nº 386 edição brasil
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ESPECIAL: PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS SUSTENTÁVEIS
BRASIL www.americaeconomia.com.br
Nº 386 ABR./2010 R$ 8,90
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APETITE GLOBALJBS
COM ESTRATÉGIA AGRESSIVA DE COMPRAS INTERNACIONAIS NO SETOR DE CARNE, A EMPRESA LIDERA O RANKING
DAS MULTINACIONAIS LATINO-AMERICANAS
PREVIDÊNCIA PRIVADAO DESAFIO DE SER POPULAR
BRASIL X EUAIMPACTOS DA RETALIAÇÃO CHILE DEPOIS DO TERREMOTODIFÍCIL RECOMEÇO
IN DESIGN base.indd 1 26-05-2010 11:24:50
IN DESIGN base.indd 1 26-05-2010 11:27:08
Negócios Minha Casa, Minha Vida
A estratégia das construtoras
Aviação executiva
Mercado brasileiro ganha espaço
Travesseiros Duofl ex
Planos de expansão
224044
SeçõesPortal
Carta ao Leitor
Cartas
Índice de Empresas
Pistas
Negócio Fechado
Opinião – A Copa e o Pré-Sal
Opinião – Corrigir Defi ciências
Movimentos
I-biz
I-biz Entrevista – LinkedIn
Clics & Chips
Linha Direta
14161818192026384884868890
Debates Os Brics
Emergentes em alta
Retaliação aos EUA
Brasil toma a defensiva
Argentina sob tensão
Governo e oposição em choque
Terremoto no Chile
O custo da recuperação
Narcotráfi co
Aumenta a produção de coca no Peru
6264687074
Finanças Previdência
Planos privados mais acessíveis
Hedge funds
Boas estimativas para 2010
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NESTA EDIÇÃO
ESPECIAL Pequenas e médias empresas sustentáveis54
ESPECIAL Multilatinas JBS
A estratégia da líder
Força regional
Empresas consolidam potencial de internacionalização
Ranking
As multinacionais latino-americanas mais globalizadas
283234
Ilustração de capa: Julio Ramos
1
2
54
14 AméricaEconomia Abril, 2010
LEIA NO PORTALEDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)
www.americaeconomia.com.br
PORTAL
Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil
MINERADORASA Steel do Brasil anunciou a compra da MHAG, mineradora localizada a 120 km da costa do Rio Grande do Norte. O acordo será fechado por US$ 245 milhões, no caso da aquisição de 70% da empresa, e por US$ 350 milhões, para a compra de 100%. A MHAG já está autorizada a iniciar a primeira fase da instalação da mina, com capacidade para produzir 1,2 milhão de toneladas de minério de ferro por ano. O início dos trabalhos está previsto para 2011.
ACORDO SUSTENTÁVELA norte-americana Haworth, fabricante de móveis corporativos e estações de trabalho, desembarcou em São Paulo em busca de parceiros locais para produzir seus móveis. “A ideia para 2010 é lançar de cinco a dez linhas de produtos, entre localizados e importados”, diz Frank Rexach, vice-presidente e gerente-geral da Haworth para as regiões da Ásia Pacífi co, Oriente Médio, África e América Latina.Para se associar à empresa, os candidatos brasilei-ros terão de cumprir algumas premissas, entre elas a de inovar e buscar uma produção sustentável. Com vendas globais que somaram US$ 1,1 bilhão em 2009, a Haworth adota, por exemplo, a produ-ção de peças com bambu, além de trabalhar com matéria-prima reciclada.
A petrolífera britânica BP pagará US$ 7
bilhões à Devon Energy, dos Estados Uni-
dos, para explorar petróleo nas reservas
da costa brasileira e do pré-sal e também
para ampliar sua presença no Golfo do
México. Os ativos da Devon possibilitam
participação em dez blocos exploratórios
no país. Juntas, BP e Devon formarão tam-
bém uma joint venture para explorar óleo
na província de Alberta, no Canadá. A BP
venderá 50% dos direitos que possui nes-
sa reserva à Devon.
COMBUSTÍVEL BRASILEIRO A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) será, pelo segundo ano consecutivo, a fornecedora ofi cial de combustível na temporada 2010 da Fórmula Indy, que começou em São Paulo, no dia 14 de março. A Indy utilizará o combustível de cana-de-açúcar inclusive na etapa mais famosa da categoria, as 500 milhas de In-dianápolis, nos Estados Unidos. Ao todo, 16 das 17 cor-ridas do campeonato contarão com o etanol brasileiro. A única prova que fi cará de fora é a Iowa Corn Indy 250, que tem acordo separado de patrocínio e utilizará o etanol de milho produzido nos EUA.
PARCERIA
Foto
: BP/
Divu
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o
ISSO NUNCA FOI FEITO
ANTES
TM
Emerson.com/Wireless
MELHORAR SUBSTANCIALMENTE DA NOITE PARA O DIA A SEGURANÇA E A PRODUÇÃO DE PETRÓLEO DE UM PAÍS, EM CAMPOS COM MAIS DE 30 ANOS DE EXISTÊNCIA.
16 AméricaEconomia Abril, 2010
CARTA AO LEITOR
O DESAFIO DE PENSAR GLOBALMENTE
E les não gostam de aparecer em fotografi as. Evitam ao máximo
dar declarações à imprensa. E estão à frente de uma das empre-
sas brasileiras que mais agressivamente tem se lançado no mercado
internacional: a JBS-Friboi.
Foram três semanas solicitando entrevistas com executivos do gru-
po, sem sucesso. Na tarde de fechamento desta edição, fomos orientados
pela assessoria de Comunicação a entrar no site da empresa e buscar
as informações, já conhecidas pelo mercado, da última apresentação de
resultados, da qual participou o presidente do grupo, Joesley Batista. Foi
uma ducha de água fria em nossa curiosidade de conhecer e apresentar
a você, leitor, mais informações sobre essa empresa que domina o mer-
cado mundial de processamento de proteínas.
Nossa alternativa foi recorrer aos atentos observadores do mer-
cado e a uma das mais recentes companhias compradas pela JBS, a
norte-americana Pilgrim’s Pride. Talvez por ter uma cultura corpora-
tiva diferente, mais em linha com o mundo globalizado, para nossa
surpresa, fomos prontamente atendidos pelo executivo Gary Rhodes,
vice-presidente de Comunicação Corporativa e Relações com Investi-
dores, que pôde nos contar um pouco das expectativas do negócio a da
recuperação do mercado mundial de carnes.
Antes mesmo de sabermos que a JBS ocuparia o primeiro lugar no
ranking das 60 multinacionais latino-americanas mais globalizadas,
segundo a pesquisa da AméricaEconomia Intelligence, a estratégia de
compras internacionais da empresa já estava em nossa pauta. É um
caso emblemático pela velocidade e dimensão de seu crescimento, e
por isso não deixamos de contá-lo. Sobretudo quando se trata de em-
presas brasileiras, para as quais o processo de internacionalização che-
gou tão atrasado.
O aumento vertiginoso da produção de coca no Peru, o desafi o do
Chile depois do terremoto e a retaliação brasileira aos Estados Unidos
são outros assuntos desta edição.
Boa leitura.
José Roberto Maluf
PUBLISHERJosé Roberto Maluf
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MARKETINGMarcia Leonardi, Elisangela Silva, Rafael Borsanelli
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo Eduardo ColturatoGerente Financeiro Edison Arduino
PROJETOS ESPECIAISTania Macena
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ivo
Prestação de Fiança
US$ 36,679,900.00BNDES Exim
US$ 25,000,000.00BNDES Exim
US$ 72,434,008.53Pre-Export FinancePre-Export Finance
US$ 45,000,000.00BNDES Exim
R$ 100.000.000,00Aquisição de Recebíveis
US$ 30,000,000.00 Pre-Export Finance
US$ 81,583,813.77BNDES Exim
US$ 49,951,300.00Import Finance
US$ 20,000,000.00Pre-Export Finance
Pre-Export Finance
US$ 30,000,000.00 BNDES Exim
US$ 80,000,000.00BNDES Exim
US$ 20,000,000.00Pre-Export Finance
R$ 100.038.799,99BNDES Exim
US$ 60,000,000.00Pre-Export Finance
US$ 22,000,000.00BNDES Exim
BNDES Exim
Máq
uina
se
Equipamentos
US$ 98,000,000.00BNDES Exim
US$ 43,750,000.00Pre-Export Finance
US$ 44,000,000.00Pre-Export Finance
R$ 65.000.000,00Capital de Giro
R$ 330.000.000,00Notas Promissórias
US$ 28,000,000.00BNDES Exim
Tê
xtil
US$ 20,000,000.00Working Capital
US$ 73,200,000.00Pre-Export &
Import Finance
R$ 100.000.000,00BNDES
SAC 0800 729 0722 – Ouvidoria BB 0800 729 5678 – Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088
Comér
cioVarejista e Atacadista
R$ 50.000.000,00CDCI – Crédito Direto ao
Consumidor com Interveniência
R$ 45.000.000,00Capital de Giro
R$ 50.000.000,00Capital de Giro
R$ 110.000.000,00Capital de Giro R$ 124.413.206,09
CDCI – Crédito Direto ao Consumidor com
Interveniência
R$ 93.534.525,84Aquisição de Recebíveis
R$ 30.000.000,00Capital de Giro
R$ 53.834.241,64Soluções de Capital de Giro
R$ 500.000.000,00Emissão de Debêntures
R$ 150.000.000,00Capital de Giro
R$ 200.000.000,00Capital de Giro
R$ 85.000.000,00Capital de Giro
R$ 290.000.000,00Capital de Giro
R$ 183.000.000,00Prestação de Fiança
R$ 50.000.000,00Capital de Giro
Mat
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200
9.
Banco do Brasil.
Parceiro das Grandes Empresas.
bb.com.br/corporate
Alim
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s e Bebidas
R$ 2.000.000.000,00Emissão de Debêntures
R$ 5.290.000.000,00Oferta Pública de Ações
R$ 74.000.000,00Capital de Giro
R$ 709.158.000,00Prestação de Fiança
Soluções em Giro
R$ 30.000.000,00BNDES PEC
R$ 100.000.000,00 BNDES PEC
En
genharia
Serviços
R$ 8.397.208.920,00Oferta Pública de Ações
18 AméricaEconomia Abril, 2010
CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS
Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem. DESCASO?O novo presidente do Chile ignora olimpica-
mente o Brasil, pelo que pude ler nas entreli-
nhas da matéria publicada por vocês (“Novo
no Bairro”, AméricaEconomia No 384, feve-
reiro, 2010). Ele dá ênfase aos vizinhos, aos
EUA, mas não deixa explícito o que quer do
Brasil nem de Lula. Isso signifi ca que as re-
lações entre Brasil e Chile já não são impor-
tantes? LUIS RODRIGUES – BRASIL
RIQUEZA REGIONALInteressante o potencial do açaí plantado
por nossos colegas brasileiros (“Pérola da
Amazônia”, AméricaEconomia No 385, mar-
ço, 2010). Espero que consigam bons proje-
tos para sua industrialização, para que me-
lhore a condição do povo da região norte do
país. KENNY JACK – COLÔMBIA
JOGO LIMPOPara uma forte expansão de marcas, a
alternativa é unir-se ou desaparecer,
como vocês mostraram em “A Mais
Cortejada” (AméricaEconomia No 384,
fevereiro, 2010). Isso é válido para
cervejas industriais que concorrem
mais por preço que por variedade.
Entretanto, nós, da Cervecería Pri-
mus, não estamos de acordo com
a mono ou a oligopo-
lização do mercado,
condicionando crédi-
to ou colocando bar-
reiras à livre escolha
do consumidor em
lugares como res-
taurantes e bares.
Ainda que se diga
que, em teoria, não
haja práticas mo-
nopólicas, elas existem, sim.
RODOLFO ANDREU – MÉXICO
ERRATA:Na seção Pistas da edição de março (Améri-
caEconomia No 385), publicamos incorreta-
mente o nome do presidente da empresa
de saúde Amil, na legenda da foto. O nome
correto do empresário é Edson Bueno.
Cartas para a redação: americaeconomia@springcom.com.br
A.R.P. Ambiental 55
Alcan Embalagens 20
Amil 20
Arcor 36
ASL 20
Avianca 33
Babysol 21
Bairro Novo 23
Barclays 50
Bell 40
Bematech 20
Bertin 28
BM&FBovespa 23
Bombardier 43
BP 14
BR Foods 36
Bradesco 77, 82
Brasilprev 77
Brava Investimentos 23, 28
Camargo Corrêa 19
Carbery 52
Celco 70
Cencosud 20
Cessna 40
Chunchino 59
Ciba 84
Cimpor 19
Citigroup 24
Click & Grow 88
CME Group 20
Codeme Engenharia 21
Codepar 21
Copec 70
Dassault Falcon 42
De Smet 52
Deanmark 88
Desire Petroleum 50
Devon Energy 14
Dixie Toga 20
DKH Investments 81
Dow 84
Duas Rodas 37
Duofl ex 44
DuPont 84
Eli Lilly 84
Embraer 41
Envaril Plastic 20
Envatrip 20
Facilit 20
Fator 82
Fibria 36
Flextronics 50
Fonterra 52
Gafi sa 24
Goldman Sachs 62
Google 87
Grupo Eco 57
G. Nac. de Chocolates 33
Gulfstream 43
Haworth 14
Hypermarcas 20
Ibmec 20
IM Trust 71
InnoCentive 84
Inventta 85
Invit 20
Isa Participações 21
Itap Bemis 20
Itaú 77
IUNI 20
Jaguar Land Rover 48
JBS-Friboi 28
Kaizen 20
King Air 43
Kroton 20
LAN 33
Le Fort 71
Link Investimentos 29
LinkedIn 87
Liongate Capital 80
Luper 20
Marisa 21
Marisol 21
Mauá Investimentos 81
Max Participações 21
Mecânica do Gato 54
Mercer 78
Metform 21
MHAG 14
Moody’s 72
MRV 24
National Beef 28
Natura 37, 85
Neos 85
NineSigma 85
Novartis 84
Ocean Guardian 50
Odebrecht 23
Organização Corona 84
Pantanal Linhas Aéreas 33
Petrobras 26
Pilgrim’s Pride 28
PMP 59
Procter & Gamble 84
Prospectiva 64
Quest Investimentos 81
Research In Motion 50
Rio Tinto 33
Rockdale Beef 29
Römer y Asociados 69
Rossi 23
Santander Brasil 56
Santander Seguros 77
Sapeka 20
Setor 3 Consultoria 54
Softtek 52
Sonda 36
Steel do Brasil 14
Supermercado Família 20
Swift 28
Tabacón Grand Spa 58
Taca 33
TAM 33, 40
Tatiara Meat Company 29
Telemar 36
The Boston Cons. Group 33
The Capital Group 20
Totvs 37
Trevisan 55
Twitter 87
Unica 14
Usiminas 21
Vale 21, 32
Viña De Martino 58
Votorantim 19
Walmart 56
WestLB do Brasil 62
Xstrata 36
York 20
Zeal Optics 88
Zurich 50
Abril, 2010 AméricaEconomia 19
PISTAS
UMA ILHA
PUBLICAMOS “De um lado, temos o G-20 e, do outro, uma tentativa dos EUA e da China de se constituírem no foco de deliberação da agenda mundial. É lastimável que não tenhamos a possibilidade de chegar a um acordo agora.” (Entrevista Paulo Jacques Marcovitch, AméricaEconomia No 382, de-zembro, 2010)
O NOVO China e Índia anunciaram, em março, a adesão ao acordo climá-tico de Copenhague, deixando os EUA isolados. O acordo de Copenhague prevê que os países limitem o aquecimento global a 2 graus em rela-ção aos níveis pré-industriais. China lidera o ranking mundial de polui-ção atmosférica, com 1,92 bilhão de toneladas de CO
2
emitidas em 2008. Os EUA fi cam em se-gundo, com 1,54 bi-lhão de toneladas.
SEM BARREIRAS
PUBLICAMOS Para analistas, o avanço das em-presas Camargo Corrêa e Votorantim na Cimpor, produtora portuguesa de cimento, pode enfrentar problemas de concorrência e uma possível inter-venção do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. (“Desejo Pendente”, AméricaE-conomia No 385, março, 2010)
O NOVO O Cade assinou diversos acordos de Pre-servação de Reversibilidade das Operações, em que Camargo Corrêa, Votorantim, Cimpor e Cim-por Cimentos do Brasil assumiram uma série de obrigações relativas à manutenção de ativos e à proibição de repasse de informações entre si sobre aos mercados brasileiros afetados. O órgão defi niu que tais obrigações são válidas e estão em vigor até a análise defi nitiva dos atos de concentração.
SAI DA FRENTE
PUBLICAMOS O fato de a Casa Rosada acertar na escolha de uma economista considerada capaz e efi ciente para comandar o Banco Central argentino por si só não garante que o governo chegará a usar os US$ 6,57 bilhões do Fundo do Bicentenário. Na Câ-mara dos Deputados, a derrota do governo já é dada como certa. (“Braço de Ferro”, AméricaEconomia No
385, março, 2010)
O NOVO A oposição pensou que ganharia, mas nin-guém contava com a astúcia da
presidente: na abertura do ano legislativo, Cristina Kirchner
(foto) revogou a criação do Fundo, anunciando a pu-
blicação de outro decre-to para a transferência do mesmo valor a um
Fundo do “Desendivi-damento”. O uso da
verba do BC foi blo-queado por uma juíza de primeira
instância, que foi ignora-da pelo go-
verno.
PIOR QUE O ESPERADO
PUBLICAMOS A US$ 70 o barril, o preço internacional do pe-tróleo ainda está alto, mas não o sufi ciente pra saciar o apetite do governo venezuelano, situação que pressagia um cenário difícil para Chávez em 2010. (“Sede de Recursos”, AméricaEco-nomia No 384, fevereiro, 2010)
O NOVO Ao que tudo indica, nem a desvalorização da moeda salvará Hugo Chávez do aperto. O Banco Central (BC) do país anunciou, em março, que o PIB da Venezuela caiu 3,3%, em 2009, retração além da expectativa do governo, que era de 2,9%. Para o BC venezuelano, a recuperação do preço do petró-leo e a expansão do investimento produtivo a partir do segun-do semestre não foram sufi cientes para reverter esse quadro.
Foto
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20 AméricaEconomia Abril, 2010
NEGÓCIO FECHADO
AMIL A empresa do setor de assistência
médica assinou contrato para adquirir a
ASL – Assistência à Saúde Ltda., pelo valor
de R$ 8,6 milhões. A ASL está localizada no
Rio Grande do Norte e possui uma carteira
total de aproximadamente 70 mil benefi -
ciários. De acordo com a Amil, a transação
está sujeita à aprovação da Agência Nacio-
nal de Saúde Suplementar (ANS).
VALOR: R$ 8,6 MILHÕES
BEMATECH A empresa do setor de
automação comercial receberá finan-
ciamento de R$ 30,2 milhões do BNDES
para realizar investimentos em pesquisa
e desenvolvimento (P&D), na melhoria
de processos e na estrutura de vendas.
O projeto ainda prevê a atualização e a
ampliação da linha de produtos da Bema-
tech e a modernização da infraestrutura e
dos sistemas de gestão empresarial.
VALOR: R$ 30,2 MILHÕES
CENCOSUD O grupo varejista chi-
leno fechou um acordo para comprar
100% das ações da rede Supermercado
Família, em uma transação avaliada em
US$ 33,1 milhões. A rede opera quatro lojas
e um centro de distribuição em Fortaleza e
HYPERMARCASA companhia de bens de consumo comprou quatro
empresas, em menos de uma semana, no mês de
março. A primeira foi a fabricante de fraldas Sapeka,
adquirida por R$ 225 milhões. Depois, vieram as em-
presas de produtos de higiene pessoal York e Facilit.
A York atua na fabricação e distribuição de hastes
fl exíveis, curativos, absorventes e algodões, e foi
comprada por R$ 100 milhões. Já a Facilit, empre-
sa do segmento de higiene bucal que atua na
fabricação e distribuição de escovas dentais, fi os
e fi tas dentais e antissépticos bucais foi adquirida
por R$ 79 milhões.
Foto
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conta com mais de 1.200 funcionários.
VALOR: US$ 33,1 MILHÕES
DIXIE TOGA A fabricante de emba-
lagens adquiriu, por meio da sua contro-
lada Itap Bemis, a Alcan Embalagens, do
Brasil, e as empresas argentinas Envaril
Plastic Packaging e Envatrip. O valor da
compra de 100% das ações da Alcan foi
de US$ 104,6 milhões, enquanto para as
duas companhias da Argentina foi de US$
3,9 milhões. As três atuam na fabricação
de embalagens de plásticos fl exíveis.
VALOR ALCAN: US$ 104,6 MILHÕES VALOR ENVARIL E ENVATRIP: US$ 3,9 MILHÕES
CME GROUP A holding norte-ameri-
cana, que controla, entre outras, a Chica-
go Mercantile Exchange (CME), fechou
um acordo para adquirir 1,9% das ações
da Bolsa Mexicana de Valores (BMV), o
equivalente a cerca de US$ 17 milhões.
VALOR: US$ 17 MILHÕES
GRUPO IBMEC Formado por Facul-
dades Ibmec e Veris Faculdades, o grupo
anunciou um aporte de R$ 130 milhões
por parte de fundos de private equity
administrados pelo Capital International
Inc., integrante do The Capital Group
Companies. O montante será aplicado,
principalmente, em projetos de amplia-
ção do campus da Faculdade Ibmec/RJ
e do Ibmec/BH e na expansão do Ibmec
Online, operação de ensino a distância
do grupo.
VALOR: R$ 130 MILHÕES
KAIZEN A empresa de tecnologia da
informação comprou a parte de consul-
toria e a fábrica de software com foco
em SharePoint da Invit, especializada em
inovação e engenharia de software. A
aquisição faz parte dos planos da Kaizen
de alcançar um faturamento de R$ 100
milhões até 2012. O objetivo da com-
panhia, segundo comunicado, é fechar
2010 com um crescimento de 50% na
comparação com o ano anterior. O valor
da transação não foi revelado.
VALOR: NÃO REVELADO
KROTON EDUCACIONAL A em-
presa adquiriu 72,47% do capital social do
IUNI Educacional e a totalidade das ações
das subsidiárias da IUNI por R$ 191,7 mi-
A fabricante de medicamentos Luper foi comprada
pela Hypermarcas pelo valor de R$ 52 milhões.
Segundo a empresa, as transações vêm ao encontro
dos objetivos estratégicos da companhia de adquirir
marcas e ativos no setor de produtos de beleza e
higiene pessoal, marcando sua entrada no mercado
de higiene oral no Brasil.
VALOR FACILIT: R$ 79 MILHÕESVALOR LUPER: R$ 52 MILHÕES VALOR SAPEKA: R$ 225 MILHÕES VALOR YORK: R$ 100 MILHÕES
Abril, 2010 AméricaEconomia 21
atua no mercado de construção em es-
truturas de aço. Já a Metform produz e
comercializa telhas metálicas, steeldeck
e sistemas de cobertura.
VALOR: R$ 129,6 MILHÕES
VALE O grupo brasileiro assinou um
protocolo de intenções de investimento
com o Governo de Minas Gerais, para a
implantação e a expansão de minas e
usinas de benefi ciamento de minério de
ferro no estado. Os projetos abrangem
sete municípios, e os recursos estão distri-
buídos em três empreendimentos: a Mina
Apolo e as usinas Conceição-Itabiritos e
Vargem Grande-Itabiritos.
VALOR: R$ 9,4 BILHÕES
Santa Catarina, anunciou a compra da
totalidade da participação societária na
Babysol Comércio do Vestuário. A Mari-
sol já detinha 50% no capital social da
Babysol. Segundo a Marisol, a transação
para adquirir o controle integral da em-
presa está em linha com seu objetivo
de ampliar a atuação no segmento do
vestuário.
VALOR: NÃO REVELADO
USIMINAS A siderúrgica fechou um
contrato de R$ 129,6 milhões com a Co-
depar e a Isa Participações, controladoras
da Codeme Engenharia e da Metform,
para obter participação de 30,7692% no
capital de cada companhia. A Codeme
lhões. Com a aquisição, a Kroton passará
a contar com 40 campi, e atuará em 28
municípios distribuídos em dez estados.
VALOR: R$ 191,7 MILHÕES
LOJAS MARISA A rede varejista, por
meio de sua subsidiária Marisa S.A., com-
prou 99,99% do capital social da MAX
Participações. O valor da transação foi de
R$ 7,4 milhões, a ser corrigido pela va-
riação do IGPM (Índice Geral de Preços
de Mercado), publicado pela Fundação
Getulio Vargas (FGV).
VALOR: R$ R$ 7,4 MILHÕES
MARISOL O grupo, com sede em
2
CLAUDIO BERGAMO: PRESIDENTE
DA HYPERMARCAS
22 AméricaEconomia Abril, 2010
APELO POPULARPrograma do governo para estimular o mercado de moradia para a população de baixa renda impulsionou o negócio das construtoras ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
Foto
s: Divu
lgaçã
o
NEGÓCIOS CONSTRUÇÃO
O Brasil tem um déficit habi-
tacional de 5,5 milhões de
unidades, 80% relacionadas a
famílias com renda de até três salários
mínimos. Esses dados, revelados por
um estudo do Sindicato da Indústria da
Construção Civil do Estado de São Paulo
(SindusCon-SP) e da Fundação Getulio
Vargas (FGV), são um bom indicador do
potencial impacto de programas como
o Minha Casa, Minha Vida (PMCMV),
lançado pelo governo Lula no início de
2009, com subsídios para o financia-
mento que envolvem R$ 34 bilhões.
Para alguns analistas do merca-
do, até agora, o resultado do progra-
ma deixou a desejar. Segundo dados
da Caixa Econômica Federal enviados
Abril, 2010 AméricaEconomia 23
UMA DAS ETAPAS DE CONSTRUÇÃO
DO EMPREENDIMENTO CAMAÇARI,
NA BAHIA, DA BAIRRO NOVO
ao Tribunal de Contas da União (TCU),
aproximadamente 262 mil moradias
foram contratadas ou fi nanciadas pela
instituição fi nanceira até o fi nal do ano
passado, o que envolveu cerca de R$ 13
bilhões, ou 38% do previsto no progra-
ma, e 1.221 unidades concluídas.
Mas, se, de um lado, o ritmo de fi -
nanciamento e entrega é lento – segun-
do alguns analistas, por causa da adoção
de critérios rígidos de aprovação e uma
capacidade de atendimento aquém da
necessária para o volume de famílias
interessadas em participar do programa
–, de outro, as construtoras brasileiras
aproveitam o momento de otimismo e
recuperação para ganhar esse público.
to da Rossi, diz Martins. Outra constru-
tora que atua no programa Minha Casa,
Minha Vida é a Odebrecht Realizações
Imobiliárias, por meio da empresa Bair-
ro Novo, que já tinha know-how para
construir moradias mais baratas.
“No ano passado, que foi o primeiro
do programa, encerramos o período com
8,1 mil unidades contratadas dentro da
faixa de zero a três salários mínimos e
com mais 14 mil unidades contratadas
na faixa de três a dez salários mínimos,”
diz Roberto Senna, diretor superinten-
dente da Bairro Novo. “A tendência para
2010 é de que a gente iguale ou até mes-
mo supere esses números.”
A participação de projetos para o
segmento de baixa renda representa
um percentual pequeno no portfólio do
Grupo Odebrecht, por ser uma empresa
start-up, com operações desde 2007. “Mas
a perspectiva é de que haja equilíbrio na
expansão. A projeção é de que a baixa
renda cresça e que represente relativa-
mente 50% a 60% do portfólio consolida-
do,” diz o diretor-superintendente.
De acordo com analistas, o setor
de construção civil é mais suscetível a
uma fuga de investidores, se compara-
do a outros segmentos, em função da
carência de informações consolidadas
e pelo fato de ser um setor novo na
Bolsa de Valores. “Há muita informação
negativa no setor, fazendo com que
investidores realizem lucros mais pesa-
dos a qualquer sinal de instabilidade,”
diz um analista da equipe da Brava
Investimentos. “Acabou esse problema:
o investidor voltou a apostar no setor e,
por isso, houve grandes saltos.”
Em função de uma retomada da con-
fi ança do investidor e, como consequên-
cia, de um maior volume de negociações
na BMF&Bovespa, muitas construtoras
registraram lucratividade nos últimos
12 meses, encerrados em fevereiro de
2010, como é o caso da Gafi sa (179,5%),
da MRV (283,6%) e da Rossi (336,4%), de
acordo com dados da Bolsa de Valores.
NOVOS CAMINHOSPara atrair a atenção e o bolso dessa fatia
da população, algumas companhias
investiram em uma linguagem de mer-
cado específi ca para o Minha Casa, Mi-
nha Vida. Esse é caso da construtora e
incorporadora Rossi, que conta com uma
linha específi ca para a iniciativa. “Nosso
foco é a população com remuneração
de três a seis salários mínimos,” afi rma
Rodrigo Martins, diretor do Segmento
Econômico da Rossi. “No segmento eco-
nômico da empresa, pretendemos lan-
çar aproximadamente 25 mil unidades,
em 2010, em todo o Brasil.”
Essa parcela representa de 50% a
55%, aproximadamente, do faturamen-
24 AméricaEconomia Abril, 2010
34 160
46
48
4200203
1
32
Unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vidacontratadas e concluídas até 30 de dezembro de 2009
Fonte: Caixa Econômica Federal
Total de unidades hab.: 1.221275 2
BahBahBahBBaBaBahBaBaBahBaBahBahahaahiaiaiaiaiaiaaaaiaaiaaa
MinMinMinMinMinMinMinMinMiniMinMMiM asasasasassasassGerGerGerGerGeGerrGerGeGerGG aisaisaisaisaisaa
SãoSãSãoSãoSãoSãoSãoSãooSãoSãoSãoSãSãSãooS ooPauPauPaauPauPauPauPauPauPaaPauPauaauaaaPPPaP lolololololollooo
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Rondônia
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De acordo com a Brava, a valoriza-
ção dessas empresas não está ligada
diretamente ao pacote habitacional,
e sim “à retomada de um sentimento
mais favorável em renda variável”, fa-
zendo com que investidores apliquem
recursos no setor de construção civil,
dizem os analistas da empresa.
OUTRO MILHÃODe qualquer forma, o setor comemo-
rou, no fi nal de fevereiro, o anúncio do
presidente Lula de uma segunda fase
do programa, com o objetivo de cons-
truir mais 1 milhão de moradias, cujos
detalhes seriam anunciados depois do
fechamento desta edição.
Exagero, já que os resultados concre-
tos até agora são pequenos? A princípio
não, pois o próprio TCU observou, em
relação aos resultados de 2009, “que a
meta de 1 milhão de casas é relativa ao
triênio 2009/2011, e entende-se oportu-
no continuar acompanhando o ritmo de
conclusão das moradias contratadas”.
Para a equipe de analistas da Brava
Investimentos, desde seu início, o pro-
grama teve viés mais político do que
econômico e, por isso, favorecerá mais
a plataforma governamental do que
construtoras ou famílias que buscam
uma moradia por meio da iniciativa. “O
pacote habitacional foi lançado um ano
antes do período eleitoral, justamente
para criar corpo e ter uma estratégia de
propaganda,” afi rmou um analista.
Em relatório divulgado no come-
ço de março, o Citigroup recomendou
cautela em relação aos detalhes do pro-
grama, sobretudo quanto à qualidade
do incentivo e seu prazo de duração. De
qualquer forma, ressaltou que o con-
texto de eleições favorecia o segmento
da construção civil.
Há consenso, porém, no fato de
que, com tamanho défi cit, não se pode
descartar nenhuma possibilidade de
reduzi-lo. “Sem um programa estrutu-
rado que viabilize o acesso dessa popu-
lação de menor renda à sua moradia
própria e digna, esse problema não será
resolvido”, diz Senna, da empresa Bair-
ro Novo. A principal meta estabelecida
pelo Minha Casa, Minha Vida é a redu-
ção do défi cit habitacional brasileiro
em 14%. E há ainda muito espaço para
diminuir esse índice.
NEGÓCIOS CONSTRUÇÃO
EMPREENDIMENTO DA ROSSI, NO RIO DE
JANEIRO: EMPRESA LANÇOU LINHA ESPECÍFICA
PARA ATENDER O PROGRAMA DO GOVERNO
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26 AméricaEconomia Abril, 2010
OPINIÃO
A COPA E O PRÉ-SAL
Ilust
raçã
o: Sa
mue
l Cas
al
C aminhamos para um cenário mundial em que o Bra-
sil é visto como “a bola da vez”. Ao que tudo indica, te-
remos grandes investidores interessados em partici-
par dos projetos que envolvem a Copa de 2014, as Olimpíadas
de 2016 e o pré-sal para as calendas. E o Brasil precisa estar
preparado para oferecer modelos autossustentáveis.
A maioria desses eventos dependerá de muito investi-
mento. Por exemplo, quem hoje visita o Estádio do Morumbi,
na capital paulista, chega rapidamente à conclusão de que
o lugar não poderia sediar nenhum jogo da Copa. Ou seja,
preparar aquele e outros espaços para esse evento é um de-
safi o que envolverá a União, os estados e os municípios, para
gerir várias desapropriações e licitações. No caso do estádio
paulista, isso trará uma chance real de reurbanizar a região,
que hoje sofre com o congestionamento. Isso para dar apenas
um exemplo de quão complexa, e ao mesmo tempo benéfi ca,
poderá ser uma Copa do Mundo com jogos em São Paulo.
Um dos maiores projetos é o trem-
bala entre Campinas e Rio de Janeiro.
Entretanto, para se concretizar, mui-
tas questões ainda estão em aberto.
Entre elas, talvez as mais importantes
são o prazo de implantação e a viabilidade econômica. Será
quase impossível não utilizar as parcerias público-privadas
(PPPs), modelo criado pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso e concluído com estertores por Luiz Inácio Lula da
Silva. Isso em um cenário mundial em que, em sua maio-
ria, os trens-bala são defi citários (o Eurostar é um exemplo
disso), pois a PPP nada mais é do que a concessão do serviço
público não lucrativo, que, aliás, poderia muito bem ter sido
regulada por uma lei geral de garantias.
Outro exemplo é o novo marco regulatório do pré-sal
– sobre o qual me permito uma jocosa alusão às “calendas
gregas”, ou o dia que nunca há de vir. Ainda não há consenso
sobre esse tema, e um debate ideológico já se estabeleceu. De
um lado, investidores estrangeiros defendem que a Petrobras
não tenha assento-nato no novo negócio; de outro, o governo
alega que apenas a Petrobras e o regime de óleo-lucro podem
impedir que se derrube o preço do petróleo para usufruir
desse estoque de hidrocarboneto. Seja qual for o texto fi nal
da nova lei, a estrutura administrativa brasileira, indepen-
dentemente do partido político que esteja no poder, não está
preparada para modelar os novos negócios.
O ponto convergente entre o pré-sal e a Copa é exatamen-
te essa falta de operacionalidade. O cenário de incertezas
afasta os empresários. A maior prova dessa inoperância são
as paralisações promovidas pelo TCU (Tribunal de Contas da
União), tendo o Governo Federal adotado como estratégia ar-
rostar o Tribunal. Se as Cortes de Contas estão exagerando – e
parece que estão –, isso é apenas um detalhe, se comparado
à evidente necessidade de uma melhor estruturação dos
projetos e licitações.
Urge que seja criado um órgão para gerenciar modelos e
projetos de forma sistemática. Atualmente, um empresário
que tenha um projeto tem de procurar um deputado, que
vai de porta em porta fazer chegar o tal “piloto” aos vários
escaninhos do poder. Nesse contexto, algumas pessoas se
apoderam daquilo que ainda nem foi colocado em licitação,
afastando outros potenciais investidores.
Desde 1995, a Lei Geral de Concessões diz, em seu arti-
go 21, que os “estudos, investigações,
levantamentos, projetos, obras e des-
pesas ou investimentos já efetuados,
vinculados à concessão, de utilidade
para a licitação, realizados pelo poder
concedente ou com a sua autorização, estarão à disposição
dos interessados, devendo o vencedor da licitação ressarcir os
dispêndios correspondentes, especifi cados no edital”. Assim,
tanto a iniciativa privada quanto o Governo poderiam bus-
car um modo de organizar e centralizar os projetos.
Uma solução seria criar um “serviço social autônomo”,
visando receber e centralizar os projetos da iniciativa pri-
vada. Ou, então, que alguma das confederações nacionais
reunisse investidores e assistentes técnicos (economistas,
engenheiros, advogados etc.) que desejem contribuir ou
apresentar projetos (o que poderia ser feito por simples
decreto de organização). Permanecendo o cenário atual,
entretanto, a catástrofe será inevitável. Em 2010, teremos
eleições, e o país estará paralisado. Isso é muito ruim,
sobretudo para aqueles que acreditam que bons serviços
podem ser prestados nesse setor, com inegáveis benefícios
para a sociedade brasileira.
GEORGHIO ALESSANDRO TOMELIN é advogado, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, consultor do Demarest e Almeida Advogados.
O cenário de incertezas
afasta os empresários
28 AméricaEconomia Abril, 2010
SEM DESCANSOCom mais de 30 aquisições nos últimos 15 anos, parte delas no exterior, a JBS-Friboi se torna a gigante multinacional mais globalizada da América Latina
SOLANGE MONTEIRO E ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
Q uando, em fevereiro do ano
passado, a Justiça norte-ame-
ricana impediu a compra da
empresa National Beef pela JBS-Friboi,
muitos analistas apostaram que esse
era o sinal de trégua da brasileira na-
quele país. “Eles chegaram aos Estados
Unidos de forma agressiva e inespera-
da [com a compra da Swift, em 2007],
mas não voltarão a comprar nos EUA
– no caso de frigorífi cos, por questões
regulatórias”, disse, na época, Jim Robb,
economista e diretor do The Livestock
Marketing Information Center (LMIC),
à revista AméricaEconomia.
O fato com o qual observadores co-
mo Robb não contavam era o de que a
empresa, que então já era a maior pro-
cessadora de carne bovina do mundo,
aproveitaria a crise para impulsionar
seus planos de diversificação com a
compra do controle da Pilgrim’s Pride,
segunda maior do setor de frango nos
EUA, com capacidade diária de abate
de 7,2 milhões de unidades. “A crise
ajudou ativos para os quais empresas
brasileiras olhavam com cobiça a se
tornarem viáveis, em uma relação co-
mo a da classe média com o carro ze-
ro quilômetro,” compara Pedro Kraus,
professor de Comércio Exterior da FGV
(Fundação Getulio Vargas). Guardadas
as proporções, o fato é que o processo
de recuperação judicial a que a Pilgrim’s
estava submetida facilitou a oferta da
brasileira. “Se vivêssemos o padrão da
economia de 2004 ou 2005, seria muito
mais difícil ver essa sequência de com-
pras”, diz um representante da equi-
pe de análise da Brava Investimentos,
em São Paulo. Hoje, Robb aposta que
a JBS–Friboi não vai parar de crescer.
“Entretanto, será cada vez mais difícil
encontrar pechinchas nos setores de
carne e frango”, diz, destacando, ainda,
que o ambiente regulatório dos EUA
ESPECIAL MULTILATINAS
Foto
: iSto
ckph
oto
limitará a empresa de realizar outras
grandes compras também no setor de
frango. “O que, por outro lado, não a
impede de aumentar sua participação
no capital da Pilgrim’s”, lembra.
Hoje, a JBS detém 64% da norte-
americana. Com essa compra, mais a da
Abril, 2010 AméricaEconomia 29
30bilhões de dólares
foram as vendas da JBS-Friboi
em 2009
brasileira Bertin, ambas anunciadas em
setembro de 2009, a JBS transformou-
se em uma empresa com faturamento
anual de US$ 30 bilhões. Um crescimen-
to vertiginoso, se comparado às vendas
de US$ 1,5 bilhão registradas em 2005.
E o principal: com a maior parte de sua
capacidade de abate fora do Brasil, o
que coloca a companhia no primeiro
lugar do ranking AméricaEconomia das
multinacionais latino-americanas mais
globalizadas (veja ranking à pág. 34). “É
uma forte estratégia de longo prazo, fo-
cada na diversifi cação geográfi ca da pro-
dução, que evita as
restrições de mer-
cado por embar-
gos, além de gerar
ganhos de escala”,
diz Rafael Cintra,
da Link Investi-
mentos. “A compa-
nhia ganhará não
apenas com o po-
tencial do mercado
e das exportações
norte-americanas,
quando estes se recuperarem, mas tam-
bém no mercado asiático, que poderá ser
abastecido pelas operações que a JBS es-
tá fortalecendo na Austrália”, diz o ana-
lista da Brava. Nesse país, a JBS concluiu
a compra da processadora de ovinos
Tatiara Meat Company, em janeiro, e, em
março, através da subsidiária Swift Aus-
trália, fechou um acordo para potencial
aquisição da companhia Rockdale Beef,
que tem capacidade de abate de 200 mil
bois ao ano.
QUERIDA NO MERCADONa Pilgrim’s, o otimismo é presente, ain-
da que moderado. “Estamos consideran-
do reabrir uma de nossas fábricas ocio-
sas nos Estados Unidos antes do fi nal do
ano”, diz Gary Rhodes, vice-presidente
de Comunicação Corporativa e Rela-
ções com Investidores da Pilgrim’s, nos
EUA. “A indústria de frangos parece dar
sinais de melhora. Estamos satisfeitos
com o progresso que fi zemos, mas está
claro que ainda temos muito trabalho
pela frente para posicionar a Pilgrim’s
para um cresci-
mento sustentado
e lucrativo.”
M e s m o c om
baixa perspectiva
de recuperação do
mercado interna-
cional no curto pra-
zo, a JBS não parece
se preocupar com o
endividamento ge-
rado por sua estra-
tégia de compras. A
aquisição do controle da Pilgrim’s e a in-
corporação da Bertin engordaram as dí-
vidas da empresa, que fechou 2009 com
um montante líquido de R$ 9,4 bilhões
e uma relação entre dívida líquida e
Ebitda (lucro antes dos juros, impostos,
depreciação e amortização) de 3,1 vezes.
Contatada, a JBS não atendeu ao pedido
de entrevista de AméricaEconomia pa-
ra comentar o assunto. Em conferência
de apresentação de resultados, realiza-
da em março, o presidente da empresa,
Joesley Batista, demonstrou reconhe-
cer esse fato. “Vamos focar para redu-
zir essa relação para 2 vezes este ano”,
declarou na ocasião, afi rmando que o
foco da companhia, em 2010, seria o de
reduzir a dívida, gerar caixa e expandir
as margens. Em 2009, a empresa fechou
30 AméricaEconomia Abril, 2010
com margem Ebitda de 5,5%; em 2005,
era de 11,2%.
“O nível da dívida hoje se encontra
em um padrão fora do razoável, mas
nos parece temporário”, diz Cintra, da
Link Corretora. Para o analista da Bra-
va, o que caracterizou a confi ança do
mercado até hoje foi que “o ritmo de
aquisições sempre foi acompanhado
por anúncios de captações, o que tran-
quiliza o investidor”.
Até o fechamento desta edição, a
empresa havia adiado o lançamento
da oferta de ações no Brasil. Anterior-
mente, a JBS já tinha anunciado a pror-
rogação da abertura de capital da JBS
USA nos Estados Unidos, alegando con-
texto desfavorável. “Emissões sempre
chamam a atenção do mercado para o
controle da empresa; em fase de ajuste,
talvez seja um ponto positivo”, diz Ál-
varo Cyrino, da Fundação Dom Cabral.
Além de um bom perfi l de dívida,
com 63% do total sendo de longo prazo,
outro fator inquestionável que influi
na tranquilidade do mercado é a aju-
da do Banco Nacional de Desenvolvi-
mento Econômico e Social (BNDES) aos
negócios da empresa, o que também
acontece com outras multinacionais
brasileiras (veja reportagem à pág. 32).
Segundo analistas, o apoio do BNDES,
11,8 8,9 8,0 5,8 3,2 2,6 2,1 1,6 1,3 1,3 1,3 0,9 0,7 0,6 0,6 0,5 0,5 4,9 56,8
Produção mundialde carne bovina em 2009*
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)*em milhares de toneladas**inclui carne de búfalo
0
20
10
30
40
50E
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dia
Jap
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Uru
gu
ai
Ou
tro
s
Co
lôm
bia
Áfr
ica
do
Su
l
que começou com a primeira aquisição
internacional em 2005, da Swift Argen-
tina, já soma pelo menos R$ 7,5 bilhões.
No começo do ano, o banco comprou
quase a totalidade das debêntures con-
versíveis em ações da holding JBS USA
emitidas pela companhia, com as quais
esta arrecadou cerca de US$ 2 bilhões.
Hoje, o BNDESPar (BNDES Participações)
possui 19% da empresa.
“O banco está tendo uma ótica de
balança comercial: você faz grandes in-
vestimentos em poucos grupos. E esses
grupos vão ampliar a corrente de comér-
cio do Brasil. É um processo natural”, diz
Kraus, da FGV. “É muito mais fácil, sob
ESPECIAL MULTILATINAS
PRODUÇÃO DA PILGRIM’S:
OTIMISMO QUANTO À
RETOMADA DO MERCADO
Foto
: Pilg
rim’s P
ride
Abril, 2010 AméricaEconomia 31
o ponto de vista governamental, você
apostar em poucos grupos grandes do
que pulverizar esse capital, principal-
mente entre empresas que não estariam
preparadas.”
Mas não é uma
opção apoiada por
todos. A aparente
predileção do BNDES
pela JBS-Friboi levou
o presidente da As-
sociação Brasileira
de Frigorífi cos (Abra-
frigo), Péricles Sa-
lazar, a enviar uma
carta ao presidente
do banco, Luciano Coutinho. Nesta, Sa-
lazar diz reconhecer os méritos da JBS,
mas argumenta que tal concentração
de esforços na companhia está forçan-
do a rendição de frigorífi cos, limitando
a opção de venda dos criadores. Apesar
de confi rmar o envio e o conteúdo da
carta, Salazar não quis comentá-la com
a AméricaEconomia.
De qualquer forma, mais do que
apoio financeiro, a tranquilidade do
mercado também parece repousar na
confiança no modelo de gestão que a
famí l ia Batista,
controladora da
companhia, tem
aplicado até ago-
ra. “Eles já têm o
exemplo de um tur-
naround bem-suce-
dido da Swift”, lem-
bra Rafael Cintra,
da Link Corretora.
“Também já mos-
traram uma recu-
peração da margem Ebitda em reais
em 2009, e espera-se que até o fi nal do
ano se comece a ver o resultado de siner-
gias da Bertin e da Pilgrim’s”, afi rma.
Agora, o foco do mercado está, além
da nova possível compra da Rockdale
Beef, e da preocupação da empresa em
investir em distribuição, na possibili-
dade de a JBS engrossar seu braço de
lácteos, através da Vigor.
TESTE DE RESISTÊNCIAAté hoje, a JBS tem conseguido replicar o
método de gestão enxuta conforme seu
próprio manual. Na Bertin, por exemplo,
já se pode constatar a redução de níveis
hierárquicos, com demissões e realoca-
ções. Kraus, da FGV, ressalta importân-
cia do momento de reestruturação para
evitar o que ele chama de ressaca. “Após
a euforia é que podem surgir alguns
defeitos residuais desse crescimento.”
Para ele, “uma das grandes difi culdades
é garantir sinergia a essas diferentes
operações”. Kraus acha difícil avaliar o
resultado de incorporações em menos
de três anos. “Para nós, brasileiros, isso
tudo ainda é muito novo. Há empresas
na Europa e nos EUA que são internacio-
nais há mais de cem anos, e nós estamos
chegando agora no mercado.”
No caso da JBS, os analistas apon-
tam que, embora bem-sucedida até o
momento, o terreno da diversifi cação
poderá signifi car novidades no cami-
nho, seja pelo fato de a companhia tra-
balhar com produtos de maior valor
agregado, seja porque suas proporções
cada vez mais gigantescas poderão de-
mandar reformulações nesse modelo
de gestão mais direta e centralizada.
Será que os empresários já cogitam
alguma mudança? Quando se trata do
hermético núcleo dos Batista, é difícil
estimar qual a nova cartada. E, mais
ainda, quem será o próximo alvo.
19%é a participação
acionária do BNDESPar na JBS
Consumo mundialde carne bovina em 2009*
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
*em milhares de toneladas**inclui carne de búfalo
Total
outros
56.116
11.43912.310
EUA
8.310União
Europeia
7.410
5.751
Brasil
China
2.642
1.985
1.968
1.8801.2321.189
Argentina
Índia**
Rússia
México
Paquistão
Japão
32 AméricaEconomia Abril, 2010
MARCAR POSIÇÃOA crise não se impôs no jogo da maioria das multinacionais latino-americanas, que demonstram melhora em seu potencial de internacionalização
EQUIPE AMÉRICAECONOMIA
O ano de 2009 foi de jogadas es-
tratégicas para muitas multi-
nacionais latino-americanas,
companhias que, em nossa revista, são
chamadas de multilatinas. Mesmo com
retração do consumo nas principais
economias do mundo, descenso no pre-
ço das commodities e cenário geral de
pouca liquidez, essas empresas soube-
ram tirar partido e ganhar posições:
seja para aproveitar a queda no preço
dos ativos de concorrentes estrangeiras
e sair às compras, seja para ordenar a
casa e aproveitar as benesses de um
mercado doméstico menos afetado pe-
lo furacão da crise, enquanto a situação
mundial não se estabiliza.
No Brasil, essa tendência refl etiu-
se das mais diferentes formas. A JBS,
número 1 do ranking realizado pelo de-
partamento de pesquisa AméricaEcono-
mía Intelligence, a partir de informações
enviadas pelas próprias empresas, é um
bom exemplo disso. Ao unir-se com a Foto
: 1 -
iStoc
kpho
to
Bertin e comprar 64% da norte-ameri-
cana Pilgrim’s Pride, que se encontrava
em recuperação judicial, a JBS reforçou
ainda mais sua posição internacional.
“As indústrias de alimentos em geral so-
freram menos o impacto da crise, e a JBS
sabe que está plantando para colher no
futuro”, diz o economista Álvaro Cyrino,
da Fundação Dom Cabral (FDC).
Essa não foi a única direção toma-
da pelas multinacionais brasileiras. O
jogo da Vale, por exemplo, incluiu uma
ESPECIAL MULTILATINAS
1
Abril, 2010 AméricaEconomia 33
120.000
80.000
40.000
100.000
60.000
20.000
0
Fonte: AE Intelligence
Vale Petrobrás Itaú
Unibanco
Gerdau Grupo JBS
(Friboi)
Telmex Cemex PDVSA Andrade
Gutierrez
Femsa
FotossínteseAs 10 empresas com maior potencial de ampliar seus negócios internacionalmente
27
.85
2,4
15.2
42
,4
9.1
15,3
101.
94
8,4
5.8
86
,1
15.3
42
,4
5.8
04
,5
64
4,4 15
.13
8,7
107
,9
75
8.3
1.5
66
,6
-16
6,1
6.0
00
,0
Vendas 2009 em (US$ mi)
Lucro 2009(em US$ mi)
Potencial de Crescimento internacional
4.5
00
,0
44
.24
2,0
20
.54
7,8
68
.00
0,0
15.0
80
,0
9691
8278 78 78 78
77 7695
10
-10
-20
20
0
Fonte: Economática, AE Intelligence (cálculo com base nas empresas que participam do ranking).
Reflexo desigualVariação da receita líquida por país, entre dez. de 2008 e dez. de 2009 (em %)
Total
MultilatinasAméricaCentral
Peru
México
Chile
Brasil
Argentina
Colômbia
24,4
7,6
2,4
-7,9-7,0
-13,2
-4,7
tacada que reduziu a força internacio-
nal da concorrência: aproveitou-se da
fragilidade financeira da Rio Tinto e
comprou as operações de minério de
ferro de Corumbá, no Mato Grosso do
Sul, pertencentes à mineradora com se-
de no Reino Unido e a outras entidades
controladas. Já a TAM, ainda que não
tenha se aventurado no mercado inter-
nacional de fusões e aquisições, adqui-
riu a Pantanal Linhas Aéreas, que aten-
de cidades médias nos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Paraná. Esse mo-
vimento se antecipa aos de outras mul-
tinacionais da região, co-
mo LAN e Avianca, que
já declararam interesse
em abordar o mercado
brasileiro. “Com o bom
momento vivido pela
economia brasileira, es-
tá claro que, em alguns
setores, o maior emba-
te competitivo com as
multinacionais se dará
no mercado doméstico”,
diz Ignacio Peña, sócio
do The Boston Consul-
ting Group no Brasil, que
também estuda o movi-
mento das multinacio-
nais latino-americanas.
VANTAGEM REGIONALNo restante da América Latina, as com-
panhias também apresentaram bom
desempenho em um contexto de crise.
Uma das vantagens está no fato de
que cerca de 60% dos investimentos
internacionais dessas empresas estão
concentrados na própria região, o que
as dotou de uma estabilidade pouco
vista por multinacionais do restante
do mundo. “Com sistemas fi nanceiros e
mercados que resistiram à crise, em ge-
ral, a maior parte das multilatinas pôde
se manter operando com economias
de escala, já que os mercados latino-
americanos começaram a se recupe-
rar mais rapidamente”, diz Gustavo
Genoni, diretor do programa de MBA
da Universidad Torcuto di Tella, em
Buenos Aires.
Um bom exemplo disso vem da Co-
lômbia. Com um salto do 54º para o 22º
lugar no ranking, o Grupo Nacional de
Chocolates registrou números invejá-
veis no ano passado. A empresa cres-
ceu 14,4%, acima da média registrada
entre as 60 companhias presentes no
ranking, de 2,4%.
34 AméricaEconomia Abril, 2010
ESPECIAL MULTILATINAS
Abril, 2010 AméricaEconomia 35
Tirar proveito da situação parti-
cular de cada mercado, como câmbio
ou taxas de juros mais convenientes,
foi uma das vantagens aproveitadas
pela empresa, presente em 15 países, a
maioria da América do Sul e Central.
E há outros exemplos. No caso da
chilena Sonda, de TI, a presença no Bra-
sil a dotou de uma força extra, refl etida
nos resultados: em 2009, 52% dos novos
contratos saíram do país. Genoni, da
Universidad Torcuto di Tella, também
lembra o exemplo da Arcor. “Ela apro-
veitou o bom contexto econômico do
Peru, onde não houve recessão de crédi-
to, para focar sua expansão lá.”
de duas grandes companhias acabou
se convertendo na criação de duas gi-
gantes. “Para ter uma ideia, os bancos
públicos representaram 73% do crédito
ao setor privado, em 2009, no Brasil”,
lembra a espanhola Lourdes Casanova,
especialista do Insead e autora do livro
Global Latinas: Latin America’s Emerging
Multinationals (Latinas Globais: As Mul-
tinacionais Emergentes da América La-
tina). Lourdes ainda destaca o fato de o
BNDES ser o maior acionista de grandes
companhias brasileiras, como Telemar
e JBS, e que fatos como esses justifi cam
os questionamentos sobre se o país vi-
ve um processo de renacionalização do
setor privado. “Nem sempre essa opção
traz exemplos positivos”, diz, referindo
ao fracasso das negociações da Vale pela
Xstrata, “atribuído por alguns às pres-
sões do governo, que defendia que a Vale
deveria investir mais no país”.
Cyrino, do FDC, pondera que não há
precedentes na história em que gran-
des nacionais não tenham sido ajuda-
das pelo governo de alguma forma.
“Isso aconteceu no Japão e nos Estados
Unidos. Neste último, considerado o
OPERAÇÃO DA VALE NO BRASIL: ESTRATÉGIA
DE COMPRAS ENFRAQUECEU A CONCORRÊNCIA
O FATOR BNDESNo caso do Brasil, os analistas são unâ-
nimes em destacar o apoio do Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) como condição inegável ao im-
pulso das multinacionais do país, uma
ajuda que se verá mais bem refl etida no
ranking de 2010, quando a análise das
companhias Sadia e Aracruz – que sofre-
ram um forte golpe por conta da aposta
em derivativos cambiais em 2008 – será
substituída pela da BR Foods (resultado
da compra da Sadia pela Perdigão) e da
Fibria (união de Aracruz e Votorantim
Celulose e Papel). Graças ao banco, o
que poderia derivar em uma grave crise
ESPECIAL MULTILATINAS
NATURA: EXEMPLO VITORIOSO
DA MARCA BRASIL NO EXTERIOR
mais liberal de todos, mais de 50% da
área de Pesquisa e Desenvolvimento
depende de apoio do Estado”, exem-
plifi ca. “Além disso, temos dois outros
fatores importantes jogando contra:
entramos tardiamente no processo de
internacionalização e, à contramão das
economias mais avançadas, temos di-
fi culdades estruturais que criam des-
vantagens para as empresas.”
A TAREFA PENDENTEO otimismo quanto ao potencial de
internacionalização das empresas bra-
sileiras visto pelos analistas vai além
do fator BNDES. “Podemos identifi car
um processo concreto nas empresas de
criar oportunidades no exterior”, diz
Peña. “Não importam o setor e o nível
de faturamento, vemos apetite e condi-
ções de management muito mais ade-
quadas para concretizar um processo
de internacionalização a longo prazo.”
Entretanto, para fazer com que essa
lista de empresas cresça e se diversifi -
que, os analistas apontam que o grande
desafi o continua sendo o fator marca.
“Hoje, as empresas brasileiras ainda
têm um forte problema de branding”,
afi rma Luiz Antônio Dib, professor do
Coopead-RJ. Cyrino, da FDC, concorda.
“Temos múltis voltadas às commodi-
ties, e uma segunda onda importante,
de empresas como Totvs (área de TI) e
Duas Rodas (alimentos). Mas chegar à
ponta do consumo é difícil”, afi rma. “É
só ver o exemplo da Natura, que é para-
digmático, pois a empresa levou mais
de 15 anos para chegar onde está.” Uma
batalha cujo resultado estará refl etido
nas próximas edições do ranking.
Conheça a metodologia do ranking de multilatinas em nosso site: www.americaeconomia.com.br
38 AméricaEconomia Abril, 2010
OPINIÃO
CORRIGIR DEFICIÊNCIAS
Ilust
raçã
o: Sa
mue
l Cas
al
A América Latina abriga 10%
da população da Terra e res-
ponde por 5% do total do PIB
mundial. No entanto, menos de 2,5%
das mil maiores empresas do mundo
são originárias da região. Muito já se analisou a economia
do nosso continente dos pontos de vista macroeconômico e
estrutural, mas quase nada se tentou pela ótica de suas em-
presas e da forma como elas são geridas. Nesse sentido, muito
ainda pode ser feito na melhoria do ambiente empresarial
e da microeconomia, para que um número muito maior de
empresas possa fl orescer e avançar no mundo globalizado.
Questões como a fortíssima infl uência da família e das ami-
zades, ou a visão de que é sempre possível obter favores por
parte dos governos, acabam permeando a forma de gestão
em todos os países latino-americanos.
Um dos traços mais característicos de nosso modo de
gerir empresas, e também um dos mais problemáticos, é que
a quase totalidade das grandes empresas latino-americanas
tem seu controle acionário nas mãos de um indivíduo ou de
uma ou duas famílias. Isso leva a um afrouxamento dos con-
troles sobre os resultados e à ausência de profi ssionalização
da gestão, ou seja, os acionistas, muitas vezes, não cobram
resultados porque eles mesmos são os executivos. É comum
os donos das empresas não conseguirem separar claramente
os limites da empresa dos da família. O contrário ocorre nos
Estados Unidos, onde o capital da grande empresa é muito
mais pulverizado, e a pressão dos acionistas minoritários por
resultados consistentes é muito maior.
Outra diferença importante na forma de gerir empresas
entre Estados Unidos e América Latina, por exemplo, é de
ordem fi losófi ca e está ligada ao papel histórico que as em-
presas tiveram no desenvolvimento econômico das duas
regiões. Nos EUA, empresas e empresários assumiram um
papel preponderante, até mesmo no processo de conquista e
integração territorial, ao longo dos séculos 18 e 19, como mos-
tram as grandes estradas de ferro, quase todas privadas. Já na
América Latina, toda colonização, conquista e integração ter-
ritorial nos principais países aconteceu sob a égide do Estado,
tendo a iniciativa privada se ausentado totalmente.
Alguns raros casos de empresários empreendedores,
como o Barão de Mauá, foram hostilizados pelos demais
empresários da época e até boicotados pelo Império. Essa ca-
racterística da colonização gerou um aspecto cultural que até
hoje perdura, de que o investidor privado latino-americano
age se o governo agir antes, ou seja, os empresários latino-
americanos frequentemente optam
por entregar ao governo decisões alta-
mente complexas que se referem aos
seus próprios negócios.
Por outro lado, quando há proble-
mas ou fracassos nas suas empresas,
o primeiro culpado a ser apontado é
o governo. Ou o fornecedor, os sindicatos de trabalhadores,
ou até mesmo o cliente, quando não a natureza; mas nunca
a própria empresa e seus acionistas ou executivos. Dessa
forma, boa parte dos empresários latino-americanos perde a
grande chance de examinar a competitividade de suas com-
panhias. Deixam de perceber que o grande problema que põe
em risco a vida de seus negócios é sua própria incapacidade
de gerar produtos de qualidade, a preços acessíveis, adequa-
dos às necessidades e aos desejos de seus consumidores.
O tema “diversidade cultural” tem atraído considerável
atenção, nos últimos anos. As grandes empresas internacio-
nais perceberam que, para operar efi cazmente em diversos
países, é preciso reconhecer que pode ser necessário atuar de
forma diferente em cada um deles.
O que está faltando é que nós, latino-americanos, nos
debrucemos sobre nossas defi ciências gerenciais e iniciemos
o processo de correção das mesmas. Ou seja, temos de “por o
dedo na ferida”; caso contrário, o número de empresas rele-
vantes de nosso continente com projeção internacional só
tenderá a diminuir ainda mais.
PAULO ROBERTO FELDMANN é professor da FEA-USP, foi executivo de empresas como Microsoft e Ernst&Young, e é autor do livro Empresas Latino-americanas.
Quando há fracassos,
o primeiro culpado
apontado é o governo
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40 AméricaEconomia Abril, 2010
CÉU DE BRIGADEIRODiante da retração nos Estados Unidos e na Europa, o mercado brasileiro de aviação executiva ganha espaço na geografi a mundial das vendas
D epois de muita turbulência e
uma aterrissagem forçada no
início do ano passado, a avia-
ção executiva brasileira começou 2010
a plenos motores. O país demonstra
sua força ao resistir aos solavancos eco-
nômicos internacionais e consolida-se
como um mercado maduro e promissor
para os fabricantes de jatinhos e turbo-
élices, além dos helicópteros. “Para se
ter uma ideia, nos próximos três anos,
devem ser entregues no Brasil cerca de
70 jatos de longo alcance, os chamados
transcontinentais, o que signifi ca um
movimento de mais de US$ 2 bilhões”,
diz o comandante Francisco Lyra, pre-
sidente da Abag (Associação Brasileira
de Aviação Geral).
Não por acaso, o país já é aponta-
do como um dos responsáveis pela
mudança da geografi a das vendas de
aeronaves utilizadas em missões de
negócio. A retração comercial, nos Esta-
dos Unidos e na Europa, fez com que as
principais indústrias do setor precisas-
sem se lançar mais agressivamente no
mercado global,
buscando novos
clientes, sobre-
tudo entre os
emergentes. Na
prática, essa mu-
dança colocou o
Brasil, que hoje
conta com pelo
menos 700 ope- Foto
s: 1 -
iStoc
kpho
to; 2
- Ha
wke
r Bee
chcra
ft Co
rpor
ation
NEGÓCIOS AVIAÇÃO
radores de aviões de até US$ 50 milhões
– absorvendo cerca de 90% da demanda
da América do Sul –, em uma posição
de destaque. “O potencial do país, que
tem o maior mercado do mundo, de-
pois dos Estados Unidos, tornou-se um
atrativo signifi cativo para os principais
fabricantes de aeronaves executivas”,
afi rma Leonardo
Fiuza, diretor de
Vendas da TAM
Aviação Executi-
va, representan-
te da Cessna e
da Bell no Brasil,
durante a última
edição da Labace
(Latin A meri-
90%da demanda por aviões executivos na América
do Sul é do Brasil
POR GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO
Abril, 2010 AméricaEconomia 41
À DIREITA, INTERIOR DO MODELO
KING AIR C90GTX, DA HAWKER
BEECHCRAFT CORPORATION
1
ca Business Aviation), a maior feira de
aviação executiva da América Latina.
“Apenas 130 dos mais de 5,5 mil
municípios do país são servidos por
linhas aéreas regulares. Isso representa
menos de 3%. É natural que o empreen-
dedor precise de aeronaves executivas
para fechar seus negócios. Além disso,
temos cada vez mais empresas brasi-
leiras expandindo sua atuação para
além de nossas fronteiras”, justifi ca o
comandante Francisco Lyra, da Abag.
O resultado é uma procura cada vez
maior por aviões das mais diversas ca-
tegorias. Desde os chamados VLJ (Very
Light Jet), como o Mustang, da Cessna,
e o Phenom 100, da Embraer, que têm
preço a partir de US$ 3 milhões, até
2
42 AméricaEconomia Abril, 2010
os jatos transoceânicos, que não cus-
tam menos de US$ 30 milhões. Além,
é claro, dos modelos capazes de operar
em qualquer pista, tanto as de asfalto
quanto as de terra, como é o caso da
família de turboélices Beechcraft King
Air. Destaque para o novo C90GTx, que
começou a ser vendido no país neste
início de ano.
LENTA RETOMADA A crise mundial teve impacto negativo
importante na aviação executiva mun-
dial. No Brasil e na América Latina, não
foi diferente. Durante o primeiro se-
mestre de 2009, as vendas sofreram um
forte revés. Na verdade, uma desacele-
ração brusca, gerando estagnação e in-
certezas. Para piorar, os cancelamentos
de pedidos se multiplicaram e muitos
clientes preferiram prorrogar os prazos
de entrega das aeronaves que haviam
adquirido, abrindo mão de posições na
lista de espera. Contudo, diante da rápi-
da recomposição do mercado brasileiro,
o que era crise virou oportunidade. E,
logo no começo do segundo semes-
tre, o discurso já era outro. “No Brasil,
conseguimos reverter grande parte
dos cancelamentos ou adiamentos de
nossa carteira de pedidos ocorridos no
auge da crise, ao mesmo tempo que
fechamos negócios com novos clien-
CESSNA MUSTANG
O Brasil é o maior mercado do Cessna Mustang, depois dos EUA: já são mais de 50 unidades vendidas no país em três anos. O preço básico do VLJ, comercializado pela TAM Aviação Executiva, é deUS$ 3 milhões.
AS ESTRELAS DO MERCADO
EMBRAER PHENOM 300
A Embraer entregou, no início deste ano, o primeiro Phenom 300, jato executivo de US$ 8,14 milhões que permite voos sem escalas para todas as capitais do país, a partir do Rio de Janeiro. A família ainda conta com o Phenom 100.
DASSAULT FALCON 7X
Já em operação no país, o Dassault Falcon 7X é um dos jatos intercontinen-tais mais modernos do mundo. Custa cerca de US$ 40 milhões e voa de São Paulo a Paris sem precisar reabastecer. Até 2011, pelo menos dez empresas brasileiras terão esse avião.
NEGÓCIOS AVIAÇÃO
tes”, revela Rodrigo Pessoa, diretor de
Vendas para a América do Sul da Das-
sault Falcon, que acaba de inaugurar,
no aeroporto de Sorocaba, no interior
de São Paulo, o primeiro centro próprio
de serviços da empresa fora de seus
países-sede, Estados Unidos e França.
A frota dos jatos de longo alcance da
Dassault Falcon no Brasil deve chegar a
40 unidades até 2012.
Evidentemente, o crescimento su-
perior a 10% do mercado de aviação
executiva experimentado durante o
boom econômico de 2007 e 2008 talvez
não se repita nos próximos anos, mes-
mo com as boas perspectivas diante da
Copa do Mundo em 2014 e das Olimpí-
adas do Rio de Janeiro em 2016. Pelas
estimativas do setor, o percentual de
crescimento deve permanecer com um
dígito, como já aconteceu em 2009, que,
apesar da crise, fechou com algo em tor-
no de 5% a 6% no avanço dos negócios,
segundo se especula. Isso deve aconte-
cer porque a retomada do crescimento
em um setor como esse é sempre mais
lenta do que a queda. “Seja como for,
vamos crescer bem mais do que o PIB
[Produto Interno Bruto]”, prevê Lyra.
De acordo com cálculos da Embra-
er, devem ser entregues pelo menos
750 novos jatos executivos na América
Latina, nesta próxima década, e o Bra-
sil terá a participação mais importan-
Foto
s: 3 -
Divu
lgaçã
o; 4
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pace
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vulga
ção
3
Abril, 2010 AméricaEconomia 43
te nessa demanda. O fabricante, que
pretende se tornar um dos principais
players do mercado de aviação execu-
tiva no mundo até 2015, ano em que já
terá disponível para os operadores seis
diferentes modelos de aeronaves – hoje
são quatro –, diz que a região representa
quase 15% das vendas totais de jatos da
família Phenom e que o Brasil responde
por cerca de 70% dessa demanda. Em
2009, a Embraer entregou 93 jatos Phe-
nom 100. A empresa também acaba de
inaugurar seu centro de serviços para
aeronaves executivas, em São José dos
Campos, no interior de São Paulo.
Para o presidente da Abag, o au-
mento do interesse do país pela avia-
ção executiva tem a ver com uma mu-
dança de cultura dentro das grandes
companhias. Francisco Lyra diz que,
durante anos, jatinhos e helicópteros
foram tidos no Brasil como produtos
de luxo, e não ferramentas de traba-
lho. “Felizmente, isso mudou. Hoje, as
empresas sabem que o avião se torna
indispensável quando os negócios se
expandem”, constata o comandante.
Além da fl exibilidade e da velocidade
da aeronave executiva, a segurança e
o bem-estar de quem a utiliza, aliados
ao sigilo das informações que por ali
circulam, também fazem desse meio de
transporte uma opção bastante atraen-
KING AIR C90GTX
Capaz de operar em pistas tanto de asfalto quanto de terra, o C90GTx é o mais novo representante da bem-sucedida família de turboélices King Air. A aeronave está disponível desde o início deste ano, e seu preço nos EUA é de US$ 3,65 milhões.
GULFSTREAM G650
Com previsão de entrada em serviço em 2012, o jato de ultralongo alcance Gulfstream G650 será o avião civil mais rápido em operação. O modelo custará mais de US$ 60 milhões, consegue voar quase 13 mil quilômetros sem escalas e deve atrair clientes no Brasil.
BOMBARDIER GLOBAL EXPRESS XRS
Principal estrela da Bombardier na última edição da Labace, maior feira de aviação executiva da América Latina, o Global Express XRS, avaliado em US$ 50 milhões, já conta com operadores no Brasil. Até 2012, serão mais de meia dúzia no país.
de pessoas que ganham 1 milhão de
dólares por ano, por exemplo. É uma
questão de econometria e produtivi-
dade. Em casos como esse, os ganhos
fi cam evidentes ao se cruzar o custo
operacional do avião com a soma dos
custos homem/hora a bordo ”, explica
o presidente da Abag. “Além disso, é
importante que se diga que a aeronave
é um ativo da empresa, em geral, com
taxas de fi nanciamento bastante atra-
entes. Ou seja, o custo principal dela
não se mede pelo preço, e sim, por sua
depreciação, somada às taxas fi xas”.
te para o mercado. “É possível ir e voltar
de Paris no mesmo dia. Ou, então, fazer
várias reuniões em diferentes estados
e conseguir dormir em casa. E isso com
a possibilidade de despachar em voo”,
ilustra Lyra.
O principal argumento para justi-
fi car a aquisição de uma aeronave ou
mesmo a contratação de um serviço de
táxi aéreo é matemático. Segundo o co-
mandante Lyra, o tempo dos executivos
de grandes empresas é valioso demais
para ser desperdiçado. “A empresa tem
de aproveitar cada minuto de trabalho
NA PÁGINA AO LADO, MODELO DO CESSNA MUSTANG; ACIMA, AERONAVE DA GULFSTREAM
COM PELÍCULA DE PROTEÇÃO, EM VOO DE TESTE
4
44 AméricaEconomia Abril, 2010
SONOTRANQUILODepois de crescer 23% em 2009, Duofl ex investe em ampliação e avalia a possibilidade de ter a primeira fábrica no exterior
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
FOTOS: ÉRICO HILLER
NEGÓCIOS PMES
Abril, 2010 AméricaEconomia 45
barreira dos R$ 9, que era o preço de um
travesseiro comum até então, e hoje há
mercado para isso”, diz, destacando que
a empresa tem produtos que custam
de R$ 20 a R$ 200. Atualmente, a Duo-
fl ex soma 20 patentes e 12 famílias de
travesseiros, que derivam em mais de
cem alternativas, para todos os gostos
e necessidades. Entre eles, além do tra-
vesseiro Nasa, há, por exemplo, modelos
de látex, molas e até de altura regulável.
Agora, porém, todo o investimento em
propaganda e marketing corre por conta
da empresa. “Hoje, ele representa cerca
de 3% da nossa receita”, diz Fida, desta-
cando a importância do treinamento da
força de vendas das lojas que são seus
clientes e a manutenção de um serviço
de atendimento ao consumidor capaci-
tado, “que informa desde os pontos de
venda do produto ao modelo mais ade-
quado para cada pessoa e até dicas de
orientação postural”, afi rma. Tudo para
garantir um bom sono ao consumidor e,
por que não, ao executivo também.
N os últimos tempos, a crise ti-
rou o sono de muitos execu-
tivos, preocupados em gerar
resultados para seus negócios. Esse,
entretanto, não é o caso de Marlus Fida,
presidente da Duofl ex. O motivo de tal
tranquilidade, certamente, não está no
fato de, hoje, ele liderar uma fábrica de
travesseiros ortopédicos, e sim no cená-
rio promissor que o executivo encontrou
ao chegar à sede da empresa, em Vinhe-
do – a cerca de 60 quilômetros de São
Paulo –, em novembro: uma produção
a todo vapor, com fabricação mensal de
200 mil unidades e vendas que fecha-
ram o ano com 23% de crescimento.
“Agora, o desafi o é preparar a Duofl ex
para crescer ainda mais”, diz o executi-
vo, projetando 30% em 2010. Os planos
divulgados pela empresa são de ampliar
a fábrica, permitindo um aumento da
capacidade produtiva de 50%. Mas a
recente chegada de Fida e outros execu-
tivos, somada à preocupação de moder-
nizar a administração, pode ser um sinal
de que o passo planejado pela empresa
seja ainda maior. “Não descartamos a
possibilidade de, em 2011, ter uma nova
planta, quem sabe no exterior”, diz Fida.
Segundo ele, isso “representaria ganhos
importantes, como economia no trans-
porte de alguns produtos”, referindo-se
sobretudo à linha conhecida como Nasa
– feita de espuma viscoelástica, respon-
sável por 40% das vendas da Duofl ex.
Sua principal característica é moldar-se
ao contorno do corpo, mas o volume das
peças castiga no custo do frete.
Atualmente, as vendas externas
da empresa giram em torno de 10% do
faturamento total. A Duofl ex exporta
para a América do Sul – somente o Chile
representa 30% do total das exportações
–, Canadá, Alemanha e África do Sul. “O
câmbio nos castigou muito”, conta Fida.
“De qualquer forma, para 2010, quere-
mos ampliar nossas vendas domésticas,
principalmente nas regiões Nordeste e
Sul, pois ainda há um mercado interno
muito grande a ser explorado.”
SORTE E TINOSeja como for, a decisão dos dois criado-
res da Duofl ex, os engenheiros Jaime
Daniel Gelernter e Roberto Lobo, de for-
talecer a empresa gerencialmente não
parece ser equivocada, sobretudo quan-
do se trata de um negócio que, desde o
ano 2000, cresce entre 23% e 27% ao ano.
“Desde que eles passaram do simples
travesseiro de espuma ao ortopédico,
não pararam de expandir”, diz Fida.
Essa mudança de rota aconteceu
graças a uma reação rápida dos sócios a
uma oportunidade única, quando outra
marca de travesseiros ortopédicos pas-
sou a anunciar em um canal de vendas
pela TV. “As pessoas se interessavam
pelo produto, mas queriam vê-lo, tocá-
lo, e não o encontravam nas lojas e nos
hipermercados, pois o canal tinha ex-
clusividade na comercialização”, conta
Fida. Assim, as lojas buscaram a Duofl ex
com essa demanda, e a empresa aceitou
o desafi o de fabricar o travesseiro or-
topédico. “Três meses de pesquisas e
testes depois, a Duofl ex passou a vender
como água, e com a ajuda da propagan-
da gratuita do concorrente”, brinca.
Apesar de ter sido uma oportunida-
de que, provavelmente, não se repetirá
na história da empresa, Fida diz que a
Duofl ex não parou de pesquisar moldes
e fórmulas para continuar diversifi-
cando. “A partir do primeiro travessei-
ro ortopédico, conseguiu-se romper a
MARCUS FIDA (À ESQUERDA),
E A LINHA DE PRODUÇÃO
DA EMPRESA: META
DE CRESCER 30% EM 2010
Você sai de casa 2 horas antes do horário marcado, pega
chega ao prédio, espera o manobrista trocar a bobina
foto para o cadastro na portaria, recebe um cartão que
autoriza sua entrada, você agradece, pega o elevador,
secretária pede que você aguarde um minuto, você
se abre e entra um assessor dizendo que houve um
você vai conseguir falar com aquele alto executivo.
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aguarda 47. Bebe água, Toma um café. Então a porta
imprevisto, mas, na semana que vem, com certeza,
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48 AméricaEconomia Abril, 2010
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PARA POUCOSSe a presença de carros de luxo pelas ruas de uma ci-
dade é sinônimo de geração de riqueza, pode-se dizer
que essa já está menos concentrada na região Sudes-
te do que antes. Pelo menos segundo a avaliação da
Land Rover, que, recentemente, inaugurou uma con-
cessionária em Cuiabá, para vender modelos que cus-
tam a partir de R$ 115 mil, e espera abrir outros pontos
em Belém e João Pessoa, ainda em 2010. “Há um cres-
cimento interessante de carros a diesel no Nordeste e
Centro-Oeste do Brasil”, diz John Peart, presidente da
Jaguar Land Rover para América Latina e Caribe. “São
regiões que estão atraindo empresas, onde há forte
desenvolvimento econômico, e executivos estão sen-
do alocados para trabalhar.”
As vendas da Jaguar Land Rover na América Latina
representam 5% das vendas mundiais da empresa, “e
a ambição é de que, em três anos, esse volume che-
gue aos 10%, puxado pelo potencial do Brasil”, diz o
executivo, citando que essa meta é concentrada nas
vendas da Land Rover, já que os carros da Jaguar são
considerados produtos de nicho. Não é para menos:
esse objeto de desejo só está disponível para pesso-
as dispostas a desembolsar mais de R$ 278 mil reais.
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
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MOVIMENTOS
50 AméricaEconomia Abril, 2010
CONTRA GOLPESO avanço das multinacionais brasileiras no
exterior, sobretudo na América Latina, está
impulsionando um novo mercado para as
seguradoras: o de cobertura de risco polí-
tico. A primeira a receber permissão da Su-
perintendência de Seguros Privados (Susep)
para emitir cobertura em papel local foi a
Zurich. “Já temos quatro negócios bem en-
caminhados, e estamos otimistas com o po-
tencial do mercado”, diz Vinicius Jorge, ge-
rente de Linhas Financeiras da companhia
no Brasil. Segundo Jorge, o seguro trabalha
com três coberturas básicas: expropriação,
violência e incompatibilidade de moeda –
ou seja, uma desvalorização cambial drástica
no país em que a multinacional opera –, que
valem tanto para investimentos fi nanceiros
quanto produtivos. O limite de cobertura é
de US$ 150 milhões. “É um valor importan-
te, que pode ser composto com serviços
de resseguro no mercado externo, confor-
me a necessidade da companhia”, afi rma.
No mundo, a cobertura de risco político
movimenta cerca de US$ 1 bilhão ao ano,
segundo a Zurich. “No Brasil, esperamos fe-
char 2010 com US$ 5 milhões em prêmios”,
afi rma Jorge. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
SE NÃO BASTASSE O PETRÓLEO…Há petróleo nas Malvinas? Em breve, a Ocean Guardian,
contratada pela britânica Desire Petroleum para instalar
sua plataforma, poderá responder. Especula-se a existên-
cia de 4 mil a 12 mil barris, o que não é fabuloso, mas
pode fazer diferença: a Grã Bretanha, que controla o ar-
quipélago, tem reservas de 3,4 bilhões de barris; já as da
Argentina, que reclama a descoberta para si, são de 1,7
bilhão. O assunto ainda resultou em outro problema para
o governo argentino, preocupado em fazer um swap de
sua dívida externa: o Banco Barclays, encarregado da ne-
gociação, é um dos acionistas da Desire. “O ministro da
Economia teria de revogar essa autorização”, diz o advo-
gado Ricardo Monner Sans, alegando confl ito de interes-
ses. RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES
LUA DE MELJim Balsillie (foto), coexecutivo-chefe da canadense Research In Motion (RIM),
afi rmou em São Paulo, em meados de março, que vivia sua segunda lua de
mel no Brasil. “A primeira foi quando me casei; agora, é pelo início da produ-
ção do BlackBerry no país”, disse, no evento de anúncio da parceria da em-
presa com a Flextronics, que opera em Sorocaba. Será o segundo país latino-
americano a fabricar o aparelho, ao lado do México. Na ocasião, os executivos
da RIM não deram informações sobre o volume de produção esperado, mas
garantiram estar confi antes com o potencial do mercado sul-americano, que
poderia ser abastecido pelo Brasil, além do próprio crescimento do uso dos
smartphones no país. “Para se ter uma ideia, enquanto na Argentina a média
de envios de SMS é de cem por pessoa ao mês, no Brasil, ainda é de seis”, dis-
se Alex Zago, gerente de Inteligência de Mercado da RIM na América Latina.
Segundo ele, enquanto a penetração dos smartphones nos EUA e no Japão é de 30% e 50%, respectiva-
mente, no Brasil, ainda é de 7%. “Este é o país que impulsionou novidades como o Orkut, e, por isso, acho
que tem um grande potencial a ser explorado”, afi rmou. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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APERTAR OS CINTOSSem orçamento extra nem aumento de salário. Esse
foi o primeiro recado que a ministra da Economia do
Peru, Mercedes Aráoz (foto), deu aos seus amigos mi-
nistros, logo que ocupou o cargo, em dezembro de
2009. “O presidente Alan García me apoiou, pois acha
que o governo tem que entregar o país com as fi nan-
ças saneadas”, disse à AméricaEconomia. A ministra,
que não é fi liada ao partido do presidente, também
afi rmou que uma de suas metas, neste ano, é priorizar
projetos de investimento que possam ser cumpridos
em 2010. “Às vezes, infl amos a previsão de gastos em
muitos projetos e executamos pouco. Agora, quere-
mos mais foco, para manter um tamanho de Estado
adequado”, disse, referindo-se ao aumento do gasto
estatal, em 2009, para reativar a economia em meio à
crise. Para Mercedes, a previsão do crescimento perua-
no para 2010 é de entre 5,5% e 6%. “Claro que isso de-
penderá da solução da crise e de outras contingências
internacionais, mas tampouco queremos uma econo-
mia superaquecida, que gere infl ação e o risco de nos
endividarmos demais”. FERNANDO CHAVARRÍA LEÓN, DE LIMA 4
52 AméricaEconomia Abril, 2010
EXCEÇÃO À REGRAPor causa da crise, em 2009, vender para os EUA foi um mau negócio e operar no
Brasil, sucesso garantido, certo? Não necessariamente. A empresa de TI Softtek,
fundada no México, em 1982, é um exemplo de que as exceções existem. “No
ano passado, nosso faturamento cresceu 20% nos EUA e 35% na Argentina,
encolheu 10% na Colômbia e aumentou apenas 5% no Brasil”, conta Francisco
Lara (foto), responsável pela empresa na América do Sul e no Caribe. Segundo
Lara, os motivos dessa variação diferem em cada país. “Os clientes norte-ameri-
canos buscavam efi ciência e redução de custo, o que gerou mais demanda; na
Argentina, houve crescimento interno e das exportações; já no Brasil, o resulta-
do tímido derivou do estancamento de nossa área SAP, que representa 40% das
vendas no país”, diz. Para recuperar fôlego no Brasil e crescer em torno dos 20%
em 2010, Lara afi rma que a empresa ajustará o foco da operação,
dando mais destaque a áreas como suporte e manutenção
de aplicativos (AMS, na sigla em inglês) e terceirização de
processos de negócios (BPO). “No caso de BPO, já conquis-
tamos dois clientes e estamos prospectando outros dois
importantes”, afi rma. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
OU VAI, OU COALHASe é possível tirar etanol do açúcar, por
que não tentar com o leite? Essa pergun-
ta inspirou uma pesquisa do Ceprocor,
em Córdoba, Argentina. E a resposta foi
supreendente: cada 37 metros cúbicos
de soro do leite gerou 1 metro cúbico
de etanol, quase 1 tonelada de dióxido
de carbono para a produção de bebi-
das carbonatadas e 35 litros de água.
Levando isso à grande escala, os pes-
quisadores afi rmam que se pode aten-
der até 51% da demanda insatisfeita da
Argentina por etanol. Nada mal. Mas a
viabilidade econômica da descoberta
ainda é uma incógnita. A neozelandesa
Fonterra, a irlandesa Carbery e a ame-
ricana Dubay, que testam a tecnologia
no Panamá e na Colômbia, poderiam
dar um sinal favorável. Mas os belgas
da De Smet, uma das maiores empre-
sas de biotecnologia do mundo, jogam
água fria. “Quando fi zemos nossos cál-
culos, os números não fecharam, nem
aqui, nem na Áustria”, disseram os por-
ta-vozes da empresa em Buenos Aires.
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA Foto
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MOVIMENTOS
Brasil
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34 AméricaEconomia Abril, 201054 AméricaEconomia Abril, 2010
PRIMEIROS PASSOSPequenas e médias empresas começam a ver a sustentabilidade como parte de seu negócio, mas ainda falta conhecimento
GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
À primeira vista, a Mecânica
do Gato, no bairro paulistano
da Mooca, é uma ofi cina co-
mo qualquer outra: uma fi la de carros
esperando conserto, mecânicos com
macacões sujos de graxa e o cheiro de
fumaça de escapamento, causado pelas
insistentes partidas para verificar o
problema de um ou outro automóvel.
Um olhar mais atento, entretanto,
revela uma grande diferença entre a
empresa gerenciada por Claudia Garcia
Samos e a maioria das concorrentes: há
três anos, a Mecânica do Gato passou a
apostar suas fi chas na adoção de práti-
cas sustentáveis.
Desde o início, os desafi os foram – e
ainda são – reduzir o consumo de ener-
gia e dar destino correto a 100% dos
resíduos produzidos durante o processo
de reparação dos automóveis. “Ainda
estamos no começo, mas acredito que
esse é o caminho certo”, diz Claudia,
explicando que a mudança de rota da
empresa, que está há 40 anos no merca-
do, começou com a necessidade de am-
pliar o negócio, em 2007. “Resolvemos,
na época, que promoveríamos uma
série de mudanças na empresa porque
enxergávamos que essa era uma forte
tendência.”
EFICIÊNCIA ENERGÉTICAA mudança veio de cima: telhas tra-
dicionais, geralmente de cerâmica ou
amianto, deram lugar a translúcidas,
que possibilitam a entrada de luz exter-
na e diminuem o consumo de energia
elétrica. “Já percebemos uma economia
na conta de luz, por exemplo, entre 8%
e 10%, somente no prédio onde temos
essas telhas”, diz Claudia. O sistema de
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circulação de ar foi alterado. Em vez dos
ventiladores ligados na tomada, foram
colocados seis fi ltros por cima do telha-
do, todos eles movidos a energia eólica.
O óleo, que antes era descartado sem
nenhum tipo de cuidado, ganhou três
caixas de decantação específi cas para
ser despejado; já os metais e papelões
não contaminados agora são separados
de forma adequada e encaminhados
à reciclagem. “Temos um parceiro que
vem recolher o óleo e paga um percen-
tual por isso.”
Embora não revele o valor do inves-
timento, Claudia garante que ele está
totalmente alinhado com o orçamento
de uma pequena ou média empresa.
“Não foi um valor exorbitante, não é
algo impossível. É trabalhoso, sim, mas
está ao alcance dos menores e não só
das grandes corporações.” O pensamen-
to dela, porém, ainda é uma exceção
no mundo dos pequenos e médios em-
presários brasileiros, dizem os analis-
tas. “Há muito desconhecimento, eles
acham que é uma coisa caríssima de
se fazer, enquanto que com pequenas
ações, como a separação do lixo ou a
implementação de noções de consumo
consciente entre os funcionários, você
consegue tornar uma empresa susten-
tável”, comenta Janaina Nogueira Mul-
ler, diretora da Setor 3 Consultoria, que
trabalha com o tema há 12 anos.
A opinião é compartilhada por Be-
atriz Bulhões, diretora do CEBDS (Con-CLAUDIA: MUDANÇAS SÃO TRABALHOSAS,
MAS ESTÃO AO ALCANCE DOS PEQUENOS
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ESPECIAL SUSTENTABILIDADE
Abril, 2010 AméricaEconomia 55
MECÂNICA DO GATO: TELHAS
TRANSPARENTES E DESTINAÇÃO
CORRETA PARA O ÓLEO DESCARTADO
400%foi o quanto a A.R.P. cresceu em quase
dois anos
selho Empresarial Brasileiro para o De-
senvolvimento Sustentável), entidade
que há dez anos, em parceria com o
Sebrae nacional, capacita consultores
para trabalhar o tema sustentabilidade
com as micro e pequenas empresas.
“Vimos um caso em que o desperdício
de água era fruto de uma mangueira
mal regulada. São atitudes simples,
mas que fazem toda a diferença”, afi r-
ma Beatriz.
As mudanças implementadas na
empresa de Claudia, em parceria com
o Sindirepa (Sindicato da Indústria de
Reparação de Veículos do Estado de
São Paulo), já começaram a surtir ou-
tros efeitos positivos. Recentemente, a
Mecânica do Gato recebeu o Selo Ver-
de, destinado às organizações que têm
políticas ambientais corretas. A certifi -
cação facilita a entrada em novos mer-
cados e confi gura-se como uma gran-
de vantagem competitiva. Segundo
Claudia, o próximo passo é encontrar
uma forma ambientalmente correta de
descartar outros itens desse processo
de reparação, como peças de ferro, fi ltro
e recipientes de óleo. Ela admite, no
entanto, que a maior difi culdade está
em encontrar parceiros que façam a
coleta desses resíduos. “Todos os dias,
nós estudamos empresas, mas falta
uma certifi cação ou outra para que elas
estejam realmente aptas a realizar esse
trabalho de forma correta, e nós não
podemos esperar.”
RETORNO ECONÔMICOSegundo Antonio Carlos Porto Araujo,
especialista na área de Meio Ambiente
da consultoria Trevisan, embora muitas
PMEs (Pequenas e Médias Empresas)
ainda não tenham pensado a questão
ambiental por esse ângulo, a prática
de políticas voltadas ao meio ambien-
te, além de ser um diferencial para a
empresa, traz retornos econômicos sig-
nificativos. “A explicação é simples:
se você tiver um processo produtivo
mais eficiente, evitará o desperdício
e, consequentemente, economizará
e aumentará a lucratividade.” Araujo
destaca outro fator competitivo: “tudo
caminha para que, muito em breve, as
licitações do Governo Federal tenham
como critério eliminatório o nível de
sustentabilidade das empresas”.
Foi seguindo esse raciocínio que o
empresário Ronald Rodrigues fundou,
há dois anos, a A.R.P. Ambiental, com
sede em São Roque, interior paulista,
que presta serviço de limpeza e conser-
vação predial para órgãos do governo,
redes varejistas e de comunicação, em
oito estados brasileiros.
A ideia era oferecer um serviço com
menor impacto ambiental – por meio,
entre outras coisas, do uso de produtos
biodegradáveis –, mesmo que isso sig-
nifi casse abrir mão de um lucro mais
alto. “Essas matérias-primas são até
50% mais caras que as comuns. Mas
não há refl exo no valor dos contratos
que eu fecho; prefi ro diminuir a mar-
gem do meu lucro”, garante ele.
Se quisesse cobrar um preço mais
alto, possivelmente Rodrigues não teria
problemas. “O consumidor já aceitou a
valoração desses produtos e serviços e
está disposto a pagar por isso”, defende
Araujo, da Trevisan.
O empresário de São Roque sabia
disso quando inaugurou a A.R.P. Rodri-
gues traz na bagagem uma experiência
de 18 anos como funcionário da área
ambiental de grandes empresas parcei-
2
3
56 AméricaEconomia Abril, 2010
ras da Petrobras, conhecida pelos seus
critérios rigorosos na hora de escolher
seus fornecedores.
Os resultados alcançados pela pres-
tadora de serviços têm desmonstrado
que a fórmula está dando certo. Se a
estimativa de crescimento na abertura
do negócio era de 50% ao ano, de 2008
até o início de 2010, a empresa cresceu
quase 400%, conferindo-lhe um fatu-
ramento anual, hoje, de R$ 12 milhões.
“Foi uma surpresa para mim, e olha que
eu estava bem otimista”, brinca.
A nova menina dos olhos da em-
presa é o projeto de biotecnologia que
está sendo desenvolvido em conjunto
com um pesquisador da Embrapa. “Em
um prazo de cinco anos, queremos ter
nossos próprios produtos.” Para que
isso se torne realidade, o empresário
tem uma equipe de químicos e biólogos
que trabalha diariamente na busca de
soluções mais ecológicas para a linha
de limpeza.
Para Janaina, da Setor 3, essa conti-
nuidade de ações em prol da conserva-
ção do meio ambiente é essencial para
manter um negócio vivo. “Não adianta
você apoiar o Greenpeace e ignorar a
coleta seletiva de lixo, ou separar o lixo
uma vez na vida e achar que está fazen-
do sua parte. É um processo evolutivo,
que nunca acaba”, exemplifi ca.
Quem está disposto a entrar nesse
jogo tem muito a ganhar, não só em
visibilidade ou respeito do consumidor,
mas até mesmo em facilidades na hora
de conseguir um fi nanciamento. “A fl e-
xibilidade de prazo de pagamento para
uma empresa com gestão sustentável é
muito maior do que para outras”, afi r-
ma Linda Murasawa, superintendente
de Desenvolvimento Sustentável do
Grupo Santander Brasil, sem especifi -
car, no entanto, se o percentual de juros
também é mais atrativo.
Segundo Araujo, da consultoria Tre-
visan, isso acontece porque, para a libe-
ração de crédito, os bancos analisam
a perenidade das empresas, “e quanto
mais sustentável ela for, mais é consi-
derada sólida”.
Se, a partir dessa ótica, a adoção de
práticas sustentáveis é apenas uma
vantagem competitiva, de outra, ela
está se tornando quase uma obrigação
para as PMEs. Como fornecedoras para
as grandes corporações, elas fazem par-
te de uma cadeia cada vez mais pressio-
nada a ser socialmente responsável.
RANKING DE SUSTENTABILIDADEUm exemplo claro disso é o projeto que
vem sendo desenvolvido pelo Walmart.
A proposta é, no médio prazo, criar um
ranking de sustentabilidade entre os
fornecedores, para que o cliente saiba
se o produto que ele está comprando
respeita ou não o meio ambiente e co-
EM SENTIDO HORÁRIO, O WALMART:
REDE QUER CRIAR RANKING DE
SUSTENTABILIDADE; DAVIS TENÓRIO, DO
GRUPO ECO; E CAIXA DE DECANTAÇÃO
PARA ÓLEO USADO DA OFICINA DO GATO
ESPECIAL SUSTENTABILIDADE
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mo ele faz isso. Os estudos, que começa-
ram em 2009, em todos os países onde
a rede varejista atua, devem terminar
somente em 2014.
“Grosso modo, seria como o que
existe hoje com as informações nutri-
cionais existentes na embalagem de
um produto. O consumidor tem um
padrão para comparar e escolher o que
melhor lhe convém”, explica o gerente
de Sustentabilidade da multinacional,
Yuri Feres.
Os critérios para formar esse índice
estão sendo analisados pela rede, em
parceria com o Centro de Tecnologia
de Embalagens, ligado ao Instituto de
Tecnologia de Alimentos (Ital), do Go-
verno de São Paulo, e com os próprios
fornecedores.
E se a exigência para que as PMEs
assimilem de fato práticas sustentáveis
em sua gestão começa a aumentar, ela
é ainda mais forte quando o próprio
modelo de negócio da companhia tem
ligação direta com o meio ambiente e a
conservação dele.
DAR O EXEMPLOÉ o caso do Grupo Eco, de São Paulo, que
atua na área de assessoria ambiental
para grandes empresas, confecção de
brindes e varejo sustentável, com a
venda de produtos feitos a partir de
materiais naturais. “Não adianta eu
pregar uma coisa para os meus clientes
e não aplicar isso à minha gestão”, diz
um dos sócios, Davis Tenório.
Ao entrar na sede da empresa, locali-
zada na Zona Sul da capital paulista, os
cuidados com o meio ambiente saltam
aos olhos.
Os móveis, por exemplo, são todos
de madeira certifi cada. O lixo é corre-
tamente separado, e a luz externa é
aproveitada. Os 22 funcionários têm à
disposição uma biblioteca com livros
sobre ecologia. E para que isso tudo
funcione de maneira harmônica, os
fornecedores também têm de ter a mes-
ma linha de pensamento da empresa.
“Ao longo desses cinco anos, formamos
uma grande rede de parceiros. Sabemos
exatamente qual a origem do produto
deles e exigimos isso de nossos novos
fornecedores também.”
Como o próprio Tenório costuma di-
zer, a empresa faz um trabalho de ponta
a ponta, mapeando toda a cadeia.
“No que se refere à responsabili-
dade social, nós também temos uma
gestão aberta, nossos funcionários sa-
bem exatamente o quanto nós vamos
faturar naquele ano”, afi rma.
E mesmo trabalhando com produ-
tos que, via de regra, são mais caros que
os tradicionais, o sócio do Grupo Eco
afi rma que um modelo de gestão basea-
do nos princípios da sustentabilidade já
COMEÇAR É SIMPLES:1 Promova noções de consumo consciente entre os funcionários
2 Faça a coleta seletiva de lixo
3 Desenvolva um programa de reutilização de resíduos
4 Projete uma forma de aproveitar a luz externa e troque
lâmpadas comuns por frias
5 Estimule atitudes sustentáveis de seus fornecedores
6 Inclua o tema de sustentabilidade na agenda com stakeholders
7 Apoie movimentos ligados ao meio ambiente
é percebido como um diferencial pelos
clientes. “90% dos meus concorrentes
no mercado de brindes são chineses.
Mas lá existe a mão de obra infantil,
a maioria dos empresários não paga
imposto, e os clientes sabem. Por isso,
nosso trabalho é valorizado. Hoje eu
não perco mais por preço.”
Ou seja: com um consumidor cada
vez mais informado e com melhor po-
der aquisitivo, ignorar a necessidade
de uma produção sustentável será cada
vez mais difícil. Assim, o melhor é dar
os primeiros passos o quanto antes.
RONALD RODRIGUES, DA A.R.P.: APOSTA NA
FABRICAÇÃO DOS PRÓPRIOS PRODUTOS
7
8
58 AméricaEconomia Abril, 2010
CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO
Foto
s: 9 e
10 -
Divu
lgaçã
o
ESPECIAL SUSTENTABILIDADE
QUEM DÁ O EXEMPLOAinda que timidamente, a América Latina já pode dizer que coleciona bons exemplos de pequenos e médios empresários envolvidos em projetos de sustentabilidade que fazem o diferencial de seu negócio. Nestas páginas, destacamos alguns casos que valem ser conhecidos
TABACÓN – COSTA RICALocalizado na Região Norte da Costa Ri-
ca, aos pés do vulcão Arenal e rodeado de
um bosque tropical, o hotel Tabacón Grand
Spa Thermal adotou uma política de prá-
ticas sustentáveis “assim que começamos
a crescer e pudemos viabilizá-la”, diz Zuley
Herrera Quirós, diretora de Marketing do
Tabacón. Desde a primeira ampliação das
instalações, o foco voltou-se ao controle do
consumo de energia, melhor utilização da
água, substituição do papel por material
digital e das viagens de executivos pelas
videoconferências. Melania López, a cargo
das Relações Públicas da empresa, diz que
“esses exemplos são algumas opções que
podem ser colocadas em prática facilmente”.
Recentemente, o hotel lançou um programa
chamado Tabacón Green, focado no turismo
responsável. O projeto tem como premissas
o manejo sustentável das áreas naturais,
a proteção das nascentes de água e de 80
hectares de reserva própria, com árvores na-
tivas refl orestadas, o uso de produtos biode-
gradáveis e o tratamento do próprio esgoto,
bem como um programa de informação e
incentivo a práticas sustentáveis dissemi-
nado entre as comunidades da região.
9
Abril, 2010 AméricaEconomia 59
CHUNCHINO – ARGENTINAEntre as boas iniciativas que se podem ver no país,
está a empresa Chunchino, fabricante de roupas e
acessórios para bebês. O foco da empresa é o uso de
algodão agroecológico. E o que começou com a sim-
ples escolha de matéria-prima sustentável se trans-
formou em novas propostas de design para reduzir o
uso desta e otimizar a produção.
“Há dez anos, jamais passaria pela minha cabe-
ça questionar quem esteve envolvido na produção
daquilo que eu vestia, como o fi zeram, se para isso
usaram exploração infantil ou respeitaram o meio
ambiente”, diz Ileana Lacabanne, porta-voz da em-
presa. Para eles, a aposta é levar valor a um mercado
comoditizado, pensando no meio ambiente. O inves-
timento inicial para a adaptação do negócio foi de
US$ 12 mil, que já foi recuperado e reinvestido para
a duplicação da produção.
PMP – COLÔMBIADepois de quatro horas de funcionamento contínuo,
as caldeiras da fábrica da Processadora de Matérias
Primas (PMP) estão fervendo. Em seu interior, cerca
de oito toneladas de gordura bovina derretem. Para
evitar o gasto exagerado de água, luz ou gás nesse
processamento, o sistema criado pela empresa per-
mite utilizar o vapor gerado, tornando a atividade
mais rápida e mais econômica. “Diminuímos o
consumo de eletricidade em mais de 38% e o de gás,
em 35%”, diz o gerente Edwin Parraga. A empresa,
que domina 0,28% do mercado de gorduras e óleo,
e 18% do mercado de gordura animal de seu país, já
ganhou vários prêmios de sustentabilidade, entre
eles o do Departamento Técnico Administrativo do
Meio Ambiente colombiano e o reconhecimento em
Responsabilidade Social Empresarial do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento).
VIÑA DE MARTINO – CHILEA Viña De Martino, do Chile, é a primeira
vinícola carbono neutro da América Latina e
a sexta do mundo, depois de receber a certi-
fi cação ofi cial do Carbon Reduction Institute,
da Austrália. Isso signifi ca que todas as suas
emissões de gases do efeito estufa são rastre-
adas e compensadas, desde a rede de abaste-
cimento, os vinhedos, o engarrafamento e o
transporte, até a eliminação da embalagem
pelo consumidor. A De Martino é a segun-
da maior produtora de vinhos orgânicos do
país, e suas práticas são reguladas pela ISO
14001, de políticas ambientais. A vinícola
reduziu seu consumo de eletricidade em 20%
entre 2008 e 2009, optando por engarrafar
os vinhos somente durante o dia. Também
investiu em máquinas mais efi cientes, que
baixaram o consumo de água em 18%, e
reduziram o peso das garrafas em 9%, e só
elabora caixas com material reciclado. “Ain-
da não recuperamos o investimento que fi ze-
mos, mas esperamos fazê-lo no médio prazo,
com a venda de bônus de carbono”, diz Marco
Antonio De Martino (na foto à direita), diretor
de Sustentabilidade da vinícola. 10
Iniciativa:
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Realização:
www.doriassociados.com.br
AS MAIORES LIDERANÇAS DO BRASIL
VÃO DEBATER O RUMO DO PAÍS EM 2010,
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PAÍS VÃO DISCUTIR POLÍTICAS PÚBLICAS,
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62 AméricaEconomia Abril, 2010
SÃO OS BRICS, STUPID! Os emergentes não só
surpreenderam na crise, como devem permanecer em altaVERÔNICA GOYZUETA, SÃO PAULO
DEBATES ECONOMIA
A crônimos podem ser uma forma simplista de defen-
der uma tese, mas às vezes dão resultado. Quando
Jim O’Neill, chefe de Pesquisa em Economia Global
do Goldman Sachs, lançou, em 2001, o termo Brics (Brasil,
Rússia, Índia e China), do inglês “tijolo”, para nomear os paí-
ses emergentes que se destacavam por seu rápido crescimen-
to econômico, não poderia imaginar que eles formariam, tão
rapidamente, uma muralha sobre alguns países desenvolvi-
dos. Agrupados hoje em acrônimos menos construtivos, co-
mo Pigs (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), do inglês “porcos”,
ou Stupids (Espanha, Turquia, Reino Unido, Portugal e Dubai),
que dispensa tradução, esses países poderão ver os Brics lhe
fazerem sombra.
“Há uma questão de marketing nos acrônimos que fun-
cionou bem para o Brasil. O país é relativamente bom e
confi ável em termos de imagem e reforça a tese,” diz Roberto
Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil.
O país foi um dos emergentes que mais surpreenderam
entre os Brics, por dar sinais de ter entrado em um círculo
virtuoso de crescimento sustentado, com a expectativa de
um PIB de 6% para este ano e previsões comparáveis para os
próximos, em função de investimentos e de grandes eventos,
como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
“A crise, que se acentuou nos países desenvolvidos, em
especial na Europa e nos EUA, trouxe uma oportunidade para
os emergentes e para o Brasil, com maior fl uxo de investi-
mentos e de capital”, diz Padovani, que vê o Brasil fortalecido
em comparação com outros emergentes. “O Brasil tem esta-
bilidade nas regras e na sua economia há mais de 15 anos”,
diz o analista.
LEVANTAR TIJOLOSPara Ernesto Lozardo, professor de Economia Internacional,
Moedas e Bancos da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São
Paulo, e autor do livro Globalização: a Certeza Imprevisível das
Nações, quando a crise chegou aos países desenvolvidos, os
emergentes estavam prontos para receber investimentos. “Nos
últimos 30 anos, os emergentes foram se preparando política e
institucionalmente, desenvolveram o setor bancário, fomenta-
ram o nível de poupança, de emprego e de investimento,” diz.
Lozardo enxerga na crise internacional vantagens para o
Brasil, entre outras coisas, por ser, entre os Brics, o país mais
Abril, 2010 AméricaEconomia 63
Ilustr
ação
: Sam
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asal
Outra lição dos emergentes, depois de uma recuperação rá-
pida da atividade econômica pós-crise, foi a retirada gradual
dos estímulos, no Brasil e na China, que brecou o crédito e
aumentou o percentual exigido para os depósitos compulsó-
rios dos bancos. “O crescimento com melhoria na distribuição
de renda pode ser outra lição emergente, e outra vantagem
brasileira”, comenta Lozardo.
Mas os emergentes, em especial os latinos, podem ter
atravessado bem essa fase não apenas pelo bom comporta-
mento. Lozardo acredita que o fato de os países emergentes
não terem um mercado muito desenvolvido, em termos de
derivativos, de risco, de futuros e de mercado de capitais,
também pode ter contribuído para passarem mais tranqui-
lamente pela crise. “Essa falta de produtos mais sofi sticados
fez com que os emergentes fi cassem fora disso”, avalia. “Os
países desenvolvidos pecaram na efi ciência do sistema de
avaliação do risco. Rompeu-se a credibilidade do sistema
fi nanceiro, que vai levar muito tempo para ser recuperada.
Ficaram corrompidos pela sua própria inefi ciência”, diz o
professor, que vê os emergentes melhor posicionados nesse
sentido. “A maioria dos emergentes tem condições de crescer
com baixo risco”, diz Lozardo, que elogia, além dos Brics, paí-
ses como Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Malásia e Canadá.
“O Brasil vai por méritos próprios, mas também porque os
outros vão muito mal”, brinca Padovani.
O economista Paulo Cavalcanti de Albuquerque, membro
do Conselho Superior de Economia do Instituto Roberto Si-
monsen (Cosec) e da Diretoria do Departamento de Pesquisas e
Estudos Econômicos da Fiesp, acredita no potencial industrial
do Brasil, mas acha que o país pode fi car em desvantagem em
relação à China, se não desvalorizar a taxa de câmbio. “Há 20
anos, a China e o Brasil exportavam o mesmo, e, hoje, a China
exporta oito vezes mais”, diz o economista, que também en-
xerga defi ciência em outros temas em que China e Índia têm
superioridade, a educação e o ensino técnico e tecnológico.
“Vamos ter de fazer um esforço muito grande, combinando
pesquisa pública com pesquisa aplicada”, admitiu Marco Au-
rélio Garcia, assessor especial de Lula, durante um encontro
fechado com veículos internacionais, entre eles AméricaEco-
nomia, em março. “A educação é um desafi o do governo e dos
empresários”, diz Lozardo, da FGV, que também considera edu-
cação e a mão de obra duas das fragilidades brasileiras.
Albuquerque e Padovani apontam a infraestrutura e a
produtividade como outros defeitos do Brasil. “Do ponto de
vista da produtividade, o Brasil está dentro dos Pigs”, alerta
Padovani. Aliás, a Grécia lembra o Brasil em um aspecto: a
necessidade de fazer grandes investimentos em infraestru-
tura em um prazo relativamente curto, aparentemente difí-
cil de cumprir. Lozardo, entretanto, descarta que os eventos
esportivos possam criar problemas como os da Grécia. “O
Brasil tem responsabilidade fi scal”, diz. Ninguém dúvida que
o Brasil é hoje um tijolo importante na muralha, mas ainda
tem chances de ir parar no chiqueiro.
próximo do capitalismo ocidental. “Ele tem boas condições
de mercado, de tecnologia, de mercado agrícola, garantias
do capital estrangeiro, infl ação controlada e dívida externa
cadente. É uma liderança política no nível regional. Tem tam-
bém projetos muito promissores, que não começam do zero. O
capital vem para o Brasil para alavancar o crescimento, e não
só para explorá-lo”, diz o professor.
Essa, aliás, é uma das lições dos emergentes, um cresci-
mento baseado na produtividade, e não apenas na expansão
fi scal. É justamente esse tema que, nas últimas semanas, tem
gerado maior preocupação entre os países europeus mais
pressionados pela crise: Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Es-
panha. “A lei fi scal valeu como princípio para entrar no Euro,
mas depois disso houve um afrouxamento, e alguns países
voltaram a ser desregulados”, diz Lozardo, citando a Grécia
e lembrando que, no Brasil e em alguns outros emergentes,
existem leis de responsabilidade fi scal.
AJUSTE NECESSÁRIOApesar de as atenções estarem voltadas para os países la-
tinos da Europa, o aumento da dívida pública ocorreu em
praticamente todo o G7, o que pode trazer novas crises à tona
nos próximos trimestres, se não forem tomadas medidas de
ajuste fi scal, advertem os especialistas. E esse é um ponto
que o acrônimo Pigs não ajuda a enxergar. “O acrônimo Pigs
está sendo associado a uma leniência latina, como sinôni-
mo de má gestão, mas também há problemas estruturais
relacionados à produtividade”, diz Padovani, do WestLB do
Brasil. Lozardo cita como exemplo a Espanha, que baseou boa
parte da sua economia em turismo e serviços. Nesse cenário,
a Alemanha é o país europeu considerado mais consistente.
“Os que têm uma produtividade mais baixa, têm mais fragi-
lidade, há distorções macroeconômicas”, explica Padovani.
64 AméricaEconomia Abril, 2010
SÓ PARA A FOTO
Governo brasileiro sai da defensiva einicia retaliações comerciais contra os Estados Unidos
IVONE BELÉM, DO RIO DE JANEIRO
DEBATES COMÉRCIO EXTERIOR
Foto
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PRESIDENTES LULA E OBAMA: DESCASO DOS
EUA E RETALIAÇÃO BRASILEIRA EVIDENCIAM OS
CONFLITOS POR TRÁS DO SORRISO
O sinal verde às sanções foi dado
em agosto do ano passado pela
Organização Mundial do Co-
mércio (OMC), e quem viu o governo pos-
tergar sua decisão para 2010 pode até ter
achado que o Brasil abriria mão de so-
bretaxar os produtos norte-americanos.
Mas as retaliações comerciais contra os
Estados Unidos anunciadas em março
– em decorrência dos subsídios do gover-
no desse país aos produtores de algodão,
que prejudicam as exportações brasilei-
ras – parecem expressar uma mudança
de postura do Brasil em relação aos fó-
runs comerciais internacionais. “O país
atuou defensivamente nos últimos 50
anos; hoje, com a economia crescendo
e com uma postura mais ativa, pode-se
pensar em outro tipo de ação”, avalia
o cientista político Ricardo Sennes, da
Prospectiva Consultoria em Negócios
Internacionais e Políticas Públicas.
Embora a cúpula do Bric (grupo que
reúne Brasil, Rússia, Índia e China), no
dia 16 de abril, em Brasília, ainda irá se
debruçar sobre assuntos de interesse
multilateral – como as mudanças cli-
máticas e a reforma do sistema fi nan-
ceiro global –, a atitude do governo bra-
sileiro poderá criar um estímulo a mais
em torno das pressões dos emergentes
visando à retomada de Doha, conforme
avaliação de especialistas.
Motivação é o que não falta aos bra-
sileiros para essa queda de braço; afi -
nal, foram oito anos de peregrinações à
OMC, em que os produtores brasileiros
tiveram de tirar do próprio bolso cerca
de R$ 3 milhões para pagar advogados
e especialistas. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em viagem à Cisjordânia,
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66 AméricaEconomia Abril, 2010
ENTENDA A RETALIAÇÃO O contencioso envolvendo os dois países se arrasta desde 2002,
quando produtores brasileiros de algodão contestaram na OMC os subsídios da ordem de US$ 3 bilhões anuais concedidos pelo governo dos EUA a produtores de algodão. Em agosto de 2009, a OMC estabeleceu que o governo brasileiro
elevasse as alíquotas de importação de produtos norte-americanos em até US$ 829 milhões por ano. Na primeira semana de março deste ano, a Câmara de Comércio
Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento deu início às sanções e divulgou a primeira lista de produtos norte-americanos que serão sobretaxados. O pacote abrange 102 itens. Sem uma sinalização de proposta por parte do governo norte-
americano, no dia 15 de março, a Camex antecipou em uma se-mana a colocação em consulta pública de 21 itens de propriedade intelectual que podem vir a ter tarifas majoradas.
justificou tais medidas: “Quando ga-
nhamos na OMC, achamos que os EUA
iam dar o exemplo de obediência a uma
decisão multilateral”, afi rmou.
JÁ ERA HORAA lentidão com que os EUA continuam
tratando a questão ainda causa espanto
em quem foi pioneiro na luta contra os
subsídios. “É como se eles não acreditas-
sem que o Brasil fosse chegar ao ponto
de praticar as sanções. Já está passando
do ponto e da hora”, desabafa Haroldo
Cunha, presidente da Associação Brasi-
leira de Produtores de Algodão (Abrapa),
que defende a criação de compensações
até que o Congresso norte-americano
acabe com as subvenções ilegais. “A
criação de um fundo de desenvolvi-
mento para o produto com recursos
norte-americanos seria um paliativo
até que o Congresso consiga enfrentar o
lobby agrícola e acabe com os subsídios,
como estabeleceu a OMC”, sugere.
O professor da Escola de Pós-Gradu-
ação em Economia da FGV (Fundação
Getulio Vargas), Renato Flores, tem uma
explicação para o aparente descuido
dos norte-americanos. “Em 20 anos de
caos macroeconômico, o Brasil não ti-
nha como assumir uma postura mais
assertiva”, afi rmou, durante o seminá-
rio: Brasil, China, e a Arquitetura da Go-
vernança Global, realizado em março,
no Rio de Janeiro. Contudo, a diplomacia
brasileira não esconde que o Brasil tem
consciência de sua posição mais forte
para enfrentar disputas internacionais.
Antes da divulgação das listas proibiti-
vas, o chanceler Celso Amorim afi rmou
que o país “não prefere” a via do conten-
cioso, mas não pode “se curvar”.
É fato também que o Congresso
dos EUA enfrenta uma crise de caráter
interno e tem outras prioridades, como
as questões de emprego e segurança.
O prazo curto oferecido pelo Brasil, se-
gundo Ricardo Mendes, sócio-diretor da
Prospectiva Consultoria Internacional,
serve para criar um jogo de ameaça
em que o governo brasileiro ganha a
aprovação da opinião pública com o es-
tabelecimento de uma bravata. “Talvez
exista aí um componente ideológico,
porque o algodão é um produto impor-
tante, embora a segunda lista revele
itens de caráter intelectual.”
PERDAS E GANHOSCunha, presidente da Abrapa, concorda
que se trata de uma questão de posi-
cionamento: “A decisão adotada pelo
governo brasileiro gerou visibilidade.
Dependendo da postura daqui para a
frente, podemos avançar ou cair em
descrédito”, afi rma. O que também se
aventa entre os especialistas é que o
algodão pode ter sido o mote para que
o governo assumisse uma posição forte
no sentido de defender a eliminação
dos subsídios no âmbito multilateral
das negociações. “Não é um produto tão
importante para o Brasil como para
países africanos, que dependem do
algodão”, argumenta a economista do
Centro de Estudos do Setor Externo da
FGV-Rio, Lia Valls Pereira. O produto
representa apenas 0,03% do total das
importações brasileiras.
Seja como for, para Gabriel Rico,
CEO da Câmara Americana de Comér-
cio (Amcham), esse é um jogo bastante
arriscado. “A implementação de san-
ções não tem prejuízos apenas para
quem é retaliado, mas também para
quem exerce o direito de retaliar. A pri-
meira lista foi prudente, mas a segunda
me pareceu muita munição para o va-
lor envolvido.”
Apesar de não ver prejuízos maiores
a curto prazo, Rico lembra que o Brasil
desfruta, no mercado internacional, de
uma imagem de ambiente tranquilo,
para a instalação de novos negócios em
tecnologia de ponta e patentes. “Temos
um clima mais favorável do que China,
Índia e Rússia, e não podemos macular
esta posição construída ao longo de
anos.” Agora, a bola está nas mãos do
governo norte-americano.
ALGODÃO: OBJETO DA DISCÓRDIA ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS
DEBATES COMÉRCIO EXTERIOR
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68 AméricaEconomia Abril, 2010
SOB TENSÃOA perda de poder dos Kirchner alimenta um debate acirrado entre governo e oposição e coloca a governabilidade do país em risco
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
CRISTINA KIRCHNER NA
ABERTURA DO ANO
LEGISLATIVO: RESISTÊNCIA
DA OPOSIÇÃO E DECRETOS
SOB A MANGA
DEBATES ARGENTINA
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Abril, 2010 AméricaEconomia 69
H oje, quem olha para a política
argentina vê um caldeirão
fervente. Desde a renovação
do Congresso, em dezembro de 2009 –
depois da qual o governo perdeu maio-
ria tanto na Câmara dos Deputados
quanto no Senado e
a oposição decidiu
abdicar do diálogo
–, e as estratégias da
presidente Cristina
Kirchner de burlar o
legislativo para usar
de reservas do Banco
Central no pagamen-
to da dívida externa
do país, oposição e
governo alimentam
um nível de tensão
que não se via desde a década de 1980.
Tal guerra acirrada faz com que ana-
listas prevejam dias políticos difíceis e
turbulentos até as eleições presidenciais
de 2011. Para alguns, se esse cenário
não mudar, a Argentina corre o risco de
enfrentar uma crise de governabilidade
real. Já os menos fatalistas identifi cam
que se abre a oportunidade de o país
aprender que há outros caminhos, di-
ferentes do hiperpresidencialismo – ou
seja, que governa por meio de decretos
– e de uma oposição intransigente.
OPORTUNIDADE PERDIDANas eleições legislativas de junho de
2009, os aliados do governo ficaram
com 30% das cadeiras; outros 30% fo-
ram para uma aliança liderada pela
União Cívica Radical; 8% foram para o
peronismo conservador; e o restante
se dispersou entre facções de direita
e de esquerda. A falta de uma maioria
inclusive deu a essas facções poder de
sabotar qualquer plano. Para se ter uma
ideia, somente o Senado conta hoje com
72 membros e 23 bancadas.
De qualquer forma, tudo se confi gu-
rava como uma grande oportunidade
para os políticos argentinos fazerem o
seu trabalho: discutir, negociar, esticar,
puxar, até chegar a um consenso. Mas,
desde a posse do novo Congresso, o que
se viu foi uma oposição unida para
bloquear as iniciativas do governo. “O
que as pessoas querem é ver o assunto
resolvido, não mais problemas, e dessa
forma também a oposição acaba sendo
vista como pouco efetiva”, diz Roberto
Bacman, diretor do Centro de Opinião
Pública (Ceop). Para
o analista político
Heriberto Muraro, “a
melhor defi nição dos
políticos argentinos
foi dada pelo atual
presidente do Uru-
guai, Pepe Mujica:
‘a classe política ar-
gentina é canibal’”,
diz. Murano ironiza
com a experiência de
quem passou anos
assessorando governadores e presiden-
tes, e que lhe fez ver de tudo um pouco.
Ou quase, já que, até agora, nenhum
presidente peronista deixou o poder
por causa de uma crise econômica ou
política – o que é o grande medo de
Cristina Kirchner: ter de fazer uma re-
núncia antecipada.
Isso não convém à maior parte das
forças políticas vigentes na Argentina,
mas poderia ocorrer como um efei-
to bola de neve, originado da violação
contínua de regras. “Hoje, governo e
oposição estão jogando com tudo: qua-
se sempre de má-fé, rompendo regras,
o que torna difícil qualquer jogo, em
qualquer contexto”, diz o constitucio-
nalista Roberto Gargarella.
A ESFINGE COBOSNesse cenário pessimista, existem du-
as fi guras que, em teoria, podem impor
a calma até as eleições de 2011. Um
deles é o vice-presidente em exercício,
Julio Cobos. Possível candidato à Pre-
sidência do partido radical, em oposi-
ção ao atual governo do qual faz parte,
atrai vastos setores da classe média e a
centro-direita. A segunda é o deputado
e empresário de origem colombiana
Francisco De Narváez, conhecido como
“Colorado”. Peronista, mas sem carreira
política e cargos no partido, derrotou
o ex-presidente Kirchner nas últimas
eleições legislativas, representando a
província de Buenos Aires.
Enquanto isso, a estratégia dos Kir-
chner é a de buscar a reativação econô-
mica e um pacote de gastos públicos
que os faça recuperar o apoio das cama-
das populares, que lhes deram as costas
nas ultimas eleições legislativas. Hoje,
a favor dos Kirchner, está o desejo do
empresariado de baixar os decibéis da
briga entre governo e legislativo. “Eles
têm medo de que tudo isso provoque
um caos fi nanceiro. Seria como fabri-
car uma crise econômica do nada”, diz
Muraro. Já contra está o fantasma da
infl ação. Vários estudos independen-
tes a estimam em 25% entre março e
dezembro deste ano, o que signifi caria
29% no acumulado de 2010.
ALERTA DE TURBULÊNCIANo futuro próximo, a menos que ocor-
ra uma situação externa que promova
uma trégua, a aposta dos analistas é a
de que esse confl ito se manterá. “A opo-
sição não tem um projeto alternativo:
por isso é que os Kirchner e o ‘kirchne-
rismo’ estão vivos”, diz Bacman, do Ceop.
Hoje, como descreve Graciela Römer, da
Römer y Asociados, entre um governo
intransigente e pouco preparado para
governar sem o legislativo e uma opo-
sição que só existe para votar contra os
projetos de governo, pensar em uma via
alternativa é pura futurologia. Para o
analista político Ricardo Rouvier “se não
houver uma rota de negociação, o cami-
nho para fi nalizar o atual mandato será
complicado e turbulento”.
Mas há quem acredite que a tor-
menta possa gerar boas alternativas.
“Nosso sistema, que alguns chamam
de hiperpresidencialista, demonstrou
abrir margem à instabilidade”, diz Ro-
berto Gargarella. A opção, segundo ele, é
usá-lo de forma criativa. “A Constituição
estabelece instituições participativas,
que deveriam ser incentivadas.”
Com a fragmentação atual, entre-
tanto, não parece haver ânimo para
isso. O que, segundo analistas, poderá
favorecer uma candidatura de Néstor
Kirchner em 2011.
23é o número de bancadas no
Senado argentino, para 72 cadeiras
70 AméricaEconomia Abril, 2010
CONTAS AMARGAS
O terremoto abalou a economia do Chile, mas tudo indica que não deixará o país fora de combate
EQUIPE AMÉRICAECONOMIA,
DE SANTIAGO
DEBATES CHILE
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FPO pavor era evidente entre a
seleta audiência reunida em
Valparaíso. De Evo Morales ao
príncipe da Espanha, todos puderam
sentir uma amostra do que os chilenos
sofreram e ainda deverão sofrer depois
do dia 27 de fevereiro, quando um ter-
remoto de 8,8 graus na escala Richter
atingiu o país. A réplica que antecedeu
a cerimônia de posse do novo presiden-
te do Chile, Sebastián Piñera, foi o sinal
reiterado dos desafi os que o presidente
terá em seu mandato para reconstruir
o país e recuperar a economia.
As três regiões mais afetadas pelo
sismo, no sul do Chile, reúnem 25%
DIAS DEPOIS DA POSSE, PIÑERA
(CONVERSANDO COM MILITAR) VERIFICA
OS DANOS PROVOCADOS PELO SISMO
da população do país e representam
18% do Produto Interno Bruto (PIB). Em
muitas delas, o trabalho será o de reco-
meçar praticamente do zero.
Um exemplo disso é Constitución.
A cidade despontou no mapa do país
em 1969, quando o governo decidiu
instalar nesse local uma grande fábrica
de celulose. A decisão fez o lugar crescer
e enriquecer. Mas esse tempo áureo de-
sapareceu com o terremoto, seguido de
tsunami. A cidade, que abrigava 50 mil
moradores, praticamente desapareceu.
E as instalações da Celulose Arauco e
Constitución (Celco) viraram toneladas
de barro e escombros.
A Copec, controladora da Celco, foi
uma das empresas mais afetadas do país.
Até o fechamento desta edição, a em-
presa mantinha várias de suas fábricas
fechadas, sem previsão de reabertura.
Somente na planta de Constitución, que
produzia 350 mil toneladas de celulose
ao ano – 10% do total da Celco –, traba-
lhavam 700 pessoas.
O PREÇO DA DESTRUIÇÃONa linguagem econômica, o que o Chile
sofreu com o terremoto é um grande
choque de oferta negativa. “Uma parte
das construções está inutilizada, bem
como a rede rodoviária; isso se traduz
2
Abril, 2010 AméricaEconomia 71
pamentos, e cerca de US$ 500 mi-
lhões em estoques perdidos.
EFEITOS MACROCom menos ativos em pé, a capaci-
dade produtiva da economia cai. O setor
mais afetado é o fl orestal, que exportou
US$ 4,1 bilhões em 2009. Quase a meta-
de desse montante é representada pela
celulose, da qual a Celco é responsável
por US$ 1,25 bilhão. Há outros casos
graves: 50% da capacidade instalada
dos pesqueiros do centro e sul do país,
por exemplo, fi caram inutilizáveis com
o terremoto e as posteriores marés da
região de Biobío, segundo a Sociedade
Nacional da Pesca (Sonapesca).
O setor vinícola também tem muito
a lamentar. “Foi um dos mais afetados”,
diz Luis Mayol, presidente da Sociedade
Nacional da Agricultura. Em Colchá-
gua, rios de vinho fl uíam pelas ruas. Os
sistemas antissísmicos simplesmente
não funcionaram: os barris caíram e
passaram a empurrar outros, em um
efeito dominó enológico. A indústria
em uma taxa de depreciação muito
alta”, diz o economista chileno Guiller-
mo Le Fort, sócio do Le Fort Economia e
Finanças e ex-diretor executivo do FMI
(Fundo Monetário Internacional).
O Eqecat, centro de pesquisa de ca-
tástrofes que trabalha para o setor de
seguros nos Estados Unidos, estimou,
preliminarmente, que os custos do ter-
remoto nos ativos do Chile seriam de
US$ 15 bilhões a US$ 30 bilhões. “É uma
cifra absurda”, avalia Matías Braun,
sócio do banco de investimentos IM
Trust, em Santiago. “As três regiões
mais afetadas acumulam cerca de 20%
do capital físico do país, algo em torno
de US$ 60 bilhões. Estimar perdas de
US$ 30 bilhões signifi caria uma perda
de 50%, e não foi assim.” Braun avalia
os danos em, no máximo, US$ 8 bilhões.
Dessa cifra, US$ 2,5 bilhões viriam da
destruição de 20% das casas nas zonas
afetadas; US$ 1,5 bilhão de edifi cações
comerciais e industriais; US$ 2 bilhões
da infraestrutura viária e portuária;
US$ 500 milhões de máquinas e equi-
À ESQUERDA, CIDADE DE TALCAHUANO
DEPOIS DO TSUNAMI. ACIMA E ABAIXO,
TRABALHO DE BUSCA POR SOBREVIVENTES
estima em US$ 250 milhões as perdas
por conta do terremoto. Muitos dizem
que as exportações, que, em 2009, fo-
ram de US$ 1,38 bilhão, serão ínfi mas
neste ano, abrindo caminho para con-
correntes como os argentinos.
VOLTA POR CIMA
A recuperação do país poderá ser faci-
litada pela boa posição e pela credibi-
lidade fi scal do Chile, bem como pela
capacidade do setor privado. O primeiro
anúncio feito pelo governo de Piñera foi
um ajuste fi scal de mais de US$ 700 mi-
lhões, que deverá incluir um plano para
as moradias. Segundo o Ministério da
Habitação, cerca de 1,5 milhão de ca-
sas sofreram danos, das quais 500 mil
teriam danos severos, o que signifi ca
um esforço de recuperação inédito na
história do país.
2
3
4
72 AméricaEconomia Abril, 2010
Zona afetada por Tsunami
Zona de desastreGoverno declara toque de recolher
Para que isso ocorra, o novo presi-
dente, Sebastián Piñera, e seu minis-
tro da Fazenda, Felipe Larraín, devem
impulsionar um forte plano de gasto
do governo, o qual, provavelmente, os
levará a operar com défi cit fi scal em
2010. O dinheiro acumulado no Fundo
de Estabilização Econômica e Social,
graças ao alto preço internacional do
cobre entre 2002 e 2008, serve de res-
paldo para proteger os fundos macroe-
conômicos. “O Chile tem mais de US$ 11
bilhões em ativos fi nanceiros e baixa
carga de dívida, de menos de 7% do
PIB”, diz Gabriel Torres, vice-presidente
da Moody’s, que assegura que não revi-
sará a classifi cação da dívida soberana
chilena. “Isso permitirá ao país aumen-
tar seus passivos, se necessário.”
Tampouco é esperado que haja um
aumento nas taxas de juros no curto
prazo. “Temos uma política monetária
expansiva, que continuará assim por
bastante tempo, para que o investi-
mento e os gastos tenham um cus-
to financeiro adequado”, diz José De
Gregorio, presidente do Banco Central
(BC) chileno. Em outras palavras, o BC
favorecerá a manutenção de taxas, am-
pliando ao máximo o estímulo mone-
tário para ajudar a recuperação. Espera-
se que, por efeitos diretos do terremoto,
muitos preços subam, especialmente
nas áreas afetadas, o que reduziria as
taxas de curto prazo. “Uma vez que a
recuperação aconteça, entretanto, o
Banco Central se verá obrigado a subir a
taxa de juros signifi cativamente”, diz Le
Fort, do Le Fort Economia e Finanças.
O FATOR INFRAESTRUTURAUm dos calcanhares de Aquiles na re-
cuperação da atividade econômica do
país será a infraestrutura. Não há área
que não tenha sido afetada pelo sismo,
desde a água potável até as telecomu-
nicações, passando pela eletricidade e
pelos portos. Os ritmos de recuperação
ARGENTINAOCEANO PACÍFICO
CHILE
VALPARAÍSO
SANTIAGO
RANCAGUA
REGIÃO METROPOLITANA
CURICOCONSTITUCIÓN
100 km
PENCO
CONCEPCIÓN
ARAUCANIA
DICHATO
TALCA
EPICENTROMagnitude - 8,8
O’HIGGINS
MAULE
BIOBÍO
DEBATES CHILE
ACIMA, SAQUES
NOS SUPERMERCADOS
DE CONCEPCIÓN.
À ESQUERDA,
BURACOS EM RODOVIA
NO SUL DO PAÍS
dos serviços são distintos. A energia
elétrica tem seus problemas focados na
distribuição, já que as grandes gerado-
ras, tanto hídricas quanto térmicas, po-
dem seguir operando sem problemas.
Os processos de reconstrução serão
mais longos na infraestrutura viária e
dos portos. O porto de Valparaíso, por
exemplo, reiniciou as operações um dia
depois do terremoto, mas somente em
alguns terminais, o que reduzirá sua
capacidade de embarque por tempo
indeterminado. Os danos nas estradas
e rodovias totalizaram entre US$ 200
milhões e US$ 300 milhões, segundo
estimativas do setor, e a recuperação
total poderá demorar até oito meses.
Por isso, a capacidade de gestão e a
sintonia com o setor privado que Piñera
demonstra ter serão colocadas à prova.
O presidente também deverá desafi ar
amarras ideológicas dos aliados para
colocar o Estado como motor funda-
mental nesse processo. Se conseguir
isso, será um ponto positivo em seu co-
meço de gestão, pois transformará em
capital político os bons resultados que o
Chile necessita nesse processo urgente
de reconstrução. Foto
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74 AméricaEconomia Abril, 2010
Cultivo da folha de coca se expande no Peru. Se essa tendência permanecer, em 2013, o país tomará o lugar da
Colômbia como primeiro produtor mundial da droga
CECILIA NIEZEN, DE LIMA
AVANÇO DA ATIVIDADE DO NARCOTRÁFICO É ASSOCIADA AO ACIRRAMENTO DE AÇÕES TERRORISTAS
C usillococha é um povoado
peruano na fronteira com a
Colômbia, de características
pouco comuns para seu tamanho. Nas
casas do lugar, podem-se encontrar
eletrodomésticos de última geração e
sistema de TV a cabo, em forte contras-
te com a vida em outros vilarejos da re-
gião. “Até a década de 90, essa região era
tranquila”, conta o pesquisador Jaime
Antezana. “Hoje, é uma região onde se
cultiva coca, e há núcleos controlados
pelas máfi as do narcotráfi co”, diz.
Dados ofi ciais indicam que a pro-
dução da folha de coca no Peru, em
2008, envolveu 56,1 mil hectares, 65
mil famílias e US$ 19 bilhões em expor-
tações. Os números indicam que, nos
últimos anos, esse cultivo aumentou
e se espalhou por áreas afastadas dos
núcleos tradicionais. Em Loreto, região
que abriga Cusillococha, por exemplo,
os 100 hectares registrados em 2004
aumentaram para 700 em 2008. “Se
continuarmos assim, em 2013, o Pe-
ru tomará o lugar da Colômbia como
principal produtor mundial de folha de
coca”, diz Antezana.
Segundo Fabián Novak, que tra-
balhou no Ministério da Defesa do
Peru, apesar de essa expansão ainda
se encontrar em volumes marginais,
“já demonstra a consolidação de uma
perigosa tendência: a de adquirir as ca-
racterísticas da Colômbia, onde as plan-
tações estão dispersas por quase todo o
território”. Tal dispersão, segundo ele,
difi cultaria o trabalho de erradicação.
DEBATES NARCOTRÁFICO
Foto
s: AFP
Para o economista Hugo Cabieses,
parte da culpa dessa proliferação se
concentra “nas políticas inefi cazes do
governo, que não oferecem alternati-
vas concretas e sustentáveis para os
agricultores das áreas afetadas, carac-
terizadas pela pobreza”.
Jaime García, professor da Universi-
dade de Lima e especialista no tema, dá
outro sinal de alerta: o da possibilidade
de os programas colombianos de erra-
dicação pressionarem a migração dessa
atividade para as fronteiras peruanas.
“Ainda não se detectou oficialmente
a presença ativa dos narcotrafi cantes
colombianos no território peruano,
mas, na medida em que a luta contra as
drogas nesse país seja bem-sucedida, e
o Peru não a acompanhe com medidas
Cultivo da folha de coca se expande no Peru. Se essa tendência permanecer, em 2013, o país tomará o lugar da
Colômbia como primeiro produtor mundial da droga
Abril, 2010 AméricaEconomia 75
AVANÇO DO PLANTIO ESTIMULA “COCALIZAÇÃO” DA ECONOMIA REGIONAL DO PERU
efetivas, não se pode descartar esse
risco”, afi rma. E, o mais grave, que ve-
nha acompanhada de ações terroristas.
ECONOMIA DISTORCIDAA crescente dependência do comér-
cio da coca, em detrimento de outras
atividades formais, também estimula
a “cocalização” das economias regio-
nais. Um estudo do Instituto de Estudos
Internacionais (Idei) da Universidade
Católica do Peru, intitulado “Mapa do
Narcotráfi co no Peru”, indica os prin-
cipais impactos dessa atividade. Entre
eles, o aumento do custo da mão de
obra na época de colheita, a distorção
do preço das terras e de produtos como
café, algodão e arroz, bem como a polui-
ção do solo e dos rios causada pelo uso
inadequado de agrotóxicos.
Antonio Cornejo, assessor técnico
da Conveagro, instituição do setor agrá-
rio, afi rma que já existem regiões onde
se torna difícil contratar pessoas para
a colheita de café. “Os produtores estão
perdendo mão de obra ou têm de pagar
mais, comprometendo suas margens”,
diz. Essa situação deriva em um círculo
vicioso que, pouco a pouco, aumenta a
dependência das economias da cultura
da coca. Nas regiões de Cusco e Huánu-
co, por exemplo, respectivamente 28%
e 47% do PIB agrário já provêm da coca.
E essa dependência, lembram os espe-
cialistas, além de não romper o círculo
da pobreza, imprime o lastro caracte-
rístico do narcotráfico: insegurança,
corrupção e violência.
Por isso, multiplicam-se as vozes que
pedem uma reação imediata do gover-
no. Para Antezana, é preciso uma mu-
dança clara nos programas em curso. Ele
dá como exemplo outra região peruana,
chamada San Martín, que conseguiu
reduzir a plantação de coca de 28,6 mil
hectares, em 1992, para 321 hectares,
em 2008. Segundo Antezana, essa ex-
periência foi baseada em um tripé for-
mado por um programa de erradicação,
pela promoção de cultivos alternativos,
como café, cacau e palmito, e pela pre-
sença do Estado, oferecendo infraestru-
tura produtiva, saúde e educação.
A última iniciativa do governo nes-
se sentido chama-se Plano de Impacto
Rápido 2010, que dedica cerca de US$ 32
milhões à luta contra o narcotráfi co e a
novos cultivos. É quase o triplo do valor
destinado há dois anos. Entretanto, os
especialistas alertam para a necessida-
de do envolvimento dos líderes regio-
nais, já que a experiência demonstra
que nenhum projeto funciona sem o
compromisso dos locais. E, para um pa-
ís que já ganhou reconhecimentos mais
nobres, como o grau de investimento,
ter o posto de primeiro lugar como pro-
dutor de coca está longe de ser motivo
de orgulho.
Evolução do cultivo de coca no Peru e na Colômbia (em hectares)
Colômbia Peru Estimativa
1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015
Fonte: IDEI – Mapa do Narcotráfico no Peru
80.000
60.000
40.000
20.000
0
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
76 AméricaEconomia Abril, 2010
O FUTURO É HOJEEstabilidade econômica e pouca confi ança no sistema público de previdência estimulam a adoção de planos privados por uma camada cada vez mais ampla da população
MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO
ESPECIAL PREVIDÊNCIA
1
Abril, 2010 AméricaEconomia 77
Foto
s: 1 -
iStoc
kpho
to; 2
e 3 -
Divu
lgaçã
o
O s amigos de Osvaldo Nascimento devem ter acha-
do estranho quando ele comentou que havia con-
tratado planos de previdência privada para a em-
pregada que trabalha com sua família e o fi lho adolescente.
Entretanto, apesar de sua funcionária ter aproveitado a
vantagem de Nascimento ser especialista no tema, já que é
o diretor de Investimentos e Previdência do Itaú Vida e Pre-
vidência, ver pessoas de diferentes camadas sociais estu-
dando alternativas que lhes garantam um futuro tranquilo
já não é algo incomum.
O mercado de previdência privada vem se popularizando
e crescendo a olhos vistos no Brasil. Tanto que as quatro maio-
res instituições do segmento – Bradesco Vida e Previdência,
Itaú Vida e Previdência, Brasilprev Seguros e Previdência e
Santander Seguros –, que, juntas, respondem por mais de 80%
desse mercado, têm estudado o perfi l e a renda desses consu-
midores. Somente em 2009, foram injetados R$ 38,8 bilhões
nesses planos, com variação positiva de 21,79% em relação ao
mesmo período de 2008. E a perspectiva é de que eles conti-
nuem nesse nível de ascensão nos próximos anos.
Segundo o gerente de Inteligência de Mercado da Brasil-
prev, Sandro Bonfi m, os planos de investimentos do tipo PGBL
(Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de
Benefício Livre) são os preferidos das camadas sociais mais
baixas da população, principalmente a C. “Essas pessoas
querem investir, principalmente, no futuro dos seus fi lhos, já
que não tiveram oportunidade de crescer em um país com a
economia estabilizada”, ressalta.
Desde a implantação do Plano Real, em 1994, a população
vivencia cada vez mais taxas de juros decrescentes, aumento
da renda média da população, regulamentação mais sólida
do setor quanto à preservação dos ativos de seus investidores
e transparência dos planos entre as empresas. Esses aspec-
tos apresentam-se como fundamentais para a mudança de
comportamento entre os brasileiros. Há também outros dois
tópicos importantes, apontados pelo diretor-presidente da
Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio Oliveira: o aumento
da expectativa de vida e a superação dos traumas da infl ação,
o que facilita o planejamento para médio e longo prazos.
MAIS QUE APOSENTADORIA“Até 2002, o investimento em previdência tinha foco
prioritário em aposentadoria; depois, isso mudou”, afir-
ma Oliveira. Por isso, hoje em dia, investe em previdência
privada quem pretende gerar uma renda no longo prazo,
como pagar uma universidade ou cursos no exterior para
os seus descendentes, e aqueles que intencionam guar-
dar reservas para despesas médicas na velhice, segundo
os especialistas do mercado. Diante desse novo cenário,
está em discussão entre empresas do setor e governo uma
proposta formulada pela Susep (Superintendência de Se-
guros Privados) para lançar produtos tipo VGBL voltados
à saúde e à educação, com incentivo fiscal. Denominados
PrevSaúde e PrevEducação, eles isentariam a tributação que
incide no imposto de renda dos rendimentos após o resgate,
caso o investidor comprove gastos nessas áreas. Se o investi-
dor desistir de destinar os rendimentos a esses fi ns, então o
plano passa a funcionar como um VGBL comum. “O objetivo
é atender pessoas que não têm nenhum tipo de seguro, mas
anseiam por uma proteção para dar melhores condições de
educação e saúde à família”, afi rma o superintendente da
Susep, Armando Vergílio dos Santos Júnior. Essas opções
devem chegar ao mercado ainda neste ano.
Presente em 100%
dos municípios bra-
sileiros e líder desse
mercado em receitas,
a Bradesco Vida e Pre-
vidência tem forte
atuação no varejo. E
seu diretor-presidente
acha que o cresci-
mento nas camadas
mais populares ocor-
re porque agora há
mais possibilidade de
poupar. No entanto,
ainda é bem tímida a
participação dos seg-
mentos D e E, que co-
meçam a conquistar
poder econômico para
consumir.
2
3
À ESQUERDA, OSVALDO NASCIMENTO,
DO ITAÚ VIDA E PREVIDÊNCIA E,
ACIMA, SANDRO BONFIM, DA
BRASILPREV: DE OLHO NO MERCADO
78 AméricaEconomia Abril, 2010
ESPECIAL PREVIDÊNCIA
Por isso, Bonfim, da Brasilprev, admite que o mercado
investe em pesquisas para conhecer melhor esse público e
estuda formas de reduzir ainda mais o custo inicial de investi-
mentos. Já é possível começar investindo cerca de R$ 25, como
no Brasilprev Junior, em PGBL e VGBL renda fi xa. E não é obriga-
tório uma contribuição mensal. Há outras instituições, como
o Santander, que oferecem o plano Prev 13 Rendas, em PGBL e
VGBL, nas opções de renda fi xa e multi 20 (que é mais agressi-
vo). Nele, nem é preciso ter um aporte mínimo. Porém, faz-se
obrigatório investir uma mensalidade mínima de R$ 50.
PGBL X VGBLMas, afi nal, qual é a verdadeira vantagem do PGBL e do VGBL,
em relação aos planos tradicionais? Em poucas palavras, o PG-
BL é mais indicado a pessoas que fazem a declaração de ajuste
anual do Imposto de Renda (IR) no modelo completo e contri-
buem para o plano com até 12% de sua renda bruta (limite
legal para o deferimento). O VGBL volta-se mais para aqueles
que fazem a declaração de ajuste anual do IR no modelo sim-
plifi cado ou para quem utiliza o modelo completo, mas contri-
bui com mais de 12% de sua renda bruta. “Neste caso, a pessoa
pode ter um PGBL com 12% da renda bruta e alocar o restante
em um VGBL”, ressalta o superintendente da Susep.
Isso porque, no PGBL, a tributação incide no valor total,
no momento do resgate. “Por isso, nós orientamos que seja
aplicado até o limite passível de tributação”, afi rma o diretor
de Previdência Brasil da Mercer Consultoria, Eduardo Correia.
No VGBL, a incidência ocorre somente sobre os rendimentos.
Contudo, é importante ressaltar que ambos os planos têm
taxa de administração – que varia de 1,5% a 4% – e taxa de
carregamento, que gira entre 0% e 5%. Porém, nenhum deles
tem o come-cotas dos planos de investimentos comuns.
No curto prazo, ele não é um produto vantajoso de se
aplicar. Na opinião de Correia, da Mercer, dez anos é o tempo
ideal. “É importante fi car de olho nos rendimentos, porque a
tributação pode fi car alta após tantos anos sem a incidência
do Leão”, diz.
De qualquer forma, o investidor pode optar por dois tipos
de tributação, ao escolher o plano: a progressiva – mais pró-
xima do Imposto de Renda incidido sobre os salários, come-
çando como isento e taxando em 15% e 27,5% – acima de R$
3,7 mil, paga-se o porcentual máximo –; ou a regressiva, que
inicia com tributos de 35% e, a cada dois anos, reduz a incidên-
cia em 5%, até chegar ao limite mínimo, de 10%.
DE OLHO NO VGBLCom todas essas características, o que vem ocorrendo é um
boom na procura de investimentos tipo VGBL. Dados da Fe-
naprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida)
apontam que, no acumulado de janeiro a dezembro de 2009,
esses planos representaram 77,92% dos investimentos em
previdência complementar, enquanto o PGBL representou
13,47%. Planos tradicionais e outros alcançaram 8,61%. “A
tendência é a de aumentar ainda mais a procura por VGBL
porque há várias opções disponíveis no mercado”, ressalta
Nascimento, da Itaú Vida e Previdência.
As quatro maiores
segundo receita (jan-dez 2009)Instituição
Participação (%) Valor absoluto (R$) PGBL VGBL Tradicional Outros
segundo a receita distribuída por produto (jan-dez 2009)
Bradesco Vida e Previdência
Itaú Vida e Previdência AS
Brasilprev Seguros e Previdência
Santander Seguros AS
32,10
21,79
15,86
10,76
12.451.790,00
8.452.625,00
6.153.324,00
4.173.475,00
8,57%
13,08%
23,43%
9,24%
82,43%
81,21%
68,38%
86,46%
8,96%
5,60%
8,19%
4,30%
0,04%
0,11%
-
-
Total:
em previdência privada
Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)
31.231.214,00
OLIVEIRA, DA BRADESCO PREVIDÊNCIA: MAIS PLANEJAMENTO
4
Abril, 2010 AméricaEconomia 79
Receita por tipo de plano Receita acumulada por produto
Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi)
79,40%
12,03%
8,57%
Empresarial
Menores de idade
Janeiro a dezembro 2009 Janeiro a dezembro 2009
77,92%
0,05%
13,47%
8,56%
PGBL VGBL
OutrosPlano
tradicional
Individual
E, dentro desses planos – tanto VGBL quanto PGBL –, os
que vêm crescendo em maior escala são os formatados para
jovens. Eles ainda representam 8,57% dos planos, mas têm
amplo potencial de expansão. “Isso porque dez anos não sig-
nifi cam quase nada na vida desses jovens, que cada vez mais
a planejam com antecedên-
cia”, ressalta Nascimento. Se
não são eles, quem fecha uma
negociação são as mães. Na
Bradesco Vida e Previdência,
mulheres preocupadas com o
futuro de seus fi lhos, no ano
passado, foram responsáveis
pelo crescimento de 21,4% das
receitas da seguradora advin-
da dos planos para os jovens.
O SETOR PÚBLICOO aumento da procura por um
plano privado também refl ete
a pouca confi ança da popula-
ção na cobertura oferecida pe-
la aposentadoria do governo,
advinda dos recursos do INSS
(Instituto Nacional do Seguro
Social). “Proporcionalmente à
renda dos brasileiros, é uma
das aposentadorias federais
mais altas do mundo porque
cobre até dez salários míni-
mos, mas, na prática, nem to-
dos conseguem aposentar-se
com o teto, e, dessa forma, o
rendimento cai bruscamente”,
ressalta Nascimento, da Itaú
Vida e Previdência. É antiga a questão previdenciária no pa-
ís. Há pelo menos dez anos, fala-se em uma reforma no setor,
que nunca é regulamentada. Até o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva acabou por admitir que o Brasil está gastando
muito com aposentadorias e pensões. Para se ter uma ideia,
de cada R$ 3 arrecadados em impostos e contribuições, R$ 1
vai para esse fi m.
Além disso, a população está vivendo mais. Isso signifi ca
que os contribuintes ativos não conseguem equilibrar as con-
tas – pagando impostos – para
sustentar os inativos. Segundo
Correia, da Mercer Consultoria,
embora não tenha sido popu-
lar, o fator previdenciário, que
impacta no valor do benefício,
dependendo da idade, segurou
um pouco o rombo.
Até agora, o governo e se-
tores envolvidos concordam
em um ponto: a reforma deve
afetar os que estão entrando
no mercado de trabalho, para
não implicar prejuízos a quem
já contribui há anos.
O problema é que até hoje
não se sabe ao certo o tamanho
da dívida da previdência. Cál-
culos do Instituto Brasileiro de
Relações de Emprego e Traba-
lho (Ibret) apontam para uma
dívida maior que a mobiliária,
hoje correspondente a 60% do
PIB (Produto Interno Bruto) bra-
sileiro, que teria de ser coberta
nos próximos 30 a 40 anos.
O mercado aposta que,
neste ano, nenhuma reforma
sai, até porque é período elei-
toral. Mas quem sabe, com os
ânimos arrefecidos, em 2011, promessas possam fi namente
sair do papel? Melhor para os brasileiros, que, por via das dú-
vidas, passaram a planejar mais no longo prazo e investir em
um plano de previdência complementar.
VERGÍLIO, DA SUSEP: FOCO EM SAÚDE E EDUCAÇÃO
Foto
s: 4 e
5 - D
ivulga
ção
5
MAIS RETORNO2010 promete ser um bom ano para os fundos multimercados no Brasil
ANA BORGES, DE SÃO PAULO
O ano de 2008 foi um divisor
de águas para a indústria de
fundos multimercados ou
hedge funds. Agora, dois anos depois, a
busca dos gestores é por oportunidades
que ofereçam maior rentabilidade aos
clientes. No ápice da crise, o portfólio
de muitos fundos foi devastado. Mas
essa época passou. A ordem é mostrar
serviço e evitar que uma nova onda
de saques ocorra. O trauma se foi, e au-
menta o interesse dos investidores em
buscar um retorno maior, mesmo que
isso signifi que um risco mais eleva-
do. As perdas que marcaram 2008
geraram certo desconforto e um
aumento da cautela; porém,
a diversificação dos portfó-
lios tende a prevalecer. E os
países emergentes parecem
ser o caminho ideal para os
fundos estrangeiros.
O Liongate Capital
Management, um dos
maiores gestores de fun-
dos da Inglaterra, vê os
países emergentes como
uma grande oportunida-
de de obter mais rentabi-
lidade. “Se você tem US$
100, é melhor alocá-los
em países emergen-
tes. Como um to-
do, estes estão
FINANCAS HEDGE FUNDS
apresentando uma performance me-
lhor, têm crescimento maior e políti-
cas monetárias bem geridas”, afi rma o
sócio do Liongate, Randall Dillard, que
em abril participará do evento Brasil
Investment Summit, em São Paulo. O
fundo pretende aumen-
tar a exposição aos emergentes, dos
atuais 7% para 11% do total do portfó-
lio. Dillard também vem ao Brasil para
buscar novas oportunidades junto aos
gestores locais. O Liongate, atualmente,
detém US$ 100 milhões alocados em
Abril, 2010 AméricaEconomia 81
IMAGEM E SEMELHANÇAA demanda dos estrangeiros por ativos
brasileiros tem levado gestores locais a
lançar espelhos dos seus fundos em ou-
tros mercados, como na Ásia. Já existem
89 fundos offshore brasileiros por todo o
mundo, com um patrimônio líquido de
R$ 52,9 bilhões. Isso inclui todos os tipos
de produtos, inclusive os de renda fi xa.
A Associação Brasileira das Entidades
dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima) está apoiando iniciativas que
atraiam os estrangeiros para aplicar em
moeda local. No entanto, um dos grandes
entraves é a elevada carga tributária.
A Quest Investimentos é um dos
assets que detêm fundos offshore. “É
uma forma de os estrangeiros terem
acesso aos gestores brasileiros. Esse é o
caminho que deve ocorrer. O interesse
pelo Brasil é sólido. Não é à toa que rece-
bemos e-mails de toda parte do globo”,
diz Walter Maciel, da Quest Investimen-
tos. Ele lembra que a regulamentação da
indústria brasileira é um dos grandes
diferenciais, pois promove a transparên-
cia dos fundos. “O estrangeiro mostra
até certa ansiedade de vir ao mercado
brasileiro. Sem dúvida, este movimento
já está acontecendo. Os Brics [Brasil, Rús-
sia, Índia e China] mostram uma história
atraente, e o Brasil tem uma das mais
interessantes”, complementa.
Na avaliação de Figueiredo, da
Mauá Investimentos, mesmo com a
perspectiva de aumento da Selic (taxa
básica de juros) neste ano, os fundos
multimercados devem registrar ex-
pansão no médio prazo. Tal movimento
será liderado não pelos estrangeiros,
mas pelos investidores locais. “Ainda há
uma parcela muito grande de recursos
alocados na renda fi xa. A Selic vai subir
e fechar o ano entre 11% e 11,5%, mas
não há mudança no padrão dos juros.
No longo prazo, eles cairão e é natural
a busca pela diversificação”, explica.
Como os fundos multimercados repre-
sentam uma parte ainda pequena da
indústria, qualquer parcela que migre
para esse produto faz a diferença.
89são os fundos
offshorebrasileiros em todo o mundo
fundos offshore brasileiros e em deri-
vados de açúcar. “Estou satisfeito com
essa alocação e pretendo ampliar a ex-
posição em ativos brasileiros. O Brasil
está se saindo melhor em relação a ou-
tros países e, durante a crise, mostrou
recuperação mais rápida”, ressalta.
A tendência é de que haja o aumen-
to da alocação dos hedge funds em mer-
cados emergentes, e esse movimento
deve perdurar até que o Federal Reserve
(FED), o banco central dos Estados Uni-
dos, decida aumentar a taxa de juros
norte-americana. Esse risco marcará o
próximo ano, segundo as sinalizações
deixadas pelo próprio FED. “O aumento
das taxas de juros nos Estados Unidos
faz com que os ativos norte-americanos
se tornem novamente atrativos e reduz
o apetite dos investidores para aplicar
nos emergentes”, explica Dillard.
A equação é simples: com taxas
mais atrativas nos EUA, os estrangei-
ros correm menos riscos para obter
rentabilidade. A perspectiva de uma
maior taxa de retorno é o que estimula
os estrangeiros a ampliar a exposição
aos emergentes. “Alguns países da
América Latina, como o Brasil, além
de China e Índia, estão em desta-
que, pois têm uma taxa de retor-
no atrativa e bons fundamentos.
Além disso, a indústria brasileira
passou praticamente ilesa pela
crise, pois foi criada de forma
diferente das outras. Não pas-
sou por apuros e vai crescer”, diz
o ex-diretor do Banco Central
Luiz Fernando Figueiredo, sócio-
diretor da Mauá Investimentos.
O chief investment offi cer da DKH
Investments, David Henry, que
também estará no Investment
Summit, é outro otimista em rela-
ção aos países emergentes. Ele afi rma
que os gestores brasileiros são bas-
tante profissionais e a regulação do
mercado reduz os riscos, o que deixa os
estrangeiros mais tranquilos. “Fiquei
impressionado com a sofi sticação e o
profi ssionalismo do mercado brasileiro.
O país está entre os tops”, diz, ao men-
cionar a China como outra boa opção.Foto
s: SXC
82 AméricaEconomia Abril, 2010
EVASÃO PONTUALApesar de todo o otimismo, neste início
de ano, os hedge funds do Brasil sofre-
ram com a saída de investidores. Na sex-
ta maior indústria de fundos no mundo,
o movimento dos investidores, no iní-
cio de 2010, foi de retirada dos recursos
dos multimercados e de alocações mais
conservadoras, como a renda fi xa. Essa,
entretanto, não é a tendência para o
ano. Com a taxa de básica de juros (Selic)
ainda baixa, com relação aos níveis his-
tóricos, a perspectiva é de que haja um
aumento da diversifi cação, o que envol-
ve diretamente os multimercados. “Nos
últimos três anos, janeiro tem sido um
mês de resgates. É um evento sazonal.
Não podemos ver como tendência”, ava-
lia o diretor da Anbima, Pedro Bastos.
Nos dois primeiros meses do ano,
os multimercados registraram uma sa-
ída líquida de R$ 5,76 bilhões. O patri-
mônio líquido (PL) desses fundos soma
R$ 336,593 bilhões e representa 23,16%
do total da indústria brasileira, cujo PL
é de R$ 1,45 trilhão. A indústria como
um todo captou, nestes dois meses, R$
13,9 bilhões, valor 162,7% superior ao
registrado no mesmo período de 2009, o
que proporcionou crescimento de 1,0%
do mercado doméstico de fundos. Já no
A REVISTA AMÉRICAECONOMIA É PARCEIRA DE MÍDIA DO BRASIL INVESTMENT SUMMIT 2010, QUE SERÁ REALIZADO DE 26 A 29 DE ABRIL, NO HOTEL UNIQUE, EM SÃO PAULO. MAIS INFORMAÇÕES: WWW.TERRAPINN.COM/2010/BIS
acumulado em 12 meses até fevereiro, a
captação ultrapassa, pela primeira vez, o
patamar dos R$ 100 bilhões. A categoria
que apresentou o melhor desempenho
foi a de Renda Fixa, com R$ 15,4 bilhões.
A tendência não foi sentida pelo
asset do Bradesco. “A expectativa é de
crescimento. Os resgates ocorreram
há muito tempo, nem vemos mais no
retrovisor. Neste ano, registramos tran-
quilidade. As estratégias dos multimer-
cados permitem ganhos em momentos
de volatilidade e se adaptam de acordo
com o cenário”, destaca Bastos.
Segundo ele, há uma certa correla-
ção dos movimentos da Bolsa de Valores
com o comportamento dos investidores
de multimercados. Em geral, quando o
mercado acionário vai mal, a tendência
é de que os investidores resgatem os re-
cursos, o que justifi ca, em parte, a perda
líquida desses fundos. A estratégia, en-
tretanto, é equivocada, pois esse produto
permite ganhos tanto quando o momen-
to é positivo para as ações, quanto em
um cenário de realização de lucros. “O
investidor tende a acreditar que o multi-
mercado só vai bem em momentos posi-
tivos. Não é verdade. O fundo serve para
que também sejam feitas operações que
permitam ganhos em épocas adversas”,
explica Roseli Machado, diretora da Fator
Administração de Recursos.
As carteiras dos multimercados
permitem que o gestor adote diferentes
estratégias, de acordo com o momento
do mercado, o que, no longo prazo, sig-
nifi ca um retorno maior. “A questão não
é olhar o dia a dia. Ainda existe uma
cobrança por parte do investidor que
observa o retorno diário e compara com
o CDI. Falta maturidade”, afi rma Bastos.
Esse tipo de comportamento é cultural
e está relacionado com o histórico infl a-
cionário vivido pelo Brasil.
Na opinião de Bastos, o ano tende
a ser positivo para os fundos multi-
mercados no Brasil, mesmo com a vo-
latilidade do mercado acionário, com
a perspectiva de aumento da taxa de
juros e a corrida eleitoral que marcará o
segundo semestre do ano. “Após o ciclo
de alta dos juros, o investidor perceberá
que a taxa ainda está baixa e buscará
alternativas”, ressalta.
FINANCAS HEDGE FUNDS
O MELHOR DA AVIAÇÃOTODOS OS MESES NAS BANCAS
A S S I N E A G O R A E G A N H E D E S C O N T O S D E A T É 1 5 % .
L I G U E ( 1 1 ) 3 0 3 8 - 1 4 0 1 O U A C E S S E W W W . A E R O M A G A Z I N E . C O M . B R .
84 AméricaEconomia Abril, 2010
I-BIZ
MENTES ABERTAS
Empresas latino-americanas aventuram-se a procurar ideias e soluções fora de suas casas. Pode ser rápido e econômico, mas ainda demanda confi ança
Foto
: Migu
el Ca
ndia
P oucos empresários latino-americanos teriam cora-
gem de expor informações sobre suas necessidades
ou vantagens competitivas ao mercado, à mercê da
concorrência. Mas eles existem. Francisco Díaz, diretor geral
da Organização Corona, fabricante colombiana de revesti-
mentos cerâmicos, por exemplo, não só levou suas inquieta-
ções a público como fez com que estas cruzassem fronteiras.
Durante o mês de janeiro de 2008, Díaz se reuniu com a norte-
americana InnoCentive, empresa de tecnologia com sede em
Boston, e recebeu um insólito convite: revisar suas necessi-
dades e desafi ar os milhares de especialistas da companhia
para que estes lhe fornecessem uma solução, repetindo o que
fazem gigantes como Eli Lilly, Dow, Ciba, DuPont, Procter &
Gamble e Novartis.
Díaz não se intimidou. Reuniu três engenheiros do grupo
e os enviou a um período de capacitação em Boston. Quando
voltaram, os engenheiros entraram em contato com as unida-
des de negócio para listar o que precisavam melhorar. Entre as
necessidades, os profi ssionais apontaram cerâmicas mais le-
ves e resistentes e sistemas de alarmes com sinais luminosos,
o que resultaria em economia energética nos processos.
Rapidamente, a empresa aprendeu as vantagens e o poder
do conhecimento com código aberto. “Tivemos tantas respos-
tas que poderíamos montar uma biblioteca com as propostas
envidas de acadêmicos alemães até de consultores norte-
americanos e engenheiros da Índia”, conta Carlos Arismendi,
assessor tecnológico do conselho da Organização Corona.
Em março, três meses depois do início, o processo estava
concluído. Não foi um sucesso, no sentido tradicional da
palavra, pois nenhuma das soluções recolhidas pôde ser
posta em prática, e o desenvolvimento teórico que a empresa
adquiriu foi um fracasso quando colocado à prova. Mesmo
assim, para a Corona, a experiência foi tão positiva que a
companhia já pensa em repeti-la neste ano. Uma teimosia do
líder? “Não. Aprendemos que, por um lado, é preciso mudar a
formulação dos problemas, capacitando nossos engenheiros,
e, por outro, dedicar uma pessoa exclusivamente para esse
projeto”, diz Arismendi.
YOUNG, DA CHILENA NEOS: O DESAFIO É POPULARIZAR
O CONCEITO ENTRE AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
Abril, 2010 AméricaEconomia 85
RESPOSTA ÁGIL“As vantagens da inovação aberta são inúmeras”, diz Nathan
Young, gerente geral da Neos, empresa criada há cinco anos,
em Santiago, com o objetivo de promover a relação universi-
dade-empresa. “Pode-se obter resultados em poucos meses, o
que signifi ca uma melhora no tempo de comercialização das
inovações e uma grande economia de escala”, diz.
Entre os casos bem-sucedidos surgidos em grandes com-
panhias está o da Procter & Gamble. Ela decidiu mudar sua
metodologia de inovação e, estimando que, para cada um de
seus 7,5 mil profi ssionais, existiriam outros 200 igualmente
brilhantes, lançaram a política “Conexão e Desenvolvimen-
to”, que envolve universidades, fornecedores, concorrentes e
brokers tecnológicos para multiplicar o surgimento de ideias.
Hoje, são mais de mil acordos registrados, e estima-se que,
em 2010, mais da metade dos produtos da companhia serão
desenvolvidos com colaboração externa.
Até mesmo algumas multilatinas têm experiências a
contar. A brasileira Natura, fabricante de cosméticos, é um
exemplo: sua iniciativa deu resultados no creme anti-idade
Chronos Passifl ora, elaborado pelos laboratórios da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul.
BROKERS LATINO-AMERICANOS“Agora, o desafi o é levar a inovação às pequenas e médias
empresas. Ainda estamos em processo de evangelização”,
diz Nathan Young. Com esse objetivo, a chilena Neos assinou
um acordo estratégico com a rede Universia para lançar a
Innoversia, que hoje conta com mais de 2,4 mil membros e já
apresentou 157 propostas de solução a várias empresas.
Já no Brasil, a empresa Inventta não fi ca para trás. Está
há oito anos no mercado, já atraiu mais de US$ 50 milhões
em fundos de capital de risco e conta com mais de cem
empresas incubadas. “As universidades são uma fonte de
inovação, mas as empresas tendem a desconfi ar da produção
universitária porque não têm provas em escala”, diz Mauri-
cio Reyes, sócio da Inventta. “Entretanto, quando um país
consegue reunir um bom número de startups de base tec-
nológica, como acontece no Brasil, a relação fi ca mais fácil.
A proposta tem um grau de respaldo empírico mais avança-
do”, diz Reyes. A brasileira já abriu escritórios na Colômbia,
fechou alianças com a InnoCentive e, desde o fi nal do ano
passado, com a norte-americana NineSigma.
No portfólio de fornecedores de soluções da empresa,
destaca-se uma tecnologia brasileira de combate à dengue
que foi transferida para a Austrália e gerou um faturamento
anual de US$ 2 milhões, em 2009. Mas Reyes pondera que a
presença internacional da região nesse nicho é proporcional
às capacidades desenvolvidas. “A Colômbia, por exemplo,
pode representar 95% dos desenvolvimentos nos países an-
dinos, mas é 25% no contexto sul-americano e nem vamos
falar da escala mundial”, afi rma. Ou seja, ainda há um longo
caminho pela frente.
A empresa adquire o projeto, produto ou serviço de que necessitava
Uma empresa tem uma necessidade tecnológica ou um problema específicoque demanda pesquisa e inovação
A empresa sistematiza sua necessidade em um formulário e o publica no portal de um broker tecnológico
Pesquisadores de todo o mundo têm acesso a esse conteúdo e podem oferecer soluções através do portal
A empresa avalia as sugestões e seleciona a que considera melhor
O criador da solução escolhida é avisado. A empresa negocia com ele um acordo para desenvolver o projeto
O pesquisador selecionado obtém, alémdo benefício econômico, o crédito peloprojeto aprovado $$$$
$$$$$$
O CAMINHO DA INOVAÇÃO TERCEIRIZADA
86 AméricaEconomia Abril, 2010
Foto
: Toni
Avela
r/AP/
Imag
eplus
REID HOFFMAN: FERRAMENTAS
PARA CONHECER A CONCORRÊNCIA
I-BIZ / ENTREVISTA
INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS
Abril, 2010 AméricaEconomia 87
AméricaEconomia Qual é a impor-tância da América Latina para os negócios do LinkedIn? Reid Hoffman A região tem registrado
um importante crescimento econômico
nos últimos anos, o que é bom para
nós, pois o LinkedIn facilita a vida dos
profissionais e empreendedores que
buscam crescer em seus negócios e
em suas carreiras. Não tenho números
concretos sobre a região, mas tivemos
um crescimento importante.
AE Como funciona seu modelo de negócios? Hoffman Temos três fontes de receita,
com participações similares. A primeira
são as assinaturas de usuários individu-
ais que desejam ter melhores ferramen-
tas de busca e comunicação com a rede.
AE Há pessoas que pagam? Eu, por exemplo, o uso e não vejo necessida-de de pagamento. Hoffman É verdade que 99% de nosso
site é gratuito e sempre o será, pois
queremos atrair muitos profi ssionais
do mundo e, para isso, precisamos ofe-
recer um bom serviço gratuito. Mas
há um número importante de pessoas
que fazem a assinatura, e isso já repre-
senta um terço de nossa receita. 27% de
nossos assinantes são recrutadores de
executivos; há também outros perfi s,
como gerentes de hedge funds [ fundos
de investimento] e pessoas envolvidas
na busca de talentos. Há até jornalistas
em busca de fontes.
No último ano, enquanto o nível de emprego caiu mundialmente, a receita da
LinkedIn subiu. A rede digital de contatos profi ssionais criada pelo empresário norte-
americano Reid Hoffman tem registrado um inesperado boom, acompanhando o
aumento de executivos e profi ssionais que publicam seus currículos e perfi s em
seu sistema em busca de melhores oportunidades de trabalho. A companhia, que
registra valor estimado de US$ 1,3 bilhão nos mercados de capitais, já soma mais de
60 milhões de usuários, que vêm aumentando suas atividades dentro do site, graças
aos algoritmos desenvolvidos pela empresa para incrementar sua rede de conexões
profi ssionais. “A América Latina é a região que mais cresce em adesões”, diz Hoffman,
que falou à AméricaEconomia sobre a empresa e o futuro das redes sociais.
FELIPE ALDUNATE MONTES, DE SANTIAGO
AE Quais são as duas outras fontes de receita? Hoffman A segunda é o uso software
como serviço, ou seja, atuando na gestão
de redes em corporações; e o terceiro é a
publicidade, que é vinculada às buscas
feitas pelos usuários.
AE E isso é sufi ciente? Hoffman Somos rentáveis há dois
anos, e só o fato de termos cerca de 500
profi ssionais trabalhando para nós no
Vale do Silício [EUA] pode, por si, indicar
que é um bom negócio.
AE Existe a possibilidade de vocês receberem parte da receita de uma atividade gerada por um grupo, por exemplo, que eu administre entre os membros do LinkedIn? Hoffman Até agora não fi zemos nada
parecido; focamos principalmente em
construir ferramentas gratuitas para
atrair profi ssionais a incluir seu perfi l
em nossa rede. Mas é uma alternativa.
AE Há muitas redes sociais que co-nectam, comunicam e comparti-lham aplicações entre usuários. Para onde essas redes evoluirão?
Hoffman No caso do LinkedIn, nossa
ideia é prover inteligência de negócios
personalizada para cada negócio, para
cada profi ssional. Seremos um centro de
inteligência de negócios. Por exemplo,
cada pessoa que tem um pequeno ou um
grande negócio precisa saber o que acon-
tece com seu setor, com a concorrência
e até com suas próprias alternativas de
desenvolvimento de carreira. É algo mais
específi co do que, simplesmente, colocar
o nome de uma companhia no Google e
pesquisar sua participação de mercado.
AE E essa informação passará a ser cobrada? Hoffman Para desenvolver essa inteli-
gência de negócios, são necessárias aná-
lises que podem ser obtidas por meio da
informação disponível no LinkedIn e da
incorporação de novas aplicações, como
o Twitter. E isso é justamente o que uma
companhia, ou um profi ssional, poderia
usar para sua carreira: ver o mercado,
a concorrência. E, à medida que essa
informação se torne mais relevante, ele
se tornará um assinante.
AE Mas as ferramentas de comu-nidade continuam sendo as mais importantes? Hoffman Por enquanto, sim. Grande
parte de nosso investimento e de novas
aplicações consiste em ferramentas
para gerar grupos e subcomunida-
des dentro do LinkedIn. Por exemplo,
desenvolvemos ferramentas para em-
presas que permitem agregar toda
a informação de seus perfi s corpora-
tivos, entre outras. E buscamos sem-
pre aperfeiçoar a recomendação de
contatos. Aí está nossa magia, no que
realmente investimos.
27% de nossos assinantes são recrutadores de executivos; há também outros
perfi s, como gerentes de hedge funds
CLICS & CHIPS
GPS NA NEVE
O próximo lançamento da
Zeal Optics é para os amantes
da neve. A empresa norte-
americana apresentou um visor
para esquiadores chamado
Transcend, o primeiro dispositivo
dessa categoria que inclui GPS.
Ele tem uma tela que fornece
informações sobre velocidade,
altitude e temperatura. No
futuro, há planos para adicionar
mapas com percursos. O
produto estará disponível
para compra pela internet em
outubro, por a partir de US$ 350.
www.zealoptics.com
LUVA INTELIGENTEEsqueça o mouse tradicional que
acompanha o seu desktop. A empresa
canadense Deanmark está
testando o AirMouse, uma
espécie de luva que se encaixa
na mão e executa as funções
do dispositivo. Ele inclui vários
sensores e um laser óptico que
detectam o movimento da
mão. A empresa planeja
lançar o produto até o
início de 2011, com preço
sugerido de US$ 129. O
AirMouse estará disponível
em quatro tamanhos
diferentes, tanto para destros
quanto para canhotos.
www.theairmouse.com
JARDIM HIGH-TECHA Click & Grow está desenvolvendo um sistema para quem
não tem tempo de cuidar de suas plantas. No vaso que a
fabricante levará ao mercado, um cacto, uma rosa e até
tipos exóticos de plantas não precisarão ser regados nem
necessitarão de fertilizantes. O crescimento da planta será
acompanhado por sensores, um processador e um software
especial embutido no produto. O Click & Grow deve começar
a ser vendido em alguns meses, por 17 euros a unidade, e os
pacotes de sementes devem custar entre 2,5 e 4 euros.
www.clickandgrow.com
Foto
s: 1 -
Click
& G
row
; 2 e
3 - D
ivulga
ção
1
2
3
88 AméricaEconomia Abril, 2010
TODOS OS MESES NAS BANCAS OU NA SUA CASA. ASSINE: WWW.REVISTAESPN.COM.BR OU LIGUE (11) 3512-9492.
A DE LERwww.springcom.com.br
CHEGOU A REVISTA
90 AméricaEconomia Abril, 2010
LINHA DIRETA
DANOS ESTRUTURAISFELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
“M enos mal que o terremoto aconteceu às três
da manhã, quando não havia ninguém aqui;
senão, seriam muitas mortes.” O desabafo é
de um funcionário do Aeroporto de Pudahuel, o único que
faz conexões internacionais em Santiago do Chile. Ele me
conta como, durante o enorme sismo que atingiu a zona
centro-sul do Chile no fi nal de fevereiro, o moderno termi-
nal desmontou: revestimentos do teto caíram, bem como o
sistema de ar-condicionado e as passarelas que conectavam
o estacionamento ao edifício. Isso sem contar as telas de
plasma que anunciavam os voos, as luminárias, os counters.
Tudo foi ao chão.
Quando visitei o aeroporto, quase três semanas depois do
terremoto de 27 de fevereiro, muitas áreas ainda permane-
ciam interditadas, e várias das operações costumeiras para
um voo, como o controle aduaneiro, eram feitas em tendas
improvisadas, como as de festas de casamento ao ar livre.
Apesar disso, engenheiros afi rmam que não houve dano es-
trutural no edifício, nem na pista de pouso e aterrissagem.
Para quem não tem a experiência de viver um terremoto
acima de 8 graus na escala Richter, talvez seja difícil imagi-
nar como é. Ao pegar meu fi lho nos braços, na tentativa de
descer as escadas do sobrado onde moro, vi que era impossí-
vel manter o equilíbrio. E o mais estranho, até para um chi-
leno: esse terremoto também contava com um movimento
de cima para baixo, inusual no país, dominado por tremores
horizontais. Há prédios que, hoje, passam por uma avaliação
estrutural, mas grande parte das construções do país resistiu
bem, chamando a atenção de órgãos internacionais sobre os
códigos de construção do país.
Por isso, naquele dia em Pudahuel, pareceu-me claro que
esse reconhecimento internacional não poderia se estender
ao aeroporto internacional. Antes de ver com meus próprios
olhos, não podia acreditar no péssimo estado em que fi cou.
Construído em 1997, por um consórcio liderado pelo grupo
chileno Agnsa e pela empresa espanhola Dragados, com base
no modelo do francês Charles de Gaulle, esse aeroporto já foi
reconhecido entre os melhores da região. Está certo que Paris
não está localizada no encontro de duas placas tectônicas, o
que talvez justifi que as várias falhas que o deixaram tem-
porariamente inutilizado, justamente em um momento de
urgência para levar pessoas ao encontro de suas famílias. A
falta de alternativas – já que um ministro chileno decidiu
fechar o aeroporto secundário da cidade para desenvolver
um projeto imobiliário – aumentou a sensação de estar, mais
do que no fi m do mundo, desconectado deste.
Atualmente, os planos anunciados são os de priorizar
os “problemas nos acabamentos e danos superfi ciais” do
aeroporto, para que este retome sua atividade normal, com
cerca de 300 operações diárias. Entretanto, fi cou claro que
seus administradores e o governo chileno precisam revisar
sua estratégia de conectividade internacional. Depois do
sismo, as fi ssuras fi caram evidentes. Foto
: AP
AEROPORTO INTERNACIONAL
DE SANTIAGO DEPOIS DO TERREMOTO
Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir
que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,
colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.
A FedEx faz entregas para um mundo em constante mudança.
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