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Princípios Metodológicos da
Atividade Física para Idosos
Marisete Peralta Safons e
Márcio de Moura Pereira
Faculdade de Educação Física – UnB
Faculdade de Educação Física – UnB
Marisete Peralta Safons e Márcio de Moura Pereira
Princípios Metodológicos da
Atividade Física para Idosos
Faculdade de Educação Física – UnB
Faculdade de Educação Física – UnB
BRASÍLIA
2007
Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região – CREF7 Endereço: SGAN 604 conjunto C – Clube de Vizinhança Norte CEP: 70840-040 - Brasília-DF Tel: (61)3321-1417 (61)3322-6351 Site: www.cref7.org.br
DIRETORIA EXECUTIVA: CONSELHEIROS: Presidente Alex Charles Rocha Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Alexander Martinovic Alexandre Fachetti Vaillant Moulin 1º Vice-presidente André Almeida Cunha Arantes Paulo Roberto da Silveira Lima Cristina Queiroz Mazzini Calegaro Elke Oliveira da Silva 2º Vice-presidente Geraldo Gama Andrade Marcellus R. N. Fernandes Peixoto Guilherme Eckhard Molina João Alves do Nascimento Filho 1º Secretário José Ricardo Carneiro Dias Gabriel Marcelo Boarato Meneguim Lúcio Rogério Gomes dos Santos Luiz Guilherme Grossi Porto 2ª Secretária Marcellus Rodrigues N. Fernandes Peixoto Elke Oliveira da Silva Marcelo Boarato Meneguim Márcia Ferreira Cardoso Carneiro 1º Tesoureiro Paulo Roberto da Silveira Lima José Ricardo Carneiro Dias Gabriel Ramón Fabián Alonso López Ricardo Camargo Cordeiro 2º Tesoureiro Telma de Oliveira Pradera Alex Charles Rocha Waldir Delgado Assad
Wylson Phillip Lima Souza Rêgo
COMISSÃO EDITORIAL: Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Cristina Quiroz Mazzini Calegaro Márcia Ferreira Cardoso Carneiro Márcio de Moura Pereira Telma de Oliveira Pradera
Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Educação Física – FEF Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos – GEPAFI Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro – Gleba B – Asa Norte CEP: 70910-970 Tel.: 3307 – 2252 Site FEF: www.unb.br/fef Blog GEPAFI: http://gepafi.blogspot.com
Diretor: Prof. Dr. Jônatas de França Barros
Vice Diretor: Prof. Dr. Jake do Carmo
Chefe do Centro Olímpico: Profa. Dra. Marisete Peralta Safons
Coordenador de Graduação: Prof. Dr. Alexandre Rezende
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação: Profa. Dra. Ana Cristina de David
Coordenador de Extensão e Atividades Comunitárias: Prof. Dr. André T. Reis.
Coordenador de Prática Desportiva: Prof. William Passos
Editores CREF/DF e FEF/UnB/GEPAFI Autores
Marisete Peralta Safons Doutora em Ciências da Saúde pela UnB Márcio de Moura Pereira Mestre em Educação Física pela UCB Editoração Eletrônica Aderson Peixoto Ulisses de Carvalho Revisão Fernando Borges Pereira Publicação CREF7
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Safons, Marisete Peralta.
Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos / Marisete Peralta
Safons; Márcio de Moura Pereira - Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007.
110 p.:il.
ISBN 978-85-60259-02-1
1. Educação física para idosos. 2. Metodologia do ensino. 3. Esporte e
educação.
I. Pereira, Márcio de Moura. II. Título.
CDU 796.4-053.9
Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Jeane Ramalho CRB1/1225
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA ................................................................................7
1.1. Planejar é Preciso ............................................................................................................8 1.2. Pilares do Planejamento.................................................................................................13 1.3. Reflexões Finais ............................................................................................................16
UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA? ...........................................17 2.1. Competências necessárias a um educador de idosos .....................................................18 2.2. Reflexões Finais ............................................................................................................26
UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS?...............27 3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos.....................................................28 3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos ...............................................................32 3.3. Reflexões Finais ............................................................................................................35
UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: QUEM É O ALUNO IDOSO? ....................................................................................................................................36
4.1. Epidemiologia do Envelhecimento................................................................................37 4.2. Fisiologia do Envelhecimento .......................................................................................41
4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento ..........................................................41 4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes...............................................43
4.3.1. Doenças Cardiovasculares......................................................................................44 4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas.................................................................45 4.3.3. Doenças Metabólicas..............................................................................................47 4.3.4. Quedas: doença ou sintoma? ..................................................................................49
4.4. Reflexões Finais ............................................................................................................52 UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ PRESCREVER PARA IDOSOS? 53
5.1. Prescrição do exercício para o idoso .............................................................................54 5.1.1. Princípios da prescrição..........................................................................................55 5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição .................................................................57 5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício .......................................60 5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição .........................................................62
5.2. Cuidados com as doenças prevalentes e riscos durante a aula ......................................82 5.3. Reflexões Finais ............................................................................................................83
UNIDADE 6 – METODOLOGIA DE TRABALHO ..............................................................84 6.1. Estratégias ou métodos de trabalho ...............................................................................85 6.2. Trabalhando a Aptidão Física com segurança...............................................................87 6.3. Avaliando resultados de um programa ..........................................................................88 6.4 Recursos .........................................................................................................................96
6.4.1. Espaço Físico..........................................................................................................96 6.4.2. Equipamentos e Materiais ......................................................................................96 6.4.3. Secretaria ................................................................................................................98 6.4.4. Parcerias .................................................................................................................99
6.5. Emergências: Primeiros Socorros..................................................................................99 6.6. Reflexões Finais ..........................................................................................................102
7. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................103
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA
Apresentação Nesta unidade demonstraremos que um professor eficaz
planeja, organiza e se mantém um passo à frente. Começaremos contextualizando a
prática pedagógica de quem trabalha com atividade física para idosos dentro das
dimensões históricas e sociais das quais estes alunos provêm. Depois passaremos à
conceituação dos pilares do planejamento, identificando cada ator ou atividade do
processo pedagógico.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
• Localizar o ensino de atividades físicas para idosos enquanto prática
pedagógica, visando à educação e à saúde dos alunos;
• Entender a importância do ato de planejar;
• Reconhecer os pilares do planejamento.
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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1.1. Planejar é Preciso
O professor que assume um grupo de idosos para orientar atividades físicas
precisa saber que seu trabalho está inserido em uma realidade com fortes
componentes históricos e sociais.
Historicamente, seu aluno faz parte de uma população que nasceu na
primeira metade do século XX. Ele faz parte da primeira geração industrial brasileira,
que veio de um Brasil rural, agrícola, que se urbanizou e se modernizou a uma
velocidade astronômica. Este aluno vem de um país com altas taxas de
analfabetismo, alguns deles inclusive permaneceram analfabetos e tornaram-se
parte do grupo de idosos, que hoje freqüenta os programas de atividades físicas
comunitários.
Nestes grupos também não é raro descobrir que, mesmo para quem tem
formação superior, a escolarização foi um processo tão penoso quanto para a
maioria: alguns não tinham escolas onde moravam, outros não tiveram dinheiro para
manterem-se na escola, outros se mudaram tantas vezes acompanhando a família
em busca de emprego que perderam anos de estudo, enquanto outros, por
necessidade ou falta de oportunidade, ainda permaneceram na roça até a idade
adulta e não puderam ir à escola.
No aspecto social é preciso lembrar que enquanto o Brasil buscava seu
desenvolvimento do ponto de vista global, individualmente também os cidadãos
buscavam crescimento. Essa geração, hoje idosa, trabalhou muito: construiu as
grandes fábricas, as grandes estradas, as grandes hidrelétricas, as grandes
metrópoles deste país. Esta geração mudou a capital federal, transformou a
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 8
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
agricultura em agroindústria. Essas pessoas trouxeram a televisão para o país e
foram os primeiros a ver o Brasil ganhar uma copa do mundo de futebol. São filhos
de uma guerra mundial e viveram a maior parte da vida em uma ditadura, mas
também foram os primeiros a derrubar um presidente, a lutar por eleições diretas,
defender o divórcio, lutar pela igualdade feminina e pelos direitos humanos, contra o
racismo, contra a exclusão...a favor da natureza.
Essa geração realmente trabalhou muito, lutou, mudou a cara do Brasil... e se
aposentou.
E o corpo destes indivíduos?
O corpo desta geração foi excluído: “coisificado” pelas ciências da saúde,
adestrado pela educação, alienado pela política, “demonizado” pela religião. Objeto
de trabalho, instrumento de transporte e palco de conflitos. Este corpo não teve
acesso à educação física escolar na infância e adolescência (nem no ensino
noturno, que boa parte freqüentou, normalmente não foram ministradas aulas de
educação física) e na idade adulta este corpo não teve tempo para se exercitar,
nem para o jogo, o esporte ou o lazer.
Este corpo aos sessenta anos espoliado, cansado, frágil e com um repertório
pequeno de movimentos (só faz bem os movimentos relacionados ao trabalho).
Muitas vezes este corpo apresenta-se com doenças associadas ao sedentarismo
(obesidade, hipertensão, cardiopatias, colesterol alto, diabetes tipo II, “reumatismos”)
e, normalmente, com dores no corpo, muita dor (na coluna, nas pernas, nos braços,
na cabeça...). Isso sem contar outras dores, tais como a da solidão, do abandono,
da pobreza, da falta de atendimento especializado, do desrespeito a direitos básicos
ou da violência onipresente.
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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
O professor que assume um grupo de idosos para orientar na prática de
exercícios físicos precisa ter essas realidades bem claras ao propor as atividades. É
preciso saber que nenhum exercício proposto se reduz ao ato mecânico de mover
um braço ou uma perna.
É preciso ter claro que cada movimento é, na verdade, uma possibilidade de
resgate da infância, redescoberta da corporeidade, liberação de afetos, superação
de dores, permissão para o prazer de viver...
A possibilidade de viver uma vida plena a partir dos sessenta anos já é hoje
uma realidade. E ninguém sabe ainda onde isso termina: o número de idosos
saudáveis, ativos e produtivos, muitos com mais de 100 anos, cresce na mesma
proporção em que se fazem investimentos em atividade física, saúde, educação,
segurança e inclusão.
E aí começa uma nova história, uma história da qual você professor faz parte.
Se o programa pode ser o espaço para inclusão social, educação para a saúde,
autonomia e cidadania, a atividade física será o meio através do qual o processo
educacional se dará em função desses objetivos. Portanto, precisa ser bem
planejada sob pena de não atingir os resultados, desperdiçando recursos e
frustrando expectativas.
No caso do aluno idoso, falhas no planejamento podem acarretar efeitos
adversos e, portanto, não é possível propor com segurança atividades baseadas em
“boas intenções” ou na “fé de que tudo vai dar certo”.
Desta forma, verifica-se que:
• Se no planejamento não foi prevista a socialização é bem provável que os
alunos venham ao programa por meses sem estreitarem os laços de amizade
e camaradagem (entram mudos, saem calados);
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 10
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• Se no planejamento a inclusão não for prevista é bem provável que em cada
atividade proposta alguns alunos se sintam excluídos (ioga é para as
mulheres, musculação é para homens, não sirvo para correr, branco não
consegue sambar...);
• Se no planejamento não for prevista a progressão é bem provável que os
alunos não percebam vantagem alguma em investir seu tempo em algo que
não apresenta resultados visíveis ou mensuráveis (a distância ou o tempo da
caminhada são os mesmos há um ano, o peso que levanto é o mesmo há
meses, o que ganhei com tanto trabalho, tempo e suor? Estas serão
perguntas freqüentes na mente desses alunos.);
• Se no planejamento não houver previsão de atividades que levem em conta a
saúde é bem provável que nenhuma melhora seja verificada neste aspecto (o
médico me disse que com exercício minha pressão - ou a glicose ou a dor -
melhoraria, mas já estou praticando há 5 anos e continuo na mesma!);
• E, não havendo previsão de riscos é bem provável que os alunos venham a
sofrer danos com a atividade proposta (desconforto psicológico, dor, lesão e
até morte!).
Você sabia que um infarto causado por exercícios mal planejados pode
acontecer até várias horas depois da prática, podendo levar à morte ou invalidez?
Você sabia que uma hipoglicemia causada por exercícios mal planejados
pode acontecer até várias horas depois da prática, muitas vezes à noite, caso em
que o idoso pode morrer dormindo?
Você sabia que uma crise de dor causada por exercícios mal planejados pode
acontecer até várias horas depois da prática, quando passa o efeito do aquecimento
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 11
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
e das endorfinas, levando o aluno muitas vezes ao leito durante semanas, sob
medicação cara e pesada?
Um professor que planeja levando em conta a realidade do aluno, procurando
proporcionar o máximo de benefícios e ao mesmo tempo prevenir os riscos sabe que
muito do progresso de cada aluno se deve às atividades propostas por ele.
Um professor que planeja com seriedade também está seguro de que os
agravos nas doenças prévias dos alunos e até mesmo a morte de algum aluno ao
longo do ano podem ter qualquer causa (acaso, progressão natural da doença,
acidente...), mas não a sua imperícia ou omissão.
Já um professor que não se preparou e não planejou, jamais saberá porque
um aluno progrediu e outro não. Da mesma forma que não poderá afirmar com
segurança que uma morte não foi causada por imperícia de seu trabalho só porque
ela não aconteceu durante a aula.
Estas reflexões nos levam à conclusão de que Planejar é preciso, não só por
motivos técnicos, mas também éticos: consciência tranqüila e certeza do dever
cumprido não têm preço. Assim, um bom planejamento foca os recursos na direção
da conquista dos objetivos; evita que o trabalho se torne rotineiro e repetitivo;
previne os riscos do improviso e aumenta a segurança das práticas.
Em seu planejamento, um professor bem preparado deixa claro QUEM faz O
QUÊ e POR QUE, PARA QUEM e COMO, determinando ainda procedimentos de
AVALIAÇÃO para acompanhar o processo. Este professor sabe que a parte mais
importante de seu planejamento será a tarefa de executá-lo. Ele sabe também que o
“Plano A” pode não funcionar na hora, mas como tem tudo planejado, tem sempre
um “Plano B” preparado com antecedência. Assim nunca terá que improvisar e
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 12
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
dedicar-se-á mais aos alunos e à tarefa pedagógica, trabalhando sempre próximo ao
“ESTADO DA ARTE” profissional.
1.2. Pilares do Planejamento O planejamento visa à ação. É um processo dinâmico de coordenação de
esforços e recursos, dentro das atividades de ensino e aprendizagem, que permite
ao professor prever e avaliar a direção da ação principal, determinando rumos de
ações alternativas, servindo ainda para auxiliar o professor a tomar decisões
racionais tecnicamente embasadas.
QQuueemm ffaazz
OO qquuêê ffaazz
PPaarraa qquueemm ffaazz
PPoorr qquuee ffaazz
CCoommoo ffaazzeerr ((mmeettooddoollooggiiaa))
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
Ao planejar uma aula ou projeto
de atividades físicas para idosos é
preciso especificar claramente: quem
vai fazer o quê, para quem e por que,
a fim de determinar o como fazer (a
metodologia de trabalho). É preciso
também especificar instrumentos de avaliação para acompanhamento e controle da
atividade desde o início.
No caso de um programa de atividades físicas para idosos cada item
colocado acima corresponderia a:
• Quem faz é o profissional de educação física;
• Por que faz são as justificativas teóricas e os objetivos para o programa ou
para cada aula (saúde, educação, esporte, lazer, etc.);
• Para quem faz é o aluno idoso;
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 13
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• O quê faz são os conteúdos de Educação Física (atividade física, exercícios,
esporte, jogos, etc.);
• Como faz é a metodologia de trabalho adaptada para idosos, são as aulas
propriamente ditas, prescritas e ministradas aos idosos.
• Avaliação: instrumentos de acompanhamento e controle do aluno, da
atividade e do programa a fim de verificar questões como: quem é o aluno? Que
atividades podem ser desenvolvidas com ele neste lugar? O treinamento atingiu os
objetivos? Por quanto tempo serão mantidas as estratégias atuais? Serão
necessários ajustes? Onde?
Por ser dinâmico o planejamento não se resume ao plano de curso e aos
planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se
conclui por aproximações sucessivas, sofrendo influências o tempo todo da
realidade à qual está sendo aplicado. Por isso a avaliação está presente o tempo
todo, inclusive durante a execução das tarefas.
O planejamento deve expressar os objetivos do programa de exercícios e
antever os meios para alcançar os propósitos, racionalizando a utilização dos
recursos e otimizando a tarefa principal da educação que é o processo ensino-
aprendizagem.
Isto deve ser feito por escrito, em um caderno, pasta de planos avulsos (em
papel ou arquivadas em computador) ou em qualquer outro meio que o professor
considere válido para escrever, guardar, recuperar, estudar e refazer seus planos.
No exemplo do caderno, pode-se ter um caderno para cada disciplina que se
pretenda ministrar. As páginas iniciais são reservadas para o plano de curso e as
seguintes ficam destinadas aos planos de aula. O plano de curso é aquele mais
geral, que resume os principais pontos que nortearão o desenvolvimento do
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 14
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
programa e a confecção dos planos de aula. Já o plano de aula é mais específico e
deve prever o que acontecerá em cada aula.
Nas próximas unidades você aprenderá como estruturar o seu planejamento.
Há vários modelos, você não precisará seguir exatamente o sugerido neste curso,
mas há algumas informações que não podem faltar em um plano, independente do
modelo. Lembre-se: planejar é muito importante, faz parte das atribuições de um
professor. Além disso, pensar sobre cada aula é também uma forma de demonstrar
seu afeto e sua atenção para com seus alunos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 15
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1.3. Reflexões Finais
Fim da primeira etapa! Após o contato com estas informações iniciais, é
importante, neste momento, parar e tentar perceber qual foi o entendimento que
você teve dos assuntos. A qual conclusão você chegou a respeito da visão da
atividade física para idosos como prática pedagógica? Qual foi o seu entendimento a
respeito da importância do ato de planejar? O que você aprendeu a respeito dos
pilares do planejamento? Diante destas reflexões, como você tem pensado a sua
prática com os idosos?
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 16
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA?
Apresentação Neste capítulo nos concentraremos no estudo das
competências necessárias a um professor que pretenda trabalhar com a educação
para idosos gerando aprendizagem significativa e de qualidade, utilizando o
movimento como instrumento pedagógico. Veremos também que a capacitação
profissional não é definitiva, tendo um prazo de validade a partir do qual se torna
obsoleta, sendo sempre necessário atualizar informações, conceitos, técnicas e
materiais: só isso manterá o professor dentro da realidade.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
• Reconhecer a importância da capacitação profissional para o trabalho com
idosos;
• Descrever as competências básicas necessárias a quem trabalha com
atividades físicas com idosos;
• Discutir questões relativas a aprofundamento técnico e teórico, atuação
reflexiva, educação continuada, produção de conhecimento, e comunicação
pedagógica.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 17
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2.1. Competências necessárias a um educador de idosos
A formação do professor que trabalha com educação física deverá priorizar o
desenvolvimento de certas competências importantes para o trabalho esportivo
voltado para qualquer idade, mas que se tornam indispensáveis no caso do
professor que atenda a idosos.
Medeiros (2004) aponta seis competências necessárias ao profissional que
orienta a prática de atividades físicas:
1. Conhecimento da educação física no contexto da educação e da
sociedade
2. Conhecimento técnico-teórico-filosófico a respeito da pessoa humana
3. Capacidade reflexiva para analisar os diversos fenômenos que
compõem a prática cotidiana
4. Capacidade de realizar sua formação continuada
5. Capacidade de produzir conhecimento
6. Capacidade de comunicar-se com seus interlocutores
Com o objetivo de prestar sempre o melhor atendimento no trabalho com
idosos, cada uma dessas áreas de competência da proposta de Medeiros pode ser
objeto permanente de estudo e aprofundamento por parte do professor.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 18
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1. Conhecimento da Educação Física no contexto da Educação e da
Sociedade
A Atividade Física realizada separadamente do processo maior de Educação
do aluno acaba por se reduzir a uma prática alienada. A Educação Física é um elo
na cadeia maior da Educação (outros conteúdos, outras disciplinas), da Saúde
(outros serviços na área da saúde física, mental e social) e da Formação do
Cidadão.
Por isso é sempre bom ter em mente que embora o Exercício promova
Educação e Saúde, ele sozinho, NÃO EDUCA TOTALMENTE, NEM CURA OU
PREVINE TODOS OS MALES.
O professor precisa ter conhecimentos mínimos das áreas relacionadas ao
seu trabalho e das possibilidades de orientação e encaminhamento a fim de fazer de
suas aulas um efetivo momento de educação. Sem tais conhecimentos sua prática
se torna isolada, afastada da realidade, reduzindo-se ao papel de “distrair os
idosos”, “tirá-los de casa”, “leva-los para tomar sol”.
Sem saber onde a atividade física se insere no contexto da educação e da
sociedade o professor não utiliza seu potencial, faz um trabalho alienado e ainda
oferece à população idosa um serviço que não gera benefícios maiores de saúde em
longo prazo, nem autonomia, inclusão social ou cidadania.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 19
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2. Conhecimento Técnico-Teórico-Filosófico a respeito da pessoa
humana
O professor que vai trabalhar Atividades Físicas com idosos precisa
desenvolver um arsenal de conhecimentos para compreender questões relacionadas
à corporeidade do idoso.
Do ponto de vista técnico é necessário ter formação básica em educação
física (anatomia, fisiologia geral e do exercício, didática, psicologia da
aprendizagem), conhecimentos de Saúde (epidemiologia, fisiopatologia, saúde
pública), Domínio do Esporte ou Atividade que pretende ensinar, conhecimentos de
Administração Esportiva, conhecimentos de Psicologia aplicada à atividade física ou
esportiva, etc.
Do ponto de vista teórico e filosófico é preciso ter uma compreensão mais
ampla da realidade na qual seu trabalho está inserido. Daí serem necessários
conhecimentos mínimos de história, sociologia, antropologia, filosofia, ética, política,
etc.
Tudo isso auxiliará o professor a entender os mecanismos da EXCLUSÃO DO
IDOSO em nossa sociedade e a propor alternativas viáveis para reverter essa
situação a partir do seu trabalho com exercícios físicos, auxiliando o idoso em seu
trabalho de se encontrar como SER HUMANO IDOSO (cidadão, pai ou mãe de
família, amigo, amante, profissional, consumidor, CIDADÃO).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 20
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3. Capacidade Reflexiva para analisar os diversos fenômenos que
compõem a prática cotidiana
O professor precisa ser capaz de contextualizar os conteúdos, levando em
conta idade, sexo e condições físicas dos alunos; clima e outras características
geográficas do local em que as atividades são desenvolvidas; os aspectos culturais,
gostos regionais, etc. Deve também ser capaz de fazer referência a situações
concretas ao ensinar um exercício (tal movimento melhora tal atividade da vida
diária).
Deve ainda ser capaz de evitar a fragmentação do conhecimento, mostrando
que o exercício não é um fim em si, mas um meio, promovendo assim a
interdisciplinaridade e trabalhando os temas transversais.
4. Capacidade para Realizar a Formação Continuada
O conhecimento não é definitivo, a cada 3 ou 4 anos o volume de
conhecimento em todas as áreas de trabalho simplesmente DOBRA. Portanto, para
manter-se atualizado é preciso fazer releituras e atualizações constantes.
Para isso é preciso estudar sempre, ler muito (livros, revistas, jornais, da sua
área e de outras), assistir criticamente a filmes e documentários (e até novelas de
TV, pois para quem busca o conhecimento criticamente, qualquer “texto” pode iniciar
uma discussão produtiva).
Outra estratégia é conversar com outros professores, buscar supervisão ou
coordenação de colegas mais experientes, fazer visitas técnicas para conhecer
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 21
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
abordagens utilizadas pelos colegas, conversar com os alunos buscando ver a
realidade a partir dos olhares de quem já é idoso a fim de propor novas ações
focadas em suas necessidades.
5. Capacidade para Produzir Conhecimento
Estreitar a relação entre o ofício de ensinar e o hábito de pesquisar. Levar
para a discussão profissional (fóruns, encontros, seminários, congressos, cursos,
etc.) as dificuldades e soluções inovadoras observadas em sua prática pedagógica
socializando o conhecimento ou ainda lançando questões-problema para futuros
estudos.
O resultado imediato desta atitude se reflete em toda a classe profissional,
melhorando métodos e procedimentos, diminuindo riscos e contribuindo para o
sucesso profissional na forma de um melhor serviço à população.
Outros resultados na forma de publicação de artigos científicos e livros,
apresentação de trabalhos em congressos e elaboração de cursos também poderão
advir da introdução da atitude científica, curiosa, no ofício de ensinar.
6. Capacidade para Comunicar-se com seus interlocutores
É a utilização consciente e intencional dos recursos da FALA PEDAGÓGICA,
que pode ser entendida como um conjunto de discursos orais e corporais ou “não
verbais” (gestual, atitudinal, comportamental) colocado a serviço da dinamização dos
conteúdos. O professor não deve resumir sua fala aos conteúdos cognitivos, nem
apenas a comandos verbais: é preciso falar ao aluno por inteiro.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 22
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
No trabalho com idosos a atenção a esse “diálogo pedagógico” pode explicitar
questões interessantes a respeito da formação do professor, gerando algumas
situações problema.
Há, por exemplo, o caso do professor desatualizado para o trabalho com
idosos, mas carismático, com grande habilidade na utilização da fala oral sempre
acompanhado por uma multidão de alunos entusiasmados. Considere que nesta
situação o professor está feliz, satisfeito com seu desempenho e os alunos também,
absolutamente satisfeitos com o trabalho do qual fazem parte. Onde está o
problema? Do ponto de vista motivacional, do talento verbal do professor,
absolutamente nenhum, boa parte dos professores do mundo trabalha para atingir
este nível de desempenho na “fala oral”.
O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado não-
verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que
o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no
“diálogo pedagógico” além de se “falar às emoções e ao intelecto” do aluno, não se
pode esquecer de “falar ao corpo”, aos ossos, articulações e músculos, ao coração,
artérias e sangue, aos hormônios e neurotransmissores.
Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio
corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” durante a
avaliação.
É nesta hora que, sem utilizar uma única palavra da fala oral, o aluno diz que
não melhorou a flexibilidade, a força, a capacidade aeróbia, o equilíbrio, a
coordenação, a pressão arterial ou o peso. Nesta hora o professor precisará ser
muito bom na “fala oral” para explicar ao aluno por que, depois que ele veio a todas
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 23
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
as aulas e participou de todas as atividades, os resultados prometidos não foram
atingidos.
No extremo oposto temos o professor extremamente capacitado tecnicamente
para “falar” com todas as estruturas anatômicas e funcionais através do movimento,
meticulosamente planejado e acompanhado, mas que “fala pouco” com o aluno do
ponto de vista verbal. Considere que nesta situação o professor está feliz,
plenamente satisfeito com seu desempenho e os alunos (normalmente 1 ou 2)
também completamente satisfeitos com o atendimento que recebem. Onde está o
problema? Do ponto de vista técnico, fisiológico, absolutamente nenhum, o aluno
está mais forte, mais flexível, mais resistente ao esforço aeróbio, mais saudável. Boa
parte dos professores do mundo trabalha e estuda muito até atingir este nível de
competência para “falar com o corpo”.
O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado
verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que
o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no
“diálogo pedagógico” além de se “falar ao corpo” do aluno, não se pode esquecer de
“falar às emoções e ao intelecto”, tornando a prática motivante, envolvente, lúdica,
divertida, prazerosa, gregária, comunitária (lembre-se que a solidão, a depressão e o
isolamento são problemas prevalentes em idosos, portanto, privar o idoso da
oportunidade de participar de um grupo, de estreitar laços e de fazer amizades
somente se justifica se suas condições de saúde exigirem isolamento ou
atendimento individualizado).
Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio
corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” com sua
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 24
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
ausência às aulas ou durante a avaliação, relatando que não melhorou nos aspectos
psicossociais.
Estes dois exemplos são situações fictícias extremas, mas que podem levar o
professor que trabalha com idosos a reavaliar como tem explorado os diversos
aspectos de sua “fala pedagógica”, levando-o também a refletir sobre a necessidade
de investir parte dos esforços da educação continuada no desenvolvimento de
competências relacionadas às diversas opções de comunicação com seus alunos.
“SE VOCÊ NÃO ESTIVER SEMPRE PREPARADO, SEUS ALUNOS
SABERÃO!”
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 25
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2.2. Reflexões Finais
Ao terminar esta unidade é preciso parar e refletir sobre alguns dos temas
abordados:
1 - o que você pensa a respeito da importância da capacitação profissional
para o trabalho com idosos?
2 - Como você se vê com relação às competências básicas necessárias a
quem trabalha com atividades físicas com idosos?
3 - Como você avalia os serviços prestados aos idosos em sua comunidade a
partir dos conhecimentos que agora possui a respeito da preparação profissional
para o exercício desta atividade?
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 26
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS?
Apresentação Nesta unidade discutiremos algumas das questões teóricas
(pedagógicas, filosóficas e conceituais) relativas à proposição de atividades físicas
para idosos. O convite é para a reflexão a respeito dos rumos que um professor
pretende dar ao seu programa e às propostas educacionais que pretende defender
perante o aluno e a sociedade.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Situar sua prática pedagógica dentro do universo das políticas públicas, das
recomendações de organizações de saúde e do conselho profissional;
Refletir sobre os “por quês”, os objetivos maiores que fundamentam as suas
propostas educacionais para os idosos;
Discutir os possíveis entendimentos de questões como autonomia,
independência física e envelhecimento ativo;
Redigir parte de um Plano de Curso para uma proposta de uma atividade
física para idosos, justificando a proposta e especificando alguns objetivos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 27
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos
Um dos grandes desafios da Educação Física hoje é atuar preventivamente
na comunidade, combatendo o sedentarismo e melhorando a saúde da população
(CONFEF, 2002).
De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o
profissional da Educação Física deverá lançar mão de todos os meios formais e não-
formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura,
relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e um estilo de vida ativo.
Este documento sugere que o trabalho educativo a partir do movimento deve
estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o
Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da
Humanidade como a inclusão dos idosos e das pessoas portadoras de
necessidades especiais, o combate à exclusão social, a promoção da paz, a defesa
do meio ambiente e a educação para a cidadania, democracia, convivência com a
diversidade (étnica, sexual, cultural, religiosa, etc.).
Também a Organização Pan-americana da Saúde (2005), através de sua
representação no Brasil, divulgou o documento “Envelhecimento ativo: uma política”
de saúde, no qual procura dar informações para a discussão e formulação de planos
de ação que promovam um envelhecimento saudável e ativo, visando sensibilizar
todos aqueles responsáveis pela formulação de políticas e programas ligados ao
envelhecimento (governos, entidades não-governamentais, setor privado).
Segundo este documento “manter a autonomia e independência durante o
processo de envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e
governantes”. Alerta também que no conceito de envelhecimento ativo, a palavra
ativo não se refere unicamente a manter o idoso fisicamente ativo e saudável. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 28
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Embora estes também sejam objetivos a se perseguir, é preciso ter o entendimento
de um idoso ativo no sentido mais amplo de ser participativo.
Um programa deve se preocupar em preparar as pessoas idosas para a
participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis,
e não somente para serem fisicamente ativas. É preciso educá-las para saber que
podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros,
comunidades e países - mesmo estando aposentadas, mesmo com alguma doença
ou alguma necessidade especial.
Na legislação brasileira há artigo específico com relação à atuação do poder
público quanto "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e
atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso
e estimulem sua participação na comunidade" (Lei nº 8.842/1994 – art. 10 –
inciso VII - alínea e).
Estes posicionamentos de Conselho Profissional, Organização de Saúde e
Estado brasileiro deixam claro que não há dúvida quanto à necessidade de se
implantar programas de atividades físicas para idosos.
Do ponto de vista acadêmico, entretanto, surgem questões a respeito das
questões pedagógicas, levando diversos estudiosos a se debruçar sobre o problema
de quais seriam as características destas atividades, que fundamentos teóricos e
que objetivos específicos embasariam e justificariam uma proposta de programa de
atividades físicas para idosos.
Para OKUMA (2004) uma proposta pedagógica de atividades físicas para
idosos deve situar seus objetivos para além das questões da aptidão física e da
saúde, que são colocadas como meios e não como fins. O foco real da proposta
deve ser “o desenvolvimento do ser idoso” e para este trabalho sugerem-se sete
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 29
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
princípios que têm por base uma Educação que abra para o aluno idoso um leque
de perspectivas para:
1. o autoconhecimento
2. a autonomia
3. o aprender contínuo e atualização
4. a descoberta de competências
5. ser responsável
6. usufruir do meio ambiente
7. a fruição e prazer
Segundo esta pesquisadora a educação física é:
“... processo educativo que ensina às pessoas os conhecimentos sobre movimento humano e os procedimentos/habilidades para melhorá-lo e/ou mantê-lo, de forma a otimizar suas potencialidades e possibilidades motoras de qualquer ordem e natureza, adaptando-se e interagindo com o meio ambiente, para ter qualidade de vida.” Numa outra abordagem, mas dentro de foco semelhante, MIRANDA, GEREZ
e VELARDI (2004) sugerem ser importante superar o paradigma biomédico na hora
de se propor um programa de exercícios visando autonomia para idosos.
Dentro da visão biomédica, autonomia é sinônimo de independência física:
basta um idoso manter-se fisicamente independente (cuidando de sua saúde
biológica e treinando suas capacidades físicas) para ser considerado autônomo.
Embora não neguem a importância da independência física para a autonomia, as
autoras convidam o professor a refletir se uma prática centrada no paradigma
biomédico não estaria limitando as possibilidades educacionais de um programa de
atividades físicas para idosos. Levantam a questão de que, na hora de propor
atividades para idosos, uma abordagem que conceba saúde de maneira mais
abrangente possivelmente ajude o professor a ampliar os limites do que pode ser
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 30
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
considerado ser autônomo, incluindo até mesmo o idoso fisicamente frágil e o idoso
deficiente físico como passíveis de alcançar autonomia.
Esta abordagem é baseada no conceito de Promoção da Saúde
(biopsicossocial) e utiliza a educação física como uma das estratégias de Educação
em Saúde. Esta visão estimula o professor a propor atividades que ajudem o aluno a
descobrir recursos para ser autônomo e “continuar a manter o controle sobre vida,
mesmo na presença de alguma limitação física... Neste caso a autonomia passa a
ser concebida não só a partir da independência física, mas como algo que envolve
reflexão, tomada de decisão e escolhas conscientes”.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 31
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos
As reflexões que se fazem sobre educação e sobre a importância da atividade
física como meio na educação de idosos autônomos precisam, no final, se
articularem com as atividades que pretendemos desenvolver dentro de um programa
e isto se faz através da confecção de um Plano de Curso.
É durante a redação do Plano de Curso que o professor vai se questionar a
respeito de como tornar importante e estimulante cada atividade e conteúdo para a
vida diária de seu aluno, como dividir com eles a filosofia, a visão de mundo e
concepção de envelhecimento que embasam a proposta pedagógica. É durante a
redação deste Plano também que o professor vai se perguntar a respeito de que
espaço físico, equipamentos materiais necessitará. Também é neste momento
que ele vai se questionar a respeito de como avaliará se o programa está dando
resultado ou não.
Ao redigir o plano de curso, o professor muitas vezes se perde ou não articula
os diversos componentes, esquecendo que o plano de curso resume e organiza os
objetivos e as grandes ações para um período relativamente longo de tempo, como
um semestre ou ano. Esta confusão pode ser evitada seguindo-se algumas regras
simples.
Primeiro é importante saber que, no Plano de Curso, a fundamentação teórica
é o centro da redação. Portanto a justificativa, os objetivos gerais e os objetivos
específicos devem estar explicitados claramente, enquanto que conteúdos,
estratégias, avaliação, equipamentos, etc. precisam apenas ser sugeridos em linhas
gerais (pois serão mais bem descritos nos planos de aula).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 32
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A justificativa situa o programa, atividade ou modalidade proposta dentro de
uma proposta pedagógica, de uma filosofia de trabalho, de uma visão de mundo e
de envelhecimento que nortearão o trabalho.
Os Objetivos Gerais referem-se às grandes alterações que se pretende
implementar junto aos alunos ao longo de um período de treinamento (um trimestre,
um semestre ou um ano).
Já os Objetivos específicos apontam para alterações mais exatas, mais
definidas (fisiológicas, psicológicas, sociais) que se quer verificar em cada aluno
durante as aulas ou dentro de uma unidade do curso. O seu enunciado já deve levar
o professor a pensar em conteúdos e estratégias, pois neles já se consegue divisar
aspectos mais operacionais, instrucionais, do trabalho que se pretende realizar.
Ao redigir os objetivos é preciso estar atento ao fato de que devem especificar
os comportamentos esperados do aluno (e não do professor) e devem também
especificar claramente a intenção do professor (não dando margem a muitas
interpretações).
Para redigir um Plano de Curso o professor deve conhecer bem o aluno
(sua realidade, suas expectativas e necessidades), precisa estar bem
fundamentado teoricamente, para justificar e propor objetivos para o trabalho, e
necessita estar bem fundamentado tecnicamente (para propor atividades,
escolher estratégias, metodologias e avaliação, prever necessidades de espaço,
equipamentos, materiais e ainda estar preparado para prevenir riscos e acidentes).
O planejamento deve considerar ainda uma análise detalhada do espaço físico em
que acontecerão as aulas. Conhecer previamente o espaço onde serão
desenvolvidas as atividades é fundamental para um bom planejamento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 33
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
MODELO DE PLANO DE CURSO
Embora existam modelos diferentes para redigir um Plano de Curso, observe
na sua redação se foram contempladas as informações mínimas necessárias
explicitadas no esquema abaixo:
PLANO DE CURSO Atividade proposta: Público alvo: Professor: Duração do treinamento: semanas, meses... Justificativa: defesa teórica na necessidade e viabilidade do programa dentro de uma proposta pedagógica Objetivos: gerais e específicos explicitando resultados que se pretenda observar Conteúdos a serem adquiridos e desenvolvidos pelos alunos para alcançarem os objetivos Metodologia e recursos que facilitem o processo de ensino e aprendizagem Avaliação: Instrumentos de que possibilitem verificar, de alguma forma, até que ponto os objetivos foram alcançados.
CRONOGRAMA
AULA Nº
Conteúdos DATA
1 2 3 4 5
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 34
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.3. Reflexões Finais
Essa parte do curso trabalhou com algumas noções bem teóricas por um lado
e outras diretamente ligadas à prática por outro e ambas serão importantes no ato
de planejar. Talvez alguns conceitos que ainda não lhe sejam familiares, pois os
tópicos relacionados a conteúdos, metodologia, recursos e avaliação serão objeto de
estudo aprofundado nas próximas unidades, eles foram apresentados sumariamente
nesta unidade com a finalidade de permitir que você já começasse a pensar em um
esboço do seu Plano de Curso.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 35
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: QUEM É O ALUNO IDOSO?
Apresentação Nesta unidade conheceremos melhor o nosso aluno. Quem
é o idoso em nossa sociedade? Será verdade que o número de idosos está
aumentando? Como é que uma pessoa envelhece? O indivíduo que envelhece é
mais sujeito a doenças? Discutiremos essas questões a partir da epidemiologia, da
fisiologia e da patologia, numa abordagem voltada para as questões do
envelhecimento.
Conhecer o aluno é fundamental para o planejamento. Sem esse
conhecimento, corre-se o risco de pensar primeiro na atividade e depois procurar
que tipo de idoso se encaixa nela: o que acaba por se tornar uma atividade de
exclusão na prática. Portanto, é a partir do conhecimento do aluno, de sua realidade
e de suas necessidades que se começa a traçar os objetivos de cada aula, e é a
partir do aluno que se escolhe conteúdos e metodologia de trabalho.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Analisar a realidade na qual está inserido o seu aluno idoso, a partir das
noções teóricas de epidemiologia aplicada ao envelhecimento;
Compreender os mecanismos pelos quais o processo de envelhecimento atua
sobre o seu aluno idoso, a partir das noções teóricas de fisiologia aplicada ao
envelhecimento;
Conhecer as principais doenças a que estão sujeitos seus alunos idosos, a
partir das noções teóricas de patologia aplicada ao envelhecimento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 36
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.1. Epidemiologia do Envelhecimento
No Brasil, os idosos representam 8,5% do total da população. Caso sejam
mantidas as taxas atuais de crescimento, provavelmente até 2025 o país contabilize
cerca de um quinto de sua população no grupo dos idosos. Isso gera, desde já,
demandas para os Sistemas de Saúde, Previdenciário e também para toda a
sociedade, devido às características e necessidades especiais desse segmento,
mormente no que tange à atividade física (OLIVEIRA, 2002).
Além das perdas sociais e cognitivas, ao envelhecimento está associada uma
série de outras perdas nos níveis antropométrico, neuromotor e metabólico, capazes
de comprometer seriamente a qualidade de vida do idoso (MAZZEO et al., 1998).
Os efeitos dessas perdas começam a se fazer notar a partir dos 50 anos de
idade, ocorrendo a uma taxa aproximada de 1% ao ano para a maior parte das
variáveis da aptidão física. Na antropometria detecta-se aumento do peso corporal,
diminuição da estatura e aumento da gordura corporal, em detrimento da massa
muscular e da massa óssea. O envelhecimento é também acompanhado de menor
desempenho neuromotor, explicado pela diminuição no número e no tamanho das
fibras musculares, levando a uma perda gradativa da força muscular. Quanto às
variáveis metabólicas, o principal efeito deletério é sobre a potência aeróbia que
diminui mesmo nos idosos ativos (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000).
A fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades
da vida diária, levando o idoso à dependência. Além disso, conforme se perde força
aumenta-se o risco de traumas em conseqüência das quedas. Resultados
semelhantes também são observados a partir de perdas significativas na
flexibilidade (BAUMGARTNER, 1998; GUIMARÃES, 1999). Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 37
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
As perdas na potência aeróbia também estão relacionadas à maior morbidade
e mortalidade por doenças crônicas e degenerativas, doenças metabólicas, infarto
agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, demência, depressão, dentre
outras (NIEMAN, 1999).
Do ponto de vista epidemiológico, embora este quadro de perdas e sua
associação ao desenvolvimento de doenças crônicas e incapacidades seja
prevalente na população idosa de todo o mundo, isso não quer dizer que esta seja a
única via pela qual esta população chega à velhice.
Examinado sob a ótica puramente biológica, sabe-se que o envelhecimento é
um processo natural e acontece com todas as espécies de forma semelhante.
Entretanto, sabe-se também que, no caso do ser humano, este processo é
fortemente influenciado pelos aspectos psicológicos, sociais, históricos, filosóficos,
políticos, antropológicos, que fazem o ser humano ser quem ele é hoje, viver como
vive hoje, envelhecer como envelhece hoje.
Este modo de “ser humano” revela-se exteriormente como um conjunto de
crenças, valores, atitudes, posturas e hábitos de vida que caracterizam cada grupo
social e cada população humana. Já é evidente hoje que alguns grupos envelhecem
seguindo uma via diferente daquela que termina em doença, incapacidade ou perda
de autonomia. O diferencial entre as pessoas pertencentes a estes grupos é que,
embora elas apresentem alguma perda, elas envelheceram de maneira saudável e
apresentam níveis de autonomia significativamente superiores aos do que se
esperava verificar em idosos antigamente (CANÇADO e HORTA, 2002).
Uma explicação provável para esta realidade relaciona-se ao estilo de vida
dessas pessoas. Verifica-se que esses idosos de alguma forma (consciente ou
inconscientemente) fizeram algumas escolhas e promoveram algumas alterações no
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 38
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
seu estilo de vida que correspondem exatamente àquilo que é preconizado
atualmente, em todas as áreas da saúde, como fundamental para se viver muito e
com qualidade.
50%
20%
20%
10%
Hábitos Genética AmbienteSist. Saúde
As alterações no estilo de vida, como a adoção de hábitos sadios tais como a
inclusão de exercícios físicos e alimentação balanceada; ao lado da extinção de
outros hábitos nocivos à saúde, tais como o estresse, o excesso de calorias, o
tabagismo e o alcoolismo estão hoje entre as principais orientações para uma
melhor qualidade de vida e maior longevidade. Essa prescrição fundamenta-se em
um estudo realizado por PAFFENBARGER et al. (1993), comparando qual o peso
dos hábitos de vida no adoecimento e
morte de 17.000 universitários
acompanhados pelo tempo de 11 a 15
anos. Verificou-se que 50% dos
adoecimentos e óbitos nesta população
estiveram relacionados a alterações
negativas nos hábitos de vida adotadas
após a saída da universidade (tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade).
Este estudo foi repetido no mundo todo, avaliando boa parte das doenças
conhecidas e a conclusão foi a mesma: os hábitos de vida têm um grande peso no
processo que leva as pessoas a adoecerem e morrer.
Dentre os novos hábitos a serem adquiridos, a participação em atividade
física regular desempenha importante papel. Está estabelecido que a maior parte
dos efeitos negativos atribuídos ao envelhecimento deve-se, na verdade, ao
sedentarismo, que leva ao desuso das funções fisiológicas por imobilidade e má
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 39
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
adaptação e não estão diretamente relacionados nem ao avançar dos anos ou com
o desenvolvimento das doenças crônicas (OLIVEIRA et al., 2001).
O envelhecimento favorece a implantação de um quadro de perdas e
incapacidades no idoso sedentário, mas a atividade física contribui diretamente para
a manutenção e incremento das funções do aparelho locomotor e cardiovascular,
amenizando os efeitos do desuso, da má adaptação e das doenças crônicas,
prevenindo parte dessas perdas e incapacidades (SINGH, 2002).
Verifica-se, portanto, que do ponto de vista epidemiológico e da saúde
pública, já existe consenso no reconhecimento dos benefícios advindos da prática
regular de exercícios físicos pelos idosos, tanto nos aspectos fisiológicos como
psicossociais, proporcionando melhorias significativas na auto-estima e na qualidade
de vida dessas pessoas.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 40
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.2. Fisiologia do Envelhecimento
4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento
Para que se entenda a ação da atividade física no organismo de pessoas na
terceira idade, torna-se necessário compreender o quê, fisiologicamente, acontece
com o corpo humano que envelhece.
Autores como CANÇADO e HORTA (2002), consideram o sistema nervoso
central (SNC) o sistema biológico mais comprometido no processo de
envelhecimento, sendo o responsável pelas sensações, movimentos, funções
psíquicas entre outros, além das funções biológicas internas. O comprometimento
deste sistema preocupa pelo fato de não dispor de capacidade reparadora eficiente,
nem rápida, ficando este sistema sujeito ao processo de envelhecimento através de
fatores intrínsecos (genéticos, sexo, circulatório, metabólico, radicais livres, etc.) e
extrínsecos (ambiente, sedentarismo, hábitos de vida como, tabagismo, drogas,
radiações, etc.). Estes fatores acabam exercendo uma ação deletéria no organismo
ao longo do tempo.
MATSUDO (2001) atribui à evolução etária e ao sedentarismo a diminuição
da capacidade física das pessoas. Alterações psicológicas acompanham este
processo, como sentimento de velhice, estresse, depressão. A redução das
atividades físicas de vida diária também contribui para deteriorar o processo de
envelhecimento. Para esta autora, o desuso das funções fisiológicas é o principal
problema do envelhecimento.
HAYFLICK (1996), alerta, que diminuições e perdas são coisas distintas
porque dependem muito de como as percebemos:
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 41
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
"Com a idade, nossa pele pode perder sua suavidade e adquirir rugas. Do ponto de vista da função da pele, que é encobrir nossos órgãos e nos proteger do meio ambiente, não importa muito se nossa pele é suave ou enrugada. O pessimista vê a mudança como negativa e a classifica como perda; o otimista vê a mudança como positiva e a chama de ganho. Da mesma forma o cabelo branco é uma mudança normal da idade que não afeta a saúde. Se é uma perda ou um ganho, depende do ponto de vista sob o qual este fato é vivenciado”.
Estas colocações nos fazem lembrar do estereotipo de que homens de
cabelos brancos são charmosos, enquanto que as mulheres, em sua grande maioria,
costumam recorrer a técnicas diversas no sentido de esconder o branco passar do
tempo sobre suas cabeças.
É preciso que se entenda que o envelhecimento por si só não é uma doença
e que a maior parte das pessoas idosas não tem uma saúde debilitada. O
envelhecimento está acompanhado de mudanças físicas e assim aumenta a
possibilidade de desenvolver enfermidades crônicas. Porém, a idéia de que tudo
piora na velhice é uma imagem negativa e estereotipada (HAYFLICK, 1996).
Na opinião de RAMOS (2002), o que está em jogo na velhice é a autonomia,
a capacidade de determinar e executar seus próprios desejos. Para este autor, a
capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde e passa a ser
resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental,
independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência
econômica. Qualquer uma dessas dimensões, se comprometida, pode afetar a
capacidade funcional do idoso. O bem-estar na velhice, ou saúde num sentido
amplo, seria o resultado do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade
funcional do idoso, sem necessariamente significar ausência de problemas em todas
as dimensões.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 42
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A OMS define incapacidade como uma “restrição ou falta de capacidade para
realizar uma atividade da maneira ou dentro da amplitude considerada normal para
um ser humano”.
Diversos estudos revelam que o idoso tem menos medo de morrer do que se
tornar fisicamente dependente, conforme evidenciado por seu forte desejo de
permanecer independente (BUCHNER et al., 1992).
4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes
De acordo com (NIEMAN, 1999), aproximadamente 85% das pessoas idosas
apresentam uma ou mais das seguintes doenças ou problemas de saúde, que
necessitam ser considerados no planejamento da atividade física para esta
população: Artrite e Artrose (48%); Hipertensão arterial (36%); Cardiopatias (32%);
Comprometimento da audição (32%); Comprometimentos ortopédicos (19%);
Catarata (17%); Diabetes (11%); Comprometimento visual (9%); Alzheimer (de 4 a
11%).
artrite
36 32 32
19 1711 9
4
48
0
10
20
30
40
50
60
prevalência (%)
hipertensão
cardiopatias
audição
ortopédicas
catarata
diabetes
visuais
alzheimer
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 43
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.3.1. Doenças Cardiovasculares
Doença Cardiovascular é a designação genérica para diversas doenças que
acometem o coração e os vasos sangüíneos. Dentro desta denominação se
encontram: a hipertensão arterial; a doença coronariana (ou doença cardíaca
coronariana), doenças cerebrovasculares, doenças vasculares periféricas, etc. Sabe-
se hoje que o colesterol alto e o sedentarismo representam riscos maiores para o
desenvolvimento dessas doenças que a obesidade e o tabagismo.
01020304050
coes
terol
alto
sede
ntaris
mo
obes
idade
hipert
ensã
o
tabag
ismo
Risco relativo: sedentarismo x cardiopatias
Perigos da hipertensão arterial
Dentre as doenças cardiovasculares, deve ser dado cuidado especial à
Hipertensão Arterial devido à sua morbidade (capacidade para desencadear outras
doenças).
A Pressão Arterial normal é de 120X80 mmHg (popularmente dito 12 por 8),
mas ela pode variar numa faixa que vai de 90X60 mmHg (ou 9 por 6) até 140X90 (ou
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 44
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
14 por 9) mmHg e ainda ser considerada aceitável para aqueles sem outros fatores
de risco para doenças cardiovasculares.
O primeiro valor é denominado Pressão Arterial Sistólica (PAS ou pressão
máxima), ele torna-se perigoso para desencadear problemas cardiovasculares
quando está acima de 140 mmHg (acima de 14).
O segundo valor é denominado Pressão Arterial Diastólica (PAD ou pressão
mínima), ele torna-se perigoso quando está acima de 90 mmHg (acima de 9).
Quando pelo menos um dos valores está elevado, o indivíduo apresenta
hipertensão arterial (pressão alta).
4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas
As principais doenças ortopédicas e reumatológicas que atingem os idosos
são: osteoartrite, osteoporose, lombalgia e dor crônica.
a) OSTEOARTRITE OU OSTEOARTROSE
A osteoartrose (AO) é a forma mais comum de artrite. É uma doença crônica
que afeta as articulações, músculos e o tecido conjuntivo. Afeta mais pessoas do
sexo feminino (2/3 dos casos relatados) e é prevalente em idosos (70% apresentam
testes radiológicos positivos para a doença e, destes, pelo menos 50%
desenvolverão os sintomas clínicos).
Os sintomas mais comuns são: inflamação (dor, calor, rubor, edema), rigidez,
limitação de movimentos (seqüelas de calcificações, atrofias, etc), incapacidades
(diversos níveis). Tudo isso leva o idoso à:
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 45
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• dor e rigidez por longos períodos;
• dificuldade para andar, subir escadas, levantar-se da cama ou cadeira,
entrar e sair de carro, carregar objetos;
• perda de independência e de qualidade de vida.
b) OSTEOPOROSE
A Osteoporose é definida como uma desordem esquelética que compromete
a força óssea e aumenta do risco de fratura das áreas afetadas. A força óssea
reflete a integração entre a densidade mineral óssea e a qualidade óssea. A
diminuição da força óssea indica que os ossos estão mais porosos, mais frágeis e,
portanto, mais fáceis de quebrar. Entretanto, até acontecer a primeira fratura a
pessoa não sabe que é portadora da doença, por isto a osteoporose é considerada
uma doença silenciosa.
A massa óssea do adulto reflete o acúmulo de tecido ósseo ocorrido durante
o crescimento. A massa óssea é avaliada através da densitometria óssea, um
exame que compara a massa óssea do indivíduo examinado com a média da
densidade mineral óssea de adultos jovens. O resultado é dado em T-Score que
mostra o quanto o indivíduo se aproxima ou afasta daquela média. Segundo a OMS
a osteoporose é definida quando o T-Score é igual ou inferior a -2,5, dentro dos
escores possíveis:
1. normal: T-Score ≥ −1,0
2. osteopenia: T-Score < −1,0 e > −2,5
3. osteoporose: T-Score ≤ −2,5
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 46
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas. Se não for
avaliada a massa óssea a osteoporose será percebida apenas quando surgirem as
primeiras fraturas. Os locais mais comuns de fraturas são as vértebras. As fraturas
que se correlacionam com maior mortalidade e perda da independência são as
fraturas de quadril.
Apesar de acometer mais as mulheres idosas, por volta de 13 % dos homens
acima dos 50 anos podem apresentar algum tipo de fratura por osteoporose e as
fraturas de quadril nos homens associam-se a maior mortalidade do que nas
mulheres. Ou seja, as mulheres sofrem mais fraturas que os homens, mas os
homens morrem mais em decorrência destas fraturas.
c) DOR CRÔNICA
Sabe-se que a dor crônica é prevalente em idosos, podendo atingir até
71,5% destas pessoas em algumas populações. Vários estudos têm demonstrado
que o fenômeno da dor não depende apenas do grau de lesão, podendo ocorrer
inclusive na ausência de lesão orgânica (BROCHET et al., 1998; PEREIRA e
GOMES, 2004; HARTIKAINEN et al., 2005).
Os pontos de dor mais comuns são: Ombro, Cotovelo, Punho, Mão e Coluna
Lombar.
4.3.3. Doenças Metabólicas
Doença Metabólica é o termo genérico utilizado para as doenças causadas
por algum processo metabólico anormal. Uma doença metabólica pode ser
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 47
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
congênita (devido a alguma anormalidade genética herdada) ou pode ser adquirida
(devido a alguma doença ou disfunção endócrina).
As doenças metabólicas mais comuns em idosos são:
• dislipidemias (colesterol e triglicerídeos);
• hiperuricemia (gota e hipertensão);
• distúrbios do metabolismo do ferro (anemia e sobrecarga de ferro);
• desequilíbrio hidroeletrolítico (desidratação, desequilíbrio do sódio e do
potássio);
• desequilíbrio ácido-básico (alcalose e acidose);
• transtornos do metabolismo da glicose (hipoglicemia, hiperglicemia e
diabetes) e
• síndrome metabólica.
As doenças metabólicas produzem sintomas diversos, que comprometem a
qualidade de vida e o desempenho nas atividades da vida diária. Sem os devidos
cuidados e tratamento, elas evoluem para estados mais graves e podem levar ao
óbito.
Durante o exercício, elas são as maiores responsáveis por tontura,
formigamento, fraqueza, visão turva, náusea, síncope, queda, parada cardíaca e
morte súbita.
O controle dessas doenças necessita da combinação de tratamento médico,
acompanhamento nutricional e da prática de exercícios físicos orientados.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 48
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.3.4. Quedas: doença ou sintoma?
As quedas e síncopes (desmaios) são muito comuns em idosos. As
estatísticas mostram que 35% dos idosos acima de 65 anos sofrem pelo menos 1
queda por ano. Já entre idosos acima de 80 anos, 45% sofre pelo menos 1 queda
por ano. Em pelo menos 10% dos casos, a queda resulta em FRATURA.
É importante observar sintomas como mal-estar, vertigem, desequilíbrio e
síncope em pessoas idosas porque eles podem resultar em queda e também porque
podem significar presença de situações que necessitam de cuidados especiais,
primeiros socorros ou encaminhamento para o médico:
• Crise hipertensiva;
• Ataque cardíaco;
• Hipotensão postural;
• Labirintopatia e outros distúrbios do equilíbrio;
• Hipoglicemia e hiperglicemia;
• Comprometimentos ortopédicos/osteoporose;
• Demência senil (Doença de Alzheimer).
Em idosos saudáveis as 4 principais causas de queda são as
hipotensões posturais, perdas neuromotoras, perdas neurossensoriais e efeitos de
medicações.
a) Hipotensão Postural
A hipotensão postural é a diminuição rápida da pressão arterial sistólica
(pressão máxima) em valores superiores a 20 mmHg ou da pressão diastólica
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 49
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
(pressão mínima) em valores superiores a 10 mmHg, acompanhada de sintomas de
hipoperfusão cerebral (diminuição da irrigação sangüínea cerebral) levando a
fraqueza, tontura, perturbações visuais - visão turva, enevoada, escurecida - e
síncope (desmaio).
Não importa os valores iniciais da pressão arterial, basta uma redução rápida
na pressão arterial nos níveis vistos acima para provocar os sintomas em pessoas
de qualquer idade.
É comum acontecer quando o idoso passa da posição sentada ou deitada
rapidamente para a de pé. Acontece também quando se permanece muito tempo de
pé em posições de pouco movimento. Em idosos é também comum apresentar estes
sintomas após as refeições, mesmo os lanches rápidos.
Deve-se esperar encontrar eventos de hipotensão postural e síncopes em
idosos que apresentem dificuldade para caminhar, quedas freqüentes, histórico de
infarto do miocárdio, de eventos isquêmicos transitórios e, particularmente, naqueles
com a estenose das carótidas por aterosclerose (SGAMBATTI et al., 2000; FREITAS
et al., 2002; RUTAN et al., 1992).
b) Perdas Neuromotoras
As perdas de massa e força muscular estão ligadas à maior incidência de
doenças crônicas como a osteoporose, aos distúrbios de equilíbrio e da marcha e,
também, à maior incidência de quedas.
Verifica-se também que a degeneração progressiva dos proprioceptores,
devido ao envelhecimento, faz com que o controle da própria posição no espaço
seja bastante comprometido, prejudicando o equilíbrio e aumentando o risco de
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 50
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
quedas (CASTILHO, 2002; MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000;
MAZZEO et al., 1998).
c) Perdas Neurossensoriais
São as perdas relacionadas aos órgãos dos sentidos. Ao longo dos anos,
uma compensação natural para as perdas de equilíbrio relacionadas às perdas
neuromotoras é feita, transferindo-se os referenciais de equilíbrio e controle da
própria posição no espaço cada vez mais para marcadores sensoriais,
principalmente a visão que, com a idade avançada, torna-se o recurso predominante
para avaliar a posição do corpo no espaço. Entretanto, chega o momento em que
também essa via torna-se obsoleta devido às perdas que também acometem os
órgãos dos sentidos inclusive a visão. A partir daí o risco de queda aumenta,
enquanto a perda de equilíbrio torna-se cada vez mais severa. (ALTER, 1999)
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 51
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
d) Medicações que provocam hipotensão e quedas
Ocorre aumento na freqüência de quedas entre indivíduos que ingerem mais
de um tipo de medicação. Os medicamentos que mais predispõem à queda são os
que induzem hipotensão postural (remédios para cardiopatas, diuréticos, nitratos,
anti-hipertensivos e antidepressivos tricíclicos), sonolência (hipnóticos) e confusão
mental (cimetidina e digitais). Medicações para problemas psicológicos (depressão,
etc.), Mal de Alzheimer e Doença de Parkinson também predispõem a quedas
(MACDONALD, 1985; MACDONALD e MACDONALD, 1977).
4.4. Reflexões Finais
Nesta parte do curso você estudou conteúdos que ajudaram a conhecer
melhor a realidade do seu aluno. Procure certificar-se de que, a partir das noções
teóricas a respeito de epidemiologia, fisiologia e patologia, você consegue identificar
o quanto o seu aluno ou o seu grupo de alunos se enquadra nas características dos
idosos retratados nos artigos científicos de todo o mundo.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 52
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ PRESCREVER PARA IDOSOS?
Apresentação Nesta unidade estudaremos os fundamentos da fisiologia do
exercício com foco nos efeitos da atividade física sobre os diversos sistemas do
idoso e sobre a sua saúde. Faremos uma revisão sobre as bases para a prescrição
do exercício a partir dos princípios do treinamento esportivo também centrado no
trabalho com idosos. E, finalmente, procuraremos conhecer alguns cuidados
(indicações, contra-indicações e riscos) na prescrição do exercício para o idoso
portador de algumas das patologias que estudamos na unidade anterior.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Reconhecer e aplicar os princípios do treinamento esportivo no
desenvolvimento de atividades físicas para idosos;
Descrever os benefícios do exercício físico para os diversos sistemas e para a
aptidão física dos idosos;
Indicar e contra-indicar atividades e prever riscos durante a prática de
exercícios por parte dos alunos idosos portadores de alguma das principais doenças
prevalentes nesta faixa etária.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 53
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
5.1. Prescrição do exercício para o idoso
A prática segura de exercícios físicos sempre pressupõe:
• prescrição (qual modalidade será praticada por qual aluno ou turma para
atingir que objetivo?),
• orientação (presencial feita por um professor ou à distância feita por um
professor através de um manual, cartilha, folheto, vídeo, programa de televisão,
etc.) e, preferencialmente,
• supervisão (controle exercido por um professor presente, junto com o aluno
ou turma em uma situação pedagógica, facilitando o processo de ensino e
aprendizagem: aula).
A prescrição, orientação e supervisão são importantes porque neste tipo de
atividade física (exercício) sempre existe alguma expectativa de benefício (físico,
psicológico, social, etc.) que, para ser alcançado, sempre necessita de um mínimo
de conhecimento técnico, pois sempre envolve alguma dose de risco (risco social
de exclusão; risco psicológico de frustração e, principalmente, risco físico de lesão,
fadiga e até morte).
Para se discutir os princípios para a prescrição do exercício físico para que o
idoso melhore sua aptidão física e saúde, primeiro é preciso ter bem claro o que se
entende por Aptidão Física, Atividade Física e Exercício Físico dentro de fisiologia do
exercício aplicada ao trabalho com idosos (ASSUMPÇÃO, 2002):
APTIDÃO FÍSICA: é uma série de atributos físicos que possibilita a qualquer
pessoa o desempenho satisfatório de suas atividades da vida diária, que vão desde
o trabalho e cuidados pessoais até as recreativas, esportivas e de lazer.
• ATIVIDADE FÍSICA: é qualquer atividade ou movimento que provoque um
gasto de energia acima do repouso. São exemplos de atividades físicas: tomar Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 54
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
banho, dirigir, pintar, tocar um instrumento, andar, brincar, passear, fazer compras,
trabalhar, dançar, jogar, varrer, jardinar e praticar exercícios físicos.
• EXERCÍCIO FÍSICO: é uma atividade física praticada regularmente com
base numa prescrição que visa o condicionamento físico ou o
desenvolvimento de habilidades esportivas ou a educação através do
movimento. Todo exercício físico possui padrões característicos de cada
modalidade e devem estar ligados aos objetivos propostos, mas alguns estão
sempre presentes: freqüência semanal, duração, intensidade, progressão, dentre
outros. Estes padrões são conhecidos em Fisiologia do Exercício como Princípios de
Prescrição ou Princípios do Treinamento Esportivo.
5.1.1. Princípios da prescrição
De acordo com NUNES (2000) há sete princípios que norteiam o
planejamento e a prescrição de exercícios físicos visando ao condicionamento físico
e à saúde. Estes princípios são válidos desde o planejamento de simples atividades
físicas no leito ou na cadeira de rodas para um idoso infartado até o planejamento
de um treinamento para este mesmo idoso participar de uma maratona cinco anos
depois.
Estes princípios são denominados PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO
DESPORTIVO:
1. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA: Um indivíduo é diferente do
outro. Algumas pessoas são naturalmente mais flexíveis (talento natural para ioga,
ginástica), outras são mais fortes (facilidade para musculação, escaladas) e outras
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 55
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
têm maior potência aeróbia (predisposição para corridas, natação). Em um grupo,
pessoas diferentes apresentam diferentes níveis iniciais de aptidão física
(morfológica, cardiorrespiratória, muscular e articular), isto é característico de sua
individualidade biológica e precisa ser levado em conta na hora de planejar as
atividades de forma a valorizar os talentos naturais e, ao mesmo tempo, melhorar o
condicionamento das áreas em que o indivíduo tenha maior dificuldade.
2. PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE: exercícios específicos produzem
incrementos específicos. Treinar flexibilidade melhora a flexibilidade, não a força.
Treinar força de pernas não melhora a força dos braços.
3. PRINCÍPIO DA SOBRECARGA: para produzir melhoras é preciso aumentar a
carga. A Carga de trabalho é o somatório da quantidade de trabalho (volume =
duração + freqüência + repouso) com a qualidade do trabalho (Intensidade = tipo de
esforço). Aumenta-se a carga diminuindo-se o repouso ou aumentando-se um ou
mais dos seguintes componentes: INTENSIDADE, DURAÇÃO e FREQÜÊNCIA do
exercício. A INTENSIDADE refere-se a quanto do máximo esforço se situa a
prescrição. Exemplo: passar de 50% para 55% da Freqüência Cardíaca Máxima é
fazer sobrecarga em um treino aeróbio. Passar de 30% para 40% de 1RM (Uma
Repetição Máxima) é fazer sobrecarga em um treino de força. A DURAÇÃO refere-
se a quanto tempo se submeterá o corpo ao esforço. Exemplo: aumentar o tempo da
sessão de treinamento de 30 para 40 minutos é fazer sobrecarga a partir da
duração. A FREQÜÊNCIA refere-se ao número de sessões semanais. Exemplo:
aumentar o número de práticas de 3 para 4 vezes na semana é fazer sobrecarga a
partir da freqüência.
4. PRINCÍPIO DA ADAPTABILIDADE: o corpo se adapta às cargas a que é
constantemente submetido. Portanto, depois de algumas semanas levantando 10
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 56
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
vezes um peso de 3 kg, o corpo se adapta e passa a levantar o mesmo peso 12, 15
ou mais vezes ou então passa a ser capaz de fazer as 10 repetições agora com 4
kg. Depois de algumas semanas caminhando 4 km em 1 hora, o corpo se adapta e
já consegue percorrer os 4 km em 45 minutos ou então em 1 hora descobre que já
consegue caminhar 5 km. Isso quer dizer que o corpo melhorou o condicionamento
físico, mas significa também que a partir daí, se nada for mudado, ele pára de
progredir, ficando em estado de manutenção do que já foi ganho. Para continuar
progredindo será necessária uma sobrecarga.
5. PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: a sobrecarga deve ser aplicada sem
saltos, gradativamente, para garantir os benefícios e prevenir lesões ou acidentes.
6. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE: os benefícios decorrem da prática. Os
resultados para o condicionamento são cumulativos, não ocorrem na prática
intermitente.
7. PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE: se não houver continuidade perdem-
se os ganhos obtidos. O tempo para voltar ao estágio inicial é, em média, de 1/3
do tempo de treinamento. Exemplo: O aluno começou o programa aeróbio
caminhando 4 km em 1 hora. Em 9 meses já estava caminhando 7 km em 1 hora.
Parando o treinamento, aproximadamente em 3 meses ele volta à condição inicial.
5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição
O idoso deve ter um nível de capacidade física suficiente para realizar as
suas atividades diárias, tomar parte ativa em atividades recreativas e diminuir o risco
de aumentar ou piorar as conseqüências do envelhecimento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 57
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quem está sentado durante a maior parte do dia apresenta sinais evidentes
de diminuição desta capacidade. Sente-se cansado durante a maior parte do tempo
e incapaz de manter relações com outras pessoas da sua idade. Entra assim num
ciclo vicioso que o leva a evitar a atividade porque se cansa demasiado
rapidamente.
As novas orientações de saúde apelam para 30 minutos ou mais de atividade
física moderada, durante a maior parte dos dias da semana. Pode-se utilizar
qualquer atividade que se provoque um esforço entre as intensidades baixa e
moderadamente intensa.
Nas atividades de baixa intensidade podem ser incluídas atividades
físicas como a caminhada por puro prazer, a jardinagem, os trabalho domésticos, a
automassagem e a dança recreativa. Não é necessário praticar todos os exercícios
de uma só vez. Podendo-se fazer sessões de 5 a 10 minutos, várias vezes ao dia. O
importante é cumprir os necessários 30 minutos quotidianos. A chave está no total
de energia gasta, não na intensidade. É especialmente importante incluir exercícios
de força como, por exemplo, o transporte de compras, pelo menos duas vezes por
semana. Isso obriga os músculos a se exercitarem com mais freqüência,
fortalecendo-os e combatendo, assim, as perdas provocadas pelo envelhecimento.
E, dado que as calorias são queimadas durante todo tipo de atividade física, ela é
um fator chave para manter um peso saudável.
Este tipo de atividade deve ser complementado por atividades físicas
moderadamente vigorosas durante 30 a 60 minutos, três ou mais vezes por semana.
Entende-se por moderadamente intensos os exercícios físicos que
ofereçam ao corpo uma carga maior que a da vida diária com objetivo de ir além da
simples redução das perdas. Neste tipo de atividade o foco é o treinamento para
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 58
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
aquisição, recuperação e incrementos na Aptidão Física, num processo educacional
planejado que ajude o idoso a atingir e manter acessível o máximo de suas
capacidades funcionais. É preciso lembrar que, se a atividade for suficiente para
provocar alterações positivas na fisiologia do idoso, também pode oferecer alguns
riscos em potencial, necessitando, portanto, ser planejada e prescrita dentro dos
princípios do treinamento esportivo.
Consideram-se exercícios de moderada intensidade aqueles como a
caminhada rápida, o subir escadas, a dança aeróbica, a corrida, o ciclismo e a
natação, que trabalham a capacidade aeróbia. Outras modalidades de exercícios
tais como musculação, ginástica localizada, circuitos de treinamento, ioga, tai chi
chuan, lian kung e os vários esportes também podem ser adaptados para o trabalho
de moderada intensidade.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 59
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício
Um método bastante seguro de se fazer o controle do esforço durante o
exercício é a Escala de Percepção Subjetiva do Esforço (PSE). A mais utilizada em
educação física é a Escala de PSE CR10 de Borg (BORG, 2000). Ela se aplica a
toda situação em que se deseja levar em conta como a pessoa está se sentindo
durante o exercício e é especialmente útil para aquelas pessoas em que a
freqüência cardíaca não é um parâmetro confiável (cardiopatas, medicados, etc.).
Também é útil quando se propõem atividades de grupo em que o controle individual
fica quase impossível sem prejuízo dos aspectos pedagógicos e da dinâmica da
modalidade.
A Escala CR10 de Borg é uma escala numérica e visual, que classifica o
esforço percebido em valores que vão de 0 (zero) a 10 (dez). Estes valores têm uma
alta correlação com os valores da FCM, com as Freqüências de treinamento e com
todo tipo de esforço. Paro os objetivos do trabalho com idosos estes valores podem
ser adaptados da seguinte forma:
CR10 BORG PSE FCM % 1RM FLEX 0 ABSOLUTAMENTE NADA 1 MUITO FRACO Alongamento 2 FRACO 40% 40% Alongamento 3 MODERADO 50% 50% Flexionamento 4 UM POUCO FORTE 60% 60% Flexionamento 5 FORTE 70% 70% Flexionamento 6 80% 80% Flexionamento 7 MUITO FORTE 90% Risco lesão 8 Risco lesão 9 Risco lesão
10 EXTREMAMENTE FORTE Risco lesão Fonte: BORG (2000). Adaptada por GEPAFI.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 60
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quando utilizar a escala em um grupo de idosos é importante lembrar de
reproduzi-la em um tamanho que permita sua fácil utilização. Se for individual, usar
fontes grandes para números e letras. Se for para uma turma o cartaz, quadro ou
pôster deverá ser de um tamanho que permita ao aluno fazer a leitura de onde
estiver na sala ou quadra.
Um sinal externo de que o idoso já está em 4 na Escala CR10 de Borg (60%
da FCM) é a aceleração da respiração. Até 3 na escala (50%) é possível fazer o
exercício e conversar naturalmente. A partir de 4 na escala a fala já vai ficando
entrecortada pela respiração, significando que o organismo já começa a acelerar a
respiração para eliminar mais gás carbônico e evitar a acidose metabólica. Esta
mudança na respiração deve ser considerada um indicador de que o trabalho já está
próximo de 60%, mesmo que o idoso não esteja ainda reconhecendo isto através da
percepção que o esforço já é UM POUCO FORTE.
Por outro lado, a sudorese (presença de suor) não é um sinal confiável para
avaliar o nível do esforço. A quantidade de suor é muito influenciada por
características genéticas, climáticas e, também, por medicações. Isso faz com que
algumas pessoas fiquem ensopadas de suor em pouco tempo e sob o mínimo
esforço, enquanto outras permanecem totalmente livres de suor diante dos maiores
esforços.
Sabe-se que 1 em cada 10 idosos terá dificuldade em utilizar esta escala,
portanto utilize-a de forma crítica: na Escala de Borg 10% dos idosos poderão
apontar valores diferentes daquilo que realmente estão sentindo. Como é uma
escala subjetiva, o desejo de parecer melhor, de agradar o professor, competir com
os colegas pode levar o idoso a informar que está percebendo um esforço menor
que o real - e você precisará ajudar esta pessoa a refrear sua pressa, sua ânsia por
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 61
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
competir. Por outro lado, o medo de tentar algo novo, o medo de sofrer, o desejo de
atenção extra, poderá levá-la a informar que está se esforçando mais que o real - e
você precisará ajudar essa pessoa a aprender a lidar com seus medos e
ansiedades, mostrando a ela que o que você planejou é seguro e que ela é capaz de
cumprir o programa.
Existem diversos modelos da Escala de Borg. Algumas foram adaptadas
colocando desenhos no lugar da PSE, de forma a facilitar o entendimento do aluno a
esta escala. Escolha sempre o modelo que melhor atenda às necessidades da sua
turma de alunos.
5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição
A melhor maneira de escolher uma atividade para se alcançar objetivos
específicos do treinamento é classificá-la de acordo com sua atuação dentro dos
Componentes da Aptidão Física. De acordo com Falls (1980) são 4 os componentes
da Aptidão Física: o Morfológico, o Cardiorrespiratório, o Muscular e o Articular. O
trabalho sobre cada componente da aptidão física exige o desenvolvimento de
Qualidades Físicas específicas.
Assim, para melhorar a Aptidão Física Morfológica é preciso trabalhar sobre
as Qualidades Físicas Percentual de Gordura e Distribuição da Gordura
Corporal.
Para melhorar a Aptidão Física Cardiorrespiratória é preciso trabalhar sobre a
Qualidade Física denominada Potência Aeróbia.
Para melhorar a Aptidão Física Muscular é preciso trabalhar sobre as
Qualidades Físicas denominadas Força e Resistência Muscular.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 62
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
E para melhorar a Aptidão Física Articular é preciso trabalhar sobre a
Qualidade Física denominada Flexibilidade.
Além disso, em um programa de condicionamento físico é necessário também
acrescentar exercícios que desenvolvam outras habilidades físicas tais como
equilíbrio, coordenação, agilidade, velocidade, tempo de reação e a potência.
Potência Aeróbia
As atividades físicas de natureza aeróbia são fundamentais para saúde do
idoso, atuando como proteção contra diversos fatores de risco para as doenças
cardiovasculares.
• Intensidade: 40 a 80% da FCM (Freqüência Cardíaca Máxima) ou Esforço Percebido de 3 a 6 na Escala CR10 de Borg, tendo como metas valores de 50% a 60% da FCM e entre 3 e 4 na Escala CR10 de Borg.
A atividade física regular promove um aumento da capacidade aeróbia
máxima, devido a um aumento da oferta de oxigênio para o trabalho muscular. Desta
forma a freqüência cardíaca e a pressão arterial são proporcionalmente menores
para executar uma determinada carga de trabalho. As descargas simpáticas e a
resistência vascular periférica diminuem, por conseguinte o trabalho muscular é
obtido através da extração do oxigênio na periferia e não pelo aumento do fluxo
sanguíneo e da pressão arterial. Portanto os músculos ficam mais eficientes e as
necessidades de oxigênio no miocárdio
ficam reduzidas (Faro Jr. et al., 1996). Obs: reabilitação 40%, ativos 50% a 60%; atletas 70%.
• Duração: de 30 a 60 minutos por aula • Freqüência: mínimo de 3 e máximo de 5 aulas por semana • Repouso: mínimo de 6 horas a 24 horas entre sessões de
treinamento.
As características básicas na
prescrição de um treino aeróbio para
idosos são as mesmas da prescrição para o adulto jovem.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 63
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quando se fala em INTENSIDADE, a FCM (Freqüência Cardíaca Máxima)
representa o máximo de esforço fisiologicamente possível, a partir dele o sistema
cardiorrespiratório não consegue mais suportar o esforço.
Jamais se treinará próximo a 100% da FCM com o idoso. Mesmo atletas
jovens de alto rendimento não trabalham mais que alguns minutos nesta
intensidade.
Em um programa de treinamento para idosos atletas a intensidade será
diferente em cada fase do treinamento, podendo chegar a valores próximos dos 85%
da FCM.
Para a maioria dos idosos ativos, com o objetivo de promoção de saúde e
condicionamento físico a faixa de trabalho será de 50% até valores próximos dos
60% da FCM (um pouco mais para alguns, um pouco menos para outros).
Para idosos em reabilitação cardíaca (depois de um infarto ou de uma
internação por fratura, por exemplo) e para aqueles sedentários, em início de
treinamento, a intensidade deve começar com FCM próxima de 40% em sessões de
duração inferior a 20 minutos e gradualmente subir tendo como meta a intensidade
de 50 a 60% em sessão com 30 a 60 minutos de duração, quando termina a fase
terapêutica de reabilitação ou adaptação ao exercício e o idoso passa a treinar com
prescrições semelhantes aos dos idosos ativos.
Para se calcular a FCM podem-se utilizar vários recursos. O mais comum é a
Equação de Karvonen:
FCM = 220 – idade
Por exemplo: Qual é a FCM de um indivíduo de 70 anos?
Utilizando a fórmula FCM = 220 – idade é só substituir a idade por 70 e fazer
a conta.
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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Cálculo: FCM = 220 – 70
Resultado: 150 bpm (batimentos por minuto)
Como jamais se trabalha na FCM, é importante calcular a Freqüência
Cardíaca de Treinamento para este indivíduo. Suponhamos que este aluno, para
quem calculamos a FCM de 150 bpm, é um idoso sedentário em início de
treinamento ou é um cardíaco (ou hipertenso) em reabilitação. Sabendo que vamos
trabalhar inicialmente com ele em uma faixa que deve começar a 40% da FCM e isto
pode chegar a 60% da FCM. Qual será a faixa de treinamento para este idoso?
Para isto, basta calcular quanto é 40% e 60% de 150 bpm.
Cálculo: 40% de 150 = 60 bpm
60% de 150 = 90 bpm
Portanto, com este aluno começaremos o treinamento a partir de uma
freqüência cardíaca de 60 bpm que, ao longo do tempo, poderá chegar a 90 bpm.
Se você analisa estes valores do ponto de vista do idoso saudável ou do
adulto jovem, pode ser que os considere baixos demais para iniciar um treinamento.
Entretanto, é preciso lembrar que o idoso sedentário e o cardíaco em reabilitação
estão submetidos ao risco de evento cardiovascular (infarto, derrame, etc.) por
sobrecarga de intensidade. Então, se ao ajustar a intensidade a essa freqüência
cardíaca, o trabalho parecer leve para ele, aumente alguns minutos na duração, ou
acrescente mais um dia de treino na freqüência semanal. Mas vá devagar com os
aumentos na freqüência cardíaca.
Outra observação que reforça a necessidade de começar com baixa
intensidade é que boa parte dos idosos sedentários e todos os cardiopatas tomam
alguma medicação (para controlar a pressão arterial, para diminuir a angina - dores
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 65
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
no peito, para as arritmias, para a insuficiência cardíaca, etc.) e muitas delas alteram
a freqüência cardíaca.
Algumas medicações diminuem a freqüência cardíaca, de maneira que, em
repouso, ela muitas vezes fica próxima de 50 bpm e em muitos casos, mesmo sob
grande esforço, ela não ultrapassa os 100 ou 120 bpm, pois o objetivo da medicação
é justamente evitar que o coração seja sobrecarregado.
Outras medicações diminuem a pressão arterial, que tende a permanecer
baixa até diante de grandes esforços. E há, ainda, aquelas medicações que
diminuem a angina, com elas a pessoa é capaz de suportar grades esforços sem
sintomas cardíacos dolorosos.
O resultado em todos os casos é que o idoso, mesmo apresentando baixa
freqüência cardíaca, pressão arterial normal e nenhuma dor, pode infartar e morrer
durante o exercício ou até algumas horas depois.
Portanto, quando você treina o idoso sedentário ou cardiopata, ajustando a
intensidade para 60 ou 70 bpm, para este idoso pode ser já é um grande salto. Para
pessoas que tomam medicação para a pressão e o coração (os betabloqueadores
são os mais comuns, mas não são os únicos) aumentar 10 a 20 batimentos pode ser
suficiente para representar um esforço classificado entre moderado e um pouco
forte.
Sabendo que, muitas vezes, a freqüência cardíaca está alterada em
função da ingestão de medicamentos e que isto pode mascarar a real
freqüência cardíaca do idoso durante o esforço, é preciso cuidado no que
tange a utilizar a freqüência cardíaca como parâmetro para avaliação ou
prescrição do treinamento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 66
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Com relação à FREQÜÊNCIA semanal para o treinamento aeróbio, de acordo
com o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) a freqüência ideal vai de 3
a 5 aulas semanais. Treinar menos de 3 sessões semanais aumenta o risco dos
problemas ligados ao excesso de carga por intensidade de treinamento (“atleta de
fim-de-semana”), sendo mais sérias as lesões do aparelho locomotor e os eventos
cardiovasculares (infarto, derrame, morte súbita durante ou após o exercício). Já
treinar 6 vezes, ou mais, aumenta o risco dos problemas ligados ao excesso de
carga por volume de treinamento, que também causa lesões do aparelho locomotor
e os eventos cardiovasculares (infarto, derrame, morte súbita durante ou após o
exercício) e ainda acrescenta os distúrbios metabólicos, cujo resultado mais comum
é a dor, a fadiga crônica e o estresse físico e mental.
Há algumas exceções a essa regra, casos em que o idoso sob prescrição
do médico vai precisar exercitar-se todos os dias (mesmo não tendo aula): são as
situações em que a regularidade do exercício é muito importante para a manutenção
da saúde e o controle de alguma doença. Os casos mais comuns são os distúrbios
metabólicos, como diabetes e obesidade. Para evitar os riscos, na prescrição para
essas pessoas que terão como freqüência o exercício diário será necessário ajustar
a intensidade e a duração para evitar a fadiga e as lesões do sistema locomotor por
excesso de treino.
Com relação à seleção de atividades para o treinamento aeróbio é preciso
separar as atividades de acordo com a maior ou menor possibilidade de controle
sobre a intensidade do exercício que cada modalidade possibilita. Com grupos de
iniciantes, sedentários e em reabilitação é melhor escolher atividades que permitam
maior controle sobre a intensidade como caminhar, correr, pedalar, subir e descer
escada, alguns tipos de dança aeróbia, alguns tipos de ginástica aeróbia e
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 67
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
exercícios semelhantes, com pouca variabilidade de movimentos e pouca exigência
de precisão e correção da posição a cada instante.
Já com alunos mais treinados é possível utilizar modalidades mais dinâmicas
e com maior exigência de controle motor, pois já estarão condicionados a
perceberem a intensidade do esforço e educados para respeitarem seus limites.
Como modalidades mais dinâmicas entendem-se todos os esportes de grupo e
alguns individuais (futebol, voleibol, natação, peteca, tênis, etc), boa parte das
danças e boa parte das ginásticas.
Força Muscular
O treinamento da força muscular é importante para o idoso manter a sua
capacidade para realizar as tarefas cotidianas, que normalmente necessitam muito
mais de força muscular, resistência muscular e flexibilidade do que de capacidade
aeróbia (Okuma, 1998; Santarém, 2000).
O treinamento contra-resistência, também conhecido como treinamento de
força, é uma forma de exercício que requer que a musculatura corporal se mova
contra uma força oponente, geralmente oferecida por algum tipo de equipamento. O
objetivo principal desta forma de trabalho é promover adaptações fisiológicas e
morfológicas no músculo (Fleck e Kraemer, 1999).
Nos exercícios contra-resistência os músculos se tornam mais fortes em
resposta à sobrecarga imposta que causa um "estresse" benéfico de adaptação. O
treinamento de força aumenta a capacidade oxidativa e promove algumas
modificações estruturais do tecido muscular, revertendo o processo de perda de
mitocôndrias, desenvolvendo a força e minimizando o ritmo da perda da massa
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 68
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
muscular. Isso faz com que o treinamento contra-resistência seja o meio mais
eficiente para aumentar a força muscular e a massa muscular de idosos, sendo
especialmente importante incentivar a prática destes exercícios por parte da
população idosa (Faro Jr. et al. 1996).
A força muscular é definida como a quantidade máxima de força de tensão
que um músculo ou grupamento muscular consegue exercer contra uma resistência
em um esforço máximo (Fox et al. 1991; Foss e Keteyian, 1998).
A partir desta definição são considerados dois tipos principais de contrações
musculares: contração dinâmica ou isotônica: o músculo encurta-se com tensão
variável ao deslocar uma carga constante; contração estática ou isométrica:
desenvolve-se tensão, porém não existe mudança no comprimento do músculo
(Weineck, 1999).
Nas contrações dinâmicas observam-se dois tipos básicos de ações
musculares ou fases: ação muscular concêntrica na qual o músculo se encurta ao
deslocar uma carga e ação muscular excêntrica na qual o músculo se estende de
uma forma controlada ao deslocar uma carga. Já nas contrações estáticas a ação
muscular denomina-se ação muscular isométrica quando não ocorre movimento
da articulação, o músculo desenvolve tensão, mas não existe alteração no
comprimento do músculo (Fox e Matheus, 1983).
Um programa de treinamento resistido, com ou sem pesos, planejado e
adequado pode resultar em aumentos significativos na força, na densidade mineral
óssea e na flexibilidade (McArdle et al. 1998), além de uma moderada hipertrofia
muscular, acrescentam Rogers e Evans (1998).
As características básicas na prescrição de um treino de força para idosos
são as mesmas da prescrição para o adulto jovem.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 69
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
•• IInntteennssiiddaaddee:: 5500 aa 8800%% ddee 11 RRMM oouu EEssffoorrççoo PPeerrcceebbiiddoo ddee 33 aa 66 nnaa EEssccaallaa CCRR1100 ddee BBoorrgg..
•• DDuurraaççããoo:: ddee 5500 mmiinn.. ((1100--3300--1100)).. 66 aa 1122 rreepp..//eexxeerrccíícciioo XX 11 aa 33 sséérriieess ((oouu aattéé 55 ppaarraa ooss ttrreeiinnaaddooss))
•• FFrreeqqüüêênncciiaa:: mmíínniimmoo ddee 22 ee mmááxxiimmoo ddee 55 aauullaass ppoorr sseemmaannaa •• RReeppoouussoo:: 6600 sseegg.. eennttrree sséérriieess ((2244 aa 4488 hhoorraass ppoorr ggrruuppoo
mmuussccuullaarr))..
Kraemer et al. (1996) observaram que no protocolo de um programa de
exercício com peso deve-se considerar a seleção do exercício, seqüência de
exercícios, intensidade utilizada, número de séries, o tempo de repouso entre as
séries e entre os exercícios,
respeitando dessa forma as
adaptações dos mecanismos
fisiológicos.
Os princípios fundamentais do planejamento de um programa de treinamento
de força são os mesmos, não importa qual a idade dos participantes. O melhor
programa é o individualizado, para atender as necessidades e as condições de
saúde de cada pessoa (Fleck e Kraemer, 1999).
Com relação ao aquecimento, ele pode ser feito utilizando-se os mesmos
movimentos que serão utilizados durante o treinamento específico, só que sem a
utilização de pesos. O objetivo é aumentar a circulação sanguínea de forma a se
conseguir um pequeno aumento da temperatura nos músculos, facilitando o
metabolismo, melhorando a resposta ao exercício e diminuindo os riscos. Uma outra
estratégia é utilizar nesta fase movimentos de flexibilidade de curta duração, com
várias repetições e dentro dos limites articulares usuais. Isto proporciona uma
movimentação corporal geral que atinge o mesmo objetivo anterior de preparação
para a atividade e redução de riscos.
Alongamento passivo, com maior permanência é indicado para o final da
atividade, na fase de relaxamento ou desaquecimento. Ele diminui a freqüência
cardíaca, diminui o ritmo respiratório e libera alguns neurotransmissores nos
músculos e articulações que promovem relaxamento muscular e indiretamente,
relaxamento mental. Se este tipo de exercício for realizado antes do trabalho com
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 70
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
pesos, a título de aquecimento, acaba-se por atingir o resultado oposto do esperado,
pois a redução da freqüência cardíaca e o relaxamento muscular não são objetivos
do aquecimento. Além do mais, este relaxamento aumenta o risco de lesões
musculares.
Com relação à intensidade, verifica-se que a alta intensidade provoca maior
aumento na força muscular dos indivíduos idosos, quando comparados com os
estudos utilizando treinamento com intensidade baixa e moderada (Fiatarone et al.,
1990; Fleck e Kraemer, 1999).
É preciso lembrar que, embora o treinamento de alta intensidade seja
desejável, para que ele seja tolerado e traga resultados positivos para a pessoa
idosa é necessário um período de treinamento inicial, de adaptação e aprendizagem
dos movimentos, antes de treinar em um nível necessário para provocar adaptações
no músculo, mais tarde, com a progressão do programa de treinamento.
Embora exista uma grande variedade de testes e medidas que podem ser
empregados para avaliar os efeitos de programas de exercícios com peso, o Teste
de 1 RM (uma repetição máxima) tem sido amplamente aplicado como avaliação da
força muscular na área de envelhecimento, sendo utilizado em pelo menos um de
cada dois estudos científicos publicados (Raso, 2000).
O Teste de 1 RM (Teste Isotônico de Uma Repetição Máxima), de acordo
com as recomendações de procedimentos da Sociedade Americana de Fisiologia do
Exercício (BROWN e WEIR, 2003), é o que mais se utiliza com objetivos
científicos e é aplicado da seguinte forma:
• Aquecimento: de 5 minutos, realizando movimentação do corpo todo e
aquecendo especificamente o grupo muscular que se pretende testar (podem ser
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 71
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
utilizados pequenos pesos para esta parte específica, realizando poucos
movimentos).
• Teste: posicionar o corpo e membro a ser testado em relação ao peso.
Realizar um movimento completo, utilizando uma carga próxima de 100% da
máxima carga estimada para o indivíduo. Aumentar ou diminuir a carga ao longo de,
no máximo, 5 tentativas, registrando-se ao final o valor da carga para Uma
Repetição Máxima (1 RM), que é a maior carga contra a qual o indivíduo conseguiu
realizar uma única movimentação completa do grupo muscular.
• Repouso entre as tentativas deve ser de 60 segundos.
Ao encontrar o valor para 1RM, passa-se aos cálculos para encontrar com
qual peso se fará o trabalho de força com a intensidade desejada.
Suponhamos que aplicamos este teste a um aluno idoso, para quem carga de
1RM para o bíceps foi de 10 kg. Suponhamos ainda que este seja um idoso
sedentário em início de treinamento. Sabendo que vamos trabalhar inicialmente com
ele em uma faixa que deve começar em 50% de 1RM e que isto pode chegar a 60%
de 1RM. Qual será a faixa de treinamento de força para este idoso?
Para isto, basta calcular quanto é 50% e 60% de 10 kg.
Cálculo: 50% de 10 kg = 5 kg
60% de 10 kg = 6 kg
Portanto, com este aluno começaríamos o treinamento a partir de uma carga
de 5 kg que, ao longo do tempo, poderia chegar a 6 kg.
O único problema é que só conseguiríamos chegar a estes valores com o
idoso ativo e saudável. Isto porque o objetivo do teste é justamente testar qual é a
carga máxima que ele consegue suportar e isso jamais poderia ser feito com
segurança para o idoso sedentário ou portador de alguma enfermidade. Mesmo em
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 72
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
estudos científicos isto é feito em um laboratório, na presença de um médico e com
equipamentos e metodologias adaptadas para as limitações do paciente.
Fizemos os cálculos apenas para você relembrar a lógica do teste. Entretanto,
para determinar a carga de treinamento de força para um aluno idoso real e para
avaliarmos o progresso no quotidiano da prática pedagógica, precisaremos de
outros métodos mais simples e seguros.
O método mais simples, seguro e eficiente é o de Estimativa de Carga pelo
número de repetições possíveis para uma determinada faixa de intensidade de
treinamento. A Carga Estimada por este método é praticamente a mesma da Carga
Calculada, com a diferença de que você chega a ela pelo caminho inverso: partindo
de cargas mais leves, até chegar à carga de treinamento ao longo de alguns dias
ajustando as cargas até que o aluno esteja trabalhando na intensidade que você
prescreveu.
Para estimar a carga por este método, você deverá encontrar junto com seu
aluno uma carga com a qual ele consiga trabalhar o número de repetições que você
sugeriu e nenhuma repetição a mais.
Essa escolha se faz a partir da tabela
ao lado que correlaciona o percentual
de 1 RM Calculado com o número de
repetições possíveis (e nenhuma mais)
para uma carga dada.
Número de repetições conseguidas e nenhuma a mais
Faixa de treinamento em % de 1 RM
1 100% 2 95% 4 90% 6 85% 8 80%
10 75% 12 70% 14 65%
De 15 a 20 50% a 60% Fonte: NUNES (2000)
Suponhamos que você esteja recebendo um aluno idoso sedentário e
pretenda trabalhar inicialmente com ele a uma intensidade de 50% a 60%. Na
primeira aula, num trabalho de bíceps, você coloca nas mãos dele um bastão de 0,2
kg e pergunta se ele acha que consegue levantá-lo umas 15 ou 20 vezes
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 73
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
flexionando os antebraços. Observe a execução quando for chegando aos valores
estipulados. Se antes de chegar a 15 repetições, você notar que o trabalho começa
a ficar pesado, que ele começa a reclamar ou apresentar dificuldades, isto significa
que aquela carga de 0,2 kg está acima dos 50% ou 60% de intensidade e o
exercício deverá ser interrompido e a carga diminuída na próxima série ou na
próxima aula. Já se o seu aluno ultrapassou com tranqüilidade as 20 repetições, isto
quer dizer que a carga está leve, abaixo dos 50% ou 60% de intensidade e o
exercício será interrompido algumas repetições depois e a carga aumentada na
próxima série ou na próxima aula.
Este procedimento deverá ser repetido para cada exercício prescrito para
cada grupo muscular. Observe que este método de trabalho só se aplica ao trabalho
individual ou com pequenos grupos, normalmente é utilizado na reabilitação e em
aulas particulares.
Entretanto, como a realidade (e até mesmo a indicação) do trabalho com
idosos é o exercício em grupos (médios ou grandes), torna-se impraticável
comandar uma aula em circuito ou uma aula de ginástica localizada (e semelhantes)
com cada aluno fazendo um número diferente de repetições para alcançar o alvo.
Para estes casos, a Escala CR10 de Borg de Percepção Subjetiva do Esforço
(PSE) é mais útil, pois permite ajustar a carga desejada para cada aluno
individualmente, mas com todos trabalhando o mesmo número de repetições numa
aula coletiva, permitindo inclusive a marcação dos tempos com a utilização de
música.
Para este tipo de prescrição você primeiro escolhe quantas repetições serão
feitas para cada exercício em determinada aula. Depois solicita que os alunos
escolham pesos (ou extensores, ou bastões, etc.) com os quais consigam executar
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 74
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
aquele número de repetições, dosando a intensidade do trabalho através da PSE
(Percepção Subjetiva do Esforço) apontada na Escala CR10 de Borg.
Suponhamos que você esteja recebendo aquele mesmo aluno idoso
sedentário em um grupo de treinamento de força e pretenda trabalhar inicialmente
com ele a uma intensidade de 50% a 60%, numa aula em que a contagem do
número de repetições foi padronizada em 10 repetições para cada exercício. Na
primeira aula, num trabalho de bíceps, você pede ao aluno que escolha (dentre
vários bastões de diversos pesos) um bastão com o qual consiga realizar as 10
repetições do movimento com um esforço que, de 0 a 10 na CR10 de Borg, poderia
ser classificado como entre 3 e 4 (de moderado a um pouco forte). Realizando 10
repetições com aquele bastão dentro deste esforço percebido ele estaria
trabalhando exatamente dentro da faixa dos 50% a 60% que você prescreveu.
Caso ele aponte valores de 5 (forte) para cima ou se você notar que o
trabalho começa a ficar pesado, que ele começa a reclamar ou apresentar
dificuldades, isto significa que aquela carga daquele bastão está acima dos 50% ou
60% de intensidade e o exercício deverá ser interrompido (mesmo que os colegas
continuem contando até 10) e a carga diminuída na próxima série ou na próxima
aula.
Já se ele aponta valores de 2 (fraco) para baixo, isto quer dizer que a carga
está leve, abaixo dos 50% ou 60% de intensidade e a carga aumentada na próxima
série ou na próxima aula.
Este procedimento deverá ser repetido para cada exercício prescrito para
cada grupo muscular. Em poucas aulas os alunos adquirem a dinâmica de ajustar
suas cargas, passando a fazer isto rapidamente e de maneira autônoma.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 75
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Desta forma você consegue ter numa mesma aula alunos de diversos níveis
de treinamento, permitindo assim que o amigo novato pratique junto com o colega já
mais treinado que o convidou. Isto reforça os laços, desenvolve o espírito
colaborativo, dá oportunidade para as pessoas conviverem harmoniosamente com
as diferenças, além de ser um bom exercício de inclusão (afinal, é muito mais difícil
incluir pessoas separando-as por grupos de doenças, níveis de treinamento, sexo,
etc).
Quanto à seleção de atividades para o treinamento de força, estão incluídas
nesta categoria todas as modalidades que trabalham contra-resistência, tanto em
máquinas, quanto com pesos livres. As aulas na sala de musculação são as mais
conhecidas. Também se encaixam nesta categoria trabalhos como o método pilates
em aparelhos, exercícios com extensores (rubber band), atividades com medicine
ball, circuitos ecológicos, esportes indígenas e esportes rurais de carga (os três
envolvendo levantamento e movimentação de troncos, pedras, transporte de
pequenos e médios animais ou volumes de cereais em gincanas, que facilmente
podem ser adaptados ao trabalho com idosos).
Não há diferença no resultado final para o desenvolvimento da força entre
trabalhos que utilizam aparelhos fixos e aqueles que utilizam implementos móveis.
Os cientistas apontam diferenças em relação a outras variáveis, como segurança e
trabalho neuromotor. Com a relação à segurança, os aparelhos fixos (de
musculação, pilates, etc.) são os mais indicados, mas eles oferecem menor estímulo
neuromotor para desenvolvimento de habilidades como equilíbrio e coordenação,
dentre outras. Já nas atividades com implementos móveis estes estímulos são mais
evidentes, principalmente com relação ao equilíbrio, entretanto, o controle do
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 76
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
exercício não é tão grande quanto nas máquinas, o que os contra-indica para
situações que exijam controle total do risco.
É preciso lembrar que existem, ainda, outras modalidades de exercício que
trabalham a força utilizando o peso do próprio corpo ou contra a resistência imposta
por outra pessoa em atividades grupais. Encaixam-se nesta categoria trabalhos
como: ginástica localizada, pilates de solo, bioginástica, ginástica natural, tai chi
chuan, lian kung e alguns tipos de hata ioga (Bikram, Power, Ashtanga, Swásthya,
Viniyoga, etc.), além de técnicas mistas como o método iogalates (ioga + pilates).
A vantagem destas técnicas sem implementos no trabalho com o idoso,
primeiro está no seu custo (que é zero, pois só utiliza o corpo e, no máximo, o solo
que pode ser forrado com uma toalha ou tapete macio). A outra vantagem é com
relação ao aspecto pedagógico: é mais dinâmico, facilita a interação, o convívio, a
participação e a integração, favorecendo os aspectos psicossociais do trabalho.
Flexibilidade
A flexibilidade é um termo geral que inclui a amplitude de movimento de uma
articulação simples e múltipla e a habilidade para desempenhar tarefas específicas.
A amplitude de movimento de uma dada articulação depende primariamente da
estrutura e função do osso, músculo e tecido conectivo e de outros fatores tais como
dor e habilidade para gerar força muscular suficiente.
Os exercícios de flexibilidade são compostos por modalidades que
geralmente não necessitam de preparo físico anterior (eles é que são,
invariavelmente, utilizados tanto na preparação ou aquecimento, quanto na volta à
calma ou relaxamento, dentro da prática das outras modalidades).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 77
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A base da maioria das modalidades são as técnicas de Alongamento,
Flexionamento, Relaxamento, Exercícios Respiratórios e de Consciência Corporal
(ou Meditação).
Os resultados deste trabalho abrangem o complexo biopsicossocial:
• FÍSICO: os exercícios de alongamento e flexionamento - suaves - melhoram o
estado geral da musculatura, aumentam a eficiência mecânica e a coordenação
motora, corrigem a postura e diminuem os riscos de lesões por acidentes ou por
esforços repetitivos;
• MENTAL: os movimentos lentos e fluidos, aliados ao relaxamento, controle
mental e exercícios respiratórios, incrementam a Consciência Corporal, promovem
intensa descontração psíquica, combatendo o estresse ao mesmo tempo em que
estimulam a criatividade e a disciplina; permitindo, assim, ao indivíduo um contato
mais íntimo com seus estados emocionais e a administração mais eficiente de suas
capacidades físicas, emocionais e intelectuais;
• SOCIAL: normalmente as práticas são feitas em grupo, de maneira
descontraída e bastante lúdica, permitindo ao indivíduo aprimorar sua noção de
participação em equipes, times e trabalhos coletivos, bem como desenvolver o
respeito pelos ritmos e limitações próprios e das pessoas ao seu redor, trazendo a
consciência de que é possível conviver com as diferenças. Isto estimula no indivíduo
o sentimento de ser uma parte importante do equilíbrio social. Com isso se reduzem
os níveis de ansiedade decorrentes da vida moderna. Isso permite ao praticante
idoso tornar-se mais participante, cooperativo e integrado, tanto na família quanto na
comunidade.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 78
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
•• IInntteennssiiddaaddee:: âânngguulloo ffiissiioollóóggiiccoo -- qquuaallqquueerr ttééccnniiccaa ((ppaarraa aalloonnggaammeennttoo,, aaqquueecciimmeennttoo)):: BBoorrgg aattéé 22..
•• MMaaiioorr qquuee âânngguulloo ffiissiioollóóggiiccoo,, TTééccnniiccaass PPaassssiivvaass ee FFNNPP ((ppaarraa fflleexxiioonnaammeennttoo)):: BBoorrgg ddee 33 aa 66..
•• DDuurraaççããoo:: aalloonnggaammeennttoo ee aaqquueecciimmeennttoo 1100 mmiinn.. FFlleexxiioonnaammeennttoo 5500 mmiinn.. ((1100--3300--1100)).. RReeppeettiiççõõeess:: 11 aa 55 ppoorr eexxeerrccíícciioo
•• FFrreeqqüüêênncciiaa:: mmíínniimmoo ddee 22 ee mmááxxiimmoo ddee 55 aauullaass ppoorr sseemmaannaa •• RReeppoouussoo:: tteemmppoo iigguuaall oouu oo ddoobbrroo ddoo tteemmppoo ddee ppeerrmmaannêênncciiaa
eemm ccaaddaa aarrttiiccuullaaççããoo..
As características básicas na
prescrição de um treino de
flexibilidade para idosos são as
mesmas da prescrição para o adulto
jovem.
De acordo com DANTAS (1999), entende-se por alongamento o trabalho
submáximo dos músculos e articulações com o objetivo da manutenção da
amplitude articular e para aquecimento e volta à calma de outras modalidades.
Neste sentido indica-se uma intensidade baixa de carga de trabalho, uma freqüência
mínima de 2 vezes por semana, utilizando-se de 3 a 6 repetições por movimento,
com 10 a 15 segundos de permanência em cada posição. A técnica mais conhecida
é a série de Alongamento tradicionalmente utilizada em início e final das aulas de
educação física.
Já por flexionamento, entende-se o trabalho máximo dos músculos e
articulações visando ao incremento da amplitude articular. Esta é a técnica que se
utiliza em trabalhos específicos (aulas) de flexibilidade. Existem técnicas de
flexionamento dinâmicas e estáticas.
O flexionamento pode ser dinâmico, com exercícios que usam a inércia
para levar o segmento corporal a um alongamento intenso, que vai além do arco
articular. As aulas devem ter uma freqüência mínima de 2 vezes por semana, com
30 minutos de trabalho específico (mais 10 minutos de aquecimento e outros 10 de
volta à calma). Indica-se realizar de 2 a 4 repetições por movimento, com 10 a 15
insistências para cada movimento, até o limite do desconforto muscular.
As modalidades que mais se encaixam nestas características são as aulas de
Alongamento Dinâmico ou Alongamento Balístico, o método pilates de solo (com ou
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 79
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sem implementos como bola, barras, etc.), as técnicas de hata ioga dinâmica
(Bikram, Power, Ashtanga, Swásthya, Viniyoga, etc.), as técnicas de tai chi chuan
dinâmico (estilos praticados dentro da filosofia mais esportiva do wushu ou kung fu)
e o lian kung tradicional (praticado com número fixo de repetições e velocidade
controlada por marcação chinesa).
Todas as técnicas de flexionamento dinâmico devem ser utilizadas com
parcimônia no trabalho com idosos, devido ao risco de lesões, que é alto em
todas as modalidades. Com idosos o mais seguro é sempre trabalhar com
flexionamento estático, que permite maior controle e, portanto, segurança.
O flexionamento pode também ser estático, nele são utilizados
movimentos suaves e permanência para levar o segmento corporal a um
alongamento intenso, que vai além do arco articular. As aulas devem ocorrer com
freqüência mínima de 2 vezes por semana, com 30 minutos de trabalho específico
(mais 10 minutos de aquecimento e outros 10 de volta à calma). Indica-se trabalhar
de 3 até 6 repetições por movimento, com 10 a 15 segundos de permanência em
cada posição, acrescentando técnicas de respiração e consciência corporal. Grande
número de estudos sugere que tempos maiores não oferecem vantagem extra nos
ganhos de flexibilidade, portanto, se não houver outros motivos pedagógicos para
manter o aluno na posição, não há vantagem alguma em permanecer 20, 30, 45 ou
120 segundos, como aparecem em algumas propostas.
As modalidades que mais se encaixam nas características de flexionamento
passivo são as aulas de Alongamento Dinâmico Passivo, Método FNP (Facilitação
Neuromuscular Proprioceptiva, também conhecido como 3S - Scientific Stretching for
Sports), a técnicas de hata ioga passiva (Hatha, Purna, Iyengar, Ananda, Anusara,
Tantra, Integral, Integrativa, Tibetana, Kundalini, Sivananda, etc.), as técnicas de tai
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chi chuan mais passivas (praticado dentro da filosofia taoísta, mais terapêutica) e o
lian kung de forma crítica (praticado com foco no aluno, deixando de lado o
tradicionalismo da modalidade).
O tempo de descanso durante qualquer trabalho de flexibilidade deve ser de
igual duração (ou de até o dobro) do tempo utilizado para realizar a série de
repetições.
O controle da intensidade é mais bem realizado utilizando-se a Escala CR10
de Borg, para o Esforço Percebido. Para o trabalho de Alongamento a percepção
relatada será de no máximo 2 (Fraco), significando baixa intensidade. Já para o
Flexionamento, a percepção do esforço deverá estar entre 3 e 6, sem a presença de
dor ou desconforto. A partir do valor 7 na percepção relatada, o aluno já entra na
faixa de risco de lesão por sobrecarga articular.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 81
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
5.2. Cuidados com as doenças prevalentes e riscos durante a aula
No planejamento também é aconselhável levar em conta exercícios
específicos ou estratégias visando à prevenção ou ao auxílio na reabilitação das
doenças prevalentes:
Doença Indicações de exercícios Contra-indicações Artrose e Dor crônica
TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios e treinamento muscular para diminuir rigidez e dor.
Sobrecarga para articulações levantamentos de peso, corridas e práticas esportivas, ir devagar.
Cardiopatias TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Igual hipertensão e evitar longa permanência estática de pé (causa hipotensão postural)
Colesterol TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Nenhuma.
Diabetes TODOS. Contínuos, aeróbios devem ser realizados 7 dias na semana.
Riscos MMII (varizes, pé diabético), risco hipoglicemia (importante comer antes, evitar fazer esportes solitários ou muito radicais: pode desmaiar quando só), evitar exercícios de média a alta intensidade quando glicemia ≥ 250 mg/dl (pode levar a cetose, coma e morte ou lesão cerebral). Controlar PA nos exercícios resistidos: pressão elevada pode acelerar problemas oftalmológicos, renais e cardíacos.
Hipertensão TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Manobra de Valsalva durante esforço. Longa permanência de braços ou pernas elevados.
Hipotensão e Síncopes (desmaios)
TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Atividades após comer, mudança rápida das posições deitada ou sentada para de pé (principalmente pela manhã), permanência em pé por longo tempo, exercícios respiratórios forçados, mergulho em água fria, ducha fria, massagens no pescoço, verificação de freqüência cardíaca na artéria carótida.
Obesidade TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Sobrecarga para articulações dos MMII como nas corridas e cuidado com práticas esportivas competitivas.
Osteoporose TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios ao sol e os de força para todos os sítios.
Riscos para quedas e fraturas.
Problemas respiratórios
TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios. Acrescentar Exercícios Respiratórios.
Atividades fatigantes.
Sedentarismo TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios.
Irregularidade (≤ 2 vezes semana) + competitividade = síndrome do atleta de fim-de-semana (infarto, morte).
Varizes TODOS. Priorizar contínuos, aeróbios. Fortalecer membros inferiores.
Isométricos de membros inferiores e longa permanência estática de pé (prejudica retorno venoso)
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5.3. Reflexões Finais
Nesta parte do curso você estudou conteúdos que o ajudaram a conhecer
melhor a fisiologia do exercício e os cuidados na prescrição da atividade física para
os idosos. Procure certificar-se de que, a partir das noções teóricas a respeito de
fisiologia e princípios de prescrição, você já consegue propor atividades visando ao
desenvolvimento da Aptidão Física de seus alunos, atendendo às características
individuais de doenças presentes e prevendo possíveis riscos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 83
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UNIDADE 6 – METODOLOGIA DE TRABALHO
Apresentação Nesta unidade discutiremos os aspectos metodológicos do
planejamento e as estratégias para melhor desenvolver o trabalho.
Os assuntos serão abordados de forma prática, procurando auxiliar o
professor no processo de simplificar e de tornar eficiente o ato de planejar e ministrar
suas aulas.
O que se pretende aqui é abordar os aspectos essenciais à construção de um
plano a partir da realidade do trabalho cotidiano com alunos idosos.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Redigir um plano de curso e um plano de aula completos:
• Traçando objetivos claros
• Selecionando estratégias que correspondam aos objetivos
• Escolhendo recursos físicos e materiais adequados e
• Avaliando os resultados em cada fase do trabalho.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 84
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
6.1. Estratégias ou métodos de trabalho
Quando estudamos a prescrição da atividade física na Unidade 5 ficaram
definidos alguns parâmetros mínimos para se preparar uma aula visando alcançar os
efeitos e prevenir os riscos que também foram vistos naquela unidade.
A partir de agora passaremos a estudar o como implementar, distribuir,
organizar, controlar as atividades na prática para que a prescrição saia do papel e se
transforme em aula.
Para isso você precisará sempre pensar na modalidade escolhida dentro
daquela perspectiva da promoção da Aptidão Física. Ao escolher um exercício
(caminhada, ginástica, esportes, etc.) é necessário sempre perguntar: Qual é o
principal componente da aptidão física que está sendo trabalhado com esta
atividade? Que adaptações ou que outras atividades precisarei acrescentar para
trabalhar os demais componentes e, assim, realmente, conseguir um trabalho sério
de Condicionamento Físico?
Lembre-se que os exercícios, além de trabalharem a aptidão física devem
também ser agradáveis, prazerosos e integrativos. Por isso, em uma aula, deve-se
procurar exercitar todas as estruturas móveis do corpo, dando preferência às
atividades que abordem o corpo de forma global. Portanto, observe após planejar
um programa se foram contemplados minimamente os seguintes aspectos nas
atividades de condicionamento:
Potência aeróbia Força muscular Flexibilidade Equilíbrio Educação postural Coordenação motora Habilidades psicomotoras Imagem corporalAgilidade Tempo de reação Mobilidade das articulações Respiração Lateralidade Ritmo Reflexos
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 85
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O trabalho deverá ser metódico e estruturado, obedecendo a um
planejamento bem fundamentado. De acordo com Yanguas et al., (1998), a um
observador externo deverá ficar claro que houve:
Explicação verbal dos exercícios: O tom de voz deve ser alto e as palavras
devem ser bem vocalizadas, para assegurar a compreensão. Utilizando uma
linguagem inteligível, clara, concisa e motivante, o professor informa que exercício
será realizado, que materiais ou equipamentos serão utilizados e se o trabalho será
individual ou grupal;
Descrição passo a passo do exercício;
Demonstração dos exercícios por parte do professor (ou com auxílio de um
aluno experiente como modelo);
Realização dos exercícios pelos alunos: É preciso estar atento ao que
acontece a cada aluno, mas sem perder a noção do conjunto (nas atividades
grupais);
Estimulação (reforço) durante a execução, com observações e elogios
sinceros. O professor deve desenvolver confiança, segurança e alegria. Deve
respeitar os diferentes ritmos dos alunos, procurando estimulá-los, mas evitando a
superproteção. Cuidado com a Infantilização do Idoso. Seu aluno tem uma mão,
não uma mãozinha. Um pé e não um pezinho...
Correção de forma discreta e preferencialmente grupal, evitar situações e
linguagens que possam ferir ou humilhar quaisquer alunos;
Descanso e recuperação;
Teoria: análise, comentários, recomendações e sugestões a respeito dos
exercícios e das experiências vivenciadas nas aulas e suas implicações na vida
diária (temas transversais e conteúdos interdisciplinares).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 86
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
O professor deve demonstrar atenção e receptividade permanente às
propostas e observações dos alunos utilizando essas informações em seu
planejamento tanto para selecionar atividades, quanto para determinar a forma de
executá-las.
6.2. Trabalhando a Aptidão Física com segurança
Ao prescrever um treinamento visando à Aptidão Física para idosos é preciso
observar que o trabalho de desenvolvimento de cada qualidade física possui
algumas especificações mínimas para que algum resultado possa ser atingido e os
riscos evitados.
Com o objetivo de aproveitar melhor “a função socializadora, vitalizadora,
recreadora e também reabilitadora que a prática da atividade física” e aumentar a
segurança na prescrição DIAS (2004) propôs a reorganização dos princípios de
treinamento em apenas 5 grandes princípios onde os 4 primeiros incluem os
fundamentos tradicionais e o 5º amplia o conceito do treinamento para uma
abordagem integral do ser humano:
1º princípio: manutenção da atividade física – o professor deverá estimular os
alunos a praticarem a atividade física de forma regular.
2º princípio: individualização na atividade física – a partir da avaliação física
fazer prescrições que atendam às necessidades individuais de cada aluno.
3º princípio: continuidade da atividade física – levar em conta o aspecto
cumulativo da atividade física, introduzindo, gradualmente, pequenas modificações
que resultem em um melhor condicionamento físico.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 87
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4º princípio: sobrecarga da atividade física – Aumentando gradativamente, a
freqüência, a duração e a intensidade, pode-se dosar a atividade física. É importante
lembrar que a intensidade é um princípio de treinamento delicado na prescrição do
treinamento para idosos, pois tem o potencial de precipitar eventos que podem
resultar em morte. Portanto, ao propor uma sobrecarga ao aluno idoso sempre é
melhor começar fazendo maiores modificações no volume do treinamento
(freqüência, duração, repouso) enquanto se fazem alterações mínimas na
intensidade.
5º princípio: totalidade da atividade física - não basta só exercitar os
músculos, é preciso também envolver todos os componentes do ser (físicos,
psíquicos e espirituais) no exercício.
6.3. Avaliando resultados de um programa
O ideal em um programa de exercícios é que os alunos passem por uma
avaliação prévia para conhecer suas condições iniciais de Condicionamento Físico e
Saúde. Esta avaliação deverá ser reaplicada periodicamente para fins de
acompanhamento e controle das atividades pelo professor e para mostrar a cada
indivíduo o que ele melhorou ao longo de um determinado período de treinamento.
A seguir vamos mostrar alguns testes simples, de fácil aplicação e com
equipamentos baratos, desenvolvidos especificamente para avaliarem idosos e que
permitem acompanhar alterações na antropometria, na aptidão física e em alguns
aspectos psicossociais.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 88
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
a) AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE A CINTURA E O QUADRIL (RCQ)
Objetivos: avaliar deposição central de gordura e risco para doenças crônicas
Procedimentos: Registrar o resultado da divisão entre a medida da cintura em
centímetros, tomada à altura da cicatriz umbilical, e a medida do quadril em
centímetros, aferida à altura de sua maior circunferência.
RCQ = CINTURA QUADRIL
Valores de referência para gordura abdominal e risco para idosos:
BAIXO MODERADO ALTO MUITO ALTO MASCULINO < 0,91 0,91 a 0,98 0,99 a 1,03 > 1,03 FEMININO < 0,76 0,76 a 0,83 0,84 a 0,90 > 0,90 Fonte: Applied Body Composition Assessment (1996)
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)
Objetivos: avaliar obesidade e risco para doenças crônicas
Procedimentos: Registrar o resultado da divisão entre o valor da massa
corporal em quilogramas (kg) e o quadrado da altura medida em metros (m).
IMC = massa/(altura)2.
IMC como preditor de obesidade (OMS)
BAIXO < 18,5 ACEITÁVEL OU IDEAL de 18,5 a 24,9
OBESIDADE LEVE de 25,0 a 29,9 OBESIDADE MODERADA de 30,0 a 39,9
OBESIDADE SEVERA ≥ 40,0 Fonte: OMS in www.saudeemmovimento.com.br, 12/03/2005 às 16h45.
IMC como preditor de riscos para a saúde
MASCULINO FEMININO RISCO BAIXO 17,9 a 18,9 15,0 a 17,9
IDEAL 19,0 a 24,9 18,0 a 24,4 RISCO MODERADO 25,0 a 27,7 24,5 a 27,2
RISCO ELEVADO > 27,8 > 27,3 Fonte: CORBIN e LINDEY, 1994 in www.saudeemmovimento.com.br, 12/03/2005 às 16h45.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 89
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
b) AVALIAÇÃO DA APTIDÃO FÍSICA
Protocolo resumido do Teste de Aptidão Física para Idosos de Rikli e Jones. RIKLI, R.E., 2004 in SAFONS e PEREIRA, 2004. Traduzido, adaptado e reproduzido com permissão dos organizadores.
Caminhada de 6 minutos adaptada: Resistência Aeróbia
Objetivo: Avaliar a resistência aeróbia - importante para andar longa distância, subir escadas, fazer compras, passear durante as férias, etc.
Descrição: Número de metros que pode ser andado em 6 minutos em torno de um percurso de 50 metros, demarcado no solo ou pista, em 10 espaços de 5 metros. Valores de referência caminhada de 6 minutos (nº de metros percorridos) Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino 498 - 604 457 - 581 439 - 562 393 - 535 352 - 494 311 - 466 251 - 402
Masculino 578 - 672 512 - 640 498 - 622 430 - 585 407 - 553 348 - 521 279 - 457
Sentar e levantar em 30 s: Força de Membros Inferiores
Objetivo: Para avaliar a força dos MMII, necessária para reduzir possibilidade de queda e executar numerosas tarefas tais como subir escadas, fazer caminhadas, levantar de uma cadeira, sair de um carro.
Descrição: Registrar o número de levantamentos completos realizados em 30 segundos com os braços cruzados ao peito.
Altura da cadeira: 43 cm (altura normal de uma cadeira de bar: meça antes. Pode também ser banco de praça, mureta de jardim, etc. importante é estar firme).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 90
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Valores de referência Sentar e Levantar (nº repetições)
Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino 12 - 17 11 - 16 10 - 15 10 - 15 9 - 14 8 - 13 4 - 11
Masculino 14 - 19 12 - 18 12 - 17 11 - 17 10 - 15 8 - 14 7 - 12
Flexão de cotovelo com halteres em 30 s: Força de Membros Superiores
Objetivo: Avaliar a força dos MMSS, necessária para executar tarefas domésticas e outras atividades que envolvem levantar e carregar coisas tais como compras, malas e os netos.
Descrição: Registrar o número de levantamentos completos realizados em 30 segundos com um peso na mão dominante: de 5 libras (2,27 kg) para mulheres; 8 libras (3,63 kg) para homens.
Como ajustar o peso: em uma balança, pesar os halteres ou uma garrafa com areia ou um galão (ou balde pequeno) com água até obter o peso indicado.
Valores de referência flexão de cotovelo (nº repetições)
Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino 13 - 19 12 - 18 12 - 17 11 - 17 10 - 16 10 - 15 8 - 13
Masculino 16 - 22 15 - 21 14 - 21 13 - 19 13 - 19 11 -17 10 - 14
Teste de equilíbrio unipodal 30 seg. olhos fechados: Equilíbrio
Objetivo: Testar o equilíbrio estático - importante na marcha, na estabilidade postural e na prevenção de quedas.
Descrição: permanecer o maior tempo possível na posição ortostática, com as mãos nos quadris, em apoio unipodal e com os olhos fechados. O tempo de permanência máximo é de 30 segundos. Fazer 3 tentativas para o MEMBRO
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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
DOMINANTE, anotando o valor quando o aluno abrir os olhos ou retornar ao apoio bipodal. Registrar o maior valor: este é o escore para equilíbrio em segundos. O avaliador permanece próximo do aluno para evitar qualquer risco de queda.
Valores de referência teste unipodal (tempo em segundos) Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino (ND) (ND) (ND) (ND) (ND) (ND) (ND)
Masculino (ND) (ND) (ND) (ND) (ND) (ND) (ND) ND = Não definido. Não foram ainda definidos valores de referência para idosos para este teste.
Sentar e alcançar na cadeira: Flexibilidade Membros Inferiores
Objetivo: Para avaliar a flexibilidade dos MMII, que é importante para manter uma boa postura e estabilidade postural, e para várias tarefas que exigem mobilidade tais como entrar e sair de uma banheira ou de um carro.
Descrição: Sentar na parte dianteira de uma cadeira, uma das pernas estendida: com as mãos unidas realizar o movimento de alcançar os dedos do pé. Registrar o número de centímetros (cm) para mais ou para menos (+ ou -) entre as pontas dos dedos e a ponta do dedão do pé.
Valores de referência sentar e alcançar (cm) Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino -1 a +13 -1 a +11 -3 a +10 -4 a +9 -5 a +8 -6 a +6 -11 a +3
Masculino -6 a +10 -8 a +8 -9 a +6 -10 a +5 -14 a +4 -14 a +1 -17 a +1
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SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Alcançar mãos às costas: Flexibilidade Membros Superiores
Objetivo: Para avaliar a flexibilidade dos MMSS (ombro), que é importante nas tarefas tais como pentear o próprio cabelo, colocar adornos na cabeça, e colocar o cinto de segurança quando no carro.
Descrição: Com a uma mão por cima do ombro, tentar alcançar a outra que veio por baixo no meio das costas. Registrar o número de centímetros (cm) entre as pontas dos dedos médios (+ ou -).
Valores de referência alcançar mãos às costas (cm)
Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino -8 a +4 -9 a +4 -10 a +3 -13 a +1 -14 a 0 -18 a -3 -20 a -3
Masculino -17 a 0 -19 a -3 -20 a -3 -23 a -5 -24 a -5 -25 a -8 -27 a -10
Teste de agilidade: Agilidade
Objetivo: Para avaliar agilidade, importantes em tarefas que requerem movimentos rápidos como descer do ônibus no tempo, levantar para resolver alguma coisa na cozinha, ir ao banheiro, atender ao telefone.
Descrição: Registrar o número de segundos requeridos para levantar-se de uma posição sentada, andar 2,44 metros, girar e retornar à posição sentada.
Valores de referência teste de agilidade (segundos)
Idade 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-94
Feminino 6.0 - 4.4 6.4 - 4.8 7.1 - 4.9 7.4 - 5.2 8.7 - 5.7 9.6 - 6.2 11.5 - 7.3
Masculino 5.6 - 3.8 5.7 - 4.3 6.0 - 4.2 7.2 - 4.6 7.6 - 5.2 8.9 - 5.3 10.0 - 6.2
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 93
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
c) AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL: AUTOPERCEPÇÃO DE BEM-ESTAR
MODELO DA ESCALA DE AUTOPERCEPÇÃO DE BEM-ESTAR PAAF - GREPEFI
NOME: IDADE: SEXO:
Esta escala destina-se a avaliar a percepção que você tem do seu bem-estar. Por favor, responda o questionário com máxima sinceridade. Para isto indique em cada item a letra que corresponde a como você vem se sentindo ultimamente. Coloque a sua resposta no quadrado ao lado de cada item, seguindo a seguinte classificação: (A) Não sinto isto (B) Sinto isto de vez em quando (C) Sinto isto sempre
QUESTÕES RESPOSTAS 1. Medo de ficar sozinho(a) A B C 2. Medo de ter fraturas A B C 3. Medo de cair A B C 4. Medo de sair sozinho(a) A B C 5. Medo de estar doente em uma época que poderia estar curtindo a vida A B C 6. Sentir nervoso A B C 7. Mau humor A B C 8. Irritação A B C 9. Impaciência A B C 10. Depressão A B C 11. Dificuldade para me acalmar A B C 12. Insatisfação com a vida A B C 13. Sentir que tudo exige muito esforço A B C 14. Vergonha com a aparência A B C 15. Frustração A B C 16. Desistir facilmente das coisas A B C 17. Sentir que não vale a pena viver A B C 18. Solidão A B C 19. Desvalorização de si próprio A B C 20. Perda do controle da própria vida A B C 21. Pânico A B C 22. Preocupação com doenças A B C 23. Inquietação A B C 24. Pena de si mesmo A B C 25. Infelicidade A B C 26. Perda da independência A B C 27. Perda da autoconfiança A B C 28. Perda da concentração A B C 29. Perda da memória A B C
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 94
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Procedimento:
1. O avaliado deve ser encaminhado a um local bem iluminado e silencioso
que lhe facilite a concentração, onde haja algum apoio para escrever (mesa,
prancheta). Já no local, recebe o instrumento e uma caneta.
2. A seguir, o avaliador pede que ele indique a letra que corresponde a como
vem se sentindo ultimamente. Para isto o idoso deverá fazer um círculo na letra
escolhida em cada item.
3. Alguns exemplos devem ser dados antes de iniciar as respostas e dúvidas
podem ser sanadas pelo aplicador durante o preenchimento. É necessário ressaltar
que não existem respostas certas ou erradas, mas sim respostas que indicam como
o idoso se sente de fato.
4. Se, por acaso, o idoso não tiver condições de ler ou escrever, o aplicador
poderá anotar as respostas indicadas. Neste caso, deve-se evitar interferir nas
respostas, tentando ser o mais isento possível.
Resultado: A escala apresenta 29 itens. Cada item é avaliado segundo uma
escala de 3 pontos, a saber:
A - Não sinto isto = 2 pontos B - Sinto isto de vez em quando = 1 ponto C - Sinto isto sempre = O ponto O escore total é obtido somando-se os pontos dos 29 itens e pode variar de 0
a 58. Quanto mais elevado o escore, mais positiva é a percepção de bem-estar
do idoso.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 95
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
6.4 Recursos
6.4.1. Espaço Físico
A escolha adequada do espaço físico para a realização das atividades
garante 50% do sucesso de seu trabalho, portanto não descuide na escolha do local.
O espaço deve ser adequado para o tamanho do grupo e as características
da atividade. O local deve possuir boa iluminação, boa ventilação, temperatura
agradável. O piso (da sala, quadra, pista) deve ser adequado à prevenção de
quedas (antiderrapante, isento de buracos, livre de objetos em que se possa
tropeçar). A utilização do espaço deve favorecer boa visibilidade do professor e
audição dos comandos e orientações para as atividades.
6.4.2. Equipamentos e Materiais
É preciso lembrar sempre que o planejamento da atividade física para idosos
tem seu centro na ação pedagógica (que ocorre entre professor e alunos),
equipamentos e materiais são recursos que podem ou não estar disponíveis.
Equipamentos de última geração nem sempre são sinônimos de atendimento de
qualidade. Qualidade se obtém com um bom diagnóstico da população, escolha de
um local adequado, prescrição correta das atividades e planejamento eficiente da
execução das atividades prescritas. Caso, no planejamento, se opte pela utilização
de equipamentos e materiais, estes deverão ser escolhidos de acordo com a
atividade proposta.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 96
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Em academias de educação física geralmente os equipamentos já estão
alocados segundo as atividades em salas específicas: de musculação, de ginástica,
de natação, etc. Já em projetos sociais e programas comunitários em campos,
parques e praças o professor precisará utilizar seus conhecimentos técnicos e sua
criatividade para desenvolver alternativas de exercícios com recursos existentes na
própria comunidade.
A utilização de materiais presentes na vida diária (sacolas de compras, rolos
de jornais, toalhas, meias, bancos, cadeiras, escadas, etc.) pode ser uma excelente
maneira de incrementar carga ao mesmo tempo em que se faz a ponte entre o
exercício e sua utilização na vida diária.
A confecção em grupo de materiais alternativos (cabos de vassoura = bastão;
garrafas pet com água ou areia = anilhas; extensores elásticos; etc.) pode ser uma
boa oportunidade para estreitar os laços entre os membros do grupo através de um
projeto em comum. Assim, as idéias, experiências e talentos de cada um poderão
ser colocados em evidência, criando espaço pedagógico no qual poderão ser
trabalhadas algumas competências sociais tais como: liderança, participação,
democracia, planejamento, organização, cidadania.
Circuitos ou outros equipamentos fixos já instalados em parques, praças e
outros espaços públicos também poderão ser utilizados dentro do planejamento de
atividades para idosos. E salões de festa, sedes sociais de clubes, salões
paroquiais, quadras cobertas, poderão transformar-se em salas de ginástica,
danças, ioga, alongamento, jogos, etc.
Dependendo da atividade, colchonetes poderão ser substituídos por toalhas
grossas, esteiras, lonas ou outras opções para tornar confortáveis e seguras as
atividades de solo.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 97
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A música é sempre bem-vinda, pois além de ajudar a marcar ritmo, motivar e
estimular para os exercícios, ela também proporciona benefícios psicológicos sobre
o humor e cria espaço pedagógico para se trabalhar questões afetivas e emocionais
(como lembranças, saudades, medos, perdas, amor, amizade, alegria, esperança,
etc.) a partir do ritmo (que remete a uma época ou lugar) ou da letra (que explicita os
conteúdos).
Mas lembre-se a música nunca deve estar num volume acima da voz do
professor, nem deve determinar ritmos que não são os ritmos estabelecidos pela
atividade. O uso adequado do som nas aulas é de fundamental importância para o
controle da atividade por parte do professor.
6.4.3. Secretaria
Mesmo que a secretaria se resuma a uma pasta ao lado do caderno de
planos de aula na pasta do professor, há dados que precisam ser obtidos e
necessitam estar sempre à mão.
a. Agenda de endereços e telefones: da instituição responsável pela
implantação do programa, de todos os alunos e de um parente para contato em caso
de emergência. Telefones de emergência também é importante ter sempre à mão.
b. Fichas de inscrição com a anamnese de todos os alunos, que fornecem
informações úteis para o planejamento e em caso de emergência pode ajudar a
tomar atitudes mais acertadas.
c. Lista de chamada para controle de freqüência e outras anotações diárias
relativas aos alunos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 98
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
d. Fichas de avaliação: úteis na hora do planejamento para o grupo,
importantíssimas na hora de orientar individualmente, além de permitir acompanhar
com base em dados objetivos a evolução dos alunos. Discutir com os alunos as
modificações nos valores de suas avaliações pode ser um instrumento muito útil
para motivar a permanência na atividade.
6.4.4. Parcerias
Podem ser decisivas para o sucesso do programa as parcerias que se
estabelecem com o poder público, instituições privadas, instituições religiosas,
Organizações não governamentais, escolas, clubes e quaisquer outras organizações
da sociedade, visando à aquisição e manutenção de espaço físico, equipamentos,
materiais, divulgação, etc.
6.5. Emergências: Primeiros Socorros
O principal objetivo de um primeiro socorro é facilitar o atendimento médico,
quando se precisa deste. Um primeiro socorro bem feito pode reduzir ou evitar
totalmente os danos de um acidente e até mesmo salvar a vida da vítima. Os
primeiros socorros terminam sempre com a entrega da vítima aos cuidados
médicos.
O tipo de primeiro socorro é determinado pelo acidente em cena, pois as
situações são muito variadas. Você pode se defrontar com todo tipo de situação:
ferimento, perda de sangue (hemorragia), queimaduras, choque elétrico, fratura,
desmaios, convulsões, parada respiratória ou parada cardíaca...
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 99
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Em qualquer um dos casos, os princípios ou regras gerais devem ser
rigorosamente seguidos para que se preste um primeiro socorro eficiente.
PRINCÍPIOS GERAIS NO ATENDIMENTO DE PRIMEIROS SOCORROS
Avalie a situação rapidamente, enquanto toma as primeiras medidas no
socorro à vítima. O importante nesta hora é:
• BUSCAR AJUDA ESPECIALIZADA;
• EVITAR PÂNICO;
• INSPIRAR CONFIANÇA;
• TRANSPORTAR COM CUIDADO (e, na dúvida de fratura ou ferimento grave,
NÃO TRANSPORTAR, mas sim BUSCAR O MÉDICO, chamando um serviço de
emergências).
Algumas dicas:
• Pedir a alguém que busque o médico ou o serviço de emergência médica
mais próximo do local do acidente;
• manter a calma, afastar os curiosos e agir com rapidez e segurança;
• colocar a vítima deitada de costas, com a cabeça no nível do corpo. Se o
rosto começar a ficar congestionado (vermelho), elevar a cabeça, colocando
um pano embaixo;
• se tiver vômitos, virar a cabeça da vítima para um dos lados. Isso evita que o
vômito chegue aos pulmões;
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 100
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• se estiver inconsciente, retirar comida, lama ou outros objetos da boca e
colocar a cabeça de lado, tudo com o objetivo de evitar sufocação;
• desapertar a roupas e tirar os sapatos, cintos, gravata ou qualquer outra coisa
que possa prejudicar a circulação;
• não remover a vítima enquanto não tiver uma idéia precisa da natureza e
extensão de seus ferimentos e sem antes prestar os primeiros socorros;
• em caso de suspeita de fraturas ou luxações, não fazer massagens, nem
mudar a posição da vítima: imobilize o local atingido na posição em que
estiver e aguarde ajuda especializada chegar;
• evitar fazer a vítima sentar ou levantar;
• verificar o estado da vítima, se precisar remover a roupa faça-o da maneira
mais prática possível e não hesite em rasgar ou cortar o que achar
necessário;
• não dar de beber à pessoa inconsciente;
• nunca dar bebidas alcoólicas a um acidentado;
• em caso de queimadura, não aplicar óleo, pasta de dente, algodão, tecidos
felpudos ou qualquer outra coisa. Colocar pano limpo, úmido, sobre a área
queimada e levar ao hospital;
• não mexer em ferimentos com sangue já coagulado;
• acalmar a vítima e desviar sua atenção dos ferimentos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 101
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
6.6. Reflexões Finais
Chegamos ao final desta jornada. Nesta última unidade você estudou
questões específicas relacionadas ao trabalho diário do professor.
Como tarefa de auto-avaliação procure completar o plano de curso nos
moldes estudados na Unidade 2, prevendo os conteúdos, estratégias, materiais e
avaliação, tudo de acordo com o que você acaba de estudar.
De posse deste Plano de Curso, elabore um plano de aula para o primeiro dia
de aula de um grupo de idosos sob sua responsabilidade. Pense na situação real de
primeiro dia: apresentação da atividade, aula inicial com o objetivo de conhecer os
alunos e conquistar sua adesão, dinâmica de apresentação para que eles se
conheçam, etc. Lembre-se de colocar o nome da atividade, intensidade, duração e
freqüência com que pretende trabalhar. Escreva também um parágrafo a respeito
dos riscos que você espera encontrar e como pretende preveni-los.
Agora faça uma reflexão: você se sente um professor diferente ao final deste
estudo?
Parabéns pelo esforço, pela dedicação, pela persistência. É de gente assim
que os idosos precisam para orientá-los.
Se desejar, redija uma ou duas páginas, destacando os conteúdos que achou
mais importantes para seu aperfeiçoamento no trabalho com idosos, e envie aos
autores.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 102
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
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