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RELAT Ó ANUAL ADPP Moçambique - Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo 2014 RI O

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R E L A T ÓA NU A L

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Nas páginas deste Relatório encontrará uma visão de alguns dos principais resultados alcançados durante o ano de 2014 nos vários sectores de actividade da ADPP Moçambique, como a Educação, Saúde, Agricultura e Energias Renováveis e nele poderá verificar o impacto que estas actividades têm tido na vida das pessoas – elas são o objectivo do nosso trabalho.

Desejamos-lhe uma leitura agradável!

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Escola Secundária

Escola Primária

Colégio Politécnico

Escola dos Professores do Futuro – EPF

One World University ISET/OWU

Clube de Agricultores

Centro de Caju e Desenvolvimento Rural de Itoculo

Projecto de Alimentação Escolar – Comida Para o Saber

Energias Renováveis

ADPP Sede

TCE – Total Controlo da Epidemia

TC-TB – Total Controlo de Tuberculose

HOPE – Projecto Esperança

CCDC – Centro de Desenvolvimento de Competências

LEGENDAS

Programa de Alfabetização

Angariação de fundos através da venda da roupa em segunda mão (lojas a grosso)

Angariação de fundos através da venda da roupa em segunda mão (lojas a retalho)

Angariação de fundos através da venda da roupa em segunda mão (processamento)

We All Make a Better School – Nós fazemos uma Escola Melhor

Nikhalamo – Raparigas Ficam na Escola

O�cinas Pedagógicas

Projecto 70 Escolas Pré-Primárias

Mapa dos Projectos da ADPP Moçambique 2014

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1. Introdução: ADPP Moçambique 4

2. Humana People to People 6

3. EDUCAÇÃO 7One World University 8Escolas de Formação de Professores 11Formação Profissional 14Escolas Primárias e Secundárias 17Projeco de Alimentação Escolar - Comida para o Saber 20Outros Projectos de Educação 23

4. SAÚDE 25TCE – Total Controlo da Epidemia 26HOPE 29TC-TB – Total Controlo de Tuberculose 32

5. AGRICULTURA 35

6. ENERGIAS RENOVÁVEIS 38

7. ANGARIAÇÃO DE FUNDOS 41

8. ADPP IN NUMBERS 44

AGRADECIMENTOS 46

ÍNDICE

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(...) Operamos com a iniciativa privada e com os patrocinadores públicos.

Em nome das muitas crianças, estudantes e agricultores, das muitas famílias nos projectos e dos doentes e pobres, a quem cada contribuição beneficia, nós estamos gratos por esta oportunidade e agradecemos a todos os benfeitores e doadores. Nós sempre presenciamos as mais nobres e sinceras razões para as doações dos patrocinadores.

No momento de maior necessidade, quando a doação é da maior importância, nós escutamos os corações dos humanistas, quando estes corações batem cheios de generosidade e do mais profundo entendimento e simpatia. (...)

A Carta, Federação Humana People to People, 1998

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ADPP é uma Associação Não-Governamental registada em Moçambique em 1982.A sua missão é trabalhar no espírito do humanismo solidário para promover o desenvolvimento social e económico equitativo do povo, com o objectivo de garantir que todas as pessoas possam participar do desenvolvimento do seu país e desfrutar empleno dos seus direitos humanos. A ADPP Moçambique dá uma especial atenção àqueles que se encontram numa situação mais vulnerável: mulheres e crianças, órfãos e os pobres das zonas rurais.

As principais áreas de actividade da ADPP Moçambique são Educação, Saúde, Desenvolvimento Rural e Energias Renováveis. Um ênfase especial é dado à melhoria do ensino primário, à luta contra a epidemia de HIV/SIDA e à tuberculose ao aumento da segurança alimentar e dos meios de subsistência nas áreas rurais do país. Todos os programas da ADPP Moçambique promovem o desenvolvimento integral e inclusivo das comunidades locais ao nível de base: acreditamos que apenas trabalhando ao lado dos pobres podemos alcançar resultados de desenvolvimento sustentável.

A ADPP Moçambique implementa atualmente mais de 60 Projectos que abrangem todas as províncias do país, emprega mais de 3.000 funcionários e beneficia anualmente mais de 2 milhões de moçambicanos.

1. A D P P M O Ç A M B I Q U E

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A ADPP Moçambique é co-fundadora e membro da Federação das Associações Ligadas ao Movimento Internacional Humana People to People, uma rede de 32 Organizações Não Governamentais de desenvolvimento independentes que agem em 43 países da Europa, América do Norte, África, Ásia e América Latina. A cooperação formal dos membros da Humana People to People, existente desde 1989, chega hoje a mais de 13 milhões de pessoas em todo o mundo através de mais de 700 projetos de desenvolvimento.

A Sede da Federação, criada em 1996 está localizada no Zimbabwe e é um ponto de encontro onde os membros da Federação podem partilhar experiências e melhores práticas, recebem apoio para o desenvolvimento de programas, desenvolvem uma voz comum para intervir nos fóruns internacionais e reforçam a sua cooperação no desenvolvimento sustentável a longo prazo em todo o mundo, aumentando assim o impacto global do seu trabalho.

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H U M A N A P E O P L E T P LO E O P E2.

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A ADPP Moçambique acredita que a educação é uma das formas mais importantes de investir no desenvolvimento do país. Assim, é dado um papel central à educação em todos os seus projectos de desenvolvimento. Além de ter formado mais de 14.206 professores para o ensino primário nas suas 11 Escolas de Formação de Professores, a ADPP gradua anualmente cerca de 90 novos licenciados em Pedagogia e Desenvolvimento Comunitários nas duas licenciaturas ministradas pela One World University/Instituto Superior de Educação e Tecnologia (OWU/ISET) e aumenta e melhora o acesso à formação técnico-profissional de qualidade através dos seus 3 Colégios Politécnicos. A ADPP Moçambique implementa ainda vários projectos que visam o fortalecimento do acesso à educação dequalidade e à melhoria do ensino em todos os níveis do sistema educativo, desde o ensino primário à alfabetização, entre outros.

3. E D U C A Ç Ã O

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Ismail Mario Mujala sempre foi um aluno brilhante. Irmão mais velho de cinco filhos de um funcionário do banco e de uma mulher polícia de Nampula, o jovem de 21 anos de idade começou a fazer ocurso de licenciatura em Gestão e Marketing numa Universidade da cidade logo que concluiu o ensino secundário. Em breve, ele e os seus pais saberiam que a vida iria mudar drasticamente.

“Um dia deparei-me com um folheto que falava sobre um curso de 3 anos em Desenvolvimento Comunitário, ministrado a mais de dois mil quilómetros de distância, na One World University”, lembra Ismail. “De repente, senti que o que estava a aprender era vazio e sem sentido. Eu queria fazer algo mais pelo meu país – alguma coisa através da qual eu poderia realmente mudar a vida das pessoas e ajudá-las a sair da pobreza. Ao perceber que havia um curso que me poderia preparar para fazer isso, fiquei realmente animado. Nem pensei duas vezes!”

Estudar na One World University acabou por ser mais desafiador e mais desafiante do que Ismail tinha pensado inicialmente. “Viver num ambiente de internato e sabendo que não iria ver a minha família por mais de dois anos foi difícil no início”, lembra ele.

“Os meus estudos e a vida muito intensa na OWU e motivadora em breve me fizeram esquecer tudo isso: eu devorava tudo o que podia ouvir, ler, experimentar, desde o português à matemática e à história até muitas habilidades para a vida, técnicas de

comunicação e cursos de liderança – tantas matérias fascinantes que me ajudaram a ver o desenvolvimento comunitário de uma forma mais estruturada.”, conta com verdadeiro entusiasmo.

“Mal posso esperar para arregaçar as mangas e começar a trabalhar!”

O N E W O R L D U N I V E R S I T Y

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A parte mais emocionante dos estudos foi, no entanto, o período de especialização de seis meses realizado nas comunidades de Nwachicolane em Chokwé, província de Gaza. “A melhor coisa nos estudos da OWU é a forte ligação entre a teoria e a prática”, explica Ismail.

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“Foi nas aldeias de Pamoane e Titite que tudo o que tinha estudado durante a minha licenciatura foi posto à prova. Identifiquei as razões locais da pobreza, fiz um plano para lidar com algumas delas e ensinei tudo o que sabia sobre higiene e nutrição aos membros da comunidade. Em contrapartida, foi-me dada uma experiência em primeira mão sobre como implementar de forma holística iniciativas de desenvolvimento, trabalhar com grandes grupos de forma inclusiva, actividades de liderança comunitária através de uma abordagem participativa, encontrar soluções eficazes para futuros desafios e comunicar com vários tipos de pessoas. Também aprendi várias novas habilidades que serão úteis quando trabalhar em contextos rurais, incluindo a forma de aumentar a ingestão de cálcio numa dieta pela adicção de casca de ovo nos alimentos ou tratar uma dor de dente com ervas locais!”, descreve Ismail.

Actualmente na recta final do curso de 3 anos em Desenvolvimento Comunitário – Lutando ao Lado do Pobre, Ismail não tem quaisquer dúvidas sobre o seu futuro: “Eu me sinto-me confiante e pronto para começar a trabalhar como o agente de desenvolvimento comunitário que sempre quis ser. Esta será a minha contribuição para o desenvolvimento do meu país. Mal posso esperar para arregaçar as mangas e começar a trabalhar!”

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One World University – Instituto Superior de Educação e Tecnologia (OWU/ISET)

A One World University - Instituto Superior de Educação e Tecnologia (OWU/ISET) é um Instituto de Ensino Superior estabelecido pela ADPP em 1998 e lançado oficialmente em 2005. A Universidade, localizada em Changalane, Província de Maputo, treina profissionais nas áreas de Pedagogia e Desenvolvimento Comunitário (“Lutando ao Lado do Pobre”). Ambos os graus são também oferecidos através do ensino à distância, que gradua um total de cerca de 40 estudantes de diversos países.

A Licenciatura em Pedagogia qualifica os graduados para leccionar em Escolas de Formação de Professores e em outras instituições de ensino e a Licenciatura em Desenvolvimento Comunitário equipa os alunos com as habilidades necessárias para o planeamento e gestão de projectos de desenvolvimento comunitário participativos e holísticos.

RESULTADOS EM 2014

• 55alunosformaram-senaOWUem2014(28emPedagogiae27emDesenvolvimentoComunitário)

• 103alunosestudaramnaFaculdadedePedagogia

• 136alunosestudaramnaFaculdadedeDesenvolvimentoComunitário

• 40alunosgraduadose340inscritosatravésdaopçãodeensinoàdistância

• Atéàdata,umtotalde659alunosformaram-sepelaOWU(409emPedagogia,120emDesenvolvimentoComunitárioe130atravésdeensinoàdistância)

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“O meu sonho foi sempre tornar-me uma professora e trabalhar com crianças. Neste sentido, o meu sonho está agora a tornar-se realidade “, revela a jovem de 22 anos de idade Isabel Júlia Mucone durante uma pausa nas sua práticas pedagógicas que estão a decorrer numa escola primária vizinha da EPF de Mauto da ADPP. “Sempre gostei de aprender”, especifica. “Gostaria de transmitir a mesma alegria de aprender aos outros.”

Há algo na maneira encorajadora como Isabel interage com seus alunos e na curiosidade com que as crianças olham para ela que não deixa nenhum espaço para dúvidas: Isabel está claramente a fazer aquilo em que é competente. De vez em quando, ela senta-se ao lado dos seus alunos para os ajudar a resolver um problema ou um exercício mais difícil. O brilho nos

olhos das crianças ao lado das quais ela se senta permanece durante

muito tempo após ela se levantar para outro

ponto da sala de aula.

“Deve ser dado um papel activo às crianças no processo de aprendizagem” – Isabel Júlia Mucone, estudante da Escola de

Professores do Futuro de Maputo

E S C O L A S D EF O R M A Ç Ã O D E P R O F E S S O R E S

Escolas de Professores do Futuro

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“Uma das coisas mais importantes que aprendi durante os meus estudos na EPF da ADPP é que as crianças devem ter um papel activo no processo de aprendizagem”, explica Isabel. “Isso é bem diferente do que eu me lembro do meu próprio tempo na escola primária: nós não podíamos participar mas apenas repetir aquilo que o professor dizia.”

Isabel diz que muitas vezes deixa os seus alunos decidir sobre os temas a discutir ou o jogo a jogar durante as aulas de Educação Física. Ela também se esforça para ver cada aluno como um indivíduo e adaptar o seu ensino às suas características. “Isso exige muita criatividade e flexibilidade, mas no final compensa muito!”, exclama Isabel, que insiste em captar a atenção das crianças para que elas aprendam melhor.

De acordo com Isabel, os princípios da participação e inclusão também foram integrados nos estudos da Escola de Professores do Futuro. “Todos os alunos têm um papel central no seu próprio processo de aprendizagem. Isso coloca muita responsabilidade sobre os nossos ombros, mas também abre um mundo completamente novo de aprendizagem para todos nós”, acrescenta Isabel.

Em 2014, Isabel esteve entre os 541 alunos que seguiram o Programa curricular de formação de professores de 3 anos, implementado em 3 das 11 EPFs da ADPP. “Já estou ansiosa para me formar no próximo ano”, diz. “Depois de ter estudado e praticado o ensino ao longo de 3 anos, tenho a certeza que estou preparada para enfrentar qualquer tipo de situação de ensino, seja nas zonas rurais ou na cidade, ou em uma escola com muitos meios ou noutra que ainda não tenha quase nada. É exactamente para isto que estou a ser formada: resolver todos os tipos de desafios futuros e servir como um modelo para a comunidade em que vou trabalhar”.

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11 Escolas de Formação de Professores da ADPP

A primeira Escola de Professores do Futuro (EPF) da ADPP foi criada em 1993, em Maputo. Nas duas décadas seguintes, um total de 11 EPFs foram construídas em todo o país, uma em cada província e duas na província de Nampula, graduando um total de 14.242 novos professores para o ensino primário em Moçambique.

O objectivo das Escolas de Professores do Futuro é o de contribuir para os esforços do Governo de Moçambique na melhoria da qualidade de ensino nas escolas primárias no país através da formação de profissionais altamente qualificados que, além de serem pedagogos, são motivados para o desenvolvimento das escolas e das comunidades em que irão trabalhar.

Em 2012, 3 EPFs da ADPP iniciaram um programa curricular experimental de 3 anos com o objetivo de melhorar ainda mais a qualidade da formação de professores.

Em 2014, um total de 541 alunos foram incluídos neste programa de formação de 3 anos e 1.273 no programa de 1 ano, implementado nas restantes 8 EPFs.

Para consultar o mapa das Escolas de Professores do Futuro da ADPP consulte, por favor, a página 2

RESULTADOS EM 2014

• 1.814 alunos (865 homens, 949 mulheres) estudaram nas 11 EPFs• 1.353 novos licenciados em 2014, dos quais 221 a partir do programa piloto de 3 anos• 257graduadosactivosna“RededeProfessoresGraduados”emtodoopaís• 14.242professoresdoensinoprimárioformadospelasEPFsdaADPPdesdeoseuinícioem1993

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Para quem perdeu os pais aos dois anos de idade, Alexandre José encontrou, aos 18 anos, um rumo na vida. Graduado em agropecuária pelo Colégio Politécnico de Maputo da ADPP, este jovem, calmo e pausado, trabalha há mais de um ano numa fazenda localizada perto de Chokwé, na província de Gaza, como chefe de máquinas agrícolas. E é nesta profissão que vê o seu futuro “porque eu sei que onde quer que haja tratores ou máquinas agrícolas, há necessidade de um mecânico”, explica ele.

Dois intensos anos vividos em regime de internato no Colégio Politécnico de Maputo da ADPP deram-lhe maturidade. “Eu nunca tinha chumbado um ano. Mas foi no Colégio que conheci o treinamento realmente muito exigente e que fez-me crescer”, garante, com a tranquilidade de quem superou uma etapa formativa muito importante para a construção do seu futuro.

Além de português, matemática, inglês, história e química, entre as outras disciplinas tradicionais da aprendizagem do 8º ao 10º ano de escolaridade, Alexandre também aprendeu diariamente as matérias de “agricultura e pecuária”, “silvicultura”, “gestão de empresas e práticas produtivas”, “regadio”, “desenvolvimento do espaço rural” e, sobretudo, mais de uma centena de horas daquela que começou a ser a sua grande paixão: “mecânica agrícola”.

“Eu sempre tive a paixão por máquinas, desmontar e ver como funcionam, arranjar quando não trabalham. Então com a ‘mecânica agrícola’ eu aprendi os conhecimentos para fazer bem o que só sabia fazer mal e por curiosidade”, diz, com um sorriso.

O Colégio Politécnico de Maputo moldou outros aspectos humanos de Alexandre. “Quando digo que me fiz homem no Colégio foi também por causa dos horários exigentes, do trabalho em equipa, da disciplina, das responsabilidades individuais que cada um tem na vida num internato (Alexandre era o responsável pela limpeza do dormitório masculino) e pela obrigatoriedade da planificação de todos os trabalhos e da apresentação de relatórios de tudo o que fazíamos. Isso eu não conhecia, não estava habituado e fez-me muita confusão no princípio, mas agora vejo quanto é útil na minha nova vida profissional”, recorda, como um daqueles marcos que não vai esquecer ao longo da vida.

Assim que se graduou, Alexandre conseguiu logo trabalho por indicação de um professor que lhe conhecia as qualidades.

Na fazenda, uma propriedade de grandes dimensões, com cerca de 50 hectares e muitas dezenas de trabalhadores, Alexandre cedo foi identificado como “o rapaz das máquinas”. Calmo como é não se deixou deslumbrar.

Um homem de convicções.A história de Alexandre José, graduado em agropecuária pelo

Colégio Politécnico de Maputo

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Apesar das suas evidentes capacidades aprendidas no Colégio Politécnico de Maputo, continua a insistir no “trabalho em equipa. Tem de estar sempre a acontecer. Temos de ser uma família onde cada um sabe o que está a fazer para que tudo corra bem para todos”, diz, percebendo-se que, além do que aprendeu, Alexandre ganhou uma qualidade extra: é um homem de convicções.

“Ainda sou muito novo – diz Alexandre – mas com o que ganho quero comprar uma terra onde hei-de construir a minha casa”.

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Colégios Politécnicos da ADPP

O objectivo dos três Colégios Politécnicos da ADPP, localizados na Machava (Província de Maputo), em Nhamatanda (Sofala) e em Nacala (Província de Nampula) é o de melhorar o acesso à formação técnico-profissional de qualidade e o de formar jovens profissionais qualificados, dando-lhes capacidades técnicas mas também para enfrentar a vida na sua plenitude, facilitando assim a sua integração nos mercados de trabalho em crescimento.

Os Colégios Politécnicos da ADPP fornecem um treinamento intensivo de 2 anos nas seguintes áreas: Agricultura e Pecuária, Gestão de Negócios, Construção Civil, Hotelaria e Turismo e de Instrutores Comunitários. Além do diploma técnico-profissional, os graduados obtêm um diploma escolar com equivalência à 10ª Classe.

Além do ensino politécnico, a ADPP Moçambique tem vindo a oferecer cursos técnicos de curta duração nos seus quatro CCDCs (Centros Comunitários de Desenvolvimento de Competências) desde 2013. Os cursos variam desde a costura e pintura até à agricultura e venda de roupa em segunda mão.

RESULTADOS EM 2014

• 218alunosformaram-senosColégiosPolitécnicosem2014• Nototal,532alunosestiverammatriculadosnos3ColégiosPolitécnicosem

2014,220delesemAgriculturaePecuária,104emConstruçãoCivil,103emAdministraçãodeEmpresas,48emHotelariaeTurismoe48emDesenvolvimentoComunitário

• Foramrealizados34CursosdeCurtaDuraçãoquetiveramumtotalde998participantes

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Em Janeiro de 2007, Rafael Chambal, hoje com 15 anos de idade, chegou à Cidadela das Crianças pela mão de um tio. “Assim que cheguei estranhei e comecei logo a chorar”, conta hoje, com um sorriso, 7 anos passados, este interno da Cidadela que acabou a 7ª classe e se prepara agora para os seus estudos no ensino secundário.

“Reparei logo naquele menino”, conta o professor da Escola Primária da Cidadela das Crianças, Américo Nhalungo. “Ele chegou tão tímido que não falava com ninguém e não participava em nenhuma actividade extra-curricular.

Hoje, é das crianças mais activas e participativas que conheço”.

Rafael é, na realidade, exuberante na maneira como fala, mesmo quando conta a vida difícil que conheceu. Nascido em Mauelele, uma pequena aldeia “no mato”, do distrito de Gaza, morava com os pais, três irmãs e a avó. Ele conta o que se lembra desses tempos

onde a felicidade foi interrompida de súbito. “O meu pai trabalhava numa fábrica de

blocos de tijolo e a minha mãe numa machamba. De repente

o meu pai morreu e a minha mãe não tinha dinheiro

suficiente para sustentar a família e só ficou

com a minha irmã mais nova”.

Rafael Chambal – uma vida em construção

E S C O L A S P R I M Á R I A S E S E C U N D Á R I A S D A A D P P

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Um tio de Rafael, irmão do pai, levou-o para viver com ele em Maputo mas um ano depois foi deixá-lo na Cidadela das Crianças. “O meu tio ficou os meus documentos e tiveram que me registar de novo”, conta Rafael com vontade de ultrapassar depressa essa parte da conversa.

O que ele recorda com mais energia são os 7 anos seguintes, passados a tirar boas notas e a coleccionar amigos como o Jordão, o Jacinto e o Josias, os seus companheiros mais chegados. Rafael destacou-se várias aptidões como o trabalho na cozinha onde já provou ser um ajudante com grandes competências: “gosto muito de fazer o caril!”, exclama, contente.

No entanto, o principal talento de Rafael está na construção. “O meu sonho é estudar para ser um engenheiro de construção”, explica. “Eu ganhei muita prática na Cidadela das Crianças e realmente gosto desse trabalho. Desde que começaram a construção da estrada aqui em frente da Escola tenho ajudado transportando areia nos carrinhos de mão. Também ajudei a construir o chão de uma das novas casas de banho do nosso dormitório “, explica, orgulhoso da vocação que descobriu em si mesmo.

Em 2015, o sonho de Rafael parece estar mais perto do que nunca. “Fui aceite no Colégio Politécnico de Maputo e vou começar os meus estudos em Construção Civil!”

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Escolas Primárias e Secundárias da ADPP

Melhorar o acesso aos ensinos primário e secundário de qualidade e tornar a educação o mais inclusiva possível é uma das prioridades da ADPP Moçambique. As duas escolas primárias da ADPP Noçambique, “Formigas do Futuro” em Chimoio, província de Manica, e “Cidadela das Crianças” na Costa de Sol, Província de Maputo, e as duas escolas secundárias da ADPP, “No Caminho da Vitória” e “Patrice Lumumba”, ambas na província de Maputo, foram estabelecidas com o objetivo de oferecer acesso à educação às crianças órfãs e vulneráveis. Quase 4.000 crianças desfavorecidas estudam anualmente nas escolas primárias e secundárias da ADPP Moçambique.

RESULTADOS EM 2014

• 765criançasestudamemescolasprimáriasdaADPP

• 3.100jovensestudamemescolassecundáriasdaADPP

• 42criançasvivemeestudamnolarparacriançasórfãsevulneráveisdaCidadeladasCrianças

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Almirante Fugante Tivane, 9 anos, é uma das crianças que nunca trazia almoço para a escola. Nem tinha uma simples moedas no bolso para comprar um lanche no quiosque ali próximo. Na verdade, Almirante nada comia ao longo de todo o dia na escola. O pequeno e tímido aluno da 1ª Classe passava longas horas na escola com o estômago vazio. Não era por acaso que as letras encaracolado e os sinuosos números escritos no quadro-negro pareciam muito confusos no início. Os professores começavam a perder a esperança com aquele menino distraído.

Como a maioria das crianças nas zonas rurais de Moçambique, Almirante vem de uma família pobre. Como cerca de 45% das crianças no país, também ele viva em desnutrição crónica. O seu pai é um fabricante de cestos e a sua mãe trabalha numa minúscula machamba, mas a família não podia pagar mais de uma refeição por dia, quase sempre composta por uma papa de farinha de milho tradicional chamada xima. Só em ocasiões especiais lhe serviam uma folha de mandioca ou repolho cozido.

A vida tornou-se ainda mais difícil quando o pai de Almirante faleceu e deixou a sua mãe sozinha para criar dois filhos rapazes. Foi nesta altura que o irmão mais velho de Almirante, que tinha abandonado a escola, foi mandado embora para ser criado por outra família.

Almirante teve mais sorte: durante o seu primeiro ano escolar, a escola primária onde ele estudava foi selecionada para se beneficiar do projecto de Alimentação Escolar “Comida Para o Saber”. Graças à refeição diária servido na sua escola, Almirante

Alimentando a vontade de aprender

P R O J E C T O D E A L I M E N T A Ç Ã O E S C O L A R

– C O M I D A P A R A O S A B E R

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foi capaz de ficar junto da sua mãe e continuar a ir à escola - agora sem o estômago vazio!

Hoje, dois anos após o início do Projecto de Alimentação Escolar da ADPP, Almirante parece ser uma pessoa diferente. O agora aluno da 3ª classe cumprimenta os estranhos orgulhoso e com um sorriso generoso e tem um brilho especial nos olhos quando se fala sobre a escola. Graças aos Clubes de Aprendizagem extra-curricular organizados pelo programa da ADPP, no contexto do projeto Comida para o Saber, as letras e os números no quadro-negro começaram a revelar os seus segredos e a fazer sentido na sua mente curiosa. Almirante agora sabe como escrever o seu nome e sabe o alfabeto de trás para a frente. Além disso, tem crescido mais rapidamente do que em muitos anos, alcançando o tamanho de muitos dos seus colegas

antes mais fortes em altura e peso e aos quais agora se junta sem hesitação nos jogos de futebol.

“Estou muito orgulhosa do meu filho”, diz Rosalina Muchanga, a mãe de Almirante. “O meu filho costumava ser tão pequeno e parado e passava a maior parte de tempo sozinho. Agora desde que ele está a comer a papa de soja na escola, está a crescer para ser um grande garoto – um menino lindo! Ele vai para a escola com uma grande quantidade de energia e brinca com os seus amigos. Eu acho que ele é mais feliz do que nunca. “

Como que para provar isso, Almirante agarra na cesta que seu pai tinha feito para transportar os seus livros

escolares, coloca-a em volta do pescoço com um movimento despreocupado e

corre em direcção à escola.

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Projecto de Alimentação Escolar – Comida para o Saber

O “Comida para o Saber” é um projecto de alimentação escolar, nutrição e educação implementado no contexto do Programa de Alimentação Escolar Nacional de Moçambique. O seu objectivo é melhorar o desempenho escolar e a nutrição de um total de 60.000 alunos do ensino primário através da distribuição de refeições escolares diárias, do estabelecimento de hortas escolares e da instalação de sistemas de água potável nas 243 escolas selecionadas, da capacitação de professores da escola primária local, pais e membros da comunidade, em questões de nutrição, higiene e saneamento, e da formação de 4.000 novos professores do ensino primário em todo o país.

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RESULTADOS EM 2014

• Fornecimento de uma refeição escolar diária a mais de 61.000 crianças

• 7.101.049 refeições diárias servidas nas escolas primárias seleccionadas da Província de Maputo

• 238 cozinhas e despensas construídos e/ou reabilitados nas escolas

• 74% das escolas têm agora um sistema de água potável

• Todas as 243 escolas estabeleceram Clubes de Aprendizagem extracurricular que funcionam depois do horário escolar e estão equipados com kits educacionais

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70 Escolas Pré-Primárias em Maputo

O objectivo deste projecto-piloto de 2,6 anos (2014-2016), implementado nos Distritos de Boane e Manhiça, na Província de Maputo, é aumentar a consciência das famílias rurais sobre a importância do investimento inicial no desenvolvimento das crianças com menos de 6 anos de idade e da sua saúde para o seu desenvolvimento saudável e integral. Além de construir 70 Escolas Pré-Primárias nas comunidades seleccionadas e da formação de professores e animadores, o projecto vai envolver toda a comunidade em diversas iniciativas de Desenvolvimento da Primeira Infância (ECD) e estabelecer uma base para futuras actividades baseadas na comunidade. As Escolas Pré-Primárias pretendem atingir 6.300 crianças entre os 3 e os 5 anos de idade.

NIKHALAMO – Raparigas Ficam na Escola

NIKHALAMO é um Projecto de 4 anos lançado em 2014 e projectado para ultrapassar as diversas barreiras que impedem a conclusão do ensino primário e a transição para as escolas secundárias das raparigas vulneráveis no Distrito de Namacurra, Província da Zambézia.

A abordagem holística do projecto inclui a concessão de empréstimos comunitários para promover a matrícula das raparigas, a melhoria da aprendizagem e do ambiente sanitário nas escolas locais, fortalecendo as habilidades para a vida das jovens e mobilizando os membros da comunidade para apoiar a sua educação através da sensibilização para o desenvolvimento de actividades desde a primeira infância.

O projeto vai chegar a um total de 3.250 raparigas de 18 escolas primárias e de duas escolas secundárias e a um número estimado de 15.000 membros da comunidade..

O U T R O S P R O J E C T O S D E E D U C A Ç Ã O

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Rede de Professores Graduados

A Rede de Professores Graduados funciona como um enquadramento para que os graduados das Escolas de de Professores do Futuro da ADPP se possam reunir regularmente e compartilhar experiências novas e criativas em materiais didácticos e métodos de ensino. Estima-se que a rede contribui para a melhoria do ensino de mais de 25.000 crianças em mais de 200 escolas primárias do país.

Melhorar o ambiente de aprendizagem nas escolas primárias

A melhoria do ambiente físico e do saneamento nas escolas primárias e o seu equipamento com material didáctico estão entre os métodos utilizados pela ADPP Moçambique para aumentar a escolarização primária e a retenção dos alunos nas escolas, melhorando a qualidade de ensino e aprendizagem no país. As várias iniciativas relacionadas com a reabilitação e equipamento das escolas primárias existentes chegaram a mais de 63.000 crianças em Niassa, Cabo Delgado e Manica.

Promover a Educação e o Desenvolvimento Inclusivos

A inclusão é um dos valores fundamentais da ADPP Moçambique. Os vários projectos relacionados com a Alfabetização de Adultos, o Desenvolvimento na Primeira Infância, e a melhoria do acesso à formação de professores da ADPP para pessoas com deficiência, foram concebidos para melhorar a inclusão em todos os níveis de ensino e para garantir que os benefícios da educação e do desenvolvimento possam chegar a todos os membros da sociedade.

Oficinas Pedagógicas como forma de melhorar as práticas de ensino

As Oficinas Pedagógicas provaram ser uma forma eficaz de fornecer formação e apoio em serviços muito necessários para a práctica dos professores do ensino primário. A ADPP Moçambique está activa no estabelecimento e fortalecimento de um total de 42 Oficinas Pedagógicas em todo o país, contribuindo assim para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas primárias locais.

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As epidemias de HIV/SIDA, malária e tuberculose estão entre os principais desafios de saúde pública que impedem o desenvolvimento económico e social em Moçambique. Com mais de 30 anos de experiência de desenvolvimento das comunidades e com uma das maiores redes de funcionários e voluntários que trabalham nas comunidades rurais, a ADPP Moçambique tem uma sólida experiência na elaboração de respostas comunitárias eficientes para questões de saúde pública, em especial na prevenção do HIV e no tratamento da SIDA. O Total Controlo da Epidemia (TCE), o Total Controlo da Tuberculose (TC-TB) e o Projecto HOPE estão entre os modelos de prevenção e de cuidados sistemáticos e holísticos adotadas pela ADPP Moçambique para contribuir na luta contra estas epidemias e trazer esperança às pessoas infectadas e afectada por eles. Os vários projetos de saúde da ADPP chegam anualmente a quase um milhão de moçambicanos.

4. S A Ú D E

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Quando Aurora, a Oficial de Campo do TCE, visitou pela primeira vez a casa de Sérgio Mathavel, um construtor de 27anos residente em Manhiça, província de Maputo, este não conseguiu sequer abrir a porta de casa: os seus pés estavam muito fracos para aguentar de pé. “Naquela época, eu tinha desistido completamente de viver”, explica Sérgio agora, mais de um ano após o incidente. “Eles tinham sido rudes comigo no hospital, então eu tinha decidido que nunca mais iria voltar e que nunca iria iniciar o tratamento.”

Sérgio Mathavel havia descoberto em 2004 que era HIV-positivo. Ao contrário de sua esposa, que também foi testada como sendo positiva, ele não iniciou o tratamento anti-retroviral naquele momento porque se sentia completamente saudável. O tempo passou e Sérgio continuou a sua vida como de costume, viajando de um estaleiro de obras para o outro e construindo gradualmente a casa para si, a esposa e os dois filhos. Só alguns anos depois Sérigo se começou a sentir doente. Gradualmente, ele sentiu as suas forças a enfraquecer, até que, um dia, teve que parar de trabalhar completamente. Quando a Oficial de Campo do TCE veio visitar a família, Sérgio estava desempregado há mais de um ano.

“Aurora veio para o meu lado da cama e viu o estado em que eu era”, lembra Sérgio. “Em vez de me julgar,

ela começou a falar sobre a importância de tomar o medicamento e não desistir da vida. Ouvi-a, mas no princípio não disse nada”, confessa.

Na verdade, ela veio visitar-nos várias vezes até que eu comecei a responder-lhe. Quando ela me disse que me iria acompanhar ao hospital para garantir que eles me registassem e dessem o tratamento, comecei a mudar minha mente”, reconhece.

Reconstruindo o Futuro: a história de Sérgio Mathavel

T C ET O T A L C O N T R O L O D A E P I D E M I A

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Sérgio iniciou o tratamento há mais de um ano. A sua força regressou rapidamente e ele está a trabalhar de novo na indústria da construção. A sua esposa e um seu amigo, ambos contratados pela Oficial de Campo para a equipa de apoio pessoal de Sérgio, o “TRIO”, certificam-se que ele não falhe um único dia

de tratamento.

“Tenho a certeza de que eu não estaria aqui para contar a minha história hoje se Aurora não tivesse passado pela nossa casa naquele dia”, revela Sérgio. “Ela fez-me ver como era importante continuar lutando”, assegura Sérgio.

Hoje, Sérgio fala abertamente sobre a sua doença e incentiva os outros a fazê-lo também. “Afinal de contas, o HIV é muito comum hoje em dia. Ninguém deve sentir medo ou vergonha por causa disso, especialmente se isso os impede de ir ao hospital,

de aderir ao tratamento ou de aprender a como evitar a sua propagação. “

De súbito, o futuro de Sérgio parece ter ficado repleto de projectos. “A minha

idéia é construir um muro ao redor da minha casa. Também

quero começar a construção de uma padaria em breve. E

estou a espera de ganhar o dinheiro suficiente com ela para comprar um carro!” – Sérgio ri-se visivelmente animado pelos seus planos para o futuro.

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TCE – Total Controlo da Epidemia

O Total Controlo da Epidemia (TCE) consiste na prevenção do HIV e da prestação de cuidados intensivos através da mobilização comunitária, e é um programa de mudança de comportamentos concebido para apoiar comunidades inteiras para conquistarem o controlo sobre a epidemia. Baseia-se em campanhas porta-a-porta, testes de HIV livres e voluntários, e no aconselhamento individual dado por Oficiais de Campo especialmente treinados que visitam regularmente cada família numa determinada comunidade. O objectivo é fazer com que todos os membros da comunidade fiquem conscientes do seu papel na prevenção da propagação da doença e da necessidade de alterarem todos os comportamentos de risco.

A abordagem TCE pode ser resumida nas seguintes palavras: “Só as pessoas podem libertar-se elas próprias da epidemia do HIV/SIDA”.

Em 2014, o programa TCE foi implementado em quatro Províncias: Maputo, Gaza, Zambézia e Nampula. Em Maputo, Gaza e Zambézia, foi dada uma atenção especial para ser possível atingir grupos específicos de alto risco, como camionistas, mineiros, trabalhadoras do sexo e mulheres e raparigas dos 15 aos 24 anos de idade. Em Nampula, o Programa definiu como grupo-alvo as famílias vulneráveis dos pescadores das zonas costeiras, dando uma ênfase especial à melhoria da nutrição.

RESULTADOS EM 2014

• 931.518pessoasalcançadaspeloProgramaTCE,dasquais21.056forammobilizadasparatestesdeHIV• 7.031.189preservativosdistribuídos• 1.469mulheresmobilizadasparaPMTCT(prevençãodeTransmissãodeMãeparaFilho),12.868homens

mobilizadosparaacircuncisãoe3.016órfãosapoiadosporactividadesextra-curricularesenutrição• 5.766famíliasdepescadoresvulneráveisformadasemnutrição

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“A pior coisa que você pode fazer a si mesmo é perder a sua auto-estima. Você é uma pessoa e você precisa viver a sua vida com confiança! “, afirma Telma Ignácio Banze, de 45 anos de idade, activista do Projecto HOPE em Boane, província de Maputo, quando se fala sobre viver com HIV/SIDA. “É o estigma que mata”, continua ela, “mas não é só a rejeição e a discriminação que é feita pelas outras pessoas. Eu falo também sobre o que vem de dentro de nós”.

Telma sabe do que fala. Ela e o seu marido, ambos vivendo numa área com uma taxa de infecção por HIV muito elevada devido ao alto número de trabalhadores migrantes numa fábrica de alumínios da região, fizeram o teste do HIV atraves do Projeto Hope da ADPP, em 2011. Ambos foram diagnosticados como portadores do vírus. “O meu marido nunca aceitou o resultado e continuou vivendo como antes, a beber e a não tomar o medicamento”, lembra Telma. Três anos depois, o marido de Telma morreu de doenças relacionadas, deixando-a sozinha com os seus cinco filhos.

Felizmente, a história de Telma foi bem diferente, graças ao apoio do Projeto HOPE. A mudança de

uma pessoa que sofria de dores constantes e só tinha ouvido falar vagamente da “doença” em

um ativista forte e abertamente HIV-positivo que leva uma vida saudável, se espalha

informações sobre a prevenção do HIV e cuidados em sua própria comunidade, e

suporta outros pessoas HIV-positivas em levar uma vida positiva, tem

sido impressionante.

Aprender a viver com esperança

H O P E

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“Uma das melhores coisas do projeto Hope é a Associação onde as pessoas que são HIV-positivas se podem reunir e apoiar-se umas às outras e aprender sobre questões de saúde”, diz Telma. “Eu gosto especialmente de trabalhar com as crianças órfãs na horta e compartilhar receitas sobre alimentação saudável com os outros membros do Clube de Vida Positiva. Isto faz-me sentir que sou necessária e dá-me um motivo para me levantar todas as manhãs”, explica.

Qual é o seu conselho de Telma para outras pessoas em situação semelhante à sua? Ela responde sem hesitar: “não tenham medo: vão para o centro de saúde mais próximo e façam o teste. Se você é HIV-positivo, inicie o tratamento e nunca pare. É preciso dormir o suficiente, comer alimentos saudáveis e manter o seu espírito bem para conseguir ser activo e ajudar os outros, porque você também já foi ajudado. Isto é o que eu faço. E, o mais importante de tudo, nunca perder a esperança!“

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HOPE

HOPE é um outro Projecto de prevenção e de prestação de cuidados de saúde junto dos portadores de HIV/SIDA. Implementado na Província de Maputo, tem como alvo grupos de alto risco, como camionistas, mulheres grávidas seropositivas, crianças órfãs e vulneráveis e adolescentes, com o objetivo de apoiar as pessoas infectadas e afectadas pelo HIV a levarem uma vida positiva, aderindo ao tratamento, adoptando hábitos de vida saudáveis e encontrando apoio entre os pares.

As diversas actividades realizadas no âmbito do Projecto HOPE são adaptados para melhor atingir os seus grupos-alvo, incluindo as escolas e a divulgação nos locais de trabalho, actividades de aconselhamento individual, testes de campo, treinamento em nutrição, promoção de PMTCT (Prevenção da Transmissão de Mãe para Filho) entre grávidas seropositivas e mobilização de homens para a circuncisão. Em 2014, o projecto deu uma atenção especial ao desenvolvimento dos “Serviços Amigos dos Jovens e Adolescentes” no Centro HOPE na Machava e na mobilização dos membros das famílias de pessoas seropositivas para realizarem o teste do HIV.

RESULTADOS EM 2014

• 59.746pessoasemMaputoeBoanereceberamaconselhamentovoluntárioefizeramotestedeHIV.

• 1.525.000forampreservativosdistribuídosemMaputoeBoane

• 2.173órfãosefamíliasbeneficiaramdecuidadosdomiciliários

• 2.673activistasforamformados• 16.321criançasemidadeescolar

foramtestadaseaconselhadas

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“Foi no final de 2013 que eu comecei a sentir-me muito doente”, lembra Carolina Mbalate, uma viúva de 27 anos de idade e mãe de três filhos, de Macate, província de Manica. “As minhas costelas esquerdas parecia que estavam em chamas e os calafrios percorriam todo o meu corpo. O pior, no entanto, foi a tosse persistente. “

Sem saber, Carolina tinha estado doente com tuberculose durante vários meses. A sua saúde estava a deteriorar-se tão rapidamente que ela temia que em breve já não teria forças para cuidar de seus filhos.

“A minha família pensou que eu estava sob um feitiço porque a segunda esposa de meu marido não tinha respeitado os rituais tradicionais de purificação depois da morte dele, quando ela fugiu com outro homem. Os meus sogros levaram-me a um curandeiro tradicional, depois a outro, mas a minha saúde continuou a piorar”.

Então, um dia, uma Oficial de Campo da TC-TB da ADPP apareceu à porta de Carolina. “Sem qualquer esperança, como eu estava, deixei entrar a Beatriz e escutei o que ela tinha a dizer. Ela falou sobre HIV e tuberculose e sobre os seus sintomas, prevenção e tratamento. Ela viu-me a tossir e sugeriu que voltaria no dia seguinte para recolher uma amostra de escarro para fazer um teste de tuberculose. Eu disse que não, porque estava convencida de que vivia apenas uma fase má e que ela estava a perder o tempo das duas.”

“Eu sinto como se me tivesse sido dada uma segunda oportunidade”

Beatriz não desistiu, no entanto. Ela voltou no dia seguinte e pediu a Carolina para dar o escarro para o teste. Carolina recusou-se novamente – agora tinha ficado com medo do teste! Só depois de uma longa conversa e de mais uma visita que Beatriz finalmente conseguiu convencê-la a fazer o teste. “Eu era muito teimosa,” ri-se agora Carolina, mas logo fica de novo séria para dizer: “tenho muita sorte porque ela era ainda mais teimosa do que eu.”

Em Agosto de 2014, nove meses depois de ter ficado doente, Carolina finalmente recebeu o seu diagnóstico de tuberculose positiva. “No início, eu não podia acreditar no resultado”, lembra Carolina. “O meu coração bateu mais rápido e todos os tipos de pensamentos começaram a correr na minha mente. O que vou fazer agora? Quando vou morrer? O que acontecerá aos meus filhos?”

Beatriz estava preparado para isso e ficou ao lado de Carolina durante todo o processo. Ela explicou-lhe todo o programa de tratamento, deu-lhe conselhos sobre como melhorar a sua saúde e acompanhou-a até ao check-up no hospital. Ela também a visitava regularmente para ver se Carolina estava a cumprir com o tratamento.

“Graças à Beatriz eu recuperei a minha confiança. Ela fez-me acreditar afinal não estava perto do meu fim.

T C - T BT O T A L C O N T R O L O D E T U B E R C U L O S E

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Eu deveria apenas lembrar-me de tomar o meu remédio e adoptar um estilo de vida saudável porque assim iria ficar melhor ao longo do tempo “, lembra ela.

Foi a mesma Oficial de Campo Beatriz quem também convenceu Carolina a começar uma horta. “Eu plantei e semeei batata doce, milho, amendoim, couve, alface, cebola e tomate na minha terra. É uma grande ajuda, pois permite-me e aos meus filhos comer

legumes frescos e saudáveis e ganhar uma renda extra para pagar as propinas escolares dos meus filhos “, explica.

Hoje, Carolina está perto do final do programa de tratamento de 6 meses da tuberculose. Ela sente-se muito mais forte e espera que o seu futuro seja cada vez melhor. “Eu sinto-me como se me tivesse sido dada uma segunda oportunidade”, diz, olhando para os seus filhos a brincar no quintal. “Eu nunca teria me perdoado se tivesse desistido. Temos tanta vida pela frente!”

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TC-TB – Total Controlo da Tuberculose

O principal objetivo do Projecto TC-TB é aumentar o diagnóstico precoce da tuberculose (TB), aumentar a adesão ao tratamento, fortalecer os serviços de saúde relacionados com a tuberculose e melhorar o acesso ao tratamento de qualidade nos centros de saúde locais.

A abordagem é semelhante à do Projecto TCE, com base em campanhas porta-a-porta, aconselhamento individual e mobilização das comunidades. Os Oficiais de Campo do TC-TB são treinados no “Tratamento de Observação Directa de Base Comunitária” (Community-Based Direct Observation – CB-DOT) e na recolha das secreções pulmonares e brônquicas (vulgo “escarro”) de pessoas com suspeitas de TB destinados a análise laboratorial. Uma vez que uma pessoa é diagnosticada com TB, os Oficiais de Campo fornecem-lhe aconselhamento e acompanhamento do seu tratamento. Eles também treinam voluntários das comunidades para detectarem os sintomas da doença e encaminharem os casos suspeitos para os centros de saúde.

Em 2014, o TC-TB foi implementado nas províncias de Manica, Sofala e Zambézia e abrangeu uma população de 9.891 de pessoas.

RESULTADOS EM 2014

• 1.442novoscasosdetuberculosedetectados

• 1.116pacientescomTBcurada• 627voluntáriosmobilizadoscomo

ativistasTBdebasecomunitária• 62curandeirostradicionaistreinadosna

detecçãodesintomasdatuberculoseeencaminhamentodecasossuspeitosparaoscentrosdesaúde

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70% da população em Moçambique depende da agricultura de subsistência. A melhoria da produtividade da agricultura está, portanto, entre as principais medidas para a redução da pobreza no país. A ADPP Moçambique tem sido activa na promoção de práticas agrícolas sustentáveis, desenvolvendo a produtividade agrícola e melhorando os meios de subsistência de pequenos agricultores, desde 1996, quando se estabeleceu o Centro de Caju e Desenvolvimento Rural de Itoculo, em Nampula. Trabalhando através da organização de agricultores “Clubes de Agricultores”, treinando os seus membros em várias técnicas agrícolas e no agroprocessamento, na distribuição de insumos agrícolas e na melhoria do acesso a água para irrigação e aos mercados locais por parte dos agricultores, a ADPP Moçambique tem sido bem sucedida no aumento da segurança alimentar das populações rurais e na melhoraria significativa dos rendimentos dos seus agregados familiares.

5. A G R I C U L T U R A

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“Lembro-me bem do dia em que o instrutor dos Clubes de Agricultores veio pela primeira vez à nossa aldeia para explicar sobre os objectivos de um projecto que nos ajuda a produzir mais culturas”, lembra Domingos Francisco Jaime de 25 anos de idade, e agora membro do Clube de Agricultores local em Phadza, distrito de Caia. “Eu estava a trabalhar na minha machamba e sentia-me preocupado porque minhas últimas colheitas não têm sido boas e as chuvas estavam a atrasar a plantação de novas culturas”, explica ele.

“Foi nessa altura que o líder local veio e me pediu para participar numa reunião em sua casa. Parecia tão interessante que deixei minha enxada e segui-o até lá.“

Pouco tempo depois, Jaime era já um membro do Clube dos Agricultores local e participou na identificação de um lote de terreno de demonstração. Hoje, existem 30 agricultores no Clube de Agricultores de Phadza

“No futuro, vou produzir o suficiente para vender no mercado local”

C L U B E D E A G R I C U L T O R E S

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e a primeira parcela de demonstração já está preparada para cultivar milho, sorgo e milheto.

As etapas seguintes incluem a formação de agricultores em novas técnicas de cultivo e distribuição de vários insumos agrícolas. Neste momento, Jaime olha decididamente para a frente: “Eu criava gergelim, sorgo, milho, feijão buér, feijão caupi, feijão manteiga, repolho, alface e couve na minha machamba mas, apesar da diversidade, toda a colheita era usada para para alimentar a minha família - não havia nada de sobra para ser vendido no mercado “, lamenta. “O primeiro treinamento em que participei deu-me logo ideias sobre como produzir mais para que possa vender as colheitas extras no mercado e, finalmente, ganhar algum dinheiro com os meus produtos”, continua Jaime com entusiasmo. “Estou muito animado para ver o que o futuro me trará.”

Organizando os agricultores num Clube, também melhorou a comunicação entre todos os agricultores. “Aprendemos coisas novas, a compartilhar experiências e a negociar preços em conjunto. Isso vai-nos ajudar na obtenção de um valor melhor para os nossos produtos no mercado “, explica Jaime com um olhar confiante.

Projecto Clube de Agricultores

Os Clubes de Agricultores têm como objectivo a criação de riqueza entre os pequenos agricultores, o aumento da segurança alimentar e a melhoria da vida de mais de 14.000 pequenos agricultores e suas famílias nos distritos seleccionados nas Províncias de Sofala e Zambézia, treinando os seus membros em práticas agrícolas sustentáveis, e reforçando a produtividade e a diversificação da agricultura através de vários insumos agrícolas. Um foco especial é também dado à melhoria do acesso dos agricultores aos mercados e a recursos financeiros através de micro-financiamento e treinamento em marketing como uma das formas de melhor os integrar nas cadeias de valor locais.

RESULTADOS EM 2014

Projecto Clube de Agricultores, Provincias de Sofala e Zambézia• 14.996pequenosagricultorestreinadosempráticasagrícolassustentáveis• 312ClubesdeAgricultoreseparcelasdedemonstraçãojáestabelecidos• 1.550AgricultoresmembrosmembrosdosComitésdosClubes• 90.000beneficiáriosindirectos

Centro de Caju e Desenvolvimento Rural de Itoculo, Provincia de Nampula• 40toneladasdecastanhadecajucolhida• 4.000litrosdesumodecastanhadecajuproduzidaevendida• 450novasmudasdecajueiroplantadas

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A ADPP Moçambique está activa na área das energias renováveis desde 2011. O objetivo das várias iniciativas no sector é o de contribuir para o combate às alterações climáticas e atenuar os seus efeitos negativos, expandindo o acesso das populações rurais a fontes de energia renováveis e sustentáveis. Os projectos incluem iniciativas baseadas na comunidade em energia solar, biogás e biocombustíveis, a promoção de dispositivos de poupança de energia, tais como fogões Poupa-Lenha, e a promoção de empresas de pequena escala que sejam amigas do ambiente e geradoras de renda para as comunidades.

R E N O V Á V E IE N E R IG A S6.

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S

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Foi num dia particularmente quente que os tãoaguardados painéis solares finalmente chegaram à pequena aldeia de Nacololo, na província de Cabo Delgado. Albertina Faida, de 41 anos, seguiu a instalação no seu quintal com uma grande atenção. Mãe dequatro filhos, ela estava entre os 41 empresários locais treinados na gestão e manutenção de uma estação de carregamento solar. “Eu apliquei-me no treinamento porque precisava de um emprego. Eu e meu marido éramos agricultores mas estávamos para ganhar a nossa vida. As únicas coisas que conseguiamos comprar com o nosso pouco dinheiro eram um pouco de sabão e de sal. Os nossos dois filhos mais velhos, de 26 e 18 anos, tiveram que abandonar a escola porque não podiam pagar as custas do ensino secundário”, lembra ela.

Ao ver os primeiros clientes a chegar ao seu posto de trabalho ficou cheia de esperança. “Talvez esta seja a resposta às minhas preocupações?”, pensou naquele tempo. Hoje, Albertina tem um conjunto regular de clientes que carregam lanternas e telemóveis na sua estação de carregamento solar. O seu negócio prospera. A renda gerada através da prestação de serviços e do aluguer de lanternas foi uma mudança de vida. “Graças a isso, eu tenho sido capaz de empregar pessoas para cuidar da nossa machamba (horta) e aumentar as nossas culturas”, explica ela. “A renda extra também me permitiu expandir os meus negócios em novas áreas: agora tenho a minha própria banca de venda de diversos de produtos no mercadomeu próprio stand mercado de venda de diversos produtos no mercado. No próximo ano, vou ser capaz de recrutar mais pessoas para tomar ajudar a tomar conta do meu negocio e a expandir minha machamba.”

Além de gerar novas receitas para associações comunitárias locais e para os pequenosempreendedores das estações de carregamento solar, o projecto seguramente também promove uma amplamudança social. “Nós finalmente construímos uma nova casa no ano passado e os meus filhos voltaram para a escola. Eu também comprei uma moto para mim!”, revela Albertina. “E também estou a aprender a ler e a escrever nas classes de alfabetização do projecto e isso vai ajudar-me a gerir melhor o meu negócio.”, conclui.

Transformando Vidas Através da Energia Solar

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Projectos de Energias Renováveis da ADPP

Em 2014, a ADPP Moçambique implementou vários projectos relacionados com a promoção das energias renováveis nas comunidades rurais do país. O Projecto “Fornecendo 18.000 pessoas com acesso a energia solar de pequena escala e sustentável nos Distritos de Quissanga e Ancuabe, Cabo Delgado”, na Província de Cabo Delgado, é um projecto que foi implementado entre 2011 e 2014 com o objectivo de oferecer a 18.000 pessoas um acesso a fontes limpas e sustentáveis de energia a um preço acessível e de contribuir para o aumento da sua renda familiar, incentivando também as empresas de pequena escala amigas do ambiente.

Os outros projectos-chave nesta área são implementadas na One World University da ADPP (OWU/ISET, consulte as páginas 8 a 10) e incluem, entre outros, a distribuição de painéis solares entre as populações rurais, a criação de 5 estações de carregamento solar em comunidades locais, a formação de 450 mulheres na construção de fogões Poupa-Lenha, a plantação de 15.000 árvores de diferentes tipos, através da criação de viveiros comunitários, e a integração de formação em fontes de energias alternativas e práticas agrícolas sustentáveis no currículo dos alunos da Licenciatura de Desenvolvimento Comunitário.

RESULTADOS EM 2014

• 20.000beneficiáriosdosprojectosdeenergiasolardaADPP• 2.710lanternasdas46estacõesdecarregamentosolarsãousadasdiariamente• 3.240criançasquemelhoraramoseudesempenhoescolarporseremcapazesdeestudarapóso

anoitecer• Melhoriadaqualidadedoensinonasescolaslocais,permitindoaosprofessoresprepararassuas

aulasdepoisdopôr-do-sol• Reduçãodasdoençasrespiratórias(causadapelainalaçãodofumoproduzidopelasfontestradicionais

deiluminação,incluindocarvão,madeiraegasolina)• Aumentodascomunicaçõesatravésdamelhoriadoacessoatelemóveis.• Aumentodarendafamiliarde240empresárioslocaiseaumentodaformaçãoedoacessoàs

lanternascarregadasporenergiasolar• 15milárvoresplantadas

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As primeiras Roupas em Segunda Mão distribuídas pela ADPP em Moçambique foram doadas como parte da ajuda de emergência para o país devastado pela guerra civil no início da década de 1980. A venda da roupa usada usada foi iniciada alguns anos mais tarde, com os primeiros centros de triagem e processamento que foram criados em 1988 em Maputo e os primeiros pontos de venda em Maputo e Nacala, em 1990, e na Beira, em 1991.

Hoje, a ADPP Moçambique gere um total de 30 lojas de comércio grossista e 18 lojas de retalho HUMANA em todo o país, oferecendo roupa e sapatos de boa qualidade, a preços acessíveis, a mais de 5 milhões de pessoas anualmente, criando mais de 520 postos de trabalho permanentes e oferecendo uma fonte de renda a mais de 6.000 pequenos vendedores em todo o país. A operação de venda de roupa em Segunda Mão também está entre os principais métodos de captação de recursos para os projectos de desenvolvimento da ADPP Moçambique.

RESULTADOS EM 2014

• 5.950toneladasderoupasvendidasatravésdaslojasgrossistas• 276toneladasdesapatosvendidosatravésdaslojasgrossistas• 535toneladasderoupasesapatosvendidosnaslojasderetalho

A N G A R I A Ç Ã O D7.

4 1

E F U N D O S

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“Sempre que eu vender um par de calças, uma camisa, ou qualquer outro tipo de roupa da minha tenda, sei que estou a contribuir para o bem-estar de alguém. As roupas em segunda mão da ADPP são de boa qualidade, e custam menos da metade do preço das roupas vendidas nas lojas”, garante Jaime Quintal, um pequeno vendedor de Chimoio, província de Manica, que trabalha neste negócio há 15 anos.

“Os meus clientes são na sua grande maioria pobres. Eu também já fui muito pobre, quando ainda trabalhava na minha fazenda e só queria encontrar uma maneira de oferecer um futuro melhor para mim e para a minha família “, continua.

Casado e pai de cinco filhos, Jaime tem hoje uma vida próspera. Mas nem sempre foi assim. Logo que terminou a 7ª classe, teve de deixar os seus sonhos de lado e pegar numa enxada para trabalhar na fazenda da família, que precisava de seus fortes braços para garantir o pão diário da família.

“Naquela época, eu costumava ir à cidade de vez em quando para comprar uma camisa ou um par de sapatos. Foi durante essas viagens que comecei a pensar: ‘Se há outros que ganham a sua vida com a venda de roupas, porque não posso eu fazer o mesmo?’ “E assim, em 2000, Jaime conseguiu comprar o seu primeiro fardo de roupas da ADPP e começou o seu negócio.

“Foi assim que comecei a vender as ‘roupas de calamidade’ “, como muitos lhes chamam –

“Eu vendo roupas de boa qualidade aos pobres”

V E N D A D E R O U P A D E S E G U N D A M Ã O

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mesmo que para mim elas sejam realmente as roupas da ADPP. No começo foi por necessidade, mas rapidamente comecei a gostar muito do negócio.

Hoje, gosto tanto do meu trabalho que não me podia imaginar a fazer

outra coisa!”, diz, sorrindo.

Jaime vende suas roupas no mercado de Chimoio onde é muito popular e respeitado. “Eu tenho um conjunto de clientes regulares e depois há aqueles que só podem comprar uma peça de roupa de vez em quando”, explica. “O meu segredo é que, quando chega um novo fardo, envio uma mensagem para todos os meus clientes regulares para que eles saibam que está na hora de visitar a minha tenda. E eles vêm e espalham a notícia à família e aos amigos. Assim nunca tenho falta de clientes “.

A década e meia a vender roupas em segunda mão da ADPP tem garantido o sustento de toda a família e permitiu a Jaime comprar uma terra e nela construir uma casa de cimento.

“Há imenso trabalho que é preciso ser feito, mas isso não me cansa porque é um desafio que eu escolhi e, além disso, acho que é importante vender roupas de qualidade para as pessoas que de outra forma não teriam acesso a elas”, conclui.

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Em 2014, o movimento financeiro de ADPP Moçambique foi de 23 milhões de USD, distribuídos de acordo com os Programas e Projectos abaixo discriminados.

Origem dos recursos em 2014 (%)

Empresas do sector privado

Fundações e ONGs

Parcerias multilaterais

Receitas geradas através de Programas da ADPP

Recursos captados através da venda de roupas em segunda mão

Governo de Moçambique

Federação Humana People to People

40%

16%

1%

1%

27%

15%

0%

8. A D P P E N Ú M E R O SM

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Distribuição de recursos entre os programas da ADPP em 2014 (%)

Distribuição dos recursos humanos entre os programas da ADPP em 2014 (%)

OWU/ISET

Escolas de Formação de Professores (EPFs)

Escolas Primárias e Secundárias

Colégios Politécnicas

Projecto Comida para o Saber

TCE, TC-TB e HOPE

Clubes de Agricultores

Outros Programas

Despesas Administrativas

27%

7%

6%24%

13%

5%10%

4%4%

Outros Programas

ADPP - Roupa e Sapatos em Segunda Mão

Energias Renováveis

Agricultura

TC-TB

TCE e HOPE

Projecto Comida para o Saber

Escolas Primárias e Secundárias

Colégios Politécnicas

Escolas de Formação de Professores (EPFs)

OWU/ISET

33%

3%

11% 4%4%3%

3%

3%

1%

6%

4 5

16%

19%

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Gostaríamos de agradecer a todos os nossos parceiros pela excelente e produtiva colaboração ao longo do ano de 2014.

Ministério da Ciência e Tecnologia de MoçambiqueMinistério da Educação de MoçambiqueMinistério da Energia de Moçambique/FUNABMinistério da Mulher e Acção Social de MoçambiqueMinistério dos Negócios Estrangeiros da FinlândiaMinistério da Saúde de MoçambiqueMinistério de Turismo de MoçambiqueMiroglioMotracoMozambique Leaf TobaccoMOZALPerchlightPlanet Aid, Inc.PNUDProdezaRight to PlaySNVStandard BankSTOP TBTavola ValdeseTDMUnião EuropeiaTRACUFF FinlândiaUFF NoruegaUNESCOURSAUSAIDUSDAVALE Mozambique

Avis Rent a CarBAGCBelgian Fund for Food SecurityCapitol ResourcesCEPAGRICNCS – Conselho Nacional de Combate ao HIV e SIDACoberafricaDFIDEEP Southern and Eastern AfricaEGPAFEqstraExpriviaFAWEMOFHI 360Filo DirettoFondation EnsembleFundo Global de Combate ao Sida, Tuberculose e MaláriaG4SGoverno de Espanha/AECIDHPP AustriaHPP Baltic, LituâniaHPP Eastern HoldingHPP Italy ONLUSHumana PortugalHumana EstóniaHumana EspanhaICEIIFADJhpiegoJohnson & JohnsonKOICAKULIMAKwickspaceLight for the WorldMicrosoftMillennium BIM

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© ADPP Moçambique 2014Fotos: ADPP Moçambique, Joca Faria e arquivo.

Layout: Elina Penttinen

As fotos contidas neste documento têm o consentimento das pessoas que nelas figuram, às quais foi explicada a finalidade das mesmas e a forma da sua utilização. As pessoas que figuram nas fotos não representam necessariamente o conteúdo do texto.

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ADPP MoçambiqueRua Massacre de Wiriamo, 258,

Machava Maputo Província, Moçambique

Tel: +258 21 750 106Fax: +258 21 750 107

Email: [email protected]