles,

habilmente responde às cartas de seus adversários e tranquiliza seus soldados, assustados com

um eclipse. Se, até então, o macedônio incorpora um modelo fundamentalmente positivo, seu

Page 4: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

2

desejo de conquista o leva a transgredir os limites do ecúmeno. De fato, depois de derrotar seus

antagonistas, o herói explora o fundo do mar, permitindo-lhe assim refletir sobre a soberba

humana. É quando então o próprio poeta e a natureza arremetem contra ele. Natura desce ao

inferno e fala com Belzebu sobre a ameaça que Alexandre representa. A condenação divina é

confirmada por outro ato excessivo do herói, que doma uns grifos para explorar o céu. Este

tríptico (expedição marítima, infernal e aérea), além de seu aspecto moralizante, contém

passagens que abundam em referências bíblicas, por exemplo, na descrição da cidade do inferno

com seus pecados capitais ou no mapa antropomórfico do mundo. Assim, o Livro de Alexandre

apresenta-nos um herói modelo, cujos desejos de conquistas (terrenais e sapienciais) delatam

progressivamente seu pecado da soberba, em um claro eco – que o poeta não silenciará – a

Lúcifer. Não por isso deixa o autor de sentir certa admiração por seu herói, cuja morte é descrita

com benevolência, antes de encerrar o relato fazendo referência à salvação da alma e ao

desprezo do mundo terrenal.

De maneira geral, as digressões enciclopédicas e a condenação divina demonstram a

vontade didática da obra, não apenas como um possível regimento de príncipes, senão, mais

amplamente, como uma fonte de conhecimento para um público letrado. Assim é proporcionado

um modelo exemplar para os reis, o qual permite, por sua vez, denunciar o comportamento

pecaminoso do soberbo, em conformidade com a moral cristã. Da perspectiva régia, este

Alexandre medieval está adequadamente inserido em um século XIII testemunha da

Reconquista e da progressiva unificação dos reinos hispânicos, daí os possíveis paralelos com

Afonso VIII ou Fernando III. Quanto à dimensão moral e religiosa do texto, foi vista como uma

contribuição para a formação do novo clérigo, fruto do desenvolvimento urbano e do auge das

universidades. Em suma, o autor anônimo do Livro de Alexandre converte a expedição

alexandrina em uma incursão épica e moral cujo didatismo ressoa fortemente em cada uma das

façanhas de seu herói.

Palavras-chave: Livro de Alexandre; Mester de clerecía; didatismo; cuaderna via; Alexandre

Magno.

Adrián Fernández González

Université de Fribourg

Page 5: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

3

Libro de Alexandre

El Libro de Alexandre, de principios del siglo XIII, es una obra misteriosa e inaugural.

Misteriosa es la cuestión de su autoría, para la cual se han barajado varios nombres sin cerrar

el debate. Algunos aparecen mencionados en uno de los dos manuscritos conservados (además

de tres fragmentos independientes), así Juan Lorenzo de Astorga en el manuscrito de Osuna o

Gonzalo de Berceo en el manuscrito de París. Incluso se ha sugerido una hipótesis colectiva

vinculada a la Universidad de Palencia. Más recientemente, se ha vinculado al autor con las

cancillerías de Alfonso VIII o Fernando III. En este debate abierto, en cambio, ha quedado clara

la formación sólida de este “simple clérigo”, que supo manejar varios materiales con gran

erudición y bajo una poética expuesta en su segunda copla (ya clásica en cualquier manual de

literatura medieval española). En ella alude a la cuaderna vía (o tetrástofo monorrimo),

vinculada desde entonces a lo que llamaremos tradicionalmente el “Mester de clerecía” y cuya

forma se reproducirá en una serie de obras que reúne, entre otras, el Libro de Apolonio, el

Poema de Fernán González, los Milagros de nuestra señora de Gonzalo de Bercero, el Rimado

de Palacio del Canciller Ayala o el Libro de buen amor de Juan Ruiz.

Más allá de criterios formales, el Libro de Alexandre también inaugura la materia

alejandrina en castellano. Se trata de una biografía ficcional de Alejandro Magno desde su

nacimiento hasta su muerte, a la cual se añaden varias digresiones y precisiones legendarias.

Aparecen las batallas más importantes de la conquista del macedonio junto a apartados

enciclopédicos e incluso historias intercaladas. Para articular este relato épico-didáctico, el

autor se inspira principalmente de la Alexandreis de Gautier de Châtillon (basada a su vez en

las Historiae de Quinto Curcio), de la cual se aleja con frecuencia para ampliar las partes que

más le interesan: por ejemplo, la coronación del protagonista (Roman d’Alexandre), las

maravillas de Oriente (Historia de preliis J2), la historia de Troya (Ilias Latina y Excidium

Troiae) y el lapidario (Etimologías de San Isidoro).

Las facetas sabia y guerrera de Alejandro articulan el relato desde el principio, sea a

través de la investidura caballeresca del héroe o los consejos de su maestro Aristóteles, que

remiten a las artes liberales. Alejandro es el caballero medieval por antonomasia al vencer el

ejército persa de Darío o al ganar en duelo al rey indio Poro. A su fortitudo se añade su

sapientia: es el Alejandro sabio quien relata la historia de Troya delante de la tumba de Aquiles,

contesta con destreza a las cartas de sus adversarios y tranquiliza a sus soldados, asustados por

un eclipse. Si, hasta entonces, el macedonio encarna un modelo fundamentalmente positivo, su

Page 6: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

4

anhelo de conquista lo lleva a transgredir los límites de la ecúmene. En efecto, tras derrotar a

sus antagonistas, el héroe explora los fondos marinos, permitiéndole así reflexionar sobre la

soberbia humana. Es entonces cuando el propio poeta y Natura arremeten contra él. Natura baja

a los infiernos y platica con Belcebú acerca de la amenaza que representa Alejandro. La condena

divina es confirmada por otro acto desmesurado del héroe, quien doma unos grifos para explorar

el cielo. Este tríptico (expedición marina, infernal y aérea), además de su vertiente

moralizadora, contiene pasajes que abundan en referencias bíblicas, por ejemplo en la

descripción de la ciudad de los infiernos con sus pecados capitales o en el mapamundi

antropomórfico. Así pues, el Libro de Alexandre nos presenta a un héroe modélico cuyos

anhelos de conquista (terrenales y sapienciales) delatan progresivamente su pecado de soberbia,

en un claro eco – que el poeta no callará – a Lucifer. No por ello deja el autor de sentir cierta

admiración por su héroe, cuya muerte se describe con benevolencia, antes de cerrar el relato

haciendo referencia a la salvación del alma y al desprecio del mundo terrenal.

De manera general, las digresiones enciclopédicas y la condena divina demuestran la

voluntad didáctica de la obra, ya no solamente como posible regimiento de príncipes, sino, más

ampliamente, como una fuente de conocimiento para un público letrado. Se proporciona así un

molde ejemplar para los reyes, el cual permite, a su vez, denunciar el comportamiento

pecaminoso del soberbioso, en adecuación con la moral cristiana. Desde la perspectiva regia,

este Alejandro medieval se inserta adecuadamente en un siglo XIII testigo de la Reconquista y

de la progresiva unificación de los reinos hispánicos, de ahí los paralelos posibles con Alfonso

VIII o Fernando III. En cuanto a la dimensión moral y religiosa del texto, se ha visto como

contribución a la formación del clérigo nuevo, fruto del desarrollo urbano y del auge de las

universidades. En resumidas cuentas, el anónimo autor del Libro de Alexandre convierte la

expedición alejandrina en una incursión épica y moral cuyo didactismo resuena con fuerza en

cada una de las hazañas de su héroe.

Palabras clave: Libro de Alexandre; Mester de clerecía; didacticismo; cuaderna vía; Alexandre

Magno.

Adrián Fernández González

Université de Fribourg

Bibliografia

Page 7: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

5

Edições modernas

Alexandre, ed. de Jorge García López, Barcelona, Crítica, 2010.

Libro de Alexandre, ed. de Juan Casas Rigall, Madrid/Barcelona, RAE/Galaxia Gutenberg,

2014.

Libro de Alexandre, ed. de Jesús Cañas, Madrid, Cátedra, 2000.

Referências bibliográficas

ARIZALETA, Amaia, La translation d’Alexandre: Recherches sur les structures et les

significations du Libro de Alexandre. París, Klincksieck, 1999.

GAULLIER-BOUGASSAS, Catherine (dir.). La fascination pour Alexandre le Grand dans

les littératures européennes (Xe-XVIe siècle): réinventions d’un mythe. Turnhout, Brepols,

2014, 4 tomos.

MICHAEL, Ian. The Treatment of Classical Material in the “Libro de Alexandre”.

Manchester, University Press, 1970.

Trecho traduzido e modernizado

Transcrição:

Senhores, se quiserdes a meu serviço se prender,

Os serviria de bom grado, com minha arte.

Porque o homem deve ser generoso com seus saberes.

Se não, poderia ser culpado ou condenado.

Arte bonita trago, não é de menestrel.

É arte sem pecado porque é de clerezia.

Falar em curso ritmado, pela cuaderna via,

com sílabas contadas que é grande maestria.

Quem quiser ouvir, toda minha crença,

terá de mim consolo, ao cabo grande prazer.

Aprenderá boas gestas para que saiba contar.

Page 8: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

6

Haverá por isso de ser muito conhecido.

Não quero trazer a vós um grande prólogo nem grandes novas,

logo ao conteúdo quero começar.

Que o criador nos deixe bem informados.

Se pecarmos em algo, ele nos deve valer.

Recriarei a história de um Rei nobre pagão,

que foi muito esforçado e de coração vigoroso.

Que conquistou todo o mundo pelas suas mãos.

Tentarei, se lhe agrada, ser um bom escritor.

Sobre o príncipe Alexandre, que foi Rei da Grécia,

foi generoso, valente e de grande sabedoria,

venceu a Pório e a Dario, dois reis muito poderosos.

E nunca se conheceu alguém tão resignado como ele.

O infante Alexandre logo em sua infância,

começou a demonstrar que seria de grande valia.

Nunca quis mamar leite de mulher plebeia,

se não fosse de linhagem ou de grande gentileza.

Grandes acontecimentos ocorreram quando este infante nasceu:

O ar se alterou, o sol escureceu.

Todo mar se revoltou, a terra tremeu.

[…]

Transcripción

Señores, se quisierdes mío seruiçio prender,

querríauos de grado seruir de mío mester.

Page 9: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

7

Deue delo que sabe omne largo seer.

Se no, podrié de culpa o en rieto caer.

Mester trago fermoso, non es de joglaría.

Mester es sen peccado, ca es de clerezía.

Fablar curso rimado por la quaderna uía,

a síllauas cuntadas, ca es grant maestría.

Qui oyr lo quisier, a todo mío creer,

aurá de mí solaz, en cabo grant plazer.

Aprendrá bonas gestas que sepa retraer.

Auer loan por ello muchos a coñosçer.

Non uos quiero grant prólogo nen grandes nouas fazer,

luego ala materia me uos quiero coger.

El criador nos lexe bien apressos seer.

Si en aquel pecarmos, él nos deñe ualer.

Quiero leer un liuro de vn Rey noble pagano,

que fue de grant esforço, de coraçón loçano.

Conquistó todel mundo, metiol so su mano.

Terne, selo compliere, que see bon escriuano.

Del prinçepe Alexandre, que fue Rey de Greçia,

que fue franc e ardit e de gran sabençia,

vençió Poro e Dario, dos reys de grant potençia.

Nunca coñosçió ome su par en la sufrençia.

El infante Alexandre luego en su niñez,

començó a demostrar que serié de grant prez.

Page 10: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

8

Nunca quiso mamar leche de mugier rrafez,

se non fue de linage o de grant gentilez.

Grande signos contiron quando estinfant nasçió:

El ayre fue canbiado, el sol escureçió.

Todol mar fue irado, la tierra tremeçio.

[…]

Autor do documento: anônimo

Título do documento: Libro de Alexandre

Data de Composição: princípios do século XIII (¿1220-1225?)

Lugar de composição ou impressão: n/a

Imagem: Libro de Alexandre, manuscrito de Osuna (O), BNE VITR/5/10

http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000008671

Page 11: ALEXANDRE LIBRO DE - umahistoriadapeninsula.com

9