antropologia, histótia e sociologia da religião

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ANTROPOLOGIA, HISTÓRIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO WERKSON DA SILVA AZEREDO 1 WERKSON DA SILVA AZEREDO 2 Curso Pós-Graduação Especialização em Ciências da Religião FANAN – Faculdade de Nanuque RESUMO Este trabalho tem o objetivo de fazer analise da relação do homem com o sagrado, mostrando como o fenômeno religioso mostra-se fortemente relacionada ao homem, “Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião ” Passa-se em seguida a tratar o tema história da religião, percebendo que a história das religiões mais influentes em alguns momentos confunde-se com a história da humanidade, o papel da religião é marcante em diversos momentos históricos seja no Império Romano , Na idade Média (com a atuação da Igreja Católica Apostólica Romana), No período Moderno e a Reforma Protestante também figura em momentos Trágicos como a Inquisição. No campo social passa-se a perceber os grupos que compõem a religiosidade brasileira e toda a sua dinamicidade que apresenta de acordo com os últimos censos demográficos (IBGE). Assim, seja através da compreensão antropológica, histórica ou sociológica da religião, perceberemos sua influência e presença marcante na vivência humana. 1. INTRODUÇÃO De acordo com C. P. Tiele (1830-1902) assim se define a religião “Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética) ”, ou ainda como diz Kottak “A religião pode ser entendida como o sistema de crenças e ou rituais ligados com seres, poderes e forças sobrenaturais”, logo esse poder “sobre humano” para o qual o homem irá recorrer será fator

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Page 1: Antropologia, histótia e sociologia da religião

ANTROPOLOGIA, HISTÓRIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

WERKSON DA SILVA AZEREDO 1

WERKSON DA SILVA AZEREDO2

Curso Pós-GraduaçãoEspecialização em Ciências da Religião

FANAN – Faculdade de NanuqueRESUMO

Este trabalho tem o objetivo de fazer analise da relação do homem com o sagrado,

mostrando como o fenômeno religioso mostra-se fortemente relacionada ao homem,

“Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo

de religião ” Passa-se em seguida a tratar o tema história da religião, percebendo que

a história das religiões mais influentes em alguns momentos confunde-se com a

história da humanidade, o papel da religião é marcante em diversos momentos

históricos seja no Império Romano, Na idade Média (com a atuação da Igreja Católica

Apostólica Romana), No período Moderno e a Reforma Protestante também figura em

momentos Trágicos como a Inquisição. No campo social passa-se a perceber os

grupos que compõem a religiosidade brasileira e toda a sua dinamicidade que

apresenta de acordo com os últimos censos demográficos (IBGE). Assim, seja através

da compreensão antropológica, histórica ou sociológica da religião, perceberemos sua

influência e presença marcante na vivência humana.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com C. P. Tiele (1830-1902) assim se define a religião “Religião

significa a relação entre o homem e o poder sobre humano no qual ele acredita

ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções

especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética) ”, ou

ainda como diz Kottak “A religião pode ser entendida como o sistema de

crenças e ou rituais ligados com seres, poderes e forças sobrenaturais”, logo

esse poder “sobre humano” para o qual o homem irá recorrer será fator

relevante para compreende-lo, “Para entender a condição humana nos seus

aspectos mais profundos e misteriosos, nós certamente devemos levar em

conta a religião. ” Desde o período conhecido como paleolítico encontramos

manifestações religiosas “As formas mais numerosas, evidentes e explicitas de

culto religioso feito pelo homem e mulher do Paleolítico até o momento é

datado por volta de 35.000 ac. Foram elas, as grutas/santuários com suas

pinturas e as inúmeras estatuetas femininas” ao longo do tempo essas

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elementares expressões religiosas aperfeiçoam-se e chegamos a que temos

hoje com as religiões mundiais, com suas histórias especificas, contudo

existem as que exercem maior influência como a Religião Cristã; com mais de

2 Bilhões de seguidores entre Católicos, protestantes e Ortodoxos, porém

inúmeros são os cultos e expressões do sagrado pelo mundo, possuindo

fatores comuns e outros diversos, neste aspecto de diversidade esta reflexão é

valiosa para a busca de maior respeito e tolerância. Assim passa-se a analisar

o fenômeno religioso não de maneira perjorativa nem validando ou invalidado

qualquer prática ou manifestação do sagrado, mas sobre o olhar cientifico

verifica-se o fenômeno religioso como manifestação antropológica que emana

da essência humana.

______________________

Aluno do Curso de Pós Graduação- Especialização em Ciências da Religião - Lato – Sensu- Faculdade Vale do Cricaré.

2 Graduado em Teologia.

Page 3: Antropologia, histótia e sociologia da religião

2. Antropologia da Religião

Já na Grécia no período áureo da Filosofia Sócrates com sua frase “conhece-te

a ti mesmo” e sua concepção de que antes de conhecer o que está a sua volta

o homem deve buscar o alto conhecimento tem-se, um período antropológico,

porém surgem algumas perguntas, O que é antropologia? E o que vem a ser

Antropologia da Religião? Neste primeiro momento nos atenderemos a

responder essas perguntas e analisar como as manifestações do sagrado

apresentam-se de forma intensa na essência humana. “A Antropologia é o”

estudo do ser humano” ou, mais especificamente, “a ciência da cultura

humana”, ou, como Kroeber a define, é “a ciência dos grupos humanos, seu

comportamento e sua produção (BURNS, B.; AZEREVEDO, D.; CARMINATI,

Paulo. B. F. 1995, p.18).

Ou ainda como afirma Nunes (apud, 2007) a Antropologia é assim definida:

Antropologia (do grego ἄνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e

λόγος, logos, "razão"/"pensamento"/"discurso"/"estudo") é

a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e

a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as

suas dimensões.

Sabendo o conceito de Antropologia e sua a finalidade, que consiste em

estudar o homem ou os grupos humanos sua cultura, comportamentos e

produções, devemos buscar um melhor entendimento sobre o que seria a

antropologia da religião e seu objeto de estudo. Porém, antes faremos uma

análise no termo religião para então unirmos ambos os conceitos, neste estudo

não consideraremos todo uma formulação histórica de teóricos sobre o termo

religião [homens como: Cícero, Macróbio, Lactâncio, Agostinho e Tomas de

Aquino se debruçaram sobre a etimologia da palavra religião significando-a,

contudo a visão Tomista - que não preocupado com questões etimológicas e

seus significados, tem uma visão mais ampla “O importante, na opinião dele, é

entender que ela implica uma relação com Deus” (OLIVEIRA) - é que

prevalece sobre as demais, vale ressaltar que o entendimento de religião para

a cristianismo é um e que dentro de outras religiões pode ser diferente como

acontecia entre os aborígenes da Austrália “de uma visão da vida, uma atitude

perante a vida e uma norma para o bem viver” (KÜNG, 2004, p. 16, apud,

OLIVEIRA).]

Page 4: Antropologia, histótia e sociologia da religião

Se por religiosidade entendemos a experiência com o transcendente seja ela

de forma individual ou em grupos, temos os seguintes conceitos para Religião:

“A religião pode ser entendida como o sistema de crenças e ou rituais ligados

com seres, poderes e forças sobrenaturais” (Kottak, 1997);

Segundo C. P. Tiele (1830-1902) “Religião significa a relação entre o homem e

o poder sobre humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente.

Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos

(crença) e ações (culto e ética) ”;

“A religião é a convicção de que existem, poderes transcendentes, pessoais ou

impessoais, que atuam no mundo, e se expressa por insight, pensamento,

sentimento, intenção e ação. ” Helmuth von Glasenapp (1891-1963);

A religião, por sua vez, é a institucionalização da experiência religiosa

e da religiosidade, a padronização do caminho para a relação com o

Transcendente, feito por um grupo social ou cultural. A religião se

caracteriza por uma estrutura simbólica bem definida, através da qual

ela procura dar unidade e coesão à existência humana. Quase

sempre toda religião, enquanto sistema e enquanto instituição, afirma

ter uma origem sobrenatural, pretende ser a única verdadeira, se

alicerça na crença em um ente superior e transcendente. Seu

enfoque é sempre a divindade (SHIAVO. p. 67-77, apud, OLIVEIRA).

Dessa maneira (seja diretamente ligada ao sobrenatural ou politizada a religião

faz referência a uma relação metafisica), ao nos deparamos com a antropologia

da Religião estamos diante de grande desafio, visto que a expressão do

sagrado ao que tudo indica é e faz parte da essência humana de tal modo que

no mundo das diversas culturas registradas não há aquela que não possua seu

sistema religioso: “Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que

não tenha tido algum tipo de religião. ” (Gaarder J.; Hellern V.; Notaker H. 2001,

p.8).

Logo, por meio de tão vasto trabalho religioso produzido pelo homem a

antropologia da religião buscar conhecer e compreender o homem através da

expressão do sagrado, passa-se a analisar o fenômeno religioso não de

maneira pejorativa nem validando ou invalidado qualquer prática ou

manifestação do sagrado, mas sobre o olhar cientifico verifica-se o fenômeno

religioso como manifestação antropológica que emana da essência humana.

Assim, desconsiderar a religião na compreensão do homem é privar-se uma

análise mais profunda:

Page 5: Antropologia, histótia e sociologia da religião

Para entender a condição humana nos seus aspectos mais profundos

e misteriosos, nós certamente devemos levar em conta a religião.

Esta ajuda a formar estruturas imaginativas e elementares sobre

como nos orientamos ou deveríamos nos orientar no cosmos. A

religião dá forma e ensaia no ritual nossos mais importantes laços,

uns com os outros e com a natureza, e provê a lógica tanto ao porque

destes laços serem importantes como ao o que significa estar

comprometido com eles” (NEVILLE; WILDMAN, apud, OLIVEIRA).

Até o presente momento vimos uma análise do termo antropologia e religião e

como a relação de ambos os conceitos nos conduz dentro da antropologia da

religião pela busca de compreender os sentidos que a experiência religiosa nos

remete e como ela está na matriz humana de forma ontológica dando sentido

as práticas da vida. “Antropologia da Religião é uma antropologia da

transcendência, no sentido que produz significados para além daquilo que se

dá no cotidiano. ” Dessa forma, através da Antropologia da Religião entraremos

em contato com questões transcendentes e existências que impulsionaram o

homem à busca pelo sobrenatural.

“O que se quer com a Antropologia da Religião não é tanto conhecer

as causas e dar explicações para o fenômeno religioso, mas estudar

e conhecer o sentido que a experiência religiosa confere às ações e

situações do cotidiano. ” (OLIVEIRA).

O estudo da religião que tem por base a antropologia revela que mesmo o

ponto religioso sendo fator inato do homem é múltiplo, há variedade de

posicionamentos (sociais, políticos etc.) quanto a religião, como ocorre no

hinduísmos em que a visão da história é cíclica, elemento comum para as

tradições orientais o que não ocorre na religião cristã, além disso a religião

desempenhou e desempenha papel crucial na história da humanidade, o ser

humano parece, naturalmente pré-disposto ao transcendente “Não existe

nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de

religião. ” (Gaarder J.; Hellern V.; Notaker H. 2001, p.8), este conhecimento

pode será útil na construção de um contexto de tolerância, uma vez que os

diferentes povos, com seus diferentes costumes e tradições construíram vários

sistemas religiosos que produziu mundo a fora um vasto número de

expressões do sagrado, quantos conflitos há nos anais da história em virtude

da intolerância e mesmo atualmente não é estranho ouvirmos sobre conflitos

nos quais o fator religião esteja envolvido:

Ouvimos falar de católicos e protestantes em conflito na Irlanda do

Norte, cristãos contra muçulmanos nos Bálcãs, atrito entre

Page 6: Antropologia, histótia e sociologia da religião

muçulmanos e hinduístas na Índia, guerra entre hinduístas e budistas

no Sri Lanka. (Gaarder J.; Hellern V.; Notaker H. 2001, p.13).

Cabe a reflexão sobre a diversidade antropológica religiosa que nós

produzimos e que essa seja fonte de gozo e de contemplação e não de guerras

e disputas. A antropologia da religião tem por finalidade aprofundar o

conhecimento sobre o homem por meio do seu objeto “a religião” levando em

consideração o fato de que o transcendente faz parte da história e condição

humana, tendo dois objetivos básicos:

1. A Antropologia da Religião tem como objetivo, através da definição do

seu próprio objeto e da utilização de metodologias legítimas, analisar o

fenômeno religioso como fato humano. (OLIVEIRA)

2. Busca compreender como o ser humano foi e continua sendo visto por ele mesmo e por uma das suas mais significativas e originais manifestações, a religião. (OLIVEIRA)

3. HISTÓRIA DA RELIGIÃO

Vimos a relação do homem e a religião como uma condição existencial e neste

momento, mesmo no estudo da História da Religião, veremos, também, uma

relação antropologia, visto que ante a incapacidade de dominação do natural o

homem pré-histórico volta-se ao sobrenatural, como acontecia nos cultos de

fertilidade, a exemplo disso temos o culto a deusa:

A principal divindade é a deusa, apresentada sob três aspectos:

mulher jovem, mãe dando à luz um filho (ou um touro), e velha

(acompanhadas as vezes de uma ave de rapina). A divindade

masculina aparece sob a forma de um rapaz adolescente – o filho ou

o amante da deusa – e de um adulto barbudo, ocasionalmente

montado sobre um animal sagrado, o touro. (ELIADE, 2010, p.55).

Partimos para uma análise de como se desenvolveu as manifestações do

sagrado na história humana, não pretende-se neste presente estudo fazer uma

exposição mais aprofundada do tema, falaremos primeiramente dos primeiros

registros encontrados ainda na pré-história a cerca de 35.000 a 40.000 anos,

em seguida, por meio de uma breve exposição, apresentaremos as quatro das

maiores religiões no contexto mundial (Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo,

Budismo) entende-se aqui por maiores: quantitativamente e as que mais

influenciam as sociedades, em momento algum iremos tratar qualitativamente,

Page 7: Antropologia, histótia e sociologia da religião

pois em cada contexto, sob diferentes influências o homem produziu variadas

formas de religião, havendo assim, riquezas em cada uma delas. O sagrado

como apresentado Rudolf Otto tem uma força atrativa sobre homem ao que ele

chama de “misterium tremendum et fascinosum” algo que fascina, atrai, logo

possui uma diferenciação de tudo o mais. Mircea Eliade amplia o

entendimento na sua obra “O sagrado e o profano” fazendo uma distinção entre

os termos (sagrado e profano) na qual profano e tudo o que não é sagrado

“aquilo que está em frente ou do lado de fora do templo” e para ele é assim que

o homem obtém conhecimento sobre o sagrado, pela sua manifestação que é

diferente do profano. Desta forma, maravilhado, inclinado por algo engendrado

no seu íntimo é que irão surgir a religiosidade humana. (Gaarder J.; Hellern V.;

Notaker H. 2000)

As primeiras concepções sobre o início das manifestações religiosas fazem

referência ao Animismo crença segunda a qual o homem passa a ver as coisas

ao seu redor como vivas, possuidoras de espíritos:

Já houve muitas tentativas de explicar como surgiram as religiões.

Uma das explicações é que o homem logo começou a ver as coisas a

seu redor como animadas. Ele acreditava que os animais, as plantas,

os rios, as montanhas, o sol, a lua e as estrelas continham espíritos,

os quais era fundamental apaziguar. O antropólogo E. B. Tylor (1832-

1917) batizou essa crença de animismo. (Gaarder J.; Hellern V.;

Notaker H. 2001, p.13).

Porém, a referência mais antiga a pratica religiosa do homem pré-histórico se

refere ao sepultamento ficando evidente a preocupação do homem com o pós-

morte:

O indicio mais antigo de prática relacionada à religião do homem e

mulher pré-histórico, é o sepultamento. Que está intimamente ligada,

as fontes mais antigas e numerosas da pré-história, que são as

ossadas. [...] o ocre vermelho salpicado em cadáveres, é

universalmente encontrado, podendo ser substituto ritual do sangue,

símbolo da vida. A posição que o corpo é encontrado, também é

coberta de significado. Ele é virado para o leste, marcando a intenção

de tornar o destino da alma solidário com o curso do Sol, portanto a

esperança de um renascimento. E também é posto em forma fetal,

tendo a terra, no caso a cova, o simbolismo do útero. (BEZERRA)

Mas é nas cavernas e grutas/cavernas que encontramos o maior número de

registros de práticas relacionadas à religião do homem do período Paleolítico:

Page 8: Antropologia, histótia e sociologia da religião

As formas mais numerosas, evidentes e explicitas de culto religioso

feito pelo homem e mulher do Paleolítico até o momento é datado por

volta de 35.000 ac. Foram elas, as grutas/santuários com suas

pinturas e as inúmeras estatuetas femininas. Como as pinturas se

encontram muito longe da entrada da gruta, sendo muito delas

inabitáveis, com dificuldades de acesso, os pesquisadores concluíram

que elas são uma espécie de santuário. As estatuetas femininas

representam o “culto da fertilidade” praticado por esses humanos.

Esculpidas em pedra, osso ou marfim, possuem nádegas, seios e

barrigas volumosas, além de terem a vulva sempre à mostra.

Representam a “Grande Mãe” a “Deusa” (BEZERRA).

3.1 RELIGIÕES

3.1.1 CRISTIANISMO.

O Cristianismo é a religião que mais tem influenciado a cultura ocidental, tem

em Jesus Cristo o seu representante e na Bíblia sagrada o seu livro máximo,

nela, mais especificamente nos relatos dos Evangelhos podemos acompanhar

o nascimento, ministério e morte de Cristo, no livro dos atos dos apóstolos,

vemos como a igreja nascente, já perseguida, inicia a propagação do

querygma (evangelho) acreditando que a parousia (manifestação) estava

próxima.

Jesus de Nazaré nasceu antes da morte de Herodes, o Grande,

talvez no ano romano de 749. Quando o calendário actual foi

introduzido, acreditava-se que Jesus tinha nascido em 754, existindo

portanto, uma discrepância de pelo menos cinco anos (COSTA).

Apesar de ser judeu nascido em Belém da Galileia Jesus não se enquadra nos

ensinamentos dos Fariseus e saduceus e em vários momentos entra em

conflito direto esses:

Os fariseus e alguns dos mestres da lei, vindos de Jerusalém,

reuniram-se a Jesus e viram alguns dos seus discípulos comerem

com as mãos "impuras", isto é, por lavar. ...Então os fariseus e os

mestres da lei perguntaram a Jesus: "Por que os seus discípulos não

vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de

comerem o alimento com as mãos ‘impuras’? " Ele respondeu: "Bem

profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este

povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.

Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras

ensinadas por homens’. Vocês negligenciam os mandamentos de

Deus e se apegam às tradições dos homens". E disse-lhes: "Vocês

estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os

Page 9: Antropologia, histótia e sociologia da religião

mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições! Pois

Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’, e ‘quem amaldiçoar seu pai

ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocês afirmam que se

alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês

poderiam receber de mim é Corbã’, isto é, uma oferta dedicada a

Deus, vocês o desobrigam de qualquer dever para com seu pai ou

sua mãe. Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da

tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas

como essa". Marcos 7:1-13

Além de possuírem Torá tinham um elaborado conjunto de regras e rituais

(usos e costumes dos mais diversos que se aplicavam até a maneira correta de

lavar as mãos):

Jesus era judeu e, durante o seu crescimento, o Reino Judeu estava

sob o comando directo de um oficial do Império Romano. Jesus

tornou-se um profeta itinerante, baseando as suas convicções nas

escrituras judaicas. Mas cedo se tornou evidente que ele estava a

formular uma doutrina independente, uma vez que diria

frequentemente coisas como: « Aprenderam o que foi dito aos

vossos antepassados ( ...) mas eu digo-vos isto ... ». De acordo com

os últimos cálculos, no ano 29 ou 30, Jesus foi acusado de blasfémia

por um tribunal religioso judeu. O oficial romano Pôncio Pilatos,

actuou de acordo com um apelo dos ansiãos judeus, e condenou

Jesus à morte, executando-o por crucificação. Contudo, Pilatos,

condenou-o por rebelião contra o estado romano (COSTA).

Após sua morte sua mensagem de amor, continua a ser divulgada por

intermédio dos apóstolos, tal mensagem, rompe não só com a lei judaica mas

com tudo um contexto histórico, se a lei de talião dizia: olho por olho, dente por

dente, jesus dizia: "Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por

dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face

direita, ofereça-lhe também a outra. Mateus 5:38-40. Saulo de tarso, mais

conhecido como o apostolo Paulo torna-se relevante na divulgação da nova fé

e alguns pesquisadores acreditam ser ele quem de fato entende a mensagem

cristã como mundial (para ele o cristianismo não devia permanecer como uma

seita dentro do judaísmo), contudo após o martírio de estevão e a diáspora no

seio cristão vemos como alguns homens (ex.: Felipe, Atos 8.5) já haviam

expandido a mensagem entre os gentios. O cristianismo passará por várias

ondas de perseguição até torna-se a religião oficial do império romano em 380

d.C. sobe governo do Imperador Teodósio.

Page 10: Antropologia, histótia e sociologia da religião

3.1.2 ISLAMISMO

O Islamismo tem Maomé (Muhammad) como seu fundador, sua influência foi

tão forte que durante muito tempo o Islamismo ficou conhecido como

Maometismo, a palavra islamismo de origem árabe (islam) significa submissão

e basicamente isso que consiste o Islamismo o adepto deve submeter-se

totalmente a Deus para assim torna-se um Muslin (mulçumano), palavra cujo

significado tem a mesma raiz que islam. O Islam tem no alcorão seu livro

sagrado.

Suas origens remotam ao ano de 622 d.C. Maomé era membro de uma

importante família da península Arábica, costumava anualmente retirar-se para

as montanhas de Meca para meditar, num destes retiros teve uma revelação

na qual o anjo Gabriel apareceu-lhe com um pergaminho:

O Anjo Gabriel apareceu-lhe de repente com um pergaminho e

mandou-o ler, tendo Maomé respondido que não sabia. Disse-lhe o

Anjo: « Recita, em nome do teu Senhor criador, que criou o homem a

partir de coágulos de sangue. Recita! O teu Senhor é O Mais

Generoso, aquele que da escrita ensinou ao homem o que este não

sabia. » (COSTA)

Após essa revelação Maomé começa sua pregação sendo ele o mensageiro

divino, mas acaba sendo visto como um oportunista e é perseguido,

certamente sua pregação seria impopular, visto que ele dizia existir apenas um

Deus (Alá) criador e que todos os ídolos árabes existentes na Caaba deveriam

ser destruídos. Meca ternara-se não só um centro Comercial como religioso na

Caaba (casa de Deus) estavam presentes as estatuas dos Ídolos árabes e a

pedra Negra a qual é venerada, pois na cultura árabe (provavelmente um

meteorito) é considera uma pedra sagrada trazida por um anjo, com isso sua

mensagem desestruturava todo um sistema religioso de peregrinação e

comercial com a venda de ídolos, logo tem que fugir de Meca e vai para Yathrib

(Medina) este evento ficou conhecido como Hégira – evento que também

marca o início do calendário árabe - pregando a guerra santa (gihá) Maomé

consegue apoio dos comerciantes locais e retorna para Meca com um exército

e por volta de 630 d.C. conquistam Meca e destroem os Ídolos da Caaba. O

islamismo expandiu-se por grandes faixas da Ásia e da África tendo alcançado

no período medieval a denominação de Império Árabe. Hoje milhões de

pessoas no mundo o praticam sendo a segunda maior religião do mundo

perdendo apenas para o Cristianismo

Page 11: Antropologia, histótia e sociologia da religião

Como religião, o Islamismo não se envolve unicamente na esfera

espiritual, mas em todos os aspectos da vida humana e social. As

questões religiosas desempenham uma função menos vital que no

Cristianismo e a interpretação da lei tem ocupado um lugar mais

importante na história do Islamismo. Em grande parte dos países

islâmicos, os mais versados em matéria legal, são os que actuam

como chefes religiosos. Não existe uma classe sacerdotal organizada.

Não existe no Islamismo qualquer interdição relativamente ao gozo da

vida na terra, mas será de se ter presente, constantemente, que esta

é simplesmente uma preparação para a vida que terá início depois do

julgamento divino. No Islamismo, o homem não pode merecer nada

da parte de Deus, nem pode invocar o direito a coisa nenhuma. A

salvação e a fé fluem por graça divina, e são coisas a que os seres

humanos apenas podem aspirar. (GAARDER J.; HELLERN V.;

NOTAKER H. 2000).

3.1.3 BUDISMO

Siddhartha Gautama ou Sidarta Gautama considerado o fundador do budismo

viveu entre 560 a.c a 480 a.c. no Nordeste da Índia, filho de um rajá indiano

muito prospero. Entraremos na história de Sidarta Gautama e como abandona

toda uma vida de luxo e torna um asceta.

Segundo alguns relatos havia uma profecia sobre a vida de Sidarta Gautama

no qual sua vida tomaria caminhos distintos ou tornar-se-ia um grande

governante ou o caminho ascético seria sua vida, fato que aconteceria se

Sidarta entrasse em contato com o sofrimento humano, seu pai deseja ver o

filho com um governante e logo tratou de evitar qualquer contato dele com o

meio externo, assim o cercou de luxo e muitos prazeres sexuais, casa-se com

sua prima que irá gerar um filho e além de sua esposa matinha um harém com

muitas dançarinas.

Contrariando as ordens que seu pai lhe dera Sidarta sai da proteção da

muralha e entra em contato com o mundo vendo pela primeira um velho, um

cadáver em decomposição e um asceta que transparecia felicidade, percebe

que sua vida no palácio não passava de uma ilusão e se pergunta: “haverá

alguma coisa que transcenda a velhice, a doença e a morte? ” fora isso o que

seu pai temia acontece ele sente muito sensibilizado pelas necessidades

humanas e comissionado a livrar a humanidade do sofrimento. Neste momento

Sidarta aos 29 anos resolve renunciar a sua vida de príncipe e resolver partir

sem avisar a ninguém e passa a viver como andarilho.

Page 12: Antropologia, histótia e sociologia da religião

Os relatos nos contam que o ascetismo de Sidarta alcançou um nível tão

extremo que ele passa a viver com apenas um grão de arroz por dia, seguiu

tão dura disciplina, pois acreditava assim vencer o sofrimento, porém mesmo

com o auxílio da ioga conseguiu. Então partir para a meditação e após 6 anos

de vida ascética alcança a iluminação (Buda) quando estava debaixo de uma

figueira em meditação sentado às margens do Ganges. Agora como buda

chega à seguinte conclusão todo sofrimento e causado pelo desejo. E por meio

do desapego é que pode-se livrar-se de outras encarnações, Sidarta segue

ainda os seguintes passos:

Durante sete dias e sete noites o Buda ficou sentado debaixo de sua

árvore da iluminação. Ganhou dessa forma a compreensão de uma

realidade que não é transitória, uma realidade absoluta acima do

tempo e do espaço. No budismo isso se chama nirvana. Ao dominar

seu desejo de viver, que antes o atava à existência, o Buda parou de

produzir carma e, portanto, não estava mais sujeito à lei do

renascimento. Conseguira alcançar a salvação para si mesmo, e o

caminho estava aberto pata abandonar o mundo e entrar no nirvana

final. (GAARDER J.; HELLERN V.; NOTAKER H. 2000).

Porém, neste momento já no nirvana é interpelado pelo deus brahma para que

divulgasse seus ensinamentos aos homens e o mesmo sentimento de

compaixão que o impulsionou a iniciar sua jornada o levará a ser aquele que

abriria os portões da eternidade para os que dessem crédito aos seus

ensinamentos. Seu primeiro sermão e proferido em Benares vários monges

passam a segui-lo e passam a vagar por mais de 40 anos pelo nordeste da

índia. Sua vida termina assim:

Quando Buda tinha por volta de oitenta anos, de repente adoeceu e

decidiu se despedir dos discípulos. Antes de morrer, voltou-se para o

triste rebanho dos discípulos a seu redor e disse: "Talvez alguns de

vós estejam pensando: 'As palavras do mestre pertencem ao

passado, não temos mais mestre'. Mas não é assim que deveis ver as

coisas. O darma (instrução) que vos dei deve ser o vosso mestre

depois que eu partir". (GAARDER J.; HELLERN V.; NOTAKER H.

2000).

Suas doutrinas resumiam-se em cinco pontos:

1 – Não causar dano a qualquer criatura viva

2 – Não se apoderar daquilo que não é dado (não roubar)

3 – Não ter um comportamento irresponsável no que se refere aos prazeres sensuais

4 – Não mentir

Page 13: Antropologia, histótia e sociologia da religião

5– Não fazer ingestão de álcool ou drogas

3.1.4 HINDUÍSMOS

Um dos diferenciais do hinduísmo para outras religiões é que não há um

fundador nem um sistema doutrinário fixo, tão pouco uma organização

hierárquica. O centro das práticas da religião hindu é a índia porém está

pulverizado em outras regiões como: Nepal, Bangladesh e Sri Lanka,

aproximadamente 80% da população da índia e adepta ao hinduísmo ao

interessante que deve ser dito é que a índia configura-se como estado secular

não religioso e sua constituição garante direitos iguais de culto a todas as

religiões e proíbe qualquer tipo de discriminação com base na religião, raça,

casta ou sexo.

Suas raízes remotam de 200 a.c a 1500 a.c momento em que os arianos

começam a dominar o vale do indo, muito deste conhecimento e adquirido

pelos hinos védicos que eram recitados durante sacrifícios. A palavra Hindu

significa Indiano de mesma raiz do rio Indo. Uma breve definição: “ [...] é o

nome das várias formas de religião que se desenvolveram na Índia depois que

os indo-europeus abriram caminho para a Índia do Norte, de 3 a 4 mil anos

atrás. ” O que vemos no Hinduísmo moderno é que há uma variedade de ideias

e formas de cultos com há no hinduísmo uma dinamicidade vasta, contudo um

elemento comum seria o sistema de castas, as vacas e o carma. A divisão

social em

Classes na Índia sempre foi bem rígida basicamente existem os sacerdotes,

guerreiros, agricultores, comerciantes, artesões e servos, mas este quadro

alterou-se ao longo do tempo: “Porém, à medida que a sociedade indiana se

desenvolveu, as pessoas foram sendo divididas em novas castas. No início do

século XX havia em torno de 3 mil castas. ” A vaca é um animal considerado

sagrado na Índia e quando retornamos a matriz veda do Hinduísmo há vários

hinos à vaca é exaltada pela sua capacidade de suprir tudo que é necessário

ao homem, contudo com tornou-se um símbolo de vida não é permitido matá-

la. Outro aspecto interessante dentro do Hinduísmo é a concepção que tem

sobre a alma que pode ser resumido em uma frase "Ela não envelhece quando

você envelhece, ela não morre quando você morre." Tem noção de uma alma

imortal que após a morte renasce em um ser vivente tem-se uma concepção

cíclica da vida o que pode definir o destino de alma é o Karma palavra que

significa “ato” mais para o hinduísta significa mais como: pensamentos e

Page 14: Antropologia, histótia e sociologia da religião

palavras. Muitas são as crenças e formas de culto dentro do Hinduísmo sendo

difícil ou não havendo meios de padronização, logo uma das mais antigas

religiões existentes a religião Hindu é caracteriza pela alta dinamicidade e

capacidade de agregar novas formas de culto. Vejamos no gráfico abaixo

como se configura atualmente as referidas religiões no mundo:

4. SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Neste momento vamos analisar a relação da religião e a sociedade, além de

uma relação com sociedade brasileira, já trabalhamos a religião e o estudo do

homem analisamos como se desenvolveu algumas das principais religiões

mundiais ou aquelas que tem um maior número de aptos pelo mundo.

Iniciaremos com uma breve definição da sociologia da religião antes de

adentrarmos a relação da religião e a sociedade como também a sociedade

brasileira (uma relação que desde o período colonial já se fazia presente).

Diz que a sociologia da religião estuda a inter-relação da religião com

a sociedade, e as formas de interação que ocorrem de uma com a

outra, e dá como básica para a sociologia da religião a hipótese de

que “os impulsos, as idéias e as instituições religiosas influenciam as

formas sociais e, por sua vez, são por elas influenciados, além de

receberem o influxo da organização social e da estratificação.

(WACH, 1990, Apud, MOURA)

O papel do Sociólogo da religião pode ser definido segundo NOTTINGHAM

como: “ o sociólogo da religião ocupa-se dela “como um aspecto do

Page 15: Antropologia, histótia e sociologia da religião

comportamento de grupo e estuda os papéis que a religião tem desempenhado

através dos tempos. ” A sociologia da religião vai buscar explicar as relações

que religião e sociedade mantêm, pois indivíduos ou grupos sociais por meio

de suas crenças irão influenciar e ser influenciados. A sociologia nasce como

um tentativa de explicar as transformações que ocorrem na Europa no período

entre o sec. XVII a XX, ao longo deste período a religião será abordada sobe

diferentes perspectivas, num primeiro momento os teóricos verão a religião em

oposição com a sociedade moderna europeia, essa oposição é bem expressiva

e pejorativa, uma vez que em alguns casos será vista como uma maneira

retrógada ou arcaica se comparada com a modernidade, e neste contexto que

é prevista sua extinção em virtude do processo de industrialização,

disseminação do conhecimento etc., levando-a a secularização, Max Weber

tem um posicionamento interessante sobre o protestantismo: “O próprio

Protestantismo – forma moderna de Cristianismo – foi concebido pelo sociólogo

Max Weber como uma força antirreligiosa, aliada da modernização e, ele

também, fadado ao desaparecimento.” (ZABATIEIRO, 2013), assim a visão que

a sociologia tem sobre a religião não permaneceu estática ao longo da história,

as concepções atuais já a veem com outro olhar - menos preconceituoso -,

visto que as primeiras projeções sobre a religião falharam. Zabatiero fala sobre

a evolução do posicionamento da sociologia antes a religião:

[...] os primeiros grandes sociólogos descreveram a Modernidade,

em grande medida, em contraste com a religião [...] Em vários

escritos sociológicos clássicos, religião e modernidade são descritos

como duas formas antagônicas de organizar a vida social – a religião

descrita como uma forma arcaica, tradicional e dogmática, a

modernidade descrita como uma forma nova, científica, progressista.

Escritos sociológicos da segunda metade do século XX oferecem,

porém, um caminho alternativo para entender as relações entre

religião e modernidade. Embora continuem constatando as diferenças

entre essas duas formas de entender a realidade e organizar a vida

social, há muito menos otimismo em relação ao sucesso do modo

moderno de viver e menos preconceito em relação ao modo religioso

de viver. Há claros sinais de que as mais recentes descrições

sociológicas da religião não apresentam mais a religião e a

modernidade como modos antagônicos, mas, sim, como diferentes

descrições da realidade e da vida social – ambas com valores e

limites, ambas historicamente situadas, ambas em constante

mutação.

Page 16: Antropologia, histótia e sociologia da religião

A transição entre o período feudal e a modernidade é uma fase de profundas

mudanças para a sociedade europeia (tomará amplitude mundial), no campo

econômico há a implementação do sistema capitalista, no social a uma maior

abertura para a participação política, inicia-se o processo de formação das

monarquias nacionais, além disso a religião começa a perder espaço na

explicação do mundo, as ciências entram em cena, uma nova moralidade

forma-se na qual há maior abertura para o refletir, surge uma moralidade

dessacralizada. O inquestionável para o período medieval torna-se

questionável na modernidade:

Marx e Engels, no Manifesto Comunista, conseguiram descrever a

característica fundamental da Modernidade de modo brilhante em

uma única frase: “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Nesta frase

“tudo o que é sólido” se refere às crenças e tradições do mundo

europeu pré-moderno, que acreditava na solidez, na durabilidade das

estruturas sociais, políticas e culturais. Acreditava-se nessa

durabilidade por que se pensava que essas estruturas eram criação

de Deus. “Desmancha no ar” por que as sociedades modernas não

mais acreditam no papel de Deus como criador e organizador da vida

em sociedade. Toda a vida social, então, passa a ser vista como fruto

da ação humana e as ações humanas só duram por um determinado

período de tempo – logo, “desmancham no ar” (ZABATIERO, 2013).

E neste contexto de contestação das estruturas vigentes na idade média que a

sociologia descreve a religião, não seria estranho um posicionamento

altamente resistente, é preciso ressaltar que por religião entende-se neste

primeiro momento a Igreja Católica Romana, logo é a cristandade que está

sendo questionada. Esta era a única expressão religiosa verdadeira no

continente europeu e qualquer outra expressão do sagrado tratava-se de

heresia, em sua ortodoxia, a cristandade será vista como opositora da novas

ideias e inibidora da implementação da filosofia moderna, pois essas em muito

eram contrarias aos valores impostos. É preciso compreender que os primeiros

contatos entre religião sociedade são conflitivos e deixaram marcas presentes

até hoje. Nesse momento a extinção a religião foi decretada pela sociologia,

para ela haveria algumas alternativas:

A única esperança de sobrevivência da religião seria a sua

transformação radical em uma religião secular, irreligiosa, totalmente

racional e moderna (e.g. a “religião racional” de Kant, ou a “religião

positiva” de Comte). (ZABATIERO, 2013).

4.1 OPINIÕES

Page 17: Antropologia, histótia e sociologia da religião

Segundo Karl Marx “a religião é o ópio do povo” sendo vista como um alienador

que inibe o progresso, uma vez que o povo passa a projetar em seus deuses o

que deseja viver aqui em sociedade. Isso conduz a um processo de aceitação

da ordem vigente que não pode ser alterado. Outro teórico que refletiu sobre a

religião é Durkheim sua abordagem é feita sobre sociedades pequenas vendo

nestas a preocupação com o sagrado e o profano:

“o sagrado e o profano foram sempre e por toda a parte concebidos

pelo espírito humano como gêneros separados, como dois mundos

entre os quais nada há em comum (…) uma vez que a noção de

sagrado é no pensamento dos homens, sempre e por toda a parte

separada da noção do profano (…) mas o aspecto característico do

fenômeno religioso é o fato de que ele pressupõe uma divisão e

bipartida do universo conhecido e conhecível em dois gêneros que

compreendem tudo o que existe, mas que se excluem radicalmente.

As coisas sagradas são aquelas que os interditos protegem e isolam;

as coisas profanas, aquelas às quais esses interditos se aplicam e

que devem permanecer à distancia das primeiras.” (Durkheim, 1990,

apud, MOURA).

Uma última e rápida análise, Weber oferece também sua contribuição a

sociologia sobre o tema religião:

Para Weber, as concepções religiosas eram cruciais e originárias das

sociedades humanas, pois o homem, como tal, sempre esteve à

procura de sentido e de significado para a sua existência; não

simplesmente de ajustamento emocional, mas de segurança cognitiva

ao enfrentar problemas de sofrimento e morte (Ó Dea, 1969).

Procura-se na religião signos de transcendência e de esperança.

(MOURA)

Vemos como ele faz uma relação da religião com temas existenciais humanos

a busca por respostas orientadoras que vez após outro são levantadas pela

mente humana, de onde viemos? Para onde vamos? Assim assume segundo

ele a força para levar o homem a ação que acarreta mudanças sociais. A

exemplo disso seria o protestantismo uma manifestação da ação humana

frente uma nova realidade social, a modernidade.

4.2 RELIGIÃO E SOCIEDADE BRASILEIRA

Falar de religião e sociedade brasileira e falar de uma relação intensa que fez-

se desde o período colonial com a pratica do padroado que contribuiu para a

propagação da fé católica em solo colonial, em seguida vemos a integração

dos negros vindos da África para o brasil, mesmo sobe forte pressão não há

Page 18: Antropologia, histótia e sociologia da religião

uma conversão autentica mas um sincretismo religioso, os santos católicos são

meros representantes das divindades das religiões afrodescendentes e não

podemos esquecer da religião indígena, que com as demais constituintes da

matriz religiosa brasileira irão forma uma religião tipicamente nacional, a

Umbanda. O os gráficos, a seguir, revelam como apresenta-se atualmente o

campo religioso brasileiro a as últimas mudanças ocorridas de 2000 até 2010

de acordo com o IBGE:

Vemos como a Igreja Católica continua perdendo parte de seus membros para

outros grupos em especial para os evangélicos um outro ponto que merece

destaque é que tem aumentado o número de pessoas que se declaram sem

religião, Zabatiero destaca quatro pontos que esclarecem como apresenta-se o

campo religioso brasileiro:

Page 19: Antropologia, histótia e sociologia da religião

1. DINAMICIDADE

Enquanto alguns grupos perdem espaço gradativamente outros crescem de

maneira vertiginosa a exemplo temos a Universal do Reino de Deus que de

1991 a 2000 experimentou um crescimento de aproximadamente 718%, há um

transito intenso, porém há a manutenção da maioria de cristão quase 90% da

população brasileira.

2. MIDIATIZAÇÃO

Outro dado a se ressaltar no campo religioso brasileiro atual é a intensa

midiatização do discurso religioso, tanto na TV aberta – mais usada pelos neo-

pentecostais – quanto na TV a cabo – mais usada pela ICAR. * Através da

mídia, a conflitividade do campo se destaca, com intensa busca de novos fiéis

e, especialmente, novos contribuintes/investidores.

3. MUNDANIZAÇÃO

“O processo mediante o qual as pessoas, mediante o recurso a fatores

transcendentais, buscam respostas a questões intra-mundanas”.

4. MERCADORIZAÇÃO O processo mediante o qual as crenças e práticas religiosas são

ressignificadas como bens ou produtos a serem consumidos

individualisticamente.

Page 20: Antropologia, histótia e sociologia da religião

REFERÊNCIAS

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3º Ed., São Paulo, Vida Nova. 1996, p.18.

Nunes, Rossano Carvalho. Anthopology, Instituto Grupo Veritas de

Pesquisa em História e Antropologia. 2007.

OLIVEIRA. José L. M. Antropologia da Religião, Universidade Católica De

Brasília - Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião.

KOTTAK, C. Ph. Antropología Cultural. Espejo para la humanidad. Madrid: McGraw Hill, 1997. p. 81-95.

GAARDER J.; HELLERN V.; NOTAKER H. O Livro das Religiões, 7ª impressão. São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 8, 13.

ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas, volume I: da idade da pedra aos mistérios de Elêusis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.

BEZERRA, K. Historia Geral das Religiões. Unicamp.

COSTA, J. F. Breve História Das Religiões, Recolha da obra de Jostein Gaarder

MOURA, J. Introdução a Sociologia da Religião – Curso de sociologia da Religião.

NOTTINGHAM . Religion and Society, New York, 1954, p. 1

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Religião em Sociedades Modernas,

Faculdade Unida, Vitória – ES. 2013, p. 6.

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Campo Religioso brasileiro, Faculdade

Unida, Vitória – ES. 2013.

http://www.unicap.br/observatorio2/wp-content/uploads/2011/10/HISTORIA-GERAL-DAS-RELIGIOES-karina-Bezerra.pdf. Acesso em 02 de Junho de 2014

https://www.bibliaonline.com.br/nvi/mt/5. Acesso em 05 de Junho de 2014

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https://www.bibliaonline.com.br/nvi/mc/7. Acesso em 05 de Junho de 2014