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ANEXOS

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ANEXO 1

HISTÓRIAS UTILIZADAS NO

PROJETO DE INTERVENÇÃO

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Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção

_____________________________________________________________________

História I - ‘O Nabo Gigante’

Autor: Alexis Tolstoi

Editora: Livros Horizonte

História II - ‘A Surpresa de Handa’

Autora: Eileen Brown

Editora: Caminho

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Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção

_____________________________________________________________________

História III - ‘As Cores de Mateus’

Autora: Marisa López Soria

Editora: Everest

História IV - ‘Dançar nas Nuvens’

Autora: Vanina Starkoff

Editora: Kalandraka

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Anexo 1 - Histórias utilizadas no projeto de intervenção

_____________________________________________________________________

História V - ‘Lili e o Jardim da Índia’

Autor: Jeremy Smith

Editora: Editorial Estampa

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ANEXO 2

ORGANIZAÇÃO CURRICULAR POR HISTÓRIAS

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Anexo 2 - Organização curricular por histórias

Continente: Europa

Áreas:

Gastronomia

Arte

Património

História I:

O Nabo Gigante

Área de Formação Pessoal e Social

- Participação do grupo na planificação das atividades a realizar;

- Participação das famílias no envio de objetos relativos aocontinente explorado/ registos fotográficos que ilustrem a utilizaçãodos legumes em casa;

Área de Expressão e Comunicação

Domínio da Educação Física

- Realizar as formas geométricas/ sequência de tamanhosdas matrioscas em equipas e através da expressão corporal;

Domínio da Educação Artística

- Artesanato romeno: ovos pintados;

- Impressão artística da pintura 'Mona Lisa' de LeonardoDaVinci;

Domínio da Matemática

- Construção da casa da história, com formas geométricas;

- Associação quantidade-número;

- Puzzle númerico (0-9);

- Contagem das quantidades de legumes da sopa;

- Sequências crescentes/decrescentes com as matrioscas;Identificação pequeno/grande/ médio;

- Sequenciar os legumes por tamanhos (pequeno, médio,grande) - março;

- Composição geométrica do castelo de Bran;

Domínio da Linguagem Oral

e Abordagem à Escrita

- Exploração da história pela educadora/ históriatradicional russa, explorada e traduzida por uma falantenativa;

- Exploração de uma história romena , explorada etraduzida por uma falante nativa;

- Exploração e reconto de uma história de origemitaliana: 'Pinóquio';

- Correspondência oral de algumas palavras português-russo/português-romeno/português-italiano;

- Escrita da palavra 'nabo' em russo;

- Início da construção de um dicionário com as palavrasaprendidas;

Área de Conhecimento do Mundo

- Pesquisa de receitas europeias de sopa de legumes;

- Pesquisa sobre a língua falada na Rússia/Roménia/Itália e suascapitais, artesanato/monumento/gastronomia típicas;

- Exploração das imagens digitais/ objetos trazidos pelas famílias;

- Cozinhar 'Ciorba de legume' (receita romena)/ 'Pannacotta'(receita italiana);

- Reconhecimento e identificação dos legumes presentes nahistória/sopa;

- Plantar legumes presentes na história (nabo/cenouras) - outubro;

- Experiência: De que necessita uma planta para crescer?Verbalização do que pensa que vai acontecer na situaçãoobservada;

- Elaboração de um livro de receitas do mundo com a participaçãodas famílias, na recolha das receitas;

- Colher os legumes plantados (março) e enviar para utilizaçãoalimentar em casa;

- Observação dos objetos trazidos pelas famílias;

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Anexo 2 - Organização curricular por histórias

Continente: África

Área: Música/Dança

História II:

A Surpresa de Handa

Área de Formação Pessoal e Social

- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;

- Participação dos pais na recolha dosmateriais para as maracas/ envio deinstrumentos relativos à culturaexplorada/ atividades a desenvolver nasala/ pesquisa de imagens;

- Apresentação para os pais: danças emúsicas do mundo;

- Participação dos pais numa coreografiaque reproduz as danças realizadas pelascrianças;

Área de Expressão e Comunicação

Domínio da Educação Física

- Realizar as danças em pequenos grupos, cumprindo asregras/movimentos/batimentos pré-definidos;

Domínio da Educação Artística

- Exploração das canções africanas: Funga Alafia (Libéria) e Kokoleoko (Gana);

- Dança de roda: Música Funga Alafia;

- Colagem/pintura baseada na arte/padrões africanos;

- Elaboração de maracas com materiais de desperdício;

- Sequências ritmícas recorrendo aos animais da história;

- Elaboração de uma apresentação acerca de músicas e danças do mundo (umamúsica/dança por continente);

- Elaboração de um colar tribal africano;

- Sessão fotográfica com os colares elaborados;

- Exploração de uma canção em Afrikaans por um falante nativo;

Domínio da Matemática

- As sequências da história: classificação ordenada (frutas/animais/frutas-animais);

- Correspondência lógica: animais-frutas;

- Reprodução das sequências de cores dos colares com recurso a diferentesmateriais;

Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita

- Exploração e reconto da história;

- Diálogo em grupo acerca do que observaram nas imagens da história,semelhanças/diferenças observadas;

- Registo baseado em imagens reais de tribos africanas: imaginando umencontro entre culturas;

- Comparação da sua fotografia/imagem real de elementos da tribos: Registo dassemelhanças/diferenças observadas;

- Correspondência oral de algumas palavras português-afrikaans;

Área de Conhecimento do Mundo

- Pesquisa de imagens digitais sobre atribo Luo do Quénia/ outras tribosafricanas;

- Observação de imagens reais de colarestribais africanos/simbologia das cores;

- Reconhecer e diferenciar tribosafricanas, de acordo com as suascaracterísticas;

- Observação dos objetos trazidos pelasfamílias;

- Identificação de traços/tradições deoutras culturas;

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Anexo 2 - Organização curricular por histórias

Continente: América

(norte)

Temas sociais:

Racismo/ Adoção

História III:

As Cores de Mateus

Área de Formação Pessoal e Social

- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;

- Realização de tarefas cooperativas;

- Participação das famílias no envio deobjetos relativos ao continenteexplorado/recolha de elementosmusicais/gastronómicos para o teatro;

Área de Expressão e Comunicação

Domínio da Educação Física

- Manipulação/utilização correta e autónoma dos materiais deexpressão plástica na execução das atividades;

Domínio da Educação Artística

- Arte a preto e branco:

Exploração de digitinta preta;

Desenho da família do Mateus;

- Pintura da cara do Mateus com café;

- Pesquisa de imagens e criação de colagens de famíliasmulticulturais;

- Realização de um teatro baseado na história, onde intervémtodas os temas/ áreas exploradas;

Domínio da Matemática

- Colagem com as cores mencionadas na história, de acordocom a sequência numérica de 0 a 9;

- Quantos elementos existem em cada família? Associaçãoquantidade-número;

- Ordenar uma sequência da história/criar uma legenda paracada imagem;

Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita

- Exploração e reconto da história;

- Diálogo em grupo acerca das características das personagensda histórias/ semelhanças/diferenças observadas;

- Observação de uma boneca típica das Caraíbas - diálogoacerca das suas caraterísticas, semelhanças/ diferenças com aspersonagens da história;

- Completar um pictograma com base nas origens culturais doMateus;

Área de Conhecimento do Mundo

- Observação e interpretação dosresultados da junção de cores;

- A experiência dos ovos: observação eregisto das semelhanças/diferençasentre um ovo de galinha (bege) e deum ovo de pata (branco);

- Diálogo acerca das questõesemergentes:O que é o racismo? Quecor é negro? O preto e negro sãodiferentes? O quer quer dizer adotado?

- Pesquisa de imagens digitais defamílias adotivas/multiculturais;

- Reconhecimento de traços de outrasculturas;

- Observação dos objetos trazidos pelasfamílias;

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Anexo 2 - Organização curricular por histórias

Continente: América

(sul)

Tema social:

Migração

História IV:

Dançar nas Nuvens

Área de Formação Pessoal e Social

- Participação do grupo na planificaçãodas atividades a realizar/pesquisa eescolha de imagens;

- Realização de atividadescooperativas;

- Participação dos pais em atividades adesenvolver na sala/ envio deinstrumentos musicais para asatividades a realizar/ envio de históriasque explorem a perspetiva intercultural;

Área de Expressão e Comunicação

Domínio da Educação Física

- Ordenar as sequências de crescimento em grupos e através da expressão

corporal;

Domínio da Educação Artística

- Elaboração de uma baiana com filtros de café;

- Música no mundo: Associação de instrumentos aos respetivos continentes deorigem;

- Jogo de sons: Associação som-instrumento;

- Escultura com arame/lã dos pássaros da história;

- Misturas culturais: elaboração de uma cara, recorrendo a imagens dediferentes culturas (recorte e colagem);

- Mural coletivo: Partilhar as nossas semelhanças, celebrar as nossas diferenças(decalque mãos/colagem e pintura);

- Realizar as atividades ao som de música instrumental típica de diferenteslocais no mundo(intrumentos retratados na história);

- Observação de uma curta-metragem musical relacionado com a história e como tema da migração;

- Recriação do filme, recorrendo a instrumentos musicais enviados pelos pais;

~

Domínio da Matemática

- Sequência de crescimento das casas;

- Formação de conjuntos com as casas, de acordo com vários critérios (cores,formas e tamanhos);

- Ordenar uma sequência de imagens, de acordo com a lenda brasileira contada;

Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita

- Exploração e reconto da história;

- Diálogo em grupo acerca das características das personagens da histórias/semelhanças/diferenças observadas;

- Criação de uma pequena narrativa através das imagens de pessoas de diferentesculturas presentes na história;

- Exploração de uma lenda brasileira por uma falante nativa;

- Correspondência oral de algumas palavras português-português do Brasil;

- Sessão de histórias, com uma contadora de origem brasileira;

Área de Conhecimento do Mundo

- Pesquisa de imagens digitais dasvárias culturas ilustradas na história;

- Pesquisa dos instrumentos musicaisretratos na história / sua origem;

- Observação dos objetos trazidospelas famílias;

- Degustação de gastronomia típica brasileira: pão de queijo;

- Identificação de traços de outras culturas;

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Anexo 2 - Organização curricular por histórias

Continente: Ásia

Tema social:

Religião

História V:

Lili e o Jardim da Índia

Área de Formação Pessoal e Social

- Participação do grupo na planificação dasatividades a realizar/pesquisa e escolha deimagens;

- Participação das famílias em atividades adesenvolver na sala/envio de objetos/receitasrelativos ao continente explorado/ nacaracterização das crianças para o Dia da Índia;

- Realização de tarefas cooperativas;

Área de Expressão e Comunicação

Domínio da Educação Física

- Manipulação/utilização correta e autónoma dos materiais deexpressão plástica na execução das atividades;

- Realização de jogos de grupo cumprindo as regras pré-definidas;

Domínio da Educação Artística

- Explorando o Diwali:

Exploração da canção do Diwali, na versão original;

Elaboração de uma kandil;

Arte Rangoli;

Domínio da Matemática

- Construção de um puzzle com imagens dos deuses hindus;

Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita

- Exploração e reconto da história;

- Diálogo em grupo acerca das festividades religiosas dohunduísmo/dos deuses mais importantes desta religião;

- Acróstico da palavra Índia;

- Jogo de exploração da consciência fonológica (divisão silábica):exploração do vocabulário - previamente aprendido - em hindi;

colagem/escrita;

Área de Conhecimento do Mundo

- Pesquisa/observação de imagens digitais dos 5deuses mais importantes da religião hunduísta:Krishna, Ganesha, Hanuman, Shiva, Rama;

- A experiência das maçãs: observação e registodas semelhanças/diferenças entre uma maçãvermelha e uma verde;

- Identificação de traços de outras culturas;

-Cozinhar Chapati (receita indiana);

- Comemoração do Dia da Índia;

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ANEXO 3

TRABALHOS REALIZADOS PELAS

CRIANÇAS NO ÂMBITO DO PROJETO

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Bloco de Intervenção A - História I

Trabalho de projeto A

Sessão d) Escrita da palavra 'nabo' em russo

Sessão h) Artesanato romeno: Ovos pintados

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Sessão l) Composição geométrica do Castelo de Bran

Sessão o) Impressão artística da pintura 'Mona Lisa'

de Leonardo DaVinci;

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Bloco de Intervenção B – História II

Sessão b) Composição artística com base na

arte/padrões africanos

Sessão c) Registo* baseado em imagens reais de

tribos africanas;

*Registo com base em“Autobiography of Intercultural Encounters for Young

Learners” do Conselho da Europa (2009)

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Trabalho de projeto B

Sessão e) Maracas elaboradas

com materiais de desperdício

Sessão j) Colar tribal africano

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Bloco de Intervenção C - História III

Sessão c) Elaboração da cara do Mateus:

pintura com café

Sessão d) Criar uma sequência de imagens da história e

uma breve narrativa para as imagens

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Sessão f) Pictograma baseado na história Sessão i) Famílias de todas as cores:

Criação de famílias multiculturais;

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Sessão j) Famílias adotivas e /ou multiculturais:

Contagem dos elementos tem cada família?

Trabalho de projeto C

Sessão k) ‘Arte a preto e branco’: Exploração de

digitinta preta/ Desenho de figuras humanas

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Trabalho de projeto C

Sessão m) Registo: A experiência dos ovos

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Bloco de Intervenção D – História IV

Sessão b) Elaboração de uma baiana

Atividade realizada em parceria com pais

Sessão f) Ordenar uma sequência de imagens,

de acordo com a lenda brasileira

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Sessão h) Elaboração de uma cara,

recorrendo a imagens de diferentes culturas Sessão j) Mural coletivo

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Trabalho de Projeto D

Sessão m) Associação de instrumentos aos

respetivos continentes de origem

Sessão n) Criação de uma curta-metragem

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

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Bloco de Intervenção E – História V

Sessão d) Acróstico da palavra ‘Índia’ Sessão c) Exploração do Diwali: ‘Kandil’

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Sessão h) Exploração do Diwali: Arte ‘Rangoli’

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Projetos desenvolvidos em parceria com os pais

Placar base para o desenvolvimento do projeto de intervenção

“Volta ao mundo das histórias: Descobertas interculturais”/

Projeto em parceria com os pais “Conta-me um conto com…”

Atividade individual realizada pelos pais no âmbito do

projeto de sala, com a finalidade de explorar da

consciência fonológica (fonémica)

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Anexo 3 - Trabalhos realizados pelas crianças no âmbito do projeto

________________________________________________________________________________________________________________

Atividade realizada por pais, para a exploração do projeto “Conta-me um conto com…”

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ANEXO 4

TERMO DE CONSENTIMENTO ENVIADO

AOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

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Anexo 4 - Termo de consentimento enviado aos encarregados de educação

______________________________________________________________________

Termo de Consentimento

Eu, Ariana Fonseca, sou estudante do 2º ano do curso de mestrado em Educação, no

Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, na especialização em Educação Intercultural,

no âmbito da qual me encontro a desenvolver um projeto de investigação acerca da utilização

da literatura como estratégia para a educação intercultural na educação pré-escolar, coorientado

pelas Professoras Doutoras Ana Paula Viana Caetano e Ana Sofia Reis de Castro e Pinho.

Este projeto de investigação visa compreender o contributo do trabalho educativo a partir da

literatura infantil para o desenvolvimento da interculturalidade por parte de crianças, em contexto

de educação pré-escolar.

No contexto das atividades realizadas com e pelas crianças no decorrer do projeto, pretende-

se realizar notas de campo com base em registos escritos decorrentes da observação das

dinâmicas de trabalho e das interações em sala, bem como recolher trabalhos elaborados pelas

crianças.

Neste âmbito, solicita-se aos encarregados de educação a autorização para que a

educadora/investigadora efetue a recolha dos dados, salientando que o anonimato das crianças

será inteiramente respeitado, mantendo em sigilo qualquer dado pessoal e/ou fotografias que

permitam identificá-las. É ainda importante salientar que este estudo não é de caráter obrigatório,

podendo os encarregados de educação não dar consentimento para a recolha dos registos

relativos ao seu educando.

Tendo sido informado(a) quanto ao teor da investigação e compreendido a natureza e o

objetivo do referido estudo:

Confirmo/ não confirmo (riscar o que não interessa) o consentimento da participação do meu

educando:

____________________________________________________________________________

Barreiro, 28 de outubro de 2016

_______________________________________________________________

Assinatura do Encarregado de Educação

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ANEXO 5

PLANTA DA SALA DOS 4 ANOS

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Anexo 5- Planta da sala dos 4 anos

________________________________________________________________________________________________________________

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Anexo 6 - Notas de campo

______________________________________________________________________

ANEXO 6

NOTAS DE CAMPO

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Anexo 6 - Notas de campo

______________________________________________________________________

NC.1

Palavras-chave: Consciencialização da sua identidade cultural; Diversidade cultural;

Data: 26 de setembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h45

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Na área do tapete, uma superfície retangular e verde escura, as 21 crianças,

encontravam-se sentadas em meia-lua, com pernas ‘à chinês’, conversando

apressadamente uns com os outros. Eu, a educadora, encontrava-me sentada numa cadeira

pequena, em tons de cinza claro, diretamente de frente para o grupo, enquanto a Vera, a

auxiliar da sala, estava do meu lado esquerdo, sentada na área de trabalho a recortar alguns

nomes em cartolina branca. A área de é constituída por 2 mesas laranja em forma de meia-

lua, estando no centro uma mesa retangular branca, onde estas se encaixam. Nelas

estavam pousadas os restos de cartolina recortados, desalinhados, à medida que iam

caindo em cima da mesa, assim como os nomes já recortados num pequeno monte

desarranjado.

O T. perguntou: Ariana, o que vamos fazer agora? Eu respondi prontamente:

Vamos conversar, quero descobrir o que vocês sabem sobre um certo país. Qual é o país?

Nós vivemos no Portugal, perguntou o V. Pois é, nós ganhamos o europeu à França,

jogámos com outros países e ganhámos a todos, respondeu rapidamente o T.S.

Praticamente todo o grupo respondeu excitado, ouvindo-se respostas em todas as

direções: pois foi, eu vi um jogo, disse o F. O Portugal jogou bem, é o maior acrescentou

o M.N. Interrompi dizendo: Meninos ouçam! Então já vi que já sabem que o país em que

vivemos é Portugal. A M.C. disse: Sim, somos todos de Portugal”. Somos todos de

Portugal? Será que há meninos que nasceram noutros países, temos que descobrir”, disse

eu. Pois, porque eu nasci em Lisboa, num hospital, a minha mãe já me disse, afirmou a

M.J. Eu já fui a Lisboa no barco, disse a C.B.

Quem nasceu em Portugal levante o dedo, pedi. Todos levantaram o dedo

rapidamente, para responder à pergunta, olhando uns para os outros de forma satisfeita,

ouvindo-se várias gargalhadas. O M.N. afirmou veemente, enquanto abanava a cabeça,

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Anexo 6 - Notas de campo

______________________________________________________________________

com os seus grandes olhos azuis bem abertos: Eu já vi no ipad do meu pai, fotografias de

Portugal, ele já foi ao Norte, ao Algarve e ao Alentejo. E eu fui ao Gerês, disse o V.,

acrescentando: Ariana, o nosso país é grande? Mostra onde está no globo. Levantei-me

e fui até à área onde em cima de uma pequena mesa verde, se encontravam várias livros

arrumados numa pilha direita, jogos e o globo, onde podia ler-se numa esferovite amarela

“cantinho das culturas”. A Vera disse: Estão viciados no globo, só fazem é perguntar que

país é este? E este? E este? Era esse o efeito que querias? Disse com uma gargalhada.

Mais ou menos, respondi a sorrir. Olha, eu já pedi um ao meu pai, disse a L.C. orgulhosa.

Coloquei-me no meio das crianças, de joelhos sobre o tapete, a rodar o globo e a

procurar atentamente. Está aqui, o nosso país é aqui, disse, enquanto mostrava a uma

criança de cada vez. Mas é pequeno, mas nós cabemos todos cá, disse o F.P. a abanar a

cabeça. Parece muito pequeno, mas é maior do que vocês pensam. Somos mais pequenos

que outros países, mas temos muitas pessoas, todas diferentes umas das outras, muitas

coisas interessantes e bonitas no nosso país, disse eu. Olha, quando leste a história da

coruja, disseste que haviam muitas cores diferentes das penas das corujas e das peles

das pessoas também. As pessoas são diferentes por causa disso? Concluiu a M.J. “ M., o

que eu quis dizer é que as pessoas são todas diferentes porque não há ninguém igual,

embora sejamos parecidos, todos somos diferentes uns dos outros, foi o que vimos na

experiência dos M&M’s. A M.C. interrompeu-me imediatamente dizendo alto: Eu

lembro-me! É que por fora temos cores diferentes, caras diferentes, corpos diferentes,

mas depois somos como os M&M’s, somos todos iguais lá dentro. É isso mesmo M.!

Respondi com um sorriso enorme. As cores de pele são muitas em Portugal, como na

história das corujas com cores?” Questionou o F.M. Não é só em Portugal F., é em todo

o mundo. É tal e qual como a história. As nossas diferenças ajudam-nos a aprender mais

uns sobre os outros e a relacionar-nos com os outros, a sermos todos amigos. Vocês são

uns crescidos, já sabem imensas coisas, estou muito contente de não se terem esquecido

do que já aprenderam! Disse orgulhosamente.

Ó Ariana, olha, quero fazer uma pintura disso, das cores diferentes, sabes quais

são? Disse a M.C. Olhem aqui - levantei-me rapidamente e dirigi-me ao grande armário

laranja e retirei uma caixa de lápis de cera do 2º armário, onde podiam ver-se lápis de

cera com vários tons de pele, alterando entre o bege e o castanho escuro - espalhei os lápis

no centro do tapete e iniciou-se alguma agitação, todos começaram a sair dos lugares para

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Anexo 6 - Notas de campo

______________________________________________________________________

virem ver os lápis. Estas são apenas algumas das cores da pele que existem, porque são

muitas mais. Já viram algumas? Eu estou sempre a dizer não há ‘o’ cor de pele, há várias

cores de pele. Pois é, eu já sabia isso, já vi senhores castanhos na rua e no Continente.

Ariana, a minha avó é desta cor aqui, acho eu… disse a M.J.

Olhem para as vossas cores, somos todos iguais? Questionei. Às vezes parece,

mas acho que não…porque foi isso que aprendemos no outro dia, disse o F.P. Não somos

não, somos diferentes uns dos outros. Concluiu o F.M. A conversa continuou e ouviu-se:

Posso pintar com eles Ariana? Perguntou a M.C. Respondi-lhe: Sim, claro. E tive uma

ideia…vamos pintar com as cores de pele? Mas todos juntos, acho que assim o trabalho

ficava muito mais giro. O que acham? Ouviram-se uma série de gritos que diziam: Sim!

Mas não se esqueçam que estávamos a falar de Portugal. Quero saber, quem sabe

alguma coisa sobre Portugal? Qual é a língua que falamos? E como é a nossa bandeira?

disse eu. Vários se apressaram e começaram a responder ao mesmo tempo e eu afirmei

Quem quer falar põe o dedo no ar! A grande maioria do grupo respondeu que era o

português. Nós falamos português. Olha, a bandeira é vermelha e verde, com uma bola

lá no meio, disse o T.S, acrescentando: Tenho uma na minha casa, posso trazer? Sim -

respondi - traz, mas vamos ao computador do da sala Criarte e vamos procurar uma

fotografia. Façam o comboio do lado de fora da sala.

No meio de uma grande azáfama todos se colocaram de lado para a grande parede

branca do corredor, onde se colocaram em fila. Eu comecei a andar e disse: Vamos,

sentam-se todos no tapete, mas sem confusões. Andámos pelo corredor, até que entrámos

na sala, onde se podia ver um grande tapete de tecido rosa e uma mesa branca com um

computador e ao lado uma cadeira da mesma cor. Sentei-me na cadeira, de costas para o

grupo e todos se sentaram em frente ao computador, com a ajuda da Vera que lhes pedia

para fazerem silêncio. Uns de joelhos e outros sentados, a observarem, escrevi no teclado:

bandeira de Portugal e logo uma série de imagens surgiram. O T.S. disse efusivo “é

mesmo como eu disse, vês? enquanto todos conversavam. Continuou dizendo: O que é

que diz aí sobre o nosso país? Tem mais coisas? Respondi-lhe: Muito mais! O nosso país

fica num continente chamado Europa e está repleto de coisas interessantes para

descobrirmos. Eu queria mostrar-vos uma coisa…sabem qual é a música típica

portuguesa? Todos ficaram com ar interrogativo e ouviram-se alguns ‘não’. A Vera disse:

Eu sei… é o fado! Viram-se algumas caras interrogativas e a M.J. questionou: O que é

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Anexo 6 - Notas de campo

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isso? Eu disse: Vou mostrar-vos, fechem os olhinhos e ouçam bem… Abri o link do fado

“Cheira a Lisboa” que tinha procurado no Youtube momentos antes. Começou-se a ouvir

uma voz feminina acompanhada de uma guitarra. À medida que a música continuava era

visível cada vez mais conversa acerca do que estávamos a ouvir e até algumas

gargalhadas. Terminei o vídeo e ouvi Não gosto! Afirmando o T.C. Ouviram-se algumas

opiniões, todas entrelaçadas umas nas outras: Mas ela disse Lisboa, ela cantou lá?

Questionou a M.C. Ela cantou em muitas cidades portuguesas e noutros países e nasceu

em Lisboa, é uma cantora de fado muito famosa, chamada Amália Rodrigues. Sabiam

que Lisboa é a capital de Portugal? A M.M. respondeu: Não sabia, mas eu já fui a Lisboa

com a minha avó. Sabes, vou dizer ao pai e à mãe, para ver se eles conhecem essa, o meu

pai tem muitas músicas dessas, lá em casa e no carro, ele gosta, disse o F.M. Começou

novamente a ouvir-se um coro de vozes que gerou alguma confusão. Meninos ouçam lá.

Tomem atenção para aprenderem. Ponham o dedo no ar para poderem falar, disse.

Ouviram-se opiniões: Eu sei, eu sei, o Portugal é pequeno, mas é grande; O nosso país é

Portugal e aqui falamos em português, essa é que é a língua de cá; Essa senhora cantava

a música de Portugal, que é o fado, acho eu…Eu respondi: Sim, a Amália nasceu em

Lisboa e morava lá, eu já fui lá. A última afirmação ouviu-se: A nossa bandeira tem 3

cores. É amarela e depois verde e vermelha.

Existem pessoas de muitas cores. A Ariana diz que vai deixar fazer uma pintura

com as cores dos lápis, são muitas, pois é? Questionou a M.V. Sim, M. Já vi que sabem

muitas coisas importantes, mas agora vamos fazer o comboio, temos que ir marcar as

presenças e almoçar, disse eu.

NC.2

Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;

Data: 26 de setembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h20

Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente

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Anexo 6 - Notas de campo

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Enquanto em grande azáfama as crianças brincavam nas áreas da sala, cinco delas

encontravam-se à volta da mesa da área de trabalho polivalente, constituída por três

mesas. À sua frente podiam ver-se seis tintas com vários tons, seis pincéis de diferentes

espessuras e um grande círculo feito em papel de cenário. Eu estava sentada com duas

crianças que estavam a desenhar, conversando com elas, do lado direito do pequeno

grupo. As crianças conversavam entre elas à medida que realizavam em conjunto a

atividade proposta - usar a técnica do salpico de Pollock, para ‘pingar’ o círculo - ‘o

mundo’ - com diferentes tons de pele.

Começou a surgir um diálogo entre os elementos do grupo de trabalho: Não, não

faças assim, a Ariana disse que era para salpicar com os pincéis, não é para pintar

salientou a M.C. Ok, estava só a ver como ficava, disse o M.N. Estás a pintar com qual

cor de pele M? Questionou. Com um castanho escuro, muito escuro, disse a M.C. Olha,

já viste pessoas dessa cor? Questiona a M.S. Não, nunca vi pessoas assim… Mas existe,

porque a Ariana disse que existem pessoas com muitas cores de pele diferentes, como

nós, não somos iguais, já viste? Respondeu a M.C. A M.J. interferiu dizendo: Pois… a

minha mãe disse já me disse que há gente muito escura, assim castanha. A minha avó é

como eu, mas um bocadinho mais escura…(fica pensativa). Ela é de Portugal?

Questionou o R. Vou perguntar à minha mãe, mas acho que ela é de Goa, que é Índia,

respondeu a M.J.

Uma das crianças ao salpicar o papel sujou a mão com a tinta e disse rindo: Olhem

aqui… mudei de cor. Animado o D. disse: Agora tens que limpar. Não se muda de

cor…acho eu…acho que tens que nascer com uma cor só e ser assim sempre. Ó T. achas

que podias ser de várias cores? Isso era de que país? Questionou o M.N. Não sei, disse

o T. rindo. Acho que se formos diferentes é mais giro que sermos iguais aos outros…Olha

dá cá a tua, a tinta castanha clara, pediu. O colega passou-lhe a tinta e o T. entrega o seu

copo e o seu pincel. O trabalho do mundo está certo, tem muitas cores da pele, disse o

M.N. e continuou a pintar.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.3

Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização da importância

das várias línguas; Familiarização com outros reportórios linguísticos;

Data: 28 de setembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h45

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

As 22 crianças estavam aos poucos a sentar-se em meia-lua para que

começássemos aquilo a que chamamos ‘Volta ao mundo das histórias’, um momento em

que ouvimos uma história com origem num outro país. Sentada com pernas ´à chinês´ no

centro do grupo, expliquei: Vamos ouvir uma história que vem do continente europeu,

que vocês já conhecem…é onde fica…que país? Ouviu-se em uníssono: Portugal! Está

certo - disse eu - Este livro foi escrito por um senhor chamado Alexis Tolstoi, que é russo

e esta história é muito conhecida na Rússia, o país onde foi escrita. A C.B. questionou:

Isso é um nome da Rússia? Como Oleg? Eu disse: Sim, são nomes russos, como C. é um

nome português. Vou começar…zip zip, zip, zap, a boquinha vou fechar, zip zap! Todo o

grupo sossegou, virei a capa dura do livro “O nabo gigante” para o grupo e com as

imagens sempre dirigidas às crianças, fui virando as páginas, contando a história e

dinamizando-a com a figura do Oleg, uma personagem russa, que integra o projeto

“Conta-me um conto com…”um projeto em parceria com os pais. Contei a história e no

final, disse: E agora…quero que me contem a história a mim! Observei alguns sorrisos e

ouviram-se risos baixinhos. Vamos começar…há muito, muito tempo…, disse eu. Logo

de seguida, a M.V. continuou: Havia um velhinho e a sua velhinha, que moravam numa

casa velhinha na Rússia…”. Assim, em conjunto, cada um foi acrescentando um pedaço

da história contada, até esta estar terminada.

Após o reconto questionei: Gostaram da história? Ouvi a resposta positiva de

várias bocas sorridentes. Olha Ariana, acho que tive uma ideia. Podíamos plantar coisas

também, nabos e víamos se ficavam gigantes, disse o T.C. Ouviram-se várias gargalhadas

e observou-se alguma agitação entre as crianças. Dei uma gargalhada e disse: Boa ideia!

Vou ver se encontro sementes ou plantas para a nossa horta, mas são vocês que vão ter

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Anexo 6 - Notas de campo

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que plantar e tomar conta delas, ok? Temos que ser responsáveis pelas nossas coisas.

Isso é uma grande ideia T.”, disse um colega próximo, deixando o T. com um sorriso

enorme. Vais comprar quando, é hoje? Questionou o T. Sorri e adiantei: Calma, assim

que encontrar trago logo, mas temos que saber esperar… “Ok…” respondeu relutante o

T. Mas…a nossa horta é pequenina, como é que vamos ter nabos gigantes? Riu a M.C.

M., na história haviam cenouras e batatas e feijão…não era só nabos! Afirmou a M.S.

Vamos plantar esses todos!” Continuou excitada. Respondi de imediato: Não sei, temos

que descobrir quais podemos plantar agora no outono, há alturas para semear e plantar

cada planta. E os nossos nabos vão ser russos? Perguntou o T.C. Não T., estamos no

Barreiro, aqui é Portugal também, os nabos de Portugal como nós que somos

portugueses. Não é verdade Ariana, afirmou a M.C. Bem, vocês já sabem mais que eu, é

isso mesmo M.” disse sorrindo.

Continuei o diálogo, questionando: Mas eu agora quero saber outras

coisas…acham que o Oleg fala que língua? Ouviram-se várias vozes a falarem ao mesmo

tempo, dizendo: Fala russo porque ele mora num país russo. Pois, os russos tem que

falar russo, afirmou o G. Ó Ariana temos que nascer na Rússia para saber falar russo?

Perguntou. Não, podemos aprender, assim que nascemos somos capazes de aprender

qualquer língua. Nós aprendemos o português porque foi esse que nos ensinaram. Mas

também há meninos que nascem em Portugal ou na Rússia, mas que não falam essas

línguas, falam as línguas que os pais lhe ensinam, por exemplo, chinês, inglês,

francês…porque em cada país, há pessoas de várias outros países a viver - expliquei eu.

Cá também? Questionou a M.M. Claro, o T.L. por exemplo, os pais dele nasceram na

China e moram cá. Sabem falar chinês, o T. nasceu cá mas e sabe falar chinês e está a

aprender português. A C.L disse orgulhosamente: A minha mãe nasceu na Roménia. O

T.S. questionou de imediato: Tu sabes falar a língua de lá? A C. respondeu: Sim, a minha

mãe ensinou-me romeno. O T.S. respondeu: Eu também queria saber dizer coisas de lá.

Eu disse: E podes aprender com a C. e com a mãe dela. Podemos aprender todos! Ambos

sorriram satisfeitos.

O nosso amigo Oleg fala russo e olhem aqui…- mostrei uma folha A5 com uma pequena

bandeira desenhada - Esta é a bandeira da Rússia, a Rússia é o maior país do mundo e a

sua capital é Moscovo. A mãe da M.V. trouxe estes livros, mostrei os livros de forma

breve, onde podiam ver-se as imagens de Moscovo. Tem muitas imagens de Moscovo e

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Anexo 6 - Notas de campo

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eu vou pôr no cantinho das culturas, mas tenham cuidado, é emprestado, não podemos

estragar algo que não é nosso, ok? Sim! Obrigada M.V.” ouviu-se em grupo. O F.P.

pronunciou-se: E acham que o Oleg tem alguma semelhança, quer dizer alguma coisa

igual, ou diferente das pessoas aqui em Portugal. Olhem lá para ele - mostrando a figura

em feltro - o que acham? Ele tem a nossa cor, a cor da nossa pele é bege não é?

Questionou a C.B. Essa cor estava nas tintas, aquelas em que pintámos as cores de pele

e nos lápis da Ariana, disseram o T.S. e o F.M. em concordância. Sim, é

verdade…podemos dizer que bege é só uma, das muitas cores de pele, disse eu. Já sei! A

roupa dele, nunca vi uma roupa assim, é diferente, disse com entusiasmo a M.C. Certo,

M. o Oleg está a usar uma roupa chamada ‘kosovorotka’, é uma roupa tradicional da

Rússia que os homens costumam usar” disse eu. “Kosa…quê?” Perguntou o F.P. com um

ar admirado, no meio de uma gargalhada, tendo os colegas seguido o seu exemplo e

começado a rir, olhando uns para os outros com satisfação. Eu também dei uma

gargalhada, dizendo de seguida: F. essas caras que fazes são muito engraçadas…é

kosovorotka, vejam aqui nesta imagem - mostrei uma imagem onde se viam 3 homens

vestidos com o traje - onde estão vestidos de verdade com esta roupa. Pois, é diferente

da nossa - disse o M.N. - mas a pele dele é igual continuou.

Ariana essa palavra é difícil, sabes alguma fácil?” Questionou o G. Eu não sei

falar russo… mas já aprendi 3 palavras: ‘Paka’ que quer dizer adeus, ‘priviet’ quer dizer

olá e ‘spasiba’ que quer dizer obrigada, respondi. Fogo, sabes bué coisas em russo, quem

te ensinou? Questionou o T.C. Respondi sorrindo: Foi a mãe de uma menina chamada

M., que foi da minha sala, ainda vocês não tinham nascido…mas na próxima semana,

vem cá à escola uma pessoa que eu conheço, que nasceu na Rússia e fala muito bem

russo. Vem contar-nos a história do nabo em russo e depois, podem perguntar-lhe o que

querem saber. A sério? Vou perguntar-lhe como se diz nabo disse o M.N. Boa, pensem

nisso! E também tenho uma pergunta, vão pedir ajuda aos pais, não vou mandar recados,

vocês tem que se lembrar e depois pergunto. Tem que perguntar lá em casa, 2 países da

Europa, mas não podem ser Portugal, nem Rússia, esses já conhecemos. Pode ser, não

se esquecem? Olhem que é muito importante! Afirmei. Sim, Ariana! Ouviram-se em coro

algumas vozes.

Entretanto, a M.V. disse: Não te esqueças das coisas que a minha mãe mandou,

eu disse a ela que ia ouvir uma história da Rússia e ela já esteve lá. Mandou revistas e

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Anexo 6 - Notas de campo

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bonecas de lá. Posso ir buscar? Abanei a cabeça afirmativamente, enquanto ela se dirigia

à mesa verde que fazia parte do cantinho da cultura e trouxe dois guias de viagem da

Rússia e matrioskas. Muita satisfeita, entregou-me os objetos e comecei por explicar o

que eram os guias de viagem, e a mostrar as imagens que continham, lendo as legendas.

Mas a curiosidade recaia nas bonecas (como eram chamadas). Expliquei então que se

chamavam matrioskas e eram um brinquedo típico da Rússia, que continha várias bonecas

que se iam encaixando umas nas outras. Passei as bonecas pelas crianças, para que estas

pudessem observar e sugiram questões. Podemos brincar e encaixar as matrioskas? A

minha avó tem lá em casa, vou dizer a ela que são da Rússia, não sei se ela já foi lá.

Respondi: sim, claro que podem, podem até fazer sequências, do maior para o mais

pequeno e do mais pequeno para o maior. E como são tantos, podem fazer em grupos,

uns podem ir brincar para as áreas e depois vão trocando. Que dizem? O grupo aceitou

a sugestão. Viram-se várias brincadeiras matemáticas a surgir, tendo as crianças retirado

bonecas e alterando o número da sequência.

NC.4

Palavras-chave: Familiarização com outros reportórios linguísticos; Aquisição e

mobilização de vocabulário novo.

Data: 3 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

As 24 crianças já se encontravam sentadas no tapete conversando umas com as

outras, enquanto eu conversava com a Vera, sobre o início das atividades

extracurriculares. Puxei uma cadeira cinzenta e sentei-me em frente ao grupo, comecei

por dizer-lhes: Lembram-se de eu ter dito que íamos ter uma visita da Rússia? A resposta

foi um sim entusiasmado por parte do grupo, resposta que se ouviu com intensidade pela

sala, enquanto se viam alguns sorrisos. Então tenho umas coisas para vos pedir: quero

que se portem muito bem e mostrem que já são crescidos e bem comportados. Vão ouvir

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Anexo 6 - Notas de campo

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a história até ao fim sem interromper e depois no fim perguntam o que quiserem, mas já

sabem… Temos que levantar o dedo, disse a M.J. e Esperar pela nossa vez para falar

recordou o F.

Nesse momento ouviu-se bater à porta da sala e notou-se alguma agitação nas

crianças, nomeadamente a nível de movimentos e risos. A porta abriu-se e todos puderam

ver uma mulher loura, de olhos azuis, com uma t-shirt e sabrinas brancas e umas calças

de ganga. Posso? Ouvimos perguntar com um sotaque acentuado. Olá! Sim claro entra,

estávamos à tua espera, disse eu. Levantei-me e fui ao seu encontro, cumprimentando-a

com um beijo na cara. Abriu um sorriso e disse-me: Será que estou preparada? Até estive

a estudar a história, já passaram muitos anos, não me queria esquecer de nada. Não te

preocupes, vai correr bem, o público é excelente e motivado, vão gostar de certeza! Muito

obrigada por teres vindo! Apressei-me a dizer. É um prazer, não tens que agradecer,

vamos lá! Disse a convidada. Puxou uma cadeira e ambas no sentámos lado a lado em

frente ao grupo. Comecei por dizer: Meninos tenho aqui uma pessoa que está muito

curiosa em vos conhecer…mas vou deixar que ela se apresente disse com um sorriso.

‘Priviet. Isto quer dizer olá. O meu nome é Jevgenija, mas podem chamar-me de Eugénia.

Sabem o que vim cá fazer? Questionou. Vieste contar-nos a história do nabo, mas em

russo, pois é? Perguntou uma criança. É isso mesmo! Então vamos começar…sabem, eu

nasci na Rússia e esta história é muito conhecida lá, é contada às crianças, assim do

vosso tamanho e já a contei ao meu filho também. É um bocadinho diferente do que está

escrito aqui no livro, por isso não o vou usar, vou contar-vos a história me contavam

quando era pequena…então…Era uma vez, uma avó e um avó, que viviam com a sua

neta... Todos estavam bastante atentos e fixados na figura da Eugénia, pouco a pouco e

durante cerca de 10 minutos, ela contou a história, primeiro em português e depois

traduzindo para russo.

No final algumas crianças deram gargalhadas e bateram palmas, sendo notório o

seu entusiasmo. Ouviu-se em uníssono vitória, vitória, acabou-se a história. Com

pozinhos de perlim-pim-pim a história chegou ao fim! Que giros - disse a Eugénia

sorridente. Gostaram? Continuou. Sim! Ouviu-se novamente. “ Aprenderam muitas

palavras russas? Questionei a rir. Não percebi nada, mas o que dizias era engraçado

disse a M.V. continuando: Eu gostei quando tu falavas russo, aprendeste lá na Rússia,

não foi? A Eugénia respondeu: Sim, quando aprendi a falar, era russo que falavam na

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Anexo 6 - Notas de campo

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minha casa, então eu aprendi, parece difícil, mas é muito fácil, acredita. Olha como se

diz casa? Questionou a menina. Casa é ‘dom’, respondeu. E nabo? Continuou o M.N

Repka, disse a Eugénia. ‘Repka’! Gritou com entusiasmo o M.N. ‘Repka ‘começou-se a

ouvir pela sala. Já sabemos falar um bocadinho só de russo, disse a M.C. Estou a ver que

sim…” disse eu, com um sorriso. Podíamos escrever numa folha nabo, que é repka.

Podemos Ariana? Questionou o M.N. Sim claro, a Eugénia, vai escrever aqui numa

folha, para sabermos como se escreve a palavra em russo, afirmei.

Levantei-me e tirei uma folha da 1ª gaveta verde de um móvel branco constituído

por 5 gavetas e peguei num lápis que estava num copo castanho e comprido em cima do

mesmo móvel. Dei a folha à Eugénia que começou a escrever, dizendo: Agora vou

escrever aqui e vou mostrar-vos para vocês saberem quais são as letras. Sabem vou

escrever com as letras portuguesas, porque o alfabeto russo é diferente do português e

depois vocês não conhecem… disse à medida que escrevia na folha branca. Mostrou a

folha onde se viam algumas letras pequenas. Aqui diz ‘dom’, com as letras d,o, m, que

quer dizer…Casa! Responderam algumas crianças. Boa, muito bem, são uns

espertalhões. E aqui? Afirmou. Apontou com o dedo indicador direito para a palavra “

Diz repka escrito com as letras r,e,p,k e depois a” disse. Essa quer dizer nabo disse bem

alto o M.N. Exatamente! Disse a Eugénia com um sorriso. Estes meninos são muito,

espertalhões, aprendem rápido, eu disse-te que eram motivados, afirmei. É verdade, isso

é muito bom, respondeu. Eugénia, lá na Rússia há pessoas de várias cores? Com cores

da pele, com cores todas diferentes? Perguntou a M.J. Que pergunta engraçada…sim,

há. Na Rússia há muitos russos, mas também há pessoas que vão para lá e que nasceram

em outros países, alguns são muito longe, outros são perto, disse a Eugénia. E há

senhores castanhos e castanho mais escuro? Demos ambas uma gargalhada e trocámos

olhares cúmplices, “Sim, há alguns, claro. Mais alguém quer fazer alguma pergunta?

Questionou. Viram-se algumas cabeças a acenar negativamente. Ok, então está na altura

de dizermos ‘paka’ à Eugénia”, afirmei. Ela sorriu e questionou: sabem o que quer dizer

‘paka’? A M.V. apressou-se a responder: A Ariana ensinou-nos. É adeus. Boa! Afirmou

a Eugénia sorridente. Digam à Eugénia, o que vamos fazer a seguir, disse. Vamos plantar

nabos gigantes e cenouras disse o T.C. Sim, a Ariana trouxe hoje, para nós plantarmos

disse a M.C. A Eugénia despediu-se das crianças e eu disse-lhe: Obrigada mais uma vez,

foste uma grande ajuda!” Dirigiu-se a mim e deu-me mais um beijo e dizendo “paka”,

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Anexo 6 - Notas de campo

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com uma resposta bem alta de “paka” por parte do grupo. Dirigiu-se à porta e acenou em

despedida ao grupo.

Gostaram? - Perguntei - Sim, eu gostei, gostei bué! Enquanto outras crianças

abanavam a cabeça afirmativamente. Quem é o chefe hoje? Perguntei. Sou eu! Disse o G.

Então vai buscar a caixa dos chapéus, cada um tira o seu e vem ter lá fora. Vamos plantar

os legumes da nossa história, afirmei. Todos se sentaram em redor da caixa, gerando

alguma confusão na procura dos chapéus, enquanto eu abria a porta para o exterior e para

a nossa pequena horta.

Já no exterior, antes de iniciarmos o diálogo, algumas crianças realçaram a

existência de ‘coisas iguais’ em Portugal e na Rússia, realçando que as pessoas são

parecidas e até tem a mesma comida (os legumes), mas a língua é diferente. Surgiu então

uma conversa espontânea acerca de semelhanças e diferenças entre ambos os países,

tendo a educadora questionado as crianças se conheciam outros países da Europa?

Surgiram várias respostas, tendo sido referido pela C., que já tinha ido à Roménia, porque

a sua mãe era de lá e que lá falavam outra língua que não era russo - o romeno.

A atividade iniciou-se, sendo que as crianças escolherem um dos legumes - o nabo

ou a cenoura - e digeriram-se ao canteiro onde com o polegar faziam um furo na terra,

colocavam lá o legume e tapavam o buraco, cedendo a vez ao colega seguinte. No final o

chefe do dia, regou a horta e foi combinada a manutenção diária da horta com o grupo.

Nota: Após seis meses os legumes foram colhidos da horta e enviados para casa,

tendo as famílias o papel de elemento de ligação, utilizando os legumes numa receita e

partilhando as fotos, para observação em grupo.

NC.5

Palavras-chave: Diversidade linguística; Aquisição e mobilização de vocabulário novo;

Data: 4 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h

Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente/área dos jogos

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Anexo 6 - Notas de campo

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Esta tarefa resultou num trabalho de projeto, orientado pelo interesse demonstrado

pelo grupo na NC anterior.

As 24 crianças encontravam-se sentadas quer nas três mesas que constituem a área

de trabalho, quer nas duas mesas em forma de meia-lua, que formavam um círculo, para

que todas pudessem realizar a tarefa proposta. Eu disse-lhes: Tomem atenção. Vou

explicar o que vamos fazer. Lembram-se que ontem o M. perguntou se podíamos escrever

nabo em russo? Sim, ouviu-se em coro. Continuei: Então eu fiz esta folha para poderem

fazer um trabalho, para mostrarem a todos que já sabem falar russo… - disse a rir - Então

o T.C. que é o chefe hoje, vai buscar o copo com os nomes e das tesouras para a mesa

dele e o M.N. que teve a ideia vai buscar a caixa das colas e os lápis de carvão. E depois

uma mesa vai trocando com a outra, os nomes, as tesouras…ok? Ok, Ariana,

responderam, ouvindo-se algumas vozes, enquanto outras acenavam afirmativamente

com a cabeça. As crianças foram buscar os materiais que pousaram no centro das mesas

e depois, eu disse: Então, depois de porem o nome na folha, vão copiar esta palavra que

eu escrevi aqui no quadro, estão a ver? Diz nabo. E vão colocar uma letra dentro de cada

quadrado roxo. Depois eu já vou dar a cada um, uma tira igual a esta que tenho na mão

com estas letras, mas tomem atenção, estão fora da ordem. Para escreverem repka, tem

que olhar para esta palavra que está aqui - apontei para o quadro - e tem que recortar as

letras uma a uma, colocam em cima da vossa folha e depois colocam por ordem, uma

dentro de cada quadrado e colam. Quem tiver dúvidas, chama e eu vou lá, ok? A M.J.

disse de imediato: Ok, podemos começar? Perguntou a M.J. Sim, podem, respondi. Todos

começaram a pegar nos materiais e iniciaram a tarefa.

Algum tempo depois começaram-se a ouvir conversa sobre a atividade, entre elas

um pequeno grupo de quatro crianças, que executavam a tarefa perto uns dos outros. Não

é assim, não podes pôr assim as letras, senão não estás a escrever em russo tem que ser

como está ali no quadro, a Ariana é que disse disse a M.S. Sim, repka é que fica certo,

assim está tudo mal, disse o F.P. Estamos a escrever em português e depois a seguir em

russo disse o T.S. Tem que ser, senão as outras pessoas que não falam russo, não sabiam

o que diz aí” disse a M.J. “Pois e os pais também não”, afirmou o G.

Todos continuaram a realizar o seu trabalho e à medida que terminavam,

chamavam-me para eu ver se estava correto. Após entregarem o trabalho, cada criança ia

brincar na área da sala à sua escolha.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.6

Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;

Consciencialização da importância das várias línguas;

Data: 17 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h35

Local: Sala do computador

Durante uma das sessões de exploração da história russa, a C. referiu que a sua

mãe tinha nascido na Roménia e que esse também era um país da Europa, onde se falava

outra língua, o romeno. Demonstrou também interesse em que a mãe viesse à sala, para

contar uma história em romeno e explicou que que já tinha ido a Bucareste (capital do

país). No tapete da sala do computador, o grupo estava sentado juntamente com a

educadora e depois do interesse demonstrado anteriormente pela C, questionei: O que

acham do que disse a C. gostavam que a mãe dela viesse contar-vos uma história em

romeno? A M.C. e o F.M acenaram rapidamente que sim, enquanto várias crianças davam

respostas positivas e conversavam entre si. Sabes Ariana, podíamos descobrir coisas da

Roménia, como fizemos na Rússia, disse o F.P. Ouvi e perguntei: Porque achas uma boa

ideia? O F.P. respondeu prontamente, afirmando: A C. gostava que a mãe dela viesse cá

e ela podia ensinar-nos coisas, como a Eugénia. A M.C. questionou: Palavras romenas?

Sendo que a resposta veio da M.V: Pois, e mais coisas de lá, como é a bandeira, a comida

deles… Eu gostava de saber mais coisas de outros sítios. Os meus pais trabalham nos

aviões e vão para muitos países, vou perguntar se eles foram à Roménia. Sorri e disse:

Que grande ideia, aliás vocês tiveram várias boas ideias. A C. disse de imediato: Eu

posso perguntar coisas à minha mãe e vou pedir a ela coisas da Roménia para eu trazer.

Obrigada C. - disse eu - Então e como decidimos o que fazer? A C.B sugeriu votar e eu

questionei-a sobre o que íamos votar. Respondeu-me rapidamente dizendo: Se podemos

ir para a Roménia. O M.C. perguntou vamos para a Roménia, Ariana? Eu quero ir. Dei

uma gargalhada e disse “Vamos sim, vamos viajar, mas na nossa imaginação, não me

digas que querias ir de verdade? Ouviram-se gargalhadas e além do M.C. várias crianças

responderam afirmativamente.

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Anexo 6 - Notas de campo

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A votação decorreu e 20 crianças votaram na viagem à Roménia, as restantes

votaram negativamente e referiram que queriam ‘visitar’ outros países, nomeadamente:

Itália, França e Espanha. Assim, comecei a pesquisar as sugestões das crianças, sendo que

à medida que os tópicos iam sendo pesquisados, dialogávamos acerca das imagens

observadas e das conceções das crianças. Em certa altura, as crianças pediram para

pesquisar palavras em russo, pois a C. dizia não se recordar de nenhuma, ao ouvirmos uns

desenhos animados trazidos para romeno, que pesquisei no Youtube, o T.C. interrompeu

e disse alto: A língua da Roménia é parecida com a da Rússia, pois é? A nossa língua

não tem nada a ver… Ouviu-se de seguida: Olha T. e as roupas deles - referindo-se às

imagens de roupas típicas que observámos - tem muitas cores, são engraçadas. As da

Rússia também eram compridas, mas eram vermelhas. São um pouco diferentes, acho

eu…Expliquei: Em todo o mundo as pessoas tem a sua cultura e tem tradições diferentes,

como os trajes típicos, alguns são mais parecidos, outros são bastante diferentes, mas os

nossos também são fora do normal: vejam aqui, vou mostrar-vos o traje do Minho e da

Madeira, como exemplos. Pesquisei imagens e ouviram-se sons de surpresa e

gargalhadas, pois: os fatos são engraçados. O D. disse: Afinal, até são todos um bocado

parecidas. O T.C. referiu um pouco surpreso Pois são, se calhar devíamos saber mais

coisas dos países todos, para ver se são parecidos com Rússia ou Portugal. Eu disse:

mais uma boa ideia! Destas imagens - mostrando imagens reais retiradas da internet, onde

se via artesanato, trajes típicos, monumentos e paisagens romenas – gostavam de

trabalhar o quê? A C. disse de imediato, apontando para o monitor do computador: Os

ovos tenho daqueles lá em casa. O F.M. disse entusiasmado: Pode trazer para nós vermos

lá na sala? Para o cantinho das culturas? A C. assentiu. Logo de seguida o M.N. referiu:

Eu acho que temos que fazer o castelo do Drácula, porque isso é assustador. Ouviram-

se gargalhadas e o V. respondeu Não é nada, quem se assusta são os bebés. Podemos

fazer Ariana? Respondi afirmativamente e pedi para identificarem mais pontos de

interesse, mas estabeleceu-se que iriamos focar estes dois traços da cultura romena.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.7

Palavras-chave: Reconhecer outras culturas e suas tradições;

Data: 18 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Após a exploração do dia anterior, a C. e o T. trouxeram nessa para a escola ovos

pintados da Roménia. A mãe do T. ao entregá-lo disse-me: Estão a falar da Roménia

certo? É que ele só conta que vai ao castelo do Drácula e que a Ariana mostrou as

fotografias e olhe...quando viu isto lá em casa - entregou-me os ovos - gritou são os ovos

da Roménia mãe, os pintados, temos que levar para a Ariana e os amigos verem. Tenho

isso lá em casa há imenso tempo, trouxe-me a minha sogra da Roménia há uns aninhos

bons, nunca lhes liguei, mas agora o meu filho só quer saber dos ovos e desenhar os

ovos... Dei uma gargalhada e disse: O seu filho é intenso em tudo...até nas aprendizagens.

Nem acredito na sorte que tenho, dois meninos a trazerem ovos pintados...E no dia que

vou lançar uma atividade sobre os ovos pintados...vão servir de inspiração. Além de que

ver os objetos fisicamente é muito mais motivador e interessante. Obrigada! A mãe sorriu

e disse: sempre às ordens! Tenho imensas coisas da África lá em casa. Sei que vai

trabalhar o continente africano, por isso vou mandar-lhe fotos de tudo, depois escolha o

que achar que é interessante para eles. Abri um sorriso e disse: Muito obrigada, mande

sim!

Despedi-me da mãe e sentei-me no tapete com o grupo, que já estava a aguardar

para iniciarmos a manhã cantando o bom dia. Cantámos a canção, escolhemos o chefe, á

medida que iam chegando mais crianças e tomando os seus lugares na roda.

Quando a grande maioria do grupo já se encontrava na sala, comecei: Lembram-

se de ontem termos conversado sobre os ovos pintados? Então hoje vamos fazer uma

atividade sobre eles. Vamos criar os nossos ovos pintados! Tenho aqui vários padrões e

vão poder escolher o vosso preferido e tenho aqui as imagens que pesquisámos ontem de

ovos verdadeiros para se poderem inspirar mas... O T. interrompeu, dizendo alto: Eu

tenho ovos pintados da Roménia. Eu disse-lhe calmamente: Tem calma. Já vais mostrar

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Anexo 6 - Notas de campo

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aos amigos a tua surpresa, e a C. também. Vão lá buscar o que trouxeram e sentem-se

aqui ao meu lado. Ambos se dirigiram à mesa onde tinham deixado os seus objetos e

regressaram com um sorriso de satisfação, sentando-se ao meu lado. A C. tinha 2 ovos

com fundo preto, decorados com flores e o T. tinha uma bolsa onde estavam 5 ovos, todos

eles com padrões diferentes, florais e geométricos.

Ora bem - iniciei a conversa - então contem lá o que trazem aí. A C. começou:

Trouxe estes ovos romenos que a minha mãe tinha lá em casa, ela diz que é tradição, que

as pessoas fazem e oferecem umas às outras e que o meu avô tem muitos lá em casa dele.

O T. disse entusiasmado: Eu também tenho ovos pintados, foi a minha avó que deu.

Querem ver amigos? O grupo disse que sim e eu avancei: Então a C. passa os ovos dela

para o lado direito e o T. para o lado esquerdo, para todos poderem ver, ok? Tenham

cuidado a manusear os ovos, são obras de arte, são pintados à mão. Os ovos passaram

por todos, enquanto a C. e o T. observavam os amigos atentamente.

Quando todos tinham terminado lancei o mote para a atividade: Então agora em

pequenos grupos, vão pintar os ovos, para que possamos ter ovos romenos, mas pintados

em Portugal. Já pensaram se um dia chegassem à Roménia e vissem os vossos ovos à

venda numa loja? Ouviram-se gargalhadas. Sim - continuei - porque estes desenhos agora

estão brancos, mas depois de terminamos, se forem copiados para um ovo de madeira

como os que viram, transforma-se em artesanato a sério. Todos estão com um ar

admirado, mas apenas alguns questionaram: Podemos ir pintar os ovos? Assenti que sim

e disse: Tem os materiais de pintura na mesa e também tem os vários padrões para os

ovos, escolham o vosso preferido e pintem à vontade. Quem quer começar? Após

escolhermos um pequeno grupo de crianças, estas dirigiram-se à mesa e iniciaram a

atividade, enquanto os restantes se distribuíram pelas áreas da sala.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.8

Palavras-chave: Familiarização com outros reportórios linguísticos; Aquisição e

mobilização de vocabulário novo; Gastronomia típica europeia;

Data: 19 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h30

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Estávamos já todos sentados no tapete a conversar, quando ouvimos bater à

porta e vimos pela pequena janela, a Alexandra, mãe da C. que vinha contar-nos uma

história. Convidei-a a entrar e a sentar-se junto a nós. Quando se sentou, cumprimentou

as crianças dizendo ‘Alo, Buna dimineata!’, sabem o que isto quer dizer? Ouviram-se

algumas respostas negativas e também algumas cabeças a dizer que não. Quer dizer: Olá,

bom dia! Disse a Alexandra. Vocês já sabem que eu sou a mãe da C. e também acho que

sabem que nasci na Roménia. E hoje venho contar-vos uma história que vocês conhecem

e que também é popular na Roménia...o Capuchinho Vermelho ou em romeno ‘Scufita

Rosie’ (mostrou a capa do livro). Sabem este livro está em romeno. Posso contar-vos esta

história? A resposta foi um efusivo: Sim! Olhou para mim e acenou com a cabeça,

dizendo em seguida: Vamos então começar. Durante alguns minutos contou a história por

pequenos trechos, contando primeiro em português e depois lendo do livro a versão em

romeno.

Quando terminou a história perguntou se todos tinham entendido e a resposta foi

novamente positiva. Mas começaram a surgir perguntas, que se relacionavam com a

história ‘O nabo gigante’. A primeira a questionar foi a C.B.: Olha a capuchinho levava

comida para a avozinha na cesta…podia ser sopinha, feita com os legumes da horta como

na história do nabo…O T.C. referiu logo de seguida: pois podia! Mas o M.N. voltou a

mostrar o seu interesse dizendo: sabes dizer os nomes dos legumes em romeno? A

Alexandra disse: diz-me os nomes e depois eu traduzo, quais queres saber? A criança

referiu os que queria e a narradora disse: Então: nabo é ‘ridiche’, cenoura é ‘morcov’,

feijão verde é muito parecido, ouçam lá, ‘fasole verde’ e batata como C.? Tu sabes esta!

Ouviu-se a voz tímida da C. a dizer: ‘cardof’. O processo deu-se sempre da mesma forma,

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Anexo 6 - Notas de campo

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a Alexandra dizia as palavras e as crianças repetiam logo de seguida. Acham que já sabem

dizer? O F.P. surpreendeu-nos dizendo: Ariana, nabo é ‘repka’ e ‘ridiche’, é a mesma

palavra, noutras línguas. Já aprendi as três. O M.N. disse rindo: Boa F. Olha aqui, eu

gosto de sopa de ‘morcov’. Olha podes escrever os nomes num papel, para depois nós

copiarmos? Eu expliquei: Sabes Alexandra, aprendemos a dizer algumas palavras em

russo e agora estamos a aprender algumas delas em romeno. E eles gostam muito de

escrever as palavras novas que aprendem. E como estes meninos são muito inteligentes,

quase que já podem falar contigo em romeno, disse numa gargalhada. A Alexandra riu

largamente e disse: Sim, são muito espertos, aprendem tudo! Mas assim, eu tive uma

ideia…se vocês gostaram de saber os legumes, conhecem algum alimento que leve

‘ridiche’, ‘morcov’, ‘fasole verde’e ‘cardof? O M.N. disse rapidamente: isso é fácil, é

sopa. Logo a L.C. disse: A sala também dá, acho eu. A Alexandra disse: A resposta é

sopa, está certo M.N., que em romeno se diz ‘Ciorba de legume’ ou sopa de legumes, que

é uma receita típica da Roménia que eu adoro. A L.P. Nós gostamos de sopa, comemos

todos os dias, se calhar podíamos provar a tua sopa. O T.C. responde de imediato: eu

gosto de todas as sopas L., quero provar a sopa da Roménia também. Podes fazer para

nós, mãe da C.? Demos ambas uma gargalhada e a Alexandra disse: Eu acho é que eu

dava-vos a receita e vocês faziam com a Ariana, o que acham? Nesse momento, as

crianças começaram a conversar entre elas e no final algumas perguntaram: Podemos

fazer Ariana? Respondi de imediato: Sim, claro, temos é que pedir a receita à Alexandra,

para sabermos quais são os legumes e podemos fazer já amanhã. O que acham? Todos

acenaram afirmativamente com a cabeça, mas o F.M. disse: Acho que vai ser difícil de

fazer essa sopa…A Alexandra respondeu: Vais ver que é muito fácil e é uma delícia,

aposto que vão gostar. Vou escrever aqui a receita e as palavras que me pediram e dou

à Ariana, ok? Algumas crianças responderam: Obrigada. E outras questionaram? Já

podemos ir brincar?

Enquanto as crianças brincavam a Alexandra explicou-me que esta receita tem

uma característica, o sabor acre, dado pela finalização, com sumo de limão. Explicou que

na Roménia é usado uma grande quantidade de sumo, para dar um sabor intenso à sopa.

Depois despediu-se e deixou a sala.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.9

Palavras-chave: Aquisição e mobilização de vocabulário novo; Gastronomia típica

europeia;

Data: 19 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h

Local: Refeitório

No dia seguinte, já com o espaço de refeitório pronto e os ingredientes/utensílios

necessários pré-preparados pela Vera, todos lavaram as mãos e se sentaram três a três nos

bancos corridos. As mesas retangulares coloridas encontravam-se dispostas para formar

um grande retângulo, onde todos pudessem ver bem.

Inicialmente li a receita que a Alexandra nos deu e depois um a um, estivemos

a identificar primeiro os objetos que íamos utilizar e depois os legumes, sendo que várias

crianças referiram algumas palavras que a Alexandra havia ensinado no dia anterior,

associando as palavras romenas às palavras em português. A M.J. a C.L e a M.C. diziam

rapidamente, isso é ‘cardof’, ‘morcov’, ‘ridiche’, ‘repka’…

Posteriormente foram dados às crianças, alguns legumes já descascados como

cenoura, batata e feijão verde e também pequenas facas que usam para as refeições do

almoço. Pouco a pouco, cada um cortou os seus legumes. No final juntámos todos na

panela e o F.P. disse: Mas agora tem que ir cozer, não é? Eu respondi: Sim, agora vamos

colocar a água e o sal e no final tem que ir para o fogão cozer, quando cozer colocamos

nos tupperwares que os pais mandaram, ok? A M.V. perguntou, entusiasmada: Vamos

levar para casa, para os pais provarem? Eles também tem que conhecer a comida de

outros países. Ao que eu respondi: Sim, claro. Se foram vocês que fizeram, acho justo

levarem para casa para partilhar com os pais, afinal eles também nos ajudam bastante.

Olhem a Vera agora vai pôr a sopa a cozer e quando estiver pronta, vamos lá espreitar,

porque agora vão ter aula de música.

Todos fizeram o comboio e se encaminharam para a sala onde a professora Cátia

já os aguardava. A Vera foi cozer a sopa e quando estava pronta distribui-a pelos

tupperwares, enviado previamente pelos pais, a meu pedido. Eu levei o grupo até à

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Anexo 6 - Notas de campo

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cozinha, onde estiveram a observar e a conversar sobre a sopa. Todos provaram uma

colherada e surgiram alguns comentários: Esta sopa parece-se com a de Portugal e não

é muito diferente da nossa, afinal as comidas da Roménia são parecidas com as nossas,

com algumas… No final de todos provarem expliquei que iria colocar sumo de limão em

todas as sopas, pois a Alexandra tinha explicado que era típico da receita romena. Viram-

se algumas caretas e ouviram-se comentários: Não gosto de limão, mas a minha mãe

gosta. No final eu a Vera tapámos os tupperwares e cada criança levou a sua caixa para

a sala, onde a colocou na mesa, para levar para casa posteriormente

NC.10

Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas;

Data: 20 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 18h10

Local: Corredor de acesso às salas

Já com o dia de trabalho terminado, dirigia-me à saída do colégio quando me

cruzei com a mãe do M.C. que se dirige a mim dizendo: Boa tarde. Ainda bem que a

encontro, queria falar consigo. Eu respondi: Boa tarde. Está tudo bem? Conte coisas. A

mãe começa novamente: Primeiro queria saber que receitas quer para o livro? É que

tenho imensos livros de culinária e já estive a olhar para vários, não sei que receitas

escolher. É uma ou são várias? Sorri, dizendo: Calma, basta uma receita, mas se quiser

participar com mais, não há problema. As receitas ficam ao vosso critério, pode ser

qualquer receita, apenas tem que me dizer o país de onde é típico, para eu me organizar

na compilação de todas. A mãe disse: Ok, obrigada. Tenho que ver isso rapidamente. Eu

respondi: Mas tem tempo, ainda estamos no início do ano letivo. A mãe afirmou: É que

o meu filho não se cala com a viagem à volta do mundo, diz que vai viajar para a Europa

e para Índia. Diz que a Ariana disse que vão viajar para a Índia e eu perguntei-lhe: posso

ir filho? Ele respondeu-me: acho que não mãe, a viagem é só para nós, para a Ariana e

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Anexo 6 - Notas de campo

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para a Vera, mas depois conto-te tudo. Eu ainda lhe perguntei: Mas filho, não vais ter

saudades minhas? Ele nem se atrapalhou, disse logo: Elas tomam conta de mim mãe.

Quando voltar dou-te muitos beijinhos. Sabes, nós temos que aprender coisas sobre

outros países, a Ariana diz que temos que saber como são as outras pessoas e conhecer

os seus países. Se eu conhecer um menino de outro sítio no parque da cidade, vou logo

dizer-lhe as coisas que gosto no país dele. Além disso, como fizeram a sopa romena, diz

que a C. já tem uma receita e ele não, que ele também quer muito ter a receita no livro

da escola. Admirada e orgulhosa referi: Que bom ouvir estas coisas, é isto que se

pretende, interesse e motivação, adorei! A mãe disse: Se fosse passar uma noite lá a casa,

logo via. Todos os dias o vou deitar e ele farta-se de me contar as aventuras das vossas

‘viagens’, parece que foram mesmo a qualquer lado. Conta-me o que aprendem nas

histórias, mas noutros papéis, como nas histórias que vocês contam. Não se sabe explicar

melhor. Eu abri um grande sorriso dizendo: Olhe estou super feliz de a ouvir, significa

que as atividades estão mesmo a resultar, não fazia ideia, ele aqui conta algumas coisas,

mas nada assim ao pormenor. Neste momento entre na escola o pai do T.R., que começa

a dirigir-se à sala. Parou ao pé de nós e cumprimentou: Boa tarde Ariana. Tudo bem P.?

Olhe tenho que lhe perguntou para onde vai levar o meu filho, porque ele só diz que vai

para a Itália e para a Hungria consigo. Lancei uma enorme gargalhada e disse: A nossa

viagem está a ter esses resultados. Lembra-se quando vim para este grupo e me dizia que

o seu filho era capaz de compreender conceitos abstratos, bem agora a capacidade de

imaginação dele está no máximo, temos evolução. Bem, mas a Itália deve ter sido porque

na votação para escolher a próxima viagem ele referiu que gostava de ir até à Itália, mas

a Roménia é que ganhou…A Hungria é mesmo porque lhe contei que na passagem de

ano vou visitar a Hungria e ele como sempre, não se esquece de nada. O Pai disse muito

rápido: não está a perceber, ele acha mesmo que vai consigo e melhor: que os amigos

vão também. Está mesmo a dar a volta ao miúdo, disse a rir. A mãe do M.C. respondeu:

Ó R., mas era isso que estava a dizer, a Ariana está a dar conta dos miúdos, eles pensam

que vão de viagem para todo o lado, olha o meu só fala na Índia e no que lá há, até

parece que viu alguma coisa. Eu falei: Olhem, só me dão boas notícias, adorei ouvir, os

meus meninos sempre a surpreender. Despedimo-nos, sendo que os pais se dirigiram à

sala para recolher as crianças, enquanto eu me dirigi à porta de saída da escola.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.11

Palavras-chave: Diversidade cultural; Consciencialização de outras culturas;

Consciencialização da importância das várias línguas;

Data: 24 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h15

Local: Sala do computador

As 22 crianças, já se encontravam sentadas no grande tapete rosa da sala do

computador. Iniciei então uma conversa sobre os locais que já ‘conhecemos’ nas

‘viagens’ pela Europa. A C.B. questionou-me: Qual é a nossa viagem a seguir? Sorri e

perguntei: Não sei, isso são vocês que decidem. Onde gostavam ‘de ir’? Várias crianças

começaram a falar ao mesmo tempo, tornando difícil de perceber o que estava a ser dito.

Disse alto: Calma! Um de cada vez. Todos vão ter oportunidade de dar a sua opinião. O

grupo acalmou-se e pedi que lançassem destinos de viagem. Surgiram algumas respostas

diferentes e, por isso, realizou-se uma votação para que cada um votasse no local que

achava mais importante e interessante de ‘visitar’. Anotei numa folha branca A4 quais os

países nomeados e que estavam em votação: (i) França; (ii) Hungria; (iii) Itália; (iv)

Espanha; (v) Suécia; (vi) Alemanha. Cada criança votou no país de eleição e o país

vencedor com 14 votos foi a Itália.

Após a votação, ouviu-se de imediato: temos que pesquisar coisas da Itália no

computador. Podes ver aí qual é a bandeira deles, a comida típica e os sítios que temos

que visitar, os… (pará para pensar) monumentos? O T.S. disse rapidamente: Não precisas

de procurar a língua, fala-se italiano na Itália. Eu respondi: Certo e a capital é Roma. Ora

vamos lá procurar uma imagem da bandeira para vocês verem - digo enquanto pesquiso

no Google - aqui está. Ouviam-se várias crianças a comentarem as cores da bandeira e a

conversarem sobre ela. Continuei: Alguém sabe palavras em italiano? Ninguém

respondeu, apenas assentiram com a cabeça ou encolheram os ombros

interrogativamente. Olhem eu sei algumas palavras, querem saber? Obrigado diz-se

‘gracie’. ´Gracie´ ouviu-se repetir por algumas vozes. Olá é ‘ciao’ e amigo é ‘amico’. A

palavra ‘pizza’ também é italiana e esse é um alimento típico de lá. Durante a conversa

eram visíveis pequenos focos de conversa, repetindo as palavras e comentando-as. O T.C.

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Anexo 6 - Notas de campo

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disse: Não sabia que a pizza era de Itália, eu adoro pizza. Respondi: Sim e as massas

também são pratos típicos de Itália. Vejam aqui. Pesquisei pratos típicos e apareceram

vários tipos de pizza, tendo algumas crianças identificando algumas como conhecidas. A

L.P. perguntou: qual é aquela comida Ariana? Apontando para o um doce que aparecia

do lado esquerdo do écran do computador. Respondi-lhe que era panacota, uma

sobremesa italiana, à qual duas crianças reagiram, pois já ‘conheciam do restaurante’. O

G. sugeriu: Podíamos fazer aquele doce? Mas que molho é aquele? Respondi: na receita

típica, a panacota leva frutos silvestres. O G. franziu o nariz em desagrado, questionando:

Pode ser sem o molho? A M.C. disse: Ou como outro molho? perguntei: Qual? Pode ser

de chocolate, disse rapidamente o M.C. sorrindo. Os restantes colegas concordaram e

ficou decidido, fazer esta alteração na receita.

A educadora continuou introduzindo outro tópico de conversa: Sabem, Itália tem

muitos pintores famosos, que pintaram quadros conhecidos. Os quadros fazem parte da

história e da cultura do país, pois as obras são muito importantes e deixam os italianos

muito orgulhosos da sua cultura. Vejam aqui - disse enquanto pesquisava imagens no

Google – e apareceram várias imagens – nas imagens surgiu surgiu Leonardo DaVinci e

várias imagens das suas obras, nomeadamente a ‘Mona Lisa’. Expliquei que era um

quadro bastante famoso, que tinha sido pintado há muito tempo atrás e que estava num

museu em França, chamado Louvre. Questionei as crianças se gostariam de recriar uma

obra deste pintor. A M.V. respondeu: eu quero, gosto de pintar e é importante

aprendermos coisas de outros países. Podemos votar no quadro. A M.J. disse: A minha

mãe disse isso e que existem muitas culturas para conhecer no mundo todo e que é

importante eu saber as palavras que aprendemos em línguas diferentes. Respondi: E a

tua mãe tem muita razão, ainda agora começámos a nossa viagem, mas temos muito para

descobrir e ainda mais para aprender. Após a conversa foi determinado em grupo que

iriamos recriar a ‘Mona Lisa’ e que cada um usaria as cores que preferisse na sua versão

da obra.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.12

Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas e suas tradições; Gastronomia

típica europeia;

Data: 26 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h

Local: Refeitório

Esta sessão decorreu no refeitório, onde as mesas e bancos estavam dispostos para

a atividade. Em cima das mesas estavam ainda os ingredientes, utensílios necessários à

receita. Assim, li a receita completa e depois as crianças estiveram a nomear tudo o que

estava na mesa para utilização. Devido ao facto que a receita necessitava de ir ao lume

durante a execução, executámos a atividade em frente às janelas de ligação à cozinha,

onde estava a Vera a quem eu passava a panela, sempre que necessitava de ser aquecida,

o que facilitava o processo.

Iniciada a atividade, todas as crianças provaram as natas frescas e posteriormente

aguardaram a sua vez e vieram despejar as natas frases, gelatina e açúcar. O último

ingrediente foi a baunilha em vagem, um ingrediente que suscitou muita curiosidade, pois

a L.C. constatou: Mas os gelados de baunilha são amarelos e essa baunilha é preta…A

M.V. disse então: Olha se calhar a baunilha era como os M&M’s que vimos na

experiência. Questionei: Como assim M.? Explica-nos o que queres dizer. A menina

continuou: a baunilha não parece de uma cor, mas é, mas ela também muda de cor. É

como na experiência, as pessoas que são de uma cor, mas depois lá dentro são todas

iguais. A educadora disse: É uma explicação possível, mas não é bem assim. A parte preta

da baunilha é onde está ‘guardado’ o sabor e estas sementes pretas, são usadas para retirar

o sabor da baunilha e esse sabor -o aroma - é colocado em alimentos que comemos, como

o gelado ou os iogurtes, e o mesmo acontece com outros alimentos, como as frutas, por

exemplo.

Quando terminámos de fazer o doce, colocámos a taça em cima da bancada de

ligação á cozinha, todos se levantaram e fizeram o comboio. Saímos do refeitório e

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Anexo 6 - Notas de campo

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andámos pelo corredor, até ao corredor de acesso da cozinha. Aí a Vera estava a aguardar

com o doce que guardámos no frigorífico, com a ajuda da chefe do dia.

Na hora de almoço todas as crianças foram servidas em pequenas taças brancas

pela Vera e a pedido delas reguei a sobremesa com topping de chocolate. Nessa altura o

V. perguntou: Vamos levar a panacota para os pais, como fizemos com a sopa da

Roménia? Eu respondi: Olha V., esta sobremesa não é boa ideia, porque é parecida com

gelado e derretia, tem que estar no frigorífico e podia derreter se o mandássemos para

casa. O menino respondeu: Ok, Ariana.

Ao terminarem o segundo prato, todos comeram a sobremesa e pelos sorrisos

parece que foi uma ideia bem-sucedida, apenas a M.J. disse que não gostava.

NC.13

Palavras-chave: Consciencialização de outras culturas e suas tradições;

Data: 26 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 16h45

Local: Entrada da sala dos 4 anos

A avó do M.N. veio buscá-lo nessa tarde. Eu estava a fazer um puzzle com duas

crianças na área dos jogos, mas levantei-me e fui até à porta para a cumprimentar. Boa

tarde. Como está? Respondi: Tudo bem avó. E consigo? A avó respondeu prontamente:

está tudo bem, obrigada. Olhe tenho que lhe contar uma coisa, ontem o meu neto

surpreendeu-me imenso. Estávamos em minha casa e costumo mostra-lhe livros de todos

os tipos, tanto a ele, como à irmã. Estava a folhear um livro sobre as grandes invenções

da humanidade e de repente ele diz-me: olha avó, isso é a máquina voadora do Leonardo

DaVinci. Sabes avó ele é italiano e fazia muitas pinturas famosas, como a Mona Lisa. As

pessoas gostam muito das pinturas deles e os italianos ficam orgulhosos disso, é uma

pessoa muito importante para a história deles. Até a irmã ficou admirada com ele, ela

não sabia nada daquilo. Perguntei-lhe quem lhe ensinou e ele disse que foi a Ariana,

quando ‘fizeram’ a viagem até Itália. Achei uma delícia a forma de ele contar e via-se

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Anexo 6 - Notas de campo

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que estava interessado no que estava a explicar. Respondi sorridente: O seu neto é tão

eloquente, sabe explicar tudo ao pormenor. Ele aqui está sempre a fazer isso, faz resumos

do que lhe digo, e tem uma capacidade de memorização excecional, veja lá que ele

memorizou as palavras em russo e romeno e consegue reproduzi-las facilmente e no

contexto correto. Itália é o país onde ‘estamos’ agora, daí ele estar tão bem informado,

disse piscando o olho direito. A avó sorriu e disse: Olhe, parabéns pelo projeto, ele anda

super motivado, quem o viu e quem o vê. A avó despediu-se de mim, assim como o M. e

voltei ao jogo com as crianças.

NC.14

Palavras-chave: Reconhecer outras culturas e suas tradições; Familiarização com outros

reportórios linguísticos;

Data: 31 de outubro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 17h15

Local: Entrada da sala dos 4 anos

A mãe da C. veio buscá-la à sala e dirigi-me à porta para a entregar. Boa tarde,

disse eu. Olá Ariana, tudo bem consigo? Eu respondi: Está tudo bem, obrigada. A mãe

recomeçou dizendo: Olhe ando para falar consigo há um tempo, mas não a tenho

apanhado. Tenho que lhe agradecer. Fiquei admirada e questionei: Agradecer o quê? A

mãe continuou: Agradecer o trabalho que está a fazer com a C. Já tinha estado com a

M.R. e eu adorei, mas este toca o meu coração. Quando vi o seu placar sobre a Roménia,

até fiquei com lágrimas nos olhos. Com o castelo e os ovos pintados, todos os pais a

verem e a comentarem...Nunca tinha visto ninguém daqui dar interesse ao meu país e ver

que está a trabalhar isto com os meninos deixa-me tão feliz. Olhar para ali e ver coisas

do meu país, enviar coisas do meu país para mostrar na sala e ver que todos estavam tão

interessados na ‘Ciorba’...e é tudo obra da Ariana e por isso muito obrigada. Reagi um

pouco emocionada: Até me deixou um pouco sem palavras...sabe que a ideia de

explorarmos a Roménia foi da C., ela é que sugeriu, porque você é romena. A mãe

recomeçou: Sabe ela só faz isso aqui, consigo, tem muito interesse na Roménia agora que

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Anexo 6 - Notas de campo

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a Ariana puxa por eles nesse sentido. Em casa ela não quer aprender nada, nem quer

saber nada, não quer falar, diz sempre que está cansada. Ver e ouvir a minha filha a

falar do meu país com tanto entusiasmo, perguntar-me sobre o meu país, como se dizem

certas palavras querer trazer coisas lá de casa, é mesmo por causa da escola e da Ariana.

E por isso agradeço. Foi um prazer vir cá e contar a história e eles estavam tão

caladinhos a ouvir...nem quis acreditar. Muito obrigada! (disse sorridente e deu-me um

abraço). Respondi: Se soubesse como fico feliz por me dizer isso, primeiro ver o seu

reconhecimento vale tudo e depois sentir que a C. e o resto do grupo estão

interessados...é isso que me deixa ainda mais feliz. O meu projeto é para isso mesmo,

motivar as crianças a terem interesse no outro, na sua cultura, criar pontes para a

empatia através da educação intercultural...obrigada pelas suas palavras. A mãe

colocou a mão direita no meu braço esquerdo e disse: Continue o seu trabalho, é o melhor

que pode fazer por estes meninos. Sorriu e chamou a filha que se encontrava na entrada

da sala a conversar com uma colega da sala.

NC.15

Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização dos traços

distintivos de diferentes culturas; Familiarização com diferentes tribos africanas, seus

hábitos e tradições;

Data: 7 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h00

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Mais uma vez na área do tapete com todas as crianças sentadas em roda, sentei-

me junto ao grupo e disse-lhes: Hoje tenho uma coisa muito especial para ouvirem! O

F.M. interrogou-me de imediato: É o que Ariana? Disse com ar expectante. Eu pisquei-

lhe o olho e disse: Já vais ver, agora ponham o cabelo atrás das orelhas, fechem a boquinha

com a chave e guardem no bolso - disse fazendo os gestos -porque para descobrirem tem

que tomar muita atenção... Inclinei-me para trás, esticando o braço direito para chegar à

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Anexo 6 - Notas de campo

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mesa em meia-lua branca em forma de meia-lua que estava atrás de mim. O meu pequeno

computador portátil azul, encontrava-se já aberto em cima da mesa, com o programa de

leitor de músicas em stand by ligado por um fio preto, fino e comprido a uma enorme

coluna preta. Naveguei com o rato e cliquei calmamente no play, começando a ouvir-se

uma música muito dinâmica.

O grupo começou a reagir quase de imediato. Todas as crianças sorriam umas para

as outras e agitavam o corpo de diferentes formas ao som da música, com uma batida

intensa. Eu sorria a observá-los. Quando a música terminou, perguntei: Gostaram? Já

tinham ouvido algo parecido? A M.J. disse entusiasticamente: Eu adorei, era divertida,

eu nunca ouvi esta música. O T.C. retaliou: Era mexida, que música é? Não conheço

Ariana. Eu perguntei: Alguém conhece? De onde é a música, de onde é ela, do mesmo

continente que a maraca e o tambor, um lugar onde se canta e se dança com fervor?

Ouviram-se gargalhadas seguidas por muitos não sei, acompanhadas com movimentos

negativos de cabeça. Esta música é africana - disse eu - vem do continente africano, este

aqui - apontei para o globo que tinha ao meu colo - é de um país chamado Libéria, não

sei se algum de vocês conhece? Os movimentos negativos com a cabeça voltaram a

repetir-se. Continuei: Eu estava a ouvir a música e a pensar quais seriam os instrumentos

que conseguia ouvir a tocar? As respostas foram múltiplas: Eu acho que ouvi tambores

disse o F.P. Houve várias crianças a concordarem com a afirmação respondendo: Eu

também ouvi. Outras respostas surgiram de imediato: Muitas maracas, Ariana - uma

resposta que reuniu também vários apoiantes - e ainda: Acho que também ouvi reco-recos

disse a L.P. isoladamente. Dando continuidade ao diálogo, disse: Muito bem, vocês tem

bom ouvido para música, eu também acho que são maracas e tambores, mas Laura -

disse piscando o olho - também deste uma boa sugestão, obrigada. Vou fazer-vos mais

duas perguntas: Alguém sabe o que está a ser dito na música? Conhecem esta língua?

As respostas recaíram em: É uma língua estrangeira, isso eu sei, mencionou a C.B. Inglês

não é. Russo ou romeno? O F.M apoia: Pode ser Carolina. Resposta apoiada por mais 5

crianças. Nem pensem – respondeu rapidamente o S. Não são nada parecidas. O R.

avançou: Também acho que não, acho que nunca não vai ser parecido com aquilo que a

Eugénia e a Alexandra diziam. A M.J.disse perspicazmente: A Ariana disse que era de

África, por isso não são essas línguas, deve ser uma nova, que nós ainda não sabemos

qual. A M.V. disse: Pois é, M. Quando as opiniões pareceram parar disse: Já vamos

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Anexo 6 - Notas de campo

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perceber qual será a resposta certa, primeiro tenho uma história para vos contar.

Chama-se ´A surpresa de Handa´. Vou começar... Todos se colocaram em posições

confortáveis e iniciei a narração da história.

Após terminar a história, expliquei ao grupo que os grupos retratados na história

eram tribos, oriundas do Quénia, localizando o país no globo e nos dois mapas-mundo

expostos na sala. Depois questionei: O que vêm nas imagens e que é diferente do que vêm

normalmente? O F.M. disse decidido: Na história das tribos, há muitas coisas diferentes

de Portugal... esses meninos são diferentes de nós. Questionei o grupo em que residia a

diferença e foi referido a nível geral: Vivem em aldeias no meio do campo, não há nada

à volta; as casas são de palha e não tem porta; vestem vestidos com muitas cores, panos

atados aos ombros e à cintura, lenços atados na cabeça; os meninos andam com pouca

roupa na África; há pessoas que andam sempre descalças; há muita gente a trabalhar

no campo e a apanhar coisas no campo; são todos castanhos e usam penteados com

tranças pequeninas; usam cestos e baldes para levar a comida deles para casa; os

animais andam à solta na rua – as galinhas. No final o V. referiu: Mas olha, nós vemos

pessoas castanhas em muitos lados, ela são da África, das tribos? Eu respondi: Algumas

podem ser, podem ter nascido em África em outros países, mas depois vieram para cá

viver, outras nasceram cá em Portugal. A M.V. disse de seguida: Pois, a minha mãe já

tinha dito isso, que as pessoas podem ser de outras cores, mas podem ter nascido no

nosso país. Mas como os pais delas também são assim, elas saíram a eles, como eu saio

à minha mãe, porque nós somos parecidas. Respondi: Sim, M. é isso mesmo, somos todos

diferentes, cada um está relacionado com a sua família, somos parecidos com os nossos

pais ou avós. Mas é importante sermos todos diferentes, se fossemos todos iguais era

complicado, não tinha interesse nenhum. A diversidade, que quer dizer sermos todos

diferentes, ajuda-nos a conhecer coisas novas: novas pessoas, novas línguas, novas

comidas, novas tradições. Assim temos sempre muito para descobrir e muito para

aprender com os outros. A M.V. disse: Pois e aprender coisas novas é importante. Coisas

novas sobre os outros. A minha mãe também disse isso. Eu sorri e disse: Claro que sim,

nós aprendemos sobre os outros e eles também aprendem sobre nós, e assim ficamos

cheios de conhecimentos, super inteligentes e com muito para contar. O T. questionou-

me: Mas nós também comemos frutas da história, pois comemos? O ananás ou a laranja.

Eu respondi: Sim, mas as frutas que comemos vem do nosso e de outros países, pois os

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Anexo 6 - Notas de campo

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países tem climas diferentes, há alguns que tem mais calor - são os climas tropicais - e

faz com que certas frutas cresçam melhor. E também há frutas de Portugal para comer

noutros países? Interrogou o T.C. Respondi: Sim, a banana da Madeira, o ananás dos

Açores, a pêra-rocha da zona oeste de Portugal ou a laranja do Algarve. Cada fruta é

cultivada onde o clima for melhor e depois mandamos para outros países, tal como ele

mandam para nós. Pois, - disse a M.J.- e nós comemos todas. De repente a C.B. levantou

uma dúvida: Essa tribo existe de verdade ou é só na história? Eu respondi: Existe mesmo,

esta autora escreveu a história, baseada nas tribos Luo que existem em África. Ó Ariana

– referiu a mesma criança – Podemos ver fotografias de verdade deles no computador?

O F.P. disse: Boa C. podemos ir ver? Respondi alegre: Claro que sim, façam o comboio

do lado de fora da sala e vamos já.

Após todos se sentarem no grande tapete rosa da sala do computador, sentei-me

na cadeira, de lado para o grupo e pesquisei imagens de tribos africanas na internet.

Surgiram no monitor imagens legendadas que mostravam várias tribos (Masai, Zulu,

Himba...) e as crianças disseram: Mas esses são outros, não são iguais à Handa; Sim,

olha o cabelo daquele – riam -; São todos parecidos, mas não iguais, aquele ali tem

tantos colares bonitos; São todos de África? Respondi à pergunta: Sim, estas são todas

tribos africanas, mas África é grande e existem muitas tribos e todos tem as suas

características, aquelas que vocês estavam a dizer, a roupa, o cabelo, os ornamentos que

são os fios, pulseiras. Vejam aqui - abri o Youtube e pesquisei breves filmes de diferentes

tribos africanas que as crianças estiveram a observar com atenção.

Ó Ariana – questionou o F.P. – mas aqueles cabelos são mesmo engraçados, como

é que eles ficam assim? Parece que tem uma coisa à volta... A M.J. disse: Parece lama

ou um tubinho castanho. A C.B. disse entre gargalhadas: E as meninas andam com as

maminhas de fora - começaram a ouvir-se várias gargalhadas pela sala. Eu respondi: Esta

tribo chama-se Himba, diz aqui que são da Namíbia, que também fica no continente

africano. Elas andam assim porque é tradição deles, como para nós é andar vestido. E o

cabelo tem tranças e depois colocam barro á volta, por isso fica com aquele aspeto e os

homens usam uma trança em pé. É assim devido ao clima de África, para se protegerem

do vento e do sol. A M.J. questionou de imediato: E aqueles colares, também são - parou

para pensar - tradição? O que é isso? Respondi: Uma tradição é um hábito que se vai

transmitindo de umas pessoas para outras. Os colares são usados da mesma forma que

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Anexo 6 - Notas de campo

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nós, ou seja, para se embelezarem. Mas as cores dos colares tem vários significados

diferentes, cada cor quer dizer qualquer coisa. A M.J. disse de imediato: Como a comida.

A mãe da C. faz ´ciorba´ que é sopa da Roménia e a minha avó faz ´chapati´ que é um

pão. É isso. Respondi alegre: Sim, é isso mesmo, a comida também é uma tradição. A

M.V. disse: Olha e as pulseiras e colares delas é como a minha pulseira e da Marta, são

azuis que queria dizer que somos amigas. Respondi: Sim, é isso mesmo, afinal temos

algumas coisas em comum com as tribos africanas - disse rindo. Mas existem muitas

outras curiosidades sobre as tribos, coisas que não podemos ver nas imagens, temos que

descobrir e pesquisar na internet ou em livros. O V. questionou: E vamos aprender essas

coisas? O M.C. apoiou: Sim, eu gostava de saber coisas das tribos. Depois contava aos

meus primos e eles não sabem. Sorri e disse: Claro que vamos, aprendemos o que

quiserem e acreditem há muito para descobrir. O T.R. disse: podemos ouvir a música

africana? Respondi: Claro, quando chegarmos à sala ponho outra vez a tocar. Façam o

comboio e vamos para a nossa sala.

NC.16

Palavras-chave: Diversidade cultural; Familiarização com diferentes tribos africanas,

seus hábitos e tradições;

Data: 7 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h35

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

De volta à sala, pedi para que as crianças voltassem a sentar-se no tapete para

conversarem. Referi que algumas crianças queriam ouvir a música novamente e que a iria

colocar a tocar, enquanto estivessem em brincadeira livre pela sala. Iniciei então a

explicação de uma nova proposta que se focava na arte africana. Mostrei um quadro de

arte típica africana que o trouxe de Cabo Verde, explicando que tinha sido pintada por

um senegalês Mostrei ainda algumas imagens reais, previamente impressas, de quadros

de arte típica africana. Dirigi-me então às crianças: Já conheciam alguns quadros

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Anexo 6 - Notas de campo

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pintados por pintores europeus, como o Leonardo DaVinci que nasceu em que país?

Ouviu-se um coro: Na Itália. Respondi: Muito bem, então agora estivemos a ver quadros

típicos de arte africana. O que há de comum em todos eles, alguém sabe? Começaram a

ouvir-se várias respostas desordenadas pela sala e várias crianças a falarem em

simultâneo. Intervim e pedi para se acalmarem e para aguardarem a sua vez. Dirigi-me

ao T.S. que estava com o dedo no ar, apontei para ele e começou a falar: Acho que são os

corpos dos bonecos. O T.C. referiu: Pois, tem todos as mesmas formas e as mesmas cores.

Vermelho e laranja e mais umas cores. O S. Disse: Tem uns desenhos bonitos, pois é

Ariana? Respondi: Sim, muito bonitos. Tem cores muito fortes. Acham que gostavam de

fazer uma pintura destas? O R. perguntou: Achas que conseguimos fazer isso? Respondi

prontamente: Tenho a certeza que sim vocês são muito talentosos e gostam de aprender,

isso vai ajudar-vos de certeza. Olhem vou colocar na mesa estas folhas coloridas –

mostrei uma capa de plástico transparente com folhas A4 de várias cores – tem que

escolher uma para ser a base da pintura e depois tem todos estes padrões – mostrei várias

folhas A4 com múltiplos padrões de origem africana já delineados – depois podem

completar a pintura com colagem ou pintura. Vou pendurar as imagens, para quem

precisar. Quem quer começar pode levantar o dedo. Um pequeno grupo de 8 crianças

dirigiu-se à área polivalente, onde estavam os materiais estavam já a aguardar.

Já durante a execução da atividade duas meninas conversavam e dirigiram-se a

mim, a M.S. referiu: Ariana, estas senhoras africanas estão a trabalhar e levam jarros e

cestos. Sim - referiu de imediato a M.C. – Levam nas mãos ou na cabeça e nós não temos

isso para fazer o trabalho. Podes arranjar? Ficava bem para o trabalho ficar igual ao

quadro, porque as senhoras da pintura estão a trabalhar. Parei para pensar alguns

momentos e referi: Isso foi bem observado e uma excelente sugestão meninas. Olhem vou

até à sala de arrumos, onde estão guardados os materiais da escola, acho que esta lá um

tecido – referia-me a um pedaço de sarapilheira – que ficava bem no vosso trabalho. Volto

já. Dirigi-me à sala de arrumos e regressei rapidamente com a sarapilheira na mão. Voltei

a sentar-me na área de trabalho e rapidamente fiz dois moldes num pedaço de cartolina

verde clara, um em forma de jarro e outra em forma de cesto. Passei rapidamente o

desenho para o tecido com a ajuda do molde, cortei com ajuda da Vera e disse ao grupo

que se encontrava sentado a trabalhar: Tem aqui cestos e jarros, se quiserem usar no

vosso trabalho, foi uma grande ideia da M. e da M.C., disse piscando-lhes o olho.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Entretanto, a música inicial continuava a tocar ciclicamente na sala e enquanto

arrumava alguns materiais num armário grande da sala, ouvi um diálogo entre 4 crianças

que brincavam na área dos jogos, acerca dos instrumentos musicais, ouvidos na música

(tal como tinha sido conversado inicialmente), e questionei-as: Então contem lá,

gostavam de fazer o quê? O F.P olhou para mim com o seu olhar envergonhado e o seu

sorriso tímido e disse: Não te vi - sorriu para os colegas - estávamos a falar dos

instrumentos da música, das maracas. Eu e a M.J. gostávamos de fazer uma maraca para

tocar músicas como aquela, mas não sabemos como se faz. Eu respondi: Ok, vou pensar

numa ideia para fazermos isso e depois falo com vocês, pode ser. Vocês também tem que

pensar e pedir ajuda aos pais, porque não sabemos como são as maracas africanas, tem

que procurar fotografias. Acham que conseguem? Olhem que estou a contar com a vossa

ajuda, afinal a ideia é vossa! O grupo de crianças respondeu afirmativamente.

NC.17

Palavras-chave: Consciencialização dos traços distintivos de diferentes culturas;

Data: 9 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h05

Local: Entrada da sala dos 4 anos

Ao chegar à sala, pelas 9h, cumprimentei a Vera que se encontrava à entrada da

sala a conversar com pais da sala ao lado. Entrei e coloquei alguns objetos pessoais sobre

a mesa, quando esta se dirigiu a mim: Toma, tens aqui as imagens que pediste das

maracas, pus os nomes, estas são do M.J. e estas são da C. Os pais deixaram ontem

quando os vieram buscar. Olhei para ela surpresa e ela questionou-me: Não pediste as

imagens? Quando os pais as entregaram disseram que as miúdas disseram que a Ariana

mandou procurar imagens de maracas africanas para um trabalho e que tinham que

trazer rápido. Admirei-me porque não me disseste nada, nem li isso em nenhum recado

mas... Dei uma gargalhada e respondi: Foi na tua hora de almoço, na 2ªfeira, o F, a M.J,

a M.V. e a C. estavam a conversar sobre... - relatei a situação - nem mandei recados nem

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Anexo 6 - Notas de campo

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nada, pois estávamos a terminar o trabalho e ainda nem falei com o grupo, mas realmente

disse-lhes que a ideia era deles e que tinham que pedir ajuda aos pais. Adoro! A Vera

sorriu e disse: Logo vi! Estes miúdos estão tão diferentes do que eram no ano passado.

Interessados e responsáveis, estão tão crescidos! Sorri ao ouvi-la. Dirigi-me ao tapete,

onde alguns dos elementos do grupo já me aguardavam para iniciar a roda.

Já no final da roda, as crianças dirigiram-se às áreas da sala para brincadeira livre

e continuaram a chegar alguns elementos do grupo. Inicialmente chegou a mãe do F.P e

dirigi-me à porta para o receber, enquanto a Vera organizava os trabalhos feitos na sessão

anterior para serem expostos no placar exterior da sala. Disse: Olá, bom dia, como estão?

O F.P. sorriu timidamente e deu-me um beijinho. Entrou para a sala e a mãe disse-me:

Aqui tem as imagens que pediu, mas não vi o recado a pedir, desculpe. Olhe o rapaz

passou a noite ontem super aflito porque ainda não tinha pesquisado as fotografias e a

ideia também tinha sido dele. Diz que tem que falar com a Ariana e com os colegas para

decidirem o que vão fazer sobre as maracas. Sorri e disse: Estou a ter um dia cheio de

surpresas. Parei a conversa, pois neste momento chega à sala a M.V. acompanhada da

mãe. Cumprimentámo-nos e a M.V. deu-me um beijo e um abraço, dizendo-me ao ouvido

com uma voz calma e feliz: Já tenho as fotografias Ariana. Sorri e disse: Boa, M. –

continuei – Bom dia, mãe da M. A mãe sorriu, parou de falar com a mãe do F. e disse:

Olá, como está Ariana? Olhe...Tem sido uma alvoroço lá em casa, parece que a Ariana

está sempre por lá. Eu perguntei: Então? A mãe continuou: Olhe porque a Ariana e ela

e os amigos, ela contou quais são, o F., a M.C. e a C. tem uma tarefa, vão fazer maracas

e a Ariana mandou pesquisar e temos que pesquisar e a Ariana é que sabe muitas coisas

de outras culturas que são importantes de aprender e olhe sei lá, reina lá em casa! A

Mãe do F. interpelou e disse: Olha o meu não me conta nada, mas ontem só falava da

música e das maracas e das fotografias. E eu só perguntava: Filho que fotografias?

Estava agora a contar à Ariana. Eu explico disse eu bem disposta: Depois de estarmos a

conversar sobre a África, dei pelos quatro a conversarem sobre uma música da Libéria

que introduziu o continente para exploração. Disseram-me que queriam construir uma

maraca e eu disse que ia pensar em qualquer coisa, mas que precisava da ajuda deles e

de fotografias de maracas africanas, que tinham que pedir ajuda aos pais. E sem eu dizer

mais nada...tenho aqui várias fotografias africanas. Orgulho destes meninos! A mãe do

F. respondeu: Ok, já percebi. A da M.V. afirmou: A minha filha decora tudo o que a

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Anexo 6 - Notas de campo

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Ariana diz, fala como a Ariana e quer ser como a Ariana. Agora é só falar da África e

dos colares e da tradição. - Olhei admirada e ela continuou – Sim, explicou-me a mim e

ao pai ao jantar, é uma coisa que se transmite de umas pessoas para outras. Ela absorve

tudo o que você diz, farta-se de contar coisas e de perguntar se temos alguma coisa do

país que estiverem a trabalhar para trazer, pensa que por eu e o pai seremos comissários

que vamos a todos os países, disse rindo. Se eu não soubesse pelos seus recados e mails

do que estavam a falar, não precisava a minha filha põe-me a par do que se passa na

escola. Eu disse sensibilizada: Os vossos filhos são o máximo, é por isto que vale a pena

ensinar crianças, não há um dia que não nos faça sorrir. Agora tenho que ir, tenho um

projeto para colocar em andamento e a ‘culpa’ é dos vossos filhotes. Até logo, disse

sorrindo. Ambas se despediram de mim e dos filhos e saíram da escola a conversar.

NC.18

Palavras-chave: Compreensão da música como um fator de identidade cultural; Músicas

tradicionais africanas;

Data: 9 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Como é hábito, eu e as crianças estávamos reunidos na área do tapete para

conversar. Pedi ao F. e aos 3 colegas, para se sentarem ao meu lado, para exporem a sua

ideia ao grupo. Durante a explicação, mostre as imagens pesquisadas pelas crianças com

os pais e referi que aquelas seriam as bases para o nosso trabalho. Todos concordaram na

elaboração de um projeto com as maracas. E foi nessa altura que comecei a questionar o

grupo acerca do que gostariam de descobrir e onde iriámos pesquisar a restante

informação, informações que registei numa tabela desenhada à mão, numa folha A4

branca.

A conversa incidiu depois nos materiais a utilizar para construção das maracas e

a M.C. disse: Podíamos pedir ajuda aos nossos pais também. Eu respondi: Ok, é

importante que todos participem e ajudem. Que tal materiais recicláveis, como

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Anexo 6 - Notas de campo

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tampinhas, rolos de papel higiénico e garrafas de água? Eu tenho no meu computador

algumas imagens de maracas feitas com esses materiais, vou buscar e mostro-vos. Dirigi-

me ao móvel da entrada, onde estava guardado o meu computador. Retirei-o da bolsa

colorida, liguei-o, inseri o disco externo e procurei as imagens que havia arquivado. Levei

o computador até á área do tapete, virei o computador para o grupo e mostrei: Olhem aqui

algumas imagens - enquanto ia passando de uma para outra, com o rato ótico. A M.C.

considerou: Pois, é como disseste. Podemos usar tampinhas de iogurte, garrafas, pauzinho

de gelados e isso? Respondi: Claro. Reúnam o que tiverem em casa, mas precisamos de

tempo...começamos na próxima semana? O F.P sorriu e disse: Pode ser. Eu disse: Vou

mandar recado para os pais começarem a guardar estes materiais e já sabem, vocês tem

que os ajudar e lembrar ok? O grupo respondeu com um entusiasmado: Sim! Sabem este

trabalho é muito importante - disse - a música e da dança são uma tradição muito

importante em África, faz parte de quem eles são. O S. questionou-me: É uma tradição?

Eu respondi sorridente: Sim, é. Faz parte da cultura africana. A M.J. interrogou-me: As

tradições são muito importantes para eles? Respondi: As tradições são muito importantes

em qualquer cultura e em qualquer país, por isso temos que respeitá-las e aprender com

elas. Eu vou aprender - respondeu entusiasticamente.

Recomecei com outro assunto: Agora antes de irem brincar vou explicar-vos o

trabalho de que tinha falado anteriormente. Vou chamar um de vocês de cada vez, cada

um deve escolher uma fotografia daqueles que eu vou mostrar, cada uma corresponde a

uma tribo diferente, daquelas que vimos no computador na 2ª feira. Depois vocês vão

olhar com muita atenção para a imagem e eu vou fazer perguntas acerca dela, vocês

respondem e eu anoto, ok? O M.C interrogou: É uma entrevista? Dei uma gargalhada e

disse: Sim, é isso mesmo, queres começar? Ele acedeu. As crianças foram brincar para as

áreas da sala, enquanto o M. me seguiu até área de trabalho, para iniciar a atividade.

De salientar que o registo foi baseado na publicação “Autobiography of

Intercultural Encounters for Young Learners” do Conselho da Europa (2009).

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.19

Palavras-chave: Compreensão da música/dança como um fator de identidade cultural;

Músicas/ danças tradicionais africanas; Apreensão e reprodução das canções aprendidas

em outras línguas;

Data: 10 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h30

Local: Refeitório

As crianças estavam sentadas em roda no refeitório (espaço polivalente), onde já

estava o computador portátil azul, ligado à coluna. Revelei que iriam ouvir canção da

Libérias, a mesma música que ouviram inicialmente, antes da história e que se chamava

“Funga Alafia”. As crianças estiverem atentas enquanto ouviam a canção e iam cantando

alguns fragmentos da canção que já haviam decorado, nomeadamente o refrão da música.

Expliquei então: Sabem, esta é uma canção/dança de boas vindas, que serve para os

africanos exprimirem agradecimento pelas visitas e amizade, através das palavras e dos

movimentos da dança que a acompanha. As palavras são cantadas num dialeto africano

com as palavras “funga alafia, ashe ashe, funga alafia, ashe ashe” que em português

querem dizer “em ti eu penso, contigo eu falo, de ti eu gosto, somos amigos”. Repitam

comigo! Cantei a música em africano várias vezes, sempre acompanhada pelo grupo,

seguindo-se a mesma sequência com a versão portuguesa da música.

Quando terminámos a M.M questionou: Há uma dança para esta música? Não

nos ensinaste. Respondi: Há. Não ensinei de propósito, para não vos influenciar nesta

atividade. Quero que sejam vocês a sugerirem movimentos, para criarmos uma dança. O

T.S. avançou de imediato, dizendo: Pois, a música faz parte da África e a dança também,

não é? A M.C. disse logo: Sim, já aprendemos que é uma tradição. O V. afirmou: Mas

nós não sabemos danças da África...como vamos fazer? Disse: Tenho uma ideia, vamos

chamar à nossa dança, a “dança da amizade”, para podermos mostrar às crianças da

Libéria, se um dia as formos visitar. Ouviu-se um ruidoso: Sim! E começaram as

sugestões, que todos iam experimentando enquanto eu ia registando tudo numa folha,

para posteriormente correspondendo os tempos da música aos movimentos sugeridos.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Após muita experimentação a dança ficou concluída e foi posta em prática no

mesmo local um dia depois, tendo sido gravada por mim, para depois ser partilhada com

os pais via eletrónica. Em grupo, combinámos que as crianças ficaram encarregadas de

explicar aos pais, porque criámos a dança, o significado da sua letra e para que ocasião

era utilizada. No final da conversa o T.R. referiu: Mas estás a esquecer-te de uma coisa.

Eu trouxe um djambé e uma máscara da África que está no cantinho da cultura. O V.

referiu: Eu também trouxe um djambé e a M.V. trouxe um tambor. Quando podemos

mostrar aos amigos e explicar o que é? Respondi: Não me esqueci, vamos usá-los na

atividade de amanhã, mas podem mostrar aos colegas quando chegarem á sala se

quiserem. Assentiram com a cabeça. A M.J. referiu: Os pais tem muitas coisas de outros

países, já viajaram para muitos sítios. Eu quando for grande também quero ir conhecer

outros países e ver as coisas que andamos a aprender, vou saber muitas coisas e vou

dizer às pessoas de lá o que aprendi sobre eles. Vou dizer à minha avó para irmos a Goa,

onde ela nasceu. Eu disse: M. viajarmos é uma forma de passear, mas também de

conhecer outras culturas, outras tradições, outros sabores e imensas coisas que não

conhecemos. É importante descobrir coisas que nos são desconhecidas. Acho que todos

deviam viajar quando foram grandes. A M.V. disse com ar sabichão: Tens razão, eu já

sabia isso. Sorri ao ouvi-la. Posteriormente, quando terminou a conversa o grupo reuniu-

se em comboio e voltou à sala de atividades, onde continuou a sua rotina.

NC.20

Palavras-chave: Diversidade cultural e linguística; Consciencialização dos traços

distintivos de diferentes culturas; Reprodução das canções aprendidas em outras línguas;

Data: 10 de novembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h50

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

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Anexo 6 - Notas de campo

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Nesta sessão o grupo teve a intervenção do professor de inglês que leciona no

jardim de infância e é nativo da África do Sul, onde morou até aos 15 anos. Assim,

convidei-o para vir explicar ao grupo, os hábitos e tradições deste país, comparando-os

com os hábitos dos portugueses. O Rui iniciou a sessão ao colar com bostik um pequeno

mapa-mundo no vidro da sala, questionando as crianças sobre quais os países que

conheciam e em que continente estes se situavam. As crianças identificaram

positivamente o continente europeu e o africano, assim como alguns países pertencentes

a ambos. O professor continuou o diálogo mostrando várias imagens das principais

cidades do país, estatuetas típicas tribais, nomeadamente uma estatueta da tribo conhecida

como ‘mulheres girafa’, tribo que descobrimos nas nossas pesquisas anteriores. O F.M.

referiu de imediato: Olha já conhecemos essas, são de uma tribo africana que usa muitos

colares. A M.V. referiu de imediato: Faz parte da tradição delas há muito, muito tempo.

O Rui referiu: Very good! Estou a ver que já aprenderam muitas coisas sobre África.

Posteriormente o Rui usou como elemento comparativo, a sua rotina no colégio,

quando tinha apenas 6 anos, mostrando algumas fotografias da sua infância. Explicou

sucintamente que usavam farda e tinham que aprender três línguas diferentes desde

pequenos: africânder – a 1ª língua usada no país, inglês – 2ª língua mais usada e uma

língua à escolha das famílias, que no caso dele foi alemão. No final contou: Agora vou

mostra-vos algumas fotografias de animais típicos do meu país. As pessoas gostam muito

de viajar até à África do Sul, para fazerem safaris e verem estes animais ao vivo. Vem

ver os ‘Big five’, que quer dizer os 5 animais mais esperados: o elefante, o leão, o

leopardo, o búfalo e o rinoceronte. – Passou imagens destes animais à medida que ia

falando.

No final propôs ensinar-lhes uma canção que cantava na escola, chamada ‘Jan

Pierewiet’, com letra em Afrikaans, uma das línguas que aprendia na escola. Cantou a

canção em pequenos trechos, pedido ao grupo para repetir. Á medida que ia cantando,

mostrando imagens que ilustravam as palavras, para facilitar o processo de repetição.

Posteriormente, traduziu a música para português, usando o mesmo método.

No final o V. questionou “Teacher, aprendeste mesmo essas línguas todas quando

eras do nosso tamanho? O Rui respondeu: Ya, que quer dizer sim em Afrikaans. É muito

importante aprendermos línguas diferentes sabem, para podermos comunicar com os

outros e para que eles nos entendam. Mas vocês também são capazes, então já sabem

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Anexo 6 - Notas de campo

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falar português e inglês. Á medida que forem crescendo podem aprender ir aprendendo

mais. Nesta altura, o Rui despediu-se do grupo e de mim deixou a sala, dizendo: Bye bye,

see you next week.

Posteriormente, sentei-me numa cadeira de frente para o grupo de 24 crianças e

iniciámos a exploração do projeto em parceria com os pais “ Conta-me um conto com…”.

Nesta história criada pelos pais do G., descobrimos a cultura de Angola, país que

escolheram explorar pois viveram lá alguns anos. O G. estava orgulhoso e contou: A

minha mãe fez esse trabalho durante muito tempo, explicou-me muitas coisas sobre

Angola. E eu também expliquei várias coisas das tribos africanas a ela, contei-lhe muitas

coisas e tradições. Até apontei onde ficava no globo, eu já sei Ariana. Eu disse: Boa,

estou orgulhosa de ti. A história preparada pelos pais era de natureza interativa, os pais

criaram um passaporte para a viagem e recorreram a objetos - estatuetas de tribos

esculpidas em madeira e em pedra da tribo Mumuilas - um filme breve sobre a tribo e

atividades de grafismos/recorte que retratavam um safari com os animais típicos de

Angola, tudo pré-preparado para implementar. Quando terminou a história/atividades, o

G. disse: A minha história também fala das tradições das tribos, fala dos colares e o

teacher também falou e vimos no computador. A M.S. disse: A tua história está muito

gira, tem muitas coisas giras para fazer. O G. respondeu: Sim, os meus pais gostam de

Angola e escolheram fazer a história com esse país e tiveram essas ideias. A M.S.

perguntou-me: Ariana podemos ficar com o livro da sala e ver as histórias? Eu respondi:

Claro que sim, e podem pedir ao G. para vos explicar tudo sobre Angola (pisquei-lhe o

olho). Um pequeno grupo ficou a observar o livro na área do tapete, conversando sobre

as histórias e o que retratavam, enquanto o restante grupo, se distribuiu pelas áreas da

sala.

NC.21

Palavras-chave: Familiarização com diferentes tribos africanas, seus hábitos e tradições;

Data: 12 de dezembro de 2016

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h30

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete/área de trabalho polivalente

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Anexo 6 - Notas de campo

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Iniciei esta sessão junto do grupo, que já me aguardava na área do tapete.

Questionei as crianças: Lembram-se das imagens das tribos que observámos

anteriormente – mostrando as imagens impressas e fazendo-as passar pelo grupo para que

pudessem observar – Alguém sabe o que é comum às essas tribos? Qual foi a

característica que inicialmente vos causou muita curiosidade? O R. respondeu

rapidamente: Eu sei, foram os fios, as pessoas das tribos usavam muitos fios coloridos.

O T.S. disse: Sim, os homens e as mulheres, olha aqui - apontando para uma das imagens

que estava a mostrar aos colegas - só que os colares querem dizer coisas diferentes. A

M.C. referiu: Sim, são as cores deles que querem dizer coisas diferentes. Olhem estas

imagens que vou passar - disse enquanto passava imagens de joalharia tribal africana

impressas. África foi o primeiro local no mundo inteiro, onde foi feita joalharia, pois

como faz parte da cultura e tradição das tribos, as mulheres da tribo sempre os

construíram. Quem quer adivinhar do que eram feitos os colares? O S. disse: Podia ser

com pedras pequeninas. Respondi sorridente: Certo! E mais? A M.V. disse: Acho que

com missangas, estou a ver aqui na fotografia - disse apontando e mostrando-me a folha

onde se via uma menina com um colar elaborado e colorido. Respondi: Certo! Mais

alguém? Ninguém respondei, portanto avancei e disse: as mulheres utilizam marfim,

osso, pedra, cascas de ovos, madeira e pelos de animal, para fabricar as joias e usavam-

nas em ocasiões muito especiais como fazemos agora, em casamentos por exemplo. Mas

como vos tinha dito as joias tem um grande simbolismo, que quer dizer que têm

significados diferentes, pois cada cor tem um significado diferente em cada tribo, por

exemplo: o branco quer dizer amor na tribo Zulu, mas na tribo Masai, quer dizer paz. E

mais os colares tem um significado cultural, por exemplo, servem para comunicação,

pois as mulheres casadas e solteiras usam tipos diferentes de joalharia, para que o seu

estado civil seja reconhecido por todos, sem ser necessário perguntar. A M.C. abriu os

olhos de admiração e disse: A sério que os colares fazem isso tudo? São mesmo especiais

nas tribos. A C.B. concordou dizendo: Tenho que contar à minha mãe, ela nasceu em

Moçambique, mas acho que não sabe isso. Vou perguntar se ela tem algum colar desses

para eu trazer. Respondi: Boa, pergunta e depois contas-nos. Eu queria perguntar-vos

se vocês gostavam de fazer um colar africano parecido com estes? O S. disse rápido: nós

não temos estas coisas e não sabemos fazer isto porque não somos da África. Continuei:

Mas não precisamos desses materiais, para isso é que serve a nossa imaginação! Vamos

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Anexo 6 - Notas de campo

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criar um colar africano a partir destes, mas com outros materiais. Basta este prato de

papel! O S. deu uma das suas típicas gargalhadas e franzindo os olhos perguntou: Como

se faz? Expliquei que cada um ia ter um prato que estava cortado pela Vera, e poderia

pintá-lo como preferisse, com vários materiais de pintura e depois podiam decorá-lo com

os materiais disponíveis que tínhamos na sala, como missangas. Quem quer iniciar a

atividade? – Perguntei. Vou pendurar aqui as imagens dos colares – disse afixando-os

no armário da sala para que quiser observar melhor e tirar ideias.

Após escolher 6 crianças as crianças dirigiram-se às mesas onde eu e a Vera

ficámos a ajudar quem precisava de ajuda.

NC.22

Palavras-chave: Compreensão da adoção como um vínculo afetivo; Racismo;

Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento de atitudes de empatia,

respeito e tolerância face ao outro;

Data: 5 de janeiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h10

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Na primeira sessão do ano, sentei-me junto às crianças na área do tapete, com uma

boneca escura e um livro de histórias na mão direita. Expliquei-lhes: Hoje, trago esta

boneca para conhecerem. Veio de uma ilha das Caraíbas, que fica na América do Norte.

Ainda não tem nome, vamos escolher um? O V. perguntou: Vamos votar? Eu respondi:

Sim, sugiram nomes. Questionei as crianças sobre os nomes que gostavam de dar à boneca

e após a escolha de alguns, houve uma votação em que ficou decidido que o nome desta

nova personagem era ‘Eva’.

Comecei novamente a falar: A Eva vai contar-vos uma história especial, que

trouxe consigo da sua ilha, situada no continente da América do Norte. A história é de

um amigo desta nova boneca, um menino que nasceu na mesma ilha que ela. Vai

começar... Após, contei a história, recorrendo à personagem Eva para a dinamizar e, no

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Anexo 6 - Notas de campo

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final, questionei se sabiam de onde vinha a Eva e a personagem principal da história, o

Mateus? As respostas recaíram em: uma ilha das Caraíbas, tal como nomeado na história.

Perguntei ainda se alguém saberia identificar onde se situava o continente da América do

Norte num dos mapas que tínhamos na nossa sala? Algumas crianças levantaram-se e

apontaram para o continente correto. Propus mais uma questão: tendo como base a

história que tinham acabado de ouvir, quem me sabe dizer algumas das características

da ilha e da cultura do Mateus e da Eva? As crianças recaíram nas caraterísticas

mencionadas na história, referindo tanto a fauna, como a flora da ilha, assim como nas

características culturais do povo da ilha. Continuei: Acham que o Mateus e a Eva são

parecidos, um com o outro? Afinal nasceram os dois no mesmo sítio. A C. e a L.P.

mencionaram: A cor da pele deles é ‘cor de canela ou de chocolate’ – tal como era

narrado na história; A pele deles é preta, foi o que os outros personagens disseram.

Posteriormente, pedi ao grupo que me recontasse a história à medida que eu ia

mostrando as imagens correspondentes a cada página. Durante esta atividade foi notório

que as crianças não compreenderam o que era uma adoção. Assim, expliquei: A mãe do

Mateus não podia ficar com ele, pois era muito pobre e para que ele pudesse crescer

feliz, ir à escola como vocês e aprender muitas coisas, ela resolveu entrega-lo à sua ‘mãe

branca’, para que ela o criasse e pudesse dar-lhe tudo o que ele precisava para crescer

feliz. É isto que é adotar. Mas sabem, a mãe dele só fez isto porque o amava muito e

apesar de ficar muito, muito triste por não poder ficar o seu bebé que tanto amava,

preferiu dar-lhe uma oportunidade de crescer num país diferente, com outra mãe, que o

quisesse e o amasse tanto como ela. A maioria das crianças tinha um olhar surpreso na

cara e o T.C. perguntou? A sério? Conheces algum menino da adoção? Sim – respondi –

E vocês também, o D. que é da sala da Lúcia é adotado. O S. parecia confuso e perguntou:

Mas ele é igual a nós – referindo-se à cor da pele - como é que pode ser? Expliquei: Já

vos expliquei que não há pessoas iguais, somos todos diferentes, mas percebi o que

querias dizer. Qualquer criança pode ser adotado, não interessa qual é o seu país ou a

sua cor de pele, basta haver uma família que a possa adotar. A M.J. simplificou a ideia

dizendo: Então a adoção é quando há duas mães, que gostam do mesmo menino, como o

Mateus, que tinha uma branca e uma negra. Eu respondi: É isso M. A menina adiantou

com certeza: Já percebi!

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Anexo 6 - Notas de campo

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Continuei o diálogo referindo: E o que acharam sobre aquilo que os colegas da

escola do Mateus lhe fizeram? Ele ficou triste com a situação… O R. disse: os meninos

chamaram-no de preto, isso quer dizer o quê? Eu respondi: O preto é apenas uma cor,

mas se dissermos a palavra de uma forma má ou negativa, as pessoas podem ficar

magoadas connosco. Foi isso que aconteceu ao Mateus. Estes comportamentos negativos

tem um nome, chamam-se racismo. Alguém sabe o que é? O M.N. disse: Eu já ouvi isso

na televisão, mas eu não sei o que é, se calhar a minha mana sabe. Então - recomecei –

o racismo é uma atitude muito feia e errada, como viram na história, quer dizer que não

gostamos de outra pessoa porque é diferente de nós. O M.N questionou: Diferente na

cor? Respondi: Não é só na cor, pode ser qualquer coisa. A cor, o país, as nossas

preferências, terem gostos diferentes, é não gostar do que não é igual a nós. Mas olha –

disse a M.M. com firmeza - Tu disseste na outra história da Handa que quando uma

coisa é diferente, ajuda-nos a conhecer coisas novas e aprendemos com elas. Os meninos

não sabiam isso? Sorri e disse: Infelizmente não. Há pessoas que não aprenderam isso

quando eram pequenos como vocês e ainda não perceberam o benefício de haver pessoas

diferentes umas das outras. O T.S. disse: Então eles nunca vão aprender coisas novas,

como nós. Eu respondi: Talvez não – disse triste. O M.N. continuou: Então racismo é não

gostar do diferente de nós. É isso não é? A M.C. retaliou de imediato: Acho que é isso,

não querer ser amigo de alguém diferente e isso está mal, temos que ser amigos de todos.

Eu disse: Ainda bem que vocês não são assim, são meninos aceitam toda a gente, que

não se importam com as diferenças e são amigos de todos, tenho orgulho de vocês. E

agora o que querem fazer? O T.R. perguntou: Podemos ir ao parque? Não está a chover.

Respondi afirmativamente e após todos vestirem os casacos, fomos para o parque brincar

e aproveitar a réstia de sol que havia no céu.

NC.23

Palavras-chave: Racismo; Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento

de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de

identidade e alteralidade;

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Anexo 6 - Notas de campo

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Data: 20 de janeiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h10

Local: Sala dos 4 anos, área de trabalho polivalente

Mais uma vez no sítio habitual para a reunião do grupo, todos nos reunimos e nos

sentamos em roda. Mostrei o livro “As cores de Mateus” ao grupo e disse-lhes que ia

voltar a ler um dos excertos da história, referente que focava o racismo de que a

personagem Mateus foi vítima, momento este que foi passado em contexto escolar.

Algumas crianças continuaram a demonstrar algumas dúvidas no conceito de racismo e

voltei a explicar: O racismo não algo é que se veja. A não ser que alguém faça alguma

coisa ou diga algo, é uma ação que alguém faz quando não gosta de alguém, apenas por

esse alguém ser diferente e neste caso foi por não gostarem da cor de pele do Mateus. A

partir daqui as crianças começaram a expor as suas conceções: Mas, não percebo porque

os meninos foram maus para ele, ele nem disse nada, porquê é que eles foram maus?

Disse a L.C. O T.C. afirmou: Não vês que é porque eles não gostam que ele seja preto e

depois não quiseram ser amigos dele. O M.N. declarou: Mas não podemos deixar isso

acontecer, temos que explicar aos outros meninos que não sabem que deixar de ser

amigos dos outros só por eles serem bege, castanhos ou preto. São só cores de pele, nós

já sabemos e eles não. O S. disse: É porque eles disseram preto para serem maus, não

foi a brincar. Isso não se faz, a professora deles devia pôr eles de castigo. O T.S. referiu:

E dizer aos pais deles, que o comportamento foi mau. Intervim, questionando: Vocês tem

toda a razão, acho que devíamos fazer isso mesmo, explicar aos outros meninos da nossa

escola, para que isso não aconteça aqui. A C.B. afirmou: Pois, porque não se deve lutar

com as pessoas, mesmo se formos de outra cor, os meninos tem que brincar todos juntos.

A M. J. disse: Ariana, não é verdade que ser diferente é bonito? Afirmei: Sim, concordo

contigo. Já vi que sabem muito sobre o assunto, mais do que eu esperava. Alguém tem

ideias para tentarmos contrariar estas ações negativas que deixam as pessoas tristes? O

F.P. disse: Podemos ensinar as cores de pele, que há pessoas com muitas cores noutros

países. O V. respondeu: E explicar às pessoas que não se chamam nomes às outras

pessoas. A L.P. finalizou: E ser amigos de todos, ajudar os outros, mesmo que não sejam

como nós somos.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Eu afirmei alegre: Estou a gostar muito de vos ouvir, parecem mesmo meninos

crescidos, cheios de opiniões e conhecimentos. Estou orgulhosa de vocês. Mas como

querem mostrar isso aos colegas das outras salas, alguém tem ideias? O T.C. adiantou-

se, falando alto: Podemos fazer pinturas com a cor preta, acho que vai ficar fixe. O R.

sugeriu: Desenhavas pessoas diferentes? O T.C. riu e disse: Podia ser. A M.C. deu a sua

opinião: Eu gostava de fazer canções, músicas e danças para os outros. O M.N. disse:

Eu queria um teatro com nós todos. Após ouvir todos, disse: E se fizéssemos isso tudo?

Fazíamos um teatro, com música e dança e apresentamos às outras salas. E podíamos

fazer um trabalho em que desenhávamos as pessoas com preto e colocamos no nosso

placar, para que todos possam ver. Ouviram-se comentários baixinho de entusiasmo e

breves gargalhadas. O F.P. Acho que é uma boa ideia, mas quem faz o teatro? A M.V.

disse: Acho que devia ser a Ariana, ela é grande e sabe fazer isso. Respondi: Ok, eu faço.

E depois voltamos a juntar-nos para escolherem as personagens. A C. afirmou: Sim. E

avisamos os outros colegas para verem o teatro. Eu avancei: Então está combinado.

Após a conversa, as crianças dispersaram pela sala em brincadeira livre nas várias

áreas de atividade.

NC.24

Palavras-chave: Familiarização com noções de identidade e alteralidade; Diversidade

cultural; Adoção; Identificação de atitudes discriminatórias;

Data: 25 de janeiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h00

Local: Sala do computador

O grupo já se encontrava reunido na sala do computador. A Vera estava sentada

junto com o grupo a cantar algumas canções sugeridas pelas crianças. Quando cheguei,

despedi-me da colega que ia almoçar e sentei-me no seu lugar com perninhas ‘à chinês’

junto às crianças. Após um breve momento de brincadeira com cócegas, questionei:

Vamos conversar um pouco? Algumas crianças assentiram e outras responderam

afirmativamente.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Levantei-me e sentei-me na cadeira branca, de lado para o computador preto, com

o monitor visível ao grupo e perguntei: Hoje vamos procurar imagens de famílias

adotivas, tal como a do Mateus. Sabem, existem vários tipos de famílias: mãe, pai e filhos,

como as vossas mas também existem outras famílias. Existem famílias multiculturais, ou

seja, os pais ou os filhos são de diferentes países e podem ter culturas diferentes. Há

também famílias monoparentais, que são famílias só com pai ou mãe e filhos. Percebem?

A M.V. afirmou: Eu percebo, há muitas famílias diferentes, com muitas culturas ou só

com um pai ou uma mãe. A M.C. disse com um ar triste: Coitadinhos dos meninos, devem

ter saudades do pai ou da mãe deles. O T.C. interrogou: Vais mostrar fotografias aí no

computador? Respondi: Sim, vou. Vamos lá. Á medida que eu mostrava as imagens, as

crianças nomeavam quais aquelas que preferiam e eu guardava as imagens. Um pequeno

foco de diálogo surgiu: A C. disse: Aquelas pessoas parecem mesmo que são de outros

países e os filhos também. A M.C. afirmou: Não sabes porquê? É porque são de adotivas,

famílias que ficaram com outros meninos que não podiam ficar com os pais deles. A

M.V. perguntou: Não viste aquela do pai com a menina? É porque não há uma mãe, a

Ariana disse. O S. disse triste: Eu ia ter saudades da minha mãe. Mas olha S – disse a

M.V. – o teu pai ia tratar de ti.

A L.P. interrompeu dizendo: E agora Ariana vamos fazer o quê? Respondi: Um

jogo. Vou mostrar todas as imagens que vocês escolheram e tem que me dizer se são

filhos biológicos, que quer dizer nasceram da barriga da mãe, ou se são filhos do coração

e são adotados. Pode ser? As crianças pareceram interiorizar bem o conceito, pois

identificaram corretamente a grande maioria das imagens, e no final a M.J. colocou uma

questão que me deixou bastante surpreendida: Olha, os meninos que tem pais ou mães de

outro país, também são como o Mateus? Perguntei: Como assim M. explica melhor, não

estou a perceber. Recomeçou: Sabes, se há racismo? Porque eles são os dois diferentes

um do outro e os filhos se calhar também vão ser? Fiquei tão surpresa com este raciocínio

que a minha expressão facial correspondeu a isso mesmo. Respondi: Vocês sabes, não há

nenhum mal em pessoas diferentes, ou seja, de países diferentes, namorarem, casarem e

terem filhos. Como não há problema se forem do mesmo país. Claro que há pessoas que

podem não gostar e não compreender e poderão ter atitudes de racismo. O que acham

disso? A M. respondeu rapidamente: É feio, as pessoas podem ser diferentes e isso é

bonito. Eu também sou de uma cor mais escura do que os outros meninos da sala e toda

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Anexo 6 - Notas de campo

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a gente é minha amiga. Toda a gente gosta de mim, pois é? Respondi emocionada: Claro

que sim, nós adoramos-te, tu és uma menina linda e muito especial. Meninos gostam da

M.? Ouviu-se um grande grito de Sim! Dirigi-me à Maria e abracei-a, os restantes colegas

fizeram o mesmo e o momento culminou num momento de riso e brincadeira.

NC.25

Palavras-chave: Diversidade cultural; Desenvolvimento de atitudes de empatia, respeito

e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de identidade e alteralidade;

Data: 2 de fevereiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete/área de trabalho polivalente

Dando continuidade ao interesse do grupo sobre o conceito de racismo, esta

semana foi desenvolvido um trabalho de projeto dedicado ao tema do racismo. Assim, a

semana iniciou-se com uma atividade expressa anteriormente por crianças do grupo.

Inicialmente reunimos todos no grande tapete verde e estivemos a conversar sobre

as atividades do trabalho de projeto. Nesta atividade sugeri ao grupo juntar duas das suas

ideias - pintura e desenho, dizendo: São duas atividades que referiram querer fazer, que

tal juntarmos ambas e fazermos arte a preto e branco. O T.C. questionou: Pintamos e

desenhamos, tudo junto? Respondi: Sim, é fácil, tive uma ideia para vos ajudar. Primeiro

podem fazer digitinta. De que cor será? A M.V. respondeu prontamente: É preta, como

o Mateus, nunca ninguém ia ter essa ideia Ariana. Digitinta é bué divertido, só nunca vi

preta. Ri com vontade. A L.C. disse: Mas e o desenho fazemos como, na tinta? O S. disse:

Mas só depois de secar. Recomecei: Ouçam fazem o desenho numa folha branca e depois

cortamos e quando a tinta secar, colámos lá em cima. Agora só tem que decidir as cores

do desenho e quem vão desenhar. Não devem querer todos desenhar o mesmo. A M.V.

respondeu: Pois, nós não somos imitadores, temos que ter ideias novas. Falei e disse:

Mas podem decidir na altura. E a cor? O F.P. disse: Então é preto também, porque depois

a folha é branca e o estamos a fazer um trabalho do Mateus. A C.B. respondeu: Sim, é

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Anexo 6 - Notas de campo

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um trabalho do racismo, usamos essa [cor]. Eu disse: Então vamos fazer a digitinta e

depois vão dois fazer a atividade de cada vez ok? Todos concordaram.

Após a digitinta estar feita, as crianças dirigiram-se às mesas em grupos de dois,

para explorarem a massa líquida. Quando terminavam faziam um desenho, sendo este

posteriormente decalcado com uma folha de papel de cavalinho, passando o desenho feito

na digitinta, para a folha. Ao terminarem essa fase do trabalho e ainda em grupos de dois,

deveriam desenhar personagens de as cores de Mateus, mas a escolha residiu na família

do Mateus, nomeadamente, o próprio e a mãe branca, mas com a utilização de lápis de

cor/marcadores pretos. Enquanto faziam o seu desenho, gerou-se uma conversa entre duas

crianças: A M.M. disse: A mãe do Mateus é branca, mas estou a pintar de preto, por

causa da história. O R. continuou: É porque o preto, foi a cor do racismo, os meninos

chamaram isso a ele. A M.M. parou um pouco para pensar e disse: Agora vamos fazer

um trabalho com preto, para os outros meninos verem que o racismo é feio. Fazemos

desenhos bonitos com esta cor, porque todas as cores são bonitas. O R. terminou dizendo:

Pois, porque ele não sabem como nós, não leram a história e depois não sabem que isso

[racismo] não se faz e nós vamos explicar a eles. O assunto derivou para outra temática

e as crianças continuaram a executar o seu trabalho enquanto conversavam.

NC.26

Palavras-chave: Racismo; Identificação de atitudes discriminatórias; Desenvolvimento

de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro; Familiarização com noções de

identidade e alteralidade;

Data: 6 de fevereiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h10

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

As 24 crianças estavam sentadas na área do tapete, juntamente comigo, com o

intuito de conversar acerca de uma das atividades de trabalho de projeto, relacionada com

a temática do racismo. Perguntei: Então fazemos o teatro para apresentar às outras

salas? Já tenho o guião que me pediram, tudo feito como combinámos! A M.V. curiosa

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Anexo 6 - Notas de campo

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como sempre questionou-me acerca do que era um guião e expliquei: É como se fosse

uma história. É um texto que temos que seguir para fazer um teatro ou um filme. Aqui

está escrita a história, que é parecida com a história das Cores de Mateus, mas com mais

personagens, para poderem entrar todos. Também inclui uma canção/dança africana

como tinham sugerido e a receita que a avó da M. enviou. Agora só tem que decidir quem

será o quê.

Li ao guião ao grupo e pedi sugestões, pelo que ainda sofreu algumas alterações,

de acordo com o que algumas crianças quiserem alterar e/ou incluir. De acordo com os

interesses de cada um, foram também escolhidos os papéis de cada criança na peça,

estando esta tarefa totalmente nas mãos do grupo, eu apenas registei o nome que

correspondia a cada personagem. O T.C. relembrou: Mas vamos ensaiar e depois mostrar

aos outros meninos da escola, não é? Nós sabemos muitas coisas da história do Mateus.

Interroguei: Sabem o quê? A M.J. afirmou: Muitas coisas do racismo e dos meninos que

são adotados e são filhos do coração. A L.C. disse: aprendemos que temos que ser

amigos de todos os meninos, não faz mal ser diferente, isso é bonito. O S. continuou a

ideia, relatando: Sim, ser diferente é importante, não podem ser todos iguais, pois é?

Respondi: Claro que não, se fossemos iguais e gostássemos todos do mesmo, não tinha

graça. Se gostássemos todos de amarelo, o que acontecia às outras cores? O T.S.

adiantou: Pois, é como o preto, é uma cor igual ao amarelo, ao azul, ao verde, ao cor de

laranja. A C.B. disse: Temos que explicar aos outros meninos, eles não sabem que tem

que ser amigos de toda a gente. O G. concordou: Sim, temos que dizer aos meninos do

racismo que isso é muito feio e não se faz a ninguém, a minha mãe já me disse isso muitas

vezes. A M.J. afirmou: Pois, é muito importante estas coisas e nós temos que ensinar as

pessoas que não sabem. Falei: Muito bem, estão muito responsáveis e crescidos. Vamos

ensaiar agora e à tarde apresentamos quando? O F.P. disse: Amanhã antes do lanche.

Perguntei: Já?! Então só dão três ensaios…Não acham pouco. A C.B. disse: É como na

dança, aprendemos rápido, foste tu que disseste, disse rindo. Sorri e disse: combinado!

Vocês é que sabem. Vamos para o refeitório ensaiar então, façam o comboio do lado de

fora da sala. em comboio todos se dirigiram ao refeitório, onde começámos a ensaiar.

Nota: No dia seguinte e após alguns ensaios, o teatro foi realizado para a sala duas

salas (sala de 3 anos e 2ª sala de 4 anos), com assistência de colegas e adultos. Eu e a

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Anexo 6 - Notas de campo

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Vera ajudámos as crianças nas entradas/saídas, colocação das músicas e tivemos a

importante função de ponto, divulgando as frases de que não se lembravam, que foram

algumas, devido aos breves ensaios.

NC.27

Palavras-chave: Diversidade cultural;

Data: 8 de fevereiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 11h

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Após reunir o grupo na área do tapete, resolvi propor uma experiência. Como todo

o grupo estava recetivo, expliquei que a atividade teria duas fases diferentes. Na 1ª fase

mostrei dois ovos ao grupo o que suscitou alguma curiosidade. Inicialmente passei os

ovos por todos, pedindo às crianças que tivessem cuidado, pois eram frágeis e pedi-lhes

que observassem ambos. Após todos terem observado os ovos, questionei quais eram as

diferenças entre ambos. Iniciou-se alguma agitação, várias crianças tentaram responder

ao mesmo tempo, e afirmei que cada um deveria aguardar a sua vez. A C. levantou o

dedo, apontei para ela e respondeu de imediato: Acho que é a cor, este – apontando para

um dos ovos – é um bocadinho castanho e aquele – apontando novamente para o ovo,

pousado no tapete à sua direita – é branco. A M.J. afirmou: Sim, é a cor, mas acho que a

aquele é meio castanho e meio bege – apontando também para o ovo em questão. Eu

falei: Têm razão – disse pegando nos dois ovos – este ovo que tenho na mão direita é um

ovo de galinha, e é bege acastanhado, tal como vocês disseram. O ovo que tenho nas

mãos esquerda e é branco é um ovo de pata. Daí não terem a mesma cor. Agora vejam,

vou partir um ovo para dentro de capa copo transparente, para podermos ver como são

por dentro. Parti ambos os ovos para dentro de dois copos, colocando a casca ao lado de

ambos, para os identificar. Avancei, permitindo às crianças observarem os ovos dentro

dos copos de forma individual. Pedi-lhes posteriormente que identificassem semelhanças

e/ou diferenças entre os ovos, com base na sua observação. As crianças nomearam como

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Anexo 6 - Notas de campo

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semelhanças. Ouvi-as até ao fim: São os dois ovos, pois é?; E tem casca, como os ovos

todos; Ó M. e todos os ovos também tem a parte branca e a amarela; O nome disso é

gema e clara, S.; E podemos comer os ovos, a minha mãe faz ovos cozidos e estrelados....e

de mais maneiras. Eu não gosto do amarelo; Pois, mas esses ficam cozinhados e estes

ovos ainda estão crus, pois é Ariana?; Eles tem os dois forma de ovo; Sim, são ovais.

Existiram várias opiniões coincidentes, fui registando numa tabela de dupla

entrada as semelhanças referidas e no fim questionei: E quais são as diferenças dos ovos?

O T.C. reagiu dizendo: Então, é a cor da casca, já dissemos. Eu disse: Isso é por fora. E

por dentro o que vêm? O grupo inteiro silenciou-se a observar os ovos e alguns segundos

depois começaram a ouvir-se pequenos sussurros entre as crianças. Voltei a questionar:

Então já sabem as diferenças? Ouviram-se alguns Não. O grupo acalmou-se e surgiram

duas opiniões. O F.P falou: Eu não tenho a certeza, mas acho que não há mais...mais

diferenças. A C.B. apoiou o ponto de vista argumentando: Eu também acho o mesmo que

o F., porque mais nenhum menino disse nada. O resto das coisas é igual. Respondi: Então

vou ler-vos o que me disseram, eu escrevi tudo aqui - disse mostrando a folha - e li as

conclusões de cada um, enquanto todos escutavam atentamente. Quando terminei a M.J.

respondeu rapidamente: Pois, já sabia, é mais igual do que diferente. Eu perguntei rindo:

Sabias? Ele deu uma pequena gargalhada, enquanto acenava afirmativamente com a

cabeça. Eu voltei a falar e disse: Então sabem o que aprendemos? A M.C. respondeu: É

a mesma coisa dos M&M’s não é? Nós lá por fora temos cores e aspeto diferente, mas

por dentro somos iguais. A M.V. disse: Pois é igual, mas esta teve ovos. Parei e respondi:

Que meninas espertas! É isso mesmo. As experiências são com coisas diferentes, mas

servem para aprendemos o mesmo: diferentes por fora, mas iguais por dentro. O que

dizem se agora fizermos um trabalho sobre isto? O M.C. questionou: E é difícil?

Respondi: Não é muito fácil, vocês já sabem tudo sobre esta experiência. Tirem um lápis

de carvão cada um e sentem-se nas mesas.

A Vera iniciou a distribuição dos registos que eu tinha preparado previamente e

eu coloquei dois copos coloridos com lápis de cor finos em cada mesa, enquanto as

crianças se distribuíam pelos lugares sentados. Após todos estarem sentado expliquei:

Tomem atenção, trabalho tem uma tabela, com duas entradas. No primeiro retângulo tem

que desenhar dois ovos, com as cores correspondentes ao que foi observado, um ovo

branco e ou ovo bege/acastanhado e registar na linha em baixo a palavra ‘diferente’. E

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Anexo 6 - Notas de campo

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na segunda tem que desenhar o interior do ovo, pintá-lo e registar a palavra iguais na

linha. A C.B. disse rapidamente: Pois, porque os ovos só tinham uma coisa diferente, há

mais coisas de igual. Recomecei: Alguém tem dúvidas? - Ouviram-se respostas negativas

– Quem tiver dúvidas enquanto faz o trabalho, chama a Ariana ou a Vera. Eu vou

acompanhar o trabalho passo a passo. Podem começar.

Após a explicação, a atividade foi realizada em grande grupo, seguindo as

instruções dadas, mas de forma autónoma.

NC.28

Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com o fenómeno

migratório; Desenvolvimento de atitudes de empatia, respeito e tolerância face ao outro;

Data: 20 de fevereiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h

Local: Sala do computador

O grupo já se encontrava com a Vera na sala do computador. Juntei-me a eles e

adiantei de imediato: Tenho um vídeo para vos mostrar. Assim, coloquei o vídeo, que

pesquisado previamente na internet. O vídeo mostrava imagens do sambódromo no

Brasil, onde uma enorme multidão estava a dançar o samba, ao som de música alta. O

grupo observou o vídeo durante alguns minutos, sendo que baixei o som na coluna –

previamente ligada ao computador - e à medida que as imagens iam passando, perguntei:

Já tinham visto esta dança ou ouvido este tipo de música? Ou alguém sabe a festa que

está a ser comemorada nestas imagens? Algumas crianças referiram que já tinham visto

algo semelhante na televisão. Tinham noção que se passava noutro país, embora não

soubessem qual, identificando facilmente a efeméride do Carnaval, através dos fatos a

qual atribuíram o sentido de máscaras carnavalescas.

Voltei a colocar o vídeo, mas desta vez levantei o som da coluna, colocando um

voluma mais alto que anteriormente. Pedi: Agora ouçam com muita atenção aquilo que

está a ser dito. Depois de ouvirem durante alguns segundos, perguntei: Já sabem qual é

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Anexo 6 - Notas de campo

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o país onde este vídeo foi filmado ou a língua que se ouve nesta música? A L.P. disse

rapidamente: É do Brasil, eu ouvi quando estive lá e a minha mamã fala assim também.

Eu disse: Muito bem L. é isso. Mas é português do Brasil, porque ambos os países falam

a mesma língua, daí perceberem o que se diz no vídeo. Tomem atenção, vou colocar o

vídeo mais uma vez, desta vez têm que me dizer, quais os instrumentos que ouvem?

Mas…desta vez com o monitor desligado e sem imagens. As crianças silenciaram-se e

ouviram a canção, mencionando que ouviam tambores e que não conseguiam ouvir os

instrumentos restantes, porque: Os tambores e as vozes das pessoas ouvem-se muito alto.

Depois, mostrei uma imagem em formato A3, onde se podia ver impresso o mapa-

mundo. Mostrei os continentes que já tínhamos ‘visitado’, nomeando-os um por um, com

a ajuda do grupo. Disse: Sabem, agora estamos no Brasil. A nossa visita começa neste

país. Qual será o continente a que pertence o Brasil? – Disse apontando-o com o dedo

no mapa. A M.J. e T.S. tiveram ideias coincidentes, referindo que o país era: O que ficava

por baixo e está ’ao pé’ da América do Norte; É a América do Sul – respetivamente.

Muito bem, é isso mesmo. Esta dança é típica do Brasil e chama-se samba. Sabem que

no Brasil, o Carnaval é uma temporada muito importante, que o povo espera ansioso

durante o ano inteiro. Levam um ano a construir os carros, as roupas e a fazer as

músicas, para no Carnaval as apresentarem num concurso que tem se passe aqui -

apontando para o vídeo que passava- chama-se sambódromo, por causa do samba. É uma

festa muito bonita e especial, a que vão pessoas de todo o mundo, pois é uma parte

importante da cultura do Brasil.

Antes de eu dizer o que ia fazer a seguir, a C. antecipou-se e disse: Vais contar

uma história do Brasil? Sorri e disse: Sim, vou - fui buscar um livro que estava na estante

branca, junto ao tapete e que tinha arrumado ali previamente - Esta história chama-se

“Dançar nas Nuvens” e passa-se numa aldeia do Brasil - mostrei a capa do livro ao grupo

e iniciei a exploração da história. No final, o grupo realizou o reconto da história

baseando-se nas imagens do livro eu lhes ia mostrando. Fui colocando algumas perguntas

acerca da história e pedi ao grupo que identificasse uma personagem de branco que

figurava na história, mas ninguém sabia que era. Iniciei a explicação: Esta senhora é uma

baiana, uma das figuras mais típicas do Brasil, que simboliza as mulheres trabalhadoras

do Brasil. As baianas tem muitas influências de um continente que já visitámos, a África

e existe uma relação muito grande entre os países. Agora vou mostra-vos algumas

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Anexo 6 - Notas de campo

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imagens. Nas imagens pesquisadas na internet, podiam observar-se as baianas, assim

como alguns dos pratos típicas que cozinham, para que as crianças pudessem ver alguns

pratos típicos do país. Todos ouviam com atenção nos seus lugares.

Após, resolvi questionar uma afirmação, feita pela C.B. durante o reconto da

história. A menina identificou: Pessoas de outro país. Acho que é da China, da Rússia,

das Caraíbas e da África. Estas pessoas chegavam à aldeia da Isabela, a personagem

principal da história. Pedi: Porque acham que a C. disse isto? Existiram várias respostas,

mas todas foram ao encontro de mesma premissa, As pessoas eram de outro país, pois

eram todos diferentes, não eram parecidos. A C. disse: Esse – disse apontando para uma

personagem do livro. Deve vir da China, ele tem os olhos assim – imitando olhos rasgados

com as mãos – ele é parecido com o T.L. (colega da sala, com origem chinesa) e ele vem

da China. Aquele – apontando novamente – deve vir da Rússia. A L.C. disse: Se calhar

é porque é parecido com as pessoas russas que nós vimos quando fomos na viagem até

lá. Falei: E estas pessoas? Questionei enquanto apontava para elementos com a pele mais

escura. A M.J. disse de imediato: Esses são da África, tem a pele mais escura, como nas

tribos das fotografias que tu mostraste. Mas olha M – disse o F.P – O Mateus da história,

também tinha a pele igual a eles e vinha das Caraíbas. Se calhar são de lá. Questionei:

Já viram como baseados na cor da pele podemos pensar uma coisa que não está certa?

Não é por veremos uma pessoa de pele escura que tem que vir de África, nem se tiver

pele clara tem que vir da Europa. As pessoas podem ter nascido em qualquer lado e os

seus pais ou avós é que nasceram na África por exemplo. Aprendam, a cor da pele é

apenas uma cor, temos que ter cuidado pois as pessoas podem ficar tristes se tiráramos

conclusões erradas. O M.C. disse: Também pode ser por causa das roupas. Este aqui –

disse apontando para o livro – tem roupas que não são iguais aos outros. E nem à minha,

se calhar ele é de outro país? Eu disse: Muito bem M. temos que por as nossas cabecinhas

a funcionar. As nossas roupas podem estar relacionadas com o nosso país. O T.R. disse:

pois a nossa é assim – afirmou olhando para a sua roupa.

A M.J. disse ainda: Mas olha, eu vi instrumentos de música na história. A Cátia -

referindo-se à professora de música - já nos disse que há instrumentos que são de outros

países, que vieram de longe. Eu disse: Boa sugestão. Nem me tinha lembrado disso –

disse piscando-lhe o olho – há instrumentos que são típicos de outros países e isso

também nos pode dar uma pista sobre de que país é cada uma das personagens. Mas

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Anexo 6 - Notas de campo

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agora que vários já tentaram descobrir de onde são estas pessoas, vou explicar-vos um

coisa. Estas pessoas são todas de países diferentes, elas são migrantes. Alguém sabe o

que é isso? - Ninguém respondeu, tendo algumas crianças apenas abanado os ombros ou

a cabeça negativamente – Migrantes, são pessoas que vem de outros países, países onde

haviam conflitos e guerras. Elas ficam com medo e fogem para se abrigar num país

pacífico. Na história, a aldeia da Isabela ficou cheia de novos habitantes, pessoas que

precisavam de um lugar novo para morar. E é importante que todos ajudem, com roupa,

comida ou com uma casa para morarem. A M.V. perguntou baixinho: Há guerras e

morrem pessoas? Eu disse: Infelizmente sim. É muito triste. Vocês são meninos com

muita sorte. Vivem em Portugal, numa casa bonita, andam numa boa escola, tem roupas

bonitas e muitos brinquedos…há meninos no mundo que não sabem o que isso é. A

menina esboçou uma expressão de pena e de surpresa. Ó Ariana – interrogou o T.C. –

nós temos que dar essas coisas a eles porque eles não têm nada? Respondi: Sim, não têm

nada, fogem e não conseguem trazer nada com eles, às vezes só trazem as suas famílias.

Houve várias expressões de pena, nas caras das crianças, mas algumas não colocaram

nenhuma questão. A C.B. disse calmamente – Isso é muito triste, eu tenho pena deles. O

T.R. disse: Temos que ser amigos desses meninos e das mães e pais, porque eles são

pobres. A C. disse: A minha mãe e o meu pai já disseram que quando as pessoas não tem

dinheiro, nós temos que ajudar elas. Depois fica frio e elas não tem casa e não tem roupa,

por isso temos que ajudar. Houve várias crianças a afirmar que os pais ou avós lhes

tinham dito algo semelhante.

Voltei a questionar o grupo: Então o que são migrantes? Quem sabe? O F.P. que

tinha estado muito calado até agora respondeu: Acho que são pessoas que fogem da

guerra para outros países. A M.C. completou: E eles precisam da ajuda de muita gente,

porque não têm nada. O T.S. disse: Eles não estão seguros no país deles e tem que ir

para outro qualquer. As pessoas tem que os ajudar não é Ariana? Respondi: Às vezes há

pessoas que não gostam de ajudar quem precisa, mas é uma obrigação, ajudarmos

qualquer pessoa que precise de ajuda, isso é que é correto. A M.J. parecia ainda ter

dúvidas e perguntou: E na história as pessoas da aldeia ajudaram eles todos? Não havia

casas, mas depois eles fizeram mais e eles foram morar para lá e chegaram às nuvens.

O T.C. disse: E depois eles arranjaram trabalhos porque haviam muitas lojas lá.

Continuei: Sim, é isso. As pessoas foram para a aldeia da Isabela, onde os ajudaram,

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Anexo 6 - Notas de campo

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deram-lhes trabalho e casa e depois ficaram a viver todos juntos. A aldeia era muito

pequenina e tinha pouca gente, assim cresceu e está cheia de gente diferente. A L.C.

avançou rapidamente: E isso é bonito e também é importante para as pessoas todas.

Confirmei com a cabeça, dizendo ainda: Exatamente L.

Após as crianças colmatarem mais algumas dúvidas, reunimos e voltámos à sala

de atividades.

NC.29

Palavras-chave: Diversidade cultural;

Data: 20 de fevereiro de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h45

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Já na sala de atividades, algumas crianças encontravam-se sentadas no tapete a

observar o livro de histórias ‘Dançar nas nuvens’ que lhes entreguei após solicitação.

Sentada junto ao grupo questionei: Então e ainda se lembram quem é a personagem

vestida de branco? De forma quase unânime as crianças responderam que era uma baiana.

Então estiquei o braço e de cima da mesa tirei um saco azul pequeno. Retirei lá de dentro

uma boneca em feltro, que ilustrava a imagem do livro em formato físico. Esta passou

pelo grupo, para que todos a pudessem observar.

Retomamos a conversa acerca da baiana e das suas origens africanas, sendo que aproveitei

o momento para voltar a reforçar: As culturas estão relacionadas umas com as outras. E

umas influenciam as outras, influenciam os países, as pessoas… Se estivermos atentos

podemos encontrar algumas coisas da nossa cultura, muitas parecidas com as Brasil por

exemplo, pois todos nos relacionamos, vivemos juntos e aprendemos uns com os outros.

A M.J. perguntou: Olha vamos fazer uma baiana? Eu perguntei: Porquê? A M. respondeu

rapidamente: Estamos no Brasil e a baiana é de lá. A festa preferida no Brasil é o

Carnaval e o Carnaval está a chegar, por isso podíamos fazer a baiana, porque é uma

máscara, não é? Sorri e disse: Bom raciocínio! Uma roupa típica é sempre uma máscara,

como por exemplo a espanhola. Há muitas meninas que se mascaram de espanholas e

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Anexo 6 - Notas de campo

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isso é o traje típico espanhol. Foram várias as respostas a aludir que já se haviam

mascarado de espanholas. Recomecei: M., essa é uma boa ideia. Concordam? A grande

maioria das crianças anuiu. Então vamos a isso, disse eu. Surgiu uma questão: Ó Ariana

podemos usar outras cores ou só branco? É que a roupa da baiana é toda branca. Isso

também é uma...(para para pensar), uma tradição? Sorri. Respondi-lhe: É isso, é uma

tradição, sim. Mas acho que podemos fazer a personagem da baiana de acordo com a

nossa imaginação. Podem usar mais cores, claro que sim, que tal com filtros de café e o

borrifador como na experiência que fizemos? Surgiu outra questão: Sim, Ariana. Mas

olha como se chama esta boneca? É que é parecida com a da história, podíamos chamar-

lhe Isabela, como a outra menina do Brasil. Respondi: Por mim, tudo bem, fica Isabela

então. A M.C. reagiu dizendo: Pode ser com os filtros porque assim a s baianas podem

ficar com muitas cores, como nos quisermos. Expliquei que iriam para a mesa em

pequenos grupos, para pintarem e posteriormente borrifarem os filtros de café com água,

dando continuidade à tarefa.

NC.30

Palavras-chave: Diversidade cultural;

Data: 1 de março de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Mais uma vez, reunimos todos no tapete. Expliquei novamente ao grupo que

iriámos receber uma visita, desta vez vinda do Brasil. Tratava-se da mãe da L.P. nascida

no Brasil, que vinha contar-nos uma história por sugestão da filha. A Carine chegou, bateu

à porta e fiz-lhe sinal para que entrasse. Cumprimentei-a e convidei-a a sentar-se comigo,

junto ao grupo. Ao chegar cumprimentou todos e disse de imediato: Oi meninos, todos

vocês já sabem que sou mãe da L., que nasci no Brasil e que venho contar uma história.

Mas não sabem que a história é uma lenda muito antiga, que não está no livro de histórias

e sim na minha cabeça. A minha avó me contava esta história, desde que eu era assim

pequena como vocês. E eu vou contar-vos tal como ela fazia. Estão preparados? Aqui

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Anexo 6 - Notas de campo

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vai. Iniciou então a “Lenda da Vitória-Régia”, que contava a lenda de uma tribo de índios

brasileiros, chamada ‘Tupi-Guarani’. Enquanto contava a lenda, acompanhava-a com

imagens, onde se podiam ver alguns momentos da história.

Após o término da história, tomei o meu lugar ao lado da Carine novamente e pedi

ao grupo que recontasse a história, com a ajuda da mãe da L. e das imagens.

Posteriormente, as crianças colocaram algumas perguntas à Carine. O F.P. questionou:

Esses índios existem de verdade? A Carine respondeu: Existem sim, esses índios ainda

existem no Brasil em alguns sítios do país. A M.C. mudou de assunto e questionou: No

teu país fala-se brasileiro, pois é? Nós percebemos tudo. A Carine falou: É verdade, lá

no Brasil falam português, mas nós temos algumas palavras diferentes de vocês, que

podem não perceber. Sabem o que é ônibus ou o trem? E banheiro? As crianças disseram

que não e ela continuou: O ônibus é o vosso autocarro, o trem é o comboio e o banheiro

é a casa de banho de vocês. Algumas crianças riram e olharam para as outras.

Perguntaram: Sabes mais palavras? A Carine disse: Sabem quem é o goleiro? É o guarda-

redes. As crianças pediram mais uma. E o sorvete? O T.C. disse agitado: Eu sei, essa é

um gelado, eu vi nos desenhos animados da Netflix. A Carine disse: Olha que esperto que

vocês é, tá certo, é isso aí. Nos falamos a mesma língua, mas há palavras que fazem parte

mesmo do brasileiro, da língua da gente, como cá também há palavras assim. Eu falei:

Sabes h, estou sempre a explicar que aprendemos muitas coisas com outras culturas e

que nos tornamos mais ricos com isso. Devemos sempre estar atentos ao que é diferente

de nós, pode surpreender-nos. Ela respondeu: É isso mesmo meninos, temos que aprender

uns com os outros. Desde que eu vim do Brasil, aprendi imensas coisas sobre vocês

portugueses, sobre os vossos gostos e costumes. O S. perguntou: O que é isso? Eu disse:

É como se fosse uma tradição. Ele disse: Ah, isso já aprendemos, é outra palavra

diferente. A Carine falou novamente: Olha aqui, eu trouxe uma imagem dessas para cada

um de vocês, por isso eu cheguei eu pouco atrasada, desculpa, estava imprimindo isso

tudo. Mas então, vocês assim nunca vão esquecer a Lenda da Vitória-Régia, a indiazinha

Náia e a sua história que é um pouco triste, mas é uma história de amor. Ariana, depois

vocês passam um para cada menino? Referindo-se às folhas impressas. Respondi: Tenho

uma ideia melhor! Fazer uma atividade com as imagens e podes participar. A Carine

sorriu e respondeu: Sério, acho que tou ficando nervosa – deu uma gargalhada. Vamos

lá.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Expliquei a minha ideia, as crianças identificarem a sua folha com o nome

próprio e o título de ‘Lenda Brasileira’, numerando as imagens de acordo com a sequência

da história. Após a explicação, todas as crianças se dirigiram á área polivalente e

executaram a atividade ao mesmo tempo, recorrendo à minha ajuda, da Vera e da Carine,

sempre que necessário. Enquanto as crianças realizavam a atividade a Carine diz-me:

Ariana deixa eu te dizer, eu estou adorando essa ideia das histórias. Lá no Brasil eu era

professora da 1ªsérie e sei quão importante é promover hábitos de leitura e empatia

nessas crianças. Nossa, eu via todos os dias. Eu digo para você, gostei da sua iniciativa,

a L. me conta tudo do que faz aqui com vocês e eu acho que ela está entendendo bem o

vosso projeto da interculturalidade. Ela me diz coisas que eu fico super admirada, como

no outro dia no jantar, ela me disse: Mamãe, hoje eu aprendi que há pessoas que não

gostam de quem é diferente só porque é de outra cor, isso é muito feio, não é? E noutro

dia ela me falou que existem pessoas que fogem do seu país porque há guerra e vem se

abrigar em Portugal. Achei uma delícia minha filha de 5 anos me dizendo isso. Vocês

estão fazendo um bom trabalho, eu sei ver isso. Eu e a Vera sorrimos. A Vera disse

apenas: Obrigada. Eu disse: A sua filha é uma menina super atenta, interessada e que

apreende facilmente o que é explorada. E mais importante tem uma grande capacidade

de se pôr no papel do outro, é muito empática e isso tem um papel tremendo na aquisição

de competências interculturais. Mas é tão bom ouvir essas coisas, quem não gosta de ver

o seu trabalho reconhecido. Muito obrigada! A Carine recomeçou: Isso também é

importante, ela ser capaz de perceber o lado do outro, não é fácil, mas ela já vai fazendo.

Eu é que agradeço, foi uma benção a L. ter ficado com você, você encaixou muito bem

nesse grupo - disse enquanto passava a sua mão pelo meu ombro. Voltei a sorrir:

Obrigada, são estas mães que eu adoro - disse dando uma gargalhada. Entretanto, algumas

crianças começaram a chamar, pois precisavam de ajuda e interrompemos a conversa para

ajudar.

No final da atividade a Carine despediu-se e prometeu voltar à hora do lanche

com uma surpresa, uma receita típica do Brasil para todos provarem: pão de queijo feito

por ela.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.31

Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com o fenómeno

migratório;

Data: 15 de março de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h45

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Nesta sessão, iniciada no tapete com as 24 crianças, retomei o tema da

diversidade cultural e da existência de várias culturas, coexistindo dentro da mesma

cidade e/ ou país. Relembrei então: Lembram-se da história ‘Dançar nas nuvens’? De que

falava? A C. disse: Da Isabela, ela queria dançar nas nuvens, mas não chegava lá.

Continuei: E mais? Ela prosseguiu: A aldeia dela era pequena e depois ficou muito cheia,

com pessoas de outros países. O F.M. disse: De pessoas que tinham fugido de outros

sítios onde haviam guerra. A C.B. continuou: Sim eles eram de migrar. Dei uma enorme

gargalhada: Eram migrantes. Ela continuou: Sim, é isso, são pessoas que não têm nada e

temos que ajudá-las, dar roupas e comidas a elas. Eu recomecei: é disso mesmo que vos

queria falar, dos migrantes. Tenho aqui as imagens que encontrámos quando fizemos o

trabalho da outra história. Montar uma cara, mas com uma mistura de várias caras,

pessoas de culturas diferentes. O que acham? A M.J. disse: Boa ideia, porque assim

misturamos os diferentes e fica giro. Eu disse: Claro a diversidade enriquece-nos. A

M.V. disse: Aprendemos coisas com os outros e isso é importante para todos, não é?

Anui com a cabeça e pisquei-lhe o olho.

Comecei então a mostrar as várias imagens que tínhamos pesquisado

anteriormente. Havia imagens de adultos, adolescentes e crianças de ambos os sexos.

Algumas crianças identificaram as imagens, pois já as conheciam do bloco de intervenção

anterior. Expliquei: Todas as histórias que temos ouvido na nossa sala falam da

diversidade de culturas, é isso que todas tem em comum. Por isso, podemos usar as

imagens de umas histórias, para trabalhos das outras, para vocês perceberem que está

tudo relacionado. De seguida mostrei novamente as imagens, previamente preparadas e

delimitadas. Expliquei ao grupo que os materiais necessários estavam já a aguardar na

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Anexo 6 - Notas de campo

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área de trabalho, assim como as caras, todas expostas para que pudessem escolher.

Expliquei ainda que todas as caras teriam que conter cinco partes constituintes: testa,

olhos nariz, boca e queixo, bastando apenas escolher, os cinco pedaços da cara e montá-

las na folha que lhes seria distribuída. No final a M.V. questionou: É uma mistura de

culturas, pois é? Respondi: Sim, que boa ideia para o título do trabalho disse a sorrir.

Quem quer começar a atividade?

Após se determinar quem iniciaria o trabalho, algumas crianças começaram a

atividade, enquanto outras brincavam de forma livre, nas áreas da sala.

NC.32

Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Familiarização com noções de

identidade e alteralidade;

Data: 20 de março de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h

Local: Sala do computador

Dando continuidade aos interesses demonstrados pelo grupo, mostrei-lhes uma

curta-metragem que conta uma história editada no livro “A menina e o tambor”, sendo

que este vídeo não usa linguagem, apenas tem recurso a música e expressões faciais. O

vídeo foi visto no computador que estava previamente ligado a uma grande coluna.

Após verem o vídeo, a educadora pedi ao grupo que realizasse o reconto do que

viram, com base no que tinham observado. A grande maioria das crianças conseguiu fazer

um relato coerente, conferindo-lhe uma ligação com o tema da migração que está a ser

trabalhado: Era uma vez uma menina que vivia numa cidade triste; Mas ela veio da África

se calhar, porque ela tinha pele escura e cabelo com trancinhas pequeninas; Ela ria-se

muito, mas ninguém se ria para ela; Porque as pessoas eram tristes; Elas estavam tristes

porque não tinham casas e comidas; Porque tinham fugido de um sítio perigoso onde

havia muita guerra; Mudaram de sítio, mas mesmo assim nunca mais ficaram felizes; As

pessoas eram todas diferentes, tinham muitas cores de pele e não eram parecidas; Elas

vinham de países longe dali; Sim, vinham da América do Sul e do Norte, da Europa e da

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Anexo 6 - Notas de campo

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África do Sul; A menina quer ajudar eles e foi fazer brincadeiras para eles rirem, mas

eles não ficaram felizes na mesma; As pessoas eram diferentes, mas eram iguais, porque

elas não felizes; E a menina ficou triste também e ficou a chorar; Mas depois ela ouviu

o seu coração, ele bateu muito alto e ela ficou feliz; Foi à casa dela buscar o seu tambor

de brincar e foi para a rua tocar; A música dela pôs os corações das pessoas todas a

bater muito alto; Elas começaram a rir muito e ficaram felizes; As pessoas foram buscar

instrumento musicais e começaram a tocar a mesma música que ela; Alguns instrumentos

eles tinham trazido do seu país; Mas outros eram coisas do trabalho deles que faziam

barulhos de músicas; Toda a gente fez música e ficou feliz; Dançaram muito com a

menina; E ficaram felizes porque a menina os ajudou e nós temos que ajudar as pessoas

que não têm nada e vem de migrar; E a menina era muito esperta e ajudou todos com

música; A música deixou eles mais felizes porque lembrou o país deles;

Quando terminaram eu disse: Estive a escrever a vossa história, para depois

partilharmos com os pais, o vídeo e a história, para eles perceberem tudo. Mas o que

eles não souberem vocês podem explicar, porque tem uma imaginação espetacular! disse

sorrindo. Eu escolhi este vídeo, porque vocês falaram na música e nos instrumentos

musicais de outros países e lembrei-me de vocês. E também tenho aqui o livro para vocês

verem. A M.M. questionou? Vais contar a história? Respondi: Esta história não tem

letras, é como o vídeo, só tem imagens. Mas eu vou contar-vos a vossa história, aquela

que contaram a mim, estão prontos? Ouviram-se algumas gargalhadas e um grande: Sim

Ariana! Iniciei a leitura da história que as crianças me tinham relatado.

NC.33

Palavras-chave: Reconhecimento de várias culturas; Diversidade cultural;

Familiarização com noções de identidade e alteralidade; Desenvolvimento de atitudes de

empatia, respeito e tolerância face ao outro; Identificação de atitudes discriminatórias;

Data: 28 de março de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 10h

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

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Anexo 6 - Notas de campo

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Reunidos mais uma vez na área do tapete e sentados na roda expliquei às

crianças que iriámos dar continuidade à exploração da história animada ‘A menina e o

tambor’. Expliquei: Sabem que o Criarte é o nosso projeto de escola e esta semana a

temática é o cinema. Achei que como no projeto de sala estivemos a explorar uma história

animada, podíamos relacionar os temas. Tenho uma atividade para vos propor.

Expliquei: Querem fazer uma curta-metragem? O F.P questionou: O que é isso?

Continuei: É um filme, mas pequenino, como o filme que vimos da ‘Menina e o tambor’.

Imprimi as imagens da história e cada um de vocês vai utilizá-las para criar uma história

pequena, onde devem aparecer imagens com pessoas de diferentes culturas. Quando

acabarem de montar as imagens, tem que me explicar a história e dar um título à vossa

curta-metragem. Vamos experimentar fazer algumas histórias juntos? O F.P respondeu:

Pode ser - enquanto se ouviam algumas respostas positivas e se viam alguns acenos com

as cabeças. Espalhei algumas imagens pelo tapete, ao centro da roda e disse: Vou

começar. Escolhi cinco imagens e alinhei-as. Quem quer começar a história? Posso ser

eu? E adiantei: Numa cidade de África vivia uma menina com o nome de Anya. Vivia com

a sua avó, pois toda a sua família tinha fugido para a Europa... As crianças começaram

a dar continuidade à história: “Eles fugiram e não conseguiram levar nada, mas pelo

caminho encontraram uma senhora que morava na cidade; Ela levou-os para a cidade e

apresentou outras pessoas a eles. A cidade era na Itália; Depois as pessoas da cidade

todas ficaram amigas deles, porque eles ajudaram-nas a ficar felizes. Falei: Muito bem e

o título da história, qual vai ser: O T.C. sugeriu: Eu acho que pode ser: Amigos na Itália.

A M.V. disse: É giro assim. Recomecei: Muito bem, quem quer ser o próximo a montar

a história? Levantaram-se vários dedos e escolhi uma das crianças que se dirigiu ao meio

do tapete, trocou as imagens e montou uma nova sequência com seis imagens, disse: Uma

vez nasceu uma menina que quando cresceu aprendeu a tocar muito bem tambor. Olhei

para o grupo com um olhar de incentivo e outras crianças continuaram a história: Ela

nasceu num sítio especial, onde ajudavam as pessoas que precisavam; Esse sítio era em

Portugal. Ela andava numa escola onde havia meninos com todas as cores e eles

brincavam todos juntos; Eles gostavam dos meninos diferentes e eram muito amigos,

assim a menina ensinou eles a tocarem todos tambor; Assim aquela escola ficou perfeita.

A C.B. adiantou-se dizendo: O título desta pode ser ‘Meninos de todas as cores brincam

juntos. Eu disse: Ok, boa. Que belas histórias, muito bem! E agora vão fazer sozinhos

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Anexo 6 - Notas de campo

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pode ser? A C. pediu: Pode ser só mais uma história, assim é divertido Ariana. O M.C.

franziu o nariz e disse: eu não queria, mas ok... A C. pediu calmamente: Ó Mateus, mas

é só mais uma vá lá... Ele respondeu: Ok... Mas eu é que vou pôr lá a história que eu

quiser. A C. concordou e disse: Ok e eu começo, pode ser? Ele voltou a responder: Ok.

Dirigiu-se ao centro da roda e escolheu cinco imagens que colocou lado a lado. A C.

começou então: Havia uma menina que nasceu na África onde havia muito calor e depois

foi morar para a Roménia e lá estava muito frio. Ela gostava de brincar com os outros.;

Mas às vezes o coração dela ficava triste porque os pais dela estavam na guerra e não

podiam fugir; E também porque os amigos não gostavam dela por ela ser cor de preto;

Mas um dia houve uma menina mais bebé que quis brincar com ela, os outros viram e

quiseram brincar também. Depois de eles conhecerem ela ficaram a achar que ela era

muito divertida e ficaram amigos; Fizeram bonecos de neve porque na Roménia nevava

[Eu vi na foto que a C. trouxe para a prenda do pai dela e lá na foto ela estava a brincar

com a neve na Roménia]. Eu disse: Mas que história bonita e fez-me lembrar a história

do Mateus. O T.C. disse: Pois. O S. interrompeu e disse: Mas olha, falta o nome da

história. Eu anui: tens razão, quem quer dar o título? A M.J. disse: podia ser ‘Os meninos

do racismo’. Olhei admirada e disse: Maria esse título é muito forte, estás mesmo uma

menina grande. Boa ideia. E agora – prossegui - cada um vai fazer o seu trabalho e

pensar na sua história, nada de imitarem estas, vocês tem muitas ideias boa e muita

imaginação. Quem quer começar? Após seis crianças se terem voluntariado para

começar, expliquei que todo o material necessário já se encontrava na área de trabalho e

que em pequenos grupos dariam continuidade à atividade. Algumas crianças dirigiram-

se às mesas e as restantes foram brincar nas áreas da sala.

NC.34

Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;

Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Compreensão da

religião como um fator de identidade cultural;

Data: 2 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

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Anexo 6 - Notas de campo

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Hora: 14h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

A educadora sentou-se junto às crianças no tapete verde retangular. Diretamente

em frente podiam observar-se duas mesas brancas em forma de meia-lua. Com um

pequeno computador azul em cima, que se encontrava ligado por um fio preto a uma

grande coluna preta. Coloquei a tocar uma canção de origem indiana, onde se ouviam

vozes a cantar em hindi. Quando a canção terminou, a M.J. referiu de imediato: A minha

avó nasceu em Goa e isso fica na Índia. Ela sabe falar essa língua, a da canção. Eu

respondi: M. tens que convidar a tua avó a vir à nossa sala. Ela sorriu motivada e disse:

Sim, eu vou dizer a ela Ariana. De seguida questionei: Alguém já ouvia esta música ou

alguma semelhante? Ninguém se manifestou, havendo apenas alguns movimentos

negativos com a cabeça. Continuei: Ninguém conhece esta língua? Acho que a M. Já

descobriu qual é, é a língua falada na Índia, que fica em que continente? O M.C.

respondeu na América do Norte e eu disse: Não…O T.S. respondeu rapidamente: Na

Ásia. Eu questionei: M., qual é a língua que falam, sabes? A M.J. respondeu bastante

confiante: Sim, é hindi, a avó Maria já me disse. Respondi: Sim, é hindi e esta música

canta-se numa festa muito importante da Índia, que se chama Diwali. O T.C disse

entusiasmado: Acho que tu sabes bué coisas da Índia M. Podes explicar-nos as coisas

também. A M.J. sorriu orgulhosa.

Eu voltei a falar: Tenho aqui algumas imagens relativas à cultura indiana: uma

mulher vestida com o sari - que é o traje típico, o Taj Mahal- um dos monumentos mais

importantes do país e os principais deuses hindus. Mostrei ainda algumas imagens que

mostravam os festejos do Diwali, o festival das luzes, referido anteriormente. M.M.

avançou: Vais contar uma história da Índia, não vais? Pisquei o olho e disse: Vou mesmo,

que espertalhona. Tomem muita atenção porque a história fala de algumas coisas muito

importantes da cultura indiana. Contei a história ‘Lili e o jardim da Índia’ e quando

terminei, antes que pudesse dizer qualquer coisa, começaram os comentários: A M.V.

disse: A Lili é como nós, viaja na sua imaginação, ela foi à Índia e nós também viemos.

O F.P. questionou-me: Há tantas ervas na Índia, conheces aquelas todas Ariana?

Respondi: Só algumas, são tantas…Mas gostei de saber para que servem. Do que

ouviram na história, o que gostaram mais? A C.B. disse: Eu gostei das roupas deles, tem

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Anexo 6 - Notas de campo

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muitas cores. O S. disse: Eu gostei de aprender a despedir em indiano, é Namastê. Eu

expliquei: Quando nos despedimos temos que dizer Namastê e fazer assim – juntei ambas

as mãos e fiz uma vénia com a cabeça – façam lá. Todos em grupo imitaram a minha

ação. A M.J. questionou-me: Ariana achas que eles na história eram parecidos comigo,

a cor deles é como a minha, um castanho assim mais clarinho…Respondi: Talvez fossem

um pouco parecidos sim, mas já sabes que tu és única, não há ninguém igual a ti. Ela

sorriu orgulhosamente e colocou o cabelo atrás da orelha com a mão direita.

Voltei a incidir no mesmo assunto: E o que aprenderam sobre o Diwali? É uma

das principais festas na Índia. As respostas foram confusas, pois várias crianças falaram

ao mesmo tempo. Pedi-lhes que aguardassem a sua vez e que colocassem o dedo no ar.

Assim, fui perguntando a uma de cada vez as suas respostas: É uma festa muito colorida,

atiram foguetes muitas vezes e por isso é o festival das luzes; As pessoas vestem roupas

novas e bonitas para a festa; Colocam lanternas à porta, fica tudo iluminado; Dura

muitos dias; É importante para os indianos; As famílias estão juntas; Afirmei: Celebra-

se durante 5 dias e no último dia é o ano novo hindu. O R. afirmou: Nós cá também temos

o ano novo. Eu disse: Sim, celebra-se praticamente em todo o mundo. E há outra festa

que também se celebra em muitas culturas e tem muitas parecenças com o Diwali.

Alguém sabe? Ninguém respondeu, por isso resolvi facilitar, dando pistas que

estabelecem paralelismo: Que festa temos em que também acontece antes do ano novo,

há muita cor, se juntam as famílias e é muito importante? Nessa festa os meninos gostam

muito de receber uma visita especial…? A M.C. disse alto: Já sei é o Natal, nós estamos

todos juntos e vem o Pai Natal trazer as prendas. Eu afirmei: Isso mesmo, M. Como vêm

as duas festas tem parecenças, apesar de serem em países diferentes. Temos mais coisas

em comum do que pensas. Sabem, estas festas são muito importantes, fazem parte da

cultura de cada povo. São festejos muito importantes. A M.V. perguntou: Importantes

para todas as culturas? Eu respondi: Em cada cultura há festas que fazem parte da

tradição, daí serem tão importantes. Faz parte de quem nós somos. A M.J. disse: Vou

contar à minha avó, não sei se ela sabe essas coisas todas. Os indianos e os portugueses

tem coisas parecidas. Eu respondi: Acho que vais ter muito para contar, ainda vamos

descobrir mais algumas coisas sobre o Diwali - disse piscando-lhe o olho – Aquela

canção que ouvimos ao início fala sobre o Diwali, podemos tentar aprender alguns

pedaços. Querem tentar? Ouviram-se algumas gargalhadas e as respostas foram

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Anexo 6 - Notas de campo

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afirmativas, embora algumas crianças tenham expressado dúvidas devido a ser uma

língua que não dominavam.

Coloquei a canção a tocar três vezes e associei-lhe pequenos gestos, para facilitar

a interiorização. Assim, por trechos e com a associação de gestos, fui cantando a canção

– com a ajuda da letra, impressa previamente numa folha A4 - sendo que as crianças

repetiram logo de seguida, realizando os gestos correspondentes. A atividade durou

alguns minutos, e algumas das crianças conseguiram reproduzir o refrão, assim como a

melodia da canção. Quando terminámos as crianças distribuíram-se pelas áreas da sala,

em brincadeira livre.

NC.35

Palavras-chave: Diversidade religiosa; Reconhecimento de diferentes manifestações

culturais religiosas; Compreensão da religião como um fator de identidade cultural;

Data: 10 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h05

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

O grupo encontrava-se reunido no tapete. Sentei-me junto deles com 5 folhas

brancas nas mãos. Comecei a conversar sem fazer menção às folhas, o que causou alguma

curiosidade: O que é que está nas folhas? Vamos fazer uma atividade? Respondi: São

umas imagens, sãos os cinco deuses indianos mais importantes. O V. questionou: O que

é isso? Continuei: É algo difícil de explicar, porque é algo que não conseguimos ver. É

como o ar, ele existe, nós respiramos, mas não o vemos. É como os anjos, acreditamos

que existem, mas nãos os vemos. A M.V. disse: É como os unicórnios, eu não vi nenhum,

mas acredito. E a fada do dente também… Ri e respondi: É qualquer coisa desse género.

Um Deus é alguém que não vemos mas acreditamos, alguém muito importante, que

sempre a observar-nos. E se nós acreditarmos nele de verdade, ele pode ajudar-nos. O

T.C questionou: Já sei, é como a magia? Eu respondi: Sim, é isso, se acreditarmos mesmo

ela resulta sempre. A M.C. interveio: Eu vou à missa com a minha mãe e ela diz que

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Anexo 6 - Notas de campo

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temos que rezar aos santinhos porque eles ouvem lá no céu. O F.M. disse: Eu e a minha

mãe rezamos todos os dias ao anjinho da guarda para tomar conta de nós. Afirmei: Mas

afinal vocês já sabem muitas coisas, quase que nem precisava de explicar nada - disse

sorrindo, o que fez o grupo reagir com alguns sorrisos de orgulho.

Ao centro do tapete verde espalhei cinco imagens que retratavam os deuses

Krishna, Ganesha, Hanuman, Shiva e Rama, em formato A4, impressas previamente.

Pedi ao grupo que fosse passando as imagens para que todos as pudessem observar

atentamente. Após as imagens terem passado por todos e estarem de novo ao centro da

roda, questionei: Quais as características mais evidentes de cada um dos deuses? Uma a

uma fomos analisando as imagens, focando-nos nas caraterísticas mais evidentes – as

físicas.

A conversa continuou e as crianças foram evidenciando algum interesse pelos

traços da Índia, colocando questões: E na Índia eles cumprimentam-se sempre com o

Namastê? E as roupas deles são muto compridas, já viste alguma? A festa deles parece

divertida, eu gosto de festas. Nós podíamos fazer uma festa daquelas e ser como os

indianos. As reações foram imediatas, ouvindo-se respostas positivas de muitas das

crianças. Eu respondi: Podíamos tentar fazer uma festa da Índia, mas temos que pedir

ajuda aos pais. O D. sugeriu: Podes mandar recado na caderneta. A C.B. disse: E nós

podemos dizer a eles. Lancei uma ideia: Se vocês estão assim tão motivados, que tal

fazermos um dia da Índia? Logo questões começaram a ser colocadas numa grande

azáfama: O que é isso Ariana? Fazemos o quê nesse dia? Vamos fingir que somos da

Índia? Respondi: Sim, vamos todos fingir que somos da Índia. O T.C avançou a sua ideia

de imediato: E vestir como eles, mas não sei onde se compra aquelas roupas... A M.M.

disse entusiasmada: Sim, T. mas podemos pedir ajuda aos pais, foi a Ariana que disse.

Eu falei: Sim, é isso mesmo, vamos vestir-nos como os indianos e pedimos aos pais que

vos vistam de acordo com isso. Como se fosse uma máscara. A M.C. disse: Eu gosto de

roupas compridas. Vou pedir a minha avó para me fazer uma roupa. O M.C. disse: Eu

não quero vestir roupas de menina...Eu disse: Mas Mateus, também vimos as roupas dos

homens, podes vir vestido como eles não tens que vir com roupas de menina – disse ao

dar uma gargalhada. Mas para saber se toda a gente quer comemorar o Dia da índia,

vamos votar. Quem quer levanta o dedo. A opinião foi esmagadora, todos votaram

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Anexo 6 - Notas de campo

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positivamente. Combinámos que eu ia enviar recado para os pais a agendar o dia e a

explicar o que seria necessário para realizar o ‘Dia da Índia’.

De seguida acalmei o grupo e dei continuidade á tarefa anterior. Foi proposta

uma atividade de mesa, relacionada com o tema, em que as crianças deveriam construir

um puzzle com a imagem de um dos deuses do hinduísmo à sua escolha.

NC.36

Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas; Tradições

religiosas do Hinduísmo;

Data: 11 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h

Local: Entrada da sala dos 4 anos

À chegada à sala, tinha já a aguardar a mãe do T.R. Cumprimentei-a e ela

retribuiu, depois dei um beijo ao menino, acompanhado de um bom dia, que ele retribuiu.

A mãe iniciou o diálogo: Olhe, tem aqui na mochila está uma estatueta da Ganesha que

ele quis trazer. Ontem estávamos na sala, quando ele de repente repara que no móvel

estava esta estatueta, foi uma loucura. Começou a falar, a falar, que nós nem

percebíamos metade do que ele dizia: festival com luz da Índia, os deuses, sei lá eu….Só

sei que ele me disse que esta é uma deusa indiana, que é a Ganesha, é muito importante,

olhe fiquei de boca aberta. Um miúdo de 4 anos a dizer-me isto. Então não se calou até

guardar a estátua na mala para hoje trazer. Dei uma gargalhada: Olhe que um miúdo de

4 anos identificar uma deusa do hinduísmo é um grande feito. É que ainda ontem

estivemos a ver imagens dos deuses, entre eles a Ganesha. Ele tem reconhecido a forma

física é excelente, é sinal que interiorizou o que explorámos. A mãe sorriu e disse: Aí

estou tão feliz que me diga isso, de ele ter interesse de mostrar as coisas dele aos outros,

sabe que isso é difícil nele… Sorri e disse: grão a grão. Bem tenho que ir…já ali tenho

uma parte do grupo à espera. A mãe apressou-se: Sim, sim, vá lá. Até logo. Acenei-lhe

ao entrar.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Sentei-me junto das crianças e olhei para o T.R. que estava agarrado à sua

mala e perguntei-lhe: Então hoje trouxeste a mochila para dentro da sala, porquê? Ele

respondeu: Ariana, eu pedi aos meus pais e tenho uma coisa para mostrar aos amigos,

eu trouxe uma estátua da Ganesha que estava na minha casa e Ganesha começa com G.

Continuei: Então mostra-nos lá. O menino abriu o fecho da mochila e retirou

orgulhosamente a pequena estátua bege. Disse-lhe: Passa aos colegas para todos verem,

vão passando uns aos outros. O S. comentou: Está é mais pequena e tem uma cor

diferente daquela da imagem, pois tem? Levantei-me e fui até ao grande armário de

arrumação verde, abri a 2ª porta e tirei as folhas com as imagens dos deuses, utilizadas

anteriormente. Depois escolhi a da Ganesha e voltei a sentar-me na roda. Coloquei a folha

ao centro e quando todos terminaram de observar a pequena estatueta, coloquei-a ao lado

da imagem. Estivemos então a comparar quais seriam as semelhanças e diferenças entre

ambas.

NC.37

Palavras-chave: Diversidade cultural;

Data: 12 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 11h30

Local: Entrada da sala dos 4 anos

Esta atividade foi proposta às crianças na área do tapete, onde o grupo estava

reunido. Nesta manhã implementei uma atividade que já tinha explicado previamente ao

grupo, no entanto voltei a reforçar: Vamos fazer a experiência das maçãs. Tenho aqui

uma maçã vermelha e uma maçã amarela. A M.C. questionou: E a maçã verde, tinhas

dito que ias trazer? Eu respondi: Olha tens razão, mas eu não encontrei e fartei-me de

procurar, fui a três supermercados. O T.C. perguntou de rompante: Foste ao Continente

ao lado dos bombeiros da minha mãe? Eu disse: Sim, fui. A M.V. disse: Podias ter ido

ao Lidl ao pé da minha casa. Eu respondi: E fui, fui a esses e até fui ao Pingo Doce, mas

não encontrei mesmo, não haviam maçãs verdes, temos que usar só duas maçãs para a

nossa experiência. Olhem vamos comparar as duas, vamos ver quais são as semelhanças

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Anexo 6 - Notas de campo

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e quais são as diferenças. A M.M. perguntou: Como com os ovos? E eu disse: Exatamente

como a experiência dos ovos, mas só que com maçãs.

Os materiais necessários para a atividade já estavam em cima da mesa: uma

pequena faca, dois pratos rasos brancos, duas maçãs e ainda uma folha e uma caneta para

registar as conclusões do grupo. Comecei por cortar as maçãs ao meio, colocando cada

uma delas num pequeno prato raso. Os pratos foram colocados ao centro do tapete, junto

ao grupo, para que todos os pudessem observar. Questionei as crianças no sentido de

darem as suas opiniões acerca do que lhes parecia igual e/ou diferente em cada uma das

maçãs. O grupo respondeu: São duas maçãs e isso é fruta para comer; E tem casca que

se pode comer; Elas tem a forma parecida, são mais ou menos redondas, pois é?; Ó

Ariana elas tem a mesma cor lá dentro, mas por fora são diferentes, amarelas e

vermelhas; Elas tem sementinhas lá dentro, isso não é para comer; As maçãs nascem

todas nas árvores, a minha avó já me disse que são as macieiras. Voltei a intervir: Ok,

muito bem, já escrevi tudo o que disseram. Agora vamos para a 2ª parte da experiência.

As crianças observaram-me atentamente. Peguei na faca e cortei-as em porções iguais.

Depois distribui um pedaço por cada criança, primeiro da maçã vermelha e depois como

a maçã amarela. Todos provaram as maçãs, enquanto eu perguntava: Bem, agora que já

comeram as maçãs, quero que me digam se encontram mais pontos iguais ou diferentes?

As respostas recaíram em: Olha são as duas duras; O sabor não é igual. Eu questionei:

Então? O F.P. retomou: A vermelha é mais doce que a amarela. O V. acrescentou: Pois,

a outra é mais ácida. Não se ouviram mais opiniões, eu disse: Então vou ler-vos as vossas

conclusões.

Após a leitura, o grupo concluiu que as maçãs tinham várias semelhanças e

registaram apenas duas diferenças, a nível de cor e sabor, recapitulando: Pois, já

aprendemos isto nas outras experiências, temos mais coisas iguais do que diferentes,

disse o R. A M.M. avançou a sua opinião: Somos todos diferentes, mas vivemos todos

juntos e aprendemos juntos, pois é? A M.V. afirmou: Pois é, a Ariana disse, as diferenças

são importantes. Se fossemos todos iguais não tinham graça nenhuma. Eu disse: Vocês

aprendem tudo muito depressa. Adoro estes meninos! Disse com um grande sorriso.

Após a hora de almoço foi elaborado um registo com o protocolo, as fotografias e

as conclusões da experiência, que foi posteriormente exposto no exterior da sala e enviado

para os pais, nas cadernetas do aluno.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.38

Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;

Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Tradições religiosas do

Hinduísmo;

Data: 15 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 14h10

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

Iniciámos a nossa conversa na área do tapete, sentados em roda. Realizámos o

reconto da história ‘Lili e o jardim da Índia’ e recapitulámos as características do Diwali,

que também já havíamos focado anteriormente. A M.M. perguntou à M.J.: A tua avó é da

Índia não é? Ela também faz a festa do Diwali na casa dela? A M.J respondeu: Eu já

perguntei a ela, ela diz que aqui não comemora, mas que quando vivia em Goa, fazia

algumas coisas. E que todas as pessoas fazem também, porque é uma festa grande e

importante para as pessoas de lá. Eu perguntei se ela podia comemorar para eu ver como

era, mas só que ela diz que o meu avô foi para as estrelinhas e agora não quer fazer

festas, está toda a gente triste. Por isso ela não pode vir cá à escola contar-nos uma

história. Mas mostrou-me a roupa de lá, o sari e fotografias de quando ela e o meu avô

moravam em Goa. Eu disse: Ó M. tens que ter muita paciência com a avó e dar-lhe muitos

mimos. Noutra altura pedes para a avó festejar, mas não te preocupes, podes trazer o

sari e as fotografias para vermos juntos. Aposto que vamos ver imensas coisas novas e

podes ser tu a explicar tudo. A M.J. respondeu entusiasmada: Ok, vou pedir à minha avó

para me explicar as coisas e trago. Mas vão ter que estar com muita atenção. O T.C.

acenou afirmativamente. Eu disse: Claro que sim, sei que és uma excelente professora -

pisquei-lhe o olho. A M.J. continuou: Ó Ariana, a minha mãe disse que já te mandou a

receita do Chapati, é muita bom, eu já provei na casa da avó. Já comeste? Eu respondi:

Nunca comi. Vi hoje de manhã a receita que a mãe mandou. A M.J. disse motivada:

Podemos fazer?E depois podíamos comer todos. Eu disse: Não me pareceu difícil,

podemos experimentar fazer a receita da tua avó. Mas preciso mesmo da vossa ajuda,

para amassar a massa principalmente. Que dizem? Os comportamentos positivos foram

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Anexo 6 - Notas de campo

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evidentes, alguma conversa e agitação e respostas positivas. Algumas crianças

responderam diretamente para a M.J. Então fica combinado, fazemos quando? Perguntei.

A M.J. sugeriu: No dia da Índia, mas não podemos sujar as roupas. Respondi: Por mim,

tudo bem. Fica combinado, o dia da Índia está quase, é na 4ªfeira. O T.C. disse

entusiasmado: Faltam só dois dias, a minha mãe já tem uma roupa bué gira para eu

vestir. Eu já vesti no outro dia lá em casa. A M.C. disse: Eu vou vestir aquelas roupas

das moedas como as bailarinas. Várias crianças começaram a conversar agitadamente

entre si acerca das roupas que iam trazer.

Acalmei o grupo e retomei o tema da conversa, expliquei: Hoje vamos conversar

acerca de mais uma das características do Diwali que eu descobri e que não está na

história da Lili...a arte Rangoli. Esta arte é muito comum no festival. Desenham-se

padrões variados no chão das casas, como por exemplo na entrada da casa ou na sala e,

depois, os desenhos são coloridos com arroz, areia colorida ou pétalas de rosa, por

exemplo. Tenho aqui algumas imagens que pesquisei, vou passar para verem. Começo a

passar cinco imagens impressas previamente em folhas A4 brancas. Os comentários

foram imediatos: Mas isso é muito difícil, eu não sei desenhar isso, disse o V. Seguiu-se

o M.N. Mas onde é que vamos encontrar areia e arroz às cores? Eu nunca vi disso....A

M.M. disse: Eu acho que os rangolis são bonitos, mas não sei fazer...as pessoas na Índia

sabem desenhar muito bem. A M.J. disse: Vou perguntar à minha avó se ela sabe fazer

desenhos desses...isso deve dar bué trabalho. Eu disse: Tenham calma, podemos procurar

imagens dos desenhos da arte Rangoli e depois fazemos as pinturas, assim é mais fácil.

Realmente o povo da Índia tem uma imaginação espetacular e um jeito enorme para

desenhar estas coisas. E já tive uma ideia para pintarmos? Que tal sal colorido?

Podemos fazer juntos. O M.N. questionou: Como? Continuei: Com truques – pisquei o

olho o que deu origem a algumas gargalhadas. Diz lá – pediu o T.R. Retomei a conversa:

Então com a Bimby, fazemos o sal ficar em pó e depois para dar cor pomos giz ou

corantes....O S. perguntou admirado: Giz de escrever no quadro? Isso dá? Eu disse: Sim

claro, fica desfeito e dá cor. O S. continuou: Isso é uma grande ideia. Sorri orgulhosa:

Obrigada. e tenho a certeza que vai resultar. Amanhã já trago tudo para podermos fazer.

Vamos para a sala do computador, pesquisamos imagens num instante.

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Anexo 6 - Notas de campo

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Em grupo dirigimo-nos à sala do computador, onde pesquisámos as imagens e

cada um pode escolher a sua preferida. No final as imagens foram impressas, para no dia

seguinte se dar continuidade à atividade.

NC.39

Palavras-chave: Reconhecimento de traços distintivos de diferentes culturas;

Reconhecimento de diferentes manifestações culturais religiosas; Aquisição de

vocabulário novo;

Data: 16 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 11h15

Local: Sala dos 4 anos, área do tapete

O grupo reuniu-se na área do tapete. As 24 crianças sentaram-se em roda e eu

juntei-me a eles para uma conversa. Expliquei: Hoje vamos fazer uma atividade em que

vão ter que me dizer palavras que aprendemos na viagem pela Índia e vamos dividir as

palavras em sílabas. Mas também vão ter que explicar o que essas palavras querem dizer.

Acho que já aprenderam algumas palavras...Quem quer começar? A C.B. levantou o

dedo e disse: Podemos contar outra vez a história da Lili? Eu respondi: Claro que sim.

Levantei-me e fui até à área conhecida como ‘cantinho da cultura’ e trouxe o livro. Sentei-

me e iniciei a história. No final questionei: Vamos começar? A C.B. levantou novamente

o dedo e disse: ´Diwali´. Di-wa-li - disse batendo três palmas – tem três sílabas. E quer

dizer Diwali? Perguntei. Ela respondeu: É uma festa importante na Índia, toda a gente a

festeja. Quer dizer festival da luz. Respondi orgulhosa: Certo. Quem é o próximo? O T.R.

disse: Eu sei ´Ganesha´. É um G,A,N,E,S,H,A. Eu disse: Mas quantas sílabas tem? Ele

bateu três palmas, dizendo: Ga-ne-sha. São três sílabas ´Ganesha´. É uma menina, ela

tem cabeça de elefante e está sempre a ver-nos. Então ela é uma? Perguntei. O F.P. disse

rapidamente: É uma deusa da Índia. As pessoas rezam a ela. Eu disse: Muito bem. E

mais? A L.P. disse: ´Krishna´, mas não sei fazer em sílabas...A M.M. disse: Nós

ajudamos. Kri-shna. É assim? São duas? Respondi: Penso que sim. A M.M. disse:

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Anexo 6 - Notas de campo

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Também é uma deusa e sei outro, é ́ Hanuman´. É Ha-nu-man, são três, este tinha cabeça

de macaco. Acenei positivamente com a cabeça. Eles são todos deuses, mas não sei os

outros, continuou. O F.P. adiantou: ´Rama´ é outro, Ra-ma. Este é muito fácil, são duas.

O grupo continuou a realizar a tarefa, quase autonomamente, necessitando da

minha interferência em raras ocasiões. O R. disse: Eu sei outra, é ´Taj Mahal´. Espera

Taj, Ma-hal, são três.Eu disse: Esta são duas palavras separadas: a primeira é Taj,

quantas sílabas são? O M.C. diz: são duas? Eu aceno negativamente com a cabeça. A C.

disse: É só uma – batendo uma palma – Taj. Eu disse: Certo. E a outra palavra é Mahal.

O V. disse: Ma – hal. São duas Ariana. O R. disse: Isso é um palácio gigante que o rei

construiu para a sua rainha, tu disseste e o teacher também disse no inglês. Eu disse:

Muito bem. E mais palavras, quem sabe? A M.J. diz: ´Namastê’ – enquanto executa a

ação, baixando a cabeça e juntando as mãos. Quer dizer que estamos a cumprimentar,

dizemos adeus às pessoas assim. Na-ma-ste tem três sílabas – diz batendo palmas. Eu

disse a sorrir: Estou a ver que vocês nem precisam de mim, nem da Vera. Ouviram-se

risos. O M.N. disse: Na Índia fala-se a língua ´hindi´, é a língua deles. São duas sílabas,

olha – diz batendo as mãos – Hin-di. A conversa acerca das palavras continuou e a M.S.

disse: Fizemos uma ‘kandil´ que é uma lanterna para pendurar na porta das casas e

‘rangoli’ que são pinturas no chão. Fazem isso no ´Diwali´. Eu questionei: E como se

divide em sílabas? A M.S. começou a bater palmas – Ran-go-li e Kan-dil. É assim?

Pisquei o olho e disse: Boa! Mais alguém? Durante algum tempo ninguém respondeu e

voltei a questionar: Já terminaram? De repente a L.C. disse: A roupa, chama-se´ Sari´,

são as meninas que vestem, é com cores e vai até aos pés. A M.J. diz rapidamente: A

minha avó tem lá em casa. A L.C. retoma e diz: Esta é bué fácil – bate as palmas – Sa-ri.

Agora acho que já não sabemos mais...Eu respondi: Mas sabem imensas coisas e mais

importante, sabem explicar o que são e já sabem dividir em sílabas sozinhos. Durante o

ano aprenderam imensas coisas, estão prontos para a sala dos 5 anos. Tive outra ideia.

Agora quem disse as palavras, pode ir escrevê-las no quadro de ardósia. Eu ajudo e

vocês também podem ajudar os vossos colegas. Pode ser? A resposta foi

maioritariamente positiva e assim se iniciou a atividade. A criança que tinha nomeado a

palavra ia até ao quadro e quando não conseguia baseado apenas na discriminação do

som, era ajudado por mim. Fui tirando fotografias e depois partilhei-as com os pais, via

correio eletrónico.

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Anexo 6 - Notas de campo

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NC.40

Palavras-chave: Diversidade cultural; Reconhecimento de traços distintivos de

diferentes culturas;

Data: 17 de maio de 2017

Observador participante: Ariana Fonseca

Hora: 9h05

Local: Sala dos 4 anos – Entrada/área do tapete

A chegada à sala decorreu com grande agitação e pequenas conversas, quer entre

as mães/pais que vinham entregar as crianças com entre estes e a equipa de sala. As

crianças corriam para mim e para a Vera entusiasmadas, quer para mostrar as suas roupas,

quer para comentarem as nossas. Algumas mães conversavam. A mãe da M.M. disse:

Ainda bem que o dia chegou, ela passou dias e dias a falar disto, acordou às 6h da manhã

excitada e já não dormiu mais. A mãe do S. disse: O meu estava maluco com a roupa da

Índia. A mãe da M.S. disse: A minha estava farta de vestir a roupa e pintava-se toda e

fala na Índia e nas roupas e nas festas com luzes. A mãe do V. chega e cumprimenta

todas dizendo: Aí o V. está todo excitado porque hoje é o dia da Índia. Ó Ariana – disse

olhando para mim – está toda gira. Não vão os miúdos estar doidos com isto. Sorri e

disse: Se inventamos o dia, temos que nos vestir a rigor, afinal estamos todos na Índia.

Bem vamos começar as atividades, até logo.

Nesta altura chega a mãe da M.J.: Bom dia Ariana. Olhe isto é uma vergonha mas

não sabia por o lenço, mesmo depois de a minha mãe me ter explicado ao telefone. Tive

que ir ver à internet. A mãe da M.V. que tinha acabado de chegar reagiu: Olha eu fui ao

Martim Moniz comprar a roupa para a minha. Ariana olhe que ela diz que são vocês que

a pintam, não me deixou fazer nada. Eu respondi: Sim, sim, eu disse-lhes isso, tenho joias

de colar, lápis vermelho, lápis preto, tudo. Afinal temos que levar as coisas a sério.

Estamos a tentar retratar uma cultura. A Mãe da M.V. disse: Já lhe tinha dito, mas digo

outra vez. Você está a fazer um excelente trabalho com estes meninos. Eu vejo a M.C.

motivada, desejosa de vir para a escola e conta-me imensas coisas que aprende. Vê-se

que aprende mesmo factos sobre as culturas. A mãe da M.J. disse também: A minha

conta tudo e diz que sabe tudo. Eu respondi: Vocês têm crianças interessadas, assim é

mais fácil de ensinar – disse sorrindo. Agora tenho que ir, tenho um grupo de indianos

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Anexo 6 - Notas de campo

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para orientar. Até logo. As mães despediram-se e continuaram a conversa entre elas,

através do corredor da escola.

Entrei para dentro da sala e juntei-me ao grupo que estava já no tapete com a Vera.

Neste momento batem à porta e entra o T.C. com o seu traje e carregando duas rosas. O

pai cumprimentou-nos alegremente: Bom dia. Vai lá dar filho – disse. O T.C. dirigiu-se

ao tapete e entregou-me uma rosa e outra à Vera. Olhou para nós com um grade sorriso a

aguardar uma resposta: Dissemos quase ao mesmo tempo – Obrigada! E demos-lhe um

abraço juntas. Disse ao pai: Muito obrigada, não era preciso, adorámos. A Vera

agradeceu igualmente. O pai respondeu: Vocês merecem tudo, isso é só um mimo. Vou

contar à mãe que gostaram. Eu disse: Não gostámos, adorámos! O pai respondeu: O

recado será dado, divirtam-se, até logo. Fechou a porta ao mesmo tempo que o T.C se

sentava junto do restante grupo.

A M.J. questionou: Vamos fazer o chapati? Eu respondi: Claro, a seguir vamos

pintar-vos, tirar fotografias juntos para mostrar aos pais e depois vamos fazer. Podemos

comer ao lanche. Mas primeiro vamos cumprimentar-nos á moda da Índia. Como é? Um,

dois, três…Todos juntaram as mãos e baixaram a cabeça dizendo em grupo: Namastê. A

M.J. disse também: Ariana tenho o sari na mala, posso ir buscar? Respondi: Já vais,

deixa só acabarmos de combinar o dia ok? Assim depois já podes explicar com calma. A

M.J. anuiu.

Num ambiente agitado e de grande entusiasmo, todos juntos conversaram e

planificaram o resto do dia de acordo com os interesses demonstrados pelo grupo.