escola e famÍlia: uma integraÇÃo necessÁria para … · socialização do conhecimento e de...
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ESCOLA E FAMÍLIA: UMA INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA PARA A GESTÃO
DEMOCRÁTICA
Autora: Vera Rute Rosa Izac1
Orientadora: Regina Aparecida Messias Guilherme2
Resumo: Este artigo apresenta uma reflexão sobre a escola enquanto espaço de participação da família, a qual constitui a válvula propulsora desta abordagem, pois partimos da ligação educativa dos pais no acompanhamento da aprendizagem dos filhos/alunos. As relações de pertencimento entre a escola e a família acontecem na medida em que a família concebe a escola como espaço incondicional de socialização do conhecimento e de instrumentalização da comunidade escolar. Como objetivo principal desenvolvemos ações para incentivar a família a participar mais da escola, articulando os pais nas atividades escolares e favorecendo sua relação com os Alunos, Professores do Ensino Fundamental além da Direção, que nesta análise constituem o público alvo das intervenções realizadas numa escola pública de Santana do Itararé, no Estado do Paraná, viabilizando o processo de formação e participação dos sujeitos que fazem parte do coletivo escolar. A hipótese confirmada nesta reflexão se remete a possibilidade de compreendermos a participação da família na escola pública como sendo o objeto de estudo da gestão escolar, pois a presença dos pais se dá de forma pouco propositiva ao se constituir de forma artificial e de consentimento. Esta constatação lança um compromisso pedagógico para que todos nós possamos revertê-lo a favor de uma interação efetiva entre a escola e a família de nossos alunos. As resistências que existiram e as rupturas necessárias para chegar a uma relação mais efetiva da família com a escola determinaram o resultado deste trabalho na área de gestão escolar que serve para iniciar uma reflexão ainda maior dentro das relações exercidas.
Palavras-chave: Família e Escola, Relações de Pertencimento, Gestão Democrática.
1 Professora de Língua Portuguesa, PDE 2010-2012, lotada no Colégio Estadual do Campo Humberto
de Alencar Castelo Branco – EFM. 2 Professora Assistente do Departamento de Educação da Universidade de Ponta Grossa.
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Abstract: This article presents a reflection on the school as a place for family participation, which is driving the valve of this approach, because we start connecting education of parents in monitoring the learning of children / students. The relationship of belonging between school and family happen to the extent that the family sees school as a space of unconditional knowledge socialization and instrumentalization of the school community. Main objective is to develop actions to encourage more families to attend school, joining parents in school activities and enhancing their relationship with students, teachers of elementary school in addition to the Director, that this analysis are the target of intervention carried out in a public school Santana Itararé, in Parana state, enabling the process of training and participation of individuals who are part of the school community. The hypothesis was confirmed in this discussion refers to ability to understand the family's participation in public school as the object of study of school management, since the presence of parents is given so little to the propositional form of artificial and consent. This finding casts a pedagogical commitment that all we can reverse it in favor of an effective interaction between schools and families of our students. The resistance that existed and the breaks necessary to achieve a more effective relationship between the family and the school determined the outcome of this work in the area of school management that serves to initiate further discussion within relationships exercised.
Keywords: Family and School Relationships Belonging, Democratic Management.
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1 Introdução
A escola necessita saber que é uma instituição que complementa a família e
ambas precisam proporcionar um ambiente agradável de afetivo convívio escolar
para os alunos/filhos. A proximidade dos pais com a escola traz benefícios
favoráveis à produção do ensino e da aprendizagem do aluno.
De acordo com a análise da (PARANÁ, 2009, p. 4)
A partir do momento em que todos nós tivermos clareza de que a função social da escola está em possibilitar ao aluno o acesso ao conhecimento e que este é a via de emancipação humana e social, estaremos sim preocupados com a aprendizagem efetiva. É este conhecimento que possibilitará compreender o mundo em suas contradições e, à luz da história dos homens, moverem esforços para mudar sua prática social.
Aproximar a família à escola permite aos professores um contato mais direto
e efetivo de seus objetivos em comum e mediante a criação de ações para melhoria
do desempenho dos alunos/filhos junto ao cotidiano escolar.
A partilha de experiências e de concepções ganha uma nova visão: a da
família enriquecendo os debates nas questões da prática de ensino e de
aprendizagem ajudando significativamente no desenvolvimento do processo
educacional.
A materialização da gestão democrática inicia com a participação dos sujeitos
comprometidos com a escola e com a educação, lembramos que toda democracia é
conquistada por direito e não pela concessão, portanto aproximar os pais nesta ação
irá potencializar o compromisso com a valorização da cidadania.
Pretendemos com este artigo manifestar como a escola lócus da intervenção
realizada se comporta frente ao papel da família e, principalmente, com relação a
acolhida de seus membros, além de identificar como se vem trabalhando as
relações de pertencimento na estrutura familiar e escolar, valorizando sua cultura,
história e suas representações sociais em momentos de lazer aliados a um espaço
cultural.
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As atividades delineadas na comunidade escolar a partir do projeto de
intervenção foram desencadeadas através de uma coleta de dados que ocorreu
mediante a observação e aplicação de questionários formulados com este fim com
questões abertas e fechadas, além de reuniões para formação de pais e alunos.
Acolhemos ainda, neste projeto, sugestões de membros do Conselho Escolar e de
uma palestra com direcionamento aos pais sobre seus direitos e deveres na
formação dos filhos, o que muito contribuiu no enriquecimento deste trabalho.
A implementação deste projeto de intervenção transcorreu durante o ano
letivo de 2011 e teve como objetivo principal sensibilizar um número máximo de
famílias da necessidade do diálogo entre pais e professores, de forma que com esta
proximidade os pais possam acompanhar efetivamente seus filhos. Essa parceria
deverá ser um esforço diário por parte da escola e, principalmente, por parte dos
professores que são a “chave” deste processo.
A questão investigada foi: Como os pais podem acompanhar a vida escolar
do filho?
Neste sentido, este artigo está organizado com uma reflexão sobre a gestão
democrática e a família na escola de modo a concretizar a sua participação no
ambiente escolar, uma vez que temos percebido sua ausência nas decisões que o
estabelecimento de ensino precisa tomar.
2 Escola e família: uma integração necessária para a gestão democrática
A ideia de trazer a família para participar do cotidiano escolar não é uma
alternativa usual, pois em muitas escolas existe apenas a presença da família por
ocasião da entrega de boletins, ou para assinar documentos. Uma alteração deste
costume envolverá uma gestão escolar realmente democrática.
A gestão escolar democrática participativa é concebida como um elemento de
democratização da escola, que auxilia na compreensão da cultura da
instituição escolar e seus processos e, na articulação das relações sociais, da qual
fazem parte, os desafios concretos do contexto histórico que vivenciamos.
Neste contexto educativo, no qual apresentamos a integração das instituições
sociais, a escola e a família, que necessitam de uma consolidada articulação, pois
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ambas precisam uma da outra para atingir seus propósitos face a formação humana
e a construção de saberes recíprocos, bem como na maior visibilidade de seus
compromissos na estruturação dos espaços de sensibilidade, de afetividade e de
sociabilidade que, atualmente, encontram-se diluídos nas relações humanas. E na
integração família e escola caberá ser intensificado o compromisso humano de tratar
destas relações urgentemente, pois os individualismos estão fragmentando os
espaços de convivência de forma brutal e sistemática. Daí a importância da equipe
gestora perceber a necessidade de trazer a família de seus alunos para participar do
contexto escolar, sem com isso intensificar suas relações de poder, mas sim
mobilizando um espaço democrático de uma Pedagogia do estar-junto, sem negar o
valor da família como participante interessada na formação sua e de seus filhos.
Além disso, caberá a todos nós um único cuidado-o de não ditarmos normas
de como a família terá que acatar junto a sua presença compulsória à escola, mas
sim estamos pensando uma aproximação com a família, que poderá ser até mesmo
“on-line”, ou via bilhetes, pois sabemos das suas dificuldades em estar,
pessoalmente, no cotidiano escolar com seus horários rígidos.
A efetivação do Conselho Escolar dentro de uma instituição fortalece a gestão
democrática através da participação efetiva dos membros da comunidade escolar,
cujo papel é assegurar que todos os seus atores se envolvam nas tomadas decisões
importantes em prol do desenvolvimento educacional e administrativo da escola.
Portanto, aproximar a família da escola é um compromisso inadiável da direção dos
estabelecimentos de ensino, pois os benefícios desta aproximação serão em grande
escala rumo ao processo de partilha de opiniões e na promulgação do diálogo.
Engers e Gomes, (2007, p.28) refletem que:
No momento em que outras vozes são escutadas, as relações de poder dentro da instituição escolar são passíveis de reestruturações. Não mais percebendo tal poder como estanque e concentrado nas mãos dos professores, coordenadores e diretores, sujeitos que são escutados, também são parte da escola e assim, dialogam sobre suas percepções a respeito da educação que se tem e da educação que se busca. (2007, p.528)
Ao lembrarmos das relações de poder estabelecidas nos ambientes e nas
relações interpessoais, cabe registrarmos o que Michel Foucault já nos alertava, de
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que aonde existem relações humanas, há também intensas relações de poder, às
quais precisamos tecer considerações de reflexão, crítica e intervenções, para assim
possibilitarmos que o diálogo aconteça desde a presença dos pais na escola.
A gestão democrática permite superar a limitação da fragmentação e da
descontextualização e construir ações articuladas e resistentes; ações de trabalho
em equipe com uma real mobilização e com uma via de acesso às necessidades e
aspirações familiares, iniciando um feedbach com o processo educativo ofertado na
escola sob a mediação com a família.
Nesta direção, é fundamental ressaltar a importância da instrumentalização
dos pais e da comunidade escolar de modo que se permita a participação de forma
mais consciente, co-responsável das decisões, escolhas e intervenção da realidade.
Pensando numa versão emancipatória é necessário que a instituição abra
espaço de participação ultrapassando seus muros, adquirindo outras competências
além do conhecimento, entre elas a família, o trabalho e os meios de comunicação
como estratégias multissetoriais, redimensionando o sistema formal, e uma divisão
de tarefas com essas instâncias.
Com a participação de toda comunidade escolar na construção acerca da
escola que queremos e de como construí-la, é algo benéfico na formação de sujeitos
democráticos.
Neste contexto a construção do Projeto Político Pedagógico, focado no tipo
de aluno/sociedade tem e que tipo de aluno/sociedade queremos, seria o caminho
para avançar no processo de gestão e na distribuição do poder entre a equipe
diretiva, o que se configura numa oportunidade de instrumentalização do papel dos
pais na participação junto à escola, pois no PPP ( Projeto Político Pedagógico)
estará manifestada as opiniões e as metas a curto, a médio e a longo prazo para o
ambiente escolar acolher.
A construção do Projeto Político Pedagógico segundo de Vasconcellos (1995,
p.143).
É um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignificar a ação de todos os agentes da instituição.
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A participação de todos, nos diferentes níveis de decisão, em especial junto a
família é essencial para assegurar o desempenho da organização escolar e da
gestão democrática, para sair daquela presença somente por ocasião dos “boletins”,
que são entregues de forma deliberativa aos pais.
Isso significa instaurar o diálogo, fundado na reflexão coletiva e resgatar a
escola como espaço público, onde as pessoas se organizem em prol de uma
educação de qualidade para todos.
Veiga, ( 2005,p.13), coloca que o Projeto Político Pedagógico
Ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mundo impessoal e racionalizado da burocracia, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
O Projeto Político Pedagógico direciona todo trabalho da organização
pedagógica na sua globalidade, constitui uma ousadia para os educadores, pais,
alunos e funcionários que vão construindo na experiência estimuladora da decisão e
da responsabilidade na busca de autonomia da escola.
Ao pensar na unidade escolar Silva, (1996, p.52) diz que:
A escola é o lugar onde é concretizado o objetivo máximo do sistema educacional. Ela representa a esperança, o desejo humano de aperfeiçoar-se, de mudar, de fazer-se e prover-se integralmente, o lugar social no qual a expectativa de mudança é o traço mais marcante.
Destaca-se aí a importância de redesenhar um currículo que responda aos
novos tempos, capaz de enfrentar as novas necessidades da classe trabalhadora.
Torres, (2005, p.116) afirma que “elaborar um currículo implica decisões de
grande complexidade, exige competência e qualidades técnicas e humanas”. Isso
supõe um redimensionamento do papel do professor que precisa compreender a
proposta e estar convencido dela, para ocorrer mudança significativa dentro da ação
educativa.
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Libâneo, (2004, p.173-174) conceitua o currículo como:
O conjunto dos vários tipos de aprendizagens, aquelas exigidas pelo processo de escolarização, mas também aqueles valores comportamento, atitudes que se adquirem nas vivências cotidianas na comunidade, na interação entre professores, alunos, funcionários, nos jogos e no recreio e outras atividades concretas que acontecem na escola que denominamos ora currículo real, ora currículo oculto.
A eficácia e a qualidade educacional do currículo precisam estar gestadas aos
interesses da coletividade.
Hoje é necessário que a educação seja processual, crítica e contextualizada
de modo que atinja as diferentes classes sociais e suas especificidades.
O ser humano ao nascer traz consigo o direito à educação escolar inclusiva, a
família é a primeira instituição formadora de valores e princípios dos sujeitos, é bom
lembrarmos dos arranjos e desarranjos da família através dos tempos, onde a
escola deve estar preparada para atender de forma eficiente esta diversidade de
organização.
Menezes, (SEED, 2012 p.18) observa bem essa mudança, quando afirma
que:
A família contemporânea foi marcada pela revolução industrial, que teve início na Europa e só chegou ao Brasil no século XIX, sendo transformada em família nuclear (pai, mãe filho), cabendo a mãe a responsabilidade pelas tarefas domésticas e educação dos filhos. Havia um controle enorme sobre a sexualidade feminina, enquanto que a sexualidade masculina era exercida livremente, sociedade machista. A virgindade era valorizada e o adultério praticado pela mulher, severamente punido. Porém atualmente esta forma de família mudou. Há um menor número de filhos, mais casamentos civis, mulheres assumindo a família, aumento de mulheres no mercado de trabalho e nas posições mais elevadas. A participação de mais membros da família na constituição da renda é o resultado dessa mudança.
Diante de tantas mudanças a escola tornou-se uma das mais importantes
instituições sociais na função de mediar a relação entre o indivíduo e a sociedade.
Essa função caracteriza-se pela transmissão cultural de modelos sociais de
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comportamento, valores morais, propiciando a humanização, socialização, enfim, a
educação.
Esses são os desafios que devemos enfrentar na escola hoje, frente as
dúvidas e incertezas diante da diversidade familiar, a busca de ajuda mútua é o
ingrediente presente na demanda de um melhor entendimento entre a família e a
escola, a flexibilização nas atitudes de convivência de gestores, professores, pais e
alunos fará a diferença.
Na tarefa de educar depende de uma afinidade mais ampla entre pais e
professores, todos que são responsáveis pelo processo de escolarização precisam
saber que a educação pública de boa qualidade depende dessa relação
compartilhada com desafios que a família possui.
Tiba (2011, p.154) ressalta que a ”família é um alicerce de riqueza incrível
que auxilia seus integrantes a alcançar a sua própria realização pessoal, social e
profissional”.
Entende-se com isso a importância da participação dos pais na educação de
seus filhos como parceiros dos professores e da escola, visto que o compromisso
dos pais com a educação dos (as) filhos (as) é fundamental, pois é na estrutura
familiar que se iniciam as primeiras orientações básicas para uma boa formação.
Quando a escola consegue ultrapassar seus muros, torna-se um pólo cultural
da comunidade em que está localizada. Há um ganho geral, pois a família passa a
valorizar e reconhecer a instituição escolar e a estimular os estudos de seus filhos.
Neste sentido, Paulo Freire (2011, p. 95) destaca que “quanto mais
solidariedade exista entre o educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto
mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola”.
A mobilização da escola em buscar parceria com a família criará um vínculo
com o educador, no momento em que a família começa a participar mais da escola
por meio das reuniões, eventos, palestras, perceberá que o educador é um ser
humano e que precisa da colaboração da família para que seu trabalho tenha
resultados positivos.
A instrumentalização da comunidade escolar mediante a valorização do papel
da família como integrante do fenômeno educativo, altera o entendimento de que
educar é um compromisso único da escola, mas também da sociedade como um
todo.
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A instrumentalização da comunidade escolar é a via para consolidar uma
gestão democrática no âmbito escolar. O conhecimento torna as pessoas mais
conscientes de seus atos, saber atuar faz parte da cidadania. Pais e escola devem
educar juntos, quanto mais unidas tiverem, melhor será o desempenho do
filho/aluno. Os pais ou responsáveis são e sempre serão as pessoas mais
importantes na vida dos filhos.
Quadrate, (2011, p. 5-6) afirma que:
Um grande desafio da escola é abrir-se para que as famílias possam estar presentes no processo educativo. A aproximação dos familiares no contexto escolar também pode contribuir para diminuir os preconceitos em relação às novas formas de constituição familiar. A família é um sistema vivo e se apresenta na sociedade de maneira dinâmica e diversa. Só numa relação de parceria entre família e escola independentemente da classe social ou de sua formatação, que se consegue maior participação dos pais. escola deve promover essa participação, precisando antes de tudo,conhecer um pouco as famílias, observando seus comportamentos e atitudes,e através da compreensão e do respeito, procurar estratégias adequadas às suas necessidades, sem desvalorizá-la.
Assim passamos a entender o quanto as famílias se tornam mais e mais
complexas nos dias atuais e como é difícil para a escola entender essas mudanças,
bem como as suas novas configurações.
Por outro lado, Roudinesco (2003, p. 199) com relação ao futuro da família
diz que:
Esse princípio se opõe, pela afirmação majestosa de sua soberania decaída, à realidade de um mundo unificado que elimina as fronteiras e condena o ser humano a horizontalidade de uma economia de mercado cada vez mais devastadora, mas por outro lado ínsita incessantemente a restaurar na sociedade a figura perdida de Deus pai, sob a forma de uma tirania.
A competitividade do mercado de trabalho levou a maioria das famílias a
valorizar o capital, enquanto que valores básicos que antes eram cultuados pelas
famílias passaram ter um olhar secundário, novos ciclos de vida familiar estão
marcados por perdas e ganhos que recebem a influência do tempo presente.
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Portanto, a família é a porta de entrada para outros lugares. Passos, (2002,
p.37) coloca que “O exercício de pertencimento que conduzirá o indivíduo a ocupar
outros lugares no mundo. Trata-se de um processo que nunca será finalizado, mas
permanentemente ressignificado”.
É importante que os pais conheçam o contexto escolar onde seu filho (a)
está inserido e devem estar em alerta acompanhando de perto o seu
desenvolvimento educacional. É importante também que a escola mantenha os pais
bem informados.
De acordo com Gillis, citado por Vicente apud Cerveny (2004, p. 42):
Se a história tem algo a nos ensinar é que nenhuma forma de família jamais foi capaz de satisfazer as necessidades humanas de amor, conforto e segurança...Devemos manter nossa cultura familiar diversificada,fluida, não resolvida, aberta para entrada de todos os que tenham uma influência em seus futuros. Nossos rituais, mitos e imagens devem, portanto, estar abertos a revisão constante, sem nunca permitir que sejam submetidos a qualquer classe, gênero ou geração. Devemos reconhecer que a família são mundos que nós mesmos fabricamos e aceitar a responsabilidade por nossas criações (CARTER& McGOLDRICK, 1999, p.15).
Atualmente busca-se cada vez mais a participação de pais e responsáveis no
cotidiano da escola, não somente para ajudar em promoções e entrega de boletins,
mas também para que juntos, escola e comunidade, possam encontrar alternativas
para o que o educando tenha realmente uma formação adequada para conquistar
seu espaço na sociedade tão competitiva e, por vezes, injusta e, até mesmo, violenta.
Chalita (2008, p. 84) aborda a questão da união entre escola e família:
É indispensável que se estabeleça uma parceria entre a escola e a família. Sobretudo é preciso que pais e educadores tenham um olhar atento, amoroso e sensível, que propicie atitudes efetivas no acolhimento das angústias e dos medos. É fundamental que os adultos não neguem os fatos, nem se coloquem à parte dos acontecimentos, arriscando diagnósticos precipitados ou naturalizando tais “brincadeiras de mau gosto”.
Saber chamar e envolver a família e a comunidade, respeitando suas
opiniões, discutindo democraticamente suas ideias e aspirações constitui um dos
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requisitos indispensáveis ao exercício da liderança compartilhada e competente em
gestão escolar se torna um compromisso necessário. Assim Lück e Lima (2006 p. 14
e 15) consideram que:
Pode-se assim traduzir a busca pela promoção de uma parceria permanente entre família e escola como um esforço com interesses mútuos envolvidos – um caminho de colaboração de mão dupla. E vamos além: é lógico afirmar que o equilíbrio do processo educacional depende atualmente do papel complementar desempenhado pela família e pela escola, uma em relação à outra.
O engajamento da família em algum tipo de atividade reforça a parceria pela
troca de informações entre a escola e família.
Com referência a relação entre família e educação, Nérici (1972, p.12) afirma
que:
A educação deve orientar a formação do homem para ele poder ser o que é da melhor forma possível, sem mistificações, sem deformações, em sentido de aceitação social. Assim, a ação educativa deve incidir sobre a realidade pessoal do educando, tendo em vista explicitar suas possibilidades, em função das autênticas necessidades das pessoas e da sociedade [...]. A influência da Família, no entanto, é básica e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la. (...) A educação para ser autêntica, tem de descer à individualização, à apreensão da essência humana de cada educando, em busca de suas fraquezas e temores, de suas fortalezas e aspirações. (...) O processo educativo deve conduzir à responsabilidade, liberdade, crítica e participação. Educar, não como sinônimo de instruir, mas de formar, de ter consciência de seus próprios atos. De modo geral, instruir é dizer o que uma coisa é, e educar é dar sentido moral e social do uso dessa coisa.
A família e a escola precisam estar na mesma sintonia como se formassem
uma orquestra. Portanto, é necessário estar claro que, para que aconteça a
aprendizagem efetiva, a escola precisa da família, tanto quanto a família necessita da
escola, pois esta, muitas vezes, é o único espaço de reflexão e de busca de saberes,
como já anunciava Foucauet.
Quando fala em vida escolar e sociedade não há como não citar o mestre
Paulo Freire (1999 p. 18) que diz:
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A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se opção é progressista, se está a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não se tem outro caminho se não viver a opção que se escolheu. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que se diz e o que se faz".
A educação é um processo dinâmico que possibilita uma vivência completa
em todos os campos, cognitivo, físico, afetivo, social e moral. A participação da
família como parte do processo educativo enriquece as discussões e as reflexões
diante da tarefa de educar.
Segundo Malheiro (2010, p.10) “A educação é em primeiro lugar uma missão
dos pais, que são educadores naturais. Para colaborar com a missão, a família
conta com a escola como prolongamento desta função educativa”.
A relação família e escola estabelece uma parceria produtiva entre essas
duas instituições. Se, por um lado, a família, em suas novas configurações, não
pode ser considerada como única responsável pelo insucesso escolar, logo é
razoável supor que a aproximação com a escola só venha beneficiar e potenciar a
aprendizagem acadêmica.
Neste sentido, Passos (2002, p.37) coloca que:
Os realinhamentos dos lugares afetivos têm nos chamado a atenção para certo declínio das relações hierárquicas no grupo familiar. Em outros termos, o que queremos ressaltar é que, as figuras de autoridade encontram-se aí, em franco descenso, o que significa dizer que não são as relações de filiação as únicas a sustentarem os destinos dos filhos.
A forma como os pais facilitam a vida de seus filhos determinará as ações de
como eles irão aprender a lidar com as suas emoções.
Numa sociedade marcada por inúmeras deficiências, comprometer e não
responsabilizar a família com o acompanhamento escolar de seus filhos pode
revelar-se como mais uma das possibilidades de melhoria da qualidade de ensino.
O objetivo deste trabalho é mostrar que é possível sensibilizar os pais ou
responsáveis para que tomem consciência e se comprometam diante da educação
de seus filhos. De modo que “os pais aprendam a ser educadores, assim como os
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próprios educadores, para formarem cidadãos e cidadãs”. (TIBA, 2011, p.148)
conscientes de seus atos.
Com intuito de facilitar a compreensão dos leitores, consideramos importante
explicitar a forma como foi conduzida esta pesquisa, que se deu à luz da formação
continuada de 2011, por ocasião do PDE (2010-2012) com a proposta de
realizarmos um trabalho que trouxesse os pais para a escola através do Projeto
“Família e a escola: uma parceria de sucesso”, que foi bem acolhido, pois contou
com ajuda de professores, da equipe pedagógica e da direção.
A primeira iniciativa foi aplicar um questionário para colher informações sobre
o nível de participação dos pais na escola e como acompanham o desempenho do
(a) filho (a).
Percebemos através da coleta de dados que a maioria dos pais participa
pouco em função do trabalho, acompanhando o desempenho escolar do filho
através do boletim escolar, alguns vão às reuniões esporadicamente. Partindo
destas informações os pais das sextas séries foram convidados para participar da
formação, a qual foi bastante satisfatória.
Os pais passaram por uma formação através de grupos de estudos para
conhecer os documentos básicos como: Sistema de Avaliação da escola, Regimento
Escolar, Projeto Político Pedagógico que encaminha todo trabalho escolar sendo a
base para o envolvimento consciente de todos no cotidiano escolar. Houve vários
questionamentos em relação aos assuntos tratados, muitos dos pais desconheciam
totalmente estas informações. Nesta formação ocorreu a palestra que foi uma
sugestão dos membros do Conselho Escolar, as análises foram exitosas e
direcionaram as reflexões para os limites, responsabilidade e acompanhamento
dos pais na vida escolar dos filhos e, ainda, dentro da palestra foi possível
apresentar o vídeo com o comandante da Companhia responsável pela Patrulha
Escolar do Estado do Paraná, destacando de forma exemplar a segurança e os
cuidados que a escola e os pais devem ter com filhos/alunos.Os alunos passaram
pela mesma formação que foi realizada nas aulas de História e de Língua
Portuguesa das turmas das sextas séries do Ensino Fundamental com um trabalho
sobre a “contribuição da família para a comunidade”. A pesquisa dos alunos foi
exposta aos pais em uma reunião específica que foi bastante emocionante, pois os
pais foram reconhecidos através do trabalho realizado com eles e com a
comunidade.
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3 Considerações Finais
O futuro da família sempre causa inquietação. Roudinesco (2003, p. 197)
ressalta:
Para aqueles que temem mais uma vez sua destruição ou sua dissolução, objetamos, em contrapartida, que a família contemporânea, horizontal e em “redes”, vem se comportando bem garantindo corretamente a reprodução das gerações. Assim, a legalização do aborto não conduziu ao apocalipse tão anunciado por aqueles que viam seus partidários como assassinos do gênero humano.
A família consegue enfrentar os desafios criando novas formas se organizar e
de se proteger onde os sentimentos são dinamizados por movimentos através do
tempo. Olhar a família hoje requer mudanças nas crenças e quebra de paradigmas
na percepção do comportamento de pais e filhos.
Não importa que configuração a família tenha, pois no processo educacional
ela e a escola devem permanecer unidas, pois a interrelação escola-família de forma
mais estreita irá significar a construção e desenvolvimento das comunidades, nas
quais se pretende uma melhor qualidade de vida para as gerações futuras. Mas,
para isto ocorrer na prática precisamos não só aprender sobre os princípios de
convivências comunitárias, como também será necessário exercitar esses princípios
por meio de relações mais frutíferas e compromissadas com o desenvolvimento
educacional e social do aluno.
Sendo assim, a escola deve aproveitar todas as oportunidades de contato
com os pais, pois a relação de sucesso com a família está no diálogo, conforme
explicita Cerveny ( 2004, p.23) ao considerar que:
Temos também a consciência de que o diálogo é um dos maiores objetivos que a família contemporânea pretende alcançar. Nossas pesquisas sobre a família comprovam que esse desejo é uma realidade e existe o sonho de que o diálogo possa trazer a melhoria das relações familiares.
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Na medida em que seus participantes tenham consciência de que são
responsáveis pelo desempenho do aluno, buscam ações compartilhadas para
melhoria da qualidade de ensino.
Nesse sentido, conclui-se que uma escola de qualidade depende de um
conjunto.
No comprometimento dos segmentos responsáveis pelo ensino
aprendizagem, refletindo em uma efetividade social, buscando estruturar e
programar o melhor possível para seus alunos, captando ao máximo os recursos
que dispõe (físicos, humanos, materiais e financeiros), unindo a energia de todos os
envolvidos para ser cumpridora de seus objetivos éticos e sociais como é o dever de
uma boa formação.
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REFERÊNCIAS
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