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GRUPO GESER - GESTÃO EM SEGUROS E RISCOS DA ESALQ/USP

Quarta edição – dezembro 2013

Prof. Dr. Vitor Ozaki Dept. de Economia, Administração e

Sociologia (ESALQ/USP). Coordenador do Grupo GESER

Na quarta edição do Boletim do Seguro Rural (BSR), o Grupo GESER –

Gestão em Seguros e Riscos abordará as principais características do

seguro de faturamento. Desta forma, na Matéria de Capa serão expostos

alguns aspectos históricos e características gerais deste tipo de seguro

rural no mercado brasileiro e americano.

A seção de Estudo de Caso, tratará um pouco mais sobre o seguro agrícola

por meio de uma abordagem técnica e exemplos práticos. Será

apresentado um estudo de caso considerando o seguro de faturamento,

para a cultura da soja, no município de Campo Mourão-PR.

Na seção de Entrevista, esta edição traz o Gerente de Agronegócios do

Grupo BB&MAPFRE, Daniel Rascikevicuis do A. Nascimento, abordando a

realidade do seguro de faturamento no Brasil.

Como em outras edições, o BSR traz um compilado das principais Notícias

do Setor do seguro rural brasileiro.

Gostaria de ressaltar que nesta edição se apresenta um resumo executivo

das palestras e painéis do “2º Seminário Internacional de Seguro Rural”,

organizado pelo Grupo GESER em parceria com a resseguradora Munich

Re nos dias 28 e 29 de outubro de 2013. Como mencionado no anterior

Boletim, o evento teve como objetivo discutir estratégias do setor público

e privado para o desenvolvimento do seguro rural, definindo as

prioridades dos agentes produtivos.

BOA LEITURA !

EDITOR CHEFE:

Prof. Dr. Vitor Ozaki

EDITORES ASSOCIADOS:

Adriano Lênin Cirilo de Carvalho

Carlos Andrés Oñate Paredes

Daniel Lima Miquelluti

Daniel Lutz Ruiz

Eduardo Passarelli

Gislaine Vieira Duarte

Henrique Cyrineu Tresca

COLABORADORES:

Lethicia Magno M. de Almeida

Luiz Guilherme Fagotti

Monique Monah Moreira

Vanessa Siqueira Ribeiro

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Nesta edição do BSR será analisado um tema que merece grande destaque no mercado brasileiro de seguro rural: o Seguro de Faturamento ou Seguro de Receita. Esta modalidade cobre as perdas no faturamento do produtor, em função de quedas na produtividade e/ou no preço recebido pelo produto agrícola, o que com certeza é um avanço em relação ao Seguro de Custeio. A Matéria de Capa desta edição do BSR traçará um breve histórico sobre o Seguro de Faturamento tanto nos Estados Unidos, pioneiro nesta modalidade de seguro, como no Brasil. Além disso, abordará os principais produtos do gênero oferecidos no país.

ASPECTOS HISTÓRICOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SEGURO DE FATURAMENTO

Iniciado em 1996, a partir de uma lei agrícola do mesmo ano (Federal Agriculture Improvement and Reform Act), os Seguros de Receita, ou Seguros de Faturamento, “Revenue Insurance” em inglês, transformaram o cenário do seguro agrícola nos Estados Unidos. Os primeiros serviços oferecidos eram apenas oferecidos às culturas de milho e soja com poucas opções de cobertura. Mesmo assim, já em 1997 a modalidade do seguro de receita totalizava 18% do valor total de prêmios recolhidos. Hoje em dia estima-se que a modalidade re-presenta 85% do total de prêmios recolhidos, sendo o carro chefe do crescimento de contratos de seguros e área total de cobertura .

Estima-se que, em 1994, 33% da área plantada americana era coberta por seguro, totalizando cerca de US$13,6 bilhões em prêmios, o que demonstra que o seguro não era a primeira escolha dos agricultores quanto ao controle dos riscos. No entanto, ao fim de 2012 a área coberta já correspondia a 74% da área total cultivada e o total do valor de prêmios cresceu para US$ 116,9 bilhões, sendo que desse total cerca de US$ 96 bilhões provinham dos seguros de faturamento. Tal participação mais que triplicou nos últimos 5 anos, demonstrando a força e importância da modalidade para o gerenciamento do risco no país.

Histórico do seguro de faturamento nos Estados Unidos

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No Brasil, o Seguro de Faturamento foi introduzido em 2010 pela seguradora UBF Seguros (atualmente Swiss Re Corporate Solutions), e na ocasião, o produto era chamado de “Seguro Receita Agrícola”. O seguro era baseado nos produtos previamente desenvolvidos nos EUA, como os seguros de proteção de renda (Income Protection – IP), receita garantida (Revenue Assurance – RA) e no plano de cobertura de receita agrícola (Crop Revenue Coverage). O produto foi aprovado no ano de 2010, e de fato lançado em 2011 em nível experimental. O produto foi ofertado somente a clientes tradicionais da empresa, para a cultura da soja no estado do Paraná, totalizando 10 apólices e prêmios na ordem de R$ 3 milhões. Já em 2011, um segundo produto foi apresentado ao mercado, desta vez pela Companhia de Seguros Aliança

do Brasil (atualmente Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre), denominado comercial- mente como “BB Seguro Agrícola Faturamento”. Esse produto foi distribuído em estados diferentes do produto apresentado pela UBF Seguros. Inicialmente o produto foi lançado apenas para a cultura da soja (em todo o Brasil), e, atualmente o Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre oferece cobertura para as culturas da soja, milho e café. É importante frisar que os produtos mencionados, que serão descritos nas próximas seções, são relativamente recentes no mercado agrícola brasileiro, portanto ainda há poucos relatos sobre seu desempenho e pouca experiência acumulada a respeito. No entanto, é inegável o fato da importância da introdução destes produtos no mercado.

“BB Seguro Agrícola Faturamento” – Grupo Segurador Banco do Brasil e MAPFRE

O produto “BB Seguro Agrícola Faturamento” ofertado pelo Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, por meio do Banco do Brasil, cobre variações na produtividade, em razão de riscos climáticos, mas também variações no preço recebido pelo produto da lavoura segurada. Portanto, o gatilho do produto é dado pela diferença entre “Faturamento Garantido” e o “Faturamento Obtido”.

Histórico do Seguro de Faturamento no Brasil

ASPECTOS HISTÓRICOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SEGURO DE FATURAMENTO

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Destacam-se algumas características desde produto, que serão citados a seguir. Para a aceitação da adesão por parte da seguradora, o produtor deve respeitar o “Zoneamento Agroclimático” divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), utilizar sementes certificadas, a lavoura não pode ser a primeira ou segunda implantada após a abertura/recuperação de cerrados ou pastagens, e também não pode haver consorciação de culturas. Segundo, ao determinar o “Preço Base”, que é o valor de referência da cultura para o cálculo do faturamento esperado, determinado com base nas cotações futuras com vencimento em Maio na BM&FBOVESPA. Para o caso da soja, aplica-se um deságio (percentual redutor) para compensar diferenças do preço futuro e do preço local do produto, em função dos custos de frete, por exemplo. A “Produtividade Esperada” é determinada pela seguradora, em função da cultura e do município, sendo que podem ser utilizados registros de produtividade do produtor, o que deve ser explicitado na apólice. Os “Níveis de Cobertura” disponíveis para o seguro faturamento variam de 60% a 75%, conforme o local, para a cultura da soja. O nível de cobertura determinará qual a porcentagem do faturamento será segurada, portanto, o prêmio a ser pago pelo produtor é maior à medida que se contrata um nível de cobertura maior. Para maiores informações sobre o “BB Seguro Agrícola Faturamento”, o leitor pode acessar este link, http://www.bbseguros.com.br/alianca/rural/bb-seguro-agricola-faturamento.html, disponível no site do Banco do Brasil, que contém as condições gerais do produto.

“Seguro Receita Agrícola” – Swiss Re Corporate Solutions

A Swiss Re Corporate Solutions, seguradora ligada à resseguradora Swiss Re, foi pioneira no mercado de seguro agrícola brasileiro, visto que foi a primeira seguradora a implantar um seguro de receita agrícola em 2010, nos moldes dos produtos existentes nos Estados Unidos, o que fez do Brasil o primeiro país da América Latina a operar tal produto.

ASPECTOS HISTÓRICOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SEGURO DE FATURAMENTO

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O “Seguro Receita Agrícola” oferecido pela Swiss Re Corporate Solutions no Brasil garante a receita ao produtor segurado, para a cultura da soja. Os níveis de cobertura existentes variam de 40 a 70% da Receita Esperada. Diferentemente do produto do Grupo BBMAPPRE, que utiliza como referência de preço para a soja a cotação na BM&FBOVESPA, o “Seguro Receita Agrícola” utiliza para o cálculo da receita esperada, a cotação média da saca de soja, com vencimento em Março, na bolsa de Chicago (CME Group). A média encontrada é então multiplicada pela produtividade média dos últimos 5 anos do produtor, portanto a seguradora utilizada o histórico de produtividade da propriedade como base para o cálculo da receita esperada. Com isso, caso a receita obtida seja menor do que a receita garantida, que será função dos níveis de cobertura citados anteriormente, o produtor receberá a indenização, igual à diferença entre as duas receitas citadas. Assim como para o “BB Seguro Agrícola Faturamento”, o produtor que adere ao “Seguro Receita Agrícola” deve atentar-se para alguns fatores, como a necessidade de utilizar variedades de soja indicadas pelo MAPA, respeitar o período de semeadura determinado pelo Zoneamento Agrícola, utilizar sementes certificadas, realizar o plantio apenas em solos com teor de argila acima de 15%, seguir as boas práticas de manejo em campo, indicadas pela assistência técnica da seguradora, utilizar os insumos adequados, e também possuir um histórico de produtividade de no mínimo 5 safras. Para maiores informações a respeito do produto, o leitor pode acessar o link a seguir: http://www.swissre.com/corporate_solutions-/brasil_seguros/rural.html . Por fim, pode-se perceber a vantagem dos dois produtos descritos anteriormente. O Seguro de Faturamento ou Seguro de Receita, provê estabilidade de renda ao produtor. Com uma renda estável, o agricultor diminui sua inadimplência, o que por sua vez acarreta mais aceso ao crédito, e também permite que o governo não necessite renegociar dívidas com o setor rural, ocasionadas pela instabilidade na renda. Para complementar esta breve descrição desta modalidade de seguro, será realizado um estudo de caso sobre o Seguro Faturamento na próxima seção do BSR, com o objetivo de explicitar ao leitor o mecanismo de funcionamento deste produto.

ASPECTOS HISTÓRICOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SEGURO DE FATURAMENTO

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

Na primeira e terceira edições do Boletim do Seguro Rural, o GESER apresentou dois estudos de caso, um sobre o seguro agrícola de custeio e outro sobre o seguro agrícola de produtividade, ambos para a cultura da soja. Em continuidade a esta série de artigos, esta edição tratará do “Seguro de Faturamento”, também denominado “Seguro de Receita”. Este produto cobre eventuais perdas no faturamento do produtor rural após a colheita, ou seja, são dois os riscos cobertos neste caso: quedas na produtividade ocasionadas essencialmente por eventos climáticos (geada, granizo, chuva excessiva e seca) e também reduções no preço. O estudo de caso proposto para o “Seguro de Faturamento” será novamente para a cultura da soja, para o município de Campo Mourão/PR, para um talhão de 100 ha. Para tal, serão utilizadas as taxas de prêmio de uma seguradora que atua no mercado agrícola paranaense. Assim como para o “Seguro de Custeio” e “Seguro de Produtividade”, ao contratar o “Seguro Faturamento”, a seguradora estipula a “Produtividade Esperada” (PE) para a cultura no município da lavoura. Para a cultura da Soja em Campo Mourão, esta produtividade é de 3.575 kg/ha (aproximadamente 60 sc/ha), de acordo com a seguradora escolhida. Este valor será importante para o cálculo do “Faturamento Esperado” (FE), que é o montante esperado a ser obtido pelo produtor, com a comercialização da soja após a colheita. O “Faturamento Esperado” é obtido a partir da multiplicação de três variáveis: “Área Segurada” (AS), “Produtividade Esperada” (PE) e por fim o “Preço Base” (PB), que é a cotação da saca da soja, determinada na apólice, e obtido pela média das 15 últimas cotações da soja na BM&FBOVESPA (CBM&F), com vencimento em Maio. Suponha-se que o sojicultor contrate o seguro no dia 01/10/2013. Em consulta ao site da BM&FBOVESPA, foram obtidas as seguintes cotações para a cultura da soja, que constam na Tabela 1, bem como a “Taxa de Câmbio” (CAM), PTAX do Banco Central do Brasil, para a conversão das cotações da saca de soja em dólar (US$) para real (R$).

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Tabela 1: Cotação do preço futuro da soja (BM&F) e taxas de câmbio consideradas.

Data Cotação da soja - BM&F

(US$/sc)

Taxa de câmbio – PTAX

(R$/US$)

10/09/2013 US$ 28,15 R$ 2,28

11/09/2013 US$ 28,30 R$ 2,29

12/09/2013 US$ 28,35 R$ 2,28

13/09/2013 US$ 28,09 R$ 2,28

16/09/2013 US$ 27,95 R$ 2,26

17/09/2013 US$ 28,10 R$ 2,26

18/09/2013 US$ 28,00 R$ 2,25

19/09/2013 US$ 27,80 R$ 2,20

20/09/2013 US$ 27,73 R$ 2,21

23/09/2013 US$ 27,55 R$ 2,20

24/09/2013 US$ 27,65 R$ 2,20

25/09/2013 US$ 27,73 R$ 2,22

26/09/2013 US$ 27,55 R$ 2,23

27/09/2013 US$ 27,40 R$ 2,26

30/09/2013 US$ 27,00 R$ 2,23

Média CBM&F = US$ 27,823 CAM = R$ 2,244

Assim, o “Preço Base” é calculado da seguinte maneira:

PB (R$/sc) = CBM&F (US$/sc) × CAM (R$/US$)=27,823 × 2,244 = R$ 62,43/sc No entanto, como o “Preço Base” é dado pelo preço futuro da soja, aplica-se um “Deságio” (DES) neste valor, na forma de um percentual redutor do preço, pois o preço da soja em Campo Mourão é em média menor do que o preço futuro da BM&F. O “Deságio” na região em questão é de 10%. Portanto, tem-se que o “Faturamento Esperado” é dado pelo cálculo a seguir, e tem como resultado R$ 334.779, ou seja, aproximadamente R$ 3.348/ha.

FE (R$) = PE (sc/ha) × PB (R$/sc) × AS (ha) × [1− DES(%)]

FE (R$) = 59,6 sc

ha ×

R$ 62,43

sc × 100 ha × (1 − 10%) = R$ 334.779

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

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Porém, o valor segurado não corresponde ao “Faturamento Esperado”, e sim ao “Faturamento Garantido” (FG), que será uma porcentagem do primeiro, em função do “Nível de Cobertura” (NC) contratado, que pode ser de 60%, 65% ou 70% do “Faturamento Esperado”. Portanto, é possível calcular o FG pela a equação a seguir:

FG (R$) = FE (R$) × NC (%)

Exemplo para NC = 60%: FG (R$) = R$ 334.779 × 60% = R$ 200.867

Desta forma, para os três níveis de cobertura tem-se que o valor obtido para FG será R$ 200.867, R$ 217.606 e R$ 234.345, respectivamente. Na apólice, o produtor poderá encontrar o termo “Limite Máximo de Indenização” (LMI), que equivale ao “Faturamento Garantido”, ou seja, será este o máximo valor recebido pelo agricultor em caso de perda total da lavoura, quando os danos inviabilizam a exploração econômica da cultura. Até aqui, obteve-se os valores garantidos em apólice em caso de contratação do “Seguro Faturamento”. Obter-se-á agora o custo da apólice, chamado de “Prêmio”, que é um percentual do “Faturamento Garantido” que deve ser pago pelo agricultor à seguradora. O “Prêmio” está em função da “Taxa de Prêmio” (TP) do seguro, que é maior na medida em que se eleva o “Nível de Cobertura” requisitado. Nos estudos de caso anteriores, falou-se sobre a subvenção federal para o seguro agrícola, que também ocorre para o “Seguro Faturamento”, garantida pelo “Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural – PSR”. Para a safra 2013/2014, o Ministério da Agricultura estipulou que para a cultura da soja, nas chamadas “Microrregiões Prioritárias”, que é o caso de Campo Mourão, o “Percentual de Subvenção” (PSR) governamental deve ser de 60%. Pode-se dizer assim que, a taxa efetivamente aplicada ao produtor apresenta um desconto de 60% em relação à “Taxa de Prêmio”. Portanto, o “Prêmio pago pelo produtor” (PRP) é dado pelo seguinte cálculo:

Exemplo para NC = 60%:

PRP (R$) = R$ 200.867 × 7,13% x (1-60%) = R$ 5.728

PRP (R$) = FG (R$) × TP (%) × [1−PSR (%)]

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

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A Tabela 2 apresenta as “Taxas de Prêmio” para o “Seguro Faturamento”, bem como os prêmios calculados.

Tabela 2: Taxas de Prêmio para o Seguro Faturamento e Prêmio pago pelo produtor. Conforme explicado no início do artigo, o seguro cobre perdas de duas naturezas: queda na produtividade obtida ou queda no preço recebido. Portanto, feitos os cálculos da importância segurada pelo agricultor, bem como dos custos inerentes à apólice, serão simulados alguns cenários que auxiliarão no entendimento do mecanismo do “Seguro Faturamento”. Segundo informações levantadas no Agrianual 2013, o preço médio da saca de soja no Paraná, considerando os valores monetários atuais, é de R$ 54,71, valor próximo ao “Preço Base” determinado em apólice. Desta forma, no primeiro cenário, suponha-se que ao final da safra 2013/2014, a seguradora verifique na chamada “Data de Execução” do seguro, que o “Preço de Colheita” (PC) (média das 15 últimas cotações da soja na BM&FBOVESPA, anteriores à “Data de Execução”), já aplicado o deságio de 10%, seja igual ao preço médio histórico da saca, R$ 54,71. No entanto, em razão de um veranico, a produtividade obtida (PO), verificada em campo pelo perito, seja de 2.300 kg/ha (≈ 38 sc/ha). Dados estes valores, o “Faturamento Obtido” (FO) pelo produtor será R$ 209.722, conforme cálculo a seguir:

FO (R$) = PO (sc/ha) × PC (R$/sc) × AS (ha)

FO (R$) = 38,33 sc

ha ×

R$ 54,71

sc × 100 ha = R$ 209.722

Nível de

cobertura

Taxa de

prêmio

Taxa de

prêmio com

PSR

Faturamento

Garantido

Prêmio

total

Prêmio

pago pelo

produtor

60% 7,13% 2,85% R$ 200.867 R$ 14.322 R$ 5.728

65% 8,37% 3,35% R$ 217.606 R$ 18.214 R$ 7.285

70% 9,74% 3,90% R$ 234.345 R$ 22.825 R$ 9.130

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

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Com o valor do “Faturamento Obtido” em mãos, pode-se perceber o “gatilho de acionamento” do seguro: caso o “Faturamento Obtido” seja menor do que o “Faturamento Garantido”, o produtor receberá a “Indenização” (I) da seguradora, correspondente à diferença entre FG e FO, como mostra-se a continuação:

I (R$) = FG (R$) − FO (R$), se FO < FG Exemplo para NC = 65%: I (R$) = R$ 217.606 − R$ 209.722 ≅ R$ 7.884

Para este cenário, os resultados podem ser vistos na Tabela 3. Tabela 3: Indenizações recebidas pelo produtor em função do nível de cobertura, para

o primeiro caso analisado. No caso avaliado anteriormente, o produtor seria ressarcido apenas para os níveis de cobertura de 65% e 70%, dado que FO < FG. Considere-se outro caso possível em que a “Produtividade Obtida” (PO) obtida tenha sido próxima à “Produtividade Esperada”, ou seja, PO = 3.100 kg/ha (≈52 sc/ha). No entanto, a saca de soja no período tenha cotação muito baixa, de R$ 43,24, valor bem abaixo da média histórica do estado. Neste caso, o “Faturamento Obtido” seria de R$ 223.407, portanto haveria indenização apenas para o nível de cobertura de 70%, no valor de R$ 10.938 (Tabela 4). Tabela 4: Indenizações recebidas pelo produtor em função do nível de cobertura, para

o segundo caso analisado.

Nível de cobertura Faturamento

Garantido

Faturamento

Obtido Indenização

60% R$ 200.867 R$ 223.407 -

65% R$ 217.606 R$ 223.407 -

70% R$ 234.345 R$ 223.407 R$ 10.938.

Nível de cobertura Faturamento

Garantido

Faturamento

Obtido Indenização

60% R$ 200.867 R$ 209.722 -

65% R$ 217.606 R$ 209.722 R$ 7.884

70% R$ 234.345 R$ 209.722 R$ 24.624

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

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Com esta edição do BSR, o GESER apresentou os principais produtos de seguro agrícola para a cultura da soja, o “Seguro de Custeio”, “Seguro de Produtividade” e o “Seguro Faturamento”. Sem dúvida, o produto apresentado nesta edição é um avanço no mercado segurador brasileiro, pois é o tipo de seguro que melhor atende às necessidades do campo. No entanto, alguns avanços ainda são necessários no aperfeiçoamento do “Seguro Faturamento”, tais como, a garantia dos valores destinados ao Programa de Subvenção do Governo Federal, que tornará as taxas mais atrativas ao produtor e que possibilitem a massificação do seguro. Além disso, níveis de “Produtividade Esperada” que melhor se adequem à realidade dos produtores. É comum ouvir de produtores rurais que as produtividades adotadas pelas seguradoras são baixas em comparação ao que se obtém em campo, o que torna muito baixo o “Faturamento Garantido” na apólice, aquém das necessidades reais. Em caso de dúvidas a respeito de qual o seguro melhor atende às suas necessidades, o corpo técnico do GESER encontra-se a disposição para auxiliá-lo na sua escolha. O contato pode ser realizado por meio de nossos contatos, ao final do boletim.

ESTUDO DE CASO – SEGURO FATURAMENTO EM CAMPO MOURÃO/PR

Quais são as principais vantagens e desvantagens do seguro de faturamento para o produtor em relação ao seguro agrícola de custeio e produtividade? R.: As principais vantagens são no caso de uma eventual oscilação dos preços das culturas seguradas (soja, milho e café) e também do dólar para aquelas culturas que são ofertadas nesta moeda, além de contar com cobertura para todas as intempéries climáticas. A desvantagem é por se tratar de um seguro novo no mercado os segurados, ainda não tem todo o conhecimento, isto dificulta a massificação deste seguro. Como tem sido a reação dos produtores rurais perante esta nova opção de seguro? R.: Estamos com uma boa receptividade por parte dos produtores, em especial pelos riscos cobertos (preços + clima). Os ajustes constantes no produto a cada ciclo agrícola a pedido dos próprios produtores vem aumentando esta satisfação. Em termos gerais, quais são os principais entraves para uma maior adesão ao seguro de faturamento por parte do produtor, e como solucionar esses entraves? R.: O principal entrave é o desconheci-

mento deste seguro e a solução é investir em uma maior divulgação para na sequencia conseguir a massificação deste seguro. Atualmente o seguro de faturamento é ofertado para as culturas da soja, milho e café. Existem planos para a expansão da carteira para outras culturas agrícolas? Quais seriam estas culturas? R.: Nosso principal plano para os próximos anos é fortalecer a contratação das culturas em que operamos, mas não podemos descartar que novas culturas possam fazer parte deste seguro. Hoje não temos esta cultura especifica para esta expansão. Como visualiza o mercado de seguro de faturamento nos próximos 5 anos? R.: Crescente. Em especial se trabalharmos em uma maior divulgação ao produtor rural, e novas seguradoras entrarem nesta nova modalidade de seguro. Como reagiu o mercado ressegurador com a criação do seguro de faturamento? R.: Muito bem. Hoje contamos com o apoio integral e irrestrito dos ressegurradores para pulverização e massificação deste seguro.

Daniel Rascikevicuis do A. Nascimento

Gerente de Agronegócios do Grupo BB&MAPFRE

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Notícias em Destaque

MAPA define subvenção para seguro de culturas de inverno O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) fixou na Segunda feira 25 de novembro de 2013 o percentual de subvenção ao prêmio do seguro rural para as culturas de inverno da safra 2014, válidas em todo o território nacional: a) 70% para o trigo; b) 60% para o milho safrinha e demais culturas de inverno (aveia, canola, cevada, centeio, triticale).

Fonte: Revista Apólice

R$ 230 milhões para o seguro rural O Congresso Nacional aprovou na Quinta 21 de novembro de 2013, 12 projetos de lei que autorizam o governo federal a abrir créditos suplementares ou especiais que, somados, atingem R$ 4 bilhões. O maior valor, de R$ 230 milhões, é para subsidiar o pagamento de seguro rural por 31 mil produtores do país.

Fonte: http://www.sonhoseguro.com.br

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Faesc consegue igualdade para SC no subsídio do seguro agrícola No mês de agosto, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) repudiou veementemente a medida do Governo Federal em subsidiar apenas 40% do valor do seguro agrícola para os produtores catarinenses, enquanto os agricultores dos estados vizinhos do Paraná e Rio Grande do Sul recebiam 60% de subsídio. Ao final do mês de outubro, o presidente da Faesc, recebeu um comunicação oficial sobre a decisão do Governo de igualar o subsídio: agora, os produtores rurais catarinenses também terão subsídio de 60%.

Fonte: Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina

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O II Seminário internacional de Seguro Rural organizado pelo Grupo GESER- Gestão em Seguros e Riscos (ESALQ/USP) e pela Resseguradora Munich Re, realizado em Piracicaba nos dias 28 e 29 de outubro de 2013, teve por objetivo discutir estratégias do setor público e privado para o desenvolvimento do seguro rural com base nas prioridades dos agentes produtivos. O evento reuniu representantes do setor produtivo, seguradoras, resseguradoras, além de representações de diversos governos estaduais e do governo federal. No primeiro dia do evento as palestras foram ministradas pelo ex-Ministro da Agricultura, e atual Presidente da Abramilho, Sr. Alysson Paolinelli e pela Presidente do American Farm Bureau Federation e consultora, Sra Mary Kay Thatcher. Já no segundo dia apresentaram-se quatro palestras e dois painéis. Os palestrantes do evento foram: José Carlos Zukowski (Coordenador Geral de Gestão de Riscos e Seguro Rural-Ministério do Desenvolvimento Agrário); Francisco Simioni (Diretor do Departamento de Economia Rural – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná – DERAL/SEAB); o Prof. Dr. S.A.C. Geraldo Barros (Coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA), e o chefe do Departamento Econômico da FAESP, Sr. Cláudio Brisolara. Por outro lado, os panelistas foram: Francisco Simioni (Diretor do Departamento de Economia Rural – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná – DERAL/SEAB), Tiago Modesto Carneiro da Costa (Diretor da Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente do Tribunal de Contas da União), Eduardo José Godoi (Gestor do Núcleo Técnico e Projetos da FAMATO), Elmar Konrad (Diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul - FARSUL) e Rosemeire dos Santos (Superintendente Técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA).

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Sr. Alysson Paolinelli Na palestra de abertura, o Sr Alysson Paolinelli falou sobre o Proagro e sua importância como um seguro de crédito. O ex-Ministro reconheceu a importância do Proagro como parte da política agrícola do Governo Federal para os pequenos produtores. Neste contexto, o ministro enfatizou o papel central que o governo deve exercer na gestão dos recursos para a administração do risco agrícola, visto que o Brasil, em comparação a outras economias, tem o ambiente propício para o desenvolvimento do seguro rural. Por fim, o ex-Ministro destacou o papel central do seguro de renda. O ex-Ministro também mencionou a implantação de um fundo de catástrofe no Brasil, que auxiliaria na redução das taxas de prêmio.

Sra Mary Kay Thatcher A Sra Mary Kay Thatcher falou sobre a bem sucedida experiência norte-americana na implantação e massificação do seguro rural. Em sua apresentação enfatizou o papel do seguro de renda para os produtores de milho nos EUA, mais utilizado do que o seguro de produção. A Sra. Kay, também enfatizou o papel da parceria público-privada na construção do seguro agrícola nos

RESUMO DAS PALESTRAS DE ABERTURA

Estados Unidos e na divisão dos riscos, o que garantiu estabilidade para todo o setor do agronegócio americano. Como sucesso deste programa, tem-se o exemplo da seca ocorrida em 2012 naquele país, a mais severa nos últimos 50 anos, cujos prejuízos no campo foram mitigados pelo seguro agrícola.

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RESUMO DAS PALESTRAS DO SEGUNDO DIA DE EVENTO

Na primeira palestra do dia foram abordados os detalhes técnicos do Proagro Mais, Programa Garantia Safra e o seguro da agricultura familiar (SEAF). O programa Garantia-Safra destinado a agricultores familiares na linha de pobreza com foco no semi-árido nordestino tem tido vários avanços em relação à safra 2012, tais como laudos eletrônicos de verificação de perdas, modelos agronômico-meteorológico de estimativas de perdas, pagamento por meio do cartão cidadão, inclusão de chuva excessiva e pecuária no rol de eventos cobertos, aumento do valor do benefício e o

AVANÇOS TÉCNICOS, PANORAMA E TENDÊNCIAS PARA O SEAF E O GARANTIA SAFRA José Carlos Zukowski

aumento no número de adesões. O Sr. Zukowski destacou o papel social importante que o programa Garantia-Safra desenvolve, pois garante uma renda básica necessária para sobrevivência do produtor em casos de ocorrência de eventos adversos.

O PROGRAMA DE SUBVENÇÃO AO PRÊMIO DE SR NO ESTADO DO PR - Francisco Simioni

O Sr. Francisco Simioni abordou em sua apresentação os avanços ocorridos no programa de subvenção estadual e a expectativa de operacionalização para o ano safra 2013/2014 e um horizonte até a safra 2017/2018 no Estado do Paraná. Em sua palestra, o Sr. Simioni explicou que as características da subvenção estadual no Paraná. Além disso, explicou como será o novo fluxo operacional adotado pelo SEAB em relação ao novo formato de credenciamento das seguradoras, que visa a partir de 2013, estabelecer convênios de longo prazo com as seguradoras visando dar mais celeridade ao processo.

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RESUMO DAS PALESTRAS DO SEGUNDO DIA DE EVENTO

O Prof. Geraldo Barros fez uma revisão do conceito de agronegócio e da perspectiva sobre a qual o produtor deve olhar sua propriedade, indicando que este deve tratá-la como um projeto, usando indicadores econômicos. Partindo deste ponto de vista, foram reavaliados os conceitos de patrimônio e como este deve ser operacionalizado, de modo a maximizar o valor do patrimônio para o produtor.

Foram apresentadas metodologias de cálculo para avaliação das atividades e como estas impactam o valor do patrimônio, indicando se o agricultor deve permanecer na atividade ou vender sua propriedade. A seguir foi apresentado um estudo de caso, simulando diferentes usos para uma propriedade de 2400 ha em Campo Novo do Parecis. Como conclusão deste estudo obteve-se que, quanto maior a diversificação das atividades, menor o risco da propriedade mostrar-se não rentável e o produtor ficar inadimplente.

RENTABILIDADE E RISCO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Prof. Dr. Geraldo S. A. C. Barros

O Dr. Cláudio Brisolara iniciou sua apresentação relatando os principais riscos na agropecuária e a importância do seguro rural como mecanismo de mitigação desses riscos. Apresentou também a evolução do PSR, destacando o aumento do valor segurado, do número de produtores atendidos e do valor previsto pelo plano trienal. Em sua palestra, Sr. Brisolara evidenciou alguns problemas do PSR

como o incumprimento da programação do Plano Trienal por parte do governo e a falta de estabilidade jurídica. Nesta apresentação destacaram-se estratégias para o fortalecimento do PSR, por exemplo: formalização da Comissão Consultiva do Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural, fomentar a criação de programas de subvenção em Estados e/ou municípios, fomentar novos planos de seguro e inclusão das despesas com o PSR nas dotações orçamentárias das Operações Oficiais de Crédito.

A VISÃO DO SETOR PRODUTIVO PARA AS NOVAS REGRAS DO PROGRAMA DE SEGURO RURAL (PSR) – Claúdio Brisolara

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RESUMO DOS PAINÉIS REALIZADOS NO SEGUNDO DIA DE EVENTO

O Painel 1 teve por objetivo discutir a política de gestão de risco rural no país, pela

ótica dos diversos órgãos federias e estaduais. Os integrantes da mesa foram: Sr.

Francisco Simioni, Sr. Jose Carlos Zukowski e o Sr. Tiago Modesto. Foi realizada uma

pergunta comum para todos os integrantes da mesa: qual deveria ser o melhor modelo

de política de gestão de risco? As respostas incluíram as seguintes percepções:

melhorar a infraestrutura de gestão de risco, especificamente em radares, estações

meteorológicas; mais apoio do seguro privado; implementação do monitoramento via

análise georeferencial, implementação de um novo modelo (uma evolução para o

seguro de renda. - lei do fundo de catástrofe, etc). Já o Painel 2, conformado pelo Sr.

Alysson Paolinelli, Sr. Eduardo Godoy (FAMATO), Sr. Elmar Konrad (FARSUL) e a Sra.

Rosemeire dos Santos (CNA), teve por objetivo discutir a política de gestão de risco

rural no país, pela ótica dos produtores.

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Como visto nos resumos anteriores, no Brasil ainda existe um longo caminho para percorrer no melhoramento das políticas voltadas à gestão do risco rural usando a ferramenta do seguro. Porém, eventos como o II Seminário Internacional de Seguro Rural são de extrema importância para o Setor, pois dinamizam o diálogo entre os principais agentes envolvidos neste mercado. Finalmente, em nome dos organizadores do evento: Grupo GESER e Resseguradora Munich Re, agradecemos a participação tanto dos palestrantes/panelistas como dos convidados.

De esquerda para direita: Daniela Márcico (Munich Re); Henrique Cyrineu Tresca (GESER ESALQ/USP); Gislaine Vieira Duarte (GESER ESALQ/USP); Monique Monah Moreira (GESER ESALQ/USP); Eduardo Passarelli (GESER ESALQ/USP); Adriano Lenin Cirilo de Carvalho (GESER ESALQ/USP); Lambert Muhr (Munich Re); Mary Kay Thatcher (American Farm Bureau Federation); Vitor Ozaki (Coordenador GESER ESALQ/USP); Konrad Mello (Munich Re); Carlos Andrés Oñate (Vice-Coordenador GESER ESALQ/USP); Jochen Burchard (Munich Re); João Gomes Martines Filho (Docente da ESALQ/USP); Lethicia Magno M. de Almeida (GESER ESALQ/USP); Vanessa Siqueira Ribeiro (GESER ESALQ/USP); Luiz Guilherme Fagotti (GESER ESALQ/USP); Daniel Lutzenberger Ruiz (GESER ESALQ/USP); Daniel Lima Miquelluti (GESER ESALQ/USP).

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