deambulac a o pela arte como coisa pu bl
Post on 24-Feb-2018
216 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
1/23
4 3
A walk across the city, determined by the idea of
ambulation. One stimulated by the notion that art can
be a publicthing.Res publica. Looking around leads to
the analysis of a sequence of urban moments. A set of
tensions appears, as made visible by each work of art.
What appears by means of this mosaic of impressions
is the idea that the urban form is a territory to becontinuously appropriated. Such is the concept which lies
in the core of an ethically responsible citizenship.
Keywords
Public Art, Urban Art, Street, City, Ambulation.
O olhar como saber
A partir du moment o luvre est vue, cest-
-dire o sa prsence sest fait sentir, si elle
existe vraiment avec ce qui lentoure, alo-
rs lendroit nest plus invisible. Ds lors, saralit est modifie. Et ceci est plus effectif
lorsque luvre nest pas reconnue comme
une uvre dart, lorsquelle nest pas disso-
cie comme une forme sur un fond.
Catherine Grout
O presente texto evoca um percurso pelacidade. Uma deambulao simula um pas-
seio, constituindo a sua memria ficciona-lizada, ao mesmo tempo que sintetiza as-pectos essenciais da minha reflexo dosltimos anos acerca da relao entre a artee a cidade. por assim dizer uma viagem vol doiseau por contedos da obraArtena Cidade Histria Contempornea (Crcu-lo de Leitores/Temas e Debates, 2014), aquiactualizados por impresses recentes, con-
forme as vou situando no meu quotidiano.
Ao final assumo uma intuio:A arte pblicaest na maneira de olhar. Saber olhar a cida-de e nesta a arte (e vice-versa) aqui a con-dio sine qua non para poder produzir-seo acontecimento urbano, que vejo como o
Deambulao pela Arte (como Coisa) Pblica
p o r M r i o C a e i r o
Professor na ESAD das Caldas da Rainha, Investigador e Curador.
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
2/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
3/23
45
ttica; entre obras que fazem parte da pai-
sagem do dia-a-dia (quer queiramos quer
no) e outras que vo delicada- e quase in-
visivelmente criando uma sensibilidade cr-
tica abaixo do radar (mas perfeitamente in-
tegradas movimento global,) procuro que
a minha e nossa conscincia dos lugares e
das pessoas encontre na criao artstica
um espelho que abra possibilidades re-
presentao de mais do que apenas o gos-
to (de alguns). Mesmo quando tal espelho
parece quebrado, o que vejo so em todo
o caso fascinantes impermanncias de uma
espcie de sentido de totalidade, no mbi-
to do qual a arte subsiste como campo de
encontros vitais.
Proponho-me em suma, ao evocar o que
vejo por a (e o que na sombra desse olhar
me ocorre) revisitar alguns caminhos essen-
ciais da arte contempornea que manifesta
o seu interesse pela cidade, investigando o
seu papel comunicacional na actualidade5
urbana. As obras de que falarei so como
que figuras de uma famlia, seno de umagenealogia que assim homenageio, mesmo
sem a querer ou saber nomear. Aqui entre
ns, reconheceremos os nossos ou no
fosse funo essencial da arte na cidade
afirmar-se a si prpria e sua comunidade
sempremergente, at porque s assim con-
tribui para essa outra e maior obra de arte
que a prpria cidade.
Ricardo Campos, num quadro de ideias que
engloba decisivamente a de um urbanismo
vertical,complementa:
Actualmente, as imagens e os dispositivos
visuais desempenham funes muito diver-
sificadas, sendo apropriados por distintas
entidades e grupos sociais como mecanis-
mos fundamentais para a aco. A publi-
cidade que toma o espao pblico, a vi-
deovigilncia sob o controlo do Estado, as
gramticas subversivas representadas pelos
graffiti e pelastreet artou os estilos juvenis
urbanos, so, entre muitos outros exemplos,
fenmenos que nos demonstram a crucial
relevncia de um estudo mais detalhado
das prticas e das estratgias engendradas
pelos diferentes actores nestas operaes
que buscam adquirir visibilidade no espa-
o pblico urbano, intervindo na ecologia
visual urbana.6
Mensagens (na garrafa)
Mostly, I believe an artist doesnt create
something, but is there to sort through, to
show, to point out what already exists, to
put into form and sometimes reformulate it.
Annette Messager
Saldanha. So duas, talvez trs da manh.
Mas a cena surge-nos a qualquer hora dodia, em muitos lugares de Lisboa. Em cima
de um caixote do lixo, uma garrafa de cer-
veja e uma lata de Monster, foram coloca-
dos, metodicamente arrumados, como que
num plinto. Porque que no foram sim-
plesmente atirados para o cho ou,j ago-
ra,para o interior do caixote do lixo? Que
fenmenos da aco corrente e da comuni-
cao interpessoal esto ali em causa, nestaespcie de assemblageou de impromptu?
Quando passo, posso fingir que isto no
me afecta nem ao meu mundo, como se
no fosse comigo.Ou posso achar que tal
espcie de nano-performance da ordem
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
4/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
5/23
47
cia mais premente das nossas capacidades
performativas.(Campos, 2011)
Invisvel paisagem, monumento
invisvel
But by returning to monuments some me-
mory of their own origins, by drawing back
into view the memorial-making process, we
invigorate the very idea of the monument,
thereby reminding all such cultural artifac-
ts of their coming into being, their essential
constructedness.
James E. Young
Passo o El Corte Ingls com sua incontor-
nvel escala de referncia urbana e suboao jardim do Parque Eduardo VII. A sereni-dade do momento seleciona claramente oseu auditrio (uma maneira de estar, em se-renidade e silncio) e, no sendo arte emsentido estrito, a viso de Ribeiro Telles7 ogrande mentor ideolgico de toda uma po-
ltica da paisagem(Aurora Carapinha) de-senrola-se claramente como um assertivo
artifcio para criar uma disposio naturalpara um certo pblico ficar por ali, em paz.
O pequeno episdio desta estrutura verde,o facto de se constituir como um ambien-te pblico amigvel rplica localizada daviso sistmica que Ribeiro Telles tem ofe-recido Cidade mostra que a haver uma ou a arte pblica, ela assenta um dos
seus pilares num participar cidado na pai-sagem. Numa co-responsabilizao viven-ciada do sistema ambiental, j que napaisagem que somos convocados na pleni-tude dos sentidos: Trata-se de uma peculiarforma de apreender as coisas naturais, que,
justamente, enquanto forma, reside no esp-
rito e no nas coisas, no um dado em-si,
mas implica um para-si. (Serro, 2011)
No entanto, se ser no fazer colectivo dapaisagem que nos podemos realizar so-cialmente, nem todas as sensescapes (Lan-dry, 2012) funcionam como um osis namalha urbana. E a so raras as obras queempreendem uma notvel conquista da ci-dade para o simples estar; o caso, ocor-re-me, do Jardim das Ondas8de FernandaFragateiro, na Lisboa Oriental. Que ento,s a uma segunda ou a uma terceira leitu-ras, para alm do mero estar e apreciar, co-mea a dizer mais ao que vem, quando j
percepcionada como obra de arte
Mas eis que na minha deriva paisagsticame deparo com um estranho aglomeradohorizontal de pedras brancas e polidas estranha configurao geomtrica para aqual no vislumbro uma funo evidente.Ah! um ()monumento(). Assinala os 25anos da Associao 25 de Abril. Mas a inter-
veno contraria as mais bvias caracters-ticas de um monumento: no se ergue nasalturas para se arvorar em marco (visual),no se reconhece qualquer rosto (de figurahistrica), no estabelece sequer uma dis-tncia de venerao (antes pelo contrrio,funciona como mobilirio urbano, ou coi-sa parecida) na verdade, a formalizaodesta espcie de memorial quase contra-
-visual (no sentido debordiano). Ora pre-cisamente nessa opo formal que se tornaadequada aos seus objectivos (que entre-tanto pesquisei): uma homenagem sens-vel a um processo colectivo extraordinrio,cujos principais protagonistas nunca procu-raram a glria pessoal.
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
6/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
7/23
49
numento com que Charles Chaplin abre ofilme Luzes da Cidade (1931). A arte pblicaexiste sempre em funo do que cada po-ca lhe exige. Mas noutra dimenso ainda, enuma nota muito pessoal, a interveno deSrgio Vicente tambm uma rplica comluva de calcrio hubris ertico-monu-mental de Jos Cutileiro ali to perto, entreas monumentais colinas do Parque EduardoVII. A sua celebrao do 25, com todas asmarcas da autoria (o estilo celebrizado peloescultor), com efeito uma efervescnciaurbana efusivamente ps-modernista.10 Noto invisvel quanto isso (at pela orientaovertical), iluminada por projectores de luz
colorida, a obra consegue at conferir a umpasseio nocturno um momento de evasouma fantasia ertica que qui interrompe,nos olhos das geraes actuais, o que pare-ce serem os reflexos de uma total indiferen-a perante o passado.
Em suma, no se tratando ainda de umcontramonumento ( la Jochen Gerz), a
escultura pseudo-minimal de Srgio Vicen-te, qual discreta mnemnica que nos remetepara um aspecto preciso do processo hist-rico, representa um modo de a arte integrara cidade que j plenamente consciente dafenomenologia dos seus usos quotidianos.O trabalho assumidamente um desenho(do) urbano como totalidade experienci-vel: Srgio Vicente, escultor e docente que
orientou o projecto, explicou ao JN que a pa-lavra s conseguir ser lida do ar, pelo queo mais provvel que, quem por ali passe,a utilize como zona de estadia.11 portantouma interveno no tecido urbano perfei-tamente capacitada de que, como j diziaLewis Mumford nos anos 30, a noo de um
monumento moderno uma contradio determos.Assim supera vrios impasses pre-cisamente porque radica a eficcia do seuanacronismo numa estratgica (in)visibili-dade, expresso de extrema modstia derecursos, adicionalmente impedindo que amemria colectiva seja naturalizada.
Pinturas outras, outras esculturas
bonita a ideia de uma imagem urbana.Dito isto, considero que a imagem no uma caracterstica estritamente individual, oque demarca uma grande diferena entre aminha perspectiva e a de outros socilogose antroplogos, que permanecem obceca-
dos por uma concepo bastante individual,ou at mesmo individualista, da imagem.Michel Maffesoli
Estar vs. andar. Ficarmo-nos passivos vs.agir. A cultura do graffiti tem na sua origeme na sua tradio esta ideia de o gesto ar-tstico conquistar territrio, de ocupar a pai-sagem. Mas ao contrrio do monumento
(mais ou menos tradicional), aceita e pro-move o efmero, o circunstancial, a comu-nicao urgente de realidades sociais quede outra forma seriam desconhecidas daesfera pblica. Algumas imagens do graf-fiti tm alis um indelvel poder evocativo(que lhes vem na verdade de mais do queapenas do facto de serem facebookveis,instagramveis, ou twittveis.
Quando deso das Amoreiras a caminho doRato o que me sobra do mais belo dos gra-ffitis no mais que a memria remota des-te POOW!! BOOM!Assim rezava a pare-de, tirando partido de um acidente viriocontra um muro para criar uma efmera afir-
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
8/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
9/23
51
to instrumental ao nvel do desenho da ci-
dade), mas o essencial que, no mbito da
arte-como-coisa-pblica, o artista e os agen-
tes sua volta entendam que a recepo por
parte do pblico aspecto essencial do seu
trabalho. Com a agravante de que se tra-
ta na maioria das vezes de um pblico que
tem mais do que fazerdo que apreciar arte
ou aderir ao que poder muito bem ser en-
tendido como uma absolutamente suprflua
apario do esttico no seu quotidiano.
Claro que, neste brao de ferro com a dis-
ponibilidade do pblico, o vernacular pode
ser a gazua para estabelecer com esse p-
blico um dilogo que ento nasce, quandoa obra rica de possibilidades interpreta-
tivas. Estou a pensar noutra obra de arte
esta existindo inequivocamente enquan-
to tal ,Portugal a Banhos(2010), de Joana
Vasconcelos, que esteve uma temporada
no Terreiro do Pao13. A pea sintetiza in-
meras complexidades (e perplexidades)
sobre Portugal, precisamente no contexto
mais adequado possvel (Portugal-feito-pis-cina--venda-no-Terreiro-do-Pao, praa das
praas no que diz respeito identidade na-
cional, em condies ideais de visibilidade
para potenciais compradores).
Vasconcelos representa uma atitude entre o
lrico e o crtico (entre a cumplicidade e a in-
teractividade) que, se formos alm de uma
anlise das suas peas meramente comoestratgias de apropriao do imaginrio
colectivo e de marketing autopromocional,
funcionam no meio urbano como legtimas
presentificaesde debates culturais que se
resolvem precisamente na participao opi-
nativa do pblico, desde logo e por vezes
Joana Vasconcelos,Portugal a Banhos, Lisboa, 2010.
Fotografia de Miguel Malaquias. In https://www.flickr.com/photos/
miguelmalaquias/5176606374
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
10/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
11/23
53
Os eventos de VICENTE so assim quase
sempre exemplarmente pblicos decor-
rendo na rua , e escala de uma pequena
travessa l vamos fazendo pela posteridade
de So Vicente mas tambm qual labora-
trio para se experimentar o (im)possvel
elaborando um discurso tangvel acer-
ca das possibilidades da cidadania criativa
(no caso, antes do mais, a de uma entida-
de privada que partilha no espao pbli-
co uma estratgia local de regenerao do
tecido e da oferta culturais). Em duas pala-
vras, humildade e ambio em doses idn-
ticas pode permitir a um conceito, como a
uma obra, estabelecer com os cidados um
acordo: vamos pensar o impossivelmentegrandeatravs dopossivelmente pequeno.
Na prtica, fao questo que no VICENTE
pequeno carrinho de linhas no meio das
rodas dentadas gigantes que se encon-
tram em volta (patrimnio edificado, insti-
tuies e equipamentos culturais) a arte
aparea como coisa natural da matria ur-
bana, isto , como uma recodificao do es-tvel e do conhecido, e at do expectvel,
mais ou menos inusitada conforme o mbi-
to de cada conceito tratado. A propsito da
irreverncia deste tipo de projectos, que se
abre a umaperformticado urbano, o histo-
riador Jos Sarmento de Matos encontrou
um termo para dizer o que esta arte faz ci-
dade:a batida do desassossego.
Na oportunidade especfica criada pelo VI-
CENTE (o projecto teve a origem no desejo,
por parte do seu patrono, de voltar a falar-
-se dos Corvos de Lisboa), procuro que
a performatividade de um mrtir cristo do
sc. IV pudesse entrar em dilogo com a da
criao e da cidadania dos nossos dias. O
resultado mais 1:1 deste desejo a instala-
o dando lugar ao corpo-a-corpo do tea-
tro foi a dada altura um conjunto de irreve-
rentes performances passeios pela cidade
pelo performer polaco Krzysztof Leon
Dziemaszkiewicz que levei a atravessar a
cidade durante trs dias sucessivos interpe-
lando todas as suas potenciais vtimas.
Entre senhoras idosas de um bairro popu-
lar e os alt skaters Praa da Figueira, o que
o pblico viu foi a recodificao (Flusser,
2007) dos trajes e dos atributos do Santo
(dimenso eminentemente visual), consti-
tuindo o conjunto dos percursos uma viasacra individual capaz de desafiar os ven-
dilhes da sociedade do espectculo. Um
dos figurinos que Leon realizou integral-
mente em Portugal, durante uma escassa
tarde de corte e costura, foi por exemplo
uma dalmtica de Vicente, feita de sacos
do Pingo Doce.
Este tipo de aco urbana da ordem doque Thierry Davila chama de cineplstica.14
Isto , o artista, j no meroperformer, tor-
na-se por essncia mvel e as suas pere-
grinaes o fundamento para novas rea-
lizaes, num quadro operativo15. Mais, a
cidade, vasto processo, conjunto de veloci-
dades (Davila), como que sepedonaliza.
O texto como potica, o rabisco ariscoText Art is no longer defended as a special
case, nor has it been completely incorpora-
ted into the institutions of art. Rather, its value
and potential is acknowledged by a wide
spectrum of contemporary artists who freely
combine the use of text with performance,
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
12/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
13/23
55
Outra obra absolutamente singular que te-
nho tido a oportunidade de acompanhar
a de Stefan Kornacki. Kornacki tem salva-
do monumentais letteringsda destruio17,
conseguindo nos ltimos anos construir
um quase absurdo lxico de palavras que
outrora encimaram importantes edifcios
(no caso, na Polnia comunista): KOSMOS,
UNIWERSAM, VICTORIA
Neste trabalho sobre a runa (tambm da
ideologia, de qualquer uma) h ao mesmo
tempo um enorme respeito pela histria e
os processos de recontextualizao da lei-
tura (j que todas as obras, autnticos rea-
dy-madesurbanos so acompanhadas decuidada documentao participativa [en-
trevistas, documentrios] no apenas sobre
o que essas palavras significam [digamos
que em absoluto] mas tambm para quem
e quando). Por outras palavras (!), h uma
espcie de traduo de um termo urbano
concreto (uma sinaltica historicamente si-
tuada) para outras pocas e situaes18.
Alis, podemos hoje literalmente tocar aspalavras que outrora estavam l em cima.
Agora, c em baixo, num lugar que que o
artista escolhe, a sua transparncia e poder
so completamente reconfigurados. E a sua
fragilidade exposta.
Esta questo entronca num aspecto do pr-
prio discurso que muitos artistas tomam por
adquirido. A lngua. Neste aspecto, Janu-rio tem sido precioso na inscrio criteriosa
dos seus textos, que so verdadeiros dilo-
gos da psique colectiva com a superfcie da
cidade e, mais globalmente, o momentum
cultural da sua recepo (em Guimares,
para a Capital da Cultura, chega a espetar
uma faca nas costas [da esttua] de Afonso
Henriques e a celebrar [o enterro de Por-
tugal] com um caixo com a forma do dito
[limites continentais].) Em Lisboa, procu-
rar por a mas dou uma dica: debaixo da
ponte, junto Embaixada dos Estados Uni-
dos da Amrica, a Sete Rios.
A sua continuada relao com o texto ver-
nacular (lngua portuguesa vs. inglesa con-
forme a situao a criar, cartazes impressos
ou tinta negra directamente aplicada s su-
perfcies, uma tipografia universal) contrasta
com a quase ingerncia no espao pblico
discursivo que foi a recente interveno em
Lisboa de Tim Etchells19, com frases (em in-gls), evidentemente sobre Arte, numa tipo-
grafia relativamente requintada:Art Matters.
Ora No tarde nem cedo ter pensa-
do o/a vndalo/a que rabiscou vrias des-
sas inscries com deliciosos (ou pernicio-
sos) comentrios, do tipo: [Art that hurts] ?
DOI? ESTUDASSES!.20
A cidade da arte isto, mais do que a obradeste ou o comentrio daquele, e indepen-
dentemente dos graus de violncia dos de-
bates, a cidade este dilogo, ora pbli-
co ora secreto, que umas vezes se fica pela
mente do colectivo, outras surge no esplen-
dor de incompreenses que revelam por
sua vez que, sem retrica o poder-se e sa-
ber-se falar sobre aquilo que vale a pena a
arte pblica aparece como uma actividadecriativa dolorosamente desprezvel.
Resta aqui acrescentar que tambm um cer-
to gesto pode ser puro texto, como o prova
a rebelde escultura de Maurizio Cattelan em
frente Bolsa de Milo21, o famoso Il Det-
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
14/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
15/23
57
exigir-lhe essa outra funo mais complexa,que seria a de mudar o mundo (parece queestou a ouvir Almada Negreiros, na Estaode Metropolitano do Saldanha).
No estou a dizer que seja sequer o mo-mento e aqui entre ns, nunca ser para discutir a questo da arte pela arte vs.da arte como poltica; mas que o trabalhode Farto(s) e Janurio(s) do lado da comu-nicao urbana e depois de outros agentesde mudana mais discretos (essa arte comu-nitria de longa durao que no encaixa naagenda meditica nem convm s narrati-vas hegemnicas) est a reconfigurar a nos-
sa ideia de arte urbana, isso est. Porquevo tocando nos pontos,fazendo ao mesmotempoarte e a pedagogia dos possveis daarte enquanto ligao com o social. Tendema ser mediao (Debray, 1997) ao nvel deum superior entendimento do que a cida-de como palco de pessoas e ideias.
Rememorar processos, criar lembranas
Dans la gestion des signes urbains, quilssagissent de signes traduits dans lespace
ou de signes changs entre les spcialis-
tes, la logique sociale de la prise de dcision
veut que celle-ci se fasse en dehors de tout
dterminisme conscutif une quelconque
dialectique des rapports de force ou din-
fluence.
Franois Sguret
Enquanto agente de interpelaes urba-nas, percorrer a cidade para mim reco-nhecer stios potenciais para a realizaode intervenes; o que passa por encontrarpretextos e oportunidades para criar acon-tecimentos ou aliar-me a dinmicas de co-
-criao ou mudana onde quer que elaspossam aparecer. preciso estar atento eestimular a sensibilidade, sobretudo numaaltura em que novas vises do urbanismocomeam a fazer das suas. Por outro lado, evidente que temos dificuldade em ima-ginar que o Projecto Urbano possa ser uma
montagem e uma mobilizao de recursos
pelos prprios habitantes (Claude, 2000)mais fundamentalmente, esquecemo-nosde que a forma deveria seguir a fico(Sguret, 2000).
Em todo o caso, prospectivas parte, atra-vessar a cidade tambm um exerccio de
rememorao; rememorar memorveis ac-es que o tempo se vai encarregando deapagar progressivamente um exercciofundamental da cidadania e deveria ser umvalor inalienvel da experincia do pblico.As instalaes e a implantao urbansticada Luzboa (2004 e 2006) por exemplo, ho--de diluir-se no nada do tempo, mas comoque ainda ressoam na memria de alguns
lisboetas (e at estrangeiros que por c an-daram na altura). O essencial que a expe-rincia esttica de uma determinada gera-o possa encontrar formas e se traduzirpara novos desafios, j que se o contextomuda, no muda (pelo menos para j!) algode essencial, o problema de criamos senti-do para a nossa vida.
A este nvel, certos experimentos urbanosso potencialmente alimentadores dos so-nhos de novas geraes de criadores. As-sim aconteceu comigo anos atrs, quandoao fazer a Lisboa Capital do Nada (2001) es-tava no fundo ainda a reacender as cinzasmornas de experimentos como a Alterna-
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
16/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
17/23
59
dos seus processos (e na frontalidade comque lida com as modalidades, como diriaWagner), mas ao mesmo tempo na capaci-dade de dizer o imediato da cidade no aquie agora dos seus dispositivos. Regressomais uma vez Luzboa para dar um par deexemplos: tivmos uma empresa de men-digos (Javier Nes Gasco), a lua na terra(Bruno Peinado) e at elctricos na alturabem menos photo-opportunities que hoje iluminados (Yann Kersal). O que mostracomo os artistas trabalham os limites de to-das as (des)codificaes, sobretudo quan-do assumem um desgnio: o de manifesta-rem a graa social, implcita no idear mais
nobre e profundo da Cidade.
Cabe arte pblica crtica (aproprio-me dotermo cunhado por Krzysztof Wodiczko), sa-ber ora diluir-se tacticamente entre o espec-tculo e a provocao, ora aderir ao belopara celebrar o Social Humano, ou ainda, fi-nalmente, procurar um compromisso com odesconhecido, em total entrega ao impon-
dervel (algo que no d l muito jeito sindstrias criativas). esta gramtica fun-damental que subjaz ao discurso sempre-mergente que faz da cidade um palco paraa visibilidade do que urge comunicar-se eum tabuleiro de xadrez (dispositivo), sobreo qual se joga supremo ludismo a nossaformao a Bildunga que se refere Schillernas suas Cartas sobre a educao esttica
do homem(de 1795).
Plano do poder cidado, cenrio de so-nhos, discurso exploratrio da utopia, aarte pblica transforma a cidade num ve-culo para todas as sensibilidades se senti-rem mais prximas do seu prprio destino.
A arte pblica torna tangvel a comunidadee, nela, a participao (nomeadamente ado povo no seu prprio destino). Antes detudo mais, ela promove a conversao. Ela nos seus mais surpreendentes momentosa orquestrao criativa de encontros colabo-
rativos e conversaes, bem para alm dos
confinamentos institucionais da galeria ou
do museu (Kester, 2004) A obra de arte totalque a arte na cidade Wagner, I wish youwere here em suma um factor de produ-o de imaginao colectiva e de activaoinstrumental dos mecanismos urbanos. Ela por isso sempre do futuro.Precisamen-te como Richard Wagner antecipou no seu
ensaio de 1849.
Em suma: a arte da cidade comea numolhar sobre a coisa urbana, a cidade na suaquotidianeidade e na sua multidimensiona-lidade (conceitos lefebvrianos). A, formas,usos, cdigos, imagens, paisagens, quais-quer pretextos servem para inspirar umaconscincia que cuida do que na cidade
queremos preservar, mudar e/ou proble-matizar. tica portanto, que diz muito damaturidade de cada comunidade. E que serealiza o que raro, seno rarssimo ,quando radicalmente interpretada comouma fuso da arte com osocius, que o queacontece em projectos de esttica dialgica(Kester, 2004) como os de Stephen Willats,que encara o seu trabalho como aproduo
de cultura socialmente interactiva.22
Dito isto, quando o/caro leitor/a passar pelaAv. Infante Santo (agora no me d jeito),d valor aos azulejos de Maria Keil (figura-o da maior qualidade) mas tambm aospainis abstractos de Eduardo Nery, cele-
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
18/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
19/23
61
to matria para as suas formas, transforman-
do os prprios meio e vida urbanos num in-
strumento musical (f-lo Travessa do Marta
Pinto, mago do Projecto VICENTE).
E podemos aqui renovar os nossos votos
com Lefebvre precisamente a partir do seu
entendimento da rua como dispositivo co-
mum, pblico e quotidiano.25
Imaginemos que entramos numa peque-
na rua de Lisboa, animada por uma discre-
ta mas vibrante vida local... sentimo-nos
em casa porque o espao convidativo,
ou uma obra de arte nos chama, ou a fila
porta de um restaurante denuncia uma boacozinha... imaginemos que ao fim dessa rua
entramos diretamente numa calle espanho-
la... to diferente e, no entanto, transmitindo
um carcter semelhante... imaginemos que
ao final dessa rua espanhola entramos numa
francesa, depois numa italiana, que se bifur-
ca numa alem e numa turca, desembocan-
do todas numa estnia... Imaginemos uma
rede de ruas assim virtualmente ligadas,como se existisse entre elas uma passagem
oculta, conectando diferentes lugares onde
a Europa acontece, fervilhando da mesma
vida urbana, pessoas, ideias, iniciativas, num
mosaico de culturas locais. Faamos a car-
tografia intangvel de todas essas ruas. Voil
uma Europa de pequenos factos urbanos a
que acedemos por via de critrios prprios,
como o genuno, o vintage, o emergente, oexcecional. Seria uma rota 24/24h com pro-
tagonistas e figurantes sempre renovados, a
vivncia dos diversos lugares enquanto pal-
cos de atmosferas, estrias, valores.26
Rochus Aust & DEUTSCHES STROMORCHESTER, Concerto
Mvel na Travessa do Marta Pinto, Lisboa, 2015. Fotografia de
Agata Wiorko, cortesia Projecto Travessa da Ermida.
M A R I O C A E I R O
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
20/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
21/23
63
Advances in Art & Urban Futures
Voume I. Locality, Regeneration &
Divers[c]ities, Intellect Books, 2000.
Sguret, Franois;Les acteurs
et les mtiers de la ville et du
projet Urbain, in Hayot, Alain;
Sauvage, Andr (dir.), Le Projet
Urbain. Enjeux, Exprimentations et
Professions, ditions de la Villette,
2000.
Semedo, Alice;Introduo, in
Semedo, Alice; Lopes, J. Teixeira
(Coord.);Museus, discursos e
representaes, Afrontamento,
2006.
Serro, Adriana Verssimo;A
paisagem como problema da
filosofia, in Serro, Adriana
Verssimo (Coord.), Filosofia da
Paisagem. Uma Antologia, Centro
de Filosofia da Universidade de
Lisboa, 2011.
Wagner, Richard;A Obra de Arte
do Futuro [1849], Antgona, 2003.
Young, James E.;Memory/Monument, in Nelson, Robert S.;
Shiff, Richard (Eds.); Critical Terms
for Art History, The University of
Chicago Press, 2003.
Zanatta, Maria Luiza;Caminhando
com Francisco de Holanda, V
Encontro de Histria da Arte, IFCH
/ UNICAMP, 2009.
Notas
1Para Tim Collins e Reiko Goto
(2005), advogados da arte pblica
como eco-prtica, a atitude
esttica dos criadores pode
tender para uma ou mais das
seguintes posies: lrica, crtica e
transformativa.2Delgado, Manuel; O Espao
Pblico como Representao.
Espao urbano e espao social
em Henri Lefebvre. Conferncia
proferida no mbito do ciclo A
Cidade Resgatada organizado
pela OASRN, Museu de Serralves,
15 de Maio de 2013. Traduo
do espanhol por Pedro Bismarck
e Lus Piteira. Cf. http://www.
revistapunkto.com/2014/01/
o-espaco-publico-como-
representacao_9694.html3Ver a reflexo continuada de
Joo Barrento sobre o ensaio
e o fragmento, sintetizada em
entrevista recente, de 2013. Cf.
http://www.pequenamorte.net/
entrevista-com-joao-barrento/#.
Vhofm7RViko4Donde que neste quadro
arte se coloca o desafio deconstantemente aferir as hipteses
de os actores sociais e os agentes
artsticos constiturem um e o
mesmo grupo, ainda que na
efemeridade de um conceito ou
de um evento. Para Alice Semedo:
O agente essencialmente um
fazedor activo de significados: no
entanto, a constituio do mundocomo significante, relevante
ou inteligvel depende da
linguagem compreendida no
como um simples sistema de
signos e smbolos, mas como um
meio para a atividade prtica.Cf.
Semedo, Alice; Introduo, in
Semedo, Alice; Lopes, J. Teixeira
(Coord.);Museus, discursos e
representaes, Afrontamento,
2006.5Joo Barrento (1996):
Actualidade no , para Benjamin,
a categoria mundana que se refere
quilo que brilha superfcie, ao
aggiornamentoefmero, ao up
to dateborbulhante, calculado
e imposto. O conceito tem nele
contornos mais fundos, msticos, e
implica uma iluminao sbita do
passado pelo presente, motivada
por uma afinidade electiva e
despoletada por uma exploso de
sentidos que pe a nu secretas e
imprevisveis coincidncias entre
presente e passado.
6Campos, Ricardo; Introduo,
in Campos, Ricardo; Brighenti,
Andrea Mubi; Spinelli, Luciano
(Orgs.);Uma Cidade de Imagens.
Produes e Consumos Visuaisem Meio Urbano, Mundos Sociais,
2011.7O arquitecto Gonalo Ribeiro
Telles autor, entre outros, do
Corredor Verde de Monsanto;
da integrao da zona ribeirinha
oriental e ocidental na Estrutura
Verde Principal de Lisboa; dos
jardins da sede da FundaoCalouste Gulbenkian (com Antnio
Viana Barreto) e dos projectos do
Vale de Alcntara e da Radial de
Benfica, do Vale de Chelas, e do
Parque Perifrico.8Directamente inspirada pelo
M A R I O C A E I R O
http://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.html -
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
22/23
C
O
N
V
O
C
A
R
TE
N
.1
|
A
R
TE
P
B
LIC
A
-
7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl
23/23
frases que interpelem os lisbtas
e transeuntes e os convidem
a descobrir este artista.[]O
certo que algum ter levado
o programa letra e se deixou
interpelar pelas frases, ao ponto
de tomar a iniciativa de sobre
elas intervir. Por cima dos ditos
idealizados pelo artista ingls,
sempre com um carcter mais
ou menos programtico sobre o
sentido da arte art that hurts,
art that opens eyes ou art that
remembers-, foram feitos riscos
em graffiti e, acima ou abaixo delas,
apostas inscries sem aparente
ligao ou outro propsito que
o da mera sabotagem. In http://
ocorvo.pt/2014/11/17/murais-de-
artista-homenageado-sabado-pela-
camara-de-lisboa-vandalizados/21A pea ganhou a sua designao
final, L.O.V.E, durante o processo
da sua realizao. O ttulo
inicialmente previsto haviasido omnia munda mundis
significando literalmente para
os [homens] puros, todas as
coisas [so] puras. Cf. http://www.
designboom.com/art/maurizio-
cattelans-middle-finger-displayed-
in-milan/22Kester:As he [Willats] writes, My
practice is about representing thepotential self-organizing richness
of people within a reductive culture
of objects and possessions. In a
society which reduces people Im
working to celebrate their richness
and complexity.[]. In his projects,
Willats shifts the focus of art from
the phenomenological experience
of the creator fabricating an
exemplar physical object to the
phenomenological experience of
his co-participants in the spaces
and routines of their daily lives.23Maria Luisa Zanatta: Em Da
Fabrica que falece cidade de
Lisboa (1571) o terico retoma
velhas questes insistindo nas
urgncias urbanas. Apresenta
uma srie de imagens, isto ,
lembranas de melhoramentos
para Lisboa: portas, pontes,
caladas, igrejas, palcios e
fortificaes que conferiram a
Holanda a condio do arquiteto
que pensa a cidade. Analisando
sua obra, encontramos elementos
que nos auxiliam a compreender
suas ideias de Arquitetura e de
Cidade.24Cristiane Maria Rebello
Nascimento: Da Fbrica quefalece cidade de Lisboa no
propriamente um tratado de
arquitetura, mas uma admstao
ao rei D. Sebastio a propsito
da importncia de dar cidade
uma condio altura do
imprio martmo portugus. Cf.
Nascimento, Cristiane Maria
Rebello; DA FBRICA QUEFALECE CIDADE DE LISBOA:
FRANCISCO DE HOLANDA
ENTRE OS MIRABILIA E OS GUIAS
TOPOGRFICOS DE ROMA, IV
ENCONTRO DE HISTRIA DA
ARTE IFCH / UNICAMP, 2008.
25Stephen Johnstone: The
everyday is human. The earth,
the see, forest, light, night, do not
everydayness, which belongs first
of all to the dense presence of
great urban centres. We need these
admirable deserts that are the
worlds cities for the experience of
the everyday to begin to overtake
us. The everyday is not at home
in our dwelling-places, it is not in
offices or churches, any more than
in libraries or museums. It is in the
street if it is anywhere. Here I find
again one of the beautiful moments
of Lefebvres books. The street, he
notes, has the paradoxical character
of having more importance than
the places it connects, more living
reality than the things it reflects. The
street renders public. The street
tears from obscurity what is hidden,
publishes what happens elsewhere,
in secret; it deforms it, but inserts
it in the social text. And yet, whatis published in the street is not
really divulged; it is said, but this
is said is borne by no word ever
really pronounced, just as rumours
are reported without anyone
transmitting them and because the
one who transmits them accepts
being no one.26
Cf. Ciro, Mrio; Ruas criativas?Vamos l! O novo desafio de uma
Europa en route, a caminho de si
prpria, in Arqa Arquitetura e
Arte, n. 119, julho-agosto 2015.
top related