ano 501: a exploracao ambiental e a destruicao do brasil continua

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ANO 501: 0S DESMATAMENTOS CONTINUAM! Quando os primeiros exploradores portugueses aportaram em terras tupiniquins, que muitos acreditaram até serem uma visão do Paraíso, cá encontraram no meio da diversidade natural da selva exuberante, uma variedade que sobressaia. De cor avermelhada qual fogo, foi essa a espécie responsável pelo nome como ficou conhecido o território encontrado: Terra Brazilis, mais tarde BRAZIL. Convido os senhores leitores a breves incursões pelos aproximadamente 7% de remanescentes florestais nativos da Mata Atlântica (que em sua maioria localizam- se no litoral de nosso Estado). Nas trilhas da Baixada Santista é possível ver a exuberância que ainda resta e quem sabe, com muita sorte, encontrar um exemplar do já histórico pau-brasil. Não é nosso objetivo neste artigo apelar ao sentimentalismo barato, mas sim lembrar que durante 500 anos de colonização desmatou-se sem piedade com o objetivo básico de obter lucro fácil, às custas da exploração da natureza e também dos homens simples que viveram nesta terra. Um jogo parecido ao do pedófilo sedutor e perverso abusando da ingenuidade das criancinhas. Somente a partir dos últimos trinta anos, surge uma reação a essa prática de terra arrasada estabelecida pelos poderes econômicos, tanto os privados quanto os do Estado. Timidamente, apelidados de ecochatos por aqueles cujo único compromisso é com a satisfação imediata de seus desejos materiais, o movimento ambientalista brasileiro, na esteira das novas tendências políticas e sociais surgidas no planeta no fim da década de 1960, foi fincando raízes e consolidando-se. Hoje, apesar de sua debilidade econômica e numérica, o movimento parece ter-se tornado uma pedra no sapato daqueles interesses arcaicos que ainda persistem. Do ex-secretário estadual de meio ambiente Ricardo Tripoli, por exemplo, esperávamos uma atuação digna de seu passado. Nos anos oitenta, é bom lembrar, Tripoli participou da organização do movimento ambientalista em São Paulo. Em 1989 remou junto com os companheiros nas águas sujas do Rio Tietê, dando início à campanha pela sua despoluição. Foi deste Tripoli, que ao assumir a Secretaria, esperávamos avanços em direção a uma política ambiental adequada e que diminuísse os riscos ecológicos que enfrentamos. Avanços para um mundo que não aceita mais progresso e desenvolvimento em troca de poluição. Um mundo que se cansou de alternativas fáceis que só engordam os lucros de empreendedores e que menosprezam as verdadeiras “demandas sociais”. Não nos interessa mais nhenhenhém. Do Estado já pouco ou quase nada se espera. Somente que cumpra e faça cumprir a lei, em favor do interesse coletivo e não de parcos interesses pessoais, que se querem fazer passar, com o uso da mídia conivente, pelos interesses de toda a sociedade. Que sociedade cara pálida, a das colunas sociais? Temos uma legislação ambiental que apesar de todas as conquistas, ainda está muito aquém do desejado. E a lei é clara ao impedir desmatamentos em áreas de proteção permanente. Que demanda social podem ter então os pedidos de licença para desmatamentos em áreas de floresta nativa para a construção de empreendimentos de veraneio de alto padrão, como ocorre em Bertioga e no rabo do dragão em Guarujá? Somente se forem para levar à favelização uma população pobre que se venderá por nada ou quase nada, em troca dos trabalhos serviçais destinados à nossa bela aristocracia anacrônica. Está na moda falar em parcerias entre órgãos públicos e sociedade civil. Que parcerias são essas que destruem o meio ambiente e beneficiam o interesse de apenas uma minoria, como foram objetos a maior parte dos pedidos de licenciamento ambiental que inundam o DPRN (Departamento de Proteção aos Recursos Naturais ) de Santos. No início deste século XXI, com uma participação cada vez mais direta da sociedade na solução dos seus problemas, o que se espera do poder soberano do Estado exercido através da tecnocracia, é, pelo menos, transparência e honestidade. O que os meros mortais exigem dos tecnocratas para “consolidar o processo democrático” é a prestação de contas ao público. Por que funcionários do DPRN de Santos, que no decorrer dos anos em que ocuparam seus cargos, conseguiram reconhecida reputação na defesa do meio ambiente da região foram demitidos e transferidos. Os argumentos dados pela SMA, Secretaria do Meio Ambiente para tais remanejamentos nunca foram devidamente esclarecidos ao público. Alegam problemas internos de ineficiência... Que ineficiência é essa? A sociedade têm o direito de saber os motivos e o Estado, o dever de informar. Esta é a sua obrigação. Em face do que ocorre, recomendamos aos leitores: - CORRAM atrás do pouco pau-brasil que ainda resta. Na marcha a ré em que caminha a carruagem assumimos definitivamente nossa condição de incapazes, de terceiro-mundistas. Nem vamos falar aqui sobre a contaminação das águas do estuário de Santos através do benzoapireno lançado pela COSIPA. As futuras gerações que se virem... Carlo Romani, CAVE/FAG (Fac. do Guarujá).

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Page 1: Ano 501: a exploracao ambiental e a destruicao do Brasil continua

ANO 501: 0S DESMATAMENTOS CONTINUAM!Quando os primeiros exploradores portugueses

aportaram em terras tupiniquins, que muitos acreditaram até serem uma visão do Paraíso, cá encontraram no meio da diversidade natural da selva exuberante, uma variedade que sobressaia. De cor avermelhada qual fogo, foi essa a espécie responsável pelo nome como ficou conhecido o território encontrado: Terra Brazilis, mais tarde BRAZIL.

Convido os senhores leitores a breves incursões pelos aproximadamente 7% de remanescentes florestais nativos da Mata Atlântica (que em sua maioria localizam-se no litoral de nosso Estado). Nas trilhas da Baixada Santista é possível ver a exuberância que ainda resta e quem sabe, com muita sorte, encontrar um exemplar do já histórico pau-brasil.

Não é nosso objetivo neste artigo apelar ao sentimentalismo barato, mas sim lembrar que durante 500 anos de colonização desmatou-se sem piedade com o objetivo básico de obter lucro fácil, às custas da exploração da natureza e também dos homens simples que viveram nesta terra. Um jogo parecido ao do pedófilo sedutor e perverso abusando da ingenuidade das criancinhas. Somente a partir dos últimos trinta anos, surge uma reação a essa prática de terra arrasada estabelecida pelos poderes econômicos, tanto os privados quanto os do Estado. Timidamente, apelidados de ecochatos por aqueles cujo único compromisso é com a satisfação imediata de seus desejos materiais, o movimento ambientalista brasileiro, na esteira das novas tendências políticas e sociais surgidas no planeta no fim da década de 1960, foi fincando raízes e consolidando-se. Hoje, apesar de sua debilidade econômica e numérica, o movimento parece ter-se tornado uma pedra no sapato daqueles interesses arcaicos que ainda persistem.

Do ex-secretário estadual de meio ambiente Ricardo Tripoli, por exemplo, esperávamos uma atuação digna de seu passado. Nos anos oitenta, é bom lembrar, Tripoli participou da organização do movimento ambientalista em São Paulo. Em 1989 remou junto com os companheiros nas águas sujas do Rio Tietê, dando início à campanha pela sua despoluição. Foi deste Tripoli, que ao assumir a Secretaria, esperávamos avanços em direção a uma política ambiental adequada e que diminuísse os riscos ecológicos que enfrentamos. Avanços para um mundo que não aceita mais progresso e desenvolvimento em troca de poluição. Um mundo que se cansou de alternativas fáceis que só engordam os lucros de empreendedores e que menosprezam as verdadeiras “demandas sociais”.

Não nos interessa mais nhenhenhém. Do Estado já pouco ou quase nada se espera. Somente que

cumpra e faça cumprir a lei, em favor do interesse coletivo e não de parcos interesses pessoais, que se querem fazer passar, com o uso da mídia conivente, pelos interesses de toda a sociedade. Que sociedade cara pálida, a das colunas sociais? Temos uma legislação ambiental que apesar de todas as conquistas, ainda está muito aquém do desejado. E a lei é clara ao impedir desmatamentos em áreas de proteção permanente. Que demanda social podem ter então os pedidos de licença para desmatamentos em áreas de floresta nativa para a construção de empreendimentos de veraneio de alto padrão, como ocorre em Bertioga e no rabo do dragão em Guarujá? Somente se forem para levar à favelização uma população pobre que se venderá por nada ou quase nada, em troca dos trabalhos serviçais destinados à nossa bela aristocracia anacrônica.

Está na moda falar em parcerias entre órgãos públicos e sociedade civil. Que parcerias são essas que destruem o meio ambiente e beneficiam o interesse de apenas uma minoria, como foram objetos a maior parte dos pedidos de licenciamento ambiental que inundam o DPRN (Departamento de Proteção aos Recursos Naturais ) de Santos.

No início deste século XXI, com uma participação cada vez mais direta da sociedade na solução dos seus problemas, o que se espera do poder soberano do Estado exercido através da tecnocracia, é, pelo menos, transparência e honestidade. O que os meros mortais exigem dos tecnocratas para “consolidar o processo democrático” é a prestação de contas ao público. Por que funcionários do DPRN de Santos, que no decorrer dos anos em que ocuparam seus cargos, conseguiram reconhecida reputação na defesa do meio ambiente da região foram demitidos e transferidos. Os argumentos dados pela SMA, Secretaria do Meio Ambiente para tais remanejamentos nunca foram devidamente esclarecidos ao público. Alegam problemas internos de ineficiência... Que ineficiência é essa? A sociedade têm o direito de saber os motivos e o Estado, o dever de informar. Esta é a sua obrigação.

Em face do que ocorre, recomendamos aos leitores: - CORRAM atrás do pouco pau-brasil que ainda resta. Na marcha a ré em que caminha a carruagem assumimos definitivamente nossa condição de incapazes, de terceiro-mundistas. Nem vamos falar aqui sobre a contaminação das águas do estuário de Santos através do benzoapireno lançado pela COSIPA. As futuras gerações que se virem...

Carlo Romani, CAVE/FAG (Fac. do Guarujá).