manifestação tardia das vanguardas - a arte dos grandes ... · ao movimento holandês de stijl e...
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Manifestação tardia das Vanguardas
A Arte Concreta, ou Concretismo foi um movimento tardio das Vanguardas
Europeias (Avant-garde), podendo até ser considerado como Pós-Vanguarda,
começando por volta de 1917, consolidando-se em 1930 e se estendendo até
meados do Século XX, com grande ênfase à abstração, especialmente a
abstração geométrica, tendo como inovador o artista plástico, designer gráfico,
poeta e arquiteto holandês Theo van Doesburg (1883-1931), ligado também
ao movimento holandês De Stijl e associado igualmente ao Dadaismo e ao
Neoplasticismo.
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Experimental e errante, o movimento ganhou feição e corpo somente em
1930, com o Manifesto da Arte Concreta, assinado por Theo van Doesburg
em Paris na revista Art Concret, fundada naquele ano. Com o manifesto,
assinado também por Otto Gustaf Carlsund (1897–1948), Jean Hélion (1904-
1987), Léon Arthur Tutundjian (1905-1968) e Wantz, foram lançadas as bases
desse tipo de pintura, a saber:
A arte é universal;
A obra de arte deve ser inteiramente concebida e formada pelo espírito
antes de sua execução [...];
O quadro deve ser inteiramente construído com elementos puramente
plásticos, isto é, planos e cores. Um elemento pictural só significa a 'si
próprio' e, consequentemente, o quadro não tem outra significação que
'ele mesmo';
A construção do quadro, assim como seus elementos, deve ser simples e
controlável visualmente;
A técnica deve ser mecânica, isto é, exata, anti-impressionista;
Esforço pela clareza absoluta".
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A expressão foi popularizada pelo artista e educador alemão Josef Albers
(1888-1976) e pelo designer e escultor suíço Max Biill (1908-1994), que
promoveram ideias associadas ao Concretismo, organizando também a primeira
exibição em 1944. O movimento teve boa acolhida no Norte da Itália e na
França, na década de 1940, incentivado que foi pelo Movimento de Arte
Concreta (MAC). Em 1950, Max Bill organizou uma exposição de Arte Concreta
em Zurique (Suiça), ilustrando 50 anos de desenvolvimento.
Pôster de Max Bill para as Olimpíadas de 72 em Munique
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No Brasil, o Concretismo teve grande aceitação, ainda que interpretado de
forma diversa por artistas atuantes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1952,
o Grupo Ruptura, integrado por Anatol Wladyslaw (1913-2004), Lothar Charoux
(1912-1987), Féjer (1923-1989), Geraldo de Barros (1923-1998), Leopold Haar
(1910-1954), Luiz Sacilotto (1924-2003), liderado por Waldemar Cordeiro
(1925-1973), realiza exposição no MAM/SP. O grupo redige manifesto dizendo
que a arte é "um meio de conhecimento deduzível de conceitos", e reafirma
seu conteúdo objetivo.
Luiz Sacilotto (1924 – 2003)
No Rio de Janeiro, reunidos em torno do escritor Ferreira Gullar, vários
artistas plásticos criam o Neoconcretismo, como reação ao concretismo
ortodoxo. Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a
arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade,
subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Eram contra as
atitudes cientificistas e positivistas na arte.
O movimento neoconcreto nunca conseguiu impor-se totalmente fora do Rio
de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas,
partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações
simbólicas ou sentimentais. (Wikipedia em inglês espanhol e português, com
apoio de textos do Itaú Cultural e de outras fontes)
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O Neoconcreto de Lygia Pappe
O Neoconcreto e o Grupo Frente
Ligado fortemente ao Neoconcreto, embora aberto a outras tendências, o
Grupo Frente foi um grupo artístico brasileiro, considerado marco no movimento
construtivo das artes plásticas. Criado em 1954, era formado pelo artista carioca
Ivan Serpa e vários de seus alunos e ex-alunos, aceitando pintores de todos os
gêneros, inclusive figurativistas e, segundo Ivan Serpa, a única condição para
participar do grupo era romper com as fórmulas da velha academia, dispondo-
se a questionar a arte e caminhar pelos próprios pés. A extinção do Grupo
Frente, em 1956, foi uma consequência natural do crescimento do prestígio
de muitos de seus participantes, os quais passaram a encontrar condições
de prosseguir cada um o seu próprio caminho.
A primeira exposição ocorreu na galeria do Instituto Brasil-Estados Unidos
(IBEU), no Rio de Janeiro. Participam da mostra os artistas Aluísio Carvão,
Carlos Val, Décio Vieira, Ivan Serpa, João José Silva Costa, Lygia Clark, Lygia
Pape e Vicent Ibberson, a maioria alunos ou ex-alunos de Ivan Serpa nos cursos
do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A segunda exposição do grupo,
em 1955, aconteceu no MAM/RJ e, aos fundadores do grupo, uniram-se outros
sete artistas: Abraham Palatnik , César Oiticica, Franz Weissmann, Hélio
Oiticica, Rubem Ludolf, Elisa Martins da Silveira e Eric Baruch. (Wikipedia, com
apoio de outras fontes).
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Os “Metaesquemas” de Helio Oiticica
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Os objetos cinéticos de
Abraham Palatnik
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As “Tteias de Lygia Pappe”
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Teosofia, matemática e cor
O Neoplasticismo é uma teoria estética iniciada na Holanda em 1917, tendo
como seu criador o pintor Piet Mondrian (1872-1944) e, como polo de
divulgação, a revista De Stijl, publicada a partir de 1917 pelo artista plástico,
designer gráfico, poeta e arquiteto holandês Theo van Doesburg e mais alguns
colegas que viriam a compor esse movimento artístico.
É conhecido também como Construtivismo Holandês, por estabelecer
paralelos com o Construtivismo Russo. Seu desenvolvimento se insere nos
movimentos de Vanguarda (Avant-garde), com inspiração no Cubismo e no
Futurismo, mas com concepção puramente abstrata.
Com efeito, as teorias em que se assenta o Neoplasticismo tem relação
estreita com as obras dos cubistas Georges Braque e Pablo Picasso, assim
como na Teosofia, reivindicando um processo de abstração progressiva, em
virtude da qual as formas figurativas visíveis iriam se reduzindo a linhas retas
horizontais e verticais, usando como cores o preto, o branco, o cinza e as três
cores primárias (vernelho, amarelo, azul).
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O movimento teosófico, fundado pela escritora russa Helena Petrovna
Blavatsky (1831-1891), alegava ter resolvido o conflito entre espiritualidade e
ciência. Esse conflito ficou evidenciado, principalmente, pela teoria da evolução
de Darwin. A teosofia, ampliava a Teoria da Evolução a uma escala cósmica
— todo o universo estaria evoluindo (não só as espécies), e nós estaríamos
vivendo sucessivas encarnações rumo à perfeição. A teosofia exerceu
grande influência no trabalho do matemático M.H.J. Schoenmaekers,
especialmente no tratado "Matemática Expressiva", que influenciou fortemente a
concepção artística de Piet Mondrian na fase inicial do neoplasticismo.
Como resultado, a publicação De Stijl era vista por seus integrantes como
mais do que um estilo artístico, possuindo um caráter quase messiânico, sendo
uma forma de filosofia e religião. Seus ideais primários eram promover uma
síntese místico-racional, uma busca pela ordem, pela harmonia perfeita existente
que poderia ser acessível ao homem (e à sociedade) desde que este se
subordinasse a ela. Trata-se, portanto, de uma missão de caráter ético-espiritual,
a tentativa de alcançar a "beleza universal" citada por Mondrian.
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A intenção do Neoplasticismo é representar a totalidade do real,
expressando a unidade da natureza, que nos oferece aparências mutantes e
caprichosas, mas que, ainda assim, é de uma regularidade absoluta. Suas
principais características são:
A busca da renovação estética.
Uma linguagem plástica objetiva e, como consequência, universal.
Exclusão do individual, em favor do temporal e local.
Eliminação do supérfluo, em busca da essência.
Depuração das formas, reduzindo-as a linhas, planos e cubos.
Discurso totalmente racionalista, com supremacia total da razão, em
detrimento do subjetivismo.
Estruturação com base em uma harmonia de linhas e massas coloridas
retangulares de proporções diversas, sempre verticais e horizontais,
formando ângulos retos.
Nunca recorrer à simetria, já que o sentido do equilíbrio se consegue pela
compensação das formas e das cores.
Redução das cores ao estritamente necessário.
Cores planas, saturadas e puras, usando os primários amarelo, azul e
vermelho, assim como os neutros, considerados como branco, preto e
tonalidades de cinza.
Emprego de fundos claros.
Pinturas equilibradas, ordenadas, otimistas e alegres.
Orientação artística “anti-trágica”, eliminando todos elementos trágicos do
interior do artista, para revelar na obra apenas a harmonia espiritual.
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Resumindo, embora muitos vejam o neoplasticismo como produto da revolta
moral contra a violência irracional que assolava a Europa durante a Primeira
Guerra e nos anos seguintes, houve alguns outros fatores essenciais para o
nascimento do movimento, como o Cubismo, que desfigurou os modos
tradicionais de representação; o idealismo e a austeridade do protestantismo
holandês; o viés místico da teosofia e o movimento do qual Piet Mondrian era
membro.
Essa harmonia, essa ordem perfeita e universal poderia ser alcançada,
segundo os membros do De Stijl, com a obediência às leis que regem a
produção artística, que previam uma arte não-figurativa pois, "como
representação pura do espírito humano, a arte expressar-se-á numa forma
esteticamente purificada, vale dizer, abstrata". Como tal, visando a expressão
de um princípio universal, o Neoplasticismo bania o individualismo excessivo
(presente na arte figurativa) e reduzia a pintura aos elementos constitutivos da
linha, do espaço, da cor. Segundo Theo Van Doesburg, "o quadrado é para
nós o que a cruz era para os antigos cristãos".
Nas palavras do próprio Mondrian: “Uma expressão individual não se
torna uma expressão universal por meio da representação figurativa, que
se baseia em nossa concepção do sentimento, seja clássica, romântica,
religiosa ou surrealista.” Complicado? Não espere que manifestos e
esclarecimentos de movimentos modernistas simplifiquem a linguagem. Eles são
habitualmente herméticos e você terá de buscar a porta secreta que conduzirá
ao entendimento das proposições feitas por seus idealizadores.
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É importante ressaltar que os participantes do De Stijl, em especial Piet
Mondrian, não concebiam a arte abstrata como sendo antagônica ou oposta à
natureza. Para os artistas, a arte abstrata opõe-se à natureza animal e primitiva
do homem, uma natureza grosseira que não corresponde à verdadeira natureza
humana, encontrada nas leis universais, na essência que os neoplasticistas
objetivavam alcançar. A redução a formas elementares, neutras, que por si só
não provocam qualquer reação individual — as linhas retas e cores primárias —
nos leva a duas outras preocupações essenciais dos teóricos do De Stijl: a
ênfase estrutural e a necessidade vital do equilíbrio assimétrico.
Rejeitando a simetria, os membros do De Stijl procuravam então, através da
combinação de linhas e ângulos retos, um equilíbrio dinâmico que tocasse a
"beleza universal", provocando a emoção de beleza que, por sua própria
característica, é "cósmica" e "universal".
Pelo equilíbrio assimétrico, entende-se o comportamento dos artistas em
atribuir valores semelhantes a combinações de linhas e cores diferentes,
balanceando suas composições. Este exercício quase matemático transforma a
tela em um plano e transforma o dualismo conteúdo-forma em uma unidade
inseparável. A noção de unidade é fundamental — as relações equilibradas
devem ser a mais pura representação do caráter universal da ordem, da
harmonia e da unidade, características que também estão presentes na mente
(se focalizarmos nela, seremos capazes de ver a unidade natural).
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Este dualismo conteúdo-forma é apenas um entre os vários dualismos
tratados por Mondrian em seus escritos. Para o pintor holandês, o neoplasticismo
tinha como missão reconciliar o dualismo matéria-espírito, além de resolver o
dualismo entre individual-coletivo, resultado de uma visão artística onde a
expressão pela arte deve refletir a consciência temporal do homem e vice-versa.
Para Van Doesburg e Mondrian, portanto, o De Stijl estaria cumprindo o
papel de resolver o questionamento do homem moderno e ilustrar o
desenvolvimento da consciência do homem do individual para o universal, a
rejeição da ênfase no individualismo (o neoplasticismo seria, de certa forma, a
primeira expressão artística puramente plástica porque não aceitava a
predominância da consciência individual). Nas palavras de Van Doesburg:
“Aquilo que se expressa positivamente na plasticidade moderna — uma
proporção equilibrada do peculiar e da generalidade — manifesta-se mais
ou menos também na vida do homem moderno e constitui a causa original
da reconstrução social de que somos testemunhas.”
A composição, como forma principal de expressão pela pintura, não renuncia
ao elemento humano, permitindo ao artista expressar sua subjetividade
enquanto for necessário, dando certa liberdade de escolha quanto à disposição
dos elementos e do ritmo. O que ocorre é a redução drástica dessa influência
individual, aumentando significativamente o caráter universal da obra.
(Wikipedia, versões em inglês, espanhol e português, com apoio de outras fontes
de referência)
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Entre as figuras importantes do Neoplasticismo, incluindo artistas,
designers e arquitetos, podemos citar:
Piet Mondrian (1872 – 1944)
Theo van Doesburg (1883 – 1931)
Gerrit Rietveld (1888 – 1964)
Ilya Bolotowsky (1907]] – 1981)
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Marlow Moss (1890 – 1958)
Amédée Ozenfant (1886 – 1966)
Jean Gorin (1899 – 1981)
Burgoyne Diller (1906 – 1965)
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Max Bill (1908 – 1994)
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Bart van der Leck (1876 – 1958)
Georges Vantongerloo (1886 – 1965)
Georges Vantongerloo, Escultura
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Publicitário sim, mas com arte
O Construtivismo na arte foi um movimento pragmático que se desenvolveu
na União Soviética, e que preconizava a integração entre as técnicas artesanais
e a produção industrial, com o uso de formas geométricas e sua adequação às
necessidades do novo mundo socialista, após a Revolução operária 1917.
Surgiu no ano de 1919, como parte do contexto dos movimentos de vanguarda
no país, de forte influência na arquitetura e na arte ocidental. Ele negava uma
"arte pura" e procurava abolir a ideia de que a arte é um elemento especial da
criação humana, separada do mundo cotidiano.
A arte, inspirada pelas conquistas do novo Estado Operário, deveria se
inspirar nas perspectivas abertas pelas técnicas e materiais modernos servindo
a objetivos sociais e a construção de um mundo socialista. O termo “arte
construtivista” foi introduzido pela primeira vez pelo pintor Kazimir Severinovich
Malevich (1878-1935) para descrever o trabalho do artista plástico, escultor,
fotógrafo e designer gráfico Aleksandr Mikhailovich Rodchenko (1891-1956).
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O Construtivismo na União Soviética, como movimento ativo, durou até
1934, quando mudanças políticas internas no Partido Comunista e no governo
soviético alteraram o equilíbrio do poder e a arte, tal como fora proposta, deixou
de ser fundamental na propaganda do regime.
Na Alemanha, deprimida e desorientada após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1018), formou-se a República de Weimar (1919-1934), ensejando
experiências com o Construtivismo, que se extinguiu com a citada República,
sufocada pela implantação do regime nazista que conduziu à Segunda Guerra
(1939-1945).
Em ambos os países, a arte serviu à propaganda e aos interesses das
classes dominantes, não subsistindo sem elas. A partir do Congresso dos
Escritores de 1934 a única forma de arte admitida na URSS seria o Realismo
socialista e todas as outras tendências artísticas durante o Stalinismo seriam
consideradas formalistas. Continuou a propaganda, só o estilo mudou.
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Ainda assim, e mesmo sem se universalizar como movimento, as
proposições inovadoras do Construtivismo russo influenciaram fortemente toda
a arte moderna. Caracterizou-se, de forma bastante genérica, pela utilização
constante de elementos geométricos, cores primárias, fotomontagem e a
tipografia com letras limpas sem serifa.
Do ponto de vista das artes plásticas, usando uma acepção mais ampla
da palavra, toda a arte abstrata geométrica do período, ou seja, das
décadas de 1920, 1930 e 1940, pode ser grosseiramente chamada
genericamente de construtivista, o que inclui as experiências artísticas na
Bauhaus, o Neoplasticismo e outros movimentos similares. Resulta que a
expressão passou a representar quase tudo e, ao mesmo tempo, identificar
quase nada.
A obra canônica do Construtivismo seria a proposta por Vlatimir Tattin para
a construção do Monumento à Terceira Internacional em 1919 (do russo:
Проект памятника III Коммунистического Интернационала), também
conhecida como Torre de Tatlin, O monumento, porém, nunca chegou a ser
executado em escala real por falta de fundos, tendo sido feitos apenas modelos
reduzidos. (Traduzido da Wikipedia em espanhol, com apoio de outras fontes)
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Entre os principais construtivistas russos podemos citar:
Aleksandr Vesnín
Víktor Vesnín (arquiteto)
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Konstantín Mélnikov (1890-1974)
Lyubov Popova (1889-1924)
Varvara Stepánova (1894-1958)
Serguéi Eisenstein (1898-1948)
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Aleksandr Ródchenko (1891-1956)
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Vladímir Tatlin (1885-1953)
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Vasil Yermílov (1894-1967)
Yákov Chernijov (1889-1951)
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Salitre, enxofre e carvão -
E eis que surge a pólvora
O Surrealismo (significado, “acima do real”) foi um movimento artístico e
literário surgido na França a partir do Dadaismo, na década de 1920, tendo
como teórico o escritor e poeta André Breton (1896-1966). Como aconteceu
com outros movimentos, os termos Surrealismo e Surrealista foram cunhados
pelo poeta Guillaume Apollinaire, no ano de 1917.
A origem, vem do ano anterior (1916), quando Breton é apresentado ao
escritor e desenhista Jacques Vaché e ao poeta Guillaume Apollinaire, ao
mesmo tempo em que tem um primeiro contato com as teorias do psicanalista
Sigmund Freud e com o poeta simbolista Alfred Jarry. Estava descoberta a
fórmula para a fabricação da pólvora.
A desesperança com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o
surgimento do Dadaismo, com um conceito de terra arrasada, também serviram
de catalizadores no desenvolvimento do Surrealismo. Ademais, buscou-se uma
inspiração distante, ao final da Idade Média, na obra pré-surrealista do pintor
Hieronymus Bosch (1450c-1516), um autêntico precursor do estilo, cinco
séculos antes de surgir a pintura moderna.
Hieronymus Bosch, “Cristo carregando a cruz” (detalhe) 1500circa
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A partir de 1925, o Surrealismo se politiza e André Breton entra para o Partido
Comunista. Entre 1925 e 1930, circula o periódico “O Surrealismo a Serviço
da Revolução”, em cujo primeiro número já aparecem os nomes do poeta Louis
Aragón, do dramaturgo Luís Buñuel, do pintor Salvador Dalí, do poeta Paul
Éluard, do poeta Tristan Tzara, dos pintores Max Ernst e Yves Tanguy, entre
todos se declarando partidários de Breton.
Já o escultor Jean Arp e o pintor Joan Miró, sem aderir à politização
proposta, continuam adeptos do movimento artístico, participando das
exposições. A este grupo seleto, iriam se juntar, mais tarde, o pintor René
Magritte (1930) e André Masson (1931); os escultores Alberto Giacometti e Victor
Brauner (1933).
Joan Miró, Surreal, mas sem perder a ingenuidade
Com isso, o movimento se propaga e se torna internacional, com a adesão
de artistas dos Estados Unidos, Dinamarca, Londres, Checoslováquia (hoje
dividida em República Checa e Eslováquia) e Japão.
Começa um conflito interno entre aqueles que consideram o Surrealismo
como um movimento artístico e os demais, que pretendem colocá-lo a serviço
do comunismo. Firme em suas convicções, em 1938, André Breton viaja ao
México, onde León Trotski se acha exilado e os dois, juntamente com o
pintor Diego Rivera, firmam um Manifesto por uma “arte revolucionária
independente”.
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René Magritte dotou o Surrealismo de uma carga conceitual baseada no
jogo de imagens ambíguas, com seu significado denotado através de palavras,
pondo em questão a relação entre o objeto pintado e a realidade.
Paul Delvaux, 1897-1994), pintor belga ligado o Surrealismo, acrescenta a
suas obras uma carga de erotismo, baseada em seu caráter de afastamento nos
espaços.
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Pablo Picasso se juntou ao movimento surrealista em 1925 e Breton o
chamou de “surrealista dentro do cubismo”
Picasso, Retrato de Dora Maar, 1937 (detalhe)
O “canto do cisne” se deu em 1938 em Paris, com a Exposição
Internacional do Surrealismo, que marcou o apogeu desse movimento, da qual
participaram, entre outros, Marcel Duchamp, Arp, Dalí, Ernst, Masson, Man Ray,
Óscar Domínguez y Meret Oppenheim. No ano seguinte, eclodia a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). A maioria dos artistas (muitos de origem judaica)
fogem para os Estados Unidos, onde semeiam o germe para outros movimentos
americanos no pós-guerra, como o Expressionismo abstrato e a Arte Pop.
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Na Espanha, o Surrealismo aparece na década de 1920, não em sua
vertente puramente vanguardista, mas sim misturada a acentos simbolistas e
com viés popular. Além de Juan Miró e Salvador Dali, aparecem também Maruja
Mallo, Gregorio Prieto, José Moreno Villa, Benjamín Palencia e José Caballero,
e naus os neo-cubistas que se trasladaram para o Surrealismo, como os
escultores Alberto Sánchez y Ángel Ferrant (abaixo).
Houve também um importante núcleo surrealista nas Ilhas Canárias, em
torno do períódico “Gazeta de Arte”, de Eduardo Weserdah, cujo grupo
convidou André Bretón a visita-los, em 1935. Os artistas mais importantes nesse
arquipélago foram Óscar Domínguez, Juan Ismael e o próprio Westerdahl.
Na América Latina, se consideram surrealistas, também, Roberto Matta
(Chile) Wifredo Lam (Cuba), assim como Remedios Varo e Leonora Carrington,
ambas imigrantes europeias, posteriormente nacionalizadas mexicanas.
As ideias surrealistas vieram para o Brasil na década de 1930 e foram
absorvidas pelo movimento Modernista. A pintora Tarsila do Amaral e o escritor
Ismael Nery foram os mais influenciados. Além deles, a escultora Maria Martins,
o pintor pernambucano Cícero Dias, o poeta Murilo Mendes e os escritores
Aníbal Machado e Mário Pedrosa também acrescentaram elementos surreais em
suas obras.
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Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928
Abaporu , surrealista, é uma clássica pintura do modernismo brasileiro, da
artista Tarsila do Amaral. O nome da obra é de origem tupi-guarani que
significa "homem que come gente" (canibal ou antropófago), uma junção dos
termos aba (homem), pora (gente) e ú (comer). Esta obra marca a fase
antropofágica da pintora Tarsila de Amaral que ocorreu entre 1928 e 1930. É
possível identificar traços característicos da artista, como a escolha de cores
fortes e inclusão de temas imaginários ou alteração da realidade.
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René Magritte
Salvador Dali
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Vladimir Kush
Os Surrealistas de Paris (1933)
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