ano iv – número 10 dezembro de
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DE TODOS OS JEITOS DE TODOS OS LUGARESOs jovens brasileiros que abraaram a nossa Olimpada
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A palavra olmpico sempre esteve vinculadaa eventos de grandes propores, envolvendomilhares de pessoas dos mais diversos lugares.O dicionrio Aurlio az reerncia ao sentidogurado que a palavra acabou por adquirir:grandioso, majestoso, divino, nobre.
A Olimpada de Lngua Portuguesa Escre-vendo o Futuro ocorre em salas de aula de todoo Brasil, dos grandes centros urbanos s reasrurais mais recnditas do pas. Sua ao gran-diosa, no apenas por envolver mais de 6 mi-lhes de estudantes brasileiros e quase 200 milproessores, mas principalmente por ter comoobjetivo melhorar a qualidade da nossa educa-o pblica. Conjuga aes do governo ederalcom a sociedade civil, por meio da FundaoIta Social e do Cenpec, alm de Estados, mu-
nicpios e entidades de dirigentes de ensino,ou seja, a Olimpada um exemplo concreto deque lutar por uma educao de qualidade estacima de quaisquer outros interesses e preocu-paes um consenso nacional.
graticante, portanto, chegar ao m destaprimeira edio com a certeza de que todo o es-oro de mobilizao para que ela se realizassevaleu a pena. Fechamos com medalha de ouro
dois anos de trabalho intenso das equipes doMinistrio da Educao, da Fundao Ita Sociale do Cenpec.
Ouro para o Brasil
COORDENAO TCNICACentro de Estudos e Pesquisas em
Educao, Cultura e Ao Comunitria CENPEC
CRDITOS DA PUBLICAO
CoordeaoSnia Madi
Texto e EdioLuiz Henrique Gurgel
Maria Aparecida LaginestraRegina Andrade Clara
ReioRosania Mazzuchelli
e Mineo Takatama
Edio de Arte
Criss de Paulo e Walter Mazzuchelli
IltraeCriss de Paulo
EditoraoAGWM Editora e Produes Editoriais
FotoAlexandre Mota (MG)Andr Mendes (PE)
Arthur Calasans e Felipe Russo (SP)Christina Ruato (DF)
Elson Jos Junior (GO)Gisele Koprowski (PR)Joaquim Saldanha (CE)
Rogrio Uchoa (PA)
AgradecimetoEduardo Gonalves de Andrade(Tosto)
Joo Wanderley GeraldiMrio Prata
Moacir Scliar
Tiragem150 mil exemplares
Contato com a redao
Rua Dante Carraro, 68 So Paulo SPCEP 05422-060
Teleone: 0800-7719310e-mail: [email protected]
www.escrevendoouturo.org.br
INICIATIVA
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O conselho do lingista Joo Wanderley Geraldi, atualmente professor colaborador voluntrio daUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos principais pesquisadores brasileiros sobreo ensino de Lngua Portuguesa. Geraldi um dos organizadores da coletnea O texto na sala deaula, obra publicada em 1984 que at hoje referncia para a proposio de polticas pblicas eprticas pedaggicas para o ensino da lngua. dele o projeto Unidades Bsicas para o Ensino dePortugus, uma proposta de sistematizao para o ensino de 5- a 8- srie. Ex-diretor do Institutode Estudos da Linguagem, da Unicamp, onde concluiu o mestrado e doutorado em Lingstica,Geraldi tem participado como professor visitante de programas de ps-graduao em educao nasuniversidades do Porto e de Aveiro, em Portugal, alm de ser professor e pesquisador associadoda Universidade de Siegen, na Alemanha, onde colabora na orientao de doutorandos brasileiros.
Professor no pode ter medo de errar
Amrica Marinho
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As salas e os corredores do hotel es-
tavam tomados por adolescentes, jovens e
seus proessores vindos de todo o pas. Pela
primeira vez homens e mulheres de negcios
eram minoria no Hotel Transamrica, em So
Paulo, que recebeu entre os dias 17 e 19 denovembro a semifnal da 1- Olimpada de Ln-
gua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Foram
trs dias com ofcinas de ormao, trocas de
experincias e roteiros culturais envolvendo
620 estudantes e proessores. Desse grupo
saram os fnalistas para a ltima etapa da
Olimpada, em Braslia.
No encontro, um mosaico da diversidade
brasileira com seus sotaques, tons de pele,
jeitos de andar e de sorrir. Estrangeiros hos-pedados no hotel tiveram a oportunidade
rara de conhecer o Brasil inteiro num mesmo
espao, por meio de amostras de sua gente,
todos alando a mesma lngua, mas de mo-
dos dierentes. Os crachs que estudantes e
proessores ostentavam no peito indicavam
nomes de cidades bem brasileiras: Caiap-
nia (go), Regenerao (pi), Queluz (sp), Ma-
ratazes (es), Derrubadas (rs), Xanxer (sc),
Bacabeira (ma), Pocon (mt), Japaratuba (se),Manacapuru (am), Chal (mg), Salinas da Mar-
garida (ba), entre outras.
Acolhida
No imenso salo de convenes, as boas-
vindas oram dadas por Claudia Sintoni, da Fun-
dao Ita Social, e por Snia Madi, do Cenpec,
coordenadora pedaggica da Olimpada. Em
seguida proessores e alunos receberam as me-
dalhas de bronze como semiinalistas. Vocs
correram atrs de um sonho e conseguiram
realiz-lo, afrmou Snia.
Mas as principais atividades iriam come-
ar no dia seguinte. Separados, proessores
e alunos seguiram para as ofcinas de orma-
o, divididos conorme o gnero de texto em
que concorriam poesia, memrias e artigos
de opinio.Apenas a de poesia reunia s participan-
tes do Estado de So Paulo, j que nas outras
regies do pas as semifnais dessa categoria
de texto j haviam ocorrido: em Belo Hori-
zonte, reuniu os participantes do Sudeste
(com exceo de So Paulo); em Curitiba os
do Sul; em Goinia os do Centro-Oeste; em
Belm os do Norte; em Fortaleza e em Recie,
os do Nordeste.
A maratonade uma OlimpadaA Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo
o Futurocomeou com a participao de mais
de seis milhes de estudantes e quase 200 mil
professores. Em sua penltima fase, em
So Paulo, reuniu 620 pessoas em trs dias
de intensa atividade com brasileiros de
todos os quadrantes do pas. Na etapa final,
15 estudantes foram premiados pelo presidente
Luiz Incio Lula da Silva, numa cerimnia em
Braslia, no dia 1- de dezembro.
Luiz Henrique Gurgel
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trechos das conversas. Eram antigas imagens
em cores ou em preto e branco. Ivani Moura
da Silva, de So Gonalo do Amarante (ce),
escreveu ao lado da oto de seu entrevistado,
um pescador aposentado, de barbas brancas,
ao lado de uma jangada na praia, uma rase
potica extrada de seu texto: Eu continuo
pequeno pescador sentindo o cheiro do mar.
Nas ofcinas com estudantes do Ensino
Mdio que partici pam da Olimpada comartigos de opinio cada um pde apresentar
aos colegas o tema que abordou. Sempre ma-
niestando a preocupao de intervir em suas
realidades, com uma grande variedade de as-
suntos e preocupaes, mostravam-se agudos
observadores de suas comunidades. Ficavam
surpresos e empolgados para alar sobre o
que escreveram ao ouvir os relatos dos co-
legas. Numa mesma turma, um estudante do
O dia-a-dia das oficinas
Todas as ofcinas para proessores e alunos
trataram da elaborao, reviso e reescrita
de textos, alm de atividades especfcas
conorme o gnero trabalhado. Nas 17 salas
destinadas s ofcinas proessores de regies
diversas trocavam opinies e experincias.
Marta Chiva Mangabeira, de So Paulo (sp),
que trabalhou com memrias, afrmou queos alunos perceberam que as pessoas mais
velhas no so invisveis, elas tm uma his-
tria. J Luiz Vicente Costa, de Poes (ba),
disse que incentivou os alunos a observar os
detalhes da pequena cidade pelas lembran-
as dos entrevistados.
O ambiente nas salas das ofcinas de me-
mria era propcio. Todos os estudantes trou-
xeram otos de seus entrevistados, destacando
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Joo AcaiabeUma das atividades mais esperadas pelos alunos que
participavam da Olimpada com textos de memrias oi
o encontro com Joo Acaiabe. Consagrado contador de
histrias no programa R-Tim-Bum, da TV Cultura, e no
papel de Tio Barnab, no Stio do Picapau-Amarelo, da
TV Globo, o ator teve de enrentar um desafo dierente:
contar sua prpria histria de vida para os adolescentes
que aziam perguntas e anotavam as histrias suscita-
das pela memria de Acaiabe.
Depois da entrevista, os estudantes escreveram o
texto com as memrias narradas por Acaiabe. No dia
seguinte, uma atividade emocionante para o ator: ele leu
alguns textos dos estudantes e tambm ouviu, deles
mesmos, o que haviam escrito sobre suas histrias.
blema da mecanizao do corte de cana em
seu municpio que pode trazer o desemprego.
Mariane, que trabalha numa brica de calas
jeans e estuda noite, baseou-se na histriado prprio pai, cortador de cana, para alar
dos Cavaleiros da cana; ela explica que a
imagem usada no texto veio de um sonho:
Uma vez acordei com aquela imagem do
cortador, parecendo um cavaleiro. Toda aque-
la roupa, luva, botas az que ele parea estar
de armadura. O aco a espada, explica a
estudante.
Os alunos do Ensino Mdio ainda tive-
ram outra empolgante atividade. A equipedo Cenpec preparou um movimentado jogo
Rio Grande do Sul alava da preocupao
com o patrimnio histrico de sua cidade, en-
quanto um colega da Bahia temia pela mata
nativa ameaada pelo plantio de eucaliptos;outro, de Minas, estudante de uma escola
militar, questionava a exaltao da violncia.
Alguns trataram o tema de orma criativa, a
partir da experincia pessoal. Foi o caso de
Felipe Silva de Oliveira, que mora em Pedra
do Salgado, uma comunidade de mil habitan-
tes no municpio de Vitorino Freire (ma), que
com bom humor, alou da polmica entre mo-
radores do vilarejo que criavam porcos soltos
pelas ruas do lugar. J Mariane de Oliveira,da cidade de Tamboara (pr), levantou o pro-
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de tabuleiro que serviu como ponto de par-
tida para os textos que deveriam escrever
durante uma das ofcinas. Por sorteio, os
estudantes tinham de discutir, deender oureutar pontos de vista sobre uma das ques-
tes polmicas sugeridas pelo jogo: multas
de trnsito, devastao da Amaznia, redu-
o da maioridade penal, desarmamento,
entre outros. Debates acalorados com troca
de idias e pontos de vista marcaram as of-
cinas, enriquecendo as possibilidades para a
criao de seus artigos.
Mas os trs dias no oram s para trabalhar
com textos. Alm das ofcinas, todos puderamconhecer So Paulo, visitando o Centro Anti-
go, o Museu da Lngua Portuguesa e o Museu
Paulista, no Parque da Independncia.
Passaporte para a fnal
A esta que anunciou os inalistas da 1- Olim-
pada de Lngua Portuguesa Escrevendo o
Futuro aconteceu no Teatro Abril, em So
Paulo. A atriz Rosi Campos, a Morgana do
Castelo R-Tim-Bum, oi a mestre de cerim-nias. Um telo exibiu uma mensagem especial
do ministro da Educao Fernando Haddad
para os participantes. Em nome da Fundao
Ita Social, Antonio Matias, vice-presidente
da entidade, cumprimentou estudantes e pro-
essores, destacando que a Olimpada parte
do maior desafo do pas que oerecer edu-
cao de qualidade para todos. Em seguida, a
secretria de Educao Bsica do MEC, Maria
do Pilar Lacerda Almeida e Silva enatizou a
parceria da Fundao com o governo ederal
na realizao da Olimpada. Todos os 150 se-
mifnalistas receberam medalhas de prata eaparelhos de som.
Em Braslia: 16 horas
No encerramento da Olimpada, em Bras-
lia, no dia 1-de dezembro, o presidente Luiz
Incio Lula da Silva entregou pessoalmente
as 15 medalhas de ouro aos vencedores. No
Brasil, ns muitas vezes somos jogados para
baixo. O que se viu hoje que nenhum ser hu-
mano se movimenta se no estiver motivado,disse o presidente durante seu discurso. J
o ministro da Educao, Fernando Haddad,
lembrou o bom desempenho de estudantes,
que apesar de vrias difculdades, como a im-
possibilidade de dedicar-se exclusivamente
aos estudos por precisar trabalhar, fcaram
entre os fnalistas da Olimpada.
O presidente do Banco Ita e da Fundao
Ita Social, Roberto Setbal, destacou a par-
ceira com o governo ederal na realizao daOlimpada: A colaborao entre o setor pbli-
co e o privado undamental para azer rente
aos desafos sociais do nosso pas, afrmou.
Alm das medalhas de ouro, os 15 vencedo-
res e seus proessores receberam computa-
dores e impressoras. Suas escolas ganharam
um laboratrio de inormtica com dez com-
putadores, uma impressora e livros para a
biblioteca.
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O lugar onde vivo, tema da Olimpada deLngua Portuguesa Escrevendo o Futuro, nooi proposto por acaso. Por trs dessa esco-
lha existe um convite: Experimente ver pela
primeira vez o que voc v todo dia, sem ver,
como sugeria Otto Lara Resende.
Quando escolas, proessores e alunos er-
tam com seu territrio e sua comunidade, vn-
culos se potencializam, e saberes, identidadese projetos de vida tm espao para encontros.
Comunidade aqui entendida como coletivo
de pessoas que vivem num mesmo territrio
sico e se alimentam de relaes de proximi-
dade: vinculam-se a redes, portam valores,
cultura, identidades e projetos de uturo, co-
mungam uma mesma vida cotidiana.
Compartilhamento raterno eis o sentido
mais proundo do conceito comunidade que
nem sempre se expressa, pois as vulnerabilida-des e excluses soridas muitas vezes abaam o
potencial de partilha e construo coletiva.
Os servios pblicos como escola, unida-
de bsica de sade e centros de assistncia
social carecem de base comunitria, sobre-
tudo nas grandes cidades. Essa base ne-
cessria para se recuperar na comunidade a
confana perdida no servio pblico. A con-
fana o maior capital social que a comuni-
dade oerece. Quando esse capital se perde,perde-se tambm a comunidade.
Por isso solicita-se da escola e dos demais
servios pblicos habilidades de acolhimen-
to. Mais que isso: ao abraar a comunidade, a
escola potencializa o chamado eeito comu-
nidade na aprendizagem. Sabe-se hoje o
quanto o repertrio inormacional e cultural
comunitrio interere signifcativamente no
interesse e aprendizado dos alunos.
Hoje temos, toda quarta-eira, um espaona rdio local onde os alunos selecionamas melhores histrias (memrias) e divul-gam para a comunidade.
Pro- Vilma Salete dos Santos Pereira(Incio Martins PR)
As crianas pesquisaram sobre o muni-cpio na biblioteca, nos livros, documen-tos e na internet. Tambm receberam avisita de um escritor especial, um aluno
da APAE que escreveu dois livros sobrehistrias do nosso municpio e que orga-nizou um pequeno museu com objetosantigos dos colonizadores e de pedraslascadas utilizadas pelas tribos de ndiosque habitavam a regio e que oram en-contradas por colonos nos seus trabalhosna lavoura.
Pro- Maira Joceli Pereira Miranda
(Campo Alegre SC)
Contextualizar a aprendizagem uma das
ormas de mover a relao escolacomunida-
de, enlaando-a com cultura e participao
pblica.
Como abraar o lugar em que se vive
Quando escolas e outros servios pblicos so capazes de integrar-se
comunidade, aproximam os alunos da vida cotidiana e da histria local,
reforando a identidade e o sentimento de pertencimento.
Maria do Carmo Brant de Carvalho
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H algumas semanas oi inauguradoum mega shopping center na regiocentro-sul da cidade [Curitiba]. umbairro que no fca muito distante da perieria e atraiu, provavelmente porisso, inmeros jovens residentes emvilas vizinhas ao reerido shopping. Oato que seguranas do estabeleci-
mento impediram a entrada de dezenasde adolescentes sob a alegao de setratar de gangues, ormadas para apa-vorar os clientes e lojistas com atos devandalismo.Na sala de aula comentei o ocorrido e areao dos alunos oi bombstica. Qua-se todos queriam emitir sua opinio si-multaneamente. O que so lugares p-blicos?, Desordeiros tm um perfl que
os identifque?, e por a oi o debate,quente e acirrado. Foi necessrio or-malizar um debate sobre a polmicacriada: Grupos com cinco ou mais ado-lescentes, com as caractersticas j ci-tadas no podem entrar no shopping.Voc contra ou a avor?
Pro- Ades Nascimento
(Curitiba PR)
A comunidade/cidade tem sempre suasquestes polmicas: A chegada de es-trangeiros, comprando terras em nossacidade, trar desenvolvimento e geraode emprego ou ser outra orma de co-lonizao?.
Pro- Francisca Elane Costa
(Camocin CE)
Construir argumentos e contra-argumen-
tos para elaborar um artigo de opinio cone-
re escrita uma possibilidade em geral pouco
explorada nas escolas: alunos-autores ins-
crevendo-se como cidados que podem tornar
pblico aquilo que pensam e sentem a respei-
to do lugar onde vivem.
O sentido de pertena e a iniciao ao
mundo pblico so exerccios undamentais
para a construo do ser social e percepo
da coletividade. Se, por um lado, valores, com-
portamentos, saberes e aes de um povo
em seu territrio so chaves para a induo
desses processos, por outro, preciso ga-
rantir circulao e abertura a outros mundos
possveis.
Assim que ouvi as primeiras propagan-das da Olimpada, tive o desejo de parti-cipar. Motivar meus alunos a participarera ento o meu desaio. Sem dizer nadasobre a Olimpada, organizei uma excur-so at Itabira cidade vizinha nossa ebero de um dos maiores poetas domundo: Carlos Drummond de Andrade.Itabira abriga hoje o Projeto Drummon-zinho, que consiste basicamente em
vencer barreiras sociais atravs da arte,da poesia. Ns conhecemos vrios doscaminhos drummondianos acompanha-dos por um dos Drummonzinhos do pro- jeto, que, alm de contar a histria desua cidade, declamou divinamente di-versas poesias de Drummond. Os mo-mentos de declamao, a reao dosmeus 34 alunos diante daquele adoles-cente, no meio da rua, com barulho de
carro, gente conversando... me fzeramter mais certeza ainda que a nossa parti-cipao nessa Olimpada aconteceria demaneira signifcativa.
Pro- Claydes Regina Ricardo
(Santa Brbara MG)
Por isso importante compreender a idia
de coalizo com a comunidade e com o terri-
trio como algo mais undo. O conhecimentoque a escola e seu currculo propem precisa
envolver a prosa e a poesia que habitam os di-
erentes espaos e sujeitos capazes de ensi-
nar. Caso contrrio, a aprendizagem de crian-
as e adolescentes corre o risco da clausura.
Maria do Carmo Brant de Carvalho, doutora em Servio
Social pela PUC SP, coordenadora-geral do Cenpec.
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Agora tem um ano que mudamos para a nossa casa no Paraso. Ela ainda
no est pronta. Falta emboar as paredes de ora e pintar as de dentro, mas,
orgulhoso, meu pai ala que pelo menos j no precisamos mais ter medo de fcar
sem dinheiro no fm do ms para pagar o aluguel.
Uma correria danada durante a construo. Todos ajudaram. No dia de bater a
laje, os colegas do meu irmo da Manuatora organizaram um mutiro. Parecia um
caminho-de-ormiga: l embaixo, os que misturavam areia, cimento, pedra-britada
e gua; l em cima, os que espalhavam a massa sobre o madeirame; e entre uns e
outros, os baldes transbordando passavam de mo em mo. Eu mesmo, nesse dia,
fquei numa lua-lua sem fm: montado na bicicleta Phillips, reio contra-pedal,pneu-balo, que meu pai tinha comprado de segunda-mo para mim, emendei vrias
viagens entre a Vila Teresa e o Paraso, carregando sacos de po-com-molho-de-
tomate e garraes de quissuco que minha me e minha irm aziam.
Aquilo lembrava mesmo um caminho-de-ormigas, que, depois que o sol morre,
eu e meu pai combatemos nos altos dos pastos. So cabeudas, que arrancam
sangue da gente, as enezadas. Nosso bairro ainda no tem luz. A gua tiramos
de um poo de vinte metros de undura, com uma bomba Marumby. Todos ns nos
revezamos para garantir o banho e para minha me cozinhar e lavar roupa para
ora. Hoje so dez trouxas, mas j oram umas quinze por semana.
Eu sinto alta da Vila Teresa. Quando no ano passado o caminho encostoupara levar a mudana, corri para o quintalzinho, onde vivia em camaradagem com
lesmas, grilos, paquinhas, minhocas, e at um sapo-boi, na estao das guas, e
abri o bu. No tenho vergonha, solucei mesmo. Ali passei os melhores anos da
minha vida, brincando de bola no campinho, de pique na chcara, indo escola... Eu
possua um gato, branquinho-branquinho, de rabo assustado, chamado Ronrom.
Ele veio preso dentro de um saco-de-estopa, porque alaram que no podia ver
o caminho, seno voltava para a casa antiga. Durante o trajeto, preocupado se
ele estava sentindo alta de ar, deixei que pusesse a cabea para ora. Bastou a
gente chegar no Paraso e ele sumiu. Passei vrios dias andando de um lado para
o outro, especulando sobre ele, mas nunca mais ouvimos o miado do Ronrom.Ainda hoje penso que se no tivesse deixado ele olhar a paisagem...
Mas minha me disse que os gatos so assim mesmo, desagradecidos, e
prometeu me dar um cachorro de presente de aniversrio. Ele vai se chamar
Joli, um nome bonito que ouvi na Praa Santa Rita, onde meu pai vende pipoca.
Ele tem um carrinho verde e, de vez em quando, me deixa tomando conta para
eu poder aprender a no ter medo de trabalho. Apareceu l certa eita um
adestrador com um pastor-alemo e o bitelo s altava alar, porque entender,
ele entendia tudo. O senhor mandava ele deitar, rolar, sentar, fcar paradinho eito
Minha vidaComposio de Luiz Ruffato, corrigida pela professora D. Aurora
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esttua, buscar um pedao-de-pau-l-longe, e todos batiam palmas, encantados.
S quando pediu para tirar o chapu do meu pai que no gostei, porque ele
levou um susto e quase caiu de costas e o povo morreu de rir (eu tambm, mas
disarcei). Este pastor alemo que se chamava Joli.
Est sendo dicil adaptar aqui, porque antes a gente vivia num cortio, mas
com gua encanada e luz eltrica e a rua, calada de paraleleppedo, era perto do
centro. Atravessvamos a ponte nova e j estvamos na Praa Rui Barbosa, onde
meu irmo e minha irm rodavam no sbado noite. L esto os dois cinemas da
cidade, a padaria mais bonita, as maiores lanchonetes, os bancos e, para tristeza
do meu pai, coitado, o melhor ponto para vender pipoca, ocupado pelo xardele, seu Sebastio Lopes. A Praa Santa Rita no oerece nada, s a missa da
Igreja Matriz e a onte-luminosa. Mas o lugar, escuro, por causa das rvores que
escondem a iluminao dos postes, s acolhe quem no presta, como diz a minha
me. Imagina ento a reguesia do meu pai... Mas na Vila Teresa tambm havia
inconvenientes. O correio de casas, muito perto do rio Pomba, fcava coberto
pelas guas quando vinha a enchente.
A minha irm detesta o Paraso, porque longe e eio. Na hora de trabalhar,
ela tem que ir a p at o Beira-Rio para pegar um nibus. Ela acorda antes do sol
e desce a morraria xingando e lamentando o dia em que nasceu. Ela reclama da
poeirama, na estiagem, e do barro, na poca das chuvas. E vive ameaando queum dia se casa com algum s para ir embora. A minha me fca brava, porque
ela ala que quis sair da Vila Teresa para dar uma vida mais digna para os flhos,
mas principalmente para minha irm, onde j se viu criar uma menina no meio
de marginais e mulheres-da-vida? Meu irmo entra na discusso e acusa minha
irm de ser metida, que ela tem um rei na barriga, e que ao invs de louvar a
amlia que tem, cospe no prato que come. E meu pai, que no gosta de conuso,
comea a assobiar, a cantar, sai de fninho, e s volta quando colocaram uma
pedra sobre o assunto.
Agora, que estou terminando o primrio, meu pai avisou que vai me inscrever
no Senai, para eu poder aprender uma profsso. Ele quer que eu seja torneiro-mecnico que nem meu irmo, e sonha um dia a gente ir para So Paulo para
trabalhar nas bricas de carro, que onde est o uturo, ele acha. A minha me
chora s de pensar nisso, porque por ela ns nunca vamos nos separar. Mas meu
irmo j recebeu at proposta de emprego em Diadema, que, dizem, longe. E
minha irm est namorando frme e deve casar mesmo, no demora muito. Eu
fco triste, porque s vai restar eu e devo seguir tambm para ora. Mas eu no
queria ser torneiro-mecnico, queria mesmo era ser bancrio do Banco do Brasil,
que nem o marido da Dona Aurora.
Minha vida uma composio escolar escrita por um aluno do quarto
ano primrio do Grupo Escolar Flvia Dutra, de Cataguases, corrigida
pela proessora Dona Aurora Silveira, e conta um pouco o momento
de mudanas em sua vida. Mudana de casa, de bairro, de amigos, e,
principalmente, de perspectivas. A continuao da histria do menino
Luiz Ruato est, de certa maneira, contada no livro De mim j nem se
lembra, publicado em 2007 pela Editora Moderna.
Luiz Ruffato escritor, nasceu em Cataguases (MG). Tem publicados
Eles eram muitos cavalos e o projeto Inerno Provisrio, composto por
cinco volumes, dos quais quatro j lanados: Mamma, son tanto felice,
O mundo inimigo,Vista parcial da noite e O livro das impossibilidades.
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A palavra crnica, em sua origem, est
associada palavra grega khrnos, que
signica tempo. De khrnos veio chroniks,
que quer dizer relacionado ao tempo. No
latim existia a palavra chronica para desig-
nar o gnero que azia o registro dos aconte-
cimentos histricos, verdicos, numa seqn-
cia cronolgica, sem um aproundamento ou
interpretao dos atos. Como se comprova
pela origem de seu nome, a crnica um g-
nero textual que existe desde a Idade Antiga
e vem se transormando ao longo do tempo.
Justicando o nome do gnero que escreviam,
os primeiros cronistas relatavam, principal-
mente, aqueles acontecimentos histricos
relacionados a pessoas mais importantes,
como reis, imperadores, generais etc.
A crnica contempornea um gnero
que se consolidou por volta do sculo XIX,
com a implantao da imprensa em pratica-
mente todas as partes do planeta. A partir
dessa poca, os cronistas, alm de azerem
o relato em ordem cronolgica dos grandes
acontecimentos histricos, tambm passa-
ram a registrar a vida social, a poltica, os
costumes e o cotidiano do seu tempo, publi-
cando seus escritos em revistas, jornais e
olhetins, ou seja, de um modo geral, impor-
O gnero textual crnicaHeloisa Amaral
tantes escritores comeam a usar as crni-
cas para registrar, de modo ora mais liter-
rio, ora mais jornalstico, os acontecimentos
sociais de sua poca, publicando-as em ve-
culos de grande circulao.
Os autores que escrevem crnicas como
gnero literrio recriam os atos que relatam
e escrevem de um ponto de vista pessoal, bus-
cando atingir a sensibilidade de seus leitores.
As que tm esse tom chegam a se conundir
com contos. Embora apresente caractersti-
ca de literatura, o gnero tambm apresenta
caractersticas jornalsticas: por relatar o
cotidiano de modo conciso e ser publicadas
em jornais, as crnicas tm existncia breve,
isto , interessam aos leitores que podem
partilhar esses atos com os autores por te-
rem vivido experincias semelhantes.
As caractersticas atuais do gnero, po-
rm, no esto ligadas somente ao desenvol-
vimento da imprensa. Tambm esto intima-
mente relacionadas s transormaes so-
ciais e valorizao da histria social, isto ,
da histria que considera importantes os mo-
vimentos de todas as classes sociais e no s
os das grandes guras polticas ou militares.
No registro da histria social, assim como na
escrita das crnicas, um dos objetivos
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mostrar a grandiosidade e a singularidade
dos acontecimentos midos do cotidiano.
Ao escrever as crnicas contemporneas,
os cronistas organizam sua narrativa em pri-
meira ou terceira pessoa, quase sempre como
quem conta um caso, em tom intimista. Ao
narrar, inserem em seu texto trechos de dilo-
gos, recheados com expresses cotidianas.
Escrevendo como quem conversa com
seus leitores, como se estivessem muito
prximos, os autores os envolvem com refe-
xes sobre a vida social, poltica, econmica,
por vezes de orma humorstica, outras de
modo mais srio, outras com um jeito poti-
co e mgico que indica o pertencimento do
gnero literatura.
Assim, uma orte caracterstica do gnero
ter uma linguagem que mescla aspectos da
escrita com outros da oralidade. Mesmo
quando apresenta aspectos de gnero liter-
rio, a crnica, por conta do uso de linguagem
coloquial e da proximidade com os atos co-
tidianos, vista como literatura menor. Ao
registrar a obra de grandes autores, como
Machado, por exemplo, os crticos vem seus
romances como verdadeiras obras de arte e
as crnicas como produes de segundo plano.
Essa classicao como gnero literrio me-
nor no diminui sua importncia. Por serem
breves, leves, de cil acesso, envolventes,
elas possibilitam momentos de ruio a mui-
tos leitores que nem sempre tm acesso aos
romances.
No Brasil, a partir da segunda metade do
sculo XIX, muitos autores amosos passa-
ram a escrever crnicas para olhetins. Coe-
lho Neto, Jos de Alencar, Machado de Assis
estavam entre aqueles que sobreviviam do
jornalismo enquanto criavam seus romances.
Os cronistas, atualmente, so numerosos
e costumam ter, cada um deles, seus leitores
is. Hoje, os cronistas nem sempre so ro-
mancistas que escrevem crnicas para ga-
rantir sua sobrevivncia. H aqueles que vm
do meio jornalstico ou de outras mdias,
como rdio e TV. Por isso, a publicao do g-
nero tambm ocorre em meios diversicados:
h cronistas que lem suas crnicas em pro-
gramas de TV ou rdio e outros que as publi-
cam em sites na internet.
Pelo ato de os autores serem originrios
de dierentes campos de atividade e de pu-
blicarem seus textos em vrias mdias, as
crnicas atuais apresentam marcas dessas
atividades. Por isso, h, atualmente, dieren-
tes estilos de crnicas, associados ao perl
de quem as escreve. Todos os estilos, porm,
acabam por encaixar-se em trs grandes gru-
pos de crnica: as poticas, as humorsticas
e as que se aproximam dos ensaios. Estas l-
timas tm tom mais srio e analisam atos
polticos, sociais ou econmicos de grande
importncia cultural.
Helosa Amaral mestre em educao, autora do Caderno
do ProfessorPontos de vista.
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Esses cronistas maravilhosose suas palavras voadoras
Jorge Miguel Marinho
A histria que agora passo
a contar do incio
explica em grande parte
por que ainda acredito no
ser humano
, raa!
Tutty Vasques
A crnica aqui entre ns se casou to bemcom o esprito brasileiro, com a vontade dese conessar nas coisas midas e extrair de-las uma histria maior, com o calor aetivode um povo que, espontneo nos atos, se
quer espontaneamente expressivo na lingua-gem tambm, com as necessidades de umpas novo que busca a sua identidade com osolhos no mundo e um olhar mais decisivo nolocal, com aquela versatilidade camalenicaque precisa de muitas vozes e muitas ormasde expresso para se auto-afrmar, com apressa de leitura de um mundo que tem ur-gncia de se ver e se reconhecer nas suaspalavras e no seu lugar que este gnero
jornalstico, hoje signifcativamente liter-rio, que ainda resiste a uma classifcaoormal, to presente no processo de orma-o da Literatura Brasileira e igualmente tosingular na afrmao das nossas Letras que
se pode dizer, com segurana, que a crnica um modo muito nosso de ser.
E de onde vem a crnica?
Machado de Assis, como a maioria dosnossos escritores, tambm oi cronista e, jun-to com Jos de Alencar e Joaquim Manuel deMacedo, ez parte do primeiro time de cesarejadores do cotidiano numa expresso
eliz de Antonio Candido para registrar aavidez pela reportagem da vida que pro-gressivamente vai se tornar na nossa tradioliterria um encontro nico entre literatura ejornalismo, gnero que os escritores brasi-leiros dominam como poucos e, por que nodizer?, como ningum.
Pois o nosso Machado mesmo que, brin-cando seriamente e se autodenominando es-criba das coisas midas, desvenda O nasci-
mento da crnica, no por acaso numa crnicacom este mesmo ttulo, afrmando e abulandocom aquele humor inteligente que a naturezaou a origem da crnica nasce de uma trivialida-de como exclamar Que calor!, para depoisconjecturar acerca do sol, da lua, da ebreamarela, dos enmenos atmosricos eoutros calores da alma humana. E mais: que
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esse tom to trivial e aparentemente bisbilho-teiro da crnica mais velho do que Esdras,Abrao, Isaque e Jac, sugerindo para nsleitores que mais velho at do que No,
que por essas veredas da bula, no ne-nhum pecado imaginar muito provavelmentese utilizou do ritmo exclamativo e prosaico dacrnica para anunciar ou quem sabe irradiar aiminncia do maior dilvio de todos os
tempos, ameaa ou notcia esta em que, coma graa de Deus, teve gente que acreditou.
isto: por seu carter de prosa, colquio,confsso, comunicao imediata, graa,sentido telegrfco, urgncia, trivialidade e
at mesmo brincadeira, ainda que o tema so-licite o tom da seriedade, no d para precisarem que poca nasceu a crnica, mas muitoprovvel (e ainda quem nos alerta Machado)que a crnica aconteceu pela primeira vezquando as duas primeiras vizinhas, depoisdas tareas do jantar, se sentaram na porta decasa para papear sobre o dia e agarrar a tran-sitoriedade da vida com palavras triviais evoadoras porque aparentemente dispersas,
palavras com ar de coisa nenhuma, mas noundo necessrias e urgentes como o impulsonatural de comunicao entre dois amigos escritor e leitor que, se conessando no rs-da-calada e nas miudezas da vida, revelam acomplexidade da condio humana e a expe-rincia nica de viver.
Carlos Drummond de Andrade, que, comoRubem Braga e Clarice Lispector, imprimiupoesia e estados de alma crnica, diria me-
lhor, sugerindo, por sua vez, num poema, osentido atvico e at mesmo inexorvel dalinguagem como busca do outro e, por ser raize matria to antiga e presente na naturezahumana, ilustra muito bem a origem remots-sima da crnica, para usar uma imagem nossa,um vo breve com o tempo da eternidade,purssimo dilogo:
Escolhe teu dilogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silncio
Mesmo no silncio e com o silncio
Dialogamos.
S para iluminar mais a simplicidade e asutileza, por vezes, at refnada da crnica, quase uma sorte poder recorrer tambm spalavras de Manoel de Barros, hoje carinho-samente acolhido por leitores de todas as ida-des como o grande poeta das coisas peque-nas, entendendo que ele levou a herana e acincia da crnica para os seus poemas emprosa e avisa, com voz de cronista, que paraapalpar as intimidades do mundo, labor pre-cioso da crnica, preciso saber que o es-plendor da manh no se abre com aca eque, no jogo literrio, a gente tem de sabermuito bem como pegar na voz de um peixe.
Enfm, como pegar com as palavras as pe-quenas coisas, agarrar o grande com a sabe-doria do mido, revelar a dimenso humananas suas pores mnimas, escutar a vida co-tidianamente, atenes estas presentes emtodos os tempos e em todas as ormas liter-rias, mas em nenhum deles com o sentido depermanncia, a singularidade e o vontadedo ocio de ser cronista.
E aqui no Brasil d para
situar o comeo da crnica?A crnica como gnero literrio s vai
aparecer em 1854 com Jos de Alencar escre-vendo para o jornal Correio Mercantil o o-lhetim Ao correr da pena, ttulo sugestivopara ilustrar a leveza e o tom corriqueiro damatria que comentava desde a presena da
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mquina de costura que roubava a graa dodedilhar das agulhas, passando pela euoriatola das danas e dos costumes que invademo Rio de Janeiro, at o uror especulativo da
poca e a indierena da nao diante daGuerra da Crimia.Mas o esprito de cronista j est presente
na certido de nascimento da LiteraturaBrasileira: a carta de Pero Vaz de Caminha,que, com o entusiasmo de cronista, a precisono registro objetivo e circunstancial do ato eum certo tom segredado da conversa de co-madres escrita com engenho e arte, relata ael-rei D. Manuel, com olhos de descobridor in-
teressado, os benecios e os malecios daTerra de Vera Cruz.Isso ainda no arte literria, mas o ocio
de cronista a primeira voz, ainda que embrio-nria, das nossas Letras e vai ocupar umlugar de destaque a partir de meados do s-culo XIX na Literatura Brasileira, persistindocomo uma espcie de idioma nacional ecompondo uma galeria de cronistas maravi-lhosos que, com suas palavras voadoras, soli-
drias ao registro actual e aos vos imagi-nrios, mais parecem uma comunidade dealquimistas que vo das memrias aos lagran-tes do dia-a-dia, da piada s inquietaesmetasicas, do dirio s digresses flosf-cas, do ultimato s cartas literrias, dosapelos de alma ironia mordaz, da dennciasocial contemplao introspectiva, dasconfsses poticas ao comentrio chulo, dohumor compaixo, da bolsa vida, ape-
nas para registrar seus extremos.Em todos o tom da oralidade e o sentidoda solidariedade azem do leitor um inter-locutor que se reconhece na matria, sempreexpressa com lego de experincia vivida,at mesmo como co-autor dessas pginas
escritas como uma espcie de subjetividadecoletiva.
ato mais que conhecido no universo daspalavras que o clima de conversa ao p do ou-
vido da crnica, tocante e ao mesmo tempovoltil, e que Manuel Bandeira, cronista naprosa e cronista na poesia, chamou puxa-pu-xa, provoca no leitor um desejo enorme de es-crever crnica tambm.
Por tanta expressividade e tantas ormasde expresso, vale azer um percurso de lei-tura pelos labirintos da crnica desde Joodo Rio e Lima Barreto, que chegaram a criarpersonagens, stiras, e mesclar fco e rea-
lidade nos seus olhetins dos primrdios dosculo XX, at os mais atuais, que escrevemdiariamente para as mais conhecidas revistase jornais brasileiros, como Andr SantAnna,que chega a suprimir a pontuao para per-der o lego de tanto dio e adorao porSo Paulo, Antonio Prata, que vai ao piceda auto-ironia amorosa de sua prpria classesocial, ou Tutty Vasques, que, com o eternoesprito solidrio da crnica, conessa que
cronista porque ainda acredita no serhumano. isto: nesse trajeto to humanamente nos-
so que recupera e reassume algo da versatili-dade do heri Macunama enquanto histriade busca e constante desejo de se reinventar,a nossa crnica avana e retorna no tempocriando novos modos de cultivar, na prpriarespirao das palavras, o ocio de contar eelegendo sempre o tema da solidariedade
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entre cronistas e leitores como norte da expe-rincia imperdvel de ler. E por essas veredasde sensvel e purssima comunicao que elaveio se aclimatando desde os tempos que j
l vo com a pena missionria do padre Ma-nuel da Nbrega ou do padre Jos de Anchietano Quinhentismo e se frma progressivamentenas dcadas de 1930 e 1950 de orma nica eoriginalssima no Brasil, acolhendo o que asvanguardas oereciam de melhor nos idos de22, entrando no ritmo da bossa nova com aaparente simplicidade de quem conta e az re-portagem da vida com uma nota s, estejan-do ou no a criao de Braslia, comemorando
a primeira vitria da copa do mundo, cami-nhando contra o vento sem leno nem docu-mento nas passeatas e comcios dos anossessenta, transitando sempre na contramodos articios e de toda e qualquer ditadura deexpresso, por estar a servio da vida, a partemelhor de toda essa sua histria.
Pensando mais uma vez junto com AntonioCandido, ela, a nossa crnica, pode servir decaminho no apenas para a vida que ela serve
de perto, mas para a literatura, como que-rem, do undo do corao e na memria dotempo, todos os cronistas ou folhetinistasde ato, como eles eram chamados, nessenosso pas to cronicamente tropical.
E, para provisoriamente
pr um ponto final nessas
linhas que j esto com
vontade de virar crnica,como vai ela hoje em dia?
Muito bem, obrigada, ela grita leve e sol-ta nas entrelinhas dessa conversa ligeira,sempre abusando lindamente da liberdade deexpresso que seu territrio livre para otrnsito das idias. Isso porque, quando se luma crnica que crnica mesmo, coisa ques lendo para descobrir, a gente se perde no
tempo imemorial de todos os tempos sem omenor interesse de se achar, a gente fcacomo Carlos Heitor Cony naquela crnica queconta a sua histria de amor com a sua cade-linha Mila: com a breve eternidade da crnicaque, igual cachorrinha, nunca quer ser maiordo que a nossa alegria ou tristeza, a genteperde o medo do mundo e do vento e fcacom saudade das crnicas que ainda no leu.
Jorge Miguel Marinho proessor de literatura,escritor, ator e roteirista. Entre as obras publicadasesto Te dou a lua amanh, prmio Jabuti; Na curva dasemoes, prmio APCA; O cavaleiro da tristssima f-gura, prmio HQMIX; Lis no peito, prmio Jabuti.
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uma prosa bem aiada
Conhea o que os alunos j sabem em relao ao gnero crnica.
De que falam as crnicas?Escolha uma crnica instigante e prepare o material para a roda de leitura. Providencie
cpias do texto para que os alunos possam acompanhar a leitura. Convide-os a ouvir ascom ateno a leitura da crnica. Pergunte se eles costumam ler as crnicas que so publicadasem jornais, revistas, livros, ou j ouviram em udio, CD. Pergunte tambm se eles sabem quaisso os temas preeridos pelos cronistas.
Crnicas de ontem e de hojePesquise crnicas bem interessantes.Procure mesclar textos de escritores
que oram cronistas importantes do incio dosculo XX (Joo do Rio, Machado de Assis,Jos de Alencar, Graciliano Ramos, Rachelde Queiroz, Carlos Drummond de Andrade...)e outros dos dias atuais ( Mrio Prata, JooUbaldo, Lus Fernando Verssimo, Aon-so Romano Santanna, Ivan ngelo, Walcyr
Carrasco, Fernando Sabino...). Apresente os
(...) ao cronista compete ser registrador do tempo,o seu particular e aquele em que mais alargadamente vive.
Jos Saramago (1986 apudNeves, 1995)
Num tom bem-humorado, sensvel, despretensioso, o cronista emociona, envolve, ajuda o
leitor a reetir criticamente sobre questes sociais, atos e sentimentos humanos. O cronistausa uma linguagem simples, espontnea, quase uma conversa. Narra com naturalidade atos
corriqueiros, miudezas do comportamento das pessoas, trazendo tona a vida da cidade.
Para aproveitar esse clima de proximidade, de identifcao entre autor e leitor, propiciado
pela crnica, preparamos, para voc, proessor, algumas sugestes de atividades de leitura e
escrita que podem ser desenvolvidas em sala de aula.
textos para os alunos. Para acilitar a leitu-ra e escolha dos trechos, organize-os nummural ou varal, ou disponha-os no cho dasala de aula. Pea aos alunos que leiam osvrios trechos e selecione um de sua pree-rncia. Faa um quadro na lousa e preenchaos dados junto com os alunos. Organize umaroda de conversa para que eles comentem ecomparem os assuntos das crnicas, a pocaem que oram escritas e a linguagem usada
pelos autores.
TTULO AUTOR POCA ASSUNTO
Ser brotinho Paulo Mendes Campos 1960Hbitos e comportamentos dosjovens no incio da dcada de 1960
... ... ......
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[...] Ser brotinho desdizer de enfeites
e pinturas, e fazer uma cara lambida, arru-
mar os cabelos no vento, apagar o corpo
dentro de um vestido em graa de doer,mas ir por a espalhando fagulhas pelos
olhos. Ser brotinho lanar fagulhas pelos
olhos. [...] Ser brotinho possuir vitrola
prpria, perambular pelas ruas do bairro
com um ar sonso moderninho , vagaren-
to, abraada a uma poro de eleps esfu-
ziantes. dizer a palavra feia precisamente
no instante em que essa palavra se faz im-
prescindvel e to inteligente e superior....
Ser brotinho, Paulo Mendes Campos.
O cego de Ipanema.
Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, p. 15.
(...) O que uma for?
Ser esta criao vegetal que na prima-
vera se abre do boto de uma planta?
No: a for o tipo da pereio, a mais
sublime expresso da beleza, um sorriso
cristalizado, um raio de luz perumado.
Por isso h muitas espcies de for.
H as fores do vale mimosas criaturas
que vivem o espao de um dia, que se ali-
mentam de orvalho, de luz e de sombras.
H as fores do cu as estrelas, que
brilham noite no seu manto azul, como os
olhos de uma linda pensativa.
Falemos das fores, 1855, Jos de Alencar.
Ao correr da pena. 2- ed. So Paulo:
Melhoramentos, s.d. pp. 309-312.
ARuadoOuvidorcontoudiversaslojasdeper-
fumarias,e,porconseqncia,deviaseraruamais
cheirosa,maisperfumadaentretodasasdacidade
doRiodeJaneiro.Etodavianooera!...Comefeitonohavianemhruamaisopulenta
dearomas,deperfumes,depastilhasodorferas,de
banhas e depomadas de timo cheiro;mas tudo
issoencerradoemvidrinhos,emfrascoseempe-
quenascaixasbonitasquemantinhamemantma
RuadoOuvidortoinodoracomoasoutrasdedia.Atualmentedenoiteobserva-seomesmofato.Naquele tempo,porm, isto ,nos tempos do
Demarais, e ainda depois, aRua doOuvidor, de
fcileretacomunicaocomapraia,eraumadas
maisfreqentadaspeloscondutoresdosrepugnan-
tesbarris,dasoitohorasdanoiteatsdez
ARuadoOuvidor, JoaquimManueldeMacedo.MemriasdaruadoOuvidor.
RiodeJaneiro:Tip.Perseverana,1878,pp.99-101.
A caminho de casa, entro num botequim da
Gvea para tomar um ca junto ao balco. Narealidade, estou adiando o momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar ins-
pirado, de coroar com xito mais um ano nesta
busca do pitoresco ou do irrisrio no cotidiano de
cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida
diria algo de seu disperso contedo humano, ru-
to da convivncia, que a az mais digna de ser vi-
vida. Visava ao circunstancial, ao episdico. Nes-
ta perseguio do acidental, quer num fagrante
de esquina, quer nas palavras de uma criana ou
num incidente domstico, torno-me simples es-
pectador e perco a noo do essencial...
A ltima crnica, Fernando Sabino. Elenco de cronistas
modernos por Carlos Drummond de Andrade e outros.
Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1974. p. 259.
Aproxime os alunos do gnero textual crnica.
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Agora, os alunos soos cronistasTraga para a sala de aula notcias pu-blicadas em diversos jornais. Organize
com os alunos um mural com essas notciase convide-os a l-las. Pea-lhes que as ana-lisem e escolham entre elas uma que, na opi-nio deles, pode originar uma boa crnica.Diga aos alunos que vamos escrever a crni-ca coletivamente, pois isso possibilita a troca
de experincia e a negociao entre alunos eproessor.
Lembre turma que o ponto de partidapara a escrita da crnica o prprio aconte-cimento relatado na notcia e o cronista vaicolocar a sua viso pessoal do ato, acrescen-
tando uma dose de co, lirismo ou mesmo
de humor. Por exemplo, se a notcia escolhi-da or sobre o riso, pergunte ao grupo se elesriem com reqncia, em que situaes cos-tumam cair na gargalhada, se em seu grupode amigos h algum que est sempre rindo,ou az todo mundo rir? Direcione a conversapara seleo de situaes que possam contri-buir para dar o tom literrio para a elaboraodo texto.
Retome as idias sugeridas pelos alunos
e v anotando-as e escrevendo na lousa ospargraos iniciais. Durante a produo cole-tiva aa perguntas e d orientaes que aju-dem o grupo na elaborao da crnica. Essaverso inicial do texto dever ser aprimoradano decorrer do processo.
SobreorisoPorquerimos?Ningumsabe.Orisotemumaqualidadeuniversal:todasasculturastm
seuscontadoresdepiadas.E,mesmoqueapiadatenhagraaspa
raumacultura,aspessoasreagemsempredamesmaforma.
Em dez anos, dobrou
o uso de bicicletas
De acordo com a pesquisa,
o uso da bicicleta cresceu
principalmente para
viagens curtas e na periferia.
A pesquisa tambm
mostrou que pela primeira
vez desde 1977 o nmero
de pessoas que utilizamtransporte motorizado coletivo
ultrapassou o daqueles que
usam veculos individuais.
Comdelicadeza,
Linhadepasse
mostrafamlia
daperiferiade
SP
Avidadeuma
amliana
perieriadeSo
Paulo(SP)
esualutapara
sobreviver
erealizarsonho
ssoos
itenscentraisd
oflme
Linhadepasse(B
rasil,2008),
deWalterSalleseDaniela
Thomas,quech
egas
telonasnestase
xta-eira(5).
Amplie o repertrio dos alunos por meio da leitura de crnicas.
Produza coletivamente a verso inicial da crnica.
crnica?Providencie cpias da crnica Histria de cheiros para os alunos para que eles acom-panhem a leitura (ou podem ler em duplas). Se isso no or possvel, copie o texto na
lousa ou numa grande olha de papel. Planeje bem a leitura da crnica. Aps a leitura, proponhauma roda de conversa. Deixe os alunos maniestarem sua compreenso e opinio sobre o texto.Para melhor explorar as caractersticas da crnica, prepare tarjas com observaes sobre osrecursos utilizados pelo autor. Proponha aos alunos que releiam com ateno a crnica e ordeneas tarjas no texto.
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Identifque as marcas, os recursos utilizados pelo autor na escrita da crnica.
Usamarcadetempoelugar
querevelamfatosdocotidiano
Onarrador-
personagem
faladesimesm
o
deumjeitoque
envolveoleitor
Anarrativaemprimeirapessoaaproximaoautordoleitor.
Onarradortrataumfato
corriqueirodeformapeculiar
Toda a narrativa
se organiza em
torno do mesmo
tema: cheiros
Oautortrazimpressescaptadaspelos sentidos
Histria de cheiros
Luiz Henrique Gurgel
Fazia tempo que no passava por So Paulo de madru-gada. Vinha do interior e atravessava a cidade para chegarem casa. Quem mora no ABC Paulista tem sempre a tristesina de ter de cruzar o gigante. Pior se chega na hora dorush. Tinha chovido, a cidade estava vazia e molhada, o armido e quente. Eu tinha sado de um stio no Vale do Pa-raba. L tambm havia chovido, vim embora com o cheirogostoso de mato molhado, misturado ao agradvel odor
de estrume de vaca remexido. Vi cair a chuva-criadeira,que molha a terra, que enche o rio, que limpa o cu. Quetraz o azul!, como cantava Tom Jobim.
Menino nascido e criado em cidade, desde a innciaazendas e stios oram espaos mticos, lugares de con-tato com a natureza, mesmo quando peguei carrapatos.Bicho insuportvel, castigo de condenado no Juzo Final.Naqueles stios era possvel o contato prazeroso consigomesmo, onde o tempo escorre lento, tortuoso, sem pressade ver o pr-do-sol. Talvez por isso, at hoje, o perume do
estrume bovino me parea to bom.Mas agora, em So Paulo, eu subia a rua da Consola-
o, vazia, com a bonita luz amarelada saindo de postesaltos, tudo molhado e deserto de gente, de vez em quandoum carro na outra pista e o chiado da gua espalhada pe-los pneus no asalto. Com o calor e o ar mido da chuvaque acabara de cair, a cidade exalava um cheiro estranho,que aos poucos ez esvanecer a imagem bonita da urbevazia e molhada, refetindo o amarelo das luzes. O odorera azedo eito chorume de lixo, parecia esterco. quela
hora a poluio baixara ainda mais porque havia cho-vido , no tinha a bruma cinzenta que iguala todos osodores. Ser que haviam adubado os canteiros da aveni-da? Ou ser que chegamos ao ponto em que esse era operume de So Paulo, o cheiro real da cidade?
Em dias recentes, de orte calor, o odor do rio Pinhei-ros ultrapassou as margens e chegou aos bairros vizi-nhos. Era o rio devolvendo parte o cheiro daquilo querecebe pelos encanamentos.
Qual devia ser o cheiro do Pinheiros e de So Paulo
quando caa chuva boa e prazenteira, h mais de quatrosculos? Imagino o mesmo cheiro do mato molhado, doestrume de vaca remexido dos stios da minha inncia.
Na minha utopia toro para que um dia os rios e acidade de So Paulo quem cheirosos novamente. Quechova gua-de-cheiro. gua-de-cheiro da natureza. Avai ser bom atravessar a Paulicia, de madrugada,respirando undo.
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A crnica nossa
de cada dia
(...) A crnica rgil e ntima, uma relao pessoal.Como se osse escrita para um leitor, como se s ele, o narrador, pudesse se expor tanto.Conversam sobre o momento, cmplices: ns vimos isto, no , leitor?
(Sobre a crnica, Ivan ngelo. Veja So Paulo, 25/4/2007.)
Voc gosta de ler crnicas? De que estilo? As poticas, recheadas
de descries lricas? Ou as bem humoradas e irnicas?
Ou prefere as marcadas pelas speras crticas realidade social,
poltica e cultural? Leia trechos das crnicas abaixo e descubra quem
so seus autores. As respostas esto na pgina 25.
BConormad
oserealis
tas
FernandoC
alazansep
oucosout
rosjornalistase
sportivost
msido
crticoser
ealistasso
breaquali
dadeeou
turodoutebolb
rasileiro,d
a
seleoed
osclubes.P
ensodam
esmaorm
a.Estamos
preocupados.
Janume
rosaturma
do oba-ob
a,tambm
chamada d
e otimista,
achaques
omosmuit
opessimis
tas.
Osconorm
ados,osq
uetmpo
ucosenso
crticoeta
mbmosm
o-
dernistas,
quesomu
itobempre
paradoscie
ntifcamen
te,dizemq
ueo
utebolmo
dernoess
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Netossocomoheranas:vocosganhasemmerecer.Semterei-
tonadaisso,derepentelhecaemdocu.,comodizemosingleses,
umatodeDeus.Semsepassaremaspenasdoamor,semoscompro-
missosdomatrimnio,semasdoresdamaternidade.Enosetratade
umflhoapenassuposto,comooflhoadotado: onetorealmenteo
sanguedoseusangue,flhodeflho,maisqueoflhomesmo...
Quarentaanos,quarentaecinco...Vocsente,obscuramente,nos
seusossos,queotempopassoumaisdepressadoqueesperava.No
lhe incomoda envelhecer, claro.A velhice temassuasalegrias, as
suas compensaestodosdizemissoemboravoc,pessoalmente,
aindanoastenhadescobertomasacredita.
Todavia, tambmobscuramente, tambmsentidanosseusossos,
svezeslhedaquelanostalgiadamocidade.Nodeamoresnempai-
xes:adouradameia-idadenolheexigeessaseervescncias.[...]
LivroElencodeCronistasModernos,EditoraJosOlympio,2003.
-
8/14/2019 Ano IV nmero 10 Dezembro De
26/28
Na
Po
nta
do
Lpis
ano
IV
n
10
24
Eduardo Gonalves de Andrade MG(1947-). Conhecido como Tosto, consi-derado um dos grandes jogadores do ute-bol brasileiro e mundial. Aastou-se doesporte e estudou medicina na UFMG,tornou-se proessor universitrio e traba-lhou em hospitais. Em 1990, oi convidadopara comentar jogos de utebol na televi-so. Os argumentos equilibrados e inteli-gentes logo fzeram de Tosto um dosprincipais nomes da crnica esportivabrasileira. Em pouco tempo passou a cola-borar na imprensa escrita.
Joo do Rio RJ (1881-1921). Pseudnimousado pelo escritor e jornalista cariocaJoo Paulo Alberto Coelho ao escreversuas crnicas para, entre outros, o jornalGazeta de Notcias. Parte de sua obra oireunida no clssicoA alma encantadora dasruas (Companhia das Letras, 1997).
Paulo Mendes Campos MG (1922-1991).Cronista, poeta e tradutor, trabalhou noInstituto Nacional do Livro e oi diretor daseo de obras raras da Biblioteca Nacio-nal. Escreveu suas primeiras crnicas noDirio Carioca e manteve por muitos anos,na revista Manchete, uma coluna semanal.Destacou-se pela simplicidade com quetratou em sua obra temas como o mar, avida carioca, conversas de bar e utebol.
C
D
Conto-do-vigrioDequandoemquandoaparece-nosoconto-do-vigrio.Tivemo-lo
estasemana,bemcontado,bemouvido,bemvendido,porqueos
autoresdacomposiopuderamreceberintegralmenteoslucrosdo
editor.Oconto-do-vi
grioomaisantigognerodefcoqueseco-
nhece.Arigor,podecrer-sequeodiscursodaserpente, induzindo
Evaacomerorutoproibido,oiotextoprimitivodoconto.Mas,seh
dvidasobre isso,noapodehaverquantoaocasodeJaceseu
sogro.Sabe-sequeJacpropsaLaboquelhedessetodososf-
lhosdascabrasquenascessemmalhados.Laboconcordoucertode
quemuitostrariamumascor;masJac,quetinhaplanoeito,pe-
goudeumasvarasdepltano, raspou-asemparte,deixando-as
assimbrancaseverdesaumtempo,e,havendo-aspostonos tan-
ques,ascabrasconcebiamcomosolhosnasvaras,eosflhossaam
malhados.A boa- de Labo oi assim embaada pela fnura do
genro;masnosei quehnaalmahumanaqueLabo que az
sorrir,aopassoqueJacpassaporumvaroargutoehbil.[...]
ObraCompleta,OrganizaodeArnioCoutinho,RJ.NovaAguilar,1994
Meureinoporum
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los.[...]Alhos
&Bugalhos
,Civiliza
oBrasileir
a,2001
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8/14/2019 Ano IV nmero 10 Dezembro De
27/28
NaPontadoLpis
ano
IV
n
1025
Resposta:
A)RacheldeQueiroz;B)EduardoGonalvesdeAndrade(Tosto)
C)MachadodeAssis;D)PauloMendesCampos
E)JoodoRio;F)MrioAlbertoCamposdeMoraisPrata
Rachel de Queiroz CE (1910-2003).Foi a primeira mulher a ingressar naAcademia Brasileira de Letras. Publi-cou 23 livros individuais e quatro emparceria. Sua vasta e preciosa obra esttraduzida e publicada em rancs, in-gls, alemo e japons. Alm disso,traduziu 45 obras para o portugus,sendo 38 romances. Colaborou sema-nalmente com crnicas no jornal O Es-tado de S. Paulo.
Mrio Alberto Campos de Morais Prata MG (1946 -).Trabalhou em jornais , escreveu editoriais, reportagense artigos. Entre seus livros podem-se citar: O mortoque morreu de rir; Preto no branco e 100 Crnicas. Almde livros, escreveu novelas, roteiros e peas para tea-tro e atravs desse vasto trabalho recebeu prmiosinternacionais e nacionais.
Joaquim Maria Machado de Assis RJ (1839-1908) Cronista, contista, drama-turgo, jornalista, poeta, novelista, roman-cista, crtico e ensasta. considerado ofccionista mais expressivo da prosa rea-lista da literatura brasileira. Escreveuvrias crnicas sobre a escravido e osdramas sociais de seu tempo, esconden-do-se atrs de vrios pseudnimos.
E Arua
Euamoaru
a.Essese
ntimentod
enatureza
todantim
anovos
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senojulg
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julgar,que
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ia,maspor
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ste
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vel,onicoque,co
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esistesi
dadeses
pocas.Tud
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orma,tudo
variao
amor,odi
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o.Hojem
aisamargo
oriso,mais
dolorosaa
ironia.
Ossculos
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eslizam,lev
andoasco
isasteis
eosacont
ecimen-
tosnotveis
.Spersis
teefca,le
gadodasg
eraesca
davezmai
or,oamor
darua.[...]
Ora,arua
maisdo
queisso,a
ruaum
atordavida
dascida-
des,aruatema
lma. Aalma
encantad
oradasru
as,Editora
Garnier,19
08
FQuemtemmedodamortadela?Modismo conoscomesmo.O brasileiro adora inventarmoda. E to
do
mundovaiatrsdela.Altimadobrasileiroprimeiromundo.Ospublici-
triosnativosinventaramaexpressoeagoratudoquensqueremostem
quesercoisadoprimeiromundo.[...]Agorajtemcaipirinhadevodcae,pasmem,derum.Caipirinhasem-
preoiesempreserdecachaa.Coisadecaipiramesmo.Eestabebida
queoseuropeusvmprocuraraqui.Masjmeteramavodcaeorumnela
parafcarcomcaradeprimeiromundo.Vamosdeixaracaipirinhacaipira,
brasileiros!Todaessaintroduoparachegarmortadela.Oumortandela,comopre-
eremgaronsepadeiros.Quercoisamaisbrasileiraqueamortadela?Claro
queelaveioldaItlia.Mastornou-se,talvezpelobaixopreo,opetiscodo
brasileiro.O nome vem demurta, uma plantinha italiana que Ihe valeu o
nome.Inelizmenteobrasileiroachaquemortadelacoisadepobre,dea-
minto.Eoquesomosns,cara-plidas?
AcachaaeamortadelasoprodutosdoBrasil,donossoqueridoterceiro
mundo.Masacontecequehumpreconceitodospatrcioscontraacachaae
amortadela.Contraamortadelaocasomaisgrave.Sevocoerecermorta-
delanumaesta,voteolhareio.Vocdeveestarpertodaalncia. [...]
Filhobom,masduramuito.EditoraMaltese,So Paulo1995.p.157-159
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