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www.valoracrescentado-online.com Angola 11 USD’s | Portugal 8€ | Resto do Mundo 13 USD’s FEVEREIRO/MARÇO 2006 | n.º 2 DIÁSPORA ANSEIOS E DIFICULDADES DOS ANGOLANOS FORA DA SUA TERRA MERCADO DE CAPITAIS UM LONGO CAMINHO A PERCORRER SEGUROS ACTIVIDADE AINDA ADORMECIDA

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O trabalho da Actividade Seguradora deve- ria ter sido publicado com a “Banca” na edição anterior. Em Novembro de 2005, pedimos à ENSA colaboração para a reali- zação desse trabalho. A BOLSA DE VALORES E DERIVADOS DE ANGOLA (BVDA), com escritura de constituição celebrada no passado dia 16 de Março, pode ser um importante ins- 50 ANGOLANOS NA DIÁSPORA Um pé na Europa com África no coração

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MERCADO DE CAPITAIS UM LONGO CAMINHO A PERCORRER

SEGUROS ACTIVIDADE AINDA ADORMECIDA

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editorial

A partir desta edição, a revista VALOR ACRECENTADO, vai passar a ser bimes-tral. A razão prende-se com o facto de que-rermos melhorar, ou pelo menos manter, a qualidade das outras edições. Tarefa nem sempre fácil se pensarmos que a caracterís-tica formativa desta publicação obriga, em primeiro lugar, à obtenção de dados das instituições ou empresas, sempre demora-da e, a posteriori, a um exaustivo trabalho de pesquisa e investigação na Internet, bi-bliotecas e outros meios.

Mudando de assunto, apraz-me referir que assisti no mês passado, na Faculdade de Economia do Porto, a um seminário com ilustres palestrantes, de que destaco os Professores Doutores António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira. Foram estes dois Mestres que me incentivaram a lan-çar a revista VALOR ACRESCENTADO. Convidei-os a visitar Angola, aceitaram, e tudo indica que no início do ano que vem seja possível a VALOR ACRESCENTADO, trazê-los ao nosso País.

Nesta edição falamos de Diáspora. Com exemplos de angolanos que em Portugal se integraram e desenvolvem as mais diversas actividades. Faço parte dela. Sei das dificul-dades dum regresso definitivo. São muitos anos a viver fora do País. Há hábitos cria-dos. Há raízes criadas. Há barreiras de saí-da, sendo a família a principal quando há filhos a estudar. Há barreiras de entrada. Em suma, não se pode viver só com a emo-ção. Tem de haver racionalidade.

O trabalho da Actividade Seguradora deve-ria ter sido publicado com a “Banca” na edição anterior. Em Novembro de 2005, pedimos à ENSA colaboração para a reali-zação desse trabalho.

Lamentavelmente a falta de colaboração desta instituição levou-nos a adiar a publi-cação do trabalho. O último e-mail da ENSA foi recebido em meados de Abril/2006, e de importante extraímos: “ainda está na Administração”.

A Actividade Seguradora está numa fase de arranque. Julgo que o Seguro Automóvel, passando a ser obrigatório, vai ser o prin-cipal factor de desenvolvimento desta acti-vidade. Tendo em linha de conta o núme-ro de Bancos a operar em Angola (12) e o número de seguradoras (4), há uma grande diferença. É necessário criar uma “cultura de seguro”. Os dirigentes das empresas não podem pensar só nos seguros obrigatórios por lei. A nível de gestão, esses dirigentes, têm que pensar nos riscos que corre o seu Capital Fixo (Meios Fixos), como também será importante que as Seguradoras co-mecem a pensar quer no Seguro de Cré-dito (maior viabilidade ao financiamento bancário, com possível redução da taxa de juro), quer nos Fundos de Pensões e Segu-ros de Vida.

A BOLSA DE VALORES E DERIVADOS DE ANGOLA (BVDA), com escritura de constituição celebrada no passado dia 16 de Março, pode ser um importante ins-

trumento para os nossos empresários. As empresas têm de estar organizadas e devi-damente estruturadas para poderem ter e criar valor e serem apetecíveis para o in-vestidor estrangeiro. Vai ser uma das for-mas das empresas nacionais conseguirem aumentar os seus Capitais com dinheiro fresco.

Por outro lado, a BVDA vai criar emprego directo e indirecto. Directo porque preci-sa de licenciados em diversas áreas como: Direito, Economia, Contabilidade, Gestão de Empresas, Recursos Humanos, para do-tar os seus serviços, e indirecto, porque os Bancos têm de ter técnicos conhecedores do Mercado de Capitais. Vão também apa-recer as sociedades de corretores (dealers) que têm de ter os seus recursos humanos qualificados. O mesmo se vai passar com as empresas de Auditoria, Consultadoria e Formação.

Julgo que nos primeiros cinco anos a BVDA vai ser mais um Bolsa interna, isto porque há necessidade de preparar técnicos licen-ciados na área da Contabilidade, que se familiarizem com as Normas Internacio-nais de Contabilidade e, paralelamente, é urgente que se crie um organismo público, ou semipúblico, para adaptar as ditas Nor-mas aos Planos de Contas em vigor.

Nós cá estaremos para acompanhar e re-portar os benefícios desta nova etapa da Economia angolana. Uma economia que se espera, e deseja, próspera.

Informar e formar com qualIdade

ProPrIedade Valor Acrescentado - Prestações de Serviços Lda dIrector José Luís Magro chefe de redacção Natasha Oliveira redacção Gabriela Caçador (coordenadora), Paula Caetano, Carlos NetoPublIcIdade Isabel SilvaGrafISmo PMD - Comunicação e Design www.pmd.ptImPreSSão Uniarte Gráfica / Portocolaboraram neSte número Rui Cruz, José Luís Magro, Rogério Fernandes Ferreira, Leonor Ferreira, Luiz F. Coelho da Rocha, Natasha Oliveira, Paula Caetano tiragem: 5.000 exemplares. registada sob o número mcS-430/b/2006.

SedeAv. Comandante Valódia, nº 5 - 1º nº 15 - Luanda Tel. 00244 2442497 - Fax 00244 4311168 aGenteRua da Cidade de Luanda, nº 9 - BengueladeleGaçãoRua Quinta da Campainha, nº 14435-406 Rio Tinto - PortugalTel. 00351 228300507 - Fax 00351 228329897

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� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

Fevereiro/Março ‘06 | nº 2

especial

50 ANGOLANOS NA DIÁSPORA UmpénaEuropacomÁfrica nocoração

Angola deu-lhes a terra, o sol, o cheiro. Que não esquecem. Mas o conflito armado que assolou o país, durante longos anos, destruiu tecido hu-mano e material e fez com que os angolanos abandonassem a terra que os viu nascer. Por-tugal recebeu-os de braços abertos. Conquista-ram empregos, criaram raízes, fizeram filhos. Uns estão perfeitamente integrados, outros vão e vêm, para estudar ou fazer negócios. Uma co-munidade flutuante de muitos milhares, onde cada caso é um caso.

direito fiscal

10 ATributaçãodosRendimentos dasSociedadesAbertaseo MercadodeCapitaisemAngola

contabilidade

14 ComparaçãoentreoPlanoGeral deContabilidadedeAngolae algunsplanosdaUniãoEuropeia

18 NormalizaçãoContabilística passaaInternacional?

gestão

28 AvaliaçãodeEmpresas

32 Quandoomalestádentro

34 IdeiaseTécnicasdeGestão

38 GlossárioBolsadeValores

canto do investidor

42 CIVOPAL

informática de gestão

42 MapadeSeguros

cultura

48 LuísaFreitas “Omeutrabalhonãoéabstracto”

falando com...

86 HorácioFonseca

lazer

88 SethSoares “AvóSerafina”énomededisco

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. �Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

sumário

secções

02 EDITORIAL

06 RECORTESDEIMPRENSA

08 OPINIÃODOSLEITORES

10 DIREITOFISCAL

14 CONTABILIDADE

28 GESTÃO

42 INFORMÁTICADEGESTÃO

46 CANTODOINVESTIDOR

48 CULTURA

50 ESPECIAL

86 FALANDOCOM...

88 LAZER

90 PRÓXIMONÚMERO

especial

64 MERCADODECAPITAISA Bolsa de Valores e Derivados de Angola pas-sou a ser uma realidade quando em 16 de Março de 2006, foi feita a sua escritura de constituição. Para o seu sucesso muito trabalho há pela frente.

especial

74 ACTIVIDADESEGURADORA EMANGOLA

O Homem apercebeu-se desde cedo da necessi-dade de criar princípios prudenciais, com vista a garantir e salvaguardar os seus bens e direitos.

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recortes de imprensa

GALP DeScObRIu PetRóLeO NO bLOcO 32

A Galp Energia anunciou a descoberta de petróleo no bloco 32, nas águas ultra-profundas de Angola, que durante o tes-te, produziu 5.347 barris diários de crude. A petrolífera portuguesa explora o bloco 32 em consórcio com a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (So-nangol), Total, Marathon e Esso. A Galp tem 5 por cento da parceria, a Sonangol 20 por cento, a Total e a Marathon 30 por cento cada e a Esso 15 por cento. A descoberta de petróleo no quinto poço de pesquisa, de-nominado Mostarda-1, que está localizado na parte Este do bloco 32, aproximadamente a 14 quilómetros a Sul do poço Canela-1 e a 15 quilómetros a Sudeste do Gengibre-1, foi feita a 1.758 metros de profundidade. Em 2004 e 2005, o consórcio tinha anunciado a descoberta de petróleo nos poços Canela-1 e Gengibre-1, respectiva-mente, o que demonstra que esta é uma área «que se tem revelado de elevado potencial e uma das mais promissoras do offshore de Angola», refere a Galp em comunicado. Estes poços estão localizados entre 170 a 180 quilómetros da costa, a Noroeste de Luanda. Além desta participação, a Galp tem ainda interesses no bloco 33 (5 por cento), bloco 14 (9 por cento) e no bloco terrestre Cabinda Centro (20 por cento). No bloco 14 está em produção, desde 1999, o campo Kuito e, desde Janeiro, o campo Belize, do complexo Benguela-Belize-Lobito- Tomboco. “Com a entrada em produção deste conjunto de campos, a Galp Energia aumentará este ano a produção própria, facto que se insere na estratégia de vir a produzir a médio prazo cerca de 100.000 barris de petróleo por dia”, refere a petro-lífera.

Expresso,14/02/2006

GRuPO LeNA ADquIRIu cINcO emPReSAS ANGOLANAS

O grupo português Lena anunciou ter adquirido a maioria do capital de cinco empresas angolanas do grupo Maco-nang que opera na área da constru-ção, automóveis, comunicação, turis-mo/restauração. A informação foi avançada terça-fei-ra pelo «Diário de Notícias» ao qual fonte do grupo indicou que a opera-ção surge da estratégia de internacio-nalização adoptada pelo grupo portu-guês, que desta forma «reforça a sua presença num mercado com expec-tativas de crescimento excepcionais» (as estimativas apontam para 25% a 27%). Em comunicado enviado ontem à imprensa, Joaquim Barroca Vieira Rodrigues, vice-presidente do Conse-lho Geral do Grupo Lena, afirma que «estes investimentos são o resultado de um trabalho de prospecção neste mercado, que já dura há cerca de dois anos, e reforçam a aposta do Grupo em África, depois das presenças já estabelecidas tanto em Moçambique como na Argélia».

FonteExpresso,2006/02/08

Com a abertura prevista para este ano, a Bolsa de Valores e Derivativos de Angola (BVDA) conta já com 27 subscritores e um montante de 7 milhões e 710 mil dólares para a sua constituição.No dia 10 de Fevereiro, os accionistas vão-se reunir para eleger a equipa que vai preparar a constituição da Bolsa, como instituição público e privada, marcada para o dia 16 de Março. Entre os subscritores constam a Sonangol, a En-diama, a Ensa, FDES, BPC, BIC, BFA, BAI, Grupo António Mosquito, Sistec e Chicoil. Segundo o director executivo da Bolsa de Valores e Derivati-vos de Angola, Zacarias Neto, existem várias intenções para subscritores da instituição. “A partir de Março, a Bolsa terá vida própria, porque os accionistas (foram convidados vários uns aceitaram outros não, uns confiaram e outros descon-

fiaram) vão poder eleger o corpo directivo que vai efectuar o seu plano de negócios, aprovado pela CMC”.O presidente do conselho de administração, a ser eleito pe-los accionistas, será aprovado pela CMC. “Queremos que seja uma instituição inabalável, transparente e que permita o acesso tanto dos grandes como dos pequenos investidores, garanta a defesa dos seus interesses e viabilize a democra-tização do capital em Angola”, frisa Cruz Lima.Depois do dia 16 de Março já não serão mais aceites propos-tas ou pedidos para subscrição do capital da Bolsa. “Pode acontecer que alguns accionistas vendam as suas posições ou a Bolsa colocar acções suas na Bolsa. Aí já será mais caro do que actualmente. É como comprar o apartamento ainda em construção que é mais barato do que comprar a casa já feita”, frisou.

JornaldeAngola(CândidoBessa),2006/02/09

bOLSA De VALOReS JÁ tem 27 AccIONIStAS

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� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

opinião dos leitores

Caro director,

Causou-me uma impressão mui-to positiva, quer pelo aspecto gráfico, quer pelo conteúdo. Sei que ainda está no princípio, mas melhor começo seria difícil.O aspecto gráfico é, para mim, e penso que para uma grande maioria, de uma importância vital. Ele permite que o leitor o seja de facto, isto é, que possa ir ao que importa, o conteúdo. Facilita a leitura sem cansar a vista. E na Valor Acrescentado encontrei uma forma de apre-sentar o texto sem ser demasia-do compactado, bem comparti-mentado, o que permitirá a cada um, se o quiser, saltar direc-tamente para o conteúdo que pretende sem se perder.O conteúdo está muito bem apresentado e de forma clara. Penso que os mercados alvos também permitiram, ou até obri-garam, a que houvesse esse cuidado.Estruturado de uma forma lógi-ca, bem fundamentado, penso que vai obrigar a que cada leitor passe a ver a revista, não como um conjunto de folhas que aju-dam apenas a passar o tempo, mas como um objecto de inte-resse académico, já que contém informação técnica, quer histó-rica, quer económica, quer de outra natureza, bem preparada. Enfim, passará a ser uma revis-ta a fazer parte da biblioteca de cada um, sem o envergonhar, bem pelo contrário.

[email protected]

À redacção da revista Valor Acrescentado

Prezados senhores,

Li o número 1 da revista e fiquei surpreendida pela riqueza dos artigos. Procurei a revista 0 e gostei também dos conteúdos, pese embora o número 1, ter melhorado bastante a nível gráfico.A Valor Acrescentado dentro da sua especialidade é uma revista que em Angola dificilmente pode haver melhor o mesmo se passa em Portugal, isto porque poucas revistas se podem dar ao luxo de ter colaboradores como António Lopes de Sá e Rogério Fer-nandes Ferreira.

[email protected]

Prezado Luís Magro

Quanto ao Nº1 da VALOR ACRESCENTADO, ficámos muito sa-tisfeitos com a qualidade do que se publicou, tanto a nível infor-mativo e técnico, como o aspecto gráfico. Os assuntos escolhi-dos parecem-nos relevantes e daí, com muita utilidade. Para mim é também muito informativa para saber um pouco mais sobre a situação actual e perspectivas futuras de Angola.

[email protected]

Dr. José Luís Magro

Julgo que nunca foi feito um trabalho com tanta profundidade, sobre a Banca em Angola. O capítulo “ Bancos a mais?”, mostra uma antevisão e chama a atenção do que vai acontecer num futuro próximo em Angola, ou seja, fusões e concentrações de bancos e possivelmente desemprego. A economia de Angola não vai crescer sempre. Da análise às demonstrações financeiras da Banca, foi pena não estarem todos os Bancos, porém deu para ter uma ideia da per-formance desta actividade. Valor Acrescentado, vocês são diferentes para melhor

anónimo

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www.valoracrescentado-online.comA sua revista online com conteúdos sempre actualizados, informações úteis e contacto directo com os colaboradores.

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10 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

direito fiscal

Rui CRuzPresidente da Associação Fiscal de Angola

Docente UniversitárioGestor

[email protected]

1- PReSSuPOStOS e ObJectIVOS

1.1- Pressupostos:

1.1.1-Os elementos normativos e as informações constantes do presente trabalho têm como campo de aplicação as so-ciedades comerciais que participem em áreas de actividade económica, com exclusão do sector petrolífero, sujeito a um regime fiscal especial;

1.1.2- O sistema fiscal angolano, com excepção do sector pe-trolífero e mineiro, é resultante de uma Reforma Fiscal reali-zada no fim dos anos 60 e princípios de 70, antes da indepen-dência ocorrida em 11 de Novembro de 1975;

1.1.3- A estrutura do sistema de tributação dos rendimentos em Angola é constituída por um conjunto de impostos cedu-lares que, de forma autónoma, tributam diferentes manifes-tações de rendimento, como sejam os lucros, os dividendos ou os juros, através do imposto industrial e do imposto sobre aplicação de capitais;

1.1.4- O imposto complementar que introduzia alguns ele-mentos de maior personalização e equidade na tributação directa dos rendimentos foi revogado, logo após a indepen-dência nacional, o que permitia uma maior personalização e equidade na repartição da carga fiscal entre as pessoas singu-lares e colectivas;

1.1.5- A nova Lei reguladora das sociedades comerciais - Lei nº 1/04- prevê a constituição de sociedades comerciais, de tipo anónimas, com recurso à subscrição pública do capital social, com base na iniciativa de uma ou mais pessoas que actuem como sócios fundadores;

1.1.5- Através da Lei nº 12/05- Lei dos Valores Mobiliários - en-contram-se regulados os actos e operações relativos à oferta pú-blica e intermediação de valores mobiliários, tendo em vista a

criação e desenvolvimento do mercado de capitais, como mer-cado alternativo de financiamento das sociedades comerciais;

1.1.6- Nessa Lei dos Valores Mobiliários, importa destacar o estabelecido no seu artigo 127º segundo o qual o Governo “…fica autorizado a propor as medidas fiscais necessárias à dinami-zação dos investidores e ao desenvolvimento de novos intervenien-tes do mercado de capitais, criados ao abrigo desta lei, podendo isentar todos os encargos notariais e da natureza fiscal inerentes à criação, inscrição e aumento do capital social das instituições que tinham requerido a admissão à cotação em bolsas de valores”.

1.2.-Objectivos:

Com o presente trabalho pretende-se atingir os seguintes ob-jectivos;

1.2.1- Avaliar o impacto de alguns elementos fiscais na tri-butação dos lucros retidos ou distribuídos aos sócios nas so-ciedades abertas, bem como a sua influência na estrutura de financiamento ou investimento das empresas através de capi-tais próprios ou alheios;

1.2.2- Analisar, em especial, os efeitos da dupla tributação eco-nómica que recai sobre os rendimentos das sociedades e das acções ou quotas que sejam distribuídos aos sócios e os seus efeitos sobre o desenvolvimento do mercado de capitais.

2- A tRIbutAçãO DOS ReNDImeNtOS DAS SOcIeDADeS

2.1-tributação dos lucros

2.1.1- As sociedades comerciais que exerçam actividades de natureza comercial, industrial, agrícola ou de serviços em An-gola estão sujeitas ao pagamento do imposto industrial pelos lucros obtidos. As sociedades que tenham sede ou direcção efectiva em Angola serão tributadas pela totalidade dos lucros

A Tributação dos Rendimentos das Sociedades

Abertas e o Mercado de Capitais em Angola

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. 11Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

direito fiscal

obtidos no país e no estrangeiro (princípio da universalidade) artigo 3º;

2.1.2- As sociedades que tenham sede ou direcção efectiva no estrangeiro serão tributadas em imposto industrial desde que possuam estabelecimento estável em Angola, pelos lucros que sejam obtidos pelo estabelecimento ou ainda por aqueles que lhes sejam imputados, mesmo que realizados pela sociedade mãe, desde que decorram de actividades da mesma natureza ou similares às exercidas pelo estabelecimento estável (prin-cípio da força atractiva) artigo 4º;

2.1.3- Exceptuam-se, no domínio da prestação de serviços, as actividades de empreitadas, subempreitadas, bem como os contratos de gestão, assistência técnica ou similares, em que os rendimentos dos não residentes estão sujeitos ao imposto industrial, independentemente de ter ou não estabelecimen-to estável em Angola, nos termos e condições estabelecidas na Lei nº 7/97;

2.1.5- A taxa do imposto industrial é variável, tendo uma taxa geral de 35% para todos os rendimentos não sujeitos a uma taxa especial. Os rendimentos da actividade agrícola estão su-jeitos a uma taxa reduzida de 20%, prevendo-se a redução de 50% da taxa geral para os rendimentos das “…empresas que se constituam nas regiões economicamente mais desfavorecidas, a definir pelo governo, e às que procedam à instalação de industrias de aproveitamento de recursos locais,” por um prazo não supe-rior a dez anos artigo 72º;

2.1.7- O Código de imposto industrial prevê, ainda, a isenção por um período de 10 anos dos rendimentos de natureza agrí-cola ou pecuária, silvícola ou pecuária e por um prazo de 3 a 5 anos para os rendimentos derivados da instalação de novas indústrias. Os rendimentos de natureza comercial ou indus-trial sujeitos a regimes fiscais especiais, como é o caso do sector petrolífero estão, igualmente, isentos de imposto industrial;

2.1.6-Com a aprovação da nova lei de incentivos fiscais e adu-aneiros ao investimento privado -Lei nº 17/03 – foram criadas taxas especiais para os rendimentos dos estabelecimentos de ensino particular e de assistência médica quando integrados

nos sistemas nacionais de ensino e saúde com uma taxa de 20%, podendo essa taxa ser reduzida para 10% “…sempre que o estabelecimento do ensino e as clínicas particulares ofereçam gratuitamente 10% da sua capacidade a alunos de classes desfa-vorecidas nos termos que vierem a ser regulamentados.” De acor-do, com a mesma Lei foram concedidas novas isenções do pagamento do imposto industrial por períodos que variam entre 8 a15 anos, consoante a zona de desenvolvimento re-ceptora do investimento, em que foi dividido o país;

2.1.8- Ao nível da determinação da matéria colectável, o Có-digo prevê as reintegrações e amortizações dos elementos do activo imobilizado, sujeitos a depreciação até ao limite da ta-xas anuais constantes da tabela aprovada pelo Ministro da Finanças, prevendo-se como regra o método da quotas cons-tantes;

2.1.9- Ao nível dos custos ou perdas fiscais dedutíveis da ma-téria colectável, o Código considera como custos de explora-ção os encargos de natureza financeira, incluindo os juros de capitais alheios utilizados pela empresa, bem como os encar-gos fiscais e parafiscais a que estiver sujeito os contribuintes que pertençam ao grupo A, com excepção do próprio impos-to industrial. Os rendimentos de acções nominativas ou ao portador registadas e de quotas ou parte sociais de sociedades nacionais poderão ser deduzidas do lucro líquido, desde de que sejam detidos pelo contribuinte durante dois anos con-secutivos e a participação no capital social daquela empresa não seja inferior a 25%;

2.1.10- Prevê, igualmente, o Código que os lucros levados a reservas e que dentro dos 3 anos seguintes tenham sido rein-vestidos na própria empresa, em instalações ou equipamen-tos novos, de interesse para o fomento da economia nacio-nal “…poderão ser deduzidos dos lucros tributáveis nos 3 anos imediatos ao da conclusão do investimento, até a concorrência de metade ou da totalidade do seu valor consoante derivem da explo-ração normal ou da realização de mais valias.”;

2.1.11- A lei de incentivos fiscais ao investimento privado prevê, para efeitos da matéria colectável que as despesas que se realizem com construção e reparação de estradas, teleco-

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12 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

direito fiscal

municações, abastecimento de águas infra-estruturas sociais parar os trabalhadores e suas famílias e populações dessas área, bem como as despesas relacionadas com a formação profissional ou ainda as despesas de investimento no sector cultural poderão ser deduzidas até 100%;

2.1.12- Dada a inexistência de um imposto autónomo sobre as mais-valias, o Código de imposto industrial considera como ganhos ou proveitos fiscais, sujeitos ao referido imposto, as mais-valias realizadas que resultem de transmissão onerosa de elementos do activo imobilizado da sociedade ou de bens ou valores que sejam mantidos como reserva ou fruição.

2.2- tributação das acções e das obrigações

2.2.1- Os rendimentos das acções distribuídos pela sociedade aos sócios ou dividendos, como vimos antes, estão sujeitos ao imposto sobre aplicação de capitais, originando assim a dupla tributação económica sobre os rendimentos das sociedades. Nos termos do disposto no artigo 30º desse imposto, sobre os dividendos incide uma taxa de 10%;

2.2.2- A lei 17/03 estabelece a isenção do pagamento do im-posto por um período de 5 a 15 anos, consoante a zona em que se efectua o investimento, cujo montante seja superior a US$250.000, ou tratando-se de valor inferior o período de isenção será de 5 a 10 anos. Neste último caso, a lei prevê ainda a isenção de tributação de dividendos nos 3 ou 5 anos seguintes sempre que tenham sido reinvestidos;

2.2.3- Os aumentos de capital social realizados através da emissão de novas acções, com reserva de preferência para os sócios, estão igualmente sujeitas ao imposto sobre aplicação de capitais com uma taxa de 15% com base no valor das ac-ções emitidas;

2.2.4- Os rendimentos das obrigações estão, também, sujeitos ao pagamento de imposto sobre aplicação de capitais com uma taxa de 10%. Já as mais valias de obrigações e de acções, embora não expressamente descritas, parecem ser enquadrá-veis na referência a outros rendimentos derivados de simples aplicação de capitais e como tal sujeitas a uma taxa de 15%;

2.2.5- Os juros de capitais mutuados, bem como de contratos de crédito, com excepção, entre outros das Obrigações do Te-souro e de títulos da divida pública estão sujeitos, igualmente, ao imposto sobre aplicação de capitais, com uma taxa de 15%.

3- cONcLuSõeS:

Da análise dos elementos sobre a tributação dos rendimentos das sociedades comerciais abertas e com reflexo no futuro mer-cado de capitais, podemos extrair as seguintes conclusões:

3.1- A diversidade de taxas, actualmente existentes no im-posto industrial, contradizendo com o sistema inicial de uma

única taxa proporcional, não só pôs fim à simplicidade de gestão, como e sobretudo induziu a iniquidades dentro do mesmo imposto e no sistema fiscal em geral, o que foi agrava-do com a proliferação de isenções e outros benefícios fiscais criados mais recentemente;

3.2- A dupla tributação económica, a que estão sujeitos os rendimentos das sociedades comerciais ao nível da tributação dos lucros e dos dividendos distribuídos, funciona como um factor que penaliza a distribuição de resultados e premeia as sociedades que retêm os lucros;

3.3- No mesmo sentido, aponta a disposição do Código do im-posto industrial (artigo 47 º) que incentiva os reinvestimentos dos lucros na própria empresa, que funciona tanto como um incentivo a capitais próprios, quanto como um factor que si-multaneamente apela a uma menor distribuição de resultados pelos sócios. Ora, o mercado de capitais necessita de sinais ou disposições normativas que estimulem a distribuição de divi-dendos como forma de atrair as poupanças privadas;

3.4 – No tocante à determinação do lucro tributável, merece particular atenção a disposição do Código do imposto indus-trial que permite a dedução da matéria colectável dos juros derivados de empréstimos bancários, mas não permite a de-dução, do lado da empresa nem dos sócios beneficiários de dividendos, dos resultados distribuídos, como forma de eli-minação ou atenuação da dupla tributação económica. Assi-nale-se que a única excepção, prevista no código, se refere aos dividendos e juros de títulos nacionais, quando aplicadas em reservas técnicas das sociedades de seguros ou em sociedades de mera gestão de carteira de títulos com um elevado capital social (artigo 45º do C.I.I.);

3.5-Ainda com relação à determinação da matéria colectável, não parecem justificáveis os condicionalismos, de natureza temporal e ao montante da participação social, à dedução dos rendimentos de acções nominativas ou ao portador regista-das em sociedades participadas (artigo 45º do C.I.I.)

3.6 – A taxa agravada de 15% que recai sobre as mais valias de títulos das sociedades (acções e obrigações), nos termos do imposto sobre aplicação de capitais - I.A.C -, poderá em certos casos funcionar como um factor de desincentivo à retenção dos dividendos pela sociedade, o que poderá favorecer o mer-cado de capitais;

3.7 – Com relação à tributação dos aumentos de capital so-cial prevista no I.A.C é necessário que se estimule a oferta de subscrições públicas de acções, em sociedades cotadas ou não cotadas na bolsa, como forma de impulsionar o mercado de capitais.

Nota Trabalho apresentado no Fórum de Mercados de Capitais, realiza-do em Luanda de 1 a 3 de Março de 2006.

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Nota Trabalho apresentado no Fórum de Mercados de Capitais, realizado em Lu-anda de 1 a 3 de Março de 2006.

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1� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

1. INtRODuçãOO PGCA foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 82/01 de 16/11.É um plano que obedece a uma normalização sectorial isto porque, não se aplica à Banca nem às Seguradoras, mas so-mente às Sociedade Comerciais. Os planos de Contabilida-de, que vamos comparar, obedecem também a uma norma-lização sectorial.

2. cOmPARAçãO DA eStRutuRA DO PGcA cOm ALGuNS PLANOS De cONtAbILIDADe DA uNIãO euROPeIA1

Fazendo a comparação entre a estrutura do PGCA com al-guns planos de Contabilidade usados na UE temos o quadro da página seguinte.

O PGCA teve como base as normas da International Ac-counting Standards Committee Board (IASB) e é importante referir o que está escrito no PGCA no ponto 1.1 - Justifica-ção:” …conveniência em substituir o carácter legal actual por práticas geralmente aceites o que se prevê venha a acontecer de forma progressiva”.

Os planos de Contabilidade da UE obedecem à Directiva 78/660/CEE do Conselho, de 25 Julho de 1978 (4ª directiva) baseada no art. 54º, nº 3 alínea g) do Tratado da União Euro-peia, relativa às contas anuais de certas formas de sociedades comerciais (anónimas, quotas e em comandita por acções) e à Directiva 83/349/CEE do Conselho, de 13 de Julho de 1983 (7º directiva) com suporte no mesmo artigo da 4ª Di-rectiva e relativa às contas consolidadas.

Entre os Estados-Membros, da UE, existem regras jurídicas de equivalência mínima, quanto ao âmbito das informações financeiras a divulgar junto do público pelas sociedades co-merciais de cada Estado-Membro, daí haver diferenças de

estrutura e nomenclatura nos referidos planos de Contabili-dade, ou seja, é uma forma de harmonizar a Contabilidade.

3. ANÁLISe DO PGcADentro das exclusões temporárias, ponto 1.4.2, a relevação contabilística das locações é opcional o que podemos com-preender, tendo em consideração que a locação financeira e operacional ainda não tem o uso pleno em Angola.

Dentro dos princípios geralmente aceites em Contabilidade (pcga) não está contemplado no PGCA, o “princípio da pru-dência” que é definido na estrutura conceptual do IASB da seguinte forma: ”ao preparador de demonstrações financeiras deparam-se as incertezas que rodeiam muitos acontecimentos e circunstâncias. É possível integrar nas demonstrações financei-ras um grau de precaução ao fazer-se as estimativas exigidas em condições de incerteza sem que todavia se criem reservas ocultas ou provisões excessivas ou deliberadamente se quantifiquem ac-tivos e proveitos por defeito ou passivos e custos por excesso”. O princípio da prudência, é dos mais antigos, tendo sido o seu autor, o jesuíta Ludovico Flori (século XVII). Tal prin-cípio, devia estar inserto no PGCA, devido ao risco que as operações de crédito e outras de natureza exógena (cada vez mais pensa-se no ambiente e é importante termos sempre presente os passivos contingentes) estão sujeitas em geral, e, em particular, em Angola, que ainda é considerado um País de risco, devido à falta de infra-estruturas, meios de comuni-cação nomeadamente terrestres tudo isto fruto da paz estar radicada num passado muito recente.

Os critérios para reconhecimento dos elementos nas classes das demonstrações financeiras, no conjunto estão de acordo com as normas internacionais, nomeadamente as do IASB, e o PGCA ultrapassa em tais critérios, alguns planos de Con-tabilidade da UE, nomeadamente o POC.

Comparação entre o Plano Geral de Contabilidade

de Angola e alguns planos da união Europeia

JOSÉ LuÍS MAGROLicenciado em Contabilidade

Pós-Graduado em Finanças Empresariais

Auditor e Consultor de Empresas

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. 1�Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

1 2 3 � � 6

PGCA POC1 PGC2 PCG3

1.Introdução 1.Introdução

Introdução

Introdução Titulo I – Objectivos e Princípios

Contabilísticos I – Aplicação

II – Princípios Contabilísticos III – Definição de Contas Anuais

2.Demonstrações Financeiras2.Considerações Técnicas

Titulo II – Definição de Activo, Passivo, Proveitos e Custos

3.Caracteristicas da informação financeira

3.Políticas contabilísticas

4.Princípios contabilísticos 1ª Parte – Princípios contabilísticos

5.Critérios valorimétricos 5ª Parte – Normas de valorização Título III – Regras de contabilização e de valorimetria

4.Componentes das Demonstrações Financeiras

6.Balanços

4ª Parte – Contas Anuais Título V – Documentos de síntese7.Demonstrações de

resultados

8.ABDR4

9.OAF5

5.Quadro e lista das contas

10.Quadro de contas2ª Parte – Quadro de contas

Título IV – Estrutura e funcionamento das contas

I - Organização contabilística II – Registo

III- Plano de Contas11.Código de contas

6.Notas Explicativas

12.Notas Explicativas

Título IV – Estrutura e funcionamento das contas

IV – Notas Explicativas13.Normas de consolidação

14.Demonstrações financeiras consolidadas

O PGCA teve como base as normas da International Accounting Standards Committee of Board (IASB) e é importante refe-rir o que está escrito no PGCA no ponto 1.1 - Justificação:”

…conveniência em substituir o carácter legal actual por práticas geralmente aceites o que se prevê venha a acontecer de forma pro-gressiva”.

1 Este trabalho foi feito antes de entrar em vigor a Directiva n.º 2003/51/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 18 de Junho.2 Português – Plano Oficial de Contabilidade - POC3 Espanhol - Plan General de Contabilidad - PGC� Francês - Plan Comptable Général - PCG� ABDR – Anexo ao Balanço e Demonstração de Resultados6 OAF – Origem e Aplicação de Fundos

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1� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

No entanto, é importante analisar o que está expresso no PGCA no seu ponto 3.6.4.5-Erros e alterações de politicas contabilísticas:

“A correcção de erros fundamentais deverá ser reconheci-da nos resultados transitados de exercícios anteriores”. É importante definir o que são erros fundamentais, seu conteúdo e a sua extensão.As subcontas 68.9 – Alterações de politicas contabi-lísticas e 68.10 – Correcções relativas a exercícios an-teriores, integram a conta 68 -Outros Proveitos e Ga-nhos não Operacionais, tal como as subcontas 78.9 – Alterações de politicas contabilísticas e 78.10 – Cor-recções relativas a exercícios anteriores integram a conta 78 – Outros Custos e Perdas não Operacionais. É nosso entendimento que tais contas de Proveitos e Ganhos e Custos e Perdas deveriam fazer parte dos Proveitos e Custos Extraordinários, devido à sua ex-cepcionalidade.

Da mesma forma, a 68.1 – Reposição de provisões e 78.1 – Provisões do exercício, fazem tal como atrás já foi referi-do parte das contas Proveitos e Ganhos e Custos e Perdas não Operacionais. No POC e nos outros planos já referi-dos são considerados como Proveitos e Ganhos e Custos e Perdas Operacionais. É importante ter em consideração o conceito de Provisões, Passivos e Activos Contingentes, que é relatado na NIC nº 37 – Provisões, Passivos e Acivos Contingentes

Assim, tendo em vista a harmonização da informação con-tabilística que é referida na Introdução do PGCA é impor-tante que seja remodelado a estrutura dos Proveitos e Ga-nhos e dos Custos e Perdas, isto porque a nível de rácios o seu cálculo não pode ser o mesmo utilizado em relação ao PGCA e os restantes planos, como exemplo, a determina-ção do Ponto Critico das Vendas, Alavanca Financeira… Em suma, é importante rever os Resultados não Operacionais e, por outro lado, que seja criada a conta de “Resultados Correntes”�

A consolidação de contas que faz parte da alínea d) do ponto 1.4.2 Exclusões temporárias, do PGCA é opcional, mas en-tendemos que deve ser obrigatório, dando consistência ao que está regulamentado na Lei das Sociedades Comerciais

� Resultados Correntes em Portugal correspondem à soma algébrica dos Resul-tados Operacionais com os Resultados Financeiros

nos artigos sobre Sociedades Coligadas, Sociedades em Rela-ção de Participação e Sociedades e Relação de Grupo.

4. A PROcuRA DA hARmONIzAçãO cONtAbILIStIcA A NíVeL muNDIALA UE em meados de 2002, optou pela aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) do IASB a todos os Estados-Membros, com vista a harmonizar as informações financeiras apresentadas pelas sociedades comerciais cujos valores mobiliários fossem admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer Estado-Membro (so-ciedades cotadas), de forma a assegurar um elevado grau de transparência e de comparabilidade das demonstrações financeiras.Com este objectivo, pretendeu-se um funciona-mento eficiente do Mercado de Capitais da Comunidade e do Mercado Interno. A aplicação deste normativo, entrou em vigor em Janeiro de 2005.

Assim, a partir daquele ano, passou haver dois tipos de Con-tabilidade:

Um de acordo com as NIC para as sociedades cotadas;Outro para as empresas em geral, que tiveram a possi-blidade de optar por dois níveis de normalização con-tabilistica:a primeira, referente às NIC, para quem fizer a opção imediata; e, a segunda, para as restantes em-presas.Porém, estas últimas, progressivamente vão ter inevitavelmente de se adaptarem às NIC, nomeada-mente aos critérios de reconhecimento e mensuração.

Entretanto tal como referiu Briston (1978) a influência da herança cultural é em princípio o factor explicativo da di-versidade contabilistica, nomeadamente para os países fora da Europa, ou seja, é fácil prever a evolução que a Conta-bilidade vai ter na Gâmbia (influência inglesa) comparati-

••Não está contemplado no PGCA, o “prin-

cípio da prudência”.

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. 17Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

vamente com o vizinho Senegal (influência francesa) e em Angola (influência portuguesa).

5. cOmISSãO De NORmALIzAçãO cONtAbILIStIcATal como atrás referimos a UE, optou pelas NIC em 2002 para que em 2005, fossem aplicadas nomeadamente as em-presas cotadas em Bolsa de Valores.

Angola tem de olhar para esse espaço de tempo para se or-ganizar, no domínio contabilístico, nomeadamente aproxi-mar-se da harmonização contabilística. Precisa de ter técni-cos competentes pelo que é necessário um ensino superior de qualidade na vertente da Contabilidade e afins.

Independentemente de tudo, no dia 16/03/2006, os accio-nistas/subscritores vão reunir para eleger a equipa que vai preparar a constituição da Bolsa, como instituição público e privada, Entre os subscritores, constam a SONANGOL, a ENDIAMA, a ENSA, FDES, BPC, BIC, BFA, BAI, GRUPO AN-TóNIO MOSQUITO, SISTEC e CHICOI.

Mas é tudo? Não, como refere Fernando Teles Presidente do Conselho de Administração “é preciso explicar que uma em-presa, para participar na Bolsa, tem de ter os balanços auditados e ter dados reais. Isto é importante para que o investidor que está a aplicar o seu dinheiro numa empresa, participando com o seu capital o faça com segurança” , artigo publicado no dia 09/02/2006, no Jornal de Angola.

Nesse contexto, muita tem de ser feito quer a nível de forma-ção e ensino da Contabilidade e afins, como é importante a criação de um organismo competente, que poder-se-à chamar de Comissão da Normalização Contabilística (CNC), para

acompanhar e/ou adaptar o PGCA à nova realidade conta-bilística mundial – queremos ter uma Bolsa de Valores.Com que expressão e dimensão? Quais são as estratégias a seguir?

A dita Comissão de Normalização Contabilística, para além da reestruturação/criação de um novo plano de Contabili-dade, que entendemos ser urgente, pelas razões já referidas, deve também, criar Directrizes Contabilísticas que sirvam de suporte ao referido plano. Por outro lado, seria importante a criação de um site que desse a conhecer a evolução dos traba-lhos da Comissão de Normalização Contabilística, tal como hoje faz o IASB (www.iasc.org.uk) como também, tal site, deveria ter um Consultório Técnico em que as dúvidas dos Técnicos de Contas seriam devidamente esclarecidas.

6. bIbLIOGRAfIA“Plano Geral de Contabilidade”, República de Ango-la, Ministério das Finanças, aprovado pelo Decreto nº 82/01 de 16 de NovembroSantiago Carlos, “POC Comentado”, 9ª edição, Texto Editorawww.asociaciones.org/Cm/Guia/Anexos/Legislac/rd776-1998.html - “Plan General de Contabilidad”www.articles.exafi.com/Compta/ComptaTextes/PCG1.htm - “Plan Comptable Général”IAPMEI, “Introdução às Normas Internacionais de Contabilidade”www.iasc.org.uk – “International Accounting Standar-ds Committee of Board (IASB) ”Sá, de Lopes António, “ História Geral e das Doutrinas da Contabilidade”, 2ª edição ampliada, Vislis Editoreswww.fasb.org/ - “Financial Accounting Standard Board”

A UE em meados de 2002, optou pela aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) do IASB a todos os Estados-Membros, com vista a har-monizar as informações fi-nanceiras.

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1� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

ROGÉRiO FERNANDES FERREiRAEconomista e Advogado

Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa

E ntre muitos fazedores de opinião das matérias con-tabilísticas subsiste a ideia de que os nossos pro-cedimentos contabilísticos têm de seguir normas

internacionais, ditadas por órgãos supranacionais.

Durante decénios passados, apareceram ponderosas opini-ões contra os desígnios da então normalização contabilís-tica nacional. Essas opiniões acabaram por ser superadas, mas agora pretendem-se passos mais largos – da normali-

zação nacional passar à internacional. Os antigos debates sobre a normalização contabilística nacional trouxeram soluções que, embora não óptimas, terão sido o melhor que foi possível. Mas… e agora?

Pensa-se que em matérias contabilísticas não estamos no nosso País longe de soluções dos outros, contrariamente ao que muitos querem fazer crer, assustando os menos prevenidos. Na realidade, os nossos estudiosos e pratican-

NORMALizAÇÃO CONTABiLÍSTiCA PASSA

A iNTERNACiONAL?

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. 19Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

tes, designadamente os que dedicam ao ensino, estudam e confrontam soluções nacionais com as de outros países, elegendo decerto o que parece melhor solução. Assim se tem criado o que, em terminologia actual, se chama a es-trutura (conceptual) contabilística nacional.

Crê-se, em termos de doutrina e ciência, que o constan-te de normas internacionais actuais não divergirá muito das opções estruturantes por nós seguidas. Quem aprecia

as sãs (não as outras) práticas contabilísticas portuguesas não visionará igualmente diferenças profundas de proce-dimentos. E talvez se encontrem soluções internacionais menos próprias, adoptadas mais por interesses do que por razões científicas ou técnicas.

Quem acompanhou de perto anteriores movimentos da normalização contabilística portuguesa sabe quanto é re-levante a escolha da terminologia e a fixação de concei-tos, critérios, classificações e modelos de apresentação de

contas. De uma normalização inapropriada deriva “não cultura” e sim “repetições de incultura”.

Insistem muitos, talvez demasiado, que o Regulamento nº 1606/2002, emanado do Parlamento Europeu e do Con-selho da UE, deve aplicar-se do modo generalizado que nele não é obrigatório mas está admitido. Nele indica-se: se “a partir de 1 de Janeiro de 2005 as sociedades cujos valores mobiliários estejam admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer Estado Membro, deverão elaborar as suas contas consolidadas em confor-midade com as normas internacionais de contabilidade. Porém, indica-se igualmente no citado Regulamento, que as contas consolidadas e individuais de demais sociedades podem ser elaboradas em conformidade com as normas internacionais de contabilidade. Podem ser se no nosso País for entendido conveniente.

Assim não consideramos útil, pelo menos para já, que a opção internacional se generalize a todas as nossas em-presas. Em termos de interesse nacional, comum, curial se torna ser-se cauteloso, não pioneiro. Conheça-se primei-ramente o que pensam fazer demais países. E a efectua-rem-se mudanças que isso seja em sentido útil, de verda-deiro progresso e de real melhoria do existente.

A normalização contabilística internacional interessa, em especial, a empresas internacionalizadas. Não deve optar-se por mudanças repentinas e dispendiosas, prejudiciais à maioria das nossas empresas. Inconveniente e algo caro será assim o entusiástico movimento que se vive entre nós, desviando inclusive as atenções nacionais de delicados pro-blemas que mais prioritariamente o País tem de resolver.

Há sempre quem lucre com mudanças. Nesta matéria há interesses estrangeiros e de alguns técnicos que em Portu-gal trabalham a favor desses interesses e que alcançariam proventos maiores com a introdução repentina e generali-zada das faladas normas internacionais de contabilidade.

contabilidade

A normalização contabilística internacional interessa, em especial, a empresas interna-cionalizadas. Não deve optar-se por mudan-ças repentinas e dispendiosas, prejudiciais à maioria das nossas empresas.

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20 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

Luiz FERNANDO COELHO DA ROCHAAdvogado

Membro da ACIN - Associação Científica Internacional Neopatrimonialista,

Universitário do 8º período de Ciências Contábeis, da equipa da ENM - Auditores

cORReNteS cIeNtífIcAS e NeOPAtRImONIALISmO

A ciência da Contabilidade se construiu com a cooperação de muitos pensadores, todos intelectuais de grande valor; conseguiram, tais luminares, através de suas escolas, fazer com que elas se proliferassem em movimentos coordena-dos, conduzidos por idéias fundamentais e características.

Tais eventos se acentuaram a partir do século XVIII, to-maram vigor no século XIX e no século XX alcançaram o apogeu; a evolução prossegue célere, com tendências a um gigantismo que nem os precursores conseguiram admitir que pudesse ser atingido.

As mais expressivas correntes científicas surgiram a partir do século XVIII na França, Itália, Alemanha, Portugal e Es-panha.

Tais fluxos de idéias foram principalmente os do: Contis-mo, Personalismo, Materialismo, Reditualismo, Aziendalis-mo, Controlismo, Neocontismo, Neocontrolismo e Patri-monialismo.

Tais doutrinas qualificaram as nações referidas perante a comunidade científica internacional e construíram parte importante da História da Contabilidade.

No Brasil, a primeira corrente que se firmou, de forma or-ganizada e consistente, com repercussão internacional, foi a do Neopatrimonialismo.

Trata-se de um esforço intelectual em marcha, surgido na segunda metade do século XX e como todo trabalho cien-tífico-filosófico está em permanente pesquisa e progresso, ou seja, absolutamente dentro do moderno conceito de ci-ência e que é o da “investigação responsável”, ainda que ousada, como bem o reconhece o autor de “Elogio da Te-oria”, Hans-Georg Gadamer (página 75 e seguintes, obra identificada na bibliografia) .

O rigor epistemológico dessa contemporânea doutrina contábil segue a seqüência rigorosa de : observar, perceber, conceituar, formular axiomas e teoremas e em decorrência lógica disto, de construir uma verdadeira Teoria (fato nem sempre constatado em outros segmentos doutrinários), de teor holístico e heurístico.

ELEMENTOS SOBRE A DOUTRINA CIENTÍFICA DO

NEOPATRIMONIALISMO CONTÁBIL

O Neopatrimonialismo é a maior e a mais avançada corrente científico-filosófica da Contabilidade con-temporânea e nesta síntese estão espelhadas as bases da mesma, inclusive com referências ao curso histórico. Os constructos lógicos, axiomas, teoremas, são aqui apenas mencionados em referências sumarizadas, a fim de produzir uma visão global dessa doutrina que hoje possui milhares de adeptos e

uma literatura vigorosa.

PALAVRASCHAVESNeOPAtRImONIALISmO – DOutRINA cONtÁbIL – AxIOmAS cONtÁbeIS

teORemAS cONtÁbeIS – SIStemAS De fuNçõeS PAtRImONIAIS

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. 21Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

Partindo de preceitos filosóficos puros, inspirados nas con-quistas dos grandes mestres do passado, o Neopatrimonia-lismo construiu no presente o que em realidade parece não ter limites em relação ao futuro do conhecimento sobre a riqueza das células sociais.

ORIGem DO NeOPAtRImONIALISmO

A doutrina Neopatrimonialista derivou-se da Teoria Geral do Conhecimento Contábil, de autoria do Prof. Dr. Antô-nio Lopes de Sá, nascida da fusão de diversas outras teorias de autoria do mesmo, arquitetadas desde os anos 60 do século XX, assim como apoiada fundamentalmente nas teses de Vincenzo Masi, Francisco D´Áuria e Jaime Lopes Amorim.

Foi revelada por Lopes de Sá na Universidade de Sevilha, na Espanha, em 1987, em Seminário especialmente feito para tal fim, convocado pelo Diretor do Departamento de Ciências Contábeis, o emérito prof. Dr. Manuel Ortigueira Bouzada.

Foi exposta no Brasil, em 1988, pela primeira vez em tese apresentada pelo Prof. Lopes de Sá ao VIII Congresso Bra-sileiro de Contabilidade, em Cuiabá, ocasião em que não

só foi aprovada sem qualquer restrição, como, também, ao ilustre autor o Conselho Federal de Contabilidade conferiu a maior dignidade que outorga a um Contador, a Medalha João Lyra.

Em 1990, adaptada para artigo, de forma resumida, foi a Teoria das Funções Sistemáticas (base do Neopatrimonia-lismo) editada pela Universidade de Saragoça, na Espanha.

Em conferências, seminários e aulas, nas Universidades de Saragoça, Málaga, Santiago de Compostela, Minho, Porto, Coimbra, Aveiro, Algarve, Idanha - a Nova, Lisboa e Pisa, todas européias, o insigne mestre brasileiro realizou expo-sições específicas sobre as idéias neopatrimonialistas, des-tacando que a Contabilidade não mais poderia confinar-se ao estudo de fatos apenas sucedidos, mas, deveria, sim, de-dicar-se ao conhecimento das causas dos acontecimentos, partindo das bases de uma ciência pura competente para subsidiar modelos que posteriormente seriam adaptados para aplicações, mas, sem haver preocupação primordial com estas.

O primeiro livro que apresentou as bases do Neopatrimo-nialismo foi editado em 1992 pelo Centro Universitário da UNA-Ciências Gerenciais, de Belo Horizonte e em 1997 o mesmo foi vertido para o espanhol e editado pelo Minis-tério de Economia e Fazenda da Espanha, em Madri, sob o título de “Teoria Geral do Conhecimento Contábil”; mui-

tas publicações seriam a seguir realizadas em revistas de Universidades e entidades européias e americanas.

As edições foram submetidas a Centros de Pesquisas, no Brasil e no exterior, tais como os das Universidades de Buenos Aires, através de estudos realizados e coordenados pelo prof. Dr. Luis Carlos Garcia Casella (editado em Bole-tim especial), de Rosário, pelo prof. Dr. Eugênio Helman (publicado em Boletim da Faculdade), de Aveiro, Portugal, pelo diretor do Instituto Superior de Administração e Con-

Foi exposta no Brasil, em 1988, pela primei-ra vez em tese apresentada pelo Prof. Lo-pes de Sá ao VIII Congresso Brasileiro de Contabilidade, em Cuiabá, ocasião em que não só foi aprovada sem qualquer restrição, como, também, ao ilustre autor o Conselho Federal de Contabilidade conferiu a maior dignidade que outorga a um Contador, a Me-dalha João Lyra.

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22 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

tabilidade, Prof. Joaquim José da Cunha (gerando inclusive edição de matéria Neopatrimonialista nos “Estudos do IS-CAA”, em 1996, 1997 e 1998), do Centro de Pesquisas da Fundação Visconde de Cairu, este, na época, dirigido pelo prof. Fernando Vilas Boas (suscitan-do, também, publicação relativa ao PROLATINO I), principalmente.

A aprovação imediata da doutrina, com louvores, ensejou a adesão de inúmeros professores de centenas de Faculdades de Ciências Contábeis e, também, como decorrência natural, escritos importantes de adeptos da corrente começaram a ser publicados em livros, revistas e boletins (a bi-bliografia deste artigo é uma singela mostra do editado); uma quantidade apreciável de professores universitá-rios aprofundou-se nas pesquisas.

O Neopatrimonialismo é a primei-ra corrente de doutrina científica de origem brasileira, apoiada naquela dos principais autores latinos, sendo, também, a primeira em toda a Histó-ria da Contabilidade que segue a um rigor epistemológico, heurístico e ho-lístico, irrepreensíveis.

É, ainda a pioneira em adotar uma “Teoria geral do fenômeno patrimo-nial”, partindo de axiomas e teore-mas, visando a modelos de comportamento da riqueza das empresas e instituições.

Embora outros intelectuais da Contabilidade, como Ri-chard Mattessich, tivessem acenado para a questão dos valores axiomáticos, na realidade o Neopatrimonialismo é a primeira doutrina a adotá-los de forma organizada e sistemática, ou seja, dentro dos rigores da filosofia das ci-ências.

bASeS cIeNtífIcAS

Parte o Neopatrimonialismo de uma visão contábil univer-sal, fundamentada em preceitos de uma “teoria pura” a res-peito das relações originárias do fenômeno patrimonial.

Preocupa-se com o “saber pensar” em Contabilidade e as-sume mais o caráter de uma diretriz geral, metodológica, que mesmo o de sugerir procedimentos para efeitos prag-máticos.

Tem como meta principal apresentar um “critério lógico”, mais que se impressionar com a “aplicação”, a exemplo do que modernamente em outras ciências também tem

ocorrido (como na Física, Química, Biogenética, Astrofísica etc.); seguiu Lopes de Sá a intenção universalista de Fran-cisco D´Áuria, apresentando “ciência pura”, aquela que na opinião de Abbagnano (página 916, obra identificada na

Bibliografia) “é a parte da ciência que não considera as aplicações da própria ciência à técnica”.

Por isto o Neopatrimonialismo se tor-na deveras mais doutrina que “proces-so”, mais filosofia da Contabilidade que “tecnologia”, pois, seu compro-misso é com a generalidade.

Adota, como método, o ampliar a in-dagação aos “fatos que fazem aconte-cer as transformações da riqueza”, ou seja, às “causas agentes”, além do ob-servar, também, o que ocorreu e o que poderá suceder.

Não despreza as conquistas passadas, nem as critica, mas, acrescenta novos ângulos de visão, de grandeza signi-ficativa, respeitando as conquistas intelectuais, mas, desprezando, sem menosprezar, o subjetivismo que tanto invadiu o conhecimento con-tábil.

Considerando que uma ciência deve ter como objetivo o estudo de “cau-sas”, e que estas devem guardar rela-

ção com o objeto e a finalidade de indagação, mantém-se em sua fidelidade epistemológica de buscar a origem das transformações patrimoniais.

Respeitou a consideração de verdade como a de uma iden-tidade na qual o predicado deve respeitar a natureza do sujeito ou essência que se considera.

Ao definir o campo de atuação em uma “célula social”, ao concentrar-se nos agentes endógenos e exógenos desta, a doutrina lopesista liga de forma definida a natureza de seus estudos ao “holístico” e consagra-se na perseguição ao “universal”, com um critério heurístico de pesquisa (o mais moderno hoje consagrado pelas demais ciências).

Fundamenta-se em axiomas e teoremas, partindo de cons-tructos que guiam uma doutrina que almeja níveis superio-res de conhecimento.

Possui metodologia específica que a distingue das demais e do próprio Patrimonialismo científico, este que no caso foi tomado como ponto de referência, absorvendo os ensina-mentos básicos do luminar Prof. Vincenzo Masi.

O Neopatrimonialismo é a primeira corrente de doutrina científica de ori-gem brasileira, apoiada naquela dos principais autores latinos, sendo, também, a primeira em toda a História da Con-tabilidade que segue a um rigor epistemológico, heurístico e holístico, ir-repreensíveis.

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. 23Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

Dentre os axiomas que guiam a dou-trina Neopatrimonialista estão os re-lativos aos seguintes elementos de sustentação lógica universal:

Movimento, Transformação, Causas Agentes, Funções, Natureza Funcional, Identidade Funcional, Relatividade FuncionalProporcionalidade Funcional, Prosperidade, Organização Sistemática,Interação,Assimilação, Eficácia Célula eEficácia Social.

Muitos são os teoremas que se deri-vam dos axiomas e que sustentam as teorias Neopatrimonialistas, dentre eles os relativos às pro-posições lógicas sobre as razões seguintes:

Mecanicista da Integração Sistemática, Intensidade Funcional, Funcionalidade Plena, Funções Futuras, Funções Dissimiles, Correlação de temporalidade, Velocidade Compatível, Velocidade Circulatória, Especificidade Espacial, Risco Funcional, Estabilidade, Prosperidade perfeita, Definhamento etc.

A “Teoria geral” do Neopatrimonialismo (da qual se deri-vam outras como as da Interação, Prosperidade, Campos de fenômenos etc.) é a das “Funções Sistemáticas do Patri-mônio das Células Sociais”.

••••••••••••••

•••••••••••

Nessa tudo se fundamenta em um processo rigorosamente epistemológico que classifica as relações lógicas do fenômeno contábil e que as classifica em: Essenciais (necessidade-fina-lidade-meios patrimoniais e funções), Dimensionais (causa-efeito-tempo-espaço-qualidade-quantidade) e Ambientais ou do Entorno (pessoal, administração, mercado, Estado, ciência, ecologia etc.).

Parte do principio de que as funções (como utilização dos meios patrimoniais) se exercem em sistemas definidos e que estes são autônomos e concomitantes em suas movimentações; assim, por exemplo, enuncia que uma empresa pode ter liquidez e não ter resultabilidade, ter resultabilidade e não ter liquidez etc.

Estabelece oito grandes sistemas de funções patrimoniais (cada um caracterizado pela necessidade que ele visa a sa-tisfazer) e os grupa em três grandes classes (de acordo com a hierarquia participativa dentro do universo aziendal):

SISTEMAS BÁSICOS (os de importância fundamental, de natureza originária quanto à necessidade de circulação e vitalização funcional):

Liquidez, Resultabilidade, Economicidade, Estabilidade

SISTEMAS AUXILIARES (os de importância secundária quanto à necessidade de proteção e a de aprimoramento funcional)

Produtividade, Invulnerabilidade

••••

••

Por isto o Neopatrimonialismo se torna deve-ras mais doutrina que “processo”, mais filo-sofia da Contabilidade que “tecnologia”, pois, seu compromisso é com a generalidade.

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2� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

SISTEMAS COMPLEMENTARES (os de importância subsidi-ária quanto à necessidade de adequação funcional)

ElasticidadeSocialidade

Cada sistema visa a buscar, pois, o suprimento de uma ne-cessidade específica e esta o Neopatrimonialismo as entende como sendo as de:

1. Pagar em dia, mantendo sanidade financeira (Li-quidez)

2. Obter resultados compatíveis com a finalidade da célula social (Resultabilidade)

3. Manter vitalidade, ou seja, continuar a sobreviver com capacidade de movimento (Economicidade)

4. Promover constante equilíbrio ou harmonia de estrutura e movimento (Estabilidade)

5. Extrair dos meios patrimoniais todo o proveito, evitando o desperdício e cumprindo o escopo de eficiência (Produtividade)

6. Proteger a atividade contra os riscos (Invulnerabi-lidade)

7. Manter dimensão compatível e conveniente (Elasticidade)

8. Harmonizar-se funcionalmente com os meios agentes ou continentes que movimentam o patri-mônio, procurando valorizar-lhe as qualidades, como componente de um mundo social e ecoló-gico (Socialidade)

Admite a doutrina neopatrimonialista que os sistemas de funções devem ser considerados também em seus subsiste-mas, em micro-tempos e em micro-espaços.

Prega a interação sistemática como um princípio e consi-dera a hereditariedade do fenômeno sob o aspecto funcio-nal, ou seja, reconhece que uma ocorrência sempre implica uma decorrência.

AxIOmAS DO NeOPAtRImONIALISmO

O grande mérito da Teoria Geral, de Lopes de Sá, foi o de oferecer um rigoroso encadeamento lógico de razões, este que enseja uma disciplina do conhecimento contábil.

Por analogia com outros cientistas, organizadores de ramos da ciência, como foram Newton e Lavoisier, em relação à Física e à Química, o referido líder do Neopatrimonialismo reuniu e disciplinou conhecimentos essenciais em torno do objeto da Contabilidade.

••

Considerou que as verdades básicas, das quais outras se derivam, ou sejam, os axiomas, são os relevantes em toda teorização e que deveriam ser os guias do pensamento.

Ajuizou, pois, sobre a importância que representa para o método de análise contábil o conhecimento de realidades fundamentais, como caminho, não só para o estabeleci-mento de modelos, mas, também, para a emissão de opi-niões sobre as situações das empresas e instituições, todas as vezes que a preocupação estiver volvida para a aplicação (que as ciências puras não refutam, embora se mantenham despreocupadas em relação a esta).

Dentre os axiomas, pois, produzidos pela doutrina Neopa-trimonialista, estão os seguintes:

Axioma do Movimento: Todo meio patrimonial tende ao movimento.

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. 2�Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

Axioma da Transformação: No patrimônio tudo se trans-forma de forma constante e sistemática, por efeito de re-lações lógicas essenciais, dimensionais e ambientais. Todo movimento patrimonial implica transformação.

Axioma das Causas Agentes - a massa patrimonial não se move por si mesma, mas sob a ação de causas agentes ex-ternas que promovem funções.

Axioma das Funções Patrimoniais - os meios patrimoniais se movem por funções sistemáticas.

Axioma da Natureza Funcional - as funções sistemáticas do patrimônio, por natureza, ocorrem simultânea, autônoma, interativa e hereditariamente .

Axioma da Identidade Funcional - cada função tem a sua própria identidade caracterizada pela necessidade patrimo-nial a que socorre.

Axioma da Proporcionalidade Funcional - A eficácia deve estar para a função patrimonial assim como a função patri-monial deve estar para a necessidade patrimonial.

Axioma da Relatividade Funcional - da função pode decor-rer diversidade na relação entre o uso dos meios patrimo-niais e as necessidades que estes visam a satisfazer.

Axioma da Eficácia patrimonial - a anulação da necessida-de resulta na eficácia patrimonial.

Axioma da Organização Sistemática - as funções se organi-zam em forma sistemática e cada sistema de funções patri-moniais visa a satisfazer uma necessidade específica.

Axioma da Interação Sistemática - os sistemas de funções patrimoniais produzem interações constantes.

Axioma da Prosperidade - eficácia e elasticidade patrimo-nial constante implica prosperidade das células sociais.

Axioma da Assimilação - as funções sistemáticas do patri-mônio assimilam as influências dos entornos agentes.

Pode tais assertivas se afigurar como demasiadamente sin-gelas e até intuitivas em demasia, mas, se observarmos os princípios da Física de Isaac Newton, veremos que ele as enunciou igualmente simples, obvias em suas formulações.

Cada um desses axiomas Lopes de Sá os desenvolveu em seu trabalho, inclusive valendo-se da dialética matemática, considerada a importância que possuem; aqui aos mesmos apenas em síntese me refiro, considerada a limitação e o objetivo deste artigo.

Representam verdades que guiam o pensamento em Con-tabilidade e que são necessárias quando se realizam as aná-lises das informações, quando se busca conhecer a situação das empresas e das instituições, quando se precisa opinar sobre a realidade da vida dos empreendimentos.

teORemAS DO NeOPAtRImONIALISmO

O número de teoremas enunciados por Lopes de Sá é o maior que já se produziu em toda a história da doutrina contábil nacional e internacional.

Como não existe Teoria sem teoremas, o Neopatrimonia-lismo lopesista seguiu o preceito da Epistemologia e reuniu um número deveras expressivo desses.

Dentre eles, para referir apenas a alguns poucos, estão:

Teoremas da Intensidade Funcional

É intensa a maior parcela proporcional de contribuição de uma função patrimonial em relação a outras perante a satis-fação da necessidade.

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2� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

contabilidade

A intensidade da função patrimonial depende da intensidade da causa agente.

Uma função tende a ser tanto mais eficaz quanto mais intensa for em re-lação a satisfação da necessidade pa-trimonial.

A seqüência multiplicadora veloz das funções tende a determinar maior pro-ximidade da satisfação da necessidade patrimonial.

Teorema na não correspondência da eficácia

Nem sempre o aumento da função cor-responde a um aumento da eficácia patrimonial.

Teorema da funcionalidade plena

A plena funcionalidade só ocorrerá se a expressão quantitativa de valor for compatível com a qualitativa do meio patrimonial, em face de cada necessida-de pertinente.

Teorema das funções futuras

Se uma função futura implicar modifi-cação de funções presentes só a eficácia relativa destas implicará eficácia patrimonial daquela.

Teorema da correlação de temporalidade

Se as necessidades e os meios de um mesmo sistema patri-monial são equivalentes quantitativamente e em temporali-dades, podem alterar as expressões quantitativas de valores, mas, a eficácia não se alterará.

Teorema da Velocidade Compatível

A eficácia da velocidade do meio patrimonial depende da temporalidade das necessidades patrimoniais em cada siste-ma especifico.

Teorema da Velocidade Circulatória

Quanto maior for a agilidade dos meios patrimoniais e tanto menores tendem a ser as necessidades de recursos próprios, tão como os riscos deles defluentes.

Teorema da especificidade espacial

Cada espaço de atividade tem o seu ambiente e cada ambiente a sua especificidade de ação sobre as funções patrimoniais.

Teorema do risco funcional

A temporalidade no sistema da invul-nerabilidade depende da duração fun-cional correlativa entre meios e necessi-dades patrimoniais.

Teorema da Estabilidade

A eficácia do sistema da estabilidade depende da correlação dos limites de participação estrutural entre meios e necessidades patrimoniais correlativas.

Os poucos exemplos apresentados são suficientes para evidenciar a grandeza da doutrina Neopatrimonialista, esta no encalço do que é verdadeiramente científico, competente para guiar os julgamentos sobre os movimentos dos capitais e dos patrimônios.

O rigor do enunciado sugere medita-ções em torno de cada fenômeno, re-querendo formação de juízos qualifica-dos, mas, encontra tudo, na prática, a comprovação de realidade, mesmo sen-do a teorização Neopatrimonialista de natureza científica pura (o fato de não haver preocupação com a aplicação não implica em fuga da racionalidade).

Cada Teorema pode ser motivo de um desenvolvimento es-pecífico, o que aqui não faço, considerada a limitação de um trabalho abrangente como este, onde a preocupação centrou-se em dar uma visão panorâmica dessa mais importante dou-trina contábil de nossos tempos.

cONtAbILIDADe e PROSPeRIDADe SOcIAL

Toda a doutrina lopesista do Neopatrimonialismo se enca-minha para um grande final, no qual o emérito líder da cor-rente, em sua obra Teoria Geral do Conhecimento Contábil (página 264 – obra identificada na Bibliografia) afirma que a Prosperidade de uma Nação depende da prosperidade das células sociais e esta só a Contabilidade pode sugerir modelos para que tal ocorra.

O Axioma da Prosperidade Social leciona o seguinte:

Quando a soma da eficácia dos patrimônios implicar pros-peridade racional de todas as células sociais, em regime de harmônica interação, isto também implicará prosperidade social o que equivalerá á anulação das necessidades materiais da humanidade.

O rigor do enunciado sugere meditações em torno de cada fenômeno, requerendo formação de juízos qualificados, mas, encontra tudo, na prá-tica, a comprovação de realidade, mesmo sendo a teorização Neopatri-monialista de natureza científica pura.

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. 27Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

contabilidade

Considerando que a Prosperidade da Célula Social tem como axioma:

Eficácia e elasticidade patrimonial constante implica pros-peridade das células sociais.

e que o da Eficácia enuncia:

A anulação da necessidade resulta na eficácia patrimonial.

é possível então concluir que se é a doutrina contábil a que tem por objetivo oferecer modelos de eficácia é ela que pode en-sejar a promoção, a satisfação e o bem estar das sociedades , ou seja, das nações.

ADePtOS e INteGRANteS DA cORReNte cIeNtífIcA DO NeOPAtRImONIALISmO

A corrente científica do Neopatrimonialismo é constituí-da por estudiosos, professores, universitários qualificados e profissionais.

Tem muitos milhares de adeptos dos quais mais de nove centenas estão ligados pela INTERNET.

Está ramificada em todos os Estados do Brasil, em vários países da América, África e Europa.

Mantém os mesmos unidos sob a liderança do Prof. Antô-nio Lopes de Sá que é o fundador e criador da doutrina.

Os componentes estão comprometidos com um trinômio que se fundamenta na “imensa dedicação”: à Contabilida-de, à Ciência e à Latinidade (esta como raiz do pensamento que orienta a filosofia seguida pelo Neopatrimonialismo).

O Neopatrimonialismo tem sido propagado em reuniões, salas de aulas, seminários, congressos, conferências, arti-gos, livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado, tarefas práticas, trabalhos de conclusão de curso de bacha-relado, pesquisas, entrevistas, correspondências, páginas na Internet.

Dezenas de artigos já foram editados, diversos livros e pá-ginas na Internet abertos, todos tratando sobre essa nova visão científica da Contabilidade.

APOIO, SuSteNtAçãO e DIfuSãO

A filosofia Neopatrimonialista guia hoje Centros de Pes-quisas de instituições de ensino como: o da UNIGRANRIO - Universidade do Grande Rio, do Rio de Janeiro, Fundação Visconde de Cairu, da Bahia, Universidade de Unijui, do Rio Grande do Sul e outras.

O movimento tem ainda a sustentá-lo a política da Aca-demia Brasileira de Ciências Contábeis e o evento inter-

nacional do PROLATINO, este que já se efetivou em seis edições (Maranhão, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais (2) e São Paulo).

O sistema dos Conselhos de Contabilidade tem apoiado as iniciativas da corrente através do referido PROLATINO, em Seminários de atualização e estímulo à pesquisa contábil, onde dezenas de professores de fama internacional, vários de Itália, Espanha, Portugal, Argentina e Brasil, participa-ram com brilho, tudo com o amparo do Conselho Federal de Contabilidade.

Os artigos do líder da doutrina, professor Antônio Lopes de Sá, assim como os de cooperadores ilustres, tão logo es-critos (muitas vezes até antes de serem publicados), têm sido enviados aos componentes cadastrados na corrente, assim como noticiários de natureza cultural (veiculados com freqüência), mantendo ativo o regime de atualização do conhecimento e troca de informações, nesse vigoroso movimento atuante da intelectualidade contábil.

As investigações científicas estão ocorrendo em diversas partes do Brasil e no exterior, envolvendo muitos seguido-res que se aprofundam nas bases da doutrina lopesista.

A bibliografia que se segue, contendo muitas referências a trabalhos específicos sobre o Neopatrimonialismo, é bem um exemplo da já copiosa produção dessa corrente de estu-dos científicos contábeis, embora muitos outros trabalhos já editados e alguns ainda inéditos não evidenciados, me-recessem também referência, pela qualidade dos mesmos.

É de prever-se um constante progresso dessa doutrina que ampliou a visão filosófica, científica e doutrinária da Con-tabilidade, dignificando os estudos superiores desta disci-plina.

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LEONOR FERREiRAProfessora na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa

Ph.D em Gestão de Empresas (com especialização em Contabilidade, Fiscalidade e Auditoria)

INtRODuçãO AO VALOR ecONómIcO e AO VALOR fINANceIRO

A temática do valor tem acompanhado as preocupações do Homem. Spranger (1882-1963) sistematizou os valores do modo seguinte: teoréticos (orientados para a verdade e o co-nhecimento), estéticos (orientados para a forma e a harmonia), sociais (orientados para as pessoas), políticos (orientados para o poder), religiosos (orientados para a unidade do universo) e económicos (orientados para a utilidade). O valor económico é, portanto, uma das categorias do valor.

As tentativas de esclarecer o conceito de valor económico e de proceder à sua mensuração têm sido muitas, mas as teorias podem resumir-se a três:

teoria do valor-utilidade;teoria do valor-trabalho;teoria da utilidade marginal.

A teoria do valor-utilidade, defendida por Galiani (1728-1787), Condillac (1715-1780) e Jean-Baptiste Say (1767-1832), consi-dera que o fundamento do valor económico deve procurar-se na utilidade que os consumidores atribuem aos bens. O valor económico dos bens é o seu valor de uso, medido em termos da respectiva utilidade total.

A ideia de que o trabalho humano poderia ser um fundamen-to do valor desenvolveu-se gradualmente. No século XVIII, fisiocratas, como François Quesnay (1694-1774), atribuíram ao trabalho agrícola a fonte do valor.

Na teoria do valor-trabalho, o valor é interpretado como re-flexo do custo de produção, medido em tempo de trabalho absorvido ou incorporado: Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823) e Karl Marx (1818-1883) são os autores mais representativos desta teoria. Para estes autores a origem do valor económico de um bem está no seu custo, que me-diram, respectivamente, em termos de valor de troca ou em quantidade absoluta de bens trocados, em quantidade relativa de bens trocados e em tempo total de trabalho incorporado na sua produção.

•••

Deve-se a Adam Smith a distinção entre valor de uso (valor fundado na utilidade) e valor de troca (a qualidade que tem um bem de poder ser trocado por outro ou outros no mercado). O economista clássico escocês chamou a atenção para o facto de certos bens possuírem valor de uso elevado, mas um valor de troca baixíssimo.

Com a escola marginalista de Viena, economistas de diver-sas nacionalidades puseram a tónica na utilidade marginal dos bens como fundamento do valor económico. De modo independente, o francês Walras (1834-1910), o inglês Jevons (1835-1882) e o austríaco Menger (1840-1921) atribuíram o valor de troca dos bens, na procura e na oferta, à utilidade marginal, isto é, a utilidade da última unidade adicional (de-crescente).

Actualmente, a explicação do valor económico faz intervir ele-mentos subjectivos (tais como, as motivações dos sujeitos económicos) e elementos objectivos (v.g., tempo de trabalho social, condições técnicas, formas das relações sociais e das estruturas económicas dominantes).

O conceito de valor financeiro decorre do de valor económico. Aquele conceito foi introduzido por Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) e aperfeiçoado por Irving Fisher (1867-1947).

Segundo Böhm-Bawerk a taxa de juro nasce da interacção da preferência inter-temporal e da produtividade do capital. O economista austríaco argumenta que o fundamento da taxa de remuneração do capital (ou seja, a taxa de juro) pode en-contrar-se nas proposições seguintes: considerando que as pessoas esperam estar em melhor situação no futuro e que atribuem menor valor aos bens futuros do que aos bens pre-sentes (teoria da depreciação no futuro), elas estão dispostas a endividar-se hoje, de modo a utilizar o seu rendimento futu-ro na compra de bens para consumo na actualidade e, assim, trocar-se-ão bens de consumo presentes por bens de consumo futuros mediante um ágio atribuível aos primeiros.

Ao aprofundar os estudos de Böhm-Bawerk, Fisher desenvol-veu a teoria do juro e clarificou ainda a distinção entre stock e

AVALiAÇÃO DE

EMPRESAS

gestão

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. 29Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

fluxo de riqueza. Segundo Fisher, a taxa de juro é governada pela interacção de duas forças:

a preferência inter-temporal, ou seja, a predisposição ou impaciência dos indivíduos para desistirem de ren-dimento presente por comparação com rendimento futuro;a capacidade tecnológica para converter rendimento actual em rendimento futuro, capacidade que denomi-nou taxa de rendibilidade sobre o custo e definiu como a taxa de actualização que iguala o valor actual das al-ternativas de investimento possíveis cuja ordenação de preferência depende da taxa de juro utilizada.

O valor financeiro baseia-se na actualização de fluxos de rendi-mento. Justifica-se porque um dólar hoje disponível vale mais do que um dólar disponível apenas em momento futuro. Um dólar hoje, sendo investido, gerará rendimento. E um dólar seguro hoje vale mais do que um dólar com risco amanhã. A taxa de actualização representa a recompensa que um investi-dor exige para aceitar o diferimento temporal dos fluxos, ou seja, é a taxa de rendibilidade esperada, oferecida pelas aplica-ções alternativas comparáveis, com grau de risco igual ao do projecto “avaliação de empresa”: é um custo de oportunidade do capital.

Representando por F jj o fluxo de rendimento gerado no pe-

ríodo j reportado ao final desse período e por t a taxa de actu-alização1, o valor actual F p

j daquele fluxo para o final de um período p anterior a j será dado pelo produto seguinte:

j > p , t > 0

(1)

1 Também denominada taxa de desconto ou taxa calculatória. Brealey e Myers (1998, pp. 12-13) denominam-na taxa mínima de rendibilidade ou custo de oportu-nidade do capital. Vide, BREALEY, Richard and Stewart MYERS (1998): Princípios de Finanças Empresariais. 5ª ed., Lisboa, McGraw-Hill.

A expressão denomina-se factor de actualização e é sempre inferior a um.

O valor financeiro interessa particularmente nesta trabalho, pois é o alicerce da teoria da avaliação de investimentos (in-vestment appraisal) que é essencial na moderna avaliação de empresas.

A emPReSA e AS PARtIcIPAçõeS SOcIAIS NO cAPItAL

Uma empresa é um conjunto de meios materiais e humanos organizados para atingir um determinado fim que se consubs-tancia na produção de rendimento. Nela colaboram sócios, gestores e outros trabalhadores, concorrendo uns com capital, outros com direcção e trabalho. Por isso se pode falar de valor para os sócios, mas também de valor para outros partícipes, como os credores, clientes e empregados.

Mário Madureira (1990, pp. 119-124)2 refere que a empresa pode ser definida pela sua função no sistema económico, mas a empresa é também um espaço de realização pessoal e pro-fissional para todas as pessoas que nela exerçam actividade (valor humano). Ela é qualquer unidade económica resultante da combinação de elementos objectivos com o propósito da produção, de conta e risco de quem a promove, de bens ma-teriais ou serviços destinados à venda ou ao consumo do pró-prio produtor. Mais restritivamente, consideram-se empresas as entidades que, com independência financeira e autonomia contabilística, produzem ou prestam serviços para o mercado. As empresas são unidades estratégicas de negócio que têm um carácter social, visando a satisfação do cliente e a obtenção de rendimento3. Para tanto:

as empresas detêm um património, que utilizam na produção de bens ou na prestação de serviços para o mercado�;as empresas esperam vir a gerar, no futuro, através da utilização do respectivo património, fluxos de rendi-mento, que são finalidade e condição de sobrevivência e sustentabilidade da empresa;

2 MADUREIRA, Mário (1990): Introdução à Gestão. Colecção «Biblioteca de Eco-nomia e Gestão», Lisboa, Publicações Dom Quixote e Instituto Superior de Ges-tão.3 É este último sentido que se adopta. Ficam, portanto, à margem deste trabalho as cooperativas e as empresas públicas. É, porém, discutível que as empresas públicas não procurem rendimento de modo directo (principalmente as empresas que decorreram de nacionalizações).� Excepcionalmente, uma empresa produz também para consumo próprio (auto-consumo).

gestão

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30 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

os partícipes da empresa (incluindo os investidores actu-ais e potenciais) avaliam-na e, em certos casos, atribuem valores de troca (preço, cotação) às partes sociais.

Em Angola as empresas podem ter como titulares pessoas sin-gulares, cooperativas e outras pessoas colectivas, tais como as-sociações, fundações, o Estado ou sociedades comerciais com uma das seguintes formas jurídicas (número 1 do artigo 2º da Lei das Sociedades Comerciais (LSC))�:

sociedades anónimas;sociedades por quotas;sociedades em nome colectivo;sociedades em comandita simples;sociedades em comandita por acções.

Dos tipos indicados, as mais frequentes são as sociedades anó-nimas e as sociedades por quotas. Estas são, pelas suas caracte-rísticas, mais apropriadas para pequenas empresas e empresas em fase de arranque. As empresas de maior dimensão prefe-rem em geral a forma de sociedade anónima.

Adoptar uma ou outra forma jurídica traduz-se, entre o mais, em diferenças quanto aos direitos e obrigações dos titulares das partes de capital, com repercussões no valor da empresa e no preço das participações sociais6, nomeadamente, acções ou quo-tas, maiorias ou minorias de capital, com cotação ou não cota-das nos mercados financeiros. Por exemplo, uma transacção de quotas requer escritura pública e alteração do pacto social e re-gistos, o que torna a operação mais morosa. Contrariamente, as transacções de acções não são formalizadas através de escritura pública, embora se efectuem geralmente através de um interme-diário, como um banco ou outra instituição financeira autoriza-da, ou até entre as partes sem qualquer intervenção externa.

As empresas, quando detêm participações financeiras, formam grupos, encabeçados ou não por holdings, isto é, sociedades gestoras de participações sociais�.

A forma jurídica e a dimensão� de uma sociedade condicio-nam a informação contabilística a divulgar, nomeadamente quanto à periodicidade e ao grau de pormenor.

Nas empresas cotadas, existe preço para as acções que, se o mercado for eficiente, se aproximará do valor da empresa�.

� Além das formas jurídicas societárias estabelecidas na Lei das Sociedades Co-merciais, as empresas também podem organizar-se sob a forma de cooperativas, empresas públicas e empresas em nome individual. Em Angola, as sociedades cooperativas regem-se pelo Código Comercial (arts. 207º e seguintes).6 Os sócios de uma sociedade gozam geralmente do direito a quinhoar nos lucros, direito a participar nas deliberações através do exercício do direito de voto, direito a fazer-se representar nos órgãos sociais da sociedade, direito a obter informação sobre a vida da sociedade e direito ao capital em caso de liquidação (LSC, art. n.º 23, n.º 1).� A Lei da Sociedades Comerciais regula as relações que, entre si, estabelecem as sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções (LSC, Título VI, arts. n.os 463 e seguintes).� Existem vários critérios de classificação das empresas quanto à dimensão. Em geral baseiam-se em limites de número de empregados, volume de negócios ou proveitos totais e activo total.� A avaliação de empresas não cotadas tem a sua razão de ser, de um ponto de vista teórico, na inexistência de um mercado de empresas que reuna as condições de mercado de concorrência perfeita. O facto de as empresas não pertencerem ao

•••••

Teoricamente, valor e preço deverão coincidir, sempre que o mercado funcione com informação transparente e acessível e disponha de liquidez elevada, isto é, haja muitos interessados em comprar e em vender a todo o momento.

OS VALOReS DA emPReSA

Quando se indicam as dimensões lineares de um corpo, as grandezas simples e derivadas que as exprimem (altura, com-primento, largura, superfície e volume) são claras e não ambí-guas. Pode haver necessidade de optar por uma de entre várias unidades de medida, como por exemplo, jardas ou metros. Ao pretender medir o valor económico de um bem ou de uma empresa tudo se torna mais difícil. Com efeito o valor de um bem assume, quer na economia quer noutros campos, diversos significados e extensões. É, portanto, conveniente enunciar os sentidos que serão utilizados neste trabalho, numa tentativa de precisar o alcance e a validade da exposição.

Noção extremamente subjectiva, ligada à escolha realizada por um grupo de pessoas ou por um indivíduo, o valor econó-mico caracteriza-se pela utilidade - que fundamenta o valor de uso que o objecto tem para quem dele se serve - ou pelo seu valor de troca que se manifesta no mercado através de um preço (Mathieu10, 1974, pp. 23-27).

O valor define-se como uma relação entre um objecto e um su-jeito nele interessado. No caso da empresa, o valor exprime o re-sultado de um trabalho do avaliador e é função do “bem-estar” que o sujeito espera e exige obter da empresa ou de parte dela.

Fala-se em valor subjectivo quando a relação sujeito-objecto se determina tendo em conta aspectos como a personalidade, a competência, a situação e outras características do sujeito concreto interessado na posse da empresa, ou seja, tendo em conta a importância que o objecto tem para o sujeito. Fala-se em valor objectivo quando a relação sujeito-objecto se determi-na abstraindo das características do sujeito interessado, isto é, abstraíndo da importância que o objecto tem para o sujeito (Broto Rubio, 1983, p. 353)11.

Erich Helfert (1966, pp. 15-19)12 aponta para o valor económico outras sub-categorias: valor contabilístico, valor de mercado, va-lor de substituição, valor potencial e valor de liquidação:

mesmo sector de actividade nem terem igual dimensão retira a característica da homogeneidade. Por outro lado, a inexistência de um número elevado de entida-des a procurar ou a oferecer “empresas” (e daí, a falta de transparência e escassez de transacções), traduz-se em falta de informação e impede que se fale nessas circunstâncias de um preço de mercado. Talvez se possa referir não ser assim em relação a certos sectores, dos quais se apontam os exemplos paradigmáticos das farmácias de oficina ou das empresas detentoras de táxis. No entanto, não se pode dizer que sejam “produto” de um mercado de concorrência perfeita: nunca é elevado o número de empresas em possível venda, nem nunca o mercado é bem de concorrência perfeita.10 MATHIEU, Gilbert (1974): Vocabulário de Economia. Lisboa, Moraes Editores.11 BROTO RUBIO, Jesus (1983): ‘El Valor Substancial, su Función en la Valo-ración de la Empresa’. I Congreso da AECA. Madrid, Ministerio de Economia e Hacienda, pp. 351-367.12 HELFERT, Erich (1966): A Avaliação - Conceitos Teóricos e Prática. Colecção «Cadernos de Organização do Trabalho», Lisboa, Clássica Editora.

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. 31Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

o valor contabilístico liga-se apenas à transacção que lhe deu origem. Assenta nos princípios contabilísticos e critérios de valorimetria geralmente aceites.o valor de mercado, considerando os pontos de vista do comprador e do vendedor, representa uma aproxi-mação da posição ocupada por um bem ou serviço na escala de valores da comunidade em geral. Depende, pois, da oferta e da procura e das condições das partes em presença.o valor de substituição, em consequência de frequente divergência entre o valor contabilístico e o valor de mercado, representa uma tentativa de determinação do valor corrente no mercado de um bem substituto daquele que se pretende valorar.o valor potencial calcula-se em função dos proveitos que um bem poderá proporcionar durante a sua vida útil.o valor de liquidação surge quando se perdem as carac-terísticas de “unidade em funcionamento”, o valor é venal mas de “venda forçada”.

Seguindo Harvey e Keer (1985, pp. 23-27)13, pode dizer-se que, em essência, quatro critérios de medida de valor (critérios valorimétricos) podem objectivamente ter relevância para a avaliação de empresas: valor a custo histórico, valor a custo de reposição, valor realizável e valor actual (valor descontado)1�.

Se há tantas altenativas na avaliação económica de um sim-ples bem transaccionável, maiores problemas se põem ao ava-liar uma empresa.

Ainda segundo Erich Helfert (1973, pp. 10-12), o valor da em-presa é um conceito relativo que se prende com os sistemas económicos, sociais, religiosos e com os costumes dos indiví-duos ou grupos. Pode, pois, considerar-se, consoante a óptica por que se observa a realidade empresarial, o valor económico, o valor social e o valor ético Neste trabalho explora-se apenas o valor económico, cujo conceito se enquadra na ideia seguinte: os bens têm, de uma forma directa ou indirecta, valor em fun-ção da utilidade que deles se pode retirar (UEC, 1961, p. 2)1�.

Actualizando a proposta de Weston e Copeland (1987, p. 12), propõe-se a seguinte sistematização das medidas de valor eco-nómico da empresa:

valor de continuidade versus valor de liquidação;valor de mercado versus valor contabilístico.

Em qualquer momento uma empresa tem, teoricamente, dois valores de venda possíveis: o valor de continuidade e o valor de

13 HARVEY, Mike and Fred KEER (1983): Financial Accounting Theory and Stan-dards. 2ª ed., Englewood Cliffs, Prentice-Hall.1� Um exemplo simples permite ilustrar as diferenças entre os critérios apontados por Harvey e Keer: dizer que uma máquina em segunda-mão vale x pode significar, entre o mais, que: a) o bem custou x+y há n anos e daqui a n anos valerá x-y (quer referir-se o valor histórico por reintegrar, isto é, o custo não extinto; b) um bem igual poderia ser comprado por x; c) o bem poderia ser vendido por esse preço x; d) o proprietário do bem tentou determinar o valor no presente dos benefícios futuros - designadamente em termos de conveniência, produtividade e tempo poupado - e concluiu ser x.1� UEC [Union Européenne des Experts Comptables, Économiques et Financiers] (1961): L’Évaluation des Entreprises et Parts d’Éntreprises. Paris, Dunod.

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liquidação. O valor de continuidade assenta no princípio da conti-nuidade da empresa segundo o qual a empresa existe como uni-dade económica em funcionamento16. O valor de liquidação é o montante que pode ser realizado se um activo, ou conjunto de activos, for vendido separadamente da organização que os vem utilizando. Se o passivo for deduzido daquele montante, o resultado representa o valor de liquidação para os sócios da empresa1�.

O valor de mercado, isto é, o que as pessoas realmente estão dispostas a pagar pela empresa, pode cifrar-se acima ou abai-xo do valor contabilístico. A cotação da acções em bolsa é um valor de mercado. O denominado justo valor1� é também um valor de mercado. Define-se como o preço que um vendedor pode obter de um comprador interessado e conhecedor numa transacção ao seu alcance.

Resumindo e concluindo, afirma-se que as tentativas de escla-recer o conceito de valor económico e de proceder à sua mensu-ração têm sido muitas, mas as teorias podem resumir-se a três: teoria do valor-utilidade, teoria do valor-trabalho e teoria da utilidade marginal. Actualmente, a explicação do valor económi-co faz intervir elementos subjectivos e elementos objectivos.

Do conceito de valor económico decorre o conceito de va-lor financeiro, o qual se baseia na actualização de fluxos de rendimento. O valor financeiro é o alicerce da teoria da ava-liação de investimentos (investment appraisal) que é essencial na moderna avaliação de empresas. O valor da empresa vem determinado pelos fluxos de rendimentos que a mesma pode gerar no futuro. Mas porque na gestão da empresa intervêm pessoas que tomam decisões, em função das quais o valor da empresa pode variar, esta medida de valor é difícil de obter. Assim, a objectividade do valor de uma empresa procura-se no processo de avaliação, através da aplicação de um modelo teó-rico que, independentemente do sujeito que o utiliza, conduz sempre a um resultado semelhante, ou seja, o valor de uma empresa ao ser estimado por diferentes avaliadores será igual, quando todos eles usarem o mesmo método de avaliação, ba-searem as suas projecções nas mesmas hipóteses e partirem dos mesmos dados.

16 Exceptuam-se, claro, empresas que se constituam para realizar uma dada obra ou contrato e que, alcançado ou extinguido o seu fim, desaparecerão. Raramente surgem casos em que tais empresas têm valor de continuidade e valor de liqui-dação.1� Se o valor de continuidade for superior ao valor de liquidação, haverá goodwill se a empresa realizar lucros superiores aos normais e badwill em caso de prejuí-zos ou lucros inferiores ao normal.1� A expressão justo valor corresponde à tradução oficial de fair value. A tradução portuguesa acaba por sugerir um conteúdo ético para o valor, o que não está em conformidade com o sentido rigoroso da expressão fair value.

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Em qualquer momento uma empresa tem, teoricamente, dois valores de venda possíveis: o valor de continuidade e o va-lor de liquidação.

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A ristóteles disse: “o Homem por instinto e raciocínio é um animal social”. Esta máxima dita por aquele cé-lebre filósofo na Antiga Grécia, manteve-se sem-

pre actual ao longo dos tempos da Civilização Humana. Ao viver em sociedade, o Homem é gerador de interesses e conflitos. São as pulsões da vida e da morte de cada in-divíduo que, na evolução do seu percurso, determinam as estruturas psíquicas e os modos de relacionamento consi-go e com os outros. Há vários modos relacionais que de-pendem do grau de maturidade psíquica dos indivíduos, tendo em consideração as mutações do desenvolvimento psíquico e dos pontos de fixação da energia psíquica e desta forma vamos relacioná-los com a vida das empresas mais propriamente da relação entre accionistas/sócios.

Quando as sociedades comerciais são constituídas, os seus accionistas/sócios estão imbuídos de um espírito de luta, de vitória, como se se tratasse da implementação de um modelo do actor único em que a orga-nização tem uma identidade definida e homogénea.

Só é pena que essa harmonia e esse es-pírito de luta não se mantenha sempre, ou seja, que seja desgastada ao longo dos anos, nomeadamente nos tempos de crise em que o modelo de actor úni-co passa para um modelo político em que a organização é vista como um conjunto de jogadores (accionistas/só-cios) dotados de interesses e de objecti-vos próprios, que controlam diferentes recursos como: autoridade, estatuto, dinheiro, pessoas, ideias, influências.Assim, dizemos que quando se cons-titui uma sociedade comercial é im-portante saber quem são os parceiros e criar um espírito de missão alicerçado em quatro componentes:

Qual é a finalidade ou razão de ser da sociedade;Qual a estratégia a implementar;Quais os princípios éticos que norteiam a actuação da empresa;Quais os padrões de actuação esperados dos colabo-radores da empresa

Um dos grandes males verificados no arranque de uma sociedade é a falta de Capitais Próprios, nomeadamente para determinados sectores de actividade. Outro grande erro, é não ser traçado um plano estratégico em que se analisem as barreiras de entrada e saídas do sector de ac-tividade onde a empresa está inserida. Esse plano estra-tégico deve estar alicerçado em planos operacionais que amiúde devem ser analisados e corrigidos. É importante saber qual a estrutura de custos da empresa e se deve dar prioridade aos custos fixos em detrimento dos custos va-riáveis ou vice-versa.

As sociedades são organizações sociais onde há interesses a defender, no caso particular dos accionistas/sócios que disponibilizaram e/ou disponibilizam meios financeiros para a constituição do seu capital. Como organização, é natural e normal que entre os accio-nistas/sócios, haja alguém que lidere a empresa e, muitas vezes, é no tipo de liderança que se pretende implemen-tar, que está o motivo da clivagem dos interesses sociais.

Um líder possessivo, age energicamen-te contra todos, castra a opinião dos outros sócios, o que na maioria dos casos, obriga que os outros deixem as coisas correrem e, nas reuniões, pouco ou nada dizem, porque não se querem aborrecer.

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QuANDO O MAL ESTÁ DENTRO

JOSÉ LuÍS MAGRO

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Quando as sociedades comerciais são constituí-das, os seus accionistas/sócios estão imbuídos de um espírito de luta, de vi-tória, como se se tratas-se da implementação de um modelo do actor úni-co em que a organização tem uma identidade defi-nida e homogénea

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. 33Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

O líder narcisista, o seu psiquismo orienta-se para a con-servação de si mesmo, diferenciando-se do possessivo pela sua megalomania ou seja as empresas por si dirigi-das vivem para além das suas capacidades financeiras e o recurso à Banca é frequente, o dever dinheiro é normal. Para este tipo de líder nunca há um sucessor, considera-se eterno. Este tipo de liderança é referido por D. Miller, J.M. Toulosse e N. Béranger na sua obra Top Executive Persona-lity. and Corporate Strategy como: “personalidade de empre-sário que promove a expansão”, ou seja são gestores mais virados para resultados imediatos e visíveis.

O líder sedutor, é aquele que ao chegar à empresa cumpri-menta de beijo todos os colaboradores de sexo diferente, não quer conflitos, quer ser bem visto por todos, a organi-zação funciona ao sabor da corrente.

O líder sensato tem um psiquismo bem formado, pode ser acatado mas nunca é temido, ou seja é o ideal para que uma organização funcione em pleno e perdure no tempo.

Assim os conflitos sociais fazem com que as empresas per-cam valor competitivo, e quando a separação é difícil pe-rante determinadas barreiras de saída, como exemplo, dí-vidas ao Fisco, sobrevalorização da parte de capital de um determinado sócio, partilha..., é necessário implementar regras rígidas de funcionamento entre accionistas/sócios, vivendo-se desta forma, dentro de um espírito de paz po-dre e de desconfiança permanente.

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Um líder possessivo, age energicamente contra todos, castra a opinião dos outros só-cios, o que na maioria dos casos, obriga que os outros deixem as coisas correrem e, nas reuniões, pouco ou nada dizem, porque não se querem aborrecer.

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cADeIA De VALOR

Designa-se cadeia de valor a série de actividades relacio-nadas e desenvolvidas pela empresa para satisfazer as neces-sidades dos clientes, desde as relações com os fornecedores aos ciclos de produção e venda até à fase da distribuição para o consumidor final. Cada elo dessa cadeia de actividades, está ligada ao elo seguinte. Esta é uma técnica de análise usada pela McKinsey, sistematizada e divulgada por Michael Porter. Para o autor identificar estas actividades e aprender a desempenhá-las de forma mais eficiente do que os concor-rentes é uma fonte crucial de vantagem competitiva. Por-ter recomenda que as empresas procurem ganhar um dos dois tipos possíveis de vantagem competitiva (liderança de cus­tos­ ou diferenciação) em cada etapa da cadeia de valor. A metodologia é baseada em cinco passos:

Seleccionar a unidade de negócio a analisar em fun-ção da sua importância estratégica. Não vale a pena estudar toda a indústria, nem todas as actividades da empresa;Identificar o valor acrescentado das actividades pri-márias. Estas incluem: a recepção e o armazenamen-to das matérias-primas, os processos de produção, a logística de distribuição, o marketing e vendas e o serviço a clientes;Identificar as actividades de suporte. Estas são di-vididas em quatro categorias: logística, tecnologia, recursos humanos e infra-estruturas de gestão;Conhecer as ligações entre cada etapa da cadeia de valor. Ou seja, como é que a forma como uma acti-vidade é desempenhada poderá afectar os custos e a execução da etapa seguinte. Uma boa maneira de o fazer será através do estudo dos fluxos de informa-ção da empresa;Estudar a cadeia de valor de forma a identificar as possíveis fontes de vantagem competitiva em rela-ção aos rivais.

Entretanto, uma equipa liderada por Don Tapscott, o cria-dor da expressão “Economia Digital”, pegou no modelo analítico da cadeia de valor de Michel Porter e criou uma nova cadeia diametralmente oposta (o modelo prático

mais expressivo desta nova realidade é a rede de base Web criada pela empresa californiana Cisco Systems). Este novo modelo está assente em cinco tipos de protagonistas:

Bibliografia: Competitive Strategy – Techniques for Analysing Indus-tries and Competitor, de Michel Porter (The Free Press, 1990)Digital Capital, pela Harvard Business School Press

cIcLO De VIDA De um PRODutO

Um conceito que divide a evolução de um produto no mercado em quatro fases: a introdução; o crescimento; a maturidade; e o declínio. Vejamos cada uma delas.

Lançamento ou Introdução - O produto acabou de ser inventado ou desenvolvido e, por isso, ainda não teve uma grande aceitação do mercado. O ritmo de crescimento das vendas é lento. Em regra, tem um preço muito elevado

JOSÉ LuÍS MAGRO

gestão

OS PROtAGONIStAS DA NOVA cADeIA De VALOR

Clientes - também criam valor Fornecedores de contexto - interface entre o cliente e a rede de negócio; os mais bem posicionados para liderar Fornecedores de conteúdos - desenham, fabricam e entregam as formas de valor intrínsecas (produtos, serviços, informação ou conhecimento) Fornecedores de Serviços para o comércio electróni-co - segurança, privacidade, logística, gestão do co-nhecimento e da informação, gestão de transacções e financeira Fornecedores de Infraestrutura - comunicações, com-putação, electrónica, imobiliário

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iDEiAS E TÉCNiCAS DE GESTÃO

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. 3�Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

porque se quer recuperar rapidamente o investimento no produto.

Cres­cimento - Há uma explosão da procura, uma melho-ria dos lucros e o produto tende a massificar-se. Neste es-tádio começam a chegar novos competidores ao mercado e as empresas tendem a alargar a linha de produtos com novos modelos e a apostar na publicidade.

Maturidade - Nalgum ponto do ciclo de vida do produto o ritmo de crescimento das vendas dará sinais de abran-damento. Esse estágio demora geralmente mais tempo do que os anteriores. É uma fase em que as empresas tendem a entrar em guerras de preço e publicidade.

Declínio - A procura entra em derrapagem e a empresa baixa o preço de venda. Os lucros sofrem uma rápida ero-são em direcção ao ponto zero. Grande parte dos compe-tidores começa a abandonar o mercado e os que permane-cem optam por reduzir as linhas de produto.

Outro dado importante é a sintonia cultural, ou seja, é im-portante ver em que medida a cultura existente na organi-zação é um factor de progresso e desenvolvimento ou pelo contrário, é um factor que contraria ou vicia o progresso e desenvolvimento.

Bibliografia:Principles of Marketing, de Philip Kotler (Prentice-Hall, 1983). Estratégia para PME, Mitos e Realidades, de Santos, Lopes Francisco

cORe cOmPeteNce

Este conceito foi apresentado pela primeira vez em 1990, na Harvard Business Review, em artigo intitulado ‘’The Core Competence of the Corporation”, da autoria de Gary Hamel e C. K. Prahalad. O primeiro, lecciona na London Business School e o segundo é professor na Universidade de Michigan, Estados Unidos.

Durante os­ anos­ 80, os gestores de topo foram julga-dos mediante a sua capacidade para reestruturar, cortar e achatar as empresas que dirigiam. Nos­ anos­ 90, serão

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Estádios do ciclo de vida Factores culturais Implicações na escolha estratégica

Lançamento ou Introdução Domínio dos donosFavorecem-se desenvolvimentos relacionados

Crescimento

Menor coesão cultural.Tensão. Os desentendimentos tendem a aparecer. O mal pode estar dentro da organização (accionistas/sócios)

A diversificação por vezes é possível.Procura de alvos para aquisiçãoMudança de estrutura

MaturidadeCultura institucionalizada. InérciaLógica estratégica pode ser rejeitada

Favorece-se o incrementalismo

Declínio Cultura defensivaOs reajustamentos são difíceis mas necessários. O desinvestimento pode ser inevitável

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3� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

avaliados pela habilidade de identificar, cultivar e as suas competências principais. Para o conseguir, têm de desco-brir, antes de mais, quais são as capacidades internas da empresa, que serão realmente diferentes e melhores, do que as dos concorrentes. Existem três formas de o testar. Em primeiro lugar, verificar se essa competência estraté-gica gera o acesso a uma grande variedade de mercados. Em segundo, avaliar se tem uma contribuição significativa para o bem-estar do consumidor. Por último, confirmar se será facilmente passível de imitação pelos concorrentes.

No s­éculo XXI, com a Globalização 3.0, referida no best-seller nos EUA, “O Mundo é Plano – Uma história breve do século XXI”, de Thomas L. Friedman, os indivíduos cola-boram e competem globalmente. No Mundo Plano, serão realizados cada vez mais negócios quer através da colabo-ração interna quer através da colaboração entre empresas, por uma razão muito simples: os próximos patamares da criação de valor seja nas áreas como tecnologia, marketing, produção…, estão a tornar-se cada vez mais complexos que nenhuma empresa ou departamento per si, conseguirá, in-dividualmente ser capaz de ter um domínio total.

Bibliografia: Competing for the Future, de Gary Hamel e C.K.Prahalad (HBS Press, 1994).O Mundo é Plano, Uma história brebe do século XXI, Thomas L. Friedman

cuLtuRA ORGANIzAcIONAL

As empresas, tal como os países, têm uma cultura única. Os trabalhadores sentem-na, mas nem sempre a conseguem definir. É, por isso, crucial que as empresas divulguem de forma explícita quais são os valores que priveligiam. Quando o fazem por escrito, o documento chama-se uma declaração de mis­s­ão. Esta é particularmente importante para dar aos trabalhadores um sentido de unidade e parti-cipação colectiva. Infelizmente, na maioria das empresas acaba por ser apenas uma frase bonita que está emoldura-da nos gabinetes dos gestores de topo. Para que uma de-claração de missão seja eficaz é necessário que tenha estes quatro elementos:

A finalidade ou razão de ser da Empresa;

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. 37Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

A estratégia, ou seja, quais os objectivos de negócio que se propõe atin-gir e como se vai posicionar no mercado para os atingir;Os valores que consistem nos princípios éticos que norteiam a actuação da Empresa; Os padrões de actuação e esperados dos seus colaboradores.

Embora o tema tenha sido objecto de referência de gurus da gestão como Peter Drucker, Edgar Schein e Charles Handy, o best-seller In Search of Excellence, de Peters e Waterman, convenceu os gestores ocidentais de que a cultura era o principal s­egredo do s­uces­s­o das­ empres­as­ excelentes­. Os rivais japone-ses sempre o souberam, conforme alertaram Richard Pascale e Anthony Athos no livro The Art of ]aponese Management. James Collins e Jeremy Porras, autores do livro Built to Last, foram ainda mais longe. Na sua opinião, a razão por que só algumas empresas têm s­uces­s­o a longo prazo es­tá na cultura orga­nizacional. Nesta era de incerteza tudo deve ser posto em causa, à excepção dos valores. Esses têm de ser imutáveis.

Abaixo mostramos as cinco dimensões da cultura organizacional.

Bibliografia:When Cultures Collide, de Richard LewisThe Art of Japonese Management, de Pacale e AthosUnderstanding Organization, de Charles HandyHumanator-Recursos Humanos e Sucesso Empresarial, de Câmara da B. Pe-dro, Guerra Balreira Paulo, Rodrigues Vicente JoaquimMercer Human Resource Consulting

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3� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

ABCTrês movimentos curtos de contra-ciclo. “A” é o primeiro movimento de preços contra tendência. “B” é o movimento de correcção de “A”. “C” é o movimento final do contra-ciclo.

Abertura de Capital É a possibilidade que uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, dá a inves-tidores estranhos de participarem no seu capital social

Above the Market Ordem de compra e venda com limite de preço superior ao de mercado.

Acção

É a unidade de medida ou parte do capital social das sociedades comerciais por acções (anónimas ou em comandita), correspondendo este ao produto do número de acções pelo seu valor nominal, que não pode ser inferior a uma quantia, expressa e moeda na-cional (AKZ), equivalente a USD 5,00, devendo ser sempre indexado a esse valor – nú-mero 1, do art. 305 da Lei das Sociedades Comerciais. Há vários tipos de acções como: nominativas, ao portador, tituladas, escriturais… Sobre as acções que mencionamos a seguir, julgamos ser importante dar a sua definição.

Acção Cheia Acção que ainda não recebeu ou exerceu direitos dados pela sociedade emissora

Acção Listada em Bolsa

Acções de empresas que satisfazem os requisitos de uma Bolsa de Valores para efeitos de negociação dos seus títulos em pregão

Acção Objectivo É o valor mobiliário emitido pela sociedade aberta admitida à negociação no pregão de uma Bolsa de Valores ou no mercado de opções

Acção Vazia Acção que já exerceu direito de voto concedido pela sociedade emissora.

Accionário É o poder exercido pelo accionista ou grupo maioritário

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GLOSSÁRiO DE BOLSADE VALORES

PAuLA CAETANO

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. 39Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

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Accionista maioritário

Accionista que detém uma quantidade tal de acções com direito a voto que lhe permite manter o controlo maioritário de uma empresa

Accionista Proprietário de uma ou mais acções de uma sociedade anónima

Accionista minoritário

Accionista que detém uma quantidade tal de acções, cujo total não lhe garante o con-trolo da sociedade

Acumulação Compra continua de títulos sem afectar significativamente a sua cotação. Depois de um período de queda o título seguirá uma tendência lateral.

Administração de Carteira

Tarefa delegada a um corrector ou a uma sociedade de correctores e a bancos de inves-timento, por procuração, para decidir sobre a movimentação, no Mercado de Títulos, de títulos pertencentes à pessoa que delega

Advance- -Decline (AD)

Linha que resulta da diferença entre o número de títulos cuja tendência é de subida e aqueles cuja tendência é de descida num determinado mercado. Se se verificarem mais subidas que descidas a AD é positiva. Esta linha permite verificar se a maioria dos títulos está ou não a seguir a tendência dos índices principais.

Agir como dealerDiz-se que uma instituição financeira está a agir como dealer, quando em operações de open-market compra títulos para a sua própria carteira revendendo-os a clientes, sendo o seu lucro a diferença de preços.

ÁgioImportância que o comprador paga a mais sobre o valor nominal de um título. Pode ser também o montante que se acresce ao valor nominal de uma acção que está sendo vendida no Mercado Primário ou na chamada via subscrição.

Ajuste DiárioEsta expressão é usada no “mercado de futuros”. Corresponde ao valor a ser debitado ou creditado ao cliente, diariamente, de acordo com a variação, positiva ou negativa, no valor da posição por ele mantida, ajustada ao preço de compensação do dia.

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�0 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

gestão

Alavancagem

Também conhecido como “leverage” ou “alavanca financeira”. Termo não só usado em Bolsa com também em Finanças. É o grau de utilização de recursos para aumentar a probabilidade de lucros, tendo como consequência o risco da operação. Muito utilizado nos “mercados a prazo”

Amortização Consiste na distribuição aos accionistas, a título de antecipação e sem redução do Capi-tal Social, da quantia que lhes poderá caber em caso de liquidação da sociedade

Amplitude É a diferença entre os preços máximo e mínimo atingidos por uma determinada acção, num determinado período de tempo.

Análise de Títulos É uma prévia análise para as decisões sobre carteira de títulos. A análise fornece os valores das variáveis relevantes para uma melhor gestão da carteira.

Analista de Mercado de Capitais

Profissional de formação académica superior que usa determinada metodologia no estu-do de empresas, sectores de actividade, situações conjunturais e demais aspectos que poderão afectar o Mercado de Capitais.

Andar de Lado Expressão usada para um mercado fraco, estagnado sem tendência definida

Anunciar a Concessão de Dividendos

Comunicação por carta ou via comunicação social da decisão do Conselho de Adminis-tração ou Mesa de Assembleia-Geral da distribuição de dividendos (lucros) aos accio-nistas

Ao mercado Ordem de compra ou venda de acções dada pelo investidor ao seu corrector a preço de mercado, sem que seja estabelecido limite máximo ou limite mínimo para a operação.

Aplicação Utilização de poupanças na compra de títulos com a finalidade de auferir rendimentos

Apregoação

Acto de apregoar a compra ou venda de acções pelo representante de uma sociedade de correctores no recinto de negociações de uma Bolsa (pregão). A apregoação deverá ser feita mencionando-se a quantidade de títulos e o preço pelo qual se pretende fechar o negócio.

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. �1Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

gestão

Arbitragem

Compra de um título para um determinado vencimento, podendo tratar-se de um futuro um de uma operação à vista, de concomitante venda igual a outro vencimento, visando auferir vantagem da diferença de preços ou da sua futura variação. As operações podem ser realizadas em Bolsas diferentes num Balcão com parceiros diferentes, na mesma praça ou em praças diferentes. Além do “arbitrador” beneficia-se do mercado como um todo pela redução dos diferenciais de preços indevidamente afastados ou aproximados pelo aumento do número de parceiros e da liquidez do mercado

Ask O preço mínimo pelo qual o investidor está disposto a vender um determinado título.

Activo

É um recurso controlado pela sociedade como resultado de acontecimentos passados e do qual se espera benefícios económicos futuros. Estes benefícios económicos são o potencial de contribuir, directa ou indirectamente, para o fluxo de dinheiro e equivalentes de dinheiro para a sociedade.

Activo Financeiro Todo e qualquer título representativo de uma parte do património ou dívida como: ac-ções, dinheiro, letras de câmbio, cheques…

At-the-money Trata-se de uma opção cujo preço de exercício é igual ao preço actual do activo subja-cente

Aumento de CapitalÉ um acto aprovado por uma Assembleia-geral Ordinária ou pelo Conselho de Adminis-tração (capital autorizado). Ao capital social podem ser adicionados: entradas de dinhei-ro fresco e/ou reservas

Aumento do Valor Nominal

Pode ser feito por incorporação de reservas ao capital social de uma sociedade, sem emissão de novas acções

Auto-regulaçãoÉ a normalização e fiscalização, por parte dos próprios membros do mercado, organiza-dos em instituições ou associações privadas no sentido de haver uma manutenção de elevados padrões de qualidade e ética.

Avaliação de CarteiraEtapa em que um titular de uma carteira de títulos examina o desempenho da sua carteira de títulos no tempo, comparando com o plano de investimento traçado pre-viamente

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�2 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

informática de gestão

Criámos um Mapa de Seguros feito na folha de cálculo EXCEL 2003, para fazermos a gestão da nossa carteira.

O mapa elaborado tem os seguintes campos:

Os “Dias” e “Valores”, estão divididos por anos, isto porque muitas vezes, um seguro começa num dado ano e termina no ano seguinte. Desta forma, damos cumprimento ao que está escrito no Plano Geral de Contabilidade, mais propriamente em “Encargos a repartir por períodos futuros (conta 37.4)”, ou seja, temos de obedecer ao princípio geralmente aceite em Conta-bilidade com o nome de es­pecialização de res­ultados­ (ou do acrés­cimo).

MAPADE

SEGuROS

JOSÉ LuÍS MAGRO

Figura 1

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. �3Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

informática de gestão

O mapa que elaborámos permite trabalharmos com automatismos, estando estes, sublinhados a amarelo, como se pode ver na figura abaixo.

Já tivemos oportunidade de referir, no número 0, que quando criamos um mapa com fórmulas, copiamos estas para várias células. Por uma questão de estética, devemos deixar essas células limpas e não com consta nas células G14 e H14, conforme figura abaixo

Figura 2

Figura 3

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�� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

informática de gestão

Estamos a trabalhar com uma constante que é a célula N3, 01-01-2007 (não consta na figura abaixo), para que possamos esta-belecer as diferenças dos “Dias”. Como constante, já referido no número 0, temos de colocar o sinal “$” entre o “N”, ou seja, $N$3. A forma mais fácil e imediata de obtermos uma constante é accionarmos a função “F4”

Para termos células limpas quando copiamos fórmulas, utilizamos a função abaixo indicada.

Entretanto, à função acima referida “é.cél.vazia”, temos de juntar outra função que é o “s­e”. Assim, dizemos s­e a célula D14 é vazia, ela ficará limpa.

Figura 4

Figura 5

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. ��Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

informática de gestão

Dentro das funções que ainda não vimos com maior desenvolvimento foi o “s­e”. É uma função lógica. Há pelo menos duas formas de se trabalhar com esta função: a primeira, “=SE(É.CÉL.VAZIA(C13);” “;SE(C13<=$N$3;0;C13­$N$3))” em que os dados são postos de uma forma imediata e aproveitamos para referir que o fechar parêntesis nos últimos dados “…$N$3))” tem haver com o número de “se” , ou seja, há dois; na segunda, procedemos conforme figura abaixo

Na figura 2, temos a “ Distribuição da carteira de seguros”, ou seja, a responsabilidade ou que pagamos de prémio a cada uma das seguradoras. Para se obter estes resultados, trabalhamos com a função “Soma.s­e”.O intervalo compreende as segura-doras, o critério é uma célula com o nome da seguradora que pretendemos saber qual o valor da nossa responsabilidade. O intervalo_s­oma, corresponde à soma dos prémios.

Figura 6

Figura 7

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�� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

canto do investidor

hIStóRIA

Em 22 de Abril de 1976, nasceu a CIVOPAL­SOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES E OBRAS PÚBLICAS ALIANÇA LDA, integrando quadros de uma empresa de construção do sócio-fundador Adão Reis.

ActIVIDADe

A actividade da empresa integra duas áreas distintas, mas in-terligadas:

Nome Peso

Construção Civil e Obras Públicas 75%

Pedreira de Barrancos nº2 25%

ALVARAS

Desde 13/01/1977,que a CIVOPAL, é detentora de alvará de construção.com as seguintes categorias

Categoria Descrição

1ª Edifícios e Património Construído

2ªVias de Comunicação, Obras de Urbanização e Outras Infra-Estruturas

3ª Obras Hidráulicas

5ª Outros Trabalhos

.eStRAtéGIA DA cIVOPAL

Desde sempre foi politica do sócio-fundador Adão Reis, seguir uma estratégia planeada e participativa, o que permitiu ao lon-go da vida da CIVOPAL criar uma cadeia de valor nas cinco

principais actividades da empresa: logística interna, produção, logística externa, comercialização; serviços ao cliente.

A conjuntura económica nada favorável há vários anos, no-meadamente no sector de actividade onde estamos inseridos, Construção Civil e Obras Publicas, obrigou-nos a deixar uma estratégia de volume onde estávamos bem inseridos, para pas-sarmos para uma estratégia de diferenciação, inclusive, procu-rando diversificar a própria actividade com outros negócios.

A transição de estratégia não é uma tarefa fácil e rápida. Houve investimentos no meio, que têm de ser devidamente equacionados no que toca ao retorno do investimento. Em primeira linha, pensámos e está em curso a implementação de um sistema de Gestão da Qualidade de acordo com a ISSO 9001:2000 e, em segunda linha, estamos a delinear a nossa internacionalização, isto porque cada vez mais há mercados abertos e temos de pensar na nossa continuidade e na con-corrência que para nós é sempre bem vinda desde que haja lisura.

Dentro da missão da CIVOPAL, está o ambiente. Desde sempre cumprimos com as regras de defesa do ambiente e da segurança quer dos nossos colaboradores e estranhos, pelo que independentemente da obrigatoriedade das regras de segurança impostas por lei, temos o nosso regulamento interno que é coincidente com as leis vigentes sobre esta matéria.

RecuRSOS humANOS

A CIVOPAL, procura que cada um dos seus colaboradores seja uma peça importante do seu tabuleiro de xadrez. Tem conseguido. Pode-se dizer que os recursos humanos da nossa empresa têm a cultura e identidade criada ao longo da vida da empresa. É nossa divisa que cada trabalhador se sinta em casa, o que leva a dizer que estamos satisfeitos com a produ-tividade alcançada ao longo dos tempos.

A CIVOPAL, tem mantido o mesmo quadro de pessoal, pelo menos desde 2003, que corresponde a 37 colaboradores

SOCIEDADE DE CONSTRUÇÕES E OBRAS PÚBLICAS ALIANÇA, LDA.

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. �7Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

canto do investidor

RecuRSOS mAteRIAIS

O Imobilizado Corpóreo Líquido (Meios Fixos) nos últimos três exercícios económicos foi:

Unidade 103 €

2005 2004 2003

1.182 440 331

A empresa está bem dotada de equipamento para trabalhos de obras públicas como exploração de areeiros e pedreiras.

VOLume De NeGócIOS

Unidade 103 €

2005 2004 2003

3.896 2.215 4.661

Independentemente da quebra verificada em 2004, a CIVO­PAL, conseguiu recuperar em 2005 e pode-se dizer que os va-lores alcançados neste exercício estão dentro dos objectivos traçados.

meNSAGem DO GeReNte

Hoje fala-se muito na globalização das empresas. Hoje fala-se muito dos mercados emergentes. As empresas têm de ter

continuidade. Os seus dirigentes têm de ser inteligentes, no sentido de saberem aproveitar as oportunidades e saberem contornar as ameaças.

Dentro dos mercados emergentes penso seriamente em Angola. Porquê? Há factores de união como a língua e é um País que precisa de ser reconstruído. O sector da Cons-trução Civil e Obras Públicas, tem forçosamente de ser dinamizado. Temos capacidade para estar neste mercado, com: trabalho, humildade e educação e conseguirmos dar riqueza a Angola e sem falsas hipocrisias, também criarmos riqueza para nós.

Uma estratégia de internacionalização para a CIVOPAL, só se torna apropriada se em termos genéricos for desenhada dentro dos padrões da nossa organização. É verdade que nos temos de adaptar à forma de trabalhar e pensar do merca-do angolano. Mas também é verdade que não podemos estar longe das linhas-mestras traçadas ao longo dos tempos para a continuidade e rentabilidade da CIVOPAL em Portugal. Em suma, é preciso que estejamos organizados e com os pés bem assentes no terreno.

A nossa internacionalização, tudo indica que vai passar por criar alianças. É necessário ir ao terreno ver as oportunidades e escolher o parceiro certo. É necessário conhecer com algu-ma profundidade a legislação vigente e verificar a sua adapta-ção à nossa empresa.

Vamos avançar devagar e com consistência.

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�� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

cultura

“Quando pintava em tela era mais um hobby. Quando comecei com a pintura em azulejo coincidiu com a altura em que deixei de dar aulas.Com esta nova actividade, lentamente surgiram clien-tes, que felizmente vieram preencher o tempo que ocupava como professora.

Entretanto, depois de ter deixado ser professora, estive durante 8 meses em Portugal, numa escola de formação de arte onde tive possibilidades de apreen-der muito sobre pintura em azulejo.

Quando regressei a Angola vim muni-da de material para pintar, inclusive fornos. Ainda estou no anonimato, por consequência não tenho tido quaisquer apoios. Dentro do material que uso os fornos são os mais caros.

Se tivesse apoios, possivelmente havia de montar uma escola de formação, não para pintura mas de outros trabalhos manuais, como bordados, isto porque tenho o Curso de Formação Feminina.

O gosto e a aptidão para a pintura são de família. Somos três irmãs e todas gos-tamos e trabalhamos em arte.

Pinto em média dois quadros por dia. No que respeita aos painéis são por encomenda e conforme o seu tama-nho demoro em média quinze dias a pintá-los.

O meu trabalho não é abstracto. Os clientes pedem-me para fazer coisas concretas como pintar os emblemas do Sporting, do Benfica ou do Porto, uma fotografia ou uma paisagem.

Em Angola, no caso concreto no Lobi-to, onde vivo, as pessoas não têm uma predisposição para este tipo de arte, fru-to de não haver dinheiro. Entretanto, estou convencida de que em Luanda, onde há mais poder de compra, teria possibilidades de vender muito mais.

Tempos atrás falei com a dona do restau-rante Zulu que me prometeu um espaço onde pudesse expor os meus azulejos. Vamos ver o resultado no futuro”.

LuiSA FREiTAS

“O MEu TRABALHO NÃO É ABSTRACTO”

Dotada de uma sensibilidade especial para a pintura, Luísa Freitas, professora aposentada, natural do Lobito, já perdeu a conta aos anos a que se dedica à pintura em tela. Há cinco anos começou a pintar

em azulejo. Um dom de família, aqui contado na primeira pessoa.

“se tivesse apoios, possivelmente havia

de montar uma escola de formação”

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�0 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

N uma conversa mantida há al-gum tempo com Elizabeth Simbrão, Cônsul-geral de An-

gola em Portugal, lembro-me do que me disse referindo-se aos angolanos: “se pudessem ter o dom da ubiquida-de estariam nos dois lugares ao mesmo tempo”. Segundo a Cônsul, este senti-mento é fruto de uma convivência secu-lar: “Angola esteve mais no coração dos portugueses do que as restantes ex-coló-nias, daí esse apego, essa ligação quase umbilical”.

DAR e RecebeR

O contributo dos angolanos está paten-te em vários sectores da vida social por-tuguesa. A comunidade está mais inse-rida na área dos serviços, da restauração e da construção civil, mas há também os estudantes e toda uma massa intelec-tual que, segundo Elizabeth Simbrão, “tem contribuído em vários domínios da vida social e para o desenvolvimento de Portugal”. Um contributo que promove a diversidade étnico-cultural e tem in-fluenciado, e muito, a maneira de ser dos portugueses.

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Natasha Oliveira

ANGOLANOS NA DIÁSPORA

uM PÉ NA EuROPA COM ÁFRiCA NO CORAÇÃO

Angola deu-lhes a terra, o sol, o cheiro. Que não esquecem. Mas o conflito armado que assolou o país, durante longos anos, destruiu tecido humano e material e fez com que os angolanos abandonassem a terra que os viu nascer. Portugal recebeu-os de braços abertos. Conquistaram empregos, criaram raízes, fizeram filhos. Uns estão perfeitamente integrados, outros vão e vêm, para estudar ou fazer negócios.

Uma comunidade flutuante de muitos milhares, onde cada caso é um caso.

Elizabeth Simbrão, Cônsul-geral de Angola em Portugal

“se pudessem ter o dom da ubiquidade estariam nos dois lugares ao mesmo tempo”

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. �1Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

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FACIDE

Pensar e planear o regresso dos quadros na diásporaA fuga de “cérebros” do continente africano é um tema que tem vindo a ser objecto de grandes debates nos últimos anos. Um fenómeno a que Angola não é alheio. Com milhares de quadros formados e a viver no exterior, numa altura em que o país relança a sua economia, é importante ter em conta esta “mais valia”.

Promover o regresso a Angola dos quadros formados no exte-rior é um dos objectivos do FACIDE – Fórum Angolano para o Conhecimento Competitivo, Inovação e Desenvolvimento – uma associação que congrega profissionais de várias áreas: médicos, advogados, professores, engenheiros e gestores, entre outros.

Considerando que “o pior desperdício é o desperdício do melhor”, Angola não se pode dar ao luxo de desperdiçar o capital huma-no na diáspora, quando pode tê-lo a trabalhar para o desen-

volvimento do País. Propondo-se como entidade mediadora, o FACIDE identifica as necessidades dos quadros e das empresas públicas e privadas e planeia o regresso. Um regresso faseado e devidamente pensado.

Outro objectivo deste projecto de promoção do regresso dos quadros na diáspora é conseguir uma forte concentração de massa crítica no país, capaz de promover o seu desenvolvi-mento. “Os países têm que apostar no conhecimento para obter desenvolvimento”.

O FACIDE é uma “organização do conheci-mento” (Knowledge Organization) cons-tituída por quadros angolanos espalhados pelos quatro cantos do mundo, incluindo Angola. A organização foi fundada no ve-lho continente a 8 de Dezembro de 2002, por quadros angolanos das áreas do Di-reito, Medicina, Engenharia e Gestão.

PRINcIPAIS AcçõeS NO DOmíNIO DA INSeRçãO De quADROS

O FACIDE celebrou em Outubro de 2003 o seu I Protocolo de Cooperação celebra-do com a ESCOM, no domínio da inser-ção de quadros. Seguiram-se mais dois Protocolos de Cooperação: O primeiro com o Banco de Fomento Angola e o se-gundo com o MILLENNIUMBCP.

ReLAçãO mILLeNNIumbcP fAcIDe

O Protocolo celebrado com o maior grupo financeiro privado português, o MILLEN-NIUMBCP, tem tido uma grande dinâmica. Através dele têm sido recrutados quadros angolanos em Angola e no mundo, cons-

tantes da base de dados internacional do FACIDE e que vão integrar os quadros da instituição em Angola. Tem sido de-senvolvida igualmente uma cooperação muito estreita no domínio da prestação de serviços ao MILLENNIUMBCP.

eVeNtOS

Depois do Congresso de Quadros de 7 e 8 de Maio de 2004, o FACIDE realizou a 24 e 25 de Junho de 2005, em Luanda, o FEC - Fórum Estratégia e Competitivida-de. Foi um encontro sobre gestão, estra-tégia, economia, onde a temática da com-petitividade e do papel do conhecimento esteve em cima da mesa.

De acordo com o entendimento do FA-CIDE uma das componentes mais im-portantes do desenvolvimento é o co-nhecimento. Ora, é este conhecimento, as melhores formas de o pôr a servir o País, em concreto, através de pessoas, no dia a dia das organizações, através da liderança estratégica dos processos de gestão, que o FACIDE e altos quadros de empresas públicas e privadas, académi-cos e executivos de topo, discutiram em Luanda a 24 e 25 de Junho.

Este encontro foi também oportunidade de lançar o FACIDE como uma Organiza-ção do Conhecimento (Knowledge Orga-nization) preocupada com a utilização do conhecimento que as pessoas - os qua-dros - podem trazer à economia.

Foi Chairman do FEC o Ministro-Adjunto do 1º Ministro, Dr. Aguinaldo Jaime, que contou também com a presença do pro-fessor de estratégia Adriano Freire, con-sultor do Grupo SONAE e doutorado pela Universidade de Sofia, no Japão. Contou ainda com a presença do Director da Es-cola de Alta Direcção - da AESE - Eng.º Ramalho Fontes.

emPReeNDeDORISmO

O FACIDE está engajado em promover também o empreendedorismo, “como uma forma de criar emprego e enqua-drar a capacidade de saber fazer dos nossos quadros”. Deste modo foi lança-do no dia 1 de Março o número Zero da revista Estratégia, uma revista sobre gestão, economia e negócios, detida pela empresa “Prestige Media, S.A.” constituída exclusivamente por quadros angolanos.

Será lançada brevemente uma empresa de selecção e recrutamento, que desen-volverá, em exclusivo, todo o processo de selecção e recrutamento, actualmen-te desenvolvido pelo FACIDE. A referida empresa vai ceder a actual posição do FACIDE nos diferentes protocolos que tem assinado. “O FACIDE mantém vivo o interesse em cooperar com todas as empresas públicas e privadas, bem como organismos da nossa República interes-sados em contratar quadros angolanos, no país e na diáspora”.

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�2 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

GuILhErME GALIANO

Kandandu, um abraço da diáspora para ÁfricaKandandu é nome de programa de televisão. Um nome feliz porque o clima é de fraternidade, neste programa conduzido por Guilherme Galiano, jornalista e apresentador de televisão. Um programa que

une os africanos na diáspora ao continente.

“O programa Kandandu – diz Galiano – é um programa da TPA, gravado em Portugal, que foi pensado e criado para mandar um abraço da diáspora angolana para o povo angolano. No entanto, rapidamente percebemos que o programa não se podia fechar aos angolanos, os outros irmãos também por ali deveriam ter um es-paço de visibilidade. Então tornámos o Kandandu um programa dos PALOP, gravado em Portugal para passar na TPA, que depois, por força dos acordos que tem, envia para a RTP, onde passa na RTP África”.

Guilherme Galiano vive em Portugal há 26 anos. O apresen-tador faz da comunicação uma arte e, com o sentido crítico que sempre o acompanhou, consegue dar voz e imagem à causa do continente africano. Por força da profissão vive uma relação muito próxima com a comunidade, mas também por-que considera que faz parte dela. Na sua opinião, os proble-mas que muitas vezes afectam a comunidade africana em Por-tugal, têm origem na falta de comunicação. Por isso, Galiano faz um apelo às autoridades, para que dissipem os obstáculos à relação entre as pessoas de diversas origens. “Particularmen-te a CPLP, de que agora tanto se fala, deverá ter um papel mais activo no sentido de facilitar a relação e o encontro entre pessoas dos estados-membros, mais do que facilitar só encontros entre os políticos e responsáveis de diversas áreas, porque entre esses acaba por ser mais fácil estabelecer o diálogo”.

Guilherme Galiano, jornalista e apresentador de televisão

“Os problemas que muitas vezes afectam a comunidade africana em Portugal, têm origem na falta de comunicação”

EsPAçO DE ENCONTrO E DIsCussãO

AMAA - Associação Moitense dos Amigos de Angola

A AMAA nasceu em 2000 para dar resposta à necessidade de um espaço comum onde os amigos de Angola e os angolanos se pudessem encontrar e discutir os seus problemas. Mais do que isso, a

associação pretende promover as suas qualidades artísticas e empresariais.

Na comunidade angolana que reside em Portugal existem muitos artistas da área da música, das artes plásticas e da literatura, que precisam de ajuda para promoverem os seus trabalhos. Artistas com muito talento, que correm o risco de se perder e com isso tornar mais pobre todo o património cultural português e do país de origem.

O presidente da AMAA, Joaquim Laureano, docente da universidade de Évora, doutorado em Ciências do Ambien-te, vive em Portugal mas continua ligado a Angola, especi-ficamente à Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Agostinho Neto.

Para o docente, a ligação da comunidade angolana residente na diáspora com o País de origem nunca deve ser quebrada, uma vez que pode, quando bem aproveitada, constituir um motor para o desenvolvimento de Angola.

Uma das preocupações da AMAA, passa por estabelecer con-tactos com empresas que tenham interesses de investimentos em Angola, visto existirem muitos angolanos com vontade de regressar ao seu país. A possibilidade destes cidadãos serem integrados no projecto das empresas portuguesas que inves-tem em Angola é, segundo Joaquim Laureano, uma mais-va-lia para o País e para as empresas.

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. �3Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

“Angoes­fera, uma vis­ão global s­obre Angola” foi tema de uma conferência realizada há dois anos, na qual Joaquim Laureano se baseou num artigo que escreveu já há algum tempo sobre a importância da visão global de Angola, sem observar as fronteiras físicas do país.

“Angoesfera é um conceito que apela à visão global de Angola, como um grande macro-ecossistema, cujas fronteiras não se esba-tem naquelas que são as fronteiras físicas de Angola, mas esten-dem-se para todo e qualquer lado onde encontramos um angolano, porque onde está um angolano está o nosso património genéti-

co e cultural” – referiu o docente quando questionado sobre este conceito. Um conceito que, segundo Joaquim Laureano, pretende dar ênfase ao aproveitamento integral dos recursos angolanos, onde se deve incluir a comunidade angolana que reside fora de Angola.

O professor concluiu dizendo que podem ser criadas siner-gias com os conhecimentos, qualificações e experiências adquiridas pelos angolanos na diáspora, e que estas podem ser o grande impulsionador do desenvolvimento sustenta-do do país.

O GOsTINhO DAs MArIAs

Matar saudades de AngolaMaria José, nasceu no Huambo. Veio para Lisboa com 29 anos e quatro filhos na bagagem: três raparigas e um rapaz. Diz que são eles que lhe dão a paz que respira. Lutadora convicta, trocou a costura por um sonho antigo: um restaurante de cozinha africana onde passa os dias a trabalhar

de “alma e coração”

O restaurante chama-se O Gos­tinho das­ Marias­ e inclui na ementa pitéus como moqueca de camarão, cachu-pa, muamba, quibeba de choco, kalulu, mufete ou cozido de bana-na. Mas uma das especialidades mais procuradas é o caldo de mancarra, uma receita guineense que lhe foi ensi-nada pelo seu antigo chefe de cozinha. Esta angolana, que cozinha com muito gosto, como se fosse para si, recebe os “amigos” com entradas deliciosas, como Kitaba, e “saídas” verdadeiramente tentadoras, como o pudim de leite de coco ou a mousse de chocolate com nozes e molho de caramelo.

Um lugar onde se vai matar saudades de Angola, tomar uma refeição caprichada, conversar e “recarregar baterias” porque segundo a Dª Maria José “as pessoas di-zem que sentem no ar uma energia muito positiva”.

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zézé GAmbOA

Cineasta, nasceu em Luanda, mas a sua infância foi repartida entre a capital e o Lobito. Vive na diáspora desde 1980. Para ele a diáspora foi primeiro a França, depois a Bélgica e só então Portugal. Presentemente vive em Lisboa com a mulher e uma filha de 5 anos. Para o realizador de “O Herói”, viver fora do seu país não

o distancia da realidade angolana. Ao contrário, considera que viver fora de Angola lhe dá “uma visão mais objec-tiva dos problemas do quotidiano”. E os seus filmes, as histórias que conta, e as que ainda há-de contar, têm todas que ver com as imagens guardadas na infância e na juventude. Memó-rias de sons, cores, cheiros e pessoas. Sempre. Porque ele está cá, mas “o coração está lá”.

Maria José e dois dos seus filhos

Zezé Gamboa

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�� . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

Assim, a definição de diáspora está longe de ser clara. Uns defen-dem que é um instrumento filosófico e politicamente correcto de crítica e de intervenção social e, outros, procuram construir modelos de diáspora a partir da experiência sócio-histórica.

Actualmente toda a emigração tende a representar-se como uma diáspora. É normal ver sites, associações, publicações como jor-nais ou revistas, visitas guiadas ou não ao país de origem… A diáspora tem cada vez mais peso na política internacional.

Perguntar-se-á porquê esta explosão da diáspora? Tem a ver com o surgimento de novas identidades diaspóricas relacio-

nadas com a transferência maciça de populações no mun-do contemporâneo provocadas por crises no país de origem. Zygmunt Bauman na sua obra “Life in Fragments - Essays in Postmodern Morality” explicou as diversas similitudes entre a condição “judias diaspóricas” e a condição do homem pós-moderno. O líder negro norte-americano Du Bois, mencio-nava a capacidade mobilizadora do sionismo como fonte de inspiração para os negros americanos.

É importante a construção de identidades, mitos e ritos, que sustentem no tempo a memória do grupo. Um calendário próprio com as suas festas é um indicador da soberania na-

DIÁsPOrA EM DEsTAQuE

DAs OrIGENs À rEALIDADEDiáspora, segundo o dicionário, é um substantivo masculino que significa “comunidade judaica fortemente organizada, fora da Palestina, ponto de apoio para a pregação do cristianismo”. Na última década do século XX, a diáspora, fruto da globalização, passou a ser nuclear no estudo das Ciências Sociais, nomeadamente no campo da Antropologia e Sociologia, perdendo na prática o seu

significado original.

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NIVALDO GORDO

Nasceu em Luanda num dia em que o som das balas ecoava pela casa. Arqui-tecto e empresário, veio para Portugal com três anos e vai com regularidade a Angola. As ligações com o país natal fortaleceram-se quando assumiu os ne-gócios do pai em África. Proprietário de um restaurante em Cascais, divide o seu tempo entre a arquitectura e a co-zinha africana. Considera Angola uma terra de futuro, mas “para que o desen-volvimento seja mais rápido e sólido é necessário mudar mentalidades, reganhar valores. É uma terra muito rica e será uma grande potência”.

AmâNDIO LuíS

Técnico de cinema. Filho de um por-tuguês e de uma angolana veio para Lisboa com dois anos. Frequentou Psicologia Política, curso que abando-nou por motivos pessoais. Dedicou-se à área da restauração com algumas passagens por hotéis e bares. Mantém ligações a Angola através da família e dos amigos, mas tem poucas recorda-ções da terra que o viu nascer. Para já, voltar a Angola só de férias.

DJey.b

Músico, tem 28 anos e é natural do Bié. Djey.B é o nome artístico de João Pedro, para um disco ao ritmo do Ki-zomba. Veio para Portugal, estudar, em 89. Hoje concilia o trabalho com a música, que é o seu sonho. Aos jovens do seu país faz um apelo à luta pelo sucesso. “Muita fé, muita força, para que um dia possam realizar os seus so-nhos, o que não é fácil, tanto em Angola como no estrangeiro. As dificuldades são idênticas. Quem tiver um sonho a cum-prir, que lute com muita fé e força porque hão-de conseguir”.

eSPAçO fAmA

É um espaço cultural para angolanos, na baixa da cidade do Porto, Centro Comercial Rio. No local é possível aos artistas plásticos, escritores e músi-cos promoverem as suas obras. Uma iniciativa do angolano Johnny Ba­dedas­, proprietário de um snack-bar no mesmo centro, que apostou neste lugar para promover a cultura do seu país.

ASSOcIAçãO

Chama-se União da Juventude An­golana em Portugal e desenvolve vários projectos de integração da co-munidade juvenil, designadamente a revista Comunidade Activa e clubes de jornalismo e de Banda Desenhada. Os objectivos são, segundo Adriano Pe­dro, presidente da associação, “o com-bate à exclusão social, à criminalidade e ao insucesso escolar, através de acções de informação e de promoção social que facilitem a integração, tendo como base o trinómio Família, Escola, Comunidade”.

muxImA uAmIê

É o nome do primeiro CD de Edil­s­on Vidal que tem como objectivo defender a música angolana e inclui temas como “Lua Luanda”, “Memória de Nós” ou “Isto é Angola”. Natural de Benguela, o cantor, compositor, produtor e técnico musical, hoje com 23 anos, veio para Portugal viver com os irmãos mais velhos e estar per-to dos pais. Da diáspora para os seus “irmãos” angolanos uma mensagem: “que continuem sorridentes, com aquela força de vontade que todos sabem. Vivam descontraídos!”

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. ��Fevereiro | Março 2006 // VALOR ACRESCENTADO

cional e um calendário com uma temporalidade alternativa é um indicador de um corte cultural, senão de civilidade.

LAçOS De uNIãO

Portugal foi durante séculos um país colonizador. Não temos dados, mas tudo indica que este país é o que tem maior nú-mero de angolanos, incluindo aqueles que, embora tenham nascido em Angola, optaram pela nacionalidade portuguesa.

Dentro dos factores de união temos a língua e a religião, ten-do em linha de conta que o catolicismo é predominante quer em Portugal quer em Angola. É bom lembrar que, aquando dos descobrimentos marítimos, para além da conquista ter-ritorial era importante converter os povos indígenas ao ca-tolicismo.

Das influências na gastronomia podemos constatar que, para além dos pratos típicos angolanos como a muamba, o calulu e outros, ficaram dos portugueses a caldeirada, o feijão com dobrada, o cozido à portuguesa…

O futebol, nomeadamente o jogado na Liga Portuguesa, tem grandes adeptos angolanos quer entre gerações antes da in-dependência, quer da actualidade. O Sport Lisboa e Benfi-ca (na Canjala encontramos uma lanchonete com o nome do Glorioso) e o Sporting Clube de Portugal são as equipas que têm maior número de adeptos. O Futebol Clube do Por-to, que antes da independência não tinha grande relevo, e depois passou a ser o clube com maior historial do futebol português, já começa a ter muitos adeptos das novas gera-ções angolanas. Assistimos em Luanda, aos jogos da Taça de Portugal entre o Futebol Clube do Porto e Sporting Clube de Portugal e notámos o fervor, o clubismo e o conhecimento que os presentes tinham das duas equipas. O mesmo se pas-sou quando o Sport Lisboa e Benfica, jogou para a Liga dos Campeões Europeus quer com o Liverpool quer com o Bar-celona. Julgamos que o futebol que para nós é mais vivido pelos adeptos angolanos (conhecem todos os jogadores e a história do seu clube) é a prova provada da união que liga estes dois povos.

Muitos angolanos têm familiares a viver em Portugal. Ainda na véspera de Natal pudemos constatar como os aviões da TAAG e da TAP, vinham cheios quer de expatriados quer de angolanos que vieram a Portugal passar a quadra natalícia com os seus familiares. É normal, nas suas férias, deslocaram-se a este país para estarem com esses familiares e, porque não, amigos. Os que têm mais poder económico têm na zona me-tropolitana de Lisboa a sua casa. Por outro lado, muitos ango-lanos que nasceram antes da independência, têm para além da nacionalidade angolana, a nacionalidade portuguesa.

Os meios de comunicação social como a BOLA, o Expresso, a RTPAfrica, a SIC, são lidos e vistos, por um número significa-tivo de angolanos, muito atentos às notícias quer impressas quer televisivas relacionadas com Portugal.

Falando novamente das companhias aéreas, não é por acaso, que a TAP (companhia aérea portuguesa), quer ter voos diá-rios entre Lisboa e Luanda, e a TAAG (companhia aérea ango-lana), com quatro voos semanais, tem sempre os seus aviões cheios. Por consequência, julgamos ser a rota mais lucrativa para ambas as companhias.

OS que SAíRAm ANteS DA INDePeNDêNcIA

José Luís Magalhães, é natural de Benguela, e disse: “quando cheguei a Portugal, pensei no regresso tendo concorrido a vários lugares para Angola, mas não obtive qualquer resposta.” o que é corroborado por Raul Lopes, natural de Montebelo, que refe-riu: “tive sempre o sonho de querer regressar que se foi desvanecen-do com o tempo, mas sempre que oiço qualquer notícia relaciona-da com Angola, procuro de imediato interessar-me”.

Jos­é Luís­ Magalhães­, Raul Lopes­ e Alexandre Rama­lho, cada um deles tem mais de 50 anos de idade, ou seja, as suas vidas foram feitas na prática metade em Angola e outra metade no estrangeiro, mais concretamente em Portu-gal. Os efeitos da cultura e da aculturação fizeram-se sentir nos seus comportamentos. Não obstante, Raul Lopes disse ”consegui transmitir ao meu filho mais velho o gosto por Angola, terra do pai e da mãe. Hoje ele devora todas as notícias sobre Angola, estando inclusive registado no site “sanzala””. “O gos-to por Angola”, conforme relata Rui Lopes não deixa de ser igual ao que os pais angolanos transmitem aos seus filhos no que concerne às raízes portuguesas, via futebol. A talhe de foice, num belo dia perguntámos ao filho (doze anos) de um nosso amigo de Benguela, sportinguista de três costados, porque era do clube do pai. Respondeu: “foi o meu pai que me obrigou, mas hoje não mudo de clube, isto porque sofro mais do que ele quando perde”.

Quer o José Luís Magalhães quer o Alexandre Ramalho, natu-ral da Chibia, têm familiares em Angola e são estes, um dos seus principais veículos de informação, do que se passa e faz em Angola. Para Alexandre Ramalho, uma das suas grandes preocupações é “a criação de leis e fiscalização sobre a fauna an-golana” o que não deixa de ser importante visto que, pelo que sabemos, com o acabar da guerra muita fauna regressou ao seu “habitat”, nomeadamente na província da Huila, donde é natural Alexandre Ramalho.

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”Consegui transmitir ao meu filho mais velho o gosto por Angola, terra do pai e da mãe. Hoje ele devora todas as notícias sobre Angola, estando inclusive registado no site “sanzala” Raul Lopes­

José Luís Magalhães Raul Lopes Alexandre Ramalho

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António Tavares­, tem 42 anos de idade, é natural de Lu-anda e veio para Portugal com 12 anos.Tal como o José Luís Magalhães é funcionário público no Ministério da Justiça em Lisboa, deputado municipal pelo PSD e licenciado em Rela-ções Internacionais.

Manuel Oliveira, com 55 anos de idade, foi para Angola com 2 anos de idade, fazendo boa parte da sua vida em Benguela. Aproveitou para dizer: “por volta de 1985, começaram a apare-cer amigos de infância a quem eu dava hospedagem em Portugal e relembráva-mos os nossos tempos de miúdos com noticiais actuais de Angola. Em 1991, apareceu-me um grande amigo de infân-cia Bernardo juntamente com o Vítor Valente.

Em 1992, houve a hipótese de ir a Benguela baptizar um dos filhos do meu grande amigo Vítor Valente na Igreja da Nossa Senhora do Pópulo, que muitas recordações me deixaram, isto porque fiz parte do Agrupamento de Escuteiros. Fui bastante bem recebido por amigos como o Paim, Valente, Paião….”

Manuel Oliveira, devido às normas legais, não pode ser an-golano, porque nasceu em Portugal, mas intrinsecamente sente-se angolano. Não é a distância nem a cor da pele que o impedem de conviver e abraçar amigos na verdadeira acepção da palavra. Julgamos que estes predicados como a amizade e a hospitalidade são características do povo angolano.

Uma das particularidades da diáspora a que aludimos, são as visitas guiadas ao país de origem. Temos visto no site “sanza-la” vários programas nesse sentido. O José Luís Magalhães e o Manuel Oliveira, aproveitaram uma dessas visitas e foram a Luanda e Benguela-Catumbela-Lobito. Estamos perante um enigma. Como considerar o Manuel Oliveira, perante a diás-pora, uma vez que não nasceu em Angola? Os estudiosos têm de criar as suas definições e têm as suas normas. Respeitamos tais definições e tais normas. A Ciência, nos dias que correm, baseia-se em verdades relativas. Manuel Oliveira para nós é angolano. Ama aquela terra. Tem os seus amigos. Há recipro-cidade entre eles. É aceite pela comunidade.

Para José Luís Magalhães a visita foi importante “no ponto de vista material, há grandes diferenças entre a altura em que deixei Angola (1975) e o tempo actual. Do ponto de vista de calor huma-no é o mesmo, ou seja, gente hospitaleira, sem quaisquer rancores e a pedir continuamente que regressasse a Angola. O grande óbice é que as passagens aéreas são bastante caras”. Não podemos e não devemos imiscuir-nos nos negócios das companhias aéreas, mas é voz corrente que os preços são deveras altos.

A visita para Manuel Oliveira, já repetente no vaivém, foi re-levante, porque “o ambiente agora encontrado em Benguela é to-

talmente diferente, daquele que encontrei em 1992, fruto do estado de espírito, ou seja, da paz”. O povo angolano mantém o mesmo espírito, ou seja, “o amigo do meu amigo, meu amigo é”. Notei, agora em Benguela, que há mais malta do meu tempo de miúdo, fruto da paz, da harmonia. Antes eles estavam em Portugal e por outras paragens, nomeadamente Luanda”. Em sentido figurado, estamos perante uma outra “diáspora” mais interna, ou seja, o deslocamento dos naturais de uma região, para outra, de-vido a múltiplas causas, que à primeira oportunidade, regres-sam à região de origem.

Julgamos que o José Luís Magalhães e o Manuel Oliveira, estão numa posição privilegiada de fazer uma análise critica e evolutiva de Angola, entre a altura que deixaram o país e esta sua visita e, Manuel Oliveira, com outra capacidade, visto ter tido uma outra visita de permeio, mais propria-mente em 1992. Este último, aproveitou para dizer: “muita gente fora de Angola, pensa que é um atraso de vida. Tal não é verdade. Encontrei malta muito bem informada quer em 1992 quer agora, do que se passa no Mundo. Vêem-se bastantes canais de televisão estrangeiros e portugueses como a SIC e a RTPAfri-ca. As pessoas hoje falam abertamente” . A ideia de “atraso de vida”, “terra queimada”, infelizmente existe em muita gen-te que não conhece Angola e, felizmente, a revista VALOR ACRESCENTADO, tem mostrado a muitas dessas pessoas, o contrário, pedindo na sua maioria, desculpa pela afronta.

OS que SAíRAm DePOIS DA INDePeNDêNcIA

Manuel dos­ Santos­ e Mário dos­ Santos­, saíram de Ango-la em 1990. São trabalhadores da construção civil.

Hernâni Manaya, está em Portugal desde 1988 e Nicolau Mes­quita veio em 1979 e tal como António Tavares, é fun-cionário público no Ministério da Justiça.

Todos são naturais de Luanda, excepção feita para Hernâni Manaya natural do Sumbe. Todos têm a nacionalidade ango-lana, excepção feita a Nicolau Mesquita.

Não obstante, Nicolau Mesquita, faz parte da comunidade angolana, é membro da Associação de Defesa dos Angolanos. Mais uma vez, os formalismos legais, que têm que existir, não

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Manuel dos Santos Mário dos Santos

Nicolau MesquitaHernâni Manaya

António Tavares

Manuel Oliveira

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lhe permite ter a nacionalidade angolana, tem, pelo que jul-gamos, de ir a Angola requerê-la.

Todos se sentem integrados em Portugal o que é reforçado pelo que disse Mário Santos: “fui muito bem recebido. Foi fácil a minha integração, pelo que gosto de cá estar”.

mASSA cRItIcA

Mário dos Santos disparou: “Angola não tem massa crítica”. Não pretendemos ser demagogos quando dizemos que a maior riqueza de um povo “são os seus conhecimentos”. Vi-vemos no século XXI, considerado o século do conheci-mento. Nesta perspectiva Angola, independentemente das suas riquezas naturais, precisa que os seus naturais saibam pensar, saibam dirigir e agir relativamente às riquezas na-turais do seu país.

Hoje, há uma grande procura de estabelecimentos de Ensino Superior que se querem instalar em Angola. E porquê? Devi-do aos limites impostos pela Universidade Agostinho Neto, conforme disse, no dia 14 de Abril de 2006, à rádio Eclesia o secretário-geral do sindicato dos docentes, Carlinhos Zasala, em que mais uma vez, alertou para o agravar das infra-estru-turas existentes. Disse ainda aquele docente, que a Faculdade de Letras e Ciências Sociais tem cerca 1.3 mil vagas e o nú-mero de candidatos ronda os 14 mil. Para um país tão caren-ciado em médicos como Angola, a Faculdade de Medicina só tem 80 vagas para cerca de 4 mil candidatos.

Entre 6 a 10 de Novembro de 2004, o Secretariado do Concelho de Ministros de Angola, realizou o “Encontro de Quadros An-golanos na Diáspora” com a participação de 253 cidadãos ango-lanos residentes fora do País e 263 residentes dentro do País.

Entre as conclusões desse encontro destacamos:Considerar que o êxito de qualquer política de apro-veitamento de recursos humanos especializados, so-bretudo os de nível superior, implica reformas polí-tico-administrativas de fundo que impõem regras de direito e a sua aplicação efectiva, passando necessa-riamente pelo reforço da independência dos tribunais e das universidades, a regulação da vida económica por entidades independentes, a análise e avaliação das contas do Estado, bem como o investimento na edu-cação e investigação científica.

Reconhecemos o que está acima escrito não se faz no imedia-to, mas no médio e no longo prazo. Mas tal como disse Antó-nio Tavares “é necessário dar corpo às ideias. Neste momento, sei que a diáspora está moribunda”. Será que está moribunda?

Entretanto os pais e/ou encarregados de educação com mais poder económico procuram pôr os seus filhos e/ou educan-dos a estudar no estrangeiro. Porquê? Porque entendem que o ensino no estrangeiro tem melhor qualidade, têm as infra-estruturas que faltam ao nosso ensino.

Todavia, será importante que esses jovens angolanos, depois de concluídos os seus estudos superiores regressem ao País. O futuro é deles. Pensando friamente, Angola nos tempos que correm, tem vantagens sobre a Europa, continente velho e can-sado, isto porque é um País muito procurado pelo investidor estrangeiro, a sua Economia tem tido um bom crescimento, a inflação está controlada, o Kwanza está mais apreciado relati-vamente ao dólar americano, ou seja, há mais emprego, já há uma boa qualidade de vida, ou como nos disse o amigo Mike que conhece Luanda como ninguém “ aqui não há stress”

Em Lisboa, conversámos com estagiários de advocacia no escritório do seu patrono Miranda, Correia, Amendoeira & Associados, Sociedade de Advogados. Estes jovens disseram em uníssono que quando acabarem os seus estágios pensam regressar a Angola e exercerem a profissão de advogados.

Elies­ea Corte Real, tem 26 anos de idade, natural de Lu-anda, acabará o seu estágio profissional em 2007. Começou os seus estudos universitários na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e como disse, “em 1999 vim para Portugal, no sentido de prosseguir os meus estudos na Faculdade de Direito de Lisboa”. Perante a pergunta, porque deixou a Universida-de Agostinho Neto, respondeu “o corpo docente que tive na Faculdade de Direito, no 1º ano, era muito bom. Acontece que as aulas não eram dadas de uma forma continuada, havia muitas interrupções. Tive optar. Assim vim para Portugal, para continu-ar e acabar a minha licenciatura em Direito”

Djamila Paz, natural de Luanda, começou e concluiu os seus estudos universitários em Lisboa, mais propriamente na Faculdade de Direito da Universidade Católica daquela cida-de. Acabará o seu estágio profissional em Julho de 2006.

Carina Matos­, natural do Huambo, começou e concluiu os seus estudos universitários em Londres. Entretanto, não foi fácil a sua inscrição na Ordem dos Advogados de Por-

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“Acontece que as aulas não eram dadas de uma forma continuada, havia muitas inter-rupções. Tive optar. Assim vim para Portu-gal, para continuar e acabar a minha licen-ciatura em Direito”

Elies­ea Corte Real

Eliesea Corte Real

Djamila Paz

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tugal no que concerne ao reconhecimento do seu curso de Direito, independentemente de uma das regras básicas da União Europeia ser a livre circulação de pessoas e bens.

Destes três futuros advogados só Djamila Paz vai com frequência a Angola, mais propriamente na altura do Na-tal. Porém, todos têm contactos regulares com Angola quer via Internet e telefone, quer através da comunica-ção social.

AS bARReIRAS De eNtRADA

A Civilização tem como objectivo reunir, tornar uno todas as pessoas de um mesmo território. A Cultura tem como objecti-vo personalizar cada ser que pertence a uma Civilização. “Não há Cultura sem Civilização, nem Civilização que perdure sem Cultura”, disse Almada Negreiros. O estar na diáspora altera, por vezes, a nossa maneira de estar e proceder, isto porque é bom pensar que a Cultura é um fenómeno individual.

Nesta perspectiva, é normal que o angolano que vive há mui-tos anos fora do seu país tenha barreiras de entrada, como re-fere a futura economista Miriam Tavares­, portuguesa, filha de pais angolanos: “tenho amigos que regressaram a Angola e ti-veram muitas dificuldades em se adaptarem à forma de lá viver”.

Angola, é um país em reconstrução pelas causas sobejamente conhecidas. Implica para os que regressam, um espírito de sacrifício. Daí, para que não haja desilusões e surpresas desa-gradáveis, que seja importante para os que querem regressar, conhecer o terreno, independentemente de todos dizerem o que disse Mário dos Santos: “os preços praticados pela TAP e pela TAAG, cerca 1200 euros, são altamente exagerados” . É pre-ciso ter em conta a lei da Oferta e da Procura, ou seja, Angola é um país da “moda”, pelo que essas companhias aéreas tiram o seu proveito.

Entretanto, sobre as barreiras de entrada, António Tavares frisou: “eu não sou igual ao angolano que está na Holanda ou

na Alemanha. Acho que esta miscelânea pode ser benéfica para Angola. A título de exemplo somos mais sensíveis que os angola-nos que vivem em Angola, no que diz respeito à pobreza e a outros problemas sociais.

Carina Matos, estagiária de Direito, com curso tirado em Lon-dres para além da dificuldade encontrada com o reconheci-mento do seu curso pela Ordem dos Advogados de Portugal, já mencionadas, aproveitou para mencionar as diferenças do Direito usado em Inglaterra e o usado em Portugal, “em In-glaterra é uma cultura anglo-saxónica. Lá não existem os códigos Civis, Comerciais…ou seja, é um Direito mais dirigido o que o torna mais simples e acessível. O Português, cultura latina com grande repercussão do Direito Romano, tem muitos códigos, muita legislação o que o torna mais complexo e menos acessível”. Com o regresso a Angola, Carina Matos e outros futuros colegas, vão ter outra dificuldade, que é conhecer a legislação angolana e fazer um novo estágio com um espaço temporal de 3 meses, conforme está regulamentado pela Ordem dos Advogados de Angola.

Os investidores estrangeiros muitas vezes fazem-se acompa-nhar pelos seus técnicos de confiança e nestes estão incluídos os seus advogados. Hoje, já começamos a ouvir muitos cau-sídicos intitularem-se “advogados de negócios”. Perante esta ameaça e/ou barreira Djamila Paz disse: “não acredito que esses advogados se mantenham permanentemente, isto porque se o seu cliente se estabelecer em Angola, forçosamente vai ter de contratar um advogado angolano, isto porque este conhece a vivência e a prática jurídica do país”. O ReGReSSO

A diáspora tem subjacente o regresso à terra. Estamos con-vencidos que a maioria quer regressar. É necessário ter condições psicológicas e materiais para o fazer como refere Manuel Oliveira: “penso que quem pretender regressar deve ter uma rectaguarda bem montada. É bastante complicado quem tiver a vida organizada no estrangeiro, partir para Angola, in-dependentemente de gostarmos muito daquela terra. Julgo que para aqueles o melhor é irem em passeio. Assim, para aqueles que por razões várias, pretendem regressar e montar o seu negó-cio, é muito importante as parcerias com gente de confiança e que está no terreno

António Tavares, tem a seguinte opinião: “ tem de haver uma vontade politica que queira o nosso regresso e, simultaneamente, que não crie conflitos. É importante pensar que a diáspora tem um

“Eu não sou igual ao angolano que está na Holanda ou na Alemanha. Acho que esta miscelânea pode ser benéfica para Angola. A título de exemplo somos mais sensíveis que os angolanos que vivem em Angola, no que diz respeito à pobreza e a outros problemas sociais”.

António Tavares­

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Carina Matos

Miriam Tavares

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valor acrescentado, temos licenciados nas mais diversas áreas, te-mos especialistas a nível administrativo, mecânicos, pedreiros…. A diáspora noutros países tem sido ao longo dos tempos, geradora de desenvolvimento socio-económico, como um caso paradigmáti-co: Israel. Portugal, onde vivo, desenvolveu-se bastante de 1975 a 1980, com o pessoal vindo das ex-colónias. O desenvolvimento de Cabo-Verde, é fruto das receitas da diáspora.”

Pegando novamente nas conclusões do Encontro de Quadros Angolanos na Diáspora, temos:

O regresso dos quadros, sendo dramático ou não, é um factor preponderante para o reforço da unidade e reconciliação na-cional e para a aceleração da reconstrução e desenvolvimento do país

A criação da bolsa nacional de quadros ou do banco de dados, com base em suportes informáticos, bem como em outras actividades complementares de assistência à comunidade, afigura-se como necessidade urgente, em moldes a determinar e que tenham em conta o trinómio custo/benefício/eficácia. Para além da vontade política de acolher os quadros, é imperiosa a agilização dos mecanismos atinentes à análise, encaminhamento ou colocação dos quadros e que devam ser caracterizados pelos princípios da com-petência e igualdade de oportunidades

Insistimos novamente para que se faça um ponto da situação sobre a diáspora.

Quer Eliesea Corte Real quer Djamila Paz, não se importam, quan-do regressarem a Angola, de exercerem a profissão de advogado, no interior, como disse Djamila Paz “não rejeito essa possibilidade. Tenho ouvido dizer que há muitos magistrados pelas províncias do interior que não têm a licenciatura em Direito. Sei que as condições a nível de infra-estruturas não são iguais a Luanda, mas a nível profis-sional é um desafio muito maior. Em suma temos de ponderar os prós e os contras”.

É importante que estes jovens sejam estimulados tendo em linha de conta o que nos disse o anterior bastonário da ordem

dos Advogados de Angola, Raul Araújo, no número zero da Valor Acrescentado:

“80% dos advogados estão concentrados em Luanda, província de Benguela e Huila”. Por todo o respeito que podemos ter por esses magistrados sem habilitações específicas, será necessário que a sua substituição seja feita de uma forma gradual e sem convulsões, o que vai de encontro ao que disse Eliesea Corte Real: “é importante que se crie por toda Angola uma cultura jurídi-ca, ou seja, recorrer ao advogado para toda a envolvente jurídica”.

Carina Matos, é mais calculista, mais fria, talvez fruto de ter estado muito anos em Inglaterra, pelo que se deixou envol-ver pela cultura anglo-saxónica. Ao regressar a Angola pensa, como disse, “instalar-se em Luanda e depois vê-se”.

OS que NuNcA SAIRAm De ANGOLA

Independentemente das dificuldades encontradas, nomeada-mente no período do conflito armado, houve muitos ango-lanos que conseguiram a sua formação superior em Angola. Nem todos ocupam lugares de destaque e/ou de chefia.

Portugal teve esse problema com o regresso maciço de famí-lias depois da independência das suas ex-colónias. Em termos genéricos esse regresso não foi conturbado e teve a mais-valia que esses retornados, independentemente das ajudas que ti-veram do Governo português, deram um impulso bastante forte à economia do país.

Não acreditamos num regresso maciço de quadros angolanos ao país, até porque como disse Miriam Tavares “julgo que An-gola ainda não tem condições para nos receber. Quem pretender começar a sua vida e ter de pagar uma renda por um pequeno apartamento cerca de 1.000 USD ainda por cima as rendas são pagas semestral ou anualmente, juntando a compra de um pe-queno carro, alimentação e vestir, temos de convir que é bastante difícil”. Não obstante, o problema da habitação fez parte do trabalho do “Encontro de Quadros Angolanos na Diáspora” como a seguir se vê:

Devem ser aplicadas harmoniosamente as várias po-líticas conducentes ao asseguramento das condições mínimas indispensáveis para um regresso menos pe-noso dos quadros angolanos ao País, nomeadamente, política e habitacional.

Finalmente pegamos no que disse Mário dos Santos “é ne-cessário repovoar Angola. Se isso acontecer há lugar para todos. Façam as estradas.”

“pretendem regressar e montar o seu ne-gócio, é muito importante as parcerias com gente de confiança e que está no terreno.”

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Estrada Canjala-Sumbe

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Uma das características da diáspora, como referimos na intro-dução, é os deslocados agruparem-se em associações. Pode ha-ver vários tipos de associações como: académicas, religiosas, sociais… Estas últimas podem ter um papel relevante quan-do procuram ajudar os seus compatriotas, nomeadamente os mais necessitados. Entretanto, as associações na maioria das vezes, vivem da carolice de alguns associados e é normal ha-ver dificuldades materiais, nomeadamente financeiras, para manter as associações ou então permitir que o seu horizonte de trabalho e de ajuda seja maior.

Conhecemos a As­s­ociação de Defes­a dos­ Angolanos­ (ADA) que funciona desde 1986, na zona do Lumiar, mais concretamente na Rua Victor Cunha Rego, Lt 13.4, Loja A, Lisboa1. É uma associação que apesar do nome agrega ango-lanos, cabo-verdianos, santomenses, moçambicanos, ciganos e portugueses. As diásporas constituem redes de alavancagem social e económica e o deslocamento de pessoas das suas ori-gens para outras, na procura, na maioria das vezes, de melhor nível de vida, o que não é fácil nomeadamente para aqueles menos preparados a nível de formação académica. Daí procu-rarem nas grandes metrópoles os seus arrabaldes, construin-do as suas habitações, por vezes de uma forma rudimentar e sem condições de saneamento básico, em suma, são os tradi-cionais bairros de lata, os musseques, os bidonvilles.

Ora, essas populações precisam de ajuda. Ainda bem que o espírito de entreajuda dos seus conterrâneos aparece e surjam associações como a ADA, que muito bem, procurou agrupar para além dos angolanos outros povos, ou seja, preocupa-se fundamentalmente com o Homem.

Podem ser associadas da ADA todas as pessoas singulares maiores de 18 anos, independentemente da sua nacionalida-de ou naturalidade, e as pessoas colectivas que manifestem essa vontade e que se identifiquem com os fins e objectivos da

1 http://adangolanos.no.sapo.pt E-Mail: [email protected]

Associação. Poderão ser ainda associados honorários, todas as pessoas que para além de se identificarem com os objectivos da Associação desenvolvam actividades em prol dos povos de Angola, nomeadamente por donativos ou serviços relevantes prestados para realização dos fins da Associação. Tal qualida-de é reconhecida e proclamada por deliberação da Assembleia Geral da ADA. Até 2005, a ADA tinha 671 associados.

O trabalho na ADA é feito por voluntários e por técnicos em função do projecto em causa. A consecução destes trabalhos implica recursos financeiros pelo que a ADA é reconhecida pela Direcção-geral da Segurança Social como uma Institui-ção Particular de Solidariedade Social (IPSS). Neste âmbito, é concedido apoio técnico específico e outros apoios financei-ros destinados à concessão de bens e prestação de serviços. Os objectivos destes apoios estão no âmbito do apoio a crianças e jovens; às famílias; à protecção dos cidadãos na velhice e invalidez e em todas as situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho as-sim como da protecção na saúde, da educação e formação profissional e ainda da promoção da habitação. São também receitas da Associação: o produto das jóias e quotas dos asso-ciados; as comparticipações dos utentes das diversas activida-des e serviços que a ADA desenvolve; os subsídios do Estado ou de organismos oficiais; os donativos e produtos de festas ou subscrições; e, outras receitas.

De acordo com os seus responsáveis “a Associação Defesa dos Angolanos, nunca recebeu qualquer apoio financeiro da Embaixa-da de Angola em Portugal ou do Consulado Geral de Angola ou ainda de qualquer instituição Angolana.”

Por outro lado, os responsáveis pela ADA, procuram inter-câmbios com congéneres como nos foi dito: “temos um in-ter-relacionamento privilegiado com as nossas congéneres devido tanto ás nossas perspectivas sociais como ao facto de congregar-mos pessoas de diversas nacionalidades. Temos, também sempre a nossa porta aberta à realização de acções conjuntas, projectos e partilha de meios e recursos se necessário”.

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AssOCIAçãO DE DEFEsA DOs ANGOLANOs

APOIAr Os MAIs NECEssITADOs

Homenagem a um clube português no Centro da Canjala

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GH Garden-Home, LdaSe quer reparar ou construir a sua casa, fixe este nome

Rua da Cidade de Luanda, nº 9 Benguela

Tel.: 00244 923424781

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P ara fazer essa análise, necessitaria de recuar ao tem-po em que a Diáspora africana – e é desta em con-creto que vou falar – estava disseminada por Portu-

gal e qual o seu grau de integração. Deveria, mas o espaço que me está reservado, e o trabalho já desenvolvido sobre esta matéria, torna-o desnecessário.

Todavia, não devemos esquecer que, embora essa inte-gração pareça começar a dar frutos, ainda está longe de se concretizar. Começando logo pela comunicação social quando adjectiva, pela cor, os destinatários/remetentes nos casos sociais e nos problemas que a ele estejam liga-dos. Por exemplo, um indivíduo de cor – ou por outras palavras, um não-branco – está, à partida, estigmatizado como africano; esquecem-se que uma grande parte já é

Associações Africanasna Diáspora

Qual o papel das Associações africanas na Diáspora? - é a grande questão que se põe no actual contexto social e económico, em Portugal. No entanto, o problema começa não no papel das Associações mas em qual a matriz social que lhes está subjacente. Ou seja, quem faz parte dessas Associações e qual

o seu papel nelas?

EuGÉNiO COSTA ALMEiDA

Director da Casa de Angola, em Lisboa, licenciado e Mestre em Relações Internacionais, Doutorando em Ciências Sociais, colunista, analista político e ensaísta.

[email protected]

“o que se passa é que esses migro-des-cendentes sentem que têm uma dupla re-ferência nacional. Na prática, a Diáspora e seus descendentes sentem-se, em al-guns – e não poucos – casos, marginali-zados”

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portuguesa, ou natural de território português, em segundas e tercei-ras gerações. Também a nova lei de nacionalidade portuguesa, que tem subjacente a integração dessa cama-da social, apresenta certas restrições que, pela sua natureza, a tornam res-tritiva: não contempla, por exemplo, o direito automático à nacionalidade pela nascença. Assim, quando essas pessoas se sentem mais africanas do que portuguesas não estão, necessa-riamente, perante uma eventual con-tradição. O que se passa é que esses migro-descendentes sentem que têm uma dupla referência nacional. Na prática, a Diáspora e seus descenden-tes sentem-se, em alguns – e não pou-cos – casos, marginalizados.

E é aqui que entram as Associações. Cabe-lhes apoiar através de programas de intervenção social para crianças, jovens e adultos, indi-vidualmente ou em grupos; intervir na implementação de programas de pré-formação e formação profissional; criar centros e espaços para essas populações; desenvolvendo ac-tividades de apoio à integração social e profissional; tentar minorar as distâncias afectivas por via de uma tomada de consciência participativa dos migrantes em prol da comu-nidade onde estão, ou passam a estar, inseridos através da uma intervenção mais pró-activa.

Para cumprir cabalmente esse papel, as Associações têm que ir ao encontro das populações e não esperar que sejam estas a ir ter com elas. Devem – têm – de saber trabalhar com os problemas sociais que se lhes deparam, desde o abandono afectivo familiar à estigmatização da vizinhan-ça, por vezes bem próxima deles; a desnaturação do tecido social onde se desejam integrar; depressões psíquicas deri-vadas à falta ou à existência de um trabalho precário e, por vezes, deficientemente remunerado, devido à sua situação de “não-legal” no país de acolhimento; consumo de drogas e prostituição; deficiente condição de habitabilidade social e humana.

Para minorar estes problemas as Associações africanas de-vem interagir, ao invés de procurarem tratar cada uma, e de per si, os problemas sociais com que se deparam os mi-grantes, como se outras associações não existissem. Os pro-blemas com que cada uma se depara são os mesmos, assim como os objectivos e, não raras vezes, as populações.

Esse é um dos grandes problemas que afecta as sociedades migrantes: a falta de parcerias entre as Associações migran-tes, em geral, e as africanas, em particular.

Algumas começam a dar passos nesse sentido. Ténues, é certo, mas já o dão. Também há algumas autarquias portu-guesas que procuram incentivar a participação das popula-ções migrantes no desenvolvimento local e geral apoian-do o trabalho das Associações e estimulando a união das mesmas – sem que com isso cada uma perca a sua identi-dade própria – para o objectivo final: o melhoramento da

qualidade de vida da população migrante através de uma melhor articulação entre o económico, o social, o cultural, a tradição, a modernidade, o local, o global, a acção, o ser, o estar, o fazer, o criar, o saber, o ter, ou seja, a completa realização através do aproveitamento das capacidades de cada um.

Será possível? Queremos crer que sim.

Sei que essa é a vontade de todos, quer enquanto Asso-ciações, quer enquanto associados. Mas para isso as Asso-ciações precisam, também, do apoio da generalidade das autoridades sociais e políticas portuguesas e não de uns quantos, ou umas quantas – poucas – autarquias, do apoio da comunicação social e, prioritariamente, do apoio e da vontade das próprias populações migrantes.

Se soubermos conjugar estes diversos factores, então será certo que as dificuldades que as populações migrantes sen-tem serão mais e melhor diluídas. Cabe-nos dar o primeiro e efectivo passo. Ir ao encontro das populações e não espe-rar que estas venham ter connosco.

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“as associações africanas devem interagir, ao invés de procurarem tratar cada uma, e de per si, os problemas sociais com que se deparam os migrantes, como se outras associações não existissem. Os problemas com que cada uma se depara são os mes-mos, assim como os objectivos e, não raras vezes, as populações”

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A Bolsa de Valores e Derivados de Angola passou a ser uma realida-de quando em 16 de Março de

2006, foi feita a sua escritura de consti-tuição. Para o seu sucesso muito traba-lho há pela frente.

É necessário criar as infra-estruturas ne-cessárias. Tem de haver recursos huma-nos capazes e altamente profissionali-zados, no sentido de por esta máquina a funcionar. Esses recursos vão-se dis-tribuir pela Comissão de Mercados de Capitais e/ou Bolsa da de Valores e De-rivados, pelos Bancos Comerciais (que vão ter de criar os seus departamentos de Títulos) pelos correctores individuais ou em sociedade, formadores, auditores e outras actividades conexas. Em suma, a Bolsa de Valores vai criar emprego para muitos licenciados em primeira linha e para outros profissionais.

Os recursos materiais são também im-portantes, mas estamos convencidos que não se vão fazer obras sumptuosas, mas sim simples e funcionais. O sistema in-formático, crucial nesta actividade, não pode ter os “cortes” que por vezes existe na Banca.

È importante que seja criada uma cul-tura empresarial em Angola. Os nossos empresários e dirigentes desde os Presi-dentes de Conselhos de Administração ao simples gerente precisam de forma-ção e mudar muitos hábitos. Temos de ter empresas competitivas, pelo que antes das empresas serem apresentadas em Bolsa há necessidade de “arrumar a casa” de criar condições para os desafios presentes e futuros. Em Angola, os em-presários/dirigentes “correm muito” é necessário por vezes parar e pensar.

Entendemos que o avançar deste merca-do, como muitos pensam não deve ser rápido, mas sim gradual e seguro: é um mercado novo e complexo.

É necessário a divulgação da Bolsa de Valores depois de estarem criadas as condições mínimas via comunicação social nacional e internacional. É im-portante a criação de um site que tenha uma abertura à formação e as questões colocadas pelos potenciais investido-res sejam respondidas dentro de pra-zos curtos, independentemente da sua complexidade.

Julgamos útil parcerias feitas entre a Bolsa de Valores e Universidades, isto porque vai ser necessário apostar forte na formação quer de quadros quer dos potenciais investidores.

As leis que regulamentam a Bolsa de Va-lores devem ser claras e funcionais, bem como é importante definir as incompa-tibilidades e impedimentos para pessoas e entidades.

É importante pensar-se numa Comissão de Normalização Contabilística no senti-do de se adaptar/ fazer planos de contas à luz das Normas Internacionais de Con-tabilidade.

É necessário clarificar as profissões de Contabilista e Auditor/Revisor Oficial de Contas.

A Bolsa de Valores é necessária e útil para o País, mas temos de ser inteligentes e profissionais na forma como vamos ti-rar proveito dela. Não basta dizer que a nossa Economia vai atingir um PIB de 26 por cento. É necessário que a riqueza criada seja sustentada e distribuída.

A ORIGem DA bOLSA De VALOReS

A origem da Bolsa de Valores é milenar. Há quem diga que nasceu em Atenas nos emporium de Atenas, outros dizem que a sua origem foi em Roma, nos col-legium mercatorum como também há quem diga que nasceu na Palestina nos funduks (bazares).

Em todos aqueles lugares os comercian-tes reuniam-se periodicamente a horas determinadas.

Os actuais Mercados de Capitais, remon-tam ao século XII. Este século foi impor-tante para o mundo financeiro: aparece o Capital e, o Frei Luca Pacioli, inventa em Contabilidade, o sistema de partidas

dobradas. Naquela época, tiveram gran-de influência no embrionário Mercado de Capitais, as antigas repúblicas italia-nas, como Veneza, Nápoles, Florença… e as cidades holandesas como Amesterdão e Roterdão.

JLMagro

MERCADO DE

CAPiTAiS

Em 1602, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, comercializou as primeiras acções colocan-do-as num estabelecimento financeiro, ou seja, poder-se-á dizer que foi criada a primeira Bolsa de Valores

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No decorrer da Idade Média até o século XVII, as operações de Bolsa resumiram-se à compra e venda de moedas, letras de câmbio e metais preciosos. Em 1602, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, comercializou as primeiras acções colocando-as num estabeleci-mento financeiro, ou seja, poder-se-á dizer que foi criada a primeira Bolsa de Valores.

Em 1688, Joseph de la Veja, foi o primei-ro historiador das Bolsas de Valores, em que definiu como “ uma pequena praça rodeada de pilares, e chama-se assim por encerrarem-se nela os mercadores como em uma Bolsa, já pelas diligências que cada um faz dá encher a sua”

Entretanto, a palavra Bolsa, no sentido comercial e financeiro, nasceu em Bruges (Bélgica) na casa de Van der Burse onde se realizavam assembleias de comercian-tes. A fachada da casa de Burse, tinha um escudo com três bolsas que correspondia ao brasão de armas do proprietário.

Em 1141, Luís VII, criou a Bolsa de Paris. Entretanto, os intermediários preferiam reunir-se na Pont-aux-Changes sobre o Sena. Napoleão I, fixou-a mais tarde num prédio sumptuoso, onde permane-ce até hoje. Aí se organizou a “corbeille” espaço circular onde os correctores apre-goavam os seus negócios.

Em 1698, foi fundada a Bolsa de Fundos Públicos de Londres, cujo acesso estava vedado ao público. Era dirigida por um delegado e com associados brokers (cor-rectores) e jobbers ( que negociavam por conta própria). Anteriormente, havia sido instalado o Bank of England e Sir Isaac Newton, administrador da Casa da Moeda, fixava para sempre o padrão de purificação de ouro e a cunhagem de moedas de ouro.

Os factos acima, criaram na prática, o primeiro sistema financeiro integrado do Mundo moderno.

No século XVIII, as instituições financei-ras em Inglaterra, atingiram um grande desenvolvimento, que as exigências do crédito público obrigaram os banquei-ros a fraccionar os empréstimos em tí-tulos de participação.Com a expansão das sociedades por acções, houve por consequência, o surgimento das concen-trações de recursos, que assumiram um papel preponderante na lei da oferta e procura de capitais.

Em 1792, foi criada a New York Stock Ex-change (NYSE), debaixo de uma árvore da Wall Street. Foi criadas por 24 agentes financeiros que elaboraram as normas para as suas transacções comerciais.

Em 1865, foi adquirido o primeiro edifí-cio para a Bolsa americana em Wall Stre-et, e depois de uma semana a funcionar foi encerrada devido ao assassinato do presidente Abraham Lincoln.

Em 1878, foi introduzido o telefone nas transacções bolsistas

Em 1903, a NYSE, foi transferida para o distrito de Manhattan, na Wall Street, na cidade nova-iorquina, onde ainda hoje se mantém.

Em 1929, mais propriamente em Outu-bro, acontece a “Segunda-Feira Negra” quando o mercado perdeu 12.8 por cen-to do seu valor, seguida de uma nova bai-xa na ordem dos 11.7 por cento no dia seguinte. O “crash” financeiro de 1929, trouxe perdas na ordem dos 30 por cen-to, aos mercados no espaço de seis dias e em Julho de 1932, a baixa correspondia a 90 por cento do valor do mercado. Fo-ram necessários quase 25 anos para que a NYSE, recuperase.

Em 1963, a NYSE, fecha depois do as-sassinato do presidente John Kennedy, no sentido de salvaguardar um possível “crash”.

Em 2001, mais propriamente, em Se-tembro, os atentados contra as Torres Gémeas obrigam a NYSE a fechar por quatro dias, tendo sido o maior período de interrupção na sua história recente. Em 2003, O presidente da NYSE, Richard Grasso, se demite de seu cargo devido à polémica criada após a descoberta de que ele recebeu compensações próximas dos 190 milhões de dólares americanos.

Em 2006, o NYSE, vai ao pregão depois de se fundir com o mercado electrónico Archipélago.

Fontes: www.multitexto.com.br/Merca-do e http://noticias.uol.com.br/econo-mia/

cOmO fuNcIONA O meRcADO De cAPItAIS

Há vários tipos de mercados. Julgamos que o que mais interessa para este Espe-cial é o Mercado de Títulos (MT), também conhecido por Mercado de Capitais (MC).

Definição De MercaDo De capitais

É toda a rede de bolsas de valores e instituições financeiras (bancos, companhias de investimento e de seguro…) que opera com compra e venda de papéis (acções, títulos de dívida em geral) a longo prazo. Seu objectivo é canalizar as poupanças (recursos financeiros) da sociedade para o comércio, a indústria, outras activida-des económicas e para o próprio governo. Distingue-se do mercado monetário que movimenta recursos a curto prazo.www.geocities.com/WallStreet/Exchange/1726/stock/stock_analysis_M.htm

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FUNCIONAMENTO

Consideremos a empresa “XPTO” que depois de cinco anos de investigação e desenvolvimento, resolve lançar um novo produto no mercado. É um produto revolucionário. XPTO, precisa de dinheiro, para fazer face aos seus investimentos. Recorre ao Mercado de Capitais. Eu, como tenho poupan-ças, cujo rendimento é baixo, depois de reflectir concluo que devo adquirir 1.000 unidades monetárias de acções (registo em papel que demonstram que somos proprietários de uma parcela desta empresa).

Qual o passo a seguir? Escolher um corretor ou um interme-diário que pode ser o departamento de Títulos de um Banco. Um corretor, é um profissional certificado e qualificado para prestar toda a assessoria na intermediação e compra de tí-tulos e outras oportunidades de negócios nas Bolsas de Va-lores. Neste caso eu, como comprador, peço ao corretor que compre todas as acções que puder da XPTO, com as suas 1.000 unidades monetárias.

O corretor responderá que uma acção da XPTO, custa 100 unidades monetárias, a comissão é de 20 unidades monetá-rias, logo apenas poderá comprar 10 acções. Após ter efec-tuado o pagamento, o corretor regista a sua ordem na sua conta e finalmente será detentor de acções da empresa. Para mim é uma operação fácil, no entanto, do ponto de vista do corretor o negócio é mais moroso. Quando se pede ac-ções a um corretor, é obvio que ele pode não possuir nenhum cliente vendedor, neste caso interpela um dos seus colegas, presente na Bolsa, e negoceia o título desejado. Quando pre-tender vender as mesmas acções, apenas terá que realizar o mesmo processo em sentido contrário.

AS REGRAS Com o exemplo acima, já vimos como se obtêm acções, no en-tanto, falta ainda salientar um ponto importante: a credibilida-de do corretor. Para garantir a veracidade dos actos, a título de exemplo, o governo norte-americano fundou várias organiza-ções e comissões. A mais importante, é a Security Exchange Commission (SEC). A SEC, não é senão uma agência gover-namental que têm como objectivo regularizar a actividade bol-sista. Esta instituição, foi criada após a Grande Depressão, em 1934, e decide o que é legal, perseguindo os seus infractores. Umas das principais regras impostas por este organismo, visa a interdição dos empregados das empresas (insiders) de utilizar informação privilegiada, com o fim de beneficiar com estas mesmas informações.

Para melhor apreensão, vamos imaginar que é o director da empresa “X” está em fase de negociações com a empresa “Y” afim de criar uma outra chamada “Z”. Para tal, bastaria comprar uma quantidade razoável de títulos e esperar que a desejada fusão fosse anunciada oficialmente. Este acto, é punível por lei, não só para os insiders, mas também aos corretores que negoceiam tais títulos.

Outra regra, é quando o corretor compra acções, deve efec-tuá-lo ao preço mais baixo transaccionado naquele momen-to. Da mesma forma que se quiser vender as suas acções, o corretor o deverá fazer ao preço mais elevado, proposto pelos compradores.

AS TENDêNCIAS DOS MERCADOS Os mercados estão constantemente a registar descidas e su-bidas ao longo de um determinado período. Estas flutuações originam ganhos ou perdas de um determinado título. Por norma, quando uma empresa regista lucros, a sua cotação têm tendência a subir dado que os investidores estão dispos-tos a pagar bem para obter essas acções.

Existem diversos factores que influenciam a cotação: a taxa de juro do banco central, as taxas dos empréstimos bancários, a in-flação, os indicadores económicos, as OPAs... Quanto mais ele-vadas forem as taxas, mais baixas serão as cotações de um títu-lo, visto os investidores retraírem-se perante um eminente risco.

A conjuntura económica actual, como determinados período do ano, tais como os de divulgação de resultados, também são factores que influenciam o mercado de títulos. COMPRAR E VENDER A primeira etapa que temos que enfrentar na compra de acções é escolher a empresa. Antes de investir num título, teremos que nos certificar que esta empresa se situa num mercado em expansão e que apresenta boas perspectivas de crescimento.

Não é fácil escolher. No entanto, existe vários métodos para mi-nimizar o risco. Os mais utilizados são: 1) a Análise Fundamen-tal corresponde ao estudo elaborado da empresa e do mercado na qual se posiciona 2) a Análise Técnica visa interpretar as curvas correspondente aos investimentos realizados.

Só depois destas etapas ultrapassadas é que poderemos es-colher um corretor.

coMpreenDer o fUncionaMento Da BoLsa De VaLores

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A principal função do MT é facilitar/pos-sibilitar a transferência de recursos e a conversão de activos líquidos em investi-mentos. Por outras palavras, é a canaliza-ção das poupanças para o sector produti-vo da Economia. Tem a grande vantagem de não gerar massa monetária através de qualquer efeito multiplicador, evitando desta forma tensões inflacionistas.

O MT pode ser subdividido em dois mer-cados:

O Mercado Primário, compreende os ac-tivos financeiros cuja circulação no mer-cado é feita através de emissões (públicas e privadas).

O Mercado Secundário, compreende os activos financeiros que já estão em cir-culação no mercado e que são objecto de transacções nas Bolsas de Valores ou fora delas (balcões bancários e correcto-res), procurando desta forma assegurar a liquidez dos valores mobiliários. Em suma, este mercado está sobretudo orga-nizado em Bolsas de Valores e pelo cha-mado mercado de balcão.

O Mercado Primário é importante para as empresas, porque permite a abertura do capital das mesmas ao grande públi-co, como também permite a entrada no mercado de novos títulos, o que pode acarretar a absorção dos capitais gerados no Mercado Secundário e o equilíbrio entre a oferta e a procura.

O que se negoceia no Mercado de Títulos

No MT, podem ser negociados títulos como: acções1, obrigações, títulos da dívida pública, títulos de participação…Entretanto, por norma os mais impor-tantes ou com mais peso nas principais Bolsas mundiais são: as acções e obriga-ções. No que respeita às acções, só as so-ciedades anónimas de responsabilidade limitada, podem apresentar-se em Bol-sa, visto que o seu capital social é cons-tituído por acções como refere o artigo 301º da Lei das Sociedades Comerciais.

1 Ver glossário sobre Mercado de Capitais

Mas, nem todas as sociedades anóni-mas, podem ser cotadas em Bolsa. Têm de reunir um conjunto de condições impostas pelos regulamentos da Bolsa de Valores.

As obrigações que se pode definir como “ títulos de crédito com força executiva pois basta a sua apresentação para se poder exi-gir os direitos que conferem, e representam fracções iguais de um empréstimo, propor-cionando ao seu titular o direito de rece-ber juros periodicamente e o reembolso do capital numa determinada data”� A emis-são de obrigações, também está regula-mentada pela Bolsa de Valores. Podem emitir obrigações empresas públicas, sociedades comerciais de responsabili-dade limitada.

Resumindo, a diferença entre acções e obrigações, é que quem investe nas pri-meiras, está a adquirir uma parte de uma empresa, enquanto quem investe nas segundas, está a fazer um empréstimo a quem as emite. Assim, os accionistas são co-proprietários de uma sociedade anó-nima e os obrigacionistas são credores.

A quem INteReSSA umA bOLSA De VALOReS

Aos inves­tidores­, nacionais e/ou es-trangeiros, estes últimos procuram atra-vés de investimentos internacionais tentar conseguir uma adequada relação entre rentabilidade e risco. Poderão ser atraídos por taxas de crescimento e li-quidez superiores à vigentes no seu país, como podem pensar na diversificação da sua carteira de títulos

Aos credores­, porque através das de-monstrações financeiras têm possibili-dades de verificar a capacidade de en-dividamento dos seus clientes a nível internacional

Aos órgãos­ de ges­tão, porque através das demonstrações financeiras estran-geiras de empresas concorrentes podem fazer o seu BENCHMARKING, podem estar interessados em criar parcerias e/ou adquirir empresas.

Às empres­as­ internacionais­ de au­ditoria, isto porque ao trabalharem com clientes de diferentes países, obriga que estudem as demonstrações financei-ras elaboradas de acordo com os princí-

2 Mercado de Títulos, Mota, António S.Gomes e Tomé, Jorge H. Correia, Texto Editora, 3ª edição, pá-gina 76.

pios e critérios contabilísticos diversos e em ambientes económicos diferentes

Aos reguladores­ dos­ mercados­ de capitais­, que precisam de conhecer e comparar a actuação das empresas a ní-vel internacional, no sentido de avaliar a cotação de empresas estrangeiras nos respectivos mercados e as que preten-dem aceder a estes.

Aos organis­mos­ contabilís­ticos­ internacionais­, que precisam de co-nhecer a situação das empresas e o seu funcionamento para saber a quem serão dirigidas as suas normas e que tipo de apoio estas empresas necessitam.

O NeGócIO NA bOLSA é De eSPecuLAçãO?

Sim. A afirmação está correcta, pois a população identifica o termo especula-dor com a pessoa que joga na Bolsa, mas julgamos haver vários tipos de actores neste mercado, como:

Capitalis­ta propriamente dito – é um indivíduo que aparece pouco. Tipo reservado, procura actuar longe das “lu-zes ribalta”, ou seja não dá a cara e procu-ra sempre intermediários. Possui grande fortuna e quer arranjar outra. Mas com o mínimo de riscos.

Es­peculador – cultiva amizades no meio financeiro. Tem os seus “interme-diários” que lhe fornecem informações preciosas e rentáveis. Tem de ser um bom psicólogo capaz de medir rapidamente a “temperatura” da Bolsa. Aproveita-se com golpes de mestre, dos períodos de euforia e mesmo os de depressão. Não se adapta ao espírito empresarial clássico. Para ele a Bolsa não é mais do que “um casino”.

Jogador a prazo – aparece muito rara-mente. A lei não lhe permite, pois ne-goceia a prazo. Praticamente não tem capital. Compra a crédito para vender mais tarde. Recebe nessa altura, meios para pagar a primeira operação. Ganha por diferença, também temporal. Mui-to vulgar em Wall Street e Londres. Um autêntico “zangão”. A falta de dinheiro corta-lhe “muito jogo”.

Quem mais aproveita, na hora da ver-dade, são os capitalistas propriamente ditos. Possuem poderosas concentrações de títulos que lhe permite ditar a lei da oferta e da procura. Mestre em colocar os bens dos outros ao seu serviço.

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Em suma, este mercado está sobretudo organizado em Bolsas de Valores

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cOmISSãO DO meRcADO De cAPItAIS

O decreto nº 9/05, de 18 de Março, criou sob a tutela do Ministério das Finan-ças, a Comissão do Mercado de Capitais (CMC).

Entretanto, de 1 a 3 de Março, realizou-se em Luanda, o Fórum Mercado de Ca-pitais, que contou com a presença de quadros idos da Wall Street, BOVESPA, EURONEXT, entre outras praças finan-ceiras.

Para realização do Fórum a CMC e o FA-CIDE celebraram um Acordo de Parceria, que constitui uma entidade “ad hoc”, designada Comissão Executiva do Fó-rum Mercado de Capitais - CE.

O Fórum foi concebido como um even-to de natureza multidisciplinar e inter-nacional, sobre Mercado de Capitais, dirigido a altos quadros do Estado, executivos de topo de empresas públi-cas e privadas, cujo objectivo é pro-mover o desenvolvimento do Mercado de Capitais, através do surgimento de “dealers” e “brokers” (correctoras e dis-tribuidoras) de Valores Mobiliários e capacitá-los no uso das novas tecnolo-gias de informação do sector financeiro. Na opinião do FACIDE o mercado de capitais tem um papel chave na moder-nização da economia, na expansão das empresas, no apoio à inovação e ao de-senvolvimento da capacidade empresa-rial dos angolanos

No dia 16 de Março, foi feita a escritu-ra de constituição da Bolsa de Valores e Derivados de Angola (BVDA), cuja forma jurídica é de uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, com um capi-tal social de 15 milhões de dólares ame-ricanos. Os subscritores do capital são: Sonangol, Empresa Nacional de Segu-ros de Angola (ENSA), Porto de Luanda, Fundo de Desenvolvimento do Estado, Banco Africano do Investimento (BAI), BancoBIC, Banco de Fomento de Angola (BFA), MillenniumBCP, Banco Espírito Santo de Angola (BESA), SISTEC, Grupo António Mosquito, Chicoil…

A BVDA criada a 16 de Março, será pois, segundo o FACIDE, o reflexo mais avan-çado do desenvolvimento e sofisticação da economia angolana, bem como do grau da sua cultura empresarial. O FA-CIDE acredita que o mercado de capitais

angolano vai conquistar uma imagem positiva no exterior, que ajudará e facili-tará a atracção de investimento. Por isso, exprimiu o seu compromisso e empe-nhamento no estímulo à aplicação, di-vulgação e incentivo das melhores técni-cas e normas de garantia e transparência do mercado, tendo em vista a promoção e desenvolvimento do mercado de capi-tais angolano e “o reforço da competitivi-dade e atractividade da economia nacional e o bem estar dos nossos concidadãos”.

Os Mercados de Capitais precisam de saber e comparar o comportamento das empresas cotadas internamente e a nível internacional. Foi com esta perspectiva, que a Valor Acrescentado, quis saber o que pensa Cruz Lima, Presidente da Co-missão de Mercado de Capitais sobre esta temática.

A 4.ª Directiva da União Europeia, no que res­peita às­ Sociedade comer­ciais­: anónimas­, por quotas­ e em comandita por acções­, obrigada a publicar as­ s­uas­ contas­ anuais­. Em Angola, não há tradição nem legis­­lação que obrigue tal procedimen­to. Qual a s­ua opinião tendo em linha de conta que a publicação de contas­ para empres­as­ cotadas­, s­er de primordial importância para os­ inves­tidores­?

Comparar Angola a realidade Europeia, após 27 anos de guerra e apenas 4 de paz, é um elogio pelo que agradecemos. Re-lativamente a tradição de publicação de contas por parte das empresas, importa referir que o decreto nº 38/00 de 06 de

Outubro do ano 2000, determina a obri-gatoriedade de apresentação de demons-trações financeiras anuais, auditadas por perito contabilista, inscrito na entidade “Representativa dos Contabilistas e dos Pe-ritos de Contabilidade”. A publicação de contas das empresas cotadas na bolsa, será realmente de primordial importân-cia para os investidores e para o eficiente funcionamento do Mercado de Capitais. Para isso, temos como suporte a Lei da Contabilidade e Auditoria (LCA), Plano de Contas Empresarial (PCE), Dossier das Normas de Contabilidade, Lei das Sociedades Comerciais (LSC), e a Lei dos Valores Mobiliários (LVM), para além

do decreto acima apontado. Por isso, o suporte da Comissão do Mercado de Ca-pitais vem dar um incentivo ao “ Infor-cement” em Angola pois a norma já exis-tente faltando apenas o “ Compliance”.

Acha que há técnicos­ em Ango­la, com conhecimentos­ de Conta­bilidade Superior para poderem

A publicação de contas das empresas cotadas na bolsa, será realmente de primordial importân-cia para os investidores e para o eficiente funcio-namento do Mercado de Capitais

Cruz Lima, Presidente da Comissão do Mercado de Capitais

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acompanhar as­ empres­as­ cotadas­ em Bols­a?

Existem técnicos em Angola com eleva-do grau de conhecimentos em matéria de Contabilidade, capazes de trabalhar em Bolsa e fazer um bom acompanhamen-to das empresas cotadas. Todavia, por se tratar de uma actividade que requer uma maior rigorosidade e transparência atendendo a importância do mercado, a Contabilidade e os seus profissionais. Es-tamos empenhados em organizar a Or-dem de Contabilidade e Auditoria bem como promover o seu código de ética e conduta.

A 8.ª Directiva da União Europeia, regulamenta a profis­s­ão do Audi­tor/Revis­or Oficial de Contas­. As­ empres­as­ cotadas­ em Bols­a têm de s­er auditadas­/certificadas­. O que s­e tem feito para criar es­s­a profis­­s­ão em Angola, independentemen­te de s­abermos­ da exis­tência de empres­as­ multinacionais­ no nos­s­o mercado.

A primeira vez que se abordou a ques-tão de auditoria em Angola foi em 20 de Abril de 1991 no corpo da lei nº 5/91, no seu artigo 30º, que definiu o escopo de trabalho da auditoria externa. Um ano depois, essa tarefa começou a se expan-dir, surgindo empresas como a Deloitte & Touche e Ernest Young.

Em 30 de Setembro de 2005, o artigo 84º, da Lei nº 13/05 das Instituições Finan-ceiras (LIF), define que a actividade das instituições financeiras e as suas contas anuais, devem estar sujeitas a auditoria externa anual, realizada por uma empre-sa de auditoria legalizada e estabelecida em Angola, e que os auditores externos devem reportar ao organismo de super-visão competente, na forma que este determinar, os trabalhos desenvolvidos e respectivos resultados.

A Lei nº 12/05 dos Valores Mobiliários (LVM), de 23 de Setembro, no nº 3 do ar-tigo 116º, determina que as empresas de auditoria, ou auditores independentes responderão, civilmente, pelos prejuízos que causarem a terceiros no exercício das suas funções. Actualmente, está em curso a inscrição da CMC na Interna-tional Organization of Securities Com-misions (IOSCO) e World Federation of Exchanges (WFE) para se seguir um padrão internacional de normalização. Foi por isso, que aceitamos com agrado

acompanhar por parte do Ministério das Finanças os trabalhos inerentes à instau-ração da Ordem de Contabilistas e Audi-tores a servir do ponto do diálogo desta organização alto reguladora com o Go-verno. Terminamos recentemente a revi-são dos estatutos da Ordem, e faremos a discussão deste diploma com o grupo de implementação criado pelo Ministro das Finanças, antes de remetermos o docu-mento ao Sr. Ministro das Finanças que o apresentará proximamente ao Conse-lho de Ministros.

Já há legis­lação que vai regula­mentar o Mercado de Capitais­ em Angola?

Existe legislação para regulamentar o Mercado de Capitais, nomeadamente: o Decreto da Comissão do Mercado de Capitais Decreto nº 9/05 de 18 de Mar-ço, a Lei dos Valores Mobiliários (LVM), nº 12/05 de 23 de Setembro, Lei das Ins-tituições Financeiras (LIF), nº 13/05 de 30 de Setembro, a Lei do Investimento Privado (LIP) e a Lei das Sociedades Co-merciais (LSA).

Hoje, organis­mos­ internacionais­ como o International Accouting Standards­ Board e o Financial Ac­

couting Standards­ Board, que s­e preocupam com a harmonização contabilís­tica a nível mundial, inclus­ive na Europa, a partir de 01/01/�005, todas­ as­ empres­as­ co­tadas­ em Bols­a tiveram de optar pela utilização das­ Normas­ Inter­nacionais­ de Contabilidade. Para quando es­ta realidade em Angola?

Angola encontra-se, nesse momento, em fase de implementação do Mercado de Capitais, cuja essência se enquadra nos mais altos padrões internacionais. Acreditamos que a adopção das Normas Internacionais de Contabilidade será uma realidade natural, tendo em conta a possibilidade de no futuro as empre-sas angolanas poderem ser listadas em outras bolsas. As empresas que preten-derem agir deste modo, deverão adaptar-se às normas exigidas pelos respectivos países e internacionalmente aceites, daí a naturalidade do processo. Por outro lado, Portugal já tem o Mercado de Ca-pitais funcional há alguns anos e apenas o ano passado, de 2005, implementou efectivamente as Normas Internacionais de Contabilidade. Portanto, podemos notar que as alterações contábeis nunca são um processo simples, mas trata-se de algo moroso e dispendioso.

Tendo em linha de conta que o Plano Geral de Contabilidade de Angola ainda não es­ta de acordo com as­ Normas­ Internacionais­ de Contabilidade e não haver uma Ordem/As­s­ociação forte de conta­bilis­tas­, não acha que dever­s­e­ia ter optado primeiro pelo Merca­do de Derivados­ e pos­teriormente para o Mercado de Valores­ Mobi­liários­?

No mercado de derivativos são transac-cionados títulos, cujos valores depen-dem de outras variáveis básicas. Uma opção de acção, por exemplo, é um de-rivativo, cujo valor depende do preço da acção em questão. Logo, há necessidade de uma primeira negociação no mercado à vista de valores mobiliários.

Importa ainda salientar que a Comissão do Mercado de Capitais tem em vista a adopção de um plano de contas adap-tável as sociedades anónimas abertas, o que não impedirá a eficiente negociação no mercado de valores mobiliários.

Apareceu no mercado a revis­ta mens­al “Es­tratégia”, que abordou

Acreditamos que a adop-ção das Normas Interna-cionais de Contabilidade será uma realidade na-tural, tendo em conta a possibilidade de no futu-ro as empresas angola-nas poderem ser listadas em outras bolsas

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no s­eu primeiro número com al­guma profundidade a Bols­a. Não acha que deveria haver em Angola mais­ revis­tas­ es­pecializadas­ s­obre o Mercado de Capitais­?

À medida que o mercado for crescendo, concerteza que vão aparecer mais revis-tas especializadas que abordarão com profundidade matérias sobre o Mercado de Capitais e a Bolsa de Valores. A revista Estratégia é apenas uma entre as muitas que poderão surgir, criadas por órgãos devidamente autorizados a publicar ma-térias que esclareçam o público sobre o assunto. Isso no fundo só vai proporcio-nar uma maior divulgação do Mercado de Capitais e da Bolsa de Valores. Por-tanto, estamos disponíveis a colaborar neste sentido para o desenvolvimento do nosso mercado.

Tem havido troca de opiniões­ com outras­ Bols­as­ de Valores­?

No âmbito da nossa politica de aprendi-zagem temos tido vários contactos com diferentes mercados e bolsas, onde te-mos estabelecido e mantido alguns con-vénios para consultoria, formação e ou-tros fins, em particular com a Euronext, Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Joanesburgo Stock Exchange (JSE), New York Exchange (NYSE), ex Bolsa Deriva-tivos de Portugal (BDP), Bolsa da Repu-

blica Checa, LSE, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Bolsa de Valores de Mo-çambique (BVM). Portanto o Governo de Angola tem ainda investido na formação dos nossos quadros, promovendo visitas de estudo e estágios a entidades de su-pervisão no espaço da CPLP.

Há um autor que diz “África não tem tradição bolsista, a não ser a Africa do Sul, fruto da sua influen-cia anglo-saxónica”. Queira comen­tar?

Não deixa de ser verdade, o facto de em África não existir tradição bolsista, e a África do Sul constituir a excepção devi-do a sua influência Anglo-Saxónica, po-rém, estamos movidos a tentar e aceitar os desafios e vantagens que podem advir da criação de um Mercado de Capitais e de uma Bolsa de Valores bem sucedidos.

Vejamos o que aconteceria aos países de tradição Ibérica se continuassem presos à tradição em termos de propriedade que até certo período os caracterizou. Esses países simplesmente não teriam merca-do bolsista, porque estariam presos a cer-to tradicionalismo que contrariava, por exemplo, a abertura e disseminação do capital. Mas houve nesses países uma to-mada de consciência que propiciou uma reviravolta.

Hoje vemos a Espanha e Portugal no contexto internacional com bolsas pro-porcionais às suas valências.

Fale­nos­ dos­ s­eus­ ans­eios­ e das­ s­uas­ dificuldades­ como res­pons­ável má­ximo da implementação do merca­do de capitais­ em Angola?

O nosso anseio é a abertura da Bolsa de Valores e Derivativos de Angola (BVDA) em cumprimento do estabelecido no Programa Bienal do Governo 2005/2006, com um mínimo de dez empresas cota-das, de diferentes sectores de actividade e com razoável liquidez. Uma vez que as

empresas angolanas vão ter uma alterna-tiva de financiamento, quer por meio da emissão de dívida quer por aumento de capital, com custos relativamente mais baixos, a dinâmica do mercado aliada a uma crescente liquidez há-de incremen-tar a adesão de empresas nacionais aos princípios de boa Governança Corpo-rativa. Esta será a maior dificuldade na implementação do mercado.

PubLIcAçãO De cONtAS

Sobre a publicação de contas, ouvimos a opinião do professor de Mercado de Ca-pitais Alceu Jobim “a informação contábil, é a pedra de toque de uma Bolsa de Valores. As empresas em Angola, não estão acostu-madas a divulgar as suas demonstrações financeiras. É uma questão de cultura e de legislação “

Ora, para uma Bolsa de Valores funcio-nar, as contas das empresas têm de ser públicas, como refere Cruz Lima, Presi-dente da CMV.

Mas, julgamos que esta obrigatoriedade não deve ser só para as empresas cotadas em Bolsa, como para todas as sociedades comerciais de responsabilidade limitada: anónimas, por quotas e em comandita por acções. A publicação das contas, para as empresas não cotadas não implica a sua publicação em jornais de maior ti-ragem, mas basta simplesmente, o seu depósito na respectiva Conservatória do Registo Comercial, de forma a qualquer interessado poder consultá-las.

cONtAbILIStAS

Há muita gente que pensa que a Conta-bilidade é uma simples técnica em que as contas têm de ser arrumadas ora a débito ora a crédito, e no final a soma das contas do 1º membro do Balanço têm de ser igual à soma das contas do 2º membro do Balanço. A Contabilidade é muito mais que isso. Assim o disseram os grandes Mestres da Contabilidade a nível mundial, António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira, no dia 03 de Abril, na Faculdade de Economia do Porto, num seminário em que ambos fo-ram oradores. Neste seminário, tivemos a sensação aquando dos debates, que há professores catedráticos com o doutora-mento em Economia, que não sabem o que é Contabilidade.

Nesse debate, a nossa intervenção, foi mostrar que a Contabilidade e Gestão

Temos tido vários contactos com diferentes mercados e bolsas, onde temos esta-belecido e mantido alguns convénios para consulto-ria, formação e outros fins, em particular com a Euro-next, Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Joa-nesburgo Stock Exchange (JSE), New York Exchange (NYSE), ex Bolsa Deriva-tivos de Portugal (BDP), Bolsa da Republica Checa, LSE, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Bolsa de Valores de Moçambique (BVM)

com um mínimo de dez empresas cotadas, de diferentes sectores de actividade e com razoá-vel liquidez

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não é a mesma coisa, isto porque Vin-cenzo Masi, há mais de um século disse que a “ Contabilidade é a ciência do patri-mónio” e Lopes de Sá refere a “ Contabili-dade é milenar”. A Gestão foi criada por Peter Drucker, recentemente falecido (não tem um século), em suma, é uma questão de espaço e tempo.

Um Contabilista, para além de saber de-bitar e creditar tem de ter uma boa base teórica, tem de conhecer a História da Contabilidade, tem de saber o que se faz no mundo da Contabilidade, ou seja, não basta só a prática é necessário também a teoria, até porque como se diz “não há uma boa prática, sem uma boa teoria”

Começa haver em Angola, felizmente, a preocupação do ensino da Contabilidade a nível superior (Universidade Lusíada, ISPRA…). As empresas cotadas na futura Bolsa de Valores de Angola, vão precisar desses licenciados.

Por outro lado, há necessidade de regula-mentar a profissão de Contabilista. Ainda bem que é preocupação de Cruz Lima,” estamos empenhados em organizar a Ordem de Contabilidade e Auditoria bem como pro-mover o seu código de ética e conduta”

Porém uma questão pertinente se coloca? Quem pode ser membro dessa Ordem? Para que haja uma Ordem de profissio-nais, as habilitações literárias mínimas deve ser a licenciatura. Em Angola, quan-tos licenciados naturais haverá em Con-tabilidade? Mais uma vez falamos da im-portância de dados estatísticos credíveis e fiáveis. Será que uma Ordem que se vai designar por “Ordem de Contabilidade e Auditoria” deve albergar outros profissio-nais afins como: economistas, licencia-dos em gestão? Entendemos que sim, isto porque as Escolas Superiores de Contabi-lidade ainda são novas, pelo que ainda não muitos licenciados para o leque de trabalho exigido e em perspectiva.

ReVISOReS De cONtAS e/ Ou AuDItOReS

Uma das regras básicas, no funcionamen-to de uma Bolsa de Valores é “as contas das empresas cotadas serem auditadas”.

Quem poderá auditar contas­ em Angola?

Cruz Lima, referiu o Decreto nº 38/00 de 6 de Outubro. O seu número 3 refere ”o fiscal único e um dos membros do Con-

selho Fiscal e o seu suplente terão de ser designados entre os peritos contabilistas inscritos na Entidade Representativa dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas e não poderão ser sócios da sociedade”.

O artigo 452º da Lei das Sociedades Co-merciais, já abordado no Especial sobre a Banca (número 1) diz “ o contabilista ou perito contabilista, que seja membro do órgão de fiscalização, deve examinar o re-latório e as contas apresentadas pelo Con-selho de Administração…”

Mas, tal como referimos no trabalho anterior, é bom saber se esse técnico está devidamente habilitado para fazer a “certificação de contas”. A discussão começa por se saber o que é um “Conta-bilista” e um “Perito Contabilista”. Por outro lado, existe em Angola, muitos profissionais que se consideram Con-tabilistas sem ter qualquer habilitação específica. Há necessidade de clarificar.

Hoje, as Universidades em Angola, que ministram cursos de Contabilidade, licenciam Contabilistas. Pelo que sa-bemos, um Perito Contabilista, é um técnico diplomado por um Instituto Médio.

Sem desprimor para esses profissionais, quer os licenciados quer os diplomados com o Ensino Médio, não podem ser revisores oficiais de contas/auditores, comparativamente ao que acontece na União Europeia (UE), com a sua 8ª Di-rectiva. Na UE, só podem ser revisores oficiais de contas/auditores os licencia-dos em Contabilidade, Economia, Ges-tão de Empresas e Advogados depois de terem sido aprovados em exames espe-cíficos determinados pelas Ordens de Revisores de cada Estado-membro.

Perante o que referimos, pode um li-cenciado em Contabilidade e afins ser Técnico Oficial de Contas, mas não ser Revisor Oficial de Contas/Auditor. Julgamos ser importante a clarificação destas duas profissões, no sentido de dar maior credibilidade às contas de empresas cotadas e das não cotadas com um património líquido de grande valor.

É importante e necessária a qualidade dos serviços.

Fernando Teles, Presidente do Conselho de Administração do BancoBIC, disse “ Angola precisa muito rapidamente de ter empresas certificadas, ou seja, é importan-

te a obrigatoriedade dessas empresas terem revisores oficiais de contas, no sentido de as contas serem certificadas dando credibi-lidade às suas demonstrações financeiras. As pessoas ao investirem na Bolsa, têm de ter a certeza de que não estão a ser enga-nadas. Estou convencido que no espaço de ano e meio é possível o seu arranque. Te-mos de ser prudentes, temos de ter empre-sas credíveis”, o que vai de encontro o

que disse um dirigente do Millennium-BCP, “a certificação contabilística é muito importante para o rigor e transparência do mercado bolsista mas estamos em crer que existem empresas de boa dimensão para se poder começar”.

Em suma, todos querem contas credí-veis e fiáveis.

Assim, os responsáveis pela criação da Ordem de Contabilidade e Audi-toria, devem ser ponderados e sensa-tos na selecção dos profissionais que amanhã poderão exercer cabalmente a profissão de revisor oficial de con-tas/auditor.

AS NORmAS INteRNAcIONAIS De cONtAbILIDADe

Os investidores estrangeiros precisam de compreender as demonstrações fi-nanceiras das empresas onde investem. Nesse sentido, é importante que as re-gras e os princípios geralmente aceites em Contabilidade, do país X, onde vive o investidor, sejam os mesmos do país Y, onde pretende investir.

Ao longo dos tempos a divergência de critérios contabilísticos já provocou si-tuações embaraçosas. Como exemplo, o caso da Daimler Benz, quando pre-tendeu requer a sua cotação na New York Stock Exchange, verificou que as suas demonstrações financeiras, ela-boradas de acordo com a legislação alemã, não eram aceites pela Security Exchange Commission (SEC). Este caso foi bastante badalado no mundo finan-ceiro, até porque, a Alemanha, sempre

Angola precisa muito rapi-damente de ter empresas certificadas

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foi considerada, um país conservador, a nível de Contabilidade.

Nesse sentido, existem pelo menos quatro razões para a Contabilidade In-ternacional seja considerada de grande importância:

Razão histórica Razão multinacional Razão de comparação Razão de harmonização

Foi com base nestas razões que o Inter-national Accounting Standards Board se juntou e ao Financial Accounting Standards Board, no sentido de imple-mentarem a harmonização contabilís-tica a nível mundial. Hoje, a harmo-nização contabilística mundial, faz-se sentir pela imposição das Normas In-ternacionais de Contabilidade (NIC), fundamentalmente nos países em que o mercado bolsista tem mais impacto. Porém, tal como referiu Mora, “ o êxito ou fracasso e o futuro da harmonização in-ternacional dependem da compreensão de, até que ponto a contabilidade é verdadei-ramente universal ou depende do seu am-biente, já que os esforços orientados para uma harmonização internacional dos prin-cípios e da prática contabilística implicam que as técnicas e conceitos contabilísticos que prevalecem em cada país possam ver-se substituídos por princípios que seriam de aplicação universal nos diferentes países”

O que disse Mora, mostra que nem to-dos os tratadistas, da Contabilidade, aceitam as NIC. Para alguns, têm sido cometidos verdadeiros sacrilégios a ní-vel de conceituação contabilística. Para outros, a Contabilidade é influenciada pelo ambiente e pela cultura de cada país, como refere Lainez “ os métodos e práticas contabilísticas são importados ex-portados da mesma forma que os sistemas e ideologias políticas. Este factor explica porque as ex-colónias britânicas seguem prática e normas baseadas no modelo do Reino Unido”. Assim, percebe-se que o Plano de Contas do Sistema Financei-ro de Angola, como também muita le-gislação fiscal existente no nosso País, tenha influência portuguesa: o “velho” Imposto Industrial criado no tempo colonial e ainda se mantém em pleno século XXI.

Quer o Plano Geral de Contabilidade quer o Plano de Contas do Sistema Fi-nanceiro, não estão de acordo com as Normas Internacionais de Contabilida-de (NIC).

••••

A aplicação das NIC, em Angola, tem haver com o que pretendemos da nossa Bolsa, ou seja, um Bolsa interna, só para investidores nacionais ou uma Bolsa in-ternacional. Para se avançar para uma Bolsa internacional, implica muito tra-balho no tempo, ou seja, é necessário criar infra-estruturas capazes, par além da Ordem de Contabilidade e Audito-ria, é necessário criar uma Comissão de Normalização Contabilística que pegue nos planos de contas vigentes e adapte-os às NIC. Talhe de foice, a União Eu-ropeia demorou cerca de cinco anos a aplicar as NIC, até que em Janeiro de 2005, todas as empresas cotadas em Bolsa, passaram a ser obrigadas a apre-sentar as suas contas anuais com base nas NIC.

Em suma, o caminho seguir em Angola, no nosso entender, é adopção de uma sistema dualista, ou seja, a obrigatorie-dade das NIC para as empresas cotadas em Bolsa e as restantes optarem como até à data pelo plano de contas vigen-te. De uma forma gradual passar e/ou adaptar os planos de contas para as NIC.

A ImPORtâNcIA De um meRcADO De cAPItAIS em ANGOLA

África é um continente sem tradição bolsista, apesar de já existirem vários mercados (ver caixa) sendo o principal, o de Joanesburgo. Independentemente de tudo, quer a História da Bolsa quer os gráficos abaixo, mostra-nos que os

VOLuME BOLsIsTA

Fonte: World Federation of Exchanges adaptado por Valor Acrescentado

VALOr DE MErCADO

Fonte: World Federation of Exchanges adaptado por Valor Acrescentado

NOTA: Os sublinhados em ambos os quadros referem as Bolsas com maior peso.

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países anglo-saxónicos, têm mais pro-pensão para este tipo mercado e são os que têm maior peso a nível de volume bolsista e valor de mercado.

Se as­s­im é, como é com Angola?

Todos falam no crescimento da eco-nomia de Angola. É necessário tirar proveito. É necessário que as empresas angolanas, que muitos dizem descapi-talizadas, tenham dirigentes capazes, no sentido de se financiarem no Mer-cado de Capitais que vai ser criado. É bom quer para as empresas quer para os investidores estrangeiros que muitas vezes têm receio e dificuldade em en-contrar o parceiro certo em Angola.

A Bolsa de Valores e Derivados de An-gola já tem subscritores. O seu avanço é irreversível aos olhos do Mundo. Os seus subscritores e fundadores, têm res-ponsabilidades acrescidas, para o seu bom funcionamento, isto porque:

Têm de apresentar contas das suas empresas dentro dos prazos instituídos pela Lei das Socieda-des Comerciais e pelos seus es-tatutos;Os seus administradores têm de ter uma gestão transparente e procurarem dar todas as infor-mações relacionadas com o fun-cionamento das suas empresas.

Têm de dar o exemplo, porque vai ha-ver sempre olhos postos na forma como são conduzidos e apresentados os seus negócios.

Hoje, fala-se muito nos países mais evoluídos, que as empresas estratégicas num dado pais, podem passar via Bolsa,

para “as mãos de capitais estrangeiros”. É verdade. Angola, está sujeita esta inva-são. Como evitar? Há um tríplice aspec-to a considerar: o Governo angolano criar legislação própria – barreiras de entrada; essas empresas não poderem estar cotadas (complicado); haver ca-pitalistas nacionais fortes que possam evitar possíveis ataques.

Mas até que aconteça o que acima refe-rimos, muito caminho temos de percor-rer, pelo que a nível estratégico estamos perante uma dicotomia: ou avançamos com cautelas como refere Álvaro Sobri-nho, presidente da Comissão Executiva

do BESA “pode-se começar pelo mercado de dívida pública” ; ou prosseguir como refere o dirigente do BPI “é preciso avan-çar, mesmo que não estejam reunidas, de imediato, todas as condições teoricamente ideais. A criação da Bolsa irá gerar, por si própria, novas exigências e novos padrões de comparação. A Bolsa arrancará com poucas empresas cotadas, mas dará se-guramente origem a um novo patamar de referência, que pode ser muito útil para o desenvolvimento e a modernização da eco-nomia angolana.

Entretanto, os grupos financeiros que operam em Angola estão atentos como refere o dirigente do MillenniumBCP “vemos muito interesse na criação da Bol-sa de Valores em Angola, e participámos no lançamento desta instituição. Note-se que as Bolsas não negoceiam apenas ac-ções, também há cotação e negociação de Títulos de dívida e de unidades de fundos de investimento, bem como outros produ-tos inovadores. Há condições para arran-car em segmentos próprios e desenvolver uma maior cultura financeira junto de investidores e das instituições e empresas. Pensamos que Bolsa se pode desenvolver pela convergência de vários esforços. A cer-tificação contabilística é muito importante para o rigor e transparência do mercado bolsista mas estamos em crer que existem empresas de boa dimensão para se poder começar.”

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Bolsas Lugar PaísBolsa de Valores do Cairo Cairo EgiptoBolsa de Valores de Casablanca Casablanca MarrocosBolsa de Valores de Joanesburgo Joanesburgo África do SulBolsa de Valores de Lusaka Lusaka ZambiaBolsa de Valores Moçambicana Moçambique MoçambiqueBolsa de Valores de Nairobi Nairobi QuéniaBolsa de Valores da Namíbia Namibia NamibiaBolsa de Valores da Nigéria Nigéria NigeriaBolsa de Valore do Uganda Uganda UgandaBolsa de Valores do Zimbabwe Zimbabwe Zimbabwe

Fonte:http://mbendi.co.za/exch/2/p0005.htm e adaptado por Valor Acrescentado

BOLsA DE VALOrEs EM ÁFrICA

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A HISTÓRIA DO SEGURO

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H á indícios de que os primeiros seguros terão nascido na Mesopotâmia, entre-os-rios Tibre e Eufrates. Na antiga Babilónia, XXIII séculos antes de Cristo (AC),

as caravanas atravessavam o deserto com a finalidade de co-mercializarem os seus camelos nas cidades vizinhas. Porém, verificava-se com frequência, que muitos destes animais mor-riam durante o percurso. Os cameleiros, (nome dados aos do-nos dos camelos), independentemente de estes animais che-garem ou não vivos ao seu destino, eram obrigados a entregar a mercadoria, havendo justificação apenas perante situações

de perda ou roubo. Caso conseguissem provar a sua não res-ponsabilidade, ficavam ilibados – surgia assim, do ponto de vista jurídico, a res­pons­abilidade civil.

No sentido de minimizarem as perdas com a morte dos ani-mais, os cameleiros criaram uma Convenção a favor dos transportes, intitulada “Camelos Darmatas”, em que cada um contribuía com uma determinada verba, para cobrir a morte de camelos durante as viagens. Pode dizer-se que esta foi a forma primária de s­eguro – cobertura de risco ou dano.

JLMagro

ACTiViDADE SEGuRADORAEM ANGOLA

O Homem apercebeu-se desde cedo da necessidade de criar princípios prudenciais, com vista a garantir e salvaguardar os seus bens e direitos. Neste trabalho, a Valor Acrescentado faz uma viagem através da

história e mostra-lhe como tudo começou

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O NAScImeNtO DO fuNDO De ReSeRVA

Em 1600 AC, os Fenícios a par dos Gregos, eram os principais mercadores da Antiguidade. Possuíam inúmeras feitorias ao lon-go da costa mediterrânica, como Sidon, Tiro, Cartago… e tudo indica que chegaram à Guiné. Os barcos, na altura, eram bastan-te frágeis, pelo que o sinistro era frequente. Assim, para se de-fenderem dos perigos do mar, os armadores fenícios criaram um “fundo de res­erva”, subtraído ao lucro, para fazer face aos sinistros futuros. Toda a mercadoria que chegava a salvo, era one-rada com o valor da que se perdia. Estáva-mos perante uma forma rudimentar, claro, de contribuição para “avaria gros­s­a”.

Em 900 AC, por sua vez, na ilha Dodeca-neso “Rodes”, surgiam as “Leis­ de Rodes­ – Les Rhodia de Jactu” – que tinham como principal objectivo, a protecção contra os perigos do mar. Estas leis estenderam-se no espaço e no tempo a todas as potên-cias marítimas, isto porque definiam um conjunto de regras e procedimentos a se-rem cumpridos, nomeadamente caso “se tornasse indispensável atirar mercadoria ao mar, este sacrifício, feito a bem de todos, de-veria ser reparado mediante a contribuição universal” – mais um preceito claro dos sinistros de “avaria gros­s­a”.

Em 700 AC na Índia, a obra “Arthasastra”, composta por cerca de 150 capítulos1, da autoria de Kautilya, para muitos o Aris-tóteles indiano, abordava diversas temáticas como Economia, Contabilidade, Direito, Politica… e também já focava com al-gum desenvolvimento os seguros.

Quer os fenícios, quer os gregos, eram povos por excelência mercadores e navegadores e, por consequência, estavam ex-postos a riscos inerentes à actividade marítima. Por volta do ano 500 AC, várias pessoas resolveram agrupar-se e formar uma reserva de recursos para cobertura em casos de infortú-nio, como pirataria, incêndio, naufrágio… Assim perante um sinistro era o fundo que o cobria. Com esta prática, nasceu o Mutualis­mo e com ele acabou a Pré-História do Seguro ou como alguns autores lhe chamam – Pré-Seguro.

1500 anos depois, o Mutualismo veio experimentar novas formas de seguro, mais propriamente a partir dos séculos XIII e XIV na Europa, com o desenvolvimento do comércio e do mercado de capitais, estando os seguros directamente ligados a esse crescimento.

Em 1190, Ricardo Coração de Leão ordenou, ao aportar na Ilha de Ocleron, que se copiassem as leis de Rhodes e juntou-

1 Sá, António Lopes de, História Geral e das Doutrinas da Contabilidade

lhe outras, fazendo assim melhorias significativas, onde os seguros marítimos figuravam com alguma importância.

Em 1318, por sua vez, publicou-se a “Ordenança de Pisa”, que constituiu a primeira legislação conhecida sobre seguros, de acordo com a configuração actual. No entanto, há quem de-fenda que a data foi muito posterior, ou seja 1385, já depois do aparecimento da 1ª apólice.

O primeiro Contrato de Seguro, surgiu em Génova, na Itália, no ano de 1347, e referia-se a um transporte de mercadorias entre Génova e a Ilha de Maiorca.

Já em Portugal, a primeira Lei Nacional s­obre Seguros­ foi publicada em 1383.

Os países mediterrânicos, tal como vi-mos, têm nos seus antepassados grandes navegadores e por isso conheceram, em meados do século XV, a necessidade de proteger o seguro das apostas e os segu-radores dos abusos e crimes dos segura-dos, daí a Lei Genoves­a de 1467.

No que diz respeito à primeira Apóli­ce de Seguros­ Terres­tres­ conhecida, esta surge no ano de 1467. Assinada em Florença a favor de Fernando I, garantia a este monarca, rei de Nápoles, uma coroa preciosa enviada de Florença para Nápoles.

O cargo de escrivão de seguros é criado em Portugal, por CAR-TA RÉGIA de 15 de Outubro de 1529. O escrivão detinha o monopólio dos registos de todos os contratos de seguro e res-pectivas apólices. Cabia-lhe também a escrituração de todas as dúvidas e diferenças (possíveis litígios); constituía a pri-meira acção fiscalizadora, sendo também na altura a primeira instituição com funções­ de arbitragem.

Em 1575, surgia em Inglaterra, na Real Bolsa de Comércio, a Câmara de Seguros­ e a 18 de Junho de 1583, era criada a primeira apólice de Seguro de Vida emitida pela Real Bols­a de Londres­, para 16 mercadores pertencentes à Câmara de Seguros. A título de curiosidade, esta apólice, emitida sobre a vida de um londrino proprietário de salinas, com o nome de William Gybbons, pagava um prémio anual de 32 libras, e se ocorresse a sua morte durante esse período, os seus beneficiá-rios receberiam 400 libras (taxa do contrato 8%).

No ano de 1620, Lisboa era o centro do Mundo. Controlava o comércio marítimo internacional. Com o surgimento da Bélgica e Holanda, Países Baixos, no escol das potências ma-rítimas, o porto de Lisboa começou a perder importância e, em 1629, a Antuérpia (Bélgica) concentrava 40% de todo o comércio mundial.

“se tornasse indispensá-vel atirar mercadoria ao mar, este sacrifício, feito a bem de todos, deveria ser reparado mediante a contribuição universal” – mais um preceito claro dos sinistros de “avaria grossa”

“Nasceu o Mutualismo e com ele acabou a Pré-História do Seguro ou como alguns au-tores lhe chamam – Pré-Seguro”

“a 18 de Junho de 1583, era criada a primei-ra apólice de Seguro de Vida emitida pela Real Bolsa de Londres”

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Nasce assim na Holanda a Companhia das Índias Orientais, que passa a ser a primeira grande companhia a segurar o transporte marítimo, caravelas, mercadorias e armazéns con-tra tempestades, pirataria, incêndios e infortúnios das gran-des travessias. A Companhia da Índias Orientais, cobria os enormes prejuízos com os grandes prémios que recebia. Este era então um negócio florescente, o que originou que este tipo de instituição se multiplicasse por toda a Europa.

E assim, começou a organizar-se o seguro com as bases técni-cas que chegou aos nossos dias, de acordo com os progressos científicos que se operaram no campo das matemáticas, em particular no cálculo de probabilidades estatísticas.

No início do século XVIII, surge em Londres uma novidade social que são os “cafés”, tornando-se um ponto de encontro para comerciantes e banqueiros.

O banqueiro de Nápoles Lorenzo Tonti cria um fundo co-mum constituído pelas contribuições dos subscritores que mediante a entrega de um capital, adquiriam o direito a uma renda anual vitalícia. Com a morte de um subscritor, a sua parte era adquirida pelos restantes, até que, morto o último beneficiário, o capital revertia a favor do Estado. Este fundo de Lorenzo Tonti, teve o nome de “tontina” e espalhou-se pela Europa: Itália (1640), Holanda (1671), França (1684), In-glaterra (1692) e Prússia (1698).

Pascal, com a sua “Geometria do Acaso” deu um grande con-tributo à actividade seguradora com a construção das “tábu­as­ de mortalidade” . Foi com essas tábuas, que o financeiro holandês, Johan de Witt, calculou a probabilidade de uma pessoa, em cada ano da sua vida, morrer num determinado período de tempo.

Tal como atrás referimos, os cafés em Londres eram frequen-tados pela burguesia e Edward Lloyd, com visão de negócio, abriu um café nas margens do Tamisa, corria o ano de 1660. Mais tarde institucionaliza a corporação com o nome UN­DERWRITERS DO LLOYD’S, cuja função é a de tomadores de risco, sedeados no café de Edward Lloyd. Criam também, nessa altura, um jornal, o “LLOYD’S NEWS”, que ainda hoje mantém a sua publicação.

Em 1666, decorre em Inglaterra um grande incêndio que des-trói em Londres mais de treze mil casas, 89 igrejas e a Cate-dral de Saint Paul, um dos seus maiores símbolos. Por mera coincidência foi poupado o café LLOYD,S, que de imediato abriu uma nova secção para os riscos de incêndio.

Depois do grande incêndio é criado em Inglaterra o “Fire­Office”, sendo estimulada a criação de um serviço público de prevenção e combate a incêndios a cargo dos municípios. Paralelamente, é incentivada a criação de companhias de se-guros, viradas exclusivamente para os riscos de incêndio, apa-recendo assim o “Phoenix Office”, que se propunha segurar casas em Londres, com um prémio de 2,5% anual, para casas de tijolo, e 5% para casas de madeira.

Seguiu-se o nascimento do seguro de vida, também em Ingla-terra, consentido por carta da Rainha Ana, no ano de 1706.

Os contornos deste seguro eram muito diferentes do seguro de vida actual, isto porque estava muito ligado ao seguro ma-rítimo, tal como se verificava com os seguros de incêndio.

Em 1846 foi criada na Alemanha a COLÓNIA RESSEGU­ROS. E é assim que em pleno século XIX nos aparecem os seguros agrícolas, de acidentes­ pes­s­oais­, de acidentes­ de trabalho, de automóveis­, contra a mortalidade do gado, contra as­ cons­equências­ das­ inundações­, das­ enxurradas­, do mau tempo, o s­eguro de crédito e contra os­ res­ultados­ das­ operações­ cirúrgicas­.

Em 1939, nos países considerados de civilização adiantada, como os Estados Unidos da América, surgem seguros bizarros como por exemplo, o s­eguro de indemnização por di­vórcio ou por nas­cimento de gémeos­…

Pascal, com a sua “Geometria do Acaso” deu um grande contributo à actividade se-guradora com a construção das “tábuas de mortalidade”

A LLOyD’S NãO é umA cOmPANhIA De SeGuROS

É uma associação de Tomadores de Riscos (underwriters) que aceitam individualmente coberturas de riscos, comprometendo ilimitadamente as suas fortunas pessoaisActualmente é uma espécie de Bolsa de seguros, onde praticamente tudo pode ser seguro. Assim diariamente chegam pedidos de cobertura de todo o Mundo, para os mais variados tipos de seguro como: vida (verbas fabu-losas), refinarias, aviões…num volume diário de prémio que ultrapassa os 22 milhões de libras

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ACTIVIDADE SEGURADORA

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Para percebermos como funciona a Actividade Seguradora foi importante conversarmos com os responsáveis pelos Instituto de Supervisão de Seguros, Armando Rosa, Luzia Tadeu Jesus Teixeira, Director Adjunto, Chefe do Gabinete Jurídico e Chefe do Departamento de Fundos Autónomos, respectivamente.

Como funciona o Ins­tituto de Supervis­ão de Seguros­?

Quanto à sua natureza:

O Estatuto do Instituto de Supervisão de Seguros (ISS) está no Decreto nº 63/04, publicado no Diário da Républica n° 78, de 28 de Setembro.

O ISS evolui dentro das regras de organização, estruturação e funcionamento dos Institutos Públicos. O quadro legal de referência é o Dec-Lei n.º 03, de 28 de Outubro. Tem autono-mia administrativa e financeira dentro dos limites da tutela e superintendência do Governo, através do Ministério das Fi-nanças, à semelhança dos outros Institutos Públicos e Minis-térios respectivamente. É de modo particular o documento reitor da nossa actividade. Está sujeito à fiscalização do Tribu-nal de Contas e demais órgãos inspectivos de direito.

quANtO à ORGANIzAçãO e fuNcIONAmeNtO:

a) órgãos de Gestão.Director Geral Director Geral Adjunto Conselho Directivo Conselho Técnico Consultivo Conselho Fiscal

b) órgãos Executivos Departamento de Supervisão e Mediação Departamento de Administração e Serviços GeraisDepartamento de Fundos AutónomosGabinete de InspecçãoGabinete Jurídico

quANtO A fuNçõeS

Objectivos:

a) Supervisionar a actividade de seguros, resseguros, fundos de pensões, mediação de seguros e/ou resseguros, em con-formidade com a política económico-financeira nacional, impulsionando o desenvolvimento equilibrado do mercado, definindo as regras para o bom funcionamento do sector se-gurador e o exercício da actividade de mediação de seguros das gestoras de fundos de pensões e actividades complemen-tares dos seguros;

•••••

•••••

b) Fiscalizar e supervisionar o sector segurador bem como as actividades referidas no número anterior, implementando acções com vista à normalização do funcionamento legal, técnico e fInanceiro nomeadamente sobre os critérios de sol-vabilidade, a gestão prudente das provisões técnicas e suas aplicações financeiras e sobre os produtos colocados à dispo-sição do consumidor, nos termos estabelecidos pela legisla-ção aplicável.

Atribuições:

Para prossecução dos seus objectivos o ISS pratica todos os actos necessários ao bom funcionamento do sector e sua fis-calização. Por isso as seguintes atribuições:

a) Emitir pareceres sobre a constituição de empresas do mer-cado de seguros, resseguros e das sociedades gestoras de fun-dos de pensões, bem como o cancelamento da autorização das mesmas;

b) Emitir parecer e /ou autorizar a exploração de novos ramos ou modalidades de seguro;

c) Estabelecer apólices e tarifas uniformes para os ramos e modalidades de seguros obrigatórios e submeter à aprovação do Ministro das Finanças;

d) Emitir parecer sobre pedidos de transferência de carteira de seguros;

e) Apreciar e emitir sobre as contas de exercício das empresas do sector;

f) Inspeccionar ordinária ou extraordinariamente sempre que seja caso para tal;

g) Praticar os actos necessários à regularização das anomalias detectadas

Para quando a obrigatoriedade do s­eguro automóvel?

Tendo em vista a obrigatoriedade do Seguro Responsabilidade Civil Automóvel, foi nomeada pelo Ministério das Finanças uma Comissão Multi-sectorial que integrada várias entidades públicas como:

1) Representantes do Ministério do Interior e Direcção Nacio-nal de Viação e Trânsito;

2) Representantes do Ministério dos Transportes - Direcção Nac. Transportes Terrestres;

3) Representante do Ministério de Justiça;

4) Representante das Seguradoras;

5) Gabinete Jurídico do Ministério das Finanças

Um grupo de trabalho constituído para o efeito já apresentou um documento que aguarda contribuições da sociedade para a qual se direcciona.

Supervisionar a actividade de seguros, resse-guros, fundos de pensões, mediação de se-guros e/ou resseguros, em conformidade com a política económico-financeira nacional

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No início de 2006,a Comissão deve remeter o projecto supe-riormente.

Que critérios­ vão s­er us­ados­ para o s­eguro automóvel tendo em linha de conta que o parque exis­tente é ve­lho?

No Seguro obrigatório as tarifas serão uniformes. As Segurado-ras saberão responder com actos de vistoria e inspecção.

Os critérios sobre o tempo de uso dos automóveis dependem da legislação de outros sectores, nomeadamente, dos transpor-tes e do Ministério do Interior sobre inspecções obrigatórias.

A actividade seguradora baseia-se no estabelecimento de con-tratos entre as partes prestadoras do serviço (seguradoras) e as entidades beneficiárias do mesmo (segurados).

A idade de vida do automóvel para efeitos de seguro influen-cia a determinação do prémio a contratar entre o segurado e a seguradora, sobretudo nos seguros facultativos.

Angola é um País­ com um cres­cimento económico no­tável, pelo que começa a haver uma forte apetência para s­eguradoras­ es­trangeiras­ s­e implantarem. Há critérios­ de s­elecção, ou s­eja, há barreiras­ de entrada no s­entido de dar es­paço às­ Seguradoras­ nacionais­?

O artigo nº 22 determina que qualquer Entidade Estrangeira pode instalar-se em Angola, desde que 30% do seu capital seja detido por entidades nacionais e as demais condições estão claramente identificadas nos diplomas, não havendo motiva-ções extras contra o investidor estrangeiro, o que está de acor-do com a política nacional do investimento privado.

Numa envolvente de economia global não é crível que se dei-xe tudo andar ao sabor do acaso. A regulação do mercado exis-te, tal como existirá no ramo da indústria seguradora, porque existem normas regulamentares que determinam a forma ou maneira de as empresas seguradoras se instalarem.

As­ s­eguradoras­ e os­ bancos­, noutros­ país­es­ como Por­tugal e Es­panha fazem parte do mes­mo grupo fInan­ceiro. Pelo que s­abemos­ es­ta “moda” começa s­urgir em Angola. Qual é a vos­s­a opinião?

Questões de criação de sinergias dentro do grupo podem ser positivas. Dentro da visão da actividade seguradora, as estra-tégias de grupo também são universais. Bancos como canais de distribuição do mercado de seguros, é mais um factor do Grupo.

Como funcionam os­ Res­s­eguros­ em Angola?

O Decreto nº 6/01, no seu art. 3°, impõe que 30% das respon-sabilidades sejam retidas em Angola. De resto, é universal que as seguradoras façam a repartição dos seus riscos através das empresas resseguradoras mundiais de credibilidade.

Em cas­o de conflito entre as­ partes­ há intervenção do ISS?

O conflito tem duas formas de resolução: Judicial - com recurso aos Tribunais; Extrajudicial - no interesse de ambas as partes.

••

O parecer do ISS pode ser ou não vinculativo, dependendo se se trata de resolução de contratos (só Tribunais ou Centros de Arbitragem) ou se se trata de aspectos meramente legais reclamados.

A es­perança de vida é cada vez maior. Há neces­s­idade de s­egurar o futuro, como por exemplo benefician­do­s­e dos­ fundos­ de Pens­ões­. Qual é a pos­ição do ISS? Há legis­lação de s­uporte para os­ Fundos­ de Pens­ões­?

De facto com o aumento da esperança de vida, o sistema de segurança social em muitos países, que se baseavam naquele denominado “pay-as-you-go”, mostrou-se ineficaz para satisfa-zer as necessidades dos reformados durante mais tempo. Deste modo, os fundos de pensões surgem como alternativa eficaz no processo de protecção social na velhice e não só. Estando atento a estas mudanças o Governo Angolano aprovou a lei dos fundos de pensões: O Decreto 25/98, ao que se seguiram:

Dec. Exec 16/03 Condições de acesso; Despacho 9/03 Regulamento sobre demais aspectos.

Há o Ins­tituto de Formação Bancária. Não deveria haver um es­tabelecimento de formação também para a actividade s­eguradora?

Um Instituto de Formação de Seguros e Fundos de Pensões depende da iniciativa do mercado, nomeadamente das en-tidades supervisionadas. O ISS apoiará tais iniciativas. Já há manifestações de interesse, podendo vir a direccionar-se em dois sentidos:

a) Universitário - Direito de Seguro Gestão de Seguros Actu-ariado;

b) Especialização - Para tratar de cursos de curta duração, semi-nários, todos que não possam ser dados ao nível universitário.

O ISS tem dados­ s­obre a s­inis­tralidade em Angola?

O ISS controla a actividade, tal como noutros países, através da análise de Balanços e outros modelos instalados. A taxa média de sinistralidade, em 2003, foi de 34,17%, enquanto que a de 2002 foi de 10,37%.

Concorda com um ranking das­ demons­trações­ fi­nanceiras­ das­ s­eguradoras­?

1) Pode-se fazer um ranking onde seja visível o património lí-quido de uma seguradora. Mas isto por si só pode não garantir

••

Estando atento a estas mudanças o Go-verno Angolano aprovou a lei dos fundos de pensões: O Decreto 25/98

A taxa média de sinistralidade, em 2003, foi de 34,17%, enquanto que a de 2002 foi de 10,37%

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A AAA, agrupa três empresas com accionistas e quotistas co-muns, caso da Sonangol que participa nas três. A AAA Cor-retores de Seguros Lda e AAA Serviços de Risco Lda., estão em fase de liquidação. Falando em risco, a criação de várias empresas com objectos sociais diferentes, pese embora a sua ligação, não deixa de ser uma estratégia inteligente a nível de segurança e continuidade dos negócios, isto porque desta forma está diluído o risco do(s) negócio(s)

Da análise às demonstrações financeiras verificamos que não foi seguido qualquer dos métodos contabilísticos da conso-lidação de contas, o que se compreende, porque em Angola não há essa tradição, porém tendo em linha de conta a aber-tura da Bolsa de Valores, é bom pensar na consolidação das contas.

AAA SeGuROS SARL

Tendo como base o relatório de gestão do ano de 2004, o maior ramo não energia foi o Multi-riscos, com um peso de 33%, seguido do ramo vida com 23%. Considerando a cartei-ra global, o ramo Energia foi o que teve maior representativi-dade com um valor percentual de 65%.

Em 2002, foi decidida uma politica de diversificação da car-teira de clientes que teve o seu reflexo positivo nos exercícios económicos sequentes, ou seja, 2003 e 2004. Para o efeito, muito contribuiu o êxito de campanha de marketing, entre-tanto encetada, tendo em vista a penetração da marca “ AAA” no mercado angolano.

Dentro dos sinistros, a AAA Seguros SARL, processou em 2004 um valor na ordem dos USD 2.831 milhões, distribuídos con-forme gráfico abaixo, contra USD 3.253 milhões em 2003, implicando uma redução na ordem dos 13%.

solvabilidade de uma seguradora face aos compromissos assu-midos. A lei prevê mecanismos para se analisar a solvência de um operador; satisfeitas aquelas condições, a seguradora tem capacidade para fazer face aos compromissos assumidos.

2) O mais normal dos critérios de “ranking” é o volume de prémios encaixado anualmente.

NúmeRO De SeGuRADORAS A OPeRAR NOmeRcADO

Angola tem a funcionar as seguintes seguradoras:

Pegando no que foi dito sobre a população bancarizada (2%), no trabalho sobre a “Banca”, editado na anterior revista, pen-samos que é essa população, em primeira linha, que vai aderir, conjuntamente com as empresas, aos contratos de seguros.

Ora, tendo em linha de conta o número de seguradoras e a sua distribuição pelo País, conclui-se que este mercado está adormecido, não só por causas exógenas (guerra) mas tam-bém por causas endógenas (falta de regulamentação). É bom lembrar que Angola, antes da independência, tinha 26 Segu-radoras distribuídas pelo território.

É urgente a aprovação da Lei sobre o seguro automóvel, como refere o ISS, “no início do próximo ano (2006) a Comissão deve remeter o projecto superiormente” , visto que do ponto de vista jurídico, entendemos que o seguro automóvel é um contra-to de adesão, e, por consequência, todos os proprietários de veículos serem obrigados a aderir. Poderá ser este seguro, o principal factor de desenvolvimento da actividade segurado-ra, pelo menos a nível de impacto, por todo o Pais, dependen-do, no entanto, de vários factores: preço, eficiência perante sinistros, publicidade…

Nome Capitais Público/Privado

Empresa Nacional de Seguros de Angola (ENSA)

Público

Angola Agora e Amanhã (AAA) PrivadoNova Sociedade de Seguros de Angola (NOVA SEGUROS)

Privado

Global Alliance Privado

Nome Capital 103 usD Distribuição Objecto Constituição

AAA Serviços Financeiros Lda 100SonangolAAA(Investors) Ltd

Gestão de participações Sociais

05-07-2000

AAA Seguros SARL 15.000AAA Serviços Financeiros Lda Sonangol, BAI, Laroco Financial and Risk Management Services Ltd

Actividade de seguro e de resseguro dos ramos vida e não vida

05-07-2000

ANGOLA AGORA e AmANhã (AAA)

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O seguro automóvel, separado no gráfico, com um peso de 34% é a segunda maior rubrica na estrutura dos sinistros. Porém, teve influência na redução verificada de 13% acima referida, porque houve um melhor controlo de custos com as peritagens e os orçamentos apresentados pelas oficinas. Fo-ram analisados casuisticamente, o que contribuiu para que houvesse um menor valor no pagamento de indemnizações. Por outro lado, este ramo, comparativamente a 2003, teve uma redução de 26%, o que se pode considerar significativo.

O ramo em que se verificou maior sinistralidade foi o de Aci-dentes de Trabalho, representando este ramo 4% do valor da estrutura de sinistros e teve relativamente a 2003 um acrés-cimo de 37%.

Das indemnizações processadas em 2004, USD 637 mil foram cedidas ao Resseguro e comparativamente a 2003, houve uma redução de 49% no Resseguro cedido.

A evolução dos prémios cedidos por ramos, está demonstrada no mapa abaixo.

O ramo Energia, foi o que teve maior peso, 74.9% contra 67,00%, em 2004 e 2003 respectivamente. A variação dos prémios entre 2004 e 2003 foi de 11%.

O Resultado Técnico Líquido1 em 2004 foi de USD 8.153 mi-lhões contra USD 7.984 milhões em 2003, correspondendo uma variação percentual positiva de 2%.

1 A diferença dos Prémios e das Provisões para Riscos em Curso dá-nos os Prémios Adquiridos. A soma dos Prémios Adquiridos, com as Comissões de Res-seguro menos os Custos com Sinistros e menos a Provisão para Incapacidade Temporária dá-nos o Resultado Técnico Líquido

A Margem de Solvência� em 2004 foi de 210.91% contra 257.16% em 2003, verificando-se um decréscimo de 18%.

A Seguradora em 2004, tinha ao seu serviço, 47 trabalhadores e no cômputo geral os rácios de produtividade comparativa-mente a 2003, foram positivos.

O mapa a seguir mostra a evolução dos Resultados Líquidos

Independentemente do Volume de Negócio ter tido um acréscimo de 12.08% o Resultado Líquido teve uma quebra de 7.82%, o que contribuiu para que a Taxa de Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE)3 fosse mais baixa em 2004, ou seja, em 2004 17.04% contra 19.20% em 2003, havendo um decréscimo de 7.81%.

O Conselho de Administração da AAA SEGUROS SARL decidiu, rela-tivamente ao Resultado Líquido de 2004, no montante de USD 2.655 milhões, que fossem distribuídos em forma de dividendos pelos accionis-tas. Esta actuação do Conselho de Administração, poderá ser uma boa estratégia, com a possível entrada da empresa em Bolsa, de captar o inte-resse de investidores.

AAA PeNSõeS SARL

Em 2004, a actividade dominante foi a gestão do Fundo de Pensões da So-nangol EP, com 8.058 participantes e 746 beneficiários. O valor líquido deste Fundo no final do ano de 2004, cifrou-se em USD 170.861 milhões.

Em 31/12/2004, a empresa tinha 14 trabalhadores a tempo inteiro e os rácios de produtividade evidenciaram uma performance excelente a nível de produtividade dos activos sob gestão.

Os Activos Líquidos sob gestão du-plicaram entre 2004 e 2003. Entre-tanto, os estudos actuariais4, como os trabalhos de inscrição e valida-ção, caíram face ao ano anterior.

2 De acordo com o número 1 do artigo 16º do Decreto Executivo nº 6/03 de 24/01, “as seguradoras devem dispor de uma margem de solvência suficiente para garan-tir as responsabilidades decorrentes do exercício da sua actividade” . O artigo 17 do referido decreto, explica a forma com se calcula a Margem de Solvência. 3 Obtém-se dividindo o Resultado Liquido pelos Capitais Próprios � Actuariais, tem haver com vida, mais propriamente com Seguros de Vida en-quanto que os não Vida são considerados Seguros Reais. Há cursos superiores de Contabilidade, onde é ministrada a cadeira de Contabilidade de Seguros Reais e Acturiais

200� 2003ramo Valor Peso (%) Valor Peso (%) Variação

Energia 97.579 74,9% 78.736 67,00% 24%Vida* 0 0,0% 19.071 16,23% -100%Multiriscos empresas 14.685 11,3% 8.529 7,26% 72%Acidentes de trabalho 1.753 1,3% 4.915 4,18% -64%Automóvel 1.837 1,4% 1.679 1,43% 9%Responsabilidade civil 7.423 5,7% 976 0,83% 660%R.Civil. Abastecimento 638 0,5% 741 0,63% -14%Mercadorias Transportadas 1.026 0,8% 661 0,56% 55%R.Civil. Exploração 0 0,0% 84 0,07% -100%Multiriscos equipamento 0 0,0% 70 0,06% -100%Acidentes pessoais 9 0,0% 64 0,05% -86%Maquinas e Casco 78 0,1% 48 0,04% 61%Construção e montagem 374 0,3% 34 0,03% 990%Marítimos cascos 20 0,0% 11 0,01% 94%Multiriscos habitação 16 0,0% 8 0,01% 109%Viagem 11 0,0% 0 0,00%Outros (Stop Loss) 4.557 3,5% 1.529 1,30% 198%Ramos combinados 301 0,2% 353 0,30% -15%Total 130.308 100,0% 117.511 100,00% 11%

* O valor do prémio cedido do Seguro Vida referido em 2003, contempla o exercício de 2004.

rubricas 200� 2003 VariaçãoVolume de negócios 138.851 123.881 12,08%Resultado antes de Impostos 4.083 4.456 -8,38%Resultado Liquido 2.655 2.881 -7,82%

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O quadro abaixo mostra-nos a evolução do Resultado Liquido.

O Volume de Negócios teve um acréscimo de 17%, apesar do Resultado Líquido ter tido uma descida de 6%.

O quadro abaixo, mostra-nos a evolução dos indicadores de Gestão de Fundos

O número de participantes activos diminuiu e o dos benefi-ciários, aumentou em 1.36%. De realçar que não foram con-siderados os reformados e os falecidos não elegíveis ou com a situação de inscrição não regularizada.

A Taxa de Rendibilidade dos Capitais Próprios entre os exer-cícios de 2004 e 2003, teve um decréscimo de 17%, o que tem a ver com o menor Resultado Líquido alcançado em 2004 comparativamente com o ano transacto.

Tal como aconteceu com a AAA Seguros SARL, esta empresa, no que concerne ao exercício de 2004, o Conselho de Ad-ministração (julgamos ser politica de grupo), propôs a dis-tribuição de dividendos, o que vai de encontro com o que referimos relativamente à primeira empresa.

A AAA PENSÕES SARL tem três planos de pensões que são:

A – Plano de Beneficio Definido, o fundo pagará uma pensão cuja taxa de formação será fixada pelo associado, com uma pensão mínima e máxima a ser determinada pelo asso-ciado.

AA – Plano de Beneficio Definido, o fundo pagará uma pensão cuja taxa de formação é igual a 3% por ano de serviço, com um valor de pensão de 90% do último salário.

AAA ­ Plano de Contribuição Definido, o fundo pa-gará uma pensão de acordo com as contribuições fixadas no contrato de adesão e a rentabilidade gerada por estas contri-buições, desde o início da adesão até ao momento da reforma dos participantes.

G+A ANGOLA SeGuROS

A Global Alliance Holdings foi fundada inicialmente em 1996 como Baronscourt Holdings. A Baronscourt funcionou como correctora de resseguros em Londres, Namíbia e África do Sul, efectuando consultoria a nível de resseguros em toda

a África e no Reino Unido. Andrew Lewis, para além de ser o proprietário fazia também a gestão da empresa.

Em 2001, Robert Lewis adquiriu a CGSM Moçambique (uma seguradora dos ramos vida e não vida sediada em Moçam-bique). Nesse mesmo ano, as duas empresas fundiram-se e formou-se o Grupo Global Alliance.

O Grupo Global Alliance, expandiu a sua área de negócio e é hoje a seguradora preferida das empresas multinacionais, em-presas nacionais e companhias no sector da exploração minei-ra com actividade comercial em África. A companhia orgulha-se de representar muitas empresas que estão cotadas nas Bolsas de Valores do FTSE, S&P 500, Hang Seng, S.A. ALSI 40, CAC e Oeutsche Bourse. A Global Alliance tem operações em Angola, Ilhas Virgens Britânicas, Gana, Moçambique, Namíbia, África do Sul, São Tomé e Príncipe e Reino Unido. Resumindo e con-cluindo: bem implementada no continente africano.

Em 2003, a Administração da Global Alliance, mandou efec-tuar um estudo pormenorizado do mercado angolano e da sua análise concluiu que era de apostar nesse mercado. Nesse mesmo ano foi tomada a decisão de avançar com o pedido de licença de Seguros para operar em Angola. Apesar de ter sido um processo com muitas contrariedades, a Global Alliance pode-se orgulhar de ter sido a primeira Companhia de Segu-ros privada a receber uma licença em Angola.

É política da GA Angola ter uma Administração técnica, pelo que todos os seus membros são peritos de Seguros com gran-de experiência e altamente qualificados. Por outro lado, to-dos os seus recursos humanos falam português e inglês.

Os clientes da GA Angola podem contar com o mesmo grau de serviço a que os clientes do Grupo Global Alliance já se acostumaram. O Grupo fez uma enorme afectação de recursos para esta operação. A Kindle Insurance Technologies, forne-ceu o software de seguros que é, indubitavelmente, o sistema mais avançado em Angola, em África e muito possivelmente no Mundo. A equipa de gestão, passou por exercícios de for-mação rigorosos que a prepararam para o conjunto de com-petências específicas necessárias para trabalhar em Angola. A equipa está empenhada tanto na empresa como no País.

Os produtos comercializados pela GA Angola, estão escritos em português e inglês e são:

Multimark 111

Uma reconhecida apólice amplamente usada na África Austral, concebida especificamente para as condições únicas da região e que oferece cobertura para todas as classes de seguro.

CAR/Engenharia

Uma apólice concebida para cobrir as necessidades específi-cas de empreitadas e projectos de engenharia.

Compens­ação por acidentes­ de trabalho

Seguro obrigatório em Angola.

Seguro marítimo

Uma apólice concebida para todos os aspectos do mercado marítimo.

Unidade 103 USDrubricas 200� 2003 Variação

Volume de negócios 5.475 4.695 17%Resultados operacionais 1.036 963 8%Resultados antes de impostos 899 885 2%Resultado líquido 519 551 -6%

rubricas 200� 2003 VariaçãoFundos de pensões abertos 2 2 0%Adesões colectivas 2 1 100%Fundos de pensões fechados 5 4 25%Total 9 7 29%

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Seguro Automóvel

Uma apólice automóvel autónoma baseada na apólice Mul-timark.

Benefícios­ funerários­

Uma apólice que oferece cobertura para o custo de algum fune-ral no caso do segurado ou do tomador de seguro falecer.

eNSA, SeGuRADORA PúbLIcA Ou PRIVADA?

O Estado não tem vocação nem jeito para ser empresário, pelo que a sua politica de privatizações deve ser feita de uma forma cuidada no médio prazo, o que implica ter de encetar uma poli-tica de corporocracia ou “o governo das grandes empresas” , ou seja, é o nome que se dá a um tipo de gestão prevista, em que o poder será transferido do Estado para o controlo de empresas privadas.

Assim se explica o trabalho feito pelo Ministério das Finanças sobre “Estratégia e Política de Privatizações 2001-2005”, donde extraímos: “destacam-se o conjunto de medidas estruturais que vi-sam o redimensionamento do sector empresarial do Estado, de modo a adequá-lo às premissas da economia de mercado”.

A ENSA, é uma empresa pública. No contexto do sector finan-ceiro é diferente do Banco de Poupança e Crédito e do Banco de Comércio e Indústria que são empresas de Capitais Públicos. Julgamos que não há diferenças do ponto de vista funcional, somente no aspecto jurídico.

Desde 2002, que se fala na privatização da ENSA. Julgamos que depois de estar regulamentada, e em prática, a legislação que está para sair do sector dos Seguros, será altura de avançar com a dita privatização.

Não obstante, a ENSA tem a sua história. Única Seguradora com delegações em todo o País, é accionista da Bolsa de Valores e Derivados de Angola, tem um Valor relativo de um domínio de actividade que se define como “valor que se aprecia a partir das características próprias da empresa” [Política Global da Empresa, Strategor]. Em suma, todos estes factores devem ser considera-dos se se concretizar a sua privatização.

bANcA e SeGuROS JuNtOS?

Nos países onde a actividade financeira é mais evoluída, a maio-ria dos grupos financeiros tem pelo menos um Banco e uma Se-guradora. São sinergias, que se podem definir como “a combina-ção de duas actividades que, exercidas em conjunto, se realizam mais eficazmente do que quando são exercidas separadamente” [Politica Global da Empresa, Strategor] e nos dias que correm, com a glo-balização, a diversidade da actividade económica é importante e necessária. Uma questão de estratégia empresarial.

Em Angola, essa realidade começa a despontar, isto porque quer na AAA quer na NOVA SEGUROS, o Banco Africano do Investi-mento, tem participação social.

O ISS, refere que “qualquer Entidade Estrangeira pode instalar-se em Angola desde que 30% do seu capital seja detido por Entidade Nacionais”.

Emídio Pinheiro, Presidente da Comissão Executiva do BFA, sobre a possível criação de uma Seguradora por parte do gru-po BPI, do qual o BFA faz parte, disse: “nós queremos continuar a ser única e exclusivamente Banco, ou seja, queremos continuar a ser um excelente Banco. Todavia, temos de estar atentos, temos de ter valor concorrencial e, no futuro, veremos. O grupo BCP afina pelo mesmo diapasão, ou seja: “é oportuno referir que também na Polónia, o Bank Millennium, não criou empresas seguradoras. Cada mercado merece uma estratégia e timings apropriados”. Ál-varo Sobrinho, Presidente da Comissão Executiva do BESA, observou: “ O BESA não está adormecido”. Em resumo, todos estão à espera da nova legislação do sector dos seguros para actuarem. É bom ter presente o que escreveu Teixeira Pin-to, Presidente do MillenniumBCP no seu livro “Um Dever Chamado Futuro”: “já não serão os maiores a dominar os mais pequenos, mas antes os mais rápidos a vencer os lentos”.

LeI DA OfeRtA e DA PROcuRA

Os segurados, ou os que pretende sê-lo, queixam-se de que os prémios dos diversos tipos de seguros existentes no mercado, são caros. Tal facto deve-se, em parte, ao número reduzido de Seguradoras, o que implica que a procura seja maior que a oferta. Com a obrigatoriedade do Seguro Automóvel, tudo indica que vai haver uma maior carteira para as Seguradoras e que os prémios venham a baixar de preço.

Prosseguindo com o Seguro Automóvel, é importante reflectir que uma parte significativa do parque automóvel de Angola é velho e tal como refere o ISS “a idade de vida do automó-vel para efeitos de seguro influencia a determinação do prémio a contratar entre o segurado e a seguradora, sobretudo nos seguros facultativos” pelo que não sabemos quais vão ser os critérios,

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mas se não forem uniformes pode haver discrepâncias a nível de prémio de seguro.

Não obstante, é importante que seja criada um “cultura de seguro” junto da população, para que todos ganhem: Segu-radoras e Segurados. Assim, é importante que as Seguradoras, através dos órgãos da comunicação social, para além da pu-blicidade, procurem através de publireportagens, explicar ao público em geral o que é a actividade seguradora.

SeGuRO De cRéDItO

Não vimos este seguro contemplado em nenhuma carteira das Seguradoras. Hoje, na Europa, começa a ser um tipo de seguro muito usado, nomeadamente a nível de relações co-merciais internacionais e também nacionais. É uma forma, tal como referimos no trabalho sobre a Banca, de reduzir o risco de crédito do cliente junto do seu Banco.

As franquias podem variar de Seguradora para Seguradora, mas a título de exemplo, em Portugal, a COSEC, especializada neste tipo de operação, para créditos externos garante 75% e para créditos internos 70%.

As Seguradoras de Crédito pedem, por norma, ao Segurado, as demonstrações financeiras (Balanço e Demonstração de Resultados…) para aprovação do crédito, como podem esta-belecer limites (plafonds) para os clientes estrangeiros e/ou nacionais.

fuNDOS De PeNSõeS

Com o avanço da Ciência, nomeadamente da Medicina e da vida socio-económica, o Homem tem cada vez mais, maior esperança de vida5, que pode ser definida como “o número médio de anos que um indivíduo pode esperar viver, se submetido, desde o nascimento, às taxas de mortalidade observadas no mo-mento (ano de observação). A seguir indicamos as estimativas feitas pela The World Factbook, publicadas em 2005, dos cin-co países onda a esperança de vida é maior. Aquele organis-mo considera a média mundial na ordem dos 64 anos.

� ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esperan%C3%A7a_de_vida

A maior esperança de vida, acarreta nos países onde a taxa de natalidade é baixa e com crises de desemprego, proble-mas como:

População envelhecida em percentagem elevada em relação à população activa que efectivamente traba-lha;As reservas da Segurança Social para garantir as re-formas estarem a esgotar-se.

Esta realidade já existe no Mundo, pelo que é necessário criar alternativas como os Fundos de Pensões, ou seja, é um bocado a história da “formiga e da cigarra”, temos de aforrar enquanto temos possibilidades e força.

A nossa experiência mostra que o Fisco, por vezes, cria bar-reiras fiscais aos detentores de Fundos de Pensões. É preciso pensar que os Fundos de Pensões podem ser uma forma de aliviar a carga social suportada pelo Estado, pelo que é necessário que quem lidera a Fiscalidade pense nesta rea-lidade.

Dentro das regalias sociais que os Bancos dão aos seus fun-cionários estão os Fundos de Pensões, tal como refere Emí-dio Pinheiro do BFA: “em Abril de 2005, criámos o “Fundo de Pensões” para os nossos colaboradores. Esse fundo é alimenta-do mensalmente com 10% dos vencimentos dos funcionários”. A mesma politica é seguida pelo BPC, como refere Paixão Júnior, Presidente do Conselho de Administração, na sua mensagem constante no relatório de contas de 2004: “jun-tou-se o desenvolvimento do “Plano de Pensões dos trabalhado-res do BPC” que vem sendo elaborado pela Fénix - Sociedade de Gestão de Fundos de Pensões, uma entidade da especialidade detida pelo BPC. Com este instrumento, as politicas de gestão de carreiras passam a estar complementadas com um programa de segurança social, que visa dignificar o trabalhador mesmo aquando da sua passagem à reforma”.

Entendemos que as empresas, tal como os Bancos, que dão Fundos de Pensão de Reforma aos seus colaboradores, tal como acontece noutras partes do Mundo, tenham nesta vertente, benefícios fiscais, até porque poderá ser uma for-ma de aliviar a carga financeira que o Estado poderá ter com as reformas desses trabalhadores.

ImAGem

Não conseguimos entrar em nenhum site das Seguradoras angolanas. Julgamos urgente a sua apresentação na Inter-net até porque, tal como já foi dito, este sector de activi-dade vai forçosamente que ter a pujança necessária para o crescimento sustentado da Economia de Angola. E convém não esquecer que ter o site implica a sua renovação perió-dica, sob pena de perder a sua eficácia.

Por outro lado, muitas das questões levantadas pelos segu-rados, podem e devem ser tratadas via net, aliviando desta forma a carga administrativa quer da Seguradora quer do Segurado – tempo é dinheiro.

Julgamos importante no sentido de criar a dita “cultura do seguro” que em cada site haja um espaço para formação, como por exemplo um glossário com os principais termos usados na actividade seguradora.

“A idade de vida do automóvel para efei-tos de seguro influencia a determinação do prémio a contratar entre o segurado e a seguradora, sobretudo nos seguros facultativos”

Posição País/região Esperança de Vida (anos)

1 Andorra/Europa 83,512 Macau/Ásia 81,123 S. Marino/Europa 81,624 Singapura/Ásia 81,625 HongKong/Ásia 81,50

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cial

Agente de seguro

Mediador, pessoa singular ou colectiva que faz prospecção de mercado, presta assistên-cia ao segurado na matéria que se refere ao contrato celebrado e efectua a cobrança do prémio desde que autorizado pela seguradora

Angariador Mediador de seguros, pessoa singular, trabalhador de uma seguradora, o qual exerce as mesmas funções que o agente de seguros

Apólice de seguroDocumento que titula o contrato celebrado entre o tomador do seguro e a empresa de seguros, de onde constam as respectivas condições gerais, especiais, se as houver e particulares acordadas

Autorização Acto emanado das autoridades competentes e que confere a uma empresa de seguros o direito de exercer a sua actividade

Beneficiário (do contrato)

Pessoa singular ou colectiva definida nas condições particulares a favor de quem reverte a prestação da empresa de seguros, ou da mútua ou da cooperativa de seguros, decor-rente de um contrato de seguros

Caucionamento das provisões técnicas

Todo o ónus a fazer recair sobre os activos móveis e imóveis representativos das Pro-visões Técnicas, a favor de uma entidade competente e designada para o efeito pelo Governo

Co-seguro Operação pela qual algumas empresas de seguros garantem o mesmo risco, cada uma delas tomando uma fracção desse risco a seu cargo

Comissão de mediação Remuneração atribuída aos mediadores pelo exercício das suas funções de mediação

Condições especiais (de um contrato)

Disposições que completam ou especificam as condições gerais, sendo de aplicação ge-neralizada a determinados contratos do mesmo tipo

Condições gerais (de um contrato)

Disposições contratuais, habitualmente pré-impressas, definindo o enquadramento e os princípios gerais do contrato, aplicando-se a todos os contratos inerentes a um mesmo ramo, modalidade ou operação

Condições particulares (de um contrato)

Menções que são acrescentadas às condições gerais e especiais de um contrato

GeStOR De RIScO

Ser gestor de risco é considerado, nos dias que correm, ter uma carreira de futuro. De acordo com um estudo da Eco-nomist Intelligence Unit, “45% das empresas inquiridas já têm nos seus quadros um Chief Risk Officer (CRO) e 24% tencionam fazê-lo”. O estudo revela que um CRO tem de conhecer muito bem a organização onde está inserido, tem de dominar as téc-nicas de gestão de risco, forte experiência na área financeira e grande experiência operacional.

Cada vez mais os dirigentes das organizações, procuram mi-nimizar riscos, como também anualmente, perante sinistros

nulos, procuram negociar com as suas Seguradoras os pré-mios em vigor. As empresas de construção civil e obras públi-cas, petrolíferas, mineiras... têm actividades mais propensas ao risco, pelo que se justifica, por vezes, a figura do gestor de risco, que em caso de sinistro é o interlocutor mais indicado para dialogar com a sua Seguradora.

DefINIçõeS uSADAS NA ActIVIDADe SeGuRADORA

As definições a seguir foram extraídas da Lei nº1/00 de 3 de Fevereiro, Anexo I.

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Corretor de segurosMediador, pessoa colectiva que prepara a celebração de contratos, presta assistência a esses mesmos contratos e pode exercer funções de consultoria em matéria de seguros junto dos segurados, bem como análises de risco, estudos ou emite pareceres técnicos sobre seguros

Empresa de seguros Entidade legalmente autorizada a exercer a actividade seguradora que subscreve, com o to-mador de seguro, o contrato de seguro. O mesmo conteúdo, para sociedades de seguros

Investidora institucional

As empresas de seguros são consideradas investidoras institucionais na medida em que, concentrando volumosos fundos e meios financeiros captados da poupança dos indivíduos, famílias e pessoas colectivas, realizam avultadas aplicações financeiras de forma sistemáti-ca, obedecendo, por razões técnicas, a políticas previamente definidas e determinadas por legislação específica de execução obrigatória, contribuindo, assim, decisivamente para o de-senvolvimento económico-social do País em geral e do mercado de capitais em particular

Mediação de segurosActividade intermediária remunerada tendente a realização, a assistência ou a realização e assistência de contratos de seguro, através da apreciação dos riscos em causa, entre pessoas singulares ou colectivas e as empresas de seguros

Não-residentes De acordo com o conceito e definição da legislação geral do País

Prémio de seguroValor previamente pago pelo tomador de seguro, mediante o qual, uma parte, a empresa seguros se compromete, na eventualidade de ocorrer um evento aleatório, a fornecer a outra parte contratante uma prestação em dinheiro ou serviço

representação das provisões técnicas

Acto de registo contabilístico que vincula os valores das provisões técnicas aos respecti-vos activos móveis e imóveis onde aplicados e afectos em concreto

ressegurador Empresa especializada em resseguro que cobre parte dos riscos de uma empresa de seguros através de contratos e/ou tratados de resseguro

resseguroOperação pela qual uma empresa de seguros faz, por sua vez, segurar parte dos riscos que assume. As empresas de seguros fazem operações de resseguro, por razões técnico-económicas, sem que sejam consideradas resseguradoras

Tomador de seguroPessoa singular ou colectiva que, por sua conta ou por conta de uma ou várias pessoas, celebram o contrato de seguro com a empresa de seguros, sendo responsável pelo pa-gamento do prémio.

Contrato de seguro Convenção entre uma empresa de seguros e uma pessoa singular ou colectiva, fixando o objecto e as condições de seguro

Cooperativas/Mútuas de seguros

Instituições particulares constituídas pela associação de subscritores de contratos de se-guros, na base da solidariedade cooperativista ou mutualista, geralmente da mesma acti-vidade ou afins, com um fundo inicial devem repartir os excedentes das receitas entre os subscritores, ou em seguros de vida entre os beneficiários dos contratos

Corrector de resseguro

Mediador, pessoa colectiva com actividade tendente à realização e assistência de contra-tos de resseguro entre sociedades seguradoras e resseguradoras

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falando com...

A firma Fonseca & Irmão Lda. teve o seu início em 1949 no Dombe Grande. Uma loja de venda a retalho que servia os habitantes locais no que respeita a bens de consumo básico (alimentação e vestuário) e ainda de utilidades domés-ticas e pequena confecção.

Estende a actividade comercial a Benguela em 1995 e instala-se no edifício onde se encontra actualmente a desenvolver a actividade de comércio por grosso de géneros alimentícios, sito na Avenida Aires de Almeida Santos 199-203, próxi-mo da estação dos caminhos-de-ferro.

Em 1962, a firma lança-se na produção de farinha tendo adquirido um terreno na zona industrial onde i instalou um moinho para fabricação deste produto básico da alimentação humana. A procura sempre crescente da farinha produ-zida pela firma Fonseca & Irmão exigiu que passados dois anos, novos moinhos tivessem sido adquiridos. É o início, também, da fabricação de fuba de milho. Foi criada uma fábrica autónoma para a obtenção deste produto com todos os recursos financeiros disponíveis na altura.

Com a actividade comercial e industrial já consolidada e estável, a empresa decide alargar o seu campo de acção ao sector primário por via da aquisição de 200 hectares de um terreno agrícola localizado no município do Chongoroi. Nele foram introduzidas várias culturas (tabaco, algodão e sisal) e delimitada uma área para um pomar de laranjas.

No percurso da sociedade comercial destaca-se, pela negativa, o ano de 1992, em resultado da guerra fratricida que assolou o país e que colocou em risco o futuro da firma. Todas as dificuldades foram superadas pela determinação e co-ragem do homem que esteve sempre presente desde a fundação da sociedade e que nunca deixou de acreditar no futuro de Angola e do município de Benguela em particular. Horácio do Espírito Santo Fonseca é uma referência da firma sendo esta igualmente uma âncora do comércio benguelense.

O lema do «sr. Fonseca» que é, talvez, o segredo do seu sucesso, pode afinal estar na frase com que define a dedicação de uma vida: «como sempre fomos no passado, queremos continuar a ser no presente pois estamos conscientes de que os clientes são o nosso principal activo e para eles devemos trabalhar com o máximo rigor e seriedade, porque só assim poderemos ganhar o sucesso e a continuidade futura».

FONSECA & iRMÃO, LDA.

UM EXEMPLO DE SUCESSO NO COMÉRCIO TRADICIONAL

Horácio Fonseca, que todos conhe-cemos de miúdo pelo Sr. Fonseca, parece que os anos não passam por ele. A humildade, educação e traba-lho são as condições básicas para se manter sempre jovem e levar a bom porto a sua empresa Fonseca & Irmão Lda. Qual é o benguelense do “cota” ao “candengue” que não conhece o Sr. Fonseca?

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O Solar é de um leão que todos conhecem por Gabriel No Solar entra águia, entra dragão

com todos é afável, o Gabriel

Em Julho há o Mundial E onde ver Angola a jogar? Em Benguela, o lugar ideal

Só pode ser no Solar

Se tu pensas em casar Com uma festa de arromba

com cachupa e com muamba Só há um lugar, o Solar

RESTAURANTE SOLAR

Mais um empreendimento do grupo Gabriel que se junta ao Restaurante e Discoteca “Escondidinho”, Restaurante Baia Azul, Solar do Leão e …

Rua Cândido dos Reis, 79 – Benguela, Tel 7233206 Telem 923515117

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lazer

N ão é fácil editar um disco fora de Luanda – diz Seth Soares – sobretudo quando se está a começar. Faltam patrocínios, faltam estúdios interessa-dos e sem isso também falta o apoio da Comunicação Social. Cansado de

portas fechadas, o jovem cantor decidiu abri-las. Foi à luta e concretizou o sonho com investimento próprio.

“As músicas que estão neste CD são diferentes do habitual isto porque há mis-turas de vários estilos e origens como o jazz e os blues”, diz o músico. Sendo um estudioso da música de Angola, mas também da música em geral, foi influenciado por outros estilos como o cabo-verdiano, com as suas mornas e coladeras, e o santomense. Para Seth Soares a música de Angola despontou a partir da década de 80, com música de intervenção com qualidade, que precisava de ter o seu espaço próprio.

A educação musical de SethSoares começou muito cedo, nos coros das missas da Igreja Metodista, que frequentava ainda de calções, e foi evoluindo com a sua vivência pelo Mundo. Itália, Portugal e Estados Unidos, foram e são países muito importantes no seu aprendizado, sobretudo pelos grandes amigos e grandes figuras ligadas à música que conheceu e com quem muito aprendeu.

Por enquanto, para Seth Soares, a música é um sonho em forma de hobby. Um so-nho vivido com muita serenidade. Para já está expectante em relação à reacção do público ao seu trabalho, que dá pelo nome de “Avó Serafina”. E depois se verá.

“AVó SERAFiNA”é NOME DE DISCO

Seth Soares é um cantor da cidade das Acácias Rubras. Divide a sua vida entre Angola, mais propriamente Benguela, e Itália. Resolveu editar um disco, na sua cidade, com o nome de “Avó Serafina”. Um disco

diferente, com forte influência dos ritmos jazz e blues.

“A educação musical de SethSoares começou muito cedo, nos coros das missas da Igreja Me-todista, que frequentava ainda de calções, e foi evoluindo com a sua vi-vência pelo Mundo”

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PuBLiCiTE AQuiMOSTRE O VALOR DA SUA EMPRESA.

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próximo número

90 . VALOR ACRESCENTADO // Fevereiro | Março 2006

A FALTA DE RENTABiLiDADE DO SECTOR PúBLiCO EMPRESARiAL DO ESTADO Há pelo menos dois problemas jurídicos que obstam à rentabilidade do sector público empresarial: o incumprimento e a inadequação do regime jurídico das Empresas Públicas.

SOBERANiA, BOLSAS E NORMALizAÇÃOAs principais Bolsas de Valores do Mundo, cada vez mais pretendem adoptar as Normas Internacionais de Contabilidade. O Professor Doutor António Lopes de Sá, tem uma opinião própria sobre esta temática, que pode ler neste artigo de opinião.

O RECORDAR DA HiSTóRiA DA CONTABiLiDADEOs grandes estudiosos da Contabilidade sempre tiveram dificuldade em provar a existência desta ciência nos tempos primitivos e só na Antiguidade Clássica, na Antiga Roma, devido ao suporte do material usado para o registo (papiro ou pergaminho) ser mais resistente, se conseguiu de uma forma inequívoca, saber como a Contabilidade existia e funcionava. A História da Contabilidade é milenar como a História da Humanidade.

A CÉSAR O QuE É DE CÉSARSabemos que no mundo actual do trabalho, os vínculos contratuais estão marcados pela precariedade e pela necessidade de actualização profissional permanente, pelo que o relacionamento entre empregadores e empregados já não é sustentado por uma relação de “trabalho dependente”, mas sim por uma relação de parceria, cuja estabilidade está dependente dos interesses de ambas as partes.

FASES DO PROCESSO DE AVALiAÇÃO DE EMPRESASA avaliação de uma empresa pode descrever-se como um processo que conduz à expressão numa unidade de medida homogénea dos elementos patrimoniais da empresa, da sua actividade, da sua potencialidade ou de qualquer outra característica destacável.

iNFORMÁTiCA DE GESTÃOPegando no processo de Avaliação de Empresas, vamos apresentar um caso prático em folha de Excel.

SAúDE ALiMENTARA nível de Angola e da região de Benguela em particular, os nutricionistas deram conta de que uma das principais dificuldades da nossa população é saber como confeccionar os alimentos. Já o mercado rural, é riquíssimo em produtos diversos.

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editorial

A partir desta edição, a revista VALOR ACRECENTADO, vai passar a ser bimes-tral. A razão prende-se com o facto de que-rermos melhorar, ou pelo menos manter, a qualidade das outras edições. Tarefa nem sempre fácil se pensarmos que a caracterís-tica formativa desta publicação obriga, em primeiro lugar, à obtenção de dados das instituições ou empresas, sempre demora-da e, a posteriori, a um exaustivo trabalho de pesquisa e investigação na Internet, bi-bliotecas e outros meios.

Mudando de assunto, apraz-me referir que assisti no mês passado, na Faculdade de Economia do Porto, a um seminário com ilustres palestrantes, de que destaco os Professores Doutores António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira. Foram estes dois Mestres que me incentivaram a lan-çar a revista VALOR ACRESCENTADO. Convidei-os a visitar Angola, aceitaram, e tudo indica que no início do ano que vem seja possível a VALOR ACRESCENTADO, trazê-los ao nosso País.

Nesta edição falamos de Diáspora. Com exemplos de angolanos que em Portugal se integraram e desenvolvem as mais diversas actividades. Faço parte dela. Sei das dificul-dades dum regresso definitivo. São muitos anos a viver fora do País. Há hábitos cria-dos. Há raízes criadas. Há barreiras de saí-da, sendo a família a principal quando há filhos a estudar. Há barreiras de entrada. Em suma, não se pode viver só com a emo-ção. Tem de haver racionalidade.

O trabalho da Actividade Seguradora deve-ria ter sido publicado com a “Banca” na edição anterior. Em Novembro de 2005, pedimos à ENSA colaboração para a reali-zação desse trabalho.

Lamentavelmente a falta de colaboração desta instituição levou-nos a adiar a publi-cação do trabalho. O último e-mail da ENSA foi recebido em meados de Abril/2006, e de importante extraímos: “ainda está na Administração”.

A Actividade Seguradora está numa fase de arranque. Julgo que o Seguro Automóvel, passando a ser obrigatório, vai ser o prin-cipal factor de desenvolvimento desta acti-vidade. Tendo em linha de conta o núme-ro de Bancos a operar em Angola (12) e o número de seguradoras (4), há uma grande diferença. É necessário criar uma “cultura de seguro”. Os dirigentes das empresas não podem pensar só nos seguros obrigatórios por lei. A nível de gestão, esses dirigentes, têm que pensar nos riscos que corre o seu Capital Fixo (Meios Fixos), como também será importante que as Seguradoras co-mecem a pensar quer no Seguro de Cré-dito (maior viabilidade ao financiamento bancário, com possível redução da taxa de juro), quer nos Fundos de Pensões e Segu-ros de Vida.

A BOLSA DE VALORES E DERIVADOS DE ANGOLA (BVDA), com escritura de constituição celebrada no passado dia 16 de Março, pode ser um importante ins-

trumento para os nossos empresários. As empresas têm de estar organizadas e devi-damente estruturadas para poderem ter e criar valor e serem apetecíveis para o in-vestidor estrangeiro. Vai ser uma das for-mas das empresas nacionais conseguirem aumentar os seus Capitais com dinheiro fresco.

Por outro lado, a BVDA vai criar emprego directo e indirecto. Directo porque preci-sa de licenciados em diversas áreas como: Direito, Economia, Contabilidade, Gestão de Empresas, Recursos Humanos, para do-tar os seus serviços, e indirecto, porque os Bancos têm de ter técnicos conhecedores do Mercado de Capitais. Vão também apa-recer as sociedades de corretores (dealers) que têm de ter os seus recursos humanos qualificados. O mesmo se vai passar com as empresas de Auditoria, Consultadoria e Formação.

Julgo que nos primeiros cinco anos a BVDA vai ser mais um Bolsa interna, isto porque há necessidade de preparar técnicos licen-ciados na área da Contabilidade, que se familiarizem com as Normas Internacio-nais de Contabilidade e, paralelamente, é urgente que se crie um organismo público, ou semipúblico, para adaptar as ditas Nor-mas aos Planos de Contas em vigor.

Nós cá estaremos para acompanhar e re-portar os benefícios desta nova etapa da Economia angolana. Uma economia que se espera, e deseja, próspera.

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ProPrIedade Valor Acrescentado - Prestações de Serviços Lda dIrector José Luís Magro chefe de redacção Natasha Oliveira redacção Gabriela Caçador (coordenadora), Paula Caetano, Carlos NetoPublIcIdade Isabel SilvaGrafISmo PMD - Comunicação e Design www.pmd.ptImPreSSão Uniarte Gráfica / Portocolaboraram neSte número Rui Cruz, José Luís Magro, Rogério Fernandes Ferreira, Leonor Ferreira, Luiz F. Coelho da Rocha, Natasha Oliveira, Paula Caetano tiragem: 5.000 exemplares. registada sob o número mcS-430/b/2006.

SedeAv. Comandante Valódia, nº 5 - 1º nº 15 - Luanda Tel. 00244 2442497 - Fax 00244 4311168 aGenteRua da Cidade de Luanda, nº 9 - BengueladeleGaçãoRua Quinta da Campainha, nº 14435-406 Rio Tinto - PortugalTel. 00351 228300507 - Fax 00351 228329897

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