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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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Formação Continuada Sistêmica para Educação Infantil:
uma proposta transdisciplinar
Vera Lúcia Simão Universidade Regional de Blumenau-FURB-ETEVI - vsimao@furb.br
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
1 INTRODUÇÃO
A formação continuada como uma modalidade que se constitui e é constituída por seus sujeitos que
nela, são ao mesmo tempo o todo e a parte, e que apontam diferentes possibilidades que levam em conta o
espaço e o tempo como aspectos importantes para organizar, programar e aplicar a formação, e dessa forma,
garantir a construção dos saberes tanto em nível profissional, como em nível pessoal. A formação
profissional é neste caso, a formação continuada do professorado que determina uma atualização continuada
para responder as necessidades da Educação Infantil e que exige ao mesmo tempo, saberes específicos,
conhecimentos inovadores, habilidades e atitudes pedagógicas que possibilitem o educar e o cuidar.
O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrange desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, e também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. (RCN, 1998, p.18.)
A educação nestas idades é a busca de bem estar de si e do outro, é descobrir suas potencialidades, é
aprender a ser autônomo, é ser feliz. Investir no professorado da Educação Infantil é garantir a educação dos
cidadãos e cidadãs, é dar resposta e respeitar as exigências educacionais do século XXI. A formação
continuada é um processo educativo contínuo, como base de uma constante busca para a melhora da
qualidade da formação docente.
Aproximar o saber teórico às situações reais ajuda, a transformar uma situação problemática em
possíveis problemas que podem ser resolvidos de uma forma positiva, e isso não se aprende somente na
academia, senão que tem um papel importante na reflexão, na análise, na capacidade de dar respostas às
perguntas e sobre toda a possibilidade de ser consciente diante das situações reais em que se encontra cada
individuo. É importante, pois, que o professorado esteja atento a esta sensibilidade para que se obtenham
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melhores resultados e por essas razões, investir na formação continuada do professorado, ajuda a aproximar
e a refletir suas ações, na busca de uma atitude de “auto-aperfeiçoamento”.
A investigação realizada nos Centros de Educação Infantil (CEIs) partiu do desejo de apresentar à
Secretaria Municipal de Educação de Blumenau (SEMED), um estudo que possa contribuir para a formação
continuada dos professores, docentes, coordenadores e diretores vinculados à SEMED e aos centros.
Este estudo foi destacável por sua pertinência, relevância e impacto por apresentar propostas de
melhora à formação continuada, ao professorado graduado em Pedagogia ou na modalidade do Magistério
em geral e na instituição de formação continuada do professorado nos CEIs, ou seja, na SEMED.
Conhecer as possíveis divergências existentes entre formação continuada oferecida e a necessidade
real dos professores e professoras para a aplicabilidade dessa formação na prática, se fez necessário brindar
com uma proposta inovadora e importante, que respondesse as necessidades e problemas que se detectam no
próprio campo de atuação. Assim mesmo, pretende-se contribuir de alguma forma, na melhora da qualidade
da formação continuada que se oferece para preparar e atualizar o professorado, cada vez mais qualificados
e comprometidos com a Educação Infantil de Blumenau.
2 A IDENTIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Considera-se um diferencial quando os professores da Educação Infantil têm formação continuada
adequada, como também recebem apoio e incentivo para qualificar sua prática. Um professor preparado
entende que cuidar e educar são dois conceitos indispensáveis e inseparáveis nos espaços de Educação
Infantil, como também que um bom professor faz as coisas de maneira natural e responsável. É na Educação
Infantil, quando pela especificidade do menino e da menina bem pequenos, que requerem e necessitam do
professorado, uma dedicação extrema para adquirir autonomia, para potencializar os cuidados de si mesmos,
e ao mesmo tempo, expor de forma mais evidente a relação indissociável de educar e cuidar. É nestes
momentos que se realiza o processo de mudança em sua própria identidade.
As novas funções para a Educação Infantil devem estar associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos social, ambiental, cultural e, mais concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversos linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma. (RCN, 1998, p.23)
As instituições de Educação Infantil necessitam definir suas funções de acordo com as Leis e as
Diretrizes Nacionais da Educação Infantil brasileira. É preciso assumir uma nova identidade na qual seja
negada a prática higienista e preparatória à escolarização. Essa identidade necessita considerar os meninos e
as meninas como sujeitos de direito, oferecendo-lhes condições materiais, pedagógicas, culturais dentro das
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diferentes linguagens para a garantia do desenvolvimento integral, pedagógico e social, a fim de
complementar à ação da família. As Diretrizes abordam ainda sobre a organização das experiências de
aprendizagem na proposta curricular e expõe sobre o ambiente de aprendizagem:
Um currículo sustentado nas relações, nas interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas para as experiências concretas da vida cotidiana, para a aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida coletiva e para a produção de narrativas, individuais e coletivas, através de diferentes linguagens (DCNEI, 2009)
Na Educação Infantil, numa época em que se preconiza a interdisciplinaridade, a
transdisciplinariedade, a ecoformação e a criatividade, a formação continuada pode ser um possível caminho
para promover a inovação e a integração dos saberes. Trata-se de um novo olhar orientando a prática
pedagógica que contemple sujeitos múltiplos e diversos, reconhecendo a infância como tempo de direitos.
Seguindo pelo caminho da transdisciplinariedade Pujol Maura (2007), fala em pensar as primeiras idades
desde um olhar transdisciplinar trazendo elementos a respeito da plasticidade dos meninos e meninas.
Para adquirir conhecimentos, habilidades e saberes, favorece uma aprendizagem integral desde a interrelação multissensorial de todos os estímulos e experiências que vão tendo, e à medida que seu crescimento harmônico se realiza dentro de uma comunidade, vai aumentando a possibilidade de seu desenvolvimento individual e coletivo (PUJOL MAURA, 2007, P. 219, tradução nossa).
A autora explica que ao proporcionar aos meninos e meninas pequenos o maior número de
possibilidade de aprendizagem possível, esses meninos e meninas por sua forma de interconectar sua
aprendizagem fazem com que seu entorno seja transdisciplinar por excelência. Por isso, é relevante que o
professorado da Educação Infantil tenha um pensamento transdisciplinar e explicite a intencionalidade da
aprendizagem integral dos meninos e meninas.
O professorado da Educação Infantil deve criar meios de aprendizagem, onde os meninos e as
meninas possam aprender de forma global e integrada. É necessário existir a intencionalidade no
planejamento do trabalho e responsabilidade, para que o menino e a menina se desenvolvam sem deixar que
a educação fique romantizada, ou pela sorte da improvisação. Ao contrário, se atuarmos dessa forma,
estaremos usurpando do menino e da menina a possibilidade de pensar, de questionar, de descobrir, de
experimentar, de atrever-se, de construir, de adquirir sentido de mundo, de sua identidade pessoal e coletiva,
entre outros, “A visão transdisciplinar nos da a oportunidade de ir mais além do que puramente a instrução, e
isso implica planejar nossa ação docente de modo que se possa criar espaços para a reflexão, a interação, a
cooperação e a criatividade”, (PUJOL MAURA, 2007, tradução nossa).
Nos espaços de Educação Infantil aprender é um exercício constante, onde o professor precisa estar
atento e preparado para essa construção do saber. Investir em energias cognitivas e imaginárias, ajuda ao
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menino e a menina a refletir, colabora na organização do pensamento de maneira que possam sintetizar as
ideias mais significativas, em um exercício de apropriação do conhecimento, “os cenários de aprendizagem
devem ser suficientemente ricos e criativos, para poder garantir uma forma de fazer, que potencie um
crescimento dinâmico, amplo e aberto y que de a oportunidade a estes pequenos e pequenas, a que sejam
atores globais de seus avanços”, (PUJOL MAURA, 2007, tradução nossa).
Para estimular ao menino e a menina a serem geradores para a criação de diferentes formas de
manifestação expressiva, é necessário levá-los ao mundo e não o mundo a eles. Ir ao teatro, ao cinema,
passear nas praças públicas, visitar museus, assistir apresentações de música, utilizar os recursos das
bibliotecas, passear pelos zoológicos, conhecer a história da sua cidade, assim como os costumes, tradições,
comidas regionais, entre outros, é uma prática que favorece a aprendizagem integral e é uma maneira de
ampliar o campo da curiosidade além, de atribuir e potencializar experiências significativas e funcionais.
Conhecer o mundo material e social estimula o menino e a menina a experimentar, perguntar,
questionar, interessar-se a sua maneira pelo o que vê. São ações que ampliam o repertório cultural e
apresentam um aprender mais complexo e transdisciplinar.
A estimulação criativa é uma responsabilidade social e uma missão educacional, como um valor social do nosso tempo. É todo o sistema educacional aberto ao futuro. A nossa sociedade, dada a quantidade de problemas que se tem não se pode dar ao luxo de perder o potencial criativo subjacente em cada ser humano. (TORRE, 2003, p. 27, tradução nossa).
3 FORMAÇÃO CONTINUADA SISTÊMICA
O enfoque da formação continuada sistêmica é um dispositivo de formação, redes de relações em que
o contexto marca as diferenças de significado não separando aquilo que está unido, mas compreendendo que
a dualidade é constitutiva do aprender.
A teoria de sistemas nasceu da biologia (Bertalanffy, 1986). Um sistema se define como um conjunto de elementos em interação entre eles e de forma conjunta com o entorno. Cada elemento se pode estudar de maneira isolada, mas só adquire significado à medida que é considerada parte de um todo; portanto, qualquer estudo isolado é parcial e qualquer elemento pode verse como um sistema que, ao mesmo tempo, forma parte de outro sistema maior. Isso implica em configurar o universo como uma arquitetura de sistemas em interação e com ordens hierárquicas (VILAGINÉS, 2007, p.18, tradução nossa).
Há alguns elementos que contemplam essa definição, como a ordem e a desordem, e estes elementos
acabam por dominar todo o discurso que obedecem, fazendo muitas vezes inconscientemente ao seu
governo, como princípios que põem ordem ao universo e perseguem ao mesmo tempo a desordem.
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A ordem que se manifesta é resultado das relações ordem/desordem/organização, que produzem de forma continuada em seu meio. Ele permite um fluxo continuo de energia em seu próprio sistema, de algo novo e criativo. Os conceitos de retroalimento e auto-organizarão permitem entender o momento presente em cada sistema como resultado de uma dinâmica de mudança evolutiva (VILAGINÉS, 2007, p.18, tradução nossa).
Isso nos mostra a relação que há entre eles, como se fosse uma desordem ordenada, onde a mudança
dependesse de que as coisas deixem de estar em seu lugar, provocando uma revolução de ideias em uma
dinâmica de mudança evolutiva. Como se a organização fosse fruto de um desequilíbrio para depois
equilibrar se novamente, sendo necessária esta situação para que a organização dos saberes como conceito,
se entregue ao azar, à casualidade e necessidade de inovação. Se entendermos que duas realidades
antagônicas são complementárias, além de indissociáveis, quer dizer, que a emoção e a razão não são
antagônicas.
De que maneira o enfoque sistêmico pode influenciar ou contemplar um sistema educativo?
Parellada, 2006 descreve de que maneira necessitamos entender essa perspectiva sistêmica no âmbito
educativo.
A importância da ordem, que foi antes e depois, um olhar transgereracional, e a importância da
vinculação com as gerações (PARELLADA, 2006 in VILÁGINÉS, 2007, p. 23, tradução nossa);
O valor da inclusão de todos os elementos do feito educativo (PARELLADA, 2006 in
VILÁGINÉS, 2007, p. 23, tradução nossa);
O peso das culturas de origem, que tem a ver com as lealdades dos contextos que provimos
(PARELLADA, 2006 in VILÁGINÉS, 2007, p. 23, tradução nossa);
A importância das interações dentro do sistema (qualquer elemento disfuncional pode afetar ao
resto dos elementos) (PARELLADA, 2006 in VILÁGINÉS, 2007, p. 23, tradução nossa);
As ordens e desordens. A maioria das vezes operam de forma inconsciente. Trata-se de identificar
as ordens e por o olhar nas soluções que podem fazer mais funcional e operativo o sistema,
favorecendo a aprendizagem e o bem-estar de todos os participantes do feito educativo
(PARELLADA, 2006 in VILÁGINÉS, 2007, p. 23, tradução nossa).
O professorado da Educação Infantil necessita aprender a ampliar seu horizonte a partir das
formações continuadas que recebe, porque necessita ampliar seu olhar, contextualizar, ser criativo e
historiador, saber incluir, acenar para o destino dos meninos e meninas, assim como a suas famílias,
valorizar e respeitar sua cultura, seus princípios e valores, entre muitos outros aspectos.
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Na atualidade para trabalhar na educação, em especial na Educação Infantil, é importante ter como
estratégia uma consciência de educação para a vida, daquilo que é real, que tem essência, que podemos tocar
e que é verdadeiro.
Discorrendo dessa maneira, as relações humanas são elementos indispensáveis para pensar do campo
das ideias para o campo das relações.
Moraes e Torre, falam da aprendizagem integrada, que pode ocorrer dentro ou fora do âmbito
acadêmico. Segundo os autores, “é preciso ter estratégias complexas, abertas, interativas e adaptáveis: a
estimulação dos sentidos, da imaginação, da intuição, da colaboração, do impacto emocional, da
aplicabilidade”, (MORAES y TORRE, 2004,) são estratégias necessárias para uma atividade profissional
coerente e eficaz.
... A aprendizagem integrada poderia ser descrita, como o processo pelo qual vamos construindo novos significados das coisas e do mundo a nossa volta, ao mesmo tempo em que melhoramos estruturas e competências cognitivas, desenvolvemos novas habilidades, mudamos nossas atitudes e valores, projetando tais mudanças na vida, nas relações sociais e de trabalho. E isto baseado em estímulos multissensoriais ou processos intuitivos que nos impactam e nos e fazem pensar, sentir e agir. (MORAES e TORRE, 2004, p. 82, tradução nossa).
Como trabalhar nas formações de forma sistêmica, integrada e transdisciplinar? Talvez possamos
pensar em uma formação continuada sistêmica através de seminários, workshops e reuniões, promovendo a
troca de experiências. A organização de cursos, conferências e congressos são estratégias que oferecem
diferentes formas de aprendizagem. Resgatar e promover estas formações, bem como a identidade do
professor da Educação Infantil, a potencialização e valorização do seu trabalho, o incentivo a auto-estima,
ajudar a interiorizar a compreensão do impacto pedagógico e social que os professores da Educação Infantil
tem no seu dia a dia. Essas estratégias ajudarão ao professor descobrir o quão importante é dar aos meninos
e as meninas uma boa educação.
Podemos dizer que essas estratégias, podem e devem ser usadas em qualquer situação e de várias
maneiras: no planejamento, no desenvolvimento do currículo e na avaliação, na inovação educacional, na
tomada de decisão, na formação de professores, no contexto de caráter social, organizacional e de sala de
aula.
A abordagem estratégica, baseada na escola como uma instituição de mudança e formação, destaca aqueles elementos contextuais, processuais, biográficos, metodológicos que condicionam o desenvolvimento de um plano, desde o início até a sua interiorização. Não se trata apenas de encontrar as características que determinam o sucesso ou o fracasso de uma mudança ou inovação, mas de adentrar nas variantes de seu desenvolvimento e nas condições que condicionam o êxito ou o fracasso de uma mudança ou inovação, que perturbam o desenvolvimento, para ver como eles alcançam os objetivos pretendidos, para verificar a eficácia de um procedimento. (TORRE, 2000, p. 116, tradução nossa).
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Quando se trata de inovação educacional, as pessoas falavam de melhoria, de troca de idéias e
práticas, e para que isso aconteça é essencial estar totalmente aberto para o novo, para as possíveis
mudanças e ser flexível a novas propostas. Torre define inovação como: “inovação é a concepção de uma
série de mudanças específicas que podem ocorrer em qualquer área da atividade humana, a fim de difundir
ou consolidar. É, portanto, uma nova linguagem sobre a realidade e suas modificações”, (TORRE, 1998, p.
18, tradução nossa).
A Educação Infantil tem vivido muitas mudanças nos últimos anos, seja no campo das políticas
públicas (CF, PNC, LDB), conquistando seu espaço de direito, ou em apresentar elementos que justifique a
importância da formação continuada do professor, entre muitos outros. No âmbito da formação continuada
de professores da Educação Infantil, a inovação, a atualização dos saberes e a transposição desses saberes na
prática docente, devem contribuir fundamentalmente, fortalecendo e tornando essa prática generalizada em
que, essas mudanças tão discutidas em seminários, conferências e workshops, ocorrem em seu faze
pedagógico. Agora, como fazer para que isso aconteça? Pensando assim, Torre traz um modelo inovador de
formação de professores. Segundo o autor, existe um estudo importante, onde a ideia principal é investir no
modelo teoria-prática para a prática-teoria. Explica, “o conhecimento pedagógico não é o resultado da
reflexão acadêmica, mas da reflexão e sobre a prática”, (TORRE, SL 1998) e apresenta o modelo formativo
- Observar, Refletir, Aplicar (ORA)
a. Partir dos fatos, dos problemas ou da realidade próxima, (TORRE, 1998, p. 20)
b. Elaborar os conceitos e interpretar a realidade através da relação e reflexão, (TORRE, 1998, p. 20)
c. Contrastar estes conceitos na prática, aplicar o aprendizado, (TORRE, 1998, p. 20)
Estes fatos partem da realidade vivenciada, simulada, observada ou descrita. Discutir aspectos a
partir de uma realidade conhecida, em que o professorado sente que necessita buscar mais saber,
reconhecendo quais são os pontos fortes ou fracos provocando o desejo de mudança.
Este modelo de formação, pode ser utilizado como uma possibilidade de inovação e de mudança,
pode ser um instrumento que parte da realidade prática do docente e quem sabe promova a busca do saber.
4 FORMAÇÃO CONTINUADA SISTÊMICA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL COM PROPOSTA TRANSDISCIPLINAR
Pensando na realidade dos CEIs, em especial na cidade de Blumenau, e levando em consideração a
circunstância do desejo de ampliar a modalidade de Formação Continuada proporcionada aos professores,
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educadores, coordenadores e diretores, apresentamos uma proposta que possa ser aplicada em Centros de
Educação Infantil Público, nas Regiões que integram cada centro, além da aplicabilidade da Rede como um
todo. Construir uma proposta de formação continuada sistêmica a partir das várias vozes é dar credibilidade
aos sujeitos que promovem a educação infantil, possibilitando que esta proposta seja construída a partir do
contexto e em direção ao que se deseja.
A formação continuada sistêmica como um novo traçar de linhas mestras, para professores,
educadores, coordenadores e diretores da Educação Infantil da cidade de Blumenau, encontra respaldo nas
palavras de Capra, (1982), que diz: “A concepção de sistemas vê o mundo em termos de relações e de
integração”. Ou seja, os sistemas são totalidades integradas onde as propriedades não podem ser reduzidas
às de unidades menores. Com isso, deve existir um trabalho de formação continuada em rede, que integre
saberes, valores, conhecimentos, como uma nova visão da realidade e no estado de interrelação e
interdependência essencial em todos os fenômenos.
A atual estrutura da formação continuada aplicada à Educação Infantil impede um melhor
cumprimento das DCNEI (2009). Essas formações devem qualificar professores e docentes, aproximando
conhecimento teórico, prático, com clareza de responsabilidade e de papéis. Cabe aos formadores propiciar
aos docentes, uma gama de formações que possibilite adquirir aprendizagem significativa e necessária para
trabalhar com meninos e meninas desde os primeiros anos de vida. Será de grande estímulo o
estabelecimento de tempos e espaços para formação continuada através de uma proposta da Rede de Ensino,
promovendo garantias de estudo, planejamento e a aplicabilidade da aprendizagem na prática docente.
4.1 Enfoque sistêmico e complexo
A formação continuada deve contribuir também para o desenvolvimento de outras habilidades
essenciais da educação infantil e ao conviver em sociedade: interdependência, cooperação,
comprometimento, responsabilidade, espírito de equipe, espírito ético, espírito estético, senso de
organização, cuidado com o próximo.
Morin (1997) fala que “a resistência é o outro lado da esperança”, e com isso já compreendemos que
a mudança é necessária, precisamos desenvolver novas alternativas, novos critérios e novos procedimentos
éticos diversificados. É preciso resistir firmemente e manter viva a esperança da transformação, num mundo
cada vez mais consumidor e individualista.
A complexidade indica que tudo se liga a tudo e, reciprocamente, numa rede relacional e
interdependente.
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Da mesma forma, a complexidade indica que tudo se liga a tudo e, reciprocamente, numa rede relacional e interdependente. Nada está isolado no Cosmos, mas sempre em relação a algo. Ao mesmo tempo em que o indivíduo é autônomo, é dependente, numa circularidade que o singulariza e distingue simultaneamente. Como o termo latino indica: “Complexus – o que é tecido junto (MORIN, 1997, p.41).
Morin (2003) apresenta um conjunto de princípios metodológicos que constituem um método para
chegar ao pensamento complexo. Esses princípios podem ser aplicados na presente proposta de formação
continuada sistêmica:
Princípio sistêmico ou organizacional: permite religar o conhecimento das partes com o
conhecimento do todo e ao contrário. (MORIN, 2003, p.37).
A educação infantil é viva, criativa e aberta para muitas possibilidades de expressão e para o
desenvolvimento das diferentes linguagens. A educação infantil utiliza esses elementos para descrever
diferentes aspectos da estrutura interrelacional e de múltiplos níveis de realidade. Em cada nível de
realidade, os sistemas se integram, todos autoorganizadores, que consistem em partes menores e ao mesmo
tempo atuam como partes de totalidade maiores.
Dessa forma, os temas abordados na formação continuada dos professores, educadores,
coordenadores e diretores, precisam estar associados, interligados, conectados, por pertencerem a um
sistema de interdependência, no qual tudo está conectado ao todo assim como as partes.
Princípio hologramático: assim como um holograma, cada parte contém praticamente a
totalidade da informação do objeto representado; em qualquer organização, não somente a parte
está contida no todo, mas também o todo está contido na parte. (MORIN, 2003, p.38)
As diferentes linguagens desenvolvidas na educação infantil, se interrelacionam de muitas formas.
Quando na formação continuada se trabalha com a criatividade, ela pode estar inserida na forma de trabalhar
o imaginário da criança. Quando se trabalha com literatura infantil, é possível criar cenários relacionados ao
contexto familiar, temas sociais, temas em destaque na mídia, aproximando a compreensão e as relações de
convivência.
Princípio da retroatividade: com o conceito de circuito retroativo, rompemos a causalidade
linear. [...] Antes o princípio linha causa-efeito: não somente a causa age sobre o efeito, mas o
efeito retrai informalmente sobre a causa, permitindo a autonomia organizacional do sistema.
(MORIN, 2003, p.39-40).
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A formação continuada não segue um desenvolvimento linear. Quanto mais incentivo, oferta de
diferentes possibilidades de aprendizagem, contextos e formadores, maior será a possibilidade de ampliar os
conhecimentos. A formação continuada precisa ser dinâmica, criativa, entusiasta, inovadora, conectada à
realidade do centro e voltada à educação infantil. Um professor entusiasmado reflete sua satisfação na
prática docente, no convívio com o grupo e, principalmente, em resultados positivos no desenvolvimento da
criança.
Princípio da recursividade: é um princípio que vai além da pura retroatividade. Um processo
recursivo é aquele cujos produtos são necessários para a própria produção do processo. É uma
dinâmica auto-produtiva e autoorganizacional. (MORIN, 2003, p.40)
Quanto mais se oferece formação continuada, maior a necessidade de aperfeiçoamento, servindo essa
formação como mola propulsora que empurra a educação infantil a novos desafios. A valorização, o
reconhecimento, definem a identidade da educação infantil, pautada por princípios determinados por leis e
diretrizes. A educação infantil tem um papel fundamental na construção dessa identidade porque contribui
na formação integral das crianças. Dessa forma, a formação continuada é parte integrante da formação de
meninos e meninas de zero a seis anos, promovendo uma educação infantil cada vez mais valorizada e
reconhecida.
Princípio da autonomia/dependência: esse princípio introduz a ideia de processo auto-
organizacional. Para manter sua autonomia, qualquer organização necessita de abertura ao
ecossistema do qual se nutre e ao qual transforma. (MORIN, 2003, p.41).
A estrutura organizacional da educação infantil possui interligações e interdependências entre todos
os níveis sistêmicos. Cada nível interage e comunica-se com seu meio social total. As famílias têm os filhos,
os filhos precisam de atendimento em centros de educação infantil, o governo precisa criar espaços de
atendimento educacional e de cuidado, as universidades precisam formar profissionais habilitados para esta
área do conhecimento, as instituições formadoras precisam oferecer formação continuada sistematicamente
para qualificar os docentes, a prática pedagógica, e assim por diante.
Princípio dialógico: no mesmo espaço mental, este princípio ajuda a pensar lógicas que se
complementam e se excluem. (MORIN, 2003, p.41).
O estudo de temas específicos da educação infantil ajuda a definir pensamentos lógicos e peculiares
típicos de cada idade. Quando é possibilitado ao professor, saídas de campo, idas ao teatro, a apresentação
de dança, música, exposição de obras de arte, museus, todos esses novos conhecimentos ampliam o
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repertório cultural, histórico e social do professor. Essa amplitude pode facilmente ser transferida à prática
docente promovendo a interrelação e conexão de novos saberes.
Princípio da reintrodução do sujeito cognoscente em todo o conhecimento: É preciso
reintroduzir o papel do sujeito observador/conceituador/estratégico em todo o conhecimento. O
sujeito não reflete a realidade. Ele constrói a realidade por meio dos princípios já mencionados.
(MORIN, 2003, p.42).
Formadores e professores, ora professores, ora alunos, num processo de construção e reconstrução de
conhecimentos, aprendem a olhar tudo como se fosse a primeira vez, comprometidos com a criança que é
sujeito de direitos, organizando ideias constantemente, cumprindo etapas e buscando novos desafios. A
realidade e construída a partir de histórias, culturas, memórias e princípios como um bem comum e
patrimônio da humanidade, “[...] há algo mais do que a singularidade ou a diferença de indivíduo para
indivíduo, é o fato que cada indivíduo é um sujeito”. (MORIN, 1991).
Apresentamos a seguir uma proposta de Formação Continuada Sistêmica para Educação Infantil, que
contempla as relações, as interrelações, as conexões e a interdependência e a integração dos saberes. Uma
proposta que objetive uma nova visão de mundo com foco transdisciplinar, ecoformador e criativo. Que
valorize o professor, o educador, o coordenador e o diretor como sujeitos que fazem acontecer a educação
infantil na cidade de Blumenau. Melhorando a autoestima, e o reconhecimento da identidade da educação
infantil.
4.2 Objetivo geral
Oferecer aos professores, educadores, coordenadores, diretores dos Centros de Educação Infantil
Público, e autoridades educacionais, subsídios para a implementação de uma nova proposta sistêmica
para a formação continuada da educação infantil nos CEIs da cidade de Blumenau.
4.3 Objetivos específicos
Oferecer aos meninos e meninas dos CEIs:
a) Ampla oportunidade para desenvolverem nas linguagens, nas interações e nas brincadeiras;
b) Espaço adequado para desenvolverem as aprendizagens e as relações;
c) Maior recurso material para desenvolverem habilidades artísticas, culturais e sociais;
Oferecer aos professores, educadores:
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a) Garantia de tempo e espaço de formação continuada, permitindo estudo, planejamento, avaliação
da prática docente, melhora e inovação;
b) Trabalhar temas relacionados à educação infantil e de acordo com a necessidade do centro;
c) Troca de experiência e divulgação dos projetos de trabalho;
d) Promoção da identidade da educação infantil;
e) Material pedagógico e outros recursos, jogos, livros, brinquedos, adequados para o trabalho
docente;
f) Parceria com Universidades;
Oferecer aos coordenadores e aos diretores:
a) Professores e educadores mais qualificados e entusiasmados;
b) Garantia do cumprimento das Leis da Educação Infantil brasileira;
c) Oportunidade de contribuir com a Educação Básica e divulgação dos projetos de trabalhos
desenvolvidos nos CEIs;
Oferecer a coordenação central da Educação Infantil:
a) Trabalho de formação continuada sistêmica em Rede;
b) Rede de conceitos, interligando relações e contextos.
4.4 Núcleos temáticos
De acordo com a as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil (DCNEI), na elaboração
dos conteúdos curriculares ou proposta pedagógica para a educação infantil, devem-se considerar alguns
critérios:
Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças como os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico;
Práticas efetivadas por meio de relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem
com os professores e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades;
A proposta pedagógica das instituições de Educação infantil deve ter como objetivo principal promover o desenvolvimento integral das crianças de zero a cinco anos de idade garantindo a cada uma delas o acesso a processo de construção de conhecimentos e a aprendizagem de diferentes linguagens, assim como o direito á convivência e interação com outras crianças. (DCNEI, 2009)
Estes conteúdos, de acordo com o mesmo documento, são:
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As instituições de Educação Infantil devem assegurar a educação em sua integralidade,
entendendo o cuidado como algo indissociável ao processo educativo;
O combate ao racismo e às discriminações de gênero, sócio-econômicas, étnico-raciais e
religiosas deve ser de constante reflexo e intervenção no cotidiano da Educação infantil;
As instituições necessariamente precisam conhecer as culturas plurais que constituem o espaço da
creche e da pré-escola, a riqueza das contribuições familiares e da comunidade, suas crenças e
manifestações, e fortalecer formas de atendimento articuladas aos saberes e às especificidades
étnicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada comunidade;
A execução da proposta curricular requer atenção cuidadosa e exigente às possíveis formas de
violação da dignidade da criança;
O atendimento ao direito da criança na sua integralidade requer o cumprimento do dever do
Estado com a garantia de uma experiência educativa com qualidade a todas as crianças na Educação
Infantil; (DCNEI, 2009).
Orientações didáticas e visão sistêmica
Os conteúdos para a aplicabilidade na prática docente da educação infantil, devem seguir ao que determina a legislação brasileira (LDB, PCNs e DCNEI). Esses documentos determinam que a prática docente na educação infantil deva garantir o desenvolvimento integral de meninos e meninas de zero a seis anos de idade. Deve assegurar condições para organização do tempo cotidiano das instituições de Educação infantil de modo a equilibrar continuidade e inovação nas atividades, movimentos e concentração das crianças, momentos de segurança e momentos de desafio na participação das mesmas, e articular seus ritmos individuais, vivências pessoais e experiências coletivas com crianças e adultos. Também é preciso haver a estruturação de espaços que facilitem que as crianças interajam e construam sua cultura de pares, [...]. (DCNEI, 2009).
A aplicação do presente projeto possibilitará aos professores, educadores, coordenadores, diretores e
coordenação central, promover formação continuada mais significativa à proposta que desenvolvem,
garantindo assim, as condições necessárias ao desenvolvimento pela criança, de um processo sistemático e
complexo, em direção ao domínio do conhecimento com uma nova visão de mundo.
4.5 Critérios e estratégias de avaliação
A avaliação é um instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica e deve estar de acordo com o
que determina a legislação brasileira. A avaliação, segundo a Lei n° 9.394/96, deve ter a finalidade de
acompanhar e repensar o trabalho desenvolvido. Cabe ao professor, educador uma observação sistêmica,
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crítica e criativa a cada momento, e estar atento se os conteúdos de educação infantil são assimilados pelas
crianças, se são condições inerentes para compreender como a criança se apropria de modos de agir, sentir e
pensar, reconhecendo os limites e a flexibilidade necessária para distinguir o que é relevante em cada
situação.
Na Educação Infantil, os meninos e as meninas de zero a cinco anos de idade devem adquirir
progressivamente competências de sensibilidade e de cognição nas várias linguagens, nas interações e nas
brincadeiras através de sua própria produção e do contato com o patrimônio cultural e social. A avaliação
deve objetivar condições que promovam aprendizagem e desenvolvimento global, respeitando suas escolhas,
ritmos, cultura, junto aos seus grupos de amizade.
4.6 Dinâmicas de formação continuada sistêmica
Encontros nos CEIs
Dia de estudo pedagógico com fechamento do CEI respaldado pela Política de Formação
Continuada da Rede Municipal de Ensino;
Organização e garantia de tempo para FC e planejamento;
Grupos de estudo e equipes de trabalho;
Qualificação da prática pedagógica;
Troca de experiência por grupos etários, Berçário, Maternal I, Maternal II, Jardim I, Jardim II,
Jardim III;
Divulgação e publicação de projetos de trabalho;
Promoção da identidade da educação infantil;
Participação ativa e efetiva das famílias em todos os momentos;
Encontros nas Regiões - Ipê, Senna, Araçá, Guabiroba, Paineira, Ingá
Encontro bimestral entre professores e educadores por grupos etários, organizado pela supervisão
pedagógica regional, coordenadores educacionais e diretores de CEI da Região. Promover troca de
experiência e determinar pauta de estudos orientada com apoio de um técnico sempre que necessário;
Para estes encontros, estabelecer diferentes possibilidades. Dia de estudo pedagógico com
fechamento do CEI respaldado pela Política de Formação Continuada da Rede Municipal de Ensino.
Dois turnos de encontros para não fechar o CEI, contando com a parceria das famílias, voluntários, e
outras turmas no apoio.
Participação ativa e efetiva das famílias em todos os momentos;
Promoção da identidade da educação infantil;
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Trabalho em Rede com redes de conceitos, interligados nas relações e nos contextos;
Encontro para planejamento, avaliação, intervenção didática, organização dos encontros semanais
nos CEIs e encontros regionais por grupos etários, com diretores e coordenadores educacionais nas
Regiões com participação da coordenação central e supervisora regional;
Encontro dos conselhos gestores por Região, com a participação da coordenação central e dos
diferentes Órgãos Públicos relacionados à Infância. Formação e debate sobre as diferentes
modalidades de atendimento à criança nas regiões, articulação da comunidade para participação no
Fórum da Educação Infantil.
Encontros na Rede
Integração dos trabalhos da Rede em rede;
Seminários temáticos com conceitos interligados;
Formação continuada com temas específicos ao desenvolvimento pedagógico e social de meninos
e meninas de zero a cinco anos de idade;
Exploração de temas a partir da realidade e necessidade do centro;
Qualificação da prática pedagógica;
Promoção da identidade da educação infantil;
Oficinas permanentes com ampla oferta de horário: matutino, vespertino, noturno;
Divulgação e publicação de projetos de trabalho;
Mostra trabalho anual;
Participação dos professores, educadores, nas formações externas, fora da cidade de Blumenau,
(sorteio);
Encontros com a SEMED
Reunião conjunta com diretores e coordenadores, e coordenação central (SEMED),
bimestralmente;
Reunião interna na SEMED com supervisoras regionais, semanalmente;
Conteúdo amplo para as Formações Continuadas
Aplicação do trabalho em Rede com redes de conceitos, interligados nas relações e nos contextos;
Estudo sobre Leis e Documentos Oficiais do MEC que respaldam a Educação Infantil brasileira;
Construção de princípios, estratégias e conhecimento sobre a criança e seu desenvolvimento
pedagógico e social, construindo coletivamente práticas educacionais a partir desses conhecimentos;
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Compreensão do que é um trabalho em equipe no contexto da Educação Infantil. Compartilhar
saberes e fazeres num processo ativo, interativo, cooperativo, respeitador e de responsabilidade
mútua na promoção do trabalho em grupo e na definição de papéis e funções;
Incentivo e apoio ao professor, educador e comprometimento com as diferentes linguagens
verbais e não verbais, nas interações e nas brincadeiras, como caminho para a aprendizagem e
desenvolvimento das crianças nos primeiros anos de vida;
Ampla oferta na diversidade de temas de acordo com as necessidades e interesses presentes nos
CEIs;
Qualificação da prática pedagógica;
Promoção da identidade da educação infantil;
Competências do CEMEP para a Formação Continuada Sistêmica da Educação Infantil
Operacionalização dos encontros de formação continuada (seminários, encontros, reuniões);
Oferta de formação temática específica nos três turnos de trabalho durante todo ano;
Acompanhamento sistemático das formações nas Regiões (avaliação, intervenção, apoio técnico)
junto à coordenação central;
Participação semanal ativa de consultoria educacional nas reuniões com as supervisoras regionais
e coordenação central;
Elaboração dos conteúdos e estratégias de intervenção para a formação geral da Educação Infantil
em parceria com a coordenação central;
Informatização dos processos de certificação com a instituição da Carteirinha do Professor e
criação, manutenção de um sistema de pontuação para ascensão profissional;
Publicação e divulgação resultante das produções dos encontros de formação continuada
sistêmica;
Articulação com as universidades locais (pesquisas e convênio para participar de formações
promovidas nas universidades);
Gerenciamento da participação dos professores, educadores, coordenadores, diretores da Rede em
congressos, simpósios, cursos, entre outros, fora da cidade de Blumenau, (sorteios);
Criação de uma oficina num espaço permanente para a produção de materiais diversos a serem
utilizados pelos professores, educadores na prática docente;
Conselhos Gestores Educacional Social
Processos de gerar novas ideias;
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Administração democrática dos CEIs e projeção ao externo, em defesa dos direitos da criança.
Conselho organizador dos processos participativos propulsores e construtores de novas modalidades
possíveis para a Educação Infantil que garantam o acesso de todos;
Produção do nivelamento das relações – todos integrados ao sistema social – grupo, equipe
educativa;
Promoção do diálogo com as famílias sobre os temas comuns à educação dos filhos.
Uma importante estratégia para desenvolver na formação continuada sistêmica de professores,
docentes, coordenadores e diretores é partir do pressuposto que estes profissionais vêm de uma formação
inicial, e levam consigo um leque de conhecimentos gerais, valores, princípios, experiências, história de
vida, além da educação advinda do próprio contexto familiar. Isso faz com que estes docentes impliquem
diferentes saberes e fazeres. Todo esse patamar de informação trazida em sua caixa de conhecimentos, pode
e devem ser explorados de maneira positiva, criativa, transdisciplinar, inovadora e sistêmica.
Seguindo essa lógica, o docente participa da formação continuada, aplica os conhecimentos
adquiridos registrando o trabalho desenvolvido. Participa de discussões com o grupo do centro a respeito da
aprendizagem, da aplicabilidade na prática docente e possíveis mudanças. Avalia resultados e se autoavalia
periodicamente. Terminada esta etapa, é necessário voltar ao início do processo de FC, num ato de ir e vir
constante, onde a conexão de tudo com o todo e o saber adquirido possam ser relacionados.
Esta estratégica de formação continuada sistêmica objetiva a não fragmentação dos temas
trabalhados em cursos, seminários, congressos, oficinas temáticas, proporcionando apoio, incentivo, e
principalmente, segurança para a ação pedagógica docente.
Para que esta experiência seja exitosa, é imprescindível o acompanhamento e assessoramento
periódico e próximo do formador ou do coordenador e diretor, como garantia de que a FC tenha de fato a
efetivação de um processo aberto e sistêmico.
4.7 Investigação como inovação
Sugestões:
Tempo - O tempo determinado para a formação continuada sistêmica precisa ser estabelecido numa
política de formação da Rede. Além disso, podem-se organizar tempos e espaços de formação através
de parcerias com famílias, voluntários, equipes de apoio. É preciso também existir uma ampla oferta
de horários de formação; matutino, vespertino, noturno, como também que nestes horários e durante
todo a ano se ofereça oficinas temáticas;
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Espaço - Criação de uma oficina num espaço permanente para a produção de materiais diversos a
serem utilizados pelos professores, educadores na prática docente;
Material – O material pedagógico, a variedade de materiais, os jogos, os brinquedos, os livros
devem ser suficientes para cada especialidade;
Intercâmbio – Promover saídas de campo e troca de experiência;
Divulgação – Publicar os trabalhos desenvolvidos nos CEIs;
Informatização - Processos de certificação com a instituição da Carteirinha do Professor e criação,
manutenção de um sistema de pontuação para ascensão profissional;
Recursos humanos – Além dos professores e educadores, oferecer outras ações pedagógicas que
podem ser ministradas e acompanhadas pelos acadêmicos do Curso de Pedagogia das Universidades,
como prática de ensino;
Recursos financeiros: Desenvolver um projeto de acordo com a proposta pedagógica do CEI para
criação de espaços como biblioteca, oficina de artes plásticas, espaços de integração cultural, artística
e social. Podem ser estabelecidas parcerias com instituições públicas, com a iniciativa privada e com
as associações de pais e professores dos centros.
Resultados esperados:
Para os meninos e meninas dos CEIs – Maior possibilidade de desenvolvimento em todas as
linguagens, nas interações e nas brincadeiras;
Para os professores e educadores – Maior tempo para a qualificação profissional, maior troca de
experiências, aprendizagem mais significativa e próxima a realidade, materiais adequados para o
desenvolvimento da educação e do cuidado, aplicabilidade imediata dos conteúdos teóricos e práticos
aprendidos;
Para coordenadores e diretores dos CEIs – professores e educadores mais qualificados,
estimulados e preparados para prática docente;
Para a SEMED - contribuição para a Educação Infantil e marco histórico na formação da sua
identidade.
Consequências:
Uma Formação Continuada Sistêmica para a Educação Infantil traz resultados importantes para
todos os sujeitos interrelacionados nesse processo. A interdependência de um sistema que está dentro de
outro sistema maior permite que todos tenham consciência umas das outras, comunicando-se e cooperando
entre si. A chave de uma formação continuada sistêmica está no princípio da alavanca, encontrar o ponto
onde as mudanças estruturais podem conduzir melhoras significativas e duradouras, e desde logo ir mais
além de soluções de problemas aparentes, que melhoram a situação a curto prazo e pioram a longo prazo.
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Por isso vemos o CEI como um todo, antes de intervir na solução de problemas, é preciso examinar as
interações e interdependência entre recursos.
5 Procedimentos Metodológicos
Adotamos o Estudo Etnográfico como metodologia de investigação dentro do enfoque mais amplo da
abordagem qualitativa. A etnografia utiliza uma ampla combinação de técnicas e recursos metodológicos,
com predomínio nas estratégias interativas, a observação participativa, as entrevistas formais e informais, os
instrumentos projetados pelo investigador e a análise de toda classe de documentos. Por se considerar uma
modalidade de investigação das ciências sociais que surge da antropologia cultural e da sociologia
qualitativa, de acordo com as propostas de Aguierre, “a etnografia é um estudo descritivo da cultura de uma
comunidade, ou de algum de seus aspectos fundamentais, sob a perspectiva de compreensão global dela
mesma”. (AGUIERRE, 1995, tradução nossa).
Podemos dizer que é um processo sistêmico de aproximação a uma situação social, considerada
globalmente em seu contexto natural, para tentar compreender-la desde seu ponto de vista de quem a vive. A
etnografia se interessa pelo o que as pessoas fazem, como se comportam, como interagem. Propõe-se a
descobrir suas carências, valores, perspectivas motivacionais e o modo em que tudo isso se desenvolve com
o tempo.
Os cenários de investigação se situam nos Centros de Educação Infantil (CEIs) da cidade de
Blumenau. A pesquisa proporcionou uma visão sistêmica ampla que permitiu ver a organização, a interação
dos elementos, o lugar e a função de cada sujeito.
A questão problema que se enfrenta neste sentido é: O que fazer para que exista coerência entre os
conhecimentos adquiridos na formação continuada e sua aplicabilidade na prática docente?
Neste estudo consideramos importante identificar de que maneira a formação continuada é aplicada
aos professores de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação da cidade de Blumenau e como é a
transposição dos conhecimentos adquiridos na prática. Identificamos pontos fortes e fracos, partindo de
entrevistas abertas e em profundidade, grupos de discussão e também documentos oficiais. Essas
informações procedentes de “instrumentos aplicados reuniram dados com vários pontos de vista desde
determinada situação problemática, permitindo-nos analisar desde diferentes ângulos e proporcionando a
triangulação de ideias” (SADIN, 2003), desde três agentes importantes, o professorado, os coordenadores
pedagógicos e os diretores dos CEIs.
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O professorado dos CEIs apresenta sua visão da realidade, baseando-se em sua prática cotidiana. Os
diretores e coordenadores pedagógicos apresentam sua realidade, ou seja, quais são as possibilidades e
dificuldades encontradas, para que possam oferecer ao professorado condições adequadas para desenvolver
um conjunto de práticas, que buscam as experiências e saberes dos meninos e meninas e ao mesmo tempo
tenham em conta os conhecimentos que formam parte do patrimônio cultural, artístico, científico e
tecnológico de entorno.
A triangulação de informação proveniente destes três agentes possibilitou ter uma visão mais
holística da realidade, contribuindo para que este estudo fosse mais confiável e valioso.
No final desse estudo, apresentamos uma Formação Continuada Sistêmica para Educação Infantil
com Proposta Transdisciplinar.
6 Justificativa do eixo escolhido
Os momentos de formação continuada, são onde os professores e professoras enfrentam e resolvem
problemas, elaboram e modificam procedimentos, criam e recriam estratégias de trabalho e com isso vão
promovendo mudanças pessoais e coletivas através de um novo olhar.
Pensar em um sistema de formação continuada de professores e professoras da Educação Infantil
supõe avaliar objetivos, conteúdos, métodos, ter uma atitude transdisciplinar, positiva e inovadora frente à
própria realidade em transformação, considerando que a construção e fortalecimento da identidade
profissional necessitam ser parte do currículo e das práticas de formação continuada e neste caso, a teoria e a
prática interdisciplinar tem um papel de destaque na aplicabilidade da formação continuada no fazer
pedagógico.
O enfoque da formação continuada sistêmica transdisciplinar é dispositivo de formação, redes de
relações nas quais o contexto marca as diferenças de significado não separando aquilo que está unido,
compreendendo que a dualidade é constitutiva do aprender. Respeita os erros dos professores e professoras
que estão em constante formação para que esse erro não seja levado à prática promovendo desse modo as
mudanças e melhorias necessárias.
7 Considerações Finais
É importante que nas formações continuadas para professores, exista comprometimento para
promover uma aprendizagem integral, das partes com o todo e orientada ao pensamento complexo. Uma
formação continuada sistêmica não fragmenta saberes, ao contrário, integra e valoriza diferente saberes e
diferentes fazeres. A interdependência do sistema faz com que um necessite do outro, ou seja, governos,
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instituições formadoras, professores, docentes, coordenadores, diretores, meninos, meninas, famílias e
sociedade, dependem um do outro para sobreviver. De alguma maneira, esta investigação contribuiu para
promover uma Formação Continuada Sistêmica Transdisciplinar nos CEIs, nas Regiões e em toda a Rede de
Ensino, integrando o conceito de formação continuada sistêmica orientada a mudança e a inovação docente.
REFERÊNCIAS
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MORAES, M. y TORRE, S. de la (2004). Sentipensar: Fundamentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis: Vozes, 2004.
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa, Instituto Piaget, 1991.
MORIN, E. y otros . Educar na era planetária. O pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2003.
MORIN, E., ROGER, E. y MOTTA, R. D. Educar en la era planetaria. Barcelona: Gedisa, 2003.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro (10 ed.). São Paulo: Cortez, 2005.
PUJOL MAURA, Maria Antonia. La transdisciplinariedad en edades tempranas. In Torre, Saturnino de la, (Director) Pujol Maura, Maria Antonia. y Sanz, Gabriel (Coord.). Transdisciplinarieda y Edoformación: una nueva mirada sobre la educación. Madrid: Universitas, 2007.
SADÍN, M. P. Investigación Cualitativa en Educación. Fundamentos y Tradiciones. Madrid: McGRAW-HILL, 2003.
TORRE, S. de la, (Col. Ferres, Vicente y Barrios, Charo). Formación del profesorado y cambio. Cómo innovar en los centros educativos. Estudio de casos. Madrid: Escuela Española, 1998.
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TORRE, S. de la. Revista española de pedagogía. Estrategias creativas para la educación emocional. Volume 217, 2000.
TORRE, S. de la. Dialogando con la creatividad. Barcelona: octaedro, 2003.
VILÁGINÈS, Mercè Traveset. La pedagogía sistémica. Fundamentos y práctica. Barcelona: Graó, 2007.
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