analise formalista e iconologica da obra

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    Apresento uma anlise formalista e iconolgica da obra Ressurreio de Cristo

    de Rafael Sanzio (leo sobre madeira, 52 x 44 cm, 1499-1502), com a qual tive con-

    tato no Museu de Arte de So Paulo, onde ela se encontra exposta.

    Primeiramente, podemos dizer que a obra linear, pois percebemos suas gu-

    ras e formas com contornos ntidos e rmes alcanados pela utilizao de contrastes,

    podendo assim destingi-las umas das outras.

    A representao plana utilizada na pintura. Os elementos esto distribudos

    em camadas paralelas, onde no primeiro plano vemos as guras principais: o Cristo

    ressuscitado, no centro, e ao seu redor os dois anjos, os quatro guardas e seu tmu-

    lo. Em segundo plano vemos trs guras femininas, a mudana de plano aqui ca

    evidenciada pela graduao de tamanho em relao s guras do primeiro plano. Osdemais planos so compostos por paisagens que se destacam pela graduao de cor

    e tamanho das formas.

    Rafael Sanzio. Ressurreio de Cristo. 1499-1502, leo sobre madeira,

    52 x 44 cm. MASP, So Paulo.

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    Sua forma fechada caracterizada pela verticalidade e horizontalidade das

    guras e pela sua simetria. Os elementos esto distribudos de modo que se equili-

    bram. Todas as guras nos guiam at o centro do quadro, onde se encontra a gura

    principal que est destacada das demais. A pintura se subordina a moldura. Cada parte da pintura pode ser isolada, criando assim uma pluralidade. Po-

    demos analisar separadamente cada grupo da pintura, como por exemplo, Cristo, os

    anjos, os guardas e o conjunto de guras femininas.

    A pintura possui uma clareza absoluta. As formas so representadas em seu

    mais alto grau de nitidez, tornando visvel cada detalhe seu e at mesmo as guras

    mais distantes. Os contrastes so signicativos e reforam essa nitidez.

    No centro da pintura vemos o Cristo ressuscitado, apresentando-se em forma

    serena e vertical, usando vestes vermelhas e segurando com sua mo esquerda o

    estandarte da ressurreio. Com sua mo direita, faz um sinal de beno erguendo

    dois dedos de forma oblqua.

    Na parte inferior esquerda h uma serpente, que no cristianismo representa o

    mal e associada ao diabo. Em oposio, h ao fundo, no lado esquerdo, uma cego-

    nha, considerada no cristianismo um inimigo do diabo, exterminadora de serpentes.

    Por ser uma ave migratria que retorna todos os anos, considerada tambm um

    smbolo da ressurreio.

    No lado direito da pintura, embaixo do guarda que est cado, vemos um cara-

    col, que um smbolo lunar que indica a regenerao peridica. Ele mostra e escondeseus chifres assim como a lua que desaparece e reaparece, simbolizando assim mor-

    te e retorno.

    Em segundo plano vemos trs guras femininas que representam as trs Ma-rias: Maria Madalena, Maria, me de Tiago e Maria Salom, que segundo Marcos

    16:1, estariam indo ao tmulo de Jesus.

    H divergncias entre os evangelhos sobre as mulheres que foram ao tmulo,

    Joo 20:1, por exemplo, diz que Maria Madalena teria ido sozinha. Mateus 28:1 diz

    que Maria Madalena foi com a outra Maria. Por isso podemos armar que a repre-

    sentao das trs Marias na obra de Rafael foi baseada no Evangelho de Marcos.

    O evangelho de Mateus diz que um anjo de vestes brancas desceu dos cus

    e removeu a pedra do tmulo, fazendo com que os guardas cassem assombrados,e como mortos. No vemos um anjo de vestes brancas na pintura de Rafael, mas as

    caractersticas dos guardas na pintura condizem com os relatos do evangelho.

    Detalhes dos animais que

    aparecem na pintura:

    a serpente, a cegonha e o

    caracol.

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    Segundo o evangelho de Lucas, as mulheres teriam visto no tmulo dois ho-

    mens com vestes resplandecentes. Esses poderiam ser os dois anjos que vemos na

    pintura de Rafael. Assim, podemos concluir que a pintura de Rafael busca referncias

    em vrios evangelhos. Nos relatos bblicos que falam sobre os anjos que aparecem na ressurreio,

    a cor de suas vestes nem sempre citada, e quando , a cor branca. Na pintura de

    Rafael as cores so o verde e o azul. Verde simboliza o triunfo da vida sobre a morte.

    Azul a cor do cu, do innito, da eternidade.

    Em pinturas posteriores de Rafael, vemos anjos semelhantes a esses, mas

    suas cores so o verde e o amarelo.

    A parte frontal do tmulo possui trs retngulos verticais, que podem repre-

    sentar os trs dias que Cristo levou para ressuscitar e podem tambm representar a

    santssima trindade. A pintura tambm pode ser dividida verticalmente em trs partes

    iguais: a primeira contendo os guardas do lado esquerdo, o anjo de vestes azuis e as

    trs Marias, a segunda contendo Cristo e seu tmulo e a terceira contendo o restante

    dos guardas e o outro anjo.

    Ainda no tmulo, vemos ornamentos em formas de peixes. O peixe um sm-bolo do cristianismo desde o seu surgimento e sua representao foi encontrada em

    muitos sarcfagos de possveis cristos nas catacumbas de Roma. Sua tampa aberta

    aparece como mais um indcio da ressurreio.

    Detalhe do

    tmulo com a

    tampa aberta e

    as trs divises

    retangulares.

    Detalhe dos ornamentos.

    Rafael Sanzio.Madona e o Menino

    Entronados com

    Santos. C. 1504,

    leo sobre madei-

    ra, 172 x 172 cm

    (painel principal)

    e 74,9 x 180 cm

    (luneta). Metropolitan

    Museum of Art,

    Nova York.

    Rafael Sanzio.

    Cristo crucicado

    com a Virgem,

    santos e anjos. C.

    1502-1503, leo

    sobre madeira,

    283,3 167,3 cm.

    National Gallery,

    Londres.

    Diviso da pintura em

    trs partes iguais.

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    Em ltimo plano vemos o sol nascente, como outro smbolo da ressurreio.

    Podemos encontrar grandes semelhanas com a obra de seu mestre, Pietro

    Perugino, realizada em por volta de 1499. A representao do tmulo quase idnti-

    ca. Vemos o mesmo tipo de simetria, a quantidade de soldados em volta do tmulo amesma, mas suas expresses so diferentes, seus rostos mostram-se mais serenos e

    eles parecem desacordados, como relata o evangelho de Mateus. Vemos ainda a re-

    presentao dos dois anjos, porm aqui um deles usa vestes laranjas em vez de azuis

    e suas posies so verticais em vez de horizontais. A posio das mos tambm

    diferente, aqui suas mos se juntam como se estivessem em orao. A gura de

    Jesus no se difere muito da que vemos na pintura de Rafael, aqui sua posio est

    mais direcionada sua direita, assim como suas vestes. O mesmo gesto de beno

    feito com a mo direita e a mo esquerda tambm segura o estandarte da ressurreio.

    Na obra de Piero della Francesca, o Cristo aparece com as mesmas vestes e

    mais uma vez est segurando o estandarte da ressurreio. Novamente vemos quatro

    soldados, a mesma quantidade que h na obra de Rafael e de Perugino.

    Na obra de Giovanni Bellini h mais uma vez quatro soldados e o Cristo segu-

    rando o estandarte da ressurreio e fazendo o gesto de beno, mas desta vez suas

    vestes so brancas.

    A Bblia no diz quantos guardas vigiavam o tmulo, mas a presena de quatro

    guardas nas pinturas pode ser uma representao da cruz, que possui quatro pontas

    e um dos smbolos mais fortes do cristianismo, representa a morte de Cristo. A gura

    de Cristo acima dos guardas pode ser vista como o triunfo da vida sobre a morte.

    Piero della Francesca. Ressurreio

    de Cristo, 1463. Afesco, 225 200 cm.

    Pinacoteca Comunale, Sansepolcro.

    Pietro Perugino. Ressurreio

    de Cristo, c. 1499. Museus

    Vaticanos.

    Giovanni Bellini. Ressurreio.

    1475-79, leo sobre tela,

    148 x 128 cm.

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    REFERNCIAS

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