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HISTÓRIA LOCAL E IDENTIDADES: CULTURA E TRADIÇÕES UCRANIANAS EM PRUDENTÓPOLIS - PR
Nadia Muzeka1
Claércio Ivan Schneider2
RESUMO O objetivo deste artigo é discutir e apresentar os resultados obtidos na implementação do projeto de intervenção pedagógica no Colégio Estadual Pe. José Orestes Preima, na localidade de Linha Esperança, município de Prudentópolis-Pr. Com a implementação do projeto pretendeu-se desenvolver um trabalho de reconstrução histórica através de estudos bibliográficos, visita ao museu, trabalho com filmes, entrevistas e discussões com os educandos, abordando o processo da imigração, da continuidade de preservação dos valores culturais e religiosos e da contribuição e influência da etnia ucraniana na construção do município e da comunidade. A estratégia norteadora de sua elaboração foi descobrir práticas eficazes para os alunos compreenderem e valorizarem sua identidade e descendência e fazê-los perceber que a história é construída também por eles com a herança cultural provinda de seus antepassados. Palavras-chave: imigração ucraniana; história local; identidade; patrimônio cultural.
1. Introdução
O presente artigo faz parte de uma das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), projeto do Governo do Estado do Paraná,
desenvolvido em parceria com Instituições de Ensino Superior. O programa tem por
objetivo proporcionar aos professores da rede pública de ensino a retomada dos
estudos acadêmicos pelo período de um ano, dispensando-os de suas atividades
docentes nas escolas. Aqui se pretende relatar as experiências vivenciadas durante
a implementação do Projeto de intervenção no Colégio Estadual Pe. José Orestes
Preima, de Linha Esperança, município de Prudentópolis, com o tema “Ucranianos
em Prudentópolis”.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná e bolsista do Programa de Desenvolvimento
Educacional da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (PDE/SEED/PR) 2010-2012, Brasil. 2 Orientador. Professor Doutor do Departamento de História da Unicentro, Campus de Irati-PR.
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A proposta está embasada nas Diretrizes Curriculares de História para a
Educação Básica do Estado do Paraná que fundamentam as novas necessidades e
práticas de ensino de História, valendo-se das correntes historiográficas: a Nova
História, a Nova História Cultural e Nova Esquerda Inglesa que trazem grandes
contribuições para a formação do pensamento histórico desenvolvido nas escolas.
Fundamentou-se também nos pressupostos teóricos, metodológicos e históricos de
Jacques Le Goff, Peter Burke, Marcos Napolitano, Maria Auxiliadora Schmidt e
Marlene Cainelli, Maria Circe Bittencourt, José Ricardo Oriá Fernandes, entre outros,
tendo como objetivo ampliar os conhecimentos sobre a imigração ucraniana e sua
influência na formação do município, motivando o aluno a descobrir, valorizar e
assumir a própria história e sua identidade. O presente trabalho também teve
embasamento em cursos presenciais junto à Unicentro e contou com a orientação
do professor Dr. Claércio Ivan Schneider. Envolveu outros professores da rede
pública de ensino de várias regiões do Paraná, através do GTR (Grupo de Trabalho
em Rede), que a partir do uso da plataforma Moodle possibilitou a troca de
experiências e reflexões sobre o estudo da história local, preservação da memória e
identidades.
A vantagem do estudo enfocando a história local supera a dificuldade que os
professores sentem em trabalhar tal temática, devido a falta de material,
principalmente escrito, referente à história das pequenas localidades. Quando se
aborda a história local é possível desenvolver no educando o sentimento de
pertença, fazê-lo despertar para um novo olhar sobre a sua localidade e
compreendê-la como um lugar de história, memórias e identidade própria. Peter
Burke propõe “[...] uma fusão da história da experiência do cotidiano das pessoas
com a temática dos tipos mais tradicionais de história” (BURKE, 1992, p. 54).
Acredita-se que ao final deste estudo, o educando tenha compreendido o
processo da imigração, a influência dos ucranianos na colonização de Prudentópolis
e construído seus conceitos em torno do patrimônio cultural existente no município
e, principalmente na localidade de Linha Esperança. Igualmente, espera-se que ele
possa se reconhecer como sujeito histórico, assumindo sua descendência étnica,
tendo sempre em vista a trajetória histórica de âmbito nacional onde cada cidade e
população estão inseridos.
3
A humanidade vive o início do terceiro milênio e, muitas vezes, o ser humano
ainda não consegue harmonizar o progresso com a preservação da memória e
identidade dos pequenos grupos do passado para as gerações vindouras. José
Ricardo Oriá Fernandes, em seu artigo “Memória e Ensino de História” afirma que o
direito à memória como direito de cidadania indica que todos devem ter acesso aos
bens materiais e imateriais que representam o seu passado, a sua tradição, enfim, a
sua história (FERNANDES, 2005, pp.128-130). A tarefa de combater a destruição e
zelar pela preservação da memória coletiva deve ser constante por toda a
sociedade, pois esta é o alicerce para a afirmação da identidade dos grupos.
Segundo a Constituição Brasileira de 1988, seção II, artigo 216: “Constituem
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”
(Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, p. 141).
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do
Paraná, na disciplina de História, pela Lei nº 13.381/01, é obrigatório o estudo da
História do Paraná no Ensino Fundamental e Médio nas escolas da rede pública
(DCE/História, 2008, p. 45). Entretanto, pouco espaço é reservado para esse
conteúdo nos livros didáticos enquanto conteúdo escolar, e quando abordam o
assunto, na maioria das vezes, o fazem de forma insignificante e superficial. Sendo
assim, na elaboração do projeto desenvolvido no Colégio Pe. José Orestes Preima,
buscou-se embasamento nas Diretrizes Curriculares que abrem espaço para
contemplar no trabalho educativo o estudo da história local e regional
(DCE/HISTÓRIA, 2008, p. 75).
A falta de conhecimento das características peculiares regionais, em um país
de proporções continentais e dos elementos que referenciam as culturas silenciadas,
como dos índios, dos negros e dos imigrantes nos currículos escolares, muitas
vezes, tem contribuído para o surgimento de preconceitos e discriminações em sala
de aula. Assim, é importante a revalorização da história local que por muito tempo
ficou adormecida e até esquecida nos livros didáticos e mesmo na prática docente.
Essa exclusão, o silêncio e a desconsideração do valor da coletividade e dos
pequenos grupos, se apresentavam na história oficial destacando heróis e políticos.
A partir das novas abordagens historiográficas que questionam a forma de ensino da
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História baseada no eurocentrismo, surgiram as preocupações com a história do
cotidiano e da história local que faz o aluno sentir-se agente da sua própria história.
Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli comentam que “É preciso destacar que
a utilização da história local como estratégia pedagógica é uma maneira interessante
para articular os temas trabalhados em sala de aula” (SCHMIDT e CAINELLI, 2004,
p.115).
O estudo da história local deve focar a identidade das etnias e a preservação
da memória e contribuir para desenvolver no aluno o sentimento de ser individual,
mas também de pertencer a um grupo, a um local, a uma nação, distinguindo as
diferenças e as semelhanças, as continuidades e as permanências. Como todas as
pessoas têm um sentimento de identidade, isto é, a sensação subjetiva de que algo
é inerente e próprio de cada um, esse sentimento está presente nos diversos
momentos de sua existência.
Assim, a identidade cultural - um sistema de representações que envolve o
compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, os costumes, as
artes, o trabalho, os esportes e as festas - acaba gerando esse sentimento de
pertença entre os indivíduos da mesma comunidade ou que têm a mesma
descendência.
Na vida cotidiana pode-se perceber como os efeitos dos meios de
comunicação influenciam na construção da identidade social. A globalização atinge
assustadoramente a identidade das pessoas através da mídia e apelo à
modernização e ao consumismo, fazendo com que elas mudem seus hábitos,
atitudes e seu modo de vida. Os meios de comunicação conseguem influenciar a
maioria e são tão persuasivos que anulam a capacidade de reflexão crítica,
convencendo os indivíduos a copiar ou se adaptar aos modelos estrangeiros. Só é
possível fazer referências de identidade na existência de outras, portanto ela está
estritamente ligada a diferença e a representação e representar significa dizer “essa
é a minha identidade”. Nesse sentido, a escola deve proporcionar condições para
que o educando busque sua identidade e a dimensão do outro na sociedade em que
vive.
Sendo assim, a diversidade cultural e as manifestações dessa diversidade
devem ser buscadas e o desafio em preservar o diverso, nesse mundo globalizado,
precisa ser enfrentado. Como ressalta Rogério Tílio: “E nesse contexto da pós-
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modernidade o discurso da globalização é um importante fator a ser considerado na
construção de identidades, na medida em que nossas vidas podem ser facilmente
afetadas por qualquer coisa que aconteça em qualquer lugar do mundo” (TÍLIO,
2009, p. 111).
Acreditando que cada grupo étnico busca manter seu tradicional e cotidiano
modo de vida, torna-se interessante observar como determinados povos, no
decorrer da história, após se depararem com a necessidade de uma mudança de
nacionalidade passam a encarar um novo espaço e de que maneira transformam
esse novo espaço novamente em lugar. Curioso também é perceber como o homem
pode criar mecanismos para manter suas fronteiras étnicas aceitando as pessoas
que compartilham sua cultura, seus costumes, sua religião ou rejeitando aqueles
que não se enquadram em seus modelos sociais.
No caso específico dos descendentes de ucranianos em Prudentópolis, a
cultura e as tradições se constituíram em referenciais que até hoje se refletem na
comunidade e no legado patrimonial. Significa também, que muitos valores trazidos
pelos imigrantes ucranianos foram absorvidos por outros grupos, como a
gastronomia, a participação nos grupos de danças ucranianas, os rituais em
casamentos, o costume de presentear-se com as pêssankas, o uso do artesanato e
até o aprendizado do idioma, por pessoas que nada possuem dessa descendência.
Acredita-se que este patrimônio existente em Prudentópolis, sendo cultivado e
propagado, pode garantir a continuidade das manifestações culturais e da identidade
étnica. O interesse em preservar nasce na própria comunidade quando cultiva o
sentimento de pertença e assume a responsabilidade de incentivar a preservação da
memória às novas gerações. Com a implementação da proposta do projeto de
intervenção no Colégio Estadual Pe. José Orestes Preima, em Linha Esperança,
objetivou-se contribuir no reconhecimento do patrimônio cultural ucraniano, atingindo
também as várias localidades de onde provêm os alunos, visto que, muitos deles
fazem parte das lideranças em suas comunidades. Espera-se que este aprendizado
e conscientização sejam compartilhados com suas famílias e demais moradores das
localidades.
Nesse sentido, a Educação Patrimonial no ambiente escolar deve estimular
os alunos à valorização e preservação dos bens culturais, sejam eles materiais,
imateriais ou naturais. Relevante é levá-los a conhecer sua própria história para que
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possam construir a sua memória afetiva e sua identidade cultural. Scheila Novais
Rêgo, em seu artigo “Educação Patrimonial e ensino de História”, afirma que a
metodologia da Educação Patrimonial adequada para a escola é uma nova proposta
com o objetivo de despertar no aluno a curiosidade em descobrir num objeto
concreto diversas informações de caráter social e cultural, enfatizando sempre a
importância da conservação da memória individual e coletiva no processo de
formação da identidade social (RÊGO, 2006).
Atualmente muitos patrimônios culturais, em nome da modernidade, sofrem
perdas irreparáveis. Casas antigas, por exemplo, são destruídas e substituídas por
prédios modernos e assim se perdem valores artísticos e culturais que possuíam
fontes de informações valiosas sobre uma cidade ou localidade. Outro exemplo de
prejuízo são os sítios arqueológicos que, por falta de profissionais capacitados na
área ou por ignorância na busca de pesquisa, são descaracterizados.
Nesse sentido, o estudo da história local, ocupa um papel preponderante no
ambiente escolar, por preocupar-se em levar o educando a conhecer a sua própria
identidade, reconhecendo-se como sujeito histórico capaz de contribuir na
organização política, social e cultural de sua localidade. A Educação Patrimonial
mostra aos estudantes e à comunidade o valor e o significado daquilo que muitas
vezes está próximo e torna-se invisível e não digno de ser preservado, como por
exemplo, perceber que a sua casa, os seus objetos, a sua escola, a sua localidade
são patrimônios culturais pertencentes a sua história.
Ecléa Bosi em seu artigo “O Patrimônio Histórico Revisitado”, faz um
comentário sobre a valorização do patrimônio cultural: “A valorização e o
conhecimento de um bem cultural, que testemunha o objeto de estudo, é contribuir
para a formação do senso crítico, levando o educando a perceber e se reconhecer
na história que lhe é apresentada em sala de aula nos espaços por ele vividos”
(BOSI, 2005, p. 134).
As Diretrizes (DCE, 2008, p. 74) apontam a necessidade de superar a ideia de
que os sujeitos históricos de significância local e nacional seriam menos importantes
do que os de significância mundial. Investigar e estudar a história de Prudentópolis,
seu processo imigratório e os valores culturais da etnia ucraniana são alternativas
para despertar nos educandos o interesse pela valorização de suas raízes e da
preservação de seus referenciais históricos, bem como, do sentimento de pertença a
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uma etnia, entretanto sempre levando em consideração que todos os indivíduos que
nasceram no Brasil são cidadãos de nacionalidade brasileira.
A temática em torno dos descendentes de ucranianos justificou-se pela
presença maciça desta etnia em Prudentópolis3 e pela necessidade de oferecer
subsídios históricos aos educandos para compreenderem e construírem seus
conceitos em torno do patrimônio cultural ucraniano, ressaltando os seus
significados, sua identidade e a importância de sua preservação. Cada grupo
constrói a sua memória a partir de suas tradições, permitindo uma contínua
reelaboração e transformação do conhecimento histórico, daí a relevância da
memória para a construção de identidades. A escolha da memória e identidade
como objeto da história neste estudo, deve-se ao fato desse tema, ultimamente,
causar inquietações, entre pesquisadores e instituições que procuram buscar meios
de preservar a memória e identidade coletiva e individual.
Temas sobre identidade e busca pela preservação da identidade cultural são
abordados e discutidos com muita intensidade nos meios acadêmicos da atualidade,
devido à crise de identidade que o homem moderno está enfrentando por conta do
acelerado processo de globalização que ameaça “destruir” as consciências
identitárias locais. Frequentemente presenciam-se movimentos populares de
mobilização de trabalhadores, mulheres, negros, índios, homossexuais, que além de
reivindicarem o pleno exercício dos seus direitos de cidadania, buscam o resgate de
sua memória e a afirmação de sua identidade étnica e cultural. Jacques Le Goff
comenta que: “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos
indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia” (LE GOFF, 2003, p.
469).
Acredita-se que garantir o direito à diferença e à identidade é um dos mais
nobres imperativos da luta pela dignidade humana. É necessário, nesse sentido,
propor o combate à ideia de uniformização da sociedade brasileira, reduzindo-a a
uma única língua, a uma religião, a um único modo de ser. Importante é instruir o
educando para perceber na sociedade brasileira – partindo da história local – o
valioso mosaico que enriquece o patrimônio cultural brasileiro. A relevância das
3 Dados censitários revelam que 80% dos atuais 49.016 habitantes no município de Prudentópolis são
de origem ucraniana. http://www.ciscentrooeste.com.br/pag.asp?p=municipio.asp&id=Prudent%F3polis&t=Prudent%F3polis
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questões culturais e identitárias para a compreensão da cultura e o papel que a
escola atualmente desempenha na redefinição das identidades em um mundo
globalizado é fator indispensável no processo de ensino aprendizagem.
Sendo assim, o estudo partindo da história local constitui-se em tema
privilegiado para a formação do pensamento histórico crítico que oferece aos
estudantes a possibilidade de trabalhar com fontes de informações expressas em
diferentes linguagens onde poderão desenvolver um embasamento teórico que lhes
permita contextualizar a sua história.
Vale ressaltar que atualmente, após 120 anos de imigração, o povo ucraniano
é reconhecido e considerado formador do mosaico étnico do Brasil, motivo pelo qual,
a Lei nº 12.209, de 19 de janeiro de 2010, sancionada pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, instituiu o dia 24 de agosto como o Dia Nacional da Comunidade
Ucraniana, com fundamento no § 2º, do art. 215 da Constituição Federal, passando
a integrar o calendário oficial da República Federativa do Brasil (Lei 12.209/2010).
Oriá Fernandes considera que a “preservação do patrimônio histórico como uma
questão de cidadania implica reconhecer que, como cidadãos, temos direito à
memória, mas também o dever de contribuir para a manutenção desse rico e valioso
acervo cultural” (FERNANDES, 2005. p. 140).
Esses aspectos acima abordados foram discutidos no Projeto “História Local e
Identidades: cultura e tradições ucranianas em Prudentópolis - PR”, que além de
investigar a história da imigração e dos descendentes de ucranianos, teve a
pretensão de fazer com que os educandos do Colégio Estadual Padre José Orestes
Preima, - que tem a maioria de alunos descendentes desta etnia – valorizem as suas
raízes e também preservem as tradições herdadas de seus antepassados.
Capacitar os educandos em relação à compreensão da formação de sua
identidade e conscientizá-los de que fazem parte da mistura de etnias na
diversidade cultural formadora da população brasileira, constitui-se em um
considerável estímulo à sua valorização e consequente preservação. Portanto,
tornou-se relevante a elaboração e implementação do Projeto de Intervenção no
sentido de rever o percurso histórico e a trajetória da imigração ucraniana ao
Paraná, para que os educandos compreendam que a história de um povo e sua
identidade é construída ao longo do tempo, por meio de memórias e reconstruções
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do passado, como é o caso dos ucranianos em Prudentópolis, que preservam suas
características peculiares ao longo dos cento e vinte anos de existência.
2. Mapa de percursos: implementação da proposta
Circe Bittencourt faz uma reflexão sobre a importância da história local na
construção da identidade dos alunos, ressaltando que:
A história local tem sido indicada como necessária para o ensino por possibilitar a compreensão do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência - escola, casa, comunidade, trabalho e lazer, e igualmente por situar os problemas significativos da história do presente (BITTENCOURT, 2004, p. 168).
Partindo do diagnóstico realizado com os alunos – que revelou um certo
descaso para com a cultura ucraniana e pouco interesse em querer estudar a
história local – buscou-se, com a implementação do projeto de intervenção,
redimensionar a história local como um importante campo de estudos para a
compreensão de conceitos de identidade e de patrimônio histórico em espaços
específicos. Considerando essa problemática, pesquisou-se e investigou-se com os
educandos da primeira série do Ensino Médio, a história da localidade de Linha
Esperança oportunizando-os a conhecerem a sua história com suas
particularidades, mostrando-lhes que, como sujeitos históricos, todos precisam se
sentir parte da construção da sociedade, onde estão inseridos, e contribuir para a
valorização, continuidade da preservação e respeito pelo seu patrimônio cultural.
Sendo assim, ao abordar sobre o que vem a ser identidade étnica ucraniana
na localidade de Linha Esperança, colocou-se em pauta junto aos alunos tais
discussões, buscando conscientizá-los sobre a importância da valorização da
identidade cultural ucraniana e da cultura patrimonial construída e constantemente
representada pela comunidade.
O estudo iniciou-se com a origem da imigração, partindo posteriormente para
a evolução do processo de colonização, herança cultural e sua preservação e
contribuição dos imigrantes na construção do município de Prudentópolis e na
localidade de Linha Esperança.
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Após a apresentação da proposta aos alunos com uso de slides, sugeriu-se
lhes o primeiro desafio: a “procura do tesouro escondido”, quando tiveram que
encontrar três objetos antigos – um ferro de passar roupa, um vidro de tinta para
escrever, um disco de vinil – escondidos nas dependências do colégio. Esta
atividade, de início, pareceu uma brincadeira sem graça, porém logo os educandos
se empolgaram e foi muito divertido, pois todos queriam encontrá-los e ganhar a
barra de chocolate prometida para quem os encontrasse. Retornando à sala com os
objetos, a turma inteira foi deduzindo e descrevendo a história das pessoas que os
utilizaram elaborando assim, um texto coletivo no quadro de giz. Surgiram várias
ideias, algumas muito pertinentes, outras menos e, quando se debateu sobre os
objetos como fontes históricas, dois alunos prontificaram-se em colaborar com o
acervo do Museu do Milênio, doando peças – uma caneca muito antiga e um
lampião a querosene – pertencentes a seus avós, mediante autorização dos
mesmos. Nesse momento, discutiu-se que museu é como um guardião dos objetos
e também dos significados, das lembranças e memórias do passado e por isso suas
peças não possuem, necessariamente, valor comercial. A dinâmica valeu para
estimular nos educandos o interesse pela pesquisa, descoberta e para a
compreensão de como objetos podem servir de fonte histórica e colaborar para a
investigação da história de uma comunidade. Abordou-se também que ao ser
analisada uma mesma fonte histórica podem surgir diversas interpretações sem que
uma delas esteja necessariamente, certa e a outra errada, dependendo da
subjetividade da pessoa que os analisa.
Prosseguindo a implementação do projeto, a atividade proposta foi a história
de vida das pessoas. Cada aluno elaborou sua história – atividade realizada em
casa, juntamente com os pais – e conseguiu identificar as origens de sua família,
considerando o sobrenome de descendência, percebendo que possui uma
identidade, tendo por referências a sua individualidade. Assim, os educandos
tiveram a oportunidade de recuperar algumas lembranças do passado com auxílio
de seus pais e avós. Com essa atividade objetivou-se introduzir os procedimentos
da investigação e escrita da história a partir de suas histórias individuais abordando
reflexões sobre como cada pessoa, mesmo anônima, é agente da História. As raízes
históricas de um povo abrigam as heranças relativas à família, ao país de
nascimento, à língua materna, à religião, às crenças, ao folclore, ao artesanato, à
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música, e às artes de modo geral, nas quais, mesmo ante mudanças que vão se
processando devido à globalização, a essência dessas manifestações permanece e
precisa ser protegida, defendida e preservada como sua significante característica.
Um povo que não guarda suas histórias, suas memórias, seu patrimônio cultural,
não sabe quem realmente é e sua identidade étnica é destinada ao
desaparecimento pelo esquecimento. Estas memórias estão guardadas em seu
patrimônio cultural que devem ser preservadas, de tal maneira que possam
despertar nas pessoas seu legítimo valor para a construção de sua História e esse
despertar foi importante para o prosseguimento do projeto.
Partindo das atividades iniciais da implementação deu-se início ao estudo da
imigração. Cada aluno recebeu um caderno pedagógico ilustrado, para leituras
bibliográficas e propostas de atividades, ora em grupos, ora individuais, que lhes
possibilitou fazer análises, reflexões e descobertas, sobre a vinda dos ucranianos ao
Brasil, suas origens históricas e a influência na construção do município, começando
pelo breve apanhado sobre o contexto histórico da Ucrânia no final do século XIX.
Valdomiro Burko em “A Imigração Ucraniana no Brasil”, explica que no antigo
império soviético era intensa a produção de cereais nas famosas “terras negras” das
mais ricas da Europa. Porém, no último quartel do século XIX, a Ucrânia estava sob
o regime tzarista da Rússia e em decorrência do crescimento populacional, houve
uma grande crise no setor agrícola, acarretando mudanças para atender as
demandas alimentares. Os métodos tradicionais de arrendamento e produção
começaram a ser substituídos e com isso, muitos camponeses perderam acesso ao
cultivo da terra. A fome passou a intimidar a população que sentia cada vez mais
dificuldade de permanecer em seu país (BURKO,1963, pp. 39-40).
Nesse período, relata a historiadora Oksana Boruszenko, o governo brasileiro,
com interesse de povoar o seu imenso território, incentivou e facilitou a vinda dos
imigrantes europeus. Com a aproximação da abolição da escravidão africana no
Brasil, a política imigratória então adotada no país possuía dois objetivos básicos:
fundar colônias nos estados meridionais para criar uma cultura de subsistência e
obter mão de obra para as fazendas de café (1995, p. 8).
Ainda conforme a narrativa de Boruszenko, em fins do século XIX, mais
concretamente no ano de 1895, milhares de famílias ucranianas, em razão das
precárias condições econômicas em sua Pátria, oprimidas e privadas de liberdade
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política e religiosa e expostas à insegurança, se viram forçadas a se expatriarem,
abandonando suas terras, e procurando outros países, onde pudessem viver em
paz, resguardando a sua fé, os seus costumes, as suas tradições e sua cultura. No
decurso de dois anos, à custa do governo republicano, mais de cinco mil famílias
abandonaram suas aldeias e, na grande maioria, fixaram-se no Paraná (1995, p. 8).
Segundo Burko, pode-se considerar que a imigração ucraniana no Paraná
realizou-se em três etapas distintas. A primeira teve lugar já nos fins do século XIX,
quando milhares de ucranianos, em consequência da superpopulação agrária e débil
industrialização, resolveram transferir-se para além das fronteiras de suas férteis
“terras negras”. Na sua nova pátria, os pioneiros puderam continuar os seus
costumes, como também praticar a religião no seu rito bizantino católico. A segunda
etapa ocorreu após a Primeira Guerra Mundial. Os motivos foram de ordem política,
pois a Ucrânia não se firmou como república independente, tornando-se vítima de
movimentos liberais e ficou sob o domínio dos russos e poloneses. Nessa etapa
chegaram aproximadamente 9.000 pessoas, estabelecendo-se em núcleos
formados, principalmente no Paraná. A terceira etapa da imigração ucraniana ao
Paraná ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. Eram mais de 200 mil imigrantes,
entre operários, prisioneiros de guerra, refugiados políticos e soldados que lutaram
contra os russos (BURKO, 1963, pp. 39-40).
Boruszenko explica como eram feitas as falsas propagandas pelos agentes
navais que forneciam pela Europa, iludindo milhares de imigrantes, espalhando
artigos, livretos e comunicados exibindo-lhes as vantagens e possibilidades de
melhorias em outras terras como Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil.
Os primeiros imigrantes ucranianos no Paraná teriam sido oito famílias vindas
em 1881, que fixaram residência nas localidades de Palmeira e Ponta Grossa.
Entretanto, as maiores levas foram as de 1895, 1896 e 1907, quando chegaram
cerca de 20 mil imigrantes aos portos de Paranaguá e Santos, sendo que a maioria
dos que vieram em 1895 seguiu para os arredores de Curitiba e os de 1896 e 1897
se dirigiram a Prudentópolis e Marechal Mallet (BORUSZENKO, 1995, p. 8 e 11).
Ao estudar a origem da imigração, propôs-se aos alunos, que em duplas,
produzissem textos e panfletos ilustrados e apresentassem pequenas dramatizações
simulando propagandas para convencer os ucranianos a imigrarem para o Brasil e
também produzissem narrativas sobre a influência e o poder da propaganda na vida
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das pessoas nos dias atuais. Com base nas questões estudadas até então,
realizaram uma pesquisa na família e comunidade interrogando sobre os motivos, as
vantagens, as desvantagens do grande número de migrações de pessoas que
ocorrem na atualidade, preferencialmente entre os descendentes de hoje4. A partir
do estudo da vinda dos imigrantes foi possível expandir os conceitos a respeito do
contexto histórico mundial em que vivia a humanidade no final do século XIX e início
do século XX.
Trabalhou-se com os alunos também questões geográficas utilizando-se de
mapas para situar a Ucrânia, o estado do Paraná e o município de Prudentópolis.
Percebeu-se que manifestaram grande curiosidade em ver onde fica a Ucrânia, sua
proporção territorial em relação a outros países e a distância entre Prudentópolis.
Três alunos manifestaram o sonho de após concluírem o Ensino Médio, continuar os
estudos na Ucrânia, assim como seus amigos Juliano, Alessandro e Oksana, que
passando suas férias no Brasil, visitaram o colégio onde estudaram, especialmente
foram convidados para a turma da implementação do projeto.
Para enriquecer e estimular o interesse pelo estudo da história local,
abordando a questão da memória e identidade, exibiu-se os filmes “Narradores de
Javé” e “Made in Ucrânia no Paraná”, sendo que para a realização destas
atividades, os alunos foram convidados em contraturno – mediante autorização dos
pais e usando o transporte escolar.
O filme “Narradores de Javé” é uma comédia com 100 minutos de duração,
sua estreia aconteceu em 2003. Tem como diretora Eliane Caffé, também roteirista,
juntamente com Luiz Alberto de Abreu e na produção Vânia Catani. O elenco conta
com José Dumont (como Antônio Biá), Gero Camilo (como Firmino), Nelson Dantas
(como Vicentino), Silvia Leblon (como Maria Dina) entre outros. Este filme não foi
produzido para fins pedagógicos, porém mostra com criatividade e humor
importantes elementos para reflexões sobre a questão do progresso, o valor da
memória e da identidade de um povoado e a relação entre oralidade e escrita.
4 Nesse sentido, vale lembrar que, segundo informações de Meroslawa Krevei, responsável pelo
“Museu do Milênio” em Prudentópolis, com a independência em 24 de agosto de 1991, a Ucrânia abre suas portas para o mundo mostrando, principalmente sua alta tecnologia. Explica Krevei que nos últimos anos, registra-se a vinda ao Brasil de muitos profissionais ucranianos que aqui trabalham em vários setores, em sua maioria, profissionais altamente qualificados, e destaca ainda que, atualmente um considerável número de profissionais ucranianos trabalham na construção da Empresa Binacional Ucraniana-Brasileira Cyclone Space, que constrói uma base de lançamento de foguetes no Estado do Maranhão.
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Segundo uma entrevista concedida pela diretora e roteirista Eliane Caffé, à Revista
Época (2004), a ideia e roteiro do filme surgiu após ela realizar três viagens ao
sertão nordestino e ter conhecido as histórias contadas pelos sertanejos e analisado
as diversas versões das narrativas dos moradores (CAFFÉ, 2004).
“Narradores de Javé” é um bom exemplo que registra o drama de um povoado
no sertão nordestino condenado a desaparecer devido a construção de uma
hidrelétrica no local. Seus moradores se unem e decidem escrever sua história e
assim mostrar que esse lugar é um patrimônio e precisa ser preservado. A partir do
filme, debateu-se a questão da memória e história, e a questão da preservação de
identidade de uma localidade analisando os aspectos da identidade cultural dos
moradores de Javé, que se identificam com a sua cultura e temendo perdê-la,
precisam, antes da destruição, salvar a sua memória e sua identidade cultural,
porque a tentativa de salvar a cidade demonstra a importância da tradição cultural
para os moradores de Javé. Discutiu-se também, com os educandos, o importante
papel da tradição oral, que ao longo do filme acontece por meio das diferentes
versões sobre a origem do povoado, as quais foram constantemente reinventadas e
transmitidas entre gerações.
“Made in Ucrânia: os ucranianos no Paraná” é um filme documentário com a
duração de 102 minutos produzido por Guto Pasko, natural do interior de
Prudentópolis e seu lançamento ocorreu em 2008. Numa entrevista publicada por
Jest nas Wielu no dia 30 de janeiro de 2008, o cineasta de descendência ucraniana
fala sobre a sua preocupação com o futuro da etnia, que segundo ele, nos últimos
20 anos se perdeu com a globalização. Comenta que a razão principal que o levou
produzir o documentário, foi justamente a preocupação com o futuro da comunidade
ucraniana no Brasil. Espera que o filme ajude a despertar nos jovens de
descendência ucraniana, o interesse em preservar tudo o que ainda existe aqui e
pretende assim, ajudar a resgatar o orgulho de ser “ucraniano”, porque tem muitos
jovens que têm vergonha das suas raízes.
O filme “Made in Ucrânia” é importante fonte histórica visto que aborda o
processo da imigração ucraniana no Estado do Paraná, desde a chegada dos
primeiros imigrantes há 120 anos até os dias atuais. O documentário com
significativa participação de pessoas da comunidade em estudo, mostra como foram
os convites e as propagandas enganosas para os imigrantes virem ao Brasil e como
15
mantiveram vivas as suas tradições, seus costumes, sua religiosidade, sua
identidade, influenciando e contribuindo na diversidade cultural paranaense. Os
educandos assistiram com muita curiosidade e atenção o filme em que o produtor
transformando a história dos imigrantes em documentário mostra através de
depoimentos, entrevistas e relatos espontâneos os primeiros anos de vida, a
adaptação à nova pátria, a conservação de suas tradições e costumes, fazendo um
paralelo com a Ucrânia atual, destacando a fidelidade dos imigrantes e de seus
descendentes em manter a identidade de suas origens. Ver a história de seus
antepassados em um filme que mostra todas as dificuldades de adaptação dos
imigrantes ucranianos no Brasil, que também evidencia as conquistas e realizações
desse povo, estimula o sentimento de pertença à identidade histórica e cultural ainda
preservada em Prudentópolis.
Levando-se em consideração as representações do filme documentário,
analisou-se a situação da Ucrânia e dos principais acontecimentos políticos que
marcaram a sua história. Abordou-se os motivos das três etapas da imigração
traçando um paralelo entre as comunidades ucranianas do Paraná com a história da
Ucrânia na atualidade. Pelo estudo pôde-se concluir que, um século depois, que o
panorama econômico e político da Ucrânia pouco mudou e os ciclos imigratórios
continuam. “Made in Ucrânia” é um retrato desse povo que, apesar das dificuldades
econômicas e dominação política, jamais deixou de sonhar e ter esperanças num
futuro próspero o que reforça a motivação para preservar a sua memória em
território brasileiro.
Marcos Napolitano ao tratar sobre filmes aborda que “[...] trabalhar com o
cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo
cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia
e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte”
(2003, p.11). Os depoimentos de pessoas da comunidade são valiosos e assim
conservados e valorizados na linguagem fílmica, os adolescentes podem
desenvolver um novo olhar sobre a sua ascendência refletindo que a história
também é deles e que é parte integrante dela.
Esta etapa da implementação foi muito significativa e percebeu-se grande
interesse dos alunos que solicitaram um rodízio do DVD para seus pais e avós
16
assistirem ao documentário. A história da imigração ucraniana proporcionada pelo
vídeo foi compartilhada também por pais e avós.
Ainda referente ao documentário, sugeriu-se aos alunos que elaborassem
textos envolvendo questionamentos sobre as cenas que mais lhes chamaram
atenção, cenas que ocorrem no dia a dia de suas famílias e comunidade, a
importância de se obter depoimentos pessoais tanto de pessoas do Brasil quanto da
Ucrânia. Também, no Laboratório de Informática, por iniciativa dos próprios alunos
desenvolveu-se uma pesquisa de como é produzido um filme documentário. Apesar
da Internet do colégio funcionar de forma muito precária, os alunos, em grupos,
conseguiram fazer descobertas interessantes.
Uma das marcas da colonização dos ucranianos em Prudentópolis está no
Museu do Milênio, organizado com a finalidade de resgatar e preservar a memória e
história dos imigrantes. Nele se encontra um relevante acervo de materiais
históricos, composto por objetos de uso tradicional, artesanato típico, documentos,
indumentária, fotografias e livros relacionados ao povo ucraniano.
Para enriquecer os assuntos abordados neste projeto viabilizou-se uma visita
ao museu – mediante autorização dos pais e utilizando-se do transporte escolar em
contraturno –, um excelente instrumento para amparar e referenciar a pesquisa
desenvolvida. Esta atividade de estudo provocou nos educandos vários
questionamentos e novas descobertas. Na oportunidade, enfatizou-se também que o
museu não é simplesmente um local onde se guardam coisas antigas. Foi relevante
abordar que a cultura presente nos museus é constituída por objetos e documentos
portadores de uma valiosa informação sobre a vida, a política, a religiosidade, os
costumes e crenças de várias pessoas de níveis culturais e econômicos diferentes,
identificadas ou anônimas, da localidade e do município. Após a visita, solicitaram-se
algumas atividades e questionamentos de como os objetos do museu podem ser
utilizados como documentos para aprender história e por que o museu é espaço de
memória. Percebeu-se pelos depoimentos dos alunos que manuseando documentos
e objetos antigos no museu compreenderam o valor dos vestígios de seus
antepassados e passaram a ter outra visão sobre a importância de continuar
preservando a memória e a identidade de um povo e que o saber do livro didático
não é a única fonte de conhecimento.
17
Durante a visita ao museu, alguns educandos reconheceram fotos de seus
bisavôs, outros se detiveram nas fotos das primeiras casas da cidade e alguns
ficaram muito interessados analisando os documentos muito antigos escritos em
ucraniano.
Ao término desta atividade notou-se que o objetivo foi atingido, pois os alunos
compreenderam que a História não é apenas o passado, ela faz parte do presente.
Pela observação e análise das peças do museu, eles perceberam que as pessoas
simples e anônimas também fazem parte da história, e que os objetos de museu são
riquíssimas fontes de informações, caracterizando as épocas históricas e
contribuindo para construir o saber. Ver documentários, entrevistar descendentes,
visualizar imagens, visitar museus é algo enriquecedor e oferece ao aluno subsídios
no resgate e fortalecimento de sua própria identidade com base em suas raízes.
Com resultado dos estudos anteriores, iniciou-se um breve levantamento sobre
a fundação do município de Prudentópolis. Segundo registros da Câmara Municipal,
a origem de Prudentópolis está relacionada com a história de Guarapuava – maior
município do Estado do Paraná por volta da metade do século XIX. Seu território,
que se estendia desde o rio dos Patos até os rios Iguaçu e Paraná, nas fronteiras da
Argentina e do Paraguai, compreendia também uma região que se encontrava
“desabitada” entre o rio dos Patos e a Serra da Esperança. Foi nessa localidade que
teve início, em 1882, o projeto de abertura da estrada da linha telegráfica, prevendo-
se assim, a possibilidade de uma ótima valorização das terras, até então
denominadas de São João.
Ainda consta que no ano de 1884, o pároco de Guarapuava convence Firmo
de Queiroz, que possuía propriedades na região, a construir uma capela, que foi
consagrada a São João Batista. Queiroz doou algumas terras e, assim, um pequeno
povoamento começou a surgir, recebendo o nome de São João de Capanema, uma
homenagem ao Barão de Capanema. Em 1894, o Governo Federal prossegue com
o processo de colonização da localidade, que mais tarde passou a chamar-se de
Prudentópolis em homenagem ao então presidente da República, Prudente de
Morais (Câmara Municipal de Prudentópolis).
Ana Hotz em seu livro “Prudentópolis, sua terra e sua gente” explica que já em
1895 o aspecto de Prudentópolis era de uma povoação próspera e movimentada
18
pela contínua chegada de famílias polonesas e ucranianas, que seriam localizadas
nas longas linhas abertas ao norte e a oeste da sede (1972, pp.23-24).
Nessa época chega ao Brasil a primeira leva de colonos imigrantes
ucranianos, os quais manifestaram ao Governo Federal o desejo de se estabelecer
nas terras do Paraná. Encontram-se registros de que no dia 16 de abril de 1896, às
duas horas da tarde, chegaram à localidade as carroças trazendo as primeiras levas
de imigrantes ucranianos e poloneses, encaminhados para a vila pelo serviço
imigratório do Paraná (O Município de Prudentópolis, 1929, p. 14).
Ainda em sua narrativa, Hotz descreve que entre os anos 1901 a 1907,
Prudentópolis recebeu uma leva de imigrantes, composta de 250 famílias que
inicialmente instalaram-se em barracas provisórias e em seguida, foram
encaminhados para seus lotes de terra doados pelo governo. Vieram desprovidos de
recursos, e já ao desembarcar sentiram as primeiras privações. A assistência do
governo limitava-se apenas ao pagamento de transportes marítimos e terrestres até
o destino definitivo além de pequena ajuda financeira nos primeiros dias. A realidade
encontrada não correspondia ao discurso das empresas colonizadoras.
Os representantes do governo promoviam o loteamento da vila de
Prudentópolis traçando longas linhas, que recebiam nomes de personagens
brasileiros, como Visconde de Guarapuava, Eduardo Chaves, ou nomes dos meses
do ano, como Linha Dezembro, Linha Abril, Linha Setembro. Ao longo dessas linhas
formavam-se chácaras confiadas aos imigrantes ucranianos para o desbravamento
e plantio (HOTZ, 1972, pp.24 e 57).
Pe. Tarcísio Zaluski, em seu artigo “Василіяни й місія друкованого слова в
Бразилії”5, aborda que sem condições de retornar para seu país de origem e com
hábitos, idioma, religiosidade e costumes diferentes, os primeiros imigrantes
necessitavam ter notícias sobre sua terra natal. Assim, em 1904, surgem as
primeiras iniciativas para a criação de uma imprensa em Prudentópolis, com a
finalidade de difundir assuntos de caráter religioso, cultural e político para satisfazer
o desejo dos imigrantes ucranianos. (ЮВІЛЕЙНИЙ АЛЬМАНАХ6, 1999, p.117-122).
Somente em 1912 nasce em Prudentópolis, o jornal Prácia (Праця) no idioma
exclusivamente ucraniano, editado semanalmente e que circula até hoje.
5 Traduzido: “Os Basilianos e a missão da imprensa no Brasil”
6 Traduzido: “Almanaque Jubilar”.
19
Segundo Pe. Tarcísio Zaluski - atual redator do Prácia - durante a Segunda
Guerra Mundial, por um decreto federal de Getúlio Vargas, o qual também proibiu
idiomas diferentes em meios de comunicação, para evitar situações indesejadas ao
governo brasileiro que poderia trazer, o Jornal Prácia foi interrompido por um
período de 7 anos. A partir de 1995 o Prácia é belingue com sedição quinzenal num
total de 1100 exemplares distribuídos para assinantes das comunidades ucranianas
do Brasil, Canadá, Estados Unidos e Ucrânia.
De acordo com informações do Jornal Prácia (Праця, 1913: n.10) em agosto
de 1913, foi afixado, em lugares públicos da vila de Prudentópolis, um edital
anunciando a desapropriação e venda das chácaras dos proprietários que não
haviam quitado seus débitos com a receita. Isso obrigou os colonos a pagar
impostos e explorar seus terrenos sendo que muitas famílias construíram suas
moradas nas suas chácaras formando assim, pequenos povoados, chamados
colônias como Nova Galícia, Cândido de Abreu, Esperança, Piquiri e outras.
As comunidades ucranianas que se instalaram no Paraná e se formaram
durante o período de imigração trouxeram consigo fortes laços de religiosidade e o
desejo de preservar seus costumes, seus valores morais е tradições – sua
identidade. Apesar do grande impacto cultural que tiveram que superar ao trocar sua
nacionalidade, conseguiram ultrapassar as dificuldades, sendo que o fator
determinante para esta superação e preservação está fortemente ligado à prática da
religião católica que se reflete na arquitetura das igrejas e no dia a dia dos
moradores de Prudentópolis.
Paulo Renato Guérios em seu artigo “As condições sociais de produção das
lembranças entre imigrantes ucranianos”, explica a questão dessa religiosidade,
afirmando que:
Quando um visitante chega a Prudentópolis, a presença de elementos étnicos ucranianos é imediatamente perceptível. Após passar sob o portal ornado de cúpulas bizantinas, instalado no principal acesso à sede da cidade em comemoração ao centenário da imigração ucraniana em 1995, os dois maiores edifícios que ocupam seu campo de visão são o Seminário São José e, logo atrás dele, a portentosa Igreja Matriz de São Josafat, de rito católico oriental. [...] Caso esse visitante se dirija a alguma das 32 colônias (chamadas de "linhas") que circundam a sede da cidade, ele perceberá que também nelas a maior construção é uma igreja ou capela com as mesmas cúpulas bizantinas (GUÉRIOS, 2008, p.72).
20
De fato, levar o aluno a conhecer o contexto histórico da vinda dos imigrantes
para o Brasil e refletir sobre o que significa deixar os entes queridos, sua terra natal
e um conjunto de representações de um mundo já construído e solidificado é muito
significativo para desenvolver nos educandos a consciência de pertença à etnia.
Os ucranianos ao imigrarem para o Brasil preservaram a sua cultura e assim
identificam-se e ao mesmo tempo diferenciam-se dos outros grupos. Esses
elementos sustentados ao longo dos 120 anos onde persistem as práticas que
através da memória foram transmitidas de geração a geração servem de lembrança
da etnia para a preservação da identidade no presente. Partindo do princípio de que
só se respeita e valoriza o que se conhece, acredita-se que trazendo aspectos da
cultura local para a sala de aula é possível fazer com que os alunos aprendam a
respeitar a cultura da qual fazem parte, mas só farão isto se a conhecerem, daí a
necessidade do estudo da história local.
Um povo que cultiva as suas tradições é indestrutível porque mantém viva a
chama da própria identidade. Os ucranianos, portadores de características culturais
peculiares foram transmitindo-as para as gerações vindouras e enriquecendo a
diversidade cultural brasileira. Dentre os muitos costumes e tradições cultivados em
Prudentópolis, destacamos:
Pêssankas – Símbolo que mais identifica a cultura ucraniana. No período que
antecede as comemorações pascais, há uma tradição muito especial para os
ucranianos - a arte de pintar ovos - prática que envolve símbolos, fé e misticismo,
proporcionando-lhes características de um belíssimo e delicado presente.
Os ucranianos preservaram essa arte através de seus antepassados e
atualmente, as pessoas queridas são presenteadas com pêssankas, como sinal de
amor, admiração e desejos de boa sorte, longevidade e proteção. Os símbolos e as
cores utilizados têm profundo significado, pois o ovo por si constitui-se no símbolo
da vida. A partir de 1990, as pêssankas passaram a tornar-se um símbolo do
renascimento da Ucrânia, agora livre e independente.
21
Pêssanka - Fonte: Arquivo pessoal da autora
Danças folclóricas – A dança popular é uma das mais antigas expressões da
cultura de um povo, e se origina geralmente nas manifestações do antigo culto
religioso, em particular do ligado às mudanças da natureza. As danças ucranianas,
segundo Boruszenko, caracterizam-se pelo seu ritmo vibrante, de coragem e
confiança, e pela exuberante alegria (BORUSZENKO,1995, p. 33). A arte folclórica
ucraniana, pela antiguidade, multiplicidade de formas e alto nível artístico, mantém
intacta a originalidade e seu caráter unitário, ocupando lugar de destaque no cenário
artístico europeu.
Dança ucraniana do grupo Vesselka - Fonte: Arquivo do Grupo “Vesselka”
22
Bordados – O bordado ucraniano chegou ao Brasil com os primeiros
imigrantes, sendo atualmente um dos mais estimados e expressivos componentes
da cultura ucraniana em Prudentópolis e no Paraná. Seus motivos ornamentais
possuem uma rica simbologia e as cores também carregam um significado e uma
força mágica, na concepção dos mais antigos. É representado, sobretudo, por
motivos geométricos que conservam características bizantinas, cada qual com as
sutilezas das diferentes regiões da Ucrânia. Em Prudentópolis cultiva-se muito o
bordado como forma de preservação das tradições, pelo gosto e prazer de bordar e
também é uma fonte de renda para as famílias. Os bordados ucranianos são usados
como ornamento das casas, nas igrejas, em trajes típicos, em eventos e
apresentações folclóricas ucranianas. São predominantemente nas cores vermelha
e preta, ligeiramente pontilhados de azul, verde e amarelo.
Bordados ucranianos – Fonte: Arquivo pessoal da autora
A partir deste embasamento, que sintetiza a cultura ucraniana em
Prudentópolis, sugeriu-se aos alunos que produzissem uma narrativa individual
expondo a suas ideias sobre a importância de preservar os conhecimentos, os
costumes, o artesanato, as crenças, as músicas, as danças, os rituais religiosos que
seus pais ou pessoas com quem convivem lhes ensinaram. Além disso, solicitou-se
que listassem os costumes da etnia ucraniana ainda praticados em sua família e na
comunidade.
23
Para finalizar a implementação do Projeto de Intervenção realizou-se um
estudo específico sobre a localidade de Linha Esperança, onde está inserida a
escola e sobre a criação do Colégio Padre José Orestes Preima. Os alunos
utilizaram-se dos cadernos pedagógicos que receberam no início do estudo.
Não há notícias evidentes sobre os pioneiros da localidade de Linha
Esperança, distante a 14 Km da cidade, e quais as primeiras famílias de imigrantes
a se estabelecer ali. Consta no “Livro dos membros do Apostolado de Oração da
Paróquia São Josafat” (Книга Членів Апостольства Молитви Парафії Св.
Йосафата) da cidade de Prudentópolis que, no ano de 1899, ao longo das linhas,
surgiu uma pequena povoação chamada Esperança. Encontram-se registrados os
nomes de Tymko Dyliowskyj, Antonio Pankevycz, João Sliozowskij, Voitko Mormulh
e Miguel Zubek, como as primeiras famílias ucranianas que ocuparam a localidade.
(1899, p. 10).
Devido a sua localização central no entorno de outros povoados, Linha
Esperança logo se tornou um pequeno centro do interior, conquistando certa
importância e a ela deu-se mais destaque especialmente na organização religiosa.
Ali se estabeleceram padres e irmãs missionárias, que chegaram dois anos depois
do início da imigração e se tornaram os principais agentes na preservação do rito, do
idioma, dos costumes, das tradições e da cultura ucraniana. Merece destaque na
liderança as irmãs Servas da Imaculada Virgem Maria que se estabelecerem no
local em 1922.
Segundo o Jornal Prácia (Праця, 1936, n0 25) ao lado da vida religiosa, houve
na história de Linha Esperança, uma preocupação pelo ensino das crianças e
tentativas de organização no campo social. Nos primeiros anos da colonização, o
povo não estava preparado para ganhar a vida com o trabalho no sertão, porém com
o estímulo dos sacerdotes que pregavam a obrigatoriedade do trabalho, os
imigrantes aprenderam a desbravar matas, plantar nas queimadas e ganhar a vida.
O “Livro de Crônicas das Irmãs Servas de Maria Imaculada de Linha
Esperança” (Хроніка Сестер Служебниць на Ліня Есперансі, 1927, p. 10), registra
que junto à primeira igreja concluída em 1906, foi construída uma pequena escola
onde lecionaram várias pessoas, sempre no idioma português, ucraniano e também
em polonês.
24
Ainda relatam as crônicas que no ano de 1949, a comunidade começou a ser
assistida pelo padre José Orestes Preima que apesar de sentir as dificuldades
financeiras devido a construção da igreja, no ano de 1953, junto com a comunidade
aceitou o desafio de construir a escola e residência das Irmãs até 1967 quando foi
inaugurada a Escola Rural Municipal de Linha Esperança (LIVRO DE CRÔNICAS
DAS IRMÃS, 1967, p. 22).
Consta em livros de Atas do atual colégio Pe. José Orestes Preima, que no dia
28 de maio de 1987, reuniu-se o corpo docente junto com os pais para tratar da
reivindicação da implantação das séries terminais do Ensino de 1º grau (5ª a 8ª
série). As Irmãs Servas de Maria Imaculada prontificaram-se a doar o terreno de
48m x 33m, para a construção da nova escola. A documentação do terreno foi
entregue pelas irmãs no dia 16 de setembro de 1987.
Em 1989, o prédio da escola, com 6 salas de aula, estava concluído. Para o
início do ano de 1990, pela resolução nº 3.266/89, a Secretaria de Estado da
Educação autorizou a criação e funcionamento da escola. Por sugestão da
comunidade, a unidade escolar recebeu o nome de Escola Estadual Pe. José
Orestes Preima - Ensino 1º Grau (Livro de Atas do Colégio Pe. José Orestes Preima,
1990). Como o número de alunos foi anualmente aumentando, aconteceram
algumas ampliações emergenciais para abrigar cerca de 700 alunos. Atualmente
está em andamento a construção da tão sonhada nova escola com 14 salas.
Após o estudo e análise do histórico da localidade e do Colégio, foram
propostas aos alunos algumas questões para serem discutidas em grupos: o Colégio
Padre José Orestes Preima é um local onde se percebe o respeito pelas tradições?
Este Colégio configura-se como local de referência à comunidade de Linha
Esperança? Por quê? Existem algumas formas de expressão cultural que constituem
o patrimônio vivo de sua localidade? Uma das últimas atividades foi a realização de
uma pesquisa entre os alunos do colégio objetivando fazer um levantamento da
porcentagem de estudantes descendentes da etnia ucraniana que dominam o
idioma, que preservam os costumes e tradições e de pessoas que dominam a leitura
e escrita ucraniana. Os alunos, em duplas sentiram-se muito valorizados ao
visitarem outras turmas dos três períodos para a entrevista. Pelo resultado da
pesquisa, abaixo representado em forma de gráfico, conclui-se que o idioma
25
ucraniano ainda está bastante presente entre os educandos que frequentam o
Colégio Pe. José Orestes Preima em L. Esperança.
Quanto aos costumes e tradições percebe-se que a culinária ucraniana é
usada pela maioria dos descendentes de ucranianos e também por outros grupos
que a incorporaram no seu cardápio. As hailkas – coreografias com cantigas na
língua ucraniana, realizadas nos pátios das igrejas do rito ucraniano – acontecem no
domingo de Páscoa para demonstrar a alegria da Ressurreição de Cristo. Delas
participam jovens, crianças e adolescentes. A pesquisa comprovou que as hailkas
são praticadas com intensidade nas localidades do interior de Prudentópolis.
563 475 56 32 0
100
200
300
400
500
600
Total de alunosentrevistados
Falam o idiomaucraniano
Somenteentendem
Não falam
Demonstrativo relacionado ao idioma ucraniano
563 545 523 362 240 548
Total dealunos
entrevistados
Ceia natalina Gastronomia Pêssankas Bordados Hailke
Cultivam os costumes e tradições ucranianas
26
O estudo sobre a comunidade de Linha Esperança despertou o interesse e a
curiosidade dos alunos por tratar de assuntos ligados a sua vida. A pesquisa de sua
própria história, a entrevista, os filmes, a visita ao museu foram fontes históricas
relevantes para a busca da identidade histórica. É conhecendo o contexto histórico
universal, transpondo para o local, que o aluno passa a ter um apanhado geral de
sua história e a respeitar e valorizar, não somente a identidade de seus
descendentes, mas a sua própria identidade.
3. Considerações finais
Como afirmado no início, as ideias apresentadas neste artigo são resultado de
um projeto realizado com alunos de 1ª. série do Ensino Médio no Colégio Pe. José
Orestes Preima, em Linha Esperança, município de Prudentópolis no ano de 2011.
O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) implementado pelo
governo do Estado do Paraná, que possibilita o afastamento do professor da sala de
aula, oportunizando-o a participar de cursos, desenvolver pesquisas e reflexões
junto às Instituições de Ensino Superior, dá a possibilidade de buscar melhores
bases teóricas e metodológicas para o seu desempenho em sala de aula.
Oportuniza também a valorização do trabalho do professor que, muitas vezes no seu
cotidiano, acredita que suas iniciativas, seus métodos, seus projetos não sejam
dignos de registro e não mereçam atenção de outros professores e pesquisadores.
A partir da necessidade de construir significados para a história local e fazer
com que a comunidade escolar de Linha Esperança compreenda e valorize sua
identidade e descendência étnica é que foi elaborado e implementado o projeto
“História local e identidades: Cultura e tradições ucranianas em Prudentópolis”. O
estudo foi fundamentado teoricamente, porém não se restringindo a leitura de textos
o que possibilitou aos educandos fazer uma relação entre a teoria e a prática, o
passado e o presente. Com as análises e discussões desenvolvidas, abriu-se
espaço para uma compreensão mais ampla sobre a imigração ucraniana e a história
local valorizando a contribuição das pessoas da comunidade e a herança cultural.
Durante a implementação do projeto percebeu-se, pelo interesse e
envolvimento dos alunos, que estes passaram a compreender a importância da
27
preservação e valorização das memórias dos antepassados. Utilizando-se de novas
formas de abordagem do conhecimento abrem-se as possibilidades de obtermos
melhores resultados e qualidade de ensino em nossas escolas. O estudo sobre o
processo de colonização de Prudentópolis contribuiu para que a comunidade escolar
conhecesse sua própria história e suas origens, aumentando sua autoestima e
proporcionando a construção da consciência histórica.
4. Referências
Fontes primárias Crônicas das Irmãs Servas de Maria Imaculada de Linha Esperança, 1927. Crônicas das Irmãs Servas de Maria Imaculada de Linha Esperança, 1967. Crônicas das Irmãs Servas de Maria Imaculada de Linha Esperança, 1998. JORNAL PRACIA (ПРАЦЯ), número 10, Prudentópolis: Gráfica Prudentópolis, 1913. JORNAL PRACIA (ПРАЦЯ), número 25, Prudentópolis: Gráfica Prudentópolis, 1936. Livro dos Membros do Apostolado da Oração da Paróquia São Josafat, 1899. Livro de Atas do Colégio Pe. José Orestes Preima – 1990. O Município de Prudentópolis. Ed. Oliveiro, Curitiba, 1929. Fontes orais
KREVEI, Meroslawa. Entrevista concedida a Nadia Muzeka no dia 15 de junho de 2012 no Museu do Milênio, em Prudentópolis. Arquivo pessoal. ZALUSKI, Tarcísio. Entrevista concedida a Nadia Muzeka no dia 13 de junho de 2012 na Tipografia Prudentópolis, em Prudentópolis. Arquivo pessoal. PASKO, Guto. Entrevista em 30 de janeiro de 2008. Disponível em: http://ucrania-mozambique.blogspot.com.br/2008/01/guto-pasko-paixo-pela-ucrnia.html. Acesso em: 14 de junho de 2012. Referências bibliográficas
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Filmes utilizados
CAFFÉ, Eliane (dir.) Narradores de Javé. Filme. Duração 100 mim. 2003. PASKO, Guto (dir.). Made in Ucrânia: ucranianos no Paraná. Filme Documentário. 102 mim. 2008.
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