30 poemas de amor slide
Post on 03-Jul-2015
111.252 Views
Preview:
TRANSCRIPT
PoemasPoemas de
Amor30
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem
querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se
perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo
amor?
Am
or
é f
og
o q
ue a
rde s
em
se
ve
r
Luís de
Camões
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a
gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me
encontrar...
Am
ar
Florbela
Espanca
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Urg
en
tem
en
te
Eugénio de
Andrade
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.
Me
u a
mo
r, m
eu
am
or
Ary dos Santos
Senhor, eu vivo coitada
vida, des quando vos non vi:
mais, pois vós queredes assi,
por Deus, senhor ben talhada,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.
Vós sodes tan poderosa
de min que meu mal e meu ben
en vós é todo; [e] por en,
por Deus, mha senhor fremosa,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.
Eu vivo por vós tal vida
que nunca estes olhos meus
dormen, mnha senhor; e, por Deus,
que vos fez de ben comprida,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.
Ca, senhor, todo m é prazer
quant i vós quiserdes fazer.
Se
nh
or,
eu
viv
o c
oit
ad
a
Rei D. Dinis
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos
olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois
pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.
So
ne
tod
o p
raze
rm
aio
r
Bocage
Dá-me a tua mão.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.Dá-m
e a
tu
a m
ão
José Gomes Ferreira
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;
o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;
se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;
não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!
So
ne
to d
o c
ati
vo
David Mourão-Ferreira
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errónea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia…
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensarEu
am
o t
ud
o o
qu
e f
oi
Fernando
Pessoa
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus
convites
Suspensos na surpresa dos
instantes!
Pu
de
ss
e e
u
Sophia de Mello Breyner Andres
en
É o amor
O amor é o amor -e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos -somos um? somos dois?
-
espírito e calor!
O amor é o amor -e depois?!
O a
mo
r
Alexandre O’Neill
Que bem que soam, como estão
cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não
sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as
inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.
Que alegre campo! Que manhã tão
clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te
vira,
Olh
a, M
arí
lia, as f
lau
tas d
os
pa
sto
res
Bocage
Deus fez a noite com o teu olhar,
Deus fez as ondas com os teus cabelos;
Com a tua coragem fez castelos
Que pôs, como defesa, à beira-mar.
Com um sorriso teu, fez o luar
(Que é sorriso de noite, ao viandante)
E eu que andava pelo mundo, errante,
Já não ando perdido em alto-mar!
Do céu de Portugal fez a tua alma!
E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
Da minha Noite, eu fiz a Claridade!
Ó meu anjo de luz e de esperança,
Será em ti afinal que descansa
O triste fim da minha mocidade!
O t
eu
retr
ato
António Nobre
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.
As
fa
cas
Manuel Alegre
Ah, soubesse eu te contar
Toda amargura
De não poder te dar
Tanta ternura
Ah, soubesse eu nunca te contar
Ah, pudesse eu te dizer
Toda tristeza
De estar sempre esperando
Uma incerteza
E nada poder
Nem desesperar
Oh, triste caminho do coração
Que ama sozinho
Que coisa triste
Amar sozinho
Quanta solidão
Ah, pudesses entrever
Minha ansiedade
Depois de um dia de saudade
De uma noite inteira a soluçar
Vem! Não tardes mais
Amor, que eu vivo procurando
Quando vais chegar?
Eu sei que chegarás
Ah, pudesse eu pôr a teus pés
A minha vida
Amor, por quem tu és
Oh, vem
Não tarde mais
Sim, por favor
Façam silêncio
Meu amor vem em silêncio
Quando ele por mim passar
Can
çã
o d
o A
mo
r q
ue n
ão
ve
m
Vinicius de
Moraes
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo
ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não
diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não
dei
Guardo os versos mais lindos que te
fiz!
Os
ve
rso
s q
ue
te
fiz
Florbela
Espanca
Dois amantes felizes não têm fim nem
morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto
vivem,
são eternos como é a natureza.
Do
is a
ma
nte
s f
eli
ze
s
Pablo Neruda
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
As
s
em
ra
zõ
es
d
o
am
or
Carlos Drummond de Andrade
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Am
o-t
e m
uit
o,
me
u a
mo
r, e
tan
to
Jorge de Sena
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
A vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo
brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
O e
sp
írit
o
Natália Correia
Ó meu amor, não te atrases
vou agora pôr-te à prova
esta noite é lua nova
e tu não sabes de fases se chegas tarde te acuso
de que andarás a enganar-me:
vindo de ti, cada abuso
me soa a sinal de alarme
teus olhos arregalados
não são desculpa melhor
sabes cá chegar de cor
e mesmo de olhos fechados
nem um cego se perdia
lá fora agitam-se os ramos
nas brenhas da ventania
é tarde, porém jurámos
que enquanto este amor se guarde
e seja o nosso segredo
virias cedo, bem cedo,
e havias de partir tarde
sendo a lua nova ou cheia
ou crescente ou minguante
o que a nós nos incendeia
é fogo de outro quadrante
é clarão de uma outra luz
que ao pressentir os teus passos
acendi quando dispus
quatro quartos nos meus braços
Ó m
eu
am
or,
nã
o t
e
atr
ases
Vasco Graça
Moura
De tudo, ao meu amor serei atento.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
So
neto
da f
ideli
dad
e
Vinicius de
Moraes
Quando o amor acenar,
siga-o ainda que por caminhos
ásperos e íngremes.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o,
livrando-o de sua palha.
Tritura-o,
até torná-lo branco.
Amassa-o,
até deixá-lo macio;
e, então, submete ao fogo
para que se transforma em pão
para alimentar o corpo e o coração!
Qu
an
do
o a
mo
r a
ce
na
r,
Khalil Gibran
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Co
isa
Am
ar
Manuel Alegre
Não acabarão nunca com o
amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.
De
du
ção
Vladimir Maiakóvski
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que
têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
O A
mo
r...
Cecília Meireles
Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.
Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.
Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.
Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria. (…)
Arr
ojo
s
Cesário Verde
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Dá-m
e a
tu
a m
ão
Vinicius de Moraes
Todas as cartas de amor sãoRidículas.Não seriam cartas de amor se não fossemRidículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,Como as outras,Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,Têm de serRidículas.
Mas, afinal,Só as criaturas que nunca escreveramCartas de amorÉ que sãoRidículas.
Quem me dera no tempo em que escreviaSem dar por issoCartas de amorRidículas.
A verdade é que hojeAs minhas memóriasDessas cartas de amorÉ que sãoRidículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,Como os sentimentos esdrúxulos,São naturalmenteRidículas.)T
od
as a
s C
art
as d
e A
mo
r sã
o R
idíc
ula
s
Fernando
Pessoa
Poema
sde amor
Fim
Poema
sde amor
Trabalho elaborado a partir da recolha feita pelos alunos do
5ºB em
Área de Projecto e pelos seus Professores Conceição Silva e
Hugo Pereira.
Sintra – Fevereiro de 2010
top related