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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da
construção.
Carla Delgado Cunha
Orientador
Profa Ms: Fátima Alves
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da
construção.
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de Especialista em Arteterapia em Educação e
Saúde.
Por: Carla Delgado Cunha
3
AGRADECIMENTOS
...a minha mãe, mulher guerreira, que
me deu tanto amor sendo severa e
protetora quando necessário. Obrigada
por tudo!
4
DEDICATÓRIA
...dedico ao meu irmão e familiares, que
sempre estiveram presentes, em cada
momento da minha vida.
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo apresentar o Mosaico como um
recurso arteterapêutico, auxiliando a materialização de imagens do
inconsciente, revelando um Universo Simbólico pessoal. Baseado na Teoria
de Piaget – assimilação, acomodação e equilibração. Será apresentado um
estudo de caso descrevendo o caminhar de uma pessoa em todo esse
processo. Evidenciando suas escolhas, sua criação e sua análise. Processo
esse com intervenção do arteterapeuta, levando a pessoa a objetivar sua
produção, ocorrendo assim uma reflexão e reorganização interna, podendo
auxiliar uma reconstrução e transformação de sua realidade.
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METODOLOGIA
A metodologia que fundamentará esta pesquisa será a análise
bibliográfica a partir de publicações anteriores sobre o assunto em documentos
impressos como livros, artigos, teses e uma analise de um caso concreto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
• Arteterapia 10
CAPÍTULO II
• A Arte do Mosaico 17
CAPÍTULO III –
• Teoria de Piaget associado a um estudo de caso 24
CONCLUSÃO 31
ANEXOS 32
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
ÍNDICE 44
8
INTRODUÇÃO
Fazer arte é uma necessidade humana na qual precisamos expressar
de diferentes formas nossos pensamentos, emoções, ideias, desejos,
curiosidades, sensações. Expressão essa que é única, resultado de todo um
processo pessoal, em que ficam evidentes nossos pontos de vista, nossa
personalidade, nossas vivencias, nosso tempo histórico. Estamos em
constante transformação, escrevendo e criando nossa própria história.
Somos início, meio e fim de algo maior. Ao criar estamos de fato vivos,
ativos, nos construindo e nos reinventando a todo o momento.
Com o desenvolvimento tecnológico associado a forte pressão dos
meios de comunicação numa valorização exacerbada de um mundo
capitalista e extremamente consumista. Acrescido do progressivo fracasso da
instituição familiar, o homem está cada vez mais envolto em um mundo
externo no qual é valorizado a posse de coisas materiais, em detrimento de
valores morais, éticos e humanos, ou seja, os elementos mais importantes de
uma sociedade fraterna.
Além disso, as grandes explorações dos recursos naturais, provocados
pela ambição do homem e associado ao intenso crescimento demográfico,
principalmente nas regiões urbanas, nos trouxeram um dos maiores
problemas da sociedade moderna, ou seja, o aquecimento global.
Acarretando uma tragédia que provoca problemas para as atuais e futuras
gerações. Exemplo disso foram os desastres naturais que acometeram as
cidades Serranas no mês de janeiro do corrente ano.
Sendo assim, impulsionado pela necessidade de pesquisar algo que de
alguma forma possa ajudar as pessoas que estão sofrendo com esse
acontecimento, que gerou sentimentos de tristeza, perda, depressão, luto,
entre outros, será desenvolvido um trabalho com Mosaico em Arteterapia que
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poderá auxiliar nesse processo de reconstrução de suas vidas e de sua
autoestima. Uma transformação através da construção.
Desta forma, no capítulo I, será abordada a importância do trabalho
com Arteterapia, seu histórico, sua fundamentação metodológica, suas
possibilidades e seu trabalho.
No capítulo II, será apresentada a Arte do Mosaico como técnica
plástica facilitadora do processo de materialização de imagens do
inconsciente. Apresentando seu histórico, sua função na Arte Bizantina e sua
justificativa para essa escolha, haja vista o público pretendido.
No capitulo III, fundamentaremos essa pesquisa com a Teoria de
Piaget - assimilação, acomodação e equilibração. Expondo uma pesquisa de
caso fazendo um paralelo entre os três eixos Arteterapia, Mosaico e a Teoria
de Piaget.
Esperamos que a realização dessa pesquisa possa de alguma forma
dá um passo efetivo em um trabalho significativo e atuante, juntamente com
as pessoas que vivenciaram de alguma forma essa tragédia.
Proporcionando assim, uma ferramenta que poderá ser útil na reconstrução
de suas vidas.
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CAPÍTULO I
Arteterapia
“A vida é um processo, não é um estado de ser. É uma
direção, não um destino.” (Rogers,1970, p.146)
1.1 Arteterapia e seu histórico.
A arte como forma de expressão sempre foi uma necessidade
humana. Na Grécia, já era usada como recurso terapêutico. Desenvolveu-se
como instrumento na Inglaterra após a 2ª Guerra Mundial baseada nas obras
de Jung e influenciada por uma nova visão de Arte, e hoje espalhou-se pelo
mundo.
Psiquiatras, desde o final do século XIX, estavam interessados nas
obras de doentes mentais. Facilitaram suas produções, colecionaram-nas e
estudaram-nas. Podemos citar como exemplos Max Simon (1876 e 1888),
Mohr (1906) e Prinzhorn (1922).
Durante a segunda metade do século, surgiram outras terapias, como
as diversas técnicas de mediação: musicoterapia, dançoterapia e terapias
através da expressão plástica.
No Brasil, Osório Cesar (1923) começa a desenvolver estudos sobre a
arte dos alienados, no Hospital de Juquerí, São Paulo.
Na década de 20, havia mantido correspondência com Freud e, a partir
de seus estudos de observações na linha freudiana, analisa a simbologia
sexual existente nos trabalhos artísticos de seus pacientes. Seus pacientes
dedicaram-se a trabalhos como modelagem, desenho e artesanato.
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Propiciando assim “a cura por si” através dos trabalhos com arte, por ser
um veículo de acesso ao conhecimento do mundo interior.
Em 1941, Margareth Naumburg foi a primeira sistematizar a arteterapia.
Reconheceu e colocou em prática a própria observação e a de Freud, surgidas
no início do século XX, na qual as imagens viriam antes das palavras.
“O pensamento simbólico não é a área exclusiva da
criança, do poeta ou do desequilibrado: ela é
consubstancial ao ser humano; precede a linguagem e a
razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da
realidade – os mais profundos – que desafiam qualquer
outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e
os mitos são criações irresponsáveis da psique; elas
respondem a uma necessidade e preenchem uma
função: revelar as mais secretas modalidades do ser. Por
isso, o seu estudo nos permite melhor conhecer o
homem, o homem simplesmente, aquele que ainda não
se compôs com as condições da historia”. (ELIADE, 1991,
p. 8 e 9)
Outros trabalhos foram surgindo como os de Freud e Jung que também
se desenvolveram a partir da produção artística de seus pacientes psiquiátricos
de grande importância para os diagnósticos da época.
A diferença básica entre os dois é, para Freud, toda pessoa reprime
impulsos não aceitos socialmente e a arte funciona como uma forma saudável
de sublimar esses impulsos evitando a neurotização. Já para Jung, a arte tem
um sentido muito além do que apena a sublimação, contribui e auxilia no
processo de individuação da pessoa.
Em 1946, se destaca o trabalho inovador realizado pela Drª Nise
Silveira, no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, situado no Engenho de Dentro,
no Rio de Janeiro, criou a Seção de Terapia Ocupacional. Ela introduziu nas
décadas de 1930 e 1940, na sua pratica psiquiátrica, a pintura leve e
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espontânea, na tentativa de substituir os tratamentos clássicos, como por
exemplo, os eletrochoques em hospital público. Em 1952 cria o Museu do
Inconsciente, único acervo existente no Brasil e um dos mais importantes do
mundo.
Por volta dos anos 50 surgiu o termo Arteterapia, através de duas
correntes distintas: A arte em terapia representada por Margareth Naumburg e
a arte como terapia representada por Edith Kramer, as mesmas reconhecidas
como as “fundadoras” da Arteterapia.
Janie Rhyne, em 1973, aplica princípios da Teoria da Gestalt ao
trabalho com arte. Enfatiza a atenção na vivência do presente, ao total
momento; o dar-se conta de fazer consciente; o reaprender a confiar nos
dados da experiência pessoal.
Em São Paulo, em 1980-1981, surge o primeiro curso de arteterapia na
Sedes Sapientae criado Maria Margarida M. J. de Carvalho que desenvolve
um trabalho em arteterapia.
Angela Phillipini, em 1982 organiza um curso em arteterapia no Rio de
Janeiro, inicialmente um estudo em arteterapia de orientação Junguiana. A
partir de 1983, começa a oferecer curso de formação.
Joya Eliezer, em 1999 funda a Associação Paulista e Brasileira de
Arteterapia, no Museu de Artes de São Paulo.
Atualmente existem congressos, publicações de livros e revistas e
associações de arteterapia.
1.2 Fundamentação Metodológica.
A Arteterapia recorre a diferentes mediadores: Pintura, Desenho,
Modelagem, Escultura, Colagens, Drama e Jogos Dramáticos, Música, Canto,
Poesia, Escrita Livre Criativa e Contos.
O fenômeno psicológico em Arteterapia deverá levar em conta as
perspectivas afetiva, existencial e cognitiva. O processo de expressão e o seu
resultado são de extrema importância, pois através dessa criação temos
acesso a conteúdos internos.
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Através das produções artísticas, arte como função cognitiva, temos
acesso a muitas informação e registro, para o arteterapeuta, sobre o que é,
acerca de quê e para quê, como e porquê, sentimentos antes, durante e
depois do processo, benefícios para o próprio e para os outros.
A arte tem o papel de ser um recurso mediador da expressão, como um
veículo de elaboração, ensaios da criação. No trabalho arteterapêutico, o
contexto do processo não é usado para analise. As partes separadas irão
muito além do todo. A criatividade precisa ser fomentada, saindo da zona de
conforto, em direção à autodescoberta e auto enriquecimento, descobrindo e
assumindo uma atitude lúdica para com a vida, podendo resolver sua
problemática existencial.
“Se é da natureza do ato criador inovar, a recíproca não é
verdadeira; A inovação nem sempre é criação. Criar
significa mais do que inventar, mais do que produzir
algum fenômeno novo. Criar significa dar forma a um
conhecimento novo que é ao mesmo tempo integrado a
um contexto normal, nunca se trata de um fenômeno
separado ou separável, é sempre questão de estruturas.
Através da forma criada, se intensifica um aspecto da
realidade nova e com isso se reformula a realidade toda.”
(OSTROWER, 1987, p.134)
Na arteterapia a função do imaginário é fundamental, pois a pessoa
criativa, sua curiosidade é fertilíssima, acedendo a pensamentos, sentimentos,
memórias, aspectos da personalidade e do Self, alguns dos quais sem
representação mental consciente e carecendo de serem integradas, ela
demonstra-se mais segura mediante aos conflitos já que sua compreensão do
sentimento é mais profunda e intensa, é aberta a experiência e apresenta
grande aceitação negando –se a captar a realidade através de categorias pré
determinadas.
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“ Implica uma perda de rigidez, uma permeabilidade maior
nos conceitos, nas opiniões, nas percepções e nas
hipóteses. Implica uma tolerância pela ambiguidade
quando a ambiguidade existe. Implica uma capacidade
para receber a informação contraditória sem se fechar à
experiência da situação.” (ROGERS, 1970, p.154)
Essas experiências artísticas podem intensificar a expressão de
vivência, bem como incrementar a consciencialização do sensorial e do
equilíbrio estético. Neste processo ocorre uma tomada de consciência
importante, promovendo a riqueza, a vitalidade e a qualidade de vida.
“Assim, a auto-realização do “Self” (do si mesmo), dado
pelo exercício de “fenômenos efetivos” (os trabalhos com
as técnicas expressivas, possibilita a realização de
energia arquetípica em direção à individuação”.
(URRUTIGARAY, 2008 p.144)
1.3 Processo Arteterapêutico.
“Quem pretende se aproximar do próprio passado
soterrado deve agir como um homem que escava. Antes
de tudo, não deve temer voltar sempre ao mesmo fato,
espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se
revolve o solo. Pois “fatos” nada além de camadas que
apenas à exploração mais cuidadosa entregam aquilo
que recompensa a escavação. Ou seja, as imagens que,
desprendidas de todas as conexões mais primitivas, ficam
como preciosidades nos sóbrios aposentados de nosso
entendimento tardio, igual a torsos na galeria do
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colecionador. E certamente é inútil avançar em
escavações segundo planos. Mas é igualmente
indispensável à enxada cauteloso e tateante na terra
escura. E se ilude, privando-se do melhor, quem só faz o
inventário dos achados e não sabe assinalar no terreno
de hoje o lugar no qual é conservado o velho.”
(BENJAMIN, 1986, p.239)
Em um processo arteterapêutico é necessário proporcionar ao paciente
um ambiente acolhedor e facilitador.
Existem diferentes técnicas para trabalhar no primeiro momento. Esta
sensibilização tem como objetivo; criar um ambiente favorável, buscar uma
maior concentração, quebrar barreiras, promover relaxamento psíquico e
corporal abrindo um canal para atingir nosso consciente e nosso inconsciente.
Como exemplo, podemos desenvolver exercícios físicos de relaxamento e ou
dança com movimentos arquetípicos, desencadeando um processo de
conquista do seu eixo pessoal e a compreensão do limite entre si e o outro,
distribuindo a energia e centrando-se, ampliando sua a consciência corporal e
também como forma de baixar as tensões, promovendo uma “volta a calma”
antes do inicio da sessão.
Podemos usar a música como elemento relaxante. Para isso é comum o
uso de músicas suaves com sons harmônicos que propiciam um ambiente
tranquilo. A respiração é levada a níveis mais lentos, de calma levando o
individuo em contato de si mesmo, com o ambiente despindo-se de seus
problemas e pensamentos até chegar a um nível de relaxamento onde já não
há tantas defesas, o que permite acesso mais livre a camadas do inconsciente.
Assim, pessoas que por algum motivo apresentam dificuldades em
comunicar verbalmente seus conflitos internos ou até mesmo porque ainda não
são capazes de enxergar o que realmente está acontecendo. Usamos a
Arteterapia.
Às vezes, a linguagem verbal pode ser limitada e racional, dificultando
uma tradução limpa de sentimentos e sensações em palavras, já que podemos
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filtrar ou manipular aquilo que seria dito, organizando suas ideias, impedindo
que o mais importante seja falado, tocado e trabalhado. É neste momento que
a arte entra como desbloqueadora e libertadora, através dela e seus materiais,
escolhidos previamente tanto pelo cliente e em um trabalho mais complexo
pelo arteterapeuta, a sua utilização aproxima a pessoa da sensação e da
emoção, acessando conflitos não ditos e não explicados pela linguagem
verbal.
“As línguas constituem sistemas de comunicação verbal.
Conquanto a fala seja de maior importância, fator
fundamental de humanidade no homem, a nossa
capacidade de comunicar conteúdos expressivos não se
restringe a palavras, nem são elas o único modo de
comunicação simbólica.” (OSTROWER, 1987, p. 24)
Nessa produção com materiais artísticos em um ambiente facilitador, o
paciente produz; imagens, gestos, formas, símbolos trazendo conteúdos
inconscientes com consciente, que através da Arteterapia serão desvendados.
O auto conhecimento e a transformação do individuo é orientada por
símbolos, sob a visão junguiana, nos quais assimilam e informam estágios da
jornada da individuação de cada um.
A interpretação do que foi produzido é e sempre será do paciente, o
papel do arteterapeuta é de um mediador entre a obra e seu criador, levando-o
a reflexão, relacionando-a e subjetivando-a, desde que já seja possível.
17
CAPÍTULO II
A Arte do Mosaico
“O Mosaico é uma forma de arte decorativa que utiliza
tesselas (tesserae, pequenos bocados de vidro, mármore,
cerâmica ou pedra) para formar imagens ou padrões. È
um processo de grande adaptabilidade e variações sem
fim de motivos, materiais, cores e aplicações têm sido
exploradas ao longo dos tempos. O método de
construção de mosaico não sofreu alterações
significativas ao longo dos séculos e, apesar de ser uma
antiga forma de arte, aguentou o teste do tempo e tem,
presentemente, uma crescente popularidade como
processo artesanal versátil e contemporâneo.” (Soler,
2003, p.7)
2.1 A Arte Bizantina
O estilo bizantino procede de Bizâncio (Constantinopla), capital do
Império Romano do Oriente e baluarte da civilização cristã. Nesta cidade,
herdeira da glória de Roma, do conhecimento e da sabedoria do mundo
antigo, da arte e das tecnologias mais refinadas, os costumes e as formas
de vida eram muito influenciadas pelo Próximo Oriente Asiático e pela
fabulosa Pérsia. A arte bizantina constituiu numa mistura de influências
helênicas, romanas, persas, armênias e de várias outras fontes orientais,
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cabendo-lhe, durante mais de um milênio, preservar e transmitir a cultura
clássica grega.
Com fases alternadas de crise e esplendor, a arte bizantina se
desenvolveu do Século 5º, com o desaparecimento do Império Romano do
Ocidente enquanto unidade política, até 1453 quando Constantinopla capital
do Império Romano do Oriente, instituída sobre a antiga cidade grega de
Bizâncio, foi ocupada pelos exércitos otomanos.
Quase sempre estreitamente vinculada à religião cristã, teve como
objetivo principal exprimir o primado do espiritual sobre o material, da
essência sobre a forma, e a elevação mística decorrente dessa proposição;
expressando a autoridade absoluta e sagrada do imperador, considerado o
representante de Deus, com poderes temporais e espirituais.
O aspecto grandioso das figuras frontais, vigentes nas primeiras obras
da arte bizantina, deu lugar a formas que, embora ainda solenes e
majestosas, mostravam-se mais vivazes e variadas.
A história da arte bizantina pode ser dividida em cinco períodos, que
coincidem aproximadamente com as dinastias que se sucederam no poder
do império.
• Período Constantiniano;
• Período Justiniano;
• Período Macedoniano;
• Período Comneniano;
• Período Paleologuiano.
A influência bizantina repercutiu ainda em meados do Século 14,
sobretudo na obra dos primeiros expoentes da pintura veneziana.
2.2 – Mosaico e seu histórico.
A história dos mosaicos está entre as primeiras manifestações do ser
humano, sendo um pouco fragmentada, tendo florescidos em certos períodos
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e desaparecendo em seguida durante séculos e ressurgindo mais tarde com o
favorecimento de civilizações aparentemente desconexas.
Existem referências dessa técnica que datam de 3mil anos a.C. sendo
os sumérios seus criadores. Assim como os sumérios, os gregos também
utilizaram a técnica do mosaico como expressão artística e uso decorativo.
Os mais antigos eram constituídos por motivos simples feitos com
seixos, como alguns descobertos na Ásia Menor e nos jardins da China antiga.
Com o passar do tempo, os seixos maiores foram substituídos por mais
pequenos, dando origem a padrões e figuras mais aperfeiçoadas. Os seixos
tinham uma disposição mais aproximada para melhorar o pormenor, alguns
eram pintados alargando a paleta de cores, e posteriormente os contornos
foram acentuados com chumbo.
No século IV a.C. as tesselas foram introduzidas pela primeira vez
.Eram pedaços de pedra natural cortados em cubos, que possibilitavam uma
montagem mais aproximada das peças e melhor definição das imagens. Na
antiga Grécia, começaram por utilizar seixos para fazer pisos, paredes e
pavimentos de prédios públicos. Os Astecas utilizaram o mosaico para revestir
objetos cerimoniais com pedras preciosas. Acreditam que em Pompeia
mosaico feitos santuários e no exterior, foram construídos para provocarem
ilusão de espaço nos pequenos pátios das traseiras. As igrejas bizantinas
utilizaram a técnica para descreverem episódios da Bíblia, cenas do Paraíso e
ícones religiosos.
Conforme os impérios subsequentes iam alastrando pela conquista,
trocas comerciais ou religião, aumentava também sua procura. Com a troca de
conhecimento entre os artesãos as técnicas foram melhorando à medida que
viajavam até que, eventualmente, os mosaicos se espalharam pelos diferentes
continentes à sua volta do mundo. Micromosaicos, feitos com tesselas
minúsculas e muito juntinhas, foram populares durante a Renascença. Apesar
de serem tecnicamente brilhantes, parece que lhes falta algo, sendo utilizados
pelos artistas como um processo alternativo.
Tornando-se novamente popular, no início deste século na arte
decorativa, o mosaico foi utilizado tanto por artistas como arquitetos. Um dos
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arquitetos mais famosos deste século, Antoni Placid Gaudí (1852- 1926)
aparece trazendo novas concepções plásticas ligadas ao modernismo catalão.
Durante as duas guerras mundiais, a arte do mosaico foi negligenciada.
Ressurgindo na década de 1950, em todo o tipo de espaços utilitários
conseguiram sobreviver à moda de revestir toda e qualquer superfície de
parede disponível, com ladrilhos de piscina , monótonos e sem vida,
alcançando presentemente uma nova popularidade, transformando-se numa
visão familiar em projetos de arquitetura e obras de arte pública.
No Brasil, a Imperatriz Teresa Cristina, em 1852, tomou a iniciativa de
quebrar cacos de porcelana da casa Imperial, para revestir bancos, fontes e
paredes dos Jardim, das Princesas na área externa do Palácio da Quinta da
Boa Vista , nos Rio de Janeiro.
O Brasil, por volta de 1900 tomou a iniciativa de adquirir pisos em
mosaicos nos ateliês de Roma, Paris e Veneza para ornar prédios públicos no
Rio de Janeiro, como o Palácio Tiradentes, a escola de Belas Artes, o Teatro
Municipal entre outros. Em São Paulo temos o Centro Cultural Banco do
Brasil, o Palácio Elias Chaves e o Edifício da Politécnica. Esta difusão também
ocorreu em outros estados.
Mas, o mosaico tornou-se popular no Brasil em 1905, através do
Prefeito Pereira Passos, que mandou importar as chamadas “pedras
portuguesas” usadas nas calçadas da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio
de Janeiro. Em Copacabana, o desenho das ondas, imitando o mar, ficou para
sempre com a cara do bairro, tornando-se um logotipo internacional. O
desenho foi trazido pelos calceteiros portugueses, mas não tinha então a
volúpia curvilínea que se nota, o paralelismo só foi adotado no inicio dos anos
30, depois que mais uma ressaca das grandes arrebentou com boa parte do
piso.
O período de maior difusão do mosaico foi nos anos 50, vários prédios
de Copacabana exibem esse registro em sua portaria ou nas fachadas,
assinadas por nomes ilustres como Portinari, Di Cavalcanti, Clóvis, Athos
Bulcão e outros.
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O arquiteto-paisagista Roberto Burle Max (1909-1994) deixou também
sua contribuição com várias obras em praças brasileiras, utilizando-se de
pedras para compor mosaicos, entre elas a responsabilidade de refazer a orla
de Copacabana.
Oscar Niemeyer (15/12/1907) arquiteto brasileiro, considerado um dos
nomes mais influentes na Arquitetura Moderna Internacional, inclui em muitos
de seus projetos o mosaico.
Ocupando um lugar de arte complementar na arquitetura, dos anos 90
para cá, hoje temos uma legião de artistas e artesãos que aderiram ao
movimento musivo.
2.3 – Mosaico e sua técnica.
O mosaico é uma técnica que qualquer pessoa pode aprender a fazer,
é um trabalho manual relativamente simples, mas que utilizando as técnicas
corretas e fazendo com amor pode atingir resultados surpreendentes. Consiste
na colocação lado a lado de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes
sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas pedras coloridas são
dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a
superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços
vazios, aderindo melhor os pedacinhos de pedra.
Essa técnica deve ser proposta não com o objetivo de fragmentar uma
imagem, mas de buscar as vibrações coloridas. Dá-se um tema simples e
suscita-se o interesse, mostrando reprodução de verdadeiros mosaicos, tais
como os de Ravenne, por exemplo. Salienta-se o que é próprio a essa técnica,
a multiplicidade das nuanças trabalhadas em justapostas e que se fazem valer
reciprocamente, o ritmo do posicionamento das pedras próprios para ressaltar
as formas, os vazios que, também, colocam o desenho em evidência.
Há três tipos de técnicas para aplicação do mosaico: Técnica direta -
onde as tesselas são aplicadas no cimento fresco, uma a uma; Técnica indireta
– as tesselas são coladas de cabeça para baixo em um papel ou tecido e são
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transportadas ao local exato. O mosaico é acimentado na parede ou no piso e
após seco, o papel ou o tecido é retirado; Técnica semidireta – o mosaico é
feito em uma tela flexível. A tessela é colada na posição normal. A tela é
transportada ao local e acimentada.
Podemos trabalhar com os seguintes materiais: cerâmica, papel, vidro,
plástico, tecido, elementos naturais.
2.3.1– Mosaico e sua técnica em arteterapia.
A palavra mosaico tem origem na palavra alemã mouseen, a mesma
que deu origem à palavra música, que significa próprio das musas, algumas
fontes traduzem como “paciência das musas”. Mosaico, a arte da paciência e
da paixão.
A maneira de propor a consigna é determinante, pois o arteterapeuta
precisa levar em conta as necessidades e intenções apresentadas dentro do
ateliê terapêutico, escolhendo a melhor maneira para aplicar a técnica, já que
existem diferentes formas e materiais, para objetivação das representações,
trazendo assim em ordem de um código (signo) compreensível para o sujeito,
tendo este uma simbologia (significante) pessoal. Provocando um efeito, um
estímulo, uma possibilidade, enfim uma emoção.
“... precisamos entender os efeitos plásticos produzidos
pela manipulação dos elementos visuais, tais como a
utilização de linhas, as formas, a presença de volume, de
massa, o uso das cores, a composição de novas formas,
por introdução e mistura de diferentes materiais etc. Mas
não com a intenção de julgamento de padrão estético, ou
seja, avaliando a forma pela forma, mas sim a forma pelo
conteúdo que expressa...“ (Urrutigaray, 2008, p.95)
Desencadeando um movimento que apresenta-se como
desestruturador, sendo que em seguida chega-se a possibilidade real e
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imediata de dar a cada pedaço, cada caco uma nova estrutura. O ato de colar
exerce um papel definitivo, dando sentido e indicação à forma final. A emoção
de encontrar-se através da obra que é produzida ultrapassa o momento de
desconstrução, representa a medida exata da intensidade simbólica da
atividade.
“A partir da análise da forma, o individuo vai efetuando
pontes entre seus aspectos individuais (como
necessidades a serem compreendidas) e os aspectos
culturais incorporados (como os ideais sociais)”.
(Urrutigaray, 2008, p.91)
Durante o processo, o mosaico possibilita a ordenação, integração,
resignificação, reestruturação e transformação pessoal.
“O profissional em arteterapia destina-se, assim, como
agente facilitador do processo de busca pela “totalidade
psicológica”, ou realização do Self, ao exercício de
estimulação da criação e ao de observar e acompanhar o
processo de criação. De maneira que seu “atentar” deve
dirigir-se para o que vê e ouve durante a dita execução da
obra.” (Urrutigaray, 2008, p.101)
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CAPÍTULO III
Teoria de Piaget associado a um estudo de caso.
“... uma integração à estruturas previas, que podem
permanecer invariáveis ou são mais ou menos
modificadas por esta própria integração, mas sem
descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem
serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à
nova situação.” (Piaget, 1996, p.13)
3.1 Jean William Fritz Piaget e sua obra.
Jean William Fritz Piaget nasceu dia 09 de agosto de 1886 em
Neuchâtel – Suiça e faleceu no dia 17 de setembro de 1980, em Genebra.
Sua formação superior e universitária foi em Ciências Naturais – Biologia
estudou também Filosofia. Trabalhou como psicólogo experimental em
Zurich. Considerado um dos pensadores mais importantes do século XX,
escreveu livros, monografias e artigos. Desenvolveu diversos campos de
estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e a
epistemologia genética, com o objetivo de entender como o ser humano
evolui. Explica o desenvolvimento intelectual a partir da ideia que os atos
biológicos são atos da adaptação ao meio físico e ao meio ambiente,
sempre tentando manter equilíbrio. Defendeu uma abordagem
interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia
Genética.
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Formulou sua teoria defendendo que o conhecimento evolui
progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas
às outras através de estágios. Cada estágio é um período caracterizado por
uma forma especifica de conhecimento e raciocínio. São 4 estágios:
sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
Seus estudos tiveram grande impacto sobre os campos da Psicologia e
Pedagogia. Modificou a teoria pedagógica tradicional, na qual acreditavam
que a mente da criança era vazia, esperando ser preenchida, mudando
assim a forma de trabalhar com as crianças, já que estas na sua visão são
as próprias construtoras ativas de seu conhecimento.
Nos últimos anos de sua vida centrou seus estudos no pensamento da
Teoria de Equilibração das Estruturas Cognitivas.
3.2 – Estudo de caso – Sujeito.
Após a tragédia várias pessoas e entidades sentiram a necessidade de
oferecerem cursos, oficinas, terapias, atendimento psicológico e até mesmo
sua atenção para as famílias atingidas em um trabalho voluntário. Foi
visitando um grupo desses que conhecei a senhora K.
Senhora K, nasceu em 1962, apresenta boa aparência, magra, morena
clara, alta e educada. Precisou começar a trabalhar nova para sua
sobrevivência, não pode estudar. Mãe solteira de 2 filhos adultos, criados e
formados, trabalhava em uma casa de família como empregada doméstica há
mais de 20 anos. Morava em uma casa ampla de 2 quartos, sala, cozinha,
banheiro, área, quintal, com jardim. Amava sua casa e suas flores. Com a
tragédia do dia 12/01 deste ano, sua casa foi interditada com risco de ser
atingida por deslizamento, pois 7 casas de vizinhos deslizaram e atingiram 2
casas ao lado da sua. Casas essas de seus irmãos que perderam tudo, num
total de 4 irmãos, onde todos moravam perto e que da noite para o dia ficaram
sem moradia.
26
Sendo assim, precisou sair da sua casa, seu bairro e ir morar com sua
filha, que a abrigou com seu irmão, um tio e um primo. Viu sua família ser
totalmente afastada, apesar de saber que todos saíram com vida, ficou muito
triste, pois sua casa era tudo que tinha materialmente.
Acompanhando essa e outras estórias, ofereci para o grupo diferentes
oficinas de Artes na qual a Senhora K. interessou-se pelo Mosaico. Logo me
chamou atenção e pedi se poderia acompanhá-la e desenvolver um trabalho
de Arteterapia, contemplando meu estudo para minha monografia, ela se
sentiu muito honrada e permitiu.
3.2.1 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:
Desequilíbrio
Na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, as cidades da Região
Serrana do Rio de Janeiro sofreram com fortes chuvas. Em Teresópolis por
volta das 2hs até às 4hs30 da madrugada choveu o equivalente a mais de 30
dias. Atingindo bairros que receberam mais de 10 trombas d’águas, que vieram
trazendo pessoas, casas, árvores, pedras, o que tinha pela frente. Um
fenômeno jamais visto e assustador. Mudando completamente a vida de todos
aqueles que sobreviveram e de uma forma em geral de toda comunidade
envolvida.
Senhora K, perdeu nesta madrugada sua maior segurança, a única
coisa material que tinha, que era a sua casa, herança de seus pais. Casa onde
sua mãe deu a luz aos 11 filhos no qual somente 7 sobreviveram. Onde viveu
feliz com seus filhos, casou sua irmã mais nova e recebia toda sua família em
todas as datas festivas, pois era como a casa de todos. As lembranças que em
cada pedacinho de terra, em cada tijolo, em cada cerâmica contava uma
história da luta daquela família que após tantas dificuldades estavam vencendo
juntos na vida e com muita honestidade. Perdeu também a vida de alguns
27
queridos vizinhos e saudosos amigos, a convivência diária com seus irmãos e
familiares e seus projetos como a reforma da casa entre outros.
Um momento difícil como este afeta profundamente todos os
envolvidos, o sentimento de tristeza, perda e luto predomina a qualquer outro
pensamento.
Iniciei às atividades, no dia 06/02 deste ano com a Senhora K.
apresentei as diferentes possibilidades com os diferentes materiais para se
fazer Mosaicos. Para minha surpresa e alegria ela escolheu o Mosaico com
material reciclado. Disse que sua filha gosta que ela separe o lixo reciclável e
que seria interessante ver como isso funciona.
Então combinamos de lavar e guardar embalagens plásticas coloridas.
Pegamos essas embalagens e começamos a cortar as peças. A cada
embalagem, novas estórias de sua família, lágrimas se faziam presente
durante as narrações, a tristeza pelo momento se misturava com a alegria das
lembranças. Ela chorava muito, mas não parava de cortar.
3.2.2 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:
Assimilação
“... a assimilação constitui um processo comum à vida
orgânica e à atividade mental, portanto, uma noção
comum à fisiologia e à psicologia.” (Piaget, 1996, p.47)
Senhora K. precisou tentar pegar algumas coisas na casa interditada e
aceitar o convite de sua filha ou ir para um abrigo municipal. Aceitou o convite
de sua filha e foi com seu filho, levando também um sobrinho, que depois
levou seu pai, irmão mais velho da Senhora K.
Todos tiveram que enfrentar a situação, repensar e refazer seus planos
para uma nova forma de viver.
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No momento de organizar as peças cortadas, ela pediu para separar
por cor e seus tons, em potinhos diferentes, para facilitar na hora da colagem.
Iniciamos o processo e novas estórias foram divididas, mas agora o assunto
era sobre a nova moradia. Falou-me que nunca pensou em morar em um
apartamento, mas que este, era bem arejado, claro e de frente para uma rua
movimentada. Detalhou sua organização, onde ela está dormindo, a filha, o
filho, o sobrinho, o irmão, quais são as tarefas de cada um e como ficou divido
os gastos.
“A assimilação não se reduz (...) a uma simples
identificação, mas é construção de estruturas ao mesmo
tempo que incorporação de coisas a essas estruturas.”
(Piaget, 1996, p.364)
Sendo a matriarca da casa, ela queria fazer tudo com muito carinho
para todos, muito trabalho em casa, além do trabalho no emprego. A senhora
k. já tinha dimensão do que lhe acometeu, não olhava mais só para seus
problemas, conseguia ver que tudo aquilo que tinha acontecido com ela e que
perto de outras estórias, o dela não era tão pesado. Já tinha em mente que
precisava superar para a vida continuar e crescer.
Estava ansiosa para começar sua produção, levou diferentes figuras
para poder trabalhar, queria produzir. Lixou e pintou diferentes peças em
madeira MDF, sempre comentando onde ela usaria na casa nova.
3.2.3 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:
Acomodação
29
“... a assimilação e a acomodação são (...) os dos polos
de uma interação entre o organismo e o meio, a qual é a
condição de todo funcionamento biológico e intelectual.”
(Piaget, 1996, p.309)
Senhora K. decidiu fazer sua primeira peça, escolheu uma caixa
média, não sabia direito se queria uma figura ou apenas colar as pecinhas, até
que ao organizar algumas peças na tampa da caixa lembrou-se do seu jardim
e suas flores, e assim começou a tentar fazer, mesmo sem desenho.
Disse que na frente de sua casa tinha uma linda roseira, que seus
vizinhos pediam suas rosas, principalmente as crianças no horário da escolar.
Pela primeira vez nesses contatos a Senhora K. não chorou!
Demonstrando naquele momento que a vida continua, que ela é capaz
de entender o que aconteceu, se adequar as novas possibilidades, moldar
essa situação a sei favor.
Criar uma peça para sua casa nova com lembranças da antiga, apesar
de parecer uma simples reação, não é um processo simplesmente mecânico; a
acomodação é a origem da aprendizagem.
Demonstrando pouca habilidade com o trabalho manual, fez sua
colagem com muito interesse e carinho, prestando atenção em todas as
instruções e detalhes, apresentando muito orgulho e alegria pela sua
produção.
Minha Querida Roseira, foi o título da sua primeira produção e ao
concluí-la, não quis mais parar. Sua técnica foi se aperfeiçoando, seus temas
um paralelo de sua vida.
Seus comentários tomaram um novo sentido, deixou de ficar
lamentado e chorando, passou a planejar e querer mudar.
3.2.4 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:
Equilibração
30
“... em um certo sentido, uma equilibração progressiva,
uma passagem contínua de um estado de menor
equilíbrio a um estado de equilíbrio superior.” (Piaget,
1976, p.123)
Durante esses (10) meses de acompanhamento, a Senhora K. relatou
como a sua vida era difícil e sofrida, e como aqueles momentos fazendo
mosaico estavam lhe ajudando. Parecia que ali ela tinha o controle, e que na
vida isso já não é possível. Falou que como no Mosaico tudo depende de
quem cria, na vida também é assim, tudo depende da gente, no momento de
nossas escolhas.
Comentou que em uma de suas produções, na qual se lembrou da
infância, sentiu a necessidade de voltar a fazer doces, para família e também
para vender. No dia seguinte, pegou um dinheirinho que estava guardando foi
ao supermercado e comprou o material. Chegando em casa fez seus famosos
brigadeiros. Sua família ficou muito feliz e todos a incentivaram, sua filha levou
para vender no trabalho, suas irmãs compraram, e seus novos vizinhos
também. Conseguiu 2 lojas de doces, perto de sua casa, para revender e
varias encomendas, até para um casamento.
Apesar de tudo que havia passado, ela estava feliz. Disse que assim
como no Mosaico que precisa ser construído, ela reconstruiu sua vida, peça
por peça e vai modificar seu futuro. Suas expectativas ampliaram! Tudo
mudou, mas foi para melhor, pretende sair do seu emprego, pois está com
muitas encomendas fixas, para mais 2 lojas, fora as encomendas avulsas, que
são muitas. O filho, está fazendo um curso em outra cidade. Seu irmão
conheceu uma senhora e casou- se, foi morar com ela e levou o filho. Ensinou
a técnica do Mosaico para sua filha, que com maior habilidade está fazendo
para vender. Todos estão crescendo. A vida está com uma nova forma, uma
nova cor!
Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da
construção.
31
CONCLUSÃO
O mosaico como ferramenta no processo arteterapêutico, facilitou a
concretização de forma material, aquilo que é inatingível. Trabalhando
efetivamente fatores cognitivos, motores e principalmente emocionais.
Possibilitando autoconhecimento, integração e organização, afirmação,
independência e capacidade de escolher.
O material simbólico registrado nos permitiu acompanhar a trajetória da
individuação, na qual consciente e inconsciente se encontram e formam a
totalidade, traduzindo o que nenhuma palavra pode falar.
Recurso terapêutico que foi de grande importância na vida da Senhora
K. já que este respeitou seus limites, seu próprio tempo, em um momento de
grande tristeza e transformação. Na qual, devido a sua grande vida interior,
como as cores por ela usadas, nos mosaicos, foi capaz de enfrentar e buscar
uma reestruturação e transformação pessoal e material juntamente com toda
sua família. Dos cacos a forma, ou do caos a forma, ou até mesmo, do que
restou da sua antiga vida a uma vida nova. A princípio tendo como maior
objetivo de trabalhar com o mosaico para lhe proporcionar bem-estar, pôde
acompanhar no decorrer dos meses todo seu crescimento e fortalecimento,
enfrentando, refletindo e criando novas possibilidades. Ordenava as peças
para colagem manualmente e compartilhava como sua nova casa estava
sendo organizada. Um paralelo rico, cheio de significado para quem
acompanha terapeuticamente.
Um exercício prático, com mediação de instrumentos plásticos para
comunicação, proporcionado à transformação pessoal, isso é, arteterapia.
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ANEXOS
Índice de anexos
Registros importantes para compreensão do trabalho.
Anexo 1 >> Internet
Anexo 2 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.I;
Anexo 3 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.II;
Anexo 4 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.III;
Anexo 5 >> Internet; Anexo 6 >> Registro fotográfico do trabalho com Mosaico; Anexo 7 >> Internet.
33
ANEXOS 1
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Chuvas causam a maior tragédia da região serrana do Rio de Janeiro
Número de mortos já passou de 300; desabrigados chegam a quase mil �
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Do R7, com Rede Record I 13/01/2011 às 07h24�
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38
ANEXO 5
Internet
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/chuvas-no-rj/noticia/2011/01/depois-da-
tragedia-da-chuva-teresopolis-sofre-com-saques.html
Portal G1 RJ. – Bernardo Tabak e Thamine Leta - �������������� ��������
Depois da tragédia da chuva, Teresópolis sofre com saques Prefeito da cidade confirma dois assaltos no Centro da cidade. Comerciantes chegaram a fechar as portas.
Um tumulto foi provocado por criminosos no Centro da cidade de Teresópolis na
manhã desta sexta-feira (14). De acordo com informações da assessoria de
comunicação da prefeitura, houve dois assaltos a lojas do Centro, próximas à Calçada
da Fama, a mais importante área de comércio de Teresópolis.
A cidade foi uma das mais afetadas pela chuva que cai nos últimos dias na Região
Serrana. Mais de 200 pessoas já morreram no município. Ao todo, a tragédia já
deixou mais de 500 mortos em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis.
Assustados, muitos comerciantes chegaram a fechar as portas. “O coronel do batalhão
da PM acabou de me dizer que houve um assalto em duas lojas do Centro de
Teresópolis. A polícia está no local”, afirmou o prefeito de Teresópolis, Jorge Mário.
“Não houve arrastão, nem saques em demais estabelecimentos. Só que as pessoas
entraram em pânico e isso gerou confusão. Mas foi um boato que gerou pânico, só
isso”, complementou.
Segundo a assessoria da prefeitura, o comandante do 30º BPM (Teresópolis)
informou que o policiamento está reforçado no Centro. Ainda segundo a assessoria,
Guardas Municipais também foram deslocados para patrulhar a Calçada da Fama e as
ruas próximas.
40
ANEXO 7
INTERNET
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/01/regiao-serrana-do-rj-sofre-
com-tragedia-que-completa-um-ano.html
Edição do dia 12/01/2012
13/01/2012 00h46 - Atualizado em 13/01/2012 00h46
Região Serrana do RJ sofre co tragédia que completa um ano
Segundo o Ministério público, são mais de 200 desaparecidos,
e muito mais de acordo com os moradores. Centenas de
famílias ainda não encontraram os parentes. Pra elas, dor se
mistura à incerteza. �
Mônica Teixeira Teresópolis, RJ��
Um ano atrás, quase 1.000 pessoas morreram na Região Serrana do Rio de Janeiro na maior catástrofe natural do país, causada pelas chuvas. A reportagem do Jornal da Globo visitou Teresópolis, uma das cidades mais atingidas pela tragédia de janeiro de 2011.
Márcia de Jesus Amorim perdeu o marido, a sogra, cinco filhos e um neto. Não pôde participar dos enterros. “Só consegui ver nesse o dia o meu filho, o Igor, de seis anos. Mesmo assim, não pude nem chegar perto, porque estava com a minha perna estraçalhada”, diz. Os corpos de dois filhos ainda estão desaparecidos.
As cicatrizes da tragédia estão por toda a parte. Em uma casa, móveis e objetos estão exatamente onde ficaram quando a água baixou. Na cozinha, ainda há louça em cima da pia. O que era lama, agora é terra seca. Caminhando pela casa, a sensação é de que o tempo parou. Nada foi feito.
Em outro cômodo, ficou o que restou de uma mesa, do sofá e, no chão, um controle remoto. Na casa da vizinha, Shirley, ainda é possível ver até onde a água chegou. O que não chegou até hoje foi ajuda.
“Nenhum tipo de ajuda. Nem o dinheiro do aluguel recebi. Até hoje, nada. A sensação é de perda total, e de um vazio da pessoa não ter. Parece que não tem ninguém para ajudar”, afirma a dona de casa Shirley Cruz Sousa.
41
Foram resgatados 918 corpos dos escombros e da lama, mas existem outras vitimas da tragédia: são os desaparecidos. Cerca de 200, segundo o Ministério Público. e muito mais, de acordo com os moradores. Centenas de famílias ainda não encontraram os parentes. Para elas, a dor se mistura à incerteza.
A praça da cidade virou ponto de encontro de gente que compartilha a mesma angústia, como a de uma mãe com esperança de encontrar a filha. “Eu não consigo viver, não consigo comer. Não ouço uma música, não vou a uma festa. Eu só vivo em busca de Ana Clara. Para amenizar minha busca, eu preciso da resposta”, diz Cláudia de Oliveira, dona de casa.
Verônica Dutra e Fernando perderam quatro filhos. Eles mesmos encontraram dois, mas Hiasmin, de dez anos, e Cauan, de um ano, continuam desaparecidos. A esperança agora é a chegada de Ana Luiza.
42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA
1 - ELIADE, Mircea. Imagens e Símbolos. Ensaios sobre o simbolismo
mágico-religioso. SP: Martins Fontes, 1991
2 -BENJAMIN, W. Escavar e lembrar; o narrador; testes sobre a filosofia da
história. SP: Brasiliense, 1986.
3 - CIORNAI, S (org.). Percursos em Arteterapia: arteterapia gestaltica, arte em
psicoterapia, supervisão. SP: Summus, 2004.
4 - GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: O Homem Criativo. SP: FTD, 2003.
5 - JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Nova Fronteira, 1964.
6 - OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos criativos. Petrópolis, Vozes.
1987
7 - PAIN, S. e JARREAU, G. Teoria e Técnica da Arteterapia. SP, Artes Médica
Sul. Ltda
8 - PHILIPPINI, Ângela. Cartografia da Coragem – Rotas em Arteterapia. RJ:
Clínica Pomar, 2001.
9 - PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro:
Zahar, 1976.
10 - PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento: ensaio sobre as relações entre
as regulações orgânicas e os processos cognoscitivos. Petrópolis: Vozes,
1996.
11 - PROENÇA, Graça. História da Arte. SP: Ática, 1999.
43
12 - SOLER, Fran. Artes e Ofícios dos Mosaicos: Técnicas e projetos
clássicos. Livros e Livros, 2003.
13 - URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
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ÍNDICE
CAPA 1
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Arteterapia 10
1.1 – Arteterapia e seu histórico 10
1.2 – Fundamentação Metodológica 12
1.3 - Processo Arteterapêutico 14
CAPÍTULO II
A Arte do Mosaico 17
2.1 – A Arte Bizantina 17
2.2 – Mosaico e seu histórico 18
2.3 - Mosaico e sua técnica 21
2.3.1 – Mosaico e sua técnica em arteterapia 22
CAPÍTULO III Teoria de Piaget associado a um estudo de caso 24
3.1 – Jean William Fritz Piaget e sua obra 24
3.2 – Estudo de caso - Sujeito 25
3.2.1 – Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Desequilíbrio. 26
3.2.2 – Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Assimilação 27
3.2.3 - Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Acomodação 28
3.2.4 - Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Equilibração 29
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