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Post on 13-Dec-2020
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PADRÃO DE BELEZA E REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NA MÍDIA
Nathaly Cristina Fernandes (Faculdade de Jandaia do Sul-FAFIJAN)
nathalycrfernandes@gmail.com
Márcia Gomes Eleutério da Luz (Doutoranda em Educação-PPE/UEM)
Resumo
A mídia hegemônica valoriza certos atributos em detrimento de outros e desta forma difunde, reforça e reproduz padrões de beleza impostos pela sociedade. Essa pesquisa de caráter bibliográfico objetivou discutir a representação da mulher negra na mídia, utilizando como referencial teórico artigos e dissertações que abordam a temática “padrão de beleza nas estruturas do campo midiático”. Os resultados obtidos indicaram que o padrão de beleza construído pela sociedade é racista e sexista. Essa constatação ficou evidenciada pelo fato de que mulheres negras se encontram em minorias dentro do espaço midiático nacional, e quando conseguem alcançar tais espaços são apresentadas de maneira estereotipada, erotizada, estigmatizada, submissa e embranquecida. Concluímos assim, que a luta por dignidade e igualdade social deve ser constante e que discussões que reivindicam políticas educacionais que incitam o empoderamento e a visibilidade da mulher negra devem estar presentes em nosso cotidiano. Somente assim, contribuiremos com a longa caminhada da luta por dignidade e direitos humanos em uma sociedade livre de discriminação e preconceito. Palavras-chave: Padrão de beleza; Representatividade; Racismo; Mídia; Empoderamento.
Introdução
O padrão de beleza da sociedade varia de acordo com seu contexto histórico
e cultural. Kia Caldwell (2004, s/p) afirma que no Brasil há um padrão estético de
beleza e feminilidade eurocêntrico construído socialmente, que se expressa por um
tipo de cabelo e tom de pele considerados ideais que se opõem às características da
mulher negra, os quais revelam um padrão de beleza anti-negritude. Esse padrão
racista é reflexo de acontecimentos históricos como a escravidão, que deixaram
marcas significativas nas pessoas negras, cujos atributos corporais ainda hoje são
associados a mercadorias e, portanto, vistos de forma desumanizada.
Esta pesquisa de caráter bibliográfico buscou problematizar a representação
da mulher negra na mídia, se ancorando em artigos e dissertações que abordam a
forma como a mídia reproduz os padrões de beleza impostos pela sociedade racista
e discriminatória.
Representação da mulher negra no espaço midiático
De acordo com Ana Lúcia de Castro (2007 apud SOUSA, 2017, p. 26), em
seu livro “Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo”,
há uma relação entre mídia e sociedade que transmite tendências, padrões e
valores aos indivíduos, uma espécie de “culto ao corpo” que, segundo a autora,
corresponde à necessidade de aproximação de um padrão de beleza estabelecido.
Castro (2007 apud SOUSA, 2017, p. 27) considera que os meios de
comunicação de massa possuem a capacidade de se infiltrar no cotidiano dos
indivíduos, disseminando conteúdos ideológicos, como o culto a um corpo idealizado
e visto como modelo de beleza imposto pela mídia. As mulheres negras quando ocupam espaço na mídia, dificilmente são vistas, seguindo um padrão estético de mulher negra natural, por assim dizer, isto é, pele com matizes escuras e cabelo afro. O cabelo, em especial é retrato da negação de uma estética negra. Muito recorrentemente, nas apresentadoras de TV o cabelo é mudado, do crespo ao liso e do escuro aos tons claros. A maquiagem aplicada é de forma que a pele fica o mais clara possível tornando-a quase branca. Com estes artifícios, o racismo institucional midiático se impõe com sutileza. As apresentadoras aceitam essa
mudança no visual, possivelmente sem nem se dar conta de que isso é uma forma de fazer com que a mulher afrodescendente se adapte a padrões de estética televisiva branca. (DANTAS; FLORENCIO, 2018, p. 3-4)
Segundo Sousa (2017, p. 25) podemos evidenciar que as novelas
apresentadas na TV, na maioria das vezes apresentam personagens negras
ocupando posições profissionais desprivilegiadas em relação às brancas. Elas
geralmente atuam no papel de empregadas domésticas ou de mulatas fogosas, o
que contribui para a reprodução de estigmas. Quando não interpretam personagens
subalternas e/ou pejorativas, os corpos de mulheres negras são hiperssexualizados,
o que reforça estereótipos construídos e disseminados desde os períodos colonial e
pós-colonial até a atualidade, fazendo-se necessária a descolonização dos meios de
comunicação, do pensamento e da produção de conteúdo.
De acordo com Sandra dos Santos Andrade (2007 apud SOUSA, 2017, p.
24), em seu texto “Mídia impressa e educação de corpos femininos”, as tecnologias
e as mídias correspondem a instrumentos de produção corporal, por que eles
reproduzem uma pedagogia direcionada à educação dos corpos das pessoas. A
autora considera que esses instrumentos atuam no processo de educação, disciplina
e regulamentação dos corpos, bem como em qualquer outra instância educativa. O rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente. A cultura da mídia também fornece o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de sexualidade, de “nós” e “eles”. (KELLNER, 2001, p.9)
Nessa perspectiva, é possível perceber que a mídia influencia diretamente na
concepção que temos de nós mesmos, mídia essa que instituiu padrões idealizados
estéticos que devem ser adotados pelos corpos, ou seja, um padrão de beleza, um
molde ou uma norma. E propaga a crença de que tudo que foge a ela deve ser mal
vista e discriminada socialmente.
A não representação das(os) negras(os) nas telenovelas brasileiras, em todas as possibilidades coerentes às diversas identidades existentes, exclui simbolicamente os mesmos da sociedade, visto que os estereótipos determinam limites para as ações e acabam por estabelecer uma fronteira simbólica entre o “‘normal’ e o ‘pervertido’, o ‘normal’ e o ‘patológico’, o ‘aceitável’ e o ‘inaceitável’” (HALL, 2016, p.192)
A falta de representatividade da mulher negra na mídia gera impactos na
construção da identidade e autoestima dessas mulheres. Nesse sentido de acordo
com Kawarala (2011, p. 14 apud DANTAS; FLORENCIO, 2018, p. 09) “desconstruir
e subverter padrões de beleza implica em mais que uma estratégia de produção de
autoestima e identidade étnico/racial positiva, num ato de transformação em direção
de uma sociedade múltipla e democrática”. Considerações finais
Concluímos que o padrão eurocêntrico de beleza que alimenta a indústria
midiática exclui a beleza negra, ou a representa de forma estereotipada, fetichizada,
subalternizada. A mulher negra é duplamente invisibilizada, pois sofre com a
discriminação racial e a de gênero. A mídia difunde e reproduz padrões de beleza
que reforçam um contexto de dominação e opressão das mulheres negras.
Frente a isso, percebemos que a mídia televisiva atua como um grande
mecanismo de reprodução de valores dominantes e hegemônicos que contribui para
a manutenção dos grupos oprimidos inferiorizados e reforça os preconceitos.
A mídia hegemônica enquanto instrumento de poder e formadora de opinião
contribui para a manutenção de um imaginário social repleto de patriarcalismo,
racismo, machismo, sexismo e vários outros conteúdos de dominação social. Desta
forma, as cidadãs negras seguem a ocupar na maioria das vezes lugares a margem
não só na mídia, mas também na sociedade de modo geral.
A mídia, portanto, por meio da forma como representa a mulher negra
contribui para a ratificação e legitimação de uma imagem negativa, produzindo
discursos e infundindo “verdades”, instituindo assim, aquilo que deve ser
considerado “normal”. Desta forma, problematizar esse assunto, incitar o
empoderamento e a visibilidade da mulher negra, reivindicar políticas educacionais
que sejam capazes de conquistar uma sociedade mais digna e livre de preconceitos,
se torna essencial na luta por dignidade e respeito humano.
Referências CALDWELL, K.L. Fronteiras da Diferença: raça e mulher no Brasil. Estudos Feministas, ano 8, p. 91-108, 2000.
DANTAS, C; FLORENCIO, A. Racismo institucional midiático - A representação das mulheres afrodescendentes na mídia televisiva pernambucana. 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville – SC. p.1-11. 2018.
HALL, S. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Editoria PUC Rio, 2016.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. Bauru, SP: EDUSC, 2001. SOUSA, M. A de. Mulheres negras na mídia: uma discussão teórica. 2017. 37f. Monografia. Uberlândia, Minas Gerais, 2017.
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