numa aldeia da mancha[…] vivia um fidalgo dos de lança velha, escudo ferrugento, cavalicoque...
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“Numa aldeia da Mancha[…] vivia
um fidalgo dos de lança velha,
escudo ferrugento, cavalicoque magro e galgo corredor.”
D. Quixote, o sonhador
D. Quixote, pintura de Salvador Dalí
Sancho Pança,o materialista
“Entretanto, D. Quixote convidara, secretamente, para o seguir como escudeiro, um lavrador seu vizinho, bom homem, se assim se pode designar um pobre cujo miolo era fraco.”
“[…] tanto se enfrascou D. Quixote naquelas leituras, que passava a noite a ler, do sol-posto até à madrugada, e os dias, de manhã à tarde.
[…] Aquela pobre cabeça encheu-se de encantamentos, batalhas, desafios, amores, tormentos e todas as demais loucuras […].
Para ele não havia neste mundo histórias mais verdadeiras.” D. Q
uixo
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son
hado
r
“Ébrio de esperanças, resolveu deitar mão à obra. A primeira coisa que fez foi limpar umas armas, herdadas de bisavós, e que, cobertas de ferrugem, jaziam esquecidas, havia séculos, num canto. Limpou-as e consertou-as o melhor que pôde, mas verificou, com desgosto, que lhe faltava uma parte do capacete. Remediou isso com engenho: confeccionou o que lhe faltava de papelão.”
D.Quixote, por Júlio Pomar
D. Q
uixo
te, o
son
hado
r
“- Sosseguem Vossas Mercês, nada têm a
recear. […] As leis de cavalaria, que eu cumpro
fielmente, proíbem-me que moleste seja quem
for e obrigam-me a pôr-me às ordens de
donzelas respeitáveis como vós sois.”
D.Quixote, Teatro del Finikito
D. Quixote, o sonhador
“[…] Permita-me que esta noite vele as armas na capela do vosso
castelo e amanhã, ao alvorecer, serei armado cavaleiro, para que
possa ir às quatro partes do mundo socorrer os fracos e oprimidos,
como incumbe aos cavaleiros andantes, entre os quais desejo
ardentemente ser contado.”
D. Q
uix
ote
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on
had
or
O sonho “ Ficareis tão cavaleiro como
os mais cavaleiros deste
mundo. Mas, diga-me uma
coisa que desejo saber: tem
dinheiro? - Não –
respondeu D. Quixote – não li em livro algum
que um cavaleiro tivesse jamais trazido tão vil
metal. ”
“ Olhe Vossa Mercê, senhor cavaleiro andante, não se esqueça do que me
prometeu a respeito da ilha, que, por muito grande que seja, saberei governá-la.”
A realidade
marionetas
“ - Quais gigantes? – inquiriu Sancho.”
“Nesta altura da conversa descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento.D. Quixote olhou para o escudeiro e disse-lhe:- A aventura vai encaminhando os nossos negócios ao sabor dos desejos. Vês ali trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso batalhar e tirar-lhes a todos a vida […]. ”
Pintura de Salvador Dalí O sonhoA
rea
lidad
e
O sonho “É verdade – concordou D.Quixote – se me não queixo é
porque os cavaleiros andantes não devem queixar-se das feridas, ainda que por elas lhes saiam as tripas.”
“ – Bem, de mim sei que hei-de por força berrar quando me doer, se é que tal regra não chega também aos escudeiros dos cavaleiros andantes. ”
A realidade
A realidade
“O vendeiro gritou e
barafustou, mas o obstinado
Sancho repetia que mesmo que
lhe custasse a vida não devia
dar nem um ceitil: podiam os
escudeiros futuros
censurá-lo por ter deixado
perder o precioso direito dos escudeiros
errantes de nada pagar nas
hospedarias e tabernas. ”
O sonho “- […]o que por ora se pode fazer é que se perdoe a paga, porque não posso ir contra a Ordem dos Cavaleiros Errantes, que jamais pagaram em estalagens, visto terem obrigação de os albergar, em troca do incomparável trabalho que realizam de noite e de dia […].”
O sonho A realidade
“- Sem dúvida – respondeu D. Quixote – ou eu sei pouco ou este castelo está encantado, porque…o que te vou dizer, hás-de jurar-mo, não o repetirás nem depois da minha morte.”
amanhã mesmo[…] porque sou pouco amigo de guardar as coisas muito tempo: não quero que apodreçam.”
“- Digo-lhe que juro – replicou Sancho, - enquanto Vossa Mercê for vivo, mas
praza a Deus que o possa contar
I / SONETO DA LOUCURA
A minha casa pobre é rica de quimerae se vou sem destino a trovejar espantos,meu nome há-de romper as mais nevoentas erastal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.
Rola em minha cabeça o tropel de batalhasjamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,o que nele recolho é o olor da glória eterna.
Donzelas a salvar, há milhares na Terrae eu parto em meu rocim, corisco, espada, grito,o torto endireitando, herói de seda e ferro,
e não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,na férvida obsessão de que enfim a benditaIdade de Ouro e Sol baixe lá das alturas.
Soneto de Carlos Drummond de Andrade e Desenho de Pablo Picasso
XI / DISQUISIÇÃO NA INSÓNIA
Que é loucura: ser cavaleiro andanteou segui-lo como escudeiro?De nós dois, quem o louco verdadeiro?O que, acordado, sonha doidamente?O que, mesmo vendado,vê o real e segue o sonhode um doido pelas bruxas embruxado?Eis-me, talvez, o único maluco,e me sabendo tal, sem grão de siso,sou — que doideira — um louco de juízo.
Poema de Carlos Drummond de Andrade
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