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RODA D’ÁGUA SATÉLITE Agência Nacional de Águas Ministério do Meio Ambiente Brasília – DF 2012

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Agncia Nacional de guas Ministrio do Meio Ambiente

RODA DGUA

Braslia DF 2012

SATLITE

Agncia Nacional de guas (ANA), 2012. Setor Policial Sul, rea 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T. CEP 70610-200, Braslia, DF PABX: (61) 2109 5400 / (61) 2109-5252 www.ana.gov.br

Equipe Editorial Elaborao do Texto Antonio Cardoso Neto Colaborao Eurides de Oliveira Coordenao Geral Valdemar Santos Guimares Eurides de Oliveira Cludio Henrique de Oliveira Brando Antonio Cardoso Neto Bruno Pagnoccheschi Fotografias: Banco de Imagens ANA, Shutterstock e Stock.XCHNGProjeto grfico e editorao

Direo de Arte Carlos Andr Cascelli Editorao e Ilustrao Rael Lamarques Reviso Danzia Queiroz www.tdabrasil.com.br

Todos os direitos reservados. permitida a reproduo de dados e de informaes contidos nessa publicao, desde que citada a fonte. Catalogao na fonte: CEDOC / BIBLIOTECA A265a Agncia Nacional de guas (Brasil). gua na medida certa: a hidrometria no Brasil / Agncia Nacional de guas ; textos elaborados por Antonio Cardoso Neto. -- Braslia: ANA, 2012. 72 p.: il. 1. Recursos hdricos, Brasil 2. Hidrometria 3. Bacia hidrogrfica I. Agncia Nacional de guas (Brasil) II. Cardoso Neto, Antonio III. Ttulo CDU 556.08 (81)

SUMRIO3

5DO QUE FEITO O NOSSO PLANETA?

19O QUE O CICLO HIDROLGICO?

39O QUE BACIA HIDROGRFICA?

9POR QUE O NOSSO PLANETA SE CHAMA TERRA?

25A GUA FARTA OU ESCASSA?

43PARA QUE MEDIR A VAZO DE UM RIO?

13EXISTE MUITA GUA NO MUNDO?

29COMO USADA A GUA NO MUNDO?

47COMO MEDIR A VAZO DE UM RIO?

GUA NA MEDIDA CERTA >> HIDROMETRIA NO BRASIL

Foto: Foz do Iguau / Banco de Imagens da ANA

DO QUE FEITO O NOSSO PLANETA?O planeta em que vivemos, chamado Terra, tem a forma aproximada de uma esfera, com pouco mais de 12.000 quilmetros de dimetro, e gira em torno de uma estrela que chamamos de Sol. Para os propsitos desta cartilha, o assunto que nos interessa a composio deste planeta, que, para simplificar, dividimos em Ncleo (interno e externo), Manto e Crosta. O Ncleo interno representado como uma figura quase esfrica, de uns 2.500 quilmetros de dimetro, constituda basicamente de ferro e nquel, submetida a uma presso to gigantesca que se mantm slida, mesmo estando a uma temperatura de quase 6.000o C. Envolvendo o Ncleo interno h o Ncleo externo, constitudo de uma camada viscosa de quase 2.300 quilmetros de espessura, sendo composto do mesmo material do Ncleo interno e com aproximadamente a mesma temperatura, porm, por estar sujeita a uma presso menor, apresenta-se como uma camada de metal derretido. O Manto, que envolve o Ncleo, formado por uma camada pastosa de uns 2.800 quilmetros de espessura, composta por substncias ricas em ferro e magnsio. A Crosta uma capa que reveste o Manto e basicamente composta de silicatos deGUA NA MEDIDA CERTA >> HIDROMETRIA NO BRASIL

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Manto Ncleo 3.488 km

1 km 6.372.833 km

Crosta

Composio geolgica do planeta.

alumnio, cuja espessura varia de 40 a 70 quilmetros. Esta bola est envolta por uma tnue camada de gs que vai tornando-se cada vez mais rarefeita medida que se afasta da superfcie. Essa camada gasosa, denominada Atmosfera, dividida basicamente em cinco subcamadas. A que fica imediatamente sobre a Crosta Terrestre chamada Troposfera. Mais de 80% de toda a massa atmosfrica fica nessa camada, que tem de 12 a1 7 quilmetros de espessura. Uma caracterstica importante da Troposfera o fato de que a temperatura diminui medida que a altitude aumenta. De maneira geral, a cada quilmetro que

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subimos, a temperatura diminui de 50 C a 70 C. por isso que os cumes das cordilheiras mais altas esto eternamente cobertos por neve. As nuvens esto confinadas Troposfera, nela ocorrem as chuvas, os furaces e os tornados. Quase todo o vapor dgua est na Troposfera. No topo dessa camada, h uma estreita faixa conhecida pelo nome de Tropopausa, em que a temperatura cessa subitamente de diminuir com a altitude. A seguir, h uma camada de cerca de 30 quilmetros, denominada Estratosfera, cuja caracterstica principal o aumento da temperatura com a altitude. Na Estratosfera ainda h um pouco de vapor dgua, mas os fenmenos atmosfricos

mais importantes decorrentes da gua na Atmosfera no ocorrem nessa camada. Depois da Estratosfera h uma zona de transio em que a temperatura se mantm aproximadamente constante, chamada Estratopausa. Da vem a Mesosfera, com uns 35 quilmetros de espessura, na qual a temperatura volta a diminuir com a altitude. A seguir, vem a Mesopausa, que uma faixa em que so encontradas as temperaturas mais baixas do planeta. Depois da Mesopausa, a temperatura volta a aumentar substancialmente medida que a altura aumenta, na camada conhecida como Termosfera, que chega a ter de 350 a 800 quilmetros. Por fim, h uma breve faixa de transio, chamada Termopausa, a que se segue

a Exosfera, uma camada rarefeita em que vagam solitrias algumas molculas de hidrognio e de hlio, alm da qual est o vazio entre os corpos celestes, chamado Espao Sideral. Nem todos os fenmenos atmosfricos decorrem da presena de gua, o que faz que tambm ocorram fenmenos importantes alm da troposfera, como, por exemplo, as auroras polares, que costumam ocorrer a uma altura de aproximadamente 150 quilmetros. Em termos prticos, podemos considerar que a atmosfera que separa a Crosta Terrestre do Espao Sideral tem uns 200 quilmetros de altura. Para que possamos conceber essas propores, imaginemos

uma bola de futebol feita de couro. A bola de futebol oficial tem 22 centmetros de dimetro, e o couro de que feita uma capa com menos de 2 milmetros de espessura. A nossa bola, em vez de estar cheia de ar, est cheia de uma liga metlica. Na capa de couro da bola esto os cumes de todas as montanhas e os fundos de todos os mares; nela que esto as nossas indstrias e as minas mais profundas; nela que esto as cidades, as plantaes, os desertos e as orestas; nela que jazem os restos dos dinossauros e o petrleo; deslizam rentes a ela nossos avies mais possantes; a atmosfera uma pelcula gasosa com 4 milmetros de espessura; as estaes orbitais em

que trabalham alguns cosmonautas e a maioria dos satlites artificiais giram em torno da bola, descolados a pouco mais de 5 centmetros de sua capa de couro. Vivemos todos na superfcie dessa capa. H um pequeno nmero de artefatos em rbita, utilizados basicamente para telecomunicao (denominados satlites geoestacionrios) que, nessa proporo, situam-se a uns 65 centmetros da bola. A Lua, o lugar mais distante a que j chegaram alguns poucos indivduos de nossa espcie, uma bola de tnis a pouco mais de 7 metros de distncia. O Sol uma bola de 25,66 metros de dimetro, a 2.750 metros de distncia da nossa bola de futebol

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POR QUE O NOSSO PLANETA SE CHAMA TERRA?Sabemos que cerca de 70% da superfcie da Terra coberta por mares e oceanos. O restante da rea ocupado pelos continentes e pelas ilhas, ou seja, por aquilo que nos acostumamos a chamar de terra firme. Devido a isso, h quem defenda que o planeta deveria chamar-se gua, e no Terra. A Fossa das Marianas, situada a mais de 2.500 quilmetros a leste do arquiplago das Filipinas, o lugar mais profundo do oceano, com quase 1 1quilmetros de9

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profundidade. No entanto, a profundidade mdia dos oceanos no chega a 4 quilmetros. Isso significa que todos os mares e oceanos do mundo podem ser representados pela fina camada de tinta com que est pintado o couro da nossa bola de futebol, alm disso, no se esquea de que apenas 70% da tinta. Todos sabemos que uma molcula de gua composta de um tomo de oxignio e dois de hidrognio. Cerca de 20% da atmosfera composta por oxignio, mas apenas uma nfima parte de seus tomos est combinada com hidrognio. O elemento mais abundante na Terra o ferro, compondo

mais de 1/3 da massa do planeta. No h registro em nenhum idioma de que o nome do planeta em que vivemos e o do elemento ferro sejam palavras homnimas. Porm, podemos observar que muitos nomes de lugares referem-se terra de algum povo: Inglaterra significa Terra dos Anglos, antigos habitantes das ilhas britnicas; Suazilndia, Terra do Povo Suazi. Denominamos o lugar onde nascemos de terra natal. Depois de meses no mar, o som pelo qual os marinheiros mais anseiam o grito de terra vista! Por sermos animais terrestres, presume-se que chamemos nosso planeta de Terra, no sentido de lar

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Foto: Zig Koch / Banco de Imagens da ANA

EXISTE MUITA GUA NO MUNDO?H muito mais animais e plantas no mar do que em terra firme. Abastecemo-nos com muitos deles. Os portugueses, os gregos, os holandeses, os chilenos, os japoneses, os noruegueses e muitos outros povos possuem dietas baseadas grandemente no que lhes fornece o mar. Porm, por ser salgada, essa gua toda no se presta ao consumo direto dos animais terrestres (entre os quais nos inclumos) nem irrigao das plantas terrestres que alimentam esses animais. Estima-se que 96,54% da gua que existe no mundo esteja no mar. H tambm muitos lagos salgados e presume-se que mais da metade da gua subterrnea tambm seja salgada. No cmputo geral, portanto, podemos dizer que 97,5% da gua que existe salgada. Apesar de o sal poder ser separado da gua por meio de usinas de dessalinizao, recorrer a tal procedimento s se justifica em casos extremos, devido, principalmente, ao dispndio descomunal de energia no processo. O Coveite um pas rabe do Golfo Prsico, mais conhecido entre ns pelo nome ingls Kuwait. A quase totalidade da energia eltrica consumida no Coveite provm de centrais movidas a gs natural. Parte desta energia utilizada pelas usinas de dessalinizao para produzir gua potvel. No de causar surpresa o fato de os coveitianos pagarem mais por um litro de gua do que por um litro de gasolina. Entre os 2,5% do volume restante, h ainda muita gua que no salgada, mas que no propriamente doce. a chamada gua salobra, o que significa que um pouquinho salgada. Essa gua salobra pode ser encontrada em alguns lagos, lagoas, deltas,

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pntanos e at no solo. Embora as tcnicas de dessalinizao de guas salobras sejam mais simples que as de gua salgada, continuam sendo financeiramente dispendiosas, principalmente por conta da energia requerida pelos processos. De qualquer maneira, no contexto desta cartilha, podemos considerar como sendo doce toda gua que no salgada. Dessa forma, podemos considerar que 2,5% da gua que existe no mundo doce. Acontece que mais de 2/3 da gua doce fica nas geleiras e na cobertura permanente de neve sobre as montanhas e as regies polares. O uso dessa gua pela sociedade requereria um esforo colossal de transporte, com consumo energtico talvez

superior ao requerido pelos processos de dessalinizao. Resta ainda quase 1/3 da gua doce existente. Contudo, mais de 96% dessa gua doce restante est confinada nos poros ou entranhada nas fissuras das rochas subterrneas, em formaes conhecidas como aquferos. De acordo com diversos estudos confiveis, cerca de 20% do suprimento de gua no mundo proveniente de gua subterrnea. O esforo utilizado para a captao da gua subterrnea inferior ao que seria necessrio para obter a mesma quantidade de gua por meio de dessalinizao ou de transporte de geleiras. Infelizmente, boa parte da gua doce encerrada em depsitos

subterrneos est em repouso h milhes de anos e, uma vez utilizada, no devolvida aos locais em que jazia. De maneira similar ao que ocorre com o petrleo, essas guas (conhecidas como guas fsseis) constituem um recurso no renovvel. H, no entanto, alguns aquferos de gua doce que a prpria natureza se encarrega de recarregar e, se forem bem administrados, podem fornecer gua de boa qualidade durante um perodo teoricamente infinito. Ainda resta um pouco de gua doce (pouco mais de 0,3%). Porm, mais de 3/4 desse volume restante so placas de gelo utuantes, esto em pntanos ou em forma de umidade do solo em grande parte

permanentemente congelado. O acesso a essa gua tambm exigiria um esforo considervel por parte da sociedade. A outra quarta parte que restou est nos rios e nos lagos, na atmosfera em forma de vapor e de nuvens e na composio do corpo dos vegetais e dos animais da Terra. Para percebermos essas propores, podemos proceder da seguinte forma: 1. Enchemos de gua 2 garrafas de 1 litro cada. 2. Abrimos uma das garrafas e, com um conta-gotas1,

transferimos 694 gotas para um copo. 3. A seguir, pingamos 304 gotas que estavam na garrafa em uma caneca. 4. Pingamos 9 gotas em uma xcara. 5. Pingamos 3 gotas em um pires. Se o conta-gotas ainda tiver gua dentro, recolocamos esse excesso de gua na garrafa e a fechamos. Coloquemos esses recipientes lado a lado e imaginemos que toda a gua que existe no mundo possa ser representada por 2 litros. Poderemos notar que uma garrafa nem foi tocada,

e que a outra continua quase cheia. A gua das garrafas representa a gua salgada. A gua que est no copo equivale, em nossa escala, gua doce das geleiras dos polos e das neves eternas das montanhas. A gua da caneca faz o papel da gua doce subterrnea. A que est na xcara a gua dos pntanos e dos solos. Restam trs gotas no pires. Alm da gua doce dos rios e dos lagos, essas gotas tambm representam a gua que est na atmosfera e a que compe os corpos de todos os seres vivos.

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>> 1 O volume de uma gota de gua destilada a 250 C produzida por um conta-gotas padro de 1/ 20 de mililitro ( em outras palavras, um litro tem cerca de 20.000 gotas).

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Aps compararmos a ocorrncia da gua doce disponvel com toda a gua existente, que, por sua vez, j havia sido comparada com a composio geolgica do planeta, chegamos concluso de que a gua que pode ser usada pela sociedade , na verdade, um recurso extremamente escasso. Olhemos para as trs gotinhas solitrias no pires. Se pudssemos dividi-las em 140 partes iguais, 122 dessas partes

representariam a gua doce dos rios e dos lagos, 17 partes comporiam a gua que circula na atmosfera e 1 parte representaria a gua presente nos corpos de todos os seres vivos. Ao focarmos nossa ateno apenas nessas trs gotas, conclumos que a gua doce dos rios e dos lagos cerca de 122 vezes maior que a gua contida em todos os animais e vegetais da Terra. H, portanto, gua em abundncia para

a manuteno da vida. Visto por este prisma, a gua um recurso bem farto. Chegamos a duas concluses at certo ponto contraditrias e no respondemos satisfatoriamente pergunta se a gua um recurso escasso ou abundante. Antes de afirmarmos qualquer coisa de maneira categrica, temos de considerar outros fatores que sero esclarecidos ao respondermos a outras perguntas mais adiante

Foto: Zig Koch / Banco de Imagens da ANA

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O QUE O CICLO HIDROLGICO?Ao falarmos agora h pouco da quantidade de gua que h no mundo, e mesmo quando falamos sobre a gua representada pelas gotas no pires, no fizemos qualquer referncia, por exemplo, ao fato de que a gua na Atmosfera se transforma em nuvens e, posteriormente, em chuva; omitimos mencionar que as guas dos rios correm e que as dos lagos tambm no ficam paradas e que os organismos se reproduzem e morrem para dar lugar aos mais jovens. Em resumo, no nos referimos ainda ao fato de que toda a gua do mundo est em constante movimento. Os valores de que falamos so valores mdios.

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O movimento da gua na Terra uma sucesso de deslocamentos e mudanas que se denomina Ciclo Hidrolgico. Uma minscula parte da energia emanada pelo Sol chega Terra em forma de luz e calor. Ao aquecer a superfcie na qual h gua, ocorre a evaporao da superfcie. J sabemos que a maior parte da superfcie em que h gua a dos oceanos e dos mares. A superfcie lquida transforma-se em vapor dgua que inicia seu movimento de ascenso na atmosfera, deixando o sal para trs. Ao subir na Troposfera, essa gua destilada, em forma de vapor, vai se tornando cada vez mais fria. Os movimentos complexos das gotculas

acabam por faz-las se chocarem entre si e se unirem em gotas maiores, fenmeno conhecido como coalescncia, formando as nuvens. Fenmenos altamente complexos em que influem o calor do sol, a rotao da Terra, a conformao dos continentes e a temperatura dos oceanos entre inmeros outros fazem que a atmosfera se movimente. Os ventos carregam as nuvens para lugares distantes de onde se originaram as gotculas de vapor. As gotas so mantidas suspensas, devido a movimentos turbulentos no interior das nuvens. Esses movimentos caticos e

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bruscos permitem que as gotas no caiam, mas tambm fazem que a coalescncia ocorra com maior frequncia, acarretando aumento do tamanho das gotas. Ao atingirem determinado tamanho, as gotas, at ento sustentadas pelas correntes de ar, tornam-se suficientemente pesadas para que a atrao gravitacional as faa se precipitarem de volta superfcie. Dependendo das condies atmosfricas elas podem chegar superfcie em forma de pequenas esferas de gelo (granizo), flocos gelados (neve) ou simplesmente como gotas de gua (chuva). Embora o granizo, a neve e a chuva sejam diferentes manifestaes do que se conhece

por precipitao, chamaremos, nessa cartilha, de chuva, qualquer precipitao. Como de se esperar, a maior parte da chuva cai no oceano. Em terra firme, as chuvas podem cair nas regies urbanas ou nas zonas rurais. As que caem nos telhados das casas se concentram nas calhas. Da escorrem para pavimentos e vias pblicas, onde so coletadas pelas galerias pluviais que as escoam para os rios. As chuvas que caem nos campos encharcam as folhas das rvores e escorrem pelos caules, atravessam os vos entre as folhas e chegam ao cho, preenchem as tocas dos animais e os troncos ocos. As primeiras

gotas a tocar o solo comeam a se infiltrar nos poros da terra. A gua que se infiltrou no solo comea a se movimentar lentamente, cada vez mais em direo ao fundo. Os vegetais aproveitam para absorver essa gua por meio de suas razes. A gua que chegou a um ponto mais abaixo das razes pode continuar seu movimento descendente at chegar a um lugar onde no h mais poros vazios. Essa regio onde todos os poros esto saturados de gua chamada de lenol fretico, sendo a gua subterrnea de mais fcil acesso. aquela gua que fica no fundo daqueles poos to comuns na zona rural. Mas a gua pode continuar descendo at encontrar uma rocha, penetrar por suas fendas

e ir parar em locais de acesso difcil e dispendioso embaixo das rochas impermeveis. Esses so os chamados lenis cativos ou aquferos confinados. Muitas vezes, devido conformao topogrfica ou a rachaduras nas rochas, os lenis freticos e at mesmo os cativos aoram na superfcie e formam os chamados olhos dgua, minas ou fontes. Alguns riachos so formados por essas minas. Parte da gua subterrnea pode aorar no mar. Se a intensidade da chuva for superior capacidade do solo de absorver a gua, as depresses na superfcie do solo comeam a se alagar. Se a chuva continuar, esses alagados comeam

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a transbordar e surgem pequenos filetes dgua nos terrenos. Os filetes vo se juntando e formando enxurradas que vo descendo as colinas, se dirigindo aos fundos dos vales e correndo para os rios. Esse excesso de gua levado pelos rios, que desembocam em outros, e assim por diante, at chegar ao mar. Durante esse

trajeto, a gua da superfcie dos rios e dos lagos no para de se evaporar. A gua absorvida pelas plantas participa do processo metablico de seu crescimento corporal. Um dos processos a transpirao, que devolve parte da gua absorvida para a atmosfera em forma de vapor. O Ciclo Hidrolgico um processo em que intervm incontveis fatores. H pessoas que dedicam a vida inteira ao aprofundamento de seus detalhes, e existem instituies de pesquisa que tratam exclusivamente dessa sequncia intrincada de fenmenos. Mas, de maneira geral, voc j sabe do que se trata

Foto: Zig Koch / Banco de Imagens da ANA

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A GUA FARTA OU ESCASSA?Uma das concluses a que havamos chegado foi que, at certo ponto, h abundncia de gua disponvel no mundo. Porm, a abundncia de gua doce diz respeito apenas a valores mdios. A distribuio de gua doce no mundo est longe de ser homognea. Por um lado, nas selvas tropicais da Amaznia, do Congo e de Bornu, por exemplo, h grande quantidade de gua e uma variedade enorme de fauna e de ora. Por outro lado, nas vastides dos desertos de Atacama, de Gobi e do Saara, a gua quase inexistente, e os vegetais e animais resumem-se a

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pouqussimas espcies com um nmero tambm muito reduzido de indivduos. Em suma, a vida em terra firme se concentra onde h abundncia de gua e escasseia nas regies em que a gua rara. De qualquer forma, com sua distribuio no uniforme, a gua doce que existe suficiente para a manuteno da fauna e da ora existentes na natureza. Assim foi durante milhes de anos. Porm, a difuso da humanidade em praticamente todos os quadrantes da Terra, o surgimento das comunidades humanas nos mais diversos lugares do mundo, a diversidade de tarefas dos grupos da sociedade, a especializao dos inmeros servios dos indivduos, o desenvolvimento tecnolgico e a rede cada vez mais emaranhada de atividades humanas passaram

a exigir, cada vez mais, grande variedade de usos da gua. H lugares, como a Amaznia, onde h uma imensido de gua doce e poucos habitantes e lugares no Serto do Nordeste em que os poucos rios chegam a secar por completo de tempos em tempos, e concentram uma populao consideravelmente grande. O fato de determinada gua no ser salgada no condio suficiente para que ela possa ser consumida. Na regio Sudeste do Brasil, h problemas serissimos com relao m qualidade da gua. Existem muitas enfermidades cujo principal veculo de propagao a gua. So as chamadas doenas de veiculao hdrica. gua doce no significa gua limpa.

Tambm tnhamos visto que a gua se movimenta o tempo todo. Tal propriedade da gua faz que, mesmo em lugares em que h normalmente gua em abundncia, surjam s vezes pocas prolongadas de estiagem, com consequncias s vezes devastadoras. Outras pocas h em que o excesso de gua pode causar graves calamidades, como o caso de inundaes das vrzeas dos rios e deslizamentos de encostas de morros. Assim sendo, do ponto de vista da civilizao, conclumos que a gua, devido sua mobilidade e sua distribuio no uniforme, deve ser considerada como sendo um recurso limitado, cujos usos devem ser planejados da maneira mais eficiente possvel

Foto: Zig Koch / Banco de Imagens da ANA

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COMO USADA A GUA NO MUNDO?De acordo com dados da Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura (FAO) e da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco), h evidncias de que atualmente cerca de 54% da gua doce acessvel contida em rios, lagos e aquferos j esteja sendo utilizada pela sociedade. Em termos globais, 69% dessa gua destina-se irrigao das lavouras, 23% usada pela indstria e 8% destina-se aos diversos usos domsticos. Assim como a distribuio da gua doce no mundo no uniforme, tambm no o seu uso. Por exemplo, 88% da gua captada pelos africanos destina-se agricultura, enquanto os europeus utilizam para a irrigao apenas 33% da gua que captam; 13% da gua captada pelos europeus gasta em usos domsticos, ao passo que os africanos usam 7% do que captam para suas necessidades bsicas; enquanto a indstria europeia consome 54% da gua captada, o parque industrial africano emprega somente 5% da gua obtida. Ainda segundo as informaes oficiais das Naes Unidas, um bilho de pessoas no tm acesso a gua potvel de qualidade confivel, e dois bilhes e meio vivem em condies sanitrias inadequadas. Os dados fornecidos pelas agncias internacionais que tratam dos recursos hdricos no so nada animadores: 70% dos dejetos industriais nos pases em desenvolvimento so despejados diretamente nos corpos dgua, sem qualquer tipo de tratamento. Estima-se que 2 milhes de toneladas de dejetos humanos so despejados diariamente nos rios, na forma de esgoto bruto; cerca de 1/5 da humanidade vive em locais nos quais o uso a gua excede os nveis mnimos

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Utilizao da gua relacionada com usos e funes Utilizao Domstica Pblica (municipal/urbana) Usos consuntivos Bebida, alimentao, higiene, limpeza, sade, climatizao, decorao/paisagismo Limpeza, irrigao de jardins, fontes decorativas e combate a incndio/segurana Agricultura irrigada, dessedentao de animais (bebida), gerao de alimentao para pecuria e higiene Produo com uso de gua no processo de fabricao, reprocessamento, refrigerao, higiene, limpeza e preparo de alimentos Lazer Usos no consuntivos

30Agricultura/pecuria

Piscicultura, aquicultura

Industrial/ agroindustrial Energtica Navegao Recreao/lazer guas minerais/ termais/teraputicas Diluio/destino final (rejeio)

Conservao, transporte hidrulico Hidroeletricidade, refrigerao e produo matriz Transporte e suporte aos meios de transporte

Paisagismo, efeito esttico e turismo Bebida e alimentao Diluio, transportes de resduos e recuperao dos corpos dgua

Desporte e lazer Lazer, turismo, sade e teraputica (1) Controle de cheias, microdrenagem urbana, drenagem agrcola, macrodrenagem, controle de eroso/assoreamento e conservao da ora e da fauna (proteo de ecossistemas)

Controle/ecolgica

Fonte: adaptado de Frade e Alves (1991). (1) Do ponto de vista de quantidade e qualidade da gua e de sua utilizao, h situaes em que ela pode ser considerada como uso no consuntivo.

de recarga, o que tem levado diminuio gradual da gua disponvel. A continuar inalterada a tendncia atual, 1 bilho e 800 milhes de pessoas estaro vivendo com escassez absoluta de gua, e 2/3 da populao mundial pode passar a viver sob condies de escassez moderada, por volta de 2025.

Consumo de gua no mundo Mundo Domstico Industrial Agrcola 8 22 70 Am. NC 8 41 51 Am. Sul 14 24 58 frica 6 4 90 sia 6 8 86 Europa 18 34 52

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AGRICULTURA E SADEAs prticas ineficientes de irrigao e drenagem em diversas regies tm levado salinizao e eroso de aproximadamente 10% das terras irrigadas do mundo. Estima-se que o consumo de gua pela agricultura na Pennsula Arbica, no Norte

da frica, nos Estados Unidos, na ndia e na China supera em 160 trilhes de litros por ano a capacidade de recarga natural dos corpos dgua de que se utilizam. Essa quantidade equivale vazo de quase trs rios do porte do So Francisco. A agricultura a maior responsvel pela diminuio da gua armazenada nos aquferos. Ademais, a produo de alimentos imprescindvel para a humanidade. H pesquisas que indicam que 60% das cidades

europeias com mais de 100.000 habitantes esto retirando gua dos reservatrios subterrneos a taxas de extrao superiores capacidade de recarga. Um estudo da FAO demonstrou que, durante o sculo passado, enquanto a populao mundial triplicou, o consumo de gua aumentou mais de seis vezes. O consumo global de gua tem dobrado a cada 20 anos, ao mesmo tempo em que a extrao a taxas superiores s da reposio, somada ao aumento

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paulatino da poluio, vem reduzindo a cada dia que passa a capacidade natural de suprir essa crescente demanda por gua. Presume-se que em 1989 cada pessoa dispunha de 9.000.000 de litros de gua doce para gastar durante o decorrer do ano. Esse valor caiu para 7.800.000 litros no ano 2000, e as previses indicam que dever baixar para 5. 100.000 litros em 2025. Se o consumo de gua continuar a crescer nas taxas atuais, estima-se que, por volta de 2025, a humanidade estar usando 90% das fontes renovveis de gua doce disponveis na Terra. A taxa incessante de aumento populacional tem feito que a demanda por gua doce cresa em 64 trilhes de litro por ano

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a cada ano. Esse valor aproximadamente igual vazo mdia da foz do rio So Francisco. Para classificar a sade hdrica das naes, adota-se o critrio de que um pas est sob estresse hdrico se a reserva anual de gua for inferior a 1.700 metros cbicos per capita. Se esse parmetro for inferior a 1.000 metros cbicos, diz-se que o

pas enfrenta escassez severa. Estima-se que 54 pases estaro enfrentando escassez severa, por volta de 2050. De acordo com as projees demogrficas, a populao desses pases ser de 4 bilhes de pessoas, ou 40% da populao global projetada para essa poca. As regies mais preocupantes so o continente africano e o Oriente Mdio.

Disponibilidade per capita de gua doce por pas

Catastroficamente baixa Muito baixa Baixa Mdia Alta Muito altaFontes: Agncia Nacional de guas - ANA, Embrapa e Pnuma.

Relatrios da ONU sugerem que cada pessoa necessita diariamente de 20 a 50 litros de gua doce de qualidade aceitvel para garantir suas necessidades bsicas de dessedentao, alimentao e higiene. Em um grupo de seis pessoas, pelo menos uma delas no tem acesso a essa quantidade mnima de gua doce de qualidade aceitvel. Em termos globais, a diarreia a principal causa de enfermidades e de morte. Aproximadamente 88% das mortes por diarreia so causadas por falta de saneamento bsico, por ingesto de gua infectada e por escassez de gua para asseio pessoal. Dois bilhes e meio de pessoas, incluindo um bilho de

crianas, vivem desprovidas das mais elementares condies sanitrias. Calcula-se que a cada 20 segundos morre uma criana vitimada pela falta de saneamento. Ainda de acordo com a ONU, de cada 25 dlares gastos pelos governos africanos ao sul do Sahara, 3 dlares so consumidos para o tratamento de diarreia. Mais da metade dos leitos hospitalares da frica Sub-sahariana esto continuamente ocupados por pacientes em tratamento de doenas causadas por m qualidade da gua. A Organizao Mundial de Sade (OMS) recomenda que cada pessoa deve beber de 2 a 4 litros de gua diariamente. Segundo clculos da FAO, a alimentao diria de

uma pessoa exige de 2.000 a 5.000 litros para ser produzida. A ttulo ilustrativo, podemos citar que a produo de 1 quilograma de arroz (que sabemos ser um dos cereais mais consumidos no mundo) consome de 1.000 a 3.000 litros de gua, desde sua germinao at a colheita; a de um quilograma de carne bovina, de 13.000 a 15.000 litros. Na maioria dos cultivos, a irrigao artificial duplica (chegando at a quintuplicar) a produtividade agrcola. Atualmente, a agricultura artificialmente irrigada responsvel por 40% da produo. Devido ao aumento populacional contnuo, as estimativas da FAO

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gua na produo de bens industriais Produto Automvel Cimento portland Revestimento cermico Carvo de pedra (hulha) Explosivos Vidro Lavadora Couro Borracha sinttica - butadiene- grade GR-Sbunas

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Unidade Veculo Tonelada Tonelada Tonelada Tonelada Tonelada T (produto lavado) Tonelada m2 de couro m2 (pela peq. animais) Tonelada Tonelada Tonelada Tonelada

Litros de gua 38.000 550 a 2.500 1.800 a 2.000 1.000 a 3.000 80.000 a 83.500 88.000 30.000 a 50.000 50.000 a 125.000 20 a 440 1 10 83.500 a 2.750.000 125.000 a 2.630.000 1 1 7.000 a 2.800.000 10.000 a 18.000

Polvilho/amidoFonte: WE (1990).

A gua na produo de alimentos So necessrios 2.000 litros de gua para cultivar 1 quilograma de soja 500 litros de gua para cultivar 1 quilograma de batatas 100.000 litros de gua para criar 1 boi (manuteno, pastagens e raes) gua necessria para produzir 1kg de alimento Produto 1 kg gua necessria (litros) Batata 500 Trigo 900 Alfafa 900 Sorgo 900 Milho 1.100 Arroz 1.900 Soja 2.000

Fonte: Bioscience pesquisadores da Universidade de Cornell / David Pimentel (1997).

so de que at 2050 a gua do mundo dever ser capaz de sustentar sistemas agrcolas que possam alimentar e criar condies de vida para 2 bilhes e 700 milhes de pessoas a mais do que as que existem nos dias de hoje. No nos esqueamos de que atualmente j h muita gente passando fome. A rea artificialmente irrigada em todo o mundo de 277 milhes de hectares2, que corresponde a 1/5 de toda a rea cultivvel do planeta. Os restantes 80% da terra arvel utilizam gua diretamente da chuva. O IPCC3 prev que, em decorrncia das mudanas

climticas globais, a rea agrcola que depende diretamente da chuva dever sofrer uma reduo de 50% at 2020. O Painel tambm conjectura que, devido s mudanas climticas, a neve e o gelo da Cordilheira do Himalaia cuja regularidade sazonal do degelo garante uma enorme quantidade de gua para a agricultura asitica devero ter sofrido uma reduo de 20% por volta de 2030. O aumento do uso de fertilizantes na produo de alimentos e seu despejo nos corpos dgua durante as trs ltimas dcadas do a entender que haver um aumento em nvel

global entre 10% e 20% na descarga de nitrognio para os rios e da para os ecossistemas costeiros. Hoje em dia, o setor de alimentao dos pases ricos responsvel por 40% da produo de poluentes orgnicos de suas guas; os pases pobres, por 54%.

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ENERGIAA gerao de energia eltrica por meio de usinas hidroeltricas a fonte de energia renovvel mais amplamente usada no mundo, representando 19% da produo mundial de eletricidade. Os dados de diversas organizaes da ONU do conta de que a maioria das reas inundadas

>> 2 Um hectare corresponde a 10.000 metros quadrados. Em outras palavras, um quadrado de 100 metros de lado. 3 Sigla inglesa do Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (International Panel on Climatic Change).

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pelos reservatrios criados para a gerao de energia eltrica e/ou irrigao so terras produtivas. A propsito, estima-se que a irrigao proveniente de reservatrios artificiais responsvel pela produo de 16% da comida do mundo. Alm disso, a produo de energia eltrica por meios hidrulicos (o que se chama hidroeletricidade) desempenha um enorme papel na reduo de gases de efeito estufa quando comparada com as usinas termoeltricas a carvo ou leo diesel. Segundo clculos de agncias internacionais das Naes Unidas, se metade do potencial hidroeltrico ainda

intocado fosse utilizado em substituio s usinas termoeltricas, as emisses de gases de efeito estufa poderiam ser reduzidas em cerca de 13% da atual taxa de emisso. Porm, no se pode perder de vista que a construo de represas modifica as condies biolgicas preexistentes, levando a alteraes da fauna e ora aquticas, com consequncias muitas vezes dramticas para a economia, a ecologia, a sociedade e a cultura locais.

decorrentes de inundaes, avalanches torrenciais e deslizamentos de encostas de morros. De acordo com dados confiveis4, 90% dos desastres naturais ocorridos entre o ano 1991 e o ano 2000 foram calamidades relacionadas gua. Um outro problema relacionado com os recursos hdricos tem a ver com as relaes entre as naes, envolvendo a diplomacia, os servios de inteligncia e at as Foras Armadas. Trs em cada quatro pases compartilham bacias hidrogrficas entre si. Essas bacias, chamadas bacias transfronteirias, so, s vezes, o objeto principal de discrdia entre dois ou mais pases. Muitas

SEGURANAAssim como h tragdias causadas pelos longos perodos de estio, h tambm as

>> 4 Programa Mundial de Avaliao de Recursos Hdricos (WWAP/Unesco).

fronteiras so delineadas a partir dos leitos de rios. Em consequncia disso, esses rios acabam por serem submetidos a legislaes diferentes: h atividades que podem ser feitas na margem direita e so proibidas na margem esquerda; algumas restries so impostas em uma margem, e outras (s vezes inconciliveis entre si), na outra margem. Por ser um recurso escasso, a multiplicidade dos usos da gua leva frequentemente a conitos

pela sua apropriao. Uma represa, por exemplo, pode servir tanto para a gerao de eletricidade quanto para o armazenamento de gua para irrigao de lavouras ou para o abastecimento de uma cidade. Tambm pode ser utilizada para regularizar a vazo de um rio e atenuar os efeitos de enchentes. No caso de haver um perodo de estio muito prolongado, essa mesma represa pode ter de ser utilizada para armazenamento de emergncia. A preponderncia de um

desses usos pode prejudicar os outros, pois nem sempre esses usos so compatveis entre si. No so raros os conflitos entre os setores de transportes, eltrico, pesqueiro, agrcola e ambiental pelos usos destinados navegao, gerao de energia, pesca, irrigao e preservao natural, respectivamente. Tal conjuntura leva a restries de uso pelos diversos setores, o que requer planejamento

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O QUE BACIA HIDROGRFICA?Agora h pouco falamos em bacia hidrogrfica e no explicamos o que vem a ser. Este um termo que, se voc ainda no ouviu falar, deve se preparar para ouvir cada vez mais. Ento vamos, em poucas palavras, explicar do que se trata. Em primeiro lugar, devemos esclarecer que os rios, os ribeires, os igaraps, os arroios, os riachos, os crregos e quaisquer corpos dgua que sigam um curso na superfcie da terra firme so chamados de cursos dgua. Bacia hidrogrfica, tambm chamada bacia de drenagem,39

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uma rea delimitada da superfcie da terra firme em que as guas decorrentes das chuvas ou do derretimento do gelo e da neve das montanhas convergem para um nico ponto. Tipicamente, esse ponto a foz do rio que d nome bacia. A bacia como se fosse um funil que faz que toda a gua que entra depois saia por uma rea menor que a entrada. A bacia , portanto, um enorme coletor de gua da atmosfera. Por exemplo, uma chuva que cai no cho e escorre at o leito do riacho do Navio acaba desembocando no rio Paje que,

por sua vez, vai despejar a gua no rio So Francisco, que vai bater no meio do mar. Nessa conhecida cano, do grande compositor brasileiro Luiz Gonzaga, podemos perceber que o riacho do Navio auente do rio Paje, que auente do rio So Francisco, que desemboca no Oceano Atlntico. Observemos que a bacia do riacho do Navio est dentro da bacia do rio Paje, que parte da bacia do rio So Francisco. As bacias hidrogrficas so separadas topograficamente umas das outras pelos cumes dos morros, pelos espinhaos das serras e pelas montanhas,

que, nesse contexto, so chamados de divisores de gua. Ao adotarmos o conceito de bacia hidrogrfica no lugar do conceito de curso dgua, estabelecemos uma abordagem mais racional de planejamento dos recursos hdricos, pois as regras s quais esto submetidas as guas da margem direita passam a ser as mesmas que regem o planejamento da margem esquerda. Este foi um dos motivos que levou a chamada Lei das guas do Brasil a decretar a bacia hidrogrfica como sendo a unidade de planejamento dos recursos hdricos da Unio

As regies hidrogrficas do Brasil

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Amaznica Tocantins-Araguaia Atlntico Nordeste Ocidental Parnaba Atlntico Nordeste Oriental So Francisco Atlntico Leste Atlntico Sudeste Paran Paraguai Uruguai Atlntico SulFonte: Agncia Nacional de guas - ANA.

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PARA QUE MEDIR A VAZO DE UM RIO?Se navegarmos por um curso dgua desde as suas cabeceiras at a sua foz, notaremos que s vezes passamos pelas desembocaduras de auentes vindos de ambas as margens. Tambm observaremos que o rio vai se tornando mais caudaloso medida que nos aproximamos da foz. Ao chegarmos foz, teremos visto que a vazo do rio foi mudando desde o comeo da nossa viagem. Conclumos que a vazo de um rio no constante, mas depende do local do rio a que estamos nos referindo. Digamos que, assim que chegarmos ao final da viagem, comece a chover. Da tambm vamos observar que, mesmo sem sair do lugar, a vazo do rio vai aumentando, e j sabemos o porqu. Deduzimos que deve estar chovendo em outros lugares da bacia, e que os auentes que vimos durante a viagem devem estar, nesse momento, derramando mais gua pelas suas desembocaduras do que quando passvamos por eles. Teremos compreendido que a vazo de um rio varia de lugar para lugar e de tempos em tempos. Quando ouvir um hidrlogo dizer que a vazo varia continuamente no espao e no tempo, voc j saber o que ele quer dizer com isso.

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Desde tempos imemoriais, algumas pessoas vm se preocupando em saber quanto de gua os agrupamentos humanos dispem para suas tarefas vitais, como beber gua, regar as plantas, dar de beber aos animais domsticos, cozinhar, banhar-se e outras atividades fundamentais. Com a evoluo das atividades sociais, o conhecimento da quantidade de gua disponvel para os diversos usos tem se tornado uma informao indispensvel para as decises a serem tomadas quanto s quotas destinadas a cada setor da sociedade. Fazendo uso de um instrumental matemtico apropriado, possvel inferir criteriosamente a disponibilidade de gua, com margens de erro

aceitveis, desde que estejam disponveis sries de vazes observadas nos lugares de interesse durante um perodo adequado de tempo. Essas observaes no se limitam quantidade de gua que passa por determinada seo de um rio em certo dia, mas tambm s substncias que compem a gua, a parmetros qumicos, fsicos e biolgicos que dizem respeito qualidade da gua. Porm, no mbito desta cartilha, discutiremos apenas o conhecimento da quantidade disponvel. Um parmetro muito utilizado no planejamento da distribuio dos recursos hdricos em determinado local de um curso

dgua genrico a vazo mnima estatisticamente garantida em 95% do tempo. Esse parmetro, conhecido como Q95, essencial para a alocao da gua. Trata-se de um ndice estatstico extrado a partir de uma curva denominada Curva de Permanncia, que obtida a partir de uma srie conhecida de vazes observadas. Essas sries que narram a cronologia das vazes devem abranger um perodo de diversos anos para que as variaes sazonais possam ser levadas em conta. Quando a regio em estudo tiver sofrido modificaes muito grandes de atividade humana, o perodo observado deve ser, a rigor, maior para que essas alteraes tambm sejam levadas em considerao

Foto: Zig Koch / Banco de Imagens da ANA

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COMO MEDIR A VAZO DE UM RIO?Acabamos de ver que o conhecimento das vazes durante um perodo adequado de tempo essencial para delimitar a disponibilidade de gua em determinado local de determinado curso dgua. Logo, o dado fundamental para produzir a informao necessria para as tomadas de deciso no que diz respeito partilha dos recursos hdricos de determinado trecho de um rio a vazo. Medir a vazo de determinado local de um rio no uma tarefa trivial. H inmeros mtodos. Para citar apenas um deles, pode-se estrangular a seo transversal5 de um riacho pouco caudaloso com uma prancha e fazer toda sua gua verter por uma abertura conhecida pelo nome de vertedouro ou vertedor. Esses vertedouros possuem equaes matemticas previamente determinadas a partir de suposies baseadas na mecnica clssica que relaciona a altura com que a gua passa por eles e a respectiva vazo. Um rio de grande porte, no entanto, no pode ser obstrudo por um vertedouro para simplesmente permitir que sua vazo seja mensurada. Imagine um longo canal, com seo transversal retangular. intuitivo perceber que a quantidade de gua que passa pelo canal tanto maior quanto mais alta for a superfcie da gua (maior a profundidade do escoamento) e maior for a velocidade com que a gua escoa. Num curso dgua natural no diferente. Quanto mais largo e profundo for um rio,

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>> 5 Seo transversal o corte transversal direo e ao sentido do escoamento de um curso dgua.

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mais altas estiverem suas guas e maior for sua velocidade, maior ser a vazo. No entanto, a seo transversal de um curso dgua natural tem os formatos mais diversos e mudam no apenas ao longo do percurso, como tambm

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localmente com o passar do tempo. Alm disso, fcil observar que a velocidade da superfcie da gua nas proximidades das margens no mesma que no meio do rio. Menos fcil de observar, porm no to difcil de concluir, que as velocidades abaixo da superfcie tambm variam desde

o fundo at em cima. O clculo da medio da vazo de um determinado local de interesse de um curso dgua deve, ento, levar em conta o formato da seo transversal e as velocidades de diversos pontos da seo no instante em que a medio foi realizada.

Sesso transversal simplificadaME0 -0,2 -0,4 1 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 25,4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1

Profundidade (m)

-0,6 -0,8 -1 -1,2 -1,4 -1,6 -1,8 -2

Largura (m)

Um instrumento utilizado desde h muito tempo nas medies de velocidades de escoamento de cursos dgua o molinete. Esse instrumento tem o formato de um torpedo que o possibilita permanecer com a popa voltada para o sentido da correnteza. Na proa h uma hlice cuja velocidade de rotao proporcional velocidade da gua que a faz girar. O nmero de voltas da hlice registrado por um conta-giros, que fica com um hidrometrista que est no barco, e ligado ao molinete por um cabo eltrico. Quando o molinete se estabiliza em determinada posio, o hidrometrista6 zera o conta-giros e o dispara simultaneamente

a um cronmetro. Aps alguns minutos, o hidrometrista interrompe a contagem do conta-giros e do cronmetro e anota seus valores na caderneta. Geralmente, essas operaes de medio de velocidade so feitas para quatro posies em cada vertical: a 20%, 40%, 60% e 80% de profundidade. Durante muito tempo, os procedimentos para mensurar a vazo de um curso dgua seguiram as seguintes etapas: 1. No caso de rios estreitos, esticava-se um cabo de ao transversalmente ao rio e um barco se enganchava a ele enquanto fazia

as medies com molinete. Como as distncias entre o barco e a margem eram conhecidas por meio de marcas previamente feitas no cabo de ao, os dados eram anotados tendo como referncia a distncia a um ponto conhecido da margem. Aps fazer as medies em uma vertical, o barco se deslocava at a marca seguinte e repetia os procedimentos. As operaes se repetiam em intervalos regulares at o barco chegar outra margem. 2. No caso de rios mais largos, era colocado um

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>> 6 Os hidrometristas so tcnicos em medio da gua em diversas etapas do Ciclo Hidrolgico. As medies mais frequentemente feitas pelos hidrometristas so as de vazo dos cursos dgua.

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topgrafo em cada margem do rio. O barco ancorava em determinado ponto do rio, esforando-se para ficar alinhado com estacas pr-fixadas nas margens. Por meio de comunicao com bandeirolas, os tripulantes informavam os topgrafos o incio e o final das medies que estavam fazendo naquele momento. Os topgrafos mediam a posio angular do barco e anotavam seus valores de maneira sistemtica em suas cadernetas. O barco se deslocava para o ponto seguinte, e as operaes se repetiam at chegar ao outro lado do rio. 3. Em se tratando de rios ainda mais caudalosos,

praticamente impossvel ancorar o barco em um ponto fixo no meio do rio. Nesses casos, as bandeirolas dos tripulantes informavam aos topgrafos os momentos inicial e final de cada srie de operaes que deveriam ter sido feitas com o barco ancorado, mas que foram feitas com a proa da embarcao voltada para montante e o motor ligado para que a corrente arrastasse pouco o barco durante as medies em cada vertical. Em suas respectivas cadernetas, os topgrafos anotavam as posies angulares do incio e do fim de cada srie de operaes em cada vertical. Nesse caso, as operaes de medio eram

cronometradas e anotadas pelos hidrometristas. O barco se deslocava para o ponto seguinte e iniciava todo o processo, at atingir a outra margem. As medies que eram feitas em cada ponto previamente escolhido do rio eram as seguintes: 1. Um lastro pesado era pendurado em um cabo de ao que, por sua vez, ficava em um carretel em um guincho. O objeto era lanado ao rio e atingia rapidamente o fundo. Por meio de uma manivela conectada por uma engrenagem ao carretel, era anotado o nmero de voltas da manivela para iar o lastro desde o fundo

at a superfcie. Conhecendo o nmero de voltas do carretel, passava-se a saber a profundidade do rio naquele ponto. 2. Por meio de um outro guincho, semelhante ao anterior, posicionava-se o molinete em pontos predeterminados da vertical que ligava o fundo do rio superfcie. No incio e no final das operaes, um observador lia as marcas da superfcie da gua em uma rgua fixada ao local. A rgua era (e continua sendo) um instrumento que fica fixo em uma das margens do rio e serve para observar a cota da superfcie da gua em relao a um plano horizontal

de referncia conhecido como zero da rgua. A caderneta com os dados e as observaes dos hidrometristas, dos topgrafos e do observador da rgua eram ento enviadas ao escritrio, onde uma equipe se encarregava de extrair das anotaes os dados relevantes. Os primeiros dados a serem registrados eram as cotas da rgua no incio e no fim da medio. Depois, o engenheiro determinava as posies das verticais em que o barco ficou parado. Dependendo do mtodo utilizado, essas posies eram calculadas diretamente a partir das marcas do cabo em relao a um referencial fixo

(geralmente a prpria rgua) ou por meio das observaes feitas pelos topgrafos. No caso de medies feitas com barco ancorado, as posies das verticais eram determinadas mediante triangulao das observaes dos topgrafos. No caso de barcos em movimento, as triangulaes das observaes topogrficas forneciam os pontos inicial e final de cada srie de medies. O engenheiro fornecia as posies das verticais a um desenhista que, de posse dos dados de profundidade medidos com o guincho do lastro, se encarregava de desenhar a seo transversal do curso dgua em papel milimetrado. A partir desse desenho, obtinha-se a

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rea da seo transversal, chamada rea molhada, por meio de um instrumento chamado planmetro, e o permetro do fundo, chamado de permetro molhado, mediante um outro aparelho, denominado curvmetro. Um dado medido imediatamente a partir do desenho era a largura do rio. Ao dividir a rea molhada pela largura, obtinha-se a profundidade mdia. A posio de cada vertical permitia tambm ao desenhista marcar no desenho da seo transversal todas as posies em que o molinete foi posicionado. Geralmente era um estagirio que costumava calcular as velocidades de rotao da

hlice do molinete para cada ponto. Bastava dividir o nmero de rotaes pelo tempo cronometrado. Ambas as informaes estavam disponveis na caderneta. Como se trata de um instrumento mecnico, cada molinete tem sua prpria equao que relaciona a velocidade de rotao de sua hlice com a velocidade da gua que a provocou. A partir das velocidades de rotao da hlice, o engenheiro calculava as velocidades da corrente lquida em cada ponto e as anotava no desenho da seo transversal. Havia diversos mtodos de calcular a vazo, sendo que os mais populares eram o da meia seo e o da seo mdia.

Ambos fatiavam a seo transversal em verticais e calculavam as velocidades mdias de cada fatia. Os produtos das velocidades mdias e das fatias eram partes da vazo que, somadas fatia a fatia, forneciam a vazo que passava por toda a seo transversal. A diferena entre os dois mtodos era basicamente a maneira de fatiar a seo. Um outro procedimento usual era encarregar o desenhista de, a partir do desenho com os valores das velocidades nos pontos, desenhar curvas de igual velocidade, chamadas istacas. A partir das istacas, o engenheiro calculava as reas entre essas curvas com o planmetro, multiplicava essas reas pelas velocidades correspondentes,

e as somava, obtendo a vazo. O quociente da vazo pela rea molhada fornecia a velocidade mdia da corrente. Se, no entanto, as cotas da rgua observadas no incio e no final das operaes de medio fossem muito diferentes uma da outra (o que acontecia com frequncia no caso de medies em grandes rios), era ainda necessrio fazer ajustes para compatibilizar as medies feitas com a variao dos nveis da superfcie. Obtinha-se, dessa maneira, a largura do rio, a profundidade mdia, a rea molhada, o permetro molhado, a cota da superfcie, a velocidade mdia e a vazo.

AVANOS TECNOLGICOSCom o avano tecnolgico, muitos procedimentos foram paulatinamente mudando. Um deles foi a troca da utilizao de bandeirolas de sinalizao entre a tripulao do barco e os topgrafos por rdios transmissores, walkie-talkies e, posteriormente, por telefones celulares. A comercializao a preos no muito altos de um sonar chamado ecobatmetro possibilitou mapear o fundo do rio sem o incmodo do uso do lastro pendurado em um guincho. Outra alterao radical na medio foi causada pelo surgimento do GPS7, que

tornou obsoleta a funo dos topgrafos na determinao das posies do barco. No escritrio, os clculos eram feitos com rguas de clculo ou calculadoras mecnicas e anotadas a lpis no papel. Depois surgiram as calculadoras eletrnicas que tornaram o trabalho mais rpido. Com o surgimento dos grandes computadores, foram construdos programas especializados que passaram a fazer a maioria das tarefas do escritrio. Por meio de um mtodo numrico chamado Mtodo dos Elementos Finitos, os desenhos da seo transversal e das istacas tambm passaram a

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>> 7 Sigla inglesa para Sistema de Posicionamento Geogrfico.

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Ecobatmetro.

ser feitos automaticamente. Quando os computadores de mesa passaram a ser instrumentos pessoais de cada um dos funcionrios do escritrio, todas as etapas de clculo passaram a ser feitas por uma mesma pessoa. Com relao medio de vazo propriamente dita, houve

enorme mudana metodolgica com a chegada no mercado do Perfilador de Corrente Doppler-Acstico. Esse aparelho uma sonda que se utiliza do chamado efeito Doppler-Fizeau para medir a velocidade de partculas suspensas na gua. O aparelho colocado na gua, ao lado do barco, e conectado a um

computador porttil em que h um aplicativo especfico para tal finalidade. O barco atravessa o rio e, ao chegar outra margem, o programa j fornece todos os parmetros essenciais: velocidade mdia, rea molhada, vazo, largura e profundidade mdia. Para medir a vazo de um rio, hoje em dia, so suficientes o piloto do barco e o hidrometrista.

Para exemplificar, podemos citar que a medio da vazo do rio Solimes na cidade amazonense de Manacapuru chegava a demorar 7 horas, sem contar o tempo despendido no escritrio para calcular finalmente a vazo. Hoje em dia, a medio demora 35 minutos, que o tempo necessrio para cruzar o rio Solimes em Manacapuru.

necessrio conhecer uma srie histrica de vazes que ocorreram durante certo perodo de tempo no local em considerao. A rigor, seria necessrio medir a vazo no local todos os dias durante anos, mas, mesmo hoje, aps o surgimento do Perfilador de Corrente Doppler-Acstico isso no vivel, por motivos financeiros e logsticos. rduo medir a vazo, mas, em compensao, observar o nvel da gua na rgua e anotar seu valor na caderneta so tarefas bastante fceis. To fceis que so geralmente feitas duas vezes por dia: s 7

da manh e s 5 da tarde. E a que est o pulo do gato. Pode-se medir a vazo de um rio em qualquer lugar que se queira. Porm, ao escolher os locais mais apropriados para instalar uma rgua limnimtrica8, o hidrlogo9 obedece a certas normas e respeita determinadas restries para que seja um local em que haja uma relao biunvoca entre cota e vazo. Relao biunvoca entre cota e vazo significa que cada vazo tenha sua prpria cota e que cada cota s corresponda a uma vazo. As normas e restries para a escolha dos locais mais

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SRIE HISTRICA DE VAZESA informao sobre a vazo em determinado dia no suficiente para subsidiar tomadas de deciso que envolvem disponibilidade hdrica, pois j vimos que

>> 8 esse o nome com que so chamadas essas rguas. 9 Hidrlogo o nome que se d ao profissional que trata de assuntos relacionados hidrologia. De maneira geral e tpica, a formao profissional do hidrlogo a engenharia civil.

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apropriados esto fora do escopo desta cartilha, mas conveniente mencionar que no so regras arbitrrias, sendo oriundas de estudos da Hidrulica e da Mecnica dos Fluidos. Se o local de instalao da rgua for estabelecido levando em conta os critrios corretos, a cada vazo corresponder uma e somente uma marca na rgua. A correspondncia entre essas duas grandezas estabelecida pela equipe de hidrologia aps diversas medies nas estaes secas e midas e observao contnua das marcas da linha dgua na rgua, durante vrios anos. A essa correspondncia entre cota da rgua e vazo do rio

d-se o nome de curva-chave, que possui equaes s vezes um pouco complicadas. Uma das imposies que fogem das regras hidrulicas para escolher o local de instalao de uma determinada rgua que haja algum morador minimamente alfabetizado nas redondezas e que aceite ficar responsvel pela observao, anotao e manuteno da rgua. Periodicamente, uma equipe de hidrometria passa por l para fazer a medio de vazo, recolher a caderneta, entregar cadernetas virgens e pagar o soldo do observador. Por meio da curva-chave, a srie de cotas fornece a srie

de vazes que ser utilizada das mais diversas maneiras, sendo que uma delas a obteno da curva de permanncia e a consequente determinao do valor do Q95. No entanto, a vastido do Brasil no permite que haja observadores disposio em todos os rinces do pas, principalmente na Amaznia em que h tantos rios a serem medidos. Hoje em dia h diversos equipamentos eletrnicos que possibilitam o envio automtico e peridico do valor da cota observada do nvel dos rios, via satlite. Porm, o preo desse tipo de equipamento um fator limitante para sua utilizao. Essa limitao no tanto com relao sua aquisio, mas

muito mais pela sua alta probabilidade de perda por furto. O vandalismo tambm tem se mostrado bastante frequente.

redondezas, alm de evitar furto ou qualquer ato de vandalismo. Essa metodologia, ainda embrionria, tem sido

chamada de hidrologia espacial e h enorme possibilidade de que voc venha a ouvir falar dela cada vez mais

AVANOS RECENTESRecentemente, vem surgindo uma nova metodologia na medio da vazo dos rios. Essa metodologia tem fornecido resultados bastante promissores. Trata-se da medio da cota dos rios por meio de radares altimtricos instalados em satlites orbitais que, associada a uma srie de asseres para determinar as curvas-chave dos locais dos quais o satlite envia dados de cota, possibilita estimar a vazo, sem a necessidade de enviar equipes ao local nem de haver observador nas

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GLOSSRIOAuente (ou Tributrio) Curso dgua que desgua num curso mais caudaloso ou num lago. gua doce gua cuja concentrao de sais baixa o suficiente para que possa ser consumida. (ps) O fato de a gua ser doce no suficiente para garantir sua potabilidade. gua salgada gua que possui concentrao de sais superior a 10.000 miligramas por litro. gua salobra gua cuja concentrao de sais dissolvidos est normalmente compreendida entre 1.000 e 10.000 miligramas por litro. Esta proporo de sal menor que a da gua do mar. A jusante No sentido da foz de um curso dgua. Sinnimo de guas abaixo. A montante No sentido das cabeceiras de um curso dgua. Sinnimo de guas acima. Aqufero confinado ou Aqufero cativo Aqufero aprisionado em formaes impermeveis ou semipermeveis. Aqufero no confinado (Aqufero livre, Aqufero fretico ou Lenol fretico) Aqufero cuja superfcie superior livre. As guas dos poos comuns que so vistos frequentemente na zona rural so provenientes dos lenis freticos. Aqufero ou Reservatrio de gua subterrnea Formao subterrnea porosa permevel com capacidade de

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armazenar gua e possibilitar que essa gua escoe entre seus poros. H tambm aquferos nos quais a gua ocupa o espao criado por fendas e rachaduras em rochas. Avalanche Massa de neve, de gelo ou de gua, que escoa bruscamente pelas encostas dos morros e das montanhas, arrastando consigo terra, rochas, rvores e demais detritos. Balano hdrico Contabilidade baseada no princpio racional de que, durante determinado intervalo de tempo, a variao do volume de gua armazenado numa certa massa dgua previamente delimitada

(uma bacia, um trecho de curso dgua, uma regio hidrogrfica, um corpo dgua qualquer etc.) igual diferena entre a quantidade de gua que entrou e a quantidade de gua que saiu dessa massa dgua durante o perodo de tempo considerado. Barragem Construo elevada no leito de um curso dgua, dotada de mecanismos de controle de liberao da gua armazenada, cuja finalidade garantir a regulao da vazo, armazenar gua para irrigao, prover abastecimento a comunidades urbanas e rurais, assegurar a gerao de energia e permitir demais usos do recurso hdrico.

Cheia (ou Enchente) Elevao do nvel de um curso dgua (ou de um corpo dgua qualquer) geralmente decorrente de um aumento de vazo. Normalmente as cheias dos cursos dgua ocorrem periodicamente durante a poca das chuvas. H, no entanto, cheias que podem ser causadas, por exemplo, pela liberao de gua em uma barragem a montante. Cheia repentina Cheia sbita e de curta durao com uma vazo mxima consideravelmente alta. Chuva Precipitao de partculas de gua lquida, sob a forma de gotas.

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Chuvisco Precipitao densa e razoavelmente uniforme de gotas de gua lquida com dimetro inferior a milmetro.60

Ciclo hidrolgico Sucesso cclica das fases pelas quais passa a gua ao circular na atmosfera, na superfcie dos continentes e ilhas, nos oceanos e mares, e no subsolo. O ciclo hidrolgico envolve evaporao, transpirao, condensao, precipitao, infiltrao, percolao, escoamento superficial, escoamento subterrneo, circulao de correntes martimas e todas as demais maneiras em que a gua ocorre no nosso planeta.

Clima o padro de tempo mdio em um lugar durante muitos anos. Conjunto de condies meteorolgicas predominantes em determinada regio, caracterizado por estatsticas de longo prazo dos elementos meteorolgicos nessa regio. Condensao Passagem da fase de vapor da gua para a fase lquida. Curso dgua Canal atravs do qual a gua pode escoar. Pode ser natural ou artificial. Curso dgua efmero Curso dgua que ui apenas como resposta direta

precipitao. o caso de vincos na superfcie do solo que formam ravinas atravs das quais escoam enxurradas colina abaixo durante a chuva, e secam pouco aps cessar a chuva. Curso dgua intermitente Curso dgua no qual s h escoamento durante a estao das chuvas, ficando seco durante o restante do ano. Na regio semi-rida do Nordeste do Brasil h muitos rios intermitentes. Curso dgua perene Curso dgua que continua uindo mesmo durante a estao seca, e nunca fica seco.

Curva chave Curva que relaciona o nvel da superfcie de um curso dgua em determinado local e a vazo que atravessa a sesso transversal do curso dgua nesse mesmo local. Curva de permanncia Curva que relaciona os valores de vazes em determinado local de um curso dgua e a probabilidade desses valores serem igualados ou superados. Por meio dessa curva, extrado um valor muito utilizado pelos especialistas em Recursos Hdricos, chamado Q95, equivalente ao valor da vazo que tem 95% de probabilidade de ser

igualada ou superada. Em outras palavras, a vazo mnima garantida estatisticamente em 95% do tempo. Dessalinizao o processo a partir do qual a quantidade de sal na gua reduzida at uma dose suficientemente baixa para que essa gua possa ser consumida. Eco-sonda Instrumento que emite um sinal acstico ao fundo de um corpo dgua e utiliza o intervalo de tempo entre a emisso e sua reexo para determinar a profundidade do corpo dgua nesse local.

Euente Em termos gerais, a gua que ui de um recipiente. O euente de uma indstria, por exemplo, a vazo que sai da indstria; o euente de um lago a vazo que sai do lago; o euente de um rio a vazo que sai de um rio. Pode-se dizer que o contrrio de um auente. Esturio Parte de um curso dgua, nas proximidades da foz, em que as guas se tornam geralmente rasas e largas. Evaporao Emisso de vapor dgua da superfcie livre de um corpo dgua genrico.

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Foz ou Desembocadura o local em que um curso dgua desagua num lago, no mar ou noutro curso dgua. Geada Cobertura de gelo produzida pela sublimao do vapor dgua sobre objetos. Em suma, a geada orvalho congelado. Granizo Precipitao de partculas de gelo de forma esfrica ou irregular. Tambm conhecido por Chuva de pedra. Hidrulica Ramo da Mecnica dos Fluidos que estuda o escoamento da gua em condutos fechados (tubos) e canais abertos.

Hidrogeologia Ramo da Hidrologia e/ou da Geologia que estuda a gua subterrnea e sua ocorrncia. Hidrografia Em termos gerais, refere-se cincia que trata da descrio e da medio de corpos dgua. Particularmente, trata-se da cincia que se ocupa da cartografia de corpos dgua com o intuito de navegao. Hidrologia Cincia que estuda todas as fases do ciclo hidrolgico. Hidrometria a cincia que trata da medio das fases do ciclo hidrolgico e da anlise da gua.

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A instalao de rguas limnimtricas nas estaes de medio, as medies de vazo, os eventuais reparos nos instrumentos e at a pilotagem de barcos so tarefas muitas vezes levadas a cabo por hidrometristas. Infiltrao Movimento da gua da superfcie de um meio poroso para seu interior. Na natureza, quando a gua da chuva penetra no solo logo aps se chocar com sua superfcie, diz-se que houve infiltrao. Intercepo Processo por meio do qual parte da precipitao retida pela vegetao e depresses no terreno.

Inundao Submerso de reas situadas fora dos limites normais de um curso dgua. Logo, nem toda enchente pode ser chamada de inundao. A acumulao de gua proveniente de drenagens, em zonas que normalmente no se encontram submersas, tambm chamada de inundao. Irrigao Aplicao artificial de gua com finalidade agrcola. Isotcas Linhas de igual velocidade na seo transversal de um curso dgua. Leito de um curso dgua A parte mais funda de um curso dgua, por onde passa a maior

parte da gua e dos sedimentos durante o perodo entre cheias. Lingrafo Instrumento que regista as variaes do nvel dgua em funo do tempo. Mecnica dos Fluidos rea da Mecnica Clssica que se encarrega da estabilidade, do movimento e da dinmica dos corpos deformveis, tais como os lquidos e os gases. Meteorologia Cincia que estuda a atmosfera. Molinete Instrumento usado para medir a velocidade da gua num ponto, por meio da velocidade de

rotao de uma hlice que gira em torno de um eixo paralelo ao escoamento que se deseja medir. Nascente Local de onde a gua brota naturalmente de uma rocha ou do solo. Ela pode brotar tanto na superfcie seca do solo quanto em uma massa dgua. Neve Precipitao de cristais de gelo, geralmente aglomerados em ocos. rbita polar rbita que passa sobre o Polo Sul e o Polo Norte. Orvalho Depsito de gotas dgua nos objetos prximos ao solo,

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provenientes da condensao do vapor dgua contido no ar. Percolao Movimento descendente da gua desde a superfcie do solo at o lenol fretico.64

Precipitao Partculas de gua sob as formas lquida e/ou slida, decorrente da condensao do vapor dgua, que caem sobre o solo. Raio hidrulico Relao entre a rea da seo transversal lquida e o permetro molhado de um curso dgua. Reservatrio Qualquer corpo dgua, natural ou artificial, utilizado para armazenar, regular ou controlar os recursos hdricos. Salmoura Soluo salina com concentrao superior a 100.000 miligramas por litro. Satlite estacionrio Satlite com rbita equatorial cuja velocidade angular

igual da rotao da Terra. Como consequncia, o satlite fica parado sobre um mesmo ponto da superfcie do planeta, como se fosse uma antena com 35.900 quilmetros de altura. Satlite geo-sncrono Satlite equatorial que se desloca no sentido oeste-leste, a uma altitude de 35 900 km, o que lhe permite efetuar uma rbita completa em torno do equador terrestre a cada 24 horas. Sendo assim, ele passa diariamente sobre o mesmo lugar do equador no mesmo horrio. Satlite helio-sncrono Satlite cuja rbita quase polar e sua altitude tal que faz com que sua velocidade angular permita que cruze as

Permetro molhado Permetro da seo transversal de um curso dgua que est em contato com a gua. Pluvigrafo Instrumento que registra as alturas de gua precipitada em funo do tempo. Pluvimetro Dispositivo que mede a altura de gua precipitada. Diferentemento do pluvigrafo, o pluvimetro no registra a altura precipitada, exigindo que um observador o faa.

mesmas latitudes duas vezes por dia no mesmo horrio. Seco transversal de um curso dgua Seo de um curso dgua perpendicular direo principal do escoamento. Telemetria Registo remoto de dados transmitidos via satlite, telefone celular, rdio e outros meios. Tempo a combinao de eventos meteorolgicos (temperatura, presso, umidade, precipitao etc.) que ocorrem a cada dia na atmosfera. O Tempo no o mesmo em todos os lugares. Pode estar quente, seco e ensolarado em um lugar, ao mesmo tempo em que est

nublado, chovendo ou at nevando em outros locais. Transpirao Processo pelo qual os vegetais e animais transferem gua para a atmosfera sob a forma de vapor. Uso consuntivo Utilizao da gua de um corpo dgua como insumo que a consome durante os processos envolvidos. Por exemplo, a gua consumida na fabricao de cerveja. Uso no consuntivo Utilizao da gua de um corpo dgua como insumo que no a consome durante os processos envolvidos. Por exemplo, a gua utilizada para movimentar um monjolo no a consome; somente utiliza sua energia.

Vazo Volume de gua que passa por determinado local por unidade de tempo. Exemplos: 1) A vazo de uma torneira de jardim de uns 40 litros por minuto. 2) A vazo mdia na foz do rio Amazonas de aproximadamente 210.000 metros cbicos por segundo.

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TABELAS DE CONVERSO DE UNIDADESH diversas maneiras de medir uma mesma grandeza. Por exemplo, podemos nos referir a um mesmo volume como sendo de um metro cbico, mil litros, ou at mesmo cinco mil copos americanos. Embora o Brasil adote o Sistema Mtrico Internacional, h diversas unidades de medida muito usadas no comrcio, na indstria e na vida cotidiana em geral. Por isso, bom conhec-las. A polegada e as unidades que dela derivam so muito usadas na indstria e no comrcio de tubulaes; tambm so usadas na marcenaria e na indstria de mveis. O quilmetro a unidade mais usual para se referir a distncias entre localidades. A milha nutica a unidade mais usada na navegao. O alqueire a unidade preferida para medir o tamanho de propriedades rurais. O m2 a unidade de rea mais usada na medio de lotes urbanos. O quilmetro quadrado a unidade usada nas medies do tamanho dos Municpios, dos Estados e do nosso prprio pas. A gota uma unidade de volume bastante usual na indstria farmacutica. O barril a unidade usada quando se trata de petrleo. O hectmetro cbico a unidade mais usada para volumes de lagos e reservatrios. O galo uma unidade ainda usada no comrcio de gasolina. O copo americano, o gill e o pint so muito utilizados na indstria alimentcia. A unidade de volume mais utilizada no balano hdrico anual de grandes massas dgua o quilmetro cbico. Embora a libra seja a unidade monetria do Reino Unido, a libra desta tabela a unidade de massa ainda usada em alguns pases de lngua inglesa. A arroba muito empregada no comrcio e na produo de carne. No se esquea de que grama uma palavra masculina, diferentemente do vegetal grama; logo, assim como ningum diz uma quilograma, voc no deve dizer duzentas gramas, mas sim duzentos gramas.

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No Brasil, usual nos referirmos a quilograma simplesmente como quilo. Porm, conveniente saber que quilo um prefixo que significa mil; portanto um quilograma igual a mil gramas. Voc tambm ouve bastante as palavras megabyte e gigabyte, e est comeando a ouvir cada vez mais frequentemente a palavra terabyte. Mega, giga e tera significam, respectivamente, um milho, um bilho e um trilho. O prefixo mili significa a milsima parte (como em milmetro); micro a milionsima parte (como em microscpio); nano a bilionsima parte (como em nanotecnologia). O n a unidade de velocidade usada na navegao. Na Hidrometria utiliza-se

normalmente metro por segundo. Nos assuntos relacionados a transportes em geral, usa-se quilmetros por hora. Na indstria e no comrcio de torneiras, pias, chuveiros e demais equipamentos hidrulicos domsticos, usam-se muito as unidades litro por hora e litro por segundo. A variao de volume de reservatrios muitas vezes medida em hectmetros cbicos por dia. As medies de evaporao da gua de um grande lago, dos mares e dos oceanos so comumente feitas em quilmetros cbicos por ano. O joule a unidade de energia no Sistema Mtrico Internacional. A quilocaloria a unidade de energia mais

usada nas indstrias alimentcias e farmacuticas, na Medicina e na Biologia. O quilowatt-hora a unidade usada para medir o consumo residencial de energia.67

O Watt a unidade de potncia do Sistema Mtrico Internacional. Um watt equivale a um joule por segundo. O watt a unidade usada pelo comrcio de lmpadas. O quilowatt utilizado pelos fabricantes de eletrodomsticos, tais como geladeiras e lavadouras de roupa. O megawatt a unidade usada para nos referirmos potncia de usinas de gerao de energia eltrica. O gigawatt a unidade usada para compararmos as maiores usinas do mundo; por exemplo: a potncia mdia de Itaipu de 14 gigawatts.

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Comprimento 1 centmetro 1 decmetro 1 metro 1 decmetro 1 hectmetro 1 quilmetro 1 polegada 1 p 1 jarda 1 estdio 1 milha inglesa 1 milha nutica 10 milmetros 10 centmetros 10 decmetros 10 metros 10 decmetros 10 hectmetros 25,4 milmetros 12 polegadas 3 ps 220 jardas 8 estdios 1.852 metros

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rea 1 are 1 hectare 1 quilmetro quadrado 1 alqueire paulista (ou alqueirinho) 1 alqueire mineiro (ou alqueiro) 1 acre 100 metros quadrados 100 ares 100 hectares 2,42 hectares 2 alqueires paulistas 4.840 jardas quadradas

Volume 1 centmetro cbico 1 mililitro 1 decmetro cbico 1 litro 1 metro cbico 1 hectmetro cbico 1 quilmetro cbico 1 copo americano 1 gota dgua 1 mililitro 1 gill 1 pint 1 galo ingls 1 barril 1.000 milmetros cbicos 1 centmetro cbico 1.000 centmetros cbicos 1 decmetro cbico 1.000 litros 1 bilho de litros 1 trilho de litros 1/5 de litro Aproximadamente 50 milmetros cbicos Aproximadamente 20 gotas dgua 1 18,3 mililitros 4 gill 8 pints Aproximadamente 159 litros

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Tempo 1 minuto 1 hora 1 dia 1 ano 1 sculo 1 milnio 60 segundos 60 minutos 24 horas 365,25 dias 100 anos 10 sculos

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Massa 1 grama 1 quilograma 1 tonelada 1 arroba 1 libra inglesa 1.000 miligramas 1.000 gramas 1.000 quilogramas 14,688 quilogramas 453,6 gramas

70Velocidade 1 metro por segundo 1 n Vazo 1 litro por segundo 1 metro cbico por hora 1 quilmetro cbico por ano 1 hectmetro cbico por dia 3,6 metros cbicos por hora 1.000 litros por hora Aproximadamente 31.710 litros por segundo Aproximadamente 1 1.574 litros por segundo 3,6 quilmetros por hora 1 milha nutica por hora

Energia 1 quilocaloria 1 quilowatt-hora Potncia 1 quilowatt 1 megawatt 1 gigawatt 1.000 watts 1.000 quilowatts 1.000 megawatts 4.186,8 joules Aproximadamente 860 quilocalorias

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