igreja do terço 12-04-2013

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Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço 1713-2013 – 300 anos de história

A Igreja das Freiras: a história de uma igreja na história de Barcelos

12-04-2013 Joaquim Vinhas

Frontispício da Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço: uma fachada lateral, própria dos mosteiros femininos.

A Confraria de Nossa Senhora do Terço (1816-2013) administra a Igreja das

Freiras, desde 1846.

O mosteiro beneditino e a sua igreja, fronteiros ao Campo da Feira que lhe fica a sul e ao antigo Campo de Touros, a oeste, definiram a moderna malha urbana extramuros da vila: comunicava visualmente com o Convento de S. Francisco (Misericórdia) e a Igreja dos Terceiros, com o Templo do Senhor da Cruz e, a partir de 1780, com o Passeio dos Assentos; pelo poente-norte, avistava o Recolhimento do Menino Deus…

Frontaria do mosteiro, voltada para o Campo de Touros, século XIX

Frontaria da Igreja das Freiras, ao fundo… e chafariz do séc. XVII, de João Lopes de Guimarães, no Campo da Feira.

Breve cronologia

• 1550 - fundação do Mosteiro de S. Bento – Monção • 1545-1563 - realização do Concílio de Trento • 1640 - recuperação da Independência de Portugal • 1640-1668 – Guerra da Restauração • 1657 – beneditinas e franciscanas de Monção vêm para Braga – 1.ª transferência • 1659 – 2.ª transferência motivada pela guerra • 1703 - assinatura do Tratado de Methuen • 1704 – 3.ª transferência: 85 beneditinas de Monção abrigam-se no Seminário de S. Pedro, Braga: - D. João V, rei/imperador a partir de Janeiro de 1707 reafirma a promessa de D. Pedro II que autorizava a construção de um novo

mosteiro na província do Minho. - várias Câmaras Municipais candidatam-se… - D. Rodrigo de Moura Teles é arcebispo de Braga (1704-1728) - C.M.B. lança um imposto sobre sisas destinado à angariação de fundos... - organiza-se um cortejo de oferendas que rende 12.000 cruzados... - uma família barcelense radicada em Coimbra terá oferecido o terreno.

São Bento de Núrsia, 480 – c. 543, viveu no período que se seguiu à queda do Império Romano do Ocidente (476).

S. Bento foi proclamado padroeiro da Europa, pelo papa Paulo VI, em 1964.

Grande dinamismo na arquidiocese - publica pastorais para reformar o clero e as igrejas - desenvolve um importante mecenato artístico em Braga e no arcebispado

OBRAS EM BARCELOS

• 1705-1710 – Templo do Senhor Bom Jesus da Cruz de Barcelos • 1707-1720 – Santuário de N. Sr.ª Aparecida de Balugães • 1707-1713 – Igreja e Real Mosteiro de S. Bento de Barcelos - 14 de Agosto de 1707 – Lançamento da primeira pedra - 11 de Julho de 1713 – Inauguração da igreja e do mosteiro

D. Rodrigo de Moura Teles (1644-1728) • Reitor da U. de Coimbra • Bispo da Guarda • Arcebispo de Braga (1704-1728)

1705-1710 – Templo do Senhor Bom Jesus da Cruz de Barcelos 1707-1720 – Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Balugães 1707-1713 – Igreja e Real Mosteiro de S. Bento de Barcelos

Inscrição em latim na capela-mor, alusiva à inauguração do mosteiro dedicado a S. Bento

• A portada da igreja apresenta um rigor arquitetónico e escultórico, fazendo adivinhar um interior majestoso… Conjuga sobriedade arquitetónica com labor escultórico de feição barroca. • A cruz lá no alto, a imagem de Nossa Senhora da Conceição abrigada num frontão ondulante, as armas reais e as tarjas epigráficas evocativas do rei/imperador D. João V e do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, são elementos escultóricos de elevado significado histórico, cultural e artístico.

D. João V, no cumprimento da decisão de D. Pedro

II, mandou consagrar este mosteiro de monjas a S.

Bento, para memória eterna

D. Rodrigo de Moura Teles, Arcebispo de Braga,

primaz das Espanhas, lançou a primeira pedra

deste edifício, a 14 de Agosto de 1707

8 de julho de 1713: D. Rodrigo de Moura Teles “encerra” as freiras beneditinas de Monção no moderno mosteiro barcelense

A Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço

Valor histórico, patrimonial e artístico… um ex-libris da cidade

• Classificada Imóvel de Interesse Público (I.I.P.), em janeiro de 1967.

• Integra a identidade de Barcelos e dos barcelenses: pela sua história

e pelo seu enquadramento urbanístico.

• Apresenta ao visitante um espaço devocional, cultural e artístico de

inegável valia: a azulejaria azul e branca que forra as paredes de alto a

baixo; a talha dourada e policromada (3 altares, o púlpito de dossel, 4

molduras de pinturas); as 4 telas e os caixotões dos tetos da nave e da

capela-mor, pintura a óleo sobre madeira; a imaginária/escultura de

madeira e pedra ançã, policromadas… Tudo de elevada qualidade

técnica e artística.

A Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço: o triunfo do barroco numa obra de arte total.

• Capela-mor e seu retábulo • Abóbada em caixotões, pintados a óleo sobre madeira – com temas como a Sagrada Família, Santa Escolástica , Santa Gertrudes e outros temas ligados a S. Bento • Cristo Crucificado • Pormenor da imagem de Santa Escolástica • Várias imagens reforçam a poética artística da capela-mor

Pormenor do camarim, junto ao Trono Eucarístico

• Santa Luzia – imagem policromada do século XVII, recorda-nos a fusão das confrarias… na Confraria de Nossa Senhora do Terço, em 1844. • Nossa Senhora da Conceição – imagem estofada onde predomina o ouro, datável dos inícios do século XVIII.

• Capela de Santiago: demolida nos inícios do séc. XX. Localizada no Largo da Porta Nova, voltada para a antiga cadeia (atual Torre da Porta Nova), esta capela tinha “um oratório envidraçado com a imagem de Nossa Senhora da Abadia”. •Esta imagem terá vindo da antiga Porta de Cima de Vila.

Nossa Senhora da Abadia – trata-se de uma bela imagem feita em pedra de Ançã (Cantanhede), devendo datar do século XV ou XVI.

Atente-se na beleza iconográfica e artística do sacrário do altar-mor: o Agnus Dei apresenta-se sobre o livro dos sete selos; dois anjos coroam o Senhor em Ascensão – tudo o resto são elementos vegetalistas.

• O púlpito de dossel, atribuído consensualmente a Gabriel Rodrigues Alvares, está entre as melhores obras da arte da talha, dourada e policromada, do estilo barroco da segunda década do século XVIII. • Em 1722, Agostinho Barbosa de Carvalho, Francisco Pinto e Francisco Alves da Costa, assinam o contrato para o douramento dos altares, do púlpito e das molduras das telas das paredes da igreja. • As paredes da nave única e da capela-mor foram forradas a azulejo azul e branco pela conceituada oficina lisboeta de António Oliveira Bernardes e seus colaboradores, entre os quais surge P.M.P.

Santa Gertrudes

Santa Escolástica

O Arcanjo convoca vivos e defuntos para o Juízo

Final

A Sagrada Família regressa do Egito

Quem pintou os tetos da igreja?

Pinturas de Manuel Furtado de Mendonça, mestre pintor do Porto (ativo em 1722-1738)

1722 – teto da capela do Recolhimento de St.ª Maria Madalena ou das Convertidas de Braga. 1724 – teto do salão nobre do Palácio dos Biscainhos, óleo sobre madeira (atribuição). 1726 – teto da capela do antigo convento do Salvador, Braga – teto em caixotões da Santíssima Trindade com S. Bento e St.ª Escolástica (atribuição) (…) 1728 – contrato para a pintura dos caixotões do coro alto, do coro baixo e da sacristia, da igreja de S. Bento de Barcelos. -Antes desta data pode ter sido contratado para a realização das pinturas da nave e da capela-mor? 1737-1738 – os órgãos e o fresco dos Esponsais da Virgem, no coro alto da Sé de Braga. séc. XVIII – teto do subcoro da Sé de Braga, com a Glória de S. Pedro de Rates, óleo sobre madeira…

Teto da igreja do antigo Convento do Salvador (atual Lar Conde de Agrolongo), pintado por Manuel Furtado de Mendonça, pintor do Porto

Contrato para a pintura do coro alto, do coro baixo e da sacristia

“Saibão quantos este publico instromento de conttratto e obrigassão ou como em direito milhor haja lugar virem que no anno do nassimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e sette centtos e vintte oitto annos aos dezanove dias do mes de Juilho do ditto anno nesta villa de Barsellos e cazas da morada de mim tabalião ahi na minha prezensa e das testemunhas ao diantte nomeadas e assegnadas aparesserão prezentes e outtorgantes a saber de huma parte o reverendo abade Andre Vellozo capellão e procurador bastantte da madre abbadeça e mais rellegiozas do conbentto de São Bento das freiras desta villa […]e da outtra apareseo Manuel Furtado de Mendonsa pinttor natural da cidade do Potto e assistentte nesta ditta villa […] por elle dito reverendo padre Andre Vellozo foi dito que a dita madre abbadeça e mais rellegiozas do dito conventto estavão contrattadas de mandarem pinttar o coro de sima e de baixo e sanchrestia com o dito Manuel Furtado na maneira seguintte do coro de sima seria bem emgessado e branquiado nos quarentta paineis e nelle se pintarião passaros e flores semeadas e os rompanttes como tartaruga tudo com colla de retalho e as tres linhas de ferro como as da igreja com seu ouro, e os florois de madeira cor de ouro, e do forro athe as cadeiras de huma e outtra parte nas paredes fingirlhe zollejos de pairo azuis e os remattes das cadeiras e guarnisois dellas de cor caramezim e o mais de pretto e seus chorois de figurinhas cor de ouro ao leo bem lustrozo e o coro de baixo na mesma forma assim tetto como cadeiras e o orgão grande do coro de sima feitto de xarão caramezim com galantarias de ouro e pratta e outtras cores e o tetto da sanchrestia a cantossão dos ditos coros e os caixois della de tartarugas fingidas e de madeira do Brasil e pao pretto e as pedrarias das frestas e labattorios e porttas tudo ao leo de gaspes e marmures (sic) fengidos”

Pormenores dos painéis azulejares da capela-mor, assinados por P.M.P., que deve ter trabalhado em parceria com António de Oliveira Bernardes, destacado ceramista da cidade de Lisboa.

S. Bento apresenta a Regra onde redigiu a sua doutrina e os princípios fundamentais da sua Ordem Monástica, entre os quais

os votos de obediência, pobreza e castidade.

Monges e monjas aceitam em êxtase a Regra de S. Bento

A refeição monacal

Vinte emblemas moralizantes, no plano inferior das paredes da nave,

ensinam os princípios da doutrina beneditina.

Conclusão

A Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço tem um lugar de relevo na memória histórica, religiosa, artística e cultural dos barcelenses e de todos quantos a visitam… atentamente. Cabe às autoridades civis e religiosas, aos barcelenses, a todos nós: defender, preservar e divulgar aquela que é, sem dúvida, um dos mais belos exemplares do património nacional. Parabéns à Confraria de Nossa Senhora do Terço pelo trabalho meritório que tem vindo a desenvolver nesse sentido. Bem haja! Saibamos merecer a Igreja Beneditina de Nossa Senhora do Terço.

Muito obrigado!

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