análise livro de laraia

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Uma análise sintética sobre o livro de Roque Laraia.

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Page 1: Análise livro de Laraia

Relativismo Cultural é o princípio que afirma que todos os sistemas culturais são intrinsecamente iguais em

valor, e que os rasgos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados dentro do sistema no

qual aparecem.

Cultura: um conceito antropológico

O autor inicia a obra com uma breve apresentação sobre o que será discutido: a cultura vista de um olhar antropológico.

O livro está dividido em duas partes: a primeira traz um breve histórico do desenvolvimento do significado do que é cultura, desde os iluministas até aos autores modernos; a segunda parte procura demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e econômico, e diversifica enormemente a humanidade, apensar de sua comprovada unidade biológica.

Esse é o ponto de partida do livro, a discussão da conciliação entre a unidade – biológica – e a diversidade cultural da espécie humana. Tal discussão vem desde a antiguidade até a época moderna, e não se explica por meio de determinismos historicamente definidos – nem somos resultados exclusivo do local onde vivemos (determinismo geográfico*), nem somos inteiramente dominados por nossos genes (determinismo biológico*).

Assim, notamos que nos diferimos de outros animais por sermos os únicos a possuir Cultura, ou seja, que nós somos dotados da capacidade ilimitada de obter conhecimento (propriedade oral e a capacidade de fabricação de instrumentos, que tona mais eficiente nosso aparato biológico), através do processo de Endoculturação. E, citando o famoso antropólogo americano, Marvin Harris, “nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”**. O ser humano está acima de suas limitações orgânicas.

Em frente ao Relativismo Cultural, o Etnocentrismo, a crença de que nossas pautas de conduta são sempre naturais, boas ou

importantes, e que os estranhos, pelo fato de atuar de maneira diferente, vivem de forma repugnante ou irracional.

Page 2: Análise livro de Laraia

Se, Tylor definiu Cultura como sendo um “todo complexo” que envolve os comportamentos aprendidos e tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, Kroeber, seguiu esse caminho e rompeu com todos os laços entre o cultural e o biológico ao desenvolver o conceito de “O Superorgânico”

O autor procura delimitar e expor o que é herdado biologicamente e, o que é, herdado culturalmente, tecendo assim uma crítica a Antropologia Evolucionista e ao Darwinismo Social.

Assim, Cultura é o que o homem acrescenta à natureza, em de acordo com a sua própria capacidade de criar ou até reinventar, ou seja, é um processo acumulativo (Endoculturação), resultante de toda experiência histórica das gerações anteriores.

Claramente não se pode ignorar que o ser humano dependa muito de seu equipamento biológico. Pelo fato de que para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertença, ele tem que satisfazer um número determinado de funções vitais (alimentação, sono, respiração, atividade sexual). Mas, embora estas funções sejam comuns a toda humanidade, a maneira de satisfazê-la varia de cultura para cultura.

E é justamente esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções que faz com que o ser humano seja considerado

predominantemente cultural. Os seus comportamentos não são biologicamente determinados! (Pois, todos os seus atos dependem

inteiramente de um processo de aprendizado)

(Página 39, trecho marcado)

Prova disso é que no decorrer de sua história, sem se submeter a modificações biológicas radicais, nós temos sobrevivido a numerosas espécies, adaptando-nos às mais diferentes condições mesológicas.

O SER HUMANO É RESULTADO DO MEIO CULTURAL EM QUE FOI SOCIALIZADO. ELE É

HERDEIRO DE UM LONGO PROCESSO ACUMULATIVO, QUE REFLETE O

CONHECIMENTO E A EXPERIÊNCIA ADQUIRIDA PELAS GERAÇÕES QUE O

ANTECENDERAM

Page 3: Análise livro de Laraia

A origem do conceito de Cultura é centro de debate entre os mais diversos intelectuais, mas apesar das discordâncias, é possível perceber que concordam que o início do desenvolvimento e manifestação cultural se deu de acordo com a evolução do cérebro humano e sua capacidade de raciocínio. (Óbvio ¬¬)

Ao fim da primeira parte, Laraia afirma que já que essa discussão acerca do que é Cultura jamais terminará, visto que “uma compreensão exata de Cultura significa a compreensão da própria natureza humana, tema perene da incansável reflexão humana”.

Tal como afirmou Murdock: “Os antropólogos sabem de fato o que é cultura, mas divergem na maneira de exteriorizar este

conhecimento”

Como a Cultura condiciona a visão do ser humano? “A Cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo”. Pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas das coisas. O fato do ser humano ver o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão a considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade, discriminando o comportamento desviante.

E esse modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as

posturas corporais são produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.

(Página 68, trecho marcado)

A Cultura ainda, de acordo com Laraia, interfere no plano biológico, e pode até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros do sistema.

Como, por exemplo, em uma dada situação de crise, os membros abandonam suas crenças e valores e perdem a motivação que os mantém vivos (e unidos).

É fato, também, que os indivíduos participam de forma limitada em sua cultura. Qualquer que seja a sociedade.

Foi simultâneo ao próprio desenvolvimento biológico.

Page 4: Análise livro de Laraia

Prescinde-se assim criar condições que possibilite o mínimo de participação do indivíduo na pauta de conhecimento da cultura a fim

de possibilitar a sua articulação com os demais membros da sociedade, sem afronta ou perda de situação. Portanto, mesmo que

não se conheça totalmente determinado sistema cultural é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro dele, é preciso

conhecer as regras que regulam a etiqueta social de determinado grupo, a cultura de um povo para respeitá-las e sociabilizar-se

adequadamente.

Laraia segue explicando que o homem sente a necessidade de tirar conclusões por meio do que observa diretamente, utilizando somente

o que possui e acaba o fazendo por meio de sua cultura. O autor ainda exemplifica “Assim, não é nada ilógico supor que é o Sol quem

gira em torno da terra, pois, é esta a sua sensação” ou seja, o que Laraia quer dizer é que, a “nossa” lógica só é obtida por meio de

nosso repertório de conhecimento, logo por nossa cultura, então é por isso que ele afirma categoricamente que a cultura tem sua própria

lógica, pois ela depende de quem a observa.

Por fim, Laraia finaliza o livro, expondo a ideia de que a Cultura é dinâmica, na medida que o ser humano tem a capacidade de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los.

No Manifesto sobre Aculturação, da Universidade de Stanford, autores afirmam que “qualquer sistema cultural está em contínuo processo de modificação”. Mas a mudança não representa um salto de um estado estático para um dinâmico e sim a passagem de uma espécie de mudança para outra.

O que muitas vezes se dá pelo contato (algo externo). Logo, há dois tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural e uma segunda que é o resultado de um sistema cultural com o outro.

No primeiro caso, a mudança pode ser lenta.

No segundo caso, pode ser mais brusco e rápido (é o mais atuante)

Para atendê-la foi necessário o desenvolvimento de um esquema conceitual específico chamado de Aculturação (que seria um fenômeno por meio do qual se explica as

mudanças que podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais externos.

Page 5: Análise livro de Laraia

São mudanças como essas que comprovam de uma maneira evidente o caráter dinâmico da cultura.

O tempo é um elemento importante.

E cada mudança, por menor que seja representa o desenlace de numerosos conflitos:

Tendências conservadoras x Tendências inovadoras

E numa mesma sociedade é possível sim encontrar pessoas com juízos diametralmente opostos sobre um fato.

Entender essa dinâmica mostra-se importante para atenuar os choques entre gerações e evitar comportamentos preconceituosos.

E, da mesma forma, é importante para a humanidade em geral, compreender a diferença entre culturas (olhar antropológico), visto que esse é o único procedimento para que o ser humano se prepare para enfrentar serenamente esse constante e admirável mundo novo

que sempre se renova.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obra refuta veemente as correntes do determinismo biológico e geográfico como determinantes da cultura de um povo, e convence através de estudos empíricos e análises históricas (método defendido pelo autor) de que a cultura pode se desenvolver das mais variadas (e semelhantes) formas possíveis em qualquer lugar do mundo, sejam eles próximos ou longínquos.A cultura é então vista como algo intrínseco ao ser humano, tendo vista que é um ser social. Não existe ser humano sem cultura, e todos eles são capazes de aprender qualquer cultura, não importando sua raça ou origem. A cultura é tida como diretriz e formadora da visão de mundo de um indivíduo, que sem ela adoece, morre, como quando acometido de uma doença ou quando um órgão essencial para de funcionar adequadamente. E através dela que muitas vezes se curam e ‘e em nome dela que vivem, que se organizam e que buscam.Não existe cultura superior à outra, nem mais desenvolvida, nem mais lógica. Todas elas possuem seus princípios válidos para seus respectivos indivíduos. Antes de tudo, todas as culturas têm o mesmo valor.

Page 6: Análise livro de Laraia

As culturas são responsáveis pelo o homem ser capaz de transpassar os anos, sem a necessidade de modificarem-se somaticamente para resistirem às mudanças ecológicas. E por mais diversas que possam ser, todas obedecem regras elementares e genéricas, que podem ser estudadas com seriedade e cientificidade, para que se possa compreender a maior característica do ser humano, numa tentativa de se conviver pacifica e harmoniosamente.

Fernanda Santos