anatomia e fisiologia da pele - sem fotos
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UNIVILLE - UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE
Cezar Augusto Suchard
Davi Augusto Feldmann
Júlio Gustavo Costa
Márcio Andrei Gil Monteiro
Milena Furlin Rizzon
Vera Lúcia Braatz
JOINVILLE
2007
2
Cezar Augusto Suchard
Davi Augusto Feldmann
Júlio Gustavo Costa
Márcio Andrei Gil Monteiro
Milena Furlin Rizzon
Vera Lúcia Braatz
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE
Trabalho apresentado à disciplina
de Dermatologia do Curso de
Medicina da Univille como pré-
requisito parcial para aprovação
no curso no ano letivo de 2007,
sob orientação de:
Prof. Msc. Eoda M. B. Steglich.
Prof. Msc. Nalu I. M. de Oliveira.
Joinville, fev. de 2007.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................5
1. EMBRIOLOGIA DA PELE .......................................................................................6
1.1 Epiderme...............................................................................................................6
1.2 Derme....................................................................................................................7
2. EPIDERME .............................................................................................................8
2.1 Histologia...............................................................................................................8 2.1.1 Camada basal.................................................................................................8 2.1.2 Camada Escamosa.........................................................................................9 2.1.3 Camada Granular .........................................................................................10 2.1.4 Camada Córnea ...........................................................................................10
2.2 Principais Tipos Celulares...................................................................................10 2.2.1 Melanócitos...................................................................................................10
2.2.1.1 A Produção da Melanina ........................................................................11 2.2.1.2 O Pigmento Melânico na Fisiopatologia da Pele....................................11
2.2.2 Células de Langerhans.................................................................................13 2.2.3 Células de Merkel .........................................................................................14
2.3 Ultra estrutura e Composição..............................................................................15
3. DERME .................................................................................................................23
3.1 Colágeno.............................................................................................................24
3.2 Tecido Elástico ....................................................................................................25
3.3 Matriz Intercelular................................................................................................26
3.4 Suprimento Sanguíneo........................................................................................26
3.5 Sistema Nervoso .................................................................................................28
3.6 Gordura Subcutânea ...........................................................................................29
4. GLÂNDULAS.........................................................................................................30
4.1 Glândulas Holócrinas ..........................................................................................30
4.2 Glândulas Apócrinas ...........................................................................................32
4.3 Glândulas Écrinas ...............................................................................................33
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5. UNHAS..................................................................................................................34
5.1 Embriologia .........................................................................................................34
5.2 Anatomia .............................................................................................................35
5.3 Microscopia .........................................................................................................37 5.3.1 Placa.............................................................................................................37 5.3.2 Prega Proximal .............................................................................................38 5.3.3 Matriz ............................................................................................................38 5.3.4 Leito Ungueal................................................................................................40 5.3.5 Hiponíquio.....................................................................................................41 5.3.6 Pregas Laterais.............................................................................................41
5.4 Crescimento e Coloração....................................................................................42
5.5 Suprimento sangüíneo ........................................................................................44
6. PÊLOS E CABELOS.............................................................................................44
6.1 Desenvolvimento, Crescimento, Distribuição e Composição dos Pêlos e Folículos Pilosos.......................................................................................................................45
6.2 Pigmentação dos Pêlos e Cabelos......................................................................47
CONCLUSÃO............................................................................................................48
ANEXO 1 – EPIDERME (FIGURAS)................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
ANEXO 2 – DERME (FIGURAS)...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
ANEXO 3 – GLÂNDULAS (FIGURAS)............. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
ANEXO 4 – PÊLOS E CABELOS (FIGURAS) . ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................49
5
INTRODUÇÃO
A pele é uma membrana dupla que reveste toda a superfície corporal, sendo
também contínua com as membranas mucosas. O peso da pele, o maior órgão do
corpo humano, é de aproximadamente 16% do peso corporal total, em um adulto, e
sua superfície pode chegar a 2m2.
A pele mostra uma ampla variação de espessura conforme a região corporal
revestida. Nas pálpebras, por exemplo, a sua espessura é menor de 1mm, já em
regiões como o dorso, a planta do pé e a palma da mão essa espessura pode
superar os 4mm.
A pele pode ser dividida em duas partes: uma parte externa, chamada de
epiderme; e uma parte interna, chamada de derme, que está intimamente
relacionada com o tecido adiposo subcutâneo, também chamado de hipoderme.
Esta considerável variação estrutural e anatômica da pele, conforme as
diferentes regiões da superfície corpórea, deixa claro que o conhecimento detalhado
da anátomo-histologia e fisiologia normais da pele é um pré-requisito essencial para
o pleno entendimento da fisiopatologia das lesões dermatológicas,
independentemente das suas etiologias.
A pele também exibe uma ampla lista de funções essenciais para a
homeostase do organismo, tais como a manutenção da integridade do corpo, a
proteção contra agressões externas, a absorção da radiação ultravioleta, o
isolamento corporal da água, a sensibilidade a estímulos externos, a função de
barreira contra os microorganismos, tem papel essencial na termorregulação, e,
finalmente, a absorção e excreta de líquidos.
No texto que se segue o leitor encontrará um relato detalhado e atual de toda
a anatomia e histologia da pele normal, desde sua embriologia até as suas funções.
O texto também detalha as estruturas chamadas de “Anexos Cutâneos”, explicando
anátomo-fisiologia e funções de cabelos, pêlos, unhas, glândulas e receptores
encontrados no tecido de revestimento externo do corpo humano.
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1. EMBRIOLOGIA DA PELE
1.1 Epiderme
A ectoderme dá origem aos componentes epiteliais da pele, enquanto que o
mesoderma provê os elementos mesenquimais da derme. (STERNBERG, 1992)
Primeiramente o embrião é coberto por uma camada simples de células
ectodérmicas. Por volta da sexta à oitava semana há o desenvolvimento de uma
segunda camada, a periderme é adicionada. A periderme é a camada que se
encontra em contato com o liquido amniótico. A atividade mitótica da camada basal
predomina sobre a periderme e tão cedo à camada basal começa a camada
germinativa. A partir desta camada basal proliferativa grupamentos de células são
adicionados para formar camadas adicionais entre a camada basal e a periderme.
Na vigésima terceira semana, aproximadamente, a queratinização tomou lugar no
estrato superior e as células da periderme foram amplamente substituídas.
(BREATHNACH, 1971)
Em complemento, por volta do fim do primeiro trimestre a junção
dermoepitelial com os seus componentes são ultraestruturalmente similares à pele
madura. Assim, a epiderme neonatal característica está desenvolvida no quarto
mês. (STERNBERG 1992)
As células epidérmicas não queratinizantes como: melanócitos, células de
Merkel, e células de Langerhans, são vistas na pele de embriões de 8 a 10
semanas. As células precursoras dos melanócitos migram da crista neural para a
derme e então para a epiderme onde se diferenciam em melanócitos durante os três
primeiros meses de desenvolvimento. (STERNBERG 1992)
As células de Langerhans são derivadas da medula óssea. Elas assemelham-
se na reatividade a fagócitos mononucleares na expressão de adenosina
trifosfatase, tendo na superfície de sua membrana celular antígenos leucocitários
humanos DR (antígeno HLA-DR). (FOSTER et al., 1986)
As células de Merkel também podem ser vistas na epiderme de embriões de 8
a 10 semanas de vida. Entretanto a sua origem ainda é controversa. Alguns
sugerem uma derivação da crista neural, enquanto outros sugerem um processo de
diferenciação de queratinócitos vizinhos na epiderme. (WILKELMANN et al. 1972)
7
1.2 Derme
A derme é derivada do tecido mesenquimal primitivo subjacente à superfície
da ectoderme. A derme papilar e reticular é reconhecida a partir dos 120 dias de
vida uterina. (BREATHNACH, 1971)
Três tipos de células são reconhecidos em embriões de seis a quatorze
semanas. Células do tipo I são células dendríticas com processos longos e
delgados. Estas são as mais numerosas e primitivas células mesenquimais, e
provavelmente dão origem as células endoteliais. As células do tipo II possuem
processos menos extensos, os núcleos são arredondados e o citoplasma contém
grandes vacúolos. Elas são classificadas como macrófagos de origem yolk-sac.
(BREATHNACH, 1971)
As células do tipo III são recobertas por pouca ou sem extensões de
membrana plasmática, mas elas contêm inúmeras vesículas, algumas com
característica secretória ou de formação granular. Estas células poderiam ser
melanoblastos em seu caminho para a epiderme ou elas poderiam ser precursoras
das mast-cells. As células de Schwan associadas à neuroaxônios, mas não aderidas
à lâmina basal também são identificadas durante este período. (BREATHNACH,
1971)
No intervalo de quatorze a vinte e uma semanas de desenvolvimento as fibras
de colágeno do tipo III estão presentes de forma abundante na matriz.
Eventualmente estas se tornam colágeno do tipo I vistos na pele adulta. Fibroblastos
são facilmente reconhecidos como eixos alongados de células com retículos
endoplasmáticos grosseiros. (BREATHNACH, 1971)
As células mesenquimais do tipo II são raramente vistas após a décima
quarta semana de desenvolvimento. Contudo, outro tipo celular com características
ultracelulares similares aos histiócitos ou macrófagos livres são vistas
frequentemente neste período. Também são amplamente visualizadas, neste
período, as mast-cells bem formadas na derme. (LEVER et al. op citi. 1983)
Fibras elásticas surgem na derme durante a vigésima segunda semana de
desenvolvimento e por volta da trigésima segunda semana uma rede bem
estruturada está desenvolvida no tecido subcutâneo a partir das células
mesenquimais. (LEVER et all. op citi. 1983)
8
2. EPIDERME
A epiderme, derivada da ectoderme, é um epitélio estratificado escamoso
queratinizado, do qual se originam os anexos cutâneos, como folículo pilosebáceo,
unhas, e as glândulas sudoríparas. Além dos queratinócitos, a epiderme é composta
por melanócitos, células de Langerhans e células de Merckel (essas últimas de difícil
visualização através da coloração com hematoxilina-eosina). (MCKEE, 2005)
Os queratinócitos da epiderme são divididos em quatro camadas: a camada
basal (stratum basale, stratum germinativum), camada espinhosa (stratum
spinosum), camada granulosa (stratum granulosum) e camada cornificada (stratum
corneum) (Fig. 2.1)1. (MCKEE, 2005)
A epiderme está em constante renovação. É dividida funcionalmente em
quatro compartimentos: células tronco, células de transição, células de diferenciação
e células funcionais. (MCKEE, 2005)
Várias linhas de evidência indicam que a gama primária de células tronco da
epiderme representa, ao final da diferenciação, o cabelo, a epiderme interfolicular e
as estruturas sebáceas relacionadas ao folículo piloso. (TAYLOR, 2000). Seu papel
é particularmente evidente na regeneração da epiderme após trauma, onde há
considerável evidência para suportar o conceito de uma subpopulação epidérmica
de células tronco, especialmente nas áreas glabras da pele. Por definição são
relativamente indiferenciadas, com capacidade ilimitada de multiplicação, podendo
ser identificadas in vivo pela retenção de tiamina, alta expressão de integrinas e
reduzida expressão de receptores de transferrina. (MCKEE, 2005)
As células de transição possuem limitada capacidade de mitose (quatro a
cinco divisões) até iniciar a diferenciação terminal. As células diferenciadas
perderam irreversivelmente a capacidade de auto-divisão e progridem
inevitavelmente para a via de queratinização (Fig. 2.8). (MORASSO, 2005) e
(MCKEE, 2005)
2.1 Histologia
2.1.1 Camada basal
1 As figuras referentes à parte de Epiderme encontram-se no Anexo 1 – Epiderme (Figuras).
9
As células basais são mitoticamente ativas e originam os queratinócitos. Os
queratinócitos basais são arranjados em uma única camada de células colunares a
cuboidais. Eles contêm grandes núcleos, com nucléolos proeminentes, e citoplasma
basofílico. São pigmentados por transferência de melanina dos melanócitos
próximos. Contêm em seu citoplasma citoqueratinas de baixo peso molecular.
(STERNBERG, 1992)
Uma membrana basal separa a camada basal da derme. Pode ser vista
através de microscopia como uma camada delgada e contínua corada com o ácido
periódico de Schiff (PAS). As células basais são presas à lâmina basal por
hemidesmossomos e aos queratinócitos adjacentes por desmossomos. Da epiderme
à derme, respectivamente, há: a membrana plasmática das células basais contendo
hemidesmossomos e filamentos de ancoragem; a lâmina lúcida, uma área eletron-
lucente composta de laminina; a lâmina densa, uma área eletron-densa composta de
colágeno tipo quatro, e a sublâmina densa (ou pars fibroreticularis), contendo
estruturas que aderem a lâmina basal ao tecido conectivo da derme. (STERNBERG,
1992)
2.1.2 Camada Escamosa
A camada escamosa recebe este nome pela aparência de suas células à
microscopia, onde se visualizam múltiplas projeções se extendendo de célula a
célula. Essas projeções são resultado da retração da membrana plasmática durante
a formação do tecido, enquanto os desmossomos permanecem relativamente fixos.
(STERNBERG, 1992)
É formada por várias camadas de células, com os queratinócitos suprabasais
poliédricos, um pouco basofílicos e com núcleo circular. As células mais superficiais
são grandes, achatadas, eosinofílicas, e orientadas paralelamente à superfície. Um
espaço intercelular constante é mantido entre cada célula. O antígeno do pênfigo é
localizado na membrana dessas células. (STERNBERG, 1992)
Na interface entre a camada escamosa e a granular, os queratinócitos contêm
grânulos lamelares compostos de lipídios, açúcares neutros conjugados com
proteínas e lipídios, e hidrolases. Esses grânulos não são visíveis à microscopia
convencional. Sua função é prover lipídios epidérmicos, aumentar as propriedades
de barreira da camada córnea, e auxiliar o processo de descamação.
(STERNBERG, 1992)
10
Casualmente, células com citoplasma pálido ou claro que se assemelham ( e
devem ser diferenciadas) das células neoplásicas da doença de Paget, são vistas na
camada escamosa. As células benignas claras possuem núcleo picnótico circundado
por um halo claro e uma área de citoplasma pálido. Podem estar associdas a
pápulas benignas ou ser vistas na epiderme mamilar (entendidas como elementos
mamilares não-malignos). (STERNBERG, 1992)
2.1.3 Camada Granular
A camada granular é composta por uma a três camadas de células achatadas
contendo grânulos intensamente basofílicos conhecidos como grânulos
queratohialinos, ricos em histidina e precursores da proteína filagrina, que promove
a agregação dos filamentos de queratina na camada córnea. (STERNBERG, 1992)
2.1.4 Camada Córnea
A camada córnea é composta por múltiplas camadas de células poliédricas
entrelaçadas, sendo as mais diferenciadas do processo de queratinização, que leva
de vinte a quarenta e cinco dias. Nessa camada, as células perdem seus núcleos e
organelas citoplasmáticas, e são compostas quase que inteiramente por filamentos
de queratina de alto peso molecular. Em cortes histológicos feitos da pele das
palmas das mãos e plantas dos pés, é possível visualizar uma zona homogênea
eosinofílica acima da camada granular, chamada de estrato lúcido. (STERNBERG,
1992)
2.2 Principais Tipos Celulares
2.2.1 Melanócitos
Os melanócitos têm origem na crista neural; geralmente localizam-se pela
camada basal da epiderme no folículo piloso, bem como nos olhos, ouvidos e
meninges. São primeiramente detectados a partir do décimo quinto dia de vida intra-
uterina. A migração do melanócito para a epiderme e sua sobrevida é dependente
da atividade de tirosina-quinase do receptor c-kit e seus ligantes, estimuladores de
células tronco. A razão de melanócitos e células basais é de aproximadamente 1:4
na face e 1:10 nos membros. Aparecem como células vacuolizadas nos cortes
corados com hematoxilina-eosina (Fig. 2.2). (HOLBROOK, 1998)
11
A função dos melanócitos é produzir melanina, um pigmento que varia em cor
do amarelo ao marrom ou preto, e responde pelas variações de cor de pele entre as
raças. (JIMBOW, 1991)
2.2.1.1 A Produção da Melanina
Melanina, o produto final da complexa transformação da L-tirosina, é formada
por polimórficos e multifuncionais biopolímeros, representados por eumelanina,
feomelanina, neuromelanina e um pigmento misto. Sua biossíntese pode ser iniciada
tanto pela hidroxilação de L-fenilalanina a L-tirosina ou diretamente a partir de L-
tirosina, a qual é então hidroxilada a dihidrofenilalanina (L-DOPA, estágio orbigatório
in vivo e in vitro). L-DOPA é precursor tanto de melanina quanto de catecolaminas,
formadas a partir de diferentes vias. O próximo estágio, a oxidação de L-DOPA a
dopaquinona é comum tanto na via de eu- quanto de feomelanogênese. A
eumelanogênese envolve a transformação de dopaquinona a leicodopacrome,
seguindo de uma série de oxidorreduções com produção dos intermediários
dihidroxindole (DHI) e DHI carboxílico, que inicia a polimerização para formar
eumelanina. Feomelanogênese também começa com dopaquinona, que é
conjugada com cisteina ou glutationa para formar cisteinildopa e glutationildopa,
para então se transformar em feomelanina. A melanina mista contêm tanto eu-
quanto feomelanina. In vitro, todos esses tipos de melanina podem se converter em
neuromelanina através de reações de oxidação/redução; in vivo, apenas dopamina e
cisteinildopamina podem ser usadas como precursoras desse pigmento. Eumelanina
é insolúvel na maioria dos solventes e corresponde às tonalidades marrom a preto,
enquanto a feomelanina é álcali-solúvel e corresponde a amarelo a marrom-
avermelhado (Fig. 2.3). (SLOMINSKI, 2004)
2.2.1.2 O Pigmento Melânico na Fisiopatologia da Pele
A melanina epidérmica é importante evolutivamente e possui implicações
fisiológicas, particularmente para homens não-vestidos. Os níveis de pigmentação e
a origem antropológica estão intimamente associados, com maior pigmentação em
áreas de menor latitude e maior radiação ultravioleta. (AHENE, 1995)
Populações humanas que vivem em áreas com menor nível de luz ultravioleta
(UV) pode se adaptar com menor pigmentação, o que também facilita a conversão
cutânea UV-mediada de 7-dehidrocolesterol a pré-vitamina D3. De fato, a exposição
12
UV em humanos mais pigmentados é limitada em duração e/ou intensidade; por
isso, deficiências de vitamina D3 podem ser vistas em indianos que vivem nas
cidades do norte da europa.
A epiderme de mulheres adultas possui menos melanina se comparada a
homens adultos, sugerindo um efeito gênero-mediado. Uma possível explicação
pode ser a necessidade maior de vitamina D nas mulheres, imposta pela maior
absorção intestinal de cálcio durante a lactação e a gravidez. (SLOMINSKI, 2004)
A melanina é fundamental para proteger as células basais mitoticamente
ativas contra as injúrias da luz ultravioleta. Por isso indivíduos com menor
pigmentação possuem riscos maiores de queimaduras solares e de desenvolver
malignidades cutâneas (carcinomas escamosos e basocelulares, bem como
melanomas) quando expostos a excessiva luz ultravioleta, quando comparado com
aqueles mais pigmentados. (FITZPATRICK, 1986)
A principal ação da melanina consiste em atenuar a penetração da radiação
UV; quando exposta a melanina pode sofrer fotosensibilização gerando radicais
superóxido e injúria letal para a célula do indivíduo. Paradoxalmente a essa ação,
ela pode, entretanto, conferir proteção contra a conseqüência celular mais deletéria,
a neoplasia, através da redução do índice de proliferação de células altamente
melanizadas, fechando o elo entre produção de melanina e fotoreparação de dano
UV-induzido ao DNA. Esses dados em conjunto implicam que a melanina é
importante para o homeostasia da pele e que bronzear ela mesma representa um
sinal de distress. (GILCHREST, 1999)
Os elementos chave da regulação da melanogênese são representados pela
tirosinase e TYRPs. A nível intracelular, a principal via reguladora envolve o
mediador comum AMPc. Acredita-se que L-DOPA e L-tirosina, além de substratos
para melanina, são também agentes bioreguladores.
As desordens mais comuns do pigmento não estão associadas à qualidade
da melanina, mas sim à quantidade de pigmento produzido pela célula, que pode
estar reduzida em número, ausente, ou hiperativa e, habitualmente, com localização
regional. Hipomelanose pode ser adquirida (como o vitiligo) ou congênita via
herança de mutações pigmento-relacionadas (como o albinismo e o piebaldismo).
Pigmento em excesso pode estar associado a resposta inflamatória (como o
quelóide) ou com função melanocítica anormal (como o nevo displásico e o
melanoma maligno) (Fig. 2.4). (SLOMINSKI, 2004)
13
2.2.2 Células de Langerhans
As células de Langerhans (Fig. 2.5), primeiramente descritas em 1868 pelo
estudante de medicina Paul Langerhans, são células apresentadoras de antígeno
intraepidérmicas, responsáveis pelo desenvolvimento das reações alérgicas (Fig.
2.6). Representam potentes estimuladores de uma gama de imunoreações célula-T
mediadas. São, por essa razão, a primeira célula envolvida na resposta a antígenos
tumorais e microorganismos, e executam importante papel na rejeição a enxertos.
São formadas nas camadas suprabasais da epiderme e também da derme,
mas são difíceis de identificar mesmo usando técnicas adequadas. Células
apresentando vacuolização citoplasmática acentuada nas camadas superiores da
epiderme são, provavelmente, células de Langerhans. Podem ser demonstradas,
entretanto, mais confiavelmente, através de métodos enzimáticos usando adenosina
trisfosfatase e imunohistoquimicamente usando anticorpos monoclonais. Podem
também ser identificadas no epitélio escamoso da cavidade oral, esôfago, ânus,
cervix e vagina. (HAUSER, 1991)
São caracterizadas por seus processos dendríticos, que se extendem acima
entre os queratinócitos até a camada granular e abaixo até a junção dermo-
epidérmica (Fig. 2.7). Ultraestruturalmente são distinguidas dos queratinócitos pela
ausência de desmossomos e tonofilamento; e, enquanto eles podem conter
melanossomos, as células de Langerhans jamais possuem melanossomos ou pré-
melanossomos em seu citoplasma. Possuem tipicamente núcelo lobulado e
citoplasma claro, contendo grânulos característicos, cuja quantidade aumenta
durante reações de hipersensibilidade.
Por muito tempo as células de Langerhans foram consideradas melanócitos
extenuados, mas agora é sabido que derivam da medula óssea e que possuem
funções imunológicas. Após estimulação antigênica, as células de Langerhans
sensibilizadas migram para a zona paracortical do linfonodo sob influência de TNF-
alfa e integrina, e estimulam os linfócitos que, por sua vez, retornam à epiderme
para efetivar a reação imune contra o antígeno em questão.
Além disso, sua resposta é importante para o desenvolvimento de neoplasias
e displasias cutâneas. Foi mostrado que a redução no número ou na capacidade de
apresentação de antígenos, que pode ser induzida por radiação UV ou carcinógenos
14
químicos, pode representar importante papel nas etapas iniciais do desenvolvimento
de tumores epidérmicos. (MULLER, 1991)
2.2.3 Células de Merkel
Representam mecanoreceptores envolvidos particularmente com a sensação
tátil, mediada mais através da liberação de neuromoduladores químicos do que pela
transdução mecânica direta. Essas células estão amplamente dispersas pela
epiderme de mamíferos, bem como já foi descrita em répteis, peixes e anfíbios.
Estão presentes em maior quantidade em adultos humanos nos lábios, palato duro,
palmas, dedos, região proximal das unhas e dorso do pé. São mais freqüentes em
áreas expostas ao sol quando comparado às não expostas. São particularmente
numerosos na queratose actínica.
Sua origem precisa permanece incerta. Duas hipóteses foram propostas:
queratinócito modificado com função neuroendócrina ou, alternativamente, derivado
direto da crista neural. A partir de considerações de desenvolvimento, ultraestrutura
(compartilha características com os queratinócitos) e imunohistoquímica
(primeiramente detectados na epiderme do que na derme), a primeira hipótese
permanece mais convincente. (TACHIBANA, 1995)
Possuem filamentos de queratina, particularmente os tipos 8, 18, 19 e 20,
com característica de epitélio simples e epiderme fetal. Sob condições normais
aparenta não dividir-se, provavelmente relacionado ao fato de formar sinapses com
terminações nervosas intraepidérmicas, uma circunstância onde mitoses devem não
ocorrer. Entretanto seu número está aumentado em peles agredidas pelo sol.
As células de Merkel não podem ser visualizadas na coloração convencional
de hematoxilina e eosina. Através de imunohistoquímica, especialmente usando
anticorpos anti-queratina, ou microscopia eletrônica, pode-se visualizá-las nas
camadas inferiores da epiderme (onde fazem sinapses com neurônios mielinizados
do tipo 1). É caracterizada pela presença de espinhos citoplasmáticos, grânulos
densos, e junções sinápticas. Os grânulos são principalmente localizados na parte
basal do núcleo, próximo à junção sináptica. Filamentos intermediários estão
presentes em seu citoplasma. O núcleo é lobulado. Apesar de formar adesões
desmossômicas com os queratinócitos vizinhos, ele não forma adesões
hemidesmossômicas com a membrana basal.
15
Estão usualmente em aglomerados na base da epiderme nas áreas glabras
ou associada aos folículos nas áreas pilificadas. Além de sua função
mecanoreceptora, foi recentemente sugerido que as células de Merkel executem
papel primário na indução de plexos nervosos subepidérmicos e perifoliculares. É
também postulado que são de importância para o desenvolvimento e manutenção, e
que sua função parácrina pode influenciar o tecido conectivo dérmico, nervos e
vasos sanguíneos. (NARISAWA, 1992)
2.3 Ultra estrutura e Composição
Através da microscopia eletrônica, a região da membrana basal é
convenientemente dividida em 4 zonas:
- membrana celular e hemidesmossomos dos queratinócitos basais
- lâmina lucida
- lâmina densa
- lâmina sub-basal da zona fibrilar.
A nível molecular, uma rede de filamentos intermediários (queratina) estão
conectados pela membrana nuclear através de fibrilas que estabelecem contato com
os desmossomos e hemidesmossomos (Fig. 2.9). Através da matriz, caderinas
estabelecem contato com os queratinócitos adjacentes, e por último, fibrilas de
integrina transmembrana se estendem através da lâmina lúcida e lâmina densa.
Filamentos intermediários também interagem com microfilamentos e microtúbulos.
Para fornecer uma estabilidade mecânica para a célula e para a epiderme, existem
evidências que sugerem que a rede de filamentos é importante na transdução do
sinal e possivelmente no mecanismo de transporte intracitoplasmático. (DJABALI,
1999). Descrições da estrutura molecular da membrana basal dentro de um contexto
anatomo-funcional está na Tabela 2.1.
Situado em intervalos regulares ao longo da membrana plasmática dos
queratinócitos basais estão os hemidesmossomos, assim chamados pois sua
morfologia é semelhante aos desmossomos. Pode ser notado, entretanto, que a
nível molecular eles são completamente diferentes. Hemidesmossomos estão
aderidos na epiderme através de filamentos que estão fixados na lâmina densa, os
quais estão ligados na derme adjacente através da fixação de fibrilas (Fig. 2.10). Os
hemidesmossomos têm aproximadamente 500-1000 nm de diâmetro e fornecem um
local de fixação para os filamentos basais de queratina. Eles existem em grande
16
número, independente do local, do sexo e da idade. São compostos de uma placa
interna a qual está associada a filamentos de queratina, e por outra placa intracelular
a qual está ligada à membrana celular dos queratinócitos basais, e extracelular por
uma densa lâmina sub-basal que é importante na adesão do filamento.
Hemidesmossomos consistem de:
- proteínas transmembranas interpostas na matriz celular incluindo integrina
α6β4 , α3β1, integrina α2β1, antígeno penfigóide bolhoso 180 kD (BPAG2)
-placa de proteínas envolvidas e fixadas no filamento intermediário incluindo o
antígeno BPAG1 230 kD e plectina. (WOODLEY, 2001)
- componentes adicionais da região hemidesmossomal, incluindo IFAP 300 e
p200.
Α6β4 integrina é uma proteína transmembrana que media a adesão da matriz
celular, a estabilidade hemidesmossomal e a transdução do sinal epidermal.
Integrinas são proteínas de superfície que fixam proteínas na matriz extracelular
incluindo laminina, colágeno, fibronectina e vitronectina. As integrinas também são
importantes na sinalização de mecanismos via tirosina quinases, iniciando e
regulando a organização do citoesqueleto, a proliferação dos queratinócitos, a
apoptose e a vias de diferenciação. O componente β4 da integrina α6β4 tem um
longo cabo intracitoplasmático (de aproximadamente 1000 aminoácidos) que estão
ligados nos filamentos intermediários de queratina através de filamentos
intermediários associados a proteína IFAP300. Os componentes extracelulares
ligam-se a laminina-5 e laminina-1 dentro da lâmina lúcida. Integrinas α6β4 é
também de soberanal importância na organização do hemidesmossomo. Anticorpos
contra integrina α6β4 constituintes das células epiteliais em tecido de cultura
resultam em uma quantidade diminuída de hemidesmossomos. Mutações nos genes
de integrina β4 resultam em hemidesmossomos defeituosos, sendo também
encontrados na atresia pilórica, variante de epidermólise bolhosa hemidesmossomal.
Integrinas α3β1 são expressadas na superfície celular nos locais de adesão focal em
torno das células basais e suprabasais junto da base celular, indicando que é muito
importante em ambas as células e matriz celular de adesão. Entretanto, estão
ligadas ao citoesqueleto de actina e acredita-se que desempenham papel importante
na organização da matriz extracelular.
O antígeno penfigóide bolhoso 180 kD (BP180, BPAG2, colágeno tipo VII) é
uma proteína transmembrana de 155kD com propriedades de colágeno
17
extracitoplasmático carboxila-terminal (colágeno tipo VII), e não-colágeno
intracitoplasmático amino-terminal. Pensa-se que é associado a α6 integrina via
intracitoplasmática. (HOPKINSON, 1995). A propriedade extracelular se encontra no
interior da lâmina lúcida e provavelmente é um importante componente da
ancoragem filamentar. O gene BP180 tem sido localizado em 10q24.3. Mutações
neste gene resultam em um defeito ou ausência de hemidesmossomos e a base
molecular para uma atrofia hemidesmossomal generalizada ou epidermólise bolhosa
atrófica benigna generalizada (GABEB). Anticorpos contra esse mesmo antígeno
são responsáveis pela dermatose auto-imune, como pênfigo bolhoso, pênfigo
gestacional, líquen plano penfigóide, uma variante de doenças por Iga, e alguns
casos de penfigóide cicatricial.
O antígeno penfigóide bolhoso 230 kD é um membro da família das
plaquinas, onde também são incluídas a plectina, envoplaquina, periplaquina e
desmoplaquina. Estes todos são caracterizados como um haltere - como uma
estrutura com um centro paralelo e helicoidal enrolado em uma haste. Ele é
completamente intracitoplasmático e localiza-se mais profundamente na placa
hemidesmossomal relacionando funções dos filamentos intermediários de queratina
fixados. Anticorpos para BP230 são regularmente presentes no penfigóide bolhoso,
ainda que não pareçam causar o dano patogênico. BPAG1 está localizado no
cromossomo 6p11-12.
Plectina é uma proteína intracitoplasmática presente em muitos tecidos.
Como a BP230, ela também está localizada mais profundamente do
hemidesmossomo e é de grande importância na fixação dos filamentos
intermediários de queratina. Alguns pacientes com penfigóide bolhoso tâm
anticorpos contra plectina. Mutações nos genes da plectina ocasinam epidermólise
bolhosa associada a distrofia muscular. A associação resulta do papel adicional da
plectina de ancorar (fixar) os filamentos de actina das células musculares.
Filamentos fixados passam através da placa sub-basal densa na lâmina
lúcida antes de penetrar na lâmina densa. Os constituintes da lâmina lúcida incluem
na face extracelular o BP180 e lamininas 1, 5 e 6.
Laminina-1 é uma glicoproteína não-colágeno que media a fixação do
queratinócito e o liga com o colágeno tipo VII, entactina (nidogena) e proteoglicano
sulfato de heparinana membrana basal. (WOODLEY, 2001)
18
Laminina-5 (epiligrina, calinina, niceína), uma proteína não-colágeno é a
maior constituinte dos filamentos de ancoragem e é então de particular importância
na adesão da membrana basal. Mutações nos genes da laminina-5 (18q11.2 e 1q25-
31) resulta em ausência de hemidesmossomos e ocasiona epidermólise bolhosa
juncional. É descrito também que anticorpos contra a laminina-5 podem causar
penfigóide cicatricial. (SEO et al., 2001)
Laminina-6 é um componente adicional dentre os filamentos de ancoragem.
A lâmina densa é espessa, cerca de 30-55 nm, e consiste de materiais de
finos filamentos. Constitui-se de colágeno tipo IV, entactina, e proteoglicano sulfato
de heparina.
Entactina é uma glicoproteína sulfatada não-colagenosa. Isso sugere ligação
com a função da laminina-1, proteoglicano sulfato de heparina e colágeno tipo IV.
Proteoglicano sulfato de heparina é predominantemente um constituinte da
lâmina densa, ainda que pode também estar presente na lâmina lúcida e sub-lâmina
densa do tecido conectivo. É responsável pela carga negativa da membrana basal e
em pequeno grau pela permeabilidade seletiva.
Proteoglicano condroitina-6-fosfato está representado como um constituinte
da membrana densa epidérmica. Também presente na lâmina densa doas anexos e
da vasculatura.
Profundamente à lâmina densa temos a zona fibrilar, composta por filamentos
de colágeno, micro-fios como fibrila, microfibrilas elásticas e 800 nm de fibrilas que
aparecem na conexão da lâmina densa com placas de ancoragem rico em colágeno
tipo IV logo abaixo.
As fibrilas fixadas geralmente tem a forma de gravatas amarradas na lâmina
densa, juntamente com um componente mais orientado verticalmetente, e esta
forma é de grande importância para manter a adesão. As fibrilas estão intimamente
associadas com os tipos I, III e V de fibras de colágeno e com a integridade
estrutural da região da membrana basal. Embora tenha sido pensado que as fibrilas
estão inseridas dentro da placa no interior da derme papilar, esta concepção está
mudando e agora sugere-se que muitas fibrilas começam e terminam na lâmina
densa. (UITTO, 1996)
Fibrilas de ancoragem têm características irregulares são estendidas e
mostram projeções como hélices em ambas as extremidades. As fibrilas de
ancoragem são compostas por vários tipos de moléculas de colágeno tipo VII unidas
19
em par e carboxila- terminais. Os amino-terminais estão inseridos na lâmina densa
respectivamente. O colágeno tipo VII tem uma alta afinidade pela fibronectina, e isto
é um importante mecanismo de fixação da lâmina densa à derme. O gene do
colágeno tipo VII tem sido localizado no braço curto do cromossomo 3. (3p21).
Anticorpos contra a terminação amino não-colágenosa são responsáveis pela
epidermólise bolhosa acquisita, lupus eritematoso sistêmico bolhoso, e alguns casos
de doenças causadas por IgA. Mutações no gene do colágeno tipo VII resultam em
vários subtipos dominantes e recessivos de distrofia epidermólise bolhosa.
Microfibrilas elásticas estão presentes na rede fibroreticular e são
responsáveis pela flexbilidade e elasticidade dos tecidos. São estruturas complexas
compostas por um número de proteínas microfibrilares e glicoproteínas, incluindo a
fibrilina de 350 kD. Por último, localiza-se debaixo da lâmina densa, em região
conhecida como feixes de microfibrila dermal. Estes representam a arborização
terminal do tecido elástico dermal. Muitas outras estruturas glicoproteicas que
podem ser associadas com microfibrilas elásticas incluem o componente amiloide P,
vitronectina e alguns componentes nós (manhas) de Orcein, mas somente a fibrilina
estende-se para a lâmina densa.
A zona fibrilar da sub-lâmina densa é constituída pelos tipos I, III, V e VII de
colágeno, fibrilina e linkina.
As células basais contém agregados tonofilamentos dentro de pacotes ou
tonofibrilas. Tonofilamentos são compostos de 8-10nm de filamentos intermediários
de queratina, isto é, uma proteína α-helicoidal, responsável pela estrutura do
esqueleto citoplasmático, e também presente em todas as células epiteliais. A
queratina consiste de um grupo de mais de 30 subtipos de antígenos diferentes. A
queratina epidermal é dividida em dois grupos:
- pequena queratina ácida (tipo I): K10-k20
- grande queratina neutra, básica (tipo II) K1-K9.
In vivo, as queratinas apresentam-se em pares, cada uma sendo constituída
por tipos diversos (e.g. queratinas basais contém tipos 5 e 14; suprabasal, tipos 1 e
10, (Fig. 2.11). Queratinócitos do estrato córneo diferenciados consistem
predominantimente (85%) em queratina 1 e 10. A epiderme superficial também
contém queratina tipo 2, que é sintetizada durante a diferenciação terminal. A região
plantar e palmar da epiderme é caracterizada pela síntese de queratina suprabasal.
Estados hiperproliferativos, como por exemplo cicatrização de ferimentos, estão
20
associados com queratinas 6 e 16. O tipo I de queratina encontra-se no cromossomo
17q12-21, enquanto o tipo II encontra-se no cromossomo 12q11-12. (SMACK, 1994)
As queratinas constituem 310 aminoácidos alfa-helicoidal com uma porção
amino terminal não-helicoidal e uma carboxila-terminal. Queratinas tipo I e II ligadas
entre si formam um cabo de heterodímeros espirais, dois que são alinhados na
forma estável de heterotetrâmeros. Mais que 5000 heterotetrâmeros formam um
solitário filamento de queratina de 10nm de diâmetro e 20-30µm de comprimento.
Filamentos de queratina formam uma cadeia ao redor dos núcleos e por toda
parte do citoplasma antes de serem inseridos dentro do citoplasma do desmossomo
e na região basal dentro do hemidesmossomo. Em associação com os filamentos e
microtúbulos de actina, eles representam uma flexibilidade citoplasmática (como um
andaime) e são de grande importância na manutenção da integridade estrutural de
ambos queratinócitos da epiderme. Ultra-estruturalmente eles são particularmente
examinados na camada de células de prickle (Fig. 2.12; Fig. 2.13).
Mutações nos genes da queratina resultam em distúrbios na organização da
queratina com conseqüente fragilidade mecânica. Deste modo, essas mutações na
nos genes 5 e 14 da queratina associam-se com uma variante da epidermólise
bolhosa simples. Mutações nos genes da queratina 1 e 10 são responsáveis pela
eritroderma ictiosiforme bolhoso. Mutações nos genes da queratina 2 são
responsáveis por ictiose bolhosa de Siemens, enquanto no gene 9 da queratina
resultam em queratoderma epidermolítico palmo-plantar.
A microscopia eletrônica mostra que a membrana celular das células
adjacentes se interdigitam espontaneamente e em forma numerosa junções
intercelulares chamadas de desmossomos (Fig. 2.14), consistindo de duas placas
espessas adjacentes à membrana celular entre várias camadas. O desmossomo é
composto de membranas e de placas protéicas no seu interior responsáveis pela
adesão intercelular. A forma é representada por moléculas de caderina
desmossomo-específicas cálcio dependentes, desmocolina e desmogleína 1 e 3.
Estas são proteínas transmembrana glicosiladas. As porções amino-terminais
formam dímeros dentro do plano da mambrana e unem membranas celulares
adjacentes. As intracitoplasmáticas (carboxila-terminais) ligam-se a placofilina, que
é pertencente da família das caderinas. Ainda, desmocolinas ligam-se às
desmogleínas e três desmocolinas localizadas nos genes 18q21. (SIMRAK, 1995)
21
O interior das placas protéicas contém placoglobina, placofilina e
desmoplaquina. Junto com a interação dos filamentos, acredita-se que o
placoglobina pode estar envolvida na regulação do controle do crescimento celular.
Placofilina é como uma molécula de placoglobina-like que tem funções
adicinoais de ancoragem. Mutações nos genes da placofilina estão associadas com
fragilidade da pele e displasia ectodérmica. A desmoplaquina, em duas isoformas
também é importante na fixação dos filamentos que são mediados pela carboxila-
terminal. Função anormal do desmossomo é vista na doença de Darier em função
de uma mutação no gene ATP2A2 localizado no 12q23-24.1. Junções epidermais
também incluem a E-caderina ligada à actina no citoesqueleto através de β e α-
cateninas.
As células de prickle e, em uma maior extensão, as células da camada
granular, contém grânulos de revestimento ovais, também conhecidos como corpos
de Odland, que por sua vez são ligados a uma dupla membrana e lamela paralela
(que contém as pilhas de moedas). Grânulos da membrana de revestimento podem
ser encontrados em qualquer parte do citoplasma mas é particularmente mais
encontrada adjacente à membrana plasmática. (Fig. 2.15). Eles encerram uma
mistura de lipidios incluindo fosfolipídeos, esfingolipídeos e colesterol.
O revestimento da membrana contém grânulos soltos no conteúdo lipídico em
função da exocitose que ocorre dentro do espaço intracelular da camada córnea.
Esta forma é altamente eficiente para repelir a água.
Anormalidades herdadas da barreira lipídica epidérmica têm sido descritas
ligadas a ictiose X. Grânulos de revestimento da membrana também mostram conter
uma mistura de enzimas hidrolíticas, incluindo fosfatase, glicosidases, proteases e
lípases. É provável que a atividade dessas enzimas nos lipídeos e proteínas
desmossomais no meio extracelular (extracelular milieu) é importante na formação
da barreira e descamação natural. (MENON, 1992)
As células da camada granular também contêm grânulos queratohialinos, que
não são ligados (pertencentes) à membrana e consistem de agregados irregulares
amorfos de partículas eletrodensas. (Fig. 2.16). Grânulos queratohialinos são
intimamente associados a tonofibrilas.
As células da camada de queratina consistem principalmente de agregados
abundantes de tonofibrilas embutidas nos grânulos queratohialinos envolvidos por
um envelope de células cornificadas espessa (Fig. 2.17). O desenvolvimento do
22
envelope celular é em parte ditado pela atividade das transglutaminases epidérmicas
1 e 3 associadas a membrana, que são ligados a cadeia precursora via N-ε-glutamil-
lisina resultando na precipitacão de polímeros insolúveis que formam muito desse
envelope celular. Os maiores constituintes desse envelope incluem involucrina,
cistatina-A, elafina, pequena prolina rica em proteínas/cornifinas (SPRRs), anexina-
1, envoplaquina, ativador do plasminogênio tipo 2, cristalina-alfa, proteínas
desmossomais, queratinas e loricrinas (o maior constituinte) (Fig. 2.18). Os genes de
codificação para involucrina, profilagrina, tricohialina, SPRRs e loricrina têm sido
mapeados relacionando-se com o complexo de diferenciação epidermal em 1q21.
Células de formação do envelope representam a expressão terminal da
diferenciação do queratinócito. Embora a membrana celular persista no estrato
córneo, ela é perdida conforme os queratinócitos se superficializam. Mutações em
um número variado de genes têm sido documentadas em correlação com
anormalidades da formação do envelope. Por exemplo, mutação no gene da
transglutaminase tipo 1 resultam em ictiose X, e mutação no gene da loricrina resulta
em síndrome de Vohwinkel’s.
Queratohialina contém grandes quantidades de molécula precursora de
profilagrina. Profilagrina sofre proteólise e desfosforilação para a forma ativa da
molécula no estrato córneo. Acredita-se que a filagrina tenha função ligeira de
induzir ligação (ponte) de dissulfeto entre filamentos de queratina adjacentes, com
isso produzindo correto alinhamento. Degradação da filagrina por enzimas
proteolíticas liberam aminoácidos livres – ácido pirrolidonecarboxílico e ácido
urocânico. A primeira forma acredita-se que ajuda a manter o estrato córneo,
enquanto o último auxilia no papel da absorção de raio ultravioleta B (UVB). A
molécula ativa de filagrina é grandemente responsável pela agregação do filamento
de queratina e constitui uma matriz proteica breve dentro do estrato córneo. O gene
da profilagrina tem sido mapeado e relacinado a 1q21. (LAVKER, 2000)
Maturação da epiderme é expressada na forma de queratinização, as células
basais indiferenciadas sendo transformadas na diferenciação terminal, embora
células mortas do estrato córneo são compostas quase que inteiramente de fibras de
queratina.
O mecanismo de queratinização não é conhecido inteiramente, mas depende
de uma interrelação complexa entre parada do crescimento irreversível, ao nível dos
queratinócitos suprabasais, e a ativação de genes de diferenciação que controlam a
23
queratinização e a formação do envelope celular cornificado. Isso envolve a relação
entre filamentos de queratina e produtos de grânulos queratohialínicos e grânulos da
membrana de revestimento.
A camada córnea forma uma membrana rígida (resistente) e outra flexível que
tem seu aspecto superficial espalhado continuamente como uma banda fortemente
queratinizada de células escamosas. Consiste de proteínas ricas em queratinócitos
envolvidos em uma rica matriz lipídica intercelular, que tem sido comparada a tijolos
e um moedor (pilão). Previne a perda de fluidos corporais e influxo de água dentro
da pele por depósitos lipídicos entre as células cornificadas.
Os lipídeos epidermais consistem principalmente de quantidades iguais de
ceramidas, colesterol, e ácidos graxos livre, e são em grande parte mas não
exclusivamente derivados de corpos lamelares. Eles são covalentemente ligados ao
envelope cornificado. A estabilidade e integridade da camada córnea são
conseqüentes às ligações de pontes de dissulfeto entre as moléculas adjacentes de
queratina.
As funções dos queratinócitos são citadas na Tabela 1.1. Eles têm uma
função imune demonstrada pela habilidade de síntese e liberação de grandes
quantidades de citocinas, incluindo interleucina (IL)-1, IL-6, TNF-α, fator de
estimulador de colônia de granulócitos-macrófagos (GM-CSF), fator de estimulação
de colônia de macrófago (M-CSF), fator de crescimento de fibroblasto (B-FGF), fator
de crescimento de transformação alfa (TGF- α), e beta (TGF-β) (LUGER, 1990).
3. DERME
A derme suporta a epiderme e é composta de um elemento conjuntivo fibroso
(fibras elásticas e de colágeno) em associação com o substrato de base (substância
amorfa composta por proteoglicanos, constituintes plasmáticos, metabólitos, água e
íons presentes entre as células e fibras). Com a derme estão os apêndices
epidermais, vasos sanguineos e nervos, e um componente celular constituído de
mastócitos, fibroblastos, miofibroblastos e macrófagos. Músculo liso também é
representado nos músculos eretores do pêlo. Há uma variação muito ampla na
espessura da derme de acordo com a região, especialmente marcada nas palmas
24
da mãos e solas dos pés., e mais espesso nas costas que na frente do corpo. A
derme é dividida em camada papilar e reticular. (UITTO 1987)
Derme papilar é limitada superiormente pela epiderme, lateralmente pelas
cristas epidérmicas, e inferiormente pelo plexo vascular superficial e derme reticular.
Derme reticular estende-se entre a derme papilar e a gordura subcutânea.
Fibras colágenas da derme reticular seguem uma orientação paralela, que segue as
linhas de clivagem da pele.
3.1 Colágeno
Colágeno é um complexo protéico sintetizado com uma variedade de células
incluindo fibroblastos, miofibroblastos, osteoblastos, condroblastos, células
musculares lisas, células endoteliais e várias células epiteliais. Pelo menos 20
diferentes tipos antigênicos são reconhecidos. Genes colágenos formam pelo menos
20 tipos codificados por mais de sete cromossomos. (BYERS 1989). A síntese de
colágeno necessita de pelo menos 20 diferentes enzimas específicas. (Fig. 3.1)2. A
molécula básica do colágeno é o monômero tropocolágeno, que tem um peso
molecular de aproximadamente 300.000 daltons sendo composto com 3 cadeias alfa
com peso molecular de 95.000 daltons.
A síntese depende da produção de uma molécula precursora insolúvel,
protocolágeno, que é secretado no meio intercelular e degradado por enzimas em
um proteína madura solúvel.
Protocolágeno é sintetizado nas membranas ribossômicas e secretado nas
cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Consiste de 3 pró-cadeias alfa, que
difere das do colágeno por conter resíduos de um polipeptídeo em ambos terminais,
amino e carboxi.
As moléculas de colágeno tem forma de bastão e mede aproximadamente
1,5X 300 nm. (PROCKOP, 1979) Colágeno não é uma entidade homogênea, mas
consiste em uma variedade de tipos geneticamente distintos, designados tipo I –XX
de acordo com a morfologia, composição amino-ácida e propriedades físicas. A
derme contém predominantemente colágeno tipo I (85-90%), colágeno tipo III (8-
11%) e colágeno tipo IV (2-4%). Na derme largas faixas de colágeno reticular são do
tipo I, enquanto finas fibras de derme papilar são do tipo III. (Fig 3.2) O tipo IV de
2 As figuras referentes à parte de Derme encontram-se no Anexo 2 – Derme (Figuras).
25
colágeno está presente na lâmina densa , na região da membrana basal. Colágeno
do tipo V está presente por toda a derme e também na lamina lúcida. O tipo VI cerca
os nervos dermais e vasos sanguineos.Quando são analisados secções de colágeno
ao microscópio eletrônico são vistas estrias (d-spacing) com uma periodicidade de
64nm (Fig. 3.3). Estas estrias são devidas a sobreposição longitudinal de moléculas
de colágeno isoladas, que ocorre durante a maturação fibrilar. (PROCKOP 1987).
Ocorrem algumas variações dessa periodicidade, 90-120 nm, em fibras chamadas
Long-Space (Fig. 3.4). São caracteristicamente vistas em nervos periféricos e em
tumores do sistema nervoso central. Feixes de colágeno exibem anisotropia e são
então birrefringentes quando vistas com luz polarizada.
3.2 Tecido Elástico
As fibras elásticas são essencialmente responsáveis por propriedades
retráteis da pele. Na derme normal elas formam um constituinte muito menor (2-4%).
Elas estão intimamente associadas com o colágeno, mas não podem ser facilmente
vistas com método de coloração por hematoxilina e eosina (HE). Sua estrutura ,
estretanto, é observada por métodos de coloração especiais como GIESON. Na
deme papilar as fibras elásticas são finas e tendem a correr em ângulos retos com a
superfície da pele enquanto na derme reticular são espessas e frequentemente
orientadas paralelamente com a superfície (Fig. 3.5, Fig. 3.6). Fibras elásticas são
sintetizadas por fibroblastos e possivelmente por células musculares lisas.
Ao microscópio eletrônico, as fibras elásticas são compostos de microfibrilas
de aproximadamente 11nm de diâmetro embebidas em um composto eletron-densa
amorfo consistindo no complexo chamado elastina (Fig. 3.7). (UITTO, 1991). Este
polipeptídeo de 800 aminoácidos com um peso molecular de aproximadamente
72.000 daltons. (CHRISTIANO, 1992). A proteína microfibrilar do tecido elástico é
composto por fibrilina. Existem no mínimo três tipos de fibrilina, que é uma proteína
de alto peso molecular rica em cisteína e contendofator de crescimento comum as
regiões onde são importantes as ligações de cálcio.
Exclusivos da elastina são os aminoácidos desmosina e isodesmosina que
ajudam a manter a estrutura integral das fibras. Durante a síntese da fibra elástica o
componente microfibrilar é o primeiro componente e ser formado e após embebido
em elastina. Enquanto as fibras elásticas prestam elasticidade cutânea, elas também
são responsáveis por prevenção de sobre extensão da mesma.
26
3.3 Matriz Intercelular
Matriz Intercelular é encontrada em todos os tecidos do corpo, ordenando os
arredores das células e os constituintes fibrosos. Consiste predominantemente de
fibronectina e de glicosaminoglicanos, que são o ácido hialurônico, condroitina -4 –
sulfato e dermatan-sulfato. São sintetizadas na parte externa no fibroblasto e ainda,
possivelmente, por mastócitos e células musculares lisas. Pode ser detectada
facilmente com o método HE (Fig. 3.8).
A matriz extracelular não deve ser vista meramente como “embebedor“ para
componentes celulares e fibrosos da derme. Além disso, tem funções de transporte
de água e eletrólitos e é intimamente relacionada com a permeabilidade e
osmolaridade dos fluidos intersticiais.
3.4 Suprimento Sanguíneo
A pele recebe um rico suprimento dos vasos perfurantes da musculatura
esquelética e gordura subcutânea. (WENSTRUP, 1991). A maioria do fluxo
sanguíneo é direcionado aos componentes mais ativos ou com maior necessidade
metabólica. Entre eles está especialmente a epiderme, papila capilar e estruturas
anexas. Enquanto as papilas dérmicas são ricamente vascularizadas, nenhum
folículo piloso ira receber irrigação por difusão. Dos vasos subcutâneos aparecem
dois plexos vasculares interligados por vasos intercomunicantes (Fig. 3.9).
O plexo vascular profundo repousa na região de interface entre a derme e
gordura subcutânea.
O plexo vascular superficial repousa na posição superficial da derme reticular
e supre a derme papilar com seu sistema de canais de comunicação tipo
candelabro.
Cada sistema consiste em uma tronco principal ascendente e um tronco
descendente venoso. Os vasos da papila dermal englobam arteríolas terminais,
capilares venosos e artérias e veias pós-capilares. (KADLER, 1996). Com o plexo
vascular profundo estão pequenas artérias musculares que dão erguem-se até
arteríolas para suprir o plexo vascular superficial (Fig. 3.9).
Histologicamente estes plexos são semelhantes, diferenciando no tamanho
da estrutura.
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Arteríolas: possuem um diâmetro menor que 0,3mm. A partir do lúmen dela
consiste de uma fina íntima descansando contra uma lâmina interna elástica
conspícua. A seguir a média, consiste em duas camadas de músculo liso, com
constituintes importantes para os vasos. As adventícias cerca a media com um
tecido conjuntivo frouxo. Em pequenas artérias (não arteríolas) a adventicia
frequentemente contém fibras elásticas constituindo lamina elástica externa.
Pequenas artérias têm endotélio cercado por camada simples de músculo liso.
Capilares consistem em camada simples de célula endotelial, mas tem periócitos
adjacentes (células mesenquimais pequenas associadas a vasos) que contém
menos bem desenvolvido corpos densos e poucos filamentos quando comparados
as células musculares lisas. Células endoteliais e periócitos formam junções
estreitas. Capilares venosos têm numerosos periócitos e múltiplas camadas em
constrate com vasos arteriais, onde aparecem poucas ou isoladas. (KADLER, 1996).
Cada papila dérmica é suprida por um arco capilar único. Células endoteliais contêm
um filamento de vimentina (um filamento intermediário da família das proteínas).
Veias pós-capilares são maiores, mas tem a mesma e básica estrutura dos
capilares. Todos desprovidos de músculo liso. Veias são compostas de um endotélio
cercado por músculo recoberto por várias camadas grossas. Tipicamente a lamina
elástica interna é pobremente representada. Há usualmente uma espessa
adventícia, mas fibras elásticas estão ausentes. Apenas grandes veias têm tecido
elástico.
Também apresentam na derme células escondidas que cercam todos os
microvasos e separam eles do tecido conjuntivo adjacente, porém sua função ainda
é desconhecida.
A rede capilar na papila dermal tem um componente arterial ascendente, um
segmento intrapapilar e um segmento capilar venoso descendente. Correm
perpendicularmente em relação a superfície da pele exceto na unha onde têm
orientação paralela. A derme é ricamente suprida com anastomoses arteriovenosas.
Especializados “shunts”, comunicações chamadas Glomus bodies, achadas
primeiramente na derme das impressões digitais, consistem em um segmento
arterial que se conecta diretamente ao tronco venoso. O canal é cercado de várias
camadas de músculo liso modificado (células glomus) com um suprimento nervoso
particularmente rico. A função dos glomus bodies é de esfíncter, permitindo aos
capilares da superfície dermal ser sobrepassada, aumentando o retorno venoso das
28
extremidades. O fluxo sangüíneo cutâneo é de extrema importância para a
regulação da temperatura corpórea. (KRANNING, 1991). Mediados pelo sistema
nervoso autônomo, a perda e calor pode ser aumentada ou diminuída pela variação
do fluxo sangüíneo do plexo vascular superficial. Se a temperatura ambiente excede
a do corpo, o fluxo sangüíneo para a papila dérmica aumenta. O aumento
concomitante da secreção glandular écrina, o suor, evaporando e esfriando as
partes internas do corpo, diminuindo a temperatura do sangue circulado e mantendo
uma temperatura estável. O controle de temperatura então depende de um delicado
relacionamento entre ambos, função vascular e transpiração.
A derme também contém um sistema linfático extenso que é intimamente
associado com o plexo vascular. Suas funções consistem principalmente em
remover debris, macromoléculas, fluidos e células diariamente usados. Eles também
representam a verdadeira coleta dos microorganismos contaminantes. Os linfáticos
mostram fornecer uma rota para as células epidermais de Langerhans que alcançam
o linfonodo regional por estimulação antigênica. Sob circunstâncias normais estes
delicados vasos colapsam e dificilmente são detectados. São suportados por uma
delicada armação de tecido elástico consistindo em uma fina porém fortificada
alinhadas por um endotélio e presença de inúmeras válvulas. Sua presença é muito
mais obvia em situações obstrutivas, tais como linfedema ou na presença de
metástases. Os linfáticos dérmicos são imprecisamente agregados nos plexos
superficial e profundo, e drenam para os troncos linfático musculares.
Células endoteliais vasculares podem ser identificadas por anticorpo
monoclonal CD 31 ou por fator anti Von-Willebrand. (CUMICK, 2002)
3.5 Sistema Nervoso
A pele é ricamente inervada, traduzindo a alta sensibilidade aos estímulos
sensoriais que continuamente bombardeiam o exterior do corpo.
A inervação compreende: um sistema eferente não mielinizado, responsável
pela função da vasculatura cutânea e apêndices da pele, sendo derivado do sistema
da divisão simpática do sistema nervoso autônomo; outro sistema aferente
mielinizado e não mielinizado responsáveis pela avaliação da sensação cutânea.
Os nervos cutâneos então suprem os apêndices da pele e formam
proeminetes plexos ao redor dos bulbos capilares e papila dérmico. O receptor
aferente consiste em terminações nervosas livres, terminações nervosas em relação
29
aos pêlos e terminações nervosas encapsuladas. Terminações nervosas livres, de
ambas, mielinizadas e não mielinizadas e com baixa velocidade de condução, são
principalmente responsáveis para avaliação da temperatura, dor e prurido. Os
folículos capilares são supridos por uma intrincada rede de fibras, algumas com
ramificação tipo terminações nervosas na bainha perianexial do tecido fibroso. O
disco capilar é uma completa estrutura consistindo de células de Merkel situadas na
base e em associação com fibras nervosas periféricas associadas (Fig. 3.10). Não
obstante o nome tem uma associação inconstante com o folículo piloso. Discos
pilosos adaptam-se lentamente se comparados aos mecanorreceptores.
Há vários tipos de nervos periféricos encapsulados incluindo os
especializados corpúsculos de Pacini e Meissner. Os corpúsculos de Pacini são
responsáveis por avaliar a profundidade pressórica e vibração e são encontrados
predominantemente na gordura subcutânea da palma das mãos e solas dos pés,
superfícies dorsais dos dedos, ao redor da genitália, em ligamentos e ligamentos
capsulares. (LYNN, 1991). São redondos a ovais e inteiramente amplos, medindo
até 0,5 x 2 mm. Eles compreendem um centro lamelar que engloba o nervo terminal
e são cercados por camadas celulares com uma cápsula laminada (Fig. 3.11). Cada
corpúsculo é então suprido por uma terminação nervosa mielinizada. Os corpúsculos
de Meissner são envolvidos na avaliação de sensação táctil, através de
mecanoreceptores rapidamente adaptáveis, e são predominantes nas papilas
dermais dos pés e das mãos, nos lábios, e parte anterior do antebraço. De forma
oval e medindo cerca de 80 x 30 µm, eles compreendem uma cápsula perineural
laminada derivada cercando uma área central de células e fibras nervosas, e são
supridas por fibras nervosas mielinizadas ou não (Fig. 3.12). Fazem contato íntimo
com queratinócitos basais. (SPEARMAN, 1982). Corpúsculos de Meissner têm um
suprimento nervoso múltiplo e cada nervo pode também suprir múltiplos
corpúsculos.
3.6 Gordura Subcutânea
A gordura subcutânea é dividida em lóbulos por septos fibrosos e as células
são caracterizadas pela presença de um grande glóbulo lipídico, cada citoplasma e
núcleo está rechaçado para periferia da célula. O adipócito é grande, medindo até
100µm de diâmetro. (RYAN, 1989). O citoplasma contém numerosas mitocôndrias.
Reticulo endoplasmático liso proeminente e complexo de golgi conspícuo
30
(SPEARMAN, 1982). O preparo histológico dissolve o lipídio, mas o uso de
diferentes métodos em cortes congelados pode mostrar sua presença.
A gordura subcutânea pode conter grande número de mastócitos. Depósitos
de gordura marrom podem ser vistos em recém nascidos e ocasionalmente em
adultos, particularmente na região interescapular, nas costas, tórax e mediastino.
Seu citoplasma contém numerosos, por vezes pleomórficas, mitocôndrias. Complexo
de golgi e retículo endoplasmático não são habitualmente visíveis. (SPEARMAN,
1982). Os adipócitos têm uma aparência bolhosa com núcleos localizados em
direção ao centro celular (Fig. 3.13). A gordura subcutânea está envolvida em
termorregulação, isolamento, provisão energética, proteção e suporte, têm emprego
cosmético e função de estoque nutricional. (RYAN 1989)
4. GLÂNDULAS
Compreendem as glândulas holócrinas, apócrinas e écrinas.
4.1 Glândulas Holócrinas
As glândulas holócrinas mais conhecidas e estudadas são as glândulas
sebáceas; as suas secreções dependem da completa desintegração do ácino (seu
componente histológico), que se mescla com o conteúdo lipídico das células para
formar uma substância conhecida como sebo. (BELL, 1974)
Elas se desenvolvem como protrusões laterais e externas à raiz do folículo
piloso. Em alguns locais, como as pálpebras, lábios, aréola mamária, mamilo e
lábios vaginais menores, elas drenam sua secreção diretamente na superfície da
pele (Fig. 4.1; Fig. 4.2)3 . (BELL, 1974)
As glândulas sebáceas são distribuídas por todo o corpo, porém a palma das
mãos e a sola dos pés são desprovidas destas glândulas; elas estão abundantes na
face, no escalpo e no períneo e muito concentradas em volta dos orifícios do corpo.
Em algumas regiões, as glândulas sebáceas recebem nomes próprios, com é o caso
das glândulas de Zeis e de Meibomius, nas pálpebras. (BELL, 1974)
3 As figuras referentes à parte de Glândulas encontram-se no Anexo 3 – Glândulas (Figuras).
31
As glândulas sebáceas maiores estão associadas com os pêlos mais
delgados, constituindo uma unidade pilosebácea especializada conhecida como
folículo sebáceo (também chamados de “poros” da face). (BELL, 1974)
As glândulas sebáceas são estruturas lobuladas, consistindo vários lóbulos
com conteúdo lipídico, conectados ao folículo piloso (Fig. 4.3). Cada lóbulo é
formado por uma camada externa de pequenas células cuboidais germinativas, com
núcleo proeminente e citoplasma basofílico (Fig. 4.4). As secreções drenam para
dentro do ducto sebáceo, que se exterioriza na pele juntamente com o folículo
piloso, em uma região chamada de infundíbulo. O ducto sebáceo é revestido por um
epitélio escamoso estratificado queratinizado e é contínuo com a parte externa da
raiz pilosa (Fig. 4.5). (BELL, 1974)
Ultraestruturalmente, as glândulas sebáceas maduras mostram células de
tamanhos variados, com numerosas mitocôndrias, ribossomos e vesículas aderidas
à membrana. Também podem ser observadas numerosas gotículas lipídicas que se
acumulam no citoplasma, comprimindo o núcleo localizado na região central da
célula. (BELL, 1974)
As glândulas sebáceas são muito pouco ativas durante a infância, mas
aumentam de tamanho e tornam-se funcionalmente ativas durante e após a
puberdade. (STEWART, 1989). O mecanismo de controle da atividade sebácea não
é completamente conhecido. A secreção parece respeitar um ritmo circadiano,
altamente dependente da secreção de andrógenos (testosterona) e provavelmente
inibido pelos estrógenos. (POCHI, 1982). Isto pode explicar o fato de as glândulas
sebáceas serem maiores e metabolicamente mais ativas nos homens do que nas
mulheres.
O sebo é composto por uma mistura lipídica complexa, composta por
triglicerídeos (57%), ésteres lipídicos (26%) e esqualeno (12%). Sua função nos
humanos, apesar de incerta, possivelmente inclui o controle da perda de água pela
epiderme, isolando-a, e uma função protetora de inibição do crescimento de fungos
e bactérias. Sem dúvida, sua função termoreguladora é de suma importância para o
homem, função realizada em conjunto com as glândulas écrinas, apresentadas mais
adiante. (BELL, 1974)
A secreção sebácea pode sofrer significativas alterações devido à presença
do Propionibacterium acnes (que faz a hidrólise dos triglicerídeos) no canal
pilosebáceo, e do Staphylococcus epidermidis (através da formação de ésteres de
32
colesterol) na pele perifolicular; essas alterações aumentam consideravelmente a
produção de sebo na pele. (BELL, 1974)
4.2 Glândulas Apócrinas
As glândulas apócrinas são encontradas predominantemente na região
anogenital e nas axilas, mas também estão localizadas no meato auditivo externo
(como glândulas produtoras de cerúmem), nas pálpebras (glândulas de Moll) e nas
aréolas mamilares, conhecidas como tubérculos de Morgany ou tubérculos de
Montgomery, quando sofrem pequenas modificações de coloração, durante a
gestação. (BELL, 1974)
As glândulas apócrinas são derivadas da epiderme; surgem durante o quarto
e o quinto mês de vida intra-útero, com função no homem ainda pouco esclarecida.
Em outros mamíferos são responsáveis pela produção de odores importantes na
atração sexual. (BELL, 1974)
Tal como as glândulas sebáceas, são pequenas durante a infância e
aumentam de tamanho, produzindo mais secreção, na puberdade. (BELL, 1974)
Acredita-se que o cerúmem produzido pelas glândulas apócrinas do ouvido
externo seja um lubrificante, que protege e mantém limpo o ouvido externo de
infecções fúngicas e bacterianas, já que na sua ausência ou na sua hipoprodução
tais infecções ocorrem mais facilmente. (BELL, 1974)
As glândulas apócrinas possuem dois distintos componentes:
o Um componente secretório complexo situado na derme reticular ou na
gordura subcutânea;
o Um ducto tubular que liga a glândula com o folículo pilosebáceo em um
local acima do ducto sebáceo.
Microscopicamente, a porção secretória é formada por uma camada
descontínua de células mioepiteliais e uma camada interna de células eosinofílicas
cuboidais a colunares (Fig. 4.6). A porção ductal é formada por uma dupla camada
de epitélio cuboidal. (BELL, 1974)
A ultraestrutura das glândulas apócrinas revela células colunares com
numerosos vacúolos secretores (Fig. 4.7; Fig. 4.8) e mitocôndrias em grande
número. As células secretórias estão longitudinalmente orientadas, descansando na
membrana basal. (BELL, 1974)
33
O mecanismo de secreção das glândulas apócrinas é incerto, mas elas
recebem inervação simpática adrenérgica e, sabe-se que secretam por estimulação
excitatória, como medo, estresse, etc. (BELL, 1974)
4.3 Glândulas Écrinas
As glândulas écrinas (também chamadas de merócrinas) são derivadas de
um tecido especializado de crescimento da epiderme; surgem durante o terceiro e o
quinto mês de vida intra-útero. Sua principal função é o controle de temperatura
corporal, quando o corpo é exposto a ambiente muito quente ou muito frio, como por
exemplo, quando praticam-se exercícios extenuantes. Em circunstâncias de muito
calor, as glândulas são estimuladas a secretar suor, formando uma camada de
líquido na superfície corporal, auxiliando na perda de calor através da pele, por
convecção. (BELL, 1974)
Ao contrário, em circunstâncias de muito frio, como por exemplo, durante uma
chuva gelada, são as glândulas sebáceas (holócrinas) as estimuladas a produzirem
sebo e afastarem a pele e os pêlos do contato com o líquido, justamente para não
ocorrer perda de calor por convecção. Assim, as glândulas sebáceas e as
glândulas écrinas têm papel de suma relevância na nossa termorregulação. (BELL,
1974)
As glândulas écrinas estão presentes por toda a pele, com exceção das
regiões mucosas. Elas ocorrem em maior concentração nas palmas das mãos, solas
dos pés, axilas e na testa. Medem aproximadamente 0,05 a 0,1 mm de diâmetro,
sendo maiores nas regiões onde são mais concentradas. (BELL, 1974)
Histologicamente, as glândulas écrinas são divididas em quatro subunidades:
o Uma porção secretória altamente vascularizada;
o Um ducto dérmico, em forma de bobina;
o Um ducto dérmico, reto;
o Um ducto intraepidérmico
A porção secretória das glândulas fica localizada mais inferiormente na derme
reticular ou na interface entre a derme e a gordura subcutânea (Fig. 4.9) e é cercada
por uma densa membrana basal e um tecido conectivo rico em mucina. Ela é
incorporada por uma camada, externa, descontínua de tecido mioeptelial, ficando as
células secretórias no interior (Fig. 4.10). As células secretórias compreendem dois
tipos de células: células piramidais claras e largas, responsáveis pela secreção de
34
água, e células pequenas e escuras, com conteúdo mucopolissacarídeo, que
provavelmente secretam glicoproteínas. Entre as células existem canais abertos
para o lúmen do túbulo (Fig. 4.11). (BELL, 1974)
As células mioepteliais são responsáveis pela contração colinérgica-
estimulada. Elas possuem um eixo e são distribuídas em espiral ao longo do túbulo
secretor. Em sua base, são expressos filamentos de queratina. (BELL, 1974)
Os ductos dérmicos consistem de duplas camadas de células cuboidais
basofílicas (Fig. 4.12). Estes ductos não são meramente condutos, têm funções
biologicamente ativas de modificar a composição da secreção écrina quando
necessário e, particularmente, de reabsorver água. A porção intra-eptelial dos ductos
abrem diretamente na superfície da pele. Não existem células mioeptelais neles.
(BELL, 1974)
Morfologicamente, o ducto écrino é idêntico ao ducto apócrino. (BELL,
1974)
5. UNHAS
As unhas são complexas estruturas anatômicas, geralmente negligenciadas
em livros anatômicos. São importantes em alguns animais para preensão e captura
de presas, mas nos humanos, as unhas têm diversas funções. Diminuir a
sensibilidade e dar proteção distal aos dedos é apenas uma dessas funções.
(SAMMAN, 1978)
Embora as características patológicas de unhas sejam mais conhecidas em
algumas doenças, como a psoríase, o líquen plano e alguns tumores malignos, elas
podem ser encontradas e, logicamente, serem de grande auxílio diagnóstico em
outras diversas doenças. (SAMMAN, 1978). Por isso, é indiscutível a importância de
conhecer as características embriológicas, morfológicas e histológicas das unhas e
suas importantes variações.
5.1 Embriologia
O aparelho ungueal desenvolve-se a partir da epiderme primitiva.
O desenvolvimento embriológico das unhas do feto pode ser dividido em 5
estágios visualizados com auxílio da microscopia eletrônica: (SAMMAN, 1978).
35
1º. Placa Base
2º. Fase Fibrilar
3º. Fase Granular
4º. Fase Escamosa
5º. Fase Definitiva ou Unha Final
Os dedos da mão podem ser vistos no 42-45º dia de vida do embrião (16mm)
e o início da visualização dos dedos dos pés é possível no 52-54º dia (18,5mm).
Estudos de microscopia óptica indicam que a morfogênese da unha inicia com
aproximadamente 10 semanas, com uma superfície quadrangular lisa, brilhante,
delineada por sulcos rasos contínuos. Este início é a “unha base de Zander” ou a
“unha preliminar de Zaias”. (SAMMAN, 1978)
Alguns estudos que usaram microscopia eletrônica demonstraram que o início
da formação da unha ocorre muito cedo embriologicamente (7 semanas ou 27-29º
dia de vida intra-uterina), com um acúmulo ativo de células em fase de aceleradas
mitoses, onde ocorrem danos celulares seguidos de necrose, com presença maciça
de macrófagos. Este mecanismo é muito parecido ao que ocorre na formação de um
folículo piloso, com a diferença que tal processo inicia no 2º para o 3º mês de
gestação. (SAMMAN, 1978)
Uma característica interessante desse crescimento acelerado inicial da Unha
Base é que ela ocupa quase um terço do tamanho de cada dedo. (SAMMAN, 1978)
Até a 11ª semana, a Base da Unha está formada, sendo a parte distal
correspondente ao futuro hiponíquio, completamente queratinizado aos 3,5 meses
de vida uterina, chamado por alguns autores, nesta fase, de falsa unha. (SAMMAN,
1978)
A orientação para produção da Unha Final (2ª, 3ª e 4ª fases), através de uma
placa fibrilar, inicia com uma matriz celular proximalmente naquela Unha Base,
podendo ser visualizada uma placa de unha no 6º mês de vida. (SAMMAN, 1978)
5.2 Anatomia
A maior parte do aparelho ungueal consiste na lâmina aderida ao leito, que
recobre a parte distal da falange. Essa é limitada pelas pregas ungueais proximal e
laterais. Junto à primeira, vemos a lânula, que corresponde à porção mais distal da
matriz ungueal e, adjacente a essa, a cutícula. (SAMMAN, 1978)
36
As pregas ungueais laterais representam a continuação da porção epitelial
dos dedos e se unem medialmente com o leito ungueal. Sob a parte livre da lânula
ungueal está o hiponíquio, contíguio à epiderme do dedo. (SAMMAN, 1978)
A matriz ungueal costuma ser dividida em duas zonas: dorsal e intermediária,
ou proximal e distal, segundo outros autores. Essa é a porção responsável pela
formação da maior parte da lâmina ungueal, uma vez que, atualmente, é aceito que
o leito ungueal tenha papel formador da parte profunda da lâmina; ela, então, se
denomina matriz ventral. (SCHER, 1980)
A prega proximal é estruturalmente semelhante à pele adjacente, porém sem
dermatoglifos ou anexos pilosebáceos. Aqui a queretinização acontece com
formação de queratohialina na camada granulosa, como no restante da epiderme.
Pode ser dividida em dorsal, que forma a epiderme do dorso do dedo, e ventral, que
está superposta à lâmina ungueal recém-formada. (SAMMAN, 1978)
O leito ungueal possui uma porção epidérmica, a chamada matriz ventral, e
uma porção dérmica, aposta ao periósteo da falange distal, e compreende a região
que se estende da lânula até o hiponíquio. A matriz ventral se compõe de duas ou
três camadas de células e a zona de transição dos queratinócitos ativos para a
lâmina ungueal morta, abrupta. À medida que a queratinzação se completa, as
células são incorporadas à lâmina para se mover com ela. O colágeno da porção
dérmica é orientado verticalmente e aderido ao periósteo da falange e à lâmina
basal epidérmica. No seu interior uma trama conjuntiva abriga também uma fina
rede de adipócitos e glândulas sudoríparas écrinas. (SCHER, 1980) e (SAMMAN,
1978)
A lâmina ungueal, componente menos ativo, possui três camadas horizontais:
uma lâmina dorsal, uma lâmina intermediária mais espessa e uma camada ventral
do leito ungueal. Em nível microscópico, é composta por células escamosas
achatadas com membranas plasmáticas tortuosas e entrecruzadas. Em pessoas
idosas, podem ser encontrados os “corpos pertinazes”, identificados como massas
acidófilas contrastando com a fina granulação encontrada normalmente no interior
das células. (SAMMAN, 1978)
A flexibilidade da lâmina ungueal é dada pela grande quantidade de
fosfolipídeos. Ela é rica em cálcio, encontrado sob a forma de fosfato em cristais de
hidoxiapatita. São encontrados ainda cobre, manganês, zinco e ferro. É importante
lembrar que o cálcio não é o responsável pela dureza da unha, embora sua
37
concentração aqui seja dez vezes maior do que a do cabelo. A análise da queratina
da unha, entretanto, mostra as mesmas evidências do pêlo. A dureza da unha é
devida à grande quantidade de matriz protéica com alto teor de enxofre, que
contrasta com a queratina mais suave da epiderme. (SAMMAN, 1978).
No que diz respeito ao aporte sangüíneo, há uma importante rede originária
das artérias digitais irrigando o leito ungueal e a matriz. Mesmo em caso de dano
importante desses troncos, há um suprimento de vasos acessórios que pode
compensá-los. Um sistema capilar e muitas anastomoses arteriovenosas abaixo da
unha (glomos) são responsáveis pela termoregulação. Os glomos são muito
importantes para manter a circulação acral em condições adversas, pois se dilatam
quando as arteríolas se contraem. (SCHER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
5.3 Microscopia
5.3.1 Placa
Microscopicamente, a placa da unha é formada por pilhas de células
agrupadas em pacotes; elas não possuem núcleos ou organelas. As células são
interligadas por diferentes estruturas, mas os desmossomos são as principais.
(DAWBER, 1980)
A placa da unha é composta de três camadas: uma camada dorsal final, uma
camada intermediária fina e uma camada ventral. As células são “empurradas” da
região proximal para a distal. Por esta razão, a superfície da unha é irregular,
mostrando estrias longitudinais. (DAWBER, 1980)
Alguns autores acreditam que a diminuição da espessura da unha com a
idade seja causada pela diminuição no tamanho (e não no número) destas células.
A composição bioquímica da placa de unha já foi bem estudada. O cálcio é
um importante componente, encontrado como fosfato em cristais de hidroxiapatita.
Outros metais, como ferro, zinco e manganês também são encontrados, mas com
funções não muito bem esclarecidas. Contudo, suas quantidades são auxiliares em
diagnósticos de muitas doenças, já que aparecem aumentadas ou diminuídas suas
quantidades. (DAWBER, 1980)
Uma análise da queratina da placa de unha revela várias frações da mesma,
presentes também nos pêlos, em grande quantidade, contrastando
38
proporcionalmente com pequena quantidade da queratina da epiderme. (DAWBER,
1980)
5.3.2 Prega Proximal
A Prega Proximal é uma invaginação da pele no dorso da placa de unha
proximal. Consiste de duas camadas de epiderme: porção ventral e porção dorsal. A
queratinização dessa epiderme não difere do restante da pele. (DAWBER, 1980)
A porção dorsal de prega proximal é uma continuação da derme e da
epiderme no dorso da placa de unha, com glândulas sudoríparas, mas sem folículos
ou glândulas sebáceas. Na porção distal dela existe uma camada córnea grossa –
chamada de cutícula – que pode ser vista na superfície na placa da unha. Sua
função é de proteção da base da unha, particularmente da matriz germinativa. A
perda da cutícula após doenças aguda ou crônicas envolvendo a matriz ungueal
leva à secundária distrofia da placa de unha. (DAWBER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
A porção ventral é densa e escamosa e fica embaixo da parte dorsal. Seu
epitélio é também chamado de eponíquio. Doenças que afetam tal porção, podem
deformar a unha. Por esta razão, alguns autores acreditam que a porção proximal
contribui para a forma achatada da unha. (DAWBER, 1980)
5.3.3 Matriz
A superfície ventral da porção proximal da unha dá forma ao “telhado” da
unha; a matriz da unha dá forma ao seu assoalho e a placa da unha encontra-se
entre os dois. A matriz é dividida em três partes: dorsal, intermediária e ventral. As
partes dorsal e intermediária são as mais importantes na formação da unha. Na
verdade, a verdadeira matriz é a porção intermediária. Por esta razão, quando se
discute histologia da matriz, a fundamental referência é a porção intermediária.
(DAWBER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
A matriz é facilmente identificada como um fino epitélio, situado
imediatamente abaixo da porção ventral da superfície proximal da unha. Pode ser
vista por apenas alguns poucos milímetros. (SCHER, 1980) e (DAWBER, 1980)
Como na epiderme da pele, a matriz possui enorme atividade, dividindo a
camada basal dos queratinócitos, que se diferenciam, endurecem, morrem e
contribuem para a formação da unha. A placa de unha é formada por um processo
39
que envolve achatamento das células basais da matriz, fragmentação de núcleo e
condensação do citoplasma das células. (DAWBER, 1980)
A matriz da unha possui melanócitos, como a matriz capilar. A matriz das
pessoas brancas contém melanócitos esparsos, em pequena quantidade, por isso é
difícil encontrá-los ao microscópio, e o número é progressivamente decrescente em
direção à parte distal. Não obstante, o número de melanócitos é sempre menor que
na pele normal. (DAWBER, 1980)
Raios ultravioletas e traumas são fatores que poderiam influenciar uma maior
distribuição deles. Em algumas raças, os japoneses, por exemplo, a matriz contém
milhares de melanócitos por milímetro. (DAWBER, 1980)
O pigmento chega na matriz da unha assim como chega nos pêlos.
(DAWBER, 1980)
A pigmentação da unha é mais evidente nos negros, onde aparecem linhas
longitudinais, embora essa distribuição possa ser vista em algumas patologias, como
nos nevos e melanomas subungueais da matriz. A distribuição dos melanócitos na
matriz relaciona-se diretamente com a posição das faixas pigmentadas, sendo a
maioria originada da matriz distal, não cruzando a lânula. (DAWBER, 1980)
Células de Langerhans e raras células de Merkel podem ser identificadas na
matriz, no entanto, sem significado conhecido. (DAWBER, 1980)
A matriz intermediária aparece na porção proximal da placa de unha com a
forma de uma meia lua esbranquiçada; é a chamada lânula. Embora sempre
presente, ela pode não ser visualizada em alguns dedos; é mais visível nos
polegares. (SCHER, 1980) e (DAWBER, 1980)
A matriz não possui camada granular.
A lânula é esbranquiçada pela relativa avascularição epidérmica local e por
sua formação colágena. (DAWBER, 1980). Alguns autores acreditam que é por uma
queratinização incompleta no local, em conjunto com um tecido conectivo frouxo no
tecido subjacente. (DAWBER, 1980). Outros autores acreditam que a lânula seja
muito fina porque ela coincide com a zona queratogênica e com a zona de
condensação citoplasmática logo abaixo dela. (SAMMAN, 1978)
Outras características histológicas especiais na zona da matriz incluem uma
composição química diferente e uma diferente distribuição das fibras dérmicas,
apesar de nenhuma dessas características ter sido muito bem estudada.
40
5.3.4 Leito Ungueal
O leito ungueal inicia onde a matriz intermediária termina, e alguns autores
preferem denominá-lo ainda de matriz ventral. (DAWBER, 1984)
Uma visualização do final da matriz intermediária e no início do leito ungueal é
muito fácil. O leito ungueal é geralmente um fino epitélio com não mais que três ou
quatro camadas de células. A transição da zona onde estão os queratinócitos para a
zona ventral morta da placa da unha é abrupta, ocorrendo em uma única camada de
células horizontais. (DAWBER, 1980)
No início do seu desenvolvimento, o leito ungueal exibe um processo de
queratinização diferente do adulto, com predominância de uma camada granular até
a 17-20ª semana de vida intra-uterina. No entanto, após o nascimento, o leito
ungueal, assim como a matriz, queratiniza sem uma camada granular. (DAWBER,
1980)
O leito ungueal é menos ativo que a matriz, com um turnover mais lento que
ela e a própria pele. (DAWBER, 1980)
No leito ungueal, a derme se ajusta de forma longitudinal e paralela ao leito.
Os finos capilares do leito ungueal correm paralelos à derme e sua ruptura
aparecem como “lascas” hemorrágicas em algumas doenças que ali atingem.
(DAWBER, 1980)
Não há tecido gorduroso no leito ungueal, embora possam ser visíveis
microscopicamente pilhas de gordura na derme. (DAWBER, 1980)
A epiderme do leito ungueal move-se distalmente em direção ao hiponíquio.
Isso explica porque, durante o desenvolvimento, o leito ungueal parece perder
concomitantemente camadas no sentido proximal para o distal, formando o leito
primitivo. (DAWBER, 1980)
O leito ungueal apresenta uma camada granular em algumas patologias,
quando a atividade do leito esta diminuída, como ocorre na onicogrifose, na
paroníquia congênita e na psoríase. Nesses casos, as células córneas empurram o
leito ungueal para cima, dando para a unha uma aparência de garra. (DAWBER,
1980)
Estudos histoquímicos do leito ungueal demonstram que existem poucos
fosfolipídeos na epiderme do leito ungueal. Certa quantidade de cisteína pode ser
detectada nas zonas de transição; ácidos de fosfato e esterases não ocorrem na
zona dorsal e na zona intermediária. (DAWBER, 1980)
41
5.3.5 Hiponíquio
A parte mais distal do leito ungueal é o hiponíquio, representando a simples
união entre o leito ungueal e a ponta do dedo. Ele possui características
histológicas, no entanto. (DAWBER, 1980)
A zona de transição apresenta notável mudança de aparência em poucos
milímetros em relação ao restante da unha porque é submetida a queratinzação.
(DAWBER, 1980)
Uma área de abundantes grânulos queratoialinos está presente e a camada
córnea produzida tende a acumular abaixo da borda do leito ungueal, produzindo
uma queratina córnea similar a da cutícula. O hiponíquio é o primeiro sítio de
queratinização da unidade ungueal e de toda a epiderme do embrião. (DAWBER,
1980)
A função desta formação anatômica é proteger o leito ungueal, deixando-o
impermeável a agentes externos. Se esta proteção falhar, tornam-se freqüentes as
onicomicoses. (DAWBER, 1980)
Alguns autores descreveram uma zona intermediária entre o leito e o
hiponíquio, chamada de banda onicodermal. Esses mesmos autores especularam
que esta área, de aproximadamente 0,5 a 1,5mm, tem um suprimento sangüíneo
diferente do restante do leito ungueal. Por essa razão é mais pálido que cor-de-rosa
e ligeiramente mais amarelado que translucente. Essa banda onicodermal muda de
coloração ocasionalmente, especialmente na cirrose e em outras doenças crônicas.
(DAWBER, 1980)
5.3.6 Pregas Laterais
As pregas laterais da unha têm estrutura similar à pele adjacente, mas são
normalmente desprovidas de marcas dermográficas e glândulas pilosebáceas. A
queratinização também é semelhante. A epiderme dessas pregas não contribui para
a formação da unha, exceto nas partes mais proximais, onde são contínuas com a
epiderme da matriz, por exemplo. (DAWBER, 1980)
Quando a borda lateral do leito ungueal se rompe patologicamente,
abundantes grânulos formados ali, constituindo a onicocriptose, uma freqüente
alteração patológica da unha do primeiro dedo do pé. (DAWBER, 1980)
42
5.4 Crescimento e Coloração
Muitos fatores determinam o crescimento das unhas e a unha de cada pessoa
cresce de forma diferente. A hereditariedade e os hábitos de vida determinam mais
predominantemente como ela crescerá, embora o crescimento diminua muito com o
envelhecimento. (DAWBER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
A unha é um anexo que não se comporta como o pêlo, pois suas camadas
germinativas estão em atividade constante, não havendo fase de repouso. Sabe-se
que existe atividade mitótica na área basal da matriz, tendo a porção distal as taxas
maiores, e a ventral, as menores. (DAWBER, 1980)
Não se conhece a razão pela qual a unha cresce aplainada; algumas
hipóteses sustentam que isso se deveria à limitação pelas pregas ungueais ou ao
fato de que as células se movem distalmente. (DAWBER, 1980)
Há muito se estuda o crescimento linear da unha, e atualmente conhecem-se
vários fatores que o influenciam, fisiológicos ou não. Por exemplo, sabe-se que as
unhas da mão direita crescem mais rápido do que as da mão esquerda, mais
durante o dia e menos durante à noite, mais nos homens do que nas mulheres e
também nos pacientes portadores de hipertireoidismo e naqueles que necessitam
mobilizar os dedos. (DAWBER, 1980)
A placa da unha cresce para fora sobre os sulcos, “como se fosse um trem
andando sobre os trilhos”. Quando envelhecemos, tais sulcos tornam-se visíveis
porque produzimos menos óleo e umidade. (DAWBER, 1980)
A unha do polegar cresce aproximadamente 1,5cm por ano e o polegar
esquerdo crescerá geralmente um pouco mais rápido que o polegar direito. A unha
do indicador (2º dedo) crescerá, depois do polegar, mais rapidamente, seguida pelos
3º e 4º dedos, que crescem quase a mesma taxa. (DAWBER, 1980)
Outros autores indicam que as unhas das mãos crescem cerca de 3mm por
mês e são completamente renovadas a cada 6 meses. Já as unhas dos pés
crescem cerca de 1mm por mês e levam de 12 a 18 meses para completa
renovação. (DAWBER, 1980)
Em geral, quanto mais longo o dedo, mais rapidamente a unha cresce.
(DAWBER, 1980).
As unhas têm seu pico de crescimento dos 10 aos 14 anos de idade e iniciam
seu declínio de crescimento depois dos 20 anos, progressivamente. Elas crescem
43
mais rapidamente no verão que no inverno e, mais rapidamente também na
gravidez. Após a gravidez, a taxa de crescimento volta ao normal. (DAWBER, 1980)
A unha experimenta outras variações fisiológicas ao longo da vida. Não é
raro, por exemplo, que, na adolescência, a unha naturalmente mais fina apresente
coiloníquia transitória. Encontram-se ainda estudos mostrando o aparecimento de
“linhas de Beau” (linhas ou sulcos transversais) em recém-nascidos; entretanto,
parece ser na idade madura que as maiores variações acontecem, provavelmente
ligadas às alterações vasculares ou mesmo à influência dos raios UV. No idoso, a
lâmina ungueal, mais pálida, perde o brilho, apresenta estriações longitudinais e, por
vezes, torna-se esbranquiçada, como nos pacientes cirróticos e portadores de
insuficiência renal grave. (DAWBER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
Os fatores que retardam o crescimento das unhas incluem imobilizações,
circulação deficiente, nutrição pobre, infecções graves, determinadas doenças e
determinados medicamentos. (DAWBER, 1980)
Algumas pessoas acreditam, erroneamente, que comendo determinados
alimentos ou usando loções especiais aumentarão a taxa de crescimento de suas
unhas. Embora, a unha requeira determinados nutrientes para crescimento
apropriado, há evidências muito pobres que comer alimentos em particular as farão
crescer mais rapidamente. Produtos com promessas milagrosas de crescimento de
unhas também devem ter seu uso desestimulado pelos profissionais médicos, já que
fazem propaganda enganosa e possuem compostos com efeitos ainda não
conhecidos no corpo humano. (DAWBER, 1980)
A semitransparência da lâmina ungueal e sua cor róseo-clara são, na
realidade, originárias do leito ungueal. Entre as hipóteses para explicar a cor
esbranquiçada da lânula há, por exemplo, a opinião de que ela seria o resultado da
dispersão luminosa nas células da matriz ungueal. Inúmeras condições podem
contribuir para as alterações da cor ungueal, algumas até de cunho fisiológico.
Pode-se, entretanto, dizer que o modo mais genérico que a cor depende
primordialmente: (DAWBER, 1980) e (SAMMAN, 1978)
1. da espessura e transparência da lâmina ungueal
2. da quantidade e composição do sangue
3. do estado dos vasos sangüíneos
44
5.5 Suprimento sangüíneo
A unha possui uma rica vascularização. O suprimento arterial do leito ungueal
e da matriz é derivado das artérias digitais. A maior parte desse suplemento passe
pela polpa distal antes de alcançar o dorso do dedo. Um suplemento acessório inicia
mais atrás e não passa pela polpa distal. (SAMMAN, 1978)
O sistema arterial digital dos mamíferos possui duas características
anatômicas: anastomoses profundas na derme e, mais superficialmente, artérias
terminais ramificadas. As artérias são revestidas internamente por uma camada
longitudinal e uma circular de músculo liso, mas não possuem lâmina interna
elástica. (SAMMAN, 1978)
A vascularização do leito ungueal é única e fornece estrutura vascular entre
duas superfícies duras: a placa da unha e o osso. (SAMMAN, 1978)
A drenagem venosa é realizada por duas veias, uma de cada lado da base da
unha, na placa proximal. (SAMMAN, 1978)
Uma vascularização especial está presente na zona distal do leito ungueal,
responsável pela termoregulação periférica (conhecida, na língua inglesa como
glomus body). (SAMMAN, 1978)
6. PÊLOS E CABELOS
Os cabelos e pêlos não desempenham nenhuma função vital nos humanos;
poderíamos viver perpetuamente depilados que não teríamos nenhuma
desvantagem fisiológica. Ao mesmo tempo, suas funções filosóficas são
inestimáveis: o cabelo é um grande influenciador social e sexual para o homem,
sendo muitas vezes símbolo de masculinidade, e uma glória para as mulheres,
também como símbolo de feminilidade.
A falta de pêlos e cabelos pode ser um desastre para homens e mulheres,
mas igualmente, o excesso, também pode ser motivo de aflição.
A história da evolução dos pêlos e cabelos é confusa. Possivelmente, eles
foram primeiramente unidades mecanorreceptoras em escalas ancestrais aos
répteis. Os folículos pilosos ainda são órgãos do sentido, mas sua função principal
em animais de sangue quente é o isolamento térmico. Os humanos desenvolveram
a capacidade de manterem sua temperatura, permanecendo o cabelo – talvez para
45
proteção solar direta – e pêlos maiores em algumas áreas – provavelmente para
concentração e disseminação de odores importantes na atração sexual. Estes
últimos são estimulados por hormônios presentes somente na vida adulta,
justamente por sua função.
6.1 Desenvolvimento, Crescimento, Distribuição e Composição dos Pêlos e Folículos
Pilosos
No embrião, no terceiro mês de gestação não existe folículo pilossebáceo,
somente uma epiderme muito sutil cobre a derme. No quarto mês, em pontos
geneticamente pré-fixados, algumas células epidérmicas proliferam e, logo se
aprofundam na derme impulsionadas por uma mensagem específica, um fator de
crescimento da família do Fator de Crescimento epidérmico que foi definido como
Fator de Crescimento Capilar, produzido pelos próprios queratinócitos.
(FREEDBERG, 1987)
Está sendo formado um esboço de pêlo (Fig. 6.1)4.
Estas células formam uma coluna celular que se dirige para um aglomerado
de células mesodérmicas que formarão a papila. Com a formação da papila dérmica
pelos fibroblastos, a proliferação e a descida das células epidérmicas será inibida
através de uma mensagem parácrina (a célula secreta mediadores químicos locais
que agem somente em células vizinhas), presumivelmente, um fator beta de
transformação do crescimento que inibe a proliferação de células da papila dérmica
induzida por mitogênese. A este ponto, a descida da coluna de células epiteliais na
derme é bruscamente bloqueada, e como se fossem arrastadas, as células
epidérmicas mais periféricas da própria coluna envolvem a papila dérmica, que
permanecerá englobada em uma redoma. Substituiu-se o rudimento do bulbo piloso
e estamos já no quinto mês de gestação. (FREEDBERG, 1987)
As células epidérmicas, externas ao bulbo, impulsionadas pela mensagem
proliferativa e mais afastadas da mensagem inibidora, continuam, ainda que mais
lentamente, a proliferar e dão origem à matriz do pêlo. À medida que se originam da
matriz do pêlo, as células mais antigas são empurradas para o alto e vão sofrer
processo de queratinização. Ao longo desta migração para o alto, as células em
queratinização encontram uma zona na qual a membrana basal, do lado de fora do
4 As figuras referentes à parte de Pêlos e Cabelos encontram-se no Anexo 4 – Pêlos e Cabelos
(Figuras).
46
folículo se tornou mais espessa, formando uma estrutura rígida (bainha vítrea) que
como uma fileira lhe molda, formando um cilindro compacto (o próprio pêlo) que,
pouca a pouco, emerge da epiderme. (FREEDBERG, 1987)
A este ponto, sexto mês, o folículo já possui uma bainha vítrea
(externamente), uma bainha epitelial externa e uma bainha epitelial interna (que
corresponde aos vários estratos celulares da epiderme) e também de uma haste
(que corresponde ao estrato córneo da epiderme). (FREEDBERG, 1987)
Agora aparece também o início da glândula sebácea, comentada
anteriormente.
Os folículos aparecem em intervalos fixos de 274 a 350 micrômetros.
(FREEDBERG, 1987)
É importante salientar que entre o sexto e o sétimo mês de via uterina, o feto
se encontra completamente coberto de uma fina lanugem (velus fetal) (Fig. 6.2),
desprovida de medula, que cai em grande parte, pouco antes do nascimento,
próximo ao final do oitavo mês. De qualquer maneira, o recém-nascido apresentará
ainda uma quantidade variável de pêlos que perderá depois, em um curto período,
de modo gradual e progressivo. (FREEDBERG, 1987)
A formação desta lanugem fetal não deve ser provavelmente diferente
daquela que ocorre nas supra-renais, próximas ao final da gestação, quando
produzem 200 mg de esteróides por dia. Isto se deve à inibição da enzima 3
betahidroxiesteróide desidrogenase, direta conseqüência da enorme quantidade de
estrogênio produzida pela unidade feto-placentária. Durante o nascimento, com a
drástica redução dos esteróides placentários e a conseqüente remoção do bloqueio
hormonal, verifica-se uma onda de mudanças. Além do mais, as grandes
quantidades de estrógenos e de progesterona e que o feto tem à disposição podem
também não serem estranhos ao crescimento dos cabelos primitivos. Esta onda de
alopecia ocorre em sincronia para todos os pêlos do corpo, como a muda da
pelagem dos animais. E só após o nascimento se estabelece o típico crescimento
dos pêlos e cabelos. (FREEDBERG, 1987)
É importante salientar que esta onda de alopecia leva à queda do pêlo, mas
não ao desaparecimento do folículo piloso.
Após o nascimento, os pêlos lanugem são pouco a pouco substituídos por
pêlos terminais, e os verdadeiros cabelos (que com o tempo tornam-se sempre mais
longos e mais grossos) aparecem sobre o couro cabeludo. A esta evolução contribui
47
seguramente a ação do hormônio somatotrópico, talvez através do seu típico
mediador, o fator insulina-símile, ou talvez, através da intervenção do Fator de
Crescimento Capilar. (FREEDBERG, 1987)
Os pêlos, então, são cilindros compactos de células queratinizadas. Eles
podem ou não podem ter uma medula central; ela é formada por células alongadas
de córtex, rodeadas por uma cutícula composta de 5 a 10 camadas de células de
origem colunar. Por fora desta cutícula, existem células que parecem “telhas num
telhado” (Fig. 6.3). (FREEDBERG, 1987)
Os cilindros do pêlo são compostos por fibras agregadas de um denso
material que contém substâncias como aminoácidos de cistina entre as fibras, além
de queratina, lipídios, minerais como ferro, magnésio, zinco e pigmentos, como
carboidratos, oxigênio, hidrogênio e, logicamente, a melanina.
É importante observar a Figura 6.4 para lembrar da relação entre o folículo
piloso e o sebáceo.
Os cabelos crescem descontinuamente, intercalando fases de repouso com
fases de crescimento, de modo que os fios se encontram em estágios diferentes em
seus ciclos de desenvolvimento. Na fase de crescimento (anágena), com duração
peculiar a cada indivíduo, os fios de cabelos crescem em média 10 a 20 cm ao ano.
Determinações genéticas influenciam a textura, cor, curvatura, densidade e o
crescimento dos cabelos. (FREEDBERG, 1987)
6.2 Pigmentação dos Pêlos e Cabelos
A coloração dos pêlos e cabelos resulta de pigmentos que são transferidos
para eles e formados nos melanócitos situados próximos às papilas dérmicas. A
pigmentação se dá da mesma forma que na pele e, por influências genéticas,
quando existe mais melanina, mais escuro é o pêlo. Quando a quantidade de
melanina é reduzida o cabelo é mais claro, acinzentado ou mesmo branco, como
ocorre com o envelhecimento (diminuição da produção de melanina). (FREEDBERG,
1987)
48
CONCLUSÃO
Nesta breve revisão sobre a anátomo-histologia e fisiologia da Pele,
procuramos abordar os fatos mais relevantes acerca de cada tópico. A correlação do
texto com as figuras anexadas auxiliou muito no entendimento não apenas de partes
individuais, mas também na facilidade de compreensão do funcionamento da pele
como um todo; como um órgão.
A vasta bibliografia consultada mostrou que atualmente muito estudos,
principalmente sobre funções e estruturas moleculares da pele, estão sendo
desenvolvidos, porém o embasamento teórico de todos eles estão fundamentados
sobre um único quesito: o conhecimento da anatomia e histologia básicas deste
órgão.
O texto reflete uma pequena parte do que a ciência conhece sobre o tecido
cutâneo. E isso nos faz saber que só existe uma ferramenta que pode nos ajudar a
não sermos meros coadjuvantes na prática médica: o conhecimento e a educação
continuada.
Ficamos com a sábia frase de Arquimedes, matemático, físico e inventor
grego, que viveu nos séculos III e II a.C.:
“No dia que a tua vontade de obter conhecimento for tão forte quanto a que
tens de respirar, aí sim tu serás um grande sábio.” (Arquimedes, séc. II a.C.)
49
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