josé de souza martins - tio patinhas no centro do universo - in -o modo capitalista de pensar
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7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar
1/9
a
explicitar algumas
da s
idias
al i
contidas. Jos
Jeremias de Oliveira Filho no me tem faltado com
a sua
palavra amiga
de
es tmulo, mesmo q uando
se
trata de
t rabalhos menores , como
os que
re no
aqui , palavra que sobremodo valorizo porque di ta
em mome nt os de grande desnimo.O mesmo posso
dizer
de
Jos Csar
A.
Gnaccar ini
e de
Braz Jos
de
Ara j o .
Aos
professores
e
alunos
do
curso
de
ps-graduao em
Sociologia Rural
da
Universi-
dade
de
Braslia
sou
agradecido p elos com entrios,
crticas e sugestes que fizeram ao texto aqui
in -
cludo como ltimo captulo. Heloisa Helena Tei-
xeira
de
Souza Mart ins, minha lei tora predileta,
le u
e comentou cri t icamente estes t rabalhos, aju-
dando-me
a
enxerg-los
de um
modo mais objet i-
vo. Finalmente, sou agradecido aos
rneus
alunos
de todos estes anos que, com suas indagaes, aju-
daram-me a
definir
e situar pontos de vista aqui
contidos.
JOS D E S O U Z A M A R T I N S
l de novembro de 1977
X
l TioPatinhasno centro do universo
Bem,
que no
nosso
pas", disse
Alice,
ainda um pouco ofegante, "o
mais certo
seria
chegar
a
outro lugar
depois
de
correr
tanto
como n s fizem os .
U m
pas muito
lento ", re torquiu a
R a inha .
"No, aqui, como vs, preciso correr o m a i s
que se
pode para ficar
no
m es m olugar.
Se
quise -
re s
ir
para outro lugar
tensde correr, pelo menos ,
duas vezes mais depressa "
(L e wis Carroll, Alice do outro lado do
espelho
)
A
grande esperana de cada
um dos
m e m b r o s
dessa incrvel
faml ia depatos
trajados
de
gente
a de que o
c a m i n h o
que os
leva educativamente
de
coloridas
folhas de
papel
ao s
nossos olhos
e
nossa
mente seja um
c ami nho
se m
retorno.
Aloja-
dos na
nossa inteligncia, esperam demarcar
a a
posse ilcita do terreno em que pretendem vegetar
na cont inuidade do imobi l i smo em que foram
ge-
rados
e que consti tui a
razo
de ser de sua
exis t n-
cia. Nada
de voltar s
origens enriquecidos pela
crtica vital
de seus hospedeiros para, ao
menos,.
( * )
Publicado originalmente e m
Cincia e
Cultura,
vo-
l um e
27,
n m e r o
9,
Sociedade Brasileira
para o Progresso
da Cincia, Setembro de 1975, pp. 943-948. Reproduzido
no
Caderno de Sbado (suplemento
literrio do
Correio
do Povo ,
Porto
Alegre ,
4 de
setembro
de
1976,
pp.
8-9.
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7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar
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comprometerem-se com a vida do m u n d o que os
produz.
Seu
modo
de ser
impe que,
nesse
plano,
um
par de
aspas seja,
por
prudncia, colocado
nos
extremos da palavra educativamente . que a
existncia autori tria dos personagens con dio da
ditadura
do s quadrinhos. A reflexo crtica consti-
tu i
inequvoca manifestao subversiva, pois de -
mocratiza
a
educao, t ransformando
o
hospedeiro-
-objeto de coisa passiva em pessoa. Nesse pequeno
mundo fantasioso
no
apenas cada personagem
um a
coisa contemplada,
mas o
prprio leitor
coisa, repositrio passivo qu e nele se integra para
abrigar sem reflexo cada membro da sociedade
centrada nessa famlia.
Neste trabalho registro uma leitura sociolgica
das histrias cujos personagens so os habitantes
de Patpolis, figuras criadas
pela
empresa de Wal t
Disney. Procuro descrever
as
relaes sociais
que
vinculam os vrios personagens e, atravs do seu
contedo, m ostrar que elas hierar quiz am os pato-
politanos por
meio
de uma
escala implcita
de va-
lores fundada na figura do capitalista clssico. Essa
escala de valores que se pretende educativa, por
meio
da definio do gosto do lei tor, procurando
incutir
nele
as
noes morais
de
bom, ridculo,
de -
l inqente
e louco, entre outras. Tal lei tura seria
impossvel sem a constatao preliminar de que
cada
personagem
,
antes
de
tudo, mercadoria,
qu e
se vende e se compra . D a resulta o imobilismo
que explica os vrios tipos e a posio passiva do
leitor educando . Torna-se possvel, desse modo,
a leitura sociolgica da s historietas, uma vez que
a
substncia
da s
relaes sociais
no
est primeiro
nos
vnculos entre
os
personagens,
mas sim na re-
lao
da
empresa
que
produz
e
vende
a
histria
e oconsumidor que a compra. A historieta sistema-
tiza
o
universo simblico
que
suporta
e
explica
a
relao entre produtor-vendedor e o comprador de
histria em quadrinhos, projetando-o, no entanto,
para todas
as
outras relaes,
como
se
substanti-
vamente fossem um a nica relao e, em decorrn-
cia,
os
personagens
se
reduzissem
a um
Tio
Patinhas, alm
da s
suas excentricidades
de
rico, te m parentes, amigos e inimigos. Cada um
possudo por
suas prprias caractersticas,
s
con-
segue
definir-se,
no entanto, contraponteando co m
ele. Patinhas o nico personagem que serve de
referncia
na
definio
e
consti tuio
de
todos
os
outros.
Donald, se u sobrinho, vem primeiro na lista do s
circunstantes. Um dos herdeiros da
for tuna
de Pa-
tinhas, persegue dolorosamente
a
existncia anma-
la de rico potencial, cuja vida oscila entre o desem-
prego
eos
empregos
que o Tio lhe
oferece. Quando
empregado
pelo
Tio vive, entre irado e apavorado,
as
hum ilhaes
que
aquele
o faz
sofrer,
desde o
sal-
rio miservel at as art imanhas e engenhos uti l iza-
dos para mant-lo desperto e at ivo conforme as
Com
este
artigo no tenho a descabida pretenso
de parafrasear o surpreendente e timo estudo de Ariel
Dorfman
e A r m a n d
Matte lar t (Dor fman
e Mattelart,
1972)
sobre o
conjunto
dos
personagens
das historietas
industrializadas de Walt Disney. Apenas retomo uma an-
lise que fiz em 1970, como recurso didtico, em cursos
de Sociologia
para
alunos de currculos diferentes do de
Cincias Sociais. Recebi de diversas
pessoas,
especial-
mente
ex-alunos, a sugesto
para sistematizar
e publicar
as
minhas formulaes de ento. Depois de resistir por
algum
tempo,
arrisco-me a faz-lo agora por vrias razes,
a principal das quais a de que, fundando-se o trabalho
na
mesma
perspectiva que
orientou
aqueles autores
decorrendo da vrios pontos de
contato
guarda, no
entanto, uma identidade
prpria
que sugere a explorao
de outros aspectos do mesmo tema, como
notar
o leitor.
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3/9
expectativas
do
patro.
Sua
h u m i lh a o
maior
porque
o
delr io acumulativista
de
dinheiro
do Tio
t ransforma-o numa das peas de um sistema de
produzir riquezas, cujo carter espoliativo consegue
perceber, mas ao qual se
confo rma
para no ser
deserdado. Excludo dos benefcios da riqueza que
ajuda
a crescer, com ela se compromete, como se
por antecipao fosse sua. Vive o sonho de
desfru-
tar a r iqueza que na realidade lhe vedada.
Seu
drama imenso. pai
sem-
te r
f i lhos.
H u-
guinho, Zezinho e Luizinho, os trs sobrinhos, re-
presentam
para
ele um encargo paterno e um pesa-
delo.
Podem
acompanhar, de modo adulto, toda a
incompetncia de Donald para o desempenho da
maior parte da s
atividades
a que o
obrigam
as
cir-
cunstncias, no emprego ou em casa. Sua determi-
nao de vencer, a desesperada necessidade de ser
capaz
a que as expectativas inflexveis de Pat inhas
o submetem, impedem-no de reconhecer-se inca-
pacitado,
bem
como
o
impedem
de
aceitar suges-
tes
e
auxlios
dos
trs sobrinhos.
na
inter fern-
cia dos
trs
que se
apoia
a
maior par te
da s vitrias
de Donald. S o eles que , depreciando-o ain da m ais,
de
fato
se
realizam segundo
as
regras
de
P a t inhas.
Embora os trs correspondam melhor s espe-
ranas de Patinhas do que Donald, eles no repe-
tem
o modo de ser, as tticas, as intenes, os re-
cursos
do tio senil . So de uma gerao de tecno-
cratas, para os qua i s no vivelo projeto do enri-
quecimento
pessoal
pelo trabalho,
pela
sorte
e
pela
astcia.
Por isso, agem coordenadamente. Nunca
cada
um
deles
senhor
de um
pensamento com-
pleto. No mais das vezes cada um se limita a emi-
ti r um a
nica palavra
que se
j u n t a
palavra
do
ou t ro e do
outro para
que surja um a
sentena
e uma
idia.
Esto
articulados entre
si
como peas
ajustadas
de um mecanismo rigoroso. Eles tm o
que
falta
a
Donald
apenas
os
pedaos
das
idias
enquanto Donald
tem o que j
obsoleto
as
idias
po r
inteiro. Isso seria paradoxal,
em se
tra-
tando de idias, se para eles o pensamento e a ins-
pirao
no fossem objetivamente determinados.
Para toda nova situao no h uma idia nova: h
o Manua l do
escoteiro",
fonte inesgotvel de in-
formaes que cobre todo o saber possvel e do
qual
se
pode receber qualquer resposta
ou
dado
com rapidez, como se viesse de um computador.
Para eles
a
situao
clara:
no
existem para
repe-
ti r
ind iv idua l i zadamente
a s
mesmas palavras,
os
mesmos gestos
e os
mesmos atos
que
criaram
o
uni-
verso de Patinhas. No nasceram para produzir o
universo, mas para reproduzi-lo.
a que representam um pesadelo p r Donald,
pois este compelido a repetir sozinho palavras,
gestos e atos do criador Pat inhas sem efeito
algum.
Seus ataques
de ira so
indicativos
de uma
incapacidade fundamenta l
para entender
porque a
su a
ativ idade estril . que sua condio de her-
deiro
obscurece
a sua condio de trabalhador.
N o
est entre
os
deserdados
da
terra.
N o
pode
ve r na riqueza o
produto
do
trabalho, inclusive
do
se u
trabalho, porque ela constitui a massa de bens
que
espera receber e que totalmente despropor-
cional
sua
pequena participao
na
tarefa
de
pro-
duzi-la. No pode ver-se na condio de explorado
porque
se v na de
benef icir io
da
explorao.
Por
isso,
a sua
indignao
sempre
e
jus t i ficadame nte
um a
indignao pessoal, escoada p r o nvel da
irritao descontrolada.
Essa
a
articulao ade-
q u a d a para transformar o pesadelo de Donald-tra-
balhador e Donald-desempregado em irritao c-
mica,
em
atividade comicamente desastrada.
O
d r a m a
do
t rabalhador
obscurecido pela
comicida-
de do herdeiro.
Donald tambm marido sem ter mulher. Sua
namorada Margar ida o submete ao regime duro do
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parceiro
de
cama
e
mesa,
sem as
vantagens
do car-
go,
transformado
no
perene carregador
de
pacotes
e fazedor de servios. Margarida no lhe oferece as
penas
clidas e
macias para
que recoste a
cabea
atormentada. E la tambm o submete ao duro re -
gime
da
explorao domstica.
D e
Margarida
no
se
ouve
ou v uma
palavra
ou
atitude
de
a m o r ,
de
afeto
desinteressado.
Para
ela, pata venal,
a
relao
entre
os
sexos
assexuada
e
utilitria. Nesse plano,
ela estabelece
com
Donald
um a
relao
que
amplia
a sua
esterilidade:
no se acasalam nem procriam.
Margarida a
fmea
ftil
espera da doao e da
rendio incondicional
e
material
dos
patos.
N o
trabalha. Afora o trato das trs sobrinhas (Laia,
Lel e
Lil i ) ,
resumido no adestramento que, por
contraposio aos sobrinhos de Donald, as t rans-
formar em
novas Margaridas, esgota
o seu
tempo,
acompanhada da galinha Clara, nas fest inhas da
sociedade, vivendo
vicariamente a
condio
de
con-
sumidora,
no se
sabe
a
part i r
de
que. Para
ela
Donald
importante apenas enquanto
servil.
Para manter Donald subjugado ao s seus capri-
chos,
no
hesita
em
aceitar
a
corte
de
outros patos,
enciumando-o.
O
primo
de
Donald, Gasto, pato
de vida fcil, de caracterst icas mais prximas s
deMargarida , s i s temat icamente emp enhadoe m cor-
tej-la,
pode
satisfaz-la em seu af de
consum o ,
representando
sempre
um
desafio
a
mais para
que
Donald
se
em penhe
na
luta para preservar
ou
ganhar aquilo que deseja e nunca alcana: dinhei-
ro ou companhia feminina. S Margarida no perde
com
Donald
ou
Gasto
ela
herdei ra v i r tua l
de uma parcela da
fortuna
de
Patinhas.
Mas, Gasto
dotado
de um
dom:
ele tem
sorte, que lhe dada por um infalvel p-de-coelho,
desde
que o
tenha sempre consigo. Para ele, tudo
se resolve graas aos eflvios desse tal ism, suporte
externo
que
legitima
se u
modo
de
ganhar
a
vida
e
at a futura
herana
de
parte
da
riqueza
de
Pati-
nhas. O tal ism tem a uma importncia muito
grande, pois Patinhas tambm tem o seu a moe-
dinha
n.
1. A
presena desse componente mgico
no universo de Patinhas consti tui como que a fonte
de
um
direi to natural ,
o
direito
de
enriquecer.
J
que todos trabalham
Donald trabalha, Hugui-
nho, Zezinho
e
Luizinho trabalham
e
vrios outros
m em bros
do
universo trabalham
preciso
ex-
plicar porque
uns tm a
riqueza
e
outros
no a
tm.
Esse componente mgico institui uma diferenciao
inte rna
fundamental
no
universo
de
Patinhas:
h os
predestinados e
escolhidos,
cujos talentos se multi-
plicam (estou aqui trocadilhando com a palavra
bblica
"talento",
usando-a
ao
mesmo tempo
no
sentido
de
m oeda
e de
dom )
e h os
demais
que no
s o
servos
nem
bons
nem
fiis,
de tal
modo
que
misteriosa entidade sobrenatural neles
n o
confia.
A
sorte representa, portanto,
um
chamamento
m -
gico, apoiado em smbolos externos. Com isso, nem
Gasto
nem
Patinhas parecem senhores
de si
mes-
mos, pois ambos esto subjugados
pelos
objetosmgicos
que
lhes
garantem
a
sorte
e a
riqueza.
Dessa maneira,
a
excepcional riqueza
de
Patinhas
torna-se legtima em face, por exemplo, da modesta
existncia
de
Donald.
O
componente mgico instau-
ra a
ordem
do
universo, pois,
do
contrrio,
o
Pato
Donald subversivamente declararia guerra
a seu
Tio, dando estrutura e direo sua irritao pe-
rene, efet ivando,pois,
a
profecia
de que no fim dos
tempos filhos lutariam contra pais, i rmos cont ra
i rmos.
Aparentemente,
a
sorte
de
Gasto
destinada
a
contrabalanar
as
adversidades
de
Donald,
,'travs
de um contraste que torna a este ltimo mais um a
vez
cmico.
Quase sempre,
no
entanto,
a
ajuda
tecnocrtica
e
secularizada
dos
sobrinhos
de Do-
-
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nald , senhores
de um tal i sm moderno, o j re-
fer ido M a n u a l do escoteiro , me dian te recursos
que
separam
o
p-de--coelho
de seu
dono , a t e nua ,
desvia ou inver t e a pr ivi legiada sor te de Gas t o .
Esse personagem se rve ,
a um s
tempo, para refor-
ar os
f u n d a m e n t o s
mgicos da ex i s t nc ia de Pa-
t i n h as
e a sua negao, que o r e c u r so tecnocrt i -
co ao M a n u a l . O M a n u a l a e spe r ana dos
de se spe r anados . N u m mundo c r e sc e n t e me n t e se -
cular izado ,
o r e i nado abso l u t o dos t a l i sm s na d i s -
t r ibu io d o s b e n s p r o d u z i d o spelo t r a b a l h o c o m u m
poder ia
fazer com que o
D o n a l d
irascvel se t r a n s -
f o r m a sse no D on ald cons c iente , descobr indo que a
m g i ca
s u p r e m a c i a
dos
t a l i sm s pode r i a
ser
que s -
t i onada
e at de s t r u da . O Man ua l de moc r a t iz a
mai s
do que o
acesso
r i q u e z a ,
a
c o n v i v n c i a
co m
a
d i s t r i b u i odes igual
da
r i que z a , po i s r e s t au r a ,
no
p l ano secu la r , o p r inc p io o r de nador da v i da soc i a l
q u e e n c o n t r a r a su a p r i m e i r a ef iccia n a sor te jus-
t i f i cada pe los ta l i sms .
O
Pato D o n a l d
n o
c u m p r e s o z i n h o
as
adve r s i -
dades do u n iv e r s o de P a t i nhas . S e u p r i mo P e n i nha
a c o m p a n h a - o ,
de
modo d i ve r so ,
n a
trajetr ia des-
favorve l . E n q u a n t o D o n a ld
e s s e n c i a l m e n t e
um
c u m p r i d o r
de
o r d e n s ,
u m
pato
n o
t r a b a l h o
ou em
busc a
de
t r a b a l h o , P e n i n h a
u m
pato cheio
de
imaginao e i n i c i a t i v a . Sua i me nsa submi s s o e
b o a
v o n t a d e
n o
a t e n d i m e n t o
das
o r de ns
do Tio le-
va-o
c o n s t a n t e
t e n t a t i v a
de
i n o v ar . E n t r e t a n t o ,
cada
in ic ia t iva
e cada inovao reve lam-se sempre
desastrosas.
A o
c o n t r r i o
de
D o n a l d ,
n o
a m a r g a
a i m p o s s i b i l i d a d e
do
c u m p r i m e n t o
f o r m a l do que
lh e
d e t e r m i n a d o .
N o
c onse gue e n t e nde r
por que
suas in tenes nunca
se
r e a l i z am,
por que
levam
sempre a atos que p r oduz e m r e su l t adosopostos aos
de se j ados . P e n i nha
n o
c onse gue e n t e nde r nunc a
oque
faz, pois entre
a
i n t e n o ,
o ato e o
resul tado
i n t ro m e t em - s e ou t r os c ompone n t e s
da
s i t ua o
q u e
10
no esto sob seu c on t r o l e , de sv i r t uando os seus
obje t ivos .
P or isso, no pode dec i f rar o sentido do
q ue f az . E m t e r mos mannhe i mi anos , P e n i nha est
me r gu l hado
n a
r ac i ona l i dade f unc i ona l
de um
uni-
ver so ins t i tu do que
dispensa
os patos e os ho-
me ns , abso r ve ndo-os ape nas no c umpr i me n t o do
r i tua l
dos papis sociais r igidamen te demarcad os.
P e n i n h a e Patinhas esto contrapostos, pois, no
p l ano
da
c r i a t i v i dad e . Enq uan t o
o
segundo
cria-
dor e
c r i a t u r a
na
gnese
do
un i ve r so ,
senhor
das
aes e das c onse q nc i as das
aes,
tem o dom-
nio do que f az , com P e n i n h a se d o c on t r r i o .
que a c r i a t i v i dade de Pat inhas se
to rna
impessoal
na m e d i d a em que ele se submete ao quere r obje-
t ivo representado pe la moe da
n.
l". Nesse pro-
cesso,
s u b m e t i d o
ao
r e i n a d o
das
coisas,
ele se
torna
agente e no suje i to da reproduo das coisas e do
universo c o i s i f i c ado . P a t i nhas no se nhor do
d i nhe i r o , m as servo do dinhe i ro . No e le quem
diz
ao
d i nhe i r o
o que
deve
ser
f e i t o ,
mas o
d i nhe i r o que precisa do crebro de Pat inhas , de
t odos
os
se us msc u l os
e
sent idos , para cumpr i r
a
sua lei
n a t u r a l
que a
reproduo crescente,
inces-
s an te
e
i ne xor ve l .
P or
isso Patinhas
um
home m
a t o r m e n t a d o com a segurana do seu d i nhe i r o , pois
es t i r r emedive l
e
tota lmente ident i f icado
com
ele.
P e n i n h a
i nve r t e
a
imagem
de
P a t i nhas .
Tom ado
de i n i c i a t i vas v i t i mado p or e l as c ons t an t e me n t e .
q u e essas in ic ia t ivas no so canal izadas para o
l e i to natural do que nesse universo concebido
como cr iao. Peninha quer cr iar solues. Pati-
nhas quer c r iar d inhe i ro . Peninha
n o
sucumbiu
a i n d a de suman i z a o que a
posse
impessoal do
sujei to
pela r iqueza impe. que a s possibilidades
de
c r iar
de
novo
o
mesmo universo
j
esto
esgo-
tadas .
A
fase
da ac umul a o o r i g i n r i a encerra-se
co m P a t i n h a s .
11
-
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6/9
Donald, Gasto e Peninha nascem num mundo
constitudo
e
integrado. Nenhum pato pode possuir
mais a envergadura herica do civil izador Patinhas
porque no momento histrico por este vivido os
dons podiam ser encontrados no mesmo pato. J
seus sobrinhos receberam
fatias
de um mundo espe-
cializado: o trabalho para Donald, a sorte para
Gasto, a inic iat iva para Peninha. A associao en-
tre eles, porm, no reco nsti tui o pato herico:
j
esto confrontados
e em
confl i to,
espera
da
he-
rana
que
vir
com a
m or t e
do Tio
sovina
e
obso-
leto, com suas suas e polainas antiga. Os peda-
os no podem ser jun tados para comear de
novo
porque cada
um
deles ainda est tomado pelo
mi to
do
capitalista-heri
e
considera , pois ,
que o
se u
prprio dom o dom essencial. Desse modo, as
freqentes
associaes entre Donald e P en inha re-
sultam em
fracasso, pois cada
um
t en ta
a seu mo-
do assumir individualmente a to ta l idaded o m undo .
Os pedaos podem ser juntados apenas para re-
produzir o j produzido, como fazem Zezinho,
Hugui nho
e
Luizinho.
No pode criar de novo quem
no
te m
acesso
m oeda
n. l e sua
vontade
impessoal.
Os
sujeitos misturam-se
ao s
objetos,
sern
distino
entre uns e outros. Os
sujeitos
esto so-
brecarregados
de
exigncias
e
significaes
que no
decorrem deles mesmos, tornando-se, p or tan to, es-
tranhos em relao a si prprios. A
natureza
hu-
mana subvertida pela mediao dos objetos
c r ia-
dos pela at ividade hum ana.
Somente quando essa famlia volta
n a t u r e z a
que pode encontrar a sua paz. na fazenda da
Vov Donalda , no re torno ao mu ndo natura l , que
Patinhas aparentemente deixa de reinar. Vov Do-
nalda o substi tui . A ela a senhora do m u n d o . A
natureza dadivosa atenua a explorao dos patos
pelos
patos.
Gansolino, o empregado da
fazenda,
pode tranqilamente t irar
as
suas sonecas
nos mon-
12
tes de feno sem que por isso a vida animal e vege-
tal do estabelecimento rural sofra grandes conse-
qncias.
Nem por isso Vov Donalda
deixar
de
fazer
as
suas tortas, sempre disponveis para
todos,
inclusive para
o
prprio
Gansolino. Por
essas
ra -
zes,
as nicas reunies familiares, em que todos
confraternizam,
s o
presididas
por
Vov Donalda,
apesar da completa anomalia na estrutura familiar:
ela av sem ter tido filhos; Patinhas tio sem te r
tido irmos
e o
mesmo
se d com Donald; os trs
sobrinhos
no conhecem pai e me. A trgica es -
terilidade biolgica de todos os membros da fam-
lia s possvel porque na verdade esto em dife-
rentes graus destitudos
de
humanidade. Vov
D o-
nalda simboliza apenas a recomposio artificiosa
do
mundo natural . Ainda
a, por
trs
das
aparn-
cias, Patinhas quem reina. A unidade familiare m
face
da
natureza
apenas utopia
que
ocasional-
mente
se
concretiza para logo mais
se r
desfeita
em
resultado
de
processos substantivos
que
separam
ao invs de uni r , que conflitam ao invs de harmo-
nizar.
q u e a
unidade
do
universo
de Tio
Patinhas
no
garantida pela apropriao comum
das
con-
dies de existncia. Por isso, os parentes no for-
m am um a
comunidade,
nem
mesmo
um a
comuni-
dade familiar e por isso no formam um a famlia.
O s vnculos familiares mais constantemente
presen-
tes no so de parentesco por consanginidade ou
afinidade, mas so
vnculos dominados pela linha
de herana das riquezas. Entre um parente e out ro
interpem-se
os bens tidos ou esperados. Esto jun-
to s
porque
a
riqueza
fo i
acumulada,
fo i
juntada .
Em conseqncia, as relaes sociais que piodu-
zem
outros personagens do universo, no parentes
amigos
e
inimigos
em nada
diferem
das re-
laes aparentemente familiares.
13
-
7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar
7/9
M a g a Pa ta l j ika , aux i l i ada p o r M a d a m e M i n ,
es t o b cec a d a m en te v o l t a d a p a r a
a
ca p tu r a
da
jioe-
da
n.
1. Deseja para si a
fonte
mgica da r iq u eza
e supe que a posse do
ta l i sm
far com que e la ,
que j d ispe de t a n to s e
var i ados
poderes , possa
reproduz i r em seu
benefc io
a
r iq u e z a
de
P a t in h as ,
Nesse p la n o , ela e P a t i n h a sso
iguais .
A m b o s
acre-
di tam na i m p o r t n c i a t r a n sc e n de n t a l do ta l i sm
como
p r o d u t o r
e r ep r o d u to r d e
r iquezas .
O talis-
m
r e p r e se n t a
a,
para
P a t i n h a s
e
M a g a ,
os
r iscos
i m p o n d erv e i s do
c ap i t a l i s mo :
a sorte de um a
desgraa do
o u t r o . P r e se r v a r
a
d i m e n s o
mg ica
da r e p r o d u oda r iqueza no a p en a s um e l e m e n -
to de coerncia i n t e r n a na
d i t ad u r a
dos
q u a dr i n h o s ,
mas
t a m b m
a ten ta t iva de m o s t r a r que o
ta l i sm,
e m b o r a
n ecess r io ,no
e x c lu s iv o .
M a g a tem po-
deres e xcepc iona is , pode fazer e
desfazer ,
m as
ao
pode cr i a r
e
recr ia r
o capi ta l ,
pois
os
o u t r o s dois
c o m p o n e n t e s p r e s e n t e s n a consc i nc ia burguesa de
P a t i n h a s
a
in i c i a t i va
e o
t r a b a l h o
n o p o d e m
ser subst i tu dos por b r u x a r i a . C om Maga refora-se
o p r in c p iod o d i r e i to na tu ra l r i q u eza , ao t a l en to .
N o
f u n d o , Maga serve para
s i tuar n o s l imi te s da
ordem
o
p r e t en so ca r t e r m g ico
da
a c u m u l a o
da
r iqueza .
No o p a t o q u e esco lhe o
ta l i sm ,
m as
o
ta l i sm
qu e
e sco lh e
o
p a to .
E n q u a n t o
M a g a
deseja
apossar -se do que ela
supe ser a
fonte
da r iq u eza , os i r m o s
M e t r a l h a
busc am
apossar-se
d i r e t a m e n t e
da r iq u ezaja c u m u -
lada. N o
u n iv e r s o
de P a t i n h a s e les
r e p r e se n t a m
a
c o n d u t a
an mi c a
dos que ace i t am os f ins do siste-
ma, mas no os
m e i o s
ins t i tuc ionais
p a r a a l ca n -
-los.
T a n t o
q u a n t o
P a t i n h a s ,
esto sedentos de ri -
queza. M as r e p u d i a m o s c a m i n h o s
ins t i tuc iona is
para obt-la . N a v e r d a d e , as exper i ncias de c a d a
um dos o u t r o s m e m b r o s do u n iv e r so , p a r e n t e s ,
amigos
e
inimigos
de
P a t i n h a s ,
co n s t i t u em
a
reite-
r ada d e m o n s t r a ode que os M e t r a l h a t m r a zo .
14
Acontece, porm,
que a
mesma riqueza gerada para
as
m o s
de
Pat inhas cr ia
os
outros componentes
do
mundo, inc lusive
os
recursos
de
defesa
d apropria-
o pr ivada da riqueza. A diferena entre Patinhas
e os Met r a lh a que Patinhas chegou primeiro. A
inst i tucionalizao
do s
canais
de
acesso
riqueza
legit imou
essa pr imazia , t ransformando
em
ilcitas
todas
as
outras fo rmas
de
apropriao
dos bens.
Da que a
vida
livre do s
Metralha seja sempre ape-
n as cur ta temporada fora da cadeia.
Esto
sempre
re tornando priso. Basicamente so iguais a Pa-
t inhas ,
concordam quanto acumulao da rique-
za, discordando apenas quanto aos detalhes na
fo rm a de
faz-lo.
Esto
certos
de que a
melhor coi-
sa
do
cap i ta l i smo
ser
capitalista .
O
grau
de
orga-
nizao
dos
Metralha para obteno
da
riqueza
chega
a ser
empresarial .
O s
ard is
que so interpos-
tos por Pat inhas most ram que entre este e aque-
les o que h uma verdadeira compet io , f r e q e n -
temente decidida atravs
da
polcia
que
responde
pela
observncia da conduta ins t i tuc iona l izada , que ,
garan t indo a igua ldade ju r d ica , garan te ao mesmo
tem p o
a
desigua ldade econmica (Dah rendorf ,
1966:29).
Em
su m a ,
os
amigos
de
Patinhas
s o
amigos do capital . Os seus inimigos so inimigos
das form as ins t i tuc iona is e dos mi tos de susten tao
do
capital , embora
na
verdade
sejam
amigos
do
capitalismo.
A s histrias se tornam atraentes e engraadas na
medida
em que os
seus vrios cmicos, como
D o-
nald e
Peninha , re t i ram
a sua
comicidade
das
dis-
crepncias
que h
en tre suas condutas
e o
per-
sonagem-padro : Pa t inhas .
A
t r a m a
das
h is tor inhas
una e
slida, amarrada
pela
valorizao
do capi-
talis ta-heri
chamado Patinhas. Ora, Patinhas,
sa-
bemos, personif ica o capital , assumindo a vida da
coisa,
v iv i f icando
o que
mor to ,
o que
trabalho
mor t o ,
social , acumulando
em
suas mos particula-
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7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar
8/9
rs. Portanto, cada um ridculo, delinqente, in -
gnuo ou louco na medida em que a sua razo
particular
no a
razo pela qual
o
capital
se
insti-
tucionalizou socialmente.
nesse tipo
de
contraste
que o
cientista tambm
te m
a sua parte na degradao moral que vincula
cada
um ao Tio
Patinhas.
O
prof. Pardal, inventor
desastrado, desespera-se
na
tentat iva
de
solucionar
com a sua inteligncia, as suas pesquisas e a sua
incansvel dedicao
inveno
e
descoberta
os
grandes e
pequenos problemas
de Patpolis. Seu
desligamento dom u n d o
proverbial
nosquadrinhos ,
em que o
cient ista
freqentemente apresentado
como louco, ingnuo, al ienado, sonhador, perigoso
enfim. Por
isso, Pardal
no
pode
ter no
universo
de
Patinhas seno
a
tolerncia
que
piedosamente
a
nossa hipocrisia burguesa dedica
ao s
al ienados men-
tais. Ele se
preocupa
co m
pequenas coisas
(e
nisso
quase
infant i l ) ,
como
a
inveno
de um
pu la-pula
que
facilite
o transporte da s
pessoas,
ou de um
combustvel
que
torne mais
rpido, os
meios
de
transporte,
ou de uma
banheira voadora. Vive,
en-
f i m na esperana de resolver
aflitivos
problemas do
dia-a-dia
dos
patopoli tanos
ou na
esperana
de an-
tecipar e
solucionar
os
problemas
que os
patopoli-
tanos
provavelmente enfrentaro no futuro. S que
Pardal esquece
f reqentemente de uma
coisa
m u i to
impor tan te no
universo
de Pat inhas : que a no
h
lugar para
a
primazia
da util idade dos
objetos.
Cada objeto
tem que
ser, antes
de
mais nada,
um a
mercadoria.
Por
isso,
as
loucuras
de
Pardal
s de-
saparecem quando
s o
absorvidas pelo delrio
acumulativista de
Pat inhas . Quando
este faz uma
encomenda ou sol ici ta uma inveno que resolva
um
problema crucial para
o
capital, como
um a
defesa contra
os
Metralha
ou um
e qui pame nt o
que
o
torne mais rico.
O
cientista
s
deixa
de ser
doido
quando trabalha para
o
capital , quando perde
de
16
vista a
perspectiva tola
e
infantil
da condio hu-
mana
dos patos para atender a demanda da repro-
duo do dinheiro pelo dinheiro. A ele se torna
racional , porque a racionalidade a dos objetos e a
do enriquecimento que propiciam quando s o com-
prados
e
vendidos.
Entre Pardal e Peninha h semelhanas e dife-
renas. A s semelhanas dizem respeito crena ine-
ficaz
na
atividade criadora.
As
diferenas dizem
respeito
a que um se
apoia
no
pensamento cient-
fico
e o out ro no senso comum para pr em prti-
ca o
impulso criador. Ambos
s o
iguais, porm,
quando ignoram que tudo j est criado se se le-
va em conta que a dinmica do universo regida
pela
riqueza acumulada
que
insaciavelmente preci-
sa crescer.
De fato, o
universo
de
Patinhas
educativo
se
tomamos
a
educao como veculo impositivo
de
valores. Diante dele as crianas e os adultos podem
descobrir como
s o
estpidos, como
s o
ridculos
e
al ienados quando toleram que na sua personali-
dade se
manifestem
grotescos t raos humanos. Pat i-
nhas
consti tui um
c hamado
razo:
a
razo
que
faz com que as coisas se relacionem umas com as
outras
como
se fossem
dotadas
de
condio
huaia-
na e que faz com que as
relaes entre
os
home ns
paream
relaes entre coisas,
conforme j cbser-
vou um sbio alemo.
REF ER NX-1A S
1. Dahrendor f , Ralf, 1966.
Sociedad
y Ubertad.
Editorial
Tecnos S.A.,
Ma d r i d .
2 .
D or fm a n ,
Ariel e Mattelart ,
Ar man d , 1972.
Para
leer
dl Pato Donald Comunicacin
de masa
y colonia-
lismo
segunda edicin, Siglo
XX
A rgen t ina
Edi to-
re s
S.A. ,
Buenos Aires.
17
3-S.M.C.P.
-
7/21/2019 Jos de Souza Martins - Tio Patinhas No Centro Do Universo - In -O Modo Capitalista de Pensar
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G o l d m a n n , Lucien,
1967. Dialtica
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T e r r a , trad. de Luiz Fernando Cardoso, Carlos Nelson
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Teoria
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trad.
de
Florentino Torner,
Fondo de C u l t u r a
Econmica, Mxico
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Martins, Jos
de
Souza, 1974. Conde Mtitarazzo, o
empresrio
e a
empresa
Estudo
de
sociologia
do
desenvolvimento,
2.
a
edio,
].
a
reimpresso.
Hucitec-
Edtora
de
Humanismo, Cincia
e
Tecnologia,
So
Pau'o.
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