folhetim do estudante - ano vi - núm. 55
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do estudante Núm. 55 - ANO VI
2ª Quinzena - Fev/2017
Folhetim do estudante é uma
publicação de cunho cultural e
educacional com artigos e textos de
Professores, alunos, membros de
comunidades das Escolas Públicas
do Estado de SP e pensadores
humanistas.
Acesse o BLOG do folhetim http://folhetimdoestudante.blogspot.com.br
Sugestões e textos para:
vogvirtual@gmail.com
Festival Sul-Americano da Cultura Árabe O Festival Sul-Americano da Cultura
Árabe, realizado anualmente entre os
dias 18 e 31 de março, conta com o
apoio da Unesco e de outras
importantes instituições.
Memórias de longa data mostram as
contribuições dos imigrantes árabes
para o Brasil, embora parte da
sociedade ainda desconheça a
densidade desse intercâmbio
cultural.
A intenção é fortalecer o
estabelecimento de um vínculo entre
a América do Sul e os Países Árabes
com base no respeito à diversidade
cultural e nos laços históricos e
culturais, especialmente em São
Paulo, Estado que possui uma
comunidade árabe expressiva e
atuante.
O Brasil possui uma presença
contínua de comunidades de
imigrantes árabes que participaram
ativamente da construção e do
desenvolvimento do Estado nacional
a partir do século XIX.
Atualmente, mais de 16 milhões de
árabes e descendentes vivem no
Brasil e contribuem cultural,
econômica e politicamente para as
sociedades locais. Apenas em São
Paulo, são aproximadamente 3
milhões de pessoas; trata-se da
maior cidade árabe fora dos países
árabes.
O evento, para a população em geral,
tem como público alvo estudantes de
escola e faculdade, jornalistas,
empresários, pesquisadores e
interessados em geral e ocorre em
espaços e equipamentos culturais das
diversas cidades envolvidas.
No ano de 2017, será promovido o
VIII Festival Sul-Americano da
Cultura Árabe - África em diversas
cidades como São Paulo, Diadema,
Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba,
Porto Alegre, Foz do Iguaçu,
Guarulhos e Buenos Aires.
Localizado na Rua Baronesa de Itu,
639, Santa Cecília, São Paulo, o
Espaço BibliASPA – Centro de
Cultura e Pesquisa Árabe e Sul-
Americana, possui biblioteca com
acervo bibliográfico e multimídia,
centro de documentação, editora,
museu, sala de restauro, espaço para
projeção de filmes e realização de
outras propostas. Também dispõe de
uma cabine de memória para o
registro de história oral dos povos
árabes, bem como da coleta de
documentos que fortaleçam este
acervo. Em outras cidades, outras
sedes da BibliASPA também
promovem eventos educativos e
culturais.
Realizado anualmente entre os dias
18 e 31 de março, o Festival Sul-
Americano da Cultura Árabe -
África, promovido pela BibliASPA,
tem como objetivo principal refletir
sobre as manifestações culturais
árabes, africanas e as contribuições
dos imigrantes. A intenção é
fortalecer o vínculo entre a América
do Sul e os Países Árabes com base
no respeito à diversidade cultural e
nos laços históricos, além de
promover a cultura da paz por meio
da aproximação dos povos.
O objetivo é também reunir
expressões de diferentes linguagens
que revelem e reflitam a importância
da cultura árabe e a influência da
história e da riqueza da cultura árabe
no Brasil, bem como favorecer um
amplo acesso a população por meio
de ações descentralizadas O festival promove apresentações,
palestras, debates, exposições,
lançamento de livros e Mostra de
Cinema Árabe-Sul-Americano além
de propiciar à população brasileira
atividades relevantes. A
programação deste V Festival Sul-
Americano da Cultura Árabe prevê
apresentações de vários segmentos
artísticos, entre os quais caligrafia
árabe, cinema, literatura, teatro,
música, dança, artes plásticas (em
diversas exposições), contação de
histórias, arqueologia, fotografia,
palestras, debates, colóquios, mesa-
redonda, mediação de leitura,
publicações e intervenções diversas.
Prof. Valter Gomes
_______________________________
Folhetim
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do estudante ano VI fevereiro/2017
LEITURA A Amizade eterna
e outras vozes da
África
Sobre o autor :Ilan Brenman
Prof. Valter Gomes ____________________________________
A Importância da Amizade
A amizade é algo fundamental na
vida humana, como se fosse uma
necessidade básica como por
exemplo alimentar-se ou
descansar. Quanto mais amigos
melhor é a vida. Se um dia você
está triste ou passando por
momentos difíceis, seus amigos
verdadeiros sempre estarão ali
para te ajudar. A partir do
momento que você se sente bem
perto de pessoas, você já pode
considera-las amigas. Pense como
sua vida seria sem seus amigos.
Ao longo da vida nós vamos
conhecendo muitas pessoas,
algumas que nós nos
identificamos e outras que não são
tão parecidas mas nós admiramos.
Tem uma frase que minha mãe
sempre fala para mim e ela adora.
“Existem pessoas que passam pela
gente e deixam um pouco de si,
outros levam um pouco da gente,
assim somos um pouco de cada
um...”
Essa frase resume tudo!
Maria Luiza – 7ºA
Colégio EAG
folhetim
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do estudante ano VI fevereiro/2017
EDUCAÇÃO
Hampâté Bâ leva
oralidade africana ao
papel Relato autobiográfico de etnólogo e filósofo malinês descreve a trajetória de mestre da transmissão oral do continente Na África, cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima. A frase, do malinês Amadou Hampâté Bâ, expressa a importância da transmissão oral no continente e a sensação de ouvir um sábio africano relatar suas experiências: é como se vários livros se abrissem, com uma profusão de detalhes, para dar voz às histórias e às tradições locais. "Desde a infância, éramos treinados a observar, olhar e escutar com tanta atenção que todo acontecimento se inscrevia em nossa memória como cera virgem", diz o etnólogo, filósofo e historiador em "Amkoullel, o Menino Fula". Um dos maiores pensadores da África no século 20, Hampâté Bâ integra a primeira geração do Mali com educação ocidental. Seu vínculo com a tradição oral do povo fula (nação de pastores nômades que conduz seu rebanho pela África savânica) o levou a buscar o reconhecimento da oralidade africana como fonte legítima de conhecimento histórico. Hampâté Bâ (1900-91) participou da elaboração dos primeiros estudos que usam as fontes orais de maneira sistemática, como em "História Geral da África", publicada pela Unesco em 1980. Se escritos como esse e outros de caráter sociológico e filosófico são mais conhecidos, o relato autobiográfico tem o mérito de revelar a trajetória desse mestre da transmissão oral e comprovar a força da "oralidade deitada no papel" (nas palavras do autor). "O extraordinário é que ele faz a palavra por escrito. Em momentos do livro, tenho a impressão de escutar
um mestre da palavra. E ele era um mestre da palavra", afirma o professor Fábio Leite, do Centro de Estudos Africanos da USP. "A obra aborda a realidade das sociedades africanas a partir de uma visão interna, que vai de dentro para fora dos fenômenos e revela a África-sujeito, a África da identidade profunda, originária, mal conhecida, portadora de propostas em valores diferenciais." Nascido em 1900 em Bandiagara, no atual Mali, Hampâté Bâ começou a viajar "com apenas 41 dias de presença neste mundo" e logo entrou em contato com fulas, bambaras, dogons e hauçás, entre outras comunidades étnicas. O rei Tidjani Tall, fundador de Bandiagara, mandara dizimar todos os membros do sexo masculino da família de seu pai, que sobreviveu ao massacre. À mãe, empreendedora e de caráter forte, chamavam de "mulher de calças". Os pais naturais, o pai espiritual (o mestre sufi Tierno Bokar) e o padrasto lhe ensinaram cedo as regras de honra e conduta. Hampâté Bâ examina a "morte" da primeira infância, o papel das associações de jovens na formação da personalidade africana e a relação com os brancos-brancos (os europeus) e os brancos-negros (os africanos europeizados). O autor conta que, quando pequeno, tocou a mão de um "filho do fogo" (um francês) e descobriu que ele era "uma brasa que não queima". Sem perífrases, descreve uma expedição ao lixo dos europeus para confirmar se seus excrementos eram negros –como diziam os rumores- e, mais tarde, o envio à "escola dos brancos", "considerada pela grande maioria dos muçulmanos como o caminho mais rápido para o inferno!". A descrição de uma cerimônia de circuncisão, precedida de uma grande festa que vai do pôr-do-sol ao amanhecer, recebe descrição minuciosa. Após as arengas destinadas a estimular a coragem, ao pé de duas acácias, colocavam-se pedaços de noz-de-cola na boca dos meninos, entre os molares, para medir sua coragem. Após a retirada do prepúcio, "que retém prisioneira a maioridade", a marca dos dentes, se ligeira, confirmava a bravura do circunciso. Hampâté Ba expõe ainda a fragilidade da civilização da oralidade
que tanto defendeu. "Uma das maiores consequências da guerra de 1914, pouco conhecida, foi provocar a primeira ruptura na transmissão oral dos conhecimentos tradicionais." No livro, ouve-se o timbre de sua voz e o murmúrio de um mundo ameaçado. Amkoullel, o Menino Fula
Prof. Dr.Paulo Daniel Farah
______________________________
_
Etnomatemática
O ensino de matemática não pode ser
hermético nem elitista. Deve levar em
consideração a realidade sócio cultural
do aluno, o ambiente em que ele vive e o
conhecimento que ele traz de casa. Essas
afirmações fazem parte da
etnomatemática, teoria defendida por
Ubiratan D‘Ambrosio, professor emérito
de matemática da Unicamp, professor do
Programa de Estudos Pós-Graduados de
História da Ciência da PUC de São
Paulo, professor credenciado no
Programa de PósGraduação da
Faculdade de
folhetim
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do estudante ano VI fevereiro/2017
Educação da USP e do Programa de Pós-
Graduação em Educação Matemática do
Instituto de Geociências e Ciências
Exatas da Unesp
Segundo D’Ambrósio, desde pequena a
criança é condicionada a achar que a
matemática é complicada. “Se ela tem
em casa um irmão mais velho, já ouve
que matemática é difícil. É um
comportamento condicionado: ela entra
na escola apavorada com a disciplina.”
Ele diz acreditar que o natural seria a
matemática ser tratada como um
conhecimento presente em todas as
coisas do cotidiano das pessoas. “Como
era até a Idade Média. Já nos séculos,
XVII, XVIII e XIX, a matemática entra
na página da ciência e da tecnologia.
Surge a idéia de uma matemática mais
rigorosa e precisa. A partir da transição
do século XIX para o XX, a disciplina
passa efetivamente a lidar com
tecnologia e ciência e inicia-se o
conceito de que o aluno tem que estar
preparado para isso.” O professor explica
que desse período em diante a escola
passou a atribuir à matemática um caráter
rigoroso, com muitas abstrações,
esquecendo-se que ela está no cotidiano
das crianças e que é espontânea. “Olhar,
classificar, comparar são princípios da
matemática. Se alguém estender uma
mão cheia de balas e outra com poucas
para que uma criança escolha, ela
reconhece a diferença de quantidades e
vai optar pela mão cheia. Isso é uma
aplicação cotidiana e prática da
matemática.” Para Ubiratan, a escola
optou por formalizar essas relações.
“Pensar em números é abstrato, diferente
de pensar em balas. O ensino da
matemática assumiu a postura de se
encaminhar para o abstrato e se libertar
do espontâneo. É daí que vem o
distanciamento entre as crianças e a
matemática.”
Filtro social – De acordo com
D’Ambrósio, outra questão importante a
ser ressaltada é a utilização da
matemática como filtro de segregação
intelectual e social. “A nova organização
da sociedade é política. A escola passa a
ser o filtro que seleciona quem tem
condições de atingir uma posição de
decisão e comando. É um filtro que
existe na sociedade e no sistema de
produção: sem diploma, o indivíduo não
está preparado para assumir posições
altas. Isso é uma distorção. Capacidade
para desenvolver uma função deveria
estar relacionada com competência. Com
isso, a participação da população nos
processos de decisão fica comprometida.
A matemática é um instrumento forte
neste processo de filtragem”, afirma. Ele
diz acreditar que é necessário um grande
esforço dos educadores modernos para
que a matemática deixe de parecer tão
complexa e elitista. “Os professores
precisam aproximar a disciplina do que é
espontâneo, deixar a criança à vontade,
propor jogos, distribuir balas, objetos,
para que o aluno se sinta bem. A criança
adquire habilidades para a matemática
em casa, no meio em que vive. Cada um
tem um modo próprio de aplicá-la. Só
que na escola dizem que a matemática
não se faz do jeito de casa. Rechaçam
esse conhecimento que o aluno traz e
isso cria conflito.”
A teoria – Por isso, o professor é o
principal idealizador e defensor da
etnomatemática, que leva em
consideração os fatos e conhecimentos
que fazem parte do ambiente cultural no
qual a criança vive. “Quando o aluno
chega na escola ele traz experiências de
casa, traz o conhecimento de jogos, de
brincadeiras, pois já viveu sete anos
produtivos e criativos. Aprendeu a falar,
andar, brincar. Isso não é aproveitado
pelo sistema escolar. O professor parece
que pede: ‘esqueça tudo que você fez e
aprenda números e coisas mais
intelectualizadas’.”
Segundo D’Ambrósio, os professores
valorizam muito o pensamento formal,
têm hesitação e medo de se libertar. “É
mais importante aquilo que a criança
pode fazer com um instrumento que
trouxe de sua vida anterior à escola do
que dar instrumentos novos. Com o que
ela já sabe de casa pode fazer muito e ser
feliz. Só quando o aluno sentir que
necessita de algo novo é que o educador
deve intervir cultivando e explorando
esse desejo de saber e fazer mais. Neste
momento, o professor pode dizer: ‘você
parou aí, vou mostrar como ir adiante’.
Aos poucos, a criança irá aprender as
coisas novas apresentadas. A matemática
é isso. Só que esse momento não está
sendo adequadamente explorado pelo
sistema educacional. Falta
uma pedagogia na linha da
etnomatemática.”
Mudança de atitude – Para que esse jeito
de ensinar seja efetivamente colocado em
prática, o professor Ubiratan diz ser
imprescindível uma mudança de atitude
do educador. Ele afirma que o professor
que viu ser possível ensinar matemática
considerando os conhecimentos trazidos
pelo aluno, deve propagar essa idéia e
passar suas experiências para outros
colegas. “Neste processo, os que fazem
ensinam para os outros. Os educadores
estão interessados em fazer algo melhor.
Muita gente pensa que os professores são
mal preparados. Isso é falso, a
preparação é boa e competente. Os
educadores precisam é perder o receio de
entrar no novo. As autoridades também
poderiam ter participação mais ativa,
propiciando condições para o professor
fazer o novo. Mas o que acontece são
medidas controladoras como o Provão
para alunos e professores. Não se resolve
um problema sério com medidas
fiscalizadoras e controladoras. Os
professores precisam de medidas mais
liberais, pois educadores são criativos e
dedicados”, diz. Raciocínio e razão –
Matemática é raciocínio, afirma o
professor. Ele argumenta que a música é
tão racional quanto a matemática e
explica que ser racional é encontrar
caminhos para uma situação nova. “Um
jogador de futebol, na grande área,
descobre a solução para uma jogada e faz
gol. Ele usou o raciocínio. Já um sujeito
muito bom em matemática encontra uma
situação difícil na vida e não toma a
decisão certa, lógica, apesar de todo
conhecimento matemático que tem.
Portanto, ser racional não significa ir
bem em matemática.” O professor afirma
que raciocínio e razão se ajudam e são
inerentes à espécie humana, mas a
matemática ensinada na escola não
explora isso. “A maioria da população
passa longe da matemática formal. É um
erro pensar que só tem raciocínio quem
passa pela escola.” A matemática do
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do estudante ano VI fevereiro/2017
sistema de ensino é muito específica e
voltada para ciência e tecnologia. “Isso
tem sua importância pois a ciência é
espantosa e a tecnologia é sofisticada,
mas há coisas muito menos sofisticadas
que requerem ciência, tecnologia e uma
matemática menos sofisticada também.
Um médico de cultura indígena não usa
um ecocardiograma para enxergar o que
se passa no coração do paciente, ele usa
elementos de outra natureza. Essa
matemática não é menor que a outra, é
adequada àquele ambiente.”
Sociedade tecnológica – Ele acrescenta
que a sociedade repleta de tecnologia
exige o ensino de uma matemática que
permita à criança lidar com o mundo à
sua volta, mas há outras prioridades além
disso. “Temos que dar matemática
adequada que permita acesso à toda
tecnologia. Mas é importante ressaltar
que a pessoa não terá falta de acesso só
por não saber matemática. A questão de
fato é a injustiça social. A criança não
deixa de ter comida e hospital por não ter
matemática. Os problemas fundamentais
da sociedade são de ordem social e
política.” D’Ambrósio diz acreditar que
os pais são enganados pela falsa idéia de
que seus filhos precisam aprender
matemática para ter um bom emprego.
“Os pais não percebem que a causa do
desemprego não está na matemática e
sim na organização perversa da
sociedade. Enganam-se achando que se o
aluno vai bem na escola e em
matemática, vai bem na sociedade. Os
pais sequer entendem o que está sendo
ensinado e acham que sabem o que o
filho precisa aprender. Enquanto isso, as
crianças se sentem pressionadas a
aprender algo que não é gostoso, nem
bonito, e não podem se abrir com os pais.
Se o aluno não aprendeu frações, recebe
punição e a família nem sabe o que é
fração. Se a criança diz que não entende
o que os
professores dizem, os pais ficam bravos,
chamam os filhos de burros. Isso fecha o
diálogo. Perde-se aí a confiança que a
criança tem nos pais, até para falar de
coisas maiores como uma gravidez
precoce ou drogas. Os pais tem a melhor
das intenções, só que foram enganados
pelo sistema, prestam atenção em coisas
mais acessórias do que o fundamental,
que é a situação difícil que vivemos. Para
eles terem outra compreensão, as
autoridades, os professores, precisam
ajudar a abrir os olhos dos pais para o
fato de que o mais importante não é a
matemática, mas as relações humanas.”
O professor reconhece a impossibilidade
da sociedade resolver grandes problemas
sem a matemática e seus instrumentos,
até cita a questão da falta de água que
pede a intervenção de engenheiros para
buscar soluções, mas acha que há
problemas maiores. “A sociedade não é
feita só de engenheiros que irão cuidar
da água. A matemática é muito
importante na sociedade tecnológica
moderna, porém há outros pilares da
sociedade que estão sendo colocados de
lado, como as relações humanas que
estão ofuscadas pela busca por uma
melhor matemática. A escola deveria
formar gente melhor, entretanto toda a
energia vai para um ensino errado e,
entre os alunos, para passar em
matemática. É necessário que todos
achem a matemática importante mas há
outras questões mais fundamentais que
não estão sendo olhadas com o mesmo
carinho.”
D’Ambrósio conclui sua reflexão
explicando que tudo o que ele disse faz
parte da etnomatemática. “A teoria nos
ensina a dar importância ao contexto e ao
ambiente cultural no qual a matemática
se desenvolve. Se os engenheiros da
Embraer vão colocar um novo avião no
mercado, eles usam a etnomatemática
para aquele ambiente. Usam equações
complexas para resolver situações de
vôo. Já as crianças jogando bolinha de
gude estão em um ambiente que pede
outra matemática específica. Eles pensam
‘vou jogar assim com o dedão, qual será
a trajetória da bolinha, qual força vou
usar, qual a distância da outra bola’, isso
é matemática. O aluno que sai de casa e
vai para a escola tem que traçar um
trajeto, isso é etnomatemática adequada
àquele ambiente, assim como o piloto de
avião que sai de São Paulo e vai para o
Rio. Ele usa a etnomatemática adequada
para aquela situação. A teoria intervém
na solução da situação que se apresenta e
no conhecimento dessa situação. Mas
a matemática que está na escola só
reconhece as regras e formalismos
desligados das reflexões mutáveis de
acordo com o ambiente em que se está.”
Entrevista concedida e publicada
ao Diário do Grande ABC – 2003
Imagem do Prof. Ubiratan
D´Ambrosio e professores da E.
E. Com. Miguel Maluhy – Junho
de 2003
Prof. Valter Gomes
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do estudante ano VI fevereiro/2017
EDUCAÇÃO
Deslocamentos,
Migração e Humanismo
Importante discussão que se
amplia em termos de urbanidade,
pertencimento e acolhimento, o
grande debate sobre Refúgio,
Moradia e Cidade, toma cada vez,
mais maiores proporções. Com o
objetivo em dar visibilidade à
questão dos deslocamentos de
refugiados, gerar reflexões e ao
mesmo tempo permitir um
aprofundamento sobre os
principais problemas e conflitos
gerados a partir desses
deslocamentos novos estudos,
novos conteúdos estéticos
permitem acessar um rico acervo
de informações que auxiliam na
pesquisa e na compreensão desses
fenômenos humanos que ganham
novos perfis geográficos e
culturais que se formam nesses
cruzamentos populacionais.
Com a intensificação dos conflitos
mundiais em plena era da
globalização, a questão dos
imensos deslocamentos de
refugiados entre diversas nações
já se tornou um dos principais
problemas e desafios para as
grandes cidades. Em São Paulo,
nos últimos dois anos um
fenômeno novo vem chamando a
atenção da mídia oficial e redes
sociais: a imersão de refugiados e
estrangeiros dentro dos
movimentos organizados de luta
por moradia digna. Em um país
que lida com um grave déficit de
moradia para seus próprios
habitantes, tal realidade vem
tecendo um novo panorama de
problemas e questões de caráter
urbano, político e humanitário que
devem ser assumidos na pauta
diária das políticas públicas e das
gestões administrativas ligadas ao
“direito à cidade”. Sobre esse
tema chama atenção a importante
contribuição para o debate
proporcionada pelo filme “A
CHAVE DA CASA” produção do
ano de 2009 mas que está
totalmente dentro do contexto
crescente de grandes cidades do
Brasil e de outros centros urbanos
em países que ainda não criaram
maiores restrições aos
movimentos migratórios.
RESENHA
Sobre o filme
A Chave da Casa (2009, 52
minutos, Direção: Paschoal
Samora e Stela Grizotti, Co-
Produção: Grifa Filmes e RT2A)
acompanha as últimas 48 horas de
um grupo de palestinos no campo
de refugiados de Al-Rweished, na
fronteira entre a Jordânia e o
Iraque, antes de partir para o
Brasil. Deixam para trás parentes,
amigos e um passado cheio de
lembranças. Nove meses depois, o
filme acompanha cinco deles em
diversos pontos do Brasil,
mostrando seus problemas de
adaptação, seus temores em
relação a família, o país e as
incertezas e esperanças de um
novo futuro.
Prof. Valter Gomes
POÉTICAS
O CÂNTICO DA MULHER
De lado,
Tinhas o rosto de um homem idoso
Que, assaltado por dias de mágoa,
Me trouxe o seu frasquinho
esverdeado
E pedia que tomasse a última
refeição.
Esse frasquinho é uma enseada,
O casamento de um barco com
uma enseada
Nos dias em que as praias se
afundam
E as gaivotas encontram os rostos
E o capitão pressente o seu
futuro.
Ele veio cheio de fome até mim,
eu dei-lhe o meu amor
Como um pão, como uma bilha,
como um leito
E abri as portas ao vento e ao sol
E partilhei com ele a última
refeição.
ADONIS, أدونيس ( Ali Ahmad Said )
folhetim
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