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O gigante adormeceu?: Anlise semitica atravs do percurso gerativo de sentido
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Barbara Della Ma PESAMOSCA2
Elisa Beatriz SARTORI3
Juliana PETERMANN 4
Magnos Cassiano CASAGRANDE5
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
RESUMO:
O presente artigo desenvolve uma anlise semitica da reportagem O gigante adormeceu? publicada no jornal Zero Hora no dia 7 de julho de 2013. Para o desenvolvimento da anlise, estudamos o percurso gerativo de sentido, segundo Fiorin
(2005) em seus quatro nveis: fundamental, narrativo, discursivo e de manifestao.
Desta forma, buscamos identificar como estes nveis apresentam-se no texto e
identificar o objetivo do autor ao utilizar artifcios da linguagem (verbal e visual) na
reportagem. A polifonia e os operadores argumentativos foram as principais anlises
feitas, pois na reportagem esto presentes vrias vozes utilizadas pelo enunciador que explicitam seu posicionamento no texto.
Palavras Chave: semitica; manifestaes; percurso gerativo; zero hora;
enfraquecimento.
1. INTRODUO
As manifestaes populares por todo o pas que inicialmente surgiram para
contestar os aumentos nas tarifas de transporte pblico, so assuntos frequentes nos
1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho Estudos do Jornalismo do V SIPECOM - Seminrio Internacional de Pesquisa em Comunicao 2 Estudante de graduao. 3 semestre do curso de Jornalismo da FACOS-UFSM, email barbarapesamosca@hotmail.com. 3 Estudante de graduao. 3 semestre do curso de Jornalismo da FACOS-UFSM, email elisabsartori@gmail.com. 4 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda da FACOS-UFSM, email jupetermann@yahoo.com.br 5 Mestrando em Comunicao Miditica - UFSM. Bacharel em Comunicao Social Hab: Publicidade e Propaganda, email magnoscassiano@yahoo.com.
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meios de comunicao, assim como seu enfraquecimento. A reportagem do jornal Zero
Hora intitulada O gigante acordou?, do dia 7 de julho de 2013N 17484, trata
justamente disso: a evoluo das cinco ltimas manifestaes em Porto Alegre, com
enfoque no seu enfraquecimento.
Este artigo busca analisar a reportagem que se prope a traar o perfil das
ltimas manifestaes em Porto Alegre. O objetivo da anlise avaliar de que forma o
enunciador expe as manifestaes em Porto Alegre, bem como de que elementos ele se
utiliza para legitimar sua posio acerca das massas - utilizando falas das fontes e a
linguagem visual - que como ele diz, vm abandonando o barco.
Para tal, utilizamos o percurso gerativo de sentido proposto por Fiorin, no qual
[...] de um lado, podem-se analisar os mecanismos sintxicos e semnticos
responsveis pela produo do sentido; de outro, pode-se compreender o
discurso como objeto cultural, produzido a partir de certas condicionantes
histricas, em relao dialgica com outros textos. (Fiorin, 2005, p10).
Alm disso, o percurso gerativo de sentido torna-se uma ferramenta na medida
em que mostra de que forma um texto produzido e interpretado num processo que
segundo Fiorin (2005) vai do mais simples ao mais complexo.
Logo, tendo por base o percurso gerativo segundo Fiorin (2005), analisaremos
os quatro nveis propostos: o fundamental, o narrativo, o discursivo, e por fim, o nvel
da manifestao. Os dois primeiros nveis sero analisados sintxica e semanticamente,
j no nvel discursivo a anlise ser no plano da sintaxe, no qual iremos analisar de
forma mais profunda a polifonia. No nvel da manifestao, analisaremos a diagramao
e todos os elementos visuais presentes na reportagem.
2. METODOLOGIA
A anlise da reportagem comear pelo nvel fundamental, analisando aspectos
semnticos e sintticos. Do mesmo modo seguir com os nveis narrativo e discursivo.
No nvel da manifestao utilizaremos apenas a semntica como parte da anlise.
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NVEL SEMNTICA SINTXE
Fundamental Oposio de valores
opostos: x versus y
Afirmao de a, negao de
a, afirmao de b
Narrativo Objetos modais; objetos de
valor
Enunciados elementares (de
estado e de fazer); narrativas
mnimas; sequncia
cannica
Discursivo Tematizao e
Figurativizao
Operadores argumentativos;
Polifonia
Manifestao Anlise de objeto;
diagramao, cores,
legendas, fotos, layout.
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3. ANLISE DA REPORTAGEM O GIGANTE ADORMECEU
Como primeira anlise, fala-se do nvel fundamental. A semntica e a sintaxe
desse nvel representam a instncia inicial do percurso gerativo e procuram explicar os
nveis mais abstratos da produo, do funcionamento e da interpretao do
discurso.(FIORIN, 2005, p24). Na semntica, dois termos devem estabelecer uma
posio de ideias, essa relao de contrariedade representada pelo elemento eufrico e
disfrico, respectivamente com valorao positiva e negativa apresentadas no texto.
Segundo Fiorin (2005), euforia e disforia no so valores determinados pelo sistema
axilogo do leitor, mas esto inscritos no texto.
No texto sobre as manifestaes, temos a oposio dos valores fraqueza versus
fora, sendo o primeiro o elemento eufrico e o segundo disfrico. Isso porque, ao
longo da reportagem fica clara a tentativa do enunciado de evidenciar o
enfraquecimento dos protestos, sendo para ele a fraqueza como positiva. Passadas duas
semanas, as mobilizaes seguem, mas as massas desapareceram.
Neste caso, a fora e a fraqueza so valores que remetem ao tema manifestaes
em Porto Alegre, onde consta em um momento a fora do movimento e logo aps, seu
enfraquecimento. Esses valores so pronunciados pelo enunciador do texto.
J na anlise sinttica, temos a afirmao da fora do movimento - no texto
representado por maiores mobilizaes que o pas j viu, mas,
logo aps o autor nega a permanncia dessa fora os protestos recentes (...)
encolheram e, por fim, afirma a fraqueza dos movimentos as massas
desapareceram, configurando assim a afirmao de a, negao de a, afirmao de b.
Seguindo com a anlise, percebe-se, no nvel narrativo, a passagem de um
estado inicial para um estado final, intercalado por uma transformao. Na sintaxe desse
nvel tem-se dois tipos de enunciados: o de estado e o de fazer. Nos enunciados de
estado se estabelece uma relao de disjuno ou conjuno entre um sujeito e um
objeto. Nestes, existem duas espcies de narrativas:a de privao, caracterizada pelo
estado final conjunto e estado final disjunto e a de liquidao de uma privao com um
estado inicial disjunto e um final conjunto. No texto analisado, notamos a narrativa
mnima de liquidao de privao, pelo fato do enunciador nos apresentar um estado
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inicial com uma massa participante (evidenciando o carter forte das manifestaes)
mas, logo depois, afirmar o enfraquecimento da mesma, configurando assim um estado
inicial disjunto e um estado final conjunto, j que, no texto, o enunciador traz a fraqueza
como valor positivo eufrico. No texto, os enunciados de fazer, os quais mostram as
transformaes, os que correspondem passagem de um estado a outro aparecem de
forma gradativa, onde o enunciador enfatiza a diminuio da populao, chegando ao
estado final que o enfraquecimento total do movimento, caracterizado na reportagem
por sentenas como: Uma das maiores mobilizaes que o pas j viu / as mobilizaes
seguem mas as massas desaparecem / ser que o gigante adormeceu de novo? / as
massa abandonaram o barco gradativamente.
Os texto so narrativas complexas, em que uma srie de enunciados de fazer
e de ser (de estado) esto organizados hierarquicamente. Uma narrativa
complexa estrutura-se numa sequncia cannica que compreende quatro
fases: manipulao, competncia, performance e sano. (FIORIN, 2005,
p29)
Segundo Fiorin (2005), a manipulao acontece quando a ao de um sujeito age
sobre outro levando-o a querer ou fazer alguma coisa. Na anlise da reportagem, o autor
expe o cenrio das manifestaes, bem como seu incio, e, para isso, utiliza a voz do
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS) para explicar as
chamadas trs fases das manifestaes. Ele utiliza esses recursos sempre enfatizando a
fora do movimento como nas sentenas uma das maiores mobilizaes que o pas j
viu, o gigante acordou, multides, convocadas por diferentes perfis no Facebook
vo s ruas.
Porm, ao mesmo tempo que ele fala do despertar da populao, ele deixa a
entender que esse fenmeno passageiro, e que logo o gigante adormecer novamente,
como identificamos nas outras fases da sequncia cannica.
J na competncia, o sujeito dotado de um saber e/ou poder fazer. Esse sujeito
vai iniciar a transformao central da narrativa. No caso da reportagem, a competncia
ocorre quando o autor inicia a terceira fase do movimento e prepara o leitor para chegar
na performance, onde a mudana central da narrativa se concretiza. A competncia
marcada no texto pelas seguintes passagens: iniciou-se a partir da uma terceira fase / a
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massa abandonava o barco gradativamente. O autor utiliza o advrbio gradativamente
para dizer que as manifestaes massivas ainda no acabaram mas esto diminuindo
lentamente. O que acaba se confirmando nas sentenas que indicam a performance,
como o caso de: eles eram maioria / vida efmera / encolhimento dos protestos /
deixamos de nos envolver nas manifestaes /. Essas passagens esto inseridas nos
discursos pertencentes a outras vozes, a voz do jornal, como se estivesse participando
- indicam que as massas realmente diminuram.
A quarta fase da sequncia cannica, a sanso, na qual haveria o reconhecimento
do sujeito que operou a transformao, distribuindo-se prmios e castigos (Fiorin,
20005) no est presente na reportagem. O enunciador, na frase a volta das multides
depender do sucesso da greve, deixa em aberto a sano. Ou seja, o enunciador nos
leva a acreditar, ao longo do texto, que o movimento realmente perdeu a fora mas no
o prova, sendo assim, a confirmao da performance no chega a se concretizar.
A semntica do nvel narrativo aborda os objetos modais e objetos de valor. O
objeto modal aquele necessrio para a obteno de outro objeto. Na reportagem
analisada, o objeto modal a populao presente nas manifestaes J o objeto de valor
aquele cuja obteno o fim ltimo de um sujeito, o que, no caso da reportagem, est
representado como a diminuio da populao nas manifestaes.
Em um texto, possvel identificar vozes de outras pessoas opinando,
argumentando e servindo de base para o fundamento textual, sendo manuseadas para
mascarar o dizer do prprio enunciador. Com base nisso, e na anlise discursiva, pode-
se dizer que um texto nunca imparcial, neutro. O jornalista, na maioria das vezes
utiliza suas convices e preconceitos na hora de redigir um texto, isso todos temos.
(...) o pecado tico do jornalista, em suma, falsear a sua relao com os fatos, tornando
parte na impostura da neutralidade. (BUCCI, 2000, p38).
O enunciador da reportagem utiliza marcadores que introduzem sua opinio de
forma velada, que se manifestam atravs de operadores argumentativos e dos ndices de
polifonia, usando a voz de outras pessoas para expressar o que ele pretende dizer como
forma argumentativa. Ambos conceitos analisados na sintaxe so trazidos por Koch
(1995).
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Os operadores argumentativos, que tm por funo indicar (mostrar) a fora
argumentativa dos enunciados, a direo (sentido) para o qual apontam. (KOCH, 1995,
p.30), so divididos em classe argumentativa e escala argumentativa, segundo Ducrot
(1984)
A classe argumentativa constituda de um conjunto de enunciados que podem
igualmente servir de argumento para uma mesma concluso (que por conveno se
denomina R). (DUCROT, 1984). Sempre procurando levar o interlocutor a concluir R.
Quando essa classe argumentativa se apresenta em forma crescente, como o
caso do trecho da reportagem:
encolhimento dos protestos - concluso R
+ (argumento mais forte)
->desiluso ao encontrar partidos e organizaes polticas nas
ruas
->confronto com a polcia e depredaes assustaram a
populao
->reduo das tarifas de nibus, rejeio PEC 37, e medidas
tomadas pelas autoridades (essas aes eram revindiaes da
populao nos protestos).
- (argumento mais fraco)
temos uma escala argumentativa crescente que vai ao encontro de uma mesma
concluso. Ou seja, todos os argumentos desse trecho levam mesma concluso R ,
porm, uns so mais fortes (maior poder de persuaso) e outros mais fracos. Os
argumentos apresentados so separados pelo e, que um indicador de soma de
argumentos, fazendo com que os argumentos faam parte de uma mesma classe
argumentativa.
O primeiro argumento tende a ser o mais forte. No caso da reportagem, o fato
das organizaes polticas voltarem ao comando das manifestaes fez com que a
populao fosse abandonando o barco. Portanto, o enunciador afirma ser essa a
principal causa do encolhimento dos protestos.
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Outro aspecto importante para a anlise so os ndices de polifonia, que
possibilitam que encontramos diferentes vozes que permeiam e constituem o texto.
O termo polifonia designa o fenmeno pelo qual, num mesmo
texto, se fazem ouvir vozes que falam de perspectivas ou de pontos de vista diferentes com as quais o locutor se identifica ou
no. Existem determinadas formas lingusticas que funcionam
como ndices, no texto, da presena de outra voz (KOCH, 1995, p63)
Outra anlise sinttica oportuna ao texto a dos operadores que contrapem
argumentos orientados para concluses contrrias. Ou seja, o autor coloca em seu
discurso um argumento possvel para uma concluso R (argumento p). O argumento p
sempre atribudo a uma outra voz, qual se reconhece uma certa legibilidade(KOCH,
1995, p63). Em seguida o contrapem (p) com um argumento decisivo para uma
concluso contrria a R (concluso no -R ou ~R). Esse argumento q mais forte e
levar a uma concluso oposta. .
Operadores que pertencem ao grupo do MAS: se reconhece legitimidade a voz como um argumento possvel para a concluso, mas qual se ope
um argumento prprio, mais forte, que deve levar a concluso oposta
(Ducrot, 1984)
Na reportagem, temos o seguinte esquema de contra-argumento:
R - resultou em manifestao de esquerda, menos massiva.
p- na primeira fase o movimento formado por organizaes polticas e grupos
anarquistas
MAS
~R - e multides vo s ruas para manifestar
q - mas na segunda fase manifestantes mostram hostilidade aos partidos
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O locutor introduz em seu discurso um argumento possvel para uma concluso
R; Logo em seguida, ope-lhe um argumento decisivo para a concluso contrria no-
R. (KOCH, 1995, p36). Logo, a possvel concluso derrubada quando o contra-
argumento (que possui o operador MAS) fala que os manifestantes passam a hostilizar
as organizaes polticas presentes nos protestos, ocasionando um aumento significativo
de manifestantes, portanto, opondo a manifestao menos massiva com a manifestao
das multides (concluso final). Entretanto, isso novamente derrubado quando
analisamos o segundo esquema que apresenta o operador NO ENTANTO, que equivale
ao MAS (operador de oposio):
R - e multides vo s ruas para manifestar
p - na segunda fase manifestantes mostram hostilidade aos partidos
NO ENTANTO
~R -h um encolhimento da populao
q - na terceira fase os partidos reassumem a organizao
Uma outra oportuna anlise sinttica da reportagem o uso de travesso, que se
enquadraria na anlise do uso de aspas de Koch.
O uso de aspas frequentemente um modo de manter distncia do que se diz,
colocando-o na boca de outros. (KOCH, 1995, p65). Isso percebido quando o
enunciador da reportagem utiliza a voz de um professor da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) que tem sua pesquisa voltada para as manifestaes
sociais e a voz de uma advogada fundadora de grupo participante das manifestaes
massivas. Ele utiliza essas citaes como forma de opinar sem usar suas prprias
palavras. Ou seja, para legitimar suas prprias convices.
(...) no h texto neutro, objetivo, imparcial. Os ndices de subjetividade se
introjetam no discurso permitindo que se capte a sua orientao
argumentativa.(KOCH, 1995, p65). Para exemplificar, temos as sentenas: Virou pop
(citao do professor) / Ningum consegue manter uma mobilizao de massa por muito
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tempo (citao do professor) / Deixamos de nos envolver nas manifestaes por causa
da violncia (citao da advogada).
A semntica discursiva, segundo Koch (1995), tem como componentes de
anlise os temas e as figuras. Os temas so os valores abstratos gerais do discurso. A
tematizao iniciada pela identificao dos traos semnticos pertinentes ao discurso.
Da reportagem analisada possvel achar o tema terceira fase das manifestaes.
As figuras so as especificidades e particularidades do discurso. O autor da
reportagem opta pelas seguintes figuras para representar o tema proposto acima:
abandonava o barco / encolhimento dos protestos / se desligaram das manifestaes /
vida efmera. Nessa figurativizao o enunciador escolhe as figuras de acordo com seu
discurso, carregando-as de significaes e conceitos pr-selecionados.
Na anlise da manifestao, segundo Fiorin (2005) a unio de um plano de
contedo com um plano de expresso. Ou seja, O sentido do texto no redutvel
soma dos sentidos das palavras que o compe nem dos enunciados em que os vocbulos
se encadeiam, mas que decorre de uma articulao dos elementos que o formam.
(Fiorin, 2005, p44)
A imagem, portanto, possui uma relao de complemento com o texto e no
uma estrutura isolada, o texto verbal e visual se complementam.
Segundo Barthes (1990), existe um paradoxo quando se fala de um texto
visual. Esse paradoxo se constitui na existncia de duas imagens: uma sem cdigo
(denotativa) e outra codificada (conotativa). Embora a foto (principalmente a foto
jornalstica) seja uma reproduo do real, analisamos as imagens da reportagem como
codificadas, tendo em vista que a manipulao da imagem tem um longo percurso, que
vai desde o ponto de vista ideolgico de quem vai registrar a cena, acarretando com
isso, a escolha do ngulo, a posio dos objetos, do cenrio, at a manipulao da
imagem na edio, para se chegar a mensagem exata que se quer passar.
Na reportagem, faz-se um jogo com trs imagens, as duas primeiras retratam a
presena de uma grande massa com cartazes que reivindicam desde a reduo da tarifa
at o combate corrupo, como o autor ratifica da legenda. J na terceira imagem,
percebemos uma tentativa de enquadramento que busca demonstrar o enfraquecimento
das manifestaes, fato que fica claro ao observarmos a imagem: o ngulo escolhido
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pelo fotgrafo foi justamente onde estavam menos pessoas, onde as massas estavam
dispersas, pois se olharmos esquerda, identificamos um nmero bem maior de
pessoas. Outros elementos somam-se a imagem para dar sentido ao texto, no caso da
reportagem, as legendas, a diagramao, e o protestmetro (espcie de termmetro que
mais uma vez refora o abandono das massas nos protestos) aparecem de forma
interligada. Segundo Kress e van Leeuwen (1996) as imagens objetivas so imagens
tcnicas e cientficas, como diagramas, mapas e esquemas, que codificam uma atitude
objetiva em relao imagem. Logo, o protestmetro uma imagem objetiva e, na
reportagem, central que serve para ligar e relacionar as fotos e as legendas. O
protestmetro aparece como forma de termmetro numa gradao que passa pelo
vermelho, laranja e por fim o azul, dando a entender o esfriamento das manifestaes.
O termmetro se liga aos outros elementos atravs de flechas que contm nmeros,
indicando as respectivas legendas. Cada legenda tem um ttulo e iniciada por termos
em negrito que se relacionam com as flechas e seus respectivos nmeros e datas,
contabilizando cinco, como mostra a tabela seguinte:
Elementos Legenda 1 Legenda 2 Legenda 3 Legenda 4 Legenda 5
Ttulo
O comeo Uma grande
multido
O protesto
do caminho
de som
O bloco de
luta no
comando
Mobilizao
menor
Termo
grifado
Uma grande Uma
multido
Dois
protestos
O protesto J com
Nmero de
pessoas
10 a 15 mil 15 a 20 mil 10 mil 5 mil 500
Data 17 de junho 20 de junho 24 de junho 27 de junho 4 de julho
Portanto, atravs da anlise dos textos no verbais, que possibilita uma
visualizao dos aspectos subjetivos do texto, notamos que houve uma estratgia em
relao a diagramao, para que todos os elementos visuais estivessem relacionados e
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ratificassem a opinio do autor no texto: o adormecimento do gigante devido a
diminuio do apoio popular.
4. CONSIDERAES FINAIS
Analisando o percurso gerativo de sentido de Fiorin (2005), destacamos que
todas as estratgias, tanto do texto verbal como do visual, contribuem para que o
enunciador tente se afastar das opinies, no caso, dadas pelas suas fontes, fazendo com
que parea imparcial perante os fatos. Dentre os recursos utilizados cabe ressaltar,
principalmente, os operadores argumentativos e a polifonia do nvel discursivo, assim
como as estratgias usadas no nvel da manifestao, que buscam relacionar todos os
elementos visuais entre si, alm de reforar a opinio do autor do texto sobre os
protestos.
Koch diz que no h texto neutro, objetivo e imparcial. A subjetividade se
coloca no discurso e permite que a sua orientao argumentativa seja captada. A
neutralidade que se busca em alguns discursos apenas uma fuga, uma forma de
representao teatral, fazendo com que o enunciador se represente como neutro e sem
se comprometer com o contedo apresentado.
Na anlise do nvel fundamental, quando opomos os valores fora versus
fraqueza, encontramos a fraqueza como valor eufrico. Ou seja, o autor conduz o texto
para que a fraqueza seja o valor positivo.
Isso visto no nvel da narrativa, onde temos uma narrativa mnima de
liquidao de privao, onde passamos da disjuno (negativo para o autor) de fora
para o conjuno da fraqueza. Alm disso, isso se concretiza no nvel discursivo, onde
as formas abstratas do nvel narrativo so revestidas de termos que lhe do
concretude. (FIORIN, 2005, p41). Logo, a conjuno com a fraqueza vai se consolidar
no nvel discursivo atravs da argumentao e da polifonia.
Portanto, atravs da anlise do percurso gerativo de sentido proposto por Fiorin
na reportagem O gigante acordou, comprovamos que desde o nvel fundamental, at o
da manifestao, podemos notar a ntida tentativa do enunciador de provar o
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enfraquecimento dos protestos, mesmo que no final, na fase da sanso, ele no
comprove esse fato, deixando o futuro das manifestaes em aberto.
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5. REFERNCIAS
BUCCI, Eugnio. Sobre tica e imprensa. So Paulo: Companhia das Letras, 2000
DUCROT, Oswald. Les chellesargumentativs.Paris: Minuit, 1980
FIORIN, Jos Luiz. Elementos do discurso. So Paulo: Contexto, 2005
KOCH, Ingedore. A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1995.
KRESS, G. e VAN LEEUWEN, T. 1996.Reading images: the grammar of the design
visual. London, Routledge.
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