revista memória e linguagens culturais - ano 1 - nº 3 - 2013
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Revista Memóriae
Linguagens Culturais
Revista Memóriae
Linguagens Culturais
Revista Memóriae
Linguagens Culturais
Ano 1 - Nº 3 - 2013
M
OBILIDADES
CULTURAIS
Programa de Pós-Graduação em
Memória Social e Bens Culturais
Equipe de Produção deste número:
Coordenadores Profa. Dra. Zilá Bernd
Profa. Dra. Luciana Éboli
Redatores Alunos da Disciplina de Mobilidades
Culturais - 2012/2
Revisão, Arte, Diagramação Anajara Carbonell Closs
Foto da Capa Luciano Lunkes
s sociedades contemporâneas são profundamente marcadas por toda sorte de Amobilidades, que ocorrem no espaço e no tempo, através de deslocamentos, de movimentos migratórios, de diásporas e exílios muitas vezes traumáticos causados por guerras, conquistas, disputas territoriais ou necessidades de buscar novos mercados ou novas paisagens culturais.
sses trânsitos e passagens migratórias trazem importantes consequências Eeconômicas, linguísticas e culturais, fazendo surgir novas culturas e literaturas que vêm sendo por alguns denominadas de “migrantes” e, por outros, de trans-nacionais, por atravessarem fronteiras e espaços geopoéticos. Característica marcante dessas literaturas, que apresentam dois horizontes culturais distintos (o do país de origem dos escritores e o do país de eleição para viverem): seu caráter necessariamente híbrido e heterogêneo.
mesma dicotomia amplia-se aos demais campos culturais das sociedades Acontemporâneas, nas quais novos arranjos e possibilidades sociais traduzem as conseqüências das mobilidades e hibridações, confrontam identidades e propõem novos espaços de cultura. Dessa forma, os textos que aqui se apresentam são resultados da análise dessas consequências, nos mais variados aspectos da sociedade: nas questões de Exílio, Nomadismo e Sincretismo Religioso; nos exemplos de Mobilidades; nas Multi, Inter-culturalidades e na Transculturação.
djacentes a esse universo das Mobilidades Culturais, as questões de identidade Aapontam para a multiplicidade de significações e representações culturais, nas quais o processo de identificação dos sujeitos participantes torna-se provisório e variável. A identidade, nas palavras de Stuart Hall, torna-se uma 'celebração móvel' que transforma continuamente suas representações, através dos sistemas culturais e dos deslocamentos.
presente número da Revista Memória e Linguagens Culturais traz importante reflexão Osobre diversas formas de mobilidade transcultural, pontuadas por processos contemporâneos de diásporas, migrâncias e nomadismos – temas fundamentais para entender as aceleradas transformações sociais tão características deste século XXI.
Professoras da disciplina: Mobilidades Culturais
Zilá Bernd
Professora e orientadora do PPG-Letras/UFRGS, do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle. Bolsista PQ/Cnpq. Autora de vários livros nas áreas de literatura e cultura afro-brasileiras, literaturas da francofonia, relações literárias inter-e trans-americanas.
Luciana Éboli
Graduada em Artes Cênicas - UFRGS, Mestre e Doutora em Letras - PUCRS. Professora Permanente do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle/Canoas.
Editorial
1 – Nomadismo: uma reflexão sobre a figura do malandro........05Hirã Soares Justo
2 – O exílio no exílio de Emeric....................................................09Anajara Carbonell Closs, Helenice Christaldo e Miguel Ângelo Ribeiro
3 – Fronteiras dos espíritos na África Central.............................13Rosângela Gomes da Silva
4 – Mobilidade acadêmica: vivência mexicana em Canoas.......17Jacira Gil Bernardes e Elianara Corcini Lima
5 – Transculturação: o movimento Hip-Hop em questão...........21João Bosco Torres Santos, Luciano Lunkes e Raquel Gabriela Willms
6 – Multi e inter – culturalidade: Canadá e Quebec.....................26Fabiana Pereira Rosa e José Carlos Walter
Sumário
m seu texto "Entre o passado e o Efuturo", a filósofa alemã, Arendt
(1972, p.41) afirmava "Meu pressuposto é
que o pensamento emerge de incidentes
da experiência viva e a eles deve
permanecer ligado, já que são os únicos
marcos por onde pode obter orientação."
É um desses pequenos fragmentos da
vida que este texto pretende colocar em
discussão: a figura do Malandro e o papel
que ele representa no imaginário
brasileiro, em especial nas grandes
metrópoles ligando-o ao conceito de
nomadismo definido por Maffesoli (2001)
que atr ibui a esses personagens
nômades, a função social de construção
de vanguardas culturais que impulsionam
a vida de todos os povos.
esses elementos extraídos de Dnossas experiências, temos que
destacar também o papel dos símbolos
que possuem o sentido que os homens
vão redescobrindo, sendo desvelados
pe la cr í t ica e pe la mani fes tação
intelectual humana. Ricoeur (1978)
argumenta que toda estrutura de
significação tem um sentido direto,
primeiro, literal que designa, e por
acréscimo, outro sentido indireto,
secundário, figurado, que só pode ser
aprendido através do primeiro.
imag iná r i o b ras i l e i r o es tá Opermeado de do is s ímbolos
tradicionais: o trabalhador, conhecido
como “Mané” ou “Caxias” e o seu contra-
ponto o Malandro, o “esperto”, tantas
vezes retratado, nas peças culturais
populares, na música, na poesia, no
teatro, na literatura, no cinema e em
diversas outras manifestações sociais da
memória coletiva, inclusive nas religiões
de matriz afrodescendentes.
percorrendo os muitos caminhos Ptraçados pelo malandro na memória
do povo brasileiro, principalmente no
imaginário daqueles trabalhadores de
or igem humi lde e desfavorecidos
socialmente, vamos encontrá-lo como
descrito, poeticamente, por Zé Keti na sua
música “Diz que fui por ai”: “em qualquer
esquina eu paro, em qualquer botequim
eu entro, e seu houver motivo é mais um
samba que faço...”.
Nomadismo: uma reflexão sobre a figura do malandro
Zé Pelintra
o indivíduo tende se mais conservador,
estático, comedido. Na rua, por outro
lado, aceita que todos devem ser tratados
de forma igual, de modo a manter a ordem
que teme não existir na rua.
contraste entre os dois conceitos é Oclaro: a casa é o espaço da família,
do diálogo, da afetividade. A rua é o
e s p a ç o d a i m p e s s o a l i d a d e , d o
isolamento. A casa é o espaço da ordem
enquanto a rua o reino da liberdade. A
casa, sobretudo, fala de relações
harmoniosas e quando “somos postos
para fora de casa”, acabamos por
relacionar a rua como expulsos para o
mundo - regidos por regras e leis
impessoais que estamos submetidos a
cumprir. A rua e seus espaços são lugares
do anonimato, da “consequência dos
seus atos” e por isso, tendemos a
relacioná-la a um espaço de risco.
laro, temos casos onde a casa Cinvade a rua e vice-versa. Onde a
ordem é substituída por outras lógicas
como é o caso do Carnaval, do Bumba
Meu Boi, dos Festejos Juninos e de tantas
outras festas populares, onde o coletivo e
o privado fazem trocas e formam novos
comportamentos e atitudes.
affessoli (2001) vai contribuir para Ma discussão da articulação da
figura do malandro, do vagabundo, do
errante ao contrapô-los à referência
do homem fixo, preso a um
determinado espaço. No contraditório
nomadismo—sedentarismo se expressa
um paroxismo, ganhando a forma de
u m a e s p é c i e d e " e n r a i z a m e n t o
dinâmico". É um sinal do sentimento
trágico da existência: nada finda numa
superação sintética, tudo transcorre em
tensão, na incompletude permanente. E,
segundo esse autor, "ainda será preciso
que os dois polos dessa ambivalência
possam se articular harmoniosamente".
Tendo se tornado preponderante na
modern idade, o sedentar ismo, a
territorialização individual (identidade) ou
social (instituição) estariam dando lugar
ao nomadismo e à errância. A pós-
modernidade se caracterizaria assim,
entre outras coisas, pela mobilidade e
pelo nomadismo. Maffesoli acredita que a
errância e o nomadismo, sob diversas
variações, tornam-se um fato cada vez
mais evidente e semeiam os elementos
da contradição que farão nascer o novo, o
inesperado e o coletivo.
“quando ‘somos postos
para fora de casa’,
acabamos por relacionar a
rua como expulsos para o
mundo”
o nosso malandro? Errante, avesso Eà ordem, libertário, representação
de muitos anseios humanos, não é esse
profeta que anuncia uma nova era, de
novos valores? Não é na rua onde pulsa
a vida, que se manifesta a contradição e
tenciona a construção de uma nova
síntese?
os ritos africanos vamos encontrá-Nlo na figura do seu “Zé”, de muitos
nomes: Zé Pelintra, Zé Malandrinho, Seu
Malandro, Malandro das Almas, Zé da
Brilhantina, Malandro da Madrugada, Zé
Malandro, Zé Pretinho, Zé da Navalha, Zé
do Morro, Malandro Miguel, Malandro da
Noite, e tantos outros. Apresenta-se
também nas representações femininas
da malandragem - Maria Navalha é uma
delas. Manifesta-se com características
semelhantes aos malandros, dança,
samba, bebe e fuma da mesma maneira.
Apesar do aspecto forte e decidido,
demonstram sempre muita feminilidade,
são vaidosas, gostam de presentes
boni tos, de flores pr inc ipalmente
vermelhas. Segundo a crença popular,
Maria Navalha recebeu a missão de voltar
à terra para defender as mulheres traídas
e mal amadas.
xaminando as cantigas, de tradição Eoral, entoadas para essas entidades
para a sua manifestação vemos como
recorrentes as expressões de aversão ao
trabalho “Trabalhar, trabalhar para quê?
Se eu trabalhar eu vou morrer” - como
neste “ponto” de Zé Pelintra. O uso de
armas brancas: punhal, navalha, faca e o
uso de golpes de capoeira, a bebida em
excesso e a noite como substituta do dia,
a rua em contraposição ao lar, todos
elementos de profundo significado
sociológicos.
m tipo boêmio, errante, avesso às Uregras estabelecidas, amigo dos
amigos, implacável com os desafetos,
sempre disposto a cometer pequenos
delitos para ganhar a vida em mais um dia
que passa. Para o malandro não existe
futuro, vive o seu cotidiano como se fosse
tudo que possuísse. Não que não se
vanglorie de um que outro feito do
passado, de um otário vencido ou de uma
mulher conquistada. Al iás, a vida
romântica para ele é tão sem regras como
seu código de conduta: bebe, chora,
perdoa, mata e morre por seus amores.
Apresenta uma vestimenta particular,
terno branco, camisa listrada, sapato de
duas cores, chapéu e às vezes um
canivete no cinto e uma navalha no bolso.
“Trabalhar, trabalhar
para quê? Se eu
trabalhar eu vou
morrer”
antropólogo DaMatta (1981) Ocoloca os tipos do malandro e do
caxias (em alusão ao patrono do exército
brasileiro) em um continuum que vai da
ordem à desordem ainda que com
diversos matizes coloridos que vão se
estabelecendo em uma complexidade
que vai do mundo do carnaval a
malandros e heróis.
m outra obra, Da Matta (1997) Eassinala as diferenças entre a casa
e a rua como espaços muito além dos
físicos, conceitos muito mais amplos e
repletos de significados. Afirma que o
conjunto de valores de um indivíduo varia
radicalmente conforme o contexto em que
ele se encontra: no ambiente de sua casa,
REFERÊNCIAS
ARENDT, HANNAH. Entre o passado e o
futuro. São Paulo: Editora Perspectiva,
1972.
DAMATTA, Robe r to . Carnava i s ,
malandros e heróis: para uma sociologia
de dilema brasileiro. Rio de Janeiro:
Zahar, 1981.
_______. A casa e a rua: Espaço,
cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio
de Janeiro: Rocco, 1997.
M A F F E S O L I , M i c h e l . S o b r e o
Nomadismo: vagabundagens pós-
modernas, Rio de Janeiro: Record, 2001.
RICOEUR, Paul . O confl i to das
interpretações. Rio de Janeiro: Imago,
1978.
XANGO, C. Malandros. Acesso em 30 de
10 de 2012, disponível no blog da Casa de
Caridade Pai Joaquim de Angola:
http://casadecaridadepaiserafim.blogspo
t.com.br/2008/10/malandros-nesta-
apostila-vamos-falar-de.html
Autor:
Hirã Soares Justo
MBA em Marketing - UCS Especialista em Gestão PUC/RS Especialista em Ges tão de Pessoas - FTC/BA . Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE
rocura-se refletir sobre um tipo de Pmobilidade cultural, em especial o
exílio, como um importante fator na
construção das artes em nosso país: o
exílio de artistas e, em especial, o de
Emeric Marcier (1916 –1990), pintor
romeno que escolheu o Brasil como
refúgio e território para a criação de suas
obras.
o século XX, entre as duas Grandes NGuerras, houve uma série de
movimentos migratórios de artistas por
todo o mundo. O Brasil revelou-se uma
boa destinação para quem procurava
uma certa tranquilidade para viver em
segurança e para desenvolver sua arte,
em meio aos conflitos armados.
m função da situação estabelecida, Eo exílio se configurou como uma das
mobilidades culturais presentes naquele
contexto, pois se na Primeira Grande
Guerra o principal motivo era econômico,
na Segunda, a tentativa da eliminação de
p o v o s e m i n o r i a s f o r ç o u e s t a
m o v i m e n t a ç ã o e m b u s c a d a
autopreservação. Essas migrações ou
mobilidades tiveram por consequência
uma maior interação entre as culturas,
p r o p o r c i o n a n d o u m c a r á t e r d e
hibridização às artes.
exílio tem origem na antiga prática Odo banimento, que conferia ao
banido o estigma de forasteiro, de
indivíduo apartado de sua terra, da sua
gente, do seu passado. Uma perda de
territorialidade e de pertença, assume o
lugar de uma identidade até então
estabelecida. Conforme Said (2003), “é
uma fratura incurável entre um ser
humano e um lugar natal, entre o eu e seu
verdadeiro lar: [...] sua tristeza essencial
jamais pode ser superada.” Porém, o
autor apresenta uma diferença entre a
prática exilar do passado e dos dias
atuais:
[...] a diferença entre exilados de outrora e os de nosso tempo é de escala [...] nossa época, com a guerra moderna, o imperialismo e as ambições quase teológicas dos governantes totalitários, é, com efeito, a era do refugiado, da pessoa deslocada, da imigração em massa. (SAID, 2003, p.46)
A trajetória
pintor e muralista nasceu em Cluj, ORomênia, em 1916 e faleceu em
1 9 9 0 , e m P a r i s . N o p e r í o d o
compreendido entre 1935 a 1937 Marcier
estudou na Realle Accademia delle Belli
Arti de Brera, em Milão e em 1939 cursou
escultura na École Nationale Superieure
des Beaux-Arts, em Paris. Até os 24 anos
já havia percorrido importantes circuitos
artísticos europeus. A ascendência
judaica o levou também a Lisboa na
esperança de obter um passaporte que
lhe permitisse fugir do nazismo. Na capital
portuguesa recebeu três cartas de
O Exílio no Exílio de Emeric
o escritor José Osório de Oliveira. Com
estas cartas, viajou para o Brasil e já na
sua chegada, em 1940, ficou encantado
com as belezas naturais do Rio de
Janeiro, com suas cores e composição
entre a serra e o mar, paisagens que o
marcaram e forneceram material para as
suas primeiras exposições na Capital do
Brasil.
o Rio de Janeiro, influenciado pelo Ncírculo de artistas que frequentava,
passou a ter uma aproximação com o
ambiente católico tradicional. Começou a
frequentar a missa nas igrejas do Rio,
levado por Jorge de Lima e Murilo
Mendes, escritores católicos. Esses
rituais o emocionavam e vieram a se
refletir em sua obra; essa influência levou
Marcier ao batismo na Igreja católica e
marcou uma profunda mudança em sua
arte – tornou-se, então, um expressivo
pintor sacro, trabalhando em igrejas do
Rio e de São Paulo, utilizando técnica de
afresco.
m contrapartida, a guerra seguia na EEuropa e a invasão de Paris pelos
alemães trouxe para o Rio um grande
contingente de artistas, entre os quais
velhos conhecidos de Marcier, todos
fugindo de uma situação caótica e
violenta, caracterizando um exílio forçado
ou espontâneo.
m 1945, com a Alemanha derrotada, Eabriu-se a perspectiva da volta à
Europa; Marcier, porém, decidiu ficar no
Bras i l e em 1950 natura l izou-se
brasileiro.
O exilado sabe que, num mundo secular e contingente, as pátrias são sempre provisórias. Fronteiras e barreiras, que nos fecham na segurança de um território familiar, também podem se tornar prisões e são, com frequência, defendidas para além da razão ou da necessidade. O exilado atravessa fronteiras, rompe barreiras do pensamento e da experiência. (SAID, 2003, p.59)
artista que se converteu ao Ocatolicismo, exilando-se das suas
raízes judaicas, também fez isso na sua
arte, ao não integrar nenhuma corrente
artística brasileira. Na condição de
católico, criou uma importante obra sacra
em igrejas, capelas, hospitais, conventos
e seminários. Segundo Batista (2002),
Marcier construiu um exílio dentro da terra
do exílio, afastando-se totalmente da
sociedade artística e cultural.
Foto: Acervo de Mathias Marcier (filho)
os anos seguintes, Emeric sente a Nnecessidade de romper seu
isolamento e monta um atelier em
Montparnasse, estabelecendo sua volta
ao circuitos europeus e artísticos. Nesse
momento o artista rompe com sua
identificação sacra e, mais uma vez muda
seu foco, mostrando na arte toda essa
transculturação geográfica e espacial que
viveu.
e retorno ao Brasil e com um novo Datelier no Leblon, começam a surgir
convites para exposições na mesma
m e d i d a e m q u e d i m i n u í a m a s
encomendas por afrescos - suas obras
começam a fazer parte de coleções
importantes e os valores dos seus
quadros atingem vultosos valores.
om o início do regime militar e seu Cposterior endurecimento, Marcier
vai para outro exílio, desta vez em Paris.
Nesta época mais uma vez suas criações
trocam de objeto, passando para o nu,
numa clara fase erótica. Para Emeric
Marcier as fronteiras geográficas e
p i c t ó r i c a s e s t ã o e m c o n s t a n t e
mobilidade, os percursos espaciais
traduzem-se em novos rumos à sua arte.
No fim das contas, o exílio não é uma questão de escolha: nascemos nele, ou ele nos acontece. Mas, desde que o exilado se recuse a ficar sentado à margem, afagando uma ferida, há coisas a aprender: ele deve cultivar uma subjetividade escrupulosa (não complacente ou intratável) (SAID, 2003, p.57)
o início dos anos 80, Marcier ainda Npode vivenciar seu sucesso com
uma série de exposições no Brasil e no
e x t e r i o r , m a s a p e s a r d e s s e
reconhecimento, o artista sentia-se um
deportado, um colecionador de exílios
(Baptista,2002), seja pela guerra, seja
pelo isolamento artístico - sua obra não se
relacionava com a arte local, mas sim com
as impressões que o país lhe causava. O
exilado não pertence ao país que o acolhe
e já não pertence ao país de origem, o
isolamento de Marcier na própria arte foi o
elemento que tornou possível o exílio e a
ruptura com sua origem e uma nova
identidade a ser construída.
Lava pésobra que marca sua fase religiosa
“O exilado não
pertence ao país que
o acolhe e já não
pertence ao país de
origem”
Segundo Said (2003), é impossível o
exilado retornar ao seu país de origem,
pois não se volta verdadeiramente para
casa, já que essa nunca será a mesma da
partida.
O exílio, a diáspora, os percursos que acabam por se configurar em mobilidades culturais também atuam como “places de passage, de construção e reconstrução de significados que são posicionais e relacionais, sempre em deslize ao longo de um espectro sem começo ou fim (HALL,2003, p.33)
condição de exilado, vivida por AEme r i c Ma rc i e r, n ã o t r o u xe
prejuízos ao seu talento artístico. Ao
contrário, suas percepções criativas
captaram desde logo a sua jornada no
exílio. Apesar de estrangeiro, mas
naturalizado brasileiro, transformou-se
num artista respeitado e reconhecido por
sua técnica, nas diferentes fases de seus
trabalhos. Marcier seguiu reinventando
sua identidade, adaptando e moldando-
se ao fluxo da vida na sociedade que
escolheu. Ele foi o produto desta vida
errante, cheia de idas e vindas, de terras
desconhecidas e conhecidas de um
artista que fez do exílio o fruto de sua
inspiração.
Referências
BAPTISTA, Anna Paola Pacheco. Arte no
Exí l io . Revis ta de H is tór ia , em
2 3 . 0 4 . 2 0 0 8 . D i s p o n í v e l e m :
http://www.revistadehistoria.com.br/seca
o/retrato/arte-no-exilio Acesso em: 11 de
Nov. 2012
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e
mediações culturais. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2003.
SAID, Edward W. Reflexões sobre o
exílio. In: Reflexões sobre o exílio: e
outros ensaios. Trad. Pedro Maia Soares.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003,
p.46-60.
Autores:
Anajara Carbonell Closs
Helenice Christaldo
Miguel Angelo Ribeiro
P r o d u t o r a C u l t u r a l d a F A B I C O - U F R G S . Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
G r a d u a d a e m A d m i n i s t r a ç ã o d e Empresas pela PUCRS. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Graduado em Comunicação S o c i a l p e l a U F R G S . Mestrando em Memória Social e B e n s C u l t u r a i s - UNILASALLE.
historiadora portuguesa Isabel ACastro Henriques (2012)¹, ao
pesquisar os povos da África Central,
observou que os caminhos criados na
busca de melhores espaços de vivências
e trocas ou, como resultado das cisões
políticas, levaram a um processo cultural
que denominou de “ve io in te rno
imaginário”, responsável por manter a
“unidade da espécie” e dar legitimidade à
estrutura social, servindo de suporte à
autonomia e independência nacional.
nquanto no plano geográfico e Epolítico as fronteiras mundiais estão
demarcadas, resguardando soberanias e
poderes, no campo cultural há a fluidez
que u l t rapassa essas ba r re i ras ,
transformando o espaço geofísico em
lugares de invenção cultural e fusão de
práticas autóctones.
e rnando Or t i z , em sua obra F“Contrapunteo cubano del tabaco y
el azúcar”, publicada em 1928², utiliza o
termo transculturalismo para designar um
processo de metamorfose dos produtos
culturais sensíveis, a partir das trocas que
se estabelecem entre povos. Envolvido
num macro processo de circulação de
ideias, a transculturação promove uma
dialética entre costumes, valores e
práticas culturais, que transcende as
fronteiras f ís icas possibi l i tando o
surgimento de elementos híbrido.
habitat africano não é apenas um Oespaço de surgimento espontâneo,
mas o resultado de uma construção dos
nativos que nele intervieram através do
plantio e criação de animais. Onde o
desenvolvimento dos grupos nativos se
deu conforme a maior ou menor relação
de troca que estabeleceram entre si.
á o espaço social afr icano se Jcaracteriza por uma estrutura de
parentesco, por relações com a natureza
e com os espíritos, que são os elementos
constituintes da sua formação cultural. Ao
mesmo tempo em que as características
s o c i a i s i n fl u e n c i a m o s e s p a ç o s
territoriais, ligados não somente aos
limites físicos, mas também aos aspectos
sensíveis da cultura, redesenham outros
tipos de fronteiras.
sta configuração cultural/territorial Epermitiu que os grupos migrantes
mantivessem a sua coesão própria,
mesmo sob a influência das trocas
oriundas das atividades da importação,
exportações e da inventividade.
Fronteiras dos Espíritosna África Central
¹ O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; 298 páginas Edições Colibri; ISBN: 9789727724215.² BERND, Zila, Projeto de Transculturalismo/Transferências Culturais, ICCS-CIEC (International Council of Canadian Studies), abril de 2002. Impresso.
“o espaço social africano se
caracteriza por uma estrutura
de parentesco, por relações
com a natureza e com os
espíritos”
rito das oferendas aos orixás, Otrazida pelos escravos africanos
para o Brasil, era ao mesmo tempo uma
homenagem aos espíritos e a busca da
boa vontade deles em relação às
demandas dos vivos. Na região da África
central oriental, observou-se um ritual
onde tabaco e comida crua eram
lançados no rio como oferendas aos
mortos enterrados no seu leito.
s mudanças de território não Aocorriam somente por razões
econômicas, mas também pelo resultado
do esgotamento da terra, da diminuição
da produtividade e da fome, além da
ocorrência de acontecimentos negativos,
assoc iados a s ina is de espí r i tos
nefastos,dos quais precisavam se
afastar.
crença na presença dos espíritos, Ahabitando as entranhas da terra,
fornecia um controle dos territórios
africanos, ao qual até os chefes das
d i ve rsas nações se subme t i am,
marcando a organização das relações
entre vivos e antepassados.
s registros do Major português O 5Henrique de Carvalho, no séc. XIX,
que partiu de Luanda em direção a
Luanda central, apontaram a existência
de abrigos na mata, chamados de
“fundo”, que podiam ser utilizados por
viajantes tanto nativos como estrangeiro
o que seria um exemplo de que as rotas
comerc ia is também são cr iações
culturais. Estes “fundos” caracterizavam
a organização das relações comerciais,
demonstrando que o “mato” era um
espaço socializado e humanizado pela
ação dos nativos.
e m o n s t r a n d o a c r i a ç ã o d e Dfronteiras culturais/espirituais,
Isabel Henriques, cita o uso de plantas
consideradas sagradas como a mulemba,
que é uma árvore considerada do poder,
do casamento, das alianças e da vida,
assegurando a estabilidade da família
dos Ndongo. Os chefes Ndongo
costumavam carregar uma estaca da
árvore do seu local de origem para
replantá-la no centro do novo território. O
mesmo era feito com a raiz da musenda,
outra árvore cultuada pelos africanos,
que lhes garantiria poderes espirituais de
proteção.
5 O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 151.
s deslocamentos humanos, que Onem sempre resultaram da busca
de melhores instalações, mas de arranjos
ou desarranjos políticos dentro de um
n ú c l e o o r i g i n a l l e v a r a m a o
estabelecimento de novas relações, não
só com outros grupos, mas com a
próprianatureza, o que lhes possibilitou
outro olhar sobre seus valores culturais.
Como afirma Isabel Castro Henriques:
“circulação de coisas está sempre
intimamente associada à circulação das
ideias”.³
s fronteiras africanas tanto secas Acomo molhadas (rios), são tratadas
sob o ângulo político e geográfico,
omitindo a existência das fronteiras
construídas pelas rotas comerciais,
migratórias, religiosas e culturais, as
quais Isabel Castro Henriques chama de
“fronteiras dos espíritos”.
prática religiosa africana sempre Aesteve in t imamente l igada à
na tu reza , ao mundo dos mor tos
(antepassados) e as múltiplas entidades
sagradas que orientavam todos os
aspectos da vida africana, tanto no campo
individual, social, político e econômico.
Formando um complexo panteão que
considera todos os entes naturais e seus
fenômenos (animista), crê na existência
de parentesco entre o clã e um elemento
animal ou vegetal (totemista), atribui uma
origem sobrenatural ao universo, que
ter ia um propósito espir i tual pré-
estabelecido (sobrenaturalista) e cultua a
a lma dos mortos com sacr i f íc ios
(manista).
ponta a pesquisadora que enquanto Ana religião judaica e cristã e dos
povos pagãos do Mediterrâneo, o poder
espiritual era associado aos céus, os
africanos o associavam a espíritos que
com eles conviveriam em um mesmo
espaço físico/espiritual, situado abaixo da
terra “(...) próximo as raízes das plantas 4
ou das nascentes da água (...)”. Por esta
razão, por muitos anos, o uso de calçado
fo i pro ib ido ent re as soc iedades
africanas, pois impediria o contato entre
os homens e os espíritos (kazumbi). Da
mesma forma que seus ídolos eram feitos
de madeira retiradas de árvores que
possuíam suas raízes mergulhadas na
água, assegurando às imagens a força
dos espíritos.
³ O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 147.4 Idem, p. 160.
anto os Luanda quanto os Tshokwe Tcultuavam a árvore de nome hamba
(mahamba no plural), sempre presente no
seu espaço de forma a ser vista por todos,
lhes assegurando uma relação com o
além.
stas práticas promoviam uma Ealteração na paisagem e na flora do
l o c a l d e d e s t i n o d o s g r u p o s ,
transformando-se em marcos de uma
fronteira espiritual particular.
uando um chefe africano morria Qdurante uma viagem, este era
enterrado no próprio local, portanto, fora
de seu território político/religioso. Seu
túmulo era guarnec ido por paus
esculpidos, representando espíritos
responsáveis pela proteção do morto e
todos que passavam pelo local prestavam
homenagens ao morto colocando ramos
de plantas no túmulo.
s Imbangalas, que se transferiram Opara Kasanje, passaram a controlar
as margens do rio Kwango e sua
travessia, impedindo uma relação direta
entre estrangeiros e nativos da outra
margem. A travessia do rio só poderia ser
feita por escravos barqueiros, que eram
protegidos pelos nganga (curandeiro).
ssim como os seres humanos, os Aespíritos da crença africana são
regidos por suas paixões, transitando
entre o bem e o mal conforme suas
simpatias ou antipatias, razão pela qual
estes espaços (fronteiras) eram temidos e
respe i tados . Pa ra c ruzá - los e ra
necessário homenagear e apaziguar os
e s p í r i t o s a t r a v é s d e o f e r e n d a s
estipuladas pela nação ocupante do
território. Os portugueses denominaram
6de “portos” estas fronteiras espirituais
nas quais tinham de pagar pedágio.
artindo do olhar sobre as fronteiras Pespirituais dos povos africanos,
Isabel Henriques demonstra que para
além dos limites físicos existe um mundo
simbólico manifestado nas crenças,
idiomas, costumes, artes, música e que
ao transcender espaços se subjetivam
diante de outras formas de pensar e
representar. Entre o elemento conhecido
de uma cultura e o novo que se apresenta,
há estranheza, curiosidade, embate,
rejeição ou assimilação. O que é aceito e
assimilado já não é a representação do
que era e nem do novo, mas uma sim
transculturação de representações.
Autor:
Rosângela Gomes da Silva
6 O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 167.
Socióloga da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE
obilidade nos remete à facilidade Mde nos movermos, no espaço ou no
mundo das ideias, dos símbolos, de
mudarmos de opinião, de ir ao encontro do
outro, do desconhecido, do novo. É nos
sentirmos instáveis, é conhecer o outro e
ser conhecido por ele. Com este conceito
apresentamos a experiência de três
a lunos de graduação do Méx ico
realizando parte de seus estudos na
cidade de Canoas, Brasil. Eles estão
inseridos no processo Mobil idade
Acadêmica cujo objetivo, além de
propiciar aos estudantes a possibilidade
de entrar em contato com outras culturas,
de vivenciar o processo de aprendizado a
partir da posição de outras formas de
aprender, oportuniza o estar em outro
país, em outra nação.
s parcerias entre universidades Afacilitam a mobilidade de estudantes
promovendo o conhecimento mútuo. Esta
educação internacionalizada proporciona
aos estudantes uma experiência rica,
desenvolvendo respeito às diferenças
culturais.
o Brasil a mobilidade acadêmica é Nestimulada pelo governo federal
através de Programas de Mobilidade e
Convênios de Cooperação Acadêmica
entre universidades brasileiras e de
outros países, visando dar acesso a
estudantes de graduação de instituições
d e e n s i n o d e o u t r o s p a í s e s à s
universidades brasileiras.
mobilidade acadêmica internacional Atraz desafios para o aluno que vem
de fora, pois estar num novo país, com
outros hábitos, crenças, padrões e
cultura. Terá de adaptar-se a nova
realidade e a aceitação pelos novos
colegas.
Assim, ao conviver cotidianamente próximo e envolvido nas relações, o estrangeiro tem ao mesmo tempo uma relação de proximidade e envolvimento com o grupo, entretanto, como frequentemente é tratado tal qual um "de fora", e se sente à parte muitas vezes pode desenvolver um sentimento de distância e indiferença. O estrangeiro é, portanto, o estranho portador de sinais de diferenças, como a língua, costumes, alimentações, modos e maneiras de se vestir. Ele não partilha certos preconceitos do grupo e não se sente forçado a agir como um dos membros. (PEIXOTO, 2011, p.3)
lém disso, traz vantagens para a Auniversidade que os recebe pois “...a
mobilidade internacional desempenha um
papel central na internacionalização do
ensino superior, por facultar maior
interação e melhor compreensão das
diferenças entre culturas e atores sociais
de países distintos.” (PEIXOTO, 2011,
p.3)
este contexto o Centro Universitário NLa Salle - Unilasalle, Instituição da
Rede La Salle de Educação, disponibiliza
a seus estudantes um programa de
mobilidade nacional e internacional:
Mobilidade acadêmica: vivência mexicana em Canoas
Quanto aos estudos, acha muito bom e
tem professores muito profissionais em
suas áreas e também considera-os como
boas pessoas.
la tem muitos trabalhos para fazer Epara este mês e final de semestre,
com seus colegas. Agradece a Deus por
ter conhecido muitas pessoas legais e
mui to pacientes com ela dando
e x p l i c a ç õ e s e a j u d a n d o - a n a s
dificuldades. A recepção é muito boa de
todo o pessoal de Unilasalle. Ela
estámuito feliz por esta experiência.
Mover-me?
aluno Carlos Andres Gomar OMedrano cursa Comércio Exterior
na Universidad La Salle Campus Saltilo
Mexico e está no La Salle Canoas desde
26 de julho de 2012. Ele escolheu o Brasil
porque vê aqui um país com uma
economia muito boa.
Quer aproveitar esta oportunidade para
poder fazer algo melhor para o seu país e
também poder trabalhar aqui no Brasil. A
imagem do Brasil no México é a de um
país com muito crescimento, investimento
em muitas áreas e de muitas pessoas
trabalhadoras como no México. Está
achando maravilhoso, os estudos são
muito legais, os professores têm uma
preparação excelente, os colegas são
muito legais, se preocupam com ele e o
ajudam a fazer melhores trabalhos. Acha
que o Brasil é um dos melhores países em
que morou na vida.
Mover-me?
aluna Maria Laura de Las Fuentes AMartinez cursa Pedagogia no
México e está no La Salle, Canoas, desde
agosto de 2012.
Ela veio para o Brasi l por sent i r
curiosidade pelo país e sua cultura e está
gostando da vivência e das pessoas são
1 O Setor de Mobilidade do La Salle bem como os alunos aqui citados autorizaram a publicação das entrevistas e cederam gentilmente as fotos.
Foto de acervo pessoal de Carlos Andres Gomar Medrano
Foto do acervo pessoal de Maria Laura de Las Fuentes Martinez
Quando um aluno realiza parte de seu curso no exterior ele agrega informações sobre a área de conhecimento que estuda a partir de uma visão que é necessariamente diferenciada de seu país de origem. Isso permite ao acadêmico ampliar seu campo de visão a partir de uma outra realidade que não a local. O aluno no exterior convive com outros alunos de nacionalidades diferentes proporcionando ainda mais a troca de experiência, cultura e vivência. (UNILASALLE, 2012, p.1)
o ano de 2012, o La Salle, da cidade Nde Canoas, recebeu cinco alunos
estrangeiros sendo três deles do México
os quais colaboraram e enriqueceram o
presente com seus relatos.
Interagindo com estudantes de graduação estrangeiros no La Salle, Canoas
ara entrarmos em contato com os Pe s t u d a n t e s e m m o b i l i d a d e
acadêmica no La Sa l le Canoas ,
procuramos o setor de Estágios e
Mobilidade Acadêmica, que nos colocou
em contato com os estudantes. Para a
comunicação, utilizamos o e-mail. Toda
nossa comunicação passou pelo setor
m e n c i o n a d o a n t e r i o r m e n t e .
Conseguimos resposta de três alunos, do
México, e a partir da vivência deles no La
Salle Canoas, escrevemos sobre a
mobilidade acadêmica.¹
Mover-me?
aluna Yanirha Yolanda Reyes AAguilar, que cursa no México
Comércio Internacional, aqui no Brasil,
está no curso de Administração. Está no
La Salle desde 26 de julho. Ela escolheu o
Brasil pela sua localização, por estar na
América Latina, sua preferência, estar
crescendo muito e por ter instituição
lassalista. A sua orientadora no México
falou que o Brasil é um país muito grande,
a região sul é muito tranquila e muito legal.
Vivendo na cidade a aluna concorda com
a orientadora.
la ainda relata o Sul do Brasil como Eum bom lugar para ficar, um lugar
onde muitas pessoas de todo o Brasil
vêm em busca de trabalho, e que Porto
Alegre é uma cidade muito conservada e
linda. Uma amiga também recomendou o
Brasil. Considerou essa como uma
oportunidade muito importante e decidiu
aproveitá-la.
aluna Yanirha está gostando da Aexperiência, aprendendo muitas
coisas novas e reforçando conhecimento.
O Estado é muito grande e ainda não o
conhece todo porém espera conhecê-lo.
1 O Setor de Mobilidade do La Salle bem como os alunos aqui citados autorizaram a publicação das entrevistas e cederam gentilmente as fotos.
Foto do acervo pessoal de Yanirha Yolanda Reyes Aguilar
muito amistosas. Considera que a
experiência tem sido interessante apesar
de sentir saudades. Ela ama a comida
(churrasco e strognoff) e gosta do fato de
as pessoas serem muito livres no Brasil
com relação à expressão individual.
Conhecendo o outro e sendo conhecido por ele
os relatos identificamos o estar no DBrasil, em Canoas, La Salle, como
uma experiência de mobilidade positiva,
acolhedora no sentido de ao sentirem
dificuldades, aqui referenciadas à área de
ensino, os estudantes têm se sentido
apoiados tantos pelos seus colegas como
pelos professores.
para nós que recebemos o outro, Equal a nossa percepção a partir de
seus re l a tos? Obse rvamos uma
impressão bastante positiva tanto do país
quanto do povo brasileiro. Impressão esta
que pa rece se r ressa l t ada pe lo
desenvolvimento econômico, cultural e
pela boa receptividade ao estrangeiro.
Referências
PEIXOTO, Mar ia Denize Santos.
Mobilidade acadêmica internacional: um
estudo sociológico a partir da experiência
da Universidade Federal de Uberlândia.
I n : C O N G R E S S O L U S O A F R O
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
(11: Salvador : 2011) Diversidades e
(Des)Igualdades. Salvador : UFBa, 2011.
UNILASALLE. Mobilidade Acadêmica
N a c i o n a l e I n t e r n a c i o n a l . I n :
______________. [Site oficial]. Canoas;
La Sal le , 2012. D isponíve l em:
http://www.unilasalle.edu.br/canoas/pagi
na.php?id=219. Acesso em 09 nov 2012.
Autores:
Elianara Corcini Lima
Jacira Gil Bernardes
Bibliotecária da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE
Analista de Tecnologia da Informação da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE
om o objetivo de refletir sobre o Cfenômeno da transculturação no
movimento hip hop, o presente texto é
desenvolv ido em três momentos:
primeiro, propõe estabelecer o conceito
de transculturação sob a óptica do
sociólogo cubano Fernando Ortiz (1983);
em seguida, apresenta a questão social
como cenário de surgimento da cultura
hip hop nos espaços urbanos a partir do
final da década de 60 e, por fim,
contextualiza o movimento hip hop dentro
do universo das juventudes híbridas e
c o n t e m p o r â n e a s , d e o n d e a s
imaginações, desprovidas de fronteiras,
p r o j e t a m a r e c o n s t r u ç ã o e a
ressignificação da vida cotidiana nos
espaços urbanos.
Transculturação: atravessamentos culturais
sociólogo cubano Fernando Ortiz O( 1 9 8 3 ) e m s e u e s t u d o
Contrapunteo Cubano del Tabaco y el
Azúcar, propõe a substituição do termo
aculturação, vigente entre seus pares,
por transculturação. Argumenta que o
complexo processo de colonização nos
países da América Latina resultou no que
ele denominou de atravessamentos
culturais, e a expressão aculturação,
portanto, não dava conta de definir, com
precisão, o fenômeno das identidades
culturais no contexto latino-americano.
Parte do princípio de que a aculturação
pressupõe uma perda, um apagamento
d a c u l t u r a a n t e c e d e n t e o n d e a
“desculturação” seria seguida por um
processo de “neoculturação” e novos
paradigmas seriam impostos pela cultura
dominadora. Para ele, o que surge a partir
do processo colonizador seria não o
apagamento, mas uma cultura hibrida
original e inacabada, resultado da
participação das várias culturas em seus
âmbitos e esferas distintos.
ssim sendo, dentro da óptica da Atransculturação, a memória dos
povos pré-colombianos e africanos não
fora apagada, mas processada e
sintetizada no encontro entre todas as
diferentes culturas envolvidas nos
processos de colonização.
A questão social urbana
expressão questão social, segundo ARaichelis (2006), surgiu na França
Transculturação: o movimento Hip-Hop em questão
“a ‘desculturação’ seria
seguida por um processo
de ‘neoculturação’ e novos
paradigmas seriam
impostos pela cultura
dominadora”
representados pela organização urbana
vigente. Ou seja, ao invés de se apropriar
da violência grupal e das organizações
em gangues, marcando território e
exercendo domín io para le lo nas
comunidades, os jovens expressavam-
se , c r ia t i vamente , por me io das
linguagens do movimento que, segundo
Macedo (2008) englobam: o DJ (disc-
jockey), um operador de discos que faz as
colagens rítmicas de base para a
articulação dos outros elementos; o Rap
(sigla para rythm-and-poetry), um estilo
musical geralmente executado com DJ
mixer, ou sem acompanhamento de
nenhum instrumento; MC, os Mestres de
Cerimônia, que tem como principal
missão animar uma festa e contribuir com
a diversão; Breack Dance, termo genérico
que engloba diferentes estilos de dança
como B-boying, Popping e Locking; e, por
fim, Grafite, expressão artística manifesta
nas paredes dos prédios e construções
urbanos com spray ou pincéis.
esse modo, a partir das questões Dsociais urbanas, associadas à
crescente mundialização da informação,
ou seja, à comunicação transnacional, o
movimento difundiu-se entre os jovens
urbanos de di ferentes países. As
juventudes urbanas, identificando-se
com a caracter ís t ica híbr ida das
linguagens, fizeram do hip hop um
símbolo e seu alcance se tornou global,
congregando adeptos em todo o mundo.
or fim, o hip hop surge como um Pm e i o d e r e c o n s t r u ç ã o d o
“desconstruído”, ou seja, dos jovens
urbanos, esquecidos nas periferias,
lançados à margem do sistema e alheios
aos bens culturais das cidades. Em outras
palavras, a cultura hip hop recria uma
atmosfera de liberdade, criatividade e de
ação consciente, trazendo a violência
urbana para o campo da simbologia e
rompendo com as fronteiras dos ideais
nacionalistas.
grafite - foto de Carlos Wagner
Foto: Acervo Pessoal
no século XIX para representar as
condições de pobreza em que viviam os
trabalhadores nos espaços urbanos, bem
como a tensão estabelecida pela
organização de reinvindicações em prol
da superação das desigualdades
evidenciadas.
otivadas pelo direito à propriedade Me ao t raba lho , essas lu tas
operárias e suas violentas repressões se
reeditaram em outros países onde o
p r o c e s s o d e i n d u s t r i a l i z a ç ã o e
urbanização, pautado na desigualdade,
contribuiu para a formação de periferias
urbanas, núcleos de densa população em
regime de pobreza e carentes em
infraestrutura e de acesso aos bens
culturais e de lazer. Inseridos nesse
cenário figuram os jovens urbanos.
sses jovens, sujei tos sociais Eintegrantes desse cenário em que a
pobreza, a delinquência, a formação
escolar deficitária e as drogas, são
problemas comuns, muitas vezes reagem
d e m o d o v i o l e n t o , i n d i v i d u a l e
colet ivamente, manifestando seus
descontentamentos e/ou fazendo
reivindicações por melhores condições
de vida nos espaços urbanos.
or outro lado, fazem-se igualmente Ppresentes outras formas criativas de
manifestação da indignação vivida
nesses espaços. É nesse viés que surge
o movimento hip hop, foco desse estudo:
uma manifestação artística e cultural que
ultrapassa fronteiras pré-estabelecidas e
se prolifera nos espaços de convivências
das juventudes urbanas em diferentes
países na atualidade.
O Hip Hop: um movimento
transcultural
m inglês, hip significa quadril, Ecadeiras; e hop pular, saltitar.
Juntos, de acordo com Dutra (2006) a
expressão representa um movimento
cultural que surgiu no final dos anos 60,
no bairro do Bronx em Nova York, criado
por jovens negros e imigrantes como
forma de resistência ao modelo de
organização urbano vigente.
esse sentido, Fochi (2007), afirma Nque o hip hop originou-se com o
propósito de aplacar a fúria e a falta de
expectativas dos jovens que não se viamFoto: Acervo Pessoal
Últimos passos
cultura hip hop constitui-se numa Aexpressão transcultural, cuja ação
de seus “atravessamentos sociais e
raciais” cria variações locais em todo o
mundo, sem perder, entretanto, o caráter
original e desafiante dos status quo
estabelecido em cada uma dessas
regiões. Ao fazer essa passagem
transcultural, o movimento adquire novas
configurações, produzindo algo novo,
a m p l i a n d o s u a s f r o n t e i r a s d e
pertencimento.
ssim, os jovens das periferias dos Acentros urbanos vêm transformando
a s p a i s a g e n s c o m o c o l o r i d o
extravagante de seus grafites, com os
sons insubmissos de seus poliritmados
r a p s d e p o e s i a s p r o v o c a n t e s e
contestadoras e, ainda, redesenhando os
espaços urbanos por meio de suas
improvisadas danças de movimentos
quebrados e desafiadores.
o B r a s i l , e s s e m o v i m e n t o Ntranscultural sintetizou-se com a
ginga corporal local, com o jeitinho
brasileiro, com a genuína alegria de uma
nação em busca da superação de suas
dificuldades sociais, expressa nos
movimentos coloridos e espontâneos de
sua juventude ainda esperançosa.
or fim, a cultura hip hop projeta, em Pseus deslocamentos atravessados -
ou “trans” - a imaginação coletiva das
juventudes híbridas e contemporâneas,
contribuindo para a reconstrução e a
ressignificação da vida cotidiana nos
espaços urbanos.
Referências
DUTRA, Ju l iana Noronha. Rap e
identidade cultural. In: CONGRESSO DA
A S S O C I A Ç Ã O N A C I O N A L D E
PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM
MÚSICA (16.: Brasília: 2006) [Anais] p.
1 7 9 - 1 8 3 . D i s p o n í v e l e m :
http://www.unirio.br/mpb/textos/AnaisAN
PPOM/Anppom2006/0608301122(D)/CD
ROM/COM/02_Com_Etno/sessao02/02
COM_Etno_0202-092.pdf>.Acesso em:
08.06.2012.
FOCHI, Marcos Alexandre Bazeia. Hip
hop brasileiro: tribo urbana ou movimento
social? FACOM, n. 17, 2007, p. 61 –
6 9 . D i s p o n í v e l e m :
<http://www.faapmba.net/revista_faap/re
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Acesso em: 10.06.2012.
MACEDO, Iolanda. Movimento hip hop e
educação: possibilidades de construção
do conhec imento . In : S IMPÓSIO
N A C I O N A L D E E D U C A Ç Ã O ( 1 . :
Cascavel:2008). [Anais] Disponível em:
http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/p
edagogia/eventos/2008/4/Artigo%2018.p
df
ORTIZ, Fernando. Contrapunteo cubano
del tabaco y el azúcar. La Habana:
Editorial de Ciencias Sociales, 1983.
RAICHELIS, Raquel. Gestão pública e a
questão social na grande cidade. Lua
Nova, São Paulo, n. 69,p. 13-48, 2006.
Autores:
João Bosco Torres Santos
Luciano Lunkes
Raquel Willms
Professor, dançarino e coreógrafo. especialista em Arte-Educação pela Faculdade São Luiz de França (2006). Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Bacharel em Regência Coral (UFRGS). Pós-graduado em R e g ê n c i a C o r a l (Conservatório Franz Lizst – Budapeste). Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Bacharel em Arquivologia (UFRGS). Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
uando se t ra ta Mobi l idades QC u l t u r a i s , p e n s a m o s
imediatamente no Canadá e mais
especificamente no Quebec. O Canadá
p o r s e r u m p a í s q u e a d o t a o
Multiculturalismo, como política de
Estado, e o Quebec por ser uma província
canadense que adota o interculturalismo.
M u l t i c u l t u r a l i s m o e o OInterculturalismo, correspondem a
políticas integracionistas que se pauta no
princípio da não-hierarquização das
culturas, e sim, pelo reconhecimento das
mais variadas orientações culturais que
transitam em solo canadense com a
chegada massiva de imigrantes desde o
início do século XX. Nesse contexto,
nosso artigo enfoca essas duas vertentes
– inter e multi-culturalismo – à luz dos
conceitos e das críticas publicadas em
diferentes meios.
O Multiculturalismo do Canadá
Canadá está localizado na América Od o N o r t e e s e u s p r i m e i r o s
habitantes foram os aborígenes, sendo
esses considerados como a única cultura
nativa do país. No século XVII começaram
a chegar os primeiros imigrantes:
primeiramente os franceses em 1534, e
posteriormente os ingleses, trazendo
hábitos alimentares, comportamentos,
vestimentas e costumes diversos.
sociedade canadense se defrontou Ae a i n d a s e d e f r o n t a , c o m
man i fes tações po r con ta de um
movimento migratório intenso que
ocorreram nos séculos XVI e XVII e
posteriormente no final do século XIX e
início do século XX, de origem geográfica
extremamente variada. Em função disso,
e x i s t e m v á r i o s m e c a n i s m o s d e
intervenção estatal, em particular na área
da cultura, com objetivo de instaurar
políticas públicas que promovam a
convivência cultural harmoniosa.
m 1971 o Canadá inscreveu como Ep o l í t i c a d e e s t a d o o
Mul t icul tural ismo, que s ignifica o
reconhecimento oficial de que o Canadá é
um país constituído por pessoas de
diversas origens geográficas, culturais,
linguísticas e étnicas.
Canadá é um país multicultural, Orecebendo imigrantes de todos os
Multi e Inter-Culturalidade: Canadá e Quebec
Mapa do Canadá
continentes. País acolhedor, que tem uma
população relativamente pequena,
desenvolve há anos uma polí t ica
multiculturalista que visa a integrar os
imigrantes na sociedade, e por isso
obteve resultados mais satisfatórios
(FIGUEIREDO, 2012).
m 1982, surge a Declaração dos EDireitos e Liberdades, que incluía os
diretos de igualdades, mobilidades,
liberdade de expressão, direitos legais e
raças a todos aqueles que viviam no
Canadá. Esta carta Canadense “editada
no governo de P.E. Trudeau, proclamava a
liberdade de religião e previa mecanismos
de proteção das minorias” (FIGUEIREDO,
2012, p. 174).
sta Declaração traz a importância e a Evalorização do imigrante para a
construção de uma cultura multicultural. A
idéia é respeitar a diversidade, mas levar
os imigrantes a se pensarem como
pertencentes à nova nação para onde
emigraram: o Canadá, prevendo-se a
construção de uma identidade nacional
canadense.
abe -se que mesmo com ta l Sdocumento, o racismo e a falta de
empregos aos imigrantes continuava
sendo praticada, contudo, com programas
educacionais nas escolas, os professores
começaram a trabalhar sobre a cultura de
d ive rsos pa íses e ressa l ta r sua
importância e apreciação. O índice de
desemprego e racismo começou a
diminuir, não chegando a extinguir-se,
mas reduzindo-se drasticamente.
ara Mendonça (2011) não há um Psentido único de multiculturalismo, e
sim experiências particulares que no
cotidiano dos grupos minoritários o
multiculturalismo significa, quase sempre,
uma forma de segmentação social em que
cada grupo ocupa o seu espaço sem
colidir com os outros, mas mantendo-se
as hierarquias de diversas ordens.
O Interculturalismo em Quebec
uebec é a maior província do QCanadá, e a segunda ma is
populosa do país, com 24% da sua
população que é de cerca de 8 milhões de
habitantes. Com sua língua, sua cultura e
suas instituições próprias, Quebec
constitui-se expressamente como “nação”
dentro do território canadense.
“A idéia é respeitar a
diversidade, mas levar os
imigrantes a se pensarem
como pertencentes à
nova nação para onde
emigraram”
os últimos vinte ou trinta anos, Nmodificou-se o perfil dos imigrantes
que lá se instalaram: primeiramente, eles
eram provenientes de países europeus e,
a partir dos anos 70, se originam das
Antilhas, Ásia e África, países onde a
língua francesa é a língua oficial,
acarretando mudanças no panorama dos
quebenses (PORTO; TORRES, 2005).
s autoras supra-citadas afirmam que Aaté os anos 1960, falava-se de
homogeneidade em se tratando do
Quebec, visão difundida pelas elites no
século XIX, fato que não correspondia,
necessariamente, à experiência vivida no
cotidiano, mas que persiste ainda, de
certa forma, nos dias de hoje. Tal
homogeneidade se baseava na crença da
mono-identidade minoritária do Quebec,
a l i c e r c e s q u e p e r m i t i a m o
reconhecimento da cultura nacional e a
ocultação das divisões e conflitos de uma
sociedade em vias de industrialização.
om a chegada de novas levas de Cimigrantes oriundos de países não
europeus, o caráter heterogêneo da
cultura quebense se tornou cada vez mais
visível. O Quebec assume oficialmente
ser intercultural, adotando uma política
denominada “acomodamento razoável”
formado por regras e leis para respeitar o
direito de todos a um tratamento equitativo
e para combater a discriminação indireta,
criando um sentimento de solidariedade
entre os habitantes do Quebec, de
maneira a facilitar a mobilização e a
convivência de todos (PORTO; TORRES,
2005).
ssas med idas assoc iadas a Epreservação da língua francesa, que
constitui o marco principal da identidade
quebequense, como língua oficial do
Q u e b e c , l e i 1 0 1 . S e n d o q u e
aproximadamente 80% da população é
franco-canadense, isso representa um
importante signo de identificação. A ideia
de nacionalismo também foi revista,
evoluindo de um discurso agrário e
conservador a um discurso nacionalista e
moderno, que visou entre outras coisas, a
in tegrar os imigrantes à maior ia
francófona (MENDONÇA, 2011).
iferentemente do multiculturalismo Dque prevê a construção de uma
identidade cultural, o interculturalismo
Íris Versicolor – Símbolo de Quebec
corresponde à harmonização entre o
desejo dos imigrantes de preservação de
suas identidades culturais, e o sonho
quebequense de construção de uma
nação, alicerçada na convergência
cultural e em uma identidade nacional
sem ambiguidades (BERND, 2006).
Apreciação crítica do Multiculturalismo no Canadá e do Interculturalismo em Quebec
e acordo com Giménez (2012), no Dcontexto canadense se consolidou
o mu l t i cu l t u ra l i smo , a pa r t i r da
justaposição de grupos etnoculturais ou
comunidades culturais, formando-se um
mosaico de culturas que em alguns casos,
tende à segmentação e ao isolamento.
Em contrapartida, a província em Quebec
procurou ser um entre-lugar entre a
política estadunidense do melting pot,
propondo o interculturalismo, como
resposta à pasteurização das diferenças
culturais.
ernd (2006) afirma que tanto o Bm u l t i c u l t u r a l i s m o q u a n t o o
interculturalismo se pautaram no princípio
da não hierarquização das culturas e,
portanto, no reconhecimento das mais
variadas práticas culturais em solo
canadense, o que foi extremamente
positivo.
multiculturalismo enfatiza cada Ocultura, o que propicia a uma ênfase
na diversidade. Destaca também a cultura
e a história própria, os direitos de cada um,
o sistema jurídico único de cada povo,
supondo, além disso, conformar-se com a
coexistência, e espera que a convivência
social resulte do respeito e aceitação do
outro (GIMÉNEZ, 2012).
e acordo com Giménez (2012), o Dinterculturalismo pretende lidar com
a diversidade cultural de maneira proativa.
Preocupa-se com a inter-relação das
d i f e r e n t e s c u l t u r a s e b u s c a a
convergência e o estabelecimento de
vínculo, deseja estimular o aprendizado
mútuo a cooperação e o intercâmbio e
pontos em comum. O multiculturalismo
aborda a diversidade enquanto o
interculturalismo pretende construir a
unidade na diversidade.
“tanto o multiculturalismo
quanto o interculturalismo
se pautaram no princípio
da não hierarquização
das culturas ”
Referências
BERND, Zilá . Perspectivas Comparadas
trans-americanas. In: Abralic. Congresso
Internacional ( 10. : 2006. : Rio de Janeiro,
RJ) Lugares dos Discursos. Rio de
Janeiro: Editora da UERJ - Abralic, 2006.
FIGUEIREDO, E. Travessias culturais: o
cosmopolitismo de Montreal. In: Habitar e
representar a distância em textos literários
canadenses e brasileiros. Niterói: EDUFF,
2012. p.173-186.
GIMÉNEZ, Romero Carlos. Pluralismo,
Multiculturalismo e Interculturalidad:
Propuesta de clarificación Y apuntes
e d u c a t i v o s . D i s p o n í v e l e m :
http://dialnet.unirioja.es/servlet/fichero_ar
ticulo?articulo=2044239&irden=69348.
Acesso em 03 de Nov. de 2012.
PORTO, Maria Bernadette; TORRES,
Sônia. Literaturas Migrantes. Conceitos
de Literatura e Cultura. Juiz de Fora
Editora UFJF/EdUFF, 2005.
Autores:
José Carlos Walter
Fabiana Pereira Rosa
Pedagogo, Especialista em Educação a Distância. Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
A d m i n i s t r a d o r a , Especialista em Gestão de P e q u e n a s e M é d i a s Empresas. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Reitor
Dr. Paulo Fossatt
Vice-Reitor
Dr. Cledes Antonio Casagrande
Pró-Reitora Acadêmica
Dra. Vera Lúcia Ramirez
Pró-Reitor de Desenvolvimento
Ms. Luiz Carlos Danesi
Diretorias
Extensão, Pós-graduação e Pesquisa Dr. Cledes Antonio Casagrande
Extensão, Pós-graduação e Pesquisa Dra. Patrícia Kayser Vargas Mangan
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