edmond gillieron . as psicoterapias breves
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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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dmond
Gilliéron
S PSICOTER PI S
BREVES
Tradução
Vera Ribeiro
orge Zahar
ditor
Rio e aneiro
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 4/102
Tí
tulo original:
ú psychothlr pies
bre ·es
Trddução autori7.a
da da
primeira edição francesa,
publicada em 1983 por ~ e s lJniversitaires de France,
de Paris, Fmnça. na série Nodules
Copyright © 1983. Presses Universitaires de France
Copyright
©
1986
da
edição
em
língua
portuguesa
Jorge Zahar Edit
or
Ltcb.
rua
Mé11i
co 31 sobreloja
20031-144 Rio
de
Janeiro.
RJ
tel.: 21) 240.0226/ fax: 21)262 51
23
e-mail: jze@>?.ahar.com.br
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tos
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v i o l
~ à o
do
co
pyright.
<Lei
5.
988)
CIP-Brasil.
Catalogação-na-fonte
Sindic.ato Nacional dos Editores de Li
vros.
RJ.
Gilliéron. Edmond
G397p As psicoterapias breves Edmond Gilliéron; tradução
deVera Ribeiro
R
io de Janeiro:
Jorge
Zahar
Ed., 1986
86
-0135
Tradução
de
: Les psychothérapies breves
Bi
bliog
rafia
ISBN
85
-7 110-437-9
I Psic01erapia. I.
Tí
rulo.
CDD 616.891
CDU 615.851
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Deflnlçlo
1
INTRODUÇÃO:
Apropósito
do conceito de
·psicoterapia
breve·
2
NOTAS HISTÓRICAS:
Raízes psicanalíticas das
ps
i
cote
r
ap
i
as
breves
3
NASCIMENTO E EVOLUÇÃO
DAS PSICOTERAPIA ANALfTICAS BREVES
Algumas Técnicas de Psicoterapias Breves
L.
Bellak e L. Small,
22;
K. Le
wi
n.
;
D. Malan,
23;
P. Sifneos, 24; H. Davanloo, 26;
J
Man
n
27
Té
cnica
de Lausanne E. Gilliêron).
9
4
QUESTIONAMENTO
Sobre a necessidade de um modelo psicoterápico:
alguns princípios fundamentais, 3
Rememoração de Alguns
Pr
incí
pios
da Teoria
da
Comu
nicação
Pr incípios básicos.
38
5
SUMÁRIO
7
9
2
17
22
32
38
O ENQUADRE PSICOTERÁPICO E SUAS FUNÇÕES
43
Introdução.
43
Funções do
Enq
uadre Psicoterápico
45
Função dinâmica. 45; Função tópica.
8
ATemporalidade 52
OValor
do Efêmero 53
Traniferéncia Tempora
lidade e
Afetos 54
Conclusão. 56
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6
RELAÇÃO INTERSUBJETIVA
TRANSFERÊNC
IA
E INTERPRETAÇÃO
Introdução.
;
Realidade externa e rea lidade
interna. 9
Da Re
l
ação
l
ntersubjetiva
à Rel
ação ln
tra-Subjetiva
Interações,
Sonhos
, Fantasias
Transferência e Interpretação
7.
FOCALIZAÇÃO
:
Odesenrolar de uma psicote rapia
Primeiros Contatos
Elementos Anamnésicos
Alguns Aspec
tos do Desenrolar do
Trat
amento
Elaboração fase)
8
PSICOTERAPIAS
BREVES
E CLASSIFICAÇÃO DAS PSICOTERAPtAS
Introdução. 8
A Relação
Terapêutica
e o Enquadre
Terapêutico
Intervenções
de Fi
nalidade Psicoterápica
sem
enquadre)
Psicote rapias Propriamente Ditas
de
l
imitadas do ca
mpo soc
ia
l)
As Dispos
içõ
es
Lugar e dinâmica das Psicoterapias
Breves
9
INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES
Relatividade das
Ind
icações
Conlra
·l
ndicações ligadas
à
disposição espaço·
lemporal,
;
Contra
-i
ndicações iigadas ao carâter
psicanalítico
o
lratamento proposto .
94
1 .
CONCLUSÕES
Bibliografia
57
6
62
64
7
72
74
76
77
8
81
82
83
84
87
9
9
98
99
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EFINIÇÃO
As
psicoterapias breves
são
tratamentos de natureza
psic
o
lógica cuja duração é largamente inferior à de uma psicaná
lise çlássica. Assim é
em
comparação com esta última que
dt:terminamos sua brevidade. Esse não é um dado sem
im·
portància, na medida
em
que numerosas formas de psico
t
eru
pias que não têm mais nenhuma relação com a psica
nálise são chamadas breves . Por exemplo, existe na
Universidade de
St
anford, em Paio Alto uma divisão de
tc:r
apia
breve sistêmica
J.
We
akl:md,
P
Watzlawick
et
ai J
Numerosos centros desse tipo funcionam atualmente
nos
Estados Un idos e começam a desenvolver-se na Europa.
Se acrescentamos o vocábulo breve a
essas
formas de
terapia
é
porque seus autores desejam distingui-las da psi
canálise longa , sem no entanto se referirem
à
teoria psica
nalítica.
É
importante precisar, de imediato, que a presente
obra concerne
as
psicoterapias breves de inspiração psica
nalicica.
Poderíamos
ass
im
definir o
tema
a
ser aqui abordado
T HATA·SE DE PS ICOTERAPIA DE INSPIRAÇÃO PSICA·
NALITICA CUJA DURAÇÃO É LIM ITADA S MEIOS UTILIZA ·
DOS
PARA
LIMITAR ESS DURAÇÃO VARIAM CONFORME
~ .A\JTf)RES.
7
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INTRODUÇ O
A
Propósito
do
Conceito
de
"Psicoterapia
Breve
·
"O
desejo
de
abreviar o
tratamento
analítico
é
perfeita
mente justificável e examinaremos os d iversos meios
pro
post_os para ct'egar a esse objetivo. Infelizmente, um fator
muito importante contraria essa tentativa: a lentidão das
modificações psíquicas
profundas
e, em primeiro lugar,
sem dúvida, a
'atemporal
i
dade' de
nossos processos incons
cientes. Quando os pacientes
constatam
o grande dispênd io
de
tempo
exigido pela aná lise, ocorre-lhes amiúde suge ri·
rem
exped
i
entes
apropriados
para a'tenuar essa d ificuldade.
Dividem seus males, qua lificando uns
de
intoleráveis e
outros de secundários, e dizem: 'Ah, se o senhor pudesse
apenas livrar-me desse sofrimento (por exemplo, das dores
de
cabeça
ou de
uma
determ
i
nada
angústia)' . Ao fazê-i o,
superestimam a capacidade
de
seleção
da
análise 13].
p. 2}. Assim se exprimiu Freud em 1913. Esse trecho re·
flete os problemas com os quais se viam
confrontados
os
psicanalistas
daquela
época.
De
fato,
Freud
assinalou:
"No
decorrer dos primeiros anos
de
minha prática psicanalí tica,
tive grande dificuldade em persuad ir os pacientes a prosse
guirem em sua análise. Essa dificuldade há
muito
deixou
de existir e, atualmente, esforço-me ansi
osamente
por
obrigá-los a interromperem o tratamento" ([131, p.
2).
O confronto desses dois trechos reflete bem as questões
suscitadas pelo prolongamento da duração dos tratamen·
tos no
mundo
psicanal
ítico
.
De
um lado,
evocam-se os
pacientes que
hesitam en• empenhar-se
em tratamentos
longos, mas,
de
outro, esbarra-se nos que
não
conseguem
t e ~ m i n á l o s . Esse problema
da
duração dos tratamentos
viria a
preocupar
Freud
até
o final de sua vida, e podemos
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lO psicoter pi s breves
dizer que suas repercussões persistem no mome nto atual.
também
a ele
que
devemos a eclosão
de
numerosas
técnicas de psicoterapia
analltica
breve, em seguida às
prime iras experiências de Ferenczi
em 1918.
Mas os di
versos
meios
propostos
para
encurtar os t ratamentos
são
precisamente
os que
Freud
recusa
no primeiro
trecho
citado,
em
particular
a focalização , que
corresponde
a
uma tentativa
de seleção
dos
males principais
dos
pa·
cientes.
Por consegu int
e,
entendemo
s que as técnicas tera
pêuticas
reves
não
podem
de i
xar
os psicanal
is
tas indife
rentes, na med ida
em
que
se chocam com
certas concep
ções
fundamentais
da
aná
lise.
Além disso, sabemos que, a
partir do momento
em
que
enunciou
a regra
fundamenta
l das associações livres ,
Freud rejeitou
quaisquer modificações técnicas
até
o fim
de sua vida. Quando muito, insistiu nas regras de
neutra
-
dade e de abstinência. Seu interesse incidiu essencial
mente
em
um
desenvolvimento
teó
rico e ele considerou
como
resistência a
maior
parte
das propostas
de ino,va
ções técnicas,
com
freqüência, aliás, depois de
tê
-las
experimentado ele próprio.
Em
uma outra
obrn [
20 ,
ten
tamos
destacar o
fato
de que
mui
tos
problemas e conf litos surgi
ram po
r
que
a
psicanálise não
dispunha
de um
aparelho
conceitual pas
sível
de
integrar
a
técnica
na descrição
do funcionamento
psíquico. Se o
mundo
psicanalítico sofre provavelmente
de
certo dogmatismo
é
porque Freud
não dispunha, no
momento
em
que
nasceu a psicanálise,
de instrumentos
teóricos que lhe permitissem levar em
conta,
na descrição
do funcionamento
psíquico, a influência
da
disposição
do
campo analítico
sobre
o processo. Um dos interesses
das psicoterapias breves é
confron
tar-nos
com
esse
pro
blema. No
que concerne
a essa forma de
tr
ata
mento,
assistimos durante
mu
ito tempo a uma espécie de combate
entre dogmáticos
e pragmáticos,
uns recusando
-a
po
r
razões
teóricas
e
outros
justificando-a
por
razões práticas.
Agora, essa querela
parece
estar superada,
o
que
tentare
mos demonstrar
nesta
obra.
No capitulo
3, estudaremos
vários
procedimentos
psicoterápicos enaltecidos
por diferentes
autores
e teremos
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intror Juçào
a
oportun
i
dade
de constatar que alguns deles decididamen
te desv m-se
da
doutrina freudiana o que justifica os
violentos movimentos de oposição que provocaram. Con-
tudo,
veremos
também
que
a corrente breve data dos
primórdios
da psicanálise e
tentar
emos compreender
o
.
porquê disso.
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NOTAS HISTORICAS:
Raízes Psicana
t ic
as
das Psicoterapias Breves
Sabemos
que
Freud
determinou com
muita rapide
z os
diferen tes
elementos externos que
caracterizam o
enqu
a·
dre psicanalít ico. A passagem
da
hipnose
ao
método das
as
sociações I vres foi pr
ecoce
, e
os
elemento s que deter ·
minam o método psicanalítico [16] de Freud quase não
se
alterara
m
desde
1904 até
1939.
Recordemos alguns mom
entos cruciais dessa
evolução
(o leitor
interessado num de
senvolvimento ma is aprofun ·
dado poderá
re feri r-se às
obra
s
de
E. Jo
nes
[26
). A. Gr
een
·
son
[
23)
ou O. Widloch er [35]). Por volta de 1890, S.
Freud estabeleceu as bases de
uma
teor ia p sicológi
ca
sobre
a forma
ção do
s
sintomas
histéricos, apo iando-se parcial
mente
na experiência fe ita por J Breuer
com
Anna O.
Desenvolveu suas
pr
ime iras concepções
na ob
ra
studos
sobre a histeria (1895 ). A origem
da neurose
deveria ser
bus
cad
a,
segundo
ele, num
trauma
psíquico precoce,
de
natureza sexu
a
l.
onde
o
sintoma substitui
a
lembran
ça
(equação fund amenta l, segundo a termin ologi a de O.
Widlocherl. Obse
rvemos que,
na rea li dade, essas cenas
originárias só se tornam
traumá
t icas
na poster
i
oridad
e,
no
momento
em que
um
segundo acontecimento confere
ao primei ro
um sentido
inace itável para o indiv(duo.
Assim, forma-se
uma
espécie
de
abscesso psicológico en ·
qu istado, que é preciso abri r para que desapareça o
sinto
·
ma. Do
ponto
de vi
sta
te
r
ap
êut
ico, p o
rtanto
,
co
n
vém
obter
acesso
à
l
embrança pa
ra esvazi
ar
o
abscesso , pe
r·
mit indo a de SC arga
emocional
b
loqueada no
momen
to
do
acon tecimento patogênico. Para chegar a isso, Freud pes·
q ~ s o u diferentes meios técn icos: a
prin
cípio, a h i
pn
ose,
2
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depois a sugestão, a concentração e, finalmente, a técnica
das associações livres, que se converteu na "regra funda
mental" da análise. Assim, esses diferentes meios técnicos
visam
à
busca,
à
maneira
do
cirurgião, da melhor via de
acesso ao
sítio
traumatizado, que, no plano psrquico, é
uma lembrança. Ao proceder dessa forma, Freud esbarrou
numa certa resistência de seus doentes: resistência
à
hip
nose, interrupções prematuras do tr t mento. amnésias
rebeldes etc. Procu rou então, através de modif icações
técnicas vencer essas resistências, transpor a barreira
que se
opunh
à recordação das lem branças. Entretanto,
logo renunciou a essa atitude e, em vez de procurilr a
qualquer preço
a
lembrança esquec ida do trauma, interes
s o u ~ e pela própria resistência. Ao que parece, Freud ope
rou essa mudança de orientação técnica no decurso de sua
au to-análise, que empreendeu
qu ndo
da morte de seu
pa i.
Paralelamente, abandonou em parte sua teoria do trauma
ps íqu ico, em prol de uma teoria
d
fantasia e do conflito
intraps/quico. Voltou sua atenção para a representação,
em vez da recordação. e sua atividàde visou a colocar em
evidência as forças que
se opõem
ao aparecimento, na
consciência, da
representação
patogênica. S. Freud atribuiu
menos importância aos sintomas, para interessar-se pela
organização psíquica da personalidade inteira (organização
das representações, dinâmica pulsional), fundamentada
em um jogo de forças contraditbrias, que se tornaram o
objeto
de sua investigação, bem mais do que o sentido me·
tafóri
co
dos sintomas ou lemb ranças reca lcadas. Esforç
se
em sua atividade interpretativa,
por
revt lar ao paciente
suas resistências, em vez de procurar vencê-las. Se conser
vou uma certa idéia de equivalência entre sintoma e lem
brança, passou agora a colocar ênfase
no
funcion mento
intrapsíqu ico. Em suma, mais do que combater, entrar
em conflito aberto com seu paciente, contentou-
se
em
mostrar-lhe sua maneira de comport r-se na relação. Isso
marcou
l
lo
reviravolta importante
na
prática ps
ic
anal
i·
tica e, em nossa opinião, pode ser considerado como o
início da psicanál ise tal
como
é
ai
nda hoje praticada.
' Com efeito, Freud não trouxe
outros
remanejamentos
essenciais para o enquadre anal itico. Seus escritos técni-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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14 psicour pi s breves
cos
por mais importantes que
sejam
não
fazem
senão
precisar alguns
elementos fundamentais:
necessi
dade
de
elaboração das resistênc ias problemas de honorários,
freqüência
das
sessões
neutral
i
dade
e
sobretudo, abst
nência em resposta ao "amor de transferência" etc. Além
disso vários desses art igos foram
escritos
em est i
lo
um
tanto polêmico,
em
resposta a certas críticas.
Ora essa evolução conduziu
também
a uma revolu
çãó: até
então,
os pacientes tend iam a interromper pre
maturamente o tratamento; a partir desse momento, tor·
nou-se
cada
vez mais dif ícil levá-los a interrompê-lo
O
abandono
parcial das
primeiras hipóteses
etioló
gicas e terapêuticas e a orientação das pesquisas para a
dinâmica pulsional e as resistências levaram à descrição
de mecanismos que explicam
o
prolongamento dos
tra
tamentos:
o fenômeno
de
condensação, a sobredetermi
nação dos sintomas, os lucros secundários da
doença etc.
- diversas razões que exigem a elaboração e a interpre·
tação das
múltiplas
facetas do sintoma antes de seu .de·
saparecimento.
A
descoberta da
transferência e da
compu
lsão
à
repe
tição, a partir
de
aproximadamente 1910, foi um elemento
complementar para justificar o prolongamento dos trata
mentos. A "neurose
de transferência"
é
uma produçãc
artificial ligada ao tratamento,
que ocupa uma
posição
ambígua
entre a resistência e a mudança. A
transferênc
iõ
corresponde
à tu ção da
lembrança
e por isso i
mpede
o
recordar realmente;
assim
é,
a
um só
tempo,
abertura
para o inconsciente e resistência. Desde
então,
a análise
da
transferência
tornou-se a
pedra
angular do
tratamento
analítico. Todavia,
é
a que se desenha no
mundo
psica
nalítico,
uma
reviravolta
mu
i
to importante, que
iria con
duzir ao advento das ps icoterapias breves.
Com
efeito.
após
a
descoberta da
transferência e
da compu
lsão
à
repe
tição,
evidenciou
-se um
fenômeno particularmente
inte·
ressante: a
reação terapêutica
negativa
(reação
paradoxal
de agravamento dos
sintomas
após uma interpretaçãc
adequada). Essa reação terapêut ica negativa parece ser
uma resistência
última, que bem
demarca a vontade
do
paciente
de
não se modificar. Inqu ietamo-nos
também
com
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rwta históricas
1
5
a intensidade de certas
resistências
e
com
o
prolongamento
considerável
dos tratamentos.
Desde
então observam-se movimentos
diferentes
ou
contracorrentes: assim,
ao
cabo de
vários
anos de
análise,
Freud fixa
autoritariamente
uma
data
para
o 'é r
m ino do t ra tamento do
' 'Homem
dos lobos
(1915)
[1
1
]
Depo is S. Ferencz i com base
em
observações que lhe
fizera Freud, desenvolve suas idéias sobre a
técnica
ativa . Essa
técnica
visa, no
momento
em que o tr
atam
en
to
estagna, a dar um novo impulso
ao
processo analítico,
através
de d i
versas
injunções
ou
interd
ições
d
ir
igidas
ao
paciente;
impel imos
este últ i
mo
a encarar ativamente
seus medos
ou
a renunc
iar deliberadamente
a d ive rsas
satisfações libid
ina is a masturbação,
po
r
exemplo). Por
vezes, fixa-se
também
precocemente
uma
data para o tér
mino
do tratamento. O objet i
vo
dessas
med
idas
é
evitar
certos lucr05
secundár ios e desvia r para o trabalho ana
lítico a libido fixada
nas
fan
tasia
s
in
conscientes. O que
perm
ite esse
resultado, diz Ferenczi,
é o crescimento
da
tensão provocada pelas
injunções dadas,
e q
ue é
seguida
pelo
aparec
imento, na consciência, de uma pulsão
até
então
oculta.
Assim, a injunção at iva do terapeuta
te
rn
por objetivo uma mobi lização da libido.
Quanto a Freud, a pr i
nc
íp io seduzido pelas ideias
de
Ferenczi,
logo passa a pregar a prudência 12 1 Acaba
por opor-se
à técnica
ativa. Ao contrá rio , pu blica, em
1920, urn
artigo fundamental -
Além do
p
ri
ncípio
do
prazer -
onde,
a
partir
da noção
fundamenta
l
de com
pulsão à repetiç
ão
, rea r
ticula
sua teoria do
funcion amen to
psíqu ico opondo duas forças antagôn icas: a pulsão de vida
e a pulsão de
morte.
Segundo as
novas
concepções. é
antes
de
tudo a compulsão
à
repetição,
ela
p
róp
ria forte·
mente marcada pela pulsão de morte, que expl ica o
prolon·
gamento
dos
tratamentos:
E
ssa próp r ia
te
ndencia
à
repeti·
ção
é a
mesma
que se ergue com freqüência
diant
e ele nós,
como
obstáculo
terapêutico,
qua
ndo
queremo
s,
ao fim
d o
t ratam
ento, conseguir que
o
doente se
dt:sligue comp
let
a
mente do médico [1 4]. Naque la
época,
quando o mundo
ps içanal
ítico
se interrogava sob re a evolução dos tra ta ·
mentos e às resistências à cura. e quando se p ropuse ram,
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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16 p s i c o r ~ r l p i f u
revts
com Ferenczi, inovações técnicas, Freud mais
uma
vez
recusou
qualquer
alteração do
enquadre analítico
e
propôs
uma solução metapsicológica.
Assim, o
enquadre analítico
e a técnica f
undamental
devem permanecer inalterados, e a interpretação continua
a ser o instrumento principal do psicanalista. O problema
da
duração
dos tratamentos
preocuparia Freud
até
o fim
de sua vida ( Análise term inável e interminável , 1938
.
mas em nenhum
momento
ele
se
afastou dessa atitude
rigorosa: todo fe
nômeno
psíquico e
toda
resisténcia
devem encontrar uma explicação metaps icológica e não
justificam
nenhuma modif
icação técnica.
Nas páginas que se seguem, tentaremos defender a
tese de que essa
atitude
rigorosa
de
Freud ligou-se, em
parte
ao fato de que
ele não dispunha
de
um
aparato
conceitual que lhe
perm
itisse integrar
quaisquer
modifi
cações técnicas
em
seu sistema. Ao contrário o conside
rável desenvolvimento de métodos psicoterápicos inspi·
rados na psicanálise parece-
nos tornar
indispensável uma
revisão dessas
concepções
na
medida
em
que todas
elas
se fundamentam
em
variações do
enquadre
ou da técnica.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 17/102
3
NASCIMENTO E EVOLUÇAO
DAS PSICOTERAPIAS ANAllliCAS BREVES
Tão logo criado, o mov im
ento
psicanal iti
co
foi sacudido
por numerosas correntes contrárias: dissidências de Adler,
Steckel, Jung etc. Cada um desses autores desenvolveu
sua própria técnica psicanal
itica e sua própria teoria.
Alguns,
como
Steckel, descreveram procedimentos tera
pêuticos que consideravam mais breves e mais
ef
icazes.
Entretanto,
podemos
afirmar que o verdadeiro nascimento
das psicoterapias anal (ticas breves -data das primeiras -
periências de
S
Ferenczi (técnica
ativa ), por
volta
de
1918, nas condições que já descrevemos. Foi a este últ i
mo
autor que Franz Al
exander
, f
undador
do Inst i
tuto
de
Ps
i
caná
li
se
de
Chicago em 1
93
1, referiu-se
ao
el
ab
orar
sua
teoria da
experiênc
ia emocional corretiva . F. Alexander
merece menção particular, na medida em que ainda é cita
do pela maioria dos textos modernos concernentes à ques
tão da mudança psíquica em psicanálise. Suas concepções
provocaram movimentos contrad itórios, mas inspiram um
grande número de terapeutas. Tendo formação psicana
lítica ortodoxa, Alexander, em colaboração com Thomas
French, concebeu uma teoria se
gundo
a qual não
é
a reme
moração dos antigos aconteciment os que cura a neurose,
mas sim sua revivescência numa relação que forneça
uma
experiência correriva Essa nova experiência c o r r ~ t i v a
pode ser fornecida seja pela relação transferencial, seja
pelas novas experiências de vida, ou por ambas
l l
L
Ale
xander propôs diversos meios visando a flexibilizar as rígi
da\
coordenadas da psicaná
li
se e organizou, assim,
uma
nova forma de psicoterapia anal ítica fortemente aparen·
tada com as psicoterapias breves :
No Instituto
de Chica-
7
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 18/102
18 psicnt pios
hrew s
go. insistiu-se no valor do
estabelecimento
de um
plano
de tratamento, baseado numa avaliação diagnóstico
dinâmica da persona lidade do paciente e
dos
problemas
reais que ele precisa resolver nas condições de vida ex is
tentes.
Ao estabelecer tal plano de terapia, o analista deve
decidir, em cada caso, se é
indicado um tipo
de tratamento
primordialmente
de apoio ou de
descobrimento,
ou se a
tarefa terapéutica é sobretudo uma questão de modificação
das condições exteriores da vida
do
doente [ 1],
p. 11 ).
Mas adiante, ele dá
os
seguintes conselhos: Além
da decisão inicial especificamente
sobre
a questão da estra
tégia a ser
empregada
no tratamento
de cada um dos
casos,
recomendamos
a utilização consciente e flex
fvel
de diver
sas técnicas modificadoras das táticas,
para
adaptá-las
às necessidades particulares
do momento.
Dentre essas
modificações da
técnica-padrão
figuram: a utilização não
só do método da associação livre,
como
também
de entre
vistas de
caráter
mais direto, o manejo da freqüencia das
entrevistas, as diretivas dadas ao doente sobre a questão
de
sua vida
cotidiana.
o
emprego
de
interrupções
de longa
ou curta duração
para
preparar o término
do
tratamento,
a regulação da relaç§o de transferência, a fim de desco
brir as necessidades espec(ficas do caso, e a u t i l i z ç ~ o
das
experiencias
da vida real como parte integrante da tera
pia ([1]. p. 11 ).
Segundo
Alexander e French, não existe uma demar
cação nftida
entre
sua técnica e a da psicanálise
ortodoxa.
As
modificações
propostas
situam-se
numa
linha
contínua
que vai da neu trai idade clássica à mais eclética atividade.
Entretanto, como assina lamos numa outra
obra
[20].
quando se referem a Ferenczi, eles descaracterizam a
noção
de atividade . De fato, para esses
autores,
trata-se de atos
comedidos do terapeuta, que têm
por
objetivo
oferecer
uma nova experiênci emocional, destinada a
co
rrigir os
traumas passados através de sua rev ivescência num novo
clima,
ao
passo
que,
em
Ferenczi, trata-se de
injunções
dadas aos
pacientes
para aumentar a
tensão
intr psíquic
e facilitar ê
tomadas
de consc iência. Os primeiros
orien
tam-se para uma visão reparadora, enquanto o segundo
busca simplesmente lutar
contra
resistencias de outro mo-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 19/102
t
n scimento e evoluçiio
19
do insuperáveis (em part i
cu
la r, reações
terapêut
icas ne
gativas) .
Cons
i
deremos,
por exemp
lo
, o segu
inte
tre
cho
de
Ferenczi:
Quan
do
não lo
gramos
êxi
to
em
levar o
paciente
ao
que Freud
chamou
'temperatura de ebulição do
amor
de
transferência', onde
se alicerçam
os traços
de car
áter
mais tenazes,
podemos
fazer
uma
última
tentativa e rec
o r
rer ao método oposto,
atribuindo
ao paciente tarefas
qu
e
lhe sejam desagradáveis, e d este modo, pelo métod o ativo,
exacerba r,
desenvolver p l
enamente
e assim
conduzir ao
absu
rdo
algu ns
traços de ca rát
er
que, muitas
vezes,
existem
apenas em
estado
de
esboço
[
9
J
Prolonga
men
to da
" Técnica
at
iva ). Comparemo-
lo com
o
seguinte
t
exto de
Alexander :
Na formulação
das
dinâmicas de
t ratamen t o,
a tendênc ia habitual é insistir na
repetição
do antigo con
f
li
to na relação
de
transferência e sublinhar a semelhança
entre
a
situação do
velho
conflito e
a
situação
transferen
cial, de sorte que a significação terapêutica das
diferenç s
entre
a
situação
orig inal
de conflito
e a
situação
tera pêu t i
ca
atual
é
freqüentemente
negligen'ciada. Ora,
é
justamen·
te
nessas diferenças
que repo
usa o segredo do va lor
te
ra
p
êutico do proced
imento analít i
co.
É p
or
sua
atitude
,
diferente da da pessoa autoritária
do
pass
ado
,
que
o analista
dá ao d
oente
a
oportunidade
de
enfre
n
tar
muitas e muit
as
vezes as situações emocionais
que
foram
anteriormente
insuportáveis
e de se conduzir perante elas de
maneir
a
diferente
da
antiga
[
1 },
cap
.
iv,
p. 68). É
evidente que
a
atitude de
Ferenczi visa a
confrontar
o
paciente
com ele
mesmo, enquanto
a
de Alexander
o
confronta
com
um
terapeuta
melhor ou,
pelo menos,
diferente dos pais.
Ferencz i
propõe
o
que
denominaríamos,
segundo
uma
ter
minologia sis
têm
ica, u ma
prescrição
de
si ntoma ,
ao
passo
que
Alexander pr
opõe uma experiência
re laci
ona
corretiva. Sabemos das reviravo ltas provocadas no
mundo
psicanal itico pelas idéias de Alexander. Não o bstante, a
idéia
do
valor
terapêut
ico
corretivo
da
relação
an
alista·
analisa
ndo
reaparece
const?ntemente em
psicanálise e
está
subj
acente
a i
númeras elaborações acerca do processo
psi
canalítico.
(A esse propósito, p
ode
mos ler,
por exemplo,
as elaborações
de
R.
Diatkin
e [8} ou
J. Cremerius
6
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 20/102
20 psiC oUr4pias r ~ v e s
Por
estímulo
de Alexander,
um
primeiro congresso
dedicado
à psicoterapia breve foi rea li
zado
em Chicago
em 1941. á
naquela
ocasião emergiam numerosas diver
gências
entre
os
psi
coterapeutas, embora
todos
estives
sem
de
acordo
quanto
às noções
de
ecletismo técnico e
de
atividade. Durante a li
Guerra
Mundial, as publicações
sobre
as psicoterapias breves mult iplicaram-se, ma s o inte
resse dos psiquiatras orientou-se
rapidamente
para as situa
ções de crise e as neuroses atua is Além disso, a ênfase des
locou-se da problemática pu lsional profunda e do conflito
interno para a
dos
conflitos atuais e interpessoais neuroses
de
guerra,
cr
is
es
conjugais
ou
profissionais
etc. .
Trata-se,
ponanto,
de uma
or
ientação dissidente, segundo a defini
ção
de
8. Grünberger [251. Uma resenha dos artigos con
sagrados às frormas breves
de
psicoterapia desde 1940 até
nossos dias permite constatar uma evolução muito interes
sante:
pouco
numerosas de 1940 a 1950, essas publicações
referiam-se, praticamente
em
sua totalidade, à psicaná lise
Aiexander, Berliner, H Deutsch etc.).
De
1950
a
1960,
o
número
aumentou,
porém
já
então
mais da metade fazia referência
a
situações de crise e às
diferentes necessidades da população. A partir de 1960, as
publicações multip licaram-se nos países anglo-saxões em
proporções
muito vastas, mas pelo menos 3/4 delas colo·
cam em
primeiro
plano suas preocupações com os proble·
mas sociais lnecessidades da população , e não a dinâmica
do processo psicanalítico: as referências psicanalíticas
são raras,
quando
não
ausentes. Ademais,
foram
descritas
numerosas técnicas que nada mais têm a ver com a psica
nálise
lterapia
comportamental, grupos
de
animação, tra·
tamento
de
famílias etc.}. Os argumentos apresentados
podem ser resumidos do seguinte modo:
a
O
número de pessoas sensibi
I
zadas para os problemas
psicológicos aumentou consideravelmente ma is de·
pressa
do
que o número de psicanalistas. Assim, os
terapewtas são em número insuficiente e sempre o
serão;
b
As
dificu ldades econômicas de
muitos
pacientes;
c} A fai ta de tempo
de
certas pessoas;
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 21/102
·
I IQjÔIJU I I IO ~ V O U Ç Ô O 21
d)
As dificuldades
de
verbal ização
de
certas classes sócio
econômicas
menos favorecidas;
e)
As s
ituações
de crise e as
situações
de catástrofes (se
gundo
Grin ker,
por
exempl
o,
as psicoterapias seriam
a única fo
rma
de
tratamento
que
atenderia às
n e ~ s i -
dades da guerra }
f)
A
expectativa de resultados
ráp i
dos
por
aqueles
que se consultam;
e
g)
O papel preventivo de certas psicoterapias.
Assim,
constatamos
a faci lidade
com que
a ênfase foi
deslocada
do conflito
interno
para
o conflito
externo, jus
ti fican
do
com
isso
os
temore
s
manifestados
por
Freud
em
face das inovações de Ferenczi, bem
como
as reticências
de
numerosos
psicanalistas. Mesmo assim, essa evolução
não
deixa de
ter
interesse, na medida em
que
nos con
fronta
com
a questão da
mudança
psíquica e nos obriga a
variar nossas posições. Com efeito, parece
certo,
no mo
mento atual, que
meios
muito diferentes permitem obter
resultados terapêuticos bastante
sa
,tisfatórios, duradouros
e,
com
freqüência,
num
lapso
de tempo
relativamente
curto em comparação com
a psicanálise. Rejeitar essa cons
tatação por razões puramente dogmáticas sabe a ideolo
gia, a negação, e se afasta da abertura mental própria da
psicanálise.
Ao con
trário,
segund
o cremos, essa evo lução
deveria incitar-nos a retornar reviravolta de 1920, a
in te
rrogar-nos
sobre os
desvios
constatados e sobretudo,
a
não
cair na
armadilha
de
uma
rejeição pura e simples
em
n
ome
da
ortodoxia
psicanalí
t ica.
Na real idade, a
questão
das resistencias
à mudança
psíquica é central.
Vimos
que
o próprio Freud hesitou,
l
princípio,
entre as soluçÕt S
té
cnicas e a busca de
uma
explicação metapsicológica. Estando mais interessa
do,
por seu caráter, no funcionam
ento
mental, ele preferiu
este ú ltimo caminho ao
primeiro,
mas, ao fazê-lo, deixou
todo
um
campo sem
cultivo. Ferenc:li, Alexander,
French
etc.
qu iseram
cultivar
esse
campo
e foram seyuidos
por
numerosos discípulos,
dentre
os
quais
nem todos csco
·
lheram a facilidade.
'
Ao
estudarmos alguns
dos procedimentos propostos.
tentc;remos apreender melhor os mecanismos ativos.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 22/102
22
psicotertlp
i
s b tvts
Vejamos agora os diferentes modelos.
ALGUMAS
TÉCNICAS DE PSICOTERAPIAS BREVES
1. L. Bellak e L. Small
1
a
Identificação de um problema a tual e desenvolvi
mento de
uma
h i
pótese
, que a
anamn
ese deverá confi rmar,
modificar ou refutar.
b}
Lev
anta
mento
da
anamnese, Pf: squis
ando os
dados
passíveis de esclarecer a história pessoal
do
pacie
nte
e de
permitir um
diagnóstico, se possível
por
ocasião da primei·
ra
sessão; facilita r a comunicação.
c Estudo
da
patog
enia, levando em conta uma
probab
ilidade de sobredeterm
inação.
d Uma vez
de
terminada a origem d os
sinto
mas,
escolha das intervenções
qu
e visarão a fazê-los desaparecer.
As intervenções
podem
ser some n
te
verbais ou reforçadas
por outra
s medidas ativas.
e}
Elabor
a
ção do
pro
blema, reforço
do
novo
compor-
tamento
aprend
i
do
e extinção dos
modos
de adaptação
neurót i
co
s.
f}
Fim
do tratamento
, tendo-se o
cuidad
o de preser
var
no paciente
uma transferência p()sitiva e de fazê-lo
saber que será bem-vindo se voltar.
Aí vemos,
portanto
o ecletismo das medidas propos
tas, sendo, além d isso, alguns termos t
omados
de em
pré
s
timo
às
teorias
do
comportamento
. As i
dé
ias-chave p
odem
ser resumidas
da
seguinte maneira :
Escolha de um
prob
lema bem delimitado. nterven-
ções ativas com vistas a resolvê-lo. A natureza do processo
não é claramente
definida
em r e l ç ~ o
à psicanálise, a
despeito de numerosas consider
açõ
es sobre a natureza das
interpretações .
2
K Lewin
[29
J
Sua técnica, fundamentada
em
conct itos psicanalíticos,
marca certas divergências no que
concerne
ao desenvo lvi ·
menta
sexual
da mulher
e
ao
masoquismo:
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 23/102
t lu Timenro e l u p i o 23
a} Antes
do inici
o
do
tratamento estabeleci mento de
um
con trato conscie nte com o
paciente acerca dos obje
ti·
vos
do
traba
l
ho
a
se
r real izado.
b
Desde
o in
ício
o
médico con
fronta
o
pa
cien
te
de
maneira
mui t o a t iva com
seu
comportamento autopun1ti
vo, na esperança de levá-lo a
ape
rceber
s
e de que é ele
pr
óprio o artíf ice de su as d ifi
cu
l
dades.
c Interpretação precoce da transferência pa rti
cular
-
mente de seus aspectos negativos. .
d
Focalização da
atençklo do paciente por
ocas
ião de
cada
sessão a fim
de manter
a
con
ti
nuidade.
e}
I
nc
ita-se o p
ac
i
ente
a p rossegu ir em seu t r
abalho
em casa , 24 ho1as por d ia e se te dias por semana.
f O terapeu
ta
a t ravés de seus comentários e de
seu
comportamento
oferece
ao p
aciente
um m odtdo de
consciênc
ia mora l mais norma l e me nos punitiva.
Nesse modelo reencontramos as idé
i
s de atividade e
de
planejamen
to , havendo a lém disso, uma concep
ção
muito par ticula r da origem dos distúrbios
neuróticos
.
Toda
a a
titude
de
Lewin baseia -se nas
noções
de
cu
l
pa
e
de
masoquismo.
A í se esboça uma teori simples. que visa a explic r o
conj
u nto dos d istúrb i
os neurót
icos.
3. D. Mal
an
[30
Em 1954, Bal int
fundou
um grupo de trabalho de ps icote ·
rap
e
uta
s,
destinado
a
exp
lora
r
as possibilidades
de
t
rata
mento
breve
de
o r i n ç ~ o
psi canalítica. A idéia bt:.sica era
reencontrar
o método or iginal de
Freud.
Esse
grupo
que
trabalhava
de
maneira muito a t iva, d iscu
ti
a
todos os casos
tratados
e Ma lan
efetuou
urn e
studo catamnéstico sobre
os
r
esulta
dos em inte rvalos
de
du ração
bas
t
an
te l
onga
.
A
técn
ica po
sta
em func ionamento pelo grup o foi a
segu
inte:
a Face
a
face;
b} Fixação de imed
i
t
o
de
um
prazo pa ra o trata
ment
o.
assinala
n
do
que se o resu I a
do
buscado não for
obüdo, pode r-se-á consider ; mil outra forma de psicote
rapia
em
seguida;
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 24/102
24 psic oterapku breves
c) Estabelecimento de
uma
hipótese psicodinâmica de
base, explicando a problemática principal do paciente;
d) Técnica de interpretação mais ativa, consistindo em
uma
atenção
seletiva
voltada
para os elementos relaciona
dos com a
hipótese
psicodinâmica de base e em
um despre-
zo seletivo
pelos elementos estranhos à dita hipótese. Essa
técnica de i n t e n ~ e n ç ã o fez com que tal forma de psicotera
p ia fosse
denominada
de
psicoterapia focal .
Em segu ida a essa experiência, D Malan conduziu
estudos
catamnésticos
muito
aprofundados sobre o pro
b lema da seleção dos pacientes para esse gênero de terapia
e
quanto
a
questão
dos resultados. Mostrou
que
é possível
obter
mudanças duradouras
por
meio de uma psicoterapia
de
curta duração
e que essas mudanças são acompanhadas
por mod ificações estruturais da personalidade. Além d isso,
ao
contrário do que se poderia acreditar, essa evolução
positiva
pode
sobrevir
em personalidades gravemente
perturbadas
e
não
parece
depender
nem da origem antiga
dos d istúrbios, nem de sua suposta profundidade;· os
fatores
de
bom
prognóst
i
co
são:
-
um forte
desejo de mudar, através de
um
melhor
conhecimento
de
si mesmo;
- a possibilidade de focalizar o
tratamento;
- a
natureza das
interpretações
que
ligam os movi·
mentos t ransferenciais às imagos parentais.
As :im, essa pesquisa provou que, modificando certas
coordenadas
do tratamento
psicanal ltico, embora perma
necendo fiel a suas
concepções
básicas,
poderíamos obter
m ~ > l h o r e s
resultados
contra
as resistências inconscientes dos
pacientes.
A avaliação imediata d problemática incons-
ciente principal dos pacientes, a estipulação de u prazo e
a escolha combinada
d s
interpretações permitem alcan-
ç r t. Hv resultado.
4. P. Sifr.eos [27-28]
? Si fr r vs trabalhava numa instituição - o Hosp ital Gera l
de
~ s s a c h u s e t t s
- que parece ter sido a primeira nos Es-
tados Uni
dos
a criar
um s e n ~ ç o
psicoterápico de urgência.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 25/102
Depois de f
aze
r uma
pr
imei ra
experiên
cia psicoterápica
de curta
d
uração cu jos
resu l
tados
fo ram
mu
i
to
favoráveis,
P. S i
fneo
s -
que
, aliás, se
mpre manteve uma
atividade
psicanal
it
ica clássi
ca
- f
ez
estudos
sobre
psicoterapias
analíticas de
cur
ta
duração,
às quais denominou psicot e·
rapias de prazo
curto,
provocadoras de ansiedade . Rela
tou seus resu ltados na
obra Psicoterapia breve e crise
emo
·
cional
331.
Centralizou
sua argumentação na noção
d
crise emocional ,
considerada como
po
nto
foca l e
platafo
r
ma giratória ao longo de um
ontinuum
dinârnico de pro·
cessas
ps
i
co
lógicos: A compreensão de uma crise
ema
·
cion
al escl
arece
os d iferen t
es estados
de forma
ção
d os
sintomas ps
iqu iát ric
os
, an t
es
m
esmo que
el
es
se crista
li
zem
numa neurose;
perm
ite, além disso, a execução de
me
didas preventivas
s interven
ções psicoteráp
icas breve
s-
às
quais recorremos
para e
vitar
o desenvolvimento dessa
neurose
[
33). SH neos
d
is
t ingue
dois
tipos de psicoterapias:
1.
Ps
i
co
terapia
ans
iolfti
ca
o u
de apoio trata -s
e de
uma
psicoterapia de apoio num pac iente que esteja
em
crise, mas
que sofra
de
dificu ldades emocionais
de longa data ; seu
objetivo
é
diminuir
a ansiedade;
2. Ps icoterapia provocadora de ansiedade ou
dinâmica
dest ina-se a provocar, através da
tomada
de cons·
ciênc
ia, a
resolução
de
um
problema.
O au
tor
atribui
um
lugar primordial
aos
critéri os de
indicação para a
psicot
erapia p rovocadora de ansiedade:
são
passíveis
de
serem
tra tados
p
or
esse
método
apenas
os
pacientes que sofrem de
neu r
ose
genital,
onde
a
problem
â·
tica
edipiana
está
em
primeiro plano, e
que
estejam forte ·
mente desejosos
de
muda
r.
P.
Sifneos
estu dou
profund
a
mente o problema da
mot
ivação de mudança nesses pa·
cien t
es e
a
questão
dos d ifer
en
tes cri térios que indicam
uma certa soli
dez
do ego. Assim. d iversamente de O.
Ma
lan.
P. Sifneos insis
te
muito nos p roblemas de seleção. A pró·
pr
ia
t
écnic
a
é
também um pouco
diferente:
a Indica-
se que
o tratarnan to
te
rá
dura
ção breve, com
aproximadamente 12 a 18 sessões. mas sem fixar a da·
, ta limite;
b}
Sessões face a face;
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 26/102
6 pricorer p i s
revts
c} O terapeu ta estabelece de i
mediato
um contrato com
seu
paciente
acerca do problema a ser tratado
d Levando-
se
em conta o
contrato
estabelecido
no
iní
cio
com
os pacientes, a técnica
de
interven
ção
de
Sifneos é ni tid
amente
ma is ativa
do
que a
de
Balint
Malan, cuja
atitud
e
é
mais neutra. Sifneos
não
hesita
em incentivar seus pacientes através de intervenções
como "Esse p rob lema não é o que tínhamos decidido
tratar ", ou então "Muito bem Você descobriu "
Além disso, ele acompanha mu ito ativamente as asso-
ciações dos pac ientes, a
quem
apóia ba
stan
te em suas ela·
bo
rações. As invest igações cat
amn
ésticas realizadas
por
Sifneos evidenc iam re
su
I
ados
muito apreciáve is e d uradou
ros. Tal como as
de
Malan, elas
mostram
que a qu
alidade
dos resultados
est
á fortemente ligada à motivaç
ão
dos
pa
ci
entes no início do t
ratamento.
Entretanto, leva
ndo
em con
ta
o que fo i
dito anterio
rmente, é evidente que a forma de
ter
ap
ia
ut
ilizada
por
Sifneos dirige se a um
grupo
de paci
entes
diferentes
dos
tr
atados por Malan,
já
que a seleção é
muito
mais rigorosa.
5. H. Davanloo [
7]
Habib Oavanloo, que t raba l
ha
no Hospital Geral
de
Mon
t real, em Ouebec, empr
eendeu,
a
part
ir de 1963,
uma
pes
quisa sistemática dos efeitos das psicoterap ias de c
urt
a du
ração. Foi ele qu
em, após
ter encontrado P. Sifn
eos
e pos
teriormente,
D.
Malan, organizou o I Simpósio In ternacio
nal de Psicoterapias Breves, em
1975,
em Montrea l, que
alcançou enorme sucesso nos Estados Unidos e no Canadá.
Davanloo desenvolveu progressi
vament
e uma técnica
de psicoterapia s breves a que
denominou "psicoterapias
di
nâmicas a
cur
t o prazo e com foco amp liado".
Ele u t iliza entrevistas
de
exploração destinadas a co-
locar em ev idência o ma teria l genét ico, com vistas a esta
be
lecer rap
idamente
uma área
de in
te rvenção, através
de
téc
nicas
dt: confrontação
muito ativas, de
esclarecimento
e de
exploraç
ão
do material consciente, pré-consciente e dos de
rivados do inconsciente. Seu mé
to
do pode se r assim resu
mido:
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 27/102
a A par tir da entrevista inicial ele procura destacar uma
área
de conflito
passível de
exp
lic
ar
as
queixas do pa-
cien te. Essa área
é comume nte
formulada
em termos
ed
i
pianos
;
b
L
ogo
de início ele confronta o paciente energicarrren
te co
m suas resistênc ias;
em parti
cular procura capt
ar
ao
vivo os
movim
en tos afetivos e pôr em evidênc ia as
resist
ênc
ias à verbalização
deles;
c
Intervém im
ed
iatamen te
quan
do das pr imeiras
man
i-
festações afetivas com respeito ao te
rapeuta
( T rans
ferência
no
sent
id o
de
H. Dav<inlo
o)
e compele o
paciente
a verbal izá-las
adotand
o
diante
deste
último
um
a a titude
de
ver
dadeiro
deséifio;
d O
prazo n:lo
é
antecipadamente fix
ado,
mas a duração
da psicoter
ap ia
oscila e
nt
re 10 e 30 s
es
sões sendo a
méd
ia
de 20 sessões.
H
Davanloo um terapeuta ex tremamente at ivo a
ponto de cheg
ar
às
vezes a
fa
l
ar
mais
do que
os
pacientes
durante as
sessões; constan temente yigilante deixa pouco
es
paço
para
a
expa
n
são
da
fantas
ia. Devemos
reconhece
r
que
os
resu ltados obtidos
com
estruturas neuróticas graves
são posi tivos.
H. Davanloo adaptou uma técnica de
aval
o ç ~ o dos
re
sultad
os
das
psicoterapias
breves
atr
avés de me i
os
aud i
o·
vi suais.
6 J. Mann [ 32 ]
Na primavera de 1964, consta tando a extensão considerá
vel das listas de espera de
psico
t
erapias
e
após uma
discus
são
com os
responsáve
is
p
elo Centro
Méd i
co
da Universi
dade de
Boston,
J
M
ann
decidiu introduzir
autoritaria·
mente um
programa
de psicoterpia an
alítica
breve para
todos os novos residentes
em
formação. Para não impor a
outrem
algo
que
ele próprio não fizesse resolveu empreen-
de
r pess
oa
l
men
te essas for
mas
de
tr
a
tam
e
nto
e organi zar
um seminár
io base
ado em documen
t
os
au diovisuais. O
programa
te
ve
i
nício em setembro
de
1964
e
pro
ssegue
até
o s ~ s d ias. O
modelo ut
i
li
za
do é
o segui
nte:
a} Em duas ou três
entrevistas
de inves
tigação
o psicote-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 28/102
8
psicott rtZpia:r
r ~
rapeuta deve delimitar um conflito central , origem
das
que
ixas do pacien te. A formulação desse confl i
to
pode não coincidir com as razões conscientes que im
peliram
o
paciente
a
consu
ltar-se. Esse
conflito
cen
tral é ligado a suas fontes
infant
is sob a forma de
uma
hipótese psicodinàmica;
b
O
terapeuta dispõe, ao todo
,
de
12 horas
de psicote
·
rapia, que pode
distribuir
de acordo com um contrato
estabelecido com o pac iente. A d istribuição dessas 12
horas é feita
conforme
a natureza dos problemas
ps
quicos do
doente 12 sessões de
uma
hora , 24 sessões
de
meia
hora ou
48
sessões
de
15
minutos)
;
c O
terapeuta
define esse núcleo
de conflito
p
ara
seu
paciente, usualmente em
termos
gerais
que
visam a
mostrar a compreensão empática
do
terapeuta e a
criar uma relação significa tiva;
d
A data
da
última sessão é fixada com precisão;
e) Uma vez estabelecido o cont
rato
e com a aceitação do
paciente.
o tratamento
tem
in
(cio,
segundo
um
pla·
no
predeterminado
em
que
a ênfase
é
colocada
na elabo
ra ção dos determinantes inconscie ntes do conflito
central.
O confli
to
centra l é escolhido em função das fases
maturacionais
do desenvolvimento da personalidade, de
acordo
com um ponto
de
vista
duplo:
o ponto
de
vista
adaptativo e o ponto de vista genético. Antes de mais nada,
levando-se
em
conta a importância da
limitação
tempora l
nessa forma de
tratamento,
a ênfase recai sobre o problema
da
separação-individuação.
De acordo
com
J.
Mann, esse
problema é
constant
emen
te encontrado
no
que
ele deno
mina de si tuações
conflit
ivas universais de base :
1 Independência-
dependênci
a.
2. Atividade-passividade.
3. Autoconfiança adequada-perda
ou
d iminuição da
au
tocon
f
ia
nça.
4.
Luto
não resolvido
ou
retardado.
A parte
as
crises agudas reação esquizofrênica
ou
n
rótica
aguda e estados depressivos profundos),
quase
nao há contra-indicação
para
essa
forma
de
psicoterap
ia.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 29/102
nusâ mertto
~ u o 9
7. Técnica
de
Lausanne E. Gilliéron)
Foi em 1968 que iniciamos um estudo mais sistemático das
psicoterap ias breves na Policlinica Psiquiátrica Universitá
ria
de
Lausanne. Depois de trabalhar segundo uma orienta·
ção muito próxima das idéias de M. Balint e D. Malan, po
larizamos progressivamente nossa atenção no estudo da in·
fluência do
setting
em particular, limitação temporal
e ses
·
sões face a face) no funcionamento psíquico. Nossa hipóte·
se
era a de que algumas modificações contextuais simples
em relação ps icanálise influenciariam consideravelmente
o processo associativo. Foi
por
isso que, sem renunciarmos
ao estabelecimento de hipóteses psicodinãmicas durante a
fase de investigação, modificamos nossa
at
itude, permi rin-
do livre curso às associações do paci
ente
, sem dett:r minar
p r e t ~ i m e n t e o problema consciente a ser tratado e sem
exigir do terapeuta uma atitude particularmente ativa. Pe
dimos a este último que adotasse, se possível como em
psicanálise, uma atitude de atenção flutuante e não mais
uma atenção focalizada.
Mas
ve
jamos nosso método
com
mais precisão:
A primeira entrevista, semi-estruturada, é essencial
mente centralizada nas queixas atuais do paciente e depois
progressivamente, em sua história pessoa l. O contexto e as
circunstâncias do aparecimento dos sintomas são exami
nados mu i
to
de perto, assim
como
o modo de chegada
à
consulta por si mesmo, encaminhado
por
um colega etc.);
em seguida, a anamnese
é
esmiuçada o mais profunda·
mente possível, tendo o terapeuta em mente as circunstân·
cias do aparecimento da descompensação atual, com vistas
a
comp
reender as caracter ísticas fundamentais das rel ções
objet is estabelecidas pelo paciente no passado e no pre
sente. A hipótese subjacente é que a maioria das descom·
pensações é
desenc de d por
minicrises relacionãis.
Jtl
ao final da primeira entrevista, e relativamente a todos os
pacientes, esperamos do terapeuta que tenha uma idéia
do
tratamento que e
trevé· medicamentos, psicoterapia
a longo prazo, psicantllise ou psicoterapia a curto prazo.
A
~ g u n d
entrevista é orientada em função dessa pri·
meira impressão. Quando penSd urna terapia de curto
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 30/102
30
pricottrtZpÍils brc ·ts
prazo, o
terapeuta
deve
formular
uma
hipótese
psicodi
nâmica simples, que resuma da melhor fo rma possível a
problemática
neu ró t ica do paciente .
A segun da entrev ista
tem por
obje t ivo firma r a refe·
rida hipótese e,
se
possível, estabe l
ecer
as bases do t rata·
menta futuro at ravés de ensaios in
terpretat
ivos. Ao
formu
·
lar sua hipótese, o terapeuta deve basear se na natureza
da rel ção
que
o paciente procura estabelecer e dar-lhe
uma inte rp retação psicodinâm ica que
expl
ique a at
itude
tu l do pacien te , ligando-a
com
o passado deste último.
na terceira entrevista
que
a decis
ão
deve ser tomada,
f1xa
ndo-
se as modali
dades
do
tratamento
(horário, fre ·
qüen cia das sessões, honorá r ios).
Esse esquema, fortemente ligado à natu reza de nosso
serviço (se
rv
i
ço
universitário de f
ormação).
é su ficiente·
mente
flex ível pa ra l
evar
em conta, a um só tempo , a
expe
·
r
ié
ncia do tera peuta e a natu reza dos distúrbios do pacien
te . A maioria
dos
casos é discutida em grupo. Ao fixar as
modal idades do
tratamento,
o terapeuta propõe u ma
psic
otera
p ia
de
du ração lim it
ada
e, usu
almen
te,
pede
ao
paciente
qu
e
indique
o tempo que ele se atribui, subjet -
v
mente
para
resolver suas dificuldades. O próprio
ter
a
peuta deve formar
sua
própr ia idéia a esse re
spe
ito. A
dur
aç ão hab itual va ria entre trés meses e
um
a
no
, à razão
de uma sessão por sema na
ou,
por
vezes,
duas.
A d
at
a da
últ ima sessão é determinada
com
precisão.
As sessões desenro lam-se face a face e o terapeuta
fornece
como
inst
rução
única
a regra d
as
associações
livres. A natureza das intervenções feitas
quando
das
entrev is tas de investigação (ensaios interpretat
iv
os) deve
perm it ir ao pac iente
apr
eender o tipo de t rabalho que
será realizado.
Uma vez fixadas as condi
çõ
es básicas e enunciada a
regra da associação
li
vre, o
ter
apeuta deixa
que
o
processo
se desenrole, exatamente
com
o ocorre em psicanálise, mas
mantendo-se
atento
às
mod
ificações
pouco
man
ifestas
da transferênci a provocadas pela limitação clara da duração
e pela posição face a face, em particular. O
terapeut
a
acom
pa
nha seu pacien te o mais de
perto
possível, sem des
prezar nenhuma associação, mas esforça ndo-se
por
captar
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 31/102
sci toe eyo uçiio 31
a mane ira específica pela qual se
man
ifesta a
trans
ferênc ia
na psicoter
apia. Para fa
zer
isso,
pode
referir-se à hipótese
que
havia formulado. Se a hipótese psicodinâm ica básica
estiver
correta
o
proc
esso se
desenrolará
com bastante
facilidade e o terapeuta logo d isporá de elementos su1i
cientes para confirmá-la nas associações do paciente. Se
a hipótese for falsa,
aparecer
ão
numerosos
ma l entendidos
que
evidentemente
obrig
arão
(ou, pelo
menos
deveriam
obr igar) o
terapeuta
a rever sua
opinião.
A nosso ver, o
trabalho de reflexão concern ente às sessões deve ser efe
tuado fora delas,
sobretud
o no caso de terapeutas inex
perientes, e isso
porque
é mui
to
d
ifí
c
il
reflet
ir e e
scutar
ao mesmo tempo. Convém insistir no fa to de que.
para
o
terape
uta
tra
:_a se de compreender o material associativo
do paciente, e não de dirigi-lo. Suas intervenções
devem
ter por
objetivo favorecer as associações e
permit
ir toma
das de consciência rea is.
Vemos então
desenrolar-se
um
processo
acelerado que
em certos as
pectos
assemelha-
se
curiosamente
ao que
ocorre
em psicaQál ise
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 32/102
.
r
QUESTION MENTO
Sobre a Necessidade
de
um
Modelo Psicoterãpico:
Alguns
Princípios
Fundamentais
As técnicas
de
psicoterapia breve apresentadas no caprtulo
anterior foram escolhidas
em
razão de sua importância
e de suas características. Cada
uma
delas mereceria uma
exposição mais longa, porém o leitor interessado em
uma
ou
em
outra
poderá
reportar-se às
obras
c itadas. ·
O ecletismo
das
técnicas, das quais o
quadro
sinóptico
que
se segue resume as d iferentes características,
não
deixa
de
levar-nos a indagar: será que cada terapeuta não cria
seu própr
io
método em função
de sua economia pessoa
l
escolhe
ndo
os pacientes
correspondentes?
Aliás, obser
vamos em alguns deles uma certa dificuldade em fazer
escola,
na
medida
em que
desenvolvem uma técnica essen·
c
ial
mente
pessoal e parecem t er d ificulda
de
em
fundamen
tar sua prática
em
uma
t ori
mesmo
elementar-
capaz
de servir como
ponto
de referênc ia. Outros esforçam-se
por
assentar sua prática
em uma
teoria
coerente, porém,
com
mui ta freq üência, t rata-se sobretudo de
um
a refer
ên·
cia d i
reta
e parcial
à
psicanálise: Cada psicoterapia
con·
sidera um aspecto d iferente; por consegu inte ,
parte
e uma
limitação mais ou menos grave e diferentemente situada
em
re la
ção
ao
conjunto
de
at
i
tudes
poss íveis.
Portanto,
cada uma
de
las caracteriza-se, mui tas vezes, sem
que
o
saiba,
por uma
base contratransferencia l seletiva. [2
4]
Aliás, é verdade que,
em
psicoterapia breve, recorre-se
comumente
ao que se poderia chamar
princíp
ios de
li
mi-
.l2
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 33/102
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8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 34/102
4
psicottropi s hre••ct
tação : presta-se atenção a
uma
ou
tra
das facetas do
processo
psicanalítico,
ou,
com um objetivo de
simpli
ficação,
concentra-se
sua atividade
num
dos elementos
que entram em jogo na comp lex idade
da
organização
psíquica
. Essa
focalizaçiio pode
atingir os aspectos
intersubjetivos, genéticos
ou
dinãm icos. Assim, pode-se
estabe
lecer
uma
hipótese psicodinãmica causal , evo
cando
um fator
traumátic
o oc
orrido
no passado
do
pacien-
te e passível
de
explicar seus
distúrbios
atuais. Podemos
também for mular uma
hipótese psicodinâmica ma is
estrutur
al , centrada nas d iferentes vicissitudes do
Complexo
de tdipo.
Podemos polarizar sua a tenção para
a
constituição
desta
ou
daquela
organização defensiva.
F
inalmente
,
podemos
concentrar-nos nos aspectos
econô
micos da
relação cerapê
uticé
e contar
c
om
uma experién
cia emocional
corretiva. Todas
essas perspectivas,
por tanto
,
dão
imagem
de
um processo
incompleto
em comparação
com o proc-esso
psicanalítico
. Por
outro
lado, o postulado
freudiano
da
iné rcia
do
aparelho psíquico, que exige a
repetição das
inte
rpret
ações elaboração)
e
ju stif ica a longa
duração
do
tra
tamento,
refo
rça essa impressão, pois as
psicoterapias breves,
ao
encu rtarem esse tempo de ela
boração, parecem também
limitar as ambições do te
rapeuta.
A ex trema var iedade
déiS
formas de psicoterapia
não deve
impressionar,
visto que os objetivos visados são
múl tiplos
(cura
sintomática, melhora das relações inter
pessoais, tole rância às
tens
ões psíquicas, ou, a rigor, aos
si
ntomas,
aumento da capac idade de amar, me lho ra da
situação social etc .). Cada um desses objet ivos pode ser
vinculado
a
um ou outro
dos aspe
ctos
da t
eoria
psicana
lítica, mas
nenhum
deles parece traduzir sua globalídade.
Ecletismo técnico, escolha contratransrerencial
dos
pa
cientes, especificidade
do
s efeitos
terapêut
icos: muitos
são
os cam
i
nhos abertos à
reflexão para as psicote rap ias
breves; o
ponto
c ruc ial é a
questão
da
mud,mça
psi
quíca
e
dos
meios postos
em
ação para
obtê
-la . Muitos autores
se interrogam a esse respei10 . Assim, é com os fatores
comuns a todas as psicoterapias
(qualidade humana
da relação
e
crença
compartilhada
pelo paciente e pelo
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 35/102
j
I
quertionamenro
J \
terapeuta numa
teor
ia qualquer) que
J.
Frank relaciona
as
mudanças observadas
{101.
Convém lembrar aqui
que a
teoria freudiana da
mudança,
que
se
apó
ia
essencialmente
na
no
ção
de
inter-
pretação
evoluiu
em
função das
diferentes
descobe1tas
feitas ao
longo dos anos e comporta
diversos pontos de
vista
comp
l
ement
ares,
que
devemos
cons
i
derar em
sua
globalidade.
De fato, essa visão
caleidoscópica
comporta
planos diferentes nos quais
se
d
esenrola
o processo ana
lítico. É claro que o estudo da mudança I gada aos e feitas
da interpretação não
é
incompatív
e l com o
estudo
mais ge
ral
da
personalidade
e
de
suas transformações
no
decorrer
do
tratamento.
Da mesma forma . o
ponto de
vista genét i
co
não ~ opõe ai)
estudo dos fatores dinâmicos
e econôm i-
cos da
mudança 35
].
pp.
190-191). Assim, podemos
descrever
as
interpretações
e seus
efeitos
em termos
e o-
nômicos (deslocamento
ou ligação
das
cargas energéticas,
domínio
essencial
dos
afetos), em termos
dinâmicos
(conflitos diversos
en
tre fo rças cpntraditórias. domínio
das
pulsões
e
dos
mecanismos de
defesa),
em
te
rmo
s
g né·
ticos vínculos entre
a história d o sujei
to
e a vida at
ual).
em termosestruturais
(relação
entre
id, ego e
superego) etc.
Assim, é
fato que
a
ma
io r
parte dos autores
e
nfatiza
um
ou outro
desses
aspectos: por
exemp lo, os pontos de
vista genét ico,
para Sifneos (critérios
de seleção, focal i
zação), ma is dinâmico,
para
Malan (hipótese psicodinã
mica), e econômico para Davanloo ênfast= na atividade)
ou para
Alexander
(experiênc
ia
emoc
i
ona
l
corret
iva)
etc.
Todavia,
parece
errôneo
tanto nos contentarmos
em evocar fatores terapêuticos não
específicos
(J.
Frank)
quanto nos referirmos
a um
aspecto
parcial
da teoria ou
do
tratam
ento psicanalítico
M.
Gressot): os meios
em·
pregados sã diferentes. Ora, mantemos
com
dem
asia
da
freqüência
uma
confusão entre a psicanál ise
enquanto
teoria
e a psicanálise enquanto
prática.
Sem dúvida,
os
do
is
aspectos são
indissociáveis,
mas
essa mesma i
nd
isso
ciabilidade indica clarameme que há uma
relação dinâmica
a uni-los. Atualmente, preocupamo-nos
muito
com esse
problema J.
Bleger, S. Vidermann,
J.L. Donnet.
A.
Gree
n
etc.); concordamos cada
vez mais
em
di
zer que
o
processo
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 36/102
36
psicoterapws ráu
psicanalítico está fortemente
ligado ao
enq
uadre em que
se desenro la e
de
sconfiamos, por exemplo, da aplicação
d ireta das
teorias
psicanal iticas a
ou
t ros ramos, ta is
como
a história, a mi
tol
ogia, a a rte
etc.
Ora
todos os métodos
psicoterápicos decorrem de grandes modíficações do
enquadre. Desp rez
ar
o impacto destas últimas, faz en
do
referência apenas
à teor
ia psicanalítica, afigura-se, portan·
to, o meio ma is segu ro de levar a um impasse. Eis aí
porque,
em Lausanne, fomo s progressiva
mente
voltand o
nossa
atenção
para os efeitos da disposição espaço-tem·
poral
no
desenrolar do tra tamento adotando uma técnica
de
in
ter
pre
t
ação estritam
ent
e psicanalitica, sem
dar
outra
instrução espec ífíca ao paciente que não a das associações
livres. O objetivo é avaliar
melho
r a even tual especificidade
do
processo ps
icote
r
ápico
em relação
ao
t
ratamen
to pa-
dr
ão :
trata
-se,
po
rt
an
to, de saber o que acontece quando
permanecemos analis tas num enquadre psicoterápico.
A teoria psicanal itica descreve essencialmente um
funcionamento
intraps/quico ainda que se
ja
inferida
de
u
ma
relação
intersubjeciva
num
determinado
enquadre.
O estabelecimento dessa teoria e a manutenção de uma
cer
ta co
erência
só
seriam
po
ssíveis se a disposição
per
ma·
necesse muito estável
como
bem sublinhou a oposição
de Freud às proposições
de S.
Ferenczi: as variações téc·
nicas
não
poderiam ser integradas s
em maio
res problemas
na teoria
ps
icana lít ica sendo conveni
ente
desenvolver
um novo odelo que
autorize
essa integração. Em nossa
opinião,
esse m
odelo
deve
permitir
descrever:
1. A influência
da
disposição ou enquadre no desen·
r
olar do pr
ocesso t
erapêu
t i
co;
2 . A
diMmica
da relação
de duas
pessoas dinâmica
intersu bjet iva);
3 . Suas relações com o funcionamento imraps quico
individual.
Duas referências ep istemológicas essenc ia is pa ra
comp
lementar
a
contribu
i
ção
psicanalítica clássica, pare
ce
m passíveis de
melhorar
nossa compreensão:
1.
As teorias psicana líticas de
grup
o
que
fornecem
informaçõ
es importantes sob re as fam
si s
compar·
tilhadas po
r d
iv
ersas pessoas;
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 37/102
questiOTIDintf
7
2. s
teorias dos
sistemas
e da
comunicação,
que
perm
item descrever com precisão as
relações
hie·
rárquicas
ou
dinâmicas entre diversos
elementos
- isso a
que
chamamos
caracte
rísticas sistémicas
da relação .
Assim, consideramos o conjunto
terapeuta
-
paciente
como
um
todo em interação contínua
num
determinado
enquadre. A natureza das interações depende da organiza-
ção intrapsíquica de cada um dos parceiros, do enquadre
e do respeito a certas
regr s
relacionais cf. representação
esquemática abaixo).
Esse
esquema pretende mostrar
os principais elemen
tos constitutivos da relação terapêut ica considerada como
uma rel
ação
cifcular): o
enquadre,
os
i
n
ivíduos
e a natu-
reza
de
suas trocas associações verbais, percepções visuais).
consideradas comunicações . A necessidade de uma
distinção entre enquadre, relação intersubjetíva e aparelho
psíquico individual é cada vez ma is reconhecida, sendo tão
indispensável em psicoterapia q u a r ~ t o em psicanálise. O
enquadre
comp
reende os
dados
fixos
do tratamento
o setting) : freqüênc ia das sessões, limite de tempo, face
a face, divã, poltrona etc. Ele
é também delimitado por
dados
concretos ma is fundamentais, tais como o
status
\ sócio-cultural da psicoterapia em geral, os direitos e deve-
I
I
)
J
ENOU URE
ESQUEM
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 38/102
38
s
corer pills
v n
res
do
psicoterapeuta e do paciente, em suma, todos os
determinantes socia is
do
tratamento. A
relação
def
in
e
o que acontece
entre
o terapeuta
e
seu paciente, em
particular a natureza das
trocas
(associação livre, neut
ra·
idade do terapeuta) e a natureza das in tervenções (inter
pretações, sugestões etc.). Para melhor compreender
nossa abordagem, convém recordarmos alguns princ pios
fundamentais da teoria da comunicação.
REMEMORAÇÃO
OE ALGUNS PAI
NCfPIOS
DA TEORIA DA
CO
MU NICAÇÃO
Segundo nossa experiencia, é extremamente dif(cil formar
uma idéia clara do alcance epistemológico das teorias da
comu nicação ou dos sistemas sem ter delas uma certa prá·
tica, em particular nas terapias de família. As linhas que
se
seguem não tem outro objetivo que não o de servir
como um resumo.
O
leitor
in
teressado deverá referir-
se ~
obras clássicas, dentre as quais a mais rica, para os psiéana
listas,
é
certamente a de
G.
Bateson,
Por uma ecologia
da
m nt [2]. As obras de P. Watzlawick [34] ou o pequeno
livro de J. C. Bennoit
[4
também podem ser consultados
com proveito.
Como dissemos anteriormente, a teoria dos sistemas
estuda
conjuntos
de pessoas (mais particularmente os
grupos naturais, como a família).
e
não indivfduos iso
la
·
dos; esses conjuntos são concebidos como sistemas
aber·
tos ,
o
que
equivale a dizer que trocam informações
corHi
nuamente com o exterior. As trocas são consideradas como
mensagens" ou
comunicações ,
e não como "forças"
ou
quant
idades". Essa abordagem supra ind ividual con
duz ao destaque dos seguintes principias fundamentais :
A
unidade
considerada não é ma is o indivíduo, e sim
o grupo, do qual defin imos algumas
caracteristicas funda·
mentais.
Pr
incíp
ios Básicos
a
Principio da totalidade
ou de "não-somatório":
Um sistema é uma unidade funcional, um conjunto que
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 39/102
questionomf nto 39
não
se
deve considerar como
a soma
das partes que
o
co
m
põem; assim a
famíl ia
não
consiste
sim
ple
smente
na adi
ção das características dos ind ivíduos que a formam,
tendo antes
caracteristicas próprias.
Também o
par terapeuta-paciente
é
dotado de carac-
terísticas originais,
que não se prendem
simplesmente
â
adição das
duas personalidade
s
mas
sim
correspondem
à
combinação
de
diversos fatores (transferência,
contra
transferência especificidade do tra
tamento
etc.).
Convém
d izermos
de
imediato que em nosso traba lho conside·
ramos sobretudo as
ca
rac teríst icas do conjunto e mu i o
menos
as
manifestações
pa
rti
culares
do
pac
i
ente
ou
d o
ter
apeuta.
Ainda se fala atua lmente, em critérios de
seleção ou
ée indicação para
uma
psicoterapia, con
siderando apenas o pacience, o que nos
parece um erro
fundamental
mesmo
em
psicanálise,
na
med ida em
que
sabemos que a transferência e a contratransferência são in
dissociáveis. Tratar-se-ia antes, de
discuti
r esse problema
em função do par formado pelo terppeu ta e pelo pac
iente.
Forneceremos um esboço
d isso
no capítulo
7.
b) Princ pio d organização: Todo conjunto
de
pes
soas
cujos vínculos
são
duradouros tende
a organizar-se
em
fu n
ção
de
ob
j
et
ivos comuns, o
que
exige a definição de
certas regras que limitam
a
liberdade dos
i
ndivíduos
e
man·
têm
um
estado de
equil
íb
rio (homeostase) por auto
-regula
ção.
Essa
homeostase é
mantida
pelas respostas negati v s
dadas aos comportamentos transgressores das
regras (feed
back
negatiYol. A psicanálise e as
psicoterapias são
também
regidas
por
regras claramente
definidas,
para alguns e
im
plícitas para outros - por exemplo, a regra fundamental
das
associações
liYres a regra
da
abstinência ou, no que
concerne às psicoterapias a
atenção
ou a negligência selet i·
as
etc . Veremos que as resistências podem ser cons ideradas
c
omo uma transgressão às
regras
mas
q
ue
essas
regras per·
mitem
a
manutenção
de
um certo equi/ brio (homeostase)
entre
o
terapeuta
e o
paciente; quando
elas
não
s:lo
re
spei
tadas por
um ou
pelo
outro,
a relação corre o risco
de
rom
per-se.
c) Hierarquia. Uma ordem hierárquica define as rela
ções das diferentes partes do sistema as relações do indiv f-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 40/102
40 p s i o t e r ~ p i o s
re•·es
duo com o
grupo,
do
grupo com
a sociedade etc. Existe
um
a espécie de encaixe onde o indiv(duo é considerado
um
subsi
stema da
famí
li
a,
sendo
esta últ ima
um sub
si
ste
ma da
classe social,
que
é,
por
sua
vez,
um
subsistema da socieda
de etc.
Assim, esse
princípio permite apreender
a lóg ica qu e
rege a psicoterapia . Po rtanto,
é mu
ito importante com ·
preender qu
e
os elementos concernent
es
ao enquadre
ocupam uma pos
i
ção
h i
erarquicamente superior à dos
q ue
concernem
somente
aos
indiv duos. A relação terapêu tica
inscreve-se
no
in ter
ior
do
enquadre.
Examinaremos certos
aspectos
de
·
le
no capítulo
5 .
d Princ/pio da adaptação: Quando as
circunstâncias o
exigem, o
grupo
pode
ter que
modificar seus
mecan
is
mos
de auto-regu lação e elaborar
regras
nova
s Por
exemplo,
quando su rge um novo comportamento num membro
do
sistema ou
em cas
o
de mod
ificações
do contexto,
o
grupo
pod
e reagir
não por um feedback
negativo, mas sim por
um
feedback
positivo, a saber: o novo comportamento é-esti
mulado,
em
vez
de
sancionado,
o que
conduz
a
uma
mu
·
dança
com ela
bo
ra
ção de novas normas. Trata
-se
da
pro·
priedade mais importante do sistema familiar; é
de
la que
depende
a saúde dos filhos. Com efeito,
por
sua imaturida
de, a
criança
desenvolve-se em
etapas
sucessivas
que
exigem
con
s
tantes readaptações
do
equilíbrio
do
meio
familiar os
pais
não
têm o
mesmo
comportamento diante do recém·
nascido e diante da criança
no
inicio da escolarização, ou
na
puberdade
etc
.
.
Mas essa é
também
a
propr
i
edad
e ma
is
importante
de
qualquer psicoterap ia e, a
nosso
ver, a análi
se interminável pode ser cons iderada como
um resultado
do
fracasso desse
princfpio
de
adaptação.
Tudo ocorre co
mo se
tanto
o ana
li
sta
quan to
o analisando
fo
ssem incapa·
zes
de adaptar-se
a
um
a
mudança. E um erro
considerares·
se prob l
ema apenas
do ponto de vista do pa
ciente.
Portanto,
é
em virtude
desse
princípio de
adaptação
que
podem
sob
reviver as
muda
nças
psíquicas, e a lógi
ca
da
interpret
a
ção poderia ser
estudada
sob
esse ângulo.
A noção de
equ
ilíbrio -
homeos
tase - baseia -se
nu
ma
concepção
teórica
fundamental:
a de
cir
cular
id
ad
e.
Com efe
i
to,
falar
no equ
i
líbrio de um sistema
pressupõe
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 41/102
quesrtOtJamento
4 1
que há forças contrárias
em
o pos ição; assim, na família, as
tendências à emanci
pação chocam-se
com
a necessidade de
coesão
do meio. A visão sistêmica descreve a técnica de
auto
-regulação
que
mantém
o
equilíbrio
entre
forças
con
-
trárias. ..
Vamos esclarecer esse ponto: t r
adicionalmente,
inter
preta-se a patologia em
termos
de uma causalidade linear;
busca-se um agente c us l. Por
exemplo, segundo
a primei ·
ra
teoria
freudiana, considerava-se que
um trauma
seria a
c us
dos
distúrbios
neuróti
cos;
mais tarde, poder-se-
ia
di
zer que as dificuldades
do
desenvolvimento p s o
s e x u < ~ l
eram
a
c us
dos
mesmos
distúrbios neuróticos
etc., o
que
ser ia esquematizado da seguin te
maneira:
A - 8
- C
-
o
- E
etc. (A acarreta 8,
que
acarreta c
etc. .
O modelo cibernético, ao contrário, descreve um sis
tema
dotado
de
retroação
que
poderia
ser assim
esquema
tizado:
. --- ............
/
/
/
A ~ / 8 C
\
I \
I 1
\
I I
\
I
\ I
\
I
\
E D
/
/
, _ , / -...
..._
--,.,..
Sistema
aberto
ESQUEMA 2
Toda
mudança
impl ica uma
crise
o
que
não é pato ló
gico
em
si
mesmo,
antes pelo
cont
rár
io: se algumas crises
são mot ivadas por acidente :, tais como mortes, separações,
doenças graves etc., outras
tornam
-se necessárias pela evo
lução das crianças ou pelas mudanças ocorridas nas condi
ções existenciais (ascensão profissional, por
exemplo .
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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I.
I
I
42 psicottr pi s rtvts
Estudar a re lação ps icot
eráp
ica se
gun
d o
essa vi são
im ·
p lica c
er
tas
mod
if
icaçõ
es fu ndamenta
is dent
re as quais a
p
rinci
pal é
uma
m elhor avaliação
da
contribu ição respect i-
va das difere
nt
es par tes e m ação no p
rocesso
Torna-se en
tão
indi
spe
ns
á
ve
l
co
n
sid
erar
os
m
ov
ime
nt
os
t r
ans
fer
enc
iais
do paciente e a contra transferencia como um p roduto de
in
fl
uências dive rsas
dentre as
qua is as pr inc ipa is são as do
enquad re e as dos psiq uismos in dividuais
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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c
Introdução
5
O
ENQU DRE
PSICOTER PICO
E SU S FUNÇOES
Atualmente, reconhecemos
que
as mudanças psíqu icas po
dem ocor
rer
num
tempo relativamente curto, c0ntraria
mente
ao
que
havia
m ~ o
o pai da psicanálise e ao
que
as
gerações seguintes
contentaram-se
muitas vezes
em
repe
tir sem quest ionar. As
críticas
relativas
à
difer
ença
de natu
reza
ent
re as
mudanças
observadas em
ps
icanálise, compa
radas às
mudanças obtidas
por
outras
técnicas, foram ass im
rebat idas. Mas acabamos por considerar a psicaná se não
mais co
mo
o
único
mé todo terapêutico vál ido, e sim como
um
processo específ
ico, cujos efeitos podem ser
terapêuti
cos e
cujo objetivo
final não é essencialmente terapêu tico.
Tudo
isso
nos
incita a indagar sobre o processo psi
coterápi
co
em
compa r
ação com
o
processo
psic
analí
t ico:
1
O
que aconteceu
com as bases psicana líticas
do
processo psicoterápico?
2.
E
possível
que
os mesmos
fenõmenos psíquicos
in
trapsíquicos este
jam
em
jogo
no
processo psicot
e-
rápico?
Como vimos
anteriormente
,
é
i
mp
ressiona n
te consta
t
ar
que, na
maior parte do
tempo, fa lamos em psicoterap ia
ana
l ítica nos mesmos termos
que
em
ps
icanálise, embora a
disposição
ps
icoterápica seja muito
diferente
da psicanal íti
ca. O simples
fa
to de
que
Freud
recusou-se quase
sempre
a
falar em
rel ções intersub
jctivas e de
que
suas elabo ra
çõ
es
teór
icas e cl ín icas
sempre
disseram respeito
à
dimensão in ·
trapsíquica talvez se ja uma das razões d isso: ao voltar seu
interesse para o funcionamento intrapsíquico, ele desviou
43
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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44
psicoterapias breves
deliberadamente
o o lhar
da
d i
mensão
i
nterpe
ssoal. Isso não
impede
que
suas elaborações t enham sido inferidas da ob
servação de uma relação intersubjetiva. O resultado foi
que.
durante
muito
temp
o,
não percebemos nem
a
impo
r
tância da
dispos
ição no tratamento,
nem a
da atividade do
analista. o momento atual, as
coisas
se modificaram bas
tante e mu lt ip l
icam
-se os
artigos
vol tados
para
o enquadre
analítico
ou para a dinâmica da contratransferéncia.
Para
captar a
dinâmica das
psicoterapias breves.
pare·
ce
indispensáve
l compreender o impacto
da
disposi
ção
que
é
pro
posta
ao
paciente, an te
s
de nos
forr- ·
rlarmos
outras
indagações
sobre outros po
n tos.
tais comC I
lécn i
ca
ou as
indicaçõe;.
Corno
já
vimos,
nosso
trabalho
baseia-se
nas
se·
guin tes hipóteses:
1 Que as variações do enquadre são
suficientes
para
modi
ficar o funcionamento psíquico e intensifi
cam as trocas
relacionais.
2. Que a
técnica
de
interpretação deve
ser
estudada
e
adap t
ada
a essas
modificações do
funcionamento
psíquico.
3. Que é possível . em d iversas formas
de
psicoterapia,
tais como
a psicoterapia
breve, respeirar escrita-
m nt s regras básicas
da psicanálise
,
desde
que se
compreenda a
especificidade
das resistências
que
í
surgem.
4.
Que
a
função
do
enq
uadre
é
cr
i
ar
uma
situação ps -
quica
apropriada para
favorecer a eticácia da inter
pretação.
5. Oue o enquadre apóia -se na cultura ambiental
Vejamos alguns aspectos
das
relações entre o enqua
dre e a cultura, antes de
estudarmos
a
influênc
ia do
enqua
dre
no
funcionamento
psíqu ico,
pa
ra mostrar com o é ros
sível, de um lado,
acelera
r o processo de mudança, mas, de
outro, aumenta
r
também
as
res
i
stências
à
mudança.
Convém
l
embrar que entendemos
por
enquadre um
conjunto
de
fatores
que
compreendem os determinantes
sócio-cu ltura is do tratamento e
certos
pa
râmetros mais ou
menos fixos, tais como o lugar. a freqüência e duração das
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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.
---------------------------
t nquadre psicotm pÚ o 45
sessões etc. Trata-se,
po
is, de u ma
noção complexa,
de
uma
fr
onte
i
ra
que
separa
o
espaço do tratamento do espaçoso
cial e
que
assim del imita
uma
z
ona
privilegiada,
onde os
atos
rea lizados e as palavras
trocadas assumem valor
tera
pêutico
.
Quanto
à
relação
te r
apêut
ica, ela
define, portaMo,
as trocas
entre
o
terapeuta
e o p
aciente
e se inscreve no
interior
do
enq
uadre,
que
ocupa
uma
posição
hierarquica
mente
superior, no sentido de
que
se
impõe, de
algum
mo
d o, aos
dois
parceiros. Há
uma
rel
ação dinâmica entre o en-
quadre e a relação. De
qualquer modo
, o
enquadre
define
um
campo de
força a
que
s t ~ o
submet
idos
tanto
o
tefa
peut
a
quanto
o pacie
nte
ver
esq
u
ema
3 ).
paciente
f..
rel ação
1
terapeuta
ESQUEMA 3 - Enquadre
e
relação
psicoterápica
FUNÇÕES
E
NQUADRE PSICOTERÀPICO
O
enquad
re
ps
i
coteráp
i
co
tem
uma
função dup
la:
dinâmica
cr ia
um campo dinâmico no
i
nterior do qua
l
desenrola
-se
a psic
oterapi
a ) e tópica
delim
i
ta um
lug
ar
ps
icoterápico .
1 Função Dinâmica
A função dinâmica é indissociável da função tópica, na me
~ em
que,
em nossa opinião, é em rel
ação
ao
campo
cu tu·
ra/ que
se
delimita
o
campo
psicoterápico. O
enquadre de
·
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 46/102
46
psicoter pi breve
termina
um dentro e um fora . O den t ro é o campo
psicoterápico, e o fora é o campo sócio-cul tural. Essa deli ·
mitação é feita, em primei ro lugar, po r
uma recolocação
em
questão, das regras sociais, morais ou outras que preva·
leçam na cu ltura amb iente; assim, ela
estab
elece
uma
dis
crimi
nação
entre
ce rtas regras vigentes no campo psico terá·
pico e as
que
vigoram no
campo
sócio-cultural. Segundo
nossa tes
e,
um vínculo din
nico as
un
e. O
enquad
re,
por·
tanto, tem u ma ver tente social e u ma vertente
psicote
ráp i·
ca, uma das quais se define em relação à outra; e, se o en ·
quadre
delimita um lugar um espaço geográfico), ele
seca
·
racteriza
também pe
lo
conjunto de
regras fixas
que de
fi·
nem
a p rópria rel
aç
ão
em toda situação t
erap
êut ica, certos
tabus são suspensos, mas, em contrapartid a, algumas proi ·
b ições são mais acentuadas. Por
exemplo,
o paciente tem o
di
reito de
dizer
tudo, mas lhe
é
proibido ag ir. Quanto ao
ter
ape
uta, ta mbém
ele
empenha se na abstinência, porém
mostra-se pronto a tu do escutar. Po rtanto, certas trocas
pro ibidas
em
outros lugares são ali au torizadas, e outras,
socialmente au to rizadas, proibidas. Assim, enquanto no
c
am
po sóc io <:ultural certas palavras devem ser medidas
polidez, eufemismos), por s
er
em às vez es proib idas gros·
serias, impertinênc
ia
s). no
camp
o do trata mento, ao con·
trário, elas são autorizadas ou
até
mesmo obr igatórias). In·
ve r
samente,
enquanto
no campo so
cial certos
atos
são n ·
ce
ários ou devem acompanhar a
fal
a manifestações de
ternura ou
de
amor, trocas de presentes etc.), eles são pro i·
b idos no campo ps i
cot
eráp ico.
Al ém
disso, essas regras
conf
er
em a cada um dos
interlocutores um p pel
mui to di ·
ferente
e cria m uma assim
et
ria
cons
ideráve l: associações li·
vres de um lado, silêncio
do
ou tro, liberdade de fala de um
lado, promessa de segredo de
out
ro. Ademais, um
é obriga -
tori m nte
o que demanda o paciente), enquan to o outro
é
o provedor o terapeu ta). Em termos esquemáticos, po
deríamos
dizer que
o enquadre, com seu conjunto de re
gras, cria
uma
situaç
ão
em
que
a rel
ação genitor·
fi
lho
re·
produz-se sim
bolicamente.
Mas
tr
ata-se de
uma
relação ge
nitor·f ilh o mu ito pa rticular, uma vez q ue, por exempl o, es·
se suposto filho paga honorários a seu genitor, a quem
man tém. Além disso, esse filho tem o d i
reito
de ex primir-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 47/102
enqu dre psicorerópico 4 7
s sem respeito, de dizer tudo o que lhe passar pela mente,
ao contrário da educação que supostamente terá recebido.
Adema is e acima de
tudo,
o
terapeuta
só responde muito
parcimoniosamente
às demandas do paciente, através de
interpretações técnica de frustração). Essa é a
situação
eminentemente paradoxal de alguém que tudo espera do
outro
(conhecimento de si, cura etc.}, mas que só recebe
em
resposta frustrações e
que
deve
até
garantir a
manuten
ção
de
seu suposto benfeitor;
de
alguém
que
se
encontra
numa situação
h i ra r
quicamente
i
nfer
i
or à do outro, mas
que
não
lhe
deve nenhum respeito etc . Isso
mostra
que,
no
campo psicoterápico, instaura-se qualquer coisa do domí-
nio social: uma nova ordem relacional, com suas leis e sua
hierarquia. Mas essas leis
transgridem
deliberadamente as
regrás
habituaimente
estabelecidas; assim, trata-se ma is
de
uma espécie
de desordem
socia l,
onde
os
costumes não
mais são respeitados.
Portanto, poderíamos
considerar este
pr
imeiro
axioma: a função
do
enquadre no interior
da
cul-
tura é criar
um
campo de desordem cultural om a sus-
pensão de certos tabus e a instituição de outros.
Essa de
sordem é passível de recolocar em
questão
as bases em
que
s apóia o equil íbrio psíquico. O escoramento grupal do
psiquismo não funciona mais e cria um estado de vulnera
bilidade,
com
desligamento
dos
afetos e
das
representa
ções, que não é uma simples flexibilização do superego,
co·
mo
tendemos a considerá-lo, mas antes um request iona·
menta
de
regras solidamente estabelecidas. E é nesse cená
rio que intervém a interpretação do terapeuta, interpreta
ção que pode conduzir
a
um deslocamento
dos investimen
tos conscientes e inconsc i
entes
e acabar l
evando
à
mudan-
ça.
Aí
está a primeira face da
função do enquad
re - fun
ção de de
mitação com
respeito ao campo cultural: delimi
tação
da
relação psicoterápica com
respeito às
relações so-
ciais
habituais, por intermédio de regras novas que estão
em contradição
com
as leis sociais, o que cria um limite
abstrato
entre o tratamento e a vida
real
Essa é, segundo
cremos, uma
constante
de
todas
as psicoterapias anal íti
cas.
, A importância do enquadre mede-se pelo
número
de
pilhérias ou caricaturas que ridicularizam o enquadre psi-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 48/102
8
pfic:orerapias bre••es
canalítíco ou psicoterápico anal ista deitado no divã ao la
do
do
paciente,
analista substitu ido
por
urn parqu írnetro
etc.).
2 unção
T pica
Quali ficaremos de tópico o conjunto de parâmetros es
paço-tempo rais fixos
do tr
atament
o:
neutral idade e cons
tância
dos
locais, freqüência das sess
õe
s, horários, duração,
posição divã -
poltrona
etc. Esses parâmetros são os mais
constantes
e quase
mudos ,
uma vez combinado o tra ta-
mento,
na
medid
a
em
que
qua
se
não
sao qu est i
onados
e
quase não se fala neles. São, d e certa form - . o su rte do
tratamento . Ora, a tópica da psicoterapia tem um alcan
ce dinâmico considerável, cuja importância só aparece no
momento
em
que se modifica a disposição. As mod ifica
ções tópicas mais
conhecidas
são de três tipos:
a Passagem da relação individual para o
grupo
mod
i
ficação
do
número); ·
b
Passagem para a posição
face a face
modificação
da disposição espacial);
c/ Diminu
iç
ão ou multiplicação) da
freqüe ncia
das
sessões, limitação da duração etc. (modif icações da
disposição
temporal).
t inegável
que
essas variaçõ es influenciam a relação
intersubjetiva num sentido
pr
eciso. Mas é também graças a
elas que melhor podemos
per
c
eber
a influência da disposi
ção.
verdade que
,
em
psicoterapia,
pr
ega
mos
às vezes
um
ecletismo técnico passível de obscurecer as
co
isas, mas isso
não
impede
que certos
parâmetros fixos permaneçam, so-
bretudo
no
setor das psicoterapias breves. Ex aminar
emo
s,
na dinâmica do tra tame nto, a influência de dois parâme
tros: o
face a face
e a
temporalidade
Convém destacarmos, antes de ma is nada, que as alte-
rações
dos
parâmetros, ao contrário do que freqüentemen
te se
supõe,
exercem
infl uê ncia sobre
os
dois
interlocuto
res da psicot
er
apia .
Ponantu,
concernem tanto ao terapeu
ta quanto ao paciente, e o
desconhecimento
desse fen ôme-
no leva a nume rosos mal entendid os, em nossa opinião . Por
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 49/102
quo r
e psi oterápi o 4 9
exemplo, somente um observador ex terno
pode
ver s mul
taneamente
o paciente e o terapeuta.
Aquilo que o
ter
apeuta ve é seu paciente, de frente,
de perfil,
sentado
ou
dei
tado,
e apenas uma
parte do
e n-
quadre geográfico decoração do
consu
ltório
etc. . ..
Quanto ao paciente, o
que
ele vê
é, eventualmente
, o
rosto do terapeuta e uma parte da decoração. Além disso,
essa parte da
decoração
de m
odo
algum é idêntica
à
perce
bida pelo terapeuta. Isso cria uma dinâm ica em que
tan
to
o terapeuta quanto o paciente estão, de certo modo, sub·
metidos a uma influênc
ia
que lhes é exte rna, no sen tido
de
que
c
ada
um
trabalha
em
cond
ições
que
l
he
escapam
par
cialmente.
Da mesma f
orma
, um
observador
neutro geralmente
percébe mel
hor
o co
njunto
da
situação
de transfcrência
contratransferência do que
os próprios
atores.
Para compreender melhor esse ponto, vejamos algu
mas conseqüências da passagP. 'Tl para a posição face a face,
em comparação com a d isposi
ção
psicanalítica.
Pode-se dizer
que
a passagem para a posição face a fa
ce tem
um
alcance considerável, na medida em que a di
mensão
tempora
l das trocas varia consideravelmente, assi m
como
a intensidade dos afetos, o que influi nas característ i-
cas da
transferência
e da
contratransferência.
Inúmeros
mal-entend idos foram mantidos por
décadas
a fio a pro
pósito da di mensão temporal do inconsciente, basean
do -se nas idéias
de
Freud acerca da atemporalidade dos
processos inconscientes
cf. O inconsciente , em rtigos
sobre metapsicologia .
Evocou -
se
ta
mbém
o prob lema da so
bredeterminaç
ão,
o da necessi
dade
de uma el
aboração
pro
longada das res istências etc. Ora,
todas
essas considerações
desprezam um aspecto fundamental, que é o da influência
do
enquadre, e desprezam também o fato de q
ue
exi
ste
uma relação dinâmica en t re os si
stemas
ICS-PS-CS pr imei
ra tóp ica) ou id ·ego-superego segunda tópica). No
que
nos
diz respei
to
,
consideramos
que,
quando
se
fala
na dimen
sã o temporal, é indispensávAI precisar não apenas o
modelo
teórico, mas também o enquadre prático a que fazemos re
fe rência. Isso porque,
tanto
para o terapeuta quanto para
o paciente, a dimensão temporal modifica-se de acordo
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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S
psicoteraplos
r ~ r
com o enquadre.
E se estamos convencidos de que uma
psicanálise de alguns meses é impossível, estamos igu almen
te convencidos de que o tempo da psicoterapia não é o
mesmo, o que modif ica a dinâmica intersubjeriva, funda
mento de qualquer psicoterapia.
Consideremos o seguinte exemplo:
Ao
retornar
ao
tratamento,
o pacientll diz a seu terapeuta: "O
senho r está com boa aparência, está bronzeado
hoje " Na
s
i
tuação
fa
ce a face, o terapeuta
tenderá
a considerar esse bron
zeado
como um
faro ele está bronzeado e o pac
illn te
pode
vê
-lo, ao
vivo.
Poderá, quando
muito,
interrogar o
outro
: "O
que vocé sente (agora) d i
ante
de meu bronzeado?",
ou,
talvez
com
um pouco
mais de sutileza,
"O que
o impele a falar em
meu bronzeado agora?", ou ainda ,
"Que
representa meu bron
zeado para
você?"
Em qualquer dos casos, o terapeuta não põe
em dúvida as percepções
do
paciente c fala-se
num
acontec
i
mento atual, considerado
como um
fato . Se, deitado no divã,
o paciente. qu
não vê
s u
anaftsra
exprime a
mesma
idéia-
"O senhor
está
bronzeado"
- claro está que não se trata mais,
em absoluto, do mesmo fenômeno . Talvez ele tenha pe rceb ido
o bronzeado do analista no momento em que entrou no con
sultór io, mas jà não
pode
vê·lo.
Portanto,
está fa lando sobre
uma
imagem gravada em sua
m mór
ia. fala ndo,
de
certa forma,
do passado. T
anto
o analista quanto o analisando sabem que o
controle perceptivo é imposs ivel: eles falam na imagem de um
ana
li
sta
bronzeado,
mas será q
ue
esse bronzeado ex iste real
mente? Mergulha-se, portanto, em plena
sub;etividade.
e a per
gunt
a seria: "O que o leva a conservar na visào essa idéia de
meu bronzeado?"
A dinâmica relaciona é muito diferente, mais ainda
quando
se trata de emoções. Por exemplo: "O senhor está
contente hoje, isso se vê; recebeu boas noticias?"
Na
situa·
ção face a face,
é
mu ito difícil para o terapeuta não
se
per
guntar se sua
mím
i
ca
está mais sorridente que de hábito e
não considerar como objetiva a observação de seu paciente.
Em reação a esse movimento c
ontratransferencial,
ele
ten·
derá a discutir apenas a segunda parte da frase do pacien te,
formulando a seguin te pergunta: "O que o faz imaginar
que recebi boas notícias? , assim desprezando o primeiro
comentário -
"o
senhor está contente".
Na
disposição di
vã -poltrona, ao contrário, o ps icanalista praticame nte não
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 51/102
enquadre psícoterópico 5
se interrogará sobre sua
própria
mímica e começará por di
zer
a
si mesmo que
o analisando tem o sentimento
de
que
ele
está contente,
pois sabe
que este último está
fazendo
referência
a
uma
lembrança
uma
imagem, e
não
a
uma per
cepção imediata.
O
mesmo ocorre no
que
tange aos
fll Í-
mentos
transferenciaís: em psicoterapia, o
paciente pode
nutrir
a ilusão
de que aquilo de que
fa la
corresponde
à rea
lidade presente: tem
a i
mpressão de
ver naquele exato
mo-
mento o
rosto de seu psicoterapeuta,
e
de
falar
dos
senti
mentos e
da
vida interna deste último
ao passo que, em
análise a
dúvida
persistiria.
Esse
fenômeno
acelera consideravelmente as trocas
afetivas
em psicoterapia
e
desencadeia, tanto
no
terapeuta
quanto
no
paciente, movimentos
de intensa
resistência,
que
podem permanecer totalmente ignorados por um
e pe
lo
outro.
Essa:.
resistências devem-se
ao
fato de que
cada
um
deles é levado a
confundir
fantasias e real idade. Grosso
modo pode-se
d i
zer
que
o
tempo
da psicoterapia
é o pre·
sente enquanto
o
tempo
da
psicanálise é o
passado.
O
acesso às imagens, às idéias e ao mundo interno tanto do
analista
quanto
do paciente
é muito
mais
árduo
em psico
terapia do que
em
psicanálise
onde
o imed i
atismo
das tro·
cas é
muito menos
acentuado. A
temporalidade
se
altera
com
as modificações do
enquadre,
o
que
mod ifica
conside
ravelmente
a dinàmica da transterência-contratransferên
cia:
tanto
a análise da transferência
quanto
a
da contra
transferência são mais árduas. Será
que
a isso
equivale
di
zer
que
a
transferência
não
aparece na psicoterapia?
A
ex·
periéncia
mostra que não
é isso
em
abso
l
uto:
trata-se, so
bretudo, de aprender a -reconhecê-la: é o
aspecto
arcaico
das defesas
mobil
izadas
pelo
face-a-face
que comp
lica
as
coisas - defesas
perceptivas
negação
da realidade), defesas
caracterológicas
arrumação da
realidade do
outro) ou ma·
nipu
l
ação
do outro
em função
das
próprias necessidades
identificação pro
j
etiva etc.).
Esse
fenômeno está ligado
à
dupl
i
cação
dos canais de
comunicação
na psicoterapia, em comparação com
a
aná
li-
se:
em
psicanálise é
essencialmente
a fala
que
transporta as
me{lsagens
do
pac
i
ente para
o
terapeuta.
Em
psicoterapia,
o
verbo
não
é
o
único
meio
de comunicação, porém,
bem
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 52/102
52
psicoterapios breves
ao
contrário,
existe
toda
uma categoria de mensagens não
verbais
tran
smitidas pela mímica, pelos movimentos invo
luntários ou,
por
vezes, voluntários de
um
ou de
out
ro, que
alte
ram consideravel
mente
as rel
açõ
es. Essas comunicações
são
extremamente
diretas, imediatas e
muito pouco
con
troláve
is
, o que intensifica enormemente as trocas. Em con
seqüência disso, entretanto, terapeuta e paciente tendem
também a
er
guer barreiras inconscientes
contra
essas t rocas
cuja própria intensidade é angustiante.
Podemos comparar
a psicanálise a uma troca da ordem da epopéia, onde o su
jeito n rr toda uma história de grandes feitos dos qua
is
ele
é o
pr
incipal
ator.
Inversamente, a psicoterapia é mais com
parável ao
que
acontece
em uma cena de teatro,
onde
ast
ro
cas são simu ltaneamente verbais e não-verba is e, portanto,
ma
is
imediatas, mais
dramatizadas
A
TEMPORALIDADE
As
linhas
precedentes
parecem
mostrar
que
em
psicotera
pia, tal
como
na física,
tempo
e espaço são relativos
um
ao
outro. Deveríamos dizer, portanto,
que certos
aspectos da
psicoterapia são mais ligados a sua dimensão espacial, en
quanto outros
ligam-se mais a sua dimensão temporal. To
davia, uma e
ou
tra
não
devem ser dissociadas.
: dentro
desse
espírito que
devem ser lidas não apenas as linhas que
se seguem, mas também o conjunto deste cap tulo.
A primeira questão é a das relações entre o
tempo
subjetivo
e o
do
relógio:
qual é o significado psicológico de
uma limitação da duração, e qua l é o efeito da ausência de
limite? Diferentes estudos comparativos efetuados em nos
so serviço mostram o mesmo fenômeno:
s
psícoterapias
cuja duração limitada logo de início são levadas a termo
com muito mais freqüência o que s psicoterapias
e u-
r ção não limitada Esse fenômeno é constante, qua lquer
que
seja a
natureza
da psicoterapia de grupo, individual,
de
apoio,
de
inspiração psicanalítica) [
171
. Esse fato
contra
diz numerosos prejulgamentos e merece que nos detenha·
mos na dimensão temporal do tratamento Esse assunto
tem sido
controvertido
há muito tempo: alguns referem-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 53/102
enquodre psicoterápü:o
53
se
à atemporalidade do inconsciente
para negar
qualquer
significação dinâmica da
li mitação da duração, enquanto
outros,
ao contrário, tomando como pretexto a lentidão
dos processos inconscien tes , afirmam que qua l
quer
limi
tação leva
apenas
a tra tamentos inc
omp
letos. O conj1.mto
dessas
posturas
equivale a considerar
que
os processos psí-
quicos
são autõnomos praticamente inacessíveis a
uma
infl
uencia
externa. Sem retomar essa polêmica
já
atualmen
te
ul
trap
assada, convém
destacarmos que
a proposiç
a o
de
limitar a d uraçao
de um
t ratamento
comumente desperta
ma is
tem
o res nos terapeutas do que nos pacientes. Perg
un
ta·se freqüentemente o que se deve fazer
nos
casos em que,
na ocasião da data presumida
do
término, o tratamento
não estiver
terminado
. Isso traduz o
medo
de não
ter tem
po suf
i
ciente
para chegar
ao
fim das dificuldades
do
pa
ciente
-
medo sustentado
pe
la u
são
narc ísica
de
aspira r a
uma certa perfeição
ao
final do tratamento, fator contra-
transferencial passível também de prolongar inu tilmente
até mesmo os tratamentos psicanalíticos.
O
V LOR DO
FIÕM RO
Em resposta
à
reação negativa de um amigo diante da bele
za efêmera de
uma
pa isa'gem, Fre
ud
assim se
expr
imiu:
Se,
durante nossa própria vida , assistimos a uma deteri-o
ração
corpora
l irrevers ível, a brevidade de nossa
existência
só faz
torná
-la mais excitante. Uma
flor
conhece
apenas
po
r uma noite sua
plena floração
, mas nem
por
isso sua
eclosão
nos
parece menos
suntuosa
(S.
Freud,
O efême
ro {1 4 1). Exc itação ou
descrédito
face ao que é efême ro: o
homem ado
ta
freqüentemente duas
atitudes
total
ment
e
contr
aditórias - ou
bem
se recusa a
desfrutar
dele, dene
grindo o
que
lhe é
oferecido
( isso não vale a pena, pois.
de qualquer maneira, vai acabar ), ou
bem
supervaloríza o
que
lhe
é
conferido e
procura
desfrutar d isso ao
máximo
( t
i
remos prove
i
to
desses ins
tantes
tão breves ).
Essas duas
atitudes podem ser
consid
eradas como
rea
ç õ ~
defensivas inconscientes diante da perspectiva
de
um
luto :
idealização acentuada daqu
ilo
que
se irá
perder
ou
ne
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 54/102
5
psicoterapios breves
g ção
de qualquer
perda
e de qualqu
er
desejo pelo objeto
para
preservar
um
sentimento de on ipotencia narcísica.
Esse conflito só pode ser resolvido pela aceitação
do
luto
que
então
oferece a possibilidade de reinvestir a lib ido em
outros objetos.
Em
comparação com
a psicanál ise.
onde
o
enquadre atempora
l incita o analisando a
um movimento
regressivo narcísico, a diferença é grande : em ps icoterap ia
a limitação da duração
submete
o
paciente à
pressão da an
gústia de separação. Em psicanál ise
pr
opõe se a eternida
de enqua
nto, em
psicoterapia
propõe se
o lu to. Em uma
a regressão narcisica inscreve-se no movimento imprimido
pelo
enquadre; na outra, a regressão narcísica é
um
movi
mento
defensivo
contr
o
enquadre
.
Não levar
em conta
esse fenômeno é
expo
r-se a e rros
significa tivos de avaliação. Oferecem-se
então
dois recur
sos:
negar o limite
substituindo a realidade
do out
ro pelo
próprio imaginário ou ceder d iante do obstáculo
tempo
r l
e renunciar. Na primeira situação o paciente recorre a um
movimento de negação que o impele a reconstrui r o te
rapeuta à imagem de suas próprias necessidades
(o
terapeu
ta converte-se
então
em
um duplo moldado
pelos desejos
mais regressivos do paciente); no segundo caso o paciente
defende-se violentamente contra o estabeleci
mento
de
qualquer
relação
tera
p
êutica
e o processo não consegue de
senrolar-se. No primeiro caso instala-se uma re lação trans
ferencial da qual certas características parecem ser mais
específicas
da
disposição psicoterápica enquanto, no se-
gundo, o
movimento def
ensivo contra a transferência
pode
at ingir
uma
intens
i
dade
de
tal
ordem
que impede qua
l
quer
engajamento
terapêutico.
TRANSFERÍ:NCIA
TEMPORALIDAOE E AFETOS
A limitação te
mpora
l inscreve-se em psicoterapia, em con-
traposição ao face-a-face. Como vimos ela mob iliza angús
tias de
separação
e
todos os
temores
de
fe rida narc ísica
que
isso pressupõe mas vem também corr igir
certos
efeitos do
face-a-face. Esta última disposição como sabemos favore
ce tanto no terapeuta quan to no paciente
uma
certa con-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 55/102
enqu dre psi oterápito
fusão entre o mundo interno e o mundo externo, entre
fantasia e realidade, entre o interlocutor e aquele que se
imagina (o
sujeito
pode
facilmente
crer que
ama real
mente
seu terapeuta,
e vice-versa). A
limitação temporal,
ao relemb r
ar
a realidade da separação, restabelece a qife
rença de função, recordando a problemática da castração
( esse limite, inelutável, confronta-me com minha impo
tência, e somente a pessoa diante de mim poderia suspen
dê-lo ),
o
que
confronta automaticamente cada um
dos
in
terlocutores
com
sua própria
condição de terapeuta ou de
paciente.
á
também uma diferença de
funcionamento
( a
precariedade de nossa relação mostra-me
que
meu imaginá
rio me engana ).
A lírnitação d duração mobiliza os afetos:
basta
pen
sar na atitude subjetiva eminentemente diferente que
te
mos quando,
para nos
dirigirmos a determinado local, pre
cisamos
tomar um
trem ou
um
avião e
estamos
ligados a
um horário, ou quando, ao contrário,
podemos
uti lizar
nosso próprio
carro
A tensão ps íquica varia considera
velmente: abordamos aqui a d imensão econômica da
tem
poralidade. Mas essa tensão ainda está ligada ao imaginário,
na
med
ida
em
que aquilo que causa
inquietação ou tran
qu iliza é saber a duração de que
dispomos.
Entretanto, o
tempo do relógio, aquele que
realmente
passamos
juntos,
não
deixa de
ter
importância.
Ligado
à
presença
ou
à
au
sência do outro, ele é o tempo
das
gratificações e das frus
trações - gratificações ligadas
à
presença do
terapeuta,
a
sua escuta, e frustrações ligadas à
abstinência
e ao silencio.
l o tempo da
duração
e da freqüência das sessões. Como
tempo da
regressão, ele
depende da qualidade
das trocas,
de
sua intensidade ou de sua quantidade.
O
prolongamento
da duração ou da freqüência
pode
aumentar as satisfações
re gr
essivas
do
paciente,
visto
que
o terapeuta intervém
pouco nu sentido estimultmte.
A diminuição da duração ou da freqüência limita as
sattsf<>ções regressivas. Também nesse caso. a atitude do
terapeuta desempenha
um
papel, contrabalançando even-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 56/102
56
psicotu pi s r ~ v t s
tu
almente
esse fenômeno : o enquadre e a relação são intei-
ramente indissociáveis.
Conclusão
Em
resumo diremos
que
o enquadre
psicoterápico
com-
pr
ee
nde
os
dados
fundament
a s
que
delimitam o campo
psi
coterápico
do
campo
cultural. Ele tem por conseguinte.
u ma função tópica e mo dif ica as condições da inte ração
dinâmica.
Certos parâmetros podem var iar de uma psico-
ter
apia
pa
ra outra e são essas variações que d
eterm
i
nam
a
difer
en
ça
entre
as diversas
formas
de
ps
ic
ot
erapia. Em virtu -
de desse p r nc ípio desenvolvemos em Lausanne uma for -
ma de psicoterapia breve que se baseia essencialmente nos
dois seguintes
pa
râmetros:
a li
mitação
temporal e a disposi ·
çã
o f
ace
a
face
. Vo ltamo s nossa
atenção para
a es
pec
ifici-
dade da tr
ansf
erência e
da con
tr
at
ran sferência nessa nova
situação .
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 57/102
Introdução
RELAÇÃO
INTERSUBJETIV
TRANSFERENCIA E
INTERPRET Ç O
'
O
conjunto
dos capítulos
ant
e riores de ixou
bem
cl
aro que
é
impossível
compreender
as relações mantidas
em psicote
·
rap ia e em psicanálise sem voltarmos nosso interesse
para
a
dimensão in tersubjetiva e não mais apenas intra-sub
je
tiva.
Esse prob lema
que
mereceria uma discussão aprofundada
que
ultrap
assa largamente o âmbito des
ta obra
começa a
despertar um
int
eresse cada vez ma is acentuado em todos
os psicanalistas.
Forneceremos
aqu i
apenas
alguns p
ontos
de
re
ferênc ia ind ispensáveis
à
c
ompreensão
da técnica
que
desenvolve
mos
. A questão fundamental que iremos
formu·
l
r
concerne
ao modo de p recimento
dos
fenômenos in
tr
a·subje tivos na relação
inter
subj etiva a saber quais serão
su as man ifestações - por
exemplo
o modo de
apa
recimen·
to das fantasias das resistências da t ransferência etc. Este
capítulo é
portan
to
uma complem
entação do anterior
po
is convém lemb
rarmos
qu
e
é
indi
spensá
vel ter sempre
em mente a idéia de que todo fenômeno p
síquico que
sur
ge
n
uma
relação
é
produto da i
nfluência
do
enquad
re e do
encontro
de
dois
int
erlocutores que se in fluenc iam
mutu
·-
mente. Assim não devemos atribu ir esses fenômenos ex
clusivame nte aos
pac
ientes
em
psicoterap ia do mesmo mo·
do
l iás. que não devemos fazé·
lo
em psicanál ise . O esque
ma 4
fornece
uma
representação tóp
ica de
nos
so campo
de
investigação.
Mas esse ponto de vista ainda mais importante em
psicpterap ia
uma
vez que
como
vimos a d isposição psico-
ter ápica
condic
i
ona uma
d inãmica
inte rs
ub jetiva pa
rticular
7
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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58
psiroteropi s revn
caracterizada sobretudo pelo que chamamos tendéncia fu
sional narcísi
ca
,
com
uma
confusão
entre
o mu
ndo
i
nte r-
no
e o
mundo
-
externo, dev
i
da
às
poss
ibilidades de co
ntrole
visual
dos interlocutores.
a
s
ituação
fa
ce
a face, o p
ac
ien
te tem
o sentimento
de
estar
falando
sobre a realidade do
terapeuta,
porquanto
o vê - aliás, ele pode
também
-
fluencíá /o diretam
ente
por
sua m ímica. Essa
dup
licação
dos
canais
de
comunicação tem
como conseqü
ência acen
tuar a
importãncia
da dinãmica das interações, em detri
mento da relação verbalizada ou mentalizada. Isso transpa
rece,
por exemplo, no
fa to de
que
se
pode
pe
dir verb
a
l-
mente pa
ra
mudar
, mas
comportar-se
de maneira co
ntrad
i·
tória (desmentir com o olhar aqu
il
o
que se es
tá
af
i
rman
do).
Campo
i
ntra-subjetivo
FENOMENOS INTEAPSfOUICOS
Ter
apeuta
Paciente
Campo
intersubjetovo
Campo
in tra-su bj
et
ivo
OUEM 4 Esse esqu ema
il
u st ra o
fato
de q ue, no campo in ter
subjet
i·
vo, apa r
ece
apenas
um
a pa
rte
do mundo intrapslq
uico de
cada
um
dos in
te
rl
ocu
tores.
Desde a
descoberta
da transferência
no tratam
e
nto
psicanalítico,
temo
-
nos interrogado sobre
suas rela
ções
com a realidade: haverá
uma
diferença entre os
fenôm
e
nos
que aparecem no
tratamento
e as relações interpessoais da
vida
atual?
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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rrl
r ·o
intenubjetiva, transferencia e interpretação
59
Se
considerarmos
a relação
terapêutica,
e não ma is
apen as o conflito íntrapsíquico, deve r
emos
necessariamen
te
enfrentar as segu i
ntes
pe
r
untas:
- O
que
acontece
com
as relaç
ões
da
trans
ferência e
da realidade relações reais)? .
- O que acontece com os respectivos comportamen-
tos {interações) dos dois interlocutores e com sua
vida intrapsíquica relações entre atividade real e
atividade fan tasmática)?
Essas questões vão ao encontro das pesqu isas
de
Da
niel Widlocher sobre os d ife ren tes t ipos de comunicações :
comunicações
informativas, interacionais
ou analíticas
co
municações de insight {36]. Grosso modo interessar-nos
emas
- aqui pelas relações
entre
as
comunicações
intP.racio
nais e as comun icações
ana
l íticas.
Já
abordamos essas ques
tões em diferentes artigos 118]. As linhasqueseseguem têm
por objetivo destacar alguns pontos fundamentais do mo
delo a que nos referimos em nossa atividade, e que se
situa
numa zona intermediária entre a teo ria ps icanalí t ica dos
grupos e a teoria sistêmica. Assim,
procuraremos
esboça r
um modelo, e não indicar procedimentos.
Realidade
Externa
e Realidade Interna
Freud, como sabemos, pouco fa lou na realidade
externa
em suas elaborações: depois
de
tê-la feito intervir em sua
primeira teoria do trauma
psíquico,
ele a evocou a propósi
to
dos
restos diurnos
do
sonho, antes
de
aborda
r a
questão
da atuação e da compulsão repetição. Essa evolução é in·
teressante, na medida em
que
nela
podemos
distinguir três
tempos sucessivos:
1.
Estudo da influência da real idade externa na real
i-
dade interna trauma);
2. Estudo
do
encontro
de
ambas
interpretações dos
sonhos);
3.
Estudo
das repercussões
dos fenômenos
intra-subje
tivos na realidade externa
compulsão à
repetição).
De
cert
a forma, o
movimento,
a principio, vai
do
ex
terior para o interior, evolui ndo
para
um movimento
do
in
terior para o
exterior.
Esses t rês tempos são interessantes
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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60 psi oter
p
i r bre •es
na medida em que ilustram muito bem as dif
ic
uldades liga·
das ao estudo da dinâmica intersubjetiva: onde localizar
a causa
d s
dif
ic
uldades ps icológicas? - na realidade
ex
te
rna? na realidade inte rna? Hoje, praticamente todos con
cordam em dizer que se
trat
a
do encontro d s du s,
o
ql.le
nos deveria reme
te
r ao segundo período do pensamento
freudiano.
Por outro lado, do
ponto
de vista psicoterápíco, as
mesmas
pe
rguntas
se
colocam: será que a evo
lu
ção depende
da atividade
do terapeut
a, da
do
paci
ente
ou da de ambos,
simultaneamente? Se, atualmente , todos (ou
qu
ase todos}
concordam em ater-se à terceira hipótese, ainda assim é
prec
is
o concordar que
os
textos relativos
à
at ividade do
terapeuta
continuam
a ser bastan te raros.
Is
so se prende,
certa
ment
e, à dificu ldade
do
assunto. Para
te
nta r enxergar
com maior clareza e para compreender melhor a dinâmica
in tersubje c
iv
a,
consideramos a relação terapêutica como
um
conjunto em interação cone/nua, no qu l cada um dos
interlocutores influencia o outro ação e retroação). A
ação é p
ort
anto a influência exercida pelo sujeito no
objeto. Poderíamos, além
di
sso,
dizer
que ela se confunde
com o
momento
escolhido p
el
o sujeito para exercer essa in·
fluênc ia.
No ca
p ítulo
5,
vimos que é possível
di
stinguir duas
categorias de in
ter
ações: as que aparecem na
vida atu l
e as
que aparecem no
campo psicoterápico.
A questão é apre·
e
nder a
passagem de uma
à
outra, o que implica diferentes
etapas, que ten taremos compreender apoiand
o-
nos em trés
exemplos que deverão servir de ilustração.
1 A passagem da realidade
in
ter
subje tiva
à
realidade
intra-su bjetíva;
2} O
encontr
o do sonho e da realidade (relações entre
inter
açõ
es reais e
fa
ntasias);
3 A
situação da transferência na relação
ínrersubje-
t í
va.
DA RELAÇÃO
I
NTEA
SUBJE T
IVA
A R
ELAÇÃO INTRA-S
U
BJETIVA
PRIMEIR
O X
EMPLO : Durante a p rim
eira entrevista,
esse
pa
·
cien
te, que demandava uma psicoterapia para
tentar
compr e·
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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••
relação
mtusubjttil
·
a
transferencla e
interpre afàó 6
ender-se me
lhor ,
disse de imedi
ato qu
e, antes de
ir
adiante,
qu
eria saber a
que
se destinava o dossiê médico :
Concordo ,
disse ele,
em
qu
e o senhor tome
nota
s e
compreen
do
que pre
cise delas
para
esclarecer suas idéias, ma
s
sem querer ser
co
proprietário das anotações,
eu
gostaria, se o senhor
prec
isar
transmitir meu dossiê a alguma
outra
pessoa,
de
ser mant1do
informado. Ai nda mais
que
tenho
muit
as relações
com
médi
cos;
se um
co
lega
que
me
conheça
lh
e
ped
isse meu dossié,
0
senhor o entregaria?"
Esse gênero de comunicação seria qual i
fi
cado de in
teraciona l por O. Widlocher, na med ida em que é clara
mente
destinado a fazer com que o
interlocutor
reaja. É
evidente
que,
numa
primeira
abordagem, ta
l so li
cita
çã
o
é
compreensível e ob
je
tiva. Ela se insc reve na realidade de
uma r.el
ação
int-u pessoa
l.
Se
o ter
apeu
ta responde
que g
-
rante o sig
ilo pr
o fissional permanece·se n
ess
realidade e
não se entra no campo psi
co
terápico.
O
méd
i
co
que estava
t r
at
ando esse p
acient
e
sentiu bem
isso, pois,
pressentindo
uma a rmadilha, forneceu a seguinte resposta ambfgua :
Eu lhe asseguro o sigilo, mas, se outro medico me pedisse seu
dossié. eu o
rr
ansmiri
ria
a ele, desde que o
es
tivesse tratando.
Evi
dentem
ente, ele procurou uma
solução
de compro
miss
o,
pois a resposta
ade
q
uada
na realidade teria sido
Só
transmi
tire
i seu
dos
siê
com sua co
ncor
dância ,
vi
sto qu
e, a
rigo r. qualquer médico
poder
ia afirmar estar t ratando dele
..
.
Assim, essa resposta t raduziu
bem
o embaraço do t erapeu
ta
apanhado na a
rmad
ha interacio nal in
co
nscientemente
arma
da
pe
lo
pac
i
ente.
Qu al
quer terapeuta experiente
s
abe
que. em ocasiões similares, é
geralmente
mais sensato
ca
l r
-
se e esperar que o paciente ofereça
certos
i
nd
ícios comple
mentares
que pe
rmitam a
pr
eend
er
melhor
as
fa ntasi
as
sub
jacentes. As
per
gun tas im
plí
ci
tas
seriam.
por exemplo,
o
que
representa para
esse
pac
iente, o
doss
iê
médico?
O que
o leva a imaginar
que
irei transmiti-lo? e
tc
. Essa segunda
at itude ab re cam inho para a menta zação e pa ra a psicote
rapia.
Podeda
mos
dizer, numa pr im ei ra a Jrox imação,
que A
P ~
T H l P I
COME ÇA
ALI
OND E
PARAMOS
DE
INT
E RAGIR PAR A
PENSAR.
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6 2
psicourapias
r ~ v e
s
Examinemos agora
como
a re alidad
l l
ex terna é arru
mada pelo sujeito .
INTERAÇÕES
SONHOS
FANTASIAS
Freud abordou esse tema em numerosas ocasiões em parti·
cular
em
sua teoria do sonho e dos restos
diurnos.
SEGUNDO EX
MPLO:
{sonho evocado por uma p·aciente em
psicoterapia e que tem a
va
ntagem de conter
pou
cos elementos
simbólicos. o que
pode
facilítar a compreensão de seu apareci
mento
na dinâmica relaciona ): "Jeanine aproximou-se ele Pier
re, seu ex -amante casado , que estava dormindo ; desejando
relações sexuais, ela o
acordou,
mas ele recusou
por
que. segun
do disse , iria sentir-se
mu
ito perturbado e culpado por fazer
amor
na
ca
ma
de sua
mu
lher. "
Jeanine tez então um primei
ro
com
entário: "O que desenca·
deou
esse sonho foi que. ontem à noite, propus a meu nOI\IO
que tivéssemos relações se
xua
i
s
mas e le se recu sou porque não
estava com
vontade
. Foi dif(cil suportar isso: veja o senhor, na
hora em
que
manifesto um desejo, recebo uma recusa " Acres
centou então o seguinte comentário: "Na rea lidade, meu ex
amante não
era assim; a
exist
ência da
mulher
dele nao impedia
nada
entre
nós; mu ito pelo
co
ntrário, chegamos até a fazer
amor na cama dela;
já
meu noivo, ao
co
ntrário, teria esses es·
crúpulos se fosse
casado "
O primeiro comentário espo
nt
âneo de
Jeanine
refere·
se, portanto. às relações entre suas experiências relacionais
rea is e o sonho, a uma in
te
ração - a
prox
i
mação
sexual e
recusa do noivo, o
qu
e poder íamos considerar como uma
aç
ão
e
uma
retroação negativa - e
é ne
sse
contexto
q
ue
aparece o son
ho,
reproduzindo a cena tal e qual. Jean ine
extra i daí uma
prime
ira
conclusão
dirigida
o
terapeuta:
"Na
hora
em que
manifesto
um desejo, rec
e bo
uma
recu-
sa "
Por ora, o q
ue reteremos
disso é a relação
existente
entre um con
tecime
nto
(a cena
com
o noivo ) e o apareci ·
menta
do
sonho
. Em
suma,
o
acontecimento
''desenca -
deou o sonho. Mas, que aconteceu com a fan
ta
sia
subja
·
cente?
Convém
destacarmo
s, antes de
mais
nada, que Jeanine
teria podido reagir
à recusa de
seu noivo através de
tos :
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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l ção inrusu jniv
. traiii{tr
ncia t
intuprn çã
o
63
insistir, irritar-se,
chegar até
a ir-se
embora, batendo com
a
porta,
e
procurar uma satisfação substitutiva.
Ela
não fez;
simplesmente
sonhou
-
uma
solução
que
se inscreve
no
campo
da
psique.
Assim,
como no
prime iro
exemp
lo, é
no momentoi m
que
o
hom
em
renunc i
a agir
que passamos para uma outra
ordem de
realidade: a
realidade psíquica.
Segundo a prática
ps
icanal ftica, sabe-se
que encontr
a
mos
freqüentemente,
no
sonho,
um
reflexo
das preocupa
ções da
véspera.
Consideramos que
essa p
arte
da realidade
(os "restos d iu
rnos'') só
desempenha um papel
quando e éJ
~
associam desejos inconscientes.
de
sejos,
porta nto, que
é
preciso desvendar; qua lquer psicanalis ta poder
i
reconhe·
cer no
conteúdo
do sonho de J
ean
ine uma problemática
ed i
piá
na : o
desejo da
filha
pe lo pa
i e o
desejo de
afastar a
mãe, o
que
poderia
traduz
ir-se
da seguinte maneira:quando
desejo um homem (que representa
meu pai) , quero
que ele
me
aceite, independentemente
da presença
de outra mu
lher. Ora, tal interpretação não corresponde nem
o
con-
teúdo literal do sonho, nem
à
realiàade vivida:
am
b
os
di
zem
exatamente
o contrário. Para exp licar esse fato, Freud
in troduziu a noção de resistência . Segundo essa ó tica, a
fanta··a
exprime,
simult
a
neamente,
o
desejo
e a resistência,
o
que
poderia
traduz
ir-se
do
seguin
te rnodo no caso de
Jean
ine:
"Não quero que
se descubra (resistência) meu
de·
se
ja
sexual a r
espe
ito
de um homem
casa
do",
resul ta
do
que
a paciente obteve através de
uma
inversão bem
conhe·
cida
em
psicanál ise,
onde
ela é repelida, e
não
aceita,
pelo
amante. Essa seqüência ilustra claramente a teor
i
freudiana
segundo a qual a fanta sma
tizacão
é
uma atividade mental
mo tivada pelo dese jo não satisfeito na rea
li
dade e
que
visa
à
satisfação
no
imaginário. Com efeito, decepc i
onada
na
realidade, Jeanine reproduziu no sonho
uma
situação pas
sada na qual seu
desejo
fora
satisfeito
. Tudo
acont
ece
co
mo se e la dissesse a
si
mesma:
"Já
que meu no ivo está-me
re
cusando
ago
r
, rev ivo no
sonho
uma
situação
passada
on
de eu não era
recusada. •isso
não impede que
o
sonho
d i·
ga exatamen te o inverso (o
amante
que na
"r
eal idade"
não
recu,ava suas investidas repele-a
no
sonho).
Não poderí
a
mos compr
ee
nde
r isso sem a
noção
de inver
são
, mo
vimen-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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6 psjcotn pi s brevu
to de defesa
intraps
íquico
e explicação
insuficiente no
que
concerne ao
estudo das relações
entre
a experiênc ia vivida
e o sonho. Com efeito
nada
nos
permite
afirmar que
Jean i
ne
tenha-se defendido contra
um
desejo visto
que na
realidade
ela
fez investidas
junto
ao
noivo.
O
único
fracas·
so situa
-se na realização do desejo a saber na ausênc ia
de
relações sexuais. Inversamente essa satisfação foi
dada
em
outra época a Jeanine. E devemos perguntar-nos se Jeanine
não terá inconscientemente impelido o
noivo
a rejeitá-la a
fim de preservar sua lembrança hi
pótese qu
e
não
desen
volveremos aqui mas
que
já
estudamos
em outro texto.
Esse resumo permite-nos introduzir nosso segundo axioma:
S
INTE
RAÇ0ES
SÃO FE
ITAS
A
SERVIÇO
DA
RES
ISTe
NCI
A
O
que
já transparecia
no primeiro exemplo.
O
estudo
das
i n t e r ç ~ e s
na transferência fornecerá
uma pedra compl
ementar
para nossa construção.
TRANSFERlNCIA
E INTERPRETAÇÃO
No
interior do campo
psicoterápico algumas interações
são
conv
en
ci
ona
is fi
xadas
por
regras precisas
que
se
arti
·
culam
com
o corpo de regras convencionais da cultura am
biente.
O
eq
ui líbrio
entre
as
duas define uma fronteira abs·
trata: J
enquadre
que comporta
ain
da um
a disposição
concreta
e especifica
f
ace a fa ce divã -poltrona
etc.
}.
As interações no interior
do campo
psicoterápico
não têm
o
mesmo
valor
que
no exterior. Com efeito
em
psicoterapia as in te
rações são
codifica
das.
em parte. por
um
conjunto
de
regras
explícitas qu
e
determinamos compor
·
tamentos
e pos ições respect ivos do te rapeu ta e do pa
cien
·
t e . Essas regras são parte integrante
do
enquadre e
def
inem
a na
tu
reza
do que
es
tá em jogo:
o
jo o da necessidade
e
do desejo
em
um
da
frustração ou
da ab
sti
nênc
ia no ou
tro. E é nesse
conjunto
de regras
que
se
fundamenta
alegi·
timidade da interpretação
mais
particularmente da inter·
pret
aç
ão
da
transferênc
ia .
Do
ponto
de
vista
psicanalítico
admite
-se
que
qual·
quer ação tem
como suporte
uma fantasi a
que
determina
o mov imento transferencial. Entretanto são necessárias
cond
i
ções específicas para
que
essas fantasias possam ser
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descobertas
pois, no
momento de
qualquer ação, o sujei
to
já tem uma idéia da
possfvel reação·do
outro, espera
por uma
reação
sendo essa expectativa baseada numa fan
tasia inconsciente (dimensão intra-subjetiva) e no conhe
cimento (experiência objetiva) que o sujeito
tem
do outro
(dimensão interpessoal). Assim, faz-se necessário
um
meio
de distinguir o que
é da
ordem
do
sujeito
do
que
é
da
or
dem
do
objeto. ~ o estudo da transferência que permite es
sa
distinção.
Assim podemos categorizar as diferentes ordens
de
i n t e r ç õ e s ~
1.
s
que ocorrem na vi
da
cotidiana, no
exterior do
campo
psicoterápico. Podem ser evocadas sobretu
. do na psicoterapia, mas sem serem trabalhadas (cf.
cap. 5);
2. s interações previsíveis e ritualizadas que estão li-
gadas ao enquadre (cap. 5);
3. Aquelas cuja origem psíquica devemos poder des
cobr ir
com clareza. Abordamos aqui a questão
da
transferência, pois não se devem
confundir
os
atos
claramente definidos pelo enquadre com os atos
su ten idos
pelas
fantasias
dos interlocutores.
Essa d istinção visivelmente esquemática (não pode
riamos dissociar totalmente esses tipos diferentes de inte
rações)
é,
apesar d isso, indispensável para compreender o
que está em jogo na relação terapêutica, pois trata-se
de
tentar
apreender
as
relações dinâmicas entre esses diver
sos elementos.
A psicoterapia interessa-
se
mais particularmente pelo
segundo e terceiro tipos de interação. O segundo faz
parte
do
enquadre e, portanto, pode ser considerado como a
li
nha lim ft rofe da transferência.
De fato
, essas interações
co
dif
ic
adas são comparáveis
às
trocas ritualizadas da vida co
tidiana (cumprimentos, apertos de mão etc.). No interior
do campo
assim delimitado P.ncontramos,
portanto
, fa
ce
a
face, um paciente com sua aptidão para a transferência
(Fraud) (isto
é,
aquilo que, em função
de
suas experiên
cias passadas e de suas fantasias inconscientes, irá compe-
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psl otenpltls r e v e ~
li-lo a projetar certas imagens em seu terapeuta), e um
te
rapeuta também
com
sua
aptidão
para a transferência".
Ass im, cada campo tem suas regras, e gostarfamos
de
mostrar
que
a transferéncia inscreve-se na transgressão d s
regras
vigentes no
campo
psicoterápico, o que vai ao en
contro de
um
ponto teórico de Freud, que descreveu a
transferência
com
base
no
modelo d atuação e d com-
pulsão à
r p t i ç ã o Isso significa que, na transferência,
al
guma coisa
é
atuada . Ass im, é exatamente a que pode
mos esperar encontrar claramente a articulação entre fan
tasia e realidade. A transferência é, em parte,
uma ação.
Mas
essa ação difere
tanto
das interações que fazem parte
do mundo das relações interpessoais habituais (mundo que
poderíamos qualificar de
real) quanto
das interações
pre-
vistas
pelo
enquadre
psicoterápico, que se acham no limi
te das relações sociais. A atuação traduz
um
fenômeno
diferente:
de
acordo com a definição que lhe dão Laplan·
che e Pontalís, trata-se exatamente do fato pelo qual o
sujeito, sob o império
de
seus desejos e fantasias inco-ns
cientes, vive-os
no
presente com um sentimento
de
atuali
dade
tão
mais vivo
quanto
mais ele
desconhece sua origem
e seu caráter repetitivo
{27).
Logo, não se
trata
mais, em absoluto, de uma relação
real, e sim de uma
tentativa
de tornar
real
uma relação fan
tasiada, pois segundo as regras do jogo, se assim podemos
dizer, não se pode fazer nada, o que equivale a afirmar
que
não se
pode realizar
nada. Um
como
se"
é
imposto pelo
enquadre psicoterápico, o qual, pela regra da abstinência,
proíbe qual
quer
aç.ão. Ora, viver
na
realidade"
de
senti·
mentes como, amo você" ou detesto você" é apelar pa
ra a reação do
outro
e esquecer sua função de terapeuta,
por exemplo, e
é
também
esquecer
as regras de abstinên·
cia; por conseguinte, é um apelo à transgressão, uma ten
tativa
de
atravessar a fronteira da psicoterapia para entrar
na real idade externa. Contudo, esse caráter de transgres
são
é
acentuado
pelo
fato
de que o conjunto de regras
que governam as trocas atribuem ao terapeuta um papel
parenta . Assim, a transferência inscreve-se
n transgre-
são
das regras condicionadas pelo enquadre. Toda a psi
coterapia desenrola-se por uma aresta estreita, em equiH-
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r ~ l a ç
ã o
i n r ~ r s u b
t r Q n s f ~ r l n i n t ~ r p n t a ç ã o 7
brio entre o jogo e a transgressão. O paciente que expe-
rimenta deseja, por sua vez, forçar o terapeuta a expe
rimentar as mesmas emoções.
Dentre os trés tipos
de
interação assinalados, ape')as
as
interações que correspondem a uma atuação transferen-
cial
podem ser claramente atribu fdas à vida fantasmática
do paciente,
po
is são demarcadas na medida em
que não
mais correspondem às regras que governam a relação tera
pêutica, ao passo que,
como
convém lembrar, as relações
interpessoais normais
correspondem
às leis em vigor e
são
o produto das fantasias dos dois parceiros.
E
difícil dissociar transferência e
i n t e r p r e t a ç ~ o
por
que, em si mesma, a noção de transferência é uma interpre
tação: Mas examinemos a seqüência seguinte.
TERCEIRO E
LO
1 7 ~ sessão de
uma
psicoterapia breve) :
Na
vez passada, ao sair, eu me senti humilhada: durante a
sessão, o senhor
me
olhou com um ar de troça e não parou de
exibir um sorriso irônico, embora eu lhe estivesse falando
de
problemas muito dolorosos para mim
1
Esse gênero de comunicação tem por objetivo, clara
mente, fazer com
que
o interlocutor
reaja
no.caso, o te
rapeuta, que tenderia espontaneamente a defender-se (eu
não estava zombando de voce,
ou
eu não sorri,
ou
ainda,
em estilo supostamente psicanalítico, você está projetan
do
. Ê evidente
que
se entraria
então
em um conflito
característico. que chamamos, em um outro texto, de lu
ta
pelo
poder
na ps
ic
oterap
i
a
[19]. Esse conflito se asseme
lharia curiosamente a numerosas br igas conjugais e nada
mais di
st
inguiria essa relação supostamente psicoterápica
de uma relação normal. N e s s ~ caso preciso, pensamos po
der afirmar que a interação é feita a serviço da resistência.
Tem por objetivo e talvez como efeito) impedir que
venham à luz as fantas ias do paciente, o que vai ao encontro
de nosso segundo axioma: as interações
têm
como
efei
to
dissimul
ar
a vida i
ntra
subfeti
.
Mas vejamos a continuação do exemplo: O terapeuta,
muito
, experiente. simplesmente escuta essa paciente e. em seguida.
depois de tê-
la
deixado falar longamente sobre seus sentimen·
tos
de humilhação , diz-lhe :
O
conjunto dos fatos que você
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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mostra que está vivendo momentos muito sofridos, e tenho o
sentimento de que, de fato,
corro
constantemente o ri CO
de
mostrar-me muito desastrado: meu olhar, minhas palavras e
meu sorriso podem feri-la
"
Isso praticamente nlo tem
valor
de
interpretação
a priori
porquanto, aparentemente, trata-se
de uma resposta {ou
de
uma reação). Mas vejamos o que se
segue:
A pac iente permanece em s
il
éncio por um longo tempo, de
pois começa a dizer que isso
de
modo algum é verdade, hesita e
cala-se até o final da sessão. Na sessão seguinte, diz que está
um pouco desamparada, que tem a sensação de ter desconfia
do
do terapeuta, como sempre desconfiou dos outros homens,
e acrescenta, um pouco mais ad
ian
te, que
ino
a faz lembrar
de sua relação com o pai,
que nunca soube levá-la realmente
a sério.
~
somente
nesse
momento que
o
caráter transferen·
cial da primeira
seqüéncia aparece
em
pl
ena
luz.
E isso nos
permite
evocar o seguinte
axioma:
N
RE
·
L ÇÃO INTERSUBJETIV , A T R N S F E R ~ N C I APARECE COMO U MA
E S P ~ C I E DE TRANSGRESSÃO DO ENQUADRE,
COMO
UM
TENT TIV
DE
TRANSFORMAR EM " REL ÇÃO
RE L
" UM
REL ÇÃO DE JOGO
.
Mas essa
interpretação
só é poss ível desde
que
s regr s do
jogo (o enquadre) estejam claramente definidas.
Foi isso
que nos perm
i
tiu
dizer
que
enquadre fundamenta a legiti
midade
d
imerpretação.
Um
outro
ax io
ma
é o coro lário
do terceiro: : A
ÇÂO
DO TERAPEUTA QUE REMETE O PACIENTE
DE VOLT A SUA RE LID DE INTERN , EM
RE
SPOSTA O MOVI·
MENTO TRANSFERENCIAL,
e
não apenas
a interpretação da
resistência.
Portanto , se a transferência se desenvolve a partir da
realidade interna
do
sujeito e se, como conseqüência, assu
me
valor de realid de para
este, trata-se,
do ponto de
vista
do objeto ,
de uma manifestação g
inária,
que pertence
ao domínio das representações: "E assim
que
ele me vê, é
assim que me imagina (como
se subentende,
mas, na rea
lidade,
não
sou
assim). Pa
ra
um, trata
-
se
de uma
certa
rea
lidade vivida realidade psíquica) e,
para
outro,
de uma
re
presentação
imaginária, e aí se
acha uma
das armadilhas da
psicoterapia,
onde
as respectivas ações
ocupam
tanto lugar:
a
ação é dotada de um estatuto diferente
da verbalização
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rtlação interrubjeriva transferinc/4 t interpretGção 69
ma is próximo de
uma
certa objetividade para o objeto;
tomand
o
um
exemplo extremado: uma bofetada que o
te-
rapeuta recebesse
de
seu pacie
nte
seria
absolutamente
real,
mesmo
que
não
fosse
verdadeiramente
destinada a
ele,
e essa é a realidade imediata compartilhada por um e pélo
outro
. Assim,
convém
insistir no aspecto
de
que a ação e a
verbalização tem
um impacto diferente,
o que
é
ainda mais
importante de compreender
na medida
em
que o terapeuta
não
é
um
simples espelho
sobre
o qual o
paciente
projeta
suas fantasias; ele é
um
espelho
que age ,
que reenvia
ao
paciente o reflexo de suas projeções, mas que envia simul
taneamente
um conjunto de
informações provenientes,
por
um lado, do mundo interno do
terapeuta
contratransfe
rencia .inconsciente) e, por outro, de sua competência téc
nica e
de
sua
compreensão
do paciente. Além disso, as as
sociações verbais
remetem
também
ao terapeuta
o reflexo
de
suas intervenções -
fenômeno
pouco contestado, mas
muito
pouco
estudado:
negligenciamos
por muito
tempo,
em particular,
tudo
o que
concerne
~ o
efeito
das interven
ções
do
terapeuta,
ao
impacto delas
no
funcionamento
in
trapsíquico
do
paciente; ora,
toda
interpretação é ao
mes-
ma tempo, uma
ação
mas o corolário disso
é
.que QUAL-
QUER
ÇÃO
PODE TER
V LOR
DE INTERPRETAÇÃO
como bem
ilustra a intervenção do
terapeuta do
terceiro exemplo.
Assim, é mais
particularmente
esse
prob
l
ema
, nascido
do
conluio
maior entre
fantasia e realidade, que
temos
estuda
do ,
na
medida em que ele nos parece condicionar
uma
cer
ta
especificidade
dos mo
vimentos
transferencia is e
contra-
transferenciais.
Na psicoterapia breve, a maioria dos autores tem uti
lizado diversas técnicas cujo efeito principal
é
permitir ao
terapeuta manter o
co
ntrole da situação e evitar a armadi-
lha das reações contratransferenciais. J assim que podemos
compreender
a maior
atividade dos
terapeutas,
ou
até a
focalização por de
sprezo
seletivo ou atenção
seletiva.
De
nossa p
art
e,
opt
amo
s
por
uma
atitude
rjgorosa
mente
psicanalítica, porém ~ v ~ n o em conta o novo pro
blema induzido pela situação face a face - o problema
da
ímpohãnc ia das comunicações
interacionais.
Por conse
gu in
te, é a
ação
interpretativa que é obj
eto
de
toda
a nossa
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 70/102
70 p l i c o t ~ r p k l r n ~ s
atenção,
pois,
como
ilustramos em nossos três exemplos, o
terapeuta
tende, na s i t u a ç ~ o face a face, a reagir e a
querer
mostrar ao paciente o caráter imaginário de suas proje
ções transferenciais, a querer desfazer-lhe a ilusão, o que,
paradoxalmente, impede o aparecimento das fantasias
do
paciente em plena luz. Dizer ao paciente, .. Não transmiti
r i seu dossiê, ao contrário do que você imagina ,
só
faz
obscurecer esse imaginário;
mas
meu sorriso
não era
irô
nico teria tido o mesmo resultado. Tudo isso equivale a
dizer que o principal problema do terapeuta, em psicotera
pia, é
agir
e
não
reagir.
A disciplina fundamental a
que
se deve
ater
o psicote
rapeuta é perguntar-se
constantemente não
o
que
quer
transmitir
ou
dizer a seu paciente, mas sim o
que
este irá
entender.
Isso é válido para todas as comunicações interacionais.
Inversamente,
no que concerne
ao
conjunto das
asso-
ciações manifestamente marcadas om a chancela da subje-
tividade (por exemplo,
quando
o paciente diz ter
o
sen·
timento de que ),
as intervenções
em
nada se
dist
inguem
das do psicanalista.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 71/102
f
7
FOCALIZAÇÃO:
O Desenrolar de uma Psicoterapia
A focalização, universalmente admitida em psicoterapia
psicanal
tica
breve, baseia-se, apesar dessa universalidade,
em
concepções e práticas que variam de um autor para ou
tro: polarização consciente do tratamento em um proble
ma
ou
em um
sintoma principal para uns e, para outros,
hipótese psicodinâmica de base, que supostamente explica
e resume a maior parte dos conflitos intraps(quicos.
Em
nossa visão, esses diferentes procedimentos, freqüentemen
te desenvolvidos
em
bases intuitivas ou experimentais, têm
por função permitir ao terapeuta conservar o domfnio da
relação psicoterápica, evitando a armadilha de interações
repetitivas passCveis
e
barrar o acesso ao inconsciente.
Nossa
visão diverge no sentido de considerarmos que a fo-
calização ativa não é necessária, desde que se esteja atento
para
as
relaçtles entre
as
interações e
as
fantasias. Com efei
to, com base
em
estudos sobre os aspectos psicológicos das
primeiras consultas em medicina geral [21), voltando tam
bém nossa
atenção para os aspectos precoces da transfe
rência em psicoterapia, pudemos fazer as seguintes cons
tatações:
1 A maioria das consultas (médicas ou psiquiátricas) é
motivada pelo aparecimento
e
uma crise relaciona
no casal, na fam(lia ou até mesmo em outro tipo de
relações particularmente significativas;
2.
Desde as
primeiras consultas, o paciente tende a
indu
zir
no médico ou no psicoterapeuta uma
contra-atitu
de compensatória especlfica
que parece calcar-se na
~ t i t u e habitual do parceiro do paciente que se con·
sulta. De qualquer modo, o terapeuta é induzido pelo
71
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 72/102
I
72
ptfCOtl rllpflu reves
paciente a
substituir
a pessoa que lhe era cara antes
do confl
ito. De
certo modo, é
o
própr
io paciente que
rende a foca
z r
s
co
is s em
su
relação com o ter -
peuta.
O comportamento
adotado
pelo paciente durante a
primeira consulta
traduz
o confl ito atual com
que
ele se vê
confrontado. Sua função é amb fgua e contém, ao mesmo
tempo
,
um
aspecto de
resistência
e de
abertura
para uma
mudança, refletindo, em geral, a problemática central do
paciente (zona de fragilidade de seu ego). t de acordo com
esse
mode
lo básico que compreendemos a foca lização. Em
suma, o paciente focaliza espontânea e inconscientemente
a relação Para percebé·lo, convém estar
atento
ao
que
o
paciente faz nas primeiras consultas, mais do que ao que
diz . Talvez devamos especificar essa colocação: estar
atento
ao que ele lev o terapeuta a fazer. A reação deste último
reflete mais claramente os movimentos contratransferen
ciais precoces induzidos
pelo
paciente.
Mas
apoiemo
-nos num exemplo para ustrar essa
questão:
PAIM lROS CONTA TOS
Tenho dificuldade em trabalhar e em me concentrar, caso
contrário
não teria vindo consultar-me; durmo mal e pratica·
mente
não
vejo quem possa ajudar-me. Meu marido é um
intelectual brilhante,
tem
sucesso em tudo ; ele me falou sobre
as diferenças entre p s i ~ l i s e psicoterapia.
Eu
o deixei há
seis meses. Na ocasião em que o deixei, ele
suportou
mal a
separação e propus que fo Se ver um psiquiatra; agora ele está
melhor. Deixei·o porque me sentia
opr
imida, ele não admitia
contradições . Eu estava def inhando, fiquei
fis
icamente doen
te.
Desde os primeiros contatos, portanto, Daphné comu
nica seu sofrimento: distúrbios da concentração, do sono,
dificuldades no t rabalho etc. Esses sintomas apareceram
após a separação conjugal, que, no
entanto
, ela mesma pro
vocou, pois sentia-se sufocada pelo marido, a quem enviou
a um psiquiatra porque, no inicio, ele
suportou
mal a sepa·
ração; agora ele está melhor, mas é agora que Daphné vai
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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toci uaçõo
·
73
I
consu ltar-se. Portanto, ela assinala um conjunto fie
aconte
cimentos
seguidos por
sintomas.
Vejamos agora o
comportamento
que
adot?
em rela-
ção ao terapeuta :
1. E
la
evoca seus sintomas.
2. Apressa -se a dizer que não
vê quem possa
aj
udá-la,
o que é uma forma bastante clara de dizer que está
sofrendo, mas que duvida
do poder
de
set. 1
terapeu
ta; mas é, ao mesmo
tempo
uma maneirP indireta
de pressioná-lo.
3.
Evoca implicitamente sua confiança na ólpacidade
do marido: ele tem sucesso em tudo e foi ele quem
. lhe exp
licou
o que
é
a psica
nálise e não {J psicote·
rapeuta.
Essa curta seqüência mostra que a paciente xerce, de
imediato, uma certa pressão sobre o terapeuta: ,o marido
tem sucesso em tudo, mas, e o terapeuta? lmpliciitamente,
ela o compele a provar seu valor. A
is.so
acrescent-a-se o fa
to de que ela mostra claramente sua
estima pelrJ
marido:
é ao marido que pede expl icações sobre as técn
ié;as
psico
terâpicas.
4. A paciente assinala, no entanto que mal :suportou
esse marido que a sufocava
com
seu sab r; assim,
contribui ainda mais para a dificuldade dó> psiquia
tra, pois diz implicitamente que,
se
esciutar esse
homem, sent ir-se
-á
sufocada .
Em resumo, ela mostra que está sofren
do
mas que
duvida da terapia; se o terapeuta, mesmo assim, viiesse are
vel ar-se à altura de seu marido, ela correria o risciO de sen
tir-se oprimida e de definhar. Logo de início, plOrtanto,
configura -se uma relação em que é possível estabetlecer um
pat l/elo
en cre
o
marido
e o terapeuta:
ela necessital do tera·
peuta, a quem corre o r
is
co de não suportar, assi-im
como
suportou mal
apo
ia
r-se em seu ma
ri
do.
Entretantco, o fato
de ir consu ltar-se no
moment0
em que o marido .está me
lhor
mostra uma abertura nesse sistema; o maridc9· não jo
gandO
mais o jogo habitual, modifica os dados bãásicos da
relação, o que leva a uma
crise que
deverá ser expl·lorada.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 74/102
74 psícoter pi s breves
NESSA ISE QUE A PSICOTERAP IA BREVE DEVE POOi R FOCALI·
ZA ASE. Com base nessas premissas simples, o terapeuta
p
ode
conduzir o
restante
da
entrevista e p roC1Jrar verificar,
parale l
amente,
através da investigação
clfnica
e
de um
exame
pskológic
o,
as
primeiras hipóteses
psi
codinâ
micas
enunciadas em seu fo ro rntimo. Vejamos do
que
se trata:
ELEMENTOS
N M N ~ S I C O S
Er a o segundo
casamento
de Daphné. Grávida, ela havia
de
sp
o sado, aos 19
anos,
um homem que encontrara numa via·
gem
ao exte
rio r; esse
marido
mor
r
era
de uma
doença
gr
ave
pouco antes do nascimento d o beb
é,
que foi confiado aos cui
dados de uma babá e dos pais de Daphné, que re tomou bri
lhantes estudos universit ários. Após os exames. foram-lhe ofe.
recidas
numerosas
possib
ilidades universitárias interessantes e
ela voou de
sucesso
em sucesso. Entretanto,
no
momento
em
que começava a a tingir o objet ivo que buscara, apresen tou for·
tes
cefalé
ias e experimentou dificuldades
acentuadas
de
con·
centração . F oi nessa época que conheceu seu segundo marido,
também um
h
omem
bri
lh
ante,
que
lhe fez
uma
corte
ass fdua; ela
ace
it
ou casar·se com ele e mudar-se para
uma cidade
afas t
ada
onde moravam os
sogros
). renunciando por isso a sua carre ira.
Ent
rementes.
seu bebé mor reu após u ma doença grave. Ela so
freu in tensamente essa perda, mas conseguiu superar o luto
voltando a trabalh ar, agora em u ma
un
iversidade des tacada on·
de
novamente
alcançou um é x ito brilhante. Entretanto, sua vi ·
da conjugal
tornou
-se
ca
da vez ma is sofrida a SI US olhos, na
medida em que ela sen tia dificuldade em suportar o a
ut
ori taris ·
mo do marido, que,
fo
rt
alecido
pelo apoio dos
pais, revelou-se
rígido, desdenhoso e distante. Ao voltar de
uma
longa viagem
pr
of
is:Sional ao exte rior, ela teve a sensação
de
não
pode
r mais
suportar a vida conjugal e propôs uma separação.
Em
seus antecedentes familiares,
descobr
iu-se que ela
pro
·
vinha de u
ma
fam fl ia
de
universitários: o
pa
i era descr ito
como
u m
autocrata de inte
ligéncia brilhan
te
,
com humor mu
ito ins·
t ável,
que pa
ssava de gargalhadas explosivas a mo
vi
men tm
bruscos e terrificant es de
có
l
era;
a
mãe era
dotada
das
mesmas
qualidades
de inte ligéncia, porém era mais sens vel e
fora
do·
minada pelo marido por muito tempo;
entr
etanto, acabara
por
adqu;r ir uma
notoriedade
indubitável no campo prof1ssional , a
ponto de ultrapas
sa
r o marido.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 75/102
[oco/izaçiio
75
Daphné era
uma
moça de cabelos desgrenhados, displicen·
temente
vestida
ao
estilo
de um
rapaz.
Do conjunto da investigação e
do exame
psicológico
emerg
iu
o
retrato de
uma
pessoa hipersensível.,
que contro
l v muito mal suas emoções, à
espreita
de
todas
as reaçl)es
do interlocutor, e
cujo
pensamento tornava-se às vezes um
pouco fugaz, apesar da inteligência
superior
à média.
Durante as
duas
primeiras entrev istas, ela relembrou
um
sonho
infanti l: Estava na água.
correndo
o risco de f o g r ~ e e, de
re·
pen te, sem
que
tivesse feito o
menor
esforço,
punha
-
se
a sobre·
voar a água;
era
um
corte
tota l e
abrupto,
um sentimento ma·
ravilhoso
por um momento
e, depois, subitamente, ela ficava
aterror
izada, perdia o
controle de si
mesma e tornava a cair
no
fundo da água. onde olhava para ela
própria.
Comentou esse sonho
dizendo
de sua esperança de
que
a
psicoterapia
ou
a psicanálise lhe permitissem sentir-se
n
água,
nadando
sem ser
muito perturbada
pelas ondas.
O conjunto desses
dados
mostrou um intenso investi·
mento do pensamento em Daphné, que parecia defender -se
desse
modo contra
o risco
constantemente
presente
da
emergência de angústias invasivas. Assinalaram-se
também
suas dificu l
dades
relaciona is
com
os
homens
e sua tendên
cia a estabelecer vínculos
com
personagens
bastante
fracos.
Por
outro
lado, pareci evidente que a maneira como Da·
phné apresentou o pai assemelhava-se surpreendentemente
com o que disse do
marido
, mas também com o que estava
prestes a viver e a transferir para a pessoa do
terapeuta.
A
fragil idade de seu ego era ev idente, mas o
insi ht
era pro·
nunciado, até pronunciado demais. Além disso, sua motiva
ção era mu i o fo rte.
Levando-se em conta o insi ht dessa
paciente,
sua for
te
motivação e o investimento significativo
que
ela fez
no
terapeuta, optou-se
por uma psicoterapia
analítica cujo
tér
mino foi fixado, de comum
acordo,
para um
ano
depois.
No que concerne à focalização esse trabalho foi em
preendido
com
base exclusivamente na seguinte
hipótese:
Da
phné
, no decorrer da psicoterapia, procurará resolver
corçigo o conf li to que não conseguiu superar na relação
com o marido. Cabe a mim tentar permitir-lhe compreen-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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7 psicoreropi s
b tvts
der as
fantas
ias e as resistências subjac
entes
a esse
con fi
i·
to.
LGUNS ASPECTOS DO DESENROL R DO TR T MENTO
Nenhuma
outra
instrução foi dada além
da
relativa
às
asso-
ciações livres, o que se tornou possível graças
à
atenção
voltada
para
os
aspectos
transferenciais
precoces
da
rela·
ção. Em termos clássicos e esquemáticos , toda psico
te
rap ia
analítica
breve que evolui norm
almente comporta tr
ês fa -
ses principais:
a Colocação de elementos transferenciais compará·
vc is aos d neurose clássica de transferên
ci
a
b Elaboração;
c Término.
Não
resum
i
remos aqui
a
tota lidade
do
t
ratame
nto,
mas
simplesmente apresentaremos
alguns recortes
d
ínicos
para
il
ustrar sua atmosfera.
PRIMEIR SESSÃO:
Oap
hn
é fala
espontaneamente sobre
suas
dúvidas quanto à possibilidade de eliminar seus sentimentos
de insegurança, seu m
edo
da morte, acima de tudo, e seu medo
da
solidão;
este último
fo i ace
ntuado
pela separa
ção
recente.
ainda mais porque e
la
desejava profundamente um filho: Mas
é
imposslvel, porque não tenh o u m
homem
e,
de
qualquer
mo·
do,
me
u trabalho me i
mped
iria
.
Nesse
mom
ento. o
terapeuta
indaga, simplesmente:
Vocé
poderia descrever o
homem
de
quem gostaria de te r um
filho?
Essa foi
uma
das pr imeiras intervenções do
terapeuta,
fundamentada
nas
concepções
desenvolvidas
nos
capítulos
anteriores.
Com efeito, qu ai
quer intervenção que incidisse,
por
exemplo,
sobre a defesa é impossível, porque não tenho
um
homem , ou
sobre
as angústias I gadas
ao
desejo
de ter
um
f ilho,
não
teria
obtido nenhum resultado senão
o
de
reforçar
s
resistências.
e
acordo
com
nossa experiência,
adot
amos
freqüentemente, em psicoterapia, as seguintes
at
i
tudes
:
por exemplo
,
mostrar que
esse desejo
aparece de
·
pois
de
ela
ter
provocado a separação;
outras atitudes,
mais
diretas,
teriam
ligado esse
prob
lema
do
filho
às
diferentes
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 77/102
focalização
77
imagens de homens que ela havia retratado: como desejar
um filho
de
um
homem tão
autoritário,
etc.
Qualquer
intervenção
desse tipo teria sido
sentida
como
um
objetivo
de
não
receber
por parte
do
terapeu-
ta
ou como
uma
acusação, e teria
conduzido
a um jogo•in
terminável em que
Daphné
procuraria provar que tinha
razão, e vice-versa.
Assim, o terapeuta
optou
por
um
ato
de
valor inter
pretativo:
admitiu
o dese jo,
admitiu
a
dif
iculdade atual e
solicitou
uma
precisão
aparentemente
anódina. Vejamos as
conseqüências:
Daphné f
ic
a
um
pouco perturbada,
cala-se e,
em
seguida,
evo
ca senti
mentos
de fracasso. sem res
ponder
diretamente. Na ses
são s u i n t comenta: Aconteceu uma coisa importante
em
mim: eu lhe falei sobre minha angústia de
mo
rte e minha im
potência para dar um sentido a ela. Disse que queria ter fi lh os,
mas,
depo
is de sua pergunta. fiquei pe
rt
urbada e me de i
conta
de que não queria um fi
lh
o de um homem e sim apenas o fru -
to
da aproximação, mas não a pessoa
1
Percebi
que,
a despeito
de
minhas numerosas aventuras
sent
imentais. tenho medo dos
homens
E me veio uma recordação: eu tinha quatro anos e es
tava do lado de fora, sob o sol. transpirando com o ca lor. Meu
pai me disse que vestisse um casaquinho. Respondi
que esta-
va com calor, mas ele retr
ucou: 'Pouco
me i
mporta;
se estou
dizendo para você vesti r um casaco de malha,
só
lhe resta obe
decer'.
Fiquei fur iosa,
com
a sensação de que meus próprios
sentidos não t inham valor.
Assim, foi a
própria
Oaphné
que
percebeu a
repetição
e deu um sentido
intra subjetivo
àquilo
que
punha na con-
ta
de problemas da realidade. O terapeuta obteve esse re
sultado sem intervir nas resistências.
ELABORAÇÀO I
F SE
I
Desde cedo, a psicoterapia desenrolou-se
num
clima inte ira-
mente equiparável
ao
de uma psicanálise clássica.
com
associa
ções e sonhos que se sucediam e se completavam sem que o te
rapeuta tivesse grandes intervenções a fazer. A principal
pro
blemática elaborada foi a respeito da posição fál ica defensiva
de Daphné em face de uma representação sado-masoquista da
relação hete rossexual. Essa riqueza de associações imprcssio-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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8
psicoter pi s
f f • · ~ s
nou o terapeu ta, que, durante uma sessão. deu a se guinte inter·
prelação: e la d ava mostras de tamanho insight que seria poss
f-
vel
in
dagar
se não
chegava a ultrapassar seu terapeuta. talvez
par a agradá -lo, mas correndo o risco de sentir-se só . Daphné
cal
ou
-se , mas, na
sessão
seg
uinte, comunicou
o
seguinte
sonho:
"Eu es
tava na
rua
e enc
ont
rava um
ant
igo amante : ele es ta·
va sorridente, de ixava
tra
nsparecer um vigor sereno. Disse-me,
'Venha, vou apresentá-la a
minh
a mu lher'. Eu o
se
gui. Ele mo·
rava no alto de u ma casa
de
mu i
tos
andares. Entramos num cO·
modo que
era
uma espécie de sótão e a mulher de le estava lá,
sen
tad
a em um d i
vã
,
com as
pernas
estend
i
da
s. S
ent
amos em
out ro divã
e
c
oloquei
a mão no
ombr
o dele. E
e
mostrava um
in
tenso
desejo
po
r m im, mas também desejava sua mul her, lou
ra e de
olhos
luminos
os
. De repen te, vi que e la
estava br
incan·
do com alguma
coisa
preta
e pe
luda
na
pont
a
de um
bar b
ante
.
Era uma ar
anh
a
com um
n
ome
que
esqu
e
ci
. Ela me d isse que
os
companheiros gostam de
brin
car
juntos, e eu me
aprox
ime i
e estendi a m
3o para
b rincar,
mas
fui invad ida pelo medo,
por
um calafrio de mo
rte."
Oaphné z diferen tes associações
acerca
dos
restos
diurnos do
sonho
e
depois. sobre as rel.1ções
entre o sexo da mulh er e a ar
anha.
o que o te rapeu
ta
con
ten
·
tou se em
salientar.
A isso. D
ap
hné respondeu: "Mas. na
v
·
dade, essa aranha sou eu "
Na sessão seguinte, Da
phné
chegou atrasada,
emb
ora fosse
sem
pre muito
pontual,
e
comentou:
Estou
atr
ibuindo
menos
importância a chegar na hora." Um pouco
mais ad
iante,
cen tou . Talvez o
qu
e a
cont
ece aqui me perturbe um
pouco".
e ac
abou
d i
zendo, "D
epois
da
úl tima sessão, fiquei muito preo ·
cupad a.
Tive a impressã
o
de
que era minha femi nil ida
de
que
es
tava em jogo. De r
epen
t
e, lemb
rei -me
do
m ito de Aracne
e
quis
v
er
do que
se tratava.
Reli ·o
e
vi
que
Aracne
,
es
sa
mulher
que
desafiou
Minerva por sua inte ligéncia, era um
pouco como
eu
mesma nas se
ssõe
s. Talv
ez
eu
qú
eira
brilhar, par
a não me
apega r Em se gui
da
, ela viu ta
mbém qu
e tinha q11erido mal
à
mãe
por es ta
ter
uma vi
da
sexual de
que
parecia orgulhar-se
(ela
brincava
com a aranh a
dos
olhos de Daphnél etc.
Os problemas ed ipianos puderam então ser abor
dados
e a ps
i·
coterapia
te
rmino
u no prazo
prev
isto. sem mu itas dificulda·
des.
Para conclui r, vej
amos
alguns c
omentários
fe i
tos por
Daphné, a
lg
u ns meses depois, por
ocas
i
ão de
uma investiga
ção
catamnéstica: "Consigo expressar
melhor meus senti·
mentos, faze r valer m inhas necessi
da
des
nas situações d if í
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 79/102
I
focalizaçãó
19
ceis; também consigo aceitar me 1hor que essa tomada de
posição possa desagradar aos outros, mas
sei que
mais vale
isso
do que desagradar a mim mesma Tenho mais respe i
to por mim mesma, adquiri uma capacidade de me interro·
gar a meu respe ito, sobre minhas próprias necessidades. • .
Não era isso que ela havia procu rado?
Esses poucos recortes cl ínícos pretenderam ustrar o
fato de que, no desenrolar dessa psicoterapia, o terapeuta
estava constantemente
atento
ao sentido transferencial das
assoc
ia
ções da pac i
ente
. Por exemplo, quando Daphné evo
cou suas dúvidas e a impossibilidade
prát
ica em que se
achava para conseguir o f ilho que desejava, o terapeuta dis
punha de
in
d icios suficientes para saber que esse discurso
dirigia -se essenc
ial
mente a ele: então ela não d i s s e r . : ~ desde
as primeiras palavras, que duvidava que a terapia pudesse
trazer· lhe o que desejava? Do ponto de vista simbólico, tra·
tava·se exatamente
do
mesmo problema.
Essa
idéia deu su
porte
à
intervenção do terapeuta. Levar para a transferên·
c ia . como
se
diz algumas vezes, ·
de
nada teria servido,
pois, aparentemente, a paciente estava fa lando da
realida-
de . Ass i
m
era conveniente respeitar suas defesas, criando,
ao mesmo tempo, condições apropriadas para permitir a
Daphné evocar o que se passava no interior dela. inter
venção do te rapeuta permitiu isso. Ma is tarde, o sonho da
aranha·Aracne segu
iu-
se
a
uma interpretação clarame
nte
transferencial e assinalou uma reviravolta: os problemas
edipianos to
ma
ram dianteira em relação aos problemas
pré-gen itais, tornando possível a Daphné integrar mel
hor
sua feminilidade, e permitindo-lhe também, por outro la·
do, enfrentar as situações profissionais ansiógenas que ela
sempre evitara até então.
Além disso, cremos que as poucas citações do balanço
feito por Daphné mostram que e
la
viveu imediatamente
uma experiênc
ia
interior, aparentada com a experiência
ana l it
ica
, e não uma simples experiência emocional corre·
tiva.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 80/102
PSICOTERAPIA BREVES
E
CLASSIFICAÇÃO DAS PSICOTERAPIAS•
Introdução
Para comp re
ender
ainda melhor a especificidade das psico
terapias breves, gostaríamos, neste
capítulo,
de situar as
psicoter pi s breves e mais particularmente nosso
méto
do) no domínio geral das psicoterapias, pois a ampliação
do campo destas
últ
imas e o aparec imento de mú ltiplas
formas
de
in tervenção,
todas
as quais se
denom
inam
de
ps i
coterapias
( novas psicoterap ias , A. Haynal) , incita ·nos a
re
colocar
na
base o
problema de
sua
classificação. Numero
sas intervenções, que qu ase não se d ist inguem dos trata·
mentos
tradicionais
da alma no século passado
e
no in icio
deste sécu lo, ou que se
fundamentam
em teorias mais ou
menos esotéricas, inte rrogam-nos sobre o lugar que
ocupam no
domínio
mais específico da prática médica e da
ciência. Contudo , se
pretend
e rmos tentar co
mpreender
as
relações que mantêm entre si essas d iversas psicoterap ias,
pensamos
ser errôneo comparar
as
teori s
de
umas
e de ou
t ras, ou mesmo interpre tar o
con
junto das práticas em fun
ção
exclusiv
amente da teoria
psicanalítica. Parece
muito
mais criterioso comparar as pr tic s e p rocurar, em segui
da , compreender seu funcionamento. O objet ivo deste ca
pítulo é esboçar em algumas linhas uma classificaçã o das
psicoterapias segundo esse
princfpio
e situar o lugar
das
di·
ferentes formas de psico terap ias breves. Para fazê-lo, nos
• Resumo de
um
relat
ó r io aprc<en ta do
no
1 S11np6soo lrotern c ooual de
Lln·
gu
a F ra nce
sa
sobre
as
Psicot e
rapia
s Or eves
de
Insp iraç ão l so candli llca. em
Lausanne 22·25 de junho de 1983 pu blocado roa r
ev1s
ta Psyc
r
htYap•es
n c l 3
vol. 111
pp
. 145-15
1 19
83
.
80
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 81/102
cl ssific çüo d s psicoter pios
8
apoiaremos nas noções de
relação terapêutica
e de
en
quadre
d iscutidas nos capítulos 5 e 6. Mostraremos como
esses parâmetros se combinam de
acordo
com os diversos
métodos
propostos.
Parâmetros das psicoterapias
Assim,
tentaremos
classificar as
diferentes
psicoterapias em
relação aos dois parâmetros que
se
seguem:
REL ÇÃO T E R P ~ U T I C E O ENQU DRE TER PEUTICO
Já
se disse algumas vezes
que
a psicoterapia
começa no
ponto
em que o médico passa a utilizar a relação médico
paciente com um objetivo terapêutico. Isso equivale a di
zer que,
em
ps icoterapia, o
médico
utiliza a si mesmo co
mo medi
cação
de seu paciente. Lembremos, portanto,
que
segundo nosso modelo, a relação psicoteráp ica
baseia-se
em uma recusa
a reagir
e
em um
desejo de compreender,
a
partir do qual o médico adapta sua ação
à
compreensão
que tem do comportamento do paciente.
Ê
aí que o ato
médico assume
um
caráter psicoterápico: no
ponto
de pas·
sagem
da
reação (contratransferencial)
à
interpretação,
qualquer que seja o mode lo
de
referência . Mas situamo-nos
aí
no
ponto
zero
da
psicoterapia:
somente
o
''enquadre
irá permitir a evolução
de
um processo.
Quanto ao
enqua·
dre, ele comporta dois aspectos:
a l Os
determinantes
sócío-culturais do tratamento (re
gras);
b) A
disposição {setting).
Essa espécie de fronteira que separa o espaço do trata
mento do espaço social delimita, desse modo, uma
zona
privilegiada
onde
os
atos
e palavras assumem um valor tera
pêutico.
Metaforicamente, podemos comparar a situação psi·
coteráp
ica
à
sala
de
operações do cirurgião - o único lugar
que preenche as condições adequadas para permitir
certas
intervenções, mas cujos
ocupantes
empenham-se em respei
tar, estritamente certas
regras,
como a da assepsia, por
exemplo.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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82
psfcoter pi s bre•es
Di
zendo
isso, estamos
admitindo os
dois seguintes
axiomas:
1. a
função
do
enquadre
é criar uma "situação rela
ci
ona "
própria para
favorecer a atividade
do
tera
peuta e sua eficácia;
2.
é
a
maneira como o terapeuta
uti
li za
a
r
el ação
as
si m
criad
a que dete
rm
ina a natureza
do
processo.
De imedi
ato,
as psicoterapias podem d is tinguir-se de
duas
maneiras:
I
Pelas d iferenças no
enquad
re, a sabe r,
as
di f
eren
tes
disposições ou re
gr s de
funcionamento;
11
Pela na
tureza da
re lação proposta e mant i
da pe
la
atividade
do
ter
apeuta .
Entre
tanto, soment e a combi nação
das
duas define a
psico tera
pia
.
Dito isso, pode
mo
s estabelecer
um
a prime ira distin
ç
ão
entre d o
is
tipos
de
ativida
de
: s psicoterapias propria-
mente ditas fundamentadas em um enquadre que d is t in ·
gue o campo psicote
ráp
ico d o campo cu ltu ral e que p.erm i·
tem o
desenrol
ar de um verdadeiro processo psicoteráp ico ,
e as intervenções
com
fin alidade psicoterápica,
qu
e não são
del i
mitadas
po
r um enquadre e não imp licam um processo
temporal.
INTERVENÇÕES DE FINALIDADE PSICOTERAPICA sem enquadre)
Certas
intervenções de
finalidade psicote
ráp
ica não p odem
ser consideradas psicoterapias ve rdadeiras, no sent ido em
qu
e
as
en
tendemos,
na
med
i
da
em
que
a
ausência
de um
enquadre
preciso não
autoriza
o desenvol
viment
o
de um
verdade
iro
pr
ocesso. R
et
omando a
metáfor
a pr
ec
edente,
pode
acontecer que um ci rurgião p recise intervir fora da sala
de operaçõ es (num aci
dente
circu la tório ,
por
exemp lo), mas
ess
as inteNenções
são gravemente limitadas pel a falta
de
meios, independentemente d elevada competênci técnica
do médico. Pode-se dizer que o mesmo acontece em ps ico
te
rap
ia
:
em
nossa
opinião,
na
f
lta de
um enq
uadre
pr
eciso
e em estruturado a psic
ot
erapia não
pode
ter lugar. Por
exemplo, c
ertas
in tervenções isolad s
podem
ter
um
i
mpac
to consideráve
l
sem que
por
isso mereçam a denominação
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 83/102
dJJssificaçâo
d s
pricormzpiar
8
de psicoterapias .
Quanto
à chamada psicoterapia
do
médico clínico'', tampouco ela dever i ser cons ide rada
ver
dadeiramente como tal, mesmo que o atendimento dure
muito
tempo
(passagem
constantemente
possível a
atos
médicos como auscu ltação, investigações d iversas etc,J; a
situação do
clín
i
co
geral e de sua
prática
quase não autori-
zam a in stalaç
ão de um enquadre
psicoterápico que assegu
re a constância necessária
ao
desenrolar do processo. Esse
fenômeno aparece claramente, por exemplo, quando
um
jovem psiquiatra com sua form
ação á
avançada precisa fa
zer um estágio em residência com vistas à obtenção
de
seu
títu
lo
de
especialista:
por
mais
que
seus
superiores
o incen
tivem freqüentemente a encarregar-se dos pacientes que so
frem
de
dificu Idades psicológ icas, é-l
he
prati
camente
im
poss ível fazê-lo.
Observamos aqui que existe uma relação estreita entre
o enquadre psicoterápico e o
modelo
conceitual do tera
peuta, o que
não
deixa
de
ter importância. Assim, os trata
mentos
comportamentais
trazem certos problemas: em sua
grande maioria, eles se baseiam
em
llma idéia
de
norma
li
da
de e não-normalidade, em
uma
filosofia de adaptação. A
noção de liberdade indivi
dua
l ou de necessidades individuais
está quase
ausente
delas. Isso se tra
duz
pela ausência de re-
gr s
que estabeleçam
urn
fronteira·entre o espaço do tra-
tamento e o espaço social. Segundo
nossa concepção, essas
intervenções não pertenceriam
ao
domínio da psicoterapia,
na medida em que o psiquismo individual
não
é verdadeira
mente
l
evado
em con
ta
,
tratando
-se
antes
de uma
espéc
ie
de socio terapia , o que, a nosso ver, não correspon
de
ne
cessar iamente a uma
critica
ao método.
PSICOTERAPIAS PROPRIAMENTE DITAS
(delimitadas do campo social)
Todas as formas
de psicote
rapias compreendem, portanto,
um
con
j
unto
de
regr s fixas
desenhando um
enquadre
abs·
trato
que
di
stingue
c l r m ~ n t e o campo psicoter
ápico do
campo
social.
Comumente,
visam
não
a uma
readaptação
do. paciente à sociedade, mas sim a
uma reequilibração do
mundo intrapslquico oferecendo ao
paciente
um
certo
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 84/102
8 p s i o t ~ r o p i o s u v ~ s
grau de liberdade em relação ao
fun
cion
am
ento
soc ial.
A
norma,
nesse caso, é o bem-estar individual
e
secun
d
ariamente
, o equ ilíbrio inte rpessoa
l.
As psi
co
terap ias ana
lí t icas fazem
parte
dessa categoria, mas
numer
osas
outras
formas d e psic
oterap
ia
s de
apoio
ou
catárticas
visam, antes
de
mais nada, a melhora
do
indivíduo; portanto ,
é
o con
junto de regr
as
que autorizam um comportamento social
mente
ina daptado que permite ao indivíduo saber que se
encontra em si
tua
ção onde
suas necessidades
e
seus desejos
pessoais tem a possibilidade de manifestar-se, independen
temente das interdições sociais; d
iz
er tudo , repouso
corporal completo , expressão corporal total (nudismo) ,
p
orém
não
faze r
nada
etc.
Como vimos mais acima , a própria fundamentação
dessas regras consiste na possibilidade de transgredir certos
tabus sociais, possibilidade
co
ntrabalançada pela introdu
ção de novas proibições.
Feita essa col ocação, há possib il
i·
dade
de
certas variações
qu
e se situam entre dois extrem os:
a
As ps icote rapi
as
verbais, onde a regra fu ndamentat
é a
de
dizer tudo , associada à
de
não fazer nada ;
b}
As
ps
ic
ot
er
ap
i
as
não-verbai
s
onde
a regra pri
nc
ipal
inc ide sobre a ex p res
são
cor
po
ral {psicoterapias ca
tártic
as, diversas técnicas de relaxamento, grito
pr
i
mai etc.);
c)
Entre
esses d ois extremos, há numerosas formas de
psicoterapias mistas, tais como o psico
drama
psica
na
líti
co ou o rela
xament
o ps icanalítico
etc.
Além d isso, esse enquadre abstrato
é
man
tido
por
uma
disposição
que
delimita claramente
o
lugar
e o
tempo
em que a transgressão é autorizada. Essa d
is
posição pode
variar
de
u ma forma de psicoterap ia para
outra.
AS DISPOSIÇÕES
Trata-se do conjunto de parâmetros es
pa
ço-temporais fixos
de
um tratamento: número
de
pacientes. tempo {freqüên·
cia d as sessões,
horários
,
duraçã
o).
espaço
n
e
utral
i
dade
e
constância d o lugar, posições respectivas
do
pa
ciente
e
do
te
rapeuta). Esses
pa
râmetros são constantes e quase mudos,
uma vez contratado o tra tamento . No en
tanto,
são o su-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 85/102
classi kaçôo das psicorerapios
8
porte
d ~
~ r a ~ a m e n t o e _esse sup_ort_e tem _um
considerável
efeito
dmam1co na
relaçao terapeut1ca.
Tres formas de mo
dificação
da
disposição
correspondem
a
três
categorias de
psicoterapias:
a
Modificação
do
número
b Modificação da disposição espacial;
c Modificação
da
disposição temporal
Grosso modo, portanto, temos:
as
psicoterapias
in
dividuais, as
psicoterapias em grupo, as psicoterapias
dedu
ração
não
limitada
e
as psicoterapias de duração
limitada,
podendo
cada uma
dessas formas
de tratamento
ocorrer na
situação face a face ou em assimetria terapeuta sentado,
paciente s)
deitado s))
A combinação
desses
diferentes
pa
râmetros já determina parte da especificidade do
tratamento.
Em
resumo,
o
enquadre de limita nit
i
damente
o
campo
psicoterápico do campo
social; essa
definição
fun
damenta-se em
um
conjunto
de regrâs
que
autorizam com
portamentos proibidos
em outros
lugares,
mas
essas autori
zações só ocorrem no i
nterior
de uma disposição espaço
temporal claramente definida
conforme
o tipo de
trata
mento.
Certas
regras
podem
divergir
de
in í
cio
verbalização
-
expressão corpora
l) e a
disposição espaço-temporal pode
diferir
divã-poltrona/face
a
face- limitação temporal
etc.):
sã
essas var i
ações que compõem, a nosso
ver, o essenc i
al
da especificidade dos tratamentos,
na medida
em que
a di
nâmi
ca da relação terapeuta-paciente
é
fortemente
modifi
cada.
Isso
não
impede
que, no inter
i
or do
enquadre,
certas
características relacionais igadas à
técnica
e às opções
teóricas do
terapeuta
condicionem a dinâmica
do
processo.
O
tema da relação terapêutica psicanalítica fo i abor
dado
no
capitulo 6,
e acrescentaremos
apenas que todas as
relações
terapêuticas podem
situar-se
em
função
dos
dois
seguintes pólos:
,7 o
terapeuta
pode
utilizar
a
relação para influenciar
o paciente e ajudá-lo;
b o terapeuta
pode interpretar
o
que
se passa na rela
ção
=transferência
J
e trazer à luz
os eventua
is con
flitos.
O
conceito
de interpretação merece alguns comentá-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 86/102
86
pslcotu pl s breves
rios: seu
momento
fundamental
continua
a ser aquele
em
que o terapeuta não reage
ao
comportamento do paciente,
comenta a relação e declara-se não envolvido. Essa é a pró
pria base da interpretação da transferencia, que caracteriza
as psicote rapias psicanalíticas, mas
poderíamos
imaginar
outras situações
em que
a
atitude
é a mesma - por
exemplo, os conflitos conjugais em que um dos cônjuges
repele as acusações do outro ( não sou esse ou essa que
você
está
pensando ). O que
devemos pôr
em destaque
mais
uma
vez, nesse
ponto,
é
a
interdependência entre
a
rela·
ção
e o
enquadre: somente
o
enquadre analítico permite ao
terapeuta
dar
uma
interpretação
d
transferência; fora
do
enquadre, qualquer interpretação
inscreve-se
em
um
sim·
pies conflito interpessoal. Eis porque consideramos que
qualquer classificação que tenha como
único
ponto de re
ferência a noção de transferência é errônea.
Esses dois modos de ação correspondem,
portanto,
a
duas
grandes categorias
de
psicoterapia:
a As psícoterapías ditas de apoio recuperadoras
ou
corretiva
s;
b
lAs ps
icoterapias
analiticas
ou
de
descobrimento.
a
PSICOTERAPIAS SUGESTIVAS RECUPERADORAS OU CORRETIV S
Em
cada caso particular, o terapeuta
procura compreen-
der as dificuldades do
pacient
e e orientá-lo sobre a sua na
tureza, mas sem procurar pôr em evidência
uma
eventual
origem intrapsíquica.
Quando
o
terapeut
a formu la para
si
mesmo uma idéia sobre as razões desta
ou
daquela dificulda
de, não
a
com
unica
ao
paciente, mas a
ntes
incita este último
a supe rar
seus problemas
enfrentando-os Por exemplo,
num
paciente que acumule fracassos, o terapeuta, mesmo com-
putando certas causas inconscientes para esses fracassos,
contenta-se em pôr em
destaque
os comportamentos auto
punitivos do paciente e em ajudá-lo, através de
uma
atitu
de freqüentemente sugestiva, a modificar esses comporta·
mentos
.
Caso
o
paciente adote perante
o
terapeuta uma
atitude
semelhante
à
que
tem em sua vida cotidiana, o te·
rapeuta
não
fala sobre isso,
ou
pe
lo menos n
ão iaz
nenhu
ma interpretação
dita
da tr
ans
f
erênc
ia . As terapias com
portamenta ís poderiam inscreve r-se nessa categoria.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 87/102
clasrificação das psicotrrapias
8
b PSICOTERAPIAS N LITICAS
Nesse caso, o terapeuta renuncia a qualquer atitude suges·
tiva , educativa ou
corretiva .
Como observador
neutro, busca
perm
itir ao paciente observar a si mesmo e
aperceber-se, desse modo, das raízes intra-subjetiv.as de
suas dificuldades. Para chegar a isso, o terapeuta deve âpa
gar-se o mais possível,
de maneira a permitir que apareçam
os problemas subjetivos do paciente. O objetivo é
trazer
à
luz conflitos em que o médico não possa sentir-se
direta
mente em questão. Esse
é
exatamente o modelo da atitude
psicanalítica, mas
um
comportamento assim não é próprio
exclusivamente do
tratamento
analítico: podemos encon
trá-lo também nas psicoterapias rogerianas e nos diferentes
tipos
de psicoterapias de inspiração psicanal
ít
ica.
Por outro lado, essas atitudes estão constantemente
presentes. em graus mais ou menos pronunc iados, em todas
s relações humanas, e em nada são espec/ficas das psicote
rapias, só se transformando nisso em re lação ao conceito
complementar
de enquadre
LUG R E
OIN MIC
O SPSICOTER PI S BREVES
Com base nos
dados
precedentes, podemos conceber um
grande
número
de combinações, que
estão
resumidas
no es
quema da Tabela 1. As diferentes formas de psicoterapias
breves
encontram
lugar ali e
podemos tentar
apreender a
interdependência dinâmica de
certos
parâmetros das psico
terapias. Assim, as psicoterapias breves têm como caracte
rlstica comum procederem a certas modificações do enqua
dre e da técnica, mas,
sede
um lado todas adotam a d isposi·
ção face a face, de outro o manejo do
tempo
é muito variá
vel: algumas delas fixam um prazo preciso, enquanto
outras não fixam prazo algum, e outras, enfim,
adotam
uma atitude
intermediária, como ilustrou o quad ro sinóp
tico
do
capítulo
4. Ora, isso só terá interesse se examinar·
mos então a técnica
adotada
pelos terapeutas; desse modo,
percebemos
que
ex i
ste
uma relação entre a técnica e a
delimitação o enquadre temporal_· quan to mais clara-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 88/102
88
psico
terapioJ
reves
mente
d
eterminado
é o
enquadre
temporal, menos ativo
se mostra o terapeuta . Inversamente, quanto mais a
li-
mitação temporal é
deixada
na incerteza, mais o terapeuta
se mostra ativo . Essa atividade transparece
no
rigor da s l ·
ção
dos
pa
cientes
e
na
natu
reza das
interpretações .
or
exemplo
sabemos
que
Peter Sifneos não indica nenhum
prazo
preciso
mas
seleciona
rigorosamente seus pacientes,
escolhe at ivamente, de comum
acordo com
seu paciente,
um foco de tratamento e atém-se rigorosamente a essa es-
colha.
Além
disso, adota uma
atitude
de
apoio narc/sico
muito
a t iva. James Mann ao contrário, fixa de im
ediato
um prazo extremamente rigoroso, mas deixa que seus pa
ciente
s associem livremen te e sua
at
i
tude
é
muito
pouco
in-
tervencíonista
mesmo que ele
atr
ibua partic1Jiar impo rtãn
cia às angústias de
separação
do paciente. Nós mesmos, em
Lausanne, fixamos
um
enquadre
muito
rigoroso tanto no
plano da duração quanto
no
da freqüência muito embora
possamos ater-nos exc lusivamente
à
regra das associações
livres. .
Em resumo para situar as psicoterapias breves em re
lação
às
outras
técnicas, devemos voltar a
atenção
essenci
almente para a disposição espaço-temporal nova que as ca
ra
cteriza: elas
se distanciam da psicanálise pela passagem
ao
face-a-face e
afastam
-se de outras técnicas psicoterápicas de
inspiração psicanal ít ica pela limitação da duração. Essa
li
·
mitação
pode
ser implícita ou explícita. Quando é apenas
impl
cita, é compensada
por uma
atitude mais ativa do te·
rapeuta, ao passo que quando é explíci
ta
essa compensa
çã o
não
é necessária .
Ademais, a referênc
i
psicanalitica nem sempre é cla
r
, o
que também pod
e
traduzir
-se no
compo
rt
amento
dos
terapeutas.
Alguns
enfatizam
essencialmente a atividade e a
experiência emocional corre tiva : a essas terapias chamaría·
mos,
com
Pe
ter
Sifn eos, psicoterapias breves de apoio ;
ou
tros, ao contrário colocam ênfase na interpretação dos
conflitos atuais em função de seus v ínculos com os confli
tos
intraps/quicos
resistência ao processo associa t ivo, de·
fesas etc .) e com o passado do sujeito. Somente estas últi·
mas merecem a qualificação
de
psi
coterapi
as ana/icicas
breves.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 89/102
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J
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http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 90/102
I
I
I
I
J
INDICAÇOES CONTRA INDICAÇÕES
Os
cri
t
érios
de
seleção
dos
pacientes
para uma
psicoterapia
de curta
duração
variam muito conforme os au tores e situ ·
am-se em uma escala
que
vai
de
uma grande restrição a
uma grande não-seletividade . Utilizam-se
diferentes
cri
térios de seleção:
a) Critérios psicopatológicos:
diagnósticos/s
int
omas/
estr
u tu ras
da per
sonali
dade;
b) Critérios temporais : crises ou afecções crõnicas;
c)
Crit
érios
psicodinâmicos
problemática
genital''
(edipiana)
ou pré-genita l (pré-ed ip iana).
RELATIVIDAD E DAS INDICAÇÕES
De maneira geral, começamos por determinar, mu ito classi
camente, a
ecção atual
(a demanda do paciente, segun
do
M.
Balint 130
1
e,
em
seguida, i
nterrogamo-nos sobre
a
estrutura da
personalidade
.
Propõe
-se
também, freqüente·
mente, um exame psicológico (Rorschach, TAT ou outros)
[21).
Feito isso, a
ut
ilizaç
ão
desses dados varia seg
undo os
autores.
P. Sifneos atém-se a critérios rigoramente psicanal íti
cos e aceita apenas os pacientes
cujos
pr
ob
le
mas
são edipi
anos e cuja estrutura de personalidade é
gen
ital . Trata-se,
porta
nt
o,
de pa
cien
tes muito evoluídos,
dotados de
um
ego sólido e
de bo
a
capacidade de intros
pecção, cu jos
problemas podem
ser
i
nterpretados
segundo um ou outro
dos aspectos
do
complexo
de Édipo (pos it ivo ou negativo} .
90
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 91/102
indic ações e contr ·indic çóes 9
O. Malan, mais flexível em sua abordagem, refere-se
de
maneira
muito
estrita às
concepções
de
M
Balint, e seus
critérios baseiam-se sobretudo na dem
a
nda
do
paciente e
na
possibilidade de
focalizar
o
tratamento em
uma
hipó-
t s
psícodinâmica
básica, passível
de
explicar a maior .par
te das d ificuldades, o que amplia razoavelmente o campo
da sel
eção, já
que o critér io
psicodinâmico
essencial baseia
se
nessa possibilidade de focalização.
Outros
terapeutas são ainda mais abrangentes em suas
indicações
ou
se interessam por um campo psicopatológico
específ ico: os casos
fronte
iriços
(borderline),
para M Lei
bovich
8]
ou as neuroses graves
do
caráte
r, para
H.
Da
van loo. Outros, enfim, mostram-se mais variáveis e, sem de
finir em critérios precisos
de
seleção, adaptam sua técnica
aos
problemas
dos pacientes, aproximando-se, nesse
aspec
to,
das posições
de F.
Alexander,
L.
Wolberg,
L.
Small
ou
L. Bellak. São esses os que mais pregam o ecletismo técni·
co.
De fato, isso remete
à
questão da contratransferencia
no
sentido
lato
do
termo)
e
é
provável que,
como
em psi·
canálise,
cada terapeuta tenda a escolher os pacientes que
lhe tragam melhores
resultados ,
parcialmente em função
de
sua
econom
ia pessoal.
Como conseq üência, em uma primeira abordagem,
quando se fa la em critérios de seleção
de
pacientes ou
em
indicação para a psicoterap ia breve), é sempre conveniente
precisar
a que forma de psicoterapia breve
se está
aludindo
Aiexander e
French,
Balint-
Mal
a
n, Sifneos
etc.).
De nossa parte, consideramos, ainda assim, que exis
tem certas constantes na psicoterapia analítica breve que se
nrendem essencialmente ao enquadre espaço-temporal. Po
ut
i iomos dizer que as indicações para a psicoterapia breve
são
re
l
at
ivas, no sentido
de
dependerem, simultaneamente,
do desejo
do
paciente e da técnica particular do terapeuta.
Ao contrário, parecem
existir
contra-indicações absolutas,
que
parecem
estar estre
i
tamente
ligadas
à
questão
da
mo·
tivação
dos pacientes. Com
efeito,
todos os
autores
con
cordam
quanto a esse ponto
fundamenta
l: alguns falam em
motivação de
mudança,
outros em motivação
de insight,
mas todos a tribuem uma importãncia primordial a esse as·
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 92/102
9l psicorerapia
s
brC
ves
pecto
, que é o fa tor d e prognó
stic
o mais d i
retamente
li
g
do ao sucesso da psic
otera
p ia.
Entr
e ta n to , parece-nos que
essa questão deve ser ex am inada
em
suas nuanças, pois, de
fato, d isti nguem-se dois t
ipos
de p ac ientes :
1) A
qu
eles
cujas motivações são
sobretudo
progressi
va
s
2
Aqueles cujas motivações são sobre
tudo regressivas.
Os p rimeiros p rocurarão uma verdadeira mudança, en·
quan to
os últimos buscarão
uma compensação
par
a suas di
ficuldad es . Estes
seriam inacessíveis
às psicoterapias breves.
De fato, esse ponto de vista afi
gura
-se demasiadamente es·
quemá t ico, pois muitas coisas parecem dep
ende
r do p ró
pr
io
terapeuta:
H.
Davanloo
ou
M.
Leibovich,
por
exemplo,
tratam com sucesso
pacientes cujas
motivações seri
am
qua
lificadas
por muitos
como
regressivas. Eis
porque,
apesar
da
util idade
de
ssa d ist inção, c
on
sid eramos
que ela
é insufi
ciente, na med ida
em
que tamp
ouco
leva em con
ta
a
a
ti
v
i·
dade especdica do terapeuta. Convém le mb ra
rmos
aqui
q ue ,
segundo
o modelo das teorias da comun icação,
deter
minamos a
nós
mesmos ,
como
princfpio fundamental, en
carar
a
dupla
ter
a pe
ut
a-pacien
te
como
um
rodo em intera
ção con tínua .
Assi
m,
é
possíve
l co ns iderar a questão das motiva·
ções regressivas
ou
progressivas
como
um problema
per
ten ·
ce
nte
ao
domínio
das in
di
cações
relativas
que depende es
sencialmen
te
da
natureza
d a relação in te r·subjetiva de um
dado p acient e
com um
dado terapeuta.
A nosso ver, a questão das in
dic
ações ou
contra-indi
cações
ganha
maior
clarez
a
quando
se
exam
ina o
pr
oblema
das motivações à luz da organização puls ional e em
fun
ção
de
duas
ordens de
fa tor
es
:
1
A dispos i
ção espaço-cemporal
proposta ;
2 ) O ca ráter analltico do tratamento p ropos to.
Eis aqui um esboço dessas concepções :
1. Contra-l nd icações ligadas à Disposição Espaço-Tempordl
Ess
as
contra- indicações
concernem
:
a) aos
pacientes
qu e, em
virtude
de
sua problemát
ica,
prec
isa m mostrar-se insensíveis (ou quase ínsen
sí
-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 93/102
iii tcaçoes e o r ~ t r a i n d i c a f Õ t 93
veis)
à
influencia
do
enquadre,
qualquer
que
seja
ele;
b) aos pacientes
que, em virtude
de
sua problemática,
podem util
iza r
certas caracter ísticas
especificas
do
enquadre
(freqüência
da
s sessões,
limita
ção
tell)pO·
ral, face a
face ou
divã-
poltrona etc.)
a serviço
de
suas
resistências.
a.
Insensibilidade
ao
enquadre.
Trata-se do domín io
das psicoses e,
em medida menor
das pré-psicoses.
Com
efeito
, ind
ependentement
e
de suas outras características
psicopatológicas,
esses pacientes.
por
suas
tendências
aut is
tas.
comporta
m-se
praticamente da
mesma maneira,
qual
quer
que
seja o
enquadre
proposto
e
qualquer
que
seja o
interl
ocut
o r, o
que equ
ivale a
dizer que
são
incapazes
de
jogar o jogo ps,canal ítico ou psicoterápico. Seu tratamento
requer modificações
téc
nicas de tal
ordem
que se
afasta
mu i
o
das
concepções
psicanalíticas.
b.
ont
ra indicações ligadas a certas caractedsticas es
pe ficas do enquadre. O face-a-
face parece
contra-indica
do
para os
paci
entes
cujos mecanismos
de
defesa
contra
o
desenvolvime
nto de
urna ne
urose de
transferência são parti
cularmente acentuados: é
o g
rupo das neuroses
obsessivas.
Para eles, a
nosso
ver, a
disposição
divã -
poltrona
é
larga
ment
e
preferível.
De fa to, eles
tendem
a
defender-se do
aparec
imento
de
suas emoções
e de suas fantasias referin
do·-se c
onstantemente à realidade
do
terapeuta. Quando
este
último interpreta
esse
movimento
como uma resistên·
cia, inicia·se
então
o
jogo
sem
fim,
que
mais
se
assemelha
a
uma
guerra do
que
a
uina
psicoterapia .
Com
efe i
to,
esse
mecanismo de defe
sa é
intensamente reforçado
pelas possi
bilidades
de controle
visual
oferecidas
pela
disposição face
a face . Convém
lembrarmos, de
passagem ,
que
esse
modo de
defesa através
da
rea
dade deve
se r
claramente
d i
stinguido
de outro mecanismo de
defesa a
que poderíamos designar
de
defesa contra
a realidade do ou t ro
mec
an ismo próprio
dos psicopatas
e
dos pervertidos,
que
utilizam
seus
parcei·
ros de
acordo com
suas prt lprias necessidades
fantasmát -
cas:
não apenas confundem
o
outro com sua
vida
fantasmá
tica.
interna, como também não suportam
a
existência
do
ou
tro
en
quant
o
indiv(duo,
mui
to embora estimulem
violenta-
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 94/102
94 psícoter pills breves
mente a pessoa diante deles para obrigá-la a comportar-se
de acordo
com
a
estrutura
de sua própria vida fantasmática.
Por
exemplo, em função de suas tendências agressi
vas
mui to
mal controladas, o psicopata tem necessidade de considera r
o
outro como
ma
u. Sem consideração pela afetividade do
parceiro, ele o impele, através de estimulações constantes, a
irritar-se e a mostrar
-se
desagradável, para então reprová-lo.
Assim, o parceiro torna-se automaticamente confundido
com a fantas ia do sujei to. Para designar esse gênero de pa
cientes, falou -se algumas vezes
em
negação do narcisismo
do
outro
(J _ Bergeret), na medida em que seu
eg
ocen t
ris
mo é de tal ordem que a própr
ia
sensibilidade do outro, ou
sua sus
cept
ibilidade, de
ve
m ser ne
ga
das. E
ssa
categoria
de
pacientes não suporta nenhum tipo de postura analitica e
desaparece após a primeira ou a segunda entrevista.
Quanto à limitação tem
por
al, ela se afigura particular
mente contra-indicada em duas situações: nas estru turas
perversas, sobre as quais se afirma que são praticamente
inacess íve is ao trata mento psicanalítico, mas que, ~ ma·
neira mais especifica, reagem através da neg ão a qual quer
limitação
tempor
al; essa limitação é
t
mbém contra-indica
da nas neuroses narcísicas'' (no sentido de Kernbergl. Com
efeito, este últ imo gru po de pacientes, aterrori zados por
su a profunda necessidade regressiva, defende-se lutando
ativamente contra a relação afetiva. Eles utilizam a limita
ção temporal para just ificar seu medo de se apegarem. Nes
se se ntido, qualquer limitação tempo
ral
favorece esses m
o
vimentos defensivos.
Em contrapartida, a disposição divã·poltrona
e
sobre
tudo
a aus
enc
ia de
limi
tação tempor
al
podem ser muito
nocivas para as personalidades que não lutam contra suas
necessidades regress ivas, em particular as personalid< ;__ ui
tas
i
nfantis e dependentes . Nesses casos, a limitação da
duração pode
~ r
um fator muito dinamizador.
2. Contra-Indicações Lig adas ao Caráter Psicanalitico
do Tratamento Proposto
Como acabamos de ver, a maioria das contra-ind
ica
ções pa·
ra
a psicanálise o
rtod
oxa
con
st itui também as contra-indi·
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 95/102
indicações e conrra-inúicaçõés 95
cações para as psicoterapias de inspiração psicanal it ica,
se
gundo nosso ponto
de
vista .
Todavia, existem algumas
contr
a ind icações
ma
is
es
pecíficas das psicoterapias analít icas breves. Para compre
ender isso,
é
preciso retomar o
pr
oblema da "demand<t
do
paciente , no dizer
de
Balint, ou mais exatamente, em nos
sa
opinião,
do
que impele o paciente a consultar-se, tema
muito estreitamente ligado ao da motivação, que compor
ta ,
no tocante
às
ps
ic
oterap
ias
analít icas, dois aspectos
principais : a expectativa do paci
ente
(o que ele procura em
um tratamento) e sua capacidade de questionamento in
s
igh
t
tomada de consciência).
De
fato, o estudo mi
nu
cioso
de novos casos em consulta em nosso se rviço ambulatorial
ev idenciou mui to claramente o fa to de que, na origem de
todas
as
consultas espontãneas, há uma situação cr/tica
não no sentido de um ataque psíquico agudo causado por
um acon tecimento t
ra
umático intolerável, mas no sentido
de ruptura de u equilibrio até então relativamente está-
vel
.
Essas
crises são de divers
as
ordens, mas a maioria
de
las
é provocada pelo aparecimento de dificuldades
relacio-
n is
de ordem sentimenta l ou familiar. Ela s se mani
fe
stam
at
ravés de sintomas funcionais ou neuróticos.
É
nessa
si-
tuação que o paci
ent
e procura o apoio
do
médico. Isso tal
vez uma fonte de complicação em todas as form as de
psicoterapias individua is ou, como vimos anteriormente, a
p· • ;
ã
face a face favorece a relação
real ,
em detrimen
to
o::J
relação fantas
ia
da . Qualquer que
SE1ia
o conteúdo m
a-
nife:.LO
da demanda, o conteú
do
latente comporta não ape
nas
um
a:;per.
to progressivo (desejo de mudança). como
tambt:,n e
sempre
um aspecto
defensivo qu:1l
seja, a espe
r
ar.:;a
c is ou menos consc
ie
nte de um retorno ao equ i Ii
brio ante rior: no caso de crise sent
im
ental, o paciente es
pe
ra in
conscientemente reencontrar a paz, · sem nenhuma
modi
fi
cação das característ
ic
as fu ndamenta is de suas refa
ÇÕI
S
afetivas; no caso de neurose fóbica, ele espera um
de
saparecimento dos sintomas sem ter que defrontar
se
com
a origem deles etc. Freud descreveu perfeitamente essa ten
dêrtcia ge ral do homem a resistir à mudança e a recorrer,
preferencialmente, aos meios defensivos anteriores, ou, se
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 96/102
96 priroteroplar r ~ v n
preferirmos
dizê-lo desse modo a voltar
ao
passado mars
do
que a
seguir
adiante
1
•
Cabe
essencialmente
ao terapeuta estar at
e
nto à
sicua
çã
o crítica que levou o pac
iente
a
consultar-se:
é
aí
que se
focal iza o
conflito
do
paciente.
Trata-se
então
de
julgar as
possibilidades
reais
de
mudança
ou
o peso
das
resisténcias
que visam a um simples reto rno ao equilíbrio anterior. De
um lado a orientação analítica a mudança; de outro a
recupera
ção
a
homeostase. Abordamos
aqui o domínio
das
resistências.
A sua importância pode ser medida pela
reação
do
paciente
aos ''ensaios interpretativos ,
segundo
as proposições até
mesmo de
O. Malan. Trata-se
de
inter
pr
etações
parciais
que podem
n
cidir
sobre
este ou
aquele
aspecto do
con teúdo latente
das
queixas
do
paciente sobre
as resistências
ou
até simp
lesmen
te de uma confrontação
que vise a
mostrar
a repetiç
ão de
certos comportamentos
ao
longo
do temp o.
Por
exemp lo mostrar a
um
paciente
que vem
consu
lta r-se
em decor
rência de um
conflito
conju·
gal que desde os primei ros tempos
de
sua escolarização
ele
entrava freqüentemente
em
conflito
com
as
meninas
de
sua classe
ao
passo
qu
e
nunca
t inha
problemas
com
os
me
ninos é
algo que pode ter
um efeito
muito
dinamizador.
Assim desde a primeira
entrevista
o terapeuta deve estar
na escuta
das
manifestações inconscientes do paciente e
procurar fo rmular uma hipótese
psicodinãmica
passível
de
explicar os motivos inconsc
ientes que o impel iram a con
sultar
-se. É com base nessa hipótese que ele pode destacar
uma ou outra
das
dificuldades do paciente e
l
gá-la a seus
motivos inconscientes.
O
objetivo
disso
é
permitir
ao
pac
-
ente capt
ar
a natureza
do
trabalho que lhe será
proposto
e
examinar
sua
reação:
prazer do ego
provocado pela
desco
berta de
um
novo modo de
funcioname
n to aumento da
ansiedade
surgimento
de
resistências
maciças
etc .
la
ro
está
que
não
pode
esperar de
todos os pacientes
que
reajam p osit ivamente às i
nterpretações
mesmo
que
sabiamente dosadas.
Em
numerosos casos convém prepa
rá-los
para
um
tra
:;
alho
anal
itico
através
de
uma
aborda
-
1
Cf.
Au
-delà
du
pr
í
ncipe
do
p lai
sir . m Emlis de p1ych nalyse
Paris. PayOt
1970.
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
http://slidepdf.com/reader/full/edmond-gillieron-as-psicoterapias-breves 97/102
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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1
ON LUS ES
Quisemos mostrar que os métodos
psicoterapicos
ana
l
ít
i·
cos breves
são múlt
ip los, mas
que,
se
voltarmos
nossa aten
ção
para esse
fenômeno central
que é a relação terapêutica
poderemos definir certas constantes. Assim,
do
ponto de
vista
psicanalítico
, as regras
internas
de
funcionamento
do
trata
mento
desenham uma
espécie
de fronteira abstra:
-·
que
delimita
o campo psicanalítico
do campo
cultural. Es ·
sas mesmas regras valem para a psicoterapia e são elas que
conferem à psicoterapia seu cará ter analítico. Entretanto,
a
disposição concreta
do tratamento {face a face
em
vez de
d ivã-pol t rona,
temporalidade) mod
ifica a dinâmica dessa
relação.
Em conseqüencia
disso, o
trabalho do
terapeuta
talvez seja mais
árduo
,
no
sentido de
que
a
manutenção
da
fronteira entre o campo psicoterápico analítico e o campo
da
realidade é dif íc
il de
fazer.
Não obstante,
há que evitar
que
a relação
terapêutica
se
transforme
numa relação real .
É provavelmente
pa ra não correr esse risco que diferentes
meios técn icos t êm sido utilizados pelos terapeutas: ·focali ·
za
çâo
, aumento
da
atividade
etc.
Pretendem
os mostr
ar
que
um
a atenção aguçada
voltada
para a especificidade da
transferência
em
psicoterapia
p
er
mi te ev
itar
esses meios
ativos e substituí-los exclusivamente pela INTERPRETA ÇÃO .
E
os
resultados? Inú
meros tr
abalhos
foram ded
icados a
essa questão
e
á
os
citamos, particula
rmente em um
a obra
anterior {Aux conf ns
~
la
psy
chanalyse . Dentre eles, a
maioria parece mostrar que os resultados das psicoterapias
breves são pe lo
menos
tão
bons
quanto os
das
p
sicotera
pias
de longa
duração
. O problema atual
é
o
da
especificid
ade
de
suas
téc
nica
s:
especif
ici
dade
da
seleção
dos
paci
entes,
especificidade d os resultados. Mas essa é uma Q 1estão que
ainda permanece em aberto
. . .
9
8/19/2019 Edmond Gillieron . as Psicoterapias Breves
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