alain corbin - o segredo do individuo.pdf
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o
SEGREDO
DO
INDlvfDUO
o
INDWfDUO E SUA MARCA
o semimcmo de identidade individuaI
c e n t u ~ s e
e difunde-se am
plamente aa longo de rodo
0
século
XIX.
A historia do sistema de dena
minaçao fornece um prlmeiro indicio. 0 processo de dispersâo dos pre
nOffil:S iniciado no século XVlll
prossegue;
contradiz 0 movimemro de coo
centraçao ddiber d mente encorajado pela Igreja d Reforma Catôlica,
desejosa
de valorizar
0
exe-mplo
dos
principais santos. Neste dc.minio, a
Rtvoluçào n
aD
constitui urna verdadeira ruptura; no maxima
d
desem
penha
0
papel de acelerador.
Aù longo de décadas,
ciclos mais ou
menos curtos,
eSlabcleddos
-
la moda,
dao 0
ciuno do movirncnto de dispersao; esta aceleraçao traduz
sUnultaneamemc a acentuada vomade de individualizac, a preocupaçâo
cm sublinhar 0 cocte das geraçôes e 0 desejo de adaptar-sc à nova norma,
sugerida pelas classes dominantes. Corn efeiro, a mod de ce ttos peeno
mes propaga-se verticalmeme, da acÎstoccacÎa para 0 povo, d cidade para
o campo. A precisao e complicaçao crescemes d hiecaequia social favoee-
cern a transmissao d e tais modas por capilaridade. .
Ao
mesmo tempo as
regcas
de tcansmissao familiar dos nomes pcc
dem sua auroridade. A esco Ula do prcuome do p drinho ou da madri
nha, ou seja, rradiciona
lm
eme, de um dos av6s,
um
rio-avô
ou
um tia
av6
a passagem do pre nomc do pai ao filho primogênito
ou
do avô fale
cido ao neto cecém-nascido constituem, cspecialmeme no campo, impe
rativos cujo declinio
ce
rtamcmc nao convém exageeac; nern
poc
isso dei
xam
de sec
co
ntcaeÎados pelas n
ovas
praticas em ascensâo. 0 cnfraqueci
mento das regras de rransmissào famïliar tradu z 0 definhar das virtudes
hceedici
rias
e ao mesmo tempo vaticinadoeas do peenorne. A pe eda d
fé na exisrência de urn patrimônio de cararer cransmitido pela denomi
naçao evidentemente trabalha a favoc do individualismo.
Quando peedura a familia de estrutura co
mpl
exa c a pobeeza d
gama dc pecoornes agrava os
risco
s de
co
nfu sao 0 sisrema denomina-
A ORlGINAllDADE
DA DENOMlNA
ÇÀO
OU
UM
NOME
PARA SI
11.0
rednir
Of
ClIJI
OJ tU fo togrofo
proJtn:.id3 em Jin
·e
,
DiJdin
p ermÙ
ù.
o ulgrnizo;iio do retrol
o.
Com
ete,
ur/Jo
de
11I ;14
to
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mll
ù
insùlewte; pouce queur iguror
no
ilbum
de
fomü;a
. A
pofe
fotogriftU, oqu; elabormlfuima,
en/fll1l fproCl dimenlos
de so
fùlicopo
do apm
enUlÇ40
de si t1mfTJ ). (DiJdin Ûltes
de visite: groupées. Pon , Bibliolec.;
NlICio"J.. )
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il1 1l:\1 III
) IIiH
difundem os pcqucnos cspclhos para
qUt
· as mulhcrcs c moças po
s·
sam contemplar seus rostos; mas as aldcias ignoram os espclhos em
que
se
vi: a corpo inteiro. Entre
os
camponeses, a identidade corporal
continua a ser lida nos olhos dos
OUtrOS,
a reveJar-se por meio da escuta
de urna percepçao intcrior.
Coma
viver em uro corpo que nao se viu",
em seus menores detalhes?, indaga Véronique de Nahoum; eis aî uma
questao que é preciso
co
locar para os bisloriadores da sociedade rural.
Entao compreendem-se melbor as interdiçôes que pesaro, cm tal am
biente, sobre
0
uso do espclho: apresenra-Io a um hebê pode deter
seu crescimento; deixar um espelho descoheno depois de urna morte [raz
azar.
Nas classes abastadas,
0
codigo de boas maneiras proibira por muito
tempo que uma moça se admire nua, mcsrno que seja através dos reflexo s
de sua banheira. Hâ pos especiais corn a mÏS5ào de
[Urvar
a âgua do ba
nho, de forma a prevenir tal vergonha. 0 estîmulo erotico da imagem do
corpo, exacerbado por semelhante proibiçâo, freqüenta esta soc iedade que
enche
os
bordéis de espelhos antes de pendurâ- I
os
, tardiamente, na porta
do armârio nup cial.
No final do século, a difusâo citadina desre ambîguo m6ve permite
a organizaçâo de urna nova identidade
cu
l[U
ral.
No indiscreto espe ho a
beleza desenba para si
uma
nova silhueta. 0 espdho de
co
rpo inteiro au
torizara a afloramento da estética do esbelto e guiara
0
nutricionismo por
novos
rumos.
Nao menos essencial é a difusao social do retrato, "funçao direra",
obse
rva
Gisèle Freund,
do
esforço da personalidade para afirmar-se e
tomar consciência de si mesma' . Adquirir e aflXar sua pr6pria imagem
desarma a angustia; é dem onstrar sua existência, registra sua lembrança.
Bem encenado, 0
re([ato atesta
0 sucesso;
manifesta a posiçâo. Para
0
bur
g u ~ s
familiarÏzado corn
0
papel de her6i e pioneiro, nao se trata mais,
coma for a outrora para 0 aristocrata, de inscrever-se na cominuidade das
geraçoes, mas de criar uma linhagem;
e1e
de
ve
partanto inaugurar seu
prestÎgio por meio de seu êxito pessoal. 0 século da comemoraçao é tam
bém
0
da fundaçâo das genealogias comerciais, orgulhosamente ostenta
das. Bem entendido, a moda do reuato panicipa do proccsso de imitaçao
par capilaridade, precocemente
di tCernido
por Gabriel
Tarde; da
satisfaz
o desejo de igualdade. Nâo esqueçamos, por fim,
0 papd
inovador da
técnica que reproduz a desejo da imagem de si, convenida ao mesmo tem
po cm mercaclo
ri
a e cm instrumento de poder.
Tendo sido par longo periodo Om apanâgio da arÎstocr
acÎa
e da
mais rica burguesia,
0
retrato se difunde c toma-se intimo no fina l
do Antigo Regime; é cntao que uiunfa a miniatura; os pingcntes , os
medalhoes,
as
cobcrturas de caixinh
as
de
pO
facial ostemam
os
rosros
amad.os. Barbey d'Aurev
ill
y enfalÎza corn quanta fervor
as
dites da
Restauraçao retomam esta moda do retrato-j6ia. Para uma dama do bu-
o
JEGIiED l
X l NI
J
wfl>uO
4 3
A DEMOCRATIUçAO
DO
RETRAIO
o artiJ/a do
final do &
0,
lio ncinado e perlllrbado pela
inlù,ûdade
da
mlilher Iozinha
como
al erpeuadouI aOI quail te dirige,
de/eitt1-te cam
uleJ tibioI
dllplamente
o/
ertadoI. Ope
ra
-te
enlia, POiro d POIlCO a idenlificafào
do individuo rom tll cor o;
l
dtfllI40
do
elpe/ho de corpo inle/
ra
eJ/imlim 0 alumo do
nar
cùùmo.
(Djante do cspc: lho, 1890.
Parù
,
Biblio/eu
dal
Artu
Decoralivt1J.
" .
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426
iJAS17IJOR IiS
Dù di n" e JeUJ dùcipulo sabem
exaltar igua/mente Il funfiia materna.
o eJpaçamento regular do fi/ho
permite /JO ar/ùfa deJenh4T lima
piramide. &/a reproduz e alarga
o ~ y J u m e da
cn"nolin::
ou da
(mquinhaJ,
qu
e têm a
flln fiio
de disJimular
e Iimuluneamente
wgenr os ponontes quodtiJ dG
geni/ora. (Colepo Sirot-Angel.)
pouco a pouco a vida cotidiana. Milhôes de rc rratos fotograficos djfundi .
dos e cuidadosamente
inseridos
cm
albuns impôem normas gestuais que
renovam a cena privada; ensinam a
alhar
corn nOVQS olhos para corpo,
especialmente para as maos.
0
retraw fotografico contribui para esta pro
pedêutica da postura objedvada pela
esco
l
a
ao mesmo tempo cm que
difunde um
nOVQ
c6digo perceptivo. A arte de
sec
avô, assim como ges
to de reflexâo do pensador, obedecem a
panic
de agora a urna banal en
cenaçao.
o
desejo
de
idealizac
as
aparências.
0
rep6dio ao feio, conforme os
cânones da pÎntuca oficial, convergem igualmeme para
0 ordenamemo
do retrato-foto. As rnultidôes da Exposiçao de 1855 mostram-se fascina
das pela demonstraçao do retoque. Esta técnica difunde-se ap6s 1860; os
traços
do
rasto
se
suavizam; manchas, vermeIhidôes, rugas. verrugas in
convenientes desaparecem das faces lisas, aureoladas por urna artistÎca de
licadeza. Até no campo, urna nova imagem da beJeza vern ameaçar as
noc-
mas impostas pela cultura tradicional.
o album de fotografias da familia delirnita a configuraçao da pa
rentda e conforta a coesao do grupo, entao ameaçada pela evoluçâo eca
nômica. A Ïrrupçâa do retrata no seia de vastas camadas da sociedade ma
difica a vÎsâo das idad
es
da vida, e portanco a sennmento do tempo. As
fotos,
comenta
Susan Soncag, tambérn coostiruern
memenlo
mon'. Gca
ças a elas, fica mais fâcil imaginar sua pr6pria desapariçao;
0
q u ~
incita
a lançar mais um olhar sobre os velhos e a reconsiderar a sone que se re
serva a
des.
Esreio da rememoraçâo, a foto renova a nostalgia. Pçla primeira vez,
a maior parte da populaçao cern a p o s s i b ~ d d e de representar antepassa
dos desaparecidos e parentes desconhecidos. A juvenrude dos ascenden
teS
corn quem
sc
convive
no
dia-a-dia torna-
se
perceptivel. Opera-se
no
mesmo processo
uma
mudança d,as referências da mem6ria familiar. De
urna rnaneira geral, a possessào simb61ica de outra pessoa tende a canali
zar os fluxos semimentais, valoriza a relaçâo visual
em detrimemo da
re
laçào orgânica, modifica
as
condiçôes psicologica da ausência. A fota dos
defuntos ateoua a anguscÎa de sua
perda
e concribui para desarmar
0
re
morso causado por seu desaparecimento.
o
novo processo favorece por fim a vu lgarizaçao e a comcmplaçâo
da imagem
da
nudez. Tende a modificar
0
equilîbrio dos modos
de
si
mulaçao erôrica, a difundir urn nova tempo do desejo; testemunha-o
0
prestîgio do nu 1900 . 0 legislador percebeu-o bem depressa: desde
1850. urna lei profbe a venda de foros obsceoas na via piiblica. Ap6s 1880,
a foro
de amador
suprime 0 intermediario profissional, alivia 0 ritual
da
pose, abre de par em par a vida privada para a objetiva, a pa'nir de entao
avida de imagens întimas.
1
i
Deotco
do
cemîtério manifesta-se a mesma vomade de perpetuar·
se de imprirnir sua marca. Philipe Ariès rclatou
0
tfiunfo
da rumba
indj·
vidual e a emecgência do novo culto aos mortos no alvorecer do século
XIX. Aqui interessa-nos apenas
0
epitâfio personalizado, procedimeoto
também inteiramente nova para a grande maioria da populaçâo; inédito
apelo à permanência
da
lembrança . A l-tisr6ria
da
vulgarizaçào neste dis
curso funerario começa a esboçar-se corn nitidez. Durante a Monarquia
de )ulbo, multiplicam-se os epitâfios enalrecendo os mérÎtos do esposo,
do
pai
ou
do cidadao. lnscreve-se sobre a pedra tumular
0
avanço da
pn -
tldey.
Mais adiante, a cornplicaçao dos cemitérios construldos e a indus
trializaçao dos rumulos tendem a apagar aos poucos rodo
0 d i s c u r ~ o ori,
ginal e a subsrÎtuf·lo
par
estere6tipos que os medalhôes-fotografias in
crustados na pedra irao individualizar corn felicidade.
Diversos trabalhas mostram que esta evoluçâa operau-se segundo
ritmos diferemes e nao deixou de provocar atritas . No cemitério de
Asnières, obscura aldeia
do
Ain,
0
primeiro texto runebre 56 surgiu em
() .ŒGRH)O lx l Jlw fJ /lO
A
PERENIDADE
DA RECORDAÇ l.O
A
fOlogTafia iflsm
"d
"
'10 ilbum
de
fomf/it1
conuglle
InCOTIIT
flO
ùmbronça 0 soltdariulode entre
427
os irmlio . Qut1l1do
0 j,ida
os
dispersar,
0 i n s t a n t i t l ~ o Il'RoTeiecido
servira
de SUPOTte do unlimento.
(ColeçiJo Siro/·Ange
l)
. î
-
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428 B 77 REf
Enqlla11lo , n
os CU
I/linos comtruIdos,
a5
formulas estueo
li
plldas fe
nde ,
Il
5ubJ/iluir os ep
itôji
os
persona/izados de o
ut
ro
ra
, fi fo ro no
meda/h30 asugura
Il
,unon a do
aparincia. &Ia prôficil
efimerll
cotlstitui lima dal mais sigllifi
ca
lillas
11Iamfosltlflus do deujo de garantir
a Mrenidade da maf Ca.
1847. Em 1856, a villva de um dignatario, mUlto malvisto por seus conc
i
dadâos, manda cereac co rn urna balauslrada
0
monumento de seu espo-
50.
0 gesto provoca um m
ov
imnno de hos lilidad
e; 0
proprio padre insurge
sc ao constata r que
0
marmore ira conservar a Iembran
ça
daquele simples
cri
stâo, quando é Impossfvd saber onde jaz exa tamente seu piedoso cria
dor. Nas pequenas par6quias rurai
s,
a ped ra tumular, 0 epitw.o por mui.
tO tempo continuarào es barrwdo no sentimenw de igualdade. Em
1840,
Eugénie de Guéein vê-se obrigado a guardar a pomba branca
qu
e, no cen
tro do cemitério de Andill
ac.
celebra a mem6ria de seu irmao Maurice.
o surgimento do discurso funecario nestas miniisculas par6quias
é acompanhado pela
as
eensâo da dignidade
post
mortem:
0
comerciame,
aqui, uma vez [alecido, da-se ares. Inversamente, esta nova permanên
cia do traço favorece a manutençào, e até a ampliaçâo, do boato desa
bonador.
Um fio condutor vincula corn efeito todos os procedimentos ·que
tcndem a reforçar
0
sentimento do eu: a tentaçâo de forjar her6is, a
hipencofia da vaidade tranqüilizadora. A époea foenece muiras OUtros
sinais neste senrido, conforme se verifica a ascenso
da
meritocracia: a
împon
ância atribuîda ao ouadro de hanca, ao ritual das distribuiçôcs
de prémios, ao dip loma que sc pendu ra na pan
:
dc do sal ào uu da sala
comum; ou ainda
0
prestigio da decora ao, () tom hag io ;rafiw da rub rica
necroJ6gi
ca.
Para muitos humildes, sera a
nova
emoçào de k r scu nome
em uma co luna de jornaJ. Qualqucr
l l l
pode, agora, sc
c
lelllado a ado
tar a pose de her6i; ainda que scja apenas no seio do
ci
rc
ul
o familia r. on
de
esta nova pretensâo modifica 0 ambienre. Alé ° pr6p rio gcSlO crimi
nosa traduz lai aspiraçâo. lncitado por leituras
so
bre fundadores, no esti-
10
de Plutar
co,
0 jovem parricida de Aunay-sur-Odo n escreve, coma
se
esuvesse orgulhoso, na primeira linha de suas assomb
rosas
mem6
ri as:
"Eu,
Pi
e
rce
Rivière, tendo esuangulado minha mae, minha irmà e mtu iemâo .. .
o
eeajustamento
do
indivîduo
impôe-se
corn
maioe
ra
zâo
às
autoeÎ
dad es, que, no inteeioe do espaço publico, passam pouco a pouco do ano
nimato paea eelaçèies de inteeconhecimcnto. A multidao cada vez ma
is
densa e silenciosa que cobee a rua perde sua teatralidade; disso lve-
sc
cm
um
ageegado de pessoas corn a pensamen to absorvido poc se us intere
sses
privados. Compreende-se
que
a partie dar se purifiquem os processos de
idemificaçâo e 0 controle social torne-se peeciso.
Até
0
uiunfo
da
Repiiblica
(1876-1879),
as técnicas de
aj
ustamento
sâo ainda balbuciames; sua peecariedade ftxa
os
limites
de
sta
visâ
o pa
n6p tica que se aui bui, sem d6vid':l corn algum exagero, aos delemores
do poder. 0 Estado civil, secularizado desde 1792, codificado a 28 Plu
vioso do ano Ill,
os
ra:en... CaIIlentos da populaçào e
as
listas nominais cs
tabdecidas a cada cinco anos, as listas cleitorais,
ce
nsiciirias aré 18·18 , es
tc:ndidas ao conjunto da populaçao masculina em março de 1848, c: a se
guir em seeembro
de 1851,
constÎtuem as refcrê
nc
ias essenciais do sistema.
Certas categorias sac adc:mais objeto de procedimemos especiais: os ope
teoricamente
su
je
e
os
à ca
etei ra desde
0
Consulado,
ca
n eira que
des
pr6prios passarâo a
ponar
desde a lei de 22 de
junh
a de
1854,
para
grande prejufzo dos patc5es; os militaees; os domésticos, dos quais
se exi
ge a apresemaçâo de certîficados emÎ tidos pelos empregadorc s prc:ceden
tes; as mulheres da vida registradas pela Chefatura de Po llcia ou pela ad
ministcaçao municipal; as crianças abandonadas às quais sc de e je aui-
buir um estado civil cuma (Ueela;
os
viajantes e, mais especia
lm
enrc, os
elementos Itinerantes e nômadcs, que devem providenciar passapones antes
de efetuar suas andanças.
o
es
cud
o dos migrantes de
limo
ge
s,
assim como 0 dos viajames que
atravessam 0 departamenro de Indre,
rno
sua
cl
aramente
qu
e a extre
mada miniicia das exigênci
as
é
acompanh ada, n
eS
fe panicular
co
mo
em muifOs ourros, poe uro grande laxismo, para nao dizer pd a mais
comple ta anarqu ia. 0 n:conhecimento interpessoal e a mcm 6ria visual
continuarâo por muito taupo a ordenar as list
as
de migrantes c: de
amoricladcs.
Enu
etanto, junto corn
os
progress
as
da alfabc ti zaçâo,
0
eec
ru desc
imento de todas estas exigências admin islCativas conu ibui para
dcsenvolver a posse, 0
uso
e a decodifi caçào dos
papéi
s" . Nova fami
liaridade que, avivada pelo a.scenso da peatica do COntralO no se io da
o iI XJ:E
l(j
:>n
INI)lV IJUO
429
OS
LIMITES
DO PAN6PTICO
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432
HA.Î1J/lO/J:.\
1fao C01ll0 0
menOI
dO do
drJJ
membrO de In1Ja fomfHa de ",édicol
preJfigioJOI, em cOll frdparJida
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Berl/Jlon
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ChefolurJ de P
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ToI eomo
por,1
nonos an/rop6logos rio filial do
século - Cesare LDtnbroJO 011
PoIllline 1imlovJl.:uio, par exemplo -
o ombienle
dos
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forma JeU
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6rio.
(
PariJ
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Pol
icil1. )
MEDIDAS
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EM
BUSCA DA MARCA
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1
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4 4
RI1mDORfS
Em selembro de 1894 l França
eSla aterroriuda par aten/ados
anarquu/as. Desta tJez a
bUSCil
dos indil/ruuas n40 e bau; flpenfls
nll
m f 4 0
Ji folOgrafia ths sUJpeùos,
difundid nas jronuiraJ, é
m
obJt.uu/o
il
IIJurp/lftlo da iden/ùiade.
(Album photogn phiqu
l::
d
es
individus qui doivent êU
I
l'objl::l
d'uol:: su[V(:il12nc
::
spéciale UX
frontières. Paru MIiJeIi
da poIrcw.
A
btfftdlof/agem,
m i l l dt:
Uilla
caminhada, baliza
da pelus trabalhos de Barrud sobre 0
sangue
e 0
oda "
individuais, pelas
invc:stigaçoes
de
Ambroise Tardieu , dt: Qué telet e dos membros da Socic
dade de
t\lllropo logia,
reinara
sem
ri
vais
:né
0
inkio
do
séçu lv
xx.
Nes
te intcrvalo, é
aperf
eiçoada por seu inventor.
que
decidc acresce
ntar
os
si na is parr iculares à idcntificaçao
ddin
ida pel
as
medidas ôsseas, a
juntan-
do mais tarde a fotografia ao bol
ct
im a
mr
opomécri
co.
Na vcrdade, a
bertillonagcm naDé
mais que urna Clapa. Oesde a
inicio do século XX triunfa a idcntificaçâo pelas marc
as
corporais e mais
precisamente pel
as împre:ssôt:s
digitais.
Es
ta
vdha de
sco
ben
a chin
es
a, uti
lizada
cm
Be:nga la pela adminisnaçâo ing
lc
sa,
é
apropri
ada
por
Galton
que
sahe:
ra
convenccr Alphonse Bertillon a integrar
0
nova da
do
ao OOle
{im antropométrico.
Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os procedimcl1tos destina·
dos aos ddinqüe
nt es
e crimÎnosos ultrapassam 0
qua
dro penitenciario.
A lei de 16 de julho de 1912 os impôe ta
mb
érn aos nômades e itineran
tes, inclusive comerciante:s e indust
ri
ais
do
exterior, a posse de urna
car
ta de identidadc antropornétrÎca'
.
Nda figuram
0 nome
, sobrenome.
data
e
lo
cal de nascimento, ftliaçâo, descriçâo. Împressôes digitais e a foto
do
individuo; reconheceremos nela a antepassada de nossa carteira de iden
tid ade.
nova amea·ça
que
tais procedimentos
ruem
pesar sobre
0
segre
do
da vida privada começ:a a inquieta r.
Qua
lldo a questâo alcança seu apo·
geu, a m ~ o p o m t r i desperra a ira dos dreyfusianos e alime:ma um vivo
debate. Entretanto, e revela-se aqui a mesma ansiedade,
0
afluxo de queixas
obriga
0
prefeito Lépine a deixar
de
exigir das proprierari
as
de bordéis
. a fotografia d
as
mulh
er
es
que freqüemam seus
estabde
cimemos. Prova
veImente seria possivel distinguir
mu
Îtos outras sinais desra n
ova
suscetÎ
bilidadc; Philipe Boutry mosrra também, desde 1860. cm vârias par6quias
do
Ain ,
uma
intolerância até entâo desconhecida
em
reIaçâo a
qualquer
violaçâo de atos pessoais por parte dos p regadores. Os pastores, apegados
à batida imagem
da
" e oqüente profundcza dos abu sos individuai
s ,
sâo
aos
pou
cos obrigados a levar em conta 0 nova espaço privado da vida mo-
ral baseada
na autonom
ia
da
pessoa.
É f:icil observ-.d.r que , em todas as esferas menci0nadas, urna mudan·
ça
se
esboça em torno de 1860
p::.ra
ce inir-se
par
volta
de
1880 . Em resu
ma,
ope
ra-se urna transformaçâo no
momento
do triunfo
da
Republica.
o
movimento
de
individuaIizaçâo
qu
e anima
0
século culmina,
ao
passa
que
0
neokamianismo inspira os dirigemes c
que:
Paste
ur
impôe a exis·
tên
t:
ia do micr6bio. pcnurbador do organismo; este modelo biolôgi
co,
apli.
cado ao campo
soc
ial, estabelccc
que 0
controle
do
indiv
iduo
é essencial
à
so
brevivênCla
do
grupo.
Ao mesmo tempo.
0
temor da violaçâo
do
cu e
se
u segrcdo en
gendra
0
famascÎco dêsejo de decifnl.r a pe rsonalidade que sc oculta e
de Înt romcter·se na iulimidade dos outras;
muda
preocupaçâo
que
cm·
-
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4 6 BAmOORES
A
lM
E
o
CO
RPO
basa
0
csnobismo
do
incognilO, .ui\a a
lcma
çao da cana anônima, com
ri-
bui para
0
prcstigio
do
voycurismo
do
fim -dc-sé
cu
l
o,
cxplica a cmcrgên
cia da p crsonagcm
do
detctivc em busca de pistas . Ma is ainda
que
Conan
Doyle, é
G
aslO
O
Leroux que restcmunha a nova sensibil idade e que raz
nao da ident ificaçào, mas da prop
ri
a identidade do cu lpado, e de seu dis
farce, a essência da açâo pol
iciaJ.
S
ME Ç S
DO CORPO
È
DUtil temar
compreende r
0
se
mimemo
de imimidade
que
orien
ta a vida privada
no
sécu
Jo
XIX
sem um
a re
fl
exâo preliminar sobre esta
permanente dicotomia entre alma e corpo que gera
as
atitudes de entâo.
As
modalidades desta espantosa partilha variarn evidentemente confor
me a extraçâo social, a nlvd cultural e 0 grau de fervor rdigioso. Por ou
tra lado, urna sedimemaçào de ceenças nos subsrratos pcofuudos de cada
indivlduo assim coma urna incessante c
ic
cuJaçao das mod as e compona
mentos entre as diferentes camadas da populaçao semeiam confusâo mes
mo em
meio às mais rigorosas anâ
li
ses. Assim, é cooveniente nâo perder
de
vi
sta
0
imeincado dos sistemas
de re
peesemaçâo que nos,
po
r razôcs
didâticas, Îremos diferenciae aetificialmente.
Muitos ernologos, enue os quais Françoise I.oux, evideociaram a coc
rência e 0
dommio
do corpo no seio da soc iedade tradiciooaJ. Muito
curiosamente, esta parece ignorar a di
co
tomia
à
qual aludi. Os peo
vér-
bios coletados por folcloristas cm fins do século XIX reflerem uma visâo
laicizada da existência, que privilegia
0
oegânico.
Ddin
eiam urna moral
da moderaçâo, constatacn que
0
repiidio à posiçâo mediana,
0
respeito
ao
jUStO
meio favorecem a sailde e buscam, aqui, um bem-estar mais refi
nado
que 0
prazer.
Es
ta ética brota de um
ca
mpesinato laborioso,
que
vaIociza os fcuros
do
esforço e desconfia
do
s pobres, fermemadores de vio-
lências e desordens. Mentalidade impeegnada de pe
ss
imismo e resigna
çao,
que mantém
uma obed
ieme
escuta das mensagens
do
corpo, basea
da na convicçâo de que este encontra-se es treitamente ligado à ordem cos-
mica, vegetal e animal, por toda uma sé
ri
e de correspondências simbOlicas.
A atençâo dcdicada às fases da lua, indicadoe cdeste do cielo feminino,
a ansiosa auscultaçao do discurso do galinh eiro quando se apresenta
0
pe
cig
o
da mone a mediçâo do crescÎmemo da ârvore plamada 00 dia do
n
asc
imento
do
filho, as proibiçôes
que
ceccam a gestào dos dejews
do
or
ganismo,
pla
centa, fragmentos de uoh
15 ou dent
e caldo, atestam
0
ca
râ
ter obsessivo desus ceenç
as
aecaicas .
Elas
sao acompanhadas poe urna oor
ma higi ênica
que admite 0
born des
empenh
o das funçoes nattirais, talera
o arcoto,
0
peido,
0
espi
rco, 0
suor e os sioais
do
desejo, ass
ume
sem red a
mar os estigmas da decadência.
É
um
si
stem a de opinioes e atitudes que
define uma frente de resÎstência à difusâo da higiene acadêmica e que
se insinua.
em
pérfidos comra-ataques, até no imerioe
b u r ~ u ê s
graças
à
cumplicidade das amas ou criadas . Nâo ha motivo para espaoto quan
do se eccncontram paru
cu
larmente imeriorizadas pela di te, gumas de:stas
normas que af}oram a parti r das profuodezas sociais, cm peneita harmo
nia corn
0
higienismo cotidiano de médicos bonachôes, panidârios. tam
bém d es, da posiçâo mediana.
No
polo oposto às crenças antigas inscreve-se a permanência e,
em
ccnas esferas, a tendência a acentuae a mensagem c
ri
stà baseada no ama
gonismo entre a alma e
0
co rpo. Desdenhando os limites dogma ti cos do
desprezo pela carne, desenhados pelo misté
ri
o
da
Encaroaçao,
0
mistério
da Eucaristia e a fé na R
ess
urreiçâo,
uma
visao pessimista, refinada
pdos
Padees da Igreja,
notadameme
Tertuliano, e retomada tanto por Bossuet
como pelos jansenistas, re
duz
os despojos
monais,
fururo pasto
do
s ver-
m
es a urna provisoria peisâo. 0 corpo,
que 0
padre de
Aes
nuoca chama
senâo de 0 cadâver", co mpromete a alma corn os instintos e impede-a
de dcvar-se ru mo à parria celeste. Assim se jusrifica a guerra permanente
movid a contra os anseios, os impulsos orgânicos;
se
a alma nao modera
o corpo, este, tal coma
0
deagao, hâ de Ievamar- se para avassalâ-Ia. Nâo
ex
iste
compeomisso
pOSSIVel. Este desdobramemo,
qu
ase esquizofrênico,
embasa os componamemos ascéticos_
Alimentadas pelo crescÏmemo dos efetivos congregacionistas,
pda
mulciplicaçao dos pensionaws
ed
igiosos
e
das oedens terceiras, ta is prao
cas, oeiundas de uro passado longlnquo, nâo c
ess
am de cvoluir ao longo
do
5
ulo
XIX.
Até a alvorada do Segundo
Imp
ério sobrevive um rude
ascetismo, compa
nh
eiro do rigorismo
qu
e persiste. Esta violência
harmoniza-se corn a imagem
do
Cristo no G6lgota, e piedosos gravadores
se comprazem eotào em fazer suas feeidas venerem sangue cm terriveis
jacos_
A partir de meados do século declinam as monÛtcaçôes, pouco ade
qu adas à feminizaçao da prâtica. A Igreja, que investe na mulher para
levar a born termo sua reconquista, deve levar
cm
conta
0
discueso médi
co que sublinha à saciedade a fragilidade das filhas de Maria.
Mil
peque
nas monificaçôes, mais adaptadas ao Îtmo dos tempos femininos. subs
tituem
0
sangue e a dor. lnterioriza-se assim a eenun cia a
si
mesmo no
cotidiano e inaugura-se a comabilidade dos pequenos sacrificios.
Os disct'rsDS acadêmicos revdam-se mais Înovadores. Em fins do sé
cu
la XVIII, tem um pape decisivo neste dominio a difusao na França dos
esccitos de Georg Stahl e sua influência sobre
0
pensameDto médico. Quer
se
prodacnem part idârios
do
vitalismo montpe lieriano,
do
anicnismo ou
do organicismo,
os
médicos da épata, cm sua maiocia, noradamente aque
les que, ta l como Roussel,
daboraram 0
discurso sobre a especificidade
do sexo feminino, al inham-se corn 0 dogma da supeemacia da alma sobre
o corpo. A alma, guia, det emo ra do segredo da vocaçao do corpo, dirige
sua efetivaçâo. Nâo sao portamo as formas da anatomia, Dem os traços
especificos da fisi ologia
da
mulher
que
deteeminam seu carater
e
justifi
cam sua missao maternai; é a alma
que
modela simultaneacnente
0
corpo
o SEGRED
O DO N l vf u 43ï
: ; 1 : :
•
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440 BM11I>O /ŒS
o
LEITO
E 0
QUAR10
INDIVIDUA I$
progressiva identificaçào do sujciro corn
0
co
rpo; 0
que implica atenua
mente do desprezo pelo orgâni
co,
pela animaJidad
e.
Pouco a pouco instaJa
se a
so
i dào dos apetil
es,
semidos como sendo os da pr6p
ri
a pessoa, e nào
mais coma expressao das exigências de um Outro, a um 50 tem p9 ame a
çador e fascinante.
0
anacronismo psicol6gico espera 0 historiador desa
tento a esta mutaçào do estatUlO do desej
o.
o
século X X assistiu
à
continu idade do p
roccsso
dc desamomoa
mcnto dos corpos, inaugurado nos espaços
co
lcuvos por volta do final do
Antigo Regime.
0
lei ta individuaJ, velha norma dos convemos,
tom
ou
se
simples precauçao sanÎtaria, especialmente nos hospitais.
De
fata,
c o ~
mo bem demonstrou Olivier Faure, a peop6sito do exemplo lionés, a pri
vatizaçào do espaço reservado ao enfe rmo demorara a trjunfar nestes esta
beleeimentos, pois contrariava os ritOS da sociabiJidade poputar
que
se
r
ec
onstituia espontaneament
e. 0
essencial no que diz r
es
peito ao nosso
objetivo é sobretudo a transferência desta preocupaçào p"ra a espaço p
ri
vado;
um processo acelerado pela epidemia de c6le ra de 1832, que enfa
tizou tardiamente os mal
es
do amonroamento e da promiscuidade
nantes no seio
da
habj[açào
popu
Jar.
Estimulados pelas descobertas de Lavoisier e pelo n
ov
o emendîmen-
ta do mecanismo da respiraçâo, pe rsuadidos dos
benef1c
ios de urna resee
va
de oxigênio, os médicos luram durante todo 0 sécu
lo
contra 0 Idto co
JetÎvo e a promiscuid ade. Pou
co
a pouco serao ouv idos. Seria impossivel
superestimar as conseqüências de seu dif1ci l triù.nfo . A nova solidâo do
leiro individual conforra 0 sentimemo da pessoa, favarece sua autonomia;
facilita 0 desabrochar do mon610go
im
erior; as moda
li
dadç:s da prece, as
formas do devaneio,
as
condiçôes do adorf lecer e do despenar,
0
desen
vo
lvimemo do sonho,
e
do pesadelo, rudo é transtornado. Ao passo que
se atenua
0
ealor da fraternidade e se desenvo
lv
e na criança a exigência
da boneca ou da confortadora mao .materna. Os médicos 0 dep loram: 0
p:-azer solitario Bea favor
ec
id
o.
'
No seio da pequena burguesia, pelo menos, avança 0 quarto indivi
dua l, objeto da solicirude dos higienistas que ditam os vo lumes, aconse
lharn a e1iminaçâo das dom
és
ticas e
da
coupa de cama suja.
0
quarto
de
uma
moça, transfonnado em templo de sua vida p
ri
vada, enche
-sc de sUn
bolos; confunde-se corn a personalidade da ocupante, prova sua autono
mia.
0
pcqueno oratorio no ângulo, a gaiola do passarinho, 0 vasa das
flo
res, 0
pape de parede que imita
0
tecido deJouy, a escrivaninha que
encerra
0
â1bum e a coleçao de canas intim
as.
talvez a bibli9teca. comr.i
buem para definir a imagem de Césa
ri
ne Biroueau ou Henriette .Gérard,
e mais ainda a de Eugénie de Guéri n, cujo d iat io emoa um interminavel
hino ao prazer
de
ter seu quartinho , igualmeme celebrado por a r o } j ~
ne Brame.
'1
o
SliCIŒ/ O IJ J n·mwfDllo 44
"
ri :
I l
'
. 1·
Il
h
. l
.
.
, 1
l ,
j
"" '
V .',) 1
No lj1lflrlO
JI1/ur.:uIo
de objelos,
simb s
de seUl prdZeres, elta
burgUellI de/eila·Je cam sua friorenta
solirJâo. Ner Il épocl1,
Il edaçiio
dos/ocuù de infimidade cons/ilui pllnl
muitos umo I1grl1divel nOl/idade.
Pllni,
Bibliofeca
daI
Arlel
DeCQrativuJ. )
illesmo TIll
Salp
émere, este inJerno
das
mu/huer, In unft o
/ûlo
indi ùlllai e eJbofu-se Il pril/l1tiz
l1flJ
o
do
t:Jpayo.
(Albut
Morand,
la a l p ê Paris, MUIeu
da
ÂJsutêncùl Nb/ica.)
-
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442
H.H11IXlh/ .
l HJGIENE
INTIMA
Aqui l lame/(: $e,. e de pretexto
pl1r.z exalla;40 do
co
rpo
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Ilfd
o
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11lz0
0 0 pape d
e$e
mpenhado pela
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lo{iJ
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br.:
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na
educ
a{ii
o dO$ Jenfidol d" jUlienlude
bUfEuua. (Benj.zmitt-
Eu
gène
Fi
che/'
u l h ~ t n:i.
t O i k t ~
1891 . PanJ,
Bibliotua Nac1onal. )
A idîlica mansarda da cosrureiri nha, cujo bcm-componado ambienrc
é atestado de vinude, constirui 0 avatar plebeu do mode l
o.
A ob rigato
riedadc de " um quarto para cada um" impoe-se mesmo n
as
casas de to
lcrâncÎa
fi scal
izadas pela polîcia de costumes. No ca
mp
o, a
int
imidade
de um espaço conjugal cxplicita
-s
e pouco a pouco corn a instalaçao de
coninas. de
bi
ombos, até corn a co nstruçao de sumarios tabique
s
Quan
do 0 dono da casa decide passa -la a alguém, desenvolvc sc: 0 uso de reservar
se
um quano no conuato de doaçâo; de garante assÎm a privacizaçlio do
espaço cm que deve passar
0 re
sto de sua existência.
Paraldameme, a w:sceme intimidade dos locais de defccaçao favo
rece a busca
do
mon6
10
go Îm eri
or
Nos im6veis populaces a passe da chave
das
lauin
as inaugura esta familiaridade do excremento,
que
constitui um
d emenro nlio negligenci a
vd
do avanço da pn'tlocy, Quando, em torno de
1900, difunde-se 0 sanitârio,
e
mais tarde 0 banhcir
o
dotado de um soli
do ferrolh
o. 0
corpo nu pode começar a experimemar sua mobilid ade a
sa
l
vo
de qua lquer intromissao.
Es
te espaço, dessensibilizado ao maximo,
transforma
-se
no templo cleon
ond
decent do inventario e da contempl
a
çào de
si
pr6prio.
Os progressos da higieoe
int
ima
efe:tivamc:
nte r
evo
luci
onam
a vida
privada e as condiçoes da funçao. MGltiplos fatores contribuem, desde os
prim6rdios do s&ul
o
para aceoroac as antigas cxigências de limpeza, que
germinaram no interior do espaço dos convemos, Tanta a descoberta dos
mecaoismos
da
transpiraçlio como
0
grande sucesso da teoria infecciorus
ta levam a
se
acenruar os perigos da
ob
struçao dos paros pela sujeÎra,
par.
radora de miasmas. Um pouco mais tarde,
0
fon aJecimento
do
conceito
de "depura çao" impOe uma vigilante higiene dos' emunctorios do or
ganismo. A ceconhecida influênc
Îa
do fisico sobre a moral valoriza
e
re
comenda 0 limp
o
Navas cxigências senstveÎs rejuvenescem a civilidade;
a acentuada delicadeza das dites, 0 desejo de manter à distância 0 dejeto
orgânico,
que
lembra a animalidade,
0
pecado, a mort
e.
em resumo, os
cuidados
de
purificaçào aceleram
0
progresso. Este é cstimuJado igua
mente pela vantade de distinguir-se
do
im
un
do zé-povinho. Tudo con·
tribui para estabdecer uro n
ovo
esraroto do desejo sexual e da repulsâ
o
que por seu turno aviva 0 impul
so
d
as
p'"'iticas higiênicas.
Porém, cm contrapanida, muitaS crenças incitam à pru dênc ia . A
agua, cujos efeitos sobre
0
115ico e a moraJ sào superes[Îmados, reclama
p recauçôes. Normas exrremamente estritas reg
ul
am a pcitica
do
banho
conforme
0
sexo. a idade , 0 temperame
nt
o e a profissào. A preocupaçâo
de evÎtar a languidez, a complacência ,
0
olhar para
si
, na
ve
rdade a mas
rurbaçào. limita a extensào de t
ais
praric
as
. A rd açao na época firmemente
estabelec ida ent re âgua e estcrilidade dificuha 0 avanço da higiene inti
ma da mulher.
Entretamo, 0 progressa esgueira.se aos poucos, das classes supe
riores para a
peq
uena burguesia. Os empregados domésticos
co
ntribu em
o
SfO::ElJU DO J
NDWfDl O 44
.,
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446
IMsnDORES
Ir AMEAÇA
DO
DESE)O
]impamentc sua sapa; no cnt'anro, na
casa
da vizinha, Fifille Migneboeuf,
ordena-se que a cfiança enxugue 0 sanguc mcnstrual espalhado pelas la
jes da sala
comum.
A pr6pria t'scola rc.:publicana,
taO
exallada
por
sua açâo
higiênica e pela rimai das visitas de limpcza, nâo rem ambiçôes; para
convencec-se basta celer atemamente Le tour de France par
deux
enfonls
(A
volta
à França por dois meninas]. A batalha dccisiva efava-se cm torno
do usa do
pente
e do aprendizado da disciplina da defecaçâo. 0 garora
deve deixar
de
pemear-se corn os dcdos; ca
menina, aprendcr
a manter
limpa
sua calcinha.
Por volta do inkio do século
xx,
contudo, urna virada se deJineia:
o progressa, limicado, do
equipamcmo
e
do
mobiliârio sanitiirios, a
10-
f1uência da clucha das sociedades esponivas, os esforços da nova adminis
traçao da higiene publica, a crescente utilizaçao dos hotéis de turismo e
dos bordéis de luxo ajudam a
difundir
a bacia e 0 jarro d'ligua; mas sera
preciso esperar pelo period'J entreguerras para que se difunda
0
ferro es
maltado; e pelos anos 50, a banalizaçâo da ducha e do banheiro, para
que
a revoluçâo higiénica se opere em
prafundidade.
É no seio do espaço privado
que
0 individuo se prepara para afron
tar
0 olhar dos outras; ali configura-se sua apresentaçâo, em funçâo das'
imagens sociais do corpo. Também neste d omÎnio verrncou-se uma revo
luçao. 0 século XIX elabora e
em
seguida
impôe
uma esrratégia da apa
rência, um sÎstema
de
convençôes e ritas precisos que nao visam senao
a esfera privada. Depois opera-se 0 lento enfraquecimento desra recente
especificidade, corn base
na
distinçâo hipertrofiada entre
0
dentro
e
0
fo
ra.
Assim, ao cabo de décadas, a camisola de
dormir
deixa aos poucos
de ser toJerada fora do quarto. Tornou -se 0 simbolo de uma incimidade
erôtica e a
menor
alusâo a ela, mesmo implîcita, seria ja entao inconve
niente; mais ainda uma vez que a camÎsûla conjugal tende a distinguir-se
da
simplicidade juvenil. Toda uma gama
de déshabillés
compôe 0 guarda
roupa matinal, no quai uma mulher decorosa nao sera vista par estranho
algum, a menos que seja scu amame; uma exigência
de
modésria espica
çada pelo progressivo refinamemo destas vestes e pela visibilidade cada
vez maior das roupas intimas. 0 Mas enldo
niio
passeies
Ioda
nua de fey-
deau nao deve sec t ''llado ao pé da leua.
D
mesma maneira, em sua
casa uma
mulher
circula corn os cabelos solcos; no espaço pûblico, urn
tai penteado designaria a arrumadeira .. ou a prostituta. Tais normas en
tram no sistema global
de
freios que contribui
simultaneamente
para li
mitar
0
acesso
da
mulher
à
cena pûblica
e
para dar so1enidade ao seu apa
recimento. A distÎnçao emre 0 dentro e a fora rambém nao poupa a po
pulaçao masculina; a vestimenra adotada pelo parisiense em sua casa nao
Ihe permitiria afromar a rua.
Outra fato histôrÎco renova entao as condutas privadas: 0 inaudi
te sucesso da lingerie. A extrema sofisricaçao da vestimema invisivel
valoriz:l a n1ldez, dando-lhe maior profundidade. Jamais, observa Phi-
l
1
lippe Perror,
0
corpo feminino
foi
tao cscondido como cnuc 1830 c
1914. Ap6s a combioaçâo, 0 calçao propaga-se irresis tivehnente . Usado
primeiro pela menina, vence sua causa junte às mulhcres adultas corn
o triunfo da crinolina, 'ou seja, no iolcio do Segundo Império. Em 1880,
seu uso é imperativo, ao menos na burguesia . Entretanto,
0
corpete re
sisre às violentas ofensivas empreendidas contra
de
pelo corpo médi
co.
A amarraçao à preguiçosa permire seu uso autônomo; deixa
que
a mulher se arrume sozinha, 6 que incremema sua margem de manobra
amorosa.
No final do século a riqueza, até emao desconhecida, da renda
e dos bordados acompanba a hipemofia
da
lingerie.
Jamais
ficarao tao
evidentes os efeitos perversos do pudor; enquanto se inultiplicam os
estagias do despir-se, os impacientes dedos masculinos devem suplantar
obstaculos de uma gama cada vez maior de laços, colcheres e botôcs.
1àmanha
acumulaçâo er6rica, que contribui para renovar a mitologia
libidinosa e cuja represenraçao grâfica continua a ser
um
rabu, exceto
na caricatura, difunde-sc com extrema rapidez - mais depressa
que
a
higiene em todas as classes da sociedade. Muito em breve, até 0 jo
vern campônio sedutor deverâ aprender a haver-se corn inesperados
obsrâculos.
Seria convenienre refletir sobre 0 que signrnca a aceitaçâo destes re
finados complicadores, cm harmonia corn a
perturbadora
hipertrofia
do
imaginario er6rico que traduzem, no seio da burguesia, a ânsia de cobrir
se, a obsessâo
da
capa, do estojo c do cadarço.
0
desejo de conservaçao,
o cuidado
de
p r o t
r - ~
0 medo da castraçâo, a permanente lembrança
'
da
ameaça do desejo realizam aqui
um
neur6tÎco encontro.
Camo
entao admirar-se corn
0
ascenso deste fetichismo, descrito e
codificado por Binet e Krafft-Ebing, no final do século, mas cujos sinto
mas ja tÎnham sida minuciosamenre analisados
por
Zola, Huysmans e Mau
passanr? A mistica do talhe e das curvas, a fixaçâo do desejo nos sedosos
arredondados do colo, 0 valor er6cico do
pé
e do couro das borinas, 0 de
sejo de
conar
a cabeleira feminina para respirar à vontade rornaram-se
fatos histôricos, assim como 0 fetichismo do avental, simbolo de intimi
dade que parece autorizar rodos os atrevimentos. A lingerie, onde v o
inscrevcr-se os traços
da
sexualidade, da eofermidade,
alé
do crime, adora
um discurso comprometedor ;
nde
se ap6ia 0 cumor elaborado pelos cria
dos e logo amplificado pelas Javadeiras. A lavadeira do castelo sabe
de
muita coisa; desfruta na aldeia do .prestigio da mu lher que conhcce os
segredos das belas coupas intimas.
[,enero do espaço privado desenvolve-se também a toalere que
prepara a apariçao
na
cena publica.
0 ri
tuai deste labor inutil, par
muito
tempo
confinado à
dite,
difunde-se
bruralmente
entre 1880 e
1910. Aiguns traços principais 0 caracrerizam: para começar é urn da -
) SEGRE O
DO
fNDfvfDUO 44 ï
o corpete lem por missilo Jubliflhar
as
formJS
fominimn.
Na
jo em
de silhue
tlllJintia
etbe/lIl, iUentua
l Cllroa
da l n ~
e
do Jeio.
Contn'but; sem demaniuJa
indiscripo,
P lT l e"ùknCÜlr
0 dole
ettético. Itq:ti.
tonludo Um4
Ilmarraç40
à
pregyifOSa'; bOJlIlnte
frouxo,
"oIon'zondo
l
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do geslo,
e ilo a (1ulénfÎca tortura que mOfd
Je
arrisca
sofrer qUllndo chegor
a
horo
do =17JUJto e
da
motemidade.
(Eug ène Vincent Vitiol, Moça do
corpctc:
toSll. Paris, MUJeu
de Luxembourg.)
AS ESTRATÉG1AS
DA
APARÊNClA
-
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I IIJ
lWiI
riss imo dimo
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smo sexual quc rcsuha cm salicntar a difcrcnciac;ao dos
papéis A mu lh
r lem
0
monopôl io do pcrfumc. da
pimura
. da cor, da
sedosidade, da renda e sobrerudo de urna tOrturante body sculpture que
a coloca dcsde
0
infcio acima de qualquer suspeita de trabalho. Tem a
funçâo de
se
r a insignia
do
horncm condenado
à
atividadc, ou sc
ja
, à
ves-
timenta negra ou cinzenta, cm forma de tubo,
que
faz Baudelaire bradar
qne
este é um sexo de luto, As pr6prias roupas intimas masculinas care
cern de refinarnemo, 0 homem do século
XIX
nâo se orgulha de seu cor
po,
exceto de seus pêlos. Enquanto as ondas da cabeleira feminina fee
qüentam
0
modem style e a ondulaçâo Marcel faz furor. propagada
pelos cabeJeireiros para damas
que
começam a surgir. outros proflSSionais
nâo propôem menos de quinze a vinte modelas de bigodes, barbas e suiças,
o
que se
investe nestas modas nào é nada insignificante; sua his
tôria inaugura a difusâo de um novo escilo de vida priY
-
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o
PUDOR
E
Il VERGONHA
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le de
trlljes
que emba,.uho os ni
ei
J so
àa
is e
p ermile
0
Jonho do conlolo
eftm
ero.
(Henri Ellenepo
el, Pa.ssc io de
domingo, 1899. Liège, Mus
eu de
Belas
ArteJ.)
ras cançôes de 1900 registram esta mutaçâo simbolizada aioda pela surgi
menta do moço de recados, longfnquo descendente da costureirinha
gnselte.
No século XIX 0 pudor e a vergonha pretendem
regcc
os campana-
mentas. Por tras destes termas ocutta-se
um duplo
sentimento: de
um
lado.
0
m,do
de ver
0
Omra -
0
corpo - exprimir-se, de permitir
que
o animal panha as manguinhas'
dé
fora; de omro, 0 temor de que 0 segre
do
intimo
seja violado pela indiscriçâo,
0
desejo atiçado
por
todas
as
pre
cauçôes destinadas a mascarar tamanho tesouro. 0 primei ro sentime nto
da lugar à conrençâo, ou seja, a preocupaçâo de evitar qualquer manifes
taçâo orgânica suscetivd de recordar
que 0
corpo existe. Richacd Sennett
evoca a prop6sito a doença vecde , coostipaçâo provocada nas mulheres
pelo receio de peidar em pûblico. Os médicos estabeJecem 0 quadro c1i-
oico da eceutofobia , pudoc exacecbado. m ocbido pavoc de nâo poder
imperur 0 ruboc de subir
às
faces. Do segundo
sentimemo
deciva , poc
exemplo, a recusa do espéculo, cujo emprego permanece por mu ito tem
po identificado corn
um estupro
médico ;
no
final do século, os aboli
cionistaS
continuam
a empcega r 0 argumento em sua lura contra a prosti
tuiçâo regulamentada. 0 rnesmo tipo de ansiedacle acarreta nas mulhe-
ce
s 0
mal
branco , cecusa em sair po r medo de
se
c espiada por de sco-
nhecidos.
Esta
dupla
pceocupaçâo instiga a exigência
do
porte ,. modesto ,
que
inspira em especial a pedagogia das congregaçôes femininas. Esta visa em
pcimeiro lugac ceduzic a vivacidade das crianças. A quebra do citmo dos
impulsos conjuga-se aqu i corn a vontade de estancar as fontes de emoçao
e restcingic os assamos
da
sensualidade.Ja
que
os sentidos sao semelhan
tes a
ponas
aberras para
0
demônio, é
pceciso
ensinar a pcudência, ins
truir a juvenrude paca que ocupe pecmanentemente as mâos, ceceie seu
pcoprio olha
r
saiba falar
em
voz baixa
e
melbor
ainda, compenetce-se
das virrudes do silêncio. Odile Arnold dis tingue a este respeito, nos coo
ventos de rneados do século. um nitido enducecimeoto pedag6gico, que
se segue a
uma
considecavd liberdade e até a urna
eeal
espontaneidade
de atitudes. A tentativa de descorporificaçao se exaspera corn
0
enalteci
mente do modelo angeJical; em muitas moças opera-se entao urna vecda
deica identificaçâo corn 0 anjo. Esta miragem, cuja gêneseJean Delumeau
atcibui
cm
parte à antiga influência do neoplatonismo, acentua capida
mente seu domînio; nitidament e perceptivd nas
POSturas
da prece, acom
panha a ccescente exaltaçao da virgindade e
0
ascenso do lirismo da casti
dade. É sin tomatica, a pcop6sito, a capida difusâo do culto a Filomeoa
a partir de 1834. 0
moddo
desta santa que ouoca existiu, mas à quai
ai
nda
assim sao consagradas abundan tes biogcafias,
pe
rmice a difusao de
preces, imageos e até
cocdôes
destinados
às
jovenzinhas desejosas
de
se
cooservacem intatas.
Nao
esqueçamos: nesse século em
que
se afirma
0
prirnado da palavca masculi na, é atcavés da
cetocica
do corpo, da elevaçao
do olhar e do fervor do gesto que se opeca a prédica feminina.
Resta colocar 0 problema da difusâo das conduras. Suzanne Voilquin,
filba do povo, rdata 0 verdadeiro noviciado a
que
foi submetida, entre
1805 e 1809, pelas mestras da escola do claustra de SaÎnt·Merry, e em
seguida pelas tristes senhoritas normandas em cuja casa eferuou seu
aprendizado, desde os nove anos de idade. Todavia, a antropologia an
ge1ical rdativa à época romântica 56 se estende
amplamente quando
se deflagca a contca-ofensiva cat61ica, ou seja, ap6s
1850. As
técnicas
de començâo destiladas nos conventos penetram emâo nos meios po
pulaces. Muito cecentemente, Macie:José Garoiche-Mercitt, que eeco
lheu minuciosamente
0
testemunho
da
mem6ria
popular
, tcaça
um
quadro impcessionante da rninuciosa vigilância exe ccida, ainda entce
1900 e 1914 pdas celigiosas sobre as moças da pequena
comuna
de
Bué·eo-Sancerrois. Constitui·se. especialmente nas par6quias curais,
urna cede de congcegaçôes juvenis. Incomaveis assocÎaçôes de ccianças,
de Filbas de Maria, ou ainda dessas donzdas agraciadas corn coroas
de rosas,
as
rosières,
que
Manine Segalen avalia serem pcovavdmenre
um
milhar, ap licarn a iiçao de moral e començâo dispensada pela es-
o
Sl:.GRE
OO DO INDJVfDUO 45
J
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454 sn OO R S
o ONANIS'LI.
SOB VIGILÂNGIA
de gerir qualquer dispéndio e ponamo de daborar urna saudavel I.:cono
rnia espermatica. Nesta perspectiva, repete-se que 0 prazer solitirio mas
cutino conduz a uma tâpida decadência. 0 definhamemo, a senilidade
precoce seguida de morte baljzam 0 îtînerario percorrido por estes indivî
duos emagrecidos, macilentos e quase amnésicos que lotam
os
consult6-
rios
médicos. A dramatizaçao do quadro clînico traduz
0
ternor de que
o dispêndio de energia prejudique 0 dinamismo necessario ao esforço e
coloque em causa a capacidade de uabalho; oculta sobretudo a recusa do
aprendizaclo do prazer, a negativa das funçôes hedonistas.
o gozo da mulher sem a presença masculina parece ser panicular
meme
inroledvel. A manualizaçao constirui
0
supra-sumo d o
vîcio.
Para
0
homem, figura
0
segredo absoluto, infinitamente mais misterioso
que as comoçôes do coÏto. Aqui nem se cogita de privilegiar os riscos de
esgotamento, pois a capacidade copulaclora da mulher parece infini a; po
rém outras sançôes, igualmente terrlveis, espreitam no horizonte
da
ful
ta. Nao ha
um
quadro clînico, mas a biografia de ninf6mana, de histérica
ou prostituta que se abre sobre a imagem da pe quena
viciosa.
Reencontra-se
aqui a hostilidade que
os
médicos do século XIX demonstram diante do
clitoris, simples instrumento de prazer, ioual na procriaçao.
A luta concra a corrente provém dos pais, do padre e sobrerudo do
médico. Os livros incÎtam a vigilância doméstica. Aos o1hos dos edueado
res clericais,
0
sono deve ser
0
equivalente da morte,
0
Idto, imagem do
tûmulo e 0 despenar, equivaleme
àa
ressurreiçao. No imerior do dormi
tôrio do pensionato eocontra-se
uma
freira para zelar pela
modéstia
do despertar e do adormecer. Durame a dia, convém nao deixar a criança
sozinha por muito tempo. 0 regulamenro das casas dirigidas pelas ursu
linas prescreve que as moças devern ficac sempre à vista de numerosas co
legas. Os médicos, por seu turno, aconselham que se evite
0
calor e a ma
ciez da cama; proscrevem a manta e
um
exagero de cobertas, e
Hxam
a
postura do sono. A prâtica feminina da equitaçâo desperta sua descon
fiança, assim como a maquina de cosrura,
~ e n u n c i d
pela Acadernia de
Medicina em 1866.
A estrutura dos equipamentos e, em caso de necessidade, a ortO
pedia concorrem para a prevençao. Em 1878
os
especialistas aconselham
a adoçao de sanitarios tendo na parte superior e na inferior orifîcios
autorizando 0 controle de posruras. Cenos médicos 3.consdham que
os
menioos vistam longas camisolas. Até 1914
os
especialistas propôem
contra
0
onanismo rebelde
0
uso de bandagens sob medida; alguns
chegam mesmo a fabricar cintos de començao destinados às moças.
Nos hospkios, algemas, correias, aparelhos instalados entre as coxas para
impedir
0
toque
S:i0
impostos aos alienados ninfôrnanos. Quando
0
mal persiste, pode acontecer a cirurgia. A cauterizaçao
da
uretra pa
ecce ser praticada corn bastante freqüência. Théodore Zeldin cita 0 mar
tîrio do empregado de urna loja, corn dezolto anos
de
idade, vltÎma
por sete vezes de scmelhante terapêutica, destinada, em princîpio, a cura-lo
de perdas seminais involuntarias. Porém sac ainda mais eloqüentes
os
pa
vores
de
Amid,
minuciosarnente relatados pela prôpria vÎtima. 0 iofeliz
sucumbe regularmente às pe rdas seminais'
.
Cada poluçao é uma
punhalada para vossos olhos , declarou um especialista ao rapaz de de
zenove anos. Este, aterrorizado, anota cuidadosamente desde entao cada
urna de suas ejaculaçôes noturoas; consigna seus arrependimentos, escre
ve suas resoluçoes;
à
noite, toma banhos de agua fria, come gelo picado,
lava
as virilhas corn vinagre. Nada adiama; em 12
de
junho de 1841 de
decide nao dormir mais que quatro ou cinco horas por noite, sentado cm
uma
poltrona.
A cauterizaçao do clitôrÎs e do orifîcio da vulva constituern em con
rraparrida procedimentos muÎto raros, e mais ainda a clitordectomia, pra
ticada pelo de. Roben desde
1837
e mais tarde, no final do
sécu.1o
pelo
dr. Demettius Zambaco. Corn efeito é necessario ser prudente
e
sem ne
gar a significativa dimensao de tao terrificantes prâticas, nao superesti
mar sua freqüência.
Cornpreendern9s assim 0 guanto 0 corpo tocna-se urna obsessao no
seio da vida privada. 0 auscul tar dos obscuros sinais
da
cenestesia, a vigi
lante espreüa da tentaçao, a permanente ameaça que
se
.acredita pesar so
bre 0 pudor, 0 fasdnio exercido pela transgressâo semprë possîvel
o o ~ -
rem para valoriza-lo. Chega-se a fugir do esperaculo do coiro animal. A
simples alusao a ele é urna grosseria masculina cujo sentido hurnorîstico
é
dificil conceber atualmente. Grupos de canto e circulos formarn-se
ex
clusivamente
p ~ r
rir e falar de sexo. 0 nu, profundamente oculto, é
um
fantasma a rondar os hornens. Os convidados da condessa Sabine, urna
das herofnas de
Nana,
con ecturam longarnente sobre a forma de suas
co
xas. Comparada corn îsto, nossa tao célebre subrnissao aos impulsas e de
sc
jo
s do corpo parece bastante descuidada e até urn tanto desajeitada.
1NTERPRETAÇAO E CONTROLE E SI
Enquanto sc processa 0 esgotamcmo literario
da
intimidade, apro
funda-se
0
desejo de decifrar a si pr6prio, banaliza-se a pratica da Întros
pecçao. Processos favoreciJos pelo refinamento e difusao social dos exer
ck
ios espirituais surgidos d o esforço disciplinar pôs-tridemÎno. Parado
xalmentc,
0
procedimcnto do exame de coosciéncÎa estende-se no mo
mento cm que se reduz 0 efetivo dos praticantes.
Uma nova
cornpreensâo
dos imperativos da teologia moral petmite 0 acesso da massa de catôlicos
a uma disciplina mental que permanecera por muito tempo restrita
à
di -
te. Dur antc a Restauraçao, multiplicam-se os retiros e mÎssôes; rama uns
coma ouuas desaguam em uma confissao geral; estas proporciooam oca
s
iao
para uma longa exploraçao de si. Claude Langlois mostrou
0
enraiza-
.
o
SI GRU
O [ln
INlJwiVIlO
455
QlIando a l'ig/ïânc/4
dos
pais
e edlludores nâo bllllll, apenas
o corpete
11
0
apar
elho orJopédico
conlêm
no
adolescente l i CSU lil'el
neceJSidade
do prazer soli mG e
e1Iita
a senilidade precoce, ou alé a morte
por exceJS illa d/ïapidaçâo
da
puc osa
um m t
e. (Paris,
B bliouca
da
antiga
Faculdade
de Mellicina.)
A BANALIUÇÀO
O
EXAME
.
-
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4 56 IM
S7 DO
Rë
A PROCURA
DO DIÂRIO
mento popular da prâtica do retiro na diocese de Vannes. Em 24 de
março de
1821,
relata Gérard Cholvy,
6
mil homens participam, de c
rio
cm punho, da
honrosa eerimônia de caridade que eonstitui 0 fone
da grande missâo de Montpellier. Cerea de meio século mais tard
e,
em 1866, par motiva da visita de uns pregadores a Chasseradès - a
humilde eomuna do inacesslvel Gévaudan - opera-se 0 voltar-se para
si e desata-
se
a Irogua dos rudes camponeses dos
oustaux. A
manuten
çâo,
durante
décadas,
da dup
la confissao
e
da absolviçâo difeft'nciada,
a pradca da confissao geral por ecapas, entremeada par longos perlo
dos de auto-anâlise, tal como era preconizada pelo padre de Ars, con
venido em missionario sedentario durante a Monarquia de Julho, in
citam a um minucioso esquadrinhamemo da memoria à procura da
falta.
A proliferaçâo dos
regu
lamemos de vida", a crescente precisâo
das "reso uçôes" acompanham 0 aprofundamento dos exames. Prega
dores e educadores congregacionistas convidam as aimas piedosas a exer
cer esta nova maestria.
AssUn
se acomodam as condutas no interior
da vida privada. Aconselhados pelas educadoras, os pais Împôem urn
rigido reguJamemo
às
moças
que
retomam do internato, corn 0 inten
to de afasca-Ias das temaçôes de uma vida que parece devotada 2 6cio.
o emocionaote
Cahier de résolutions
[Caderno de resoluçôes] da
;0
vern Léopol
dine
Hugo testemunha 0 sistema. Algumas boas aimas
chegam a escimular tadas
as
moças a manter um diario, como simples
corolârio
do
sacramento da pcnitência. Em Marselha, Isabelle Fraissi-
net , corn doze anos de idacle, é constrangida a preencher todos
os
dias
a seu. 0 papel pode registrar rambém 0 progresso
da
vida espirirual
dos adultos, aliviar
os
escriipulos nascidos de pequenas falras cotidia
nas. Apos 1850, 0 ascenso do diâIio feminino de conversao, tendo por
modela
0
de madame Swetchioc, editado por Falloux, traduz
0
mes-
mo desejo
de
adaptar a fins edi fiéantes a crescente necessidade de (:Scre-
ver
sobre si.
Nâo menos essencial é a laicizaçao dos procedimentos de imer
pretaçao
do
Îndivîduo, elaborados à sombra do confessionârio. A com
patibiJizaçao
da
existência, a aritmética das horas e dos dias. que so-
brecarrcgam 0 homem
do
século XIX. nao derivam apenas do tcmor
da
Calta;
provêm igualmente deste mesmo fantasma
da
perda que con
duz a manter livros de contabilidade doméstica da mais extremada
minucia,
que
engendra a angûstia do desperd1cio de espcrma ou sim
plesmente do coridiano esucitamento
da
duraçâo
da
vida. Este desejo
de represar a perda t ~ n s b o r d para 0 diario intimo.
o extraordinacio Essai
sur l emploi du temps ou Méthode
qui
a pour
objet de bien régler l emploi du temps, premier moyen d être heureux
,.
[Ensaio sobre 0 emprcgo
do
tempo ou método
tendo
par objeuvo a boa
organizaçào do emprego
do
tempo, primciro meio
de se
r feliz} . redigido
em 1810 por Jullieo. militar da reser\ a. manifesta clarameote sua filiaçao.
o autar, que remete a lDcke e a Franldin, e cujo crabalho sera coreado
par Fourcroy, recorncnda
que
se divida a dia
em
três fatias de oito horas.
Aconsdha que
.se
coosagre a primeira
01.0
sano, a segunda
aos
esrudos e
aos "deveres de .seu emprego", a terceira às refeiçôes, 01.0 lazer e aos exer
crcios corporais. Ac onsdha, sobrerudo, que se mantenham tcês diarios ou
contab
ilidadcs",
onde
serâo registf2.d2S as fluruaçôes da saûde, 2S vicis
situdes
da
moral
e
as
pulsaçôes da arividade Îme1ectual.
Um
"memorial
analltico" e um quadro trîplice da siroaçâo, redigidos a C2.da
trimestre
ou
semestre, pennicirao
que
se façam sucessivos balanços que serâ conve
niente submeter a
um
amigo vo lumâIio para julgar sua evoluçâo.
0
dese
;0
de esdarecÎmento interior, combinado corn 0 emor do desperdfcio,
suscita aqui uma prâcica que nâo subemende nenhum dialogo corn
0
Cria
dor. É em funçâo do olhar sobre si mesmo, c dos olhares dos outres e
do mondo, que
se
e5trutura
um
exame permanente, obcecante.
Olongo
monélogo interior permite também que se conuole a aparência pessoaI,
tomando-a 01.0 mesmo tempo mais iodecifrâvd aos ourros;
0
necessmo
segredo
do
individuo conuibui pan. impar a introspecçâo.
Os grandes autor
es de
diar
ios
da primei
C2
metade do século esfor
çaram-se por levar a bom terme
esta
ucefa de esclarecimento, sem a me
nar
ambiçao literâria. Suas obras, que
corn
fceqüência regiscram simulta
neamente 0 crabalho, 0 dinheiro, 0 luer e a açao amoresa, desempenham
o.papd
de
cOllubilidades
da
decadência. 0 dîmo Intima tenta exorcizar
esta angUstia da morte, que de aviva corn
0
proprio ato de se escrever.
Detectar
0
desperdkio de si proprio
é
proporcionar-se os meios para
uma
estratégia
de
poupança.
Ao
conservar a historia do que sioto", diz Dela
croix
em
7 de abril
de 1824, tenho
um
duplo fun:
0 passado retornara
a mim. 0 future :st i sempre aIi. Assi.m se constirui uma mem6ria que
autoriza a um sô tempo a amnésia e a comemoraçâo.
Manter
um
diacio é rambém disciplina
de
imeriorizaçào; depo
sita-se sob
re 0
papel a discreta conft
ssâo.
A escritura pcrmitc a anâlisc
da
culpabitidade înrima, registra taoto os fracassas da sexualidade c omo
0
sufocante semimento da iocapacidade de agir: cepisa as resoluçôes secretas.
Multipl
os
fatores comribucm ainda para explicar a ascensâo
desu
fascinante prâtica. Em Maine de Biran, da respollde
à
ambiçâo
de
apoiar a ciência do hamem na observaçâo e captar, para tanto,
as
cela ·
çôes
que
se estabelecem entre 0 fîsico e 0 moral. A busca de si mesmo
é estimulada ainda
por
todos os fatas historicos que conduzem ao
aprofundamemo
da
sensaçao de identidade. Sobrerudo,
2
acderaç2:o
da mobilidade social engendra um semimemo de iosegucança. Incita
o SEG WO O IN wt UO 45ï
-
8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf
21/42
458 nA Sl1DO /Œ l
A pRAnCA
DE ESCREVER
SOBRE SI
A
alfobetiZOfâo
j qUlIse
generaliZllda
quando da imfallfllç40
dt
esco
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republicana, p ermite pela prime
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e
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conjllnlo
da
jUll
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se dedique às d1leren/el modaltdades
da escrila de
Ji
propn
. LiçJ
o
0 ;: praxer
a
car/a
IlISÙn
(omo
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red
açiio
, en/ra
a pllr/ir de
agorll
na liIta dal
obngllfôel. (Philippe jo/yet A
carta,
Salao
de 1908.)
o autor do diârio a indagar-sc sobre sua posÎçâo, a calcular
0
julg:unento
dos outros. A muda presença da sociedade freqüenta a vida privada e so
jitiria do autor. novo fcitio das reJaçôes interpcssoais ditado pela urba
nizaçâo muhiplica as feridas narcîseas ,
gcra
uma frusrraçâo que convida
ao recolhimento neste refugio interior. Maine de Biran prevê, em
1816
esta busca de urna revanche psicologica; prcssente
os
(Crnpos cm que' os
homens, cansados de ouvir, estarao mais dispostos a se
vOltaT
sobre
si
pro
prios, buscando ali
0
repouso c esta espécie de calma
e
conso lo que s6
se encontra na intirnidadc da consciência".
o
avanço do sentir nento de propriedade nao é estranho
à
nova bus
ca; mais urna
vez
é Maine
de
Biran que
0
pr
es
sente;
de
se
Felicita quando
o abade Morellet, seu
amigo, na monografia que consagra ao assuntO, ba
scia
0
dircito de propriedade no "direito de cada homem sobre
si
pro
prio, sobre todas as suas faculdades, [sobre] seu eu .
Resta definir 0 efclivo consagrado
à
prâtica de escrever sobre si mes
mo. Caso nos atenhamos aos grandes aurores de diirios, reconhecidos pe
la historia literaria, a tarefa é fici . Sao numerosas as mulheres ils quais
o codigo das conveniências proibe a publicaçao e que suprem graças ao
diârio sua neccssidade, quando nao sua
fUria,
de escrever.
A
propria Eu
génie de Guérin confessa que aplaca urn irreprimivd desejo e {Odo leva
a crer que 0 mesmo ocorre a madame de Lamartine, a mie do poeta.
Corn freqüência mal inserida na sociedade onde foi chamada a vi
ver, a autora de um diârio sofre por nao poder comunicar-se. Ademais,
seme dificuldade em decidir-se. Em maio de
184
8,
corn
27
anos de ida
de, Amie expôe em seu diario, sob a forma de uma int erminavcl equ a
çao,
os clementos de um eventual casamento.
Eu
invento fantasmas e
obsticu los gratuitos", confessa Maine de Biran, esmagado pelo que de
nomina a "preocupaçao" - nos didamos a ansiedade - que de atribui
à
"desconfiança de si pr6prio".
Eru suma, 0 grande escritor de diirios nao es tâ longe de parecer uro
doente; certamente uro dmido, aré um il f.lpotente, cheio de tendências
homosscxuais que nao saberia saciar. A microfaroilia burguesa
da
provin
cia constitui
0
lugar privilegiado da eclosao do diario intimo. Sua estru
tura favow:e 0 apego à mae e à infância; Béatrice Didier afirma que
0
autor de um diirio sofre de regressao e sua caligrafia traduz a busca de
u
refù.gio maternaI. Nao se poderia negar que este castigo cotidiano pro
longa os imperativos da pedagogia juvenil: de lembra simultaneamente
o cademo escol
ar
e
0
dever de
ca
sa.
Com efe ito
0
diario é, para começar, e talvez acima de tudo, uma
pritica. Impôe um fati gante trabalho; lembremos as
17
mil pâginas
escritas por Amiel Para os que sc comprazem com
0
rnon610go inte
rior, de pode
{Omar
-sc também um refinado prazer. Quando estoe
sozinho", declara Maine de Biran, "basta-me a ocupaçao de seguir 0
rnovimento de minhas idéias ou impressôes, de apalpar-me, observar
minhas disposiçôes e as variantes de minha maneira de ser, de tirar
0
me
lhor partido de miro mesrno, de registrar as idéias que me ocorrem por
acaso,
ou
as
que minhas leituras
sugerem.
Neste sentido, 0 diârio inti
mo é 0 coroamento
das
alegrias da pn·vdcy: "Aspiro a tornar-me eu mes
mo, retOrnando à vida privada e familiar", confessa 0 mesmo escritor,
"erguendo-me assim acima de mim mesmo; entao nao serei nioguém".
Entretaoto, pode-se adivinhar,
0
di:1rio é inimigo da vida conjugal Às
mulheres, sobretudo, impôe-se que
0
escrevam às escondidas.
u ~ é n i e
de
Gué.rin oculta até de seu adorado pai 0 caderno que cla preeoche
à
noite,
em seu "quartinho", enquanto contempla as estrelas. Manter um diârio
re
veste-se
efetivarnente do aspecto masturbat6rio reaIçado por Béatrice
Didier.
Os hiscoriadores ainda nao mediram satisfarorÎameme a difusao so
cia
l de urna prarica cuja anilise permanece coma monop6lio dos especia
listas em literatura. Ademais, a grande fragilidadc destes documentos cer
tamente leva à subestimaçao de sua quantidade. Muitos indicios levam
porém a pensar que
0
diârio Intimo é
0
contrapomo de muitas vidas pri
vadas. A pequena burguesia nao 0 ignora, como testernunha 0 texto de
o
SEGREDO
DO
INDJVfDfJO
Um4
fm,/her th IJTislocraciz ou da
bllrglles/n
conJlJgra
muitn.r
nOTai
por
dilJ à
lua co espondéncia.
Carolin
e Chol4r4-Iiorel
pâde
analisar
pOrlllnto milhores de cn IlS elen·llll,
11Q
i1h·ma leTfO
dosicuÛ} pelosBoileJ1u
I/m
Ulal
de dignalânos
de Snl/mllrois. Ao p e
mllhr
Il IIeriflClJfiio e mI1nulençiio dol
gn/pOl,
Il C4r11l
joga um plJpe/
crelt:ente na
re/4pa amoroJ4.
Nesta
BeD
e Époque
da
dU/lénO, é eu que
permite
114 mI1iorin tins
vezes
qu
e
a
mmido delCtlbrlJ
qu
e
é
enganado.
(Visconde
sJII
de Cil/ello A
resposta,
Sdiic
de
19
-
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.Jo )
HIHTII
) J
f:S
A MODERAÇAO
DAS AMBIÇOES
P.
H. Azaïs,
modesto autodidal3
p:trisicmc;
:lqUÎ
0
diario apn.. SCnta-St: cam
o
herdeiro l
onginquo do
livra de razâo c companheiro do livre de conrabi
lidade. Adivinha-se que as mocinhas que enco ntraram
ode
urna mancira
de
dcsabafar sejam legiao. Caroline Brame, cujos papéis foram cncomca
do nos Puces, e Marie Bashkirtseff cenamcntc nâo sâo exemplos isolados;
e menas ai od a Isabelle Fraissinet.
Convém desracar a
prop
6sito a imen
sa
popularidade
do
album.
Durante a Monarquia deJu lho, escrcve Pierre Georgel, coda moça de boa
familia {cm
0
seu,
que
apresenta aos amigos da casa. Lamartine
que
abre 0 de Léopoldine Hugo. Aré os Heze anos de idadc. Dicline regis
tra ali seus brinquedos, seus sonhos de infância, suas leiruras; em
se
guida surpreendem-se ali
os
suspiros c dedaraçôes dos primeiros admi
radores aos quais a jovem aos poucos
vai
atemando. Desde cntao ela
se
preocupa corn
as
roupas, registra
os
bailes,
os
espetâculos a
que assis
te e (em
0
cu idado
de
inscrever suas impre
ssôes
de viagem. 0
album
é uro saco
de
gatos; ali colam-se boletins escolan:s e gravuras picores
cas; ao chegar
0
casamento,
de
ira un ir-
se
aos
cadernos no oovo museu
dos arquivos familiares.
Funcionam entre 0
povo equivalentes simb6
1icos do
album, se nao
do
diario. 0 enxoval bordado pela jovenlinha
nio
pode ser coosiderado
como uma arenta escrituraçao de
si
e de seus soohos para
0
fururo? Em
rodo caso,
sua
funçao ultrapassa
em muito 0
simp l
es
desejo de dispor
de
uma reseNa de
panos para
depois
do
casamenro.
g n ~ s
Fine mostra corn
quantos
cuidados a adolescente dos Pireneus fia, borda, marca corn
um
fio ve
rmdho
este resouro que, mais tarde, de nada Ihe servira. A moça
designada como herdeira
também se
curva a
em
: rito cuja necessidade
pratica ela nao rem. Explica-se
ass
im
0
extremo apego da mulher a seme
lhante acumulaçao simbolica. Em Icarie Cabet sera acusado de querer
confiscar 0
en
xova
l. Ao va
lorizar ao extremo cm sua narrativa 0 bau de
panos
que
G i
ll
iat herda de sua mac,
0
amor de Tratltufleurs de
/0 m r
[1fabalhadores do mar] sabc pcrfeitamence que aponta
um
clemento maior
da
sensibilidade popular.
A busca retrospect i
va do
eu, objeto do diario intimo, estimula arre
pendimentos
aviva nostalgias , mas, em
um
mesmo movimemo, valoriza
a aspiraçao e desperta
0
ima ginario da conscruçao de
si.
Convida à histo
ria
da
ambiçao, mas ai , sem pre limbo. Vma
ev
idênci
a.
comudo: enorme
moderaçao cerca as represcntaçôes do futuro; esta prudência
vern
contra
dizer a
imagem
excessivamentc fogosa de
um
século cm
que
sc
daria va
zao aos apetites.
De
fato, convém nao esquecer
0
atrativo da reproduçao
e a força dos mecaoismos
que
0
corroboram. A amplitude do apadrinba
mento,
do si.
-
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462 M S17DORFS
ambiç:lo prolctâria . A hi S1 o ri:1 das singularidades temper:1 :lqu; os muclos
clados da quamificaçào, informando·n
ûs
sobre a g
-
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unOOI iS
Enlre a a
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fim do Segur/do ImPéno,
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No Belle Époqlle é em fomf/io
qll e olluceJJorel
de monitelir
Pern chan e'Jjrenlllm ll1 Jonlonho.
A expons40
dOl
priliClll esporlilJos
renOIJ3 0 modo,
j
balillnu Ilnligo,
do
exctmiio lis ''ge/eirIJl'' dos A/pel
ou dOl Pireneui.
do
highlander
de
Wavedey,
do Îndio de 1 0 prairie lA p radariaJ ou das
margens d o Messachebé suscita urna etnologia rude e povoada de fa ntas
mas. Os
s.ibios da Academia
Ce
ha e pouco depois os arque610gos d
as
as
sociaçôes ciemfficas aponta m ao
via
jante
os
traços de um passado inc
ru
s
tado na terra e sugercm miste
ri osas
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