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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ReitorNival Nunes de Almeida
Vice-reitorRonaldo Martins Lauria
Sub-reitoria de GraduaçãoRaquel Marques Villardi
Sub-reitoria de Pós-graduação e PesquisaAlbanita Viana de Oliveira
Sub-reitoria de Extensão e CulturaMaria Georgina Muniz Washington
UNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADE
DireçãoRenato Peixoto Veras
Vice-direçãoCélia Pereira Caldas
Rio de Janeiro2004
Renato Veras
Célia Pereira Caldas
UNATI-UERJ – 10 ANOSUM MODELO DE CUIDADO INTEGRALPARA A POPULAÇÃO QUE ENVELHECE
Copyright © 2004, UnATI
Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Aberta daTerceira Idade. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume,ou de parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem autorização ex-pressa da UnATI.
Universidade Aberta da Terceira IdadeRua São Francisco Xavier, 524 – 10º andar – bloco F – MaracanãRio de Janeiro – RJ – CEP 20.559-900Tels.: (21) 2587.7236 / 7672 / 7121 Fax: (21) 2264.0120e-mail: unati@uerj.brInternet: www.unati.uerj.br
V473 Veras, RenatoUnATI-UERJ – 10 anos um modelo de cuidado
integral para a população que envelhece. /RenatoVeras, Célia Caldas. – Rio de Janeiro: UERJ,UnATI, 2004.
80p.
ISBN 85-87897-098
1. Universidade da Terceira Idade 2. Centro deConvivência 3. Serviços de saúde para idosos I . Veras ,Renato I I . Caldas , Cél ia Pere i ra III. Título
CDU 378.6-053.9
CATALOGAÇÃO NA FONTEÍris Maria Carvalho Braga dos Santos CRB7 1877
Produção Editorial Rosania RolinsProjeto Gráfico/Diagramação/Capa Heloisa FortesRevisão Alcides Mello
Sumário
Apresentação ....................................................... 7
Introdução ......................................................... 10
Promoção da saúde, envelhecimentoe a emergência de novos modelos deatenção ao idoso .............................................. 16
O movimento Universidades da TerceiraIdade no mundo e no Brasil ........................... 39
A Universidade Aberta da Terceira Idadeda Universidade do Estado do Rio de Janeiro– A UnATI/UERJ ............................................... 42
Histórico ............................................................ 42
O modelo UnATI/UERJ nos dias atuais .......... 461. Atividades voltadas para idosos .............. 48
1.1 Serviços de saúde ............................. 481.1.1 O ambulatório NAI .................. 481.1.2 O ambulatório CIPI .................. 52
1.2 Atividades socioculturais e xxxxxxxxeducativas para idosos ...................... 55
2. Atividades de capacitação de xxxxxxxxxrecursos humanos..................................... 582.1 Residência em saúde do idoso xxxxxxxx
(especialização por meio xxxxxxxxxx detreinamento em serviço) .................. 58
2.2 Aperfeiçoamento profissional em xxxxsaúde do idoso .................................. 59
2.3 Estágios para estudantes de graduação ...592.4 Educação continuada em Gerontologia ...592.5 Preparação de acompanhantes e xxxxxx
familiares de idosos ........................... 60
3. Atividades de produção e xxxxxxxxxxxxdisseminação de conhecimento .............. 61
4. Atividades de extensão, xxxxxxxxxxxxxxxcomunicação e divulgação ...................... 624.1 Atividades de extensão .................... 624.2 Programas de voluntariado – xxxxxxxxx
A valorização do conhecimento xxxxxxxdo Idoso ............................................. 63
4.3 Atividades de divulgação junto ao xxxxxgrande público ................................... 64
4.4 Participação na formulação de xxxxxxpolíticas voltadas para a população xxxidosa ................................................... 65
Considerações finais .......................................... 66
Referências bibliográficas ................................. 69
Notas .................................................................. 75
A P R E S E N T A Ç Ã O 7
Apresentação
lém de ser uma referência nacional enquantoPrograma de Promoção da Saúde do Idoso,a UnATI/UERJ é um marco na nossa traje-
tória de vida. Ter participado do nascimento e desen-volvimento deste projeto é uma das mais queridas egratas realizações que um profissional de saúde podealmejar.
Muito se tem escrito sobre programas para a chama-da “Terceira Idade” e muito tem sido citada a UnATI/UERJ. Até então estivemos muito envolvidos com aconstrução deste projeto. Não havíamos nos detidopara refletir criticamente e registrar nossos referenciais.Ocupados com o “fazer acontecer”, muitas vezesdeixamos sem respostas ou sem contestação as sau-dáveis críticas e polêmicas que muito naturalmentese erguem ao tornar-se público um grande projeto.Mas há tempo para tudo. Sentimos que ao chegar odécimo ano de nossa caminhada na construção daUnATI já tínhamos uma bela trajetória e muito mate-rial para uma reflexão.
Neste texto descrevemos e refletimos criticamentesobre um programa voltado para o idoso que vemsendo desenvolvido e reconhecido como uma expe-
A
8 A P R E S E N T A Ç Ã O
riência de sucesso há dez anos. Ao mesmo tempoem que apresentamos a nossa compreensão do sig-nificado de promover a saúde do idoso, estamosdescrevendo um modelo de cuidado integral quetambém seja um locus de formação qualificada deprofissionais e de produção e disseminação de co-nhecimento por meio do desenvolvimento de pes-quisas. Um Centro que ofereça atualização, informa-ção e cursos e preste assistência e serviços de diver-sas naturezas a idosos de diferentes faixas etárias,gêneros, etnias, extratos sociais e níveis educacionaise culturais, sempre guiado pela excelência das alter-nativas oferecidas. Enfim, um Centro de Convivênciae Conveniência, caracterizado pela inovação e quali-dade, no interior da Universidade Pública.
Este trabalho tem também o objetivo de colocar àdisposição dos profissionais interessados na área doenvelhecimento humano, o inventário da experiênciadesenvolvida na Universidade Aberta da Terceira Ida-de da Universidade do Estado do Rio de Janeiro –UnATI/UERJ. Além disso, pretende estimular a cria-ção de Centros de Convivência para pessoas idosasem qualquer comunidade com o mínimo de recursosa partir de alguns princípios básicos.
Como uma fotografia, vimos divulgar o conjunto deprocedimentos que estão sendo desenvolvidos nasdiversas atividades realizadas gratuitamente para opúblico da terceira idade, oferecendo sua diversidadecomo subsídio para quem se engaje na implantaçãode um espaço semelhante. Desejamos, portanto,estimular a criatividade e incitar a busca de soluçõesimediatas para melhorar a saúde e a qualidade devida das pessoas idosas de nosso país.
OS AUTORES
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 9
envelhecimento populacional será,seguramente, um dos maioresproblemas sociais a se enfrentar,
em futuro próximo, em todo o mundo.Torna-se urgente, portanto, que os go-vernos e as universidades comecem a daratenção a essa grave questão, organizandocentros ou institutos para o estudo dosaspectos biológicos e sociais do envelhe-cimento e elaborando programas pararecuperação e utilização da imensa for-ça de trabalho que representa uma grandepercentagem de pessoas que se aposen-tam cedo, ainda com muito vigor físico eintelectual, que o país não pode despre-zar e abandonar.
Américo Piquet CarneiroProfessor Emérito da UERJIdealizador da UnATI/UERJ
UnATI/UERJ – 10 anosUm modelo de cuidado
integral para a populaçãoque envelhece*
Renato Peixoto Veras1
Célia Pereira Caldas2
O
10 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Introdução
Mais do que qualquer outra
época, o século XX se ca-
racterizou por profundas e
radicais transformações, des-
tacando-se o aumento do
tempo de vida da popula-
ção como seu fato mais sig-
nificativo no âmbito da Saú-
de Pública. A esperança de
vida cresceu cerca de 30 anos neste último século,
projetando um dos maiores desafios sociais da história
humana e uma intensa demanda por estudos e aná-
lises para definição de políticas públicas de preven-
ção de saúde no envelhecimento, cada vez mais
urgentes. É um fenômeno global e local, com ten-
dência a se agravar, na medida em que a rápida
diminuição das taxas de natalidade registradas nos
últimos anos na maioria dos países indica um aumen-
to ainda maior da expectativa de vida. A equação
demográfica é simples: quanto menor o número de
jovens e maior o número de adultos atingindo a ter-
ceira idade, mais rápido é o envelhecimento
populacional (Camarano, 1999).
Essa maior expectativa de vida se fez acompanhar de
uma melhora substancial dos parâmetros de saúde
das populações, ainda que estes avanços estejam longe
de se distribuírem de forma eqüitativa nos diferentes
países e contextos socioeconômicos. O que antes era
um privilégio de poucos – chegar à velhice – hoje
passa a ser a norma, mesmo nos países mais pobres.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 11
Se no século XX isso foi uma conquista, no século
XXI representa um imenso desafio.
O cenário que se desenha é de profundas transforma-
ções sociais, não só pelo maior número de idosos na
sociedade, mas também pelo desenvolvimento da
ciência e tecnologia. Estima-se que os avanços pode-
rão permitir ao ser humano alcançar de 110 a 120
anos, com a expectativa de vida atingindo o limite
biológico máximo ainda neste século. São mudanças
fantásticas e muito próximas, que exigem a busca de
modelos inovadores e contemporâneos que garantam
vida com qualidade para este contingente populacional
(Veras 2002). Programas exemplares, governamen-
tais e não governamentais, públicos ou privados,
projetos de iniciativa individual ou coletiva, enfim,
modelos que tenham como foco a qualidade de vida
para a pessoa idosa.
O principal interesse deste texto é descrever um
Programa Exemplar, com uma experiência já de dez
anos, desenvolvido em uma instituição voltada para o
idoso. Pretende-se com isso contribuir para a compre-
ensão do significado de promover a saúde do idoso
e apresentar um modelo de cuidado integral, que
tem sido reconhecido como muito bem-sucedido.
Possivelmente uma das maiores qualidades do pro-
grama da UnATI/UERJ (Universidade da Terceira Ida-
de, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro),
que será apresentado, é que a sua concepção consi-
derou especialmente a dimensão e complexidade do
envelhecimento humano no país. Esta característica
12 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
exigiu uma abordagem que superasse os modelos
tradicionais então vigentes.
Pelo fato de se localizar no interior de uma grande
universidade pública, este modelo deveria ter a capa-
cidade de possibilitar o convívio entre distintas gera-
ções, como estratégia para se reduzir a discrepância
de valores e preconceitos. A enorme gama de cursos
e atividades nas mais diversas áreas do conhecimen-
to, as estruturas de apoio, como laboratórios, bibliote-
cas, e ainda as tecnologias inovadoras desenvolvidas
em uma universidade foram agregadas ao projeto
como suporte para a transmissão de novos e qualifi-
cados conhecimentos em diferentes áreas, para os
estudantes com mais de 60 anos.
Para se assegurar qualidade às atividades planejadas,
houve a preocupação com a utilização de metodolo-
gias que respeitassem as características dos alunos
idosos. Foi necessário se levar em consideração o
modo de repassar as informações, e para tal foram
utilizados modelos pedagógicos específicos, nos quais
os valores, a cognição e as características próprias
desta faixa etária foram considerados. Fez-se um duplo
movimento: trazer o idoso para um espaço de pes-
soas mais jovens e oferecer atividades que pudessem
ser bem assimiladas, e que fossem tão relevantes
quanto o são as atividades universitárias para o públi-
co mais moço.
Todo este trabalho se deu com uma preocupação,
que vem a ser um dos princípios do programa: ofe-
recer serviços de qualidade, garantindo que as ativi-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 13
dades oferecidas aos idosos apresentassem relevância
social e atendessem ao interesse deste público, le-
vando em conta suas trajetórias de vida. Houve uma
intenção real de não incluir no projeto ações com o
intuito de apenas ocupar o tempo livre do idoso, ou
de tratá-lo como pessoa incapaz de aprender novas
habilidades e adquirir novos conhecimentos. Procu-
rou-se evitar o erro de se montar uma estrutura
infantilizadora, que reforçasse os estigmas e precon-
ceitos da sociedade para com os idosos.
Paralela à concepção de cursos e atividades para os
idosos, sempre esteve presente a preocupação da
qualificação e formação de recursos humanos capazes
de lidar com este seg-
mento etário. Seria
contraditório falar de
demandas advindas
desta população, sem
nada fazer, no interior
de uma universidade,
para estimular a ne-
cessária formação qua-
lificada dos jovens que estão se graduando nas diver-
sas áreas do conhecimento e que precisam se prepa-
rar para atuar em uma sociedade marcada pelo cres-
cente envelhecimento populacional.
Por outro lado, apesar de já se reconhecer a impor-
tância de programas educacionais, culturais e de lazer
para idosos, sabe-se que muitos não se beneficiam
deles por estarem com sua capacidade funcional
comprometida. Isto se deve ao fato de a própria
14 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
idade ser o principal fator de risco para a maioria das
doenças que acometem o indivíduo idoso. Vida com
qualidade foi o eixo eleito para o programa. Nesta
abordagem é priorizada a promoção da saúde, o
cuidado e a manutenção da autonomia. Deste modo,
todas as ações desenvolvidas no programa visam, em
última análise, à preocupação com a preservação da
saúde do indivíduo idoso.
Poder-se-ia mesmo considerá-lo como um projeto
de radicalização de práticas preventivas, caracteri-
zado pela busca incessante da detecção precoce
dos agravos de saúde que acometem os idosos. No
entanto, a proposta não se esgota neste ponto,
avança em direção a uma nova fronteira: a Saúde
Coletiva.3 Ao se montar uma estratégia de lazer,
ensino, cultura e pesquisa, que tenha este conceito
como fio condutor, configura-se uma proposta de
Saúde Coletiva baseada num modelo de vida ativa
com cidadania.
Dificuldades teóricas, operacionais e conceituais não
faltaram no início do programa. Foram muitas reuniões,
adaptações e alterações. Não se pretendeu chegar a
um modelo definitivo e acabado. No entanto, hoje,
avaliando por intermédio da participação e dos regis-
tros de relatos dos alunos idosos, dos trabalhos cien-
tíficos realizados e da grande aceitação do programa
junto à sociedade e à comunidade científica, conside-
ramos que este projeto UnATI/UERJ, em seu décimo
ano de vida, já encontra-se sólido o suficiente para
fomentar um debate qualificado junto a um público
mais amplo.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 15
Operando como uma microuniversidade temática, a
UnATI/UERJ desenvolve atividades de Ensino, Pes-
quisa e Extensão, sempre visando à vida com quali-
dade para o idoso. Seus ambulatórios, com equipes
multidisciplinares, proporcionam, anualmente, em torno
de 19 mil consultas, com projetos que cobrem desde
saúde oral, demência, orientação de saúde, aulas de
educação física, enfermaria com atenção integral e
atendimento domiciliar, além de desenvolver pesqui-
sas sobre novos modelos de atendimento ao idoso.
Suas atividades socioculturais e educativas para a
terceira idade envolvem todo ano a realização de
cerca de 240 cursos gratuitos, oficinas e workshops
e também seminários, palestras, festas, exposições,
shows de dança e música e programa de volun-
tariado.
Na área de capacitação de
recursos humanos, a
UnATI/UERJ desenvolve
projetos de residência para
profissionais de saúde,
aprimoramento e atuali-
zação profissional, estági-
os para estudantes de gra-
duação e treinamento para
cuidadores de idosos. Sua
produção científica é refe-
rência para as obras sobre
terceira idade no Brasil.
Edita uma revista científica, publica livros por um
selo próprio e provê um portal na internet.
16 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Sua atuação extramuros da universidade envolve aten-
dimentos de saúde, jurídico, social, psicológico,
nutricional e ações de cidadania. Tem credibilidade
junto à mídia e participa da formulação de políticas
públicas, nas esferas federal, estadual e municipal,
orientadas para o idoso.
Promoção da saúde, envelhecimento e
a emergência de novos modelos de
atenção ao idoso
No final da década de 1980, quando se intensifica um
movimento de valorização do idoso em decorrência
das constatações demográficas acerca do envelheci-
mento populacional no Brasil, muitos profissionais nas
áreas da saúde e das ciências humanas e sociais to-
maram como ponto de partida a marcante obra de
Simone de Beauvoir (1970), A velhice (La Vieillesse),
e aqui no Brasil os eloqüentes trabalhos de Eneida
Haddad (1986), A ideologia da velhice, e de Ecléa
Bosi (1987), Lembranças de velhos.
Estas autoras já discutiam a perda do valor social do
idoso, conseqüência do processo do avanço do capi-
talismo, uma vez que o idoso foi sendo considerado
descartável para o sistema à medida que diminuía a
sua capacidade produtiva.
Desde então, profissionais que assumiram o envelhe-
cimento como um campo para a prática profissional
e para a construção de saberes têm travado um ar-
doroso embate na tentativa de resgatar o valor social
de idoso, depreciado no processo de evolução capi-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 17
talista contemporâneo. E as estratégias certamente
passam por assegurar seus direitos de cidadania.
Segundo Boff (2001), o desenvolvimento do capita-
lismo impôs o modo ocidental de ser e estar no
mundo, e deu forma à nova ordem global. No prin-
cípio da década de 1970, inicia-se uma escalada de
crises em algumas partes do mundo, seguida da
desestruturação econômica e do aprofundamento das
desigualdades na distribuição de renda. No curso das
décadas de 1980 e 1990, o movimento das forças
sociais dominantes para o enfrentamento das crises é
direcionado para a unificação do capitalismo, em ní-
vel global, sob a égide do pensamento neoliberal.
Como resultado dessa internacionalização da produ-
ção, distribuição e consumo, juntamente com o avan-
ço das tecnologias da informação, a globalização da
economia gerou, como conseqüências macroeconô-
micas, a transnacionalização empresarial, a mobilidade
da força de trabalho e o desemprego estrutural, entre
outras. Também verifica-se o aumento das desigual-
dades entre os povos e os grupos sociais, a eclosão
de movimentos nacionalistas, a exacerbação dos con-
flitos étnicos, a agressão ao meio ambiente, a dete-
rioração do espaço urbano, a intensificação da violên-
cia e o desrespeito aos direitos humanos.
A ciência também impulsiona o processo do capita-
lismo global, afirmando-se como produto e sustentá-
culo do desenvolvimento da sociedade moderna. Se
por um lado muitos benefícios foram alcançados por
intermédio do conhecimento científico, por outro lado,
18 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
a ciência impôs o silêncio a outras formas de saber.
Neste contexto, a tradição e a sabedoria dos anciãos
perderam valor frente à palavra da ciência.
O desenvolvimento moderno determinou profundas
transformações no campo da saúde. Paim & Almeida
Filho (2000) apontam que a “nova ordem mundial”
que se instaura na década de 1980, inspirada no
neoliberalismo, acarreta uma marcante fragilização dos
esforços para o enfrentamento coletivo dos proble-
mas de saúde. Particularmente nos países de econo-
mia capitalista dependente, a opção pelo “Estado
mínimo” e o corte nos gastos públicos, como respos-
ta à chamada “crise fiscal do Estado”, em muito com-
prometem o âmbito institucional conhecido como
Saúde Pública. Os autores afirmam que se constata
então uma “crise da Saúde Pública”, percebida de
modo diferente pelos distintos sujeitos atuantes neste
campo social. Para a superação dessa fase difícil, vários
aportes têm sido propostos, cada um deles apontan-
do para a necessidade de novas abordagens.
Hoje se fala do desenvolvimento de um paradigma
pós-moderno, no qual se busca reconhecer as dife-
renças sociais e culturais. E isso não deve significar a
ruptura com o conhecimento moderno, científico, e
sim a sua superação, pelo reconhecimento das dife-
renças – o que exclui a idéia de hierarquia entre os
desiguais, uma vez que é o respeito às diferenças o
que nos torna iguais.
Trata-se de um novo modelo, que traz como impe-
rativos éticos a participação e a solidariedade, articu-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 19
lados à ciência e ao mundo da vida. De acordo com
Serrano (2002), neste novo paradigma, uma agenda
para o desenvolvimento incluiria: a) a saúde como
eixo das políticas públicas; b) uma atitude de cuidado
na relação com a natureza; c) compromisso com a
participação social de todos que incluam o
empowerment4 e a construção dos sujeitos-cidadãos;
d) o resgate do lazer; e) o resgate do espiritual; f) a
inserção da perspectiva da promoção da saúde, como
prioritária; g) e a integração de outras práticas culturais.
Para construir este novo referencial é necessário ga-
rantir a cidadania para todos, inclusive para aqueles
que já tiveram e perderam este status quo. E é a
partir da inclusão social que se pode contar com
pessoas solidárias, cordiais e conectadas com tudo e
com todos. É aí que se pode resgatar o ser idoso
como valor para a sociedade.
Assis (1998) aponta que a visibilidade social das
questões do envelhecimento é um convite à reflexão
sobre atitudes que reproduzem estigmas. Para que
haja a inclusão é preciso desenvolver um olhar que
considere o papel do idoso na sociedade, sua história
pessoal, sua vivência de trabalho, suas relações soci-
ais, gostos, habilidades e interesses. Traduzindo em
ações, o que pode ser feito para favorecer seu po-
tencial de crescimento e realização, o que pode ou
não ser mudado, o que contribui para o seu bem-
estar e dignidade.
É também um convite à reflexão sobre o próprio
envelhecimento. Perceber de que maneira é possível
20 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
estabelecer reservas físicas e emocionais que permi-
tam, na velhice, ânimo e vigor para desenvolver o
potencial de aprendizado, lazer e sociabilidade que o
tempo, finalmente mais livre, pode proporcionar.
O envelhecimento da população é uma aspiração de
qualquer sociedade; mas tal desejo, por si só, não é
o bastante. É importante almejar qualidade de vida
para aqueles que já envelheceram ou estão no pro-
cesso de envelhecer. O que implica na tarefa com-
plexa de manutenção da autonomia e independên-
cia. O desafio para os países pobres é considerável,
já que no passado, quando as populações dos países
europeus começaram a envelhecer, a população
mundial era menor e a sociedade menos complexa.
Veras (1994) observa que nações em desenvolvi-
mento, como o Brasil, ainda não equacionaram satis-
fatoriamente as necessidades básicas da infância e
adolescência e defrontam-se com a emergência, em
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 21
termos quantitativos, de um outro grupo etário, tam-
bém fora da produção econômica, em busca de in-
vestimentos para atender a demandas específicas.
Veras & Camargo (1995) afirmam que este é o duplo
desafio que temos de enfrentar: assegurar serviços de
qualidade para os idosos e desenvolver, concomitante-
mente, recursos humanos de excelência e conheci-
mento qualificado para lidar com esse grupo etário
que mais cresce em nosso país. E isto sem abandonar
a atenção à base da pirâmide etária, sob pena de
agravarem-se ainda mais as já lamentáveis estatísticas
de mortalidade infantil, evasão escolar e violência.
O contexto atual, no entanto, não parece favorecer
esta atuação: a baixa prioridade atribuída aos idosos
pelas políticas públicas (assistenciais, previdenciárias
e de ciência & tecnologia) evidencia uma percepção
inadequada das necessidades específicas deste seg-
mento populacional. Torna-se necessário, portanto,
um esforço político orientado no sentido de colocar
na pauta da sociedade as necessidades deste seg-
mento populacional.
O envelhecimento é uma questão que, embora incor-
porada ao campo da Saúde Coletiva desde os seus
primórdios, não tem recebido a devida atenção dos
formuladores e gestores de políticas públicas. Ao
apresentar “a promoção da saúde” como um movi-
mento no campo da Saúde Coletiva, Paim & Almeida
Filho (2000) relatam que em 1974, no Canadá, o
documento conhecido como Relatório Lalonde defi-
niu as bases de um movimento pela promoção da
22 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
saúde, trazendo como consigna básica “adicionar não
só anos à vida, mas vida aos anos”.
O documento estabelece um modelo de “campo da
saúde” composto por quatro pólos: a) a biologia
humana, que inclui a maturidade e o envelhecimen-
to, sistemas internos complexos e herança genética;
b) o sistema de organização dos serviços, contem-
plando os componentes da reabilitação, da cura e da
prevenção; c) o ambiente, que envolve o social, o
psicológico e o físico; d) o estilo de vida, no qual
podem ser consideradas a participação no emprego
e riscos ocupacionais, os padrões de consumo e até
os riscos das atividades de lazer.
Ao se indagar o que é saúde e como organizar os
esforços sociais para promover melhores condições
de saúde, nos planos individual e coletivo, é absolu-
tamente necessário se conhecer e agir sobre seus
principais determinantes. Ferreira & Buss (2002) apon-
tam que este é um elemento central da promoção da
saúde. Os determinantes, por sua vez, ainda que se
expliquem num plano mais geral, estão visceralmente
ligados às condições concretas de vida, e adquirem
extrema materialidade no nível local, onde efetiva-
mente vivem as pessoas.
Ferreira & Buss (2002) indicam que, a partir do Re-
latório Lalonde, a OMS (Organização Mundial da Saú-
de) organizou uma série de importantes conferências
internacionais sobre promoção da saúde, em Ottawa
(1986), Adelaide (1988), Sundsval (1991), Bogotá
(1992), Jacarta (1997), e no México (2000), estabe-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 23
lecendo-se a partir daí as bases conceituais e políticas
da promoção da saúde.
Ferreira & Buss (2002), Adriano et al. (2000) e Paim
& Almeida Filho (2000) concordam que a Carta de
Ottawa (1986)5 é um marco neste movimento, uma
vez que é nesta conferência que a promoção da
saúde é definida como “o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade
de vida e saúde, incluindo uma maior participação no
controle deste processo”. A Carta de Ottawa preco-
niza também cinco campos para a promoção da saú-
de: 1) elaboração e implementação de políticas pú-
blicas saudáveis; 2) criação de ambientes favoráveis à
saúde; 3) reforço da ação comunitária; 4) desenvolvi-
mento de habilidades pessoais; e 5) reorientação do
sistema e dos serviços de saúde. Observe-se a ligação
estabelecida entre saúde e qualidade de vida e a
ênfase na criação de ambientes favoráveis à saúde e
o desenvolvimento de habilidades pessoais. Nesse
sentido, encontram-se ações de promoção da saúde
do idoso que ampliam o âmbito das intervenções. Tal
é o caso da experiência bem-sucedida que será rela-
tada.
Castellanos (1998) afirma que a saúde e a doença são
processos inerentes à vida e condicionadas pelos
modos, condições e estilos de vida. A vida cotidiana
é o espaço onde se manifestam as articulações entre
os processos biológicos e sociais que determinam a
situação de saúde; é também, portanto, o espaço
privilegiado de intervenção da Saúde Pública e, por
conseguinte, de promoção da saúde.
24 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Tanto Paim & Almeida Filho (2000) quanto Ferreira
& Buss (2002) citam em seus trabalhos que na tran-
sição da década de 1980 para a de 1990, numa
abordagem do que se qualificou como “crise da Saú-
de Pública”, uma reflexão de alcance internacional
apontou para uma reorientação fundamental de con-
ceito, incorporando a determinação positiva da saúde
e concebendo-a como um compromisso da socieda-
de com seus ideais de saúde e não apenas uma
dependência exclusiva do campo biomédico. Realça-
va-se, dessa forma, a possibilidade de avançar num
conhecimento e numa prática de e para a saúde
como um meio para alcançar qualidade de vida.
A Carta de Ottawa (1986) destaca que as condições
e os requisitos para a saúde são a paz, a educação,
a moradia, a alimentação, a renda, um ecossistema
estável, a justiça social e a eqüidade. A saúde, nessa
concepção ampliada, mais do que ausência de doen-
ça, é um estado adequado de bem-estar físico, men-
tal e social que permite aos indivíduos identificar e
realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades
(Ottawa, 1986). A partir desta definição de saúde,
muitos autores na área da Saúde Coletiva, entre os
quais Ferreira & Buss (2002), Adriano et al. (2000) e
Paim & Almeida Filho (2000), apontam o aspecto da
promoção da saúde já incorporado à idéia de assis-
tência e de cura.
Ao considerar que qualidade de vida tem múltiplos
sentidos, Minayo, Hartz & Buss (2000) afirmam esta
noção tem sido aproximada ao grau de satisfação
encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 25
e à própria estética existencial. Pressupõe a capaci-
dade de efetuar uma síntese cultural de todos os
elementos que determinada sociedade considera seu
padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange
muitos significados, que refletem conhecimentos,
experiências e valores de indivíduos e coletividades
que a ele se reportam em variadas épocas, espaços
e histórias diferentes, sendo portanto uma construção
social com a marca da relatividade cultural.
Assis (1998) observa que os inúmeros problemas que
afetam a qualidade de vida dos idosos em um país
subdesenvolvido demandam, por sua vez, respostas
urgentes em diversas áreas. Às políticas públicas ca-
bem garantir os direitos fundamentais (habitação, ren-
da, alimentação), e desenvolver ações voltadas às
necessidades específicas da população idosa, como
Centros de Convivência, assistência à saúde especi-
alizada, Centros-dia, serviços de apoio domiciliar ao
idoso, programa de medicamentos, universidades da
terceira idade, etc.
Em abril de 2002, na Segunda Assembléia Mundial
sobre o Envelhecimento, realizada em Madri, foi apro-
vado o PIAE – Plano Internacional de Ação sobre
Envelhecimento. O documento foi confirmado unani-
memente por todos os países membros das Nações
Unidas e, assim sendo, representa um compromisso
internacional em resposta ao rápido envelhecimento
da população mundial. As recomendações do PIAE
centram-se em três áreas prioritárias: a) como colocar
envelhecimento populacional na agenda do desen-
volvimento, b) importância singular e global da saúde
26 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
e c) como desenvolver políticas de meio ambiente
(tanto físico quanto social) que atendam às necessi-
dades de indivíduos e sociedades que envelhecem.
À OMS, como a agência especializada da ONU (Or-
ganização das Nações Unidas), coube um papel par-
ticularmente importante na formulação de recomen-
dações específicas do PIAE. Na Assembléia em Madri,
a entidade lançou o documento Envelhecimento ati-
vo: um marco para elaboração de políticas, que
complementa e amplia o PIAE. Neste documento, a
OMS recomenda que políticas de saúde na área de
envelhecimento devem levar em consideração os
determinantes de saúde ao longo de todo o curso de
vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais,
culturais, além do ambiente físico e acesso a servi-
ços), com particular ênfase nas questões de gênero e
de desigualdades sociais (Carta de Ouro Preto–-NESPE,
2003).
Para atender a estas agendas, há a necessidade de se
desenvolver modelos de atenção à saúde do idoso
que superem as práticas tradicionais, pois o atendi-
mento que lhes é oferecido habitualmente restringe-
se, na melhor das hipóteses, ao tratamento clínico de
doenças.
Veras & Camargo (1995) afirmam que, dentre as
instituições públicas, a Universidade é, no momento,
a mais equipada para responder a estas necessidades.
A estruturação de microuniversidades temáticas volta-
das para a terceira idade pode ser o ponto de partida.
Ali, os idosos, além de receberem assistência e parti-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 27
ciparem de atividades culturais e de lazer, propiciam
um campo inestimável para pesquisas em várias áre-
as do conhecimento, ajudando assim na formação de
profissionais de alta qualificação e alavancando a pro-
dução de conhecimento sobre o envelhecimento
humano.
A redução dos problemas de solidão, a intensificação
dos contatos sociais e o desenvolvimento de novas
capacidades em idade mais avançada são metas pos-
síveis de serem alcançadas em Centros de Convivên-
cia. Sem o caráter de serviço médico, ou pelo menos
são sendo este o seu eixo principal, estes Centros de
Convivência podem agrupar idosos em atividades
culturais, educacionais, de lazer ou mesmo esportivas,
sempre com a supervisão de profissionais qualifica-
dos. Para além disto, existe o propósito de fazer deste
convívio um facilitador que permita aos participantes
estarem atentos uns com os outros, lado a lado com
os professores e técnicos, e assim possibilitar a iden-
28 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
tificação de quaisquer alterações do humor, da mar-
cha ou qualquer outra mudança física ou psíquica dos
idosos que freqüentam o serviço.
Esta inovadora concepção de Centro de Convivência
se propõe, portanto, a operar em sintonia com os
mais avançados conceitos de promoção da saúde do
idoso, incluindo a prevenção da doença o mais precoce
possível e a manutenção da capacidade funcional. É
sabido que quando mais prematura for a identificação
do problema e imediato o encaminhamento para o
atendimento, maiores são as chances de um prognós-
tico e evolução favorável do quadro. Com esta es-
tratégia da antecipação e da busca ativa do proble-
ma procura-se combater as conseqüências mórbi-
das das patologias que levam à perda da qualidade
de vida. Esta concepção encontra-se totalmente fun-
damentada nos princípios do movimento de pro-
moção da saúde, na área de Saúde Coletiva, ex-
pressos pelos seus principais documentos e
referenciais teóricos.
Para os idosos com autonomia e independência, uma
versão mais ambiciosa de um projeto de Centro de
Convivência no interior de uma universidade deve
incluir também serviços de atenção à saúde e outros
ligados à perspectiva acadêmica e científica da insti-
tuição. Seu principal objetivo é desenvolver iniciati-
vas culturais e intelectuais, incentivando o estudante
mais idoso a participar do ensino e do aprendizado.
O currículo deve ser bastante amplo e incluir tanto
habilidades práticas e atividades de lazer, como pro-
jetos acadêmicos e de pesquisa.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 29
Além disso, esses centros
são locais especialmente
adequados para um trabalho
preventivo com idosos. E o
sentido de prevenção que
assumimos é o que está ex-
presso no Relatório Lalonde
(1974) – “Adicionar vida aos
anos”. Sabe-se que os mo-
delos de prevenção para
esse segmento etário têm
especificidades distintas dos
grupos mais jovens. Segun-
do Caldas (1999), para ad-
quirir uma mentalidade pre-
ventiva e promover a saúde do idoso é fundamental
a evolução e disseminação do conhecimento sobre o
envelhecimento. É importante que, em qualquer fai-
xa etária, todos saibam reconhecer situações que po-
nham em risco a qualidade de vida no presente e no
futuro e como preveni-las. A proposta para os que já
estão idosos é a de promover a saúde por meio da
manutenção ou recuperação da autonomia e inde-
pendência. Com isso, naturalmente, será postergado
ao máximo o início das doenças, pois estas, em sua
imensa maioria, são crônicas, e depois de instaladas
são de difícil solução, de lenta evolução e longa
duração.
Portanto, um Centro de Convivência – uma das fun-
ções assumidas no programa da UnATI/UERJ – tem
como característica o cuidado integral do idoso. É
importante destacar que o modelo desenvolvido na
30 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
UnATI/UERJ tem o seu fundamento no campo da
Saúde Coletiva, embora tenha com a Gerontologia
uma afinidade de saberes e práticas. Groisman (2002)
observa que a Gerontologia apresenta um discurso
no qual utiliza a noção de prevenção num sentido
diferente daquele preconizado e praticado no campo
da Saúde Coletiva:
A prevenção parece ser a saída encontrada pela
Gerontologia para escapar do binômio saúde–
doença. Com o discurso da “prevenção”, todos
os sujeitos são passíveis de intervenção, inde-
pendentemente de seu estado de saúde ou de
sua inserção na “normalidade”. Pela urgência da
prevenção, não importa também quando come-
ça a velhice, pois a prevenção deve começar
muito antes. Lutando por um envelhecimento
bem-sucedido, a Geriatria/Gerontologia parece
delinear o seu mais ambicioso projeto, que é
disciplinar a vida humana em toda a sua exten-
são. (Groisman, 2002)
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 31
Teixeira (2001) aponta que, para além da busca de
alternativas à crise do modelo médico hegemônico, é
possível imaginar-se que uma das principais caracte-
rísticas das práticas de saúde no futuro será a ênfase
concedida à pesquisa e às práticas de prevenção. A
concepção de uma microuniversidade temática, ou
seja, a conjugação de atividades em três áreas de
atuação da universidade – Ensino, Pesquisa e Exten-
são – voltadas para o cuidado integral do idoso,
possibilita a criação de alternativas inovadoras com
interações sinérgicas entre produção de conhecimen-
to, formação, aperfeiçoamento de recursos humanos
e prestação de serviços. Por outro lado, os participan-
tes das atividades numa UnATI, usuários e profissio-
nais, são também artífices de um grande experimen-
to, no qual continuamente se buscam novas alterna-
tivas para as demandas da população idosa.
Devido ao seu vínculo com as universidades, estes
programas trazem pessoas idosas para o campus, onde
32 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
obviamente entram em contato cotidiano com milha-
res de pessoas mais jovens. Isto significa uma tenta-
tiva particularmente importante de reduzir a discre-
pância de valores e idéias, causadora de tensão entre
as diferentes gerações.
A busca da integração entre gerações é, adicional-
mente, uma estratégia que pode contribuir para re-
verter, a médio e longo prazos, o processo social de
desvalorização do idoso na nossa cultura. A sociedade
ocidental contem-
porânea tende a
desqualificar o ido-
so, seu saber e
acúmulo de expe-
riências. Vivemos
em um mundo que
cultua o “jovem”
como valor de pro-
dução e consumo,
um mundo de rápidas transformações em que tudo que
é “velho” é necessariamente obsoleto, ultrapassado,
como já denunciavam Bosi (1987) e Haddad (1986).
É por este motivo que nos projetos da UnATI/UERJ
uma das preocupações é a de desmistificar alguns
conhecimentos e saberes como típicos e próprios
para os mais jovens. Um bom exemplo é o uso da
informática: ao se oferecer um curso no qual são
repassados os conhecimentos básicos do manuseio
de microcomputadores e da utilização de alguns
aplicativos de uso geral, como editores de texto,
planilhas e navegar na internet, o objetivo não é
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 33
oferecer aos usuários um instrumento para disputar
um emprego no mercado de trabalho – embora, caso
isto ocorresse, seria evidentemente um excelente
benefício derivado –, mas sim oferecer um instru-
mental para que eles se sintam mais integrados a
este aspecto do mundo atual e com mais ferramentas
para o seu dia a dia. Este é um exemplo das preo-
cupações e motivações que norteiam o projeto e as
atividades da UnATI/UERJ. Não se oferecem cursos
para ocupar o tempo vago do idoso, procura-se trans-
mitir os conceitos mais atuais, buscando-se com isto
sua integração social e sua valorização como cidadão.
Um outro objetivo a ser atingido é fazer com que as
pessoas idosas participem plenamente da vida da
sociedade, beneficiando-se de seus direitos e perma-
necendo valorizadas como cumpridores dos seus
deveres de cidadão. Sua independência e autonomia
serão prolongadas se elas puderem ter acesso fácil
aos bens e serviços que a comunidade oferece. Man-
ter esta independência e autonomia é prevenir o
adoecimento e promover a saúde.
Farinatti (1996) acrescenta que a busca por autono-
mia pressupõe um movimento de autocapacitação,
por intermédio de alterações nas atitudes e valores e
do incremento do conhecimento e da informação.
Enquanto parte da dignidade da pessoa, ela tem por
base o respeito aos seus valores, vontades e papel
social.
É evidente que muitos problemas que os idosos
encontram hoje para verem atendidas suas necessida-
34 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
des e demandas são de ordem político-institucional.
Entretanto, a participação dos idosos em programas
como os propostos aqui permitem, entre outros ganhos,
que eles próprios se organizem para identificar suas
necessidades comuns, proponham soluções e cobrem
sua implementação às autoridades competentes. Por
meio da convivência em espaços comunitários que
estimulem a auto-organização dos grupos de interes-
ses, há a possibilidade de avanços quanto à percep-
ção dos próprios direitos e deveres, fundamento do
exercício da cidadania.
Teixeira (2001) enfatiza que a socialização de conhe-
cimentos sobre estratégias e práticas de promoção da
saúde e qualidade de vida deverá subsidiar a forma-
ção de novos sujeitos das práticas de saúde, para
além do Estado. Ao mesmo tempo, a revolução das
comunicações favorece a conexão de grupos que
compartilhem ideais, pratiquem modos de vida co-
muns e busquem soluções para problemas singulares.
Uma outra questão que merece atenção especial é a
da mulher idosa. O percentual desse grupo na popu-
lação com mais de 60 anos tem aumentado progres-
sivamente, sendo bem maior o número de mulheres
entre os idosos do que nas demais faixas etárias. De
acordo com o IBGE (2002), no documento intitulado
Perfil dos Idosos Responsáveis pelos Domicílios no
Brasil, em 1991, as mulheres correspondiam a 54%
da população idosa, passando para 55,1% em 2000.
Isto significa que para cada 100 mulheres idosas havia
81,6 homens idosos, relação que em 1991 era de 100
para 85,2. A posição econômica inferiorizada das
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 35
mulheres, em conseqüência dos rendimentos médios
insuficientes e da dependência da renda do marido,
é um dado que requer medidas urgentes. A aposen-
tadoria oficial, principal fonte de sobrevivência das
pessoas idosas, não é bastante para atender às neces-
sidades básicas. Muitos idosos – possivelmente a maio-
ria, dadas as graves distorções na distribuição de renda
em nosso país – vivem na pobreza (Camarano, 1999).
Caldas (2003) observa que as condições e qualidade
de vida da população idosa no Brasil há muito são
precárias. O estudo denominado Pesquisa Nacional
de Saúde e Nutrição (PNSN), em 1990, descreve as
deficiências nutricionais dos idosos. Ao consultar da-
dos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicíli-
os (PNAD), do IBGE, de 1996, nota-se que alguns
indicadores apresentaram melhora, como o nível de
escolaridade e o Índice de Gini, que é uma das
medidas utilizadas para avaliar a distribuição de ren-
da, mas, em conjunto, os indicadores de condições de
vida ainda são bastante desfavoráveis. Fica mais uma
vez evidenciada a desigualdade da distribuição de
renda e o desempenho medíocre do Produto Interno
Bruto (PIB), segundo a Organização das Nações Uni-
das. Isto a despeito de ter sido o país que desde
1975 mais avançou no ranking do IDH6 – Índice de
Desenvolvimento Humano – (PNUD 2003), conse-
guindo galgar 16 posições em 26 anos, o que fez o
Brasil se situar em 2001 como o 65º colocado da lista
que compara as condições de vida em 175 países.
A questão é que, paralelamente ao aumento do nú-
mero de idosos na população, convivemos com os
36 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
efeitos sociais da crise estrutural brasileira. A recessão
econômica traz profundos impactos sociais sobre a
vida dos idosos, particularmente para aqueles que
apresentam alguma dependência. As políticas de ajuste
têm contribuído para agravar esses impactos acentu-
ando as desigualdades.
Mesmo com a conquista da renda pela assistência
social para parte dos idosos pobres, garantida pela
Constituição, o problema do idoso dependente não
foi resolvido, pois com o alto índice de desemprego,
o rendimento do idoso passa a sustentar a família, e
com isso a renda familiar mantém-se abaixo da linha
de pobreza.
A exigüidade dos ganhos é um problema particular-
mente sério para as mulheres idosas, com saúde
deficiente e que vivem sós, o que é também mais
grave nos extratos socioeconômicos mais desassistidos.
Uma vez que as mulheres predominam entre os muito
idosos e entre aqueles que têm pouca saúde, diz-se
com freqüência que os problemas de pobreza na
velhice tornaram-se, e continuarão sendo em grande
parte, um problema das mulheres.
As pessoas idosas desejam e podem permanecer
ativas e independentes por tanto tempo quanto for
possível, se o apoio adequado lhes for proporciona-
do. Os idosos encontram-se potencialmente em risco
não apenas porque são velhos, mas porque o proces-
so de envelhecimento os torna vulneráveis à incapa-
cidade, que pode ser produto de condições do meio
físico, social ou de questões afetivas. Portanto, esse
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 37
apoio adequado é necessário tanto para os idosos
quanto para os que deles cuidam.
A concepção da UnATI/UERJ é o de um Centro de
Convivência para idosos que pretende ir além de ser
um local para o idoso estar. É um espaço de promo-
ção da saúde e exercício da cidadania. Teixeira (2001)
demonstra que as ações de promoção da saúde im-
plicam o desenvolvimento de tecnologias “radical-
mente novas”. A autora acrescenta que estas
tecnologias implicam o desenvolvimento de méto-
dos, técnicas e instrumentos de comunicação social e
marketing sanitário, voltados à mobilização em torno
de mudanças no âmbito das políticas públicas, bem
como nas condições e nos modos de vida de grupos
populacionais expostos a riscos diferenciados, o que
pressupõe alterações nas relações de poder.
A autora, concordando com os objetivos do modelo
UnATI/UERJ, afirma que essas mudanças nas relações
políticas e sociais vêm sendo anunciadas nos textos
sobre promoção da saúde como um processo de
empowerment de grupos populacionais específicos, o
que significa não apenas a mobilização em torno de
direitos gerais de cidadania, mas também a organiza-
ção de ações político-sociais específicas que conectem
indivíduos e grupos com problemáticas e preocupa-
ções comuns.
A UnATI/UERJ tem como princípio basilar a socializa-
ção de conhecimentos sobre estratégias e práticas de
promoção da saúde e da qualidade de vida. Esta
socialização deverá subsidiar a formação de novos
38 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
sujeitos das práticas de saúde. Assim, como aponta
Teixeira (2001), pode dar-se a revalorização do ter-
ritório mais imediato no qual se constitui o espaço
público de convivência, seja a rua, o bairro, a cidade
ou a universidade. Afinal, citando a mesma autora:
O futuro poderá ser o cenário em que se desen-
volverão processos distintos: de um lado, a
”mercantilização“ da prevenção, com a penetra-
ção da lógica da produção, distribuição e con-
sumo de mercadorias no campo específico da
prevenção de riscos e agravos à saúde de indi-
víduos e grupos; de outro, o esforço coletivo
pela ”socialização“ da promoção, com a forma-
ção de novos sujeitos políticos coletivos, que se
mobilizem pela transformação das condições e
dos modos de vida dos diversos grupos
populacionais. A indeterminação, espaço de
múltiplos possíveis, permanece, entretanto, como
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 39
a marca da contemporaneidade, a exigir o co-
nhecimento e a intervenção no tempo presente,
tempo de exploração e construção de futuros (2001).
O movimento Universidades da
Terceira Idade no mundo e no Brasil
A universidade é tradicionalmente um espaço dos
jovens, onde são gerados novos conhecimentos, um
lugar de novidade e juventude. As propostas de
Universidade da Terceira Idade (UTI) não fogem deste
padrão, ao contrário. As UTIs são instituições que
promovem a saúde e a qualidade em seu sentido
mais amplo – aquele que assume que saúde é a
própria expressão da vida com qualidade. Seu obje-
tivo geral é contribuir para a elevação dos níveis de
saúde física, mental e social das pessoas idosas, uti-
lizando as possibilidades existentes nas universidades.
Peixoto (1997) afirma que as Universidades da Ter-
ceira Idade brasileiras surgiram num momento em
que suas similares européias já estavam na terceira
geração. A primeira surgiu no final da década de
1960 na França, quando foram criadas como um es-
paço para atividades culturais e sociabilidade, com o
objetivo de ocupar o tempo livre e favorecer rela-
ções sociais. Não havia preocupação com educação
permanente, educação sanitária e assistência jurídica.
A segunda geração surgiu em Toulosse, França, em
1973. Foi a primeira Universidade da Terceira Idade
voltada para o ensino e a pesquisa. Suas atividades
educativas apoiavam-se nos conceitos de participa-
40 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
ção e desenvolvimento de estudos sobre o envelhe-
cimento. A partir de então, as UTIs são chamadas a
desempenhar o papel de centro de pesquisas
gerontológicas.
Em 1975 foi então criada a Associação Internacional
das Universidades da Terceira Idade e, em 1981, já
se contava com 59 UTIs na França. Em 1980 já havia
sido organizada a União Francesa de Universidades da
Terceira Idade. Ainda na França, na década de 1980
surge a terceira geração das UTIs. Este movimento
caracteriza-se pela elaboração de um programa edu-
cacional mais amplo, voltado a satisfazer uma popu-
lação de aposentados cada vez mais nova e
escolarizada, exigindo cursos universitários formais, com
direito a créditos e diploma.
Ainda segundo Peixoto (1997), desse modo as UTIs
passam a elaborar uma programação baseada em três
eixos: participação, autonomia e integração – os es-
tudantes passam de simples consumidores a produto-
res de conhecimento na medida em que participam
das pesquisas universitárias. Os alunos da UTI passam
a desempenhar um papel ativo nas pesquisas univer-
sitárias em três níveis: a) pesquisas feitas para os
idosos – para combater os efeitos do envelhecimen-
to; b) pesquisas feitas com os idosos – mobilizam
seus conhecimentos, criatividade, vontade, inteligên-
cia e memória. Privilegiam discussões em grupo; c)
pesquisas feitas pelos estudantes idosos – quando os
estudantes adquiriram o rigor científico, o espírito crítico
e a solidez da reflexão que caracteriza o trabalho
universitário.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 41
No Brasil, de acordo com Lima (1999), a UnATI da
Universidade Federal de Santa Catarina iniciou suas
atividades em 1983, a partir da criação do Núcleo de
Estudos da Terceira Idade (NETI). Em 1990, em
parceria com o SESC, a PUC de Campinas criou a
Universidade da Terceira Idade da PUC/Campinas, a
primeira a ser divulgada na mídia em caráter nacional.
A partir da década de 1990 – partindo das experiên-
cias francesas e das diretrizes emanadas pelo Plano
Internacional de Ação sobre Envelhecimento das
Nações Unidas, estabelecido a partir da Primeira As-
sembléia Mundial sobre o Envelhecimento, realizada
em 1982 em Viena – várias UnATIs foram implanta-
das pelo país.
Palma (2000) salienta que este encontro na Áustria
destacou a necessidade de educação permanente, que
se estende por toda a vida. O Plano Internacional de
Ação sobre o Envelhecimento estabelecido nesta as-
sembléia sublinha o descaso dos governos com os
idosos, posto que reservam só à criança e ao adoles-
cente os benefícios da educação. Também recomen-
da que se assegure às pessoas que deixam a vida
ativa a manutenção da capacidade psíquica e intelec-
tual e sua participação na vida coletiva.
A partir de década de 1990, ainda segundo Palma
(2000), multiplicam-se os programas voltados para
idosos em universidades brasileiras. Com denomina-
ções e modelos diversos, mas com propósitos co-
muns, como o de rever os estereótipos e preconcei-
tos com relação à velhice, promover a auto-estima e
o resgate da cidadania, incentivar a autonomia, a in-
42 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
dependência, a auto-expressão, e a reinserção social
em busca de uma velhice bem-sucedida. Nos dias
atuais as instituições com estas características somam
mais de 150 espalhadas pelo país (Martins de Sá,
1999).
A Universidade Aberta da Terceira Idade
da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro – A UnATI/UERJ
Histórico
No final da década de 1980, o professor Piquet Car-
neiro idealizou um grande Centro de Convivência
voltado para o estudo da população idosa que, além
de compreender uma unidade de saúde de referên-
cia, pudesse ser um locus de formação qualificada de
profissionais de saúde e áreas correlatas e de produ-
ção e disseminação de conhecimento por meio do
desenvolvimento de pesquisas. Um Centro que pres-
tasse assistência e serviços de diversas naturezas a
idosos de diferentes faixas etárias, gêneros, etnias,
extratos sociais e níveis educacionais e culturais, sem-
pre guiado pela excelência das
alternativas oferecidas. Enfim, um
Centro de Convivência e exce-
lência no interior da universidade
pública.
Portanto, anos antes do reconhe-
cimento nacional da necessidade
de um conjunto de políticas vol-
tadas especificamente para os
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 43
idosos, o professor Américo Piquet Carneiro, com sua
característica capacidade de antevisão, começou a
agrupar, no Hospital Universitário Pedro Ernesto
(HUPE), um grupo pioneiro de profissionais interes-
sados nas questões da terceira idade.
A partir dos debates e trocas de experiências profis-
sionais e institucionais, sistematizou-se o projeto Nú-
cleo de Atenção ao Idoso do HUPE, que se propunha
a oferecer atenção integral à saúde do idoso, numa
ação multiprofissional e interdisciplinar, vendo o ido-
so como ser humano integral e sua saúde como algo
inserido em um processo amplo de qualidade de vida.
O documento propondo a criação do programa inicial,
em 1989, centra suas preocupações na criação de um
modelo de atendimento adequado às necessidades
de saúde do idoso, por intermédio da organização de
um Centro de Promoção da Saúde de Idosos no HUPE,
com um serviço voltado para o atendimento das
variadas necessidades da população idosa, tanto físi-
cas, como psíquicas e sociais. Com esta finalidade,
médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas,
nutricionistas e assistentes sociais passaram a integrar
a equipe técnica do Centro. Cada categoria profissi-
onal desenvolveu, de forma integrada, atividades
específicas para o idoso.
Considerou-se então vital inserir o Centro de Saúde
no sistema público de saúde, na época denominado
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde do
Estado do Rio de Janeiro (SUDS-RJ), de modo a que
se efetivasse uma política de atenção à saúde dos
44 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
idosos, até então em grande medida excluídos da
rede pública de assistência médica. O Hospital Uni-
versitário Pedro Ernesto, enquanto hospital de refe-
rência e ensino, não só devia prestar atendimento ao
idoso, mas igualmente deveria ser o local privilegiado
na preparação e avaliação de novas modalidades de
atenção, participando decisivamente no esforço de
elaboração de propostas inovadoras e tecnologias
alternativas.
Esta primeira análise deixou clara a necessidade de
estabelecer um local de atendimento sem as caracte-
rísticas hospitalares tradicionais e igualmente diverso
do modelo habitual de ambulatório que só oferece
consultas. Esta nova concepção de Centro de Saúde
do Idoso, além de serviços especializados no trata-
mento de doenças, estaria voltada para a promoção
da saúde, desenvolvendo atividades lúdicas e de
estímulo à convivência, prestando informações sobre
direitos civis e fomentando várias discussões.
A concretização dessas proposições ocorreria em se-
guida, por meio de uma estrutura estabelecida de
acordo com os preceitos da Universidade. Assim, em
1993, a UnATI/UERJ constituiu-se formalmente como
um programa vinculado ao Instituto de Medicina Social.
Atualmente, um diversificado grupo de profissionais
bastante qualificados vem tornando reais os ideais do
professor Américo Piquet Carneiro, expressos numa
concepção de Universidade da Terceira Idade que a
torna um dos mais avançados experimentos de uma
microuniversidade temática. Desde os primeiros es-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 45
boços do seu projeto foi estabelecido o seguinte
conjunto de metas para suas ações nas áreas de Ensino,
Pesquisa e Extensão:
8 Promover estudos, debates, pesquisas e assistên-
cia à população idosa.
8 Assessorar órgãos governamentais na formulação
de políticas específicas para o grupo etário com mais
de 60 anos.
8 Prestar consultorias e serviços a órgãos governa-
mentais e não governamentais em assuntos que en-
volvam a terceira idade.
8 Contribuir para a elevação dos níveis de saúde
física e mental e social de pessoas idosas, utilizando
os recursos e alternativas existentes na Universidade.
8 Promover cursos para idosos visando a atualizar
seus conhecimentos e integrando-os à sociedade
contemporânea.
8 Prestar assistência médica, jurídica e física lato
sensu à população idosa.
8 Oferecer à população idosa uma Unidade de
excelência, fazendo da UnATI/UERJ uma instituição
de saúde pública e, igualmente, de socioterapia, ser-
viços comunitários, pesquisas e ações gerontológicas
de um modo geral.
8 Capacitar profissionais de várias áreas de conheci-
mento a lidar com os problemas da população idosa.
8 Promover análises comparativas entre os estudos
sobre terceira idade realizados no Brasil e nos dife-
rentes países.
8 Realizar seminários, publicações, documentos e
quaisquer outras modalidades que tornem públicas as
informações e os estudos desenvolvidos pelo Programa.
46 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Em 1996, a UnATI tornou-se um Núcleo da Univer-
sidade do Estado do Rio de Janeiro, transformação
aprovada, unanimemente, no colegiado máximo da
UERJ, decisão que sinaliza a boa receptividade e o
respaldo que mereceu o programa por parte da co-
munidade acadêmica. Hoje, a UnATI/UERJ está insta-
lada numa área de aproximadamente 800 m² do
campus universitário, desenvolvendo atividades nes-
te local, (além de fazer uso de vários outros espaços
na Universidade e fora dela); passou a incluir o am-
bulatório do Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), ab-
sorvido na nova proposta mais ampla, anteriormente
situado no HUPE, e a partir de 1996 ampliou sua área
assistencial por intermédio do ambulatório Cuidado
Integral à Pessoa Idosa (CIPI), localizado na Policlíni-
ca Piquet Carneiro, também pertencente à UERJ.
Portanto, nos últimos dez anos a UnATI/UERJ vem
ampliando sua área de atuação, tornando-se refe-
rência de qualidade e inovação no atendimento ao
idoso.
O modelo UnATI/UERJ nos dias atuais
A UnATI/UERJ é uma universidade para a terceira
idade em permanente construção. O programa que
desenvolve apresenta quatro elementos básicos que
constituem eixos em torno dos quais se encontra
uma estrutura que, por definição, é considerada aber-
ta – no sentido de não concluída, posto que pretende
ser dinâmica. Em cada eixo podem ser identificadas
ações de ensino, pesquisa e extensão. O primeiro é
voltado para os idosos e reúne as seguintes ativi-
dades:
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 47
h Serviços de saúde.
Q Atividades socioculturais e educativas.
� Atividades de integração e inserção social.
O segundo eixo é voltado para estudantes de gradua-
ção, profissionais e público não idoso:
8 Formação, capacitação, atualização, especialização
de recursos humanos.
8 Educação continuada.
8 Preparação de cuidadores de idosos.
O terceiro prioriza a produção de conhecimento e
volta-se para pesquisadores e estudantes de cursos
de pós-graduação:
8 Produção de pesquisas.
8 Centro de documentação.
8 Um site (<www.unati.uerj.br>), estruturado sob o
formato de portal.
8 Publicação e divulgação da produção dos pesqui-
sadores.
O quarto eixo prioriza a sensibilização da opinião
pública e preocupa-se com a visibilidade do progra-
ma. É voltado para o público externo e formador de
opinião:
8 Atividades de extensão.
8 Programa de voluntariado.
8 Atividades de comunicação e divulgação.
48 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
8 Participação na formulação de políticas voltadas
para a população idosa.
1. Atividades voltadas para idosos
1.1 Serviços de saúde
O importante papel desempenhado pela UnATI/UERJ
na área da saúde a fez ser designada como Centro
Colaborador do Ministério da Saúde. Os serviços de
saúde encontram-se organizados a partir de duas
unidades ambulatoriais: o Núcleo de Atenção ao Ido-
so (NAI) e o Serviço de Cuidado Integral à Pessoa
Idosa (CIPI), pertencentes à UERJ. Nestes ambulató-
rios são realizadas cerca de 1600 consultas/mês e
o treinamento qualificado de profissionais de saúde
na área da Geriatria e Gerontologia. Os idosos rece-
bem assistência em todos os níveis por meio de um
acompanhamento multidisciplinar adequado às suas
especificidades. É necessário assinalar que o conceito
ampliado de saúde que pauta a atuação da UnATI/
UERJ impõe novas abordagens, o que inclui, por
exemplo, a ampla prestação de assistência social e
jurídica no interior destes serviços.
1.1.1 O ambulatório NAI
O Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI) atua no Hospi-
tal Universitário Pedro Ernesto na assistência dos ido-
sos da comunidade e desenvolve um programa de-
nominado Programa de Atenção Integral à Saúde
do Idoso, composto por vários projetos. Além de
consultas individuais são utilizadas diversas metodo-
logias de trabalhos em grupo para abordagem de
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 49
algumas patologias mais freqüentes nos idosos. For-
mado por profissionais de diferentes categorias –
Odontologia, Medicina, Enfermagem, Psicologia, Nu-
trição, Fisioterapia, Serviço Social e Fonoaudiologia –,
dentro da perspectiva de uma ação necessariamente
integrada, o NAI, a partir da experiência e do aper-
feiçoamento de sua equipe, vem consolidando
conhecimentos quanto às demandas e ações de saú-
de necessárias para a população idosa.
O NAI realiza cerca de 9000 consultas por ano
para idosos que permanecem em acompanhamento
ambulatorial, individual e em grupo, de acordo com
a necessidade de cada caso. Faz parte deste processo
também o atendimento em saúde oral, que pres-
ta orientação e encaminhamento quando é necessário
tratamento, trabalhando a educação em saúde oral
por meio de consulta individual e material educativo.
50 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Além do atendimento ambulatorial, o NAI desenvolve
projetos especiais:
Projeto de Assistência e Estudos Cognitivos – As
demências são uma das principais doenças relaciona-
das ao envelhecimento, exigindo tratamento contí-
nuo e atenção não apenas ao paciente, mas também
às pessoas ao seu redor. Desse modo, o projeto as-
siste aos portadores de demência, familiares e cui-
dadores, uma vez que quanto mais cedo o diagnós-
tico e todos entenderem o que se passa, maiores as
possibilidades de tratamento e criação de estratégias
de cuidados. Estão envolvidos mais diretamente nes-
te trabalho profissionais como enfermeiro, assistente
social, geriatra, neurologista, psicólogo e psiquiatra.
Os demais componentes da equipe trabalham de
acordo com a necessidade.
Programa de Atenção Integral ao Idoso Inter-
nado – De acordo com a filosofia do trabalho que foi
sendo executado no atendimento ambulatorial, tor-
nou-se imperiosa a criação da unidade terciária, re-
presentada pela enfermaria. Nesta unidade de caráter
interdisciplinar, se privilegia o atendimento de usuá-
rios em alto risco de fragilização. O serviço acompa-
nha a mesma filosofia de funcionamento com equipe
multidisciplinar, atuando com pacientes internados em
enfermaria de clínica médica do HUPE e como serviço
de consultoria para os demais serviços do hospital.
Projeto Promoção de Saúde – A prevenção e
promoção da saúde na terceira idade são ações per-
manentes na UnATI/UERJ. Em atividade desde 1996,
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 51
trata-se de um projeto de educação para a saúde. São
realizados grupos fechados, com 15 idosos e 2 coor-
denadores, em 14 encontros, nos quais são discutidos
temas relevantes para o grupo, numa construção
participativa. Os idosos respondem a um questionário
multidimensional, no qual são levantadas questões
relevantes de sua saúde física, mental, social, qualida-
de de vida, verificação de pressão, peso e exames
laboratoriais, como glicemia. Estes dados são analisa-
dos e é fornecida orientação individual quando neces-
sário, sendo então inseridos em banco de dados, uti-
lizado como fonte de informações para diversas pes-
quisas.
Projeto Idosos em Movimento Mantendo Auto-
nomia – Desenvolvido em conjunto com o Instituto
de Educação Física e Desportos, acompanha cerca de
100 idosos, que fazem educação física duas vezes
por semana, em encontros nos quais também são
discutidos temas em educação em saúde e realizada
avaliação clínica dos participantes. Como os demais,
este projeto provê uma fonte rica de dados para
pesquisa.
Projeto de Atendimento Domiciliar – É uma ati-
vidade desenvolvida junto a comunidades próximas à
universidade com dois objetivos: trabalhar um melhor
conhecimento desta população no seu próprio meio,
investindo em promoção e prevenção da saúde, e
atuar junto aos usuários matriculados no ambulatório
que não podem comparecer ao hospital, por dificul-
dade de deambulação, permitindo, desta forma, um
modelo de assistência alternativo. O projeto é reali-
52 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
zado em conjunto com a disciplina Medicina Inte-
gral e o Programa de Residência Médica em Saúde
da Família, da Faculdade de Ciências Médicas da
UERJ.
1.1.2 O ambulatório CIPI
Em função do convênio estabelecido entre o Ministé-
rio da Saúde e a Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – para a administração do Posto de Assistência
Médica (PAM) São Francisco Xavier, o primeiro PAM
universitário do país, atualmente Policlínica Américo
Piquet Carneiro –, foi inaugurada a clínica de Cuidado
Integral à Pessoa Idosa (CIPI). Neste serviço, a UnATI/
UERJ desenvolve assistência de saúde, com uma
equipe multidisciplinar, além de atividades de pro-
moção de saúde e pesquisa.
A inauguração da Policlínica, como unidade da UERJ,
em 12 de agosto de 1996, representou um marco
importante para que a Faculdade de Ciências Médicas
da UERJ pudesse ter um amplo e diversificado am-
bulatório de saúde para treinamento de seus alunos
nas várias especialidades e para a oferta de serviço
de qualidade à população circunvizinha. Aliás, este
foi um grande sonho do professor Piquet Carneiro,
reforçar a prática ambulatorial em detrimento da vi-
são centrada apenas no ensino hospitalar. Como con-
seqüência natural deste desejo do professor Piquet
Carneiro, a UnATI/UERJ foi o primeiro serviço a se
instalar na Policlínica, e quando de sua inauguração, o
ministro da Saúde, Adib Jatene, descerrou a placa de
início das atividades do complexo ambulatorial, no
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 53
interior do CIPI, fato simbólico que marcou o apoio
do ministério ao projeto assistencial realizado pela
UnATI/UERJ.
A partir da abertura do CIPI, novos profissionais fo-
ram incorporados, permitindo à UnATI/UERJ um salto
no número de consultas até então executadas. O
desenvolvimento de um novo modelo de atendimen-
to foi a tônica das ações propostas. Assim, foi iniciado
um processo de intensos estudos acerca da avaliação
geriátrica ampla, o que permitiu a elaboração de al-
guns instrumentos, como também a inserção de al-
guns já validados e outros em processo de validação.
Com isto, hoje o CIPI centra-se na atenção ao idoso
fragilizado, ou seja, aqueles com alto grau de de-
pendência, que apresentam diminuição da capacida-
de funcional, alto risco de institucionalização e
hospitalização inapropriadas.
Há mais de uma década vem se firmando um con-
senso entre os especialistas que, embora qualquer
indivíduo possa se beneficiar de esquemas
multidisciplinares, as populações especiais são as que
mais tiram proveito deste tipo de abordagem. Entre
as populações idosas, aquelas que apresentam maior
grau de fragilidade, maior potencial de risco de ado-
ecer gravemente, de hospitalização, de quedas e outros
eventos mórbidos graves, enfim, aquelas com uma
maior pluralidade de problemas nos campos médico,
psíquico e socioeconômico, são as que mais prova-
velmente se beneficiarão desta “nova tecnologia
geriátrica” (Gallo et al., 1995; NIH, 1987; Fleming
et al., 1995).
54 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
Por esta razão, como critério de inserção no progra-
ma, nos ambulatórios da UnATI/UERJ utiliza-se a tria-
gem funcional para todos os pacientes, sejam da
Policlínica ou externos. O procedimento permite
estratificar o idoso mais propenso a uma situação de
risco e aqueles que apenas precisam de ações pre-
ventivas. Uma vez caracterizados os distúrbios e
estratificado como fragilizado, o idoso é submetido a
uma ampla avaliação geriátrica. Pessoas que preen-
cham estas condições serão observados inicialmente
pela equipe mínima composta por assistente social,
enfermeiro e médico, que após reunião de caso pla-
nejam a intervenção mais adequada a possibilitar a
melhoria do quadro apresentado pelo idoso.
Neste ambulatório é também desenvolvida uma linha
de pesquisa denominada Modelos de Atenção à
Saúde do Idoso. As especificidades das demandas
colocadas pelo envelhecimento da população brasi-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 55
leira impõem medidas urgentes no sentido da formu-
lação de novas concepções de assistência à saúde;
registre-se que a insistência nos atuais paradigmas,
longe de responder a essas necessidades, termina por
agravá-las.
Modelos de atenção à saúde do idoso centrados na
avaliação da capacidade funcional do idoso, que pos-
sam ser aplicados em qualquer unidade de saúde,
necessitam ser desenvolvidos e testados. Esta linha
de pesquisa tem por objeto de estudo procedimen-
tos de triagem ambulatorial e de fluxos de atendi-
mento. O CIPI tem sido campo de estudo e coleta de
dados para pesquisas nesta linha e várias teses de
doutorado e dissertações de mestrado têm sido
conduzidas. Nesta linha, inclusive, foi desenvolvido
um projeto de pesquisa que apresentou um modelo
de atendimento que enfatiza critérios para a captação
e apresenta uma proposta de hierarquização da aten-
ção ao idoso. Este trabalho recebeu o Prêmio de
Medicina 2000 da ABRAMGE (Associação Brasileira
de Medicina de Grupo) pelo modelo inovador em
termos de eficiência e racionalidade, principalmente
pela discussão bem fundamentada dos níveis de
hierarquização (Veras et al., 2001).
1.2 Atividades socioculturais e educativas
para idosos
As atividades oferecidas pela UnATI/UERJ encontram-
se na perspectiva da educação permanente. A idéia
é possibilitar constante atualização do conhecimento,
pela permanente discussão de valores, conceitos,
56 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
conhecimentos e informações que reforcem,
reformulem ou substituam o que tenha se tornado
ultrapassado. Esta abordagem visa sempre à promo-
ção e garantia da autonomia do cidadão, que é algo
não pode ser “ensinado” – precisa ser vivenciado e,
acima de tudo, ser objetivo de todos os envolvidos
no processo educativo.
São oferecidos, atualmente, mais de 120 cursos li-
vres por semestre para pessoas com 60 anos ou
mais. A programação completa encontra-se disponí-
vel no site da UnATI/UERJ em <www.unati.uerj.br>.
Cerca de 2500 pessoas freqüentam regularmente esses
cursos, que não representam uma estrutura curricular
hierarquizada. O aluno, em princípio, tem liberdade
de escolha para freqüentar as oficinas e cursos de sua
preferência, dentro do limite possível de vagas. O
elenco de atividades oferecidas está estruturado se-
gundo áreas temáticas:
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 57
8 Educação para saúde.
8 Arte e cultura.
8 Conhecimentos gerais e línguas estrangeiras.
8 Conhecimentos específicos sobre a terceira idade.
As atividades sociais e culturais ocorrem regularmen-
te, uma vez que a demanda por cursos livres é muito
maior que o número de vagas disponíveis. A realiza-
ção de eventos sociais e culturais com entrada franca
é uma forma de receber grandes contingentes de
idosos, especialmente, aqueles que não puderam
participar de cursos regulares, por falta de vagas.
Tais eventos são muito prestigiados pelos participan-
tes, pois são espaços de desenvolvimento da socia-
bilidade e de integração. São workshops, oficinas,
palestras, apresentações públicas de canto, dança,
exposições de artes plásticas, festas, bailes, etc. Cabe
destacar que diversos eventos são organizados em
parceria com outras unidades acadêmicas da univer-
sidade, proporcionando momentos ricos de intergera-
cionalidade entre estudantes de graduação, pós-gra-
duação, docentes e servidores, encontros de gera-
ções, gêneros, etnias, culturas, vidas.
Para a realização desse conjunto de atividades, a
UnATI/UERJ conta com uma equipe estruturada para
dar suporte pedagógico e administrativo a um corpo
docente composto por mais de 60 professores, al-
guns pertencentes ao quadro docente da UERJ, que
dividem sua carga horária com a unidade de origem
e a UnATI/UERJ, e outros são contratos de prestação
58 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
de serviço. O fato de a UnATI/UERJ desenvolver ativi-
dades que não pertencem à grade curricular, muitas
vezes faz com que seja grande o número de prestadores
de serviço como, por exemplo, nas oficinas de xadrez,
ginástica cerebral, antiginástica, entre outros.
2. Atividades de capacitação de
recursos humanos
A interdisciplinaridade é um dos princípios básicos do
trabalho com idosos. Baseado neste entendimento e
sabendo que o trabalho interdisciplinar requer uma
construção diária, ao oferecer atividades de capacitação
de recursos humanos, procurou-se garantir um treina-
mento interdisciplinar em saúde do idoso para todos
os programas de capacitação.
2.1 Residência em saúde do idoso (especialização
por meio de treinamento em serviço)
Atuando em parceria como Centro de Desenvolvi-
mento Acadêmico do Hospital Universitário Pedro
Ernesto, a UnATI/UERJ desenvolve o Programa de
Residência em Geriatria e Gerontologia nas áreas
de Medicina, Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Fisio-
terapia, Serviço Social e Fonoaudiologia. O curso tem
a duração de dois anos, com atividades teóricas e
práticas, sempre com a perspectiva interdisciplinar.
2.2 Aperfeiçoamento profissional em
saúde do idoso
Também em associação com o Centro de Desenvol-
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 59
vimento Acadêmico do HUPE, a UnATI/UERJ oferece
vagas de treinamento profissional, com duração
de um ano, programa teórico-prático de 20 horas
semanais, com duas vagas para cada área do pessoal
de saúde. O objetivo é capacitar recursos humanos
em saúde do idoso, num programa de treinamento
interdisciplinar.
2.3 Estágios para estudantes de graduação
A UnATI é campo de estágio de graduação para
estudantes da UERJ e de outras universidades em
diversas áreas do conhecimento. São oferecidas vagas
nas áreas das categorias profissionais que compõem
a equipe de saúde.
Nas atividades educativas para idosos há também
alunos de graduação de outras áreas, não só de saú-
de. Também são oferecidos estágios para estudantes
de Direito, Comunicação Social, Educação Física,
Psicopedagogia, Informática, Letras e Pedagogia.
2.4 Educação continuada em Gerontologia
O aperfeiçoamento e reciclagem das equipes de saúde
também são tônica nas atividades da UnATI/UERJ.
Visando à educação continuada de profissionais que
trabalham com idosos, são desenvolvidos Seminários
de Formação Gerontológica que procuram situar e
manter atualizados os profissionais que trabalham com
idosos nas questões relativas ao processo de envelhe-
cimento no Brasil, capacitando-os para ações de qua-
lidade junto ao segmento da terceira idade.
60 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
2.5 Preparação de acompanhantes e familiares
de idosos
Um ponto particularmente importante no atendimen-
to à terceira idade é a necessidade de treinamento
para os cuidadores de idosos. Este curso foi pen-
sado como uma estratégia para amenizar a dificul-
dade e a necessidade de informação que o público
leigo apresenta para lidar com a população que
envelhece na comunidade. Seus objetivos são pro-
porcionar orientação necessária aos familiares e
pessoal de apoio para cuidar de idosos e desenvol-
ver uma mentalidade preventiva no sentido de evitar
riscos à saúde e à autonomia do idoso. Também
se pretende priorizar a qualidade de vida do idoso,
estimular sua autonomia e independência, e des-
pertar uma integração harmoniosa entre cuidador e
idoso.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 61
3. Atividades de produção e disseminação
de conhecimento
No campo da pesquisa, a produção científica da
UnATI/UERJ destaca-se no cenário nacional. As inves-
tigações desenvolvidas na instituição correspondem a
referências obrigatórias em qualquer trabalho que
tenha por objeto a saúde dos idosos no Brasil. Várias
publicações vêm sendo implementadas a partir dos
estudos e atividades desenvolvidas na UnATI/UERJ,
reafirmando sua condição de referência acadêmica no
tópico do envelhecimento humano. A UnATI/UERJ
publica a revista científica Texto sobre Envelheci-
mento e possui o selo editorial UnATI – Envelhe-
cimento humano, pelo qual edita periodicamente
vários livros.
A demanda crescente por referências bibliográficas,
por dados demográficos, sociais e de saúde e por
elementos institucionais referentes à terceira idade
tornou imperiosa a iniciativa de ampliação dos hori-
zontes da UnATI/UERJ no campo da disseminação de
informações. Assim, avançando para além de suas
perspectivas iniciais, criou o Centro de Referência
e Documentação sobre Envelhecimento, tendo
como objetivos a identificação, sistematização e dis-
seminação de informações nesse âmbito do conheci-
mento, além da implementação de ações que apon-
tem no sentido da estruturação de uma rede nacional
de informações em envelhecimento e saúde. Conta,
assim, com importante acervo informatizado, abor-
dando o campo da geronto-geriatria, com destaque
para a ampla coleção de dissertações e teses brasilei-
62 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
ras e para os principais periódicos nacionais. Dispõe
ainda de um conjunto de informações de abrangência
nacional e/ou regional, como grupos de pesquisado-
res, programas de pós-graduação, programas para
idosos, etc., além de oferecer dados sobre legislação
em diversos níveis, no que se refere à população
idosa. E já consolidou-se como Centro Cooperante
do Sistema Latino Americano e do Caribe de
Informações em Ciências da Saúde (Bireme/
OPAS/OMS). Hoje, é também Membro do Comitê
Consultivo Nacional da Bireme na implementação da
Biblioteca Virtual em Saúde e Envelhecimento.
A UnATI/UERJ conta ainda com um site em
<www.unati.uerj.br>, estruturado sob o formato de
portal, que possibilita acesso aos principais links na-
cionais e internacionais neste campo, propicia ampla
gama de informações sobre suas atividades internas,
eventos ligados à área, notícias e ainda várias outras
referências de interesse para idosos, familiares, profis-
sionais, estudantes, pesquisadores, instituições, enti-
dades, entre outros.
4. Atividades de extensão, comunicação
e divulgação
4.1 Atividades de extensão
Em sua estrutura, a UnATI/UERJ também foca sua
atenção na sociedade para além dos muros da univer-
sidade. Suas atividades extensionistas têm um impor-
tante papel neste eixo por apresentarem grande vi-
sibilidade. São ações desenvolvidas em articulação com
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 63
as unidades e órgãos universitários interessados nas
questões relativas à terceira idade, consolidando-se
enquanto campo de trabalho para docentes e alunos
da UERJ. São aqui incluídas as seguintes atividades: o
Projeto Nutrição e Terceira Idade, do Instituto de
Nutrição; o Projeto de Assistência Jurídica, da Fa-
culdade de Direito, atendimento jurídico realizado pelo
escritório-modelo da Faculdade de Direito, prestando
orientação e ajuda aos usuários da UnATI/UERJ; o
Projeto Psicologia para Idosos, do Instituto de
Psicologia; e o Projeto Cidadania do Idoso, da
Faculdade de Serviço Social.
Também têm sido implementados inúmeros projetos
de cunho assistencial e educativo como o Dia da
Cidadania do Idoso, que corresponde a uma gran-
de feira onde são prestados serviços diversificados
aos idosos, abrangendo emissão de documentos pes-
soais, orientações quanto a direitos sociais, assistência
jurídica, informações sobre saúde, desenvolvimento
de atividades de lazer, entre outras, com importante
repercussão na mídia. Campanhas de vacinação
para a população idosa são regularmente promovi-
das. Em várias campanhas o posto de vacinação da
UnATI/UERJ bateu o recorde de vacinas aplicadas no
Estado do Rio de Janeiro.
4.2 Programas de voluntariado – A valorização
do conhecimento do idoso
O resgate do valor social do idoso está presente ao
longo das atividades promovidas pela UnATI/UERJ.
Neste sentido, funciona um programa de volunta-
64 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
riado para inserção do idoso na sociedade por meio
de atividades em instituições asilares, em tarefas que
colaborem para a ampliação de sentimentos de so-
lidariedade e reprodução de seus conhecimentos. O
objetivo é valorizar a história de vida profissional dos
idosos que participam da UnATI/UERJ e o aprendizado
adquirido nos diversos cursos oferecidos pela instituição.
O programa propõe ao idoso o exercício de ativida-
des culturais, físicas, artísticas e sociais, de acordo
com suas habilidades. Na prática, os idosos ensinam
trabalhos manuais, contam histórias e fazem caminha-
das, criando laços de companheirismo com os que
estão afastados do convívio social.
O programa foi organizado pela equipe de assisten-
tes sociais e se inicia com o treinamento dos idosos
que desejam ser voluntários, etapa fundamental para
o desenvolvimento da atividade. Sua finalidade é
capacitar o grupo para o planejamento e a execução
das ações comunitárias, buscando satisfazer as aspira-
ções relacionadas com a comunidade asilar. A preo-
cupação mais relevante da equipe técnica é destacar
a importância do papel do voluntário e prepará-lo
para as novas relações interpessoais que surgirão à
medida que se engajar no trabalho.
4.3 Atividades de divulgação junto ao
grande público
A diálogo com a sociedade é uma constante nas ati-
vidades da UnATI/UERJ. Na medida em que as ativi-
dades de comunicação social são a base para uma
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 65
melhor integração entre os objetivos da entidade e o
público, tanto externo quanto interno, a instituição
desenvolve um intenso trabalho junto à mídia, num
diálogo permanente com a sociedade. Sua Assessoria
de Comunicação Social mantém um sistema de con-
tato formal e informal com a comunidade, em geral,
racionalizando e divulgando todo o fluxo de informa-
ções geradas pela instituição ou fontes externas.
Os trabalhos desenvolvidos na Assessoria de Comuni-
cação Social da UnATI/UERJ são muito bem aceitos e
têm grande credibilidade junto à imprensa. Os
conceitos de envelhecimento saudável e a difusão
dos métodos assistenciais e educacionais fazem com
que o modelo desenvolvido na UnATI/UERJ seja a
cada dia mais absorvido, tornando-se um padrão de
qualidade no cuidado integral ao idoso.
4.4 Participação na formulação de políticas
voltadas para a população idosa
A UnATI/UERJ também vem demonstrando sua capa-
cidade de formulação de políticas voltadas para a
população idosa com uma presença marcante junto a
instituições que atuam no campo da saúde, da Geri-
atria e da Gerontologia e, em especial, a organismos
públicos estaduais, regionais e federais.
É o caso da Política Nacional do Idoso, sancionada em
1996. Sua elaboração se deu num contexto de impor-
tante presença de diversos atores da sociedade civil
organizada, entre os quais a UnATI/UERJ. Outro exem-
plo também distinto corresponde ao processo de pro-
66 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
posição até a aprovação da Política Nacional de
Saúde do Idoso, em 1999, no qual a UnATI/UERJ
participou com representantes em todas as instâncias
de formulação de seu conteúdo.
Considerações finais
Hoje, a UnATI/UERJ se constitui em uma das princi-
pais referências no que tange ao envelhecimento
humano. O número de instituições e pesquisadores
que a procuram em busca de informação e possibi-
lidades de trabalho cooperativo atesta o reconheci-
mento nacional do projeto.
Estruturada como uma microuniversidade temática, está
organizada a partir do tríptico Ensino, Pesquisa e
Extensão, investindo no fortalecimento cada vez maior
da integração entre esses componentes, como pode
ser observado no modelo apresentado.
A UnATI/UERJ já comprovou sua capacidade na área
do envelhecimento humano, mas não resta dúvida de
que ainda tem muito a oferecer aos idosos e à comu-
nidade científica a fim de que a UERJ inscreva seu
nome, de forma definitiva, como o grande centro
universitário do País na produção de conhecimento e
inovações tecnológicas, formação qualificada de re-
cursos humanos, difusão de informações, e principal-
mente propicie aos seus participantes uma inserção
contemporânea e cidadã na sociedade atual.
Conforme já apontado no início deste texto, vários
determinantes – demográficos, culturais, econômicos
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 67
– confluem para que a questão do idoso seja extre-
mamente importante para a sociedade como um todo.
Se nada for modificado no quadro atual, é possível
prever que as dificuldades se agravarão, com o au-
mento do contingente de idosos, estrangulamento das
fontes de financiamento e explosão dos gastos no
atendimento médico.
Políticas dirigidas especificamente para este segmen-
to etário devem ser desenhadas e implementadas
com urgência, se quisermos evitar mais uma catástro-
fe anunciada. Modelos inovadores de atenção, como
os Centros de Convivência, têm se mostrado alterna-
tivas com melhor relação custo/benefício e com re-
sultados mais encorajadores.
As universidades, em particular, podem oferecer,
dentro da concepção de microuniversidades temáticas,
68 UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL...
um modelo de Centro de Convivência ampliado, como
as UnATIs descritas genericamente neste texto: um
campo de experimentação e assistência integralmen-
te voltado aos desafios da terceira idade. A experiên-
cia da UnATI/UERJ tem sido encorajadora. Como se
depreende pela própria observação de seus partici-
pantes, porém, os diretamente beneficiados ainda são
uma fração relativamente restrita dos usuários poten-
ciais. É essencial, portanto, que esta experiência se
multiplique. Como órgão de uma universidade públi-
ca, a UnATI/UERJ está pronta para avançar este pro-
cesso, gerando conhecimento e treinando recursos
humanos para estender os benefícios destas práticas
ao maior número possível de cidadãos da terceira
idade.
UNATI-UERJ – 10 ANOS UM MODELO DE CUIDADO INTEGRAL... 69
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Notas
* Texto premiado no Concurso Talentos da Matu-ridade do Banco Real do ano de 2003, na catego-ria Programa Exemplar.
1 Médico. Professor adjunto do Instituto de Medi-cina Social da UERJ. Diretor da UnATI/UERJ. Mes-tre em Saúde Coletiva (IMS/UERJ e pela LSHTM/Universidade de Londres). Doutor em Saúde Públi-ca (Guys Hospital/Universidade de Londres).
2 Enfermeira. Professora adjunta da Faculdade deEnfermagem da UERJ. Vice-diretora da UnATI/UERJ.Mestre em Saúde Coletiva (IMS/UERJ). Doutora emEnfermagem (EEAN/UFRJ).
3 Considerou-se como referência o conceito deSaúde Coletiva elaborado por Paim e Almeida Fi-lho (2000): “Podemos entender Saúde Coletiva comocampo científico, onde se produzem saberes econhecimentos acerca do objeto ‘saúde’ e ondeoperam distintas disciplinas que o contemplam sobvários ângulos; e como âmbito de práticas, ondese realizam ações em diferentes organizações einstituições por diversos agentes (especializados ounão) dentro e fora do espaço convencionalmentereconhecido como ‘setor saúde’” (p. 59).
4 Guerreiro (2001), conceitua empowerment como“encorajamento” para a descoberta da força inte-rior e talentos para assumir um papel mais ativona resolução de seus problemas e necessidades,capacitando-os a exercer um comando mais am-plo sobre suas próprias vidas.
5 Este documento, publicado no Canadá em 1986,pode ser consultado em: MINISTÉRIO DA SAÚDE.As cartas da Promoção da Saúde. Brasília: EditoraMS, Série B. Textos Básicos em Saúde, 56 p., 2002.
6 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foicriado em 1990 pelos economistas Mahbub ul Hag
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e Amartya Sen, este último, indiano que ganhou oprêmio Nobel de Economia em 1998. Além darenda per capita, o IDH considera a esperança devida ao nascer, o percentual de adultos alfabetiza-dos e a proporção de matrículas nos níveis primá-rios, secundário e universitário. O IDH varia de 0a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvol-vimento humano. O IDH do Brasil é de 0,777, aNoruega possui o melhor índice, com 0,944, e opior pertence à Serra Leoa, com 0,275.
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