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Análise de Componentes Principais Dinâmicos Aplicados à Estrutura a Termo da Taxa de Juros Paulo Henrique Mascitelli Orientador: Prof. Getúlio Borges da Silveira Rio de Janeiro – Rj 2008

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Análise de Componentes Principais

Dinâmicos Aplicados à Estrutura a

Termo da Taxa de Juros

Paulo Henrique Mascitelli

Orientador: Prof. Getúlio Borges da Silveira

Rio de Janeiro – Rj

2008

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Paulo Henrique Mascitelli

Análise de Componentes Principais

Dinâmicos Aplicados à Estrutura a

Termo da Taxa de Juros

Tese submetida ao corpo docente do programa de pós-graduação do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________

Prof. GETÚLIO BORGES DA SILVEIRA (ORIENTADOR)

___________________________________________________________

Prof. OCTÁVIO MANUEL BESSADA LION

___________________________________________________________

Prof. MANUEL ALCINO RIBEIRO DA FONSECA

Rio de Janeiro – RJ

2008

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Dedico esta tese as minhas filhas Livia e Luiza e a minha esposa Eneida. Elas representam tudo o que de melhor aconteceu em minha vida e foram as melhores fontes de inspiração e motivação.

Dedico também aos meus pais que sempre me apoiaram.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Getúlio Borges da Silveira, que é um verdadeiro exemplo de

empenho e competência na arte de ensinar.

Agradeço ao Professor Octávio Manuel Bessada Lion que esteve sempre pronto a

incentivar e a colaborar em tudo que foi preciso.

Agradeço aos meus colegas de trabalho que muito me ajudaram durante o período que

estive cursando o mestrado.

Agradeço a todos os professores e alunos da pós-graduação em economia da UFRJ,

com os quais convivi, e que foram, de fato, pessoas que me inspiraram tanto por sua

sabedoria, companheirismo e dedicação.

Agradeço a Alan Cosme Rodrigues da Silva pela valiosa ajuda na obtenção dos dados.

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Análise de Componentes Principais

Dinâmicos Aplicados à Estrutura a

Termo da Taxa de Juros

RESUMO

O objetivo desta tese é estudar a variação da Estrutura a Termo da Taxa de Juros

no Brasil usando técnicas de análise de dados funcionais. A análise de dados

funcionais pode ser dividida em duas partes. A primeira consiste na obtenção de

funções relacionando taxas de juros de títulos de renda fixa sem pagamento de cupons

com suas maturidades. Na segunda parte, é empregada a técnica de análise de

componentes principais aplicados a dados funcionais com a finalidade de auxiliar a

interpretação da função de covariância das curvas. Os resultados são comparados com

trabalhos anteriores de (Litterman & Scheinkman, 1991) e (Silveira & Lion, 2003). A

presença de inércia, que restringiria o uso da análise de componentes principais, já

apontada por (Silveira & Lion, 2003) também é verificada. Como uma possível solução

para o problema da inércia, a análise dos componentes principais é usada para a

primeira diferença da ETTJ.

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Dynamic Principal Component

Analysis Applied to the Yield Curve

ABSTRACT

The purpose of this thesis is to study the variation of the Yield Curve in Brasil using

techniques of functional data analysis. The functional data analysis can be divided in

two parts. The first one consists in obtaining the functions relating the yields of zero

coupon bounds with their maturities. On the second part, it’s employed the technique of

principal component analysis applied to functional data in order to help the interpretation

of de covariance function. The results are compared with papers written before by

(Litterman & Scheinkman, 1991) and (Silveira & Lion, 2003). The presence of inertia,

which restricts the use o principal component analysis, already pointed by (Silveira &

Lion, 2003) is verified. As a possible solution for the problem of inertia, the principal

components analysis is used to the first difference of the yield curve.

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1 INTRODUÇÃO. 9

2 A ETTJ. 11

2.1 Conceitos Preliminares. 11

2.1.1 TAXAS DE JUROS. 11

2.1.2 TÍTULOS DE RENDA FIXA. 11

2.1.3 SWAP. 12

2.2 A Importância da ETTJ. 12

2.2.1 INVESTIMENTOS. 13

2.2.2 POLÍTICA ECONÔMICA. 13

2.2.3 MERCADO FINANCEIRO. 14

3 OBTENDO A FUNÇÃO ETTJ. 15

3.1 Exposição Teórica. 16

3.1.1 FUNÇÕES BASE. 17

3.1.2 CUBIC SPLINES. 18

3.1.3 PROCESSO DE SUAVIZAÇÃO POR SPLINES. 19

3.1.4 PROPRIEDADES DA CSN. 22

3.1.5 ESTIMANDO A FUNÇÃO 27

3.1.6 ESCOLHA DE . 28

3.1.7 RESULTADO DA ESTIMAÇÃO DE . 30

3.2 Estimação da ETTJ. 31

4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS. 34

4.1 Obtenção dos Componentes Principais para o Modelo Multivariado. 36

4.2 Obtenção dos Componentes Principais para o Modelo de Dados Funcionais. 38

4.3 Métodos Computacionais. 41

4.3.1 CONVERSÃO DE FUNÇÕES EM DADOS DISCRETOS. 41

4.3.2 ABORDAGEM DA EXPANSÃO EM FUNÇÕES BASE. 43

5 A ACP APLICADA A ETTJ. 45

5.1 A ACP para 2007. 45

5.1.1 1a COMPONENTE PRINCIPAL. 48

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5.1.2 2ª COMPONENTE PRINCIPAL. 51

5.1.3 3ª COMPONENTE PRINCIPAL. 52

5.2 A ACP para 2005 e 2006. 53

5.3 O Problema da Independência das observações. 56

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 61

APÊNDICE A 64

A.1 Revisão de conceitos. 64

A.1.1 ESPAÇO VETORIAL COM PRODUTO INTERNO. 64

A.1.2 ESPAÇOS DE HILBERT. 65

A.1.3 AUTOVALORES E AUTOVETORES E MATRIZES SIMÉTRICAS. 66

BIBLIOGRAFIA 68

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1 INTRODUÇÃO.

O conhecimento da Estrutura a Termo da Taxa de Juros (ETTJ) é de grande

importância para o investimento, para política econômica, para a precificação de ativos

e para formação de carteiras. No entanto, existem grandes dificuldades tanto de

observação quanto de análise dos fatores que determinam a ETTJ. As dificuldades de

observação derivam do fato que somente para alguns prazos existem negociações em

volume suficiente para que as taxas possam ser avaliadas. Por outro lado, as

dificuldades de análise surgem porque as variações na ETTJ podem ser bastante

complexas não se restringindo apenas a movimentos de subida ou de descida. A

Análise de Componentes Principais (ACP) aplicadas a dados funcionais derivados de

observações discretas das taxas de juros é um forte instrumento para o estudo da

ETTJ.

Historicamente, os fundamentos matemáticos da Análise de Componentes

Principais (ACP) foram introduzidos por Pearson em 1901 e, em 1933, Hotteling

reapresentou a ACP em formatos mais próximos dos que são utilizados atualmente.

Desde então, a ACP vem sendo largamente utilizada no campo das ciências sociais

para quantificar e identificar fatores que não podem ser diretamente mensurados.

(Litterman & Scheinkman, 1991) foram os primeiros a propor a decomposição da

ETTJ em componentes principais. Eles argumentaram e demonstraram que a análise

da Duration para diversificação de carteiras pode levar a perdas relevantes porque

formas mais complexas do que movimentos verticais da ETTJ não são contabilizadas.

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(Litterman & Scheinkman, 1991) demonstraram que pelo menos 96% das

variações na ETTJ podem ser explicadas por apenas três componentes principais. No

entanto, a ACP foi aplicada a observações discretas das taxas de juros.

(Silveira & Lion, 2003) sustentaram que a ETTJ é uma função que associando,

para cada prazo de vencimento de títulos de renda fixa, que não pague cupons1, uma

taxa de juros. Aplicando a ACP às curvas obtidas pela interpolação dos pontos

observados é possível conseguir ganhos tanto de precisão quanto de interpretação dos

resultados uma vez que mais informação estará sendo incorporada à análise.

O objetivo deste trabalho será proceder a ACP para ETTJ como proposto por

(Litterman & Scheinkman, 1991) acrescentando as técnicas de análise de dados

funcionais2 usadas por (Silveira & Lion, 2003) em seu estudo sobre a ETTJ no Brasil.

O segundo capítulo apresenta a ETTJ e discute sua importância tanto para a

economia quanto para as finanças. O terceiro capítulo trata da origem dos dados

utilizados e das técnicas de tratamento necessárias para a obtenção da forma funcional

da ETTJ. O quarto capítulo é uma exposição dos fundamentos teóricos do cálculo dos

componentes principais a partir de dados funcionais. No quinto capítulo os resultados

são apresentados e interpretados. Finalmente, no sexto capítulo, apresentamos as

considerações finais.

1 Cupons são pagamentos intermediários feitos em períodos regulares previamente estabelecidos antes do vencimento do título. 2 Traducão da expressão em inglês Functional Data Analysys empregada por (Ramsay & Silverman, 1997) para denominar um conjunto técnicas empregadas no tratamento de dados que apresentam algum tipo de relação funcional suave sem a presença de descontinuidades ou saltos. A palavra funcional se refere aos dados e não à análise.

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2 A ETTJ.

2.1 Conceitos Preliminares.

2.1.1 TAXAS DE JUROS.

Segundo Keynes, a taxa de juros é um prêmio pago ao emprestador pela

renúncia da liquidez durante um determinado período. Do ponto de vista do investidor é

uma taxa de retorno alternativa ao uso do capital próprio.

Taxas de juros dependem de diversos fatores associados a características

peculiares ao tomador do empréstimo. Para delimitar o escopo deste trabalho, é

conveniente especificar que estamos nos referindo à taxa DI que é a média das taxas

de juros de operações de um dia apuradas nos financiamentos diários do Sistema

Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) para Títulos Públicos Federais, expressa

em taxa efetiva anual, base 252 dias úteis.

2.1.2 TÍTULOS DE RENDA FIXA.

São títulos cujos fluxos de pagamentos são conhecidos no momento da

contratação. Por exemplo, no Brasil, uma Letra do Tesouro Nacional (LTN) é um título

do governo federal que estabelece o pagamento do valor de face somente no

vencimento. O valor da LTN depende das previsões para a Taxa DI no vencimento do

papel. A LTN é um título de renda fixa sem pagamento de cupom.

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Chamaremos de Taxa Pré a taxa de juros de uma LTN e chamaremos de zero

cupom um título de renda fixa que pague um valor predeterminado somente no

vencimento como a LTN.

2.1.3 SWAP.

Um contrato de SWAP é uma troca do perfil de obrigações. Um dos mais

importantes é o que permite a troca de obrigações com taxas pós-fixadas por taxas pré-

fixadas e vice-versa. Diariamente, operações de SWAP de Taxa DI (pós-fixada) com

Taxas Pré são realizadas na BMF (Bolsa de Mercadorias e Futuros 3).

2.2 A Importância da ETTJ.

A ETTJ é uma função que relaciona para cada prazo até o vencimento de um

título zero cupom uma taxa de juros. Em termos matemáticos:

Equação 1

As Taxas Pré, nas operações de SWAP, representam as expectativas das Taxas

DI no dia do vencimento. Então os pontos da ETTJ podem ser obtidos das taxas

negociadas nos contratos de SWAP e, por um processo de interpolação, da

Equação 1 é estimada.

3 As taxas pré para diferentes prazos de vencimento de contratos de SWAP podem ser extraídas no Sistema de Recuperação de Informações da BMF no site www.bmf.com.br.

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2.2.1 INVESTIMENTOS.

Descontada a correção relativa ao risco4 envolvido da obrigação subjacente, a

ETTJ expressa as expectativas do mercado sobre o futuro da taxa de juros. Estas

expectativas são determinantes do investimento e do nível de atividade visto que a taxa

de juros de longo prazo é o custo de oportunidade do investimento em capital.

2.2.2 POLÍTICA ECONÔMICA.

Figura 1: ETTJ após expectativa de redução da arrecadação de tributos.

4 Como o tomador de uma LTN é o governo, em condições normais pode-se considerar que o risco específico é reduzido. No caso das operações de SWAP de taxas de juros pré e pós os valores observados devem refletir somente a expectativa da taxa de juros.

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Quaisquer que sejam os objetivos de política econômica, a ETTJ deve ser

considerada pelos seus efeitos sobre o nível de atividade e, via consumo, sobre a

inflação. Eventos como o que ocorreu na semana de 10 a 14 de dezembro no Brasil,

após ter sido decidido o fim da cobrança da Contribuição Provisória sobre

Movimentações Financeiras (CPMF) implicando em uma previsão de redução da

arrecadação na ordem de 40 bilhões de reais e fazendo com que as expectativas de

juros futuros fossem elevadas (ver Figura 15), sugerem que mesmo a política fiscal

pode ter influência sobre a ETTJ.

Além disso, o custo de refinanciamento da dívida publica dependem diretamente

das taxas de juros da ETTJ.

2.2.3 MERCADO FINANCEIRO.

A ETTJ é também importante para os investidores do mercado financeiro porque

serve como referência para calculo dos retornos esperados de operações financeiras

mais elaboradas como operações que envolvam risco de crédito, com pagamento de

cupom, ou com taxas pós-fixadas. Conforme apresentado por (Litterman &

Scheinkman, 1991), uma vez que a ACP é capaz de captar variações da taxa de juros

não detectáveis por pela análise da Duration, ela pode ser utilizada com vantagens na

diversificação de carteiras para redução do risco específico. Além disso, a ETTJ

também pode ser útil na avaliação de outros ativos como no modelo apresentado por

(Bessada) de precificação de opções sobre títulos de renda fixa. 5 No eixo das abscissas, os prazos até o vencimento foram reduzidos para uma escala de 0 a 1 mantendo a compatibilidade com (Silveira & Lion, 2003).

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3 OBTENDO A FUNÇÃO ETTJ.

O objetivo deste capítulo será descrever quais foram os métodos de interpolação

empregados para obter as formas funcionais da ETTJ. Dados funcionais se referem à

estrutura intrínseca das variáveis. Na prática, o que pode ser observado são pares de

valores dos prazos até o vencimento e das taxas de juros e o que se quer _e

uma função que permita avaliar para todo e qualquer como na Equação 1. O gráfico

da Figura 2, sugere que a hipótese de funcionalidade da ETTJ é bastante razoável.

Figura 2: Taxas de SWAP observadas no dia 21/03/2007

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Primeiro, será apresentada uma exposição teórica dos métodos empregados na

obtenção de curvas a partir de dados discretos e em seguida serão mostrados os

resultados da técnica aplicada à ETTJ e feitas alguns comentários.

3.1 Exposição Teórica.

Vamos temporariamente deixar a ETTJ de lado por enquanto para trabalhar com

uma função hipotética cujos resultados serão controlados. Suponha que:

Equação 2

Onde é um termo aleatório como o que aparece nas regressões lineares

decorrente, por exemplo, de erros de medição. Supondo, também, que é dado

por:

Equação 3

O objetivo é encontrar o valor de . No entanto, somente são observados

pares ordenados .

No gráfico da Figura 3, a curva em azul é e os pontos representam pares

de valores que foram obtidos por:

Equação 4

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Sendo que cada foi gerado por um processo randômico com distribuição

Normal(0; 2). Como é conhecida, a eficiência do método será mais evidente.

Figura 3: Pontos observados e curva esperada

3.1.1 FUNÇÕES BASE.

Para estimar , primeiro será preciso escolher um grupo de funções

primitivas , que serão chamadas de funções base, de tal modo que:

Equação 5

A escolha das funções base vai depender, sobretudo, das características da

variável em estudo. Por exemplo, se é esperado que esta apresente algum tipo de

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comportamento periódico, o mais indicado é expandir em Série de Fourier porque

as funções base seriam senos e cossenos. Por motivos que serão expostos mais

adiante, adotaremos cubic splines como funções base6.

3.1.2 CUBIC SPLINES.

Suponha que deva ser estimada no intervalo de domínio , tome

tal que . Os pontos são chamamos

de nós. Se:

• Em cada subintervalo for um

polinômio de grau 3;

• , e forem funções contínuas em todo intervalo

;

Então é uma cubic spline.

Além disso, dizemos que é uma cubic spline natural (CSN) se:

• Ela for uma cubic spline;

• Atender as chamadas condições naturais de fronteira:

Equação 6

Uma forma possível de apresentação para uma função cubic spline pode ser:

6 Para uma discussão mais detalhada sobre funções base, ver (Ramsay & Silverman, 1997).

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Onde , , e são constantes e sendo .

Mais adiante, será apresentada uma série de propriedades interessantes da

CSN.

3.1.3 PROCESSO DE SUAVIZAÇÃO POR SPLINES.

A curva vermelha da Figura 4 passa por todos os pontos observados .

No entanto, é fácil ver que ela é uma estimativa ruim de . Esta deficiência ocorre

porque a curva estimada apresenta uma variabilidade excessiva.

Figura 4: Curva com perfeita aderência aos dados

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Conforme já mencionado, supomos que o processo de geração dos dados

possui algum grau de suavização, isto é que o valor teórico de ou da taxa de juros no

caso da ETTJ pode ser determinado por um processo contínuo sem a presença de

variações bruscas em um curto espaço de tempo. Esta premissa é conveniente para

nossos propósitos porque eliminando as perturbações locais obtemos uma função que

aproxima melhor o processo de geração dos dados.

Temos dois objetivos que "rivalizam" entre si na determinação de . Por um

lado queremos que explique o máximo possível , por outro, não desejamos

saltos muito fortes em . Estes dois aspectos podem ser observados no erro

quadrático médio (EQM7). O EQM é dado por:

Equação 7

O primeiro termo do EQM é o quadrado do viés e representa o quanto o quanto

as estimativas estão próximas dos dados. A variância de pode ser vista como uma

medida da pobreza das estimativas. Se for elevada, pouco se pode inferir

sobre o comportamento de .

Analogamente ao EQM, definimos (Soma dos quadrados dos resíduos

penalizados) como sendo:

Equação 8

7 Ver, por exemplo, (Davison, 2003).

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Onde o primeiro termo é a soma dos quadrados dos resíduos, é um

termo de suavização associado à curvatura de , normalmente definido como:

Equação 9

e é um parâmetro de suavização tal que:

Minimizando a Equação 8 os dois objetivos "rivais" se refletem no processo. Se,

tornamos a primeira parcela arbitrariamente pequena, a segunda parcela referente à

curvatura aumenta. Por outro lado, se a variância é pequena a soma dos quadrados

dos desvios aumenta.

O motivo para definir o termo de penalização como sendo a integral do quadrado

da segunda derivada (Equação 9) é que esta é uma boa medida da curvatura. Existem

outras definições possíveis como, por exemplo, usar a quarta derivada ao invés da

segunda derivada de . No entanto, estas outras definições se aplicam quando há

interesse de estimar não somente a função, mas também suas derivadas. Este não é o

caso da ETTJ. Portanto, a segunda derivada não só é suficiente, é, também, mais

indicado porque torna o cálculo mais simples evitando que erros sejam introduzidos

estimando derivadas de ordens mais altas. Além disso, conforme será demonstrado, a

seguir, a Equação 9 implica que a curva interpoladora de menor variância seja uma

CSN.

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3.1.4 PROPRIEDADES DA CSN.

Seja uma CSN definida no intervalo por:

• os nós da CSN. Sendo que , e ;

• O vetor tal que ;

• O vetor tal que e .

Defina e as matrizes e como sendo:

onde

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onde

Como para todo , é uma matriz estritamente diagonal

dominante. Pode se demonstrar, por meio de álgebra linear, que é estritamente

positiva definida8.

Defina:

Equação 10

Teorema 1:

Os vetores e especificam uma CSN se, e somente se:

Como conseqüência do Teorema 1 é possível afirmar que:

Equação 11

Teorema 2:

Conhecidos os valores , existe somente uma CSN tal que:

.

8 Ver e.g. (Todd, 1962).

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Prova: Seja o vetor formado pelos valores . Neste caso . Como é

estritamente positiva definida, pelo Teorema 1:, . Como e estão

determinados, pela volta do Teorema 1, a CSN está determinada.

De fato, como, em um determinado intervalo , é um polinômio de

grau 3, então é possível afirmar que é uma reta dada por:

Equação 12

Como e são conhecidos, integrando a Equação 12 duas vezes é

possível obter a seguinte expressão para :

Equação 13

para

Chamando de e o valor da primeira derivada calculada no

interior do intervalo e derivando a Equação 13 obtemos:

Equação 14

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Equação 15

Como a CSN foi definida pelos vetores e , então e

ficam imediatamente atendidas. Para que e especifiquem

uma CSN, resta somente provar que . Logo, pela Equação 14 e

Equação 15:

Equação 16

Equação 17

Igualando a Equação 16 e a Equação 17 e fazendo os ajustes necessários

obtemos precisamente do Teorema 1:.

Finalmente uma importante propriedade da CSN é dada pelo seguinte teorema:

Teorema 3:

Seja:

• uma CSN que interpola os pontos para todo ;

• e uma função tal que para todo .

Então valendo a igualdade somente se .

Prova:

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Equação 18

Como valendo a igualdade somente se , basta provar que

é igual a zero e ficará provado o Teorema 3. Integrando por partes e

lembrando as condições naturais de fronteira da Equação 6, vem:

é igual a zero no primeiro e no último intervalo e constante nos demais.

Logo:

lembrando que para todo , uma vez, que por definição,

para todo .

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3.1.5 ESTIMANDO A FUNÇÃO

Agora que conhecemos as propriedades da CSN, estamos prontos para

demonstrar um método de cálculo para estimar .

Primeiro, um resumo das propriedades da CSN mantendo as definições já

apresentadas anteriormente:

i) Os vetores e definem uma CSN, se e somente se . Como

conseqüência, podemos usar para estimar da

definição de na Equação 8;

ii) Conhecidos , existe somente uma CSN tal que .

iii) De todas as curvas interpolando os pontos , a CSN é a que apresenta

menor valor para e, portanto, menor .

Estas propriedades são importantes, pois:

a) Delimitam o conjunto de funções a serem pesquisadas. Uma vez que

definimos igual à norma ao quadrado da derivada segunda,

sabemos que uma CSN será a curva que minimiza .

b) Basta encontrar o vetor e depois calcular .

c) Finalmente, pode ser obtida de forma única pela Equação 13.

Tomando , podemos reescrever a Equação 8 como sendo:

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Fazendo

Basta minimizar o termo que depende de . Como é estritamente positiva

definida, é sempre positivo exceto para:

Equação 19

Na prática existem outros algoritmos mais eficientes computacionalmente para

estimar do que a Equação 199.

3.1.6 ESCOLHA DE .

A Equação 19 nos mostra que o valor estimado de e como conseqüência

também de pode ser expresso como uma função de . Logo . A

matriz é conhecida como matriz chapéu porque transforma os valores observados

9 Ver (Green & Silverman, 2000)

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nos seus valores preditos . O objetivo será escolher tal que estimado

( ) tenha o maior poder de preditivo possível. Para isso, vamos usar o conceito de

cross-validation (CV) que pode ser mais bem compreendido pelas seguintes etapas:

a) Defina como sendo a estimativa de sem considerar a i-

ésima observação.

b) Encontre para todos os pontos observados.

c) Obter CV através de:

Equação 20

Selecionamos o valor de que apresentar o melhor resultado, isto é, que faça

com que o CV seja mínimo. No entanto, não há como garantir que CV possua um

único mínimo e, portanto, é necessário ser cuidadoso nos processos de minimização do

CV. Apesar da Equação 20 sugerir o contrário, não será preciso estimar vezes

para calcular o CV. Ele pode ser obtido pela seguinte fórmula10:

Equação 21

Onde corresponde a digonal principal da matriz chapéu .

10 Para demonstração ver (Green & Silverman, 2000)

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30

Outra medida popular da eficácia de é o generalized cross-validation (GCV)

que pode ser calculado pela fórmula:

Equação 22

Onde é o traço da matriz .

A idéia é aproximar pela sua média.

3.1.7 RESULTADO DA ESTIMAÇÃO DE .

Figura 5: Curva estimada x curva esperada.

Para estimarmos g(x) tivemos que fazer as seguintes escolhas:

a) Funções base – CSN;

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31

b) ;

c) tal que o GCV seja mínimo.

Além disso, foram escolhidos os nós ( ) da CSN. Neste caso, o critério

dependeu de avaliações visuais das curvas e da concentração das observações.

A Figura 5 mostra que os resultados obtidos são bastante satisfatórios quando

comparamos a curva estimada com a curva esperada .

GCV 1 4,98

0,9 4,83 0,8 4,69 0,7 4,54 0,6 4,39 0,5 4,23 10-6 19,74

Tabela 1: λ x GCV

A Tabela 1 mostra o GCV para diversas escolhas de . Na última linha da

tabela, o valor de corresponde função estimada no gráfico da Figura 4.

Nota-se que o GCV foi bem mais elevado.

3.2 Estimação da ETTJ.

A Tabela 2 mostra os prazos até o vencimento em dias úteis e as taxas

negociadas em contratos de SWAP (Taxa DI x PRÉ) em 21/03/2007. Estes pares

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ordenados das observações foram usados para traçar o gráfico da Figura 6.

Como se pode notar, os pontos observados da ETTJ encontram-se bastante alinhados

e, portanto, não há necessidade de introduzir uma penalidade elevada para sua

estimação. Fazendo , obtemos o gráfico da Figura 6.

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Tabela 2: Pontos da ETTJ observados em 21/03/2008

Figura 6: Curva estimada da ETTJ para 21/03/2007

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4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS.

Para uma revisão de conceitos e notações matemáticas utilizadas na ACP ver

Apêndice.

A ACP foi originalmente concebida por Pearson em 1901 e, posteriormente,

desenvolvida por Hotelling em 1933. Basicamente a ACP consiste em uma técnica

estatística que permite reduzir um modelo multivariado a um conjunto de poucas

componentes, não correlacionadas, que carregam a maior parte da informação contida

no modelo original.

Figura 7: Dispersão dos valores observados

A Figura 7 da uma visão intuitiva da ACP. Claramente a direção do eixo maior

da elipse tem um poder explicativo máximo da variação dos pontos observados. A idéia

por trás da ACP é fazer uma rotação dos eixos originais na direção de maior

variabilidade.

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Os modelos de dados multivariados procuram expressar cada observação da

variável como uma combinação linear de p variáveis independentes x:

Neste trabalho estamos interessados em um tipo um pouco diferente de ACP no

qual as observações são as funções estimadas. A diferença do modelo multivariado

para o modelo funcional é que, no primeiro, temos p vetores de valores observados

discretos e, no segundo, temos curvas estimadas pela interpolação de splines

conforme exposto no terceiro capítulo.

No caso da ETTJ, muitas de suas características podem ser facilmente

verificadas simplesmente observando as curvas estimadas do segundo capítulo. Por

exemplo, na Figura 6, a curva é negativamente inclinada. Isto ocorreu porque, em

março de 2007, a taxa de juros de curto prazo estava elevada e havia expectativa de

queda. No entanto, existem outros aspectos, que não estão disponíveis de forma tão

clara. Observando as curvas isoladamente não será tarefa fácil compreender como a

ETTJ variou durante o ano de 2007. Além disso, a análise das matrizes de covariância

e de correlação, tanto no modelo clássico multivariado quanto no modelo funcional,

pode não evidenciar interpretações facilmente extraídas da ACP. A ACP se encaixa

admiravelmente como ferramenta de estudo da estrutura de covariância

complementando ou, até mesmo, substituindo de maneira muito mais clara e

informativa o exame direto da função de covariância.

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4.1 Obtenção dos Componentes Principais para o Modelo Multivariado.

Suponha que sejam n vetores de variáveis observadas e

defina:

a) tal que . é igual a

centrado na média.

b)

Para encontrar a primeira componente principal temos que resolver:

Equação 23

O vetor é o primeiro componente principal. Se definirmos

uma matriz tal que suas linhas são formadas por ocorrências dos vetores ,

então:

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Substituindo na Equação 23 temos

é o estimador da matriz de covariância de .

Os demais componentes principais podem ser obtidos repetindo o procedimento

de maximização da Equação 23 e acrescentando a restrição de ortogonalidade com as

componentes principais já obtidas. Logo, se , então:

Chamamos de Escores de Componentes Principais (ECP) do

k-ésimo componente principal.

A restrição de norma unitária para os vetores de componentes principais é

necessária para delimitar o problema não permitindo que possa assumir

valores arbitrariamente grandes.

A idéia é encontrar a forma mais forte e, portanto, mais importante das variáveis

observadas.

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Na obtenção dos componentes principais subseqüentes acrescentam-se

restrições de ortogonalidade (produto interno igual a zero) com os componentes

principais já obtidos para garantir que as próximas componentes principais representem

inovações.

Logicamente, a cada componente principal obtido, o valor maximizado será cada

vez menor permitindo aferir o percentual explicado por cada componente. Observe que

esta definição de componentes principais não possui solução única. Para ver isto,

basta notar que se é um componente principal, então também o será.

Sabemos que é uma matriz simétrica e não negativa definida. Logo, se

são os seus autovalores e os respectivos autovetores

normalizados, então para todo .

Além disso, cada autovalor é um estimador à variância de . Logo:

é o percentual da variação explicada pelo componente principal de ordem .

4.2 Obtenção dos Componentes Principais para o Modelo de Dados Funcionais.

No caso da ETTJ queremos obter os componentes principais de um conjunto de

funções observadas. Quando passamos do modelo discreto para o modelo funcional,

devemos fazer algumas substituições usuais da passagem de observações discretas

para contínuas. Onde aparece somatório no modelo discreto, no modelo funcional,

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passará a ser integral e o produto interno euclidiano é substituído pela definição do

produto interno de funções (ver Apêndice A.1.1).

Logo, supondo pertencendo à classe de funções geradas por um processo

estocástico atendendo condições de regularidade11, tomando valores no intervalo

e tais que , defina:

a)

b) Usando a definição funcional do produto interno, tome:

Então :

Equação 24

A função é o primeiro componente principal. Se

é a função de covariância de , então

Onde o operador de variância é dado por:

11 Contínuos em média quadrática.

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Pode-se mostrar que o primeiro componente principal satisfaz:

Vimos que no modelo multivariado, o primeiro componente principal é o

autovetor normalizado da matriz de covariância de associado ao maior autovalor.

Analogamente, no espaço de funções é a autofunção associada ao maior autovalor

do operador

Os demais componentes principais podem ser obtidos repetindo o procedimento

de maximização da Equação 24 acrescentando a restrição de ortogonalidade com as

componentes principais já obtidas. Logo, se é a k-ésima componente principal,

então:

Pode-se demonstrar que, atendida condições de regularidade em um espaço

vetorial completo12, as componentes principais correspondem às autofunções do

operador associadas aos autovalores em ordem decrescente como no modelo

multivariado. É fácil ver que o operador faz o papel da matriz de covariância de .

12 Espaços de Hilbert.

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A ACP pode ser vista como a análise dos autovalores e autovetores da matriz de

covariância no caso multivariado ou dos autovalores e autofunções do operador de

covariância no caso funcional.

4.3 Métodos Computacionais.

Uma vez que, em termos teóricos, já podemos calcular os componentes

principais de dados funcionais, precisamos agora dispor de um método computacional

capaz de lidar com esse tipo de informação. A seguir apresentamos duas

possibilidades.

4.3.1 CONVERSÃO DE FUNÇÕES EM DADOS DISCRETOS.

Uma primeira abordagem consiste, simplesmente, em transformar os dados

funcionais em um conjunto de N valores discretos com espaçamento tão reduzido

quanto se queira. Fazendo N grande é possível mapear, com precisão os valores

funcionais estimados pelo processo spline do Capítulo 2 no intervalo de interesse .

Este procedimento fornecerá uma matriz Z que poderá ser inserida na ACP

multivariado.

O objetivo será estimar as funções de componentes principais que, como

vimos correspondem às autofunções do operador .

Escolha dividindo o intervalo em subintervalos igualmente

espaçados. Suponha funções . Estimamos vetores tal

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que . Forme a matriz tal que suas linhas são

formadas pelos vetores

Defina o vetor de valores estimados de tal que . Após

encontrar , vamos obter por interpolação.

Obtenha a matriz . Os elementos de são

.

Defina onde é a amplitude do intervalo .

Para cada que pode ser aproximado por

. Logo:

A Erro! Fonte de referência não encontrada. pode ser reescrita como:

Equação 25

Além disso que pode ser aproximado por . Logo:

Equação 26

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Para resolver a Equação 25, basta encontrar os autovalores e os respectivos

autovetores normalizados de . Dada a restrição de norma unitária da Equação 26

fazemos .

4.3.2 ABORDAGEM DA EXPANSÃO EM FUNÇÕES BASE.

Dadas as definições do início da Seção 4.2 e suponha que cada função possa

ser expressa por:

onde é um vetor cujos elementos são funções base.

Se , e uma matriz de coeficientes tal que:

A função de covariância em termos matriciais será:

Definições:

a) é uma autofunção tal que:

b) é uma matriz com elementos:

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Logo:

Substituindo na Erro! Fonte de referência não encontrada.:

Equação 27

Note que:

Além disso e serão ortogonais se, e somente se, .

Fazendo e substituindo na Equação 27, ficamos com uma

equação de autovalores e autovetores ortonormais:

Equação 28

Finalmente para encontrar os componentes principais, basta resolver a Equação

28 e fazer . Nos casos mais gerais, devemos recorrer a métodos de

integração numérica para encontrar . Se as funções base forem splines, então, como

para todo então W será uma matriz diagonal com elementos

da diagonal .

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5 A ACP APLICADA A ETTJ.

Agora que já dispomos de embasamento teórico, é hora de aplicar ACP para os

dados coletados da ETTJ.

5.1 A ACP para 2007.

A partir de 21 de junho de 1999 o Brasil passou a adotar o regime de metas para

inflação como diretriz da política monetária. Desde então, o Comitê de Política

Monetária (COPOM) que é formado pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco

Central do Brasil se reúne em datas previamente agendadas para decidir a meta da

taxa de juros visando manter a taxa de inflação dentro dos limites definidos pelo

Conselho Monetário Nacional (CMN). Assim, as sinalizações dadas pelo Banco Central

e da economia a respeito da taxa de inflação no período que antecede as reuniões do

COPOM e as próprias taxas definidas nas reuniões ordinárias do COPOM passaram a

ser os principais eventos responsáveis pelas variações na ETTJ. A Tabela 3 apresenta

um histórico parcial das taxas de juros fixadas pelo COPOM.

A consistência da política monetária de metas para inflação, a prosperidade da

economia mundial, e a ausência de choques, tanto domésticos como internacionais,

compuseram o cenário econômico do Brasil nos últimos anos. A estabilidade externa

aliada a fundamentos econômicos internos sólidos desde meados de 2005 criou um

ambiente propício para queda da taxa de juros e foi o que aconteceu. A ETTJ

negativamente inclinada no início do ano de 2007 já refletia as expectativas de redução

da taxa de juros. No final do ano, quando a taxa já havia declinado para níveis

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historicamente baixos, as expectativas se inverteram e a ETTJ passou a ser

positivamente inclinada (ver Figura 8). Mesmo esta análise superficial é suficiente para

demonstrar que o movimento da ETTJ é complexo e não pode ser resumido

simplesmente afirmando que "a taxa aumentou" ou "a taxa diminuiu". É preciso

reconhecer que existem variações da ETTJ que não ocorrem na curva como um todo

porque as expectativas de curto e longo prazo não são igualmente determinadas.

Reunião Data Meta SELIC (% a.a.)

103ª 15/12/2004 17,75

104ª 19/1/2005 18,25

105ª 16/2/2005 18,75

106ª 16/3/2005 19,25

107ª 20/4/2005 19,5

108ª 18/5/2005 19,75

109ª 15/6/2005 19,75

110ª 20/7/2005 19,75

111ª 17/8/2005 19,75

112ª 14/9/2005 19,5

113ª 19/10/2005 19

114ª 23/11/2005 18,5

115ª 14/12/2005 18

116ª 18/1/2006 17,25

117ª 8/3/2006 16,5

118ª 19/4/2006 15,75

119ª 31/5/2006 15,25

120ª 19/7/2006 14,75

121ª 30/8/2006 14,25

122ª 18/10/2006 13,75

123ª 29/11/2006 13,25

124ª 24/1/2007 13

125ª 7/3/2007 12,75

126ª 18/4/2007 12,5

127ª 6/6/2007 12

128ª 18/7/2007 11,5

129ª 5/9/2007 11,25

130ª 17/10/2007 11,25

131ª 5/12/2007 11,25

Tabela 3: Histórico de taxas de juros definidas pelo COPOM

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Figura 8: ETTJ no início e final do ano de 2007

Figura 9: Componentes Principais da ETTJ em 2007

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Na Figura 9, um gráfico com as 3 primeiras componentes principais , e é

apresentado. As curvas obtidas são bastante semelhantes aos resultados

apresentados por (Litterman & Scheinkman, 1991).

5.1.1 1a COMPONENTE PRINCIPAL.

Cada componente principal pode ser vista como uma função de pesos das

funções ETTJ observadas. A primeira componente principal, , da Figura 9 apresenta

valores mais elevados para maturidades maiores. Isto significa que, em 2007, a

variação da ETTJ é mais bem explicada atribuindo um peso maior ás taxas de mais

longo prazo. (Litterman & Scheinkman, 1991) chamaram a 1a Componente Principal de

nível porque ela representa variações praticamente constantes ao longo da curva.

Estas variações representam os movimentos paralelos da ETTJ.

Uma técnica interessante para interpretar os componentes principais pode ser

observada na Figura 10. Nela, a linha contínua é a média das curvas ETTJ de 2007 e

as curvas formadas pelos sinais " " e " " são obtidas somando e subtraindo,

respectivamente, os múltiplos dos valores de . As características de nível expostas

acima podem ser facilmente verificadas no gráfico da Figura 10.

A Figura 11 mostra a 1a componente principal de 2007 considerando um conjunto

maior de maturidades. Na Figura 10 a maior maturidade considerada é de até 3 anos

enquanto que na Figura 11 os dados são de maturidades mais longas até 15 anos. As

diferenças mais importantes entre os dois gráficos são:

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Figura 10: 1a Componente Principal - 2007.

Figura 11: 1a Componente Principal 2007 - maturidades até 15 anos.

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• Na Figura 11, a 1ª componente principal para prazos mais longos continua

sendo maior do que no curto prazo porém ela se aproxima mais de uma

constante.

• O percentual explicado pela 1ª componente passa de 81,1% para 97,7%.

Uma possível explicação para valores inferiores da 1ª componente no curto

prazo, também observados por (Silveira & Lion, 2003), pode ser atribuída à maior

incerteza das taxas de longo prazo fazendo com que estas possuam maior

variabilidade. Além disso, a incerteza reduz a possibilidade de distinção entre prazos

muito longos o que faz com que a ETTJ se mova paralelamente para maturidades

maiores. Assim, quando são consideradas taxas mais longas, a 1ª componente, ou

nível, tende a explicar mais as variações da ETTJ.

Vamos optar pela ACP somente das curvas com maturidades até 3 anos por 3

motivos:

• A característica observada de deslocamento paralelo da ETTJ no longo

prazo causada pela dificuldade dos agentes em distinguir prazos longos

elevando o percentual explicado pela 1ª componente pode sugerir

erroneamente que a 2ª e a 3ª componentes não são importantes.

• Como as taxas de prazo mais longo são menos negociadas, os pontos

observados são mais espaçados introduzindo variações indesejadas nas

curvas estimadas, podendo, inclusive, ocasionar problemas de ponto de

alavanca.

• Para manter a compatibilidade com as bases de dados de 2005 e 2006.

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5.1.2 2ª COMPONENTE PRINCIPAL.

(Litterman & Scheinkman, 1991) deram o nome de inclinação para a 2ª

Componente Principal. Esta interpretação é facilmente verificada na Figura 12

observando que a curva formada por sinais " " é uma rotação da curva ETTJ média. A

maior parte da variação da ETTJ explicada pela 2ª componente pode ser obtida

atribuindo pesos de sinais contrários e crescentes para a ETTJ de curto e longo prazo.

A 2ª componente principal é capaz de explicar 18,8% da variação da ETTJ em 2007.

Figura 12: 2ª Componente Principal – 2007.

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5.1.3 3ª COMPONENTE PRINCIPAL.

A 3ª Componente Principal foi denominada curvatura. Conforme demonstrado

por (Litterman & Scheinkman, 1991), ela está principalmente associada à volatilidade.

Na Figura 13, podemos ver que as curvas formadas por sinais " " e " " têm,

respectivamente, o efeito de diminuir e aumentar a curvatura da ETTJ média. Observa-

se que o percentual de variação explicado ficou em 0,1% o que é muito pequeno.

Percebe-se, também, que no curtíssimo prazo (até aproximadamente 6 meses), a 3ª

componente é desprezível.

Figura 13: 3ª Componente Principal - 2007.

O percentual explicado pelos 3 primeiros componentes principais totaliza próximo

de 100%. A variação da ETTJ pode ser explicada por apenas 3 componentes

principais.

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5.2 A ACP para 2005 e 2006.

Os componentes principais em 2005 e 2006 confirmam as interpretações de

2007.

Tanto em 2005 quanto em 2006, a 1ª componente principal da ETTJ é

praticamente constante ao longo de toda a curva o que reforça sua interpretação de

nível. O percentual explicado pelas 3 primeiras componentes se mantém próximo a

100% durante todo o período.

Figura 14: 1ª Componente Principal - 2005.

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Figura 15: 2ª Componente Principal - 2005.

Figura 16: 3ª Componente Principal - 2005.

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Figura 17: 1ª Componente Principal - 2006.

Figura 18: 2ª Componente Principal - 2006.

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Figura 19: 3ª Componente Principal - 2006.

5.3 O Problema da Independência das observações.

A validade dos resultados obtidos pela ACP depende da hipótese de

independência das curvas ETTJ. Como estas curvas são elementos de uma série

temporal, é natural supor que existe correlação entre elas. Para demonstrar que as

curvas ETTJ não são independentes foram plotadas, na Figura 20, elipses que

delimitam intervalos de confiança de 90% 13 da distribuição conjunta dos ECPs da 1ª e

2ª componentes principais. Nota-se que as elipses descrevem uma trajetória indicando

a presença de inércia entre as observações.

13 Intervalos de confiança construídos usando estatísticas de Wald e supondo distribuição conjunta assintoticamente normal multivariada.

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(Silveira & Lion, 2003) já haviam apontado este problema. Eles sugeriram como

alternativa estimar os componentes principais da primeira diferença. De fato, supondo

que exista uma forte correlação entre a ETTJ e a ETTJ defasada de um dia, poder-se-ia

eliminar a autocorrelação trabalhando com a primeira diferença da ETTJ:

Nas Figuras 21, 22 e 23 estão apresentados os resultados da ACP para primeira

diferença da ETTJ no período de 2005 a 2007. Assim como em (Silveira & Lion, 2003)

os gráficos da ACP para primeira diferença repetem, em termos gerais, as mesmas

interpretações apresentadas para a ACP da ETTJ. De fato, é possível verificar na

Figura 24 que na primeira diferença, a inércia foi removida.

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Figura 20: Presença de inércia indicando existência de autocorrelação entre as curvas ETTJ observadas. As elipses compreendem ao período entre as reuniões do COPOM realizadas entre 2005 a 2007. O número no centro de cada elipse é a reunião do COPOM (ver Tabela 3).

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Figura 21: 1ª Componente Principal da primeira diferença da ETTJ - 2005 a 2007.

Figura 22: 2ª Componente Principal da primeira diferença da ETTJ - 2005 a 2007.

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Figura 23: 3ª Componente Principal da primeira diferença da ETTJ - 2005 a 2007.

Figura 24: A inércia presente na Figura 20 não aparece quando a ACP é aplicada à primeira diferença da ETTJ.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

As técnicas de análise de dados funcionais empregadas consistiram em duas

partes claramente definidas:

i) Obtenção da série temporal de curvas ETTJ.

ii) ACP.

A primeira etapa para obter as curvas ETTJ foi escolher a segunda derivada

como medida de curvatura e forma de penalização da variação na Equação 8. Como o

interesse é somente na forma funcional da ETTJ e não em suas derivadas, não há

necessidade de estimar penalidades mais complexas tais como a quarta derivada por

exemplo.

Uma vez que a segunda derivada foi a forma de penalização escolhida ficou

determinado que as funções base interpolantes fossem cubic splines porque, conforme

o Teorema 3, esta é a interpolação mais eficiente já que é a que apresenta a menor

curvatura para o mesmo viés.

A seguir, o parâmetro de suavização foi determinado de forma a minimizar o

GCV e estimar a curva usando a Equação 19 ou algum outro método

computacionalmente mais eficiente. A escolha de pode não ser uma tarefa das mais

simples porque o GCV pode não possuir um único mínimo. Além disso, muitas curvas

devem ser estimadas e a escolha de um valor de para uma curva pode não ser a

melhor para outra. Em parte a estimativa das curvas depende da análise visual.

Com as curvas ETTJ estimadas, o próximo passo foi proceder a ACP para dados

funcionais. A ACP é uma técnica cujos principais objetivos são reduzir o número de

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variáveis e auxiliar na interpretação da matriz de variância-covariância. A ACP para

dados funcionais difere da ACP para dados multivariados porque no primeiro a

informação é contínua e no segundo temos uma coleção de variáveis discretas.

Modelo Multivariado Modelo de Dados Funcionais

Elementos Observados vetores p-dimensionais:

Coleção de funções:

Escores dos Componentes Principais

1ª Componente Principal

Encontrar o vetor tal

que seja máximo sujeito à

.

Encontrar a função tal que

seja

máximo sujeito à .

k-ésima Componente Principal

Encontrar o vetor tal

que seja máximo sujeito à

e à

para todo .

Encontrar a função tal que

seja

máximo sujeito à e à

para todo .

Solução As componentes principais são respectivamente os autovetores

associados aos autovalores

da matriz Var(x)

As componentes principais são respectivamente as autofunções

do operador de

covariância

Quadro 1: Resumo da ACP modelo mulivariado e dados funcionais.

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O Quadro 1 mostra um resumo comparativo entre os modelos multivariados e

funcionais.

Os componentes principais obtidos confirmam os resultados da ACP tanto de

(Litterman & Scheinkman, 1991) quanto de (Silveira & Lion, 2003) cabendo apenas

alguns comentários:

• O percentual explicado pelas 3 primeiras componentes principais, no período

de 2005 a 2007, ficou sempre muito próximo de 100%, sendo que as 2

primeiras componentes são capazes de explicar perto de 99% da variação

da ETTJ. (Litterman & Scheinkman, 1991) demonstraram que a escolha de

uma carteira de títulos levando em conta somente a Duration está exposta a

riscos devido a variações da ETTJ não consideradas por esta estratégia de

diversificação. A Duration é capaz de captar somente movimentos paralelos

da ETTJ como, aproximadamente, a primeira componente. Para o período

apurado, considerando títulos com vencimento até 3 anos, uma carteira de

títulos estaria 100% protegida se reproduzisse os 3 primeiros componentes e

estaria 99% protegida se reproduzisse os 2 primeiros componentes.

• As componentes principais obtidas são empíricas e servem para

compreender como a ETTJ variou no período de 2005 a 2007.

• A variação da ETTJ pode ser resumida em movimentos de aumento e

diminuição das taxas que explicam a maior parte da variação, em

movimentos de rotação das curvas explicam em torno de 12,3% da variação

na ETTJ e mudanças na curvatura que explicam apenas uma pequena parte.

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APÊNDICE A

A.1 Revisão de conceitos.

Suposições iniciais:

• onde é um corpo consistentemente definido;

• .

A.1.1 ESPAÇO VETORIAL COM PRODUTO INTERNO.

Denotamos o produto interno entre e , por . Por definição, o produto

interno deverá atender às seguintes propriedades:

Simetria: ;

Positividade: valendo a igualdade se, e somente se, ;

Bilinearidade:

Definição de norma como produto interno:

Equação 29

Exemplos de produto interno.

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O produto interno Euclidiano: Se e y são dois vetores de mesma dimensão tais

que e , definimos o produto interno Euclidiano

entre eles como sendo:

Equação 30

O produto interno entre funções: Definimos produto interno entre duas funções

e contínuas com domínio contido no intervalo , assumindo valores e

como sendo:

Equação 31

A.1.2 ESPAÇOS DE HILBERT.

Seqüências - Convergência: suponha que é uma seqüência de

elementos de um espaço vetorial normado . Dizemos que a seqüência converge para

quando:

Seqüência de Cauchy : é uma seqüência de Cauchy quando:

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Se, no espaço vetorial , toda seqüência de Cauchy é convergente e se a norma

em é induzida por um produto interno, então é um espaço de Hilbert. Espaços

vetoriais com produto interno Euclidiano e espaços de funções contínuas com produto

interno definido pela Equação 31 são exemplos de Espaços de Hilbert.

A.1.3 AUTOVALORES E AUTOVETORES E MATRIZES SIMÉTRICAS.

Teorema 4

Sejam

Então:

Teorema 5

Se A é uma matriz simétrica p×p, então existe uma matriz U, não singular, cujas

colunas são autovetores normalizados de A, tal que:

onde D é uma matriz diagonal cujos elementos da diagonal são os autovalores da

matriz A.

OBS: , logo é uma matriz ortogonal.

Suponha uma matriz simétrica . Desejamos encontrar:

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Equação 32

Suponha que são os autovalores de e são os

respectivos autovetores normalizados14 de . Tome uma matriz cujas colunas são os

autovetores , e uma matriz diagonal cujos elementos da diagonal são .

Pelo Teorema 5, temos que e .

Tomando :

e

Assim, é possível reescrever a Equação 32 como:

Expandindo , vem:

Como os autovalores, por suposição, são ordenados do maior para o menor, é

fácil ver que é a solução procurada. Portanto, basta fazer .

Também é fácil encontrar a solução para os seguintes problemas de

maximização:

Basta fazer .

14 Tais que .

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BIBLIOGRAFIA

Davison, A. (2003). Statistical Models pp 300-301. New York: Cambridge

University Press.

Green, P., & Silverman, B. (2000). Nonparametric Regression and Generalized

Linear Models(A Roughness Penalty Approach), pp 1-60. Boca Raton: CRC Press .

Lion, O. (s.d.). Um Estudo Sobre a Modelagem da Estrutura a Termo das Taxas

de Juros e a Precificação de Opções Sobre Títulos de Renda Fixa. Banco Central .

Litterman, R., & Scheinkman, J. (1991). Common Factors Affecting Bond

Returns. The Journal of Fixed Income , pp. 54-61.

Ramsay, J., & Silverman, B. (1997). Functional Data Analysis. New York:

Springer Verlag New York, Inc.

Silveira, G. B., & Lion, O. (Maio de 2003). Análise de Componentes Principais e

Dados Funcionais: Uma aplicação às Estruturas a Termo de Taxa de Juros. Banco

Central do Brasil .

Todd, J. (1962). Survey of Numerical Analysis. New York: McGraw-Hill.