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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
PRISLA CKER CALVETTI
TESE DE DOUTORADO
FATORES BIOPSICOSSOCIAIS PREDITIVOS PARA A ADESO E QUALIDADE
DE VIDA EM PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS BEM-SUCEDIDAS NO
TRATAMENTO DE SADE
Prof Dr. Gabriel Jos Chitt Gauer
Porto Alegre
2010
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PRISLA CKER CALVETTI
FATORES BIOPSICOSSOCIAIS PREDITIVOS PARA A ADESO E QUALIDADE
DE VIDA EM PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS BEM-SUCEDIDAS NO
TRATAMENTO DE SADE
Tese de Doutorado apresentada ao
programa de Ps-graduao em Psicologia
da Faculdade de Psicologia da PUCRS para
obteno do grau de Doutor em Psicologia
Orientador: Prof Dr. Gabriel Jos Chitt Gauer
Porto Alegre
2010
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
FATORES BIOPSICOSSOCIAIS PREDITIVOS PARA A ADESO E QUALIDADE
DE VIDA EM PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS BEM-SUCEDIDAS NO
TRATAMENTO DE SADE
Banca Examinadora
______________________________________________
Prof Dr. Gabriel Jos Chitt Gauer
Programa de Ps-graduao em Psicologia
Orientador Presidente
______________________________________________
Profa Dra. Margareth da Silva Oliveira
Programa de Ps-graduao em Psicologia PUCRS
______________________________________________
Prof Dr. Alfredo Cataldo Neto
Programa de Ps-graduao em Gerontologia PUCRS
Programa de Ps-graduao em Direito PUCRS
______________________________________________
Profa. Dra. Silvia Pereira da Cruz Benetti
Programa de Ps-graduao em Psicologia - UNISINOS
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s minhas fontes de suporte social mais significativas...
Ao meu amor Gasto pelo amor incondicional e serenidade
e ao nosso presente provindo deste perodo,
ao filho Bencio por
proporcionar ainda mais sentido as nossas vidas.
Aos meus pais, Diva e Ado e irmo Patrick
pelo incentivo aos meus sonhos,
segurana e confiana transmitida para a realizao deles
e parceria em todos os momentos.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, pelo incentivo a autonomia do desenvolvimento deste estudo
e confiana depositada no meu potencial e na realizao do trabalho desde o princpio.
A minha colega e amiga Grazielly Giovelli que tive a satisfao de conhecer e de
estabelecer parceria para a realizao desta tese de doutorado. Sou grata a companhia
dela em todas as etapas deste estudo, tornando-o ainda mais prazeiroso, alm de
mantermos constantemente a seriedade do trabalho.
Em especial, aos bolsistas de iniciao cientfica, Clarissa Trevisan da Rosa;
Jamille Ovadia Moraes e Pedro Augusto Marini pelo apoio constante no
desenvolvimento desta pesquisa, por mostrarem-se motivados no trabalho e com
dedicao a cada participante e colega da equipe envolvida.
Ao professor estatstico Joo Feliz Moraes que contribuiu para a anlise dos
dados, e por sua motivao nas discusses integradoras entre resultados e o campo da
pesquisa.
Ao professor Eduardo Remor pelo incentivo e troca de idias na construo das
pesquisas na rea deste estudo.
Ao financiamento do CNPq Edital MCT/CNPq 03/2008 - Cincias Humanas,
Sociais e Sociais Aplicadas, processo nmero 400325/2008-0 e a obteno de bolsa de
Iniciao Cientfica pelo PIBIC/CNPq (129884/2009-0).
Ao financiamento do Centro de Estudos de AIDS/DST do Rio Grande do Sul
(CEARGS)/Universidade da Califrnia em So Francisco, por meio do projeto
International Clinical, Outcomes and Health Services Research and Training Award
from the John E. Fogarty International Center of the United States National Institutes of
Health (5D43TW005799).
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instituio apoiadora ATP - Empresa Associao dos Transportadores de
Passageiros de Porto Alegre pela ajuda de custo por meio de vale-transporte fornecidos.
Ao SAPP Servio de Atendimento Psicolgico e Pesquisa da PUCRS pela
disponibilizao de salas para coleta de dados com os participantes da pesquisa.
doutora Cndida Neves representando o Ambulatrio de Infectologia do HSL-
PUCRS pelo apoio constante e o engajamento da sua equipe do servio de sade e ao
acolhimento que esta proporcionou para a nossa equipe em coleta no campo.
Ao doutor Breno Riegel pelo apoio a este estudo e a sua equipe pelo
acolhimento no Ambulatrio de Infectologia do GHC.
Ao GAPA/RS por proporcionar mais um local para a coleta deste estudo e apoio
a nossa equipe.
Aos amigos, Fernanda Carvalho e Lucas Neiva-Silva, Tiane Grazziotin e Camile
Gross pela amizade incondicional e carinho recebido em todos os momentos. Alm
disso, por serem incentivadores da minha trajetria profissional.
querida Jenny Moskovics pela sua presena e carinho em momentos
significativos de realizaes profissionais e pessoais.
psicloga Alba Recalde por estar comigo nos percursos mais significativos,
inclusive neste momento.
Ao grupo de pesquisa pelo acolhimento e apoio recebido em todas as etapas
deste estudo. Em especial, a Trcia Davoglio pelo coleguismo e amizade demonstrada
em momentos de dificuldade e de alegria.
Ao PPGP-PUCRS pela estrutura oferecida e apoio da secretaria e professores,
em especial querida Profa. Margareth de Oliveira.
CAPES que me proporcionou a bolsa do doutorado.
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PUCRS pelo acolhimento e a estrutura oferecida para a realizao do
doutorado. Sou grata pela instituio por fazer parte da minha trajetria de formao
acadmica desenvolvida com qualidade.
Muito obrigada!
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RESUMO
Esta tese de doutorado objetivou investigar os fatores biopsicossociais preditivos para a
adeso ao tratamento bem-sucedida e qualidade de vida de pessoas que vivem com
HIV/Aids. Para tanto, apresenta-se em trs sees, sendo uma terica, e duas com
resultados empricos. A seo I discute as repercusses do modelo biopsicossocial da
Psicologia da Sade e os princpios da sade pblica para a adeso ao tratamento nesta
populao. A seo II relata o estudo emprico transversal, descritivo e correlacional
que objetivou identificar a caracterizao da amostra por meio dos dados scio-
demogrficos e clnicos (carga viral e contagem de linfcitos T CD4+); avaliar os
aspectos psicossociais: nveis de ansiedade, nveis de depresso e estresse percebido,
suporte social e qualidade de vida nesta amostra de pessoas que vivem com HIV/Aids.
Alm disso, foram correlacionados dados sociodemogrficos e clnicos com os aspectos
biopsicossociais descritos. A amostra foi constituda de 120 portadores do HIV/Aids, do
sexo masculino e feminino, com idade entre 18 a 65 anos, em tratamento antiretroviral.
Os instrumentos utilizados foram: Questionrio de dados sociodemogrficos e da
situao clnica; Inventrio Depresso de Beck, Inventrio de Ansiedade de Beck,
Escala de Stress Percebido (PSS), Escala de Suporte Social para Pessoas Vivendo com
HIV/Aids, Instrumento de Avaliao da Qualidade de Vida da Organizao Mundial de
Sade (WHOQOL-HIV Bref) e CEAT-VIH - Questionrio de avaliao da adeso ao
tratamento antiretroviral. Os resultados destacam que o suporte social est relacionado
com a adeso ao tratamento. Pode-se salientar tambm que a rede social se apresenta
como amortecedora de situaes de estresse na convivncia com a doena. A seo III
relata o estudo emprico que investigou os fatores preditivos para a proteo da adeso
nesta populao bem-sucedida no tratamento. A amostra e os instrumentos so os
mesmos da seo anterior. Neste priorizou-se a apresentao dos fatores preditivos por
meio de anlises estatsticas de associao qui-quadrado e regresso logstica. Os
resultados apontam os seguintes aspectos preditivos de proteo para a adeso: classe
social, estgio HIV percebido, domnio I fsico e domnio V meio ambiente da
qualidade de vida. A pesquisa desta tese demonstra a importncia do suporte social, de
ter acesso aos servios de sade, obter informaes sobre a doena, sentir-se bem em
relao sade fsica e meio ambiente onde vive e segurana. Os aspectos descritos so
de proteo manuteno da sade para a adeso ao tratamento e qualidade de vida.
Para tanto, os psiclogos e pesquisadores dos contextos de sade necessitam, a partir
dos resultados desta pesquisa e outros que corroboram para os fatores preditivos de
sucesso para a adeso, propor estratgias e aes voltadas para a sade pblica, no
intuito do fortalecimento do tratamento. Neste sentido, a ateno deve ser sob a
perspectiva do modelo biopsicossocial para o aumento da qualidade de vida e estilo de
vida saudvel das pessoas que vivem com HIV/Aids.
Palavras-chaves: Psicologia da Sade; modelo biopsicossocial; HIV/Aids; adeso ao
tratamento; qualidade de vida.
rea do conhecimento: Psicologia (7.07.00.00-1)
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ABSTRACT
This PhD thesis aimed to investigate the predictive biopsychosocial factors for
treatment bonding and quality of life of HIV-positive people who are successfully
follow the treatment. For this purpose, three sections have been presented, one of which
is theoretical and the other two are based in the empirical results. The section I debates
the repercussion of Health Psychologys biopsychosocial model and public healths
principles fro treatment bonding in this population. The section II reports the
descriptive, transversal and co-relational empiric study which has objectified the
characteristics of the sample through the clinical (viral load and count of CD4+ T
lymphocytes) and socio-demographical data; evaluate the psychosocial aspects: level of
anxiety, level of depression and perceived stress, social support and quality of life of
this sample of HIV-positive people. Moreover, it has correlated clinical and socio-
demographical with the biopsychosocial aspects mentioned above. The sample had 120
HIV-positive people, male and female, from 18 to 65 years old, undergoing
antiretroviral treatment. The assessment instruments used are the following:
questionnaire on clinical situation and socio-demographical data , Beck depression
inventory, Beck anxiety inventory, Perceived stress scale (PSS), Social support scale for
HIC-positive people, World Health Organization questionnaire on quality of life
(WHOQOL-HIV Bref) and the CEAT-VIH questionnaire on evaluating antiretroviral
treatment bonding. The results point out that social support relates to treatment bonding.
Its also possible to highlight that the social network attenuates episodes of stress when
living with this illness. The section III reports the empirical study which has
investigated the predictive factors for protecting treatment bonding in this population.
The sample and the instruments are the same as in section II. In this stage, presenting
the predictive factors via statistical analysis of chi-square association and logistic
regression has been prioritized. The results indicate the following predictive aspects of
bonding protection: social class, perceived HIV stage, dominium I physical and
dominium V environment and quality of life. The survey of this thesis shows the
importance of social support, having access to health services, gathering information
about the illness, feeling well about physical health and environment where he/she lives
as well as safety. The aspects described above concern quality of life and protection of
the maintenance of health for treatment bonding. For this purpose, health psychologists
and researchers need to propose strategies and actions toward public health in order to
fortify the treatment, according to the results of this research in addition to others which
corroborate the predictive factors of success for treatment bonding. In this manner, the
attention should be from the perspective of the biopsychosocial model in order to
enhance the quality of life and a healthy lifestyle of the HIV-positive people.
Key words: health psychology; biopsychosocial model; HIV/AIDS; treatment bonding;
quality of life.
Area of Knowledge: Psychology (7.07.00.00-1)
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SUMRIO
TABELAS.......................................................................................................................12
LISTA DE SIGLAS.........................................................................................................14
INTRODUO...............................................................................................................15
SEO 1 Contribuies da Psicologia da Sade para a adeso ao tratamento e
qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids sob a perspectiva do modelo
biopsicossocial.................................................................................................................22
Introduo............................................................................................................22
Contribuies da Psicologia da Sade: o modelo biopsicossocial......................22
Princpios da sade pblica para o fortalecimento da adeso ao tratamento de
pessoas que vivem com HIV/Aids...................................................................................25
Consideraes......................................................................................................30
SEO 2 Estudo I - Influncia das variveis biopsicossociais na adeso ao tratamento
e qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento
antiretroviral....................................................................................................................31
Introduo............................................................................................................31
Mtodo.................................................................................................................33
Participantes..................................................................................................34
Instrumentos..................................................................................................34
Procedimentos para coleta e anlise dos dados.............................................36
Procedimentos ticos....................................................................................36
Resultados............................................................................................................37
Discusso.............................................................................................................41
Concluso............................................................................................................44
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SEO 3 - Estudo II - Fatores biopsicossociais preditivos para a adeso e qualidade de
vida de pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no tratamento de
sade................................................................................................................................45
Introduo............................................................................................................47
Mtodo.................................................................................................................47
Participantes..................................................................................................47
Instrumentos..................................................................................................47
Procedimentos para coleta dos dados...........................................................48
Procedimentos para anlise dos dados..........................................................48
Procedimentos ticos....................................................................................49
Resultados............................................................................................................49
Discusso.............................................................................................................53
Concluso............................................................................................................55
CONSIDERAES FINAIS..........................................................................................57
REFERNCIAS..............................................................................................................60
APNDICES...................................................................................................................69
Apndice 1 Aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul (CEP 08/04228).............................................................70
Apndice 2 Aprovao do Comit de tica em Pesquisa do Grupo Hospitalar
Conceio (GHC) (CEP101/08)......................................................................................72
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TABELAS
Seo 2: Estudo I Influncia das variveis biopsicossociais na adeso ao
tratamento e qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids em
tratamento antiretroviral
Tabela 1 - Caracterizao da amostra (N=120) dados sociodemogrficos e clnicos de
pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento antiretroviral.....................................37
Tabela 2 - Apresentao das mdias e desvio padro dos sintomas de ansiedade,
sintomas de depresso, estresse percebido, suporte social, qualidade de vida e adeso ao
tratamento de pessoas que vivem com HIV/Aids (120)..................................................39
Tabela 3 - Correlao entre sintomas de ansiedade, sintomas de depresso, estresse
percebido, suporte social, qualidade de vida e adeso ao tratamento de pessoas que
vivem com HIV/Aids (N=120).......................................................................................41
Seo 3: Estudo II Fatores biopsicossociais preditivos para adeso e qualidade de
vida em pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no tratamento de sade
Tabela 1 Associao entre variveis sociodemogrficas e da situao clnica e adeso
baixa/insuficiente ou regular e adeso estrita em pessoas que vivem com HIV/Aids
bem-sucedidas no tratamento de sade (N= 120)............................................................50
Tabela 2 Regresso logstica univariada pelo mtodo enter da varivel adeso
terapia antiretroviral como funo das variveis categricas da situao
sociodemogrfica e clnica em pessoas que vivem com HIV/Aids
(N=120)...........................................................................................................................51
Tabela 3 Regresso logstica univariada pelo mtodo enter da varivel adeso
terapia antiretroviral como funo das variveis numricas (nveis de depresso, nveis
de ansiedade, estresse percebido, suporte social e qualidade de vida) em pessoas que
vivem com HIV/Aids (N=120)........................................................................................52
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Tabela 4 Regresso logstica multivariada pelo mtodo stepwise forward: wald para
identificao dos fatores preditivos independentes para a adeso ao tratamento
antiretroviral em pessoas com HIV/Aids (N=120)..........................................................52
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LISTA DE SIGLAS
Aids: Acquired immune deficiency syndrome
ANPEPP: Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psicologia
APA: American Psychology Association
BAI: Beck Depression Inventory
BDI: Beck Anxiety Inventory
CAPES: Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CEAT-VIH: Cuestionario para la Evaluacin de la Adhesin al Tratamiento
Antiretroviral em personas con infeccin por VIH y SIDA
CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CV: Carga viral
DST: Doenas sexualmente transmissveis
HIV: Human immunodeficiency virus
ITRN: Inibidores da Transcriptase Reversa Anlogo de Nucleosdeos
ITRNN: Inibidor Transcriptase Reversa No Anlogo de Nucleosdeos
OMS: Organizao Mundial da Sade
ONG: Organizao no-governamental
OSC: Organizao da sociedade civil
SPP: Scale Stress Perception
SPSS: Statistical Package for the Social Sciences
UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
WHOQOL-HIV bref: World Health Organization Quality of Life assessment instrument
in patients with human immunodeficiency virus infection
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INTRODUO
H trs dcadas ocorreu a identificao do Vrus da Imunodeficincia Humana
(HIV) e da Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (Aids), porm, nesse curto perodo
de tempo, o nmero de pessoas infectadas e doentes tm aumentado significativamente.
O HIV um retrovrus que causa no organismo disfuno imunolgica crnica e
progressiva devido ao declnio dos nveis de linfcitos CD4+, sendo que quanto mais
baixo for o ndice desses, maior o risco do indivduo desenvolver Aids. O perodo entre
a aquisio do HIV e a manifestao da doena pode durar alguns anos, porm, apesar
de o indivduo portador do vrus estar muitas vezes assintomtico, pode apresentar
importantes transtornos na esfera psicossocial, a partir do momento do diagnstico
(Canini, Reis; Pereira, Gir & Pel, 2004).
Estudos mostram as diversas alteraes que podem ocorrer no sistema nervoso
central dos pacientes com HIV/Aids, associadas com depresso e estresse que podem
influenciar a evoluo da doena. Tais alteraes nos estados psquicos e sociais podem
contribuir para aumentar a vulnerabilidade biolgica (Thompson , Nanni & Levine,
1996; Kiecolt-Glaser, 1986; Bays, 1989).
As alteraes psicolgicas mais significativas que experimenta a pessoa
infectada, em diversos momentos - desde que conhece o resultado da soropositividade
at as ltimas fases da doena so: ansiedade, depresso, ira, culpa, revolta, obsesses e
auto-observao, alm de excessiva preocupao com a sade (Garcia-Huete, 1993;
Bays, 1995). A doena costuma estar acompanhada de incertezas, gerando ansiedade,
insegurana e medo (Almeida & Labronici, 2007).
Estados depressivos do humor comumente esto associados presena de
crenas negativas sobre a doena e sentimentos de desesperana, fazendo com que a
pessoa no se sinta motivada para cuidar de sua prpria sade e no confie em suas
habilidades para lidar com as exigncias do tratamento. As manifestaes de ansiedade
(sensao de insegurana fsica, apreenso, temor ou ameaa, inquietao e palpitaes)
podem ocorrer em algumas situaes especficas, tais como: o medo de ter contaminado
parceiros e/ou filhos; receio da revelao do diagnstico e de rejeies implcitas e
explcitas; mudanas do esquema teraputico, por falncia ou intolerncia; variao nas
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contagens de linfcitos T CD4+ e na carga viral, alm das dificuldades ligadas prtica
de sexo seguro (Brasil, 2008).
A ansiedade uma das reaes mais freqentes comum nas pessoas que vivem
com HIV/Aids, acompanhadas, em alguns casos, pela perda do sono e memria. O
temor de adoecer gravemente, de morrer, de sentir-se discriminado socialmente, e a
raiva com relao aos demais so tambm algumas das reaes psicolgicas que mais
freqentemente se associam s pessoas soropositivas ou com Aids. Em relao ao
estresse, Ulla e Remor (2002) destacam que um nvel de ativao mantido no tempo
com forte intensidade, ou ainda, com alta freqncia, pode levar ao desequilbrio de
diversos sistemas ou rgos. Este nvel obriga o organismo a manter uma ativao
acima de suas possibilidades e d lugar a um desgaste excessivo com possveis
alteraes ou deteriorao no funcionamento dos rgos ou sistemas alvo. Outra reao
psicolgica infeco HIV, que afeta muitas pessoas, a depresso. Conforme Bays
(1994), a depresso e o estresse podem diminuir o nmero de linfcitos T CD4+ e
piorar o estado de sade das pessoas que vivem com a doena.
Embora o advento dos antiretrovirais, para o tratamento dos indivduos com
HIV/Aids, vem proporcionando aumento no tempo de sobrevida, o seu alto custo e
inmeros efeitos colaterais, associados inexistncia de cura para a doena tm
direcionado investigaes sobre o impacto qualitativo dessa teraputica na qualidade de
vida como tambm a resistncia viral, a toxicidade das drogas e a necessidade de
elevada adeso ao tratamento ainda permanecem como importantes barreiras ao sucesso
prolongado da terapia (Brasil, 2006).
A adeso ao tratamento antiretroviral, segundo Kern (2004), est associada
forma como a pessoa portadora conduz ou pretende conduzir sua vida sexual e seus
hbitos e relaes sociais, assim como maneira como a pessoa v a si e como se sente
frente situao presente. Aderir ao tratamento medicamentoso uma tentativa de
inibir ou retardar a degradao sofrida pelo vrus e controlar a carga viral. Muitas vezes
eficincia do tratamento possibilita com que a pessoa viva muitos anos sem a
manifestao de doenas oportunistas da Aids, como tuberculose, herpes genital, entre
outras patologias.
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A partir de meados dos anos 1990, os estudos passaram a investigar associaes
entre variveis psicolgicas (o enfrentamento e suporte social) e a percepo da
qualidade de vida. Tais estudos identificam fatores que propiciam o ajustamento
condio de enfermidade crnica e enfrentamento ativo diante da disponibilidade de
tratamento (Seidl, Zannon & Trccoli, 2005; Dunbar, Mueller, Medina & Wolf, 1998;
Friedland, Renwick & McColl, 1996).
O temor de sentir-se discriminado socialmente tambm uma das reaes
psicolgicas que mais freqentemente se associam s pessoas soropositivas (Garcia-
Huete, 1993; Bays, 1995). Esta reao, muitas vezes, gera o isolamento social, alm de
uma restrio dos relacionamentos interpessoais e dificuldades no campo afetivo-sexual,
com impacto negativo na rede social de apoio de pessoas que vivem com HIV/Aids
(Green, 1993). Evidencia-se a associao entre disponibilidade e satisfao com o
suporte social, bem-estar psicolgico e percepo positiva da qualidade de vida,
corroborando achados que indicam o papel do suporte como moderador do estresse em
contextos relacionados ao processo sade-doena (Leserman, Petitto; Golden, Gaymes,
Gu, Perkins, Silva, Folds & Evans, 2000).
fundamental o suporte disponibilizado por instituies, como servios de
sade e ONG (Organizao No-governamental) ou OSC (Organizao da Sociedade
Civil). Nestes servios, os profissionais de sade podem consolidar parceiras
institucionais e/ou intersetoriais para acolhimento e resolues de demandas dessas
pessoas para o fortalecimento da adeso ao tratamento (Brasil, 2008b).
Segundo, Heyland, Guyatt, Cook, Meade, Juniper e Cronin (1998) a qualidade
de vida relacionada sade considerada um conceito muito mais amplo, uma vez que
aborda tanto os conceitos de qualidade de vida global quanto aqueles relacionados ao
prprio estado de sade. Para Minayo, Hartz e Buss (2000) o termo qualidade de vida
bastante abrangente, estando diretamente relacionado s experincias individuais, em
um dado momento do contexto sociocultural.
Todavia, a inexistncia de cura para a maioria das doenas crnicas tem
mostrado que a mensurao da qualidade de vida imprescindvel para a avaliao de
estratgias de tratamento e avaliao de custo/benefcio. As medidas de qualidade de
vida tornam-se ferramenta importante para direcionar a distribuio de recursos e a
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implementao de programas de sade. A qualidade de vida, privilegia no s os
aspectos fsicos, mas tambm s dimenses psquicas e sociais, por isso a necessidade
do planejamento de cuidado integral sade pela equipe. Constitui fator importante de
conhecimento dos psiclogos, a adeso ao tratamento (mdico e farmacolgico), alm
dos aspectos psicossociais tais como estresse, ansiedade, depresso, e suporte social
para auxiliar no fortalecimento da adeso e no aumento da qualidade de vida.
Para tanto, esta tese originou-se da experincia da pesquisadora no atendimento
e pesquisa com as pessoas que vivem com HIV/Aids. Esta teve a oportunidade de
realizar a Residncia Integrada em Sade Coletiva pela Escola de Sade Pblica do
Estado do Rio Grande do Sul (ESP/RS), sendo o campo de trabalho o servio de sade,
Ambulatrio de Dermatologia Sanitria do Estado do RS, o qual atende pessoas com
problemas dermatolgicos e doenas sexualmente transmissveis (DST) e HIV/Aids.
Nesta experincia, muitas atividades e estudos vivenciou na rea. Com o interesse
sempre voltado para o campo de sade, desde a promoo, preveno e tratamento, a
pesquisa realizada no perodo foi direcionada para o campo da Dermatologia e Doenas
Sexualmente Transmissveis.
Em relao a preveno das DST, a atividade sempre foi dinmica, muitas
instituies de diferentes segmentos: comunitrio, hospitalar, escolar e empresarial
chamavam a equipe da instituio para palestrar sobre maneiras de prevenir a doena,
tambm como atender as pessoas que vivem com HIV/Aids. A pesquisadora percebeu
neste perodo, a existncia do estigma social ainda presente sobre as DST e o quanto
faz-se necessrio o investimento no acesso a informao por meio de palestras, grupos
de estudos, uma conversa de aconselhamento, dentre outras formas de educao em
sade.
No atendimento s pessoas que vivem com HIV/Aids desde a informao do
diagnstico at o tratamento antiretroviral, sempre chamou a ateno da pesquisadora o
modo com que cada portador enfrentava a doena. A profissional voltou-se para a busca
do conhecimento sobre quais fatores protegem e so de risco para o agravamento do
HIV. Caractersticas de personalidade, estado de humor, percepo da sade, rede de
apoio, espiritualidade e religiosidade e da qualidade de vida era o que variava de um
indivduo ao outro. A percepo destes aspectos, fomentou o interesse desta
pesquisadora em seguir investigao na rea, posteriormente a Residncia.
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No mestrado a pesquisadora investigou com destaque o tema da qualidade de
vida na populao que vive com HIV/Aids atendida na rede pblica de sade. A
profissional teve a oportunidade de ingressar em atividade como consultora da
UNESCO na Seo de DST/Aids Secretaria de Sade do Estado do Rio Grande do
Sul. Neste trabalho, a consultoria abrangeu atender todos os projetos sociais voltados
para a preveno ao tratamento das DST/HIV/Aids no Estado. O principal foco foi
selecionar e monitorar as equipes dos projetos sociais das organizaes no-
governamentais, as quais so articuladoras da ateno na rea juntamente aos servios
de sade. Tambm o que sempre chamou a ateno da pesquisadora no mbito do
HIV/Aids, o fato de tratar de uma epidemia mundial que abrange todos os povos,
culturas, classe social, idade, gnero e escolaridade. esta magnitude que demonstra o
quanto faz-se necessrio o investimento em pesquisas que possam auxiliar na preveno
e adeso e qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids.
Com o interesse na formao acadmica mais avanada e em seguir na rea de
preveno e tratamento em sade por meio a realizao de pesquisa de campo, a
pesquisadora decidiu aps um ano de consultoria ingressar no doutorado. Neste
momento, surge a idia de realizar um projeto integrado de pesquisa com diferentes
modalidades de mtodos de investigao, porm com encadeamento entre estudos, uma
maneira de tambm exercitar a gesto em pesquisa, alm do interesse em aprofundar
estudos na rea para o fortalecimento de estratgias de interveno preventiva e de
tratamento psicossocial as pessoas com HIV/Aids.
Desta forma, surge o projeto Avaliao e interveno psicolgica para pessoas
que vivem com HIV/Aids em tratamento antiretroviral. Esta pesquisa dividida em
trs principais estudos descritos a seguir:
Estudo transversal descritivo e correlacional sobre aspectos biopsicossociais -
dados scio demogrficos, situao clnica, nveis de depresso, suporte social, adeso
ao tratamento e qualidade de vida de 63 portadores do HIV/Aids referente a dissertao
de mestrado de Grazielly Rita Marques Giovelli;
Estudo transversal descritivo, correlacional e preditivo sobre aspectos
biopsicossociais - dados sociodemogrficos, situao clnica, nveis de depresso, nveis
de ansiedade, estresse percebido, suporte social, adeso e qualidade de vida referente a
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esta tese de doutorado com 120 pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no
tratamento de sade.
Estudo pr-experimental quantitativo e qualitativo de interveno sob a
abordagem cognitivo-comportamental voltada a 11 portadores de HIV/Aids em
tratamento antiretroviral para o fortalecimento da adeso e aumento da qualidade de
vida. Esta etapa em fase de anlise referente a tese de doutorado de Grazielly Rita
Marques Giovelli.
Oriundos do projeto de pesquisa geral obteve-se duas bolsas de iniciao
cientfica, as seguintes:
Nveis de ansiedade, estresse percebido e suporte social em pessoas que vivem
com HIV/Aids (PIBIC/CNPq 129884/2009-0).
Avaliao qualitativa de programa de interveno psicossocial sob a abordagem
cognitivo-comportamental em pessoas que vivem com HIV/Aids (BPA/PUCRS)
Alm disso, se adquiriu os seguintes financiamentos:
Edital MCT/CNPq 03/2008 - Cincias Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas,
processo nmero 400325/2008-0
Centro de Estudos de AIDS/DST do Rio Grande do Sul
(CEARGS)/Universidade da Califrnia em So Francisco, por meio do projeto
International Clinical, Outcomes and Health Services Research and Training Award
from the John E. Fogarty International Center of the United States National Institutes of
Health (5D43TW005799).
Tambm esta pesquisa obteve ajuda de custo por meio de vale-transporte
fornecidos pela Empresa Associao dos Transportadores de Passageiros de Porto
Alegre, e a disponibilizao de salas para atendimento fornecidas pelo SAPP Servio
de Atendimento Psicolgico e Pesquisa da PUCRS.
Diante do exposto o objetivo geral deste estudo :
Investigar os fatores biopsicossociais preditivos de proteo para a adeso e
qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no tratamento de
sade.
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Os objetivos especficos so:
Identificar a caracterizao da amostra em estudo por meio dos dados scio-
demogrficos e clnicos (carga viral e T CD4+) nesta populao;
Avaliar os aspectos psicolgicos: nveis de ansiedade, nveis de depresso e
estresse percebido nas pessoas que vivem com HIV/Aids;
Investigar a percepo do suporte social dos participantes;
Avaliar a percepo da adeso ao tratamento antiretroviral na populao em
estudo;
Avaliar a qualidade de vida na mesma populao;
Correlacionar dados scio-demogrficos e clnicos com os aspectos
psicolgicos, suporte social, adeso ao tratamento e qualidade de vida das pessoas que
vivem com HIV/Aids;
Investigar os fatores preditivos para a proteo da adeso ao tratamento bem-
sucedida nesta populao.
Para o relato desta pesquisa, foram elaboradas trs sees descritas a seguir:
Seo 1 Contribuies da Psicologia da Sade para a adeso ao tratamento e qualidade
de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids sob a perspectiva do modelo
biopsicossocial
Seo 2 Influncia das variveis biopsicossociais na adeso ao tratamento e qualidade
de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento antiretroviral
Seo 3 - Fatores biopsicossociais preditivos para a adeso e qualidade de vida de
pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no tratamento de sade
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SEO 1
Contribuies da Psicologia da Sade para a adeso ao tratamento e
qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids na perspectiva do modelo
biopsicossocial
Introduo
O presente ensaio temtico apresenta as contribuies da Psicologia da Sade,
sob a perspectiva do modelo biopsicossocial, para a adeso ao tratamento e qualidade de
vida de pessoas que vivem com HIV/Aids em atendimento na sade pblica brasileira.
Primeiramente apresenta a rea da Psicologia da Sade e o modelo biopsicossocial
posteriormente, os princpios da sade pblica e as diretrizes para o fortalecimento da
adeso ao tratamento preconizada pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministrio
da Sade do Brasil.
Os estudos sobre os aspectos biopsicossociais e a sua relao com a adeso ao
tratamento de sade tem sido um campo promissor para o planejamento e
aprimoramento de polticas pblicas, e estratgias de intervenes psicossociais. A
Psicologia da Sade uma rea da Psicologia Aplicada voltada para a preveno e
manuteno da sade. A partir de ento, proposta uma transformao no modelo de
tratamento mente e corpo, do modelo biomdico para o modelo biopsicossocial, o qual
enfatiza a integrao entre os aspectos biolgicos, psicolgicos e sociais para promoo
e tratamento. Nesta perspectiva, o presente ensaio discute as repercusses do modelo
biopsicossocial da Psicologia da Sade e os princpios da sade pblica para a adeso ao
tratamento de pessoas que vivem com HIV/Aids.
Contribuies da Psicologia da Sade: modelo biopsicossocial
No incio do sculo XIX o entendimento do processo sade e doena
preconizado foi o modelo biomdico que busca as causas das doenas, o seu agente
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etiolgico. Os aspectos psicolgicos neste modelo so entendidos somente como
conseqncia de uma determinada doena. Os pensamentos, as emoes e
comportamentos no esto implicados no desencadeamento de doenas neste perodo.
No sculo XX, surge a Medicina Psicossomtica e a Medicina Comportamental
que buscaram compreender a relao entre mente e corpo, as condutas dos indivduos e
suas repercusses na sade. Em 1980, consolida-se na Psicologia, a denominada
Psicologia da Sade. Esta refere-se a interface da Psicologia com a Medicina. No seu
primrdio surge por meio das contribuies da Psicologia Clnica e Psiquiatria,
desordens fsicas e mentais. Entretanto, atualmente, ampliou-se o entendimento de
sade para as repercusses tambm sociais, culturais e geogrficas, e o modelo
biopsicossocial tem auxiliado na compreenso do processo de sade e doena (Albery &
Munaf, 2008).
A Psicologia da Sade foi descrita pela primeira vez por Joseph Matarazzo, em
1980, presidente da Diviso 38 Psicologia da Sade da Associao Americana de
Psicologia (APA). Matarazzo (1982) se refere Psicologia da Sade como sendo um
conjunto de contribuies profissionais, cientficas e educacionais da psicologia para a
promoo e a manuteno da sade. Esta rea da Psicologia visa identificao dos
fatores relacionados ao desenvolvimento de enfermidades, bem como contribuir para a
anlise e a melhora do sistema dos servios de sade e na elaborao de uma poltica
sanitria.
A Psicologia da Sade, campo de natureza interdisciplinar, tem por finalidade
realizar estudos relacionados promoo, preveno e tratamento da sade do indivduo
e da populao para a melhoria da qualidade de vida. Esse campo centra-se na ateno
primria, secundria e terciria, aspirando dedicar-se no futuro a promoo e a educao
para a sade (Remor, 1999; Brannon & Feist, 2001; Lellis, 2001). As pesquisas e as
intervenes em Psicologia da Sade tem crescentemente integrado seus resultados nos
cuidados de pacientes em uma variedade de estudos clnicos (Nicassio & Meyerowitz,
2004).
Pode-se observar a existncia de uma nova direo para as pesquisas e
intervenes em Psicologia da Sade, internacionalmente e no Brasil. O grupo de
trabalho nesta rea da ANPEPP (Associao Nacional de Programa de Pesquisa e Ps-
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graduao em Psicologia) tem como desafios da ps-graduao brasileira a realizao
de um planejamento de educao voltado para os seguintes temas: elaborao de
intervenes com boa relao custo-benefcio, estudo de fatores de risco e proteo para
problemas de sade e participao na formao de mdicos e de outros profissionais de
sade, visando promoo da sade na formao de futuros profissionais (Calvetti,
Mller, Nunes, 2007).
Os problemas de sade emergentes so: doenas cardiovasculares, doenas
cerebrovasculares, cncer de pulmo, e outras doenas crnicas de pulmo, infeco
pelo HIV/Aids, e problemas de sade mental, os quais possuem variaes geogrficas e
culturais (Matos, 2004). Os mesmos so atuais o que mostra a importncia dos aspectos
do macrosistema implicados no processo sade-doena e a necessidade do planejamento
e implementao de estratgias para a melhoria da qualidade de vida.
A Psicologia na rea da sade tem como um dos seus objetivos transformar os
conhecimentos adquiridos para a prtica, no intuito de auxiliar na promoo,
manuteno e tratamento. Neste mbito, o campo da Psicologia da Sade tem nfase na
abordagem cognitivo-comportamental, tanto internacionalmente oriundos da Diviso 38
da APA quanto no grupo temtico da ANPEPP, alm disso, destaca-se a mesma
abordagem em grupos de pesquisa em programas de ps-graduao consolidados no
Brasil. Para tanto, quais so as contribuies que a Psicologia da Sade tem realizado
para o tratamento de doena crnica como o HIV/Aids? E quais contribuies tem
difundido para a comunidade cientfica para a melhoria da adeso ao tratamento e
qualidade de vida das pessoas que vivem com o vrus da doena?
O modelo biopsicossocial explica que os comportamentos se caracterizam por
processos biolgicos, psicolgicos e sociais. Este modelo enfatiza a influncia mtua
destes fatores no desenvolvimento humano, fundamentando-se na teoria sistmica do
comportamento que compreende que o corpo formado por sistemas em interao,
como o endcrino, o cardiovascular, o nervoso e o imunolgico, e que interagem com
os aspectos psicossociais (Straub, 2005). Os psiclogos da sade utilizam o modelo
biopsicossocial em inmeras reas, incluindo HIV/Aids, adeso a regimes de tratamento
mdico e efeitos de variveis psicolgicas e sociais sobre o funcionamento imunolgico
no processo sade-doena.
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Em relao adeso ao tratamento muitos so os fatores que levam um
indivduo ao tratamento. Dentre estes esto: as crenas do paciente, aspectos afetivos e
sociais, comunicao profissional e paciente. Os problemas de adeso ao tratamento em
sade caracterizam-se pela complexidade de fatores implicados neste aspecto. Vzquez,
Rodrguez e Alvarez (2003) descrevem diretrizes gerais para a adeso ao tratamento:
relao cordial, estimular o paciente a conhecer e incorporar como seu o compromisso
do cuidado, informar sobre a doena e corrigir erros e expectativas e adapt-las as
demandas e interesses do paciente; estabelecer metas teraputicas; e negociar trocas de
medicao (se necessrio).
No contexto do HIV/Aids, o modelo biopsicossocial engloba aspectos
biolgicos (medicao, efeitos colaterais, marcadores como carga viral e CD4+),
psicolgicos (estresse percebido, nveis de ansiedade e depresso e qualidade de vida) e
sociais (dados sociodemogrficos e suporte social). Existe uma complexidade de fatores
implicados no processo sade-doena, por isso torna-se necessrio a abordagem
interdisciplinar no tratamento de pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento
antiretroviral. A Psicologia da Sade considera a importncia dos fatores objetivos na
adeso ao tratamento, como os resultados desejveis s recomendaes de medicao, a
preciso da recordao, e a mudana de comportamentos.
O modelo biopsicossocial tem se mostrado presente em pesquisas relacionadas a
aspectos biopsicossociais e intervenes no campo da sade (Nicassio, Meyerowitz &
Kerns, 2004, Keefe & Blumenthal, 2004). Desta forma, torna-se fundamental a
capacitao de profissionais para as emergncias no campo da sade, tanto para a
preveno quanto intervenes psicossociais voltadas aos portadores de HIV/Aids
(Calvetti, Fighera, Mller & Polli, 2006).
Princpios da sade pblica para o fortalecimento da adeso ao tratamento de
pessoas que vivem com HIV/Aids
Os princpios que norteiam o Sistema nico de Sade so aspectos fundamentais
para as aes de adeso em HIV/Aids. Segundo as diretrizes para o fortalecimento das
aes de adeso ao tratamento nesta populao (Brasil 2007), esses so:
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Universalidade no acesso a insumos (preservativos), servios e aes de sade.
Integralidade do cuidado.
Eqidade e superao de vulnerabilidades especficas.
Valorizao da autonomia e da garantia de participao dos portadores na construo
de estratgias que promovam a adeso ao tratamento.
Trabalho em redes articuladas e complementares entre os diferentes nveis de ateno
sade.
Articulao intra e intersetorial, buscando superar obstculos, particularmente sociais.
Em relao ao tratamento do HIV/Aids, faz-se necessrio auxiliar as pessoas a
conviverem com a doena e a aderirem ao acompanhamento mdico. Constitui fator
importante de conhecimento da Psicologia no contexto de sade, a aderncia ao
tratamento mdico e farmacolgico. Os psiclogos podem contribuir para a efetividade
do tratamento e no entendimento dos fatores biopsicossociais implicados no processo
sade-doena (Brannon & Feist, 2001).
A partir de 1996 com o advento dos antiretrovirais, foi possvel alcanar xitos
significativos no tratamento dos portadores. Atualmente, porm mesmo com os recursos
teraputicos e o otimismo quanto ao prognstico, constata-se que existem pacientes que
no aderem ao tratamento. A adeso entendida como o compromisso de colaborao
ativa e intencionada do paciente, com a finalidade de produzir um resultado preventivo
ou teraputico desejado, neste caso o fortalecimento do sistema imunolgico (CD4+) e a
reduo da carga viral no organismo.
Pelo fato de ser terapeuticamente controlado o HIV/Aids tem sido considerado
como enfermidade crnica. A terapia antiretroviral tem apresentado resultados
benficos aos pacientes com o objetivo de bloquear a reao do vrus contra o sistema
imunolgico e diminuir o seu desenvolvimento. Entretanto, os medicamentos tambm
geram grandes gastos pblicos, neste sentido para a melhoria das perspectivas
teraputicas, faz-se necessrio a ateno as estratgias de interveno para a adeso ao
tratamento.
Alm dos fatores biolgicos, os aspectos psicossociais influenciam nveis de
adeso, tais como a satisfao do paciente com o suporte social. Outro aspecto o
sentimento de menos valia, o que poderia favorecer a negligncia nos cuidados de
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sade, assim como a auto-estima elevada que poderia levar a crena de
invulnerabilidade (Seidl, Melchades, Farias & Brito, 2007).
Existem evidncias sobre a relao entre sistema imunolgico, nervoso e fatores
psicossociais. Estudos destacam que aspectos relacionados a hbitos e estilos de vida;
estresse e estratgias de coping; e apoio social podem influenciar no desenvolvimento
do HIV/Aids (Remor, 2002c). H uma progresso dos tratamentos antiretrovirais, e
conseqentemente, tambm das necessidades de intervenes psicolgicas para pessoas
soropositivas (Scheiderman, Antoni, Saab & Ironson, 2001).
Muitas estratgias podem ser adotadas para a melhoria da qualidade de vida do
portador do HIV, dentre elas esto: abandonar hbitos de dependncia qumica, realizar
exerccios fsicos, assim como manter maior cuidado em geral com a sua vida e controle
do tratamento. Somente a medida que o sistema imunolgico diminui demasiadamente,
os pacientes comeam a apresentar sintomas de doenas oportunistas. Os riscos de
contaminao do HIV esto veiculadas atravs do sexo sem proteo, de me para filho
durante o perodo de gestao, e em contato direto com o sangue infectado, como por
exemplo, no compartilhamento de seringas em usurios de drogas (Brannon & Feist,
2001).
Entretanto, existem limites da adeso ao tratamento quando o paciente no quer
mesmo aderir. Tem portadores de HIV que fazem uso de medicao e como efeito
colateral sofrem transformaes em seu corpo, como a lipodistrofia (diminuio da
gordura salientada no rosto e outras partes). Quando o paciente no adere por livre
arbtrio, mesmo sabendo dos riscos que correm frente a esta deciso, ento o
profissional de sade, em alguns casos necessita mudar a estratgia com o paciente ou
mesmo encaminh-lo para outro membro da equipe ou servio de sade. Na sade
pblica, no ainda em todos os servios que se tem uma equipe multidisciplinar e/ou
interdisciplinar, o que poderia facilitar a integrao de conhecimentos de diferentes
especialidades para o entendimento mais ampliado do processo sade-doena.
Conforme o Ministrio da Sade a adeso um processo dinmico e
multifatorial que inclui aspectos fsicos, psicolgicos, sociais, culturais e
comportamentais, que requer decises compartilhadas e co-responsabilizadas entre a
pessoa que vive com HIV, a equipe e a rede social. A relao estabelecida entre
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paciente e os profissionais de sade conforme a especialidade. Adeso no se refere
somente ingesto de medicamentos, mas inclui o fortalecimento da pessoa vivendo
com HIV/Aids, o estabelecimento de vnculo com a equipe de sade, o acesso
informao, o acompanhamento clnico-laboratorial, a adequao aos hbitos e
necessidades individuais e o compartilhamento das decises relacionadas prpria
sade. A conduta de adeso pode ser considerada similar aquisio de um hbito:
informaes so apreendidas e habilidades so adquiridas para incorporar o tratamento
rotina diria Os profissionais, por sua vez, podem se valer da compreenso dos fatores
que dificultam e facilitam a adeso, mediante a descrio por parte do prprio paciente
de suas experincias, atitudes e crenas sobre a doena e o tratamento para ajud-lo a
compreender a importncia do antiretroviral (Brasil, 2008b).
Estudos buscam identificar os fatores associados a dificuldades de adeso ao
tratamento (Kelly & Kalichman, 2002; Seidl & cols., 2007). Os resultados apontam o
seguinte:
Complexidade do regime teraputico, que inclui o nmero de doses e de comprimidos
que precisam ser ingeridos diariamente; a forma de armazenamento, como a exigncia
de que o medicamento seja conservado em baixa temperatura; dificuldade para ingesto,
como medicamentos de tamanhos grandes; os horrios das doses, que podem conflitar
com as rotinas e o estilo de vida;
A precariedade ou ausncia de suporte social afetivo e/ou material/instrumental, bem
como a percepo por parte da pessoa de que esse apoio insuficiente;
Baixa escolaridade, habilidades cognitivas insuficientes para lidar com as dificuldades
e as exigncias do tratamento;
No aceitao da soropositividade, pois tomar os remdios significa reconhecer que a
condio de infeco pelo HIV uma realidade;
Presena de transtornos mentais, como depresso e ansiedade;
Efeitos colaterais da medicao antiretroviral, que torna o prprio tratamento aversivo;
Relao insatisfatria do usurio com o mdico e com os demais profissionais da
equipe de sade, incluindo seu nvel de satisfao com os servios prestados, com os
procedimentos realizados e acesso a exames, medicamentos e consultas;
Crenas negativas e informaes inadequadas sobre a enfermidade e o tratamento;
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Dificuldades de organizao para adequar as exigncias do tratamento s rotinas
dirias, como horrios de acordar, das refeies, do trabalho e de ingesto da
medicao;
Abuso de lcool e outras drogas.
Atualmente, os mtodos utilizados para aferio da adeso incluem medidas
como: o auto-relato, o monitoramento eletrnico de medicamentos, contagem de
comprimidos, registros sobre a retirada de medicamentos da farmcia, deteco dos
medicamentos antiretrovirais ou de metablitos das drogas na urina ou sangue e os
marcadores biolgicos de CD4+ e carga viral. Os mtodos mais freqentes utilizados na
prtica clnica no Brasil so: auto-relato (mediante entrevista), contagem manual de
plulas e exame de carga viral (Brasil, 2008b).
O auto-relato o mtodo mais utilizado no contexto clnico e em pesquisas. Suas
vantagens so o baixo custo, a escuta prxima e proporcionar ao profissional o
conhecimento dos motivos e dificuldades relativos adeso e suas possveis solues.
Quando qualificado, pressupe vnculo, co-responsabilidade entre paciente e
profissional e a valorizao da autonomia e do autocuidado.
Em relao aos vnculos da pessoa que vive com HIV/Aids, o fator de proteo,
suporte social se refere a aes que auxiliam no enfrentamento do estresse, sendo de
duas modalidades: afetivo-emocional e operacional ou instrumental. O primeiro envolve
aes como prover ateno, companhia e escuta. O segundo abarca aes concretas e
operacionais do cotidiano, como auxlio em tarefas domsticas ou em aspectos prticos
do prprio tratamento (acompanhar em uma consulta, buscar os medicamentos no
servio de sade, tomar conta dos filhos nos dias de comparecimento ao servio de
sade, dentre outros). Ambos fazem com que a pessoa se sinta cuidada, pertencente a
uma rede social (Seidl & cols., 2007).
O suporte social pode ser disponibilizado por familiares, amigos, pessoas de
grupo religioso ou integrantes de instituies, profissionais de servios de sade e
pessoas de organizaes da sociedade civil (OSC). Conforme Giovelli (2008), muitas
das aes destas instituies viabilizam articulaes intra e intersetoriais, buscando
superar barreiras e obstculos adeso, especialmente aqueles de ordem social e
econmica oriundas, por exemplo, da pobreza e da excluso social. O trabalho do
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terceiro setor uma marca da resposta brasileira epidemia e deve ser reconhecido
como uma iniciativa que favorece a adeso ao tratamento.
A insero de psiclogos em programas de DST/Aids, associa-se a intervenes
psicossociais e institucionais e exigem uma atitude de pesquisador/a que integre
assistncia e estudos (Brasil, 2008a). Milner-Moskovics e Calvetti (2008) destacam a
importncia da busca de novas estratgias em HIV/Aids. Faz-se necessrio a insero
do/a psiclogo/a como fonte de apoio social tanto no planejamento quanto em
intervenes psicoeducativas.
Consideraes
O presente ensaio apresentou as implicaes do modelo biopsicossocial da
Psicologia da Sade e dos princpios da sade pblica para o fortalecimento da adeso
ao tratamento e aumento da qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids.
Para tanto, necessrio que os profissionais de sade, em destaque os/as psiclogos/as
que atuam em servios da sade pblica brasileira aprimorem-se no conhecimento sobre
as especificidades do HIV/Aids.
A adeso ao tratamento do HIV/Aids apresenta-se como emergente por tratar-se
por uma epidemia mundial. Neste sentido, tanto os aspectos biolgicos, psicolgicos e
sociais da doena quanto s questes culturais e geogrficas do paciente e comunidade,
necessitam ser includas no planejamento de polticas pblicas e nas intervenes para
preveno e tratamento. O/a psiclogo/a precisa manter-se contextualizado nos servios
de sade como membro da equipe de sade, marcando a necessidade do ncleo
(especificidades do atendimento) tanto quanto do campo (aes interdisciplinares).
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SEO 2
ESTUDO I Influncia das variveis biopsicossociais na adeso ao tratamento e
qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento
antiretroviral
Introduo
A epidemia da infeco por HIV/Aids surgiu na dcada de 1980 como um
problema de sade pblica e de bem-estar social. O HIV um retrovrus que causa no
organismo disfuno imunolgica crnica e progressiva devido ao declnio dos nveis
de linfcitos CD4+, sendo que quanto mais baixo o ndice desses, maior o risco do
indivduo desenvolver Aids. Mesmo com os avanos no diagnstico e tratamento, a
realidade apresenta-se como um desafio aos profissionais da rea da sade devido a alta
incidncia da doena e aos impactos gerados na vida dos portadores. (Carvalho, Morais,
Koller & Piccinini, 2007).
Quando surgiu a epidemia a maior incidncia identificada eram os usurios de
drogas injetveis, homossexuais, profissionais do sexo e pessoas que recebiam
transfuso de sangue e hemoderivados. J desde o incio dos anos 1990 vem ocorrendo
importante mudana no perfil epidemiolgico da Aids, tendo a transmisso
heterossexual como principal via. Assim, percebe-se um aumento expressivo de
mulheres na dinmica da doena, bem como da populao de baixa renda, jovens,
moradores de cidades do interior e periferias dos grandes centros.
O boletim epidemiolgico de 2010 apresenta o nmero e taxa (por 100.000 hab.)
de casos de Aids notificados. Observa-se reduo da razo por sexo. Em 1984 era igual
a 15,8, ou seja de 126 homens para 8 mulheres, e passou a ser no ano de 2009 igual a
1,5 (8157 homens para 5501 mulheres). Tal constatao demonstra a realidade atual da
epidemia, corroborando com o novo panorama da doena que se estabeleceu a partir dos
anos 90 (Brasil, 2010).
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Sabe-se que as alteraes psicolgicas associadas infeco por HIV/Aids se
caracterizam fundamentalmente pela sua alta incidncia. Dentre as mais significativas
experimentadas pela pessoa soropositiva a ansiedade que se apresenta em diversos
momentos, desde que diagnstico ao tratamento antiretroviral (Garcia-Huete, 1993;
Bays, 1995).
Os sintomas de ansiedade em portadores de HIV esto relacionados a incertezas
sobre a evoluo da doena, o curso clnico, o medo relacionado dor, o sofrimento, a
deteriorao do corpo, o tratamento e a morte (Junqueira, Belluci, Rossini & Reimo
2008). Desta forma, os sintomas de ansiedade podem ser caracterizados como respostas
s situaes estressoras, sendo que estas variam de acordo com a interpretao de cada
pessoa (Margis, Picon, Cosner & Silveira 2003).
O estresse constitui-se de uma reao natural de adaptao do corpo humano,
podendo significar tanto o equilbrio quanto o desequilbrio do organismo. Entretanto
devido a carga de estresse excessiva, tal estado assume o status de doena (Selye, 1965).
Ainda Lipp e Malagris (1989) conceitualizam o estresse como uma reao orgnica de
origem psicofisiolgica decorrente de agentes denominados estressores. Tais agentes
caracterizam-se em situaes geradoras de desconforto fsico e psicolgico, as quais
ocasionam uma quebra da homeostase interna e exigem uma adaptao do indivduo.
Neste sentido, conforme Pia-Lopes, Tapia, Snchez-Sosa, Togawa e Robles (2008) a
intensidade e a durao dos estmulos estressores geram desequilbrios biolgicos e
alteraes psicolgicas como a sensao de tenso e a ansiedade.
Questes como o medo da morte, abandono dos familiares e amigos, perda de
emprego e reao social frente soropositividade so consideradas fontes que, se
intensificadas, podem levar ao estresse patolgico. Evidencia-se a relao existente
entre a satisfao com o suporte social e a presena de estresse (Leserman & cols.,
2000; Schmitz & Crystal, 2000).
Segundo Seidl e Trccoli (2006), o conceito de suporte social refere-se ao
sentimento e a percepo de estima e pertencimento do indivduo a uma rede social com
direitos e deveres comuns. O suporte social contribui na adaptao de pessoas
portadoras de enfermidades crnicas como no caso HIV/Aids, podendo amenizar
situaes de preconceito e discriminao. Alm disso, contribui para o aumento da
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adeso ao tratamento e da qualidade de vida. Dentro desta perspectiva do processo
sade-doena, Canini e cols (2004) destacam que muitos portadores de HIV sofrem um
impacto em sua qualidade de vida, medida que a presena da doena, suas
consequncias fsicas e repercusses psicossociais afetam as dimenses psicolgica e
social
Entende-se qualidade de vida como a percepo da pessoa a partir da sua
posio na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ela vive e em
relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes (Fleck, Leal, Louzada,
Xavier, Chamovich, Vieira, Santos & Pinzon, 1999). Envolve a subjetividade, visto que
se refere a avaliao da pessoa sobre as dimenses que a compe e a
multidimensionalidade, caracterizando-se como um constructo interdisciplinar (Seidl &
Zannon, 2004). A qualidade de vida relacionada a sade aborda conceitos associados ao
prprio estado de sade, ao estado funcional, ao bem-estar psicolgico, felicidade com
a prpria vida e satisfao das necessidades (Canini & cols., 2004).
Cabe destacar que, com o advento dos antiretrovirais, houve um aumento no
tempo de sobrevida e uma melhora na qualidade de vida dos portadores de HIV,
ocasionando assim uma mudana na expectativa de vida. A partir desta modificao no
panorama existente, tambm os aspectos psicossociais envolvidos sofreram alteraes
como a diminuio do medo iminente da morte e, a necessidade de reestruturar a vida
para conviver com esta nova situao. Neste sentido, inclui a possibilidade de
manuteno dos vnculos estabelecidos no trabalho, na famlia, na comunidade
(Carvalho & cols., 2007) e o encontro de novos vnculos.
Portanto, o objetivo geral deste estudo avaliar os aspectos biopsicossociais de
pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento antiretroviral. Dentre os objetivos
especficos esto: avaliar as caractersticas sociodemogrficas e da situao clnica,
investigar os aspectos psicossociais (ansiedade; estresse percebido; suporte social) e
adeso ao tratamento e qualidade de vida, bem como investigar a relao entre estas
variveis descritas.
Mtodo
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Este estudo caracteriza-se como sendo de natureza quantitativa e transversal, de
carter descritivo, correlacional e preditivo.
Participantes
A amostra foi constituda por convenincia, tendo um total de 120 indivduos
portadores do HIV do sexo masculino e feminino, com idades entre 18 a 65 anos, em
tratamento antiretroviral.
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram:
Questionrio de dados sociodemogrficos e da situao clnica: idade, sexo,
escolaridade, situao conjugal; situao empregatcia, tempo de diagnstico, estgio do
HIV, terapia antiretroviral utilizada, contagem de linfcitos T CD4+ (sistema
imunolgico) e carga viral (CV).
Inventrio Depresso de Beck: composta por 21 itens, com o escore de cada resposta
varivel de 0 a 4 (ausente, leve, moderada e grave), viabiliza quantificar a intensidade
do sintoma (Beck & Steer, 1993; Cunha, 2001). A escala avalia os diversos sintomas ou
atitudes que, usualmente, esto presentes na depresso, independentemente da sua
causa. O coeficiente de cronbach obtido foi alfa de 0,91.
Inventrio de Ansiedade de Beck: avalia a intensidade da ansiedade clnica (auto-
informada), atravs de 21 itens pontuados, com o valor mnimo de 0 e o valor mximo
de 63 correspondendo, a maior pontuao a um grau mais elevado de ansiedade (Beck,
Epstein, Brown & Steer, 1988; Cunha, 2001). O coeficiente de cronbach obtido foi alfa
de 0,92.
Escala de Stress Percebido (PSS): A PSS possui 14 questes com opes de resposta
que variam de zero a quatro (0=nunca; 1=quase nunca; 2=s vezes; 3=quase sempre
4=sempre). As questes com conotao positiva (4, 5, 6, 7, 9, 10 e 13) tm sua
pontuao somada invertida, da seguinte maneira, 0=4, 1=3, 2=2, 3=1 e 4=0. As demais
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questes so negativas e devem ser somadas diretamente. O total da escala a soma das
pontuaes destas 14 questes e os escores podem variar de zero a 56 (Luft, Sanches,
Mazo & Andrade, 2007). O coeficiente de cronbach obtido foi alfa de 0,87.
Escala de Suporte Social para Pessoas Vivendo com HIV/AIDS: instrumento para
mensurao do suporte social percebido e da satisfao, construdo e validado no
Canad, denominado Social Support Inventory for People who are Positive or Have
Aids pelos autores Renwick, Halpen, Rudman & Friedland (1999); e validado no Brasil
por Seidl e Trccoli (2006) especfico para pessoas soropositivas. Este instrumento foi
desenvolvido com base em estudos sobre o suporte social para a populao em geral e
para pessoas acometidas por condies mdicas especficas, como HIV/AIDS.
composto de 24 itens, com escala de resposta tipo Likert de cinco pontos, podendo ser
auto-aplicado ou administrado mediante entrevista. Divido em dois fatores: 1- suporte
emocional percepo e satisfao quanto disponibilidade de escuta, ateno,
informao, estima, companhia e apoio emocional em relao soropositividade; 2.
suporte instrumental - percepo e satisfao quanto disponibilidade de apoio no
manejo ou resoluo de questes operacionais do tratamento ou do cuidado de sade, de
atividades prticas do cotidiano, de ajuda material e/ou financeira. O coeficiente de
cronbach obtido foi alfa de 0,96.
Instrumento de Avaliao da Qualidade de Vida da Organizao Mundial de Sade
(WHOQOL-HIV Bref): verso brasileira validada por Zimpel e Fleck (2005). Este
avalia a qualidade de vida genrica de pessoas vivendo com HIV/Aids, (constitudo) por
31 itens constitudos de 6 domnios: Fsico (dor e desconforto, energia e fatiga, sono e
repouso), Psicolgico (sentimentos positivos, pensamento, memria, aprendizado e
concentrao), Nvel de Independncia (mobilidade, atividades cotidianas, dependncia
de medicao e tratamento, capacidade para o trabalho), Relaes Sociais
(relacionamentos, suporte social, atividade sexual), Meio Ambiente (segurana fsica,
recursos financeiros, cuidados sociais e de sade, oportunidades de acesso a novas
informaes e de lazer, ambiente fsico e transporte) e
Espiritualidade/Religiosidade/Crenas Pessoais (crenas pessoais, religiosas e
espiritual). As questes so individualmente pontuadas em uma escala tipo likert de 5
pontos, onde 1 indica percepes baixas e negativas e 5 percepes altas e positivas
(WHOQOL GROUP, 2003; Zimpel, 2003). O coeficiente de cronbach obtido foi alfa de
0,77.
-
36
CEAT-VIH - Questionrio de avaliao da adeso ao tratamento antiretroviral:
desenvolvido e validado para a verso brasileira por Remor, Milner-Moskovics e
Preussler (2007) visa identificar o grau de adeso dentre baixa ou insuficiente, regular e
estrita ao tratamento antiretroviral em pessoas que vivem com HIV/Aids. O instrumento
constitudo por 20 questes. O coeficiente de cronbach obtido foi alfa de 0,85.
Procedimentos para coleta e anlise dos dados
A coleta de dados foi realizada no Ambulatrio de Infectologia do Hospital So
Lucas da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS), no
Ambulatrio de Infectologia do Grupo Hospitalar Conceio (GHC) e na Organizao
No-governamental (ONG) GAPA/RS. A aplicao dos instrumentos ocorreu
individualmente em uma sala reservada durante aproximadamente uma hora. Tambm
foram acessados os pronturios dos pacientes para a coleta dos marcadores biolgicos,
carga viral e contagem de linfcitos T CD4+.
A investigao sobre os dados sociodemogrficos, situao clnica, e aspectos
psicolgicos do presente estudo foram submetidos anlise de freqncias das
variveis. A relao entre aspectos psicolgicos e marcadores biolgicos atravs da
anlise de correlao de Pearson. Foi utilizado o nvel de significncia de 5%, sendo os
dados do levantamento dos instrumentos utilizados computados e analisados no
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) for Windows verso 17.
Procedimentos ticos
A pesquisa seguiu as normas estabelecidas para pesquisa em seres humanos
(Resoluo CNS196/96). Foi assegurado o anonimato e sigilo no uso das informaes
obtidas atravs dos pronturios e respostas aos instrumentos da pesquisa. O estudo teve
aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Pontifcia Universidade Catlica do Rio
Grande do Sul (Parecer CEP-PUCRS 08/04228) e do Comit de tica do Grupo
Hospitalar Nossa Senhora da Conceio (Parecer CEP-GHC 101/08). O participante
identificado com necessidade de tratamento especfico foi encaminhado para
atendimento psicolgico.
-
37
Resultados
Os participantes apresentam-se entre 20 e 65 anos de idade (M=42,08 anos; DP=
8,74), 50,8% do sexo masculino e 56,7% solteiros. A orientao sexual informada,
predominantemente heterossexual (77,5%). A amostra foi selecionada em trs locais de
atendimento pessoas com HIV/Aids de Porto Alegre/RS, sendo dois servios de
sade, o Ambulatrio de Infectologia do Hospital So Lucas (43,3%) , Grupo Hospitalar
Conceio (GHC) (34,2%) e uma organizao no-governamental, o Grupo de Apoio a
Preveno da Aids do Rio Grande do Sul - GAPA/RS (22,5%).
Quanto situao de trabalho, 57,1% dos participantes no trabalham. Em
relao ao nvel socioeconmico apresenta-se predominantemente mdio baixo (63,3%).
Do total da amostra, 79,2 % informa no utilizar medicao psiquitrica. Quanto ao
modo de transmisso do vrus destaca-se a via sexual (77,5%).
O tempo de infeco HIV variou de 2 meses at 264 meses, com uma mdia de
97 meses, equivalente h 8 anos de infeco. A mdia da carga viral (cpias/ml)
identificada foi de 456,72 cpias/ml, sendo 68,3% carga indetectvel da amostra total.
Em mdia, os participantes ingerem 4 comprimidos diariamente, variando entre
1 e 6 comprimidos. As combinaes de frmacos mais comum foi 2 inibidores da
Transcriptase Reversa Anlogo de Nucleosdeos (ITRN) + 1 Inibidor Transcriptase
Reversa No Anlogo de Nucleosdeos (ITRNN) (50,8% ).
Em relao percepo da sua sade 76,6% no se considera doente, e quando
perguntado se alguma coisa no vai bem consigo 56,7% consideram que est tudo
bem. Pode-se observar que dos problemas descritos 24,8% referem-se situao
psicolgica (sinais de ansiedade, tristeza, medo, baixa auto-estima e culpa), seguido de
14,5% que relatam problemas em relao sade fsica (lipodistrofia, problemas de
viso, perna operada, mal-estar abdominal, hepatite, baixa da imunidade, HIV), como
pode ser visto na tabela 1 abaixo.
Tabela 1 - Caracterizao da amostra (N=120) dados sociodemogrficos e clnicos de
pessoas que vivem com HIV/Aids em tratamento antiretroviral
Dado sociodemogrfico e clnicos % F Mdia Desvio-padro
-
38
Idade 42,08 8,74
Escolaridade
Nenhum 4,2 5
1 incompleto 6,7 8
1 completo 35,0 42
2 completo 40,8 49
3 incompleto 2.5 3
3 completo 10,8 13
Sexo
Feminino 49,2 59
Masculino 50,8 61
Situao de trabalho
Trabalha 42,9 51
No trabalha 57,1 69
Orientao sexual
Heterossexual 77,5 93
Homossexual 17,5 21
Bissexual 5,0 6
Estado civil
Solteiro
Casado ou vivendo com
companheiro
Separado ou divorciado
Vivo
Forma de transmisso
56,7
15,0
22,5
5,0
68
18
27
6
Sexual 77,5 93
Usurios de drogas injetveis 8,3 10
Transfuso de hemoderivados 2,5 3
Outro (acidente de trabalho) 1,7 2
No sabe 10,0 12
Nvel socioeconmico
Baixo 27,5 33
Mdio baixo 63,3 76
Mdio alto 9,2 11
Dados clnicos
Tempo infeco HIV (meses)
Nmero de comprimidos antiretrovirais
97,07
4
64,62
2
Uso de medicao psiquitrica
Sim 20,8 25
No 79,2 95
Linfcitos T CD4+ por mm de sangue 456,72 294,97
Carga viral (cpias/ml)
30.000
Considera doente
Sim
No
Alguma coisa no esta bem consigo
Sinais/sintomas fsicos
Sinais/sintomas psicolgicos
Relaes sociais
Condio scio-econmica
Considera tudo bem
3,3
23,3
76,7
14,5
24,8
2,4
1,6
56,7
4
17
30
3
2
68
Na tabela 2, em relao aos sintomas de ansiedade 49,2% da amostra apresenta
nvel mnimo, sendo a mdia 14,17 e equivalente a grau leve. Em relao aos sintomas
-
39
de depresso, 54,2% dos participantes apresentam nvel de depresso mnimo e mdia
14,15 equivalente a grau leve.
O estresse percebido, fator 1 (percepo negativa) teve maior mdia 13,15 em
relao ao fator 2 (cotao positiva) 8,99. O escore bruto apresentou mdia de 22,14
(DP=11,05). A variabilidade do escore de zero a 56, observando-se que os escores
so medianos baixos em relao percepo de estresse neste estudo. Em relao ao
suporte social dos participantes foi observado que a maior mdia foi no fator 1
(M=3,56; DP=1,00) que representa suporte social emocional. O fator 2 que representa o
suporte instrumental obteve mdia 3,41 (DP=0,99).
Em relao ao grau de adeso os participantes apresentaram maior porcentagem
na adeso estrita (48,3%), seguida da regular (47,5%) e posteriormente baixa/
insuficiente (4,2%). Pode-se observar que a maior concentrao de porcentagem est
presente em estrita e regular, totalizando 95,8% entre regular e estrita. Salienta-se uma
amostra aderente neste estudo.
Na avaliao da qualidade de vida, pode-se observar a mdia maior no domnio
III nvel de independncia (M=14,53; DP=2,7) relacionado a mobilidade, atividade da
vida diria, dependncia de medicao ou tratamentos e aptido para o trabalho.
Posteriormente, o domnio IV relaes sociais (M=14,35 DP=3,5) que se refere a
relacionamentos pessoais, apoio social, atividade sexual e incluso social. A seguir o
domnio V meio ambiente (M=14,04 DP=2,66) que inclui a segurana fsica, moradia,
finanas, cuidados (acesso e qualidade sade e assistncia social), informao
(adquirir informao nova e aprender nova habilidade), lazer, ambiente fsico
(poluio/barulho/trnsito/clima) e transporte. A mdia global destacada na amostra
de 14,65 (DP=3,67).
Tabela 2 - Apresentao das mdias e desvio padro dos sintomas de ansiedade,
sintomas de depresso, estresse percebido, suporte social, qualidade de vida e adeso ao
tratamento de pessoas que vivem com HIV/Aids (N=120).
Varivel % f Mdia Desvio Padro
Nveis de Ansiedade (BAI)
-
40
Mnimo 49,2 59
Leve 26,7 32
Moderado 12,5 15
Grave 11,7 14
Escore Total
Nveis de Depresso (BDI)
Mnimo 54,2 65
Leve 15,0 18
Moderado 23,3 28
Grave 7,5 9
Escore Total
Estresse Percebido (PSS)
Estresse percebido fator 1
Conotao positiva fator 2
Escore bruto
14,17
14,15
13,15
8,99
22,14
12,59
12,59
6,01
6,34
11,05
Suporte Social
Emocional - Fator 1
Instrumental - Fator 2
3,56
3,41
1,00
0,99
Grau de Adeso ao Tratamento (CEAT-VIH)
Baixa/Insuficiente 4,2 5
Regular 47,5 57
Estrita 48,3 58
Escore total
Escala de pontuao transformada
Qualidade de Vida (WHOQOL-HIV bref) Domnio 1 - Fsico
Domnio 2 - Psicolgico
Domnio 3 - Nvel de Independncia
Domnio 4 - Relaes Sociais
Domnio 5 - Meio Ambiente
Domnio 6 - Espiritualidade/Religio/Crenas Pessoais
Qualidade de Vida Global
75,78
81,64
11,61
13,50
14,53
14,35
14,04
10,33
14,65
10,28
14,29
2,00
2,40
2,7
3,5
2,66
3,04
3,67
Na tabela 3 podese observar uma correlao inversa entre ansiedade e adeso
(r=-0,407; p
-
41
No domnio VI espiritualidade/religio/crenas pessoais (r=-0,250; p
-
42
disponibilidade e satisfao com o suporte social, bem-estar psicolgico, adeso ao
tratamento e percepo positiva da qualidade de vida. (Mello & Malbergier, 2006;
Leserman & cols., 2000).
Os sintomas psicolgicos negativos podem contribuir para a no-adeso
terapia antiretroviral e, conseqentemente, h baixa imunidade e aumento da resposta
virolgica (Campos, Guimares & Remien, 2008; Mello & Malbergier, 2006), e
conseqentemente para a progresso da Aids (Paterson, Swindells, Mohr, Brester,
Vergis & Squier, 2000) e piora da qualidade de vida (Tostes, Chalub & Botega, 2004).
Em estudo realizado (Tucker Burnam, Sherbourne, Kung & Gifford, 2003) foi
salientado que as pessoas com depresso, ansiedade ou pnico generalizado foram
aproximadamente duas vezes mais no-aderentes que aqueles sem um transtorno
psicolgico. Outra pesquisa (Remien, Exner, Kertzner, Ehrhardt,. Rotheram-Borus &
Johnson, 2006) destaca que sintomas depressivos foram associados inversamente com o
suporte social em pessoas que vivem com HIV/Aids.
No presente estudo, os baixos escores encontrados em relao a ansiedade e
depresso mostram um dos possveis motivos da caracterstica desta amostra apresentar
adeso destacada em estrita e regular. Tambm a satisfao com o suporte social em
especial, no apoio emocional que favorece a adeso ao tratamento. Segundo Carrobles,
Remor e Rodrguez-Alzamora (2003) o autocuidado e a busca de solues de problemas
com a busca do suporte social para escutar e dar afeto e informao so protetores
tambm para a diminuio da percepo de situaes de estresse com conotao
negativa.
Um nvel de ativao do estresse mantido no tempo com forte intensidade, ou
ainda, com alta freqncia, pode levar ao desequilbrio de diversos sistemas ou rgos.
Este nvel obriga o organismo a manter uma ativao acima de suas possibilidades e d
lugar a um desgaste excessivo com possveis alteraes ou deteriorao no
funcionamento dos rgos ou sistemas alvo (Ulla & Remor , 2002). Desta forma, alguns
pesquisadores afirmam que o estresse poderia diminuir o nmero de clulas CD4+ e
piorar o estado de sade dos portadores (Bays, 1994; Evans, Leserman, Perkins, Stern,
Murphy, Zheng & cols, 1997; Lopes & Fraga, 1998).
-
43
A preocupao e o medo das conseqncias adversas podem influenciar
negativamente a adeso. Alm dos desconfortos gastrintestinais, como nuseas,
vmitos, diarria, gases e azia, que surgem com freqncia no incio ou troca de
medicao, h ainda o aparecimento das alteraes anatmicas e metablicas
decorrentes da lipodistrofia (Brasil, 2008b).
Nos resultados, destacou-se que das pessoas que referiram sobre o que no
estava bem consigo, os sinais e sintomas psicolgicos como ansiedade e depresso
foram relatados. Tambm em relao ao aspecto fsico, os sinais de desconforto e mal
estar abdominal, bem como a lipodistrofia foi destacada. Apresentou significativa
correlao entre domnio II psicolgico e adeso ao tratamento, porm no em relao
ao domnio I fsico e adeso. Observa-se que a maioria dos participantes consideram a
sua sade percebida como boa.
As percepes de interaes sociais com outros indivduos pode aumentar o
amor-prprio, a auto-valorizao e a autoconfiana de pessoas que vivem com
HIV/Aids, reduzindo desse modo a percepo da estigmatizao (Simoni, Montoya,
Huang & Goodry, 2005). Os sistemas de suporte fazem parte de um mbito mais amplo
da vida das pessoas, trata-se das relaes estabelecidas com a escola, o trabalho, centros
religiosos ou instituies de sade. Estudo realizado por Carvalho, Hamann &
Matsushita (2007) corrobora com os resultados obtidos na presente pesquisa, identifica
que a situao de moradia e suporte social foram variveis preditoras da adeso ao
tratamento.
A satisfao no suporte emocional prediz melhor percepo na qualidade de vida
(Seidl, Zannon & Trccoli, 2005). Corroborando com os resultados obtidos na presente
pesquisa, Remor (2002) e Seidl e Trccoli (2006) destacam que o suporte social pode
ser um fator atenuador do impacto negativo da soropositividade na vida dos pacientes.
A rede de apoio pode ser uma estratgia til para adeso ao tratamento e aumento da
qualidade de vida (Weaver, Llabre, Durn, Antoni, Ironson, Penedo & Schneiderman,
2005). Outros estudos (Holstad, Pace, De & Ura, 2006; Giovelli, 2008) aponta
correlao significativa entre suporte social e adeso ao tratamento antiretroviral.
Em estudo realizado por Calvetti, Mller e Nunes (2008), os pacientes
sintomticos/Aids que apresenta sinais ou sintomas da doena, pontuaram mais
http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B7MDD-4R2RFDC-D&_user=685977&_coverDate=12%2F31%2F2007&_rdoc=12&_fmt=high&_orig=browse&_srch=doc-info(%23toc%2323228%232007%23999819993%23673218%23FLA%23display%23Volume)&_cdi=23228&_sort=d&_docanchor=&_ct=15&_acct=C000037098&_version=1&_urlVersion=0&_userid=685977&md5=1ea113460f3d3daab728093970c04a8c#bbib53#bbib53
-
44
correlaes significativas entre qualidade de vida (domnios fsico; relaes sociais;
espiritualidade, religiosidade e crenas pessoais) com o bem-estar religioso em
comparao ao grupo assintomtico. No presente estudo, no houve correlao
significativa entre o domnio VI - espiritualidade, religiosidade e crenas pessoais e
adeso ao tratamento, observa-se que a maior porcentagem dos participantes percebem a
sua sade boa, e no apresentam sinais ou sintomas da doena. Pode ser que o domnio
VI se apresente em destaque na populao que percebe a sua sade regular ou pssima
com sinais e sintomas de doena.
A capacidade de autonomia do paciente, o suporte social, o acesso aos servios
de sade e a informao tem maior destaque na populao deste estudo em relao a
percepo da qualidade de vida. O suporte social fortalece a adeso ao tratamento e a
qualidade de vida, sendo fator de proteo para atenuar o impacto da doena e
tratamento.
Concluso
Os resultados obtidos apontam correlao entre suporte social, qualidade de vida
e adeso ao tratamento. Os aspectos psicolgicos: ansiedade, depresso e estresse
percebido esto inversamente correlacionados melhora do tratamento de pessoas que
vivem com HIV/Aids. Pode-se inferir que a rede social fator de proteo sade nesta
populao, em relao ao tratamento de sade e a qualidade de vida.
O suporte social tem papel fundamental na moderao do estresse em contextos
relacionados ao processo sade-doena, como nas questes de medo da morte,
abandono dos familiares e amigos, perda de emprego e reao social frente
soropositividade. Considera-se a necessidade do desenvolvimento de estratgias para o
fortalecimento do suporte social como fator de proteo para a adeso e qualidade de
vida. Alm disso, o investimento na capacitao de psiclogos/as e outros membros da
equipe de sade para o aconselhamento voltado a preveno e ao tratamento de pessoas
que vivem com HIV/Aids.
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SEO 3
ESTUDO II Fatores biopsicossociais preditivos para adeso e qualidade de vida em
pessoas que vivem com HIV/Aids bem-sucedidas no tratamento de sade
Introduo
No campo da Psicologia da Sade, sob a perspectiva do modelo biopsicossocial,
torna-se fundamental
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