anais-viii simposio de musica fap 2012
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 2
Gomes, Solange Maranho; Nocko, Caio M. (orgs.)
Anais do VIII Simpsio de msica da Faculdade de Artes do Paran: prticas de ensino da msica. / Gomes, Solange Maranho; Nocko, Caio M. (orgs.) Curitiba, 2012.
168 f. 1. Msica. 2. Artes. 3. Ensino. 4. FAP. I. Ttulo. UNIP /
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 3
VIII Simpsio de Msica da Faculdade de Artes do Paran 24 28 de setembro de 2012
Prof Stela Maris da Silva
Prof. ngelo Jos Sangiovanni Direo da FAP
Prof Gisele Onuki Coordenadora de extenso e cultura da FAP
Agente administrativa Ruth Duarte Menezes Correa Estagirio Victor Hugo de Oliveira Vargas
Diviso de extenso e cultura da FAP Agente administrativo Hlio Ricardo Sauthier
Coordenador de comunicao da FAP Estagirio Samuel Giondis
Diviso de comunicao da FAP
Prof Solange Maranho Gomes Coordenadora geral
Prof. Andr Ricardo de Souza Prof ngela Maria Trotta
Prof Liane Guariente Discente Andr Altafini Comisso organizadora
Discente Amanda Barbosa Discente Luciano Moro
Discente Machison de Assis Abreu Discente Mirela Fortunatti
Discente Rachel Las Bizetto Ramos Discente Rodrigo Velloso
Monitores Discente Andr Altafini
Coordenador do Intervalo musical
Prof. Me. lvaro Borges FAP Prof. Me. Andr Ricardo de Souza FAP
Prof. Me. Drusio Fonseca FAP Prof Ftima Carneiro dos Santos UEL
Prof. Me. Francisco Wildt FAP Prof. Dr. Guilherme Romanelli UFPR Prof Dr Laize Soares Guazina FAP
Prof Me. Marta Deckert FAP Prof Dr Rosane Cardoso de Arajo UFPR
Prof Me. Simone do Rocio Cit FAP Comit cientfico
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SUMRIO
PROGRAMAO 06 APRESENTAO 09 CONFERNCIA, PALESTRA E PAINIS 10 CONFERNCIA 11 Prticas de ensino em diferentes contextos: polticas pblicas e o compromisso social Prof Dr Magali Kleber - UEL PALESTRA 23 Motivao e msica Prof Dr Rosane Cardoso de Araujo - UFPR PAINEL I Prticas de Ensino: Estgio 28 O estgio Curricular Obrigatrio na Licenciatura em Msica da PUCPR 28 Prof Cristina Lemos - PUC/PR Contribuio do estgio na formao profissional do educador musical 29 Prof Esp. Andra M. Bernardini - FAP Prtica de Ensino: Estgio 30 Marta Deckert - FAP Desafios da prtica de ensino para o curso de licenciatura em msica 32 Prof. Dr. Guilherme Romanelli - UFPR O estgio curricular supervisionado e a EMBAP 33 Prof. Me. Margaret Amaral de Andrade - EMBAP PAINEL II Prticas de ensino: Estruturao musical 34 Estruturao Musical 34 Prof. Dr. Indioney Rodrigues - UFPR Funo e funcionalidade no estudo da harmonia tonal: o I64 cadencial 35 Prof. Me. Francisco Wildt - FAP Questes acerca de terminologia no estudo de Harmonia 42 Prof. Me. Vicente Ribeiro - FAP PAINEL III O ensino de msica e suas interfaces 44 Profissionais da msica em projetos sociais 44 Prof. Dr Renate Lizana Weiland - EMBAP Linguagem, literatura e educao musical interfaces 45 Prof. Me. Simone do Rocio Cit - FAP O Ensino de Msica e suas Interfaces 46 Prof Dr Laize Guazina - FAP COMUNICAES GT1 47 Resultados da implantao da msica em uma escola 48 Prof Esp. Josirene Marques A oficina de choro e samba como experincia de ensino facilitadora... 62 Prof. Me. Juliana Carla Bastos A percepo de emoo em msica por crianas de 6 a 11 anos de idade... 70 Me. Kamile Santos Levek - UFBA Da oficina de msica ao Palcio de Seda: um constructo pedaggico-musical ... 79 Prof. Me. Liane Cristina Guariente - FAP Diversidade e diferena, uma abordagem prtica na educao musical infantil 87 Ricardo de Oliveira Thomasi & Daniel Marcos Ferreira Machado COMUNICAES GT 2 94 Aprendizagem musical e perodos crticos do desenvolvimento cerebral ... 95 Amanda Nicolau O mtodo suzuki e a msica brasileira 100 Aruana Tineu de Melo Moscheta & Solange Maranho Gomes - FAP O movimento relato de uma experincia em formao para artistas ... 110 Asaph Eleutrio
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Espao Cidado Musical: Ensino da Msica na Cidade Industrial de Curitiba 119 Brbara Virgnia FAP; Carmen Ivanete DAgostini Spanhol FAP; Juliane Neves Fiorezi Instituto ConSer & Luciana dos Santos Instituto ConSer Projeto de pesquisa O processo pedaggico-musical em El Sistema ... 127 Veridiana de Lima Gomes Krger - UFPEL COMUNICAES GT 3 136 Estratgias de ensino para a promoo do desenvolvimento musical 137 Caroline Caregnato Reflexes acerca da cano folclrica na escola desde Villa-Lobos 144 Mariana Gomes Godinho de Castro O desenvolvimento cognitivo infantil e o canto espontneo 152 Marlene Banach & Solange Maranho Gomes - FAP PSTERES 160 A educao musical nas escolas municipais de rio grande 161 Roberta Domingues Machado & Isabel Bonat Hirsch - UFPEL Flauta Doce: Encantamento e Conhecimento 164 Solange da Silva Dalastra & Zeloir Aparecida Scabeni Mendes
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PROGRAMAO
24 DE SETEMBRO SEGUNDA-FEIRA
13:30h Apresentao Musical Prof Me. Liane Guariente
14H Cerimnia de Abertura
Direo da Faculdade de Artes do Paran; Secretaria de Estado, Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran; Secretaria de Estado da Educao do Paran; Secretaria
Municipal de Educao de Curitiba; Presidncia da Associao Brasileira de Educao Musical e; Coordenao do Evento.
15:30h Conferncia
Prticas de ensino em espaos diversos Prof Dr Magali Kleber (UEL)
17:15h Intervalo Musical Projeto Complemento
Integrantes: Antonio Marcio do Amaral, Camila Fernanda Moro Rios, Fabian Mauricio Maito Sanson, Gisele Mariah Lima, Karla Dbia Del Secchi Ferreira, Phelipe Augusto
Tisoni, Renato Adelino Otto
17:45h Sesso de psteres e lanamento de livro e CD Lanamento do livro: Fazendo msica com crianas, de Tiago Madalozzo
Lanamento do CD: Musicalizao, msica para bebs e crianas, de Breeze Rosa
25 DE SETEMBRO TERA-FEIRA
13:30h Painel I Prticas de ensino: estgio
Prof. Dr. Guilherme Romanelli (UFPR), Prof Me. Margarete Andrade (EMBAP), Prof Me. Cristina Lemos (PUC), Prof Me. Marta Deckert (FAP) e Prof Esp. Andra
Bernardini (FAP) Mediadora: Prof Me. Solange Maranho Gomes (FAP)
15:30h Intervalo Musical Projeto Reinventar
Integrantes: Marcelo de Souza Pereira, Fernando Aparecido Ribeiro Silva, Paulo Chierentini, Bernardo Brando Daldin, Fernando de Castro Gomes, Marlon do Prado
Mendes e Fernanda Cordeiro de Souza
16H Grupos de Trabalho GT 1 Prticas musicais no contexto escolar
GT 2 A educao musical em diferentes cenrios scio-musicais GT 3 Formao inicial e continuada
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19H Apresentao musical Grupo OMUND
26 DE SETEMBRO QUARTA-FEIRA
09H Oficina
Trilha sonora e sonoplastia: Prof. Me. Demian Garcia
13:30h Palestra Motivao para prtica e aprendizagem musical Prof Dr Rosane Cardoso de Arajo
(UFPR)
15:30h Intervalo Musical Miniconto
Integrantes: Daniel Amaral e Karla Dbia Del Secchi Ferreira
16H - Oficinas Abordagens criativas e msica contempornea: novos repertrios para o ensino de
msica: Prof. Me. lvaro Borges Material didtico para a educao musical: Prof Me. Simone Cit
Orquestra reciclvel oficina de construo de instrumentos: Leandro Leal Prtica de choro: Me. Cludio Fernandes
Trabalhando com musicalizao: Me. Tiago Madalozzo
19H Apresentao musical Orquestra de Msica Popular da FAP
27 DE SETEMBRO QUINTA-FEIRA
09H Oficina
Trilha sonora e sonoplastia: Prof. Me. Demian Garcia
13:30h Painel II Prticas de ensino: estruturao musical
Prof. Dr. Indioney Rodrigues (UFPR), Prof. Me. Carlos Assis (EMBAP), Prof. Me. Francisco Wildt (FAP) e Prof. Esp. Vicente Ribeiro (FAP) Mediador: Prof. Me. Andr
Ricardo de Souza (FAP)
15:30h Intervalo Musical Primeira Dama
Integrantes: Andr Luiz Teixeira Altafini, Camila Fernanda Moro Rio, Phelipe Augusto Tisoni e Fabrcio do Amaral Kuss
16H - Oficinas
Abordagens criativas e msica contempornea: novos repertrios para o ensino de msica: Prof. Me. lvaro Borges
Material didtico para a educao musical: Prof Me. Simone Cit
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Orquestra reciclvel oficina de construo de instrumentos: Leandro Leal Prtica de choro: Me. Cludio Fernandes
Trabalhando com musicalizao: Me. Tiago Madalozzo Trilha sonora e sonoplastia: Prof. Me. Demian Garcia
19H Apresentao musical
Palcio de Seda
28 DE SETEMBRO SEXTA-FEIRA
08H Oficina Carl Orff: Melita Bona
13:30h Painel III
O ensino de msica e suas interfaces Prof Dr Renate Weiland (EMBAP), Prof Dr Laize Guazina (FAP) e Prof Me. Simone
Cit ( FAP) Mediadora: Prof Me. Liane Guariente
15H - Oficina Trabalhando com musicalizao: Me. Tiago Madalozzo
15:30h Intervalo Musical
Alchemy Integrantes: Phelipe Tisoni, Fabian Mauricio Maito Sanson, Pedro de Mariz Saucedo e
Gabrielly Nichele Schimidt
16H Apresentao dos resultados dos grupos de trabalho
17H Apresentao musical resultante das oficinas e Encerramento do evento
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APRESENTAO
O VIII Simpsio de Msica da FAP congregou professores, alunos, msicos,
pesquisadores, profissionais e interessados em geral na rea da Educao Musical, fomentando a
reflexo sobre as prticas do ensino da msica, considerando sempre a diversidade de espaos
em que ocorrem. O encontro propiciou a vinda de profissionais palestrantes que discutiram
aspectos relevantes do ensino da msica como o estgio curricular, a motivao, a estruturao
musical, os projetos sociais relacionados rea, possibilitando a amplitude de conhecimentos e
as discusses temticas.
A apresentao de trabalhos cientficos nos grupos de trabalho possibilitou a
divulgao das pesquisas realizadas na rea da educao musical, bem como a presena de
pesquisadores, estudantes e professores de centros acadmicos de outros estados brasileiros.
Os anais sero publicados com os textos das palestras, dos painis e dos trabalhos
cientficos, colaborando com a troca de experincias e o fortalecimento da rea de educao
musical em sua dimenses prtica e reflexiva.
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CONFERNCIA,
PALESTRA
E
PAINIS
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CONFERNCIA Prticas de ensino em diferentes contextos: polticas pblicas e o compromisso social1
Prof Dr Magali Kleber
Universidade Estadual de Londrina Associao Brasileira de Educao Musical
Compartilho nesse Simpsio algumas reflexes sobre pensar a arte na perspectiva de um
alinhamento com o compromisso social na implementao de polticas pblicas. Pergunta-se,
ento: como que podemos estabelecer relaes entre educao musical e o compromisso social,
considerando que esse ltimo projeta a necessidade de compreenso e do posicionamento crtico
frente a uma realidade que requer o estmulo para uma interveno prtica? O tema sugere: como
podemos nos comprometer com os problemas sociais que so afetos a nossa rea, ou seja a
msica e a educao? Quais so os limites de interveno e as interseces entre os campos de
conhecimento possveis?
Entramos no sculo XXI com potentes possibilidades cientficas e tecnolgicas que
podem dar suporte para superao de desigualdade sociais inaceitveis do ponto de vista da
dignidade humana. Falar em prtica docente em diferentes contextos e discut-lo em um encontro
de educao musical como este, requer compreender as conexes que esto imbricadas com as
prticas cotidianas e culturais que delimitam as possibilidades e, tambm, impossibilidades, bem
como o acesso e o no acesso aos bens culturais aos diferentes grupos sociais.
Nessa perspectiva, trata-se de um compromisso social, na condio de educadores que
somos e carece reafirmar que a noo de cultura fundamental para se pensar e compreender as
relaes sociais que constituem e enredam a trama complexa presente na sociedade
contempornea. O reconhecimento de que a troca e compartilhamento de bens simblicos so
importantes nos processos educativos nos remete necessidade de praticarmos, de fato, aes
que reconheam a diversidade cultural como premissa, pois tal postura pressupe acolher as
diferentes formas de conhecimentos, experincias, valores e interesse humanos.
A velocidade que se imprimiu no fluxo das informaes no sculo passado acentuou a
sobreposio de contextos socioculturais, em plataformas presenciais, digitais e tantas outras
objetivas ou subjetivas. Criou uma dinmica voltil, veloz, instvel e elstica, tanto na forma
como no contedo das informaes, impactando a veiculao do conhecimento produzido. Trata-
se, portanto, de um espao privilegiado da economia, da poltica, das relaes sociais e da 1 Texto resumido de artigo apresentado no Congresso Musical de Guimares, Portugal, em maro de 2012.
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educao. Nesse panorama, inmeras concepes de educao emergem ampliando o espao,
antes restrito ao contexto escolar intramuros, para um ambiente que traz inerente a comunidade,
a inter-setorialidade, novos ou outros atores sociais, novos e outros valores, conflitos inter-
geracionais, polticos, socioculturais, implicando muitos desafios para qualquer educador atuar
com competncia imerso nessa complexidade.
Essa perspectiva configura-se como uma questo importante para ns educadores, uma
vez que est ligada concepes da cultura instituda e valorizada historicamente e as outras
culturas, muitas vezes, invisveis pela convenincia ou pelas polticas pblicas embasadas em
valores institudos que privilegiam um determinado status quo. Culturas invisveis quer dizer
tambm, grupos sociais invisveis ou outsiders.
Essa oposio vem sendo debatida e apontada em muitos campos de conhecimento e
reconhecida como ponto de conflitos presente na sociedade contempornea.
Dessa forma, corroboro e destaco aqui o pensamento de Almerindo Janela Afonso, ao
argumentar sobre polticas educacionais e sua viso sistmica sobre cidadania:
[...] como construo histrica, a cidadania tem muitas outras dimenses. Se, por um lado, o contedo ambivalente e contraditrio da problemtica da cidadania reflete a existncia de um terreno de disputa onde se confrontam processos sociais, polticos, econmicos e culturais de restrio e excluso com processos de incluso, de negociao e de reconhecimento, por outro lado, enquanto construo democrtica de novos direitos, a cidadania pode ser entendida tambm como uma categoria dinmica e inacabada, fortemente permevel s lutas sociais, econmicas e polticas. (AFONSO, 2001, p. 08)
Esse um dos desafios importantes para o educador musical, pois implica reconhecer as
foras que se instauram mediante as diferentes culturas presentes e conviventes na textura socia.
Trata-se de reconhecer que um campo de confrontos e conflitos, uma vez que a msica como
eixo estruturados da identidade cultural, traz consigo os valores simblicos que emerge com
grande fora na identidade dos grupos sociais.
Tal perspectiva nos impele a transitar por mltiplas direes e em mltiplos contextos,
traando trajetrias muitas vezes inusitadas, em muitas dos quais aprendemos coisas novas no
prprio caminhar. Atuar de forma criativa em situaes de carter aberto implica uma formao
que rompa com paradigmas e processos pedaggicos que ainda faz prevalecer o estabelecido,
uma hierarquia esttica convencional, a linearidade. H que se abrir espao para a participao
ativa de novos e outros atores sociais envolvidos em uma proposta educativa. A atuao do
professor como o nico detentor de um determinado conhecimento a ser transmitido
insuficiente, pois no abarca uma complexidade presente na textura social e estimula uma
relao dialgica na construo de novos conhecimentos.
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As prticas culturais e artsticas transitam no mbito mundo simblico do ser humano e
esto entre os grandes eixos de construo de identidade social e cultural. Assim, considerar o
mundo musical que valoroso para os participantes uma forma de compartilhar e reconhecer o
diferente, o outro, o novo.
A rea de educao musical tem um significativo papel quando se fala polticas pblicas
em educao e m compromisso social. Trata-se de defender uma perspectiva crtica, que
possibilite ao educador romper com o estabelecido a priori e potencializar a diversidade cultural
como algo positivo em sua prtica educativa. Sacristan (1998), educador espanhol da atualidade,
prope a inter-relao entre as diferentes modalidades de conhecimento que ele denomina:
conhecimento pessoal/cultura, conhecimento popular, conhecimento acadmico dominante,
conhecimento acadmico transformador, resultando dessa inter-relao o conhecimento escolar.
Podemos dizer, ento, que um dos eixos do compromisso social da rea de educao
musical, est relacionado com a proposio, a elaborao, a construo de propostas que
possibilitem a vivncia de experincias estticas, artsticas, ticas e polticas. E que essa
dinmica, sintetize os diversos modos de viver e de conhecimentos dos protagonistas desse
processo. Assim, essas prticas musicais estaro situadas historicamente, estaro plasmadas por
identidades que se rementem em um determinado contexto sociocultural significativo e refletem,
portanto, as concepes de mundo, de humanidade, de escolhas e gosto esttico e musical, de
valores simblicos dos respectivos grupos sociais (KLEBER, 2006).
O significado das prticas musicais, nessa perspectiva, relativiza-se e contempla a relao
entre a obra e o sujeito possibilitando entend-la uma construo carregada de subjetividade.
Assim, os valores estticos no podem ser fixados de maneira permanente nem pela arte nem
pela crtica. As prticas musicais servem vida e no prescrevem um modo definido e limitado
de viver, mas, ao contrrio, impelem a uma atitude renovada frente s situaes ordinrias do
cotidiano. Uma proposta educacional, deve estar relacionada com as experincias e condio
humanas, pois incide n o que h de mais ntimo no indivduo podendo ser mediada pelo no
convencional, o institudo, abrindo espao para o novo e passeios por utopias. Acredito que tal
contexto tem potncia para romper paradigmas nas artes, na msica e na educao.
Macropolticas pblicas no sistema educacional brasileiro: alguns aspectos ligados s
licenciaturas
De acordo com o trabalho, baseado no Censo Escolar da Educao Bsica 2007, o Brasil
possui cerca de 124 mil professores de Artes. A grande maioria (92%) tem licenciatura, mas no
na rea de atuao, sendo que que Artes a disciplina com menor proporo de docentes com
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formao na rea especfica de atuao: 25,7%, nos anos finais do ensino fundamental. Deste
percentual, s 2,4% lecionam a disciplina correspondente ao curso em que se formaram na
graduao, ou seja, professor de msica formado na licenciatura em msica, situao extensiva
s outras subreas, teatro, artes visuais e dana. Os dados do Ministrio da Educao MEC
informa ainda que 50,2% dos professores que lecionam Artes so formados em outras reas e
24,1% estudaram Pedagogia como est posto no Boletim Arte na Escola. Jan a Mar 2010 (p. 6).
Esses dados revelam que faltam professores capacitados na rea e, embora muitas secretarias
municipais e estaduais de educao j esto construindo diretrizes curriculares e aplicando
politicas para auxiliar o professor na sala de aula, a situao est longe de se considerar
minimamente satisfatria. H, tambm, parcerias com universidade para garantir uma formao
inicial e continuada dos docentes para atuar com mais eficincia em Artes que comeam a
delinear uma conexo importante entre essas instncias educacionais.
Em termos de politicas pblicas em educao, destaca-se a recente providencia, via o
DECRETO 6.755, DE 29 DE JANEIRO DE 20092, o qual institui a Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao
Bsica; disciplina a atuao da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior -
CAPES no fomento a programas de formao inicial e continuada, e encaminha outras
providncias. O Decreto dispe, no Art. 1 Pargrafo nico que
fica instituda a Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, com a finalidade de organizar, em regime de colaborao entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, a formao inicial e continuada dos profissionais do magistrio para as redes pblicas da educao bsica3.
A implementao do Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para Professores
em Exerccio na Educao Bsica Pblica, devem contemplar as diretrizes presentes no
PCN/CP008, item 3. Perfil profissional dos professores e item 4. Dos contedos formativos e da
organizao curricular. Assim constantes no documento (PARECER CNE/CP No 8/2008,
aprovado em 02/12/2008)4:
Para caracterizar o perfil profissional dos professores egressos dos cursos oferecidos pelo referido Programa [...], deve ser valorizada a formao graduada prvia e a experincia anterior e concomitante de magistrio. Assim, desde o incio do curso, os estudantes da segunda licenciatura sero profissionais conhecedores do contexto em que atuam e das problemticas mais gerais da Educao Bsica, com capacidade aguada para compreender, investigar e produzir alternativas pedaggicas mais qualificadas para seu trabalho. A
2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Decreto/D6755.htm Acessado em 12/04/12. 3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5773.htm 4 Parecer homologado Despacho do Ministro, publicado no Diario Oficial da Unio de 30/01/2009: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2008/pcp008_08.pdf
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interveno deste profissional no ambiente escolar recair sobre questes que envolvam a docncia, a gesto, a produo e a difuso do conhecimento. Para isso, precisar ser valorizado como profissional que tem saberes especficos, advindos em grande medida dos processos de formao anteriores, e dispor de condies dignas para o exerccio profissional. 5
Nesse sentido, o documento ainda destaca que tal qualificao especfica e pedaggica
possibilite ao professor:
Exercer atividades de ensino nas etapas e modalidades da Educao Bsica;
Dominar os contedos da rea ou disciplinas de sua escolha e as respectivas metodologias de
ensino a fim de construir e administrar situaes de aprendizagem e de ensino;
Atuar no planejamento, organizao e gesto de instituies e sistemas de ensino nas esferas
administrativas e pedaggicas;
Contribuir com o desenvolvimento do projeto poltico-pedaggico da instituio em que atua,
realizando trabalho coletivo e solidrio, interdisciplinar e investigativo;
Exercer liderana pedaggica e intelectual, articulando-se aos movimentos socioculturais da
comunidade e da sua categoria profissional;
Desenvolver estudos e pesquisas de natureza terico-investigativa da educao e da docncia.
Em relao aos contedos formativos e organizao curricular, os Projetos Pedaggicos
PPs estes, devem considerar conhecimentos de formao especfica relacionados s diferentes
etapas da Educao Bsica; propiciar a insero no debate contemporneo mais amplo,
envolvendo questes culturais, sociais, econmicas e o conhecimento sobre o desenvolvimento
humano e a prpria docncia, contemplando, de forma interdisciplinar, a cultura geral e
profissional; sistematizar conhecimentos sobre crianas, adolescentes, jovens e adultos, a
includas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais, dos respectivos
grupos atendidos; reconhecer as dimenses cultural, social, poltica e econmica da educao;
ser capaz de atualizar contedos das reas de conhecimento que sero objeto de ensino;
apropriar-se continuamente de conhecimentos pedaggicos e advindos de sua prpria
experincia. A formao em uma segunda licenciatura deve valorizar a formao prvia e a
experincia profissional, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
- LDB (Lei N 9.394, De 20 De Dezembro De 1996)6.
Na organizao curricular, cada instituio formadora poder propor projeto pedaggico
de curso compatvel com o projeto pedaggico institucional, analogamente ao que determina a
Resoluo CNE/CP n 2/1997: 5 Parecer homologado Despacho do Ministro, publicado no Diario Oficial da Unio de 30/01/2009: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2008/pcp008_08.pdf 6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm Acessado em 19/04/12
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a) Ncleo Contextual, visando compreenso dos processos de ensino e aprendizagem
referidos prtica de escola, considerando tanto as relaes que se passam no seu interior, com
seus participantes, quanto as suas relaes, como instituio, com o contexto imediato e o
contexto geral onde est inserida.
b) Ncleo Estrutural, abordando um corpo de conhecimentos curriculares, sua
organizao sequencial, avaliao e integrao com outras disciplinas, os mtodos adequados ao
desenvolvimento do conhecimento em pauta, bem como sua adequao ao processo de ensino e
aprendizagem.
c) Ncleo Integrador, centrado nos problemas concretos enfrentados pelos alunos na
prtica de ensino, com vistas ao planejamento e organizao do trabalho escolar, discutidos a
partir de diferentes perspectivas tericas, com a participao articulada dos professores das
vrias disciplinas do curso. A estrutura curricular, deste modo, deve articular as duas dimenses:
a da formao pedaggica e a da formao especfica nos contedos da rea ou disciplina para a
qual estar sendo licenciado. Neste sentido, reitera-se que a formao de professores deva se
constituir como um processo com identidade e estrutura prprias, promovendo a articulao da
formao pedaggica e da formao especfica. A seleo e o ordenamento dos contedos que
comporo a matriz curricular sero de competncia da instituio de ensino.
Considerando a magnitude do contexto em que se insere esse Programa Emergencial,
destaca-se que se trata de uma ao institucional de grande envergadura e com potencia de
impacto na Educao Bsica. Portanto, h um comprometimento institucional, coletivo e
compartilhado que envolve tambm as Licenciaturas propositoras, o que carece de alinhamento
conceitual, poltico e tico.7
A educao musical pensada e articulada no mbito das polticas publicas em educao
no Brasil encontra um imensurvel potencial para desenvolver projetos pilotos que venham a
contribuir para uma efetiva implementao da msica na escola como est posto na Lei 11.769.
Isso significa ter uma perspectiva inclusiva de oportunidade para se aprender msica na escola
como direito cidado para todos os brasileiras e brasileiras no ensino pblico. nesse programa do
governo, possibilidades de capacitar professores em msica que j atuam na rede escolar.
O Programa de Iniciao Docncia PIBID um foco nas licenciaturas
Outro programa federal que vem impactando os cursos de licenciaturas o Programa
Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia (PIBID)8, que tem como um dos principais
objetivos incentivar a formao de docentes, mediante a graduao nas licenciaturas para atuar 7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm Acessado em 19/04/12 8 http://capes.gov.br/educacao-basica/capespibid
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na Educao Bsica. Busca inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pblica de
educao, propiciando oportunidades de criao e participao em experincias metodolgicas,
tecnolgicas e prticas docentes de carter inovador e interdisciplinar. Volta-se tambm para
solues de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem.
Temos um flanco aberto para que se amplie o acesso ao ensino e aprendizagem de
ARTE, com suas especificidades respeitadas, mas esse o grande desafio: suplantar a concepo
polivalente que ainda prevalece no mbito das polticas curriculares da Educao Bsica.
Trata-se de uma situao problemtica, pois, a rea de conhecimento, ARTE compe
quatro modalidades no Ensino de Artes: Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro. No entanto,
frequente a recusa dos diplomas de Licenciatura Plena em Msica e/ou outras licenciaturas que
no Artes Visuais, resqucios da herana da polivalncia pela Lei 5692/71 no Brasil. A ABEM
vem sendo reconhecida como entidade de classe pelas instncias governamentais por sua atuao
poltica e acadmica e mediante sua insero na conduo de encaminhamentos e atividades
educacionais e cientficas ligadas ao ensino e aprendizagem de msica. Defende que os
profissionais da educao musical tenham a prerrogativa para atuar em sua rea especifica,
honrando-se a formao tambm especfica mediante a licenciatura em msica, reconhecendo,
contudo, a necessidade de uma proposta curricular de PP que integre as diversas reas do
conhecimento.
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia (Pibid) uma proposta de
valorizao dos futuros docentes durante seu processo de formao ne Ensino Superior,
precisamente nas Licenciaturas. Tem como objetivo o aperfeioamento da formao de
professores para a educao bsica e a melhoria de qualidade da educao pblica brasileira. O
Pibid tem como politica de incentivo oferecer bolsa para os licenciandos, para os professores da
rede publica e para os docentes da universidade que atuam como coordenadores. Trata-se do
maior investimento j realizado tanto quantitativamente, em termos de disponibilizao de verba
pblica, como qualitativamente em termos de exigncia conceitual, metodolgica e de
fundamentao terica, no mesmo patamar do Programa de Iniciao Cientfica9.
Um significativo diferencial que os docentes de escolas pblicas envolvidas so
responsveis pela superviso dos licenciandos propiciando um maior e real envolvimento com a
cultura e contexto escolar. Traa-se assim, uma relao tridica entre docentes do ensino
superior, discentes e docentes das universidades e escolas da educao bsica, bem como todas
as estruturas fsicas e polticas envolvidas nessa relao. So repassados, tambm, recursos de
custeio para execuo de atividades vinculadas ao projeto. 9 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8616 Acessado em 12/05/2012
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 18
Ao ser lanado, em 2007, segundo Carmen Moreira de Castro Neves Braslia, 27 de
setembro de 201, no II Congresso Nacional de Coordenadores do PIBID, a prioridade de
atendimento do Pibid eram as reas de Fsica, Qumica, Biologia e Matemtica para o ensino
mdio. Atualmente: Educao Bsica. Outros nmeros: esto sendo desenvolvidos 1.442
subprojetos de diferentes licenciaturas, com coordenadores de reas especficas; 3.198
professores de escolas pblicas esto atuando como supervisores, buscando integrar os
licenciandos ao cotidiano da cultura escola. Atualmente, h 21.598 alunos de licenciatura
bolsistas do Pibid. Um dos principais impactos, constatados pelo MEC a diminuio da evaso
e aumento da procura pelos cursos de licenciatura, bem como o reconhecimento de um novo
status para as licenciaturas na comunidade acadmica. Aspectos como a articulao entre a
teoria e prtica, as universidades e escolas bsicas, a elevao da autoestima dos licenciandos
so evidncias indicando caminhos positivos para o Programa. A formao continuada e a
presena crescente de trabalhos dos bolsistas em eventos cientficos so indicadores que revelam
as possibilidades de qualificao na formao docente. Concretamente pode-se constatar um
aumento da produo de materiais didticos: jogos, vdeos, textos, livros, experincias, blogs,
sites, abertura de laboratrios de cincias e informtica; presena de alunos das escolas em
olimpadas cientficas e atividades culturais e formao continuada dos supervisores.
A perspectiva pluricontextual contempla a complexidade que se apresenta no processo
pedaggico-musical, pois oferece a possibilidade de se apreender, simultaneamente, diferentes
aspectos da realidade social, acentuando os processos coletivos presentes na constituio da
identidade sociomusical dos diversos grupos sociais. Portanto, as prticas musicais assim
consideradas s podem ser pensadas sistemicamente onde no h espao para uma produo do
conhecimento musical descolado dos contextos, do processo como um todo.
As implicaes para o campo epistemolgico da educao musical incidem em uma viso
que reconhea que a produo de conhecimento pedaggico-musical deve considerar o mltiplo
contexto da realidade social, dissolvendo categorias hierrquicas de valores culturais. Para tanto
preciso refletir sobre as categorias dominantes de mrito artstico e pedaggico, questionando,
problematizando, borrando os limites das estruturas de avaliaes e julgamento de prticas
musicais. Faz-se necessrio, tambm, reexaminar as relaes entre o conhecimento da cultura
popular e o conhecimento estabelecido pela academia, como j tem sido proposto pela rea de
educao musical (KLEBER, 2006).
Ressalta-se que todas essas formas de conhecimento esto imbricadas com prticas
musicais e entrelaadas por questes estticas, ticas e polticas. Os rituais coletivos como as
aulas, os ensaios, os jogos, as brincadeiras e os encontros informais mostram-se como momentos
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 19
de sntese das relaes e das vivncias proporcionada pela msica. O lazer, o aprender a tocar
naquele lugar com aquelas pessoas, criar e/ou cuidar dos instrumentos musicais, realizar uma
produo musical, os encontros com os amigos fazem parte de um contexto prprio e devem ser
consideradas no processo pedaggico-musical. Visto assim, esse processo refere-se experincia
musical, no fragmentada, multidimensional, imantada pela experincia de conceber, vivenciar e
compartilh-la na sua completude, imprimindo-lhe outra dimenso, ou seja, aquela ligada a vida
vivida.
Nesse sentido que as prticas musicais se mostram como um fator potencialmente
favorvel para a transformao social dos grupos e indivduos. Poder contar com seus valores
musicais no processo pedaggico-musical pode se tornar um ponto significativo para um
trabalho de ampliao do status de ser msico ou de participar de um grupo musical.
Inserida em contextos diferentes, a proposta curricular das escolas deve estar articulada
realidade do seu alunado, para que a comunidade escolar possa conhecer e valorizar a cultura do
entorno, condio fundamental para a cidadania, e para que os alunos possam nela se reconhecer
e construir identidades afirmativas, capazes de atuarem sobre a realidade que vivenciam e,
inclusive, transform-la, a partir de uma compreenso das suas relaes mais amplas com outras
realidades. Ao mesmo tempo, a escola dever propiciar aos alunos condies para transitarem
em outras culturas, para que transcendam seu universo local e se tornem aptos a participar de
diferentes esferas da vida social, econmica e poltica (Diretrizes Curriculares Especificas para
o Ensino Fundamental, MEC, 2008).
Um Projeto Pedaggico, entendido como um algo em construo deve constituir-se em
uma forma que permita alteraes, enunciando momentos do pensamento coletivo institucional.
Mas que futuro ns queremos construir? A partir de qual compreenso da realidade devemos
agir? A viso de Universidade articulada com a sociedade, de forma que faa valer sua vocao
para o ensino, pesquisa e extenso indicam o reconhecimento do compromisso social desta
Instituio no que tange busca de solues dos problemas que afligem a comunidade, por meio
da produo do conhecimento. Estes pontos so fundamentais para desenvolver um trabalho
significativo visando formao de novos profissionais educadores e para o desenvolvimento da
sociedade.
Trazendo esta questo para o mbito da educao musical, Bhague (1998, p. 26) destaca
que a criana, ao vivenciar, nos primeiros anos escolares, a experincia de rejeio de sua
cultura, seja nas expresses musicais, verbais ou de qualquer natureza, seja pela simples
omisso, se sentir tambm rejeitada, dificultando um compartilhar saudvel de valores. Isso
decorre de um currculo que privilegia a cultura de uma classe dominante.
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 20
No se quer aqui negar a importncia da tradio da msica europeia ocidental e, muito
menos, o seu valor, mas questionar o esteretipo a ela atribudo como a msica culta, em
detrimento de manifestaes musicais de outras culturas. Em relao, por exemplo, msica
latino-americana, a msica europeia representa e sempre representou uma elite bem definida
dos grupos sociais de maior poder poltico e econmico (BHAGUE, 1998, p. 29-30).
A msica na educao no deve ser tomada por um prisma academista, priorizando a proposta musical europocntrica, numa viso elitista ou compartimentada do fazer. Todas as manifestaes musicais devem ser consideradas como parte inerente ao fazer musical, atentando-se para nossa pluralidade e heterogeneidade culturais. A produo musical especfica e imediata de cada comunidade precisa ser aprendida e entendida como valor em si e ponto de partida... a reelaboraro do material musical e a apreenso de outras possibilidades sonoras permitem ao educando o aprofundamento da linguagem. Dessa forma, expressar-se musicalmente. (BHAGUE, 1998, p. 29-30).
Paulo Freire (1979) fornece instrues detalhadas para desenvolver um currculo de
acordo com sua concepo de educao problematizadora. Silva (1999, p. 60), ao comentar esse
autor, observa que o mesmo utiliza expresses e conceitos bastante tradicionais, tais como
contedos e contedos programticos para falar de currculo.
A diferena, no entanto, est na forma de se construir esses contedos programticos que
emergem da prpria experincia dos educandos, tornando-se temas geradores. Os contedos
tradicionais so recusados, na medida em que cada pessoa ou grupo envolvido na ao
pedaggica dispe internamente dos contedos necessrios, tidos como ponto de partida. Freire
assume o carter eminentemente poltico de sua pedagogia e reconhece a dificuldade de ela ser
posta em prtica em termos sistemticos, nas instituies, anteriormente transformao da
sociedade. Da, o motivo desse tipo de atuao ocorrer principalmente na educao extraescolar.
Outro ponto a se destacar no pensamento de Paulo Freire aquilo que ele chama de
conceito antropolgico de cultura, entendendo a cultura como o resultado de qualquer trabalho
humano, diferente, portanto, da perspectiva assptica que v a cultura como o conjunto da obras
de excelncia produzidas no campo das artes visuais, da literatura, da msica, do teatro (Silva,
1999, p.62). Este conceito de cultura ampliado permite que se contemple a chamada cultura
popular como um conhecimento que legitimamente deve integrar uma proposta curricular. Esta
mesma concepo ir integrar os Estudos Culturais Contemporneos sobre currculo
desenvolvidos na Inglaterra na dcada de 60. Tambm se pode atribuir a ele a antecipao do
pensamento ps-colonialista sobre currculo, na perspectiva ps-crtica.
Neste sentido, Corazza (1998, p. 10) prope que os Estudos Culturais sejam a matriz
terica para se organizar um currculo em torno do que ela denomina Temas Culturais, tendo a
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 21
cultura como seu construto central. A autora defende a subverso total das disciplinas, propondo
outro desenho curricular cuja escolha da prtica pragmtica, estratgica e auto-reflexiva, e os
conhecimentos sejam escolhidos pelos sujeitos a partir de uma temtica cultural. Os Temas
Culturais propiciam, segundo a autora, que se perceba a conexo entre o papel da linguagem e a
delimitao das identidades sociais, e vincula o currculo s experincias que os estudantes
trazem para seus encontros com o conhecimento institucionalmente legitimado. Assim,
reconfiguram-se as fronteiras da alta cultura e da cultura popular, abarcando a multiplicidade
e a diversidade dos diferentes contextos.
Os Temas Culturais contemplam, tambm, o estudo da produo, da recepo e o uso de
variados textos, e da forma como eles estruturam as relaes sociais, os valores e as noes de
comunidade, o futuro e as diversas funes do eu (ibidem, p. 11). Esta amplificao tem uma
significativa importncia para as artes, tendo em vista que os textos a serem trabalhados abarcam
todas as formas de conhecimento mediados por outros canais, como o auditivo e o visual
eletronicamente difundidos. Ao se considerar uma paisagem cultural descentrada, povoada de
terrenos interativos (idem) que caracteriza o cotidiano da juventude e das crianas de hoje,
ressalta-se a importncia de valorizar suas msicas, filmes, programas de TV, grupos esportivos,
religiosos e outros, convertendo-os em objetos de estudo numa prtica educativa. Essas questes
desafiam o educador a pensar outras formas de sistematizar o conhecimento considerando o
desejo e o prazer de se conhecer algo.
No que concerne a um projeto de educao musical h que se assumir a necessidade de se
promover, revises, dissolues e, at mesmo, rupturas com estruturas epistemolgicas
historicamente institudas na forma e contedo o que, implica uma outra viso no processo de
avaliao que estabelece critrios e hierarquias esttico incidindo sobre questes ticas e
polticas. Os valores simblicos que permeiam a cultura dos grupos sociais trazem consigo
prticas de repertrios artsticos, rituais e jogos que desvelam a antinomia entre que o
consagrado pela tradio europeia e o que relegado cultura popular. Nesse sentido, preciso
borrar essas fronteiras historicamente construdas para que se promova o encontro desses saberes
e, dessa forma, se amplie o espectro do fazer artsticos nos processos pedaggicos.
Esta amplificao tem uma significativa importncia para as artes, tendo em vista que os
textos a serem trabalhados abarcam grande possibilidade de formas de conhecimento mediada
por outros canais, como o auditivo, o visual, o corporal, eletronicamente difundidos. Ao se
considerar uma paisagem cultural descentrada que caracteriza o cotidiano da juventude e das
crianas de hoje, ressalta-se a importncia de valorizar suas msicas, filmes, programas de TV,
grupos esportivos, religiosos e outros, convertendo-os em objetos de estudo numa prtica
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 22
educativa. Essas questes desafiam o educador a pensar outras formas de sistematizar o
conhecimento considerando o desejo e o prazer de se conhecer algo.
Todas essas questes se amalgamam no processo pedaggico-artstico, visto de forma
sistmica, no qual a produo de conhecimento leva em conta as pessoas e suas relaes com os
objetos do mundo e inmeras possibilidades de conexes educacionais, polticas e ticas, podem
resultar em uma sinergia positiva que incida na camada mais vulnervel da sociedade e promova,
de fato, a transformao social desejada.
Poder contar com valores culturais e artstico na implementao de polticas pblicas
com essa finalidade um ponto significativo para um trabalho de ampliao do status de ser
cidado. Espero ter contribudo para a reflexo e a prtica sobre o papel da educao artstica no
processo politizado dos movimentos e projetos sociais e polticos, imersos na busca de
transformao e justia social, onde a desigualdade e seus desdobramentos possam ser
minimizados e a dignidade humana prevalea com prioridade e sem concesso.
Referncias AFONSO, Almerindo Janela. Reforma do estado e polticas educacionais: entre a crise do estado-nao e a emergncia da regulao supranacional. Educao & Sociedade, 22 (75), 15-32. Disponvel em: . Acesso em: 15/04/2012. BHAGUE, G. Para uma educao musical realista na Amrica Latina ou A contribuio etnomusicolgica na formao realista do educador musical latino americano. In: Anais do I Encontro Latino-Americano de Educao Musical / VI Encontro Anual da ABEM, Salvador, 1998, p. 26-31. Boletim Arte na Escola. Jan a Mar 2010. Fundao Ioschpe. Disponvel em: . Acesso em: 12 /05 /2012. BRASIL. Diretrizes Curriculares Especificas para o Ensino Fundamental, MEC, 2008. CORAZZA, S. M. Temas Culturais: um modo de luta curricular. In Seminrio Municipal / Seminrio Regional de Educao de Panambi, 7/4, 1998, Panambi - RS. Apostila, 1998. 15 p. DO VALE, V.M.F. Projeto Poltico Pedaggico como Instrumento Coletivo de Transformao do Contexto Escolar. In: BICUDO, M.A. E SILVA JNIOR, C. Formao do Educador e Avaliao Educacional. Conferncia/ Mesa Redonda, Ed. UNESP, So Paulo, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996. _____. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1979. KLEBER, Magali. O. A Prtica de Educao Musical em ONGs: dois estudos de caso no contexto urbano brasileiro. Tese (Doutorado em Msica). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006. OLIVEIRA, A. Construo da Memria Musica do Indivduo. In: Anais do I Encontro Latino-Americano de Educao Musical / VI Encontro Anual da ABEM, Salvador, 1998, p 28-36. SACRISTN, J. G. O currculo: uma reflexo sobre a prtica. Trad. Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre: ArtMed, 1998. SANTOS, Boaventura de Souza. A Gramtica do tempo: para uma nova cultura poltica. 2 Ed. So Paulo: Cortes, 2008.
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PALESTRA
Motivao e msica
Prof Dr Rosane Cardoso de Araujo Universidade Federal do Paran
Resumo: O presente texto tem como foco o estudo de trs teorias de motivao utilizadas em pesquisas recentes, realizadas no Brasil, sobre msica e processos motivacionais: teoria do fluxo, teoria da autodeterminao e crenas de autoeficcia/autorregulao. Por meio da definio e exemplificao das teorias, so apresentadas algumas concluses sobre como estas se relacionam com o processo de prtica e aprendizagem musical e trazem possibilidades de compreenso sobre a persistncia do indivduo no estudo da msica. Palavras-chave: motivao; teoria do fluxo; autodeterminao; auto-eficcia; autorregulao
Muitas pesquisas tm sido desenvolvidas no Brasil, especialmente aps 2007, sobre
motivao e msica. A motivao um foco significativo para as pesquisas sobre msica porque
permite, de acordo com ONeill & McPherson (2002), a compreenso de fatores que explicam
porque os indivduos desenvolvem a vontade de seguir o estudo musical; as variaes
decorrentes da persistncia e do investimento no estudo; o contexto de aprendizagem e as
estratgias que podem ser utilizadas para intervir neste processo, dentre outros fatores
significativos.
A motivao, portanto um processo que orienta todo o tipo de atividade humana, por
meio fatores intrnsecos e/ou extrnsecos. Sendo assim, o estudo dos processos motivacionais
leva compreenso de elementos vinculados s prticas de ensino e aprendizagem. Bzuneck
(2001) observa que grande parte das pesquisas sobre motivao tm sido desenvolvidas
especialmente na rea da Psicologia, relacionando, motivao ao trabalho mental, isto , a um
processo cognitivo. Para este autor, portanto, uma caracterstica atual das pesquisas sobre
motivao no ensino que a prevalncia das abordagens cognitivistas.
O objetivo geral para este texto, portanto, a apresentao de algumas possibilidades
discursivas utilizadas nas pesquisas sobre motivao e msica desenvolvidas atualmente no
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 24
Brasil. Por meio do enfoque de trs referenciais que tm sido abordados na linha de pesquisa
Educao musical e cognio, do programa de Ps-graduao em Msica da UFPR, so
exemplificadas pesquisas sobre a Teoria do Fluxo (Flow Theory) de Csikszentmihalyi (1999).;
Teoria da Autodeterminao de Decy e Ryan (1985); e as Crenas de autoeficcia e
autorregulao (vinculadas Teoria Social Cognitiva) de Bandura (1997).
1. Teoria do Fluxo (Flow Theory)
A teoria do Fluxo (ou Flow Theory) desenvolvida por Csikszentmihalyi (2003, 1999,
1996, 1992, 1990) traz como foco a qualidade do envolvimento dos sujeitos na realizao das
tarefas. De acordo com este autor, por meio do fluxo os indivduos se envolvem em suas
atividades com grande concentrao e emoo. O estado de fluxo ocorre ento a partir de
componentes afetivos da motivao especialmente quando o indivduo est totalmente
envolvido, imerso, numa atividade que lhe proporciona desafio dentro dos limites de suas
capacidades.
Conforme explica Csikszentmihalyi (1999), para que o fluxo ocorra necessrio que se
estabelea uma situao favorvel na qual as habilidades do sujeito e os desafios da tarefa
enfrentados estejam em equilbrio. Da mesma forma, para o autor necessrio que alguns
elementos sejam encontrados nesta experincia, como o estabelecimento de metas, a
concentrao e o envolvimento emocional (emoo). A designao de uma meta o primeiro
passo para que em seguida o indivduo siga para a etapa de concentrao. A partir da
concentrao e do envolvimento prazeroso na tarefa, a emoo experimentada gera um estado no
qual o sujeito pode vivenciar a perda da noo de tempo, a sensao de bem estar e alegria.
Um exemplo de pesquisa nesta rea foi o estudo realizado recentemente por Araujo e
Andrade (2011) cujo objetivo geral foi verificar, nas situaes de ensaio e performance de dois
msicos, a presena de elementos descritos por Csikszentmihalyi (1999) como constituintes da
experincia do fluxo.
Participaram da pesquisa 2 msicos, um percussionista com prtica musical em shows
com grupos de msica popular e uma flautista com prtica em concertos com grupos de msica
antiga (msica barroca). A metodologia foi de estudo multicasos e a coleta de dados se deu por
meio de entrevistas semiestruturadas.
Por meio da anlise das entrevistas, foram extrados dados que serviram como
indicativos da vivncia da experincia do fluxo na prtica musical cotidiana de ambos
participantes. Esses dados, por sua vez, foram categorizados em 5 grupos: a) prtica musical:
organizao e metas; b) desafios e contribuio do repertrio; c)concentrao; d) emoo; e)
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 25
comportamento autotlico, isto , um comportamento de confiana e satisfao com a prpria
prtica cotidiana. Outra concluso significativa foi que no existia no caso dos dois
entrevistados - uma relao de contexto e gnero musical que indicasse maior o menor
incidncia de experincias de fluxo, isto , seja num contexto de msica erudita, seja num
contexto de msica popular, a experincia era semelhante para ambos. Por fim outro dado
relevante foi a relao dos elementos da experincia do fluxo vivenciados especialmente no
mbito das prticas coletivas: ambos entrevistados indicaram momentos de uma vivncia de
fluxo coletiva.
2. Teoria da autodeterminao
A Teoria da Autodeterminao (Self-Determination Theory), de Deci e Ryan (1985) traz
como um dos principais pressupostos a relao entre a motivao intrnseca e a motivao
extrnseca dentro de um processo de integrao. Assim, o indivduo incorpora no seu processo
motivacional, aspectos do seu ambiente que podem gerar comportamentos de base intrnseca ou
de base extrnseca.
Segundo Guimares e Boruchovich (2004), a motivao intrnseca gerada pelo
envolvimento do sujeito em uma atividade por opo prpria, o que traz ao indivduo a idia de
uma atividade interessante e geradora de satisfao. Assim, enquanto a motivao intrnseca est
relacionada com a uma orientao interna, a motivao extrnseca seria definida como uma
qualidade de motivao gerada em resposta a um elemento externo, muitas vezes impulsionada
por recompensas.
Essa dicotomia entre motivao intrnseca e extrnseca foi repensada por Deci & Ryan
(2000) que propuseram tipos qualitativamente diferenciados de motivao extrnseca,
evidenciados por meio de um processo de internalizao - um continuum de autodeterminao.
Neste continuum a motivao extrnseca colocada por meio de 4 nveis diferentes que iniciam
logo aps um nvel de amotivao e podem chegar at uma motivao extrnseca, internalizada
por meio de uma regulao integrada que ser to bem vivenciada pelo sujeito a ponto de ser
comparada como qualitativamente semelhante a uma motivao intrnseca.
Um exemplo de pesquisa com este referencial o trabalho de Figueiredo (2009). O autor
realizou um estudo de levantamento com msicos violonistas de um curso de Bacharelado em
Violo. O objetivo geral foi verificar o ndice de autonomia relativa dos violonistas (isto , seu
nvel de autodeterminao), para o desempenho nas tarefas de performance pblica, ensino e
estudo. Os resultados encontrados pelo autor indicaram que os alunos possuam um nvel de
autodeterminao maior na atividade de performance, seguido pela atividade de estudo. A tarefa
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 26
em que o nvel de autodeterminao dos alunos do curso de Bacharelado em Violo
demonstraram menor autodeterminao foi para as prticas de ensino.
3. Crenas de autoeficcia e autorregulao
As crenas de autoeficcia constituem um elemento central da Teoria Social Cognitiva de
Albert Bandura (1997). O sujeito demonstra suas crenas de autoeficcia por meio da forma
como encara uma atividade, sentindo-se capaz e preparado (ou no) para enfrentar o desafio da
tarefa. Juntamente com as crenas de autoeficcia so associados processos de autorregulao,
isto , a capacidade do sujeito de organizar o prprio processo de aprendizagem. Quanto maior o
processo de autorregulao, maior ser a possibilidade de aumentar as crenas de autoeficcia do
sujeito. Segundo Cavalcanti (2009) as crenas de autoeficcia do musicista, por exemplo,
afetam seu nvel de interesse nas atividades musicais e seu comprometimento com o estudo.
Um exemplo de pesquisa que utilizou este referencial foi pesquisa de Cavalcanti (2009)
pela qual a autora procurou, por meio da aplicao de uma escala likert, medir as crenas de
autoeficacia e autorregulao de alunos de Cursos de Bacharelado em Msica (instrumentos). Os
resultados da pesquisa indicaram que os processos de autorregulao foram desenvolvidos pelos
alunos participantes da pesquisa, ao longo do curso, de forma que entre o primeiro ano e o
ltimo ano era possvel observar um fortalecimento deste processo a ponto de gerar nos alunos
formandos fortes crenas de autoeficcia. Os alunos em inicio de curso, por sua vez, por
estarem em um processo inicial de organizao da sua prpria prtica, demonstraram baixos
ndices de autorregulao e, consequentemente, menores crenas de autoeficcia em suas
capacidades como instrumentistas.
Concluso:
Por meio da reviso dos trs referenciais tericos sobre pesquisas em msica e motivao
aqui apresentados teoria do fluxo; teoria da autodeterminao; e crenas de autoeficcia e
autorregulao algumas concluses foram possveis e dentre as quais vale ressaltar que:
1. A motivao para prtica musical pode ser averiguada por meio de fatores, externos (da
motivao extrnseca) e internos (da motivao intrnseca), que guiam as aes dos estudantes na
prtica musical cotidiana;
2. A observao dos processos de organizao da prtica musical auxiliam diretamente nos
ndices de confiana que o estudante tem sobre sua capacidade de desempenho e, portanto, na
suas condutas para a produo dos resultados;
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3. O processo de concentrao do sujeito possui estreita relao com o controle do desempenho,
favorecendo o sentimento de satisfao e, consequentemente, gerando a possibilidade da
persistncia no estudo.
Finalmente, por meio das pesquisas aqui relatadas, pode-se sugerir ao professor que
desenvolva estratgias para orientao da aprendizagem musical, de forma a fortalecer os
processos autorregulatrios dos alunos, permitindo a satisfao do indivduo com sua prtica,
individual e coletiva e assim favorecendo um forte e significativo processo de motivao.
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PAINEL I Prticas de Ensino: Estgio
O estgio Curricular Obrigatrio na Licenciatura em Msica da PUCPR
Prof Cristina Lemos10
PUC/PR
A docncia supervisionada constitui-se em componente fundamental formao
profissional dos acadmicos, com vistas ao bom desempenho de suas futuras funes. A prtica
pedaggica com pblicos de faixas etrias e nveis de aprendizado diferenciados objetiva que o
acadmico exercite aes planejadas em ambiente real de trabalho educativo. O estgio
supervisionado a atividade que permite a aquisio de conhecimentos e de experincias do
campo profissional.
Esta prtica fundamental aos licenciados, posto que nela que os alunos vo se deparar
com a realidade da sala de aula. Ao elaborar o regulamento de Estgio Curricular obrigatrio da
PUCPR percebeu-se que muito mais que elaborar planos, essencial aos alunos que os mesmos
reflitam sobre suas prticas, fundamentando seus argumentos em literatura especializada,
ampliando as suas possibilidades docentes com o desenvolvimento de suas competncias no
sentido de contribuir com a aprendizagem musical dos alunos em campo de estgio.
So objetivadas nas prticas de estgio a integrao da formao especfica e a formao
pedaggica, inserindo o acadmico na prxis educativa. Com isso, o desenvolvimento de
competncias do profissional da rea de educao musical, a investigao da realidade dos
diversos contextos da prtica da educao musical, identificando problemas, propondo solues
e mobilizando saberes, habilidades e atitudes capazes de fundamentar a prtica educativa.
propsito do estgio a sedimentao de um campo investigativo de conhecimentos pedaggicos
para o futuro docente, propondo encaminhamentos aos desafios presentes na prtica profissional,
alm de propiciar ao estagirio da Licenciatura em Msica a insero em situaes educativas
focadas nos contedos especficos em diferentes campos de estgio e, por fim, estimular a
autonomia na prtica profissional.
A carga horria destinada ao Estgio Curricular Supervisionado do Curso de Licenciatura
em Msica em acordo com a Resoluo n. 2/2002 - CNE/CP, de 19 de fevereiro de 2002,
Artigo 1, Inciso II, que institui a carga horria deste componente curricular nos cursos de 10 Professora Tempo Integral do curso de Licenciatura em Msica da PUCPR; Mestre em Comunicao e Linguagens; Especialista em Fundamentos Estticos da Arte na Educao; Licenciada em Msica; cantora integrante do grupo Vocal O Tao do Trio; Produtora Musical.
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 29
licenciatura, estabelecendo: 400 (quatrocentas) horas de estgio curricular supervisionado, a
partir da segunda metade do curso. da PUCPR ficou assim distribuda:
1. Estgio Supervisionado I, 126 horas, privilegia a pesquisa, a investigao e o
mapeamento dos contextos da atuao profissional. Pretende a articulao de conhecimentos
terico-prticos do campo do ensino da msica. O aluno discute textos relacionados prxis, se
insere como observador no contexto educacional, verificando aspectos polticos e pedaggicos
da escola, realizando pesquisas acerca do ensino da msica, propondo inferncias investigativas
sobre o fazer educativo musical, suas especificidades por faixa etria, contedos previstos nas
diretrizes e a realidade do contexto.
2. Estgio Supervisionado II, 180 horas: prev o planejamento, a observao e a execuo
da ao docente, bem como seminrios de avaliao e debates. Por dois meses, o aluno
permanece inserido no contexto escolar, aplica as atividades planejadas e elabora relatos de sua
experincia na sala de aula, com vistas autoavaliao, critica e adequao de sua postura
docente. A superviso acontece de forma processual nas aulas presenciais e em campo de
estgio.
3. Estgio Supervisionado III, 180 horas, permite a definio do campo de estgio em
diferentes contextos da educao musical, observao, planejamento, execuo da ao docente
e seminrios de avaliao.
Acreditando numa estratgia de avaliao e tambm no incentivo reflexo das prticas
de estgio dos alunos da PUCPR foi criado o EPPECOM- Encontro de Prtica Profissional e de
Estgio Curricular Obrigatrio, no qual os alunos e os professores da PUCPR e de outras
faculdades de Licenciatura em Msica de Curitiba podem relatar suas experincias e apresentar
resultados de suas prticas propostas em campo de estgio.
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Contribuio do estgio na formao profissional do educador musical
Prof Esp. Andra M. Bernardini
FAP
Para se tornar um professor, antes de qualquer coisa, necessrio preparar-se. durante
o curso de Licenciatura que o acadmico descobre sua inclinao para a docncia, por meio de
prticas didtico-pedaggicas em vrias disciplinas; contudo sem dvida na realizao do
estgio, quando em contato com o pblico real, que o aluno do 3 ano se depara com suas
limitaes e cria solues didticas para ensinar msica.
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 30
O conhecimento em msica no suficiente par conduzir com eficincia os contedos em
sala de aula. Saber tocar um instrumento, alm de cantar com expressividade, e executar a
regularidade dos tempos, so aes bsicas na vida de um educador musical.
O que se coloca nessa reflexo que o domnio dos elementos bsicos da msica no
torna ningum um bom professor. preciso aprofundar-se um pouco mais no campo das
humanidades e reconhecer que a msica sensibiliza o SER a ponto de incutir nele a vontade de
sentimentos ticos, como responsabilidade e aprimoramento.
Tornar-se um educador musical pode ser uma escolha e ao mesmo tempo uma
constatao de possibilidades estticas, em que realizar algo que contenha e expresse beleza
eleva e sensibiliza o ser humano.
Hoje indiscutvel o papel da msica e do educador musical, para resgatar o convvio
social no ambiente escolar e que poder ser refletido para a sociedade, num processo natural. A
formao profissional de um educador musical requer ento conhecimento em msica e
generosidade humana para a realizao de prticas musicais e sociais eficazes e libertadoras.
No momento do estgio, ainda que relutantes ou temerosos muitos acadmicos percebem
suas reais possibilidades como educadores musicais, alm de msicos, e descobrem, quase que
fascinados, que os alunos aprendem aquilo que realizam, que guardam na lembrana; no s os
alunos do Ensino Mdio ou da Educao Bsica, mas tambm os da graduao. As lies do
estgio, o convvio e at mesmo a amizade ficam gravados na memria afetiva dos alunos e
constroem no mais a ideia ou a figura ideal de um professor, e sim a sua consistncia.
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Prtica de Ensino: Estgio
Marta Deckert11 FAP
O objetivo da presente apresentao trazer algumas experincias quanto ao estgio do
4 ano do curso de Licenciatura em Msica, na Faculdade de Artes do Paran FAP. Nesse ano
de 2012, implantou-se o estgio na Educao Infantil, no Ensino Fundamental (1 ao 5 ano) e
em espaos diversificados de aprendizagem musical.
O presente relato se dar sobre o estgio na Educao Infantil, realizado no 1
semestre/2012. A organizao do Estgio em Centros de Educao Infantil deu-se da seguinte 11 Possui Bacharelado em msica, Especializao em Educao Musical e Mestrado em Educao. professora colaboradora da disciplina de Estgio Supervisionado no curso de Licenciatura em Msica da Faculdade de Artes do Paran FAP. professora de Educao Musical no Colgio Bom Jesus. Possui artigos, captulo de livros e livros didticos publicados na rea de Educao Musical.
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 31
maneira: contatou-se a Secretaria Municipal de Educao de Curitiba Departamento de
Educao Infantil, coordenadoras da rea de Artes Msica e de Estgios, apresentando o
projeto de implantao do estgio na Educao Infantil. A partir desse primeiro contato
estabelecemos uma pareceria entre a FAP e a Secretaria Municipal de Educao/Departamento
de Educao Infantil.
Com a autorizao para fazer estgio nos Centros de Educao Infantil CMEI foram
indicados os seguintes centros de Educao Infantil: CMEI Autdromo localizado no bairro
Cajuru, CMEI Mercrio localizado no bairro Cajuru, CMEI Atuba localizado no Bairro Alto,
CMEI Servidores I localizado no Centro Cvico, CMEI Hermes Macedo localizado no bairro
Pinheirinho (Moradias Rio Bonito) e CMEI Bairro Alto/Tarum localizado no Bairro Alto.
A turma dos alunos de Licenciatura em Msica 4 ano, formada por dezenove alunos,
foram divididos em oito duplas e um trio e encaminhados aos CMEIs.
Nessa primeira experincia com estgio na Educao Infantil, os alunos, primeiramente,
fizeram estgio de observao, com o objetivo de conhecer a rotina do CMEI, bem como as suas
particularidades de acordo com a faixa etria das crianas, visto que atendem desde bebs at
crianas com cinco anos de idade. Aps o perodo de observao, fizeram e aplicaram projetos
das aulas em turmas do Pr (crianas com 4/5 anos de idade).
Os estagirios participaram do projeto Msico da Famlia ao Vivo, em que convidadva-
se familiares das crianas para tocarem para a sua turma, mas antes desse momento fazia-se um
projeto de trabalho de educao musical envolvendo o instrumento que o familiar iria tocar.
Participaram desse projeto seis duplas. As duas duplas e um trio restantes desenvolveram
projetos relacionados musicalizao nessa etapa inicial.
Como resultado do estgio na Educao Infantil, podemos citar a receptividade dos
CMEIs ao trabalho de Educao Musical, o envolvimento das crianas nas atividades e
encaminhamentos pedaggicos propostos pelos estagirios, o auxlio e apoio aos estagirios por
parte dos professores, dos educadores e da equipe pedaggica. Quanto experincia por parte
dos estagirios, podemos resumir nos seguintes relatos (concluso do relatrio do estgio): Durante todo o projeto, nos atentamos observao e reflexo das atividades aplicadas, a fim de analisarmos por meio destas a prtica docente, o cotidiano escolar, a repercusso das atividades com as crianas e a troca de experincias de educadoras com as estagirias encontradas no CMEI. Refletimos sobre a nossa atuao e a experincia adquirida pelo projeto durante o estgio, como contribuinte para a nossa formao. O estgio na Educao Infantil nos deu a oportunidade de vivenciar e aplicar na prtica o conhecimento terico adquirido na formao acadmica, permitindo dessa maneira fazer uma anlise critica e reflexiva sobre a Educao Infantil.
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Para concluir, importante verificar a receptividade e a importncia que a escola, os
professores e educadores revelam diante do trabalho de Educao Musical na escola. As escolas
esto com as portas abertas aos educadores musicais e ao trabalho pedaggico com a msica,
sendo uma excelente oportunidade para mostrarmos e desenvolvemos o nosso trabalho como
Educadores Musicais. Quanto aos estagirios importante verificar o crescimento pedaggico
que ocorreu, e isso se deu atravs da construo do conhecimento, da instrumentalizao, da
reflexo e da experincia de ser professor.
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Desafios da prtica de ensino para o curso de licenciatura em msica
Prof. Dr. Guilherme Romanelli
UFPR
Dentro da temtica que norteou as discusses da mesa redonda Prticas de Ensino:
Estgio, esta comunicao intitulada Desafios da prtica de ensino para o curso de licenciatura
em msica abordou: aspectos gerais que caracterizam o estgio; as aes realizadas na UFPR;
os desafios enfrentados nessas prticas; e reflexes sobre o estgio em msica. O estgio em
Educao Musical pode ser definido como um contato com situaes reais de Educao Musical
em contextos mltiplos, por meio de uma prtica reflexiva que conta com a orientao do
professor orientador de estgio. Ele compreende as seguintes etapas: Observao de campo,
planejamento, prtica docente e avaliao. No mbito da UFPR, os dois estgios em Educao
Musical realizados na Educao Bsica so atualmente organizados em quatro etapas:
1. So realizadas trs observaes em aulas de arte (disciplina onde o contedo de msica
deve ser ministrado) e uma observao de perodo inteiro (acompanhando a turma em outras
disciplinas, a fim de observar eventuais mudanas de comportamento). Todas as observaes so
feitas onde o estagirio dar suas aulas. A instncia de observao tambm inclui uma
aproximao com as preferncias e prticas musicais dos alunos, por meio de um instrumento de
coleta de dados, alm do levantamento dos documentos curriculares da escola (PPP, currculo e
planejamentos).
2. A etapa de planejamento abrange a elaborao e defesa pblica (para o professor de
estgio e demais colegas em formao) do plano de ensino e dos planos de aula, incluindo a
simulao de algumas atividades prticas.
3. A prtica docente em sala de aula compreende seis aulas sequenciais que so ministradas
individualmente.
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4. A avaliao do estgio se d: pela discusso in loco aps a observao do professor
orientador; mediante a elaborao de um registro denso de todas as etapas do estgio,
configurando-se enquanto relatrio de estgio; e a partir de dois seminrios onde so
compartilhadas as experincias entre todos os alunos de estgio.
A presente comunicao tambm destacou os desafios que cercam o estgio em
Educao Musical. Em um contexto onde as concepes sobre a funo da msica so
frequentemente equivocadas, destacando o carter contextualista e utilitrio da msica, os alunos
tm dificuldade de construir seu planejamento a partir do currculo e planejamentos da escola.
Por essa razo, tambm difcil fazer a seleo dos contedos a serem ministrados, uma vez que
raramente h como definir o nvel de conhecimento musical dos alunos que foi construdo ao
longo da experincia escolar e que frequentemente faz das aulas dadas pelo estagirio a primeira
experincia formal desses alunos com o contedo de msica dentro da escola.
Outro aspecto preocupante a dificuldade de observar aulas de msica, uma vez que a
disciplina de arte (na qual o contedo de msica deve fazer parte) geralmente direcionada s
artes visuais, conta com pouca carga horria e tem os horrios frequentemente alterados.
Destaca-se ainda o fato negativo da experincia de estgio se construir sobre apenas seis aulas de
msica, nmero que limitado pela possibilidade de acolhimento de estagirios pelas escolas.
As reflexes abordadas nesta comunicao permitem afirmar que, apesar das grandes
dificuldades, a Educao Musical uma instncia em construo, visto sua recente
obrigatoriedade a partir de 2012, o que acarretar mudanas significativa na conduo de
estgios nos prximos anos.
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O estgio curricular supervisionado e a EMBAP
Prof. Me. Margaret Amaral de Andrade
EMBAP
O estgio curricular supervisionado da Embap Escola de Msica e Belas Artes do
Paran est passando por uma mudana significativa, por vrios motivos. Entramos com o
currculo novo em 2011, portanto as turmas de terceiro e quarto ano ainda esto passando pelo
processo de estgio anterior mudana curricular. Aps visitas a escolas de ensino regular e
observao em salsa de aulas, no quarto ano o estagirio entra em regencia, sob coordenao,
superviso e orientao de professores regentes. As instituies onde os alunos atuam tem
convnio previamente firmado com a Embap. So eles a Guarda Mirim, que um programa
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 34
municipal que atende adolescentes em situao de vulnerabilidade social de Curitiba e Regio
Metropolitana e a prpria Embap, em seus cursos de extenso em educao musical que
atendem crianas e jovens.
A partir de 2012 a Embap j iniciou a abertura dos campos de estgios, buscando atender
a demanda atual. O novo currculo do curso de LM da Embap prev abarcar na medida do
possvel, alm dos diferentes nveis da Educao Bsica e das escolas especializadas no ensino
de msica, diferentes espaos sociais quais sejam associaes comunitrias, creches, orfanatos,
asilos, ONGs empresas, igrejas, empresas, emissoras de rdio e televiso, cinema, teatro como
tambm outros espaos educacionais e socioculturais, nos quais poder atuar como tcnico,
pesquisador e/ou professor. O licenciado tambm poder dedicar-se formao de grupos
instrumentais e vocais, e ao ensino de instrumento e canto, em diferentes modalidades
(EMBAP, 2010).
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PAINEL II
Prticas de ensino: Estruturao musical
Estruturao Musical
Prof. Dr. Indioney Rodrigues UFPR
A estruturao musical pode e deve ser pensada tambm sob o ponto de vista da ideia e
da construo da ideia. Isso se d muito antes dos discursos musicais consolidados, das prticas
tcnicas e tericas estabelecidas socialmente, culturalmente e historicamente. Em minha
apresentao tentei levantar algumas questes que julgo fundamentais com relao a esse
processo estruturante ideal, ao qual dediquei meu trabalho de doutoramento na University of
London.
Schoenberg foi um compositor e terico da msica interessado na ideia musical. Ele
dividia claramente o processo criativo musical entre os problemas referentes ideia e sua
apresentao. Normalmente tendemos a discutir a estruturao musical concentrados somente no
segundo aspecto, no segundo problema, o da apresentao da ideia musical, deixando totalmente
ou parcialmente intocado o primeiro, o da confeco da ideia musical, ou da estruturao da
ideia em geral, como a entendo. Ao meu ver, discutir e ensinar um determinado estilo musical e
suas mltiplas prticas e partes componentes, sua harmonia, sua forma, sua rtmica, etc., j um
estgio avanado da estruturao musical. Seria importante considerarmos uma primeira fase
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estruturante, puramente ideal e pr-representacional, prxima sensibilidade. Nesse caso, o
processo estruturante volta-se mais uma vez prticas essencialmente criativas, estendidas em
"despertares", formados na relao do sujeito com o mundo e do mundo com o sujeito. Nesse
caso, toda e qualquer relao com o real e a concretude do real generosamente um elemento
estruturante potencial: a msica esta impregnada nas coisas e a msica do homem nada mais do
que a expresso de uma musicalidade fundamental esparramada na realidade.
Ser ento importante num primeiro momento rediscutir o currculo das escolas de
msica, ou ao menos instalar-se nelas uma nova disciplina, a disciplina da sensibilidade musical,
voltada para a estruturao da idia musical em si e independentemente do estilo musical e das
problemticas de sua apresentao.
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Funo e funcionalidade no estudo da harmonia tonal: o I64 cadencial
Prof. Me. Francisco Wildt
FAP
Esta comunicao tem como objetivo principal discutir o emprego e anlise do acorde de
sexta e quarta cadencial, tendo como pano de fundo uma discusso acerca do conceito de funo
ou funcionalidade harmnica na harmonia tradicional e funcional. Como professor da disciplina
de harmonia nos cursos de Licenciatura em Msica e Bacharelado em Msica Popular da FAP,
tenho percebido a tendncia recorrente entre alunos e professores de se considerar que o ensino
da harmonia passa necessariamente pela opo entre duas vertentes radicalmente opostas do
estudo da harmonia: a harmonia tradicional e a harmonia funcional. Pretendo apontar para o fato
de que termo funo ou funcional em harmonia pode ter um sentido mais amplo do que aquele
das chamadas leis tonais apresentadas por Koellreuter e que o estudo da harmonia tradicional
tambm pode se dar de modo a considerar as relaes funcionais entre os acordes, sem que para
isso precisamos de um sistema analtico que substitua ou supere o sistema tradicional de baixo
cifrado.
Uma questo terminolgica: harmonia funcional e seus significados
Pode-se afirmar, a partir da vivncia nos meios acadmicos musicais brasileiros, que o
termo harmonia funcional empregado de modo a nem sempre manter o mesmo sentido. s
vezes, usa-se o termo para fazer referncia a um estudo da harmonia cujo foco principal no seria
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 36
a conduo de vozes, mas a estruturao do discurso harmnico calcada nas funes dos acordes.
Ocasionalmente, entretanto, emprega-se o termo para aludir ao estudo da harmonia na sua
estruturao tpica da msica popular, para diferenci-lo de uma harmonia prpria da msica
erudita (tradicional). E ainda outro sentido, este mais especfico, o da harmonia funcional tal
como apresentada, no Brasil, por autores como Koellreuter e Brisolla amparados, por sua vez,
no pensamento do terico alemo Hugo Riemann.
A teoria da harmonia funcional, nesta terceira acepo do termo, caracteriza-se por uma
classificao de todos os graus do campo harmnico em trs funes harmnicas: tnica,
dominante e subdominante, as quais derivam dos graus principais (ou graus tonais) do campo
harmnico I, IV e V. Os demais acordes do campo harmnico seriam necessariamente
subordinados a essas trs funes. Afirma Brisolla: Na realidade, porm, o acorde sobre o grau
II da escala nada mais do que uma funo secundria, subordinada subdominante e
conseqentemente designado na harmonia funcional por Sr (subdominante relativa) (1979,
p.18). O termo harmonia funcional admite, portanto, compreenses distintas, as quais se faz
necessrio esclarecer para que se possa fundamentar uma discusso acerca das diferentes
abordagens do estudo da harmonia.
Funo ou funcionalidade harmnica na harmonia tradicional
Considerando-se a possibilidade do emprego do termo harmonia funcional num sentido
mais abrangente, Corra afirma:
No obstante, a palavra funo possui vrias acepes. O conceito correspondente grego ergon designava uma operao prpria da coisa, naquilo que esta coisa faz de melhor: a funo dos olhos, por exemplo, ver, a dos ouvidos escutar etc. No latim a palavra functionis significa funcional, funcionar, donde vem funcionrio. Designa tambm cumprimento, execuo, finalidade; ao peculiar a cada rgo (aparelho digestivo ou mesmo rgos pblicos). (CORRA, 2006, p. 129).
Mesmo uma abordagem tradicional do estudo da harmonia tradicional pode, juntamente
com o aspecto da conduo das vozes, dirigir o seu foco para um exame da relao entre os
acordes no discurso musical, o que pode ser feito de maneira especial em alguns de seus tpicos
como, por exemplo, harmonizao de melodias dadas e cadncias. Neste trabalho procuro
apresentar o assunto das cadncias e mais especificamente o acorde de sexta e quarta cadencial
como propcios discusso do aspecto funcional da harmonia.
Acerca da cadncia, Piston afirma: No h frmulas mais importantes do que aquelas
usadas para as finalizaes de frases. Elas marcam os pontos de respirao na msica,
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Anais do VIII Simpsio de Msica da FAP, 2012 Prticas de ensino da Msica 37
estabelecem a tonalidade e tornam a estrutura formal coerente (p. 184). E com relao
importncia do elemento cadencial na msica de um ponto de vista histrico e estilstico, o autor
afirma:
notvel que a conveno das frmulas cadenciais possam ter sustentado sua validade e significado ao longo de todo o perodo da prtica comum harmnica. As mudanas que ocorreram na maneira externa ou no colorido harmnico no perturbaram os tipos fundamentais de cadncia, mas pareceram servir antes para consolidar sua aceitao. (PISTON, 1987, p. 184).
Portanto, dois aspectos marcam a importncia do estudo da cadncia, primeiro a sua
funo de estabelecer pontos de chegada ou de articulao fraseolgica e formal e segundo, a
existncia de alguns tipos fixos de cadncias os quais so, portanto, classificveis e podem ser
identificados em obras musicais de diferentes perodos da msica ocidental.
As cadncias estabelecem pontos de delimitao entre ideias musicais, e isso deve ser
traduzido harmonicamente. A respeito disso, afirmam Kostka e Payne: Usamos o termo
cadncia para significar uma meta harmnica, especificamente os acordes usados na meta. Ao
nos dar uma idia de meta, as cadncias estabelecem senso de perspectiva temporal na msica e
seu estudo abre espao para refletirmos sobre as relaes funcionais entre os acordes.
A relao dominante tnica na cadncia e acordes adjacentes
A resoluo da dominante na tnica movimento harmnico de funo estrutural
determinante no discurso harmnico tonal. a cadncia envolvendo a resoluo V I que dar,
na msica tonal, o maior sentido de fechamento. Portanto, uma das principais funes musicais
desta progresso a de realizar harmonicamente a concluso de uma ideia. A cadncia
envolvendo a resoluo da dominante na tnica normalmente classificada com uma
terminologia a qual denota este sentido conclusivo: cadncia autntica, ou cadncia perfeita.
Devemos entender que tais termos se referem qualidade resolutiva dessa progresso, a mais
resolutiva e portanto a cadncia por excelncia. Neste ponto, pode-se j compreender a funo
de cada um desses acordes: dominante funo de tenso; tnica funo de resoluo.
Se estendermos o olhar para outros acordes acompanhando a progresso V- I numa
cadncia autntica, veremos que a dominante ser muitas vezes precedida de um IV ou ii. A
possibilidade de substituio de um acorde por outro situado uma t