revista sino - julho/2012
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Revista dos antigos alunos do Santo InácioN
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Arraiá da Solidariedade
Arsoi é um sucesso e arrecadação vai ajudar nos projetos sociais da ASIA
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N°3 | julho | 2012
Conheça a Ação Claveriana, o projeto social da ASIA que reúne voluntárias para confeccionar enxovais para recém nascidos da comunidade do Santa Martapágina 6
Arsoi é organizada pela primeira vez pelo CSI - era feito pela ASIA -, com algumas novidades. Lucro será revertido para projetos sociais da associação de antigos alunospágina 8
Nesta edição lançamos nova campanha para o envio de fotos antigas pelos ex-alunos da escola. Veja alguns exemplos e envie material para nós página 10
Perfil do antigo aluno Alexandre Henderson (95), apresentador do “Globo Ciência”, mostra a importância da educação e do CSI em sua vidapágina 12
Artigo do antigo aluno Guilherme Prista (94), que morou três anos na Espanha, faz um retrato da crise econômica na vida dos espanhóis página 16
Criador do site Kibe Loco e antigo aluno, Antônio Pedro Tabet, faz artigo sobre novas mídias e o limite das piadas na Internetpágina 20
Conselho Editorial Pe. Luiz Antonio de Araújo Monnerat,
SJ; Vera Porto; Izabela Fischer; e Maria José Bezerra
Jornalista Responsável Pedro Motta Lima (JP21570RJ)
(editor@revistasino.com)
Projeto Gráfico Ana Mansur (anamansur@gmail.com)
Diagramação Daniel Tiriba (dtiriba@gmail.com)
Revisão André Motta Lima
Contato Publicitário 21 2421 0123
Produção ML+ (Motta Lima Produções e Comunicação)
Tiragem 6 mil exemplares
Gráfica Walprint
Fale Conosco sino@revistasino.com.br
www.revistasino.com.br
Fale com professores e alunos do Colégio Santo Inácio, seus familiares e mais de 2 mil antigos alunos que
recebem a revista em casa, pelo correio
Anuncie na Sino | (21) 2421-0123
Revista dos antigos alunos do Santo Inácio
Índice
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Neste terceiro número da nossa SINO, resolvemos lançar
uma campanha para que os antigos alunos nos enviem
fotos de seus tempos de colégio. A ideia surgiu após
constatarmos a forte mobilização causada pela publicação
de registros antigos nas redes sociais. A nossa proposta
é aglutinar as fotos no site da revista (www.revistasino.
com.br) e no facebook da publicação (www.facebook.
com/revistaSino), facilitando a procura daqueles que
perderam suas fotos ou estão em busca “dos velhos
tempos”. Nesta edição vamos levar para as nossas páginas
a primeira foto que recebemos, e que foi para o facebook.
O retrato da turma do quarto ano primário de 1959 nos
foi enviado por Ricardo Pessoa, que arriscou enumerar
o nome de todos os colegas, com as ressalvas de que
algumas grafias podem estar erradas e de que não se
lembrava de alguns sobrenomes. Fica o convite para envios
e manifestações. Ah, e farei a minha parte colocando uma
foto da minha turma do CA e assinando este editorial com
o meu diploma de alfabetização na cartilha da Talita.
Também temos matéria sobre a Ação Claveriana, o projeto
social da ASIA que ainda não havia sido mostrado nas
páginas da SINO. Vamos falar um pouco sobre este grupo
de senhoras que se reúne semanalmente para produzir
enxováis para recém nascidos da comunidade do Santa
Marta. Os antigos alunos têm uma forte participação
nesta edição. Além de termos um perfil com Alexandre
Henderson, o jovem apresentador do programa “Globo
Ciência”, que já citou o Santo Inácio algumas vezes
durante suas entrevistas, temos dois artigos feitos por
ex-alunos. Num deles, o jornalista Guilherme Coimbra
(94), que morou alguns anos na Espanha e está de volta
ao Brasil, fala um pouco sobre a crise que atingiu aquele
país, relatando algumas histórias. No outro, o criador do
site Kibe Loco fala sobre
novas mídias para chegar
até a Internet e debater
questões polêmicas como
o politicamente correto
nas piadas e até onde
podem ir as gozações.
Boa leitura.
Pedro Motta Lima (94)editor@revistasino.com.br
Campanha estimula envio de fotos antigas
Compartilhe conosco suas
memórias inacianasQuais professores marcaram sua vida?
Quais colegas de turma se tornaram grandes amigos? Com quem você perdeu contato e gostaria
de reencontrar?
Envie fotografias antigas e recentes, conte as histórias de época de colégio e diga como está sua vida agora.
Você também pode comentar as notícias da Revista Sino e sugerir pautas para as próximas edições, além de
enviar artigos sobre temas de seu interesse.
O material enviado poderá ser publicado nesta revista e em nossa página no Facebook.
Saudações inacianas!
minhasino@revistasino.com.br
facebook.com/RevistaSino
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Confraternizações em CorrêasA tradicional casa que o CSI mantém em
Corrêas, distrito de Petrópolis, está aberta
para confraternizações. Antigos alunos
podem matar a saudade dos amigos e
do espaço, que passou por reformas e
funciona como uma pousada, com 20
suítes (as disposições de quartos estão
em www.revistasino.com.br). Podem
ser fechados grupos de até 75 pessoas.
O local, cujos passeios geravam tanta
expectativa entre os alunos, tem piscina,
sauna, quadra poliesportiva, campo de
futebol e churrasqueira.
Os grupos interessados devem ter um
representante, que será responsável
pelo contato com o colégio, assim como
pelo depósito de 20% do valor total
do evento para garantir a reserva. A
diária com pernoite é de R$ 106 e inclui
café da manhã, almoço e jantar. Sem
pernoite, o valor é de R$ 56 e o jantar
é substituído por um lanche no fim da
tarde, antes da saída. Crianças com até
5 anos não pagam. As que tiverem entre
5 e 14 anos pagam meia. Refeições
poderão ser substituídas por churrasco
com o acréscimo de R$ 20 na diária.
Todas as bebidas são pagas por fora. Os
interessados em agendar uma data devem
mandar e-mail para antigosalunos@
santoinacio-rio.com.br ou ligar para
3184-6207 e falar com Izabela Fischer,
que fará uma consulta à agenda do local.
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Maria Auxiliadora / Núcleo de M
ídia CSI
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Há 31 anos senhoras garantem
que bebês nascidos na comu-
nidade Santa Marta, em Bota-
fogo, tenham um enxoval. Elas
fazem parte da Ação Claveriana, que
funciona desde 1981 dentro da Associa-
ção de Antigos Alunos do Colégio San-
to Inácio. Com verbas mensais da ASIA,
além das doações recebidas – que, por
sinal, sempre são muito bem vindas –,
estas voluntárias fazem camisas, lenções,
sapatos, casacos, toalhas e babadores,
tudo com muito capricho. São 12 enxo-
váis por mês, entregues para mães sele-
cionadas por uma funcionária da creche
que a ASIA mantém no Dona Marta, e
que é moradora da comunidade. A situ-
ação econômica da família é o principal
critério. E todos as doações vão com um
folheto sobre os primeiros cuidados que
devem ser tomados com os bebês, além
de dicas sobre higiene, saúde, segurança
e alimentação.
Apesar de existir desde 1981, no
formato atual, de confecção de roupas,
pode-se dizer que o projeto vem desde
1978, quando um grupo de mulheres,
estimuladas pelo então reitor da esco-
la, padre Aloysio Penna, se reuniu para
montar um trabalho social. “No início
nos reuníamos para subir o morro e
distribuir alimentos e roupas, uma ação
que, por sinal, é mantida pela igreja até
hoje. Durante nossas visitas percebemos
que as mulheres pediam muito por rou-
pas de bebês. Foi quando resolvemos
confeccionar os enxovais”, conta a atual
coordenadora da Ação Claveriana, Mag-
dala Teixeira, uma das senhoras que está
no projeto desde o início. “Felizmente,
a comunidade está muito diferente atu-
almente. No fim da década de 70 era
muita pobreza, barracos de madeira e
esgoto a céu aberto”, lembra-se.
O grupo foi inicialmente formado por
pessoas que participavam dos encontros
de casais promovidos pelo colégio e se-
nhoras que formavam do apostolado da
Igreja de Santo Inácio - que é uma orga-
nização criada pelos jesuítas para reunir
católicos com o objetivo de orar, evange-
lizar e promover ações sociais. Hoje em
dia, o grupo está aberto a quem quiser
doar um pouco do seu tempo à causa,
independente de ter ligação direta com o
colégio ou a igreja. “Atualmente somos
19 pessoas e nos reunimos uma vez por
semana, às quartas, das 14h às 16h. Mas
não há uma obrigação de vir sempre e os
trabalhos podem ser levados para casa.
Enfim, o importante é a participação”,
contou Lígia Lopez, que foi designada
como responsável para receber novas vo-
Costurando o futuroGrupo de senhoras se reúne semanalmente para confeccionar enxovais para os recém nascidos da comunidade do Santa Marta.
Neide Maioli Penello opera uma das máquinas de costura usadas pelas voluntárias do projeto
AÇÃO SOCIAL DA ASIA
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luntárias e para isso deixou seu telefone
de contato, o 9452-8174.
As reuniões, que já foram realizadas
na sede da ASIA e dentro do colégio,
acontecem na sede da Costura e Lactá-
rio Pró-Infância (Celpi), que fica na Rua
Bambina 160, em Botafogo. “Até o ano
passado, tínhamos uma sala na Acade-
mia Loyola, mas o prédio foi derrubado.
A irmã de uma funcionária da formação
cristã do colégio é a presidente desta ins-
tituição que faz um trabalho muito boni-
to. Ela, gentilmente, nos cedeu este espa-
ço, onde fomos muito bem acolhidas, e
estamos aqui”, contou Magdala, cercada
por panos, linhas agulhas, máquinas de
costura e, claro, de suas companheiras.
Mas as voluntárias ainda continuam
muito presentes no dia-a-dia do colégio. O
trabalho desenvolvido por elas, anualmen-
te, é visitado pelas oito turmas do ensino
infantil. “Adoramos receber as crianças.
Elas ficam encantadas com as máquinas
de costura e podemos falar um pouco so-
bre a importância de ser solidário. É muito
especial para nós”, conta Cordélia Ruffie-
re, mais uma voluntária de primeira hora,
que está desde 1981 no projeto. “Além
disso, o colégio faz uma campanha com
as famílias das crianças para estimular a
doação de material de costura, de roupi-
nhas, mamadeiras, fraldas, enfim, tudo
aquilo que é importante para um recém
nascido. A resposta é fantástica. Recebe-
mos roupas lindas”, conta Cordélia.
Talvez a únida dificuldade das crian-
ças seja pronunciar corretamente o
nome do projeto, Ação Claveriana. Cor-
délia e Magdala explicam o surgimento
do nome: “Quem nos sugeriu foi o pa-
dre Souza. Ele nos falou sobre São Pedro
Claver, um padre do Peru que tinha um
trabalho muito intenso com a população
pobre daquele país. Ele passou, então,
a ser nosso patrono. Por isso, o nome”,
explicam as amigas. Por sinal, o proje-
to acaba sendo responsável por muitas
amizades. “Nos frequentamos fora da-
qui também. São relações para o resto
da vida”, contam as decanas.
As amizades, por sinal, têm sido res-
ponsáveis por trazer sempre novas volun-
tárias para o projeto. A novata do grupo,
Mary Alô, que há quatro meses participa
das reuniões, foi trazida por uma amiga
da academia de ginástica, que, por sinal,
também foi responsável pela entrada de
Lígia. “Ela me falou sobre o projeto e re-
solvi conhecer. Estou vindo sempre des-
de então”, contou a caloura, enquanto
empunhava uma agulha de crochê.
As voluntárias da Ação Claveriana se reúnem às quartas-feiras, das 14h às 18h, na sede da Celpi, na Rua Bambina, em Botafogo
Durante o encontro elas costuram, fazem crochê e bordado para que as peças do enxoval, além de úteis, sejam bonitas. Além disso, colocam o papo em dia, pois o projeto é responsável por amizades de até 30 anos
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No primeiro ano em que o Arraial
da Solidariedade Inaciana (Arsoi)
foi organizado pelo CSI - até o ano
passado a tarefa era da ASIA -, os
resultados parciais mostram que o evento foi
um sucesso. A prévia do balanço - os núme-
ros serão fechados até a segunda quinzena
de agosto - apresenta um resultado positivo
de aproximadamente R$ 70 mil, valor que
será destinado às obras sociais geridas pela
ASIA, como a creche e a pré-escola que fun-
cionam na comunidade do Santa Marta e a
Ação Claveriana, apresentada nesta edição,
além do Ambulatório São Luiz Gonzaga e do
projeto Imagem Solidária.
Uma das novidades deste ano, foi a
abertura da Arsoi para barracas não admi-
nistradas pela comunidade inaciana, através
de pais de alunos, voluntários da ASIA e es-
tudantes. Estandes, carrocinhas de produ-
tos como cachorro-quente Geneal, sorvete
Itália, crepes e comida japonesa, renderam
aproximadamente R$ 6 mil. A cobrança de
entradas, outra novidade implementada
neste ano, foi responsável por outros R$ 10
mil. E também foram obtidos por volta de
R$ 15 mil com patrocínios de empresas par-
ceiras. Além disso, houve a arrecadação das
tradicionais barracas, como a do Salcichão,
do Nordeste, do Rio de Janeiro... Elas foram
responsáveis por aproximadamente R$ 120
mil. Todos os valores somados darão a ar-
recadação bruta. Ainda serão descontadas
todas as despesas para se montar a festa.
E neste ano até o lixo produzido pela Ar-
soi teve um destino social – assim como já é
feito com o lixo diário produzido pela escola.
Houve coleta seletiva durante o evento e os
resíduos foram destinados ao projeto Light
Recicla, para que gere um desconto nas con-
tas de luz dos projetos sociais da ASIA.
Arsoi é, mais uma vez, sucesso de público e toda a arrecadação será usada nas obras sociais geridas pela associação de antigos alunos do colégio
Pais de alunos se aglomeram para ver e registrar a apresentação das quadrilhas ensaiadas pelos professores do colégio. Evento foi realizado no Centro Esportivo
Fotos: Pedro Motta Lima
Anarriê!
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A área de convivência criada onde funcionava a antiga piscina foi usada para instalação de brinquedos
Comunhão acompanhada de coral
As crianças pequenas tiveram um espaço dedicado a elas, com brincadeiras como pescaria e a de atirar bolas na boca do plalhaço
As barracas, responsáveis pela maior parte da arrecadação, vendiam doces, salgados e bebidas. Opções para todos os gostos
Foi realizada, na Igreja do colégio, no
dia 31 de julho, a missa em homenagem ao
fundador da Companhia de Jesus, Santo Iná-
cio de Loyola. A celebração, organizada pela
Rede Apostólica Inaciana (RAI), foi presidida
pelo reitor da Pontifícia Universidade Cató-
ria do Rio de Janeiro (PUC-Rio), padre Josafá
Carlos de Siqueira, S. J. Ao final da cerimônia,
foi apresentada a nova logomarca dos jesuítas
no Brasil (mais detalhes na próxima edição da
SINO). O último dia do mês de julho é a data
de morte de Santo Inácio e passou a ser o seu
dia no calendário litúrgico.
Saiba um pouco mais
Inácio de Loyola viveu em um mundo de
profundas mudanças, na Europa do século XVI.
Sua experiência de oração e a espiritualidade
que dela surgiu são sempre atuais, numa so-
ciedade de tantos conflitos e incertezas, na qual
somos desafiados a educar crianças e jovens.
O fundamento e a inspiração da ação edu-
cativa dos colégios jesuítas estão na experiên-
cia mística de Inácio de Loyola e na pedagogia
presente nos seus Exercícios Espirituais. Consis-
te na procura constante da comunicação com
o Deus de Jesus, nela encontrando os critérios
e valores para fazermos as opções exigidas no
dia a dia, seja como indivíduos, seja como co-
munidade. Sempre na busca daquilo que mais
nos aproxima da realização de nossa missão.
Dia de Santo Inácio é celebrado com missa no CSI
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Estas serão as primeiras das muitas
fotos de antigos alunos que pre-
tendemos publicar na SINO, no site
(www.revistasino.com.br) e no Fa-
cebook (www.facebook.com/revistaSino).
Nada mais justo que darmos destaque para
a primeira imagem que recebemos, logo
após o lançamento da primeira edição,
em março deste ano: a turma do quarto
ano primário de 1959, que nos foi enviada
por Ricardo Pessoa. Ele ainda se arriscou a
identificar todos os seus colegas e já pediu
desculpas antecipadas por possíveis erros
de grafia ou esquecimento de sobrenomes.
Se alguém quiser complementar o trabalho
feito por Pessoa, basta escrever para nós -
minhasino@revistasino.com.br.
Para o lançamento da campanha, o
editor da SINO, Pedro Motta Lima (94),
também contribuiu com a foto de sua
turma do Curso de Alfabetização, o atu-
al primeiro ano do ensino fundamental.
Ele mandou as identificações, mas já
pede desculpas por possíveis erros ou es-
quecimentos. A outra foto é uma contri-
buição de Ana Karine Almeida (95), que
atendeu o pedido do colega Alexandre
Henderson (95), que tem o seu perfil pu-
blicado nesta edição, para enviar fotos
antigas da turma de colégio.
Esperamos receber muitas fotos e
contribuições para ajudarmos a matar um
pouco a saudade dos tempos de escola.
an
tig
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Da esquerda para a direita começando pelo degrau de cima - 1º degrau: Carlos Alberto Mello dos Santos, Ronaldo de Andrade Lanzelotti, Alexandre Neri, Eduardo Garcia, Sergio Santos Klug, Anibal Espinola, Ricardo Lira de Melo, Humberto Torres Braz, Antonio Cruz Lopes e Ricardo Bartolo; 2º degrau: Marco Antonio Pita, Ciriaco Cristovam, Ricardo Lobo da Costa Pessoa, Eduardo Uchoa, Leonardo Porto Gadelha, Laport, Roberto Tunis de Virgilis, George Eduardo, Antonio Carlos Roselle e Luciano Roberto da Cunha Lima; 3º degrau: Heitor Jose Augusto Caiubi, Mauro Viegas, Marcio Antonio, Rogerio Salgado Bauer, Aldo de Sá Brito, Eduardo Pristo Paraiso Ramos, Paulo Gusmão, José Antonio Aboim, Antonio Lemos Bastos Neto e Sergio Luiz Dantas; 4º degrau: Ingles de Souza, Luiz Augusto Barbosa da Silva, Rubens Abdelai, Prof. Renato, Padre Gil, Prof. Francisco, Edison de Sousa Guedes, Tarcisio Otavio e Ari Escaf
saudadesPara matar as
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De cima para baixo, da esquerda para direita: Rafael Teixeira, Renata Cattapan, Jayme Chataque, Graziela Pedras, Felipe Oliveira Nunes, Walter Liu Cheng Costa (falecido ), Leonardo V. Grinstein, Carlos Afonso, Luiz Eduardo Ematné, Alexandre Abrão Martins, Larissa Morimoto Doi, Ana Karine Almeida, Alexandre Henderson de Oliveira, Daliana Seidl, Georges Ayoub Riche, Carolina Mello, Rodrigo Von Jess, André Ricotta, Trajano Oliveira, xxx ( Não lembro o nome ), Romário, Fuei ( Alexandre pode completar ), Javier, Renata Muniz, Carla Albano, Alexandre Romeiro, Luciana Carvalho, Christiane Magdalena, Renata Braune, Juliana Passos, Carolina de Castro, Mariana Couceiro, Ana Paula Vital Moreira e Aurélio de Queiroz; Professor: Lucas - História
No alto a Tia Alice, professora; De cima para baixo, da esquerda para a direita: Leonardo Khéde, Aline, Clarisse Costa, Camila, Bruno Otoch, Carlos Gustavo Ciarelli e João Paulo; Henri, Marcus Vinícius, Paulo Hugo, Pedro Motta Lima e Rodrigo Assemany; Alessandra Carla, João, Marcelo Lins, Cintia, Fabrício Vasconcelos, Fernanda e Marcus França; Flávia, Renata Maculan, Joana, Ana Cristina, Rafael Porto, Daniela Bastos, Gustavo, Márcio Penha e André Ladeira
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Um negro em
movimento.
Assim o antigo
aluno Alexandre
Henderson (95) se define.
E depois de algumas horas
de conversa é fácil perceber
que não é pouco movimento.
Apresentador do programa
“Globo Ciência”, uma
parceria entre a Rede Globo
e o Canal Futura, Henderson
sempre que pode fala sobre
a importância do Santo
Inácio em sua formação.
Foi assim quando sentou
no sofá ao lado de Jô
Soares e também quando
foi convidado a participar
do programa “Tempos de
Escola”, apresentado por
Serginho Groisman, em que
um artista é chamado para
falar sobre o seu colégio. O
interessante é que Alexandre
passou apenas dois anos
no Santo Inácio - os últimos
do ensino médio. “Mas foi
como se fosse a vida inteira.
Fiquei até mais tempo em
outras escolas, mas nenhuma
teve a importância do Santo
Inácio”, contou.
Educação: passaporte para o sucesso
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Henderson em frente ao Museu da Língua Portuguesa, durante gravação do “Globo Ciência”, em 2010
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A forma como entrou talvez expli-
que um pouco da relação que tem com
o colégio. “Sempre fui bom aluno e a
educação é algo muito valorizado em
minha casa, talvez por minha mãe ser
professora. Passei por alguns colégios,
mas sempre quis estudar no Santo Iná-
cio. Por conta própria, me inscrevi no
processo de seleção e passei. Sabia que
ficaria pesado para minha mãe pagar
a mensalidade, pois ainda tinha meus
dois irmãos. Fui ao colégio procurar o
reitor, que era o padre Felix, e expliquei
a situação. Consegui um belo desconto
e só então fui contar tudo para minha
mãe”, lembra Alexandre. “Ela ficou fe-
liz, mas me disse que eu tinha que estar
entre os 10 melhores alunos”.
Ou seja, a expectativa não era
pequena, o que poderia aumentar a
possibilidade de frustração no caso do
colégio não ser aquilo tudo. “Lembro
de entrar no 3º dia de aula. As pessoas
se conheciam há anos, pois o pessoal
entra muito cedo no Santo Inácio. Mas
vieram falar comigo. Logo no início
tive a sorte de conhecer a Ana Karine
(Mendonça Tavares de Almeida), que
até hoje é minha melhor amiga. Nos
aproximamos, pois a família dela é de
Fortaleza e tenho primos em Salvador.
Acabamos tendo o Nordeste como um
assunto em comum e, através dela, fui
conhecendo as pessoas e me entrosan-
do”, contou.
Durante os dois anos em que esteve
no colégio, Henderson foi o único negro
de sua série. “Apesar de perceber alguns
olhares de estranheza, nunca passei por
qualquer situação de preconceito no
colégio. Acho que isto tem a ver com a
formação que o Santo Inácio dá aos seus
alunos. Mesmo que não se fale especi-
ficamente sobre a questão racial, con-
ceitos de igualdade, fraternidade e so-
lidariedade se fazem sempre presentes,
assim como o tema da desigualdade”,
afirma ele, que cita as amizades que fez
como sendo o que mais lhe marcou. “Fiz
amigos de verdade. Havia uma pureza
naquela convivência. Eu podia contar
com meus amigos e eles comigo. Por ser
um aluno novo, havia sempre a preocu-
pação em me incluir”.
A questão racial sempre foi “bem re-
solvida”, como o próprio Alexandre defi-
ne, em sua cabeça. “Eu já tinha os rela-
tos familiares de preconceito racial, mas
sempre tive boas referências e exemplos
que nunca me deixaram ter uma postura
defensiva. Minha mãe era professora, o
irmão de meu avô foi promotor de Justi-
ça, na família temos engenheiros, advo-
gados... enfim, exemplos de sucesso para
que eu pudesse me espelhar”, conta ele,
que não se esquiva de temas polêmicos,
como as cotas raciais. “Não sou do mo-
vimento negro. Costumo dizer que sou
um negro em movimento. Mas acho óti-
mo que exista a discussão sobre as cotas,
pois é inegável que há uma distorção no
Brasil. Na UFRJ, uma universidade pública,
também eram poucos negros. Acho que
a cota é um ajuste, mas tem que ser algo
de curto prazo. A transformação tem que
ser no sistema educacional para que todos
tenham as mesmas ferramentas. Afinal,
não podemos esquecer que há o branco
pobre também. A igualdade de oportuni-
dades é boa para todos. Lembremos que,
em grande parte, a violência é fruto da
Gravação do “Globo Ciência” em Recife, em 2008, sobre o médico Josué de Castro, que fez o mapa da fome no Brasil, na década de 40
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desigualdade”, afirma, lembrando que os
exemplos também são importantes para
a juventude. “Ver negros em posição de
destaque é importante para os jovens”
A educação oferecida pelo Santo
Inácio também correspondeu às expec-
tativas do jovem aluno. “Logo no início
já percebi que o ritmo era outro, bem
mais puxado. Era um desafio para mim
e isso me ajudou na vida, pois me ins-
pirou a querer crescer e batalhar para
isso. Nunca fui o ‘filho do dono’ disso
ou daquilo. Estudei com pessoas que
tinham muito dinheiro, que eram de
classe média... enfim, que tinham uma
origem familiar diferente da minha. Eu
sabia que tinha que vencer pelo estu-
do”. Ele se sente recompensado por
todo o esforço. “Quando você fala que
estudou no Santo Inácio as pessoas te
olham diferente. Queira ou não queira, a
instituição é uma grife quando o assun-
to é educação. E isso, evidentemente,
ajuda no mercado de trabalho. Quando
recebi a Medalha Pedro Ernesto, na Câ-
mara Municipal do Rio, falei que tinha
estudado no Santo Inácio. No final, uma
senhora negra foi até mim e comentou
que ao me ouvir estava pensando que
‘com certeza, este menino tem uma for-
mação’. É muito bom ouvir isso”.
E quando Alexandre fala em formação,
ele não está se referindo apenas à questão
acadêmica. “Ali eu aprendi que não há
limites para os nossos desejos. Todos os
alunos querem ser muita coisa e correm
atrás para conseguir”, acredita. Além dis-
so, Henderson acredita que a auto-estima
de quem passou pelo Santo Inácio é dife-
rente. “Tenho vários amigos dos outros
colégios pelos quais passei. Sinto a dife-
rença. As pessoas acabam achando que
não têm condição de fazer algo ou que
não vão conseguir. O colégio me ajudou a
ver que eu posso. Há muito estímulo por
parte dos professores e das próprias famí-
lias. Isto ajuda demais”, afirma ele, que
cita alguns professores como influências
positivas. “A Lídia Bronstein, de Geogra-
fia, me fez pensar o mundo. A aula dela
Nas fotos enviadas por seus amigos de colégio, Henderson faz graça com a turma no pátio do Sino, se diverte numa viagem com os colegas de classe e, ainda com os amigos, participa de uma das edições do Sarau do Santo Inácio
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era interdisciplinar. Misturava política, his-
tória, assuntos atuais, nos estimulava a ler
jornais e saber de tudo que estava aconte-
cendo. Ela nos provocava. Gostava muito
também do Lélio, de Química, da Regina
Carvalho, de Português, e do Palhares,
que era muito carinhoso e delicado. Cho-
rei muito quando ele morreu. Também
tinha o Cataldo, de Matemática, com seu
bom humor e um discurso bacana sobre
superação. Gostava da Ilma, de História, e
também do Tobias, que era o coordena-
dor. Me sentia muito amado ali”.
A formação é fundamental para a
construção de uma carreira de sucesso,
mas o talento também conta muito. E no
caso de Alexandre pesou bastante. Logo
que se formou no Santo Inácio fez vesti-
bular para engenharia e passou. “Fui para
UFRJ, mas percebi rapidamente que não
era a minha. Acho até que poderia ser
um bom engenheiro, pois gosto de estu-
dar e de fazer as coisas bem feitas, mas
não era o que queria. Neste ano, então,
resolvi seguir os conselhos que sempre
ouvia dos meus amigos e me inscrevi para
fazer teatro no Gonzaguinha, no grupo
do Ernesto Piccolo e do Rogério Blat”.
Houve uma grande identificação, mas
Henderson preferiu não fazer a faculdade
de artes cênicas. “Precisava de um plano
B. Sabia que a vida de ator era complica-
da. Foi quando optei pelo jornalismo, que
cursei, também, na UFRJ. Ou seja, fazia
teatro, faculdade e ainda comecei a fazer
trabalhos como modelo”.
Vieram, então, as primeiras peças.
“DNA Brasil” foi a estreia, na Casa de
Cultura Laura Alvim. “Depois fiz “Ai, Ai
Brasil”, com o Sérgio Britto, e “Jornada
de um poema”, com direção do Diogo
Vilela, além de cinema com o Cacá Die-
gues”, contou. Na televisão, a estreia foi
na série “Brava Gente”, da Rede Globo.
“Enquanto isso, continuava a faculdade
e os trabalhos como modelo”.
As coisas estavam indo bem, ao pon-
to de Alexandre já estar ajudando em
casa, com a quitação do primeiro aparta-
mento e a compra, depois, de um imóvel
melhor. E nisso, mais um vez, ele lembra
da formação recebida pelo colégio. “No
meio artístico há muito deslumbramen-
to. Manter os pés no chão sempre foi
importante. E o Santo Inácio me ajudou
muito. Brinco dizendo que há um execu-
tivo dentro de mim. Sou atento com mi-
nha carreira, tenho disciplina, prezo as
relações interpessoais. E acho que muito
disso eu aprendi no colégio e até mesmo
com meus amigos”, explica.
Quando se formou, Alexandre foi cha-
mado para fazer uma série do Canal Fu-
tura chamada “Nota 10”. “Eles estavam
atrás de um apresentador negro que fosse
ator ou jornalista. Eu era os dois e tinha,
além disso, um bom currículo. Consegui
a vaga”, contou. O programa debatia a
questão racial nas escolas e teve uma boa
repercussão. “Quando os episódios aca-
baram, voltei a fazer televisão, como ator.
Trabalhei na novela “Paixões Proibidas”,
na Band, e quando acabei de filmar fui
convidado para apresentar o “Globo Ci-
ência”, que já faço há seis anos”. Durante
esta fase de apresentador já foram quatro
prêmios: o troféu Raça Negra, em 2009,
de melhor apresentador; uma homena-
gem da Secretaria de Estado de Ciência e
Tecnologia do Espirito Santo, em 2010; a
Medalha Pedro Ernesto, principal comen-
da da Câmara Municipal do Rio de Janei-
ro, em 2012; e o troféu Top of Business,
como destaque de apresentador de TV,
também neste ano.
Apesar do pouco tempo que tem en-
tre as constantes viagens pelo Brasil para
gravar o “Globo Ciência”, Alexandre con-
seguiu espaço na agenda para escrever o
livro infanto juvenil “O menino, a goiabeira
e a porta bandeira”, pela editora Uirapu-
ru (www.editorauirapuru.com.br). “Este
é um projeto que começou depois que o
Lázaro Ramos escreveu um livro infantil
para esta editora. Deu certo e eles resol-
veram fazer uma série. Eu fui o primeiro
convidado”, explicou o, agora, autor.
Henderson como ator, durante o espetáculo “Ai, ai Brasil”, quando foi dirigido por Sérgio Brito, em 2000
Veja a entrevista que Henderson concedeu no Programa do Jô, onde
ele menciona com carinho o CSI http://bit.ly/hendersonjo
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Ou aponte o leitor de QR Code de seu
celular e acesse o conteúdo de onde
você estiver
16
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Em 2007, tomei uma decisão ra-
dical. Depois de mais de uma
década trabalhando no canal
Sportv, onde tinha entrado em
1996, como estagiário, e tinha chegado
a editor-executivo, pedi demissão para
aceitar uma bolsa de estudos em Madri.
Havia passado por um rigoroso proces-
so de seleção envolvendo jornalistas de
toda a América Latina e fora seleciona-
do para a sétima edição do Programa
Balboa, um intercâmbio de seis meses
promovido pela Fundación Diálogos,
da capital espanhola. O programa, que
já está no 11º ano, oferece trabalho em
meios de comunicação de ponta — El
País, El Mundo, ABC, Marca, Televisión
Española, Agência EFE, ente outros —,
além de palestras com os maiores espe-
cialistas de diversas áreas, como política,
cultura e sociedade espanholas. Estava
acompanhado de minha mulher, que fa-
ria um curso de jornalismo internacional
na Universidad Complutense de Madrid.
A previsão era passar de seis a nove me-
ses por lá, mas acabamos permanecen-
do por três anos, seguindo de perto o
início da crise mundial que abalou o país
e cujos efeitos estão longe de acabar.
O Programa Balboa me levou a tra-
balhar na Cuatro, a TV aberta do Grupo
Prisa, conglomerado que edita o El País,
jornal mais vendido na Península Ibérica.
Diferentemente daqui, na Espanha os
meios de comunicação não escondem
o posicionamento político. O Grupo Pri-
sa tem uma linha editorial afinada com
o Partido Socialista Obrero Español, o
PSOE do então presidente de governo
— equivalente a primeiro-ministro —
José Luis Rodríguez Zapatero. Por isso,
a Cuatro e o El País foram dos últimos a
admitir que o país e o mundo estavam a
ponto de mergulhar numa séria crise.
Quando cheguei à Espanha, em ja-
neiro de 2008, fiquei impressionado com
a opulência. Madri era um canteiro de
obras. A cada semana, uma nova estação
de metrô era inaugurada. A expansão
do AVE, o trem de alta velocidade, era
tocada a pleno vapor. Com o sonho de
sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o país
construía modernas — e caras — insta-
lações esportivas antes mesmo de estar
entre as cidades finalistas. A ‘Caixa Má-
gica’, magnífica sede do Torneio de Tênis
de Madri, por exemplo, ficou pronta em
2009 e custou mais de 160 milhões de
euros, hoje cerca de R$ 412 milhões. A
cada esquina, estação de metrô ou pági-
na de jornal, abundavam os anúncios de
crédito imobiliário. Praticamente todos os
espanhóis que eu conhecia estavam pa-
gando hipotecas de duas, três décadas,
com juros baixíssimos.
Nos três anos que passou na Espanha, o antigo aluno e jornalista Guilherme Coimbra acompanhou de perto as mudanças no dia a dia dos espanhóis
Textos e FotosGuilherme Pristagcoimbra@hotmail.com
ar
tig
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Reflexos de uma crise
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A corda começou a arrebentar jus-
tamente por aí. O primeiro sintoma de
crise foi o aumento da inadimplência.
Começava a estourar a bolha que cul-
minaria com muita gente perdendo sua
casa depois de ter pagado prestações
durante cinco, dez anos. Apareciam os
primeiros sinais de retração da constru-
ção civil, que quebraria imobiliárias e
empreiteiras e levaria o desemprego até
os mais de 23% atuais.
Maioria no contingente de traba-
lhadores braçais, os imigrantes, princi-
palmente equatorianos, colombianos,
marroquinos e romenos, foram os pri-
meiros a sentir os efeitos da crise. Como
sempre, na Europa, quando a torneira
se fecha, os estrangeiros não comunitá-
rios sofrem. Mesmo sem admitir a crise,
o governo Zapatero lançou um progra-
ma de repatriação voluntária, quando já
havia mais de 100 mil imigrantes legais
sem trabalho. Trabalhadores de fora da
Comunidade Europeia que decidissem
voltar para o país de origem recebiam
o equivalente a 40% do seguro desem-
prego de imediato e os outros 60% em
prestações. A gangorra tinha virado.
Pouco mais de dez anos antes, em 1996,
a Espanha tinha 500 mil imigrantes. Em
2008, eram 4,5 milhões de um total de
46 milhões de habitantes.
Nesse meio tempo, minha bolsa
acabou em agosto de 2008. O curso de
minha mulher estava perto de terminar,
mas ela já tinha acertado um contrato
de trabalho de seis meses com a Europa
Press, uma agência de notícias privada
espanhola. Com a previsão de ficar na
Espanha até o fim do ano, comecei a
buscar trabalho como free lancer para o
Brasil e um emprego, já que tentar viver
de ‘bicos’ pagos em reais tendo con-
tas em euros para pagar não era uma
boa ideia. Como tenho nacionalidade
portuguesa e falo alguns idiomas, con-
segui trabalho na Mondial Assistance,
seguradora multinacional com presença
no Brasil. Com um forte serviço de assis-
tência, a sucursal espanhola da Mondial
tinha mais da metade de seus quadros
composta por estrangeiros. Com a des-
valorização gradativa do Euro, o acha-
tamento dos salários e as perspectivas
sombrias da economia nacional, a cada
mês era mais difícil reter os funcionários.
Marroquinos, equatorianos e colombia-
nos estavam passando adiante suas hi-
potecas e voltando para seus países.
Enquanto isso, Zapatero, recém-ree-
leito, negava a gravidade da crise e via
o circo pegar fogo sem tomar nenhuma
atitude. Entre as poucas medidas palia-
tivas, o governo flexibilizou as leis traba-
lhistas para facilitar a contratação, mas o
tiro saiu pela culatra. Ficou mais fácil de-
mitir e as empresas, endividadas, come-
çaram a cortar pessoal. Para mim, ficava
claro que conseguir trabalho na minha
área, o jornalismo, seria impossível. Para
se ter uma ideia, o Grupo Prisa, onde eu
trabalhara por seis meses, simplesmente
encerrou as atividades da CNN+, o canal
24h de notícias que tinha em parceria
com a famosa rede americana, mandan-
Manifestação durante festa da independência da Catalunha, em Barcelona, em 11 de setembro de 2010, que é o Dia Nacional da Catalunha
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do nada menos que 300 profissionais
para o olho da rua.
Acuado, o governo do PSOE come-
çou uma reação tardia. Um ano depois
da reeleição de Zapatero, o desemprego
saltou de 8% para 18%. O presidente
iniciou uma reação que teve que passar
por setores antes intocáveis para os so-
cialistas. O colapso do sistema financeiro
e a retração do setor imobiliário, princi-
pal motor da economia espanhola nas
duas décadas anteriores, levaram o país
à recessão. Zapatero teve que mexer no
orçamento e cortar várias medidas so-
ciais que tinham sido bandeiras de sua
campanha pela reeleição.
O poder acabou mudando de mão na
Espanha no fim do ano passado, quando
o Partido Popular (PP), de Mariano Ra-
joy, venceu as eleições antecipadas com
44,63% dos votos válidos e sua coalizão
de direita conquistou maioria absoluta
no parlamento. Tradicionalmente, os
espanhóis são avessos a mudanças e só
trocam o governo quando ocorre algo
muito grave. Foi assim em 2004, quan-
do, poucos dias antes das eleições, um
atentado terrorista na estação de trem e
metrô de Atocha matou quase 200 pes-
soas. O então presidente José María Az-
nar sustentou insistentemente a tese de
que o grupo separatista basco ETA era
o autor do massacre. Quando a verda-
de veio à tona e a sociedade espanhola
soube que radicais islamistas estavam
por trás do ato, os eleitores castigaram
o PP nas urnas.
Sete anos depois, a direita voltou ao
poder impulsionada pela crise econômi-
ca. De 2008 a 2011, o país fora sacudido
por greves gerais e vira o número de de-
sempregados bater a casa dos 30% em
regiões como Andaluzia e Extremadura.
No fim de 2010, havia cerca de 100 mil
famílias espanholas sem que nenhum dos
membros de seu núcleo estivesse empre-
gado. O seguro-desemprego permite que
o trabalhador receba 75% da média dos
seus últimos três salários durante um ter-
ço do tempo de contribuição. Ou seja,
um peão de obra que ganhe mil euros
e seja demitido depois de três anos de
trabalho tem direito a um ano de segu-
ro com 750 euros mensais. O problema
é que ninguém encontra trabalho. Com
a economia estagnada, não se cria nada
novo. As poucas vagas que surgem são
tapa-buraco. E o governo se viu obriga-
do a estender o benefício. Trabalhadores
que provem que continuam buscando
emprego, mas não encontram, têm direi-
to a 400 euros mensais.
A deterioração do mercado de tra-
balho causou distorções impressionan-
tes. Victor Aguado, um amigo meu com
uma carreira consolidada como técnico
de som, com serviços prestados para fa-
mosas bandas pop espanholas, se viu de
repente sem qualquer trabalho durante
mais de três meses e me perguntou se
não havia vagas de operador de tele-
marketing na seguradora. Isabel García,
outra amiga, jornalista com mais de dez
anos de experiência, foi trabalhar unifor-
mizada como promotora de produtos
numa unidade do supermercado Carre-
four. Não que qualquer desses trabalhos
seja humilhante ou indigno, mas, sem
hipocrisia, o tal rebaixamento de escopo
assusta e mostra o grau de desespero dos
profissionais espanhóis. Num país com
quase 50% de desemprego entre os jo-
vens, é normal que nativos comecem a
cobiçar postos antes ocupados por imi-
grantes. O que fazer com um diploma de
direito ou engenharia nas mãos num país
onde não se cria nada novo? Rebaixar o
escopo ou partir para o exterior.
Muitos defendem a tese de que um
dos fatores que levaram a Europa à ruína
foi justamente o excesso de benefícios
sociais. Com a volta da direita ao poder,
esse discurso ficou ainda mais forte. E
há um certo embasamento. Em 2010,
precisei usar o sistema público de saúde
por causa de uma crise renal. Tive aten-
dimento de primeira. Meu médico de fa-
mília me encaminhou para um urologis-
ta, fiz radiografias, ultrassonografias e
Pintura convocando para a greve geral de 29 de setembro de 2010 contra os cortes sociais, em Barcelona - vaga general é greve geral em catalão. A outra foto, das bicicletas, foi tirada em Vitoria Gasteiz, que é a capital do País Basco. Os cartazes são pró-independência
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recebi medicação. Ao todo, gastei 3,50
euros. A assistência funciona perfeita-
mente, mas é deficitária. Mesmo assim,
discordo de quem é contra o sistema
de saúde universal. Não é preciso aca-
bar com ele, mas sim encontrar novas
formas de torná-lo viável, combatendo
a corrupção, evitando o mau uso de re-
cursos e talvez até aumentando a copar-
ticipação tendo como base a renda de
cada usuário do sistema.
Por fim, em meados de 2010, decidi
voltar. Embora tivesse uma vida tranqui-
la em Madri, com salário razoável, esta-
va trabalhando fora da minha área e as
perspectivas a médio prazo não eram
nada boas. O contraste com a pujança da
economia do Brasil, onde o desemprego
estava na casa dos 6% e a minha área,
Comunicação, apresentava excelentes
oportunidades graças à Copa de 2014
e aos Jogos Olímpicos de 2016, não me
permitiram pensar duas vezes. Há um
ano e meio de volta, pude ver de perto
o bom momento vivido pelo Rio e pelo
Brasil. Não me faltou trabalho desde que
cheguei. Hoje, estou no Comitê Orga-
nizador do Rio 2016. Só torço para que
o meu país faça as reformas necessárias
para que essa prosperidade não seja uma
onda passageira. Afinal, quando cheguei,
a Madri, em 2008, os espanhóis viviam
uma euforia parecida havia uma década
e meia e hoje estão como estão.
A Espanha vai estar sempre no meu
coração. O país que emergirá da crise
— que, tendo conhecido de perto esse
povo incrível, não tenho dúvida de que
será superada — jamais será o mesmo.
Terá que se reinventar para voltar a ser
competitivo e retomar a credibilidade no
mercado. Uma das frases preferidas de
meus colegas de trabalho era “nosostros
trabajamos para vivir, no vivimos para
trabajar”. Concordo com essa filosofia
de vida. Mas o sacrifício que os 46 mi-
lhões de espanhóis terão que fazer para
tirar o país do atoleiro exigirá uma mu-
dança radical de paradigma.
Guilherme Prista é jornalista formado
pela UFRJ. Trabalhou no Sportv de 1996 a
2007, onde foi responsável por transmis-
sões esportivas nacionais e internacionais
e trabalhou como editor-executivo dos
programas “Redação Sportv” e “Troca
de Passes”. Cobriu a Copa do Mundo de
2006. Em 2007, foi selecionado para o
Programa Balboa para Jovens Jornalistas
Latino-americanos e passou os três anos
em Madri. Hoje é editor de conteúdo do
departamento de Publicações do Comitê
Organizador dos Jogos Olímpicos e Par-
alímpicos Rio 2016.
compro livros
Av. Rio Branco, 185 Loja 10 - Centrolivrariaberinjela@gmail.com
(21) 2215 3528
Compra e venda de livros e CDs usados
Um prédio em Barcelona tomado por faixas referentes à crise que assola o país
Compartilhe conosco suas históriasEnvie para minhasino@revistasino.com.br e facebook.com/revistaSino
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A ladainha é a de sempre: “a
internet vai acabar com a
TV”, dizem os “especialis-
tas” (com muitas aspas, por
favor). Devem ser descendentes diretos
daqueles mesmos que outrora afirma-
ram com certeza categórica que o rádio
acabaria com o jornal e a TV acabaria
com ambos. Bobagem.
As novas mídias vieram com tudo.
Fato. Porém, continuamos restritos aos
limites do corpo. Basta reparar como le-
mos bem mais que há 25 anos. E isso
não tem nada a ver com os movimentos
cíclicos que trouxeram as malditas om-
breiras e capangas de volta (sim, sou he-
terossexual, mas leio editoriais de moda).
A informação é óbvia, mas poucos com-
preendem que quem mudou não foi o
receptor, mas, sim, o meio.
O jornal de papel vai acabar? Prová-
vel. Será lido no tablet ou no “sbrubles”
que inventarem até lá. Deixará de ser
jornal por causa disso? Claro que não.
Ou será que a TV deixou de ser o que é
quando largou o velho tubo Telefunken
e abraçou os leds de hoje? A forma vive
em constante e cada vez mais ágil mu-
tação, mas ela e o comportamento são
irmãos siameses. Seu notebook novinho
nunca substituirá a lareira que é a te-
levisão. Não é possível reunir a família
em torno de um iPhone e tampouco no
computador do escritório. E isso inde-
pende do conteúdo. E é aí que entra o
terceiro elemento dessa equação.
A internet faz com que qualquer pes-
soa com um telefone se transforme em
veículo. Hoje, todos somos editores de
nós mesmos. Para o bem e para o mal.
O lado ruim é que nenhuma bolha
cresceu tanto quanto a do ego. Antiga-
mente, se você pensasse na mesma piada
que foi ao ar no “TV Pirata”, ficaria cheio
de orgulho e contaria para os amigos na
quarta: “Conta para eles, Solange! Não
falei a mesma coisa ontem?”. Hoje, se
você escrever uma piada no Twitter que
só sua tia e seus colegas de Bonsucesso
seguem, e três dias depois exibirem a
mesma tirada no “CQC”, você os acusa-
rá de plágio. Puro devaneio. É a chama-
da “inveja wagneriana”.
Outro aspecto negativo é que essa
liberdade trouxe – quem diria? – a falta
de liberdade. A horda dos politicamente
chatos é feroz no Brasil. E quem assis-
tiu aos “Trapalhões” bem sabe do que
estou falando. Didi, Dedé, Mussum e
Zacarias jamais poderiam ir ao ar hoje.
Seriam chamados de racistas, machistas,
homofóbicos e alcoólatras por todos
aqueles que carregam mais preconceitos
que os preconceitos que procuram.
Não estou defendendo a falta de li-
mites. Há de se separar tudo pelo bom
senso. É inegável que o “correto” cum-
pre importante papel social. Hoje, somos
muito mais cuidadosos com o outro do
que éramos nos recreios do Santo Iná-
cio. Isso é reflexo de maturidade pessoal
e social. Mas esse movimento também
trouxe uma espécie de ditadorzinho
oportunista. Aquele que quer ganhar
dinheiro com ONG sobre tudo. Certa
vez, um amigo afro-brasileiro (também
conhecido como “preto” pelo – ve-
jam só! – “Jornal Nacional”) reclamou
ar
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o
Humor levado a sério?Criador do Kibe Loco fala sobre novas mídias e defende o bom senso como o melhor limite para as piadas que circulam pela internet
Por Antônio Pedro Tabet*
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quando um apresentador utilizou a ex-
pressão “ovelha negra”. Ele dizia que a
expressão era pejorativa. Questionava o
inquestionável. Quando perguntei se ele
iria contratar um advogado faixa preta
para processar a emissora para ganhar
uma grana preta, acalmou-se.
Essa ignorância vestida de empáfia
é típica dos sabichões de gueto. Falta-
lhes a humildade para perceberem que a
velocidade do mundo atual não dá mais
rédeas para tais “verdades absolutas”. E
que é justamente essa a beleza da mo-
dernidade. Um tsunami que cria, recria
e abre espaços para o blogueiro na no-
vela das oito ou para o vesgo ensebado
e sem graça na MTV. Essa convergência
faz a madame do Morumbi dizer “cada
um no seu quadrado” e o garoto da
Rocinha saber operar um BlackBerry me-
lhor que o problogger de tecnologia, de
dedinhos valentes mas cujo bundão não
levanta da cadeira.
Quem insiste em bancar o xerife
das novas mídias pode até enganar
uma “meia-dúzia” de 20 mil trouxas,
mas para o cotidiano de milhões, so-
ará arrogante, patético e burro. Uma
espécie de tio obeso vestido de Rainha
da Inglaterra pegando ônibus errado
na Ilha do Governador.
Aliás, isso daria um belo webhit. E
mais! Seria chamado de humor inteligen-
te por todos aqueles que não sabem que
o mais inteligente é não classificar humor.
Ninguém tem mais tempo para preconcei-
tos. Ou vai dizer que o “Pedala, Robinho!”
do antenado e “muderno” “Pânico” não
é bordão à “Zorra Total”?
* Publicitário, autor, roteirista, criador
do site Kibe Loco e antigo aluno do CSI
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Quatro alunos do CSI - Maria
Beatriz Gomes e Bernardo
Miranda, do 1 ano do Ensino
Médio, e Ana Vitória França
e Vítor Pessini, do 2 ano - acabam de
chegar da Colômbia, onde fizeram um
curso de formação em liderança inaciana
no colégio San Bartolomé de La Merce,
em Bogotá. O curso Taller Internacional
de Formação Integral em Liderança Ina-
ciana tem apoio da Federação Latino-
americana de Colégios Jesuítas (FLACSI).
Segundo a assessora de responsabilida-
de social Juliana Lima, que acompanhou
o grupo, a intensidade das atividades
desenvolvidas, sem dúvida, terão refle-
xos na vida de cada participante.
“O curso proporcionou a todos nós,
educadores e alunos, uma experiência
incomparável com a espiritualidade ina-
ciana, de forma lúdica e extremamente
reflexiva”, contou Juliana. Segundo a as-
sessora, todas as etapas do curso foram
importantes para o amadurecimento do
grupo, tanto as atividades realizadas na
Fazenda La Esperanza, quanto a experi-
ência de missão por quatro dias nas co-
munidades de San Pablo e Canaletal, às
margens do Rio Magdalena.
O aluno Vítor Pessini ficou bastante
surpreso com o que viu, principalmente
durante a missão em Canaletal. “É uma
localidade muito pequena, com cerca de
600 habitantes, casas simples e problema
de abastecimento de água”. As dificulda-
des enfrentadas pelo grupo fizeram o jo-
vem refletir sobre o seu dia a dia. “A gente
tomava banho no rio ou usando canecos,
comíamos alimentos preparados de forma
diferente do que estamos acostumados.
Percebi que nem sempre agradecemos
por tudo a que temos acesso”. Bernardo
concorda: “Aprendi a apreciar até as coisas
mais simples que tenho e avaliar os contex-
tos antes de tomar decisões, procurando a
excelência. Embora isso seja ensinado em
todos os colégios inacianos, a partir do cur-
so Taller, incorporei a prática a meu dia a
dia”, explica Bernardo.
Para Ana Vitória, foi importante
vivenciar o aprendizado de liderança
nas mais diversas dimensões. “O senti-
mento da união da América Latina, as
amizades feitas com pessoas de outros
países do continente e, principalmen-
te, experimentar a rotina em realidades
diferentes, abrindo os meus olhos para
o mundo à minha volta, foram ganhos
pessoais de valor inestimável, que levarei
para o resto da vida”, afirma Ana, que
hoje afirma compreender melhor o sen-
tido da espiritualidade inaciana. Já Maria
Beatriz passou a ter certeza de que algo
precisa ser feito em prol da humanidade.
“O curso Taller reafirmou minha vonta-
de de mudar o mundo”, disse Maria.
Formação
Liderança para fazer a diferençaAlunos vão à Colômbia para participar de curso e dividir ensinamentos e experiência com colegas
so
li
da
ri
ed
ad
e
23
julh
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Seja sócio Não é preciso ser ex-aluno
do Santo Inácio para ajudar a manter projetos como o
Ação Claveriana
Associação dos Antigos Alunos dos Padres Jesuítas - RJRua São Clemente, 216 - BotafogoRio de Janeiro - RJTel: (21) 2527-3502contato@asiarj.org.brw w w . a s i a r j . o r g . b r
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