estacao carandiru
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Estação CarandiruEstação Carandiru
““Numa cadeia, ninguém conhece a Numa cadeia, ninguém conhece a moradia da verdade”moradia da verdade”
A Casa de DetençãoA Casa de Detenção♦ “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
agulha do que um rico entrar na Casa de Detenção”.
Lar Doce Lar...Lar Doce Lar...
♦ Ratoeira: identificação de visitantes.
♦ Divinéia: pátio amplo em forma de funil onde é feita a revista. Passagem obrigatória para entrar ou sair.
Lar Doce Lar...Lar Doce Lar...♦ Pavilhões:
– Prédios cinzentos de cinco andares, quadrados, com um pátio interno, central e a área externa com a quadra e o campinho de futebol.
– ‘Ruas Dez’: trechos das galerias palcos tradicionais de disputas violentas.
– No térreo, ficam os setores de apoio: eletricidade, hidráulica, sala de atendimento médico, carceragem com arquivos dos presos, escolinhas e igrejas.
PavilhõesPavilhões
♦ Dois: entrada da cadeia; +-800 presos...– O mais tranquilo: presos que cuidam da
Administração (chefia, carceragem, serviços de som e refeitório dos funcionários, distribuição) e setores de apoio geral (alfaiataria, barbearia, fotografia, rouparia, ...).
PavilhõesPavilhões
♦ Quatro: celas individuais; +-400 presos...– Universitários, enfermarias (térreo e quinto andar),
segundo andar para DM’s, além de um setor especial no térreo: a ‘Masmorra’: para os que fogem dos gritos de “Vai morrer!!!”.
PavilhõesPavilhões
♦ Cinco: é o com pior estado; mais lotado: 1600 homens...– No térreo: isolada (detentos em contravenções
locais); no segundo andar, integrantes da Faxina; no terceiro: estupradores e justiceiros; no quarto: travestis e os que não conseguiram outro espaço e no quinto: Assembléia de Deus.
– “Vi ladrão barbado chorar feito criança ao ser transferido para lá”
– Fábrica de maria-louca e de faca
PavilhõesPavilhões
♦ Sete: máximo de seis pessoas por cela e maioria trabalha.– No térreo: burocracia, manutenção, patronato
(trabalhos encomendados de fora – colocar espirais em caderno, costurar bolas, outros trabalhos manuais);
– no segundo: os Faxina; e nos demais, habitantes distribuídos sem distinção; o quinto andar é reservado aos que cumprem castigo. Pavilhão exemplar, mas por ser próximo a muralha é “a fábrica de túnel da cadeia”.
PavilhõesPavilhões
♦ Seis: posição central; +-300 presos...– No térreo, antiga Cozinha Geral (à partir de 1995,
quentinhas); no segundo, auditório e administração (também no terceiro); no quarto, celas com até quinze presos e no quinto o famoso Amarelo.
PavilhõesPavilhões
♦ Oito: forma com o nove o “fundão” do presídio – “o problemático fundão”. +- 1700 presos...– No térreo, capela católica, templos da assembléia de
Deus, igreja universal, a Deus é Amor e o Centro de Umbanda; no segundo, os Faxinas; no quinto, há celas de castigo. Possui o maior campo de futebol da cadeia (campeonatos internos e contra times da rua).
– Aqui estão os reincidentes, mais velhos e não se envolvem em confusão – “Quem já passou pelo jardim da infância...”
PavilhõesPavilhões
♦ Nove: chegou a ter mais de 2000 mil presos...– Maioria condenada pela 1ª vez; mesma distribuição
e organização de serviços do oito... única semelhança: há muitas confusões devido a alta concentração de jovens.
Lar Doce Lar...Lar Doce Lar...♦ Celas ou ‘barraco’: ficam de ambos os lados do
corredor (‘galeria’): – O xadrez é espaço sagrado. Com proprietários. Só entra
com convite na cela de um companheiro.– Toda cela possui pia, chuveiro e “boi”.– Fundamental nos xadrez: o “fogareiro” – tijolo com fiação
da resistência elétrica para fazer o “recorte” (lavar, adicionar temperos e cozinhar de novo os alimentos entregues na cadeia).
Lar Doce Lar...Lar Doce Lar...♦ Amarelo: Nome deriva do desbotado da
pele dos ocupantes;– Craqueiros, delatores, justiceiros,
estupradores...– Recanto mais lúgubre da cadeia;– Cubículos destinados a pessoas juradas de
morte;• “É uma corrente, a dívida de um provoca conseqüência
no outro”– A tranca é permanente, soltá-los é uma
operação que obriga prender o restante do pavilhão;
• “Seguro morreu de velho”– Dias na absoluta ociosidade;
PopulaçãoPopulação
♦ Faxinas: espinha dorsal da cadeia. Chega a ter 150 a duzentos num pavilhão– Distribuir refeições;– Hierarquia militar dentro dos pavilhões;– “Não pode ter mancada no Crime”;– Sabe de todas as ocorrências do pavilhão (túneis,
facadas, autoriza prestação de contas);– Chefes: homens de respeito, de poucas palavras.
Não importa idade nem força física.
PopulaçãoPopulação♦ Laranja: personagem patético que segura
bronca alheia.– Dependentes em troca de droga;– Recém-chegados desconhecidos e pobres;– Se negar o que confessou antes, no fórum, morre.
Garantia pela rádio “boca do inferno”
♦ Sangue-Bom: paga por crime alheio em coletivo para não passar por “cagüeta”– Reconhecimento e respeito dos companheiros;– Ao contrário do “laranja”, não espera vantagem
imediata.
PopulaçãoPopulação♦ Estupradores: concentram o ódio universal.
– Ojeriza compartilhada pelos funcionários;– Não conseguem se esconder;– Sofrem as piores torturas.
♦ Travestis: trajetória marginal de camadas mais pobres.– Brigam entre si, mas se unem diante do perigo;– “Não cobiçar a bicha alheia” - MORTE;– Proliferadores(as) da AIDS
PopulaçãoPopulação♦ Rebanho: convertem à palavra do Senhor as
ovelhas desgarradas.– São padres, pastores, médiuns, pais e mães-de-
santo e até adoradores de Satanás;– O mais coeso é o da Assembléia de Deus (+- 10%);– “Desculpa” para trapaceiros fugirem da morte;– Rotina dura: oração, pregação e louvor o dia todo.
♦ Funcionários: desconfiados e arredios.– Revolta com representantes da defesa dos direitos
humanos;– “Quem anda com porco, come farelo”.– Presenciam mortes sem poder interferir.
Diário da malandragemDiário da malandragem– Começa às cinco para os Faxinas: serve café da
manhã;– Carcereiros efetuam contagem (tradição);– Às oito começa o destranque;– Os que trabalham assumem rapidamente seus
postos; Ainda: atividades esportivas (FIFA)– Corre-corre de “homens de negócio”– Às nove, almoço é servido;– Por volta das duas, a janta é servida– Às dezessete todos são recolhidos;– Ritual da tranca;– Silêncio mórbido da noite
Diário da malandragemDiário da malandragem♦ Fim de semana: sexta-feira é dia de higiene
– Famílias madrugam na porta;– A moeda: o cigarro;– Dois, cinco e oito no domingo, os demais, no sábado– Portões abrem as sete e a entrada vai até às onze;– Exame constrangedor;
♦ Visitas íntimas: maiores de 18 anos registradas com identificação e foto. – Uma mulher por preso; Ricardão morre;– Rodízio nas celas; Alto nível de natalidade;– “Jamais cobiçar a mulher do próximo e manter
impecável a ordem geral”
DrogasDrogas♦ Baque: cocaína injetável.
– Receita: um terço da seringa com água fervida; uma dose de cocaína numa colher seca; dissolve o pó no líquido na colher; aspira a mistura; e introduz bem devagar na pele até o sangue refluir. Faz parte do ritual: injetar e aspirar várias vezes.
♦ Crack: na cadeia em meados de 1992.– Processo artesanal: mistura cocaína com bicarbonato
de sódio ou amoníaco na colher; acende um isqueiro, para aquecer e derreter a mistura; surge um óleo que esfria e solidifica; a pedra é fumada em cachimbos.
– Vantagem: mais barato, não deixa cicatriz nos braços e não transmite AIDS.
DrogasDrogas♦ “É triste nosso destino. Se existe o inferno na Terra, é a
vida de nós, craqueiros”.
♦ “A pedra acaba com a vergonha na cara do cidadão”.
♦ “Saudade do tempo do baseado(...) Ninguém perdia a família por causa da maconha. A gente era feliz e não sabia”.
♦ “Se a cocaína corrompe a sociedade livre, por que na cadeia, cheia de ladrão, traficante e consumidor, ia ser diferente? Logo aqui, que custa o dobro da rua”.
♦ “É uma rede invisível, secreta, como a máfia”.
O massacreO massacre♦ 1992: dois mil homens no Pavilhão Nove (mais novos)♦ Desentendimento entre dois presos♦ Para conter os ânimos, demais presos foram recolhidos♦ “Cadeia é uma panela de pressão: quando explode,
impossível conter”♦ Depredação da carceragem, na esperança de destruir os
próprios prontuários criminais♦ Funcionários abandonaram a rebelião♦ Protestos: para melhoria de condições do ambiente,
transferências, pena vencida, mais visitas...
O massacreO massacre♦ “A PM, os presos e Deus”♦ Quando PM invade, todo mudo corre para o xadrez♦ Policiais de máscara, metralhadora, cachorro...♦ Tiro seco e grito de pelo amor de Deus!♦ Fim dos tiros: “Quem tá vivo, levanta tira a roupa e sai
pelado!” ♦ Corredor polonês: paulada e cachorro solto
Dia 2 de outubro de 1992:111 mortos no pavilhão nove
DesativaçãoDesativação♦ No final de 2001, no governo de Geraldo Alckmin, inicia-
se a desativação do complexo Carandiru.♦ A idéia existe desde o início dos anos 80♦ Projetos para o local:
– Continuar abrigando presos (penitenciária do Estado, Centro de Observação Criminológica – COC, penitenciária feminina da capital e presídio especial da polícia civil);
– Parque para a Zona Norte, centro cultual e profissionalizante;– Interesse de universidades;– Shoppings
♦ Até a metade deste ano, ainda haviam presos sendo removidos.
♦ Atualmente, acontecem as últimas filmagens para o filme Estação Carandiru, a ser estreado no fim desse ano.
BibliografiaBibliografia
E mais:
• Massacre do Carandiru: http://www.terra.com.br/noticias/especial/carandiru/capa.htm
• História Desativação: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2000/10/18/cid838.html
•Carandiru Desativado:http://www2.uol.com.br/JC/_2001/2703/br2703_8.htmhttp://www.jt.estadao.com.br/editorias/2001/03/13/pol351.htmlhttp://www.arquidiocese-sp.org.br/ospaulo/josp2203.htm
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